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Fr. Bruno Cadoré, Domingos...
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INFORMATIVO DA PROVNCIA FREI BARTOLOMEU DE LAS CASAS DOMINICANOS NO BRASIL CIRCULAO INTERNA
DOMINGOS: GOVERNO, ESPIRITUALIDADE E LIBERDADE
Mensagem do Mestre da Ordem sobre o tema para 2015 do Novenrio do Jubileu OP
Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discpulos e conhecereis a verdade e a verdade
vos libertar. (Jo 8.31-32). Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. (Gl 5,1)
A verdade vos libertar! Esta promessa
de Jesus me traz mente a imagem do grupo que
caminhava com Jesus, anunciando o Reino de
aldeia em aldeia. Todos eles, cada um e cada uma
a seu modo, tinham sido libertados. Libertados do
peso de suas culpas, dos impasses de suas
mentiras, do peso de sua histria, das divises
alienantes. Levados pelo desejo de seu Mestre e
Senhor de ir para outras cidades, eles o
acompanhavam confortados pelo fato de se
sentirem, junto a Ele, num sopro divino que os
tornava cada dia mais livres, para serem eles
mesmos livres. Livres por se terem entregues a
esta amizade divina oferecida por Deus, atravs de
seu Filho. Livres para serem enviados, livres de
serem discpulos de Cristo, e, por sua vez, de
convidar outros para se juntarem a eles. o sopro
divino da pregao de Jesus que os liberta, mesmo
que eles talvez no tivessem realmente
considerado no que haviam se envolvido ao
responder a seu convite para segui-lo, ou
juntando-se a Ele por prpria iniciativa,
agradecidos pela graa da misericrdia que dele
tinham recebido. Ao ficarem ao seu lado em sua
proclamao do Reino, descobriram que ficavam
livres de uma maneira que jamais teriam ousado
esperar. Livres por causa da palavra de seu amigo
e Senhor. Se guardardes minha palavra sereis,
de fato, meus discpulos e conhecereis a verdade e
a verdade vos libertar. Libertos pela Palavra da
verdade! Creio que a esta liberdade do pregador
que se refere o tema deste ano de preparao
celebrao do Jubileu da Ordem: Domingos -
governo, espiritualidade e liberdade.
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Lembramo-nos de alguns textos importantes que
nos foram propostos nas ltimas dcadas sobre
estes temas (o governo na Ordem, a obedincia, a
liberdade e a responsabilidade...) e que seremos
contentes de reler. Parece-me que o tema deste
ano nos convida, na perspectiva aberta por estes
textos, a focalizar nossa ateno naquilo que
talvez seja o mago da espiritualidade da Ordem:
vivenciar a ousadia da liberdade do pregador,
aprendendo a tornarem-se discpulos. E este a
perspectiva do governo na Ordem.
Sempre salientamos a importncia
essencial e nica dada obedincia, na profisso
de sermos pregadores: Prometo obedincia a
Deus... Os historiadores lembram que Domingos
pedia aos primeiros irmos de lhe prometer
obedincia e vida em comum. So dois
caminhos para se tornar discpulo de Cristo:
escutar a Palavra e seguir seu exemplo na
convivncia com os outros, seguindo-o como esta
primeira comunidade de amigos que
acompanhavam Jesus de cidade em cidade para
aprender com ele como ser um pregador. Escutar e
viver juntos, fazendo deste seguimento da Palavra
a fonte da unanimidade.
CONSAGRADOS NA PREGAO: ENVIADOS A PREGAR O EVANGELHO
Neste ano, dedicado vida consagrada,
parece-nos que somos convidados a voltarmos
constantemente a esta fonte de nossa vida: sermos
consagrados evangelizao da Palavra de Deus,
sermos consagrados pregao da Palavra,
permanecer na sua Palavra. Se permanecerdes
em minha palavra sereis verdadeiramente meus
discpulos. O governo para Domingos
favorecer este desejo - dos indivduos e das
comunidades - de serem verdadeiramente seus
discpulos. Isto significa ser o guardio desta
morada na Palavra. Novamente, o critrio da
misso que se impe. De fato, o que esta
Palavra? Sabemos o que essa Palavra significa
para ns, a partir da conversao do Filho com o
Pai no sopro do Esprito: Aqueles que me
destes..., Que onde estou, tambm eles possam
estar junto comigo.... E intimidade filial, em que
a misso est entranhada Como voc me enviou,
tambm eu os envio.... Esta permanncia na
Palavra no significa nenhum tipo de imobilismo
contemplativo egocntrico. E menos ainda se
refere a uma observncia moral que poderia
estabelecer ou procurar um definitivo estado de
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perfeio. Permanecer na Palavra, na escola de
Domingos, significa penetrar no movimento da
Palavra que vem ao encontro da humanidade para
a estabelecer sua morada e tornar-nos livres pelo
poder do seu Esprito. permanecer na inspirao
prpria da misso do Filho. Significa se tornar
discpulo e comunidade de discpulos, em
conformidade com esta proximidade amiga e
fraterna para com o Filho. Nas palavras de Toms
de Aquino, quando ele fala de Verbum spirans
amorem (a Palavra que transmite o amor)
podemos, com efeito, pensar que permanecer na
Palavra permanecer nesta Palavra que transmite
o amor; isto , a amizade, a fraternidade e a
comunho em ns e entre ns. O sopro do
Esprito, a Palavra da verdade e da liberdade.
Uma das primeiras decises de Domingos,
considerada pela histria da Ordem como uma das
mais importantes, foi dispersar os irmos de So
Romano de Toulouse, a fim de que o gro no se
amontoasse. Desta forma ele mostrou que o
governo na Ordem ter de ser essencialmente
finalizado pregao. Este governo, portanto,
implica certa dinmica de vida espiritual
procurando promover e servir a liberdade de cada
um e tem sua origem na Palavra de Deus. Como o
prprio Jesus tinha feito com seus discpulos,
Domingos envia seus irmos, dois a dois, nas
trilhas da pregao. Na realidade, ele os envia, ao
mesmo tempo, para estudar e para pregar. Foi
graas a esta deciso da disperso dos frades que a
Ordem pode se desenvolver, se organizar,
suscitando e acolhendo novas vocaes. Essa
disperso estabeleceu a itinerncia como um
mtodo para se tornar discpulos, convidando
os pregadores a permitirem que sua vida seja
marcada pelos encontros que eles tero, ao sair
pelo mundo como irmos. Tambm os conduzir
a irem estudar nas primeiras universidades, para
poder enraizar sua procura pela verdade da
Palavra na abertura aos conhecimentos de seu
tempo; e para fortalecer seu respeito pela
capacidade humana em conseguir o conhecimento,
no estudo do mistrio da revelao de Deus
criador e salvador. Permanecer em sua Palavra
significa estar mais prximo do dilogo de Deus
com a humanidade: aquele dilogo que Jesus,
primeiro e nico mestre da pregao do Reino,
tornou visvel aos olhos de todos.
Deus, que manifestou a ternura e a
humanidade de seu Filho em seu amigo
Domingos, possa transfigurar-vos imagem....
Esta prece da bno para a festa de S. Domingos
reflete a escolha do papa Joo Paulo II, ao
desenvolver sua reflexo sobre a Vita
consacrata luz do mistrio da Transfigurao
(VC, 14). Nesta perspectiva e porque tem a misso
de chamar, conduzir e apoiar no caminho de se
tornar discpulos para se tornar pregadores, o
governo dominicano procura continuamente
promover as condies necessrias para esta
economia da transfigurao. A pregao do
Reino o caminho que a Ordem prope aos
irmos e irms para se deixar conformar ao Cristo
pelo Esprito. A contemplao do evento da
Transfigurao revela as dimenses essenciais
desta aventura. Num momento importante de sua
jornada de pregao Jesus levou consigo trs de
seus discpulos, para que presenciassem a sua
Transfigurao: a contemplao do mistrio do
Filho est no mago da misso do pregador. A
partir da, o pregador recebe aquilo que ele tem
por misso de transmitir: a realidade do Filho de
Deus junto com a revelao da economia do
mistrio da salvao. Lembremos o relato da
Transfigurao: Vamos levantar trs tendas, uma
para voc, uma para Moiss e outra para Elias.
E Jesus no demorou a responder: A tenda de
fato ser erguida, mas ser no Glgota, em
Jerusalm. L tambm ele ter dois
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companheiros, mas sero ladres, expulsos da
sociedade como ele e condenados morte. luz
brilhante da montanha da Transfigurao
corresponde a luz que rasgar os cus, como a
confirmar, de antemo, o cumprimento de sua
descida habitao dos mortos, de onde o Filho
surgir vivo, vencendo de uma vez por todas a
escurido da morte e levando com ele, presena
plena do Pai, aqueles que, a partir de ento,
vivero com ele para sempre. Na montanha da
Transfigurao os discpulos finalmente recebero
a misso que lhes trar alegria: ir com Jesus at
Jerusalm onde a palavra da Verdade revelada
plenamente. L, onde a vida oferecida do Cristo
a fonte de nossa liberdade. Estar sob o signo da
Transfigurao tomar um caminho no qual nosso
desejo de tornarmo-nos discpulos pode crescer,
permanecendo em sua Palavra, deixando que ela
nos ensine a obedincia e o amor do Filho, que
foram revelados no Glgota e na manh da
Pscoa, e recebendo de seu Esprito a misso,
como no dia de Pentecostes.
PERMANECEI EM MINHA PALAVRA
Em sua Carta apostlica aos consagrados,
o Papa Francisco os convida os religiosos a
acordar o mundo, procurando criar outros
lugares onde florescero a lgica evanglica da
doao, da acolhida das diversidades e do amor
mtuo. Esses lugares devem tornar-se cada vez
mais o fermento de uma sociedade inspirada pelo
Evangelho, aquela cidade sobre o monte que
proclama a verdade e a fora das palavras de
Jesus. Esses lugares so nossas comunidades,
onde nos comprometemos a aprender a nos tornar
aqueles expertos em comunho dos quais o Papa
fala nessa mesma Carta apostlica. importante e
essencial que na Ordem, a funo do/a superior/a
esteja localizada precisamente na interseco
desses dois horizontes de nossa promessa:
obedincia e vida em comum. Trata-se da
obedincia apostlica: Domingos queria que ela
moldasse os pregadores para se tornarem irmos
daqueles a quem eram enviados, em sua
itinerncia mendicante; e tambm para se deixar
converter e transformar na fraternidade da
vivncia comunitria. Essa irmandade apostlica,
para a qual nos comprometemos pelo voto de
obedincia, a trilha proposta por Domingos para
receber plenamente nossa liberdade. Obedincia e
vida comunitria: duas maneiras para orientar a
ateno comunho escatolgica prometida ao
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mundo, para a qual ele foi criado apto, do
mesmo modo que dizemos que o mundo foi criado
apto para Deus; duas maneiras de engajar
plenamente nossa liberdade: usque ad mortem
(at a morte). Uma vez mais, compete ao superior
convidar-nos a tomar esse caminho para se
colocar sob a autoridade da Palavra, para se
tornar servidor deste dilogo de Deus com a
humanidade que o Verbo veio realizar, morando
entre os homens. Obedincia e vida comum, de
modo que a pregao esteja enraizada, ao mesmo
tempo, na comunidade dos discpulos que escutam
a Palavra viva e na comunidade esperada como a
comunho escatolgica que foi anunciada pelos
profetas, e selada pelo Filho com sua prpria vida.
Aquilo que poderia ser uma rvore da
pregao, fruto dessa promessa de vida
evanglica e apostlica, est enraizado nas trs
formas que a tradio da Ordem nos oferece para
permanecer em sua Palavra: comunho
fraterna, celebrao da Palavra e da orao,
estudo. uma tarefa especfica do governo na
Ordem - talvez sua responsabilidade primeira - a
de promover entre os frades, s irms e os leigos a
qualidade desta trplice base, que garante e
promove a liberdade apostlica.
A comunho fraterna o lugar onde os
irmos e irms podem testar a capacidade das
palavras humanas para ajudar na procura da
verdade que os tornar livres. atravs da vida
comunitria que chegamos a alcanar nossa
liberdade, ao contribuir para a comunho. Por isso
nossa vida religiosa capitular essencial para
nossa espiritualidade: cada membro da
comunidade tem sua prpria voz, est engajado no
processo comum da procura do bem de todos e
est adaptado misso de ser um servo da
Palavra: ele participa plenamente do governo da
Ordem. Este governo democrtico, no pelo fato
do exerccio do poder pela maioria, mas porque
promove a procura democrtica da unanimidade.
Este exerccio de vida comunitria exigente. Ns
o sabemos, pois ela pede a cada um de nunca
omitir sua prpria participao no dilogo para
este processo. Tambm exigente porque requer a
expresso, a mais plena possvel, de suas prprias
posies e argumentos, mesmo se isto leva a
objetivar discordncias entre os irmos, tendo
sempre a confiana de que ningum jamais ser
desprezado por sua opinio ou posio deferente,
mas sempre acolhido e amado como um irmo.
exigente tambm porque pede que todos os
membros de uma comunidade, aps paciente
busca do ponto que seja o mais prximo possvel
da unanimidade, tomem parte com determinao
na realizao da deciso tomada por todos. a
esta condio, ento, que todos sero acolhidos,
reconhecidos e apoiados por todos no momento de
expressar sua prpria generosidade e criatividade
apostlica. Talvez seja por causa da dificuldade
deste exerccio que abandonamos facilmente este
compromisso de nossa permanncia na Palavra
pela nossa vida comunitria.
A orao o segundo elemento do
enraizamento da rvore da pregao na Palavra.
A orao pessoal e comunitria no pode no ser
considerada como um exerccio a ser cumprido
para sermos coerentes com o compromisso da
vida consagrada regular. um meio pelo qual,
individualmente e em comunidade, fazemos a
escolha de pontuarmos o tempo de nossa histria
humana atravs da meditao sobre o mistrio da
histria de Deus com o mundo. Pode-se dizer que
possuir a histria da Revelao em resposta a
esse Deus que vem, em seu Filho, possuir cada
um de ns. questo de deixar, na orao, o
Esprito soprar onde quer. Desta forma a orao
surge da escuta da Palavra e leva de volta a ela,
estabelecendo o centro de gravidade de nossa vida
pessoal e da vida de nossas comunidades na
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contemplao do mistrio da Revelao do qual as
Escrituras so a narrao. A celebrao da Palavra
na Liturgia, sua contemplao na meditao dos
mistrios do Rosrio, a orao silenciosa e
perseverante: tudo isso nos ajuda a situar a
consagrao de nossa vida para pregao entre a
contemplao e o estudo. So os dois meios de
procurar a verdade de sua Palavra, da qual
queremos transmitir o sabor para aqueles e
aquelas a quem somos enviados. Se
permanecerdes em minha palavra, sereis
verdadeiramente meus discpulos. Permanecer
assim torna-se uma oportunidade para ns - como
o foi para os primeiros amigos de Jesus ao
pregarem - de sentirmo-nos livres, porque fomos
elevados por seu chamado, fortificados pelo seu
amor e sua misericrdia, encorajados e enviados
por sua graa a anunciar sua Palavra de verdade.
Permanecer na palavra, ento, nos leva a carregar
conosco, neste silncio de escuta e espera, aquelas
e aqueles a quem fomos enviados, que contam
com nossa orao, que nos foram dados por Deus.
Desse modo, misteriosamente, aceitamos que Ele
vincule o destino deles ao nosso na mesma graa
da salvao. Nesta rea, o governo da Ordem
como um vigia, para garantir que a liberdade dos
indivduos e das comunidades esteja realmente
enraizada na contemplao deste mistrio, no qual
o prprio Filho, em sua humanidade, trouxe a
salvao para o mundo, harmonizando sua
liberdade quela do Pai.
A orao nos coloca na escola de Nossa
Senhora dos Pregadores. Com ela, os Pregadores
podem descobrir e ser constantemente
maravilhados pela capacidade da vida humana de
se tornar uma vida para Deus. Com ela, cantando
os Salmos que orientam a contemplao deles na
histria da Revelao, as palavras humanas dos
pregadores so baseadas numa compreenso
amorosa do dilogo pelo qual Deus prope
humanidade sua adoo. E ainda mais: graas
orao a Ordem estabelece no centro de sua
pregao o sinal proftico da converso
comunho fraterna, anncio seguro da plena
realizao da promessa da aliana Naquele que a
Verdade. Na escola de Nossa Senhora dos
Pregadores, esta espiritualidade da obedincia na
vida comunitria une intimamente a Ordem ao
mistrio da Igreja, pela partilha do amor de Cristo,
pela adoo da inspirao de sua vida, pela doao
ao mundo.
O estudo o terceiro elemento para o
enraizamento da pregao como um permanecer
na Sua Palavra. o lugar da procura e da
contemplao da Verdade. E por causa disso que
o estudo constitui uma observncia muito
importante em nossa tradio dominicana. Sempre
profundamente alimentado pela escuta das
Escrituras e na fidelidade doutrina e ao
magistrio da Igreja, o estudo na Ordem o meio
privilegiado para entreter nosso dilogo com
Deus, levando tambm a um dilogo amigvel e
fraterno com os muitos sistemas de pensamento
que orientam o mundo e que tambm procuram a
verdade, cada um a seu modo. Pelo estudo, a
Ordem convida-nos a crescermos sem cessar na
liberdade, no por elevar num estilo mundano o
nvel dos conhecimentos adquiridos, mas sim,
para convidar-nos a avanar no caminho da
humildade da verdade. Elevar a inteligncia
humana nesta aventura que tem a audcia de tentar
tornar o mistrio compreensvel atravs de
palavras e conceitos humanos finitos, significa
no s agradecer a Deus criador, que quis que a
razo humana, embora finita e limitada, fosse
capaz de Deus, como tambm permitir
sobrepujar a razo na esperana de uma plenitude
que nenhum conceito pode realmente alcanar.
Esta aventura revela a verdadeira dimenso de
nossa liberdade. O governo na Ordem tem a
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responsabilidade de impedir que abandonemos
este prtica do estudo e tambm de estimular
nossa criatividade para encontrarmos
constantemente os modos mais compatveis de
propor aos outros esta aventura da evangelizao
da razo.
GOVERNO E ESPIRITUALIDADE
Esta perspectiva dada espiritualidade da
Ordem - permanecer na Palavra e conhecer a
verdade que liberta - permite-nos identificar certos
princpios essenciais do governo na Ordem. J
vimos que o governo finalizado essencialmente
misso da pregao, e procura promover um
estilo de vida que caracterstico da tradio
dominicana e que proporciona aos irmos as
condies para enraizar sua pregao na Palavra.
O primeiro princpio encorajar
constantemente a celebrao dos captulos para
colocar os irmos numa responsabilidade
apostlica comum. Em sua recente Carta
apostlica o Papa Francisco expressa o desejo de
que as pessoas consagradas procurem entender o
que Deus e a humanidade esto pedindo. Em
nossa tradio, isso destaca a importncia
renovada que devemos dar realidade de nossos
captulos. claro que os captulos conventuais,
provinciais e gerais tm a responsabilidade de
tomar decises claras de organizao e legislao
para nossa vida e misso. E, como temos
destacado, so momentos privilegiados onde nos
colocamos humildemente na escola da verdade
que procuramos juntos, em fraternidade. As
preciosas reflexes de meus predecessores
ajudaram-nos a compreender como a democracia
na Ordem no simplesmente uma forma de
exerccio do poder pela maioria, mas sim, de
procura para alcanar a maior unanimidade
possvel. O dilogo e o debate entre os irmos
muito importante em nossa tradio, fazendo com
que todos possam participar, com liberdade e
confiana, numa articulao partilhada do bem
comum, para o qual cada um se empenha em
contribuir. Tal dilogo fraterno possvel na
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medida em que houver entre ns respeito, abertura
e liberdade de irmos para expressarmos nossos
pensamentos.
Um dos objetivos essenciais desses debates
deve ser a ateno aos sinais de nosso tempo e a
compreenso das necessidades e dos clamores que
so feitos e que interpelam o carisma prprio da
Ordem, para levarmos ao corao da Igreja a
memria da pregao evanglica. Numa carta que
logo irei enviar - em resposta aos pedidos do
Captulo de Trogir - tratarei sobre o tema do
projeto comunitrio, cuja elaborao parece-me
ser o ponto de referncia para o governo na
Ordem. Somente na medida em que todos
participarem do desenvolvimento deste projeto
que realmente teremos condies de avaliar e
direcionar nosso servio Igreja e ao mundo pela
pregao. A comunho fraterna construda a
partir de uma preocupao comum pela misso,
que no apenas a determinao do que queremos
fazer, mas tambm a colocao em comum da
nossa compaixo pelo mundo, a partir da qual
ns queremos compartilhar esse dom precioso da
libertao pela palavra da Verdade.
Baseado nesta responsabilidade apostlica
comum, e porque o servio do governo da Ordem
consiste em garantir este enraizamento na verdade
da Palavra, o segundo princpio do governo o de
enviar a pregar. Domingos queria que a resposta
a esta misso fosse itinerante e mendicante a
fim de que a pregao da Ordem prolongasse a
economia da Palavra que, em Jesus, veio ao
mundo como amiga e irm, mendigando a
hospitalidade para aqueles que queria convidar a
participar na conversao com o Pai. As
assinaes feitas pelo superior (aos frades e
irms) deveriam sempre objetivar este horizonte
de itinerncia mendicante para a misso. Trata-se,
ento, da itinerncia apostlica, desta no
instalao, como um meio de se tornar discpulo.
Eu te seguirei onde quer que fores, disse um
dos apstolos, ao qual Jesus respondeu: As
raposas tm tocas e as aves tm ninhos. O Filho
do Homem, contudo, no tem sequer um lugar
para deitar sua cabea.... esta afirmao que
Domingos queria assumir seriamente, dando desta
forma aos irmos uma oportunidade de fazer
novamente a pergunta dos discpulos de Joo
Batista: Senhor, onde moras?: Vem e vers.
Isto o que deveria nos ajudar a entender o
exerccio de governo na Ordem. Entender e
escutar no mago de nossa vida os ministrios e
responsabilidades prprios de cada um: no centro
das realidades mais estabelecidas, talvez dos
sucessos e das carreiras mais brilhantes, nas
funes mais importantes; um chamado que pode
ressoar, que nos pede para partir a fim de, mais
adiante e com maior liberdade, reingressar numa
outra dimenso da misso comum da Ordem para
a Igreja. Estas mudanas, s vezes penosas, mas
normalmente fecundas de frutos, tm
caractersticas que so constantemente
relembradas na vida de Domingos: a compaixo, a
fronteira entre a vida e a morte, entre o humano e
o no humano, o desafio da justia e da paz, a
necessidade de um dilogo entre as religies e
culturas, muitas realidades que ecoam nas
fronteiras existenciais, das quais o Papa
Francisco fala em sua Carta. prefervel termos
compaixo para com os pecadores do que
estarmos ligado aos nossos prprios pecados, que
nos fazem centrar em ns mesmos. prefervel
estarmos ao servio da comunho da Igreja e do
seu crescimento do que dar importncia muito
grande a identidades que nos tranquilizam mas
que nos aprisionam em ns mesmos. Permanecer
na Palavra estar na brisa plena da inspirao da
prpria Palavra, da Palavra da qual desejamos nos
tornar discpulos. Esta itinerncia da pregao ,
portanto, o caminho para a nossa liberdade, a
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fim de sermos livres. pelo fato de o exerccio do
governo na Ordem estar direcionado a este envio,
que uma ateno toda especial deveria ser
prestada a cada pessoa, a seus dons, a sua
criatividade, para que a liberdade de cada um seja
mais bem realizada a
servio do bem comum e da misso. No centro
desta ateno, em nome da procura comum pela
verdade da Palavra, os superiores devem ter
conscincia da necessidade da misericrdia e da
justia. A misericrdia to cara nossa tradio
deve se expressar, antes de tudo, no cuidado para
as pessoas. deste modo que as relaes de
fraternidade entre as pessoas, como as relaes
dentro de uma comunidade, deveriam ser o ponto
focal que nos permite lembrar que ningum de ns
deve ser marginalizado por suas falhas ou
fracassos. A fraternidade realmente acontece
quando cada um descobre que sua plena dignidade
elevada e preservada pela misericrdia de Cristo
que se manifesta por meio dela e pelo chamado
que ela constantemente faz de se deixar libertar,
para ser livre. Mas, ao mesmo tempo, esta
dignidade deve sempre ser reconhecida na
disponibilidade para assumir responsabilidades.
Na perspectiva da Palavra da verdade que liberta,
no existe liberdade individual que possa
reivindicar para si de ser uma ilha, de ser o
centro de gravidade da vida de todos os outros. A
fraternidade, como Cristo a vivenciou, ensina-nos
como devemos assumir nossa verdadeira liberdade
numa abertura para a reciprocidade, onde o outro
sempre conta tanto quanto eu mesmo. por isso
que o governo tem a responsabilidade exigente de
manter sempre unidos a preocupao pela
misericrdia e o dever da justia. A referncia
atenta e objetiva s nossas Constituies, ao bem
comum, s decises de nossos captulos, permite-
nos de preservar o bem comum a salvo da
arbitrariedade de reivindicaes de liberdades
individuais. A tarefa, alguma vezes, parece rida
e ingrata. Mas ao preo deste equilbrio exigente
que podemos evitar uma referncia demasiado
dcil uma misericrdia que nada seno
covardia, irresponsabilidade ou indiferena; e a
este preo que cada um poder receber a graa que
veio procurar na Ordem: a de ser chamado para se
deixar libertar pela Palavra da Verdade.
Ao concluir este comentrio sobre o tema
anual do Jubileu, gostaria de mencionar um ltimo
princpio espiritual do governo da Ordem: o da
unidade e comunho. Aqui tambm, sobre o
critrio da misso que nos devemos apoiar. na
medida em que assumimos com pacincia os
meios para o discernimento comum que orientam
o ministrio da pregao, que os indivduos, as
comunidades, as provncias e todas as entidades
da Famlia dominicana podem entrar na dinmica
da integrao numa nica unidade. Cada uma
destas instncias convidada e convocada a trazer
para o bem comum sua prpria identidade pessoal,
cultural e eclesial. Mas, por causa da referncia
comum ao entusiasmo fundador que nos tm
consagrado todos juntos, pregao, a nossa
vontade deve ser de responder juntos a este envio.
Alis - o que at mais exigente - pedimos ao
Esprito que nos faa uma comunho de pregao.
Fazemos este pedido ao mesmo tempo em que
continuamente rezamos que o Esprito de
comunho possa abrir neste mundo o horizonte de
salvao e estabelea em nossos coraes a
esperana da nova criao. Acima da porta da
Baslica de Santa Sabina, doada a Domingos pelo
papa Honrio III, um mosaico representando a
Igreja da Circunciso e a Igreja dos Gentios
recorda este primeiro horizonte da pregao da
Ordem. A Palavra da verdade impele-nos a servir
a comunho prometida, atravs da pregao e do
testemunho. para isto que somos enviados. Na
porta da mesma Baslica a representao da
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Crucifixo faz-nos lembrar de que esta pregao
nos levar a nos tornar discpulos de Cristo, que
livremente deu sua vida para que todos possam ser
convocados na unidade.
A verdade vos libertar
Fr. Bruno Cador , OP
Mestre da Ordem dos Pregadores
(Traduo: Maria Antonietta Degani Natariani - Amparo)