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0 BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 738 (Ano VIII) (14/11/2016) ISSN - - BRASÍLIA 2016 Boletim Conteúdo Jurídico - ISSN – -

BOLETIM CONTEÚDO Boletim JURÍDICO N. 738 · que suplantam o quociente para a eleição de um ... instituição credora até ser quitado pelo prazo ... contrato pela qual uma pessoa

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BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 738

(Ano VIII)

(14/11/2016)

 

ISSN- -  

 

 

 

 

 

 

 

 

BRASÍLIA ‐ 2016 

Boletim

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rídico-ISSN

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Boletim Conteúdo Jurídico n. 738 de 14/11/2016 (ano VIII) ISSN

 ‐ 1984‐0454 

ConselhoEditorial 

COORDENADOR GERAL (DF/GO/ESP) - VALDINEI CORDEIRO COIMBRA: Fundador do Conteúdo Jurídico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade Granda/Espanha.

Coordenador do Direito Internacional (AM/Montreal/Canadá): SERGIMAR MARTINS DE ARAÚJO - Advogado com mais de 10 anos de experiência. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitário

Coordenador de Dir. Administrativo: FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.

Coordenador de Direito Tributário e Financeiro - KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em São Paulo (SP). Especialista em Direito Tributário e em Direito Financeiro pela FADUSP.

Coordenador de Direito Penal - RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.

País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. Contato: [email protected] WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

   

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SUMÁRIO

COLUNISTA DO DIA

 

14/11/2016 João Baptista Herkenhoff 

» Soberania do voto

ARTIGOS  

14/11/2016 Michele Aparecida Cunha » A aplicação do Leasing no Brasil 

14/11/2016 Larissa Veloso de Sousa 

» Competência para dirimir conflito de atribuições entre órgãos do Ministério Público 

14/11/2016 Paula Cristina Bertalo Bortolo 

» A possibilidade de inovação na tréplica 

14/11/2016 Andrei Fragoso Rocha de Oliveira 

» Entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito do envio imediato ou não do inquérito 

policial para tribunal competente diante do encontro fortuito de provas relacionado à pessoa com 

prerrogativa de função. 

14/11/2016 José Pinheiro Silva 

» A tutela civil do meio ambiente: a responsabilização civil pelo dano ambiental 

14/11/2016 Felipe Henrique dos Santos Bernardo 

» Crimes cibernéticos e o que diz a nossa legislação 

14/11/2016 Richard Paes Lyra Junior 

» Da necessária organização da Advocacia Pública Municipal em Procuradoria 

 

 

 

 

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SOBERANIA DO VOTO

JOÃO  BAPTISTA HERKENHOFF: Mestre  em Direito pela  Pontifícia  Universidade  Católica  do  Rio  de Janeiro.  Livre‐Docente  da Universidade  Federal  do Espírito Santo. Pós‐doutoramentos na Universidade de  Wisconsin,  Estados  Unidos  da  América,  e  na Universidade  de  Rouen,  França.  Professor  do Mestrado  em  Direito  da  Universidade  Federal  do Espírito Santo. Juiz de Direito aposentado. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros. Membro do Instituto dos Advogados do Espírito Santo. Membro da Associação de Juristas pela Integração da América Latina.  Membro  da  Associação  "Juízes  para  a Democracia". Membro da Associação  Internacional de  Direito  Penal  (França).  Autor  de  39  livros  e trabalhos publicados ou  apresentados no  Exterior, comunicações  em  congressos,  palestras, intervenções  em  debates,  trabalhos  inseridos  em obras coletivas, na França, nos Estados Unidos, no Canadá, no México, na Nicarágua, na Argentina. 

O voto, no Brasil, ao longo da História, teve sempre uma evolução progressista nos períodos de liberdade política.

A Constituição imperial subordinou os direitos eleitorais à renda que o cidadão tinha que ter.

A Constituição republicana (1891) acabou com a exigência de renda para o exercício do voto.

Mas como o voto não era secreto, o poder continuou nas mãos dos proprietários rurais, donos das terras e das consciências.

Somente a Constituição de 1934 veio a instituir o voto secreto, bandeira patrocinada por um capixaba que hoje é nome de cidade: Muniz Freire.

 

 

 

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A Constituição de 1934 criou também a Justiça Eleitoral, o que foi um avanço.

A propaganda gratuita e amplamente livre, pelo rádio e pela televisão, foi outra conquista, só alcançada às vésperas da Constituinte de 1985/86.

Ainda há muitos aprimoramentos que precisam ser feitos no processo eleitoral:

a) adoção de medidas para impedir o abuso do poder econômico nas eleições, através de maior severidade da legislação e mais eficaz ação da Justiça Eleitoral;

b) correção da distorção da representação por Estados, de modo a evitar o que ocorre atualmente, quando o número de deputados está longe de ter proporção com a população. Esta distorção favorece o conservadorismo, uma vez que os Estados prejudicados são justamente aqueles onde a organização das classes trabalhadoras é mais forte;

c) efetiva representação dos pequenos partidos, através de mudança no sistema de apuração das "sobras eleitorais". Os votos que suplantam o quociente para a eleição de um deputado ou vereador devem beneficiar os pequenos partidos, de modo a favorecer a representação das minorias;

d) adoção do sistema de dois turnos, em todas as eleições majoritárias. Não é democrático que um Prefeito ou um Senador seja escolhido por uma minoria.

A soberania do voto é a grande chave da Democracia. Meu voto vale tanto quanto o voto do porteiro do edifício onde resido. Ninguém vale mais ou vale menos. Todos somos iguais.

 

 

 

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A APLICAÇÃO DO LEASING NO BRASIL

MICHELE APARECIDA CUNHA: Bacharelanda do Curso de Direito da Universidade Brasil - Campus Fernandópolis -SP

RODRIGO SONCINI DE OLIVEIRA GUENA(orientador)[1]

RESUMO: O presente estudo tem por objetivo analisar os aspectos e as definições sobre o sistema adotado atualmente, conhecido como Leasing ou Arrendamento Mercantil, que em definição da doutrina caracterizada como o aluguel de um bem e ao término fica como opção ao arrendatário a compra ou a devolução à Instituição financeira. Consequentemente é definido como um negócio jurídico com efeitos tributários, atendendo os requisitos da Lei Federal e regulamentos do Banco Central. Outro critério analisado sobre Arrendamento Mercantil é ao pagamento do arrendatário ao Valor Residual Garantido possuindo parcelas no decorrer do arrendamento. Nessa perspectiva o Leasing apesar de parecer com um financiamento poderá revelar algumas surpresas que devem ser analisadas, para que não ocorra nenhum tipo de frustação ao realizar o contrato sobre o bem, já que apesar das grandes vantagens, o critério adotado também revela algumas desvantagens como a exigência do pagamento fiel, sem atrasos perante as parcelas. Palavras-chave: Jurisprudência. Valor Residual Garantido. Financiamento. Arrendamento Mercantil. Contrato. ABSTRACT: This study aims to analyze the aspects and definitions of the system currently adopted, better known as leasing, that in defining the doctrine characterized as the rent of a property and at the end is an option to the lessee to purchase or return the financial

 

 

 

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institution. Consequently, it is defined as a legal business with tributaries effects, meeting the requirements of federal law and regulations of the Central Bank. Other criteria analyzed on Leasing is to the payment of the tenant to Value Guaranteed Residual having installments over the lease. In this perspective the Leasing despite appearing with funding may reveal some surprises to be examined, so that there is any frustration when performing the contract on the property, since despite the great advantages, the criteria adopted also reveals some disadvantages such as the requirement of the faithful payment, without delay before the plots. In this perspective Leasing despite appearing with funding may reveal some surprises to be examined, so that there is any frustration when performing the contract on the property, since despite the great advantages the criteria adopted also reveals some disadvantages such as the requirement of the faithful payment without delay before the parcels. Keywords: Jurisprudence. Value Guaranteed Residual. Financing. Lease. Contract agreement.

INTRODUÇÃO

Os  contratos  de  leasing  se  destacaram  ao  decorrer  dos  tempos, 

ganhando destaque nos dias atuais, conseguindo maior espaço entre os 

empreendedores e conquistando o mercado financeiro.

Pode‐se caracterizar o sistema Leasing como um critério utilizado 

para a aquisição de um bem perante o arrendatário e o arrendador, ou 

seja, uma forma que Bancos e Instituições Financeiras encontraram para 

transferir  determinada  coisa  à  aqueles  que  inicialmente  não  possuem 

breves condições de adquirir determinado bem. 

O nome  Leasing no Brasil é definido  também por Arrendamento 

Mercantil, sendo denominado como uma espécie de aluguel permite o uso 

do que  se  foi permitido à posse  sem desembolsar no  início o  valor da 

determinada coisa. 

 

 

 

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O  arrendamento  mercantil  é  um  tema  muito  confundido  a 

Alienação fiduciária, que é caracterizada pela compra de um bem que não 

pode ser transferido a terceiros enquanto alienado. 

Outro sistema bem conhecido na área financeira é o CDC (Crédito 

Direto ao Consumidor) que permite imediatamente a aquisição da coisa e 

ao decorrer do financiamento pode ser vendido, transferindo as parcelas 

para a outra parte. 

Portanto,  se  duas  pessoas  capazes  contratarem  a  locação  como 

forma de  compra, em qualquer definição ao negócio  jurídico, deve‐  se 

observar as determinadas cláusulas e os determinados efeitos tributários 

contidos no contrato. 

Assim,  é  de  extrema  importância  ressaltar  a  ação  do  Leasing  e 

a necessidade de ampliar o conhecimento  jurídico sobre novas decisões 

da Jurisprudência que em tempos atuais tem vários entendimentos sobre 

o arrendamento mercantil. 

Contudo, por meio de ampliar o conhecimento fazendo uma breve 

comparação da atualidade em relação ao que se era determinada quando 

foi criado o leasing com grande expansão nos Estados Unidos, durante a 

Segunda Guerra Mundial com os tempos atuais. 

1- CONCEITO DE LEASING

Leasing é um contrato de aluguel com opção de compra no  final 

havendo  a  vontade  da  aquisição  do  bem,  possuindo  como  partes  o 

arrendador,  ou  seja,  o  banco  ou  uma  instituição  financeira  e  o 

arrendatário no caso pessoa física ou jurídica e o objeto que é o bem.

O arrendatário e considerado como a figura principal, pois através 

de sua necessidade se obteve a iniciativa em adquirir um bem. 

A  arrendadora  é  a  financeira,  a  que  irá  arrendar  o  bem  que  a 

arrendatária pretende, por meio de contrato e tributos financeiros. 

A vantagem do leasing é que ele pode ser utilizado para a compra 

de veículos zero quilômetro com taxas de juros mais relevantes e isenção 

 

 

 

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do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Porém, entre vantagens, o 

contrato possui desvantagem,  como o não  fornecimento do direito de 

propriedade ao decorrer do contratou  seja, o veículo  fica em nome da 

instituição credora até ser quitado pelo prazo mínimo de vinte e quatro 

mesesse a vida útil do bem é de até cinco anos ou podendo chegar até três 

anos se for maior a vida útil do que foi arrendado. 

As  operações  do  contrato  no  sistema  leasing  prevê  pagamento 

periódico de contraprestações, entre impostos e encargos. 

O arrendamento Mercantil vem desencadeado com fulcro no artigo 

1° da Lei 6.099/74, art. 1º, parágrafo único que o define como sendo: “o 

negócio  jurídico  realizado  entre  pessoa  jurídica,  na  qualidade  de 

arrendadora, e pessoa  física ou  jurídica na qualidade de arrendatária e 

tem por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora”, 

fundamentada  pela  resolução do  CMN  (Conselho Monetário Nacional) 

seguindo as restrições da legislação tributária. 

Salienta  Stephen  A.  Ross  que  o  arrendamento mercantil  é  “um 

acordo  entre  arrendatário  e  um  arrendador.  O  acordo  estipula  que  o 

arrendatário  tem  o  direito  de  usar  um  ativo  e,  em  troca,  deve  fazer 

pagamentos periódicos ao arrendador, ou seja, o proprietário do ativo. O 

arrendador  pode  ser  o  fabricante  do  ativo  ou  uma  companhia  de 

arrendamento  independente.  Se  o  arrendador  for  uma  companhia  de 

arrendamento independente, deverá comprar o ativo ao arrendatário, e o 

acordo entrará em vigor.” 

Já  para  Maria  Helena  Diniz  "(...)  arrendamento  mercantil,  é  o 

contrato  pela  qual  uma  pessoa  jurídica  ou  física,  pretendendo  utilizar 

determinado  equipamento,  comercial  ou  industrial,  ou  certo  imóvel, 

consegue  que  uma  instituição  financeira  o  adquira,  arrendando‐o  ao 

interessado  por  tempo  determinado,  possibilitando‐se  ao  arrendatário, 

findo  tal  prazo,  optar  entre  a  devolução  do  bem,  a  renovação  do 

arrendamento,  ou  a  aquisição  do  bem  arrendado mediante  um  preço 

residual previamente fixado no contrato, isto é, o que fica após a dedução 

das prestações até então pagas". 

 

 

 

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Portanto,  podemos  definir  Leasing  como  a  sucessão  de  dois 

contratos,  o  de  locação  e  o  de  compra  que  vem  relacionado  com  as 

disciplinas do direito privado, onde as partes assumem suas obrigações. 

Suas características são denominadas por meio do artigo 5º da lei 

6099/74 que elenca o prazo do contrato, o valor de cada contraprestação, 

a renovação do contrato ou opção de compra e o também o preço como 

opção da compra. 

Sendo assim, podemos definir o arrendamento mercantil como um 

contrato bilateral realizado entre o cliente e a instituição financeira, como 

forma de garantir meios sem que o arrendatário possua a necessidade de 

dispor no primeiro momento de seu capital. 

2- VALOR RESIDUAL EM GARANTIA (VRG)

O Valor Residual Garantido é determinado pelas partes no ato do 

contrato,  visto  como  uma  garantia  pela  instituição  financeira,  porém 

sendo necessária a análise do VRG, sob a análise de que ele se encontra 

embutido nas parcelas ou ao final do contrato imposto pela arrendatária, 

já  que  o  Valor  Residual  deixa  de  ser  avaliado  como  um  pagamento 

passando a ser visto como uma espécie de garantia.

O VRG é relacionado através de contratos formalizados e regulamentados pelo Artigo 7º Da Resolução 2.309/96, mas na maioria das vezes os contratos possuem previsões somente sobre a Lei 6.099/74.

Em meados de 1994, o Poder Judiciário entendia que a cobrança do VRG com as prestações periódicas descaracterizava o arrendamento mercantil, pois ao findar o contrato e ao pagamento de sua última prestação não caberiam as opções que caracterizavam o arrendamento.

Passou assim, o Superior Tribunal de Justiça a entender que a tese da cobrança antecipada do VRG descaracterizava o contrato (vide REsp 181095 RS; REsp 172432 RS; REsp 255628 SP; REsp 196209 RS; REsp 196873 RS; REsp 302448 SP), aprovando e publicando a súmula 263, definida pelo enunciado: “A cobrança antecipada do valor residual (VRG) descaracteriza o contrato de

 

 

 

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arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a prestação”.

Diante deste posicionamento alguns Ministros eram contrários ao entendimento, trazendo assim novas decisões do STJ (vide REsp 163845 RS; REsp 164918 RS; REsp 280833 RO; REsp 213828 RS; REsp 443143 GO; REsp 470632 SP), posteriormente gerando a anulação da Súmula e aprovando a Súmula 293 que entende em seu enunciado que

“A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”,atenuando que mesmo que seja cobrado de forma antecipada o VRG ao decorrer do contrato não será através desse fato descaracterizado o arrendamento mercantil.

Conclui- se, portanto que é nítida a nova aquisição dos tribunais pela corrente de não descaracterização do contrato, nos termos da súmula 293 do dia 05 de Maio de 2004.

3- INADIMPLEMENTO

O inadimplemento é o não cumprimento da obrigação, e presume 

uma série de questões as quais relacionam o Direito Civil Brasileiro.

Ele não somente acontece com aquele que compra o bem, mas também com a financeira, acarretando o cumprimento de ambas as partes em um contrato.

Portanto, se não atingir todas as normas e regras conforme a legislação estabelecida acontece um inadimplemento gerando diversos prejuízos as partes.

No leasing o inadimplemento pode acontecer tão somente de duas maneiras Adimplemento Absoluto que culmina em perdas e danos e o Adimplemento Relativo que é somente o retardamento da prestação, onde o devedor neste caso poderá realizar o pagamento em outro momento, sem prejuízos e sem posteriormente a necessidade da indenização.

 

 

 

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A extinção do contrato pode acontecer por vários meios, como por exemplo, a morte de uma das partes, mas na grande maioria os contratos se extingue pelo o lapso temporal, pelo fim natural, porém também pela falha no cumprimento de uma das partes.

Assim, quando ocorre o inadimplemento da arrendatária como devedora pode o arrendante ingressar com a ação de reintegração de posse , solicitando ao juiz tutela antecipada, para que seja transferido a sua posse, neste caso, a rescisão do contrato vai depender da intervenção judicial.

Portanto, a parte lesada pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por danos e perdas.

“Se o saldo devedor for considerado extremamente reduzido em relação à obrigação total, é perfeitamente aplicável a teoria do adimplemento substancial, impedindo a resolução por parte do credor, em favor da preservação do contrato”.(AREsp 155.885 - Ministro Massami Uyeda).

3.1 – Devolução do Bem

A devolução de um bem adquirido é por decisão daquele que tem 

sua posse, porém os meios judiciais são os mais dignos para a desistência 

do que se foi alugado.

É de extrema clareza que o Leasing nada mais é que um aluguel 

durante o período contratual, com a opção de compra ao fim do contrato. 

A partir do momento em que se não tem mais interesse é possível 

à devolução do veículo podendo ainda receber de volta aquelas parcelas 

já  pagas,  ou  até  mesmo  com  algumas  condições  que  os  Bancos  e 

Financiadoras consideram como negociação amigável. 

Sendo assim, é necessário analisar devidamente as cláusulas que se 

tem em um contrato e a partir do momento que se tem interesse de ter a 

 

 

 

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posse daquele bem, deve‐ se saber a necessidade de que o cumprimento 

do contrato é de ambas as partes. 

4 – CONCEITO FINAL

Este  trabalho  buscou  demonstrar  como  a  prática  do  Leasing  é 

utilizada em relação à aquisição do bem e quais os critérios necessários 

para a contratação da modalidade Arrendamento Mercantis, sem gerar 

prejuízos  às  partes,  bem  como  entendido  de  caráter  empresarial, 

possuindo diversas particularidades.

Atualmente  encontramos  uma  evolução  muito  grande  na 

Jurisprudência em relação aos contratos de Leasing, afinal antes não era 

possível  o  pagamento  antecipado  do  VRG,  porém  agora  com  algumas 

decisões o STJ entende que é possível, um grande marco para a história 

do Arrendamento Mercantil, deixando de lado o caso concreto da imagem 

do  sistema  adotado  e  criando novas perspectivas  através das decisões 

jurisprudenciais, não podendo deixar de  lado a característica do  leasing 

descaracterizando e passando a ser visto como um  financiamento   mas 

sim como um contrato de aluguel. 

Por esse motivo cabe à parte que pretende adquirir o arrendamento mercantil, entender e conhecer as peculiaridades do contrato em si, diferentemente dos financiamentos o leasing possui diversas vantagens como a isenção de algumas taxas, mas sua desvantagem é que o não pagamento correto das suas parcelas o Banco ou instituição financeira pode tirar a posse do cliente de uma forma mais rápida e ampla do que o financiamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTAR,  Carlos  Alberto.  Contratos  comerciais.  São  Paulo:  Forense 

Universitária, 1990. 

CHIAVENATO,  I.  Introdução  à  teoria  geral  da  administração.  São 

Paulo: Makron Books, 1999. 

 

 

 

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COELHO, F.U. Curso de direito comercial: direito de empresa. 15.ed. 

Vol.3, São Paulo: Saraiva,2014. 

COELHO, F.U. Manual de direito comercial: direito de empresa.21.ed. 

São Paulo: Saraiva,2009. 

DI AUGUSTINI, C. A. Leasing. São Paulo: Atlas, 1996. 

DINIZ,  Maria  Helena.  Curso  de  direito  civil  brasileiro.  São  Paulo: 

Saraiva, v. 2 e 3, 1997 

MIGALHAS,  O  Valor  Residual  Garantido  Em  Contratos  De 

Arrendamento  Mercantil  Financeiro 

<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI3970,71043‐

O+Valor+Residual+Garantido+em+contratos+de+arrendamento+mercant

il>. Acesso em 6 de Novembro de 2016. 

PEREIRA,  Caio Mário  da  Silva.  Instituições  de  direito  civil.  Rio  de 

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VENOSA,  Sílvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. 13. ed. 

São Paulo: Atlas, 2013. 

Nota:

[1] Graduação em Ciências Jurídicas e Sociais, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2005). Especialização em Direito Público, na Escola Paulista de Direito (2006). Especialização em Direito Tributário, no Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (2008).Especialização em Direito Empresarial e Tributário, na Unitoledo/Araçatuba (2013). Especialização em Direito Civil, na

 

 

 

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Anhanguera/Uniderp (2013). Especialização em Direito Constitucional, na Anhanguera/Uniderp (2014). Mestrado Profissional em andamento em Ciências Ambientais, na Universidade Camilo Castelo Branco, Campus Fernandópolis-SP. Aluna Regular do Programa de Cursos para Doutorado, na Universidad de Buenos Airess. Advogada no escritório de advocacia Páez & Bertolo. Professora Universitária na Universidade Camilo Castelo Branco.

 

 

 

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COMPETÊNCIA PARA DIRIMIR CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE ÓRGÃOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

LARISSA VELOSO DE SOUSA: Assessora de Promotor de Justiça Estadual; Graduação na Universidade Estadual da Paraíba, 2012.2; Pós Graduação: Direito Administrativo - Rede Anhanguera.

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar a guinada jurisprudencial ocorrida recentemente, em que foi modificado o entendimento jurisprudencial dominante quanto ao Órgão competente para dirimir conflitos de atribuição. Através de uma análise crítica com embasamento doutrinário, será dado enfoque ao debate jurisprudencial sobre o tema.

PALAVRAS-CHAVE: Direito Processual. Conflito de atribuição. Competência do STF.

ABSTRACT: This paper aims to analyze the jurisprudential shift occurred recently, it was modified the dominant jurisprudential understanding as to the competent organ to resolve allocation conflicts. Through a critical analysis with doctrinal basis, it will be given focus to the jurisprudential debate on the subject.

KEYWORDS: Procedural law. Assignment conflict. Jurisdiction of the Supreme Court.

I) INTRODUÇÃO:

O presente artigo visa abordar a guinada jurisprudencial ocorrida após o julgamento da ACO 924/MG, de relatoria do Ministro Luiz Fux, julgado em 19/05/2016, em que o Supremo Tribunal Federal mudou sua jurisprudência dominante, para atribuir

 

 

 

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ao Procurador Geral da República a competência para dirimir conflitos de atribuição entre Ministério Público Estadual de Estados Diferentes, bem como entre Ministério Público Estadual em conflito com Ministério Público Federal.

II) DESENVOLVIMENTO:

1) Distinção entre conflito de competência e conflito de atribuições:

Inicialmente, é importante fazer a distinção entre conflito de competência e conflito de atribuição.

O primeiro, relaciona-se à divergência entre dois órgãos jurisdicionais, que entendem ser competentes ou incompetentes quanto a determinada causa.

No processo penal, o CPP conceitua este tipo de conflito como sendo “conflito de jurisdição”, todavia, a doutrina entende por inadequada a mencionada expressão, tendo em vista que a “jurisdição” é una, sendo por outro lado a “competência” dividida. Portanto, o mais correto seria a utilização do termo “conflito de competência”.

O segundo, relaciona-se aos órgãos sem caráter jurisdicional, como é o caso do Ministério Público, ou de caráter jurisdicional em conflito com órgãos de caráter administrativo.

Importante salientar que caso a discordância inicie entre membros do Ministério Público, mas termine com o acatamento fundamentado do órgão jurisdicional, o conflito deixa de ser de atribuição e passa a ser de competência. É o denominado "falso conflito de atribuições", expressão cunhada por Guilherme de Souza Nucci.

Conceituando o assunto, temos as palavras do Professor Renato Brasileiro:

 

 

 

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"O conflito de atribuições não se confunde com o conflito de competência. Cuidando-se de ato de natureza jurisdicional, o conflito será de competência; tratando-se de controvérsia entre órgãos do Ministério Público sobre ato que caiba a um deles praticar, ter-se-á um conflito de atribuições." (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3ª ed., Salvador: Juspodivm, 2015, p. 1113).

Ademais, o conflito de atribuições poderá ocorrer também em apuração de infrações cíveis, como o caso de ações relativas ao meio ambiente, consumidor e demais direitos coletivos lato senso.

De outro modo, denomina-se “conflito de atribuição interno" aquele que ocorre entre autoridades do mesmo poder e denomina-se "conflito de atribuição externo" aquele que ocorre entre autoridades pertencentes a poderes diversos.

2) CRITÉRIO PARA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS DE JURISDIÇÃO E CONFLITOS DE COMPETÊNCIA:

Para se distinguir quem resolverá o conflito de competência ou mesmo de atribuição, compactuou-se que deve ser analisado na órbita interna de cada poder, qual é o superior hierárquico de ambos conflitantes, para que este determine quem exercerá as atividades conflituadas.

Assim, por exemplo, o conflito entre dois juízes será resolvido pelo Tribunal respectivo, assim como o conflito entre dois membros do Ministério Público estadual será resolvido pelo Procurador-Geral do Estado.

3) MUDANÇA DE ENTENDIMENTO:

Historicamente havia o entendimento de que o Superior Tribunal de Justiça seria competente para dirimir os conflitos de

 

 

 

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atribuição entre órgãos do Ministério Público Federal e dos Estados. Entretanto, este entendimento foi superado, vindo a prevalecer durante durante anos, o entendimento de que o Órgão mais adequado para apurar a questão do conflito de atribuições seria o Supremo Tribunal Federal.

Sobre o tema colacionamos a Jurisprudência anteriormente vigente:

Ementa: CONSTITUCIONAL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL ORIGINÁRIA. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MPF E MPE. SUPOSTA COBRANÇA INDEVIDA DE TAXA PARA VISITAÇÃO DE PARQUE MUNICIPAL. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. 1. Nos termos da orientação ainda vigente no STF, compete a esta Corte o julgamento dos conflitos de atribuições entre membros do Ministério Público Federal e dos Estados (art. 102, I, f, daCF). 2. Supostos desvios em taxa cobrada para visitação de parque municipal malversa verba do Município, o que justifica a atribuição do parquet estadual. 3. Conflito que se resolve pela atribuição do Ministério Público do Estado da Bahia, na linha do parecer da Procuradoria-Geral da República. 1. Trata-se de conflito negativo de atribuições suscitado pelo Ministério Público Federal em face do Ministério Público do Estado da Bahia, no curso de procedimento instaurado para apurar a suposta prática de infração penal decorrente da cobrança indevida e de desvios de taxa para visitação do Parque Marinho da Praia do Espelho, situado em Porto Seguro/BA. 2. O Ministério Público do Estado da Bahia declinou de sua atribuição por entender que o Parque Municipal Marinho da Praia do Espelho está localizado em

 

 

 

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área de domínio da União, “ostentando a sua criação inquestionável vício de competência e violação aos preceitos da Lei Federal nº 9.985/2000”. 3. O Ministério Público Federal insistiu na atribuição do parquet estadual, tendo sustentado que a configuração de ilícito penal estaria condicionada à ocorrência de desvio dos valores das taxas cobradas dos visitantes e que a criação da taxa em si não caracterizaria uma ilicitude. Afirmou ainda que o dever de proteção do meio ambiente cabe aos três entes federativos, sendo possível aos Municípios a criação e a gestão de parques municipais (art. 11, § 4º, Lei nº 9.985/2000), o que ocorreria no caso e afastaria a atribuição do parquet federal. 4. Os autos foram remetidos ao Supremo Tribunal Federal para dirimir o conflito de atribuições entre os órgãos do Ministério Público, com fundamento no art. 102, I, f, da Constituição. 5. A Procuradoria-Geral da República opina pela atribuição do Ministério Público do Estado da Bahia para a condução do procedimento investigatório. 6. É o relatório. Decido. 7. A jurisprudência anterior do Supremo Tribunal Federal apontava ser do Superior Tribunal de Justiça a competência para dirimir os conflitos de atribuição entre órgãos do Ministério Público Federal e dos Estados (cf. Pet 1.503, Rel. Min. Maurício Corrêa; CC 7.117, Rel. Min. Sydney Sanches; Pet 3.005, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie; entre outros). Tal orientação foi posteriormente modificada, concluindo-se pela competência desta Corte para resolver tais conflitos, nos termos do art. 102, I, f, da Constituição. Nesse linha, vejam-se os seguintes precedentes: Pet 3.258, Rel. Min. Marco Aurélio; Pet 3.631, Rel. Min. Cezar Peluso;

 

 

 

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ACO 889, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie; ACO 853, Rel. Min. Cezar Peluso. 8. Nada obstante, o Plenário desta Corte voltou a discutir o tema da competência do STF para apreciar conflitos de atribuições envolvendo órgãos do Ministério Público (ACO 1.394, Rel. Min. Marco Aurélio). Na oportunidade, consignei, em síntese, que a competência do Supremo Tribunal Federal, por ser de direito estrito, não poderia ser ampliada. Menos ainda, em conflito tipicamente administrativo, que poderia ser resolvido institucionalmente pelo Conselho Nacional do Ministério Público (art.130-A, § 2º, da CF). 9. No entanto, o referido processo ainda se encontra pendente de decisão definitiva, de modo que, sem embargo de decisões monocráticas em sentido contrário, adoto a orientação até aqui predominante e conheço do presente conflito de atribuições. 10. No mérito, tenho por incensurável o parecer do Procurador-Geral da República, ao pugnar pela atribuição do Ministério Público do Estado da Bahia, nos termos seguintes: “Os Parques Nacionais compõem o grupo das Unidades de Proteção Integral (art. 8º, I e III, da Lei nº9985/2000), as quais, juntamente com as Unidades de Uso Sustentável, integram o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (art. 7º da Lei nº9985/2000). Atente-se que, se o Parque for criado pelo Estado ou Município, ele será denominado, respectivamente, Parque Estadual ou Parque Natural Municipal (art. 11, § 4º, da Lei nº 9985/2000. No caso, a Lei Municipal nº856/2009, que instituiu o Parque Municipal Marinho da Praia do Espelho em Porto Seguro/BA, dispôs que cabe à Secretaria

 

 

 

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Municipal de Meio Ambiente e à Comissão de Gestão do parque a administração da citada unidade de conservação (artigos 5º e 7º). (…) 11. Não vejo como infirmar a opinião do Chefe do Ministério Público. O Parque Marinho da Praia de Espelho foi criado pelo Município de Porto Seguro pela Lei Municipal nº 856/2009, com fundamento no art. 11, § 4º, da Lei nº9.985/2000, cabendo ao referido Município a gestão da unidade de conservação ambiental, incluindo a prerrogativa para a instituição de taxas. O suposto desvio de verbas da taxa de visitação criada, portanto, malversa verba do Município, o que justifica a atribuição do parquet estadual para o ajuizamento de eventual ação de improbidade administrativa. 12. Diante do exposto, conheço do presente conflito e reconheço a atribuição do Ministério Público do Estado da Bahia para a apuração dos fatos descritos nos presentes autos. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 25 de agosto de 2015. Ministro Luís Roberto Barroso Relator. Processo nº ACO 1965 BA - BAHIA 9943166-49.2012.0.01.0000. Relator Min. ROBERTO BARROSO. 25/08/2015. STF - AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA : ACO 1965 BA - BAHIA 9943166-49.2012.0.01.0000.

O referido posicionamento, até então prevalente, sofreu guinada considerável neste ano de 2016, tendo em vista que houve modificação considerável do Órgão responsável para resolver conflitos que antes seriam de competência do STF.

Até o julgamento do ACO 924/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/05/2016, entendia-se que em caso de conflito de atribuições entre membros do Ministério Público de um mesmo Estado seria dirimido pelo respectivo Procurador-Geral de Justiça, nos termos da Lei nº 8.625/93, que dispõe: “Art. 10. Compete ao

 

 

 

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Procurador-Geral de Justiça: (…) X - dirimir conflitos de atribuições entre membros do Ministério Público, designando quem deva oficiar no feito”. Ademais, se o conflito ocorresse entre Procuradores da República, o conflito seria resolvido pela Câmara de Coordenação e Revisão (órgão colegiado do MPF), havendo possibilidade de recurso para o Procurador-Geral da República, nos termos da LC 75/93, que dispõe: “Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão: (…) VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público Federal” e “Art. 49. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do Ministério Público Federal: (…) VIII - decidir, em grau de recurso, os conflitos de atribuições entre órgãos do Ministério Público Federal”. Por fim, se o conflito se desse entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da União, o conflito seria resolvido pelo Procurador-Geral da República, nos termos da LC 75/93, que dispõe: “Art. 26. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do Ministério Público da União: (…) VII - dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da União”. Por fim, se o conflito se desse entre Promotores de Justiça de Estados diferentes ou entre um Promotor de Justiça e um Procurador da República, o STF entendia ser o competente para dirimir o conflito.

Ora, se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes estavam em conflito, havia uma divergência entre dois órgãos de Estados diferentes. E se um Promotor de Justiça e um Procurador da República estavam divergindo havia divergência entre um órgão estadual e um órgão federal. Logo, nestas duas situações, quem deveria resolver este conflito seria o STF, conforme previsto no art. 102, I, "f", da CF/88: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: (…) f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.

 

 

 

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Ocorre que, após o julgamento do ACO 924/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/05/2016, o STF entendeu que a competência para dirimir estes conflitos de atribuição é do Procurador-Geral da República.

A mudança de entendimento baseou-se predominantemente no entendimento de que os processos relacionados ao conflito de atribuições perduravam por anos no Judiciário, prejudicando o andamento do processo em que originou a discussão quanto à competência.

Assim, entendeu o STF que o conflito entre membros do MPE e MPF, ou de MPE de Estados diferentes, não é uma questão jurisdicional, mas administrativa, devendo a controvérsia ser dirimida pelo Procurador-Geral da República.

Sobre o julgado, colacionamentos sua ementa:

Ementa: CONSTITUCIONAL. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MINISTÉRIOS PÚBLICOS. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER A TUTELA COLETIVA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DOTADOS DE RELEVÂNCIA SOCIAL. POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO PARQUET EM FAVOR DE MUTUÁRIOS EM CONTRATOS DE FINANCIAMENTO PELO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. QUESTÃO PRELIMINAR. ALCANCE DO ARTIGO 102, INCISO I, ALÍNEA F DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. DISPOSITIVO DIRECIONADO PARA ATRIBUIR COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA AO STF EM CASOS DE CONFLITO FEDERATIVO. REVISITAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA

 

 

 

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ASSENTADA PELA CORTE (ACO 1.109/SP E PET 3.528/BA). MERO CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES QUANTO À ATUAÇÃO ENTRE DIFERENTES ÓRGÃOS MINISTERIAIS DA FEDERAÇÃO. SITUAÇÃO INSTITUCIONAL E NORMATIVA INCAPAZ DE COMPROMETER O PACTO FEDERATIVO AFASTA A REGRA QUE ATRIBUI COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA AO STF. NÃO CONHECIMENTO DA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA E REMESSA DOS AUTOS AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA (PGR) – (PRECEDENTE FIXADO PELA ACO 1.394/RN). 1. In casu: (i) cuida-se de conflito negativo de atribuições entre diferentes órgãos do ministério público para se definir a legitimidade para a instauração de Inquérito Civil em investigação de possível superfaturamento na construção de conjuntos habitacionais no Município de Umuarama/PR; e (ii) há suspeita de que construtoras obtiveram, por intermédio da Caixa Econômica Federal, verbas do Sistema Financeiro de Habitação, em valor superior ao necessário para a construção dos conjuntos habitacionais, excesso esse que teria sido repassado aos mutuários da CEF. 2. Em sede preliminar, o tema enseja revisitação da jurisprudência assentada por esta Corte (ACO 1.109/SP e, especificamente, PET 3.528/BA), para não conhecer da presente Ação Cível Originária (ACO). Nesses precedentes, firmou-se o entendimento no sentido de que simples existência de conflito de atribuições entre Ministérios Públicos vinculados a entes federativos diversos não é apta, per si, para promover a configuração de típico conflito federativo, nos termos da alínea f do Inciso I do

 

 

 

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art. 102 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988). O caso dos autos remete, consectariamente, a mero conflito de atribuições entre órgãos ministeriais vinculados a diferentes entes federativos. 3. Em conclusão, essa situação institucional e normativa é incapaz de comprometer o pacto federativo e, por essa razão, afasta a regra que, em tese, atribui competência originária ao STF. Ademais, em consonância com o entendimento firmado por este Tribunal no julgamento da ACO 1.394/RN, o caso é de não conhecimento da ação cível originária, com a respectiva remessa dos autos ao Procurador-Geral da República para a oportuna resolução do conflito de atribuições. (ACO 924, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 19/05/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 23-09-2016 PUBLIC 26-09-2016).

4) POSSIBILIDADE DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA ATUAR NA SOLUÇÃO DO CONFLITO:

Como é sabido, o Procurador-Geral da República é o chefe do Ministério Público da União, nos termos do art. 128, § 1º da CF/88. Já o o chefe de cada Ministério Público Estadual é o seu respectivo Procurador-Geral de Justiça, nos termos do art. 128, § 3º.

Destarte, a decisão de atribuir ao chefe do MPF a competência para solucionar o conflito traz à tona discussões doutrinárias consolidadas, indo contra a opinião majoritária dos Juristas, a exemplo de Eugênio Pacelli, que ensina:

"Merece registro, por fim, que a tese no sentido de que poderia o Procurador-Geral da República resolver os citados conflitos de

 

 

 

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atribuições, jamais foi acolhida. E, a nosso aviso, corretamente. É que o Procurador-Geral da República não ocupa qualquer posição (administrativa, funcional ou operacional) hierarquicamente superior aos Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados." (Curso de Processo Penal. 14ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 71).

No julgado ACO 924/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/05/2016, STF, afirmou-se que os “conflitos de atribuição são uma questão interna da instituição, guiada pelos princípios da unidade e indivisibilidade, não se qualificando como conflito federativo apto a atrair a incidência do artigo 102, parágrafo 1º, letra “f”, da Constituição”.

Desse modo, o STF utilizou como argumento o fato de que a CF/88 teria conferido ao PGR um status de representante nacional do Ministério Público.

Por fim, o argumento mais importante utilizado foi o vasto volume de processos tramitando na Justiça, relativamente aos conflitos de atribuição. Assim, desonerar a Justiça seria muito mais uma questão de política judiciária, sendo o mais benéfico ao Poder Judiciário.

5) CONCLUSÃO:

Assim, após análise de toda esta mudança jurisprudencial, percebe-se que o STF optou por uma solução que desonerasse o Judiciário, e retirasse dele o enorme volume de processos relativos aos conflitos de competência.

No entanto, utilizou-se de argumentos que vieram a ferir a independência entre o MPE e MPF, que caminham há tempos como Órgãos independentes, cada qual com seu superior hierárquico especifico.

 

 

 

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Deste modo, esta mudança que parece ser favorável ao Judiciário, vem a macular o simbolismo e a separação categórica entre as casas ministeriais, de modo a confundir e enfraquecer o Ministério Público Estadual, que passa a ser subordinado às decisões do Chefe do Ministério Público Federal.

O mais adequado seria que o Conselho Nacional do Ministério Público, fosse responsável por solucionar mencionados conflitos, considerando que este órgão é constitucionalmente legitimado para o controle do “cumprimento dos deveres funcionais de seus membros”, nos termos do art. 129, I, e art. 127, §§ 1º. e 2º, ambos da Constituição Federal.

Portanto, nos resta aguardar se a mudança na Jurisprudência vai ser consolidada, ou se teremos novas alterações quanto ao assunto.

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PACELLI, Eugênio, Curso de Processo Penal. 14ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011

 

 

 

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DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil: processo coletivo, vol. 4. 5. ed. Salvador: Jus Podivm, 2010.

   

 

 

 

        29 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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A POSSIBILIDADE DE INOVAÇÃO NA TRÉPLICA

PAULA CRISTINA BERTALO BORTOLO: Discente do curso de Direito da Universidade Brasil- antiga (UNICASTELO).

VIANA, André P.(orientador)[1] 

RESUMO: O presente artigo enfoca sobre as divergências da possibilidade 

de  inovação na  tréplica, visando as posições dos Doutrinadores, dando 

ênfase  a  cada  posição,  se  contrária  ou  a  favor,  buscando  as  decisões 

jurisprudenciais  recentes  no  assunto,  demonstrando  de  que  forma  o 

judiciário  lida  com  este  assunto  tão  pretérito,  porém  contemporâneo, 

abrangendo as questões do Julgamento em plenário, seus procedimentos, 

suas características, seus requisitos, seu rito escalonado, explanando as 

diretrizes  dentro  de  um  Tribunal  do  Júri,  mostrando  como  se  dá  a 

formação do Conselho de Sentença, por  fim  ressalta os debates e seus 

tempos, da réplica e tréplica, bem como sua Previsão  legal contidos no 

Código de Processo Penal e a importância para a instituição do júri, com 

base nos princípios constitucionais da plenitude de defesa, contraditório, 

o devido processo  legal, enfim, a presente pesquisa visa sanar possíveis 

dúvidas advindas da inovação na tréplica e suas consequências. 

Palavras ‐ Chave: Tribunal do Júri; Réplica; Tréplica. Inovação na tréplica; 

Princípios. 

ABSTRACT:  This  article  focuses  on  the  differences  of  the  possibility  of 

innovation  in  the  Rejoinder,  targeting  positions  of  the  Indoctrinators, 

giving emphasis to each position, if contrary or in favour, seeking recent 

jurisprudential decisions on the subject, demonstrating how the judiciary 

deals with  this  subject  as  past  tense,  however,  covering  the  issues  of 

judgment plenary,  its procedures,  its  characteristics,  its  requirements  , 

your Rite escalated, scientific paper expounding  the guidelines within a 

 

 

 

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Court  of  jury,  showing  how  the  formation  of  the  Council  of  Sentence, 

finally highlights the debates and their times, the reply and the Rejoinder, 

as well as their legal provision contained in the code of criminal procedure 

and  the  importance  to  the  institution  of  the  jury,  based  on  the 

constitutional  principles  of  the  fullness  of  Defense  contradictory,  due 

process,  anyway,  this  research  aims  to  remedy possible doubts  arising 

from innovation in the Rejoinder and its consequences. 

Keywords:  Trial  by  jury;  Replica;  The  Rejoinder.  Innovation  in  the 

Rejoinder; Principle. 

1. INTRODUÇÃO

O  instituto  da  inovação  na  tréplica,  não  é  regido  por  uma  lei, 

prevalecendo assim o entendimento dos magistrados em aceitar ou não 

tal argumento que serão  julgados pelo Conselho de Sentença. Uma vez, 

que a legislação não prevê o contraditório para a acusação, sendo este um 

direito previsto na Constituição Federal.

 No procedimento do júri, a fase dos debates orais (em plenário) 

desenvolve‐se  em  quatro  etapas:  sustentação  oral  da  acusação, 

sustentação oral da defesa, réplica (que é facultativa) e tréplica. A tréplica 

(que pressupõe o uso da réplica) é, teoricamente, a última etapa da defesa 

oral. Mas será que pode a defesa (já que está falando por último) levantar 

uma “tese nova” na tréplica. Alguns doutrinadores admite a possibilidade 

de inovação na tréplica, por exemplo NUCCI que acredita que a inovação 

na tréplica é cabível justificando para tal o princípio da plenitude de defesa, 

já  outros  são  contra,  alegando  que  a  acusação  já  não  pode  rebatê‐la, 

também  como  CAPEZ,  que  explana  ser  uma  ofensa  ao  princípio  do 

Contraditório. 

Apesar das controvérsias, vamos analisar se há essa possibilidade 

que pode sustentar tese “nova” na tréplica.  

2. O PROCEDIMENTO DO JÚRI O Júri  foi pautado em nosso ordenamento  jurídico pela primeira 

vez pela  lei de 18 de  junho de 1822, a qual  limitou sua competência ao 

julgamento dos crimes de imprensa.

 

 

 

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Com a Constituição  Imperial, de 25 de março de 1824, passou a 

integrar o Poder Judiciário com um de seus órgãos, tendo sua competência 

ampliada  para  julgar  causas  cíveis  e  criminais.  Alguns  anos  depois  foi 

disciplinado  pelo  Código  de  Processo  Criminal,  de  20  de  novembro  de 

1832, o qual conferiu‐lhe ampla competência, só restringida em 1842 com 

a entrada em vigor da lei n. 261. CAPEZ [1]. 

O  júri  é  órgão  jurisdicional  de  primeiro  grau  da  Justiça  Comum 

Estadual e Federal, composto por cidadãos  (juízes  leigos) escolhidos por 

sorteio, que são temporariamente investidos de jurisdição, e por um juiz 

togado  (juiz  de  direito).  A  participação  do  popular  nos  julgamentos 

criminais como instrumento da tutela de direitos individuais assenta‐se na 

convicção de que o magistrado profissional aprecia os casos com maior 

rigidez  e  menos  benignidade,  ao  passo  que  o  jurado  mostra‐se  mais 

receptivo  e  simpático  a  argumentos  e  circunstâncias  de  caráter 

extrajurídico. LENZA [2]. 

A Constituição Federal propiciou ao tribunal do júri a competência 

mínima para  julgar os crimes dolosos contra a vida, o que não  impedi a 

possibilidade  deo  legislador  aumentar  o  elenco  de  infrações  cujo 

julgamento  é  afeto  ao  órgão,  oque,  de  fato,  já  ocorre  em  relação  aos 

crimes conexos, que são apreciados pelo júri. 

Crimes  dolosos  contra  a  vida  são  apenas  aqueles  previstos  no 

capítulo específico do Código Penal  (Parte especial, Título  I, Capítulo  I): 

homicídio  doloso,  infanticídio,  auxílio,  induzimento  ou  instigação  ao 

suicídio e aborto, em suas formas consumadas ou tentadas. 

Na atual Carta Magna, é assegurado a  instituição do  Júri  com a 

organização que lhe der a lei, admitido como princípios básicos a plenitude 

do direito de defesa, o sigilo nas votações, a soberania dos veredictos e a 

competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. 

A  Constituição  Federal  reconheceu  a  instituição  do  júri  como 

garantia  individual, dando‐lhe a competência mínima para o  julgamento 

dos crimes dolosos contra a vida. Tratando‐se de garantia fundamental, a 

instituição  do  júri  não  pode  ser  abortado  do  ordenamento  pátrio  nem 

mesmo por emenda constitucional, pois se cuida de cláusula pétrea. LENZA 

[3]. 

 

 

 

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Seu objetivo é a de ampliar o direito de defesa dos réus, exercendo 

como uma garantia individual dos acusados pela prática de crimes dolosos 

contra  a  vida  e  permitir  que,  em  lugar  do  juiz  togado,  preso  as  regras 

jurídicas, sejam julgados pelos populares. CAPEZ [4]. 

.  PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS AO JÚRI 

Conquanto  tenha  deixado  a  cargo  do  legislador  ordinário  a 

regulamentação  da  organização  do  julgamento  no  Tribunal  do  Júri,  a 

Constituição  Federal,  além  de  dispor  sobre  a  competência  do  órgão, 

ocupou‐se de delinear os princípios básicos que norteiam a instituição: 

1 ) Plenitude de defesa — Malgrado em todo processo criminal seja 

garantido o exercício da ampla defesa pelo acusado, com exatidão, que a 

defesa plena é, do ponto de vista jurídico, um superlativo da defesa ampla. 

De fato, as peculiaridades do julgamento secundum conscientiam, no qual 

o julgador decide de acordo com sua íntima convicção sem que tenha de 

indicar os motivos da decisão, permite que o acusado possa beneficiar‐se 

de argumentos de cunho moral ou religioso e, até mesmo, de aspectos de 

natureza sentimental, o que é defeso ao juiz togado, que não pode afastar‐

se da lógica jurídica. Além disso, como não necessitam indicar os fatores 

em que baseiam o veredicto, é possível que o jurado leve em consideração 

informações que não constam dos autos, mas de que teve conhecimento 

por outros meios. A garantia de plenitude da defesa, porém, não confere 

ao acusado a prerrogativa de ficar imune à vedação ao uso da prova ilícita, 

nem de sobre posse ao princípio do contraditório, daí por que ao acusador 

devem ser conferidas idênticas faculdades processuais, de modo a garantir 

o equilíbrio na relação processual (“paridade de armas”). LENZA [2]. 

Vale lembrar que o juiz deve ter especial cautela, nos julgamentos 

pelo  júri,  ao  dever  de  zelar  pelo  efetivo  exercício  da  defesa  técnica, 

declarando  o  réu  indefeso  e  dissolvendo  o  Conselho  de  Sentença  na 

hipótese de entender insuficiente o desempenho do defensor. 

2) Sigilo das votações — O segredo das votações é postulado que 

se origina da necessidade de manter os jurados a salvo de qualquer fonte 

de  coação,  embaraço  ou  constrangimento,  por  meio  da  garantia  de 

inviolabilidade do teor de seu voto e do recolhimento a recinto não aberto 

ao público  (sala  secreta) para o processo de  votação. Não há qualquer 

 

 

 

        33 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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incompatibilidade entre o princípio do sigilo das votações e exigência de 

publicidade  dos  julgamentos:  “Tribunal  do  júri,  Sigilo  das  votações,  e 

publicidade dos julgamentos. LENZA [5]. 

Apesar de que ainda esteja acesa a controvérsia da necessidade de 

continuar  a  apuração  dos  votos  quando  o  número  de  respostas  a 

determina  de  quesito  já  obteve  a  maioria  em  determinado  sentido 

(afirmativa  ou  negativa),  o  Supremo  Tribunal  Federal  já  pronunciou  a 

decisão proclamando a possibilidade de omitir‐se do termo de votação o 

número  de  votos  positivos  e  o  de  negativos,  pois  a  derrogação  dessa 

informação garante o efetivo respeito ao princípio do sigilo das votações, 

que  estaria  vinculado  na  hipótese  de  registro  de  que  houve  decisão 

unânime. O  veredicto do  júri  resta  imune de  vícios acaso não  conste o 

número  de  votos  no  Termo  de  Julgamento  no  sentido  afirmativo  ou 

negativo, não só por força de novatio legis, mas também porque a novel 

metodologia  preserva  o  sigilo  e  a  soberania  da  deliberação  popular. O 

veredicto do júri obedecia ao disposto no art. 487 do Código de Processo 

Penal, que dispunha: 

‘Após a votação de  cada quesito, o presidente, 

verificados  os  votos  e  as  cédulas  não  utilizadas, 

mandará  que  o  escrivão  escreva  o  resultado  em 

termo especial e que sejam declarados o número de 

votos afirmativos e o de negativos. ’ 

3 ) Soberania dos veredictos — Consiste na proibição de que órgãos 

jurisdicionais de  instância  superior  substituam por outra a decisão  feita 

pelo  tribunal  popular  (conselho  de  sentença),  no  tocante  ao 

reconhecimento da procedência ou improcedência da pretensão punitiva. 

O postulado não tem incidência, portanto, sobre o teor da decisão do juiz‐

presidente, que, em caso de condenação ou de absolvição imprópria, deve 

aplicar a pena ou medida de segurança que decorre do veredicto. 

A soberania, todavia, não impede que os tribunais de segundo grau 

ou os superiores anulem o veredicto em decorrência de vício processual 

(reconhecimento de nulidade), nem que o veredicto seja cassado por ser 

manifestamente  contrário  à  prova  dos  autos,  desde  que,  nessa  última 

hipótese,  por  apenas  uma  vez.  Em  ambos  os  casos,  ou  seja,  também 

quando o tribunal decidir que a decisão dos jurados é divorciada da prova 

 

 

 

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dos autos, nada mais poderá fazer senão determinar que o acusado seja 

submetido a novo  julgamento pelo  júri, garantindo, assim, que o  litígio 

penal seja resolvido em definitivo pelo tribunal popular. LENZA [6]. 

.  CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO JÚRI 

a) Temporariedade — o  tribunal do  júri é órgão  jurisdicional de 

caráter não permanente, pois é constituído em determinadas épocas do 

ano  para  a  apreciação  das  causas  que  se  encontram  preparadas  para 

julgamento, dissolvendo‐se depois de cumprir essa tarefa. LENZA [7]. 

b) Órgão colegiado — é integrado por vários membros. 

c) Heterogeneidade — compõe ‐se de juízes de qualidade diversa: 

1 juiz profissional (juiz‐presidente) e 25 juízes leigos (jurados), dos quais 7 

são  sorteados,  a  cada  julgamento,  para  a  formação  do  conselho  de 

sentença. 

d) Decisão  por maioria —  as  decisões  do  júri  são  tomadas  por 

maioria simples de votos. 

Categoriza‐se a decisão do Tribunal do Júri como subjetivamente 

complexa, pois o órgão que proferiu é colegiado e heterogêneo. A decisão 

do  juízo  monocrático  é  dita  subjetivamente  simples  e  a  dos  órgãos 

colegiados homogêneos (tribunais), subjetivamente plurima. 

.  ORGANIZAÇÃO DO JÚRI 

A  Lei  n.  11.689,  publicada  em  10  de  junho  de  2008,  introduziu 

diversas alterações no Código de Processo Penal, entre as quais algumas 

relativas à organização do Tribunal do Júri.  Disposto no art. 425, caput, do 

Código de Processo Penal: 

 Anualmente, o juiz‐presidente organizará a lista 

geral dos  jurados, que  contemplará de 800 a 1.500 

jurados  nas  comarcas  de  mais  de  um  milhão  de 

habitantes, de 300 a 700 nas  comarcas de mais de 

cem mil habitantes e de 80 a 400 nas comarcas de 

menor população. Nas comarcas onde for necessário, 

poderá  ser  aumentado  o  número  de  jurados  e 

organizada uma lista de suplentes. 

 

 

 

        35 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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A  lista  geral dos  jurados, mostrando  as  respectivas profissões e 

reservada a  funcionamento do órgão no ano seguinte, publicar‐se‐á em 

duas oportunidades, por via da imprensa e de editais colocados à porta da 

sede do Tribunal do Júri: a primeira lista, que poderá ser alterada de ofício 

ou por força de reclamação de qualquer do povo até a publicação da lista 

definitiva, no dia 10 de outubro; a segunda (lista definitiva), no dia 10 de 

novembro. LENZA [8]. 

Da aceitação ou exclusão de jurado na lista definitiva cabe recurso 

em sentido estrito, no prazo de 20 dias, para o Presidente do Tribunal de 

Justiça ou para o Presidente do Tribunal Regional Federal. Na hipótese de 

aceitação, qualquer pessoa pode recorrer, além do Ministério Público e do 

próprio jurado, ao passo que, na de exclusão, somente a pessoa excluída 

tem legitimidade recursal. 

Entre  o  décimo  quinto  e  o  décimo  dia  que  antecederem  cada 

reunião  periódica  será  realizado  sorteio,  pelo  juiz,  de  25  jurados.  Esse 

sorteio será feito em sessão pública e com prévia intimação do Ministério 

Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria Pública. 

É muito importante explicar que esses 25 jurados sorteados serão 

convocados  para  todos  os  julgamentos  da  reunião  periódica.  Em  cada 

Estado da Federação existem regras próprias estabelecendo em que época 

se dará a reunião periódica do Júri em cada Comarca. 

Vamos supor que, de acordo com essa regra estadual, na Comarca 

X as  reuniões periódicas sejam nos meses de março,  junho, setembro e 

dezembro.  Supondo,  então,  que  existam  seis  processos  já  preparados 

(prontos) para  julgamento pelo  Júri agendado para o mês de março em 

referida Comarca. Por consequência, os 25  jurados sorteados no  fim de 

fevereiro serão convocados para comparecer nas seis datas referentes a 

esses  julgamentos.  É  sabido,  ainda,  que  apenas  7  jurados  participarão 

efetivamente de cada  julgamento, porém, é possível que um deles  seja 

sorteado e aceito para os seis julgamentos, enquanto outro pode não ser 

sorteado para nenhum deles. REIS [9]. 

.  REQUISITOS PARA SER UM JURADO 

Para que possa ser  jurado, a pessoa deve atender aos seguintes 

requisitos: 

 

 

 

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a)  Nacionalidade  brasileira —  somente  os  brasileiros,  natos  ou 

naturalizados, podem servir ao júri, não apenas porque a nacionalidade é 

pressuposto  da  cidadania,  mas,  também,  porque  não  seria  aceitável 

permitir que o estrangeiro exercesse parcela da soberania estatal. 

b) Cidadania — a capacidade eleitoral ativa, que a pessoa que está 

no  gozo  dos  direitos  políticos  adquire  com  o  alistamento  eleitoral,  é 

pressuposto para o serviço do júri. 

c)  Ser maior de 18  anos — presume‐se, em  caráter  absoluto,  a 

imaturidade  da  pessoa  incapaz  em  razão  da  idade,  bem  como  a 

incompatibilidade com a função em decorrência da impossibilidade de ser 

responsabilizada criminalmente. 

d) Notória idoneidade — a idoneidade moral é indispensável para 

a participação no  tribunal popular, daí por que não poderão  integrá‐lo, 

dentre  outras,  as  pessoas  com  reprovável  conduta  social,  aquelas  que 

ostentam antecedentes criminais, assim como os ébrios e os usuários de 

entorpecentes. 

e)  Alfabetização  —  malgrado  a  lei  não  estabeleça,  de  forma 

expressa,  a  necessidade  de  que  o  jurado  tenha  capacidade  de  ler  e 

escrever, tal requisito deriva da circunstância de que o integrante do júri 

emitirá  sua  decisão  por  meio  de  votos  escritos  (cédulas  previamente 

confeccionadas). LENZA [10] 

f) Gozo das  faculdades mentais e dos  sentidos — a pessoa  cuja 

deficiência  mental  ou  sensorial  for  de  natureza  tal  que  a  prive  do 

discernimento ou percepção imprescindível à participação no julgamento, 

não poderá servir como jurada. LENZA [11]. 

Ademais, para que possa exercer plenamente as prerrogativas da 

função, é necessário que o jurado tenha condições de ler cópia do relatório 

do processo e da decisão de pronúncia (art. 472, parágrafo único, do CPP) 

e, ainda, os autos do processo (art. 480, § 3º, do CPP). LENZA [11]. 

4. RITO ESCALONADO

O rito procedimental para os processos de competência do Júri é 

escalonado. A primeira fase se inicia com o oferecimento da denúncia e se 

encerra com a decisão de pronúncia ( judicium accusationis ou sumário de 

 

 

 

        37 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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culpa).  A  segunda  tem  inicio  com  o  recebimento  dos  autos  pelo  juiz‐ 

presidente do Tribunal do Júri, termina com o julgamento pelo Tribunal do 

Júri (judicium causae).

Judicium accusationis: Atualmente,  inserem –se na competência 

do Júri os seguintes crimes: homicídio doloso (CP, art.121), infanticídio (CP 

art, 123), participação em suicídio (CP art. 122) e o aborto (arts .124 a 127), 

tentados ou consumados. Tais crimes seguirão o procedimento especial 

previsto nos arts. 406 a 497 do CPP, independentemente da pena prevista. 

Judicium  causae:  Após  o  trânsito  julgado  da  sentença  de 

pronúncia, ocorrerá o recebimento dos autos pelo presidente do Tribunal 

do Júri, que determinará a intimação do Ministério Público ou querelante, 

no  caso  de  queixa,  e  do  defensor,  para  no  prazo  de  5  (cinco)dias, 

apresentarem  rol  de  testemunhas  que  irão  depor  em  plenário,  até  o 

máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e 

requerer diligência. CAPEZ [12]. 

5. A SESSÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI O Tribunal do Júri é composto é composto por um juiz togado e por 

vinte e cinco  jurados que serão sorteados dentre os alistados, dos quais 

sete  constituirão  o  Conselho  de  Sentença  em  cada  sessão  julgando  os 

quesitos. (CPP, art. 447).

Aberta a sessão o juiz presidente verificará a presença mínima de 

quinze jurados e decidirá os casos de isenção e dispensa dos jurados, bem 

como eventuais pedidos de adiamento. 

Os jurados não poderão comunicar‐se entre si e com outrem, nem 

manifestar  sua  opinião  sobre  o  processo,  sob  pena  de  exclusão  do 

Conselho e multa. 

O  art.  468 do CPP, deu  a opção de  as partes negarem  até  três 

jurados cada uma. Havendo mais de um réu a escolha será feita por um só 

defensor.  Deve‐se  dizer  apenas  um  sim  ou  não,  se  quiser  recusar 

elegantemente, sem antipatizar‐se com os demais jurados, nada impede a 

parte de dizer: “agradeço, mas dispenso” ou “dispenso e agradeço”. CAPEZ 

[13]. 

6. JULGAMENTO EM PLENÁRIO

 

 

 

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A  instalação  da  sessão  e  o  julgamento  pelo  júri  obedecerão  às 

seguintes fases:

 Até o momento da abertura dos trabalhos, o juiz decidirá sobre a 

aceitação ou  dispensa  do  jurado  que  a  tenha  requerido  e  determinará 

sobre eventual pedido de adiamento do julgamento. 

  Verificação  da  presença  das  partes  e  testemunhas:  antes  de 

declarar  abertos  os  trabalhos,  verificar‐se‐á  se  o  Ministério  Público 

(eventualmente,  também  o  querelante),  o  defensor,  o  acusado  e  as 

testemunhas estão presentes. REIS [14]. 

  No  dia  do  julgamento,  as  testemunhas  que  aparecer  serão 

recolhidas a lugar de onde não possam ouvir os debates, nem as respostas 

umas das outras. 

No  dia  e  hora  designados  para  o  julgamento,  o  juiz  presidente 

verificará  se  a  urna  contém  as  cédulas  com  os  nomes  dos  25  jurados 

sorteados, mandará que o escrivão proceda‐lhes à chamada. CAPEZ [15]. 

Tendo o número mínimo de jurados, o oficial de justiça apregoará 

as  partes,  ou  seja,  falará  em  voz  alta  que  o  julgamento  terá  início, 

chamando  o  representante  do Ministério  Público  (e  do  querelante),  o 

acusado e seu defensor, bem assim o assistente que tenha sido admitido 

no processo e, ainda, as vítimas e as testemunhas. LENZA [16]. 

  Em  seguida,  o  oficial  de  justiça  apregoará  o  representante  do 

Ministério Público (e o querelante), o acusado e seu defensor, bem assim 

o assistente que tenha sido admitido no processo e as testemunhas. REIS 

[17]. 

Nos  termos  do  disposto  no  art.  571, V,  do  Código  de  Processo 

Penal, as nulidades que tenham ocorrido após a pronúncia só poderão ser 

arguidas até o momento que se segue ao pregão, sob pena de preclusão e 

da consequente convalidação do ato imperfeito. LENZA [18]. 

.  CONSELHO DE SENTENÇA 

Antes  do  sorteio  dos  7  jurados  que  comporão  o  conselho  de 

sentença, o juiz os advertirá das incompatibilidades previstas no art. 448 

do Código: 

 

 

 

        39 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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 ‐ 1984‐0454 

“São  impedidos  de  servir  no mesmo  Conselho 

marido e mulher; ascendente e descendente; sogro e 

genro  ou  nora;  irmãos  e  cunhados,  durante  o 

cunhado;  tio  e  sobrinho;  padrasto,  madrasta  ou 

enteado”. 

  

Os jurados serão avisados, ainda, das hipóteses de suspenção, em 

razão de parentesco com o juiz, com o promotor, com o advogado, com o 

réu ou com a vítima, nos moldes da  regulamentação  relativa aos  juízes 

togados. 

Da urna contendo as cédulas com os nomes de todos os  jurados 

presentes na  sessão,  serão  sorteados 7 para  formação do Conselho de 

Sentença. Ao retirar cada uma das cédulas da urna, o juiz a lerá, após o que 

a  defesa  e,  depois  dela,  o  Ministério  Público  poderão  recusar,  sem 

justificativa, até 3  jurados cada qual:  trata‐se das  recusas peremptórias. 

Além das  recusas peremptórias  (imotivadas), poderão as partes  recusar 

outros  jurados, qualquer que seja a quantidade, desde que comprovem 

justo motivo (suspenção, impedimento ou incompatibilidade). LENZA [19]. 

Composto o conselho de sentença, os jurados escolhidos prestarão 

compromisso, em pé diante da seguinte exortação do juiz presidente: 

“Em  nome  da  lei,  concito‐vos  a  examinar  esta 

causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão, 

de acordo com a vossa consciência e os ditames da 

justiça”;  chamados  um  a  um,  pelo  nome,  deverão 

responder: “Assim o prometo”. 

A  partir  do  julgamento,  prevalece  a  incomunicabilidade,  não 

podendo  comunicar‐se  entre  si  ou  com  outrem,  nem  manifestar  sua 

opinião  sobre  o  processo,  sob  pena  de  exclusão  do  Conselho  e multa. 

CAPEZ [20]. 

.  ATOS DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA 

Iniciada  a  sessão  em  plenário,  o  ofendido  e,  em  seguida,  as 

testemunhas  de  acusação  serão  inquiridos  sucessivamente  pelo  juiz, 

Ministério  Público,  assistente,  querelante  e  defensor  e,  por  fim,  pelos 

 

 

 

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Boletim Conteúdo Jurídico n. 738 de 14/11/2016 (ano VIII) ISSN

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jurados que desejarem, os quais arguirão por intermédio do juiz (art. 473 

do CPP). 

Passa‐se,  então,  à  inquirição  das  testemunhas  arroladas  pelo 

acusado,  às  quais  o  defensor  perguntará  logo  após  o  juiz‐presidente, 

mantendo‐se, no mais, a ordem legal. 

Diferentemente do que ocorre nos procedimentos em geral, a lei 

prevê que, no julgamento em plenário, é o juiz quem dá início à inquirição 

das testemunhas, atividade na qual é sucedido pelas partes. 

As perguntas serão feitas pelas partes diretamente às testemunhas 

e ao ofendido, sem que haja  intermediação por parte do  juiz, o qual, no 

entanto,  não  admitirá  as  indagações  impertinentes,  repetidas  ou  que 

puderem induzir a resposta. No tocante às perguntas dos jurados, todavia, 

vigora o sistema presidencialista de colheita de provas, em decorrência do 

qual as  indagações são dirigidas ao  juiz, que, por sua vez, as  formula as 

testemunhas  e  ao  ofendido.  Em  razão  de  a  lei  estabelecer  sistemas 

diversos para as inquirições (direct and crossexamination no que respeita 

às partes e sistema presidencialista em  relação aos  jurados),  fala‐se em 

sistema misto de inquirição. LENZA [21]. 

As  partes  e  os  jurados  poderão  requerer  acareações, 

reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem 

como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, as provas colhidas 

por carta precatória e as provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. 

CAPEZ [22]. 

O art. 479 do Código de Processo Penal estabelece exceção à regra 

geral  de  que  a  prova  documental  pode  ser  introduzida  nos  autos  a 

qualquer tempo, assim exposto a seguir: 

Durante  o  julgamento  seja  lido  documento  ou 

exibido objeto que não tenha sido juntado aos autos 

com antecedência mínima de 3 dias, dando‐se ciência 

à outra parte. 

.  DEBATES ORAIS 

Encerrada a instrução, passa‐se à fase dos debates: 

 

 

 

        41 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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 O promotor fará a acusação, no prazo de uma hora e meia, sendo 

que esta deverá estar dentro dos  limites da pronúncia ou das decisões 

posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando ainda, se for 

o caso, a existência de circunstância agravante. CAPEZ [22]. 

O assistente da acusação poderá dividir o tempo de acusação com 

o Promotor de Justiça, podendo fazer uso da palavra nos debates depois 

do  promotor;  entretanto,  sendo  o  processo  promovido  pela  parte 

ofendida (ação privada subsidiária), o promotor falará depois do acusador 

particular, salvo se tiver retomado a titularidade da ação. CAPEZ [22] 

Terminada a acusação, a defesa falará pelo prazo de uma hora e 

meia. O promotor pode pedir a absolvição, e a defesa pode optar por tese 

defensiva onde tenha de pedir a condenação por pena mais branda; 

Após a defesa, a acusação terá a faculdade da réplica, pelo prazo 

de uma hora (CPP, art. 477, caput); 

O tempo destinado à acusação e a defesa será de 

uma hora e meia para  cada, e de uma hora para a 

réplica e outro tanto para a tréplica. 

Encerrada a réplica, a defesa terá a faculdade da tréplica, por igual 

prazo, sendo admitida a reinquirição de testemunha já ouvida em plenário; 

Mas, como adverte Tourinho Filho: 

 Se a acusação, quando indagada se deseja fazer 

uso  da  réplica,  não  se  limitar  a  responder 

negativamente, acrescentando qualquer comentário 

sobre a suficiência da prova ou reforçando, ainda que 

com  poucas  palavras,  algum  argumento,  a  defesa 

poderá  treplicar,  pois  se  deve  considerar  que,  na 

prática, houve réplica. LENZA [23]. 

Mas há controvérsia quanto esta questão da inovação na tréplica, 

sendo que na opinião do doutrinário Fernando Capez, que frisa que não 

pode  haver  inovação  na  tréplica,  sob  pena  de  ofensa  ao  princípio  do 

contraditório. 

 

 

 

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Há quem sustente que pode haver inovação de tese se o defensor 

avisar o promotor antes de este iniciar sua réplica, de que mudará a tese 

na tréplica. CAPEZ [24]. 

Argumentam os que são contra a possibilidade de inovação que, se admitida a sustentação de tese inédita quando a acusação já não pode rebatê-la, haveria ofensa ao princípio constitucional do contraditório. O postulado do contraditório, que visa assegurar, em verdade, que ambas as partes tenham ciência e possam manifestar-se sobre todos os atos processuais e sobre todas as provas, deve harmonizar-se, ademais, com o princípio da plenitude da defesa, como já proclamado pelo Superior Tribunal de Justiça:

“Tribunal do júri (plenitude de defesa). Tréplica (inovação). Contraditório/ampla defesa (antinomia de princípios). Solução (liberdade). Vem o júri pautado pela plenitude de defesa (Constituição, art. 5º, XXXVIII e LV). É-lhe, pois, lícito ouvir, na tréplica, tese diversa da que a defesa vem sustentando. Havendo, em casos tais, conflito entre o contraditório (pode o acusador replicar, a defesa, treplicar sem inovações) e a amplitude de defesa, o conflito, se existente, resolve-se a favor da defesa — privilegia-se a liberdade (entre outros, HC 42.914, de 2005, e HC 44.165). Habeas corpus deferido” (STJ — HC 61.615/MS — 6ª Turma — Rel. p/ acórdão Min. Nilson Naves — DJe 09.03.2009).

Essa mesma corte, porém, em julgado mais antigo, já decidiu em 

sentido contrário:

 “É incabível a inovação de tese defensiva, na fase 

de tréplica, não ventilada antes em nenhuma fase do 

processo,  sob  pena  de  violação  ao  princípio  do 

 

 

 

        43 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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contraditório” (STJ — REsp 65.379/PR — 5ª Turma — 

Rel. Min. Gilson Dipp— p. 218). LENZA [25]. 

Há corrente que entende ser proibido à defesa inovar na tréplica, 

apresentando  tese  até  então  não  ventilada,  pois  haveria  violação  ao 

princípio  do  contraditório.  Argumenta‐se,  em  sentido  contrário,  que  o 

princípio da ampla defesa faculta ao defensor lançar mão dessa estratégia 

para impedir a acusação de rebater seus argumentos. REIS [26]. 

 NUCCI [27] argumentou que: 

  “acredita que  a  inovação na  tréplica  é  cabível 

justificando  para  tal  o  princípio  da  plenitude  de 

defesa, devendo o MP utilizar o aparte,  intervenção 

de uma das partes durante a manifestação da outra, 

quando sentir que deve fornecer uma explicação aos 

jurados  quanto  à  inadmissibilidade  do  argumento 

novo apresentado pela defesa na tréplica”. 

Assim havendo mais de um réu, o tempo para a acusação e para a 

defesa  será,  em  relação  a  todos,  acrescido  em uma hora  e  elevado  ao 

dobro na réplica e tréplica, respeitado o disposto no § 1º do art. 477 do 

CPP. 

De  acordo  com o  artigo  480 do Código de  Processo  Penal, que 

assim diz: 

  A  acusação,  a  defesa  ou  os  jurados  poderão 

pedir, por intermédio do juiz presidente, que o orador 

indique a folha dos autos onde se encontra a peça por 

ele  lida ou citada,  facultando‐se, ainda, aos  jurados 

solicitar‐lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de 

fato por ele alegado. 

Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, 

fazer referências: 

 a) à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que  julgaram 

admissível  a  acusação  ou  à  determinação  do  uso  de  algemas  como 

argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado; 

 

 

 

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 b) ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta 

de requerimento em seu prejuízo. 

7. A IMPORTANCIA DA TRÉPLICA NO JÚRI A tréplica é o momento da defesa rebater a tese pelo Ministério 

Público, que é o titular da ação penal e tem por função sustentar a peça 

acusatória,  que  é  a  exposição  escrita  e  articulada  do  fato  criminoso 

reconhecido na pronúncia. É a oportunidade que o acusado tem através 

de  seu  advogado  usar  do  debate  oral  para  convencer  os  jurados  da 

inocência do seu cliente. Sendo este momento cerceado o júri é dotado do 

de  nulidade,  podendo  ser  requerida  a  qualquer  tempo,  devendo  ser 

remarcado novo júri. NUCCI [28].

Vale  evidenciar que  após  a  fase dos debates os  jurados podem 

decidir pela absolvição do réu independentemente de já terem votado de 

forma positiva os dois primeiros quesitos do art. 482 do Código Processo 

Penal, a materialidade do  fato e autoria/participação,  respectivamente, 

reconhecendo a ligamento do acusado com o crime. 

Atualmente  a  divergência  doutrinaria  e  jurisprudencial  ocorre 

sobre se a utilização de tese nova fere o direito ao contraditório, que é um 

direito constitucional garantido a ambas as partes no processo, uma vez 

que  a  parte  acusadora  por  falta  de  previsão  legal  não  terá  mais 

oportunidade  de  contradizer  a  nova  alegação  da  defesa  na  tréplica. 

TOURINHO [29]. 

Já MIRABETE  [30], explana que o entendimento predominante é 

que  na  tréplica  não  pode  ser  apresentada  tese  defensiva  nova,  por 

acréscimo substancial ou alteração fundamental do que tenha pleiteado a 

defesa ao responder a acusação, já que está subtraindo da parte autora o 

direito  de  contrariar  causando  e  surpresa  e  violando  o  princípio  do 

contraditório, não devendo o  juiz deferir a  inclusão destes nos quesitos, 

sob pena de nulidade do julgamento. 

O princípio do contraditório decorre da igualdade processual entre 

as partes, exposto a seguir: 

Corolário  do  princípio  da  igualdade  perante  a  lei,  a  isonomia 

processual obriga que a parte contrária seja também ouvida, em igualdade 

de  condições.  A  ciência  bilateral  dos  atos  e  termos  do  processo  e  a 

 

 

 

        45 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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possibilidade de contrariá‐los são os limites impostos pelo contraditório a 

fim de que se conceda às partes ocasião e possibilidade de intervirem no 

processo,  apresentando  provas,  oferecendo  alegações,  recorrendo  das 

decisões etc. Do princípio do contraditório decorre a igualdade processual, 

ou seja, a igualdade de direitos entre as partes acusadora e acusada, que 

se encontram num mesmo plano, e a  liberdade processual, que consiste 

na  faculdade  que  tem  o  acusado  de  nomear  o  advogado  que  bem 

entender, de apresentar as provas que lhe convenham etc. MIRABETE [31]. 

Já VICENTE GRECO, tem posição oposta, questionando se a defesa 

pode inovar na tréplica, ou seja, apresentar na tréplica tese até então não‐

constante dos autos. Ainda que isso possa causar surpresa para a acusação, 

a  garantia  da  ampla  defesa  assegura  que  isso  seja  permitido.  Esse 

expediente, porém, se estrategicamente pretendido pela defesa é muito 

perigoso,  porque  pode  não  haver  tréplica  se  a  acusação,  na  falta  de 

argumento consistente da defesa, não faz a réplica, o que pode levar o réu 

a ser considerado indefeso. MIRABETE [31]. 

O Superior Tribunal de Justiça decidiu num recurso especial pela 

não  inclusão  do  argumento  novo  nos  quesitos  a  serem  votados  pelos 

jurados, ao considerar que não há nulidade na decisão do juiz togado que 

não inclui a tese nova. 

CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. JÚRI. NULIDADE. 

NÃO‐INCLUSÃO  DE  QUESITOS  A  RESPEITO  DE 

PRIVILÉGIO.  INOVAÇÃO  DE  TESE  DEFENSIVA  NA 

TRÉPLICA. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO 

DO CONTRADITÓRIO. RECURSO DESPROVIDO. 

I. Não há ilegalidade na decisão que não incluiu, 

nos quesitos a serem apresentados aos jurados, tese 

a respeito de homicídio privilegiado, se esta somente 

foi sustentada por ocasião da tréplica. 

II. É  incabível a  inovação de  tese defensiva, na 

fase  de  tréplica,  não  ventilada  antes  em  nenhuma 

fase do processo, sob pena de violação ao princípio 

do contraditório. 

III. Recurso desprovido. 

 

 

 

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A  Jurisprudência  tem  manifestado  em  sentido  contrário  a 

possibilidade de inovação na tréplica. 

TJ‐CE  ‐  Inteiro  Teor.  Apelação:  APL 

37953020008060112  CE  0003795‐

30.2000.8.06.0112  

Decisão:  DO  JÚRI.  INOVAÇÃO  DE  TESE 

DEFENSIVA NA TRÉPLICA. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA 

AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO.... TRIBUNAL DO 

JÚRI.  ARTS.  593,  III,  A,  E  563,  DO  CPP. QUESITOS. 

INOVAÇÃO DE TESE DEFENSIVA NA TRÉPLICA... dos 

critérios pelo Juiz presidente (art. 571 do CPP). 2. A 

inovação  de  tese  defensiva  na  fase  de  tréplica. 

(19/02/2016). 

No mesmo posicionamento o Tribunal de Justiça de Minas Gerais 

julgou: 

"Não  pode  a  defesa  oferecer,  na  tréplica,  tese 

que  não  fora  anteriormente  questionada, 

constituindo  assim  surpresa  para  o  Ministério 

Público,  sem  mais  oportunidade  para  refutá‐la. 

Estabelecido  o  conflito  entre  o  criminoso  e  a 

sociedade, tão sagrado são os direitos daquela como 

os  desta"  (TJMG,  AC,  rel.  Otaviano  Andrade,  RT 

602/393‐2015). 

A  6ª  turma  do  STJ  entende  que  há  nulidade  por  violação  ao 

princípio da plenitude da defesa. 

Tribunal  do  júri  (plenitude  de  defesa).  Tréplica 

(inovação).  Contraditório/ampla  defesa  (antinomia 

de  princípios).  Solução  (liberdade).  1.  Vem  o  júri 

pautado pela plenitude de defesa (Constituição, art. 

5º, XXXVIII e LV). É‐lhe, pois,  lícito ouvir, na tréplica, 

tese  diversa  da  que  a  defesa  vem  sustentando.  2. 

Havendo, em casos tais, conflito entre o contraditório 

(pode  o  acusador  replicar,  a  defesa,  treplicar  sem 

inovações)  e  a  amplitude  de  defesa,  o  conflito,  se 

 

 

 

        47 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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existente, resolve‐se a favor da defesa – privilegia‐se 

a liberdade (entre outros, HC‐42.914, de 2005, e HC‐

44.165,  de  2007).  3.  Habeas  corpus  deferido.  (HC 

61.615/MS,  Rel. Ministro  HAMILTON  CARVALHIDO, 

Rel.  P/  Acórdão  Ministro  NILSON  NAVES,  SEXTA 

TURMA, julgado em 10/02/2009, DJe 09/03/2009). 

Veja‐se,  inicialmente, que da mesma maneira que o princípio do 

estado de inocência está diretamente vinculado ao princípio da proteção 

à  liberdade,  o  devido  processo  legal  parece  decorrer  de  ambos, 

funcionando, inclusive, como garantia da efetividade. Assim, para que seja 

modificada a situação natural de  liberdade da pessoa, é necessário que 

seja definitivamente provada a sua culpa, através de um processo judicial 

prévio. CAPEZ [32]. 

O  princípio  do  devido  processo  legal  estabelece  que  qualquer 

pessoa  somente  será  submetida  a  julgamento  se  tal  conduta  estiver 

previamente estabelecida em lei, sendo conduzido por um juiz imparcial, 

e  por  partes  em  conformidade  de  condições  (princípio  da  paridade  de 

armas). 

Estende‐se este princípio a qualquer ato que fere o processo, como 

a  inibição  de  admissão  de  provas  ilícitas  no  processo. Não  cumprida  a 

garantia, a sanção é de nulidade em compatibilidade com a teoria fruto da 

árvore envenenada, acolhida pelo Supremo Tribunal Federal. Porém essa 

vedação  não  é  absoluta,  pois  se  deve  observar  o  princípio  da 

proporcionalidade,  para  não  haver  grave  prejuízo  material  ao  direito 

substancial. 

Portanto o procedimento do júri também depende do princípio do 

devido  processo  legal,  devendo  na  fase  de  preparação  dos  quesitos 

constatar a existência de alguma  irregularidade  formal ou material,  sob 

pena de nulidade. 

CONCLUSÃO 

O  presente  artigo  surgiu  pela  importância  dada  ao  tema  pela 

doutrina, a qual destaca ao conceito, características e competência do Júri, 

analisando o seu surgimento até o julgamento dos quesitos, mostrando a 

 

 

 

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fase dos debates, ou seja, utilizando sua previsão  legal e o prazo para a 

utilização da tréplica. 

Feito o levantamento doutrinário  e de jurisprudências, este artigo 

discorre  sobre  a  instituição  do  Júri,  descrevendo  o  procedimento, 

analisando  as  hipóteses  legais  até  chegar  a  fase  dos  debates,  mais 

precisamente na tréplica 

Diante  de  tudo  que  foi  exposto,  quanto  ao  tema  abordado,  a 

inovação na tréplica deve sim ser feita, pensando sempre em um direito 

do  réu  amparado  nos  princípios  constitucionais  da  ampla  defesa  e  do 

contraditório, assegurando um julgamento legal e justo. 

E para atingir tal objetivo de inovação na tréplica, é necessário que 

os magistrados, entendam a necessidade da inclusão de uma tese inédita 

na  tréplica, uma  vez que  a depender do  juiz o  réu poderá ou não  ser 

contemplado com a possibilidade do argumento  inédito nos  requisitos. 

Para que venham  ser beneficiados e garantir um  julgamento com mais 

benevolência. 

BIBLIOGRAFIA 

1. CAPEZ, Fernando. Curso Processo Penal. 21ª ed. São Paulo: Saraiva 

2014,P 652. 

2. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 609. 

3.  LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 608. 

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        49 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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7.  LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

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9. REIS, Alexandre Cebrian. Curso Processo Penal. 14ª ed. São Paulo: 

Saraiva 2012, P 66. 

10. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

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11. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

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12.  CAPEZ,  Fernando.  Curso  Processo  Penal.  21ª  ed.  São  Paulo: 

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13.  CAPEZ,  Fernando.  Curso  Processo  Penal.  21ª  ed.  São  Paulo: 

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14. REIS, Alexandre Cebrian. Curso Processo Penal. 14ª ed. São Paulo: 

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17. REIS, Alexandre Cebrian. Curso Processo Penal. 14ª ed. São Paulo: 

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18. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 636. 

19. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 637. 

 

 

 

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20.  CAPEZ,  Fernando.  Curso  Processo  Penal.  21ª  ed.  São  Paulo: 

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21. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 640 

22.  CAPEZ,  Fernando.  Curso  Processo  Penal.  21ª  ed.  São  Paulo: 

Saraiva 2014, P 671. 

23. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 642. 

24.  CAPEZ,  Fernando.  Curso  Processo  Penal.  21ª  ed.  São  Paulo: 

Saraiva 2014, P 681. 

25. LENZA, Pedro. Curso Processo Penal Esquematizado. 2ª ed. São 

Paulo: Saraiva 2013, P 643. 

26. REIS, Alexandre Cebrian. Curso Processo Penal. 14ª ed. São Paulo: 

Saraiva 2012, P 90. 

27.  NUCCI,  Guilherme  de  Souza.  Código  Processo  Penal 

Anotado 2008, P 796. 

28.  NUCCI,  Guilherme  de  Souza.  Código  Processo  Penal 

Anotado 2008, P 745. 

29. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 

5ª ed. São Paulo: Saraiva 2009, P 453. 

30. MIRABETE,  Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: 

Atlas 2009, P 684. 

31. MIRABETE,  Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: 

Atlas 2006, P 24 

32.  CAPEZ,  Fernando.  Curso  Processo  Penal.  21ª  ed.  São  Paulo: 

Saraiva 2014, P 79. 

 

 

 

        51 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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Jurisprudência disponível em: 

http://franciscodirceubarros.jusbrasil.com.br/artigos/121941122/ref

utacao‐da‐treplica‐no‐tribunal‐do‐juri?ref=topic_feed.  Acessado  em 

28/10/16. 

http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=INOVA%C3%8

7%C3%83O+DE+TESE+DEFENSIVA+NA+TR%C3%89PLICA&p=2.  Acessado 

em 28/10/16. 

NOTA:

[1] Graduado em Direito, Pós Graduação Lato Sensu: "O Processo e o Direito Civil sob a Ótica da Constituição Federal de 1.988 e da Lei 10.406/2002". Pós Graduação Stricto Sensu em Ciências Ambientais, todos pela Universidade Camilo Castelo Branco, Docente de Direito Penal e matérias afins do curso de Direito e Docente nos Módulos "Mercado de Trabalho" e "Saúde Coletiva" no Curso de Medicina, pela Universidade Brasil, Advogado (OAB/SP n. 236.293)

 

 

 

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ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDENCIAL A RESPEITO DO ENVIO IMEDIATO OU NÃO DO INQUÉRITO POLICIAL PARA TRIBUNAL COMPETENTE DIANTE DO ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS RELACIONADO À PESSOA COM PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.

ANDREI FRAGOSO ROCHA DE OLIVEIRA: Advogado, Professor de Direito Processual Penal e Legislação Especial Penal, Pós Graduado em Direito Público com ênfase nas Ciências Criminais.

RESUMO: O presente artigo visa expor a necessidade do envio imediato ou não do inquérito policial para o tribunal competente diante de eventual encontro fortuito de diálogos do investigado com aqueles que não são alvo da interceptação telefônica, mas possuem prerrogativa de foro.

PALAVRA CHAVE: Prerrogativa de foro, interceptação telefônica, encontro fortuito de provas, remessa imediata do inquérito policial.

Diante do contexto político do país, muito se discuti a proporcionalidade do poder de atuação da polícia judiciária, principalmente no que tange aos métodos investigativos. Ademais, a sofisticação da atividade delituosa também demandou um reaparelhamento estatal quanto à atividade policial investigativa. Todavia, em razão deste crescimento no trato investigativo, muitas questões demandaram a atuação do poder judiciário, em razão das celeumas jurídicas proporcionadas pelo anseio da atividade policial em buscar elementos de informação para subsidiar os inquéritos policiais. Entre elas, citamos a questão do encontro fortuito de conversas daqueles que possuem a prerrogativa de foro e o consequente envio imediato ou não das intercepções ao tribunal competente.

 

 

 

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Muito comum no decorrer da atividade investigativa, se obter fato diverso ou ainda alusão de pessoas que possuem prerrogativas processuais e não são o alvo da investigação. Tal ponto, este denominado serendipidade[1], enseja o seguinte questionamento: Deveria a autoridade policial remeter imediatamente os autos para o juízo competente daquele que tem a prerrogativa, já que obteve as conversas de forma fortuita, mas não tinha autorização judicial para investigá-lo? Tal indagação, requer algumas explicações prévias. Primeiramente devemos ter em mente, conforme já assegurado pelo pleno do Supremo Tribunal Federal[2] que para haver investigação de autoridade que detenha prerrogativa de foro, deve a autoridade policial representar pela interceptação telefônica diretamente ao tribunal competente. Trata-se de comando constitucional, ao assegurar as prerrogativas daqueles que detenham foro privilegiado. Assim, a título hipotético, caso um delegado de Polícia Federal queira desenvolver sua atividade investigativa sobre algum deputado federal ou ainda senador da república, deverá requerer tal permissão perante o Supremo Tribunal Federal. Não poderá instaurar de ofício o presente caderno investigativo para então depois comunicar ao tribunal competente, devendo antes, pedir autorização prévia. Tal argumento é sedimentado pela atuação legislativa e pela alta corte brasileira[3]. Vejamos trechos do julgado.

"EMENTA Reclamação. Constitucional. Alegação de usurpação de competência originária do Supremo Tribunal Federal. Plausibilidade jurídica da questão. Deputado federal. Prerrogativa de foro. Artigo 102, inciso I, alínea b, da Constituição Federal. (...) 1. Revela-se patente, no caso, a usurpação das competências constitucionais da Corte (art. 102, inciso I, alínea b, da CF/88), uma vez que foram instaurados, de ofício, dois inquéritos policiais (...) 2. É da jurisprudência da Corte o entendimento de que a polícia judiciária não está autorizada a instaurar, de ofício, inquérito policial para apurar a conduta de parlamentares federais (PET nº 3.825/MT-QO, Tribunal Pleno, Relator para acórdão o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 4/4/08). (STF - Rcl: 12484 DF, Relator:

 

 

 

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Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 29/04/2014, Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-189 DIVULG 26-09-2014 PUBLIC 29-09-2014)". (grifo pessoal).

Ciente da premissa acima, a questão se torna tormentosa quando a autorização é obtida no juízo de primeiro grau, visto que não há investigação sobre alguém que possua prerrogativa de foro, porém, no decorrer da investigação da interceptação telefônica há encontro fortuito de conversas ou fatos de pessoas investidas de prerrogativa e não alvo de investigação. Nesse momento, sob pena das provas se tornarem ilícitas, se discuti o envio ou não imediato dos autos para o tribunal competente daquele que foi citado ou tem algum relacionamento com os investigados.

O doutrinador, Renato Brasileiro, com a mastreia que lhe é peculiar nas suas obras, afirma que o envio do inquérito policial ao tribunal competente dependerá do conteúdo daquilo que foi interceptado. Entende o processualista penal que a simples captação com alguém que possua a prerrogativa de foro com aquele que seja objeto de investigação não enseja necessariamente o envio imediato dos autos ao foro competente para fins de autorização da investigação. Seria verdadeira interpretação precitada diante de simples encontro fortuito de conversas captadas pela interceptação, tornando a remessa desnecessária. Em suma, como ele bem explica, para que haja a remessa do inquérito policial, se deve antes avaliar a idoneidade e a suficiência dos dados colhidos a partir da interceptação telefônica, de forma que se confirme que a conversa obtida fortuitamente seja considerada objeto de investigação para fins de autorização. O doutrinador, vai além, e declara ainda que "nem mesmo a referência a favores pessoais, a contatos com terceiros, a negociações suspeitas implica, de per si, a inarredável conclusão de que se está diante de práticas criminosas merecedoras de imediata apuração[4]".

O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, também perfilha o mesmo entendimento, e entende que a mera menção ao nome de um parlamentar do congresso nacional, durante as interceptações de um investigado, sem maiores elementos ou indícios acerca de seu envolvimento no fato delituoso, não há o que se falar em necessidade de remessa dos autos ao

 

 

 

        55 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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Supremo Tribunal Federal para o processamento do inquérito policial[5]. Passamos ao julgado.

"CONSTITUCIONAL. PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. NULIDADE. DEPUTADO FEDERAL. TRAMITAÇÃO PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL. INOCORRÊNCIA. C.F., ART. 102, I, b. (...). II. - A simples menção de nome de parlamentar, em depoimentos prestados pelos investigados, não tem o condão de firmar a competência do Supremo Tribunal para o processamento de inquérito. III. - H.C. indeferido. (STF - HC: 82647 PR, Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 18/03/2003, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 25-04-2003)". (grifo pessoal).

No entanto, a autoridade policial competente deve mensurar, desde o primeiro momento que se obteve o encontro fortuito das conversas interceptadas, se há ou não envolvimento da autoridade com prerrogativa de foro, sob pena de invalidar os atos posteriores à interceptação. Inclusive, a 6ª turma do Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de se manifestar sobre o tema e sustentou que é possível que pessoas com prerrogativas processuais apareçam no decorrer de uma interceptação telefônica sem que isso impeça a continuidade das investigações. Todavia, acentua a referida Corte que tomando conhecimento que há envolvimento de alguém com prerrogativa, deverá haver remessa imediata dos autos não podendo postergar tal envio, sob pena de tornar a investigação ilícita[6]. Vejamos o julgado nesse sentido.

"Posta a questão nesses termos, é necessário asseverar, sem qualquer juízo de mérito, que logo no início do monitoramento surgiram diálogos que apontavam, desde o início da apuração, para o compulsório deslocamento da investigação ao STF. Ainda assim, aquele Juízo que presidia a

 

 

 

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investigação optou por prosseguir na condução do inquérito por meses a fio.

E tal raciocínio se aplica tanto à operação VEGAS, quanto à operação MONTE CARLO, pois em ambas as autoridades processantes valeram-se do mesmo expediente: investigaram os parlamentares, coletaram o máximo possível de material probatório, realizaram diligências complementares pessoais contra parlamentares para só então suscitarem o possível deslocamento de competência. (...) o juízo de origem, mesmo quando já constavam autoridades com prerrogativa de foro regularmente na investigação, inclusive em organogramas da policia e com diligências investigativas pessoalmente voltadas contra deputados e senadores, ainda assim a investigação prosseguiu por meses perante Juízo incompetente, sem que os autos fossem remetidos ao STF. (...)" (grifo pessoal).

Os termos acima deixam concluir que a captação fortuita de diálogos provenientes de pessoas com foro especial com o investigado, não impõe, por si só, a remessa imediata do inquérito policial ao tribunal competente daquele que possui a prerrogativa. Deve haver um juízo prévio, a partir dos dados obtidos na interceptação, se de fato, a autoridade com prerrogativa está envolvida na atividade delituosa investigada a partir da interceptação. Como já explanado, a mera menção do nome ou simples relação afetiva, ainda que frequente, não ensejam a remessa imediata dos autos ao tribunal competente. O comando jurisprudencial pedi relevância no conteúdo obtido fortuitamente pela interceptação, de forma que se torne necessária a remessa dos autos foro competente e consequentemente o torne um investigado.

REFERÊNCIA

 

 

 

        57 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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GOMES, Luiz Flávio. Natureza jurídica da serendipidade nas interceptações telefônicas. Disponível em http://www.lfg.com.br. 18 de março de 2009.

BRASILEIRO, Renato. Manual de processo penal. 4ª ed. Editora juspodivm, 2016, Material complementar. Pág. 15.

TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11ª ed. Editora juspodivm, 2015.

BRASILEIRO, Renato. Legislação Especial Criminal Comentada. 4ª ed. Editora juspodivm, 2016.

NOTAS:

[1] De acordo com Gomes (Legislação criminal especial, op. cit. p. 474), “essa estranha palavra significa algo como sair em busca de uma coisa e descobrir outra (ou outras), às vezes até mais interessante e valiosa. Vem do inglês serendipity, onde tem o sentido de descobrir coisas por acaso. Serendip era o antigo nome da ilha do Ceilão (atual Sri Lanka). A palavra foi cunhada em 1754 pelo escritor inglês Horace Walpole, no conto de fadas Os três príncipes de Serendip, que sempre faziam descobertas de coisas que não procuravam”.

[2] STF, Pleno, Inq. 2.411 QO/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 74 24/04/2008.

[3] STF. Reclamação: 12484 DF, Relator: Ministro DIAS TOFFOLI, Julgamento: 29/04/2014, 1ª Turma, Publicação: DJe-189 DIVULG 26-09-2014 PUBLIC 29-09-2014.

[4] BRASILEIRO, Renato. Manual de processo penal. 4ª ed. Editora juspodivm, 2016, Material complementar.

[5] STF, 2a Turma, HC 82.647/PR, Relator. Min. Carlos Velloso, DJ 25/04/2003.

[6] STJ, 6a Turma, HC 307.152/GO, Relator. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 19/11/2015, DJe 15/12/2015.

 

 

 

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A TUTELA CIVIL DO MEIO AMBIENTE: A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PELO DANO AMBIENTAL

JOSÉ PINHEIRO SILVA: Oficial do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Graduado em Direito pela Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC. Pós-graduado em Direito Processual Civil, Direito Penal e Direito Ambiental.

RESUMO: O presente trabalho trata da proteção ao meio ambiente na seara cível, mediante a responsabilização do agente de determinada infração ambiental, mediante o delineamento de institutos jurídicos afetos à proteção ambiental na esfera civil: dano ambiental e nexo de causalidade; responsabilidade objetiva e prescindibilidade de culpa; responsabilização da pessoa física, jurídica e do Estado.

Palavras-chave: Meio ambiente. Ecossistema. Dano ambiental. Responsabilização.

ABSTRACT: This work treats of the environment protection in civil law area by accountability that the agent of certain environmental infraction, by the study about the judicial systems imputed to environmental protection in civil area: environmental damage and your causation nexus; strict liability and dispensable of guilt for the act; natural person accountability (individual), company/firm accountability and government accountability.

Keywords: Environment. Ecosystem. Environmental damage.Accountability.

SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Significado da expressão meio ambiente. 3 Responsabilidade civil pelo dano ambiental. 4 Pressupostos da responsabilidade civil por dano ambiental. 4.1 Dano ambiental. 4.2 Nexo de causalidade. 5 Consequências da responsabilidade na reparação do dano ambiental. 6 Agentes responsáveis pelo dano ambiental. 6.1 O agente

 

 

 

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pessoa física. 6.2 O agente pessoa jurídica. 6.3 A responsabilidade do Estado. 7 Considerações finais. Referências.

1 INTRODUÇÃO

Diante da escassez dos recursos naturais e do alarmante quadro climático, cuja origem está na exploração desenfreada de recursos minerais, no inconsequente extrativismo vegetal, na caça predatória, no uso irregular do solo, na poluição das águas e do ar, dentre inúmeras outras atividades que impactam diretamente nas nossas vidas, é senso comum a importância de se preservar o meio ambiente para manter um mínimo de qualidade de vida e saúde da população atual e das gerações vindouras, além, é claro, da própria existência da humanidade.

Indubitavelmente, o aumento da população exige cada vez mais a exploração dos recursos ambientais (recursos minerais, hídricos, do solo, do ar, da flora e da fauna), porém, o homem não tem feito isso de maneira racional e sustentável. É notória a diminuição da qualidade ambiental da Terra, haja vista a devastação constante que o meio ambiente vem sofrendo, o que tem preocupado muitos especialistas no assunto, os líderes mundiais e governantes e, até mesmo, os mais leigos.

Diante do atual panorama, não é suficiente pensar apenas na preservação da fauna e da flora, ou em uma forma de evitar a escassez de alguns recursos naturais, ou em buscar fontes alternativas para a não extinção de outros recursos. Ante o cenário de destruição vivido, deve-se tratar de uma das questões mais importante, a proteção do meio ambiente, devendo, inclusive, promover a recuperação de ecossistemas degradados, mediante a responsabilização dos agentes/autores de determinado dano ambiental, impondo-lhes a decorrente obrigação de repará-lo (recuperação do estado natural anterior e/ou indenização pecuniária).

Para tanto, destaca-se a tutela civil ao meio ambiente – atuação reparatória – que se mostra bastante eficaz, mas não mais importante que a atuação preventiva (educação ambiental, estudos de redução de riscos e impactos, etc.) e a atuação repressiva (sanções de natureza administrativa e

 

 

 

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penal), cabendo salientar que as atuações de proteção ambiental se complementam.

Nesse sentido, o presente estudo tratará da tutela civil do meio ambiente, através da responsabilização civil do agente causador do dano ambiental – pessoa física ou jurídica – e sua consequente reparação, mediante a adoção de medidas capazes de recuperar o ecossistema degradado e/ou indenização, ou, se a recuperação não for possível, a indenização em dinheiro, a título de medida compensatória.

2 SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO MEIO AMBIENTE

O meio ambiente, na acepção meramente linguística, é “constituído por seres bióticos e abióticos e suas relações e interações” (MIRALÉ, 2001, p. 64), isto é, tem-se a coexistência de seres vivos com fatores físicos e químicos que compõem um ecossistema local.

Já para o mundo jurídico, tem-se a expressão meio ambiente definida em duas vertentes, sendo uma no sentido estrito, onde é sinônimo de natureza e da relação entre todos os seres vivos que compõem o ecossistema, e outra em sentido amplo, abrangendo todas as relações e interações de um ecossistema, inclusive, com o ser humano.

No segundo contexto – sentido amplo –, tem-se: a) o meio ambiente natural, composto pelo solo, água, ar, energia, fauna e flora, que é a interação dos seres vivos em seu meio físico, conforme se depreende da leitura de vários pontos da Lei nº 6.938/81 e de alguns da Constituição Federal de 1988; b) o meio ambiente artificial, proveniente das ações do homem na modernização da sociedade e urbanização dos núcleos de convivência (cidades, comunidades, etc.), que não são oriundos da própria natureza, como as edificações, ruas, praças, etc., tratados em alguns dispositivos da CF/88 e no Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257/01; c) o meio ambiente cultural, constituído pelo acervo produzido pelo homem e que reflete sua história e cultura, compreendendo o patrimônio histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, dentre outros, que passa a integrar o ecossistema, estando bastante clara sua definição no art. 216 da CF/88; e, por fim, d) o meio ambiente do trabalho (art. 200, inciso VIII, da CF/88), o qual compreende o local onde as pessoas desenvolvem suas atividades

 

 

 

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laborativas, abrangendo as instalações físicas, equipamentos e as condições em que o trabalho/serviço é realizado, primando-se pela qualidade de vida do trabalhador, ou seja, a atividade deve ser executada em um meio saudável para mesmo.

Ademais, no ordenamento jurídico pátrio há a conceituação legal para a expressão meio ambiente na Lei nº 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) a qual entende como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Tal definição se não é das mais precisas, ao menos baliza a atuação dos operadores do Direito no ramo ambiental.

Contudo, cabe ressaltar que não existe um consenso entre os juristas, cientistas, biólogos e outros técnicos, no que tange à definição da expressão meio ambiente, haja vista a amplitude do tema, porém, em quaisquer de seus aspectos (natural, artificial, cultural ou do trabalho), todos consentem que se deve buscar o equilíbrio e a harmonia do meio ambiente como essência de uma qualidade de vida saudável, impondo-se a todos o dever de defendê-lo e preservá-lo – obrigação explícita no art. 225, caput, da CF/88 e muito bem frisada e corroborada em voto proferido pelo Ministro Celso de Mello em um julgado do Supremo Tribunal Federal, quando diz que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é:

“um típico direito de terceira geração que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à própria coletividade – de defendê-lo e preservá-lo em benefício das presentes e futuras gerações” (MS 22.164-0-SP, Rel. Ministro Celso de Melo, julgamento em 30/10/1995, DJU 17/11/1995.V.).

3 RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AMBIENTAL

A responsabilização civil busca compelir o autor do dano ambiental a recuperar o ecossistema degradado que, transversamente, também causou prejuízo a terceiros (vítimas individualizada ou pulverizadas, estas a

 

 

 

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coletividade), seja pela restituição ao status quo ante, seja pela indenização em dinheiro, conforme expresso na Lei nº 6.938/81 e muito bem sintetizado nas palavras do professor Paulo Affonso Leme Machado (2006, p. 335-336):

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente consagra como um de seus objetivos a “imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados” (art. 4º, VII, da Lei 6.938, de 31.8.1981). Além disso, possibilita o reconhecimento da responsabilidade do poluidor em indenizar e/ou recuperar os danos causados ao meio ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade, independentemente da existência de culpa (art. 14, § 1º, da lei referida). A aplicação da penalidade administrativa, prevista nos incs. I, II, III e IV do art. 14, não elide a indenização ou reparação que o Poder Judiciário possa cominar, como se vê sem qualquer dúvida no § 1º do aludido art. 14.

A responsabilização civil é ferramenta de extrema importância na recuperação do meio ambiente degradado e é apenas mais um mecanismo de atuação do Direito Ambiental que não exclui, mas complementa as atuações repressiva e preventiva, esta, então, a mais importante e que sempre deve ser busca pelo Poder Público e sociedade. Idéia essa partilhada pela maioria dos doutrinadores, inclusive, Édis Milaré 2001, p. 419-420):

Já de início, contudo, é pertinente a observação de que a reparação e a repressão ambientais representam atividade menos valiosa que a prevenção. Aquelas cuidam do dano já causado. Esta, ao revés, tem sua atenção voltada para momento anterior, o mero risco. Na prevenção, há ação inibitória. Na reparação, remédio ressarcitório. Sim, porque os objetivos do Direito Ambiental são fundamentalmente preventivos. É essa – a prevenção – a ótica que orienta todo o Direito Ambiental. Não podem a humanidade e o próprio Direito contentar-se em reparar e reprimir o dano ambiental. A degradação ambiental, como

 

 

 

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regra, é irreparável. Como reparar o desaparecimento de uma espécie? Como trazer de volta uma floresta de séculos que sucumbiu sob a violência do corte raso? Como purificar um lençol freático contaminado por agrotóxicos?

Para alcançar seus objetivos, diferentemente do Direito comum em que a responsabilidade se funda na culpa ou no dolo do agente causador do dano – responsabilidade subjetiva, o Direito Ambiental pauta-se pelo regime da responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco, onde se leva em conta o nexo de causalidade entre o resultado danoso e a atividade/ação desenvolvida, ignorando se o agente causador do dano ambiental agiu com culpa ou dolo (teoria da culpabilidade).

Segundo José Alfredo de Oliveira Baracho Júnior (1999 apud MIRALÉ, 2001, p. 428), vincular a responsabilidade objetiva à teoria do risco integral – qualquer fato culposo ou não culposo impõe ao agente a reparação, desde que cause dano – expõe a preocupação da doutrina em dar mais rigor à responsabilização civil, face as constantes ações predatórias e o crescente quadro de degradação ambiental vivido na atualidade.

A responsabilidade civil objetiva busca equilibrar a relação de exploração do homem para com o meio ambiente e encontra reforço no princípio do poluidor-pagador – o agente tem que custear a reparação e indenizações pelos danos causados pela sua atividade, independentemente da existência de culpa, conforme explícito no art. 225, §§ 2º e 3º, da CF/88 e no art. 14, §§ 1º, da Lei nº 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente).

4 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL

Conforme demonstrado no item anterior, o Direito Ambiental responsabiliza o agente causador de dano ambiental objetivamente (responsabilidade objetiva), baseado-se na teoria do risco integral, ou seja, a simples correlação entre o dano ambiental e o nexo de causalidade enseja a obrigação de reparação e/ou indenização pelo evento danoso praticado.

 

 

 

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4.1 Dano ambiental

As ações do homem, ao longo de sua existência, na busca por uma melhor qualidade de vida e pelo desenvolvimento da sociedade, mediante o extrativismo desenfreado dos recursos ambientais, até pouco tempo, tolerado por falta de regulação legal, trouxe, inevitavelmente, a degradação do meio ambiente.

Todas as vezes que nos deparamos com a expressão “dano ambiental” logo vem à mente a idéia de depredação do meio ambiente. Todavia, a definição de tal expressão não tem sido tarefa das mais fáceis para os doutrinadores e estudiosos do Direito Ambiental, haja vista a própria abrangência do conceito de meio ambiente e a ausência de diploma legal que, mesmo de maneira acanhada, preceitue seus elementos e características.

Nesse diapasão, começa a tomar forma a idéia de dano ambiental, esculpida nas definições insertas no art. 3º, incisos II e III, da Lei nº 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente):

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - ...; II - degradação da qualidade ambiental, a

alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou

sanitárias do meio ambiente;

 

 

 

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e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; (grifo nosso)

Infere-se da conceituação supra que “o legislador vincula, de modo indissociável, poluição e degradação ambiental, ao salientar expressamente que a poluição resulta da degradação...”(MIRALÉ, 2001, p. 421), levando o brilhante mestre Édis Miralé a definir dano ambiental como “a lesão aos recursos ambientais, com consequente degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida” (MIRALÉ, 2001, p. 422). Cabendo, aqui, destacar o art. 3º, V, da Lei 6.938/81: “recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”.

Apesar de quase toda a legislação sobre o tema dar mais ênfase aos recursos provenientes da natureza, não há dúvida de que o meio ambiente deve ser analisado em sua acepção mais ampla, distinguindo o dano ecológico que degrada o meio ambiente (sentido amplo) e o dano ecológico que é causado aos elementos naturais (sentido estrito). Isso, porque os efeitos de um e outro afetarão não só o homem, mas, também, tudo que o circunda, conforme está expresso no § 1º do art. 14 da Lei nº 6.938/81, no trecho que dispõe sobre a obrigação que o poluidor tem de indenizar e/ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros.

Assim, partindo desse pressuposto legal, é que Édis Miralé (2001, p. 423) faz a seguinte distinção:

a) o dano ambiental coletivo, dano ambiental em sentido estrito ou dano ambiental propriamente dito, causado ao meio ambiente globalmente considerado, em sua concepção difusa, como patrimônio coletivo, e b) o dano ambiental individual ou dano ambiental pessoal, sofrido pelas pessoas e seus bens. Aquele, quando cobrado, tem eventual indenização destinada a um Fundo, cujos recursos serão alocados à reconstituição dos bens lesados.

 

 

 

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Este, diversamente, dá ensejo à indenização dirigida à recomposição do patrimônio individual das vítimas.

Tal raciocínio evidencia a tese já consagrada na doutrina de que determinado dano ambiental afeta uma pluralidade de pessoas – efeito difuso – e não só um indivíduo específico, por maior que seja o prejuízo causado a este, resultando, assim, em outro ponto de grande importância, a obrigação de reparação do ambiente degradado e/ou a indenização em pecúnia, que só se dará a partir da responsabilização civil.

Ressalta-se que a reparação do ecossistema degradado ao seu status quo ante e/ou indenização em dinheiro – para custear a recomposição ou à título de dano moral coletivo –, em muitos casos, não será suficiente para elidir o efeito final causado pelo dano ambiental consumado como, por exemplo, a extinção de determinada espécie ou a contaminação permanente do solo e da água. Logo, corrobora-se o entendimento de que é extremamente difícil a mensuração e/ou valoração do dano ambiental, haja vista o impacto causado à natureza e à sociedade que é afetada pelo mesmo (tese amplamente difundida entre os autores nacionais e estrangeiros).

4.2 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é verificado pela ligação da prática de determinado dano ambiental ao ato praticado, sob a égide da responsabilidade civil objetiva, sendo prescindível a culpa, mas imprescindível o nexo de causalidade, muito bem explicado pelo professor Édis Miralé (2001, p. 431):

Em matéria de dano ambiental, ao adotar o regime da responsabilidade civil objetiva, a Lei 6.938/81 afasta a investigação e a discussão da culpa, mas não prescinde do nexo causal, vale dizer, da relação de causa e efeito entre a atividade do agente e o dano dela advindo. Analisa-se a atividade do agente, indagando se o dano foi causado em razão dela, para se concluir que o risco oriundo dessa atividade é suficiente para

 

 

 

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estabelecer o dever de reparar o prejuízo. Em outro modo de dizer, basta que se demonstre a existência do dano para cujo desenlace o risco da atividade influenciou decisivamente (grifo nosso).

Os doutrinadores de Direito Ambiental sempre clamaram, e assim continuam, pela inversão do ônus da prova, conforme já ocorre nas relações de consumo, para transferir ao agente poluidor a necessidade de provar que ele não tem ligação alguma como a degradação perpetrada. Entretanto, apesar da dificuldade e complexidade na delimitação do dano ambiental (necessidade de perícias técnicas), a obrigação de reparar o meio ambiente advém do nexo de causalidade e do ato praticado pelo agente, independentemente, de culpa ou não, isto é, o nexo de causalidade é imprescindível já a culpa é prescindível.

Ponto nevrálgico da responsabilização pelo dano ambiental é a obrigação do agente causador do evento danoso de reparar e/ou indenizar o meio ambiente e a coletividade, sendo esse entendimento pacífico e bastante sedimentado na nossa jurisprudência, conforme se vê no Superior Tribunal de Justiça e nas Cortes Judiciais dos Estados brasileiros:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DO ROMPIMENTO DE BARRAGEM. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO, EM JANEIRO DE 2007, NOS MUNICÍPIOS DE MIRAÍ E MURIAÉ, ESTADO DE MINAS GERAIS. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. NEXO DE CAUSALIDADE.

1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar; b) em

 

 

 

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decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.

2. No caso concreto, recurso especial a que se nega provimento.

(REsp 1374284/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe 05/09/2014).

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO RIO SERGIPE. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM OUTUBRO DE 2008.

1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) para demonstração da legitimidade para vindicar indenização por dano ambiental que resultou na redução da pesca na área atingida, o registro de pescador profissional e a habilitação ao benefício do seguro-desemprego, durante o período de defeso, somados a outros elementos de prova que permitam o convencimento do magistrado acerca do exercício dessa atividade, são idôneos à sua comprovação; b) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva,

 

 

 

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informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo; d) em vista das circunstâncias específicas e homogeneidade dos efeitos do dano ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe - afetando significativamente, por cerca de seis meses, o volume pescado e a renda dos pescadores na região afetada -, sem que tenha sido dado amparo pela poluidora para mitigação dos danos morais experimentados e demonstrados por aqueles que extraem o sustento da pesca profissional, não se justifica, em sede de recurso especial, a revisão do quantum arbitrado, a título de compensação por danos morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); e) o dano material somente é indenizável mediante prova efetiva de sua ocorrência, não havendo falar em indenização por lucros cessantes dissociada do dano efetivamente demonstrado nos autos; assim, se durante o interregno em que foram experimentados os efeitos do dano ambiental houve o período de "defeso" - incidindo a proibição sobre toda atividade de pesca do lesado -, não há cogitar em indenização por lucros cessantes durante essa vedação; f) no caso concreto, os honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte por cento) do valor da condenação arbitrada para o acidente - em atenção às características específicas da demanda e à ampla dilação probatória -, mostram-se adequados, não se justificando a revisão, em sede de recurso especial.

 

 

 

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2. Recursos especiais não providos. (REsp 1354536/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE

SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/03/2014, DJe 05/05/2014).

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO - APELAÇÃO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MEIO AMBIENTE - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - PERÍCIA TÉCNICA - LAUDO DO IEF - DANO CONSTATADO - EXTRAÇÃO MINERAL SEM AUTORIZAÇÃO - OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER - MULTA - CONDENAÇÃO DEVIDA - POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO CUMULATIVA DE PENA DE INDENIZAÇÃO - RESP N. 1.248.214/MG - INDENIZAÇÃO DEVIDA E ARBITRADA - SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. A ação civil pública (ACP) configura meio processual hábil na busca da tutela jurisdicional de interesses essenciais à comunidade como a preservação do meio ambiente, caracterizada na adoção de medidas de redução, substituição ou mesmo recuperação e reparação, sempre que escorada em adequada avaliação científica. Consoante disposição constitucional (artigo 225, §3º, da CF) e regramento legislativo especial (artigo 14, §1º, da Lei 6.938/81), o dano ao meio ambiente é regido pelo sistema da responsabilidade objetiva, prescindindo da demonstração de culpa do agente para que exista a obrigação de reparação, bastando a prova do dano e do nexo causal. Demonstrado o dano ambiental em virtude da prática de extração mineral sem a devida autorização, cabível a condenação dos réus. "A jurisprudência do STJ está firmada no sentido de que a necessidade de reparação integral da lesão causada ao meio ambiente permite a cumulação de

 

 

 

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obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar, que têm natureza propter rem. Precedentes: REsp 1.178.294/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, j. 10/8/2010; REsp 1.115.555/MG, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, j. 15/2/2011; AgRg no REsp 1170532/MG, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, j. 24/8/2010; REsp 605.323/MG, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, j. 18/8/2005, entre outros".> (TJMG - Apelação Cível 1.0521.10.006272-3/001, Relator(a): Des.(a) Armando Freire , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 15/12/2015, publicação da súmula em 22/01/2016).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ATIVIDADE DE MINERAÇÃO - DANO AMBIENTAL - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - TEORIA DO RISCO INTEGRAL - DANOS MATERIAIS E MORAIS - NEXO DE CAUSALIDADE - DEMONSTRAÇÃO - PROVA PERICIAL - DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO - DANOS MORAIS - QUANTUM INDENIZATÓRIO - CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO. - De acordo com o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.374.284/MG, representativo de controvérsia multitudinária e processado sob o rito do art. 543-C, do Código de Processo Civil, "a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar.". - Tendo sido demonstrados o nexo causal entre o

 

 

 

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rompimento de barragem de contenção de rejeitos oriundos da atividade de mineração desenvolvida pela Ré e os danos que atingiram a autora, resta configurado o dever de indenizar os danos morais e materiais suportados pela parte demandante. - No arbitramento do valor da indenização por dano moral devem ser observados os critérios de moderação, proporcionalidade e razoabilidade em sintonia com o ato ilícito e suas repercussões, como, também, com as condições pessoais das partes. - A indenização por dano moral não pode servir como fonte de enriquecimento do indenizado, nem consubstanciar incentivo à permanente reincidência do responsável pelo ilícito. (TJMG - Apelação Cível 1.0439.07.065014-8/001, Relator(a): Des.(a) Roberto Vasconcellos , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/09/2015, publicação da súmula em 10/09/2015).

Ementa: Apelação cível. Ação civil pública. Direito ambiental. Extração mineral – areia, saibro e pedras em loteamento irregular. Inexistência de autorização. Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado que é garantido constitucionalmente. Inteligência do art. 225 § 3º CF/88. Responsabilidade objetiva. Risco integral. Inteligência do art. 14 § 1º da Lei 6.938/81. Dano ambiental comprovado pela prova pericial. Nexo de causalidade. Empresa ré que, desde o início de suas atividades, tem sede no mesmo local da extração irregular. Objeto social da ré que é a extração e comércio varejista de areia, saibro e pedra. Obtenção de licença específica da Prefeitura, esta que não foi registrada no órgão competente. Parecer desfavorável para a concessão de nova licença. Extração ilegal. Empresa que não comprova a alegação de ter sido a atividade realizada por terceiros, ônus que lhe

 

 

 

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incumbia na forma do art. 333, II CPC. Fato de não ser proprietária do terreno que não isenta a ré da responsabilidade. Solidariedade entre o poluidor e o proprietário. Precedentes. Teoria da reparação integral do dano ambiental. Possibilidade de recuperação da área atestada pelo expert. Cessação das atividades danosas e recuperação total da área degradada, pena de multa, corretamente determinadas. Precedentes jurisprudenciais. Inteligência dos arts. 3º e 11 da Lei 7347/85. Recurso desprovido. Sentença reformada, em menor parte, de ofício para, na forma dos arts. 11 e 21 LACP c.c. art. 84 caput e §§ 4º e 5º CDC, fixar multa cominatória por cada descumprimento da obrigação da não fazer. Fixação de prazo certo para o implemento do projeto de recuperação da área devastada, sob pena de multa diária. (Apelação Cível nº 0004389-10.2006.8.19.0003, 5ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RJ, Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia, Julgado em 14/10/2015)

5 CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE NA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

Na teoria do risco integral, que é amplamente difundida no Direito Ambiental, a obrigação que o agente causador de determinado dano ambiental tem de repará-lo e/ou indenizá-lo tem as seguintes consequências: a) prescindibilidade da culpa; b) irrelevância da licitude da atividade; c) inaplicabilidade das causas de exclusão da responsabilidade civil.

Na prescindibilidade da culpa, não se discute se o agente teve culpa ou não. Segundo Édis Milaré, “a obrigação de indenizar emerge pela simples ocorrência de um resultado prejudicial ao homem e seu ambiente, sem qualquer apreciação subjetiva da contribuição da conduta do poluidor para a produção do dano.”(Miralé 2001, p. 432), o que está explícito no art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81 “sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da

 

 

 

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existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.

A segunda consequência – irrelevância da licitude da atividade – pauta-se pela idéia de que a responsabilidade civil pelo dano ambiental carece de ser tipificada no ordenamento jurídico. Não importa se a atividade desenvolvida pelo agente é lícita, inclusive, em muitos casos, com licenças expedidas pelos órgãos ambientais, porque toda atividade potencialmente prejudicial ao meio ambiente tem a obrigação prevenir e reparar o dano, independentemente, das autorizações do Poder Público ou do caráter legal da atividade.

Nesse sentido, Paulo Affonso Leme Machado (2006, p. 352) aduz: A licença ambiental não libera o empreendedor

licenciado de seu dever de reparar o dano ambiental. Essa licença, se integralmente regular, retira o caráter de ilicitude administrativa do ato, mas não afasta a responsabilidade civil de reparar. A ausência de ilicitude administrativa irá impedir a própria Administração Pública de sancionar o prejuízo ambiental; mas nem por isso haverá irresponsabilidade civil.

Por fim, o agente não pode invocar o caso fortuito e força maior como excludentes da responsabilidade civil para exonerar-se da obrigação de reparar e/ou indenizar eventual dano ambiental, não cabendo analisar a subjetividade da ação danosa, pois a responsabilidade é objetiva – independe de culpa. O simples fato de se exercer atividade potencialmente prejudicial ao meio ambiente já enseja o dever de assumir todos os riscos que da mesma advêm, somente não sendo responsabilizado o agente quando o risco não tiver origem na atividade, não ocorrer o dano ou este não tiver relação de causalidade com a atividade.

6 AGENTES RESPONSÁVEIS PELO DANO AMBIENTAL

A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) atribui àquele que causa degradação ambiental a denominação de

 

 

 

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“poluidor”, que deve ser aplicada lato sensu, dadas as conceituações que o referido diploma legal traz no art. art. 3º, incisos II, III e IV:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I – [...]; II - degradação da qualidade ambiental, a

alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou

sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com

os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica,

de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (grifo nosso);

Nas palavras de Édis Milaré: O legislador, como se vê, não limita o perfil do

poluidor somente a quem suja ou inquina o meio ambiente ou energia, porém, estende o conceito a quem (pessoa física ou jurídica) degrada ou altera a desfavoravelmente a qualidade do ambiente(MIRALÉ, 2001, p. 435).

6.1 O agente pessoa física

 

 

 

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Num primeiro momento, cabe destacar o agente “pessoa física” (todo ser humano que nasce com vida), ao qual se atribui a ação danosa – corte de árvores nativas, caça predatória de animais silvestres, contaminação do solo por agrotóxicos, etc. – e que, facilmente, se impõe a obrigação de reparar o meio ambiente degradado e/ou a obrigação de indenização pecuniária na seara cível, bem como lhe é imputada as sanções de natureza penal e administrativa pertinentes ao caso concreto.

Ressalta-se, ainda, que o dano ambiental causado pela pessoa física, de tão simples configuração que é, quase nunca é tratado pela doutrina, porém, também merece destaque, pois não só as grandes empresas ou grandes desastres contribuem para a destruição do meio ambiente, mas todo ser, individualmente falando, que desmata, peca, caça e polui tem sua parcela de contribuição no desequilíbrio ambiental, vez que a soma de todos os eventos danosos (pequenos e grandes) impactam diretamente no meio ambiente.

6.2 O agente pessoa jurídica

A “pessoa jurídica”, que segundo Caio Mário da Silva Pereira (2005, v 1, p. 213) é o conjunto de pessoas ou bens criado de acordo com a lei e com determinada finalidade que pode ser administração, prestação de serviços, produção ou comercialização de produtos, também, é responsabilizada na esfera cível pelos danos ambientais decorrentes do exercício de suas atividades, além das responsabilizações penal e administrativa cabíveis.

Nesse sentido escreveu o professor Édis Milaré e preceitua o art. 3º da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais):

Se é certo que a poluição jamais chegará ao nível zero, também é certo que os custos sociais dela decorrentes devem ser suportados por aquele que, diretamente, lucra com a atividade e que está melhor posicionado para controlá-la: o próprio empreendedor. É ele o titular do dever principal de zelar pelo meio ambiente e é a ele que aproveita, direta

 

 

 

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e economicamente, a atividade lesiva (MIRALÉ, 2001, p.435);

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

A pessoa jurídica responde integralmente pelos danos ambientais causados pelo exercício de sua atividade, devendo repará-los na forma da lei, podendo, posteriormente, cobrar os custos despendidos daqueles (diretores, mandatários e funcionários) que por ação ou omissão tenham contribuído para a ocorrência do dano, sem, contudo, afastar a responsabilidade “[...] das pessoas físicas, autoras, co-autores ou partícipes do mesmo fato” (art. 3º, parágrafo único da Lei 9.608/98).

Ademais, salienta-se que e poderá haver a desconsideração da pessoa jurídica “[...] sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente” (art. 4° da Lei º 9.605/98).

6.3 A responsabilidade do Estado

Assim como o cidadão comum e as pessoas jurídicas de direito privado o Estado – pessoa jurídica de direito público interno – também pode e deve ser responsabilizado por eventuais danos ambientais causados por suas ações (obras de infraestrutura, construção de usinas nucleares e hidrelétricas, etc.), bem como pela omissão no controle e fiscalização de atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente (inércia em implementar sistema de saneamento básico, disposição final de resíduos sólidos/lixo, emissão de licenciamento ambiental sem fiscalização prévia, falta de vistoria periódica em empreendimentos poluidores, etc.), como se depreendo do disposto no art. 3º, IV da Lei nº 6.938/81: “poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito públicoou privado, responsável, diretamente ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (grifo nosso).

 

 

 

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Além de o Estado ter a mesma obrigação de promover a recuperação da degradação a meio ambiente por ele perpetrada, incumbe-lhe, ainda, a obrigação de defender e preservar o meio ambiente (art. 225, caput, da CF/88), nos exatos termos do mestre Paulo Affonso Leme Machado: “[...] em matéria ambiental a intervenção do Poder Público tem o sentido principal de prevenção do dano, Aliás, pela Constituição Federal (art. 225, caput) a defesa do meio ambiente pelo Poder Público não é uma faculdade, mas um dever constitucional” (MACHADO, 2006, p.267).

Na prática, deve-se sempre buscar que o Estado promova a reparação do ecossistema degradado por ato exclusivamente praticado pelo ente público, não lhe cabendo a indenização nem a responsabilização solidária por ação ou omissão, senão, estaríamos diante da própria condenação do povo ao custeio do que lhe cabe por direito, haja vista que a coletividade tem direito ao meio ambiente equilibrado, mas quem mantém o próprio Estado é o povo.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proteção ao meio ambiente é, sem dúvida, uma das maiores preocupações da humanidade, haja vista o quadro atual de desequilíbrio climático e a escassez de dos recursos naturais não renováveis, o que tem impactado, diretamente, na saúde e qualidade de vida de toda a população e tende a se agravar no futuro, caso não se tenha a consciência de que é preciso preservá-lo e fazer o uso racional e sustentável de seus recursos.

Conforme apresentado ao longo deste trabalho, tem-se que a tutela civil do meio ambiente é instrumento de grande valia, no que tange à proteção ambiental, haja vista sua eficácia prática na reparação de ecossistemas degradados, através da responsabilização civil do agente causador do dano – pessoa física e/ou jurídica – e a consequente imposição de medidas capazes de promover a recuperação do meio ambiente local ao estado natural anterior e/ou de indenizar em dinheiro.

Delimitada a extensão dos danos ambientais causados ao meio ambiente e atribuída a responsabilidade ao agente/autor, surge a obrigação de que o mesmo recupere o ecossistema degradado e/ou faça a indenização em dinheiro (atuação reparatória) – objeto do próximo trabalho –, sem

 

 

 

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prejuízo das sanções penais e administrativas (atuação repressiva) pertinentes ao caso concreto.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Dano ambiental: uma abordagem conceitual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 10 de agosto de 2016.

______. Decreto nº 6.514/08 de 22 de julho de 2008. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm>. Acesso em: 12 de agosto de 2016.

______. Lei 4.717 de 29 de junho de 1965. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4717.htm>. Acesso em: 17 de agosto de 2016.

______. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 10 de agosto de 2016.

______. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 12 de agosto de 2016.

______. Lei 8.625 de 12 de fevereiro de 1993. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8625.htm>. Acesso em: 17 de agosto de 2016.

______. Lei nº 9.784 de 29 de janeiro de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L9784.htm>. Acesso em: 15 de fevereiro de 2016.

______. Lei nº 12.016 de 07 de agosto de 2009. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm>. Acesso em: 15 de agosto de 2016.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm

 

 

 

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______. Resolução CONAMA Nº 001 de 23 de janeiro de 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 15 de agosto de 2016.

______. Resolução do CONAMA nº 237 de 19 de dezembro 1997. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>. Acesso em: 12 de agosto de 2016.

______. Superior Tribunal de Justiça. Jurisprudência. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/busca?q=indeniza%C3%A7%C3%A3o+dano+ambiental>. Acesso em: 31 de agosto de 2016.

______. Superior Tribunal de Justiça. Jurisprudência. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Responsabilidade+Civil+Objetiva>. Acesso em: 31 de agosto de 2016.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação Civil Pública. 4ª ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2004.

FIORILLO, Celso Antônio. Princípios do Direito Processual Ambiental. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 22ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: introdução ao Direito Civil. Teoria Geral do Direito Civil. 2ª ed. vol. I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

PRADO, Luis Regis. Crimes contra o Meio Ambiente. 21ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005.

RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível Nº 0062253-31.2014.8.19.0001. Disponível em:

 

 

 

        81 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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<http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=0004676E11126C113177A4D1F6EB078FEBB5C504603E1B50>. Acesso em: 31 de agosto de 2016.

 

 

 

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CRIMES CIBERNÉTICOS E O QUE DIZ A NOSSA LEGISLAÇÃO

FELIPE HENRIQUE DOS SANTOS BERNARDO:

Msc. EDA LECI HONORATO (orientadora) 

RESUMO:  A  internet  ao  longo  dos  últimos  anos  teve  uma  enorme 

expansão, tomando assim proporções inimagináveis de como poderia ou 

pode ser utilizada, se para beneficiar ou prejudicar aqueles que utilizam 

da mesma,  uns  usando  esse meio  para  facilitar  e  tornar mais  rápidas 

algumas tarefas, como por exemplo a substituição de cartas por e‐mails, 

já outros para se aproveitar e praticar golpes. O estudo em tese é sobre a 

má utilização da internet para a pratica de crime virtual, mais conhecidos 

como  crimes  cibernéticos,  onde  a  vítima  é  você,  esse  tipo  de  crime  é 

consumado  por  meio  de,  roubos  de  dados,  golpes  virtuais,  bullying 

cibernético, roubo de identidade, difamação virtual e outros mais. O Brasil 

foi  líder  de  crimes  cibernéticos  por  alguns  anos  e  depois  de  muita 

discussão sobre esse assunto no ano de 2012 entrou em vigência a Lei N° 

12.737 de 30 de novembro,  lei está apelidada de Carolina Dieckmann e 

mais tarde no ano de 2014 a Lei N° 12.965 de 23 de abril, mais conhecida 

como Marco Civil da  Internet está que veio para estabelecer princípios, 

garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, não violando 

o direito de terceiros, princípios estes que trazem segurança, privacidade 

dentre outros que serão abordados no decorrer do trabalho. Vale lembrar 

que  a  internet  é  descentralizada,  embora  cada  um  tenha  a 

responsabilidade de se resguardar, diante de serviços na rede de dados no 

mundo. 

Palavras chave: Crimes cibernéticos. Lei. Internet. Vitima. 

ABSTRACT:  The  internet  over  the  past  few  years  has  expanded 

enormously, thus taking unimaginable proportions as  it could or can be 

 

 

 

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used to benefit or harm those who use the same, some using this medium 

to make it easier and faster some tasks, such as the substitution of letters 

by e‐mail, while others to enjoy and practice moves. The study thesis  is 

about the misuse of the internet for the practice of virtual crime, better 

known  as  cyber  crimes where  the  victim  is  you,  this  type  of  crime  is 

accomplished  by  means  of  data  theft,  online  scams,  cyber  bullying, 

identity theft, virtual defamation and more. Brazil was leading cybercrime 

for a few years and after much discussion on this subject  in 2012 came 

into  force  Law No. 12,737 of November 30,  law  is nicknamed Carolina 

Dieckmann and later in 2014 the Law No. 12965 of April 23, better known 

as Civil  Internet Marco  is who came  to establish principles, guarantees, 

rights and duties  for  the use of  the  Internet  in Brazil, not violating  the 

rights of third parties, principles that bring security, privacy among others 

that will be discussed during  the work. Remember  that  the  Internet  is 

decentralized, though each has a responsibility to protect, on services in 

the data network in the world. 

Keywords: cyber crimes. Act. Internet. Victim. 

INTRODUÇÃO

Pelo  dicionário  Houaiss,  internet  é:  “rede  de  computadores 

dispersos por todo o planeta que trocam dados e mensagens utilizando 

um protocolo comum”, o surgimento da rede mundial de computadores, 

ou  internet  se  deu  em  plena  guerra  fria,  inventada  para  objetivos 

militares, sendo uma das formas do exercito norte‐americano se manter 

informado em caso de ataques inimigos que viessem a destruir os meios 

convencionais de se comunicar. Além de utilizada para fins militares nas 

décadas  de  1970  e  1980  foi  um  importante  meio  de  comunicação 

acadêmico nos Estados Unidos da América, tornando assim mais rápido e 

eficaz  o  dialogo  entre  professores  e  universitários  nos  casos  de  novas 

descobertas e estudos em desenvolvimento. 

Paul Baran o nome do cientista que é um dos principais pioneiros 

da internet. Paul concebeu um conjunto que teria como base um sistema 

descentralizado,  ele  pensou  em  uma  rede  tecida  como  uma  teia  de 

 

 

 

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aranha,  onde  os  dados  se  movessem  buscando  a  melhor  trajetória 

possível,  podendo  esperar  caso  as  vias  estivessem  obstruídas,  essa 

tecnologia foi batizada de packet switching, “troca de pacotes”. 

A ARPA Advanced Research  Project Agency,  um  órgão  ligado  ao 

departamento de defesa americano, foi criado em 1.957 pelo presidente 

Eisenhower, depois dos soviéticos lançarem o primeiro satélite Sputnik. A 

rede  ARPAnet  já  estava  em  operacionalidade  em  1.969,  a  principio 

conectaria as universidades de Stanford, Los Angeles, Santa barbara e de 

Utah. Paralelamente e m 1.971 o engenheiro americano Ray Tomlinson 

criou o correio eletrônico. No ano seguinte Lawrence G. Roberts criou um 

aplicativo que permitia a utilização ordenada dos e‐mails, tornando assim 

essas mensagens o instrumento mais utilizado da rede. A ARPAnet segui 

sua expansão durante os anos de 1.970, assim a parte de comunicação 

militar da rede foi isolada e passou a se chamar MILnet. 

Depois da  criação da ARPA outras  redes para  conectar  institutos 

foram  criadas  nos  Estados  Unidos,  Grã‐Bretanha  e  França.  Faltando 

apenas a criação de uma linguagem comum para que todos pudessem se 

comunicar comumente. Isso foi feito em 1.974 pelo protocolo TCP/IP, que 

foi  inventado  por  Robert  Kahnet  e  Vint  Cerf,  sendo  padronizado  pela 

ARPAnet em 1.976, e assim começou a aventura da web com seu primeiro 

milhar  de  computadores  conectados,  o  fluxo  de  usuários  gerou  uma 

sobrecarga. No ano de 1.986  foi  lançada uma nova  rede, pela National 

Science Foundation e em 1.990 a ARPAnet se juntou a ela. 

O desenvolvimento da  internet  foi no ano de 1.990 quando está 

começou a alcançar a população em um todo. O engenheiro  inglês Tim 

Bernes‐lee desenvolveu a World Wide Web a sigla WWW, assim podendo 

se  desenvolver  uma  interface  gráfica  e  a  criação  de  sites  dinâmicos  e 

visivelmente  mais  interessantes,  depois  desse  momento  a  internet 

cresceu em ritmo acelerado. 

Assim a década de1.990 ficou conhecida como a era da expansão 

da internet. Com o surgimento de vários navegadores (browsers) como o 

internet  explore  da Microsoft  que  é  utilizado  até  hoje  e  o  Netscape 

 

 

 

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Navigator, tornando assim mais  fácil o acesso à  internet e contribuindo 

para o crescimento dessa. 

Passando  assim  a  internet  a  ser  utilizada  por  vários  segmentos 

sociais e não somente como um instrumento para guerra, se tornou um 

potente  ferramenta  para  os  estudantes  buscar  informações  para 

pesquisas  escolares,  enquanto  por  outro  lado,  uma  outra  parcela  de 

jovens utilizavam para se divertir em sites de games. Foram criadas salas 

de chats onde diversa pessoas se encontravam em nas salas de bate‐papo. 

Tornou‐se  também  um  lugar  para  busca  de  empregos.  As  empresas 

também se aproveitaram disso e passaram a buscar mais consumidores 

na internet, tornado essa um grande shopping center virtual. 

Nos dias atuais é de estrema importância estar conectado, podendo 

então se dizer que a internet passou a ser parte dos lares de pessoas no 

mundo todo. Podemos dizer então que a internet se tornou a ferramenta 

mais  utilizada  em  nosso  dia  a  dia,  em  apenas  um  simples  “click” 

recebemos  informações sobre o que queremos e necessitamos saber, e 

em  frações  de  segundos  algo  que  está  acontecendo  do  outro  lado  do 

mundo chega ao nosso conhecimento. 

Segundo  indica  a  pesquisa  divulgada  pelo  IBGE  em  29/04/15  o 

acesso a internet em domicílios chegou a 85,6 milhões de brasileiros que 

equivalem  a  49,4%  da  população,  os  dados  são  referentes  a  Pesquisa 

Nacional  de  Amostra  de  Domicílios    (PNAD)  de  2.013,  a  pesquisa 

considerou o acesso a pessoas acima de 10 anos de idade que utilizem a 

internet  pelo menos  uma  vez  em  um  período  de  90  dias  anteriores  á 

realização das entrevistas. 

Partindo dessas informações sobre a criação e evolução históricas 

da  internet,  falaremos  sobre  os  crimes  cibernéticos  e  as  leis  que  são 

competentes a estes. 

CONCEITO DE CRIME 

O código penal não define o que é crime, mas o art. 1° da Lei de 

Introdução ao Código Penal traz em seu caput a definição: 

 

 

 

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Art. 1º Considera‐se crime a infração penal que a 

lei  comina pena de  reclusão ou de detenção, quer 

isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente 

com a pena de multa; contravenção, a infração penal 

a  que  a  lei  comina,  isoladamente,  pena  de  prisão 

simples  ou  de  multa,  ou  ambas.  Alternativa  ou 

cumulativamente. 

Ou  seja,  o  crime  é  todo  fato  contrário  à  lei  e  ao  ordenamento 

jurídico vigente em um país. 

Segundo Fernando Capez (ano 2.012, p.134), verifica‐se o seguinte 

conceito  de  crime:  “o  crime  pode  ser  conceituado  sob  os  aspectos 

material e formal ou analítico.” 

O aspecto material pressupõe que o crime constitui dano ou perigo 

de dano a um bem jurídico. 

O aspecto formal pressupõe que o crime é o fato proibido por lei, 

sob risco de pena. 

O  aspecto  analítico  pressupõe  que  o  crime  é  um  fato  típico, 

antijurídico, culpável e punível. 

As duas teorias predominantes no direito penal brasileiro a respeito 

do conceito de crime são as teorias: tripartida e a teoria bipartida, sendo 

que a primeira pressupõe que o crime é fato típico, ilícito e culpável, já a 

segunda pressupõe que o crime é fato típico e ilícito. A teoria mais aceita 

em nosso código penal atualmente é a  teoria bipartida, partilhando do 

mesmo entendimento de Fernando Capez e Damásio Evangelista de Jesus. 

A  teoria  tripartida  também  é  aceita  em  nosso  ordenamento  jurídico, 

sendo essa defendida por, Cezar Bitencourt, Heleno Fragoso, Guilherme 

Nucci e outros mais. 

CONCEITO DE CRIME CIBERNÉTICO 

Crimes cibernéticos são crimes praticados em ambientes virtuais. 

Os crimes cibernéticos podem ser classificados de diversas maneiras. As 

 

 

 

        87 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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duas mais conhecidas são: crimes de informática próprios e os impróprios, 

os crimes próprios são os realizados através de computadores ou sistemas 

de  informática,  sendo  impraticável  a  realização da  conduta por outros 

meios, já os impróprios podem ser realizados por diversos meios, inclusive 

os meios informáticos. 

Podem  ser  considerados  crimes  cibernéticos:  roubo  de  dados 

bancários, invasão de privacidade por meio de aparelhos eletrônicos tais 

como celulares e computadores, roubo de perfis em redes sociais, etc. 

Casos corriqueiros que vem acontecendo atualmente são o roubo 

de  fotos  intimas  dos  usuários  que  estão  armazenadas  nos  aparelhos 

celulares ou computadores dos mesmos, inclusive contra famosos atores 

e atrizes como Carolina Dieckmann, Estenio Garcia e sua esposa Scarlet 

Jhonnson dentre outros.  

TIPIFICAÇÃO DOS CRIMES CIBERNÉTICOS 

O Código Penal brasileiro foi criado pela Lei N° 2.848 de dezembro 

de 1.940 ou seja não existia a era da  informação, que se deu  início em 

meados dos anos de 1.970 e teve sua evolução a partir dos anos de 1.990 

e daí em diante não parou sua constante evolução. 

Não  havia  nenhuma  lei  específica  que  cuida‐se  dos  crimes 

cibernéticos em nosso ordenamento jurídico ou algo que especificasse a 

respeito da tipificação de tais crimes, a lei n°12.737 de 30 de novembro de 

2.012 que acrescentou os artigos 154‐A e 154‐B ao código penal, trazendo 

as formas Pelas quais esses crimes poderiam ser cometidos e cominando 

a  esses  as  penas  que  cabem  a  cada  um  pelas  maneiras  que  forem 

praticados. 

SOBRE  A  LEI  CAROLINA  DIECKMANN  (LEI  N° .   de    de 

NOVEMBRO de  . ) 

Depois de muito se discutir sobre o assunto dos crimes cibernéticos foi sancionada a lei citada, a lei acabou sendo apelidada de lei Carolina Dieckmann, pois foi sancionada as pressa pela então Presidente da República Dilma Rousseff em tempo

 

 

 

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recorde o que é bem raro acontecer. A famosa lei entrou em vigor dias depois que algumas fotos intimas da então atriz global vazarem na internet, através da invasão de seu computador. Do texto da Lei N°12.737 de 30 de novembro de 2.012:

Art. 1o desta Lei dispõe sobre a tipificação criminal 

de delitos informáticos e dá outras providências.  

A nova lei acrescentou dois artigos ao código penal, art.154-A e atr.154-B, o primeiro artigo citado trouxe em seu caput a descrição dos crimes de invasão de dispositivo informático que são crimes cibernéticos e nos seus parágrafos as pessoas ou entidades especificas onde a pena é agravada quando esses crimes são praticados contra tais, já no segundo artigo fala sobre a ação penal. Além de acrescentar esses artigos a lei mudou a redação dos artigos 266 §1° §2°(NR) e 298 PÚ(NR), no primeiro artigo a mudança foi na aplicação da pena, que é dobrada quando o crime nele tipificado for praticado em ocasião de calamidade pública, no artigo 298, sobre a falsificação de documentos particulares, equiparando cartão de débito ou crédito aos documentos particulares.

“Invasão de dispositivo informático  

Art. 154‐A Invadir dispositivo informático alheio, 

conectado  ou  não  à  rede  de  computadores, 

mediante  violação  indevida  de  mecanismo  de 

segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir 

dados ou  informações sem autorização expressa ou 

tácita  do  titular  do  dispositivo  ou  instalar 

vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:   

Pena ‐ detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, 

e multa.   

§  1o  Na  mesma  pena  incorre  quem  produz, 

oferece,  distribui,  vende  ou  difunde  dispositivo  ou 

programa de computador com o intuito de permitir a 

prática da conduta definida no caput.   

 

 

 

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§ 2o Aumenta‐se a pena de um sexto a um terço 

se da invasão resulta prejuízo econômico.   

§  3o  Se  da  invasão  resultar  a  obtenção  de 

conteúdo  de  comunicações  eletrônicas  privadas, 

segredos  comerciais  ou  industriais,  informações 

sigilosas,  assim  definidas  em  lei,  ou  o  controle 

remoto não autorizado do dispositivo invadido:   

Pena ‐ reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, 

e  multa,  se  a  conduta  não  constitui  crime  mais 

grave.   

§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta‐se a pena de 

um  a  dois  terços  se  houver  divulgação, 

comercialização  ou  transmissão  a  terceiro,  a 

qualquer título, dos dados ou informações obtidos.   

§ 5o Aumenta‐se a pena de um terço à metade se 

o crime for praticado contra:   

I  ‐  Presidente  da  República,  governadores  e 

prefeitos;   

II ‐ Presidente do Supremo Tribunal Federal;   

III  ‐  Presidente  da  Câmara  dos  Deputados,  do 

Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, 

da  Câmara  Legislativa  do  Distrito  Federal  ou  de 

Câmara Municipal; ou   

IV ‐ dirigente máximo da administração direta e 

indireta  federal,  estadual, municipal  ou  do Distrito 

Federal.” [...]  

Além dos novos artigos que a lei inseriu ao código penal e as alterações dos que já existiam e foram alterados, o código penal já tipificava os crimes de injuria, calunia e difamação, que podem ser utilizados para a tipificação dos crimes praticados nas redes sociais e blogs.

 

 

 

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Percebe-se de fato que as penas que foram cominadas a tais artigos são um tanto quanto que irrelevantes, podemos comparar a invasão a computadores ao crime de furto, pois da mesma maneira que o indivíduo invade sua casa para subtrair algo que ali está, da mesma forma ele está invadido seu computador, seu celular, seu tablete e outros equipamentos onde você guarde suas informações pessoais ou profissionais, para tirar proveito disso.

Os crimes cibernéticos vão além apenas desses dispositivos que foram acrescentados no código penal, podendo ser também praticados em redes sociais onde milhares de pessoas se comunicam diariamente, exemplo dessas são as mais utilizada, Facebook, Twitter, Snap, Instagram, WhatsApp e YouTube, tomando cuidado com os crimes contra a honra, calúnia, injuria e difamação.

DO MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI n° 12.965 de 23 de abril de 2.014)

O objetivo de tal lei é, estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, determinando ainda as diretrizes de atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação a matéria. Trazendo em seus dispositivos, garantias do direito de defesa dos consumidores que utilizam a internet para adquirir produtos e serviços, bom como regula a comercialização das empresas que utilizam a internet como meio de negócios, assegurando a livre concorrência bem como o regime de livre iniciativa. Traz em sua redação a regência para a prestação de serviços dos provedores de internet em relação ao fornecimento, segurança e garantia de funcionamento, sob responsabilidade dos que prestam fornecimento.

No artigo 5° inciso I, traz a descrição do que se considera internet.

I - internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes;

 

 

 

        91 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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Buscando assim a lei, garantir um acesso de qualidade e segurança a todos os usuários da internet, sem separação de classes econômicas ou social.

A lei possui assim como o artigo 5° da Constituição Federal vigente, o fundamento da liberdade de expressão, respeitando as diferenças sociais e pessoais, assim protegendo os direitos e garantias individuais.

Sendo assim os principais objetivos da lei os princípios que andam juntos com os demais princípios do ordenamento jurídico do país. Conforme a redação da lei:

Art. 6° Na interpretação desta Lei serão levados em conta, além dos fundamentos, princípios e objetivos previstos, a natureza da internet, seus usos e costumes particulares e sua importância para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural.

A lei 12.965 em seu artigo 7° trata o acesso à internet como essencial ao exercício da cidadania e assegura aos seus usuários direitos. Direitos esses descritos nos incisos do referido artigo:

I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;

III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;

IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização;

V - manutenção da qualidade contratada da conexão à internet;

VI - informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de

 

 

 

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serviços, com detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua qualidade;

VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei;

VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que:

a) justifiquem sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e

c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet;

IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais;

X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei;

XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet e de aplicações de internet;

XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e

 

 

 

        93 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na internet.

Sendo então as garantias dos direitos à privacidade e liberdade de expressão nas comunicações, condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet, serão nulas as cláusulas contratuais que violem esses direitos. São nulas também aquelas que impliquem ofensa a inviolabilidade e ao sigilo das comunicações privadas, pela internet e as que em contrato de adesão, não ofereçam como alternativa ao contratante a adoção do foro brasileiro para a solução de controvérsias de serviços que são prestados no Brasil.

Ficando o dever de proteção dos registros de conexão e dos acessos as aplicações, ás empresas que fornecem o acesso, ficando também responsáveis por danos de conteúdo decorrente da criação de terceiros.

PRINCIPAIS CRIMES CIBERNÉTICOS E SUAS VITIMAS

Entende Guimarães e Furlaneto Neto, que os crimes cibernéticos ou informáticos, podem receber três tipos de classificação: podendo ser puros, mistos e comuns. Puro é aquele que a conduta ilícita do agente venha atentar o software ou o hardware do computador. Misto a ferramenta utilizada para gerar a conduta ilícita é a internet. Comum é utilizar-se da internet apenas como um instrumento para disponibilizar conteúdos não autorizados ou conteúdo que foram subtraídos de outros dispositivos sem a autorização.

Devido ao grande crescimento do acesso à internet, pessoas mal intencionadas também passaram a tentar tirar proveito da situação, roubando informações e dados dos usuários.

Os crimes são praticados em sua maioria, através de phishing, que são praticados por meio de conversas falsas com links fraudulentos, spam, que são mensagens enviadas pelo usuário sem o seu consentimento e os famosos malwares, que são softwares com vírus que copiam os dados dos usuários esses são instalados nos dispositivos dos usuários sem sua permissão.

 

 

 

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Os locais mais comuns para a pratica desses crime são em lojas virtuais, onde os criminosos colocam determinados produtos com o preço bem abaixo do que o seu valor real, tornando determinada oferta tentadora, ao clicar no link da oferta o dispositivo do comprador acaba sendo invadido. Outro meio utilizado são os aplicativos maliciosos que são criados para roubar os dados dos smartphones.

Nas redes sociais os principais crimes praticados são os de calunia, difamação e injuria, difamação de materiais confidencias, ato obsceno, apologia ao crime, perfil falso conhecidos como fake, preconceito ou discriminação e pedofilia.

A respeito dos blogs podemos falar da responsabilidade objetiva dos donos independendo da comprovação da culpa ou dolo do agente, onde esses deixam que várias pessoas publiquem matérias em seus blogs que ofendam a ou venham denegrir a imagem e a honra de outras pessoas, a partir daí esses devem responder respectivamente pelos prejuízos causados.

Muito já ouviu se falar em sequestros de pessoas, mas nos crimes virtuais a nova moda é o sequestro virtual, onde o que é sequestrado não é uma pessoa mas sim o banco de dados de empresas que tem todo o controle financeiro, de fornecedores, de compradores e de todos os arquivos que são de extrema necessidade para a empresa, ou até mesmo de computadores pessoais, onde o dono desse tem arquivos familiares e pessoais que são armazenados a anos. Ao sequestrarem os dados os hackers, lançam vírus que criptografam os arquivos dos computadores, tornando assim esses arquivos inacessíveis aos seu donos e para devolver esses arquivos os criminosos pedem resgate que deve ser pago por moeda virtual, que é mais conhecida por bitcoin ou por dinheiro mesmo.

Os hackers não escolhem características especificas das vítimas, todos estão sujeitos a serem surpreendidos por esses.

CONCLUSÃO A partir do que foi abordado, conclui-se que o tema é de grande

importância na atualidade e a legislação especifica que verse sobre esse assunto deve ser um tanto quanto mais rígida em relação as

 

 

 

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suas penas. Partindo do ponto de vista que a revolução tecnológica trouxe o surgimento de vários mecanismos que viabilizaram a comodidade e a interação com as pessoas, trouxe também o surgimento de uma nova modalidade na pratica de crimes, os conhecidos crimes cibernéticos, surgindo assim a insegurança virtual e consequentemente a necessidade da existência da tutela do estado para amparar os que utilizam essa ferramenta de forma descente.

No nosso ordenamento jurídico já temos a existência da legislação para ser aplicada quanto ocorrer tais crimes, mas na realidade o ordenamento jurídico brasileiro não se mostra totalmente eficaz para proteger aqueles que utilizam a internet e os demais meios tecnológicos. Vemos então que na realidade o Estado não apresenta meios para punir todas as condutas criminosas que ocorrem no cenário virtual e as que são punidas tem como base de punição penas que são ineficazes e que não trazem medo para inibir os criminosos que praticam esses atos.

Diante de tudo isso chegamos a seguinte conclusão da necessidade de haver uma legislação especifica para tratar desses crimes e que com ela surja também penas mais severas para os criminosos que praticam esses atos.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

MENDES, Maria Eugenia Gonçalves, VIEIRA, Natália Borges, Os Crimes Cibernéticos no Ordenamento Jurídico Brasileiro e a Necessidade de Legislação Especifica. [200-?]. Disponível em:<http://www.gcpadvogados.com.br/artigos/os-crimes-ciberneticos-no-ordenamento-juridico-brasileiro-e-a-necessidade-de-legislacao-especifica-2> Acesso em 05 de novembro de 2.016.

Lei n° 12.737, de 30 de novembro de 2.012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12737.htm> Acesso em 23 de outubro de 2016.

Lei n° 12.965 de 23 de abril de 2.014. Disponível em :<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm> Acesso em 25 de outubro de 2.016.

 

 

 

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DUMAS, Véronique, A Origem da Internet. [200-?]. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/o_nascimento_da_internet.html> Acesso em 15 de outubro de 2.016.

DUARTE, Adrien Carlos, Marco Civil da Internet: O que é e o que Muda na Sua Vida. [2016]. Disponível em: <https://www.oficinadanet.com.br/post/12558-o-marco-civil-da-internet-foi-aprovado-entenda-o-que-e-e-o-que-muda-na-sua-vida> Acesso em 25 de outubro de 2.016.

HOUAISS, Antônio, Dicionário Houaiss. Significado de internet.

CHAVES, Talyta de Lima, Bipartida ou Tripartida? Breves Considerações Sobre a Teoria Adotada Pelo Código Penal.[2014]. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/28195/bipartida-ou-tripartida-breves-consideracoes-sobre-a-teoria-adotada-pelo-codigo-penal> Acesso em 25 de outubro de 2016.

CAPEZ, Fernado, Curso de Direito Penal V.1, Parte Geral,16° ed. São Paulo, Editora Saraiva, 2.012, p.134.

 

 

 

        97 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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  www.conteudojuridico.com.br 

DA NECESSÁRIA ORGANIZAÇÃO DA ADVOCACIA PÚBLICA MUNICIPAL EM PROCURADORIA

RICHARD PAES LYRA JUNIOR: Advogado. Procurador do Município de Limeira-SP. Presidente da Comissão de Acompanhamento do Legislativo - OAB LIMEIRA. Especialista em Direito Tributário pela Escola Paulista de Direito - EPD.

Com a promulgação da Constituição cidadã, a advocacia pública  foi 

fortalecida  com  a  inserção  de  capítulo  próprio,  que  evidenciou  sua 

natureza permanente e o relevante papel  institucional desempenhando 

pela Advocacia‐Geral da União,  Procuradoria dos  Estados  e do Distrito 

Federal. Todavia,  inobstante o avanço trazido em 1988, sua positivação 

criou um “monstro” ao omitir do texto as Procuradorias dos Municípios, 

ensejando  inequívocos  desajustes  no  âmbito  da  administração  pública 

municipal, dentre eles a inexistência de Procuradores em seus quadros. 

Na prática, os reflexos da omissão constitucional repercutem efeitos 

em  diversos  municípios  brasileiros,  que  optam  pela  contratação  de 

escritórios  de  advocacia  e  nomeação  de  cargos  em  comissão  para 

exercerem  funções  típicas  de  Procurador,  colocando  em  xeque  não 

somente  a  previsão  do  artigo  37,  II,  da  Carta Magna, mas  a  própria 

qualidade  do  serviço  público,  mormente  devido  a  incerteza  da 

isenção  profissional diante de temas com repercussão política. 

Em que pese o advento da Lei nº 13.105/15 – Código de Processo Civil, 

que positivou a advocacia pública das três esferas como única legitimada 

a  representar  a  Fazenda  Pública  em  juízo,  muitos  problemas  ainda 

desafiam a carreira no âmbito municipal, isto porque a citada omissão traz 

à  baila  teses  absurdas  como  a  possibilidade  do  Prefeito  outorgar 

Procuração ad judicia a comissionados, sob o pretexto de que o artigo 75, 

III, NCPC, confere poderes para tal. 

 

 

 

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Cediço  que  o  Judiciário  tem  enfrentado  a  questão  com  bastante 

firmeza e acurada atenção ao texto constitucional, superando a omissão 

das  Procuradorias  dos  Municípios  com  fundamento  no  Princípio  da 

Simetria  Constitucional,  que  norteia  e  harmoniza  a  estrutura 

organizacional dos entes federativos. Todavia, o caminho da judicialização 

é  bastante  complexo  e  não  possui  o  condão  de  resolver  o  cerne  da 

vicissitude: a ausência   de procuradorias organizadas e independentes. 

Num universo de 5.570 municípios, a imensa maioria deles ainda não 

se  organiza  em  Procuradoria,  mediante  Lei  Orgânica  que  estruture  a 

carreira e confira prerrogativas ao profissional para a escorreita defesa do 

erário, a manutenção do interesse público primário e, fundamentalmente, 

a prevenção da corrupção. Face à omissão constitucional a esse respeito, 

poucos  administradores  investiram  na  instituição  das  procuradorias, 

preferindo organizar a defesa dos municípios em Secretarias, muitas vezes 

desprovidas  de  profissionais  de  carreira,  especialização  por  matérias, 

mínimas condições de trabalho, respeito as prerrogativas, etc. 

Inequívoco que a  Lei nº 8.906/94  ‐ Estatuto da Advocacia estende 

efeitos aos advogados públicos, que mantém sua qualidade de advogado 

por  força  do  registro  na  Ordem  dos  Advogados  do  Brasil  –  OAB, 

conferindo‐lhes não apenas as prerrogativas comuns à classe, previstas no 

artigo 7º e 8° do aludido diploma legal, mas também aquelas disciplinadas 

nas súmulas aprovadas pelo Conselho Federal. [ ] 

Todavia, a ausência de disciplina própria, que regulamente direitos e 

deveres  inerentes  à  carreira,  tornam  o  exercício  da  advocacia  pública 

municipal  bastante  tormentoso,  mormente  em  razão  das  constantes 

ingerências de natureza política a que são submetidos, subtraindo‐lhe a 

autonomia e a segurança para desempenhar suas atribuições e atividades 

cotidianas na defesa do erário e do interesse público. 

Neste  sentido,  Cristiane  da  Costa Nery  descreve  com  brilhantismo 

ímpar a importância das prerrogativas oriundas da organização da carreira 

em Procuradoria, in verbis: 

A  independência e autonomia no  trabalho 

desenvolvido  pelos  advogados  públicos,  assim 

 

 

 

        99 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.57047 

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 ‐ 1984‐0454 

como nas demais carreiras de estado, como se 

vê,  são  fundamentais  para  que  as  políticas  a 

serem  implementadas  o  sejam  com  isenção  e 

correção, pois legitimadas por profissionais com 

comprometimento  técnico  e  orgânico,  sem 

qualquer  vinculação  com  compromissos 

político‐partidários,  mas  sim  com  o  serviço 

público, com políticas de estado. (…) s garantias 

de  independência  são  a  garantia  da 

institucionalização  do  ente  de  Estado  que  ele 

representa, quer seja União, Estado, Município, 

pois torna efetiva a ação controladora sobre a 

juridicidade dos atos do Poder Público. E toda e 

qualquer usurpação das prerrogativas do cargo 

deve  ser  combatida,  seja  mediante  ações 

judiciais,  seja  mediante  a  busca  da 

independência  e  autonomia  funcionais,  o  que 

deve  ser  a  base  da  atuação  da  advocacia 

pública,  haja  vista  a  sua  importância  para  a 

justiça e o Sistema Federativo Brasileiro.[ ] 

Nada  obstante  a  insegurança  e  a  ausência  de  apoio  funcional,  a 

desorganização e a falta de estrutura constituem marcas de considerável 

parte desses municípios, obrigando o profissional a exceder sua  jornada 

ordinária  de  trabalho  em  razão  da  ausência  de  condições  básicas  de 

trabalho,  tais  como espaços  inadequados para o exercício da atividade 

intelectual, ausência de quadro de apoio, sistemas de controle de prazos, 

livros para consulta, cursos voltados ao aprimoramento profissional, etc. 

Na prática, a desorganização leva a situações esdrúxulas, ao ponto de 

obrigar o Procurador  a  fazer  iniciais, defesas,  recursos e pareceres em 

minutos para atender ao volume de processos judiciais e administrativos 

que  possui  em  carga,  importando  consideráveis  prejuízos  em  suas 

manifestações. A situação se agrava ao considerar que a atividade‐fim da 

advocacia  pública  é  a  defesa  da  coisa  pública,  direito  indisponível, 

formada a partir do  sacrifício dispendido pelo contribuinte a partir dos 

tributos que recolhe mensalmente aos cofres públicos. 

 

 

 

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Neste  contexto,  a  aprovação  da  PEC  nº  17/2012  [ ],  que  insere  a 

Procuradoria do Município no artigo 132 da Carta Magna, exsurge como 

passo  definitivo  para  o  avanço  da  advocacia  pública  municipal,  pois 

permitirá adequada  formação do quadro de procuradores, organizados 

em  procuradorias  voltadas  à  especialização  por  matérias,  bem  como 

prerrogativas que lhes assegurem garantias mínimas para o desempenho 

de suas atividades. 

Noutras  linhas,  organizar  a  advocacia  pública  municipal  em 

Procuradoria  significa  transformar  o  atual  formato  baseado  numa 

advocacia  de  Governo  para  uma  advocacia  de  Estado,  organizada  e 

independente, apta a desempenhar o que dela se espera: prevenir ilícitos 

no âmbito da administração pública. 

NOTAS 

[ ]  Súmulas  em  defesa  da  advocacia  pública.  Disponível 

em    >>http://www.oab.org.br/noticia/24762/conselho‐federal‐traca‐

diretriz‐em‐defesa‐da‐advocacia‐publica<<. Acesso em 23 out 2016. 

[ ] NERY, Cristiane da Costa. A  constitucionalização da  carreira do 

procurador Municipal  –  função  essencial  e  típica  do  Estado.  Interesse 

Público, Belo Horizonte, v. 12, p. 7, n. 60, mar. 2010. 

[ ]  Proposta  de  Emenda  Constitucional  nº  17/2012          ‐ 

Constitucionalização da carreira de Procurador do Município. Disponível 

em:    >>http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/‐

/materia/105021<<. Acesso em 23 out 2016.