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ALAÍSE MARIA CARRIJO RAMOS E ANDRADE BLOG JORNALÍSTICO: a constituição do sujeito jornalista- blogueiro e do leitor digital Franca 2008

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ALAÍSE MARIA CARRIJO RAMOS E ANDRADE

BLOG JORNALÍSTICO: a constituição do sujeito jornalista-

blogueiro e do leitor digital

Franca 2008

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ALAÍSE MARIA CARRIJO RAMOS E ANDRADE

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leitor digital

Universidade de Franca

Programa de Pós-Graduação em Lingüística Franca – 2008

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ALAÍSE MARIA CARRIJO RAMOS E ANDRADE

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leitor digital

Dissertação entregue à Universidade de Franca, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientadora: Profa. Dra. Maria Regina Momesso de Oliveira.

FRANCA

2008

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ALAÍSE MARIA CARRIJO RAMOS E ANDRADE

BLOG JORNALÍSTICOS: a constituição do sujeito jornalista-blogueiro e do leitor digital

Presidente: ____________________________________________ Nome: Instituição

Titular 1 ____________________________________________ Nome: Instituição

Titular 2 ____________________________________________ Nome: Instituição

Franca, _____/_____/_____.

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DEDICO a meus pais, Dóris e Cyro; a meus filhos, Mateus e Levi; a meu marido, Mateus.

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AGRADECIMENTOS

A Maria Regina Momesso de Oliveira, minha orientadora,

por toda atenção e paciência durante esta trajetória.

À professora Maria Sílvia Olivi Louzada, que compôs minha

banca de qualificação trazendo sugestões e críticas, algumas

desconcertantes, mas fundamentais para que esta dissertação tenha

chegado ao formato atual.

À professora Marina Célia Mendonça, que também compôs a

banca de qualificação trazendo contribuições preciosas a este

trabalho.

À minha companheira de mestrado Maíra Sueco Maegava

Córdula, que muito me ajudou e acalmou nesta caminhada.

A meu marido e meus filhos, que souberam compreender

pacientemente a falta de tempo e as oscilações de humor.

A meus pais, que me apoiaram e acreditaram neste percurso.

Por último e principalmente a Deus, que permitiu tudo isso e

todos em minha vida.

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Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir.

Michel Foucault

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RESUMO

ANDRADE, Alaíse Maria Carrijo Ramos e. Blog jornalístico: a constituição do sujeito jornalista-blogueiro e do leitor digital. 2008. 104 f. Dissertação (Mestrado em Lingüística) — Universidade de Franca, Franca. Esta dissertação apresenta uma análise de dois weblogs jornalísticos: Verbo Solto de Luis Weis e Nos bastidores do poder de Josias Souza. O objetivo geral foi refletir sobre as práticas discursivas, identitárias e de leitura nos blogs jornalísticos em questão. Para tanto, verificamos quais práticas discursivas e de leitura estão presentes e caracterizamos quais identidades são assumidas pelos leitores e autores desse suporte neste processo de interlocução. Analisamos também, no entremeio das práticas citadas, as relações de poder e a ordem do discurso presentes nos blogs. Partiu-se da hipótese de que, se considerarmos a web como uma “nova” mídia, e os blogs jornalísticos um de seus dispositivos, por conseguinte, dentro desses weblogs emergem um sujeito jornalista e um sujeito leitor que se diferem dos da mídia tradicional e que (re)definem relações discursivas, identitárias e de leitura mais libertárias. A importância deste trabalho reside no fato de haver poucos estudos a respeito dos blogs jornalísticos. Ancoramo-nos na perspectiva da Análise de Discurso de linha francesa, cujo fundador é Michel Pêcheux, que considera o sujeito discursivo em constante processo de construção a partir de fatores sociais, históricos e ideológicos. Além de Pêcheux, Foucault e outros autores da área do discurso e das ciências sociais, nosso trabalho ainda tomou como arcabouço teórico alguns estudiosos que pesquisam a respeito da pós-modernidade, como Lévy, Bauman e Baudrillard; acerca dos blogs, Orihuela, Lemos e Schittine; das teorias da comunicação, como Castells e Barbosa e Granado; e quanto às práticas de leitura, Chartier. Os resultados apontam para a observação de que as novas tecnologias em questão não determinaram novas identidades, mas sim diferentes modos de identificação do sujeito pós-moderno. Palavras-chave: Sujeito; identidade; prática discursiva; weblog; pós-modernidade.

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ABSTRACT

ANDRADE, Alaíse Maria Carrijo Ramos e. Blog jornalístico: a constituição do sujeito jornalista-blogueiro e do leitor digital. 2008. 104 f. Dissertação (Mestrado em Lingüística) — Universidade de Franca, Franca. This dissertation presents a analysis of two journalistic weblogs Verbo Solto by Luis Weis and Nos bastidores do poder by Josias Souza. The main aim was to reflect upon the discourse, identitary and reading practices found in the mentioned weblogs. In order to do so, we verified which discourse and reading practices are present and which identities the readers and authors assume in this text support during this interlocution process. We also analyze the power relations and the discourse order present in the blogs. Considering the web as a “new” type of media and the journalistic blogs as one of its mechanisms, our hypothesis is that there should be a new journalistic subject and a new journalistic reader different from the ones found in traditional media and who re(define) more freeing discourse, identitary and reading relations. The importance of this work relies on the fact that there are a few studies about the journalistic blogs. Our theoretical basis is the Discourse Analysis of the French school, whose founding scholar was Michel Pêcheux who considers the discourse subject in constant process of construction regarding social, historical and ideological factors. Besides Pêcheux, Foucault and other authors in the area of discourse and social science, our work has consider theoretical principles developed by scholars who research about post-modernity, Lévy, Bauman and Baudrillard; blogs, Orihuela, Lemos and Schittine; communication theory, Castells and Barbosa and Granado; and reading practices, Chartier. The results have indicated that the new technologies at exam did not determine new identities, but different forms of identification of the post-modern subject. Keywords: subject, identity, discursive practice, weblog, post-modernity.

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................................8

ABSTRACT...............................................................................................................................9

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................13

1 DISCURSO, IDENTIDADE E LEITURA: PERSPECTIVAS TEÓRICAS..............................................................................................................................19

1.1 PRÁTICAS DISCURSIVAS E PRÁTICAS DE LEITURA...........................................24

1.2 AS TÉCNICAS DE SI E A ORDEM DO DISCURSO: FOUCAULT...........................29

2 PÓS-MODERNIDADE E CIBERESPAÇO.................................................................35

2.1 O MUNDO BLOGOSFERA............................................................................................41

2.2 JORNALISMO IMPRESSO E JORNALISMO BLOGUEIRO: CONGRUÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS.................................................................................45

3 ANÁLISE DOS BLOGS JORNALÍSTICOS..............................................................54

3.1 VERBO SOLTO: UM DISCURSO AUTORITÁRIO ....................................................54

3.2 NOS BASTIDORES DO PODER: ONIPRESENÇA E ONIPOTÊNCIA........................72

3.3 VERBO SOLTO E NOS BASTIDORES DO PODER: UM PARALELO........................83

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................88

GLOSSÁRIO...........................................................................................................................90

REFERÊNCIAS......................................................................................................................93

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WEBIBLIOGRAFIA............................................................................................................100

ANEXOS................................................................................................................................102

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INTRODUÇÃO

When you are interacting with a computer, you are not conversing with another person. You are exploring another world.

John Walker

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O advento da Internet trouxe para a humanidade um alargamento de fronteiras

e horizontes comparável ao impacto causado pela invenção das ferrovias, no século XIX,

principalmente no que diz respeito à transmissão e produção de informação. O computador

deixou de ser usado apenas como ferramenta para produzir textos, sons e imagens e tornou-se,

por meio da Internet, um veículo de comunicação, sociabilização e interação entre as pessoas.

Entretanto, o acesso às novas tecnologias ainda é restrito a apenas uma

pequena parcela da população brasileira por vários motivos, sendo o principal deles a questão

econômica. A chegada da Internet não resolveu e provavelmente não resolverá o problema

das desigualdades sociais, culturais e econômicas. Dessa forma, a Internet surge

paralelamente aos problemas citados e exige de seus usuários e leitores uma visão crítica em

razão da avalanche de informações que disponibiliza.

Atualmente uma das grandes preocupações do governo e da sociedade em geral

é com o analfabetismo digital e todas as conseqüências sobre aqueles que estão excluídos da

chamada sociedade da informação e do conhecimento. Dentre todos os problemas atuais em

relação ao acesso às novas tecnologias estão as questões com a linguagem e a interpretação do

que circula em um suporte virtual. Muitos afirmam que a web é nociva, uma vez que estaria

produzindo gerações que não conseguem se concentrar e selecionar informações adequadas,

assim as práticas de leitura seriam superficiais, não atingindo a visão crítica necessária para

uma reflexão da realidade vivida.

Apesar do que foi mencionado, um recente relatório do projeto Evetrack,

realizado pelo Instituto Poynter1 com a finalidade de observar os hábitos de leitura na

Internet, contraria a idéia de que os internautas são superficiais, inquietos e de que pulam de

uma notícia para outra constantemente, revelando que são leitores mais detalhistas do que os

de jornais impressos, lêem uma porcentagem maior das notícias publicadas e que, depois de

escolherem uma notícia, dois terços dos internautas lêem o texto até o final, contra apenas

50% dos leitores de jornais impressos.

O meio digital, que possibilitou o aparecimento de novos gêneros ligados à

interatividade, nos dá acesso a “novas”2 maneiras de ler e escrever e disponibiliza ao homem

1 Ver site: http://www.poynter.org/content/content_view.asp?id=120458. 2 De acordo com Foucault (1996), o novo não está no que é dito, mas no acontecimento à sua volta. A partir do acontecimento discursivo, produz-se um discurso (re)significado e não um discurso inaugural. Dessa forma, gostaríamos de esclarecer que o termo “novo” (e seus derivados), utilizado no decorrer deste trabalho, refere-se a essa (re)significação do discurso, à singularidade do acontecimento.

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criar perfis, banco de dados de assuntos diversos, comunidades públicas com os mais variados

fins, informar, ser informado e discutir a respeito de diferentes temas.

Dentro desse viés e no entremeio da contemporaneidade3, emergiram e

cresceram em número, importância e popularidade os weblogs, os quais vêm ampliando ainda

mais os limites comunicacionais e informativos e até mesmo quebrando possíveis barreiras

existentes na Internet por causa de seu fácil manuseio.

De forma simplificada, pode dizer-se que o weblog é uma página na rede

digital, atualizada com muita regularidade, organizada cronologicamente e com estilo pessoal,

informal e dialógico4. Seu surgimento deu-se em dezembro de 1997, quando o programador

de computadores John Barger publicou seu diário pessoal, no formato de uma homepage

simples.

Conforme a descrição de Barbosa e Granado (2004), na fase inicial do

fenômeno, muitos dos weblogs existentes versavam sobre a tecnologia informática, sendo

seus autores, em grande maioria, programadores e especialistas na área. Mais tarde,

especialmente nos EUA, surgiu um grande conjunto de weblog, como conseqüência dos

ataques de 11 de setembro, que reuniam notícias, informações, pensamentos e comentários

acerca do assunto. Esse tipo de weblogs, o informativo, foi, e talvez ainda seja, considerado

como jornalismo amador, uma vez que seus autores realizam um trabalho de seleção,

filtragem, apresentação e enquadramento da informação semelhante ao dos jornalistas.

Hoje, fala-se sobre vários assuntos na blogosfera e os blogueiros5 procuram

dividir seus blogs em estilos diferentes – jornalístico, pessoal ou de serviços –, mas, na

verdade, o que ocorre nesse suporte digital, conforme Schittine (2004), é uma mistura de

estilos, ou seja, o fato de um blog ser jornalístico não o impede de possuir um tom subjetivo e

parcial.

Encontramos na web, nos dias atuais, um grande número de weblogs que se

denominam jornalísticos ou desempenham uma função jornalística, como o Nos bastidores do

3 A contemporaneidade é chamada por Bauman (2001) de Modernidade Líquida, por Castells (2003), de Pós-Modernidade e por Lipovetsky (apud CORACINI, 2006), de Hipermodernidade. Neste trabalho, utilizamos todas as denominações citadas. 4 O termo destacado deve ser entendido no sentido de comunicação verbal entre pessoas, e não do ponto de vista discursivo que concebe que qualquer enunciado sobre um objeto se relaciona com enunciados anteriores produzidos sobre esse objeto. 5 Ainda utilizaremos o termo bloguer(s) para nos referirmos aos autores de blogs, conforme Barbosa e Granado (2004).

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poder6 de Josias de Souza e o Verbo Solto7de Luís Weis, que constituem o corpus de análise

desta dissertação.

Os blogs foram selecionados por vários fatores, como audiência, interação

entre o blogueiro-jornalista e seus leitores, visibilidade dentro das mídias, proposição de

criticidade, pelo fato de o bloguer ser jornalista de outro suporte, dentre outros.

De acordo com Orihuela (2006), apesar de a imprensa tradicional, seja ela

impressa ou televisiva, tentar reduzir o fenômeno dos weblogs aos diários virtuais com a vã

intenção de desacreditá-los, uma vez que eles questionam os valores do jornalismo tradicional

e forçam-no a mudar, os blogs jornalísticos constituem a parcela mais importante do

fenômeno e exercem grande influência social.

Mesmo que criticados por alguns (ORIHUELA, 2006), os blogs jornalísticos

são bem aceitos pelo público leitor que os vê como um meio democrático e dinâmico de

comunicação, interação e socialização, conseqüentemente e fatalmente, uma “nova” mídia.

Desta vez, uma mídia informal e subjetiva que vem de encontro aos thesaurus do jornalismo

tradicional.

Notamos, então, que em conseqüência da Internet surgiram os weblogs

jornalísticos, que representam um espaço no qual, provavelmente, “novas” práticas

discursivas e de leitura e “novas” formas de subjetivação imperam.

Dessa forma, o principal objetivo deste trabalho foi refletir sobre essas práticas

discursivas, identitárias e de leitura em blogs jornalísticos. Analisamos também, no entremeio

dessas práticas, as relações de poder e a ordem do discurso. Os objetivos específicos foram: a)

verificar quais práticas discursivas e de leitura estão presentes nos weblogs e b) caracterizar

quais identidades são assumidas pelos leitores e autores desse suporte neste processo de

interlocução.

Se dentro desse espaço digital emerge uma “nova” mídia representada pelos

blogs jornalísticos, por conseguinte, dentro desses weblogs surgem um sujeito jornalista e um

sujeito leitor que se diferem dos da mídia tradicional e que (re)definem relações discursivas,

identitárias e de leitura. Sendo assim, nosso trabalho se propõe a descrever esse sujeito

jornalista-blogueiro e seu leitor virtual.

A fim de alcançar nossos objetivos, este trabalho foi dividido em três partes.

Na primeira, abordamos a teoria sobre a qual esta dissertação se apóia: a corrente francesa de

6 Ver site: http://www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br. 7 Ver site: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={3974085D-F6CF-453A-A8F3-6697C5445A6E}&data=200708.

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Análise de Discurso. Os teóricos nos quais nos ancoramos são Pêcheux (1990a, 1990b, 1997a,

1997b, 1999, 2006), Foucault (1979, 1989, 1994, 1996, 1997, 2004, 2006a, 2006b e 2007) e

outros que se filiam à linha teórica escolhida. A respeito das práticas de leitura, tomamos

também como base o historiador Roger Chartier (1999, 2001).

Na segunda parte, refletimos acerca da contemporaneidade, do advento da

Internet e dos weblogs jornalísticos em oposição à mídia tradicional impressa. Nesse percurso,

foram consideradas as perspectivas de Bauman (1998, 2001, 2006), Baudrillard (1981), e

Lévy (1993, 1999 e 2005) a respeito da pós-modernidade; Schittine (2004), Orihuela (2006) e

Lemos (2004) no que se refere aos blogs; e Barbosa e Granado (2004) e Castells (2002, 2003)

acerca das teorias da comunicação.

Na terceira e última etapa, apresentamos as análises feitas a partir dos

pressupostos teóricos referidos e dos weblogs jornalísticos selecionados. Destacamos e

analisamos posts e comentários dos blogs relacionados. Na medida do possível, os textos

apreciados referem-se a assuntos recentes8. Após o exame de cada blog individualmente,

fizemos um paralelo entre eles a fim de observarmos semelhanças e diferenças, e tirarmos

possíveis conclusões.

Este trabalho justificou-se na medida em que há poucos estudos sobre os blogs

jornalísticos, para os quais são atribuídas, por alguns estudiosos, “novas” formas de

expressividade, de comunicação, de sociabilidade e de interação na sociedade.

Diante do exposto, foi necessária uma pesquisa sobre esse “novo” jornalismo

dos weblogs, que não se mostra preocupado com a objetividade e com a imparcialidade do

impresso e promove o discurso do acesso democrático à palavra e da valorização do leitor,

dando espaço para que este participe, embora com restrições, do processo de produção

jornalística como co-autor.

Não podemos negar nem ignorar as mudanças geradas pelo virtual, ou seja, no

suporte em questão a notícia é construída, lida e discutida em tempo real, a interação entre

blogueiro e leitor é intensificada em relação ao impresso, a parcialidade da notícia é assumida,

dentre outras. Consoante Lévy (2005), o suporte virtual propiciou “novas” maneiras de ler,

escrever e olhar o texto9, e, conseqüentemente, o discurso, que devem ser analisadas e

discutidas.

8 Gostaríamos de esclarecer que os dados analisados foram coletados de 1º de abril a 15 de setembro de 2007, no blog Verbo Solto de Luis Weis, e de 1º de abril a 30 de novembro de 2007, no weblog Nos bastidores do poder de Josias de Souza. 9 Manifestação do discurso, de suas formações discursivas e ideológicas (FOUCAULT, 2007).

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A respeito do leitor virtual, Castilho10 afirma em seu weblog que “de

consumidores passivos, os leitores, ouvintes, espectadores e internautas estão ingressando na

categoria de público ativo e muitas vezes incômodo”.

O suporte midiático mudou, o texto ficou mais dinâmico no ciberespaço e a

leitura, segundo Lévy (2005), tornou-se, a partir do hipertexto, uma escrita.

10 CASTILHO, Carlos. Internet gera um novo leitor e novos desafios para o público. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={25E99C52-601A-402D-9464-C602B88C8CF1}&data=200702.

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1 DISCURSO, IDENTIDADE E LEITURA: PERSPECTIVAS TEÓRICAS

É a própria alma que há que construir naquilo que se escreve; todavia, tal como um homem traz no rosto a semelhança natural com os seus antepassados, assim é bom que se possa aperceber naquilo que se escreve a filiação dos pensamentos que ficaram gravados na sua alma. Pelo jogo das leituras escolhidas e da escrita assimiladora, deve tornar-se possível formar para si próprio uma identidade através da qual se lê uma genealogia espiritual inteira. Num mesmo coração há vozes altas, baixas e medianas, timbres de homem e de mulher: ‘Nenhuma voz individual se pode aí distinguir; só o conjunto se impõe ao ouvido’.

Michel Foucault

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Antes de nos dedicarmos a apresentar a teoria mestra de nossa dissertação, a

Análise de Discurso de linha francesa11, gostaríamos de esclarecer sob que perspectiva ela

concebe o discurso e o sujeito, visto que existem formas distintas de compreendê-los dentro

da história.

A teoria comunicacional de Jakbson entende o discurso como a mensagem a

ser transmitida linearmente a partir do esquema elementar que se constitui de emissor,

receptor, código, referente e mensagem, como se cada um desses elementos fosse separado de

forma estanque e a língua funcionasse como ferramenta que reflete o pensamento e como

suporte eficaz de fluxo de informação.

Diferentemente, para a AD, o discurso não constitui um universo de signos que

serve apenas para comunicar e expressar o pensamento linearmente entre os interlocutores. “A

linguagem enquanto discurso é interação, é um modo de produção social; ela não é neutra,

inocente e nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestação de ideologia”

(BRANDÃO, 2004, p. 11). Numa visão pecheutiana (1990b), o discurso seria o ponto de

articulação entre a linguagem e a ideologia.

A AD trata do discurso que, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de

percurso, de movimento, permitindo observar o homem falando.

Com relação ao sujeito, é necessário destacar que os princípios teóricos que

norteiam nossa pesquisa não concordam com a noção psicológica de sujeito empiricamente

coincidente consigo mesmo (PÊCHEUX, 1999).

Apesar de a AD sempre ter dado importância ao sujeito em suas análises, há

períodos da história em que ele não foi considerado. Na epistemologia clássica, por exemplo,

a língua tinha a função de representar o real, não havendo espaço para a subjetividade.

Na episteme moderna, porém, a língua adquire função demonstrativa e passa a

ter espessura própria. Nessa perspectiva se inscreve Benveniste que, por meio do estudo dos

pronomes, coloca a questão da subjetividade na linguagem. O sujeito passa a ocupar uma

posição privilegiada, e a linguagem torna-se lugar de constituição da subjetividade.

Benveniste (1995) dá relevo ao papel do sujeito falante no processo de

enunciação, levantando a questão da relação estabelecida entre o locutor, seu enunciado e o

mundo. Ele institui um “eu” (pessoa subjetiva) ascendente a um “tu” (pessoa não-subjetiva).

Na visão do lingüista acima, o sujeito é tido como homogêneo, central e origem do sentido, e

a linguagem, como transparente.

11 De hora em diante, a Análise de Discurso será tomada também como AD.

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Ao lermos Brandão (2004), verificamos que, apesar de sua grande contribuição

para a Lingüística, a teoria benvenistiana é criticada ao afirmar que a subjetividade se constrói

à medida que se tem capacidade de dizer “eu”. Segundo a autora, tal crítica se torna coerente

porque a subjetividade “é inerente a toda linguagem e sua constituição se dá mesmo quando

não se enuncia de um ‘eu’” (p. 57).

Vejamos o que Foucault (2007, p. 104) pensa a esse respeito:

Não é preciso, na verdade, reduzir o sujeito do enunciado aos elementos gramaticais da primeira pessoa que estão presentes no interior da frase: inicialmente, porque o sujeito do enunciado não está dentro do sintagma lingüístico; em seguida, porque um enunciado que não comporta primeira pessoa tem, ainda assim, um sujeito; enfim e sobretudo, todos os enunciados que têm uma forma gramatical fixa (quer seja em primeira ou em segunda pessoa) não tem um único e mesmo tipo de relação com o sujeito do enunciado.

Considerando a noção de subjetividade acima, a AD desloca o centro das

relações entre os interlocutores para o espaço discursivo criado entre ambos, passa a

considerar o sujeito como disperso, já que pode ocupar várias posições no discurso, e

heterogêneo, pois só se constitui como sujeito na interação com o outro.

Uma vez esclarecido o que a AD entende por discurso e sujeito, partimos para

um breve panorama teórico da Análise de Discurso francesa.

Em 1969, surge, na França, a Análise de Discurso de base marxista que

apresenta uma análise do texto considerando suas materialidades discursivas em relação com

a História e suas condições de produção.

Tal teoria, que teve como precursor o filósofo Michel Pêcheux e como marco

inicial o seu livro Análise Automática do Discurso (1969), nasce da articulação entre as

propostas de Saussure (relido por Pêcheux), Marx (relido por Althusser) e Freud (relido por

Lacan) a respeito da língua, da História e do sujeito. Assim, Pêcheux constrói uma teoria de

entremeio que tem como objeto o discurso a partir da releitura dos teóricos citados.

Inicialmente, tomava-se como corpus privilegiado de apreciação os discursos

políticos, mas, atualmente, são variados os gêneros analisados, e toda situação de discurso é

considerada um objeto virtual de análise.

Como Pêcheux (1990a) admite, a AD passou por três épocas que revelam os

embates e as retificações operadas na constituição de seu campo teórico.

No decorrer dessas épocas, houve momentos em que as idéias de Pêcheux

foram contraditórias às de Foucault e momentos em que elas se aproximaram.

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Em sua primeira época, Pêcheux, influenciado pelo estruturalismo, apresenta

grande preocupação em desenvolver uma metodologia teórica e propõe um programa de

análise automática do discurso na busca de dar conta da exterioridade do texto. A partir das

teses althusserianas sobre os aparelhos ideológicos e o assujeitamento, o teórico concebe o

sujeito como assujeitado, atravessado pela ideologia e pelo inconsciente:

[...] um processo de produção discursiva é concebido como uma máquina autodeterminada e fechada em si mesma. De tal modo que um sujeito-estrutura determina os sujeitos como produtores de seus discursos: os sujeitos acreditam que ‘utilizam’ seus discursos quando na verdade são seus ‘servos’ assujeitados, seus suportes (PÊCHEUX, 1990a, p. 311).

Por meio do excerto, notamos que o discurso se concebe como restrito a um

conjunto fechado de enunciados, sempre parafraseados.

Pêcheux é criticado e questionado a respeito do estatuto do sujeito e do

discurso e em sua justificativa considera que o plano estrutural metodológico da análise

automática teve como efeito o primado do Mesmo sobre o Outro, levando a análise à busca

das invariâncias das paráfrases de enunciados sempre repetidos (GREGOLIN, 2004). Dessa

forma, o filósofo é levado a uma segunda época, momento em que problematiza sua

metodologia, inicia um movimento em direção ao Outro e reinterpreta a noção de formação

discursiva12 de Foucault (2007) a partir da compreensão de que uma ideologia não pode, de

maneira nenhuma, ser compreendida como um bloco homogêneo:

[...] a noção de formação discursiva tomada de empréstimo a Michel Foucault, começa a fazer explodir a noção de máquina estrutural fechada na medida em que o dispositivo da FD está em relação paradoxal com seu ‘exterior’: uma FD não é um espaço estrutural fechado, pois é constitutivamente ‘invadida’ por elementos que vêm de outro lugar (isto é, de outras FD) que se repetem nela, fornecendo-lhes suas evidências discursivas fundamentais (por exemplo, sob a forma de ‘preconstruídos’ e de ‘discursos transversos’) (PÊCHEUX, 1990a, p. 314).

Nesse segundo momento, Pêcheux elabora a teoria dos dois esquecimentos e

reafirma sua vinculação às teses althusserianas, acentuando o caráter desigual do

assujeitamento e afirmando que os aparelhos ideológicos não só produzem, mas também

alteram as condições de produção.

12 “No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva” (Foucault, 2007, p. 43).

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A terceira época da Análise de Discurso é marcada pelo afastamento de

Pêcheux de algumas posições que sustentava e pela aproximação com as propostas

foucaultianas e bakhtinianas13. Gregolin (2004, p. 153) afirma que “ele reordena o projeto

epistemológico a partir de uma desconstrução das bases longamente gestadas desde 1969”.

Nessa fase, Pêcheux revê o conceito de sujeito e passa a considerá-lo não mais

como interpelado por uma ideologia, mas por várias ideologias. O sujeito torna-se

heterogêneo (AUTHIER-REVUZ, 1990), ou seja, várias vozes, vários discursos manifestam-

se na sua fala.

Percebe-se também uma atenuação no assujeitamento em razão do abandono

da noção de formação discursiva como bloco homogêneo e das reformulações de Pêcheux no

que diz respeito à psicanálise. Assim sendo, o discurso é colocado sob o signo da

heterogeneidade, considerando as falhas e as contradições da interpelação ideológica.

A formação discursiva, conseqüentemente, passa a ser considerada no interior

da heterogeneidade e deixa de referir-se a um exterior ideológico, passando a ser buscada na

dispersão dos lugares enunciativos do sujeito.

Surge a preocupação com as relações do intradiscurso14 com o interdiscurso15,

que propõe buscar no “fio do discurso” os vestígios da memória discursiva, e uma nova forma

de leitura passa a ser valorizada: a leitura do arquivo16.

Segundo Gregolin (2004), Pêcheux assimila a idéia foucaultiana de leitura

“sem filtro” e é levado à análise da singularidade do acontecimento discursivo e não apenas

de sua estrutura; influenciado pela concepção de Nova história de Foucault, acata a noção de

História como descontinuidade, propondo que as investigações da Análise de Discurso

passem a incidir não somente sobre os textos legitimados ou grandes textos, mas também

sobre os discursos ordinários de circulação cotidiana.

Conforme Pêcheux (2006, p. 53) afirma nessa terceira época, “todo enunciado

é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar

discursivamente de seu sentido para derivar para outro [...]. É nesse espaço que pretende

13 A partir da leitura que faz de Authier-Revuz, Pêcheux assimila a noção bakhtiniana de heterogeneidade e interdiscurso. 14 Courtine (apud ORLANDI, 2005, p. 32-33) explica a diferença entre o intradiscurso e o interdiscurso. Segundo ele, este representa um eixo vertical onde “teríamos todos os dizeres já ditos – e esquecidos – em uma estratificação de enunciados que, em seu conjunto, representa o dizível”; e aquele, um eixo horizontal, “que seria o eixo da formulação, isto é, aquilo que estamos dizendo naquele momento dado, em condições dadas”. 15 Ver nota anterior. 16 “O arquivo é, de início, a lei do que pode ser dito, o sistema que rege o aparecimento dos enunciados como acontecimentos singulares. [...] é o que, na própria raiz do enunciado-acontecimento e no corpo em que se dá, define, desde o início, o sistema de sua enunciabilidade” (FOUCAULT, 2007, p. 146).

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trabalhar a Análise do Discurso”. E é a partir dessa perspectiva que compreendemos o termo

“novo” e analisamos nosso corpus.

É importante esclarecer que não pretendemos discutir qual dos teóricos está

com a razão ou se uma teoria é mais correta que a outra, porque, assim como Foucault (2005

apud VEIGA-NETO) afirma, a verdade é uma construção histórica. Entendemos, ainda, que a

AD continua em construção, muitos conceitos ainda são (re)visitados e (re)significados

conforme as condições de produção sócio-histórico-ideológicas e a cultura de cada época.

Além disso, é necessário saber que Pêcheux e Foucault tiveram projetos

epistemológicos distintos. O primeiro buscou construir a Análise de Discurso, mantendo uma

relação muito mais forte com a Lingüística. Já o projeto foucaultiano não teve como objetivo

imediato construir uma teoria do discurso, suas temáticas envolveram as relações entre os

saberes e os poderes na história ocidental e estiveram voltadas para a construção histórica das

subjetividades. Foucault manteve uma relação mais forte com a História e a Filosofia.

Esse panorama da AD foi feito com o intuito de mostrar que essa teoria do

discurso se encontra baseada em idéias de diferentes estudiosos.

Da mesma forma foi construído nosso trabalho, ou seja, sob o prisma de

diferentes teóricos, como Pêcheux, Foucault e outros que se filiam à teoria escolhida. Apesar

das diferenças teóricas, ativemo-nos em pontos de suas convergências, de seus diálogos,

sendo o principal deles: o sujeito é heterogêneo e constituído por meio da e na linguagem.

Também é preciso mencionar que privilegiamos, em nossas abordagens, a

terceira época da Análise de Discurso em razão do fato de ela ser mais abrangente que as

demais. Suas amarras teóricas foram abertas por Pêcheux e, atualmente, continuam-se

desenvolvendo e ampliando-se por aqueles que assumiram o legado da AD. Logo, os

conceitos articulados e aplicados nesta pesquisa são os frutos da revisão teórico-metodológica

efetuada por Pêcheux a partir de 1980, revisão essa que desenhou um novo caminho para a

Análise de Discurso francesa.

Do precursor Pêcheux, adotamos a noção de sujeito como interpelado por

várias ideologias, heterogêneo, disperso e marcado pela impossibilidade de controle dos

efeitos de sentido de seu dizer. A essa definição, aliamos o conceito de sujeito foucaultiano,

que o concebe como historicamente construído ou produzido no entrecruzamento do discurso,

da sociedade e da história, ou seja, o sujeito não é algo dado, mas está em constante

construção nas práticas discursivas, sociais e em relação ao outro.

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A respeito do sujeito, Foucault (apud Gregolin, 2004) corrobora que ele (o

sujeito) é interpelado nas relações de produção, de sentido e de poder de uma grande

complexidade. Em outras palavras, o filósofo acredita na constituição do sujeito a partir das

relações históricas, lingüísticas e de poder17. Foucault não compreende os sujeitos como

autômatos que aceitam passivamente as determinações do poder e procura analisar as formas

de resistência dentro das relações de poder.

A partir do sujeito da AD, almejamos compreender o sujeito pós-moderno da

blogosfera jornalística. E crendo não ser suficiente para tal compreensão apenas a noção de

sujeito, buscamos em Foucault a proposta de Análise de Discurso como prática, desenvolvida

em sua fase denominada genealógica18 e que mobiliza outros conceitos, como a ordem

discursiva, por exemplo.

Nesse momento, Foucault (2007, p. 157) procura “definir não os pensamentos,

as representações, as imagens, os temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos

discursos, mas os próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras”.

Após esse breve percurso pela AD e após termos trazido à baila a concepção

de sujeito na qual este estudo se apóia, buscamos, no tópico a seguir, explicar a noção de

prática discursiva e de leitura sobre a qual nos ancoramos.

1.1 PRÁTICAS DISCURSIVAS E PRÁTICAS DE LEITURA

Primeiramente, é preciso compreender a expressão foucaultiana “prática

discursiva”, para somente depois entender a questão da construção da história das

subjetividades, assunto que abordaremos no tópico seguinte.

Partimos da noção de discurso para melhor explicar o conceito de prática

discursiva:

Ele [o discurso] é constituído de um número limitado de enunciados, para os quais podemos definir um conjunto de condições de existência; é, de parte a parte, histórico – fragmento de história, unidade e descontinuidade na própria história, que

17 Pêcheux não fala em relações de poder, atém-se apenas na questão dos lugares sociais e ideológicos ocupados pelo sujeito. 18 Foucault procurou desenvolver ao longo de sua vida uma história dos diferentes modos de subjetivação do ser humano. Essa história compreendeu três fases: a arqueológica, quando estudou os saberes; a genealógica, quando estudou os poderes, e a última, quando estudou as técnicas de si.

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coloca o problema de seus próprios limites, de seus cortes, de suas transformações, dos modos específicos de sua temporalidade (FOUCAULT, 2007, p. 132-133).

A idéia de “prática” é colocada pelo filósofo em conseqüência do modo como

ele pensa o discurso, como conjunto de enunciados, e os enunciados, como performances

verbais em função enunciativa. Ele propõe um estudo que observe o movimento dos

enunciados praticados por sujeitos historicamente situados. Assim, define as práticas

discursivas como “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no

tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social,

econômica, geográfica ou lingüística as condições de exercício da função enunciativa”

(FOUCAULT, 2007, p. 133).

Foucault (2007) entende tais práticas como objeto de luta, salientando que elas

determinam que nem tudo pode ser dito, ou seja, os discursos são regulados por e submetidos

a uma ordem discursiva. Em A ordem do discurso (1996), Foucault analisa os mecanismos

que possibilitam o controle dos discursos definindo práticas que determinam o que dizer,

quem pode dizer, de que posição pode dizer, em que circunstância pode dizer, etc.

Tudo se passa como se interdições, supressões, fronteiras e limites tivessem sido dispostos de modo a dominar, ao menos em parte, a grande proliferação do discurso. De modo que a riqueza fosse aliviada de sua parte mais perigosa e que sua desordem fosse organizada segundo figuras que esquivassem o mais intolerável. [...] Há, sem dúvida, em nossa sociedade e, imagino, em todas as outras mas segundo um perfil de facetas diferentes, uma profunda logofobia, uma espécie de temor surdo desses acontecimentos, dessa massa de coisas ditas, do surgir de todos esses enunciados (p. 50).

Ainda consoante o filósofo, existe, nas sociedades, um jogo entre os discursos

que obedecem a regras próprias às praticas discursivas de uma época. Dessa forma, ele traz à

tona a dimensão do acontecimento discursivo, em outras palavras, ele atribui ao discurso não

a noção de “lugar abstrato de encontro entre uma realidade e uma língua, mas um espaço de

confrontos materializados em acontecimentos discursivos” (Gregolin, 2004, p. 134-135).

Na dimensão do acontecimento, o sentido do discurso nunca é o mesmo, mas

muda de acordo com as relações que um enunciado estabelece com os outros enunciados. No

interior de uma formação discursiva, os discursos se negam, se afirmam e se distinguem, mas

nunca se repetem. Da mesma forma pensa Pêcheux (2006) a esse respeito. Para ele o

enunciado é repetível, mas nunca constrói as mesmas significações, pois a enunciação é um

acontecimento que não se repete, ela é “singular”.

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Neste ponto ainda podemos acrescentar mais uma contribuição de Pêcheux que

nos ajudará a compreender as significações do discurso, ou seja, as suas possíveis leituras. No

texto Ler o arquivo hoje, Pêcheux (1997b) disserta sobre a questão das leituras do arquivo e

argumenta que os “gestos de leitura” variam conforme o arquivo do leitor19.

Por meio da noção de discurso como prática podemos analisar ‘quem fala’, ‘o

lugar da fala’ e ‘a posição de quem fala’ a fim de melhor entender a constituição do sujeito

em um novo espaço tecnológico. Conforme a teoria da AD, isso só é possível porque existe

um complexo de formações discursivas interligadas, em que o sujeito, ao assumir uma

determinada posição, acaba por inscrever-se em uma delas, estabelecendo, assim, uma relação

de identidade. Segundo Pêcheux (1997a), a formação discursiva é o lugar da constituição do

sentido e da identificação do sujeito.

Considerando que não se trata apenas de um “novo” espaço de escrita, mas

também um “novo” espaço de leitura, ou melhor, não observando a blogosfera somente sob o

prisma do sujeito-blogueiro, mas também sob o prisma do sujeito-leitor, constatamos a

necessidade de analisar também as práticas de leitura na ânsia de detectar como o leitor

constrói sua identidade.

Segundo o historiador Chartier (1999):

A inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma estruturação do texto [...]. O fluxo seqüencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o fato de que suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis, como no livro que encerra, no interior de sua encadernação ou de sua capa, o texto que ele carrega, a possibilidade para o leitor de embaralhar, de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na mesma memória eletrônica: todos esses traços indicam que a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler (p. 12-13).

Diante do exposto, tomamos consciência da importância de se realizar uma

análise das práticas da leitura na rede digital ou, mais especificamente, nos blogs jornalísticos.

Percebemos que os textos mudam tanto em sua estrutura e organização como na maneira que

estabelecem suas fronteiras, prontificando formas rápidas de acessar outros textos por meio

dos links. Na Internet, o texto torna-se um dinâmico hipertexto que leva a outros hipertextos

em uma imensa rede de nós conectados entre si, permitindo que a leitura se torne uma

hiperleitura, ou ainda, uma escrita, segundo Lévy (2005).

19 “É esta relação entre língua como sistema sintático intrinsecamente passível de jogo, e a discursividade como inscrição de efeitos lingüísticos materiais na história, que constitui o nó central de um trabalho de leitura de arquivo” (Pêcheux, 1997b, p. 63).

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Quando se começa a ler uma notícia em um blog, é possível afirmar que nem o

texto nem a leitura se encerram ali20, pois o leitor pode clicar em um dos hiperlinks do texto

do blog e ir a um outro texto, continuando, assim, a construção de seu texto e de sua leitura a

partir desse outro universo que, com certeza, o levará a muitos outros. Assim, a leitura e o

texto só terminam quando o leitor parar de navegar pela rede e desligar o seu computador.

A respeito das práticas da leitura, Chartier (2001) afirma que elas sofrem

alterações na história conforme vários fatores como: o acesso à leitura; as habilidades ou

competências lexicais – que variam, por exemplo, entre a leitura silenciosa e oral, e a leitura

da letra de forma e da letra cursiva; o estilo da leitura que determina a relação entre leitor e

objeto lido; a produção dos textos, ou seja, a partir dos dispositivos textuais da escrita que o

autor utiliza para impor um protocolo de leitura; e a produção dos livros, momento em que o

editor, por meio de uma maquinaria tipográfica, pode sugerir leituras diferentes de um mesmo

texto a partir da sua impressão.

Notamos, então, que as leituras dependem tanto do leitor – de suas habilidades

e competências, da forma como ele se apropria do objeto lido –, como do autor, do editor e do

conjunto dos condicionamentos, das convenções e dos códigos que se imprimem no texto.

A respeito da leitura, Pêcheux (1990b) afirma que devemos partir das

condições de produção do discurso. Consoante o lingüista, é necessário observar não só o

contexto comunicacional e situacional, mas ir além, permear nos meandros do social, do

ideológico e da historicidade que atravessam e alinhavam o discurso. É a partir dessa

perspectiva que concebemos a leitura.

Orlandi (2006), assim como Chartier, afirma que toda leitura tem sua história.

“Leituras que são possíveis, para um mesmo texto, em certas épocas não o foram em outras e

leituras que não são possíveis hoje o serão no futuro” (p. 86). Ainda de acordo com a

pesquisadora, podemos dizer que há leituras previstas para um texto, uma vez que os sentidos

se sedimentam conforme as condições em que são produzidos, e leituras imprevistas,

resultantes também do contexto sócio-histórico. Em outras palavras, existe a possibilidade de

se ler um texto de várias maneiras, de se estabelecer múltiplos sentidos para uma mesma

enunciação, o que caracteriza a polissemia21. Todavia, ainda consoante a mesma autora, não

se deve desconsiderar a força do mesmo, da paráfrase22 na linguagem.

20 Embora saibamos que no impresso isso também possa ocorrer, gostaríamos de salientar que no eletrônico o acesso a outros textos é mais dinâmico e fácil, além de poder ser realizado em um curto espaço de tempo. 21 Polissemia: multiplicidade de sentidos. 22 Paráfrase: permanência do mesmo sentido sob formas diferentes.

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Orlandi (2006), ao considerar os diferentes modos de funcionamento do

discurso, tomando como referência elementos constitutivos de suas condições de produção e

sua relação com o modo de produção de sentidos, distingue três tipos de discurso: o

autoritário, o polêmico e o lúdico. No primeiro, a polissemia é contida; no segundo, ela é

controlada e existe uma relação tensa de disputa pelos sentidos; no terceiro e último, a

polissemia está aberta23.

Gostaríamos de esclarecer que não defendemos a idéia de que um discurso seja

puramente autoritário, polêmico ou lúdico, mas acreditamos que um tipo de discurso possa

prevalecer sobre os demais em um texto. Também não descartamos a possibilidade de

ocorrência de um outro tipo de discurso, diferente dos colocados pela autora acima.

A seguir, Chartier (1999) define o que entende por leitura:

A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo a bela imagem de Michel de Certeau, o leitor é um caçador que percorre terras alheias. Aprendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas esta liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas atitudes são inventadas, outras se extinguem (p. 77).

A partir da definição colocada, percebemos que o historiador, assim como a

AD, não concebe a leitura como algo livre. Como já foi dito, ele reconhece a historicidade da

leitura, em que ora os sentidos permanecem, ora são multiplicados ou “produzidos”

(CHARTIER, 1999).

Uma vez esclarecido o que entendemos por leitura, pretendemos agora esboçar

como ela ocorre dentro da blogosfera, ou seja, como as práticas da leitura podem ser

observadas no texto eletrônico, como elas se modificam em relação à sua história.

Chartier (1999) acredita que, a partir do século XVIII, a história das leituras é

também uma história da liberdade na leitura, ou seja, ela vem-se tornando cada vez mais livre

e desordenada. “É no século XVIII que as imagens representam o leitor na natureza, o leitor

23 “O tipo autoritário é o que tende para a paráfrase (o Mesmo) e em que se procura conter a reversibilidade [...] em que a polissemia é contida (procura-se impor um só sentido) [...] O discurso polêmico é o que apresenta um equilíbrio tenso entre polissemia e paráfrase, [...] havendo assim possibilidade de mais de um sentido: a polissemia é controlada. O discurso lúdico [...] é aquele que tende para a total polissemia. [...] O exagero do discurso autoritário é a ordem do sentido militar, o do polêmico é a injúria e o exagero do lúdico é o non sense. Em nossa forma de sociedade atual, o discurso autoritário é dominante, o polêmico é possível e o lúdico é ruptura” (ORLANDI, 2006, p. 24-25).

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que lê andando, que lê na cama” (p. 78). Anteriormente a esse período, o leitor era

representado pela iconografia como aquele que lê no interior de um gabinete, em um espaço

retirado e privado, sentado e com poucas possibilidades de mobilidade em função dos

suportes de leitura da época.

Em relação ao texto eletrônico, observamos que o leitor tem uma sensação de

liberdade proporcionada por processos antagônicos que o distanciam e o aproximam do objeto

da leitura: a tela funciona como o ponto de chegada ou limite que separa o texto do corpo, não

possibilitando um contato corporal e determinando uma relação de distância entre o leitor e o

escrito; ao mesmo tempo, esse novo suporte permite usos, manuseios e intervenções, desse

mesmo leitor, infinitamente mais numerosos e mais livres do que qualquer uma das formas

anteriores da escrita, ou seja, o leitor fica tão próximo do texto que pode intervir nele sem

deixar “rastros” (LYONS, 1999).

No entanto, não podemos nos esquecer de que apesar de o texto eletrônico

fazer parte dessa história de liberdade das leituras, ele também recupera práticas da leitura

anteriores ao século XVIII, ou seja, para se ler um texto eletrônico é preciso estar sentado em

frente à tela, em um lugar apropriado e específico – não necessariamente um gabinete –, onde

se possa ter acesso a um computador conectado ou não à Internet. Conforme Chartier (1999,

p. 16), a leitura do eletrônico “junta, e de um modo que ainda se deveria estudar, técnicas,

posturas, possibilidades que, na longa história da transmissão do escrito, permaneciam

separadas”.

1.2 AS TÉCNICAS DE SI E A ORDEM DO DISCURSO: FOUCAULT

Desde o século V a.C., na filosofia greco-romana, o tema de “si” já era tratado

entre os homens. O “cuidado de si” (epimélia heautoû) era designado como regra de conduta

da vida social e pessoal e fundamento da arte de viver; e o conhecimento de si (“conhece-te a

ti mesmo” / gnôthi seautón) funcionava como um princípio délfico, sendo o objeto da busca

do cuidado de si (Foucault, 1994).

Observa-se, assim, que herdamos de nossos antepassados essa preocupação

voltada para “si”, para a subjetividade, uma vez que a utilização das “técnicas de si” teve

início na Antiguidade romana e continua até hoje.

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Várias foram as maneiras encontradas pelos povos de “cuidado” e “técnica de

si” que funcionaram como condição indispensável para adquirir a verdade. Podemos citar a

escrita dos hypomnematas e das correspondências entre os greco-romanos; a cultura do

silêncio aliada à arte da escuta, à meditação e à abstinência entre os estóicos; a interpretação

dos sonhos e o exame de consciência ligado à purificação entre os pitagóricos; a confissão

dentro da espiritualidade cristã, entre outras.

Foucault (1997, p. 109) define essas técnicas como “procedimentos, que, sem

dúvida, existem em toda civilização, pressupostos ou prescritos aos indivíduos para fixar sua

identidade, mantê-la ou transformá-la em função de determinados fins, e isso graças às

relações de domínio de si sobre si ou de conhecimento de si por si”.

Dessa forma, podemos dizer, com base no filósofo, que a história do “cuidado”

e das “técnicas de si” seria uma forma de fazer a história da subjetividade por meio do

empreendimento e das transformações, na nossa cultura, das relações consigo mesmo. Em

outras palavras, é pertinente afirmar que, para que se descubra como um indivíduo fixou sua

identidade, é preciso observar sua maneira de ser, suas atitudes e suas reflexões sobre os

modos de vida, sobre as escolhas de existência e sobre o modo de regular sua conduta e de

determinar para si mesmo fins e meios, enfim, suas práticas.

Nos dias atuais, é possível perceber essa necessidade do homem de fixar uma

identidade para si próprio, ou ainda, como diria Bauman (2006), de estabelecer-se como

indivíduo, de “ser o verdadeiro eu”:

Hoje em dia, ‘individualidade’ significa em primeiro lugar a autonomia da pessoa, a qual, por sua vez, é percebida simultaneamente como direito e dever. Antes de qualquer outra coisa, a afirmação ‘Eu sou um indivíduo’ significa que sou responsável por meus méritos e meus fracassos (p. 30-31).

Ainda de acordo com Bauman (2006, p. 28), é possível encontrar vários

“auxílios” que nos guiam nessa busca “dos nossos autênticos ‘eus’”, da nossa individualidade.

Em outras palavras, podemos dizer que diversas são as “técnicas de si” disponibilizadas,

contemporaneamente, que nos permitem buscar uma identidade, a constituição do sujeito. A

título de exemplo, podemos citar aquelas proporcionadas pelas novas tecnologias, como o

orkut, as salas de bate-papo, os blogs – nosso corpus de análise –, entre outras.

Dentre as “tecnologias de si” criadas na Antiguidade, a que mais se aproxima

dos blogs é o hypomnemata. Antes de esclarecermos em que pontos tais técnicas se

assemelham, esboçaremos a definição da “técnica de si” greco-romana e também,

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posteriormente, cristã. Conforme Foucault (2006a, p. 135), os hypomnematas “constituíam

uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou pensadas; ofereciam-nas, assim, qual

tesouro acumulado, à releitura e à meditação ulterior”. Eles funcionavam como veículo

importante na subjetivação do discurso, não constituindo uma narrativa de si mesmo, mas

algo que reúne, unifica e subjetiva o que se pode ler, ouvir e viver, ou seja, o já dito

fragmentário e escolhido, para a constituição do ser. A esse respeito, o mesmo filósofo,

referindo-se a Sêneca, resume bem o conceito do hypomnemata: “o escritor constitui a sua

própria identidade mediante essa recoleção das coisas ditas” (p. 143-144).

A escrita de si dos greco-romanos era endereçada aos mestres, e a escrita de si

dos cristãos, aos sacerdotes. No primeiro caso, o mestre representava um administrador

racional dos conflitos do “eu”, alguém que avaliava as faltas comuns e reativava as regras de

conduta que era preciso ter presentes no espírito. Já no segundo caso, o sacerdote

configurava-se como um julgador, ou seja, aquele que podia dar a penitência e aliviar as

culpas.

Nos blogs jornalísticos não existe nem a figura do mestre nem a figura do

sacerdote, mas a escrita coloca-se sob o olhar do outro, que pode exercer função de mestre, de

sacerdote ou outras, como de juiz, por exemplo.

Para o filósofo francês, a escrita de si tem uma relação de complementaridade

que atenua o sentimento de solidão e permite dar o que se viu ou pensou a um outro olhar.

Além de ter descrito as “técnicas de si”, Foucault também descreveu os

procedimentos, princípios ou mecanismos de controle do discurso no livro A Ordem do

Discurso (1996).

[...] suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade (FOUCAULT, 1996, p. 9).

A partir dessa fala, o filósofo inicia sua classificação dos mecanismos de

controle do discurso. Ele os divide em três grandes grupos: os princípios de exclusão, que

concernem a parte do discurso que põe em jogo o poder e o desejo e exercem-se do exterior;

os princípios internos, cujos discursos, eles mesmos, exercem seu próprio controle; e os

princípios de sujeição ou rarefação do discurso, os quais selecionam os sujeitos que falam

impondo regras aos indivíduos e não permitindo que todos tenham acesso ao discurso.

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Cada um desses grupos se subdivide em procedimentos distintos. O primeiro

engloba os mecanismos denominados: interdição, por meio do qual fica estabelecido que “[...]

não se pode falar tudo em qualquer circunstância, [...] qualquer um, enfim, não pode falar

qualquer coisa (FOUCAULT, 1996, p. 9); separação/rejeição, que censura alguns discursos e

valoriza outros; e vontade de verdade, a qual atravessa os dois outros mecanismos referidos e

é, de acordo com Foucault (1996), o tipo de separação historicamente construída que rege

nossa vontade de saber.

Tanto a vontade de verdade como os outros sistemas de exclusão se apóiam

sobre um suporte institucional e são reconduzidos pelo modo como o saber é aplicado,

valorizado, distribuído e atribuído em uma sociedade a fim de exercer uma espécie de

pressão, um poder de coerção sobre os outros discursos.

No segundo grande grupo mencionado, cujos procedimentos funcionam “a

título de princípios de classificação, de ordenação, [...] como se se tratasse, desta vez, de

submeter outra dimensão do discurso: a do acontecimento e de acaso” (FOUCAULT, 1996, p.

21), encontramos o comentário, que permite construir novos discursos ao mesmo tempo em

que diz apenas “o que estava articulado silenciosamente no texto primeiro” (p. 25),

controlando, assim, o acaso do discurso pelo jogo de uma identidade que teria a forma da

repetição e do mesmo; o autor, como princípio de agrupamento do discurso, origem de suas

significações e foco de sua coerência; e a disciplina, como um saber construído que não se

liga a um inventor, está à disposição de quem quer, permite formulações novas, inscreve-se

em um certo horizonte teórico e encontra-se “no verdadeiro”.

O terceiro e último grupo permite o controle dos discursos e seleciona os

sujeitos que falam, determinando que ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer

a certas exigências. Ele engloba os seguintes mecanismos: ritual, que define a qualificação, os

gestos, o comportamento dos indivíduos que falam, a circunstância e todo o conjunto de

signos que acompanha o discurso; sociedades de discurso, cuja função é preservar ou produzir

discursos dentro de um espaço fechado e sob regras restritas; doutrina, que liga os indivíduos

a certas enunciações e lhes proíbe todas as outras, determinando a sujeição dos sujeitos que

falam aos discursos e dos discursos ao grupo de indivíduos que falam; e apropriação social do

discurso.

Diante de todos esses procedimentos de controle do discurso, torna-se coerente

a colocação de Foucault (1996) de que em nossa sociedade esconde-se uma espécie de “temor

surdo” do discurso, por isso tenta-se controlar sua proliferação e seus efeitos de sentido:

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[...] parece-me que sob esta aparente veneração do discurso, sob esta aparente logofilia, esconde-se uma espécie de temor. Tudo se passa como se interdições, supressões, fronteiras e limites tivessem sido dispostos de modo a dominar, ao menos em parte, a grande proliferação do discurso ( p. 50).

Após termos apresentado, nessa primeira parte do trabalho, os pressupostos

teóricos sobre os quais nossa dissertação se apóia: a noção de sujeito discursivo, de prática

discursiva e de leitura, de ordem do discurso, das técnicas de si, entre outras, buscamos expor

e discutir, no próximo capítulo, assuntos relativos à contemporaneidade, às novas tecnologias

e aos weblogs jornalísticos.

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2 PÓS-MODERNIDADE E CIBERESPAÇO

Agora, aqui, veja, é preciso correr o máximo que você puder para permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir a algum outro lugar, deve correr pelo menos duas vezes mais depressa do que isso!

Lewis Carroll

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Vivemos hoje na atmosfera do “medo ambiente”, segundo Marcus Doel e

David Clarke (apud BAUMAN, 1998), frente à nova desordem do mundo onde prevalece a

irracionalidade e a cegueira moral da competição de mercado, a desatada liberdade concedida

ao capital, o despedaçamento das redes de segurança socialmente tecidas, o repúdio a todas as

razões não econômicas e o dominante espírito de consumismo para satisfazer não às

necessidades, mas aos desejos.

Ao contrário do que a modernidade clássica almejou, segurança, ordem e

sistematicidade social excessiva, que gerou a escassez da liberdade, a pós-modernidade

encontra-se seduzida por propostas de aventura que oferecem opções abertas e livres, nas

quais poucas coisas devem ser predeterminadas e irrevogáveis.

De acordo com Lemos (2004), a idéia de pós-modernidade, que aparece na

segunda metade do século XX com o advento da sociedade de consumo e dos mass media,

está associada à queda das grandes ideologias modernas e de idéias centrais como história,

razão e progresso. Modos de ser, pensar, agir e fabular se encontram abalados em meio à

realidade vigente na qual metáforas diversas, como pós-modernidade (CASTELLS, 2003) e

hipermodernidade (LIPOVETSKY apud CORACINI, 2006), florescem para representar e

descrever as transformações desse momento contemporâneo.

Conforme Coracini (2006, p. 134):

[...] todos os termos utilizados [...] embora tragam em seu bojo diferentes olhares sobre o mundo contemporâneo, atestam que algo resta da modernidade, já que ela se acha, inclusive, presente na própria nomenclatura modificada por um prefixo (hiper, super, pós) ou por um adjetivo (tardia, dentre outros).

A respeito dessas denominações, a autora ainda afirma que se trata “de uma

perspectiva, de um olhar que vê a realidade contemporânea atravessada pelo mesmo e pelo

diferente, pela racionalidade e, ao mesmo tempo, pela fragmentação, dispersão

(heterogeneidade) de tudo e de todos” (p. 134). Lipovetsky (apud CORACINI, 2006) acredita

que os tempos hipermodernos se caracterizam pela emergência das contradições, pelo

imbricamento entre a vontade de liberdade e o aumento da vigilância.

Foucault (apud BAUMAN, 2001) utiliza o projeto do Panóptico de Jeremy

Bentham como arquimetáfora do poder moderno, em que poucos (os administradores) vigiam

muitos (os internos), organizada e coordenadamente. Os administradores tinham o poder do

domínio do tempo e imobilizavam os subordinados no espaço. Com o advento da pós-

modernidade ou segunda modernidade (BAUMAN, 2001), o poder pode se mover com a

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velocidade do sinal eletrônico (o celular, por exemplo), tornou-se extraterritorial e não mais

desacelerado pela resistência do espaço. Dessa forma, os detentores do poder tiveram a

oportunidade de livrarem-se das desvantagens da técnica de poder do Panóptico.

Segundo Bauman (2001), estamos na era do pós-panóptico, em outras palavras,

um indivíduo se vê controlado por uma multiplicidade de olhares. A vigilância ocorre de

forma imperceptível e subliminar. Estamos submetidos à vigilância na nossa privacidade

“pela Internet, pelas câmeras instaladas nas lojas, nos edifícios, nos elevadores, nas máquinas

eletrônicas dos bancos, nos supermercados [...], embora, no discurso, tudo isso tenha o

objetivo de nos proteger de roubos, assaltos, incômodos” (CORACINI, 2006, p. 137).

De acordo com Castells (2003), com o advento dessa nova era, o discurso da

liberdade de expressão pode se difundir através do planeta sem necessitar da mídia de massa,

visto que muitos interagem com muitos. A world wide web (www) possibilita a divulgação de

mensagens políticas, a comunicação por e-mails, chats e salas de bate-papo, a transmissão de

idéias, a busca de informação e ainda possui uma memória gigantesca.

Em um de seus livros, o sociólogo Bauman (2001) faz uma interessante

reflexão sobre essa modernidade contemporânea e cria uma metáfora para melhor definir o

estado em que o mundo atual se encontra: modernidade líquida, ou seja, ele compara a

contemporaneidade com a matéria líquida e conclui que a sociedade do século XXI está

impregnada de propriedades pertencentes aos líquidos, como fluidez, difusão, mobilidade e

aparente leveza.

Dessa forma, viver nesse momento significa abandonar toda esperança de

totalidade e estaticidade, aderir ao movimento, à busca obsessiva e sempre incompleta da

modernização e adaptar-se a uma sociedade difusa, na qual aqueles que não conseguem

participar desse pós-moderno jogo consumista são tachados de consumidores falhos

(BAUMAN, 1998).

Um número crescente de homens e mulheres pós-modernos delicia-se na busca

de novas e ainda não apreciadas experiências, o que confirma que é impossível permanecer

fixo na contemporaneidade:

[...] a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento. Não se resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser moderno. É-se colocado em movimento ao se ser lançado na espécie de mundo dilacerado entre a beleza da visão e a feiúra da realidade – realidade que se enfeiou pela beleza da visão. Nesse mundo, todos os habitantes são nômades, mas nômades que perambulam a fim de se fixar. Além da curva, existe, deve existir, tem de existir uma terra hospitaleira em que se fixar, mas depois de

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cada curva surgem novas curvas, com novas frustrações e novas esperanças ainda não destroçadas (BAUMAN, 1998, p. 92).

Percebe-se por meio da citação que o eixo da vida pós-moderna não é fazer a

identidade deter-se e tornar-se firme, mas evitar que ela se fixe.

Como fruto dessa circunstância que prima pela liberdade e modernização

nasceu a Internet, o primeiro meio de comunicação que permite a interação de muitos com

muitos, num momento escolhido e em escala global. Em outras palavras, ela representa uma

nova tecnologia de comunicação mediada pelo computador e veio justamente atender às

necessidades da sociedade pós-moderna: liberdade, movimento e constante modernização.

Embora a Internet tenha começado na mente dos cientistas da comunicação na

década de 1960, uma rede de comunicação via computador tivesse sido formada em 1969, foi

somente em 1995 que ela irrompeu para os empresários e a sociedade mundial em geral (o

que não significa que todos tenham acesso à Internet).

Antes de prosseguirmos com nosso trabalho, gostaríamos de esclarecer que os

autores que discutem questões acerca das novas tecnologias se dividem entre os tecnófilos,

que acreditam que a cultural digital proporciona e proporcionará grandes avanços nas relações

humanas, como Lévy e Lemos; e os tecnófobos, que apontam a cultura digital como

destruidora de valores éticos e morais, como elitista, autoritária e desumana. Todavia,

optamos por não defender nenhuma dessas visões em nossa pesquisa. Acreditamos apenas que

as novas tecnologias provocaram e ainda provocam mudanças significativas na relação

estabelecida entre os sujeitos e os discursos.

A respeito da Internet, Castells (2003, p. 225) assegura que:

[...] como a comunicação é a essência da atividade humana, todos os domínios da vida social estão sendo modificados pelos usos disseminados da Internet [...]. Uma nova forma social, a sociedade em rede, está se constituindo em torno do planeta, embora sob uma diversidade de formas e com consideráveis diferenças em suas conseqüências para a vida das pessoas, dependendo de história, cultura e instituições.

No mundo digital, o espaço pode ser atravessado, literalmente, em instantes,

cancelando, assim, a diferença entre “longe” e “aqui”. O espaço físico é diluído e comprimido

na fronteira eletrônica digital, criando, juntamente com a instantaneidade do tempo, uma

contradição entre o imobilismo da casa e o nomadismo proporcionado pelas novas

tecnologias, que permitem que o usuário esteja em vários lugares se conectado à rede. Castells

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(2003) nomeia essa potencialidade da rede de ubiqüidade e afirma que nenhum outro suporte

ofereceu tal possibilidade.

A respeito da Internet, ainda destacamos que ela altera os hábitos de seus

usuários, uma vez que torna possível fazer compras, ir ao correio e ao banco sem se levantar

do assento frente ao computador. Essa atividade, exercida à distância e por meio de poucos

movimentos, vem trazendo mudanças na forma como o sujeito constitui sua identidade:

Ora, toda essa atividade, exercida à distância numa espécie de imobilidade, já que se age sem se locomover, se faz sem se mexer a não ser os dedos sobre o teclado ou sobre o mouse, imobilidade atrofiante, não apenas porque impede a mobilidade física dos membros, mas porque estabelece uma relação à distância com o outro que não se vê, não se ouve, com quem não se fala, não se estabelece laço social algum [...] Nesse sentido, essa imobilidade, que acomoda e transforma, inevitavelmente, o corpo e a mente, traz – e já está trazendo, ainda que não o tenhamos percebido – mudanças para a constituição identitária do sujeito (CORACINI, 2006, p. 140-141).

Consoante Lemos (2004, p. 156), entender a realidade virtual significa

considerar dois elementos fundamentais da telepresença: a idéia de imersão e de navegação.

Segundo o sociólogo:

[...] a imersão nos permite que tenhamos o sentimento de estarmos dentro de um universo. Já a navegação é a sensação de nos deslocar, de poder olhar a partir de outras perspectivas, de tocar e mesmo mudar o curso dos acontecimentos. A navegação é o trajeto pelo fluxo da informação.

Em outras palavras, estar conectado à rede digital é o mesmo que estar imerso

em outra realidade – a realidade virtual – e em constante movimento ou fluxo proporcionado

pela navegação, que é de outra ordem, ou seja, navega-se na rede sem uma rota segura e

linearmente traçada; sabe-se, talvez, a origem, mas não se sabe aonde se vai chegar diante do

emaranhado de nós ligados por conexões entre palavras e links na rede.

A rede eletrônica, assim como O livro de areia de Borges24, é um dinâmico

hipertexto com estranhas particularidades e que guarda em si uma estrutura sem começo ou

fim definidos. É algo movediço que a cada abertura de páginas se transforma, desaparece ou

recria.

Schittine (2004) observa que no computador o homem se fecha para as relações

presenciais para se abrir num plano virtual, no qual irá comunicar-se com pessoas reais,

24 BORGES, Jorge Luis. O livro de areia. In: Obras completas, Tomo III. Rio de Janeiro: Globo, 2000.

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porém distantes fisicamente. A opacidade da tela permite àquele que escreve se expor sem se

identificar. O monitor representa uma janela blindada.

A esse respeito, Coracini (2006) acrescenta que a Internet afasta e aproxima as

pessoas ao mesmo tempo, transformando os relacionamentos, que perdem o calor humano do

contato físico e do olhar e dão lugar à frieza da distância e do invisível.

Todavia, as novas tecnologias não proporcionaram apenas a desmaterialização

espacial e a instantaneidade temporal; elas, associando à cultura contemporânea novas

realidades, possibilitaram ao homem do século XX e XXI a convivência efetiva com o

ciberespaço, a simulação e os processos de virtualização.

A expressão ciberespaço foi cunhada, nos Estados Unidos, pelo escritor

cyberpunk de ficção científica Willian Gibson, em 1984, que o definiu como um espaço não-

físico ou territorial composto por um conjunto de redes de computadores através das quais

todas as informações circulam.

Após essa definição, várias outras foram criadas por pesquisadores das novas

tecnologias, a maioria delas demonstrando que o ciberespaço representa uma passagem.

Lemos (2004, p. 132) o entende “como um rito de passagem da era industrial à pós-industrial,

da modernidade dos átomos à pós-modernidade dos bits [...] de um social marcado pelo

indivíduo autônomo e isolado ao coletivo tribal e digital”.

Uma outra realidade com a qual o homem atual convive é a simulação.

Segundo Baubrillard (1981), o que sobrevive no mundo midiático, enquadrando-se aqui a

Internet, não é o real, mas o simulacro do real, ou seja, o digital é um simulador do mundo

real e cria no internauta a sensação de que ele é um sujeito onipotente e onipresente, pois pode

vigiar, espiar, entrar e sair da Internet sem ser percebido. Para Baudrillard, o ciberespaço só

permite simulações de interação e não verdadeiras interações. O internauta não acessa

narrativas da história real, mas apenas o simulacro de algo ao mesmo tempo distante e

próximo no espaço e no tempo.

Com relação aos processos de virtualização é preciso destacar que eles não

surgiram em conseqüência da Internet. Na realidade, o termo virtual e seus derivados apenas

passaram a ser mais utilizados e difundidos após a disseminação do uso da rede, o que

significa que eles já existiam antes. A partir disso, é imprescindível que se compreenda o que

é virtual.

Pierre-Lévy (2005), em seu livro O que é o virtual, colabora de modo efetivo

para que se entenda melhor o que tal termo significa. O autor do livro afirma que virtual não

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se opõe a real, mas sim a atual. E a partir do livro Atlas de Michel Serres, compreende o tema

do virtual como “não-presença”, concluindo, dessa forma, que a imaginação, a memória e o

conhecimento são exemplos de virtualização que fazem com que o homem abandone a idéia

de presença muito antes da informatização e das redes digitais.

Quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam “não-presentes”, se desterritorializam. Uma espécie de desengate os separa do espaço físico ou geográfico ordinários e da temporalidade do relógio e do calendário. É verdade que não são totalmente independentes do espaço-tempo de referência, mas uma vez que devem sempre se inserir em suportes físicos e se atualizar aqui e alhures, agora ou mais tarde (LÉVY, 1996, p. 21).

Ainda de acordo com o estudioso, o texto pode ser entendido como uma

entidade virtual, independente de suporte específico, que se atualiza a cada leitura ou

interpretação.

Também é necessário e possível notar que a Internet possui um efeito negativo

potencial, trata-se do sentimento pessoal de perda de controle, de aceleração de nossas vidas,

de uma corrida interminável rumo a metas desconhecidas. “Homens e mulheres procuram

grupos de que possam fazer parte, com certeza e para sempre, num mundo em que tudo o

mais se desloca e muda, em que nada mais é certo” (HOBSBAWN apud BAUMAN, 2001, p.

196).

Ao pensarmos o sujeito pós-moderno, percebemos que ele experimenta a

virtualidade e vaga entre o real, o imaginário e o virtual, deixando abalada a idéia de

concretude e “realidade”. Oliveira (2006, p. 143-144) afirma:

O sujeito pós-moderno experimenta na virtualidade a instalação de uma linha tênue entre o real, o imaginário e o virtual. Abala-se a idéia de concretude e de “realidade”, pois o sujeito encontra-se no mundo de Alice: tem um mundo maravilhoso aos seus pés, porém não consegue tocá-lo. Mas esse mundo consegue modificá-lo enquanto ser e oferece-lhe a ‘ilusão da onipotência e da onipresença’, a sensação de poder ser quem quiser.

Antes de passarmos para o tópico seguinte, destacamos ainda que a Internet e

os weblogs jornalísticos podem ser considerados como dispositivos da cibermídia (ARAÚJO,

2005).

Conforme a autora, que se apóia nas idéias de McLuhan, a cibermídia é o

“conjunto de mídias digitais em ambientes cíbridos25 fixos ou móveis” (p. 192), incluindo

25 Cíbrido: ambiente pautado e cindido por interconexões on e off-line.

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todas as interfaces internas e externas que permitem conexão, como os computadores fixos e

móveis, os palmtops e os celulares.

A partir de uma comparação que faz entre a estrutura de rizoma26, proposta por

Deleuze e Guatari (1995), com a estrutura da rede, Araújo (2005) percebe que a cibermídia

toma a forma de uma cidade digital. Não uma cidade simplesmente, mas uma hipertrópole.

Isso tudo porque o conteúdo oferecido nos diferentes espaços virtuais pode ser comparado

com os espaços de uma cidade: podemos fazer compras, serviço de bancos, conhecer pessoas,

manter relações sociais, visitar lugares, dentre inúmeras outras possibilidades. Assim, essa

suposta hipertrópole digital acaba por substituir, para muitos, a cidade real.

Diante do exposto no texto acima, é possível perceber, na contemporaneidade,

que nos deparamos com um sujeito em constante fluxo que, por meio de simulacros do real,

busca se constituir como um ser livre, original e dono de seu discurso. Entretanto, conforme

foi mencionado anteriormente, devemos considerar, ao observar a constituição identitária

desse sujeito, que seus hábitos foram alterados, que a distância modificou sua forma de

relacionar-se com o outro, que a vigilância “dos corpos” se intensificou e que, assim como a

AD defende, o sujeito não é livre nem original.

2.1 O MUNDO BLOGOSFERA

Da inquietude da pós-modernidade emergiu um suporte capaz de representar

toda movimentação e vontade de liberdade de uma época: a Internet; e dela derivaram e ainda

derivam vários gêneros que buscam representar de modo específico cada necessidade da

sociedade em rede. Dessa forma surgiu o e-mail, o chat, a sala de bate-papo, o weblog, entre

outros.

Apesar de todos os gêneros citados apresentarem características interessantes e

singulares de serem observadas, dedicamo-nos a analisar os weblogs pelo fato de eles terem

aberto o terreno para o discurso da democratização do acesso à palavra, ao espaço público e

ao enriquecimento da conversação social. Além disso, intensificaram uma prática, que vinha

sendo realizada pela televisão e pelo rádio, mais parcial e subjetiva do trabalho com a

informação.

26 Rizoma: estrutura que não tem pontos fixos, não segue caminhos determinados e não apresenta um centro fixo.

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O termo weblog, ou blog, como são conhecidos, é derivado da junção das

palavras inglesas web (palavra que designa o ambiente da Internet) e log (diário de bordo).

Possui formato semelhante ao de uma webpage, porém com maior agilidade e fácil

atualização.

Segundo Schittine (2004), num primeiro momento, os weblogs foram criados

com o perfil de um diário íntimo de bordo, ou seja, com escrita personalizada, informal e

subjetiva. Já Barbosa e Granado (2004) defendem que, na fase inicial do fenômeno, muitos

dos weblogs existentes discutiam sobre a tecnologia informática.

Em nossas pesquisas, verificamos que os blogs têm aumentado de forma

significativa. Segundo um relatório do site especializado Technorati27 publicado pelo

fundador da empresa, David L. Sifry, em novembro de 2006, são criados 175 mil blogs a cada

dia e a atualização dos blogueiros ultrapassa a casa de 1,6 milhão de posts por dia, o

equivalente a 18 atualizações por segundo. O rastreamento da Technorati constatou, até o

momento, a existência de 6,2 milhões de blogs no mundo todo, número esse que dobra a cada

230 dias aproximadamente.

Encontramos, hoje, blogs que funcionam como complemento de jornais

impressos, como boletim informativo de empresas, como páginas de marketing político,

pessoal ou empresarial, como página de divulgação de trabalhos científicos, como veículo de

humor e entretenimento e ainda como suporte educativo, ou seja, os weblogs vêm sendo

usados por vários segmentos da sociedade. Assim também observa Orihuela28 (2006, p. 65-

66), “el weblog es susceptible de ser utilizado como vehículo de expressión en diversos

géneros que ván desde el diário personal autobiográfico, hasta los weblogs profesionales

temáticos orientados a nichos de mercado específicos”.

As razões que levam uma pessoa a montar e escrever um blog são comuns às

outras formas de escrita pública, como a necessidade de expressão, o desejo de dividir saberes

e interagir em comunidade, a busca de reconhecimento, a participação política, a defesa de

interesses, a busca de benefícios econômicos ou até mesmo a simples necessidade de se expor

publicamente.

A respeito dos blogs, a idéia de diário pessoal é a que comanda, mas essa

versão intimista constitui apenas uma das modalidades dos weblogs (SCHITTINE, 2004). Os

blogs mais reconhecidos são os temáticos e não os autobiográficos. Ainda que aqueles

27 Ver site: http://www.technorati.com/. 28 José Luis Orihuela: professor universitário, jornalista, conferencista e blogueiro, autor do weblog eCuaderno.

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apresentem anotações pessoais, estão centrados em temas de interesse público e sobre os

quais os autores têm algum tipo de competência.

Uma das tradições da comunidade blogueira é a utilização constante do link,

recurso esse que permite informar fontes, indicar caminhos e partilhar descobertas. Nessa

comunidade, linkar corresponde ao modo correto de reconhecer o trabalho dos demais, de

respeitá-los e de construir uma conversa comunitária, ou seja, a blogosfera.

Segundo explicações do Technorati29, o estabelecimento de links entre os blogs

representa um “voto de atenção” de um autor para outro. A soma crescente e espontânea dos

links acaba por conferir mais “autoridade” na blogosfera, contribuindo para ampliar o público

e a repercussão do trabalho de cada blogueiro.

Outra faceta interessante dessa “nova” esfera de criação e de expressão é o

comentário, que surgiu nessa comunidade virtual apenas em 2004, abrindo um espaço de

diálogo entre o autor do blog e seus leitores e funcionando como uma fonte de

enriquecimento, atualização e contraste das histórias publicadas, um lugar de debate e

polêmica e também um meio pelo qual novos blogueiros se dão a conhecer. Todavia, é

preciso esclarecer que muitos weblogs têm optado por moderar os comentários a fim de

conservar a qualidade das conversas, posto que podem ocorrer insultos e ofensas nesse

espaço, e de banir os spaners30 e os trols31.

Em uma das publicações do blog Código Aberto32, Castilho expõe a questão

sobre a implementação de um código de conduta para os blogs, o qual teria como principal

função punir os comentários que apelam para a baixaria, as agressões e para a difamação. O

autor deixa bem claro, porém, que essa é uma situação complexa, de difícil consenso e

defende que o blogueiro deve ter autonomia para decidir o que considera aceitável ou

inaceitável em seu weblog.

Barbosa e Granado (2004) afirmam que muitos bloguers questionam-se sobre

como lidar com os comentários perversos e concluem o mesmo que Castilho.

Ainda a respeito dos weblogs é importante destacar que eles, como dispositivo

da cibermídia, somam características de vários outros meios provenientes da rede (chats, e-

mails, salas de bate-papo, jornalismo on-line, etc.). Com um olhar acurado podemos notar que

29 Ver site: http://www.technorati.com/. 30 Spam: comentário automático ou manual postado com a finalidade de incluir link ou site comercial no blog. 31 Trol: autor de comentário agressivo. 32 CASTILHO, Carlos. A polêmica sobre a necessidade de um código de conduta para os blogs. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={F64F220E-885E-48E1-B1F9-A942C24DDA22}&data=200704.

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os blogs facilitam a publicação e distribuição de informação e opinião, geram comunidades

virtuais e potencializam a interação social por meio dos comentários deixados pelos leitores.

Conforme Barbosa e Granado (2004, p. 12):

Os weblogs congregam as principais características da Internet. São utilizados para comunicar, como o correio electrônico [sic.]; permitem discutir e analisar assuntos, à semelhança dos fóruns de discussão; possibilitam o contacto[sic.] entre pessoas distantes que partilham idéias e objectivos [sic.] comuns, como os chats; e são facilmente acedidos através da World Wide Web. A acrescer a tudo isto está o facto [sic.] de poderem ser criados e mantidos mesmo por quem tem pouco ou nenhum conhecimento de programação para a Web.

Além das características citadas, Orihuela (2006) considera os weblogs como

um gigantesco arquivo que opera como memória da web; um filtro social de opiniões e

notícias, uma vez que possibilitam saber como os cidadãos que têm acesso à rede recebem a

notícia; e um sistema de controle e crítica das mídias tradicionais, considerando que as

contradições, os erros e as manipulações desses meios são o assunto preferido dos blogueiros.

Neste ponto do seu livro, o autor chega a afirmar que os weblogs representam o quinto poder,

um contrapeso aos poderes executivo, legislativo e judiciário e, especialmente, à imprensa.

“La blogosfera tiene una función mediática de primer orden y se está convertiendo en un

quinto poder, especialmente sensible a los errores y manipulaciones de los medios

tradicionales”(p. 157).

Podemos interpretar a afirmação do autor sob duas perspectivas: como

entusiasmada e inusitada, se observarmos que a desigualdade social é imensa e poucos têm

acesso à Internet no país (aproximadamente 9% da população); e como viável se

considerarmos o acelerado crescimento e a relevância dos blogs como mídia digital.

Com certeza muito ainda poderia ser dito a respeito da blogosfera, pois se trata

de um assunto atual e que possibilita inúmeras discussões. Todavia, o nosso intuito, nesse

tópico, não é esgotar o tema em todas as suas abordagens, mas sim descrevê-lo, demonstrar

sua relevância nos dias contemporâneos e salientar que esse mundo blogosfera vem sendo

usado como uma mídia digital que carrega consigo “novas” particularidades. Tendo cumprido

nossa meta, vamos agora nos dedicar a observar e comentar a relação entre o jornalismo

digital dos weblogs e o jornalismo tradicional impresso.

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45

2.2 JORNALISMO IMPRESSO E JORNALISMO BLOGUEIRO: CONGRUÊNCIAS

E DISPARIDADES

A história da imprensa moderna começa no século XV, mais precisamente no

ano de 1440, com a invenção da prensa móvel por Johannes Guttenberg, que tinha por

finalidade aperfeiçoar a técnica de reprodução de textos por meio do uso dos tipos móveis.

Somente a partir do século XVIII, essa tecnologia foi usada para imprimir

jornais, até então os únicos veículos jornalísticos existentes.

Em razão da censura e da proibição de tipografias impostas pela corte

portuguesa, o Brasil demora a conhecer a imprensa, somente introduzida no nosso país com a

chegada de D. João VI. Apenas em 1808 surgem os dois primeiros jornais brasileiros: o

Correio Brasiliense, com publicação em Londres, e a Gazeta do Rio de Janeiro, produzida

pela corte.

De acordo com Sodré (1983), tal proibição e censura à imprensa se devem ao

fato de a regra geral da imprensa de então não ser o que se conhece hoje como noticiário, e

sim como doutrinário, ou seja, fazia-se propaganda ideológica capaz de alterar a opinião

pública. Todavia, a censura à imprensa acabou em 1827. Com o advento do império, o

período de turbulência política cessou e o jornalismo brasileiro entrou numa fase cultural,

abrigando homens de letras em centenas de publicações literárias e acadêmicas.

O ano de 1861 representa um marco para a imprensa, pois foi a partir desse ano

e com o início da Guerra Civil dos EUA que surgiram inovações técnicas e novas condições

de trabalho: o telégrafo é utilizado na transmissão de informações a longa distância e

repórteres e fotógrafos recebem credenciais para cobrir o conflito. Nesse mesmo período,

aparecem também novidades técnicas de impressão como o linótipo33.

De meados do século XX em diante, os jornais passam a ser também

radiodifundidos e teledifundidos e, com o advento de World Wide Web (www), surgem os

jornais on-line. Assim, o fim do século XX assiste a uma revolução nas tecnologias de

comunicação e informação que levou à formação de uma mídia com alcance global.

Aliando tal revolução às características pós-modernas, obtemos uma sociedade

que promove e acata o consumo desenfreado de notícias e informações e que, de acordo com 33 Linótipo: tecnologia de composição de página com uso de tipos de chumbo fundidos para gerar linhas inteiras de texto. Inventado em 1889 por Otto Merganthaler (SILVA, 2005, http://www.falcaodominho.pt/jornal/index.php?=fm_news.php?nid=763).

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Oliveira (2005), marginaliza aquele que não tem o saber e o poder de acessar a Internet, não

interage com seus pares na web e não tem um endereço eletrônico.

Foi em 1992 que, no Brasil, chegaram os canais internacionais de TV por

assinatura, a TV a cabo e a Internet comercial, ocorrências que possibilitaram a transmissão

ao vivo do maior atentado terrorista da história em 11 de setembro de 2001.

É preciso que se esclareça que tal atentado apenas acarretou a repercussão dos

blogs, mas o que realmente tornou possível que os weblogs, principalmente os jornalísticos, se

instituíssem como uma mídia, foram as exigências da vida moderna, cuja disponibilidade de

tempo é cada vez menor, inclusive para a leitura, aliada à crise da comunicação impressa

desencadeada pelas diversas mídias on-line e não apenas pelos blogs jornalísticos.

Alguns fatores influenciaram avidamente a crise da mídia impressa tradicional,

como o seu custo elevado em detrimento da gratuidade de acesso aos blogs.

Segundo um estudioso da área, Souza (2004), as vantagens oferecidas pela

mídia on-line são inúmeras e atrativas: a Internet possibilita o uso de todos os recursos

multimídia, ou seja, os weblogs permitem a “convivência de múltiplas semioses, a exemplo de

textos escritos, de imagens e de som” (KOMESU, 2005, p. 111); os blogs permitem ao

usuário traçar o seu próprio caminho de informação por meio dos hiperlinks que facilitam a

leitura não-linear; a facilidade de utilização do comentário e a velocidade de transferência das

mensagens promovem um feedback muito mais eficaz que as antigas cartas à redação; os

“furos” jornalísticos tornam-se utópicos para os jornais impressos, uma vez que são

antecipados não somente pelos weblogs, mas pelas demais mídias que trabalham com a

instantaneidade da notícia; a sensação de liberdade gerada pela blogosfera é amplificada, visto

que se cria a ilusão de que tudo pode ser dito na rede por causa da liberação de quem fala e de

que posição fala.

Indubitavelmente outras vantagens da blogosfera poderiam ser mencionadas,

mas gostaríamos aqui de colocar a seguinte questão: Será que os jornais impressos estão com

os dias contados?

Provavelmente não, mas é fato que estão passando por muitas mudanças e que

perderam grande parte do prestígio de que gozavam no início do século XX.

Na realidade, a mídia digital, mais especificamente o blog, não surgiu para

substituir a mídia tradicional. Ela surgiu com o avanço das novas tecnologias da informação e

do conhecimento, que fizeram com que a interação e a comunicação entre as pessoas

sofressem várias alterações. Dessa forma, não se trata de um processo de substituição, mas de

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complementaridade, ou seja, ambas têm funções complementares e estão condenadas a se

entenderem e conviverem em um espaço comunicativo que mudou para sempre, posto que é

praticamente impossível anular e apagar tudo o que a Internet proporcionou.

Consoante Orihuela (2006), a “velha mídia” deve aprender com a “nova mídia”

a dialogar com o público leitor, a assumir um ponto de vista mais pessoal da notícia, a

diversificar as fontes e a lidar melhor com os erros que comete. Para o autor, a mídia

tradicional está fadada a mudar, pois muitos leitores preferem a subjetividade e a parcialidade

assumida dos blogueiros à falsa objetividade e imparcialidade da grande imprensa tradicional.

A questão levantada acima é audaciosa e faz com que especialistas da área

manifestem-se a esse respeito. Frias34 (1997) questiona sobre o futuro do jornalismo de papel

e tinta em um mercado cada vez mais eletrônico e computadorizado e diz acreditar que um dia

o jornal eletrônico substituirá o impresso. Mesquita35 (1997, p. 62) corrobora que “embora

esses meios (digitais) ainda não atinjam o público que o jornal atinge, este irá passar por uma

transformação profunda e dramática, mesmo que não desapareça. Mas não acredito que o

jornal continue sobrevivendo nos próximos 50 anos”.

Segundo pesquisas anunciadas por Noblat (2003), o consumo de jornais

reduziu quase 12% no Brasil, e o público jovem e adolescente não se interessa pelos jornais

diários, fato este que pode ocasionar uma queda maior na circulação dos jornais futuramente.

Souza (2004) alerta que talvez seja hora de o jornalismo impresso tradicional

mudar e aceitar a informação como produto que deve ser aprofundado, interpretado,

analisado, contextualizado e só depois disponibilizado ao leitor, aumentando, assim, a

credibilidade do veículo midiático. Ou seja, a notícia do impresso não será inédita como a dos

blogs jornalísticos e dos jornais on-line, mas será completa, precisa, confiável e possibilitará

inovações e maior liberdade de expressão.

A esse respeito foram levantadas algumas reflexões no blog Código Aberto36.

Castilho afirma que a notícia em si não tem tanta importância, pois o que vale é o contexto em

que ela teve ou terá lugar. Segundo o autor do blog, cabe ao repórter a transformação de dados

e informações em conhecimentos estruturados.

Dizard Jr. (2000) acredita que:

34 Luis Frias: empresário e diretor-presidente da Empresa Folha da Manhã S/A. 35 Rodrigo Mesquita: empresário e diretor da Agência Estado. 36 CASTILHO, Carlos. O jornalismo entre a notícia e o conhecimento. Disponível em:<http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={8A4CDC68-4D2E-4C49-83CB-4AA3F37F581B}&data=200704>. Acesso em: 25 abr. 2007.

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[...] os sobreviventes serão as organizações que se adaptarem às realidades tecnológicas e econômicas em transformação. Os perdedores serão os dinossauros empresariais, grandes e pequenos, que não podem ou não querem mudar – todos candidatos a fusões, aquisições ou simplesmente à falência (p. 22).

Diante dessas reflexões acerca da pergunta proposta, concluímos que o

jornalismo tradicional impresso precisa passar por mudanças a fim de atrair leitores, porém

nada podemos afirmar sobre seu fim, essa é uma indagação que se encontra sem resposta

certa.

É sabido que o jornalismo tradicional brasileiro obedece aos princípios da

objetividade e da imparcialidade, cumpre um código de ética e classifica-se de acordo com a

função desempenhada junto ao público leitor: informar ou opinar.

Segundo Melo (2003), os gêneros que correspondem ao universo da

informação se estruturam a partir de um referencial exterior à instituição jornalística, sua

expressão depende diretamente da eclosão e evolução dos acontecimentos, sendo o jornalista

um vigia que registra os fatos e transmite-os à sociedade, explicando e relacionando as

informações. Já os gêneros que se agrupam na área da opinião têm a estrutura da mensagem

co-determinada por variáveis controladas pela instituição jornalística. Eles oferecem a versão

dos fatos: os jornalistas expõem suas próprias opiniões sobre o que lêem, ouvem ou vêem a

fim de formar a opinião do leitor.

Nos blogs jornalísticos não é possível observar uma classificação de categorias

como se vê no jornalismo impresso. Aparentemente, não há uma preocupação com as regras

do jornalismo, nem mesmo quando os blogs pertencem a jornalistas ligados a alguma

instituição, como é o caso do blog do Josias37, ligado à Folha de São Paulo, e o do Blog do

Noblat38, ligado a O Estadão. Os textos não podem ser categorizados como informativos ou

opinativos. O que ocorre é uma mistura de categorias, pois o jornalista-blogueiro, ao mesmo

tempo em que informa, interpreta a notícia, relaciona-a a outros fatos e imprime no e-texto

sua opinião, sua subjetividade. O discurso jornalístico que se encontrava, até então, na ordem

do dizer da neutralidade e da objetividade, tendo como função informar ou formar opinião,

entra em choque com um discurso subjetivo e parcial.

Em relação aos procedimentos de controle do discurso tanto do jornal impresso

quanto dos cibertextos dos weblogs em questão, podemos perceber que eles se diferem, pois,

nos weblogs, o editor coincide com o blogueiro e a seleção das informações não obedece a

37 Ver site: http://www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br. 38 Ver site. http://oglobo.globo.com/pais/noblat/.

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uma hierarquia editorial tão rígida como a do impresso. O blogueiro se pauta pela atualidade,

pelo imediatismo da informação e pelos posts de seus leitores, o que amplia a sensação de

liberdade do jornalista.

De acordo com a pesquisadora Alessandra Aldé39 (apud HAAG, 2006, p. 3-4)

em entrevista para revista Fapesp:

Ao contrário da edição de um diário, cujas matérias vão sendo modificadas ao longo do dia, sendo mesmo descartadas antes de chegar ao leitor, no jornalismo on-line o processo de apuração, reportagem e checagem dos fatos acontece em tempo real e é acompanhado pelos leitores que têm acesso a uma variedade maior de informações fragmentadas e fontes alternativas.

O jornalismo impresso não conta com essa possibilidade e, além disso, tem

uma pauta a seguir, a qual determina “não apenas um elenco de temas ou assuntos a serem

observados pelos jornalistas, mas uma indicação dos ângulos através dos quais os

acontecimentos devem ser observados e relatados” (MELO, 2003, p. 78).

Ao considerar a vantagem intrínseca de o blog poder ser atualizado a qualquer

momento, funcionando como um plantão de notícias e cobrindo qualquer “furo”, pode-se

imaginar que ele chega a servir de pauta para o jornal impresso. É o que afirma Drezner40 em

reportagem à revista Fapesp de agosto/2006: “Os blogs são lidos como um barômetro de

interesse num dado tema. Se os leitores-escritores do blog se concentram em algo, isso, com

certeza, interessará à mídia, que será afetada pelo consenso, da mesma forma que a opinião

pública é afetada pela mídia” (apud HAAG, 2006, p. 3).

Esse novo meio eletrônico de fazer jornalismo resgatou a exercitação do “faro”

dos repórteres blogueiros, que saem a campo para descobrir notícias. O contrário do que

acontece no jornal de tinta e papel. Consoante Melo (2003, p. 78), “hoje, essa ação criativa

dos repórteres está bastante limitada, pois o seu trabalho diário se orienta pelas prescrições do

pauteiro”.

Oliveira (2006, p. 136) assevera que o aparecimento dos weblogs jornalísticos

ocasionou a quebra do paradigma da forma como o sujeito-jornalista lidava com as

informações. Tornou-se opaco e imperceptível o processo político que controlava o dizer do

jornalista e tudo mais que era vinculado na mídia tradicional.

39 Pesquisadora do Iuperj e professora da Uerj, uma das poucas pesquisadoras acadêmicas a se debruçar sobre o fenômeno dos blogs, em especial os de opinião. 40 Professor de jornalismo da New York University.

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Também é interessante que ressaltemos a atenção dada ao leitor nos blogs

jornalísticos. Diferentemente do que ocorre no ciberespaço, no impresso não é dada muita

abertura ao leitor, o qual participa do processo jornalístico por meio de cartas que são

selecionadas de acordo com o interesse do veículo de informação e também em detrimento do

reduzido espaço físico reservado a elas. Melo (2003) não concorda com a pouca atenção

dispensada ao leitor dentro do jornalismo de papel e tinta:

O leitor deveria constituir o principal foco de atenção daqueles que produzem informação de atualidade para a imprensa. Afinal de contas, é em função dele que os repórteres observam os fatos, que os redatores escrevem matéria, que os editores decidem o que divulgar. O leitor representa o outro pólo da totalidade jornalística [...].Deveria ser. Mas não é. Pois o jornalismo se organizou e persiste sendo um processo de transmissão de informações. Seu fluxo é unidirecional (p. 172-173).

Talvez este seja um dos motivos das persistentes críticas sofridas hoje pela

mídia impressa: o leitor não participa ativamente do processo de produção jornalística, há

entre o editor e o leitor uma barreira que deve ser rompida. Essa barreira foi criada, em parte,

pela editorialização da mídia impressa, tanto dos jornais quanto das revistas, e vem sendo

criticada com freqüência por leitores de weblogs e jornalistas-blogueiros que não aderiram à

editorialização da mídia de papel e tinta. Abaixo seguem alguns exemplos:

O fato de uma publicação jornalística ter uma opinião, porém, não justifica dar as costas às notícias importantes que nela não se encaixem. Também acho complicado editorializar o material. (Ainda sou daqueles antiquados que acreditam na diferença entre interpretação/análise e editorialização). Não acredito que isso "manipule mentes influenciáveis". Mas, por qualquer medida razoável, é mau jornalismo (SOARES, 2006, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=403IMQ001, grifo do autor).

Marco Costa Costa , São Caetano do Sul-SP - T.P.A A CartaCapital [sic.], a Veja, IstoÉ [sic.], Época, entre outras, não têm o direito de defender este ou aquele governo. Isto cheira conluio político com interesses financeiros dos mais sórdidos. Uma imprensa livre e democratica [sic] não pode andar de braços dados com o sistema vigente. O papel da imprensa democratica [sic] é sempre defender os interesses do povo brasileiro. Quanto aos estudantes que queimaram a revista Veja, não vejo nesta atitude falta da famigerada democracia. Quando não se concorda com alguma coisa que vai de encontro com os interesses do povo, nada mais justo que tomar atitudes desta natureza, porque isto chama-se democracia de livre emanifestação [sic.]. Como sempre, a imprensa neste caso se acha a dona da verdade (SOARES, 2006, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=403IMQ001 ).

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Com o advento do blogs jornalísticos, notamos que foi possível romper parte

da barreira citada, pois houve uma transformação no processo jornalístico por meio de uma

prática que possibilita ao leitor ter uma participação maior, e os comentários indesejáveis,

quando são rechaçados, podem aparecer em outro blog, não havendo como controlar o dizer

do leitor. Melo (2003) acredita que romper essa barreira constitui um desafio para o

jornalismo impresso:

Romper a barreira que separa editor e leitor, produtor e receptor tem sido um desafio para quantos pretendem que o processo jornalístico deixe de ser meramente informativo (unidirecional) e se converta numa prática comunicativa (bidirecional) (p. 173).

Dentro dessas condições de escrita e leitura, é aceitável chamar o leitor de

escrileitor41 (OLIVEIRA, 2006) ou co-autor, uma vez que a autoria do texto é compartilhada.

Ainda é importante lembrar que tudo acontece em tempo real dentro do

ciberespaço, diferentemente do jornal impresso. “O imediatismo e a interação em tempo real,

nesse discurso emergente, são características que deixam o cibertexto muito mais atrativo para

o leitor e escritor” (OLIVEIRA, 2006, p. 137-138).

Como afirma Rosen42 (apud HAAG, 2006, p. 3):

[...] a hegemonia do jornalismo como o guardião das notícias está ameaçada, não por novas tecnologias ou por rivais, como se imaginava até então, mas potencialmente, pelo público a que ele deveria servir: o leitor, transformado em escritor, jornalista e editor.

Diante do exposto, compreendemos que as novas tecnologias possibilitaram

alterações nas relações entre os sujeitos e os discursos. Como mencionamos, os hábitos dos

usuários e a noção espaço-temporal mudaram, permitindo ao sujeito contemporâneo conviver

41“Preferimos utilizar o termo escrileitor, por entendermos que esta é uma das características que define umas das diferenças entre o leitor do impresso do leitor digital. Ressalve-se que no impresso o escrileitor já existia quando colocava suas marcas no texto do outro, mas isto não ocorria da mesma forma como acontece hoje. Na leitura do jornal impresso, diferentemente da leitura de um livro, o máximo que o leitor faz é apenas circular ou rabiscar ou escrever nas extremidades do jornal, mas quase sempre como apontamento e não como co-autor do texto lá inscrito. Tal possibilidade é marcada pelo espaço de tempo que esse leitor tem para escrever em outro suporte, para que se insira no processo da escritura juntamente com o autor da notícia. Além disso, é necessário passar por um crivo do editor para que sua escrita esteja presente na próxima edição do jornal. O espaço do leitor no jornal impresso é delimitado. No caso do blog a escrita do leitor aparece conjuntamente com o post do jornalista-blogueiro e ele pode instantaneamente modificar o efeito de sentido do texto do outro. Há outros termos utilizados para o leitor digital tais como: leitor-navegador (MARINHO); hiperleitor (KOCH) e navegador (LÉVY)” (OLIVEIRA, 2006, p. 137). 42 Professor de jornalismo da New York University.

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com “novas” realidades. Consoante Coracini (2006, p. 140), as atividades exercidas e os

relacionamentos estabelecidos no virtual, ambos a distância e numa espécie de imobilidade,

acomodam e transformam o corpo e a mente dos usuários, trazendo mudanças para a

constituição da identidade do sujeito.

Os weblogs jornalísticos surgem com um discurso de liberdade, ou seja, com o

discurso de que promoverão o acesso livre e democrático à palavra tanto para o bloguer

quanto para o leitor.

Em decorrência disso, torna-se possível acreditar na existência de uma

(re)defínição do profissional jornalista, que tem o papel de informar e interpretar

acontecimentos, relacionar fatos a fim de gerar uma comunidade, dominar as técnicas da

multimídia, ser veloz e possuir uma escrita atrativa; de um “novo” leitor, o leitor-escritor; e de

“novas” formas de subjetivação, ou seja, “novas” identidades.

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3 ANÁLISE DOS BLOGS JORNALÍSTICOS

Carteiros do texto, viajamos de uma margem à outra do espaço do sentido valendo-nos de um sistema de endereçamento e de indicação que o autor, o editor, o tipógrafo balizaram. Mas, podemos desobedecer às instruções, tomar caminhos transversais, produzir dobras interditas, estabelecer redes secretas, clandestinas, fazer emergir outras geografias semânticas.

Pierre Lévy

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Nesta etapa, almejamos cumprir o que foi proposto como objetivo desse

trabalho, ou seja, refletir acerca das práticas de leitura, discursivas e identitárias nos weblogs

jornalísticos de Luis Weis (ANEXO 1) e Josias de Souza (ANEXO 2). Procuramos também

observar as relações de poder recorrentes nesse espaço virtual.

Para tanto, foi feita uma análise dos blogs escolhidos. Valorizamos em nossas

colocações tanto a estrutura e a organização do corpus como a linguagem. Ainda é preciso

destacar que analisamos não apenas a linguagem verbal, mas também a linguagem não verbal,

como fotos e figuras, visto que a teoria adotada permite tal abertura.

Discutimos os discursos e as práticas de leitura presentes em cada weblog, bem

como as identidades assumidas pelo sujeito blogueiro e pelo sujeito leitor dentro do mundo

blogosfera selecionado.

3.1 VERBO SOLTO: UM DISCURSO AUTORITÁRIO

O blog Verbo Solto43 encontra-se localizado no site do Observatório da

Imprensa (OI)44. Nascido na web em abril de 1996, o OI é uma iniciativa do Projor – Instituto

para o Desenvolvimento do Jornalismo e projeto original do Laboratório de Estudos

Avançados em Jornalismo (Labjor) –, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Conforme o site informa 45, “o OI tem equipe responsável, mas não tem ‘dono’”.

Define-se como uma entidade civil, não-governamental, não-corporativa e não-

partidária que objetiva acompanhar, junto com outras organizações da sociedade civil, o

desempenho da mídia brasileira. Funciona como um fórum permanente onde os usuários da

mídia – leitores, ouvintes, telespectadores e internautas –, organizados em associações

desvinculadas do estabelecimento jornalístico, podem manifestar-se e participar ativamente de

um processo no qual, até há pouco tempo, desempenhavam o papel de “agentes passivos”46.

43 Ver site: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={3974085D-F6CF-453A-A8F3-6697C5445A6E}&data=200708. 44 De hora em diante, o Observatório da Imprensa será tomado também como OI. Ver site: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/. 45 Ver site: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/modo.htm. 46 Embora os termos destacados pareçam contraditórios, é assim que eles são empregados pelo site em questão, ou seja, esse é o modo como o site se define. Porém, é sabido que o leitor já participava antes do processo de produção jornalística por meio de cartas. A diferença é que, no impresso, essa participação do leitor era reduzida e selecionada a um espaço pequeno dentro do jornal ou revista.

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Além de sua presença na web, o Observatório da Imprensa também possui

uma versão televisiva, desde 1998, e uma radiofônica, desde 2005. As duas versões estão

contidas no site.

Em todas as páginas acessadas no OI, encontramos uma propaganda de seu

provedor: a IG; e os símbolos das marcas que apóiam ou patrocinam a iniciativa do

Observatório: Ford Foundation, Fiat, Embraer, entre outras. Além disso, temos o slogan de

apresentação e representação do site: o desenho de um olho, de cuja pupila sai uma linha azul

claro que divide duas frases, na parte superior o título do jornal Observatório da Imprensa, na

parte inferior o slogan: “Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito”.

É notório que o próprio slogan traz o pressuposto de que o leitor da mídia

passará de passivo, antes de ler o OI, a ativo47, depois de participar e ler o OI. Assim, o

Observatório da Imprensa se reveste do papel de mediador do saber e do poder de ler de

forma diferenciada de todos os outros suportes e veículos midiáticos, como podemos

visualizar abaixo:

Fonte:http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={3974

085D-F6CF-453A-A8F3-6697C5445A6E}&data=200708.

A respeito das relações de poder, Foucault (2004, p. 276) argumenta que:

[...] nas relações humanas, quaisquer que sejam elas – quer se trate de comunicar verbalmente, como fazemos agora, ou se trate de relações amorosas, institucionais ou econômicas –, o poder está sempre presente: quero dizer, a relação em que cada um procura dirigir a conduta do outro.

Ancorados na fala do filósofo, notamos, no slogan supracitado, a instauração

de uma relação de poder por parte do OI ao inferir, por meio da frase manifestada, que tem o

potencial de modificar a visão dos usuários da mídia, transformando-os em leitores críticos e

reflexivos.

Mesmo que o Observatório não consiga realizar a façanha de transformar seus

leitores, é assim que ele quer ser visto, essa é a imagem que ele deseja que seus leitores

tenham, uma vez que ela produzirá efeitos de sentido favoráveis em seus visitantes virtuais,

47 Ver nota 46.

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podendo torná-los usuários assíduos do site. Dessa forma, é coerente afirmar, com base em

Pêcheux (1990b), que o Observatório, de certa forma, antecipa o possível sentido que o

‘outro’poderá atribuir ao que ele publica. Segundo a teoria das Formações Imaginárias do

mesmo autor (1990b), esse mecanismo denominado antecipação regula a argumentação de tal

forma que o sujeito produz o seu dizer conforme o efeito que pensa produzir em seu ouvinte.

O site ainda se compõe das opções: seções – dividida em vários itens com seus

respectivos colaboradores –, e blogs. Dentre esses blogs, encontra-se o Verbo Solto de Luiz

Weis analisado na seqüência.

Conforme informações fornecidas pelo OI, gostaríamos de salientar que o blog,

nem mesmo o site em que ele se encontra, não está vinculado a nenhum jornal ou empresa

como acontece com o weblog Nos bastidores do poder de Josias de Souza, que será analisado

mais adiante. Apesar de o site receber patrocínios, ele não visa a lucros.

O bloguer e jornalista Luiz Weis constrói seu blog de forma simples, não

divide ou classifica seus textos, apenas os mantém em ordem cronológica, atualiza seu espaço

regularmente e escreve com subjetividade e parcialidade.

Pelo fato de o weblog se encontrar em um site cuja proposta é acompanhar o

desempenho da mídia brasileira, não podemos afirmar que ele discuta algum tema em

especial. Na realidade, ele aborda os assuntos discutidos pelos principais jornais, procurando

nortear seus temas na atualidade dos acontecimentos do cotidiano social, econômico e

político. A apresentação e opinião do jornalista blogueiro é mais ampla ou restrita

dependendo dos ‘interesses’ ou do OI ou das próprias filiações político-ideológicas do

jornalista-blogueiro.

A falta de discussão faz com que alguns internautas classifiquem o blog como

uma forma de reprodução do dizer da mídia, como podemos observar na indignação de um

dos leitores do weblog48 a seguir:

douglas puodzius, pesquisador (são paulo/SP) Enviado em 15/1/2008 às 11:38:44 AM O assunto é interessante. Este blog já se tornou mais um espaço da imprensa. repercute apenas, não discute. É pautado por ela e não pelo interesse em observá-la.

48 Intentamos esclarecer nesta nota que, embora a coleta de dados para análise do blog em questão tenha sido feita até 15 de mês de setembro, decidimos incorporar o exemplo citado, visto que ele traz à tona uma discussão que, até o momento em que encerramos nossa coleta, não havia sido levantada dentro do suporte. Além disso, ele (o exemplo) traz uma resposta ao leitor assinada pelo OI e não pelo bloguer. Ainda gostaríamos de explanar que, quando selecionamos tal exemplo, observamos que o blogueiro responsável pelo Verbo Solto havia realizado algumas modificações na composição de seu suporte, as quais não foram analisadas neste trabalho por não haver tempo hábil.

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57

Aqui também é o lugar dos observadores piratas. Olham certas coisas com seus olhos de lunetas e outras com seus olhos de tapa olho, repetem o que seu papagaio mandar e não tem apenas a perna de pau, como a cara tambem [sic.]. Tem [sic.] preocupações seletivas, dependendo do que ou o que esteja em jogo mostrarão indgnações [sic.] inconsolaveis [sic], dependendo, nem mesmo um suspiro. Isso é o que vejo agora. Um desembargador profere uma setença [sic.] proibindo o gov. requião [sic.] de falar. Ele, o meretrissimo [sic.], não avalia o mérito do que falou, porque senão o teria condenado pelo q disse, mas condena o futuro: Não pode falar. É uma censura prévia e absurda. E nenhuma linha sobre o caso neste blog. Um pouco daquela mesmo indgnação [sic.], daqueles mesmos discursos defendendo a midia [sic.], a liberdade de expressão, quando alguem [sic.], em processo justo, ganha causas contra inverdades publicadas pela imprensa. É isso aí... (mascando fumo) Bservatóriu [sic.] da imprensa, brazileru [sic.](cospe)...

Nota do OI: O atento leitor já deve ter notado que o Observatório não se resume ao blog Verbo Solto. Veja notas sobre o caso MP vs. Requião nas seções Caderno da Cidadania e Entre Aspas da edição nº 467 e no Circo da Notícia, edição nº 468. Boa leitura (WEIS, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3).

A resposta ao dizer do internauta é dada de forma indireta, pois a nota-resposta

é assinada pelo OI e não por Weis. É um retorno de esquiva que produz, a partir da

adjetivação positiva atribuída ao leitor, ou seja, a partir de uma linguagem diferente da do

internauta, mas que na realidade é uma estratégia discursiva por meio da ironia, o efeito de

refinamento do jornal no trato com o outro (interlocutor). Ao mesmo tempo, cria-se a seguinte

imagem inversa: leitor desatento, para os internautas; e veículo de comunicação atento a tudo

o que acontece e a todos, para o weblog.

A esquiva se dá pelo fato de o OI desviar a principal queixa feita ao blog para

outros dispositivos dentro do site, os quais trataram da questão discutida no comentário sob

outros pontos de vista; todavia, a reclamação foi feita diretamente ao blog. Percebemos, então,

que a queixa foi silenciada e a aparência de um blog que faz com que o leitor leia a mídia de

forma diferente pode permanecer sem problemas, mesmo que isso não ocorra da forma como

o slogan promete.

Percebemos ainda no Verbo Solto a ausência de preocupação com o furo

jornalístico e com o imediatismo da informação e a tentativa de mostrar que uma notícia pode

apresentar várias versões de acordo com o jornal que a divulga ou a silencia.

A contenda mostrada é um exemplo de que a leitura não é algo dado, ou seja,

não é decodificação, mas sim um processo, e de que a escrita do jornalista-blogueiro

representa apenas a leitura oferecida pelo blog em análise, o qual pretende mostrar-se como

crítico dos fatos e dos acontecimentos, além de formador de opinião e de leitores críticos da

mídia.

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58

A perspectiva de Chartier (1999) corrobora a concepção de leitura como

processo que envolve o histórico, o social, o ideológico e o cultural, pois, de acordo com o

historiador, cada leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados em um

dado momento.

Segundo a teoria do discurso adotada neste trabalho, existem várias maneiras

de ler um discurso e cada leitura deve ser entendida como um gesto de leitura. A esse respeito

Coracini (2002, p. 16) afirma:

Quando falamos de diferentes leituras, referimo-nos não apenas à leitura realizada por cada indivíduo em particular, mas aos diferentes momentos de sua vida: na verdade, o sentido de um texto, por ser produzido por um sujeito em constante mutação, não pode jamais ser o mesmo.

Coracini (2002), da mesma forma que Chartier (1999), também defende a

noção de leitura enquanto processo. Conforme a lingüista (2002, p. 15), o ato de ler é como

um “processo discursivo no qual se inserem os sujeitos produtores de sentido – o autor e o

leitor –, ambos sócio-historicamente determinados e ideologicamente constituídos”.

Dessa forma, podemos dizer, em relação ao exemplo citado anteriormente, que

tanto a leitura do internauta quanto a do blogueiro são possíveis consoante as condições de

produção vivenciadas por esses sujeitos discursivos.

Weis procura ocupar o papel de atento mediador que tem como principal

objetivo levantar discussões acerca dos assuntos que estão na mídia, dando destaque para o

que os jornais mais conhecidos publicaram, relacionando o que foi noticiado e criticando ou

elogiando tais notícias.

A partir do que foi colocado no parágrafo anterior e da proposta de

funcionamento do OI, gostaríamos de abrir parênteses e demonstrar a analogia que

percebemos entre algumas práticas do blogueiro e algumas práticas do ombudsman. Segundo

Mendes49:

O ombudsman desempenha várias funções no veículo de comunicação em que trabalha. Ele é ouvidor, crítico interno, colunista e analista da mídia.[...] Outra função importante do ombudsman é a redação de um boletim interno diário. Nele são feitas críticas à edição do dia anterior, além de comparações com outros concorrentes. O objetivo da crítica é melhorar a qualidade do jornal ou da programação de rádio e TV. [...] Além disso, os ombudsmen de imprensa costumam [...] ter um programa para fazer análise dos meios de comunicação.

49 Jairo Farias Mendes é ombudsman e autor do livro O Ombudsman e o Leitor. Ver site: http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/template&ombudsman=secao=1.php.

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59

Notamos, com base na definição de Mendes, que o ombudsman também

representa um papel de mediador entre a mídia e o leitor. Além disso, ele também é crítico e

analista. Entretanto, como crítico, o ombudsman tem o objetivo de melhorar a qualidade do

jornal e o blogueiro do Verbo Solto tem o objetivo de agir sobre os leitores, transformando-os

também em críticos50; como analista, o ombudsman faz análises que consideram todos os

meios de comunicação, e o bloguer do OI analisa mais intensamente a mídia impressa. Dessa

forma, podemos pensar o blogueiro como um ombudsman (re)significado, um ombudsman na

versão virtual. Feita nossa observação, voltamos para análise do blog.

Constata-se, claramente, que o sujeito jornalista-blogueiro se constitui a partir

de várias outras vozes, ou seja, é um ‘eu’ que constrói sua identidade na alteridade51, assim

como a AD defende.

Ancorando-nos nas propostas de Jacqueline Authier (1990) a respeito da

heterogeneidade do sujeito, as quais muito colaboraram no momento de reconstrução da AD,

ou seja, em sua terceira fase, torna-se possível compreender, no exemplo abaixo, a

constituição do sujeito blogueiro em questão.

O noticiário de hoje no Estado e na Folha parece levar às cordas a versão de que os pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux Ortiz e Erislandy Lara Zantaya abandonaram a delegação de seu país ao Pan para fugir de Cuba, foram capturados pela Polícia Federal e repatriados a toque de caixa [...] No Globo de hoje se lê que “a organização internacional Human Rights Watch, de defesa de direitos humanos, pediu uma investigação profunda [...] Agora vejam só. Pode haver órgãos brasileiros de mídia tão hostis à ditadura castrista quanto o Estado. Porém não mais do que este. Era de esperar, portanto, que o jornalão fizesse um escândalo com o caso. Sintomaticamente, talvez, o trata com discrição – e até hoje é o único dos três grandes diários a não sair com um editorial sobre o episódio. Como se diz, nem tudo que parece é. (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id={7BC22B03-C80F-4E23-B053-E9592FA20FA8}&id_blog=3).

No trecho, observa-se o aparecimento de um discurso “outro” no próprio

discurso, colocando em evidência as rupturas no “fio do discurso” (AUTHIER-REVUZ,

1990). Esse discurso “outro” seria o da Folha, o de O Globo e o de O Estado de São Paulo.

Também é possível analisar essa prática de Weis sob outro prisma, ou seja, o

fato de esse sujeito discursivo constituir-se, na maior parte das vezes, por meio da

50 Ver proposta do OI mencionada anteriormente neste trabalho. 51 “Presença do discurso do outro como discurso de um outro e/ou discurso do Outro” (GREGOLIN, 2004, p. 157).

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heterogeneidade mostrada marcada52, pode ser entendido, com base na teoria de Foucault

(1996), como um mecanismo de controle instituído de forma a dominar a proliferação dos

discursos.

Na realidade, verificamos a utilização de três desses procedimentos

foucaultianos. Melhor explicando, o sujeito jornalista-blogueiro, motivado pela vontade de

verdade, tenta opor o verdadeiro ao falso, fazendo uma segregação entre os discursos

jornalísticos confiáveis e os não confiáveis, entre os melhores e os piores. Por isso o blogueiro

cita várias fontes discursivas, estabelece paralelos entre as mesmas, critica-as ou não,

construindo, assim, o seu discurso.

Dá o que pensar a disparidade de tratamento nos três diários nacionais à manifestação do Cansei, ontem, em São Paulo. O Globo a relegou ao canto direito de uma página par - uma espécie de fundo de quintal no espaço ocupado nos jornais pelo noticiário [...]. O Estado foi mais generoso com os cansados. Deu-lhes a metade superior de uma página [...] A Folha, por fim, aparentemente estendeu tapete vermelho aos cansados: chamada com foto na primeira página [...] (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id={8A72AC63-530A-4C8A-BBA0-5BA12D022263}&id_blog=3).

Além do mecanismo de segregação que é considerado como externo ao

discurso, o jornalista ainda utiliza dois mecanismos internos ao discurso: o comentário e a

disciplina. Segundo Foucault (1996, p. 25), o primeiro possibilita “dizer pela primeira vez

aquilo que, entretanto, já havia sido dito e repetir incansavelmente aquilo que, no entanto, não

havia jamais sido dito”. Em outras palavras, esse mecanismo exerce controle sobre o acaso do

aparecimento do discurso, restringindo aqueles que serão preservados em uma cultura e

aqueles que serão esquecidos. No exemplo acima, podemos verificar que Weis, ironicamente,

condena o discurso dos jornais O Globo e Folha de São Paulo – esses são os discursos que

devem ser esquecidos. Ao mesmo tempo, percebemos que o bloguer defende o discurso de O

Estado e tenta preservá-lo.

Como havíamos colocado, o responsável pelo weblog recorre também ao

procedimento denominado disciplina ao buscar delimitar o que se pode dizer no interior do

jornalismo a respeito do tema discutido em seu post53.

52 Authier-Revuz (1990), sob influência do dialogismo bakhtiniano, faz um estudo sobre as heterogeneidades constitutiva, mostrada e mostrada marcada. 53 Tema: o movimento “cansei” em oposição à atual situação política do país.

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A partir dos exemplos destacados, é notável que Weis rebate tanto o discurso

da Folha quanto o de O Globo e acata o discurso de O Estado. Tal prática demonstra, embora

o jornalista não confesse54, que o sujeito em análise assume uma posição discursiva e nega as

demais. Sendo ele um jornalista de O Estado, torna-se compreensível essa atitude. Com base

na AD, corroboramos que o sujeito em questão, ao assumir tal posição, inscreve-se dentro da

formação discursiva do jornal O Estado de São Paulo. E é a partir dela que se dá a

constituição dos sentidos dos discursos do bloguer e do próprio sujeito blogueiro.

Ao desviar o olhar dos textos de Weis para a sua página virtual como um todo,

encontramos outras práticas discursivas do blogueiro que ainda merecem atenção.

Na lateral de todas as páginas do dispositivo cibermidiático em análise, é

possível observar o modo como Weis procura construir sua identidade frente ao seu leitor.

Encontramos, lá, dentro de um quadro, uma foto do autor do blog acompanhada de uma farta

descrição de sua vida profissional (ANEXO 3). Na foto, o bloguer mostra-se com uma feição

intelectual e séria. Seu olhar transmite reflexão, produzindo um efeito de sentido que pode ser

traduzido como seriedade e comprometimento com o trabalho que desenvolve no OI.

A descrição mencionada reforça a imagem transmitida pela foto e ainda

acrescenta ao jornalista-blogueiro duas qualidades: experiência e competência, pois nela

constam os cargos já e ainda ocupados por Weis, os livros que organizou e os que escreveu e

o destaque de um prêmio que recebeu como jornalista.

Percebemos que o autor do Verbo Solto projeta ali, na sua descrição, a imagem

que ele gostaria de ter perante o seu público leitor, definindo, assim, seu lugar enunciativo. Ou

melhor, o sujeito Weis enuncia como um jornalista pós-graduado, que já ocupou cargos em

empresas conhecidas, escreveu e organizou livros e recebeu um prêmio em função de seu

trabalho. Esse é o lugar discursivo assumido pelo sujeito em questão e é a partir dessa posição

que seu discurso deve ser compreendido. Consoante a Análise de Discurso, tal colocação se

justifica, pois os sentidos das palavras não estão nelas mesmas, mas são determinados pelas

posições ideológicas colocadas em jogo no processo discursivo.

54 Provavelmente, essa filiação ao discurso de O Estado se dá inconscientemente, o que é sustentado pela AD com base nos estudos psicanalíticos de Freud.

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O fato de o responsável pelo weblog Verbo Solto não querer55 ser visto

simplesmente como um blogueiro, mas sim como um jornalista competente e experiente,

leva-nos a duas observações.

A primeira é que o sujeito em questão se coloca em uma posição de destaque:

como detentor de um saber, logo, de poder. Afirmação essa que só é possível a partir da

seguinte fala de Foucault (1989, p. 29): “poder e saber estão diretamente implicados; que não

há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não

suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder”.

Como detentor de saber56, Weis busca garantir a credibilidade de seu weblog.

Possivelmente, o sujeito movido pela vontade de verdade, utilizou-se desse mecanismo de

controle do discurso foucaultiano com o intento de se fazer crer. Esse é, certamente, o efeito

de sentido desejado pelo autor.

A segunda observação que gostaríamos de destacar é a forma como o

jornalista-blogueiro se coloca para seus leitores virtuais, a qual pode determinar ou influenciar

o modo como eles comentam no blog. Isso, obviamente, se os usuários lerem o weblog como

um todo e não apenas os textos postados por seu responsável.

Essa possibilidade de influência no retorno dos freqüentadores do blog foi

levantada porque notamos que os comentários ali encontrados revelam certa preocupação do

leitor com o vocabulário e com a estrutura de seus textos, que são em sua maioria bem

construídos e organizados, escritos em linguagem informal, sem emoticons57, onomatopéias

ou abreviações. Em outras palavras, não se usa o Internetês58. Corriqueiramente, esquece-se

de algum acento, sinal de pontuação ou alguma concordância verbal, faltas comuns em textos

que não passam por correções e não são relidos.

Dessa forma, o modo como os comentários são elaborados, apesar de não se

apresentarem em estilo formal – o que seria incompatível com perfil da blogosfera –, nos faz

55 Gostaríamos de salientar que, embora tenhamos mencionado algumas intenções e desejos do sujeito blogueiro, compreendemos, com base na AD, que ele não tem controle sobre os efeitos de sentido do seu discurso, aliás, nenhum sujeito discursivo tem, visto que a evidência do sentido é uma ilusão. Destacamos essas possíveis intenções porque esse foi o efeito de sentido que o discurso do bloguer produziu em nós. 56 Saber este que foi adquirido pelas práticas do bloguer, ou seja, pelo exercício de sua profissão, por suas publicações e pelo prêmio que recebeu, segundo o próprio blogueiro. 57 Emoticons ou carinhas são desenhos que podem ser usados para expressar sentimentos e estados de espírito de forma sintética e divertida (UOL JOGOS, http://forum.jogos.uol.com.br/faq.php). 58 O Internetês é uma linguagem surgida no ambiente da Internet baseada na simplificação informal da escrita, com o objetivo principal de agilizar a digitação. Consiste numa codificação que utiliza caracteres alfanuméricos (LEONEL, http:// www.acessa.com/informatica/arquivo/galeraweb/2006/01/18-Internet/).

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perceber que o leitor teve um certo cuidado com a escrita, fato que nem sempre pode ser

constatado no blog de Josias, como veremos no tópico a seguir.

Gonçalo Osório, Professor (Jundiaí/SP) Enviado em 8/8/2007 às 11:42:33 PM Participei de campanhas internacionais para não deixar que uma cidadã brasileira continuasse numa masmorra durante a ditadura uruguaia. Participei de campanhas internacionais por Flavio [sic.] Tavares. Seu colega, Weis. Você lembra? Devia lembrar. Causa-me nojo e vergonha o que aconteceu com os cubanos. Mais nojo e mais vergonha ainda causa-me ver esse tipo de comentário, muitos publicados aqui, sempre tentando proteger e justificar o injustificável. Sua geração, Weis, sacrificou-se para isso? Para esse tipo de proto-fascismo denegrir o adversário político, defender a mentira oficial, aninhar-se no aparelho do Estado? Você, Weis, é veterano o suficiente para saber do que se trata o ovo da serpente. Infelizmente, são tempos negros os que vivemos no Brasil, hoje. E boa parte de quem ataca quem apenas diz o que está acontecendo (é o que a imprensa faz, em sua enorme maioria) é a grande prova disso (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id={7BC22B03-C80F-4E23-B053-E9592FA20FA8}&id_blog=3).

José Ribamar, operário (Feira de Santana/BA) Enviado em 9/8/2007 às 1:23:19 AM NOSSA! O índice da LOUCURA da mídia conservadora (e golpista) já está chegando a níveis alarmantes! VÃO ARRUMAR OQUE [sic.] FAZER BANDO DE DESOCUPADOS!JUNTAR [sic.] SUAS FORÇAS NO CRIANÇA ESPERANÇA SERIA UMA "BOA", uma das poucas coisas boas que a mídia golpista faz! (Obviamente porque é auditoriado pela UNESCO). COLOCAR A SERIEDADE DO TRABALHO DA POLÍCIA FEDERAL EM DÚVIDA? OS TRABALHOS DA PF NÃO SÃO FISCALIZADOS PELOS ORGÃOS COMPETENTES? ESTAMOS A VOLTAS COM O DOI-CODE? FAÇA-ME O FAVOR SRS. JORNALISTAS! PEÇO MAIS PROFISSIONALISMO EM SUAS REPORTAGENS E MENOS GANANCIA [sic.] PELO FURO JORNALISTICO [sic.]! (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id={7BC22B03-C80F-4E23-B053-E9592FA20FA8}&id_blog=3).

Os trechos acima foram copiados do blog sem nenhuma alteração (assim como

os demais exemplos utilizados em todo trabalho). No primeiro, é possível observar uma

linguagem informal e sem erros gramaticais, em outras palavras, perceber-se um certo

cuidado do sujeito discursivo com a língua, ele não foi influenciado pelo Internetês e

mostrou-se fiel ao lugar enunciativo que ocupa profissionalmente, professor.

No segundo exemplo, verificamos uma linguagem informal acompanhada de

erros de acentuação (conforme a norma padrão culta da Língua Portuguesa), da falta de

espaçamento entre algumas palavras e de marcas textuais da oralidade. Os erros de

acentuação, ou melhor, a ausência de alguns desses sinais pode produzir três efeitos de

sentido: distração, descaso com a língua e falta de conhecimento lingüístico. Descartamos as

duas últimas hipóteses porque tal prática ocorre somente no fim do comentário, o que nos leva

a perceber que o escrileitor se distraiu ou não se preocupou em rever seu texto. O uso da letra

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maiúscula e do ponto de exclamação, ambos em excesso (essas são as marcas da oralidade),

produz o efeito de sentido de que o enunciador tenta enfatizar certas palavras, expressões e

frases. Tal uso é comum no meio digital, podendo representar uma tentativa de simular o real

dentro do virtual, de aproximá-los.

No Verbo Solto, o sujeito blogueiro ainda faz uso de práticas que merecem

apreço. Ele mantém um aviso esclarecendo que seleciona os comentários antes de publicá-los

no weblog: “Os comentários serão selecionados para publicação. Serão desconsideradas as

mensagens ofensivas, anônimas, que contenham termos de baixo calão, incitem à violência e

aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos” (WEIS,

2007)59.

Esse recado supracitado aparece, em negrito, após cada texto publicado por

Weis, logo acima do ícone ‘comentar’ e esclarece quais mensagens não são aceitas nessa

cibermídia sob análise.

A localização desse aviso e seu realce por causa do negrito colaboram para que

todos os leitores que tenham a intenção de comentar o texto do bloguer leiam antes o recado e

fiquem cientes de que suas mensagens poderão ser barradas.

Ancorando-nos em Foucault (1996, p. 9) no que diz respeito à ordem

discursiva, atentamos que esse aviso funciona como mais uma tentativa de dominar a

proliferação dos discursos, ou seja, o sujeito utiliza-se de um princípio de exclusão

denominado interdição. Esse princípio foucaultiano determina “que não se tem o direito de

dizer tudo”, pois algumas palavras são proibidas. Nesse caso, as palavras proibidas são

determinadas e interditadas pelo blogueiro.

Refletindo acerca desse mecanismo utilizado pelo responsável do weblog,

levantamos a possibilidade de que sua utilização tenha ocorrido pelo fato de Weis não querer

que sua cibermídia caia na vulgaridade ou apóie-se em afirmações levianas. Provavelmente, o

blogueiro anseia por comentários respeitosos e éticos, entretanto acreditar que esse seja o

único efeito de sentido desejado por Weis seria ingenuidade.

Indubitavelmente, ele busca por meio da prática usada produzir um efeito de

credibilidade em seu leitor, foco maior de seu trabalho. Em outras palavras, ele almeja60 que o

usuário de seu blog acredite na seriedade do suporte.

59 Ver site: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&id={671EB2D2-A594-465C-881E-748E8B8506CD}&data=200709. 60 Ver nota 55.

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65

Ainda a respeito da mesma prática, gostaríamos de expor que ela é utilizada

somente neste blog dentro do OI, fazendo-nos pensar que o responsável pelo Verbo Solto

coloca-se no lugar de dono dele, capaz de controlar os discursos que ali circulam e circularão

e seus efeitos de sentido. Considerando a AD e a teoria dos dois esquecimentos de Pêcheux

(1997a), verificamos que esse sujeito discursivo (assim como todos os sujeitos discursivos)

tem a ilusão de que controla o seu dizer, como se os sentidos se constituíssem nele, todavia

esquece-se de que as palavras não são suas e de que os sentidos são determinados não por sua

vontade, mas pelo modo como se inscrevem na língua e na história. Assim, apenas parte do

dizível é acessível ao sujeito, uma vez que até mesmo o que ele não diz significa em suas

palavras.

Não poderíamos deixar de comentar acerca dos títulos que Weis dá a suas

publicações virtuais, que – à semelhança das manchetes dos jornais impressos – são

insinuadores e chamativos, despertando curiosidade no leitor. Eis alguns exemplos: “O ‘trem

da alegria’ visto de dois lados” (15/8/2007), “Catando pêlo em ovo” (14/8/2007), “Mais

versões no ringue e um leitão no fim” (9/8/2007) 61.

Carregados de implícitos, esses títulos só são compreendidos após uma leitura

completa dos textos que os seguem. Muitas vezes sarcásticos e irônicos, já representam o

ponto de vista do blogueiro.

Talvez pudéssemos afirmar que o modo como Weis elabora o título de suas

postagens produz um efeito de sentido em seus leitores: o de despertar a curiosidade e a

vontade de ler o texto.

Outra prática relevante a ser discutida é a forma como Weis interage com seus

leitores. Raramente ele responde aos comentários deixados no blog, quando o faz é porque se

sentiu incompreendido e não quando alguém o interroga. Em outras palavras, ele não

responde aos comentários, mas sim os comenta de forma arrogante, não conferindo ao leitor o

direito de compreender o texto postado conforme sua história de leitura. Constatamos ainda

que, por vezes, o retorno aos comentários dos internautas vem assinado pelo Observatório da

Imprensa e não pelo bloguer62. Considerando que o blog constitui um espaço que está sob a

responsabilidade de Weis, é coerente concluir que, embora a assinatura não seja dele, tudo

que é postado nessa cibermídia passa por sua supervisão e é endossado por ele. Dessa forma,

61 Ver site: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&id={90401A5D-7404-4F40-B8A1-29366628F610}&data=200708. 62 Ver exemplo na página 56-57.

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fica claro que o blogueiro é atravessado pelo discurso do OI, visto que ele (o bloguer) o

endossa e o reproduz.

Vejamos, agora, alguns exemplos de comentários assinados por Weis:

O leitor não sabe o que diz ou não leu o que escrevi. Que "cega devoção" teria eu pelo que no meu texto chamo de ditadura? Haja! (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=05&mes=8&ano=2007).

A bem da verdade: não é sobre o que leitor escreveu que eu refleti na nota, mas sobre a qualidade da carta de um leitor de um jornal americano (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=05&mes=8&ano=2007.

A partir das amostras colocadas, torna-se possível aferir que o sujeito

jornalista-blogueiro é quem escolhe a mídia a ser criticada, se é um jornal ou uma revista, por

exemplo. Ele não se considera como uma mídia passível de crítica e condena aquelas que a

ele são dirigidas, agindo de forma prepotente e colocando-se acima das outras mídias.

Verificamos que o blogueiro tem uma atitude paradoxal em relação à leitura,

ou seja, quando ele é o sujeito da leitura, ler significa produzir sentidos, desvendar as

virtualidades significantes do texto, compreender o interdiscurso; todavia, quando ele é o

sujeito a ser lido, ler significa encontrar o sentido desejado pelo autor do texto, com toda a

imediatez e transparência, sem resistência nem desvio.

Embora o jornalista não barre os comentários com os quais não concorda, ele

os recrimina e os julga como inapropriados. Mais uma vez, o blogueiro assume a posse do

blog e tenta controlar os discursos ali produzidos.

Após termos apresentado e refletido acerca das práticas discursivas observadas

no weblog Verbo Solto, gostaríamos de retomá-las com o intento de discutir sobre a

constituição do sujeito jornalista.

Assim como destacamos no início desta pesquisa, deve-se tentar buscar

compreender o sujeito por meio de suas práticas a fim de se poder analisar ‘quem fala’, ‘o

lugar da fala’ e ‘a posição do sujeito’ (FOUCAULT, 2007).

Dessa forma, percebemos que o sujeito analisado, motivado pela vontade de

verdade e impregnado por uma logofobia do discurso, tenta, a todo instante, fazer-se crer por

meio de suas práticas discursivas, ou melhor, por meio da posição discursiva que enuncia e da

tentativa de controlar os discursos que circulam no seu blog.

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Conforme já foi citado anteriormente (FOUCAULT, 1997), é a partir das

atitudes, das reflexões, das condutas, das escolhas, enfim das práticas do sujeito que se

descobre como ele fixou sua identidade. Sendo assim, podemos concluir que o sujeito

blogueiro Weis fixa sua identidade como um sujeito detentor de saber e de poder, que ocupa

um lugar discursivo almejado por qualquer profissional do jornalismo, qual seja: de um

indivíduo formado, ligado à academia e à pesquisa, qualificado e reconhecido dentro do

mercado de trabalho; de um excelente profissional, congratulado pela sociedade e pelo

próprio mercado. Ao mesmo tempo, percebemos um sujeito fragmentado e heterogêneo que

espera de seus interlocutores o reconhecimento e o respeito em relação a seus títulos e

posições alcançadas. Quando isso não ocorre, mostra-se como rebelde, irônico e prepotente,

demonstrando, assim, sua insegurança.

Ainda podemos destacar a incompletude desse sujeito blogueiro que opta por

um suporte no qual possa receber o retorno e o reconhecimento de seus leitores. Sob esse viés,

é possível compreender o blog como uma técnica de si, como a forma encontrada para se

adquirir a verdade e o domínio de si. Segundo Foucault (1997), o cuidado de si funciona

como condição indispensável para se alcançar a verdade sobre si.

Ao analisar o blog, verificamos sua semelhança à antiga técnica de si

denominada hypomnemata, descrita pelo filósofo (2006a) como uma memória material do que

foi lido, ouvido ou pensado e que deve ser relida e meditada posteriormente, colaborando para

a subjetivação do discurso. Em outras palavras, é possível afirmar que esse escrito contribui

para a constituição da identidade do ser mediante a “recoleção de coisas ditas”, ou seja,

mediante o seu próprio discurso e sua prática, e mediante o outro. Percebemos também que,

ao se endereçar ao outro, o jornalista não espera nem aceita que esse lhe retorne assumindo a

posição de mestre ou de sacerdote como acontecia na Antiguidade, ou melhor, Weis não

tolera que o outro o reprima, julgue-o ou critique-o.

Ao contrário, se compararmos os weblogs aos hypomnematas, apreendemos

que é o bloguer quem exerce a função de mestre, conforme a cultura greco-romana, ou de

sacerdote, consoante o cristianismo, uma vez que ele administra conflitos – sejam eles sociais,

políticos ou de um ‘eu’ discursivo –, julga e reativa regras de conduta.

Desta vez blogues [sic.] e jornais fizeram a lição de casa, não se limitando ao "ora, onde já se viu", depois que o presidente Lula disse na reunião do seu conselho politico [sic.], na quinta-feira, que esteve tão desinformado da crise aérea quanto uma pessoa com câncer que, ao descobrir que tem um tumor, a metástase já tomou conta do seu organismo.

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Lula foi ainda mais específico: disse que os problemas do sistema de aviação civil não foram debatidos em nenhuma das cinco campanhas presidenciais de que participou. Alguém poderia objetar que, na quinta campanha, ele era já presidente da República fazia mais de três anos, mas isso deixou de ser o principal depois da revelação que começou a circular ontem na blogosfera e está nos jornais de hoje, com o merecido destaque (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=04&mes=8&ano=2007).

Comentário do Autor A jornalista citada era já editora da coluna Painel quando fez a entrevista que desencadeou a crise do mensalão. E não há evidência de que ela "serve" a este ou aquele grupo. Repito pela enésima vez: todos temos direitos às próprias opiniões, mas não a fatos próprios (WEIS, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=29&mes=8&ano=2007).

No primeiro exemplo, examinamos que Weis procura administrar um conflito

de ordem política. Ao pensarmos o blog com uma técnica de si, percebemos que ele (o

bloguer) assume a posição discursiva de mestre, coloca-se contrário à atitude do atual

presidente e tenta orientar e direcionar a leitura de seu discípulo-leitor conforme a sua leitura.

De acordo com o discurso instituído e conforme as palavras utilizadas, é possível acrescentar

que o blogueiro fez a ‘lição de casa’ ao criticar a fala do presidente Lula, assim como os

demais bloguers e jornais referidos no texto.

Já no segundo recorte, observamos que o conflito administrado é da ordem do

‘eu’ discursivo, ou seja, do leitor-discípulo. Mais uma vez a verdade sobre o sujeito blogueiro

é depreendida, qual seja: de advogado ou defensor da mídia. Verificamos que o sujeito

responsável pelo suporte cibermidiático revela uma identidade contraditória, posto que a nota-

resposta, ao mesmo em que proclama o respeito à opinião de outrem, não a respeita. Na

réplica acima, constatamos que o bloguer se dirige a seu leitor como se ele fosse um discípulo

para o qual sugere regras de conduta, assim como os sacerdotes e mestres da Antiguidade.

Embora já tenhamos mencionado algumas vezes questões acerca dos leitores

do Verbo Solto, ainda não nos dedicamos a compreendê-los e analisá-los especificamente

como fizemos com o responsável pelo weblog em questão. Dessa forma, teceremos alguns

parágrafos a respeito da leitura e dos leitores desse suporte, analisando, assim, suas práticas e

considerando que elas variam dentro da história (CHARTIER, 2001).

Percebemos no Verbo Solto uma variação entre os comentários, nos quais ora o

leitor instaura um discurso parafrástico – que, segundo Orlandi (2006), é decorrente de um

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discurso autoritário –, ora ele instaura um discurso polêmico – que, consoante a mesma

autora, origina-se de um discurso também polêmico63.

Marco Antônio Leite, TPA (SCS/SP) Enviado em 23/9/2007 às 12:37:31 PM Não é a imprensa que é contra ou persegue o governo Lulla [sic.], é o Lulla [sic.] que dá motivo e, também, é contra a imprensa nacional. A imprensa livre sempre vai estar procurando pelo em ovo, mas no caso desse governo há imprensa achou um verdadeiro matagal, no qual saiu todos os tipos de malandros, marginais e corruptos. Esses anos de governo Lulla [sic.] nada foi feito de concreto para reverter o quadro de desemprego generalizado, povo cada vez mais doente, aumentou espantosamente o número de sem-casa, sem-terra, bem como os sem-nada na vida. Na realidade o senhor Lulla [sic.] vem governando para a escol atual, não vemos banqueiros, empresários nacional/internacional reclamando de algo de errado que esse governo tenha feito contra os seus interesses. Ainda existe [sic.] pessoas que se ilude [sic.] com às [sic.] bolsas esmolas que ele distribui, às quais são financiadas com o dinheiro daqueles que contribuem com o fisco. Esses são alguns motivos que o Lulla [sic.] tem dado para que a imprensa faça criticas [sic.] contundentes (Weis, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=21&mes=9&ano=2007).

No exemplo acima, observamos que o leitor reproduz o discurso do blogueiro

ao afirmar que a imprensa nacional só critica Lula porque ele dá motivos, negando, assim,

uma possível perseguição política ou partidária. Dentre os quarenta e cinco comentários feitos

a partir do post “Lula louva a imprensa – a estrangeira”, apenas o citado acima é totalmente

conivente com o discurso de Weis. Destacamos, ainda, que esse foi um dos últimos

comentários postados, o que possibilita pensar que seu responsável tenha lido todos os demais

recados antes de enviar o seu ao blog. Tal fato nos leva a concluir que não se trata de uma

leitura ingênua, cujo responsável é um cidadão desinformado; percebemos que o leitor assume

uma posição de sujeito defensor da imprensa nacional assim como Weis em seu post.

Notamos, ainda, que o internauta em questão assume uma outra posição discursiva, ele é

contrário às práticas do atual presidente. Basta observar as recorrentes críticas feitas a Lula e a

forma como o leitor-comentarista se refere ao presidente: ‘Lulla’, em analogia ao presidente

Collor. Tal nomeação traz à tona todos os acontecimentos referentes ao período em que Collor

foi o presidente do Brasil, como o esquema de corrupção, a cobrança de propina e o

impeachment. Dessa forma, é possível dizer que o leitor relaciona tais acontecimentos ao

governo de Lula, talvez até mesmo pensando na possibilidade do um impeachment.

Além desse discurso parafrástico exemplificado, verificamos discursos

polissêmicos a partir do mesmo assunto abordado pelo blogueiro, os quais ocorreram com

maior incidência.

63 Ver nota 23.

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EDUARDO PEIXOTO ARAUJO Peixoto, Advogado (São Luís/MA) Enviado em 22/9/2007 às 12:23:38 PM Não sou fã do Lula e acho que tanto ele quanto o PT, frustraram muitos seguimentos da sociedade, sobretudo do quando se fala em políticas sociais sérias. Contudo, é perceptível que existe nessa "imprensa" brasileira uma má-fé escancarada quando o assunto é governo federal e suas politicas [sic.], tal se dá, pela falta de sintonia que essa gente tem com o Brasil e as escolhas do seu povo (boas ou ruins). Esclareço, que há muito tempo essa "imprensa" não é mais vista como imparcial e informativa, pois está reduzia há uma mídia partidária de uma "voz só", que só sabe zombar da inteligência do povo brasileiro (Weis, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=21&mes=9&ano=2007.

Alexandra Garcia, psicologa (São Paulo/SP) Enviado em 22/9/2007 às 4:28:09 PM O presidente espelhou a realidade. No que diz respeito à economia a imprensa estrangeira tem dado mais destaques positivos do que negativos para este governo, enquanto a imprensa nacional, está ai [sic.] a Mirian Leitão, o Bom Dia Brasil e a CBN inteira para quem quiser constatar, preferem destacar os aspectos negativos. Se fizessem o mesmo em relação ao governo de São Paulo, nas mãos do PSDB desde a era Montoro, ainda vá lá. Mas a preferência pela critica [sic.] sistemática e negativista contra o governo Lula é tão notória, que só um cego não percebe (Weis, 2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&dia=21&mes=9&ano=2007.

Nos dois comentários supracitados, constatamos a instauração de um discurso

polêmico, que critica o discurso do sujeito blogueiro. No primeiro, o sujeito discursivo

posiciona-se contrariamente às práticas da mídia nacional e àqueles que a defendem, no caso,

Weis. Já no segundo exemplo, organiza-se um discurso de crítica à imprensa brasileira e de

defesa ao presidente Lula, ou seja, o sujeito leitor é partidário.

Diante dos dois comentários, apreendemos que o usuário da cibermídia não

acatou o discurso do blogueiro.

Conforme a AD e Chartier (1999), é perfeitamente possível um discurso dar

origem a vários outros discursos, visto que os sujeitos leitores possuem cada um a sua história

de leitura própria. Conforme Orlandi (2006), há leituras previstas para um texto, as

parafrásticas, e há leituras imprevistas, as polissêmicas, resultantes do contexto sócio-

histórico-ideológico em que o sujeito leitor se inscreve.

Em nossa análise relacionada ao post “Lula louva a imprensa – a estrangeira”,

examinamos que houve uma inversão de papéis entre o sujeito blogueiro e seus leitores, ou

melhor, verificamos que, contrariamente à proposta do OI, Weis assume a posição de

jornalista partidário e defensor da mídia, e seus leitores virtuais, de observadores da imprensa.

Sendo assim, mais uma vez constatamos um descumprimento às normas que deveriam

orientar a blogosfera. Primeiro, quando o bloguer determina que selecionará os comentários

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antes de editá-los no weblog, indo de encontro ao discurso difundido na comunidade

blogueira de acesso democrático à palavra e à comunicação social; e segundo, quando

defende a mídia.

Considerando o exposto, verificamos que o sujeito blogueiro constitui-se

também por meio de práticas similares às do jornalismo tradicional impresso. Não se pode

dizer que as práticas sejam coincidentes, visto que o suporte virtual possibilita uma

(re)elaboração e uma camuflagem delas; todavia, elas instauram também um discurso

autoritário, que procura dominar a proliferação dos discursos. Esse dispositivo cibermidiático,

ou seja, o Verbo Solto, apresentou como proposta ser fiel à realidade dos fatos – seja ao relatá-

los, seja ao analisá-los –, mas se mostra partidário.

Dessa forma, é possível verificar que o ethos do jornalista-blogueiro não muda

em relação ao ethos do jornalista tradicional do impresso.

Antes de explicarmos nossa afirmação, gostaríamos de definir o termo ethos,

consoante Charaudeau e Maingueneau (2006, p. 220):

Ethos - termo emprestado da retórica antiga, o ethos designa a imagem de si que o locutor constrói em seu discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário. Essa noção foi retomada em ciências da linguagem e, principalmente, em Análise de Discurso no que se refere às modalidades verbais da apresentação de si na interação verbal. O "ethos" faz parte, como o "logos" e o "pathos", da trilogia aristotélica dos meios de prova. Adquire em Aristóteles um duplo sentido: por um lado designa as virtudes morais que garantem credibilidade ao orador, tais quais a prudência, a virtude e a benevolência; por outro, comporta uma dimensão social, na medida em que o orador convence ao se exprimir de modo apropriado a seu caráter e a seu tipo social. Nos dois casos trata-se da imagem de si que o orador produz em seu discurso, e não de sua pessoa real.

Verifica-se que o ethos é voltado ao mesmo tempo para si e para o outro. Ele é

uma construção de si para que o outro adira, siga, identifique-se a este ser.

Traquina (apud OLIVEIRA, 2005) resume bem o ethos jornalístico

contemporâneo tradicional ao explicitar que o jornalismo é o próprio veículo de comunicação

para equipar os cidadãos com instrumentos vitais para o exercício dos seus direitos e a

expressão de suas preocupações. O autor, ao descrever o ethos jornalístico, esclarece a partir

de que idéia ele se constrói: como indispensável à vida dos cidadãos.

O jornalista deve construir essa imagem de si em seu discurso para exercer

influência sobre o seu leitor. Sendo assim, ele constitui-se como sujeito detentor da verdade e

do saber por meio de um discurso autoritário.

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Voltando nossa atenção ao jornalista-blogueiro, constatamos que ele constrói

seu ethos jornalístico analogamente ao jornalista do impresso. Em outras palavras, o discurso

autoritário se faz presente nesse blog, porém ele emerge de forma discreta, mascarado pelas

práticas discursivas já analisadas.

3.2 NOS BASTIDORES DO PODER: ONIPRESENÇA E ONIPOTÊNCIA

O blog Nos bastidores do poder64 integra o site da Folha OnLine e versa

principalmente sobre assuntos relacionados à política. Seu responsável é o jornalista Josias de

Souza que também é colunista do jornal impresso Folha de São Paulo. Esta última

informação consta na página inicial do blog ao lado de sua foto e de sua idade.

Na foto referida, Josias mostra-se sorrindo, o que produz o efeito de sentido de

alegria e descontração, conseqüentemente de uma pessoa que se encontra à vontade no lugar

que ocupa. Compreendemos essa prática discursiva como a forma encontrada pelo blogueiro

de dar boas vindas a seu público leitor, ou seja, ele, como bom anfitrião, recebe seu hóspede

virtual com um sorriso nos lábios.

Na parte superior da página do suporte, sob o nome de Josias de Souza e sob o

título do blog, encontramos uma imagem crepuscular, um tanto avermelhada e vultosa, que

representa o Palácio do Planalto de Brasília.

Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/.

Essa imagem, aliada ao título do blog, possibilita-nos pensar que Josias fala de

um lugar que permite a ele ver tudo o que acontece no interior, nos bastidores do planalto; que

ele tem acesso ao que nós, seu público, não temos, ou seja, Josias se coloca em um lugar

privilegiado, em uma posição de sujeito onipotente e onipresente da qual vê, com clareza,

aquilo que os cidadãos comuns só vêem de forma embaçada e crepuscular, criando o efeito de

64 Ver site: http://www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br.

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sentido de que no blog se encontram as informações mais secretas e censuradas. Notamos, por

conseguinte, que o blogueiro se inscreve em uma posição detentora de saber e de poder ao

mesmo tempo em que tem em suas mãos uma cibermídia que funciona como uma tecnologia

de si.

O blog possui uma página inicial, contendo todas as notícias postadas, que se

subdivide de acordo com o modo com que Josias classifica seus textos. Essa subdivisão

compreende colunas, reportagens, entrevistas e secos e molhados. Também é importante

acrescentar que existe uma seção denominada ‘regras’ (ANEXO 4), espaço onde fica claro

que os comentários dos leitores são moderados antes de serem editados na página do weblog.

Essas regras determinam que não são aceitos os comentários que transgridem qualquer lei

vigente no país, que podem ser interpretados como preconceituosos, caluniosos ou grosseiros,

que têm cunho comercial, que caracterizam prática de spam, que são anônimos ou que estão

fora do contexto do blog. Ou seja, várias são as formas de proibir a edição de um comentário

no weblog, o que não significa que esses comentários não sejam feitos, eles apenas não são

divulgados.

Sabemos que, de certa forma, o mesmo ocorre no meio impresso com as cartas

do leitor, porém de forma mais rigorosa em razão do problema do espaço físico do jornal

impresso. Tal ocorrência acarreta uma aproximação entre o jornalista tradicional e o

jornalista-blogueiro, levando-nos a desconfiar da presença de um “novo” velho jornalista, em

outras palavras, o suporte mudou, mas a prática discursiva em questão permaneceu

camuflada. O discurso autoritário que procura sempre controlar a polissemia discursiva é

ainda forte nessa cibermídia em análise.

Com base em Foucault (1996), percebemos ser possível pensar essas ‘regras’

do blog como um mecanismo de controle do discurso de rarefação, ou seja, como um

procedimento que restringe os sujeitos que falam e determina que nem todas as regiões do

discurso são penetráveis. Dentre os sistemas de restrição formulados por Foucault (1996, p.

39), destacamos o ‘ritual’ para classificarmos essa seção do blog de Josias, visto que ele

“determina para os sujeitos que falam, ao mesmo tempo, propriedades singulares e papéis

preestabelecidos”.

Ao utilizar-se desse mecanismo de controle, o blogueiro impede que vários

comentários sejam lidos e divulgados na rede, ao mesmo tempo em que tenta barrar as

diversas possibilidades de leitura do seu texto. Em outras palavras, o jornalista, atravessado

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pelo esquecimento número dois65 de Pêcheux (1997a), busca por meio de um procedimento de

rarefação que os sentidos do seu discurso sejam mantidos e que certos discursos permaneçam

impenetráveis.

É possível interpretar essas regras para os comentários como uma brecha, uma

pista deixada pelo blogueiro de uma tentativa de manter a circulação dos mesmos discursos

dentro do seu suporte, o que denuncia a ilusão de liberdade dentro da Internet, tanto do leitor

quanto do bloguer.

Podemos falar em “liberdade” discursiva do leitor apenas em relação à forma

como o texto digital é apresentado, ou seja, a escolha do vocabulário, da linguagem e da

ordem estética. Nos exemplos abaixo, essas observações tornam-se mais visíveis:

[Marvado Bento] [Duque de Caxias / RJ] ALELUIA, ALELUIA! O STF acordou! Agora a coisa vai! Será que vai mesmo? Se os tribunais de estâncias superiores e das demais, se o povo e os políticos decentes que nos restaram (entre estes, Jefferson Péres [sic.], Eduardo Suplicy, Pedro Simon, Luciana Genro, Fernando Gabeira e alguns poucos outros) se unirem objetivando reduzir a, apenas, 50% a corrupção no atual governo, certamente o Brasil vai alavancar sua economia, para se tornar uma das mais punjantes da América Latrina [sic.], deixando lá na rabeira, bem na rabeira, o nosso concorrente mais próximo: o Haiti. Vamos lá gente! Basta reduzir a corrupção a 50% do que é atualmente, para ficar bom demais! 22/06/2007 16:11 (SOUZA, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

[preludio] [taubaté,sp,brasil] ...zé [sic.] genuino [sic.] na chefia do pt [sic.] é como a rainha da inglaterra [sic.], reina mas não governa...lembram???...quando o negócio ficou feio culpou o delubio [sic.] e caiu fora...e pensar que concorreu a ser governador de spaulo [sic.]...BARBARIDADE!!!! 22/06/2007 10:07 (SOUZA, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

Nos dois comentários colocados constatamos o uso da linguagem informal, da

letra minúscula em alguns substantivos próprios e uma tentativa de aproximar o texto escrito

da fala. A terceira constatação justifica-se pelo uso das maiúsculas em alguns vocábulos, que

produz o efeito de sentido de realce ou de grito, e pelo excesso de pontuação. Percebemos,

então, uma “liberdade” de estilo, de vocabulário e de linguagem, liberdade essa que é barrada

quando infringe qualquer uma das regras do suporte virtual em relação ao conteúdo, ou seja,

em relação à produção de efeito de sentidos do que foi dito.

O weblog Nos bastidores do poder funciona como um complemento das

notícias do jornal impresso Folha de São Paulo. Nesse espaço, Josias analisa as notícias

65 Este esquecimento cria a ilusão de que o pensamento tem uma relação direta com a linguagem e o mundo.

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advindas da Folha sob o seu ponto de vista, mas, considerando que o responsável pelo blog

trabalha para a Folha, é pertinente afirmar que ele reproduz o discurso do jornal, que é sua

ordem discursiva primeira.

O conceito de formação discursiva da AD é fundamental para a compreensão

da colocação acima, pois é pela referência à formação discursiva que podemos apreender os

diferentes sentidos das palavras. Vale ainda lembrar que esses sentidos mudam conforme a

posição ocupada por aqueles que enunciam. Em outras palavras, os sujeitos se constituem pela

interpelação que ocorre porque estão inscritos em uma formação discursiva, a qual determina

o que pode e deve ser dito.

Sendo assim, a formação discursiva do jornal é condição para a constituição do

sujeito Josias e dos sentidos de seus textos, visto que ele ocupa, no caso do weblog, a posição

de blogueiro da Folha Online e ela está vinculada ao jornal impresso.

Os textos do blog são constantemente entrecortados por links que dão acesso,

na maioria das vezes, a reportagens da Folha:

Para os governistas, as explicações de Renan acomodam uma pedra sobre as acusações que o assediam. (Josias, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-11-18_2007-11-24.html).

Nesta segunda-feira (28), antes que se soubesse que Renan mencionara o nome de Dilma em diálogo com o funcionário da Caixa, a chefe da Casa Civil desmereceu o conteúdo de um outro grampo que compõe o inquérito. (Josias, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-11-18_2007-11-24.html).

Por meio desses links, que funcionam como mecanismos de controle do

discurso, Josias parece tentar controlar os efeitos de sentido produzidos por seus textos.

Segundo Foucault (1996), esse procedimento exterior da ordem do discurso é denominado

vontade de verdade e coloca em jogo o poder. Para o filósofo, essa vontade de verdade que

atravessou tantos séculos da história, desde os poetas gregos do século VI, apoiada em um

suporte institucional, tende a exercer sobre os outros discursos uma pressão, um poder de

coerção.

Assim, o blogueiro delimita o seu discurso, ou seja, os efeitos de sentido do seu

discurso, ao mesmo tempo em que confere a ele um poder ao apoiar-se, na maior parte das

vezes, na instituição Folha de São Paulo.

Notamos, dessa forma, que o responsável pelo blog não é um sujeito

individual, mas um sujeito apreendido em um espaço coletivo, cuja posição é constitutiva do

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seu dizer. Logo, a voz desse sujeito blogueiro revela um lugar social e expressa outras vozes

que integram essa realidade sócio-histórico-ideológica. Temos um sujeito que se constitui por

meio do discurso do outro, que busca sua identidade a partir de vozes outras. Nesse caso, não

apenas a partir da Folha, mas também a partir do leitor digital que deixa ali no blog os seus

comentários.

O blogueiro-jornalista constrói seu espaço organizada e diariamente, com

textos subjetivos e parciais. Muitas vezes, o caráter informativo da notícia se perde,

considerando a notícia como o “relato de uma informação” (LUSTOSA, 1996). É importante

destacar que Josias, no início de cada matéria, faz uso ou de uma foto ou de uma caricatura ou

de qualquer outra figura escolhida por ele. Essas imagens, que ora servem para ilustrar a

notícia, ora servem para ironizá-la ou criticá-la, demonstram, ao lado dos textos, a posição

assumida pelo jornalista-blogueiro que gira em torno da tônica da informalidade e da

subjetividade.

Ao contrário de Weis que não utiliza imagens e outras linguagens como a de

vídeo, por exemplo, Josias explora ao máximo os sons, as figuras e a escrita, logo seu blog

constitui-se em um grande hipertexto sincrético. Tudo isso corrobora para deixar o espaço do

weblog o mais próximo possível da realidade cotidiana. Assim, o jornalista pode explorar

grande parte dos órgãos sensoriais simultaneamente, ajudando a dispersar e a ressaltar o

conteúdo que desejado.

No Congresso, a 'polêmica' consola a 'encrenca' Lula Marques/Folha

Deu-se na tarde desta quarta-feira (30). O deputado Clodovil “polêmica” Hernandez (PTC-SP) fez questão de cruzar os salões que separam a Câmara do Senado, para prestar solidariedade ao senador Renan “encrenca” Calheiros. Cochicharam longe dos jornalistas. Não se sabe o que um segredou ao outro. Suspeita-se que Clodovil tenha dito algo assim: "Meu bem, eu avisei. As mulheres ficaram muito vulgares. Trabalham deitadas e descansam em pé" (SOUZA, 2007, http://www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br).

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Senado aprova (!!) auto-reajuste dos congressistas

Os senadores aprovaram na tarde desta quarta-feira (30) o aumento de seus próprios salários em 28,5%. A engorda de contracheques já havia sido referendada pela Câmara (SOUZA, 2007, http://www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br).

No primeiro recorte, percebemos, já no título da notícia, o tom irônico e cínico

de Josias ao se referir ao deputado Clodovil e ao senador Renan Calheiros por meio dos

vocábulos ‘polêmica’ e ‘encrenca’, respectivamente. A partir do título, constatamos ainda que

o bloguer já revela o lugar discursivo de que fala, ou seja, ele não concorda com as atitudes

dos políticos em destaque. Em relação à foto colocada, verificamos que ela tanto ilustra o fato

como serve para chamar a atenção do leitor e atrai-lo, pois, na época em que o blogueiro

postou o exemplo, falava-se muito a respeito de ambos os políticos na mídia, ou melhor,

criticava-se.

Já no segundo exemplo, é notável que Josias não utilizou uma fotografia como

estratégia discursiva para atrair o seu leitor, mas a figura de um homem com uma grande nota

de dinheiro em uma das mãos. Ao lermos o título e o texto que o segue, podemos

compreender que tal homem representa os congressistas que, na ocasião, tiveram uma

‘engorda’ salarial. É possível dizer que Josias, por meio de uma estratégia discursiva

metafórica, ilustra uma situação real e produz o efeito de sentido da veracidade da corrupção

política, do governar para o bem próprio (nos caso dos congressistas) e do desperdício de

dinheiro dos cofres públicos. Ainda com relação à figura do segundo trecho, gostaríamos de

corroborar que, em virtude de ela ter sido usada metaforicamente, ela pode suscitar uma maior

variedade de sentidos, visto que ela não ilustra um político ou pessoa determinada como a

fotografia.

Os exemplos acima ainda confirmam que o responsável pelo blog não se pauta

pela objetividade e neutralidade da notícia, pois, até na escolha das imagens que acompanham

as notícias, percebemos a subjetividade do blogueiro.

Nessa “nova” mídia digital, o sujeito jornalista se afasta dos rigores formais do

impresso e conquista a sensação de que é dono do seu discurso, sem perceber que é

interpelado pela instituição para a qual trabalha. De certa forma, podemos dizer que esse

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“novo” veículo de informação e conhecimento amplia a sensação de liberdade tão desejada na

pós-modernidade e aproxima o jornalista-blogueiro de seu leitor.

Ao refletirmos acerca dessa suposta aproximação entre jornalista e leitor na

rede, examinamos que ela ocorre não apenas em função da informalidade e da subjetividade,

já referidas, e do sorriso de boas vindas dirigido a seu leitor virtual, mas também em função

do caráter dialógico dos textos do bloguer.

O repórter seria mal educado com o leitor que professa dogmaticamente a fé católica se não iniciasse o artigo com um aviso: interrompa imediatamente a leitura. Feito o alerta, vai um esclarecimento aos que continuam com o olho pregado no texto: o que se pretende aqui é fazer uma defesa de Deus, contra a pregação moralista do papa, seu pretenso representante nesta Terra de tantos diabos (SOUZA, 2007, http://www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br).

Constatamos, já no início do recorte, que o blogueiro instaura uma conversa

com seu leitor, alertando-o sobre o conteúdo da notícia e sobre uma possível necessidade de

interrupção da leitura. É plausível entender esse aviso deixado pelo bloguer como uma

tentativa de aproximação do seu leitor virtual, em outras palavras, esse é o efeito de sentido

que tal recado produz. Gostaríamos de destacar a importância desse clima de conversa dentro

da blogosfera, pois o sucesso de um blog depende de sua audiência, ou seja, do retorno dos

leitores.

Repetidas vezes mencionamos que Josias inscreve-se a si mesmo em uma

posição de poder: na maneira como nomeia e representa o seu blog, na moderação dos

comentários e no uso dos links. Considerando essa observação, gostaríamos de refletir um

pouco acerca das relações de poder que ocorrem no blog, a respeito das quais Foucault (2004,

p. 284) afirma acreditar que “não pode haver sociedade sem relações de poder, se elas forem

entendidas como estratégias através das quais os indivíduos tentam conduzir, determinar a

conduta dos outros”.

Observamos, dessa forma, que Josias, na tentativa de agir sobre os outros (os

leitores virtuais), utiliza-se de práticas de controle do discurso, como a seleção dos

comentários e a utilização dos links na busca de delimitar a produção dos sentidos, que

almejam uma ordem discursiva. Ao mesmo tempo, ele se coloca em uma posição privilegiada

que detém um saber – pois se encontra nos bastidores da política do país e sabe de tudo que

acontece nesse meio –, e um poder (como foi descrito acima).

A respeito das relações de poder, Foucault (1979) acrescenta que elas abrem

brechas para a resistência, uma vez que não compreende os indivíduos como autômatos que

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aceitam passivamente todas as determinações do poder; assim, onde há poder, há resistência e

embate. O filósofo também considera que o indivíduo se transforma em sujeito a partir de

uma forma de poder ou de uma forma de resistência, ou seja, para Foucault (1979), é por meio

das lutas pelo poder que os sujeitos se constituem, os sujeitos lutam porque buscam uma

identidade.

Diante do exposto no parágrafo acima, é pertinente aferirmos que os blogs

talvez possam ser compreendidos como um tipo de resistência a uma ordem discursiva

estabelecida, por exemplo, a do jornalismo tradicional impresso.

Os blogs jornalísticos propõem estabelecer uma ordem do discurso mais

democrática em que a liberdade de expressão é de grande importância. Porém, mergulhados

nessa ilusória áurea, cercam-se de práticas que delimitam tanto a escrita quanto a leitura.

Tendo demonstrado a forma por meio da qual a escrita é controlada na

blogosfera, gostaríamos de observar o que ocorre do outro lado, ou seja, como o leitor virtual

compreende as práticas discursivas do bloguer, se ele (o leitor) percebe essa tentativa de

controle dos discursos no weblog em questão. Em outras palavras, pretendemos examinar as

práticas de leitura Nos bastidores do poder.

Constatamos em nossas análises que três práticas de leitura aparecem com

maior freqüência no blog de Josias: a parafrástica, a de partilha de informação e a polêmica.

Na primeira, o leitor apenas retoma, ou seja, repete o que foi dito pelo blogueiro; na segunda,

o usuário desse dispositivo cibermidático acrescenta mais informação ao que já foi

informado; na terceira e última prática, o leitor polemiza o discurso instaurado por Josias.

Averiguamos que a primeira prática mencionada, a parafrástica, ocorre com

maior incidência e revela que o leitor, além de concordar com o blogueiro, não consegue

ponderar que a notícia lida representa somente uma leitura dos fatos feita pelo jornalista e não

uma verdade absoluta e incontestável. O leitor constrói a sua leitura a partir da leitura já feita

pelo responsável do blog, como se tivesse encontrado o sentido desejado pelo autor do texto.

Assim, tal ato torna-se pura decodificação e reprodução do sentido.

Todavia, segundo Chartier (2001, p. 78), o ato de ler não se resume ao que foi

colocado. Para o historiador, é preciso:

[...] dar à leitura o estatuto de uma prática criadora, inventiva, produtora, e não anulá-la no texto lido, como se o sentido desejado por seu autor devesse inscrever-se com toda a imediatez e transparência, sem resistência nem desvio, no espírito de seus leitores. Em seguida, pensar que os atos de leitura que dão aos textos significações plurais e móveis, situam-se no encontro de maneiras de ler, coletivas

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ou individuais, herdadas ou inovadoras, íntimas ou públicas e de protocolos de leitura depositados no objeto lido, não somente pelo autor que indica a justa compreensão de seu texto, mas também pelo impressor que compõe as formas tipográficas, seja com um objetivo explícito, seja inconscientemente, em conformidade com os hábitos de seu tempo.

Apesar de no objeto de análise autor e impressor coincidirem, percebemos, à

luz de Chartier (2001), que, para compreender um texto, é preciso ir além, é preciso

mergulhar na sua materialidade a fim de produzir leituras. Assim como a teoria da AD,

Chartier (2001) não acredita na transparência e imanência do sentido.

Com o intento de ilustrar essa prática de leitura observada no blog,

selecionamos os seguintes exemplos:

[ARMANDO TEIXEIRA] [nt] [Juiz de Fora/MG/Brasil] Pelos comentários observamos que a maioria das pessoa [sic.] bem informadas desejam uma limpeza geral nos políticos, porém, pela pesquisa verifica-se que cada vez mais El Rei D. Lulla I e único continua imbatível. A política de nomeações e o assistencialismo continua [sic.] forte [sic.] no país. A maioria dos brasileiros querem moleza e são pessimamente informados. Poucos tem [sic.] acesso aos blogs e bons jornais. A corrupção e os desmandos campeia [sic.] livremente e a justiça não pune ninguém. Já resolvi em[sic.] não votar em nenhum candidato. De agora em diante vou anular meu voto. Esse bando não ganha mais emprego com meu voto. E para culminar estou lançando VAVÁ 2010. o LAMBARI NA PRESIDÊNCIA. É PRA ESCULHAMBAR DE VEZ COM ESSE PAÍS.24/06/2007 09:54 (SOUZA, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

[Osvaldo] [Sorocaba -SP] Caro Josias,muito [sic.] bom o seu artigo a despeito do que aconteceu no verão passado...por tudo isso os senadores nao [sic.] querem perder nada pois sabem que o Renan fez saber aos seus pares que sabe o que eles fizeram no verão passado.24/06/2007 18:38 (SOUZA, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

[Benhur Antonio Bacega] [Foz do Iguaçu PR BR] Josias. A contundência do teu texto pode parecer agressiva e desrespeitosa para com o Senado. Mas, não o é, ela se torna até suave, em face dos absurdos que vêm ocorrendo por lá. Veja, pois, aonde chegamos! Estamos no ponto em que tudo o que é dito contra esse Poder é válido. Pelo menos o setor de que fazes parte, a Imprensa, ainda mantém a trincheira ativa, pois o povo brasileiro... Cordialmente.24/06/2007 12:39 (SOUZA, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

Os comentários citados, que são elogios a Josias, apenas reproduzem o que o

blogueiro já havia dito, não acrescentando nenhuma “nova” significação aos discursos

presentes. Verificamos, na escrita desses comentários, marcas de um discurso parafrástico,

reprodutor das mesmas formações discursivas do blogueiro jornalista.

No primeiro exemplo, o leitor chega a classificar os blogs como uma boa fonte

de informação, endossando a credibilidade deles.

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A partir desse gesto de leitura, observamos que esse leitor específico

compreende o blogueiro-jornalista como um sujeito detentor da verdade, do saber e do poder,

sem perceber que Josias constrói mecanismos que buscam controlar os efeitos de sentido de

seus e-textos. Entretanto, o sujeito blogueiro não é a fonte, a origem do seu discurso – até

porque à luz da AD nenhum discurso é original –, mas sim um indivíduo interpelado em

sujeito por várias ideologias.

Vamos agora nos direcionar para uma outra prática de leitura observada no Nos

bastidores do poder. Como mencionamos anteriormente, há leitores que também ajudam a

informar, ou seja, além de eles lerem o e-texto, acrescentam informações a ele, tornam-se,

desse modo, co-autores do blog.

[Marta manda, Mercadante goza] [SP SP BR ROBERTO] Mantega: crise aérea é sinal de prosperidade O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou, nesta quinta-feira, que haja um "caos aéreo" no Brasil. Os atrasos e cancelamentos de vôos nos aeroportos são, segundo ele, "parte do preço do sucesso da economia". O ministro acredita que o motivo dos atrasos é o "aumento do fluxo de tráfego por causa da prosperidade do País". 21/06/2007 18:06 (Josias, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

Notamos, no exemplo, que o leitor constrói o seu comentário como se estivesse

produzindo uma notícia. Ele não é apenas um leitor passivo, mas é ativo e colaborativo no

sentido de tanto imprimir sua escrita como o estatuto de co-autoria deste texto. Logo,

justifica-se o nome de escrileitor para os leitores digitais, que são diferentes dos do impresso,

uma vez que eles não tinham a oportunidade de interagir ou de colaborar com o jornalista em

tempo real. Segundo Oliveira (2006), esse compartilhar de autoria é comum dentro da

blogosfera, a cada post recebido pelo blog verifica-se que o leitor é, na realidade, um

escrileitor.

Ainda a partir do comentário acima, é coerente corroborar que o leitor

compreende a blogosfera como um ambiente democrático de acesso à palavra, onde se pode

disseminar informação sem que haja necessidade de ser jornalista. Talvez seja possível

estabelecer aqui uma relação com a pesquisadora Schittine (2004), que considera a blogosfera

como um espaço onde aspirantes a jornalistas tentam se tornar conhecidos.

Neste ponto destacamos que o responsável pelo comentário assume o ethos de

jornalista. Basta observar a forma como ele constrói o seu texto informativo, em tom

autoritário e procurando ser objetivo e imparcial.

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No entremeio desses comentários que colaboram com a informação,

encontramos formas diferentes de leitura, pois há aqueles que informam com o intuito de

reafirmar o discurso do blogueiro (como o post acima) e há os que informam com o objetivo

de comprometer a credibilidade do weblog (como nos exemplos abaixo).

[Marco] [São Paulo] Está correto a afirmação do Luiz Marques, era isso mesmo. Eu com 33 anos de aviação, + 20.000 mil horas de vôo como piloto em comando (comandante), nunca vi uma "orquestração" tão bem feita e os anti lulas [sic.], querendo botar a culpa no Governo. A imprensa ainda tem a Cara de Pau [sic.], mostrar um video [sic.] de um avião cruzando com outro. Eu mostro quatro aviões simultaneamente cruzando um fixo aeronáutico ( e não teve colisão)....é piada mesmo. O acidente da GOL foi uma fatalidade, mas a imprensa "patriota" brasileira esqueceu um acidente similiar [sic.] que ocorreu nos céus da Suiça [sic.]. (Um Aeroflot com um DHL) e ali não sobrou nenhum avião para contar a história. Estavam sobrevoando o território suiço [sic.]. (com uma pontualidade britanica [sic.]).......e ai. [sic.]............a culpa é do Governo LULA........Sugiro nos próximos dois anos, que comprem passagens rodoviarias [sic.], ou então façam como a elite branca brasileira, comprem um jatinho..............é muita bobagem mesmo. FUI. 21/06/2007 21:53 (Josias, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

[Luis Marques] [São Paulo-Capital] Essa é a maior crise inventada e insuflada pela mídia em todos os tempos, como nunca antes na história desse país... a pelo menos 15 anos, ou mais, desde a época da transbrasil vou de CGH para NVT no final da tarde 1 vez por mês, e o atraso médio deste vôo sempre foi de 2 horas, hora por excesso de trafego [sic.], hora por chuva, hora por isso, hora por aquilo... porém nunca antes na história deste país a mídia se preocupou, agora para fazerem pressão sobre o governo e aliviarem para a tucanada inventaram o apagão aéreo, esse apagão já dura uns 20 anos e a mídia não tinha visto... 21/06/2007 18:19 (Josias, 2007, http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html).

Em ambos os casos (seja nos comentários que apenas informam, seja naqueles

que informam e criticam o autor do blog), compreendemos que os escrileitores têm acesso a

outros veículos de informação além do blog e constituem-se como leitores a partir de várias

fontes. Porém, no primeiro caso, percebe-se uma leitura parafrástica, sem vestígios de que o

leitor tenha notado que Josias pretende construir seu texto de forma a controlar os efeitos de

sentido por ele produzidos. Já no segundo exemplo, encontramos um leitor polêmico, que lê a

notícia como uma verdade questionável e que deve ser ponderada antes de ser ingerida e

digerida pelo leitor. Essa prática de leitura em questão coloca em xeque o saber e,

conseqüentemente, o poder que Josias tenta impor a seu blog. Em outras palavras, podemos

corroborar que o leitor faz a sua leitura própria dos acontecimentos, pois, ao construir um

texto não parafrástico, mas polissêmico, o leitor apresenta um contradiscurso, instaura uma

relação de forças e o discurso polêmico no espaço do blog.

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Constatamos, que para esse leitor, o sentido não é transparente nem imanente,

assim como para Chartier (2001) e para a teoria da AD.

Não poderíamos deixar de abordar um fato que observamos no segundo

exemplo supracitado, no comentário de Luis Marques. É notável que esse leitor em questão

repete duas vezes a seguinte frase comumente proferida pelo presidente Lula em seus

pronunciamentos públicos: “nunca antes na história desse país”. Luis Marques, em seu

comentário, instaura um contradiscurso, mostrando-se favorável ao atual governo, visto que

recupera o discurso do governante Lula, e contrário ao que Josias defende.

Essa prática de leitura que ao mesmo tempo informa e polemiza refere-se à

terceira prática que mencionamos nos parágrafos acima, porém acontece de ela aparecer

apenas polemizando o e-texto do blogueiro, sem acrescentar a ele nenhuma informação.

Ainda em relação a essa prática terceira, é importante a seguinte colocação: o

escrileitor produziu sua leitura a partir de diferentes posições, ou seja, ele não apenas se

colocou como um observador dos fatos ou leitor das notícias, mas ele assumiu um outro lugar

discursivo ao analisar os fatos de uma outra perspectiva. No primeiro exemplo, sob a posição

de comandante e, no segundo, sob a posição de um passageiro de longa data. Dessa forma,

notamos a impossibilidade de caracterizar o sujeito leitor virtual como um sujeito único.

Depreendemos que ele é um sujeito disperso e fragmentado em busca de uma verdade, de um

saber a fim de que possa construir uma identidade, que, como vimos, não será única e nem

permanente, pois, conforme vimos anteriormente, as práticas de leitura mudam no decorrer da

história em função de vários motivos já citados nesse trabalho. Elas mudam porque os sujeitos

leitores mudam e “novas” identidades são construídas.

3.4 VERBO SOLTO E NOS BASTIDORES DO PODER: UM PARALELO

Antes de tecermos nossas considerações finais, gostaríamos de expor as

semelhanças e as diferenças observadas entre os dois weblogs analisados.

Verbo Solto e Nos bastidores do poder se assemelham ao selecionarem os

comentários a serem editados nos blogs. Ambos os sujeitos blogueiros demonstram uma

“logofobia” do discurso e tentam dominar a proliferação dos mesmos, todavia utilizam-se de

práticas diferentes: Weis mantém um realçado aviso informando que não acatará todos os

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comentários; Josias, diferentemente, comunica que moderará o retorno dos leitores por meio

de uma seção de seu blog denominada ‘regras’, ou seja, os leitores só descobrem que Josias

seleciona os comentários se acessarem o link da seção ‘regras’. A partir do exposto,

percebemos que o segundo bloguer camufla sua prática discursiva autoritária, produzindo a

sensação de uma maior liberdade de leitura em seu suporte.

O fato de os dois blogueiros censurarem alguns comentários por meio de

práticas díspares produz efeitos de sentido também díspares em seus leitores virtuais, em

outras palavras, acarreta diferentes práticas de leitura nos weblogs. Percebemos que os

comentários feitos no Nos bastidores do poder são, na maioria das vezes, parafrásticos, já os

do Verbo Solto são mais polêmicos e polissêmicos. Talvez seja possível dizer que os leitores

se sentem incomodados ao se certificarem de que não são livres, por isso produzem um

discurso mais aguçado no blog de Weis; acuados, os leitores lançam o contradiscurso. No

suporte virtual de Josias, observamos um número menor de usuários que percebem que o

bloguer institui uma relação de poder e tenta dominar a proliferação dos sentidos nesse

ciberespaço, sendo assim, os leitores, ilusoriamente livres, reproduzem o discurso do

blogueiro com maior freqüência.

Verificamos que o controle subliminar sobre os corpos, característico do pós-

panóptico – que, segundo Bauman (2001), representa a técnica de poder, de controle e de

vigilância da pós-modernidade –, não incomoda tanto os usuários da cibermídia de Josias e

ainda coopera na manutenção de um clima amigável no weblog.

Existem ainda três práticas discursivas que diferenciam os blogs analisados e

colaboram na produção de diferentes práticas de leitura: o retorno aos comentários dos

leitores, a utilização de fotos, de caricaturas ou de outras figuras nos posts e a foto colocada

por cada blogueiro no suporte.

Weis costuma responder aos comentários que recebe com maior freqüência que

Josias, aliás, o último quase nunca o faz. A esse respeito, conforme a análise, observamos que

o blogueiro do OI só retorna aos comentários quando se sente incompreendido e de forma

arrogante, o que provavelmente – e mais uma vez – incomoda seus leitores e suscita leituras

polêmicas.

O fato de o bloguer de Nos bastidores do poder não responder a seus leitores

ocasiona um duplo efeito de sentido: de indiferença e de compreensão por parte o blogueiro.

Ambos os efeitos de sentido parecem não incomodar o leitor, contribuindo para que ele

acredite na proposta de liberdade oriunda da blogosfera e não perceba a relação de forças

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estabelecida por Josias em seu blog. Notamos, então, que o blogueiro mascara, novamente, o

tom autoritário de seu discurso jornalístico, deixando transparecer o ethos do jornalista

tradicional do impresso.

Como já foi colocado, verificamos outra distinção entre os suportes

examinados, a forma como cada bloguer compõe suas postagens. Josias assiduamente utiliza

fotos, figuras com animação ou não, caricaturas ou qualquer outro tipo de imagem na

composição de seus textos. Tais imagens ajudam na compreensão dos discursos que

perpassam os textos do blogueiro, ou seja, complementam seus textos e seus discursos; elas

ainda ilustram o suporte midiático e tornam a visita a ele mais agradável, divertida e lúdica.

Podemos dizer que Josias utiliza-se de um discurso aparentemente lúdico, repleto de cores,

ironias e cinismos que muitas vezes leva ao riso, para instituir o seu discurso autoritário e

político de forma subliminar.

Diferentemente, no Verbo Solto, não encontramos nenhum tipo de ilustração,

pois Weis produz o seu discurso apenas a partir da linguagem escrita. No entanto, isso não

significa que o blogueiro do OI não possui também um discurso autoritário. Conforme vimos

na análise, ele apenas faz uso de outras práticas discursivas, como, por exemplo, a sua

descrição profissional.

A foto utilizada pelos blogueiros representa outra desigualdade averiguada

entre eles. Considerando que, por meio dessa foto, cada um dos bloguers se constitui perante

seus leitores, podemos dizer que Josias, ao fazer uso de uma fotografia em que se mostra

sorridente e receptivo, constrói uma imagem de si mais agradável a seus usuários do que a

imagem de si construída por Weis, visto que o último faz uso de uma fotografia na qual se

mostra mais sério e observador. O responsável por Nos bastidores do poder, mais uma vez,

vale-se de uma prática discursiva que mascara o seu discurso de jornalista tradicional.

Percebemos que ambos os bloguers possuem um discurso autoritário

subliminar, todavia eles camuflam esse discurso por meios de diferentes práticas. Josias, ao

valer-se da ludicidade, institui o seu discurso autoritário de forma mais tênue e sutil, torna a

leitura de seu blog mais divertida e parafrástica e atrai mais leitores que Weis, cujas práticas

são menos discretas e instigam leituras mais polêmicas.

A partir de Foucault (2007), que argumenta que o sujeito se constitui por meio

de suas práticas discursivas, compreendemos não poder classificar o sujeito blogueiro

igualitariamente, visto que eles se constituem diferentemente.

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Diante do paralelo exposto, foi possível observar que as práticas discursivas

divergem na blogosfera e podem influenciar e direcionar as práticas de leitura; que, assim

como não existe uma identidade homogênea e definida entre os blogueiros, não existe

também entre os leitores virtuais; que os mecanismos de controle podem ser camuflados em

maior ou menor intensidade; enfim, que a liberdade, nessa cibermídia, é produto e efeito de

sentido das práticas discursivas dos sujeitos blogueiros, ou seja, ela é ilusória.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivendo se aprende; mas o que se aprende mais é só a fazer outras maiores perguntas.

Guimarães Rosa

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Diferentemente do que se pensava, os weblogs não possibilitaram a emergência

de uma nova identidade para o jornalista. Na verdade, houve uma mudança no que diz

respeito à maneira como o jornalista se inscreve no texto, ao tamanho da notícia, ao uso de

figuras, à abertura que se dá aos leitores, ou seja, várias práticas discursivas sofreram

alterações tornando possível camuflar o discurso autoritário do jornalista-blogueiro.

Conforme trouxemos à baila em nossas análises, os bloguers Josias de Souza e

Luis Weis constituem-se por meio de práticas discursivas que revelam um sujeito detentor da

verdade, do saber e do poder, embora isso não seja tão transparente e perceptível em seus

blogs. Por meio de práticas dispares – ou seja, cada qual com seu modo de moderar os

comentários recebidos, com sua maneira de se constituir perante o público, com sua forma de

responder aos comentários de seus leitores e com seu estilo de compor a notícia (usando

figuras ou não) –, ambos os blogueiros mantêm inalterado o ethos do jornalista, ou seja,

continuam construindo a imagem de que são indispensáveis à vida dos cidadãos.

Observamos ainda que nem todos os usuários dessa cibermídia conseguem

perceber o mascarado tom autoritário do jornalista-blogueiro.

No Verbo Solto pudemos verificar que o discurso autoritário emerge quando

Weis se descreve profissionalmente, confessa que censurará alguns comentários, responde aos

comentários de seus leitores e vale-se de mecanismos de controle do discurso a fim de

dominar a proliferação dos mesmos. Já no outro weblog apreciado, notamos o tom arrogante

do blogueiro quando ele dá nome à sua cibermídia, quando descobrimos a existência das

regras que regem seu ciberespaço e quando percebemos que o discurso lúdico é apenas

aparente.

Em Nos bastidores do poder constatamos, ainda, que Josias, por meio de

práticas discursivas mais sutis e discretas, alcança uma maior eficácia de seu discurso

autoritário, visto que a maior parte dos leitores não consegue percebê-lo no entremeio da

ludicidade. Consoante as práticas de leitura examinadas, ao ser mais tênue que Weis, Josias

consegue uma maior aceitabilidade de seu weblog.

Ao buscarmos compreender esse sujeito pós-moderno a partir de Foucault

(2007), ou seja, ao considerarmos que o sujeito não é algo dado, mas está em constante

construção nas práticas discursivas e em relação ao outro, percebemos que o sujeito analisado,

impulsionado pela vontade de verdade e invadido por um medo do discurso, tenta,

constantemente, fazer-se crer e dominar os sentidos de suas palavras.

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Ainda com base em Foucault (1997), que afirma que o sujeito fixa sua

identidade a partir de suas atitudes, reflexões, condutas, escolhas, enfim de suas práticas, é

possível concluir que os sujeitos em questão fixam sua identidade como detentores de saber e

de poder. Ao mesmo tempo, percebemos sujeitos heterogêneos que buscam credibilidade a

todo instante em seu ciberespaço, demonstrando, assim, insegurança.

Destacamos também a incompletude desse sujeito pós-moderno ao eleger um

suporte em que possa receber o retorno de seus leitores. Sob esse prisma, entendemos o blog

como uma técnica de si, como a forma encontrada para se adquirir a verdade.

À semelhança da antiga técnica de si denominada hypomnemata, a

contemporânea cibermídia, ou seja, os weblogs se constroem. A relação entre o

mestre/blogueiro e seu discípulo/leitor ainda permanece após séculos, a necessidade do outro

no direcionamento da conduta e na administração dos conflitos ainda continua. Em outras

palavras, notamos que ambos os bloguers constituem sua identidade mediante o seu próprio

discurso e o outro.

O constante movimento da sociedade pós-moderna, que mais parece um caos,

não permite a muitos observar a ordem estabelecida, isto é, o controle subliminar sobre os

corpos. O discurso difundido na blogosfera de que os blogs possibilitariam o acesso

democrático à palavra e o intenso fluxo de informação ocasionado por esse dispositivo

cibermidiático permitiram a criação de um clima libertário. Todavia, assim como na vida real,

na realidade digital a ordem discursiva também é vivenciada: “não se pode dizer o que quiser,

do lugar que preferir, sem se ter que entrar na ordem discursiva” (OLIVEIRA, 2006, p. 144).

O discurso de liberdade promovido pelas novas tecnologias contaminou os

blogueiros, que parecem acreditar terem criado um “novo” jornalismo em resistência à ordem

estabelecida pelo jornalismo impresso tradicional, e seus leitores, que muitas vezes crêem

poder fazer suas leituras e comentários livremente; ambos iludidos, raramente percebem a

ordem estabelecida em meio ao caos.

Diante do exposto, podemos afirmar que o sujeito contemporâneo examinado,

seja ele o jornalista-blogueiro ou o leitor digital, não é novo nem velho, mas o resultado da

época que vivencia, ou seja, a modernidade líquida (BAUMAN, 2001). Não é possível

observar uma nova e singular identidade, mas “novas” identificações.

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GLOSSÁRIO

B Blog Forma abreviada de weblog.

Blogueiro Pessoa responsável pela atualização e manutenção de um blog, ou seja, o seu autor. Bloguer Em espanhol, autor de um blog. Termo utilizado por Orihuela (2006). Blogosfera O universo e a cultura dos weblogs. Comunidade de blogs. Browser (pesquisador) Programa que permite o acesso a páginas na web. C Chat Bate-papo on-line, comunicação simultânea, síncrona, por meio de texto e/ou voz, de dois ou mais usuários em uma mesma conversa ou debate. Ocorre em ambientes especiais na Internet, também chamados de "salas", que permitem conexão de várias pessoas em uma mesma conversação. Cibercultura A cibercultura é a cultura contemporânea em sua interface com as novas tecnologias de comunicação e informação, ela está ligada às diversas influências que essas tecnologias exercem sobre as formas de sociabilidade contemporâneas, influenciando o trabalho, a educação, o lazer, o comércio, etc. Todas as áreas da cultura contemporâneas estão sendo reconfiguradas com a emergência da cibercultura. Fonte: André Lemos: http://ww.magnet.com.br/bits/especiais/2003/11/0001/#topo. Ciberespaço O termo foi criado pelo escritor William Gibson e inspirado no estado de transe em que ficam os aficcionados de videogame durante uma partida. A palavra foi utilizada pela primeira vez no livro Neuromancer, de 1984, e adotada desde então pelos usuários da Internet como sinônimo de rede. Mundo virtual, onde transitam as mais diferentes formas de informação e onde as pessoas que fazem parte da sociedade da informação se relacionam virtualmente, por meios eletrônicos. Cibermídia Conjunto de mídias digitais existentes.

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Comunidade virtual Grupos de pessoas que se interligam entre si por meio de uma complexa rede informática (que obedece a uma estrutura rizomática, na qual não se identifica um princípio nem um fim), e não por intermédio de laços circunscritos aos limites de um espaço físico. H Hiperlink Ver link. Hipertexto Um hipertexto é um tipo de documento que permite leitura não linear onde o leitor dispõe de flexibilidade para escolher sua própria seqüência, de acordo com seu interesse ou necessidade. Como o próprio nome diz, é algo que está numa posição superior à do texto, que vai além do texto. Dentro do hipertexto existem vários links, que permitem tecer o caminho para outras janelas, conectando algumas expressões com novos textos, fazendo com que estes se distanciem da linearidade da página e se pareçam mais com uma rede. Na Internet, cada site é um hipertexto. Clicando em certas palavras vamos para novos trechos, e vamos construindo, nós mesmos, uma espécie de texto. Fonte: http://www.revistaconecta.com/destaque/edicao04.htm#1. L Link Elo, cadeia, interligação. Ligações do hipertexto. Palavras, frases ou imagens que uma vez selecionadas ordenam ao browser o acesso a outras partes do mesmo texto ou ainda a outros documentos da rede. O On-Line Diz-se que um computador ou outro equipamento está on-line quando está conectado a Internet ou está pronto para receber informações de outro ponto na rede. P Post Postagem, atualização de um blog. S Sociabilidade

Do Latim sociabile, sociável; s. f., qualidade do que é sociável; tendência, propensão para a vida em sociedade; urbanidade. Conjunto de inter-relações estabelecidas entre os actores sociais. Segundo Baechler (apud MARCELO, 2001), o conceito de sociabilidade pode ser definido como “a capacidade humana de estabelecer redes através das quais as unidades de actividades, individuais ou colectivas, fazem circular as informações que exprimem os seus interesses, gostos, paixões, opiniões”.

Sociabilização Derivação fem. sing. de sociabilizar; ato ou efeito de tornar sociável. Socialização Ato ou efeito de socializar; processo de transmissão cultural dinâmico e perpétuo por meio do qual os indivíduos aprendem a tornar-se membros da sociedade.

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W Weblog Página pessoal na Internet atualizada com muita regularidade e organizada cronologicamente.

Webpage Página na web. WWW (World Wide Web) Conjunto de informação disponível na Internet e à qual podemos aceder por meio das páginas web, ligadas entre si por hiperligações.

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ANEXOS

ANEXO 1

Fonte: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=3&id={CDFC6CA8-C98A-454F-AD8C-F353E01882AE}&data=200708.

ANEXO 2

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Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2007-06-17_2007-06-23.html.

ANEXO 3

Luís Weis

Jornalista, pós-graduado em Ciências Sociais pela USP, onde lecionou Sociologia da

Comunicação. Escreve no Observatório da Imprensa e no jornal "O Estado de S.Paulo". Entre

outras atividades, foi redator-chefe das revistas "Superinteressante" e "IstoÉ", editor-

assistente da "Veja", editor político e apresentador do programa "Perspectiva" da TV Cultura,

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editor nacional da "Visão" e editor de assuntos especiais da "Realidade". É autor, com Maria

Hermínia Tavares de Almeida, de "Carro-zero e pau-de-arara: o cotidiano da oposição de

classe média ao regime militar, in "História da Vida Privada no Brasil", Lilia Moritz

Schwarcz (org.), 1998, e do perfil político de Vladimir Herzog (sem título), in "Vlado —

Retrato da morte de um homem e de uma época, Paulo Markun (org.), 1985. Recebeu o

Prêmio Esso de Jornalismo Científico, em 1990.

ANEXO 4

O espaço de comentários do blog pode ser moderado. Não serão aceitas as seguintes

mensagens:

1. Que violem qualquer norma vigente no Brasil, seja municipal, estadual ou federal;

2. Com conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a

qualquer ilegalidade, ou que desrespeite a privacidade alheia;

3. Com conteúdo que possa ser interpretado como de caráter preconceituoso ou

discriminatório a pessoa ou grupo de pessoas;

4. Com linguagem grosseira, obscena e/ou pornográfica;

5. De cunho comercial e/ou pertencentes a correntes ou pirâmides de qualquer espécie;

6. Que caracterizem prática de spam;

7. Anônimas ou assinadas com e-mail falso;

8. Fora do contexto do blog.

A Folha Online:

1. Não se responsabiliza pelos comentários dos freqüentadores do blog;

2. Se reserva o direito de, a qualquer tempo e a seu exclusivo critério, retirar qualquer

mensagem que possa ser interpretada contrária a estas Regras ou às normas legais em

vigor;

3. Não se responsabiliza por qualquer dano supostamente decorrente do uso deste serviço

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