Boas Praticas de Ordenha Caprinos

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ISSN 1676-7667

Boas Prticas Agropecurias na Ordenha de Cabras Leiteiras

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IntroduoA caprinocultura leiteira tem aumentado sua participao no cenrio agropecurio brasileiro de forma bastante significativa nos ltimos tempos, observando-se maior exigncia do mercado consumidor por produtos de qualidade. O leite, ao ser sintetizado e secretado nos alvolos da glndula mamria dos animais, virtualmente estril, mas quando produzido sem os cuidados necessrios, pode ser capaz de permitir o desenvolvimento de microrganismos originrios do interior da glndula mamria, da superfcie das tetas e do bere, de utenslios, como os equipamentos de ordenha e de armazenamento e de vrias fontes do ambiente da propriedade produtora. Tais problemas causam grandes prejuzos para produtores, indstria e consumidores. O leite de cabra um alimento que fornece importantes nutrientes para a alimentao humana. O termo qualidade aplicado ao leite, refere-se higiene, composio, nvel tecnolgico e sanidade do rebanho, sendo que os principais meios para se atingir essa qualidade so: manter a sade do bere, ter um bom manejo de ordenha e controle zootcnico. Com isso, pode-se produzir um leite de melhor qualidade e mais adequado ao consumo humano. As boas prticas agropecurias na ordenha so normas e procedimentos que devem ser adotados pelos produtores rurais para garantir a produo de alimentos seguros em sistemas de produo sustentveis. Os objetivos das BPAs esto relacionados com a obteno de matria-prima adequada ao consumo e com reduo da possibilidade de transmisso de agentes infecciosos ocasionada pela contaminao microbiana, a qual prejudica a qualidade do leite, interfere na industrializao, reduz o tempo de prateleira do leite fluido e derivados lcteos, e pode colocar em risco a sade do consumidor. Essas prticas envolvem obrigatoriamente trs fatores, que devem participar do processo de forma harmnica: o ordenhador, o ambiente em que os animais permanecem antes, durante e depois da ordenha, e a rotina de ordenha. Para a aplicao das boas prticas na ordenha, o treinamento de mo de obra especializada deve ser realizado periodicamente, deixando todos os que participam dos processos de produo de leite cientes da importncia que cada um tem dentro da aplicao dessas prticas. A higiene pessoal do ordenhador um aspecto extremamente importante para as propriedades produtoras de leite. Deve-se evitar que as pessoas cultivem barba, que tenham unhas mal aparadas, cabelos compridos e no adequadamente cobertos ou presos, e que fumem ou levem as mos boca ou s narinas durante a ordenha. Este trabalho oferece orientaes e informaes sobre como efetuar boas prticas de ordenha para possibilitar que o produto final chegue ao consumidor com condies apropriadas ao consumo.

On lineSobral, CE Dezembro, 2009

AutoresLea ChapavalMd. Vet., D. Sc.; Pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos. Estrada Sobral/ Groaras, Km 04 - Zona Rural - Cx Postal 145 - CEP: 62010-970 - Sobral/CE [email protected]

Alan Martins MororZootec., Ps-graduando em Vigilncia Sanitria, Faculdades INTA, Bolsista Embrapa Caprinos e Ovinos.

Ana Paula Brando de SousaBiloga, Ps-graduanda em Vigilncia Sanitria, Faculdades INTA, Bolsista Embrapa Caprinos e Ovinos.

Procedimentos realizados para uma ordenha higinicaMarcela Oliveira RamosZootec., Ps-graduanda em Vigilncia Sanitria, Faculdades INTA, Bolsista Embrapa Caprinos e Ovinos.

1. Conduo dos animais para a ordenha Conduza as cabras com tranquilidade para a sala de ordenha, evitando barulho, gritos ou qualquer outra coisa que possa lhes provocar desconforto e estresse (fig. 1). Lembre-se de que o estresse diminui a produo de leite.

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3. Lavagem das mos dos ordenhadores Os ordenhadores devem, antes do incio da ordenha, seja ela manual, seja mecnica, ou sempre que necessrio, lavar as mos e os antebraos com gua potvel e detergente neutro, com o auxlio de escova e, em seguida, secar adequadamente (fig. 3). O ordenhador deve estar sadio e ter as unhas sempre aparadas e limpas, pois tambm so fontes de contaminao do leite.

Fig. 1 - Conduo do animais para a ordenha

2. Linha de ordenha Adote uma linha de ordenha, ou seja, realize primeiro a ordenha das cabras sadias e depois daquelas com mastite subclnica, de forma a auxiliar o controle da doena (fig. 2). O leite das cabras tratadas com antimicrobianos deve ser descartado enquanto estiver sendo efetuado o tratamento e durante o perodo de carncia recomendado pelo fabricante do medicamento. Ex.: 1: Cabras sadias que nunca tiveram mastite; 2: Cabras sadias que j tiveram mastite; 3: Cabras portadoras de mastite.Fig. 3 - Lavagem das mos dos orndenhadores

4. Teste da caneca telada Descartar os trs primeiros jatos de cada teto (meio mamrio) em caneca telada (fig. 4). Deve ser realizado em todas as ordenhas, em todos os animais. Alm de servir para o diagnstico da forma clnica da mastite, estimula a descida do leite e retira os primeiros jatos, que apresentam maior concentrao de microrganismos. Caso o leite apresente grumos, pus ou sangue, significa que o animal apresenta a forma clnica da doena e deve ser separado para tratamento, sendo ordenhado por ltimo seguindo a linha de ordenha. O leite dos animais que apresentem mastite deve ser descartado.

Fig. 2 - Linha de ordenha

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6. Desinfeco pr-ordenha Realizar a imerso dos tetos em iodo 0,5% e deixar agir por 30 segundos (fig. 6). Na maioria das vezes, o procedimento realizado com produtos base de cloro, que devem permanecer em contato com os tetos por no mnimo 30 segundos. Existem vrias recomendaes, com diferentes concentraes de produtos. Quando utilizado o hipoclorito de sdio, pode-se us-lo na concentrao de 2% a 10%.Fig. 4 - Teste da caneca telada

5. Lavagem dos tetos Lavar os tetos do animal, somente se necessrio, ou seja, quando se apresentarem sujos de esterco, de terra, de barro ou de lama, por exemplo. A lavagem deve ser realizada com gua potvel ou clorada, procurando no molhar as partes mais altas do bere (fig. 5). Somente os tetos devero ser lavados. Em seguida devem ser secos com papel toalha descartvel. A gua utilizada para a lavagem dos tetos deve ser clorada.Fig. 6 - Desinfeco pr-ordenha

A intensidade dos jatos de gua no deve ser alta, utilizando-se, para isso, mangueira de baixa presso.

7. Secagem das tetas Deixar o desinfetante agir por 30 segundos, e depois secar completamente as tetas, utilizando uma folha de papel toalha descartvel para cada teto - este cuidado evita a transferncia de resduos para o leite (fig. 7). A falta de secagem ou a secagem incompleta podem ainda proporcionar o deslizamento das teteiras durante a ordenha, no caso de utilizao de ordenhadeira mecnica. No indicado o uso de panos de uso nico ou mltiplo ou de papel de jornal.Fig. 5 - Lavagem dos tetos

Somente tetos limpos e secos devem ser ordenhados.

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Na ordenha mecnica

Abrir o registro de vcuo apenas imediatamente antes da colocao das teteiras no animal, impedindo, assim, a entrada de ar no sistema de ordenha e a consequente variao no nvel de vcuo. Colocar as teteiras cuidadosamente (fig. 9). O ordenhador deve ficar atento para no deixar a teteira cair durante a ordenha, pois poder causar um fluxo de leite para o interior da glndula mamria e o risco de entrada de microrganismos, alm de toda sujeira acumulada na "boca" do insuflador ser aspirada para dentro das teteiras, aumentando a contaminao do leite. Aferir o nvel de vcuo do sistema durante toda a ordenha, para verificar se esse nvel se encontra dentro dos limites normais. Desligar o registro de vcuo quando se observar o trmino do fluxo de leite. Proceder retirada das teteiras com ateno.

Fig. 7 - Secagem das tetas

8. OrdenhaA ordenha deve ser tranquila e em ambiente calmo e limpo, de preferncia em horrios fixos e em perodos com temperatura mais amena.

Na ordenha manual Iniciar a ordenha, retirando o leite de maneira constante sem interrupo (fig. 8). O ordenhador deve pressionar a base do teto para extrair o leite em um recipiente especfico e previamente higienizado, com cuidado para no deixar cair sujeiras no leite, como pelos, poeira e gua usada na lavagem dos tetos.

Fig. 9 - Colocao das teteiras

9. Desinfeco ps-ordenha Fazer imerso das tetas em soluo de iodo com glicerina (fig. 10). Deve-se aplicar o produto em pelo menos 2/3 da superfcie dos tetos.

Fig. 8 - Ordenha manual

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A soluo de glicerina permite a formao de um tampo no orifcio da teta, impedindo a entrada de microrganismos. Esse procedimento reduz o nmero de bactrias que passam de uma cabra a outra; dessa maneira, diminui o nmero de novos casos de infeces intramamrias por patgenos contagiosos.

11. Filtrao do leite O leite obtido deve ser coado em recipiente apropriado de ao inoxidvel, de nilon, de alumnio ou de plstico atxico (fig. 12). No caso dos sistemas de ordenha mecnica, o filtro deve ser periodicamente trocado.

Fig. 12 - Coador

12. Refrigerao do leiteFig. 10 - Desinfeco ps-ordenha

10. Manuteno dos animais de p aps a ordenha Fornecer alimento aos animais aps a ordenha, at o fechamento do esfncter, para estimular as cabras a permanecer de p e evitar a entrada de microrganismos nos esfncteres ainda no totalmente fechados (fig. 11). Aps a ordenha, os esfncteres dos tetos ainda no esto completamente fechados e as cabras podem se deitar aps a sua liberao, tornando intil todo o processo de higienizao dos tetos. Microrganismos do ambiente presentes no solo, nas fezes ou na cama, podem tornar o antissptico ineficiente e invadir a glndula mamria.

muito importante a manuteno do leite em temperatura baixa aps a ordenha, ainda mais porque o Brasil um pas de clima quente. O ideal que o leite atinja a temperatura de 4C no tempo mximo de duas horas aps o trmino da ordenha.

13. Limpeza da sala de ordenha e dos utenslios A sala de ordenha no precisa ser luxuosa nem sofisticada, mas sim funcional, prtica, de fcil acesso e limpeza, ou seja, bem planejada. Os locais de produo de leite devem ser livres de substncias nocivas que possam afetar a qualidade do produto. Deve-se evitar a presena de excrementos, secrees ou resduos de origem animal na sala de ordenha (fig. 13), bem como produtos qumicos.

Fig. 11 - Manuteno dos animais de p aps a ordenda

Fig. 13 - Limpeza da sala de ordenha

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A qualidade da gua utilizada na lavagem dos utenslios e dos equipamentos de ordenha de grande importncia, bem como a gua usada para a lavagem de tetos e para a realizao da antissepsia antes e depois da ordenha. Essa gua deve ser de boa qualidade microbiolgica semelhante a do consumo humano (potvel) com ausncia de coliformes fecais. Uma sugesto a utilizao de gua tratada com cloro. Os microrganismos do grupo dos coliformes no so necessariamente patognicos, entretanto, a sua presena indica contaminao fecal. recomendvel evitar a captao de gua com riscos de contaminao, ou seja, prximos a locais com acmulo de matria orgnica e com a falta de tratamentos preliminares como a filtrao e a clorao. Deve-se evitar o uso excessivo de gua, pois provoca umidade e torna-se um ambiente propcio para proliferao de microrganismos. Por isso importante que o local de ordenha esteja sempre limpo, seco e bem iluminado. O leite que permanece em utenslios e em equipamentos, cria condies timas para o desenvolvimento de microrganismos. Para evitar este problema, todas as partes que tenham contato com o leite devem ser muito bem higienizadas, logo aps o trmino da ordenha, primeiramente com enxgue bem feito, para facilitar a limpeza qumica. Por fim, o uso de sanitizantes completa o processo da boa higienizao.

Aps a ordenha mecnica, deve-se proceder imerso das teteiras em soluo desinfetante, o que ajuda no controle da mastite, especificamente em rebanhos com problemas de mastite contagiosa (fig. 14). A imerso completa das teteiras deve ser realizada em balde, devidamente limpo e preferencialmente mergulhandose os copos de cada conjunto de teteiras, um de cada vez. A soluo desinfetante deve ser trocada toda vez que estiver turva. Pode-se utilizar dois baldes na sequncia, sendo um para enxgue inicial com gua e outro com a soluo desinfetante. Os lates, baldes e coadores (filtro) devem ser lavados com detergente alcalino e escovados com escovas de cerdas ou buchas em toda a superfcie interna e externa e serem guardados suspensos em local arejado e com a boca virada para baixo, para escorrer o excesso da gua clorada at secar completamente e evitar contatos com moscas e poeira.

Fig. 14 - Lavagem das teteiras

14. Preparo da gua clorada para uso nos procedimentos de ordenha limpeza dos utenslios e desinfeco dos tetos

Fonte: Moreira et.al. 2007.

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Consideraes FinaisNa realizao da ordenha manual tradicional, as ms condies so um dos problemas que podem afetar de maneira negativa o desenvolvimento da produo de leite de cabra. As medidas de higiene durante a ordenha so eficazes para combater microrganismos incluindo os envolvidos em casos de mastite, de modo que elas favoream o perfeito equilbrio entre o ambiente, o animal e os agentes etiolgicos infecciosos. A adoo das boas prticas na ordenha de leite pode possibilitar a produo de leite de alta qualidade, o que torna uma situao que beneficia tanto produtores, indstria, como consumidores. Tambm importante para garantir a confiana do consumidor e a competitividade da cadeia produtiva de produtos lcteos caprinos no Brasil pela melhoria na qualidade do produto, que fornecido ao mercado, visto que as indstrias de laticnios esto comeando a pagar mais pelo leite de melhor qualidade.

CHAPAVAL, L.; ALVES, F. S. F. Boas prticas agropecurias e sistema de anlise de perigos e pontos crticos de controle como ferramentas para produo de leite de cabra com qualidade. Sobral: Embrapa Caprinos, 2006. 4 p. (Embrapa Caprinos. Comunicado Tcnico, 69). MOREIRA, M. S. de P.; RIBEIRO, A. C. de C. L.; CARVALHO, A. da C.; SANTOS, C. A. dos; ARCURI, E. F.; DINIZ, F. H. SOUZA, G. N. de; NUNES, J. B.; BRITO, J. R. F. MORAES, L. C. D. de; BRITO, M. A. V. P. e; ZOCCAL, R. Kit Embrapa de ordenha manual. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2007. 20 p. NOGUEIRA, D. M.; CHAPAVAL, L.; NEVES, A. L. A.; COSTA, M. M. da. Passos para obteno de leite de cabra com qualidade. Petrolina: Embrapa Semi-rido, 2008. 6 p. (Embrapa Semi-rido. Comunicado Tcnico, 135). Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2009. ZAFALON, L. F.; POZZI, C. R.; CAMPOS, F. P.; ARCARO, J. R. P.; SARMENTO, P.; MATARAZZO, S. V. Boas prticas de ordenha. So Carlos: Embrapa Pecuria Sudeste, 2008. 50 p. (Embrapa Pecuria Sudeste. Documentos, 78). Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2009.

Referncias ConsultadasBRITO, M. A. V. P.; BRITO, J. R. F. Qualidade do leite. In: MADALENA, F. E.; MATOS, L. L. de; HOLANDA JNIOR, E. V. de (Ed.). Produo de leite e sociedade: uma anlise crtica da cadeia do leite no Brasil. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2001. Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2009.

Circular Tcnica, 39 On line

Exemplares desta edio podem ser adquiridos na: Embrapa Caprinos e Ovinos Endereo: Estrada Sobral/Groaras, Km 04 - Caixa Postal 145 - CEP: 62010-970 - Sobral-CE Fone: (0xx88) 3112-7400 Fax: (0xx88) 3112-7455 Home page: www.cnpc.embrapa.br SAC: http://www.cnpc.embrapa.br/sac.htm 1a edio On line (Dezembro/2009)

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