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Boletim Informativo - Dez · Largo do Corpo Santo, nº 13 1200 - 129 Lisboa Tel.: 21 322 00 20 Fax: 21 347 49 18 ... actual estado de coisas revela-se cada vez menos ... será o ano

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Conselho Superior da Magistratura

2 Boletim Informativo - Dez.2006

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Ficha Técnica

Edição e propriedade:Conselho Superior da Magistratura Largo do Corpo Santo, nº 131200 - 129 Lisboa

Tel.: 21 322 00 20Fax: 21 347 49 18e-mail: [email protected]ço do sítio internet:

www.conselhosuperiordamagistratura.pt

Coordenação do Boletim Informativo:António Barateiro Martins (Vogal do CSM)Paulo Guerra (Juiz-Secretário do CSM)MegaGlobal (Design de Capa)

Tiragem:2500 exemplares

II série - nº 7Dezembro de 2006

Publicação periódica

Depósito legal nº 174 302/01

Execução gráfica e impressão: Gráfica Almondina

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 3

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ÍNDICENOTA PRÉVIA ...................................................................................................................................... 4

1. Mensagens de abertura1.1. Autonomia do CSM: aspiração antiga1.2. – Juiz Conselheiro - Luís Noronha Nascimento (Presidente do STJ e do CSM) ............................. 51.2. A crise da Justiça: intervenção do CSM na reforma que se impoõe – Juiz Conselheiro António Cardoso dos Santos Bernardino (Vice-Presidente do CSM) ................. 6

2. Informações, relatórios e cooperação internacional2.1. Novos Inspectores do CSM ........................................................................................................... 82.2. Dossier Férias ............................................................................................................................... 102.3. Plano de Actividades do CSM para 2007 ...................................................................................... 192.4. II Encontro Ibero-Americano de responsáveis de centros de documentação1.2. judicial da rede IBERIUS .................................................................................................................... 302.5. Zamora ........................................................................................................................................ 40 2.5.1. Relatório ...................................................................................................................... 40 2.5.2. Declaração conjunta ...................................................................................................... 40 2.5.3. Texto Maria José Machado (Vogal do CSM) ................................................................... 42 2.5.4. Texto Sénio Alves (Inspector Judicial) ........................................................................... 44 2.5.5. Texto Paulo Guerra (Juiz Secretário) ............................................................................. 50

3. Deliberações do Conselho Superior da Magistratura ...................................................................... 53

4. Circulares do Conselho Superior da Magistratura .......................................................................... 107

5. Pareceres e estudos5.1. Regime dos Recursos em Processo Civil - António Geraldes (Vogal do CSM) .............................. 1105.2. Regime Experimental em Processo Civil - António Geraldes (Vogal do CSM) ............................... 1175.3. Mediação Penal - Maria José Machado (Vogal do CSM) ................................................................. 1245.4. Livro Verde sobre o Divórcio - Helena Bolieiro (Juíza de Direito) .................................................. 1275.5. Acesso a documentos internos do CSM - Moreira da Silva (Vogal do CSM) .................................... 1425.6. Início da remuneração nos Tribunais Superiores - Ralph Rodrigues (Téc. Jurista) .......................... 145

6. O Contencioso do Conselho Superior da Magistratura• 1ºacórdão-ReclamaçãoàlistadeantiguidadedosjuízesdoXXIcursonormal ...................... 150• 2ºacórdão-AtribuiçãodaNotade“MuitoBom” ................................................................... 156• 3ºacórdão-AtribuiçãodaNotade“Bom” .............................................................................. 170• 4ºacórdão-AplicaçãodaPenadeAposentaçãoCompulsiva .................................................... 183• 5ºacórdão-SobreaviolaçãodoDeverdeAcatamentodasdecisõesdosTribunaisSuperiores ... 196• 6ºacórdão-SobreaviolaçãodoDeverdePontualidade ........................................................... 203

7. O Ponto de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial 8.1. A Cooperação entre os Estados Membros no domínio da obtenção de provas em matéria civil e comercial - O Regulamento (CE) n.º 1206/2001, do Conselho, de 28 de Maio de 2001 ............. 2098.2. Ética Judicial - tendências e riscos - O Código/ modelo ibero-americano de ético judicial ............ 2218.3. Questões práticas iriginadas pela aplicação dos Regulamentos Comunitários em matéria de cooperação judiciária civil ...................................................................................... 226

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4 Boletim Informativo - Dez.2006

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NOTA PRÉVIA

O 2º Boletim do CSM publicado no ano de 2006 deveria sair durante o mês de Julho.

Contudo,devidoàcircunstânciadeestarmarcadaparaSetembroaeleiçãodoExmºPresi-

dente do Supremo Tribunal de Justiça e do Conselho Superior da Magistratura (em substituição

do anterior Presidente, o Exmº Juiz Conselheiro Dr. José Nunes da Cruz, entretanto jubilado),

optou-se por fazer sair esse Boletim – o presente – em Dezembro de 2006 e de forma a já nele

figurar uma mensagem do novo Presidente eleito.

Conselho Superior da Magistratura

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1 - MENSAGENS DE ABERTURA

O ano em que iremos entrar será finalmente,

tudo o indica, o da consagração da autono-

mia do Conselho Superior da Magistratura.

Aspiração antiga que atravessou sucessivas

gerações de juízes, a autonomia do C.S.M. foi

uma promessa adiada que o Pacto para a reforma

da Justiça assumiu formalmente.

Gerir, hoje, um universo de cerca de 1700

juízes com os problemas crescentemente com-

plexos que a diversidade de tribunais cria, não

se compadece mais com a estrutura de um órgão

que se mantém inalterada de há trinta anos a esta

parte.

O C.S.M. deve ser um dos pólos centrais da

Justiça portuguesa; mas para isso tem que dispor

de apoios logísticos que, entre o mais, lhe per-

mitam o tratamento dos relatórios das inspecções

para diagnosticar a tempo os estrangulamentos

dos tribunais, o acompanhamento de todo o sis-

tema de formação de juízes, a elaboração de pro-

postas de alterações legislativas que cubram o le-

Presidente do Supremo Tribunal de Justiça

que variado das preocupações com a morosidade

processual.

Vale isto por dizer que a manutenção do

actual estado de coisas revela-se cada vez menos

possível sob pena de o C.S.M. se transformar num

órgãoconstitucionaldeirrelevânciaassumida.

O denominado Pacto para a Justiça cristali-

zou, neste particular, as aspirações que muitos de

nós mantêm há muitos anos.

Com a calendarização aí fixada para a aprova-

ção em letra de lei da autonomia do C.S.M., 2007

será o ano do pontapé de saída para a implemen-

taçãoorgânicadanovavidadoConselho.

A partir daí – estou convicto disso – teremos

uma nova Fénix renascida com palavra mais forte

no concerto do universo judicial.

Luís António Noronha NascimentoJuiz Conselheiro

Presidente do Supremo Tribunal de Justiça

e do Conselho Superior da Magistratura

Conselho Superior da Magistratura

6 Boletim Informativo - Dez.2006

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A crise da Justiça:

intervenção do CSMna reforma que se impõe

Vice-Presidente do CSM

Constituem temática recorrente, que vêm sen-

do debatidas ad nauseam, e nem sempre com

o distanciamento, o rigor e a imparcialidade exi-

gidos, as questões da Justiça em Portugal.

Existe um consenso generalizado na afirma-

ção da chamada crise da Justiça, que, sendo, infe-

lizmente, uma realidade indesmentível do tempo

que vivemos, não é um exclusivo deste: sem que

isso nos sirva de consolo, certo é que por outras

crises tem passado, noutras épocas, a Justiça no

nosso País.

As crises da Justiça – a actual e as antece-

dentes – não são mais do que o reflexo das crises

políticas, económicas, sociais e culturais que, ci-

clicamente, abalam o País.

E o papel do CSM – enquanto órgão do Es-

tado, de matriz constitucional, e estrutura funda-

mental na arquitectura do poder judicial, presidi-

do pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justi-

ça, e que integra, a par de juízes eleitos pelos seus

Pares, uma maioria de membros designados pelo

Presidente da República e eleitos pelo Parlamento

– tem de ser, e só pode ser, neste quadro de crise

da Justiça, a de pugnar por um sistema de justiça

democrática e funcional, tendo por farol dois prin-

cípios que, com especial ênfase na conjuntura, de-

vem ser afirmados com particular vigor, enquanto

valores fundamentais na afirmação do Estado de

Direito: o princípio da separação de poderes e o

princípio da independência dos tribunais.

A crise da Justiça reclama, com urgência, um

movimento de reforma global – que não de me-

ros retoques pontuais e cirúrgicos – que respeite,

concretize e assegure, de forma efectiva, o núcleo

fundamental dos valores que constituem as traves-

mestras em que deve assentar a Justiça democrá-

tica e por que se deve reger a Magistratura que a

aplica.

E esta é uma empresa que apela e convoca, es-

sencialmente, a intervenção do Poder Legislativo

(e também do Executivo), já que não é ao Poder

Judicial que incumbe a feitura das leis.

Mas o princípio da separação de poderes pos-

tula também um certo grau de cooperação e de

solidariedade institucional entre eles: a Constitui-

ção(art.2º)alude,deformaclara,à“separaçãoe

interdependênciadepoderes”;anenhumdosPo-

deres é lícito assumir-se como contra-poder relati-

vamente a qualquer dos outros. E, por isso, aquele

aludido princípio não tolhe a intervenção das ins-

tituições representativas do Poder Judicial – dizer,

do Conselho Superior da Magistratura – na apre-

sentação de propostas e na discussão das soluções

concretas apresentadas nos projectos ou propostas

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 7

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de lei do Legislativo ou do Executivo, sendo seu

dever indeclinável defender, perante o Parlamento

e o Governo, a implementação de esquemas de or-

ganização judiciária que acolham aqueles valores

fundamentais, propondo soluções consentâneas

com a defesa da independência dos tribunais e da

magistratura e propulsoras da eficácia do sistema

judicial.

E isto, a intervenção do Conselho Superior da

Magistratura nestes moldes – que poderá incidir,

inter alia, na falta dos mecanismos processuais,

organizativos e logísticos necessários à garantia

dessa indicada independência – nada tem que ver

com corporativismo ou com a defesa de interesses

corporativos.

Repele-se, com veemência, qualquer acusa-

ção ou insinuação nesse sentido.

O Conselho Superior da Magistratura não é

uma estrutura corporativa ou representativa de

uma classe profissional.

A defesa da independência dos tribunais e da

magistratura é assumida como afirmação de sobe-

rania – que reside no Povo – e, portanto, como um

direito próprio dos Cidadãos, em nome de quem

aqueles administram a justiça.

Representa, assim, para o Conselho Superior

da Magistratura, o reconhecimento de um dever,

a que não se eximirá, em caso algum, reclaman-

do e esperando, por isso, a oportuna e atempada

convocatória ou solicitação para o efeito, quando

disso for caso.

Julho de 2006

António Cardoso dos Santos Bernardino

Vice-Presidente do CSM

Conselho Superior da Magistratura

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2 - INFORMAÇÕES, RELATÓRIOS2 - E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Novos Inspectores do CSM

Durante o ano de 2006 (e até fins de Se-tembro), houve 3 mudanças de INS-

PECTORES do quadro de 20 do CSM.A)- Assim, na 5ª Área, em substituição

do Exmº Juiz Desembargador Dr. Cachapuz Guerra, foi eleito o Exmº Juiz Desembargador Dr. José Cunha Barbosa (do Tribunal da Rela-ção do Porto).

Esta área tem a seguinte competência ter-ritorial:

1- CÍRCULO JUDICIAL DE VILA REALAcesso FinalVila Real1º AcessoAlijóMondim de BastoMurçaSabrosa

2- CÍRCULO JUDICIAL DE MIRANDELAAcesso FinalMirandela1º AcessoAlfândegadaFéCarrazeda de AnsiãesMogadouroTorre de MoncorvoVila Flor

3 - CÍRCULO JUDICIAL DE LAMEGO (parte)Acesso FinalLamegoPeso da Régua1º AcessoArmamarMesão Frio

ResendeS. João da PesqueiraTabuaço

4- CÍRCULO JUDICIAL DO PORTO (parte)Tribunal de Instrução Criminal(Só acesso final)

5- CÍRCULO JUDICIAL DO FUNCHAL (parte)Santa Cruz(Só acesso final)

6- CÍRCULO JUDICIAL DE LISBOA (parte)Juízos Cíveis – 3º, 4º, 7º e 10º

B)- na 14ª Área, em substituição do Exmº Juiz Desembargador Dr. Gonçalves Marques, foi eleita a Exmª Juíza de Direito das Varas Mistas de Coimbra, Drª Maria Cecília Agante.

Esta área tem a seguinte competência ter-ritorial:

1- CÍRCULO JUDICIAL DE ABRANTESAcesso Final

Abrantes

Entroncamento

1º Acesso

Golegã

Mação

Ponte de Sôr

2- CÍRCULO JUDICIAL DE PONTA DELGADA (parte)Ribeira Grande

(Só acesso final)

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3- CÍRCULO JUDICIAL DE SANTARÉMAcesso Final

Cartaxo

Santarém

1º Acesso

Coruche

Almeirim

4- CÍRCULO JUDICIAL DE TOMARAcesso Final

Alcanena

Ourém

Tomar

Torres Novas

1º Acesso

Ferreira do Zêzere

5- CÍRCULO JUDICIAL DE LISBOA (parte)Tribunal de Família e Menores

– 2º a 4º Juízos

C)- Finalmente, na 17ª Área, em substi-tuição do Exmº Juiz Desembargador Nuno

Gomes da Silva, foi eleito o Exmº Juiz Desem-bargador Dr. Mário Belo Morgado (do Tribu-nal da Relação de Lisboa).

Esta área tem a seguinte competência ter-ritorial:

1- CÍRCULO JUDICIAL DE ALMADA Almada

Seixal

Sesimbra

(Só acesso final)

2- CÍRCULO JUDICIAL DA CASCAIS(Só acesso final)

3- CÍRCULO JUDICIAL DE SINTRA (parte)

Varas Mistas

Tribunal de Família e Menores

Juízos de Execução

(Só acesso final)

4- CÍRCULO JUDICIAL DE LISBOA (parte)

Juízos Cíveis – 5º, 6º e 9º Juízos

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Dossier FÉRIAS

A. PREMISSAS

PREMISSAS para o MODELO de MAPA de Férias dos Juízes (artigo 28º, n.º 4 do EMJ – na redacção dada pela Lei n.º 42/05 de 29/8) – deliberação1 tomada na sequência de pro-posta apresentada por um grupo de trabalho formado por:

•DrªMariaJoséMachado•Dr.EdgarLopese•Dr.PauloGuerra

1ª-InexistindonoEstatutodosMagistradosJudiciais estatuição em sentido distinto, respei-tante ao exercício do direito de férias dos Juízes, ter-se-àderecorrer,deformasubsidiária,aoregi-me geral da Função Pública, no que concerne ao regime de férias (Decreto-Lei n.º 100/99 de 31 de Março, com as alterações legais posteriores, nomea- damente as previstas nas Leis nºs 117/99 de 11/8, 70-A/05 de 5/5 e no DL n.º 157/2001 de 11 de Maio) – vide artigo 32º do EMJ;

2ª-Daleituradopreceituadonon.º5doarti-go 28º do EMJ (redacção da Lei n.º 42/05 de 29/8, verifica-se que os Juízes têm direito a gozar, em cada ano civil, os dias úteis de férias, nos termos legalmente previstos para a função pública (o di-reito a férias vence-se no dia 1 de Janeiro de cada ano e reporta-se, em regra, ao serviço prestado no ano civil anterior).

Assim, o DL 100/99: - fixa como limite mínimo de gozo de férias os 25

dias úteis até completar 39 anos de idade; - fixa como limite mínimo de gozo de férias os 26

dias úteis até completar 49 anos de idade; - fixa como limite mínimo de gozo de férias os 27

dias úteis até completar 59 anos de idade;

- fixa como limite mínimo de gozo de férias os 28 dias úteis a partir dos 59 anos.Além disso, o número de dias de férias au-

menta, nos termos da lei, por cada módulo de 10 anos de serviço, efectivamente prestado, acrescen-do mais um dia útil de férias.

3ª-Nostermosdoartigo28ºdoEMJ(alte-rado pela Lei n.º 42/05), os Juízes gozam as suas férias:

• preferencialmente, durante o período das férias judiciais (de 22/12 a 3/1, do domingodeRamosà2ªfeiradePáscoaede1 a 31 de Agosto – artigo 12º da LOFTJ);

• duranteoperíodode15 a 31 de Julho• emperíodosdiferentesdos acima re-

feridos, por motivo de serviço público, motivo justificado ou outro legalmente previsto.

4ª-osjuízespodemfazerdoistiposdereque-rimentos:

A)- Pedindo o gozo de férias seguidas (e como os outros trabalhadores, têm direito ao gozo de, pelo menos, um período de férias pessoais de 22 dias úteis seguidos por ano, sob pena de se violar o princípio da igualda-de) e os restantes dias nos períodos referi-dosna3ªpremissa;B)- Pedindo o gozo de férias de forma in-terpolada, escolhendo os dias em causa nos períodosreferidosnapremissa3ª,sendoqueum dos períodos de férias não pode ser infe-rior a metade dos dias de férias a que o juiz te-nha especificadamente direito no ano civil em que esse direito se vence; assim, por exemplo, tal período terá de ser, pelo menos de 13 dias, paraaquelesque,faceàantiguidadeeidade,só têm direito a 25 dias úteis de férias.

1 Esta deliberação foi alvo de recurso contencioso por parte da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, tendo a Secção do Contencioso do STJ decidido, por acórdão datado de 13/7/2006, julgar improcedente o mesmo.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 11

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5ª-Nocasodeopçãopelogozodefériasse-guidas (período ininterrupto de 22 dias úteis), constituirá“motivojustificado”(paraostermosdoartigo 28º, n.º 3 do EMJ) o gozo de tais dias para além ou para aquém do mês de Agosto ou do pe-ríodo compreendido entre 15 e 31 de Julho.

A escolha dos dias aquém ou além dos perío-dos de 1 a 31/8 e de 15/7 a 31/7, deverá ser sempre a que inclua o maior número de dias neles com-preendidos.

6ª-AsfaltasdadaspelosJuízesaoabrigodo

artigo 10º e as dispensas de serviço previstas no artigo 10º-A do EMJ não implicam, enquanto re-gime especial, qualquer desconto nas férias nem na retribuição dos mesmos.

7ª-TURNOS7.1. O serviço de TURNOS prevalece sobre

as férias dos Juízes (repare-se que o artigo 28º, n.º 1doEMJestatuique “osmagistradosgozamassuas férias preferencialmente durante o período de férias judiciais, sem prejuízo dos turnos a que encontram sujeitos…”),razãopelaqualseconsi-dera que os TURNOS devem ser organizados AN-TES da feitura dos mapas de férias de cada juiz, de forma a que nesses 22 dias seguidos não haja tur-nos, nem substituições a fazer pelo juiz em férias).

7.2. Relativamente a cada dia de turno de férias, deverá(ão) ser indicado(s) o(s) Juiz(es) efectivo(s) e o(s) Juiz(es) suplente(s).

8ª-No período das férias judiciais, o JUIZSUBSTITUTO referido no n.º 4 do artigo 28º-A do EMJ será o JUIZ DE TURNO (ou o seu su-plente), o qual terá jurisdição em toda a circunscri-ção do Círculo a que o turno respeita.

Durante o período de 15 a 31 de Julho (que não é de férias judiciais), tal juiz substituto será o substituto legal que não se encontre de férias.

9ª-No caso particular dos Juízes que estão

colocados nas Bolsas dos 4 Distritos Judiciais (Quadro Complementar de Juízes – artigo 71º da

LOFTJ), constata-se que a sua situação não vem prevenida na Lei n.º 42/05 de 29/8, entendendo- -se, assim, que:

- nos termos do artigo 7º, n.º 2 do Regula-mento do quadro complementar de juízes, tais juízes participam, durante o período das férias judiciais, no regime de turnos que estiverem organizados para a execução do serviço urgente, nos círculos judiciais ou tribunais onde estiverem colocados;

- sendo possível fixar o local onde os mes-mos estão a exercer funções aquando da realização dos turnos e do gozo das férias marcadas, entram no regime geral do Cír-culo/Comarca em causa;

- não sendo possível tal fixação prévia, os respectivos Presidentes da Relação farão as necessárias adaptações dos turnos, em cada caso(videartigo11ºdaLein.º100/99,“exvi”artigo32ºdoEMJ).

10º- No que respeita ao artigo 5º, n.ºs 7 e 9 do Dec.Lei n.º 100/99 de 31 de Março, entende-se que será apenas dada preferência na marcação de férias em períodos coincidentes relativamente a cônjuges ou equiparados igualmente juízes e em exercí-cio de funções no mesmo Círculo Judicial.

11ª-11.1. A situação do presente ano de 2006 é

excepcional, admitindo-se como viável a adopção da seguinte regra futura:

- osturnosde“fériasjudiciais”deverãoserorganizados em Setembro de cada ano, va-lendo até ao mês de Setembro do ano se-guinte, altura em que se efectiva a execu-ção do Movimento Judicial Ordinário (de Julho do ano seguinte);

11.2. Neste ano de 2006, os Exmos Presiden-tes das Relações – ou a quem estes delegarem tal incumbência–procederão,de imediato à feituradosturnosquantoàsfériasdaPáscoaeàsfériasdeAgosto, relegando a feitura dos turnos das férias de Natal para Setembro de 2006, após a feitura do

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12 Boletim Informativo - Dez.2006

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Movimento Judicial de Julho (e já que serão pre-visíveis muitas alterações nas colocações dos Juízes por tal efeito);

11.3. Face ao exposto em 11.2., razões de conveniência de serviço poderão vir a originar que as férias que os Exmos Juízes escolham para o pe-ríodo do Natal/2006 sejam sujeitas a alterações pontuais.

12ª-Apresenta-se,deseguida:A.1.- os MODELOS de Mapa de Férias a que

alude o artigo 28º-A, n.º 4 (da responsabilidade do CSM), em 4 variantes:

• Modelogeral• ModeloreferenteaoQuadroComplemen-

tar de Juízes• Modelo referente aoquadrode juízes es-

tagiários (os quais não fazem turnos de fé-rias)

• ModeloreferenteaosJuízesDesembarga-dores ou Juízes auxiliares na Relação

A.2. Cinco exemplos para cada uma das Re-lações (sendo certo que cada Presidente da Relação deverá, nos termos legais, elaborar os respectivos mapas de férias dos Juízes da sua circunscrição2),

A.3. MODELO de requerimento que cada Juiz terá de preencher a marcar o seu anual perío-do de férias e dirigido ao respectivo Presidente da Relação.

Dê-se conhecimento aos 5 Presiden-tes das Relações, aos Exmos Juízes, ao Conselho Superior do Ministério Público, aoMinistériodaJustiçaeàDGAJ.

(Aprovado na sessão plenária de 7/2/2006)

B. CIRCULARPara conhecimento e cumprimento do orde-

nado por despacho de Sua Excelência o Vice-Presi-dente do CSM, tenho a honra de informar V. Exa. que, na sequência de sugestão apresentada pelo

grupo de Trabalho encarregado pelo Plenário de apresentar o Modelo de Mapa de Férias dos Juízes, foi determinado pelo Exmº Vice-Presidente (deter-minação a ser submetida a ratificação pelo Plenário de7/3/2006)quea10ªpremissaparaoModelodomapa das Férias dos juízes, aprovada por delibera-ção do Plenário de 7/2/2006, passe a ter a seguinte redacção:

“10ª10.1. No que respeita ao artigo 5º, nºs 7 e

9 do Dec-Lei 100/99, de 31 de Março, entende-se que será apenas dada preferência na marcação de férias em períodos coincidentes relativamente a cônjuges ou equiparados igualmente juízes e em exercíciodefunçõesnomesmoCírculoJudicial”.

10.2. Em concreto, os Exmos. Presidentes das Relações verificarão a necessidade de aplicação da norma do nº 8 do artigo 5º do D.L. 100/99 de 31/3, em face das situações casuisticamente apre-sentadas e dentro de um espírito de razoabilidade e operacionalidade (nomeadamente, no que concerne àcompatibilizaçãodasfériascomcônjugesjuízes,magistrados do Ministério Público e funcionários de justiça, mesmo que laborantes noutros Círcu-los), sem prejuízo do regular funcionamento dos serviços (cfr. Artigo 5º, n.º 4 do referido diploma e Ponto II do Modelo de requerimento indicado em A.3.-12ªpremissa)”.

C. DELIBERAÇÃORelativamente aos Mapas de Férias dos Ex-

mos Juízes, remetidos pelos Exmos Presidentes da Relação de Coimbra, Évora, Guimarães e Porto (neste caso, apenas atinentes aos Exmos Juízes De-sembargadores), já com os respectivos pareceres fa-voráveis (vide artº 28º-A, n.º 2 da Lei n.º 21/85 de 30/7, na redacção conferida pela Lei n.º 42/2005 de 29/8), foi deliberado aprová-los na íntegra (vide artº 28º-A, n.º 3 da referenciada Lei), dele-gando-se no Exmº Vice-Presidente a aprovação dos

2 Aconselhando-se que cada folha compreenda um Círculo.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 13

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restantes Mapas (a remeter pelos Exmos Presiden-tes da Relação de Lisboa e do Porto, neste caso, atinentes aos Juízes de direito).

Desde já se clarifica que, nos termos legais (artigo 73º da LOFTJ), é ao juiz de turno que cabe assegurar toda a movimentação dos processos que correm termos em férias judiciais na respectiva cir-cunscrição (ou seja, o serviço urgente das secções, cujos juízes se não encontrem em férias pessoais, será necessariamente assegurado pelo juiz de tur-no).

Mais se relembra o teor da premissa n.º 11.3, aprovada na sessão plenária de 7/2/2006 – “razões de conveniência de serviço poderão vir a originar que as férias que os Exmos Juízes escolham para o período do Natal/2006 sejam sujeitas a altera-ções pontuais”.

Mais foi deliberado - informar de imediato os Exmos Presiden-

tes da Relação de Coimbra, Évora, Gui-marães e Porto do teor desta aprovação, devendo os mesmos publicitar os Mapas em causa, nos termos do artigo 28º-A, n.º 5, parte final, da Lei n.º 21/85 de 30/7, na redacção conferida pela Lei n.º 42/2005 de 29/8;

- CIRCULAR por todos os Juízes que tais Mapas foram aprovados pelo CSM e que poderão ser consultados na respectiva Re-lação.

D. POSIÇÃO ASSUMIDAPOR DOIS VOGAISO subscritor foi indicado pelo Plenário do

CSM para integrar o Grupo de Trabalho com vista aoestudoeàapresentaçãodepropostademode-lo de mapa de férias dos juízes, a que se refere o art. 28ºA, EMJ, na redacção da Lei 42/2005, de 29deAgosto (“1 -Emcadadistrito judicial oucircunscrição correspondente a tribunal da relação é elaborado mapa de férias anual dos magistra-dos, cabendo a sua organização ao juiz presidente do tribunal da relação respectivo ou a quem este

delegar poderes para o acto, sob proposta e com audição dos interessados.

2 - Com vista a garantir o regular funciona-mento dos tribunais, o mapa a que se refere o nú-mero anterior é remetido ao Conselho Superior da Magistratura acompanhado de parecer favorável do presidente do tribunal da relação, designadamente sobre a sua harmonização com os mapas de férias anuais propostos para os magistrados do Ministé-rio Público e para os funcionários de justiça do dis-trito judicial.

3 - A aprovação do mapa de férias dos magis-trados compete ao Conselho Superior da Magistra-tura, o qual pode delegar poderes para o acto.

4 - O mapa a que se refere o presente arti-go é elaborado de acordo com modelo definido e aprovado pelo Conselho Superior da Magistra-tura, nele se referenciando, para cada magistrado, o tribunal e o juízo em que presta funções, o pe- ríodo ou períodos de férias marcados e o magis-trado substituto, observando-se o regime de subs-tituição previsto na lei nos casos em que este não seja indicado.

5 - O mapa de férias é aprovado até ao 30.º dia que anteceda o domingo de Ramos, ficando de seguida disponível para consulta, em versão inte-gral ou abreviada, nas instalações do tribunal.

6 - No Supremo Tribunal de Justiça compete ao Presidente do Tribunal, ou a quem este delegar, a organização, harmonização e aprovação do res-pectivo mapa de férias dos magistrados judiciais desseTribunal”).

O resultado do trabalho realizado está reuni-do no expediente distribuído, sendo que, para ele prestei o meu contributo no sentido da procura de soluções possíveis e exequíveis no ordenamento ju-rídico português, que - pelo menos - respeitassem os direitos dos visados .

Todavia, não posso deixar de manifestar uma posição quanto ao regime legal criado, que te-nho não apenas como errado, desadequado e prejudicial ao funcionamento do sistema, como também materialmente inconstitucional (sem entrar pelas eventuais inconstitucionalidades de-

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correntes do próprio processo legislativo, matéria em que não entro, apesar de ter vindo já a ser de-fendida por especialistas na matéria).

A Lei 42/05, de 29 de Agosto, no que respeita àdefiniçãode“mapasdefériasdosjuízes”,prevê,noseu art. 28ºA, nº 4) como pressuposto de aplicabili-dade,eexistênciadeum“modelodefinidoeapro-vadopeloConselhoSuperiordaMagistratura”.

Daqui decorre que, de forma a viabilizar a aplicação da Lei e a concretização do novo re-gime das férias dos juízes, o CSM o tem de ela-boraraquiloqueéindicadocomo“modelo”(semque seja definido o que isso seja), o qual deve ser aprovado“emtempoútil”.

Ora,aexpressão“modelo”,utilizadapelole-gislador começa por ser criativa e inovadora pois não se trata de um qualquer acto normativo previs-to no ordenamento jurídico português (a acrescer às leis, decretos-leis, decretos legislativos regio-nais, regulamentos, actos administrativos, contra-tos administrativos…) .

Como tal acto não é conhecido da Doutrina, nem vem referido na Constituição e a lei não diz nem explica em concreto o que será e em que se de-verátraduzirotal“modelo”,importaqueoCSMprocure substanciar o que dele se exige .

Em dois dicionários de referência, encontra-mos a palavra Modelo definida de inúmeras for-mas, podendo dar contributos úteis, as seguintes:

A – “1 - Que se destina a ser reproduzido por imi-tação.

2 - Reprodução, em pequena escala de uma pequena imagem ou de um pequeno objecto que se pretende fazer em dimensões maiores

(…)13 - Impresso com dizeres apropriados a cada fim e utilizado nas repartições públicas. Preencheu o modelo 15 e entregou-o no guichet.

14 - Representação formal e simplificada de uma realidade, de um fenómeno ou conjunto de fe-nómenos. Tem-se aplicado o modelo sueco de avaliação e os resultados são satisfatórios. O modelo do dicionário resultou de longo debate e investigação.

(…)17 - funç. Adj. Que se destina a ser reproduzido ou de que há outros iguais. andar+modelo”(…)(Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Verbo, pág.2500);

B– “1 representação em escala reduzida de objecto, obra de arquitectura etc. a ser reproduzida em dimensões normais; maquete [m. de um navio] (…) 8 jur fórmula que serve de disposição ou or-dem para a composição de um acto processual ou forense 9 impresso utilizado em repartições públi-cas, firmas, bancos etc., com lacunas a serem pre-enchidas pelo interessado (para fazer pedidos, pres-tar declarações ou outras finalidades); formulário 10 coisa ou pessoa que serve de imagem, forma ou padrão a ser imitado, ou como fonte de inspiração (…)”(DicionárioHouaissdaLínguaPortuguesa,TemaseDebates,2005,TomoXIII,5559).

Doquedaquipodemosretirar,o“modelo”aque a lei se refere:

1 - ou corresponderá a uma indicação inócua de que o CSM deve elaborar um mero for-mulário;

2 - ou, mais do que isso, o que se pretende é que o CSM estabeleça as regras e critérios quepermitamaelaboraçãodos“mapasdeférias” respeitantes aos juízes (repare-sequeénesse“modelo”queserábaseadoomapa de férias) .

Tratando-se da primeira hipótese, inexiste problema algum, mas também não seria necessário fazer essa referência e criar essa obrigação ao CSM.

Tratando-se da segunda – e cremos que só pode ser a segunda, sob pena de criação de uma situação de indefinição quanto aos critérios que vão suportar a elaboração dos mapas – importa não es-quecer que esses critérios, respeitam – ao que nos parece, sem lugar a dúvida razoável – a matéria de Estatuto dos Juízes, a qual apenas pode ser altera-da mediante Lei da Assembleia da República ou Decreto-Lei proferido na sequência de autorização legislativa (art. 165º, nº 1, p], da Constituição da

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RepúblicaPortuguesa:“1 - É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes matérias, sal-vo autorização ao Governo: (…) p) organização e competência dos tribunais e do Ministério Público e estatuto dos respectivos magis-trados, bem como das entidades não jurisdicionais de composição deconflitos”) .

Em causa terão assim de estar critérios, gerais e abstractos, que,quanto à “marcaçãode férias”,definam premissas, coordenadas, ordens de priori-dade, razões de escolha (na prática, um Regulamento das Férias dos Juízes) equeconstruamo“modelo”,na base do qual estará o mapa de férias (repare-se queo“mapa”sebaseiaeéfeitodeacordocomo“modelo”,masficasemse saberemqueéqueo“modelo”sebaseiaeestrutura).

A escolha da palavra não será, por certo, ino-cente e não estaremos longe da verdade, se disser-mos que existiu uma consciente opção pela não utilização da palavra “regulamento” (a qual, ser-viria para exprimir o acto que, quando admissível, permite a concretização da Lei, em termos gerais e abstractos).

Éque,sempreseriailegítimauma“delegaçãodepoderregulamentar”(queincumbeaoGovernoe que pressupõe uma relação hierárquica), uma vez que, dentro do nosso quadro constitucional o CSM se desenha como um órgão autónomo dos demais poderes, não integrando a Administração Pública, não dependendo hierarquicamente do Governo, nem devendo obediência (no exercício das suas atribuições), a qualquer órgão de soberania (que, numa interpretação que não subscrevemos pode-ria indiciar uma tentativa de subalternização, não constitucionalmente permitida, do judicial ao le-gislativo, através do respectivo CSM).

Ora, constitui jurisprudência pacífica do Tri-bunal Constitucional que as matérias de reserva de lei não podem ser objecto de regulamento inde-pendente, de regulamento que apenas fixe a com-petência subjectiva e objectiva da Administração Pública(“a reserva de lei constitui limite ao poder regu-lamentar: a Administração não pode editar regulamentos independentes ou autónomos no domínio dessa reserva; os únicos que nas matérias reservadas a lei se admitem são os regulamentos de execução”-Tribunal Constitucio-nal, 18-03-1986, Messias Bento, in www.dgsi.pt) .

Isto é, se o legislador tivesse utilizado a expressão “regulamento”, ninguém teria dúvi-das em afirmar que tal “delegação de compe-tências” seria inconstitucional, porque clara-mente violadora de área reservada, e porque o CSM não se integra na Administração Pública, enquanto tal.

Optando por uma expressão inovadora, o le-gisladorchamou“modelo”aalgoqueseconstituicomo um verdadeiro regulamento...

Assim, estamos diante de uma situação em que o legislador, não assumindo totalmente as suas responsabilidades e ignorando (leia-se, violando) oart.112º,nº5,CRP(“Nenhumaleipodecriaroutras categorias de actos legislativos ou conferir a actos de outra natureza o poder de, com eficácia externa, interpretar, integrar, modificar, suspender ou revogar qualquer dos seus preceitos”), remeteu para um órgão não legislativo do Estado (o CSM) o encargo de regulamentar uma matéria que é reser-vada (reserva relativa da Assembleia da República), elaborando um modelo (sem o qual a lei é inapli-cável), que terá de pressupor regras e critérios que não são indicados e, como tal, terão de ser criados (não valendo o argumento de existir a legislação subsidiária, quer por ser tratar de matéria inovado-ra, quer pela especificidade do regime em causa).

Do exposto decorre que a redacção actual do art. 28ºA, EMJ, ao remeter para o CSM o estabe-lecimento de critérios normativos sobre matéria de reserva relativa de lei (art. 165º, p], CRP), viola a Lei Fundamental.

E que fazer perante este cenário?Dar cumprimento acrítico e cego à norma

em causa, com a consciência de que, elaborando o “modelo”seestáaestabelecernormasgeraiseabs-tractas através de acto atípico, que não tem valor de Lei (ou mesmo de regulamento)?

E isto com a consciência de que se está a in-fringir directamente:

I - a norma constitucional de reserva de lei da Assembleia da República em matéria de Estatuto dos Juízes (art. 165º, p], CRP);

II - a norma constitucional que estabelece o

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princípio da tipicidade dos actos normati-vos (art. 112º, nº 5, CRP);

III - a norma constitucional que estabelece o princípio da competência (art. 111º, nº 2, CRP);

IV - a norma constitucional que estabelece o princípio da Constitucionalidade da Acti-vidade do Estado (art. 3º, nº 3, CRP);

V - o princípio da separação de poderes, na medida em que interfere em área para a qual não tem atribuição (art. 111º, CRP).

Mas ao CSM exige-se outra postura e outra responsabilidade,desdelogofaceàssuasespeciaiscaracterísticas,mastambémpelacircunstânciade,sendo chamado a aplicar e a cumprir a lei (in casu comaelaboraçãodo“modelo”),talpressupõeumnecessário momento interpretativo (que sempre teráde ser feito à luzdaConstituição, àqual sedeve obediência), no qual as considerações expos-tas nos parágrafos anteriores têm de ser levadas em consideração (e o princípio da constitucionalidade dos actos do Estado impõe-se a todas as suas formas de actuação – art. 3º, nº 3, CRP) .

Por isso, entende-se que não pode, nem deve o Conselho Superior da Magistratura, ao arrepio dos Princípios da Competência, da Separação de Poderes, da Tipicidade dos Actos normativos e da ReservadeLeiquantoàmatériadeEstatutodosJuízes–aprovarqualquer“modelo”(quesubstan-cia um verdadeiro regulamento sobre matéria de reserva relativa da Assembleia da República).

E não deve fazê-lo, entendendo que art. 28ºA, EMJ, na redacção da Lei 42/05, no segmento em que remete para a aprovação de um “modelo” éinconstitucional, concluindo que a norma é, nessa parte, nula (nulidade atípica).

A elaboração de normas para a definição de critérios de escolha de férias dos juízes cabe à lei, que tem o seu modelo próprio de forma-ção e de fiscalização da Constitucionalidade, e não ao Conselho Superior da Magistratura .

Para além de se tratar de uma posição que te-mos como respeitadora da Constituição (repare-se queaquiloaquesecostumachamarde“deverde

aplicação das leis inconstitucionais (…) constitui umaespéciededeversemsanção”-Rui Medeiros, A Decisão de Inconstitucionalidade, UCP, 1999, pags. 164 e 167), e pese embora não seja a tese do-minante na doutrina, não deixa de ser uma posição defendida em sectores que temos como respeitados e de grande solidez dogmática (cfr., ob. cit., pag. 167) .

Entendemos assim que o Plenário do CSM deveria assumir esta posição, que se traduziria, na prática, num mero assumir da não legiti-mação constitucional deste órgão para regu-lamentar matéria de Estatuto dos Juízes, e na indicação de que caberia ao poder legislativo desbloquear a situação criada, legislando em conformidade com aquilo que fosse tido por conveniente (nomeadamente, suspendendo a aplicação da Lei em causa, o que deveria ser sugerido).

Considerando o esforço feito pelo grupo de trabalho e as soluções adoptadas, entendo, todavia votar globalmente de forma favorável a regulamentação obtida.

O texto que antecede foi elaborado pelo subscritor com base num estudo prévio sobre a matéria elaborada por uma Exma Juíza dos Juízos Cíveis de Lisboa.

Lisboa, 2006-02-02

Edgar Taborda Lopes

(juiz de direiTo - VogaL do CsM - disTriTo judiCiaL de Lisboa)

(Em Plenário, esta posição foi subscrita pelo Exmº Vogal Dr. António Barateiro Martins)

E. ACTA DO PLENÁRIO DE 7.3.2006

Ponto Prévio n.º 4 – procº. Nº 05 – 1/C1 – Férias Judiciais

1- No que concerne à proposta de Provi-mento apresentada pela Exmª Juíza Presidente do Tribunal Judicial da Comarca de (…), Dr.ª (…), sobre Turnos e regime de Substituição/Gozo

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de férias para aquele Tribunal, foi deliberado o se-guinte:

“I–Os seusnº2enº3, àpartida inócuos,tornam-seilegais,lidosemconsonânciacomonº4 e o nº 5 (sendo certo que não faz sentido referir o período de 01 a 14/09, quando o que poderia relevar são os períodos que vão além dos de férias judiciais, sejam eles de 15/07 a 31/07, posteriores a 31/08 ou anteriores a 15/07;

II – O seu nº 4 corresponde a uma determina-ção dada por provimento aos juízes (cujos poderes de soberania não são limitáveis deste modo), o que é manifestamente ilegal;

III – O seu nº 5 é ilegal, por determinar que, fora dos períodos de férias judiciais, só sejam tra-mitados os processos urgentes, transformando materialmente uma situação de substituição legal numasituaçãodeturno”.

2 - No que concerne ao requerimento apresentado pelo Exmº Juiz de direito (…), a exercer funções como auxiliar na (…), foi delibe-rado, por maioria, com voto contra do Exmº Vo- gal Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, apro-var o seguinte, em complemento das Premissas já anteriormente provadas e atinentes às Férias dosJuízes:

“O período de 15 a 31 de Julho poderá ser utilizado para férias dos juízes, desde que:

• estejaesgotadooperíododefériasemAgosto;

• estejaaasseguradaasubstituiçãoe• os respectivos Presidentes das Rela-

ções entendam que não existe prejuízo para o serviço”

3 - No que concerne ao requerimento apresentado pelo Exmº Juiz de direito (…), a exercer funções na (…), foi deliberado, por maio-ria, com voto contra do Exmº Vogal Dr. Edgar Lo-pes, esclarecer o exponente que não é lícito e legí-timodarumprovimentoàsecçãodeprocessosnosentido de, enquanto estiver em gozo de férias, não lhe serem conclusos processos, sem prejuízo de a secção concluir os urgentes ao Juiz substituto, por tal se revelar uma prática não prevista na lei.

Nesta altura, foi apresentada pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almei-da a seguinte declaração de voto, relativamen-te ao n.º 2 deste Ponto:

“Vencido, porque a deliberação deveria re-ferir também os períodos de férias de Natal e da Páscoa como períodos de gozo preferencial de fé-riasdosjuízes”.

Nesta altura, foi apresentada pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes a seguinte declaração de voto, relativamente a este Ponto:

“Pese embora a minha concordância com adeliberaçãoaprovadanoquerespeitaàlegalidadedo concreto provimento elaborado pelos Exmos. Juízes do Tribunal de (…), entendo que, pelas es-peciais responsabilidades que cabem ao CSM, de-veria constar da deliberação que :

1 – Ao CSM não cabe dizer como os juízes devem organizar em concreto o seu serviço, mas cabe dizer como o não podem fazer .

2 – Não é possível transformar por via de provimento e de forma genérica e abstracta, uma substituição legal, numa situação de turno : turnos existem apenas em férias judiciais e, nos períodos fora delas em que haja juízes em férias (sejam eles o de 15/07 a 31/07 ou os necessários antes de 15/07 ou depois de 31/08, para permitir o gozo de 22 dias úteis), há sempre um juiz substituto, que não está de férias e cujos processos lhe terão de ser normalmente conclusos, sendo que, os restantes (os das secções cujos juízes se encontrem de férias) serão por si despachados os urgentes e os restantes se possível for .

3 – Não é possível, por via de provimento, limitar o proferimento de despachos jurisdicionais, como os de marcação de diligências : o provimento édirigidoàsecçãoenãoàactividadejurisdicionaldos juízes .

4 – O CSM sempre assinalou quando ouvido sobre a matéria (nomeadamente na Assembleia da República), que o período de 15/07 a 31/07 (es-púrio, desligado da realidade, por todos criticado, prejudicando os advogados e os cidadãos que verão os seus prazos a correr, sem benefícios para nin-

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guém), em que - necessariamente - iria estar de férias uma grande parte dos juízes, os substitutos legais com o seu serviço normal a cargo, pratica-mente apenas poderiam despachar os processos urgentes dos juízes substituídos e, daí, os parcos ganhos de produtividade .

5 – Claro que pode haver Tribunais em que seja possível que todos os processos sejam despa-chados pelo juiz substituto, mas, em Tribunais de grande volume de serviço, em que seja sabido que o número de conclusões diárias é elevado (de trinta, quarenta ou cinquenta, por exemplo), tenho como desrazoável que se permita – sem qualquer ganho de eficácia ou benefício para quem quer que seja – que se acumulem cegamente em dez dias úteisoumais(esóporqueéumperíodo“normal”),trezentos, quatrocentos ou quinhentos processos que o substituto não logrará despachar (porque tem os seus e os urgentes dos substituídos) e que o substituído terá de despachar quando regressar de férias judiciais, conjuntamente com todos aqueles que as secções normalmente concluem após férias. Isto conduz a um estrangulamento desnecessário e que pode ser objecto de regulação por via de pro-vimento:concluirosprocessos“porquesim”,nãome parece um sistema sensato, mais ainda porque não está em causa uma situação imprevista ou ines-perada (como ocorre, nas situações de baixa médi-ca por doença), mas perfeitamente previsível por, desde antes da Páscoa, se saber o que vai correr nos períodos em causa.

5 – À partida, a razoabilidade de concluir os processosnestascircunstânciaspassapelarespon-

sabilidade do Escrivão de Direito de cada Secção e isso poderá - na generalidade das situações - evitar a necessidade de qualquer Provimento, mas os Juízes têm as suas responsabilidades próprias e não têm, nem as devem enjeitar ou empurrar para os funcionários judiciais .

6 – Nada me parece obstar - em abstracto - a que, relativamente às secções cujos juízes se en-contrem de férias e de forma a permitir uma ges-tão eficaz da tramitação dos processos (permitindo um fluxo de despacho/cumprimento bem oleado), que sejam proferidos provimentos no sentido de serem conclusos aos juízes substitutos ape-nas os processos com natureza urgente, sem prejuízo de os referidos juízes substitutos, em concreto, e face à sua maior ou menor dispo-nibilidade, determinarem de modo distinto ao Escrivão da Secção : um Provimento neste sen-tido permite uma gestão razoável das conclusões e do funcionamento de uma Secção, que apenas be-neficiará o melhor andamento dos processos e po-tenciará uma melhor administração da Justiça.

Face ao exposto no ponto 6, que antecede, en-tendo que, quanto ao Provimento proposto pelo Exmo. Juiz (…), com as pequenas precisões que daquele decorrem, não contém qualquer ilegalida-de, podendo mesmo constituir – pela apreciação concreta que o titular da Secção faça no momento adequado - um instrumento positivo para permitir uma melhor gestão do serviço : daí o meu voto de vencidoquantoàdeliberaçãodoCSMrespeitanteàpropostadeProvimentoemcausa”.

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I - ASPECTOS GERAIS O Conselho Superior da Magistratura que,

constitucionalmente, é o órgão superior do Es-tado a quem cabe a gestão e disciplina da ma-gistratura judicial tem visto a sua actividade caracterizar-se por um progressivo alargamen-to e diversificação das suas atribuições legais.

Essa ampliação diferenciada de funções traduz-se, nomeadamente, nos seguintes as-pectos:

■ Estrutura do Ponto de Contacto no âm-bito da Rede Judiciária Europeia - Co-operação Internacional nas áreas civil e comercial, que foi criada há cerca de três anos e meio e que tem conhecido uma projecção nacional e internacional cada vez maior;

■ Desenvolvimento da edição do “site” na Internet, completamente reformu-lado em forma e conteúdo durante o ano de 2005;

■ Edição de dois boletins informativos por ano, com conteúdo diversificado relativamente aos que se editavam até 2004, passando a incluir-se no seu cor-po de texto acórdãos do Contencioso do CSM;

■ Competência legalmente conferida para desencadear a acção disciplinar relativa aos oficiais de justiça e decidir, em primeira-mão ou por via do recur-so, os processos inspectivos, de averi-guações, inquérito ou disciplinares aos mesmos respeitantes;

■ Reforço da cooperação internacional com o Conselho da Europa, traduzida, designadamente, na existência de um representante do Conselho Superior da Magistratura, por ele designado, no Conselho Consultivo dos Juízes Euro-peus;

Plano de Actividades do CSM para o ano de 2007

■ Cooperação crescente com diversos Conselhos Superiores da Magistratura europeus, africanos e latino-america-nos, sendo de realçar o seu papel no estreitamento de relações com o Con-selho Superior da Justiça da Ucrânia, com o Consejo General del Poder Judi-cial espanhol e com os diversos Conse-lhos e Supremos Tribunais dos PALOP, através de visitas recíprocas, participa-ção em projectos comuns, como a Red-Iberius e os Encontros latino-america-nos de Conselhos Superiores da Judi-catura, múltiplas acções de formação de juízes, inspectores judiciais, secre-tários de inspecção, quer em território nacional, quer nos próprios países des-tinatários das mesmas;

■ Colaboração com diversas entidades e organismos nacionais, tais como o Cen-tro de Estudos Judiciários (recebendo o CSM inúmeras delegações de Magis-trados estrangeiros em visitas organi-zadas sob a égide do CEJ), o GRIEC, o Observatório Permanente da Justiça e a DECO, no âmbito de seminários e conferências, estudos e pesquisas, lan-çamento de obras de natureza jurídica, etc.

■ Este órgão confrontou-se igualmente com um aumento exponencial do ser-viço desenvolvido e que se traduziu, nomeadamente, nos seguintes aspec-tos:• Um número progressivo dos seus

membros passaram a desempenhar funções a tempo inteiro (actualmen-te, o Vice-Presidente e quatro vogais, juízes da 1.ª instância, desenvolvem a tempo integral tais funções, ao pas-so que os dois restantes vogais juí-zes, desembargadores no Tribunal

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da Relação, têm 75% de redução de serviço nos respectivos tribunais, es-tando em aberto a possibilidade de dois ou mais dos vogais eleitos pela Assembleia da República poderem igualmente dedicar-se, em exclusi-vo ou a tempo parcial, à actividade deste órgão, o que já foi aprovado pelo ex-Ministro da Justiça, Dr. Aguiar Branco);

• Continuação da premente carênciade assessores para coadjuvarem os seus membros e o Juiz-Secretário;

• Continuação da inequívoca desa-dequação do quadro legal dos seus funcionários às suas crescentes e re-ais necessidades;

• Necessidade de reequacionamentoda sua actividade e competências, com a subsequente reestruturação dos seus serviços administrativos (o que já foi feito durante o ano de 2005, mercê de uma mudança logís-tica e física dos seus serviços, a nível do espaço que os mesmos ocupam, de forma a conferir às suas activi-dades maior dinamismo e eficácia), conforme se acha reflectido na com-petente proposta da Lei Orgânica do Conselho Superior da Magistra-tura, já apresentada ao Ministério da Justiça e que ainda se encontra pendente de decisão final, estando o Conselho Superior da Magistratu-ra fortemente apostado em desblo-quear, com urgência e no que de si depende, o processo respeitante à apreciação e aprovação de tal pro-posta – a este propósito, em Julho de 2006, Sua Excelência o Ministro da Justiça deu conta ao Plenário do CSM da sua intenção de aprovar a Lei Orgânica do CSM, de forma a entrar em vigor em 1 de Janeiro de 2007, estando previsto o prazo de

2 anos para a sua completa imple-mentação.

O próximo ano de 2007, a ser aprovado e

publicado o diploma relativo à nova orgânica funcional e administrativa do Conselho Supe-rior da Magistratura, será, inevitavelmente, e por isso, um ano de transição, não só no que respeita à adaptação e eventual expansão das estruturas actualmente existentes, como no que toca à aquisição do equipamento em falta e à admissão - ainda que faseada, de acordo com as reais necessidades deste órgão e com as restrições orçamentais que, nesta fase, previsi-velmente, lhe irão ser impostas - de assessores e novos funcionários.

Essa profunda reforma organizativa, de natureza quantitativa e qualitativa, com refle-xos ao nível das atribuições, sectores e pessoal da secretaria deste órgão, tem de ser conjuga-da com o seu normal funcionamento, sendo certo que os anos de 2003 a 2006 assistiram, designadamente:

■ Ao funcionamento de novas estruturas

e competências - Ponto de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial, “sítio” institucional do Conselho na Internet (actualmente em reestruturação) e decisões iniciais ou em sede de recurso dos oficiais de justiça;

■ À realização de projectos e apresen-tação de propostas - Estudo sobre a Contingentação Processual em matéria penal e subsequente projecto de alte-ração do Código de Processo Penal, no que se refere aos procedimentos bu-rocráticos desnecessários nessa área, prosseguimento do referido estudo sobre a Contingentação Processual nas restantes jurisdições, implementação dos Cursos Especiais de recrutamen-to e formação dos juízes, alteração da Lei do Centro de Estudos Judiciários,

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da Lei da Organização e Funcionamen-to dos Tribunais Judiciais, do Estatuto dos Magistrados Judiciais, entre mui-tos outros;

■ À realização de uma série de iniciativas – I, II e III Encontro Anual do CSM, respectivamente em Leiria, em Faro e no Porto, subordinados aos temas “O papel do Juiz Presidente na ges- tão e administração dos Tribunais Ju-diciais” (I), “Balanço da Reforma da Acção Executiva” / ”Segredo de Justi-ça e Dever de reserva” (II) – publicado em obra pela COIMBRA EDITORA - e “Reforma da Organização Judiciária”/”Instrumentos de racionalização do trabalho dos juízes” (III), Sessão Sole-ne comemorativa dos 25 anos do Con-selho Superior da Magistratura, Sim-pósio, organizado em cooperação com o Conselho da Europa, subordinado à temática “ Recrutamento e Formação dos juízes na Europa”, IV e V Encontro Transfronteiriço entre juízes portugue-ses e espanhóis, que decorreu, respecti- vamente, em Viana do Castelo e em Za- mora, Encontro, já no ano de 2004, com uma delegação arménia, que se desdo- brou num conjunto de visitas a diversos tribunais e entidades e numa reunião de trabalho de dois dias com respon-sáveis do Conselho da Europa e repre-sentantes do Conselho Superior da Ma-gistratura, organização de um conjun-to de conferências nos cinco Tribunais da Relação subordinadas ao tema “O novo mandato de detenção europeu” (também no ano de 2004), recepção de diversas outras delegações e represen-tantes (Nações Unidas, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé, Espa-nha, Ucrânia, República Moldava, Bél-gica, Bulgária, Rússia, etc.)…

■ Ao lançamento e colaboração em di-versos estudos relativos à história da

magistratura judicial e dos Conselho Superior Judiciário e Conselho Supe-rior da Magistratura;

■ À cooperação com diversas entidades e organismos, tais como o Centro de Estu- dos Judiciários, o Observatório Perma-nente da Justiça, o GRIEC e a DECO, na realização de conferências e seminá-rios, estudos e pesquisas e lançamentos de obras de cariz jurídico, destacando-se, nesse âmbito e no ano de 2004 a 2006, o conjunto de conferências leva-do a cabo pela DECO e pela AUTORI-DADE DA CONCORRÊNCIA sobre o Direito Europeu da Concorrência.

Importa dar seguimento, no ano de 2007, a esta dinâmica funcional, com o desenvolvi-mento das estruturas, propostas e projectos anteriormente iniciados, assim como com a concretização de outros eventos.

O presente Plano de Actividades do Con-selho Superior da Magistratura tem, nesta sede, por objectivo fundamental, enquadrar e justificar a proposta de Orçamento deste órgão para o ano de 2007 que, inevitavelmente, terá de ser perspectivado e concretizado de forma muito diversa dos orçamentos anteriormente apresentados, reforçando a dinâmica da coope-ração transfronteiriça, mercê da incentivação da actividade do Ponto de Contacto, cada vez mais activo, solicitado que é para organizações realizadas no estrangeiro (para as quais terá o CSM de suportar as despesas de deslocação).

II - ACTIVIDADES DO CONSELHOSUPERIOR DA MAGISTRATURA Conforme já se deixou referenciado, o Conse-

lho Superior da Magistratura levou a cabo nos anos de 2003 a 2006 diversas iniciativas de carácter público, que importa manter, tendo o Plenário de 14/01/2003 aprovado uma deliberação no sentido de ser realizado todos os anos um Ciclo de Confe-rências genericamente identificado como “Encon-

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tros Anuais do Conselho Superior da Magis-tratura”, tendojásidoescolhidaadata (24e25de Novembro), o local (Lisboa) e as temáticas a que tal realização (IV Encontro) irá ficar subordinada no corrente ano de 2006 (RECRUTAMENTO E SELECÇÃO DE MAGISTRADOS/FUNCIO-NAMENTO DO SISTEMA JUDICIAL E DE-SENVOLVIMENTO ECONÓMICO).

Por outro lado, este órgão e o Consejo Gene-ral del Poder Judicial tiveram a oportunidade de se reunir em Barcelona, durante o mês de Novembro de 2000, com vista a discutirem matérias de inte-resse comum, incentivarem os laços institucionais e aprofundarem a cooperação internacional, tendo tal Encontro sido organizado pelo nosso congénere espanhol, impondo-se agora ao Conselho Superior da Magistratura implementar em Portugal uma nova reunião, cabendo-lhe a organização e os cus-tos da mesma, o que continua em agenda, logo que haja meios financeiros para o efeito.

Conforme já anteriormente aludimos, o Con-selho Superior da Magistratura encomendou, numa iniciativa inédita, ao Gabinete de Auditoria e Mo-dernização - Ministério da Justiça um estudo sobre “Contingentação Processual” na área penal, que, na sua perspectiva, apresentou resultados muito sa-tisfatórios, tendo, nessa sequência, solicitado a Sua Excelência a Ministra da Justiça que, ao abrigo do protocolo que mantém com o Observatório Per-manente da Justiça, desencadeasse a segunda fase datalEstudo,alargando-oàsoutrasjurisdições,oque, efectivamente, veio a acontecer, com a publi-citação, pelo Observatório Permanente da Justiça, da segunda fase desse projecto – Contingentação na Justiça Cível (o que foi feito durante o III En-contro do CSM, realizado em Novembro, na cidade do Porto).

Noâmbitodascomemoraçõesdos25anosdoConselho Superior da Magistratura ficou prevista a edição de uma obra denominada “Estudos emHomenagem do Conselho Superior da Magistratu-ra”,sendodeponderarasuaorganizaçãoepubli-cação durante o ano de 2007 (dado que não houve condições para efectivar tal publicação durante o corrente ano de 2006, mercê de constrangimentos

de tempo e serviço sofridos pela Universidade es-colhida) - para consecução de tal objectivo, foram efectuados diversos contactos com Universidades Portuguesas, com o propósito de lhes encomen-dar a realização de estudos, a serem integrados na referida obra, e referentes à história institucionaldo Conselho Superior da Magistratura e da pró-pria magistratura portuguesa, tendo sido escolhida a Universidade do Minho para concretização dos mesmos, vindo a ser efectuado um prolongado e exaustivo trabalho de investigação relativamente ao enorme acervo de documentação que se encontra arquivada no Conselho Superior da Magistratura e na DGAJ, esperando-se, igualmente, que, a curto prazo, nos sejam apresentados os primeiros frutos desse trabalho (durante o ano de 2005 e 2006, fo-ram efectuadas pelos investigadores em causa di-versas entrevistas a Magistrados Jubilados).

No âmbito da pesquisa universitária relati-vaàhistóriaeactividadedoConselhoSuperiordaMagistratura ao longo destes 29 anos de funciona-mento, que se encontra igualmente mencionada no presente Plano de Actividades, impõe-se prever a publicação de uma monografia que congregue os resultados de tal investigação.

Também no quadro das diversas outras rea-lizações levadas a cabo por este órgão nestes três últimos anos, sempre foi equacionada a posterior edição das conferências ou intervenções proferidas no decurso das mesmas (totalidade ou parte), pro-pósito esse que saiu reforçado com a publicação em Setembro de 2005, pela Coimbra Editora, das Con-ferências levadas a cabo durante o II Encontro do CSM, realizado em Faro nos dias 3 e 4 de Dezem-bro de 2004, estando prevista a posterior publica-ção pela mesma Editora de todas as Conferências realizadasnoâmbitodos subsequentesEncontrosAnuais do CSM.

O Ponto de Contacto da Rede Judiciária Eu-ropeia em Matéria Civil e Comercial, no quadro das suas funções, propõe a edição de uma obra de divulgação, em diversos volumes, dirigida funda-mentalmente para o cidadão comum, que preten-da utilizar os serviços da justiça, devendo a mes-ma reunir o conjunto das fichas por ele elaboradas,

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constituindo as referentes a “Assistência judici-ária”, “Acessoaodireito”, “Princípiosdo sistemajurídico eorganização judiciária”, “Regrasnacio-naisemmatériadecitaçãoenotificaçãodosactos”,“Competência dos tribunais”, “Responsabilidadeparental”,“Divórcio”e“Prestaçõesalimentares”,oprimeiro Volume desse trabalho, com um número mínimo proposto de 50 000 exemplares e com cer-ca de 150 páginas, estando em fase de elaboração e/ou compilação as fichas que deverão integrar o segundo Volume desse projecto.

O Boletim do Conselho Superior da Magis-tratura deu, indiscutivelmente, durante os anos de 2004 a 2006, quer em termos de imagem gráfica, quer ao nível de conteúdos, um salto qualitativo que importa salientar e reforçar.

Finalmente,importará,emconsonânciacoma profunda reestruturação funcional e administra-tiva que se deseja, decorrente da prometida apro-vação da Lei Orgânica do Conselho Superior daMagistratura, organizar e editar uma brochura ou um folheto que apresente, digna, eficaz e institu-cionalmente, o Conselho Superior da Magistratura a todas aquelas entidades ou cidadãos, nacionais ou estrangeiros, que o visitem ou o contactem com o propósito de conhecerem os aspectos mais relevan-tes da sua história, estrutura e actividade, impon-do-se a sua publicação em três idiomas: português, francês e inglês.

Uma curta palavra para as actividades a de-senvolver na área da cooperação internacional e que pretendem dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser realizado pelo Conselho Superior da Magistratura, nessa matéria, nestes últimos anos, tal como a sua presença na Rede IBERIUS, nos En-contros dos Conselhos Superiores da Magistratura do espaço Ibero-Americano, nos protocolos esta-belecidos com outros Conselhos Superiores, nos encontros temáticos organizados com outros Con-selhos (veja-se o caso de Espanha, em 2006 – En-contros Transfronteiriços), na criação e participação numa Rede Europeia de Conselhos de Justiça, que visa congregar os Conselhos Judiciários que exis-tem no espaço europeu, bem como em encontros e reuniões com Conselhos de outras zonas do Mun-

do(UniãoEuropeia,Ucrânia,etc.),encontrando-seeste órgão seriamente interessado no reforço dos la-ços e no estreitamento da cooperação com os Con-selhos e as magistraturas judiciais dos diversos paí-sesdeexpressãoportuguesa(tem-se,nesseâmbito,assistido a um significativo acréscimo das acções de formação e de cooperação com tais Estados, com particularrelevânciaparaTimor,Angola,S.Tomée Príncipe, Cabo Verde e Guiné).

Nessa mesma área da cooperação internacio-nal, convirá ainda referir o papel do Conselho Su-perior da Magistratura na designação de magistra-dos judiciais portugueses para o Tribunal Europeu dosDireitosdoHomem,parainstânciasjudiciáriasda União Europeia, para o Conselho Judiciário ou tribunais da Bósnia/Herzgovina, para os tribunais do território de Macau, de Timor, etc.

No quadro da colaboração com diversos orga-nismos e entidades nacionais e, sem prejuízo de ou-tras iniciativas em que este órgão venha a cooperar, tenha-se em consideração – na sequência do sucesso obtido pelos seminários organizados pela DECO e pela AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA, com a colaboração do Conselho Superior da Ma-gistratura,subordinadosàtemática“OTribunaleoDireitoEuropeudaConcorrência”equecontoucom a participação de inúmeros juízes de todos os Distritos Judiciais –, o interesse manifestado por este órgão, junto daquelas organizações, no sentido darealizaçãodesemináriosidênticosàqueles,du-rante o ano de 2007, com outros temas relevantes.

Como já anteriormente se referiu, o Conselho Superior da Magistratura tem a funcionar, desde Marçode2003,asua“página”institucional,naIn-ternet, tendo sido lançado, em Outubro de 2005, oseunovoportal(novo“design”econteúdos),nãose deixando de referir que este projecto ambicioso ainda carece de muito trabalho, quer no que res-peitaàrecolhaepreparaçãodomaterialadivulgarem algumas das rubricas (actualmente, em manu-tenção)daquele“sítio,comoaindanoquerespeitaàedição,eminglêsefrancês,dastemáticaspubli-cadas em língua portuguesa (admitindo-se a sua síntese ou simplificação, no que respeita a alguns dos conteúdos) – pretende-se abrir um “Fórum

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24 Boletim Informativo - Dez.2006

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para Magistrados”eumaimplementaçãodos“Ser-viçosaoCidadão”,paraaqualpoderãoserrelega-das muitas das queixas feitas por cidadãos contra o funcionamento da Justiça.

SÍNTESE DAS ACTIVIDADESENUNCIADAS

A- Organização de eventos1. V Encontro Anual do Conselho Supe-

rior da Magistratura – 2 dias – 125 participan-tes), encontrando-se o tema, local e a data ain-da por definir;

2. Encontro entre o Conselho Superior da Magistratura e o Conselho Superior da Justi-ça da Ucrânia, coincidente em parte com o V Encontro Anual do Conselho Superior da Ma-gistratura (3 ou 4 dias - 5 membros da delegação ucraniana + intérprete);

3. (Eventual) Encontro entre o Conselho Su-perior da Magistratura e o Consejo General del Po-der Judicial (2 dias - 30 participantes - pagamen-to da estadia e alimentação por parte do Conselho Superior da Magistratura aos membros do Consejo General del Poder Judicial);

B- Estudos encomendados pelo Conse-

lho Superior da Magistratura 4. Estudo relativo à história do Conselho

Superior da Magistratura, a cargo da Universi-dade do Minho

5. Um outro Estudo que o Conselho Su-perior da Magistratura entender por conve-niente mandar realizar

C- Edição de Publicações 6. Edição da obra “ Estudos em homena-

gem do Conselho Superior da Magistratura a propósito dos seus 25 anos “ (Livro/CD-Rom)

7. Edição pela COIMBRA EDITORA da obra que congregará as intervenções proferi-das no IV Encontro Anual do CSM (a realizar me Novembro de 2006, em Lisboa)

8. Edição de monografias ou outro tipo de publicação que tenha por objecto os resulta-dos de estudos ou projectos já realizados, que estão a decorrer (v.g., “contingentação proces-sual”) ou que possam ainda vir a ser contrata-dos pelo Conselho Superior da Magistratura;

9. Monografia referente à pesquisa efec-tuada pelas Universidades Portuguesas rela-tivamente à história e actividade do Conselho Superior da Magistratura;

10. Edição de uma obra de divulgação das fichas que se encontram a ser elaboradas pelo Ponto de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial, que visa o cida-dão utente da justiça (um ou dois Volumes)

11. Publicação do Boletim Informativo do Conselho Superior da Magistratura (duas edições normais - em Janeiro e Setembro de 2007);

12. Brochura de apresentação do Conse-lho Superior da Magistratura (500 exempla-res), em português (250), francês (125) e inglês (125)1

13. Lançamento de «ESTUDOS DE HOME-NAGEMAOEXMºJUIZCONSELHEIRODR.JORGE ARAGÃO SEIA»

E – Cooperação e Relações Internacionais14. Ponto de Contacto – Rede Judiciária

Europeia em matéria civil e comercial15. Rede Iberius (em cooperação com os

Conselhos Superiores da Magistratura dos paí-ses latino-americanos)

16. Cooperação com os países de expres-são portuguesa

17. Cooperação com outros países ou ter-ritórios

18. Encontros de Conselhos Superiores da Magistratura (Latino-americanos, europeus, africanos, etc.)

F – Outros Projectos19. Colaboração com diversas entidades e

1IniciativadependentedaaprovaçãodaLeiOrgânicadoCSM

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 25

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organismos nacionais na realização de Cursos, Conferências e Seminários e outras iniciativas

20. Página da Internet do Conselho Supe-rior da Magistratura –

- funcionamento integral da mesma, com todas as suas rubricas disponíveis e actualizadas

- tradução para inglês e francês (síntese da versão portuguesa)

III - OUTRAS ACTIVIDADES O Conselho Superior da Magistratura, para

além da actividade acima delineada para o ano de 2007, será ainda confrontado, dentro das suas nor-mais atribuições, com as seguintes realizações:

• Movimento Judicial Ordinário de Julhode 2007

• ServiçodeInspecçõesJudiciais,compostopor 20 Inspectores Judiciais e 20 Secretários Judiciais, com base no novo Regulamento das Inspecções Judiciais e no Plano Anual de Inspecções elaborado e aprovado para o ano de 2007, ao abrigo desse novo regime jurídico e que tem por principal inovação a avaliação de todo o serviço desempenha-do pelos juízes desde a última inspecção a que foram sujeitos, independentemen-te dos tribunais judiciais em que foi de-senvolvido, obrigando, a exemplo do que aconteceu durante 2006, e para esse efeito, as 20 equipas inspectivas deste Conselho a um número muito superior de deslocações, com os inevitáveis reflexos ao nível dessas despesas e ajudas de custo (continuando a admitir-se a proposta de aumento do qua-dro de Inspectores Judiciais/secretários de inspecção, caso se verifique que o actual númeronãoserevelaadequadoàsnecessi-dades de serviço);

• Visitas por parte dos membros do Con-selho Superior da Magistratura a diversas comarcas e círculos judiciais do país (Con-tinente e Ilhas), com o inevitável reflexo

ao nível das ajudas de custo e despesas de deslocação;

• Eventualrealizaçãodescentralizadadeal-gumas reuniões deste órgão nos diversos Distritos Judiciais do país, igualmente com reflexo ao nível das ajudas de custo e despesas de deslocação;

• OrganizaçãodoprocessoeleitoraldoCSM(e já que o triénio desta equipa hoje aqui laborante termina em 1/4/2007).

IV - DESPESAS DE REPRESENTAÇÃO/DESLOCAÇÃO / AJUDAS DE CUSTO O Conselho Superior da Magistratura tem

vindo a diversificar e intensificar as relações com os Conselhos Superiores da Magistratura de outros países, sendo de destacar os dos espaços latino-ame-ricano, europeu e africano, impondo-se prosseguir esse trabalho de aproximação, colaboração e afirma-ção deste órgão, com a necessária previsão ao nível das despesas de representação e ajudas de custo, de forma a permitir uma presença regular dos mem-bros deste Conselho em tais reuniões, encontros e contactos.

Também o Ponto de Contacto da Rede Judi-ciária Europeia em Matéria Civil e Comercial tem agendado anualmente um número de deslocações ao estrangeiro que importa garantir, através da in-clusão em rubrica própria das necessárias verbas (estadia e ajudas de custo).

Por outro lado, pode o Conselho Superior da Magistratura estar interessado em designar e su-portarasdespesasreferentesàdeslocaçãoeestadiade um representante seu junto de organismos ou eventos internacionais, importando contemplar tal possibilidade em termos orçamentais.

Finalmente, remete-se para o que se deixou referido no Ponto anterior relativamente ao acrés-cimo de deslocações por parte dos serviços de ins-pecção deste Conselho e do correspondente acrésci-mo de ajudas de custo e outras despesas, devendo considerar-se igualmente o aumento de encargos decorrente do programa de visitas aos tribunais por

Conselho Superior da Magistratura

26 Boletim Informativo - Dez.2006

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parte dos membros do Conselho Superior da Ma-gistratura, bem como da realização descentralizada de diversas reuniões deste órgão.

A este propósito, convirá alertar o Ministé-rio da Justiça para os graves problemas com que o Conselho Superior da Magistratura se tem debati-do, a nível orçamental, durante o corrente ano de 2005 e 2006, relativamente a este tipo de despesas, faceàescassezdadotaçãorespectiva,apesardoteordo Plano de Actividades relativo ao presente ano e que visou justificar a correspondente proposta de orçamento.

Assim:1º- Membros do Conselho Superior da

Magistratura ■ Deslocação às reuniões na América La-

tina no âmbito da Rede IBERIUS e dos encon-tros entre os Conselhos da Magistratura Lati-no-americanos (4 deslocações x 2 membros)

■ Deslocação a outros Estados (3 deslo-cações x 4 membros)

■ Visitas a tribunais (Continente e Ilhas)■ Realização descentralizada de algumas

reuniões do Conselho Superior da Ma-gistratura

2º- Ponto de Contacto ■ Ver Orçamento apresentado 3º- Outros juízes em representação do

Conselho Superior da Magistratura (6 desloca-ções x 1 magistrado judicial)

4º- Serviços de Inspecção

V - RECURSOS HUMANOS Como ponto prévio, está por definir ainda se,

durante o ano de 2007, para alem dos vogais juízes a tempo integral, não passará o Conselho a con-tar com um ou dois vogais eleitos pela Assembleia da República subordinados a esse mesmo regime, impondo-se a previsão dos vencimentos correspon-

dentes e demais encargos, em sede da proposta de orçamento para o ano de 2007.

Por outro lado, este órgão tem vindo a equa-cionar a necessidade de aumentar o quadro de Ins-pectores Judiciais e de Secretários de Inspecção, ponderando-se o acréscimo desse número em mais três inspectores judiciais e mais três secretários judiciais, sendo que um dos Inspectores Judiciais poderá ser um Juiz-Conselheiro, atenta a crescen-te necessidade, sentida por este Conselho, relati-vamente ànomeaçãodemagistrados judiciaisdoSupremo Tribunal de Justiça, quer no activo, quer jubilados, para instruírem processos inspectivos, de averiguações, de inquérito ou disciplinares rela-tivos a juízes desembargadores.

A reestruturação profunda de que o Conselho Superior da Magistratura irá, necessariamente, ser objecto no ano de 2007 e seguintes, reflecte-se, ob-viamente, num maior número, diversidade e quali-ficação dos seus funcionários, bem como na admis-são de assessores para coadjuvarem os membros a tempo permanente deste órgão, convindo, todavia, definir o quadro efectivo de assessores e pessoal a preencher no próximo ano, de forma adequada e sensata, com vista a evitar desperdício de recursos.

Neste particular, remete-se para a proposta de Lei Orgânica do CSM e para o amplo núme-ro de Gabinetes aí previstos.

VI – OBRAS FaceànovaorgânicadoConselhoSuperiorda

Magistratura, que implica um aumento de sectores e do quadro de pessoal, será necessário aproveitar ao máximo o espaço existente, com a eventual divisão de compartimentos maiores em dois, encerramento do espaço de entrada, etc.

O ideal seria alargar a actividade do Conse-lho Superior da Magistratura ao 3.º andar, ou pelo menos a parte do mesmo, dado o espaço existente nos restantes pisos já ocupados pelos serviços deste órgão não se revelar, pelo menos a médio prazo, su-ficiente para albergar todos os seus novos sectores e funcionários (impondo-se desenvolver negociações com o Tribunal da Relação de Lisboa e com o Mi-

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Dez.2006 - Boletim Informativo 27

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nistério da Justiça, com vista a tentar libertar esse espaço).

Importa também dotar os novos espaços das infra-estruturas necessárias ao seu eficaz e cabal funcionamento.

Impõe-se criar novos espaços de arrumação (arquivo), lutando o Conselho com progressivas di-ficuldades nessa área, sendo certo que ainda não se encontra definido o sistema de destruição ou arqui-vo dos processos administrativos e restante docu-mentação deste órgão.

Prevê-se ainda a possibilidade de a DGAJ enviar para o CSM todos os processos individuais, aí arquivados, referentes a Magistrados Judiciais, concentrando-se, assim, no CSM toda essa docu-mentação historicamente relevante e muito rica.

VII - EQUIPAMENTO A anunciada reestruturação dos serviços do

Conselho Superior da Magistratura implica, obvia-mente, com a definição de novos sectores e o au-mento do quadro de pessoal, a ocupação de novos espaços, a criação dos necessários postos de traba-lho, a aquisição do equipamento de escritório, in-formático, administrativo, o reforço de outro mate-rial de uso geral (ar condicionado, fotocopiadoras, faxes, telefones, etc.) dado que o existente se revela manifestamente insuficiente para satisfazer as no-vas necessidades colectivas.

Importa, por outro lado, continuar a valori-zar o auditório existente no 5.º andar, com vista a optimizar a sua utilização, prevendo-se a colocação de um sistema de som, gravação e tradução simul-tânea(móveis),sendocertoqueacabinaparaesseefeito já existe.

Dando cumprimento a diversas deliberações desteConselhono sentidodo reforçoda vigilân-cia e segurança do edifício, é premente adquirir e instalar o equipamento que se revelar necessário ao cumprimento definitivo desse desiderato.

Finalmente, impõe-se dotar a biblioteca, bem como os gabinetes do Vice-Presidente, Vogais, Juiz-Secretário e Ponto de Contacto com as obras e legislação fundamental ao prosseguimento eficaz e

juridicamente apoiado das suas atribuições.No que respeita ao parque automóvel deste ór-

gão, verificou-se, em 2006, a afectação ao serviço do CSM de um novo veículo para o Vice-Presidente.

NECESSIDADES:• Aquisição de um equipamento de som,

gravação e tradução para o auditório do 5.º andar, com possibilidade de ser utilizado noutros espaços do Conselho Superior da Magistratura

• Estantesdeferro(arquivo/biblioteca)• Equipamento informático diverso (com-

putadores portáteis - serviços de inspecção e vogais - equacionar a possibilidade de atribuir computador aos Inspectores Ju-diciais que o solicitarem + computadores fixos para os assessores e funcionários do Conselho Superior da Magistratura)

• Equipamentodereforçodasegurançaevi-gilânciadoedifício

• Aquisiçãodelivrosparaabibliotecaega-binetes do Vice-Presidente e vogais per-manentes / Ponto de Contacto

VIII - INVESTIMENTOS OConselhoSuperiordaMagistratura,faceà

reestruturação que se anuncia, tem de se moderni-zar e retirar todos os benefícios que as novas tec-nologias lhe podem conferir, importando apostar, nomeadamente, nas seguintes áreas e vertentes, com os custos inerentes, sem prejuízo de eventuais comparticipações/protocolos com Universidades e com o Instituto das Tecnologias e Informatização da Justiça:

• Desenvolvimento de aplicações informá-ticas com vista a automatizar, até onde for possível, os movimentos judiciais dos juízes (projecto em curso, da responsabili-dade técnica do Instituto das Tecnologias e Informatização da Justiça, testado em 2005, com pouco sucesso, face a falhas e demorasdosistema,noqueconcerneàin-trodução dos dados – dos requerimentos

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28 Boletim Informativo - Dez.2006

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do Movimento, apresentados pelos Juízes - no sistema informático)

• CriaçãodeBasesdeDados(juízesetribu-nais) - projecto em curso, da responsabili-dade técnica do Instituto das Tecnologias e Informatização da Justiça

Também no que respeita aos documentos e processos arquivados, importaria equacionar, por razões de espaço e protecção da documentação mais importante, as seguintes duas questões, com a con-tratação de empresas especializadas nessa área:

• Levantamentodadocumentaçãoeprocessos arquivados no Conselho, com vista a de-finir aqueles que poderão ser destruídos e aqueles que devem ser mantidos;

• Digitalização dos livros de actas e outradocumentação considerada importante, por razões históricas, políticas, adminis-trativas e outras;

• Arquivo noutro local/entidade da docu-mentação que for mantida e que se enten-da só ter valor histórico ou natureza similar (arquivo morto) e que, por tal razão, não tem reflexos no serviço deste Conselho.

IX - DIVERSOS O Conselho Superior da Magistratura deba-

teu-se sempre, enquanto serviço simples ou deri-vado, com limitações a nível legal e orçamental, que o impediram de assumir determinados encar-gos e compromissos, mesmo quando tais despesas se revelavam fundamentais ao normal e adequado funcionamento deste órgão, tornando-o dependen-te da disponibilidade e compreensão de outros or-ganismos e entidades.

Sendo assim revela-se essencial garantir em rubricas próprias a possibilidade de aquisição dos bens e serviços que lhe permitam, finalmente, re-ceber condignamente delegações de membros do Governo, Deputados, outros Conselhos Superiores da Magistratura, Tribunais Superiores, Escolas da Magistratura, Universidades, etc., bem como des-locar-se em circunstâncias, condições e estatutoconcordantescomoseupapeleimportânciainsti-

tucionais a outros países e organismos internacio-nais.

È igualmente imprescindível assegurar uma informação permanente e actualizada aos membros do Conselho Superior da Magistratura, assim como criar-lhes as condições adequadas de trabalho.

Por outro lado, como ressalta do que se foi deixando exposto ao longo do presente Plano de Actividades, importa assegurar uma verba que:

• suporte, juntodeempresasespecializadas(o CSM tem-se socorrido, até agora, e des-de Setembro de 2004, do Núcleo de Tra-dução Jurídica da Universidade Católica de Lisboa), a retroversão dos textos que integrarão a Brochura, Boletim, Página da Internet e outras edições do Conselho – para além dos textos a apresentar por membros do CSM em reuniões internacio-nais -, o que pode ser suprido ou comple-mentado com a admissão de um tradutor licenciado - inglês/francês - para o Quadro do Conselho Superior da Magistratura,

• garanta meios para suportar o custo darecolha e gravação de imagem e som (fo-tografia, vídeo, CD-Rom, etc.), dado que importa ir registando os momentos mais importantes da actividade e vida do Con-selho, quer para efeitos do seu arquivo institucional, quer para integrarem o bo-letim, a brochura e a página da Internet.

• garanta opagamentode eventuais custasprocessuais, em caso de condenação do CSM em recursos contenciosos no STJ.

X - NOTA FINAL Reitera-se aqui o que se deixou escrito no Pla-

no de Actividades para o Ano em curso - o Conse-lho Superior da Magistratura, como órgão superior do Estado a quem cabe a gestão e disciplina da ma-gistratura judicial, não pode ver o seu normal fun-cionamento, bem como as diversas actividades que pretende desenvolver, ser seriamente prejudicado pela escassez dos meios orçamentais a ele afectos (quer originariamente, quer, posteriormente, por

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 29

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cativação ou transferência de verbas), com os ine-vitáveis reflexos negativos nas suas capacidade de intervenção e imagem institucional.

Tal situação já ocorreu nos anos de 2003 a 2006 e tem vindo a verificar-se ao longo do cor-rente ano, com o esgotamento prematuro de diver-sas rubricas (viagens, ajudas de custo e despesas de representação, quer dos seus membros, como do Ponto de Contacto e dos serviços de inspecção) e insuficiência de outras (renda das instalações, ven-cimentos).

O Conselho Superior da Magistratura conti-nua a acreditar que o Poder Executivo terá uma atitude para consigo, substancialmente diferente relativamenteàsituaçãovividaatéhoje,apelando,

com base nas suas prementes carências, ao Minis-tério da Justiça e aos demais órgãos do Estado res-ponsáveis pela definição, qualitativa e quantitativa, do seu orçamento para o ano de 2007.

Uma promessa está feita com a publicação da LeiOrgânicadoCSMpara1/1/2007,oqueorigi-nará, sem qualquer dúvida, um novo desafio para esta instituição e uma nova etapa no seu caminho. O futuro – e aquilo que dele formos capazes de fazer – nos ditará trilhos e soluções…

Lisboa, 1 de Setembro de 2006

O Juiz Secretário do CSM(Paulo Guerra)

Conselho Superior da Magistratura

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O ENCONTRO

Realizou-se de 29 de Maio a 2 de Junho de 2006 em Donostia - San Sebastián, cidade onde se encontra sediado o Centro de Documentación Judicial (CENDOJ) do Consejo General del Poder Judicial (C.G.P.J.) de Espanha, o II Encuentro Ibero-americano de Responsables de Centros de Documentación Judicial de la Red IberIUS, organizado pelo Consejo General del Poder Judicial - Centro de Documen-tación Judicial.

O Encontro dirigiu-se aos responsáveis dos Centros de Documentação Judicial da Rede Ibe-rIUS, tendo contado com as participações de vinte países Ibero-Americanos membros da Rede.

Durante o Encontro, os representantes dos países presentes fizeram uma breve apresentação sobre o estado de desenvolvimento dos Centros de Documentação Judicial dos Países Membros da Rede IberIUS, falando, designadamente:

- DasituaçãoorgânicadoCentroouUnida-de de Documentação na instituição;

- Dos serviços que presta o Centro/Unidade;- Dos planos de actuação a médio e curto

prazo; - Da infra-estrutura técnica e humana; - Da identificação de necessidades de forma-

ção imediatas e futuras com base no pessoal actual;

- Dos contributos e referências aos conteúdos possíveis da Intranet de Centros de Docu-mentação

Portugal, através da exponente, fez uma breve apresentação em Power Point e entregou uma outra

“II Encuentro Iberoamericano de Responsablesde Centros de Documentación Judicial de La Red Iberius”

(http://www.iberius.org)

Organizado pelo Consejo General del Poder Judicial de EspanhaCENDOJ – Centro de Documentación Judicial Donostia-San Sebastián,

Espanha 29 de Maio a 2 de Junho de 2006

apresentação mais pormenorizada sobre as compe-tências do Conselho Superior da Magistratura, Diá-rio da República Electrónico, DIGESTO - Sistema Integrado para o Tratamento da Informação Jurídi-ca e ITIJ – Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça, no tratamento, recopilação e difusão da documentaçãosurgidanoâmbitodaactividadeju-diciária em Portugal. Foi entregue o Tercer Cuestio-nario básico sobre la documentación judicial.

Seguidamente decorreram as Jornadas de Tra-balho da Unidade Técnica de Tecnologia e da Uni-dade de Informação e Documentação, que se reuni-ram separadamente com o objectivo de definirem objectivos, actuações e designarem coordenadores, na sequência do que foram apresentadas as respec-tivas propostas.

Por fim, o Exmo. Sr. D. Francisco José Her-nando Santiago, Presidente do Consejo General del Poder Judicial de Espanha, leu as Conclusões das Jornadas de Trabalho da Unidade de Informação e Documentação e da Unidade de Tecnologia, su-blinhando, desde logo, a sua importância comopreparatórias para a Cumbre Judicial Iberoamericana, a realizar nos dias 21 e 22 de Junho em Santo Do-mingo na República Dominicana.

Enfatizou o papel do Portal IberIUS como instrumento efectivo da difusão da informação cor-porativaeespaçodepartilhade“melhorespráticas”a aproveitar por todos os membros da Rede. Tal objectivo pode ser atingido se cada país se compro-meter na realização das tarefas constantes nos ane-xos. Sobretudo, sublinhou, é preciso não esquecer que a finalidade da Red IberIUS é a de que cada país aposte, decididamente, no impulso de cada Centro

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Dez.2006 - Boletim Informativo 31

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de Documentação Judicial Nacional, de maneira a proporcionar aos juízes de cada país o acesso a ser-viços de documentação próprios efectivos que dis-ponibilizem a legislação, jurisprudência e doutrina jurídicaatravésdasnovastecnologiasnecessáriasàsua função jurisdiccional. Caberá aos Poderes Judi-ciais implicados assumir o compromisso de impul-sionar efectivamente o Projecto Nacional de cada um, através da adopção de medidas mais efectivas. Neste sentido, o próximo Encontro deverá contar, para além dos responsáveis técnicos, com a presen-ça dos responsáveis judiciais que possam observar directamente as melhores práticas nacionais, apos-tando no impulso do projecto nacional respectivo.

SITUAÇÃO DOS CENTROS DE DOCU-MENTAÇÃO JUDICIAL RELATIVAMENTE À REDE IBERIUS E AVALIAÇÃO DA SUA POSIÇÃO ESTRATÉGICA:

Após avaliação das actuações planificadas para 2005, identificaram-se as actividades desenvolvi-das (Revista IberIUS e Foro de Desenvolvimento), e as que ficaram pendentes (Informação da audito-ria acerca dos conteúdos do portal) e porquê.

Concluiu-se que o cumprimento dos prazos passa pela necessidade de uma maior implicação dasinstituiçõespertencentesàRedeepornotificara Secretaria Técnica (Espanha) das mudanças pro-duzidas relativamente ao vínculo entre instituição e IberIUS.

Publicou-se o n.º 1 da Revista IberIUS, está em publicação um n.º 2, e definiram-se os temas para os próximos quatro números da Revista.

O Foro de Desenvolvimento, iniciado em 2005, não obteve qualquer êxito, sendo um espaço pou- co visitado. Assim, em vez do Foro, planeou-se a pos- sibilidade de criar comunidades virtuais com ob-jectivos diferentes, que ora atendam as necessidades do trabalho em grupo das unidades de informação, ora atendam as necessidades de apoio técnico.

Revelou-se necessário desenhar e dinamizar as Ferramentas de Comunicação (foros, chats, etc.) do portal web,comvistaàpartilhadedocumentação.

RelativamenteàRevista,sentiu-seanecessi-

dade de dar início a actividades que a difundam, sugerindo-se um compromisso de todos os países no sentido de que incluam, de forma destacada, uma ligação a esta página.

Por fim, entendeu-se que é possível alcançar aintegraçãonaestruturaorgânicadecadapaís,sese realçar o valor acrescentado (padrões tecnológi-cos para fortalecer os Centros de Documentação, identificação das necessidades comuns, identifica-ção de equipas de trabalho que dominem matérias comuns, padrões de criação de Centros de Docu-mentação, estrutura orgânica, estrutura tecnoló-gica, trabalho em colaboração e, por fim, expe- riências de implementação de projectos como, por exemplo, a assinatura electrónica) da informação partilhada nos portais públicos e privados da Rede IberIUS. Ao obter um inventário do valor acres-centado e conhecimento do mesmo pode-se inte-grá-lo conceptualmente nos planos estratégicos de desenvolvimento dos centros de documentação de cada país, com um impacto positivo, indirecta ou directamente, nos Juízes e outras comunidades do Poder Judicial.

CONTEÚDOS DO PORTAL

Procurou-se determinar se os conteúdos pro-postos e implementados no Portal Público se ajus-tavam às necessidades do seu objectivo público,bem como se havia duplicação de informação e dos serviços disponíveis. Neste sentido considerou-se adequada e actualizada a Informação de carácter institucional. Entendeu-se que a Informação rela-tiva aos Centros de Documentação deverá passar a conter a identificação clara da instituição que faz parte da rede e não apenas a unidade dentro da mesma. Já a Informação jurídica básica dos países membros localizadanoespaço“Miembros”,deveráincluir o texto consolidado dos diplomas básicos, devendo o texto estar redigido com todas as mo-dificações sofridasatéàdata, considerando-seva-lor acrescentado referir o diploma que introduziu as alterações.Quanto à Jurisprudência, cada país deverá inserir uma ligação aos sistemas de recu-peração que os diferentes centros tenham posto

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àdisposiçãode toda a comunidade, eno casodetal não existir dever-se-á incluir o texto: Datos no disponibles. Relativamente ao Órgão de Governo e Tribunal Supremo solicitou-se a colaboração da Unidade de Tecnologia no sentido de atribuir novo formatoàdita informação,umavezqueoactualformato em html apresenta problemas na sua ela-boração. Assim, os documentos deverão ter todos a mesma estrutura sendo encabeçados em nome da instituição (que deve ser navegável, ligando-se àpágina web) e contendo três blocos de informação: no caso do Tribunal Supremo (história do tribunal, história da sede e presidentes), e no caso do Órgão do Governo (competências, história, composição). Por último, considerou-se adequada a estrutura de-finida para a organização do Directório de Justiça, não se requerendo mais categorias de ligações. O seu preenchimento exige a consulta dos manuais e/ou a Secretaria.

OsespaçosdedicadosàprópriaRedeInforma-ção, Documentos e Encontros e Formação, conside-raram-se adequados e claros. Requereu-se a assesso-ria da Unidade Técnica de Informática no sentido de incluir formatos PPT, já que algumas das apre-sentações dos cursos são feitas neste formato.

A gestão de documentos, como o “Códigoprocessualmodelo”,comunsatodaacomunidadejurídica Ibero-americana levanta dificuldades, pelo que a inexistência actual de espaço para tal sugeriu a criação de um título denominado Outros ou então a sua restrição a uma área privada.

Para a inserção de ligações de interesse de âmbitosupraregionaleinternacional(dacompe-tência da Secretaria Técnica) solicitou-se a todos os participantes a possibilidade de sugerir recursos, remetendoosmesmosàdirecçãocorporativa.

CRIAÇÃO DE NOVOS SERVIÇOS

Propôs-se a criação de novos serviços, a saber:- Carta de Serviços: a estrutura deste novo

documento deverá oferecer informação so-bre as funções do Centro de Documentação, a comunidade a que presta serviços, bem como uma apresentação esquemática dos

serviços (serve como modelo a Carta de Ser-viços do CENDOJ de Espanha).

- Biblioteca Virtual de Documentação: ideia de um repositório com acesso restrito e que poderá vir a cumprir com as expectativas delineadasnoespaço“Estudossobreotra-tamentodadocumentaçãojudicial”.

- Tesauro Jurídico Ibero-americano: ideia de criação de um tesauro como um instrumen-to de trabalho para todos os juízes e magis-trados Ibero-americanos.

- Agenda Ibero-americana: este serviço terá por finalidade a recolha de informação so-bre todos os acontecimentos mais relevan-tes de cada país em relação aos Centros de DocumentaçãoeàDocumentaçãoemgeral(cursos, actividades, visitas, etc.) adquirin-do-se o compromisso da sua actualização.

FERRAMENTA DE GESTÃO:

A Unidade Técnica concordou continuar o objectivo proposto no Encontro celebrado em No-vembro de 2004, que consiste em contribuir com recomendações que ajudem a simplificar o processo deutilizaçãodaferramentaparaointercâmbiodeinformação nos Centros de Documentação. O re-sultado da auditoria realizado ao Portal da Rede IberIUS preverá mecanismos para utilizar a ferra-menta de forma mais ágil e segura, tendo-se levado a cabo uma revisão do desenho, funcionalidade e segurança.

As conclusões são as seguintes:1. Desenho: Recomendação no sentido de im-

plementação de um padrão de uniformida-de na navegação.

2. Funcionalidade: Recomendação no sentido de se eliminar toda a referência a funciona-lidades que não estejam activas.

3. Funcionalidade: Recomendação no sentido de se acrescentar a ferramenta de criação de comunidades virtuais.

4. Funcionalidade: Recomendação no sentido da criação de foros de discussão para discu-tir cada exemplar da Revista.

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5. Funcionalidade: Recomendação para que se estabeleça um procedimento claro de como solicitar a criação de foros e comunidades virtuais e de como os administrar.

6. Funcionalidade: Recomendação no senti-do de se estabelecer um procedimento de como notificar incidências técnicas relati-vas ao portal.

7. Funcionalidade: Recomendação no sentido de se simplificar a ferramenta de carga, eli-minando os requisitos de conhecimento de html.

8. Segurança: Recomendação no sentido de se estabelecer um procedimento claro de ad-ministração de contas de acesso.

9. Segurança: Recomendação no sentido de se actualizar a lista de contas de acesso, de ma-neira a que cada representante receba nova-mente a sua identificação de usuário e a sua chave.

PLANO DE ACTUAÇÕES 2006-2007a) Sobre a carga de documentação (área de gestão):

A Secretaria Técnica é responsável pela área de gestão.

Relativamenteàsactuaçãoeresponsabilidadesdesignou-se um coordenador (Honduras) com fun-ções de seguimento e controlo sobre os conteúdos a introduzir no prazo de um mês, devendo, para tal, ser-lhe comunicados quaisquer problemas que surjam para o cumprimento dos prazos e eventuais ajudas na resolução dos problemas relacionados.

Deverá incluir-se as recomendações incluídas na informação de auditoria (Responsável da Uni-dade,Espanha)nodocumento “RequisitosMíni-mos de Documentação Países Miembros en el Portal Iberiusv.2”.NoprazodequinzediasaSecretariaTécnica remeterá uma versão actualizada do dito documento.

No prazo de dois meses, e seguindo as reco-mendações da Unidade Técnica de simplificar a ferramenta de carga, e eliminados os requisitos de conhecimento em html, e segundo as necessidades expressas na Informação da Auditoria de Conteú-

dos, deverá redesenhar-se a área de gestão para a inclusão da Carta de Serviços e a adaptação da área para os documentos Órgão de Governo e Tribunal Supremo.

Resolvido, na área de gestão, a forma de inse-rir todos os documentos, prevê-se um prazo de um mês para completá-la.

O Foro de desenvolvimento do Portal conti-nua a ser o espaço para colocar dúvidas necessida-des, etc., sobre a carga da documentação.

De qualquer forma habilita-se uma conta de correio para notificar as incidências sobre a ferra-menta.

Os aspectos relacionados com o desenho, fun-cionalidades e segurança traçados pela Unidade de Documentação encontram-se nas recomendações finais da Informação da Auditoria da Unidade de Tecnologia. Algumas destas recomendações imple-mentam-se directamente na ferramenta pelo admi-nistrador da ferramenta (Espanha), ou então me-diante os procedimentos detalhados mais adiante.

b) Sobre conteúdos:Deverá elaborar-se um workflow sobre os pro-

cessos de trabalho e comunicação na Unidade de Informação e Documentação, sob a responsabili-dade de Espanha (como responsável da Unidade), tendo em conta que se assumem como funções pró-prias:

1. O desenho de novos conteúdos ou rede-senho dos existentes, segundo formatos homogéneos; A implantação dos mesmos (tanto em Internet como em Intranet);

2. A proposta de novos conteúdos;3. A avaliação de propostas internas ou exter-

nas (a receber tanto da caixa de sugestões do portal público, como da comunidade virtual que partilhem os seus membros);

4. A organização dos ditos conteúdos (estru-turas de classificação e estrutura dos docu-mentos);

5. A proposta de guias de estilo, formatos de documentos, imagem corporativa de docu-mentos, etc.

Deverão iniciar-se as acções pertinentes para

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pôr em andamento os serviços detectados como ne-cessários na Informação da Auditoria de Conteú-dos, cuja responsabilidade recai sobre a Unidade de Informação e Documentação.

O Grupo de Biblioteca Virtual deverá dese-nhar um plano para a criação da colecção que con-formará o repositório de documentos, indicando conteúdos, estrutura, responsabilidades, processos de trabalho e interface de consulta. São temas possí-veis a protecção de dados, o governo electrónico e a assinatura digital. São tipos possíveis de documen-tos: documentos e informações, diplomas, e links.

Propôs-se um trabalho conjunto na elabora-ção de um repositório sobre convénios internacio-nais vigentes em matéria civil e penal.

Finalmente, propôs-se uma análise sobre a viabilidade de um tesauro jurídico Ibero-america-no, sugerindo-se que se crie um foro na área pri-vada, que permita avaliar o seu interesse e as suas possibilidades de êxito.

c) Revista IberIUS:Planificação da edição dos números 3, 4 e 5,

durante o período 2006 e 2007. É interessante su-blinhar que a actividade da revista vincular-se-á aos Foros privados, de maneira que se abrirão canais de debate antes e depois da publicação da Revista.

d) Ferramentas de comunicação:Definiu-se como um espaço de colaboração

para propiciar o Encontro Virtual Permanente, assimcomoointercâmbiodeinformaçãoentreosmembros da IberIUS. O seu objectivo consistirá em habilitar canais de comunicação que permitam o trabalho em colaboração das Unidades da Rede e dos seus membros. O seu administrador será Es-panha e conterá informação sobre o directório das pessoas dos países membros com responsabilidade nas actividades da Rede (para tal será preciso de-finir três perfis de profissionais em cada país, ou seja, o responsável pela tecnologia, o responsável pela documentação e o director do centro, deven-do constar os respectivos dados de correio electró-nico, cargo, instituição, telefone de contacto, fax e direcção postal), informação sobre o manejo da

ferramenta e, por fim, informação sobre os procedi-mentos de comunicação e trabalho em grupo.

As ferramentas a desenvolver serão as Listas de distribuição (sob a responsabilidade do Admi-nistrador da Comunidade Virtual, ou seja, uma lis-ta de distribuição para todos os membros que fun-cionará como um espaço de comunicação de qual-quer aspecto que se tenha de comunicar a todos os membros, uma lista de distribuição para a Unidade de Tecnologia exclusiva dos integrantes do referido grupo, e finalmente, uma lista de distribuição para a Unidade de Informação e Documentação exclusi-va dos integrantes do referido grupo), os Foros de discussãoportemasdeinteresseparaointercâm-biodeexperiênciasnoâmbitoprofissional, como o Foro SOS (foro permanente de carácter geral para pedidos de auxílio profissional), a Protecção dos Dados Pessoais, a Assinatura Digital, os Direitos de Autor, as Linguagens Jurídicas Especializadas, o Tratamento Informático de Dados Pessoais e, por fim, a Biblioteca na qual se incluirão os documen-tos procedentes da Secretaria IberIUS e os proce-dentes da própria Comunidade Virtual. A pedido de um coordenador de um Foro, o administrador pode criar uma categoria onde inclua documenta-ção relativa ao dito foro.

Definiram-se procedimentos para a criação e administração de foros e comunidades virtuais e administração de contas de acesso.

e) DifusãoSublinhou-se a necessidade de actividades de

difusão tanto dos novos números da revista como das novidades significativas do portal. Propôs-se como meio de difusão o correio electrónico e as res-pectivas páginas web, incluindo em toda a activi-dadededifusãoaligaçãoàpáginaweb da IberIUS, nunca ao produto ou recurso que se difunde.

À Secretaria Técnica competirá enviar mensa-gens electrónicas sobre as novidades do Portal, de modo a que estes informem os seus respectivos pa-íses. Para desenvolver esta actividade é necessário ter um directório fiável de responsáveis dos países membros e um procedimento claro da administra-ção de contas de acesso. Neste sentido o controlo

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estatístico de acessos ao portal dará uma medida do impacto dos produtos e serviços na comunidade usuária.

O PROJECTO IBERIUS E AVALIAÇÃODA SITUAÇÃO DE PORTUGAL

O Projecto IberIUS está relacionado com ou-tras áreas de actividades propostas pela VI Cumbre que têm a ver com o futuro da Rede Ibero-america-na de Centros de Informação e Documentação Ju-dicial, como, por exemplo, os sistemas de governo doPoderJudicial,oacessoàjustiça,aresoluçãoal-ternada de conflitos, a valorização do desempenho dos juízes e magistrados, o Poder Judicial e a pre-servação dos direitos humanos, a relação entre os meios de comunicação e o Poder Judicial, a segu-rança jurídica e o espaço judicial ibero-americano.

As iniciativas desenvolvidas pelo projecto Ibe-rIUS são no sentido de reforçar o sentido da Rede das instituições e das pessoas envolvidas no pro-jecto de modo a optimizar os serviços de provisão edeacessoàinformaçãodosjuízesemagistradosibero-americanos, sentido último de ser da rede e seus desenvolvimentos tecnológicos. Na verdade, a provisão eficiente e eficaz de informação jurídica para a judicatura é uma extraordinária medida de consolidação e reforço do Estado de Direito na so-ciedade Ibero-americana.

A Rede Ibero-americana de Informação e Do-cumentação Judicial, IberIUS, preconiza a necessi-dade de fortalecimento dos Poderes Judiciais em matéria de informação jurídica, através da criação de Centros de Informação e Documentação Judi-cial, com o objectivo de garantir a estabilidade, qualidade e actualização permanente da informa-çãoedocumentaçãosurgidanoâmbitodaactivi-dade judiciária nos países latino-americanos, bem como a sustentabilidade do Projecto IberIUS.

Cabe ao Centro de Informação e Documenta-ção Judicial de cada país membro, definido como veículodeacessoàinformaçãojurídica,sistemati-zar, gerir e processar toda a informação produzida, disponibilizando-a a todos os membros da Rede.

Assim, a Rede Ibero-americana de Centros

de Informação e Documentação pode funcionar como uma comunidade de cooperação, concertação e apoio recíproco entre os Centros dos países ibero-americanos, atingindo-se o objectivo de normaliza-ção de procedimentos para todos os membros rela-tivamente ao tipo de conteúdos a incluir no Portal, sem prejuízo dos conteúdos próprios de cada país naturalmente decorrentes da especificidade da sua ordem interna legislativa e realidade política, so-cial, económica, religiosa e cultural. A via da nor-malização de conteúdos e procedimentos visa, tão só, facilitar a todos os utilizadores um acesso fácil e fiável a toda a informação e documentação judicial disponibilizada pelos países membros da rede, in-tegrando-as, e tornando a Rede num instrumento idóneo que possibilitará a inter-conexão, fluidez e difusão da informação e documentação judicial en-tre os utilizadores do Portal.

Portugal, como país membro da Rede, tem procurado servir os objectivos iniciais do Projecto IberIUS, assegurando, desde a implementação do Portal, a inserção dos conteúdos mínimos e a dis-ponibilização livre e gratuita de bases dados jurídi-cas e documentais, actuando, nesse sentido, e desde o início do Projecto, através do Conselho Superior da Magistratura.

Ao Conselho Superior da Magistratura com-pete assegurar que todos os conteúdos insertos no Portal (Directório dos Centros dos Países Membros, Legislação, Organização Judicial, Jurisprudência, Órgão de Governo, Tribunal Supremo, Directó-rio de Justiça) estejam articulados, por um lado, com os objectivos gerais da Rede, e por outro lado, dadas as especificidades próprias do ordenamento jurídico e institucional português, com o aprovei-tamento feito de toda a documentação produzida e tratada por organismos nacionais já existentes com vocações e atribuições próprias na área do tratamen-to e divulgação da LEGISLAÇÃO (INCM – Diário da República Electrónico, DIGESTO – Sistema Integrado para o Tratamento da Informação Jurí-dica) e da JURISPRUDÊNCIA [ITIJ – Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça, Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Supremo Tribunal Ad-ministrativo (STA), Tribunal Constitucional (TC),

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Procuradoria-Geral da República (PGR) e Tribu-naisdaRelação,entreoutros,todos“Centros”detratamento, recopilação e divulgação da Legislação e da jurisprudência, assegurando a existência no Portal de ligações directas à INCM,DIGESTO,ITIJ, STJ, STA, TC, PGR e tribunais da Relação entre outros.

O Encontro foi muito útil pelo facto de ter

permitidoàexponentecontactarcomasrealidadesdos outros países membros da Rede, através dos seus representantes.

Sobretudo, falou-se da gestão da informação jurídica e ferramentas de última geração disponí-veis para melhorar o tratamento e o acesso a essa mesma informação, bem como da gestão dos con-teúdos, exigindo-se de todos os países membros o carregamento da informação mínima obrigatória a constar no Portal da Rede IBERIUS.

Recapitulando,erelativamenteàsituaçãoemPortugal, o ITIJ – Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça (organismo do Ministério da Justiça vocacionado para a concepção e apoio técnico no domínio da informática, que tem por objectivos promover o estudo e tratamento da in-formaçãocorrespondenteàsfunçõesdoMinistériodaJustiçaeprestaracooperaçãonecessáriaàutili-zação da informática pelos diversos serviços) já dis-ponibiliza bases de dados jurídicas (jurisprudência e doutrina produzida pelas instâncias superioresda Justiça portuguesa) e documentais (informação com interesse para a gestão do fundo documental, sendo que as aplicações usadas contêm informação sobre o título da obra, o autor, descritores, índice e resumo da matéria).

O acesso a essas Bases de Dados é fácil (está assegurada a formação de um dia pelo próprio Ins-tituto, para quem necessite), livre e gratuito.

Tecnicamente,oacessoàsmesmasbasesape-nasrequerummicrocomputadorcomligaçãoàIn-ternet (http://www.itij.mj.pt ou http://www.dgsi.pt).

Ora, a existência das bases Jurídico-Docu-mentais do Ministério da Justiça constituem para Portugal um avanço significativo nesta área. Assim,

qualquerprojectofuturotendenteàcriaçãodeumaunidade de documentação no Conselho Superior da Magistratura não deverá menosprezar a ideia de co-operação permanente deste órgão com o ITIJ.

Também as versões cidadania do Diário da República Electrónico e do DIGESTO – Sistema Integrado para o Tratamento da Informação Jurí-dica, proporcionam aos membros da Rede a possi-bilidade de consultarem diplomas legais.

Contudo, e salvo melhor entendimento, a existência e funcionamento do ITIJ, o DRE e o DI-GESTO não nos parecem ser suficientes para satis-fazer os objectivos de Portugal como membro no âmbitodoProjectodaRedeIberIUS.

Na verdade, no momento actual de desenvol-vimento dos conteúdos a introduzir no Portal por cada país, Portugal está apenas em condições de satisfazer essas necessidades relativamente aos se-guintes itens, a saber,

Jurisprudência: AligaçãoàsBasesdeDadosJurídico-Docu-

mentais do Ministério da Justiça, através da inser-ção dos Links Relacionados:

- Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça - Bases Jurídico-Documentais

- Supremo Tribunal de Justiça - Jurispru-dência

- Tribunal Constitucional - Jurisprudência

Organização Judicial:A inserção do texto sobre a Estrutura Judi-

ciária Portuguesa;AinserçãodoOrganogramabásicorelativoà

organização dos tribunais em Portugal;A inserção dos Links relacionados: Ministério

da Justiça.

Órgão de Governo:Inserção do texto sobre definição, competên-

cias, história e composição do Conselho Superior da Magistratura com ligação ao respectivo site.

Tribunal Supremo:Ligação ao site do Supremo Tribunal de

Justiça.

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 37

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Directório de Justiça:A inserção de todos os links. Já relativamente à Legislação, o Conselho

Superior da Magistratura assegura:O carregamento da Legislação básica de Por-

tugal: Lei Constitucional (Constituição da Repú-blica Portuguesa), Código Civil, Lei de Organi-zação e Funcionamento dos Tribunais Judiciais e Código Penal;

A ligação a Bases de Dados de Legislação, através da inserção dos Links Relacionados:

- Diário da República electrónico;- DIGESTO - Sistema Integrado para o Trata-

mento da Informação Jurídica. Contudo, apesar de neste momento Portugal

terobedecidoàsregrasimpostaspelaRedeatravésdo carregamento dos quatro diplomas básicos pedi-dos em texto integral, só após a aprovação da nova leiorgânicadoConselhoSuperiordaMagistratura,poderão ser criadas as condições necessárias para sa-tisfazer as necessidades futuras do Projecto IberIUS, a partir do momento em que se decida introduzir mais diplomas e outros conteúdos, quer por im-posições da Rede que terão a ver com a normali-zação dos conteúdos e procedimentos, quer pela necessidade de introduzir determinados conteúdos próprios que explicarão melhor as especificidades próprias do ordenamento jurídico português, de-correntes das características da sua ordem interna legislativa e realidade política, social, económica, cultural e religiosa.

Na verdade, e uma vez que os conteúdos do Portal da Rede deverão estão acessíveis on-line, gra-tuitamente, mesmo com a ligação gratuita, versão cidadania, ao Diário da República Electrónico e ao Di-gesto – Sistema Integrado para o Tratamento da Infor-mação Jurídica, mediante a apresentação de listagens cronológicas dos diplomas e respectivas alterações em texto integral, tal não corresponde aos objecti-vos da Rede IberIUS que configura a sua apresenta-ção em texto integral com as respectivas alterações insertas num único documento/diploma.

A republicação de textos integrais em Por-

tugal depende da vontade do legislador pelo que nenhuma entidade oficial no nosso país assume a responsabilidade de produzir textos integrais com as alterações insertas.

A escassez de recursos humanos no actual qua-dro do Conselho Superior da Magistratura obriga a que a selecção, correcção e formatação dos diplomas a introduzir no Portal relativamente a Portugal seja da competência da exponente que acumula, sozi-nha, este trabalho com o da Biblioteca, absorvendo tempo, concentração e uma enorme responsabili-dade. Daí que essa selecção seja obrigatoriamente feita de acordo com as disponibilidades existentes, ou seja, através da utilização das republicações pon-tuais de diplomas relevantes publicados no Diário da República Electrónico e no Digesto, aproveitando-se, desta forma, o texto integral republicado e nor-malizando o seu formato de acordo com os critérios estabelecidos pela Rede IberIUS.

No futuro, contamos que a aprovação da nova LeiOrgânicadoConselhoSuperiordaMagistraturapermita a criação de uma unidade de documenta-ção em cooperação permanente com o ITIJ, DRE e DIGESTO, que produza informação e documenta-ção especializada e actualizada e proceda, designa-damente, ao tratamento e difusão da legislação em texto integral, assegurando-se, assim, a afectação dos recursos humanos, técnicos e financeiros neces-sários ao desenvolvimento desse trabalho.

Transcrição integral das Conclusões do En-contro: http://www.iberius.org

Conclusiones de las Jornadas de Trabajo ce-lebradas en el seno del II Encuentro Iberoameri-cano de Directores de Centros de Documentación Judicial de la Red IberIUS durante los días 29 de mayo al 2 de junio de 2006

Los próximos días 21 y 22 de Junio se va a ce-lebrar en Santo Domingo (República Dominicana) la Cumbre Judicial Iberoamericana.

Recientemente, el Presidente de la Comisión de Relaciones Internacionales del Consejo General del Poder Judicial de España, D. Juan Pablo Gon-zález, ha escrito que:

“Concebidacomounespaciodeconcertación

Conselho Superior da Magistratura

38 Boletim Informativo - Dez.2006

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y diálogo entre los responsables de los Poderes Ju-diciales de todos los países que integran la Comuni-dad Iberoamericana de Naciones, el principal reto de la Cumbre ha sido, y sigue siendo, no limitarse a mantener reuniones meramente protocolarias y realizar declaraciones de carácter sólo programáti-co, sino materializar nuestros trabajos en acciones y productos concretos y visibles, que contribuyan efectivamente al acercamiento y la modernización de nuestros sistemas de justicia, contribuyendo al mismo tiempo a la creación de un verdadero es-pacio judicial iberoamericano. Nuestros mejores logros han sido precisamente los que, enfrentando ese reto, han dado origen a realidades tangibles, como el Aula Iberoamericana, la Red Iberoameri-cana de Escuelas Judiciales, la Red Iberoamericana de Centros de Documentación Judicial (IBERIUS), la Red Iberoamericana de Cooperación Judicial In-ternacional (IBERRED), así como documentos de referencia como el Estatuto del Juez Iberoamerica-no o la Carta de Derechos de las Personas ante la Justicia en Iberoamérica.

Probablemente, el principal reto sea el de la sostenibilidad de los proyectos y acciones en mar-cha. Tenemos la impresión de que hemos creado estructuras y productos de una gran potencialidad, que necesitan de un constante seguimiento y una creciente inversión. Es por ello que, desde la Secre-taría Permanente que ostenta el Consejo General del Poder Judicial de España, estamos centrados en fortalecer lo ya creado y explorar sus inmensas potencialidades sin que ello no suponga afrontar nuevos retos, si bien haciéndolo de manera respon-sable. En este punto, puedo mencionar que entre nuestros proyectos inmediatos está la aprobación de un Código Iberoamericano de Ética Judicial y la puesta en marcha de lo que inicialmente se llamó Observatorio Judicial Iberoamericano en la XIIIedición, a celebrar los próximos días 21 y 22 de ju-nioenSantoDomingo(RepúblicaDominicana).”

Precisamente esa materialización de produc-tos concretos y visibles que contribuyan efectiva-mente al acercamiento y la modernización de nues-tros sistemas judiciales es lo que en todo momento

se ha perseguido en lo que constituye el proyecto IberIUS.

Hasta ahora, y desde la constitución de la Red en el año 2000 se han realizado cursos de formaci-ón y encuentros de responsables técnicos de la Red, y se han desarrollado los trabajos técnicos por parte de la Secretaría de la Red (España) para el diseño y puesta en marcha de la herramienta de trabajo y difusión que constituye el portal web de la Red, iberius.org.

Como consta en el Anexo 2 la página está ya en disposición para ser un instrumento efectivo de la difusión de la información corporativa y para compartirlas“mejoresprácticas”delosmiembrosde la Red que todos puedan aprovechar.

Todo ello depende lógicamente del compro-miso efectivo de cada país para realizar las tareas es-tablecidas en los Anexos. Y del impulso que espe-cialmente la Secretaría de la Red de a estas tareas.

Ahora bien, todo esto no puede hacer olvi-dar que la finalidad esencial de Iberius es que cada país apueste decididamente por el impulso de cada Centro de Documentación Judicial nacional, de tal modo que todos los Jueces de cada país tengan unos servicios de Documentación propios efectivos para su función jurisdiccional, en cuanto a conoci-miento puntual de la legislación, jurisprudencia y doctrina jurídica y, por supuesto, incorporando las nuevas tecnologías.

La implicación institucional para esto último es absolutamente necesaria.

Los participantes en este Encuentro, por ello, se dirigen, en el ámbito de la Cumbre Judicial Ibe-roamericana a los responsables de Cortes Supremas y Consejos de la Judicatura para que por parte de todos los Poderes Judiciales implicados se asuma el compromiso de impulsar efectivamente el Proyec-to Nacional de cada uno, más allá de la participaci-ón en la Red, adoptando en cada caso las medidas más efectivas, de las que un ejemplo a seguir es el propio del anfitrión de esta Cumbre, República Dominicana y la puesta en marcha de su reciente Centro de Documentación.

También se estima necesario que en el próxi-mo Encuentro, y tal como ocurrió en el año 2000,

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 39

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participen junto con los responsables técnicos, los responsables judiciales que puedan observar direc-tamente las mejores prácticas nacionales y apuesten por el impulso del proyecto nacional respectivo.

La Secretaría de la Red y la de la Cumbre se comprometen a impulsar estas acciones que fomen-ten efectivamente la implicación institucional.

Por todo ello:1. Se considera vital para el crecimiento de

Iberius y su fortalecimiento, una mayor implicación institucional de sus socios, que permita una continuidad, la difusión y el desarrollo de los trabajos derivados de la propia gestión de la actividad de los Centros de Documentación Judiciales que componen la Red Iberius.

2. La unidad técnica entiende que la integra-ción a la estructura orgánica de cada país, se puede lograr resaltando el valor añadido de la información compartida en los portales públicos y privados de la Red IberIUS.

3. Se constata que una de las principales acti-vidades y que suscita una gran preocupaci-ón entre los participantes, es la de posibi-litar el intercambio de información profe-sional sobre el desarrollo de los diferentes proyectos de fortalecimiento de los Centros de Documentación en los diferentes países. Es por ello que se propone hacer un uso ac-tivo de las herramientas de comunicación que nos propone el portal como los foros.

4. Constatado el éxito que ha supuesto la edi-ción del número 2 de la Revista Iberius, se aboga por darle continuidad, siguiendo con los métodos de trabajo propuestos en el

Encuentro del 2004 y proponiendo nuevos temas de interés común. Se considera muy provechoso el utilizar los foros como expre-sión previa y posterior de temas de interés que tendrán reflejo en la revista.

5. El resultado de la auditoria de contenidos del portal, arroja un balance positivo, con-siderando que los contenidos diseñados res-ponden a la necesidades de información de los usuarios de la comunidad, incidiendo en su continua actualización.

6. De la auditoria de tecnología destacar que es un diseño útil y resulta apropiado para realizar los trabajos de intercambio de in-formación y que se debe mantener un es-tándar de uniformidad en la navegación del contenido.

7. Se acuerda el inicio de un proyecto de Bi-blioteca Virtual de Documentación, como instrumento de apoyo para la actividad de los propios centros.

8. Se considera de interés el inicio del estudio y la creación de un tesauro jurídico iberoamericano como herramienta de apoyo al desarrollo del estudio de derecho compa-rado y la mejora del conocimiento de los miembros del Poder Judicial.

9. Se adopta el Plan de actuaciones 2006- -2007 como el plan estratégico de la Red Iberius y se asume la responsabilidad de su ejecución por ambas Unidades.

Lisboa, 14 de Julho de 2006

Alexandra Pires CostaTécnica Superior Principal - CSM

Conselho Superior da Magistratura

40 Boletim Informativo - Dez.2006

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A- RELATÓRIO

1.ApósmissivaendereçadaàExmªVogalDraMaria José Machado por D. Juan Pablo González González, Vogal e Presidente da Comissão de Re-lações Internacionais do Consejo General del Po-der Judicial de Espanha, foi deliberado que o CSM se associaria a este evento, sendo concertado entre os dois Conselhos os temas a abordar e convidados por ambos os seus próprios conferencistas.

Daí surgiu o PROGRAMA, sendo três os te-mas escolhidos:

• Independência Judicial e a valoração dodesempenho dos juízes;

• Aplicaçãodosregulamentosemmatériadecooperação judicial civil e

• Omandatodecooperaçãoeuropeu

2. A delegação portuguesa foi constituída por

• VogaldoCSM,DrªMariaJoséMachado• JuizSecretáriodoCSM,Dr.PauloGuerra• Juiz Desembargador Dr. Carlos Almeida

(conferencista)• JuizDesembargadorDr.SénioAlves(con-

ferencista)• Dr.CarlosMarinho(PCRJEMCC)–confe-

rencista• Juiz Desembargador Dr. Joaquim Melo

Lima, Inspector Judicial • DrªCristinaRebelo,JuízadoTribunalde

Mogadouro• Dra Ana Margarida Fernandes, Juíza do

Tribunal de Bragança;• DrªRaquelMassena,JuízadoTribunalde

Miranda do Douro e do Tribunal de Vi-mioso

• Dr. Filipe Delgado, Juiz do Tribunal deMacedo de Cavaleiro

V ENCONTRO TRANSFRONTEIRIÇOHISPANO-PORTUGUÊS

Zamora, 29 e 30 de Março de 2006

3. O Encontro decorreu de forma exemplar, mercê de uma organização impecável por parte dos Colegas espanhóis, tendo sido oferecidas a todos os participantes três magníficas refeições no Parador Nacional de Zamora.

Igualmente, fomos recebidos pelo Alcaide de Zamora, com honras de Estado.

4.OCSM,atravésdaExmªVogalDrªMariaJosé Machado, ofereceu 4 medalhas a algumas das instituições que organizaram este evento, ofertan-do também um exemplar do Boletim do CSM - de Janeiro de 2006 - ao CGPJ de Espanha.

AExmªVogalfoitambémentrevistadaparaalguns órgãos de comunicação social escrita e te-levisiva.

5. No final do Encontro, foi aprovada uma DECLARAÇÃO conjunta entre os dois Conselhos, conforme texto que segue anexo.

Lisboa, 4 de Abril de 2006

O JUIZ SECRETÁRIOPaulo Guerra

B- DECLARAÇÃO(ratificada pelo Plenário de Abril de 2006)

DECLARAÇÃO CONJUNTA DO CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA DE POR-

TUGAL E DO CONSEJO GENERAL DEL PO-DER JUDICIAL DO REINO DE ESPANHA

Zamora, 30 de Março de 2006

O Conselho Superior da Magistratura da Re-pública Portuguesa e o Conselho General del Po-

Conselho Superior da Magistratura

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der Judicial do Reino de Espanha, conscientes da importância e da utilidade destes EncontrosJudiciais, desejam expressar a sua satisfação pela realização desta e de outras reuniões precedentes celebradas entre ambas as instituições e pelos seus respectivos juízes, felicitando-se mutuamente por esta V Edição dos Encontros Transfronteiriços hispano-portugueses, que hoje termina, aprovan-do a seguinte declaração:

1. Destacamos que, no duplo objectivo de servir, por um lado, como lugar de reu-nião entre as instituições judiciais espa-nholas e portuguesas; e, por outro, de foro de discussão dos problemas transfrontei-riços revelados pela actividade diária dos juízes dos dois lados da linha fronteiriça, este Encontro serviu de estímulo para di-namizar a cooperacão jurídica entre Por-tugal e Espanha.

2. Temos como seguro que o processo de ace-leração histórica a que está submetido o mundo actual exige uma rápida adaptação dos juízes, assim como da legislação e dos ordenamentos jurídicos, assumindo as mu-danças produzidas num mundo em trans-formação, cada vez mais interdependente e globalizado. Ambas as instituições e os profissionais que as representam tiveram a clarividência de perceber essa realidade em mudança e de ordenar adequadamente os sistemas jurídicos de ambos os países, de modo a que seja garantida a segurança jurídica.

3. Sublinhamos que este processo de adap-tação contínua exige, ao mesmo tempo, uma análise, estudo e reflexão por parte de todas aquelas pessoas cuja missão é a de interpretar e aplicar as leis. Os juízes de ambos os países, conscientes da impor-

tânciadetodaessarealidadeemtransfor-mação, fizeram questão de que as matérias objecto de estudo e de debate neste V En-contro tivessem essa mesma actualidade e profundidade científica. Nesse sentido, as intervenções realizadas pelos representan-tes de ambas as Judicaturas demonstra-ram o enorme interesse jurídico que têm nestas matérias, em plena sintonia con os objectivos e princípios inspiradores destes Encontros, reiterando a sua crença na nova concepção de cooperação internacional eu-ropeia.

4. Destacamos que a atitude construtiva dos dois Conselhos e a vontade de manter e incrementar os contactos facilitam a pro-posta de constituição de uma associação estratégica entre as duas instituições, com vistaàcriaçãodeumforopermanentequepossibilite a continuidade destes Encon-tros e a realização de outras actividades em campos de interesses por elas partilha-dos, assim como o reforço da sua posição nos âmbitos europeus e iberoamericanosque são objecto de uma atenção comum.

5. Desejamos expressar e fazer constar o nosso agradecimento àFundaçãoHispano-Por-tuguesa Rei Afonso Henriques, cuja sede em Zamora acolheu, de forma tão genero-sa, a celebração deste Encontro. Também queremos destacar o nosso agradecimen-to ao Município de Zamora, cidade cuja história pertence aos dois povos, pela sua calorosa hospitalidade.

Finalmente, estamos plenamente conscien-tes de que as privilegiadas relações pessoais entre os seus membros, e a estreita cooperação entre as suas respectivas instituições, redundarão em be-nefício de uma maior colaboração futura.

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C- INTERVENÇÕES

C.1. INTERVENÇÃO INSTITUCIONALNA SESSÃO DE ABERTURA

• IntervençãodeMariaJoséMachado (Juíza de directo – Vogal do CSM - PORTUGAL)

Exmº Vocal e Presidente da Comissão de Relações Internacionais do Conselho General del Poder Judicial de Espanha, D. Juan Pablo González González

Exm.º Vocal Presidente da Audiencia Provincial de Zamora, D. Luís Brualla Santos –Funcia

Exm.º Presidente do Tribunal Superior de Justicia de Castilha e León

Exm.ºs Juízes Espanhóis e Portugueses

As minhas primeiras palavras são de agrade-cimento ao Conselho General del Poder Judicial de Espanha pela organização deste V Encontro Transfronteiriço nesta linda e ancestral cidade de Zamora, que tanto significado histórico tem para Portugal.

É que foi aqui que, em 1143, foi assinado o célebre Tratado de Zamora, cujo texto permaneceu até hoje no desconhecido mas segundo o qual, di-zem os historiadores, o rei de Leão e Castela, Afon-so VII, reconheceu D. Afonso Henriques como rei de Portugal, assim reconhecendo a independência política de Portugal.

Apesar de não ter sido uma decisão pacífica, pois após a separação dos reinos de Leão e de Cas-tela, o rei de Leão procurou, por mais de uma vez, reaver o território português, a independência tor-nou-se desde então uma realidade suficientemente sólida para poder resistir eficazmente a novas ten-tativas de reabsorção.

Em 1179, a Santa Sé viria, então, a reconhecer internacionalmente a independência política obti-da por Portugal quarenta anos antes nesta cidade de Zamora, o que assim ficou como um dos marcos indeléveis da História de Portugal.

Desde então, muitas foram as guerrilhas, confrontos e divergências que opuseram os nossos Países que, apesar da semelhança linguística e de

viverem paredes meias, permaneceram durante muitos anos de costas voltadas, sob o velho lema português“deEspanha,nembomvento,nembomcasamento”…

Felizmente que os acontecimentos históri-cos vieram contrariar aquela máxima e de ambos os Países têm soprado bons ventos de mudança e bons casamentos, não só nos aspectos económico – sociais e culturais, mas também no que a nós par-ticularmente interessa e que aqui nos trouxe hoje, no maior estreitamento das relações de cooperação que se tem vindo a desenvolver entre Portugal e Espanha, no domínio da Justiça.

A título de exemplo de um bom casamen-to, não pode deixar de se assinalar o Acordo entre PortugaleEspanharelativoàCooperaçãoJudiciá-ria em Matéria Penal e Civil assinado em Madrid a 19 de Novembro de 1997 que, embora restrito aoschamados“tribunaisfronteiriços”,legalmentefixados, com áreas de jurisdição geograficamente contíguas ou vizinhas, constituiu um inovador instrumento de cooperação judiciária bilateral que possibilitou a comunicação directa entre as respec-tivas autoridades judiciárias (e também entre os Ministérios de Negócios Estrangeiros e Justiça), na língua de cada um dos Estados, na formulação de pedidos e documentos dispensados de legalização ouapostilharelativosàentreajudaouaoauxílio.

Mas foi sobretudo a partir da entrada de Por-tugal na União Europeia que se intensificaram as relações de cooperação judiciária entre Portugal e Espanha.

Nem faria sentido que estando o espaço ibé-rico inserido no espaço comunitário europeu, os governantes de ambos os Países permanecessem fechados sobre si mesmos e não procurassem an-tes adoptar medidas e alcançar soluções conjuntas também na área da Justiça por forma a dar con-cretização prática aos Regulamentos comunitários surgidos na sequência das medidas concretas assu-midas pelo Tratado de Amesterdão no domínio da cooperação judiciária em matéria civil.

A Europa pretende criar um espaço de liber-dade, de segurança e de justiça em que seja assegu-rada a livre circulação de pessoas através da criação

Conselho Superior da Magistratura

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de mecanismos que melhorem e tornem mais rá-pida a transmissão entre os Estados Membros de actos judiciais e extrajudiciais.

Daí que, a par das iniciativas legislativas – Regulamentos Comunitários de carácter geral e obrigatório e directamente aplicáveis em todos os Estados – tenha sido criada, em 28/05/01, a Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial (RJECC), que pretendendo funcionar como estru-tura percursora de um espaço judiciário europeu, tem procurado fornecer as informações necessárias àelaboraçãoeficazdepedidosdecooperaçãojudi-ciária entre os Estados membros da União Euro-peia, permitindo o estabelecimento dos contactos directos mais adequados, procurando encontrar soluçõesparaosproblemasemergentesnoâmbitodos pedidos de cooperação e disponibilizando aos cidadãosinformação“fiável,acessívelediversifica-da”sobreofuncionamentodossistemasnacionaisporformaafacilitaroacessoàjustiça.EmPortu-gal a REDE (RJECC) iniciou as suas actividades em Dezembro de 2002 e tem como Ponto de Con- tacto um Magistrado judicial, também participante no nosso Encontro, que desenvolve as suas funções

nas instalações do Conselho Superior da Magistra-tura.

No domínio da cooperação penal, além da rede judiciária europeia em matéria penal criada em 1998 e de outros instrumentos de cooperação policial, o mandado de detenção europeu previs-to na decisão-quadro do Conselho de 13/06/02 constituiaprimeiraconcretizaçãonoâmbitope-nal do princípio do reconhecimento mútuo que o Conselho Europeu qualificou de “pedra angular”da cooperação judiciária e é hoje um instrumento jurídicofundamentalnocombateàsnovasformasde criminalidade de cariz internacional como o ter-rorismo e a criminalidade organizada.

O reforço da cooperação judiciária, quer na área civil quer na área penal ou policial, são vitais àcriaçãodoespaçodejustiçaedecidadaniaeuro-peia e fundamentais na concretização do real acesso à justiça emcondiçõesde igualdadenumespaçocom as características do Europeu, com diversos ordenamentos jurídicos e diferentes sistemas de justiça.

No reforço dessa cooperação não podem ficar indiferentes os Órgãos de gestão das Magistratu-

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ras, sendo essa uma das razões de ser destes Encon-tros Transfronteiriços entre o Conselho Superior da Magistratura e o Conselho General del Poder Judicial.

Daí que a temática destes Encontros incida fundamentalmente sobre a cooperação judicial em matéria civil e penal, sendo os mesmos um palco privilegiado para a troca de informações entre am-bos os Conselhos e respectivos Juízes em ordem a incrementar a cooperação judiciária bilateral, dar conta dos progressos alcançados, na busca de so-luções práticas para resolver os problemas que vão surgindo no quotidiano dos respectivos tribunais nacionais, tendo em vista melhorar e aperfeiçoar essas mesmas práticas.

O Encontro que hoje se inicia, o V desde que foi assinado aquele acordo de cooperação relativo aos Tribunais Fronteiriços entre os respectivos Es-tados,insere-sepoisnoâmbitodoreforçodessaco-operação judiciária em matéria penal e civil e nele iremos mais uma vez trocar informações, discutir pontos controversos e procurar soluções que per-mitam a aceleração dos procedimentos de coopera-ção e da própria tramitação processual.

Cooperação que será tanto ou mais eficaz quanto mais informados estiverem os operadores judiciários e quanto mais meios forem facultados aos agentes dessa cooperação.

Por isso, sendo os Juízes um dos protagonis-tas dessa cooperação, torna-se urgente, além da troca de informações e de experiências entre juízes nacionais de cada Estado, que se discuta o seu pa-pel nos vários aspectos dessa cooperação. Discussão que terá de partir necessariamente dum princípio inabalável e irrenunciável de qualquer Estado de direito que é o da independência dos Tribunais e dos seus Juízes.

Os Juízes enquanto titulares de um órgão de soberania, os Tribunais, julgam apenas segundo a Constituição e a lei e sem eles não há Justiça e sem Justiça não existe Estado.

Em que medida é que um sistema de avalia-ção do desempenho dos Juízes como é por exemplo o português, bem diferente do sistema espanhol, pode pôr em causa essa independência, é questão

que deve merecer a nossa reflexão, certos que a in-dependência dos Juízes é seguramente uma garan-tia dos direitos e liberdades dos cidadãos no espaço de justiça europeia que se pretende.

Seguramente que, pela elevada qualidade dos oradoresqueaquiaprazregistar,pelaimportânciaactual dos temas que irão ser tratados e, por certo, pela participação interessada de todos os presentes, sairemos de mais este Encontro melhor preparados para respondermos aos desafios que em matéria de cooperação civil e penal cada vez mais, os juízes portugueses e espanhóis terão de enfrentar no es-paço europeu.

Termino assim como comecei, assinalando a satisfação do CSM de Portugal pelo facto deste En-contro se realizar nesta cidade de Zamora – sinal de que apesar da soberania dos povos que forma o espaço ibérico e que aqui se consolidou em 1143, eles se mantém empenhados em reforçar os seus la-ços de amizade e em estabelecer uma mais estreita colaboração, trocando informações e discutindo em ordem a incrementar uma efectiva cooperação ju-diciária bilateral, não deixando de agradecer, mais uma vez, ao Conselho General del Poder Judicial de Espanha a forma calorosa como sempre tem recebido e como tem colaborado com o Conselho superior da Magistratura de Portugal, desejando a todos um Encontro pleno de cooperação.

Em qualquer aventura, o que importa é par-tir, não é chegar, como diria Torga, um grande es-critor português.

Partamos, então, para conseguirmos chegar a melhor porto!

Muito obrigada.

C.2. INTERVENÇÃO DE UMPARTICIPANTE PORTUGUÊS

A independência dos juízes e avaliaçãodo seu desempenho

• Dr. Sénio Alves – Inspector Judicial (CSM – PORTUGAL)

Francis Bacon escreveu, há cerca de 400 anos atrás: “Os juízes devem lembrar-se de Salomão,

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que tinha leões ao pé do seu trono. Os juízes devem serleões,masleõesaospésdotrono”.

Tanto tempo decorrido, ainda há quem assim pense. Ainda há quem, de forma explícita ou im-plícita, defenda esse modelo de juiz: rugindo altivo e sobranceiro ao povo anónimo, submisso e subser-viente aos pés do poder. Que é como quem diz: um juiz com aparência de leão e alma de cordeiro.

Não obstante, a independência do poder judi-cial é algo consensualmente aceite na generalidade dos ordenamentos jurídicos modernos.

A Declaração Universal dos Direitos do Ho-mem, proclamada pela Assembleia Geral da ONU em 10 de Dezembro de 1948, reconhece, no seu artº 10º, o direito de todo o indivíduo a que a sua causa seja equitativamente julgada por um tribu-nal independente e imparcial.

A Assembleia Geral da ONU aprovou, ainda, pelas Resoluções 40/32, de 29/11/1985 e 40/146, de 13/12/1985, as conclusões do VII Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Mi-lão, onde foram adoptados os Princípios Básicos Relativos à Independência daMagistratura. E oprimeiro de todos eles tem a seguinte redacção: “Aindependênciadamagistraturaserágarantidapelo Estado e consagrada na Constituição ou na legislaçãonacional”.É,portanto,obrigaçãodopo-der político não só respeitar, como garantir, a in-dependência do poder judicial. Do mesmo modo, é direito (e dever) dos juízes protegerem essa in-dependência; e é assim que, nos termos do pon-to9ºdaquelaDeclaraçãodePrincípios,“osjuízesgozam do direito de constituir ou de se filiarem em associações de juízes, ou outras organizações, para defender os seus interesses, promover a sua formação profissional e proteger a independência damagistratura”.

Em Portugal, a primeira referência legislativa àindependênciadopoderjudicialconstadaCartaConstitucional de 1826.

E hoje, estatui-se no artº 203º da Constituição

daRepúblicaPortuguesaque“ostribunaissãoin-dependenteseapenasestãosujeitosàlei”.

Esta estrita sujeição à lei consta, de igualmodo, do nº 1 do artº 4º do Estatuto dos Magis-trados Judiciais 1:“osmagistradosjudiciaisjulgamapenas segundo a Constituição e a lei e não estão sujeitos a ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas, em via de recurso, pelos tribunais supe-riores”.Bemassim,airresponsabilidadedosjuízespelas suas decisões e a sua inamovibilidade têm consagração legal nesse Estatuto (artºs 5º e 6º).

De igual modo, estatui-se no artº 4º, nº 1 da Lei de Organização e Funcionamento dos Tribu-nais Judiciais (Lei 3/99, de 13/1) que “os JuízesjulgamapenassegundoaConstituiçãoealei.”Eacrescenta-se no nº 2 domesmo preceito que “aindependência dos Juízes é assegurada pela exis-tência de um órgão privativo de gestão e disciplina da magistratura judicial, pela inamovibilidade e pela não sujeição a quaisquer ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento das decisões proferidas emviaderecursoporTribunaissuperiores”.

E nisto se traduz, também, a independência dos juízes.

Dito de outra forma: a independência pres-supõe,nãosó,“aseparaçãoinstitucionaldoPoderjudicial e dos juízes individualmente considerados, dos demais poderes do Estado (independência ex-terna)”como,também,“adifusãodafunçãojudi-cial por sujeitos não dependentes entre si (inde-pendência interna) 2”mas,apenas,dependentesdaescrupulosaobservânciadaConstituição edaLeiordinária.

Sucede que em Portugal a transferência e a promoção dos juízes dos tribunais judiciais, bem como o exercício da acção disciplinar são tarefas atribuídas ao Conselho Superior da Magistratura, órgão constitucional presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça onde juízes, eleitos pelos seus pares, têm participação minoritária (após a revisão constitucional operada em 1997).

1 Aprovado pela Lei 21/85, de 30/7, com as alterações introduzidas pela Lei 10/94, de 5/5, Lei 81/98, de 3/12, Lei 143/99, de 31/8 e Lei 3-B/2000, de 4/4.2OrlandoAfonso,“PoderJudicial,IndependênciainDependência”,67.

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De outro lado, os juízes portugueses são perio-dicamente classificados e, da classificação que lhes for atribuída, depende a sua colocação em determi-nados tribunais e a eventual progressão na carreira (mediatamente pode mesmo traduzir-se no termo dessa carreira, porquanto a classificação de Medío-cre implica a suspensão do exercício de funções do Magistrado e a abertura de um inquérito por inaptidão para esse exercício que, a comprovar-se, deve ser sancionada com as penas de aposentação compulsiva ou demissão 3).

Com efeito, nos termos do artº 44º, nº 3 do E.M.J. constituem factores atendíveis nas coloca-ções dos juízes, por ordem decrescente de preferên-cia, a classificação de serviço e a antiguidade.

Do mesmo modo, a nomeação como juiz de círculo (que, não constituindo propriamente pro-moção na carreira, constitui seguramente melho-ria do estatuto remuneratório) está dependente da classificação de Bom com Distinção (artº 45º, nº 1 do mesmo Estatuto).

Dessa mesma classificação depende a promo-ção dos juízes aos Tribunais da Relação (artºs 46º a 48º, idem) e, naturalmente, a sua promoção ao Supremo Tribunal de Justiça (posto que o recruta-mento dos Juízes para esse Tribunal se faz princi-palmente nas Relações).

Seguramente, mais palavras não serão neces-sáriasparaaferirdaimportânciadaclassificaçãodeserviço na carreira profissional de um juiz.

Ora, a classificação dos juízes (como, também o exercício da acção disciplinar) é competência do CSM (artº 149º, al. a) do E.M.J.).

Junto desse Conselho funcionam os serviços de inspecção, constituídos por inspectores judiciais e por secretários de inspecções, a quem compete, entreomais,“colherinformaçõessobreoserviçoe o mérito dos magistrados” (artºs 160º e 161º,idem).

Os inspectores judiciais são nomeados de en-tre Juízes da Relação ou, excepcionalmente, de en-

tre Juízes de Direito com antiguidade não inferior a quinze anos e classificação de serviço de Muito Bom.

Estes inspectores, finda a inspecção, elaboram um relatório, no qual fazem constar a sua aprecia-ção, concretizando-a com a respectiva matéria fac-tual, fundamentando especialmente as referências desfavoráveis e concluindo com uma proposta de classificação 4.

Finalmente, o Conselho Superior da Magis-tratura, tendo por base aquele relatório (e o conte-údo da resposta do juiz inspeccionando, caso exis-ta) classifica o juiz em causa com uma das cinco notações admissíveis (Muito bom, Bom com dis-tinção, Bom, Suficiente e Medíocre).

Perante este quadro, assim desenhado, uma primeira questão se coloca de imediato, qual seja a da constitucionalidade da classificação dos Ma-gistrados por um órgão não jurisdicional. Isto é: sendo os tribunais órgãos de soberania 5 e sendo, por isso, os juízes (cada juiz) titulares de órgãos de soberania, será constitucionalmente aceitável que um órgão não jurisdicional, de natureza adminis-trativa, aprecie o mérito dos juízes (dessa forma condicionando a sua progressão na carreira) e exer-ça, sobre eles, poder disciplinar?

A verdade é que, sendo um órgão de nature-za administrativa, o CSM tem consagração cons-titucional. Mais do que isso, não se integra na Administração Pública e, como tal, não depende - directa ou indirectamente - do Governo, enquan-to órgão máximo dessa Administração. E daí que uma intervenção do poder político na nomeação, colocação, transferência e promoção dos juízes ou no exercício, contra estes, da acção disciplinar, através de interposto órgão, se não coloque (pelo menos por ora).

A questão não tem suscitado entre os juízes o debate que, penso eu, merece.

Atal factonãoseráestranhaacircunstânciade, até há poucos anos, o CSM ter - de direito -

3 Artº 95º, nº 1, al. c) do E.M.J..4 Artºs 14º, nº 1 e 18º, nº 4 do Regulamento das Inspecções Judiciais.5 Artº 110º, nº 1 da C.R.P..

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uma composição maioritária de juízes e de, actual-mente, não a tendo de direito, a ter de facto.

Como para tal terá certamente contribuído a reconhecida independência (relativamente a quem os nomeou) com que os vogais não juízes vêm exer-cendo as suas funções.

Mas na vida, como no futebol, aquilo que hoje é verdade, amanhã poderá não o ser...

O sistema português de inspecções judiciais coloca, ainda, um segundo problema: não consti-tuirá, ele próprio, um elemento, se não atentató-rio, pelo menos perturbador da independência dos juízes?

Quando realizadas ao serviço dos juízes, as inspecções destinam-se a apreciar a sua prestação e o seu mérito, bem como a propor ao CSM a ade-quada classificação de serviço 6.

Para alcançarem os fins em vista, as inspec-ções utilizam, entre o mais, todos os elementos em poder do CSM e, nomeadamente, o processo de inspecção anterior e o exame dos processos findos e pendentes, tramitados pelo magistrado inspec-cionando.

Os critérios de avaliação dos juízes, por seu turno, vêm previstos no artº 13º do R.I.J..: apre-ciar-se-ão as capacidades humanas do magistrado para o exercício da profissão, a sua adaptação ao tri-bunal ou serviço a inspeccionar e a sua preparação técnica (artº 13º, nº 1 do dito Regulamento).

Noqueàscapacidadeshumanasdomagistra-do diz respeito, o inspector pronunciar-se-á sobre a sua idoneidade cívica, independência, isenção e dignidade de conduta, relacionamento com outros profissionais forenses e público em geral, o pres-tígio profissional de que goza no meio forense, a serenidade e reserva com que exerce a sua função, a capacidade de compreensão das concretas situações colocadasàsuaapreciaçãoesentidodejustiça,faceao meio sócio-cultural em que trabalha.

A sua adaptação ao serviço é apreciada em função da sensatez com que exerce as funções, da assiduidade, zelo e dedicação ao serviço, da sua pro-dutividade, do método que utiliza e da celeridade

das suas decisões, da capacidade de simplificação processual e da gestão da agenda.

Por fim, a preparação técnica do magistrado é apreciada face à suacategoria intelectual, à ca-pacidade de apreensão das situações jurídicas em discussão,àcapacidadedeconvencimentodosdes-tinatários da bondade das suas decisões e ao nível jurídico do seu trabalho.

Convenhamos: não obstante algum esforço notório de objectivação de critérios, a inspecção dos juízes assenta, ainda e necessariamente, em al-gum subjectivismo. O seu resultado está, por isso, algo condicionado pela personalidade do inspector, pelo seu percurso profissional, pelo seu modo de estar na judicatura, enfim, pela forma como é juiz.

Daí que não seja de estranhar que, nesta ma-téria,asgrandescríticasquesefazemnãoosãoàsinspecções, mas aos inspectores...

É que, bem vistas as coisas, a lei enuncia os factores a ter em conta na avaliação dos juízes; po-rém,o“pesoespecífico”comquecadaumdessesfactores contribui para a avaliação final é algo que não se encontra quantificado (e, porventura, cons-tituirá missão impossível fazê-lo). Eventualmente, na atribuição de classificações mais elevadas, a ten-dência consistirá em privilegiar mais a preparação técnica do magistrado, em detrimento de outros factores. Se assim for, razão tinha o Dr. Jorge Sam-paio, nosso Presidente da República até há alguns dias atrás, quando (no discurso que proferiu no VII Congresso dos Juízes Portugueses, em 24 de Novembrode2005) afirmouque “aqualidade esimplificação das sentenças esbarra com um siste-ma de inspecções, dirigido, com frequência, mais para a erudição jurídica do magistrado do que para o senso e o bem fundado da marcha do processo e suadecisão”.

Como expressamente se estatui no artº 1º, nº 2doR.I.J.,“osserviçosdeinspecçãonãopodeminterferir com a independência dos juízes, nomea-damente pronunciando-se quanto ao mérito subs-tancial das decisões judiciais, mas devem averiguar da necessidade de implementação de medidas que

6 Artº 4º, al. a) do Regulamento das Inspecções judiciais.

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conduzam a uma melhoria dos serviços e facultar aos juízes todos os elementos para uma reflexão dos própriosquantoàcorrecçãodosprocedimentosan-teriormente adoptados, tendo em vista o aperfei-çoamento e uniformização dos serviços judiciais, pondo-os ao corrente das práticas processuais e ad-ministrativas mais correctas, actualizadas ou con-venientesàobtençãodeumamaiscélereadminis-traçãodajustiça”.

Quer dizer:- de um lado, as inspecções não podem pro-

nunciar-se sobre o mérito substancial das decisões do juiz inspeccionando, pois que estas só são sindicáveis, por via de recurso, pelos tribunais superiores;

- mas, de outro, as inspecções devem facultar aos juízes sob inspecção elementos para sua própria reflexão e informá-los das práticas processuais e administrativas mais correc-tasouconvenientesàceleridadenaadmi-nistração da justiça.

Sendo assim, é por demais evidente que as inspecções não podem censurar um juiz pelo facto de, perante determinada questão concreta subme-tidaàsuaapreciação,teroptadoporumasoluçãojurídica em detrimento de outra. E isto é assim, mesmo que a solução jurídica adoptada não seja, na óptica do inspector, a mais correcta.

Mas pode, seguramente, discutir os méritos e deméritos dessa solução, contrapondo-a com outra. Ou, dito de outra forma: pode o inspector facultar ao juiz inspeccionando elementos para que ele pró-prio possa reflectir sobre a bondade da solução que adoptou.

Sejamos claros: é uma linha ténue, muito té-nue, aquela que separa as duas situações.

Da forma como for preservada por ambas as partes (inspector e inspeccionado) decorrerá, sem-pre, o respeito ou o desrespeito pela independência do juiz.

Não basta, seguramente, que a lei postule o respeito por essa independência. Nem, tão pouco, que um dos factores a observar na avaliação dos ju-

ízes seja, precisamente, a sua independência e isen-ção. É necessário, ainda, que essa cultura de inde- pendência esteja suficientemente enraizada em cada um dos intervenientes no processo de inspecção.

O juiz inspeccionado deverá, por isso, en-tender as sugestões feitas pelo inspector com essa exacta dimensão: simples alertas feitos por um Ma-gistrado mais experiente, com um percurso profis-sional meritório, conhecedor das práticas processu-ais verificadas na generalidade dos tribunais (e não só no tribunal onde o juiz inspeccionado exerce funções).

E não mais do que isso.O conselho seguinte é de Calamandrei 7:“O

jovem licenciado, que ao entrar para a carreira ju-diciária, interrogue o seu íntimo para ter a certeza da vocação, também deve saber isto: que durante o seu noviciado, naquela comarca de província para onde, ainda imberbe, foi despachado, a sua mesa na única estalagem da terra deve ser separada e si-lenciosa, tendo apenas por comensal, invisível mas presente,asuaindependência”.

Utilizando esta linguagem metafórica, não deveojuizpermitirqueàsuamesasesenteoins-pector; mas se por cortesia o fizer, não permita que lhe escolha a ementa.

De seu turno, o inspector deverá conter uma humana tendência para considerar incorrectas prá-ticas processuais distintas das por si seguidas ao longo da sua vida profissional. E deverá respeitar e incentivar a independência do juiz cujo serviço inspecciona, mesmo quando - ou principalmente quando - essa independência se traduz em alhea-mentofaceàssugestõesquelhefaz.AoEstadodedireito democrático não interessa que, ao lado de umamagistratura“sentada”(aquelaqueapreciaedecide, com ponderação, serenidade e isenção, as questões que lhe são colocadas) coexista uma ma-gistratura “deitada” (aquela que pergunta a umqualquer terceiro em que sentido deve decidir).

Face ao sistema de colocação de juízes e de progressão na carreira que temos, as inspecções têm manifesta razão de ser.

7PieroCalamandrei,“Eles,osjuízes,vistospornós,osadvogados”,traduçãodeArydosSantosparaaClássicaEditora,8ªed.,168.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 49

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É verdade que outros métodos existem, para se aferir do mérito de cada juiz.

Seria seguramente possível aferir de tal mérito, por exemplo, através de concursos documentais ou por provas públicas. Ou pura e simplesmente pres- cindir da apreciação desse mérito (presumindo-o) e privilegiando, assim, a antiguidade como factor determinante na colocação e promoção dos juízes.

Não é este o momento (nem o local) próprio para apreciar as vantagens e desvantagens de cada um desses sistemas.

Face ao regime de avaliação que temos, o risco de interferência externa, exterior àmagistratura,na independência do juiz está, ao menos por ora, arredado.

O risco de interferência interna (que, por ho-nestidade e clareza de raciocínio, temos que equa-cionar) será mínimo, se todos soubermos desempe-nhar os papéis que nos traçam os diplomas legais que, em matéria de avaliação do mérito dos juízes, vigoram entre nós.

E menor seria se, porventura, alguns concei-tos de difícil determinação, constantes do R.I.J., fossem adequadamente objectivados.

A título meramente exemplificativo, a pro-dutividade de um juiz e, mesmo, a celeridade na decisão (que há-de, seguramente, ser encarada de forma diversa se o juiz inspeccionando tiver 500 ou 5.000 processos a seu cargo) seriam susceptíveis de uma avaliação mais rigorosa se já se tivesse pro-cedidoàcontingentaçãoprocessual;ou,maismo-destamente, se houvesse consenso sobre o número de processos que, anualmente, um juiz tem que razoavelmente tramitar e decidir em tempo útil.

Recentemente, o CSM aprovou uma directiva (já concretizada no plano de inspecções para 2006), nos termos da qual um juiz não será inspeccionado, mais do que uma vez, pelo mesmo inspector.

Numa perspectiva, correcta, de eliminar ou, pelo menos, reduzir potenciais focos de constrangi-mento do juiz sujeito a inspecção, trata-se de me- dida francamente positiva: o inspeccionando não terá tendência a aceitar precipitadamente toda e qualquer sugestão feita pelo inspector (como, hipo-teticamente, poderia suceder caso vislumbrasse a perspectiva de voltar a ser por ele inspeccionado); o inspector não terá a tendência (nem, sequer, a possibilidade) de verificar o eventual acatamento

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das suas sugestões, formuladas em inspecção an-terior.

Seja como for, formalmente está assegura- da a independência interna do juiz: na pura e exacta medidaemquesódeveobediênciaàLei,nãoes-tando sujeito a ordens ou instruções, a sua inde-pendência só será abalada se ele o permitir. E se as-sim suceder, mau juiz será. Um juiz que não preza a sua independência, que troca as suas convicções pela perspectiva de uma boa avaliação, não honra a função que exerce. Pior que isso: negoceia um bem que lhe não pertence.

É que a independência dos juízes não é um pri- vilégio seu; é, antes, uma garantia dos cidadãos.

Isto mesmo lembrou José da Silva Carvalho, primeiro Presidente do Supremo Tribunal de Jus-tiça,àRainhaD.MariaII.

A ousadia custou-lhe o cargo. Mas reservou- -lhe um lugar na memória de todos nós, Juízes que nos honramos de o ser.

C.3. INTERVENÇÃO INSTITUCIONALNA SESSÃO DE ENCERRAMENTO

• Intervenção de Paulo Guerra (Juiz de direito – Juiz Secretário do CSM – PORTUGAL)

Cumprimento, em primeiro lugar, o Consejo General del Poder Judicial de Espanha, a Audiên-cia Provincial de Zamora e o Tribunal Superior de Justicia de Castilla y Léon, nas pessoas dos seus representantes aqui hoje presentes.

Em segundo lugar, saúdo os colegas juízes portugueses e espanhóis que estiveram presentes neste evento.

1. Alexandre O’Neill, poeta português,escreveu um dia:“Que importa se a distância estende entrenós léguas e léguasQue importa se existe entre nós muitas montanhas?O mesmo céu nos cobreE a mesma terra liga nossos pés.No céu e na terra são tuas ideias que palpitam

Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrandoNa carícia violenta do teu idealQue importa a distância e que importa a montanhaSe tu és a extensão de uma ideiaSempre presente?”

2. Nesta altura de grande reforma de ideias na justiça dos nossos dois países, Portugal e Espa-nha, é sempre bem vindo o confronto de plúrimas mentalidades e a partilha das nossas impressões e experiências sentidas e vividas com as dos profis-sionais de outros países, de outras gentes, de outros cantos, de outras esquinas.

FalardedistânciaentrePortugaleEspanhaéalgo artificial, sendo certo que a raia de uma etérea fronteira que separa os dois povos não é suficiente para edificar muros de estranheza entre quem tanto se quer, entre quem enuncia as mesmas declinações e fala línguas algo aparentadas em grafia e som.

Em Lisboa ou em Zamora (local onde o nosso primeiro rei foi armado cavaleiro, onde Afonso VII, monarca do Reino de Leão, lhe reconheceria mais tarde o título de primeiro monarca de Portugal, razão de ser da criação da Fundação que aqui tem o seu nome) é o mesmo garoto que solta um grito absurdo entre os ardinas das desgraças dos outros, são os mesmos os bonecos de corda pendurados no olhar dos transeuntes, são as mesmas as lantejoulas estampadas nos anseios dos que querem mais do que sentem, são os mesmos os pássaros nos beirais e a chuva que cai sobre o plaino abandonado porque anonimamente pisado, são as mesmas as buzinas agitadas dos táxis que transportam os filhos da Ter-ra que se consomem em catadupa, são os mesmos os contribuintes que pagam, os violinistas cegos que tocam as notas da desdita, as crianças dos ou-tros que não têm direito a colher baladas felizes...

Subitamente, sentimos necessidade de olhar para a outra margem, para aquela banda de lá, apa-rentemente desconhecida.

Portugal para Espanha e Espanha para Portu-gal, como partes diferenciadas mas tocantes de um mesmo espaço de gente, quer se dance ao som de um dolente fado ou de um frenético flamenco.

Particularmente entre estas duas regiões (o

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Nordeste Transmontano e o reino de Castela e Leão), já houve quem as considerasse duas cabeças de ponte dos dois lados da raia e quem opinasse que Zamora deveria olhar menos para Madrid e colocar oênfaseemPortugal,aliando-seàoutracabeçadeponte, do outro lado da fronteira, Bragança, aqui representada, algo simbolicamente, por alguns dos seus juízes.

PortugaleEspanhaaderiramàentãoComu-nidade Europeia simultaneamente, em 1986. Des-deentão,osdoispaísestiveramqueseadaptarànova realidade em que se inseriram, com efeitos claros e visíveis nas relações bilaterais entre os dois vizinhos ibéricos, bem como acompanhar as pro-fundas alterações políticas europeias e internacio-nais e o desenvolvimento do próprio processo de integração europeia.

3. Daí termos estado aqui durante estes dois

dias a discutir práticas forenses, temas judiciários de enorme premência e que preocupam os juris-consultos e os jurisprudentes de cada uma destas nações.

3.1. Começou por falar-se da independência dos Juízes, uma das garantias de que o Estado que representa as sociedades democráticas é um Estado de Direito.

Contudo, a criatividade jurisprudencial não significa arbitrariedade na independência dos juí-zes.

ComoescreveORLANDOAFONSO:“Estaindependência baseada numa alta densidade ju-risprudencial deve, contudo ser limitada. O tex-to constitucional constitui o cenário limitador de qualquer tipo de poder incluindo o judicial que, com aquele deve estar constantemente confronta-do, havendo para os juízes um dever de auto-limi-tação,“selfrestraint”.”

Por outro lado, a coordenação do Poder Ju-dicial, sem prejuízo da garantia da independência dos juízes, exige um autogoverno da magistratura, através de um órgão próprio (Conselho Superior da Magistratura),dotadodeLeiOrgânicaprópria,oque se reivindica, sem sucesso, há tempo demais, com autonomia administrativa e financeira.

E os juízes independentes podem também ser juízes avaliados pelos seus pares, com um rigoro-so sistema de inspecções (de preferência de índole qualitativa, naturalmente subjectiva, como bem acentuou o Dr. Sénio Alves, nosso Inspector Judi-cial na sua intervenção de ontem) que não belisca em nada a sua natural individualidade na resolução das questões que lhe são colocadas, todos os dias, pelos cidadãos sôfregos de justiça vivida e aplica-da ao seu caso concreto, e que apenas apela a uma consciente e permanente auto-formação por parte de cada juiz.

3.2. Depois, falando dos regulamentos co-munitários em matéria de cooperação judicial civil, concluímos que o mundo já não é o que era há vinte anos atrás, ligado que está hoje por redes de comunicação portentosas, numa redoma de con-tactos transfronteiriços que apenas fazem da Eu-ropa um espaço cada vez mais pequeno, apesar de nela se estabelecerem relações pessoais e comerciais cada vez mais complexas...

A internacionalização é a palavra de ordem.A livre circulação das pessoas, das mercado-

rias, dos serviços e dos capitais, num espaço único integrado por vários Estados, é necessariamente um factor potencialmente gerador de elementos da relação jurídica e judiciária.

Fala-seagorada5ªliberdade-alivrecircula-ção das decisões judiciais.

E como o Dr. Carlos Marinho nos disse hoje, um juiz hoje é, antes de mais, um juiz comunitá-rio, deixando de ser um mero juiz nacional, pen-sando apenas numa lógica de contexto interno.

3.3. Terminámos a continuar a falar de Europa e do mandado de detenção europeu que substi-tuiu, entre os vários Estados membros da União Europeia, o tradicional sistema de extradição, ba-seado na cooperação clássica intergovernamental (político-administrativa, como bem salientou há pouco o Dr. Carlos Almeida) por um novo concei-to de cooperação directa entre autoridades judiciá-rias, concretizando uma nova concepção de justiça penal europeia, baseada no princípio da confiança

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52 Boletim Informativo - Dez.2006

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mútua entre Estados e na livre circulação de de-cisões judiciais em matéria penal, essencial para a concretização do Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça, tal como definido no Tratado da União Europeia.

4. Ninguém ignora que o Conselho Superior da Magistratura português conhece, melhor do que ninguém, as necessidades do judiciário e do próprio sistema judicial, tendo, por isso, o dever de não se demitir da iniciativa de provocar esta mesma discussão, cooperando na criação e implementação de soluções e de programas de gestão desse mesmo sistema que potenciem a eficácia e reforcem a inde-pendência dos tribunais, sempre com o mesmo fito e com a mesma meta – a credibilidade da opinião pública na administração da justiça.

Nesta hora de fim de jornada, quero, então, agradecer, ao CGPJ de Espanha e a Castela e Leão, em nome do CSM português, instituição que tão orgulhosamente secretario e por quem estou legi-timamente mandatado, a magnífica e calorosa re-

cepção que tiveram os membros do Conselho, os nossos palestrantes e os nossos Juízes do Nordeste transmontano que quiseram associar-se a esta ini-ciativa, estando o Conselho devidamente atento aos resultados deste Encontro, a fim de retirar das mesmas as oportunas consequências, no âmbitodas suas competências.

E porque, falando nós quase a mesma língua, poderei fazer minhas as palavras de um dos vossos poetas maiores, Federico Garcia Lorca:

“Porque queremos el pan nuestro de cada dia,Flor de aliso y perenne ternura desgranada,Porque queremos que se cumpla la voluntad de la TierraQue da sus frutos para todos”.

O VI Encontro está agora nas nossas mãos.Esperem, então, notícias nossas!

Muchas graciasMuito obrigado

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3 - DELIBERAÇÕES DO CONSELHO2 - SUPERIOR DA MAGISTRATURA

DELIBERAÇÕESANO DE 2005

ACTA 26/05 (Conselho Permanente)

Ponto n.º 7 – Proc.º n.º 02-77/D – Tribunal Penal Internacional

Foi deliberado tomar conhecimento do parecer ela-borado pela Direcção-Geral dos Assuntos Multilaterais (do Ministério dos Negócios Estrangeiros), no qual se dá conta de que, afinal, “não se considera oportuna a apresentação de uma candidatura portuguesa para o Tri-bunal Penal Internacional”, dando-se conhecimento do seu teor aos candidatos que responderam na sequência da Circular emitida após despacho do Exmº Vice-Presidente de 2/6/2005 e que publicitava a abertura de seis lugares de Juízes naquele Tribunal.

Mais foi deliberado expressar ao Ministério da Justiça, com conhecimento ao Ministério dos Negócios Es-trangeiros, a insatisfação do CSM pela forma como se desencadeou este processo, que levou o Conselho a encetar diligências que, não obstante terem conduzido à apresen-tação de candidaturas por dois magistrados de tribunais superiores, se vê agora terem sido desconsiderados e sem qualquer efeito útil.

ACTA 27/05 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 3 – procº 2005-1130/DRelativamente ao parecer sobre a Lei-Qua-

dro da Polícia Criminal, solicitado ao CSM pelo Ministério da Justiça, e após aturada discussão, foi retirado, por vontade dos seus autores, a proposta de parecer elaborada pelos Exmos Vogais Dr. Ma-nuel Braz e Dr. Rui Moreira, tendo sido deliberado aprovar a proposta do Exmº Vogal Prof. Doutor Calvão da Silva, por maioria, com 14 votos a favor (dos Excelentíssimos Presidente e Vice-Presidente,

dos Exmos Vogais Dr. Sampaio da Nóvoa, Dr. Ma-nuel Joaquim Braz, Dr. Palma Carlos, Prof. Dou-tor Calvão da Silva, Dr. Luís Máximo dos Santos, Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Dr. Ví-torFaria,Dr.ªAlexandraLeitão,Dr.RuiMoreira,Dr.ªMariaJoséMachado,Dr.AntónioGeraldeseDr. António Barateiro), um voto contra (do Exmº Vogal Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto) e uma abstenção (do Exmº Vogal Dr. Edgar Taborda Lopes), a qual tem o seguinte teor:

“Considerandoaurgênciadopedido,oCon-selho Superior da Magistratura dá o seu parecer favorável de princípio à filosofia que perpassa oarticulado, no sentido de o poder legislativo de-mocrático definir os objectivos e as prioridades da política criminal, reservando-se o direito de, em sede de discussão de especialidade na Assembleia da República, poder contribuir para eventuais me-lhoriasdodiplomafinal.”

Mais foi deliberado comunicar o teor deste Parecer ao Ministério da Justiça.

Nesta altura pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto, foi proferida a seguinte decla-ração de voto:

“Em coerência com aquilo que disse sobre a partici-pação de representantes do Conselho Superior de Magis-tratura na unidade de missão, com o estatuto que lhe foi dado e porque entendo que a participação da magistratu-ra judicial na feitura de leis deste tipo, aliás de conteúdo normativo discutível, deve ser institucionalizada de ou-tra forma, voto contra”.

Ponto Prévio n.º 4 – procº 2005-3/M1 (Se-cretariado)

Foi deliberado deferir por maioria, com 15 votos a favor (dos Excelentíssimos Presidente e Vice-Presidente, dos Exmºs Vogais Dr. Sampaio da Nóvoa, Dr. Manuel Joaquim Braz, Dr. Palma Car-los, Prof. Doutor Calvão da Silva, Dr. Máximo dos Santos, Prof. Doutor Ferreira de Almeida, Dr. Ví-

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torFaria,Dr.ªAlexandraLeitão,Dr.RuiMoreira,Dr.ªMaria JoséMachado,Dr.AntónioGeraldes,Dr. Edgar Taborda Lopes e Dr. António Barateiro Martins) e um voto contra (do Exmº Vogal Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto), o pedido ex-presso no expediente de Sua Excelência o Ministro da Administração Interna e, nessa medida, autori-zar a nomeação, em comissão de serviço ordinária não judicial, por tempo indeterminado, do Exmº Juiz Desembargador Dr. António Manuel Cle-mente de Lima, do Tribunal da Relação de Lis-boa, para o cargo de Inspector-Geral da Adminis-tração Interna, não determinando abertura de vaga no lugar de origem, nos termos dos artigos 53º, 54º, n.º 1 e 2, 57º do Estatuto dos Magistrados Ju-diciais, 18º, n.º 1 e 2 do Decreto-Lei n.º 227/95 de 11 de Setembro e 18º, n.º 1 e 38º do Decreto-Lei n.º 49/99 de 22 de Junho.

Neste momento, pela Exmª Vogal Dr.ª Ale-xandra Leitão foi proferida a seguinte declara-ção:

“Voteifavoravelmenteaconcessãodecomis-são de serviço ao Exmº Senhor Juiz Desembarga-dor, Dr. António Manuel Clemente de Lima para desempenhar as funções de Inspector-Geral da Ad-ministração Interna, uma vez que este é um dos cargos expressamente referidos na Deliberação do Conselho Superior da Magistratura sobre Comis-sões de Serviço, aprovada pela Sessão Plenária de 17 de Março de 2005, apesar de não concordar, em princípio, com a multiplicação destas situações que, além de desfalcarem os Tribunais, implicam sempre uma certa “confusão” entre a Justiça e oPoderPolítico.”

Pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto foi proferida a seguinte declaração de voto:

“Nada impede o CSM de divergir dos critérios do legislador quando este entende que certo cargo deve ser exercido por um magistrado judicial. Em alguns casos, a opção política positivada na norma consubstancia, no mínimo, uma falta de cortesia institucional, pela falta de audição do órgão, além de uma preterição óbvia da separação de poderes entre executivo e judicial, se se en-tender a faculdade conferida na lei como uma imposição

a seguir pelo CSM. Neste caso, nem a lei, nem a delibe-ração tomada pelo CSM sobre esta matéria, limitam a apreciação casuística de cada proposta feita pelo governo para este tipo de nomeações. Assim sendo, entendo que o actual momento vivida na magistratura judicial e a crise de credibilidade na separação efectiva entre os po-deres judiciais e político-administrativos, desaconselha a nomeação de magistrados para cargos de Direcção e Inspecção, subordinados à orientação política e à tutela administrativa de membros do Governo. Tal posição, se-guida coerentemente em casos anteriores, nada tem a ver com o Sr. Juiz Desembargador António Manuel Clemen-te Lima, a quem desejo as maiores felicidades no desem-penho do cargo”.

Ponto Prévio n.º 14 – procº 1997-342/D – EMJ (Secretariado)

Foi deliberado aprovar por maioria, com apenas três votos contra (dos Exmos Vogais Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto, Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida e Dr. Vítor Faria), a proposta de deliberação apresentada pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Taborda Lopes, sobre a emissão de“CartãodeAcessoAeroportuário”amagistra-dos judiciais (na sequência da reunião ocorrida no CSM, em 30/11/2005, com três representantes do INAC), e assim emitir uma CIRCULAR nos se-guintes termos:

“Nasequênciadealgunsincidentesocorridosem aeroportos portugueses e de forma a evitar a sua repetição, sem prejuízo para a cada vez maior neces-sidade de rigorosas regras de segurança em matéria denavegaçãoaérea,oINACiráemitir“CartõesdeAcessoAeroportuário”(quepermitirãooacessoatodas as zonas restritas de segurança nos aeroportos e aeródromos situados em território nacional) para os juízes que assim o entendam, bastando para tal que façam chegar ao CSM uma fotografia actualiza- da tipo passe, que será, posteriormente remetida àquelaentidade,comalistagemdoscartõesaemi-tir.

Para quem não solicite a emissão do respec-tivo cartão, em cada aeroporto ou aeródromo esta-rá disponível a opção do cartão de acesso pontual (disponível no balcão de informações).

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Sempre que a necessidade de entrada e per-manência nos locais em causa ocorra em serviço, bastará a apresentação do cartão de identificação de Juiz, emitido pelo CSM (ficando naturalmente dis-pensada a necessidade de qualquer dos dois cartões acimareferidos)”.

Nesta altura, pela Exmª Vogal Dr.ª Alexan- dra Leitão foi apresentado a seguinte declara-ção:

“Voteifavoravelmenteestapropostadedeli-beração, atendendo ao disposto no artº 17º, n.º 1 alínea a) do EMJ, embora discorde deste preceito por considerar que os magistrados só deveriam ter acesso aos aeroportos quando se encontrassem em serviço.”

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida foi apresentado a se-guinte declaração de voto:

“Votei contra os termos da circular, porque ela pres-supõe a admissibilidade de uso do cartão de identificação do juiz para acesso a gares aeroportuárias em duas si-tuações: em serviço e fora de serviço. Ora, nesta segunda situação, a exibição do cartão é, na minha opinião, abu-siva e portanto ilegítima. A diferença da redacção do nº 1, a) e do nº 2 do artigo 17º do EMJ justifica-se apenas porque, no segundo caso, o juiz deve invocar motivo de serviço, o que não é necessário no caso de acesso a gares. Mas tal diferença é relevante apenas para efeitos exter-nos, não influenciando o fundamento subjacente a ambos os preceitos: acesso a certos lugares justificado por razões de serviço. Trata-se pois de um poder funcional e não de um privilégio da profissão. Outra interpretação, que não atende à ratio legis, é desconforme com o princípio da igualdade entre os cidadãos consagrado na Constituição. Os termos em que está redigida a circular adopta infeliz-mente outra orientação, prestando-se a dar cobertura a práticas que julgo abusivas”.

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto foi apresentado a seguinte de-claração de voto:

“Votei vencido porque entendo que é desnecessária a emissão de outro cartão para que um magistrado judicial se desloque às áreas restritas do aeroporto, a que já lhe dá acesso o actual cartão. Se basta pedir para ter o novo cartão, não há qualquer acréscimo de segurança, ou a

haver é ilícito e ilegítimo. Se for assim para os aeroportos, poderá ser para todas as áreas restritas e multiplicam-se os cartões. Por isso, pela desnecessidade de novo cartão, e porque sou contra a sindicância por seguranças privados dos motivos que levam um magistrado a deslocar-se a áreas restritas, já que se pressupõe que o faz sempre em serviço, voto contra”.

CONTENCIOSOProcº. Nº 05-13/IA – Foi deliberado tomar

conhecimento do teor da Acta de Reunião de Ins-pectores Judiciais, realizada em 17 de Novembro de 2005, tomando-se as seguintes deliberações sobre as seis propostas aí vertidas e apresentadas pelos Exmos Inspectores Judiciais:

1º- Foi deliberado aprovar o Plano de Ins-pecções para o ano de 2006, constante do processo acima referenciado, aqui dado por inteiramente re-produzido;

2º- Foi deliberadoatribuiràsseguintesÁreasde Inspecção os Juízos de Execução que a seguir se identificam:

♦ Guimarães – 3ª Área♦ 1º Juízo de Lisboa – 6ª Área♦ 2º Juízo de Lisboa – 18ª Área♦ Loures – 15ª Área♦ Maia – 7ª Área♦ Oeiras – 16ª Área♦ Porto – 1ª Área♦ Sintra – 17ª Área;

3º- Sob os pressupostos: ■ da prometida reorganização judiciária; ■ do interesse em salvaguardar as vanta-

gens do melhor conhecimento da área através da maior permanência do ins-pector nesta;

■ da nova filosofia subjacente ao RIJ apro-vado na sessão plenária de 19/12/2002, maxime no respeitante à abrangênciadoserviçoainspeccionareàplanifica-ção das Inspecções (artigos 6º e 9º do RIJ) quanto na possibilidade que esta consentedecorrigireobviaràrepeti-ção dos actos inspectivos ao mérito dos Juízes pelo mesmo inspector;

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■ da preservação do interesse subjacente àtrocadeáreas,sendoesteodeevitarque o mesmo juiz seja inspecciona- do duas ou mais vezes pelo mesmo Ins-pector,

foi deliberado proceder à substituição daaprovada troca de áreas dos 5 inspectores recente-mentenomeadosparauma3ªcomissãodeserviçopela implementação de uma cláusula de impedi-mento (dizer: um juiz não será inspeccionado por um Inspector mais do que uma vez, garantindo-se o cumprimento prático desta cláusula no acto da definição do Mapa Anual de Inspecções, já a come-çar no de 2006);

4º- Considerando: • o número ainda elevado de inspec-

ções ao mérito dos Juízes a realizar no quadro do propósito assumido, desde 2003/2004, quanto à “reparação desituações de desigualdade entre magis-trados judiciais do mesmo curso de for-ma a, tendencialmente, as equiparar em número de inspecções ou, pelo menos, procurar que o período abrangido pelas actos inspectivos possam equivaler-se, até onde este desiderato for possível;

• aexistênciadeumnúmeroassinalávelde processos de índole disciplinar;

• arealizaçãoanualeobrigatóriadasIns-pectivas Sumárias a todos os Tribunais e

• areorganizaçãodoMapaJudiciárioqueo Governo promete,

foi deliberado renovar, pela última vez, por mais um ano a suspensão das inspecções ordinárias aos serviços dos Tribunais – artigo 2º, n.º 1, alínea a) do RIJ - (cfr. Deliberação do Conselho Plenário de 3/6/2003);

5ª-Foi deliberado validar as permutas feitas no dia 17/11/2005, mormente as seguintes: o Exmº Inspectorda13ªÁrea(Dr.GregóriodeJesus)rece-beudoExmºInspectorda11ªÁrea(Dr.GonçalvesFerreira) as inspecções aos juízes n.ºs 1615 e 1557 (doMAPAde2006)–DrªMariaHelenaLamaseDrªMariaLeonorGusmãodeBrito-,tendoestere-cebido daquele as inspecções de 3 Juízes ainda por

inspeccionar do Plano de 2005 (Dr. Pedro Martin Martins,DrªMariaJoanaSousaTeixeiradaSilvaeDrªSandraIsabelTavaresdosSantosCarvalho);

6º- Foi deliberado aprovar o relatório-tipo da visita inspectiva sumária (artigo 5º, n.º 2 do RIJ) constanteda5ªproposta,determinando-se,contu-do, que no final de tal Relatório se acrescente o seguinte item:

- “Propostas a apresentar (visando a melhoria dos serviços):”

Ponto n.º 25 – Proc.º 2005-5/M8Foi deliberado tomar conhecimento do teor do ofí-

cio remetido pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, sobre a suspensão da distribuição gratuita dos D.R. aos magistrados judiciais jubilados.

Mais foi deliberado informar o Exmº Juiz Conse-lheiro Jubilado Dr. António Teixeira do Carmo que o entendimento constante do ofício da IN-CM é o que se afigura resultar da letra do artigo 21º, n.º 3 do EMJ.

Pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes foi profe-rida a seguinte declaração:

“Pese embora em termos legais o entendimento da INCM – quanto mais não seja em termos literais – se tenha como admissível, não posso deixar de lamentar com veemência o comportamento dessa instituição, a qual al-terou de forma unilateral uma prática habitual (sempre seguida), sem consulta ou aviso prévio, cortando a distri-buição do Diário da República aos Juízes jubilados.

Assumindo a INCM uma posição distinta da que sempre seguira até aqui, o que se lhe exigiria era um mí-nimo de deferência e elegância perante os Juízes jubilados (a grande maioria Juízes Conselheiros e Juízes Desem-bargadores, com um longo passado de esforço, sacrifício e dedicação à causa pública, que não os fazia merecedores deste tipo de tratamento”.

ANO DE 2006

ACTA 1/06 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 2 – procº 2005-1/C1Foi deliberado formar um Grupo de Trabalho,

composto pelos Juízes de Direito, os Exmos Vogais Drª

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 57

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Maria José Machado, Dr. Edgar Taborda Lopes e o Exmº Juiz-Secretário deste Conselho, Dr. Paulo Guer-ra, com vista ao estudo e à apresentação ao Plenário de proposta de modelo de mapa de férias dos Juízes, a que se refere o artigo 28º-A, n.º 4 da Lei n.º 42/2005 de 29 de Agosto.

Ponto Prévio n.º 3- procº 05-836/DFoi deliberado, por maioria, com um voto

contra do Exmº Vogal Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto, manter a representação do CSM na Unidade de Missão para a Reforma Penal (UMRP) – deci-dida nas sessões plenárias de 20/9/2005, no ponto prévio n.º 1, de 4/10/2005, no ponto prévio n.º 3 e de 12/10/2005, na parte final do ponto n.º 4 - , e, deferindo, pelas razões por si apresentadas em requerimento apresentado no processo e também oralmente, ao pedido de substituição feito pela actual representante efectiva na dita Unidade, a ExmªVogalDrªMariaJoséMachado,designarosVogais distritais da 1ª Instância deste Conselho(Dr. Rui Moreira, Dr. António Barateiro Martins, Dr.EdgarLopeseDrªMariaJoséMachado)comorepresentantes efectivos do Conselho Superior da Magistratura na referida Unidade, os quais, de for-marotativaeconcertadaentresi,comparecerãoàsreuniões seguintes da UMRP.

Enquanto, até agora, representante isolada na Unidade em causa, foi deliberado manifestar o apreçodoCSMpelotrabalhodaExmªVogalDrªMaria José Machado.

Nesta altura, foi proferida pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto a seguinte decla-ração de voto:

“Voto contra porque considero que a representação do Conselho não tem a dignidade institucional que deve-ria ter, como aliás já referido”.

Ponto Prévio n.º 7 - procº 05-43/D1Foi deliberado manifestar a Sua Excelência o Mi-

nistro da Justiça as preocupações do CSM pela situação detectada – existência de amianto no Palácio da Justi-ça de Lisboa –, pelos riscos que ela pode envolver para a saúde de todos quantos – magistrados, funcionários, advogados e utentes – ali trabalham diariamente ou ali

têm necessidade de aceder, solicitando informação sobre as medidas tomadas e a tomar para a resolver.

Ponto n.º 13 - Proc.º n.º 05-800/DFoi deliberado aprovar o Parecer elaborado

pelo Exmº Vogal Dr. António Geraldes, sobre o Anteprojectodo“RegimeProcessualEspecialEx-perimental”.

Ponto n.º 14 - Proc.º n.º 05-1234/DFoi deliberado aprovar o Parecer elaborado pelo

Exmº Vogal, Dr. António Geraldes, sobre o Antepro-jectodo“RegimedeRecursosemProcessoCivil”.

Muito embora não tivesse estado presente na votação deste ponto, o Exmº Vogal Dr. Morei-ra da Silva, antes de se ausentar da sessão, ain-da da parte da manhã, deixou uma declaração, que ora se reproduz:

“QuantoaoanteprojectodealteraçãoaoCPCna parte dos recursos, não o poderei subscrever.

As principais razões que me assistem pren-dem-se com uma posição de princípio que defendo sobre a função dos Tribunais, do Direito e da Justi-ça, posição que se compatibiliza mal com os cortes administrativosefinanceirosnoacessoàJustiçaeao Direito.

Se o objectivo é não aceitar processos e recur-sos, tenha-se a coragem política de o dizer, em vez de o camuflar com alterações legislativas ou com aumentos dos custos!

O Direito consegue-se com reflexão e discus-são, embora sem exageros, não com sentenças de remissãooude“porquesim”.Osexagerosnãopo-dem ser transformados em regras, com o objectivo de penalizar todo o sistema!

Sou a favor de alçadas não muito elevadas (sou o responsável pelo valor das actuais não terem su-bido mais em 1999), de Acórdãos verdadeiramen-te fundamentados, que saibam convencer todas as partes, mais do que vencer uma das partes, de tempo suficiente para apresentação de alegações, também bem fundamentadas.

Tudo isto vai contra a proposta feita e o douto Parecer que irá a apreciação deste Conselho. Razão da minha necessária oposição.

Conselho Superior da Magistratura

58 Boletim Informativo - Dez.2006

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A Justiça é um bem essencial, que tem de ser aceite pela sociedade, não apenas porque a lei o diz, mas fundamentalmente porque a sociedade o re-conhece. Tal deriva do valor do Direito dito pelos Tribunais, que necessariamente deve ser diverso dos despachos dos administrativos, ou de meras fórmulasrituaisequaseirresponsáveisde“execu-te-se”,de“confirmo”oude“aprovo”…

Se o Direito não tem valor no Portugal ac-tual tal se deve a uma crise profunda de valores. Gastam-se fortunas em coisas inúteis em vez de se reformarem os Tribunais, se contratarem Juízes, funcionários e assessores. Mas a inversão de valores não pode ser de todos, devendo ser imposta a razão e os princípios, mesmo quando poucos o fazem.

Se alguém tem de dizer não, eu digo não a esteestadodecoisasquemerecusoaaceitar!”

Ponto n.º 15 - Proc.º n.º 05-1/C1 (Conta-bilidade)

Foi deliberado aprovar, concordando-se com o seu teor, o Parecer elaborado pelo Exmº Técni-co Superior, Dr. Ralph Rodrigues, sobre a data a partir da qual deverão os Tribunais Superiores pro-cessar e efectuar o pagamento de vencimentos aos Magistrados judiciais a exercerem funções nesses Tribunais.

Mais foi deliberado comunicar o teor do refe-rido Parecer aos Exmos Presidentes dos Tribunais das Relações de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora e Guimarães.

Ponto n.º 16 - Proc.º n.º 98-360/M8 (CEJ) - Secretariado

Foi deliberado tomar conhecimento do teor do expediente do Ministério da Justiça, relativa-mente ao despacho conjunto que aprova o descon-gelamento de vagas para oXXVCursoNormalde Formação de Magistrados do Centro de Estudos Judiciários (e que descongelou quarenta e cinco lugares para a Magistratura Judicial, número infe-rior ao proposto pelo CSM e que foi de oitenta).

Mais foi deliberado lamentar a redução do número de lugares atribuídos à Magistratura Judicial, o que não foi previamente discutido com o CSM.

Ponto n.º 25 - Proc.º n.º 05-225/DFace ao pedido feito pela Secretaria de Estado

da Justiça, foi deliberado designar os Exmos ma-gistrados judiciais, Dr. Edgar Taborda Lopes, Juiz de Direito e Vogal deste Conselho e Dr. Diogo Maria Alarcão Ravara, Juiz de Direito do 3º Juízo do Tribunal do Trabalho de Lisboa, como interlo-cutores do CSM com o Ministério da Justiça, no que concerne ao conhecimento, acompanhamento e participação na evolução das aplicações informá-ticas dos Tribunais e respectivos mecanismos de segurança.

NoquedizrespeitoàdeliberaçãotomadapeloPlenário de 30/6/2005, acerca do programa-mó-dulo Habilus para Juízes, foi deliberado aguardar pela evolução do acompanhamento referenciado na 1ªpartedestadeliberação.

Ponto n.º 26 - Proc.º n.º 05-3/M1 - (Secre-tariado)

Apreciadas e discutidas as oito candidaturas apresentadas para o cargo de Inspector Judicial, para a 5ª Área (que vagou em consequência dajubilação do Exmº Juiz Desembargador Dr. Fran-ciscoCachapuzGuerra),foideliberadoprocederàescolha do novo Inspector através de voto secreto.

Após votação, foi obtido o seguinte resulta-do:

• Dr.JoséAntóniodeSousaLameira–ne-nhum voto

• Dr.FernandoBaptistadeOliveira–doisvotos

• Dr.FranciscoAntóniodeFigueiredoCa-ramelo – nenhum voto

• Dr.GabrielMartimdosAnjosCatarino– nenhum voto

• DrªMariaRosaOliveiraTching – umvoto

• Dr.JoãoInácioMonteiro–nenhumvoto• Dr.JorgeHenriqueSoaresRamos–ne-

nhum voto• Dr.JosédaCunhaBarbosa–dezvotosEm consequência, foi deliberado nomear o Exmº

Juiz Desembargador Dr. José da Cunha Barbo-sa, do Tribunal da Relação do Porto, Inspector Judicial

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 59

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deste Conselho, em comissão de serviço ordinária, de na-tureza judicial, por um período de 3 anos, renovável, nos exactos termos dos artigos 53º, 54º, n.º 1, 2 e 3, 55º, 56º, n.º 1, alínea a) e 57º, n.º 1 do EMJ, guardando vaga no lugar de origem.

ACTA 2/06 (Plenário extraordinário)

Deram entrada na sala de sessões Suas Excelên-cias o Ministro da Justiça Dr. Alberto Costa, o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça Dr. José Conde Rodrigues e o Secretário de Estado da Justiça Dr. João Tiago Silveira.

Sua Excelência o Presidente do Conselho Superior da Magistratura começou por dar as boas vindas a Suas Excelências o Ministro da Justiça e Secretários de Esta-do, realçando a honra do CSM em voltar a receber tão ilustres personalidades.

Manifestou igualmente a necessidade de haver um diálogo permanente e franco entre o Conselho Superior da Magistratura e o Ministério da Justiça, cuja finalidade principal seja a de encontrar as soluções melhores que pos-sam contribuir para o bom funcionamento da justiça.

Sua Excelência o Exmº Ministro da Justiça agra-deceu as palavras proferidas por Sua Excelência o Pre-sidente do CSM, tendo em seguida apresentado cumpri-mentos e saudações ao Exmº Vice-Presidente e restantes membros do Conselho Superior da Magistratura.

Manifestou também o seu agradecimento pela dis-ponibilidade do Conselho Superior da Magistratura para a realização de encontros entre as duas instituições com a finalidade de encontrar as soluções capazes de dar uma resposta aos muitos problemas com que as instituições judiciárias se debatem.

Seguidamente, abordou diversos temas, a saber: • Medidasparaodescongestionamentodos

Tribunais•Regime simplificado do processo civil• Reformadoregimedosrecursos• Revisãodomapajudiciário• NovosequipamentosemeiosparaaJus-

tiça,• Reformalegislativanocampopenal• OacessoaoCEJ

• AreformadoregimedoApoioJudiciário• Sistema informático do Ministério da

Justiça• LeiOrgânicadoCSMApós, usaram da palavra Suas Excelências os dois

Secretários de Estado. Depois, usou da palavra o Exmº Vice-Presidente

para agradecer a presença e dar as boas vindas as Suas Excelências o Ministro da Justiça e Secretários de Esta-do.

Manifestou a sua grande preocupação pela falta de meios do Conselho Superior da Magistratura, reiteran-do, nomeadamente, a necessidade da aprovação da Lei Orgânica deste Conselho, tendo feito algumas considera-ções sobre cada um dos temas referenciados na Agenda de reunião, ontem entrada neste Conselho.

Após, usaram da palavra, e por esta ordem, os Ex-mos Vogais Dr. Guilherme Palma Carlos, Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Conselheiro Sampaio da Nóvoa, Dr. António Geraldes, Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto, Dr. Barateiro Martins, Dr. Edgar Lopes, Drª Maria José Machado e Prof. Doutor João Calvão da Silva.

Seguidamente, a equipa ministerial respondeu às várias questões formuladas pelos Exmos Vogais.

Finalmente usou da palavra o Exmº Presidente do Conselho Superior da Magistratura para agradecer a presença e a disponibilidade demonstrada por Suas Exce-lências o Ministro da Justiça e Secretários de Estado.

ACTA 4/06 (Plenário extraordinário)

Ponto n.º 1 – procº 05-3/M1 (Graduação)A)- Admissão ao 11º Concurso Curricular de

acesso ao Supremo Tribunal de Justiça da Exmª Srª Drª Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza, naclassedos“juristasdemérito”.------------------

B)- Admissão ao 11º Concurso Curricular de acesso ao STJ do Exmº Procurador-Geral Adjunto Dr. José César Pinto Cardoso de Oliveira como concorrente voluntário.

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Conselho Superior da Magistratura

60 Boletim Informativo - Dez.2006

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A)- Foi deliberado, por maioria, com 14 (quatorze) votos a favor e 3 (três) votos contra (dos Exmos Vogais Dr. António Geraldes, An-tónio Barateiro Martins e Dr. Edgar Lopes), o seguinte: -----------------------------------

A Sra. Conselheira Maria dos Prazeres Coucei-ro Pizarro Beleza, Juíza do Tribunal Constitucional, apresentou candidatura ao XI Concurso Curricular, na qualidade de concorrente voluntária como jurista de reco-nhecido mérito, ao abrigo do disposto no artigo 51º, nº 3, alínea b) do EMJ. -------------------------------------

A admissão a este XI Concurso Curricular, na referida qualidade exige o preenchimento cumulativo de dois requisitos: um requisito funcional/temporal e um re-quisito substantivo. ------------------------------------

O primeiro corresponde, na parte que releva para a presente situação, ao exercício de “...pelo menos, vinte anos de actividade profissional exclusiva ou sucessivamente na carreira docente universitária ou na advocacia...”. -----

O segundo corresponde à qualidade de jurista de re-conhecido mérito e idoneidade cívica. -------------------

Considerando que a Sra. Dra. Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza desenvolveu as actividades de Assistente estagiária na faculdade de Direito da Uni-versidade de Lisboa, nas cadeiras de Teoria Geral do Direito Civil e de Direito Processual Civil, entre 2 de Março de 1981 e 31 de Dezembro de 1985; de Regente da cadeira de Processo Civil no Departamento de Direito da Universidade Lusíada, em Lisboa, com a categoria de professora auxiliar convidada, de ! de Outubro de 1993 até 30 de Setembro de 1996 e de Assistente da cadeira de Processo Civil na Faculdade de Direito da Universida-de Católica Portuguesa nos anos lectivos de 1981/1982 a 1983/1984, enquanto foi regente o Professor Doutor Antunes Varela e, após a sua saída, em 1984, encarrega-da da respectiva regência, sem interrupções, situação que se mantém presentemente; -----------------------------

delibera-se considerar verificado o primeiro dos citados requisitos.

Considerando a nota de licenciatura da Sra. Dra. Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza, o conteúdo das funções desempenhadas, como docente universitária, como consultora principal e Directora do Centro de Estu-dos Técnicos e de Apoio Legislativo (CETAL), Directora do Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Minis-

tros (CEJUR) e Juíza do Tribunal Constitucional, elei-ta pela Assembleia da República; ----------------------

Considerando ainda a qualidade dos trabalhos apresentados, designadamente pela diversidade e trata-mento das questões subjacentes; -------------------------

delibera-se considerar verificado o segundo dos citados requisitos.

Pelo exposto, delibera o Plenário do Conselho Su-perior da Magistratura admitir, na qualidade de con-corrente voluntária como jurista de reconhecido mérito, ao abrigo do disposto no artigo 51º, nº 3, alínea b) do EMJ, a candidatura da Juíza Conselheira Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza ao XI Concur-so Curricular de Acesso ao Supremo Tribunal de Justiça. -----------------------------------------------

Seguidamente, pelo Exmº Vogal Dr. Abran-tes Geraldes foi apresentado o seguinte voto de vencido: -----------------------------------------------

“1. Nos termos do art. 215º, nº 4, da CRP, admi-te-se o acesso ao Supremo Tribunal de Justiça de “juristas de mérito”, nos termos a determinar pela lei ordinária. ---------------------------------------------------------

No desenvolvimento de tal preceito constitucional, o art. 51º, nº 3, al. b), do EMJ, abre a possibilidade de acederem ao concurso curricular “juristas de reconhecido mérito” com exercício continuado de actividades na do-cência universitária ou na advocacia durante, pelo menos 20 anos. --------------------------

1.1. A Srª Drª Maria dos Prazeres Couceiro Pi-zarro Beleza candidata-se com invocação do exercício da docência universitária. ---------------------------------

E de facto, de 2-3-81 a 31-12-85 foi assistente estagiária na FDUL; entre 1-10-93 e 30-9-96, com a categoria de Professora Auxiliar Convidada, leccionou na Universidade Lusíada de Lisboa; desde 1981 é do-cente da Universidade Católica de Lisboa, onde mantém a regência de uma cadeira, situação que, assim, perdura há 25 anos. ---------------

Porém, em 31-3-87 passou a exercer o cargo de primeira-consultora do CETAL, em regime de comissão de serviço, o qual foi sucessivamente renovado, por um ano, a partir de 30-3-88 e de 30-3-89; por despacho do Primeiro-Ministro de 16-10-89 foi nomeada Directora do CETAL, também em regime de comissão de serviço; por despacho de 31-12-92 foi nomeada Directora do CE-

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 61

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JUR, igualmente em regime de comissão de serviço, a qual foi renovada a partir de 1-1-96, tendo perdurado até ser eleita para o lugar de Juíza do Tribunal Constitucional. --------------------------------------------------------

1.2. O referido percurso profissional revela que, na realidade, a actividade profissional que a Srª Drª Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza veio desempenhan-do, a título principal, até ser eleita juíza do Tribunal Constitucional, em Março de 1998, foi em cargos pú-blicos, com equiparação a director-geral, com sujeição ao regime, então vigente, decorrente do Dec. Lei nº 323/89, de 26-9. Diploma que prescrevia para o exercício de tais funções públicas o regime de exclusividade, apenas atenu-ado, nos termos do Art.º 9º, nº 2, relativamente a funções de docente em regime de tempo parcial. -----------------

Semelhante limitação decorre do exercício do cargo de Juíza do Tribunal Constitucional, em que o rigoroso regime de impedimentos apenas admite o exercício não re-munerado de funções docentes (art. 27º, nº 2, da Lei nº 28/82, de 15-11). ------------------------------------

Assim, relativamente a qualquer dos referidos perí-odos temporais, a identificação da actividade profissional exercida não era nem é seguramente a de docente universi-tária, o que necessariamente contrariaria a natureza dos cargos desempenhados. A actividade docente apresenta-se com natureza meramente complementar da actividade principal correspondente ao cargo de directora de serviços públicos e, depois, ao cargo de Juíza do Tribunal Consti-tucional. -----------------------------------------------

Em suma, tal como actualmente se deve afirmar que a Srª Drª Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Bele-za é Juíza do Tribunal Constitucional, exercendo ain-da funções não remuneradas de docência universitária, relativamente ao período imediatamente anterior se deve asseverar que era Directora do CEJUR ou do CETAL e que, sem embargo do regime de exclusividade, exercia complementarmente as referidas funções de docente. -----

1.3. No que concerne à admissibilidade de juris-tas, entre diversas hipóteses abstractamente possíveis, en-volvendo, por exemplo, juristas com cargos na Adminis-tração ou em qualquer outra área, o legislador apenas atribuiu relevo à actividade de docente universitário ou de advogado. A razão encontrar-se-á decerto na maior ligação dessas actividades ao cargo a que o concurso se destina. ------------------------------------------------

Ora, posto que a lei não exija, com absoluta segu-rança, o exercício dessas actividades em regime de rigorosa exclusividade, admitindo-se que se apresentem ao concurso docentes que exerçam outras actividades, impõe-se, no mí-nimo, a comprovação da pertença a uma “carreira”, o que necessariamente exclui as situações em que a actividade é exercida em regime de mera complementaridade com outra actividade principal, essa sim definidora do verdadeiro estatuto profissional. -----------------------------------

O bastante para, em meu entender, dever ser recusa-da a admissão ao concurso. -----------------------------

2. Sem embargo do que referi no ponto anterior, não considero verificado o pressuposto do “reconhecido mérito” nos termos em que a meu ver a lei o exige. --------------

2.1. A Srª Drª Maria dos Prazeres Couceiro Pi-zarro Beleza é licenciada em Direito com a média de 17; foi sucessivamente monitora e assistente estagiária na FDUL, e, depois, na Universidade Católica, assistente e regente da cadeira de Processo Civil, situação em que ainda se mantém; foi também regente na Universidade Lusíada; leccionou em diversos cursos de pós-graduação, teve intervenção em seminários e cursos. -----------------

Foi secretária da Comissão de Revisão do CPC; foi jurisconsulta entre 1983 e 1998, subscrevendo, como co-autora ou autora, diversos pareceres; desempenhou funções de árbitro em processos arbitrais; foi consultora e directora do CETAL; foi Directora do CEJUR. ----------------

Desde Março de 1998 juíza do Tribunal Consti-tucional. -----------------------------------------------

É autora de 10 estudos publicados e co-autora de outros 6. -----------------------------------------------

2.2. Pressuposta a verificação do requisito ligado ao exercício de funções preponderantes na carreira de docên-cia universitária, o reconhecimento do mérito, para efeitos de admissão ao concurso curricular de acesso ao STJ, pode naturalmente variar de acordo com o percurso profissional do candidato. ------------------------------------------

Para esse reconhecimento concorre naturalmente a apreciação dos graus académicos apresentados, na medi-da em que reflectem o percurso académico, mais ou menos cadenciado, e a valoração do mesmo por parte dos órgãos competentes, dentro das regras da autonomia universitá-ria. Mas concorre igualmente a apreciação que a comuni-dade jurídica (magistrados, advogados, universitários, juristas em geral, etc.) faça dos trabalhos jurídicos pu-

Conselho Superior da Magistratura

62 Boletim Informativo - Dez.2006

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blicados, pois é fundamentalmente a publicação dos mes-mos que permite que se estabeleça o confronto e a aprecia-ção crítica das teses defendidas. Aliás, nos termos do art. 63º, al. e), do Estatuto da Carreira Docente, compete aos docentes, designadamente, elaborar e pôr à disposição dos alunos lições ou outros trabalhos didácticos actualizados. ---------------------------------------------------------

2.3. No caso concreto, ressalta a elevada média de curso e o continuado exercício de funções de docência. Mas, por outro, a candidata apresenta-se como professora auxiliar convidada, não sendo detentora de qualquer dos graus académicos da carreira docente universitária, seja o doutoramento, seja o mestrado. -------------------------

Acresce que, tendo a seu cargo, desde 1993, a re-gência da disciplina de Processo Civil do Curso de Direi-to da Universidade Católica de Lisboa, e tendo desempe-nhado outras funções na Faculdade de Direito de Lisboa e na Universidade Lusíada de Lisboa, não se conhecem quaisquer lições, publicadas ou não, susceptíveis de reve-lar a valia do mérito profissional, na vertente técnica e pedagógica. ---------------------------------------------

Na análise curricular que envolve a apreciação do mérito profissional não podem ser desvalorizadas as fun-ções em cargos dirigentes no CETAL ou do CEJUR, tal como as funções enquanto juíza do Tribunal Constitucio-nal. De igual modo, merecem atenção outros aspectos re-flectidos no curriculum apresentado. --------------------

Mas, atenta a via pela qual pretende ser admitida ao concurso, isto é, a de docente universitária, verifica-se a ausência de escritos sistematizados em qualquer das áreas do direito, maxime na área de eleição ao nível da docên-cia (manuais, lições, monografias, etc.), facto tanto mais relevante quanto é certo que o Processo Civil foi sujeito a uma recente reforma e continua no centro das atenções, atentos os vectores da celeridade e da justiça no campo do direito privado. ----------------------------------

Neste contexto, não pondo quaisquer dúvidas quanto à verificação do requisito da “idoneidade cívica”, a análise curricular não permite, em meu entender, con-firmar a requisito integrado pelo “reconhecido mérito”. --------------------------------------------------------

Seguidamente, pelo Exmº Vogal Dr. Antó-nio Barateiro Martins foi apresentado o seguinte voto de vencido: --------------------------------------

“Apresentando-se a Srª Drª Maria dos Prazeres

a concurso invocando o estatuto de docente universitária, deve, em primeira linha, o reconhecido mérito encon-trar-se aceite pelos próprios pares, nos graus académicos; e/ou, em segunda linha, deve estar espelhado nos traba-lhos jurídicos publicados. ------------------------------

Ora, uma vez que nem uma coisa nem outra – isto é, nem graus académicos, nem trabalhos jurídicos publi-cados – a Srª Drª Maria dos Prazeres apresenta, ao que por certo não será alheia a circunstância de as funções docentes haverem sido desenvolvidas, desde 1987, a títu-lo meramente subsidiário e acessório, entendo que não se encontra verificado o requisito do reconhecido mérito”. ---------------------------------------------------------

Seguidamente, pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes foi apresentado o seguinte voto de vencido: ---------------------------------------------------------

“Vencido. -----------------------------------------O acesso ao STJ faz-se mediante concurso curricular

aberto a magistrados judiciais e do Ministério Pú-blico e outros juristas de mérito, nos termos dos arts. 50º, 51º e 52º, do Estatuto dos Magistrados Judiciais. ---------------------------------------------------------

No que aos juristas se refere (concorrentes volun-tários), dispõe o art. 51º, nº 3, b], que devem ser de “reconhecido mérito e idoneidade cívica, com, pelo me-nos, vinte anos de actividade profissional exclusiva ou sucessivamente na carreira docente universitária ou na advocacia”. --------------------------------------------

Para escaparmos à tentação de ver na lei o que que-remos e não o que lá está (ou de nela enquadrar o que queremos e não o que lá é enquadrável), há que assumir que: ----------------------------------------------------

- é apenas por duas vias que se pode aceder ao Su-premo para além da carreira na magistratura: como docente universitária ou como advogada; -

- o legislador fixou e escolheu para o efeito as alu-didas duas vias de acesso, sem que se levantem quaisquer problemas de constitucionalidade quanto a esta opção (pelo que de iure constituto irrelevam carreiras como juristas noutras activi-dades); ----------------------------------------

- são os candidatos que têm de se adaptar às exi-gências e critérios legais e não as exigências e critérios legais que se adaptar aos candidatos em presença. ---------------------------------------

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 63

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A Exma. Candidata apresenta-se ao presente con-curso para Graduação ao STJ pela via da docência uni-versitária, pela via académica, sendo, portanto e desde logo, de excluir qualquer apreciação a fazer relativa-mente ao mérito na advocacia ou noutras actividades. --

Quanto à docência universitária, o reconhecido mé-rito tem de ser substanciado e não basta assinalar-se a existência de mérito. ------------------------------------

O candidato tem de ter um reconhecido mérito e esse mérito pode resultar de duas vias: tem de começar por ser reconhecido na Universidade, na Academia ou, então, pela comunidade jurídica. ------------------------------

Reconhecido pela Universidade através dos graus que esta concede. ----------------------------------------

Reconhecido pela comunidade jurídica pela expres-são dos conhecimentos demonstrados, pela capacidade de influenciar e marcar a doutrina e a jurisprudência, o que, não passando pelo item anterior, terá de ser logrado verificar através das obras publicadas: livros, manuais, sebentas, sumários, estudos, monografias. ---------------

A Exma. Candidata tem uma carreira atípica: apesar de dar e ter dado aulas em Universidades e de ser mesmo regente da cadeira de Processo Civil (na Univer-sidade Católica), não possui qualquer grau académico (nem Mestrado, nem Doutoramento). ------------------

Estes poderão não ser requisitos essenciais elimina-tórios para a candidatura, mas são elementos curricula-res relevantes e importantes (que não podem nem devem ser desvalorizados), mas que podem perfeitamente ser supera-dos pela marca impressiva deixada pelas suas obras na doutrina e jurisprudência. -----------------------------

Ora, por nenhuma das duas vias de reconhecimento do mérito a Exma. Candidata preenche os requisitos: --

- a Universidade não lho reconhece, pois não lhe atribuiu qualquer grau de Doutora ou de Mestre (e a circunstância de a Universidade Católica a ter como regente de Processo Civil há largos anos não pode ser sobrevalorizada, desde logo porque corresponde a uma opção dos seus corpos directivos que não é sindicável); --------------------------

- a comunidade jurídica - em 20 anos - não lhe conhece qualquer Manual, qualquer livro, ou monografia de fôlego. --------------------------

Claro que a Exma. Candidata apresenta vários artigos por si publicados, todos eles bem escritos, de inte-

resse e qualidade, mas que temos como insuficientes para – legitimamente – deles partir para encontrar o aludido reconhecido mérito: por muita que seja a sua qualidade, não podem ser sobrevalorizados, até porque não escamo-teiam nem fazem esquecer a objectiva ausência de Ma- nuais e obras de referência. -------------------------

Importa também sublinhar, para que não se criem mal-entendidos, que não está em causa a apreciação do mérito de uma juíza do Tribunal Constitucional: a can-didata é-o desde há cerca de oito anos, mas não é por essa via que se apresenta (e verificar a qualidade dos seus acórdãos no Tribunal Constitucional não está em causa, pois não é essa a actividade que releva para o reconhecido mérito: relevaria, isso sim, para a graduação). --------

Do mesmo modo, também a sua actividade no CE-TAL e no CEJUR não pode relevar para esta apreciação liminar. ------------------------------------------------

Nenhum destes casos, ou destas actividades tem que ver com a carreira docente universitária e é essa que tem de relevar. É o que a ela respeita que tem de ser releva-do.

É por ser importante que o STJ se abra a outras experiências profissionais que a lei prevê que não sejam apenas juízes de carreira, ou magistrados do Ministério Público, a aceder ao Tribunal Supremo do país. --------

Mas a fasquia é alta. E tem de ser alta. ---------Tem de ser porque é importante. E tem de ser porque

os grandes académicos e os grandes advogados deveriam candidatar-se e aceder ao Supremo Tribunal de Justiça. E tem de ser porque grandes académicos e grandes advogados dariam grandes contributos à jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça. ----------------------------

Mas a aceitação das candidaturas não pode ser só porque “tem de ser”.

E não tem de “parecer mal” recusar uma candi-datura (não podemos sentir-nos reféns, do que quem que quer que seja possa pensar, nem do que a opinião publica-da possa vir a dizer, nem do que a opinião pública possa ser induzida a pensar). --------------------------------

Temos de ater-nos a factos: reconhecido mérito não pode traduzir uma apreciação subjectiva arbitrária, im-pondo, sim, uma que se funde em factos sólidos. --------

Abrir a porta do Supremo pela quota da docência universitária, a quem, cumulativamente, não tem graus académicos, nem obra relevante publicada, não nos parece

Conselho Superior da Magistratura

64 Boletim Informativo - Dez.2006

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respeitar a exigência legal do reconhecido mérito, abrin-do um precedente de falta de exigência por parte do CSM. ------------------------------------------

Basta, com objectividade apreciar os factos e verifi-car o curriculum apresentado, para - pelo menos - concluir que se não trata de uma situação clara. ----------------

A exigência que se tem quanto aos juízes e aos ma-gistrados do ministério público deve ser usada também para o quem o não é. ----------------------------------

A exigência é a própria lei que a faz. Tudo impõe que não se facilite . ------------------------------------

Em concreto, a Exma. candidata não pode enqua-drar-se em nenhum dos campos acima referidos: assina-lar-se-lhe reconhecido mérito em termos universitários e académicos é tirar quase todo o conteúdo à exigência legal, assinalar-se-lhe reconhecido mérito como advogada não está sequer em causa. -----------------------------------

Em face do exposto, entendo que deveria ser recusada a candidatura”. ---------------------------------------

Pelo Exmº Vice-Presidente foi apresentada a seguinte declaração: ------------------------------

“1. O acesso ao STJ faz-se por concurso curricu-lar aberto aos magistrados judiciais e do MºPº e a outros juristas de mérito (art. 215º, nº 4, da CRP, e art. 50º do EMJ). -------------------------------------------------

A lei ordinária estabelece duas categorias de con-correntes: os concorrentes necessários e os concorrentes vo-luntários. ----------------------------------------------

Integram a primeira categoria os juízes da Relação que se encontrem no quarto superior da lista de antigui-dade e não declarem renunciar ao acesso (EMJ, art. 51º, nº 2).

Concorrentes voluntários são: ---------------------a) Os procuradores-gerais-adjuntos que o requei-

ram, com antiguidade igual ou superior à do mais mo-derno dos juízes concorrentes necessários e classificação não inferior a Bom com Distinção; -------------------------

b) Juristas de reconhecido mérito. -------------2. O concurso é de mérito relativo para os concorren-

tes necessários, os juízes da Relação. --------------------Tendo toda uma vida de exercício da função de

julgar, presume-os a lei especialmente vocacionados para assegurarem esse exercício no mais Alto Tribunal da hie-rarquia judiciária, e tem igualmente como implícita a sua idoneidade cívica. ----------------------------------

Por isso, são admitidos liminarmente, apenas de-limitados positivamente pela sua colocação na lista de antiguidade e negativamente pela não-renúncia ao acesso. E, assim admitidos, são graduados na sua classe por mérito relativo, como decorre do art. 52º, nº 1, do EMJ. --------------------------------------------------

Eles constituem, para a lei ordinária, a matriz re-ferencial e natural do recrutamento para o STJ, como decorre do facto de lhes serem atribuídas as vagas não preenchidas por PGA e ¾ das não ocupadas por juristas de reconhecido mérito. ----------------------------------

3. E quanto aos concorrentes voluntários? --------3.1. No tocante aos procuradores-gerais-adjuntos, o

concurso é também de mérito relativo, em moldes idênticos aos respeitantes aos concorrentes necessários. ------------

A sua admissão está condicionada por um factor de antiguidade – antiguidade mínima definida pela al. a) do nº 3 do art. 51º – e por um referencial de mérito – classificação não inferior a Bom com Distinção. ------

Os admitidos são graduados, na sua classe, por mérito relativo. -----------------------------------------

Não lhes é exigido, como aos outros concorrentes vo-luntários, que comprovem o seu mérito por outro meio, nem se lhes pede que façam prova da idoneidade cívica. ---------------------------------------------------------

3.2. A situação apresenta contornos diferentes relativamente aos demais concorrentes voluntários – os juristas de reconhecido mérito. -------------------------

A sua admissão ao concurso opera-se por mérito absoluto, que se revela na constatação do reconhecido mérito e da idoneidade cívica. --------------------------

Mas não só. Exige-se ainda a esses juristas, como requisito formal de admissão, de natureza puramente objectiva, “pelo menos 20 anos de actividade profissio-nal exclusiva ou sucessivamente na carreira docente universitária ou na advocacia, contando-se também, até ao máximo de cinco anos, o tempo de serviço que (...) tenham prestado nas magistraturas judicial ou do MºPº” [art. 51º, nº 3, al. b)]. --------------------------------

Comprovado o mérito absoluto, estes juristas são graduados segundo o mérito relativo de cada um, como flui do já citado art. 51º, nº 1, do EMJ. ---------------

3.3. A exegese do preceito legal acima indicado (alínea b) do n.º 3 do art. 51º do EMJ) parece-nos legi-timar as seguintes considerações: ------------------------

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3.3.1. Entre diversas hipóteses abstractamente pos-síveis – envolvendo, v.g. cargos de jurista na Adminis-tração ou em qualquer outra área – o legislador fez uma opção clara e exclusiva por duas profissões: a carreira docente universitária e a advocacia. --------------------

O que o legislador quis, pois, significar, com o não muito claro texto legal, foi isto: para além dos procurado-res-gerais-adjuntos que reunam as condições previstas na alínea a), só os docentes universitários e os advogados de reconhecido mérito, com pelo menos vinte anos de exercício nessas carreiras, podem ser admitidos como concorrentes voluntários. --------------------------------------------

Ora, ao apontar para o exercício daquelas activi-dades profissionais, ainda que não exigindo o seu exer-cício em regime de exclusividade – como uma leitura que reconheço perfunctória e menos correcta da lei poderia in-culcar – o legislador quis seguramente afastar as situa-ções, de não rara verificação, em que tais actividades não são exercidas com carácter profissional, isto é, por forma permanente e estável, sendo meramente complementares de outras, exercidas a título principal e, essas sim, verdadei-ramente identificadoras do estatuto profissional de quem as exerce. -----------------------------------------------

Dito de outro modo, a admissão ao concurso de ju-ristas não magistrados exige que relativamente a cada um dos candidatos se possa afirmar, com a inequivocidade decorrente do exercício efectivo, permanente e estável das correspondentes funções, que a sua profissão é de docen-te universitário e/ou de advogado. Conclusão que parece inviável quando o candidato exerça, em regime legal de exclusividade, uma outra função pública, e preencha o tempo livre “dando umas aulas” na Universidade, ou mantendo alguma actividade na advocacia. -----------

3.3.2. Parece, por outro lado, poder afirmar-se a existência de um vínculo inquebrável, de uma ligação directa, entre o exercício profissional de qualquer dessas duas actividades – a docência universitária e a advo-cacia – e o reconhecido mérito. Ou seja: é o mérito reconhecido ao candidato enquanto docente uni-versitário ou o que deflui do exercício particular-mente meritório da advocacia (ou, concede-se, do exercício conjunto de ambas as actividades) que o legislador quis eleger como critério decisivo de admissibilidade ao concurso curricular. ---------

E em que termos deve operar esse reconhecimento? -

Aqui a lei não fornece qualquer critério, deixando ao julgador essa nem sempre fácil tarefa, que passa pela prévia identificação ou eleição, em abstracto, das carac-terísticas necessárias ao preenchimento do conceito de “re-conhecido mérito” e pela subsequente indagação da sua verificação na pessoa dos candidatos. ------------------

Os padrões valorativos, para efeitos de admissão ao concurso, variarão naturalmente de acordo com a profissão e o percurso profissional em causa, atenta a óbvia diversi-dade que se verifica entre a carreira docente universitária e o exercício da advocacia. ------------------------------

Mas, sem embargo das especificidades dessas car-reiras, o conceito de “reconhecido mérito” carrega em si, a nosso ver, dois diferentes sentidos, posto que complementa-res: ----------------------------------------------------

- o de intensidade – com o significado de mérito elevado, acentuado, de alto grau, que se evidencia no conjunto dos restantes profissionais académicos ou advogados; ---------------------------------

- o de notoriedade – significando o reconheci-mento, a consideração, pela comunidade jurídica (magistrados, universitários, advogados e outros profissionais forenses, juristas em geral, etc.). ------------------------------------------------

É, pois, mister que, relativamente a qualquer can-didato que se apresente ao concurso ao abrigo do art. 51º, n.º 3, al. b), do EMJ, se possa afirmar, sem margem para dúvidas, que, na qualidade em que se apresenta – seja, como docente universitário ou como advogado – o seu mérito é reconhecido, nos termos acabados de referir. -----------------------------------------------------------

Mais especificamente no que concerne aos candidatos que invoquem o estatuto de docentes universitários, esse reconhecimento será essencialmente – embora não exclusi-vamente – influenciado pela apreciação dos graus acadé-micos apresentados, reflectindo cada um deles o percurso académico e a valoração que do mesmo foi feita pelos ór-gãos competentes, de acordo com as regras da autonomia universitária. ------------------------------------------

E sê-lo-á ainda, indubitavelmente, pela apreciação de trabalhos científicos publicados, pois só essa publicação permite à comunidade jurídica o confronto e a aprecia-ção crítica das teses defendidas e das posições sustentadas, podendo tal reconhecimento resultar, por exemplo, da pro-fundidade da investigação desenvolvida, do contributo

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66 Boletim Informativo - Dez.2006

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para os avanços da ciência jurídica, do relevo atribuído às teses ou entendimentos divulgados, da atenção que me-recem as opiniões defendidas ... -------------------------

Esta nos parece ser, aliás, a filosofia que enforma a deliberação do Plenário deste Conselho, de 8.11.2005, que determinou a abertura do concurso, e cujas deter-minações foram vazadas no Aviso n.º 10.270/2005, publicado no DR, II Série, de 18 de Novembro. --------

Aí se evidencia, de forma clara – e distinguindo- -os, sem margem para dúvidas, dos concorrentes necessá-rios e dos procuradores-gerais-adjuntos – que, na gradu-ação dos juristas de mérito serão globalmente ponderados, em primeira linha, o currículo universitário e pós-univer-sitário, os trabalhos científicos publicados e a actividade exercida no âmbito forense (reportada, dizemos nós, aos advogados) ou no ensino jurídico (visando aqui, a nosso ver, os docentes universitários) – factores que, valorados até 60 pontos cada um, se sobrepõem claramente aos “ou-tros factores que abonem a idoneidade do candidato”, que – incluindo “outras actividades e funções” desempenhadas pelo candidato, e o seu “prestígio pessoal e profissional” – são apenas valorados até 20 pontos. -------------

Estes factores, considerados na graduação dos can-didatos admitidos (na hipótese de pluralidade destes), de acordo com o seu peso específico relativamente a cada um destes, são também os que condicionam o juízo global prévio que terá de efectuar-se quanto à admissão dos mesmos candidatos, fase em que não está ainda em causa a sua ponderação quantitativa, a sua avaliação concreta face aos demais candidatos. ----------------------------

3.3.3. Finalmente, a consideração, até ao máximo de 5 anos, do tempo de serviço prestado nas magistraturas tem subjacente a ideia de que não se trata de serviço ac-tual: a situação actual ou mais recente do candidato deve ser a de docente universitário ou de advogado. Não só tal é sugerido pelo tempo verbal utilizado na lei –“tenham prestado” – como certo é que qualquer ex-docente univer-sitário ou ex-advogado que, tendo abdicado dessa profis-são, houvesse ingressado na magistratura, não poderia candidatar-se agora à nomeação para o STJ como jurista de reconhecido mérito. ----------------------------------

4. No caso concreto, vem requerida, por Maria dos

Prazeres Couceiro Pizarro Beleza a admissão ao concur-so curricular de acesso ao STJ, ao abrigo do disposto no art. 51º, nº 3, al. b), do EMJ – vale dizer, invocando o estatuto de docente universitária. -----------------------

Do acervo documental com que instruiu a sua pre-tensão alcança-se que a Ex.ma requerente; ---------------

- é licenciada em Direito pela Faculdade de Di-reito da Universidade de Lisboa, com a classifi-cação final de 17 valores; ---------------------

- foi, sucessivamente, monitora e assistente estagiá-ria (entre 02.03.81 e 31.12.85) na FDUL; -------------------------------------------------

- na Faculdade de Direito da Universidade Cató-lica, foi assistente, nos anos lectivos de 1981/82 a 1983/84, da cadeira de Processo Civil, de que era regente o Prof. Antunes Varela; e, após a saída deste, em 1984, assumiu a regência da cadeira, situação que perdurou, sem interrupções, e se mantém ainda; ----------------------------

- foi regente da mesma cadeira na Universidade Lusíada, com a categoria de professora auxiliar convidada, de 01.10.93 a 30.09.96; --------

- leccionou, desde 1993, em vários cursos de pós-graduação na Católica, nas áreas do direito Civil e do Processo Civil, bem como do Direito Constitucional, Administrativo e Desportivo; -

- leccionou uma sessão no CEJ, em 2002, sobre fiscalização da constitucionalidade, e no INA, nos anos de 1993 a 1997, no âmbito do cur-so da Feitura das Leis, as sessões sobre processo legislativo do Governo; ------------------------

- participou em diversos colóquios e conferências; ------------------------------------------------

- pertence ao Conselho Científico da revista Ca-dernos de Legislação, do INA. ----------------

Foi Secretária da Comissão de Revisão do CPC, presidida pelo Prof. Antunes Varela, tendo, nesse âmbito, participado em debates sobre a revisão; foi jurisconsulta entre 1983 e 1998, sendo autora e co-autora de diver-sos pareceres jurídicos; desempenhou funções de árbitro em processos arbitrais; foi consultora principal do CETAL (Centro de Estudos Técnicos e de Apoio Legislativo1), em

1 O CETAL tinha como atribuições a elaboração de projectos de diplomas legais, de estudos sobre política legislativa, de pareceres sobre projectos de diplomas, de estudos sobre a aplicação de actos normativos do Governo, e a participação, em geral, no processo legislativo do Governo. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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1987, em comissão de serviço por um ano, renovada nos dois anos seguintes, e, depois, sua Directora até à extin-ção daquele; foi Directora do CEJUR (Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros2), que sucedeu ao CETAL, desde 31.12.93 até iniciar funções no Tri-bunal Constitucional. ----------------------------------

É, desde Março de 1998, Juíza do Tribunal Cons-titucional, eleita pela Assembleia da República. -------

É autora de 10 (dez) estudos publicados, e co-auto-ra de outros 6 (seis).

Os referidos dez estudos são os que se acham juntos ao seu processo de candidatura, que se acha ainda ins-truído com cinco acórdãos do Tribunal Constitucional, de que foi relatora, e que foram publicados na II Série do Diário da República.

5. Estarão preenchidos os requisitos de admissão ao concurso, como jurista de reconhecido mérito, tal como acima os configuramos?

5.1. Já vimos como, no nosso entendimento, se deve interpretar a exigência legal de exercício da carreira do-cente universitária durante, pelo menos, vinte anos.

Importa, pois, analisar o que, a tal respeito, trans-parece do percurso profissional da Ex.ma candidata.

Vejamos: - De 02.03.81 a 31.12.85 foi assistente esta-

giária na FDUL; - Entre 01.10.93 e 30.09.96, leccionou na Lu-

síada, como professora auxiliar convidada; - E, desde 1981, é docente de Processo Civil na

Católica, situação que perdura, pois, há quase 25 anos.

Todavia, - Em 31.03.87 passou a exercer o cargo de pri-

meira-consultora do quadro de pessoal do CE-TAL, em regime de comissão de serviço, que foi sucessivamente renovada por um ano, a partir de 30.03.88 e de 30.03.89;

- Por despacho do Primeiro-Ministro de 16.10.89 foi nomeada, com efeitos a partir dessa data, para exercer, em comissão de serviço, o cargo de

Directora do CETAL, ficando exonerada do lugar de primeiro-consultor que vinha desempe-nhando;

- Por despacho do Primeiro-Ministro de 31.12.92 foi nomeada Directora do CEJUR, em regime de comissão de serviço, renovada com efeitos a partir de 01.01.96.

O percurso profissional da Ex.ma requerente, Dr.ª Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza, acabado de traçar, deixa, pois, perceber que, desde 1987 e até Março de 1998, desenvolveu actividade profissional em cargos da Administração Pública, em que foi provida em regime de comissão de serviço – primeiro no CETAL, criado pelo Dec-Lei 73/87, de 13 de Fevereiro, e depois no CEJUR, que sucedeu nas atribuições daquele.3 ---

De acordo com o estatuído no Dec. Lei nº 286/92, de 26 de Dezembro, o CEJUR é um serviço permanente de consulta e de apoio jurídico ao Governo, integrado na Presidência do Conselho de Ministros (art. 1º, nº 2), sen-do dirigido por um Director, o qual é equiparado, para todos os efeitos, a director-geral (art. 3º, nº 1).

O estatuto do Director é, pois, o do pessoal dirigente dos serviços e organismos da administração central, lo-cal do Estado e regional, então definido pelo Dec. Lei nº 323/89, de 26 de Setembro.

Ora, nos termos do disposto no art. 2º, nº 1, deste último diploma, considera-se dirigente o pessoal que exer-ce actividades de direcção, gestão coordenação e controlo nos serviços ou organismos públicos referidos no artigo an-terior, sendo considerados cargos dirigentes, entre outros, os de director-geral (art. 2º, nº 2).

O pessoal dirigente – acrescenta o art. 5º, nº 1 – é provido em comissão de serviço por três anos, renovável por iguais períodos; e, nos termos da lei, exerce funções em regime de exclusividade (art. 9º, nº 1).

Não obstante, não parece que as funções docentes que a Ex.ma candidata vinha exercendo na Universidade Católica e na Universidade Lusíada – designadamente as primeiras – hajam sofrido qualquer alteração quanto ao modo como vinham sendo exercitadas até ao momento

2 O CEJUR é o serviço ao qual cabe o contencioso administrativo do Conselho de Ministros, do Primeiro-Ministro e dos membros do Go-verno integrados na Presidência do Conselho de Ministros, bem como o contencioso constitucional. -----------------------------------------

3 O Dec-lei 286/92, de 26 de Dezembro, que criou o CEJUR, dispõe no seu art. 1º/1: ----------------------------------------------------------- O Centro de Estudos Técnicos e Apoio Legislativo (CETAL)da Presidência do Conselho de Ministros passa a designar-se Centro Jurídico –

CEJUR. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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em que aquela iniciou funções no CETAL e durante o tempo em que as desempenhou aí e no CEJUR.

Não parece, isto é, que a Dr.ª Maria dos Prazeres Beleza tenha deixado de exercer as funções docentes de forma permanente e estável, com uma conotação profis-sional, correspondente a uma função própria da profissão de docente. Isso mesmo parece decorrer da declaração da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portu-guesa, que se acha junto ao processo de candidatura.

Apenas sucedeu que passou a exercer essas funções não a tempo inteiro, mas em acumulação – o que não des-caracteriza a actividade desenvolvida como “actividade profissional”.

De igual modo, a situação profissional actual da Ex.ma candidata – que é, desde Março de 1998, juíza do Tribunal Constitucional – não parece ter interferido com o exercício das suas funções docentes na Católica, que continua a manter sem interrupção, com o mesmo estatu-to que vem de 1984 – regente da disciplina de Proces-so Civil – pelo que valem aqui, mutatis mutandis, as considerações acima avançadas a propósito das funções desempenhadas no CETAL e no CEJUR.

Vale até acrescentar que, de acordo com o disposto no art. 73º do Estatuto da Carreira Docente Universitária (Dec-lei 448/79, de 13 de Novembro), é equiparado, para todos os efeitos, ao efectivo exercício de funções, o serviço prestado pelo pessoal docente como director-geral ou função equivalente em qualquer ministério, ou como membro da Comissão Constitucional (órgão que antece-deu o Tribunal Constitucional).

Concluímos, pois, embora com alguma margem de dú- vida, e revendo posição que inicialmente nos parecia mais de acordo com a lei, que, a ser como fica referido, a Ex.ma Can- didata cumpre o requisito formal, de natureza temporal, imposto na lei como condição de admissibilidade ao con-curso – o exercício, durante pelo menos vinte anos, de acti-vidade profissional na carreira docente universitária.

5.2. E quanto ao segundo requisito? Do curriculum apresentado e que se deixou referido

nos seus aspectos mais relevantes, ressalta a elevada mé-dia com que a Ex.ma candidata concluiu a licenciatura e o continuado exercício, nas condições relatadas, da docên-cia universitária.

Mas, em contraponto, evidencia-se também a ausên-cia de um qualquer dos graus académicos da carreira de

docente universitária, seja o doutoramento, seja o mestra-do. Nem mesmo se revela a existência de pós-graduação.

Circunstância não desprezível, antes de relevo sig-nificativo, pois que, tratando-se de candidatura funda-da no exercício continuado – já com cerca de 25 anos – da docência universitária, falta qualquer dos diversos graus académicos de que, em termos formais e também substanciais, possa emergir o reconhecimento do mérito na carreira académica. -

Acresce que, tendo a seu cargo a regência da dis-ciplina de Processo Civil na Universidade Católica de Lisboa, desde 1984, e na Lusíada, entre 1993 e 1996, e tendo leccionado noutras áreas do conhecimento jurídico na Católica, não se conhecem quaisquer lições, publica-das ou não, susceptíveis de revelar a valia do mérito pro-fissional, nas vertentes técnica e pedagógica.

Ora, é fundamentalmente a publicitação de escritos científicos que, a nosso ver, permite a apreciação crítica e o reconhecimento da sua valia absoluta ou relativa pela globalidade dos elementos que integram a comunidade jurídica.

Significará isto a exclusão do reconhecimento do mé-rito da Ex.ma candidata?

Numa primeira análise parece dever responder-se afirmativamente, face ao que vem de ser referido, conju-gadamente com o que se deixou evidenciado supra, sub 3.3.2. Todavia, a situação concreta não deixa de nos colocar, agora, algumas dúvidas, resultantes também da discussão já verificada sobre esta questão.

Na realidade, o processo de candidatura está ins-truído com alguns escritos científicos que podem relevar para a apreciação do mérito da Ex.ma candidata. So-bretudo os pareceres e os estudos por ela elaborados podem considerar-se como intimamente conexionados com a con-dição de docente da Dr.ª Maria dos Prazeres Beleza, sa-bido que é que, nomeadamente os pareceres, são uma das mais correntes manifestações da actividade profissional dos professores universitários. E não é lícito questionar o mérito dos apresentados pela Ex.ma candidata.

Já o mesmo relevo se não atribui, para este efeito, aos acórdãos proferidos no Tribunal Constitucional, que, pese embora a sua valia técnica, não têm, no processo de graduação (nem, consequentemente, no processo de admis-são), o peso e o significado dos trabalhos científicos, pois não é como juiz que a Ex.ma candidata (ou qualquer

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Dez.2006 - Boletim Informativo 69

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jurista) se apresenta ao concurso; nem ao exercício dos cargos desempenhados em lugares da Administração Pú-blica (no caso, CETAL e CEJUR), de que se ignoram os resultados, em termos de produção científica da lavra da Dr.ª Maria dos Prazeres Beleza.

Mas terão aqueles pareceres e estudos a força bas-tante para demonstrar, não apenas o mérito, mas o exi-gível reconhecido mérito?

É na resposta a esta questão que radicam as nos-sas dúvidas, que, em consciência, não podemos deixar de aqui expressar – as dúvidas quanto à prova inequívoca do requisito integrado pelo reconhecido mérito.

Dúvidas que, apesar de tudo, decidimos a favor da Ex.ma candidata, observando o “indirizzo” constitucio-nal a que, na proposta apresentada pelos Ex.mos Vogais Professor Ferreira de Almeida e Dr.ª Alexandra Leitão, é feita alusão: “o legislador constituinte quis que existis-sem no STJ juízes oriundos de outras profissões jurídicas que não a magistratura, judicial ou do Ministério Pú-blico”, pelo que uma interpretação da lei ordinária que possa ser havida como excessivamente rigorosa pode frus-trar o desígnio daquele – o que justifica, e quiçá impõe, perante as dúvidas que nos assaltam, a opção pela decisão mais favorável à Ex.ma candidata”.

Pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto foi apresentada a seguinte de-claração:

“Votei pela admissão da candidatura da Dr.ª Maria dos Prazeres Beleza a Juíza do STJ, não pe-las razões que sustentam a deliberação (ou não todas), mas por entender estarem reunidas as condições formais e substanciais para tal, fundadas na excepcionalidade da pessoa que se apresenta, indubitavelmente uma jurista de reconhecido mérito, assim entendido na comunidade jurídica.

A Dr.ª Maria dos Prazeres Beleza não é conhecida na comunidade jurídica como Professora de Direito (a carreira docente, tal como está legalmente estruturada, implica que, em 20 anos de docência exclusiva, normal-mente o Docente seja um professor com o grau de Doutor) nem como Advogada (a advocacia é uma profissão liberal com um regime de incompatibilidades que permite aferir em 20 anos um percurso de causídico sistemático e empe-nhado) com a intensidade que leio na forma como está escrito o preceito legal aplicável.

Entendo, no entanto, que para a decisão a tomar im- porta não tanto a interpretação formal mas a teleológica, atenta a adequabilidade/juridicidade da solução a dar.

Assim sendo, o percurso de vida e profissional, a probidade das suas intervenções, o reconhecimento público das suas competências para o exercício de funções jurídi-cas e de judicatura, a sua docência em Processo Civil, mais pelo testemunho dos alunos que pelos textos produzi-dos na docência, a qualidade dos trabalhos apresentados, a forma como decide e sustenta no Direito o que defende, são elementos objectivos de avaliação fundamentais para o juízo que é requerido ao CSM sobre a candidata.

Logo, é a auctoritas iuris da candidata, objecti-vamente aferida, que se impõe a uma leitura formalista e literal dos critérios apontados pelo legislador, impondo, a título excepcional, a sua admissão a concurso”.

********************************

Nesta altura, saiu da sala o Exmº Vogal Dr. Moreira da Silva. -----------------------------------

B) - Foi aprovada, por unanimidade, uma proposta apresentada pelo Exmº Vice-Presidente do CSM.

Deste modo, foi deliberado o seguinte: 1. No âmbito do 11º concurso curricular de acesso ao STJ, o CSM, para os efeitos do disposto no art. 51º/3.a) do EMJ, comunicou ao Senhor Procurador-Geral da Re-pública que “o mais moderno dos concorrentes necessários, segundo a lista de antiguidade, é o Ex.mo Juiz Desem-bargador Dr. António Joaquim Ferreira de Barros, cujo tempo de serviço é, em 18.11.2005, de 31 anos e 24 dias”.

Na sequência de tal comunicação a Procuradoria-Ge- ral da República enviou ao CSM um ofício, que capeava “as Notas Biográficas dos Ex.mos Senhores Procurado-res-Gerais Adjuntos que se encontram nas condições pre-vistas no art. 51º, n.º 3 da alínea a) da referida Lei”.

Foi ainda enviada “uma lista de antiguidades com a contagem do tempo de serviço reportada a 18.11.2005”, respeitante aos Ex.mos PGA.

Entre os Senhores Procuradores-Gerais Adjuntos incluídos na lista não consta o nome do Dr. José César Pinto Cardoso de Oliveira.

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Posteriormente, a Procuradoria-Geral da Repúbli-ca, com o pedido de informação, remeteu ao CSM uma exposição apresentada pelo Ex.mo PGA acima referido – o Dr. José César Pinto Cardoso de Oliveira, em que este solicitava integração na lista acima aludida, com o fundamento de que, entre os Juízes Desembargadores cha-mados necessariamente ao concurso, se encontram alguns com menor tempo de serviço, sendo que o conceito de “mais moderno” (da al. a) do n.º 1 do art. 51º do EMJ) não pode deixar de ser entendido como o de “menor tempo de serviço entre os convocados”.

Em resposta, proferimos, em 15.12.2005, despacho que, reflectindo a nossa posição sobre a questão suscitada pelo Ex.mo PGA, foi comunicado à Procuradoria-Geral da República.

Como dela resulta, não temos por certo o entendi-mento perfilhado pelo ilustre magistrado, ou seja, o de que o conceito de “mais moderno” equivale a “menor tem-po de serviço” – daí decorrendo que o Ex.mo PGA não poderá, em nossa opinião, ser admitido ao concurso.

Não obstante, o Ex.mo PGA apresentou, em pra-zo, requerimento formalizando a sua candidatura, como concorrente voluntário, ao concurso. Com ele ofereceu os elementos de suporte de tal candidatura – elementos cur-riculares e trabalhos jurídicos produzidos.

O Ex.mo magistrado endereçou ainda requerimento ao Senhor Vice-Procurador Geral da República, reite-rando e reforçando com novos argumentos o entendimento que já anteriormente havia expressado, e a que acima aludimos, e solicitando o envio dos seus elementos curricu-lares ao CSM – solicitação que lhe foi deferida.

Deverá, pois, o Plenário deste Conselho decidir so-bre a admissibilidade ao concurso do Ex.mo PGA.

2. Importa, para o efeito, considerar que - o quarto superior da lista de antiguidade dos

juízes da Relação encerra (na data para o efeito considerada) com o Ex.mo Juiz Desembargador Dr. António Joaquim Ferreira de Barros, aí posicionado em 76º lugar, e cujo tempo de serviço era, em 18.11.2005, de 31 anos e 24 dias;

- Na mesma lista de antiguidade figuram, posi-cionados em 75º, 74º e 58º lugares, respectiva-mente, os Ex.mos Desembargadores Drs. Emídio Pires Rodrigues, Arlindo de Oliveira Rocha e José Gil de Jesus Roque, com 30 anos, 2 meses e

23 dias, 30 anos, 2 meses e 25 dias e 30 anos, 5 meses e 26 dias de serviço, respectivamente, em 18.11.2005;

- O Ex.mo PGA Dr. José César Pinto Cardoso de Oliveira perfez, em 18.11.2005, 30 anos, 9 meses e 9 dias de serviço na magistratura;

- A sua última classificação de serviço é de Muito Bom.

3. São concorrentes necessários ao concurso curricu-lar de acesso ao STJ “os juízes da Relação que se encon-trem no quarto superior da lista de antiguidade e não declarem renunciar ao acesso (art. 51º/2 do EMJ).

E são concorrentes voluntários [art. 51º/3.a)] os procuradores-gerais-adjuntos que o requeiram, com anti-guidade igual ou superior à do mais moderno dos juízes referidos no n.º 2 e classificação de Muito Bom ou Bom com distinção.

Daqui decorre que a admissão ao concurso é defini-da, para juízes da Relação e para PGA, pela antigui-dade. A letra da lei não tolera diferente interpretação.

Também resulta do texto legal que a admissão dos PGA é reportada à antiguidade de um determinado juiz da Relação – a do mais moderno ou, o que vale o mesmo, de menor antiguidade, dos que preenchem o quarto superior da respectiva lista de antiguidade.

Ora, como fácil é compreender, a lista de antiguida-de dos magistrados judiciais não é estruturada de acordo com o tempo de serviço destes. A simples leitura dessa lista mostra-o à saciedade.

A antiguidade não coincide nem se confunde com tempo de serviço.

A antiguidade refere-se à posição relativa de um magistrado em relação a todos os outros situados no mes-mo quadro; posição relativa que é parcialmente, mas não totalmente, determinada pelo tempo de serviço e que pode ser influenciada (positiva ou negativamente) por outros factores. Sempre que haja concurso de acesso a determina-da categoria, com subsequente graduação dos candidatos, o que passa a relevar para efeitos de antiguidade é esta graduação e não o tempo de serviço anterior. Se um con-corrente mais moderno fica graduado à frente de um mais antigo, o maior tempo de serviço que este detinha até en-tão na carreira cede perante a nova graduação. Exemplo acabado do que vem de referir-se são os concursos para juízes que tiveram lugar até 1973; um delegado do pro-

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curador da República mais novo (i.e., com menos tempo de serviço) podia ficar mais bem posicionado do que um mais antigo (leia-se, com mais tempo de serviço), ultra-passando-o. E, assim, esse delegado mais novo passava a ser juiz mais antigo que o outro, mas continuava a ter menos tempo de serviço.

O mesmo se passa hoje no concurso curricular de acesso ao STJ: os Ex.mos Desembargadores Drs. Emídio Pires Rodrigues, Arlindo de Oliveira Rocha e José Gil de Jesus Roque, com 30 anos, 2 meses e 23 dias, 30 anos, 2 meses e 25 dias e 30 anos, 5 meses e 26 dias de serviço, são mais antigos – recte, têm maior antiguidade – que o Ex.mo Juiz Desembargador Dr. António Joaquim Fer-reira de Barros, apesar de este ter mais tempo de serviço (31 anos e 24 dias). E este último é, sem dúvida, o mais moderno, o de menor antiguidade, dos concorrentes necessários.

É, pois, ele, o referencial a ter em conta na admissão dos PGA ao concurso. E é assim porque, repete-se, anti-guidade e tempo de serviço são conceitos diferentes.

E isto vale igualmente para juízes e magistrados do MºPº, até porque, quando operou a separação das ma-gistraturas, o legislador curou de fixar para sempre, e de modo inalterável, a antiguidade recíproca de uns e outros, por forma a evitar conflitos futuros.

Em termos gerais, o legislador traçou a regra se-guinte: quem entrou na magistratura após a separação de carreiras vê a sua antiguidade determinada pelo esca-lonamento à saída dos estágios ou do C.E.J. (consoante ainda não havia ou já havia escola de formação); quem ingressou na magistratura antes da separação de car-reiras vê a antiguidade fixada pelo escalonamento antes dessa separação. Este é, a nosso ver, o critério sucessiva-mente adoptado, em termos gerais, por diversos diplomas; e foi, segundo cremos, o usado pelo CSM no 9º concurso curricular de acesso ao STJ.

Consagrada, com a Lei Orgânica do MºPº n.º 39/78, a separação definitiva da magistratura judicial da do MºPº, passaram a ser elaboradas duas listas de antiguidades, uma para cada magistratura.

E nos diplomas legais subsequentes foram sempre ressalvadas as posições relativas constantes de listas defi-nitivas de antiguidade elaboradas ao abrigo de legisla-ção anterior à entrada em vigor desses diplomas.

Na verdade, a antiguidade de cada magistrado

existente antes da separação das magistraturas não pode ser posteriormente alterada por forma a reflectir antigui-dades diferentes daquelas que cada um dos magistrados então tinha.

Ora, basta consultar, por exemplo, o Boletim Oficial do Ministério da Justiça n.os 76 ou 77 (ano XXXVIII), referentes a 1 de Janeiro e 1 de Julho de 1978 – quando não estava ainda operada em pleno a separação das duas magistraturas – e a lista de antiguidades dos juízes de direito de 1ª instância e dos delegados do procurador da República de 1ª classe neles publicada, respeitante a 31.12.1977, para se constatar – eram ambos delegados do procurador da República de 1ª classe – que a antigui-dade do agora Desembargador Dr. Ferreira de Barros era claramente superior à do ora procurador-geral-ad-junto Dr. José César Cardoso de Oliveira.

O que vale dizer e concluir que este, para efeitos do disposto no art.51º/3.a) do EMJ não tem antiguidade igual ou superior à do mais moderno dos concorrentes ne-cessários, razão pela qual se delibera que o Exmº Pro-curador Geral Adjunto Dr. José César Pinto Cardoso de Oliveira não é admitido ao concurso.

ACTA 5/06 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 5 – Procº nº 1998-306/D – Comunicação Social

Foi deliberado tomar conhecimento do teor do expediente que reproduz as declarações proferidas, e transmitidas por órgãos da comunicação social, pelo Secretário-Geral da Associação de Armeiros de Portugal, na Subcomissão de Administração In-terna da I Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República, no passado dia 13 de Dezembro de 2005.

Mais foi deliberado lamentar o tom e o teor das declarações proferidas pelo representante da AssociaçãodeArmeirosecomunicaràAssembleiada República que os dados transmitidos, no que concerneaonúmerode“juízesexpulsospeloCSMem2005”, são falsos, comosepodeconstatarnoRelatório Anual de Actividades do CSM, oportu-namenteenviadoàAR.

Conselho Superior da Magistratura

72 Boletim Informativo - Dez.2006

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Foi ainda deliberado remeter cópia do referido ex-pediente à Procuradoria-Geral da República para os efeitos tidos por convenientes.

Ponto Prévio n.º 7 – Procº nº 2005 – 1/C1 (Contabilidade)

Foi deliberado aprovar as Propostas de Mo-delo de Mapa de Férias dos Juízes (a geral, a refe-rente aos Juízes desembargadores ou auxiliares nos Tribunais da Relação, a referente aos Juízes do Quadro Complementar de Juízes e a referente aos Juízes estagiários), a que alude o artigo 28º-A, nº 4 da Lei nº 42/2005, de 29 de Agosto, elaborado pelosExmosVogaisDr.ªMariaJoséMachado,Dr.Edgar Taborda Lopes e pelo Exmº Juiz Secretário, Dr. Paulo Guerra, na sequência da deliberação do Plenário de 10.01.2006.

Igualmente foi deliberado aprovar as “pre-missas”dosModelosatrásreferidos,constandoasmesmas do expediente aqui dado por inteiramente reproduzido, acrescentando-se uma cláusula de sal-vaguarda, no sentido de se poderem efectuar alte-rações ou aditamentos a tais premissas, de acordo com problemas eventualmente colocados aquando da execução prática das mesmas.

Mais foi deliberado CIRCULAR pelos Exmos Juízes as propostas aprovadas e enviar cópia de todo o expediente ao Conselho Superior da Ministério Público,aoMinistériodaJustiçaeàDGAJ.

Aqui se consigna que consta do expediente uma declaração do Exmº Vogal Dr. Edgar Taborda Lopes, a qual também foi subscrita pelo Exmº Vo-gal Dr. António Barateiro Martins, declaração essa aqui dada por reproduzida.

Ponto Prévio n.º 8 – Procº nº 2005 – 3/M1 – Santa Cruz da Graciosa

Relativamente à proposta elaborada peloExmº Vogal, Dr. Edgar Taborda Lopes, respeitante aoexpedienteremetidopelaExmªJuízadedirei-to (…), solicitando a sua transferência para uma Comarca do Continente, foi deliberado concordar com a solução apresentada.

Na realidade, considera o Plenário que a situação exposta pela Exma. Juíza se apresenta como merecedora de deferimento.

O CSM tem tido, aliás, relativamente a casos pes-soais particulares que corporizam situações relevantes, do ponto de vista humano ou humanitário, e sempre que existe uma solução alternativa que logre assegurar o fun-cionamento dos Tribunais em causa, uma posição de aber-tura quanto à possibilidade de deslocar juízes dos tribu-nais em que estão colocados, por conveniência de serviço.

Constituem exemplo o deferimento, no último ano, de dois pedidos de transferência de comarcas das Re- giões Autónomas (uma do Funchal, outra da Graciosa), ambas justificadas por necessidade de acompanhamento familiar dos magistrados envolvidos aos pais, atingidos por doença do foro oncológico) e uma outra de Guimarães, justificada por uma situação pessoal e familiar incom-portável.

Em todos esses casos foi possível encontrar soluções alternativas, sem prejuízo para o serviço.

O caso que agora é objecto de apreciação apresenta contornos claros e impõe que o CSM, enquanto órgão de gestão da magistratura judicial, exerça as suas compe-tências da forma mais eficaz em benefício do sistema.

Assim, - considerando que a Exma. Juíza, actualmente

grávida de cinco meses e com problemas de hérnia discal, inexistindo especialidade de Ginecologia na Ilha (…) (nem meios de diagnóstico adequa-dos) e tendo necessidade de consultas bimensais, dentro de pouco tempo por certo terá de entrar em situação de baixa médica;

- considerando que a Exmª Juíza de direito (…) manifestou disponibilidade para acumular o seu serviço com o da comarca da (…), assim que necessário, tal como fez em anos anteriores, com resultados positivos;

- considerando que o Distrito Judicial de Lisboa tem várias situações para as quais a vinda da Exma. Juíza (mesmo por um período limitado) se traduziria em efeitos particularmente positi-vos,

- e como forma de gerir com eficácia os meios hu-manos disponíveis, dentro das necessidades do serviço,

determina-se que a Exmª Juíza de direito (…) seja transferida, por conveniência de ser-viço, para a Bolsa de Juízes de Lisboa (sendo

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 73

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oportunamente definido o Tribunal em que fica-rá colocada) e que a Exmª Juíza de direito (…) fique em acumulação com a Comarca (…), assim que a primeira seja transferida para a Bolsa de Juízes de Lisboa, e até ao próximo movimento judicial.

Ponto Prévio n.º 9 – Procº nº 1997 – 342/D – E.M.J.

Foi aprovada, por unanimidade, a proposta apresentada pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes, a qual tem o seguinte teor:

“Na sequência da deslocação ao Círculo de Ponta Delgada e do contacto com os Exmos Juízes aí colocados, foi suscitada ao proponente uma questão que creio dever merecer a atenção do CSM, quer por se tratar (basica-mente) de uma especificidade das Regiões, quer porque corresponde a uma necessidade prática susceptível de pro-vocar entraves à administração da Justiça (que importa evitar).

A questão em causa respeita à inexistência de prio-ridade na reserva de passagens nos voos aéreos inter-ilhas quanto a Juízes em serviço.

Por força dos respectivos estatutos essa prioridade existe para os membros do Governo Regional e para os Deputados (cfr. art. 15º, nº 2, h], Estatuto dos Depu-tados: “Prioridade nas reservas de passagem nas empresas públicas de navegação aérea durante o funcionamento efectivo da Assembleia ou por motivos relacionados com o desempenho do seu mandato”).

Do mesmo modo e por uma questão de política de empresa, a SATA assegura também prioridade a doentes, reservando até dois lugares por voo.

Ora, em situações de turno, de processos urgentes, de arguidos presos, em que não esteja presente o juiz da comarca e haja necessidade de intervenção de juiz substi-tuto, pode acontecer (e terá já acontecido) que este não se possa deslocar por já não ter lugar no avião.

Trata-se de matéria que deveria constar também do Estatuto dos Magistrados Judiciais, nomeadamente do seu art. 17º, com uma nova alínea que poderia ter a seguinte redacção:

“i) Aquando em serviço, ter prioridade nas reservas de passagem nas empresas públicas de

navegação aérea, em deslocações inter-ilhas, com ou do continente”)”.

A referência ao continente respeita à existência de Tribunais (como o Tribunal Central de Instrução Cri-minal e o TEP), com competência em todo o território nacional, relativamente aos quais a mesma situação se pode dar.

Propõe-se assim que o CSM delibere no sen-tido de dar conta ao Exmº Presidente da Assem-bleia da República e ao Exmº Ministro da Justi-ça desta situação, solicitando a sua atenção para a conveniência da alteração legal”.

Mais foi deliberado, e pressupondo o conhecimento do tempo normal do processo legislativo e porque é do co-nhecimento do CSM que, da parte da SATA, existe dis-ponibilidade para, independentemente de alteração legal, estabelecer protocolo com o CSM no sentido de permitir assegurar a prioridade na reserva de passagens a juí-zes no exercício de funções, mandatar o Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes para estabelecer os contactos necessários ao estabelecimento de tal protocolo.

Ponto Prévio n.º 11 – Procº nº 1998 – 306/D Comunicação Social

A este ponto foi deliberado juntar, em termos de oportunidade de apreciação, o ponto n.º 36 da Tabela Principal.

Deste modo, e no que concerne ao ponto pré-vio, foi deliberado proceder a averiguações, relativamente ao teor da notícia publicada no Correio da Manhã sobre o “Caso Maltez” (julgamento anulado pela Relação de Lisboa por alegadas deficiências na gravação dos depoi-mentos, aquando da audiência realizada na 8ª Vara Criminal de Lisboa), averiguações essas a ser levadas a efeito pelo respectivo Inspector da área.

Quanto ao ponto n.º 36, aprovando-se, por una-nimidade, a proposta apresentada pelos Exmos Vogais Dr. Abrantes Geraldes e Prof. Doutor Calvão da Silva, foi deliberado o seguinte:

Considerando a frequência de casos de defeituoso registo das audiências de julgamento, tanto em processo civil como em processo penal, o que tem determinado deci-sões de anulação que obrigam à repetição total ou parcial dos julgamentos;

Considerando poderem ser múltiplas as causas de

Conselho Superior da Magistratura

74 Boletim Informativo - Dez.2006

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tais ocorrências, que vão desde a má qualidade dos equi-pamentos à defeituosa monitorização por parte dos fun-cionários judiciais adstritos;

Considerando que os danos que daí decorrem para a eficácia e para a imagem dos Tribunais não se com-padecem com a repetição de tais situações, o Conselho Superior da Magistratura determina:

- que o Ministério da Justiça adopte as medidas necessidades, quer ao nível da qualidade do equipamento, quer da formação dos funcioná-rios;

- Que os Exmos Juízes previnam a ocorrência da-quelas situações, adoptando e fazendo adoptar os procedimentos de segurança adequados.

Neste momento, os Exmos Vogais Dr. Edgar Taborda Lopes, Dr. Rui Moreira e Dr. António Barateiro Martins proferiram a seguinte decla-ração:

“Votámos a proposta com reserva quanto ao ponto 2º dos procedimentos a adoptar, por entendermos que os Se- nhores Juízes, no exercício dos seus poderes de direcção de audiência, vêm já adoptando os procedimentos de seguran-ça viáveis, pelo que resulta desnecessário o referido apelo, que nada acrescenta à pratica judiciária seguida nem aos seus deveres funcionais – de facto, não é daí que advêm os problemas que se têm verificado nestas matérias.”

Nesta altura, o Exmº Juiz-Secretário, apre-sentou ao Plenário um Fax, neste momento che-gado ao CSM, da estação de televisão privada “SIC”, a solicitar autorização para que o Exmº Juiz de direito Dr. Carlos Alexandre, Presidente do Colectivo que julgou, em 1ª instância, o pro-cesso acima referenciado, prestasse declarações relativamente ao dito processo, que seriam gra-vadas pela SIC, a fim de serem transmitidas em reportagem a incluir no “Jornal da Noite” de tal estação televisiva.

A este propósito, foi deliberado juntar o referido Fax ao presente processo e indeferir o solicitado, infor-mando-se que a legitimidade para tal pedido de autori-zação pertence ao Juiz do processo e não à SIC.

Mais foi deliberado que, a acontecer vir o Juiz em causa a fazer tal pedido, o CSM, atento o facto de se ter já deliberado abrir processo de averiguações relativamen-te à matéria em causa, não lhe concederá a necessária

autorização, tendo em atenção o disposto no artigo 12º do EMJ.

Ponto n.º 11 - Proc.º n.º 1998-306/D - Se-cretariado

Foi deliberado aprovar, por unanimidade, a pro-posta apresentada pelo Exmº Vogal, Dr. Luís Máximo dos Santos, sobre “Política de comunicação no Conselho Superior da Magistratura”, do seguinte teor:

“O Conselho Superior da Magistratura delibera aprovar a necessidade de elaboração de um documento que contenha as orientações da sua política de comunicação.

O conteúdo desse documento será submetido pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes à apreciação de um pró-ximo Plenário, a partir do documento por si elaborado e tendo em conta os posteriores contributos que vierem a ser propostos pelos demais membros do Conselho.

Foi deliberado também ratificar a nomeação do Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes como porta-voz do Con-selho”.

Ponto n.º 20 - Proc.º n.º 1998-306/D (Se-cretariado)

Foi deliberado juntar este expediente ao constante do Ponto n.º 38 (expediente do Exmº Provedor de Justiça, Dr. Nascimento Rodrigues, a solicitar autorização para o exercício do cargo de Assessor do Provedor de Justi-ça, na Extensão da Região Autónoma da Madeira, do Exmº Juiz de direito da Vara Mista do Funchal, Dr. Jaime Ferdinando de Castro Pestana), discutindo-os em conjunto. -----------------------------------------------

Assim, e no que concerne a tal pedido, foi delibe-rado, por maioria, com votos contra dos Exmos Conse-lheiros, Presidente e Vice-Presidente e dos Exmos Vogais, Dr. Rui Moreira e Dr. Edgar Lopes, indeferi-lo, não concedendo, assim, autorização para que o Exmº Juiz de direito Dr. Jaime Ferdinando de Castro Pestana possa assumir o cargo de assessor/coordenador do Provedor de Justiça na Extensão da Região Autónoma da Madeira, entendendo-se que, face aos critérios para autorização de comissões de serviço aos Juízes, aprovados por deliberação do plenário de 17/3/2005, tal cargo não parece ser de ocupação desejável por um Magistrado Judicial, até por questões relacionadas com a gestão dos recursos humanos pelo CSM.

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Ponto n.º 23 - Proc.º n.º 1998-360/M8 – C.E.J.

Relativamente ao expediente remetido pelo CEJ, a solicitar parecer quanto à eventualidade de existir algu-ma irregularidade que possa responsabilizar os magis-trados docentes, no caso de ser o Estado, através daquele Centro, a receber as remunerações devidas àqueles por participações em colóquios, seminários e acções de forma-ção, foi deliberado comunicar ao CEJ que o CSM nada tem a opor à adopção de tal procedimento que em nada belisca a imagem da Magistratura Judicial.

Ponto n.º 25 - Proc.º n.º 2002-439/D – Con-ferências

Relativamente ao expediente apresentado pelo Exmº Juiz Secretário deste Conselho, foi deliberado, por maio-ria, aprovar os seguintes temas para o IV Encontro Anu-al do Conselho Superior da Magistratura:

1- Funcionamento do sistema judicial e de-senvolvimento económico.

2- O sistema de recrutamento e formação dos magistrados – balanço da experiência portu-guesa e modelos alternativos.

Ponto n.º 28 - Proc.º n.º 2006-3/M1 – C.N.P.D.

´(…)2. Relativamente às candidaturas para o cargo de Vogal da Comissão Nacional de Protecção de Dados, foi deliberado proceder a uma votação entre as candidaturas apresentadas, através de voto secreto, sen-do designado por este Conselho o candidato que obtiver maioria de votos.

Em conformidade com o acima deliberado, proce-deu-se à votação entre as 5 candidaturas para esse efeito apresentadas, com os seguintes resultados:

• ExmºJuizDesembargadorDr.RuiMa-nuel de Freitas Rangel – 2 (dois) votos;

• ExmºJuizdedireitoDr.FranciscoAn-tónio de Figueiredo Caramelo – 1 (um) voto;

• ExmªJuízadedireitoDr.ªSaradaPiedade Moreira das Neves Pina Cabral – 0 votos;

• Exmº Juiz de direitoDr.CarlosAlbertoGameiro de Campos Lobo – 9 (nove) vo-tos;

• ExmªJuízadedireitoDr.ªMariadoRosá-rio Marinho Ferreira Barbosa – 0 votos.

Em face dos resultados obtidos, foi deliberado de-signar o Exmº Juiz de direito Dr. Carlos Alberto Gameiro de Campos Lobo, da 3ª Vara Criminal de Lisboa, para o cargo de Vogal da Comissão Nacional de Protecção de Dados, em comissão de serviço de natureza ordinária não judicial, por um período de cinco anos, nos termos dos artigos 53º, 54º e 57º, n.º 1 do EMJ e 25º da lei n.º 67/87 de 26/1, guardando tal comissão de serviço vaga no lugar de origem.

ACTA 6/06 (Conselho Permanente)

Ponto Prévio n.º 5 – procº 06-156/DNa apreciação da proposta apresentada pelo Exmº

Vogal Dr. Edgar Lopes, atento o teor do debate público que está em curso na sociedade portuguesa e de forma a habilitar o CSM a melhor decidir sobre a questão, foi deliberado CIRCULAR pelos Exmos Juízes de direito colocados nos Tribunais de Instrução Criminal ou afectos à Instrução Criminal, solicitando um levantamento das dificuldades reais e efectivas que têm sentido na aplica-ção do regime das escutas telefónicas, e a indicação das sugestões que tiverem por convenientes para tornar o sistema mais eficaz, sobretudo no que concerne à sua autorização, validação e controlo.

ACTA 8/06 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 1 – nº 06-5/M8Pelo Exmº Vice-Presidente do Conselho Su-

perior da Magistratura, foi apresentada a pro-posta de um voto de pesar do seguinte teor:

“Faleceu, no passado dia 16 de Fevereiro, o Exmº Juiz Conselheiro do STJ, Dr. António da Costa Neves Ribeiro.

Com o seu passamento perde a magistratura portu-guesa um dos seus mais prestigiados vultos, um dos que mais a valorizaram na sua dimensão ética, cívica e pro-fissional.

Tendo constituído uma carreira de elevadíssimo mérito, quer no Mº Pº – onde, como PGA, culminou o

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76 Boletim Informativo - Dez.2006

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seu desempenho com uma notável presença como Director do Gabinete de Direito Europeu – quer na magistra-tura judicial, que agora servia, com elevado sentido de missão, como Vice-Presidente do STJ, o Conselheiro Ne-ves Ribeiro, senhor também de uma formação humana profundamente rica em valores, deixa em todos quantos com ele privaram, especialmente entre os magistrados seus Pares, um sentimento de profunda mágoa, de viva cons-ternação.

Por isso, o Conselho Superior da Magistratura ma- nifesta o seu profundo pesar pelo desaparecimento de tão significativa figura da magistratura portuguesa, dei-xando aqui expresso o reconhecimento que ao Conselheiro Neves Ribeiro é devido pelo seu exemplo de vida de cida-dão e de magistrado.”

Tal voto de pesar foi aprovado por unani-midade.

Mais foi deliberado enviar cópia desta deliberação ao STJ e à Família do Exmº Conselheiro.

Ponto Prévio n.º 4 – procº. Nº 05 – 1/C1 – Férias Judiciais

1- No que concerne à proposta de Provimen-to apresentada pela Exmª Juíza Presidente (…), sobre Turnos e regime de Substituição/Gozo de férias para aquele Tribunal, foi deliberado o seguinte:

“I – Os seus nº 2 e nº 3, à partida inócuos, tornam-se ilegais, lidos em consonância com o nº 4 e o nº 5 (sendo certo que não faz sentido referir o período de 01 a 14/09, quando o que poderia relevar são os períodos que vão além dos de férias judiciais, sejam eles de 15/07 a 31/07, posteriores a 31/08 ou anteriores a 15/07);

II – O seu nº 4 corresponde a uma determinação dada por provimento aos juízes (cujos poderes de sobera-nia não são limitáveis deste modo), o que é manifesta-mente ilegal;

III – O seu nº 5 é ilegal, por determinar que, fora dos períodos de férias judiciais, só sejam tramitados os processos urgentes, transformando materialmente uma si-tuação de substituição legal numa situação de turno”.

2- No que concerne ao requerimento apre-sentado pelo Exmº Juiz de direito (…), a exercer funções como auxiliar na 8ª Vara Cível de Lisboa, foi deliberado, por maioria, com voto contra do Exmº Vogal Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, aprovar o se-

guinte, em complemento das Premissas já anteriormente provadas e atinentes às Férias dos Juízes:

“O período de 15 a 31 de Julho poderá ser utilizado para férias dos juízes, desde que:

• esteja esgotado o período de férias emAgosto;

• estejaasseguradaasubstituiçãoe• os respectivos Presidentes das Relações

entendam que não existe prejuízo para o serviço”

Nesta altura, foi apresentada pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida a seguinte declaração de voto, relativamente ao n.º 2 deste Ponto:

“Vencido, porque a deliberação deveria referir também os períodos de férias de Natal e da Páscoa como períodos de gozo preferencial de férias dos juízes”.

3- No que concerne ao requerimento apre-sentado pelo Exmº Juiz de direito (…), foi delibe-rado, por maioria, com voto contra do Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes, esclarecer o exponente que não é lícito e legítimo dar um provimento à secção de processos no sen-tido de, enquanto estiver em gozo de férias, não lhe serem conclusos processos, sem prejuízo de a secção concluir os urgentes ao Juiz substituto, por se entender que não é legí-timo restringir ou limitar o serviço da secção de processos e dos funcionários de justiça em período situado fora do de férias judiciais.

Nesta altura, foi apresentada pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes a seguinte declaração de voto, relativamente a este Ponto:

“Pese embora a minha concordância com a delibe-ração aprovada no que respeita à legalidade do concreto provimento elaborado pelos Exmos. Juízes do Tribunal de (…), entendo que, pelas especiais responsabilidades que cabem ao CSM, deveria constar da deliberação que:

1 - Ao CSM não cabe dizer como os juízes devem organizar em concreto o seu serviço, mas cabe dizer como o não podem fazer.

2 – Não é possível transformar por via de provi-mento e de forma genérica e abstracta, uma substituição legal, numa situação de turno: turnos existem apenas em férias judiciais e, nos períodos fora delas em que haja juízes em férias (sejam eles o de 15/07 a 31/07 ou os necessários antes de 15/07 ou depois de 31/08, para per-

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Dez.2006 - Boletim Informativo 77

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mitir o gozo de 22 dias úteis), há sempre um juiz substituto, que não está de férias e cujos proces-sos lhe terão de ser normalmente conclusos, sendo que, os restantes (os das secções cujos juízes se encontrem de férias) serão por si despachados os urgentes e os restantes se possível for.

3 – Não é possível, por via de provimento, limi-tar o proferimento de despachos jurisdicionais, como os de marcação de diligências: o provimento é dirigido à secção e não à actividade jurisdicional dos juízes.

4 - O CSM sempre assinalou quando ouvido sobre a matéria (nomeadamente na Assembleia da República), que o período de 15/07 a 31/07 (espúrio, desligado da realidade, por todos criticado, prejudicando os advogados e os cidadãos que verão os seus prazos a correr, sem be-nefícios para ninguém), em que - necessariamente - iria estar de férias uma grande parte dos juízes, os substitutos legais com o seu serviço normal a cargo, praticamente ape-nas poderiam despachar os processos urgentes dos juízes substituídos e, daí, os parcos ganhos de produtividade.

5 – Claro que pode haver Tribunais em que seja possível que todos os processos sejam despachados pelo juiz substituto, mas, em Tribunais de grande volume de ser-viço, em que seja sabido que o número de conclusões diá- rias é elevado (de trinta, quarenta ou cinquenta, por exemplo), tenho como desrazoável que se permita – sem qualquer ganho de eficácia ou benefício para quem quer que seja – que se acumulem cegamente em dez dias úteis ou mais (e só porque é um período “normal”), trezen-tos, quatrocentos ou quinhentos processos que o substituto não logrará despachar (porque tem os seus e os urgentes dos substituídos) e que o substituído terá de despachar quando regressar de férias judiciais, conjuntamente com todos aqueles que as secções normalmente concluem após férias. Isto conduz a um estrangulamento desnecessário e que pode ser objecto de regulação por via de provimen-to: concluir os processos “porque sim”, não me parece um sistema sensato, mais ainda porque não está em causa uma situação imprevista ou inesperada (como ocorre, nas situações de baixa médica por doença), mas perfeitamente previsível por, desde antes da Páscoa, se saber o que vai correr nos períodos em causa.

6 - À partida, a razoabilidade de concluir os pro-cessos nestas circunstâncias passa pela responsabilidade do Escrivão de Direito de cada Secção e isso poderá - na

generalidade das situações - evitar a necessidade de qualquer Provimento, mas os Juízes têm as suas respon-sabilidades próprias e não têm, nem as devem enjeitar ou empurrar para os funcionários judiciais.

7 - Nada me parece obstar - em abstracto - a que, relativamente às secções cujos juízes se encon-trem de férias e de forma a permitir uma gestão eficaz da tramitação dos processos (permitindo um fluxo de des-pacho/cumprimento bem oleado), que sejam proferi-dos provimentos no sentido de serem conclusos aos juízes substitutos apenas os processos com natu-reza urgente, sem prejuízo de os referidos juízes substitutos, em concreto, e face à sua maior ou menor disponibilidade, determinarem de modo distinto ao Escrivão da Secção: um Provimento neste sentido permite uma gestão razoável das conclusões e do funcionamento de uma Secção, que apenas beneficiará o melhor andamento dos processos e potenciará uma melhor administração da Justiça.

Face ao exposto no ponto 6, que antecede, enten-do que, quanto ao Provimento proposto pelo Exmo. Juiz (…), com as pequenas precisões que daquele decorrem, não contém qualquer ilegalidade, podendo mesmo cons-tituir – pela apreciação concreta que o titular da Secção faça no momento adequado - um instrumento positivo para permitir uma melhor gestão do serviço: daí o meu voto de vencido quanto à deliberação do CSM respeitante à proposta de Provimento em causa”.

Ponto Prévio n.º 5 – procº. Nº 06-3/M1 – Ins-pectores Judiciais

Relativamente à apreciação das candidaturas para o preenchimento da vaga de Inspector Judicial da 14ª Área de Inspecção, em substituição do Exmº Ins- pector Judicial Dr. João Gonçalves Marques, pelo Exmº Vice-Presidente foi dito que, considerando as reconheci-das qualidades pessoais e profissionais da Exmª Juíza de direito Drª Maria Cecília de Oliveira Agante dos Reis Pancas, que manifestou disponibilidade para ser nomeada Inspectora Judicial, e reúne as condições de antiguidade e de classificação exigidas por lei, deve a sua candidatura ser admitida.

Não tendo sido deduzida oposição a esta candida-tura, foi deliberado o seguinte:

• procederaumavotaçãosecretaentreas5candi-

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daturas apresentadas e abaixo referidas, através de voto secreto, sendo designado por este Conselho o candidato que obtiver maioria absoluta de vo-tos;

• Caso tal não se verifique, deverá proceder-se anova votação, mediante voto secreto, entre os dois candidatos mais votados, sendo então designado o candidato que obtiver maior número de votos.

Em conformidade com o acima deliberado, proce-deu-se, de imediato, à votação para o preenchimento da vaga em causa, tendo sido para o efeito consideradas as seguintes candidaturas:

• Exmº Juiz Desembargador Dr. Mário BeloMorgado (Tribunal da Relação de Lisboa);

• ExmºJuizDesembargadorDr.FernandoBap-tista de Oliveira (Tribunal da Relação do Por-to);

• Exmº Juiz Desembargador Dr. Jorge ManuelArcanjo Rodrigues (Tribunal da Relação de Coimbra);

• ExmºJuizdedireitoauxiliarnoTribunaldaRelação do Porto, Dr. Jaime Paulo Tavares Va-lério e

• Exmª Juíza de direito Drª Maria Cecília deOliveira Agante dos Reis Pancas (Varas de Competência Mista de Coimbra).

Após votação, obtiveram-se os seguintes resultados: ■ 7 (sete) Votos para a Exmª Juíza de direito

Dr.ª Maria Cecília de Oliveira Agante dos Reis Pancas;

■ 4 (quatro) Votos para o Exmº Juiz Desembar-gador Dr. Mário Belo Morgado;

■ 3 (três) Votos para o Exmº Juiz Desembarga-dor Dr. Fernando Baptista de Oliveira;

■ 1 (um) Voto em branco. Seguidamente, e em face ao facto de não ter logrado

obter para nenhuma das candidaturas uma maioria ab-soluta de votos, fez-se uma segunda votação, agora res-trita aos nomes dos dois candidatos mais votados (Exmª Juíza de direito Drª Maria Cecília Agante Pancas e Exmº Juiz Desembargador Dr. Mário Morgado).

Nesta 2ª volta, os resultados foram os seguintes: ■ 10 (dez) Votos para a Exmª Juíza de

Direito, Dr.ª Maria Cecília de Oliveira Agante dos Reis Pancas;

■ 5 (cinco) Votos para o Exmº Juiz Desem-bargador, Dr. Mário Belo Morgado;

Em face dos resultados obtidos, o Conselho delibe-rou designar para o cargo de Inspectora Judicial da 14ª área, em comissão de serviço ordinária de natureza judi-cial, por um período de três anos, nos termos dos artigos 53º, 54º, 55º, 56º, n.º 1, alínea a) e 57º, n.º 1 do Esta-tuto dos Magistrados Judiciais, a Exmª Juíza de di-reito Drª Maria Cecília de Oliveira Agante dos Reis Pancas, das Varas de Competência Mista de Coimbra, guardando tal comissão de serviço vaga no lu-gar de origem.

Ponto Prévio nº 7 – procº. Nº 05-1124/D1Foi deliberado aprovar, por unanimidade, e

após proposta do Exmº Vogal Dr. Edgar Taborda Lopes, a seguinte deliberação:

O Processo nº 1718/02.9JDLSB (conhecido como processo “Casa Pia”) iniciou o seu julgamento no dia 25 de Novembro de 2004, levando já 151 sessões realizadas (passando - neste período - de 21.000 para 37.000 pá-ginas.

Atenta a inegável relevância e exposição pública do processo em causa (pendente desde 2002), bem assim como a extensão do julgamento e o tempo pelo qual previsivel-mente ainda se prolongará (mais de setecentas testemu-nhas, audições de peritos e consultores técnicos, etc.), e sem que tal corresponda a uma qualquer intervenção concreta no conteúdo de qualquer decisão jurisdicional, o CSM, com as especiais responsabilidades que tem na garantia do bom funcionamento da administração da Justiça (e na credibilização do sistema judicial), não pode alhear-se das consequências negativas para a imagem desta e para a confiança dos cidadãos nos Tribunais, que atrasos de difícil compreensão possam vir a originar (nomeadamente como consequência da dedução de incidentes de recusa, o último dos quais no dia 24/02/2006).

Dispõe o Art.º 149º, i], do Estatuto dos Magistra-dos Judiciais, que compete ao CSM estabelecer priorida-des no processamento de causas que se encontrem pendentes nos tribunais por período considerado excessivo, sem pre-juízo dos restantes processos de carácter urgente.

Considerando o atrás exposto, e de forma a permi-tir que o processo em causa, em todas as suas vertentes (incluindo incidentes e recursos), possa decorrer da forma

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Dez.2006 - Boletim Informativo 79

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mais célere possível, ao abrigo do art. 149º, i], do EMJ, o Plenário do Conselho Superior da Magistratura de-libera no sentido de atribuir prioridade ao Processo n.º 1718/02.9JDLSB (prioridade essa extensiva a todos os seus incidentes e recursos), sem prejuízo dos restantes processos de carácter urgente.

Mais foi deliberado, após proposta do Exmº Vogal Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, preparar uma proposta de alteração legislativa tendente a evitar desvios no uso do incidente de recusa do juiz em processo penal, cabendo tal tarefa a um Grupo de Trabalho formado pelos Exmos Vogais Dr. Manuel Braz, Drª Maria José Machado e Dr. Edgar Lopes.

Pela Exmª Vogal Drª Maria José Macha-do, foi proferida a seguinte declaração de voto, a qual foi subscrita pelo Exmº Vogal Dr. Luís Máximo dos Santos e pela Exmª Vogal Drª Ale-xandra Leitão:

“Apesar de ter votado favoravelmente a proposta, dei- xo aqui a declaração de que não vislumbro a utilidade ou eficácia da atribuição de prioridade ao processo em si mesmo uma vez que os Sr.s Juízes que integram o colec- tivo encontram-se afectos em exclusividade ao processo em causa, não tendo qualquer outro processo para julgar ou des- pachar e, por isso, ser o julgamento do processo já prio-ritário.

A atribuição da prioridade só se justifica assim, a meu ver, relativamente ao incidente de recusa já deduzido e aos incidentes, mas só quando estes venham a ser dedu-zidos, pois só então estarão pendentes.”

Ponto n.º 1 – Proc.º n.º 97-342/D – E. M. J.Foram colocadas à apreciação duas propos-

tas apresentadas pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lo-pes:

Proposta A “Aquando de uma deslocação ao Círculo de Ponta

Delgada e no contacto com os Exmos. Juízes aí coloca-dos, foi suscitada ao proponente uma questão que creio dever merecer a atenção do CSM, dadas as situações de desigualdade que pode vir a criar e das quais importa alertar os órgãos legislativos com poder para proceder ao que temos como necessárias alterações legais.

A questão em causa respeita à eventual perda do subsídio de fixação por parte de juízes residentes e colo-

cados em comarcas das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, se, por força do normal decurso das suas carreiras concorrerem e ficarem colocados num qualquer Tribunal de Relação.

Dispõe o art. 24º, do EMJ, que “Ouvidos o Con-selho Superior da Magistratura e as organizações repre-sentativas dos magistrados, o Ministro da Justiça pode determinar que seja atribuído um subsídio de fixação a magistrados judiciais que exerçam funções nas regiões autónomas e aí não disponham de casa própria”.

Este subsídio de fixação constitui-se como um sub-sídio de insularidade, que se traduz num incentivo es-timulador instituído com vista à fixação e permanência dos magistrados nas comarcas das regiões autónomas (funcionando, assim, como um ónus específico inerente às particularidades próprias da prestação de trabalho, como se refere no Parecer anexo).

“Para uma maior permanência, por um máximo de tempo, dos magistrados nos lugares das comarcas das Re-giões Autónomas, o Estado disponibiliza-se a fazer face a certas despesas através dum subsídio – o subsídio de fixação” (citado Parecer).

Resulta pois dos normativos em causa que, pas-sando o juiz a exercer funções num Tribunal de Relação (deixando como tal de exercer funções nas Regiões Autó-nomas) e passando a nele ter o seu domicílio necessário (art. 8º, nº 1, EMJ), cessa formalmente a situação particular que fundamentou a atribuição do subsídio, perdendo o seu fundamento, deixando - em conformidade - de ser pago.

Está assim criada uma situação que temos como incongruente e ilógica que consubstancia uma ostensiva desigualdade perante quem reside no continente:

- por um lado, o Estado incentiva e estimula du-rante anos a fixação e permanência de juízes nas Regiões Autónomas, os quais, assim, aí se fi-xam, aí criam e estabilizam o seu agregado fa-miliar, o seu espaço, a sua Vida e, quando che-ga o natural e normal momento de acederem ao Tribunal da Relação, retira-lhes os incentivos, “abandonando-os à sua sorte”, como se a reali-dade se tivesse alterado, como se o centro de vida dos juízes em causa se alterasse (e a promoção não pode ser um castigo);

- por outro, faz com que qualquer juiz que resida

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80 Boletim Informativo - Dez.2006

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no território continental português, se encontre numa posição muito mais favorável no acesso ao Tribunal superior, que um residente e em serviço nas Regiões Autónomas.

É uma situação que ainda não se terá colocado, mas se colocará, previsivelmente já no próximo movimento judicial, com juízes que exercem funções quer na Madei-ra quer nos Açores.

Entende o subscritor que a situação deveria ser apresentada à Assembleia da República e ao Ministério da Justiça, por se entender que carece de criação de legis-lação e regulamentação que leve em consideração a especi-ficidade dos juízes residentes há longos anos nas comarcas das Regiões Autónomas.

O proponente solicitou ao Exmo. Técnico Superior Jurista do CSM Dr. Ralph Rodrigues a adaptação de um Parecer por si elaborado para uma outra situação, mas na qual esta matéria era já abordada, o que por ele foi feito.

Propõe-se assim que o CSM delibere no sentido de dar conta ao Exmo. Presidente da Assembleia da Repú-blica e ao Exmo. Ministro da Justiça desta situação, so-licitando a sua atenção para a necessidade de elaboração de diploma legal que a previna, evitando a ocorrência de injustiças”.

Proposta B“Uma segunda matéria com esta conexionada

respeita aos transportes entre o local da residência numa Região Autónoma e o Tribunal da Relação em que se encontrem colocados os juízes em causa.

Os juízes têm direito à utilização gratuita de transportes colectivos públicos, terrestres e fluviais, dentro da área de circunscrição em que exerçam funções, ou desde esta até ao local da residência (autorizada), como decorre do art. 17º, nº 1, d], e 8º, nº 3, EMJ.

Uma vez que inexiste transporte terrestre ou fluvial para as Regiões Autónomas, os juízes que aí residam e tenham o seu centro de vida que ingressem num Tribunal de Relação, encontrar-se-ão numa clara situação de de-sigualdade perante qualquer juiz residente no território continental português, atentos, desde logo, aos elevados custos das deslocações por via aérea.

Se somarmos o primeiro ponto abordado com este, facilmente concluiremos que um juiz residente nas Regiões

Autónomas que ingresse num Tribunal de Relação pra-ticamente pagará para ser desembargador, o que não nos parece que faça sentido.

Assim sendo, sugere-se que o Plenário do CSM de-libere no sentido de dar conta ao Exmo. Presidente da Assembleia da República e ao Exmo. Ministro da Jus-tiça desta situação, solicitando a sua atenção para a ne-cessidade de elaboração de diploma legal que a previna, evitando a ocorrência de injustiças.

As situações serão pontuais e ocorrerão poucas vezes, mas são claramente excepcionais e merecem tratamento adequado”.

Relativamente à proposta A., a mesma foi re-jeitada, com 12 (doze) votos contra e 1 (um) - do propo-nente - a favor.

Relativamente à proposta B, foi deliberado delegar no Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes a elaboração de uma proposta de alteração do Estatuto dos Magistrados Judiciais e de outros diplomas legais atinentes que pre-vinam e prevejam a situação aludida na sua proposta, a ser apresentada no Plenário de Abril.

Ponto n.º 23 – Proc.º n.º 06-158/D – Colec-tânea de deliberações

Foi aprovada, por unanimidade, a proposta apre-sentada pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes, a qual tem o seguinte teor: -------------------------------------------

“Regularmente vê-se o Conselho Superior da Ma-gistratura confrontado com a necessidade de renovar de-liberações, a propósito de situações pontuais que vão ocor-rendo. --------------------------------------------------

De forma a evitar este tipo de situação que por vezes é até susceptível de ser mal interpretado pelos destinatá-rios, cremos que, no início de cada período após o mo-vimento judicial ordinário (em Setembro de cada ano), deveria o CSM fazer circular por todos os Tribunais uma colectânea de deliberações tidas como as mais relevantes.

A constante entrada de novos Juízes no sistema, as mudanças de Tribunais na sequência dos movimentos, a normal e natural circunstância de as circulares remeti-das se perderem ou de serem esquecidas pelo tempo, poderão assim deixar de ser fundamento para o desconhecimento dos entendimentos assumidos pelo CSM quanto a maté-

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 81

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rias tidas importantes para o melhor funcionamento do sistema. ------------------------------------------------

Propõe-se assim ao Plenário do CSM que delibere no sentido de ser elaborada para distribuição em meados de Setembro de cada ano, de uma colectânea das deliberações mais relevantes e importantes do CSM, as quais deverão ser previamente seleccionadas por um Grupo de Trabalho, sendo o resultado dessa selecção posteriormente aprovado em sessão Plenária”. -------------------------------

Mais foi deliberado formar um grupo de trabalho para os fins antes referidos, composto pelos Exmos Vogais Dr. Edgar Lopes e Dr. Rui Moreira e pelo Exmº Juiz- -Secretário, Dr. Paulo Guerra.

ACTA 9/06 (Conselho Permanente)

Ponto n.º 4 - Proc.º n.º 06-5/M8 - PessoalFoi deliberado CIRCULAR pelos Exmos Juízes

que o exercício do direito aludido no art.º 10º -A, nº 2 do EMJ (dispensa de serviço) terá sempre de passar por prévia autorização do CSM, o qual deverá ser informado dessa pretensão com uma antecedência razoável, de forma a poder decidir em tempo útil.

Mais se deverá esclarecer que tal pedido de dispen-sa de serviço (que depende da verificação do pressuposto da inexistência de inconveniente para o serviço) deve ser requerido ao CSM e não ao Presidente do respectivo Tri-bunal da Relação.

Relativamente ao expediente do Tribunal da Re-lação de (…), bem como do requerimento que lhe vinha anexo, do Exmº Juiz de direito (…), foi deliberado avi-sar o Exmº Juiz de que, futuramente, só deverá ausentar-se da área do seu tribunal quando devidamente autori-zado por este Conselho.

Ponto n.º 15 - Proc.º n.º 05-1010/D2Foi deliberado concordar com a posição da

ExmªJuízadedireitodo(…),discordando-se,as-sim, do teor do Provimento 1/2006, proferido pela ExmªJuízaPresidentedaqueleTribunal,edatadode 23/2/2006, explicitando-se aqui que inexiste fundamento legal para a doutrina do mesmo, pois só as providências cautelares entradas “de novo”devem ser distribuídas por ambos os juízos, de for-

ma equitativa, não podendo, por isso, ser contabi-lizadas para efeitos de distribuição, as providências cautelares que devam ser apensadas a processos já pendentes, sob pena de isso resultar em maior de-sigualdade na distribuição do serviço.

Mais foi deliberado, nos termos do artigo 149º, alínea h) do EMJ, determinar a revogação do provimen-to n.º 1/2006, mantendo-se somente em vigor o teor do provimento n.º 1/2002, datado de 7/3/2002.

ACTA 108/06 (Plenário)

Ponto n.º 2 – Pº 2005-3/M1 (Graduação) - 11º Concurso Curricular de Acesso ao Supremo Tribunal de Justiça

Discutida a questão em análise, e depois de ouvidos o Exmº Vice Procurador da República, o representante do Exmº Bastonário da Ordem dos Advogados, bem como os Exmos Presidentes do Tribunal da Relação de Coimbra, Lisboa e Évora, o Exmº Vice-Presidente do Tribunal da Relação do Porto e o Exmº Juiz Desembargador do Tribunal da Relação de Guimarães acima identificado, todos com voto consultivo nos termos legais, foi tomada a seguinte deliberação: -------

I - Aprovada a deliberação de abertura do concurso, com divulgação dos critérios a utilizar na apreciação do mérito absoluto e relativo dos diversos candidatos, foi rea- lizado o sorteio pelos elementos que integram o Plenário do CSM, com excepção do seu Presidente. --------------

Por cada vogal, foram elaboradas as súmulas rela-tivas a cada candidato, as quais circularam por todos os elementos do Plenário, para apreciação e comparação, por forma a conseguir um ajustamento dos critérios e facilitar a ponderação e avaliação, em termos absolutos e relativos, dos elementos curriculares disponíveis para análise. ----

Em Plenário, com intervenção do Exmº Vice Pro-curador-Geral da República e do Exmº Bastonário da Ordem dos Advogados, ambos com voto consultivo, foram discutidos os critérios. Foram ainda ouvidos, também com voto consultivo, os Exmos Presidentes de cada uma das Relações ou, no seu impedimento, os respectivos substi-tutos. ---------------------------------------------------

Após discussão, os candidatos foram integrados na

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grelha de avaliação oportunamente aprovada, proceden-do-se à graduação final. --------------------------------

II – Em concretização dos factores enunciados no art. 52º, nº 1, do Estatuto dos Magistrados Judiciais, para efeitos de definição do mérito absoluto e relativo dos concorrentes necessários (Juízes Desembargadores) e dos concorrentes voluntários (Procuradores-Gerais Adjun-tos), foram globalmente considerados os factores de pon-deração aprovados no Plenário do Conselho Superior da Magistratura de 8 de Novembro de 2005, a saber: ----

a) Anteriores classificações de serviço na Magistratura (50 a 70 pontos); ------------------

b) Graduação obtida em concurso de habili-tação ou cursos de ingresso para cargos judiciais (1 a 5 pontos); ---------------------------------------

c) Currículo universitário e pós-universitá-rio (1 a 5 pontos); -----------------------------------

d) Trabalhos científicos realizados (0 a 10 pontos); -----------------------------------------------

e) A actividade exercida no âmbito forense ou no ensino jurídico (0 a 10 pontos); ------------

f) Outros factores que abonem a idoneidade dos requerentes para o cargo a prover (50 a 100 pontos), designadamente, o prestígio profissional e pessoal, a capacidade de trabalho revelada, pon-derando a quantidade e a qualidade dos serviço, o domínio da técnica jurídica, ponderando não apenas opções ao nível da forma como ainda ao nível da substância, o nível dos trabalhos, tendo em conta os conhecimentos revelados com reflexo na resolução dos casos concretos, o grau de em-penho revelado na própria formação contínua e actualizada e na adaptação às modernas tecnolo-gias, a contribuição para a melhoria do sistema, quer através da formação de novos magistrados, quer da dinâmica revelada nos lugares em que as funções foram prestadas; negativamente, de acordo com a maior ou menor gravidade, o regis-to disciplinar do candidato, com dedução até 20 pontos. ------------------------------------------------

Foi igualmente tido em consideração o teor do voto consultivo emitido pelo Exmº Vice Procurador-Geral da República, em representação do Exmº Procurador-Geral da República, pelo representante do Exmº Bastonário da Ordem dos Advogados e pelos Exmos Presidentes da Re-

lação ou seus substitutos. -------------------------------III - No que concerne ao factor constante da alínea

a) - 50 a 70 pontos - , foram consideradas as classifica-ções de serviço, integradas no respectivo percurso profissio-nal, e o facto de o candidato ter ou não ter a classificação máxima e de esta respeitar ao serviço desempenhado na primeira instância ou na Relação. Para o efeito, foram efectuadas as seguintes distinções: inexistência de clas-sificação de serviço (50 pontos), classificação de serviço inferior a Bom com Distinção (até 60 pontos), Bom com Distinção (60 ou 62 pontos, consoante seja uma apenas ou mais do que uma), Bom com Distinção na 1ª instân-cia e Muito Bom na Relação (65 pontos), Muito Bom na 1ª instância (65 a 68 ou 70 pontos, consoante seja uma apenas ou mais do que uma) ou Muito Bom na 1ª ins-tância, confirmado na Relação (68 pontos). ------------

Quanto ao factor integrado pela al. b) - 1 a 5 pontos -, tendo em conta a diversidade dos regimes que foram vigorando relativamente ao ingresso nas Magis-traturas, assentou-se em que, por defeito, relativamen-te a cada candidato, se partiria do nível intermédio (3 pontos), ponderando depois, negativa ou positivamente, a eventual existência de elementos relevantes, tais como a inaptidão em cursos de ingresso ou a obtenção de gradua-ção relevante em concursos de acesso a cargos judiciários, como tal se considerando, designadamente, a graduação até ao 21º lugar, inclusive, no anterior concurso de acesso ao STJ (porquanto, tendo sido os concorrentes necessários, nesse concurso, integrados em grupos, em função do res-pectivo mérito, foi o graduado em 21º lugar o derradeiro dos integrantes do grupo em que também ficou inserido o último Juiz Desembargador a ser promovido ao STJ). ---------------------------------------------------------

Relativamente ao factor constante da al. c) - 1 a 5 pontos -, a pontuação foi estabelecida com ponderação da nota de Licenciatura em Direito (10 – 1 ponto), (11 e 12 – 2 pontos), (13 – 3 pontos), (14 ou mais – 4 pon-tos), acrescendo ainda a eventual valorização decorrente da comprovação de outros graus académicos julgados re-levantes.

A respeito do factor constante da al. d) - 0 a 10 pontos -, foi feita a delimitação entre trabalhos com ine-quívoca natureza científica (6 a 10 pontos) de outros com relevo científico menos acentuado, mas considerados relevantes (1 a 5 pontos), em qualquer caso ponderando a

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Dez.2006 - Boletim Informativo 83

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valia absoluta e a relativa, no contexto dos trabalhos dos restantes candidatos de cada categoria. -----------------

Quanto ao factor referido na al. e) - 0 a 10 pontos-, as classificações tiveram por base a verificação, em termos exigentes, de actividade reputada como forense ou de ensi-no jurídico, ponderando, de forma crescente, aquelas que foram tidas por pouco relevantes (1 a 3 pontos), relevan-tes (4 a 6 pontos) ou muito relevantes (7 a 10 pontos), em qualquer caso ponderando a concreta actividade no contexto das actividades dos restantes candidatos de cada categoria. ----------------------------------------------

No que concerne ao factor constante da al. f) - 50 a 100 pontos -, tendo em conta as dificuldades que de-correm da sua maior amplitude e da maior diversida-de de elementos a ponderar, a valoração relativa a cada candidato partiu, por defeito, do nível intermédio de 75 pontos, com ponderação, no sentido crescente ou decrescen-te, dos elementos recolhidos a respeito dos factores mais relevantes e que, a título exemplificativo, foram elencados na deliberação de 8 de Novembro de 2005, sendo as pon-tuações parcelares perspectivadas não apenas em termos absolutos, como relativos, estabelecendo, para este efeito, as devidas comparações entre os diversos candidatos de cada categoria. -----------------------------------------

Ainda neste factor, para melhor entendimento do que adiante se explicita, a referência a “escalão inferior” abarca as pontuações abaixo de 74, inclusive, a referên-cia a “escalão médio” compreende as pontuações entre 76 e 84, a referência a “escalão superior” contempla as pon-tuações entre 85 e 90, cabendo no nível da excelência as pontuações acima de 91, inclusive. ---------------------

Cumpre ainda salientar que, atento o disposto no art. 52º do EMJ, nas listas de graduação final se pro-cedeu à ponderação global dos factores supra enunciados, com reflexos no mérito absoluto e relativo de todos os can-didatos da mesma lista, tendo-se em especial consideração o facto de se tratar de um concurso de acesso ao Supremo Tribunal de Justiça, órgão de cúpula dos Tribunais Judi-ciais, cuja função, além do mais, é a de formar doutrina e uniformizar jurisprudência. --------------------------

Quando tal se revelou necessário, por verificação de situações de igual pontuação de dois ou mais candidatos, foi respeitada a respectiva antiguidade, em resultado do § 15º da deliberação de 8 de Novembro de 2005. ------

Neste contexto, na motivação respeitante a cada

candidato foram considerados dispensáveis as referências a pontuações resultantes da aplicação directa dos critérios mencionados, expondo fundamentalmente os motivos mais relevantes em que se fundou a pontuação correspondente ao factor do art. 52º, nº 1, al. f), do EMJ. --------------

Assim, --------------------------------------------(…)

VII - Das referidas classificações decorre a seguinte graduação final:

• CONCORRENTESNECESSÁRIOS1. Des. Arlindo de Oliveira Rocha2. Des. Jorge Augusto Pais do Amaral3. Des. Rosendo Dias José4. Des. José Gil de Jesus Roque5. Des. Fernando Manuel de Oliveira Vasconcelos6. Des. José Eduardo Reino Pires7. Des. António Pires Henriques da Graça8. Des. António José Pinto da Fonseca Ramos9. Des. Mário de Sousa Cruz 10. Des. Raul Eduardo do Vale Raposo Borges 11. Des. Rui Hilário Maurício 12. Des. António José Cortez Cardoso de Albuquerque13. Des. Ernesto António Garcia Calejo 14. Des. Henrique Manuel da Cruz Serra Baptista 15. Des. Mário Silva Tavares Mendes16. Des. Lázaro Martins de Faria 17. Des. Jorge Henrique Soares Ramos18. Des. Fernando Manuel Cerejo Fróis19. Des. Francisco Magueijo 20. Des. José Ferreira Correia de Paiva21. Des. António Gonçalves da Rocha 22. Des. Cândido Pelágio Castro de Lemos 23. Des. José Luís Soares Curado 24. Des. Maria Teresa Montenegro Vieira Cardoso T.Lopes25. Des. Carlos Augusto Santos de Sousa 26. Des. José Albino Caetano Duarte 27. Des. António da Silva Gonçalves 28. Des. Alfredo Carlos André dos Santos29. Des. António Quintela Proença 30. Des. António João Trigo de Almeida Simões 31. Des. Francisco Maria D’ Orey de Oliveira Pires32. Des. José Cano Pulido Garcia33. Des. António Domingos Ribeiro Coelho da Rocha34. Des. Domingos Manuel Gonçalves Rodrigues

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35. Des. Emídio Pires Rodrigues 36. Des. Armindo Marques Leitão 37. Des. Albino de Lemos Jorge 38. Des. Américo Joaquim Marcelino 39. Des. António Joaquim Ferreira Neto40. Des. Guilherme Pires41. Des. José Maria da Fonseca Carvalho42. Des. Manuel da Silva Freitas 43. Des. José Manuel Baião Papão44. Des. Fernando José Barreto Pires do Rio45. Des. Arlindo Manuel Teixeira Pinto46. Des. Eduardo Folque de Sousa Magalhães47. Des. João Manuel Villaverde e Silva Cotrim Mendes48. Des. João Manuel Martins

• CONCORRENTESVOLUNTÁRIOS: - Procuradores-Gerais Adjuntos1. PGA Eduardo Maia Figueira da Costa2. PGA José Alves Cardoso 3. PGA Maria Cândida Guimarães Pinto de Almeida4. PGA António José Bernardo Filomeno Rosário Colaço5. PGA Gonçalo Senhorães Senra6. PGA Daciano da Silva Farinha Pinto7. PGA António Manuel dos Santos Soares

- Jurista de mérito1. Drª Maria dos Prazeres Couceiro Pizarro Beleza

ACTA 11/06 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 2 – procº 06-3/M1 – Movi-mentos

1. O Exmº Vogal Prof. Doutor Carlos Fer-reira de Almeida apresentou a seguinte PRO-POSTA:

“O artigo 52º do Estatuto dos Magistrados Ju-diciais dispõe acerca da graduação e do provimento de vagas de juízes no Supremo Tribunal de Justiça. Diz o seu nº 2:

«A repartição de vagas faz-se sucessivamente do seguinte modo:

a) Três em cada cinco vagas são preenchidas por juí- zes da Relação;

b) Uma em cada cinco vagas é preenchida por Pro-curadores-Gerais-Adjuntos;

c) Uma em cada cinco vagas é preenchida por ju-ristas de reconhecido mérito;

d) As vagas não preenchidas nos termos da alínea b) são atribuídas a juízes da Relação; das não preenchidas nos termos da alínea c), três em cada quatro são atribuídas a juízes da Relação e uma em cada quatro a Procuradores-Gerais-Adjun-tos».

O Conselho Superior da Magistratura vem inter-pretando este preceito no sentido de que a repartição su-cessiva de vagas se reinicia após cada concurso de acesso. Não me parece que seja essa a interpretação ade-quada, pelas seguintes razões:

A norma legal refere-se a vagas, não estabelecendo qualquer conexão entre a sequência das vagas e a vi-gência temporal de cada concurso de acesso. As vagas de juízes no Supremo Tribunal de Justiça são abertas com total independência em relação aos concursos de acesso e por causas de todo em todo alheias a tais concursos. A eficácia temporal destes repercute-se naturalmente na se-lecção individual dos concorrentes mas a lei não indica que tenha qualquer influência na abertura, na sequência das vagas e na sua repartição por classes.

A interpretação que o Conselho Superior da Ma-gistratura vem dando ao citado preceito, não tendo apoio na letra da lei, deturpa e contraria o seu espírito, não se ajustando ao respectivo elemento teleológico. Na verdade, resulta deste preceito, assim como da sua conjugação com o artigo 215º, nº 4, da Constituição, o intuito de assegu-rar no Supremo Tribunal de Justiça uma composição di-versificada pela origem profissional, que a lei ordinária resolveu através da atribuição de quotas por classes pro-fissionais: em cada cinco vagas, três para juízes da Rela-ção, uma para procuradores-gerais-adjuntos e uma para juristas de reconhecido mérito ou, na falta destes, quatro para juízes da Relação e uma para procuradores-gerais---adjuntos (conforme resulta da alínea d): para juízes da Relação, 3 + 0,75 = 3,75 vagas; para procuradores-ge-rais-adjuntos, 1 + 0,25 = 1,25, isto é, respectivamente três quartos e um quarto das vagas).

Exemplificando com o preenchimento de vagas atra-vés dos resultados dos dois concursos de acesso (9º e 10º) anteriores, o resultado, não havendo juristas de mérito seleccionados, foi o seguinte:

Foram abertas nesse período 52 vagas, das quais

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43 foram preenchidas por juízes da Relação e 9 por pro-curadores-gerais-adjuntos (na vigência do 9º concurso, 27 juízes da Relação e 6 procuradores-gerais-adjuntos; na vigência do 10º concurso, 16 juízes da Relação e 3 procuradores-gerais-adjuntos), ou seja, 82,7% das va-gas para a classe dos concorrentes necessários e apenas 17,3 % das vagas para a classe dos procuradores-gerais---adjuntos. Isto significa que o referido critério de atribui-ção das vagas conduziu a uma distribuição que privile-giou os primeiros não só para além dos 75% do critério legal mas até para além dos 80% que lhes corresponderia no caso de ter havido juristas de mérito seleccionados.

A interpretação correcta do citado preceito deve, a meu ver, ser outra, tomando a sério a letra e o espírito da lei, de tal modo que, tanto a curto como a médio prazo, e independentemente do ritmo dos concursos de acesso, se respeitem as quotas de repartição pelas diferentes classes de concorrentes.

Nestes termos, proponho que o Conselho Su-perior da Magistratura aprove a seguinte deli-beração:

A repartição por classes de concorrentes às vagas de juízes no Supremo Tribunal de Justiça, a efectuar em conformidade com o nº 2 do artigo 52º do Estatuto dos Magistrados Judiciais, processa-se segundo a sequência da sua abertura, sem qualquer interrupção decorrente da vigência dos respectivos concursos de acesso”.

Colocada esta proposta à discussão, foi a mesma rejeitada, por maioria, com dois votos a favor do pro-ponente e da Exmª Vogal, Dr.ª Alexandra Leitão, com treze votos contra dos restantes membros.

Nesta altura, o Exmº Vogal Dr. Luís Máxi-mo dos Santos proferiu a seguinte declaração:

“A aprovação da proposta apresentada pelo Exmo. Vogal Prof. Carlos Ferreira de Almeida permitiria que se obtivesse um resultado mais conforme com a propor-ção que o legislador estabeleceu para o preenchimento dos lugares do STJ pelos diversos grupos (concorrentes neces-sários, concorrentes voluntários e juristas de reconhecido mérito).

Na ausência de norma expressa sobre a questão, e considerando o conjunto do quadro legal relevante, con-sidero que tanto é lícita a orientação que desde sempre o CSM vem adoptando como aquela que consta da aludida proposta.

Todavia, na ausência de qualquer indicação em sentido diferente, o 11º concurso de acesso ao STJ foi aberto tendo os concorrentes como legítimo pressuposto que o CSM iria manter a orientação que até agora sempre seguiu. Há pois um elemento de tutela da confiança que importa preservar. Acresce que participei já em diver-sas graduações em que foi seguida tal orientação. Por estas razões, votei em sentido favorável à manutenção da orientação que o CSM vem adoptando. A meu ver, a questão objecto da proposta deveria ser clarificada por via legislativa”.

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Calvão da Silva proferiu a seguinte declaração:

“Entendo que esta questão deveria ter sido colocada antes da abertura do 11º concurso de acesso ao STJ, mercê da expectativas criadas nos concorrentes de que o CSM manteria o procedimento adoptado até hoje (que contra-ria os termos da proposta apresentada), podendo a mesma ser recolocada para a próxima graduação”.

Finalmente, pelo Exmº Vice-Presidente foi lido uma declaração deixada escrita pelo Exmº Vogal Dr. Rui Moreira que, por razões de saúde, não está hoje presente neste Plenário:

“Exmo. Sr. Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura:

Por razão que tive oportunidade de transmitir a V. Exa. e que justificarei oportunamente (sujeição a inter-venção cirúrgica no dia 3 de Abril, consubstanciada por artroscopia ao joelho esquerdo) não posso participar no Plenário de 4 de Abril.

Dada a importância que atribuo à questão que constitui o 1º Ponto Prévio, não queria, porém, deixar de transmitir a V. Exa e, se V. Exa o entender, aos de-mais membros do Conselho Superior da Magistratura a minha opinião. Isto sem prejuízo, obviamente, de estar consciente de que a minha ausência exclui a possibilidade de participar activamente na correspondente deliberação.

Partilho inteiramente da opinião do Exmo. Prof. Carlos Ferreira de Almeida, subscritor da proposta, se-gundo a qual o art. 52º, ao dispor sobre a graduação e provimento de vagas de juízes no Supremo Tribunal de Justiça, em conjugação com o art. 215º, nº 4 da Consti-tuição, visa assegurar uma composição do Supremo Tri-bunal de Justiça diversificada pela origem profissional.

Todavia uma visão atenta sobre a questão revela

Conselho Superior da Magistratura

86 Boletim Informativo - Dez.2006

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que o estabelecimento e permanência dessa composição mista não é apenas determinada pela forma como as va-gas são sucessivamente preenchidas por Conselheiros ori-ginários de diferentes classes de candidatos, mas também e sobretudo pelo tempo de permanência desses Juízes Con-selheiros até à sua jubilação.

Com efeito, a composição do Supremo Tribunal de Justiça por determinada percentagem de membros oriun-dos da Magistratura Judicial e por determinada per-centagem de membros oriundos da Magistratura do Mi-nistério Público está dependente do ritmo das respectivas jubilações em termos que excluem a relevância do ponto a partir do qual se processam as respectivas entradas.

Por exemplo, se na vigência de uma graduação se reformarem 10 Conselheiros oriundos da Magistratura Judicial e dois oriundos da Magistratura do MºPº, in-dependentemente do ponto em que se comece a processar o ingresso no Supremo Tribunal de Justiça, sempre será incrementada a percentagem de Conselheiros oriundos do MºPº em exercício de funções do Supremo Tribunal de Justiça.

Pretende-se, com isto, demonstrar que começar-se, perante cada nova graduação, um processo de repartição de vagas ou seguir o processo anterior em nada influi so-bre a composição diversificada no Supremo Tribunal de Justiça.

Não é, por isso, aceitável o fundamento da referida proposta.

Por outro lado, caducando toda uma graduação, e substituindo-se esta por outra, tem todo o sentido iniciar-se um novo processo de preenchimento de vagas, pois não está em causa a salvaguarda de expectativas de quais-quer concorrentes de quaisquer das classes de concorrentes, pois essas expectativas também só podem caducar, com a caducidade do processo de graduação anterior. E só podem tutelar-se, quando seja legítimo, expectativas indivi- duais e não de classes de indivíduos.

Por fim, nada justifica, a meu ver, a alteração da interpretação que até agora vem sendo feita do quadro normativo que regula o acesso ao Supremo Tribunal de Justiça.

Será, por outro lado, inelutável a interpretação que irá ser feita por qualquer pessoa da comunidade jurídica e da comunidade em geral de que uma tal alteração visa favorecer directamente determinada candidata, já admi-

tida no concurso ao Supremo Tribunal de Justiça, que, dessa forma, ali acederá a muito mais breve termo do que se tiver de esperar pela vez que lhe caberá se se interpretar e aplicar o quadro normativo em causa como foi feito nos concursos anteriores.

Não se trataria de uma “norma-fotografia” mas, a meu ver, de uma “aplicação-fotografia” da norma em causa, com o que, como membro do Conselho Superior da Magistratura, não me posso identificar”.

Ponto Prévio n.º 4 – procº 97 – 145/DFoi deliberado aprovar o Parecer Sumário elabora-

do pelo Técnico Superior, Dr. Ralph Rodrigues, relativo ao projecto de alteração ao Dec. Lei n.º 485/99 de 10 de Novembro, referente ao suplemento para compensação do trabalho, sendo ainda deliberado sugerir que ficasse contemplada, na letra do artigo 2º-A a possibilidade de, também os Inspectores do Conselho Superior da Magistra-tura e os Juízes Presidentes dos Tribunais, poderem for-mular propostas sobre a suspensão do suplemento, quan-do, no exercício das respectivas funções, deparassem com situações enquadráveis no artigo 3º (nova redacção).

Mais foi deliberado enviar cópia do parecer e desta deliberação ao Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Justiça.

Neste momento foi proferida a seguinte de-claração de voto pelo Exmº Vogal, Dr. Edgar Ta-borda Lopes:

“Pese embora as alterações propostas apresentem as-pectos positivos (alargamento aos eventuais, maior preo-cupação no controlo da eficácia do sistema, por exemplo), entendo que, para além da necessidade de concretização de alguns conceitos excessivamente abstractos e abertos, o CSM deveria manifestar a sua preocupação pela consti-tucionalidade do diploma, no ponto em que atribui com-petência exclusiva ao Director Geral da Administração da Justiça para decidir sobre a atribuição do suplemento para compensação do trabalho.

A matéria da disciplina e da avaliação dos funcio-nários judiciais está, constitucionalmente na dependência do CSM, tendo mesmo a constitucionalidade do COJ sido garantida (vd. as inúmeras decisões do Tribunal Consti-tucional nesse sentido, nomeadamente a do Ac. 73/2002, DR I-A, de 16/03/2002), pela circunstância das suas decisões serem recorríveis para o CSM.

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 87

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O art. 218º, nº 3, da Constituição da República Portuguesa constitui-se como “o parâmetro de aferição da constitucionalidade das normas infra-constitucionais que criam o Conselho dos Oficiais de Justiça, fixam as respectivas atribuições, competências, forma de designa-ção ou eleição, bem como o respectivo funcionamento”, não podendo a “lei ordinária atribuir competência para se pronunciar sobre aquelas matérias (apreciação do méri-to profissional e exercício da função disciplinar) relati-vas aos funcionários de justiça, ao Conselho dos Oficiais de Justiça ou a qualquer outra entidade que não seja o CSM, sem modificação da norma constitucional” (TC 2/2000, de 21/03/2000, Vítor Nunes de Almeida, DR II, de 06/10/2000).

Ora a matéria aqui em causa tem um conteúdo in-trínseca e indubitavelmente avaliativo (está em causa a apreciação e a avaliação do serviço e da produtividade do trabalho dos funcionários judiciais), pelo que a atribui-ção da aludida competência decisória em exclusivo para o Director Geral, impede o recurso para o CSM e, como tal, torna a norma inconstitucional.

Com a redacção apresentada pelo art. 6º, nº 3, ao CSM (e ao COJ) são retiradas competências em matérias que, constitucionalmente, se exige a sua intervenção.

O diploma, como se apresenta, enferma de uma cla-ra inconstitucionalidade material à qual o CSM não deveria alhear-se”.

Ponto Prévio n.º 8 – procº 98-1062/D1 – In-compatibilidades

Aberta a discussão sobre o requerimento, apresen-tado pelo Exmº Juiz de direito (…), solicitando autori-zação para integrar, como Vogal, a Comissão Arbitral Paritária da Liga Portuguesa de Futebol, foi apresenta-da, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Ferreira de Almeida, proposta oral no sentido de ser produzida deliberação de autorização, sem qualquer remuneração e sem prejuízo para o serviço.

Colocada à votação, esta proposta não logrou defe-rimento, sendo rejeitada, por maioria, com os votos a fa-vor do proponente, do Exmº Vice-Presidente e dos Exmos Vogais Dr. António Barateiro, Dr. António Geraldes, Dr.ª Maria José Machado e Dr. Edgar Lopes, regis-tando-se os votos contra do Exmº Presidente e dos Ex-mos Vogais Dr. Sampaio da Nóvoa, Dr. Palma Carlos,

Prof. Doutor Calvão da Silva, Drª Alexandra Leitão, Dr. Luís Máximo dos Santos, Dr. Vítor Faria e Dr. Manuel Braz.

Foi, depois, colocada à votação uma segunda pro-posta no sentido de se relembrar ao Exmº Juiz requeren-te a deliberação do Plenário de 19/12/1996 (ponto n.º 18) e que consistiu no seguinte:

“O Conselho Superior da Magistratura, pelas de-liberações de 7.3.81, 7.7.92, 8.10.92 e 15.6.93, fez recomendações aos magistrados judiciais que desempenha-vam certas actividades estranhas à função, ainda que não remuneradas.

Posteriormente, o acórdão do Tribunal Constitucio-nal n.º 457/93 – proferido no proc.º n.º 423/93 (Plená-rio) e publicado no DR – I Série-A de 13.9.93, apreciou a constitucionalidade da Lei da Assembleia da Repúbli-ca que pretendeu aditar um n.º 3 ao artigo 13º do EMJ, com a seguinte redacção: “O C.S.M. pode proibir o exercí-cio de actividades estranhas à função, não remuneradas, quando, pela sua natureza, sejam susceptíveis de afectar a independência ou dignidade da função judicial.”

Nessa apreciação, o Tribunal Constitucional pro-nunciou-se pela inconstitucionalidade desse preceito que se pretendia aditar ao artigo 13º do EMJ, por violação do disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 18º da Constituição.

Em termos de incompatibilidades continua pois a vigorar o que dispõe o artigo 13º, n.ºs 1 e 2 do EMJ, que é a concretização do normativo do artigo 218º, n.ºs 3 e 4 da Constituição da República Portuguesa.

Neste quadro legal, ao C.S.M. está, pois, vedado proibir o exercício de actividades não remuneradas estra-nhas à função, quando pela sua natureza sejam suscep-tíveis de afectar a independência ou dignidade da função judicial.

Por outro lado, a concessão de autorização prévia por parte do C.S.M. para o exercício dessas funções só está prevista, nos termos do artigo 13º, n.º 2 do EMJ, para o caso do exercício de funções docentes.

Por tudo o exposto, e não obstante o apontado im-pedimento legal, dada a repercussão social de algumas questões veiculadas nos últimos tempos pela comunicação social, a respeito do futebol profissional, no âmbito de cujos organismos vários magistrados judiciais no activo e jubilados exercem diversas funções, entende o Conselho Superior da Magistratura:

Conselho Superior da Magistratura

88 Boletim Informativo - Dez.2006

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a)- Ser oportuno reafirmar os conteúdos e alcance das deliberações anteriormente tomadas sobre o mesmo assunto;

b)- ser desaconselhável que magistrados ju-diciais no activo ou com o estatuto de ju-bilação exerçam actividades não remu-neradas estranhas à função jurisdicio-nal, quando tais funções, pela sua natu-reza e segundo as regras da experiência, sejam susceptíveis de vir a repercutir-se na sua vida pública e revelar-se como incompatíveis com a dignidade indis-pensável ao exercício das suas funções, que importa preservar”.

Esta proposta foi aprovada, por maioria, com onze votos a favor (do Exmº Vice-Presidente e dos Exmos Vogais Dr. Sampaio da Nóvoa, Prof. Doutor Calvão da Silva, Prof. Doutor Ferreira de Almeida, Dr. Luís Máximo dos Santos, Dr. Vítor Faria, Dr. António Ge-raldes, Dr. Manuel Braz, Dr. António Barateiro, Drª Maria José Machado e Dr. Edgar Lopes) e três contra (do Exmº Presidente e dos Exmos Vogais Dr. Palma Carlos e Drª Alexandra Leitão).

Nesta altura, pelo Exmº Presidente foi pro-ferida a seguinte declaração:

“Com a declaração de que, mesmo no pressuposto de que o Conselho não pode impedir o pretendido pelo reque-rente, entendo que pode ser desvantajoso para o serviço e para a imagem do Juiz qualquer ligação ao futebol.”

Neste momento, pelo Exmº Vogal Dr. Gui-lherme da Palma Carlos foi proferida a seguinte declaração:

“Votei uma resposta negativa, quer face aos antece-dentes relativos a tal tipo de actividades, quer perante a reconhecida limitação que as mesmas acarretam para um magistrado judicial, como se sublinhou no próprio teor da consulta da Convenção referida.”

Neste momento, pelo Exmº Vogal Dr. Luís Máximo dos Santos foi proferida a seguinte de-claração:

“Tendo em conta a existência de precedentes, votei a deliberação. Todavia, considero que o CSM, atentas as profundas dúvidas que emergiram do debate, deveria de imediato proceder a uma reanálise desta matéria, desig-nadamente quanto à questão de saber se é ou não lícita,

atento, em especial, o disposto no artigo 13º, n.º 1 do EMJ, a participação de magistrados judiciais no activo em tribunais arbitrais, mesmo que não recebam qualquer remuneração, uma vez que em tais situações não está em causa o exercício de qualquer direito de cidadania, como, por exemplo, o direito de associação”.

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Dou-tor Ferreira de Almeida foi proferida a seguinte declaração de voto, tendo a mesma sido subscrita pelos Exmos Vogais Dr. Edgar Lopes, Dr.ª Maria José Machado e Dr. António Barateiro:

“Votei a deliberação, mas entendo que teria sido preferível, por ser mais claro, autorizar o exercício não remunerado da função, sem prejuízo para o serviço”.

Nesta altura, pela Exmª Vogal Dr.ª Alexan-dra Leitão foi proferida a seguinte declaração:

“Votei contra a presente deliberação por entender que nos termos do art.º 13º, n.º 1, do EMJ, o exercício desta função não é permitida. Aliás, neste caso concreto, trata-se do exercício de uma função jurisdicional fora dos Tribunais estaduais, o que objecta a indispensável independência dos juízes que estão no activo”.

Ponto Prévio n.º 12 – procº 06-3/M1 – Juízos de Execução de Lisboa

Foi deliberado tomar conhecimento da informação do Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes, e de diverso expedien-te em anexo, relativamente à questão do pagamento de vencimento, correspondente à de Juiz de Círculo, aos ma-gistrados judiciais em funções nos Juízos de Execução de Lisboa, e ainda lamentar os termos em que a Exmª Di-rectora da 5ª Delegação da Direcção-Geral do Orçamen-to se refere ao Conselho Superior da Magistratura.

Mais foi deliberado informar o Ministério da Fi-nanças, o Ministério da Justiça e o Tribunal da Relação de Lisboa do seguinte:

«O CSM já em 14/02/2006 teve oportunidade de prestar à Relação de Lisboa a seguinte informação (na sequência de uma solicitação do secretário desse Tribunal sobre “a colocação de Magistrados Judiciais nos Juízos de Execução de Lisboa e respectivo índice remuneratório”):

“Informe os serviços administrativos da Relação de Lisboa que:

- o CSM não determina os índices remuneratórios dos Exmos. Juízes ;

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 89

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- desde o início do processo relativo à reforma da acção executiva, foi assinalado ao Ministério da Justiça a necessidade de equiparação dos Juízes colocados nos Juízos de Execução a Juízes de Círculo (nomeadamente por questões relaciona-das com o julgamento dos embargos de terceiro), sendo que, o Ministério da Justiça, compreen-dendo a situação deu início ao processo legislati-vo com vista à aludida equiparação, a qual só não veio a concretizar-se devido à dissolução da Assembleia da República;

- nessa expectativa, em Setembro de 2004, uma vez que os Juízos de Execução não estavam ain-da prontos para ser instalados, os Exmos. Juízes aí colocados, uma vez que se antevia a possibili-dade de com a alteração legal prevista, a equi-paração reportar a 15/09/2004, foram coloca-dos provisoriamente em Tribunais de Círculo ou equiparados ;

- com a posse do actual Ministério da Justiça e ape- sar da insistência que o CSM formulou, a posi-ção daquele quanto à matéria alterou-se, pese em- bora sempre tenha sido do seu conhecimento que desde a instalação dos Juízos de Execução, os Exmos. Juízes colocados nos Juízos de Execução de Lisboa estavam a receber como Juízes de Cír-culo.

De forma a clarificar a situação, remeta cópia de fls. 01 e 02, 27 a 37”.

Várias vezes, aliás, na sequência de deliberação do Plenário do CSM, teve oportunidade o CSM de dar conta da situação ao Ministério da Justiça, seja ao seu Exmo. Ministro, seja aos seus Secretários de Estado, pelo que todos tinham conhecimento dela.

O CSM nada tem que ver com a definição dos índi-ces remuneratórios dos Exmos. Juízes e não pode ser tido como actor principal numa peça em que apenas é especta-dor interessado: o CSM em momento algum deu qualquer “indicação” à Relação de Lisboa, porque o CSM desco-nhece essa figura jurídica e não tem o poder de dar ordens à Relação de Lisboa.

O texto que consta da “informação” em causa no sen- tido de que “Foi-nos confirmado pelo Tribunal da Rela-ção de Lisboa que o Conselho Superior da Magistratura lhe deu instrução para mandar processar aos magistra-

dos judiciais dos Juízos de Execução, o montante de venci- mento correspondente a juiz de círculo”, corresponde a uma afirmação gratuita, especulativa e sem qualquer fundamentação.

Uma vez que foi o teor dessa informação que serviu para fundamentar a decisão do Director Geral do Orça-mento, urge, assim, esclarecer a situação com a correspon-dente reposição da verdade».

Ponto Prévio n.º 13 – procº 06-3/M1 – Redu-ção na distribuição de serviço

Foi deliberado conceder uma redução de serviço, em termos de distribuição, de 60% ao Exmº Juiz Au- xiliar no Tribunal da Relação de Coimbra, Dr. An- tónio Francisco Martins, eleito recentemente Pre- sidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, e de 50% ao Exmº Juiz de Círculo de Almada, Dr. Manuel Henrique Ramos Soares, recentemente eleito Secretário-Geral da ASJP (artigo 13º, n.º 3 do EMJ).

Ponto Prévio n.º 16 – procº. 02-439/D – Conferências

Foi deliberado ratificar a Declaração Conjunta aprovada no V Encontro Transfronteiriço Hispano-Por-tuguês, realizado em Zamora, a 29 e 30 de Março de 2006, entre o CSM, representado pela Exmª Vogal Dr.ª Maria José Machado, e o Consejo General del Poder Judicial de Espanha, representado pelo seu Exmº Vogal D. Enrico Alvarellos, congratulando-se o CSM com o modo como decorreu o dito Encontro e com a participação da Delegação que o representou.

Mais foi deliberado testemunhar ao CGPJ de Es-panha o agradecimento do CSM pela forma generosa e amiga como recebeu a Delegação deste Conselho.

Ponto Prévio n.º 18 – procº 05 – 378/DFoi deliberado tomar conhecimento do teor do expe-

diente, apresentado pelo Exmº Juiz Conselheiro Jubilado Dr. António de Sousa Guedes, a informar da renún-cia ao mandato de Presidente da Comissão Nacional de Eleições, com efeitos a partir de 31-03-2006.

Mais foi deliberado aguardar pelo pedido, por par-te da Assembleia da República, de nomeação, pelo CSM, do novo Presidente.

Conselho Superior da Magistratura

90 Boletim Informativo - Dez.2006

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Ponto Prévio n.º 20 e Ponto n.º 35 (atenta a conexão entre os dois) - Proc.º n.º.05-1/C1 – Fé-rias Judiciais

Relativamente aos Mapas de Férias dos Exmos Juízes, remetidos pelos Exmos Presidentes da Relação de Coimbra, Évora, Guimarães e Porto (neste último caso, apenas atinentes aos Exmos Juízes Desembargado-res), já com os respectivos pareceres favoráveis (vide Art.º 28º-A, nº 2 da Lei nº 21/85 de 30/7, na redacção conferida pela Lei nº 42/2005 de 29/8), foi delibera-do aprová-los na íntegra (vide art.º 28º-A, n.º 3 da referenciada Lei), delegando-se no Exmº Vice-Presidente a aprovação dos restantes Mapas (a enviar pelos Exmos Presidentes da Relação de Lisboa e do Porto, neste segun-do caso, os respeitantes aos Juízes de direito).

Desde já se clarifica que, nos termos legais (artigo 73º da LOFTJ), é ao juiz de turno que cabe assegurar toda a movimentação dos processos que correm termos em férias judiciais na respectiva circunscrição (ou seja, o ser-viço urgente das secções, cujos juízes se não encontrem em férias pessoais, será necessariamente assegurado pelo juiz de turno).

Mais se relembra o teor da premissa n.º 11.3, aprovada na sessão plenária de 7/2/2006 – “razões de conveniência de serviço poderão vir a originar que as férias que os Exmos Juízes escolham para o período do Natal/2006 sejam sujeitos a altera-ções pontuais”.

Foi ainda deliberado: - Informar de imediato os Exmºs Presidentes

da Relação de Coimbra, Évora, Guimarães e Porto do teor desta aprovação, devendo os mes-mos publicitar os Mapas em causa, nos termos do artigo 28º-A, n.º 5, parte final, da Lei nº 21/85 de 30/7, na redacção conferida pela Lei nº 42/2005 de 29/8;

- CIRCULAR por todos os Juízes que tais Ma-pas foram aprovados pelo CSM e que poderão ser consultados na respectiva Relação.”

Finalmente foi deliberado delegar no Exmº Vice---Presidente a pronúncia sobre eventuais rectificações ou alterações que seja necessário efectuar.

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Ferreira Almeida foi proferida a seguinte decla-ração de voto:

“Entendo que deveriam ter sido considerados os pe-ríodos de férias judiciais do Natal e da Páscoa como períodos elegíveis, em relação às férias de todos os magis-trados, de modo a assegurar o princípio da igualdade.”

Ponto n.º 2 – Proc.º nº 97-787/DFoi deliberado, por maioria, com o voto contra do

Exmº Vogal Dr. Sampaio da Nóvoa e com a abstenção do Exmº Vogal Dr. Palma Carlos, informar a Direcção- -Geral da Administração da Justiça que o CSM não se opõe a que as casas de função nas várias comarcas (no-meadamente nas de S. Roque do Pico e de Évora) sejam atribuídas, em termos de utilização, a funcionários ju-diciais, se e enquanto não houver magistrado interessado nessa utilização.

Ponto n.º 3 – Proc.º n.º 06-3/M1 – Movimen-to Judicial Ordinário

Foi deliberado promover a abertura do Movimento Judicial ordinário de Julho de 2006, mediante publi-cação do Aviso no Diário da República, relativo à de-finição de critérios e vagas a prover, sem prejuízo da sua divulgação através dos meios alternativos que o CSM entender por mais adequados e convenientes.

Mais foi deliberado delegar no Exmº Vice-Presi-dente e nos Exmos Vogais permanentes a definição dos cri-térios e das vagas a preencher no âmbito desse Movimento Judicial Ordinário, bem como a posterior determinação de eventuais aditamentos, alterações ou rectificações a tais critérios e vagas a prover.

Tendo em vista acautelar os procedimentos relacionados com o dito Movimento Judicial, fo-ram igualmente designados os próximos dias 20 de Junho de 2006, pelas 10h30, para a realiza-ção do Conselho Permanente (última sessão para homologação de notas, a ter efeitos para o Movi-mento), e 18 de Julho de 2006, pelas 10h30m, para a realização da sessão Plenária ordinária que aprovará o referido Movimento (v.g. artigo 39º, n.º 4 do EMJ).

Ponto n.º 41 - Proc.º n.º 06-17/DFoi deliberado tomar conhecimento da informação

elaborado pelo Exmº Vogal Dr. Rui Moreira, sobre a XIII Cumbre Judicial Iberoamericana e a 3ª Reunião

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 91

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Preparatória, a realizar em Portugal, entre os dias 3 a 5 de Maio.

Nesse sentido,- foi deliberado indicar o nome do Exmº Vogal

Dr. Rui Moreira para representar o CSM na 3ª Reunião Preparatória, como Coordenador Na-cional;

- foi deliberado autorizar o referido Coordenador Nacional a aprovar os textos referidos no ponto 2º da informação acima referenciada, após a sua cuidada análise.

ACTA 12/06 (Plenário)

Ponto n.º 1 – procº 01-251/DEm conformidade com o publicado no D.R. nº 71, I

Série – A, de 2006-04-10, foram investidos em funções os Exmos Vogais a que alude o art.º 137º, n.º 1, alínea a), da Lei 21/85, de 30/7, eleitos por Sua Excelência o Presidente da República, Exmos Juiz Conselhei-ro Dr. Álvaro José Brilhante Laborinho Lúcio e Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade, cessando hoje funções os Exmos Vogais Juiz Conselheiro Dr. Manuel Nuno de Sequeira Sampaio da Nóvoa e Dr. Guilherme Vitorino Guimarães da Palma Carlos. ------------------------------------------------

***************

Seguidamente o Exmº Presidente, em seu nome pessoal e no dos restantes membros, usou da palavra, tendo proferido a seguinte declara-ção: ----------------------------------------------------

“Cabe-me mais uma vez, expressar algumas pa-lavras para, em meu nome e dos restantes membros deste Conselho, assinalar esta cerimónia de investidura. -----

A importância que atribuo a estas cerimónias, levou-me, desta feita, a questionar-me sobre a própria natureza destes discursos de posse, de forma a garantir a adequação dos termos à natureza do momento. ---------

E comecei por me perguntar se me caberia, neste momento, proferir um sermão. --

Parece que não. -----------------------------------Tal como ensinava o P. António Vieira – o mais

virtuoso dos nossos mestres nessa arte –, os sermões visam a conversão das almas, para o que terão de concorrer simul-taneamente, o pregador (com a doutrina, persuadindo), o ouvinte (com o entendimento, percebendo) e Deus (com a graça, alumiando). ----------------------------------

Ora, devo reconhecer que ainda que pudesse contar com a graça de Deus, e mesmo na certeza de que tenho na minha frente os melhores dos ouvintes, a verdade é que longe de mim querer persuadir quem quer que seja. Não é afinal, para tentar converter as almas que aqui estamos. ---------------------------------------------------------

Se não é um sermão, tratar-se-á então de um acto político? ------------------------------------------------

Estou certo que, também aqui, a resposta não pode ser senão negativa. -------------------------------------

Aquilo que caracteriza a política é, dizem os livros, o exercício do poder. E esse exercício pode fazer-se – tal como salientava Max Weber – se não em exclusivo, pelo menos caracteristicamente através da violência. ---------

Ora a Justiça – de cujo sistema este Conselho Supe-rior faz parte – é pela sua natureza, uma alternativa à violência. ----------------------------------------------

É certo que a posição de Weber pode ser contestada, mas permanece a constatação de que o exercício do poder político radica na imperatividade dos seus ditames, ao passo que a Justiça visa apenas dar a cada um aquilo que é seu, ou seja, dirimir conflitos. --------------------

Não sendo então, este, um acto político, como carac-terizá-lo? Mero acto protocolar?

A noção de protocolo, na perspectiva mais abran-gente, refere-se a uma padronização de procedimentos. -----------------------------------------------------------

Estaremos então, nós aqui a cumprir um ritual pré---determinado, com vista a garantir a produção dos efeitos jurídicos legalmente fixados? --------------------------

Os manuais protocolares recomendam nessas circuns-tâncias, alocuções simples, estruturadas em três momen-tos apenas: a breve referência ao motivo da cerimónia, os agradecimentos e a despedida. -------------------------

Não poder ser tão simples assim, porque não é esse o nosso ânimo. Sei-o por mim e – perdoem-me a presunção – pelos presentes. ---------------------------------------

A verdade é que, ao assinalar a substituição dos dois conselheiros de nomeação presidencial, as minhas pa-lavras visam, no essencial, brindar os que saem e cumpri-

Conselho Superior da Magistratura

92 Boletim Informativo - Dez.2006

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mentar os que agora assumem funções. ------------------E porque quis colocar nos brindes o cuidado e aten-

ção que o momento merece, preocupei-me com a escolha do néctar. --------------------------------------------------

Pareceu-me assim, que seria adequado brindar o Dr. Guilherme da Palma Carlos e o conselheiro Manuel Sampaio da Nóvoa com uma reserva do Douro. --------

O aroma forte deste vinho, a sua elegância e equilí-brio são bem representativos da excelente contribuição que deram durante os respectivos mandatos, numa postura firme de permanente independência, alheia a quaisquer preocupações corporativistas ou políticas. ---------------

Para os novos membros – Professor Manuel da Costa Andrade e Conselheiro Álvaro Laborinho Lúcio – julgo que deveria brindá-los com um Porto vintage. ---------------------------------------------------------

Trata-se de juristas insignes cujas carreiras só po-deriam ser celebradas por um vinho que assinala colheitas de excepcional qualidade. E a qualidade (inquestioná-vel, em ambos os casos) é – como se pretende –, a primeira garantia de independência no exercício dos cargos que não têm natureza representativa (ao contrário do que por vezes se pretende). --------------------------------------------

Por outro lado, tal como no Porto vintage encontra-mos estrutura e complexidade dos sabores, sabemos poder contar da parte dos novos membros com contribuições ge-nerosas, à altura das suas carreiras e dos desafios que este Conselho enfrenta. -------------------------------------

E da mesma maneira que a qualidade dos bons vinhos se revela com a idade, esperamos, no futuro próxi-mo, que este conselho veja cumpridas finalmente algumas promessas feitas – de entre as quais avulta a da auto-nomia administrativa (necessariamente acompanhada de orçamento próprio) – que o habilite a um sempre melhor desempenho das funções em que está investido. E como su-gestão, deixo a ideia de que seria também conveniente que os vogais membros do Conselho Permanente (juízes e não juízes), exercessem funções em regime de tempo integral, naturalmente com estatuto idêntico ao de juiz conselheiro. --------------------------------------------------------

Com a alegria própria da comemoração, agrade-ço pois, encarecido, aos conselheiros que partem e saúdo aqueles que hoje iniciam funções”. ----------------------

***************

Após esta declaração, usaram da palavra os Ex-mos Vogais cessantes, Juiz Conselheiro Dr. Manuel Sampaio da Nóvoa e Dr. Guilherme da Palma Carlos e os novos membros, ora investidos em funções, Exmos Juiz Conselheiro Dr. Álvaro José Bri-lhante Laborinho Lúcio e Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade. ----------------------------------

Finalmente, usou da palavra o Exmº Vogal Prof. Doutor João Calvão da Silva.

Consumada a investidura em funções dos Exmos Vogais, foi deliberado, depois de obtido o acordo de am-bos, designar o Exmº Vogal Juiz Conselheiro Dr. Álvaro José Brilhante Laborinho Lúcio para fazer parte do Conselho Permanente, em substituição do Exmº Vogal Dr. Guilherme da Palma Carlos, com efeitos a partir do Permanente de hoje. --------------------

Ponto n.º 2 – nº 06-5/M8Pelo Exmº Vice-Presidente do Conselho

Superior da Magistratura, foi apresentada a proposta de um voto de pesar do seguinte teor: ---------------------------------------------------------

“AoConselhoSuperiordaMagistraturaacabade chegar a triste notícia do falecimento do Exmº Juiz Conselheiro do S.T.J., Dr. Fernando Jorge Ferreira de Araújo Barros. ------------------------

O fatídico evento, de todo inesperado e, por isso, ain-da mais cruel, deixa um vazio profundo não só no S.T.J. mas na própria magistratura judicial portuguesa, pri-vada de um dos seus vultos mais eminentes, que muito a dignificou ao longo de uma carreira profissional marcada pela lucidez, inteligência, competência e eficácia e agora abrupta e inelutavelmente interrompida. ---------------

Não pode o C.S.M., a quem o Conselheiro Araújo Barros também serviu devotadamente, como Inspector Ju-dicial e como Vogal, deixar de expressar a sua consterna-ção pelo infausto e doloroso acontecimento. --------------

E, por isso, manifesta o seu profundo pesar pelo de-saparecimento físico de tão significativa figura de magis-trado, deixando aqui expresso o reconhecimento que ao Conselheiro Araújo Barros é devido pelo seu exemplo de vida, como cidadão e juiz.” ----------------------------

Este voto foi aprovado por unanimidade, tendo sido deliberado comunicar o seu teor à família do Exmº Juiz Conselheiro. ---------------------------------------

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Ponto n.º 3 – procº 06-3/M1 – Lisboa (Polí-cia Judiciária–Director Geral Adjunto)

Após aturada discussão, foi deliberado, por maio-ria, com nove (9) votos a favor (do Exmº Vice-Pre-sidente e dos Exmos Vogais Juiz Conselheiro Dr. Ál-varo Laborinho Lúcio, Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade, Dr. Luís Máximo dos Santos, Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Dr. Vítor Manuel Faria, Dr. Manuel Joaquim Braz, Dr.ª Maria José da Costa Machado e Dr. Rui Moreira) e sete (7) votos contra (do Exmº Presidente e dos Exmos Vogais Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto, Prof. Doutor Calvão da Silva, Dr. Moreira da Silva, Dr. António Abrantes Geraldes, Dr. António Barateiro Martins e Dr. Edgar Lopes), deferir o pedido de Sua Excelência o Ministro da Justiça e au-torizar a nomeação em comissão de serviço ordinária de natureza não judicial, nos termos dos artigos 53º, 54º, números 1 e 2, 55º e 57º, número 1 do Estatuto dos Magistrados Judiciais e 20º, número 1, 22º, 25º, 27º, 29º e 94º do Decreto-Lei n.º 275-A/2000 de 09/11, do Exmº Juiz de direito Dr. José Maria Moreira da Silva (Juiz de Círculo de Vila Franca de Xira) para o cargo de Director Nacional-Adjunto da Polícia Judi-ciária, para dirigir a Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira (por a lei o permitir e por estarem perfectibilizados, in casu, os critérios aprovados pelo CSM, quanto à autori-zação de comissões de serviço a juízes, por deliberação de 17/3/2005), guardando tal comissão de serviço vaga no lugar de origem. ----------------------------------------

Nesta altura, pelo Exmº Presidente foi pro-ferida a seguinte declaração: ------

“Votei contra a autorização que foi pedida a este Conselho Superior da Magistratura pelas seguintes ra-zões: ----------------------------------------------------

- Estando a bolsa de juízes vazia, dificilmente po-derá ser preenchido a breve prazo o cargo de Juiz de Círculo de Vila Franca de Xira, que vem sendo exercido pelo Dr. José Maria Moreira da Silva, tudo com prejuízo para o regular funcio-namento do respectivo Tribunal e da população que serve; ------------------------------------

- A par da falta de juízes que todos sabemos exis-tir, acresce que o número fixado para o ingresso no Centro de Estudos Judiciários foi inferior ao

pedido e ao que se considerava ser absolutamente necessário e indispensável ao bom funcionamento dos tribunais; ----------------------

- Por outro lado, uma vez que o cargo em apreço depende, funcional e directamente, de um ma-gistrado do Ministério Público, entendo que o exercício do mesmo por um magistrado judicial pode afectar a independência que sempre se exige aos juízes; ------------------------------

- Acresce que, sendo o Director da Polícia Judi- ciária um magistrado do Ministério Público, certamente encontrará nessa magistratura al-guém que possa exercer com igual eficiência – e, eventualmente, já com provas dadas – a chefia da Direcção Central de Investigação à Cor- rupção e ao Crime Económico e Financeiro; ----

- Finalmente, entendo que as experiências de par-ticipação de magistrados judiciais em funções na Polícia Judiciária revelam a necessidade de uma análise ponderada que permite reavaliar os ter-mos dessas participações, de modo a que simul-taneamente seja protegida a independência da magistratura judicial e garantidas as sinergias pretendidas.”

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Calvão da Silva foi proferida a seguinte decla-ração de voto, tendo a mesma sido subscrita pelo Exmº Vogal Dr. José Luís Moreira da Silva: ----

“Nós somos nós e as nossas circunstâncias. --------Não estão em causa as qualidades e a competência

do magistrado Dr. José Maria Moreira da Silva. -----Em apreço estão as circunstâncias objectivas que no

momento presente rodeiam a Polícia Judiciária: a in-definição do estatuto e a asfixia financeira da tradicio-nalmente prestigiada polícia de investigação criminal, na origem da saída de Director Geral do excelente Juiz Conselheiro Dr. Santos Cabral. ------------------------

Nas circunstancias presentes, porque não se me afi-guram asseguradas as sobrevistas condições objectivas, necessárias e indispensáveis a um funcionamento digno, estável e eficiente da Polícia Judiciária na investigação e combate ao crime, não tenho por justificada a autorização solicitada enquanto e só enquanto as referidas condições se não verificarem, que, em nada, contribuem para a boa imagem, o prestígio, a dignidade e a eficiência de uma

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instituição central do Estado de Direito.” -------------Nesta altura, pelo Exmº Vogal Prof. Doutor

Vera-Cruz Pinto foi proferida a seguinte decla-ração de voto: ----------------------------------------

“Votei contra o pedido apresentado pelo Sr. Minis-tro da Justiça, no sentido de autorizar a comissão de serviço do Sr. Dr. Juiz Moreira da Silva, como director nacional adjunto da PJ, pelos motivos e com os funda-mentos já expostos, em votos de recusa a pedidos idênticos. ---------------------------------------------------------

A isto acresce o seguinte, como resultado do debate que procedeu a deliberação, onde foram expostos argumen-tos favoráveis a uma resposta afirmativa, com os quais discordo: -----------------------------------------------

1. Nas actuais circunstâncias vividas no meio ju-diciário - em ambiente de indisfarçável e perdu-rável crispação entre os poderes judicial e execu-tivo; com constantes referências publicitadas que colocam em causa a credibilidade dos magistra-dos judiciais; com uma opinião publicada que faz crer à comunidade que o poder judicial é um poder do Estado mais fraco na sua legitimidade decisória, porque os juízes não são eleitos, e subor-dinado no Estado aos outros poderes (o executivo e o legislativo); que confunde tribunais a que o juiz preside com estruturas da administração da justiça dependentes do Governo - a autorização, pelo CSM, para mais uma comissão de serviço de um juiz na Direcção da PJ, corresponde a uma decisão que, com os pressupostos referidos, pode contribuir para validar as teses acima expostas e difundidas, a que me oponho. ---------------

2 Oponho-me, também, à ideia-regra de “magis-trados circulantes”, tutelados pelo poder execu-tivo, em exercício de funções subordinadas no âmbito da Administração Pública, afastados, por anos, do ofício de julgar, experimentando carreiras novas com óbvio prejuízo da adequada gestão de “recursos humanos” na magistratura judicial, da exclusiva competência do CSM. Em suma, uma “magistratura circulante” no mau sentido da expressão, isto é, uma magistratura de “entra e sai” que atende sobretudo às conside-rações e conveniências pessoais dos senhores juízes e aos juízos de oportunidade e interesse políticos

das entidades convidantes. Ora, os únicos crité-rios que julgo aqui aceitáveis, como elementos de ponderação decisória, são os que correspondem a um exercício rigoroso e exigente das competên-cias do CSM, nas circunstâncias em que decide. Por isso, porque entendo que a autorização dada não defende a independência do poder judicial, o prestígio sócio-profissional dos magistrados ju-diciais, a boa gestão da magistratura confiada pelo legislador ao CSM, nem a sua recusa pre-judica o interesse público, a acção futura da PJ, o prestígio ou a acção do Ministro que convida, a carreira ou o prestígio profissional do convida-do, as relações institucionais entre o Governo e o CSM, voto contra a deliberação tomada. ------

3. Voto contra, sobretudo porque entendo que o CSM tem de, fiel aos comandos normativos, na forma como os interpreto, discutir caso a caso, em Plená-rio, o exercício da sua competência autorizativa, em pedidos como este. Só assim pode fazer funcio-nar a regra estatutária de uma “magistratura de carreira” sem carreirismo, tal como a quis o legislador, por forma a não possibilitar situações de desigualdade e injustiça entre magistrados que ficam e magistrados que saem e depois entram, com frequência de regra geradora de expectativas, no que respeita à avaliação/classificação no ofício de julgar e de promoção na carreira. Assim, a autorização deve resultar, como excepção, de um juízo sobre a necessidade/possibilidade de ser um magistrado judicial a ocupar o lugar para que foi feito o convite/pedido e de ser aquele juiz, em concreto, que se encontra em funções que terão de ser interrompidas, a ocupar o lugar. Esse juízo substantivo, maxime de adequabilidade/possibi-lidade, não é apenas do convidante e do convida-do. É também e sobretudo do CSM, porque assim quis o legislador. Parece-me não ter sido esse o en-tendimento, no preenchimento da substância nor-mativa tal como julgo dever ser aplicada aqui, que prevaleceu. Voto vencido. ------------------

4. Entendo, ainda, que, a partir de agora, o exer-cício dessa competência não se pode esgotar na formalidade burocrática de uma auscultação prévia/ratificação posterior, seguida de um ex-

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pediente de remessa e reenvio. Como não se deve permitir que seja publicado, na imprensa, como já aceite aquilo que ainda não foi decidido. Por isso, impõe-se, como agora se fez, a exposição e debate das várias posições sobre o assunto. Por isso, cumprimento quem assim decidiu. ---------

5. Votei também vencido porque discordo de todos os argumentos principais que, na forma com os en-tendi, sustentam a decisão de autorizar. A saber: ------------------------------------------------

5.1. Julgo correcta a ideia, exposta como argu-mento, de que beneficia a magistratura judicial e a boa aplicação do Direito em prol da justiça, os magistrados saírem, em comissão de serviço, para exercer outras fun-ções, colhendo novas experiências e vivências que benefi-ciam a função de julgar. Em geral e em abstracto é assim. Mas, no caso concreto, com este quadro normativo e face às circunstâncias apontadas, não só não é assim, como é exactamente o contrário. Porque: -----------------------

a) Sendo este um critério aberto, válido para quase todos os ofícios e funções desempenhadas em nome do povo e ao serviço do interesse público, não o é para o magistrados judiciais em exercício de funções integrados numa carrei-ra, a não ser a título excepcional. Aliás, essa “abertura de perspectivas” é uma questão a acautelar no âmbito do longo exercício da função judicante, pela estruturação da carreira - na formação contínua; nos estágios externos; nas sabáticas para estudo; nos incentivos à participação em conferência, colóquios, seminários..., na área do Di-reito, etc.. Não recorrendo a este paliativo externo, que, no limite, torna a magistratura judicial um campo de recrutamento para directores-gerais, a partir de critérios extrínsecos à função judicial, senão mesmo só sustentados na subjectividade da escolha de quem convida. Com isso, o Estado não investe, como devia, na formação especia-lizada dos dirigentes da função pública; e a tarefa do CSM fica ainda mais dificultada. --------------------

Assim, fora dos casos expressamente previstos na lei, no âmbito de uma hermenêutica integrada do res-pectivo estatuto e em virtude do actual momento vivido pela justiça portuguesa, só um juízo muito forte sobre a necessidade desta solução ser a mais adequada para a salvaguarda do interesse público e da boa gestão da ma-gistratura judicial, o que não é o caso, poderia levar a uma aceitação do pedido feito.

b) Depois porque, o lugar em causa é de Director- -adjunto da PJ, função integrada na Administração Pú- blica, sob a orientação do Director e a tutela do Minis- tro. Ora, nem a função, tal como descrita na norma respec-tiva, nem a forma do seu exercício têm directamente a ver com os actos próprios essenciais da função de julgar. Nem, a experiência recente de magistrados judiciais em fun- ções policiais subordinadas e tuteladas pelos Ministros da Justiça, foi prestigiante para a magistratura judicial, a sua independência face ao poder executivo, a dignidade institucional da função judicial e dos seus titulares. ---

Ora, a confusão habitual no “cidadão médio” entre a actividade policial exercida por juízes e a actuação dos magistrados judiciais nos tribunais, provocada pela repetição destas situações (basta acompanhar os títulos da imprensa escrita e falada a este respeito), pode ser inver-tida, em exercício de pedagogia democrática sobre a nos-sa arquitectura constitucional, por órgãos como o CSM, através de decisões que contrariem esta tendência. O que foi decidido não ajuda a combater a ideia de subordi-nação dos juízes ao poder executivo ou de “legitimidade fraca” do poder judicial como poder do Estado, incorrecta mas infelizmente cada vez mais aceite e difundida. ----

c) Finalmente, porque, ao contrário de outros países da UE onde o legislador interveio para, através de re-gras gerais sobre o tema permitir a definição de critérios objectivos de participação dos magistrados judiciais, sem saírem da judicatura, em estruturas e instâncias, onde o seu saber e a sua experiência enquanto juízes, podem ser colocados ao serviço do interesse público, em Portugal nada se fez. Continua a ser através de um voluntarismo/atomismo legislativo, sem lógica nem fundamento nas si-tuações previstas e, a mais das vezes sem que o CSM seja ouvido, como determina a Constituição, que o legislador exige um juiz para ocupar esta ou aquela função. Depois, mantendo tradições recentes e continuando procedimentos, a meu ver incorrectos, sem cuidar como deve do quadro legal adequado para tal, faz como fez agora. Nestas cir-cunstâncias, de ausência de regra geral positivada em lei sobre a participação de juízes em outras funções, ocupação de cargos na Administração, designação para comissões e estruturas administrativas, o CSM deve, respeitando as normas vigentes, actuar por excepção nos termos já expos-tos, remetendo a responsabilidade inerente aos efeitos da decisão tomada, para os poderes legislativo e executivo. -

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5.2. Considero errada e sem fundamento útil para a questão tratada a ideia de que um magistrado judicial a ocupar funções policiais como dirigente, necessariamente integrado na hierarquia da Administração Pública, na área da segurança pública, das informações ou da inves-tigação criminal, protege melhor os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, por causa de ser oriundo da magistratura judicial. ---------------------------------

a)- Primeiro porque isso implica uma crítica às op-ções do legislador que, não só previu mecanismos próprios de controlo das actuações das polícias a esse nível como não exigiu, só permitiu, que para essas funções fosse de-signado um magistrado judicial. Não deve o CSM subs-tituir-se ao legislador na forma como entende deverem ser garantidos os direitos e as liberdades dos cidadãos em contacto com as polícias e em situações de eventual prete-rição de direitos seus por causa da forma de exercício da actividade policial. -------------------------------------

O Director é o chefe da instituição. Pertence-lhe e tem como função dirigir a polícia de investigação crimi-nal. Não pode ser apontado, porque oriundo da magistra- tura, como um controlo externo de garantia de legalidade na actuação da PJ, nem portador de uma especial sensi-bilidade para o cumprimento da lei no que respeita aos direitos dos cidadãos. Pode ser ou não um juiz a ocupar o cargo de Director ou director adjunto da PJ: o CSM decide como entender. Não pode, em minha opinião, fazê- -lo com o argumento que, por ser um juiz a ocupar o car-go, estão mais garantidos, no exercício da função policial dirigente na PJ, os direitos e as liberdades das pessoas.

b)- Além de isso poder permitir a leitura indesejada de um juízo genérico de suspeição funcional, em matéria tão delicada como esta, a todos os não magistrados que ocuparam funções dirigentes na PJ. Aos inspectores da PJ é exigida formação jurídica ao nível da licenciatura e a “Escola da Polícia Judiciária” também cuida da formação jurídica. Então isto serve até certo nível, mas a partir daí devem ser outros com formação feita no CEJ e exercício da judicadura a ocupar os lugares de direcção para maior garantia dos cidadãos? E o controlo político e a tutela funcional do Governo não funcionam tam-bém como garantia? O critério de selecção e escolha pelos convidantes será também este? -------------------------

Os polícias de investigação criminal devem ser di-rigidos por magistrados para adequado cumprimento da

lei nesta matéria, porque só eles garantem eficácia sem tentações prevaricadoras em relação aos direitos dos cida-dãos consagrados na Constituição? Qual a base objectiva que sustenta este argumento? ---------------------------

Será que pode o CSM sustentar esta ideia face à formação inicial dada no CEJ e à formação contínua de juízes que promove? Não foi lançado o repto, pelo próprio PR, ainda recentemente, de uma necessidade de preparar melhor os magistrados judiciais, quanto à aplicação no exercício da judicatura de direitos liberdades e garantias constitucionalmente consagrados, a respeito de actuações em casos judiciais recentes?

c)- Depois porque importa deixar bem claro que um juiz no tribunal exercendo a judicatura não pode ser confundido com um juiz que suspende funções judiciais para exercer um cargo de confiança política, de forma subordinada a um Director e sob a tutela de um membro do Governo. Infelizmente, porque se trata de um juiz, todos os seus actos no exercício dessas funções administra-tivas são ligados à sua função de juiz, com as respectivas qualidades de independência, imparcialidade e prestígio inerentes à magistratura. O resultado é muito negativo: o exercício das funções administrativas, por mais palavras que se coloquem para tentar dizer o contrário, é orienta-do, dependente, tutelado e o critério de escolha do titular é subjectivo; tudo o que não pode ser a função judicial; na opinião pública fica a ideia que os juízes, que não perdem o estatuto especial inerente aos magistrados nem o vínculo à judicatura quando estão aí em comissão de serviço, seja qual for a função em que estejam, têm sempre a mesma forma de agir. E não é assim. --------------------------

Em conclusão, enquanto se mantiverem estas normas e ideias e a possibilidade de uma confusão orgânica e fun-cional entre um director-geral e um magistrado judicial, o exercício de tais cargos administrativos por juízes, em comissão de serviço, constitui um elemento de perturbação na vivência da separação de poderes e contribui para o desprestígio da magistratura judicial. -----------------

5.3. Finalmente, considero inaceitável a ideia que o pedido deve ser autorizado porque a não ser assim pode-ria ser prejudicada a relação institucional entre o CSM e o Governo. Tal argumento colocaria, no limite, o CSM na situação de votar favoravelmente todos os pedidos que lhe são dirigidos por outros órgãos do Estado pois o dever de relacionamento e colaboração institucional seria as-

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sim lido, esvaziando, por completo, as suas competências constitucionais e legais nestas matérias. ----------------

Depois, neste caso concreto, seria impensável que o Governo tivesse uma leitura no sentido de que uma recusa fundamentada a um pedido seu, no âmbito do exercício de uma competência do CSM, corresponderia a uma atitu-de menos amistosa, prejudicante do bom relacionamento existente entre os dois órgãos. Não o fez antes, não o faria agora. Depois porque, esta é a normalidade do relacio-namento entre instituições do Estado Democrático com poderes diferentes e separados. O CSM tem nesse capítulo de recusa de pedidos e de propostas feitas aos Governos, no âmbito do exercício das suas competências, uma gran-de experiência, sem que nunca tenha sido levantado, do lado do CSM ou do Governo, qualquer possibilidade de inserir tais recusas no âmbito do relacionamento institu-cional. -------------------------------------------------

Além de que, no caso concreto, a recusa do pedido feito contribuiria para um relacionamento institucional adequado, logo bom, entre o CSM e o Governo. Proceden-do o poder executivo da forma que considera mais correcta e oportuna no modo como selecciona os dirigentes da Po-lícia Judiciária, compete ao CSM, seja qual for a sua prática anterior, recusar, como aliás já fez, a nomeação de um magistrado judicial para a direcção da PJ, ime-diatamente a seguir à saída do cargo de um juiz conse-lheiro, conhecido pela sua rectidão e competência no meio judiciário e prestigiadíssimo como magistrado judicial (ver o meu voto de oposição à autorização dada para a sua comissão de serviço como Director da PJ), nas cir-cunstâncias de todos conhecidas. ------------------------

Admito que, as razões invocadas para sustentar uma deliberação de recusa não sejam ainda suficiente-mente fortes para que me acompanhem os outros mem-bros do CSM. Acredito que, mais pela minha ineptidão para as defender que pelos fundamentos que as susten-tam. Creio, no entanto, que a recusa era fundamental para iniciar um processo, necessário e urgente, de inversão de ideias e formas de agir que prejudicam a magistra-tura judicial e a função primordial do poder judicial, independente e separado dos demais, na totalidade dos elementos, institucionais e humanos, que o compõem na arquitectura normativa de um Estado de Direito como é o nosso. ------------------------------------------------

Naturalmente que nenhuma das minhas conside-

rações para a recusa do pedido, no plano institucional, se aplica ao Sr. Dr. Juiz Moreira da Silva a quem desejo as maiores felicidades no desempenho do cargo que vai ocupar”. -----------------------------------------------

Neste momento, pelo Exmº Vogal Dr. Antó-nio Abrantes Geraldes foi proferida a seguinte declaração de voto: ----------------------------------

“1. Para o cargo de Director Nacional-Adjunto da Polícia Judiciária, com funções de coadjuvação do Direc-tor Nacional, podem ser designados, ainda que não neces-sariamente, magistrados judiciais (Art.ºs. 24º e 114º da Lei Orgânica da Polícia Judiciária). -----------------

O exercício desse e de outros cargos públicos por parte de magistrados judiciais, em regime de comissão de servi-ço, carece de autorização do CSM, nos termos do art. 53º do EMJ. -----------------------------------------------

Com vista a estabelecer algumas regras que deve-riam servir de orientação do CSM na tarefa de aprecia-ção de pedidos de autorização, foi oportunamente aprova-da pelo Plenário deliberação nos termos da qual se condi-cionou a aludida autorização à concreta verificação “de interesse público, nas suas diversas dimensões, em especial ligados à administração da justiça que ao CSM com-pete preservar e os interesses prosseguidos pelas entidades públicas a que o cargo respeite”. Mais se consignou que deveria sempre ponderar-se se “o cargo em causa, atenta a sua natureza, conteúdo e relevo, é adequado para o seu desempenho por magistrado judicial, tendo em conta as especiais características do estatuto de magistrado”. -----------------------------------------------

Aliás, dentro dos poderes de gestão dos magistrados judiciais da competência deste CSM inclui-se natural-mente o de apreciar eventuais motivos que desaconselhem a nomeação de juízes para certos cargos. ------------------

2. É pedida por S. Ex.ª o Ministro da Justiça au-torização para nomear o Sr. Dr. José Maria Moreira da Silva para o cargo de Director Nacional-Adjunto da Polícia Judiciária, para dirigir a Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira. -------------------------------------------

Apesar de o lugar ser um dos que, em abstracto, pode ser provido por magistrado judicial, considero que deve ser negada a autorização solicitada. ---------------

Para o efeito releva o facto de o referido cargo ficar na necessária dependência hierárquica do Director-Na-

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cional, provido, também em regime de comissão de serviço, por Magistrado do Ministério Público, por seu lado na directa dependência orgânica do Ministro da Justiça e funcionalmente dependente do Procurador Geral da Re-pública. -----------------------------------------------

Influi também a apreciação dos antecedentes mais próximos ligados às comissões de serviço naquela institui-ção (que nas últimas quatro equipas directivas envolveu uma dezena de magistrados judiciais). -----------------

Na verdade, o modo como, relativamente a sucessi-vas equipas directivas ou cargos de direcção, se vem pro-cessando o fim das respectivas comissões de serviço (sem sequer se concluir o período de serviço de 3 anos previsto no art. 112º da Lei Orgânica da PJ) não permite antecipar qualquer vantagem para o sistema de justiça e para o prestígio da magistratura judicial decorrente da desig-nação de um magistrado judicial para o referido cargo. -------------------------------------------------------

Repare-se que presidindo aos pedidos de autoriza-ção e às correspondentes deliberações deste CSM a ideia geral de que a nomeação de magistrados judiciais asse-gura garantias adicionais de um correcto desempenho das importantes funções atribuídas à Polícia Judiciária, têm sido demasiado frequentes e perceptíveis os diferendos que se vêm estabelecendo entre a direcção da Polícia Judici-ária e a respectiva tutela, o que, mais recentemente, re-dundou na exoneração do Sr. Conselheiro Santos Cabral. ---------------------------------------------------------

Ainda que a exoneração tenha visado especificamen-te o Director Nacional, não deixou de se repercutir igual-mente noutros elementos da direcção, sendo que o cargo para que se solicita autorização é precisamente o mesmo que estivera ocupado pelo Sr. Dr. José Mouraz Lopes, que, na sequência daquela cessação de funções, apresentou a sua demissão. ----------------------------------------

Acrescem ainda as prementes necessidades de, atra-vés do quadro de magistrados judiciais, assegurar o bom funcionamento da Justiça nos Tribunais (sem exclusão do Círculo de Vila Franca de Xira, onde se encontra colo-cado o Sr. Dr. Moreira da Silva), parecendo-me desacon-selhável continuar a autorizar comissões de serviço para cargos sujeitos a tantas vicissitudes quanto aquelas por que vem passando a direcção da Polícia Judiciária. ----

3. Por todos estes motivos, o meu voto é no sentido de negar autorização para a comissão de serviço referida”.

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Dr. António Barateiro Martins foi proferida a seguinte de-claração: ----------------------------------------------

“As comissões de serviço na Polícia Judiciária, por parte de Juízes, não se vêm caracterizando – antes pelo contrário – pela irradiação de motivos de prestígio da Magistratura Judicial. --------------------------------

Assim, face ao que vem recorrentemente ocorrendo – e não havendo razões para crer que, no futuro, tal não volte a ocorrer –, entendo ser dever do Conselho Superior da Magistratura, defendendo o prestígio e a dignidade da magistratura e dos Magistrados Judiciais convida-dos, não autorizar a comissão solicitada.” -------------

Neste momento, pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes, foi proferida a seguinte declaração de voto: --------------------------------------------------------

“O CSM tem funções e responsabilidades no e pe-rante o sistema que lhe impõem uma reflexão sobre o con-texto que envolve a deliberação a tomar, desde logo porque os seus reflexos têm consequências em termos políticos que têm de ser ponderadas. ---------------------------------

No meu entender existem três ordens de razões obs-tam a uma resposta positiva quanto à solicitação formu-lada pelo Exmo. Ministro da Justiça : -----------------

I - por um lado (e este é um argumento que – em nome dos benéficos que poderiam advir para o sistema, poderia ser superado), porque dada a falta de juízes na Bolsa de Juízes de Lisboa para acudir às necessidades já existentes, inexiste neste momento solução que permita suprir de imediato a saída de funções do Exmo. Juiz em causa das suas funções no Círculo de Vila Franca de Xira. --------------------------------------------------

Acresce neste ponto, que o regresso às funções do Exmo. Juiz Conselheiro Santos Cabral e do Exmo. Juiz Mouraz Lopes, não servem para suprir a falta no Círcu-lo de Vila Franca de Xira, por terem os seus lugares de origem. ------------------------------------------------

II - por outro, porque as lamentáveis ocorrências das últimas semanas relativas à cessação de funções do Exmo. Juiz Conselheiro Santos Cabral, na Direcção Nacional da Polícia Judiciária, criaram uma situação que impõe que o CSM deixe vincada uma tomada de posição que demonstre claramente a atenção e preocupação com a situação de instabilidade que, recorrentemente, vem afectando a área do Judiciário. -----------------------

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A Lei ao exigir que determinados lugares sejam preenchidos com juízes de direito, pretende com isso ga-rantir que eles sejam exercidos com uma total isenção, seriedade e competência. Na prática esta opção legal cria uma situação em que importa saber gerir o equilíbrio entre o que é expectável e a realidade, sendo certo que, por vezes, esse equilíbrio se desfaz quando essas isenção, serie-dade e competência são efectivamente exercidas e surgem conflitos com as entidades governativas. ----------------

É um risco do sistema e é um risco que, por vezes, vale a pena correr, pelas garantias que um juiz – ainda que não nessas vestes – dá em termos de potenciar a con-fiança os cidadãos no sistema de justiça. ---------------

Mas o caso que nos ocupa não merece o risco (acres-cendo que a Lei nem sequer exige que o lugar seja preen-chido com um Juiz de Direito). ------------------------

O tratamento dado ao Exmo. Conselheiro San-tos Cabral (cuja Dignidade, Seriedade, Competência e Isenção, no exercício das funções em que ao longo da sua carreira esteve investido, constituem o que temos como um facto notório), mostram à saciedade a conveniência de - neste momento - ser totalmente desaconselhável que um Juiz de Direito vá exercer funções na mesma entidade, ainda para mais numa posição de subalternidade (facto a que me referirei de seguida). -------------------------

Não se trata de uma questão de retaliação (ideia que importa repudiar liminarmente), é uma pura questão de apreciação objectiva do contexto criado e de verifica- ção que o melhor para preservar a imagem da magistra- tura judicial e melhorar a abalada confiança dos cida- dãos na Justiça portuguesa seria, o afastamento dos juízes – pelo menos temporário – de funções na Polícia Judiciá- ria (atenta a politização das questões que à sua volta giram). -------------------------------------------

Há que preservar a imagem que os cidadãos têm dos seus juízes, há que procurar aumentar a confiança no sistema judicial. ---------------------------------------

III - por fim, porque me não parece adequado que, no âmbito de uma estrutura como a Polícia Judiciária, um Juiz de Direito se encontre colocado numa posição de subalternidade relativamente a um magistrado do Ministério Público: trata-se de uma situação que, não contendendo com quaisquer normativos legais, é objec-tivamente susceptível de causar uma confusão junto dos cidadãos e contribuir para uma prejudicial imagem de

menorização da dignidade institucional da magistratu-ra judicial. --------------------------------------------

E o CSM, se outros o não fazem, tem de procurar obstar a este tipo de nefastas consequências. -------------

As responsabilidades do Conselho Superior da Ma-gistratura no âmbito da Organização do Sistema de Jus-tiça Português exercidas aqui no poder de autorizar a nomeação de Juízes de Direito para comissões de serviço, cremos que deveriam impor outra decisão, sendo que, entre o condicionalismo decorrente do incómodo político causado com uma recusa e o superior interesse da preservação da imagem da magistratura judicial perante os cidadãos, me levam a optar por uma resposta negativa”. ---------

ACTA 13/06 (Conselho Permanente)

Ponto n.º 10 – Proc.º n.º 05-7/D - LisboaFoi deliberado arquivar os autos de Inquérito, relati-

vamente ao teor de uma exposição subscrita pelo Exmº Ad-vogado (…), na qual é visada a actuação do Exmº Juiz de Direito (…), no âmbito do procº. nº (…), entenden- do-se que o comportamento deste não reveste a natureza de infracção disciplinar (assim se concordando com o teor do relatório do Exmº Inspector Judicial Dr. Gonçalves Fer-reira), não deixando o CSM de reafirmar a sua orienta-ção, já anteriormente difundida, segundo a qual qual-quer juiz, que tenha como previsível a impossibilidade de realização de uma diligência aprazada, deverá informar os advogados intervenientes com uma antecedência razoá-vel, de forma a obviar incómodos e despesas evitáveis.

ACTA 14/06 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 1 - procº 98-438/D1 Tal como previsto e mediante solicitação prévia,

deu entrada na sala das sessões, para apresentação de cumprimentos, uma Delegação da Direcção Nacional da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, representada pelo seu Presidente, Dr. António Francisco Martins, pelo Vice-Presidente Dr. Luís Azevedo Mendes e pelo Secretá-rio-Geral Dr. Ramos Soares.

O Exmº Vice-Presidente começou por agradecer a presença da Delegação em causa, dando conta da von-

Conselho Superior da Magistratura

100 Boletim Informativo - Dez.2006

.

tade do CSM em colaborar, em termos institucionais, e como sempre fez, com a ASJP, após o que interveio o Exmº Presidente da Direcção Nacional, que manifestou o agradecimento pela disponibilidade do Conselho Superior da Magistratura em receber, em sessão Plenária, a Asso-ciação, abordando, por fim, diversos temas que preocupam os magistrados judiciais.

Após, usaram da palavra os Exmos Vogais Dr. Luís Máximo dos Santos, Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto e Prof. Doutor Carlos Ferreira de Almeida, colocando este duas questões, logo respondidas pelo Exmº Presidente da ASJP.

Nesta altura saiu da sala de sessões a delegação da Associação Sindical dos Juízes Portugueses.

Ponto Prévio n.º 2 – proc. nº 06-5/M8Pelo Exmº Vice-Presidente do Conselho Superior da

Magistratura, foi apresentada a proposta de um voto de pesar do seguinte teor:

“Faleceu no passado dia 26 de Abril, o Exmº Juiz Conselheiro do S.T.J., jubilado, Dr. José Jo-aquim de Almeida Borges.

Com o seu passamento desaparece, no termo de uma vida de 95 anos, um magistrado prestigiadíssimo, que construiu uma brilhante carreira profissional, marcada pela lucidez, inteligência, competência e eficácia, quali-dades que o guindaram ao mais alto cargo da magistra-tura judicial portuguesa – o de Presidente do Supremo Tribunal de Justiça – que desempenhou com inegável bri-lho e marcado sentido de Estado.

Tendo também servido o Conselho Superior da Ma-gistratura como seu Presidente e como Vogal designado pelo Presidente da República, durante vários anos, com igual espírito de bem servir a causa da justiça, o Conse-lheiro Almeida Borges deixa em todos quantos acompa-nharam o seu percurso e conhecem o seu exemplo de vida e de cidadão, um rasto de profunda saudade.

E, por isso, o CSM manifesta o seu profundo pe-sar pelo desaparecimento físico de tão significativa figura de magistrado, deixando aqui expresso o reconhecimento que, pela magistratura judicial portuguesa, é devido à memória do Conselheiro Almeida Borges”.

Este voto foi aprovado por unanimidade, tendo sido deliberado comunicar o seu teor à família do Exmº Juiz Conselheiro.

Ponto Prévio n.º 4 – Procº 01-251/D1. Apreciada a proposta apresentada pelo Exmº

Vogal Dr. Luís Máximo dos Santos, foi deliberado de-signar a Exmª Vogal Drª Alexandra Ludomila Ribeiro Fernandes Leitão para integrar o Conselho Permanente, de entre os membros designados pela Assembleia da Re-pública, em substituição daquele Exmº Vogal, com efeitos a partir da próxima reunião marcada para o dia 23 de Maio.

2. Mais foi deliberado explicitar que o Exmº Vogal Dr. José Luís Moreira da Silva, que iniciou as suas fun-ções no Permanente de 16/6/2005, nele permanecerá até completar 18 meses de mandato.

3. Mais foi deliberado, após proposta do Exmº Vice-Presidente, saudar e agradecer o brilhante contribu-to que, enquanto Vogal do Conselho Permanente, o Dr. Luís Máximo dos Santos sempre garantiu, a extrema de-dicação com que exerceu o cargo, a sua postura de elegante serenidade e vincada ponderação, todavia não isenta de firmeza e sempre estribada em profunda reflexão e sólida argumentação, com que ao longo de 18 meses participou nas sessões.

Ponto n.º 5 - 05-378/DCom referência ao expediente recebido da Comissão

Nacional de Eleições, solicitando a indicação, por parte deste Conselho, do nome do novo Presidente (atenta a re-núncia ao cargo apresentada pelo Exmº Juiz Conselheiro António de Sousa Guedes) e aos requerimentos apresenta-dos pelos Exmos Juízes Conselheiros Jubilados do S.T.J., Dr. João Carlos de Barros Caldeira e Dr. Fernando da Costa Soares, manifestando a sua disponibilidade para o referido cargo, foi, em primeiro lugar, colocada à vo-tação uma proposta apresentada pela Exmª Vogal Drª Alexandra Leitão no sentido de se não se designar hoje o novo nome, a fim de se poder circular pelos Exmos Juízes Conselheiros Jubilados a existência da vaga.

Esta proposta foi rejeitada, assente que registou SETE votos a favor (do Exmº Vice-Presidente e dos Exmos Vogais Prof. Doutor Ferreira de Almeida, Dr. Luís Máximo dos Santos, Prof. Doutor Vera-Cruz Pin-to, Drª Alexandra Leitão, Dr. Vitor Faria e Drª Maria José Machado) e OITO votos contra – que entenderam que a decisão deve ser tomada neste Plenário - (do Exmº Presidente e dos Exmos Vogais Dr. Laborinho Lúcio,

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 101

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Prof. Doutor Costa Andrade, Dr. António Geraldes, Dr. Manuel Braz, Dr. Edgar Lopes, Dr. Rui Moreira e Dr. António Barateiro).

Nesta altura, foi proferida a seguinte de-claração de voto pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto:

“Tendo sido confirmado que a prática instituída em casos como este é de haver um convite por parte do Presi-dente, em articulação com o Vice-Presidente; tendo ficado assente que o Sr. Presidente, após ouvir um anterior Pre-sidente do CSM e o Sr. Vice-Presidente, formulou convites ao abrigo dessa prática, que entendo vincularem o CSM e feitos em seu nome; porque considero que esta prática tem de ser alterada, por forma a permitir alargar a escolha; porque foi apresentada outra candidatura; porque já foi formulado um convite pelo Presidente do CSM nessa qualidade e no âmbito da prática até aqui seguida nestes casos, entendo que importa reponderar tudo e, por isso, adiar a decisão”.

Seguidamente, pelo Exmº Presidente foi proposto o nome do Exmº Juiz Conselheiro Jubilado do S.T.J., Dr. João Carlos de Barros Caldeira, para ocupar o cargo em causa, proposta esta que obteve DEZ votos a favor (do Exmº Presidente, do Exmº Vice-Presidente e dos Exmos Vogais Dr. Laborinho Lúcio, Prof. Doutor Cos-ta Andrade, Prof. Doutor Ferreira de Almeida, Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto, Dr. António Geraldes, Dr. Manuel Braz, Dr. Edgar Lopes, Dr. António Baratei-ro) e CINCO votos contra (dos Exmos Vogais Dr. Luís Máximo dos Santos, Drª Alexandra Leitão, Dr. Vitor Faria, Dr. Rui Moreira e Drª Maria José Machado.).

Em consequência, foi deliberado indicar para o cargo de Presidente da Comissão Nacional de Eleições, nos termos do art. 2º, al. a) da Lei n.º 71/78, de 27 de Dezembro, o Exmº Juiz Conselheiro Jubilado do S.T.J. Dr. João Carlos de Barros Caldeira. --------

Mais foi deliberado comunicar a presente nomeação a Sua Excelência o Presidente da Assembleia da Repú-blica e à Comissão Nacional de Eleições.

Nesta altura, pelo Exmº Vogal Dr. Rui Mo- reira, foi proferida a seguinte declaração de vo- to, igualmente subscrita pelos Exmos Vogais Dr. Luís Máximo dos Santos e Drª Maria José Ma-chado:

“Vencido quanto à proposta de nomeação do Sr.

Conselheiro Barros Caldeira, por entender que a fun-damentação de uma declaração de disponibilidade do Sr. Conselheiro Costa Soares implicava necessariamente uma votação tendente à selecção entre os dois Srs. Conselheiros referidos.”

Nesta altura, pela Exmª Vogal Drª Alexan-dra Leitão, foi proferida a seguinte declaração de voto, tendo a mesma sido subscrita pelos Ex-mos Vogais Dr. Vítor Faria e Drª Maria José Machado.:

“Votei vencida a presente deliberação por consi- derar, em primeiro lugar, que na designação de pes- soas para ocupar os cargos que, nos termos da lei, devam ser preenchidos por indicação do CSM, o procedimento a adoptar tem de ser completamente transparente, o que implica, designadamente, que o mesmo seja devidamente publicitado por entre os magistrados que tenham as con-dições legalmente exi gidas para ocupar esse mesmo cargo. Assim, qualquer interessado pode propor o seu nome, que deve ser acompanhado de um curriculum vitae por for-ma a permitir aos membros do CSM fundamentar a sua opção.

Em segundo lugar, no caso concreto, havendo dois Juízes Conselheiros que manifestaram a sua disponibi-lidade para presidir à Comissão Nacional de Eleições, qualquer deliberação do CSM sobre essa matéria teria de passar por uma votação dos dois nomes e não por uma mera manifestação de adesão à proposta apresentada pelo Senhor Presidente do CSM ou por qualquer vogal”.

Ponto n.º 16 - proc.º n.º 02-439/D – Confe-rências - Secretariado

Foi deliberado tomar conhecimento do Relatório elaborado pelo Exmº Juiz Secretário Dr. Paulo Guerra, relativo ao V Encontro Transfronteiriço Hispano Portu-guês, realizado em Zamora, nos dias 29 e 30 de Março de 2006.

ACTA 15/06 (Conselho Permanente)

CONTENCIOSOProc. N.º – 05-13/IA – Foi deliberado apro-

var a proposta apresentada pelo Exmo. Inspector Coordenador Dr. Joaquim Melo Lima e aprovar

Conselho Superior da Magistratura

102 Boletim Informativo - Dez.2006

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igualmente as considerações apresentadas pelo Exmo. Vogal Dr. António Geraldes (que de segui-da se transcrevem), mais se deliberando que am-bas, com a presente deliberação, sejam divulgadas pelos Exmos. Inspectores Judiciais.

1. Esquema-tipo dos relatórios de inspecções ao serviço dos juízes:

a) Creio ser de apoiar inteiramente a ideia quesubjazàpropostanosentidodamaiorunifor-mização dos relatórios, o que, além de facilitar a sua apreciação, potencia a redução de situações de injustiça relativa, atentas as maiores possibilidades de o CSM estabelecer comparações entre os crité-rios dos diversos Inspectores e/ou entre os diversos juízes inspeccionados.

b) Parece-me que o referido esquema abarca a generalidade dos factores e dos critérios enun-ciados no EMJ e explicitados no Regulamento de Inspecções Judiciais.

c) Na elaboração do relatório deve privilegiar-se, nos pontos I e II, a enunciação dos factos que foi possível apurar mediante as diligências de instru-ção,devendodeixar-separa a “conclusão”os juí-zos apreciativos, sem dúvida importantes, atenta a maior proximidade do Inspector relativamente ao serviço inspeccionado.

2. Esquema-tipo dos relatórios de inspecções periódicas aos Tribunais:

Não vejo necessidade de qualquer alteração relativamenteàproposta.

No entanto, para efeitos de elaboração do próxi- mo Plano Anual, deve dar-se prioridade aos Tribu- nais que reconhecidamente vêm revelando mais problemas.

3. Esquema-tipo dos relatórios de inspecções sumárias aos Tribunais:

Não vejo necessidade de qualquer alteração relativamenteàproposta.

Louva-se, aliás, a iniciativa no sentido de me-lhorar as informações que ao CSM são apresenta-das e de, a pretexto da obtenção das informações, estabelecer o salutar confronto com o juiz ou com os juízes que prestam serviço nos Tribunais, por forma a tornar mais eficaz o seu desempenho e o desempenho dos serviços em geral.

4. Acesso ao Habilus: Considero inteiramente apropriado o acesso ao

Programa Habilus como instrumento importante, não apenas para apoiar a realização de inspecções aos juízes, como ainda para verificar o funciona-mento dos serviços.

Para o efeito, mostram-se ajustadas as acções e as diligências propostas.

5. Audição das gravações: A audição de gravações de audiências de julgamen-

to ou de outras diligências pode constituir um elemento importante de avaliação do seu desempenho, inserindo-se nas diligências previstas no art. 17º, nº 1, al. c), do RIJ (“exame dos processos … na medida em que se mostrar necessário para firmar uma segura convicção sobre o mé-rito do inspeccionado”). Aliás, um ou outro Inspector já vem referindo essa audição nos relatórios.

ACTA 16/06 (Plenário)

Ponto Prévio n.º 6 – Procº nº 06-3/M1 e Pon-to nº 3 do CONTENCIOSO

Foi deliberado aprovar, por unanimidade, a pro-posta apresentada pelo Exmº Vice-Presidente, renovando---se, assim, a designação, como Inspector-Coordenador, do Exmº Inspector Judicial Dr. Joaquim Maria Melo de Sousa Lima (artigo 23º do RIJ) até ao térmi-no da sua comissão de serviço enquanto inspector (termina o 3º triénio em 15/9/2008).

Apreciados os requerimentos apresentados pelos Ex-mos Juízes Desembargadores Dr. Fernando Ma-nuel Cerejo Fróis e Dr. António Manuel Ribeiro Cardoso, manifestando disponibilidade para continua-rem a exercer as funções como Inspectores Judiciais deste Conselho, e do Dr. Nuno de Melo Gomes da Silva, manifestando a pretensão da não renovação da comissão como Inspector Judicial, foi deliberado:

• renovara comissãode serviço pormais3anos(artigos 53º, 54º, 55º, 56º, n.º 1, alínea a) e 57º, n.º 1 do EMJ) do Exmº Juiz Desem-bargador Dr. António Manuel Ribeiro Cardoso, como Inspector Judicial, continuando a guardar vaga no lugar de origem;

• renovaracomissãodeserviçopormais3anos(ar-

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 103

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tigos 53º, 54º, 55º, 56º, n.º 1, alínea a) e 57º, n.º 1, parte final, do EMJ) do Exmº Juiz De-sembargador Dr. Fernando Manuel Cerejo Fróis como Inspector Judicial, conti-nuando a guardar vaga no lugar de origem, entendendo-se, na linha do proposto pelo Exmº Vice-Presidente, que estão perfectibilizadas as razões de interesse público que justificam esta 2ª renovação.

Nesta altura, pelo Exmo. Vogal Prof. Dou-tor Calvão da Silva foi proferida a seguinte de-claração de voto:

“Votei favoravelmente a segunda renovação da comissão do Exmº Juiz Desembargador Dr. Fernando Fróis, pese embora entenda que a excepção prevista na lei não pode transformar-se em regra.”

• CIRCULAR, de imediato, pelos Exmos Juízes de direito e Juízes Desembargadores, por mail e através dos Tribunais da Relação, a abertura de vaga, em Setembro de 2006, para o lugar de Inspector Judicial da 17ª Área (neste momento ocupada pelo Exmº Inspector Dr. Nuno Gomes da Silva), devendo os interessados na ocupação dessa vaga expressar tal vontade até ao próximo dia 27 de Junho de 2006.

Ponto Prévio n.º 15 – Procº nº 04-525/DFoi deliberado tomar conhecimento do relatório

apresentado pelo Exmº Vogal Dr. Rui Moreira que par-ticipou, em representação do Conselho Superior da Ma-gistratura, na Assembleia Geral da Rede Europeia de Conselhos de Justiça, que teve lugar em Wroclaw, na Polónia.

Mais foi deliberado aprovar a sugestão do Exmº Vogal de manifestação de vontade de participação do Conselho Superior da Magistratura em integrar o Gru-po de Trabalho criado (sobre a organização interna da Rede) e comunicar ao Comité de Direcção e ao Consejo General de Espanha.

Foi ainda deliberado que a representação do CSM, na 1ª Reunião desse Grupo de trabalho, em San Sebas-tian, em Setembro próximo, será assegurada por um dos Exmos Vogais, Dr. Rui Moreira ou Drª Maria José Machado, em função da respectiva disponibilidade na data que vier a ser designada para o efeito.

Ponto Prévio n.º 18 – Procº nº 06-5/M8 - Pessoal

Foi deliberado julgar improcedentes as recla-mações à lista de antiguidades dos magistrados judi-ciais referente a 31/12/2004, apresentadas por alguns Exmos Juízes de direito do XXI Curso Normal de For-mação de Magistrados do CEJ, nos termos do Acórdão em que foi relatora a Exmª Vogal Drª. Maria José Ma-chado, o qual consta dos autos acima referidos e aqui se dá por reproduzido.

Ponto Prévio n.º 19 – Procº nº 06-3/M1 – Bolseiros – Secretariado

Atentos os pressupostos plasmados na deliberação do CSM, datada de 30 de Junho de 2005 (ponto n.º 35) e nos termos do artigo 10º-A, n.º 3 do EMJ, foi deliberado dar parecer favorável e propor a concessão do benefício do Regime de Equiparação a Bolseiro:

- à Drª Maria Amélia Alves Ribeiro, Exmª Juí-za Desembargadora do Tribunal da Relação de Lisboa (para efeitos de frequência de Curso de Mestrado e com a duração de um ano, contado a partir de 1/10/2006);

- ao Dr. Pedro Gil Amorim Caetano Nunes, Juiz de Direito Auxiliar das Varas Cíveis de Lisboa (para efeitos de Doutoramento e pelo prazo de 3 anos);

Mais foi deliberado, a título excepcional, e conside-rando o manifesto interesse do estudo que o exponente se pro- põe (continuar a) fazer, dar parecer favorável e propor a concessão do benefício do Regime de Equiparação a Bol-seiro ao Exmº Juiz Conselheiro Dr. Manuel José Car- rilho de Simas Santos, pelo período de 1/9/2006 a 31/12/2006.

Ponto Prévio n.º 25 – Procº nº 06-484/DFoi deliberado aprovar a proposta apresentada pelo

Exmº Vogal Dr. António Barateiro Martins, relaciona-do com a carência de salas de audiência nos tribunais, e fazer CIRCULAR pelos Exmos Juízes o seguinte:

“O Conselho Superior da Magistratura delibera que os juízes, nos tribunais ou juízos em que uma mesma sa- la de audiências tenha uma utilização plural, combinem e pré-estabeleçam, entre si, os respectivos dias de utiliza-ção da sala, por forma a que não ocorram – ou ocorram o menos possível – situações de sobreposição de agendas.”

Conselho Superior da Magistratura

104 Boletim Informativo - Dez.2006

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Ponto n.º 32 - Procº nº 98-360/M8 – C.E.J. - Secretariado

Foi deliberado indicar os seguintes temas e cursos de especialização a incluir no Plano de Actividades do Centro de Estudos Judiciários relativo à Formação Per-manente, para o ano de 2006/2007:

1- Ética e Deontologia; 2- A Constituição e os Tribunais - O Direito

Constitucional Judiciário; 3- O Novo Regime do Arrendamento Urbano;4- O Novo Regime da Insolvência;5- Produção e Valoração da Prova; 6- Criminalidade Económico - Financeira e Cor-

rupção; 7- Violência Doméstica;8- O Direito das Crianças e Jovens (com incidên-

cia sobre o regime jurídico da adopção); 9- Justiça e Comunicação Social (este em hipotéti-

co formato de curso especializado).

ACTA 18/06 (Plenário)

Ponto n.º 4 - proc.º n.º 06 – 388/D2Foi deliberado tomar conhecimento do expediente

remetido pelo Agente do Governo Português junto do Tri-bunal Europeu dos Direitos do Homem.

Mais foi deliberado fazer significar aos Exmos Juízes, mediante CIRCULAR, a importância do co-nhecimento da jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos dos Homem, disponível, para além do mais, no site www.gddc.pt/direitos-humanos/portugal-dh/acordaos-tedh.html.

Ponto n.º 16 - proc.º n.º 05-3/M1 - Com. de Serviço - Secretariado

Foi deliberado aprovar genericamente a Proposta apresentada pela Exmª Vogal, Drª Alexandra Leitão, e encarregar a mesma Exmª Vogal e o Exmº Vogal Dr. An-tónio Geraldes da elaboração de um Regulamento de pro- cedimentos a adoptar na designação de magistrados judi-ciais para os mais diversos cargos, em comissões, entidades reguladoras, autoridades administrativas, entre outras.

************

Nesta altura, tal como fora previamente acordado com Sua Excelência o Ministro da Justiça, deram entra-da na sala de sessões Suas Excelências o Ministro da Justiça, Dr. Alberto Costa, o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça, Dr. José Conde Rodrigues e o Secretário de Estado da Justiça, Dr. João Tia-go Silveira.

Sua Excelência o Presidente do Conselho Superior da Magistratura começou por dar as boas vindas a Suas Excelências o Ministro da Justiça e Secretários de Esta-do, realçando a honra do CSM em voltar a receber tão ilustres personalidades.

Sua Excelência o Exmº Ministro da Justiça agrade-ceu as palavras proferidas por Sua Excelência o Presiden-te do CSM, tendo em seguida apresentado cumprimentos e saudações ao Exmº Vice-Presidente e restantes membros presentes do Conselho Superior da Magistratura.

Manifestou também o seu agradecimento pela dis-ponibilidade do Conselho Superior da Magistratura em receber a equipa ministerial e, de seguida, abordou os seguintes temas:

• oacessoàsprofissõesforenses(implicaçãodopro-cesso de Bolonha),

• arevisãodomapajudiciário,• areformadosrecursoscíveis,• oRegimeExperimentaldoProcessoCivil,• asrevisõesdoCódigoPenaledoCódigodePro-

cesso Penal e a Mediação Penal, • alegislaçãoempreparaçãosobreoutrasmatérias

(nomeadamente, em matéria de Custas Judiciais e de Apoio Judiciário);

• aLeiOrgânicadoConselhoSuperiordaMagis-tratura e

• oDiáriodaRepúblicaElectrónico.Após, abordando os diversos temas acima apresen-

tados, usaram da palavra os Exmos Presidente e Vice-Presidente e os Vogais Dr. Álvaro Laborinho Lúcio, Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade, Prof. Dou-tor Carlos Ferreira de Almeida, Dr. Luís Máximo dos Santos, Drª Alexandra Fernandes Leitão, Dr. António Barateiro Martins, Dr. Rui Moreira, Dr.ª Maria José Machado e Dr. Edgar Lopes.

No final do encontro, pelo Exmº Ministro da Justi-ça foi dito ter sido um privilégio ouvir as opiniões e suges-tões dos membros do Conselho Superior da Magistratura

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 105

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sobre os diversos problemas que afectam a justiça e que constavam da agenda da reunião. -----

Finalmente usou da palavra o Exmº Presidente do Conselho Superior da Magistratura para agradecer a presença e a disponibilidade demonstrada por Suas Exce-lências o Ministro da Justiça e Secretários de Estado.

***********

Ponto Prévio n.º 2 – Procº 98-360/M8 – C.E.J. - Secretariado

Tendo em conta os fundamentos nela invocados, foi deliberado aprovar, por maioria, com voto contra do Exmº Vogal Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto, a proposta apresentada pelo Exmº Vice-Presidente, do teor seguinte:

“De acordo com o disposto no artigo 34º, n.º 1 da lei n.º 16/98 de 8 de Abril – diploma que regula a estrutura e funcionamento do CEJ – o CSM deve, até ao dia 15 de Julho de ano de abertura do concurso, in-formar o Ministério da Justiça do número previsível de magistrados necessários, tendo em conta a duração do pe-ríodo de formação.

O Ministro da Justiça, por aviso publicado no DR durante o mês de Outubro, declara aberto concurso de in-gresso no CEJ, com indicação dos lugares a preencher em casa magistratura.

Deverá, pois, o Plenário pronunciar-se, em cum-primento da assinalada obrigação legal, sendo de referir que, relativamente ao ano transacto, o número indicado (80) sofreu um corte considerável, com a fixação, por Sua Exª o Ministro da Justiça, de apenas 45 vagas para a magistratura judicial.

Nesse sentido, entende-se ser de 80 (oiten-ta) o número previsível de magistrados judiciais necessários, tendo em conta a duração do período de formação.

O número agora indicado tem, nomeadamente, em consideração as elevadas pendências processuais existen-tes em muitos tribunais, o seu tendencial crescimento anual, a criação e instalação de novos tribunais e juí-zos, as dificuldades de provimento integral do quadro complementar de juízes (Bolsa de Juízes), a necessidade de recurso frequente e acentuado a regime de acumulações e substituições (determinado por um crescente número de

baixas por doença e licenças de maternidade) e a consta-tação de um significativo número anual de aposentações/jubilações, não se perdendo igualmente a necessidade de suprir a falta dos magistrados que são objecto de medidas disciplinares expulsivas ou suspensivas”.

Mais foi deliberado cumprir de imediato esta de-liberação, enviando cópia da mesma ao Ministério da Justiça e o CEJ.

Nesta altura pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Vera-Cruz Pinto foi proferida a seguinte decla-ração de voto:

“Voto contra, por entender, em coerência com votos anteriores, que o número de magistrados a formar e os conteúdos e formas de formação não podem ser da com-petência do poder executivo, não só por não integrarem a “Administração da Justiça”, como por beliscarem o prin-cípio da separação de poderes na componente dos conteúdos formativos e do perfil do magistrado, além de se integrar, ainda que parcialmente, nas competências de gestão deste CSM”.

ACTA 19/06 (Plenário)

Ponto Prévio nº 5 – Proc. nº 99 – 1238/DO Conselho Superior da Magistratura tomou co-

nhecimento do expediente apresentado pelo Exmº Vogal Dr. Edgar Lopes e, em face do mesmo, adoptou a seguinte deliberação:

1º) A autorização que este Conselho tem concedido a magistrados judiciais para o desempenho em Timor-Leste de funções judiciais tem como pressuposto o elevado valor estratégico que na cooperação, em particular, tem para o Estado Português, valor estratégico esse que foi sublinhado nos pedidos de autorização que lhe foram di-rigidos.

2º) A divergência que se instalou relativamente às condições de remuneração dos referidos magistrados pode dificultar, ao futuro, os esforços deste Conselho tendentes a assegurar o recrutamento de novos magistrados para essa missão.

3º) O envolvimento do Conselho Superior da Ma-gistratura em todo este processo permite-lhe afirmar que, pelo menos, alguns magistrados que têm prestado serviço em Timor-Leste o fizeram na condição fundada de que

Conselho Superior da Magistratura

106 Boletim Informativo - Dez.2006

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manteriam também o vencimento que lhes corresponde no seu lugar de origem.

Foi igualmente deliberado mandatar o Exmº Vice-Presidente para comunicar pessoalmente a Sua Excelência o Ministro da Justiça o teor da presente deliberação. ---

Pelo Exmº Vogal Prof. Doutor Eduardo Vera-Cruz Pinto foi proferida a seguinte decla-ração de voto:

“Votei favoravelmente a deliberação. No entanto, e em coerência com posições anteriores, entendo que a remu-neração dos Juízes deveria ser da competência do Conselho Superior da Magistratura. Esta é, em minha opinião, a melhor forma de garantir uma efectiva separação do poder judicial face ao executivo e de evitar situações como esta. Relembro que existem 3 poderes separados no Esta-do e a Assembleia da República tem orçamento próprio e gestão orçamental separada.”

Ponto n.º 3 - proc.º n.º 06-3/M1 – Insp. Ju-diciais - Secretariado

Após apreciação das candidaturas para o preenchi-mento da vaga de Inspector Judicial da 17ª Área de Ins-pecção, em substituição do Exmº Inspector Judicial Dr. Nuno de Melo Gomes da Silva, procedeu-se, de imediato, à votação para o preenchimento da vaga em causa, tendo sido para o efeito consideradas as seguintes candidatu-ras:

• Exmº Juiz Desembargador Dr. Mário BeloMorgado (Tribunal da Relação de Lisboa)

• ExmºJuizdeDireitoauxiliarDr.ManuelJoséAguiar Pereira (Tribunal da Relação de Lis-boa)

• ExmºJuizdeDireitoDr.JoséAlfredodeVas-concelos Soares de Oliveira (2ª Vara Cível de Lisboa)

Quanto à votação, foi deliberado proceder a uma votação secreta entre as 3 candidaturas apresentadas, sendo designado por este Conselho o candidato que obtiver maioria absoluta de votos; caso tal não se verifique, de-verá proceder-se a nova votação, igualmente secreta, entre os dois candidatos mais votados, sendo então designado o candidato que obtiver o maior número de votos.

Após votação secreta, obtiveram-se os se-guintes resultados:

■ 11 (onze) votos para o Exmº Juiz Desembar-

gador do Tribunal da Relação de Lisboa, Dr. Mário Belo Morgado;

■ 2 (dois) votos para o Exmº Juiz de direito Au-xiliar no Tribunal da Relação de Lisboa, Dr. Manuel José Aguiar Pereira;

■ 0 (zero) votos para o Exmº Juiz de direito da 2ª Vara Cível de Lisboa, Dr. José Alfredo de Vasconcelos Soares de Oliveira.

Em face dos resultados obtidos, o Conselho deliberou designar para o cargo de Inspector Judicial da 17ª área, em comissão de serviço ordinária de natureza judicial, por um período de três anos, nos termos dos artigos 53º, 54º, 55º, 56º, n.º 1, alínea a) e 57º, n.º 1 do Estatuto dos Magistrados Judiciais, o Exmº Juiz Desembar-gador Dr. Mário Belo Morgado, do Tribunal da Re-lação de Lisboa, guardando tal comissão de serviço vaga no lugar de origem.

Ponto n.º 4 - proc.º n.º 06 – 3/M1 – Movi-mentos

Foi deliberado aprovar a Proposta de revogação da deliberação deste Conselho de 11.07.2000 (Ponto nº 24), apresentado pelo Exmº Vogal Dr. António Geraldes, na sequência de deliberação do Plenário de 06.06.2006 (Ponto Prévio nº 12) e, em consequência, revogar a 2ª parte da deliberação em causa.

ACTA 20/06 (Conselho Permanente)

Ponto Prévio n.º 2 - procº 06 – 3/M1 – Movi-mentos - Setúbal - Secretariado

Foi deliberado aprovar a Proposta de deliberação formulada pela Exmª Vogal Drª Maria José Macha-do sobre as regras de distribuição de “mega processos”, constando a mesma, aqui dada por reproduzida, do processo respectivo – em suma, foi deliberado que, relativamente a processos de natureza crime em que estejam acusados sete ou mais arguidos, in-dependentemente do tipo de crime de que estão acusados, deve ser feita uma distribuição autó-noma dos demais processos.

Mais foi deliberado CIRCULAR o teor da delibe-ração aos Exmos Juízes.

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 107

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4 - CIRCULARES DO CONSELHO2 - SUPERIOR DA MAGISTRATURA

I- CIRCULAR Nº 184/2005

Para os efeitos tidos por convenientes, informam-se os Exmos Juízes que já está à disposição no sítio do CSM (na rubrica “No-tícias”) o estudo intitulado “Os Actos e os Tem-pos dos Juízes - Contributos para a construção de indicadores da distribuição processual nos juízes cíveis”, elaborado pelo Observatório Permanente da Justiça e apresentado no III Encontro do CSM, realizado na cidade do Porto no mês de Novembro de 2005.

Junta-se, seguidamente, o texto de apresenta-ção de tal estudo, assinado pelo Exmº Vice-Presi-dente do CSM.

“Finalmente entregue ao CSM o estudo intitulado “Os Actos e os Tempos dos Juízes: Contributos para a construção de indicadores da distribuição processual nos juízos cíveis” elaborado pelo Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, o Conselho Superior da Magistratu-ra coloca-o à disposição da comunidade jurídica, através do seu sítio da Internet (por ora, com exclusão dos anexos, dada a sua dimensão, que tornaria o seu acesso excessi-vamente lento).

O CSM, em Janeiro de 2003 – atenta a sua im-possibilidade de realizar ou encomendar directamente um estudo sobre a contingentação na jurisdição cível, solicitou ao Ministério da Justiça a elaboração de um “Estudo sobre Contingentação Processual, visando a definição de indicadores fiáveis sobre o volume de serviço adequado para cada juiz dos tribunais judiciais”.

O estudo solicitado era aguardado com enorme ex-pectativa.

O estudo ora apresentado (relativamente ao qual, o CSM teve apenas a intervenção e colaboração que foi solicitada pelos seus autores) exigirá agora de todos a sua apreciação crítica, de forma a verificar se dele poderão ser extraídos os dados que estiveram na origem do pedido, nomeadamente o fornecimento dos indicadores necessários a uma mais correcta avaliação do desempenho dos Juízes

(na vertente da exigibilidade perante o volume de servi-ço) e a uma racionalização da gestão dos Tribunais (na vertente do número de juízes por Tribunal, da geografia das comarcas, da especialização e da distribuição de com-petências).

António CArdoso dos sAntos BernArdino

(ViCe-Presidente do C. s. M.)”

Lisboa, 21 de Dezembro de 2005

O Juiz SecretárioPaulo Guerra

II- CIRCULAR Nº 9/2006

Dá-se conhecimento a V.Exª que na sessão do Conselho Permanente do Conselho Supe-rior da Magistratura, do dia 13.12.2005, foi to-mada a deliberação do seguinte teor:

“(...)Mais foi deliberado CIRCULAR aos Ex-

mos Juízes no sentido de, tanto quanto possí-vel, solicitarem à Polícia Judiciária a apresen-tação dos detidos para momento próximo do previsto para o início das diligências, de modo a evitar riscos relacionados com a presença da-queles em instalações não seguras. “

Lisboa, 13 de Janeiro de 2006

O Juiz SecretárioPaulo Guerra

III- CIRCULAR Nº 16/2006

O Conselho Superior da Magistratura re-lembra aos Exmos. Juízes o teor da delibera-ção do Conselho Permanente de 21.12.99, se-gundo a qual, ao deixarem de exercer funções num Tribunal onde estão colocados, e após a tomada de posse no novo lugar, não deverão

Conselho Superior da Magistratura

108 Boletim Informativo - Dez.2006

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manter em seu poder qualquer processo desse Tribunal.

Lisboa, 01 de Fevereiro de 2006

O Juiz Secretário Paulo Guerra

IV- CIRCULAR Nº 32/2006

Dá-se conhecimento a V.Exª que na sessão Plenária do Conselho Superior da Magistratu-ra, do dia 07.02.006, foi tomada a deliberação do seguinte teor:

“Foi deliberado CIRCULAR pelos Exmos Juízes o teor do expediente apresentado pelo Exmº Director Na-cional da Polícia Judiciária, relativamente ao aumento exponencial de solicitações feitas pelos Tribunais à Área de Documentação e Tradução daquela Polícia.”

Lisboa, 01 de Março de 2006

O Juiz SecretárioPaulo Guerra

V- CIRCULAR Nº 40/2006

Para conhecimento de V.Exa, reitera-se o teor da deliberação de 04.12.2001 deste Conse-lho Superior da Magistratura, que é o seguinte:

“O Conselho Superior da Magistratura tem vindo a verificar que, por vezes, os Senho-res Juízes, findos os julgamentos criminais, proferem oralmente as decisões mas só as re-duzem a escrito e depositam posteriormente, para além do prazo devido.

Essa prática tem provocado, em certos ca-sos, um inaceitável descontrolo dos serviços, com consequências graves para as partes e para o próprio prestígio dos tribunais, suscep-tível de valoração disciplinar.

O Conselho Superior da Magistratura en-tende ser oportuno, neste momento, manifes-tar aos Senhores Juízes o entendimento de que

se considera tal prática inadmissível e proces-sualmente incorrecta”.

Lisboa, 13 de Março de 2006

O Juiz Secretário Paulo Guerra

VI- CIRCULAR Nº 50/2006

Informa-se os Exmos Juízes que na sessão do Conselho Permanente de 21/3/2006, foi de-cidido o seguinte:

“Foi deliberado circular pelos Exmos Ju-ízes que o exercício do direito aludido no ar-tigo 10º-A, n.º 2 do EMJ (dispensa de serviço) terá sempre de passar por prévia autorização do CSM, o qual deverá ser informado dessa pretensão com uma antecedência razoável, de forma a poder decidir em tempo útil.

Mais se deverá esclarecer que tal pedido de dispensa de serviço (que depende da verifi-cação do pressuposto da inexistência de incon-veniente para o serviço) deve ser requerido ao CSM e não ao Presidente do respectivo Tribu-nal da Relação”.

O Juiz SecretárioPaulo Guerra

VII- CIRCULAR Nº 69/2006

Dá-seconhecimentoaV.ExªquenasessãoPle-nária do Conselho Superior da Magistratura, do dia 02.05.2006, foi tomada a deliberação do seguinte teor:

“Foi deliberado renovar a deliberação do Conselho Permanente de 27.09.2005 e reiterar o teor da circular nº 144/2005, de 19 de Outubro, sobre a obtenção de in-formações relativas à base de dados do registo automóvel, publicitando-a de novo.”

“CIRCULAR Nº 144/2005“Foi deliberado CIRCULAR pelos Exmos Juízes,

esclarecendo que a recolha de dados do registo automóvel deve ser efectuada, sempre que possível, pela via do acesso directo a tal base de dados, mediante consulta em linha, através do código de acesso e password, pelo Tribunal, só

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 109

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excepcionalmente se recorrendo ao pedido de informação escrita junto das Conservatórias do Registo Automóvel e/ou Direcção-Geral dos Registos e Notariado.”

Lisboa, 24 de Maio de 2006

O Vogal do C.S.M.Edgar Taborda Lopes

VIII- CIRCULAR Nº 70/2006

Dá-se conhecimento a V.Exª que na sessão Plenária do Conselho Superior da Magistratu-ra, do dia 02.05.2006, foi tomada a deliberação do seguinte teor:

“(... ) Mais foi deliberado determinar (dando co-

nhecimento aos visados por CIRCULAR) que os magistrados judiciais, autorizados por este Conselho a participar em eventos (Seminários, Conferências) ou a frequentar Cursos ou Ac-ções de Formação (com excepção das Acções de Formação Permanente do CEJ), deverão apresentar ao CSM relatório dessa participação ou frequência.”

Lisboa, 24 de Maio de 2006

O Juiz SecretárioPaulo Guerra

IX- CIRCULAR Nº 71/2006

ASSUNTO: Página do Ponto de Contac-to Português da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial - novas funcionali-dades

Em cumprimento de despacho do Exmº Vice-Presidente deste C.S.M., dá-se conheci-mento a V.Exª do conteúdo do ofício vindo do Ponto de Contacto da Rede Judiciária Euro-peia em Matéria Civil e Comercial, cujo teor se transcreve:

“Atento o potencial interesse para os tri-bunais portugueses, tenho a honra de sugerir a V.Exa. que seja divulgada pelos senhores juízes a disponibilização, através da página de Internet do Ponto de Contacto Português da Rede Judiciá-

ria Europeia em Matéria Civil e Comercial, em http://www.redecivil.mj.pt,deacessoà legisla-ção de 22 Estados da União Europeia, mantendo-se as demais funcionalidades do site, entre as quais se poderão destacar os acessos:

a) A, num único motor de busca, todas as decisões dos tribunais superiores portugueses;

b) Às normas comunitárias relevantes na área da Cooperação Judiciária Civil e Comercial;

c) À página central do projecto para consulta dos principais institutos jurídicos de 24 Estados da União;

d) Ao Atlas Judiciário Europeu em Matéria Ci-vil, que contém toda a informação necessária à formulação de pedidos de cooperação e viabiliza o preenchimento de formulários através da In-ternet.”

Lisboa, 25 de Maio de 2006

O Juiz Secretário Paulo Guerra

X- CIRCULAR Nº 80/2006

Dá-se conhecimento a V.Exª que na sessão Plenária do Conselho Superior da Magistratu-ra, do dia 06.06.2006, foi tomada a deliberação do seguinte teor:

“Foi deliberado aprovar a proposta apre-sentada pelo Exmº Vogal Dr. António Barateiro Martins, relacionado com a carência de salas de audiência nos tribunais, e fazer CIRCULAR pe-los Exmos Juízes o seguinte:

“O Conselho Superior da Magistratura delibera que os juízes, nos tribunais ou juízos em que uma mesma sala de audiências tenha uma utilização plural, combinem e pré-estabe-leçam, entre si, os respectivos dias de utiliza-ção da sala, por forma a que não ocorram - ou ocorram o menos possível - situações de sobre-posição de agendas.”

Lisboa, 4 de Julho de 2006

O Juiz SecretárioPaulo Guerra

Conselho Superior da Magistratura

110 Boletim Informativo - Dez.2006

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5 - PARECERES E ESTUDOS

Pede-se a este CSM que apresente comentários esugestõesrelativamenteao“Regime dos Recursos em Processo Civil”.

Colhidos que foram dos Exmºs vogais do Conselho Superior da Magistratura sugestões que tiveram por base um projecto de acórdão, acompa-nhado de cópia do Anteprojecto de diploma, apre-senta-se o seguinte Parecer:

I - Nota prévia:Os elementos estatísticos que neste CSM são

periodicamenteanalisadosrelativosàprodutivida-de dos Juízes Desembargadores dos cinco Tribu-nais da Relação permitem concluir que não é a este nível que se verificam os bloqueios fundamentais do processo civil.

Com efeito, com muito poucas excepções, tem este CSM constatado uma apreciável celeridade e

eficiência, a par do generalizado respeito pelos pra-zos processuais, desde que os processos são distri-buídos até ao julgamento, o que permite a afirma-ção de que, em média, a duração dos recursos nas Relações não excederá os 3 ou 4 meses. O mesmo tem acontecido no Supremo Tribunal de Justiça.

Numa altura em que tantos e tão graves ata-ques são dirigidos ao desempenho dos Tribunais, não pode deixar de se reconhecer que, tanto em termos absolutos como em termos comparativos, a resposta dos Tribunais Superiores, designadamente em matéria de recursos cíveis, nada fica a dever aos referidos objectivos da celeridade e da eficácia.

II – Comentários e sugestões quanto ao articulado:

1. Através da alteração do art. 24º da LOFTJ pretende-se aumentar o valor das alçadas.

Parecer do Conselho Superior da Magistratura sobre o Anteprojecto do Regime de Recursos em Processo Civil

(aprovado na sessão plenária de 10 de Janeiro de 2006)

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 111

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Trata-se de uma medida justificada, ainda que nos pareça que os novos valores pecam por defeito. Na verdade, o valor projectado para a alçada dos tribunaisda1ªinstânciapraticamentecorrespondea uma mera actualização monetária do anterior va-lor. Mesmo o pretendido para a alçada da Relação nos parece aquém do desejável, tendo em vista que um dos objectivos que perpassa pelo Anteprojecto, e que merece o inteiro apoio deste Conselho Supe-rior da Magistratura, é o de requalificar a interven-ção do Supremo Tribunal de Justiça, reservando o grosso da sua intervenção para questões cujo valor ou interesse tenham correspondência com a digni-dade desse órgão e com a sua função no sistema judiciário.

Por isso, sugerimos que a alçada da Relação passe para e 50.000,00.

Desse modo, ficando suficientemente garan-tido, para a generalidade dos casos, um segundo grau de jurisdição, conseguir-se-ia evitar que o STJ continue absorvido com questões cujo valor não justifica a sua intervenção.

É verdade que a alteração do art. 315º do CPC terá como efeito evitar certos recursos que, no ac-tual contexto, apenas são possíveis tendo em conta a atribuição de valores que ultrapassam os que re-sultariam da aplicação rigorosa dos critérios legais. Na verdade, com a nova formulação legal, em vez de a fixação do valor do processo ficar dependente, na prática, do critério ou dos interesses das partes (efectuando as reduções quando pretendem evitar encargos judiciais ou inflacionando o valor quando lhes interessa garantir a recorribilidade das deci-sões), é sobre o juiz que passa a recair o dever de o fixar no despacho saneador (ou na sentença) ou, em certos casos, no despacho que admite o recurso.

Ainda assim, mesmo quando os valores pro-cessuais correspondamà concretizaçãomais rigo-rosa dos critérios legais, os valores que propomos integram uma mais correcta ponderação dos custos e dos benefícios decorrentes do sistema de recursos, reservando a intervenção dos Tribunais Superio-res e, designadamente, a do Supremo Tribunal de Justiça para a resolução de questões que, pelo seu valor económico ou pelos interesses que se discu-

tem, justifiquem um segundo ou terceiro grau de jurisdição.

1.1. O aumento do valor das alçadas repercu-tir-se-á também na redução do número de acções que passam a seguir o processo ordinário, atento o disposto no art. 462º do CPC.

São, assim, de ponderar os reflexos de tal me-dida na distribuição dos processos entre os juízos cíveis e as varas cíveis ou mistas, assim como a dis-tribuição entre o juiz do Tribunal de comarca e o juiz de círculo.

Com o objectivo de evitar uma repentina so-brecarga de uns Tribunais ou juízes e de uma ex-cessivo alívio da carga processual de outros, pode-ria adoptar-se uma medida em que, para efeitos de determinação da forma de processo ordinário fosse considerado apenas metade do valor da alçada da Relação, isto é, e 25.000,00 (na nossa proposta).

2. É de aplaudir a intervenção legislativa ao nível da regulação dos conflitos de competência, conhecida que é a tendência para se despoletarem conflitos negativos mesmo quando aparentemente nada os justifica.

Na proposta de alteração do art. 117º do CPC, acolhe-se, e bem, o princípio da oficiosidade no desencadeamento da resolução do conflito. De-pois, em conjugação com uma oportuna alteração da LOFTJ, pretende-se valorizar a intervenção dos Presidentes dos Tribunais Superiores ou dos Presi-dentes das Secções, o que só pode ser apoiado.

Com isso se pretende obter a aceleração da respectiva tramitação e evitar que a morosidade imprimida pela actual tramitação dê azo a que per-sistam ou se multipliquem os conflitos ou demore a sua resolução.

Todavia, considerando os novos poderes que são atribuídos aos Presidentes das Secções, esta-mos perante um motivo adicional que justifica a modificaçãosimultâneadoart.46ºdaLOFTJ,demodo a consignar-se que a presidência das Secções não deve ser pura decorrência da antiguidade, antes o resultado da escolha do Presidente do Tribunal Superior ou, quiçá, de designação do Plenário do Conselho Superior da Magistratura.

Conselho Superior da Magistratura

112 Boletim Informativo - Dez.2006

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Para esta modificação não podemos deixar de chamaràcolaçãoospoderesqueemmatériapenaljá agora são atribuídos ao Presidente da Secção Cri-minal (que, por isso, fica isento de processos para julgamento), os quais devem ser exercidos pelos juízes a quem, por via da referida escolha ou desig-nação, seja reconhecida, independentemente da sua antiguidade, a melhor habilitação para o efeito.

3. O novo art. 275º-A visa permitir a apensa-ção de processos em fase de recurso, o que se jus-tifica em casos de acções massificadas ou noutros em que exista interesse em impedir a prolação de decisões contraditórias.

Concordando com o princípio, parece-nos que os objectivos a prosseguir justificam ainda a atri-buição ao Presidente da Relação de poderes para ordenar oficiosamente tal apensação, assim poten-ciando maior eficiência dos Tribunais Superiores.

4. Uma das excepções ao regime geral da re-corribilidade decorre do art. 678º, nº 2, al. c). In-tegrando nessa excepção os casos já anteriormente previstos em que a decisão desrespeita jurisprudên-cia uniformizada, acrescentam-se-lhe os casos em que o desrespeito tem subjacente “jurisprudência consolidada”.

Deve apoiar-se esta solução que acentua os va-lores da segurança jurídica, moderando situações de rebeldia injustificada relativamente a interpre-tações advindas do mais alto Tribunal.

5. Mediante o art. 687º pretende-se que com o requerimento de interposição de recurso sejam apresentadas as alegações.

Trata-se de medida que inteiramente se jus-tifica e que favorece a celeridade, aproximando-se, aliás, dos regimes que vigoram no processo penal e no processo laboral.

6. Com a nova redacção do art. 687º-B pre-tende-se repristinar o regime que passou a vigorar a partir da entrada em vigor do Dec. Lei nº 39/95, onerando as partes com a transcrição dos segmen-tos das gravações com relevo para a modificação da decisão sobre a matéria de facto.

Trata-se de uma medida que se justifica.

Na verdade, sem coarctar a possibilidade de os juízesdesembargadoresprocederemàaudiçãodasgravações, quando nisso houver objectivo interesse, a medida pode servir para travar recursos abusivos, com intuitos meramente dilatórios, na medida em que o recorrente será obrigado a ponderar, com muito mais profundidade do que aquela que mui-tas vezes transparece, a justeza e a viabilidade da impugnação da matéria de facto.

Aliás, tendo sido implantado em 1995 o sis-tema de gravação e de impugnação da prova oral-mente produzida, só a facilitação da tarefa das par-tesnoqueconcerneàsalegaçõespodeter justifi-cado a modificação do regime, tão rápida quanto inoportuna, que ocorreu em 2000, sem que tives-sem sido avaliados os efeitos da aplicação do siste-ma anterior.

A medida tem ainda o efeito complementar, que é de aplaudir, de concretizar uma mais equili-brada distribuição dos encargos financeiros e dos recursos humanos, evitando o sistema ainda vigen-te no processo penal, em que recai sobre o Tribunal o ónus de efectuar essa transcrição.

7. Mediante a tramitação prescrita no pro-jectado art. 707º pretende-se acelerar a marcha do recurso.

A nova opção deixa transparecer uma adesão a umapráticageneralizadaemaisconsentâneacomas condições em que se exercem funções nos Tri-bunais Superiores, segundo a qual a discussão da solução do caso despoleta-se fundamentalmente a partir do projecto (ou do memorando) elaborado pelo relator, e não tanto na fase em que se cum-prem os vistos de cada um dos adjuntos.

Tal é, aliás, frutodas circunstâncias emquevêm funcionando os Tribunais Superiores, com ins-talações insuficientes para todos os juízes.

Nessa medida, a produção dos resultados vi-síveis através do julgamento em sessões semanais é resultado do trabalho individual de cada juiz, sem exclusão da discussão que, pelas mais diversas ma-neiras, se estabelece entre o relator e os adjuntos.

8. Dentro das medidas que visam pôr cobro a manobras de pendor dilatório, em sede recurso,

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 113

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se insere a que decorre da alteração ao art. 720º, solução que é de aplaudir.

9. Importante e inovador é o regime que de-corre do art. 721º, nº 2, que, em regra geral, veda o recurso para o STJ de acórdão da Relação que con-firmeadecisãodaprimeirainstânciasemqualquervoto de vencido.

Trata-se de uma medida que visa revalorizar a intervenção do STJ, reservando-a para casos em que verdadeiramente se justifique a sua interven-ção, o que, em regra, se não verificará quando exista a“duplaconforme”.

Ainda que outras soluções pudessem ser aco-lhidas, com vista a alcançar o mesmo desiderato, a solução projectada é aquela que, neste momento, consegue dar uma resposta mais objectiva e, por isso,maissegura,àquestãodarecorribilidadeparao STJ, evitando os riscos e a incerteza decorrentes da adopção de uma medida como a consignada no art. 150º do CPTA, segundo a qual a revista apenas seria possível quando o STJ considerasse estar-se peranteumaquestãodeimportânciafundamentalou quando a admissão do recurso fosse motivada pela necessidade de acautelar uma melhor aplica-ção do direito.

Com efeito, se tal opção encontra justificação em matéria de direito administrativo que sofreu recente e profunda remodelação, a sua transposição para o campo mais estabilizado do direito civil da-ria azo a injustificadas polémicas.

Por isso, a opção por um critério de cariz mais objectivo como aquele que decorre da for-mulação projectada é aquela que melhor conse-guecompatibilizarosdiversosinteressesligadosà(i)recorribilidade.

10. Rejeita-se a possibilidade de introdução de alegações orais perante o STJ nos termos previs-tos no art. 727º-A.

Num sistema em que já se prevê a necessária apresentação de alegações escritas nas quais cada uma das partes tem a possibilidade de argumentar no sentido das respectivas posições, não se descobre justificação plausível para a introdução de alega-ções orais.

A experiência negativa dos recursos em pro-cesso penal parece-nos suficientemente justificativa da não introdução de alegações orais em recursos cíveis, tanto mais que é fundamentalmente da aná-lise ponderada de alegações escritas que os juízes doSTJpoderãoextrairoselementosnecessáriosàformação da sua convicção sobre as razões que assis-tem a cada uma das partes.

11. Nos termos que decorrem dos arts. 763º e segs. pretende-se introduzir um recurso extraordi-nário para uniformização de jurisprudência.

Ainda que de natureza extraordinária e com efeitos meramente devolutivos (art. 768º), o novo regime vem reimplantar, na prática, o recurso para o Pleno que vigorava antes da reforma de 1996/97.

Facultando-se, assim, em determinados ca-sos, um 4º grau de jurisdição, tal só pode acarretar maior grau de litigiosidade e produzir efeitos nega-tivos na celeridade processual.

Não cremos, na verdade, que tal opção se justi-fique, devendo ser fomentado, isso sim, o desenvol-vimento dos poderes que o art. 732º-A já concede ao Presidente do STJ, no sentido da uniformização de jurisprudência, sob impulsos diversificados que podem advir das partes, do Ministério Público, do relator, dos adjuntos ou dos presidentes das Secções Cíveis.

Não pode olvidar-se a ampla possibilidade de participação das partes que já está contida no regime de revista alargada, de modo que a admis-são de um recurso extraordinário pode redundar na renovação de uma possibilidade de que a parte, em momento oportuno, entendeu não dever fazer uso.

Cremos que para o desenvolvimento do me-canismo de uniformização de jurisprudência atra-vés da revista ampliada algo de positivo deverá esperar-se da redução do número de recursos para o STJ, aumentando-se, assim, as possibilidades de internamente se pugnar pela valorização da inter-venção do STJ em matéria tão importante quanto a da definição do direito em face de divergências interpretativas.

Deste modo, reduzindo-se a ajustados núme-ros os processos que a cada juiz do STJ são distribuí-

Conselho Superior da Magistratura

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dos, é de esperar uma maior participação de todos os intervenientes na promoção do mecanismo que permita uniformizar entendimentos, atenuando os efeitos negativos que decorrem da persistência de divergências mesmo dentro do próprio STJ.

III - Outras sugestões:1. Considerando a polémica jurisprudencial e

doutrinal que gira em torno da necessidade ou não deaspartesprocederem,entresi,àsnotificaçõesdasalegações e das contra-alegações de recurso, em face da redacção do art. 229º-A, deveria aproveitar-se a oportunidade para clarificar tais dúvidas, adoptan-doasoluçãoquesemostramaisconsentâneacomos objectivos de celeridade e de eficácia e que se traduz na expressa previsão dessa notificação.

2. Nos termos do art. 679º, a irrecorribilidade apenas abarca os despachos de mero expediente e os despachos proferidos no uso de poderes discri-cionários (art. 156º).

Ao excluir da recorribilidade apenas tais de-cisões, praticamente não há actuações insindicáveis em via de recurso, restringindo ou limitando em excesso os poderes de direcção que deveriam ser efectivamente atribuídos ao juiz.

Tal sistema contraria os objectivos que, entre outros preceitos, estão contidos no art. 265º (poder de direcção do processo) e que também decorrem do art. 137º (evitar actos inúteis).

Atenta a complexidade da tramitação proces-sual e o uso abusivo que tende a ser feito de certos dispositivos legais, seria mais correcta a atribuição ao juiz de um efectivo poder de direcção do proces-so, com vista a abreviar a solução do pleito, em vez da mera enunciação de poderes virtuais que, sin-tetizados no art. 265º, acabam por ser infirmados por normas, como a do art. 679º, que permitem a impugnação generalizada das decisões de natureza meramente instrumental.

Ao invés de uma constante desconfiança rela-tivamenteàactuaçãodosjuízes,deveriaassumir-seque,devidoaoseuestatutodeimparcialidadeeàcompetênciatécnica inerenteà sua formação, sãomerecedores de um efectivo poder de direcção do

processo, confiando na razoabilidade dos seus cri-térios.

Assim, em tudo o que não colidisse inequi-vocamente com o objectivo central do processo, deveriam atribuir-se ao juiz efectivos poderes de determinação da tramitação mais ajustada, com o que, a par da valorização e dignificação da função, se potenciaria maior eficácia e celeridade, aproxi-mando-se o regime geral do CPC das novas regras que pretendem ser introduzidas na formulação do anteprojecto relativo ao processo especial e experi-mental que também se encontra em discussão.

Para o efeito, sem embargo de outras modifi-cações, mostra-se imprescindível a modificação do art. 679º, ampliando os casos em que se vede o re-curso de decisões de pendor unicamente formal.

Em contrapartida dessa modificação poderia prever-se a possibilidade de reclamação para o pró-priojuiz,àsemelhançadoquejáocorrenostermosdo art. 511º, nº 3, facultando-se a possibilidade de reponderação da decisão com base nos argumentos trazidos e que, porventura, não tivessem sido opor-tunamente ponderados.

3. Em casos de falta de conclusões nas alega-ções deveria a lei prever pura e simplesmente a re-jeição do recurso, ao invés do que continua a cons-tar do art. 687º-A, nº 3 (equivalente ao art. 690º, nº 4, do actual CPC).

Na verdade, em matéria tão importante como a interposição de um recurso para um Tribunal Su-perior não deveriam admitir-se paliativos relativa-mente a uma falha tão evidente quanto a relaciona-da com a formulação de conclusões.

Delimitando as conclusões o objecto do recur-so e exercendo estas, na prática, as funções do pe-dido na petição inicial, a omissão de um requisito tão claramente previsto na lei na fase de recurso não deveria dar lugar a qualquer despacho de aperfei-çoamento.

4. O regime dos agravos em procedimentos cautelares tem suscitado escusadas dúvidas.

Uma delas decorre do art. 388º, devendo tor-nar-se claro que, optando o requerido pela dedução deoposiçãoàprovidênciadecretada,cominvocação

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Dez.2006 - Boletim Informativo 115

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de outros factos ou apresentação de outros meios de prova, pode ainda agravar da decisão final sem qualquer limitação quanto ao objecto do agravo.

A outra dúvida emerge do art. 738º e respeita ao regime do agravo interposto da decisão que, em sede oposição, tenha determinado o levantamento da providência.

Relativamente a tal agravo, deveria clarificar---se que, tal como o agravo referido no nº 2 (que, pelo percurso histórico tem outro campo de apli-cação), também sobe em separado, dependendo o seu efeito do disposto no art. 740º, nº 3 (isto é, com efeito meramente devolutivo, sem prejuízo da atribuição de efeito suspensivo verificadas as cir-cunstânciasqueaissoconduzem).

5. A alteração do art. 678º determina a alte-ração de outros preceitos, designadamente do art. 800º e do art. 923º.

A alteração do art. 771º deve determinar a modificação do art. 1100º, o que, aliás, já se justi-fica pela alteração decorrente do Dec. Lei nº 38/03, de 23 de Março.

Tendo deixado de existir um regime de re-cursos especialmente prescrito para o processo sumário, atenta a anterior revogação do art. 792º, impõe-se a modificação da redacção de alguns pre-ceitos, designadamente do art. 463º, nº 4, e do art. 1396, nº 2, o que já anteriormente deveria ter ocorrido.

6. Nos casos em que a Relação determina a anulação da anterior decisão, designadamente em casos em que isso implica a repetição do jul-gamento, era importante que o eventual recurso interposto da decisão fosse apreciado pelo mesmo colectivo.

Afinal, aquela intervenção já proporcionou ao juiz relator e aos adjuntos o conhecimento do ob-jecto do processo. Por outro lado, como a repetição do julgamento é decorrência do acórdão proferido, seria mais eficaz a atribuição do segundo recurso ao mesmo colectivo.

Tal conseguir-se-ia mediante a previsão de que os recursos interpostos de decisões sequenciais àanterioranulaçãodecretadapeloTribunalSupe-

rior não seriam sujeitos a nova distribuição, antes atribuídos ao mesmo relator.

7. Nos termos da actual redacção do art. 721º, nº 2 (que no Anteprojecto corresponde ao nº 3), a tramitação do recurso de revista segue de muito perto a da apelação.

Desse modo, para além de ao relator ser per-mitido proferir decisão sumária (de que pode haver reclamação para a conferência - art. 705º), admite---se, por referência ao art. 713º, nº 5, que o acórdão se limite a negar provimento ao recurso, remeten-do para os fundamentos da decisão impugnada.

Se esta possibilidade já é discutível quando se trata de um acórdão da Relação, parece-nos total-mente inconveniente que seja admitida ao nível do STJ que, atenta a sua função no sistema judiciário, não pode limitar-se a chancelar acórdãos de Tribu-nais inferiores.

Assim, sem prejuízo de se manter a faculdade, mesmo no STJ, de o relator decidir sumariamente, nos termos que remissivamente decorrem do art. 705º, deveria eliminar-se a possibilidade de o STJ se pronunciar, através de acórdão, por via simples-mente remissiva.

Com efeito, se a decisão não apresenta qual-quer dificuldade ou se se trata de reafirmar uma consolidada jurisprudência do STJ, deve o recurso ser julgado por decisão individual do relator, ainda que sob a forma sumária.

Se tal não se verificou, por opção exclusiva do relator, impõe-se a prolação de um acórdão que não se limite a remeter para o anterior acórdão da Re-lação.

8.Verificadaumasituaçãodelitigânciademáfénoâmbitoderecursodeveriaprever-seexpressa-mente a possibilidade de condenação da parte sem ter que a ouvir sobre essa questão.

Efectivamente, se tal é compreensível quando aactuaçãoseverifiquena1ªinstância,asustentaçãode pretensões infundadas ou a prática de manobras dilatóriasnoâmbitodorecursodeveriapossibilitaro imediato sancionamento, em reforço dos poderes dos juízes dos Tribunais Superiores e em benefício dos interesses da celeridade e da eficácia.

Conselho Superior da Magistratura

116 Boletim Informativo - Dez.2006

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9. Não existem quaisquer condicionalismos quantoàcapacidadedeadvogarperanteosTribu-nais Superiores.

Trata-se, porém, de uma disfunção que deve-ria sofrer modificações, por forma a ajustar o ní-vel de exigências dos advogados à qualidade dosjuízes que têm por função apreciar as pretensões deduzidas em via de recurso, maxime no Supremo Tribunal de Justiça, recuperando uma solução que constava do Estatuto Judiciário.

Assim, sugere-se que se modifique o Estatuto da Ordem dos Advogados por forma a exigir-se, para advogar perante o STJ, uma antiguidade na profissão não inferior a 10 anos.

10. Ao nível da eficiência dos recursos huma-nos, não se compreende a total ausência de asses-sores (ou mesmo de funcionários) nos Tribunais da Relação especialmente adstritos ao serviço de juí-zes desembargadores.

Em resultado dessa opção, em tempos timi-damente tentada e agora abandonada, os juízes de-sembargadores não dispõem de qualquer assessor ou mesmo funcionário que possam encarregar, por exemplo, da busca de doutrina ou de jurisprudên-cia, da elaboração de relatórios ou de funções tão prosaicas como dactilografia de acórdãos.

Com tal opção o Estado desaproveita o labor intelectual dos juízes desembargadores que deveria incidir sobre as matérias verdadeiramente essen-ciais que constituem o cerne dos recursos.

Na prática, uma parte daquilo que o Estado despende com osDesembargadores é dedicado àrealização de tarefas que, a muito menor custo, po-deriam ser realizadas por outros agentes, aumen-tando a produtividade dos juízes desembargadores e a qualidade substancial das suas decisões.

IV – Em conclusão:Sem embargo das objecções apontadas, o CSM

dáoseuparecerglobalmentepositivoàsmodifica-ções que se pretendem introduzir.

Cremos, no entanto, que devem ser introduzi-das modificações em planos que não foram tocados pelo Anteprojecto.

Modificações que devem estender-se a aspec-tos de organização judiciária que, conjugadamente, poderão permitir melhores resultados do que aque-les que têm sido produzidos ao abrigo do regime vigente.

Lisboa, 10-1-06

O Vogal do Conselho Superior da Magistratura(António Santos Abrantes Geraldes)

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 117

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Pede-se a este CSM que apresente comentários esugestõessobreo“Regime Processual Especial Expe- rimental”(versãode26-9-05),comquesevisaodes- congestionamento dos Tribunais em matéria cível.

Colhidos que foram dos Exmºs vogais do Conselho Superior da Magistratura sugestões que tiveram por base um projecto de acórdão, acompa-nhado de cópia do Anteprojecto de diploma, apre-senta-se o seguinte Parecer:

I - Nota prévia:Antes de mais, deve ser dado inteiro apoio a

medidas que visem o descongestionamento dos Tri- bunais, conhecidas que são as dificuldades, designa- damente da área cível, com que se debatem para res- ponderem, com eficácia, em tempo razoável e sem perdadasegurança,àssolicitaçõesformuladas.

Em larga percentagem, tais solicitações re-lacionam-se com o cumprimento de obrigações denaturezapecuniária.EaleituradoPreâmbuloparece indiciar que é a tais acções que o processo experimental se dirige. Aliás, o Anteprojecto tem porbaseum“Estudo Preliminar”do“Regime Espe-cial para Grandes Litigantes”,assinadopelaProfªDrªMariana França Gouveia, o qual apenas incide so-breaproblemáticadalitigânciademassa.

Se essa é a intenção, impõe-se que fique defini-do no articulado, pois que o Anteprojecto não esta-belece tal distinção,sendoaplicávelàgeneralidadedas acções declarativas a instaurar nos Tribunais a identificar oportunamente, sem qualquer delimita-çãoatravésdotipodelitigânciaoudoobjecto.

II – Comentários e sugestões quanto ao articulado do Anteprojecto:

1. No plano da metodologia, mostra-se ade-quada a opção para que aponta o referido Antepro-jecto.

Parece-nos ajustada a natureza experimen-talassumidanoart.1º,nº1,associadaàexpressa

consignação de uma oportuna avaliação (art. 15º, nº 3), por forma a verificar se se justificam ou não eventuais alterações e se os resultados produzidos autorizam ou não o alargamento do regime a todos os Tribunais com competência cível.

Foi, assim, rejeitada opção diversa que por-ventura avançasse para a aplicação generalizada do regime processual especial, sem as necessárias ga-rantias de exequibilidade no terreno ou sem qual-quer padrão de referência que permitisse comparar os resultados alcançados com os que foram projec-tados.

1.1. Parece-nos que no nº 3 do art. 1º dever-se-á consignar que o diploma também se não apli-ca aos processos especiais previstos em legislação avulsa, com excepção do regime especial previsto no Dec. Lei nº 269/98, de 1 de Setembro, aliás, ressalvado no art. 7º, nº 4.

Com esta modificação se evitará uma eventual interpretação que sujeite ao regime experimental ou- tros processos declarativos previstos em legislação extravagante, solução que é contraditória com a in-tenção expressa no anteprojecto de excluir do novo regime os processos especiais regulados no CPC.

2. O art. 2º do Anteprojecto aponta decisiva-mente para a abolição do princípio da legalidade das formas processuais, potenciador de uma exces-siva rigidez na tramitação processual, substituin-do-o pelo dever de gestão processual.

Fica, assim, o juiz incumbido de, a cada mo-mento, verificar a tramitação que mais se ajusta aos interesses que no processo se discutem, em vez de ficar amarrado a uma tramitação processual ten-dencialmente inflexível.

É verdade que o CPC, quer na sua versão ori-ginal, quer nas que resultaram de modificações pos-teriores, maxime da reforma de 1996/96, já concede aojuizo“poder de direcção do processo”nostermosemque decorrem do art. 265º. Também está inscrito

Parecer do Conselho Superior da Magistraturasobre o Anteprojecto do Regime Processual

Especial Experimental(aprovado em sessão plenária de 10 de Janeiro de 2006)

Conselho Superior da Magistratura

118 Boletim Informativo - Dez.2006

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no art. 137º o princípio da limitação dos actos, me-diante o qual fica vedada a prática de actos inúteis. Por outro lado, na referida revisão introduziu-se no art. 265º-A o novo princípio da adequação formal.

Porém, a experiência revela que os resultados não são compatíveis com as ideias-força que per-passam por tais preceitos. Para além de alguma inércia induzida por interpretações doutrinais ou jurisprudenciais acerca dos poderes efectivos do juiz,algumascircunstânciasenvolventestêmcon-tribuído para o fraco uso que tem sido feito de tais poderes ou princípios.

A principal está relacionada com o apertado regime de recursos.

Com efeito, nos termos do art. 679º, ape-nas se impede o recurso relativamente a actos de mero expediente ou a actos proferidos no uso de um poder discricionário definidos no art. 156º, nº 4 (despachos que se destinam a prover ao andamento regular do processo, sem interferir no conflito de interesses entre as partes, ou que decidem matérias confiadas ao prudente arbítrio do julgador).

Da concatenação das duas disposições decorre que praticamente nenhuma actuação do juiz quali-ficável como de gestão processual ou de adequação formal, eliminando actos ou fases ou determinando a prática de outros que se justifiquem para a justa resolução do conflito de interesses, escapa a uma eventual impugnação em via de recurso, o que, in-directamente, constitui um factor que desincentiva o uso de poderes de direcção.

Cremos, aliás, que foi este um dos pontos em que falhou a reforma de 1996/97. Pretendendo-se impulsionar a dinamização do processo, muitos dos poderes que ao juiz foram conferidos acabaram por não surtir os efeitos pretendidos, já que a experiên-cia vem revelando que se torna menos problemáti-co o cumprimento estrito da tramitação processual doqueumaactuaçãomaisdinâmicaeincisivanosentido de uma efectiva direcção do processo.

Vistos estes antecedentes, é imprescindível que fique consagrada no diploma uma efectiva transferência de responsabilidades para o juiz, con-cedendo-lhes efectivos e inequívocos poderes de direcçãorelativamenteàconduçãodoprocessoedeadequação da respectiva tramitação.

Desse modo, ao mesmo tempo que se fomenta umaactuaçãodinâmicadojuiz,depositam-senelepoderes correspondentes aos de um verdadeiro ges-tor do processo, motivando-o a privilegiar a justa composição do litígio, em detrimento do cumpri-mento, quantas vezes infrutífero, de certos actos ou formalidades processuais.

Para isso, é necessário que, sem prejuízo de uma eventual reclamação apresentada ao próprio juiz, para efeitos de reponderação da decisão, fique expressamente consagrado que as decisões proferi-das no uso dos poderes de gestão do processo, nos termosdo art. 2º, são irrecorríveis, à semelhançado que, para os casos de agregação de acções, já se prevê no art. 4º, nº 5, ou do que decorre do art. 511º, nº 3, para os casos de reclamação da base ins-trutória.

3.Nostermosdoart.3º,o“juiz deve procurar resolver todas as questões que possam obstar ao conheci-mento do objecto do processo”.

Trata-se de uma solução que, de certo modo, já decorre dos arts. 265º, nº 2, e do art. 288º, nº 3.

Cremos, aliás, que, ao invés do que se refere noPreâmbulo,esteúltimopreceitovisoucontor-nar o chamado dogma da prioridade dos pressupos-tos processuais, ao permitir que se profira decisão de mérito em determinadas situações, apesar da instâncianãoseencontrarcompletamenteregula-rizada.

Quanto ao artigo do anteprojecto, concorda-se com a solução, embora, em termos literais, padeça de excessiva amplitude.

Assim acontece, por exemplo, com a eventual extensão a casos de ineptidão da petição inicial, a casosdeincompetênciaabsolutaouàgeneralidadedos casos em que falta personalidade judiciária, não se visionando como, em tais situações, ante a natu-reza insanável das excepções, pode o juiz avançar para o conhecimento do mérito do processo.

ÉverdadequenoPreâmbuloseressalvamoscasosemquesemostre“impossível ultrapassar a ques-tão de forma”.MasoPreâmbulonãotemaforçadosnormativos legais, sendo conveniente, para evitar dúvidas, que se modifique a redacção do preceito, deixando bem claro que determinados aspectos for-

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 119

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mais jamais poderão ser desconsiderados pelo juiz no momento em que se defronta com a possibilida-de de apreciar o mérito da causa.

Concede-se que mesmo em certos casos de ineptidão da petição inicial possa, ainda assim, salvar-se o processo, mediante a prolação de um despacho de convite ao aperfeiçoamento, opção que,nestemomento,àfacedoart.508ºdoCPC,se encontra vedada. Tal pode acontecer, designada-mente, em certos casos em que a ineptidão decorre da excessiva integração de conceitos jurídicos, re-velando-se insuficientemente concretizada a causa de pedir. Outrossim em casos de contradição entre pedidos, caso em que a formulação do referido con-vite seria passível de corrigir a falha.

Mas, como se disse, parece conveniente que o legislador deixe expresso no texto legal as suas ver-dadeiras intenções, obviando a dúvidas e evitando os correspondentes recursos que podem fundar-se numa diversidade de interpretações de normas.

4. Os arts. 4º a 6º regulam a agregação de ac-ções, tendo em vista a sua tramitação em conjunto ou a prática conjunta de determinados actos pro-cessuais.

Trata-se de uma das mais emblemáticas me-didas no campo da litigiosidade de massas, através da qual se concedem ao juiz poderes para delimitar os casos em que existem vantagens na agregação daqueles em que esta se revela inconveniente.

Cremos, no entanto, que é excessiva a ampli-tude do regime.

Com efeito, a agregação de acções não impede o recurso àfigurada coligação activa oupassiva,nos termos dos arts. 30º e 31º do CPC. Também não prejudica a apensação de acções regulada no art. 275º do CPC, a qual pode envolver proces-sos pendentes em diversos tribunais ou juízos ou mesmo, dentro de cada juízo, processos distribu-ídos a diferentes juízes, parecendo-nos de difícil exequibilidade prática a agregação que abarque, por exemplo, acções pendentes em Tribunais que, como os de Lisboa ou do Porto, são integrados por diversas Varas Cíveis, por diversos Juízos Cíveis ou pordiversosJuízosdePequenaInstânciaCível.

Sóumalimitaçãodoâmbitodeaplicaçãoda

medida pode determinar melhores resultados, per-mitindo a junção de um razoável número de acções que apresentem pontos comuns, sem correr o risco, que deve ser antecipadamente eliminado, de inefi-cácia, por pura inércia, ou de grave inconveniência, quando exista agregação de dezenas de acções com multiplicidade de réus, de advogados e de contes-tações e com uma infinidade de testemunhas.

A experiência negativa que decorre dos apen-sos de reclamação, verificação e graduação de crédi-tos em processos de insolvência é suficientemente relevante para que o legislador reconsidere uma solução como a que a decorre do Anteprojecto e quepode sergeradoradeverdadeiros“monstros”processuais de difícil gestão, atenta a massa docu-mental, o número de articulados ou o número de interessados.

É, aliás, esta a solução que mais se compatibi-liza com o disposto no nº 3 quando nele se alude ao aproveitamento de inquirições das mesmas teste-munhas, o que, como acto singular agregado, só se justificará em casos em que os processos estão sob a alçada do mesmo juiz.

Étambémacircunstânciadeasacçõesestaremsob a alçada de um mesmo juiz que permite, com mais facilidade, detectar as situações de potencial agregação, a qual poderá, assim, ser determinada sem perturbações de outro género.

Por outro lado, são as vantagens que o próprio juiz encontra na agregação que podem fomentar o seudecretamento,namedida emque à junçãode diversos processos corresponderá também uma maior produtividade e uma melhor gestão do tem-po.

Uma solução como a contida no anteprojecto poderá potenciar uma escusada inércia na actuação dos poderes que agora são conferidos ou ser gerado-ra de disfunções.

Assim, em lugar da medida projectada, su-gerimos que a agregação seja prevista apenas para acções que estejam confiadas ao mesmo juiz.

Como alternativa, não se enjeita a agregação de acções pendentes na mesma Vara ou no mesmo Juízo, solução que, ainda assim, pode razoavelmen-te compatibilizar as vantagens e os inconvenientes, sendo aqui relevante o factor de maior proximi-

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dade entre os correspondentes juízes, facilitando o conhecimento dos casos passíveis de agregação e permitindo a efectiva compensação ao nível da distribuição de processos.

Nesta eventualidade e, além disso, na eventua- lidade de se manter a solução projectada, convém que se modifique o estatuto do juiz presidente, de tal modo que, em vez do funcionamento da rota- tividade que agora decorre do art. 74º, nº 2, da LOFTJ, o mesmo passe a ser designado pelo Con-selho Superior da Magistratura.

Com efeito, o exercício dos poderes de agre-gação de acções tem repercussões na distribuição de processos, sendo conveniente que a tarefa seja desempenhada por juiz designado pelo órgão de gestão da magistratura judicial.

5. No que concerne ao art. 7º, que regula a fase liminar do processo especial, cremos que se mostra inconveniente a previsão de três prazos diferentes para contestar, segundo o valor da acção.

Não é seguramente por causa do prazo con-cedido para a contestação que a resposta judiciária vem apresentando baixos índices de resposta no campo da celeridade.

Por isso, parece-nos conveniente a previsão de um único prazo.

5.1. A previsão de que a petição deva cons-tar de modelo aprovado por Portaria do Ministro da Justiça apenas se compreende se tal modelo se restringir a aspectos meramente formais (cabeça-lho, identificação das partes, exposição dos factos, pedido,etc.),depoucaounulaimportância,semcolidir com o direito do autor de expor, de forma tecnicamente correcta, a sua fundamentação.

Com efeito, ainda que a causa próxima do pro-cesso experimental a que o anteprojecto se reporta sejam as acções de dívida massificadas, não pode olvidar-se que, de acordo com o seu articulado, nos Tribunais onde tal regime for implantado darão entrada acções dos mais diversos tipos e objectos que nem sempre permitem a submissão a estreitos requisitos de uma petição formatada (v.g. acções de reivindicação, impugnação pauliana, anulação de deliberações sociais, responsabilidade civil, etc.). Mesmo relativamente a acções de dívida, nem to-

das elas são compatíveis com a sujeição obrigatória a uma petição formatada.

6. É louvável a previsão, num diploma experi-mental, da possibilidade de as partes apresentarem peças em conjunto, assim como de colaborarem na selecção da matéria de facto provada e não prova-da.

Ainda assim, a experiência neste campo (Dec. Lei nº 211/91, de 14 de Julho) não augura grandes resultados, parecendo-nos escassas as vantagens que na realidade decorrerão da adopção de tal medida.

7.Quantoàfasedosaneamento,concorda-secom a formulação projectada no art. 9º.

De facto, sem prejuízo da imediata prolação do saneador/sentença, é o juiz que, de acordo com a complexidade da causa, deve optar entre a convo-cação de uma audiência preliminar, a elaboração de base instrutória com imediata marcação de julga-mento ou apenas a marcação de julgamento, sem elaboração de base instrutória.

De positivo extrai-se ainda do preceito a des-necessidade de selecção antecipada da matéria de facto já provada (a especificação), assim como a manutenção do despacho de aperfeiçoamento dos articulados em complemento das diligências que porventura se justifiquem para a sanação de aspec-tos de ordem formal já acautelados no art. 2º.

8. O modo como se encontra redigido o art. 8º parece pressupor que o diploma apenas será apli-cável a acções massificadas, o que, como se disse, é contrariado pelo art. 1º, nº 1, al. a), de acordo com o qual a delimitação da aplicação do processo experi-mental é feita através da identificação de Tribunais, que não da tipologia ou do objecto das acções.

Neste contexto, dificilmente se concebe que, apesar da diversidade de acções que previsivelmen-te ficarão submetidas ao novo regime, o art. 10º preveja o limite máximo de três testemunhas por cada parte, independentemente da natureza, do va-lor ou da complexidade da acção.

Trata-se de um número reduzido, se se tiver em conta, além do mais, que as acções podem inci-dir, como incidem muitas vezes, sobre matéria ex-

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Dez.2006 - Boletim Informativo 121

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tremamente complexa ao nível da matéria de facto, que podem conter diversos pedidos, que pode se-guir-se a via da coligação, etc.

É verdade que a indicação das testemunhas, a apresentar logo com os articulados, pode ser al-terada posteriormente, nos termos do nº 4. Mas, mantendo-se aquele limite máximo, tal pode coli-dir com os interesses das partes.

Posto que dentro dos novos princípios que envolvem o processo experimental o juiz tenha a faculdade de autorizar a ampliação do número de testemunhas, tal fica dependente do seu critério que pode não coincidir com os critérios ou com os interesses das partes.

8.1.Quantoàpossibilidadedeserempresta-dos depoimentos escritos não vemos qualquer ob-jecção. Aliás, essa possibilidade já decorre do art. 5º do Dec. Lei nº 269/98.

9. O art. 11º determina que só haverá lugar a audiência de julgamento quanto a complexidade da causa o justifique, o que também já decorre do art. 9º, nº 2.

Trata-se, contudo, de uma formulação incom-preensível, pois que, como a experiência o revelará, a realização da audiência não fica necessariamente dependente da complexidade da causa.

Com efeito, existindo desacordo em relação a determinados factos e ante a ausência de meios de prova que, com força suficiente, permitam ao juiz assumir no saneador/sentença a prova de tais factos, não poderá, em geral, evitar-se a realização de julgamento, maxime, quando sejam apresentadas testemunhas cujos depoimentos não possam ou não devamobedeceràformaescritaprevistanosnºs5,6 e 7 do art. 10º.

9.1. No que concerne aos adiamentos, cremos que era tempo de erradicar pura e simplesmente a possibilidade da sua verificação, uma vez que a experiência demonstra que a mera previsão dessa possibilidade é frequente causa da sua efectiva con-cretização.

Por isso, independentemente do valor do pro-cesso, deveria estipular-se que a falta de mandatário não é motivo de adiamento, tanto mais que no art. 9º, nº 4, se prevê a realização de diligências com

vista ao seu agendamento por forma a garantir-se a desejável compatibilização de agendas.

9.2. No que respeita aos efeitos decorrentes da suspensão da audiência de julgamento, para efeitos de realização de diligências de instrução por inicia-tiva do juiz, discorda-se da medida que determina a ineficácia da prova anteriormente produzida se acaso a suspensão exceder 30 dias.

Tal medida pode, aliás, ser causa de escusa-da inércia do juiz relativamente ao apuramento da verdade material.

Acresce que entre tais medidas se incluem solicitações formuladas a entidades externas ou, quiçá, a realização de perícias a exigir também a intervenção de terceiros.

Ora, não podendo o juiz dominar todo o me-canismoderespostaàssolicitaçõesousendoinviá-vel a realização da perícia num prazo tão curto, a ineficácia da prova oralmente produzida constitui uma medida gravosa e desproporcionada.

Além disso, é contraditória com outras situa-ções. Com efeito se houver suspensão do julgamen-to para continuação da audiência, por se ter revela-do inviável a sua finalização na data primitiva, tal já se não repercute na ineficácia da prova, apesar de não existir diferença substancial entre ambas as situações.

10. Não existe qualquer objecção a apresentar quantoaonormativodoart.12ºreferenteàelabo-ração da sentença, o qual deixa margem suficiente para o juiz, quando tal se justifique, optar por uma formulação mais complexa.

11. O art. 13º contém uma solução inovadora e que se justifica, na medida em que admite que se aproveite a instauração de um procedimento caute-lar para apreciar, com carácter definitivo, o litígio.

12.Quantoàtramitaçãoelectrónicadopro-cesso, conducente ao objectivo da desmaterializa-ção, nos termos previstos no art. 14º, não tem este CSM elementos que permitam contrariar as virtua-lidades pressupostas na solução para que aponta o Anteprojecto.

Mas como órgão responsável pela gestão dos

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magistrados judiciais, não pode deixar de alertar para o facto de que outras inovações menos com-plexas se têm defrontado com enormes falhas no que concerne à implantação no terreno, a exigirmeios técnicos adequados e recursos humanos de-vidamente habilitados a lidar com os novos instru-mentos e a resolver os problemas que frequente-mente se suscitam.

Assim aconteceu com a informatização dos Tribunais (que durante muito tempo se quedou pela dotação de computadores e de impressoras), com as comunicações electrónicas (que tantos per-calços sofreram), com as teleconferências (que tan-tas vezes fracassam), com os mecanismos de grava-ção da prova (que têm produzido tantas repetições de julgamento) ou com os mecanismos legais que envolveram a reformada acção executiva (e que, de-corridos mais de dois anos sobre o início de vigên-cia, ainda não passaram do papel).

Como já noutras ocasiões este CSM deixou expresso, não se rejeita qualquer inovação tecno-lógica que seja capaz de frutificar ao nível da cele-ridade processual. Mas, para que não se imputem, depois, responsabilidades aos juízes que a este CSM compete gerir, designadamente ante situações de puro apagamento dos registos ou de incapacidade de armazenamento da informação, fica a reserva de que qualquer medida que envolva a substituição do processado físico, em papel, por processado ex-clusivamente informatizado deve ser efectivamente monitorizada por pessoal devidamente apetrecha-do, abandonando a excessiva dose de amadorismo que tem acompanhado anteriores medidas.

13. O art. 15º prevê a existência de acções de formaçãoadequadacomvistaàaplicaçãodopro-cesso experimental.

Trata-se de uma medida imprescindível mas que, tal como está consagrada, se revela insuficien-te.

Com efeito, não se tratando de uma mera medida programática, é necessário que decorra do articulado a obrigatoriedade de os destinatários, designadamente os juízes e os oficiais de justiça, se sujeitaremàsadequadasacçõesdeformação.

Com efeito, a aplicação do processo experi-

mental, com as novas regras e novos princípios, exige a adesão do universo de destinatários, para o que se revela imprescindível a presença em acções de formação que envolvam a explicação do regime eaexposiçãodaquiloquepoderãoconstituir“boaspráticas”.

Mais especificamente no que respeita aos juí-zes, não decorre do EMJ ou sequer da LOCEJ a obrigatoriedade de inscrição em acções de forma-ção permanente, apenas estando prevista para a for-mação complementar, ao fim de um certo período de actividade como juiz efectivo.

Nestascircunstâncias,maisdoquedeixaraocritério de cada um a frequência de determinadas acçõesde formação, é importantequeàsmesmasseja dado cunho obrigatório, conferindo a este CSM os poderes necessários relacionados tanto com a indicação das acções como com a identificação dosjuízesqueàsmesmasdevamobrigatoriamentecomparecer.

Para o efeito necessário se torna prever no or-çamento do CSM as necessárias verbas para fazer faceàsajudasdecustoedespesasdedeslocaçãoine-rentes.

III – Outras sugestões:Visando fundamentalmente acções massifica-

das, não vemos razões plausíveis que impeçam a sujeição da respectiva tributação a regras diversas daquelas que vigoram para os restantes litígios.

Com efeito, os Tribunais, principalmente os dos grandes centros urbanos, são enxameados com pretensões de natureza pecuniária a que subjaz, com muita frequência, uma opção pela concessão indiscriminada ou imponderada de crédito a pes-soas que não apresentam as necessárias garantias patrimoniais.

Tal situação é frequentemente o resultado de uma opção em que, a par da assunção de uma certa margem de risco (compensada, porventura, com o agravamento das condições a que acabam por sujei-tar-se os que cumprem), se parte do pressuposto de queoEstadodevegarantir,semlimitesea“custoscontrolados”, um sistemade cobrançadedívidasde particulares.

Ora, para evitar o recurso abusivo aos Tribu-

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Dez.2006 - Boletim Informativo 123

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nais, com isso sobrecarregando financeiramente o Estado e, acima de tudo, prejudicando a atendibi-lidade de outras pretensões encabeçadas por uten-tes não habituais, cremos que se impunha, como medida acessória e também experimental, que as custas das acções massificadas fossem aproximadas do custo real que implica a mobilização dos recur-sos judiciários, sujeitando o autor ao pagamento, através da taxa de justiça inicial, de metade da taxa de justiça final, sendo a parte restante adiantada através da taxa de justiça subsequente.

Sem prejuízo do reembolso dessa taxa, em caso devencimento,àcustadapartevencida,oreferidoadiantamento também poderia funcionar preven-tivamentecomotravãoàconcessãoindiscriminadade crédito e, em momento posterior, como factor a ponderar pelo credor em face das perspectivas reais de cobrança coerciva do crédito.

IV – Considerações finais:Apesar dos esforços desenvolvidos no sentido

daresoluçãodoproblemadalitigânciaemmassa,através de medidas avulsas que já foram aprovadas e de outras que, como a presente, se encontram em discussão, é bom que se diga que, na sua maior par-te, apenas tenderão a resolver o problema da acção declarativa.

Foi este, por exemplo, o resultado do regime aprovadopeloDec.Leinº269/98 relativo às in-junçõeseàacçãodeclarativacomprocessoespecialconexo. De modo que fica ainda por resolver o blo-queio verdadeiramente dramático da acção execu-tiva, cuja reforma foi lançada para o terreno sem as estruturas legais, logísticas e humanas que se tor-navam necessárias ao seu êxito tão pretendido.

Envolvendo a acção executiva o ingresso na esfera patrimonial do devedor, muito pouco daqui-lo que possa ser experimentado com o regime em análisepodeaproveitaràacçãoexecutiva.

Mais concretamente, não é com puras medi-das legislativas que se conseguem melhores resul-tados na acção executiva, exigindo-se, isso sim, in-vestimentos de ordem material capazes de atribuir eficácia aos mecanismos de cobrança coerciva, seja a implantação no terreno de depósitos públicos para onde possam ser encaminhados bens penhorados, seja o apetrechamento das secretarias e das conser-vatórias de meios informáticos capazes de canalizar a informação recíproca.

Além disso, é premente que o mesmo exe-cutivo que formula regras de aplicação universal as faça impor a toda uma série de entidades cuja colaboração se mostra imprescindível para a eficá-cia da acção executiva, obstando, por exemplo, àinjustificada invocação de certo tipo de sigilos ou obrigando, em termos inequívocos, à adopçãodedeterminados comportamentos.

V - Em conclusão:Comosriscosinerentesàintroduçãodenovi-

dades como aquelas que decorrem do Anteprojec-to, o Conselho Superior da Magistratura entende dar parecer globalmente positivo, na pressuposição de que apenas são abarcados os litígios de massas em Tribunais a identificar oportunamente

Sem embargo, tendo em vista melhorar o ar-ticulado, para além dos aspectos assinalados, cre-mos que é imprescindível chamar para a discussão na especialidade elementos de cada um dos grupos profissionais forenses, maxime, de magistrados ju-diciais, por forma a garantir que, a partir de dados revelados pela experiência, com projecções no fu-turo, sejam adoptadas as soluções que se revelem mais ajustadas.

Lisboa, 10-1-06

O Vogal do Conselho Superior da Magistratura(António Santos Abrantes Geraldes)

Conselho Superior da Magistratura

124 Boletim Informativo - Dez.2006

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Considerações gerais:O diploma em causa pretende consagrar

no ordenamento jurídico português a media-ção penal por forma a dar cumprimento à De-cisão-Quadro do Conselho da Europa de 15 de Março de 2001 relativa ao estatuto da vítima em processo penal, publicada no Jornal Oficial das Comunidades Europeias de 2001.03.22 que no seu art.º 10º estipula: “cada Estado-Mem-bro deve esforçar-se por promover a mediação nos processos penais relativos a infracções que considere adequadas para este tipo de medida (nº1) e deve assegurar que possam ser tidos em conta quaisquer acordos entre a vítima e o au-tor da infracção, obtidos através da mediação em processos penais (nº2).

No art.º 17º da mesma Decisão-Quadro determina-se que os Estados-Membros devem pôr em vigor, até 22 de Março de 2006, as dis-posições legais regulamentares e administra-tivas necessárias para darem cumprimento à referida decisão quadro, na parte respeitante à mediação penal no âmbito do processo penal.

Visa pois o anteprojecto de diploma em análise dar cumprimento a uma obrigação do Estado Português enquanto membro da UE que, a ser implementada com as estruturas necessárias, trará seguramente vantagens, em primeira linha para as vítimas, e que contri-buirá para descongestionar o sistema tradi-cional de justiça, relativamente à pequena cri-minalidade, permitindo-lhe mais dedicação à criminalidade mais grave.

Contudo, o diploma, tal como está, levan-ta-me algumas dúvidas e reservas a começar logo pelo seu art.º 2º, pela abrangência quan-to aos crimes públicos, isto é, aqueles que não dependem de queixa.

Visando essencialmente a mediação colo-car o agente do crime face à vítima, por forma a que aquele tome consciência do mal feito, re-pare os danos e se ressocialize mais facilmente através de medidas não detentivas, parece-me

ser duvidoso que, no caso dos crimes públicos, se possa usar da mediação – é que enquanto nos crimes semi-públicos o processo só se ini-cia com a queixa e antes da decisão final o quei-xoso pode desistir dela com o consentimento do arguido, o que se adequa à mediação, tal já não é possível nos crimes públicos em que a vontade da vítima é inoperante e irrelevante – uma vez que o que está fundamentalmente em causa e aquilo que o Estado visa acautelar através do exercício da acção penal é o interes-se público e esse dificilmente pode ser objecto de mediação.

Aliás, o próprio conceito da mediação tal como está no art.º 3º parece ter em vista pre-cisamente os crimes que dependem de queixa uma vez que visa essencialmente a aproxima-ção entre o arguido e o ofendido (sublinhado meu).

De todo o modo, a manter-se a possibili-dade da mediação relativamente a tais crimes não se justifica, no meu entender, as restrições previstas no nº2 do art.º 2º, nem no nº2 do art.º 6º, para os crimes semi-públicos, isto é, não ser possível a mediação quando o ofendido for menor de 16 anos ou pessoa colectiva ou quando se trate de processo por crime contra a liberdade ou contra a autodeterminação se-xual. A recomendação nºR (99) 19 do Comité de Ministros do Conselho da Europa aos Esta-dos-Membros sobre a mediação em processo penal, adoptada pelo Comité de Ministros em 15 de Setembro de 1999 traçou as directrizes a que deve obedecer a mediação penal e não estabelece restrições, nem em função da idade dos ofendidos nem em função da natureza dos crimes ou do agente, prevendo antes, relati-vamente aos menores, o direito de assistência dos progenitores. Ora, precisamente nos cri-mes semi-públicos contra a autodeterminação sexual em que os ofendidos são menores, jus-tifica-se plenamente o uso da mediação pois a mesma pode possibilitar a aceitação por parte

Comentários ao Anteprojecto de diploma sobre Mediação Penal

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 125

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do agente do crime de medidas de tratamen-to médico ou psicológico, tão necessárias, em muitos dos casos, com possibilidade de terem mais êxito se forem aplicadas com a concor-dância do agente que não pela via do julga-mento, sempre mais difíceis de aplicar.

Por outro lado, ao contrário do que acon-tece actualmente com a suspensão provisória do processo cuja aplicação depende da concor-dância do juiz de instrução (art.º 281º, nº1 do CPP) na mediação, resultando acordo entre o ar- guido e o ofendido é o mesmo transmitido ao M.º Público que suspende provisoriamente o processo e determina a condição de o arguido cumprir tal acordo – art. 3º, nº3 e art.º 4º, nº1.

Ora, a atribuição ao M.º Público da com-petência para a suspensão do processo e a im-posição ao arguido de injunções e regras de conduta, sem a intervenção de um juiz, no âmbito do CPP foi julgada inconstitucional por violação dos art.ºs 206º e 32º, nº4 da Cons-tituição da República Portuguesa (Ac. nº7/87 de 9/02).

Será que no caso da mediação relativa-mente a crimes públicos é possível a aplicação de injunções e regras de conduta ao arguido, sem a intervenção do juiz e sem que tal repre-sente a violação do princípio da legalidade?

É que, na realização da justiça criminal pelos Tribunais, a aplicação de uma pena ou medida de segurança ao agente pressupõe sempre que se verifiquem os pressupostos da sua aplicação e a intervenção do juiz.

E será que a exigência dessas regras de conduta ou medidas análogas às de natureza penal e que as substituem, quando estejam em causa crimes particulares e semi-públicos é nos mesmos termos, legal sem a intervenção de um juiz?

Não teremos aqui o mesmo problema de inconstitucionalidade declarada já relativa-mente à suspensão provisória do processo?

Quanto aos crimes cujo procedimento de-

pende de queixa (art.º 6º) importa também fazer algumas observações:

Desde logo, afigura-se que só tais crimes e bem assim aqueles que dependem de acusação par-ticular deveriam ser objecto da mediação. Tal como está a norma, é duvidoso que nela se incluam tam-bém os crimes que dependam de acusação particu-lar só pelo facto de também eles serem dependentes de queixa. Repare-se que o próprio C. Penal, tem uma norma expressa no art.º 117º para estender a aplicaçãodasdisposiçõesreferentesàtitularidadedodireitodequeixa,àextinção,àrenúnciaeàde-sistência da queixa dos crimes dela dependentes, aos crimes cujo procedimento criminal depender de acusação particular, o que não acontece no caso da mediação.

Deverá, pois, ser feita uma menção expressa nesse sentido, quanto mais não seja na epígrafe do preceito.

Ao contrário do que está previsto no nº2 para os crimes públicos, o art.º 6º não prevê, no caso dos crimes semi-públicos, que seja feito o inquérito – recebida a queixa, o M.º Público remete o pro-cesso para mediação, disso dando conhecimento ao arguido e ao ofendido. Nem se faz depender aqui a mediação de uma ponderação prévia por parte do M.º Público, como acontece nos crimes públicos, quantoàsatisfaçãodasexigênciasdeprevenção.

A remessa para mediação surge assim como obrigatória neste tipo de crimes – basta que se tra-te de crime punível com prisão não superior a cin-co anos ou com sanção diferente e desde que (nº2 do mesmo art.º 6º) o ofendido não seja menor de 16 anos, não seja pessoa colectiva, não se trate de crime contra a liberdade ou contra a autodetermi-nação sexual.

Contudo, para que o processo possa ser reme-tido para a mediação (nº1 do art.º 6º) o M.º Públi-co tem de constituir como arguido aquele contra quem é formulada a queixa crime, dando-lhe a conhecer a mesma, o que, em muitos casos, pode vir a comprometer de forma irremediável qualquer investigação1. É que, não sendo obtido o consen-

1 Em muitos casos o M.º Público tem primeiro a preocupação de investigar e recolher provas, até mesmo para preservação da pessoa do arguido, sem dar a conhecer a este o conteúdo da queixa que contra ele foi formulada e daí que a constituição como arguido, não seja um acto obrigatório no início do inquérito – cfr. art.ºs 57º e 58º do CPP.

Conselho Superior da Magistratura

126 Boletim Informativo - Dez.2006

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timento para a mediação por parte do mediador, nos termos do nº6 do art.º 2º, aplicável por força do nº3 do art.º 6º, o processo terá de prosseguir com a realização do inquérito, isto é da recolha de provas que o arguido pode muito bem já ter ocultado ou dissimulado.

Considero assim que a remessa da queixa para a mediação sem a realização prévia do inquérito e sem uma ponderação prévia por parte do M.º Pú-blico, titular do exercício da acção penal, nas con-dições previstas no art.º 6º, pode vir a ter efeitos muito perversos para a investigação criminal e para as exigências da prevenção que se pretendem acau-telar, tanto mais que o processo da mediação, como não podia deixar de ser é confidencial e as declara-ções nele prestadas pelos intervenientes não podem depois ser usadas no processo.

No caso de haver acordo, não está prevista, nestes casos, qualquer fiscalização para o seu cum-primento.

Se o acordo incluir deveres por parte do ar-guido o cumprimento desses deveres não pode pro-longar-se por mais de seis meses – nº4 do art.º 6º e decorrido tal prazo ou aquele que for fixado, o ofendido pode renovar a queixa no prazo de um mês, caso o acordo não tenha sido cumprido, sendo então reaberto o inquérito – nº6 do art.º 6º.

Com isto tudo, um arguido que nunca tenha estado interessado na mediação mas que a ela ade-riu para ganhar tempo, pôde ocultar as provas que muito bem quis enquanto os prazos da prescrição, que se interrompeu com a constituição como ar-guido mas logo começou a correr, não sofrem qual-quer suspensão, posto que não está previsto nestes casos o disposto no art.º 282º do CPP, como acon-tece no caso dos crimes públicos, no nº2 do art.º 4º do diploma.

Considero pois, face ao exposto, que a media-ção penal, pelo menos para já, nesta fase experi-mental, devia apenas ser prevista para os crimes cujo procedimento criminal depender de queixa ou de acusação particular e a sua tramitação deve-ria ser feita nos termos previstos nos art.ºs 2º a 5º do anteprojecto.

No que respeita aos mediadores uma obser-vação apenas:

- não está prevista, nem por remissão para o CPP, a substituição do mediador ou o seu pedido de“escusa”oude“recusa”nassituaçõesemque,por razões de ordem familiar, parentesco, amizade, ou outras (por exemplo ter conhecimento pessoal dos factos e poder vir a ser arrolado como testemu-nha ou no caso de ser advogado, já ter sido advoga-do de uma das partes, etc.) esteja de alguma forma impedido de intervir como mediador.

Assim e em conclusão:1. A mediação penal, pelo menos para já,

nesta fase experimental, deverá ser prevista apenas para os crimes cujo procedimento criminal depen-der de queixa ou de acusação particular, o que dá cumprimentoàDecisão-Quadro,easuatramita-ção deverá ser feita nos termos previstos nos art.ºs 2º a 5º do anteprojecto, por considerar duvidosa a sua eficácia relativamente aos crimes públicos que, não dependendo de queixa, a vontade da vítima é inoperante e irrelevante, e em que está fundamen-talmente em causa, no exercício da acção penal, o interesse público que dificilmente pode ser objecto de mediação;

2. A manter-se a previsão dos art.ºs 2º e 6º, tal como está, não se justifica que seja excluída a media- ção quando o ofendido for menor de 16 anos ou quan- do se trate de pessoa colectiva ou de crime contra a liberdade ou contra a autodeterminação sexual;

3. Deverá ser salvaguardada a recolha e a pre-servação de provas e a possibilidade da suspensão da prescrição no caso dos crimes semi-públicos e particulares enquanto decorrer a mediação, uma vez que antes dela não se inicia o inquérito;

4. O acordo alcançado na mediação deverá ter aconcordânciadojuiz,semprequeestejamemcau-sa crimes públicos e sempre que, no caso dos crimes semi-públicos ou particulares, do acordo resulte o cumprimento pelo arguido de injunções de condu-taoumedidasanálogasàsdenaturezapenal;

5. Deverá ser prevista a possibilidade de subs-tituição do mediador em caso de impedimento ou de pedido de escusa ou de recusa do mesmo.

Lisboa, 2006/03/01

Maria José Machado(Vogal do Distrito Judicial de Lisboa)

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 127

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1. Introdução1.1.- O divórcio em Portugal, no quadro

de uma realidade familiar em transformação Os movimentos migratórios comunitários e

internacionais, sentidos em Portugal, têm contri-buído para a introdução de novas configurações no nosso tecido familiar.

Nessecontexto,àsemelhançadoquesucedecom os demais países da União Europeia, os casa-mentos «internacionais» também passaram a fazer parte da realidade social portuguesa.

Veja-se, por exemplo, que, segundo os dados estatísticos nacionais1, dos 53 735 casamentos ce-lebrados em Portugal em 2003, cerca de 3 977 fo-ram casamentos «internacionais», ou seja, em que um ou ambos os cônjuges não possuem nacionali-dade portuguesa.

Em 386 dessas uniões, um dos elementos tem nacionalidade portuguesa e o outro é nacional de um dos países da União Europeia (essencialmente Espanha, França, Alemanha e Reino Unido).

Num outro plano, o divórcio tornou-se co-mum na sociedade portuguesa, registando-se uma preferência muito significativa pela via do mútuo consentimento, em detrimento da modalidade li-tigiosa.

LIVRO VERDE SOBRE A LEI APLICÁVELE A COMPETÊNCIA EM MATÉRIA DE DIVÓRCIO

(PARECER remetido ao GRIECpor despacho do Exmº Vice-Presidente de 28/9/2005)

Helena Isabel Dias Bolieiro, Juíza de DireitoDocente no Centro de Estudos Judiciários, Área do Direito da Família e das Crianças

Por exemplo, dados estatísticos relativos ao ano de 20022 revelam que, dos 27 960 divórcios então decretados, 25 418 foram por mútuo con-sentimento, 2 512 através da via litigiosa e 30 resultaram da conversão da separação de pessoas e bens.3 Ademais, 252 desses divórcios respeitaram a cidadãos residentes no estrangeiro.

Podemos, pois, concluir que a realidade só-cio-familiar portuguesa partilha das componentes «internacionais» assinaladas no Livro Verde sobre a lei aplicável e a competência em matéria de di-vórcio4, sendo neste quadro que o direito de confli-tos, o direito da competência internacional e bem assim o sistema de reconhecimento das decisões estrangeiras assumem particular importância emtais temáticas do direito da família.

1.2.- O divórcio, a separação e a anulação do casamento no direito internacional privado português

O direito internacional privado português relativoàsrelaçõesdefamíliaatribuiprimaziaaoprincípio da aplicabilidade da lei pessoal (artigo 25º do Código Civil).5 6

É o que sucede com o casamento (no que res-peita aos requisitos de fundo - capacidade e consen-

1 - Fonte: Instituto Nacional de Estatística. Cfr. <http:www.ine.pt> [referência de 10 de Setembro de 2005].2 - Fonte: Instituto Nacional de Estatística. Cfr. <http:www.ine.pt> [referência de 10 de Setembro de 2005]. 3 - Não se pode deixar de assinalar que o número superior de divórcios registado em 2002, quando comparado com os anos precedentes (19 302 em 2000

e 19 044 em 2001), foi certamente resultado das alterações introduzidas no divórcio por mútuo consentimento, através do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de Outubro, que vieram simplificar esta modalidade de dissolução do casamento.

4 - Livro Verde, p.3.5 - Cfr. Correia, António Ferrer, «Direito Internacional Privado Matrimonial», in Temas de Direito Comercial e Direito Internacional Privado, Coimbra: Livraria

Almedina, 1989, pp.331-333.6 -PortugalaindaseencontravinculadoàsConvençõesdaHaiasobreosconflitosdeleisemmatériadecasamentoerelativaaosconflitosdeleisedejurisdi-

ções em matéria de divórcio e de separação de pessoas, ambas celebradas em 12-06-1902. Contudo, é reduzido o interesse prático destes instrumentos, em virtudedoescassonúmerodeEstadosqueaindasemantêmvinculadosaosmesmos(Alemanha,Itália,PortugaleRoménia,quantoàprimeira,ePortugaleRoménia,noquerespeitaàsegunda).Aliás,conformesustentaLimaPinheiro,PortugaldeviadenunciaraquelasegundaConvenção,dadoquealinhade desfavorecimento do divórcio que a caracteriza não se coaduna com as concepções subjacentes ao actual sistema jurídico português. Cfr. Pinheiro, Luís de Lima, Direito Internacional Privado,2ªed.,Coimbra:Almedina,2005,vol.II:DireitodeConflitos–ParteEspecial,p.301.

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128 Boletim Informativo - Dez.2006

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timento7), os seus efeitos pessoais e patrimoniais e a modificação e dissolução do vínculo conjugal.

Em concreto, segundo o disposto no artigo 52º do Código Civil, aplicável por remissão do ar-tigo 55º, n.º1, do mesmo diploma, o divórcio e a separação de pessoas e bens são reguladas pela lei da nacionalidade comum dos cônjuges. Só no caso de estes não possuírem a mesma nacionalidade, é que será aplicável a lei da sua residência habitual comum. Por fim, na falta de residência habitual comum, aplicar-se-á a lei do país com a qual a vida familiar se ache mais estreitamente conexa.

A lei estabelece, assim, uma hierarquização dos factores de conexão. Por outro lado, tais fac-tores são móveis, ou seja, para a sua aplicação será, em princípio, relevante o momento da audiência de discussão e julgamento.8 Contudo, a mobilida-de da conexão não se verifica em relação aos factos que constituem fundamento do divórcio ou da se-paração, pois neste caso, ainda que ocorra mudança daleicompetente,sóseatenderáàleiaplicávelaotempo da sua verificação (artigo 55º, n.º2, do Có-digo Civil).9

Noquetangeàanulaçãodocasamento,aco-nexãoremete-nosparaaleiaplicávelàconstitui-ção da relação matrimonial: lei da nacionalidade de cada um dos cônjuges, quando estiver em cau-sa a violação das regras relativas aos requisitos de fundo (capacidade e consentimento)10; e, quando a infracção disser respeito a requisitos de forma, a lei do Estado em que o acto foi celebrado, salvo nas situações excepcionais a que se refere o artigo 51º do Código Civil.11

1.3.- O quadro comunitário em matéria de divórcio, separação e anulação do casamen-to – a competência judiciária internacional e o reconhecimento das decisões

O Regulamento (CE) n.º 2201/2003, do Con-selho, de 27 de Novembro de 2003, («novo Regu-lamento Bruxelas II» ou «Regulamento Bruxelas II (bis)»), veio substituir o Regulamento (CE) n.º 1347/2000, do Conselho, e entrou em vigor em 1 de Agosto de 2004, sendo aplicável a partir do dia 1 de Março de 2005.

Este novo diploma regula a competência (in-ternacional), o reconhecimento e a execução de de-cisões em matéria de divórcio, separação e anulação do casamento, bem como em matéria de responsa-bilidades parentais.

Ficam fora do alcance deste instrumento co-munitário questões como a culpa dos cônjuges, a indemnização por danos não patrimoniais emer-gentes da dissolução do casamento e os alimentos.

Quanto a este último aspecto, deverá ter-se em conta, ao nível da legislação comunitária, a re-gra de competência consagrada no artigo 5º, n.º2, do Regulamento n.º44/2001, do Conselho, de 22 deDezembrode2000,relativoàcompetênciaju-diciária,aoreconhecimentoeàexecuçãodedeci-sões, em matéria civil e comercial.12

Na parte que importa para a presente aprecia-ção, o Regulamento Bruxelas II (bis) retomou qua-se na íntegra as disposições que constavam do seu antecessor, estabelecendo nos seus artigos 3º a 7º asregrasrelativasàcompetênciainternacionaldostribunais13 dos Estados-Membros (com excepção

7 - Quanto aos requisitos de forma, a lei aplicável é a do Estado em que o acto é celebrado. Cfr. artigo 50º do Código Civil. O artigo 51º do mesmo diploma enuncia os desvios a essa regra do locus regit actum.

8 - Coelho, Francisco Pereira, e Oliveira, Guilherme de, Curso de Direito da Família,3ªed.,Coimbra:CoimbraEditora,2003,vol.I,pp.784-785.9 - Importa ressalvar da solução excepcional prescrita no artigo 55º, n.º2, do Código Civil, as chamadas causas objectivas de divórcio, enunciadas no artigo 1781ºdomesmodiploma,emrelaçãoàsquaisodivórcionãofuncionacomosançãoparaocomportamentodeumdoscônjuges,passíveldecensura,masantescomoremédio.Assim,tem-seentendidoquesealeinovaintroduzirumacausaobjectivadesconhecidaàluzdaleiantiga,odivórciopodefunda-mentar-se nessa novo fundamento. Neste sentido, cfr. Coelho, Francisco Pereira, e Oliveira, Guilherme de, op. cit., p.785, e Sousa, Miguel Teixeira de, O Regime Jurídico do Divórcio, Coimbra: Livraria Almedina, 1991, p.16.

10 - Artigo 49º do Código Civil.11 - Artigo 50º do Código Civil.12 - Segundo este normativo, em matéria de obrigação alimentar objecto de pedido acessório de acção sobre o estado das pessoas - como é o caso da acção de

divórcio -, uma pessoa com domicílio no território de um Estado-Membro pode ser demandada noutro Estado-Membro, perante o tribunal competente segundo a lei do foro, salvo se esta competência for unicamente fundada na nacionalidade de uma das partes.

13 - Por «Tribunal» deverá entender-se todas as autoridades que nos Estados-Membros têm competência nas matérias abrangidas pelo Regulamento (artigo 2º, n.º1.), o que no caso português abrange as conservatórias do registo civil que, segundo o regime estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de Outubro, têm competência exclusiva para decretar o divórcio por mútuo consentimento.

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 129

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da Dinamarca), em matéria de divórcio, separação e anulação do casamento.

Os critérios determinativos da competência internacional neste domínio estão elencados no artigo 3º do diploma: residência habitual dos côn-juges; última residência habitual dos cônjuges, na medida em que um deles ainda aí resida; residência habitual do requerido; em caso de pedido conjun-to, a residência habitual de qualquer dos cônju-ges; residência habitual do requerente, se este aí tiver residido pelo menos no ano imediatamente anterior à data do pedido; a residência habitualdo requerente, se este aí tiver residido pelo menos nosseismesesimediatamenteanterioresàdatadopedido, quer seja nacional do Estado-Membro em questão quer, no caso do Reino Unido e da Irlanda, aí tenha o seu «domicílio»; e nacionalidade de am-bos os cônjuges ou, no caso do Reino Unido e da Irlanda, «domicílio» comum.

Estes critérios são objectivos, alternativos e exclusivos.14

Objectivos porque sujeitos a verificação por parte do tribunal, o qual, não sendo competente, deverá declarar oficiosamente a sua incompetência nos termos do disposto no artigo 17º do diploma comunitário.

Por outro lado, estão enunciados de forma al-ternativa, não havendo qualquer relação de hierar-quia entre eles, podendo o pleito transnacional ser instaurado em qualquer um dos tribunais elenca-dos no artigo 3º, sem que deva obedecer-se a uma ordem de precedência.

Assim, no caso de instauração de mais do que um processo de divórcio, separação ou anulação do casamento, em que as partes sejam as mesmas, a

precedência entre os tribunais dos vários Estados---Membros igualmente competentes, à luzdodi-ploma em análise, assentará no critério de natureza cronológica prior tempore, potior jure, concretizado através do funcionamento do mecanismo da litis-pendência.15

Por último, os critérios têm natureza exclu-siva uma vez que, tal como resulta do preceituado no artigo 6º do Regulamento, a lista consagrada no mencionado artigo 2º é fechada e não admite o recurso a outros factores.

Não obstante se trate de regras que têm por base a existência de um vínculo efectivo que conec-ta o interessado ao Estado-Membro com competên-cia16, certo é que a natureza alternativa dos critérios e o seu amplo alcance, a que acresce, no caso dos «conflitos extracomunitários», a extensão resultan-te do regime das competências residuais previsto no artigo 7º do Regulamento, são susceptíveis de, na prática, fomentar o forum shopping.17 18

Com efeito, existem diferenças significativas entre os regimes jurídicos do divórcio de cada Es-tado-Membro19,querquantoàsmodalidadeseàscausas, quer no que concerne aos respectivos pro-cessos, o que naturalmente leva a que a apetência doscônjugesemrelaçãoàaplicaçãodeumoudeoutro sistema varie consoante a posição que cada um assume no seu conflito matrimonial e os inte-resses individuais que visa prosseguir.

Se a isto acrescentarmos a diversidade regis-tada entre as regras de conflitos vigentes nos vá-rios Estados-Membros, cujos tribunais podem ser igualmentecompetentesàluzdasnormasestatu-ídas no artigo 3º do Regulamento, fica aberto o caminho para que ao mesmo caso sejam aplicáveis

14- Cfr. Borrás, Alegría, Relatório explicativo da Convenção, elaborada com base no artigo K.3 do Tratado da União Europeia, relativa à competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria matrimonial (texto aprovado pelo Conselho em 28 de Maio de 1998), in JO C 221, 16-7-1998, pp.27-64. De salientar que esta Convenção de 1998 esteve na origem do Regulamento Bruxelas II e do que lhe sucedeu, agora em vigor, pelo que as considerações tecidas no relatório mantêm plena actualidade, constituindo um importante elemento de estudo neste domínio.

15- Cfr. artigo 19º do Regulamento. 16- No único caso em que a vontade das partes é expressamente admitida, mediante pedido conjunto dos cônjuges, ela deve, ainda assim, estar associada ao

factor residência habitual de um deles.17- Utilizando as palavras de Ferrer Correia, o forum shoppingconsistena«bemconhecidatendênciadaspessoasparasedirigiremàquelajurisdiçãonacional,

de entre as que se julguem competentes para conhecer do caso, cuja decisão se lhes antolhe mais favorável». Cfr. Correia, António Ferrer, Direito Inter-nacional Privado - Alguns problemas. Coimbra: 1985 [separata dos volumes LI, LII, LIII, LIV do BFDUC] p.239.nflitos – Parte Geral. ncem suscitar a necessidade de ser , p.112, nota 5.

18- Cfr. Considerando 12. do Regulamento (CE) n.º 1347/2000 do Conselho, de 29 de Maio de 2000, que continua a ter plena actualidade no contexto do diploma agora em vigor.

19- Malta é o único Estado-Membro que não admite o divórcio, reconhecendo, contudo, as decisões estrangeiras de divórcio. Cfr. p. 4 do Anexo ao Livro Verde ora em apreciação.

Conselho Superior da Magistratura

130 Boletim Informativo - Dez.2006

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diferentes regimes substantivos, que variarão em função das normas de conflitos que cada um dos Estados adoptar.

Bastará, pois, à parte interessada escolher oregime que melhor lhe aprouver e procurar o tri-bunal competente que, segundo as regras de con-flitos internas, o aplique.

Neste contexto, parece claro que a pluralida-de de tribunais internacionalmente competentes, associadaàmultiplicidadederegimesreguladoresdo divórcio, aplicáveis consoante a regra de confli-tos vigente nos Estados-Membros a que pertencem taisforoscompetentes,eàfacilidadedereconheci-mento das decisões estrangeiras, também garanti-da pelas regras comunitárias, constitui uma com-binação de factores que fomenta necessariamente o forum shopping.20

O forum shopping assim proporcionado pode contribuir para a criação de um sistema que fa-vorece os cidadãos que dispõem de melhores con-dições económicas21, oque, emúltima instância,redundaránumainjustadiferenciaçãonoacessoàjustiça.

A isto acresce que o sistema, decorrente do Regulamento, segundo o qual o foro de entre os competentes que for primeiramente accionado é o que passará a deter competência internacional exclusiva sobre a questão, potencia a «corrida aos tribunais» por parte dos cônjuges, circunstânciaque poderá ser evitada se houver uniformidade das regras de conflitos dos vários Estados-Membros.

Ora, se neste domínio houver uma uniformi-

zação comunitária das regras de conflitos, essa cor-rida deixará de fazer sentido uma vez que, qualquer que seja o tribunal (internacionalmente competen-te) procurado pelos cônjuges, o direito substantivo aplicável será sempre o mesmo (do foro ou outro), pois os critérios de conexão que o vão eleger serão iguais em todos os Estados-Membros.

Com esta uniformização, o forum shopping fi-carácircunscritoàprocura,deentreasvárias ju-risdições internacionalmente competentes, daque-la que satisfizer mais eficazmente a pretensão da parte (para o que o factor celeridade processual se revelapreponderante),nãoseestendendoàescolha(por via indirecta, mediante os expedientes acima enunciados) da lei substantiva que irá regular o pleito.

Esta opção é mais transparente, justa e serve os critérios de igualdade e não discriminação que devem caracterizar a administração da justiça.

Afigura-se-nos, pois, que o sistema criado pe-los Regulamentos Bruxelas II e Bruxelas II (bis) no domínio da competência internacional e do reco-nhecimento das decisões de divórcio, separação ou anulação do casamento, deverá ser complementado com a uniformização das regras de conflitos aplicá-veis a essas matérias.

2.- O Livro Verde 2.1.- IntroduçãoTal como se pode ler no documento, o Livro

Verde sobre a lei aplicável e a competência em matéria de divórcio, apresentado pela Comissão

20- Cfr. Ramos, Rui Manuel Moura, Previsão Normativa e Modelação Judicial nas Convenções Comunitárias, Coimbra: Coimbra Editora, 1999 [separata de: O Direito Comunitário e a Construção Europeia, Studia Iuridica, 38, Colloquia, 1], pp.97-98. A propósito da Convenção de Bruxelas de 27 de Setembro de 1968 e da Convenção de Roma de 19 de Junho de 1980, no domínio dos contratos, este autor salienta que «(…) a pluralidade de critérios de competên-cia consentidos naquele primeiro texto seria inexoravelmente uma fonte de forum shopping em matéria contratual se a diversidade das regras de conflitos estaduais se mantivesse – o que tornava recomendável a sua unificação, lograda por aquele texto (…)».

21- Cfr. Dethloff, Nina, «Arguments for the Unification and Harmonization of Family Law in Europe», in Boele-Woelki, Katharina (ed.), Perspectives for the Unification and Harmonization of Family Law in Europe, Antwerp (etc.): Intersentia, 2003, p.51: «Generaly – even after the unification of the law of jurisdiction – the courts of several states have international jurisdiction. Parties have the ability to choose the forum which applies the substantive law most in their favour. This gives an advantage to the economically stronger party, who is more easily able to afford in-depth legal advice regarding the conflict-of-law rules and the substantive laws of the available fora, as well as the aditional costs of a legal dispute». De referir que esta autora sustenta que a solução desejável para os problemas emergentes das relações familiares transnacionais passará pela harmonização do direito da família, quer ao nível da União Europeia, quer em sede do Conselho da Europa, sendo a unificação das regras de conflitos insuficiente para a resolução de todas as dificuldades que se podem fazem sentir neste domínio. Cfr. também Jänterä-Jareborg, Maarit, «Unification of International Family Law in Europe – A Critical Perspective», in Boele-Woelki, Katharina (ed.), Perspectives for the Unification and Harmonization of Family Law in Europe, Antwerp (etc.): Intersentia, 2003, p.210. Cfr., ainda, González, Javier Carrascosa, «Cuestiones Polémicas en el Regulamento 1247/2000», inCaravaca,CalvoA.L.,eÁngel,J.L.Iriarte(eds.),Mundialización y Familia, Madrid: Editorial Colex, 2001, pp.229-231. Referindo-se ao Regulamento n.º 1347/2000 (que nesta parte em pouco foi alterado pelo seu sucessor), este autor assinala que o diploma favorece a «falsa internacionalização de casos internos», na medida em que fomenta a fraude por parte de certos grupos de pessoas com forte capacidade económica, as quais poderão forçar as respectivas regras de competência. Dado que não existem soluções uniformes de direito aplicável ao divórcio, torna-se inevitável que certas pessoas «provoquem» a competência de tribunais de países em que se obtém o divórcio com facilidade, em detrimento de países onde o mesmo é lento e dispendioso. Op. cit., p.230.

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das Comunidades Europeias em 14-3-2005, visa lançar uma vasta consulta aos meios interessados sobre as questões da lei aplicável e da competência em matéria matrimonial.

Este Livro Verde inscreve-se nos objectivos traçados no Plano de Acção de Viena de 1998, sobre a melhor forma de aplicar as disposições do TratadodeAmesterdãorelativasàcriaçãodeumespaço de liberdade, de segurança e de justiça, to-mando-se medidas destinadas a analisar a possibi-lidade de elaborar um instrumento jurídico sobre a lei aplicável ao divórcio (Roma III), a fim de evitar o forum shopping.22

Importa, contudo, assinalar que o Livro Verde foimaisalém,poisnãoselimitouàtemáticarela-tivaàsregrasdeconflitosemmatériadedivórcio,estendendo-se também a aspectos que se prendem com a competência judiciária internacional em matéria de divórcio, separação e anulação do ca-samento, designadamente no que concerne a uma possível revisão dos critérios previstos no artigo 3º do Regulamento Bruxelas II (bis).

No seguimento do Plano de Acção de Viena, o Conselho, em 2000, convidou as delegações dos Estados-Membros a responder a um conjunto de questões sobre o direito aplicável em matéria de divórcio. As respostas a esse questionário23 e a res-pectiva síntese constituem um importante elemen-to de análise da temática em apreço, não só pelo seu carácter informativo, dando conta dos regimes jurídicos e regras de conflitos vigentes em cada Es-tado, em matéria de divórcio, como também pelo quadro de sensibilidades veiculado por cada dele-gação em relação a esta temática. Isto porque do acervodequestõescolocadasàsdelegaçõesfaziamigualmente parte pontos essenciais como a justifi-cação de um instrumento comunitário no domínio em apreço e quais as normas de competência legis-lativa que deveriam ser adoptadas no futuro.24

O que resulta do documento em apreço é que existe uma divisão sensível nas opiniões expendi-

das pelas várias delegações, mormente no que res-peitaàconveniênciaemseproduzirlegislaçãoco-munitária relativa ao direito aplicável em matéria de divórcio, separação de pessoas e bens e anulação do casamento.

Posteriormente, em 2002, a Comissão condu-ziuumestudodestinadoà identificaçãodospro-blemas práticos que podem resultar das diferenças existentes entre as regras de conflitos vigentes nos Estados-Membros, em matéria de divórcio e de ou-tras formas de dissolução do casamento. Esse estu-do, produzido pelo T.M.C. Asser Instituut (Haia), a partir de entrevistas realizadas junto de opera-dores judiciários dos Estados-Membros25, exprime igualmente, em relação ao problema em análise, uma panóplia de visões divergentes, muitas vezes inconciliáveis entre si.

Não obstante tais divergências, esse estudo constitui também uma importante referência para o aprofundamento da reflexão sobre a temática.

Como se assinala no anexo ao Livro Verde ora em apreço, onde, aliás, se dá conta dos dois estudos supra mencionados, essa diversidade nos entendi-mentos manifestados pelos vários Estados-Mem-bros continua a fazer-se sentir.

Donde se adivinha que a pretendida harmo-nização comunitária de normas de conflitos de leis em sede de divórcio não constituirá uma tarefa de fácil concretização.

Parece-nos, pois, que, não obstante o caminho de estudo e discussão já percorrido, importa ainda aprofundar a reflexão conjunta e o envolvimento activo dos Estados-Membros, no seio dos quais se revelaessencialadinâmicaparticipativaporpartedo meio judiciário e do sector académico, de modo aconseguiroconsensonecessárioàviabilizaçãodeum instrumento uniformizador destas matérias.

Espera-se que a adesão geral ao desafio lança-do pelo Livro Verde venha proporcionar um con-tributodevaloraesseaprofundamentoeàdiscus-são pública que se segue.

22- Cfr. Jornal Oficial C 19 de 23.01.1999, p.10.23- As respostas a esse questionário foram compiladas no documento 8839/00 JUSTCIV 67. A síntese faz parte do documento 8838/00 JUST-

CIV 66.24- Cfr. Documento 8838/99 JUSTCIV 66, do Conselho da União Europeia, o qual contém, em anexo, as respostas das delegações dos Estados-

Membros a um questionário relativo ao direito aplicável em matéria de divórcio (Roma III).

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2.2.- Comentários ao Livro VerdeApós a leitura do Livro Verde e a reflexão sobre

a temática que o mesmo envolve, são os seguintes os comentários que se nos oferece fazer quanto aos aspectos questionados.

As observações são de natureza essencialmen-te prática e exprimem a visão que uma magistrada de família e menores em Portugal tem sobre esta problemática.

Pergunta 1: Tem conhecimento de outros problemas, para além dos já apresentados, que possam surgir no contexto dos divórcios inter-nacionais?

Em matéria de «divórcio internacional», os cinco exemplos descritos sob o ponto 2. do docu-mento em análise são os mais significativos e ilus-tram adequadamente os principais problemas que podem ocorrer neste domínio.

Não temos conhecimento de outras situações práticas que, em sede de «divórcio internacional», levantem questões diversas das suscitadas pelos ca-sos relatados.

Importa, contudo, assinalar que, enquanto as problemáticas que emergem dos exemplos n.os 1 a 3 e 5 se prendem essencialmente com a diversidade de normas de conflitos vigentes nos Estados-Membros e o efeito daí resultante em sede de lei substantiva aplicável aos divórcios «internacionais», que assim variará consoante o país onde a demanda for instau-rada, já a situação ilustrada no exemplo n.º 4 tem a ver com as regras de competência internacional.

Ainda quanto ao exemplo n.º4 («casal ger-mano-neerlandês residente num país terceiro»), os constrangimentos e dificuldades detectados no caso relatado parecem suscitar a necessidade de revisão das regras de competência internacional previstas no Regulamento.

De salientar, por último, que, conforme já se assinalou supra (1.3.), o forum shopping fomentado

pela combinação «multiplicidade de critérios al-ternativos de competência internacional / ausência de uniformização das regras de conflitos / facili-dade de reconhecimento das decisões estrangeiras» e a chamada «corrida aos tribunais», potenciada porestequadrodecircunstâncias,constituiumre-sultado claramente ilustrado em alguns dos exem-plos citados no Livro Verde, dos quais se destaca o descrito em quinto lugar («marido polaco que vai trabalharparaaFinlândia»).

Pergunta 2: É a favor da harmonização das normas de conflitos de leis? Quais são os prós e os contras desta solução?

Na linha do que adiantámos supra, na parte introdutória deste texto, a solução de harmonização das regras de conflitos de leis parece ser a resposta adequada a fazer face a um segmento assinalável de problemas que podem emergir da aplicação das re-gras de competência judiciária internacional con-sagradas no Regulamento Bruxelas II (bis).

Concordando com as considerações plasmadas no Livro Verde, afigura-se-nos que a uniformização dasnormasdeconflitospermitegarantiràspartesmaior certeza e previsibilidade em relação ao direi-to substantivo aplicável nos vários Estados igual-mente competentes para conhecer o conflito matri-monial, o que constitui um factor de estabilidade e de segurança jurídica para os cidadãos, a quem a administração da justiça deve servir.

A harmonia jurídica internacional, que constitui um dos princípios estruturantes do di-reito internacional privado26, é primacialmente conseguida através da universalização das regras de conflitos, de modo a que o direito aplicável a uma questão plurilocalizada seja o mesmo em qualquer dos Estados que possa ser chamado a apreciá-la.27

Essa harmonia permite a tão desejada esta-bilidade jurídica e o reforço da previsibilidade

25- Como se pode ler na página 5 do referido Estudo, estava prevista a realização de três entrevistas em Portugal, com juízes e advogados, mas apenas uma se concretizou, com dois elementos da Ordem dos Advogados. Cfr. Practical problemas resulting from the non-harmonization of choice of law rules in divorce matters, Final Report, JAI/A3/2001/04, The Hague: T.M.C. Asser Instituut, 2002, disponível na internet em http://europa.eu.int/comm/justice_home/doc_centre/civil/studies/doc/divorce_matters_en.pdf [referência de 5 de Agosto de 2005].

26- Cfr. Correia, António Ferrer, op. cit., pp.111-113.27- Cfr. Pinheiro, Luís de Lima, Direito Internacional Privado, Coimbra: Almedina, 2003, vol. I: Introdução e Direito de Conflitos – Parte Geral, p.239.

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do direito aplicável, diminuindo os já apontados constrangimentos que fomentam o forum shop-ping.

Uma tal solução poderá apresentar dificulda-des acrescidas de implementação nos sistemas em que vigora, como único factor de conexão, a regra da lex fori, quando, em resultado de uma harmo-nização das normas de conflitos que adopte outros critérios, os tribunais aí chamados a pronunciar-se passem a ter de aplicar uma lei estrangeira.

Peseemboraessacircunstânciapossaserapon-tada pelos Estados adeptos da lex fori como um in-conveniente significativo que justifica resistências acrescidasemrelaçãoàharmonização,certoéqueos prós da solução proposta no Livro Verde funda-mentam o esforço conjunto que deve ser envidado no sentido da sua viabilização.

Pergunta 3: Quais seriam os elementos de conexão mais adequados?

Os elementos de conexão devem ter por base uma ligação próxima e estável dos cônjuges com a ordem jurídica aplicável. Neste contexto, pare-ce-nos ser de destacar, como elementos de conexão mais adequados, a nacionalidade («domicílio», no caso do Reino Unido e da Irlanda28) e a resi-dência habitual29 dos cônjuges.

Estes são, aliás, os critérios que relevam em sede de determinação da competência internacio-nal, fixada no artigo 3º do Regulamento Bruxelas II (bis).

Ora, a manter-se esta coincidência de factores, ou seja, garantindo-se uma articulação e harmoni-zação entre as regras de competência internacional

e as normas de conflitos, não seria despiciendo ad-mitir a consagração de um sistema que privilegias-se o critério da lex fori, em sede de determinação da lei aplicável, uma vez que a ligação próxima e estável acima assinalada estaria sempre garantida pela conexão efectuada em matéria de competência internacional.30

Noutras palavras, segundo esta opção, sempre que a competência internacional de um dado tribu-nal do espaço comunitário resultasse da utilização dos critérios gerais e exclusivos estabelecidos pelo Regulamento Bruxelas II (bis), a lei substantiva aplicávelàquestãorelativaaodivórcio,separaçãoeanulação do casamento seria a do foro.

A adoptar-se esta solução da lex propria in foro proprio, deveria obviamente fazer-se a devida ressalva em relação aos casos em que o sistema do foro não consagre os institutos da separação e/ou da anulação do casamento (e, quanto a Malta, o próprio divórcio). Em tais situações, a norma de conflitos elegeria critérios subsidiários igualmente assentes em conexões de proximidade (v. g., nacio-nalidade e residência habitual).

Pergunta 4: As normas harmonizadas de-vem aplicar-se apenas ao divórcio ou também à separação de pessoas e bens e à anulação do casamento?

Considerando que parte dos sistemas jurídicos dos Estados-Membros consagra o instituto da sepa-ração de pessoas e bens (Portugal, França, Irlanda, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Itália, Bélgica,Dinamarca, Espanha, Lituânia, Polónia eMalta)31 e que a maioria prevê a figura da anulação

28- Tal como se salienta no Relatório Borrás, o objecto essencial do «domicílio», na acepção adoptada pelo sistema anglo-saxónico, «(…) é ligar uma pessoa ao país em que tem a sua morada, de forma permanente e indefinida». Cfr. Borrás, Alegría, op.cit., p.39. Neste sistema, o domicílio pode ser legal ou voluntário, sendo que a aquisição deste último (domicile of choice) tem por base a fixação da residência efectiva e a intenção de aí residir permanentemente, o queincluiopropósitodeabandonarodomicílioanterior.Noâmbitododomicíliolegal,assumeparticularimportânciaodomicile of origin, que se adquire com o nascimento. Assim, cfr. Pinheiro, Lima, op. cit., vol.I, p.349.

29- Na linha da definição já por diversas vezes adoptada pelo Tribunal de Justiça, residência habitual significa «o local onde o interessado fixou, com a vontade de lhe conferir um carácter estável, o centro permanente ou habitual dos seus interesses, entendendo-se que para efeitos de determinação dessa residência, é necessário ter em conta todos os elementos de facto dela constitutivos». Cfr. Borrás, Alegría, op.cit., p.38.

30- Cfr. Pinheiro, Lima, op. cit., vol. I, p.119. Este autor refere que o critério da aplicação da lex propria in foro proprio é, de algum modo, seguido por algumas ConvençõesdaHaia,designadamente,noquetocaàprotecçãodemenores,pelaConvençãorelativaàCompetênciadasAutoridadeseàLeiAplicávelem Matéria de Protecção de Menores, de 1961, ratificada por Portugal, e pela Convenção sobre a Competência, a Lei Aplicável, o Reconhecimento, a Execução e a Cooperação em Matéria de Responsabilidade Parental e de Medidas de Protecção de Menores, de 1996, que Portugal não ratificou e ainda não entrou em vigor na ordem jurídica internacional. Op. cit., p.120.

31- Cfr. Anexo ao Livro Verde, p.6.

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docasamento(todos,exceptoaSuéciaeaFinlândia),sendo que Portugal, Espanha, Itália, Malta e Polónia celebraram concordatas com a Santa Sé32,noâmbitodas quais se contempla a possibilidade de anulação dos casamentos católicos, com a produção de efeitos civis33, afigura-se-nos adequado que a harmonização das normas de conflitos se estenda a tais institutos. Haveria, assim, total coincidência com as matérias matrimoniais contempladas pelo Regulamento Bruxelas II e pelo seu sucessor, agora em vigor.

Pergunta 5: As normas harmonizadas de-vem incluir uma cláusula de ordem pública que autorize os tribunais a não aplicar uma lei estrangeira em certas circunstâncias?

À semelhança do que sucede com o não-re-

conhecimento de decisões de divórcio, separa-ção ou anulação do casamento, previsto no artigo 22º, alínea a), do Regulamento Bruxelas II (bis), a manifesta contrariedade com a ordem pública do Estado-Membro requerido deverá constituir fun-damento para a não aplicação dos preceitos da lei estrangeira para que remete a norma de conflitos no caso concreto.

De referir que, neste contexto, tal como acon-tece com a matéria regulada pelo sobredito Regu-lamento, deverá consagrar-se uma norma idêntica àdoartigo25ºdodiplomacomunitário.Ouseja,a não aplicação da lei estrangeira não pode fun-dar-senacircunstânciadealeidoEstado-Membrorequerido não permitir o divórcio, a separação ou a anulação do casamento com base nos mesmos factos.34

Pergunta 6: É conveniente permitir às partes escolherem a lei aplicável? Quais são os prós e os contras desta solução?

Ao contrário de outras áreas do direito, em que a vontade das partes na eleição da lei aplicável em situaçõestransnacionaisjávemassumindorelevân-cia35, o direito da família continua ainda a manter algumadistânciaemrelaçãoaumatalopção.

O mesmo sucede, aliás, com a determinação da competência judiciária internacional, em que é muito reduzido o relevo que o Regulamento Bruxelas II (bis)atribuiàvontadedaspartes.Aí,a autonomia da vontade apenas assume significado quando houver um pedido conjunto por parte dos cônjuges e o tribunal da causa se situar no terri-tório da residência habitual de qualquer um deles (artigo 3º, n.º1, alínea a), do citado diploma).

Ou seja, aos cônjuges não é permitida uma livre escolha do tribunal, continuando a exigir-se um elemento de conexão relevante.

No que respeita à possibilidade de escolhada lei aplicável, sugerida no Livro Verde, conside-rando as transformações do direito da família, em que ressalta a crescente «privatização» da relação matrimonial36, e as tendências modernas do direi-to internacional privado37, parece-nos haver con-veniênciaemseconferirrelevânciaàvontadedoscônjuges, posto que a mesma se inscreva no quadro de sistemas jurídicos que apresentem conexão re-levante com a situação, se garanta uma verdadei-ra igualdade das partes, protegendo-se o cônjuge mais fraco, e se salvaguarde o superior interesse dos filhos menores.38

32- Em 18 de Maio de 2004, Portugal celebrou nova Concordata com a Santa Sé. Este instrumento foi aprovado para ratificação pela Resolução da Assembleia da República n.º74/2004, de 16 de Novembro de 2004, e ratificado pelo Decreto do Presidente da República n.º79/2004, da mesma data, encontrando-se publicado no Diário da República, Série I-A, n.º269, de 16 de Novembro de 2004.

33- Cfr. Anexo ao Livro Verde, p.6. No caso português, cfr. artigo 16º da Concordata supra citada.34- Sobre a solução de compromisso conseguida entre os Estado-Membros em matéria de reconhecimento das decisões estrangeiras, cf. Borrás, Alegría. op.

cit., pp. 50-51.35-Nodomíniodoscontratos,édadorelevoàautonomiadavontadenaescolhadaleiaplicável-cfr.artigo3ºdaConvençãodeRomade1980,sobrealeiaplicávelàsobrigaçõescontratuais–que,aliás,correspondeaocommon core do direito internacional privado dos Estados-Membros. Assim, cfr. Ramos, Rui Manuel Moura, op. cit., pp. 104-105.

36- Conforme salienta Guilherme de Oliveira, «poderá dizer-se que o direito da família tende a tornar-se fragmentário – abandona o panjurismo iluminista que lhe impunha a regulação de todos os aspectos da vida familiar, para se resumir aos aspectos seleccionados como mais importantes, ou de interesse público, que sobram de uma privatização crescente da vida familiar». Oliveira, Guilherme de, «Transformações do direito da família», Separata de Come-morações dos 35 anos do Código Civil e dos 25 Anos da Reforma de 1977, Coimbra: Coimbra Editora, 2004, p.779.

37- Cfr. Ramos, Rui Manuel Moura, op. cit., p.105, nota 40.38- Garantias afinal destacadas por Guilherme de Oliveira, ao assinalar que «a intervenção do direito da família tenderá a centrar-se nos domínios das crises conjugais,comaintençãodegarantiradefesadocônjugemaisfracoeaequidade;enodomíniodasrelaçõescomosfilhos,quepertenceàesferaderes-ponsabilidade indeclinável da sociedade organizada». Op. cit., p.779.

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Aaberturadaescolhadaleiàautonomiadavontade das partes, sujeita a determinados pressu-postos, poderá permitir uma maior transparência e certezanasrelaçõesfamiliares,irdeencontroàsex-pectativas e interesses dos cidadãos, destinatários da administração da justiça, além de proporcionar uma maior igualdade de tratamento, reduzindo o risco de forum shopping, normalmente apontado como sendo um «privilégio» dos economicamente mais favorecidos.39

Importa ter sempre presente que uma li-berdade de escolha ilimitada, que não obedeça a quaisquer condicionalismos, poderá, como se as-sinala no Livro Verde40,darazoàaplicaçãodeleis«exóticas», que não mantêm conexão relevante com os cônjuges, para além de não garantir pro-tecçãoadequadaàpartemaisfracanarelaçãoeaosfilhos menores do casal.

Assim, a admitir-se a liberdade de escolha, possibilidade que não é de enjeitar, ela deverá ser balizada dentro de exigências legais claramente definidas, assentes numa conexão de proximidade e que garantam a protecção da parte mais fraca e o interesse superior dos filhos menores.

Pergunta 7: É conveniente limitar a esco-lha a certas leis? Na afirmativa, quais seriam os elementos de conexão mais adequados? Esta escolha deve ser limitada às leis dos Es-tados-Membros? Ou deve ser limitada à lex fori?

Na linha do que se adiantou supra, na resposta àperguntan.º6,apossibilidadedeescolhadaleiaplicável deverá ser limitada.

O figurino seguido neste domínio pela le-gislação belga41 parece ser uma referência ade-quada, uma vez que elege, como condição neces-sáriaparaarelevânciadavontadedoscônjuges,

a nacionalidade de um deles ou o direito belga (lex fori).

No entanto, deverá ressalvar-se os casos em que existam filhos menores, estabelecendo-se re-quisitos que garantam que, nas matérias respeitan-tes às crianças, a lei aplicável será sempre a quemantém a conexão mais estreita com elas, seguin-do-se neste domínio a linha de critérios adoptada pela Convenção daHaia relativa à CompetênciadasAutoridadeseàLeiAplicávelemMatériadeProtecção de Menores, de 1961, (residência habi-tual e nacionalidade). 42

Aí, porém, deverá ter-se em conta que em determinados casos importa assegurar a aplicabi-lidade da lei (ou leis) de um mesmo ordenamento jurídico, como é o que sucede com o processo de divórcio por mútuo consentimento, nos moldes previstos no direito português, em que o acordo do exercício do poder paternal relativamente aos filhos menores43 constitui pressuposto necessário desta modalidade de divórcio, sendo no âmbitodo respectivo processo que o acordo é apreciado e homologado. Pretende-se com isto evitar o fraccio-namento (dépeçage) que resulta da «pluralidade de remissões para diferentes Direitos»44noâmbitodeuma só relação familiar que, embora composta por questões parciais distintas (relação matrimonial e relação com os filhos), apresenta contornos unitá-rios que demandam uma resposta harmonizada e coerente.

Em suma, há que encontrar o justo equilíbrio entre os valores e finalidades em confronto, sen-do certo que a salvaguarda do interesse superior dos filhos menores deverá prevalecer como critério orientador de toda e qualquer solução que se adop-te neste domínio.

Pergunta 8: A possibilidade de escolher a lei aplicável deve aplicar-se apenas ao divórcio

39- Cfr. González, Javier Carrascosa, Matrimónio y elección de ley: estudio de derecho internacional privado, Granada: Editorial Comares, 2000, pp. 217-218. 40- Livro Verde, p.7.41- Cfr. artigo 55º, § 2., da «Lei relativa ao Código de Direito Internacional Privado», de 16 de Julho de 2004.42- Veja-se também o que consagra a Convenção da Haia sobre a Competência, a Lei Aplicável, o Reconhecimento, a Execução e a Cooperação em Matéria

de Responsabilidade Parental e de Medidas de Protecção de Menores, de 1996, que Portugal não ratificou.43- Exceptuando, obviamente, os casos em que a regulação do exercício do poder paternal já se encontra previamente decidida.44- Pinheiro, Luís de Lima, op. cit., vol.I, pp.288 e 289.

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ou também à separação de pessoas e bens e à anulação do casamento?

A possibilidade de os cônjuges escolherem a lei aplicável deve contemplar também a separação de pessoas e bens, uma vez que a razão que justifi-ca a referida faculdade também está presente nesse caso, não havendo qualquer factor, de forma ou de fundo, que desaconselhe uma tal solução.

Há, todavia, que ter em conta que alguns or-denamentos jurídicos não consagram este instituto, pelo que possibilidade de escolha da lei aplicável deve restringir-se aos sistemas que efectivamente prevejam a separação de pessoas e bens.

Noquetangeàanulaçãodocasamento,con-siderando a especificidade da figura, associada àviolação de requisitos, de fundo ou de forma, re-lativos ao matrimónio, que em muitos sistemas produz efeitos ex tunc e em que assumem relevo indeclinável as conexões «lei pessoal», ou seja, a lei danacionalidade(quantoàcapacidadeeconsenti-mento), e «lei do Estado em que o acto é celebra-do» (quantoà formadocasamento)45, afigura-se-nos que a mesma não deve ficar sujeita a uma lei diferente, escolhida pelas partes.

Assim, a possibilidade de as partes escolhe-rem a lei aplicável não deve abranger a anulação do casamento.

Pergunta 9: Quais devem ser os requisitos formais adequados para o acordo entre as par-tes quanto à escolha da lei?

Conforme se adiantou supra, a protecção do cônjuge que possa encontrar-se numa posição mais fraca, sujeito portanto a pressões do outro, no sen-tido da escolha de uma determinada lei aplicável, exigequeseadoptemespeciaiscautelasquantoàformalização e controlo do acordo conseguido en-tre as partes.

Esse acordo deverá ser expressamente assumi-do por ambos os cônjuges, quer por manifestação de vontade formalizada em documento por eles

subscrito, que acompanhará os demais elementos exigidos pela lei de processo aplicável, quer por de-claração produzida partes aquando da sua primeira comparência em juízo (ou perante a autoridade ad-ministrativa, se for o caso46).

De todo o modo, é fundamental assegurar um controlo oficial rigoroso que garanta que a escolha doscônjugesquantoàleiaplicávelfoiporamboslivremente conseguida em condições de plena e efectiva igualdade. Caso contrário, o acordo não deverá produzir efeitos.

Pergunta 10: De acordo com a sua expe-riência, a existência de vários critérios de com-petência provoca uma “corrida aos tribunais”?

Na nossa actividade forense, não tivemos até ao presente momento contacto com situações pas-síveis de serem identificadas com a «corrida aos tri-bunais».

Contudo, numa visão essencialmente prática do regime em vigor, afigura-se-nos que a existên-cia de um regime da competência internacional como o consagrado no Regulamento Bruxelas II (bis), caracterizado por vários critérios alternativos, e a ausência de uniformização das normas de con-flitos neste domínio, é susceptível de conduzir, não só ao forum shopping,comotambémà«corridaaostribunais», de modo a fazer face aos condiciona-lismos impostos pelo princípio prior tempore potior jure, decorrente da disciplina consagrada no artigo 19º do diploma comunitário.

Parece-nos, pois, que nesta fase a solução para o problema passará pela uniformização das regras de conflitos e não pela restrição dos critérios de competência internacional plasmados no Regula-mento, tanto mais que uma tal solução limitadora poderia introduzir constrangimentos no acesso aos tribunais e condicionar, assim, a livre circulação de pessoas no espaço comunitário, comprometendo a criação de um espaço europeu de justiça.

Por outro lado, dada a curta vigência dos Re-gulamentos Bruxelas II, não houve ainda tempo

45- No caso do direito de conflitos português, cfr. artigos 49º, 50º e 51º do Código Civil.46- Em Portugal, na Estónia e na Dinamarca o divórcio por mútuo consentimento é da competência de uma autoridade administrativa. Quanto ao direito

português, cfr. o Decreto-Lei n.º272/2001, de 13 de Outubro. No que concerne aos outros dois sistemas, cfr. Anexo ao Livro Verde, p.6.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 137

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suficiente para avaliar de forma completa a apli-cação prática das regras de competência aí previs-tas e equacionar a sua revisão, sendo certo que as constantes alterações legislativas e a sucessão de regimes podem transformar-se em elementos alta-mente perturbadores da segurança jurídica e das legítimas expectativas dos cidadãos.47

Pergunta 11: Considera que os critérios de competência devem ser revistos? Na afir-mativa, qual seria a melhor solução?

Na linha do que já foi referido, nesta fase pa-rece prematuro avançar para uma revisão dos crité-rios de competência consagrados no Regulamento Bruxelas II (bis).

Isto sem prejuízo de uma eventual reformula-ção destinada a estabelecer uma hierarquização des-ses critérios, a que adiante se fará referência, como alternativaàpossibilidadedetransferênciadepro-cessos(respostaàsperguntasn.os 16, 18 e 19)

Em nossa opinião, encontrando-nos ainda lon-ge de uma solução de uniformização comunitária do direito substantivo regulador do divórcio, sepa-ração e anulação do casamento, dada a diversidade de respostas preconizadas pelos sistemas vigentes nos vários Estados-Membros e as resistências que se fazem sentir em relação ao estabelecimento de regras comuns a esse nível48, o que se afigura mais adequado e eficaz neste momento é conseguir a harmonização das normas de conflitos relativas a tais matérias.

Pergunta 12: Considera que a harmoni-zação das regras em matéria de competência deve ser reforçada e que o artigo 7º do Regu-lamento n.º 2201/2003 deve ser suprimido ou, pelo menos, deve ser limitado a casos que não envolvem cidadãos comunitários? Na afirma-tiva, como devem ser estas regras?

Importa adoptar medidas aptas a evitar situa- ções como a descrita no exemplo n.º4 do Livro Verde («casal germano-neerlandês residente num país terceiro»). A harmonização das regras em ma-téria de competência internacional poderá ser um caminho adequado a fazer face a problemas dessa natureza.

Algumas das soluções avançadas no Livro Ver-de, como a que envolve a possibilidade de extensão da competência em caso de divórcio, poderia tor-nar mais fácil aos cidadãos comunitários residentes em países terceiros encontrar na União Europeia um tribunal competente para julgar a sua acção de divórcio.

Seria, pois, uma solução que permitiria ultra-passar as dificuldades surgidas no caso enunciado no exemplo n.º4, tal como se assinala no ponto 3.6. do Livro Verde.

Quanto ao artigo 7º do Regulamento Bruxe-las II (bis),relativoàscompetênciasresiduais,tem--se apontado dificuldades na sua articulação com a regra da exclusividade estatuída no artigo 6º do di-ploma comunitário49, para além do seu n.º2 ser cri-ticado por conduzir a um excesso de favorecimento dos requerentes nacionais dos Estados-Membros, relativamente aos requeridos estrangeiros, residen-tes em países terceiros.50

Assim, deverá aprofundar-se a reflexão em torno do referido preceito, avaliando-se as dificul-dades e constrangimentos que vêm surgindo em sede da sua aplicação prática, para depois se pon-derar a revisão do mesmo.

Em suma, não obstante os inconvenientes as-sinalados, parece-nos que nesta fase o normativo deverá ser mantido.

Pergunta 13: Quais são os prós e os con-tras da introdução de uma possibilidade de extensão da competência em caso de divór-cio?

47- Veja-se, aliás, o que dispõe o artigo 65º do Regulamento Bruxelas II (bis),quantoàcalendarizaçãoestabelecidaparaoreexamedestediploma.48- Como assinala o Conselho, no relatório sobre a necessidade de aproximar as legislações dos Estados-Membros em matéria civil (JUSTCIV 129), as ma-

térias do direito da família «estão muito impregnadas da cultura e das tradições dos sistemas jurídicos tradicionais (ou mesmo regionais), o que poderá originarumasériededificuldadesnoâmbitodaharmonização».

49- Cfr. Pinheiro, Luís de Lima, Direito Internacional Privado, Coimbra: Almedina, 2002, vol. III: Competência Internacional e Reconhecimento de Decisões Estrangeiras, pp.165-167.

50- Assim, cfr. Ribeiro, António da Costa Neves, Processo Civil da União Europeia, Coimbra: Coimbra Editora, 2002, pp.63-65 e 177-178.

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O mecanismo de «extensão de competência», por via do qual é proporcionada aos cônjuges a pos-sibilidade de escolher o tribunal competente, deve ter sempre por base uma conexão estreita, mor-mente a nacionalidade de qualquer dos cônjuges («domicílio», no caso do Reino Unido e da Irlan-da), ou a sua última residência habitual comum.

Como já foi referido anteriormente (na res-postaàperguntan.º6),orelevoqueoRegulamen-to Bruxelas II (bis) confere à vontade das partesem matéria de determinação da competência in-ternacional para o divórcio é muito reduzido, re-sumindo-se aos casos em que houver um pedido conjunto por parte dos cônjuges e o tribunal da causa se situar no território da residência habi- tual de qualquer um deles (artigo 3º, n.º1, alínea a), quarto travessão, do citado diploma).

Parece-nos, no entanto, adequado que essa ex-tensão de competência se estenda aos casos em que se verifique a conexão «nacionalidade» de qualquer dos cônjuges («domicílio», no caso do Reino Uni-doedaIrlanda)oua“últimaresidênciahabitualcomum”.

Esta solução alargaria a possibilidade de côn-juges nacionais de Estados-Membros diferentes, residentes em países terceiros, instaurarem a acção de divórcio num desses Estados, dentro do quadro da competência internacional exclusiva, consagra-da no Regulamento Bruxelas II (bis). O que faci-litariaoacessodoscidadãosdaUniãoEuropeiaàjustiça administrada no espaço comunitário, mes-mo quando estes aí não residam.

Uma tal extensão de competência permitiria àcidadãalemãindicadanoexemplon.º4instaurarna Alemanha a acção de divórcio contra o seu côn-juge neerlandês.

A uma extensão de competência assim pre-conizada poderá apontar-se o inconveniente de ela amplificar o princípio do favor divortii, uma vez que alarga o leque de jurisdições competentes cujas re-gras de conflitos remetem para ordenamentos jurí-dicos mais «permissivos» em relação ao divórcio.

Contudo, se considerarmos que a escolha da jurisdição competente irá sempre assentar numa conexão de proximidade significativa com os côn-juges, que essa opção dependerá do acordo de am-bos e que o futuro aponta para a uniformização do

direito de conflitos, afigura-se-nos que os prós da solução superam as suas desvantagens.

Por último, conforme se assinala no Livro Ver-de, importa tomar em devida atenção os casos em que existam filhos menores dos cônjuges, devendo assegurar-se total coerência entre as regras a adoptar em sede de competência para o divórcio e a regra relativaàextensãodecompetência,consagradanoartigo 12º do Regulamento Bruxelas II (bis).

Pergunta 14: É conveniente limitar a ex-tensão a determinadas competências?

Tal como se assinalou supra, a admitir-se a ex-tensãodecompetências,eladevecingir-seàsjuris-dições que apresentem uma conexão estreita com os cônjuges e a concreta relação matrimonial.

Nesse contexto, revela-se adequado que a ex-tensão de competência se limite aos casos em que se verifique a conexão «nacionalidade» de qual-quer dos cônjuges («domicílio», no caso do Reino Unido e da Irlanda) ou a sua «última residência habitual comum».

Isto para além das necessárias salvaguardas que devem ser asseguradas no caso de haver filhos menores do casal, de modo a que se garanta co-erência com o regime estatuído no artigo 12º do Regulamento Bruxelas II (bis) e se concretize o «interesse superior da criança», enquanto critério fundamental norteador de qualquer opção legisla-tiva,incluindoaquerespeitaàcompetênciainter-nacional (cfr. a alínea b) do n.º1 do citado artigo 12º).

Pergunta 15: Quais devem ser os requi-sitos formais para o acordo entre as partes quanto à extensão da competência?

Oacordoquantoàextensãodacompetênciadeverá constar de pedido conjunto dos cônjuges, àsemelhançadoquesucedecomaopçãopelotri-bunal da residência habitual de qualquer dos côn-juges, prevista no artigo 3º, n.º1, alínea a), quarto travessão, do Regulamento Bruxelas II (bis).

Será, porventura, de equacionar também uma solução mais próxima da consagrada no artigo 12º, n.º1, alínea b), do referido Regulamento, autori-

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51- Cfr. Pinheiro, Luís de Lima, vol. III, p.23: «A cláusula do forum non conveniens permite que os tribunais de um Estado declinem a sua competência quando existeoutrajurisdiçãocompetentequeàluzdeconsideraçõesdejustiçaeconveniênciaseapresentecomoclaramentemaisapropriada».

52- Idem, p.22. Este autor sufraga a adopção, no direito português, de uma cláusula de excepção do tipo forum non conveniens. Idem, p.24.

zando-se que a competência do tribunal seja aceite expressamente pelo outro cônjuge, quando o pe-dido inicial provier de apenas um deles. Nestes casos,aconcordânciadeverásermanifestadaatra-vés de documento subscrito pela parte aceitante, a juntar ao processo, ou mediante declaração presta-da aquando da primeira comparência em juízo (ou perante a autoridade administrativa, se for esse o caso).

Pergunta 16: Deve ser prevista a possibili-dade de solicitar a transferência de um proces-so para o tribunal de outro Estado-Membro? Quais são os prós e os contras desta solução?

A possibilidade de solicitar a transferência de um processo para o tribunal de outro Estado-Mem-bro, igualmente competente à luz dos critériosconsagrados no Regulamento, poderá constituir um factor de instabilidade e incerteza que colide com as finalidades desejadas pela regulamentação comunitária neste domínio. Isto mesmo que tal só sucedaemcircunstânciasexcepcionaiseseestabe-leça uma lista fixa de elementos de conexão defi-nidores do «centro de gravidade» do casamento, como se preconiza no Livro Verde.

Acresce que a referida possibilidade de trans-ferência abre caminho a uma «hierarquização im-plícita» dos critérios de competência, com a agra-vante de uma ordem de precedências assim obtida não se encontrar claramente definida na lei, ficando, ao invés, na dependência de uma decisão casuísti-ca de excepção, com contornos muito semelhantes aos do forum non conveniens51, ainda que indexada a factores tipificados na lei.

Esta cláusula de excepção irá introduzir uma distorçãoànaturezaalternativadoscritériosesta-belecidos no artigo 2º do Regulamento Bruxelas II (bis) e, como se disse supra, poderá vir a gerar incerteza e insegurança junto dos cidadãos, para além de atrasos processuais indesejados.

Refira-se ainda que os fundamentos que justi-ficam a possibilidade de transferência dos processos

relativosàsresponsabilidadesparentais,previstanoartigo 15º do Regulamento Bruxelas II (bis), orien-tados, em última análise, pelo critério do interesse superior da criança, não estão aqui presentes, pelo que os argumentos invocados a favor daquela não sãoaplicáveisàsquestõesmatrimoniais.

Neste domínio, parece-nos, pois, que o peso das razões invocadas para justificar a transferência de processos não supera o dos seus inconvenien-tes.

É certo que a transferência assente no facto de o principal centro de interesses do casamento se situar noutro Estado-Membro favorece a proxi-midade do foro com a causa, as partes e a prova, o que constitui um dos principais desideratos do direito da competência internacional52, para além de atenuar os efeitos negativos que podem advir da «corrida aos tribunais».

Porém, ainda assim, na hipótese ora em aná-lise parece-nos que os inconvenientes de uma tal solução superam as vantagens que dela se poderia obter, pelo que importa encontrar soluções alterna-tivasàtransferênciadeprocessos.

Pergunta 17: Quais devem ser os elemen-tos de conexão para determinar se um pro-cesso pode ser transferido para outro Estado- -Membro?

A admitir-se a possibilidade de transferência de um processo para outro Estado-Membro, em matéria matrimonial, solução que, como já vimos, não parece ser de acolher, esta deveria ficar limita-da aos critérios de conexão mencionados no Livro Verde (p.10), ou seja, a última residência habitual comum dos cônjuges, se um deles ainda mantiver essa residência, e a nacionalidade comum dos côn-juges.

Poder-se-ia ainda equacionar a possibilidade de admitir, como elemento definidor de uma co-nexão estreita da relação matrimonial com um de-terminado país, a residência habitual comum a um dos cônjuges e aos filhos de ambos.

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Pergunta 18: Que garantias seriam ne-cessárias para assegurar a segurança jurídica e evitar atrasos desnecessários?

Para garantir a segurança jurídica, os elemen-tos concretizadores do conceito «estreita conexão da vida do casal com um determinado Estado- -Membro» deveriam estar expressamente previstos na lei, não se deixando margem para a introdução casuística de novos factores de concretização, estra-nhos ao texto legal.

Por outro lado, as situações - modalidades de divórcio - em que a transferência de processos po-deria funcionar também deveriam estar claramente delimitadas.

Num outro prisma, em ordem a evitar atrasos desnecessários, deveria estabelecer-se um momento processual até ao qual essa transferência poderia ser requerida, sendo de apontar como limite a fase da dedução da defesa (contestação) pela parte deman-dada. Decorrido o prazo para a defesa e tendo a par-te requerida sido devidamente notificada do acto introdutório da instância, ou equivalente, ficariaafastada a possibilidade de esta deduzir o pedido de transferência do processo.

Ademais, deveria estabelecer-se uma previsão legalidênticaàdoartigo15º,n.º6,doRegulamen-to Bruxelas II (bis), impondo, em sede de trans-ferência de processos, o dever de cooperação dos tribunais, quer directamente, quer através das au-toridades centrais designadas nos termos do artigo 53º do mesmo diploma. Esta cooperação revela-se fundamental para a agilização dos procedimentos e para ultrapassar as barreiras que dificultam a con-cretização de um espaço europeu de justiça.

Pergunta 19: Em sua opinião, qual seria a melhor combinação de soluções para resolver os problemas descritos?

Sem prejuízo das reservas que apontámos em relaçãoàpossibilidadedetransferênciadeproces-sos(respostaàperguntan.º16),acombinaçãodesoluções adiantada no ponto 3.8. do Livro Verde parece seruma resposta adequada àsdificuldadesque podem surgir na sequência da aplicação do Re-gulamento Bruxelas II (bis) e dos vários regimes de

direito de conflitos vigentes nos Estados-Membros. Tais problemas, que se encontram bem exemplifi-cados nos cinco casos descritos sob o ponto 2. do Livro Verde, seriam ultrapassados com a aplicação das soluções combinadas que foram propostas no citado ponto 3.8..

Com efeito, admitir a escolha, pelos cônjuges, do tribunal competente, com base na nacionalida-de de qualquer um deles ou na última residência habitual, e permitir-lhes a selecção da lei aplicável ou, pelo menos, a opção pela lex fori, parece consti-tuir uma resposta adequada aos casos exemplifica-dos sob os n.os 1 a 4.

Por outro lado, quanto ao exemplo descrito sob o n.º5, a possibilidade de transferência de pro-cessos parece ser o meio apropriado para a fazer face à«corridaaotribunal»porpartedeumdoscônju-ges, contrariando os interesses legítimos do outro.

Contudo, em lugar da transferência de proces-sos, o problema n.º5 também poderia ser ultrapas-sado através hierarquização, na lei comunitária, dos critérios de competência internacional, começando por aquele que possui maior conexão com o centro de interesses do casamento.

Pergunta 20: Existem outras soluções que possa sugerir para resolver os problemas des-critos no ponto 2?

Tal como acabámos de assinalar, parece-nos que o problema descrito sob o exemplo n.º5 poderia ser ultrapassado com a hierarquização dos critérios de competência enunciados no artigo 2º do Regula-mento Bruxelas II (bis), em função da maior proxi-midade do centro de interesses do casamento (e dos cônjuges) com um determinado Estado-Membro.

Isto sem prejuízo de se passar a atribuir maior relevoàautonomiadaspartesnadeterminaçãodotri- bunal competente, ainda que tendo sempre por base critérios de conexão significativos, que a lei elenca-ria, bem como o acordo de ambos os cônjuges.

Estas soluções seriam complementadas com a uniformização do direito internacional privado dos Estados-Membros, nos moldes que assinalá-mos neste comentário, assim se evitando os efeitos negativos que a disparidade de normas de conflitos acarreta.

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 141

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- www.hcch.net - Hague Conference on Private In-ternational Law

- www2.law.uu.nl/priv/cefl - Commission on Europe-an Family Law (CEFL)

- www.redecivil.mj.pt - Ponto de Contacto Portu-guês da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial

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I. Dos Factos

1. Deu entrada no Conselho Superior de Magis-tratura, a 21 de Janeiro de 2005, em exposição apresentada por (…), queixa contra a Sra Dra (…), Juíza de Direito, tendo sido a mesma no-tificada para responder.

2. RecebidaarespostasubscritapelaExmªJuízade Direito, foi deliberado na sessão do Conse-lho Permanente de 31.03.2005 abrir um pro-cedimento de Averiguações, solicitando-se ao Exmº Inspector Judicial da área que procedesse a averiguações.

3. Os Autos de Averiguações foram remetidos ao CSM pelo Exmº Inspector Judicial Dr. Gregó-rio Jesus a 12.07.2005.

4. No Conselho Permanente de 27.09.2005 foi deliberado arquivar os autos, por se entender que não se mostrava indiciada qualquer infrac-çãodisciplinarimputadaàSraDra(…),assimse concordando com a proposta do Exmº Ins-pector Judicial, disso se notificando o queixo-so.

5. O Sr. (…) veio então, por carta com data de 26.10.2005, solicitar ao Conselho Superior de Magistratura o envio de cópia do Relatório do Inspector Judicial, o que voltou a fazer por três vezes, em cartas com data de 09.11.2005, 24.11.2005 e 22.12.2005.

II. Do Direito

6. O Conselho Superior de Magistratura é o órgão do Estado previsto na Constituição (arts. 217º e 218º) incumbido das funções de nomeação, colocação, transferência e promoção dos juízes dos tribunais judiciais e ainda do exercício da acção disciplinar.

PARECER aprovado na sessão plenária de 20 de Abril de 2006

Exposição de (…)

7. Não é um órgão da Administração Pública na acepção do artigo 2º do Código do Procedi-mento Administrativo, nem tão pouco exerce a função administrativa no sentido clássico ou se integra em qualquer pessoa colectiva públi-ca ou órgão independente da Administração. É um órgão do poder judicial.

8. O Conselho Superior de Magistratura desen-volve, contudo, materialmente funções admi-nistrativas.

9. Sendo-lhe aplicáveis as regras do Código do Procedimento Administrativo, por força do disposto no n.º 1 do art.º 2º desse mesmo Códi-go, que o torna aplicável aos actos em matéria administrativa praticados por órgãos do Esta-do que desenvolvam funções materialmente administrativas, mesmo que não integrados na Administração Pública.

10. Aos actos do Conselho Superior de Magistra-tura é, assim, aplicável o Capítulo II da Parte IIIdoreferidoCPA,sobreoDireitoàInforma-ção.

11. Onde se concretiza o disposto na Constituição sobre os direitos e garantias dos administrados e se reconhece aos particulares o direito a serem informados sobre o andamento dos processos, desde que o requeiram e que neles sejam di-rectamente interessados, e a conhecerem as decisões que sobre eles sejam emitidas (artigo 268º).

12. Assim, o dever de informar os administrados, por parte da Administração, pressupõe a exis-tência de um interesse juridicamente prote-gido na obtenção da informação em causa, conforme dispõe o artigo 61º, n.º 1 do CPA:“Os particulares têm o direito de ser informados pela Administração, sempre que o requeiram, sobre

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o andamento dos procedimentos em que sejam di-rectamente interessados, bem como o direito de conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas.”

13. O artigo 64º, n.º 1, daquele Código, porém, vemestenderodireitodeinformaçãoàquelesque, não possuindo um interesse directo e pes-soal, nele tenham um determinado interesse legítimo:“Os direitos reconhecidos nos artigos 61º a 63º são extensivos a quaisquer pessoas que provem ter in-teresse legítimo no conhecimento dos elementos que pretendam.”

14. Diferentemente, porém, dos directamente in-teressados, aqueles apenas com interesse legí-timo no conhecimento da informação terão já de demonstrar e provar o que legitima o seu pedido e a sua pretensão terá de ser alvo de uma averiguação, por parte da Adminis-tração, no sentido de se poder concluir ou não pela sua legitimidade.

15. Neste sentido escreveu RAQUEL CARVALHO:“a disposição contida no artigo 64º do CPA não tor-na os titulares de um interesse legítimo portadores de um direito subjectivo. O primeiro dos requisitos não se verifica: a Administração Pública detém o poder de avaliar o factor legitimante (...) O que a Administração terá decidir é se o interesse invocado pelo requerente da informação é um interesse juridi-camente atendível. Se assim for, então, o requerente encontra-se investido na titularidade de um interesse legalmente protegido pela norma contida no artigo 64º do CPA.”(in O Direito à Informação AdministrativaProcedimental, Publicações Universidade Católi-ca, Porto 1999, pág. 205)

16. Em anterior parecer de um ex-membro do Conselho Superior de Magistratura, PAULA TEIXEIRADACRUZ,sobrematériaidênti-ca, com o qual se concorda, diz-se, que“O interesse legítimo deverá ser casuisticamente apre-ciado pela entidade que decide, na perspectiva de que, no âmbito do processo em curso e dos eventuais actos

praticados, sejam reflexamente provocados danos de natureza patrimonial ou moral na esfera jurídica daquele que invoca o interesse legítimo.”(in Boletim Informativo do Conselho Superior de Ma- gistratura, Dezembro de 2004, págs. 38 e ss.)

17. Também o Supremo Tribunal Administra-tivo se pronunciou já a este respeito, enten-dendo que a extensão do artigo 64º do CPA se aplicaàqueleque“não tendo um interesse directo no procedimento, pro-ve no entanto ter “interesse legítimo” no conhecimento dos elementos que pretenda, ou seja, um interesse es-pecífico atendível, dentro de determinados e razoáveis critérios, a apreciar casuisticamente.”(Acórdão do STA de 12.11.2003, Proc. n.º 047985)

18. Assim,entende-sequedeverá serà luzdestainterpretação do direito em causa que se de-verá ler o art.º 7º, n.º 1 da Lei n.º 65/93, de 26 de Agosto, alterada pela Lei n.º 8/95, 29 de março, e Lei 94/99, de 16 de Julho, lei sobre o acesso a documentos da administração, que dispõe que “todos têm direito à informação mediante o acesso a documentos administrativos de carácter não nomina-tivo.”

19. Oquesignificaque,atendendoàsfunçõesquecabem ao Conselho Superior de Magistratura, aos cidadãos em geral não assiste um direi-to a serem informados sobre a actividade deste órgão, mas tão-só aos destinatários da sua acção, identificados na lei, e apenas quando necessário para a defesa dos seus interesses legí-timos.

20. Assim, e em especial para o caso que nos ocu-pa, nas palavras dePAULATEIXEIRADACRUZ:“Isto significa que, nem mesmo das participações efectuadas por particulares sobre uma dada conduta omissiva ou comissiva dos Senhores Magistrados, se possa extrair interesse directo ou legítimo que habilite o direito à informação, por não poder entender-se que eventual procedimento disciplinar e eventual aplica-

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ção de sanção disciplinar, alterem a esfera jurídica do participante, ou lhe causem danos de qualquer natureza, o que sempre se traduz num problema de legitimidade.” (idem)

21. De acordo com este entendimento, que se nos afigura como o correcto, o facto de os particu-lares apresentarem queixa contra Magistrado não lhes confere qualquer direito a aceder à informação relacionada com o processo daí resultante,

22. Por não terem um interesse juridicamente pro-tegido nessa consulta, uma vez que em causa não está uma alteração da esfera jurídica do queixoso nem a emergência de qualquer dano na sua esfera jurídica, de natureza alguma.

23. Assim, consideramos que o particular (…) não tem um interesse juridicamente protegido que, nos termos acima referidos, o legiti-me a aceder às informações pretendidas.

24. Importa ainda referir, em acrescento ao re-ferido, que a confidencialidade é princípio orientador dos procedimentos disciplinares, bemcomodosinquéritos,sindicânciaeaveri-guações que lhes estão ligados, e apenas pode ser afastado por razões que se prendem com a defesa de interesses legítimos e mediante re-querimento que sustentadamente fundamente anecessidadedeacessoàinformação.

25. Como importa referir que o princípio do direi-toàinformação,talcomoenunciadonon.º1do art.º 7º da lei sobre o acesso a documentos da administração, afasta desde logo, do princípio geral de liberdade de acesso, os documentos administrativos com carácter nominativo.

26. Ora o art.º 4º, n.º 1, alínea b) daquele diploma diz que se consideram documentos nominati-vos quaisquer suportes de informação que contenham dados pessoais. E a alínea c) dispõe sobre o que se entendepor“dadospessoais”:“informações sobre pessoa singular, identificada ou identificável, que contenham apreciações, juízos de

valor ou que sejam abrangidas pela reserva da inti-midade da vida privada.”

27. O Relatório do Inspector Judicial a que o par-ticular pretende ter acesso contém informações sobre Sra Dra (…) e contém, pela natureza do próprio documento, apreciações e juízos de va-lor acerca da actuação da Sra Magistrada.

28. Entendemos assim, para além do já referido, que o documento que o queixoso pretende ter acesso contém mesmo dados pessoais, devendo ser classificado de carácter nominativo.

29. O documento não está sujeito, por estes mo-tivos, aos princípios gerais do direito de infor-mação, só podendo ter a ele acesso a própria Magistrada e quem ela própria autorize ex-pressamente ou quem demonstre um interesse directo e pessoal (art. 8º). Já vimos não se veri-ficarem no caso quaisquer destas situações.

III. Conclusão:

I. No âmbito de uma actuação disciplinar doConselho Superior de Magistratura, o parti-cular que apresentou a queixa que originou tal actuação não tem direito a aceder aos do-cumentos que integram o procedimento, uma vez que carece de interesse legítimo para o fa-zer,pornãoestaremcausaumaalteraçãoàsuaesfera jurídica ou eminente um dano, de qual-quer espécie, para a sua pessoa.

II. Mesmo que se entendesse existir um interesse atendível, suficientemente sustentado e prova-do, a informação a que o particular pretende aceder escapa aos princípios gerais do direito àinformação,porconterdadospessoais,comcarácter nominativo, de acesso restrito.

III. Deve assim, ser negado com estes fundamentos o acesso do Sr. (…) ao Relatório do Sr. Inspec-tor requerido.

José Luís Moreira da Silva Vogal do CSM

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 145

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Os Exmºs Senhores Presidentes dos Tribunais da Relação de Guimarães e do Porto, solicitaram a este Conselho esclarecimentos sobre a entidade em que recai a responsabilidade de efectuar o paga-mento dos vencimentos aos magistrados que, quer como auxiliares quer como efectivos, ascendem aos Tribunais de Relação, ou destes para o S.T.J.e a partir de que momento, ou seja, se a partir do provimento no Diário da República ou se a partir da tomada de posse, nos respectivos Tribunais.

Não se colocando essa questão em relação aosExmºsJuízesde1ªInstância,porquanto,nestemomento, são pagos pela mesma entidade – a Di-recção Geral da Administração da Justiça, a dúvi-da surge em relação aos Tribunais Superiores, que processam e pagam os vencimentos, dos magistra-dos a exercerem aí funções, pelo orçamento próprio daqueles Tribunais.

Por superiormente nos ter sido solicitado, cumpre-nos, sobre o assunto, emitir o presente pa-recer.

PARECER

Na elaboração do presente parecer, importa considerar alguns dos princípios que emanam dos Decretos-Leis nºs 184/89, de 02 de Junho, 353- -A/89, de 16 de Outubro, e 427/89, de 07 de De-zembro, versando, o primeiro sobre os princípios gerais em matéria de emprego público, remune-rações e gestão de pessoal, o segundo, em desen-volvimento dos princípios consignados no primei-ro, sobre as regras do estatuto remuneratório dos funcionários e agentes da Administração Pública e a estrutura das remunerações base de carreiras e categorias, e o último sobre o regime de constitui-ção, modificação e extinção da relação jurídica do emprego público.

ASSUNTO: Processamento e pagamento de vencimentosaos Exmºs Magistrados Judiciais a exercerem funções

em Tribunais Superiores. Data a partir da qual, os respectivosTribunais deverão efectuar o pagamento - se a partir do provimento,

ou da tomada de posse.

Sendo certo, que o âmbito institucional doDecreto-Lei nº 184/89, de 02 de Junho, compre-enda os serviços e organismos que estejam na de-pendência das instituições judiciárias (artigo 2º, nº 2),estãoexcluídosdoseuâmbitopessoal“osjuízeseosmagistradosdoMinistérioPúblico”(artigo3º,nº 2).

No desenvolvimento deste diploma é publi-cado o Decreto-Lei nº 427/89, de 07 de Dezem-bro, que é, igualmente, aplicável aos serviços e organismosnadependência“orgânicaefuncional”“dasinstituiçõesjudiciárias”(artigo2º,nº2),oquehá-de ser visto, portanto, como não incluindo os magistrados, quer sejam judiciais quer sejam do Ministério Público.

Esta exclusão não significa, porém, que não se deva colher, nos diplomas referidos, o significado de conceitos básicos da relação jurídica de emprego público, sempre que os estatutos respectivos não definam outros, até porque tanto o E.M.P (artigo 108º) como o E.M.J - Estatuto dos Magistrados Judiciais – (artigo 32º), determinam a aplicação subsidiária aos respectivos magistrados, do regime vigente para a função pública, quanto a incompa-tibilidades, deveres e direitos.

É, assim, de toda a necessidade prosseguir nesses textos, em especial, para já, no Decreto-Lei nº 427/89.

Nos termos do artigo 3º, do Decreto-Lei nº 427/89 (alterado pelo Decreto-Lei nº 407/91, de 17 de Outubro), a relação jurídica de em-prego na Administração Pública constitui-se por nomeação ou por contrato de pessoal.

A nomeação é o acto unilateral da Admi-nistração pelo qual se preenche um lugar do qua-dro, sendo obrigatória em relação aos candidatos aprovados em concursos para os quais existem va-gas postas a concurso (cfr. nºs 1 e 3, do art. 4º, do

Conselho Superior da Magistratura

146 Boletim Informativo - Dez.2006

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DL 427/89) e, a eficácia da nomeação depende da aceitação do nomeado, dispõe o nº 4, do mes-mo artigo 4º.

A aceitação é o acto pelo qual o nomeado de- clara aceitar a nomeação, e nos termos do artigo 11º, do citado diploma legal, o prazo geral de acei- tação é de 20 dias (susceptível de prorrogação), contados da data da publicação do acto de nomea- ção, sendo, para os magistrados judiciais, de 30 dias, face ao disposto no nº 2, do artigo 59º, do E.M.J.

Só nos casos de primeira nomeação, a qual-quer título, e de nomeação para cargo dirigente, a aceitação reveste a forma de posse - acto público, pessoal e solene - pelo qual o nomeado manifesta a sua vontade de aceitar a nomeação e presta jura-mento.

A aceitação determina o início de funções para todos os efeitos legais, designadamente o abono de remunerações e contagem de tempo de serviço (cfr. nº 1, do art. 12º, do DL nº 427/89) e, o direito à remuneração devida pelo exercício de funções na Administração Pública constitui- -se com a aceitação da nomeação, reportando-se essedireito,noscasosemquenãohálugaràaceita-ção, ao início do efectivo exercício de funções (cfr. nºs 1 e 2, do art.3º, do Dec-Lei nº 353-A/89, de 16 de Outubro).

O nº 1, do artigo 12º, do Decreto-Lei nº 427/89, de 07 de Dezembro, fixa claramente a re-gra fundamental de que é a aceitação em qualquer das suas modalidades (mera aceitação ou posse) que marca o momento do início do exercício de fun-ções para todos os efeitos legais, designadamente, o abono de remunerações e contagem de tempo de serviço.

Este regime regra, tradicional no nosso di-reito administrativo ( embora tendo conhecido durante os últimos anos alguns desvios – cfr. De-creto-Lei nº 137/89, de 22 de Abril, hoje revo-gado pelo artigo 45º, do Decreto-Lei nº 427/89) - apenas comporta, dentro do actual quadro legal, as duas excepções constantes dos nºs 2 e 3 do mes-moartigo12º,reportando-se,aprimeira,àquelassituações em que a aceitação deva ocorrer durante o período de licença de maternidade ou de faltas

por acidente de serviço, caso em que o prazo de aceitação se considera prorrogado e os efeitos desta retroagemàdatadapublicaçãododespachodeno-meação,quernoquetocaàremuneração,quernoquetocaàantiguidade,easegunda,àhipótesedea aceitação dever ocorrer durante o cumprimento do serviço militar obrigatório, caso em que o prazo da aceitação se considera igualmente prorrogado, retoagindo os efeitos da mesma, mas apenas no que respeitaàcontagemdotempodeserviço,àdatadapublicação do despacho de nomeação.

Trata-se, como se vê, de excepções justificadas pela especial protecção que o legislador entendeu dever proporcionar a certas situações, em função de razões de carácter social ou de serviço público obrigatório.

Face ao exposto, importa analisar qual o con-teúdo e alcance jurídico que o direito positivo con-fere,emconcreto,ànomeaçãoeasuarelaçãocoma aceitação.

Como se viu, o Decreto-Lei nº 427/89, de 07 de Dezembro, que define o regime de constituição, modificação e extinção da relação jurídica na Ad-ministração Pública, regula o tema, ora em análise. A nomeação é apontada como uma das modalida-des pelas quais se constitui a relação jurídica de emprego com a Administração Pública (cfr. art. 3º; ver igualmente o art.5º, do DL nº 184/89, de 02 de Junho). Por outro lado, define-se a nomea-çãocomo“oactounilateraldaAdministraçãopeloqualsepreencheumlugardoquadro”(cfr. nº 1, do art. 4ª), cuja eficácia está dependente da aceita-ção do nomeado (cfr. nº 4, do art.4º, do mesmo diploma).

A questão está em saber qual o relevo que há-de assumir essa manifestação de vontade, ou seja, se a mesma é constitutiva ou, pelo contrário, inte-gra mera condição de eficácia.

Segundo o quadro legislativo vigente - artigo 3º, do Decreto-Lei nº 427/89 - verificamos, ine-quivocamente, que existem duas formas distintas de constituição da relação jurídica de emprego pú-blico:

- A nomeação;- O contrato de pessoal.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 147

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Vejamos a natureza unilateral, do acto consti-tutivo da relação jurídica de emprego público – a nomeação. Já referimos que a nomeação é o acto unilateral da Administração, pelo qual se preenche um lugar no quadro (...). No acto administrativo, apenas a vontade da Administração é constitutiva, sendo a do particular meramente integrativa, re-quisito de legalidade ou requisito de eficácia con-soante dependente de requerimento ou de consen-timento posterior do particular.

Nas palavras de Ana Fernanda Neves, “(...) a nomeação e a aceitação constituem dois actos unilaterais que não se fundem, pois alicerça-dos em diferentes causas jurídicas: a nome-ação visa a satisfação do interesse público, a aceitação leva ínsita a satisfação de interesses particulares de conteúdo patrimonial. Apenas a nomeação tem valor constitutivo, constituin-do a aceitação uma mera condição de eficácia – suspensiva ou resolutiva”.

E continua, “ Só a nomeação opera a in-tegração ou inserção na organização adminis-trativa ( e confere a qualidade de funcionário público – art.4º, nº 5, do Dec.-Lei nº 427/89, de 7/12 ). A integração num quadro no que toca à «relação funcional» ( a nomeação é o acto pelo qual se preenche um lugar no quadro – art. 4º, nº 1, do Dec-Lei nº 427/89, de 7/12 ).

Situemo-nos nos concretos preceitos da (nossa) legislação atinente: a aceitação do no-meado determina o início de funções para to-dos os efeitos legais ( nº 1, do art. 12º, do Dec-Lei nº 427/89, de 7/12 ). Por si, parece indicar que o vínculo e os direitos e deveres corres-pondentes nascem com a aceitação. Mas lido em conjunto com outros preceitos percebe-se que o intuito do legislador foi apenas tornar dependente da aceitação a eficácia de vincu-lo que tem já por constituído ( o espraiar dos respectivos efeitos). O art. 3º estabelece que a relação jurídica de emprego na Administração se constitui por nomeação; o nº 1 do art 4º ( continuamos no espaço do mesmo diploma) que a nomeação é o acto unilateral da Admi-nistração mediante o qual se preenche um lu-

gar no quadro de modo a assegurar o exercício de funções próprias e permanentes do serviço público de modo profissionalizado; o art. 5º reafirma, enumerando as suas modalidades, a constituição da relação jurídica de emprego, por nomeação (Neves, Ana Fernanda, in “Re-lação Jurídica de Emprego Público”, Coimbra Editora, 1999, pp 99 a 110 ).

Dito de outra forma, a aceitação da nomea-ção não é configurada pela lei como uma de-claração de vontade constitutiva do efeito ju-rídico produzido em concorrência com a von-tade da Administração.

EstevesdeOliveira,referequeo“efeito ju-rídico da nomeação – o provimento, ou seja, a designação da pessoa que ocupará o lugar ou o cargo – nasce por simples manifestação da vontade do órgão administrativo, não con-correndo para a sua produção qualquer outra vontade: por isso, o acto e o efeito existem e são válidos a partir desse momento (...)”.

O que acontece é que “ a sua eficácia con-creta perante o destinatário – ou seja o ingres-so efectivo deste no estatuto de funcionário público – é que está dependente da sua acei-tação, só após a qual ele fica investido no con-junto de direitos e deveres inerentes ao lugar”( Oliveira, Esteves, in Direito Administrativo, Almedina, Coimbra, 1980, Vol.I, p. 376 ).

A nomeação integra-se, desta forma, no pla-no estrutural, na categorias de actos administra-tivos carecidos de consentimento do particu-lar, que funciona como requisito de eficácia.

Mais concretamente, a aceitação opera aqui como condição suspensiva da eficácia do acto ad-ministrativo, uma vez que, os efeitos práticos da nomeação só operam depois da aceitação.

A coincidência no tempo, entre a perfeição dos actos administrativos e o começo da sua eficá-cia, comporta, porém, excepções.

Emdiversassituações,àproduçãodoactonãose segue, imediatamente, a verificação dos efeitos, dizendo-se que “o acto é potencialmente produ-tor de consequência jurídicas, mas elas estão comprimidas ou em estado latente. Torna-se

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148 Boletim Informativo - Dez.2006

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então necessária uma terceira fase, constituída por acto principal que, vão, todavia, conferir- -lhe a força que o liberte do letargo (...) vão sus-citar a energia operativa própria dos elemen-tos constitutivos”( Mário Esteves de Olivei- ra/Pedro Gonçalves/Pacheco de Amorim, Códi- go do Procedimento Administrativo, anotado, 2ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 610 a 617).

É o que acontece com os actos que estão sujei-tos a actos de controlo preventivo (vistos, aprova-ções e outros), actos sujeitos a condição suspensiva ou termo inicial, actos que necessitem da adesão do interessado (como, por exemplo, a aceitação ou a tomada de posse), com a notificação dos actos re-ceptícios ou com actos sujeitos a publicação, etc.

Tais actos, ainda que perfeitos e válidos, não produzem os efeitos jurídicos que a ordem jurídica lhes assinala, permanecendo num es-tado de letargia, até a verificação do facto de-sencadeador da eficácia.

No que respeita ao seu conteúdo, a doutrina maioritária integra a nomeação entre os actos cons-titutivos de direitos ou actos constitutivos de uma qualidade jurídica, que só são revogáveis quando ilegais e dentro do prazo fixado para o recurso con-tencioso.

Constitui igualmente jurisprudência do STA que “ o acto de nomeação é um acto unilateral constitutivo ou modificativo da relação jurídi-ca de emprego, que se enquadra no grupo de actos criativos de um “status”, e que definem de modo inovatório, uma dada situação jurídi-co-profissional, com o inerente acervo de di-reitos, poderes e deveres”.

Quanto à posse ou aceitação de nomeação,pondera o STA que “ é um acto público, pes-soal e solene pelo qual o nomeado manifesta vontade de aceitar a nomeação(...) e pelo qual o funcionário é simultaneamente investido no lugar ou cargo em que haja sido provido(...)”.

“Mas tal posse ou aceitação de nomeação constitui um «posterius» relativamente ao «prius» traduzido no acto de nomeação, este um verdadeiro acto constitutivo de direitos que implica e determina a subsequente investidura

do nomeado num estado legal constituído por um complexo de poderes e deveres abstracta-mente estruturado por lei (...)”(cfr. Acordão de 16/04/96, Proc. 37420,D.R 23/10/98,pp 2501; no mesmo sentido, Acordão de 01/03/84, D.R de 05/12/86, pp 1220 ss).

Do que fica dito, podemos extrair, numa pri-meira análise, e com interesse para o parecer, as se-guintes conclusões:

- A nomeação é um acto unilateral, pelo qual se constitui ou modifica uma rela-ção jurídica de emprego público, regu-lada pelo direito público, que confere aos destinatários a qualidade de fun-cionários, bem como o direito a ocupar um lugar no quadro;

- O acervo de direitos e obrigações em que se traduz a situação estatutária, criada pela nomeação fica numa situa-ção de pendência, só produzindo efei-tos práticos depois da aceitação dos destinatários;

- A aceitação opera como condição sus-pensiva da eficácia do acto de nomea-ção, nada acrescentando ao conteúdo do estatuto conferido pela nomeação;

- Tal situação de pendência não impede, porém, a consolidação, na esfera jurí-dica dos destinatários, de verdadeiros direitos subjectivos.

É certo, como se viu, que a nomeação para um lugar do quadro, como acto receptício que é, só produz efeitos jurídicos após a aceitação pelo nomeado. Mas, no caso concreto, objecto deste parecer, esses efeitos jurídicos reportam-se, não ao momento de aceitação, mas a um momento ante-rior, não só, por virtude do regime especial que decorre da norma do artigo 72º do Estatuto dos Magistrados Judiciais (E.M.J.), que confere rele-vância – para efeitos da contagemda antiguida-de na categoria – ao momento da publicação do provimento, no Diário da República, mas também pelo disposto na alínea c), do nº1, do artigo 70º, do mesmo Estatuto.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 149

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Em nosso entender, é a doutrina tradicional a mais correcta, tanto “de jure constituendo” como “ de jure constituto”. No entanto, entendemos também, que uma interpretação que com base na estrita aplicação da referidas normas dos artigos 12º, nº 1, do Decreto-Lei nº 427/89, de 07 de Dezembro e 3º, nº 1, do Decreto-Lei nº 353-A/89, de 16 de Outubro, estabeleça o termo inicial do tempo de serviço e do abono de remunerações na data em que ocorre a aceitação, colide – pelo menos apa-rentemente – frontalmente, com o disposto na lei especial, que aprovou o Estatuto dos Magistrados Judiciais.

Com a nomeação, consolidou-se na esfera ju-rídica dos destinatários um conjunto de direitos e deveres que relevam do estatuto jurídico do fun-cionário público.

Tal acervo de direitos e obrigações em que se traduz a situação estatutária criada pela nomeação ficou, porém, transitoriamente inoperante, uma vez que os seus efeitos práticos ficaram condiciona-dosàaceitaçãopelosdestinatários.

A aceitação tem, apenas, como efeito projectar na realidade jurídica, os efeitos de direito definidos na nomeação, que se encontram numa situação de pendência, nada acrescentando ao conteúdo da de-cisão tomada e, tal como já referimos, essa situação de pendência, não impede que se tenham consoli-dado na esfera jurídica dos destinatários verdadei-ros direitos subjectivos.

Em conclusão, sempre diremos que, em bom rigor, o disposto no artigo 72º, do E.M.J., não es-tabelece o início da contagem da antiguidade na data de provimento – pois este, na ausência de subsequente investidura (posse) não produz efeitos – consagra, sim, a retroactividade dos efeitos da investidura, em matéria de antiguidade.

A investidura, constitui, pois, “o acto admi-

nistrativo através do qual a entidade compe-tente confere ou atribui aos indivíduos, pre-viamente providos, o complexo de poderes, direitos, deveres e incompatibilidades ine-rentes aos lugares para que foram designados – investindo-os, assim, na situação jurídica de funcionários ou de agentes em regime de di-reito público” ( cfr. Alfaia, João, in “Conceitos Fundamentais do Regime Jurídico do Funcio-nalismo Público” Almedina, Coimbra, p 383 ).

Só a partir da investidura – que reveste a na-tureza jurídica de acto constitutivo de direitos e de deveres – se realiza o preenchimento de lugares e, portanto, os funcionários e agentes assumem a qualidade de titulares de relações jurídicas de di-reito público.

O que acontece, por vezes, é a própria lei atribuir eficácia retroactiva à investidura. É o caso da antiguidade dos magistrados judiciais - prevista no artigo 72º, do E.M.J. Efectivamente, se não houver investidura dentro do prazo legal (30 dias, que, eventualmente, poderão ser prorroga-dos), não se produzirão os efeitos citados.

Verificada a investidura, através da posse, esses efeitos retroagem à data do provimento (nomeação) no Diário da República.

De todo o exposto, é nosso entendimento que a antiguidade dos magistrados judiciais, na categoria, deverá ser contada, nos termos do artigo 72º, do E.M.J. ou seja, desde a data da publicação do provimento, no Diário da República e não a partir da data da tomada de posse.

Salvo melhor opinião, este é o nosso parecer.

Lisboa, 27 de Novembro de 2005

O Técnico Superior Jurista,(Ralph Rodrigues)

Conselho Superior da Magistratura

150 Boletim Informativo - Dez.2006

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6 - O CONTENCIOSO DO CONSELHO2 - SUPERIOR DA MAGISTRATURA

1.º ACÓRDÃO

Reclamação à lista de antiguidade referentea 31/12/2004

Reclamantes: juízes de direito do XXI Curso Normal de Formação de Magistrados do CEJ

Acordam em Plenário do Conselho Supe-rior da Magistratura:

(…), ao tempo juízes de direito em regime de está-gio do XXI Curso Normal de Formação de Magistrados do Centro de Estudos Judiciários e actualmente já colo-cados como Juízes de direito, vieram reclamar, de per si, da lista de antiguidade referente a 31-12-2004 e do Aviso nº 4929/2005 publicado no DR, II Série, nº 90, de 10/5/05, a págs. 7249 referente ao movimento judicial ordinário de 2005, pedindo que:

a) seja a lista de antiguidade referente a 31/12/04 revo-gada, elaborando-se uma nova na qual os requerentes e demais JuízesquefrequentaramoXXICursoNormaldeFormaçãodeMagistrados sejam graduados acima dos Exm.ºs Juízes que fre-quentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados;

b) seja revogada a deliberação a que se refere o Aviso nº 4929/2005, publicado no DR, II Série, nº 90, de 10/5/05, a págs. 7249 e ss. na parte constante do seu ponto 8 em que se referequeosJuízesdedireitodoXXICursoNormaldeForma-ção de Magistrados serão movimentados após o I Curso Especial, passandoaconsiderar-sequeosJuízesdedireitodoXXICursoNormal de Formação de Magistrados serão movimentados antes do I Curso Especial.

Para tanto alegam que:1. Os requerentes frequentaram o XXI CursoNormal

de Formação de Magistrados do Centro de Estudos Judiciá- rios, tendo sido nomeados auditores de justiça pelo Despacho n.° 21.337/2002, por despacho do Secretário de Estado Adjun-to da Ministra da Justiça, publicado no Diário da República, II Série, n.° 228, de 2/10/2002, a págs. 16.525, com efeitos a partir de 16/09/2002.

2. Concluído tal curso, foram nomeados Juízes estagiá-rios pelo Despacho n.° 19.297/2004, publicado no Diário da República. II Série, n.° 217, de 14/09/2004, a págs. 14.015 e 14.016, com efeitos a partir de 15/09/2004.

3. Os Exm.ºs Juízes que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados foram nomeados auditores de jus-tiça através do Despacho n.° 10.751/2003, publicado no Diário da República, II Série, n.° 125 de 30/05/2003, a págs. 8.375 e 8376, com efeitos a partir de 19/05/2003.

4. O Conselho Superior da Magistratura elaborou a lista de antiguidade a que se refere o art.º 76.° do EMJ, com re-ferênciaàdatade31/12/2004eemtal lista,os requerentes,bem como todos os demais juízes estagiários que frequentaram oXXICursoNormaldeFormaçãodeMagistrados foramco-locados abaixo dos Exm.ºs colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados.

5. Nos termos do disposto no art.º 72°, n.° 1 do EMJ, a antiguidade dos magistrados na categoria conta-se desde a data de publicação do provimento no Diário da República.

6. Tendo-se sempre entendido que o provimento a que se refereaquelenormativoé,noquedizrespeitoàcategoriadeJuiz de Direito, o relativo ao ingresso no Centro de Estudos Judi-ciários.

7. Por essa razão também o tempo de serviço, relevante para efeitos de graduação nos termos do artigo 76°, n.° 2, do EMJ, se conta desde o ingresso no Centro de Estudos Judiciários, como, de igual modo, sempre tem sido feito por esse Conselho.

8. Assim, e como muito bem fez o Conselho Superior da Magistratura, foi considerado na lista de antiguidade elaborada que o requerente, bem como os demais colegas que frequenta-ramoXXICursoNormaldeFormaçãodeMagistrados,tinha(em 31/12/2004), 2 anos, 3 meses e 17 dias de serviço, tanto na categoria como na magistratura.

9. Do mesmo modo, nessa mesma lista foi considerado que os Exm.ºs colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados tinham (naquela mesma data de 31/12/2004), 1 ano, 7 meses e 21 dias de serviço, tanto na cate-goria como na magistratura.

10. Não obstante ter sido contado o tempo de serviço do modo acabado de expor, os requerentes e os demais colegas que frequentaramoXXICursoNormaldeFormaçãodeMagistra-dosforamcolocadosnareferidalistaemlugarinferioràquelenoqual foram graduados os Exm.ºs colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados.

11. Assim, nessa parte, viola a referida lista o disposto nos citados art.º 72°, n.° 1 e 76°, n.° 2 do EMJ.

12. No Aviso n.° 4929/2005, respeitante ao movimento judicial ordinário de 2005, refere-se que os Juízes do I Cur-so Especial de Formação de Magistrados, independentemente da respectiva modalidade de recrutamento (de entre Juízes de nomeação temporária ou de entre assessores dos tribunais da re-laçãoede1ªinstância),serãocolocados,apardosJuízesXXICurso Normal de Formação de Magistrados, em tribunais de primeiro acesso.

13. Refere-se, por outro lado, em inciso constante do ponto8.docitadoAviso,queosJuizesdedireitodoXXICurso

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 151

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NormaldeFormaçãodeMagistrados“serãomovimentadosapósoICursoEspecial”.

14 Ora, nos termos do disposto no artigo 44°, n.° 3, do EMJ,“constituemfactoresatendíveisnascolocações,porordemdecrescente de preferência, a classificação de serviço e a antigui-dade”.

15.TantoaosjuizesestagiáriosquefrequentaramoXXICurso Normal de Formação de Magistrados como aos Exm.ºs Colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados não foi ainda atribuída qualquer classificação de-corrente de inspecção ordinária.

16. Assim, visto que nem uns nem outros possuem qual-quer classificação de serviço, na graduação a efectuar deverá atender-seapenasàantiguidade,calculadaesta,nostermosex-postos, de acordo com o tempo de serviço.

17. Ainda que se considerasse que a classificação de ser-viço deveria ser um critério a considerar, haveria que atender ao dispostonoart.º36°,n.°3doEMJ,ondeseestatuique“nocasode falta de classificação não imputável ao magistrado, presume---se a de Bom, excepto se o magistrado requerer inspecção, caso emqueserárealizadaobrigatoriamente”.

18. Assim, o requerente e os demais colegas que frequen-taramoXXICursoNormaldeFormaçãodeMagistrados,bemcomo os Ex.mos Colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados sempre teriam a mesma classificação de Bom.

19. Ora, presumindo-se a mesma classificação (de Bom) para todos os referidos magistrados, deveria preferir na gradua-ção a efectuar entre si, nos termos do citado art.° 44°, n.° 3, apenas a antiguidade.

20. Como se deixou supra exposto os requerentes e os seus colegasque frequentaramoXXICursoNormaldeFormaçãode Magistrados têm mais tempo de serviço (tanto na categoria como na magistratura) do que os Ex.mos Colegas que frequen-taram o I Curso Especial de Formação de Magistrados e nessa medida, e tendo mais antiguidade, o Aviso n. ° 4929/2005, na parteemquereferequeosJuizesdedireitodoXXICursoNor-maldeFormaçãodoCentrodeEstudosJudiciários“serãomovi-mentadosapósoICursoEspecial”violafrontalmenteodispostono citado art.º 44°, n. ° 3.

(...) 21. Assim, atentos os citados critérios de movimentação

de magistrados judiciais, fixados no artigo 44°, n.° 3 do EMJ, não podem todos os colegas do I Curso Especial de Magistra-dosJudiciaisdeixardesermovimentadosdepoisdoXXICursoNormal de Formação de Magistrados.

22. A manutenção dos actos aqui impugnados implica-ria não só uma situação de violação dos citados preceitos legais, como também a criação de injustiças em relação a colegas que foram assessores dos tribunais e posteriormente frequentaram o XXICursoNormaldeFormaçãodeMagistrados.

(....)23. Em conclusão, só alterando a lista de antiguidade,

colocando os aqui requerentes e os demais colegas que frequen-taramoXXICursoNormaldeFormaçãodeMagistradosaci-ma dos Ex.mos colegas que frequentaram o I Curso Especial de

Formação de Magistrados, e revogando a deliberação plasmada no Aviso n.° 4929/2005 na parte em se que dispõe que estes úl-timos serão movimentados antes do requerente e dos seus cole-gasdecursoseadequarãoosreferidosactosàsdisposiçõeslegaisconstantes do EMJ.

Notificados, todos os Juízes de direito identificados nas reclamações, como eventuais prejudicados, vieram responder os Exm.ºs Juízes de direito: (…) todos eles pedindo a improcedên-cia das reclamações com base nas seguintes conclusões:

a) A lista de antiguidade referente a 31.12.2004, mais não fez do que cumprir a graduação que havia sido fixada na lis-ta de antiguidade referente a 31.12.2003, quanto aos Juizes que frequentaram o 1º Curso Especial de Formação de Magistrados;

b) Assim, se os Juízes reclamantes pretendem impugnar a graduação da lista referente a 31.12.2004, deveriam começar por impugnar a lista de antiguidade referente a 31.12.2003;

c) Neste contexto, a douta reclamação apresentada pelos 35 Juízes de Direito em regime de estágio carece de sentido e utilidade: o efeito útil que pretendem ver produzido com a impugnação da lista de antiguidade referente a 31.12.2004, só poderia, na realidade, ser conseguido através da impugnação da lista de antiguidade referente a 31.12.2003, impugnação esta queatéàdatanãofoilevadaacabo;

d) A impugnação do Aviso n.° 4929/2005 padece do mesmo problema: foi no Aviso n.° 5737/2004, de 4 de Maio de 2004, (DR n.° 114, II Série, de 15 de Maio de 2004) que ficou estabelecido que os Juizes que frequentaram o I Curso Especial deFormaçãodeMagistradosficariam à frentedos Juizes quefrequentaramoXXICursoGeraldeFormaçãodeMagistrados,os quais, relembre-se, nem constavam da lista de antiguidade referente a 31.12.2003;

e) De facto, fixou-se aí que os magistrados do “...I cur-so especial deformação deverão, além dos lugares de 1º acesso, incluir nos seus requerimentos lugares de auxiliar em acesso final, sendo certo que enquanto houver vagas (efectivas ou auxiliares) em tribunais de 1º acesso, o seu preenchimento respeitará a ordem de graduação obtida no Centro de Estudos Judiciários (...) Destes, os que não forem colocados em 1º acesso ficaria como auxiliares em acesso final, a aguardar colocação em 1º acesso...”.

f) Assim sendo, se os Juízes Reclamantes pretendem pôr em causa a ordem de colocação constante do movimento judi-cial ordinário de 2005, teriam que ter começado por impugnar o Aviso n.° 5737/2004, de 4 de Maio de 2004, na parte acima transcrita pois que é este que (fundamentalmente) determina a ordem de colocação que os Juizes Reclamantes pretendem ver revogada;

g) Neste contexto, a douta Reclamação apresentada pe-los 35 Juízes de Direito em regime de estágio carece, também quanto ao Aviso n.° 4929/2005, de sentido e utilidade: o efeito útil que pretendem ver produzido com a impugnação deste Avi-so, só pode, na realidade, ser conseguido através da impugnação do Aviso n.° 5737/2004, de 4 de Maio de 2004;

h)Atéàpresentedataestaimpugnaçãonãofoilevadaacabo nem já poderá vir a sê-lo: já decorreu o prazo de 30 dias fixado no n.° 1 do artigo 167.° do Estatuto dos Magistrados Judiciais;

Conselho Superior da Magistratura

152 Boletim Informativo - Dez.2006

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i) Ainda que se entenda que os pontos antecedentes não procedem e sem conceder, sempre se deverá concluir pela não violação do n.° 3 do artigo 44.°, do n.° 1.0 do artigo 72.° e do n.° 2 do artigo 76.° do Estatuto dos Magistrados Judiciais;

j) De facto, e em primeiro lugar, não se pode tratar de forma igual situações desiguais, sob pena de violação do prin-cípio da igualdade previsto no artigo 13.° da Constituição da República Portuguesa;

k) É preciso ter presente que o I Curso Especial de Forma-ção de Magistrados foi criado “...tendo em conta excepcionais razões de carência de quadros...”, situação que determinou a criação de um regime de acesso com requisitos diversos dos previstos para o regime geral e um tempo de duração mais curto da fase de formação;

l) Assim sendo, não se pode – como o fazem os Juízes reclamantes – aplicar automaticamente os preceitos do Estatuto dosMagistradosJudiciaisàsituaçãojurídicadaoraRequerentee dos demais colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados: os princípios e normas que integram o dito Estatuto não foram pensados, não foram criados para si-tuações excepcionais como as criadas pela Lei n.° 7-A/2003, de 9 de Maio;

m) Mais: estar-se ia a frustar as expectativas – senão direi-tos – criadas na esfera jurídica da ora Requerente e dos demais colegas que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados, pela graduação constante da lista de antiguidade referente a 31.12.2003 e pelas disposições já referidas do Aviso n.° 5737/2004, de 4 de Maio de 2004;

n) Em segundo lugar, é preciso ter presente que Juízes em regime de estágio – como os Juízes ora reclamantes – não têmomesmo“estatuto”deJuízes–comoaoraRequerenteedemais Juízes que frequentaram o dito I Curso Especial – que já terminaram o seu período de formação;

o) Os Juízes reclamantes ainda estão sujeitos a um juízo final sobre a sua aptidão, ou não, para o exercício da função em causa, tal como decorre inequivocamente dos artigos 70.° e se-guintes da Lei n.° 16/98, de 8 Abril (lei que regula a estrutura e funcionamento do Centro de Estudos Judiciários);

p) No limite e em abstracto, os Juízes em regime de es-tágio podem vir a ser declarados não aptos para o exercício da função ou pode o período de estágio fixado inicialmente vir a ser prorrogado para que se cumpram os objectivos fixados nas alíneas a) a c) do artigo 71º da Lei n.° 16/98, de 8 de Abril;

q) Os Juízes que já terminaram o seu período de formação são já Juízes em relação aos quais foi feito o juízo final de apti-dão para o exercício da função em causa, não necessitando, entre outras coisas, de “...assistência de formadores...;

r) Assim, outra não poderia ser a decisão do Conselho Su-perior de Magistratura senão a de colocar os Juizes Reclamantes, que se encontram ainda em período de estágio, atrás dos Juízes que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistra-dos e que já terminaram a sua fase de formação;

s) Neste contexto, é claro que a lista de antiguidade re-ferente a 31.12.2004 e o Aviso n.° 4929/2005 não violaram o n.° 3 do artigo 44.°, o n.° 1 do artigo 72.° e o n.° 2 do artigo

76.° do Estatuto dos Magistrados Judiciais.

Fundamentos de facto:Cumpre apreciar e decidir tal reclamação, nos

termos do art.º 77º, nº3 do EMJ, para o que se con-sidera relevante a seguinte factualidade:

1. Os Exm.ºs Juízes reclamantes, ao tempo aindajuízesestagiários,frequentaramoXXICur-so Normal de Formação de Magistrados do Cen-tro de Estudos Judiciários, tendo sido nomeados auditores de justiça por Despacho nº 21337/2002, do Sr. Secretário de Estado Adjunto da Ministra da Justiça, publicado no DR nº228, II Série, de 2/10/2002, com efeitos a partir de 16/09/02.

2. Concluído tal curso, foram nomeados Juí-zes estagiários pelo Despacho nº19297/2004, pu-blicado no DR nº217, II Série, de 14/09/04, com efeitos a partir de 15/09/04.

3. Na sequência da publicação da Lei nº7-A/03 de 9 de Maio que veio permitir a criação de cursos especiais de formação específica para recruta-mento de magistrados judiciais ou de magistrados do Ministério Público, por razões excepcionais de carência de quadros, os respondentes e bem assim os demais Juízes indicados como prejudicados, fo-ram nomeados, com efeitos a partir de 19 de Maio de2003,auditoresdejustiçanoâmbitodoICursoEspecial de Formação de Juízes de direito organi-zado pelo Centro de Estudos Judiciários, conforme Despacho nº 10751/2003 do Secretário de Estado Adjunto da Ministra da Justiça, publicado no DR nº125, II Série, de 30 de Maio de 2003.

4. E foram nomeados Juízes de direito em re-gime de estágio, com efeitos a partir de 8 de Ou-tubro de 2003, conforme Despacho nº19889/2003 do Juiz Secretário do Conselho Superior da Ma-gistratura, publicado no DR nº241, II Série, de 17/10/03.

5. Na lista de antiguidade referente a 31/12/2003, estão mencionados os Juízes esta- giários que frequentaram aquele I Curso Especial de Formação de Juízes de direito, tendo sido colo-cados logo a seguir aos Juízes que frequentaram o XXCursoNormaldeFormaçãodeMagistrados.

6. No aviso do movimento judicial ordinário de 2004, nº5737/2004, de 4 de Maio de 2004, pu-blicado no DR nº114, II Série, de 15 de Maio de 2004,ficouestabelecidoqueosmagistrados“doIcurso especial de formação deverão, além dos lu-gares de 1º acesso, incluir nos seus requerimentos

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 153

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lugares de auxiliar em acesso final, sendo certo que enquanto houver vagas (efectivas ou auxiliares) em tribunais de 1º acesso, o seu preenchimento res-peitará a ordem de graduação obtida no Centro de estudos Judiciários (…) Destes, os que não forem colocados em 1º acesso ficarão como auxiliares em acesso final, a aguardar colocação em 1º acesso.

7. Na lista de antiguidade referente a 31/12/2004, os Juízes estagiários que frequenta-ram oXXICursoNormal de Formação deMa-gistrados foram colocados abaixo dos Juízes que frequentaram o I Curso Especial de Formação de Magistrados.

8. No Aviso nº4929/2005 respeitante ao mo-vimento judicial ordinário de 2005 refere-se, no seuponto8,queosJuízesdoXXICursoNormalde Formação do Centro de Estudos Judiciários (…) serão movimentados após o I Curso Especial.

ConhecendoOs Srs. juízes reclamantes que frequentaram

oXXIcursonormaldeformaçãodemagistradosdo Centro de Estudos Judiciários pretendem ser graduados na lista de antiguidade a que se refere o art.º76ºdoEMJàfrentedosSrs.JuízesdoIcursoespecial e como tal serem colocados antes destes em comarcas de primeiro acesso, quer como efecti-vos quer como auxiliares.

Para tanto alegam que a antiguidade dos ma-gistrados na categoria se conta desde a data da pu-blicação do provimento no DR, a qual consideram ser a data relativa ao ingresso no Centro de Estudos Judiciários, o que no caso dos reclamantes ocorreu emdataanterioràquelaemqueosSrs.Juízesres-pondentes foram nomeados auditores de justiça, devendo por isso serem considerados mais antigos.

Afigura-se, porém, que não assiste qualquer razão aos Srs. Juízes reclamantes que desde logo utilizam dois factores diversos para determinar a antiguidade - para eles a partir do ingresso no CEJ e para os Juízes do I Curso especial a partir da data em que foram nomeados auditores de justiça, o que vai contra o disposto a esse propósito no Estatuto dos Magistrados Judiciais (cfr. art.º 72º, nº1 e 2).

Com efeito, antes da entrada em vigor da ac-tual lei do CEJ (Lei 16/98 de 8/04) estava expressa-mente previsto no art.º 2º, nº3 do DL nº264-A/81 de 3/09 (revogado por aquela Lei) que a antiguida-de dos magistrados saídos de cursos especiais con-

tava-se desde a data da publicação do provimento como auditores de justiça.

Contudo, a revogação desta norma sem a previsão de norma idêntica, tanto na actual lei do CEJ como na Lei nº 7-A/03 de 9/05, que permitiu precisamente a criação do curso especial de forma-ção de juízes por razões excepcionais de carência de quadros e que abrangeu os respondentes, indica claramente que a antiguidade dos magistrados ju-diciais saídos de cursos especiais, como dos magis-trados judiciais saídos de cursos normais passou a ser aferida pelos mesmos critérios, face ao disposto no Estatuto dos Magistrados Judiciais, conjugado com o disposto no art.º 72º da Lei nº16/98 de 8/04 (Lei do CEJ).

Mas ainda que, por se tratar de uma situação excepcional a criação daquele curso especial, fosse de continuar a aplicar aquela norma, o que não su-fragamos, ainda assim não assistiria qualquer razão aosSrs.Juízesreclamantese,desdelogo,quantoànão impugnação da lista de antiguidade referente a 31.12.2003.

A lista de antiguidade dos magistrados judi-ciais na categoria ( pois é essa que aqui está em causa) é elaborada anualmente pelo CSM e nela os magistrados são graduados em cada categoria de acordo com o tempo de serviço, mencionando-se, a respeito de cada um, a data de nascimento, o cargo ou função que desempenha, a data da colocação e a comarca da naturalidade, podendo dela reclamar os magistrados que se considerem lesados pela gra-duação constante de tal lista – cfr. art.º 72º, nº 1, 76º, nº 2 e 77º do EMJ.

Atento o disposto no art.º 78º do EMJ quan-to aos efeitos da procedência da reclamação só tem legitimidade para reclamar o magistrado judicial que esteja também ele integrado na lista de anti-guidade e que tenha sido preterido em determina-do lugar dessa lista.

De onde resulta que, ao contrário do defendi- do pelos Srs. Juízes respondentes, não tinham os Srs. Juízes legitimidade para reclamar da lista de antiguidade referente a 31.12.03 uma vez que, nela não foram incluídos, nem tinham de o ser, por se-rem então auditores de justiça que não magistrados judiciais.

É que, nos termos do art.º 72º do EMJ a anti-guidade dos magistrados na categoria. (sublinha-

Conselho Superior da Magistratura

154 Boletim Informativo - Dez.2006

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do nosso), isto é, como Juizes de direito, conta-se desde a data da publicação do provimento no Diá-rio da República.

Esse provimento só pode ser entendido, tendo em conta o disposto no art.º 70º, nº1 da Lei do CEJ, como o provimento em que o auditor de justiça é nomeado juiz de direito em regime de estágio, pelo Conselho Superior da Magistratura, nos termos do art.º 68º da mesma Lei, uma vez que, apesar de se encontrarem em regime de estágio, os magistrados judiciais exercem com a assistência de formadores, é certo, mas sob responsabilidade própria, as fun-ções inerentes à respectivamagistratura, com osrespectivos direitos, deveres e incompatibilidades (art.º 70º da Lei 16/98), e esse tem sido o entendi-mento deste Conselho.

A data do ingresso no CEJ em curso normal de formação, como provimento a atender para efei-to de antiguidade, tal como defendem os reclaman-tes, além de não depender de qualquer provimento do CSM, não confere o estatuto de juiz de direito mas antes o de auditor de justiça ficando os candi-datos admitidos sujeitos, quanto a direitos, deveres e incompatibilidades ao regime da função pública (art.ºs 52º e 53º da Lei 16/98), estatuto esse que se mantém até ao momento em que são nomeados pelo CSM Juizes de direito em regime de estágio, com os direitos e deveres inerentes aos magistrados judiciais, sendo certo que só antes disso, após te-rem sido classificados e graduados como auditores de justiça é que poderão fazer a opção pela magis-tratura judicial ou do M.º Público.

Assim sendo, a lista de antiguidade referen-tea31.12.04contraaqualosSrs.JuízesdoXXIcurso normal reclamam, ao invés de violar a lei, como estes defendem, obedeceu na sua elaboração ao estabelecido nos referidos preceitos legais e de-signadamente nos art.ºs 72º e 76º do EMJ.

Com efeito, os Srs. Juízes do I curso especial, foram nomeados Juízes de direito em regime de estágio, com efeitos a partir de 8 de Outubro de 2003 conforme Despacho nº19889/2003 do Juiz Secretário do Conselho Superior da Magistratura, publicado no DR nº241, II Série, de 17/10/03. e como tal, foram incluídos na lista de antiguidade referente a 31.12.2003.

Por sua vez os Srs. Juízes reclamantes fo-ram nomeados como juízes estagiários pelo Con-

selho Superior da Magistratura, pelo Despacho nº19297/2004, publicado no DR nº217, II Série, de 14/09/04, com efeitos a partir de 15/09/04 e só então puderam ser incluídos na lista de antigui-dade na categoria reportada a 31/12/2004, tendo sido graduados, como resulta da lei, imediatamen-teaseguiràqueles.

Consequentemente e, por força do disposto no art.º 44º, nº3 do EMJ foram colocados, a pri-meira vez, como juízes de direito, em comarcas de primeiro acesso ou como auxiliares a aguardarem vaga para o 1º acesso, imediatamente após os Srs. Juízes do I curso especial, com mais antiguidade na categoria, segundo a graduação obtida nos cur-sos e estágios de formação uma vez que nem uns nem outros haviam sido submetidos ao tempo, a qualquer inspecção judicial, não tendo classificação atribuída mas antes a nota presumida de bom nos termos do art.º 36º, nº4 do EMJ.

Por isso, ao contrário do alegado pelos Srs. Juí- zes reclamantes o Aviso nº4929/2005 respeitante ao movimento judicial ordinário de 2005 não po-dia deixar de prever como previu, além do mais, queosJuízesdedireitodoXXIcursonormaldeformação de magistrados seriam movimentados após o I curso especial, pois só assim se estava a dar cumprimentoàlei.

Os Srs. Juízes confundem antiguidade na “função pública” designadamente, para efeitos de aposentação, que se fixa com a data de ingresso no CEJ, com a antiguidade na carreira ou categoria relativamenteàqualsãoanualmenteelaboradasaslistas de antiguidade que, juntamente com a clas-sificação, determinam a colocação dos Juízes de di-reito e dos Juízes desembargadores.

Ora, a antiguidade do magistrado na catego-ria não se confunde com a antiguidade para efeitos de aposentação, já que nesta se considera todo o tempo de serviço em que o juiz tenha sido sujeito a descontos para a Caixa Geral de Aposentações e para a qual releva a data de ingresso no Centro de Estudos Judiciários ou a data de início de funções como assessor ou como juiz temporário, no caso dos Srs. Juízes do curso especial, se outras fun-ções públicas o juiz não tiver exercido antes que tenham sido sujeitas a descontos, caso em que é a data do início destas que releva, enquanto que naquela o que conta é o tempo que o juiz exerce

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 155

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as funções de juiz, ainda que sob a assistência de formadores, para o que releva a data da publica-ção do provimento no DR. E só esta antiguidade é que é abrangida naquela lista de antiguidade que é elaborada anualmente pelo CSM e que é tida em consideração para efeito de colocação dos juízes de direito.

Tudo o mais que é alegado pelos Srs. Juízes reclamantes, designadamente a criação de injus-tiças em relação a colegas que foram assessores dos tribunais e posteriormente frequentaram o XXICursoNormaldeFormaçãodeMagistradose cuja pretensão de se transferirem para o I Curso especial foi indeferida por este Conselho, é irre-levante até porque não era o simples facto de ter sido assessor que lhes permitia aceder ou garantir a frequência do curso especial quando o mesmo foi criado.

Temos assim, e em conclusão, que os Juízes quefrequentaramcomaproveitamentooXXIcur-so normal de formação de magistrados do Centro de Estudos Judiciários e que vieram a ser nomeados Juizes estagiários, entraram na lista de antiguidade na categoria após os Juízes do I curso especial, pela ordem estabelecida na lista de graduação elabora-da no curso ou estágio de formação, pois só depois destes alcançaram o estatuto de juiz de direito que lhes permitiu a sua inclusão na referida lista, cons-tando por isso da mesma a data da sua colocação como juízes estagiários.

Inexiste assim qualquer vício na lista de an-tiguidade reportada a 31/12/04, não tendo havido qualquer preterição relativamente ao lugar que os reclamantes ocupam nessa lista, da mesma forma que não existe qualquer fundamento legal para a re-vogação, ainda que parcial, do Aviso nº4929/2005 respeitante ao movimento judicial ordinário de 2005, já realizado.

Apesar da inexistência de vício, a lista de an-tiguidade em questão encontra-se, porém, incor-rectamente elaborada na medida em que fazendo a distinção entre tempo de serviço na categoria (o que releva apenas para efeitos de graduação dos Juizes Desembargadores e Juizes Conselheiros,

na respectiva lista) e tempo de serviço na magis-tratura, conta esse tempo de igual forma nas duas situações, desde a data do ingresso no CEJ relati-vamente aos reclamantes, e desde a data em que os respondentes foram admitido a frequentar o I curso especial e não desde a data que a lei conside-ra cada um deles investido na categoria de juiz de direito,oque,aliásdeuazoàfundamentaçãodosreclamantes e que importará corrigir.

Termos em que improcedem as reclamações deduzidas.

DecisãoPelo exposto, acordam os membros do Plená-

rio do Conselho Superior Magistratura em julgar improcedentesasreclamaçõesàlistadeantiguidadedos magistrados judiciais referente a 31/12/2004, ordenando porém, em conformidade com o acima exposto, a sua correcção na parte referente ao tem-po de serviço como juiz de direito, tanto relativa-mente aos reclamantes como aos respondentes, por forma a que dela passe a constar apenas o tempo de serviço na magistratura, contado a partir da sua nomeação como juiz de direito estagiário ou em regime de estágio.

Mais se delibera em manter a deliberação des-te Conselho a que se refere o Aviso nº4929/2005, publicado no DR, II Série, nº90 de 10/05/05 respeitante ao movimento judicial ordinário de 2005.

Lisboa, 6 de Junho de 2006

Maria José MachadoJosé Nunes da CruzAntónio Bernardino

Álvaro Laborinho LúcioLuís Máximo dos Santos

António GeraldesCarlos Ferreira de Almeida

Vítor FariaEdgar LopesRui Moreira

António Barateiro MartinsAlexandra Leitão

Manuel Braz

Conselho Superior da Magistratura

156 Boletim Informativo - Dez.2006

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2.º ACÓRDÃO

I. RelatóRio

Realizou-se inspecção extraordinária ao ser-viço prestado pela Exma. Juíza … no período de 05-01-2001 a 31-12-2004, no 3º Juízo Cível da Comarca de ....

O Exmo. Inspector Judicial elaborou Rela-tóriopropondoaclassificaçãode“MuitoBom”,oConselho Permanente do CSM deliberado remeter os autos a Vistos.

Distribuídos os autos a uma Exma. Vogal, foi elaborado acórdão aprovado pelo Conselho Perma-nente do CSM, na sessão de 20/04/2006, atribuin-doanotaçãode“BomComDistinção”.

Dessa deliberação do Permanente, veio a Exma. Juíza reclamar para o Plenário do CSM, nos termos dos arts. 165º e 167º, EMJ, discordando da notação atribuída, entendendo ser merecedora de classificação superior, considerando quer a perspec-tiva quantitativa, quer qualitativa (da inspecção anterior e em menos tempo, passou de 85 para 207 sentenças com oposição; de 40 saneadores no gabi-nete para nenhum; comparativamente com outro dos juízos do mesmo Tribunal, com um juiz com a mesma antiguidade e nota – BD – apresenta nú-meros substancialmente muito mais favoráveis; os atrasos que lhe são imputados têm explicações que agora dá; os reparos técnicos que lhe são feitos são apenas três a formulações de quesitos menos correc-tas mas que tem como eivados de uma perspectiva exageradamente purista; a efectiva presença de um serviço particularmente complexo derivado das ca-racterísticas especiais da comarca de...; e o seu de-sempenho ao longo da carreira).

II. os Factos No acórdão do Permanente do CSM, de

20/06/2006, foi considerada a seguinte factualida-de:

“NOTASBIOGRÁFICASECURRICULARESData de nascimento: 3 de Dezembro de ….Data da Licenciatura: 22 de Julho de ….Classificação final universitária:.… valoresFaculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa

Juiz de Direito em regime de estágio no Tribunal da Co-marca de… de 25-09-86 a 01-06-87.

Como Juiz de Direito desempenhou funções:No 2º Juízo Criminal do..., como Auxiliar, de 02-06-87

a 31-05-88.No Tribunal da Comarca de…, como Auxiliar, de 02-06-

88 a 31-12-88.No Tribunal da Comarca de… de 09-01-89 a 12-05-90.No Tribunal da Comarca de…, como Auxiliar, de 18-05-

90 a 08-04-91.No Tribunal da Comarca de…, como Auxiliar, de 13-04-

91 a 10-09-92.No 1º Juízo do Tribunal da Comarca de…, como Auxi-

liar, de 15-09-92 a 10-09-93.No 4º Juízo do Tribunal da Comarca de… de 15-09-93

a 30-12-93

Situação actual:No 3º Juízo Cível da Comarca de… desde 04-01-94

(DRIIªsérie,n.º303,de30-12-93).

ÂMBITO DA INSPECÇÃOAquando da última inspecção ordinária aos Juízos Cíveis

de… já a Senhora Juíza se encontrava colocada neste 3º Juízo Cível, pelo que o termo inicial da presente inspecção é de fixar em 05-01-01, abrangendo o período que vai até 31-12-04.

Muito embora a inspecção tenha sido instalada a partir de30-06-05,entende-seserdeatenderàqueladatacomotermofinal do período em observação, por estar prevista no Plano de Inspecções para o ano de 2004, por forma a respeitar-se o espí-ritoquepresidiuànovaregulamentaçãoeanãoencurtaronovoprazo para futura inspecção, o que redundaria em prejuízo de contagem de tempo para a inspecção seguinte e frustração dos objectivos traçados no art.º 9º n.º 2 do R.I.J.

Está em causa a prestação ao longo de cerca de 4 anos, mais concretamente, 3 anos, 11 meses e 26 dias.

CARACTERIZAÇÃO DO JUÍZOAtendendoàprestaçãoemcausaafigura-se-nosútiltraçar

em linhas breves o tipo de jurisdição.A partir 15 de Setembro de 1999 os Juízos Cíveis deixa-

ram de ter competência para apreciação e julgamento de proces-sosdejurisdiçãodefamíliaemenores,faceàcriaçãoeinstalaçãodo Tribunal de Família e Menores ….. (artºs 44º e 72º, nº1 do DL 386-A/99 (Regulamento LOFTJ) e Portaria 412-A/99).

Namesmaalturasãocriadasas1ªe2ªVarasdeCompe-tência Mista (art.º 48º, g), 74º, n.º 4, p) do citado Regulamento e Portaria 412-B/99 de 7/6).

Há que ter em conta que com a criação do Tribunal de Comércio ….., cuja área de competência compreende a da Co-marca de …… (cfr. Mapa VI, anexo ao referido Regulamento, p. 3110 (56) ) os Juízos deixaram de ter competência nas res-pectivas matérias (Lei 37/96 de 31/8, DL 40/97 de 6/2, Portaria 398/97 de 18/6 e art.ºs 89º e 137º da Lei 3/99 de 13/1).

Conselho Superior da Magistratura

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A partir de 15-09-99 a tais Juízos, sendo de competência específica, cabe-lhes conhecer de matérias determinadas em fun-ção da forma de processo aplicável, de acordo com os art.ºs 64º, nº2 e 96º, nº1, c) LOFTJ.

Teriam assim a competência definida no art.º 99º da mes-ma Lei, o que é feito por exclusão: preparar e julgar os processos de natureza cível que não sejam da competência das Varas Cíveis (art.º97º)edosJuízosdePequenaInstânciaCível(art.º101º),tendo ainda competência para executar as respectivas decisões (art.º 103º LOFTJ).

Todavia, o art.º 69º do Regulamento veio esclarecer que nos Tribunais de Comarca desdobrados em Juízos Cíveis em que nãoexistamJuízosdePequenaInstânciaCível(comoéocaso de ……) a competência dos Juízos Cíveis compreende também a competência daqueles Juízos, ou seja, a competência definida no art.º 101º do mesmo diploma: preparar e julgar as causas cíveis a que corresponda a forma de processo sumaríssimo e as causas cíveis não previstas no CPC a que corresponda processo especial e cuja decisão não seja susceptível de recurso ordinário.

Em suma: estes Juízos têm competência residual, compe-tindo-lhes a tramitação e julgamento dos processos que seguem a forma sumária, incluindo embargos e algumas especiais como justificação judicial, fixação judicial de prazo, prestação de con-tas, interdição, divisão de coisa comum, expropriações, recursos de acto de conservador, para além de procedimentos cautelares e execuções ordinárias, sumárias e comuns e ainda as acções dis-tribuídasna3ªespécie-sumaríssimaseespeciaisaseguiropro-cedimento regulado no DL 269/98, de 01-09. E ainda a partir da alteração ao art.º 7º deste diploma pela Lei 32/03, de 17-02, acresce a competência para as acções a seguir a forma sumária emergentes de procedimento de injunção frustrada, relativos a transacções comerciais de valor compatível com aquela forma.

A competência em matérias de processos falimentares e relacionadas com o exercício de direitos sociais, entre outras, pre-vistas no art.º 89º da LOFTJ, bem como as de família e menores é meramente residual, correspondendo a categorias em vias de ex- tinção, estando em causa apenas a liquidação dos pendentes e no que toca a família e menores alguns incidentes propostos e averbados após 15-09-99.

Os Juízos Cíveis de ….. são classificados de acesso final – Portaria nº950/01, de 3/8.

Anota-se que a prestação em causa teve lugar até 11-07-01 no antigo edifício da …… com as consabidas más condições de trabalho, passando a partir de 12-07-01 para as instalações sitas em condomínio fechado no …… que ofereciam excelentes condiçõesdetrabalho,oqueaconteceuatéàtransferênciaparaonovo Palácio da Justiça.

FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO – Art.º 15º, nº4 do Reg. das Inspecções Judiciais

PERSPECTIVA QUANTITATIVADe acordo com os dados disponíveis no 3º Juízo Cível da

Comarca de… e tendo em conta a data de 31-12-00, encontra-vam-se pendentes 1156 processos, sendo 1108 acções cíveis e 48 tutelares, para além de 535 cartas precatórias - Mapa I.

A estes processos há que adicionar os distribuídos ao lon-go do desempenho ( até 31-12-04).

Como resulta da análise dos elementos estatísticos a dis-tribuição nesse período processou-se do seguinte modo:

Cíveis -------------------------------------------------- 2742Tutelares ---------------------------------------------------- 8 Total ---------------------2750 e 3709 cartas precatórias.

Daqui resulta que o número global de processos a traba-lhar pela Senhora Juíza foi de 3906 (1156 pendentes em 31-12--00 e 2750 entretanto distribuídos).

A nível de processos pendentes em 31-12-04 temos o seguinte quadro:

Cíveis -------------------------------------------------- 1521 Menores ----------------------------------------------------- 4Total ---------------------- 1525 e 1324 cartas precatórias

No período em apreciação findaram 2381 processos, como se pode ver do quadro evolutivo de pendência que segue (sendo que findaram ainda 2920 cartas precatórias):

(…) Vejamos agora o trabalho produzido.No que respeita à tramitação de processos, findos os

articulados, o trabalho produzido pode verter-se no seguinte quadro:

SAN/C0ND. SAN.SENT. ABS.INST. ARTº 787ºCPC TOTALSUMÁRIAS 148 18 2 19 187ESPECIAIS 0 1 0 0 1EMB. EXEC. 9 8 0 2 19EMB.TERCEIRO 5 0 0 1 6TOTAL 162 27 2 22 213

Para apuramento das decisões finais proferidas socor-remo-nos da análise dos livros de registo de sentenças nºs 61 (parte) a 79 (parte).

(…)Nota:Naanálisedosnúmeros respeitantes às acções especiais

tramitadas de acordo com o procedimento anexo ao DL 269/98 ressalta o muito baixo número de decisões na sua globalidade, o que não pode deixar de ter que ver com o irrisório número de decisões a conferir força executiva que se encontram nos livros deregisto,devendo-seofactoàcircunstânciadenãoseprocederao registo deste tipo de decisão com excepção dos únicos 4 que foram inscritos. Tendo em conta uma análise comparada com o que se passa noutros Juízos da Comarca parece-nos evidente que o número de tais decisões terá sido muito superior.

Compulsados os elementos fornecidos pela secção, con-seguidos a partir de registos computadorizados, temos que o número global de decisões nestas acções foi de 316. Subtraindo os números conhecidos poderá computar-se em 187 o número de processos em que foi conferida força executiva.

Tendo em conta o igualmente baixo número de decisões em providências cautelares em confronto com outros Juízos, pelo mesmo sistema conseguiu-se alcançar-se o número de 20. Deduzidos os números conhecidos terão sido proferidas mais 9 sentenças, o que dá o total de 16.

Tendo em conta estes novos números temos que o total de decisões proferidas nesta rubrica foi de 1248 e não ape-nas os 1052 supra indicados.

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158 Boletim Informativo - Dez.2006

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EXECUÇÕES (…) FAMÍLIA E MENORES (…) JULGAMENTOS REALIZADOSAo longo dos cerca de 4 anos em causa a Exm.ª

Juíza iniciou e/ou interveio em 370 julgamentos. Em acções com matéria de facto controvertida realizou

219 julgamentos a que se seguiu a elaboração das respectivas sentenças em 144 acções sumárias, 28 sumaríssimas, 30 espe-ciais nos termos do DL 269/98, 12 embargos de executado e 5 embargos de terceiro.

Realizoujulgamentoem23acçõesquecorreramàreveliado réu – 15 sumárias, 1 sumaríssima e 7 especiais.

Iniciou ainda outros 121 julgamentos em que aberta a audiência foi alcançado acordo logo homologado em acta, sendo em 83 sumárias, 14 sumaríssimas, na acção de divisão de coisa comum 356/00, 18 especiais nos termos do DL 269/98, 4 em-bargos de executado e nos embargos de terceiro 419-A/97.

Iniciado o julgamento foi homologada em acta desistên-cia em 6 casos, declarando-se a inutilidade da lide num outro.

Realizou ainda julgamento na sumária 11507/03.8, res-pondendo aos quesitos em 20-12-04 e sendo a sentença elabora-da já em Janeiro de 2005.

PERSPECTIVA QUALITATIVAAs observações/reparos feitos ao longo da concretização

da matéria factual deverão ser entendidos na dupla óptica de propostadeeventual reflexãoquantoàcorrecçãodosprocedi- mentos adoptados e de fundamentação das referências desfavo- ráveis, de acordo com o disposto nos art.ºs 1º, nº2 e 14º, nº1 do Regulamento das Inspecções Judiciais de 19-12-02 (DR,IIªsérie,de15-01-03).

CONDUÇÃO DO PROCESSO AExm.ªJuízademonstradomíniodoprocesso,controlan-

do bem e disciplinando a respectiva marcha e seus incidentes.Conhecedora do direito adjectivo e muito expedita impri-

me celeridade ao processo na medida em que é rápida no despa-cho e se esforça por atalhar quanto possa complicar a tramita-ção.

Esteveatentaàfaltaeirregularidadedomandato,convi-dandoàjunçãodeprocuraçãoe,sendocasodisso,àratificaçãodo processado com a cominação do disposto no art.º 40º, nº2 do CPC, como na sumária 11595/03.7.

Ordenou a notificação para constituição de Advogado sob penadeoréuserabsolvidodainstâncianasumária356/02.

Na sumária 60/00 advertiu que cabia ao liquidatário constituirmandatárioquerepresentasseafalida,faceàcessaçãode poderes conferidos pela gerência daquela ao mandatário subs-critor da contestação.

Na sumária 3446/03.9 deu sem efeito a contestação, uma vez que a ré não constituiu Advogado.

Decretouasuspensãodainstânciaaoabrigodoart.º39º,nº3 do CPC, como na sumária 4594/03.0.

Teve em atenção a necessidade do suprimento da insufi-ciência de poderes, ordenando o cumprimento do art.º 301º, nº3

do CPC perante transacções – sumárias 88/99, 278/00, 384/01, 1672/02, 9947/03.1, embargos de executado 286-A/00.

Mostrou-seigualmenteatentaàobservânciadaregradacomunicação de articulados e requerimentos, nos termos dos art.º 229º-A e 260º- A do CPC, ordenando a junção do respec-tivo comprovativo, como nas sumárias 529/96, 456/97, 574/98, 268/99, 429/99, 4/01, 386/01, 1203/01, embargos de executa-do 1101-C/02.

Na sumária 3784/95 ordenou a notificação do Advogado com a advertência de que aplicaria analogicamente o disposto no art.º 152º, nº3 CPC.

Na sumária 285/98 face ao incumprimento ordenou a ex-tracçãodecertidãodasalegaçõesderecursoesuanotificaçãoàparte contrária, condenando o recorrente para além dos custos da certidão a multa mais elevada prevista no n.º 5 do art.º 145º CPC.

No inventário herança 486/01 ordenou a extracção de có-pia e a notificação, pagando o requerente o triplo das despesas a que a cópia deu lugar, a qual para o efeito é tratada como se de certidão se tratasse.

Controlou a admissibilidade e tempestividade dos arti-culados, como nas sumárias 225/00, 907/01, 272/02, em que considera não ser admissível a resposta, excepto na parte em quesealegaalitigânciademáfé,nãoseadmitindoasrespos-tas apresentadas na sumária 356/02 e nos embargos de terceiro 213-A/98.

De forma justificada não admite articulado superveniente nos embargos de executado 855-B/02.

Atenta à verificação dos requisitos de admissibilidadeda reconvenção não a admite nas sumárias 456/97, 723/02 e 7263/03.8.

Nas sumárias 281/99, 393/00, 431/00, 1092/01 admite o pedidoreconvencional,massemfazerqualquerreferênciaàadi-ção do novo valor nos termos dos art.ºs 308º CPC e 10º CCJ.

Na sumária 444/01 indeferiu a reconvenção quanto a alguns dos pedidos formulados, admitindo-a quanto a outros.

Na sumária 229/99, porém, omitiu-se pronúncia sobre a reconvenção deduzida.

Noquerespeitaàverificaçãoefixaçãodovalordacau-sa na sumária 1203/01 mostrou atenção ao mandar notificar o réu para indicar o valor do pedido reconvencional. Na sumária 456/97fixaovaloràreconvenção.

Decidiu incidentes suscitados pelos demandados na su-mária 2909/03.03 e nos embargos de executado 286-A/00, fi-xando correctamente o valor.

AtentaàpropriedadedomeioprocessualnasespeciaisdoDL 269/98 n.º 12634/03.7 e 134-A/99 (injunção) decidiu não ser este o meio próprio para cobrança de honorários de Advoga-doabsolvendodainstância.

Já na acção 134-B/99 estando em causa o mesmo pedido, sendo aproveitáveis os articulados, de forma correcta, mandou seguir a forma sumaríssima.

Impediu ainda o uso impróprio do processo especial cons-tante do regime anexo ao DL 269/98 para cobrança de despesas e quotas de condomínio – v.g. 6496/04.4.

Ordenou a correcção da forma, e bem, de sumária para sumaríssima na acção 4777/03.3.

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Dez.2006 - Boletim Informativo 159

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Decidiu incidentes de incompetência territorial, julgan-do improcedente a arguição nas sumárias 7263/03.8 e 170/02.

Decidiu incidentes de despejo imediato, nos termos do art.º 58º RAU, que foram julgados procedentes nas sumárias 399/00, 760/01, 756/01, 279/00, 3768/95, 412/97, 143/01.

Acolhendo o princípio do máximo aproveitamento dos actos processuais, invocando o disposto nos artes 265º e 508º, nº1, a) do CPC convidou ao suprimento de deficiências da p.i., tendo em vista a intervenção de terceiros, como forma de asse-guraropreenchimentodospressupostos formaisda instância,como nas sumárias 429/99, 145/00, 5818/03.0.

Decidiu incidentes de intervenção de terceiro, admitindo intervenção principal provocada, como nas sumárias 429/99, 452/99, 120, 145, 228, 275/00, 4/01, 415/02, ou intervenção acessória, como na sumária 1025/02, não admitindo interven-ção principal provocada na sumária 132/00.

Findos os articulados ordenou a junção de documentos pertinentes para elaboração da condensação, nos termos do art.º 508º, nº2 CPC, como nas sumárias 754/01e 356/02.

Convidouàapresentaçãodenovacontestaçãonostermosdo art.º 508º, n.º 3 CPC, nas sumárias 1091/01, 1137/01, sendo aqui igualmente para correcção da p.i.

Processou correctamente os processos de inventário, de-cidindodeformafundamentadareclamaçõesàrelaçãodebenscomo no inventário facultativo 193/99. No inventário herança 821/02 determinou a suspensão da instância até obtenção dedecisãodefinitivanosmeioscomunsquantoàinvalidadedoca-samento da requerente do inventário.

Processou de forma célere e correcta os procedimentos cautelares, de que é exemplo o 638/04.7 apresentado como Tra-balho.

SANEAMENTO/CONDENSAÇÃOAExm.ªJuíza,peloquevimosnosprocessosquecondu-

ziramàcondensação,nãomarcouqualqueraudiênciapreliminarque nas espécies versadas no Juízo assume carácter excepcional.

Nos processos que vimos, por 28 vezes marcou tentativas de conciliação, tendo logrado acordo na própria diligência em 15 casos.

NestafaseaExm.ªJuízaproferiuosdespachosdesaneamen- to/condensação,saneadores-sentençaedeabsolviçãodainstânciaconstantes do quadro próprio, tendo igualmente lançado mão da faculdade de abstenção da selecção da matéria de facto, ao abrigo do art.º 787º do CPC na redacção do DL 375-A/99, de 20-09.

Apreciou a verificação dos pressupostos processuais, de-terminando a absolvição da mesma, por forma total, na sumária 5818/03.0 por ilegitimidade da ré e na sumária 44/04 por in-competência material e por erro na forma de processo nas espe-ciais 134-A/99 e 6496/04.4.

Emsedededespachosaneador“strictosensu”apreciouedecidiu das excepções arguidas e de cognição oficiosa pela or-dem legal.

Na sumária 144/99 conheceu e decidiu das excepções de nulidade do processo (erro na forma de processo) e ilegitimidade da ré.

Na sumária 909/01 decidiu da excepção de ilegitimidade do A e de limitação do direito de denúncia (art.º 107º RAU),

conhecendo desta mesma excepção que igualmente julga im-procedente, como a de caso julgado, na sumária 815/02.

Nas sumárias 219/98, 547/01 e 415/02 é julgada impro-cedente a arguida prescrição.

Na sumária 11595/03.7 é julgada improcedente a excep-ção de ineptidão da p.i. e considerada admissível a coligação.

Na sumária 3257/03.1 é julgada improcedente a excep-ção de litispendência e não admitida a reconvenção de forma explicada.

Conheceu parcialmente de um dos pedidos formulados nas sumárias 59/00, 382/00 e 1245/04.0.

Em sede de saneador-sentença julgou procedentes ex-cepções peremptórias, como a prescrição, nas sumárias 318/99, 136/02 e nos embargos de executado 3952-C/95, a caducidade do direito do A na sumária de despejo 11930/03.8 e conhe-ceu do mérito da causa nas sumárias 50/00, 386/01, 323/99, 760/01, 413/02, embargos de executado 14-A/02, i.a.

Num outro registo, findos os articulados foi igualmente conhecido o mérito da causa, nos termos do art.º 795º CPC – su-maríssima 112/01 – e do art.º 3º, nº3 do DL 269/98 – 198/00, 401/00, 981/01.

Nos despachos de saneamento/condensação utilizou o método directo, apenas se tendo socorrido da técnica da re-missão para os articulados em 3 situações – sumárias 451/99, 90/00, embargos de terceiro 314-B/99, sendo por remissão total no segundo caso.

No geral, quando condensa não há reparos a fazer, sendo as peças isentas de matéria conclusiva ou conceitos de direito, demonstrando bons conhecimentos de direito substantivo e ten-do em atenção as regras da distribuição do ónus da prova, bem como as diferentes soluções plausíveis da questão de direito.

Porém, em alguns casos detectaram-se formulações me-nos conseguidas, como no quesito 3º da sumária 88/99 em que sepergunta“OsRRAfonsoeLuíseramsóciosegerentesdaR.Policasa?”,sendoquesitoaevitar,faceaodispostonoart.º646º,n.º 4 CPC, já que está em causa matéria que apenas podia ser comprovada face a certidão, sendo preferível ordenar a junção da mesma ao abrigo do art.º 508º, nº2 CPC, ou alertar para a ne-cessidade/conveniência da sua junção ao abrigo do disposto nos art.º 523º, nº2 e 524º, nº2 CPC, podendo os factos em questão serem dados como provados nos termos do art.º 659º, nº3 CPC.

Domesmomodonasumária452/99noquesito2º:“ÀdatadoacidenteoveículoFDerapropriedadedo2ºR.?”enoquesito 13º da sumária 10501/03.3: “O veículo 62-33-OF épropriedadedoA?”.

Nasumária1246/04.8pergunta-senoquesito5º:“Emface da atitude descrita em 4º, o R. passou a depositar mensalmente as rendas na Caixa Geral de Depósitos – agência de Agualva-Ca- cém,depósiton.º125,contan.º....apartirdeAbrilde1983?”.

Noutros casos afasta-se do esforço de síntese e de em cada quesito colocar um único facto, albergando-se num único que-sito matéria que se contém em dois ou três artigos dos articula-dos, como na sumária 15/03.7 (doc. 1) em que os quesitos 7º, 9º, 10º e 12º albergam tudo quanto se refere, respectivamente, nos art.ºs 11ºe 12º, 26º e 27º, 28º e 29º e 42 da contestação, man-tendo-se a linha discursiva dos articulados, ou ainda o quesito 11º nos embargos de executado 477-A/02 ou ainda na sumária

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160 Boletim Informativo - Dez.2006

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5064/04.5 em que no quesito 36º se contempla tudo quanto se disse nos art.ºs 96º a 102º da p.i., no quesito 37º o que consta dos art.ºs 103º a 109º igualmente da p.i. e no quesito 38º o que narrado foi nos artigos 110º a 115º do mesmo articulado.

De forma similar na sumária 3381/04.3 em que no quesi-to 7º se verte a matéria dos art.ºs 16º e 17º da contestação.

A técnica referida tem a ver com o aproveitamento do fornecimento de suportes informáticos contendo os articulados.

Estando em causa factos que só por documento se provam e que eram de dar por assentes, explicitou o seu teor relevan-te, como nas sumárias 336/99, 313/99, embargos de executado 10048/03.8, com excepção da sumária 9947/03.1 em que se dá por reproduzido o teor dos documentos de fls. 90 a 92.

Nos casos em que havia sido suscitada a litigância demá fé, colocou a matéria atinente no final da base instrutória emquesitos encimadospela referência a tal litigância.Assimse viu nas sumárias 120/00, 412/00, 1/01, 875/02, 1544/02, 1652/02, 964, 2909, 6858, 9947/03, 11169/03, nos embargos de executado 1306-A/01 e de terceiro 419-A/97.

Quando estavam em causa factos que só por documento podiam ser provados, não deixou de convidar/alertar para a ne-cessidade da sua junção, como aconteceu nas sumárias 3970/95, 219/98, 229/99, 120, 412, 432/00, 458, 754, 1137/01, 403, 1025, 1544/02, 5250, 6858, 12824/03, 4082/04.

Procurando agilizar o processado, em jeito de antecipação de actos de instrução, ordenou a recolha de informações necessá-rias, como nas sumárias 6858/03.4 e 3456/04.9.

EmsededereclamaçõesaocondensatórioaExm.ªJuízaantesdeSetembrode2003faceàredacçãoentãovigentedoart.º 508º-BdoCPC,anterioràdaLei38/03,alertavaaspartesparaa posição assumida no sentido de que considerava útil e vantajosa a apresentação de reclamação e sua decisão no imediato sem ter de aguardar pelo início da audiência de julgamento, como era práti-ca em muitos Tribunais (v.g. sumárias 462/99, 120/00, 414/01), vindo na maioria dos casos a ser seguida essa orientação.

Pelo que vimos, decidiu pelo menos por 16 vezes (v.g. sumá-rias 530/98, 120/00, 1102/02, 414/01, 8715/03.4, 10501/03.3), sendo a reclamação apresentada em audiência apenas nas sumárias 74/97, 216/97, 170/98, 196/01, decidindo-se sempre de forma aberta, concisa e fundamentada.

INSTRUÇÃO E FASE DE JULGAMENTO Atenta aos requerimentos de produção de prova, no que

respeita à sua legalidade e tempestividade.Assimna sumária754/01 ordenou o desentranhamento do requerimento por ex-temporâneo.Pelomesmomotivoindeferiuorequerimentodeorganização de prova na sumária 143/01.

Na apreciação da admissibilidade de depoimento de parte teve-se em atenção os limites substantivos e adjectivos da con-fissão, v.g. 431/00.

Na sumária 1100/01 convida-se a parte a indicar os factos sobre que deve recair o depoimento tendo em conta o disposto no art.º 552º, n.º 2 CPC.

Indeferiu o depoimento nas sumárias 229/99 e 60/04.5.Indeferiu ainda igualmente o depoimento de compartes

nas sumárias 359/98 e 510/98, por as mesmas não terem assu-mido posições distintas quanto aos factos.

Na sumária 403/02 considerou ser necessária uma visto-ria com a presença dum auxiliar técnico, já que a mera inspecção nada adiantaria ( em causa estava indemnização por danos causa-dos por rupturas de canalizações ).

Fixa o objecto da perícia na sumária 3263/03.6. Dirige as audiências de julgamento com eficiência, auto-

ridade e dignidade. As actas de um modo geral mostram-se elaboradas de for-

ma a reflectir o que se passou em audiência, com indicação das razões de ciência das testemunhas.

Avançou para a realização do julgamento, determinan-do a gravação dos depoimentos ao abrigo do art.º 651º, n.º 5 CPC nas sumárias 3725/95, 19/98, 43/98, 267/99, 268/99, 468/99, 225/00, 359/00, 399/00, 96/01, 231, 1525, 1632/02, 2727/03.6, 5840/03.6, 7567/03.0. Na sumária 358/97 acabou por não haver gravação por o Advogado do réu ter prescindido das testemunhas.

Nemsempreconstaterhavidolugaràtentativadeconci-liação a que alude o art.º 652º, n.º 2 CPC.

Aberta a audiência, sendo caso disso, corrige oficiosamen-te o despacho de condensação. Como aconteceu por exemplo nas sumárias 345/98, 452/98, 252/99.

Havendo lugar a depoimento de parte, na maioria esma-gadora dos casos, não consta a advertência a que alude o art.º 559º CPC, que apenas se viu nas sumárias 143/99, 267/99, 90/00, não se tendo visto qualquer caso em que tivesse sido feito registo de extracto de depoimento naquilo que o mesmo tivesse de confessório, como injunge o art.º 563º CPC.

Após a identificação dos depoentes surgem indicações que senãojustificamfaceànaturezadaprovaemquestão.Assimnassumárias 216/97, 429/99, 630/02, 875/02, 5393/03.5 consta que“aoscostumesdissenada”.Nassumárias145/00,444/01surgeoautorafirmandoque“aoscostumesdisseserautornospresentes autos” (em registo idêntico estando presente o réunas sumárias 3784/95 e 136/99). Nos embargos de executado 362-A/01, tendo sido requerido e admitido o depoimento de partedolegalrepresentantedaembargadaconstaque“aoscos-tumesdisseserrepresentantelegaldaembargada”.Nasumária3937/95 consta que o depoente disse ser sócio gerente da ré, mas que tal facto não o impede de dizer a verdade, o que salvo o devido respeito é despiciendo por estar em causa a própria parte, obrigada a dizer a verdade.

Realizando-se inspecção ao local consigna-se em acta o que de relevante foi observado – sumária 237/00.

Procurando a descoberta da verdade e em ordem a obter melhores esclarecimentos sobre as matérias em questão, ao abrigo dos poderes conferidos pelo art.º 266º, nº2 do CPC, decide ouvir os sujeitos processuais, como aconteceu nas sumárias 3768/95, 3979/95, 529/96, 18/98, 143/99, 267/99, 417/99, 277/98, 452/99, 1218/01, sumaríssima 310/00, ou invocando o art.º 552º, nº1 CPC, como nas sumárias 356/02, 415/02, sumaríssima 44/01.

Na fixação da matéria de facto, designadamente ao res-ponderàbaseinstrutória,denotacuidado,nãopadecendoasres-postas de deficiência ou obscuridade e havendo lugar, quando o caso o justifica, a respostas explicativas ou restritivas.

Nos casos em que houve abstenção da selecção da matéria

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Dez.2006 - Boletim Informativo 161

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defactoquantoàssumáriasenasrestantesespécies,afixaçãoéfeitarelativamenteàmatériadefactoconstantedosarticulados– v.g. sumárias 399/00, 143/01, 930/02, 1027/02 – e de igual modo em procedimentos cautelares, como no 638/04.7 apresen-tado como Trabalho.

Na fundamentação da decisão da matéria de facto são cumpridos os ditames do art.º 653º, nº2 CPC, enunciando-se os meios de prova de que se socorreu, com indicação quanto às testemunhasdarespectivarazãodeciênciae razõesdecre-dibilidade/aceitação dos depoimentos, ou sua ausência, tendo em atenção cada quesito ou grupo de quesitos, fazendo a aná-lise crítica dessas provas entre si e no seu conjunto, conjugan-do-as com documentos – v.g. 82/96, 242/97, 219/98, 499/98, 462/99, 237/00, 1218/01, 31/01, 1404/01, 444/01, 875/02, 10742/03.3, 11507/03.8, o mesmo acontecendo por reporte a cada facto provado ou não provado nos casos em que houve abstenção da selecção da matéria de facto, v.g. 291/98, 371/98, 311/99, ou ainda nas sumaríssimas – v.g. 4777/03.

SENTENÇAS Comomelhor se especificará infra na rubrica “Prazos”,

neste domínio a resposta foi sempre pronta e célere, raramente excedendo os dois, três meses, nas acções em que era controver-tida a matéria de facto.

É observado o figurino legal traçado no art.º 659º CPC.No geral, as sentenças são peças claras e de linguagem

acessível aos destinatários, com relatórios simples e concisos onde é exposto o essencial.

Na exposição da matéria de facto provada quando houve condensação por algumas vezes indica-se a factualidade por repor- te ao que já constava da matéria assente e ao que resultou da fixa- ção da matéria de facto controvertida; por outras vezes prescin- de-se dessa indicação, sendo exemplos desta diversidade os traba- lhos apresentados constando o primeiro tipo nas sumárias 254/97 e 1404/01 e o segundo nas sumárias 3784/95 e 228/00.

Procede ao enquadramento jurídico, fazendo correcta aplicação das normas aplicáveis, interpretadas de forma correcta de acordo com os entendimentos da doutrina e da jurisprudên-cia que cita quando caso disso, revelando boa compreensão das situações submetidas a decisão.

Cinge-se ao que é essencial, dizendo-o de forma concisa, rápida, acessível, perceptível.

Estesdadossãovisíveisnos“Trabalhos”apresentadoseemalgumas outras sentenças, podendo citar-se como exemplos de sentenças bem elaboradas as proferidas nas sumárias 3725/95, 216/97, 539/98.

Relativamente aos juros de mora devidos por indemniza- ção por danos não patrimoniais, concede-os desde a data da deci-sãoem1ªinstância,poraindemnizaçãosercalculadaemvaloresactualizados no momento da sentença, acolhendo o entendimen-to do acórdão de uniformização de jurisprudência 4/2002 (DR I-A de 27-06-02), como de resto já anteriormente fazia – sumá-rias 82/96, 3784/95, apresentadas como trabalhos e 258/96.

Perantelitigânciademáfé,condenouemmultanosem-bargos de terceiro 277-D/97 e em multa e indemnização nos embargos de executado 1306-A/01, 855-B/02 ( Trabalho) e nas sumárias 225/00 e 167/01.

Considera não estarem preenchidos os requisitos da fi-gura, julgando o pedido improcedente nas sumárias 272/02, 216/97, 539/98, 11930/03.8.

Na sumária 359/00 após indeferir pedido de apoio judiciá- riocondenouoAemmultaporlitigânciademáfé.

Em acções de despejo não contestadas, defendendo o ca-rácter imperativo do art.º 1045º do CC, julga o pedido apenas parcialmente procedente, como nas sumárias 277/00, 352/00, 928/01. Em outros registos verificaram-se igualmente provi-mentos parciais em acções não contestadas, como por exemplo na sumária 399/00. Na sumária 10510/03.2 igualmente não contestada veio a pretensão a improceder.

PROCESSOEXECUTIVO Igualmente neste domínio se fez sentir a celeridade que a

Senhora Juíza procura imprimir ao processado.Rejeita liminarmente nos embargos de executado 412-

-B/97 e 1101-C/02.Após declaração de extinção pelo pagamento ordena o le-

vantamento da penhora e cancelamento da inscrição respectiva, como nas execuções 345/99, 3333/94 e 2528-B/92.

Igualmente após venda ordena o cancelamento dos regis-tos dos ónus, indicando as inscrições a expurgar – v.g. exec. ord. 399/99.

Nas reclamações de créditos as sentenças mostram-se bem elaboradas.

Invoca os dispositivos legais aplicáveis e gradua de acordo com as prevalências legais – v.g. 399-A/99 apresentada como Trabalho e as proferidas nos apensos de verificação de passivo nas falências 295/96, 81-A/97.

Nestassentençasmuitasvezesomite-seareferênciaàregra da precipuidade das custas – art.º 455º CPC – não se explicitan- do claramente que as custas saem precípuas – v.g. 341-A/99, 92-A/99, 610-B/98, 1374-A/02, 1392-A/02, 363-A/00, 25-A/99, 195-A/00, surgindo essa referência raramente – v.g. 3968-C, 527-A/98.

Na execução do despejo (art.º 59º RAU) sempre foi en-tendido dever a mesma ser requerida nos autos, sem necessida-de de execução por apenso – 277/01, 760/01, 71/00, 3768/95, 412/97, 418/98, 359/98, 143/01, 399/00.

JURISDIÇÃO DE FAMÍLIA E MENORESA intervenção nesta área foi muito pequena, incidindo

sobre processos que se encontravam em fase de liquidação – cfr. supra fls. 3 e 7.

As sentenças proferidas nesta área de uma forma ge-ral foram atempadas, sendo tratadas e ponderadas as questões essenciais a decidir, como o destino dos menores, o regime de visitas e os alimentos a prestar pelos progenitores, poden-do apontar-se como sentenças bem elaboradas, para além da RPP 7/98 apresentada como Trabalho, as RPP 17/98, 104/98, 73/99 e as alterações RPP 87-B/96, 93-A/98.

CUSTAS Conhecedora da respectiva legislação, mostrou estar aten-

ta, tributando o devido, incluindo os incidentes.Todavia, vimos várias decisões em que foi admitida a in-

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tervenção principal provocada em que foi omitida tributação, como nas sumárias 429/99, 452/99, 120/00, 145/00, 228/00, 275/00, 4/01, 415/02, ou intervenção acessória 1025/02 (nos incidentes de intervenção de terceiros apenas se viu tributação na sumária 132/00 em que não foi admitido o chamamento), ou em incidente de incompetência territorial na sumária 7263/03.8, no incidente de despejo imediato na sumária 3768/95, ou em desentranhamento de articulados, como na sumária 356/02 e embargos de terceiro 213-A/98.

Tributa a deserção dos recursos – sumárias 268/99, 529/96, 574/98, 457/01.

Observou o disposto no art.º 14º, nº2 do DL 329-A/95 enquanto vigorou – sumárias 285/98, 225/00, 279/00, 143/01, 1027/02.

RECURSOSOs despachos de admissão de recurso são correctos quan-

toà espécie,modoe tempode subida,bemcomoaoefeito aatribuir.

Os resultados dos recursos na sua generalidade dizem do acerto das soluções tomadas.

Contámos 6 agravos, sendo provido o interposto nos em-bargos de terceiro 31-C/96 e confirmadas as decisões na sumária 132/00, falência 3013-B, embargos de executado 1101-C/02, 412-B/97 e caução 855-A/02.

No que respeita a apelações em 5 casos o recurso mereceu provimento. Nas sumárias 50/00 e 386/01 foi revogado o sanea-dor sentença prosseguindo o processo e nas sumárias 356/02, 161/99 e 475/98, consistindo o provimento neste caso na con-cessão de juros de mora que não haviam sido pedidos de forma clara, expressa e inequívoca.

Obtiveram parcial provimento as apelações interpostas nas sumárias 3590/95, 82/96, 216/97, 456/97, 571/97, 499/98, 393/00, 696/03 e embargos de executado 855-B/02, neste caso revogando-seapenasacondenaçãoporlitigânciademáfé.

Nos restantes casos foram confirmadas as decisões – su-márias 2880/94, 3768/95, 242/97, 254/97, 291/98, 359/98, 510/98, 34/99, 136/99, 307/99, 329/99, 496/99, 90/00, 196/01, 414/01, 1404/01, 930/02, 5840/03 e embargos de ter-ceiro 277-C/97.

PRAZOS A calendarização das várias diligências e julgamentos teve

em conta o volume de trabalho, sendo as marcações feitas a dis-tânciasvariáveisconsoanteanaturezaecomplexidadedacausa.

O volume de despachos no dia a dia continua a ser gran-de, face ao bom ritmo que a secção continua a imprimir.

As marcações dos julgamentos tiveram lugar por vezes àdistânciade4,5oumesmo6meses,sendoqueporvezesodespacho designativo surge dois ou três meses após a data da conclusão.

DeacordocomexplicaçãodadapelaExm.ªJuízanaen-trevista final tratou-se de opção tomada no sentido de que os processos nessas condições ficavam no gabinete para ir fazendo asmarcaçõesàmedidadaspossibilidadesdeagenda.

Como refere no Memorandum apresentado considera mais gravoso e menos aceitável pelos utentes esperar pela sen-

tença do que esperar pela marcação de julgamentos. A verdade é que feitos os julgamentos não houve que esperar muito pelas sentenças.

Os períodos de espera para marcação de julgamentos veio a reduzir-se de tal forma que no 1º semestre de 2005 o agenda-mento processava-se a cerca de 3 meses.

As respostas aos quesitos em 18 casos foram ditadas, sen-do igualmente ditada a fixação da matéria de facto em 10 acções em que não houve lugar á condensação. De resto o prazo é variá-velentreoespaçode1diaeos7dias.Amaiordistânciaapenasna sumária 10742/03, onde chegou a 21 dias, sendo a maioria por volta dos 6/7 dias.

O tempo de despacho a proferir findos os articulados pode verter-se no seguinte quadro:

Despachos saneamento/condensaçãoDentro do prazo..................................................................68,

sendo 4 na mesma dataMais de 1 mês a mais de 3 meses .........................................42De mais de 4 meses a mais de 7 meses .................................21De mais de 9 meses a 11 meses ............................................23A 1 ano .................................................................................2A 1 ano e 2 meses ..................................................................1

Daqui decorre que em 43% dos casos o despacho foi pro-ferido dentro do prazo.

Em 13 casos os processos encontravam-se conclusos nesta fase desde o ano de 2000 e nas sumárias 268/99 e 456/97 desde 25-11-99.

No cômputo efectuado que originou o quadro supra teve-se em conta apenas o tempo decorrido a partir de 04-01-01, a fim de evitar dupla valoração negativa do mesmo período tem-poral.

Situação semelhante ocorreu nos saneadores sentença com as sumárias 318/99 e 50/00 e os embargos de executado 3952-C conclusas desde 2000.

Saneadores-sentençaDentro do prazo .........................................................13A mais de 1 mês a mais de 5 meses ............................10A mais de 6 meses a mais de 10 meses .........................4

Relativamenteàssentenças,tendoemcontaaquelasemque havia matéria de facto controvertida e em que houve jul-gamento, no total de 164, sendo 145 sumárias, 12 embargos de executado, 5 embargos de terceiro e 2 especiais, o tempo de cumprimento pode verter-se no seguinte quadro:

SentençasDentro do prazo................................................................ 113,

sendo 20 na mesma data e 8 ditadas. A mais de 1 mês .................................................................. 17A mais de 2 meses ............................................................... 19A mais de 3 meses ............................................................... 11A mais de 4 meses ................................................................. 1A mais de 5 meses ................................................................. 2A mais de 11 meses ............................................................... 1

Decorre do quadro precedente que em 68% dos casos a sentença foi proferida dentro de prazo.

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Afora estes casos verificaram-se outros (poucos) atrasos como na reclamação de créditos 399-A/99 com sentença profe-ridaa1anodedistância,ultrapassando-seos11mesesnaacçãode rectificação 911/01, os 6 meses nas reclamações de créditos 138-A/02, 81-A/97 e os 4 meses na 295/96 ( sendo as 2 últimas em falência).

Relativamente a alguns processos que se encontravam conclusos desde 2000 na fase da condensação (integrando um lote de 40 a que se aludiu no relatório da anterior inspecção) a Exm.ªJuízaremeteuos10sobrantesparaogabinetederecupe-ração dos Juízes temporários na Rua Augusta na sequência do ofício do CSM de 11-10-01, o que aconteceu com as sumárias 307/99, 252/99, 34/99, 382/99, 351/99, 283/99, 475/98, pres-tação de contas 361/98, sumária 94/98 e 384/99, conclusas res-pectivamente desde 05-01-00, 05-04-00, 11-05-00, 22-05-00, 26-06-00, 04-07-00, 06-07-00, 30-05-00, 21-06-00, 05-07- -00, sendo nas primeiras sete proferido despacho de saneamen-to/condensação,naoitavadespachodeabsolviçãodainstânciaenos dois últimos processos saneador-sentença.

Em muitos casos as sentenças foram ditadas, como acon-teceu nas supra referidas 8 sumárias contestadas (v.g. 19/98, 43/98, 208/98, 60/00, 231/02, 1632/02).

Fê-lopraticamenteemtodasasacçõesqueseguiramàre-velia, v.g. 1, 151, 277/98, 376, 394, 438/00, 247, 299, 511, 976, 1103, 1204/01, 782/02.

E ainda em várias acções sumaríssimas, v.g. 310/00, 1865/03, ou em especiais nos termos do DL 269/98 – v.g. 284/99, 358/01, 423/01, 998/02, 1166/02, 4824, 9309, 10760/03.

Nos processos tutelares as sentenças são atempadas, sendo ultrapassado o prazo de 1 mês em dois casos, os 2 meses em outros três e num outro os 3 meses.

Há que dizer que a Senhora Juíza privilegia a rapidez a nível de sentenças, sendo na generalidade dos casos muito pron-ta a resposta, como se viu.

Aliás, a Senhora Juíza aproveita os períodos de férias para elaborar despachos saneadores e sentenças, como se pôde verifi-car em vários casos.

CLASSIFICAÇÕES ANTERIORES A Senhora Juíza tem quatro classificações anteriores, sen-

doaprimeiracomanotaçãode“Bom”atribuídapordeliberaçãode 25-05-92, abrangendo o desempenho no Tribunal da Comar-ca de …. entre 09-01-89 e 13-05-90; a segunda com a nota-çãode“Bom”,conformedeliberaçãode03-12-92,respeitanteàprestaçãocomoauxiliarnaComarcade….entre18-05-90e08-04-91;aterceiracomanotaçãode“BomcomDistinção”,conforme deliberação de 05-11-96, concernente ao desempenho na Comarca de ..... como auxiliar do 1º Juízo, como efectiva no 4º Juízo, como aquele de competência genérica e no 3º Juízo Cí-vel de..... entre 15-09-92 e 31-01-96 e a última com a notação de “Bom comDistinção”, conformedeliberação de 19-02-02respeitante ao desempenho no 3º Juízo Cível de ..... entre 01- -02-96 e 04-01-01.

Do seu certificado individual nada consta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Está em causa o desempenho da Senhora Juíza durante o

período compreendido entre 05-01-01 e 31-12-04.

O tempo de exercício de função que levava em 31-12-04 (termo final do desempenho ora em apreciação) computa-se em 17 anos e 7 meses.

Nos relatórios de inspecção anteriores foram sublinhadas “asqualidadesintelectuaisehumanasdaExm.ªMagistrada,oseu bom senso e a isenção com que sempre se houve no exercício dassuasfunções”.Eaindaque,sendodotada“demarcadaper-sonalidadequelherealçaoespíritodeindependência”consegueser“afáveleacolhedoranorelacionamento”comosoutros.

Corroboram-se mais uma vez tais afirmações.Estamos perante uma Magistrada competente, trabalha-

dora, com grande sentido de responsabilidade. Com um discur-so directo, claro e simples.

No exercício da função demonstrou as necessárias sereni-dade e reserva.

O seu pendor conciliatório ressalta do número de acordos obtidos em sede de tentativa de conciliação e em julgamento, no total de 136 casos (15 + 121).

Certificadas as qualidades humanas para o exercício da profissão, a sua boa preparação técnica, evidenciada na forma como condensa e decide, tem sido muito boa a resposta no que a adaptação ao serviço concerne, sendo de realçar a grande capa-cidade de simplificação processual.

Como se referiu o volume de serviço do dia a dia é grande, pois o ritmo imprimido pela secção continua a ser rápido.

Ao longo dos 4 anos em observação o ritmo de distribui-ção após uma quebra de 2000 para 2001 teve aumentos sucessi-vos, como se pode ver nos números disponíveis: 747 em 2000, 561 em 2001, 691 em 2002, 720 em 2003 e 770 em 2004.

Tendo-se em vista os elementos estatísticos disponíveis àdatade30-06-05o3ºJuízoapresenta-secomoumdosdoisJuízos Cíveis com pendências mais baixas, contando-se 1620 acções cíveis e 3 tutelares e apresentando o número mais baixo de pendências em acções sumárias :154.

Foi reduzido o período de duração médio de cada pro-cesso, o que se deveu a um bom esforço para melhorar o estado dos serviçosporpartedaExm.ªJuízaecomacolaboraçãodasecção.

Emsuma:odesempenhodaExm.ªJuízatemprestigiadoa administração da justiça nesta área na Comarca de ......

Embora fora do contexto da presente inspecção assinala-se queaExm.ªJuízamanifestou,poriniciativaprópria,disponibi-lidade para dar uma ajuda a um outro Juízo, o que não se veio a verificar por falta de aceitação do respectivo titular.

No que respeita a condições de trabalho anota-se que a prestação ora em causa se desenvolveu nos primeiros 6 meses ainda nas instalações do edifício da Portela e a partir de 12-07- -01 em muito melhores condições na Abrunheira.

Apresentouàinspecçãoum“Memorandum”e10“Traba-lhos”,elucidativosdasmençõesquesefizeramrelativamenteàconcisão e boa estrutura das sentenças.

Junta-seumdocumentoreferenciadona“fundamentaçãodefacto”.

PROPOSTA DE NOTAÇÃOPonderandoglobalmenteasapreciaçõesfeitasnoâmbito

das três vertentes classificativas - capacidades humanas para o

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exercício da profissão, preparação técnica e adaptação ao ser-viço – o disposto nos art.ºs 33º, nº1 e 37º, nº1 e 2 da Lei 21/85, de 30/7, sendo o último na redacção da Lei 10/94 de 05-05 e os art.ºs 13º a 18º do Regulamento das Inspecções Judiciais de 19-12-02inDRIIªsérie,de15-01-03,atendendoaograndevolume de serviço existente, ao ritmo de trabalho imposto por este e potenciado pelo desempenho da secção, ao alto grau de produtividade, com os resultados alcançados, nomeadamente com a redução de duração média de cada processo e do tem-podeesperapeloagendamentoeprolaçãodassentenças,àboaqualidadedotrabalhoprestado,àceleridadeimprimida,tendoem conta todo o esforço e dedicação patenteados ao longo dos anos, conseguindo-se uma justiça rápida e eficaz, cremos ser de premiar e incentivar tais qualidades, o que, em nosso entender, sendo a segunda vez que procedemos a inspecção ao desempe-nhodaExm.ªJuíza,sópodeseralcançadoporumamelhoriadeclassificação, já que quanto a nós, se está perante um desempe-nho elevadamente meritório.

Pelo que ficou exposto, somos de parecer que a prestação da Senhora Juíza ..... no período compreendido entre 05-01-01 e 31-12-04 merece a notação de MUITO BOM”.

a esta matéRia impoRta acRescentaR que :I – dos cerca de oitenta juízes do III Curso

Normal,50estãojánotadoscom“MuitoBom”;II – Na inspecção a que foi sujeita em 2001

(01/02/1996 a 04/01/2001), a Exma. Juíza profe-riu 85 sentenças em processos com oposição (38 das quais dentro do prazo) e 90 despachos de saneamen-to/condensação (20 dos quais dentro do prazo) ;

III – Na presente inspecção, as sentenças com oposição ascenderam a 207 (113 das quais dentro do prazo) e os despachos de saneamento/condensa-ção a 162 (68 dos quais dentro do prazo) ;

IV – À data do início da presente inspecção a Exma. Juíza não tinha processos a aguardar despacho no seu gabinete (ao passo que na anterior tinha 40 despachos a aguardar saneamento/condensação);

V - A Exma. Juíza estabeleceu com a sua Sec-ção de processos o entendimento no sentido de que, ainda que com conclusão aberta para sentença no apenso de reclamação de créditos, o processo não ficanogabineteàesperadesentençaseoprocessode execução estiver em andamento ;

VI – No processo nº 399-A/99 (reclamação de créditos), a conclusão aberta a 10/02/2003 e a sen-tença proferida a 13/02/2004, sendo que a execução foitramitadaatéàvendaeadjudicaçãodaproprie-dade, até 15/09/2003 ;

VII - No processo nº 138-A/2000 (reclamação de créditos), a conclusão aberta a 16/06/2003 e a

sentença proferida a 13/01/2004, sendo que a exe-cuçãofoitramitadaatéàdesignaçãodedataparaaabertura de propostas a 13/01/2004 ;

VIII – Os processos nº 81-A/97 e 295/96, cor-respondem a reclamações de créditos em processos de falência ;

IX–O3ºJuízoCívelde.....é,dosseisexis-tentes, o que possui a mais baixa pendência proces-sual;

X–O3ºJuízoCívelde.....tempendentes: i – acções sumárias: 1 de 1994, 1 de 1999,

1 de 2000, 2 de 2001, 7 de 2002, 10 de 2003, 25 de 2004, e as restantes de 2005/2006;

ii – acções sumaríssimas: 1 de 2001, 1 de 2002, 4 de 2003, 10 de 2004 e as restantes de 2005/2006;

iii – acções especiais: 2 de 2002, 2 de 20045 e as restantes de 2005;

iv – inventários 1 de 1987, 1 de 1989, 1 de 1996, 1 de 1999, 3 de 2002, 5 de 2003, 6 de 2004, 3 de 2005 e 6 de 2006.

¤ ¤ ¤

iii. - apReciação

Face ao desacordo manifestado pela Exma. Juíza inspeccionada relativamente à notação ho-mologada e atribuída formulada pelo Permanente do CSM (alterando a proposta pelo Exmo. Inspec-tor), importa verificar qual é a classificação ade-quadaàsuaprestaçãonoperíodode05/01/2001a31/12/2004 .

Simplificando, em discussão estará se a no-tação adequada é a de “Bom Com Distinção”, ou a de “Muito Bom” .

♦Já em 1913 Pinto Osório, assinalava com acerto,

quenãohá“instrumentodeprecisãoparaconheceros méritos, scientíficos e moraes, de cada magistra-do”,nem“balançadeprecisãoparapezarosmeritosde intelligencia e illustração de cada um dos juí-zesdodisctricto”(Luís Eloy Azevedo, Magistratura Portuguesa-Retrato de uma mentalidade colectiva, Edições Cosmos, 2001, pag. 62) .

Do mesmo modo e na mesma linha, em 1974, Pinto Ferreira-Roseira de Figueiredo (ob. loc. cit.), sublinhava que “não existe – nem jamais

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Dez.2006 - Boletim Informativo 165

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poderia existir – um processo científico de apre-ciar, sem margem de erro, os méritos dos juízes . Logo, essa apreciação, por empírica e meramente intelectiva, tem necessariamente de enfermar de falibilidade humana, de superficialidade analítica, de subjectivismo valorativo, de insegurança me-todológica”.

E é desta consciência que nasce a necessidade de objectivar minimamente os critérios classifica-tivos, retirando-lhe subjectivismo (na medida do possível) e permitindo algum controlo externo.

O art. 34º, do Estatuto dos Magistrados Ju-diciais (Lei nº 21/85, de 30 de Julho), dispõe que a classificação dos juízes deve atender :

I - ao modo de desempenho da função;II - ao volume, dificuldade e gestão do ser-

viço a seu cargo;III -àcapacidadedesimplificaçãodosac-

tos processuais;IV -àscondiçõesdotrabalhoprestado;V -àsuapreparaçãotécnica;VI -àsuacategoriaintelectual;VII - aos trabalhos jurídicos publicados;VIII -àsuaidoneidadecívica.

Enquadrando esta matéria, dispõe ainda o art. 37º, nº 1, EMJ, que nas classificações há sempre que ponderar o tempo de serviço, o resultado das inspecções anteriores, os processos disciplinares e quaisquer elementos complementares constantes do respectivo processo individual (cfr., também, o art. 14º e 15º, do Regulamento de Inspecções Judi-ciais, aprovado no Plenário do Conselho Superior da Magistratura, de 19 de Dezembro de 2002 e pu-blicado no DR, II, de 15/01/2003) .

Por seu turno, o art. 13º, do RIJ (regulamento este que se pode integrar naquilo a que Gomes Cano- tilho chamade“«espaçosdefolgavalorativa»parade- finirdirectivasrelativamenteàpromoçãoeinspecção demagistrados”–Aquestãodoautogovernodasmagistraturas como questão politicamente incorrec- ta, in Ab Uno Ad Omnes-75 anos da Coimbra Edi-tora 1920-1995, Coimbra Editora, 1998, pag. 253), vem enunciar pormenorizadamente os critérios de avaliação do mérito em três grandes grupos:

- capacidade humana para o exercício da profissão (art. 13º, nº 2 : idoneidade cívi-

ca ; independência, isenção e dignidade da conduta ; relacionamento com outros inter-venientes processuais e público em geral ; prestígio profissional e pessoal de que goza; serenidade e reserva de que goza; capacida-de de compreensão das situações concretas em apreço e sentido de justiça, face ao meio sócio-cultural onde a função é exercida ; ca-pacidade e dedicação na formação de magis-trados) ;

- adaptação ao tribunal ou ao serviço (nº 3: bom senso ; assiduidade, zelo e dedica-ção; produtividade ; método; celeridade na decisão ; capacidade de simplificação pro-cessual; direcção do tribunal, das audiências e outras diligências, designadamente quan-toàpontualidadeecalendarizaçãodestas);

- e preparação técnica (nº 4 ; categoria in-telectual ; capacidade de apreensão das si-tuações jurídicas em apreço ; capacidade de convencimento decorrente da qualidade da argumentação utilizada na fundamentação das decisões, com especial realce para as ori-ginais ; nível jurídico do trabalho inspeccio-nado, apreciado, essencialmente, pela capa-cidade de síntese na enunciação e resolução das questões , pela clareza e simplicidade da exposição e do discurso argumentativo, pelo senso prático e jurídico e pela ponderação e conhecimentos revelados nas decisões) .

A classificação de “Bom”, dispõe o art. 16º,nº 1, c], do Regulamento das Inspecções Judiciais, equivale ao reconhecimento de que o juiz revelou possuir qualidades a merecerem realce para o exer-cício do cargo, nas condições em que desenvolveu a actividade .

Trata-se esta (como decorre do art. 36º, nº 3, doEstatutodosMagistradosJudiciais:“Nocasodefalta de classificação não imputável ao magistrado, presume-se a de Bom, excepto se o magistrado re-querer inspecção, caso em que será realizada obriga-toriamente”),da“classificação-padrão”,paraumjuiz português até à primeira inspecção a que é sujeito, isto em coerência e como decorrência do rigoroso processo de selecção e formação a que é submetido, bem como ao período prévio de experi-

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mentação controlada, pelo qual passa, e que, tenden-cialmente, afasta os que não atingiram um patamar de qualidade que lhes permite o exercício do cargo com realce (e, daí, tal presunção classificativa não resultar de qualquer arbitrariedade) . Neste senti-do, vd., aliás, o Acórdão do Conselho Permanente de 09/07/2001, publicado no Boletim Informativo do CSM, Janeiro de 2002, págs. 53-57 .

Porseuturno,aclassificaçãode“Bom Com Distinção”,equivaleaoreconhecimentodeumde-sempenho meritório ao longo da respectiva carreira (art. 16º, nº 1, b], RIJ) .

Jáaclassificaçãode“MuitoBom”,equivaleaoreconhecimento de um desempenho elevadamen-te meritório ao longo da respectiva carreira (art. 16º, nº 1, a], RIJ) .

Relativamenteàmelhoriadeclassificação,su-blinha o art. 16º, nº 3, do RIJ, que em caso algum ela pode ser decorrência da antiguidade do juiz, sendo certo que a prática seguida não terá vindo a seressa(“Naprática,aobtençãodasmelhoresno-tas depende não do mérito, mas da superação das várias etapas temporais, ou seja, da antiguidade”- João Paulo Dias, O Mundo dos Magistrados – A evolução da organização e o auto-governo judiciá-rio, Almedina, 2004, pág. 247) .

Neste ponto, o que interessa reter, é que a classificação máxima atribuível a um juiz, não pode nem deve estar totalmente dependente da sua anti-guidade, sendo certo em todo o caso, que esta não pode ser ignorada : é um factor de ponderação do qual se podem extrair – conjugado com os restantes – dados objectivos sobre a evolução do desempenho nos Tribunais e, claro, sobre o seu mérito .

Anotaçãode“MuitoBom”,pelassuascarac-terísticas e por representar o máximo a que um juiz pode aspirar em termos classificatórios, deve estar reservada para atribuição, dentro do conjun-to da grande maioria dos juízes, àqueles que se destacam - pela qualidade e quantidade de ser-viço prestado, pelo seu empenho e dinamismo no exercício da profissão, pelo saber e experiência de-monstrados, pelas suas qualidades de transmissão de conhecimentos e de formação de magistrados, pelo exemplo que constituam para os outros, pela

referência que constituam no meio jurídico - do conjunto da grande maioria dos juízes .

Anotaçãode“Muito Bom”é, pois, uma clas-sificação de excelência, tendencialmente de ex-cepção . Uma classificação para os melhores dentre os melhores (para os que mais mérito têm dentro das classificações de mérito) .

Se “omodelodobom juiz” se encontra “as-sente nas qualidades pessoais de cada magistrado e nas virtudes exigíveis ao desempenho de cargos públicos”(JudexPerfectus–FunçãoJurisdicionaleEstatuto Judicial em Portugal – 1640-1820, Alme-dina, 2003, pág. 601), e se tais qualidades devem passarpela“Justiça,prudência, temperançae for-taleza”(“rectidãodecarácter,encaradafundamen-talmente como um poder da vontade, exactamente para poder fundar sobre os vícios da vontade o sis-temadeimputaçãodosdelitos”;“oentendimentoou prudência, na dupla vertente de capacidade para descobrir a verdade e de conhecimento científico, de tal modo que os julgadores decidam os feitos segundo a verdade e de acordo com as leis, estilos e costumes”;“atemperança,parajulgarcomrazão,semparcialidadeparacomalgumadaspartes”;“afortaleza, para que o juiz possa julgar sem medo, desprazer, preguiça ou fraqueza” – ob. cit., págs.600-601,citandoo“LealConselheiro”,doReiD.Duarte), para um juiz se fazer merecedor de Muito Bom, então, tais qualidades, acima minimamente objectivadas nos preceitos do EMJ e do RIJ, devem revestir características de clareza, ostensividade e invulgaridade .

Vejamos então a classificação adequada ao de-sempenho da Exma. Juíza.

A factualidade acima descrita permite dar uma visão objectiva e completa do trabalho desempenha-do, claramente permitindo descrever e conhecer as características do Tribunal em que exerceu funções a Exma. Juíza inspeccionada, bem como a forma como o seu serviço foi prestado.

É, aliás, de sublinhar a exaustividade e rigor do Relatório do Exmo. Inspector que fornece, com objectividadetodososelementosnecessáriosàapre-ciação da prestação da Dra. ..... .

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A Exma. Juíza, compulsada a reclamação em análise, sublinha a sua divergência com os três pon-tos em quer assenta o Acórdão do Permanente, para atribuição da nota de Bom Com Distinção : a não divergência em termos qualitativos e quantitativos relativamente ao anterior Relatório de Inspecção ; o menor número de processos pendentes/maior faci-lidade em manusear os processos ; o desempenho ao longo da carreira .

Reapreciemos então a factualidade apurada .A Dra. ....., como é patente, é uma juíza de ele-

vado valor humano, profissional e técnico, estando fora de dúvidas qualquer cogitação sobre as suas ca-pacidades humanas para o exercício da função (art.13º,nº2,RIJ-faceàsuaponderação,isenção,independênciaeidoneidadecívica,àsuaeducaçãoebom trato, ao seu bom relacionamento com todos, àsuaserenidadeereserva,elevado prestígio pes-soal e profissional, ao bom conhecimento do meio sócio-culturalemqueexerceufunções,àboacapa-cidade de compreensão das situações concretas com que se viu confrontada e que procurou solucionar com bom sentido de justiça e competência profis-sional), de adaptação ao tribunal e ao serviço (pelas suas qualidades de sensatez, enorme zelo de-dicação e assiduidade, pela produtividade mais do que assinalável, pela celeridade louvável) e de valia e preparação técnica (que se alcandora também dos dez trabalhos apresentados) : esta Exma. Juíza reúne pois características de mérito que o Conselho Superior da Magistratura, não poderia em caso al-gum deixar de reconhecer.

Defacto,aolongodasuacarreira (àdatadehoje com quase 22 anos, incluindo estágio), de-monstrou uma permanente evolução e ganho de experiência, sabendo adequar-se aos novos desafios que lhe foram sendo colocados, mantendo-se desde 1993 no mesmo Tribunal e Juízo, o que lhe permi-te uma desenvoltura doutra forma quase impossível de lograr .

Mas será que tal mérito atinge um destaque que o distingue nítida e eloquentemente dos outros juízes colocados em situação idêntica ?

Em concreto, no período sob inspecção, a Exma. Juíza soube adaptar-se de forma perfeita-

menteadequadaàsexigênciasespecíficasdajuris-dição em que se encontra.

O seu mérito é pois elevado, decorrendo direc-tamente das suas qualidades pessoais e profissionais, sendo os trabalhos apresentados, bem elucidativos destas: conhecimentos técnicos sólidos, questões bem arrumadas, segurança e clareza na decisão, es-correita no discurso, decisões globalmente bem fundamentadas e equilibradas.

Por outro lado, em termos dos pontos nega-tivos que lhe são apresentados não cremos que se-jam susceptíveis de afectar a imagem global da sua prestação :

I - o que respeita aos atrasos, em face da sua produtividade, do esforço que desenvolveu e dos excelentes resultados que obteve, acaba por não ser expressivo:comorefereoExmo.Inspector,“feitosos julgamentos não houve que esperar muito pelas sentenças”, sendoque,nodomíniodosprazos,“aresposta foi sempre pronta e célere, raramente ex-cedendo os dois, três meses, nas acções em que era controvertidaamatériadefacto”,acrescendoaindaqueos “períodosde esperaparamarcaçãode jul-gamentos” se reduziram “de tal formaqueno1ºsemestre de 2005 o agendamento processava-se a cercade3meses”,concluindoque“aSenhoraJuízaprivilegia a rapidez a nível de sentenças, sendo na generalidade dos casos muito pronta a resposta, comoseviu”(aquenãoseráalheiaacircunstânciade aproveitar “os períodos de férias para elaborardespachos saneadores e sentenças, como se pôde ve-rificaremvárioscasos”).

Por outro lado, verificada a explicação forneci-da para os atrasos detectados, tem-se ela como acei-tável e razoável, dentro do volume de serviço a seu cargo, havendo a sublinhar a sua preocupação em procurar não afectar o desenrolar normal do proces-so de execução, quando tinha conclusão aberta para sentença, no apenso de reclamação de créditos .

Os atrasos detectados não são particularmente relevantes, nem provocaram danos releváveis (como decorre das explicações agora fornecidas pela Exma. Juíza e que constam dos factos acrescentados) .

Repare-se que basicamente estavam em causa reclamações de créditos (algumas em processos de falência com a sua natural complexidade derivada doseuvolumeedotemponecessárioàsuaelabo-

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ração, tendo as restantes afectado minimamente os processos de execução a que estavam apensados, isto dentro da opção estratégia utilizada pela Exma. Ju-íza, referida em V) .

II-porseuturno,oquerespeitaàsdeficiências técnicas, respeita a três quesitações menos felizes em 162 despachos de saneamento/condensação (todas matéria só susceptíveis de prova documental e que se têm como espúrias pois também são assinalados 16 casosemqueoptouporconvidaràjunçãododocu- mento necessário) e a algumas situações em que, apro- veitando os ficheiros informáticos dos articulados jun- tos pelas partes, não respeitou a regra de em cada “quesito”,colocarumfacto(oquenãoocorreudefor- masistemática,nemassumeparticularrelevância).

Asfalhasecircunstânciasapontadasnãoassu-mem – repete-se – no contexto global da prestação em apreciação, um grau de gravidade que desmereça o mérito global atingido, nem logram impedir a atribuição do Muito Bom (pois também se não po- dem ter como nem escassas, nem esporádicas), con-siderandoqueodesempenhoocorreunoâmbitodeum serviço particularmente complexo (a Comarca de ....., com as suas características especiais, a pen-dência elevada e a resposta que lhe foi dada) : um juiz com notação de Muito Bom, tem de aliar as quali-dades que a Exma. Juíza evidenciou, a uma qua- lidade técnica também tem de lhe ser reconhecida.

O seu mérito releva no saldo positivo da pen-dência, no volume e natureza das decisões de fundo e a execução, regra geral, atempada do serviço, bem como no tratamento globalmente cuidado das di-versas fases da tramitação processual cível .

Em ....., um juízo cível com a produtividade e pendência assinaladas, que agenda a três meses, que nãotemàdatadainspecçãodespachos(incluindosaneadores) para proferir, que marca os julgamentos pouca dilação e decide rápido, é um oásis de ex-celência, que, efectivamente, foi reconhecido como tal pelo Exmo. Inspector ao notar a Exma. Juíza com Muito Bom .

O 3º juízo Cível de ..... atingiu efectivamente um nível de excelência que só pode ser sublinhado e mesmo elogiado .

E tal deve-se – sem lugar a dívida razoável – à marca impressiva deixada pela Exma. Juízainspeccionada que logrou liderar uma equipa mui-

to bem oleada que possui um ritmo de trabalho e de eficácia acima da média, reduzindo o prazo de duração média dos processos (o que é bem visível nacircunstânciadeaesmagadoramaioriadospro-cessos pendentes terem dado entrada em juízo em 2005/2006) .

A celeridade imprimida, a eficácia constatada, o alto grau de produtividade, as qualidades huma-nas e profissionais descritas, a boa fundamentação das decisões, complementam o quadro .

Repare-se ainda que a Exma. Juíza, tendo fei-to uma opção clara pela jurisdição cível e por não abandonar ..... (é, aliás, perfeitamente compreen-sível que sendo as Varas de ....., de competência Mista, tenha optado por para elas não concorrer), se tem mantido no mesmo Juízo há cerca de doze anos (factor este certamente decisivo para os resultados obtidos), tratando-se – em todo o caso, de uma op-ção que apenas a si diz respeito e que não a pode nem prejudicar nem beneficiar .

É verdade que as condições de trabalho, quer em termos logísticos (com a inauguração do novo Pa- lácio da Justiça), quer em termos de carga distribu-tiva melhoraram sensivelmente desde a última ins- pecção, mas o estado actual do Juízo é consequência directa do esforço desenvolvido pela Exma. Juíza, sendo aqui de sublinhar que em cinco anos (perío-do abrangido pela última inspecção) tinha feito 85 sentenças com oposição (38 das quais dentro do pra-zo) e, nos quatro anos (a que se reporta a presente), fez 207 (113 das quais dentro do prazo), não tendo processos conclusos para decisão no seu gabinete .

Esta produtividade, conjugada com a celeri-dadeque imprimeàmarcaçãodos julgamentos eàelaboraçãodassentenças,bemassimcomocomaqualidade técnica do seu trabalho, necessariamente tem de merecer o aplauso deste Conselho Superior da Magistratura .

Com o seu empenho, esforço e com os resul-tados obtidos, dão a nota da excepcionalidade ne-cessária para concluir que a Exma. Juíza prestigia a imagem da Justiça Portuguesa, merecendo o reco-nhecimento da máxima notação .

O CSM na apreciação que faz da prestação dos Juízes verificada pelos Inspectores - e ao contrário do que muitas vezes é (injustamente) acusado -, nem

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atende apenas a critérios quantitativos e de produ-tividade, nem ao critério da antiguidade, mas sim à ponderação de todos os critérios susceptíveis de dar a imagem global da prestação do Juiz inspeccionado .

EmtodososparâmetrosaExma.Juízaatingeníveis de mérito, que têm de ser relevados .

Os números acima aludidos são elucidativos, como representativo do trabalho da Exma. Juíza é o tipo de decisões proferidas e apresentadas como trabalhos, permitindo aquilatar perfeitamente a consistência do nível qualitativo e quantitativo do serviço realizado .

A Exma. Juíza é competente, particularmente célere e eficaz revelando capacidade de decisão e de convencimento (decidindo com segurança, quali-dade e sem atrasos comprometedores) .

Não foi perfeita, é certo e poderá sempre me-lhorar, aperfeiçoar e aprimorar a sua prestação (como qualquer Juiz responsável e consciente), mas a no-tação máxima não pode estar reservada para juízes perfeitos, até porque a perfeição não existe (é um objectivo, é um caminho, sem fim, mas também sem admitir paragens) .

■ ■

Tudo ponderado, crê-se que a classificação de “Muito Bom” é a que mais se coaduna com a presta- ção da Exma. Juíza no período inspectivo em cau-sa.

Considerando a sua experiência e a sua car-reira, o seu zelo e dedicação, o tipo, caracterís-ticas e exigência do Tribunal em que foi ins-peccionada, os resultados obtidos e a qualidade técnica do trabalho realizado, podemos con-cluir, que a prestação da Exma. Juíza no decurso do aludido período inspectivo, assumiu – globalmente - um mérito claramente acima da média : a sua constante evolução e aperfeiçoamento e o reconhe-cimento da forma prestigiante como exerceu o seu múnus, atinge uma evidência manifesta e invulgar, que a distingue dos seus pares, ao ponto de justifi-car a atribuição da classificação máxima .

A propósito da nomeação de juízes para tri-bunais superiores, Francisco António Medeiros (juiz e ministrodajustiçanoiníciodoséculoXX),citadopor Luís Eloy Azevedo, (ob. cit., pág. 60), referia que

sedeveobtemperar“porigualosprincípiosdaan-tiguidade e do merecimento e zelo comprovados no exercício do cargo, para todos ficarem sabendo que na magistratura judicial trabalhar ou não trabalhar, trabalhar muito ou pouco, bem ou mal, melhor ou pior,nãoétudoamesmacoisa”,consideraçõesestasque podem aqui valer também : não é igual fazer as coisas bem, ou fazê-las melhor .

Quem marca uma diferença, tal deve ser- -lhe reconhecido .

Dentro dos padrões médios de qualidade, pro-dutividade e classificação do CSM, que importa apreciar com critérios estáveis e uniformes, é pos-sível julgar o desempenho sujeito a inspecção como – globalmente - de excelência .

Deverá - assim - ser notada em conformidade, comaclassificaçãode“Muito Bom”.

iV. Decisão

Em face do exposto, acordam os membros do Plenário do Conselho Superior da Magistratura em atribuiràExma.Juíza....., aclassificaçãode“Mui-to Bom”.

Lisboa, 12 Setembro de 2006

Edgar Taborda LopesAntónio Bernardino (vencido, pois manteria a

classificação de Bom com distinção, atribuídano Permanente)

Álvaro Laborinho Lúcio(manteria, por razões de justiça relativa,a classificação atribuída no Permanente)

Manuel da Costa AndradeManuel Braz

Eduardo Vera-Cruz PintoAlexandra Leitão

António Barateiro MartinsRui Moreira

José Luís Moreira da SilvaVítor Faria

Maria José Machado (vencida – manteria a classificação atribuída pelo Conselho Permanente)

Luís Máximo dos Santos (vencido, por conside-rar mais adequado manter a classificação atribuída

pelo Conselho Permanente)António Geraldes (vencido – votaria a posição que foi assumida no Conselho Permanente)

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3.º ACÓRDÃO

Acordam no Permanente do CSM:

INos termos do art. 36º, n.º 1, do EMJ e em

conformidade com o plano de inspecções aprova-do para o ano de 2005, procedeu-se à inspecçãoordinária ao serviço prestado pelo Ex.ma Juíza de Direito Dra. (…) no 1º Juízo (…), no período de tempo decorrido entre 23 de Fevereiro de 1999 e 14 de Setembro de 2001 e na (…) no período que decorreu entre 19 de Setembro de 2001 e 14 de Setembro de 2005.

Não se conformando com a nota proposta, de “Bom”, veio a Ex.ma Juíza de Direito usar o seu direito de resposta, o que fez discordando da no-tação classificativa e pugnando pela atribuição de “Bom com Distinção”.

Apreciação:II

A – Fundamentação de Facto (em que se se-gue de perto o que, a tal propósito, consta do rela-tório inspectivo):

ADr.ª(…)nasceunodia(…),tendoactualmente,(…)anos de idade.

Terminou a Licenciatura em Direito na Faculdade de Di-reito da Universidade de Coimbra, em (…), com a classificação final universitária de 14 valores.

Foi nomeada e colocada como juiz de direito em regime de estágio no Tribunal (…), por deliberação de 12.07.94, publi-cada no D.R. de 07.09.94.

Por despacho do Exmº Vice Presidente do Conselho Superior da Magistratura de 11.05.95, publicado no D.R. de 26.05.95, com efeitos a 01.06.95, foi nomeada Juiz Auxiliar do Tribunal(…),atéàexistênciadevagaemcomarcadeingresso.

Por deliberação de 16.05.95, publicada no DR de 14.09.95, foi nomeada Juiz de Direito e colocada no mesmo Tribunal Judicial da comarca de (…).

Por deliberação de 09.07.96, publicada no DR de 14.09.96, foi transferida para o Tribunal Judicial da comarca de (…).

Por deliberação de 15.07.97, publicada no DR de 13.09.97, foi transferida para o (…)

Por deliberação de 09.07.01, publicada no DR de 14.09.01, foi nomeada, como requereu, Juiz de Direito inte-rina, da (…).

Por deliberação de 15.07.03, publicada no DR de 13.09.03, foi novamente nomeada Juiz de Direito interina, da (…).

E, por deliberação de 14.07.95, publicada no DR de 14.09.95, foi nomeada Juiz de Direito interina, do (…), onde se mantém.

Do seu certificado de registo individual constam duas classificações,ambasde“BOM”:

- uma, pelo serviço prestado no Tribunal Judicial da comarca de (…), no período compreendido entre 19.09.95 e 15.09.96;

- outra, pelo serviço prestado no (…), no período com-preendido entre 18.09.97 e 22.02.1999.

Do seu certificado de registo individual nada consta em seu desabono.

No período sob inspecção (23.02.99 a 14.09.05) deu as seguintes faltas, todas justificadas:

- Lei nº 21/85 e 143/99, de 30/06 e 31/08, respectiva-mente 13.06.2003 (1 dia) - artº 10º; -Dec-Lei nº 100/99, de 31 de Março:

08.05.2003 (1 dia) – artº 29°; 20 a 27.05.2003 (8 dias) – artº 29º;14.10.03(1 dia) - artº 29°;15.01.04 (1 dia) – artº 29º;09.11.04 (1 dia) – artº 29º;30.11.04 (1 dia) – artº 29º;01 a 03.02.05 (3 dias) – artº 29º;28.02.05 (1 dia) – artº 29º.À data do início do período temporal agora sob inspecção

(23deFevereirode1999),aDr.ª(…)contavacomapenascercade 4 anos e 5 meses de serviço, incluindo o período de estágio.

E,àdatadoiníciodestainspecção(16deNovembrode2005) contava com cerca de 11 anos e 2 meses de serviço, in-cluindo o período de estágio.

JáconheciapessoalmenteaDr.ª(…)emvirtudedealguns, poucos, contactos que com ela fui mantendo nas (…), aquando da realização de outras inspecções que ali efectuei a outros ma-gistrados.

Desses contactos fiquei com a impressão de tratar-se de pessoa de trato fino, simpática, mas introvertida.

Essa impressão mantém-se, no final desta inspecção. Analisando a capacidade humana para o exercício da fun-

ção – tal como é imposto pelo art. 13º-2 do RIJ – devo referir que,tantoquantoépossívelapurarnestascircunstâncias,aDra.(…) é pessoa civicamente idónea, estando a sua total indepen-dência, isenção e dignidade de conduta, acima de qualquer sus-peita.

O relacionamento com sujeitos e intervenientes proces-suais, outros magistrados, advogados, outros profissionais fo-renses, funcionários judiciais e público em geral, pautou-se por grande correcção, sendo boas as referências que neste aspecto lhe são feitas por aqueles que com ela lidaram e lidam de perto, designadamente funcionários e advogados.

Mostrou boa capacidade de compreensão das situações concretas a resolver, sendo as suas decisões norteadas por um procurado sentido de justiça, em consideração com o meio social

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Dez.2006 - Boletim Informativo 171

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e cultural onde a sua função foi exercida, meio onde se mostrou bem inserida e cujas peculiaridades procurou apreender conve-nientemente.

Apesar do – relativo – pouco tempo de exercício de que dispunha quando iniciou a produção do serviço a inspeccionar – como atrás disse, cerca de 4 anos e 5 meses, incluindo o tempo deestágio–podeconcluir-sequeaDr.ª(…)procurou–efoiconseguindo – adaptar-se ao serviço, pois da sua actuação veri-fica-se que, em regra, agiu com bom senso, foi assídua – todas as faltas dadas foram justificadas -, pontual e preocupada com o serviço.

E quanto a esse aspecto – adaptação ao serviço – aprecian-doaevoluçãodotrabalhodesenvolvidopelaDr.ª(…)atémea-dos de Setembro de 2005, creio poder afirmar que se nota uma melhoria gradual do trabalho que vem produzindo, sobretudo ao nível técnico, notando-se que procurou – e foi conseguindo – actuar com bom senso nas decisões que proferiu, o mesmo se po- dendo dizer da gestão que fez do andamento dos processos (como elemento indiciário – mas, naturalmente, não decisivo, refira-se a percentagem de decisões confirmadas em via de recurso).

O referido sentido de preocupação com o serviço que de-monstrou, resultará melhor caracterizado das pormenorizações que farei a seguir.

AnalisandomaisespecificamenteoserviçodaDr.ª(…)nosreferidos Tribunais, numa - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

I – PERSPECTIVA QUANTITATIVAQuantoàprodutividade,hádesdelogoqueterematen-

çãoqueaactividadedaExmªinspeccionada,agoraemaprecia-ção, se repartiu pelo (…) e pela (…), como atrás disse, sendo que o serviço desta (…) – na parte que lhe diz respeito e face á distribuição operada entre os respectivos magistrados judiciais - abrange os Tribunais de (…).

Por isso, não pode esquecer-se que as deslocações – regu-lares e frequentes – a estes tribunais absorveram muito tempo àDr.ª(…).

Por outro lado, deve ter-se em atenção que, naquele (…), des- de Fevereiro/99 até Junho/99 (pois as … só entraram em funcio-namentoem…),aDr.ª(…)–paraalémdoseuserviçoespecífi-co – participava nos julgamentos colectivos 2 dias por semana.

Além disso, deve referir-se que, aquando do início do pe-ríodotemporalagoraemapreciaçãonaquele(…),aDr.ª(…)jáali vinha exercendo funções desde meados de Setembro de 1997, isto é, desde há cerca de 1 ano e 5 meses.

Nesse (…) – onde, como disse, já vinha exercendo funções desdemeadosdeSetembrode1997–aDr.ª (…),quandoalicessou funções, deixou o serviço em dia e sem qualquer atraso.

Na (…), encontrou o serviço em dia.Porém, quando cessou funções nessa (…), deixou por des-

pachar:- 12 processos da comarca de (…) (que aguardavam fosse

proferida sentença, tendo esta(s) sido já proferida(s) e os proces-sos entregues no Tribunal em Novembro e em Dezembro deste ano);

- e 2 processos da comarca de (…) (que aguardavam igual-mente a prolação de sentença).

Além disso, nessa (…), nos processos inspeccionados, en-contrei-lhe vários atrasos, alguns deles muito acentuados (supe-riores a 1 e a 2 anos).

E, em processos tutelares, proferiu 40 decisões finais (sen-do 33 em processos tutelares – 19 em 1999 e 14 em 2000 – e 7 em processos tutelares educativos (todos em 2001, até 14 de Setembro).

De acordo com os mapas estatísticos do mesmo 1º Juízo, durante aquele mesmo período de tempo, findaram 69 processos tutelares, todos relativos a infracções de natureza penal (32 em 1999, 28 em 2000 e 9 em 2001).

Quanto a processos de promoção e protecção, findou 13; e relativamente a processos tutelares educativos, terminou 25.

Também de acordo com os citados mapas estatísticos do mesmo Juízo, entre 23.02.99 e 14.09.01 – findaram 1343 pro-cessos cíveis, sendo 1329 execuções sumárias e outras (588 em 1999, 404 em 2000 e 337 em 2001), 12 outros processos (4 em 1999, 4 em 2000 e 4 em 2001) e 2 providências cautelares (ambas em 2001).

Ainda quanto a este aspecto – produtividade – refira-se também que, pendularmente, conseguiu, durante o período de 2 anos e 7 meses em que esteve sozinha no (…), em processos criminais, sempre superar – largamente – em processos findos, o número dos distribuídos, deste modo fazendo, sucessivamente, diminuir as respectivas pendências.

B – E, na (…), desde 19 de Setembro de 2001 até 14.09.05 – cerca de 4 anos – em matéria criminal proferiu 80 decisões, todas em processo comum colectivo.

Ainda na (…), mas na área cível, no mesmo período de tempo – de 19.09.2001 a 14.09.05 (cerca de 4 anos) proferiu, no total, cerca de 514 decisões – aqui se englobando as profe-ridas em acções contestadas e não contestadas, homologatórias de transacções e desistência e em execuções e outros processos – sendo 202 em acções ordinárias (15 em 2001, 43 em 2002, 57 em 2003, 52 em 2004 e 35 em 2005), 1 em acções suma-ríssimas (em 2005), 10 em acções especiais (3 em 2002, 1 em 2003, 5 em 2004 e 1 em 2005), 69 em processos de divórcio e/ou separação judicial (1 em 2001, 23 em 2002, 19 em 2003, 11 em 2004 e 15 em 2005), 95 em execuções (5 em 2001, 18 em 2002, 35 em 2003, 18 em 2004 e 19 em 2005), 2 em in-ventários (1 em 2003 e outro em 2004), 43 em providências cautelares (4 em 2001, 11 em 2002, 19 em 2003, 4 em 2004 e 5 em 2005) e 92 em outros processos (2 em 2001, 14 em 2002, 24 em 2003, 26 em 2004 e 26 em 2005).

Para se ter uma melhor ideia do grau de dificuldade da-quelas 514 decisões cíveis, direi que apenas 85 foram proferidas em acções contestadas.

Nomesmoperíodotemporal(cercade4anos),aDr.ª(…)ainda proferiu nesta (…), 178 despachos saneadores.

No Tribunal Judicial de (…) na área cível, no período de tempo que mediou entre 19.09.2001 e 14.09.05 (cerca de 4 anos) proferiu, no total, cerca de 71 decisões – aqui se englo-bando as proferidas em acções contestadas e não contestadas, homologatórias de transacções e desistência e em execuções e outros processos - sendo 24 no 1º Juízo (todas em acções ordiná-rias - 3 em 2002, 4 em 2003, 4 em 2004 e 13 em 2005), 34 no

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172 Boletim Informativo - Dez.2006

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2º Juízo ( 22 em acções ordinárias – 3 em 2002, 11 em 2003 e 8 em 2005; 1 em acções especiais – em 2003; 8 em processos de divórcio e/ou separação judicial – 1 em 2001, 3 em 2002, 2 em 2003, 1 em 2004 e 1 em 1005; e 3 em outros processos – 1 em 2002, 1 em 2003 e 1 em 2005) e 13 no 3º Juízo (8 em acções ordinárias – 1 em 2001, 1 em 2002, 2 em 2003 e 4 em 2005; 2 em processos de divórcio e/ou separação judicial (1 em 2003 e 1 em 2004; e 3 em outros processos (1 em 2002, 1 em 2003 e 1 em 2005).

Para se ter uma melhor ideia do grau de dificuldade daque- las 71 decisões, direi que 37 foram proferidas em acções con-testadas.

Ainda no Tribunal Judicial de (…) mas em matéria crimi- nal, ainda no período temporal decorrido entre 19 de Setembro de 2001 e 14.09.05 – cerca de 4 anos – proferiu 48 decisões, to-das em processo comum colectivo – sendo 16 no 1º Juízo (9 em 2002, 2 em 2003, 4 em 2004 e 1 em 2005), 14 no 2º Juízo (2 em 2001, 4 em 2002, 1 em 2003, 5 em 2004 e 1 em 2005) e 18 no 3º Juízo (6 em 2001, 3 em 2002, 4 em 2003 e 5 em 2004).

No Tribunal Judicial de (…), na área cível, ainda no mesmo período de tempo que mediou entre 19.09.2001 e 14.09.05 (cer-ca de 4 anos) proferiu, no total, 27 decisões – aqui se englobando as proferidas em acções contestadas e não contestadas, homolo- gatórias de transacções e desistência e em execuções e outros processos – sendo 19 em acções ordinárias (1 em 2001, 4 em 2002, 8 em 2003, 2 em 2004 e 4 em 2005), 7 em processos de divórcio e/ou separação judicial (1 em 2002, 1 em 2003, 2 em 204 e 3 em 2005) e 1 em outros processos (em 2005).

Para se ter uma melhor ideia do grau de dificuldade da-quelas 27 decisões, direi que 11 foram proferidas em acções contestadas.

Ainda no Tribunal Judicial de (…) mas em matéria cri-minal, e também no citado período temporal decorrido entre 19 de Setembro de 2001 e 14.09.05 – cerca de 4 anos - proferiu 6 decisões, todas em processo comum colectivo – (2 em 2003, 1 em 2004 e 3 em 2005).

Ainda quanto a este aspecto – produtividade – refira-se também que, pendularmente, a pendência estatística processual cível desta (…) foi sempre subindo durante este período de cerca de 4 anos agora em apreciação, pois o número de processos cíveis findos em cada ano – pelos 3 Juízes desta (…) (e não apenas pelaDr.ª…)foisempreinferioraonúmerodosprocessoscíveisdistribuídos em igual período de tempo;

No que respeita à pendência processual criminal destamesma (…), conclui-se que a mesma se mostra como que esta-bilizada ou até mesmo com tendência para uma ligeira descida, pois o número de processos criminais findos em cada ano – pelos 3 Juízes desta (…) (e não apenas pela …) foi sempre superior (excepto em 2003, em que foi inferior) ao número dos processos desse tipo distribuídos em igual período de tempo.

Penso, portanto, que quanto ao aspecto da produtividade, se poderá concluir por:

1.umaboaeeficazprestaçãodaDr.ª(…)quernocitado(…), quer - na área criminal - na (…) da mesma comarca;

2. mas por uma prestação menos conseguida, claramente inferioràquela-naáreacível–namesma(…)namedidaem

que, por um lado, a pendência processual deste tipo de proces-sos tem vindo sempre a subir (embora ao nível da Vara, isto é, dos 3 juízes); por outro lado, deparei com muitos – e acentua-dos – atrasos na prolação de despachos (sobretudo ao nível de despachos saneadores) e sobretudo, de sentenças; e, além disso, quando cessou funções, deixou ainda alguns processos a aguar-dar sentença, com o respectivo prazo excedido.

E tudo isto – apesar da ajuda supra mencionada e de, como disse, ter encontrado o serviço em dia quando iniciou fun-ções nesta (…).

Mas, por outro lado, também deve ter-se em atenção o tempodeserviçodaDr.ª(…)àdatadoperíodosobinspecção– como atrás disse, cerca de 4 anos e 5 meses; as características das comarcas – já com bastante movimento – predominando, no cível, as questões relacionadas com acidentes de viação, arren-damentos, com responsabilidade civil contratual e com direitos reais (de alguma dificuldade de manuseamento, sobretudo a ní-vel de fixação da matéria de facto, designadamente elaboração dos despachos de saneamento e condensação); e ainda o facto de a sua actividade se desenvolver também pelos Tribunais de (…), implicando frequentes deslocações a essas comarcas, com as inerentes perdas de tempo.

Além disso, não posso deixar de salientar o número de des- pachos saneadores, com organização de especificação e elabora-ção de questionário e/ou base instrutória, que elaborou na (…),

Trata-se de esforço que deve ser reconhecido, embora não tivesse sido suficiente para, por si só, manter e deixar rigorosa-mente em dia o serviço naquele tribunal.

E estou convencido, que aquela produtividade só terá sido possível mercê de uma actuação esforçada, porventura com sacri- fício em proveito do serviço, de fins de semana e de muito tem-po para além das horas normais de expediente, o que é revelador do sentido de dedicação e de responsabilidade a que atrás aludi.

Em geral, na sua actuação mostrou-se preocupada com a eficácia do serviço.

Porém,quantoàceleridadeprocessual,comoatrásreferi,não conseguiu manter o serviço rigorosamente em dia, tendo ex- cedido vários prazos processuais (respeitantes, praticamente todos,àprolaçãodedespachosaneadore/ousentençaembora,com a ajuda atrás referida, tivesse conseguido recuperar muitos desses atrasos).

É certo que não conseguiu deixar o serviço em dia nesta (…),mas esforçou-se por o conseguir, tendo-o deixado “con-trolado”.

Mostrou alguma pontualidade na realização das diligên-cias (várias diligências foram adiadas, umas vezes, por culpa do tribunal – com outros serviços para realizar ou continuações, p.ex. a audiência de julgamento das acções ordinárias nºs 16/00, 76/00e114/00–outrasvezes,porimpossibilidadedaSr.ªJuiz)e boa calendarização das mesmas (a dilação na marcação dessas diligênciaseraboa,embora,porvezes,semeafigurasse“exces-siva”–comoveremosadiante–faceaovolumedeserviçoexis-tente e àcircunstânciadeasuaactividadesedispersar,comojádisse, não só pelas (…), mas também pelos (…)).

No cível, embora tivesse marcado muitas tentativas de conciliação - mas não com fins dilatórios – a verdade é que rara-

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Dez.2006 - Boletim Informativo 173

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mente conseguiu findar o processo nessa fase mediante transac-ção.

Por isso, foi pena que, quando nessas diligências não alcançou o acordo das partes, não tivesse proferido logo – na própria acta – o despacho saneador, a especificação e a base ins-trutória, pois, regra geral, ordenava que o processo lhe fosse fei-to concluso para esse efeito, o que retardava, naturalmente, a marcha do processo.

E, quanto a este aspecto de (falta de) celeridade proces-sual, devo também referir que não gostei que, por regra, defe- risseospedidosdesuspensãodainstânciaformuladospelosilus-tres mandatários das partes com vista a possibilitar-lhes pôr fim á causa mediante transacção, porquanto, por um lado, a transac- ção só muito raramente era obtida e, por outro lado, aqueles perío- dos de suspensão eram – a meu ver – demasiado dilatados (prati- camente nunca menos de 30 dias e até 60 dias, a que se seguia, muitas vezes, novo pedido de prorrogação desse prazo de sus-pensão.

E,apesardeaExmªJuiz,frequentemente,designarlogonovo dia para realização da diligência que ficara por realizar – facto que me agradou – a verdade é que, outras vezes não agiu dessa forma, antes tendo aguardado o decurso do prazo daquela suspensão, após o que notificou as partes para informarem no processo se já tinham ou não, chegado a acordo, tornando, desta forma, a tramitação processual bastante mais morosa.

E, na verdade, fiquei sem perceber qual a razão dessa di-ferença de atitude.

Gostei de ver que, nos despachos de saneamento ou conden- sação, indicava os factos assentes e os factos controvertidos ou a provar, não utilizando, quanto a estes – e como adiante direi – a técnica legalmente permitida de remeter para os articulados.

Passandoagoraàanálisedoserviçoprestadosobuma--

II – PERSPECTIVA QUALITATIVAOlhando agora aos aspectos da preparação técnica, come-

çarei por dizer que estamos perante uma juiz de boa categoria intelectual, aliás condizente com a sua boa classificação univer-sitária.

Revelam-no o nível jurídico dos seus trabalhos espalhados por inúmeros processos, onde se constata um bom domínio das normas, institutos e conceitos de direito aplicáveis, denotando uma apreciável cultura jurídica, manifestada no uso de uma lin-guagem técnica adequada, que se revela tanto no domínio do direito substantivo como no domínio do direito processual.

Revela muito boa capacidade de apreensão das situações jurídicas a decidir.

Assim:NO CRIME: Emregra,aDr.ª (…)proferiaasdecisõesnosprazosle-

gais.Porém, no (…), as audiências de julgamento eram marca-

das com uma dilação temporal que, atento o volume de serviço do tribunal em questão, considero demasiado grande.

Na verdade, naquele tribunal, eram marcadas com uma antecedência que oscilava, em média, entre 6 e 10 meses, o que se poderia compreender-se em certos períodos (pontuais)

de maior concentração ou acumulação de serviço, dificilmente se poderá aceitar – como regra – num período de tempo tão dilatado como o agora em apreciação (cerca de 2 anos e 7 meses naquele 1º Juízo), atento o volume de serviço (processos distri-buídos e pendentes) do mesmo tribunal.

E, no mesmo (…), apesar de não ter facilitado os adia-mentos, estes eram marcados com uma dilação que, sendo fran-camente menor, me parece, também, ainda demasiado grande.

Porém, ainda quanto a este aspecto – dilação na marcação e nos adiamentos das audiências de julgamento – mas na (…), já considero francamente melhor e aceitável a dilação verificada: entre 3 a 6 meses nas marcações e entre 1 e 4 meses nos adia-mentos.

Foi diligente nas (poucas) instruções que teve a seu car-go, proferindo o despacho que se impunha com vista ao pros-seguimento do processo, não tendo, porém, encontrado quer despachos de pronúncia quer despachos de não pronúncia, por si proferidos, o que se compreende uma vez que passou a haver um juizafectoàInstruçãoCriminal.

Preparou com cuidado os processos para julgamento, de-signadamente desde o despacho a que alude o art.º 311º do CPP que, embora de forma tabelar, proferia com todos os requisitos de forma exigidos por lei, não se esquecendo de aí fixar a medida de coacção ao arguido e de se pronunciar quanto ao pedido cível, quando era caso disso.

Esteve atenta ás medidas de coacção, que aplicou com respeito pelos princípios legais e constitucionais e reapreciava os pressupostos de facto e de direito que tinham determinado a aplicação das medidas de coacção.

Julgou, com bom senso, em sentenças bem motivadas de facto e de direito, indicando, regra geral, a razão de ciência das tes- temunhas inquiridas e nas quais ressalta a preocupação de fun-damentar com pormenor a convicção sobre os factos provados e não provados que, em regra, enumerava como manda a lei.

Discutia, em regra, com sentido de equilíbrio, o enqua-dramento jurídico-penal dos factos provados, mostrando do-minar os grandes princípios do direito penal substantivo e ad-jectivo, fazendo constar das sentenças os elementos pessoais do arguido relevantes para a fixação da dosimetria concreta da pena que aplicava com sentido de justiça, benevolência e bom senso.

E na sentença, por via de regra, não se esquecia de dar destino aos objectos apreendidos no processo.

Não posso, porém, deixar de reparar que, na maioria dos casos, a sentença – no (…) – era proferida alguns dias (entre 6 a12diase,àsvezes,15a20dias)depoisdaconclusãodojul-gamento o que, a meu ver, é indesejável e (sendo, como era no caso em análise, regra geral) dificilmente justificável, devendo procurar proferir-se a sentença, em regra, ou no próprio dia ou, pelo menos, no dia imediato ao da audiência de julgamento, salvo casos de maior complexidade, devidamente justificados.

Na (…), a dilação na leitura da sentença/acórdão era sen-sivelmente idêntica. Porém, neste tribunal, essa dilação será compreensível e justificada.

Por isso, gostei de ver que – no (…) – nalguns (muito poucos) casos – de maior simplicidade, a sentença foi logo pro-ferida e ditada para a acta.

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A fundamentação jurídica era, em regra, consistente e de-monstradora dos conhecimentos jurídicos que possui.

E, em casos pontuais, demonstrou conhecimento da dou-trina e jurisprudência atinentes aos problemas em causa, com algumas citações pertinentes.

Nos casos de sucessão de leis penais, em regra não equa-cionava em concreto o regime que mais favorecia o arguido, an-tes se quedava pela simples equação abstracta – comparando, em abstractoe“exante”,ambososregimeslegais–nãorespeitando,assim, a meu ver, o estatuído no art.º 2º n.º 4 do Código Penal.

Para a determinação da medida concreta da pena tinha em atenção não só os factos provados – em regra referindo, dentre aqueles, os que relevavam para aquele efeito – mas também a culpa e as exigências de prevenção de futuros crimes e ainda todasascircunstânciasque,nãofazendopartedotipolegaldecrime, deponham a favor ou contra ele:

Como disse no comum singular nº 812/99 (crime de vio-lação da obrigação de prestar alimentos):

“ No caso presente, o grau de ilicitude dos factos revela-se muito elevado, atento o longo período de tempo de manutenção da situação antijurídica.

O dolo directo com que o arguido actuou, o período de tempo em que persistiu na sua resolução criminosa, a circunstância de ter con-tinuado a omitir a prestação alimentar a que estava obrigado, não obstante as condenações em pena de prisão sofridas em 7/07/1995 e 18/12/1997 pela prática do mesmo tipo de crime, manifestando uma total insensibilidade pelas carências sofridas pelas suas filhas, aponta para uma grau de culpa muitíssimo acentuado.

Os antecedentes criminais do arguido – por crime da mesma na-tureza foi condenado em 7/07/1975 na pena de 1 ano de prisão suspen-sa na sua execução, tendo-lhe sido revogada a suspensão por incumpri-mento do determinado na sentença, vindo a ser detido para cumprimento daquela pena em Abril de 196, o que só não sucedeu porque, decorridos 48 horas após a sua detenção, efectuou o pagamento dos alimentos devi-dos às filhas até Maio de 1995; ainda por crime da mesma natureza, por sentença de 18/12/1997, confirmada pelo Tribunal da Relação do Porto, transitada em julgado em 20.0598, foi condenado na pena de 1 ano de prisão tendo sido detido para cumprir tal pena em 24.01.99, vindo a ser libertado em 25.01.99 em consequência da declaração da extinção da pena, nos termos do artº 250º-3 do Código Penal, por ter efectuado o pagamento dos alimentos devidos às filhas até Junho de 1996 – denotam uma especial necessidade de recuperação do agente e demonstram à saciedade que as anteriores condenações não serviram de suficiente advertência contra o crime, em nada tendo contribuído para despertar o arguido para as elementares responsabilidades inerentes às funções parentais.

As exigências de prevenção geral são de considerar medianas, atenta a frequência com que se verificam ilícitos da natureza em causa nos autos” …

Ou, como disse no comum singular 774/98, – crimes de furto e de receptação:

“... A determinação da medida concreta da pena far-se-á em função da culpa dos arguidos e das exigências de prevenção de futuros crimes e ainda de todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo legal de crime, deponham a favor ou contra ela – cfr. artº 71º do C. Penal revisto.

O grau elevado da ilicitude dos factos relativamente ao arguido João …, atento o valor dos objectos subtraídos e a circunstância de não terem sido recuperados, à excepção da rebarbadeira e do martelo demolidor.

O grau mediano da ilicitude dos factos relativamente aos demais arguidos, face ao valor dos objectos recebidos ou adquiridos e à circuns-tância de terem sido recuperados.

O dolo intenso dos arguidos, o qual revestiu a forma directa, aponta para uma culpa acentuada.

A frequência com que se verificam ilícitos contra o património e os direitos patrimoniais, suscita por parte da comunidade uma necessidade acrescida de restabelecimento da confiança na validade das normas in-fringidas, sendo, por isso, prementes as exigências de prevenção geral.

A ausência de antecedentes criminais, não denota uma especial necessidade de recuperação dos arguidos.

Tudo ponderado, afigura-se-nos ajustado aplicar ao arguido João …, pelo cometimento do mencionado crime de furto, a pena de 180 dias de multa e a cada um dos arguidos José … , Adelino … e Agostinho … , pela prática do mencionado crime de receptação, a pena de 200 dias de multa . … “.

Ou, finalmente, como refere no comum singular 1088/99 – homicídio por negligência:

“... Considerando a natureza do ilícito, entendemos que a pena de multa não realiza de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (arts. 40º e 70º do C. Penal), pelo que se optará pela pena detentiva.

Em obediência ao preceituado no artº 71º do C. Penal, na deter-minação da medida concreta da pena a aplicar atender-se-á: ao grau de violação dos deveres impostos ao agente – condução desrespeitadora de uma norma fundamental da circulação automóvel; à intensidade da culpa – o arguido agiu com negligência inconsciente; à sua conduta an-terior aos factos – o arguido não tem antecedentes criminais, nem contra-ordenacionais; à sua situação socio-económica – o arguido é de modesta condição socio-económica; às exigências de prevenção geral – prementes em matéria de acidentes rodoviários.

Ponderados os factores que vêm de ser referidos, afigura-se-nos ajustado aplicar ao arguido pela prática do mencionado crime de homi-cídio por negligência, a pena de 9 meses de prisão.

Considerando que o arguido é delinquente primário e é habi- tualmente condutor cuidadoso e prudente e atendendo ainda a que o mesmo se encontra social e familiarmente integrado, entende o tribunal que a simples censura do facto e a ameaça da pena realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição, motivo pelo qual se justifica no caso a suspensão da execução da pena de prisão pelo período de 18 meses (cfr. artº 50º do C. Penal). …

E, regra geral, justificava bem a opção pelo tipo de pena que aplicava (privativa ou não privativa de liberdade).

Fez uso moderado e prudente do instituto da suspensão dapena,atendendoàpersonalidadedoarguidoeàscircunstân-cias do facto, que permitem concluir que a simples censura do facto e a ameaça da punição realizam de forma adequada e sufi-ciente as finalidades desta, suspensão essa que revogava quando tal se justificava, em despacho bem fundamentado.

Acompanhou, com cuidado, o desenrolar do processo, quer autorizando quer indeferindo, a junção tardia de docu-mentos (conforme entendia ser a solução correcta e legal), quer

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Dez.2006 - Boletim Informativo 175

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admitindo o rol de testemunhas, quer deferindo ou indeferindo – justificadamente – o aditamento a esse rol, quer autorizando – de forma fundamentada – a substituição de testemunhas no rol apresentado; e ainda quando (em acta) admitia a ampliação do pedido cível.

E gostei de ver que, quando no decurso da audiência de julgamento havia uma alteração substancial ou não substancial dos factos constantes da acusação, observava, como se impunha, o estatuído nos arts. 359º e 358º, respectivamente, ambos do Código de Processo Penal.

No que respeita aos processos sumários, gostei de ver que, regra geral, a participação era lida em Juízo, observando-se, assim, o estatuído no artº 389º-3 do CPP.

Éque,sónessascircunstâncias–comaquelaleitura–éque a participação pode desempenhar as funções de acusação e dar ao arguido as necessárias garantias de defesa para que fique a saber do que é acusado.

E gostei de ver que nos crimes de condução em estado de embriaguez – art.º 292º do CP – aplicava – a meu ver, bem – a medida de inibição de conduzir.

Procedia, oportunamente, á reapreciação das medidas cautelares aplicadas, que alterava se tivesse havido alteração dos pressupostos que as tinham determinado, como disse atrás.

Admitiu a intervenção e constituição como assistente, em vários processos, em despacho(s) bem fundamentado(s).

Estavaatentaàprescrição–quedeclaravaquandoseveri-ficavam os respectivos requisitos legais, julgando extinto o res-pectivo procedimento criminal.

E em muitos processos verificou que o procedimento crimi- nal estava extinto por descriminalização da respectiva conduta.

Porém, nestes casos, julgava a acusação improcedente e absolvia o arguido do crime, com aquele fundamento.

Entendo, porém, que melhor seria julgar extinto o pro-cedimento criminal por tal motivo, não havendo que absolver o arguido.

Igualmente estava atenta á desistência da queixa, que aceitava ou não, conforme a natureza do crime em apreço.

Estava atenta ao pedido cível que não admitia quando deduzido fora de prazo e que, quando admitido, julgava fun-dadamente.

Justificavaounão,asfaltasdoarguido(p.ex.àaudiênciade julgamento) conforme se verificavam ou não os pressupostos do art.º 117º do CPP.

Declarou a contumácia quando se verificavam os respec-tivos pressupostos, em despacho bem fundamentado, donde constavam expressamente as consequências daquela declaração; e declarou cessada a mesma quando tal se impunha, embora am-bos os despachos de forma tabelar.

E mais ou menos tabelar era ainda o despacho em que apreciava – mas devidamente e decidindo com ponderação e bom senso – os pedidos de pagamento das multas em prestações.

E, na generalidade dos casos, discriminava os factos relati-vosàsituaçãopessoaleeconómicadorequerente.

Além disso, quando tal lhe era requerido pelo(s) interessado(s), substituía a pena de multa aplicada, por dias de trabalho, em despacho com fundamentação bastante.

Aplicou as leis de amnistia com correcção e também os perdões legais, perdões esses que revogava quando verificados os pressupostos legais dessa revogação.

Não encontrei erros na formulação dos cúmulos jurídicos, para realização dos quais marcava – bem – audiência.

Quanto á fase de execução das penas, regra geral, não pro-cedia – em conta feita autonomamente – ao controlo da liqui-dação promovida, limitando-se a concordar com a liquidação efectuada pelo MºPº, que, a meu ver, é francamente insuficiente pois quem lê esse despacho (“Concordo com a liquidação da pena de fls.”) fica sem saber se a liquidação foi ou não devidamente controlada em conta feita autonomamente pelo juiz – que a isso não pode de modo algum escusar-se, para mais numa área em que está em causa a liberdade do cidadão.

Como já disse, decidia fundadamente os pedidos cíveis enxertados.

E, não se esquecia de condenar em juros de mora, tendo a (louvável) preocupação de esclarecer não só desde quando eram devidos, mas também de explicitar a respectiva taxa.

E também gostei de ver que condenava em juros de mora desde a citação, quanto aos danos de natureza patrimonial e des-de a sentença, quanto aos danos de natureza não patrimonial.

Não gostei da fórmula estereotipada seguida na homolo-gação das transacções “.... condenando as partes a observá-la nos seus precisos termos”, como fazia em regra.

Por um lado, porque na maioria dos casos só há lugar a condenação e não a qualquer absolvição.

Depois, porque normalmente só uma das partes assume obrigações a cumprir.

Por último, porque a remissão pressuposta na fórmula usada para os termos do acordado, torna o título executivo – que é a sen- tença – portador das imprecisões e ambiguidades do texto do acor-do, com as consequentes complicações em sede de execução o que não sucederia se, em vez daquela fórmula vaga e abstracta, hou-vesse o cuidado de dizer exactamente na sentença o que cada um tem a cumprir e aquilo de que cada qual é concretamente absolvido.

Em matéria de apoio judiciário e custas produziu inter-venções em geral correctas, sendo de referir que, quanto ao apoio judiciário e no domínio da legislação então vigente, em regra discriminava os factos concretos relativos aos rendimentos e des-pesas do requerente de forma a poder-se avaliar se estava ou não emsituaçãoeconómicadébilouinsuficienteparafazerfaceàsdespesas do pleito.

Gostei de ver que indeferia o pedido de apoio judiciário quando o requerente/arguido visava apenas não pagar as custas em que havia sido condenado por sentença já transitada.

Teve actuação em geral correcta no recebimento dos recur- sos, aos quais fixava o efeito e regime de subida estatuídos na lei e quenãorecebiaquandoextemporâneosoulegalmenteinadmis-síveis.

Acompanhou com cuidado os processos tutelares, profe-rindo decisões conscienciosas e justas.

E teve actuação sem reparos nos recursos de contra-ordena- ções que apreciou atempadamente, decidindo quer em audiência, quer mediante despacho, sempre com fundamentação bastante.

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NO CÍVEL: Prestava grande atenção á petição inicial e aos demais ar-

ticulados, fazendo uso moderado e prudente da faculdade confe-rida pelo art.º 508º-1 e 3, do Código de Processo Civil.

Estava igualmente atenta ao registo da acção (quando era casodisso)suspendendoainstânciacomvistaáprovadomes-mo.

Decidia de mérito logo no saneador, quando para tanto se julgavahabilitada,oquedenotasegurançaeàvontade.

Fê-lo, porém, muito poucas vezes.As sentenças mostram-se bem estruturadas, de cujos re-

latórios nos apercebemos dos termos das causas e dos problemas a abordar.

Tais relatórios, porém, mostram-se, por vezes, demasiado extensos, não se limitando a incidir sobre o núcleo das questões a decidir.

A matéria de facto mostra-se, em geral, bem justificada, seguindo-se a fundamentação jurídica.

Reparei,porém,que, em regra, aDr.ª (…)não tinha apreocupação de enunciar qual ou quais as questões a decidir, em- bora tivesse o cuidado de apreciar todas as questões suscitadas.

Ora, elencar as questões a decidir é aspecto que considero muito positivo, pois denota de imediato a capacidade de apreen- são das questões a resolver, evitando que alguma deixe de ser tratada (o que, tanto quanto me apercebi, não sucedeu com a Dr.ª(…))equeojulgadorsepercanoacessórioesquecendooessencial.

Além disso, tal metodologia torna, a meu ver, as decisões mais ricas do ponto de vista estrutural.

A fundamentação jurídica mostra-se, em geral, bem es-truturada com apelo aos institutos adequados – que mostra co-nhecer – apoiando-se, quando o entende necessário, na invoca-ção de jurisprudência e doutrina aplicáveis ao caso.

Apesar disso, não poderei deixar de lhe apontar alguns as-pectos de actuação que, do meu ponto de vista, são susceptíveis de aperfeiçoamento.

Assim:Desdelogoquantoàssentençashomologatóriasdeconfis-

são, desistência e/ou transacção, por vezes, condenava as partes “nos seus precisos termos”dasrespectivascláusulas,semosespeci-ficar minimamente, o que não me parece de boa técnica proces-sual – (como já atrás referi, na parte criminal) – na medida em que pode acarretar grandes inconvenientes em sede de execução da(s) respectiva(s) sentença(s).

Agia com cuidado na selecção da matéria de facto a que-sitar (a incluir na base instrutória) e não usava da técnica legal-mente permitida de fazer o questionário por remissão para os articulados (o que me agradou).

O questionário era elaborado tendo presentes as regras do ónus da prova e procurava que os quesitos fossem monofactuais e extirpados de matéria conclusiva e/ou de direito.

E também gostei de ver que quanto aos factos alegados e que só podiam ser provados por documento, em regra, não os quesitava, antes notificava a parte sobre quem recaía o respec-tivoónusdaprova,parajuntarodocumentonecessárioàprovadesses factos.

Creio, na verdade, que este comportamento corresponde á técnica mais correcta.

Ainda em sede de questionário/base instrutória devo re-ferir que não gostei de ver que, nos respeitantes a acidentes de viação, seguia a ordem dos factos constantes dos articulados.

Creio, porém, que técnica mais correcta será a que procu-ra fazer uma sequência lógica e cronológica daqueles factos, que-sitandoprimeiroosrelativosàproduçãodoacidenteeàculpaesó depois os relativos aos danos e ao nexo de causalidade entre os factos e os danos.

As audiências de julgamento eram marcadas com uma dilação que oscilava entre 4 e 5 meses, o que me parece perfeita-mente aceitável dado o volume de serviço do tribunal.

E a dilação nos adiamentos situava-se entre os 2 e os 5 meses, o que igualmente não me merece censura face ao volume de serviço do tribunal.

EmboraaDr.ª(…)tivesse,algumasvezes,respondidoaosquesitos com relativa prontidão após a audiência de julgamento – entre 6 e 10 dias, muitas outras vezes as respostas eram dadas com uma dilação bem maior, que oscilava entre 15 e 20 dias.

Entendo, porém, que há vantagens, aliás supostas no re-gime processual aplicável, de as respostas serem dadas, na me-dida do possível (p.ex. nas acções de maior simplicidade ou com questionários pequenos) logo no dia do julgamento ou no dia seguinte.

Por isso, gostei de ver que, em casos pontuais, respondeu aos quesitos logo após a audiência de julgamento, ditando para a acta as respectivas respostas.

E, falando nas respostas aos quesitos, devo referir que a respectiva fundamentação era bem feita, com indicação das pro-vas em que assentava a sua convicção e com indicação da razão de ciência das testemunhas que a convenceram.

As decisões em sede de benefício de apoio judiciário – no domínio da lei anterior, então vigente – mostram-se suficiente-mente fundamentadas de facto – com preocupação de discrimi-nar os rendimentos e encargos do requerente (embora, por vezes, se limite a invocar os documentos juntos aos autos) mas, em regra, não faz referência aos custos da acção (para se poder avaliar da pos-sibilidade ou impossibilidade daquele os suportar) – e de direito.

DevoaindareferirquemeapercebiqueaDr.ª(…)seguiacom atenção o processado – conhecendo logo no saneador de todas as outras questões/excepções, desde que os elementos do processo lho permitissem.

Aquela atenção manifestava-se também em vários outros aspectos, como:

A - na apreciação dos requerimentos de produção de prova, que admitia ou não conforme tal se impunha;

B - ainda quando, admitindo embora a junção tardia de documentos, condenava na respectiva multa;

C - e quando mandava juntar tradução dos documentos apresentados em língua estrangeira;

D - quando não admitia alteração ao rol de testemunhas, por extemporânea ou quando admitia tal alteraçãopor tempestiva;

E - quando mandava juntar procuração sempre que o signatário do respectivo articulado disso se esquecia e tal era obrigatório;

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Dez.2006 - Boletim Informativo 177

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F - quando, face à renúncia aomandato, observava opreceituado no art.º 39º do Código de Processo Civil;

G - quando admitia a ampliação da causa de pedir for-mulada pela autora na réplica;

H - quando decidia o incidente de justo impedimento; I - quando condenava em multa as testemunhas falto-

sas, que não justificavam a falta ao julgamento;J - quando admitia a redução do pedido; eK - quando admitia o articulado superveniente, apre-

sentado em acta.Acompanhou com cuidado o processo executivo e as re-

clamações de créditos.Teve uma actuação sem reparos de maior não só em ma-

téria de custas, tributando quer os incidentes processualmen-te previstos como tal na lei, quer os considerados anómalos e condenando como litigantes de má fé quando entendia que tal se justificava, mas também em muitos outros aspectos, desig-nadamente:

1 - nos procedimentos cautelares (cujas diligências eram marcadas a prazo muito curto, por regra inferior a 1 mês e cujas decisões eram, por regra, proferidas com celeridade, regra geral logo após a produção de prova e ditadas para a acta) que indeferia quando entendia que tal se justificava;

2 - nos recursos (cujo regime e efeitos fixava correcta-mente, que não admitia quando legalmente não ad-missíveis e que julgava desertos quando tal se impu-nha);

3 - nas acções não contestadas; 4 - nas decisões das reclamações contra a especificação

e o questionário/base instrutória, decidindo-as, regra geral, em acta, sem azedume e com urbanidade;

5 - nos inventários.

JuntouaExmªJuizcertidãode10trabalhosseus,sendo4da área cível e 6 da área criminal, por cuja leitura se confirmam as apreciações que, em geral, ficaram feitas supra.

È, então, altura de propor classificação, tendo sempre pre-sentesosparâmetrosregulamentaresrespectivos.

O que fica exposto, apesar dos reparos feitos, não pode deixar de dar uma imagem globalmente positiva da actuação daDr.ª(…).

Porém, como resulta do que se foi dizendo ao longo des-te relatório, o seu desempenho foi francamente melhor na área criminal.

Nesse domínio, produziu em quantidade bastante e qualidade apreciável, tendo em conta o relativo pouco tempo de serviço de que ainda dispunha (á data do início do período temporal agora em apreciação, cerca de 4 anos e 5 meses) e as exigências já bastante acentuadas quer dos (…) quer das (…) (tribunais que exigem desenvoltura e boa preparação técnico/ju-rídica aos respectivos juízes).

Todavia, na área cível, a sua actuação foi, a meu ver, franca- mente“manchada”porumaprodutividademenosconseguida.

Na verdade, nesse domínio, não conseguiu deixar o ser-viço rigorosamente em dia (como o recebera), apesar de, du-

ranteumcertoperíododetempo,tertidoa“ajuda”deoutramagistrada, que proferiu sentença(s) em vários processos (atrás discriminados, na nota 9) cujos prazos tinham sido excedidos pelaDr.ª(…).

E,apesardoesforço–louvável–quefez,comvistaàre-cuperação dos atrasos (tendo trabalhado mesmo no decurso das férias judiciais do Verão do corrente ano) ainda deixou por des-pachar, 2 processos do Tribunal Judicial de (…) (identificados na certidão de fls. 10).

E despachou alguns (12) processos da (…) – identificados na certidão de fls. 9 – em 14 de Setembro de 2005, mas só pos-teriormente os entregou (cfr. certidão referida).

Acresce que, como atrás referi, proferiu bastantes senten- ças (nos processos identificados supra, na nota nº 10) com atra- so(s), alguns deles muito acentuados (superiores a 1 e a 2 anos).

Finalmente, o número de processos findos em cada ano foi sempre inferior ao número de processos distribuídos em igual período de tempo, pelo que a pendência respectiva (cível) foi au-mentando gradualmente (embora, quanto a este aspecto, como atrás referi, se deva ter em atenção que os números fornecidos e constantes dos mapas e certidões juntas, respeitam a toda a (…), isto é, ao conjunto dos (…), e não apenas ao desempenho da (…)).

Há, pois, que ponderar tudo o que se deixa dito, com vistaàpropostadenotação.

Designadamente, que a sua actuação, quer no (…), quer na (…), ambos de (…), se revelou dedicada.

E foi eficaz e francamente positiva, quer naquele (…), quer na área criminal da (…).

Porém, na área cível desta (…), o seu desempenho foi, comodisse,menosconseguido,comodecorredos“reparos”su-pra mencionados.

Ora, de acordo com os critérios estabelecidos no artº 16º do RIJ, alíneas:

c) - “a atribuição de Bom equivale ao reconhecimento de que o juiz revelou possuir qualidades a merecerem realce para o exercício da-quele cargo nas condições em que desenvolveu a actividade”;

b) - e “a atribuição de Bom com distinção equivale ao reconheci-mento de um desempenho meritório ao longo da respectiva carreira”;

Assim sendo, tendo em consideração:-osparâmetrosecritérioslegaisreferidos;- tudo o que atrás deixei dito;-eaindaofactodeaDr.ª(…)ter2classificaçõesanterio-

res,ambasde“Bom”;- e ter actualmente cerca de 11 anos e 2 meses e meio de

serviço;Proponho a manutenção da classificação que ostenta, em-

bora deva referir, desde já, que não me oponho a uma eventual subida de notação, se esse Conselho assim o entender.

Pelo exposto, proponho seja novamente classificada de “BOM”

*

B - Fundamentação de Direito:A propósito da classificação dos Juízes de Di-

reito, estabelecem-se no EMJ diversas regras que

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constituem, para o CSM, o limite e o pressuposto da apreciação do mérito profissional dos Juízes de Direito.

Regras essas que não fornecem uma disciplina esgotante, exaustiva e precisa sobre os critérios de tais classificações; dando assim lugar a uma razoá-velmargemdeautonomia–“discricionariedade”– por parte do CSM.

“Discricionariedade”que,desdehámuito,oCSM não vem exercendo adoptando em cada caso – em cada classificação – a solução que, dentro dos limites da lei, lhe pareça mais ajustada.

Efectivamente, o CSM, na base de uma ex-periência sedimentada ao longo de vários anos de exercíciodosseuspoderes,procedeuàelaboraçãode normas genéricas, em que concretiza e explicita, até onde lhe é possível, os critérios a que ele própria obedecerá na classificação dos Juízes de Direito.

Estamosevidentementeareferir-nosaos“Re-gulamentos de Inspecções Judiciais”,aprovadosemPle-náriodoCSMepublicadosnaIIªSériedoDR,que,sejam ou não reputados verdadeiros Regulamentos (normas jurídicas em sentido material), não podem deixar de ser considerados como contendo normas ou regras a que o CSM deve obediência, uma vez que constituem o prévio anúncio dos critérios de acordo com os quais o CSM vai exercer tal poder discricionário.

Em síntese, o CSM, embora tenha nos termos dalei(EMJ)umarazoávelmargemde“poderdis-cricionário”, decidiu, ao aprovar “Regulamentos de Inspecções Judiciais”,auto-vincular-seeaauto-vin-culação a que se submeteu passou a obrigá-lo.

Tudo isto para dizer que o “Bloco Legal” aque o CSM deve obediência, em matéria de classi-ficação de Juízes de Direito, é constituído quer por disposições do EMJ (art. 33º, 34º n.º 1, 37, n.º 1 do EMJ) quer por regras do RIJ aprovado por este CSM em 19/12/02 (art. 13º, 15º e 16º do RIJ).

“BlocoLegal”quesereconduzaoseguinte:De acordo com o seu mérito, os Juízes de Di-

reitosãoclassificadosde“MuitoBom”,“BomComDistinção”,“Bom”,“Suficiente”e“Medíocre”(cfr.art. 33.º do EMJ).

A classificação deve atender, de acordo com o art. 34º, n.º l do EMJ, além do mais, ao modo como os juízes desempenham a sua função, ao volumeedificuldadedo serviço, às condiçõesdo

trabalhoprestado,àpreparaçãotécnica,categoriaintelectual e idoneidade.

Serão sempre considerados, por outro lado, o tempo de serviço, o resultado das inspecções ante-riores, os processos disciplinares e quaisquer ele-mentos complementares que constem do respecti-vo processo individual (cfr. art. 37º do EMJ).

Nos termos do art. 13º do RIJ, a inspecção/classificação dos magistrados judiciais incide sobre as suas capacidades humanas para o exercício da profissão, a sua adaptação ao tribunal ou serviço a inspeccionar e a sua preparação técnica.

Notocanteàcapacidadehumanaparaoexer-cício da função, a inspecção/classificação leva glo-balmente em linha de conta os seguintes factores, entre outros: a) Idoneidade cívica; b) A indepen-dência, isenção e dignidade da conduta; c) Relacio-namento com sujeitos e intervenientes processuais, outros magistrados, advogados, outros profissionais forenses, funcionários judiciais e público em geral; d) Prestígio profissional e pessoal de que goza; e) Serenidade e reserva com que exerce a função; f) Capacidade de compreensão das situações concre-tas em apreço e sentido de justiça, face ao meio sócio-cultural onde a função é exercida; g) Capaci-dade e dedicação na formação de magistrados.

Notocanteàadaptaçãoaoserviçoéanalisa-da, entre outros, pelos seguintes factores: a) Bom senso; b) Assiduidade, zelo e dedicação; c) Produti-vidade; d) Método; e) Celeridade na decisão; f) Ca-pacidade de simplificação processual; g) Direcção do tribunal, das audiências e outras diligências, designadamentequantoàpontualidadeecalenda-rização destas.

Na análise da preparação técnica, a inspecção/classificação toma globalmente em linha de conta, entre outros, os seguintes factores: a) Categoria in-telectual; b) Capacidade de apreensão das situações jurídicas em apreço; c) Capacidade de convenci-mento decorrente da qualidade da argumentação utilizada na fundamentação das decisões, com es-pecial realce para a original; d) Nível jurídico do trabalho inspeccionado, apreciado, essencialmente, pela capacidade de síntese na enunciação e reso-lução das questões, pela clareza e simplicidade da exposição e do discurso argumentativo, pelo senso prático e jurídico e pela ponderação e conhecimen-tos revelados nas decisões.

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Nos termos do art. 15º do RIJ, na classificação dos magistrados judiciais, são sempre considerados os resultados das inspecções anteriores, bem como inquéritos, sindicâncias ou processos disciplina-res, relatórios, informações e quaisquer elemen-tos complementares, referentes ao tempo e lugar a que a inspecção respeita e que estejam na posse doCSM;sãoponderadasascircunstânciasemquedecorreu o exercício de funções, designadamente as condições de trabalho, volume de serviço, particu-lares dificuldades do exercício de função, grau de experiência na judicatura compaginado com a clas-sificação e complexidade do tribunal, acumulação de comarcas ou juízos, participação como vogal de tribunal colectivo e o exercício de outras funções legalmente previstas ou autorizadas.

Finalmente, nos termos do art. 16.º do RIJ, as classificações dos Juízes de Direito são atribuídas de acordo com os seguintes critérios:

a)A atribuição de “Muito Bom” equivale aoreconhecimento de que o juiz de direito teve um desempenho elevadamente meritório ao longo da respectiva carreira;

b)Aatribuiçãode“Bom com Distinção”equi-vale ao reconhecimento de um desempenho meri-tório ao longo da respectiva carreira;

c)Aatribuiçãode“Bom”equivaleaoreconhe-cimento de que o juiz revelou possuir qualidades a merecerem realce para o exercício daquele cargo nas condições em que desenvolveu a actividade;

d)Aatribuiçãode“Suficiente”equivaleaore-conhecimento de que o juiz possui as condições in-dispensáveis para o exercício do cargo e que o seu desempenho funcional foi apenas satisfatório;

e)Aatribuiçãode“Medíocre”equivaleaore-conhecimento de que o juiz teve um desempenho funcional aquém do satisfatório.

Aqui chegados, revertendo à inspecção emanálise,cumprereferirqueadiscordância/questãocolocada pela resposta da Ex.ma Juíza reside em saberseécorrectaanotade“Bom”propostapeloEx.mo Inspector ou se, eventualmente, outro en-foque da apreciação do trabalho poderá justificar a atribuiçãodapretendidaclassificaçãode“Bom com Distinção”.

Como1ª observação, tendo emvista encon-trar a resposta para tal questão, importa salientar que,segundoo“BlocoLegal”aplicável,apenasa

classificaçãode“Medíocre”,namedidaemquede-corre de um desempenho funcional insatisfatório e visto que implica a suspensão e a instauração de in-quérito para apurar da inaptidão para o cargo (art. 34º, n.º 2, do EMJ), pode ser considerada como uma classificação negativa; constituindo todas as demais classificações (Suficiente, Bom, Bom com distinção e Muito Bom) notações positivas.

Temospoisqueaclassificaçãode“Bom”,pro-posta pelo Ex.mo Inspector, é uma nota positiva e,inclusivamente,nãoa1ªmasa2ªdetalescala;equivalendoao“reconhecimentodequeojuizre-vela possuir qualidades a merecerem realce para o exercíciodocargo”(segundoocitadoart.16º,n.º1, c), do RIJ).

É assim que as classificações têm que ser pers-pectivadaseécumprindotalentendimento“auto-vinculante”queoCSMprocuraenfrentaradelica-da tarefa em que a apreciação do mérito profissio-nal dos Juízes de Direito se traduz.

Nesta perspectiva, pese embora os aspectos positivos constantes do relatório inspectivo, aqui dados como reproduzidos, o certo é que as defi-ciências encontradas – principalmente, ao nível da produtividade, método e celeridade, enquanto Ju-íza da (…) – impedem a atribuição da pretendida classificaçãode“BomcomDistinção”.

Deficiências essas que a Ex.ma Juíza procu-rou contestar na resposta, mas que, pese embora a destreza argumentativa usada, não podemos deixar de considerar como verificadas e de configurar do mesmo modo que o Ex.mo Inspector.

Nos 2 primeiros anos e 7 meses do período sob inspecção, permaneceu a Ex.ma Juíza no (…), onde, como se refere no relatório inspectivo, desen-volveu um esforço apreciável no sentido da dimi-nuição da pendência processual, deixando o serviço em dia e sem qualquer atraso, quando da sua ces-sação de funções, circunstancialismo que não pode deixar de ser valorado pela positiva.

Assim, pese embora alguns lapsos e falhas as-sinalados e não obstante a dilação temporal com que os julgamentos e os adiamentos foram sendo designados, o certo é que, na globalidade, logrou obter e produzir, no lapso de tempo em que exerceu funções no (…), um desempenho amplamente po-sitivo, o qual, se continuado, incrementado – fruto da maturidade e aperfeiçoamento que os anos de

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180 Boletim Informativo - Dez.2006

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experiência não raro trazem – e complementado, com o que a seguir desenvolveu na (…), poderia viraserreconhecidocomo“meritório”.

A propósito do (…), diz a Ex.ma Juíza que os julgamentos sumários realizados e as instruções efectuadas foram em número superior ao referido pelo Sr. Inspector; e que a dilação utilizada na mar-cação e adiamento dos julgamentos teve em vista salvaguardar a possibilidade de continuações sem sobreposiçãoereservar“espaço”paramarcaçãodediligências em processos urgentes (presos e meno-res).

Trata-se, porém, de matéria sem virtualidade para alterar a avaliação que foi feita ao seu desem-penho no (…).

O trabalho de inspecção, como é evidente, não tem nem pode ir ao detalhe de contabilizar todas as particularidades da actividade desenvolvi-da pelo Juiz inspeccionado; aliás, a propósito dos elementos a utilizar pelo inspector, o RIG apenas impõe“(...) o exame de processos, livros e papéis, findos e pendentes, na medida em que se mostrar necessário para firmar uma segura convicção sobre o mérito do inspeccio-nado (...)”

No caso, o Sr. Inspector observou e registou os elementos relevantes, não sendo as inexactidões factuaisinvocadaspelaMmªJuízaaptasaintrodu-zir qualquer alteração relevante quer nas premissas que conduziram ao juízo conclusivo do Sr. Inspec-tor quer, principalmente, no próprio juízo con-clusivo, amplamente favorável àMmª Juíza que,salienta-se, estava, no final do seu exercício de fun-ções no (…) em situação de poder vir a ser global-mente classificada, por desempenho que também o incluísse,de“Bomcomdistinção”.

Sucedeu, porém, como o relatório inspectivo o revela amplamente, que, nos 4 anos seguintes, o desempenho profissional da Ex.ma Juíza não evo-lui no sentido mais desejável.

Exerceu em tal lapso de tempo a Ex.ma Juíza funções na (…).

Desempenho esse em que, como o relatório inspectivo o revela, foi claramente positivo na área criminal, tendo ficado, na área cível, “manchada por uma produtividade menos conseguida”, traduzida no facto da Ex.ma Juíza ter encontrado o serviço em dia quando ali iniciou funções e ter deixado, quan-do da sua cessação de funções, alguns processos a

aguardar sentença, com o respectivo prazo excedi-do, ter tido “muitos e acentuados atrasos na prolação de despachos, sobretudo ao nível de despachos saneadores e de sentenças”; e pelo facto da pendência processual deste tipo de processos ter vindo sempre a subir.

“Censuras”queaEx.maJuízaprocurareba-ter, mas, a nosso ver, sem êxito.

Vejamos porquê:Sustenta a Ex.ma Juíza que, em Setembro de

2001, quando tomou posse, encontrou o serviço for- malmenteemdia,porém,“a agenda apresentava-se extremamente sobrecarregada até Dezembro de 2001”.

Trata-se, salvo o devido respeito, de obser-vação algo incompreensível e incompatível com o procedimento de quem, como a Ex.ma Juíza, es-tava a efectuar marcações, no Juízo em que cessou funções, em média, a 6/10 meses.

Aagenda“herdada”,emborasobrecarregada,tinha seguramente menos julgamentos marcados queaquela,a6/10meses,quedeixouàsuasuces-sora e, estamos certos, a Ex.ma Juíza não aprova-ria que a sua sucessora, no seu processo inspectivo, viesse sustentar que “herdou” um serviço apenasformalmente em dia.

Emtodoo caso emais “substantivamente”,importa referir e reter que quem permanece num mesmo lugar durante 4 anos e pretende ascender a uma classificação de mérito, não pode, ao fim de tais4anos,continuaraimputaraum“víciocon-génito”aoiníciodefunções–àsobrecargadejul-gamentos que encontrou marcados ao longo de 3 meses – as actuais deficiências de produtividade e de celeridade.

É que – este é o ponto – os sucessivos atra-sos cometidos pela Ex.ma Juíza, na jurisdição cível da (…), ao longo dos 4 anos em que ali exerceu funções, constituem um obstáculo intransponível àpretendidanotademérito.

Assim como a propósito do (…), vem a Ex.ma Juíza introduzir algumas pequenas rectifi-cações aos elementos quantitativos constantes do relatório inspectivo; vale neste ponto o que supra se referiu sobre a recolha de elementos a efectuar pelo Sr. Inspector, recolha que não tem de modo algumqueser“esgotante”,masapenasnecessáriaesuficiente para firmar uma segura convicção sobre o mérito do inspeccionado.

Admitindo que todos os elementos quantita-

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tivos constantes da resposta são exactos, o certo é que não introduzem qualquer alteração relevante na apreciação e juízo conclusivo feito pelo Ex.mo Inspector.

Aliás, não será despiciendo referi-lo, o Inspec-torJudicial,maisdoqueummero“instrutor”pro-cessual – do procedimento administrativo especial em que o processo de inspecção judicial se traduz – intervém e comporta-se como um perito com conhecimentos especializados sobre os elementos a apurar e valorar na avaliação dos Juízes.

Nesta qualidade – de perito – não se lhe pede queconsumaoseutempoapesquisartodoo“tipo”e “género” de despachos proferidos e actividadesdesenvolvidas pelos inspeccionados; o que se lhe pedeéperspicáciaesagacidadeeque,num“exa-me”necessariamentecircunscrito,estabeleça,fun-damente e objective uma convicção segura sobre o mérito do inspeccionado.

Contém pois o processo inspectivo todos os elementos necessários e suficientes para que este Permanente do CSM possa formar a sua própria convicção,segura,sobreoméritodaMmªJuíza.

“Convicção”quenãopodedeixardeserseme-lhanteàperfilhadapeloSr.Inspector.

Indo directamente – e contidamente, como sempre convém, quando estão em causa avaliações pessoais menos favoráveis – ao cerne do objecto da presente resposta – saber se o trabalho desenvol-vido pode justificar a atribuição da classificação de“BomcomDistinção”–impõe-sesalientaroselementos que, só por si, impedem a atribuição da pretendida nota.

Nada do invocado na resposta – a propósito das diversas, variadas e complexas actividades le-vadas a cabo por um Juiz duma (…) e incluindo as pequenas rectificações aos elementos quantitativos constantes do relatório inspectivo – permite ocul-tar ou esconder a extensão e dimensão dos atrasos.

Não se colocam em causa, na resposta, as 85 sentenças cíveis proferidas com atrasos; sendo 1 deles superior a 3 anos, 4 superiores a 2 anos e cer-ca de 20 superiores a 1 anos.

Não se colocam em causa, na resposta, os 14 processos – 12 de (…) e 2 de (…) – que a Ex.ma Juíza manteve consigo após cessar funções e que foi entregando, com a sentença proferida, até Dezem-bro de 2005.

Não se colocam em causa, na resposta, os 39 processos que a Ex.ma Juíza tinha consigo a aguar-dar sentença; sendo 7 deles com mais de 2 anos e 5 com mais ou cerca de 1 ano. Processos cujas sen-tenças foram proferidas pela Juíza do (…).

A este propósito, observa a Ex.ma Juíza, na resposta, que a colaboração da Juíza do (…) foi por “sugestão de V.ª Ex.ª”equeamesma“exerceu funções em regime de acumulação – 11/11/04 a 30/05/2005, incluindo período de férias judiciais, como consta do des-pacho que deferiu a fixação da respectiva remuneração – o qual denota bem a complexidade inerente aos 39 pro-cessos em que proferiu a sentença”

Trata-se, mais uma vez e salvo o devido res-peito, de observação algo incompreensível.

Faceaosatrasosacumuladoseàhesitaçãoquea Ex.ma Juíza vinha revelando em pôr-lhes termo, a“sugestão”doEx.moInspector–quernointeressedas partes que aguardavam debalde, nalguns casos há anos, pela sentença, quer no interesse da Ex.ma Juíza que, responsavelmente, vivia “consumida”,estamos certos, com o prolongamento de tais atra-sos – foi correcta e indispensável.

Por outro lado – uma vez que a Ex.ma Juíza, nos 4 anos na (…), proferiu, segundo os elementos recolhidos pelo Ex.mo Inspector, 133 sentenças em acções contestadas (85 em …, 37 em … e 11 em …)–as39sentençasqueaJuízado(…)lhe“pro-feriu”representaram–tantomaisquesetratavam,comoaEx.maJuízarefere,desituações“complexas”– uma colaboração e actividade não despicien- das, que a Ex.ma Juíza, ao seu ritmo, levaria, numa aritmética rudimentar, cerca de 14 meses a proferir.

Assim, associando tais deficiências – assim como alguns dos aspectos técnicos menos conse-guidos, como a dilatada marcação de tentativas de conciliação, os extensos relatórios e a formulação dequesitos conclusivos– às referências positivasàpessoaeàsqualidadeshumanasdaEx.maJuíza,ao esforço desenvolvido para não deixar processos por despachar ou decidir quando cessou funções, àdedicaçãoe sentidode responsabilidade revela-dos e ao desempenho claramente positivo na área criminal, mostra-se justificado que lhe sejam re-conhecidasqualidadesde“realce”paraoexercícioda função.

Enfim, concluindo, apreciando globalmente o seudesempenho,bempropostafoiàEx.maJuíza

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182 Boletim Informativo - Dez.2006

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– como estímulo para retomar o trajecto ascenden-te que o seu desempenho no (…) prenunciava – a classificaçãode“Bom”;istoé,nãoseérigorosonavaloração dos atrasos na prolação das sentenças na (…), não se considerando que os mesmos impedem que lhe seja atribuída uma nota que equivale ao reconhecimento de qualidades a merecer realce (e não apenas ao reconhecimento de condições indis-pensáveis) para o exercício das funções.

Para uma justa atribuição de classificações, deve ser efectuada uma interpretação que confira utilidade e estabeleça diferenças reais e efectivas entreos“conceitosindeterminados”constantesdoart. 16.º do RIJ; que têm que respeitar os critérios da justiça relativa e da proporcionalidade, que têm, “no terreno”, que ser sustentados por diferençasquerespeitemasconcretasdistânciasdedesempe-nhoequenãoesvaziemaretóricados“critérios”legais.

Neste contexto, exprimindo a classificação de “Bom”umdesempenho já francamentepositivo,impõe-se exigir, para se atribuir uma classificação superior, que se esteja perante um desempenho em grau e qualidade superior ou muito superior (ao francamente positivo); o que – perante a falta de

produtividade,métodoeceleridade,noâmbitocí-vel, na (…) – não é o caso.

III – DECISÃONessa conformidade, acordam os membros do

PermanentedoCSMematribuiràExmaJuízadeDireito Dra. (…), no período compreendido en-tre 23/02/99 e 14/09/05, no (…), a classificação de “BOM”.

***Lisboa, 20/06/2006

António Barateiro MartinsAntónio Bernardino

Álvaro Laborinho LúcioAntónio GeraldesAlexandra Leitão

José Luís Moreira da SilvaMaria José Machado (votaria a classificação de

Bom com distinção, face ao desempenho excelente daExmªJuízano1º(…),nãosendomuitosigni-ficativos os atrasos na (…) onde o serviço é muito

e completo, e terem sido na quase totalidade recu-perados, revelando a muita dedicação por parte da

ExmªJuíza)

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 183

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4.º ACÓRDÃO

1. Na sequência da atribuição da classificação de Medíocre ao Sr. Dr. …, por deliberação do Ple-nário do Conselho Superior da Magistratura foi de-terminada a instauração de inquérito, nos termos e para efeitos do disposto no art. 34º, nº 2, do EMJ.

Elaborado o respectivo relatório, foi ordenada asuaconversãoemprocessodisciplinar,noâmbitodo qual foi deduzida acusação por violação do de-ver de zelo, por falta de administração pronta da justiçaeadequaçãodosmétodosdetrabalhoàsexi-gências da função e por violação do dever de criar no público confiança na administração da justiça.

Propõe o Sr. Inspector Judicial a aplicação ao Sr. Juiz da pena de demissão, atento o repetido e grave desinteresse pelo cumprimento dos seus de-veres profissionais, revelando-se profissionalmente inapto para o exercício do cargo e incapaz de se adaptaràsexigênciasdafunção.

O Sr. Juiz, no exercício do seu direito de de-fesa, admitiu a generalidade dos factos inseridos na acusação, mas suscitou a questão da litispendência porquanto, em seu entender, pelos factos constan-tes da acusação já lhe fora aplicada anteriormente a pena de 30 dias de suspensão por deliberação deste CSM da qual interpôs recurso contencioso. Além disso, entende que a aplicação de uma nova pena disciplinar mais grave por factos semelhantes vio-laria o princípio ne bis in idem.

O Exmº Inspector Judicial no relatório final afastou a referida excepção e manteve a proposta de aplicação da pena de demissão.

2.Quantoàexcepçãodelitispendência.2.1. Foi realizada inspecção ordinária, tendo

o Exmº Inspector Judicial proposto a atribuição da classificação de Suficiente.

Por deliberação do Conselho Permanente de 23-6-04 foi sobrestada a apreciação da referida ins-pecção, tendo-se determinado a realização de in-quérito relativamente aos atrasos processuais que em tal relatório estavam referenciados (fls. 290), situação que foi mantida na deliberação que deter-minou a conversão do inquérito em processo disci-plinar (fls. 291).

Pelos factos que ficaram a constar do acórdão do Conselho Permanente de 14-7-05, cuja cópia consta de fls. 42 a 70, o Sr. Juiz foi punido com a aplicação de uma pena de suspensão de 30 dias.

Subsequentemente foi reactivada a apreciação da inspecção ordinária, tendo sido atribuída a clas-sificação de Medíocre.

Como efeito directo de tal classificação foi de-terminada a realização de inquérito por inaptidão para o exercício da função, cujo relatório consta de fls. 136 e segs., depois convertido em processo dis-ciplinar (fls. 2).

2.2. Nos termos do art. 34º, nº 2, do EMJ, a atribuição da classificação de Medíocre tem como efeito necessário a instauração de inquérito disci-plinar para averiguação da eventual inaptidão do juiz para o exercício da função.

Em face de uma classificação de serviço cla-ramente negativa, impôs o legislador a realização dediligênciascomvistaàaferiçãodascaracterísti-casinerentesàqualidadedejuiz,permitindoque,uma vez confirmada por essa via a inaptidão profis-sionalouadefinitivaincapacidadedeadaptaçãoàsexigências da função, já indiciadas pela aplicação da classificação de Medíocre, o CSM possa decretar a aplicação de uma pena expulsiva, nos termos do art. 95º, nº 1, al. c), do EMJ.

Nos termos do art. 95º, a aplicação de uma pena expulsiva pode ser decorrência da verifica-çãode circunstânciasnão estritamente relaciona-dascomaaptidãooucomaadaptaçãodojuizàsexigências da função. Por outro lado, não é apenas a atribuição da classificação de Medíocre que pode determinar a instauração de inquérito e do subse-quente processo disciplinar.

Todavia, tal classificação tem o efeito catali-sadorde“vincular”oórgãocomfunçõesdedisci-plina, através do respectivo Corpo de Inspectores, a incidir especificamente sobre os requisitos que devem servir de lastro ao exercício da função de juiz,possibilitandoqueseprocedaàanáliseexaus-tiva do desempenho e das qualidades pessoais e profissionais.

Conselho Superior da Magistratura

184 Boletim Informativo - Dez.2006

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Nos termos do art. 132º, nº 1, do EMJ, o in-quérito tem, em geral, por finalidade a averiguação de factos determinados. Por outro lado, resulta do art. 110º, nº 1, que o processo disciplinar é o meio de efectivar a responsabilidade disciplinar. Em qualquer dos casos o Inspector Judicial está limi-tado nos seus poderes de averiguação, apenas po-dendo incidir sobre os factos de que lhe seja dada notícia pelo órgão de que depende, seja esta trans-mitida por deliberação do Plenário ou do Conselho Permanente ou por despacho do Vice-Presidente.

Enquanto a realização dos inquéritos ou pro-cessos disciplinares está, em regra, cingida aos factos de que o CSM toma conhecimento por via de denúncia ou processos de inspecção e a que é atribuído relevo disciplinar, a realização do inqué-rito subsequente à atribuição da classificação deMedíocre apenas tem como limites os impostos pelo específico objectivo de tal instrumento de natureza disciplinar, podendo, assim, envolver a realização de todas e quaisquer diligências tendentes a ave-riguar a existência das condições elementares para o exercício da função. Não existindo necessidade de delimitar os factos sobre que vai incidir o in-quérito disciplinar, é concedido, em tais casos, ao Sr.InspectorJudicialum“mandatogenérico”nosentido de tudo fazer para apurar se relativamente ao concreto juiz se pode ou não afirmar a existência de aptidão para o exercício da função.

2.3. No caso concreto, foi realizada uma ins-pecçãonoâmbitodaqualforamdetectadosatrasosque levaram à instauraçãodeumprocessodisci-plinar.

Tal como decorre da deliberação do Conselho Permanente (fls. 290), essa averiguação incidiu ex-clusivamente sobre as situações de atrasos que o Sr. Inspector Judicial referenciou ao CSM no relatório de inspecção que, nessa parte, se encontra reprodu-zido no acórdão cuja cópia consta de fls. 4 a 14.

Tal inquérito e o subsequente processo disci-plinarassimdelimitadosquantoaoseuâmbitonãoincidiram nem tinham a virtualidade de incidir so-bretodososaspectosqueimportavamàaferiçãodaaptidãodoSr.Juizparaafunçãoouadequaçãoàsexigências da função.

Ainda que os factos que em tal acção disci-plinar foram averiguados se reportem a um pe- ríodo temporal que também esteve sob averiguação neste processo disciplinar, não se verifica a referida excepção de litispendência.

Verifica-se em primeiro lugar que a atribui-ção da classificação de Medíocre constituiu um facto novo que permitiu ao CSM confrontar-se com a existênciadepressupostospassíveisdeconduziràdeterminação obrigatória da realização de um in-quéritocomâmbitomaislatoqueoprimeiro,nostermos do art. 34º, nº 2. Por outro lado, constata-se que foi mais extenso o período temporal que esteve sob investigação na sequência da atribuição desta classificação de Medíocre.

Com efeito, enquanto a inspecção, em cujo relatório se identificaram as situações de atraso que deram azo ao primeiro processo disciplinar, incidiu sobre o serviço desempenhado entre Janeiro e Se-tembro de 2001 no 2º Juízo do Trib. de Ponta Del-gada e entre Setembro de 2001 e Março de 2004 no 1º Juízo do Tribunal de Tomar (cfr. fls. 4), o inquéritosubsequenteàatribuiçãodaclassificaçãode Medíocre abarcou o período entre 28-9-01 e 15--11-05 (data em que foi suspenso do exercício de funções – cfr. § 9º da acusação), abrangendo, assim, o serviço posterior prestado durante mais 1 ano e 8 meses que além não fora objecto de qualquer ave-riguação por parte do Sr. Inspector Judicial, nem fora alvo de qualquer juízo de valor classificativo ou disciplinar por parte deste CSM.

Relativamenteaosaspectosnãoligadosàssi-tuações de atraso referenciadas no relatório de ins-pecção e relativamente a toda a actuação do Sr. Juiz posterioràrealizaçãodessainspecçãoemmomentoalgum este CSM teve a oportunidade de apreciar os eventuais efeitos disciplinares.

Enquanto no primeiro processo disciplinar o objecto da actuação do Sr. Inspector Judicial e a posterior deliberação do CSM que aplicou a sanção de suspensão de 30 dias estiveram delimitados pe-las situações de atraso identificadas no relatório de inspecção, que para o CSM funcionou como fonte de conhecimento, este segundo processo discipli-nar teve como objectivo fundamental a verificação da aptidão funcional, em resultado da averiguação

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Dez.2006 - Boletim Informativo 185

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não apenas daqueles atrasos, como ainda de outras situações de atraso que além não haviam sido iden-tificadas e ainda da valoração de outros aspectos re-lacionados com o desempenho funcional.

Correspondentemente, como refere o Sr. Ins-pector Judicial no relatório com que finalizou o inquérito disciplinar (fls. 136), o que estava em causanoreferidoinquéritoera“o desempenho, no seu todo”,peloqueasaveriguaçõesatingiramagenera-lidade dos processos que estiveram a cargo do Sr. Juiz desde que tomou posse no Tribunal Judicial de Tomar.

Ainda que exista uma certa sobreposição, a divergência global entre o objecto de cada um dos processos disciplinares resulta evidente quan-do se estabelece a comparação entre a acusação e a deliberação do CSM no anterior processo disci-plinar, com a acusação produzida neste processo, sendo que, como assevera o Sr. Inspector a fls. 281, émuitomaisalargadooâmbitodesteúltimo,poisque,“para além da identificação de centenas de atrasos não atendidos, seja na inspecção, seja no processo 6/05, levaram-se, ainda, em linha de conta todos os ocorridos até à data da suspensão do Exmº juiz, num total superior a um milhar”.

Em suma, enquanto no primeiro processo disciplinar existia uma total identificação com os factos identificados na deliberação que lhe deu ori-gem, neste processo esses factos, juntamente com outros que só a averiguação global permitiu iden-tificar e caracterizar, apresentam uma função ins-trumental em relação ao objectivo final que é o de caracterizar a eventual situação de inaptidão para o exercício da função.

Resta referir que não há o perigo de serem aplicadas ao Sr. Juiz, pelos mesmos factos, duas sanções disciplinares. Atento o art. 99º do EMJ, necessariamente se terá de efectivar o cúmulo ju-rídico.

2.4. Por tais motivos, considera-se que não existe qualquer obstáculo ao presente processo dis-ciplinar.

3. Matéria de facto:3.1. Na sua defesa, o Sr. Juiz não põe em cau-

sa a generalidade dos factos inseridos na acusação. Pretende apenas que se consideram provados outros factos atinentes ao desempenho das suas funções na sequência de prova testemunhal, o que oportuna-mente será considerado.

3.2. Assim, consideram-se provados os se-guintes factos:

1ºO Sr. Dr. … iniciou funções na Magistratura

Judicial em Setembro de 1995, quando foi nomea-do juiz de direito em regime de estágio na comarca de …, tendo servido, subsequentemente, no 1º Juí- zo Cível de …, no Tribunal da comarca de …, no 1º Juízo do Tribunal Judicial de … e no 2º Juízo do Tribunal Judicial de …

2ºPor deliberação do CSM de 9-7-01, publicada

no DR 214, de 14.09.01, foi colocado no 1º Juízo do Tribunal Judicial de …, onde tomou posse a 28-9-01.

3ºNa sequência da classificação de Medíocre,

atribuída em inspecção ordinária ao serviço pres-tado entre Setembro de 2001 e meados de Março de 2004, foi suspenso de funções a partir de 16- -11-05

4ºNo período de exercício deu 23 faltas justifi-

cadas, sendo uma em 2002 (dia 11 de Abril), três em 2003 (dias 14 de Março e 2 e 8 de Outubro), seis em 2004 (25 a 27 de Maio e 22 a 24 de Ju-nho) e treze em 2005 (17 a 28 de Janeiro e 4 de Novembro).

Foi coadjuvado, no exercício de funções, pelos seguintes magistrados, o primeiro, o terceiro e o quinto nomeados em regime de acumulação, e os restantescomoauxiliares,comvista,emespecial,àelaboração de sentenças e de despachos saneadores em atraso:

Ex.mº Sr. Dr. …, juiz do Círculo Judicial de …, no ano de 2002.

Ex.mº sr. Dr. …, juiz dos Círculos Judiciais da …e, depois, de …, nos meses de Junho e Julho de 2002 e, posteriormente, de Outubro de 2004 a Fevereiro de 2005.

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Ex.mºs Srs. Drs. …e …, juízes de nomeação temporária, entre Outubro de 2001 e Setembro de 2002.

Ex.mº Sr. Dr. …, juiz do Círculo Judicial de …, no ano de 2004.

5ºPrestaram, ainda, serviço no 1º Juízo, como

auxiliares, os seguintes juízes:Ex.mªSrªDrª…,de18-9-02a15-9-03.Ex.mªSrªDrª…,de15-4-04a15-9-04.Ex.mªSrªDrª…,de15-9-04a15-9-05.Ex.mºs Srs. Drs. … e …, a partir de 15-9-05.

6ºASrªDrª…assumiua responsabilidadedos

processos terminados em número par (ficando o Ex.mº titular com os processos de numeração ím-par);jáasSras.Drªs.…e…ficaramaseucargocom os processos de numeração ímpar (revertendo os de numeração par para o Ex.mº titular).

7ºA mudança referida no artigo anterior teve a

vercomacircunstânciade,noperíododeSetem-bro de 2002 a Setembro de 2003, terem sido recu-perados mais processos atrasados de número par do que de número ímpar.

8ºOs Srs. Drs. … e …ficaram com os processos

terminados em 3, 5 e 7 e 8 e 9, respectivamente, passando os restantes (os terminados em 0, 1, 2, 4 e 6, portanto) para o Exmº titular do Juízo.

9ºNo período de exercício do Exmº juiz (28 de

Setembro de 2001 a 15 de Novembro de 2005), foi o seguinte o movimento processual do 3.º Juízo do Tribunal Judicial de Tomar:

(…)10º

No mesmo período, o Exmº juiz proferiu 1034 decisões finais (622 cíveis, 349 penais, 60 tutelares cíveis e 3 tutelares), assim distribuídas:

(…)11º

No cível, as decisões são, na sua grande maio-ria, de natureza formal, não chegando aos 10% as de natureza substancial.

12ºOs despachos de saneamento e selecção da

matéria de facto, por sua vez, ascenderam a 50.

13ºQuando o Exmº juiz tomou posse, a pendên-

cia do Juízo, sem deprecadas, ascendia a 925 proces- sos (578 cíveis, 298 criminais, 47 tutelares cíveis e 2 tutelares), achando-se no seu gabinete, para de-cisão, 381 processos (17 de natureza tutelar, 27 de natureza penal e 337 de natureza cível), com con-clusão aberta entre Fevereiro de 1998 e Julho de 2001.

14ºDos processos cíveis que se achavam conclu-

sos do antecedente, 29 aguardavam a prolação de sentença, 75 a elaboração de despacho saneador e os restantes, despachos de diversa ordem.

15ºDos primeiros, 2 estavam conclusos em

1999 e 27 em 2001 (maioritariamente, no mês de Abril); dos segundos, 3 estavam conclusos em 1998, 2 em 1999, 2 em 2000, e 68 em 2001 (56 deles, em Abril); dos últimos, 5 estavam conclu-sos em 1999, 20 em 2000, e os demais em 2001 (entre Janeiro e Julho, mas com predomínio do mês de Abril).

No que se refere aos processos-crime, 1 estava con- cluso em 1999, 2 em 2000, e os outros em 2001.

Os tutelares tinham conclusão aberta em 2000 (2) e 2001 (15).

16ºA grande maioria desses processos, como, ali-

ás, sucedeu, também, com parte dos que foram, posteriormente, conclusos, acabou por ser despa-chada pelos Ex.mºs juízes em regime de acumula-ção e auxiliares que serviram no Juízo; assim,

17ºO Sr. Dr. …despachou 23 acções (…) tendo

proferido, no total, 13 sentenças (9 em acções com oposição e julgamento e 4 em acções não contesta-das), 3 saneadores-sentença, um despacho saneador que declarou a incompetência material do Tribu-nal, um despacho de saneamento e selecção da ma-téria de facto e 5 despachos de prosseguimento do processo.

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18ºO Sr. Dr. …, em Junho e Julho de 2002, des-

pachou 60 acções (…), tendo proferido 16 senten-ças em acções com oposição e julgamento, 4 sanea-dores-sentença,umasentençaemacçãoàrevelia,3sentenças em acções sem oposição (2 sumárias e 1 especial de interdição), 16 despachos de saneamen-to e selecção da matéria de facto e 20 despachos diversos.

19ºASrªDrª…despachouem88processos,pelo

menos (vários deles com um, dois, três e quatro apensos), não raro por mais do que uma vez, ten-do elaborado, no total, 145 decisões: 30 sentenças (25 em acções não contestadas, 4 em acções com oposição e julgamento e 1 saneador-sentença), 36 despachos de saneamento e selecção da matéria de facto e 79 decisões diversas acções (…) .

20ºO Sr. Dr. … interveio em, pelo menos, 85

processos (…) , tendo elaborado 32 sentenças (25 delas em acções sem oposição), 11 despachos de sa-neamento e selecção da matéria de facto e 79 des-pachos de outra natureza.

21ºEm 18-9-02, tomou posse, como auxiliar, a

SrªDrª…,passando,então,oserviçoaficardivi-dido, a meio, entre os dois magistrados: processos de numeração ímpar para o Exmº titular do Juízo e processosdenumeraçãoparparaaEx.mªauxiliar.

22ºNo ano que levou de exercício, proferiu esta

última 283 decisões finais, sendo 170 cíveis, 90 criminais e 23 tutelares.

23ºDas cíveis, 19 respeitam a acções com oposição

e julgamento (9 acções sumárias, 7 sumaríssimas, 2 acções especiais do DL 269/98 e 1 embargos de executado),1aacçãoespecialàrevelia,1asanea-dor-sentença em acção ordinária, 2 a procedimento cautelar (um arresto e um embargo de obra nova na fase de oposição), 33 a acções não contestadas (2 ordinárias, 8 sumárias, 10 sumaríssimas, 7 espe-ciais do DL 269/98, 2 reclamações de créditos, 1

falência e 3 interdições por anomalia psíquica), 57 a execução (extinção), 38 a homologação de desis-tência, transacção e partilha, 11 a inutilidade su-perveniente da lide, 4 a habilitação de herdeiros e 4 a divórcio (mútuo consentimento e conversão de separação judicial de pessoas e bens em divórcio).

24ºDas criminais, 79 são sentenças finais proferi-

das na sequência da realização de julgamento (55 em CS, 12 em processo sumário, 10 em processo abre- viado e 2 em recurso de contra-ordenação) e 11 são decisões homologatórias de desistência de queixa.

25ºAs tutelares são sentenças finais proferidas em

acções de regulação ou alteração da regulação do exercício do poder paternal (4), em incidente de incumprimento (1), em processo de confiança ju-dicial (1) e em processo de promoção e protecção, após debate (1), e decisões homologatórias de acor-do sobre o poder paternal (13) ou declaratórias de extinçãodainstânciaporinutilidadedalide(3).

26ºQuando cessou funções, deixou 32 processos

cíveis, 1 tutelar e 1 criminal por despachar, com conclusão aberta entre Setembro de 2001 e Julho de 2003, sendo 14 para sentença (…), 10 para sa-neador (…) e 9 para despachos diversos (…).

27ºEm 15 de Setembro de 2003, o Exmº juiz re-

assumiu a totalidade do serviço do Juízo.Cerca de meio ano depois (16-3-04, data do

início da inspecção), tinha no seu gabinete, para despacho, 403 processos com conclusão aberta há mais de dois meses, sendo trezentos de natureza cí-vel, oitenta e seis de natureza criminal e dezassete de natureza tutelar.

28ºDos cíveis, 85 aguardavam a prolação de sen-

tença (em 31 deles, de nula ou escassa complexi-dade, já que se tratava de acções não contestadas ou de mera homologação ou declaração de extinção da instância),50achavam-sena fasedo saneadore os demais exigiam simples despacho de prosse-guimento.

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29ºDos criminais, 30 aguardavam a designação

de dia para julgamento e os restantes, despachos de diversa natureza.

30ºDostutelares,10estavamàesperadesenten-

ça e os outros de mero despacho.

31ºOs processos cíveis tinham conclusão aber-

ta em 2000 (nove), 2001 (doze), 2002 (setenta e nove), 2003 (cento e setenta e dois) e 2004 (28); os processos criminais, em 2001 (4), 2002 (5), 2003 (60) e 2004 (17); os processos tutelares, em 2001 (3), 2002 (3), 2003 (10) e 2004 (2).

32ºPredominantemente, eram de numeração

ímpar: 275, sendo 202 cíveis, 60 criminais e 13 tutelares.

33ºOs pares quedavam-se pelos 131 (99 cíveis, 28

criminaise4tutelares),oquequerdizerqueaExmªjuiz auxiliar lhes imprimira um andamento mui- to mais célere do que o fizera o Exmº titular relativa- mente aos processos que lhe haviam cabido na di-visão.

34ºE, dos pares, só 34 (32 cíveis, 1 criminal e 1 tute-

lar) tinham conclusão aberta antes de 15-9-03, ao pas- so que os ímpares atingiam o elevado número de 172.

35ºEm 14 de Abril de 2004, tomou posse, como

auxiliardo1.ºJuízo,aSrªDrª…,quesemanteveem exercício até 15 de Setembro do mesmo ano e tomou sob a sua responsabilidade os processos ím-pares, 189 dos quais tinham conclusão aberta há mais de dois meses, ficando o Exmº titular com os pares, que eram menos e com atrasos muito infe-riores aos dos ímpares.

36ºNesse período, elaborou 40 decisões finais cí-

veis (…), 11 sentenças criminais (…) e 6 tutelares (…).

37ºNo mesmo espaço temporal, o Exmº titular,

para além de não impulsionar qualquer dos proces-sos atrasados que lhe haviam cabido na distribui-ção, deixou acumular mais cerca de 150.

38ºSeguiu-se, por via disso, novo período de

acumulação, levado a efeito pelos Exmºs juízes de Círculo de … e de …, Srs. Drs. …e …, respectiva-mente (mas este último despachou, apenas, proces-sos de numeração ímpar, que o Exmº titular havia deixado atrasar).

39ºO primeiro despachou 70 processos, pelo me-

nos (…), tendo proferido, então, 16 sentenças (10 delas em acções com oposição e julgamento), 16 despachos de saneamento e selecção da matéria de facto e 39 diferentes despachos.

40ºO segundo deu andamento a 21 acções (…)

tendo proferido 20 despachos de saneamento e se-lecção da matéria de facto e uma sentença.

41ºÀSrªDrª…sucedeu,emSetembrode2004,

tambémcomoauxiliar,aSrªDrª…quemantevesob a sua tutela os processos ímpares.

42ºAté 15-9-05, proferiu 148 decisões cíveis (30

sentenças em acções com oposição e julgamento – sendo 20 em acções sumárias, 8 em acções su-maríssimas, 1 em acção especial do DL 269/98 e 1 em embargos de executado –, 5 saneadores-sen-tença – 3 em acções sumárias e 2 em embargos de executado–,2sentençasemacçõessumáriasàre-velia, 33 em diversas acções não contestadas – sen-do 1 em acção ordinária, 14 em acções sumárias, 3 em acções sumaríssimas, 4 em acções especiais do DL 269/98, 5 em reclamações de créditos, 1 em acções especiais de prestação de contas, inter-dição por anomalia psíquica, inabilitação e supri-mento do consentimento e 1, ainda, em embargos de executado e em incidente de liquidação – 2 em procedimento cautelar, com produção de prova, 2 em acções de falência sem oposição, 1 em processo de expropriação, após prova pericial, 1 em recurso de impugnação, 2 em incidente de habilitação de

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Dez.2006 - Boletim Informativo 189

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herdeiros, 6 em acções de divórcio por mútuo con-sentimento e 64 homologatórias e de extinção da execuçãooudainstânciaporinutilidadedalide),24 tutelares (6 sentenças finais em acções de regu-lação do exercício do poder paternal, 1 em processo de confiança judicial, 7 de natureza homologatória e 1 decisão em tutelar educativo) e 45 criminais (30 sentenças em CS, 7 em sumário, 3 em abrevia-do e 5 em recurso de contra-ordenação).

43ºEm Setembro de 2005, entraram em funções

os Srs. Drs. …e …, ficando aquele com os proces-sos terminados em 8 e 9 e esta com os terminados em 3, 5 e 7, continuando, portanto, o Sr. Dr. … com metade, apenas, do trabalho do Juízo.

44ºNão obstante, quando foi suspenso do exercí-

cio de funções, em 16-11-05, tinha em seu poder, para despacho, 112 processos, sendo 74 cíveis, 26 criminais e 12 tutelares, 68 dos quais (65 cíveis e tutelares e 13 criminais) com o prazo já excedido (a respectiva indicação será feita mais adiante).

45ºComo resulta do precedentemente exposto,

foram inúmeros e enormes os atrasos verificados, que abrangeram despacho de todo o género, nomea- damente o de mero expediente.

46ºAtrasos houve, desde logo, nos processos que

se encontravam conclusos em 17-9-01 e que fo-ram, posteriormente, despachados pelos Exmºs Srs. Drs. …, …, …e …, acima identificados, que são em número superior a duas centenas e meia; a ge-neralidade dos despachos foi proferida entre Feve-reiro e Julho de 2002, com particular incidência nos meses de Junho e Julho, o que quer dizer que estiveram por movimentar entre cerca de quatro e oito/nove meses, contados da data da posse do Exmº juiz.

47ºParados, também, e por tempo superior a um

ano, estiveram mais 21 desses processos, pelo me-nos, recebidos emSetembrode2002,pelaExmªjuizauxiliar,SrªDrª…(…).

48ºMais tempo ainda estiveram parados outros

14 desses processos, pois que continuavam na mes-ma situação na data do início da inspecção (…).

49ºNo período em questão, para além de várias

centenas de atrasos de dimensão inferior, muitos outros ocorreram, superiores a três meses (mais de um milhar), que, seguidamente, se discriminam, com a indicação dos que se reportam a despachos proferidos pelo Exmº juiz e dos que respeitam a despachos de outros magistrados, cuja actuação foi decisiva para recolocar os processos em andamento, esclarecendo-se que o tempo de demora foi conta-do da data da conclusão aberta para a prolação da decisão que ao caso caberia, sem levar em linha de conta conclusões (abertas em função de cobranças do processo para junção de expediente) e despachos posteriores, que não interferiram com o andamen-to dos autos (como, por exemplo, a mera presta-ção de informações solicitadas); nos casos em que aconclusãoéanterioràtomadadepossedoExmºjuiz (28.09.01), o atraso reporta-se a esta data.

(…)52º

Para além dos atrasos referenciados, há inú-meros actos e decisões de cariz manifestamente di-latório, de que é elucidativo exemplo a marcação de audiência preliminar em, praticamente, todas as acções, nomeadamente nas que seguem a forma de processo sumário, onde tal diligência é a excep-ção, e não a regra, como decorre do preceituado no art. 787.º, n.º 1, do CPC.

53º E, neste caso, nunca o Exmº juiz especifi-

cou as razões da convocação da audiência, que só poderiam ser a complexidade da causa ou a neces-sidade de fazer actuar o princípio do contraditório, limitando-se a apelar ao princípio da oportunida-de.

54ºPor outro lado, não respeitou o prazo a

que alude o art. 508º, n.º 1, do CPC, já que a marcação variou entre dois e nove meses. As-sim:

Conselho Superior da Magistratura

190 Boletim Informativo - Dez.2006

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De seis a nove meses – Acções ordinárias 424/01, 153/01, 503/01, 456/01, 281/00 e 39/02, acções sumárias 221/00, 15/02, 436/01, 1/01, 111/00, 60/02, 133/02, 396/01, 294/01 e 127/02 e embargos de executado 84-B/00 e 285-A/01.

De três a seis meses – Acções ordinárias 526/01, 485/01, 1098/04, 985/03, 25/02, 292/01 e 329/02, acções sumárias 50/01, 166/02, 742/03, 708/03, 207/96, 781/03, 1000/03, 335/01, 201/02, 356/05, 1124/03, 259/02, 420/05, 532/01, 136/05, 132/02 e 94/00, embargos de executado 84-A/00 e embargos de terceiro 5503--D/87.

Entre dois e três meses – Acções ordiná-rias, 283/04, 400/04, 1506/03, 816/03, 57/01, 874/00, 7272/95, 827/03, 20/05, 1293/03, 1098/04, 1113/03 e 130/03, acções sumárias 173/01, 289/95, 347/02, 899/03, 75/01, 272/01, 447/02, 456/02, 497/03, 28/00, 220/02, 527/01, 37/03, 16/98, 1/00, 1158/04, 1239/03, 488/05, 1320/03, 324/05, 402/02, 456/03 e 36/04, divór-cio litigioso 320/05 e embargos de executado 348-B/02 e 309-A/02.

55ºEm muitos dos casos, o saneamento do pro-

cesso não foi efectuado na audiência, o que indicia manifesta falta de preparação, incompatível com o alargado prazo da convocação.

56ºAssim aconteceu, e excluindo as variadíssimas

hipóteses em que foi requerida a suspensão da ins-tânciacomvistaaeventualacordo,nosembargosde executado 84-A/00 e nas acções sumárias 60/02 e 7272/95 (gorada a conciliação, mandou concluir, mas o saneador só veio a ser efectuado pela Sra. Drª…),nasacçõesordinárias470/01e292/01ena acção sumária 456/02 (saneador elaborado, mais tarde, pelo Sr. Dr. …), na acção ordinária 985/03, na acção sumária 111/00 e nos embargos de ter-ceiro5503-D/87(saneadorfeitopelaSrªDrª…),nas acções sumárias 207/02, 335/01, 447/02, 1/01 e 75/01 e embargos de executado 297-A/02 (sa-neador efectuado, cerca de dois anos depois, pelo Sr. Dr. …) e na acção sumária 190/91 (a audiência preliminar teve lugar no dia 13-10-03, mas o Exmº

juiz, frustrada a conciliação, suspendeu a audiên-cia, para continuar a 22-1-04, «dada a complexi-dade das questões a apreciar»; nessa altura, decidiu duas excepções e afirmou ser necessário seleccionar a matéria de facto e a que constitui a base instru-tória; no entanto, quedou-se por aqui, mais tarde as partes pediram a suspensão da instância até àdecisão final a proferir na acção 61/04 e a selecção continua por fazer).

57ºNa acção ordinária 985/03, referida no artigo

anterior, incorreu o Exmº juiz na prática de um ou-tro acto de cariz dilatório, ao admitir, na audiência preparatória, a arguição da excepção de prescrição e darprazoàautorapararesponder,quandoaargui-ção era extemporânea,pordever serdeduzidanacontestação; deste modo, evitou o saneamento do processo,queveioaserefectuadopelaSrªDrª….

58ºUm boa parte das audiências de julgamento

foi agendada a prazo até três meses. Mas há casos de dilação muito superior, tanto no cível, como no crime, como os seguintes (…)

59ºO Exmº juiz é dotado de idoneidade cívica e

mantém bom relacionamento com os demais ma-gistrados, advogados, funcionários e público em geral.

60ºÉ considerado, no círculo dos seus conheci-

mentos, como leal, sério, honesto, educado e so-ciável.

61ºMostra disponibilidade para intervir nos jul-

gamentos com Tribunal Colectivo, em prejuízo do seu próprio agendamento.

62ºÉ assíduo e pontual, nomeadamente no que

tangeàrealizaçãodasdiligências,nasquaisocupamuito tempo com a inquirição das testemunhas, tendo em vista o fortalecimento da sua convicção como julgador.

63ºPor vezes, trabalha para além do horário nor-

mal de serviço.

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 191

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64ºEnquanto presidente do Tribunal, empenhou--

-se na resolução dos respectivos problemas.

65ºO Sr. Juiz … exerceu as suas funções com in-

dependência e isenção, revelou serenidade na con-dução dos processos, tratou os agentes judiciários com dignidade, mostrou capacidade de apreensão das situações jurídicas e decidiu com ponderação e equilíbrio.1

66ºMas a sua imagem pública está fortemente

afectada pelos atrasos verificados na condução dos processos, sendo visto como um magistrado in-cumpridor.

67ºPor muitas vezes, as partes ou os seus man-

datários apresentaram requerimentos a solicitar o prosseguimento dos autos.

68ºPedidos idênticos foram, igualmente, dirigi-

dos ao Conselho Superior da Magistratura.

69ºO Ex.mº juiz é intelectualmente capaz e com

experiência de vida, demonstra compreender nor-malmente as situações que lhe são presentes e co-nhece satisfatoriamente a lei e os ensinamentos da doutrina e da jurisprudência.

70ºEm 2004 foi-lhe diagnosticada uma arritmia

cardíaca e, no início de 2005, sofreu uma bronco-pneumonia.

71ºAntes da notação que deu origem ao presente

inquérito, foi classificado, por duas vezes, de sufi-ciente, pelo seu desempenho no 1º Juízo da comar-ca de … (período de 16.09.97 a 14.09.98) e no 2.º Juízo da comarca de … (período de 02.10.98 a 15.01.01).

72ºEnquanto juiz de direito do 1º Juízo da co-

marca de …, foi punido com a pena de advertência registada,noâmbitodoprocesso192/02.

73ºAo actuar pela forma descrita, não despachan-

do os processos nos prazos impostos por lei e utili-zando expedientes de natureza dilatória para pro-telar a decisão final, causou o Exmº juiz prejuízos aos respectivos interessados, que não viram solução para os seus pleitos em tempo razoável.

74ºMas causou, também, prejuízos ao Estado,

pela má imagem que transmitiu da administração da justiça.

75ºSabia o Ex.mº juiz que estava obrigado a pro-

ferir decisão em prazo e que devia, para tanto, em-penhar-se, organizar o serviço e adoptar métodos detrabalhoadequadosànaturezaeaovolumedeserviço sob a sua responsabilidade.

76ºO Ex.mº juiz agiu de forma livre, voluntária e

consciente, com inteiro conhecimento de que a sua conduta era contrária aos deveres profissionais do cargo e que, desse modo, incorria em responsabili-dade disciplinar.

4. Deliberando:4.1. Realizada a averiguação global respeitan-

te ao Sr. Dr. … detectaram-se aspectos inequivoca-mente positivos.

Efectivamente, o Sr. Juiz é dotado de idonei-dade cívica, mantém bom relacionamento com os demais magistrados, advogados, funcionários e pú-blico em geral, é considerado leal, sério, honesto, educado e sociável, é assíduo e pontual, nomeada-mentenoqueconcerneàrealizaçãodasdiligências,enquanto Presidente do Tribunal empenhou-se na resolução dos respectivos problemas, exerceu as suas funções com independência e isenção, reve-lou serenidade na condução dos processos, tratou os agentes judiciários com dignidade, mostrou ca-pacidade de apreensão das situações jurídicas, de-cidiu com ponderação e equilíbrio …

Estas referências positivas e outras que constam da acusação constituem aspectos que devem qua- lificar qualquer juiz, explicando, de certo modo, o grau de responsabilidade que a Constituição e a Lei

1 Factos extraídos da defesa e que os depoimentos testemunhais permitem comprovar.

Conselho Superior da Magistratura

192 Boletim Informativo - Dez.2006

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atribuem a quem é confiada a tarefa de dirimir con- flitos de interesses, com independência, autonomia, isenção, imparcialidade, moderação e bom senso.

Mas, tratando-se, embora, de características que não podem deixar de ser positivamente apre-ciadas e valoradas, importa confrontá-las com ou-trosaspectosligadosàfunção,porformaaverificarse outros motivos não menos relevantes permitem constatar a falta de aptidão para a função ou a inadaptaçãoàsexigênciasdafunção.

Efectivamente, dos juízes não se reclama ape-nas, por exemplo, o bom senso ou o bom comporta- mento, nem sequer, apenas, a honestidade ou a assi- duidade. A consagração constitucional do direito de acesso aos Tribunais garantido pelo Estado, a corres- pondente interiorização desse direito por parte dos cidadãos, a complexidade do sistema jurídico ou o aumento da litigiosidade cível e criminal deman-dam dos Tribunais e, mais especificamente, dos juí- zes o apetrechamento técnico-jurídico que, caldea-do com outros saberes, permita dar resposta célere ejustaàsquestõesquenosprocessossediscutem.

Não sendo a celeridade um fim em si mesmo, de modo algum o juiz pode exercer as suas fun-ções como se a eficácia da resposta do Tribunal e a sua produtividade não tivessem qualquer relevo para o Estado e para os cidadãos. Ao invés, sendo os Tribunais os órgãos incumbidos da tarefa de di-rimir litígios e de tutelar interesses juridicamente protegidos, sobre os juízes recai a tarefa de dirigir os serviços e os processos de forma que, com segu-rança e com justiça, mas também com celeridade e eficácia, os interesses do Estado e os interesses dos cidadãos sejam salvaguardados.

4.2. Como os dados recolhidos o permitem asseverar, os aspectos positivos assinalados quanto ao perfil do Sr. Juiz são manifestamente obscure-cidos pelos relacionados com a capacidade para li-dar com os processos adstritos ao juízo onde exerce funções, posto que em quantidade e complexida-de moderadas, constatando-se a existência de um verdadeiro handicap que nem as sucessivas levas de juízes auxiliares ou as repetidas situações de acu-mulação de funções conseguiram ou conseguirão previsivelmente resolver.

A análise dos elementos que constam da acu-sação - que nem sequer foram questionados pelo Sr. Juiz - revelam que, mantendo-se a integralida-dedoseuestatutonoqueconcerneàsregalias,acontrapartida sempre tem quedado aquém, muito aquém daquilo que lhe era exigível nas concretas circunstânciasquerodeiamoseuserviço.Apersis-tênciadesituaçõesdeatrasoseafaltadedinâmicarevelada no que concerne ao controlo dos processos a seu cargo revelam uma persistente e estruturante incapacidade para ajustar a sua prestação às exi-gências da função, com reflexos negativos e graves na imagem do sistema de Justiça e nos interesses dos sujeitos processuais envolvidos nas centenas de processos a seu cargo.

Dito de outro modo. Apesar dos paliativos que têm sido utilizados com vista a proporcionar ao Sr. Juiz a possibilidade de ultrapassar a situa-ção, o mesmo, por inércia, falta de vontade ou in-capacidade não dá nem dará resolução adequada àsquestõesjurídicasquenosprocessoscirculameque são a razão do provimento no cargo em que foi investido.

Para exercer as funções de juiz não basta o bom senso que detém, nem as qualidades pessoais, nem a simpatia ou a sociabilidade, nem sequer a presença assídua no Tribunal, nem a disponibili-dade para intervir nos colectivos ... Importante, e de tal forma importante que a sua falta frustra uma das condições elementares da condição de juiz, é a capacidade para decidir, o que, como as longas laudas da acusação o revelam, não lhe pode ser cre-ditado.

Confrontado com uma série de questões, num Tribunal com competência genérica como o de Tomar, com moderada pendência e distribuição, impunha-se que o Sr. Juiz tivesse demonstrado ca-pacidade para cumprir o dever de zelo que sobre si impende, no sentido de evitar situações de atraso excessivo. Necessário era ainda que no desempenho do cargo tivesse sido eficaz na tarefa de administra-ção da Justiça, dando de si e do Tribunal em que exerce funções imagem de celeridade e de eficácia que correspondesse aos interesses ou expectativas dos cidadãos que das decisões estão dependentes. Enfim, era necessário que tivesse demonstrado pre-

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 193

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ocupação e capacidade para administrar a Justiça noâmbitodosprocessosqueestãoaseucargo.

4.3. Nem pode dizer-se que os fraquíssimos resul- tados contabilizados se devam a causas externas.

Com efeito, nem a pendência é excessiva (basta analisar os mapas referidos no § 9º), nem este CSM tem sido avaro na aplicação de recursos humanos (§§ 4º a 8º). Tudo, afinal, sem os resultados que se-ria de exigir do investimento que tem sido feito no sentido de proteger, acima de tudo, os interesses dos sujeitos implicados nos numerosos processos que, apesar dos esforços e das energias empregues, têm ficado e continuarão a ficar sem decisão.

Desde 28-9-01 que o Sr. Juiz presta serviço no 1º Juízo do Trib. Judicial de …

É verdade que encontrou uma situação de aglomeração de serviço no seu gabinete (§ 13º). Mas como se refere no § 16º dos factos provados, na sua generalidade, tais processos tiveram de ser decididos por outros juízes (§§ 17º, 18º, 19º e 20º), em regime de acumulação (no ano de 2002, Outu-bro de 2001 a Setembro de 2002, e ano de 2004).

O 1º Juízo de Tomar caracteriza-se por pen-dência e distribuição moderadas, levando o Sr. Inspector a concluir que os valores contabilizados são baixos para uma comarca classificada de acesso final, chagando a ser inferiores ao de algumas co-marcas de primeiro acesso (fls. 187).

Assim, tanto em termos absolutos, como relativos, não se encontra justificação para a per-sistência e, mais do que isso, para o agravamento da situação de atraso crónico, malgrado as medi-das complementares que foram adoptadas por este CSM no sentido de sanar a situação.

Foram sucessivamente destacados para o seu lugar juízes auxiliares de 18-9-02 a 15-9-03, de 15-4-04 a 15-9-04, de 15-9-04 a 15-9-05, e a par-tir de 15-9-05, do que resultou uma redução para metade dos processos a seu cargo.

Ao todo, nos 5 anos apreciados neste processo, 10 outros juízes se ocuparam de uma parte subs-tancial dos processos que eram da responsabilidade do Sr. Juiz, sendo que apenas no período entre Se-tembro de 2003 e Abril de 2004 não houve desta-camento de qualquer juiz auxiliar.

Deste modo, apesar de se tratar de um Juí-zo com distribuição e pendência moderadas, o Sr. Juiz acabou por gozar, ainda que sem grandes be-nefícios para o sistema, de um tratamento de que a generalidade dos colegas, mesmo alguns que trabalham em muito piores condições, não pôde gozar. Com efeito, apesar de todos os meios auxi-liares persistentemente destacados por este CSM, com vista a debelar a situação de paralisia e, assim, atenuar os efeitos negativos, a produtividade ficou sempre aquém do que era exigível de um juiz colo-cado num tribunal de competência genérica, com um número razoável de entradas.

Tornou-se, assim evidente que os maus resul-tados conseguidos, principalmente na jurisdição cível,sedevemàbaixíssimaprodutividadedoSr.Juiz, mesmo em comparação com a creditada a juí-zes auxiliares com inferior antiguidade.

Com efeito, alguma produção que ainda é visível na jurisdição criminal, praticamente desa-parece quando se trata da jurisdição cível (§ 10º), sendo significativo da incapacidade do Sr. Juiz para zelar pelos interesses da Justiça e dos cidadãos o número incipiente de sentenças proferidos em pro-cessos com oposição.

Inexplicável é ainda a actuação que se pautou por actos manifestamente dilatórios, pela agenda-mento a longo prazo de audiências preliminares e, ainda assim, pela ausência de resultados, pois que nem os objectivos que tal diligência se propunha realizar se conseguiram obter.

4.4.Oresultadosaltaàvista.Apesardasuapequena quantidade, não há acções cíveis decididas em tempo (§§ 50º e 51º). Os resultados só não são maisdesastrososdevidoàintervençãodeemergên-cia, que se transformou em intervenção persistente, de outros juízes, com os resultados que são visíveis através da leitura dos §§ 50º e 51º, ainda assim evi-denciando lapsos de tempo excessivos na prolação das sentenças ou dos despachos de saneamento e condensação (1 ano, 2 anos ou 3 anos).

Para além dos atrasos persistentes nos des-pachos da autoria do Sr. Juiz, só a intervenção de terceiros permitiu atenuar os efeitos negativos que, de outro modo, redundariam em atrasos ainda mais

Conselho Superior da Magistratura

194 Boletim Informativo - Dez.2006

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longos e prejuízos ainda mais graves do que aque-les que foram detectados.

O descalabro na jurisdição cível é tão grande e a incapacidade revelada pelo Sr. Juiz é tão gritante que dessa senda dos atrasos nem sequer escapa o despacho de expediente.

Em suma, relativamente à jurisdição cívelpode dizer-se que nestes 5 anos em que o Sr. Juiz esteve encarregado de zelar pelos interesses que perpassavam pelas centenas de processos a seu car-go, a marca distintiva, que o trabalho na jurisdição criminal não consegue disfarçar, é a de que pratica-mente o Sr. Juiz funcionou como se estivesse num Tribunal com apenas uma jurisdição – a criminal –, pondo de parte os processos cíveis e ainda uma parte dos processos da jurisdição criminal.

Os números não deixam margem para dúvi-das. Em 4 anos e 2 meses a produtividade no cível é a que resulta do § 10º: 36 sentenças em acções com oposição, 7 decisões cautelares, sendo 3 com oposição.

Mesmo na jurisdição criminal, onde a produ-tividade foi superior, os processos acabaram por ser divididos com outro juiz, sendo assim de creditar ao Sr. Juiz apenas cerca de metade dos processos.

Ponderando o grau de dificuldade inerentes àsprincipaisdecisõescíveis,adivisãodeprocessoscom outros juízes e a intervenção repetida de ou-tros para elaborar as decisões mais complexas, nem sequer metade do serviço pode ser creditado a favor do Sr. Juiz. Sem necessidade de rigorosamente de-terminar a percentagem, é claro que a produtivi-dade global e, designadamente, naqueles aspectos em que mais se exige a intervenção do juiz se situa num escalão muito baixo, quer em termos relati-vos, quer em termos absolutos.

4.5. Sem deixar de reconhecer algumas quali-dades que o Sr. Juiz apresenta, as mesmas não con-seguem branquear os resultados claramente nega-tivos que vem demonstrando, sem que, apesar da gravidade e do carácter crónico da situação, se note da sua parte qualquer capacidade de reacção ou de resolução da situação.

Em termos absolutos e relativos, o seu de-sempenho profissional sempre ficou aquém daqui-

lo que a generalidade dos juízes tanto se esforçam por conseguir, como o demonstra o facto de ante-riormenteàclassificaçãodeMedíocre lhe terem sido atribuídas duas classificações de Suficiente.

Reconhecendo o Sr. Juiz que o seu desempe-nho não pode ser considerado positivo, a alusão que fazàsuaidade(62anos)apenasserveparaacentuarainaptidãoprofissionaleainadaptaçãoàsexigên-cias da função em que foi investido, pois que não é crível, nem o Sr. Juiz aponta caminhos para isso, que de futuro a sua situação possa melhorar.

Repare-se que mesmo depois de, em 23-6-04, ter sido sobrestada por este CSM a apreciação do relatório de inspecção e de ter sido instaurado o inquérito de que resultou a aplicação da pena de suspensão de 30 dias, o Sr. Juiz não demonstrou qualquer reacção positiva em comparação com os dados anteriormente identificados no relatório de inspecção.

Repare-se,porexemplo,queenquantoaSrªDrª…,destacadacomoauxiliarapartirde15-9--04, ficou com metade dos processos, tendo profe-rido 138 decisões cíveis (§ 42º), 24 tutelares e 45 criminais, o Sr. Juiz - titular do lugar -, mantendo---se adstrito, a partir de Setembro de 2005, apenas a metade dos processos (sendo a outra metade atri-buída a dois juízes auxiliares), quando suspendeu as funções em 16-11-05, na sequência da classifi-cação de Medíocre, tinha em seu poder 74 processos cíveis, 26 criminais e 12 tutelares com prazo já ex-cedido e que surgem identificados no § 51º, alguns com 2 anos e mais de 2 anos de atraso.

Ou seja, nem sequer a ameaça da sanção dis-ciplinar se revelou susceptível de produzir efeitos positivos, os quais também não se tornaram visí-veis depois de lhe ter sido aplicada a pena de ad-vertência relacionada com o processo nº 192/02 (§ 73º).

4.6. Como refere no relatório final, não tem condições para continuar em exercício de funções quem, como o Sr. Juiz, produz uma sentença cada 3 dias ou um despacho saneador por cada mês; ou-trossim quem, como o Sr. Juiz, demonstra total in-capacidade para controlar os processos pendentes, deixando-os parados sempre que lhe falta um outro

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 195

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juiz que arque com o trabalho mais exigente; ou ainda quem, como o Sr. Juiz, nem sequer conse-gue dar conta do despacho de expediente, apesar da distribuição de processos ser ao nível de uma comarca de primeiro acesso.

Neste contexto em que o que está em causa não é tanto aferir a idoneidade cívica ou o número dehorasdedicadasàfunção,masaaptidãoparaoexercício da função, não pode deixar de se concluir que o sistema não consegue enquadrar um juiz que demonstra um tão grande alheamento e aparente despreocupação pelos processos e pelos prejuízos que vem causando e continuará previsivelmente a causaràspessoasnelesimplicadas.

Os factos provados revelam a reiterada, per-sistente e irresolúvel violação do dever de zelo e de contribuição para a tarefa de administração da justiça.

Este comportamento durante tão longo perí-odo, apesar dos mecanismos de auxílio de que foi beneficiando, revela que o Sr. Juiz não tem destreza técnicaouenergiasuficientesparacorresponderàsexigências da função, que impõem, hoje mais do que nunca, um razoável equilíbrio entre a qualida-de e a celeridade, sendo esta, em centenas de pro-cessos, completamente postergada, e tornando-se seguro que, continuando em exercício de funções, resultados ainda mais graves se verificariam.

4.7. Perante o acervo de factos ligados ao de-sempenho funcional do Sr. Juiz não se vê que outra medida disciplinar, sem efeitos expulsivos, se possa adequar.

Inadequada é a pena de transferência, cujos efeitos se traduziriam apenas na “transferência”para outros processos ou para outro Tribunal, por-ventura mais exigente em termos quantitativos e/ou qualitativos, os problemas que no 1º Juízo de Tomar já atingiram a dimensão que a matéria de facto apurada evidencia.

Não o são igualmente as penas de inactivida-de ou de suspensão, pois que as razões do deficien-te desempenho não são passíveis de superação com um período de paralisação de actividade que, ao invés, só serviria para ampliar a já grave incapaci-dade que o Sr. Juiz denota.

Ante a manifesta incapacidade de adaptação àsexigênciasdafunçãoeanotória,persistenteeir-recuperável inaptidão profissional, restam as penas de demissão ou de aposentação compulsiva, nos termos do art. 95º.

Considerando os motivos que levam a tal constatação, consideramos que se ajusta ao caso a pena de aposentação compulsiva.

5. Face ao exposto e sem embargo de opor-tuno cumprimento do disposto no art. 99º do Estatuto dos Magistrados Judiciais, acorda-se em Plenário do Conselho Superior da Magistratura em aplicar ao Sr. Dr. … a pena de aposentação com-pulsiva, por ter revelado inaptidão para exercício docargoeincapacidadedeadaptaçãoàsexigênciasda função resultante da violação grave do dever de zelo, do dever de administração pronta da justiça, dodeverdeadequaçãodosmétodosdetrabalhoàsexigências da função e do dever de criar no público confiança na administração da justiça.

Lisboa, 4 de Julho de 2006António Geraldes

José Nunes da CruzAntónio Bernardino

Álvaro Laborinho LúcioManuel Braz

Alexandra LeitãoAntónio Barateiro Martins

Rui MoreiraEdgar LopesVítor Faria

Carlos Ferreira de AlmeidaMaria José Machado

Conselho Superior da Magistratura

196 Boletim Informativo - Dez.2006

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5.º ACÓRDÃO

Acordam no Conselho Superior da Magistra-tura:

Por deliberação do Conselho Permanente de 27/09/2005, foi aplicada ao juiz de direito (…) a pena de 10 dias de multa, pela infracção disciplinar concretizada na violação do dever de acatamento das decisões dos tribunais superiores.

O arguido reclamou dessa deliberação para o plenário do Conselho Superior da Magistratura, alegando:

-A decisão no presente processo disciplinar deve esperarpelo trânsito em julgadodadecisãoproferida no processo em que ocorreram os factos considerados integradores da infracção disciplinar.

-Os factos provados não integram qualquer infracção disciplinar.

-A não se entender assim, é suficiente a aplica-ção da pena de advertência não registada.

Cumpre decidir.

Fundamentação:

Questão prévia:O reclamante defende que o procedimento

disciplinar deve aguardar pela decisão definitiva no processo onde proferiu a decisão aqui em discus-são.

Não justifica essa sua pretensão e não se vê para ela fundamento, na medida em que este pro-cedimento tem a ver com uma determinada posi-ção do senhor juiz naquele processo, cuja valoração, para efeitos disciplinares, em nada depende da de-cisão final que além venha a ser proferida.

Não pode, pois, deferir-se este pedido do re-clamante.

Foram considerados provados os seguintes factos (transcrição):

1º - (…). e (…) intentaram providência cautelar não es-pecificada contra (…).a qual foi averbada em 19 de Junho de 1998,à1ªsecçãodo(…),ondetomouonº525/98(actualmente941-C/98), alegando incumprimento contratual por parte da re-querida e invocando a resolução e/ou denúncia de um contrato

de cessão de exploração de estabelecimento comercial consti-tuído pelo posto de abastecimento de combustíveis sito na (…), celebrado entre a primeira requerente e a requerida, pedindo a condenaçãodarequeridaàentregaimediatadoreferidoposto.

2º - A requerida opôs-se e ofereceu prova, sendo que, por despacho de fls. 563/4, para além do mais, foi indeferido o pe-dido de depoimento de parte dos Presidentes dos Conselhos de Administração das requerentes, que havia sido formulado pela requerida, sob ponderação de que não se indicara de forma dis-criminada os factos sobre que havia de recair tal depoimento, marcando-se o dia 19-11-1998 para inquirição das testemu-nhas.

3º - A requerida interpôs recurso da parte do despacho an-terior que indeferiu o depoimento de parte, o qual foi admitido como agravo com subida diferida.

4º - Da retenção do agravo reclamou a requerida, tendo sidonegadoprovimentoàreclamação,pordespachodoExmoPresidente da Relação de Lisboa de 15-07-1999 (fls. 1056/8 do vol. IV da providência).

5º - Por despacho ditado para a acta em 19-11-1998 foi indeferida pretensão da requerida no sentido de que as reque-rentesprocedessemàjunçãodedocumentosemsuaposse,sendoadmitido recurso desse despacho interposto como agravo e com subida diferida, tendo-se adiado a inquirição de testemunhas para 11-01-99.

6º - A inquirição das testemunhas teve lugar ao longo de 6sessões,entreaqueladatae11-02-99,procedendo-seàleiturada decisão de facto em 22-02-99.

7º - Por sentença de 15 de Março de 1999 foi a providên-cia julgada procedente, sendo a requerida condenada a entregar imediatamenteàsrequerentesomencionadopostodeabasteci-mento de combustíveis (fls. 833 a 850).

8º - Em 25-03-99 a requerida interpôs recurso de tal de-cisão (fls. 851).

9º - O recurso foi admitido na espécie de agravo, em 26-03-99, com efeito meramente devolutivo (fls. 906).

10º-Em26deMarçode1999arequeridaprocedeuàentregadopostoemdiscussãoàsrequerentes.

11º - (…). em 21-07-1998 intentou contra (…). acção especial de consignação em depósito, distribuída em 17 de Se-tembrode1998 à1ª secção, (…), onde tomouonº1756/98(actualmente 941-A/98), pretendendo consignar em depósito a quantiade10.000$00pordia,emcumprimentodacláusula12ªdo contrato de exploração.

12º - (…). passou a depositar mensalmente a quantia de 300.000$00, o que deixou de fazer após Março de 1999.

13º - Na contestação apresentada, a Ré, para além do mais, deduziu reconvenção, pedindo a condenação da reconvin-da a restituir o referido posto de abastecimento.

14º - Na réplica apresentada em 26-03-99, a Autora e reconvinda, referindo a entrega do posto na sequência da decisão proferida na providência cautelar, dá a saber que não vai mais efectuar o depósito que vinha, regularmente, efectuando, pelo

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montante mensal de Esc. 300.000$00, como forma de sobrestar à devolução do posto, requerendo ao Senhor Juiz se dignasseordenar a entrega da totalidade dos montantes depositados até àqueladata–fls.436,516e517dareferidaacçãoespecialjun-tas agora em certidão, a fls. 209, 210 e 211.

15º - Na tentativa de conciliação que teve lugar em 01-07-99 a Autora J.(…) desistiu do pedido formulado, reque-rendo a restituição das quantias depositadas, sendo homologada a desistência e ordenada a restituição – fls. 634/5. Aqui 212/3.

16º - Outro tanto não aconteceu com a reconvenção, vin-do mais tarde a ré reconvinte requerer a remessa para apensação àacção941/98,oquefoideferidoe passandoaconstituir oapenso 941-A/98 – fls. 636/643 e 692 e verso. Aqui 214/215 e 248 e verso.

17º - (…) propôs em 14 de Dezembro de 1998 contra (…)e(…)acçãoordináriadistribuídanomesmodiaà1ªsecção,da (…), onde tomou o nº 941/98, pedindo, para além do mais, a declaração de manutenção da validade e eficácia do contrato de exploração do já referenciado posto celebrado com a ora ré (…) l em Novembro de 1986 e ainda no pagamento de quantias alegadamente em dívida.

Reconvieram as rés pedindo a condenação da A no paga-mento de quantias alegadamente em dívida e ressarcimento de prejuízos relacionados com a exploração do posto.

18º - (…) e (…). em 19 de Abril de 1999 intentaram con-tra (…) acção ordinária, de que o procedimento cautelar era de-pendência,distribuídaem22-04-99,à3ªsecção,do(…),ondetomou o nº 265/99 (actualmente 941-B/98), pedindo a conde-nação da ré na devolução do já citado posto de abastecimento de combustíveis e no pagamento de quantias, correspondentes a alegadas taxas não pagas e ao ressarcimento de prejuízos causa-dos com a recusa de devolução até 26-03-99.

19º-Em21-09-99aprovidênciacautelarfoiremetidaà3ªsecção,do(…),paraapensaçãoàacçãoprincipal.

20º - Por despacho de 20 de Agosto de 2000 proferido na acção ordinária 941/98, o Exmo. Juiz deferindo pretensão das rés, proferiu o seguintedespacho: “Por se encontraremnumarelação de dependência em relação ao presente processo, solicite a vinda para apensação aos presentes autos dos processos referi-dosafls.688”,ouseja,daacçãoespecial1756/98eordinária265/99 e respectivo apenso, as quais vieram a ser apensadas res-pectivamente em 11-10-00 e 08-11-00, passando a constituir os apensos 941-A/98 e 941-B/98 – fls. 692 e verso. Aqui fls. 248 e verso.

21º - Por acórdão do Tribunal da Relação de (…) de 2 de Março de 2000, estando em causa os 3 agravos interpostos dos despachos que haviam rejeitado liminarmente a prestação de depoimento de parte, a junção de documentos e a decisão final na providência cautelar – cfr. supra 3, 5 e 9 – foi deliberado concederprovimentoao1ºagravoe“revogaradecisãorecorrida,que deverá ser substituída por outra convidando a parte a aper-feiçoar o requerimento em que solicita o depoimento de parte e anulando todos os demais actos absolutamente dependentes daproduçãodarequeridaprova,inclusiveadecisãofinal”–fls.438/456 do apenso 941-E/98 ( foi declarado prejudicado o co-nhecimento do 2º agravo) – aqui fls. 219 a 237.

22º - De tal acórdão recorreu a requerente (…), vindo o STJ por acórdão de 31 de Outubro de 2000, a negar provimento ao agravo, remetendo-se para os fundamentos da decisão recor-rida – fls. 517/8 do mesmo apenso (aqui fls. 238/9). A reque-rente viria a pedir esclarecimento sobre alegadas obscuridades ou ambiguidades do mesmo acórdão, o que veio a ser indeferido por acórdão de 20-02-01 – fls. 536/8 do mesmo apenso (aqui fls. 240/2).

23º - Na sequência do decidido pelos Tribunais Superio-res veio a requerida em 19-03-01 requerer a entrega do posto de abastecimento, tendo o Exmo Juiz sem ouvir as requerentes, apósapensaçãodo“agravoemseparado”constituídopeloapen-so 941-E/98, por despacho de 23-03-01, ordenado a entrega do mesmo – fls.1067, 1068, 1069 e verso juntas em certidão, aqui fazendo fls. 153, 154, 155 e verso.

24º - Em 27-03-01 vieram a (…) e (…) invocar nulidade processual, por o despacho de 23-03-01 ter sido proferido sem que se mostrasse esgotado o prazo que tinham para se pronun-ciar sobre o requerimento da requerida, pedindo a anulação do processadosubsequenteàapresentaçãodorequerimentode19-03-01.

25º - Por despacho de 27-03-01 o Exmo Juiz determinou “antesdomaiseàcautela”asustaçãodaentregaordenadaem23-03-01 – fls.1128 junta em certidão, a fls. 156.

26º - As requerentes, através de requerimento apresenta-doem09-04-01,deduziramoposiçãoàentrega,alegandoqueamesma era susceptível de lhes causar prejuízo irreparável e que já haviam cedido a exploração do posto a terceiros, apresentan-do prova testemunhal, tendo igualmente interposto recurso do despacho de 23-03-01 – fls. 1182.

27º - Por despacho de 19-04-01 o Exmo. Juiz face ao despacho de fls. 1128 (sustação da entrega) considera estar pre-judicada a arguição de nulidade por pretensa violação do con-traditório no proferimento do despacho de 23-03-01 em que or-denara a entrega. No mesmo despacho considera prejudicada a admissão do recurso das requerentes pela mesma razão. Convida a requerida a esclarecer o seu requerimento sobre o depoimento de parte – fls. 1206 e 1218 (cópia dactilografada do despacho) juntas em certidão (aqui fls. 157 e 158).

28º - O Exmo Juiz após inquirição das testemunhas arroladas em 08-05-01 (fls. 1235/9), veio, por despacho de 22 de Maio de 2001, indeferir o pedido da requerida e declarar extintaainstânciaporinutilidadesupervenientedalide,fun-damentandotaldecisãonacircunstânciadearequeridaem26-03-99terentregueopostoàsrequerentesextrajudicialmente,eescrevendo“Postoisto...temosqueaentregafoiextrajudicial.O tribunal não emitiu mandado para a mesma. Não se sabe como ela ocorreu nem em que termos teve lugar. (...) Não há nada que prove no processo que a entrega tenha sido por ordem expressa do tribunal. Assim o Tribunal não pode dar sem efeito essaordem,pelofactodeamesmanãoterexistido”e“OTri-bunal não pode passar por cima de um acto das partes, que não controlou”(cfr.,doc.1juntodefls.48a50efls.1259/1262,juntas em certidão, ora fazendo fls. 160/161, juntando-se apenas estas em complemento do doc. 1, apenas para conferir a data do despacho).

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29º - Entretanto e como se consigna no referido despacho de 22-05-01, a requerida já havia esclarecido o que pretendia com o requerimento de depoimento de parte (fls. 50 deste).

30º - Deste despacho recorre J(…) – fls. 1269.31º - Por acórdão da Relação de (…) de 11 de Dezembro

de 2001, é concedido provimento a este agravo, revogando-se a decisão de 22-05-01, que deveria ser substituída por outra que determinasseoprosseguimentodos autos comvista àdecisãofinal,acrescentando-se“ComoconsequênciadoAcórdãodoSu-premo Tribunal de Justiça que anulou a decisão que decretou a providência cautelar, deverá ordenar-se a entrega do posto de abastecimentoàrequerida”(sublinhadonosso)–fls.1376/1384no 6º volume, já junta a estes autos a fls. 51 a 59, como doc. 2.

32º - Deste acórdão interpuseram recurso a (…)., hoje (…) e (…).

33º - Por acórdão de 06 de Junho de 2002, o STJ negou provimento ao agravo – fls. 1480/1490 do 7º volume, já junta aos autos, fazendo fls. 60 a 70, como doc. 3 – acrescendo que, por acórdão de 16-07-02 foi indeferida reclamação e pedido de reforma apresentado pelas recorrentes, que vieram ainda a sus-citar a inconstitucionalidade da norma do art. 715º, do CPC, junto do Tribunal Constitucional (o qual, por acórdão de 07- -07-03, decidiu não tomar conhecimento do objecto do recurso, vindo a indeferir pedido de reforma em acórdão de 14-10-03 - fls. 1652 a 1668).

34º - A acção ordinária 941/98 (cfr., ponto 17 supra) se-guiu os regulares termos, processando-se o julgamento ao longo de 9 sessões, vindo a ser proferida sentença em 20 de Dezembro de 2002, julgando, no essencial, improcedente a acção quanto aos pedidos da autora, maxime, o reconhecimento da validade do contrato de cessão de exploração do posto de combustíveis e procedente a reconvenção, com a condenação da (…) a pagar determinadasquantiasàsreconvintes–cfr.,doc.nº5,juntodefls. 90 a 107.

35º - De tal decisão foi interposto recurso pela (…), ad-mitido na espécie de apelação e com efeito suspensivo em 27--01-03.

36º - As rés reconvintes requereram, ao abrigo do art. 693º, nº 2, CPC, que a apelante prestasse caução, tendo por despachode07-05-03oExmoJuiz consideradodevolvido àsrequerentes o direito de indicar o modo da sua prestação, do que foi interposto agravo, ao qual o Tribunal da Relação de (…) por acórdão de 08-07-04 negou provimento, tendo (…), interposto recurso de revista – cfr. fls. 304, 305, 306, 321 e 323 a 330 nestes autos.

37º - Entretanto, as requerentes, em 23-05-03, requere-ram que a caução fosse prestada sob a forma de garantia bancá-ria, ou por meio de hipoteca judicial sobre imóvel, vindo em 24-10-03 a requerer, nos termos do art. 987º, do CPC, a subs-tituição da obrigação da requerida prestar caução por cautela idónea, traduzida na confiança do posto de abastecimento em causaà suaguarda,oqueveioa serdeferidopeloExmoJuizem 31-10-03 – cfr. fls. 81 do apenso 941-G/98, já junto como doc. nº 6, a fls. 108 e agora integrado na certidão passada pelo Tribunal da Relação de (…) dos referidos autos de caução – fls. 309 a 312, correspondentes a fls. 1098 a 1101 do principal, 307

e 313. Do despacho de 31-10-03 foi interposto agravo que veio a ser julgado deserto por falta de alegações – cfr. fls. 318 a 320.

38º - Por acórdão da Relação de (…) de 21-09-04 foi a apelação (cfr., 34 e 35 supra) julgada improcedente, confirman-do-se a sentença recorrida – fls. 1137 a 1162 junta em certidão a fls. 276 a 301.

39º - Em 08-10-04 (…) interpôs recurso de revista do referido acórdão – fls. 1169 junta em certidão a fls. 302.

40º - (…) em 18-09-03, após notificação do acórdão do TC de 07-07-03 e do acórdão do STJ de 06-06-02, que confir-mara o acórdão da Relação de … de 11-12-01, voltou a reque-reraentregadoposto,combasenodecididopelas instânciassuperiores – cfr., Factos 31, 32 e 33 – fls. 1684/5, aqui fazendo fls. 164/5.

41º - Por despacho de 18-02-04 o Exmo Juiz, cumprido o contraditório (fls. 1714-166), indeferiu a pretensão da requerida …, sob o argumento de que a acção principal fôra - entretanto – decidida em desfavor da requerida, o que arredava a eficácia da providência cautelar (fls. 1741 a 1759, da providência caute-lar, junta como doc. nº 4 de fls. 71 a 89 e agora repetido a fls. 167/185, inserto no doc. 7).

42º - De tal despacho interpôs recurso a requerida em 10-03-04, sendo admitido o agravo em 01-04-04, que veio a ser julgado deserto em 06-05-04, por falta de alegações (fls. 1766, 1770 e 1773 juntas em certidão, fazendo fls. 186/7/8.)

43º - Sobre a conclusão aberta por ordem verbal em 14--07-04, o Exmo. Juiz, por despacho da mesma data, com os mesmosargumentosdodespachoanterior,julga“porprovada,inteiramente procedente a providência, devendo o posto con-tinuarentregueàsrequerentes”,acrescentandoqueassimjásedecidiu na acção definitiva, condenando a requerida nas custas da providência (fls. 1776 a 1792, da providência cautelar, jun-tas em certidão ora fazendo fls. 189 a 205).

44º - De tal decisão interpôs recurso a requerida … em 14-09-04 (fls. 1796, junta em certidão a fls. 206), tendo o Exmo. Juiz substituto - em 08-10-04 - ordenando o cumprimento do disposto no art. 145º, nº 6, CPC – fls. 1809, ora fls. 208.

45º - Após o despacho do Exmo. Juiz a ordenar a devolu-çãodopostoà…de23-03-01,…deduziuembargosdeterceiropor apenso à providência cautelar pretendendo que não fosserealizada a ordenada diligência de entrega, constituindo tal pro-cesso o apenso 941-F/98.

46º - Por despacho de 07-05-2001, o Exmo. Juiz rejeitou liminarmenteosembargos,faceàsustação(cfr.,Facto25º)queordenara a referida entrega – fls. 206 e 207, do respectivo apen-so e aqui juntas a fls. 216/7.

47º - Ao proferir o despacho de 22-05-2001, não prosse-guindo com a produção de prova e não ordenando a entrega do postodeabastecimentoàrequerida,oExmo.Juiznãoacatouadecisão do Tribunal Superior corporizada no acórdão da Relação de (…) de 02/03/2000 (confirmado pelo acórdão do STJ de 31--10-2000).

48º-OExmo.Juiz(…),àdatadainstauraçãodopresenteprocesso disciplinar, tinha cerca de 18 anos de exercício efectivo da judicatura, tendo exercido funções em Tribunais de grande movimento e complexidade de processos.

Conselho Superior da Magistratura

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49º - Encontra-se colocado na (…) desde Setembro de 1998.

50º - Do respectivo registo disciplinar apenas consta a pendência do presente processo.

51º - Nas avaliações efectuadas ao desempenho do Exmo. Juiz ao longo da sua carreira foram concedidas duas notações de “Bom”,seguindo-setrêsoutrasde“BomComdistinção”.

52º - A conclusão por ordem verbal referida no ponto 43 supra ocorreu por indicação do Exmo. Juiz, já que o processo estavacomindicaçãoincorrectadedeverserremetidoàconta.

53º - O Exmo. Juiz é pessoa muito trabalhadora, esforça-do, dedicado ao serviço, probo.

54º - É um Magistrado seguro e no geral respeitador dos Tribunais, dos Tribunais Superiores e suas decisões.

55º - A esposa é doméstica, tendo o casal duas filhas estu-dantes no ensino básico e secundário.

56º - Padece de (…), há vários anos, sendo seguido regu-larmente por médicos de (…).

O direito:Não estando em discussão os factos, vejamos o

tratamento a dar-lhes. Na decisão reclamada entendeu-se haver in-

fracção disciplinar concretizada em violação do de-ver de acatamento das decisões proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superiores, dever esse previsto nos artºs 156º, nº 1, do CPC, 4º da Lei nº 3/99, de 13/1, e 4º do EMJ.

A infracção estaria na decisão do senhor juiz de 22/05/2001 que, em vez de realizar novo julga-mento na providência cautelar e entregar o posto deabastecimentoà requerida…,comoresultavados acórdãos da Relação de …, de 02/03/2000, e do STJ, de 31/10/2000, recusou essa entrega e julgouextinta a instância,por inutilidade super-veniente da lide.

Diz-se efectivamente na decisão de que se re-clama:

«OExmo.Juizdefendequeasinstânciassu-periores se não pronunciaram expressamente sobre adevoluçãodagasolineiraàrequerida,masesteéum fraco e formal argumento (para além de não to-talmente exacto, como resulta do texto do Acórdão da Relação de … de 11/12/2001, aludido no Facto 31º), uma vez que tal devolução era a consequência necessária do decidido.

Maquinalmente (e mesmo sem a visão de con-junto dos processos) o que resulta das decisões da Relação e do STJ é o dever de ser repetida a dili-

gência e, como tal, ser realizado novo julgamento na Providência cautelar.

E, tendo sido determinada na decisão inicial daprovidênciaaentregadagasolineiraàs reque-rentes e tendo ocorrido essa entrega, voltando o processoà faseanterioràquela,antesdanovade-cisão, a gasolineira haveria necessariamente de ser devolvidaàrequerida.

Como refere o Exmo. Inspector, face ao de-cididopelaRelaçãoepeloSTJ,“noprocedimen-to cautelar em causa voltar-se-ia ao momento da produção de prova, convidando-se a requerida a especificar os pontos de facto sobre que pretendia a prestação de depoimento de parte dos Presidentes do Conselho de Administração das requerentes.

Deixando de existir a despacho de 15/03/1999 ao abrigo de cujo cumprimento a requerida fizera entregadopostoàsrequerentes,aconsequênciase-ria o retorno à situação anterior ao despacho, ouseja,adapossedopostopelarequerida”.

E, num primeiro momento, entendendo ade-quadamente o decidido, o Exmo. Juiz (despacho de 23/03/2001 – Facto 23º), até ordenou a entrega do postoàrequerida.Mas,quatrodiasdepois,deter-minou“antesdomaiseàcautela”asustaçãodaen-trega ordenada em 23-03-2001 (25º), na sequência da arguição, por parte da … e … de uma nulidade processual, por o aludido despacho de 23-03-2001 ter sido proferido sem que se mostrasse esgotado o prazo que tinham para se pronunciar sobre o reque-rimento da requerida, pedindo assim a anulação do processadosubsequenteàapresentaçãodorequeri-mento de 19-03-2001 (24º).

As requerentes, por requerimento de 09-04- -2001,deduziramoposiçãoàentrega,alegandoquea mesma era susceptível de lhes causar prejuízo irre- parável e que já haviam cedido a exploração do pos- to a terceiros, apresentando prova testemunhal, ten- do igualmente interposto recurso do despacho de 23--03-2001 (26º), cujo andamento foi julgado prejudi- cado em face do despacho que sustou a entrega (27º), o mesmo sucedendo com a arguição da nulidade.

Acresce ainda, que o Exmo. Juiz chega mes-mo a convidar a requerida a esclarecer o seu re-querimento sobre o depoimento de parte (27º), mas, após inquirir as testemunhas arroladas em

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08/05/2001, por despacho datado de 22 de Maio de 2001, acaba por decidir indeferir o pedido da re-querida (de devolução da gasolineira) e por declarar extintaainstânciaporinutilidadesupervenientedalide (fundamentando tal decisãona circunstânciade a requerida em 26-03-1999 ter entregue o pos-toàsrequerentesextrajudicialmente,eescrevendo:“Postoisto...temosqueaentregafoiextrajudicial.O tribunal não emitiu mandado para a mesma. Não se sabe como ela ocorreu nem em que termos teve lugar. (...) Não há nada que prove no processo que a entrega tenha sido por ordem expressa do tribunal. Assim o Tribunal não pode dar sem efeito essaordem,pelofactodeamesmanãoterexistido”e“OTribunalnãopodepassarporcimadeumactodaspartes,quenãocontrolou”(28º).

É aqui que surge a infracção disciplinar.O Exmo. Juiz em vez de mandar devolver a ga-

solineira e marcar data para repetição do julgamen-to da providência cautelar (e sem que a decisão dos tribunais superiores comportasse um qualquer ou-tro entendimento, ou qualquer facto superveniente a esta alterasse o contexto decisório), não acatou o decididoejulgouainstânciasupervenientementeinútil, com base num argumento que, em sede de recurso veio a ser julgado inconsistente (30º e 31º). Assim, o acórdão da Relação de Lisboa de 11 de Dezembro de 2001, concede provimento ao agra-vo, revogando a decisão de 22-05-2001, ordenando que fosse substituída por outra que determinasse o prosseguimentodosautoscomvistaàdecisãofinaleacrescentandoque,como“consequênciadoAcór-dão do Supremo Tribunal de Justiça que anulou a decisão que decretou a providência cautelar, deverá ordenar-seaentregadopostodeabastecimentoàrequerida” [sublinhado nosso] (31º); decisão estaconfirmada pelo STJ, por acórdão de 06/06/2002 – 32º, 33º; a propósito da qual se suscitou a in-constitucionalidade da norma do art. 715º, CPC, tendo o Tribunal Constitucional, por acórdão de 07/07/2003, decidido não tomar conhecimento do objecto do recurso, e indeferindo pedido de refor-ma, por acórdão de 14-10-2003 – 33º).

Ofactodeaentregadagasolineiraàsreque-rentes ter sido feita extrajudicialmente, para o efei-to é irrelevante, uma vez que ela correspondeu ao

cumprimento voluntário de uma decisão do Tribu-nal nesse mesmo sentido (e se não tivesse ocorrido, acarretaria mesmo a prática de um ilícito crimi-nal - arts. 348º, nº 2 e 391º, do Código Penal -, para alémde obrigar à sua execução, por consti-tuir título executivo), sem que tal correspondesse a um qualquer conformar com a decisão tomada (e daí o recurso interposto, e daí o depósito men-sal de 300.000$00 que a requerida vinha fazendo na apensada acção de consignação em depósito nº 1756/98).

Inutilidade superveniente nunca ocorreria, aliás, como bem se assinala no Acórdão do STJ de 06/06/2002, no próprio interesse da …, uma vez que o procedimento cautelar continuaria sem de-cisão de mérito.

Assim, só pode concluir-se que o Exmo. Juiz – sem qualquer fundamento válido – não acatou a decisão da Relação de Lisboa e do STJ, que o vincu-lava, assim incorrendo em infracção disciplinar».

Afirma-se que os acórdãos da Relação de …, de 02/03/2000, e do STJ, de 31/10/2000, «não com-portavam qualquer outro entendimento» que não fosse o de que a providência cautelar devia continuar, fazendo-seoconviteàrequeridaparaaperfeiçoaroseu requerimento para prestação de depoimento de parte, e o posto de abastecimento devia ser entre-gueà…,sendoessaentrega«consequência necessária do decidido» em tais acórdãos.

E, porque assim era, a decisão do senhor juiz dejulgarextintaainstânciaerecusarordenaraen-trega do posto de abastecimento ter-se-ia traduzi-do no não acatamento das decisões desses tribunais superiores.

Mas, quando se fala no não acatamento das decisões dos tribunais superiores pelos juízes dos tribunais inferiores, tem-se em vista uma atitude de“desobediência”porpartedestes,istoé,umnãocumprimento voluntário e consciente das decisões, em recurso, daqueles tribunais, sendo que, se o não cumprimento dessas decisões se dever a má com-preensão, nos situamos no plano das decisões er-radas,comrelevâncianegativaparao juizapenasem sede de apreciação do seu mérito. Por outras palavras, a violação do dever que aos juízes se im-põe de acatamento das decisões proferidas, em via

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Dez.2006 - Boletim Informativo 201

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de recurso, pelos tribunais superiores só configura infracção disciplinar, melhor, só existe, se houver dolo.

E, na decisão reclamada, apesar de, na parte do direito, se afirmar genericamente a existência de dolo, não foram considerados provados quaisquer factos de onde se possa concluir pela existência des-sa forma de culpa.

Nem aqui se vê que se tenham provado factos nesse sentido.

Aqueles acórdãos da Relação de … e do STJ não determinavam expressamente a entrega do postodeabastecimentoà….Oquenelessedeci-diu foi a revogação da decisão que indeferira o re-querimento para prestação de depoimento de par-te apresentado pela …, decisão essa que devia ser substituída por outra convidando essa interessada a aperfeiçoar o seu requerimento, anulando-se os demais actos absolutamente dependentes da pro-dução de tal prova, inclusive a decisão final, que julgara a providência cautelar procedente e deter-minara a entrega do posto de abastecimento pela …àsrequerentes….

É certo que, como se diz na decisão sob re-clamação,anuladaadecisãoaoabrigodaqual“a requerida fizera entrega do posto às requerentes, a conse-quência seria o retorno à situação anterior ao despacho, ou seja, a da posse do posto pela requerida”.Eosenhorjuizcomeçou por entender assim, tendo num primeiro momento, pelo despacho de 23/03/2001, ordenado aentregadopostoàrequerida…,mas,peranteaarguição de nulidade desse seu despacho por parte das requerentes, que alegavam não se terem ain-da pronunciado, estando a tempo de fazê-lo, sobre o requerimento em que aquela pedia a entrega do posto,sustou,“à cautela”,aordemdeentrega.

Comoasrequerentes…setivessemopostoà entrega, alegando, além do mais, que já haviam ce- dido a exploração do posto a um terceiro, o senhor juiz, depois da produção da prova oferecida, inde-feriu, pelo referido despacho de 22/05/2001, o pedi- do de entrega apresentado pela …e declarou extin- taainstância,porinutilidadesupervenientedali-de, com o fundamento de que a requerida … havia entregue extrajudicialmente, por um acto de von-tade,opostodeabastecimentoàsrequerentes…

Esta decisão não é claramente a mais correc-ta,faceàsconsequênciasquetinhamderetirar-sedos referidos acórdãos da Relação de … e do STJ, de 02/03/2000 e 31/10/2000, respectivamente, e porque a entrega do posto de abastecimento pela …àsrequerentes…e…ocorreuemvirtudedade-cisão do tribunal de 15/03/1999. Mas, não é uma decisão de afronta, de desobediência. O senhor juiz decidiu desse modo, por considerar que havia um fundamento para tanto, não tido em conta naque-les acórdãos: o pretenso facto de o posto de abaste-cimentohaversidoentreguepela…àsrequerentes,sem ordem expressa do tribunal, ou seja, por sua livre vontade.

A prova de que o senhor juiz não se colocou numa posição de rebeldia em relação ao decidido naqueles acórdãos está em que começou por orde-nar a entrega do posto de abastecimento e convidar a requerida a aperfeiçoar o seu requerimento para prestação de depoimento de parte, vindo depois a recuar em função da reacção das requerentes e a decidir do modo que decidiu, certamente depois reflectir sobre a situação que tinha entre mãos, até porque, pelo meio, houve produção da prova ofere-cida pelas mesmas requerentes em sede de oposição àentregadopostoàrequerida.

Nada permite, assim, concluir que o senhor juiz quis e tinha consciência de estar a desobede-ceràquelesacórdãosdetribunaissuperiores.Pelocontrário, tudo indica ter agido convencido de que a sua decisão era fundada. Não o era: o fundamento invocadopara julgarextintaa instânciae recusarordenaraentregadopostodeabastecimentoàre-querida era insustentável, mas tudo isso resultou de uma má compreensão da situação por parte do senhor juiz, o que nada tem a ver com a violação do dever de acatamento das decisões proferidas, em recurso, pelos tribunais superiores, que, repete-se, exige uma atitude dolosa.

Aliás, como se viu, os referidos acórdãos da Relação de … e do STJ não determinavam expres-samente a entregadoposto à requerida….Essaentrega apenas era uma consequência a retirar da anulação neles decretada da decisão que julgara a providência cautelar procedente e ordenara a entre-gadopostoàsrequerentes….

Conselho Superior da Magistratura

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É verdade que a Relação de …, através de acór-dão de 11/12/2001, ao revogar aquele despacho de 22/05/2001,acrescentou:“Comoconsequênciadoacórdão do Supremo Tribunal de Justiça que anu-lou a decisão que decretou a providência cautelar, deverá ordenar-se a entrega do posto de abasteci-mentoàrequerida”.Porém,esseacórdãoémuitoposterior à decisão em causa, pois foi proferido,como se disse, em recurso dela interposto.

E na decisão reclamada entendeu-se não haver infracção do dever em discussão no despacho do se-nhor juiz que, em 18/02/2004, indeferiu um novo pedido da …de entrega do posto de abastecimento, apresentado logo que se tornou definitivo esse acór-dão da Relação de Lisboa de 11/12/2001.

Entende-se, pois, não estar verificada a infrac-ção disciplinar pela qual o arguido foi condenado na decisão reclamada, devendo os autos, em conse-quência, serem arquivados.

Decisão:

Em face do exposto, os membros do Conselho Superior da Magistratura, em plenário, decidem

■ -indeferir o pedido de suspensão deste pro-cesso;

■ -revogar a decisão reclamada na parte em que condenou o juiz de direito (…) na pena de 10 dias de multa, ordenando o ar-quivamento dos autos.

Lisboa, 10 de Janeiro de 2006

Manuel Braz(revejo posição assumida em Permanente)

José Nunes da Cruz(votei contra o presente acórdão)

António Bernardino (com a informação de que revi a posição assumida no Acórdão do Permanente)

Manuel Sampaio da NóvoaGuilherme Palma-Carlos

Rui Moreira Alexandra Leitão

Edgar Lopes (vencido – manteria a decisão do Per-manente, de que fui relator)

Vítor FariaAntónio Geraldes (vencido – confirmaria o Acór-dão do Conselho Permanente, tendo em conta o

desrespeito da decisão de tribunal superior)Maria José Machado

Luís Máximo dos Santos (vencido, por considerar mais adequado que se confirmasse o teor do Acór-

dão do Conselho Permanente)

Conselho Superior da Magistratura

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6.º ACÓRDÃO

I – RELATÓRIO

O presente processo disciplinar foi mandado instaurar por deliberação do Conselho Superior da Magistratura, de 27/9/2005 (fl. 65), por con-versão dos autos de averiguações, ordenadas pelo Conselho Superior da Magistratura, ao desempe-nho funcional da Exma. Sra. Juiz de Direito (…), em resultado de uma queixa apresentada pelo Il. Advogado (…).

O processo disciplinar teve por fundamento a identificação de indícios de violação dos deveres funcionais de correcção e pontualidade.

Ulteriormente, por deliberação de 4/10/2005, foi aditado ao objecto desse processo disciplinar o conteúdo de uma comunicação realizada pelo Il. Advogado Dr. (…), respeitante a uma outra actua-ção funcional da Exma. Sra. Juiz.

Ouvida,noâmbitodainstruçãodoprocessodisciplinar, a Exma. Sra. Juiz requereu um con-junto de diligências que considerou essenciais para apuramento da verdade.

Foram realizadas as diligências necessárias e elaborado relatório, onde foi proposto o arquiva-mento em relação a algumas das condutas antes indiciadas, por ausência de elementos consubstan-ciadores de infracção disciplinar e por prescrição (cf.fls.149 a 151), bem como foi deduzida acusação (fls. 151 a 154), por factos contitutivos de violação dos deveres de pontualidade e de criação, no pú-blico, de confiança na acção da administração da Justiça.

Notificada da acusação, a Exma. Sra. Juiz apresentou defesa nos termos que constam de fls. 178 a 182.

Alegou, em síntese, que:“-correspondemàverdadeosfactosreferidos

nos artºs. 1º. a 16º. da acusação (regularidade nos atrasos no início das diligências);

- no período a que se reportam esses factos esteve doente, apresentando um quadro depressi-vo reactivo, com marcada ansiedade, alterações de humor, desmotivação, dificuldades de atenção e de concentração e alterações do sono;

- a medicação antidepressiva e ansiolítica que lhe foi prescrita retardavam-lhe os horários do sono profundo e, consequentemente, afectavam o seu despertar e, por via disso, o início das suas activi-dades profissionais matinais;

- tal situação foi agravada no ano de 2002 em virtude de um acidente de viação que sofreu:

- o acompanhamento médico e terapêutico manteve-se nos anos de 2002, 2003, 2004 e 2005;

- nos anos de 2003 e 2004 teve intervenção em vários processos com Tribunal Colectivo e de Júri que lhe acarretaram que tivesse de ficar a des-pachar no tribunal até altas horas da madrugada, e só no regresso a casa tomava a medicação o que retardava os efeitos da mesma;

-talsituaçãofoiagravadapelofactodeàdatater residência fora da comarca, em (…), devida-mente autorizada pelo Conselho Superior da Ma-gistratura;

- compensou o tempo de atraso com o muito trabalho realizado fora das horas normais de expe-diente, fins-de-semana, feriados e férias;

- pelo menos desde Maio de 2002 corrigiu estasituaçãoquantoaocumprimentodohorário.”

Concluiu a sua defesa aceitando que lhe fosse imposta a pena de advertência sem registo.

Juntou documentos e requereu a inquirição de 7 testemunhas.

Produzida a prova, foi elaborado relatório fi-nal noqual foi proposta a aplicação, à ora recla-mante, de uma pena de advertência, por violação dos deveres de pontualidade e de criar no público confiança na acção da Administração, no caso da Justiça, infracção disciplinar essa p. e p. pelas dis-posições combinadas dos art.°s 3°, n°l, 3, 4 al. h) e 12° do E.D.F. A. e 82° do EMJ.

Por acórdão do Conselho Permanente, de 21 deFevereirode2006,foideliberadoaplicaràSra.(…) tal pena disciplinar de advertência.

A Sra. Juiz, não se conformando com o acór-dão, deduziu a presente reclamação concluindo, como na resposta oportunamente apresentada, pela justeza de uma pena de advertência não registada para a infracção disciplinar em que admite ter in-

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corrido, pois só essa se revela proporcional aos factos a ponderar no seu conjunto. Aliás, afirma, só essa leva em consideração a utilidade da confissão que formulou,relativamenteàscondutasimputadas.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A) Face à prova produzida e documentada nos autos, consideram-se provados os seguin-tes factos:

A.1) Da acusação:1º. A Dra. (…) concluiu a sua licenciatura em

(…), com a classificação final de 14 valores;2º. Iniciou funções na Magistratura Judicial

em Setembro de (…) quando foi nomeada, por pu-blicação no D.R. de 14/09/98, Juiz de Direito em regime de estágio na Comarca (…);

3º. Por deliberação do Conselho Superior da Magistratura de 09/07/01, publicada no D.R. de 14/09/01, foi colocada no (…) onde iniciou funções em 17/09/01;

4º. Com diligências ou julgamentos marcados para as 9,30 horas ou 10 horas a Exma. Juíza rara-mente chegava ao Tribunal antes das 10,30 horas começando-os muitas vezes cerca das 11 horas;

5º. Algumas vezes iniciaram-se mesmo com cerca de 2 horas de atraso;

6º. Estes factos ocorreram de forma regular e continuada desde o início da sua colocação no (…) até ao mês de Maio de 2005;

7º. Daí para cá a Exma. Juíza tem compare-cidoatempadamentenoTribunaldando início àsdiligências marcadas no horário designado;

8º. Quando chegava atrasada a Exma. Juíza ti-nha o cuidado de se justificar e pedir desculpa;

9º. Assim como reconhece ter havido da sua parte, por vezes, alguma falta de pontualidade rela-tivamenteàsdiligênciasmarcadasnapartedama-nhã;

10º. Nos anos de 2001 até Abril de 2004 a Dra. (…) tinha autorização para residir em (…);

11º. Tendo mudado a sua residência para (…) em Abril de 2004;

12º. A Dra. (…), por regra, diariamente per-manece em trabalho no Tribunal muito para lá do

horário normal, algumas vezes até cerca das 24 horas, assim como aos fins-de-semana e férias ju-diciais;

13º. Ao longo dos anos de 2001 a 2004 não registou qualquer falta e em 2005 apenas faltou justificadamente em 31/10/05;

14º. Neste momento tem cerca de 6 anos e 6 meses de serviço efectivo na Magistratura Judicial, com exclusão da fase em que serviu em regime de estágio;

15º. Do seu certificado do registo indivi- dualapenasconstahaversidoclassificadade“BOM”pelo seu exercício na Comarca (…);

16º. Não tem passado disciplinar;

A.2) Da defesa17º. A Dra. (…) esteve doente apresentando

um quadro depressivo reactivo com marcada ansie-dade, alterações de humor, desmotivação, dificul-dades de atenção e de concentração e alterações do sono, tendo sido assistida entre Janeiro de 2001 e Novembro de 2002 por médico especialista;

18º. O qual lhe prescreveu medicação antide-pressiva, ansiolítica, anti-asténicos e hipnoinduto-res com marcado efeito sedativo prolongado que podia induzir sonolência e motivar atraso matinal no início das suas actividades;

19º. Tal situação foi agravada no ano de 2002 em virtude de um acidente de viação que sofreu;

20º. O acompanhamento médico e terapêutico manteve-se nos anos de 2002, 2003, 2004 e 2005 através de médico de clínica geral;

21º. Nos anos de 2003 e 2004, a Dra. (…) teve intervenção em vários processos com Tribunal Colectivo e de Júri com grande número de arguidos – alguns presos -, tendo as audiências tido lugar em vários dias consecutivos, por vezes no Tribunal (…), o que acarretava que o regresso ao Tribunal (…) se efectuasse fora das horas normais de expe-diente ficando ainda aí a despachar;

B) Motivação da decisão da matéria de fac-to:

A ora recorrente não pôs fundadamente em causa a qualificação dos factos descritos supra, que

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já constavam da acusação e do Acórdão recorrido como provados. Por isso essa sua qualificação não carece de reapreciação.

A fundamentação dessa qualificação identifi-ca-se, pois, com a constante do Acórdão recorrido.

III – APRECIAÇÃO

A Sra. Juiz (…) vem acusada da prática de condutas que, por violadoras dos deveres de pontua- lidade e de criar no público confiança na acção da Administração, no caso da Justiça, justificariam a sua sujeição a uma pena de advertência.

Na presente reclamação, a Sra. Juiz não vem discutir a verificação dessas condutas nem a sua qualificação disciplinar. Vem, tão só, discutir a pena que o Conselho Permanente deliberou impor-lhe: a de advertência, sem exclusão do respectivo registo.

Por isso, a análise da matéria provada far-se-á apenasnosentidoútilàresoluçãodaquestãocolo-cada.

No entanto, a cuidada ponderação de todos os elementos úteis para a realização desse fim não pode prescindir da contextualização dessas condutas e do presente processo disciplinar.

Importa, então, ter presente que, com base em duas participações sucessivamente apresentadas por dois Il. Advogados, se considerou necessário averi-guar, em suma,:

- se a Sra. Juiz era arrogante, não tinha conside-ração por ninguém, incorrendo em violação do dever de correcção para com advogados e funcionários.

- se a Sra. Juiz foi extraordinariamente deselegante para com um dos Il. Advogados, tendo pessoalizado uma questão processual, relativamente ao mesmo;

- se a Sra. Juiz, recorrentemente, não comparece nas diligências à hora que designou para a sua realização, fa-zendo constar coisa diferente das respectivas actas e omitindo qualquer explicação ou pedido de desculpa para o facto;

- se a Sra. Juiz dá azo, com a sua prestação funcio-nal, à ocorrência de relevantes atrasos nos processos a seu cargo;

- se a Sra. Juiz incorreu em violação de dever dis-ciplinar ao indagar da efectivação de uma notificação a cargo de mandatário, depois da afirmação da sua reali-zação, pelo próprio;

- se a Sra. Juiz incorreu em violação de dever disci-plinar ao retardar, ao longo de uma tarde, a publicação de um despacho de declaração da matéria de facto prova-da numa audiência de julgamento, determinando a sua notificação ás partes por telecópia, depois de encerrados os serviços do Tribunal.

Após a investigação realizada, e em termos já aceites pelo Conselho Superior da Magistratura, concluiu-se pela não verificação de qualquer con-duta passível de qualificar como violadora daquele dever de correcção:

“Naqueixaapresentadaedepoisquandoou-vidos os Srs. Advogados (…) adjectivaram depre-ciativamente a conduta da Dra. (…) - arrogante, deselegante, brusca e prepotente, disseram então, disponibilizando-se para indicar queixosos, desse jeito fazendo crer terem ocorrido alguns episódios protagonizados pela Exma. Juíza evidenciadores da sua incorrecção.

Chamados a concretizá-los alijaram tal res-ponsabilidade para outros pois que pessoalmente nunca haviam sido desrespeitados. Fundamental-mente os seus lamentos prendem-se com aspectos técnicos do exercício da Exma. Juíza, e de entre eles algumas decisões que lhes foram desfavoráveis, cuja apreciaçãonãocabenoâmbitodumprocessodestanatureza.

Só o Dr. (…) deu a conhecer dois jovens advo-gadosquelhe“fizeramqueixadeseremmaltrata-dos”esereportouaoDr.(…)que“váriasvezessequeixou de que a Sra. Juíza foi incorrecta para com ele”.Nasdeclaraçõesqueprestaram aquelas duassupostas vítimas e o Dr. (…) não só não sustenta-ram o depoimento do Dr. (…) como o infirmaram.

Os senhores funcionários também repudiaram as afirmações feitas de alguma vez haverem sido hu-milhados ou de haver mau ambiente de trabalho com a Exma. Juíza, antes dando noticia o Sr. Es-crivão de Direito (…) de lhe ter sido manifestado pelo Dr. (…) a conveniência de prestar declarações conformesàsuapretensão.

(…)As queixas apresentadas petos dois causídicos

não lograram concretização factual surgindo a final numa posição desgarrada dos demais, referindo boa parte dos advogados ouvidos que a Dra. (…), sem-

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pre com eles e com os outros presentes, teve um tratamentoderespeito,urbanoecordial.”

No respeitante aos restantes factos, entendeu-se estar prescrita a responsabilidade disciplinar quanto a alguns concretos atrasos referidos, não foram identificados factos consubstanciadores de violações de outros deveres funcionais, como ante-riormente indiciado, e concluiu-se que a actuação da Sra. Juiz foi processualmente correcta, no trata-mento do atraso da publicação de um despacho de declaração da matéria de facto provada numa au- diência de julgamento.

Constata-se, assim, que o bastante amplo ob-jecto do processo de averiguações se reduziu signi-ficativamente, passando a abranger exclusivamente os recorrentes atrasos no início das diligências:

Nostermosdaacusação:“ASra.Dra.(…),em exercício de funções no (…), desde 17/09/01;

Com diligências ou julgamentos marcados para as 9,30 horas ou 10 horas a Exma. Juíza rara-mente chegava ao Tribunal antes das 10,30 horas começando-os muitas vezes cerca das 11 horas;

Algumas vezes iniciaram-se mesmo com cerca de 2 horas de atraso;

Estes factos ocorreram de forma regular e con-tinuada desde o início da sua colocação no (…) até aomêsdeMaiode2005.”

Como já se referiu, a qualificação desta con-duta como violação do dever de pontualidade e de criação de confiança do público na actuação da administração judiciária é matéria desprovida de qualquer polémica, não justificando mais do que simples considerações.

Consta já do Acórdão do Conselho Permanen-te que: “Aindaque o Juiznão tenhaumhoráriofixado na lei ou predeterminado pelo Conselho Su-perior da Magistratura, enquanto órgão de gestão, não deixa o mesmo de estar vinculado ao dever de pontualidade, de acordo com o qual deve compare-cer no Tribunal por forma a assegurar o serviço que lhe está distribuído e, pelo menos, de acordo com as horas que ele próprio designa para a realização dasdiligências.”

Ou seja, tendo como pressuposto não se re-conhecer a existência de um dever de cumprimen-to de um horário de trabalho, não pode cada juiz

deixar de afectar ao seu desempenho funcional um tempodetrabalhoadequadoàexecuçãodoserviçoque lhe está distribuído, sem prejuízo dos limites que salvaguardam o seu direito ao descanso, como acontece em relação a todo e qualquer trabalhador. Esta obrigação contém necessariamente o dever de comparecer atempadamente nos momentos e locais que designa para as diligências que devem decorrer sob a sua direcção.

Do cumprimento desta obrigação – identi-ficável como conteúdo do dever de pontualidade da prestação funcional de um magistrado judicial – resulta, em parte, a confiança do público no fun-cionamento da administração judiciária: os actos pré-determinados são realizados como previsto, demonstrando que o sistema – designadamente no que respeita a esses actos – funciona, que não há atrasos, faltas pessoais ou ineficiências que preju-diquem a obtenção dos resultados que o funciona-mento do sistema da administração visa.

Foi a realização desse objectivo que a conduta repetidapela Sra. Juizprejudicou.A inobservân-cia dos horários que – ela própria – estabeleceu para a realização de determinados actos é conduta adequada a descredibilizar o funcionamento da ad-ministração judiciária junto do público que a esta recorre, a levar a que este público deixe de confiar emqueessesistemaadministrativoestáaptoàsa-tisfação das suas necessidades.

O artº. 82º. do Estatuto dos Magistrados Judi-ciaisdispõeque“Constitueminfracçãodisciplinaros factos, ainda que meramente culposos, pratica-dos pelos Magistrados Judiciais, com violação dos deveres profissionais, e os actos ou omissões da sua vida publica ou que nela se repercutam, incompatí-veis com a dignidade indispensável ao exercício das suasfunções”.

Mas, para além destes deveres e regras de conduta os Magistrados Judiciais estão também sujeitos aos deveres gerais que impendem sobre os funcionários e agentes da administração central, regional e local (cf. artºs. 32º. e 131º. do mesmo Estatuto), entre os quais avultam os deveres de criar no público confiança na acção da Administração, de isenção, zelo, obediência, lealdade, sigilo, correc-ção, assiduidade e pontualidade, tal como resulta

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do artº. 3º. nº. 4 do Dec. Lei nº. 24/84 de 16/01 (Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central, Regional e Local).

É, pois, liquido que a conduta da Sra. Juiz (…), derecorrenteinobservânciadoshoráriosdesignadospara a realização de diligências, mantida ao longo de um período de tempo alargado, consubstancia a violação do dever de pontualidade e do dever geral de criação de confiança, no público, relativamente à acção da administração judiciária, em infracçãoao disposto nos arts. 3°, n°s l, 3, 4 al. h) e 12° do E.D.F.A. e 82° do EMJ.

Masseassimé,outrascircunstânciasconcor-rem que são essenciais na ponderação da gravidade dessa conduta, quer ao nível do grau de violação dos deveres funcionais em questão, quer ao nível da censurabilidade da conduta da Sra. Juiz. Assim, interessa ter presente que também se provou:

Daí para cá (Maio de 2005) a Exma. Juíza tem comparecido atempadamente no Tribunal dando inícioàsdiligênciasmarcadasnohoráriodesigna-do;

Quando chegava atrasada a Exma. Juíza tinha o cuidado de se justificar e pedir desculpa;

Assim como reconhece ter havido da sua par-te, por vezes, alguma falta de pontualidade relativa-menteàsdiligênciasmarcadasnapartedamanhã;

Nos anos de 2001 até Abril de 2004 a Dra. (…) tinha autorização para residir em (…);

Tendo mudado a sua residência para (…) em Abril de 2004;

A Dra. (…), por regra, diariamente permanece em trabalho no Tribunal muito para lá do horário normal, algumas vezes até cerca das 24 horas, assim como aos fins-de-semana e férias judiciais;

Ao longo dos anos de 2001 a 2004 não regis-tou qualquer falta e em 2005 apenas faltou justifi-cadamente em 31/10/05;

A Dra. (…) esteve doente apresentando um quadro depressivo reactivo com marcada ansiedade, alterações de humor, desmotivação, dificuldades de atenção e de concentração e alterações do sono, ten-do sido assistida entre Janeiro de 2001 e Novembro de 2002 por médico especialista;

O qual lhe prescreveu medicação antidepressi-va, ansiolítica, anti-asténicos e hipnoindutores com

marcado efeito sedativo prolongado que podia in-duzir sonolência e motivar atraso matinal no inicio das suas actividades;

Tal situação foi agravada no ano de 2002 em virtude de um acidente de viação que sofreu;

O acompanhamento médico e terapêutico manteve-se nos anos de 2002, 2003, 2004 e 2005 através de médico de clínica geral.

Constata-se, assim, que a Sra. Juiz, apesar de atrasar, por falta de pontualidade própria, o início de diversas diligências, justificava-se perante os seus interlocutores e pedia-lhes desculpa. A sua falta de pontualidade não correspondia, por isso, a uma vo-luntária falta de respeito ou consideração para com os utentes do tribunal, nem a um exercício autocrá-tico da função jurisdicional.

Por outro lado, esse seu incumprimento não corresponde a uma menor dedicação ao serviço. Pelo contrário, é elevado o esforço que sempre afec-tou e afecta ao seu desempenho funcional: por regra permanece no tribunal para além do seu horário defuncionamento,porvezesatéàs24h.,trabalhaem férias, nos fins-de-semana, e não falta ao serviço (apenas uma falta justificada entre 2001 e 2005). Isto é ainda mais significativo quando se conside-rem as difíceis condições pessoais em que exerceu funções ao longo desse tempo, informadas por rele-vantes problemas de saúde.

Por outro lado ainda, a Sra. Juiz admite o seu erro e corrigiu a sua conduta, porquanto, desde Maio de 2005 (época coincidente com a abertura deste processo), deixou de incorrer em faltas de pontualidade.

A elevada dedicação ao serviço, pelo menos ao nível da quantidade de tempo disponibilizado para o desempenho funcional, minora o grau de ilicitude da sua falta disciplinar.

As justificações que nunca deixou de apresen-tar para os seus atrasos e as dificuldades pessoais em que decorreu o desempenho em análise mitigam o grau de censurabilidade do seu comportamento.

Acresce que a pena disciplinar, como a de qualquer medida sancionatória, mais do que a cen-sura da conduta e do agente, deve ter uma função reintegradora, deve pretender encaminhar o agente parao“deverser”.Nocaso,verifica-sequeasim-

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ples pendência deste processo já realizou esse ob-jectivo: a Sra. Juiz abandonou a sua prática de falta de pontualidade e, não menos importante, expres-samente confessou-a, revelando ter interiorizado a sua censurabilidade.

Ponderado tudo o que vem de se expor, ma-xime a natureza da falta disciplinar e as suas carac-terísticas, entendemos, tal como o Conselho Per-manente, que a Sra. Juiz deve ser sancionada com a imposição de uma pena de advertência que, nos termos do art. 91º do E.M.J., cabe a faltas leves que não devam passar sem reparo. Tal pena está prevista noartigo86ºdoE.M.J:“Apenadeadvertênciacon-siste em mero reparo pela irregularidade praticada ou em repreensão destinada a prevenir o magistra-do de que a acção ou omissão é de molde a causar perturbação no exercício das funções ou de nele se repercutir, de forma incompatível com a dignidade quelheéexigível.”

Por outro lado, o art. 85º, nº 4 do E.M.J. per-mite a imposição desta pena sem registo.

É esta questão – da isenção ou não de registo da advertência –que fundamenta a presente recla-mação.

Considerando que a Sra. Juiz não tem qual-quer antecedente disciplinar; considerando as supra referidas circunstâncias que diminuem o grau deilicitude da sua conduta e mitigam o grau da res-pectiva censurabilidade; considerando que a função reintegradora da pena disciplinar se mostra desde

járealizada,oquecompreendeacircunstânciadeaSra. Juiz ter expressamente confessado a sua infrac-ção e, implicitamente, admitido o desvalor da sua conduta, entendemos que se justifica o não registo da sanção disciplinar a aplicar.

IV – DECISÃO

Por todo o exposto, acordam, em Plenário, os membros do Conselho Superior da Magistratura, em concluir pela procedência da presente reclama-ção e, consequentemente, alterando o acórdão do ConselhoPermanente,emaplicaràExma.Sra.Juiz(…), pela prática da infracção disciplinar descrita supra, a pena de advertência não registada.

Lisboa, 6 de Junho de 2006Rui Moreira

José Nunes da CruzAntónio Bernardino

ÁlvaroLaborinhoLúcioAntónio Geraldes (vencido – manteria o

Acórdão do Permanente)Maria José Machado (manteria a decisão do

Permanente)Carlos Ferreira de Almeida

Edgar LopesManuel Braz

Alexandra LeitãoAntónio Barateiro Martins

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 209

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7 - O PONTO DE CONTACTO DA REDE JUDICIÁRIA2 - EUROPEIA EM MATÉRIA CIVIL E COMERCIAL

A Cooperação entre os Estados Membros no domínio da obtençãode provas em matéria civil e comercial – o Regulamento (CE)

n.º 1206/2001, do Conselho, de 28 de Maio de 2001(Texto de estudo para o 1.º Curso de Direito Europeu do Centro

de Estudos Judiciários)

Carlos Manuel Gonçalves de Melo Marinho – Juiz de DireitoPonto de Contacto de Portugal da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial

Sumário A. GENERALIDADES: 1. O regime vi-

gente; 2. Antecedentes; 3. Aplicação no tempo; 4. Aplicação no espaço; 5. Fins; 6. Objecto; 7. Condições de aplicação; 8. Conceito de prova; 9. Noção de tribunal; 10. Relação com outros instrumentos; 11. Sujeitos da cooperação; 12. Métodos de colheita de prova; 13. Os formu-lários; B. A TRANSMISSÃO DIRECTA DE PEDIDOS ENTRE TRIBUNAIS: 1. Forma e

conteúdo; 2. O aviso de recepção; 3. Línguas; 4. Incompetência; 5. Imperfeição do pedido; 6. Prazo de cumprimento; 7. Regras de exe-cução; 8. Medidas coercivas; 9. A presença e participação das partes e de representantes do tribunal requerente; 10. Recusa de execução; 11. Notificação de atrasos; 12. Procedimento posterior à execução do pedido; 13. O papel da entidade central; C. A COLHEITA DIRECTA DE PROVA: 1. Conteúdo; 2. Procedimento de

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210 Boletim Informativo - Dez.2006

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colheita directa de prova; 3. Medidas coerci-vas; 4. Lei aplicável; 5. Os «actores» da dili-gência; 6. Videoconferência; D. CUSTAS

Textos normativos relevantesPara o estudo desta matéria, relevam os se-

guintes elementos de trabalho:• Regulamento(CE)n.º1206/2001,doConse-

lho, de 28 de Maio de 2001, relativo à coope-ração entre os tribunais dos Estados-Membros no domínio da obtenção de provas em matéria civil ou comercial, in Jornal Oficial das Comunida-des Europeias L 174, de 27.6.2001, págs. 1 a 24;

• Decreton.º764/74,de30-12,queratificoua Convenção de Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil e Comercial, de 18 de Março de 1970;

• AvisopublicadonoDiáriodoGovernode8 de Abril de 1975, pág. 527.

A. GENERALIDADES1. O regime vigenteO texto que, presentemente, define o regime

de colheita de prova transfronteiriça no espaço da União Europeia é o Regulamento (CE) n.º 1206/2001, do Conselho, de 28 de Maio de 2001, relativo à coopera-ção entre os tribunais dos Estados-Membros no domínio da obtenção de provas em matéria civil ou comercial, pu-blicado no Jornal Oficial das Comunidades Europeias L 174, de 27.6.2001, a págs. 1 a 24.

2. AntecedentesAntes da sua entrada em vigor não existia,

no domínio da obtenção de prova transfronteiriça no espaço europeu, instrumento de Direito inter-nacional ou comunitário que vinculasse todos os Países da União.

À data da respectiva publicação, apenas onze dos então Estados-Membros tinham ratificado a Con- venção de Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil e Comercial, de 18 de Março de 1970. Eram tais Países a Alemanha, a Dinamarca, a Es-panha,aFinlândia,aFrança,aHolanda,aItália,oLuxemburgo, Portugal, o Reino Unido e a Suécia.

Essa Convenção, que foi ratificada pelo Decreto n.º 764/74, de 30-12, e que entrou em vigor em Por-

tugal em 11 de Maio de 1975, conforme definido pelo Aviso publicado no Diário do Governo de 8 de Abril de 1975, pág. 527, tinha absorvido e alarga- do o regime constante dos art.s 8.º a 16.º das Conven- ções de Haia Relativas ao Processo Civil, de 1905 e 1954, nos quais a matéria em apreço era regulada sob a esclarecedora menção de «cartas rogatórias».

A actual redacção do art. 65.º do Tratado da Comunidade Europeia foi introduzida pelo art. 73.º-M do Tratado de Amesterdão, de 2 de Outubro de 1997. Nesse preceito assumiu-se o programa de melhorar e simplificar a cooperação judiciária trans- fronteiriça em «matéria de obtenção de meios de pro- va» mediante utilização dos mecanismos de pro-dução normativa previstos no art. 67.º do Tratado.

Pouco tempo depois, incluiu-se entre as Con-clusões da Presidência do Conselho Europeu de Tampere, de 15 e 16 de Outubro de 1999, a seguinte afirmação: «O princípio do reconhecimento mútuo deverá ainda aplicar-se aos despachos judiciais proferidos antes da realização dos julgamentos, em especial aos que permitam às autoridades competentesrecolher rapidamente as provas (…)». Acrescen-tou-se, ainda, que «as provas legalmente obtidas pelas autoridades de um Estado-Membro deverão ser admissíveis perante os tribunais dos outros Es-tados-membros, tendo em conta as normas neles aplicáveis». Neste contexto, o Conselho Europeu solicitouaoConselhoeàComissãoquepreparas-sem «nova legislação em matéria processual para os processos transfronteiras, em especial sobre os elementos determinantes para facilitar a coopera-çãojudiciáriaereforçaroacessoàjustiça,taiscomo(…) a recolha de provas (…)».

Em Novembro de 2000, a Alemanha apresen-tou ao Conselho de Ministros da União Europeia uma proposta de Regulamento sobre produção de prova que viria a culminar na adopção do regime actualmente vigente.

3. Aplicação no tempoO Regulamento tem aplicação plena desde 1

de Janeiro de 2004.

4. Aplicação no espaçoO encadeado de normas em apreço aplica-se

Conselho Superior da Magistratura

Dez.2006 - Boletim Informativo 211

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em todos os Estados da União, com excepção da Dinamarca, substituindo, nas relações entre os Pa-íses que se encontravam por ela vinculados, a refe-renciada Convenção de Haia de 1970.

Entre a Dinamarca e Portugal aplica-se ainda a apontada Convenção. O mesmo ocorre nas relações entre aquele País e os outros Estados da União que a ratificaram.

5. FinsO Regulamento visa agilizar e simplificar

a execução dos pedidos de colheita de elementos probatórios fora do território em que se situe o ór-gão jurisdicional responsável pela sua avaliação.

6. ObjectoO instrumento normativo em apreço é apenas

aplicável em matéria civil e comercial – art. 1.º, n.º 1.

Estamos perante um conceito que não tem re-lação directa com os direitos internos dos Estados- -Membros. Trata-se, antes, de uma noção própria do Direito Comunitário.

A jurisprudência do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias tem vindo a concretizar os seus contornos. Fê-lo, designadamente, nos ares-tos, extraídos por referência ao art. 1.º da Convenção de Bruxelas de 1968, relativa à competência judiciária e à execução de decisões em matéria civil e comercial, LTU Lufttransportunternehmen GmbH & Co. KG vs. Eurocontrol, de 14 de Outubro de 1976, Processo n.º 29/76, Netherlands State vs. Reinhold Rüffer, de 16 de Dezembro de 1980, Processo n.º 814/79, Volker Sonntag vs. Hans Waidmann e outros, de 21 de Abril de 1993, Processo C-172/91, e Ge-meente Steenbergen vs. Luc Baten, de 14 de No-vembro de 2002, Processo n.º C-271/00.

Não se está perante conceito fixo e imutável, de sinal homogéneo em todos os Regulamentos des- ta área de cooperação. Os seus limites têm que ser al- cançados mediante ponderação das específicas fina-lidades visadas e dos objectivos prosseguidos pelo art. 65.º do Tratado da Comunidade Europeia.

Atendendo aos propósitos do texto em apreço e por nenhuma razão se divisar no sentido da jus-tificabilidade da importação do regime de exclusão constante do art. 1.º do Regulamento n.º 44/2001,

tem que se concluir pela aplicabilidade do docu-mento que regula a colheita de prova na Europa comunitáriatambémàsacçõesqueincidamsobreo «estado e a capacidade das pessoas singulares», os «regimes matrimoniais», os testamentos, suces-sões, falências, concordatas e «processos análogos», bem como «segurança social» e «arbitragem».

O recurso ao texto sob referência não depende da natureza do tribunal.

O instrumento normativo em apreço não in-cide sobre situações relativas a «matérias fiscais, aduaneiras e administrativas» nos termos enuncia-dos no n.º 1 do art. 1.º do Regulamento 44/2001, de 22 de Dezembro de 2000, estando excluída do seuâmbitodeincidênciaamatériadaresponsabi-lidade do Estado por actos e omissões no exercício dos seus poderes de autoridade.

O seu dispositivo é susceptível de ser activa-do sempre que um tribunal de um Estado-Membro pretenda solicitar ao tribunal competente de outro País da União a obtenção de elementos probatórios.

É também utilizável quando se vise a recolha directa de prova no território de outro Estado vin-culado pelo diploma, desde que tal diligência seja admitida pelo Direito interno do tribunal requeren- te e aceite pelo Estado requerido – art. 1.º, n.º 1.

Os pedidos apresentados a coberto dele só po-dem ser formulados no quadro de um processo em cursooucomvistaàsuainstauração–art.1.º,n.º2. Abrangem-se, pois, nesta última condição, as diligências de produção antecipada de prova pre-vistas no art. 520.º do Código de Processo Civil português.Pretende-se,porestavia,obviaràpos-terior indisponibilidade previsível de um determi-nado meio de demonstração de factos.

Não se contemplou a anglo-saxónica «pre-trial discovery», ou seja, a busca de elementos de-monstrativos com independência de um processo judicial, genericamente orientada para a obtenção da verdade e para a promoção da justiça em nome de um alargado direito público de conhecer.

7. Condições de aplicação Flui do exposto serem condições de aplicação

do Regulamento que:a) Se vise a colheita de prova no espaço comu-

nitário;

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212 Boletim Informativo - Dez.2006

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b) Tal colheita incida sobre matéria civil ou comercial;

c) O pedido seja apresentado pelo tribunal de um Estado-Membro;

d) Os elementos instrutórios pretendidos se destinem a um processo judicial iniciado ou pers-pectivado.

8. Conceito de provaNo texto em apreço não se define o conceito

de prova.Porém, há que atender a que o mesmo tem a

vocação de abranger as várias diligências instrutó-rias transfronteiriças (veja-se, neste sentido, o que emergedosn.ºs1,2,3,7e8doseupreâmbulo),não existindo motivo que se reconheça válido no sentido de se concluir que o legislador comunitá-rio tenha pretendido balizar os meios probatórios admissíveis no seu seio. Pelo contrário, parece que o que se quis foi criar um mecanismo que respon-desse a todas as necessidades de produção de prova no espaço da União em coerência com o desiderato de construir uma zona comum de justiça, garan-tindo que «os processos judiciais em matéria civil ou comercial sejam eficazes» − n.º 8.

Parece compreender, pois, a prova por confis-são das partes, pericial, documental (permitindo-se, consequentemente, que se solicite a obtenção trans-fronteiriça de determinado documento) e teste- munhal. Face ao disposto na al. b) do n.º 1 do art. 1.º e no art. 17.º está, até, compreendida no do-mínio de incidência do dispositivo objecto destas notas a inspecção judicial prevista nos artigos 612.º a 615.º do Código de Processo Civil.

9. Noção de tribunalNão se fornece uma noção de tribunal. Mais

uma vez, há que tomar as devidas cautelas, de forma a não se extrapolar noções internas em sede do pro- cesso interpretativo. O texto sob análise pretende abranger os sistemas de todos os Estados vincula-dos, pelo que não aceita ser balizado por uma qual-quer noção nacional restritiva, de órgão jurisdicio-nal. Há, antes, que salvaguardar as várias opções legislativas e, em particular, as dos Estados mais entusiasmados pelas ideias de desjudicialização.

Assim, talvez se deva considerar como inte-

grando o conceito de tribunal qualquer autorida-denacionalàqualoEstado-membroatribua,nossectores temáticos abrangidos pelo Regulamento, a faculdade de dizer o Direito, de subsumir, com carácter decisório, a norma ao facto. Não se com-preendem, neste conteúdo, os tribunais arbitrais.

Cada Estado da União obrigou-se a transmi-tir uma lista de órgãos jurisdicionais competen-tes para a colheita de prova. Tal lista encontra-se, presentemente, na Internet, no Atlas Judiciário em Matéria Civil, ao qual é possível aceder através da página do Ponto de Contacto da Rede Judiciária Eu-ropeia em Matéria Civil e Comercial, em http://www.redecivil.mj.pt.

A existência desta lista produz como efeito que a questão da definição do conceito de tribunal sórelevequantoàlegitimaçãodoórgãorequeren-te, já que o tribunal requerido é sempre determi-nado mediante recurso a tal lista.

De qualquer forma, é importante ter presente que o legislador comunitário parece ter considera-do que o órgão receptor da pretensão deverá estar integrado no poder judicial, face ao que consignou na al. b) do n.º 2 do art. 14.º

10. Relação com outros instrumentosO Regulamento prevalece sobre os preceitos

contidos em instrumentos internacionais de natu-reza bilateral ou multilateral celebrados pelos Es-tados-Membros por ele vinculados, desde que in-cidentes sobre matéria dele objecto − n.º 1 do art. 21.º. Em particular, predomina sobre a Convenção de Haia de 1 de Março de 1954, relativa ao processo civil, e a Convenção da Haia de 18 de Março de 1970, já referenciada.

Mitiga-se, assim, a possibilidade de ocorre-rem divergências ao nível da aferição e definição do regime aplicável.

Com particular relevo, cristalizou-se que o tex- to tem a vocação de erigir um sistema de tutela mínima, ficando aberta aos Países da União a pos-sibilidade de encontrarem soluções que permitam uma ainda melhor cooperação no domínio da ins-trução processual transfronteiriça, desde que con-ciliáveis com a sua arquitectura n.º 2 do mesmo artigo.

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11. Sujeitos da cooperaçãoSão quatro os potenciais sujeitos da relação de

cooperação intracomunitária gizada pelo diploma sob análise:

1. O tribunal requerente − ou seja, o órgão ju-risdicional no qual «o processo tenha sido iniciado ou esteja previsto» − n.º 1 do art. 2.º;

2. O tribunal requerido − isto é, o órgão ju-risdicional competente para a colheita de prova − ibidem;

3. A autoridade central − n.º 1 do art. 3.º;4. A autoridade responsável pela tomada de

decisões relativas aos pedidos de colheita directa de provas. Esta autoridade poderá ser a própria entida-de central − n.º 3 do art. 3.º.

O encadeado normativo sob avaliação preten-de institucionalizar a regra da comunicação di-recta entre os tribunais europeus. Este princípio édeextremaimportâncianodomíniodacolheitade prova, já que a sua materialização permite redu-zir o número de intervenientes no mecanismo de instrução transfronteiriça assim como tornar mais eficiente, focar e precisar a intervenção encurtando, consequentemente, de forma drástica, os tempos de resposta do sistema.

Acresce que só assim é possível ser coerente com a vontade de transformar o espaço da União numa zona comum de Justiça, afirmar o juiz nacio-nal como verdadeiro juiz europeu e criar um clima de confiança, conhecimento e cooperação mútuos.

Na economia do texto em avaliação, a entida-de central não tem, usualmente, intervenção, já que se pretende que não passe por ela a generalida-de dos pedidos.

Noquerespeitaàautoridadedeintermedia-ção da instrução directa, também esta tem uma ac-ção assinalada por um menor peso quantitativo por- quanto a colheita de prova pelo próprio tribunal re- querente tem tendência para ocorrer com menor fre- quência. Neste sentido tem vindo a apontar com fir- meza a prática quotidiana dos tribunais europeus.

12. Métodos de colheita de provaA recolha de prova realiza-se mediante dois

métodos distintos:a) Transmissão directa do pedido entre o tri-

bunal requerente e o requerido, cabendo a este último realizar a diligência probatória − art. 1.º, n.º 1, al. a);

b) Recolha directa de prova pelo tribunal pe- rante o qual corra o processo ou ao qual tenha sido requerida a produção antecipada de prova − art. 1.º, n.º 1, al. b).

13. Os formuláriosApostou-se na utilização de formulários estan-

dardizados, sendo dez os modelos utilizáveis neste tipo de cooperação.

É de louvar esta solução, reproduzida em mui-tos outros Regulamentos desta área (vd., por exem-plo, o Regulamento (CE) n.º 44/2001, do Conse-lho, de 22 de Dezembro de 2000, o Regulamento (CE) n.º 1348/2000, do Conselho, de 29 de Maio de 2000, o Regulamento (CE) n.º 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003, ou o Re-gulamento (CE) n.º 805/2004, do Parlamento Eu-ropeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004). Com efeito, esta é a opção que melhor permite ultrapas-sarasbarreiraslinguísticaseasdiscrepânciassiste-máticas. Ao receptor de um pedido, de um aviso ou de uma notificação contidos num dos formulários publicados em anexo ao diploma basta cotejar o texto com a respectiva versão nacional do modelo obtendo, de imediato, a noção do pretendido, quer em termos meramente linguísticos e semânticosquer no que se reporta ao conteúdos técnicos que serão, necessariamente, os previamente negociados e espelhados no documento comunitário.

B. A TRANSMISSÃO DIRECTADE PEDIDOS ENTRE TRIBUNAIS

1. Forma e conteúdo A forma mais comum de instrução transfron-

teiriça no seio do Regulamento é a que assenta na transmissão directa de pedidos entre tribunais

No quadro deste mecanismo, o órgão que pre-tenda enviar um pedido de colheita de prova a um outro tribunal comunitário deverá, em primeiro lugar, localizar o órgão jurisdicional do Estado- -Membro da União que possua competência para a realização da diligência instrutória desejada. Para o efeito, poderá utilizar o Atlas Judiciário Europeu

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214 Boletim Informativo - Dez.2006

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ao qual se fez referência. Aí encontrará, também, os formulários adequados e a indicação das línguas que podem ser utilizadas no seu preenchimento (fi-cará, por exemplo, a saber, que Portugal aceita pe-didos na língua portuguesa e na espanhola). Obterá, ainda, referência aos meios de recepção disponíveis (descobrindo, por exemplo, que Portugal admite pretensões remetidas por via postal, telecópia e ou-tros meios telemáticos, podendo, em casos urgen-tes, aceitar o telegrama, a comunicação telefónica seguida de confirmação escrita e outro meio aná-logo de comunicação, o que parece poder englobar o correio electrónico). Mais acederá, querendo, aos textos do Regulamento e da Convenção de Haia de 18 de Março de 1970, bem como aos manuais relativos àexecuçãodospedidosemcadaEstado.

Depois de localizado o tribunal requerido, o órgão requerente deverá proceder ao preenchimen-to do formulário A anexo ao texto normativo sob exegese.

Deverá indicar, obrigatoriamente, nos termos do exigido na al. a) do n.º 1 do art. 4.º:

a) A sua denominação e respectivas coordena-das assim como as do tribunal requerido (só não se exigirá a indicação dos elementos atinentes a este quando se opte pela residual intermediação da au-toridade central);

b) A identidade das partes e seus endereços bem como dos mandatários nomeados nos autos;

c) A «natureza e o objecto da acção» e os fac-tos em apreço (ainda que descritos de forma sinté-tica); e

d) As provas a colher.

Caso se pretenda obter o depoimento de pes-soas, inscrever-se-ão, no formulário, os seus nomes e endereços, as perguntas a colocar-lhes e os factos objecto de interrogatório.

Far-se-á, também, menção ao eventual direito de recusa a depor face ao direito interno do Esta-do-Membro do tribunal requerente, apontando-se a necessidade de a inquirição ser precedida de jura-mento ou declaração de honra, caso tal seja legal-mente exigido, indicando-se, neste caso, se recla-mada, a específica fórmula a utilizar. Relativamen-te a esta dispensa ou interdição de depor adoptou--

-se, claramente, uma solução bem mais restritiva do que a acolhida na Convenção de Haia de 1970 uma vez que, ao contrário do estatuído no art. 11.º desse texto de direito internacional pactício, não seconferiurelevoàsdisposiçõesdodireitointernodoEstadorequeridonemàsdosistemajurídicodeum terceiro Estado.

Deverão, ainda, ser transmitidas as informa-ções complementares que o tribunal requerente repute essenciais.

Relativamente aos pedidos incidentes sobre outras formas de instrução, o órgão jurisdicional requerente especificará os documentos ou objectos a examinar (remetendo o que for necessário para assegurar o contacto físico com tais elementos). Os documentos a enviar estão dispensados de au-tenticação ou outra formalidade (n.º 2 do art. 4.º) mas não de tradução na língua de redacção do pe-dido.

Será, ainda, no formulário A que se lançarão as pretensões de colheita de prova com submissão a um específico regime adjectivo interno ou com recursoàstecnologiasdeinformaçãoe,emparti-cular,àvideoconferência.

Também nesse enquadramento de forma se po- derá solicitar a execução do pedido com a presença e a participação das partes e/ou com a comparência e o envolvimento de representantes do tribunal pe-ticionante, nos termos dos arts. 11.º e 12.º.

Os contactos previstos no Regulamento deve-rão fazer uso dos meios tecnológicos que garantam a maior celeridade e a integral e fiel transmissão dosconteúdos−art.6.º.Comvistaàescolhadocanal de comunicação, deverá atender-se a este cri-tériodeemanaçãonormativabemcomoàpréviadeclaração de aceitação de meios do Estado desti-natário. Tal declaração poderá ser consultada no Atlas já referido.

2. O aviso de recepçãoCom a intenção de permitir um maior con-

trolodoprocessoeacrescentarcertezae rigoràsrelações entre tribunais em sede de cooperação instrutória, exige-se que o órgão jurisdicional re-querido confirme a recepção do pedido através do envio de um aviso de recepção com o conteúdo constante do formulário B. Esse documento deverá

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Dez.2006 - Boletim Informativo 215

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ser enviado dentro de sete dias contados a partir do momento do recebimento da pretensão − n.º 1 do art. 7.º.

Do aviso poderá constar a indicação da im-possibilidade de tratamento da pretensão por não se ter utilizado uma língua aceite ou por o pedido ser ilegível − arts. 5.º e 6.º. No primeiro caso, de-ver-se-á apoiar o tribunal requerente indicando as linguagens admitidas.

Embora o formulário B não possua um espaço expressamente dedicado a esse efeito, parece que, atento o disposto nos arts. 6.º e 7.º, n.º 1, se deverá também indicar nele a impossibilidade de trami-tação ulterior em virtude do uso de meio de trans-missão não admitido pelo Estado receptor.

3. LínguasO pedido e as comunicações exigidas pelo Regu-

lamento devem ser redigidos na língua oficial do Es- tado requerido ou, existindo várias, numa das lín-guas oficiais do local de colheita de prova. Podem, ainda, ser redigidos numa outra linguagem que esse Estado tenha declarado poder aceitar − art. 5.º.

Os documentos que o tribunal requerente julgue necessários para garantir a boa execução da pretensão deverão ser também eles traduzidos num dos apontados idiomas.

As línguas aceites por cada Estado poderão ser identificadas no Atlas Judiciário em Matéria Civil.

4. IncompetênciaSe o tribunal requerido constatar a sua incom-

petência e verificar ser competente outro tribunal do seu Estado, deverá remeter o pedido para esse tribunal, informando do facto o peticionante. Para o efeito, fará uso do formulário A − n.º 2 do art. 7.º.

Se, excepcionalmente, não for sequer o seu Estado-Membro o competente, não restará ao juiz requeridosenãodevolverapretensãoàprocedên-cia. Nenhuma norma do Regulamento parece pre-ver solução distinta para este problema.

5. Imperfeição do pedidoEstão previstas, no texto sob avaliação, duas

fontes de imperfeição do pedido − art. 8.º:a) Omissão de indicações necessárias exigidas

pelo art. 4.º;

b) Omissão de depósito de preparo para des-pesas destinado a garantir o pagamento ou o adian-tamento da remuneração de peritos (e talvez, tam-bém, de intérpretes, face ao disposto no n.º 2 do art. 18.º e por ser a mesma a exigência subjacente), nos temos do n.º 3 deste artigo.

Confrontado com qualquer destas lacunas, otribunal requeridodeverá fazermençãoàdefi- ciência do pedido utilizando o formulário C, no qual lançará indicação dos dados em falta e, no caso de omissão de depósito de quantia pecuniá-ria, esclarecimento sobre a forma da sua concreti-zação.

Dispõe do prazo de 30 dias, contados da data da recepção da pretensão, para solicitar o aperfeiçoa- mento tido por necessário.

Se o depósito em falta for realizado, informará o requerente de tal facto, no prazo de 10 dias, atra-vés do formulário D − n.º 3 do art. 8.º.

Considerando que estamos perante elementos tidos por imprescindíveis, se o tribunal requerente não proceder ao aperfeiçoamento pretendido, terá que ser devolvido o pedido de cooperação com alu-são expressa a esse facto nos pontos 6.4 e 6.5 do formulário H.

O prazo de aperfeiçoamento cuja ultrapassa-gem permite a rejeição da pretensão é de 30 dias contados da data da sinalização do vício − al. c) do n.º 2 do art. 14.º.

Tratando-se de depósito ou adiantamento em falta, o lapso temporal que autoriza a recusa de cumprimento é de sessenta dias. Este prazo inicia- -se no momento em que o tribunal requerido te-nha solicitado a entrega pecuniária pressuponente da continuação da tramitação do pedido de coope-ração.

6. Prazo de cumprimento É de noventa dias o lapso temporal de satisfa-

ção do pedido que respeite os requisitos normati-vos − n.º 1 do art. 10.º.

Porém, no caso de pretensões objecto de soli-citação de aperfeiçoamento, este prazo só se inicia- rá quando o pedido se mostrar completamente for-mado ou o depósito em falta estiver realizado − art. 9.º.

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216 Boletim Informativo - Dez.2006

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7. As regras de execuçãoFace ao estatuído no n.º 2 do art. 10.º, a exe-

cuçãodapretensãoéfeitacomsubmissãoàlegis-lação interna do Estado-membro do tribunal re-querido.

Só não será assim se o órgão jurisdicional re-querente solicitar a utilização de um procedimento especial. Neste caso, o tribunal requerido atenderá a esta vontade a menos que exista incompatibilida-de com a lei do seu Estado ou séria dificuldade de natureza prática. Em caso de rejeição da solicita-ção, dará conta da impossibilidade fazendo uso do formulário E − art. 10.º.

Utilizar-se-ão os meios tecnológicos mais avançados,privilegiando-seorecursoàvideocon-ferência. Com vista ao uso deste recurso técnico disponível em todos os tribunais portugueses, é recomendável a realização de um prévio contacto com o Ponto de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial com o intuito de se obter informação sobre a sua disponibilidade, já que nenhum outro Estado-membro usufrui de tal sistema em todos os seus tribunais. Alguns não o têm de todo e outros necessitam de ser previamen-tecontactadoscomvistaàdeslocaçãoeinstalaçãode meios móveis (como acontece na Holanda).

Espera-se poder incluir, em breve, na página do aludido Ponto de Contacto e no Atlas Judiciário em Matéria Civil, informação sobre todos os tribunais europeus que dispõem de videoconferência.

Só as dificuldades físicas obstarão ao recurso a este meio, já que não se conhece sistema jurídico de Estado-membro que contenha reais obstáculos jurídicos à utilização deste recurso tecnológico(apesar de a Bélgica ter chegado a invocar alguns impedimentos normativos internos, ultrapassáveis mediantecorrectainterpretaçãoqueatendaàhie-rarquiadasfontesdedireitoeàinserção,nelas,doRegulamento sob exegese).

Com tal intensidade se visa a celeridade ten-dencialmente atraída pela tecnologia de ponta que se prevê, até, o acordo mútuo no sentido da dispo-nibilizaçãodemeiosàpartidainexistentes−n.º4do art. 10.º.

Se não for possível o uso de processo tecnoló-gico específico, tal como a videoconferência, o ór-

gão jurisdicional destinatário da pretensão envia-rá ao peticionante o aludido formulário E, no qual poderá assinalar a incompatibilidade jurídica ou a impossibilidade prática.

8. Medidas coercivasÉ, também, a lei interna do Estado requerido

que define as medidas coercivas adequadas a asse-gurar a recolha de prova peticionada. Tais medidas são as previstas relativamente a qualquer acto in-terno de instrução − art. 13.º do Regulamento e, no caso de Portugal, art. 519.º do Código de Pro-cesso Civil.

9. A presença e participação das partes e de representantes do tribunal requerente

A presença e a participação das partes e dos seus representantes, na obtenção de prova no tri-bunal requerido, são admissíveis desde que a lei do Estado-Membro do tribunal requerente as preveja. O pedido nesse sentido deverá constar do formu-lário A ou ser transmitido em momento ulterior temporalmente compatível − art. 11.º n.º 2.

É ao tribunal requerido que cabe fixar os ter-mos da participação.

Este tribunal pode, ainda, assumir a iniciativa depediràsparteseaosrepresentantesquecompa-reçam na diligência instrutória e nela intervenham − n.º 5 do mesmo artigo.

Também os representantes do tribunal reque-rente podem estar presentes e participar na colhei-ta de prova, sob idêntico regime.

Na noção de representante do órgão jurisdi-cional peticionante incluem-se os juízes do pro-cesso e quaisquer outras pessoas designadas pelo tribunal requerente. O Regulamento exemplifica com a figura do perito nomeado representante do tribunal − n.º 2 do art. 12.º

Nesteúltimocaso,nãohálugar,nunca,àini-ciativa do tribunal requerido.

Tambémaqui,ainformaçãorelativaàpresen-ça dos representantes do órgão jurisdicional peti-cionanteeànecessidadedasuaparticipaçãopoderáconstar logo do formulário A ou ser fornecida poste-riormente. Os termos da intervenção são definidos pelo tribunal requerido.

Tanto num caso como no outro, este tribunal

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Dez.2006 - Boletim Informativo 217

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comunica os dados necessários para a materiali-zação das presenças e intervenções usando, para o efeito, o formulário F.

10. Recusa de execuçãoFaceàsfinalidadesque informaramaelabo-

ração do texto comunitário pretexto destas notas, deve considerar-se absolutamente excepcional a re-cusa de execução de um pedido de colheita trans-fronteiriça de prova. Em coerência com este enten-dimento, fixou-se em termos taxativos o acervo de situações susceptíveis de justificar tal recusa.

Em primeiro lugar, apontou-se que a pessoa a ouvir pode, validamente, recusar-se a depor em virtude de um direito ou de uma proibição emer-gentes da legislação quer do Estado requerido quer do Estado requerente. Neste último caso, o direito de escusa deverá ter sido comunicado no pedido de realização da diligência ou posteriormente confir-mado mediante solicitação do tribunal requerido − n.º 1 do art. 14.º.

Em segunda linha, indicou-se um conjunto de fundamentos de recusa de natureza díspar e sem qualquer conexão lógica entre os seus termos − n.º 2 do art. 14.º − a saber:

a) A apresentação de pedido que extravase o âmbitodeincidênciadefinidonoartigo1.º;

b) A formulação de solicitação situada fora das atribuições do poder judicial;

c) A omissão de aperfeiçoamento do pedido pe- lo tribunal requerente, no prazo de 30 dias contado nos termos já descritos;

d) A preterição da entrega pecuniária com vista ao pagamento de perito ou intérprete, no prazo de ses- senta dias após o tribunal requerido a ter solicitado.

De tal maneira se pretende afirmar o carácter excepcional da recusa que não se inclui entre as causas de rejeição a excepção de ordem públi-ca e se afasta a possibilidade de o tribunal reque-rido, fazendo apelo ao seu direito interno, invocar a competência material exclusiva de outro ór-gão jurisdicional do seu Estado-membro ou a indisponibilidade interna de um procedimen-to equivalente na matéria em apreço na acção − n.º 3 do art. 14.º.

Em caso de recusa de execução da pretensão, o tribunal requerido enviará ao requerente o formulá-

rio H (por lapso indicado no n.º 4 do 14.º da versão portuguesa como formulário G) indicando, no ponto 6, a concreta causa de não satisfação do solicitado.

Se tal denegação emergir de uma das causas enunciadas no n.º 2 do art. 14.º, o prazo de comu-nicação ao tribunal requerente é de sessenta dias.

11. Notificação de atrasosPor se buscar a tramitação célere e se preten-

der afirmar o carácter excepcional das delongas, instituiu-se a inovadora figura da notificação de atrasos. Esta funciona sempre que se revele im-possível executar a pretensão no prazo de noventa dias.

Verificada esta circunstância, o tribunal re-querido remeterá ao requerente o formulário G, commençãoexpressa às razõesdeultrapassagemdo lapso temporal e indicação da data em que ante-veja poder satisfazer a pretensão o que funcionará, também, como compromisso de prontidão no re-sultado − art. 15.º.

12. Procedimento posterior à execução do pedido

No art. 16.º, volta-se a colocar a tónica na ra-pidez da tramitação, ao impor-se a imediata de-volução do expediente, após cumprimento.

São de três tipos os elementos a enviar ao tri-bunal requerente:

a) Os documentos que demonstrem a execu-ção do pedido (por exemplo autos contendo trans-crições de declarações de partes, depoimentos de testemunhas ou laudos periciais);

b) Os documentos enviados pelo tribunal pe-ticionante, cuja devolução se justifique (tais como os originais de documentos juntos aos autos);

c) O Formulário H com menção, no ponto 5, ao facto de o pedido ter sido cumprido.

13. O papel da entidade centralO pedido de colheita de provas só pode ser in-

termediado pela entidade central em situações ex-cepcionais e nunca como regra − ao contrário, pois, do que acontecia na Convenção de Haia de 18 de Mar-ço de 1970, acima invocada (designadamente nos seus artigos 1.º a 5.º) − al. c) do n.º 1 do art. 3.º.

A intervenção desta autoridade é, neste qua-

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dro, de mera intercessão entre dois tribunais que, em condições normais, deveriam dialogar direc-tamente entre si. Cabe ao julgador concluir, em função de uma específica necessidade de coopera-ção com que se confronte, pelo preenchimento de um particular contexto fáctico que justifique esta mediação.

Nas situações comuns, as entidades centrais desempenham uma simples actividade coadjutora fora do eixo comunicacional, coincidindo com as actividades da própria Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial e dos seus Pontos de Con-tacto nacionais, ou seja, fornecendo informações aos tribunais e buscando soluções práticas para problemas relativos a um concreto pedido.

Em Estados assinalados por alguma comple-xidade territorial, é possível indigitar mais do que uma entidade central − por exemplo, a Alemanha, faceàsuaestruturafederal,aproveitouestapossibi-lidade nomeando dezasseis entidades centrais. Nos demais casos, não assinalados pela natureza federal do Estado, pela existência de diferentes sistemas jurídicos ou pela de presença de distintas unidades territoriais, deve ser só uma a entidade central de-signada por cada País − n.ºs 1 e 2 so art. 3.º.

Portugal indicou, para este efeito, a Direcção-Geral da Administração da Justiça (com o endere-ço postal: Avenida 5 de Outubro, 125 1069-044 Lisboa, tels.: (351) 21 790 62 00 - (351) 21 790 62 23, fax: (351) 21 790 64 60 - (351) 21 790 62 29, endereço electrónico: [email protected] e URL: www.dgaj.mj.pt).

C. A COLHEITA DIRECTA DE PROVA1. ConteúdoO Regulamento prevê, no art. 17.º, que o

tribunal de um Estado da União se desloque, ele próprio,aoutroEstado-membrocomvistaàrea-lização de uma determinada diligência instrutória. Trata-se de um mecanismo muito inovador, que permite garantir a rigorosa e precisa colheita de prova pelo próprio órgão jurisdicional, quando tal se revele importante para o adequado apuramento da verdade dos factos.

Casosedesejeprocederàcolheitadirectadeprova, dever-se-á solicitar ao Estado-membro re-

querido a concessão de uma autorização para o efei-to, já que está em causa uma incursão em diferen-te espaço de soberania, em área geográfica alheia, ainda que com o louvável intuito de obter meios de demonstração fáctica sem intermediação, sob responsabilidade própria e intervenção autónoma. Écompreensívelqueassimseja,nãosófaceàne-cessidade de assegurar a necessária disponibilidade e organização de meios mas também atenta a in-dispensabilidade de se apurar a existência de obs-táculos legais e assegurar a simbólica manutenção do controlo de poder territorial.

2. Procedimento de colheita directa de prova

A recolha directa de prova nos processos com conexões transfronteiriças realiza-se com submis-são ao seguinte conjunto de regras:

I. O tribunal nacional que a pretenda realizar deverá, após localização do País e área geográfica visada (se necessário com recurso ao Atlas Judiciá-rio),submeteroseupedidoàentidadecentralouàautoridade competente pré-definida nos termos do n.º 3 do art. 3.º usando, para o efeito, o Formulário I;

II. No prazo de trinta dias após a recepção da solicitação, essa autoridade deverá informar da aceitação da pretensão e das respectivas condições de execução, fazendo uso do Formulário J − n.º 3 do art. 17.º. Para assegurar o respeito por tais condições, a referida entidade poderá designar um tribunal do Estado requerido para participar na ac-tividade instrutória;

III. A apontada autoridade deve, por regra, aceitar a recolha directa de prova. Só pode recusá- -la, nos termos do n.º 3 do art. 17.º, se:

a)OpedidosesituaràmargemdoobjectodoRegulamento;

b) A pretensão vertida no formulário A não contiver as informações exigidas pelo art. 4.º;

c) A diligência contrariar princípios fun-damentais do Estado-membro requerido (não se definindo que princípios são estes, espera-se que seja a prática quotidiana a revelá-los, sendo certo que, para além de estritas questões de soberania que deverão ter ficado afastadas com a vinculação aotextoeuropeu,nãosedivisam,àpartida,bons

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Dez.2006 - Boletim Informativo 219

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fundamentos de recusa assentes em princípios de natureza técnica).

3. Medidas coercivasNo caso da colheita directa de prova, a instru-

ção é feita sem qualquer recurso a medidas de co-acção, porquanto o tribunal local não está directa-mente envolvido na diligência e o tribunal estran-geiro que recolhe os dados instrutórios não goza de poder soberano no território − n.º 2 do art. 17.º.

Daqui resulta que, sempre que pretenda re-alizar a inquirição transfronteiriça directa de uma ou mais pessoas, o tribunal requerente estará vin-culadoàobrigaçãodefazerconstardoFormulário I referência ao facto de a diligência dever decorrer sob uma base voluntária.

4. Lei aplicávelAinda que a entidade do Estado requerido

responsável pela aceitação do proposto e fixação das condições de colheita de prova possa impor que a execução decorra com submissão a exigências do seu direito nacional, o que é facto é que o tribunal requerente deverá recolher a prova nos termos defi-nidos no seu direito interno − n.º 6 do art. 17.º.

5. Os «actores» da diligênciaO n.º 3 do art. 17.º estatui que a «obtenção

de provas será efectuada por um magistrado ou por outra pessoa, por exemplo um perito designado se-gundo a legislação do Estado-Membro do tribunal requerente».

A primeira parte deste número é a que assume maior interesse prático, já que viabiliza a apreen-são da prova pelo próprio tribunal perante o qual corram os autos. É também a que se reveste de um carácter mais «revolucionário», já que impõe uma verdadeira mudança de mentalidades.

Noque tange à recolha dematerial instru-tório por pessoa diversa do(s) juiz(juízes) do pro-cesso, podemos reconhecer algum interesse na in-tervenção directa de um perito nacional, mas já se afigura de menor utilidade a indigitação de uma outra pessoa, tal como um agente diplomático ou um representante do órgão jurisdicional. Em casos limite, este contacto pessoal não assumirá particu-lar mais-valia, quando cotejado com a interven-ção de um tribunal do Estado requerido. Nestas

situações, como é manifesto, haverá que optar pela fórmula prevista no art. 10.º, ou seja, pela comum instrução intermediada.

6. VideoconferênciaVem sendo patenteado por alguns Estados,

bem como pelo Pf. Luigi Fumagalli, da Universi-dade de Milão, especialista nesta matéria, em várias reuniões de Pontos de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial, entendimen-to segundo o qual o uso da videoconferência cor-responde a uma forma de colheita directa de prova, pelo que o mesmo terá que ser intermediado por uma entidade do Estado requerido.

A considerar-se válida esta concepção (aliás com expressão no n.º 12 do Formulário I), tem que se concluir que o Regulamento introduziu no seu seio uma contradição susceptível de comprometer desnecessariamente o processo de cooperação nestes domínios. Assim é porquanto nos deparamos com duas arquitecturas que reciprocamente se anulam ou, ao menos, colidem.

De um lado encontramos concepções estrutu-raisinovadoras,quesequissufragarematençãoànecessidade de agilizar, simplificar e instalar con-fiança, assentes na afirmação das regras da primazia do contacto não intermediado entre tribunais, com afastamento das autoridades centrais, e do uso in-tensivo dos meios de comunicação mais recentes. Do outro deparamo-nos com particulares cautelas na colheita directa de prova, que impõem a prévia intervenção de uma autoridade do Estado reque-rido, não permitem automatismos e iniciativas de execução imediata e introduzem maiores limita-ções na própria disciplina instrutória.

Por exemplo, de acordo com a tese descrita, se um tribunal pedir a outro a inquirição de uma tes-temunha, esta é obrigada a comparecer e a prestar a sua colaboração nos termos previstos para qual-quer diligência de direito interno, nos termos do art. 13.º. Se solicitar a sua audição com recurso ao meio mais expedito e acarinhado, ou seja, a vide-oconferência, o elemento probatório só poderá ser obtido numa base voluntária e com proscrição de qualquer forma de coerção, conforme resulta do n.º 2 do art. 17.º, o que, em boa parte dos casos, con-duzirá, previsivelmente, à total inviabilização da

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iniciativa (particularmente quando for assumido pelo cidadão comum que não é obrigatório compa-recer nas sessões probatórias com uso de videocon-ferência a pedido de tribunais estrangeiros).

Quando se pensa na instrução transfronteiriça mediante recurso a este meio técnico, verifica-se que não se colocam os problemas físicos, de tutela territorial e de soberania que emergem no quadro da deslocação efectiva de um tribunal a outro País. Só neste último caso se justificam as especialidades do art. 17.º − como se disse, a intervenção da au-toridade nacional de intermediação opera a afirma-ção de uma reserva de soberania e permite aplai-nar efectivas dificuldades práticas eventualmente insusceptíveis de serem resolvidas apenas pelos tribunais; a não obrigatoriedade da colaboração com o tribunal de outro Estado recorda que, num determinado território, só as respectivas autorida-des podem praticar actos assistidos de protecção coactiva.

Daqui talvez se possa extrair que o legislador europeu não se apercebeu da contradição que in-troduziu no sistema ao não excluir expressamente a videoconferência do regime do art. 17.º.

Parece que, ao menos numa perspectiva do di-reito a constituir, deverá reservar-se o regime ver-tido neste preceito para as situações de deslocação de um tribunal a outro Estado, já que só assim se emprestarácoerênciaàvontadedeclaradadeapos-tar em meios mais expeditos e no contacto directo entre órgãos jurisdicionais.

Ao menos de iure condendo e por congruência com as finalidades visadas e princípios plasmados no Regulamento n.º 1206/2001, defende-se que a re-colha transfronteiriça de prova por videoconferên-cia possa ser organizada mediante mero contacto directo entre dois tribunais europeus (o requerente e o requerido) e que a obtenção da colaboração dos sujeitos processuais com a justiça seja coadjuvada pelos mecanismos coercivos de direito interno.

No presente contexto, perante um Estado que sustente a inclusão do uso da teleconferência no

contexto normativo do art. 17.º, talvez se possa preservar a lógica do sistema e garantir que o uso do mecanismo não acabe por se tornar num fenómeno residual, reconstruindo a pró-pria diligência, isto é, solicitando que seja o tri-bunal requerido a colocar as questões visadas, nos termos do art. 10.º. Num tal contexto, o(s) juiz(juízes) e os mandatários das partes do tri-bunal peticionante assistirão à diligência nos termos do art. 12.º e poderão, até, nela partici-par abrigo do disposto no n.º 4 deste preceito, nos moldes que o tribunal requerido entenda por bem definir.

D. CUSTASO Regulamento afirma o princípio de que a

execução de um pedido de cooperação transfron-teiriça na área da produção de prova não confere qualquer direito a reembolso de taxas ou custas − n.º 1 do art. 18.º.

Este princípio não é, porém, absoluto, já que é atingido pelas excepções enunciadas no n.º 2 de tal artigo, isto é, o apontado reembolso é devido se reclamado pelo tribunal requerido com a inten-ção de satisfazer honorários de peritos e intérpretes e de custear despesas emergentes da utilização de um particular procedimento adjectivo do direito interno do Estado requerente ou de um meio tec-nológico sofisticado, tal como a videoconferência. No que respeita a esta tecnologia, parece que esta despesa só surgirá quando o sistema não esteja pré---instalado para as diligências internas e tenha que ser obtido e configurado com vista ao específico acto de cooperação judiciária internacional.

Como se deixou já patente, poderá ser, ain-da, exigido um preparo, ou seja, a entrega de uma quantia antes da realização da diligência, com o fim exclusivo de viabilizar a obtenção da colabora-ção de um perito − n.º 3 do art. 18.º.

Lisboa, 21 de Fevereiro de 2006

Conselho Superior da Magistratura

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Ética Judicial – tendências e riscos– O Código-modelo ibero-americano de ética judicial

Sumário: 1. O Código-modelo ibero-ameri-cano de ética judicial; 2. A independência; 3. A imparcialidade; 4. A fundamentação; 5. O conhecimento e a formação permanente; 6. A Justiça e a equidade; 7. A responsabilidade ins-titucional; 8. A cortesia; 9. A integridade; 10. A transparência; 11. O segredo profissional; 12. A prudência; 13. A diligência; 14. A honestida-de profissional; 15. Epílogo.

Carlos Manuel Gonçalves de Melo MarinhoJuiz de Direito

Ponto de Contacto de Portugal da RedeJudiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial

O Código-modelo ibero-americano de ética judicial

Um conjunto de juízes e docentes universitá-rios de vários Estados da América do Sul e Central e da Península Ibérica que se vem reunindo sob a égide dos poderes judiciais desse espaço territorial prepara-separaapresentaràXIIICimeiraJudicialIbero-americana, a realizar na República Domini-cana no próximo mês de Junho, um documento intitulado Código Modelo Ibero-Americano de Ética Judicial.

Estetextoassumeimportânciatambémparanós porquanto Portugal é representado nesta Ci-meira pelo Conselho Superior da Magistratura e pelo Supremo Tribunal de Justiça e o referenciado documentopretendenãosóservirdeinspiraçãoàreconstrução dos códigos de ética já existentes mas tambémdeelementodeapoioàeventualcriaçãodenovos códigos nos poucos Estados que aí deles não dispõem.

É também um interessante mote para a refle-xão que nesta sessão de trabalho se pretende realizar, por permitir o contacto com conceitos e exigências queseapresentamcomotransversaisàcomunidadeinternacional e melhor repensar as soluções nacio-nais quer quanto aos conteúdos quer relativamente àprópriaenunciaçãoformalesuportematerialdasregras de conduta impostas aos juízes portugueses.

Entre os vinte e dois Países desta área geo-gráfica, quinze contam com códigos de ética. Só a Colômbia, o Equador, a Espanha, a Nicarágua, Portugal, a República Dominicana e o Uruguai não possuem Códigos de conduta.

No nosso País, como se sabe, as normas rela-tivas ao comportamento profissional dos juízes de direito estão vertidas no Estatuto dos Magistrados Judiciais (particularmente nos arts. 3.º a 7.º e 11.º a 14.º), entre preceitos assinalados por muitas outras finalidades e conteúdos, não sendo dado um trata-mentoautónomoediferenciadoàquestãodoen-quadramento do dever-ser da função de julgar.

Parece significativo e merecer particular des-taque o facto de os códigos vigentes na maioria dos Estados ibero-americanos terem sido aprova-dos pelos órgãos próprios do poder judicial, com a única excepção da Venezuela, que viu o seu Código de Ética y Disciplina del Juez Venezolano o Jueza Vene-zolana emanar da respectiva Assembleia Nacional. Estamos, pois, perante processos de auto-regulação e auto-limitação que se afigura poderem garantir a pureza da separação de poderes e a manutenção das necessárias fronteiras entre órgãos de soberania.

O Código Modelo assume-se como «compromisso institucional com a excelência e instrumento para fortale-cer a legitimação do Poder Judicial», visando construir o melhor juiz possível para as sociedades dos Esta-dos envolvidos.

A sua vertente ética brota do facto de o cum-primento das normas produzidas dever emergir da aceitação assente na imanência e no valor intrínseco dos preceitos, ou seja, de razões morais.

Através de textos desta natureza consegue-se não só rejeitar o juiz menos talhado para o exercício dassuasfunçõesmastambémobviaràcontempo-rização com a mediania, com o mero cumprimento burocrático e funcional do múnus de julgar. O juiz visado é um magistrado modelar, uma finalidade a atingir. Referencia-se o tema da ética judicial como instrumento de «apelo ao compromisso íntimo do juiz com a excelência e com a rejeição da mediocri-dade».

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Segundo os autores do projecto seria esta, até, uma forma de legitimação do judicial através da cla- rificação dos contornos e conteúdos do acto de jul-gar bem como da essência da função do julgador.

Nopreâmbulodotextoemapreçolembram---se as especiais exigências da função e patenteia-se que estas sempre seriam um fardo demasiado pesa-do para os ombros do cidadão comum, atentas as fortes limitações ao exercício de direitos, que com-portam. Neste contexto, o Código anuncia uma permanente tentativa de compatibilização entre os valores do juiz enquanto cidadão e enquanto titular de um poder com repercussão nos bens e interesses de pessoas concretas e da sociedade em geral.

Diversamente do que ocorre na área disciplinar e da responsabilidade civil e criminal, claramente voltadas para o passado, no domínio da ética faz-se a preparação e conformação do futuro e a construção da excelência.

A necessidade que o juiz tem, bastas vezes, de exercer poderes discricionários justifica, segundo os autores do documento, que, no momento de ava-liaroseudesempenho,designadamentecomvistaàdefinição das condições da respectiva progressão na carreira, não se recorra a meras regras jurídicas mas a verdadeiras normas éticas.

Destaca-se,ainda,a importânciadeumpro-jecto deste jaez enquanto elemento de «clarificação de condutas» ao distinguir entre as acções tidas como aceitáveis e as consideradas impróprias.

Reconhece-se que um Código de ética judi-cial pode servir, também, para fundar a exigência de meios para a formação permanente dos juízes e atribui-se-lhe a virtualidade de objectivar o concei-to de «excelência judicial».

Tal conceito é importante não só para os pró-prios juízes mas também para os cidadãos. Estes passam a poder avaliar eticamente a sua conduta e reconhecer a respectiva qualidade.

Pretende-se gerar uma «permanente e dinâ-micainterpelaçãoàconsciênciados(…)destinatá-rios» para um compromisso de elevação.

Confere-se ao poder judicial, por esta via, maior legitimidade para exigir de outras profissões ligadas ao seu desempenho uma performance equi-valente (magistrados do Ministério Público, advo-

gados, funcionários judiciais e até docentes univer-sitários).

Nos Estados em que já existem estes Códigos, são diversos os sistemas de afirmação dos seus pre-ceitos. Nalguns funcionam tribunais de ética que se limitam a declarar o desrespeito da norma deixando aos órgãos disciplinares a eventual fixação de san-ção. Noutros, as faltas éticas estão incluídas no pró-prio regime disciplinar aplicável pelos órgãos san-cionatórios competentes. Noutros ainda, a eficácia doCódigoédeixadaàmercêdavontadeindividualdos respectivos destinatários.

Qualquer que seja a opção, parece fundamen-tal a existência de um claro e abrangente sistema de princípios de conduta que auxilie os juízes a con-formar a sua acção e a objectivar a avaliação do seu desempenho nos Países em que tal avaliação exista.

A produção destas regras no quadro dos po-deres judiciais e com inspiração em conceitos in-ternacionais comuns emanados da troca de posições dos seus representantes garante que a separação de poderes e a independência dos tribunais não saiam beliscados do delicado processo de definição de um modelo de juiz.

Do Código Modelo Ibero-americano de ética judi-cial brotam importantes subsídios para a reflexão que hoje nos propomos realizar.

Os grandes pricípios de conduta aí assumidos são:

a) A independência;b) A imparcialidade;c) A fundamentação;d) O conhecimento e a formação permanente;e) A Justiça e a equidade;f) A responsabilidade institucional;g) A cortesia;h) A integridade;i) A transparência;j) O segredo profissional;k) A prudência;l) A diligência; em) A honestidade profissional.

A independênciaNa axilar área temática da independência re-

corda-se no articulado que esta não corresponde a

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um privilégio do juiz mas a um meio de garantia do Direito dos cidadãos a um julgamento isento, sujeito a regras jurídicas, logo não arbitrário nem influenciado por outros poderes públicos ou por interesses privados, e orientado para a salvaguarda dos Direitos fundamentais.

Sublinha-se, a este propósito, estar vedado ao magistrado judicial a participação, a qualquer título, em actividades político-partidárias. O fim manifestoéobviaràinstalaçãodevínculos,solida-riedades e fidelidades.

De tal forma se valoriza esta exigência que se lhe impõe o dever de denunciar qualquer tentativa de perturbação da sua independência e se lhe veda que, por qualquer forma, interfira com a indepen-dência dos seus colegas de profissão.

Exige-se ao julgador que exerça com modera-çãoeprudênciaopoderinerenteàfunçãojurisdi-cional.

A imparcialidadeA necessidade de imparcialidade é justificada

pelo Direito dos cidadãos a serem tratados pelos tribunais de forma igualitária, ou seja, não discri-minatória.

Define-se o juiz imparcial em função do seu empenho objectivo na recolha da verdade dos fac-tos,dasuaequidistânciarelativamenteàsparteseseus mandatários e da sua permanente negação do juízo prévio.

Impõe-se-lhe que se abstenha de intervir nas causas em que esteja comprometida a sua neutrali-dade ou em que exista a mera aparência de tal com-prometimento aos olhos de um observador «razo-ável» e, a montante, pede-se-lhe, sobretudo, que procure evitar as situações que o possam conduzir a ter que se afastar da causa.

Sublinha-se,aqui,aimportânciadatutelanãosó dos conteúdos mas também das aparências – o juiz deve ser imparcial e parecer sê-lo.

Proibe-se, a este propósito, o recebimento de presentes injustificáveis na perspectiva do já referido observador dotado de razoabilidade e bom senso.

Pede-se ao julgador, por esta razão, que procu-re não manter reuniões com uma das partes ou com os seus advogados, no seu gabinete ou, por maioria de razão, fora dele, em condições que as contrapar-

tes e seus mandatários possam, com razão, conside-rar injustificadas.

Para ser imparcial, o juiz deve respeitar meti-culosamente o princípio do contraditório e o exer-cício do direito de defesa em processo penal.

É por força do valor ético da imparcialidade que se espera do julgador que cultive a honestidade intelectual e a autocrítica.

A fundamentaçãoNo Código Modelo,eleva-seàcategoriadeprin-

cípio ético a necessidade de motivar as decisões face ao relevo que a fundamentação do acto decisório as-sume para legitimar a intervenção do juiz e garantir o controlo do seu poder bem como para assegurar o «bom funcionamento de um sistema de impugna-ções processuais».

Para este efeito, define-se motivação como a expressão ordenada, concisa, clara, despida de tec-nicismos desnecessários e conceitos difusos, das ra-zões juridicamente válidas, «aptas para justificar a decisão», ou seja, susceptíveis de gerar convenci-mento no espírito dos destinatários.

Impõe-se, nesta sede, quer a fundamentação de facto quer a de Direito, proscrevendo-se a mera invocação das normas aplicáveis. Espera-se que o juiz aborde todas as questões suscitadas quer pelas partes quer por outros juízes que se tenham debru-çado sobre a matéria.

Configura-se como residual, excepcional e sempre dependente de legislação prévia que a au-torize, a resolução judicial não fundamentada e sublinha-seaparticularimportânciadamotivaçãodas decisões privativas ou restritivas de direitos ou assentes em poderes discricionários.

Ainda neste quadro, recomenda-se que, nos tribunais colectivos, as deliberações e declarações de voto se concretizem «em termos respeitosos e dentro dos limites da boa-fé».

O conhecimento e a formaçãoA necessidade da adequada preparação técnica

e ética e de formação permanente é imposta ao juiz como princípio moral em virtude de se reconhecer aoscidadãosquerecorremaostribunaiseàsocieda-deemgeralodireitoà«qualidadenaadministraçãodajustiça».Estaexigênciaestende-senãoapenasàsdiversas áreas do Direito mas também a todos os

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domínios do saber susceptíveis de fornecer relevan-tes subsídios para a prolação de decisões marcadas pela excelência.

Sublinha-se a particular importância da for-mação nos domínios dos direitos humanos e da tu-tela dos valores constitucionais e impõe-se ao ma-gistrado judicial uma atitude activa no sentido da obtenção de preparação profissional bem como da colocação dos seus conhecimentos teóricos e práti-cos ao serviço do Direito e da Justiça.

A Justiça e a equidadeLembra-se que o fim último da actividade ju-

dicial é o de realizar a Justiça por intermédio do Direitoequeorecursoàequidadesejustificaemfunção da necessidade de afastar as consequências pessoais, familiares ou sociais, de carácter negativo, emergentes da abstracção e generalidade das leis, impondo-se ao juiz que, respeitando embora o Di-reitovigente,atendaàspeculiaridadesdoprocessoe o solucione apelando a critérios conformes com os valores subjacentes ao ordenamento.

Mais se apela a que o julgador, nas áreas assi-naladas pela discricionariedade, se oriente sempre por regras de Justiça e equidade e a que se sinta vinculado não apenas pelo texto das normas mas também pelas razões em que se fundamentam.

A responsabilidade institucionalErige-se como princípio ético a exigência de

que o juiz assuma um compromisso com o bom fun- cionamento de todo o sistema judicial e com a cons- trução de um clima de respeito e confiança na admi-nistração da Justiça indo, pois, além do mero cum-primento das suas estritas obrigações individuais.

Afirma-se, com pouco detalhe, a necessidade de o juiz responder voluntariamente pelas suas ac-ções e omissões. Claro está que este princípio tem que ser informado e limitado pela noção superior daimportânciadenãosecriarnuncaumclimadetemor que inviabilize a decisão livre e independen-te e de se deixar intocado o princípio estrutural da irresponsabilidade do julgador.

Apenas nas situações assinaladas por dolo ou culpa grave (conforme emerge do n.º 3 do art. 5.º do Estatuto dos Magistrados Judiciais) se pode, pois, equicionar a referida responsabilização.

No Código Modelo insta-se, até, o julgador a de-nunciar as faltas graves dos seus colegas de profissão e a evitar favorecer promoções e ascensões de carrei-ra irregulares e injustificadas de outros elementos do serviço de Justiça.

A CortesiaNo texto sob análise, declara-se que os deve-

res de cortesia são meios de exteriorizar respeito e consideração pelos colegas e pelas demais pessoas que acorrem aos tribunais, designadamente profis-sionais que perante eles exercem a sua actividade, e que o seu cumprimento contribui para uma melhor administração da Justiça.

Pede-se ao julgador que forneça as explicações e aclarações que lhe sejam solicitadas, desde que procedentes, oportunas e fundadas na lei e que, nas suas relações profissionais, designadamente com os funcionários judiciais, não aparente favoritismo ou arbitrariedade.

Mais se lhe exige que patenteie uma atitude tolerante e respeitosa perante as críticas que sejam dirigidasàssuasdecisõesecomportamentos.

A integridadeO modelo em apreço refere que a integridade

da conduta do juiz contribui para produzir a con-fiança dos cidadãos na judicatura.

Na definição dos respectivos contornos, colo-ca-se o acento tónico nos critérios de um observador razoável e nos valores e sentimentos predominantes na sociedade em que o magistrado se movimente.

Pressupõe-se que o juiz, ao abraçar a sua pro-fissão, esteja consciente de que a função jurisdicio-nalapresentaexigênciassuperioresàsimpostasaosdemais cidadãos.

A transparênciaNoquerespeitaàtransparência,espera-seque

forneça sempre informação útil, pertinente, com-preensível e fidedigna, documentando todos os seus actos e permitindo a respectiva publicidade. Tal é exigido sob a justificação da necessidade de se ga-rantir a justiça das decisões.

Mais se deseja que a sua relação com os meios de comunicação social se desenvolva com equidade e prudência, acautelando sempre os direitos e in-teresses legítimos das partes e dos seus advogados

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Dez.2006 - Boletim Informativo 225

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e evitando comportamentos susceptíveis de serem entendidoscomoassociadosàbuscainjustificadaoudesmedida de reconhecimento social.

O segredo profissionalEm matéria de segredo profissional, exige-se

que o juiz guarde reserva absoluta (mesmo na sua esfera privada) relativamente às causas pendentesperante si e aos factos ou dados apreendidos em vir-tude do exercício das suas funções ou por ocasião deste, ressalvando-se as excepções previstas na lei.

Mais se espera que tudo faça para evitar que o objecto do segredo profissional seja revelado pelos funcionários que consigo colaborem.

Cristaliza-se,nesteâmbito,aimportânciadosigilo das deliberações dos órgãos colegiais.

Consagra-se este princípio face ao valor que se atribuiàsalvaguardadosdireitosdaspartesperan-te o uso indevido de informações que lhes digam respeito.

A prudênciaA prudência, também elevada a princípio mo-

ral, é associadaàpermanente justificação racionaldosjuízos,aoinvariávelauto-controloeàinflexívelbusca da objectividade, aqui vistos como atribu-tos da personalidade do julgador. Espera-se do juiz prudente que os seus comportamentos, atitudes e decisões sejam o corolário de escolhas motivadas ra-cionalmente, após apreensão e valoração com aber-tura e paciência de todos os argumentos de distin-tos sinais, no quadro do Direito aplicável.

A diligênciaAo instituir-se a diligência como valor ético

pretende-seobviaràinjustiçainerenteàsdecisõestardias.

Reclama-se ao juiz que procure que os pro-cessos a si confiados sejam solucionados num prazo razoável, que actue de forma pontual e que evite e sancione os actos das partes que se apresentem comodilatóriosoucontráriosàboa-féprocessual.

Pede-se-lhe, especificamente, que não assuma obrigações que perturbem ou impeçam o tempesti-vo cumprimento do seu múnus.

A honestidade profissionalFinalmente, a honestidade de conduta é tam-

bém considerada requisito de relevo moral por se considerar imprescindível para fortalecer a confian-ça do cidadão na Justiça e prestigiá-la.

Acentua-seaimportânciadeojuiznãorece-berbenefíciossituadosàmargemdosquepor leilhe sejam atribuídos nem utilizar abusivamente os meios que lhe sejam confiados ou o trabalho dos seus colaboradores. Neste domínio, espera-se que se esforce por evitar o surgimento de quaisquer dúvi-das sobre a proveniência dos seus proventos e sobre a sua situação patrimonial.

EpílogoTalvez se possa comprimir parte substancial

das exigências descritas, no trinómio: 1. Verdade, 2. Distância Focal e 3. Imprevisibilidade. Sem a verdade – e a coerência a ela inerente – não há Justiça;semacriaçãodanecessáriadistânciaentreo observador e o objecto observado não há apreen-são da realidade; toda a decisão previsível por razões atinentesaopróprioJuizeàssuaspaixõesevíncu-los é iníqua.

Parece reclamável dos magistrados judiciais (e, quiçá, também, de outros agentes do Estado e dos profissionais que contribuem para a adminis-tração da Justiça) que patenteiem a virtude pública ou oficial que Montesquieu reputava indispensável para a existência de um «Estado Popular», ou seja, que prefiramo dever à conveniência, oDireito àforçaeaJustiçaàpopularidadeeaoêxito.

Porém, quer se equacione a aparentemente útil e adequada produção de códigos de conduta quer se perspectivem meras mudanças normativas na área dos deveres profissionais dos magistrados judiciais, cumpre a todos os juízes, enquanto defensores do direitodoscidadãosàJustiça,tersemprepresenteadelicadeza desta intervenção, que toca nos alicerces daprópriademocracia, opondo-se à aprovaçãoderegras «éticas» sem intervenção do poder judicial, assentesemdiagnósticose leituras inadequadosàrealidade ou enquadradas em projectos capazes de abalar a efectiva separação de poderes e a liberdade do acto julgar.

Lisboa, 20 de Abril de 2006

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V Encontro Transfronteiriço Hispano-PortuguêsZamora – Espanha

29 e 30 de Março de 2006

Questões práticas originadas pela aplicação dos Regulamentos Comunitáriosem matéria de cooperação judiciária civil

Carlos Manuel Gonçalves de Melo Marinho – Juiz de DireitoPonto de Contacto de Portugal da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial

SUMÁRIO: 1. O novo juiz comunitário; 2. A formação; 3. A mudança de protagonistas na colheita de prova transfronteiriça; 4. O proble-ma da videoconferência; 5. As leituras reduto-ras; 6. A audição da criança; 6.1. O direito de visita; 6.2. O rapto internacional de crianças; 7. O aproveitamento dos actos; 8. Epílogo

1. O novo juiz comunitárioFaceàculturadeisolamentoperanteoexterior

que ainda caracteriza os órgãos jurisdicionais euro-peus, ao menor peso numérico dos processos com conotações transfronteiriças e ao excesso de serviço confiado, por regra, aos juízes, o primeiro e mais importante problema com que nos defrontamos na área da cooperação judiciária europeia prende-se com uma realidade que ultrapassa o mero deficit de conhecimento das temáticas nela envolvidas e antes tem relação com a indiferença, o desinteresse e a ilusória noção de auto-suficiência.

Porém, julgar hoje não é mais um acto soli-tário e isolado. Ser juiz na Europa, nos nossos dias, no espaço comum de justiça que, após o Tratado de Amesterdão, se assumiu querer construir, é ser, em primeiro lugar, juiz comunitário e, só depois, juiz nacional.

O campo de intervenção do julgador euro-peu não é já o da sua circunscrição territorial; não é, também, o da respectiva Província, Região ou Estado e não coincide, tão pouco, com o País em que nasceu. A sua área de acção é, antes, cada vez mais, correspondente ao enorme espaço geográfico da União Europeia.

Nem a Dinamarca se poderá, a breve trecho, considerarexcepçãoaestadinâmica,faceàsuapau-latinaadesãoàcorrentecomum(vd.oAcordo entre a Comunidade Europeia e o Reino da Dinamarca relativo

à citação e à notificação dos actos, in Jornal Oficial da União Europeia, L 300, de 17.11.2005, pág. 55 e o Acordo entre a Comunidade Europeia e o Reino da Dina-marca relativo à competência judiciária, ao reconhecimen-to e à execução de decisões em matéria civil e comercial, in Jornal Oficial da União Europeia, L 299, página 62, de 16.11.2005).

A primeira actividade a desenvolver é, pois, antes de mais, construir um novo arquétipo de juiz, ou seja, alterar a postura do julgador perante a sua missão profissional. Depois, e só depois, se perfilam asquestõesrelativasàformaçãoespecíficaparain-tervireàsconcretasdificuldadestécnicasdeaplica-ção dos vários Regulamentos.

Esta referência afigura-se válida qualquer que seja o texto normativo comunitário que sirva de pretexto de análise. Por todos eles perpassa, de for-mamaisoumenospatente,anoçãodaimportânciade se contar com um juiz que confia na intervenção do seu homólogo do tribunal situado além-fron-teiras, que com ele comunica directamente, sem necessidade de entidades de intermediação, e que acolhe, com abertura, o revolucionário movimento de supressão do exequátur que se iniciou com a apro-vação do Regulamento (CE) n.º 2201/2003, do Conse-lho, de 27 de Novembro de 2003, na área temática do direito de visita e do regresso dos menores no rapto internacional de crianças, e que agora se pretende estender a várias áreas.

2. A formaçãoClaro que há, também, um longo caminho a

percorrer no sector da formação. Por vezes, ela não existe, sequer, a um nível elementar ou, noutros ca-sos, não atinge senão um grupo restrito de juízes. Continuam, por exemplo, a ser comuns as situações em que somos confrontados com pedidos de tri-

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bunais estrangeiros que pretendem fazer cumprir despachos ordenando a penhora de bens imóveis ou veículos, em sede de acções não abrangidas por qualquer supressão de procedimentos prévios de re-conhecimento, mediante mera transmissão da sua decisão.

Infelizmente, vários são os Estados-Membros que ainda não lograram, nestes domínios, reali-zar sistemática, universal e eficaz formação inicial e complementar de juízes e que não conseguiram criar sistemas que permitam extrair da Rede Judi-ciária Europeia em Matéria Civil e Comercial to-das as suas utilidades, designadamente colocando os Pontos de Contactos nacionais ao serviço da co-munidade judiciária e situando-os como elementos axilares do processo de transmissão de informação e partilha de conhecimentos.

A estas dificuldades de natureza global acres-cem problemas emergentes de específicos aspectos técnicos contidos nos Regulamentos produzidos neste domínio.

Analisemos alguns deles.

3. A mudança de protagonistas na colheita de prova transfronteiriça

Entre as linhas estruturais da mudança opera-da pelo Regulamento (CE) n.º 1206/2001, do Conse-lho, de 28 de Maio de 2001 conta-se, com merecido destaque, a mudança dos sujeitos do procedimento de cooperação, com claro esbatimento do papel das autoridades administrativas.

No encadeado normativo em referência, inter-vêm duas entidades com esta natureza: a) a auto-ridade central referenciada no n.º 1 do art. 3.º e b) a autoridade responsável pela tomada de decisões relativas aos pedidos de colheita directa de provas que poderá ser, nos termos do disposto no n.º 3 do mesmo artigo, a própria entidade central.

Porém,noqueserefereàprimeiraautoridade,o pedido de recolha de elementos instrutórios só ocorre com a sua intermediação em situações excep-cionais e nunca como regra, ao contrário, pois, do que acontecia na Convenção de Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil e Comercial, de 18 de Março de 1970 (designadamente nos seus artigos 1.º a 5.º). Tal emerge com clareza da al. c) do n.º 1 do art. 3.º.

A intervenção desta autoridade é, neste quadro,

de mera intercessão entre dois tribunais que, em condições normais, deveriam dialogar directamen-te entre si. Cabe ao julgador concluir, em função de uma específica necessidade de cooperação com que se confronte, pelo preenchimento de um parti-cular contexto fáctico que justifique esta mediação.

Quantoàsegunda,oconcursodasuaactivi-dade só ocorre quando se mostre necessário reunir condições para que o tribunal de um Estado-Mem-bro se desloque ao território de outro Estado da União para aí realizar colheita directa de prova.

Nas situações comuns, as entidades centrais de-sempenham uma simples actividade coadjutora lo- calizada fora do eixo comunicacional que se desen- volve entre juízes de distintos Países europeus, apenas fornecendo informações e buscando soluções práti- cas para problemas relativos a um concreto pedido.

Esta intervenção é, neste domínio, coincidente com a da própria Rede Judiciária Europeia em Ma-téria Civil e Comercial.

O esbatimento do papel das autoridades cen-trais é, aliás, uma constante em vários textos nor-mativos produzidos no quadro da nova dinâmicade cooperação gerada pelo Tratado de Amesterdão, de 2 de Outubro de 1997, e pelas Conclusões da Presi-dência do Conselho Europeu de Tampere, de 15 e 16 de Outubro de 1999.

Neste contexto, constitui vício que, por vezes, se mantém e que importa corrigir, o recurso exa-geradoenãojustificado,àsautoridadesdecentrais.

Tal resultará, certamente, do desconhecimento da nova lógica introduzida por este Regulamento e dehábitosinstaladosnoâmbitodoanteriorsistemade cooperação.

4. O problema da videoconferênciaOutra das grandes inovações deste Regula-

mento foi privilegiar-se o recurso aos mais recentes meios tecnológicos de comunicação, com vista a fa-cilitar-se a transmissão e a execução dos pedidos.

Porém, apesar desta tendência, colocam-se sérias e surpreendentes dificuldades quando em concreto se pretende utilizar a videoconferência na recolha de elementos instrutórios.

A primeira é de natureza física, já que boa parte dos Estados Europeus não dispõe, em absolu-to,destefulcralmeiodeapoioàcolheitadeprovatransfronteiriça nas jurisdições civil e mercantil,

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228 Boletim Informativo - Dez.2006

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(como ocorre com a Bélgica, a Itália e os novos Es-tados-membros). Alguns outros, como a Espanha, a França e o Reino Unido, apenas têm este sistema instalado em alguns tribunais. Uma situação existe, até, em que um dispositivo móvel tem que ser des-locado entre órgãos jurisdicionais, quando necessá-rio. É o caso da Holanda. Apenas Portugal instalou este sistema em todos os seus tribunais.

Este contexto gera uma particular necessida-de: a de se fazer o levantamento da disponibilidade deste meio tecnológico em toda a Europa.

Uma proposta neste sentido foi já apresentada pelo Ponto de Contacto de Portugal da Rede Ju-diciária Europeia em Matéria Civil e Comercial, tendo sido aceite pela Comissão Europeia. Estão, presentemente, em curso os trabalhos de concreti-zação deste projecto. O resultado final será lança-do no Atlas Judiciário Europeu em Matéria Civil (ao qual se poderá aceder através do endereço http://www,redecivil.mj.pt).

Vem sendo patenteado por alguns Estados, bem como pelo Pf. Luigi Fumagalli, da Universida-de de Milão, especialista nesta matéria, em reuniões de Pontos de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial, entendimento segundo o qual o uso da videoconferência corresponde a uma forma de colheita directa de prova, pelo que o mes-mo terá que ser intermediado por uma entidade do Estado requerido.

Assim parece ser, de facto, mas apenas no que sereportaàinquiriçãodirectapeloprópriotribunalrequerente, face ao disposto no art. 17.º do Regu-lamento.

De qualquer forma, a considerar-se válida esta concepção (aliás com clara expressão no n.º 12 do Formulário I), tem que se concluir que o texto em apreço introduziu no seu seio uma contradição susceptível de comprometer desnecessariamente o processo de cooperação. É assim porquanto nos de-paramos com duas arquitecturas que reciprocamen-te se anulam ou, ao menos, colidem.

De um lado, encontramos concepções estrutu- raisinovadoras,quesequissufragarematençãoàne- cessidade de agilizar, simplificar e instalar confiança, assentes na afirmação das regras da primazia do con- tacto não intermediado entre tribunais (com claro afastamento das autoridades centrais) e no uso inten-sivo dos meios de comunicação e intervenção mais

recentes. Do outro, deparamo-nos com particulares cautelas na colheita directa de prova que impõem a prévia intervenção de uma autoridade do Estado re-querido, não permitem automatismos e iniciativas de execução imediata e introduzem maiores limita-ções na própria disciplina instrutória.

Por exemplo, de acordo com a arquitectura que acabou por ter expressão no texto do Regula-mento, se um tribunal pedir a outro a inquirição de uma testemunha com convencional registo escrito do seu depoimento, esta é obrigada a comparecer e a prestar a sua colaboração nos termos previstos para qualquer diligência de direito interno, ao abrigo do estabelecido no art. 13.º. Se solicitar a sua audição com recurso ao meio mais expedito e acarinhado, ouseja,àvideoconferência,oelementoprobatórioterá que ser obtido numa base voluntária e com proscrição de qualquer forma de coerção, conforme resulta do n.º 2 do art. 17.º.

Em boa parte dos casos, esta configuração con-duzirá, previsivelmente, à total inviabilização dainiciativa (particularmente quando for assumido pelo cidadão que não é obrigatório comparecer nas sessões probatórias conduzidas por tribunais estran-geiros que envolvam o uso de videoconferência).

Quando se pensa na instrução transfronteiriça mediante recurso a este meio técnico, verifica-se que não se colocam os problemas físicos, organizacio-nais, jurídicos e de tutela territorial que emergem no quadro da deslocação efectiva de um tribunal ao território de outro Estado-Membro.

Só no quadro de tal deslocamento concreto se justificam as especialidades do art. 17. Aí sim, a inter- venção da autoridade nacional de intermediação ope-ra a afirmação de uma reserva de soberania, contribui para aplainar efectivas dificuldades práticas even-tualmente insusceptíveis de serem resolvidas ape- nas pelos tribunais envolvidos e recorda que, num de- terminado território, só as autoridades nacionais po- dem praticar actos assistidos de protecção coactiva.

Talvez se possa extrair do afirmado que o legis-lador europeu não se apercebeu da fragilidade que introduziu no sistema ao não excluir expressamente a videoconferência do regime do art. 17.º.

Parece que, ao menos numa perspectiva do direito a constituir, deverá reservar-se o regime vertido neste preceito para as situações de efectiva deslocação de um tribunal a outro País da União,

Conselho Superior da Magistratura

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jáquesóassimseemprestarácoerênciaàvontadedeclarada de apostar em meios mais expeditos e no contacto directo entre órgãos jurisdicionais.

De iure condendo e por congruência com as fi-nalidades visadas e princípios plasmados no Regu-lamento n.º 1206/2001, defende-se que a recolha transfronteiriça de prova por videoconferência possa ser sempre organizada mediante simples contacto directo entre dois tribunais europeus (o requerente e o requerido) e que a colaboração dos sujeitos pro-cessuais com a Justiça seja coadjuvada pelos meca-nismos coercivos de direito interno.

No presente contexto, e apenas enquanto sub-sistir esta limitação técnica, talvez se possa pre-servar a lógica do sistema e garantir que o uso do mecanismo não acabe por se tornar num fenómeno residual, reconstituindo a própria diligência, isto é, solicitando que seja o tribunal requerido a colocar as questões visadas, nos termos do art. 10.º. Num tal contexto, os juízes e os mandatários das partes dotribunalpeticionanteassistirãoàdiligêncianostermos dos arts. 11.º 12.º e poderão, até, nela parti-cipar abrigo do disposto neste artigos, nos moldes que o tribunal requerido entenda por bem definir.

5. As leituras redutoras Outro problema sério que se coloca neste do-

mínio reside no facto de, por vezes, a coberto da ac-tividade interpretativa se introduzirem limitações que retiram praticabilidade aos sistemas normati-vos criados. Estas leituras internas redutoras me-lhor seria que tivessem sido equacionadas e plena-mente analisadas durante o processo negocial pré-vioàaprovaçãodosRegulamentosjáqueacabampor retirar eficácia e viabilidade aos dispositivos de cooperação.

O Ponto de Contacto português recebeu, nos últimos dias, informação do seu homólogo do Reino Unido dando conta que as suas autoridades nacionais só aceitarão pedidos de colheita directa de prova por videoconferência se o tribunal reque-rente, andes de solicitar a realização da diligência, obtiver prévio assentimento da testemunha a ser interrogada. Esta tese determina que, para utilizar este meio, um tribunal português ou espanhol te-nha que localizar, pelos seus próprios meios, uma testemunha em território do Reino Unido, contac-tá-laetransmitiroresultadodessecontactoàau-

toridadebritânicanomomentoda formulaçãodopedido instrutório.

Estamos, manifestamente, perante a criação de regras ulteriores que desencorajam e afastam os potenciais utilizadores do sistema e que, não é difícil antever, inviabilizarão mesmo, em inúmeras situações, a realização da diligência instrutória em moldes não convencionais.

6. A audição da criança6.1. O direito de visitaPretende o Regulamento (CE) n.º 2201/2003,

do Conselho, de 27 de Novembro de 2003, relativo àcompetência,aoreconhecimentoeàexecuçãodedecisões em matéria matrimonial e de responsabili-dade parental que, após uma separação de progeni-tores, o menor possa manter relações com todos os titulares do poder paternal ainda que separados por fronteiras intracomunitárias.

Por tal razão, foi esta, justamente, uma das áreas em que se assumiu a solução pioneira de su-primir totalmente o exequátur, conforme emer-ge do n.º 1 do art. 41.º.

Daqui resulta não só a dispensa de apresen- tação de um pedido de reconhecimento mas, tam-bém, por razões lógicas, a impossibilidade de impug- nação do acolhimento do acto decisório estrangeiro. Este apenas terá que ser certificado pelo juiz de ori-gem recorrendo a um formulário anexo ao Regula-mento acompanhado da indicação de dados práticos necessáriosàboaexecuçãododecididoerespeitarexigências expressas de consideração pelo contradi-tório e pela necessidade de audição da criança.

É, justamente, neste domínio da audição da criança que se colocam particulares dificuldades. Por exemplo, no Direito português, o divórcio por mútuo consentimento é, desde o ano 2001, decre-tado pelo Conservador do Registo Civil sob fisca-lização do Ministério Público, com excepção dos casosemqueoacordotenhasidoobtidonoâmbitode processo de separação ou divórcio litigiosos. No contexto destes procedimentos, é possível ao Con-servador homologar também acordos relativos ao exercíciodopoderpaternal(ouàresponsabilidadeparental na terminologia europeia dominante).

Porém, não está previsto em tal procedimento qualquer mecanismo de audição dos menores aos quais se reportem estes acordos pelo que parece ter

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230 Boletim Informativo - Dez.2006

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que se concluir que qualquer destas decisões pro-feridas pelo Conservador não estará em condições de ser dispensada de exequáturnoquetangeàreali-zação coerciva das regras de exercício do direito de visita num contexto de litigação transfronteiriça.

Temos que concluir, perante este tipo de fragi-lidade, que os legisladores nacionais deverão reava-liar os seus regimes internos de forma a adequarem asregrasdeaudiçãodosmenoresàsnovasexigên-cias comunitárias.

Poderão, porém, ao menos enquanto subsistir o presente regime, conformar como bem entende-rem as condições de idade exigíveis. Não se espere, pois, aqui, um tratamento homogéneo a nível eu-ropeu. Conforme se patenteou no considerando 19 do mencionado Regulamento 2201/2003, a «audi-ção da criança desempenha um papel importante na aplicação do presente regulamento embora este instrumento não se destine a alterar os procedimen-tos nacionais aplicáveis na matéria».

Já não será assim relativamente aos conceitos gerais de capacidade de discernimento ou grau de maturidade, porquanto estes, por possuírem carác-ter aberto e assentarem numa avaliação psicológica casuística, terão que ser preenchidos, em cada situa-ção concreta, pelo próprio julgador.

6.2. O rapto internacional de criançasO art. 42.º do mesmo texto comunitário afir-

mou, da mesma forma, relativamente ao regresso da criança raptada, a abolição do exequátur.

Pretendeu-se, por esta via, garantir que a de-cisão da jurisdição de origem que ordene o regresso do menor, contrariando a de retenção assumida pelo tribunal de destino, seja rapidamente executada.

Suprimiram-se, assim, desnecessárias perdas de tempo e contradições processuais, tendo-se feito de- saparecer a possibilidade de impugnação (já que o acto judicial de acolhimento interno da decisão dei- xa de existir e, logo, de expor o flanco ao recurso).

Aqui, como no direito de visita, o juiz que pretenda fazer executar «extramuros» a sua senten-ça deverá ordenar a passagem de certidão conforme modelo anexo ao Regulamento (anexo IV). Só as «disposições sobre as medidas tomadas para assegu-rar o regresso da criança» carecem de tradução nos termos do estabelecido na al. c) do n.º 2 do art. 42.º e n.º 2 do art. 45.º.

O tribunal de origem poderá, se o considerar necessário, declarar a decisão executória indepen-dentemente da pendência de um recurso e ainda que a sua legislação nacional não o preveja − n.º 1 doart.42.º.Afinalidadeéevidente:obviaràim-pugnação judicial com objectivos meramente dila-tórios.

A emissão desta certidão não corporiza acto recorrível, face ao estabelecido no n.º 2 do art. 43.º. É, no entanto, susceptível de originar uma «acção derectificação»submetidaàsregrasdodireitoin-terno.

Num tal contexto, não é necessário reintrodu-zir um pedido de regresso em conformidade com as regras emergentes da Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Rapto Internacional de Crianças, de 25 de Outubro de 1980, bastando executar a decisão da jurisdição de origem.

Também aqui se assumiu como axilar a prévia audição da criança.

Neste domínio, é imperativo garantir que a decisão do tribunal competente antes do rapto do menor, ao ordenar o seu regresso afrontando a deci-são de retenção, tenha respeitado o seu direito a ser ouvido, conforme insofismavelmente exigido pela al. a) do n.º 2 do art. 42.º do texto comunitário sob referência.

Que se crie a oportunidade de o menor ser ou-vidonoâmbitodosprocessosquelherespeitemérequisito crucial do Regulamento. É, também, exi-gência pressuponente da abolição do exequátur em qualquer das suas duas vertentes. Só excepcional-mente, em função da idade ou da maturidade da criança, não se abrirá essa possibilidade.

Não se exige que o menor seja ouvido por um juiz, no quadro de uma audiência formal, pelo que serão os direitos internos a enquadrar formalmente a diligência.

Tal audição deverá pressupor a adequada pre-paração técnica dos profissionais nela envolvidos, ser realizada com discrição, em termos adaptados ao específico fim processual visado e ser concretiza-daemclimadeconfiançaajustadoàscircunstânciaspessoaisdomenore,emparticular,àsuaidade.

É fundamental, pois, neste contexto, asse-gurar, a nível legislativo interno, a adequação das normas a esta crucial exigência do novo Direito da Cooperação Judiciária na Europa.

Conselho Superior da Magistratura

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7. O aproveitamento dos actosOsRegulamentoseuropeusrelativosàcoope-

ração civil e comercial que prevêem a prática de ac-tos processuais com recurso ao auxílio de tribunais de outros Estados-Membros pretendem, claramen-te, instituir uma área de Justiça comum assinalada pela confiança mútua, celeridade, simplificação dos ritos processuais e aproveitamento dos actos prati-cados.

Quanto a este último ponto, cumpre salien-tar os regimes emergentes quer do já escalpelizado Regulamento 1206/2001 quer do Regulamento n.º 1348/2000, do Conselho, de 29 de Maio de 2000, relativoàcitaçãoeànotificaçãodosactosjudiciaise extrajudiciais em matérias civil e comercial nos Estados-Membros, recordando que, quer num quer noutro diploma, se afasta expressamente a possibi-lidade de mera devolução dos pedidos com funda-mento em argumentos formais ou na invocação da preterição de determinadas exigências materiais ou adjectivas. Veja-se, neste sentido, entre outros pre-ceitos, o que emerge do n.º 2 do art. 6.º do Regula-mento n.º 1348/2000 e do art. 8.º do Regulamento 1206/2001.

Não tem, consequentemente, qualquer justi-ficação, o procedimento ainda muito enraizado, de, faceàprimeirairregularidadeouomissão,seorde-nar, de imediato, a devolução do expediente.

O julgador, assumindo-se como juiz europeu, tudodeveráfazerpara,àluzdasfinalidadesquelhesão confiadas, aproveitar o esforço desenvolvido pelo tribunal de origem e auxiliar as partes a obterem Justiça pronta e célere. O processo que corre noutro Estado-membronãoé,aomenosfaceànovalógicade cooperação, de menor relevo, merecedor de me-nos atenção, oudotadode importânciamarginal.Ao gerar-se, nesses autos, uma específica necessida-de de auxílio judiciário, as tarefas emergentes para o juiz requerido integram-se, consequentemente, no eixo das suas actividades normais.

8. EpílogoO tema proposto para este importante encon-

tro de Conselhos e juízes de Países irmanados por uma longa história comum é um convite à pro-blematização, àbuscadedificuldades e àprocura

de soluções e caminhos de concretização das novas vontades de cooperação.

Porém, não gostaria de terminar esta inter-venção sem sublinhar que o auxílio mútuo entre Portugal e Espanha, nestes domínios, é exemplar não só pelo uso regular dos mecanismos normativos mas também pela permanente busca de eficiência na satisfação dos pedidos e pela cada vez maior ce-leridade no tratamento das pretensões, com espe-cial destaque para a intervenção amiga e pronta do Ponto de Contacto da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial no Consejo General del Po-der Judicial, D. Francisco Puig.

As dificuldades descritas não são, assim, refe-ridas por conexão com específicos problemas sen-tidos na cooperação entre os nossos Países. Corres-pondem, antes, a questões encontradas ao longo do tempo, no âmbito das relações comos diferentesEstados envolvidos neste ambicioso projecto co-mum.

A Espanha liga-nos, também, no domínio da cooperação judiciária, um conjunto de actividades que vimos desenvolvendo sob a égide da Cimeira Judicial Ibero-americana, com particular destaque (face ao que prometem e podem realizar) para os projectos e-justiça (em preparação) e Rede Ibero-ame-ricana de cooperação judiciária – IberRede (em execu-ção desde Outubro de 2004). Liga-nos, ainda, uma colaboração permanente, profícua e entusiástica no âmbito da Rede Judiciária Europeia emMatériaCivil e Comercial. Mais, prendem-nos os afectos e a proximidade que não é apenas geográfica.

Por tudo isto, pode-se dizer que, se a história comum é rica, o presente é fértil e o futuro risonho e promissor.

Carlos Manuel Gonçalves de Melo Marinho Juiz de Direito – Juge - Judge

Ponto de Contacto Português da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial e da IberRede

Point de Contact Portugais du Réseau Judiciaire Européen en Matière Civile et Commerciale et de l’IberRede

Portuguese Contact Point of the European Judicial Network in Civil and Commercial Matters and of the IberRede

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