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Boletim Técnico Nº 06 Uma Análise da Cadeia Produtiva de Cana-de- Açúcar na Região Norte Fluminense Referência: Abril/2002 Observatório Socioeconômico – um projeto do Consórcio Universitário de Pesquisa da Região Norte Fluminense Um Convênio: CEFET – UENF – UFF – UFRRJ – UNIVERSO

Boletim nº 06 - Embrapa · 2011-10-10 · Panorama do Setor sucroalcooleiro no Estado do Rio de Janeiro 30 7. Competitividade do complexo sucroalcooleiro 39 7.1 – Diferenciação

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Boletim Técnico Nº 06

Uma Análise da Cadeia Produtiva de Cana-de-Açúcar na Região Norte Fluminense

Referência: Abril/2002

Observatório Socioeconômico – um projeto do

Consórcio Universitário de Pesquisa da Região Norte

Fluminense

Um Convênio:

CEFET – UENF – UFF – UFRRJ – UNIVERSO

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Autor deste Boletim:

Hamilton Jorge de Azevedo

Engenheiro Agrônomo – UFRRJ

Equipe Técnica:

Romeu e Silva Neto

Coordenador dos Núcleos de Pesquisa – CEFET Campos

Ailton Mota de Carvalho

Professor do CCH – UENF

José Luis Vianna

Professor do Inst. de Ciências da Sociedade e Des. Regional – UFF

Hamilton Jorge de Azevedo

Engenheiro Agrônomo – UFRRJ

André Fernando Uébe Mansur

Coordenador do Curso de Administração - UNIVERSO

Estagiários:

Bruno Manhães Siqueira

Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos

Luciano Vasconcelos Fiúza

Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos

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Apresentação O Observatório Socioeconômico da Região Norte Flumine nse foi criado em 02 de janeiro de 2001, através de uma parceria estabelecida entre o NEED – Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento do CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos e a UNIVERSO – Universidade Salgado Oliveira (Sede Campos) representada pela Coordenação do Curso de Administração de Empresas. A partir de 02 de janeiro de 2002, também passaram a integrar e gerenciar o projeto do Observatório a UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense representada pelo CCH – Centro de Ciências do Homem, a UFF – Universidade Federal Fluminense representada pelo Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional e a UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeir o representada pelo Setor de Operações Agrícolas. Essas cinco instituições formam o Consórcio Universitário de Pesquisa da Região Norte Fluminense . Esse consórcio, atualmente, desenvolve dois trabalhos de pesquisa: O Projeto de Pesquisa intitulado Configuração do Mercado de Trabalho da Região Norte Fluminense: Mapeamento das Cadeias Produtivas e Alternativas de Geração de Empregos apoiado pela FAPERJ e o já mencionado Observatório Socioeconômico da Região Norte Fluminense.

O Observatório tem a finalidade principal de coletar, analisar e disponibilizar dados e informações que possam dar suporte à tomada de decisões de agentes públicos e privados e que auxiliem a concepção de políticas e estratégias municipais que venham a melhorar a qualidade de vida da população. Seus estudos estão direcionados para as áreas de emprego, renda, saúde, educação, habitação e saneamento dos municípios da Região Norte Fluminense: Campos dos Goytacazes, Macaé, São João da Barra, Quissamã, Conceição de Macabu, Carapebus, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e Cardoso Moreira. De forma complementar, o Observatório também monitora indicadores sócio-econômicos das principais cidades de cada uma das mesorregiões do Estado do Rio de Janeiro: Noroeste – Itaperuna, Serrana – Petrópolis, Lagos – Cabo Frio, Sul – Volta Redonda, e Metropolitana – Niterói, com a finalidade principal de verificar se uma eventual tendência regional também se apresenta nas demais regiões do Estado.

As fontes dos dados coletados são sempre oficiais para evitar problemas de credibilidade. Dentre essas fontes, destacam-se: RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego, DataSUS do Ministério da Saúde, INEP do Ministério da Educação, e CIDE do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Eventualmente, poderão ser utilizadas informações provenientes das prefeituras locais, ou de suas secretarias, desde que devidamente emitidas em documentos oficiais.

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Nossas Publicações:

O Observatório tem as seguintes publicações à disposição da comunidade no site do NEED/CEFET (www.cefetcampos.br/observatorio):

Boletim Técnico No. 1: A Evolução do Emprego Formal na Região Norte Fluminense: Um enfoque sobre Campos e Macaé.

Nota Técnica No. 1: A Razão entre o Emprego Formal e a População Total das Cidades de Porte Médio – uma referência para Campos e Macaé em relação ao Rio de Janeiro e ao Brasil.

Boletim Técnico No. 2: A avaliação da Qualidade do Emprego Formal na Região Norte e Fluminense: Um enfoque sobre Campos e Macaé.

Boletim Técnico No. 3: Investigação sobre o Perfil do Trabalho Informal em Campos: Um enfoque sobre os Trabalhadores de Rua (camelôs).

Nota Técnica No. 2: Um Estudo Comparativo entre a Qualidade do Emprego Formal e o Trabalho Informal na Cidade de Campos – Um enfoque sobre o Grau de Escolaridade e a Renda Mensal.

Boletim Técnico No. 4: O Perfil da Educação na Região Norte Fluminense: Ensino Infantil, Fundamental e Médio.

Boletim Técnico No. 5: Favelas/Comunidades de Baixa Renda no Município de Campos dos Goytacazes.

Endereço: CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos NEED – Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento Observatório Sócio-Econômico da Região Norte Flumin ense Rua Dr. Siqueira, Nº 273 Parque Dom Bosco – Campos dos Goytacazes – RJ CEP: 28.030-130

Telefone : (22) 2733-3255 Ramal 4229 / Site : www.cefetcampos.br/observatorio

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Sumário Pág.

1. Introdução 6

2. Panorama do setor sucroalcooleiro Nacional 9

3. O setor sucroalcooleiro no Brasil e sua relação com o Estado 16

4. Resumo histórico do setor canavieiro Brasileiro e a intervenção do Estado 17

4.1 – Período compreendido entre o descobrimento do Brasil a 1930 17

4.2 – Período compreendido entre 1930 a 1990 21

5. Resumo Histórico da Agroindústria no Estado do Rio de Janeiro 24

6. Panorama do Setor sucroalcooleiro no Estado do Rio de Janeiro 30

7. Competitividade do complexo sucroalcooleiro 39

7.1 – Diferenciação de produtos 40

7.2 – Diversificação da produção 41

7.3 – Especificação na produção de Açúcar e Álcool 42

8. Competitividade do Setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro 44

9. Conclusões 48

10. Bibliografia Consultada 49

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1 – Introdução

A região Norte Fluminense tem como uma de suas principais atividades econômica a indústria sucroalcooleira, tendo gerado no ano de 2000 cerca de 175 milhões de reais e cerca de 15.000 empregos diretos e indiretos. Essa atividade, entretanto, nas últimas três décadas vem passando por um processo de declínio em função de sucessivos planos econômicos, desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, dívidas em dólar assumidas pelas unidades produtivas na modernização das indústrias, fortes pressões competitivas impostas pelo mercado que exige produtividade e qualidade a custos cada vez menores e falta de matéria prima (cana) devido ao déficit hídrico característico da região. Em conseqüência desses acontecimentos, muitas unidades produtoras fecharam e muitas estão descapitalizadas sem condições de se auto-alavancarem. Pelo exposto não se pode esperar que estas empresas, trabalhando individualmente num mercado altamente competitivo e globalizado, possam se tornar competitivas com pequeno esforço. Assim um esforço conjunto torna-se necessário, participando empresas, governo, universidades, sindicatos e todas as entidades representativas, de forma a conseguirem as condições necessárias ao aumento de competitividade das empresas do setor na região. Além disso, estas empresas necessitam se articular entre si a fim de conquistarem as condições de competitividade como economias de escala, poder de barganha na compra e na venda, representatividade política, além de outros. Dessa forma este trabalho se propõe a avaliar os modelos de articulação entre os diferentes agentes acima citados de maneira a viabilizar a transferência de tecnologia para as empresas a fim de aumentar a sua competitividade. A escolha do estudo da cadeia produtiva sucroalcooleira se deu em função da sua grande capacidade de gerar empregos e renda na região, conforme citado anteriormente. O setor agroindustrial é um dos que possui melhor relação investimentos por empregos gerados. Estimativas do BNDES (1998) citado por Orioli et al. (1999), apontam que para cada R$ 1 milhão de investimentos neste setor são gerados 182 empregos. Para efeito comparativo observa-se que no caso da construção civil para cada R$ 1 milhão de investimentos são gerados 48 empregos. O estudo ainda revela que os custos por empregos gerados na agricultura irrigada são de aproximadamente R$ 26.500,00, muito menor do que em vários outros setores conforme podemos observar na tabela a seguir. Setores Custo (R$) Agricultura irrigada 26.500 Agricultura de sequeiro 37.000 Bens de consumo 44.000 Turismo 66.000 Telecomunicações 78.000 Indústria em geral 83.000 Indústria automobilística 91.000 Bens de capital 98.000 Pecuária 100.000 Metalurgia 145.000 Química 220.000 Tabela I.1 – Custo de emprego em diversos setores Fonte: MICT citado por Orioli et al.- 1999

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A agroindústria açucareira é a mais antiga atividade econômica do Brasil, está relacionada aos principais eventos históricos do país. O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de cana-de-açúcar do mundo, empatando com a Índia. É isoladamente o maior produtor de açúcar de álcool e o maior exportador mundial de açúcar. O produtor de açúcar mais competitivo do mundo atualmente é o Brasil. Segundo Waak e Neves (1998), as usinas mais eficientes no Brasil, tem um custo de produção de US$ 170,00 por tonelada de açúcar, contra uma média de US$ 190,00 no Estado de São Paulo. Os países concorrentes mais próximos do Brasil são a Austrália com um custo de produção de US$ 270/tonelada e a Tailândia com custo de US$ 310/tonelada. Os custos de produção do açúcar na Europa e nos EUA são superiores a US$ 500/tonelada, com a produção de açúcar fortemente subsidiada. Dos países cujo índice de auto-suficiência supera 100% e são concorrentes do Brasil no mercado exportador, destacam-se Austrália, Tailândia e Cuba. Em termos de desempenho recente no agrobusiness brasileiro o açúcar é um dos produtos de maior sucesso. Houve um salto na produção de açúcar nacional que passou de 7,8 milhões de toneladas na safra de 1985/86 para mais de 19,4 milhões de toneladas em 1999/00. Segundo Pinazza e Alimandro (2001) as exportações de açúcar do brasileiro a partir da safra 1995/96 saltou de 8% para 30% do total comercializado no mercado internacional. A cadeia de produção sucroalcooleira tem como principais produtos e subprodutos da cana-de-açúcar a água de lavagem, o bagaço, folhas e pontas e o caldo. Desses a água de lavagem pode ser usada para produção de biogáz e fertirrigação. O bagaço é utilizado para produção de energia (vapor/eletricidade), combustível (natural, briquetado, peletizado, enfardado), hidrólise (rações, furfural, lignina), polpa de papel, celulose e aglomerados. As folhas e pontas podem ser usadas como forragem e as mesmas aplicações do bagaço. O caldo tem como uso mais nobre em ordem de importância a produção de açúcar, álcool melaço e outras fermentações. Os principais produtos e subprodutos do álcool são o etanol, a vinhaça o gás carbônico, o óleo de fúsel, recuperação de leveduras. O principal uso do etanol por ordem de importância no Brasil é o de combustível veicular, indutor de octanagem, solvente etc. Dentro da alcoolquímica o etanol pode ser usado na forma desidratada para produção de etileno, PEVC, polietileno, poliestireno, óxido de etileno (sulfactantes, poliésteres e glicóis) e na forma desidrogenada para produção de acetaldeído que por sua vez entra na produção de crotonaldeído (butanol, octanol), ácido acético (anidro acético, acetatos), vários outros (ácido panacético, pentaeritritol etc.). Como gás carbônico é usado na produção de gelo seco, bicarbonato de amônio. Como óleo de fúsel é usado na produção de álcoois amílico, isoamílico, propílico, etc. Na recuperação de leveduras pode ser usado na fermentação alcólica e na nutrição animal. Já os principais usos produtos e subprodutos do açúcar são o consumo do açúcar direto, a indústria sucroquímica produzindo glicose, frutose, ácido oxálico, polióis (solventes e polióis), glicerina, ácido levulínico, ácido arabiônico, sorbitol, manitol, sacarose e derivados (octobenzoato, acetato, isobutirato, ésteres graxos, octacetato, et,), sucralose. Além dos produtos anteriormente citados existe fermentações diversas produzindo acetona butanol, álcool dacetona, difenol propano, metil metacrilato, além de fermentações finas como antibióticos, ácidos orgânicos, vitaminas, ênzimas industriais, aminoácidos, e insumos biológicos.

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A descrição anterior dos produtos e subprodutos da cadeia sucroalcooleira tem a finalidade de mostrar a ampla potencialidade do complexo, pois poderão vir a ser uma importante alternativa estratégica para o setor. A abordagem econômica mais tradicional centra o seu foco na concorrência entre empresas de um setor econômico. No estudo das cadeias produtivas, conforme proposto neste estudo, a análise possibilita uma visão integrada de setores que trabalham e forma inter-relacionada. Ao se trabalhar em um nível intersetorial, análise de agrupamentos dá especial relevância às diferentes formas de interdependência entre os setores, Hauguenauer e Prochinik (1998). Os mesmos autores definem uma cadeia produtiva de forma simplificada, como uma seqüência de setores econômicos, unida entre si por relações significativas de compra e venda, havendo uma divisão do trabalho entre estes setores, cada um realizando uma etapa do processo. A cadeia produtiva sucroalcooleira já foi bem definida por diversos autores, dentre os quais podemos destacar Hauguenauer e Prochnik (2000) e Waack e Neves (1998). Dessa forma não foi dada muita ênfase, neste estudo, a delimitação da cadeia produtiva propriamente dita e sim na interação regional do setor sucroalcooleiro na cadeia produtiva canavieira global, visando estabelecer pontos fracos e potencialidades a serem desenvolvidas. A seguir é apresentado um fluxograma da cadeia produtiva sucroalcooleira segundo Waack e Neves (1998).

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8SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA CANA-DE-AÇÚCAR

PRODUÇÃO PRÓPRIA

PRODUÇÃO DE TERCEIROS

USINA

AÇÚCAR

ÁLCOOL

SUBPRODUTOS

VHP

SUPERIOR

ESPECIAL EXTRA

EXPORTAÇÃO TRADINGS

IND. ALIMENTOS (MENOR QUALIDADE)

REFINARIA

INDÚSTRIA SUCROQUÍMICA

IND. ALIMENTOS (MAIOR QUALIDADE)

REFINARIA EMPACOTAMENTO

EXPORTAÇÃO TRADINGS

REFINARIA DISTRIBUIÇÃO

DISTRIBUIÇÃO

CONSUMIDOR FINAL

CONSUMIDOR FINAL

IND. ALIMENTOS

DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR FINAL

ANIDRO

HIDRATADO

NEUTRO

INDÚSTRIA COMBUSTÍVEIS ALCOOLQUÍMICA

INDÚSTRIA TRANSFORMAÇÃO

DISTRIBUIÇÃOCONSUMIDOR

FINAL

INDÚSTRIA COMBUSTÍVEIS

INDÚSTRIA QUÍMICA

INDÚSTRIA TRANSFORMAÇÃO

DISTRIBUIÇÃOCONSUMIDOR

FINAL

INDÚSTRIA ALIMENTOS COSMÉTICOS QUÍMICA

FARMACÊUTICA

INDÚSTRIA TRANSFORMAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR FINAL

VINHAÇA

LEVEDURA

BAGAÇO

GÁS NATURAL

DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR FINALFERTILIZANTES

IND. ALIMENTOS

IND. RAÇÃO ANIMALDISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR

FINAL

DISTRIBUIÇÃOCONSUMIDOR

FINAL

COMBUSTÍVEL (CALDEIRAS VAPOR)

COGERAÇÃO ENERGIA

INDÚSTRIA PAPEL E CELULOSE COMPENSADO

INSUMOS

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2 – Panorama do Setor Sucroalcooleiro Nacional

O Brasil é o maior e mais eficiente produtor de açúcar e álcool do mundo. Num

mercado efetivamente livre e com economia globalizada estaríamos livres para crescer e proporcionar ao país um número cada vez mais significativos de empregos e divisas, bens fundamentais para o fortalecimento da economia de qualquer nação, Carvalho (2001, a).

Entretanto o chamado livre comércio globalizado, é extremamente distorcido e antiético, onde os países mais ricos do mundo pregam livre comércio, explorando os mercados alheios, e em contraposição protegem os seus mercado interno de todas as formas. O setor sucroalcooleiro tem grande importância econômica e social no Brasil desde o seu período colonial. A cadeia produtiva brasileira da cana de açúcar tem, segundo Carvalho (1997), uma grande dimensão, quando analisado segundo o conceito dos recursos financeiros que movimenta a cada safra. Na safra 96/97 a cadeia produtiva movimentou em insumos modernos (agrícola e industrial), produção agrícola, industrial, comercialização e impostos cerca de R$ 10 bilhões, sendo que R$ 0,82 bilhões em insumos modernos, R$ 2,86 bilhões na produção agrícola, R$ 1,19 bilhão na produção industrial, R$ 2,12 bilhões na comercialização e R$ 2,80 bilhões em impostos. O setor sucroalcooleiro nacional gerou em 2000, cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos, sendo 613 mil empregos diretos e 966 mil empregos indiretos, distribuídos por quase todos os estados brasileiros. Na tabela 1 é apresentado o número de empregos gerado pelo setor (PNAD/IBGE/DPE/DEREN, 1996). Na Tabela 2 é apresentado o nível de escolaridade do trabalhador no setor sucroalcooleiro para as diferentes categorias, ou seja na produção da cana, do álcool e do açúcar, segundo dados do PNAD/IBGE (1996). É surpreendente observar as diferenças de nível de escolaridade das distintas categorias do setor. Na categoria produções de cana, 39 % dos trabalhadores têm menos de um ano de instrução; no setor industrial esse percentual fica entre 11 e 13 %. Todavia o nível de escolaridade de modo geral é baixo. Subsetor Emprego Regiões Total

N NE CO SE S

Cana 2.043 249.600 12.072 194.781 52.270 510.766 Álcool 205 25.007 1.219 19.349 5.247 51.027 Açúcar

Direto

204 24.950 1.207 19.381 5.240 50.982 Subtotais 2.452 299.557 14.498 233.511 62.757 612.775 Cana 290 36.809 6.162 58.289 14.180 115.730 Álcool 1.831 155.497 20.865 189.828 43.663 411.684 Açúcar

Indireto

236 213.432 13.896 182.999 27.684 438.274 Subtotais 2.357 405.738 40.923 431.116 85.527 965.688 Total 4.809 705.295 55.421 664.627 148.284 1.578.436

Tabela II.1 – Número de empregos gerados pela cadeia produtiva da cana de açúcar no Brasil e regiões

Fonte: IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001

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Sem instrução e menos de 1 ano

1 a 3 anos

4 a 7 anos

8 a 10 anos

11 a 14 anos

15 anos ou mais

Total

Cana 39 31 25 4 1 0 100 Álcool 13 11 31 14 23 8 100 Açúcar 11 17 35 17 16 3 100 Tabela II.2 – Nível de escolaridade dos empregos diretos no setor sucroalcooleiro

em anos de estudo, valor percentual. Fonte: PNAD, IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001 São processados anualmente, cerca de 270 milhões de toneladas de cana no Brasil para produção de açúcar e álcool (anidro e hidratado). Para isso são cultivados 5 milhões de hectare nas regiões Nordeste e Centro-Sul. A título de exemplo, a produção cana álcool e açúcar do Estado de São Paulo, que representa hoje em torno de 60 % da produção de nacional, tem uma eficiência de produção entre 20 e 30 % maior que o mais eficiente produtor mundial de álcool e açúcar de cana, que é a Austrália. Os demais países produtores de açúcar de cana, beterraba ou frutose de milho estão ainda mais distantes e em condições normais, não tem condições de competir com o Brasil. A alta eficiência de produção alcançada pelo produtor brasileiro vem de uma longa tradição na produção de cana e açúcar (cinco séculos), esforço conjunto em pesquisa (setor privado e governo), criando novas variedades resistentes a pragas e doenças, maior teor de sacarose e aclimatadas a diferentes tipos de solo e condições climáticas, numa evolução que tende a se acelerar com o advento do projeto genoma da cana-de-açúcar. Outro fator importante neste contexto é o fato do país produzir açúcar e álcool, o que permite flexibilidade associada a uma grande capacidade de produção, o que torna a qualidade do nosso açúcar insuperável. Através do desenvolvimento de um terceiro produto, que é a co-geração de energia elétrica por meio do bagaço de cana, a nossa competitividade terá um crescimento ampliado. A capacidade nacional de expansão da cultura da cana-de-açúcar é muito grande, e após o grande crescimento da produção de álcool e da pesquisa, nas últimas três décadas, a cana entrou no cerrado brasileiro, o que permite vislumbrar uma área teoricamente potencial de cultivo de mais de 70 milhões de hectares, segundo Carvalho (2001, a). Hoje o Brasil não possui nenhuma restrição para a produção de álcool e açúcar, a intervenção do Estado foi eliminada ao longo da década de 90, não mais existindo obstáculos para produzir álcool e açúcar. Com a desregulamentação do setor, qualquer empresário está livre para produzir, em condições onde nenhuma outra cultura é mais rentável, mesmo nas condições mais adversas de mercado. Com todas essas condições favoráveis, quando ocorre uma alta internacional do preço do açúcar, há uma rápida expansão da produção de açúcar, o que ocasiona excesso do produto quando a demanda diminui, não dando para evitar a superprodução e seus efeitos danosos para o setor. Esses movimentos de alternados de produção e de preço do produto são estruturais, e não é a toa que o Estado sempre controlou rigidamente esse setor. Como não é possível eliminar facilmente esse fenômeno, há que se trabalhar para estabelecer um equilíbrio entre produção e demanda. Segundo Carvalho

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(2001) isso pode ser possível via auto-regulação do setor e, principalmente, pela abertura de novos mercados. No mercado internacional nenhum produto é tão protegido quanto o açúcar, tanto no número de países que o praticam como as diferentes formas em que é praticado, tais como subsídios a produção e exportação, cotas, barreiras fitossanitárias etc. Os maiores mercados consumidores, tais como EUA, Japão, União Européia, é impossível entrar com o produto livremente. Os valores do custo de produção nos EUA, União Européia e Japão chegam a mais de três, quatro e seis vezes, respectivamente, ao do preço internacional, sendo os custos desses países altamente subsidiados. Esses mercados devem ser conquistados a todo custo. É inadmissível que a abertura do comércio internacional não se dê com a inclusão do açúcar, onde o país é competitivo e tem condições de globalizar, em vez de ser globalizado, como é em tantas outras áreas. A derrubada dessas barreiras comerciais só se dará no âmbito da Organização Mundial de Comércio e não serão obtidas em curto prazo, exigindo negociações bastante complexas. Enquanto isso não é factível em curto prazo, a ampliação do mercado do álcool é a opção que se têm, tanto na forma de combustível carburante (álcool hidratado), como aditivo para oxigenação de gasolina (álcool anidro). Além do Brasil e dos EUA (maiores produtores mundiais de álcool etanol), há indicativos que mostram a posição dos diferentes países e seus mecanismos para a viabilização do etanol como aditivo da gasolina. Existe hoje uma crescente adesão do Canadá e Suécia para carros a álcool ou carros flexíveis, movidos a álcool e gasolina em diferentes proporções. Recentemente o Japão decidiu substituir o MTBE (Metil Tercil Butil Éter, aditivo da gasolina) pelo etanol. Hoje exista um otimismo em relação aos rumos que estão tomando o mercado do álcool, imaginando-se que num curto espaço de tempo o etanol possa a vir transformar-se numa commodity internacional. Os efeitos danosos de aditivos usados comumente na gasolina, como o MTBE, derivado do petróleo considerado cancerígeno e poluidor dos lençóis freáticos pela Agencia de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, além de questões ambientais ligadas à necessidade da redução do efeito estufa dão relevância ao etanol pelos seguintes motivos: o etanol é um produto biodegradável, ajuda a diminuir a poluição local pelo resultado de redução das emissões da gasolina e do poder de reduzir a poluição global uma vez que, o produto (álcool etanol) e o processo de produção (álcool de cana), contribui para a diminuição do efeito estufa, ao substituir combustível proveniente do petróleo e seqüestrar carbono da atmosfera. A produção de cana, álcool e açúcar no Brasil passaram por grandes mudanças nas últimas três décadas. Com a criação do Proálcool nos anos 70 houve uma grande expansão na sua capacidade produtiva. De 1975 a 1987 houve um veloz crescimento na produção de cana, o que pode ser observado na Figura 1, onde é apresentada a evolução da produção de cana, em mil toneladas, entre as safras 70/71 e 00/01. Observa-se também que em meados dos anos 90 houve um novo salto na produção de cana, com o setor já se reacomodando a desregulamentação do setor.

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PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01

258.

50031

0.04

9

315.

641

302.

169

285.

664

251.

346

240.

869

216.

963

223.

991

228.

791

222.

163

223.

410

221.

339

224.

496

227.

873

224.

364

202.

765

197.

995

166.

753

153.

858

148.

651

138.

899

129.

145

120.

082

103.

173

91.5

2595

.624

91.9

9495

.074

79.5

9579

.753

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

1970

/71

1971

/72

1972

/73

1973

/74

1974

/75

1975

/76

1976

/77

1977

/78

1978

/79

1979

/80

1980

/81

1981

/82

1982

/83

1983

/84

1984

/85

1985

/86

1986

/87

1987

/88

1988

/89

1989

/90

1990

/91

1991

/92

1992

/93

1993

/94

1994

/95

1995

/96

1996

/97

1997

/98

1998

/99

1999

/00

2000

/01

Safras

Can

a-de

-açú

car

(100

0 T

M)

Gráfico II.1 - Evolução da produção de cana-de-açúcar no Brasil entre as safras 71/72 à 00/01 Fonte: Datagro 2000, número 24, citado por http://www.udop.com.br

No Gráfico II.1 é apresentada a evolução de produção de álcool (hidratado e anidro em m3). Observa-se que a partir da década de 80 a produção de álcool hidratado teve um crescimento vertiginoso estabilizando-se entre 1990 e 1998, a partir da qual a produção começou a diminuir. Segundo Pinasa e Alimandro (2001), o carro movido a álcool representava em 1988, 90% das vendas no mercado interno. Desde os meados dos anos 80, a não correção dos preços de energia no país, inclusive do álcool, gerou desequilíbrio entre a oferta e a demanda, pela estagnação da oferta. No caso do setor sucroalcooleiro, mesmo sem exportar, houve o problema das faltas localizadas de álcool, pela limitação de matéria prima e pelo crescimento da demanda. Surgiu uma crise de abastecimento doméstico de álcool. O episódio deixou seqüelas. A indústria automobilística reduziu seus projetos de pesquisa e desenvolvimento do carro a álcool e consumidor caiu na desconfiança. A participação das vendas de veículos a álcool no total teve queda súbita. No período Collor houve uma retomada das vendas dos carros a álcool, chegando a 20% do total comercializado ao mês. Após 1994 as vendas despencam para 1% ao mês. Nos anos 90 a produção de álcool era elevada e com a queda de venda de veículos a álcool, o governo decretou uma lei em 1993, que fixou em 22% a mistura do álcool anidro à gasolina, o que compensou em parte a queda do consumo de álcool hidratado.

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13

PRODUÇÃO DE ÁLCOOL ANIDRO E HIDRATADO 70/71 a 00/01

252

390

389

306

217

233

300

1.77

7

2.09

6

2.71

2 2.10

4

1.41

3

3.55

0

2.46

9

2.10

2 3.20

8

2.16

8

1.98

3

1.72

6

1.34

1

1.30

9

1.98

4

2.21

6

2.52

3

2.86

7

3.04

0

4.60

0 5.68

9

5.69

2

6.13

4

5.99

0

385

223

292

260

409

323

364

293

395 67

1

1.60

2

2.75

0 2.27

4

5.39

2

7.15

0

8.61

2

8.33

8 9.47

4

9.97

8

10.5

57

10.4

74

10.7

68

9.47

0

8.77

4 9.82

5

9.63

1

9.63

4

9.72

0

8.23

6

6.93

4

4.94

1

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

1970

/71

1971

/72

1972

/73

1973

/74

1974

/75

1975

/76

1976

/77

1977

/78

1978

/79

1979

/80

1980

/81

1981

/82

1982

/83

1983

/84

1984

/85

1985

/86

1986

/87

1987

/88

1988

/89

1989

/90

1990

/91

1991

/92

1992

/93

1993

/94

1994

/95

1995

/96

1996

/97

1997

/98

1998

/99

1999

/00

2000

/01

Safras

Álc

ool (

1000

m3)

Álcool Anidro Álcool Hidratado

Gráfico II.2 - Evolução da produção de álcool anidro e hidratado no Brasil entre as safras de 70/71 à 00/01. Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.

A produção de álcool hidratado nacional representa ainda cerca de 25% do total de cana esmagada, que se convertida em açúcar, fariam o preço internacional do açúcar ter uma brusca queda. O preço internacional do açúcar sofreu muita pressão nos últimos 5 anos, em virtude da maior exportação brasileira de açúcar. Recentemente (1999), o excesso de produção de álcool trouxe uma brusca queda nos preços, pois com a desregulamentação do setor, o Estado não mais entrevêem na determinação de preços e quantidades a ser produzida. No Gráfico II.2 são apresentadas a evolução da produção brasileira de automóveis a álcool, entre os anos 1979 e 1999, bem como a relação percentual entre a produção de automóveis a álcool e a produção de automóveis a álcool mais a gasolina. Observa-se pela figura, que a produção de veículos a álcool atingiu em 1986 o seu maior valor com 619,9 mil veículos, o que representou 76,4% da produção nacional de automóveis. Atualmente a produção de veículos a álcool alcançou em 1999 a marca de 10,2 mil veículos, em função do estímulo dos baixos preços do álcool, o que representou cerca de 0,9% da produção.

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14

PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS À ÁLCOOL

3,3

239,3

120,9

214,4

549,6

496,7 5

73,4

619,9

388,3

493,0

345,6

71,5 128,9

163,1 227,7

120,2

32,6

6,4

1,1

1,2 10,2

0,9

%

0,1

%

0,1

%

0,4

%2,5

%

9,7

%

20,9

%

20,1

%

18,3

%

10,8

%

47,4

%

63,1

%

58,9

%

76,4

%

75,9

%

74,0

%

75,1

%

34,5

%

20,6

%

25,6

%

0,4

%

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

Anos

Aut

omóv

eis

à á

lcoo

l (m

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ícul

os)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

% (

Álc

oo

l/Á

lco

ol+

Gaso

lina)

Veículos a álcool % Álcool/Gasolina+Álcool

Gráfico II.3 – Evolução da produção de automóveis à álcool e a relação percentual entre veículos à álcool e veículos à gasolina mais à álcool.

Fonte: ANFAVEA – Anuário Estatístico da Indústria Brasileira 2000 e Anuário da Agencia Nacional de Petróleo 2001.

Segundo a análise de Pinazza e Alimandro (2001), uma combinação de alta de

preços nos derivados de petróleo com excesso de produção interna de álcool pode fazer com que a estrutura de preços relativos favoreça o consumo de álcool carburante. Sendo o que aconteceu de julho a dezembro de 1999, quando houve um pequeno aumento de 400 para 1700 unidades nas vendas de carro a álcool, um indício de que, se o preço da gasolina no mercado interno se mantiver em ascensão, a retomada das vendas de carros movidos a álcool hidratado será uma hipótese plausível. A elevação do consumo interno criaria condições para a implantação do livre mercado. Segundo os mesmos autores, quando o preço do álcool representar cerca de 75% do valor da gasolina, cria uma indiferença no consumidor em relação ao seu consumo.

Entre os anos 1975 1990, enquanto a produção cana e de álcool tiveram um crescimento significativo, a produção de açúcar teve incrementos de produção bem menores (Gráfico II.3). A partir de 1995/96 houve um surpreendente aumento de produção de açúcar, cuja comercialização foi voltada principalmente ao mercado externo. Segundo Pinazza e Alimandro (2001), nesse período a participação do açúcar brasileiro no mercado internacional saltou de 8% para 30% do total comercializado. Esse brusco crescimento da exportação de açúcar se deu num período de queda de preços no mercado internacional. A crescente oferta brasileira afetou a cotação externa da commodity.

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PRODUÇÃO DE AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01

5.07

05.

081

5.92

6

6.68

0

6.67

36.

017

6.85

1

8.30

6

7.47

66.

980

7.84

47.

912

8.84

3

9.08

6

8.84

9

7.81

98.

157

7.98

3

8.07

0

7.30

17.

365

8.66

59.

249

9.32

6 11.6

96 13.2

35

13.4

6714

.845

17.9

61

19.3

80

15.7

00

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

1970

/71

1972

/73

1974

/75

1976

/77

1978

/79

1980

/81

1982

/83

1984

/85

1986

/87

1988

/89

1990

/91

1992

/93

1994

/95

1996

/97

1998

/99

2000

/01

Safras

Açú

car

(100

0 T

M)

Gráfico II.4 - Evolução da produção de açúcar no Brasil entre as safras 70/71 à 00/01 Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.

No Gráfico II.4 é apresentado o percentual de conversão em açúcar do total de cana colhida no Brasil entre as safras 70/71 a 00/01. Observa-se pela figura, que na década de 70 o percentual de cana usada para produzir açúcar era maior que 80%, passando de 30 a 35% entre os anos de 85 e 95 e subindo a mais de 43% a partir de 1998, sinalizando a opção do produtor pelo açúcar que estava com seus preços mais favoráveis a comercialização que o álcool.

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% DE CANA CONVERTIDA EM AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01

82%

83%

83% 87

%

86%

86%

86%

76%

63%

54%

55%

53%

47%

40%

36%

28% 31

%29

%

29%

27%

27% 29

%

32% 33

%

35% 38

%36

%

36% 43

%

46%

45%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1970

/71

1972

/73

1974

/75

1976

/77

1978

/79

1980

/81

1982

/83

1984

/85

1986

/87

1988

/89

1990

/91

1992

/93

1994

/95

1996

/97

1998

/99

2000

/01

Safras

Por

cent

agem

de

açúc

ar

Gráfico II.5 - Percentagem de cana convertida em açúcar das safras 70/71 à 00/01. Fonte: Datagro 2000 número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.

3 – O Setor Sucroalcooleiro no Brasil e sua Relação com o Estado

O Sistema Agroindustrial da cana-de-açúcar teve seu desenvolvimento histórico, atrelado à participação do Estado na definição de políticas agrícolas e industriais e de grupos econômicos atuando junto ao Estado, buscando acumular privilégios ou melhorar sua posição em relação aos concorrentes. Dessa forma, o Estado participou do setor como parceiro na regulação ou na atuação em diferentes graus. Existe uma relação direta entre a evolução histórica e os condicionantes culturais de uma sociedade. Esta formação enseja uma determinada relação entre o Estado e o desenvolvimento econômico de uma nação. Na realidade, o conceito de Estado é uma convenção acordada pela população, organizada segundo suas formas de representação, que elege procedimentos e rotinas que visam atingir um determinado nível de bem-estar (BELIK et al. 1998). Durante os últimos 70 anos o Sistema Agroindustrial sucroalcooleiro brasileiro é marcado pela intervenção do Estado e em virtude dessa mediação, o setor sofreu transformações no padrão tecnológico e na distribuição espacial desta cadeia agroindustrial. A estrutura produtiva influenciada pela ação do Estado permanece muito diferenciada entre as regiões Nordeste e Centro-Sul do país. Entretanto a partir dos anos 90, houve uma inversão nessa tendência, diminuindo rapidamente essa interferência do Estado no setor, com a desregulamentação e com a saída do governo na atividade de financiamentos, subsídios, estímulo e controle da produção e comercialização. O setor sucroalcooleiro historicamente apresentou problemas de auto-regulação. Assim o Estado e seu papel mediador foram fundamentais para

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elaboração de um projeto comum. Com a redução da intervenção do Estado sobre o setor, o mesmo não tem conseguido se emancipar de uma forma unida em interesses constituídos. Dessa forma surgiu um grande número de interesses fragmentados, refletindo um enorme conjunto de alternativas estratégicas que se apresentam para as diferentes empresas atuantes no setor. Segundo BELIK et al. (1998), é nesse ponto que se observa que as empresas ganham dinamismo e o panorama do setor canavieiro começa a apresentar uma nova face. No caso brasileiro as mudanças institucionais observadas são evidentes e se intensificaram a partir da segunda metade dos anos oitenta. No plano político, há um processo de democratização e aumento da transparência por parte do governo como um todo. Na esfera econômica, entretanto, é que ocorrem as maiores mudanças. Com a crise fiscal e o fim das formas de regulação baseada no poder central, os grupos setoriais organizados e os que conseguem se organizar conseguem se sobrepor à retirada do Estado estabelecendo alguma forma de auto-regulação. Para setores cuja prática de organização ainda era incipiente ocorre uma fratura entre os diversos interesses e uma contínua perda de capacidade de formulação de políticas. Em outras palavras, os interesses constituído do setor protegido e controlado pelo Estado são enfraquecidos e terminam relativamente desarticulados. Nesta situação acaba se impondo a lógica do mais forte e do maior poder econômico. 4 – Resumo Histórico do Setor Canavieiro Brasileiro e a Intervenção do Estado 4.1 – Período compreendido entre o descobrimento do Brasil a 1930 A atividade agroindustrial canavieira constitui-se na mais antiga atividade econômica do Brasil. A cana-de-açúcar chegou ao Brasil logo após o seu descobrimento em 1532, com a expedição de Martim Afonso de Souza, por ordem do rei de Portugal Dom João III, para dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. Segundo CASTRO (1995), o primeiro engenho de açúcar do Brasil foi construído em 1533 por Martim Afonso de Souza com a fundação de vila de São Vicente em São Paulo. Esse engenho é reconhecido por muitos historiadores como o primeiro engenho do Brasil e denominou-se de São Jorge, ainda que outro de nome São João, também figure como construído na mesma época e na mesma região (1533). O Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias em 1534, a partir daí a cultura canavieira se expandiu com o desenvolvimento de todas as capitanias. A Capitania de Pernambuco, pertencente a Duarte Coelho, foi onde se implantou o primeiro centro açucareiro do Brasil impulsionado pelos seguintes aspectos: a solos e clima favoráveis à cultura da cana, situação geográfica mais próxima da Europa em relação à região de São Vicente SP, outro centro iniciador de produção de açúcar do Brasil Colonial e eficiência e do donatário na condução da cultura. Muitas das capitanias Hereditárias fracassaram inicialmente na introdução da cultura da cana em virtude dos conflitos com os índios, do desinteresse de muitos donatários e dos altos custos da estrutura necessária para a produção da cana e do açúcar. Somente as Capitanias de Pernambuco e São Vicente, pertencentes a Duarte Coelho e Martim Afonso de Souza, respectivamente, conseguiram criar um sistema de produção eficiente, dispondo de ajuda financeira de grupos mercantis estrangeiros. Conforme descrito por CASTRO (1995), a cultura da cana nesta fase tem por objetivo a produção lucrativa da Colônia para o mercado externo. Assim a

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implantação da cultura da cana-de-açúcar se dá via Capitanias Hereditárias e mesmo com o insucesso do empreendimento, a metrópole resolveu promover a produção de açúcar iniciada e bem sucedida em Pernambuco a partir da criação do Governo Geral, em 1548, e sua implantação em 1549, dessa forma, prosseguindo com a política expansionista da cultura da cana e produção de açúcar no Brasil. A fundação da cidade de Salvador em 1549 assinalou o início da expansão açucareira no Brasil. O Governo Geral estabeleceu a paz entre os índios e a ocupação do solo nos recôncavos desta Capitania respondeu de modo produtivo e a tríplice providência adotada pelo rei de Portugal para encorajar e orientar o aumento produção açucareira: isentou por 10 anos de todas as taxas o açúcar exportado, enobreceu o proprietário do engenho numa elite agrícola em “senhor do engenho” e estabeleceu para os plantadores de cana, que ainda não tinham moenda própria, à regalia de as beneficiarem num lugar coletivo mediante uma cooperação tão equilibrada que em pouco tempo muitos lavradores pobres se tornaram donos de fábricas. Essas medidas foram muito eficazes e o progresso da indústria açucareira foi espantoso no fim do século XVI. Na Bahia, onde os indígenas haviam destruído os primeiros engenhos, a produção de açúcar começou após 1550. A ilha de Itamaracá em 1565 já produzia açúcar. Alagoas teve seu primeiro engenho por volta de 1575. Em Sergipe iniciou a produção da cana-de-açúcar a partir de 1590. Na Paraíba, a primeira tentativa da introdução da cultura da cana foi em 1579, na Ilha de Restinga, fracassada pela invasão de piratas franceses na região. A implantação definitiva da cultura da cana na Paraíba surgiu com seu primeiro engenho em 1587. No Pará, os primeiros engenhos foram instalados pelos holandeses, possivelmente antes de 1600. O primeiro engenho português no Pará começou a funcionar entre 1616 e 1618. Tanto no Pará, quanto no Amazonas, os engenhos desviaram sua produção para aguardente, em vez de açúcar. A fabricação de açúcar no Ceará começou em 1622, mas logo substituiu o açúcar pela fabricação de aguardente. No Piauí a cultura da cana foi implantada em 1678. Em 1698, no Rio Grande do Norte, já havia um engenho em atividade. Os Estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas, e Paraíba, o açúcar simbolizava status, prosperidade e riqueza, pois a agroindústria açucareira custeava todos os gastos e cobria todas as necessidades da Capitania (CASTRO, 1995). Enquanto nas Capitanias do norte e nordeste brasileiro a industria do açúcar prosperava, na região das Capitanias de São Tomé (Rio de Janeiro) e de São Vicente (São Paulo) mais distantes dos portos e da Europa tinham menor importância e menor facilidade de exportação que as indústrias nordestinas. Assim a evolução da industria açucareira do Sul foi muito mais lenta. Em função dessa situação, durante quase um século, as capitanias do Sul tiveram um crescimento inferior aos do Nordeste, particularmente em relação à Capitania de Pernambuco que teve nesse período grande prosperidade. Essa prosperidade, entretanto declinou, após o inicio da produção de açúcar nas Antilhas e no Suriname pelos holandeses, que levaram o sistema de produção aprendidos no Brasil após a sua expulsão, passando a fazer forte concorrência com o açúcar do Brasil, visto que os holandeses tinham muitos contatos de distribuição do produto, serem hábeis comerciantes além de estarem mais próximos da Europa, o que os transformou em grandes produtores rapidamente. A partir daí o nosso açúcar perdeu seu principal mercado e o Brasil deixou de ser o principal produtor mundial. A situação tornou-se mais crítica em 1690, com a escassez de moedas metálicas, toda drenada para Portugal, e em 1694 quando das descobertas das minas de ouro atraíram a mão de obra agrícola de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.

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Este período foi considerado como a que marcou a primeira grande crise na indústria açucareira no Brasil e delineou o início da complexidade da atividade açucareira dependente do comportamento da produção e do mercado mundial. A situação só começou a melhorar em 1775, com a guerra de independência dos Estados Unidos (1775/1776), que privou a Inglaterra de seu mercado tropical da América e o Brasil passou a suprir esta falta. Além disso, a produção de açúcar da América Central e das Antilhas foi prejudicada por agitações políticas e revoluções civis levando à independência dessas Colônias européias. O comércio mundial do açúcar nesse período havia crescido bastante e os holandeses já tinham mais domínio sobre o mesmo. Os produtores brasileiros souberam tirar proveito dessa situação e já na segunda metade do século XVII voltaram a ser os maiores produtores mundiais de açúcar, voltando a expandir a indústria e devolvendo o bem estar e o progresso às áreas açucareiras no nordeste, com reflexo em todo o país. A indústria açucareira nacional nesta época, também se beneficiou por acontecimentos históricos, tais como a abertura dos portos em 1808 e a independência em 1822. Essa recuperação, entretanto, não teve longa duração, pois o setor continuava com um baixo nível técnico de produção e com centros consumidores distantes. Outro problema que ocorreu entre os anos 1802-1814 foi a descoberta do processo de produção de açúcar a partir da beterraba açucareira por cientista alemão, incentivado de Napoleão Bonaparte. Como a beterraba açucareira pode ser produzida em clima frio, houve grande expansão do seu cultivo na Europa e Estados Unidos no século XIX. Assim o Brasil perdeu novamente sua liderança da produção mundial. Esse fato levou a nova crise no setor açucareiro que tentou contornar o problema no mercado interno, que na época era muito fraco, pois além de pouco numerosa, a população tinha uma baixa capacidade de consumo. A indústria açucareira incorporou inovações tecnológicas importantes que melhorou muito o seu desempenho, logo após a independência do Brasil em 1822. No início do século XIX o setor adotou engenho movido a vapor. Cabe ressaltar que o setor açucareiro passou por várias inovações tecnológicas ao longo de sua história, sendo esta uma de suas características, a fácil e rápida incorporação de novas técnicas e equipamentos ao seu processo de produção. A utilização do vapor no setor ocorreu entre 1830 e 1870, o que impulsionou a indústria a um grande desenvolvimento. Em 1870 ocorre uma revolução tecnológica no mundo, e no Brasil os “senhores de engenho” a aristocracia do império, lançam-se ávidos em buscas dessas inovações. Nessa época as ferrovias e os consórcios ferrovia-indústria revolucionam o transporte da cana para a indústria, permitindo ampliar a área operacional das indústrias. Desenvolveu-se também a empresa de comercialização trabalhando junto à indústria, permitindo o industrial atuar na agricultura, na indústria e na comercialização. Aparecem neste período unidades maiores de produção, promovendo uma concentração de renda e de competição, onde as mais fortes eliminam com mais facilidade os concorrentes, reduzindo o número de empresas, porém aumentando a produção global. Outra mudança ocorrida neste período foi a melhoria de padronização do produto, visando atender as necessidades do consumo urbano emergente, uma vez que havia nessa época um acelerado crescimento urbano ocidental e conseqüentemente, uma facilidade e atingir maior número de consumidores nas cidades. Em 1888 ocorre a abolição da escravatura, porém nessa época os engenhos já haviam incorporado todas as inovações tecnológicas do setor ocorridas no

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mundo, e com a abolição, passou a contar com os recursos financeiros necessários a compra e manutenção de escravos. Uma nova fase na indústria açucareira brasileira surgiu com o aparecimento dos “Engenhos Centrais”, precursores das atuais Usinas de Açúcar. Assim inaugura-se em 12 de setembro de 1877 na então província do Rio de Janeiro, o primeiro Engenho Central do Brasil, denominado Engenho Central de Quissamã. Nesse novo tipo de empreendimento havia parceria entre indústria processadora e fornecimento de matéria prima pelo agricultor. Havia amplas e modernas aparelhagens de tecnologia aperfeiçoadas para melhor rendimento. Como devido a uma série de fatores o açúcar brasileiro não conseguia participar do mercado internacional, o governo brasileiro, a exemplo de outros países, adotou uma política de proteção da agroindústria canavieira. Assim, motivado pela grande crise mundial de 1929, o governo cria em 1933 o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), com o objetivo de estabelecer regras de economia dirigida ao setor sucroalcooleiro. Essa fase se desenvolveu até março de 1990, quando o governo do então presidente Fernando Collor de Melo resolveu extinguir o IAA, transferindo algumas de suas atribuições a Secretaria e Desenvolvimento Regional (SDR), onde o Estado permanece controlando apenas as diretrizes básicas do setor. Segundo CASTRO (1995), a legislação brasileira específica do setor sucroalcooleiro desde o período das Capitanias Hereditárias até 1931 com a criação da Comissão de Defesa da Produção de Açúcar (CDPA), e da criação do IAA, em 1933, mostram a presença do Estado na coordenação na disciplina do setor e pode ser resumida conforme segue: 1. O Regimento do Governo Tomé de Souza: O Regimento do Provedor Mor da Fazenda do Brasil; O Regimento dos Provedores da Fazenda do Brasil. Todos expedidos na data de 17 de dezembro de 1548. 2. A Provisão datada de 1 de novembro de 1681 determinando providências para montagem de engenhos de açúcar e proibindo a instalação de fábricas do gênero em distâncias menores que 1500 braças umas das outras. 3. A Carta Régia de 17 de janeiro de 1697 dispondo sobre os preços do açúcar. 4. O Regimento datado de 1 de abril de 1751, criando as Casas de Inspeção do Brasil. 5. O Alvará de 13 de maio d 1802, determinando que não se construíssem novos engenhos de açúcar no Brasil sem prévia licença do Governador da Capitania, etc... 6. Lei de 5 de novembro de 1827, que extinguiu as mesas de inspeção do açúcar. 7. Lei de 13 de novembro de 1827, que declara livre a qualquer pessoa levantar engenhos de açúcar em suas terras sem depender de licença prévia.

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4.2 – Período compreendido entre 1930 e 1990 A partir de 1827, foram adotadas apenas medidas casuísticas e de

emergência, até 1931, quando o decreto número 20761 criou a Comissão de Defesa da Produção Açucareira. Essa comissão fixou preceitos disciplinares das safras, da circulação do produto com destaque dos contingentes definidos como intralimites e os considerados extralimites com tratamento fiscal diferenciado. Logo depois os decretos números 22789 e 22981 ambos de 1933, criando o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) A ação do Estado aprofunda-se a partir dos anos trinta, assumindo o caráter de uma intervenção acentuada, buscando administrar conflitos que foram surgindo no interior do complexo e, portanto ela constitui-se num elemento da história do mesmo. Entre outros aspectos dessa intervenção, cumpre destacar que ela se efetiva também pelo mecanismo das “cotas de produção” e pela administração de preços. Assim quem quisesse adentrar o complexo sucroalcooleiro tinha que obter um cota abandonada ou inativa, já que, de maneira geral, era proibida a formação espontânea de unidades produtoras. Assim, ter acesso a uma cota outorgada pelo Estado passou a ser imprescindível para viabilizar os investimentos no complexo. O IAA estabeleceu o controle de preços em função da concorrência entre São Paulo e Nordeste e das relações conflituosas entre usineiros e fornecedores de cana. Na década de quarenta, houve uma formidável expansão do número de usinas. Isso foi impulsionado pelo surgimento e constituição de um grupo empresarial que passou a fabricar carregadeiras de cana, moendas e caldeiras. A inter-relação estabelecida entre os grupos Dedini e Ometto facilitou essa expansão, assim como pelo surgimento, em 1953, do Grupo Zanini, que logo passou a ser controlado pela Família Biagi, que já era usineira. A produção do Estado de São Paulo era comercializada no mercado interno. As exportações ficavam por conta da produção Nordestina e eram gravosas. Assim o Estado cobria a diferença de preços em favor dos exportadores. Segundo BELIK et al. (1999), as exportações de açúcar foram importantes para São Paulo quando da Revolução Cubana, a qual permitiu a sua entrada no mercado norte americano. Na década de cinqüenta houve um grande crescimento da produção no Estado de São Paulo, caracterizado pela concentração técnica e pela busca de terras de melhor fertilidade e localização. Isso ajuda a entender porque a integração de capitais sempre foi grande em São Paulo. Com a criação da Copersucar no final dos anos cinqüenta, como resultado da união de duas cooperativas regionais que haviam sido criadas no início da década, reforçou ainda mais a integração do complexo paulista, cuja atuação inicial foi marcada pela comercialização centralizada dos produtos de suas usinas integrantes, já que até aquele momento o açúcar não se caracterizava por ser um produto que permitisse alguma diferenciação. Em termos de importância, o álcool residual, que era produzido em destilarias anexas, ocupava sempre o segundo plano, a tal ponto que os usineiros preferiam comercializar o melaço ou exportá-lo, em vez de produzir álcool. Tais fatos indicam que no setor sucroalcooleiro, as economias de diversificação sempre foram pouco aproveitadas pelos capitais do complexo. Assim se considerarmos o período compreendido entre os anos trinta e oitenta, somente o bagaço da cana era aproveitado como combustível para ser queimado nas caldeiras. Outras economias de integração existiam, mas foram quase sempre mal aproveitadas e, ou de pouca importância econômica.

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Outro fato que impulsionou a expansão da produção de açúcar nos anos cinqüenta, foi o programa de erradicação dos cafezais das terras paulistas, o que possibilitou o aparecimento de novos fornecedores de cana e de novas usinas. Entretanto isso só veio a agravar uma situação já prevista desde o final dos anos cinqüenta, que era a de uma produção de açúcar superior à demanda do mercado interno e que só não foi mais crítica na época devido às exportações para o mercado preferencial norte americano. Em decorrência disso, aumentou-se os problemas internos em São Paulo, o que exigiu ações e legislações específicas por parte do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Antevendo a possibilidade de grande aumento nas exportações de açúcar do Brasil, o IAA criou o Fundo Especial de Exportação (FEE) em 1965. Tal fundo não teve grande importância até o final dos anos sessenta. Porém com a contínua elevação de preços entre 1966 e 1973 e com sua triplicação entre esse ano e a metade de 1975, o FEE passou a ser um novo e fundamental instrumento de expansão do complexo. A criação do FEE permitiu uma expansão diferenciada, uma vez que passou a beneficiar de maneira desigual os capitais do complexo sucroalcooleiro, pois implementou um programa baseado na idéia de que as fábricas com baixa capacidade de produção eram economicamente inviáveis e deveriam ser fechadas e, ou incorporadas. Dessa forma, permitiu-se uma concentração técnica, já que a concentração econômica havia acontecido na primeira metade da década de 70. Quanto à produção agrícola, permitiu-se a concentração técnica de duas formas: a primeira permitindo que os fornecedores mais fortes absorvessem e, ou ocupassem mais abertamente as suas possibilidades produtivas, por meio da incorporação de cotas de fornecedores menores; segundo onde as próprias usinas incorporaram essas cotas. Justificou-se na época essas ações uma suposta otimização das economias de escala na produção agrícola e industrial. Com a grande queda do preço do açúcar no final de 1975 os produtores brasileiros foram pegos de surpresa, que os expôs ao problema de uma capacidade de produção superdimensionada, uma vez que o setor sucroalcooleiro planejou executou ampliações visando comercializar grande parte da produção de açúcar no mercado externo. Apesar desses problemas circunstanciais, um novo fato exógeno beneficia novamente os produtores: ocorre a primeira grande alta dos preços do petróleo, que serviu de justificativa para uma nova ajuda estatal tanto para o as empresas já operavam no mercado como para as que adentraram no complexo naquele período (final dos anos setenta, início dos oitenta). Numa primeira fase., o financiamento do Proálcool1, permitiu a montagem e ampliação das destilarias anexas às usinas, para a produção exclusivamente de álcool anidro e numa segunda fase, a montagem de destilarias autônomas para a produção de álcool hidratado2. O Proálcool ganhou apoio quase unânime com o segundo choque do petróleo em 1979, tendo sido montados um grande número de destilarias em regiões que não tinham nenhuma tradição e qualificação. Com essas medidas o Estado reforçou a característica estrutural, anteriormente apontada, ou seja, a de

1 Excluíam a montagem de destilarias com o uso de máquinas e equipamentos importados para incentivar a

produção interna de máquinas e equipamentos. 2 O álcool anidro é adicionado à gasolina e o hidratado é usado para mover motores do ciclo Otto.

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concentração econômica, já que as destilarias eram praticamente auto-suficientes no abastecimento de cana. Em menos de cinco anos, novos produtores e os tradicionais expandiram e constituíram unidades com recurso público quase a fundo perdido, levando-se em conta que o processo inflacionário brasileiro acelerou-se a partir do início dos anos oitenta. O Estado viabilizou uma produção alternativa para a maior parte das empresas que já atuavam no setor, minimizando os efeitos temporais dos baixos preços do açúcar e dos altos preços do petróleo. É importante ressaltar que na época as avaliações realizadas apontavam para um cenário pessimista para o comportamento futuro dos preços do petróleo, estimando que o preço do barril no ano dois mil chegaria a US$ 50. Como isso não aconteceu, o preço reverteu sua tendência já a partir de 1985, ainda quando estavam maturando boa parte dos investimentos feitos durante o auge do Proálcool (1979 e 1980). Além do exposto anteriormente, ressalta-se que a partir dos anos oitenta houve uma crise nas finanças públicas aliadas ao problema inflacionário, desaconselhando a continuidade do apoio ou subsídios. Assim, tornou-se muito difícil justificar a continuidade do apoio ao Proálcool numa conjuntura de preços de petróleo em queda e de inflação fortemente ascendente, o que aconteceu notadamente a partir do final de 1985.

Acrescentando-se a isso, o IAA já vinha sendo ameaçado de extinção desde essa época. Sem aporte financeiro e sem meios outros de sustentação, a sua extinção parecia uma questão de tempo. A extinção acabou acontecendo em 1990 no governo de Fernando Collor de Melo e as dívidas contraídas pelos produtores com a instituição, foram assumidas pelo Banco do Brasil e pelo Tesouro Nacional.

Segundo CASTRO (1995), durante o período de 1933 a 1990 o IAA institucionalizou o regime de economia dirigida no setor açucareiro nacional e surgiu a partir daí, uma tão numerosa documentação que para não tornar extremamente longa, resumiram-se as mais importantes conforme segue:

1. Decreto lei 3855 de 21/11/41: Promulgaram o estatuto da lavoura canavieira; 2. decreto lei 4722 de 22/09/42: Declara a indústria alcooleira de interesse

Nacional e da outras providências; 3. Decreto lei 4733 de 23/09/42: Conferiu competência ao IAA para fixar cotas

de fornecimento de cana; 4. Decreto lei 9827 de 10/09/46: Instituiu novas regras sobre o sistema

contingenciamento da produção; 5. Decreto lei 25174-A de 03/07/48: adota medidas de estímulo a produção

alcooleira para fins carburantes; 6. Lei 4071 de 15/06/62: Dispõe sobre o pagamento de cana; 7. Lei 4870 de 10/12/65: Dispõe sobre o regime de cotas mensais de produção,

etc.; 8. Lei 5654 de 14/05/71: Dispõe sobre a produção açucareira no país, etc.; 9. Decreto lei 1186 de 27/08/71: Institui estímulos a fusão, incorporação e

relocalização de usinas, com a finalidade de propiciar a modernização do parque industrial, estabelecendo que a relocalização deve ficar condicionada a cota mínima de 400 mil sacos;

10. Decreto lei 1266 de 26/04/73: Dispõe sobre o fundo especial e exportação criado pela lei de 01/12/65;

11. Criação do Proálcool em 1975: Programa destinado a produção de álcool para fins carburante;

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12. Ato IAA número 13/83 e 32/89 de 21/04/83 e 28/08/89: Estabelece regras para o pagamento de cana pelo teor de sacarose no Estado de São Paulo;

13. Ato IAA número 26/83 de 22/06/83: Estabelece regras para o pagamento de cana pelo teor de sacarose no Estado do Rio de Janeiro;

14. Ato IAA número 48/83 de 27/09/83: Estabelece regras para o pagamento de cana pelo teor de sacarose no Estado de Alagoas;

15. Ato IAA número 55/83 de 18/10/83: Estabelece regras para o pagamento de cana pelo teor de sacarose no Estado de Pernambuco;

16. Medida provisória número 154 de 15/03/90: Dentre outras providências, extingue o IAA transferindo suas principais funções para a Secretaria do Desenvolvimento Regional. O Sistema Agroindustrial Sucroalcooleiro entrou a década de noventa com redução do nível de intervenção governamental nas atividades e mostra-se uma tendência. Embora isso não signifique que o setor tenha sido totalmente abandonado, muito menos que os produtores tenham deixado de solicitar apoio, os produtores, industriais, trabalhadores e lideranças políticas do setor revelam maior conscientização quanto à necessidade de se organizarem efetivamente na definição de prioridades e reivindicações. É um setor antigo com vícios arraigados que as recentes mudanças no ambiente estão tratando de eliminar rapidamente (WAACK & NEVES, 1998). 5 – Resumo Histórico da Agroindústria no Estado do Rio de Janeiro A história da agroindústria canavieira do Estado do Rio de Janeiro, de certa forma, ocorreu de forma similar ao do Brasil, porém com suas peculiaridades especificas. Assim, a partir de 1534 o território do Brasil foi dividido em capitanias hereditárias, ainda que este sistema tenha fracassado na introdução da produção de açúcar, na região que hoje conhecemos por Estado do Rio de Janeiro, dois aspectos marcantes são assinalados pelos historiadores como resultado de seu esforço colonizador: 1. Foram lançadas as bases para a ocupação efetiva da terra; 2. A implantação da lavoura da terra. Grande parte do relato deste item será baseada no trabalho de pesquisa histórica realizada por CASTRO (1995) Coube ao donatário Pero de Góis da Silveira a capitania de São Tomé, que é formada pela maior parte da região que hoje compõe o Estado do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois de chegar a sua capitania, Pero de Góis fundou uma vila, iniciou o cultivo da cana-de-açúcar e a instalação de um engenho para a fabricação de açúcar. Instalou-se nas proximidades do atual rio Itabapoana ao norte de sua Capitania, onde por duas vezes fracassou no cultivo da cana-de-açúcar, a primeira em 1939 e a segunda em 1545. Desestimulado pelas dificuldades abdicou ao seu filho Gil de Góis que também fracassou em nova tentativa realizada em 1619, frente aos mesmos obstáculos, a resistência oposta pelos indígenas da região. A capitania de São Tomé foi renunciada a favor da Coroa de Portugal, neste mesmo ano. Nesse intervalo de tempo implantou-se o cultivo da cana-de-açúcar no Rio de Janeiro, no ano de 1565, desta vez na região da baixada, próximo da cidade do Rio de Janeiro. Neste local, até o final do século XVI, a lavoura da cana iniciada nas terras próximas ao mar, penetrou para o interior. Sendo o primeiro engenho a funcionar nessa área, o do General Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que funcionou a partir de 1636 e constituindo no primeiro engenho que operou

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continuamente no Estado do Rio de Janeiro. Muitas engenhocas surgiram nesta região, desde Niterói até Marica, Parati, Angra dos Reis, saquarema e Cabo Frio. No início do século XVII, partiam navios do Rio de Janeiro para Portugal carregados de açúcar e aguardente. Durante a gestão do Governo Geral, sete capitães (Miguel Aires Maudonato, Gonçalo Duarte Correia, Antônio Pinto, João Castilho, Manoel Corrêa e Miguel Riscado) conseguiram por sesmarias, em 19 de agosto de 1627, as terras situadas entre os rios Macaé e o cabo e São Tomé. Em 24 de dezembro d 1632, os sete capitães chegaram ao Cabo de São Tomé na viagem de exploração. No ano seguinte fizeram a segunda viagem e iniciaram a repartição das terras entre eles e iniciaram a criação de gado. Gradativamente foram limpando os campos e aumentando a criação de gado. O General Salvador Corrêa de Sá e Benevides assumiu o cargo de Governador da Capitania do Rio de Janeiro em 1647, e tão logo soube das terras férteis doada aos capitães, grande parte do que hoje conhecemos como município de Campos dos Goytacazes, por elas cobiçou a tal ponto que forçou por pressão de autoridade, os sete capitães a assinarem uma escritura de composição em 09/03/1748 pela qual o território anteriormente doado ficava dividido em doze partes das quais três para o próprio Governador. A divisão das terras se compôs de quatro partes e meia para os sete capitães e seus herdeiros, três para o General Governador, Três para os padres da companhia, Uma parte para o Capitão Pedro de Sousa Pereira e meia parte para os frades de São Bento. O governador construiu em suas terras um engenho no local hoje conhecido como fazenda do Visconde, em 1650, sendo este o primeiro engenho da região norte do Estado. Em pouco tempo os canaviais cobriam suas terras. Em pouco tempo após a divisão das terras, surgiram numerosos engenhos. Nos meados do século XVII a lavoura de cana conseguiu expandir-se na no norte do Estado. Campos exportava para o Rio de Janeiro e para Bahia, 15600 cabeças de gado bovina, 3000 cavalos 85.000 alqueires (13,8 L/alqueire) de farinha e alguns milhares de caixas de açúcar. No final do século XVIII, Campos exportou dos seus 300 engenhos mais de 50.000 caixas de açúcar de 50 arrobas cada. Na Tabela 3 é apresentada a evolução do número de engenhos no Estado do Rio de Janeiro Estado nesta época.

Ano Número de engenhos 1737 34 1750 50 1769 55 1778 113 1783 278 1819 400 1828 700

Tabela IV.1 - Número de engenhos no Estado do Rio de Janeiro Fonte: Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) Fundada em 1652 a Vila de Campos foi destruída em 1672, reconstruída em 1676, foi elevada a categoria de cidade em 1835. O engenho central de Quissamã, inaugurado em 12 de setembro de 1877, foi o primeiro engenho central do Brasil, passando a fazer parte da história açucareira do

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país. Deu início de funcionamento a usina de Barcelos em 1878. Foi iniciada a construção de uma usina na localidade denominada Airises em 1883, de nome Nossa Senhora das Dores e que funcionou até 1931. O engenho central do Limão foi instalado em 1879/80. Em 8 de julho de 1881, foi inaugurado o engenho central de Cupim. Ainda neste mesmo ano foi inaugurado o engenho Figueira, mas não constituía um engenho central. Em 1883 foram construídos mais três unidades produtoras, a usina do Colégio, a usina de São José e o engenho Central de Mineiros. As usinas de Santa Cruz, Sapucaia e Pedra Lisa foram inauguradas em 1885. O final do século XIX foi o marco do surgimento de grande número de usinas no norte do Estado. A usina não difere em termos de estrutura do engenho a vapor, diferindo no nível de concentração e especialização, divergindo fundamentalmente na relação entre fabricante e fornecedores, os usineiros e agricultores, criando duas categorias distintas de interesses conflitantes. Com o surgimento das usinas, desaparece a classe de senhores de engenho, aparecendo às usinas já como indústria capitalista, que compram os engenhos interessados nas terras que asseguram matéria prima para a indústria. Assim, a então classe de senhores de engenho passam a ocupar a posição de administradores, subordinados a usina ou administradores de propriedades rurais compradas ou ainda mudam para cidade trabalhando em alguma atividade urbana. No início do século XX foram criadas duas Estações Experimentais de Cana-de-Açúcar no país, nos dois estados maiores produtores da época, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em 1914 foi instalado em Campos a Estação Experimental do Rio de Janeiro. Nesta instituição de pesquisa foram desenvolvidas muitas variedades de cana que contribuíram muito para o desenvolvimento da indústria canavieira no país. Com a crise mundial em 1929, devido ao colapso americano, a indústria canavieira do Brasil foi fortemente afetada na década de 30, a tal ponto que foi necessária a intervenção do Estado, através da criação da Comissão de Defesa da Produção Açucareira em 1931 e do Instituto do Álcool e do Açúcar em 1933. Em 1930 Campos tinha uma população de 260.000 habitantes e a economia da cidade era dependente totalmente da indústria açucareira. Nesse período as usinas do Estado do Rio de Janeiro foram seriamente afetadas pela crise mundial, ainda que tenham produzido em torno de dois milhões de sacos de 60 kg, houve muita miséria, com fábricas fechando ou em processo de falência. Para diminuir a crise no país o governo adotou uma série de medidas, entre elas, a adoção de regimes de cotas de produção e comercialização para as usinas e a promulgação do decreto 19.717 de 20 de fevereiro de 1931, que tornou obrigatória a adição de no mínimo 5% de álcool a gasolina para fins carburante. Dessa forma o país vem usando álcool com fins carburante desde essa época até presente data. A partir da década de 30 o setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro começou a se organizar em associações de classes, o que culminou na fundação do Sindicado da Indústria do Açúcar nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo em 20 de setembro de 1934. Em 24 de agosto de 1943, foi criada a Cooperativa Fluminense dos Usineiros Ltda. O Primeiro, que atualmente se chama Sindicato da Indústria e da Refinação do Estado do Rio de Janeiro e espírito Santo, encontra-se hoje em estado de dissolução, pois em assembléia realizada em fevereiro de 1994, os poucos usineiros que ainda contribuíam para a manutenção do sindicato se desligaram oficialmente, encontrando-se hoje a entidade simbolicamente mantida por uma junta administrativa de funcionários. A Cooperativa que em dado momento passou a se chamar Cooperativa Fluminense dos Produtores de Açúcar e Álcool

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Ltda., COPERFLU, foi extinta em 1986, após ter prestado relevantes serviços ao setor regional. A produção de cana, açúcar e álcool do Estado do Rio de Janeiro no período de 1925 a 1935 é apresentado na Tabela 4. Sendo que a produção de álcool só apresenta dados confiáveis a partir de 1930, o mesmo acontecendo para canas moídas a partir da safra 1929/30.

Safra Cana moída (t) Sacos 60 kg Toneladas Álcool ( m3) 25/26 861.070 51.674,2 26/27 1.467.800 88.068,0 27/28 1.177385 70.643,1 28/29 807.434 48.446,0 29/30 1.401.346 2.102.019 126.1211,1 30/31 896.864 1.345.297 80.717,8 9.316,89 31/32 1.137.133 1.705.700 102.035,5 8.605,85 32/33 990.806 1.486.209 89.172,5 8.543,35 33/34 1.178.172 1.767.259 106.035,5 9.032,53 34/35 1.828.932 109.735,9

Tabela IV.2 - Produção de açúcar do Rio de Janeiro de 1925 a 1935 Fonte: Anuário Açucareiro de 1935.

Observa-se pela Tabela IV.2 que em plena crise mundial, o Estado do Rio de Janeiro batia o recorde mundial de produção de açúcar do decênio 1925/35. Por essa razão houve grande dificuldade econômica para a região norte do Rio de Janeiro com tal excesso de produção. Na época O Estado do Rio de Janeiro ocupava a segunda posição dentre os maiores produtores do Brasil (primeiro, Estado de Pernambuco) e era o primeiro da região Centro Sul. São Paulo passa a superar a produção de açúcar do Estado do Rio de Janeiro na década de 40, e manteve essa posição até os nossos dias. A partir desse período o Estado do Rio de Janeiro vem perdendo gradualmente a posição para outros estados.

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Safra Cana (t) Açúcar (50 kg) Álcool (m3) Área colhida há 65/66 5.296.069 9.568.814 53.213 - 66/67 4.536.155 8.783.106 47.926 - 67/68 4.986.998 9.837.824 49.462 135.636 68/69 3.964.465 7.624.968 32.764 134.771 69/70 4.478.009 9.278.586 36.203 142.244 70/71 5.398.086 9.749.161 44.421 144.372 71/72 5.061.029 8.866.752 42.581 - 72/73 6.270.627 11.201.733 47.256 177.600 73/74 6.873.025 12.213.262 58.838 - 74/75 5.566.073 10.249.234 48.769 - 75/76 6.384.253 10.813.737 55.162 - 76/77 5.300.669 7.726.895 43.826 - 77/78 7.401.418 11.775.179 95.078 - 78/79 6.842.859 11.364.295 132.909 - 79/80 7.191.044 10.121.178 139.537 194.137 80/81 6.603.775 8.665.230 29.842 197.582 81/82 7.091.450 9.452.389 153.897 197.386(*) Tabela IV.3 - Produção de cana, açúcar, álcool e área colhida no Estado do Rio de

Janeiro nas safras 1965/66 a 1981/82. Fonte: Relatório do departamento técnico da COPERFLU 82/83 – Revista Safra (*) Valor 197.386 refere-se à área colhida da safra 82/83. Outras entidades de classe de produtores de cana do Estado do Rio de Janeiro surgiram na década de 40. A Cooperativa de Crédito dos Lavradores de Cana de Açúcar do Estado do Rio de Janeiro Ltda. (COOPERCREDI), em 18/01/41, em 24 de outubro de 1945 foi criado o Sindicato Agrícola de Campos, que a partir de 07/05/87 foi transformado na Associação Fluminense dos Plantadores de Cana. O setor sucroalcooleiro ganhou grande progresso na segunda metade do século XX, principalmente na atividade agrícola. Mudanças de grande alcance ocorreram na colheita de cana, onde o embarque de cana passou a ser totalmente mecanizada, e no transporte foram abandonadas às ferrovias e os carros de boi, passando a predominar as carretas puxadas a trator e caminhões cada vez mais adaptadas às distâncias percorridas. Esse processo passou a se acelerar a partir de 1960. Assim pode-se ilustrar essa mudança pelas modificações ocorridas a partir de 1950, onde havia no norte do Estado 432 km de estradas de ferro servindo as usinas, que dispunham de 65 locomotivas e 1384 vagões. Em 1975 só existiam 99 km de estradas de ferro, 29 locomotivas e 535 vagões ou grades; em 1979, 16 km de ferrovia, 18 locomotivas e 357 vagões; em 1985 praticamente já não se dispunham desses elementos na atividade canavieira do Estado. Atualmente o transporte de cana é feito unicamente por meio rodoviário. Outro fator de grande impulso na área agrícola no século XX foi à introdução do trator, que incorporou uma grande contribuição em todas as operações do cultivo da cana, eliminando completamente a tração animal. Áreas ocupadas para pastos com esses animais foram rapidamente transformadas em canaviais. As inovações tecnológicas na área industrial também foram grandes em equipamentos e técnicas, melhorando muito o controle e qualidade dos processos. A produção canavieira do Estado do Rio de Janeiro teve um gradual crescimento a partir de 1930, superando as crises do setor tanto de natureza exógena quanto de natureza endógena, se colocando presente como um dos

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grande produtores nacionais. A exemplo disto ocorreu em 1975, com o lançamento do Proálcool o Estado do Rio de Janeiro elevou consistentemente a sua produção de álcool, contribuindo para o programa, sem alterar sua produção de açúcar conforme apresentado na Tabela 5. No início da década de 70 foi assinado o decreto lei 1186 de 27/08/1971, por meio do qual o governo concedeu estímulo a processos de fusão, incorporação e relocalização de usinas com a finalidade de propiciar a modernização do parque industrial. Nesta ocasião a maioria das usinas se atualizou através de projetos parciais, chegando algumas a se projetarem inteiramente em novas unidades. Dessa forma, nos anos 70, o parque industrial açucareiro do Estado do Rio de Janeiro foi quase que totalmente reestruturado e modernizado, sendo esta modernização apenas das indústrias, não atingindo as áreas agrícolas. Em virtude da participação dos técnicos da região no XV Congresso Internacional da ISSCT (International Society of Sugar Cane Technologists), evento organizado pela COPERFLU, uma série de inovações tecnológicas no aperfeiçoamento da tecnologia local foram introduzidas trazendo melhorias na extra- ção do caldo nas moendas, na clarificação e decantação do caldo e no tratamento do magma, acarretando açúcar de melhor qualidade. Também nos anos 70 ocorreram diversos eventos técnicos importantes para o setor, como a série de Encontros de Técnicos Açucareiro da COPERFLU, a criação do Programa Nacional de Melhoramento da Cana de Açúcar (PLANALSUCAR) sob responsabilidade do IAA, cuja sede no Estado do Rio de Janeiro foi instalada em Campos numa área cedida pela usina São José. Nesta mesma década, lamentavelmente foi extinta a antiga Estação Experimental de Cana de Açúcar, cujos trabalhos prestaram relevantes serviços ao setor açucareiro a nível nacional. Neste período foi que se iniciou a prática efetiva da fertilização mineral e início da irrigação nos canaviais do Norte Fluminense. Nesse período, com a criação do Proálcool, aumento-se a produção de álcool na região e passou-se a pesquisar e mais tarde a se utilizar a fertirrigação com vinhaça diluída em doses recomendadas. Conforme exposto anteriormente, os acontecimentos da década de 70, trouxeram grandes e importantes alterações nas práticas agrícolas tradicionais para o setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro. Iniciou-se os anos 80 sob influência dos presságios da década anterior, porém a partir da segunda metade a agroindústria açucareira enfrentou uma forte depressão. O crescente endividamento das usinas, que optaram pelas grandes reformas a partir dos anos 1971/72, devido a macro desvalorização do cruzeiro em relação ao dólar, sobre empréstimos feitos por essas usinas para aquela reforma, pelos resultados operacionais em função do descompasso entre a capacidade de moagem das usinas superdimencionadas e oferta cana disponível, pela queda dos preços do açúcar, pelo precário sistema administrativo a nível gerencial das usinas e suas organizações e pela falta de apoio a etapa estratégica de reestruturação do setor na época, pela imediata e ampla aplicação do processo de irrigação nas lavouras de cana. Esses fatos podem ser apontados como as principais causas para explicar a situação financeira da maioria das usinas que no final da década de 80 não mais se sustentava. Na Tabela IV.4 têm-se as usinas do Estado do Rio de Janeiro entre 1930 e 2000. Observa-se pela tabela que na safra 2000/01 estão ainda em funcionamento as Usinas Barcelos, Carapebus, Cupim (todas do grupo Othon), Paraíso, Pureza, Quissamã, Santa Cruz, São José, Sapucaia e Destilaria Agrisa. Dessas dez

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unidades produtoras, nove produzem açúcar e nove produzem álcool (Carapebus não produz álcool) e uma destilaria autônoma. Ordem Usinas/ Ano 30 45 55 65 75 85 90 95 00@

1 Abadia UAB UAB ** ** * * * * * 2 Barcelos UBA UBA UBA UBA UBA UBA UBA UBA UBA 3 Cambaíba UCA UCA UCA UCA UCA UCA UCA UCA UCA 4 Carapebus UCR UCR UCR UCR UCR UCR UCR UCR UCR 5 Cupim UCP UCP UCP UCP UCP UCP UCP UCP UCP 6 Conceição UCO UCO UCO UCO UCO UCO UCO UCO * 7 Laranjeiras ULA ULA ULA ULA * * * * 8 Mineiros UMI UMI UMI UMI * * * * * 9 N.S.das Dores UNS * * * * * * * *

10 N. Horizonte UNH UNH UNH UNH UNH UNH * * * 11 Paraíso UPA UPA UPA UPA UPA UPA UPA UPA UPA 12 Pureza UPU UPU UPU UPU UPU UPU UPU UPU UPU 13 Poço Gordo UPG UPG UPG UPG * * * * * 14 Porto Real UPR UPR UPR UPR * * * * * 15 Queimado UQU UQU UQU UQU UQU UQU UQU * * 16 Quissamã UQI UQI UQI UQI UQI UQI UQI UQI UQI 17 Rio Preto URP ** * * * * * * * 18 Sant Anna UST ** * * * * * * * 19 Santo Amaro USA USA USA USA USA USA USA USA * 20 Santo Antônio UAN UAN UAN UAN UAN * * * * 21 Santa Cruz USC USC USC USC USC USC USC USC USC 22 Santa Isabel USI USI USI USI * * * * * 23 São João UJO UJO UJO UJO UJO UJO UJO UJO * 24 São José USJ USJ USJ USJ USJ USJ USJ USJ USJ 25 Santa Maria USM USM USM USM USM USM * * * 26 São Pedro UPE UPE UPE UPE * * * * * 27 Santa Luiza USL USL USL USL * * * * * 28 Sapucaia USP USP USP USP USP USP USP USP USP 29 Thaí UTA * * * * * * * * 30 Tanguá

D.C. UTG UTG UTG UTG * * * * *

31 D.C.Campos UDC UDC UDC UDC * * * * * 32 D. Agrisa - - - - DAG DAG DAG DAG DAG

Tabela IV.4 - Usinas do Estado do Rio de Janeiro entre os anos de 1930 e 2000. Fonte: Anuário Açucareiro de 1935 e Relatório Técnico do Departamento Técnico Industrial da COPERFLU @ Usinas em funcionamento até a safra 2000/2001 *Usina encerrou suas atividades ** Ano aproximado do fechamento da usina

6 – Panorama do Setor Sucroalcooleiro no Estado do Rio de Janeiro

Nos anos 70, conforme já relatado anteriormente, foi assinado o decreto lei 1186 de 27/08/1971, através da qual o governo concedeu estímulos a processos de fusão, incorporação e relocalização de usinas com a finalidade de propiciar a modernização do parque industrial. Nesta época a maioria das usinas do Estado do Rio de Janeiro introduziu inovações tecnológicas, chegando algumas delas a se

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projetarem inteiramente em novas unidades. Dessa forma, nos anos 70, o parque industrial açucareiro do Estado do Rio de Janeiro foi quase totalmente reestruturado e modernizado, sendo esta modernização apenas das indústrias, não atingindo as áreas agrícolas. Nessa mesma década foi criado o Proálcool e com isso aumentou-se a produção de álcool no Estado. Nessa época foi criado o Programa de Melhoramento da Cana de Açúcar (PLANALSUCAR), sob responsabilidade do IAA, cuja sede no Estado do Rio de Janeiro foi instalada em Campos. Esses acontecimentos trouxeram grandes e importantes alterações nas práticas agrícolas tradicionais para o setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro. A década de 80 iniciou-se com uma expectativa otimista trazida pelos avanços do setor na década anterior. A partir da segunda metade dos anos oitenta, entretanto, a agroindústria sucroalcooleira enfrentou uma forte depressão. As usinas que optaram pelas grandes reformas a partir dos anos 1971/72 sofreram crescente endividamento, devido à macro desvalorização do cruzeiro em relação ao dólar, sobre empréstimos feitos por essas usinas para aquela reforma, pelos resultados operacionais, uma vez que com a modernização da indústria, criou-se um forte desequilíbrio entre capacidade de processamento das usinas superdimencionadas e oferta disponível de cana, pela queda dos preços do açúcar, pelo precário sistema administrativo e gerencial das usinas e suas organizações e pela falta de apoio do Estado a etapa estratégica de reestruturação do setor agrícola na época, pelo financiamento da implantação da irrigação nos canaviais da região. Nessas circunstâncias acarretou uma verdadeira transformação no panorama sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro. Nesse período encerraram atividades usinas de grande, médio e pequeno porte, tais como Outeiro, Santa Maria, Queimado, Novo Horizonte e Conceição e ainda deixando mais outras cinco descapitalizada e em situação de baixa produção em relação à capacidade instalada, criando-se uma expectativa de vir a se repetir em futuro próximo fechamentos de novas unidades produtoras. O fechamento de empresas agroindustriais açucareiras com grande capacidade de gerar empregos, numa região dependente dessa atividade para movimentar a economia local é digno da interferência política governamental a seu favor, levando-se em conta que são milhões de reais de investimentos que deixam de gerar produção, emprego, renda e bem estar social. Tal situação representa milhares de desempregos, preocupante desequilíbrio social e estado de apreensão da população, especialmente quando não de dispõe de outra atividade a altura para substituir em termos de produção e em empregos, que possa dar segurança social a região e ao Estado. A década de 90 iniciou-se com os fortes reflexos dos acontecimentos do final dos anos oitenta, o que segundo Castro (1995), levou-se a prever um encaminhamento de reflexos sociais indesejáveis e nocivos para a região, tendo em vista a conjuntura depressiva que vivia o setor, num período histórico marcado pela falta de lideranças capazes de promover a união da classe empresarial, mais do que nunca necessária naquele momento para se colocar a produção da cana e açúcar no seu devido valor de importante componente da renda regional e da estabilidade social. Conforme previsto, os anos noventa terminaram com o fechamento de mais três importantes unidades produtoras, a Usina Cambaiba, Usina São João e Usina Santo Amaro. Na Tabela V.1 é apresentado o número de empregos formais gerado pelo setor sucroalcooleiro do município de Campos dos Goytacazes (mais importante município produtor de cana, açúcar e álcool do Estado do Rio de Janeiro). Cabe ressaltar que os empregos aí relatados referem-se apenas aos empregos formais

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ligados diretamente às unidades produtoras. Boa parte dos empregos ligados ao setor é terceirizada com empreiteiros, não aparecendo no RAIS/CAGED como mão de obra do setor canavieiro, apenas como mão de obra agrícola de impossível identificação. Estima-se hoje que o setor sucroalcooleiro gera cerca de 15.000 empregos diretos e indiretos na região Norte Fluminense. A produção de cana, em toneladas, das safras 1993/94 a 1999/00 é apresenta na Figura 6. Observa-se que a produção de cana do Estado do Rio de Janeiro gira em torno de quatro a cinco milhões de toneladas, mas chegou na década de oitenta produzir mais de sete milhões de toneladas de cana (Tabela 5). Pelas diversas razões apresentadas anteriormente, a produção do Estado tem diminuído gradativamente ao longo dos últimos dez anos. Tem-se pela figura que as quantidades de cana própria (produzido pela unidade industrial) é cerca de 50% do total de cana processada pela usina. Atividade do setor Campos dos Goytacazes

1997 1998 1999 2000 Cultivo de cana-de-açúcar 1438 2157 2066 1699 Usinas de açúcar 1591 1044 1036 958 Refino e moagem de açúcar 0 0 0 0 Comércio atacadista de combustíveis 95 92 86 81 Total 3124 3293 3188 2738 Tabela V.1 - Numero de empregos formais do setor sucroalcooleiro no município de

Campos dos Goytacazes RJ no período de 1997 a 2000 Fonte: RAIS/CAGED

PRODUÇÃO DE CANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2713

,9

2595

,8

2528

,0

2236

,0 2747

,3

2537

,3

1724

,0

1968

,4

2151

,1 2909

,2

2690

,3

2464

,6

2449

,7

2210

,8

4.68

2,3

4.74

6,9

4.92

6,3

5.21

1,9

4.98

6,9

3.93

4,8

5.43

7,2

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

Pro

duçã

o de

can

a (m

il t)

Cana própria Fornecedor Total

Gráfico V.1 - Produção de cana-de-açúcar do Estado do Rio de Janeiro no período de 1994 a 2000 Fonte:Convênio UFRRJ-FAPUR e Usinas do Estado do Rio de Janeiro, 2001.

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No Gráfico V.2 é apresentada a produção de açúcar do Estado do Rio de Janeiro das safras 1993/94 a 1999/00. Tem-se pela figura que a produção agrícola variou nesse período de 307 a 421 mil toneladas e que na década de 70 a produção de açúcar no Estado variava de 500 a mais de 600 mil toneladas (Tabela V.1).

PRODUÇÃO DE AÇÚCAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO34

2,53 37

4,52 42

1,36

351,

54

374,

02

359,

44

307,

70

0

100

200

300

400

500

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Anos

Açú

car

(mil

t)

Gráfico V.2 - Evolução da produção de açúcar no Estado do Rio de Janeiro no período de 1994 a 2000 Fonte: Relatório técnico do convênio UFRRJ-FAPUR e usinas do Estado do Rio de Janeiro, 2001. Atualmente o álcool etílico hidratado produzido no Estado do Rio de Janeiro supre apenas pouco mais de dez pontos percentuais da sua demanda no Estado. Na Gráfico V.2 tem-se a produção anual de álcool hidratado no Estado do Rio de Janeiro durante as safras de 1993/94 a 1999/00, bem como a relação percentual entre a produção de álcool no Estado e seu consumo. Observa-se que o aumento da relação percentual aumentou para 17% no ano de 2000, porém esse aumento se deve a gradativa redução de consumo de álcool hidratado no Estado e não ao aumento de sua produção. Na Gráfico V.3 é apresentada a evolução da área plantada no Estado do Rio de Janeiro, em mil hectares, na década de 90. Em virtude das dificuldades porque tem passa o setor, já mencionado anteriormente, pode-se observar a diminuição gradativa da área plantada com cana, ficando atualmente, segundo os dados do IBGE, em torno de 150.000 ha, ressaltando-se que na década de 80 esse valor foi superior a 200.000 ha.

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PRODUÇÃO DE ÁLCOOL HIDRATADO E SUA RELAÇÃO % AO CON SUMO ESTADUAL

89,7 91,3

103,3

59,0

47,639,6

85,7

119 10

12 12

10

17

0

20

40

60

80

100

120

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Álc

ool h

idrt

ado

( m

il m

3)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

% (

Pro

duçã

o/C

onsu

mo)

Álcool hidratado %

Gráfico V.3 - Evolução da produção de álcool hidratado e sua relação percentual ao

consumo do Estado do Rio de Janeiro no período de 1994 a 2000 Fonte: Usinas do Estado do Rio de Janeiro, 2001 e Anuário Estatístico da ANP, 2001.

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Área de Cana-de-açúcar Colhida

194,2

8

186,4

0

166,8

0

158,7

0

158,8

3

155,9

2

158,9

3

154,9

3

157,8

5

156,7

8

0

50

100

150

200

250

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Anos

Áre

a d

e C

an

a C

olh

ida

(m

il h

a)

Conceição de M acabu M acaé - RJ Itaocara - RJ São Fidélis - RJCabo Frio - RJ Cardoso M oreira - RJ São João da Barra - RJ Carapebus - RJQuissamã - RJ São Francisco de Itabapoana - RJ Campos dos Goytacazes - RJ Estado Rio de Janeiro

Gráfico V.4 - Evolução da área plantada com cana-de-açúcar no Estado do Rio de Janeiro na década de 90. Fonte: IBGE

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As unidades produtoras em operação existentes atualmente no Estado do Rio de Janeiro são: Agrisa (Agro Indústria São João S.A.), Companhia Açucareira Barcelos, Usina Carapebus, Companhia Açucareira Usina Cupim, Companhia Açucareira Paraíso, Usina Pureza Indústria e Comércio S.A., Engenho Central de Quissamã, Usina Santa Cruz, Usina São José S.A., Usina Sapucaia S.A. Na Tabela V.2 tem-se a capacidade instalada diária de moagem, de produção de açúcar, de álcool hidratado e anidro de cada uma das unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro. Observa-se pela tabela que o Estado tem uma capacidade diária de moagem 48.200 tc/dia, e considerando uma safra de 180 dias consecutivos, teríamos uma capacidade potencial teórica de 8.676.000 toneladas. Pelo mesmo raciocínio teríamos um potencial teórico de produção por safra de 288.900 m3 de álcool hidratado e 693.000 toneladas de açúcar.

Capacidade Instalada Diária Moagem Álcool (L/dia) Açúcar

Unidade Produtora

tc/dia Hidratado Anidro scs/dias AGRISA 2.400 180.000 180.000 - Barcelos 3.200 90.000 90.000 6.000

Carapebus 2.400 - - 4.800

Cupim 6.000 120.000 - 7.000

Paraíso 5.500 150.000 - 8.000

Pureza 1.200 20.000 - 2.4000

Quissamã 4.000 45.000 30.000 6.000

Santa Cruz 7.000 200.000 150.000 16.000

São José 4.500 200.000 180.000 6.800

Sapucaia 12.000 600.000 350.000 20.000

Total 48.200 1.605.000 980.000 77.000

Tabela V.2 – Capacidade instalada diária de moagem, de álcool hidratado, de álcool anidro e de açúcar das unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Anuário JornalCana (2000/2001) Na Tabela V.3 é apresentado a quantidade de cana moída, o álcool (hidratado e anidro) e o açúcar produzido no Estado do Rio de Janeiro na safra 2000/2001. Observa-se pela tabela que estes valores estão muito abaixo do potencial teórico de processamento das indústrias do Estado. Na Tabela V.3 é apresentada à relação percentual de ociosidade entre a produção da safra 2000/2001 e o potencial de processamento das unidades de produção, considerando uma safra de 180 dias. Observa-se na coluna moagem de cana que nessa safra houve em média 54,6% de ociosidade nas moendas devido à falta de matéria prima. Perdeu-se, em relação ao potencial de processamento industrial instalado, 55,6% da produção de açúcar e 67,8% da produção de álcool anidro.

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Produção da safra 2000/2001 Moagem Álcool L/dia Açúcar Unidade

Produtora tc/dia Hidratado Anidro scs/dias

AGRISA 63.014 858.000 3.114.000 Barcelos 303.553 7.931.000 521.880 465.760 Carapebus 148.367 - - 294.000 Cupim 312.553 2.708.000 - 566.664 Paraíso 342.803 6.074.483 - 560.324 Pureza 99.985 1.622.780 - 119.076 Quissamã 223.399 - - 438.380 Santa Cruz 768.206 4.243.021 1.407.499 1.407.499 São José 334.162 551.300 14.199.835 355.967 Sapucaia 1.338.742 2.321.726 37.638.984 1.946.578 Total 3.934.784 26.310.310 56.882.198 6.154.248 Tabela V.3 – Processamento de cana, álcool hidratado, álcool anidro e açúcar na

safra 2000/2001 pelas unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Anuário JornalCana (2000/2001)

Estimativa % da capacidade ociosa de processamento industrial Moagem Álcool (L/dia)l Açúcar Unidades

Produtoras tc/dia Hidratado Anidro scs/dias

AGRISA 85,4 97,4 90,4 Barcelos 47,3 51,0 96,8 56,9 Carapebus 65,7 66,0 Cupim 71,1 87,5 55,0 Paraíso 65,4 77,5 61,1 Pureza 53,7 54,9 97,2 Quissamã 69,0 59,4 Santa Cruz 39,0 88,2 94,8 51,1 São José 58,7 98,5 56,2 70,9 Sapucaia 38,0 97,9 40,3 45,9 Total 54,6 90,9 67,8 55,6 Tabela V.4 – Relação percentual da ociosidade entre capacidade de processamento

e produção na safra 2000/2001 Fonte: Anuário JornaCana (2000/2001)

No Gráfico V.5 é apresentado o ranking das unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro na região Centro-Sul na safra de 1999/2000. A maior unidade produtora do Estado é a usina Sapucaia que foi classificada em 56ª posição, seguida pela usina Santa Cruz na 101ª posição, usina Paraíso na 173ª posição, usina São José na 177ª posição, usina Cupim na 178ª posição, usina Barcelos na 182ª posição, usina Quissamã na 187ª posição, usina Carapebus na 202ª posição e destilaria Agrisa na 213ª posição.

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RANKING DAS USINAS DO RIO DE JANEIRO NA REGIÃO CENT RO-SUL 99/00

112

82

33

19

31 28 29

18

0

30

20

0

7

0

6

0 0

610

4

9 11 9

2 0 0 0,57

7

40

25

0

19

9 8

0 0

7

0

20

40

60

80

100

120

140

Sapucaia Sta. Cruz Paraíso São José Cupim Barcelos Quissa mã Carapebus Agrisa

56 101 173 177 178 182 187 202 213

Ranking geral das unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro

Pro

duçã

o (

mil

t ou

m3 )

Açúcar (ton.) Anidro (m3) Hidratado (m3) Álcool Total (m3)

Gráfico V.5 – Ranking geral das unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro na região Centro-Sul na safra 1999/2000 Fonte: Ministério da Indústria, Comércio e do Turismo - Departamento do Açúcar e

do Álcool citado pelo UDOP, http://www.udop.com.br/estatística). Na tabela V.5 é apresentado o potencial de cogeração de energia elétrica de algumas das usinas do estado do Rio de Janeiro, segundo JornalCana (2001). Esses valores só poderão ser alcançados a partir do momento em que a região produtora tenha matéria prima suficiente para atender a capacidade plena de processamento das unidades produtoras, uma vez que, atualmente as usinas não conseguem trabalhar de forma contínua, o que causa uma baixa eficiência no aproveitamento da energia gerada pela queima do bagaço.

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COGERAÇÃO INDÚSTRIA

Capacidade Consumo Próprio

Agrisa – Agor industrial São João S/A 1,5 MW 0,9 MW

CIA. Açucareira Usina Barcelos 2,2 MW 1MW

Usina Carapebus S/A

CIA. Açucareira Usina Cupim 2,4 MW 1,8 MW

CIA Açucareira Paraíso 3,4 MW 2,2 MW

CIA Engenho Central de Quissamã

Usina Santa Cruz S/A 4 MW 4 MW

Usina São José S/A 3,6 MW 1,8 MW

Usina Sapucaia S/A 4,9 MW 2,9 MW

Usina Pureza Industria e Comércio S/A 1,5 MW 1,5 MW

TOTAL 23,5 MW 16,1

Tabela V.5 – Potencial de cogeração de energia elétrica em algumas unidades produtoras do Estado do Rio de Janeiro.

7 – Competitividade do Complexo Sucroalcooleiro

Muitas vezes, a palavra concorrência vem associada ao termo competitividade, o que pode ser induzido ao seu uso errôneo como sinônimos. Porém, há uma distinção clara entre ambos. Competitividade pode ser entendida como a capacidade de uma empresa crescer e sobreviver de modo sustentável, sendo, portanto, a característica de um agente (a empresa). Em contraposição, concorrência é essencialmente uma característica dos mercados, sendo uma referência à disputa entre as empresas pela renda limitada dos consumidores ou pelo acesso aos insumos. Pode-se dizer, em suma, que competitividade é a capacidade de concorrer de modo sustentável, Azevedo (2000). O sistema agroindustrial sucroalcooleiro entrou na década de 90 com a desregulamentação do setor, onde o Estado não mais intervêm, ou reduziu muita a sua intervenção, no controle da produção e de preços do setor, onde a agroindústria canavieira não pode mais esperar que a sua sobrevivência e expansão dependam ou tenham forte apoio do governo.

Nas últimas três décadas o complexo nacional da agroindústria sucroalcooleira, teve uma grande expansão na produção de açúcar e álcool, saltando da safra 70/71 para a safra 00/01 de cinco milhões e setenta mil toneladas métricas para quinze milhões e setecentas mil toneladas métricas de açúcar e de 637 milhões de litros de álcool para cerca de 13 bilhões (média das safras 97/987 a 00/01). A produção de álcool na safra de 1997/98 superou 15 bilhões de litros. Neste período, em média 30% da produção de açúcar foi exportado, 42% foi destinada ao consumidor final e

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28% ao segmento industrial, onde as fábricas de refrigerantes, chocolates, balas e confeitos são os maiores compradores. Muitas das empresas do setor são acionistas de fabricas de refrigerantes e fornecem grande parte da produção diretamente a estas empresas, caracterizando um mercado interno atacadista e industrial. Outro aspecto do setor sucroalcooleiro nacional é a baixa concentração técnica da produção, uma vez que cerca de 300 usinas controlam cerca de 75% da produção nacional de açúcar. As maiores usinas do país não participam, isoladamente, com mais de 2,5% do total de açúcar e álcool produzidos no país e a soma da participação de todas as unidades pertencentes aos oito maiores grupos familiares do setor chega à cerca de 40% do açúcar nacional.

Essa série de mudanças institucionais e de coordenação por que passou o complexo sucroalcooleiro da região Centro-Sul, segundo Belik et al. (1998), estão influenciando as estratégias competitivas das empresas do setor. Até meados dos anos oitenta as empresas do complexo não investiam na diferenciação de seus produtos, na diversificação produtiva e apenas algumas empresas buscavam uma melhor condição técnica de seus equipamentos. Os investimentos feitos em progresso técnico tem sido na diferenciação de produto , diversificação produtiva e na especialização da produção , que têm gerado uma profunda reformulação da agroindústria canavieira no Centro-Sul. 7.1 – Diferenciação de produtos Essa estratégia competitiva usada no setor de caracteriza em melhorar a apresentação e qualidade do produto através de marca, preço, embalagem, etc. O complexo sucroalcooleiro, de forma geral, não se preocupava com a diferenciação do produto até os anos oitenta, com raras exceções. No início dos anos oitenta, diversas empresas do setor investiram em refinarias próprias, passando a investir na diferenciação de seus produtos, através da oferta ao consumidor de diversos tipos e tamanhos de embalagem e diferentes tipos de refino. Algumas das empresas que começaram a refinar seu próprio açúcar foram filiadas da Copersucar (cooperativa produtora do açúcar refinado União) e se desligaram para comercializarem o açúcar por conta própria. Conforme relatado por Belik et al. (1998), a usina Guarani lançou a marca Guarani, em várias embalagens, com diversos tipos de refino e com adição de vitaminas para consumo infantil. Além disso, essa empresa está iniciando a produção de açúcar líquido invertido para comercializá-la junto das indústrias de alimentos, uma vez que elas precisam transformar o açúcar cristal em xarope para usá-lo na produção de alimentos e bebidas. A usina Nova América também entrou no mercado de açúcar refina, lançando a marca Dolce em vários tamanhos de embalagem. A usina Albertina, empresa que também se desligou da Copersucar, investiu no lançamento de uma marca própria de açúcar refinado, o Sucareto, com embalagem descartável de 250 gramas, destinado ao consumidor individual, restaurantes, lanchonetes e cafés. Recentemente, o Sucareto lançou a versão light, formulada na mistura de açúcar refinado com adoçante artificial. A usina da Barra está financiando o desenvolvimento, por uma universidade, de um derivado de açúcar, denominado Lowsugar. Este produto é fruto da transformação química do açúcar e, segundo o que se divulgou, pode não engordar e não provoca cáries. Isto poderia levar tal usina a concorrer com os adoçantes artificiais com vantagens de custos e com grande apelo de marketing por não fazer mal à saúde. Durante muitos anos as usinas venderam sua produção através da Copersucar e do IAA, por essa razão o sucesso da estratégia de diferenciação de

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produto esbarra na falta de experiência comercial das empresas do setor. A venda de produtos aos atacadistas e aos supermercados, por outro lado, coloca os produtores frente a outros grandes capitais, que muitas vezes adotam comportamentos oportunistas. A alta quantidade de recursos financeiros que é necessária para investimentos em embalagens, em novos tipos de refino e novas formas de distribuição para poder concorrer com os adoçantes artificiais, é outro fator que deve ser levado em consideração, mesmo no mercado industrial. Assim a margem de lucro das empresas que continuarem a ter sucesso na implantação desta estratégia, tenderão a crescer com o uso do mix de produtos, marcas e variações de tamanho de embalagem e com maiores possibilidades de diferenciação de marca por região e estado da federação. 7.2 – Diversificação da Produção A diversificação produtiva, assim como a diferenciação de produto, pode estar relacionada com a busca de maiores lucros e com a manutenção do crescimento de longo prazo, porém pode estar ligada também a sobrevivência da empresa que atua em mercados com tendência à estagnação, retração e concentração técnica e de capitais Belik et al. (1998). Muitas destilarias autônomas, montadas durante o Proálcool, no final dos anos oitenta e início dos anos noventa, buscaram a sua diversificação na produção do açúcar, época em que a demanda e preços do mercado internacional eram favoráveis. Podem-se citar os exemplos das empresas como a Colorado (SP), Vale do Verdão (GO), Guairá (SP) e Disa (ES). O aumento da produção de açúcar ou pequenas quedas no seu preço não promovem o aumento do seu consumo, uma vez que o açúcar é um produto de demanda inelástica. Assim, com a entrada de novas empresas do setor no mercado, acarretou uma grande oferta de açúcar, obrigando os usineiros a buscar o mercado internacional ou arcar com estoques crescentes do produto. Pelo exposto, a diversificação produtiva para o açúcar passou a não ser mais atraente para as destilarias autônomas que diversificaram no início dos anos 90. Assim, essas empresas passam a buscar outras formas de diversificação com base em subprodutos e o confinamento de gado bovino. Empresas de maior porte passaram a utilizar o bagaço de cana na cogeração de energia elétrica. Outras empresas, que já possuíam experiência em outras áreas de produção agrícola estão lançando mão destes conhecimentos como estratégia na diversificação. Tem usina em São Paulo, como a usina Nova América, que estão aplicando grandes quantidades de recursos financeiros na produção de suco de laranja pasteurizado e na diferenciação deste produto, lançando novas embalagens e novos tipos, como suco concentrado. A empresa está processando e comercializando chás e suco de abacaxi. Esses mercados são completamente diferentes do de açúcar, o que torna o negócio bastante arriscado. As empresas do setor possuem pouca experiência em outros mercados, correndo possíveis riscos na adoção da diversificação produtiva, especialmente onde há a exigência de se obter vantagem através da diferenciação de produto, distribuição e propaganda. O comércio de produtos alimentícios prontos aumenta os custos de operação comercial, onde em diversos casos a distribuição necessita ser realizada em carros frigoríficos e com controle sanitário bem maior que na transação do açúcar.

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A alcoolquímica é outra direção técnica viável de diversificação produtiva que as usinas poderiam tomar, mas a concorrência com a petroquímica é circunstancialmente difícil devido aos subsídios dados a alguns derivados de petróleo, como a nafta. Além disso, existem dificuldades em se organizar grupos econômicos do setor para investirem fora da sua área de atuação principal. As estratégias apresentadas garantem que as empresas se favoreçam de sua experiência na produção agrícola integrada, das economias de escala e intenção na produção industrial e agrícola, baixando a sazonalidade do setor. 7.3 – Especialização na Produção de Açúcar e Álcool Com a crescente globalização do mercado ambiente está se tornando cada vez mais competitivo. Assim muitas empresas do setor estão buscando como estratégia competitiva, o investimento em novas tecnologias para produção de açúcar e álcool mais eficientemente, de forma a garantir uma melhor remuneração do capital investido. Assim, estão ocorrendo especializações na produção de álcool e açúcar e aumentando a produção industrial e agrícola. Essas unidades industriais estão investindo em processos de automação industrial, mecanização da agricultura, especialmente na colheita mecanizada e na melhoria na logística de transporte e produção de cana. Algumas empresas na região de Piracicaba, nesse sentido, estão transferindo suas unidades produtivas para áreas agrícolas mecanizáveis e de melhor qualidade, buscando centralizar a produção em áreas mais adequadas à mecanização da colheita da cana. O uso desta ação competitiva pode permitir que essas unidades se capacitem para investir nas outras estratégias em um segundo momento. Enquanto isso elas se favorecem com a especialização no mercado, a redução dos custos de transação e da coordenação da cadeia produtiva. A região Centro-Sul, segundo Belik et al. (1998), vem passando por um novo período de concentração e centralização de capitais, visto que já aconteceram algumas fusões e incorporações na região mais dinâmica do complexo no Brasil. Assim na Tabela VI.1 é apresentada as principais transações ocorrida nos últimos meses. Na Tabela VI.2 é apresentado um resumo das diferentes estratégias discutidas anteriormente, que tem sido adotas pelas unidades produtoras do setor sucroalcooleiro, assim como os principais tipos de aplicações no setor na região Centro-Sul. Pelo exposto anteriormente observa-se que o Estado e as políticas públicas, a estrutura social, a cultura organizacional e a forma de organização dos agentes econômicos e sociais influenciam na formulação das estratégias das empresas e em suas mudanças. A política intervencionista do Estado no setor sucroalcooleiro brasileiro foi responsável pela estrutura atrasada e de baixa competitividade que se manteve nos últimos cinqüenta anos. O fim dessa política por parte do governo no setor levou as empresas a adotarem estratégias diferenciadas, buscando a competitividade nacional e internacional. Se antes as estratégias individuais eram restringidas e regulamentadas pelo Estado, agora o setor com liberdade de ação as empresas estão adotando as estratégias de diferenciação de produtos, diversificação produtiva e especialização. Isto é indício de que existem dificuldades de estabelecer consenso entre as unidades produtoras em relação às condições de produção. O que se observa é que se há algum consenso na indústria sucroalcooleira, este é o de concentração e centralização de capitais,

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Comprador, incorporador ou arrendatário

Empresa adquirida, incorporada ou

arrendada

Objetivos e resultados

Usina de Coruripe e Grupo João Lyra (Grupos instalados no Nordeste)

Destilaria em Iturama e Ituitaba, no Triangulo Mineiro, MG

Grupo Armando Monteiro, Grupo Tenório (Grupos do Nordeste)

Instalação de usinas no Triângulo Mineiro

Usina Alta Mogiana Usina Alta Floresta (SP) e USINA Alto Alegre (PR)

Permite a posterior expansão do grupo em áreas consideradas pioneiras e onde existem terras disponíveis e de fácil mecanização.

Usina Santa Elisa e Banco Bradesco

Usina São Geraldo Formou-se o amior grupo produtor de açúcar do mundo e otimizou-se o transporte de cana para o processamento.

Usina Santa Elisa Usina São Martinho Troca de plantações de cana com São Martinho para otimizar o transporte e reduzir os custos de frete

Grupo Cosan BJ Usina Diamante Otimização do processo agrícola

Usina da Barra Corn Products (E.U.A.) Associação para fabricação de açúcar líquido para exportação e mercado interno

Usina da Pedra Açucareira Santa Rosa Aumento de produção do grupo e otimização do processamento agrícola, pois as usinas estão numa mesma região.

Grupo Camilo Cury (Const. Civil) e TC Agropecuária

Usina Santa Lydia Aquisição

Grupo Balli (Irã/GB) em associação com a Usina Santa Elisa

Construção de nova usina em São Paulo na região de Ribeirão Preto.

Usina Corona e Grupo Cosan (participação)

Usina Tamoyo Aquisição

Santa Elisa, Vale do Rosário, MB, Moema, Jardest, Pioneiro, Mandu

Cooperação para comercialização e compra de matéria-primas

Constituição da comercializadora de açúcar Crystallev

Tabela VI.1 - Principais incorporações, fusões e arrendamento no complexo canavieiro na região Centro-Sul

Fonte: Belik et al.- 1998

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Estratégia Aplicação no Setor Diferenciação de Produto . Novas marcas de açúcar refinado

. Embalagem de vários tamanhos

. Embalagem descartável

. Açúcar ligtht Diversificação Produtiva . Destilarias que passam a ser usinas

. Cogeração de energia elétrica

. Produção de suco de laranja

. Fornecimento de garapa para produção de ciclamato monosódico

. Alcoquímica Especialização na produção de açúcar e álcool

. Automação da produção industrial

. Mecanização da agricultura

. Melhora da logística de transporte e produção de cana

. Transferência das unidades de produ-ção para áreas agrícolas mecanizáveis e de melhor qualidade

Tabela VI.2 Resumo das estratégias competitivas adotadas no setor sucroalcooleiro na região Centro-Sul.

8 – Competitividade do setor sucroalcooleiro do Est ado do Rio de

Janeiro

O Estado do Rio de Janeiro está localizado na região açucareira denominada Centro-Sul, juntamente com os Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, São Paulo. O mercado do açúcar e do álcool do Rio de Janeiro está compreendido no próprio Estado do Rio, Espírito Santo, Minas Gerais e o Sul da Bahia, mais raramente em outros Estados do Centro-Sul. Cerca de 40% do açúcar comercializado na região Centro-Sul é destinado às indústrias e 60% ao consumo direto. Na Tabela VII.1 é apresentada a distribuição do mercado de açúcar na região Centro-Sul. Observa-se pela tabela que o maior percentual do açúcar consumido na indústria é pelas empresas de refrigerantes com 16% do consumo total, seguido pelas fábricas de Chocolates, balas e confeitos com 12,6%. Já o consumo direto se distribui em 37% de açúcar refinado e 23% de açúcar cristal. Destino Percentual Indústria 40% Refrigerante 16,0 Chocolates, balas e confeitos 12,6 Alimentos 4,0 Panificação 2,0 Vinhos 1,2 Outros 4,2 Consumo Direto 60% Refinado 37,0 Cristal 23,0 Total 100% Tabela VII.1 – Distribuição do mercado de açúcar na região Centro-Sul Fonte: COPERSUCAR

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Os principais tipos de açúcar produzidos no Brasil são: I – Tipo bruto: Demerara; Mascavo; II – Tipo Cristal Standart; Superior; Especial; Especial extra; III – Tipo refinado Almofo; Granulado.

O tipo I é destinado exclusivamente para refinarias, para se transformar em açúcar refinado. É o tipo mais comum para exportação. O tipo II tem destino para a refinaria (standart e superior), para indústria (standart, superior, especial e especial extra) e para o consumo direto pela população de baixa renda (superior, especial e especial extra). O tipo III é o mais utilizado para o consumo humano, sendo o almofo o mais usado no Brasil para este fim. A comercialização do açúcar produzido pelas usinas do Estado do Rio de Janeiro tem sido facilitada por sua estratégica localização entre grandes centros consumidores (Grande Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte). Apesar dessa facilidade, é difícil prever a situação futura desse mercado, pois após a desregulamentação do setor, as empresas de outros Estados, especialmente da região Centro-Sul, têm se mobilizado numa série de medidas estratégicas competitivas que poderão estabelecer forte concorrência com as demais. Apesar da região produtora do Estado do Rio estar mais próxima dos grandes centros consumidores, tais como Grande Rio, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, não impede que o açúcar de São Paulo chegue a estas regiões a preços competitivos com o produto do Norte Fluminense, como já ocorreu no passado. Concorrer é, em último plano, a arte de sobreviver. Contudo, as empresas ambicionam, em segundo plano, o crescimento sustentado, o que coloca desafios ainda maiores à formulação de estratégias por parte dessas empresas. Algumas das estratégias de crescimento são tipicamente ações que visam alterar a estrutura dos mercados e, com isso, permitir uma posição melhor na concorrência junto a rivais, como é o caso de fusões e aquisições, diversificação e integração vertical. Outras constituem ações que buscam uma posição mais favorável das empresas na disputa pelos consumidores, como segmentação de mercado e diferenciação de produtos, Azevedo (2000). Uma das características e, talvez um elo fraco, das usinas do Estado do Rio de Janeiro perante o mercado, é o fato de só produzir um tipo de açúcar, o cristal.

O mercado de açúcar cristal é bastante diversificado quanto à exigência qualidade do produto. Enquanto algumas indústrias podem usar açúcar cristal de qualidade mais inferior, tais como fábricas de balas, doces e bebidas escuras, outras são muito exigentes. Paralelamente há o consumidor de varejo que prefere pagar mais por um açúcar de melhor qualidade, enquanto há os preferem pagar menos por um produto de pior qualidade (aspecto), uma vez que não existe uma classificação oficial voltada para o consumidor final de supermercado, que se orienta pela avaliação visual que pode variar do açúcar amarelo ao branco. Em relação ao consumo direto pelo público, a compra é influenciada muitas vezes pelo poder

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aquisitivo ou pela falta de opção, como o caso das cidades do interior ou de um comércio local restrito.

Com o aparecimento do Proálcool, e a partir daí com as sucessivas crises características do setor, fez com que proprietários dessas destilarias percebessem a dificuldade de sustentação econômica e estrutural dessas empresas na produção exclusivamente de álcool. Assim entre as diferentes alternativas de diversificação produtiva, muita dessas empresas ingressaram na produção de açúcar. Dessa forma, começou-se a produzir açúcar em todos os Estados da região Centro-Sul, atendendo os mercados locais onde antes não havia produção de açúcar, levando a uma redução do mercado de açúcar cristal, uma vez que não se têm notícias da construção de refinarias destinadas a atender essas nova usinas. Outro aspecto muito importante a ser considerado é que o Estado do Rio de Janeiro é importador de açúcar e de álcool (hidratado e anidro) onde a produção estadual não consegue atender a demanda local. O Estado produz em torno de 350.000 toneladas de açúcar e consome cerca de 900.000 t. A carência do produto desse mercado é atendida pelo açúcar produzido em São Paulo. Conforme mencionado anteriormente, o açúcar produzido no Norte Fluminense é exclusivamente do tipo cristal, que representa cerca de 23% do mercado de açúcar (Tabela 13). Assim, as usinas do Estado ficam inteiramente de fora do mercado de açúcar refinado, que representa em torno de 37% do consumo da região Centro-Sul e, possivelmente o mesmo percentual do Estado do Rio de Janeiro, entregando essa fatia do mercado aos seus concorrentes. Além disso, o açúcar refinado tem a preferência do consumidor de classe mais alta da população, que além de terem maior poder aquisitivo, estão dispostos a pagar o valor agregado do produto. As refinarias existentes hoje no Estado do Rio de Janeiro pertencem a produtores de São Paulo ou independentes dos produtores do Estado. Assim essas refinarias não se identificam com os interesses dos produtores do Estado do Rio, que ficam dependentes do consumo dessas refinarias. Nessa situação qualquer perturbação no mercado com redução do consumo direto e industrial, as usinas do Estado terão a disposição o mercado das refinarias para vender o seu açúcar, dentre as quais as refinarias de produtores paulistas, que produzem açúcar cristal em São Paulo e podem dar preferência ao açúcar paulista deixando o mercado estadual sem comprador. Essa dependência em termos de mercado pode tornar frágil o setor sucroalcooleiro do Estado, o que sinaliza a necessidade de se investir na diferenciação de produto e na segmentação de mercado de forma a atrair um maior público consumidor e tornar o seu produto mais competitivo. Com relação à produção e comercialização do álcool, o Estado do Rio também é importador do produto, uma vez que os produtores de álcool só atendem a pouco mais de 10% da demanda de álcool hidratado do Estado, conforme ilustrado na Figura 8. Com a expectativa futura de o álcool virar uma commodity, com a decisão dos Estados Unidos, alguns paises da Europa e do Japão substituírem o aditivo da gasolina MTBE pelo álcool, pode tornar em dois anos o seu mercado internacional atrativo comercialmente. Dessa forma, os produtores do Estado devem se preparar para possível expansão do mercado de álcool. Todas as possíveis ações e correções de rumo na cadeia produtiva sucroalcooleira da região norte do Estado do Rio de Janeiro, apontadas anteriormente, de nada valerão se não corrigir o que mais afeta a produção das usinas hoje, que é o aumento da oferta de matéria prima. A região canavieira do Norte Fluminense, desde o início dos anos 70, apresentava um certo déficit de cana-de-açúcar em face da demanda da indústria canavieira, déficit este suportável e administrável. A partir de 1974, com a ampliação

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e modernização das usinas, a falta de matéria prima para as indústrias cresceu muito, criando uma competição desgastante entre as usinas em busca de cana. Essa disputa resultou de forma negativa nos resultados econômicos e financeiros, criando endividamento crescente, menores receitas e perda de patrimônio. Assim o setor sucroalcooleiro do Estado passou a ter de repente grande capacidade ociosa por falta de matéria prima, que segundo Castro (1995), ocasionava tempo perdido na indústria devido a sucessivas paradas devido à falta de cana, variando de 10 a 25% do tempo total da safra. Isso ocasionava perda de produtividade causada pela descontinuidade no processo de fabricação causando baixos rendimentos industriais e conseqüentes prejuízos na produção e na receita das usinas. Assim a partir de 1974 as usinas passaram a disputar as canas entre si, fato muito facilitado pela interpenetração das áreas de influências de abastecimento das canas das usinas, localizadas próximas umas das outras no Norte Fluminense. Consecutivamente ao processo de desgaste das usinas em subsidiar as canas dos fornecedores, num processo de concorrência estabelecido, o governo manteve forte pressão sobre os preços da cana e do açúcar nos anos oitenta, período em que ocorreram sucessivos planos econômicos, só vindo a repor as perdas em 1993. Esses planos não levaram em consideração a sazonalidade da cana-de-açúcar, muito menos da agroindústria açucareira, prejudicando muito esta atividade, que assumiu um cenário ruim somados aos problemas locais do Estado do Rio de Janeiro. Com o crescimento das taxas de juros, na atual política, o setor sucroalcooleiro ficou desprotegido, pois produz em seis meses e comercializa em doze, tendo a indústria canavieira que custear a produção com a compra da cana (matéria prima) paga à vista (15 dias) e que é convergida por preferência de abastecimento dos fornecedores, devido a melhor época de maturação da cana no Estado, nos meses de julho, agosto e setembro. Além disso, com a concorrência acirrada entre as unidades produtoras na disputa pela matéria prima (cana), gera uma elevação dos preços assumida integralmente pelas indústrias, as condições adversas da economia nacional, política de preços do setor, bem como no âmbito regional, fatores pluviométricos adversos. Ao se ampliar às usinas, a partir de 1974, as lideranças regionais, ativas na época, levantaram uma campanha de pressão sobre o governo para introdução da irrigação da cana na região, sob financiamento governamental, face ao grande custo da implantação fora do alcance do poder aquisitivo do empresariado. Na época (1981 a 1983) foi realizado um levantamento edafoclimático e elaborado um macro projeto de irrigação, coordenado pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e que se denominou “Projeto de Irrigação e Drenagem do Norte Fluminense”, PROJIR. Nesse levantamento foram estudadas na região Norte Fluminense uma área com cerca de 250.000 ha, onde foram observadas cerca de 182.000 ha aptos a irrigação. Com os bons resultados experimentais preliminares da irrigação na cana, onde a produtividade média dos canaviais sem irrigação alcançava em média 45 t/ha, ao passo que com irrigação consegue-se em média cerca de 80 a 90 t/ha (Tuler et al. 1981a e b), tendo em vista a insuficiência e a má distribuição da precipitação pluviométrica natural ao longo do ciclo da cana. Posteriormente os projetos pilotos de irrigação dos fornecedores de cana e dos empresários, demonstraram a viabilidade técnica e econômica, provocando um otimismo regional em relação a esta prática agrícola, sendo, porém logo frustrado pelo desinteresse do governo em investir nesse empreendimento. A irrigação naquela época teria resolvido o problema criado com a ampliação da indústria e evitado o fechamento da várias delas, bem como a descapitalização do setor na região.

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9 – Conclusões Preliminares Conforme exposto anteriormente, o setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro apresenta diversos pontos que precisam de incentivos e investimentos financeiros e tecnológicos para manter sua sobrevivência de forma auto-sustentável, assim como melhorar a sua competitividade no cenário nacional e internacional. 1 – A ação prioritária é, sem dúvida nenhuma, incentivar o aumento da oferta de matéria prima (cana) para indústria, de forma a dar condições mínimas para as unidades produtoras, ainda em atividade, sobreviverem. A forma mais rápida e racional é através da implantação de um grande projeto de irrigação, tendo em vista a natural insuficiência e má distribuição da precipitação pluviométrica da região Norte Fluminense, apontada como a principal causa da baixa produtividade. Devido ao alto custo que isso representa e dada a atual descapitalização do setor, há a necessidade de recursos externos, tais como do governo federal, e/ou estadual e/ou municipal. O ideal seria uma ação conjunta dos três governos. 2 – Uma segunda etapa seria o aumento da competitividade das unidades produtoras locais, através do investimento em produtos sucroalcooleiros diferenciados, tais como a criação de uma marca regional com diferentes tipos de embalagens, produção de açúcar refinado, que representa hoje no mercado Centro-Sul 37% do açúcar comercializado. Relembrando, esse espaço é totalmente ocupado por produtores de São Paulo, pois os produtores do Estado do Rio de Janeiro só produzem açúcar cristal, em grande parte de qualidade ruim. Além disso, pode-se produzir açúcar líquido (açúcar invertido), comercializando esse produto diretamente com as indústrias de refrigerantes (maior consumidor industrial de açúcar). Outra opção é a produção de açúcar enriquecido com vitaminas para consumo infantil. A região também poderia produzir, nas terras muito férteis da baixada campista, o açúcar orgânico que tem um grande apelo mercadológico por ser um produto isento de pesticidas, adubos químicos e ecologicamente correto. Essas são apenas algumas opções de diferenciações de produtos, podendo-se com o uso da criatividade e pesquisa desenvolver-se outros produtos de grande apelo ao consumidor. Para isso é necessário que haja uma articulação entre as unidades de produtoras locais, a fim de pela união de esforços ganhar competitividade através da economia de escala, poder de barganha na compra e na venda, representatividade política, etc. 3 – Uma outra forma de fortalecer o setor seria o investimento na diversificação de produtos. Uma vez que tenha sido aumentada a oferta de matéria prima, uma das opções regionais seria a venda de energia elétrica as concessionárias geradas pela queima do bagaço excedente. Pode-se também usar o bagaço para produção de polpa de papel, celulose e aglomerados. Além desses produtos é possível converter o bagaço, através da hidrólise, em ração animal, em furfural e lignina.

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