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Reitor se compromete com a Estatuinte. Podemos confiar desta vez? BOLETIM ESPECIAL BOLETIM ESPECIAL SETEMBRO 2015 A Estatuinte na contramão da Reforma Universitária do governo P. 03 A Estatuinte nas Universidades Brasileiras P. 05 Comando Unificado da Greve Comando Unificado da Greve ser inclusivo ser inclusivo mobilização ampla mobilização ampla pelos segmentos legítimos, pelos segmentos legítimos, Estatuinte Estatuinte O processo O processo de Estatuinte deve de Estatuinte deve a UFS representada estará a UFS representada estará 30 dias após 30 dias após o encerramento do movimento movimento o encerramento do grevista, tomaremos grevista, tomaremos todas as todas as providências requeridas, providências requeridas,

Boletim especial - Setembro 2015

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Boletim especial Estatuinte.

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Page 1: Boletim especial - Setembro 2015

Reitor se compromete com a Estatuinte.

Podemos confiar desta vez?

BOLETIM ESPECIALBOLETIM ESPECIALSETEMBRO 2015

A Estatuinte na contramãoda Reforma Universitária do governo

P. 03

A Estatuinte nas UniversidadesBrasileiras

P. 05

Comando Unificado da GreveComando Unificado da Greve

ser inclusivoser inclusivo

mobilização amplamobilização ampla

pelos segmentos legítimos,pelos segmentos legítimos,

EstatuinteEstatuinte

O processoO processo de Estatuinte devede Estatuinte deve

a UFS representadaestará a UFS representadaestará

30 dias após30 dias após o encerramento do movimentomovimentoo encerramento do grevista, tomaremosgrevista, tomaremos todas as todas as providências requeridas,providências requeridas,

Page 2: Boletim especial - Setembro 2015

O estatuto da Universidade

Federal de Sergipe, que vigora desde

o regime ditatorial militar, explicita

claros sinais de esgotamento,

burocra�zando o ensino e a ação

universitária como um todo. Obvia-

mente, o que restou da ditadura na

UFS tem sido muito bem camuflado

com a falsa crença de que a univer-

sidade tem ampliado sua democra-

�zação, uma vez que realiza constan-

temente mudanças estatutárias, de

maior ou menor porte, só que elas

são desigualmente percebidas pelo

conjunto da Universidade, e nada é

mais falso do que essa democracia

sem par�cipação cole�va.

A Estatuinte é uma rica

oportunidade de se reinventar e

corrigir tantas distorções acumu-

ladas ao longo da história da UFS. A

comunidade universitária precisa,

neste momento ímpar, lutar unida

para fazer jus�ça aos seus servidores

técnicos e docentes, discentes e à

história cole�va da ins�tuição por um

novo estatuto que supere os resquí-

cios autoritários que burlam a

autonomia da universidade, asse-

gure a presença paritária dos três

segmentos nos conselhos superiores

e repense a estrutura da ins�tuição

do ponto de vista dos departa-

mentos, cursos e centros, além de

permi�r transparência total na

gestão dos recursos da universidade

definidos em lei.

Em concreto, o que se tem

visto é uma resistência de diversas

gestões e reitores em dialogar

diretamente com os representantes

das três categorias em greve sobre a

estatuinte, fazendo-o, como dito, por

vias transversas, e, de outro lado,

uma tenta�va quase desesperada

dos trabalhadores e discentes em

buscar meios para ins�gar esse

diálogo.

Apesar das resistências,

há na UFS um anseio social

co l e� vo p o r r u p t u ra , p o r

mudanças estruturantes na

ordem vigente, que projeta a

necessidade de garan�r a

construção de um processo

e s t a t u i n t e a b e r t o e

d e m o c r á � c o n e s s a

ins�tuição. Essa experiência,

por fim, só será possível

mediante o exercício da

cidadania e da constante

m o b i l i za çã o s o c i a l d a

comunidade universitária.

A gestão da UFS agora

propõe a convocação de processo de

Estatuinte em 2015. Mas qual

estatuinte será essa? Do ponto de

vista do direito de greve, como dito, o

diálogo não é um favor da gestão. É

uma obrigação. A abertura de diálogo

sobre a estatuinte é um momento

ideal para se promover a ressigni-

ficação da universidade, para que

seja garan�da a sua função social, o

que só será possível com a par�ci-

pação efe�va de toda comunidade

acadêmica.

É preciso ter em conta que a

democracia envolve sempre uma

experiência de aprendizado e

inclusão. Nesse sen�do, o momento

estatuinte inaugura a formação de

uma cultura ins�tucional como uma

referência para a con�nua constru-

ção e reconstrução dos direitos, o

que, por sua vez, é tarefa de toda a

comunidade.

Estatuinte, pode chegar, mas

que seja livre, plural, autônoma e

democrá�ca!

Por Elayne Cris�na Menezes Silva,

do Comando Local de Greve dos

Técnicos-Administra�vos.

2

Editorial

Estatuinte: sem luta não haverá avanços

DIRETORIA 2014-2016 - GESTÃO ADUFS DE LUTA E PELA BASEPresidente: Jailton de Jesus Costa (CODAP); Vice-presidente: Acácia Maria dos SantosMelo (DQI-CCET); Secretária geral: Brancilene Santos de Araujo (DFS-CCBS); Diretor Administrativo e financeiro: Júlio Cézar Gandarela Resende (DMA - CCET); Diretor Administrativo e Cultural: Otávio Luiz cabral Ferreira (DAVD - CECH); Suplentes: Marcos Antônio da Silva Pedroso (CODAP), Marcos Santana de Souza (DDA - Campus Laranjeiras), Dênio Santos Azevedo (NTU - CCSA).

Boletim produzido pela ADUFS - Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior.

Endereço: Av. Marechal Rondon, s/n,bairro Rosa Elze, São Cristovão - SE

Jornalismo e fotografia: Raquel Brabec (DRT - 1517) / Design e ilustrações: Fernando de Jesus Caldas

O conteúdo dos artigos assinados é responsabilidade dos autores e não corresponde necessariamente à opinião da diretoria da ADUFS.

Contato ADUFS: Tel.: (79) 3259-2021 / E-mail: [email protected] / Site: www.adufs.org.brNº de tiragem: 500 exemplares.

EXPEDIENTE

Page 3: Boletim especial - Setembro 2015

Boletim Especial

A Estatuinte na contramão da Reforma Universitária do governo

O que é uma Estatuinte? é um

processo polí�co mediante o qual a

comunidade acadêmica de uma

universidade (estudantes, técnico-

administra�vos, docentes) associa-se

à comunidade externa (os mais

diversos setores da sociedade tais

como sindicatos, movimentos sociais),

para produzir o Estatuto de uma

Universidade.

Em um processo Estatuinte,

definem-se princípios, prioridades,

obje�vos, forma de organização e

distribuição administrava das unida-

des de ensino e de trabalho, a aplica-

ção do financiamento, a forma de

governo, a orientação polí�ca para as

áreas acadêmicas, de ensino, pesquisa

e extensão.

A comunidade universitária

da UFS anseia por construir uma

universidade autônoma, radicalmente

democrá�ca, referenciada social-

mente, que possa se contrapor ao

processo de mercan�lização da edu-

cação imposto pelos governos

neoliberais, cuja origem dessa

mercan�lização está na Reforma

Universitária de 1968, quando o

Governo militar de Costa e Silva,

propôs um sistema de educação

superior estruturado em um modelo

de empresa educacional voltado à

obtenção de lucro econômico e

atendimento rápido às exigências do

mercado.

Por tanto, reconst ru i r o

Estatuto de uma universidade, implica

em conhecer o conteúdo das sucessi-

vas reformas que levaram também às

próprias universidades a realizarem

adaptações em seus estatutos, a

exemplo da UFS, sem, no entanto,

desenvolver um processo amplo de

par�cipação da comunidade univer-

sitária para de fato orientar os rumos

da ins�tuição a par�r de valores e

pr incípios que sustentem uma

universidade pública. É importante

reconhecer que a luta dos três

segmentos da universidade desde o

período pós-ditadura militar foi a

retomada do debate por meio da

construção de uma Reforma Univer-

sitária que reorientasse a ins�tuição

para além dos interesses do capital,

razão pela qual, foram criados fóruns,

realizados atos e greves, como às que

estão acontecendo neste momento

histórico, para impulsionar tal reforma

na defesa da universidade pública.

A contra-reforma do estado e a

ofensiva à universidade pública de

qualidade

Nos anos 1980 o governo

Sarney (1985-1990), criou o Grupo

Execu�vo para a Reformulação da

Educação Superior (GERES) encarre-

gado de elaborar o anteprojeto de lei,

porém sem sucesso, por conta das

reações do Andes e das en�dades

ligadas à comunidade universitária. A

jus�fica�va era a de que o modelo de

indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão era obsoleto, caro

e anacrônico. No governo Collor de

Melo (1990-1992) , o Min ist ro

Goldenberg reforçou a ideia anterior e

propôs uma universidade diversifi-

cada criando uma proposta de

Universidade de Ensino em contra-

posição à pesquisa e à extensão. Tal

modelo reforçou a ideia de centros de

excelência, isto é, universidades

voltadas para a pesquisa, e outras na

per i fer ia do s istema, voltadas

somente para o ensino.

O governo Fernando Henri-

que Cardoso-FHC (1995-2003), deu

sequencia às diretrizes do Banco

Mundial e à polí�ca de base neolibe-

ral, aprofundando a crise da universi-

dade com o projeto de expansão de

abertura de novas vagas, principal-

mente em cursos noturnos, tendo

como referência uma proposta de mo-

delo gerencial (Planeja-mento Polí�co

– Estratégico 1995/1998; MEC, 1995

p. 26). A preocupação principal seria

desenvolver uma universidade a par�r

da o�mização dos recursos humanos e

financeiros e, ao mesmo tempo,

facilitar a entrada da inicia�va privada

no setor da educação superior. Nesse

governo se construiu toda a base do

aprofundamento da mercan�lização

da educação que se manteve intocada

nos governos que o sucederam, basta

que observemos a quan�dade de

matrícula no ensino superior privado

nos úl�mos vinte anos.

A par�r dessas mediadas,

ganhou força a flexibilização da indisso-

ciabilidade entre ensino-pesquisa e

extensão, tal qual explicitado na

própria Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei n°9.394/96 –

LDB), com a previsão de diversas

modalidades de ins�tuições de ensino

superior e a formatação desse ensino

diversificado, regulamentada por meio

dos Decretos n°2.207/97 e n°2.306/97.

A flexibilização visava formar

elites em universidades de excelência;

estruturar universidades para formar

profissionais em cursos de maior

duração como médicos, engenheiros e,

outras ins�tuições, com menos

i nv e s � m e n t o s p a ra fo r m a r o s

profissionais técnicos com cursos de

curta duração, a exemplo dos técnicos

em eletrônica, fis ioterapeutas;

es�mular a formação generalista para

atuar em diferentes situações; assim

como, es�mular inicia�vas como as da

“Universidade Nova” a par�r da idéia

de formação por ciclos básicos e

específicos e, a Universidade Aberta do

B r a s i l ( U A B ) – u m a p r o p o s t a

empresarial para criar cursos de

Educação à Distância para formação

inicial, que se proliferaram em todo o

país.

Os Governos Lula da Silva

(2003-2010) e Dilma Housseff (2011-),

deram con�nuidade ao projeto de

reforma seguindo o mesmo recei-

tuário: estruturou a reforma com base

no PAC – Plano de Aceleramento con-

formando a parceria público-privada e

a separação entre universidades de

ensino e, de pesquisa; criou a Lei de

3

Page 4: Boletim especial - Setembro 2015

4

I n o v a ç ã o Te c n o l ó g i c a L e i n º

10.973/2004); ampliou a Educação à

Distância e recolocou a formação de

professores no âmbito da CAPES, cujo

es�mulo do pagamento de bolsas só

tem provocado mais precarização e

desvalorização do trabalho docente e

dos técnico-administra�vos; Realizou

a contrarreforma da Educação

Superior cujo obje�vo maior se

concre�zou com o REUNI onde se

ampliou o número de vagas sem

garan�a das condições de trabalho

necessárias à permanência dos estu-

dantes no interior das universidades e,

as necessidades do desenvolvimento

de qualidade da pesquisa, do ensino e

da extensão: realizou e con�nua a

realizar os cortes da educação pública

para es�mular a abertura de vagas no

setor privado por meio do FIES; e, por

fim, enviou um Projeto de Lei de Plano

Nacional de Educação em 2014, que

foi aprovado com a subs�tuição do

termo educação pública por educação

gratuita, que, dentre outros proble-

mas, pode-se afirmar que todas as

inicia�vas apontam para a priva�za-

ção da educação, mostrando clara-

mente o alinhamento com o setor eco-

nômico e quem determina os rumos

da educação no país.

Sem respeitar a comunidade

universitária e a luta em defesa da

educação pública, os reitores vêm

colocando em prá�ca a polí�ca do

MEC.

A criação da EBSERH (Em-

presa Brasileira de Serviços Hospita-

lares), a crescente terceirização dos

serviços no interior das universidades,

são alguns dos exemplos de uma

polí�ca de priva�zação em ascensão.

No caso da EBSERH na UFS, o Reitor

assinou o contrato sem apreciação do

Co n se lh o Su p er ior, u ma c la ra

demonstração de compromisso com a

polí�ca do MEC.

Com o progressivo aumento

dos cortes no orçamento público, os

pactos entre os poderes do Ministério

da Educação e dos Reitores se

ampliam para se materializar tal

projeto de universidade voltada para

os interesses do mercado. Os reitores

vêm sendo chamados para assumirem

os cortes como algo natural diante de

uma crise criada pelo próprio capital e

com isso, se comprometerem, com a

manutenção dos serviços por meio da

racionalização dos gastos. Para dar

cabo de tais exigências, se torna

necessário um gerenciamento que

esteja altamente concentrado no

poder dos reitores em cada univer-

sidade. A UFS, ao manter o seu

estatuto intocável, reforça a polí�ca

de gestão centralizada e autoritária.

As lutas e a atualidade da pauta em

defesa da Estatu�nte

É nessa conjuntura de ataque

por sucessivos governos e empre-

sários que as manifestações tem se

ampliado na defesa da universidade

pública. A greve desencadeada em

2012 (nacional), 2014 (local -UFS) e a

greve atual (nacional), denuncia e

recoloca na pauta a concepção de

universidade mercan�lizada. Elaborar

a Estatuinte na UFS, significa dizer que

a comunidade universitária mobili-

zada como está, tem a tarefa histórica

de realizar a discussão polí�ca sobre a

verdadeira função da universidade

para que ela possa atender às

necessidades da população.

Por isto, quando os Reitores

realizaram alterações no Estatuto

como acontecido na UFS desde 2002

(cinco alterações foram feitas até

2014), cujo objeto esteve centrado em

incluir órgãos suplementares e alterar

a par�cipação da comunidade acadê-

mica em órgãos colegiados, sem

realizar uma ampla discussão, nos leva

a confirmar o quão necessário a criação

de uma Assembleia Estatuinte e, o

porquê os reitores não tem assumido

esse compromisso. O silenciamento

dos gestores da UFS sobre a Estatuinte,

facilita que cada um assuma compro-

misso com uma estrutura econômica e

de poder, cuja finalidade é a de realizar

as transformações no interior da

universidade que correm no mesmo

leito do rio das contrarreformas do

Estado.

Neste sen�do, reafirmamos

que o momento é agora. Essa pauta é

nacional e local, está na ordem do dia

das três categorias da UFS (docentes,

estudantes e técnico-administra�vos).

* Por Profª Sonia Meire Azevedo de

Jesus, do Comando Local de Greve, e

por Levi José Lemes Rocha Júnior, do

Comando de Mobilização Estudan�l.

SETEMBRO 2015

Nome Tema Quando

Marcelo Badaró Estatuto na UFF

Roberto Leher

Francisco Miraglia

Estatuinte e participação

Estatuto na USP

Agenda da Estatuinte

As datas serão divulgadas em breve

Setembro

Outubro

Novembro

Page 5: Boletim especial - Setembro 2015

Estatuinte nas Universidades Brasileiras Estatuinte numa ins�tuição

universitária, é um processo em que o

documento maior de uma IES é criado (ou

revisto) e tem uma conotação jurídico-

formal, mas também uma natureza

polí�ca, por ter como foco a concepção de

ins�tuição e as formas de organizá-la

d idá�ca , c ien�fica e admin ist ra -

�vamente, o que afeta o co�diano da

ins�tuição. Não se pode perder de vista,

nesse sen�do, que a estatuinte se traduz

em conquista de toda a comunidade

universitária e também da sociedade, por

revelar uma concepção de universidade,

os princípios que a devem reger e a sua

forma de organização.

Assim, apresenta-se aqui um

resumo sobre o processo de implan-tação

e implementação da Estatuinte em

a l g u m a s u n i v e rs i d a d e s fe d e ra i s

brasileiras, baseado em dados cole-tados

da internet, disponíveis para o público em

geral, como um passo importante na

democra�zação da vida universitária.

No Brasil, num rápido levan-

tamento, foi possível encontrar 12

universidades que terminaram ou

desenvolvem a inda um processo

Estatuinte, são elas: UFPE, UFRB, UFOP,

UFPel, UFPB, UNIFESSPA, UFMT, UnB,

UFAM, UFBA, UFRJ e UFU. Entre estas

destacamos nomes de importantes

universidades grandes e clássicas como

UnB, UFOP, UFPB e UFPE.

Em outras universidades, como

por exemplo a UFAL e a UFS, observa-se

que há demanda interna por um processo

Estatuinte, da parte dos segmentos de

servidores públicos e estudantes, que

evidenciam essa demanda a cada

momento nas lutas internas, sem que, no

entanto, efe�ve-se esse processo. Se

t ra t a d e u m a d e m a n d a u r g e n t e

principalmente em decorrência da

expansão das universidades federais,

consequência do REUNI, mas também

pela própria mudança no processo de

administra-ção pública porque passam as

f u n d a ç õ e s m a n t e n e d o r a s d a s

ins�tuições.

A p e s a r d e o p ro c e s s o d e

5

Boletim Especial

Estatuinte já estar em debate na UFS há

mais de 20 anos, tal como comprovam as

demarches realizadas em 1986 pelo então

Reitor Eduardo Garcia e o documento

elaborado pelo Professor Airton Paula

Souza (DEE/CCSA) em 1992, sucessivos

reitores foram deixando esse projeto na

gaveta e este ainda não foi desencadeado

aqui na UFS, mesmo com o empenho da

seção sindical docente que o tem pautado

persistentemente.

Relembramos que essa proposta

voltou a ser destacada na pauta da Greve

de 2012, e que como resultado da greve

de 2014, o atual Reitor Angelo Roberto

Antoniolli, comprometeu-se a dar início a

este processo, não dando depois segui-

mento à sua promessa, fazendo com que

na presente greve de 2015 este fosse o

p r i m e i r o p o n t o d a p a u t a l o c a l .

Atualmente novas propostas meto-

dológicas vêm surgindo e sendo anali-

sadas (Meire, 2015).

Apresentação dos Processos

Em todos estes processos a regra

bás ica é a par�c ipação dos t rês

segmentos universitários, ainda que nem

sempre seja respeitado o princípio da

paridade em todas as Universidades. Em

algumas ins�tuições optou-se também

pela par�cipação de membros externos

da sociedade civil. A contribuição da

comunidade universitária, quando não

pelo envolvimento direto, era permi�da

pela apresentação de propostas a serem

sistema�zadas, o que sinaliza a procura da

par�cipação inclusiva de todos os

interessados em par�cipar no processo

Estatuinte.

Dos documentos, pode-se

apurar alguns dados mais básicos para

compreender semelhanças e diferenças

entre os processos nestas universidades e

notar que não há uniformidade dos

mesmos, o que embora dificultando o

resumo e comparação, é um indicador da

garan�a da autonomia da universidade na

instalação da Estatuinte. Os aspectos

d e s t a c a d o s n o s e g u i n t e q u a d r o

compara�vo foram: estatuto em vigor,

início e término do processo Estatuinte e

quan�dade dos par�cipantes.

Dados gerais sobre processo esta-tuinte

em IES brasileiras

Quanto ao processo as Univer-

sidades adotam diferentes estratégias,

verificando-se que há variação significa�va

no número de membros e na qualidade da

par�cipação (comissões indicadas pelo

gestor ou por segmentos ou dele-gados

e l e i t o s p e l a s b a s e s ) ; o b s e r va - s e

metodologias de ação também diversas,

que podem ampl iar ou reduz i r a

par�cipação da comunidade universitária

– a análise das diversas metodologias é

crucial para o debate da implantação da

estatuinte. Mais detalhes sobre os

processos podem ser ob�dos nos

documentos referenciados.

As experiências dessas uni-

versidades representam uma resposta à

luta da categoria docente e uma conquista

da comunidade universitária. É claro que

há equívocos na condução de alguns

processos , que não pr imam pe la

transparência e democracia, mas a análise

de�da dessa construção, em cada

universidade a que se teve acesso,

demonstra que os ganhos da luta cole�va

podem e devem superá-los.

Para que se tenha uma uni-

versidade autônoma e democrá�ca, o

processo estatuinte deve es�mular a

par�cipação de servidores e estudantes

desde seu início, de forma que essa

construção resulte num processo amplo,

transparente e revelador da universidade

que se pretende SER para a sociedade a

que se quer SERVIR. Ficar atento ao

desenrolar desse processo nas IES permite

compreender sua lógica e preparar para

acompanhá-lo na ins�tuição.

Gostariamos de agradecer à

Professora Rosangela Marques (DSS) pela

elaboração do dossiê inicial sobre as

estatuintes nas Universi-dades Brasileiras.

Por Prof ª Vera Núbia Santos

e Prof. Carlos Sá, do Comando Local de

Greve

Page 6: Boletim especial - Setembro 2015

6

SETEMBRO 2015

Referências

https://www.ufpe.br/ce/images/estatuinte/metodologia%20novo%20estatuto_2014%20comisso%20especial%20estatuinte%20aprovada%20pelo%20conselho%20universitrio.pdf

http://www3.ufrb.edu.br/cce/attachments/article/4/Metodologia%20da%20Estatuinte.pdf

http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=12718&Itemid=196

http://wp.ufpel.edu.br/constituinte/files/2014/09/Forum-Estatuinte-Metodologia-Congresso-09-11_final-1.pdf

http://www.ufpb.br/estatuinte/

https://www.unifesspa.edu.br/images/documentos/comunicados/minuta_regulamento_metodologia_estatuinte_unifesspa.pdf

http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5103

http://www.ufrj.br/mostraNoticia.php?noticia=12740_Consuni-discutira-propostas-para-o-Forum-Estatuinte.html

http://www.adm.ufba.br/pt-br/noticia/conselho-estatuinte-aprova-novo-estatuto-ufba

http://professoremlutaufal.blogspot.com.br/2015/03/nota-de-esclarecimento-sobre-alteracao.html

Meire S. (2015). Projeto de Construção da Estatuinte Universitária da Universidade Federal de Sergipe. Documento inédito, UFS, 5p.

Souza, A.P. (1992). Sobre a Gestão Democrática. Documento inédito, UFS, 4p.

Page 7: Boletim especial - Setembro 2015

Em assembleia que ocorreu na

manhã do dia 19/08, os docentes deba-

teram o tema da mesa de negociação

com o reitor, que ocorreu no dia 21:

Condições de Trabalho e Infraestrutura

na UFS. Nos depoimentos durante a

análise de conjuntura, os docentes

expressaram a situação de funcio-

namento na universidade, especial-

mente diante do cenário de cortes que o

governo está empenhando.

O discurso da gestão local é que

ainda não houve cortes na UFS, então

ainda é “cedo” para falar sobre o tema.

Apesar dessa informação, sabe-se que o

governo cortou um total de R$ 9,4

bilhões para a Educação, conforme

anunciado em junho deste ano, o que

resultou numa redução de 10% sobre a

verba de custeio e 47% sobre o capital

das universidades federais.

“Vamos ter bem menos recurso

nesse ano”, disse a professora Brancilene

Araújo na assembleia. "Queremos saber

onde esses cortes estão acontecendo,

mas o reitor não quer informar”. Nas

úl�mas reuniões de negociação da

reitoria com o Comando Local de Greve

(CLG), a equipe gestora apenas informou

como os cortes afetarão a dinâmica das

obras na UFS: as obras em fase inicial

serão interrompidas, as que estão na fase

intermediária serão retardadas, e as

obras em fase final serão concluídas.

Brancilene citou o caso da

Universidade Federal do Maranhão

(UFM), em que o reitor se reuniu com

integrantes da bancada maranhense na

Câmara e no Senado para sensibilizá-los

sobre a crise sem precedentes na

universidade diante dos cortes, que está

comprometendo seu funcionamento. A

primeira consequência dos cortes foi a

demissão de 140 terceirizados.

Cenário semelhante ocorre na

Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ), cujo reitor apresentou uma

previsão preocupante: a universidade

chegará ao mês de setembro sem

condições de honrar as contas de

fornecimento básico. A ameaça de

suspensão de energia elétrica está

presente na Universidade Federal da

Bahia (UFBA), Federal de Santa Catarina

(UFSC) e a Federal Fluminense (UFF).

Condições de Trabalho e Infraestrutura foram temas da assembleia

C o n d i ç õ e s d e Tra b a l h o e

Infraestrutura na UFS foram os temas da

mesa de negociação que ocorreu na tarde

do dia 21/08 entre os comandos das

categorias da universidade (docentes,

técnicos e estudantes) e o reitor com sua

equipe administra�va.

No início da reunião, a pro-

fessora Sônia Meire leu o documento

com a solicitação do Comando Local de

Greve (CLG) para que o reitor Angelo

Antoniolli torne público para a comuni-

dade acadêmica a condição financeira da

universidade diante da crise orçamen-

tária na Educação Pública.

Os docentes solicitaram que o

reitor abra as contas da UFS, que mostre o

quan�ta�vo dos cortes, onde eles foram

e serão aplicados e que apresente a

projeção de receitas e despesas até

dezembro de 2015. Outro ponto

reivindicado foi o compromisso do reitor

pela não contratação de docentes via

Organizações Sociais (OS). O comando do

Sintufs e dos estudantes se juntaram à

demanda exposta no documento.

A categoria docente expressou a

necessidade de se conhecer os aspectos

dos cortes e como vão impactar a ro�na

da universidade, seja nas bolsas de

pesquisa, de assistência, nos contratos

Reitor dará resposta sobre contas da universidade diante dos cortes

com terceirizados, e não apenas em

como ficará o andamento das obras. O

reitor informou que até a terça-feira,

25/08, daria a resposta sobre a solici-

tação do documento, porém, quando

chegou a data ele encaminhou para a

ADUFS um comunicado adiando para a

sexta-feira (28/08) a entrega da resposta

da solicitação das categorias. Ele também

informou que não poderia par�cipar da

mesa de negociação agendada para

acontecer no dia 28/08, sobre a pauta:

EBSERH e Cesad. A reunião foi então

adiada para o dia 04/09.

“Não temos intenção de omi�r.

Estamos fazendo um grande esforço para

minimizar os impactos”, disse Angelo. Em

sua fala, ele reforçou que as obras não

vão parar em decorrência dos cortes, mas

não trouxe mais informações em relação

a onde eles ocorrerão. Uma das

estratégias da reitoria é conseguir

recurso de emendas individuais dos

deputados para diminuir o déficit

orçamentário.

Com relação à contratação via

OS, o reitor manifestou total rejeição. “É

um absurdo, é algo que acaba com a

ca r re i ra d o p ro fe s s o r ” a fi r m o u ,

demonstrando apoiar a reinvindicação.

Porém, as categorias lembram que o

discurso foi semelhante quando a

Empresa Brasileira de Serviços Hospi-

talares (EBSERH) estava em discussão na

UFS, e mesmo assim o reitor assinou sua

implantação no Hospital Universitário.

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Boletim Especial

Page 8: Boletim especial - Setembro 2015

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir

resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com

todos os �pos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto

animais.

Eles cuidariam para que as caixas �vessem água sempre

renovada e adotariam todas as providências sanitárias,

cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana,

imediatamente ele faria uma atadura a fim que não

morressem antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam

cá e lá uma festa aquá�ca, pois os peixes alegres tem gosto

melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas,

nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a

guela dos tubarões.

Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de

encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente

por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral

dos peixinhos.

Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais

belo é o sacri�cio alegre de um peixinho, e que todos eles

deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses

dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria

garan�do se aprendessem a obediência.

Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de

qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e

denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles

manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam

guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e

peixinhos estrangeiros.

As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos.

Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de

outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles

anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente

mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim

impossível que entendam um ao outro.

Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos

inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com

uma pequena ordem das algas e receberia o �tulo de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles

naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos

quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas

cores e suas guelas seriam representadas como inocentes

parques de recreio, nos quais se poderia brincar

magnificamente.

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos

peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos

tubarões.

A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus

acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as

guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais

agradáveis pensamentos.

Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e

s ó n a b a r r i ga d o s t u b a r õ e s é q u e c o m e ç a r i a

verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria

a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles

obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive

comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois

eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores

bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam

os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que

estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da

construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os

tubarões fossem homens.

*Bertold Brecht (1898-1956), nascido em Augsburgo –

Alemanha. Escritor, dramaturgo, poeta, além de grande

teórico teatral. Desde menino escrevia poesias de forte

conteúdo social. Foi perseguido pelos nazistas pelo seu

comunismo militante.

Se Os Tubarões Fossem Homens, por Bertold Brecht