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sbi DEZEMBRO DE 2002Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia
sbiBoletim deinformação e
atualização daSociedade Brasileira
de Infectologia
CONTINUA NA PÁGINA 4.
ANO I Nº 3 EDIÇÃO TRIMESTRAL
JULHO / AGOSTO / SETEMBRO DE 2003
VIGILÂNCIA 24 HORAS, ARMACONTRA TODOS OS SURTOS
2003, 11 de fevereiro. Autoridades da China informam oficialmente aOrganização Mundial da Saúde (OMS) sobre um surto de pneumonia atípica,que se tornaria conhecida como a síndrome respiratória aguda grave (SRAG).Os primeiros casos conhecidos são de meados de novembro de 2002, na provínciade Guangdong, de onde o vírus saiu, em 21 de fevereiro, para o nono andar deum hotel quatro estrelas de Hong Kong. O portador foi um médico infectadoque tratara doentes na sua cidade. Dias mais tarde, hóspedes e visitantes donono andar tinham espalhado o vírus para o restante do mundo, inclusiveCanadá e Europa. A doença, causada por um novo coronavírus, revela-se uma“serial killer”: é fatal em 14% a 15% dos casos; em pessoas acima de 65 anos, aletalidade supera os 50%.
2003, 5 de julho. Após a disseminação para 30 países, com 8.439 pessoasatingidas e 812 óbitos, duas boas notícias: 1. Taiwan, China, sai da lista deáreas no mundo com transmissão local recente da infecção. Foi a últimalocalidade a ser retirada da relação dramática; 2. A OMS anuncia que ascadeias de transmissão humana do vírus provavelmente estão rompidas. Aprimeira nova doença infecciosa a emergir no século XXI está sob controle.“A SRAG provou que nenhum país está 100% imune ao ataque de doençasinfecciosas emergentes”, salienta o médico epidemiologista e secretário JarbasBarbosa, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Elas existem, sãoproblema real e o Brasil, potencialmente, está sujeito a surtos tanto deinfecções que já ameaçam outras partes do mundo, como a febre do NiloOcidental, o ebola e a encefalite japonesa, quanto daquelas aindadesconhecidas. “Os sistemas de vigilância têm que estar preparados pararesponder a qualquer uma delas”, observa o também médico epidemiologistaLuis Gerardo Castellanos, coordenador da área de prevenção e controle dedoenças da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil. Oinfectologista Luiz Jacintho da Silva, superintendente do controle de endemiasdo Estado de São Paulo e professor da Unicamp, é taxativo: “A única alternativaé montar um sistema de vigilância sensível e ágil. É nossa grande arma contratodas as doenças infecciosas emergentes”.
�MANEJO DE HIV/AIDS
Na seção Notas, o sucesso dos
cursos promovidos pela SBI em
parceria com a CN-DST/Aids e a
IAS assegura terceiro evento.
Também Paulo Teixeira e Alexandre
Grangeiro, em novos postos
CONFERÊNCIA DA IAS NO BRASILA 3rd International Conference on
HIV Pathogenesis and Treatment,
da International Aids Society,
será em 2005
�
AUMENTA RELEVÂNCIA DA SBINo Editorial, a participação da
Sociedade na Classificação
Hierarquizada de Procedimentos
Médicos e na revisão do Guia de
Bolso de Doenças Infecciosas e
Parasitárias, da SVS
�
V SIMPAIDS E II INFOCUSNa Agenda, o V Simpósio
Brasileiro de Pesquisa em HIV/Aids
e o II Fórum de Infecções Fúngicas
na Prática Clínica
�
�Para o dr. Guénaël Rodier, da
OMS, a SRAG provou que os
países não estão preparados para
enfrentar surtos de doenças
desconhecidas. O alerta foi dado
em entrevista ao sbi
SRAG E NOVAS EPIDEMIAS
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sbiJULHO / AGOSTO / SETEMBRO DE 2003 Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia
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EDITORIAL
Boletim de informação e atualizaçãoda Sociedade Brasileira de
Infectologia
CONSELHO EDITORIAL
DIRETORIA: CELSO FERREIRA RAMOS FILHO
(PRESIDENTE); ROBERTO FOCACCIA (VICE-PRESIDENTE); MARÍLIA DE ABREU SILVA (1ªSECRETÁRIA); JOSÉ IVAN DE ALBUQUERQUE
AGUIAR (2º SECRETÁRIO); ESAÚ CUSTÓDIO JOÃO
FILHO (1º TESOUREIRO); FERNANDO LUIZ DE
ANDRADE MAIA (2º TESOUREIRO)
PRESIDÊNCIA DAS SOCIEDADES
FEDERADAS DE INFECTOLOGIA
RAQUEL GUIMARÃES – AL, DIANA BRASIL
PEDRAL SAMPAIO – BA, JORGE LUIZ NOBRE
RODRIGUES – CE, MARIA ADELAIDE MILLINGTON
– DF, PAULO MENDES PEÇANHA – ES, MARÍLIA
DALVA TURCHI – GO, JOSÉ IVAN DE ALBUQUERQUE
AGUIAR – MS, ANTONIO CARLOS DE CASTRO
TOLEDO JR. – MG, CLÉA BICHARA – PA, ANA
ISABEL VIEIRA FERNANDES – PB, KELSEN DANTAS
EULÁLIO – PI, JOSÉ LUIZ DE ANDRADE NETO –PR, MARTHA MARIA ROMEIRO – PE, SILVIA
CRISTINA DE CARVALHO FLÔRES – SC, ANTONIO
ALCI BARONE – SP, WÁLTER TAVARES – RJ,KLEBER GIOVANNI LUZ – RN, TERESINHA JOANA
DOSSIN – RS, ANGELA MARIA DA SILVA – SE,HERTZ WARD DE OLIVEIRA – TO
sbi
PROJETO E EXECUÇÃO: CL–IMPRENSA E COMUNICAÇÃOEditora e jornalista responsável: Conceição LemesProdução: Silvio MonteiroDesign gráfico: Eduardo FleuryRevisão: Patrícia Villas Bôas CuevaSecretária: Givalda Guanás
Filiadaà AMB
SO
CIEDAD
EBR
ASILEIRA DE INFECTO
LOGIA
-1980-
SUGESTÕES: SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIARua da Consolação, 2.710 conj. 91 • São Paulo - SP • CEP 01416-001Fone/Fax: (011) 3081-6859.Home page: www.infectologia.org.brE-mail: [email protected]
APOIO
SBI, RELEVO INTERNACIONALAtualmente, oito páginas do sbi é pouco, tantas as coisas
que temos para divulgar. Uma das “conseqüências” é ter quedeixar de fora assuntos relevantes por absoluta falta de espaço.Por exemplo, AMB e CFM acabam de lançar a nova Classifi-cação Hierarquizada de Procedimentos Médicos, quesubstituirá as antigas tabelas de honorários. Esforço grandedo qual a SBI participou através principalmente de seuassociado Edwal Rodrigues, mas que, na verdade, apenas seinicia. Afinal, começa agora a luta para fazê-la ser aceita pelos planos de saúde. Nos últimosanos, o reajuste de valores de consultas foi nulo, e os custos (e impostos) de nenhum modotiveram esse comportamento. A Classificação Hierarquizada tem de, entre outros objetivos,recuperar essa defasagem.
Poderíamos também ter escrito sobre a futura revisão do Estatuto da SBI. Convocadopara rever o relacionamento entre a Sociedade e o Brazilian Journal of Infectious Diseases, oConselho Diretor, órgão máximo da Sociedade, concluiu que uma nova reforma é necessária.A tarefa está entregue a advogados, e o texto a ser proposto ficará em consulta pública noportal da Sociedade. O Conselho Diretor finalizará o trabalho por ocasião da posse da futuraDiretoria, em janeiro de 2004. Necessitamos de um Conselho Fiscal, de uma DiretoriaCientífica e de um Departamento de Defesa Profissional. Do mesmo modo, as inter-relaçõesentre a Sociedade e as Federadas precisam ser mais bem definidas: no momento, sãounívocas, e as Federadas pouca ou nenhuma obrigação têm para com a entidade-mãe. Apropósito: acaba de ser criada a Sociedade Sergipana de Infectologia, presidida pela colegaAngela Maria da Silva, e está a caminho a de Rondônia.
Voltamos a falar do infectologista e da importância renovada e aumentada daespecialidade. A SRAG foi embora (ou não…), mas outra doença infecciosa certamentevirá no futuro a ocupar manchetes e preocupações de todos nós. A necessidade deespecialistas clínicos, de infectologistas, é ressaltada na matéria principal deste número. Oslaços firmes que procuramos estabelecer com a nova Secretaria de Vigilância em Saúdevêm da convicção, que com ela compartimos, de que a vigilância na assistência éfundamental para a detecção de agravos novos ou desconhecidos. Incidentalmente, a SBIestá encarregada de conduzir a revisão do Guia de Bolso de Doenças Infecciosas e Parasitárias,anteriormente editado pela Funasa e, a partir de agora, pela SVS.
Em conseqüência, de novo chamamos a atenção dos colegas para a questão da qualificaçãodo infectologista e, portanto, para a importância do título de especialista (o que se refletirá nonovo projeto de estatuto). É nossa intenção que também em 2004 tenhamos um concurso,outorgando-se pela primeira vez o título na área de atuação em Infectologia Hospitalar.
Queremos ressaltar a relevância internacional que a SBI vem assumindo: vamos promovera 3rd International IAS Conference on HIV Pathogenesis and Treatment, após intenso esforçode captação. Ganhamos de Sydney, e isto não se fez sem oposição – lastimavelmente, inclusiveoriunda do Brasil. E o III Curso Avançado Share sobre Manejo Clínico da Infecção pelo HIV/Aids, em Foz do Iguaçu, terá a participação de médicos do Cone Sul, de observadores dosEstados Unidos e – em avaliação pela OMS – de colegas da África de Expressão Portuguesa.
Por último, bem-vindos ao XIII Congresso Brasileiro de Infectologia. Temos certezaantecipada de que os esforços dos colegas de Goiás, liderados pelos doutores QuimarquesSantos, seu presidente, e Marília Turchi, presidente da Comissão Científica, resultaram emum evento da maior significância para todos nós. A eles, os nossos agradecimentos.
Celso Ferreira Ramos FilhoPresidente da SBI
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BRASIL SEDIARÁ CONFERÊNCIA DA IAS
O primeiro congresso desta série de conferências daInternational Aids Society (IAS) foi na Argentina, em 2001. Osegundo, em Paris, em julho de 2003. O próximo, no Brasil. A 3rd
International Conference on HIV Pathogenesis and Treatmentacontecerá em 2005, no Rio de Janeiro. Será promovida pelaprópria IAS e por um consórcio formado por três entidadesnacionais: Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e CoordenaçãoNacional de DST/Aids. A escolha foi anunciada pelo conselhoexecutivo da IAS na conferência de Paris.
“É muito importante para a IAS que a conferência seja noBrasil, um exemplo de resposta governamental adequada àepidemia de HIV/aids”, destaca o seu presidente, Joep Lange. Paraa presidente eleita Helene Gayle, que estará à frente da IAS em2005, a escolha se justifica pelo impacto da epidemia de HIV/aids no país e sua resposta abrangente. “O Brasil demonstrou quequando há vontade política se pode enfrentar a epidemia”,ressalta Pedro Cahn, representante da América Latina noconselho executivo da IAS. Rodrigo Garay, diretor executivo daIAS, acrescenta: “Clínicos e pesquisadores do mundo inteiropodem aprender muito com a experiência brasileira”.
Do lado brasileiro, a avaliação é igualmente entusiástica. ParaAlexandre Grangeiro, atual coordenador do Programa Nacionalde DST/Aids, significa o reconhecimento da luta do país paraconter a epidemia de HIV/aids, incluindo o acesso universal aotratamento anti-retroviral. “É a consolidação da nossaexperiência”, afirma Paulo Roberto Teixeira, ex-coordenador eatual chefe do programa de aids da Organização Mundial daSaúde. Profissionais brasileiros terão a chance de mostrar emdetalhes o que foi feito aqui; especialistas internacionais, aoportunidade de conferir de perto, inclusive visitando os serviçosespecializados. “Essa conferência terá significado global eregional”, acredita Joep Lange.
MAIS DE 5 MIL DELEGADOSAs expectativas da IAS em relação à 3rd International
Conference on HIV Pathogenesis and Treatment são realmentegrandes. Estima-se a presença de mais de 5 mil delegados demais 50 países. Espera-se também grande participação dedelegados brasileiros e de outros países da América Latina.
“Nosso compromisso é assegurar adequado input para aconferência tanto em termos de conteúdo quanto de resultados”,afirma Celso Ferreira Ramos Filho, presidente da SBI e um doschairs. O outro é Mauro Schechter, da UFRJ.
Nesse sentido, alguns cuidados nortearão a organização daconferência:• O programa será desenhado por renomado grupo de cientistasde todas as regiões do mundo.• Haverá grande programa de bolsas para participantes de paísessubdesenvolvidos.• Na fase pré-conferência, serão organizadas visitas a hospitais ecentros de saúde, para que participantes estrangeiros vejam comosão manejadas também dificuldades e inadequações.
“Afinal, nosso empenho é ajudar a melhorar a situação das pessoasque vivem com HIV/aids no mundo, e não apenas no Brasil”, frisouCelso Ramos na sessão de encerramento da conferência em Paris,quando a IAS anunciou a opção pelo Rio de Janeiro. sbi
CELSO RAMOS, NO
ANÚNCIO EM PARIS:“NOSSO EMPENHO É
AJUDAR A
MELHORAR ASITUAÇÃO DAS
PESSOAS QUE VIVEM
COM HIV/AIDS NO
MUNDO, E NÃO
APENAS NO BRASIL”
JOEP LANGE, HELENE GAYLE, PEDRO CAHN E RODRIGO GARAY: ESCOLHA DO BRASIL SE
JUSTIFICA PELO IMPACTO DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS E SUA RESPOSTA ADEQUADA
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COMO O BRASIL ENFRENTOU A SRAGRelatório final da Secretaria de Vigilância em Saúde sobre a ameaça da SRAG
no Brasil: 52 casos suspeitos, todos descartados após investigação. “Se um fossepositivo, provavelmente teríamos evitado transmissão secundária, pois todas asmedidas de precaução foram tomadas no instante em que cada um eraconsiderado suspeito”, avalia o secretário da SVS, Jarbas Barbosa.
Em 14 de março, um dia após o alerta geral da Organização Mundial da Saúde(OMS), a SVS comunicou todas as secretarias estaduais e municipais de saúdesobre o novo quadro respiratório. A partir daí, constituiu grupos de trabalhopara dar respostas a essa emergência. Nos casos mais complexos, enviou equipestreinadas por consultores do Centers for Diseases, Prevention and Control, o CDC,de Atlanta, EUA, para apoiar as investigações. “Diariamente, trocávamosinformações com a SVS e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”,diz o epidemiologista Luis Gerardo Castellanos, do escritório da OrganizaçãoPan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil. Sempre que um caso era consideradoprovável ou suspeito, Washington e Genebra eram notificados de imediato e ainformação ia para as home pages da OPAS e da OMS. “Esse compartilhamentode informações foi vital”, aprova Castellanos.
REPORTAGEM DE CAPA (CONTINUAÇÃO)
EM VEZ DE ANOS, DIAS PARAUMA INFECÇÃO SE GLOBALIZAR
Doença emergente é toda aquela que não existia em determinadolugar e se torna ameaça real ou potencial à saúde da população dessalocalidade. O conceito surgiu nos Estados Unidos na década de 1990,movido pela preocupação de que as doenças infecciosas não tinhamdesaparecido. Pior: outras haviam aparecido. A aids foi o carro-chefeda nova percepção, agora escancarada pela SRAG.
“Só que esse processo não nasceu ontem, as doenças emergentesfazem parte da história da humanidade”, lembra Luiz Jacintho. Elasresultam de um processo dinâmico e têm característica histórica egeográfica. Exemplo: a famosa peste bubônica. Em meados do séculoXIV, foi doença emergente para a sociedade européia. Da Ásia, atravésde caravanas de mercadores de especiarias, chegou à Europa,tornando-se problema de saúde seriíssimo. Hoje, não mais.
Tampouco é novidade o trânsito de vírus de animais parahumanos, hipótese cogitada em relação ao coronavírus causador daSRAG. O vírus da influenza faz muito esse percurso. Do mesmo modo,não é inusitada a globalização de surtos. As grandes epidemias desífilis, no século XVI, de cólera, no XIX, e a gripe espanhola, no séculoXX, atestam-na. A diferença é que, antigamente, levavam anos oudécadas para atravessar de um continente a outro, e, atualmente, dias,como demonstrou a SRAG. Em 18 de março (exatos 35 dias após oinforme oficial da China), a OMS já tinha relatos de 219 casos emsete países, revelando disseminação através das rotas aéreas. “Hoje,o compartilhamento de risco é muito maior, a rapidez deespalhamento também”, justifica Jarbas Barbosa.
Um dos fatores responsáveis é rigorosamente a facilidade dosmeios de transporte. Neste instante, 500 mil estão a bordo de aviõesem todo o mundo, o que representa cerca de 1,7 bilhão de passageirosvoando por ano. Já até o século XIX, a imensa maioria das pessoasnão se distanciava mais do que 30 quilômetros da cidade natal.
IMPORTAÇÃO DE ANIMAISEXÓTICOS, NOVO GRANDE PERIGO
Na origem da propagação atual das doenças emergentes, destacam-se também os aglomerados urbanos desmedidos, o empobrecimento daspopulações, as novas técnicas de produção animal, as agressõesdesmesuradas aos ecossistemas, a intensificação do comércio de produtosalimentícios e a importação de animais. “Cada vez mais, criam-se emcasa animais exóticos, como iguanas e cobras”, preocupa-se JarbasBarbosa. “Isso aumenta a probabilidade de circulação de vírus raros, antesescondidos nas matas.”
O recente surto de varíola dos macacos nos Estados Unidos ilustra oreceio. Causada por vírus semelhante ao da varíola, possivelmente foilevada por um rato importado da África como animal de estimação. Esseroedor infectou outros roedores americanos, causando a epidemia. Outroexemplo é a febre do Nilo Ocidental, que aportou nos EUA em 1999 e se
tornou endêmica. Talvez aves migratórias ou cavalos importados atenham carregado para lá. “A importação de animais, particularmente ade exóticos, é feita muitas vezes sem controle adequado, oferecendo grandeperigo”, reforça Luiz Jacintho. “Por causa disso, o Brasil já tem os vetoresda febre hemorrágica do Congo-Criméia.”
Explica-se. Há alguns anos importaram-se da África camelos paraornamentar as dunas do Rio Grande do Norte. Eles trouxeramespécies de carrapatos inexistentes no país, que são transmissoresde doenças infecciosas graves, como a febre hemorrágica do Congo-Criméia. Esses carrapatos também estão presentes em avestruzes,muito importados nos últimos tempos. Agora, só falta trazer o víruspara a doença ocorrer aqui.
Resultado: as doenças infecciosas emergentes estão em francaexpansão no planeta. Infelizmente, não existe nenhuma fórmula mágicacapaz de impedir a entrada das novas infecções.
NOS AEROPORTOS, PODE-SE REDUZIRO RISCO, NUNCA ELIMINÁ-LO
Anualmente, 50 milhões de turistas entram e saem do Brasil por30 aeroportos, centenas de portos e postos de fronteira. Bem diferentedo que acontecia no século XIX, quando o contato com o mundo sefazia através de uns poucos portos, como os de Santos, Rio de Janeiro,Salvador e Recife. As viagens marítimas demoravam demais e osnavios atracavam com surtos já definidos. Aí, um médico ia a bordo,inspecionava tripulantes e passageiros e, dependendo do caso,colocava-os em quarentena. Ou seja, fechava-se o porto à embarcaçãocom epidemia visível e garantia-se certa segurança.
No auge da epidemia da SRAG, houve quem propusesse fazer omesmo com passageiros e tripulantes de vôos internacionais.“Tremendo engano”, assegura Jarbas Barbosa. “Além de inexeqüível,a medida não impede a entrada de novas doenças. Em aeroportos,pode-se reduzir o risco, esclarecendo as pessoas, nunca eliminá-lo.”
Toda doença transmissível tem a fase de incubação, quando oinfectado pode aparentar saúde. Logo, mesmo que fosse feitaavaliação médica após cada vôo, algumas pessoas com o vírus da
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SRAG ou qualquer outro não teriam o problema diagnosticado. Aprova são os 52 casos suspeitos da SRAG no Brasil: todos, inclusive ajornalista inglesa que foi destaque na mídia brasileira, passaram aapresentar sinais somente após o desembarque.
“O objetivo da vigilância moderna não é impedir a entrada denovas doenças”, frisa Jarbas Barbosa, “e sim evitar que se propaguem,detectando e contendo-as com ligeireza.” Realisticamente, é o quepode ser feito. Canadá e Estados Unidos, países com o melhor sistemade vigilância da atualidade, não conseguiram impedir a entrada daSRAG, mas evitaram um grande surto secundário.
TRANSPARÊNCIA, AGILIDADE E AATUAÇÃO DO INFECTOLOGISTA
Epidemiologistas estão convencidos: os danos da SRAG seriammenores se a China tivesse agido rápido; por outro lado, seriam muitomaiores se o infectologista Carlo Urbani não houvesse detectado oproblema em pacientes de um hospital de Hanói, Vietnã, e alertado aOMS em 28 de fevereiro. Talvez causasse morticínio comparável ao dagripe espanhola.
“A grande defesa de um país contra as doenças emergentes é ter umarede de vigilância disseminada, em especial nos grandes municípios, euma coordenação técnica sólida”, assegura Jarbas Barbosa. Guardadasas proporções, é como o sistema de vigilância que a economia utilizapara controlar a entrada de capitais, compara Luiz Jacintho: “Comolidamos com doenças infecciosas numa sociedade com determinantesde difícil controle, o que temos a fazer é perceber com rapidez as mudançasde tendência e agir, para reduzir o tamanho do estrago”.
A rede de vigilância é a de assistência: hospitais de referência paradoenças infecciosas, emergências, unidades básicas de saúde, médicosdos serviços públicos e privados. Essa rede precisa ser capaz de perceberque há alguma coisa estranha e alertar no ato. A sua coordenação, porsua vez, necessita ter competência para investigar adequada erapidamente o surto e propor medidas de contenção. E tudo isso demaneira transparente.
“Os infectologistas são nossos parceiros fundamentais”, diz JarbasBarbosa. Luis Castellanos endossa: “A história demonstra que a maioriadas novas doenças emergentes tem sido detectada por infectologistas”.
LUIS CASTELLANOS,LUIZ JACINTHO E
JARBAS BARBOSA:TRANSPARÊNCIA E
COMUNICAÇÃO
IMEDIATA DE SURTOS
SÃO VITAIS PARA
PROTEGER A SAÚDE
DA POPULAÇÃO
Um infectologista bem treinado, diante de um quadro diferente, podenão saber o que o paciente tem, mas sabe o que ele não tem. Nessa hora,esgotadas as possibilidades rotineiras de diagnóstico, é preciso pensarna possibilidade de uma doença nova (seja porque não existe no Brasil,seja porque é desconhecida, como era a SRAG) e pedir ajuda logo.
A propósito: a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas montouuma rede destinada a detectar “coisas esquisitas”. Seus próprios sóciosalimentam-na, comunicando os achados inusitados. De tempos emtempos, publica-se um balanço dos informes. “A SBI poderia organizaralgo semelhante no Brasil”, sugere Luiz Jacintho. “As informações, nós,sócios, mandaríamos por correio eletrônico.”
O fato é que:1. Transparência e comunicação imediata de surtos são vitais paraproteger a saúde da população. A própria OMS já pode alertar acomunidade internacional sobre um surto em determinado país semprecisar aguardar a informação oficial, como era a norma até a SRAGe o episódio da China.2. Nenhum país está seguro em relação às doenças infecciosas se nãoestiver permanentemente vigilante. Isso vale para as novas e as jáconhecidas.3. É preciso se preparar cada vez mais para enfrentar epidemiasfuturas, e para isso a ação da Secretaria de Vigilância em Saúde écrucial. “Vamos intensificar a parceria com a SBI iniciada esteano e estruturar núcleos de vigilância epidemiológica hospitalar”,antecipa o secretário Jarbas Barbosa. O projeto de vigilânciahospitalar deve começar pelos grandes serviços de referência paradoenças infecciosas, como os institutos de infectologia SãoSebastião, no Rio de Janeiro, e Emílio Ribas, em São Paulo.4. É necessário intensificar o intercâmbio entre os setores devigilância epidemiológica, sanitária, ambiental e vetorial e o delaboratórios. “Trata-se de desenvolver novo estilo de trabalho, parareagir melhor às novas epidemias”, defende Luis Castellanos. Cadasetor precisa ter clareza de que integra uma cadeia de informações,e o rompimento de um desses elementos pode comprometer ousimplesmente enfraquecer o resultado final.
“Na verdade, temos que ficar vigilantes 24 horas”, arremata LuizJacintho, insistindo. “A vigilância é nossa grande arma contra todos ossurtos de doenças emergentes, conhecidas ou desconhecidas.”
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ENTREVISTA
“PREPAREM-SE, NOVAS EPIDEMIAS VIRÃO!”Nos cinco meses de batalha travada pelo
mundo contra a síndrome respiratória agudagrave (SRAG), um departamento daOrganização Mundial da Saúde (OMS) tevepapel vital: o de Vigilância e Resposta deDoenças Comunicáveis (Department ofCommunicable Disease Surveillance andResponse), conhecido pela sigla CSR.
“A SRAG provou que a luta contra asinfecções está à nossa frente e que os paísesnão estão preparados para enfrentar surtos dedoenças desconhecidas”, avalia o dr. GuénaëlRodier, atualmente diretor do CSR, ementrevista ao sbi. Do seu quartel-general emGenebra, Suíça, faz um alerta aosinfectologistas brasileiros: “Preparem-se,novas epidemias virão!” O dr. Guénaël Rodieré médico francês, com especialização emepidemiologia e medicina tropical. Antes deincorporar-se à OMS, trabalhou comoepidemiologista em doenças infecciosas emuma unidade da U.S. Navy Medical Research,a NAMRU 3, no Cairo, Egito. Sua principalexperiência é na área de respostas a epidemias,particularmente doenças hemorrágicas virais,como ebola, marburg e dengue.
(sbi) No Brasil, após o alerta geral da OMS,o Ministério da Saúde comunicou a todasas secretarias de saúde a ameaça de umanova doença infecciosa. Cinqüenta e doiscasos entraram na lista de suspeitos, sendo,posteriormente, todos descartados. Qual asua avaliação do Brasil diante da SRAG?Dr. Guénaël Rodier: A identificação rápida de52 casos suspeitos demonstra que o Brasilconseguiu estabelecer um sistema de vigilânciaadequado. Não nos surpreende que nenhumcaso tenha se confirmado. O importante é queo sistema funcionou e o país tomouprontamente medidas para evitar um surto.
(sbi) Mas muitos países não detectaramnenhum caso suspeito.Rodier: Sinceramente, não confio nainformação desses países, considerando orumor provocado pela SRAG no mundo e oaumento explosivo de viagens aéreas
internacionais. O fato de não terem detectadonenhum caso suspeito de pneumonia,qualquer que fosse a causa, leva-me a pensarque ou eles não têm sistema de vigilância ouo sistema falhou.
(sbi) Nos países de Primeiro Mundo, aspessoas tendem a acreditar que doençasinfecciosas não existem mais. Como ficaessa crença depois da SRAG?Rodier: Esse é um equívoco comum, já queseus habitantes se desabituaram a verdoenças infecciosas. A SRAG, porém,mostrou-lhes que não estão livres de risco eque novas infecções podem surgir a qualquerinstante. A população do mundo inteiro,inclusive a do Brasil, tem que colocar nacabeça: vamos ter que lidar, sim, com asdoenças infecciosas no futuro.
(sbi) Essa perspectiva não poderia gerarpânico?Rodier: O objetivo não é criar pânico, masconscientizar as pessoas de que é preciso tomarcuidado, pois os microrganismos – alguns bons,outros muito maus – convivem conosco. Alémdisso, são bastante dinâmicos, se modificam otempo inteiro e com enorme rapidez.
(sbi) Qual a maior lição da SRAG paraepidemias futuras?Rodier: Os países têm sistemas de vigilânciapara certas doenças, como tuberculose,malária e aids. Mas não estão preparadospara enfrentar o inusitado, ou seja, surtos dedoenças desconhecidas. E considerando queestamos lidando com risco, os países têm quese preparar para combater o inesperado.
(sbi) De que maneira?Rodier: O modo mais eficiente é melhorara capacidade do país, principalmente osistema de vigilância e resposta napresença de um surto. Aliás, será exigênciafutura da Internacional Health Regulations(IHR). Os Regulamentos Internacionais deSaúde são a única legislação global quepermite à comunidade internacional tomar
providências nessa área. Todos os paísesserão obrigados a ter capacidade mínimade alerta e resposta – rápidos, é claro – antequalquer surto.
(sbi) Como fazer a vigilância de umadoença que não existe no país e com a qualo clínico não está familiarizado?Rodier: Só se acha aquilo que se procura. Sevocê procura ebola, pode encontrar ebola. Seprocura tuberculose, pode achar tuberculose.Pois bem, outra forma possível de abordar oproblema é o estabelecimento de ummecanismo de relato de síndromes além dojá existente para as doenças. É uma novamaneira de tratar o problema.
(sbi) Explique melhor, por favor.Rodier: Independentemente de o pacienteestar infectado por vírus ou bactéria, seadoecer, terá um conjunto de sintomas. Poiso que estamos propondo é o agrupamentodos sintomas em sete ou oito tipos distintosde síndromes. Por exemplo, a síndromediarréica, a síndrome hemorrágica, asíndrome neurológica. A vigilância será feitanão só em cima das doenças específicas mastambém em cima das síndromes. Portanto,médicos e enfermeiros terão que estaratentos a essas síndromes e passar aprocurá-las. De forma que, se houver algoinusitado, possam pensar na possibilidadede estarem testemunhando um surto. Aetapa seguinte é a investigação laboratorial:só ela poderá identificar qual o agenteinfeccioso responsável pelo surto.
(sbi) O que cada país precisa fazer paraidentificar rapidamente um surto dedoenças conhecidas ou desconhecidas?Rodier: Não é algo muitíssimo sofisticado,não. É uma questão de logística e foco,principalmente em laboratórios, epide-miologia, comunicação e organização.
(sbi) Por favor, detalhe essas medidas.Rodier: Não dá para montar somente umsistema específico para uma doença. O que
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pode ser feito também com sucesso éestabelecer um sistema geral de vigilância,baseado numa capacitação igualmente geral.Isso supõe alguns requisitos. Primeiro: umarede de laboratórios de referência, ondeamostras de materiais inicialmente negativaspossam ser mais bem investigadas. Porexemplo, quando os laboratórios de rotinanão conseguem descobrir o que estáacontecendo ou quando se trata de doençanova. Segundo: pessoas no sistema devigilância capacitadas a fazer umainvestigação correta de campo, qualquer queseja a doença. Terceiro: um sistema decomunicação abrangente, capaz de envolversetores público e privado, grandes e pequenascidades, capitais e interior. Quarto: umpequeno grupo de especialistas 24 horas deplantão. São profissionais em condições dechegar depressa ao local do problema e comautorização para tomar as medidas neces-sárias para identificá-lo e contê-lo.
(sbi) Tudo isso funcionando ao mesmotempo, o tempo inteiro?Rodier: Exatamente. O mais importante é terpessoas capazes de detectar nos indícios umpossível surto. E, aí, saber com quem falar.
(sbi) Pela sua experiência, médicos eenfermeiros costumam perceber essa“coisa errada”?Rodier: Na maioria dos casos, sim. Aoverem, por exemplo, muitos pacientes comdiarréia,vomitando ou com pneumonia, écomum se darem conta de uma ameaçapotencial. O problema é que freqüentementenão sabem a quem se dirigir. Ou, então,temem ser considerados culpados por estamá situação. Infelizmente, é um problemafreqüente em todo o mundo, já que os surtossão vistos como coisas vergonhosas.
(sbi) Ou seja, tem que se mudar essacultura.Rodier: Com certeza. É preciso chegar a umponto em que a detecção de um surto numbairro ou numa cidade seja exatamente comolidar com acidentes de trânsito. Nada além.
(sbi) Neste momento, alguma doença opreocupa mais devido ao risco deexpansão?Rodier: Sim, a próxima pandemia deinfluenza.
(sbi) Que alerta o senhor faria aosinfectologistas brasileiros?Rodier: Preparem-se, novas epidemias virão!A luta contra as doenças infecciosas não écoisa do passado. É um problema que estábem à nossa frente. Por isso, é indispensávelaplicar com rigor as medidas de higiene e decontrole de infecção nos hospitais em geral.A SRAG deixou claro que epidemias podemser amplificadas a partir dos serviços e dosprofissionais de saúde.
(sbi) E às autoridades brasileiras?Rodier: A questão das doenças infecciosasemergentes tem que ser tratada de maneirabastante séria por todos os países, pois elasrealmente colocam em risco os negócios ea segurança. Neste momento, os Regula-mentos Internacionais de Saúde estãosendo revistos, o Brasil está bastanteenvolvido nesse processo e é importanteque continue. Não só pelo Brasil, que émuito grande, mas pelo quadro global. É amelhor resposta à ameaça das doençasinfecciosas emergentes.
• 43rd ICAAC Interscience Conference onAntimicrobial Agents and Chemotherapy: 14-17de setembro, Chicago, EUA. www.icaac.org/ICAAC.asp
• 37º Congresso Brasileiro de Patologia Clinica/Medicina Laboratorial: 24-27 de setembro, Rio deJaneiro, RJ. www.sbpc.org.br
• 4th International Conference on EmergingZoonoses: 18-21 de setembro, Ames,EUA.www.target-conferences.com/zoonoses2003/index.htm
• 9th Conference of the European Confederationof Medical Mycology: 28 de setembro -1º deoutubro, Amsterdã, Holanda. www.ecmm-tifi2003.org
• 3rd International Meeting on AntimicrobialChemotherapy in Clinical Practice (ACCP): 16-19 de outubro, Portofino, Itália. www.accp.it
• 5th European Congress of Chemotherapy andInfection (ECC-5): 17-21 de outubro, Rodes,Grécia. www.congrex.com/ecc5
• 40th Meeting of the Infectious DiseasesSociety of America (IDSA): 24-27 de outubro,Chicago, EUA. www.idsociety.org
• 9th European Conference on Clinical Aspectsand Treatment of HIV Infection: 26-29 deoutubro, Varsóvia, Polônia.www.eacs-conference2003.com/start.php3
• V Simpósio Brasileiro de Pesquisa em HIV/Aids: 26-31 de outubro, Rio de Janeiro, RJ.www.simpaids.fiocruz.br
• II INFOCUS Fórum de Infecções Fúngicas naPrática Clínica: 31 de outubro-1º de novembro,São Paulo, SP. www.planetevents.com.br
• 6º Congreso Argentino de Sida: 20-23de novembro, Buenos Aires, Argentina.www.congresosint.com.ar/sida2003
• 8º Congreso Mundial de Enfermedades deTransmisión Sexual y SIDA, 14avo CongresoPanamericano de Enfermedades deTransmisión Sexual y SIDA: 2-5 de dezembro,Punta del Este, Uruguai. www.congrex.com/sti-aids2003
• Ist International Workshop on HIV PersistenceDuring Therapy: 10-12 de dezembro, Saint Martin,Antilhas Francesas. www.avps.org/2003/hivp.htm
AGENDA 2003
sbi
GUÉNAËL RODIER:A SRAG PROVOU QUE OS PAÍSES NÃO ESTÃO
PREPARADOS PARA ENFRENTAR SURTOS DE
DOENÇAS DESCONHECIDAS
sbiJULHO / AGOSTO / SETEMBRO DE 2003 Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia
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NOTAS
SUCESSO DA INICIATIVA AMPLIA CURSONos dias 1, 2 e 3 de julho, técnicos da CN-DST/Aids
reuniram-se em São Paulo com os consultores e monitores doscursos de manejo de HIV/aids e hepatites virais realizados emMaceió (AL) e Itapema (SC). O objetivo foi avaliar os doiseventos, uma parceria inédita da SBI com a CN-DST/Aids e aInternational Aids Society (IAS). Conclusões: 1. Os cursos têmpadrão elevado; 2. Atendem às necessidades de atualização; 3.Estão contribuindo para melhorar a capacitação da redepública de saúde. Resultado: o terceiro curso já está agendado.Será de 13 a 16 de novembro, em Foz do Iguaçu (PR). Como osanteriores, integra o programa de educação continuada da SBI.
“O curso não se limita a aulas teóricas”, destaca oinfectologista José Ivan de Albuquerque Aguiar, 2º secretário da SBI. Os participantes são levados a mergulhar em casos clínicos e abuscar soluções práticas, considerando os avanços em HIV/aids e as dificuldades regionais. Por sinal, a presença de infectologistas eclínicos gerais das cinco regiões do país é outro ponto positivo. “A epidemia de aids está indo para o interior. A educação tem queseguir a mesma direção”, observa Martha Romeiro, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia. Na prática, todos ganham,acrescenta Sílvia Cristina Flores, presidente da Sociedade Catarinense de Infectologia: “Os médicos que atendem doenças infecciosasna rede de saúde; o Ministério da Saúde, que pode contar com o apoio de especialistas altamente qualificados; e a própria SBI. Ao seaproximar mais dos médicos, ganha maior vitalidade”.
A médica Cledy Eliana dos Santos e a psicóloga Silvana Solange Rossi, assessoras técnicas da CN-DST/Aids, assinam embaixo: “Otrabalho conjunto otimiza a educação continuada, melhorando a qualidade da assistência”.
A maior prova do sucesso é a grande procura pelos cursos. Em Maceió, havia 2,9 candidatos por vaga. Em Itapema, 4,1. Para o IIICurso Avançado sobre Manejo de HIV/Aids e Hepatites Virais, haverá 120 vagas. As instruções para a inscrição estarão na home pageda SBI: www.infectologia.org.br
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ASILEIRA DE INFECTO
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-1980-
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Alexandre Grangeiro, que desde 2000 atuavacomo coordenador adjunto do ProgramaNacional de Aids. Grangeiro é especialistaem saúde pública pela Universidade de SãoPaulo. Em entrevista ao sbi, salientou: “Aparceria SBI/CN-DST/Aids é estratégicapara o enfrentamento da epidemia de HIV/aids no Brasil”.
(sbi) Qual a sua meta prioritária?Alexandre Grangeiro: Há várias. Uma éaumentar o número de diagnósticos:atualmente, no país, 55% dos infectados peloHIV desconhecem a sua soropositividade.Eles só a estão descobrindo, em média, cincoanos após a infecção. Em conseqüência, alémde não iniciarem a terapia anti-retroviral nomomento adequado, estão transmitindoinvoluntariamente o vírus.
(sbi) Das 17 mil gestantes infectadas peloHIV por ano no Brasil, apenas 6 mil têmacesso ao tratamento anti-retroviral. O queo senhor pretende fazer?
Após cinco anos à frente da CoordenaçãoNacional de Doenças Sexualmente Trans-missíveis e Aids (CN-DST/Aids), do Minis-tério da Saúde, o médico Paulo RobertoTeixeira acaba de assumir em Genebra adireção geral do programa de aids daOrganização Mundial da Saúde (OMS). Emseu lugar no Brasil, fica o sociólogo
Grangeiro: Talvez seja o ponto de maiorinsuficiência da resposta à aids no Brasil.Precisamos sensibilizar as mulheres e osmédicos para o risco da transmissão verticale estimular a realização do teste no pré-natal.Afinal, se o diagnóstico for feito, a gestantereceber a terapia anti-retroviral e nãoamamentar, a probabilidade de infectar caipara cerca de 2%. É quase uma vacina.
(sbi) A Sociedade Brasileira de Infectologiae a Coordenação Nacional de DST/Aidsestão juntas em projetos. Como o senhoravalia essa parceria?Grangeiro: É estratégica. A SBI é o elo coma principal especialidade que atendepacientes com HIV/aids. Por isso, podecontribuir para o aprimoramento dosinfectologistas. Pode nos ajudar também naqualificação de clínicos gerais que atuamnos serviços de aids. O que é vital: adiminuição da mortalidade e a melhora daqualidade de vida estão associadas àqualidade dos serviços. sbi
PAULO TEIXEIRA NA OMS, ALEXANDRE
GRANGEIRO NA CN-DST/AIDS
AIDS EM NOVAS MÃOS
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