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DUBITO ERGO SUM Páginas de Vilém Flusser UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE PEIRCE E FLUSSER Priscila Monteiro Borges Língua e Realidade, a primeira obra publicada de Vilém Flusser, chama a atenção primeiramente por demonstrar, a partir do conhecimento lingüístico de um poliglota, como diferentes línguas carregam diferentes concepções de mundo, que a própria estrutura da língua cria realidade e, portanto, povos que falam diferentes línguas têm noções diferentes do mundo. Toda essa demonstração que se dá pela comparação entre quatro línguas – inglês, alemão, português e tcheco – deixa claro que a tarefa de tradução não é fácil e talvez possa ser até considerada impossível. No entanto, além da problemática da tradução que é evidente no livro, a discussão entre língua e realidade aborda também um antigo problema filosófico que diz respeito à concepção de realidade e à possibilidade ou não de representá-la. A realidade é composta por aquilo que percebemos ou há algo anterior à nossa percepção que deve ser chamado de realidade? As palavras representam esse algo anterior ou são elas mesmas a realidade? O que une palavra e coisa? São as palavras justas com as coisas a que se referem? Duas posições filosóficas podem ser diferenciadas com relação a esses problemas. A primeira posição, denominada nominalista, pensa que como não temos acesso à realidade anterior, senão pela própria percepção, não há como considerar a existência de uma realidade exterior e, portanto, são as linguagens, nossas ações e percepções do mundo os construtores da realidade. A segunda posição, conhecida filosoficamente como realista, admite a existência de uma realidade para além daquilo que percebemos, uma realidade dotada de leis que regulam nossa própria existência. Portanto nossa percepção do mundo é incompleta, pode ser equivocada e Dubito Ergo Sum: sítio cético de literatura e espanto http://www.dubitoergosum.xpg.com.br/a59.htm 1 of 9 7/15/10 3:41 PM

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  • DUBITO ERGO SUM

    Pginas de Vilm Flusser

    UM POSSVEL DILOGO ENTRE PEIRCE EFLUSSER

    Priscila Monteiro Borges

    Lngua e Realidade, a primeira obra publicada de

    Vilm Flusser, chama a ateno primeiramente pordemonstrar, a partir do conhecimento lingstico de umpoliglota, como diferentes lnguas carregam diferentesconcepes de mundo, que a prpria estrutura da lnguacria realidade e, portanto, povos que falam diferenteslnguas tm noes diferentes do mundo. Toda essademonstrao que se d pela comparao entre quatrolnguas ingls, alemo, portugus e tcheco deixa claroque a tarefa de traduo no fcil e talvez possa ser atconsiderada impossvel. No entanto, alm da problemticada traduo que evidente no livro, a discusso entrelngua e realidade aborda tambm um antigo problemafilosfico que diz respeito concepo de realidade e possibilidade ou no de represent-la. A realidade composta por aquilo que percebemos ou h algo anterior nossa percepo que deve ser chamado de realidade?As palavras representam esse algo anterior ou so elasmesmas a realidade? O que une palavra e coisa? So aspalavras justas com as coisas a que se referem?

    Duas posies filosficas podem ser diferenciadascom relao a esses problemas. A primeira posio,denominada nominalista, pensa que como no temosacesso realidade anterior, seno pela prpria percepo,no h como considerar a existncia de uma realidadeexterior e, portanto, so as linguagens, nossas aes epercepes do mundo os construtores da realidade. Asegunda posio, conhecida filosoficamente como realista,admite a existncia de uma realidade para alm daquiloque percebemos, uma realidade dotada de leis queregulam nossa prpria existncia. Portanto nossapercepo do mundo incompleta, pode ser equivocada e

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  • guiada por leis que no conhecemos por completo, squais procuramos nos aproximar pelo processo deconhecimento.

    A pergunta chave da metafsica saber como deveser o mundo em sua realidade para que ele aparea comotal em nossa experincia humana. Ela busca a realidadepor detrs das aparncias. No entanto, a nica forma deacesso realidade que dispomos pela nossa prpriapercepo. No h possibilidade de descartar o nossopercepto e acessar diretamente a realidade. Seria, ento,possvel descobrir como essa realidade anterior percepo? verdica a busca por algo de que nopodemos atestar a existncia?

    Flusser no texto no responde claramente a essasquestes. Algumas de suas afirmativas, como porexemplo a de que a lngua cria realidade, levariam a crerque ele se aproxima do pensamento nominalista. Noentanto, em outras passagens ele busca uma realidadeanterior lngua, que ele chama de dados brutos, a qualela representaria aproximando-se do pensamento realista.Seguiremos com a anlise um pouco mais detalhadadesses trechos a fim de entender melhor os rumos dessadiscusso ontolgica no livro Lngua e Realidade.

    O texto se inicia pela distino de dois mundos, umaparente e outro real. Segundo ele: Poderemos dizer queo mundo, aparentemente catico, realmenteordenado. Ou, que h um mundo aparente catico, e ummundo real ordenado. (FLUSSER, 2004, p. 31/32).Segue, definindo realidade como um conjunto de dadosque podem ser de duas naturezas: dados brutos epalavras. Considera que o intelecto propriamente dito sopera com palavras, portanto todo dado bruto percebidopelos rgos sensoriais seria transformado em palavras.

    A percepo das palavras mostra uma realidadeordenada em frases segundo regras preestabelecidas, que a prpria lngua. Sendo assim, segundo Flusser, arealidade consiste de palavras e de palavras in statunascendi. (2004, pg. 40). O que leva a crer que arealidade composta tanto de palavras quanto de dadosbrutos que se tornaro palavras para que o intelecto asopere. Portanto, as palavras substituem algo, apontampara algo que est alm da lngua, mas como o intelectono trabalha com os dados brutos, ou com as palavras instatu nascendi, no possvel falarmos sobre esse algo. Anica coisa sobre a qual podemos falar sobre a lngua epor isso, afirma ele, o estudo da lngua possivelmentea nica pesquisa legtima do nico cosmos concebvel (p.

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  • 41).Nesse trecho, apesar de Flusser afirmar que a

    lngua tem seu prprio cosmos e que essa realidade anica que podemos conceber, ele no descarta aexistncia de uma realidade anterior a lngua para a qualela aponta, apesar de afirmar ser impossvel falar dela. Sepor um lado, poderamos pensar que ele se aproxima donominalismo ao afirmar que a realidade construda pelalngua, por outro, ele parece no romper com o realismoao manter a considerao de que o dado bruto algoexterior que independe do homem. H portanto algo queno construdo pelo homem e por sua lngua, mas que,segundo o autor, no nos aparece muito claro, pois ohomem depende da lngua para articul-lo. Notaremosque Flusser tende a tratar de uma realidade pelo ponto devista da aparncia, no utiliza o termo realidade com osentido metafsico, no qual a realidade independente dosujeito. Ele no trata dessa realidade exterior justamentepor acreditar que no possvel acess-la por meio daspalavras.

    Da discusso sobre a correspondncia entre aspalavras e o que elas significam ou representam, Flusserlevanta o problema da verdade, se h possibilidade defalarmos em verdade e que verdade seria essa.Estabelece, ento, a diferena entre a verdade relativa e aabsoluta, considerando verdade relativa a verdadelingustica das frases, a concordncia da frase com asregras da lngua e verdade absoluta acorrespondncia entre a lngua e o algo que ela significa(2004, p. 46), verdade que considerada toinarticulvel quanto esse algo exterior que ela representa.

    A cada passo, Flusser tende a mostrar que o dadobruto catico, incompreensvel, que em si nadarepresenta seno a potencialidade de vir a existir quandoarticulado em palavras. Justamente nesse sentido, mais frente Flusser modifica seu conceito de realidade:desconsidera o fato bruto, enfatiza o papel da palavra edefine a realidade como o conjunto das lnguas. Suajustificativa para tanto comea da premissa de que arealidade para existir precisa aparecer e esseaparecimento se daria por meio da lngua (2004, pg. 53).Flusser ao tomar essa posio entra em um conflito, poisse a realidade para existir deve aparecer em uma lngua,cada lngua teria sua prpria realidade. Ele mesmo admiteser intolervel uma ontologia que opere com realidadessubstituveis e para resolver o problema prefere descartaro fato bruto j que ele s pode se realizar na articulao

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  • das palavras. Tanto o fato bruto quanto o intelectopassam a ser vistos como potncia que precisa se realizarpara existir e por meio das diferentes lnguas que ela serealiza.

    Dessa maneira a nica realidade que nos articulvel a realidade da lngua e o que h antes dela o nada. Mas haver o nada no quer dizer que no existaalgo anterior lngua ao qual ela se refere e, portanto,Flusser no est aqui tomando uma posio nominalistapura como poderia parecer. Ele prprio adverte: A grandeconversao da qual participamos e que toda arealidade vem do nada e trata do nada. Entretanto estaafirmao no tem mais, a essa altura da discusso,nenhum sabor de derrota ou desespero. O nada, longe deser um conceito vazio e negativo, torna-se umsuperconceito sinnimo de indizvel. (...) Essas regiespor serem anteriores ou posteriores lngua, so irreais,so nada. Mas aquela irrealidade, aquele nada, queestabelece a realidade, e nesse sentido uma irrealidademais bsica, ou superior realidade. (2004, p. 132/133)

    Admitindo que a lngua um processo derealizao que surge do nada e caminha em direo aonada, Flusser busca descrever os diferentes tipos dediscursos que levam da condensao do nada evaporao do nada. No primeiro nvel, saindo do silncioinautntico, estaria o Balbuciar, seguindo a Salada dePalavras, Conversa Fiada, Conversao, Poesia e,aproximando-se do silncio autntico, em ltimo nvel aOrao, um calar-se supra-intelectual (2004, p.133).Nesse caminhar, a lngua se apresenta no s comopalavras, mas como lgica, msica e imagem. O conceitode lngua se amplia abarcando o universo de smboloscompreensveis e sensveis, alm de termos na passagemda Conversao para a Poesia uma elevao tanto daqualidade lgica como esttica da lngua.

    Apontando no sentido da origem, Flusser descrevea camada do Balbuciar e diz que nela no h sequernatureza, pois s na medida em que a conversao seforma que a natureza surge. Apesar de ele afirmar quepedras, rvores e estrelas so reais porque so palavrasou conceitos, no acredito que essa frase deva ser lida aop da letra, j que em seguida, ele diferencia a naturezada civilizao e afirma que a natureza produto daconversao ontologicamente anterior civilizao. Antesde produzir civilizao a conversao produz natureza.(2004, p. 191). Estaria ele admitindo a possibilidade deuma lngua que extrapola os limites humanos ao falar em

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  • conversao ontologicamente anterior civilizao?Devemos ampliar o conceito de lngua e admitir que aprpria natureza tem uma certa organizao, que h trocade informao e portanto comunicao em um nvelcosmolgico? Nesse sentido, no seria melhor substituir otermo lngua, entendido como sistema de representaoconstitudo por palavras e regras que se combinam emfrases, por linguagem, j que essa palavra carrega umsignificado mais amplo como o de meio de comunicaonatural prprio de alguns animais e capacidade deaprender e comunicar-se por meio da lngua?

    Se assim o for, arrisco tomar a filosofia peirceanacomo referncia para discutir algumas dessas questes.Flusser postula no incio do texto que a nica realidadecognoscvel aquela que nos aparece, mas insiste naconcepo de um fato bruto que deve se realizar paraexistir, pois apenas sua potencialidade no satisfaz aoconceito de realidade. Essa realizao se d dentro daslnguas, quer dizer dentro de sistemas organizados porleis e mantido por hbitos. Afinal, realidade aquilo queme aparece ou a potencialidade dos fatos brutos emexistirem? A distino entre realidade e percepoexistente na filosofia peirceana parece clarear um poucoessa questo. Para Peirce, a realidade independe daquiloque percebemos dela, a percepo pode ser parte darealidade, mas nunca a realidade por completo. Aomesmo tempo, a realidade tende a ser percebida, e nessemomento ela passa a ser um existente. Portantodenominamos existente a parte da realidade quepodemos conhecer. Assim, a realidade cognoscvel a queFlusser se refere, aquela que se realiza nas lnguas, porexemplo, seria um existente na filosofia peirceana,enquanto os fatos brutos, aqueles que tm o potencial deexistir, seriam a realidade.

    Pela viso peirceana, a realidade no s independeda nossa percepo como composta por trs elementosque correspondem s trs categorias fundamentais:primeiridade/acaso, secundidade/existente eterceiridade/lei. O acaso aparece como princpio dealeatoriedade, gerador de assimetrias, propulsor dadiversidade. O existente carrega consigo a noo dealteridade, um fato bruto que nos confronta.Finalmente, a lei justamente constituda a partir datendncia generalizao dada como mediao, poisreconhece as relaes entre as ocorrncias dos fatosbrutos.

    A categoria da secundidade fundamental para

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  • entender a metafsica peirceana, ela a responsvel peloconceito de alteridade, existncia, aquilo que insiste naconscincia. No entanto, a realidade no se esgota apenasnessa realizao. A realidade no composta apenas peloexistente, mas pelo acaso, existente e lei juntos. Oexistente um instante de realidade no qual possvelidentificar uma parcela de regularidade e uma parcela deindeterminao. Sua existncia deve-se tanto ao acasoquanto lei. O acaso lhe confere qualidades nicas que odiferenciam de qualquer outro existente, enquanto a lei ogeneraliza, torna possvel alguma classificao, estabeleceuma relao com outros particulares.

    O conceito de realidade fundamentadoprincipalmente na categoria da secundidade eacompanhado das idias de alteridade e insistncia contraa conscincia situa-se no nvel da experincia imediata, oque no suficiente para explicar toda a complexidadeencontrada na realidade. O fator tempo deve serconsiderado nessa relao com a realidade, desse modo,a insistncia contra a conscincia deixar de ser um fatobruto para tornar-se uma regularidade, passar aexpressar-se como uma lei, uma representaogeneralizada. Assim, a permanncia de uma relao f-ladescaracterizar-se como tal por se tornar umaregularidade. (Ibri, 1992, pg.30)

    Conforme Ibri (1992, pg.30), a concepopeirceana de realidade possui dois predicados axiais: aalteridade e a generalidade. Segue-se, da,necessariamente, que tal concepo no poder estarconfinada segundidade que, no nvel metafsico,subsume a existncia como universo dos individuais quereagem entre si e contra uma conscinciaexperienciadora. Dado que a possibilidade de significaodas lnguas depende do reconhecimento de certasrelaes, de um fluxo de tempo, portanto de leis,devemos tendncia de generalizao da prprianatureza a possibilidade de significao de uma lngua.Assim podemos supor que exista no mundo umatendncia gramaticalidade que permitiu a criao dasdiversas lnguas. Cada lngua segue suas prprias regras,no entanto, todas dependem da possibilidade degeneralizao.

    Percebemos tambm que a teoria peirceana nonega a afirmao de que a realidade aparece dentro dalngua, no entanto a aceita por um outro vis: umdeterminado texto por ser um existente carregacaractersticas da prpria realidade, mas essa, em si,

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  • independe da lngua e da nossa percepo sobre ela.Flusser, ao considerar como realidade somente o queaparece, descarta de seu pensamento tudo aquilo que noconhecemos. Contudo, no porque no conhecemos quetais coisas no faam parte da realidade, e da surge apossibilidade de diferentes lnguas expressarem diferentesrealidades, como se cada lngua pudesse expressar parteda realidade.

    Ainda a afirmao de que a realidade consiste depalavras in statu nascendi parece dialogar com a noo derealidade dada por Peirce, visto que ele prope aexistncia de gerais na natureza. Os gerais aos quaisPeirce se refere se aproximam das palavras in statunascendi descritas por Flusser, pois ambos so regidos porleis, apresentam alguma regularidade e parecemorganizar o aparente caos dado pelo fato bruto, singular.

    Ao que parece as palavras que formam a realidade que Flusser se refere no so as palavras das lnguasdesenvolvidas pelo homem, mas palavras do prpriarealidade metafsica. Palavras que esto num estadoprimordial, anterior ao seu prprio nascimento, quepoderamos entender como termos gerais. Ali se encontraa origem da palavra, sua potncia, mas no ela prpria,j articulada. Os termos gerais so organizadores darealidade assim como so as palavras para nossointelecto. Portanto, esse poder de generalizao eorganizao da palavra no restrito a ela, mas umacaracterstica da natureza.

    Nesse ponto j possvel vislumbrar que devahaver alguma passagem entre as palavras e as coisas, umelo entre lngua e realidade na filosofia peirceana.Encontramos no conceito de continuum entre mente ematria sugerido por Peirce a explicao de tal ligao.Segundo ele, se h uma tendncia da mente a adquirirhbitos, fazer generalizaes e ao mesmo tempo de seauto-corrigir, esse no deve ser um princpio somente damente, j que ela prpria pertence realidade. Peircesugere que o mundo real tambm deve seguir essesprincpios, portanto a realidade deve ter a natureza derepresentao, deve tambm ser simblica.

    Se admitirmos que a realidade tende generalizao, mas ao mesmo tempo dotada de acasoe, portanto, est em constante evoluo, logo admitimosser impossvel seu conhecimento absoluto. Esse carterplstico tanto da mente como da realidade nos impede depensar em conceitos estticos e absolutos. O queconcorda com a afirmativa de Flusser (2004, pg. 31), de

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  • que o processo de conhecimento do mundo estariarelacionado sua hierarquizao e no sua possvelcatalogao, visto a hierarquizao ser um processodinmico e a catalogao um processo esttico. Nacatalogao os lugares so fixados, se apreende sobrealgo, mas no h compreenso e coordenao dasrelaes entre os elementos, como h na hierarquizao.

    Os conceitos de evoluo e continuum dados porPeirce so de fundamental importncia pois nos mostramcomo possvel um mundo cognoscvel. Para a filosofiapeirceana, nossa percepo no formada somente pelasensao imediata dada pelos rgos perceptivos, maspela organizao dessas sensaes pelas relaes queessas sensaes estabelecem com a memria, histria econtexto. Essa possibilidade de organizao caracterstica do processo de pensamento mais complexo,mediado, que envolve a razo. Dessa maneira, um mundocognoscvel depende de uma percepo formada pelarazo, portanto pela linguagem, meio pelo qualpercebemos a realidade. Logo, se existe um continuumentre mente e matria, e por conseguinte, entre asdiversas linguas e a realidade, o estudo das linguasdesenvolvidas pelo homem e linguagens num sentidomais amplo, pode de alguma forma nos aproximar darealidade.

    Bibliografia:

    FLUSSER, Vilm.Lngua e realidade.SoPaulo: Annablume,2004.

    IBRI, Ivo Assad.Ksmos Noetos: aarquitetura metafsicade Charles S. Peirce.So Paulo:Perspectiva, 1992.

    SANTAELLA, Lucia. Aassinatura das coisas.Peirce e a literatura.Coleo PierreMenard. Rio deJaneiro: Imago, 1992.

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  • PEIRCE, C.S. CollectedPapers, C. Hartshome,P. Weiss e A. Burks(eds.). 8 vols.Cambridge, MA:Harvard UniversityPress, 1931-58. (Notexto citado como CP,conforme as normasestabelecidas pelacomunidade cientficada rea especfica.)

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