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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO BRUNO FERREIRA PORTO TEORIA, METODOLOGIA DE PROJETO E DESENVOLVIMENTO DE MOTORES FOGUETE A PROPELENTE SÓLIDO E FOGUETES EXPERIMENTAIS CURITIBA 2007

Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

BRUNO FERREIRA PORTO

TEORIA, METODOLOGIA DE PROJETO E DESENVOLVIMENTO DE

MOTORES FOGUETE A PROPELENTE SÓLIDO E FOGUETES

EXPERIMENTAIS

CURITIBA

2007

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BRUNO FERREIRA PORTO

TEORIA, METODOLOGIA DE PROJETO E DESENVOLVIMENTO DE

MOTORES FOGUETE A PROPELENTE SÓLIDO E FOGUETES

EXPERIMENTAIS

Trabalho de Conclusão de Curso de

Graduação em Engenharia Mecânica,

da Pontifícia Universidade Católica do

Paraná, como requisito à Graduação.

Orientador: Prof. Luís Mauro Moura

CURITIBA

JULHO/2007

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BRUNO FERREIRA PORTO

TEORIA E METODOLOGIA DE PROJETO DE MOTORES FOGUETE A

PROPELENTE SÓLIDO E FOGUETES EXPERIMENTAIS

Trabalho de Conclusão de Curso de

Graduação em Engenharia Mecânica,

da Pontifícia Universidade Católica do

Paraná, como requisito à Graduação.

COMISSÃO EXAMINADORA

Orientador - Prof. Luís Mauro Moura

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Prof. Dalton V. Kozak

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Prof. José Antonio A. Velásquez Alegre

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Curitiba_____de____________de 2007

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A força e dedicação da mãe dos meus filhos e a curiosidade e amor

incondicional dos meus pequenos. Ao apoio e teimosia, herdada,

de minha mãe. A honra e ética passada por minha família. Ao

amor e carinho de minha namorada.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador e professor por todo o seu apoio, reconhecimento e

paciência.

A todos do prédio de elétrica, professores, técnicos, estagiários e alunos que

contribuíram com uma grande carga de conhecimentos em eletrônica, bom humor e

apoio.

A todos os professores do curso de Engenharia Mecânica da PUCPR.

Ao engenheiro Richard Nakka, que respondeu a todos os meus e-mails com

muita paciência, apesar dos incontáveis que recebe diariamente de todo mundo.

Ao professor Marchi, C. H. por seu apoio, dicas e a doação do livro do Sutton,

indispensável a este trabalho.

A todos os amigos, familiares e tantos outros que ajudaram neste trabalho,

nunca haverá páginas e memória suficientes para agradecer de forma adequada a

todos.

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RESUMO

O Brasil precisa de profissionais de tecnologia espacial para garantir a sua

fatia neste mercado emergente. Existe muita informação sobre projeto de foguetes

experimentais básicos, porém dispersada e na sua grande maioria em inglês. Este

trabalho é uma síntese da teoria básica e metodologias de projeto de motores

sólidos e foguetes experimentais e é direcionado aos entusiastas e futuros

engenheiros que queiram dar um passo a frente.

Inicia-se com um importante capitulo sobre segurança seguido pela teoria e

projeto de motores foguete a propelente sólido, tendo como base propelentes

amadores seguros e de baixo custo. A teoria continua com o projeto aerodinâmico,

estrutural e de estabilidade, com o auxilio de softwares de simulação gratuitos e

consagrados. Também discorre sobre os sistemas de recuperação, sua função,

elementos e projeto.

O trabalho se encerra com o projeto do motor MJ559 e foguete AKK,

baseados exclusivamente nas teorias e metodologias apresentadas nos capítulos

anteriores deste.

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ABSTRACT

It’s necessary to Brazil to have professionals of space technology to guarantee

its slice in this emergent market. There is a lot of information about the project of

basic experimental rockets, however, they’re fragmented and mostly in English. This

work is a synthesis of the basic theory and methodologies to the project of solid

rocket motors and experimental rockets and is directed for the enthusiastic and future

engineers who want be a step forward.

It is initiated with an important chapter on security followed by the theory and

project of solid rocket motors, having safe and of low cost amateur propellants in

focus. The theory continues with the aerodynamic, structural project and stability,

assisted by trusted and free rocketry software. Also it discourses about recovery

systems, its function, elements and project.

The work ends with the project of the motor MJ559 and the rocket AKK, based

exclusively on the theories and methodologies presented in the previous chapters.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma de sequência de desenvolvimento de projeto de um motor

foguete mostrando os principais laços de iteração, U.S. Army Missile Command, (7)

.................................................................................................................................. 26

Figura 2 - Exemplo da janela do CProPep com os resultados .................................. 38

Figura 3 - Janela do software CProPep .................................................................... 39

Figura 4 - Gráfico logaritimo da relação taxa de combustão e pressão de três

propelentes diferentes. Fonte: NASA, (14). ............................................................... 40

Figura 5 - Influência do Expoente de Pressão na Taxa de Combustão .................... 41

Figura 6 - Influencia da Velocidade dos gases dentro do grão na Taxa de

Combustão. Nasa, (14). ............................................................................................ 43

Figura 7 - Relação velocidade e natureza de transferência de calor, Kuo, (15). ....... 43

Figura 8 - Efeito da granulometria do Perclorato de Amônia na taxa de combustão,

NASA, (17). ............................................................................................................... 45

Figura 9 - Influência do óxido de ferro em propelentes AP/PBAN, NASA, (17). ........ 48

Figura 10 - O versátil A100M de Richard Nakka, usado com sucesso em diversos

tipos de propelente KN - açúcar. Nakka, (2).............................................................. 50

Figura 11 - Motor Balístico de Ensaio da Australian Experimental e kit de tubeiras.

Fonte: Australian Experimental, (18). ........................................................................ 50

Figura 12 - Vista em corte do UEP, sem a tubulação de controle e sondagem da

pressão. .................................................................................................................... 51

Figura 13 - Unidade de Ensaios de Propelente, UEP, desenvolvida pelo autor. ....... 52

Figura 14 - Sonda usando termopares de um equipamento desenvolvido por Richard

Nakka, (2), o mesmo equipamento poderia usar fusíveis. ........................................ 52

Figura 15 - Resultado de um ensaio realizado por Richard Nakka durante seus

estudos de propelentes de base epóxi. Nakka, (2). .................................................. 53

Figura 16 - Seções de geometria de grão e seus efeitos no comportamento do

motor. ........................................................................................................................ 54

Figura 17 - Regressão da frente de chama em um grão de núcleo estrela, NASA, (9).

.................................................................................................................................. 55

Figura 18 - Grão Bates. Nakka, (2). .......................................................................... 56

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Figura 19 - Corpo de um motor com configuração Bates, onde o inibidor externo

falhou causando o comprometimento do forro seguido de falha por fluência. Nakka,

(2). ............................................................................................................................. 56

Figura 20 - Grão livre ................................................................................................ 57

Figura 21 - Grão Barra e Tubo do motor MK508 do autor ......................................... 58

Figura 22 - Motor foguete do missel Hellfire com sua configuração Barra e Tubo,

Wikipedia, (20). ......................................................................................................... 58

Figura 23 - Geometria de um segmento de um grão do tipo Bates ........................... 61

Figura 24 - Comportamento do motor em função da folga entre os segmentos.

Nakka, (2). ................................................................................................................. 63

Figura 25 - Geometria de um grão do tipo Livre ........................................................ 64

Figura 26 - Geometria de um grão Barra e Tubo. ..................................................... 66

Figura 27 - Posição dos planos de refência no eixo x da tubeira do motor MJ508. .. 68

Figura 28 - Ondas de choque, responsáveis pelo efeito de entupimento, em um

fluido passando por um oríficio a (na entrada), Gibson et al. (2000). .......... 70

Figura 29 - Relação em função da valocidade . ............................................. 71

Figura 30 - Efeito da taxa de expansão na eficiência da tubeira. .............................. 73

Figura 31 - Balanço de pressão nas paredes da câmara e tubeira e velocidades

envolvidas no cálculo do empuxo, Sutton, (8). .......................................................... 75

Figura 32 - Influência do taxa de expansão no empuxo. ........................................... 76

Figura 33 - Grafico do empuxo versus tempo de um motor de Richar Nakka, o

impulso total é representado pela área, Nakka, (2). .................................................. 78

Figura 34 - Curva típica de pressão de um motor com área de queima constante.

Sua curva pode ser dividida em três fases. Adaptado de do trabalho de Sanches,

(20). ........................................................................................................................... 81

Figura 35 - A pressão influencia significativamente no impulso, principalmente no

regime de baixa pressão (pressurização e despressurização), Nakka, (2). .............. 85

Figura 36 - Gráfico do fator de perda por geometria da tubeira versus ângulo da

seção divergente. ...................................................................................................... 87

Figura 37 - Motor foguete MJ510, desenvolvido na seção 7, e seus componentes

principais,. ................................................................................................................. 88

Figura 38 - Fator de rompimento em função de beta. ............................................... 90

Figura 39 - Distribuição de pressão no cabeçote e tubeira e a força de empuxo. ..... 91

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Figura 40 - Duas formas construtivas de ignitores e fotos de ignitores antes e após a

aplicação do compósito pirotécnico. Fotos: David Sparks ........................................ 94

Figura 41 - Diagramas de corpo livre de foguetes com diferentes configurações

aerodinâmicas. .......................................................................................................... 98

Figura 42 – Trajetórias de diferentes configurações aerodinâmicas. ........................ 99

Figura 43 - Exemplo de um foguete com multiplos diâmetros. ................................ 100

Figura 44 - Centros de gravidade inicial e pós combustão do foguete AKK, obrtidos

através do software CAD 3D SolidWorks. ............................................................... 100

Figura 45 – Influência da razão de alongamento das aletas na força normal e por

consequência na posição do CP, U.S. Army Missile Command , (7). ..................... 101

Figura 46 - Tipos comuns de perfis usados em aletas de foguetes. ....................... 102

Figura 47 - Diversas geometrias de aletas e suas razões de aspecto. U.S. Army

Missile Command , (7). ........................................................................................... 103

Figura 48 - Fuselagem fragmentada por esforços aerodinâmicos no foguete Frostfire

III durante a fase transônica do vôo. Nakka, (2) ...................................................... 103

Figura 49 - Fluxo transônico com vibração induzida por desequilibro nas ondas de

choque em torno da aleta. ....................................................................................... 104

Figura 50 - Comparativo das características de arrasto de diversos formatos de ogiva

em função da velocidade Mach sendo 1 para superior, 2 para bom, 3 para suficiente

e 4 para inferior. Chinn, (28) .................................................................................... 105

Figura 51 - Gráfico de velocidade e aceleração em função do tempo, compredido

entre a ignição do motor e apogeu foguete. ............................................................ 106

Figura 52 - Diagramde corpo livre das forças agindo sobre a seção central do

foguete. ................................................................................................................... 107

Figura 53 - Análise do plano de tensões ................................................................. 108

Figura 54 - Diagrama de corpo livre das aletas para cálculo básico de resistência

mecânica. ................................................................................................................ 110

Figura 55 - Janelas do software Aerolab. ................................................................ 111

Figura 56 - Comparativo dos resultados obtidos por Nakka, pelo software AeroLab, e

testes reais em túnel de vento do foguete Hawk da NASA. Nakka, (2). .................. 112

Figura 57 - Tela da planilha EzAlt de Richard Nakka, (2). ....................................... 114

Figura 58 - Tela do software Launch, (11), de cálculo de trajetória e performance de

vôo. ......................................................................................................................... 115

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Figura 59 - Fita de arrasto ou streamer. (Foto de David Baird, International Rocket

Week, 20/08/2006) .................................................................................................. 117

Figura 60 - Pára-quedas do tipo usado pelo grupo Vatsaas, (34). .......................... 118

Figura 61 - Forma geométrica dos paineis e montagem do pára-quedas, (34). ...... 119

Figura 62 - Pára-quedas elíptico de 12 painéis de Richard Nakka, (2). .................. 119

Figura 63 - Planilha do grupo Vatsaas para cálculo do tamanho dos painéis do

paraquedas, (34). .................................................................................................... 120

Figura 64 - Efeito do vento na recuperação do foguete com pára-quedas principal no

apogeu. ................................................................................................................... 121

Figura 65 - Sistema de recuperação de dois estágios. ........................................... 122

Figura 66 - Sistema de pára-quedas de duplo estágio com piloto para principal do

segundo estágio. INFOcentral, (33) ........................................................................ 123

Figura 67 - Exposição e ejeção do pára-quedas por separação de seções. ........... 124

Figura 68 - Exposição e ejeção do pára-quedas por portinhola. ............................. 124

Figura 69 - Anállie do comprimento do encordoamento. ......................................... 125

Figura 70 - Bolsa de soltura, os elásticos organizam os cordeletes, (36). .............. 126

Figura 71 - Sequência de liberação da bolsa, adaptado do site INFOcentral, (33). 127

Figura 72 - Nós mais usados no encordoamento do sistema de recuperação. Figura

adaptada de fotos originais, do site Wikipedia, (37). ............................................... 127

Figura 73 - Servomotor usado em modelismo rádio controlado, Futaba Inc. .......... 128

Figura 74 - Separação de seções por carga de ejeção. .......................................... 129

Figura 75 - Experimento para determinar a energia de extração do sistema de

recuperação. ........................................................................................................... 130

Figura 76 – Conservação de energia. ..................................................................... 131

Figura 77 - Motor comercial para hobby da Estes Rocketry, EUA. Figura adaptada do

fabricante................................................................................................................. 132

Figura 78 - Dispositivo de ejeção pirotécnico Pyro-DED de Richard Nakka, (2). .... 133

Figura 79 - Carga de ejeção pirotécnica ativada por ignitor elétrico. ....................... 133

Figura 80 – Esquema de sistema de ejeção a frio por gás e versão comercial da

Rouse Tech. ............................................................................................................ 134

Figura 81 - Sistema pneumático da Robart, (35). .................................................... 135

Figura 82 - Rebites de nylon ................................................................................... 135

Figura 83 - Esquema básico de funcionamento dos desegates ativados

pirotécnicamente. .................................................................................................... 136

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Figura 84 - Dispositivo de desegate pirotécnico desenvolvido por Richard Nakka, (2).

................................................................................................................................ 137

Figura 85 - Dispositivo de desengate pirotécnico desenvolvido por José Luís

Sánchez, (40). ......................................................................................................... 137

Figura 86 - Eventos de vôo de um foguete experimental. ....................................... 138

Figura 87 - Sistema redundante de controle. .......................................................... 139

Figura 88 - Alguns tipos de sensores discretos e os eventos relacionados. Fonte das

figuras A, B e C: Nakka, (2). .................................................................................... 140

Figura 89 - Aelerômetro MMA3202 e sensor de pressão MPX4115A fornecidos como

amostra pela Freescale para este projeto. (Foto: Bruno Ferreira Porto) ................. 141

Figura 90 - Computador de vôo LCX da G-Wiz, (41). ............................................. 142

Figura 91 - Computador de vôo DCS da G-Wiz, (41). ............................................. 142

Figura 92 - Software de visualização dos dados de vôo da G-Wiz, (41). ................ 143

Figura 93 - Circuito do sistema de ignição desenvolvido para o projeto. ................ 144

Figura 94 - Detalhe do painel do SACE, sistema de aquisição para testes estátios

em motores desenvolvido pelo autor e descrito na subseção 7.7. .......................... 144

Figura 95 - Resultados do Projeto Preliminar .......................................................... 149

Figura 96 - Tubeira do motor MJ510. ...................................................................... 150

Figura 97 - Cabeçote do motor MJ510 .................................................................... 150

Figura 98 - Motor MJ510. ........................................................................................ 151

Figura 99 - Vista em corte de uma seção tubular do foguete AKK, detalhe da

estrutura tipo sanduíche. ......................................................................................... 152

Figura 100 - Configuração geral do foguete AKK, neste estágio de desenvolvimento.

Medidas em mm. ..................................................................................................... 153

Figura 101 - Fabricação do pára-quedas do primeiro estágio. ................................ 155

Figura 102 - Conjunto de pára-quedas do foguete AFF. O traço vermelho na trena é

a indicação do metro. .............................................................................................. 155

Figura 103 - Esquema de recuperação do AKK e estudo de encordoamento......... 156

Figura 104 - Sistema de recuperação do AKK organizado da forma em que ficará no

interior da seção. ..................................................................................................... 157

Figura 105 - Cordão umbilical do AKK, com suas ancoragens, pára-quedas e ponto

de fixação da bolsa. ................................................................................................ 158

Figura 106 - Dispositivo de ejeção SRX. ................................................................. 159

Figura 107 - DDP, Dispositivo de desengate acionado por carga Pirotécnica. ....... 161

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Figura 108 - Geometria básica das aletas do AKK. ................................................. 162

Figura 109 - Resultados dos estudos preliminares de estabilidade do foguete AKK.

................................................................................................................................ 163

Figura 110 - Resultados das simulações 1 a 9. ....................................................... 165

Figura 111 - Resultados das simulações 10 a 18. ................................................... 165

Figura 112 - Resultados das simulações 19 a 27. ................................................... 166

Figura 113 - Média e inclinação da curva do coeficiente de estabilidade. ............... 166

Figura 114 - Porcentagem da faixa de velocidade simulada de valores estáveis e

super estáveis. ........................................................................................................ 167

Figura 115 - Geometria final do projeto de estabilidade, apresentada pelo Aerolab.

................................................................................................................................ 168

Figura 116 - Resultados do motor Epoch, de Richard Nakka, que possuí

configuração semelhante a deste estudo. ............................................................... 172

Figura 117 - Vista explodida do MJ559 com seus componentes identificados. ...... 173

Figura 118 - Medidas básicas do MJ559. ................................................................ 173

Figura 119 - Resultado do estudo de estabilidade com o MJ559. ........................... 174

Figura 120 - Vista explodida da seção trazeira. ...................................................... 176

Figura 121 - Vista explodida da seção frontal do foguete AKK. .............................. 177

Figura 122 - Clube de vôo Clube das Cordilheiras. Referência na própria imagem.

................................................................................................................................ 178

Figura 123 - Dimensões do foguete AKK (em mm) e vista em corte. ...................... 179

Figura 124 - Aceleração, velocidade e altitude em função do tempo até o apogeu.

................................................................................................................................ 180

Figura 125 - Aceleração, velocidade e altitude em função do tempo na fase de

recuperação do AKK. .............................................................................................. 181

Figura 126 - Trajetória do foguete AKK em duas dimensões em um lançamento com

vento. ...................................................................................................................... 181

Figura 127 - Vista em perspectiva da UEP com seu corpo transparente para a

visualização da amostra de propelente na haste da sonda. .................................... 182

Figura 128 - Protótipo do SACE quando em testes de interface. ............................ 183

Figura 129 – Conceito vertical de plataforma para testes estáticos. ....................... 184

Figura 130 - Plataforma de testes estáticos horizontal. .......................................... 184

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tamanhos mínimos para campo de lançamento...................................... 25

Tabela 2 - Distâncias mínimas da plataforma de lançamento ................................... 25

Tabela 3 - Modos de Falha........................................................................................ 25

Tabela 4 – Oxidantes mais comuns em propelentes sólidos .................................... 31

Tabela 5 – Características dos Açucares. ................................................................. 33

Tabela 6 – Características do Epóxi .......................................................................... 35

Tabela 7 - Relação entre diâmetro de fio, corrente e temperatura para fios de níquel

cromo. ....................................................................................................................... 93

Tabela 8- Análise de segurança e falha em Sistemas de Recuperação ................. 117

Tabela 9 - Porcentagem de massa dos componentes do propelente RNX-47. ....... 146

Tabela 10 - Propriedades ideais do propelente RNX-57 ......................................... 147

Tabela 11 - Resultados do Projeto Preliminar ......................................................... 149

Tabela 12 - Estudo de estabilidade ......................................................................... 162

Tabela 13 - Dados de entrada do segundo estudo de estabilidade. ....................... 164

Tabela 14 - Resultados de simulações para uso no cálculo de resistência. ........... 169

Tabela 15 - Propriedades da Madeira Balsa ........................................................... 169

Tabela 16 - Resultados do projeto do motor corrigido pelos coeficientes. .............. 172

Tabela 17 - Dados de resistência dos materias do motor. ...................................... 174

Tabela 18 - Resultados do estudo de resistência mecânica do tubo. ..................... 175

Tabela 19 - Informações sobre a seção traseira do AKK. ....................................... 176

Tabela 20 - Informações sobre a seção central do AKK. ........................................ 177

Tabela 21 - Informações sobre os sistemas a bordo da seção frontal do foguete

AKK. ........................................................................................................................ 178

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14

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17

2. SEGURANÇA ....................................................................................................... 18

2.1. REGULAMENTAÇÃO ....................................................................................... 18

2.2. REGRAS DE SEGURANÇA ............................................................................. 19

2.2.1. Projeto e construção ....................................................................................... 19

2.2.2. Recuperação .................................................................................................. 21

2.2.3. Payloads ......................................................................................................... 21

2.2.4. Plataforma de lançamento .............................................................................. 21

2.2.5. Sistemas de Ignição ....................................................................................... 22

2.2.6. Local do lançamento ....................................................................................... 23

2.2.7. Localização da plataforma .............................................................................. 23

2.2.8. Distâncias de segurança. ................................................................................ 23

2.2.9. Operações de lançamento .............................................................................. 24

2.2.10. Controle de lançamento .............................................................................. 24

2.2.11. Tabelas de distâncias de segurança ........................................................... 25

3. TEORIA DE MOTORES FOGUETE SÓLIDOS .................................................... 26

3.1. CONSIDERAÇÕES BÁSICAS .......................................................................... 27

3.2. PROPELENTE .................................................................................................. 27

3.2.1. Propriedades desejadas em propelentes sólidos ........................................... 29

3.2.2. Matéria prima básica, químicos ...................................................................... 31

3.3. COMBUSTÃO ................................................................................................... 36

3.4. TAXA DE COMBUSTÃO .................................................................................. 39

3.4.1. Pressão na câmara de combustão ................................................................. 39

3.4.2. Temperatura inicial do grão de propelente ..................................................... 42

3.4.3. Velocidade dos gases fluindo paralelos à superfície ...................................... 42

3.4.4. Processo físico da combustão ........................................................................ 44

3.4.5. Manipulando a Taxa de Combustão ............................................................... 46

3.5. DETERMINAÇÃO DA TAXA DE COMBUSTÃO ............................................... 49

3.6. GEOMETRIA DO GRÃO .................................................................................. 53

3.6.1. Densidade e eficiência densiométrica do propelente ...................................... 59

3.6.2. Capacidade de enchimento, ........................................................................ 60

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3.6.3. Calculo das características geométricas do grão ........................................... 60

3.7. TUBEIRA .......................................................................................................... 66

3.7.1. Energia ........................................................................................................... 67

3.7.2. Conservação da Massa .................................................................................. 70

3.8. EMPUXO .......................................................................................................... 74

3.9. IMPULSO TOTAL ............................................................................................. 77

3.10. IMPULSO ESPECÍFICO E VELOCIDADE CARACTERÍSTICA DOS GASES . 79

3.11. PRESSÃO ........................................................................................................ 80

3.12. FATORES DE CORREÇÃO ............................................................................. 84

3.12.1. Condições na câmara ................................................................................. 84

3.12.2. Perdas na tubeira ........................................................................................ 86

3.12.3. Correção do Impulso Específico ................................................................. 88

3.13. RESISTÊNCIA MECÂNICA .............................................................................. 88

3.14. SISTEMAS DE IGNIÇÃO .................................................................................. 92

4. AERODINÂMICA E ESTABILIDADE DO FOGUETE .......................................... 97

4.1. ALETAS .......................................................................................................... 101

4.2. ARRASTO E RESISTÊNCIA MECÂNICA DO FOGUETE .............................. 104

4.3. DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE E COEFICIENTE DE ARRASTO ...... 111

5. BALÍSTICA ......................................................................................................... 113

6. SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO ....................................................................... 116

6.1. PÁRA-QUEDAS .............................................................................................. 117

6.2. SISTEMAS DE EJEÇÃO ................................................................................ 123

6.3. DISPOSITIVOS DE EJEÇÃO ......................................................................... 128

6.4. ELETRÔNICA DE BORDO ............................................................................. 137

6.4.1. Sistemas Discretos ....................................................................................... 139

6.4.2. Sistemas Ativos ............................................................................................ 140

7. PROJETO DO FOGUETE AKK E MOTOR MJ559 ............................................ 145

7.1. PROJETO PRELIMINAR ................................................................................ 146

7.2. PROJETO DA ESTRUTURA .......................................................................... 151

7.3. PROJETO DO SISTEMA DE RECUPERAÇÃO ............................................. 154

7.3.1. Dispositivos de ejeção .................................................................................. 158

7.3.2. Eletrônica de bordo ....................................................................................... 161

7.4. PROJETO DE ESTABILIDADE AERODINÂMICA .......................................... 162

7.5. PROJETO DO MOTOR .................................................................................. 169

Page 17: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

16

7.6. RESULTADOS DO PROJETO ....................................................................... 175

7.7. OUTROS PROJETOS DESENVOLVIDOS DURANTE ESTE TRABALHO .... 182

8. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 185

Page 18: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

17

1. INTRODUÇÃO

Uma nova corrida espacial está acontecendo neste momento. Ao contrário da

corrida do século passado esta disputa é protagonizada também pela iniciativa

privada independente. O Brasil já integra um grupo seleto de países com tecnologia

espacial, mas ainda está atrás, principalmente no multibilionário mercado espacial.

Os problemas são muitos, da escassez de recursos para a falta de profissionais da

área. Este trabalho visa se tornar uma referencia didática do projeto de foguetes

experimentais amadores, seus sistemas e motores de propelente sólido. Foguetes

desta classe são desenvolvidos para vôos verticais e com estabilização

aerodinâmica passiva e não possuem nenhum sistema de controle direcional ou

estabilidade ativa, têm o propósito de pesquisa ou entretenimento. O estudo é

iniciado por por um capitulo sobre segurança, imprescindível para este tipo de

tecnologia, avançando na teoria do propelente até a recuperação do foguete.

Alinhando a teoria com a seqüência de fenômenos que representam o vôo de forma

a facilitar a compreensão e a didática para aplicação em projeto. Por fim são

desenvolvidos o motor MJ 559 e o foguete AKK, usando exclusivamente a

metodologia e teoria apresentadas neste trabalho. O projeto também inclui uma

página web, http://www.yacamim.net, com todo conteúdo do trabalho, fórum de

discussões, links de referência, além da publicação de futuros resultados práticos

deste estudo. Munidos de informações para o projeto básico de foguetes os futuros

e atuais estudantes de engenharia serão capazes de projetos mais ousados, criando

no Brasil uma nova geração de engenheiros e entusiastas para este mercado

emergente.

Page 19: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

18

2. SEGURANÇA

De acordo com o dicionário, segurança é:

Ato ou efeito de segurar; afastamento de todo o perigo; condição do que está

seguro; precaução; garantia; confiança, tranqüilidade de espírito por não haver

perigo; certeza; firmeza, convicção. (1)

O desenvolvimento de foguetes experimentais não é uma atividade perigosa,

desde que todos os cuidados relativos à segurança sejam observados como

primeira regra. A Tabela 3, página 25, lista os principais tipos de falha que

acontecem em lançamentos de foguetes, os danos potencias e as precauções para

se evitar a falha ou os resultados.

2.1. REGULAMENTAÇÃO

O vôo de foguetes não tripulados é regulamentado pelo SERAC de cada

região. De acordo com a RBHA101:

“101.23 - LIMITAÇÕES OPERACIONAIS

Ninguém pode operar um foguete não tripulado:

(a) De modo a criar risco de colisão com aeronaves;

(b) Em espaço aéreo controlado;

(c) A uma distância que comprometa a operação de qualquer aeródromo;

(d) Em qualquer altitude onde nuvens ou fenômenos de opacidade similar apresentarem cobertura superior a cinco décimos;

(e) Em qualquer altitude onde a visibilidade horizontal for menor do que 5000 metros;

(f) Dentro de qualquer nuvem;

(g) A menos de 500 metros de qualquer pessoa ou propriedade que não esteja associada à operação;

(h) Entre o pôr e o nascer do sol.

Page 20: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

19

101.25 - NOTIFICAÇÃO SOBRE OPERAÇÃO

Ninguém pode operar um foguete não tripulado a menos que tenha recebido autorização do SERAC

com jurisdição sobre a área, devendo apresentar a esse serviço as seguintes informações:

(a) Nome e endereço dos operadores;

(b) Quantidade de foguetes a serem lançados;

(c) Tamanho e peso de cada foguete;

(d) Altitude máxima a ser atingida por cada foguete;

(e) Local da operação;

(f) Dia, horário e duração da operação; e

(g) Quaisquer outras informações pertinentes requeridas pelo SERAC.”

2.2. REGRAS DE SEGURANÇA

A segurança em si é intimamente ligada ao projeto, um foguete desenvolvido

sem critérios é muito perigoso. Deve-se sempre usar os equipamentos de proteção

individual recomendados pelos fabricantes de ferramentas e materiais envolvidos. O

conjunto de regras a seguir é uma adaptação das regras e dicas encontradas na

web site de Richard Nakka (2) e organizações internacionais, Tripoli Rocketry

Association, (3), e Sugar Shot to Space Program, (4).

2.2.1. Projeto e construção

a) Um foguete experimental deve ser construído para suportar

com margem de segurança a todos os esforços de

operação e manter sua integridade estrutural sob as

condições esperadas ou conhecidas de vôo;

b) Uma pessoa que se proponha a operar um foguete

Page 21: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

20

experimental deve determinar a sua estabilidade antes do

vôo e manter em registro a documentação com dados

sobre os centros de pressão e gravidade do foguete;

c) Garanta que o foguete pesa menos que o máximo

recomendado para o motor usado no vôo. Durante a pré-

inspeção de vôo este dado deve ser confirmado;

d) Sempre use EPI (Equipamentos de Proteção Individual)

quando riscos de ferimento ou intoxicação estão presentes.

e) Esteja familiarizado com os produtos químicos que irá usar

na formulação de propelentes e pirotécnicos, em particular

as sensibilidades e incompatibilidades;

f) Quando estiver trabalhando com propelentes esteja sempre

alerta e tenha em mente da possibilidade ignição a

qualquer momento, tenha planejado a fuga e o combate ao

incêndio. Tenha em mãos sempre um balde com água ou

outro equipamento apropriado para extinção de fogo;

g) Use locais apropriados para preparação e estocagem de

propelentes, produtos pirotécnicos e seus componentes;

h) Mantenha propelentes e pirotécnicos em estoque apenas

na quantidade necessária para a próxima missão;

i) Ignitores devem ter seus fios em "curto" durante todo

tempo, apenas separando-os no momento da instalação do

sistema de ignição;

j) A câmara de combustão do motor deve ser bem projetada,

a pressão de rompimento deve ter um fator de segurança

de no mínimo 1,5 dentro do regime elástico. Um bom

projeto é sua maior segurança. Para equipamentos de

bancada o fator de segurança deve ser no mínimo 2,5;

k) É uma boa prática ensaiar hidrostaticamente os

componentes submetidos a elevadas pressões.

Page 22: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

21

2.2.2. Recuperação

a) Um foguete experimental só poderá voar se possuir

sistemas de recuperação que tragam de volta ao solo todos

os seus componentes livres de quaisquer danos, de modo

que possam voar novamente;

b) Apenas use proteção anti-chama no sistema se o projeto do

foguete exigir isso;

c) Não tente resgatar um foguete experimental enquanto este

se aproxima do solo, aguarde que este chegue ao chão e

esteja estável para o resgate;

d) Não tente resgatar o foguete se este estiver em locais

perigosos ou de difícil acesso.

2.2.3. Payloads

a) Não adicione ou incorpore cargas inflamáveis, explosivas

ou que possam machucar a quaisquer pessoas ou animais;

b) Não tente lançar animais de qualquer tipo junto ao foguete.

2.2.4. Plataforma de lançamento

a) O lançamento deve partir de uma plataforma estável e que

possa guiar o foguete até que este tenha garantido

velocidade suficiente para um vôo seguro e estável;

b) A plataforma deve possuir um defletor para os jatos da

exaustão que impeça que os gases quentes atinjam

qualquer superfície ou objeto inflamável ou que não possa

sofrer danos;

Page 23: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

22

c) A plataforma não deve ser capaz de lançar a mais de 20

graus da vertical;

d) Deixe a ponta do trilho guia acima do nível dos olhos ou

coloque uma proteção até o momento do lançamento para

evitar ferimentos acidentais.

e) É uma boa pratica aterrar eletricamente a plataforma de

forma e evitar quaisquer possibilidades de ignição por

energia eletrostática. Os ignitores devem ser aterrados a

plataforma durante os preparativos de lançamento.

2.2.5. Sistemas de Ignição

a) Use um sistema de ignição que seja remotamente

controlado, operado eletronicamente e que contenha um

botão de lançamento que retorne automaticamente para

circuito aberto (push-button NA);

b) O sistema deve conter pelo menos uma chave de

segurança em série com o botão de lançamento;

c) O sistema de lançamento deve ser projetado, instalado e

operado de forma que a decolagem ocorra em no máximo

três segundos a partir do acionamento do sistema de

ignição. O sistema deve ser previamente testado para

garantir isso;

d) Os ignitores só devem ser instalados no último momento

antes do lançamento e devem estar todos aterrados (com

seus dois pólos conectados) para evitar cargas estáticas

acidentais.

Page 24: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

23

2.2.6. Local do lançamento

a) Os foguetes devem ser lançados em locais onde árvores

altas, linhas de transmissão de energia e construções não

impeçam a operação segura;

b) Não coloque a base de lançamento próximo à divisa do

campo de lançamento. O mais próximo que se deve chegar

da divisa é um quarto do tamanho do local;

c) O campo deve ter pelo menos o tamanho recomendando

na Tabela 1,página 25, ou não menos do que metade da

máxima altitude calculada para o vôo.

2.2.7. Localização da plataforma

a) Posicione a plataforma a mais de de quaisquer

construções habitadas;

b) Garanta que o terreno, num raio de três metros, esteja livre

de quaisquer materiais de fácil combustão, como vegetação

seca por exemplo.

2.2.8. Distâncias de segurança.

a) Ninguém mais deve estar próximo do lançamento além dos

responsáveis pelo mesmo ou pessoas autorizadas;

b) Todos os espectadores devem permanecer dentro da área

de segurança determinada no plano de lançamento;

c) Ninguém deve estar, nem mesmo os responsáveis pelo

Page 25: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

24

lançamento, a uma distância de segurança menor do que a

indicada na Tabela 2,página 25.

2.2.9. Operações de lançamento

a) Não dê ignição nem lance um foguete horizontalmente, para

um alvo ou qualquer trajetória que entre em nuvens ou vá

além do campo de lançamento;

b) Não lance o foguete se os ventos estiverem a mais de

( );

c) Não opere foguetes de forma a trazer riscos à aviação.

2.2.10. Controle de lançamento

a) Todos os presentes devem estar de pé e visualizando o

foguete no momento do lançamento;

b) Preceda o lançamento por uma contagem regressiva de

pelo menos cinco segundos, de forma audível a todos os

presentes;

c) Não se aproxime de um foguete que teve falha de ignição

antes de travar o sistema de segurança, remover a fonte de

energia do sistema de ignição, aguardar um minuto.

Apenas uma pessoa deve se aproximar até que a

segurança seja garantida.

Page 26: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

25

2.2.11. Tabelas de distâncias de segurança

Tabela 1 - Tamanhos mínimos para campo de lançamento

Impulso Total

Embarcado

Classificação

do motor

Menor tamanho

do campo

160,01 - 320,00 H 450

320,01 - 640,00 I 750

640,01 - 1280,00 J 1500

1280,01 - 2560,00 K 1600

2560,01 - 5120,00 L 3000

5120,01 - 10240,00 M 4500

10240,01 - 20480,00 N 6500

20480,01 - 40960,00 O 8000

Adaptado de: Tripoli Rocketry Association, (3).

Tabela 2 - Distâncias mínimas da plataforma de lançamento

Impulso Total

Embarcado (N.s)

Classificação

do motor

Distância

mínima (m)

160,01 - 320,00 H 15

320,01 - 640,00 I 30

640,01 - 1280,00 J 30

1280,01 - 2560,00 K 60

2560,01 - 5120,00 L 90

5120,01 - 10240,00 M 150

10240,01 - 20480,00 N 300

20480,01 - 40960,00 O 450

Adaptado de: Tripoli Rocketry Association, (3).

Tabela 3 - Modos de Falha

Evento envolvendo risco Resultado potencial Precauções

Falha catastrófica do motor Danos a propriedades,

ferimentos

Fique de pé, siga visualmente a trajetória do

foguete, mova-se caso necessário.

Falha na recuperação Danos a propriedades,

ferimentos

Siga visualmente a rota de descida do foguete

e mova-se caso necessário

Ejeção do sistema de

recuperação no solo

Danos a propriedades,

ferimentos, em especial aos

olhos.

Evite interceptar o foguete nas direções onde

existe o risco de fragmentos ou peças serem

ejetados.

Foguete instável Danos a propriedades,

ferimentos

Fique de pé e siga visualmente a rota do

foguete, mova-se caso necessário

Incêndio na vegetação Danos por incêndio,

ferimentos

Siga os procedimentos de limpeza do terreno

e tenha uma brigada de incêndio.

Destruição do foguete em vôo

(falha de resistência mecânica)

Perda do foguete, danos a

propriedades e ferimentos

Projete, construa e teste o foguete de forma a

garantir o sucesso do vôo.

Fonte: SLI Vehicle and Payload Experiment Criteria, (5).

Page 27: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

26

3. TEORIA DE MOTORES FOGUETE SÓLIDOS

O foco deste trabalho são motores de pequeno porte amadores, tipicamente

de menor desempenho e eficiência se comparados aos profissionais, principalmente

no que se diz respeito a propelentes e materiais. Os desenvolvimentos das fórmulas

matemáticas usadas aqui serão brevemente discutidos, já que existe vasta literatura

e diversos trabalhos em torno do assunto. Os assuntos estão ordenados de uma

forma lógica ao funcionamento deste tipo de motor. De acordo com Platzek, (6), o

projeto de um motor não é um procedimento linear e sim iterativo, onde um conjunto

de objetivos, limitações e valores estimados são usados para se obter um resultado

aproximado. Este resultado é refinado ao longo do processo até todos os objetivos

serem alcançados e as limitações respeitadas de forma satisfatória. Ainda de acordo

com (6) não existe uma “receita de bolo”, apenas o método iterativo.

Figura 1 - Fluxograma de sequência de desenvolvimento de projeto de um motor foguete mostrando os principais laços de iteração, U.S. Army Missile Command, (7)

Page 28: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

27

3.1. CONSIDERAÇÕES BÁSICAS

Dada à complexidade dos fenômenos físicos e químicos que acontecem

durante o funcionamento de um motor foguete, este será considerado de forma ideal

durante o desenvolvimento. Em um motor foguete ideal, (8):

a) A combustão do propelente é completa e não se altera em

relação ao dado pela equação da combustão;

b) O produto da combustão é um gás ideal;

c) Não existe atrito entre o fluxo e as paredes;

d) O processo é adiabático (não troca calor com o meio);

e) O motor opera em Regime Permanente;

f) A expansão do fluido de trabalho (produto da combustão)

ocorre de maneira uniforme e sem entupimento;

g) O fluxo pela tubeira é unidimensional e não rotacional;

h) O equilíbrio químico é atingido na câmara de combustão e

não se altera durante a passagem pela tubeira;

i) A combustão do propelente sempre progride no sentido

normal (perpendicular) a superfície de combustão e ocorre

de maneira uniforme em toda área exposta para

combustão.

3.2. PROPELENTE

Propelentes sólidos são produtos químicos, na forma de uma massa sólida,

que produzem gases em alta pressão por uma reação de combustão. Qualquer

propelente sólido inclui dois ou mais dos seguintes componentes (8):

a) Oxidante (nitratos e percloratos);

b) Combustível (resinas orgânicas ou polímeros);

c) Compostos químicos combinando oxidantes e combustíveis

(nitro-celulose ou nitroglicerina);

d) Aditivos (para controlar processos de produção, taxa de

Page 29: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

28

combustão, etc.);

e) Inibidores (colados, de fita, dip-dried) para restringir

superfícies de combustão.

Existem diversos tipos de propelentes. O primeiro tipo é o compósito, que

possui dois ingredientes principais, o combustível e o oxidante. Nenhum dos dois

entra em combustão facilmente quando separados. Geralmente consistem do

oxidante na forma de cristais finamente triturados dispersos numa matriz do

combustível. O segundo contem compostos químicos instáveis, como nitroglicerina,

que são capazes de combustão sem a adição de qualquer outro material. Estes são

chamados de propelentes homogêneos e não contém cristais, mas usam

combustíveis quimicamente ligados a compostos oxidantes suficientes para

sustentar a combustão, de acordo com Sutton, (8). Por serem largamente baseados

em colóides de nitroglicerina e nitro celulose também, são chamados de propelentes

de base dupla. Isso os diferencia das pólvoras de munição, que geralmente são

baseados em um ou outro colóide. Também existem as pólvoras negras, um antigo

propelente, e combinações dos tipos anteriores que não são facilmente

classificados.

Pequenas percentagens de aditivos são usadas para modificar diversas

propriedades dos propelentes sólidos como, Sutton, (8):

a) Acelerar ou desacelerar a velocidade de combustão

(catalisadores e inibidores de combustão resectivamente);

b) Aumentar a estabilidade química para prevenir a

deterioração durante a estocagem;

c) Controlar diversas propriedades de processamento durante

a produção do propelente (tempo de cura, fluidez para

moldagem, etc.);

d) Controle das propriedades de absorção de radiação no

propelente em combustão;

e) Aumentar a resistência mecânica e diminuir a deformação

elástica;

f) Minimizar a sensibilidade térmica.

Page 30: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

29

3.2.1. Propriedades desejadas em propelentes sólidos

De acordo com Sutton, (8), algumas características são desejáveis para

propelentes sólidos. É importante diferenciar as propriedades entre: matéria prima,

propelente pronto e produtos da combustão (mistura de gases e partículas a alta

temperatura). São desejáveis, pois não existe um propelente que atenda a todas e

este deve ser escolhido levanto em conta o caráter específico do motor. A ordem

que estas propriedades foram listadas não é relacionada à sua importância.

a) Alta liberação de energia química leva a alta performance e

por conseqüência a altos valores de temperatura de chama

e impulso específico;

b) Baixo peso molecular dos produtos da combustão é

desejável por aumentar o valor do Impulso específico;

c) O propelente precisa ser estável por um longo período de

tempo e não deve deteriorar-se quimicamente ou

fisicamente durante a estocagem;

d) Alta densidade do propelente sólido permite o uso de uma

câmara de menor volume e logo uma câmara mais leve;

e) O propelente não pode ser afetado pelas condições

atmosféricas, por exemplo, não deve ser higroscópico;

f) O propelente não pode sofrer ignição acidental, ou seja, sua

temperatura de auto-ignição deve ser relativamente alta e

deve ser insensível ao impacto;

g) O propelente deve apresentar alta resistência mecânica em

particular as de tração, compressão e cisalhamento,

qualidades adesivas e modulo de elasticidade e

alongamento;

h) Um coeficiente de expansão térmica que combine com o

material da câmara ira minimizar a movimentação relativa

entre os dois componentes e a tensão térmica do

propelente estocado;

i) A composição do propelente deve ser quimicamente inerte

durante a estocagem e operação. Não deve existir

Page 31: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

30

nenhuma reatividade entre os ingredientes;

j) A matéria prima deve ser de fácil e rápida disponibilidade

para produção e ter propriedades de produção desejáveis

como: fluidez adequada à moldagem, simples controle dos

processos químicos (como a cura) ou pequena variação de

volume durante o processo;

k) A performance e as técnicas de fabricação devem ser

relativamente insensíveis a impurezas ou pequenas

variações nas proporções para simplificar a produção e

inspeção, reduzindo seu custo;

l) As propriedades físicas e de combustão (taxa de

combustão) devem ser previsíveis e não devem ser

afetadas de forma considerável em relação à faixa de

temperatura da estocagem e operação. Isso implica na

sensitividade a temperatura ser baixa;

m) O propelente deve ter a capacidade de colagem aos

materiais usados em inibidores e câmaras, de ser

submetido a diferentes técnicas de mistura e moldagem e

capaz de ser acionado por ignitores simples;

n) Os gases de exaustão não devem ser corrosivos ou tóxicos;

o) O método de produção do propelente deve ser simples e

não deve exigir uma instalação química complexa;

p) A condutividade térmica e calor específico de um propelente

devem proporcionar previsibilidade na transferência de calor

da frente de chama para o propelente;

q) O grão deve ser opaco a radiação para prevenir a ignição

em locais diferentes da superfície de combustão;

r) O grão de propelente deve resistir à erosão e possuir

características previsíveis de queima erosiva;

s) O propelente deve suportar repetidos ciclos térmicos sem

que isto mude suas propriedades químicas ou físicas;

t) As matérias primas devem ser baratas, seguras e simples

de se manipular e transportar.

Page 32: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

31

3.2.2. Matéria prima básica, químicos

3.2.2.1. Oxidantes

Nenhum dos oxidantes mais usados hoje tem todas as características

desejáveis, na verdade cada um deles tem diversas propriedades negativas sérias.

A Tabela 3 fornece uma lista dos mais representativos listados por Sutton, (8).

Tabela 4 – Oxidantes mais comuns em propelentes sólidos

Oxidante % de

Oxigênio

Gravidade

Específica

46,0 2,50

34,0 1,90

60,0 2,40

52,0 2,54

66,0 2,25

20,0 1,90

39,5 2,10

47,0 2,26

Fonte: Sutton, (8).

Neste trabalho apenas o Nitrato de será considerado. Sua principal

desvantagem é a produção de fumaça, partículas sólidas. Isso leva a uma

diminuição no desempenho do propelente por causa da inércia de massa e térmica

dessas partículas. Os principais motivos para a escolha deste oxidante é sua fácil

obtenção, baixo custo e segurança de manuseio. Os efeitos do fluxo de duas fases

(gás e partículas sólidas) não são significativos para o escopo deste projeto e seus

efeitos podem ser rapidamente calculados por meio de fatores de desempenho

estudados por Nakka, (2), e explicados na subseção 3.12, página 84.

Page 33: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

32

3.2.2.2. Combustíveis

Existe uma grande variedade de combustíveis orgânicos para propelentes

sólidos. Estes são escolhidos por suas características de oxidação, propriedades

físicas, propriedades de manufatura, etc. Durante o processo de produção do

propelente, os combustíveis, geralmente na forma líquida e até mesmo em alta

temperatura, são misturados aos oxidantes cristalinos. Após essa fase o propelente

sofre uma transformação química ou física já dentro de um molde para tomar a

forma do grão. Neste projeto dois combustíveis serão estudados por seu uso

difundido entre amadores e seu baixo custo, facilidade obtenção e segurança na

manipulação.

3.2.2.2.1. Açucares

Os açucares são usados como propelentes amadores a mais de quarenta

anos. Seu uso foi difundido pelo engenheiro canadense Richard Nakka em seu site

da web, (2), onde apresentou diversos estudos, que apesar do caráter amador foram

muito bem executados sob critérios científicos e englobou todas as propriedades

significativas deste tipo de combustível para uso em propelentes sólidos. Os

principais tipos de açucares usados são:

a) sacarose, o açúcar comum de cozinha;

b) dextrose (Glicose), açúcar usado pelas células dos seres

vivos como fonte de energia;

c) sorbitol, usado como adoçante em xaropes, gomas de

mascar e produtos dietéticos.

Page 34: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

33

Tabela 5 – Características dos Açucares.

Sacarose Sorbitol Dextrose

Formula Química

Peso molecular ( ) 342,3 182,2 180,16

Ponto de Fusão ( ) 185 110-112 146

Densidade ( ) 1,581 1,489 1,562

Entalpia de formação ( ) -2221,2 -1553,7 -1274,5

Aparência Granulado branco Granulado branco Granulado branco

Fonte: Nakka, (2).

Os diferenciais positivos deste combustível são a acessibilidade e o baixo

custo. O fato de ser amplamente difundido, testado e comprovado o tornam uma

opção confiável. O processo de produção é simples e relativamente seguro.

Consiste na moagem fina do oxidante, geralmente Nitrato de Potássio, e do

combustível seguido de cuidadosa mistura. Esta fase geralmente é feita por um

misturador na forma de um tambor giratório a baixa rotação por um longo tempo

para garantir uma perfeita homogeneização, como testado por Nakka, (2).

Posteriormente a mistura é fundida e colocada no molde onde o propelente cura,

passando por um processo de resfriamento e solidificação da matriz de combustível.

Existem muitas variantes no método de produção, como a dissolução do oxidante na

solução de água mais combustível seguido da evaporação completa da água para a

moldagem, adição do oxidante no alucar fundido, fundição direta da mistura, etc.

As desvantagens desse tipo de combustível são a sua baixa resistência

mecânica e a natureza higroscópica. O grão é frágil e pode fraturar com facilidade,

além de apresentar uma baixa elasticidade. O teor de umidade no propelente

melhora essa característica, mas reduz consideravelmente o seu desempenho. A

umidade residual do processo de produção pode provocar descolamento dos

inibidores, além de suas propriedades adesivas serem baixas. Estudos de ignição

acidental durante a produção foram feitos pelo projeto Sugar Shot to Space, (4),

demonstraram a amplitude dos danos envolvidos nesse evento. A produção do

propelente exige o uso de calor para fundir seu combustível, apesar de estudos

feitos por Nakka, (2), demonstrarem que a temperatura de ignição está muito acima

das de fusão e de fato não existirem registros oficiais sobre acidentes do gênero,

este é um fator negativo a ser considerado.

Page 35: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

34

3.2.2.2.2. Resina epóxi

O potencial para uso do epóxi como combustível foi apresentado a Richard

Nakka, (2), no ano 2000 por Marcus Leech, alguns testes de taxa de combustão a

pressão ambiente confirmaram que se tratava de um combustível viável para estudo.

Os principais problemas encontrados eram a baixa taxa de combustão, instabilidade

na queima e grande quantidade de resíduos. Simulações com softwares de

equilíbrio químico como o Propep e Guipep demonstravam que este propelente

poderia ser tão bom ou melhor que propelentes baseados em açucares. Diversos

experimentos se seguiram, com diferentes formulações até ser encontrada uma

proporção funcional.

O epóxi é um plástico termo-rígido e geralmente é produto da reação entre

epiclorohidrina e bisfenol-a. O que o faz uma excelente opção para combustível

sólido são suas características mecânicas e energéticas, boa densidade e

subprodutos da combustão com baixo peso molecular, além de ser sublimável, ou

seja, ele passa do estado sólido diretamente para o gasoso. A sua produção é a frio,

possui alta capacidade adesiva e uma gama de materiais aos quais ele não adere,

sendo, portanto, de fácil desmoldagem. Não possui os principais problemas

encontrados nos propelentes de açucares: não é higroscópico e apresenta alta

resistência mecânica. De acordo com Richard Nakka, (2):

“... junto com o uso de um oxidante estável e de baixa energia, o nitrato de

potássio, faz dele um dos propelentes mais seguros de se produzir, estocar e

manipular para uso de entusiastas em foguetes experimentais amadores”

Page 36: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

35

Tabela 6 – Características do Epóxi

Epóxi 206 Propep

Formula Química

Peso molecular ( ) 228,29

Temperatura de Ebulição ( ) 220

Densidade ( ) 1,118

Entalpia de formação ( ) 631,79

Aparência Resina: Líquido viscoso translúcido de cor esverdeada Catalisador: Líquido transparente de baixa viscosidade

Fonte: Banco de dados do software Propep.

A chave para o uso do epóxi como combustível em propelentes sólidos foi o

uso de uma quantidade significativa de catalisador, no caso o óxido de ferro ( ),

combinado com um processo de mistura cuidadoso. De acordo com Nakka, (2), o

fato de o epóxi ser sublimável impedia que energia térmica suficiente chegasse aos

cristais de oxidante, assim o oxidante não chegava a estado gasoso para o processo

de combustão. O óxido de ferro deve ser misturado aos cristais de nitrato de

potássio de tal forma que as partículas de cobrissem cada cristal de . O

papel do catalisador nesse caso é de transferência de energia térmica, permitindo

que tanto o combustível quanto o oxidante estejam presentes na forma gasosa para

que o processo de combustão ocorra com eficiência. Isso aumentou a taxa de

combustão para valores práticos e proporcionou uma combustão estável e

previsível. O propelente também não apresenta riscos de ignição por impacto e

possui uma temperatura de ignição mais alta, sendo mais seguro se comparado aos

açucares nesse quesito.

As desvantagens desse tipo de propelente são: custo mais alto em relação ao

açúcar, pequenas diferença nas propriedades de epóxis de diferentes fornecedores,

necessidade de ignitores mais energéticos, que em contrapartida aumenta a

segurança contra ignição acidental. Também existe, em algumas marcas de resina,

a necessidade de vácuo antes da moldagem para evitar a formação de pequenas

bolhas resultantes da reação entre algum componente do catalisador (da resina)

com umidade residual do nitrato de potássio. A presença de bolhas no propelente

leva a um aumento imprevisível da taxa de combustão (pela área de queima

adicional fornecida pelas bolhas), mas pode ser facilmente detectado por uma

medição na densidade do grão ou micrografias de amostras, como recomendado

pela NASA, (9), e Toft, (10).

Page 37: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

36

3.3. COMBUSTÃO

Os motores foguete mais comuns transformam a energia térmica de gases

em cinética. A alta temperatura dos gases de combustão faz com que estes se

expandam e ao fluir pela tubeira essa energia térmica é transformada em cinética. A

combustão é simplesmente uma reação química exotérmica. Para iniciar essa

reação é necessário inserir energia suficiente para se atingir o ponto de fulgor,

Shapiro, (11). É esse o trabalho do ignitor, quando a energia é inserida no sistema

ela vai mudar a fase dos componentes até a gasosa onde a combustão se inicia, o

ponto de fulgor. Por ser uma reação exotérmica, nas condições corretas faz a

combustão ser auto-sustentável, pois a energia liberada do próprio processo

mantém a reação. A combustão completa acontece quando os produtos da

combustão são apenas os óxidos de menor energia de cada um dos elementos,

Shapiro (11). Como na combustão completa do propano, por exemplo:

Existe uma proporção entre o oxidante e o combustível que resulta em um

balanço na massa na equação. Na realidade, dificilmente tem-se proporções exatas

entre os componentes iniciais e mesmo que a tivesse existem muitos outros fatores

que influenciam no processo, a combustão sempre é incompleta. O ar, oxidante

usado em muitas máquinas térmicas, tem muitos componentes na sua constituição,

traços de todos os tipos de gases e partículas sólidas em suspensão, por exemplo.

Em alguns processos pode-se desejar aumentar a temperatura de combustão, isso

se faz enriquecendo a mistura, ou seja, aumentando a proporção de oxidante. O

mesmo é interessante para os motores foguete, já que quanto maior a temperatura,

maior energia térmica, maior a expansão dos gases. Mas existem limites para isso,

principalmente estruturais, os materiais do corpo e tubeira terão de suportar essa

alta temperatura. Para o propelente KNEF, sendo o Epóxi o combustível, o nitrato de

potássio o oxidante e o óxido de ferro como aditivo tem-se:

Onde é o número de mols de cada um dos produtos que também contém

traços insignificantes de:

Page 38: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

37

A obtenção da equação de combustão é complexa, provavelmente uma das

fases mais difíceis no desenvolvimento de um motor de propelente sólido.

Considerando que o propelente sofre o processo de combustão em condições de

pressão constante e forma produtos de combustão que estão em equilíbrio químico

e na temperatura adiabática de chama, o primeiro passo é definir quais os gases

resultantes possíveis. Para propelentes que contenham apenas carbono, oxigênio,

hidrogênio e nitrogênio existem apenas doze possíveis produtos: Carbono, dióxido

de carbono, monóxido de carbono, hidrogênio, vapor, oxigênio, nitrogênio, óxido

nitroso e os íons, H, O, N e OH. Se o propelente tem elementos metálicos como

potássio, sódio, alumínio ou ferro ou contenha cloro isso irá resultar em produtos

condensados (líquidos ou sólidos) de combustão como carbonato de potássio, ou

equivalentes em sódio, óxido de alumínio ou cloreto de potássio.

Tendo definido os possíveis produtos de combustão o próximo passo é

determinar o número de mols, ou fração molar, de cada um deles. Para isso é

necessário resolver simultaneamente um grupo de equações relacionando os

produtos da reação para respeitar as condições de balanço de massa, equilíbrio

químico e balanço de energia.

A condição de equilíbrio químico é atingida quando a Energia Livre de Gibbs

não variar mais, ou seja, . A Energia Livre de Gibbs, , é a quantidade de

energia capaz de realizar trabalho durante uma reação à temperatura e pressões

constantes. Durante o processo de combustão , isso significa que o processo

ainda tem energia suficiente para mais reações químicas entre os componentes. Os

produtos da combustão são o conjunto de moléculas que a determinada temperatura

e pressão estão em equilíbrio químico, , e respeitam as leis de conservação

de massa e energia.

A solução das equações de equilíbrio químico é trabalhosa até mesmo para

reações simples como a do propano. Por isso geralmente são escritos softwares

para essa tarefa, felizmente existe mais de um software de equilíbrio químico

direcionado a foguetes experimentais. O mais conhecido e divulgado deles é o

ProPep e sua extensão gráfica para Windows, chamada GuiPep. Baseado no

Propep também existe o GDL_ProPep. O software mais fácil de usar e que

apresenta resultados de uma forma mais organizada é o CproPep, do grupo Dark,

(12), e usado neste projeto. Também existe o CEA da NASA, muito completo, mas

difícil de usar. Em comum este softwares tem como referência um artigo da NASA

Page 39: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

38

intitulado Computer Program for Calculation of Complex Chemical Equilibrium

Compositions and Applications, (13). Estes softwares foram criados especificamente

para cálculo das características de propelentes como impulso específico, velocidade

característica, razão dos calores específicos dos gases produtos da combustão,

temperatura adiabática de chama, densidade, composição dos gases e a fase de

cada elemento, etc. A interface do CproPep e um exemplo de seus resultados

podem ser vistos nas Figura 2 e Figura 3.

Figura 2 - Exemplo da janela do CProPep com os resultados

Page 40: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

39

Figura 3 - Janela do software CProPep

3.4. TAXA DE COMBUSTÃO

A superfície de combustão de um propelente sólido regride

perpendicularmente a essa superfície. A velocidade dessa regressão, geralmente

medida em milímetros por segundo, é chamada de taxa de combustão. Essa taxa

muda drasticamente em diferentes propelentes ou mesmo para um propelente em

particular dependendo da variação de sua fórmula e métodos de produção. Os

principais fatores e suas causas serão discutidos a seguir.

3.4.1. Pressão na câmara de combustão

A taxa de combustão é afetada profundamente pela pressão na câmara. Por

exemplo, um propelente de Nitrato de Potássio e Sacarose têm uma taxa de

combustão de a , porém a essa taxa se aproxima de

Page 41: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

40

, (2). A representação mais comum dessa relação é dada pela Lei de Vieille

também conhecida por Lei de Saint Robert:

Equação 1

Na equação acima é a taxa de combustão, é o coeficiente de combustão,

é a pressão na câmara e é o expoente de pressão. Os valores de do coeficiente

e expoente são obtidos empiricamente para cada propelente em particular e não

podem ser teoricamente determinados de acordo com diversas das referências.

Muitas vezes apenas um coeficiente e um expoente são necessários para definir o

comportamento em uma faixa restrita de pressão. Mais de um conjunto poderá ser

necessário para determinar todo um regime de comportamento. Quando um gráfico

da variação da taxa de combustão em função da pressão é plotado em escala

logarítmica representa uma linha reta. Certos propelentes, ou propelentes com

aditivos, desviam desse comportamento e exibem mudanças bruscas na curva

logarítmica. Esses propelentes são definidos como platô ou mesa e suas curvas

características podem ser vistas na Figura 4.

Figura 4 - Gráfico logaritimo da relação taxa de combustão e pressão de três propelentes diferentes. Fonte: NASA, (14).

Esses comportamentos podem ser explicados por diferentes relações de

regressão da superfície de combustão (em função da pressão) do constituinte base

em relação às partículas oxidantes, de acordo com textos de Nakka, (2) e NASA,

(14), outra possibilidade é que a fase condensada dos produtos da combustão não

tenha tempo de transferir o seu calor para a superfície de combustão sob altas

pressões.

Page 42: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

41

A taxa de combustão é particularmente sensível ao expoente de pressão (a

inclinação da curva logarítmica da Figura 4). Valores altos do expoente produzem

grandes diferenças na taxa de combustão com pequena variação da pressão, com

possíveis conseqüências catastróficas. Outro fator indesejado gerado por altos

valores do coeficiente é a baixa sensitividade do propelente em baixas pressões,

isso pode dificultar a ignição do motor, onde mantendo apenas a taxa de combustão

a pressão ambiente não se consegue gerar vazão suficiente para aumentar a

pressão interna e logo a taxa de combustão para valores de eficiência. Essa baixa

sensitividade fica mais clara ao observar-se a curva de na Figura 5, isso

implica que a taxa de combustão seja linearmente relacionada à pressão. Na Figura

5 pode-se ver o resultado para diversos valores do coeficiente. O exemplo de

mostra a rápida ascendência da taxa de combustão em relação à pressão no

inicio da curva, portanto motor é capaz de atingir rapidamente a pressão de projeto,

a ignição é mais eficiente e em pressões mais altas a variação da taxa é mais suave,

logo, mais seguro.

Figura 5 - Influência do Expoente de Pressão na Taxa de Combustão

Se o valor de se aproxima de zero, a taxa de combustão se torna

extremamente insensível à pressão e uma combustão instável será observada. Por

essas razões os expoentes de propelentes práticos ficam na faixa de a

, de acordo com Nakka, (2), e Sutton, (8), dentro das condições de regime

permanente do motor.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 1 2 3 4 5 6 7

Taxa

de

Co

mb

ust

ão (

mm

/s)

Pressão (MPa)

n=1 n=0,7 n=0,5 n=0,2

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3.4.2. Temperatura inicial do grão de propelente

A temperatura afeta a taxa de reações químicas, logo a temperatura inicial do

propelente influencia na taxa de combustão. Mas esse efeito só é considerável, para

os tipos de propelentes propostos por este trabalho, em temperaturas abaixo de 0ºC

e varia muito pouco entre 0ºC e 40ºC, de acordo com Nakka, (2). Portanto, para

lançamentos no clima brasileiro, esse efeito é desprezível.

3.4.3. Velocidade dos gases fluindo paralelos à superfície

Para a maioria dos propelentes uma velocidade de fluxo muito alta leva a

variações na taxa de combustão. Essa variação se deve ao aumento da taxa de

convecção devido ao fluxo turbulento dos gases. Quando a taxa de combustão

aumenta devido ao fluxo o efeito é conhecido por combustão erosiva. A maioria dos

propelentes possui uma velocidade inicial onde o fenômeno passa a ocorrer, abaixo

dela ou não existe variação ou acontece o que é conhecido por combustão erosiva

negativa. A negativa acontece possivelmente pela mudança nos processos físicos

de transferência de calor que controlam a taxa de combustão. Nakka, (2) e Gordon,

(13).

Na Figura 6 o propelente A tem uma velocidade critica de aproximadamente

, não apresenta combustão erosiva negativa e exibe um grande aumento

da taxa de combustão em relação à velocidade do fluxo. O propelente B

(AP/Poliuretano) tem uma velocidade critica mais baixa, combustão erosiva negativa

e combustão erosiva acima da velocidade inicial. Em velocidades baixas o processo

de transferência de massa domina a transferência de calor, Nakka, (2), mas à

medida que a velocidade aumenta o mecanismo de convecção começa a se tornar

mais significante, como se pode observar na Figura 7.

Page 44: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

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Figura 6 - Influencia da Velocidade dos gases dentro do grão na Taxa de Combustão. Nasa, (14).

Figura 7 - Relação velocidade e natureza de transferência de calor, Kuo, (15).

Para se evitar o efeito da combustão erosiva deve-se projetar o motor com

uma relação entre a área de passagem dos gases no propelente e a área da

garganta da tubeira. Wang e Feng, (16), sugeriram uma forma de calcular a relação

crítica de áreas a partir da qual a combustão erosiva passa a acontecer. Essa

relação é dada por:

Equação 2

Onde J é a relação entre a área de passagem e a área da garganta dada por:

Page 45: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

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Equação 3

Sendo a área da garganta e a área de passagem dos gases no grão.

Essa relação foi comprovada por ensaios e a teoria se mostrou muito precisa. Os

valores de giram em torno de , portanto a regra básica, recomendada por

muitas referências, da área de passagem ser duas vezes maior que a área da

garganta, é uma boa escolha. A velocidade dos gases dentro do grão é aumenta ao

longo do seu comprimento, já que a vazão é gerada em toda área ao longo da seção

de passagem. Por isso, a relação entre comprimento e diâmetro externo do grão

deve ser limitada para se evitar queima erosiva no fim do grão. A regra geral,é uma

relação menor que 5. Acima deste valor podem-se usar grãos de seção variável,

aumentando a área quanto mais próximo da tubeira, mas o projeto e a produção

de um grão nessa geometria são mais complexos.

3.4.4. Processo físico da combustão

Os propelentes nas suas formas mais simples consistem em compósitos de

partículas de oxidante de diversos tamanhos dentro de uma matriz, ou material

base, de combustível, Sutton, (8). Para entender a taxa de combustão é importante

conhecer os principais fenômenos que controlam o processo de combustão.

Diferentes modelos teóricos já foram sugeridos como o Beckstead-Derr (BPD) e o

Petite Ensenmble Model (PEM) (2). O modelo BPD considera todas as partículas de

oxidante com o mesmo tamanho, dispersas uniformemente no combustível base,

sendo esse completamente uniforme. Esta não é uma imagem real, pois representa

no máximo 80% da constituição do propelente, por mais elaborada que seja sua

preparação. Partículas com grande variedade de tamanhos inclusive são desejáveis,

as partículas menores ajudam a preencher os espaços vazios entre as maiores

permitindo porcentagens maiores de oxidante no propelente. Já o modelo PEM

reconhece que existe uma grande variedade de tamanhos de partículas. O processo

de combustão envolve diversos passos. Envolve a transferência de energia para a

mudança de fase dos componentes do propelente, primeiramente para a fase liquida

Page 46: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

45

que permite uma melhor transferência de calor e mistura dos componentes que leva

a fase gasosa, onde a mistura termina seu ciclo de combustão. O importante dessa

análise é descobrir qual é o elemento que leva mais tempo para mudar a fase, esse

será o elemento determinante na taxa de combustão. Para propelentes com

perclorato de amônia esse é o constituinte que tem maior grau de importância na

taxa de combustão, isso pode ser observado na forte relação entre o tamanho médio

das partículas desse componente e a taxa de combustão.

Figura 8 - Efeito da granulometria do Perclorato de Amônia na taxa de combustão, NASA, (17).

Já nos propelentes de nitrato de potássio e açucares como dextrose,

sacarose e sorbitol o elemento determinante é o material base, o combustível.

Nakka, (2), em estudos com estes propelentes chegou a conclusão de que tamanho

da partícula do oxidante não altera de forma significativamente a taxa, mas se for

mudado o combustível tem-se grandes variações em relação aos três açucares. Nos

propelentes a base de epóxi usados nesse projeto o elemento que define também é

o material base, seu combustível o epóxi. Ele apresenta uma taxa de combustão

muito lenta se comparado a um dos propelentes de açúcar por ser sublimável e não

conseguir transferir energia suficiente ao nitrato para se tornar gás e dar

continuidade ao processo. É exatamente essa a razão da alta proporção de

catalisador (Oxido de Ferro) na mistura, 8%, sendo que o usual para aditivos estar

entre 1% e 2%.

Page 47: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

46

3.4.5. Manipulando a Taxa de Combustão

Existem muitas formas de se manipular a taxa de combustão de um

propelente caso seja necessário. Para propelentes onde o oxidante é a principal

influência na taxa de combustão a mudança do tamanho do seu particulado altera a

taxa. Alterar a proporção de oxidante/combustível é outra forma de manipular a taxa.

Podem ser usados aditivos catalisadores ou supressores que, respectivamente,

aumentam ou diminuem a taxa. A forma mais simples é alterando a pressão na

câmara de combustão.

3.4.5.1. Tamanho das partículas de oxidante

Essa manipulação só é eficiente em propelentes onde o fator determinante da

taxa de combustão é o oxidante, como nos propelentes onde o oxidante é perclorato

de amônia, que é o caso da maioria dos propelentes profissionais. Nos propelentes

amadores mais comuns, KN-açucares e KN-Epóxi, o fator determinante é o

combustível. A mudança no tamanho da partícula do oxidante, como pesquisou

Richard Nakka (2), não apresenta grande influência.

3.4.5.2. Proporção Combustível / Oxidante

A maioria dos propelentes é fortemente influenciada por essa relação, mas

essa mudança é muito restrita já que tanto o desempenho do propelente quanto

suas características mecânicas são afetadas.

Page 48: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

47

3.4.5.3. Aditivos

O uso de aditivos é a forma mais eficiente e usual de se manipular a taxa de

combustão. Um aditivo geralmente é usado em pequenas proporções, tipicamente

poucos pontos porcentuais da massa total. No caso dos aditivos estes podem agir

de diferentes maneiras (ou a combinação de algumas): melhorando o processo de

decomposição do combustível ou do oxidante, acelerando a reação dos gases de

combustível na zona de combustão e melhorando a taxa de condução de calor da

frente de chama para o propelente. Alguns aumentam a taxa de queima alterando o

coeficiente de pressão, outros tendem a aumentar o expoente, fazendo o propelente

mais sensível a mudanças de pressão. Alguns exemplos de catalisadores citaddos

por Nakka, (2), e Sutton, (8):

a) Óxido de ferro ( ), Óxido de cobre ( ), Dióxido de

manganês ( ) são comumente usados como

catalisadores em propelentes de Perclorato de amônia,

assim como Cromato de cobre;

b) Dicromato de potássio ( ) ou Dicromato de amônia

para propelentes de Nitrato de amônia;

c) Óxido de Ferro ( ) e Sulfato de ferro ( ),

Dicromato de potássio em propelentes Kn-Açucar;

d) Negro de fumo, basicamente carbono, pode aumentar

ligeiramente a taxa de combustão na maioria dos

propelentes pelo aumento da transferência de calor da

frente de chama para a superfície do propelente.

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Figura 9 - Influência do óxido de ferro em propelentes AP/PBAN, NASA, (17).

É importante ressaltar que a adição de um catalisador não só aumenta a taxa

de combustão como torna mais fácil o inicio da combustão. Essa é uma dupla

vantagem, ao mesmo tempo em que facilita a ignição e leva a um uso mais eficiente

do propelente já que o processo inicial de pressurização do motor se torna mais

rápido e a curva de empuxo-tempo é mais próxima do projetado. Em casos extremos

o propelente fica mais perigoso de se manipular e estocar exigindo muito cuidado

em seu uso para evitar uma ignição acidental, já que atinge rapidamente altas

pressões.

Os supressores são usados quando se deseja diminuir a taxa de combustão,

ou seja, seu efeito é o oposto dos catalisadores. Em propelentes KN-Açucares a

umidade é um eficiente, mas de difícil controle, supressor. Propelentes suprimidos

são mais difíceis de se iniciar o processo de combustão e necessitam de sistemas

de ignição mais energéticos.

3.4.5.4. Alteração na Pressão de Projeto

Para propelentes se comportam dentro da Lei de Vieille alterar a pressão de

projeto é um meio muito simples de se alterar a taxa de combustão. Para os que

entram nos padrões Mesa ou Platô esse efeito é menos significativo. Os limites

dessa técnica podem ser observados na Figura 5, na faixa dos expoentes práticos

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pode-se observar que será necessária uma grande diminuição de pressão para se

reduzir a taxa de combustão de forma significativa, o que pode ser um sério

problema em relação ao desempenho. Já, aumentar a pressão é mais limitado, já

que uma estrutura mais resistente seria necessária e esbarraria em limites de peso e

custo.

3.5. DETERMINAÇÃO DA TAXA DE COMBUSTÃO

Pela dificuldade de definir a taxa de combustão real com modelos teóricos de

combustão com a precisão necessária a projetos de engenharia, a única solução é

medir a taxa de combustão utilizando algum dos métodos já comprovados de

análise. Para determinar uma curva da taxa de combustão em relação à pressão em

geral são usados estes três métodos:

a) aquisição das curvas de empuxo e pressão em relação ao

tempo em testes estáticos de um motor conhecido;

b) medição das curvas de empuxo e pressão em relação ao

tempo em testes estáticos de um Motor de Ensaio Balístico;

c) combustão de uma amostra com área de combustão

constante e massa conhecida dentro de um vaso de

pressão com pressão inicial estabelecida.

O primeiro método é pelo do uso de um motor com geometria já testada com

outros propelentes. Essa técnica é geralmente usada em pequenas variações de um

propelente conhecido, mas assim mesmo não afasta a possibilidade de um acidente,

já que mesmo pequenas alterações podem resultar em comportamento não

previsível da combustão. Um exemplo deste sistema é exemplificado pela Figura 10.

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Figura 10 - O versátil A100M de Richard Nakka, usado com sucesso em diversos tipos de propelente KN - açúcar. Nakka, (2)

A segunda forma de se estudar as características do propelente é o uso de

um motor estático com tubeiras de diferentes diâmetros de garganta, geralmente

sem suas seções divergentes. É trabalhoso e a necessidade de diferentes tubeiras

aumenta seu custo. É mais seguro que um motor conhecido, pois os ensaios

começam com gargantas de maior diâmetro, mas existe o risco do propelente ser

muito sensível a uma pequena variação da pressão, podendo levar a acidentes. Um

exemplo deste sistema é exemplificado pela Figura 11.

Figura 11 - Motor Balístico de Ensaio da Australian Experimental e kit de tubeiras. Fonte: Australian Experimental, (18).

Na terceira técnica a pressão de ensaio é estabelecida por um gás que não influa no

processo de combustão, como o nitrogênio. É técnica mais simples e segura em

comparação com as outras duas, tanto em termos de produção de amostras como

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facilidade e segurança nos ensaios, isso se deve principalmente ao tamanho

reduzido das amostras. Os espécimes queimam ao longo do seu eixo longitudinal

(estilo cigarro) e é usado algum método para se registrar o tempo de queima. O

equipamento é conhecido por Bomba de Crawford. Para este projeto foi

desenvolvido e construído a Unidade de Ensaios de Propelentes, UEP, descrito na

subseção 7.7. Na Figura 12 observam-se os principais elementos do sistema. Em

vermelho em seu interior existe a amostra de propelente, que terá sua combustão

iniciada em uma das extremidades. A amostra está presa a uma sonda, ao lado

esquerdo da figura, onde existem conectores para fusíveis, termopares ou

microfones. No lado direito existe a tubulação para alimentação do nitrogênio usado

para estabelecer a pressão inicial e válvulas de controle, além de uma conexão para

um transdutor de pressão, como pode ser visto na foto da Figura 13.

Figura 12 - Vista em corte do UEP, sem a tubulação de controle e sondagem da pressão.

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Figura 13 - Unidade de Ensaios de Propelente, UEP, desenvolvida pelo autor.

O método mais comum para se registrar o tempo é o uso de fusíveis, fios

condutores de pequena espessura colocados em duas posições diferentes da

amostra, quando se fundem e rompem a corrente elétrica é registrada a passagem

da frente de chama. O tempo entre a queima dos dois fusíveis e a distância

conhecida destes leva a velocidade. Um sistema equivalente, exemplificado pela

foto da Figura 14, é o uso de termopares, que irão registrar a passagem da frente de

chama, como nos fusíveis. Porém, exige o uso de equipamentos de aquisição mais

complexos em relação aos fusíveis.

Figura 14 - Sonda usando termopares de um equipamento desenvolvido por Richard Nakka, (2), o mesmo equipamento poderia usar fusíveis.

Outra técnica é registrar a pressão dentro da câmara de ensaio em função do

tempo. A pressão começa a aumentar assim que a combustão se inicia e depois de

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terminada ela diminui devido à perda de calor pelas paredes do equipamento,

formando uma rampa com um pico, como o gráfico da Figura 15, de onde se pode

tirar o tempo de combustão da amostra.

Figura 15 - Resultado de um ensaio realizado por Richard Nakka durante seus estudos de propelentes de base epóxi. Nakka, (2).

Também se pode gravar o ruído acústico gerado pela combustão da amostra,

duas pequenas fendas em pontos de distância conhecida da amostra geram um som

de “click”. Com a leitura dos resultados, tanto visualmente na tela de um computador

quanto via software de tratamento de sinais, pode-se chegar à taxa de combustão

como usado na pesquisa de Rampichini, (19). No UEP, equipamento desenvolvido

para este projeto, pode-se usar qualquer um destes métodos para a leitura da

velocidade.

3.6. GEOMETRIA DO GRÃO

O empuxo de um motor foguete é igual ao produto da vazão mássica e da

velocidade dos gases no plano de saído da tubeira. Se um grande empuxo é

desejado o fluxo tem de ser grande. A vazão mássica, ou fluxo de massa, pode ser

expresso em função da área de combustão, , a densidade do propelente e a taxa

de combustão, que é a velocidade em que o propelente é consumido na direção

normal de sua superfície de combustão, logo:

Equação 4

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54

A taxa de combustão é obtida por ensaios, como discutida na subseção 3.5,

e a densidade do propelente é conhecida por sua formulação. Para se projetar o

empuxo deve se escolher a taxa de combustão, uma função que dependente da

pressão de projeto, e uma geometria de grão cuidadosamente projetada para prover

a área de queima desejada. Em adição a escolha de formato do grão é possível

controlar as superfícies expostas à combustão por meio de inibidores. Estes são

compostos que são inertes ou resistentes as chamas e são aplicados às superfícies

onde se deseja que a combustão não aconteça. Quando um inibidor é colocado na

área externa do grão, entre o propelente e a parede do corpo ele também fornece

um isolamento térmico e nesse caso é conhecido como forro, do inglês liner. Para

propelentes amadores, de baixa eficiência como os Kn-Açucares e KN-Epóxi, um

material útil e barato como inibidor é cartolina ou outros papéis de alta gramatura.

Na Figura 16 pode-se observar uma variedade de geometrias de grão e a influência

na curva empuxo-tempo.

Figura 16 - Seções de geometria de grão e seus efeitos no comportamento do motor.

O grão pode estar livre dentro do corpo ou fixado por algum tipo de estrutura,

também pode ser colado às paredes internas do corpo, configuração conhecida

como case-bonded. Em um motor desta configuração devem-se usar propelentes

com certa capacidade elástica para que não exista o risco de fratura no grão devido

a cargas térmicas. O que poderia levar um aumento não planejado da área de

combustão levando ao aumento súbito da pressão e possibilidade de explosão

catastrófica.

Page 56: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

55

De acordo com a NASA, (9):

“... O projeto do grão é o que define as características de performance que

podem ser obtidas, dados uma determinada combinação de propelente e tubeira.”

O efeito da geometria do grão na curva empuxo-tempo é dado pela Equação

4, página 53, o empuxo depende diretamente da vazão mássica e esta é

diretamente proporcional á área de combustão e velocidade de queima. A área de

combustão em qualquer ponto regride no sentido perpendicular a sua superfície,

fazendo com essa área varie ao longo do tempo dependendo diretamente da

geometria inicial e configuração de inibidores. Esse conceito importante é

demonstrado na Figura 17, onde as linhas sucessivas de contorno mostram a

superfície de combustão evoluindo ao longo do tempo. Como pode ser visto na

figura, o grão com núcleo em formato de estrela apresenta uma curva praticamente

constante, ou seja, existe uma pequena variação da área de combustão ao longo do

tempo.

A área de combustão constante ao longo do tempo é desejável porque isso

leva a uma melhor eficiência em se tratando do impulso total, já que a tubeira é

projetada para ter máxima eficiência a uma determinada pressão da câmara de

combustão e logo um determinado fluxo de massa, Sutton, (8) e Shapiro, (11). O

grão com núcleo estrela, mostrado na Figura 17, é de difícil fabricação, já que exige

um molde de formato complexo.

Figura 17 - Regressão da frente de chama em um grão de núcleo estrela, NASA, (9).

Uma configuração típica com área de queima praticamente constante é a

Bates, da Figura 18. O grão é constituído de segmentos cilíndricos com núcleo

Page 57: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

56

circular e apenas a área externa inibida. A combinação das extremidades e núcleos

expostos à combustão e a escolha correta da relação comprimento e diâmetro de

grão leva a uma regressão da frente de chama de tal forma que a área varia muito

pouco, tornando a área de combustão quase constante ao longo do tempo.

Figura 18 - Grão Bates. Nakka, (2).

Uma das principais vantagens desse tipo de grão é sua simplicidade de

produção, mas apresenta baixa eficiência volumétrica (volume de propelente em

relação ao volume da câmara) também conhecida por Fração de Carga Volumétrica.

Por causa das extremidades expostas em cada segmento existe necessidade de um

forro para isolamento térmico das paredes do corpo do motor caso este use um

material sensível à fluência, como o alumínio. Um caso de falha com essas

características pode ser visto na Figura 19.

Figura 19 - Corpo de um motor com configuração Bates, onde o inibidor externo falhou causando o comprometimento do forro seguido de falha por fluência. Nakka, (2).

Existem dois formatos de grão em particular que exibem uma relação área de

queima-tempo teoricamente constante. O mais simples é o grão cilíndrico com

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57

núcleo circular com suas extremidades inibidas e superfícies externas e internas

expostas, chamado neste trabalho de Grão Livre, Figura 20. A área de queima é

mantida constante, pois à medida que o núcleo tem seu raio incrementado o externo

vai regredindo, e o aumento da área interna é compensado pela diminuição da

externa. Esse grão não é recomendado para motores em materiais sensíveis a

fluência, por ter um fluxo de gases entre o grão e a parede do corpo. Mas tem boa

eficiência volumétrica e facilidade de produção. Em geral a câmara possui paredes

isoladas termicamente quando essa geometria é aplicada.

Figura 20 - Grão livre

O mesmo efeito, de área teoricamente constante, também acontece e grãos

do tipo barra e tubo da Figura 21. Este grão tem duas partes, a externa é um grão

cilíndrico de núcleo circular com a área externa e extremidades inibidas, o interno é

uma barra redonda com suas extremidades inibidas. Estas duas partes são

posicionadas concentricamente e à medida que a área do grão tubo aumenta, a da

barra diminui, tendo como resultado uma área teoricamente constante. Esse

propelente, apesar da manufatura um pouco mais complexa, oferece muitas

vantagens. A principal delas é a eficiência volumétrica e o fato de o próprio grão

externo oferecer uma boa resistência térmica, o tornado um excelente candidato

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58

para case-bonding, como sugerido por Nakka, (2), NASA, (9) e U.S. Army Missile

Command, (7). É a configuração usada pelo motor do míssil ar-ar Hellfire, visto na

Figura 22.

Figura 21 - Grão Barra e Tubo do motor MK508 do autor

Figura 22 - Motor foguete do missel Hellfire com sua configuração Barra e Tubo, Wikipedia, (20).

Essa configuração, porém, exige um propelente com boas características

mecânicas. Não é recomendado, por exemplo, para propelentes com base em

açucares por sua fragilidade.

Page 60: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

59

3.6.1. Densidade e eficiência densiométrica do propelente

A densidade é um dos fatores diretamente proporcionais à vazão, pela lei da

conservação de massa os produtos da combustão devem possuir a mesma massa

do propelente consumido. Para se definir a densidade ideal de uma mistura devem-

se conhecer as densidades de cada um de seus constituintes e a sua fração em

massa na mistura. A fração de massa de cada constituinte é dada por:

Equação 5

A densidade ideal da mistura é dada pela relação:

Equação 6

Onde os sob escritos representam à fração de massa e a densidade dos

componentes individuais. Um propelente dificilmente atingirá a sua densidade ideal e

sua eficiência, a razão entre a densidade real e a ideal, esta na faixa de 96% a 98%

de acordo com Nakka, (2), e NASA, (9). Para se calcular a densidade real deve-se

conhecer a massa e o volume real do grão. Assim sendo, temos:

Equação 7

Para a eficiência de densidade:

Equação 8

A densidade é muito importante para se saber a qualidade da produção do

propelente principalmente por ser um método fácil para se identificar a existência de

porosidade, bolhas. A porosidade pode levar a um aumento não previsto da taxa de

combustão, aumentando a pressão e a possibilidade de uma falha catastrófica.

Page 61: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

60

3.6.2. Capacidade de enchimento,

A capacidade de enchimento é um fator importante de desempenho, ela diz o

quanto de volume da câmara é ocupado pelo propelente. É a eficiência volumétrica

do motor e também um indicador de desempenho. De acordo com a NASA, no

documento Solid propellant grain design and internal ballistics, (9), a capacidade de

enchimento é definida por:

Equação 9

3.6.3. Calculo das características geométricas do grão

3.6.3.1. Grão Bates

O grão tipo bates não tem uma área de combustão constante, mas quase

constante. Para se atingir esse comportamento existe um comprimento de segmento

ideal para dada combinação de raios externo e do núcleo como demonstrado por

Nakka, (2). O valor instantâneo da área de combustão no grão tipo bates é dado por:

Equação 10

Onde é número de segmentos, e são os raios externo e do núcleo

respectivamente e é o comprimento de um segmento unitário, conforme a

Figura 23.

Page 62: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

61

Figura 23 - Geometria de um segmento de um grão do tipo Bates

O raio do núcleo e o comprimento do segmento variam em função do tempo

por:

Equação 11

Equação 12

Onde é a regressão da superfície de combustão em função do tempo e os

subscritos zero indicam o valor inicial do comprimento e do raio. A curva dessa área

em função do tempo tem um pico, um valor máximo. Esse valor é importante, pois é

o pico de pressão em motores com essa configuração. Para se saber valor máximo

de uma função deve-se igualar sua derivada a zero, portanto:

Equação 13

Resolvendo para :

Equação 14

Para se obter o valor máximo da área de combustão deve-se resolver e substituir

na Equação 11 e Equação 12 aplicando estas na Equação 10. Os valores, inicial e

final da área, podem ser diferentes e são influenciados pelo comprimento do

segmento. Para se ter uma curva simétrica, ou seja, ter os valores, inicial e final,

iguais deve-se ajustar o valor do comprimento do segmento do grão até se

ajustarem o valor inicial e final da área de combustão de modo que equilibre a

Equação 15, que relaciona a área inicial e final de combustão. Pode-se desejar uma

Page 63: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

62

curva assimétrica, como o caso de materiais da câmara sensíveis a fluência, por

exemplo, onde uma área de combustão, logo a pressão, menor ao fim é desejável.

Equação 15

A curva da área, portanto, já tem seu máximo conhecido e é simétrica. A

diferença entre as áreas inicial ou final e o pico de máxima, a inclinação da curva, é

influenciada pela razão entre os raios interno e externo iniciais, sendo uma reta

quando essa relação é igual a um. Se o raio do núcleo for igual ao raio externo, não

existe propelente, portanto não existe uma configuração bates que tenha a área de

queima constante, ela sempre será uma curva com um valor de máxima. Ajusta-se o

raio do núcelo até se atingir o tempo de combustão projetado, desde que o pico de

pressão seja contabilizado. Posteriormente se ajusta o comprimento do segmento de

grão para se atingir o comportamento desejado, simétrico, crescente ou

decrescente.

Em projetos de motores o valor do raio externo é limitado pelo diâmetro do

corpo, o comprimento do segmento é uma função do raio externo e interno e do

comportamento desejado. O raio interno, que vai definir a espessura do grão e a

área de passagem dos gases deve ser escolhido de modo a evitar a queima

erosiva. O tempo de combustão é uma função que depende da taxa de

combustão, , e da espessura do grão .

Equação 16

Onde, no Bates:

Equação 17

Um tempo de combustão maior resulta em um Impulso Total maior, mas

diminui a área de passagem dos gases. Essa área é limitada pela queima erosiva

que pode acontecer caso os gases estejam a velocidades muito altas dentro do

grão. Esse efeito é evitado pela escolha correta da relação entre a área de

passagem e a área da garganta da tubeira. Para a maioria dos propelentes uma

área de passagem com área maior ou igual a duas vezes a área da garganta é

Page 64: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

63

suficiente, como visto na subseção 3.4.3, página 42. Para evitar a queima erosiva,

portanto:

Equação 18

No bates a área de passagem é dada por:

Equação 19

Nakka, (2), recentemente fez experimentos em torno da distância entre os

segmentos do grão Bates, Em seus estudos os grãos com pouca folga entre os

segmentos apresentaram uma curva de combustão muito diferente da projetada,

sendo que os que apresentavam maior folga tinham uma curva muito próxima da

projetada. A comparação dos resultados pode ser vista na Figura 24.

Figura 24 - Comportamento do motor em função da folga entre os segmentos. Nakka, (2).

Page 65: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

64

Nakka concluiu que a combustão não acontece de forma eficiente nas

extremidades dos grãos muito próximos. Portanto, é uma boa prática de projeto

considerar uma boa folga entre os grãos. Neste trabalho será usada uma relação

com o raio do núcleo, sendo o espaço entre os segmentos igual a este raio.

3.6.3.2. Grão Livre

O grão livre apresenta uma área de queima teoricamente constante, já que as

regressões do raio externo e interno se dão na mesma velocidade e as

extremidades são inibidas. No Grão Livre a única restrição geométrica do grão é o

raio externo, este tem um valor máximo limitado pelo tamanho de seu ignitor. Se

usar uma área de passagem duas vezes maior que a área da garganta como

sugerido e dividir-se essa área de passagem igualmente entre o núcleo e a área de

passagem externa seria obtido um raio externo muito próximo da parede do forro,

seria difícil iniciar a combustão na parte externa do grão. Geralmente, apenas a área

de passagem externa já representa espaço suficiente para se evitar a queima

erosiva. A geometria e as principais dimensões de um grão tipo livre são mostradas

na Figura 28.

Figura 25 - Geometria de um grão do tipo Livre

Portanto o raio externo deve ser definido antes, seguido da complementação

da área de passagem pela área do núcleo, se necessário. Portanto, área de

Passagem é dada por:

Page 66: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

65

Equação 20

Sendo o raio interno da câmara, o raio externo do grão livre,

limitado pelo raio interno da câmara e pela espessura do ignitor e o raio do

núcleo. As demais características geométricas do grão livre são listadas a seguir.

Área de Combustão:

Equação 21

Espessura do grão:

Equação 22

Volume:

Equação 23

3.6.3.3. Grão Barra e tubo

Para que a taxa de variação das duas áreas (interna do tubo e externa da

barra, como detalhado na Figura 26) se anulem e a área se mantenha virtualmente

constante é necessário que as espessuras de grão na barra e no tubo sejam iguais,

portanto:

Equação 24

Page 67: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

66

Figura 26 - Geometria de um grão Barra e Tubo.

A partir dessa restrição geométrica as demais características desse tipo de

grão podem ser obtidas.

Área de passagem:

Equação 25

Área de combustão:

Equação 26

Espessura do grão:

Equação 27

Volume do grão:

Equação 28

3.7. TUBEIRA

A função de uma tubeira é direcionar e acelerar os produtos da combustão,

tanto de foguetes quanto de motores a jato, de forma que maximize a velocidade no

plano de saída, geralmente para valores hipersônicos. A tubeira faz isso apenas com

sua geometria. A tubeira clássica convergente-divergente é conhecida também por

Page 68: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

67

Bocal de La Val ou Bocal Supersônico. O objetivo é acelerar os gases de combustão

a para a mais alta velocidade de ejeção possível. Isso é alcançado projetando-se a

geometria da tubeira para ser teoricamente isentrópica. Quando considerado

isentrópico o fluxo depende apenas da variação da seção de área da tubeira. A

análise de uma tubeira envolve a solução de quatro equações:

a) balanço de energia;

b) balanço de massa;

c) bomento (para o empuxo, na subseção 3.8);

d) gás ideal, Equação 29.

Equação 29

3.7.1. Energia

Pelo principio da conservação da energia, considerando fluxo adiabático entre

os pontos quaisquer e , esquematizados na Figura 27, temos que:

Equação 30

A Equação 30 dá uma ótima visão do funcionamento de uma tubeira. Os dois

primeiros termos mostram que a diminuição da entalpia é igual ao aumento da

energia cinética. Em outras palavras o calor do fluido está sendo usado para

acelerar o fluxo, que possuía velocidade inicial nula. O terceiro termo mostra a

queda na temperatura do fluido causada pela perda de energia. A capacidade

térmica pode ser considerada aproximadamente constante e é determinada pela

composição dos gases resultantes da combustão.

Page 69: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

68

Figura 27 - Posição dos planos de refência no eixo x da tubeira do motor MJ508.

Para descrever e estado do fluído em qualquer ponto é conveniente

considerar o estado de estagnação como referência. Assim sendo, de acordo com

Nakka, (2), e Sutton, (8):

Equação 31

Para um processo isentrópico pode-se aplicar a relação demonstrada por

Nakka, (2), Sutton, (8) e Shapiro, (11):

Equação 32

Onde é a razão dos calores específicos, definida por:

Equação 33

Tanto quanto são propriedades determinadas pela composição dos

produtos da combustão. A velocidade sônica local, , e o número Mach, , são

dados por:

Equação 34

Page 70: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

69

Equação 35

Combinando as equações anteriores se obtém a relação entre a temperatura

de estagnação e o número Mach:

Equação 36

Pode ser mostrado, de acordo com Shapiro, (11), pela primeira e segunda lei

da termodinâmica que para um processo isentrópico:

Equação 37

Combinando as equações Equação 36, Equação 37 e a equação do estado

de um gás ideal, Equação 29, página 67, se chegam às duas equações que

relacionam a pressão de estagnação, densidade e número Mach:

Equação 38

Equação 39

Outra importante propriedade de estagnação é a entalpia, dada por:

Equação 40

Page 71: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

70

3.7.2. Conservação da Massa

A vazão mássica é limitada pelo fluxo subsônico na garganta da tubeira pelo

efeito de entupimento. Considerando a pressão dos gases e a vazão como

constantes, tem-se que para qualquer seção de área da tubeira:

Equação 41

Onde é a área da seção, a velocidade do fluido e os termos com sobre

escrito asterisco são os valores críticos na garganta, quando A velocidade do

gás aumenta na seção convergente da tubeira até a velocidade sônica. Esta não

aumenta mais, mesmo que a área fosse reduzida, por causa de ondas de choque. O

fenômeno é conhecido como entupimento, Figura 28.

Figura 28 - Ondas de choque, responsáveis pelo efeito de entupimento, em um fluido passando por um oríficio a (na entrada), Gibson et al. (2000).

Usando a Equação 34, Equação 35, Equação 36, Equação 39 e a Equação

41 é possível expressar a relação entre a área da seção e a área crítica, da garganta

em qualquer posição da tubeira. Logo:

Equação 42

Page 72: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

71

Colocando a relação de áreas em função do número Mach em um gráfico se

obtém a curva da Figura 29 que claramente demonstra um formato geométrico

convergente divergente, típico de uma tubeira.

Figura 29 - Relação em função da valocidade .

Isso demonstra o quanto se ganha com uma seção divergente na tubeira.

Muitas tubeiras são apenas convergentes e desperdiçam grande parte de sua

energia térmica para a atmosfera. Sem a seção divergente os gases nunca serão

supersônicos. Agora é possível determinar a velocidade no plano de saída de uma

tubeira supersônica, pela Equação 43.

Equação 43

Tira-se da Equação 43, algumas conclusões listadas por Nakka, (2):

a) a máxima velocidade que pode ser obtida é para o caso do

ambiente externo ser o vácuo, pois a ralação de pressão

tende ao infinito;

b) aumentar a pressão da câmara de combustão não aumenta

de forma significativa a velocidade dos gases no plano de

saída;

0

1

2

3

4

0 1 2 3

MA/A*

Page 73: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

72

c) uma temperatura mais alta de combustão e um peso

molecular baixo são benéficos.

Para se projetar uma tubeira é necessário conhecer os componentes e a

temperatura dos gases de combustão e se projetar a área da tubeira para uma

determinada pressão, geralmente limitada pela resistência dos materiais. A

aceleração ótima dos gases é dada quando a pressão na seção de saída é igual à

pressão do ambiente, portanto a relação entre a área da tubeira e a área do plano

de saída, conhecida por Taxa de Expansão, é dada por:

Equação 44

Quando a pressão no plano de saída não se equipara a pressão ambiente

poderão existir perdas de rendimento na tubeira. Se este for subexpandido ( )

os gases terminam de se expandir no ambiente, desperdiçando energia. Caso

contrário, se for superexpandido ( ), ondas de choque irão desacelerar o fluxo,

novamente perdendo desempenho. Este efeito está esquematizado na Figura 30.

Page 74: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

73

Levemente

subexpandido

(Pe > Pa)

Pressão

Equilibrada

(Pe = Pa)

Levemente

Super expandido

(Pe < Pa)

Sériamente

Super expandido

(descolamento da

camada limite)

(Pe < Pa)

Ondas de

choque

Ondas de

choque

Figura 30 - Efeito da taxa de expansão na eficiência da tubeira.

Os ângulos entre o eixo de simetria da tubeira e as paredes da seção

convergente e divergente são limitados. Fora de uma faixa acontecem perdas devido

a ondas de choque, o fluxo se torna tridimensional. De acordo com Richard Nakka,

por e-mail, em 07/03/2006:

“There is no basic theory to determine the angles. From empirical results, it has been found that the convergent half-angle should be between 30 and 45 degrees, and between 12 and 15 degrees for the divergent half-angle. Flow losses will occur outside these bounds.” (2)

Em outro e-mail, de 12/01/2006, sobre a taxa de expansão:

“With regard to expansion ratio, I have found that performance is improved

with a nozzle that has a high expansion ratio. I am not certain as to why, but I

suspect it has something to do with reduced 2-phase flow losses.” (2)

Page 75: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

74

Este trabalho lista outras possíveis razões, além do fluxo de duas fases, para

o aumento da eficiência por uma taxa de expansão mais alta que a ideal:

a) o fluxo bi-dimensional;

b) variação da pressão ambiente no vôo;

c) cálculo da tubeira para pressão ambiente ao nível do mar,

não sendo esta a pressão dos locais de teste e lançamento.

Portanto, projetar a tubeira para a pressão do local de lançamento e aplicar

uma taxa de expansão maior que a ideal, em geral o próximo número inteiro em

relação à taxa ideal, é uma boa prática de projeto.

3.8. EMPUXO

A aceleração máxima que um foguete pode estar sujeito é um dos fatores

limitadores de projeto, em geral é definida pelos requisitos da missão. Pela relação

direta entre massa, aceleração e força pode-se dizer que o empuxo é definido já no

projeto preliminar, sendo uma das grandezas chave no projeto de um foguete O

empuxo é a força produzida pelo motor foguete pela combinação da aceleração dos

gases pela tubeira, que gera o chamado empuxo de momentum, e pela resultante do

equilíbrio das pressões que agem no motor, como definido pela Equação 45 através

do balanço da Figura 31.

Equação 45

Page 76: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

75

Figura 31 - Balanço de pressão nas paredes da câmara e tubeira e velocidades envolvidas no cálculo do empuxo, Sutton, (8).

O primeiro termo da Equação 45 é o empuxo de momentum e o segundo

termo é o empuxo de pressão, que em uma tubeira com taxa de expansão ideal é

igual à zero. Considerando a conservação de massa a Equação 45 pode ser

reescrita:

Equação 46

Esta equação pode ser modificada usando-se a Equação 34 (onde ),

Equação 39, Equação 43 e a equação do estado de um gás ideal, Equação 29,

página 67,resultando em:

Equação 47

Na Equação 47 se nota, considerando que o termo do empuxo de pressão é

zero, que o empuxo é diretamente proporcional a área da garganta, , e

aproximadamente diretamente proporcional a pressão da câmara, .

Essa relação é interessante, pois para aumentar o empuxo pode-se aumentar

a área da garganta, mantendo a pressão, ou aumentar a pressão da câmara, fixando

Page 77: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

76

a área. Isso é limitado por diversos fatores de projeto, como dimensões limitantes e

custos de materiais, além dos fatos de que as duas grandezas são relacionadas e o

empuxo não sofre grandes alterações a partir de determinada relação entre pressão

da câmara e da saída da tubeira como será discutido adiante. O empuxo também é

proporcional a:

a) empuxo de pressão (termo aditivo, podendo ser negativo ou

positivo);

b) razão dos calores específicos, sendo pouco sensível a esta

propriedade (2);

c) razão entre a pressão da câmara e a pressão ambiente,

, também chamada de Taxa de expansão

A Figura 32 demonstra a relação entra a razão das pressões e o

empuxo. No gráfico o empuxo está em função do empuxo ideal no vácuo, obtido

quando . O empuxo de pressão não é considerado nesse gráficoe a razão dos

calores específicos é a do ar.

Figura 32 - Influência do taxa de expansão no empuxo.

A razão das pressões é determinada apenas pela razão (taxa de

expansão) da Equação 44. Na Figura 32 uma razão de pressões igual a um, o caso

de uma tubeira sem a seção divergente, o empuxo é nulo. Em outras palavras isso

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Razã

o d

o e

mp

ux

o

Razão das pressões

Page 78: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

77

significa que o único empuxo que esta tubeira é capaz de produzir é o de pressão.

Toda energia térmica, que pela expansão seria transformada em cinética na seção

divergente, se perde. A inclinação da curva demonstra que mesmo com uma

pequena seção divergente já é possível aumentar consideravelmente o empuxo,

atingindo 60% do empuxo máximo teórico já em , por exemplo. Depois

deste valor também existe uma diminuição na taxa de variação do empuxo, a curva

se torna quase horizontal, onde pequenas variações da taxa não afetam de forma

considerável o empuxo.

O quanto o empuxo é amplificado pela tubeira é quantizado pelo coeficiente

de empuxo efetivo, , que é definido pelo empuxo em razão à pressão da câmara e

área da garganta.

Equação 48

A Equação 48 é útil, já que permite a obtenção do valor do coeficiente efetivo

a partir de dados de testes estáticos. O coeficiente de empuxo ideal pode ser obtido

a partir da Equação 47 e Equação 48, sendo:

Equação 49

3.9. IMPULSO TOTAL

Impulso total, , assim como o empuxo, é definido pelos requisitos da missão

em função das características do propelente, massa do foguete e altitude a ser

atingida. Ele adiciona o importante fator tempo ao integrar a força de empuxo em

função do tempo. É a área da Figura 33 e é definido pela Equação 50, Sutton, (8).

Equação 50

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78

Onde é uma propriedade do propelente discutida na subseção 3.10 e é

a taxa de variação do peso do propelente no motor.

Figura 33 - Grafico do empuxo versus tempo de um motor de Richar Nakka, o impulso total é representado pela área, Nakka, (2).

Para um motor de empuxo constante a Equação 50 pode ser simplificada

para:

Equação 51

Dois motores com o mesmo impulso não tem necessariamente a mesma

capacidade. Um booster, nome dado aos motores da fase de aceleração do vôo,

tem uma força de empuxo muito alta, mas um tempo de queima curto. Já um

sustainer, motores usados nos estágios seguintes, apresenta valores de empuxo

bem menores e um tempo de queima longo. A Equação 51 é importante pois

relaciona as principais grandezas do motor diretamente ligadas a performance

balística do foguete, podendo determinar a massa de propelente necessária para se

atingir determinado impulso total.

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79

3.10. IMPULSO ESPECÍFICO E VELOCIDADE CARACTERÍSTICA DOS GASES

O impulso específico, , é a medida do impulso que pode ser produzido por

unidade de massa de propelente consumido como descrito pela NASA, (9). É a

propriedade que geralmente define se um propelente é viável de ser estudado ou

não de acordo com Nakka, (2) e pode ser obtida por meio de softwares de equilíbrio

químico e pela relação:

Equação 52

Onde é o peso do propelente. A velocidade característica dos gases, , é

uma função da combustão do propelente e é um indicativo da eficiência da

combustão. A ideal é dada por:

Equação 53

A velocidade característica efetiva, , pode ser obtida por meio da integração

da curva de pressão versus tempo, obtida por ensaios de caracterização de

propelentes ou testes estáticos de motores, multiplicada pela razão entre a área da

garganta e a massa do propelente.

Equação 54

A Equação 54 permite obter o impulso específico efetivo, por meio do o

impulso total medido. O impulso específico efetivo é dependente de diversos fatores

como:

d) vazão mássica (logo, é relacionado ao tamanho do motor);

e) energia de combustão disponível no propelente;

f) eficiência da tubeira;

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80

g) pressão ambiente;

h) perda de calor pelos componentes do motor;

i) perdas por fluxo de duas fases;

j) eficiência da combustão.

Todos estes fatores serão discutidos na subseção 3.10, página. O valor do

impulso específico ideal é calculado a partir da Equação 53 e pela relação:

Equação 55

Logo:

Equação 56

3.11. PRESSÃO

A pressão na câmara de combustão de um motor foguete é dos principais

parâmetros de um motor foguete. Ela influência diretamente na taxa de combustão,

eficiência termodinâmica, eficiência e empuxo. Além de ser o principal esforço que a

estrutura da câmara deve suportar. Na Figura 34 podem-se observar as três fases

do regime de pressão de um motor. As fases de pressurização e despressurização

acontecem em regime transiente. O que leva o aumento de pressão dentro da

câmara é o efeito de entupimento da garganta, isso limita a vazão. Pela lei de

conservação de massa, a taxa de propelente consumido é igual à taxa de geração

de gás, portanto:

Equação 57

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81

Figura 34 - Curva típica de pressão de um motor com área de queima constante. Sua curva pode ser dividida em três fases. Adaptado de do trabalho de Sanches, (20).

A taxa em que os produtos da combustão são acumulados na câmara é dada

por:

Equação 58

Onde é a densidade instantânea do gás na câmara, é o volume

instantâneo ocupado pelo gás, que é igual ao volume livre instantâneo na câmara. A

variação do volume em função do tempo é igual à variação do volume pelo consumo

de propelente dado por:

Equação 59

Isso leva a:

Equação 60

O fluxo de gases é limitado na porção mais estreita da tubeira, a garganta.

Isso se deve ao efeito de entupimento discutido na subseção 3.7.2. Conhecendo

Page 83: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

82

essa característica pode-se derivar a Equação 60, como demosntrado por Nakka,

(2), obtendo-se a vazão pela relação:

Equação 61

Onde é vazão mássica que flui pela tubeira. Pode-se observar que a

vazão é influenciada pela pressão da câmara, área da garganta e as propriedades

do gás, que determina a velocidade sônica. Aplicando o princípio da conservação de

massa obtêm-se a relação entre a taxa de geração de gás e a soma das taxas de

acumulo de gás e vazão pela tubeira.

Equação 62

Substituindo a Equação 57 e Equação 60 na Equação 62:

Equação 63

A taxa de combustão do propelente pode ser expressa em função da pressão

como discutido na subseção 3.4. Substituindo a Equação 63 e Equação 61 na

Equação 1 leva a:

Equação 64

A taxa de variação da densidade pode ser relacionada à pressão pela lei dos

gases ideais.

Equação 65

Considerando que a temperatura dos gases não muda em relação à pressão

a Equação 64 pode ser reescrita como:

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83

Equação 66

Essa equação permite obter a taxa de variação da pressão no regime

transiente de pressurização, até o valor de regime permanente. Neste regime a taxa

de variação da pressão é zero, logo, a pressão nessa fase pode ser expressa por:

Equação 67

Na Equação 67 a densidade do gás, , é insignificante, em comparação a

densidade do propelente, , e foi desconsiderada. Esta equação pode ser

simplificada com a Equação 1, Equação 53 e o Número de Klemmung, , dado

por:

Equação 68

Levando a forma simplificada da equação da pressão em regime permanente:

Equação 69

A despressurização acontece quando o propelente termina, portanto .

Isso leva a Equação 66 a:

Equação 70

Esta equação diferencial pode ser resolvida para determinar a pressão na

fase de despressurização como uma função de sangria para fluxo entupido:

Equação 71

Page 85: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

84

Em um motor real, o decaimento da pressão é mais gradual devido a sobras

de propelente e partículas sólidas que se acumulam na garganta durante essa fase.

A Equação 66 e a Equação 71 podem ser resolvidas numericamente para

determinar seus regimes em função do tempo. Em motores de pequeno porte e de

tempo de combustão curto, como os propostos para este trabalho, as fases

transientes influenciam de forma mais significativa. Na fase de compressão o efeito

pode ser considerado desprezível, já que o projeto de um bom ignitor, subseção

3.14, faz com que a ignição do propelente já se dê na pressão de projeto, não

desperdiçando propelente nesta fase. Para as perdas do regime de descompressão

em geral se usa um fator de correção, considerando essa fase como uma sobra de

propelente, subseção 3.12.

3.12. FATORES DE CORREÇÃO

Até este ponto os motores de propelente sólidos foram tratados de forma

ideal. Para se obter valores mais próximos do comportamento real são usados

fatores de desempenho, obtidos pela relação entre seu valor ideal e o medido em

ensaios. Em conjunto com a eficiência densiométrica e a fração de carga

volumétrica formam um conjunto de fatores que aproximam o projeto do

comportamento real do motor.

3.12.1. Condições na câmara

As perdas de calor pelas paredes da câmara e a eficiência na combustão

levam a uma diminuição da pressão, em relação ao previsto pela teoria nas

condições ideais. A perda de eficiência de combustão geralmente é muito pequena,

considerando que o propelente foi produzido com cuidado e as partículas de

oxidante ou aditivo forem bem finas. A eficiência da combustão pode ser medida

pela relação entre a velocidade característica medida e a ideal:

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85

Equação 72

O valor de pode ser medido com o uso de equipamentos de caracterização

de propelentes como o UEP ou a partir de dados de testes estáticos de motores,

para propelentes amadores preparados com critério os valores de ficam entre

e como testado por Nakka, (2). A eficiência da combustão é dependente,

em pequeno grau, do tamanho do motor. Motores maiores em volume ou mais

longos geralmente têm uma eficiência maior. As perdas de calor para o ambiente

também são dependentes do tamanho do motor, materiais, isolamentos, etc. A

temperatura efetiva dos gases na câmara pode ser obtida através da eficiência da

combustão, sendo:

Equação 73

Como motores amadores, no sentido de propelentes e matéria prima,

geralmente apresentam um tempo de queima curto, uma porção significante do

impulso total vem de seus regimes transientes, justamente quando a pressão

influencia mais no , como pode ser observado na Figura 35.

Figura 35 - A pressão influencia significativamente no impulso, principalmente no regime de baixa pressão (pressurização e despressurização), Nakka, (2).

Isso afeta sensivelmente o resultado do impulso específico real. A eficiência

da pressão é dada pela relação entre a ideal (ou de projeto) e a medida, portanto:

Equação 74

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86

Em motores amadores de configuração equivalente o valor típico é de ,

(2). De modo a simplificar o cálculo do impulso total é considerando que o motor

opera em regime permanente até o fim de todo propelente. A perda na fase de

compressão pode ser desconsiderada por conta de um bom sistema de ignição,

como discutido na subseção 3.11, já a fase de descompressão pode ser vista como

uma sobra de propelente após o fim da combustão. De fato, sempre há sobra de

propelente, mas para se corrigir o calculo idealista do impulso total usa-se uma

sobra teórica ainda maior. O valor prático para projeto preliminar do motor é de 5%

de sobra de propelente, (8) e (7).

3.12.2. Perdas na tubeira

Diversos fatores contribuem para as perdas na tubeira, como: atrito, gases

imperfeitos, fluido de duas fases, inércia térmica e de momento das partículas

sólidas, etc. A perda devido à geometria em tubeiras cônicas pode ser demonstrada

por, de acordo com a NASA, (9):

Equação 75

Onde é o ângulo entre o eixo de simetria da tubeira e a parede da seção

divergente. As perdas geralmente são muito baixas, como pode ser visto na Figura

36, só se tornando significativas em motores onde o desempenho é fundamental e

seções divergentes possuem uma curva mais complexa.

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87

Figura 36 - Gráfico do fator de perda por geometria da tubeira versus ângulo da seção divergente.

O fator de correção de descarga, , demonstra as perdas de vazão da

tubeira e é dado pela relação entre as vazões reais e ideais:

Equação 76

O que mais influencia esse fator é o contorno entre a seção convergente e a

garganta da tubeira e a rugosidade. Essa influencia é menos evidente em

propelentes profissionais, onde a quantidade de partículas sólidas é muito pequena.

A descarga pode ganhar eficiência devido ao aumento da densidade do gás por

causa da perda de calor nas paredes da tubeira, como demonstrad por Saad, (21),

e Nakka, (2), e pela mudança nas características do gás ao longo dele. Para

propelentes amadores e em tubeiras cônicas de contorno suave e superfícies

internas polidas o valor típico é , Nakka, (2).

Esse fator é relacionado a eficiência do coeficiente de empuxo, CF, portanto

pode ser usado como fator de correção do coeficiente:

Equação 77

0,970

0,975

0,980

0,985

0,990

0,995

12 13 14 15

λ

Page 89: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

88

3.12.3. Correção do Impulso Específico

O impulso específico efetivo, , pode ser obtido a partir dos fatores de

correção das condições da câmara e tubeira, sendo:

Equação 78

3.13. RESISTÊNCIA MECÂNICA

Um motor foguete de propelente sólido é muito simples, geralmente possui

apenas duas ou três peças principais e pode ser tratado simplesmente como um

vaso de pressão de parede fina. As configurações de peças mais comuns são:

a) Tubeira e corpo (a extremidade oposta à tubeira faz parte

do corpo), duas peças;

b) Tubeira e corpo como uma peça e cabeçote, duas peças;

c) Tubeira, corpo e cabeçote, três peças, Figura 37.

Figura 37 - Motor foguete MJ510, desenvolvido na seção 7, e seus componentes principais,.

Page 90: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

89

A configuração desde projeto é a terceira, mais simples e barata de se

produzir. As duas primeiras configurações têm vantagens quanto a diminuir o risco

de vazamentos por conter apenas uma junção. O fator de segurança comumente

utilizado em motores foguete é de . A tubeira e o cabeçote, por suas

geometrias complexas, são mais facilmente dimensionados com o auxilio de

softwares FEA básicos. Para o corpo do motor é basicamente um tubo sob pressão

interna pode-se usar o seguinte conjunto de equações, encontradas nas publicações

de Blake, (22) e Young, (23):

Relação das resistências mecânicas do material:

Equação 79

Pressão de projeto:

Equação 80

Pressão de rompimento:

Equação 81

Coeficiente de segurança de rompimento:

Equação 82

Variação do diâmetro sob :

Equação 83

Variação do comprimento sob :

Equação 84

Page 91: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

90

Onde , , e são propriedades do material do corpo. Os valores e

são o diâmetro externo e a espessura do tubo, respectivamente. O fator de

rompimento para cilindros pressurizados, , é empírico e pode ser determinado

pela curva polinomial (22) e (23):

Equação 85

Onde , , , e . A

curva pode ser vista na Figura 38.

Figura 38 - Fator de rompimento em função de beta.

Existe um fator de concentração de tensão nos pontos de fixação da tubeira e

do cabeçote. O material sofre deformação plástica e tem sua resistência mecânica

aumentada conseqüentemente.

"The holes for the bulkhead attachment screws are subjected to high bearing stress. Some minor elongation of these holes normally occurs after the first firing of the motor. This is not detrimental and occurs only once, as the material consequently strain hardens locally due to this deformation." (2)

A falha por fadiga é improvável, pois o motor foguete apresenta poucos ciclos

de vida, basicamente ensaio hidrostático e uso. Como pode ser reafirmado pela

citação:

"In the case of ductile materials that are subject only to one load cycle during their lifetime (fairly unusual in Mechanical Engineering) it is not necessary to

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

β

B_E

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91

use stress concentration factors as local plastic flow and work hardening will prevent failure provided the average stress is below the yield stress." (25)

Para se limitar o efeito da concentração de tensão a solução mais simples é o

aumento do diâmetro dos furos no corpo do motor. Isso se deve ao fato do corpo

geralmente ser um tubo de paredes finas, portanto o aumento do furo de fixação no

corpo reduz drasticamente o efeito da concentração de tensão. O uso de parafusos

com cabeça do tipo panela permite fazer isso com simplicidade, o ombro do

parafuso fica apoiado diretamente na peça em que é atarraxado e a transferência

dos esforços se da entre a cabeça do parafuso e o furo no corpo. O tubo tem seu

diâmetro aumentado, mas é em escala muito pequena em comparação a espessura

da cabeça do parafuso, portanto, os principais esforços serão apenas no sentido

axial do tubo, dado pela pressão exercida no cabeçote e o equilíbrio entre empuxo e

força da pressão na tubeira, como pode ser visto na Figura 39.

P

P F

Figura 39 - Distribuição de pressão no cabeçote e tubeira e a força de empuxo.

Os pontos de concentração de tensão da montagem serão os corpos dos

parafusos, mais precisamente na interface do ombro. Com pode-se determinar o

numero de parafusos a serem usados em cada uma das peças com base na

resistência mecânica e dimensões dos parafusos.

Força exercida pela pressão no cabeçote, , é o produto da pressão pela

área resultante do diâmetro interno do corpo, , sendo:

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92

Equação 86

Essa força é distribuída pelo número de parafusos instalados, , conhecendo

o diâmetro dos mesmos, , para se determinar a área de sua seção é possível

determinar a tensão de cisalhamento de cada um dos parafusos, :

Equação 87

Adicionando o coeficiente de segurança, , e a tensão última suportada pelo

material do parafuso e isolando tem-se:

Equação 88

É uma prática comum projetar o número de parafusos do cabeçote para que

cisalhem antes do rompimento do corpo do motor, evitando assim o lançamento de

fragmentos no sentido lateral em caso de falha e funcionando como dispositivo de

segurança. Na tubeira os esforços são reduzidos, pois a força de empuxo está em

sentido contrário à força exercida pela pressão interna na tubeira. A força de

empuxo é muito pequena se comparada à força exercida pela pressão da câmara,

portanto a Equação 88 pode ser usada, desde que a fluência do material por conta

da temperatura local seja considerada. A fluência também deve ser levada em conta

no cálculo de resistência mecânica do corpo do motor, principalmente no caso de

um grão tipo livre, onde o corpo pode ficar exposto à frente de chama. O efeito da

temperatura sobre a resistência mecânica em diversos materiais metálicos pode ser

conhecido através da referência (25).

3.14. SISTEMAS DE IGNIÇÃO

Os ignitores são dispositivos pirotécnicos ativados por corrente elétrica.

Funcionam pelo aquecimento de uma pequena resistência coberta por materiais

Page 94: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

93

pirotécnicos. O material da resistência deve suportar temperaturas altas, suficientes

para se iniciar o processo de combustão em sua volta, sem que entre em fusão. A

geração de calor por meio de corrente elétrica se da pela resistência do material a

passagem dos elétrons, essa resistência faz com que elétrons se colidam liberando

energia na forma de calor. Os ignitores podem ser divididos em dois grupos, de

acordo com sua aplicação: Os de baixa corrente para dispositivos de ejeção ou

outros mecanismos pirotécnicos e os de alta corrente, para ignição de motores.

Os ignitores são parte do sistema de ignição do motor. Para se evitar a as

perdas em função do propelente consumido na fase de pressurização o ignitor é

responsável pela combustão de uma carga pirotécnica, que além de gerar gases

quentes durante tempo suficiente para a ignição completa do grão, levam o motor a

pressão projetada de regime permanente sem o consumo de propelente, NASA (26).

No ignitor a resistência, também chamada de fusível nessa aplicação, é um

fio de um material com alto ponto de fusão, sendo o material mais comum a liga de

níquel cromo. Estes fios são usados na indústria de resistências elétricas para

aquecimento, portanto dados sobre a relação entre a corrente elétrica aplicada e a

temperatura na superfície do fio são prontamente encontradas. A Tabela 7 é uma

adaptação de uma figura do site da empresa WireTronic Inc, fabricante de fios de

níquel cromo.

Tabela 7 - Relação entre diâmetro de fio, corrente e temperatura para fios de níquel cromo.

Fio NiCr Temperatura da superfície do fio [°C]

205 315 427 538 649 760 871 982 1093

AWG [mm] Corrente [A]

27 0,36 1,44 1,84 2,25 2,73 3,30 3,90 4,60 5,30 6,00

28 0,32 1,24 1,61 1,95 2,38 2,85 3,40 3,90 4,50 5,10

29 0,29 1,08 1,41 1,73 2,10 2,51 2,95 3,40 3,90 4,40

30 0,25 0,92 1,19 1,47 1,78 2,14 2,52 2,90 3,30 3,70

31 0,23 0,77 1,03 1,28 1,54 1,84 2,17 2,52 2,85 3,20

32 0,20 0,68 0,90 1,13 1,36 1,62 1,89 2,18 2,46 2,76

33 0,18 0,59 0,79 0,97 1,17 1,40 1,62 1,86 2,12 2,35

34 0,16 0,50 0,68 0,83 1,00 1,20 1,41 1,60 1,80 1,99

35 0,14 0,43 0,57 0,72 0,87 1,03 1,21 1,38 1,54 1,71

36 0,13 0,38 0,52 0,63 0,77 0,89 1,04 1,16 1,33 1,48

37 0,11 0,35 0,46 0,57 0,68 0,78 0,90 1,03 1,16 1,29

38 0,10 0,30 0,41 0,50 0,59 0,68 0,78 0,88 0,98 1,09

39 0,09 0,27 0,36 0,42 0,49 0,58 0,66 0,75 0,84 0,92

40 0,08 0,24 0,31 0,36 0,43 0,50 0,57 0,64 0,72 0,79

Fonte: Web site da WireTronic Inc., acesso 27 de junho de 2007.

Page 95: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

94

Os ignitores usados em foguetes experimentais, em geral, consistem em um

chicote elétrico com um fusível de níquel cromo embebido em um compósito

pirotécnico em uma das extremidades, como na , onde duas formas construtivas são

exemplificadas. A taxa de combustão em geral é alta e é desejável que a sua

combustão libere partículas sólidas em alta temperatura, fagulhas, que se espalham

pela área exposta do grão iniciando a sua combustão, além de fornecer gás a alta

temperatura suficiente para se atingir a pressão projetada.

Fotos: David Sparks

Fio de NiCr

Compósito

pirotécnico

Soldas

Chicote

elétrico

Figura 40 - Duas formas construtivas de ignitores e fotos de ignitores antes e após a aplicação do compósito pirotécnico. Fotos: David Sparks

Considerando os produtos da combustão da carga de ignição como um gás

ideal a pressão na câmara pode ser expressa por:

Equação 89

Onde é a massa inicial da carga, é o volume da câmara de combustão e

é o volume inicial do ignitor. Considerando que a pressão inicial da câmara é a

pressão ambiente:

Equação 90

Page 96: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

95

Onde , e são respectivamente a constante do gás ideal, temperatura de

chama adiabática da composição e massa molar dos produtos da combustão. Estas

propriedades podem ser obtidas por softwares de equilíbrio químico que serão

discutidos na subseção 3.3. A relação destas propriedades é chamada por Nakka,

(2), de “força efetiva” e é dada por:

Equação 91

Substituindo a Equação 91 na Equação 90 se obtém:

Equação 92

Que pode ser rearranjada como:

Equação 93

A relação entre a massa da carga e o volume da câmara é a fração de carga

de carga volumétrica da ignição, :

Equação 94

Substituindo na Equação 93:

Equação 95

Multiplicando a fração pela relação unitária da densidade da carga, :

Equação 96

Considerando que a massa inicial da carga é igual ao produto de sua

densidade e volume chega-se à:

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96

Equação 97

A Equação 97 determina qual a massa necessária de determinada

composição de carga pirotécnica para se atingir a pressão de projeto ainda na fase

de ignição, eliminando a perda de propelente durante a fase de pressurização.

Page 98: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

97

4. AERODINÂMICA E ESTABILIDADE DO FOGUETE

A principal característica de um foguete é sua estabilidade, que pode ser

interpretada como capacidade de manter a trajetória projetada. A estabilidade de um

foguete é influenciada pela posição relativa do centro de gravidade e do centro de

pressão. Essa influência pode ser observada pelos diagramas de corpo livre da

Figura 41 e nas trajetórias da Figura 42. O foguete instável, Figura 41, possui o

centro de pressão, CP, mais próximo da ogiva do que o centro de gravidade, CG.

Quando sofre uma força de arrasto lateral de qualquer amplitude gera um momento

de forma a ampliar essa força, entrando em uma trajetória imprevisível de voltas,

Figura 42. Quando o CG está no mesmo ponto do CP o comportamento é

indiferente, o foguete adquire uma velocidade horizontal em resposta à força de

arrasto lateral, mas não sofre nenhum momento. Não é considerada uma opção

estável, pois o foguete sai da trajetória projetada. De acordo com a Figura 41 para

que o foguete tenha estabilidade aerodinâmica e mantenha sua rota o centro de

pressão deve estar atrás do centro de gravidade (CG mais próximo da ogiva). Assim,

quando o foguete sofre um empuxo lateral gera um momento em torno do CG que

direciona o foguete de forma a reagir ao empuxo lateral, com um momento gerado

pelo arrasto, entrando em equilíbrio. Existe um limite para essa distância, onde o

foguete se torna super estável e o momento gerado pelo empuxo lateral sobrepuja o

momento do arrasto fazendo com que o foguete se vire na direção do vento, o ultimo

caso da Figura 41.

Page 99: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

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Instável Indiferente Estável Super estável

CG

CP

F

V

F pesoF arrasto

Momento

F

F arrasto

V

F pesoCG e CP

F

F arrasto

V

F pesoCP

CG

F arrasto

V

CP

CG

F peso

F

Momento

Vento

Figura 41 - Diagramas de corpo livre de foguetes com diferentes configurações aerodinâmicas.

Page 100: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

99

Figura 42 – Trajetórias de diferentes configurações aerodinâmicas.

O coeficiente de estabilidade, CE, é a distância entre o CP e o CG dividida

pelo diâmetro do foguete, Equação 98:

Equação 98

O coeficiente deve ser entre um e dois, como mencionado em textos do U.S.

Army Missile Command, (7), Barrowman, (27), e Nakka, (2), sendo instável quando

menor que um e super estável quando maior que dois. Para o caso do foguete

apresentar múltiplos diâmetros o valor de D, neste projeto, será a média obtida pelo

método dos pesos, sendo o fator de peso o comprimento de cada seção de diâmetro

diferente, Equação 99 e Figura 43.

Equação 99

Page 101: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

100

D1 D2 D3

C1 C2 C3

Figura 43 - Exemplo de um foguete com multiplos diâmetros.

O centro de gravidade varia ao longo do vôo em razão do consumo do

propelente. Para se conhecer o CG pode-se: medir no próprio foguete, sendo o

ponto de equilíbrio, calcular, conhecendo-se as massas de cada um dos

componentes e suas posições relativas e por meio do projeto do foguete em

software CAD 3D, Figura 44.

Figura 44 - Centros de gravidade inicial e pós combustão do foguete AKK, obrtidos através do software CAD 3D SolidWorks.

Page 102: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

101

4.1. ALETAS

A função das aletas é dar estabilidade e controle de trajetória aos foguetes.

Elas funcionam pelo aumento localizado da área lateral do foguete, ajustando a

posição do centro de pressão de forma a tornar o foguete estável. O efeito do

tamanho das aletas no centro de pressão pode ser observado na Figura 41. Em

geral são dispostas uniformemente em torno do diâmetro do foguete e são no

mínimo três, para prover estabilidade nos eixos. O valor mínimo de aletas é limitado

pela velocidade máxima que o foguete deve atingir. Em velocidade transônicas uma

baixa razão de alongamento, razão entre a altura e o comprimento da aleta, diminui

a variação do centro de pressão como pode ser observado na Figura 45. Uma razão

menor, em alguns casos, significa a necessidade de um número maior de aletas

para se garantir um coeficiente de estabilidade dentro da faixa desejável, número é

limitado pelo arrasto, principalmente, e pela interferência aerodinâmica entre aletas,

como discutido por U.S. Army Missile Command, (7).

Figura 45 – Influência da razão de alongamento das aletas na força normal e por consequência na posição do CP, U.S. Army Missile Command , (7).

A forma geométrica do plano de cada aleta não é importante em voos

subsônicos, sua geometria influência na posição do CP, mas de forma pouco

Page 103: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

102

significativa para todo o foguete. As formas mais comuns são o triângulo, o trapézio

e o trapézio cortado, Figura 47. A geometria mais importante é o perfil, que deve

minimizar o arrasto tendo formas aerodinâmicas. A Figura 46 exemplifica três tipos

comuns de perfis. Os perfis do tipo plano com bordos chanfrados ou diamante são

muito eficientes, mesmo em vôos supersônicos. O uso de aerofólios como o NACA-

0012 deve ser criterioso. Flutuações assimétricas nas ondas de choque em cada

face, em vôos supersônicos, podem provocar esforços não previstos e conseqüente

quebra do foguete em vôo, caso em particular do foguete Frostfire III de Richard

Nakka, (2), Figura 48 e a Figura 49 descreve o fenômeno enfrentado pela aleta do

foguete, sendo: 1 - fluxo transônico simétrico em torno do aerofólio; 2 - Um distúrbio

assimétrico (mudança no ângulo de ataque ou vento, por exemplo) provoca o

deslocamento da onda e desprendimento da camada limite e em 3 - a aleta reage,

entrando em oscilação.

Planar com os bordos de ataque e fuga chanfrados

Diamante

Aerofólio NACA-0012

Figura 46 - Tipos comuns de perfis usados em aletas de foguetes.

Page 104: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

103

Figura 47 - Diversas geometrias de aletas e suas razões de aspecto. U.S. Army Missile Command , (7).

Figura 48 - Fuselagem fragmentada por esforços aerodinâmicos no foguete Frostfire III durante a fase transônica do vôo. Nakka, (2)

Page 105: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

104

Figura 49 - Fluxo transônico com vibração induzida por desequilibro nas ondas de choque em torno da aleta.

A obtenção da posição do centro de pressão e sua variação em função da

velocidade serão discutidas na subseção 4.3.

4.2. ARRASTO E RESISTÊNCIA MECÂNICA DO FOGUETE

O arrasto é uma das principais forças agindo sobre a estrutura do foguete. Ele

é o resultado do avanço do foguete no ar e pode ser expresso pela Equação 100

para velocidades subsônicas e pela Equação 101 para supersônicas.

Equação 100

Equação 101

Onde é a área frontal projetada, é a velocidade subsônica do foguete e

é a velocidade Mach para o arrasto supersônico. São propriedades do ar, , e ,

respectivamente a densidade, razão dos calores específicos e pressão. O

coeficiente de arrasto é em função do perfil geométrico e sua obtenção será

discutida na subseção 4.3. Para os cálculos da força de arrasto e resistência

mecânica será considerado que o foguete voa verticalmente sem vento lateral e sem

nenhum desequilíbrio, sendo totalmente alinhado. Quando em atitude normal de vôo

(vento incidente paralelo ao eixo longitudinal do foguete) as principais superfícies

expostas são a ogiva, as aletas e tronco de cone no caso de foguetes com múltiplos

diâmetros como o da Figura 43. A escolha da geometria destes componentes para

Page 106: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

105

minimizar o arrasto é crucial para um bom projeto. O perfil das aletas foi discutido na

subseção 4.1. Os ombros só são críticos em foguetes supersônicos, pois é preciso

evitar a interferência das ondas de choque geradas por essa seção nas aletas.

Métodos práticos para se determinar essa interferência podem ser encontrados no

documento do U.S. Army Missile Command, (7). A ogiva é o componente mais

afetado e um dos principais responsáveis pelo arrasto geral do foguete. A escolha

de um perfil adaptado as condições de vôo é simplificada pelo uso da Figura 50.

Figura 50 - Comparativo das características de arrasto de diversos formatos de ogiva em função da velocidade Mach sendo 1 para superior, 2 para bom, 3 para suficiente e 4 para inferior. Chinn, (28)

A descrição da geometria de diversos tipos de ogivas pode ser encontrada no

texto de Crowell, (29). As forças aerodinâmicas em conjunto com os momentos

resultantes da aceleração formam o conjunto de forças principais agindo sobre a

estrutura do foguete. A Figura 51 é um gráfico da velocidade e aceleração em

função do tempo, da ignição ao apogeu. Nesta figura pode-se ver que a aceleração

e velocidade máximas acontecem no mesmo momento, o fim da combustão, ,

portanto é este o momento de máxima carga nos componentes estruturais. A

simulação do comportamento do foguete em vôo e os valores da velocidade e

aceleração máximas serão discutidos na seção 5.

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106

Figura 51 - Gráfico de velocidade e aceleração em função do tempo, compredido entre a ignição do motor e apogeu foguete.

No foguete existe uma junção conhecida por parede de fogo, análoga a da

aviação, onde o motor imprime sua força de empuxo. A maior parte de massa do

foguete está concentrada na sua ogiva; por isso, a combinação da força de arrasto

mais força de inércia da massa da ogiva agem na seção central, comprimindo-a

contra a força de empuxo. Portanto, essa região é onde se concentram os maiores

esforços mecânicos da fuselagem. Um diagrama de corpo livre de análise dessas

forças pode ser visto na Figura 52.

-25

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Ace

lera

ção

e v

elo

cid

ade

Tempo [s]

Aceleração [m/s^2] Velocidade [m/s]

Page 108: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

107

F arrasto

F inércia

F empuxo

Parede

de fogo

Seção central

sob compressão

Figura 52 - Diagramde corpo livre das forças agindo sobre a seção central do foguete.

Apenas a força resultante da soma do arrasto e da inércia age na compressão

da seção central, a resultante do equilíbrio das forças na Figura 52 é a responsável

ela aceleração do foguete. Portanto, a força de compressão, portanto negativa, que

age na seção central é:

Equação 102

A força de inércia pode ser obtida pela Segunda Lei de Newton aplicando-se

as massas da ogiva e carga e a aceleração máxima do foguete. A tensão axial pode

ser obtida pela relação entra a força de compressão axial e a área da seção do tubo

sendo:

Equação 103

Page 109: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

108

Existe uma tensão de cisalhamento resultante dessa compressão, Figura 53,

expressa pela equação:

Equação 104

45º

Figura 53 - Análise do plano de tensões

A tensão de cisalhamento certamente não será a causa de falha estática da

seção, mas é interessante para determinação do direcionamento das camadas de

materiais compósitos. As malhas comuns de fibra de vidro ou carbono geralmente

têm resistência apenas em dois eixos (no caso de uma trama a 90º), portanto se as

camadas externas e internas de um tubo de material compósito forem arranjadas de

forma a alinhar as fibras as tensões de cisalhamento a estrutura se torna resistente

a compressão, pois o cisalhamento é resultado da compressão axial e está “travado”

pela malha.

O outro fator a ser analisado na seção sob compressão é a flambagem. De

acordo com Nakka, (2), citando um texto da NASA, (30), para foguetes

experimentais de baixo desempenho uma relação entre o comprimento e o diâmetro

menor que quinze não há a necessidade da análise do fenômeno de flambagem.

Para o caso de uma seção central longa a tensão e força críticas são dadas por:

Equação 105

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109

Onde é a razão de esbelteza, sendo o comprimento da seção e é o

raio de giração dado por:

Equação 106

O momento de inércia, , da seção de um tubo é:

Equação 107

O conjunto compreendido entre a Equação 102 e a Equação 107 permite a

análise dos principais esforços que a seção central do foguete nas condições ideais

de vôo. A força máxima admitida deve preceder um coeficiente de segurança,

portanto:

Equação 108

Além da ogiva existem as aletas expostas aos efeitos do atrito e da

aceleração. Na Figura 54 é uma análise das forças agindo sobre a aleta e por

conseqüência em sua estrutura. Os vetores 4 e 5 são as forças de arrasto, Equação

100, e inércia respectivamente. Essas forças são transferidas da aleta para a

estrutura pela região da raiz, identificada pela linha tracejada em vermelho na Figura

54, sendo que o ponto formado pelo do bordo de ataque e a raiz da aleta a região

crítica de esforços. A combinação das forças de arrasto e inércia resultam em uma

cortante, vetor 2 na Figura 54, e uma força normal máxima em equilíbrio com o

momento gerado em relação a raiz, vetor 1, que tem sua máxima no ponto crítico.

As forças de arrasto e inércia combinadas com a força de inércia da seção onde as

aletas estão fixadas agem sobre a junção com a seção central, vetor 3 e linha azul

da Figura 54.

Page 111: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

110

CP

CG

1

2

3

4

5

Ponto crítico

L r

aiz

X4

X5

Eixo do momento

Figura 54 - Diagrama de corpo livre das aletas para cálculo básico de resistência mecânica.

A força cortante é a somatória das forças de arrasto e inércia, logo:

Equação 109

A força normal da aleta no ponto crítico é dada pelo momento das duas forças

em relação ao ponto final da raiz, no bordo de fuga, sendo:

Equação 110

A peça central a receber os esforços é a parede de fogo, ela suporta o

empuxo do motor, o arrasto e a inércia da seção central e ogiva e ainda sofre uma

tração da seção das aletas por seu arrasto e pela massa do conjunto. A força de

tração na junção pode ser obtida somando-se as forças de arrasto de cada uma das

aletas e a inércia de todo o conjunto (tubo mais aletas) sendo:

Equação 111

Page 112: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

111

Onde é a massa da seção, sem o motor já que tem seu peso sobrepujado

pelo empuxo, é a aceleração máxima do foguete e é o número de aletas.

Este conjunto de equações permite o projeto estrutural do foguete. Os coeficientes

de arrasto da ogiva, aletas e do foguete como um todo são obtidas por software

como será analisado na subseção 4.3.

4.3. DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE E COEFICIENTE DE ARRASTO

A forma mais simples para se obter o centro de pressão do foguete é a

técnica descrita por Barrowman, (27), em 1966. Nesta técnica o centro de área da

projeção do foguete determina a posição do centro de pressão. Esta técnica é

apenas uma aproximação e não permite se conhecer a variação do CP ao longo do

vôo, também não determina o coeficiente de arrasto. O grupo Dark, (12), criou um

software chamado Aerolab, Figura 55, para cálculo das características

aerodinâmicas de foguetes baseado em dados de estudos em túneis de vento e é

muito fácil de usar.

Figura 55 - Janelas do software Aerolab.

Page 113: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

112

Sua precisão foi atestada por Richard Nakka em 2005 quando estudava as

possíveis causas da falha do foguete Frostfire III em vôo. Uma das possibilidades

era de que o software não fosse preciso a transição para velocidades supersônicas,

portanto projetou no software o foguete de sondagem Hawk da NASA a partir de

dados do relatório de seu desenvolvimento, Gurkin, (31), calculou a posição do

centro de pressão por meio do software e comparou com os resultados de ensaios

em túnel de vento do relatório, chegando a Figura 56.

Figura 56 - Comparativo dos resultados obtidos por Nakka, pelo software AeroLab, e testes reais em túnel de vento do foguete Hawk da NASA. Nakka, (2).

O gráfico obtido por Nakka, Figura 56, é uma demonstração da precisão do

banco de dados usado pelo grupo Dark ao criar o software. Com o uso do AeroLab é

possível obter as posições dos centros de gravidade e pressão, o coeficiente de

estabilidade, coeficiente de arrasto do foguete ou de cada um dos componentes,

etc., todos em função da velocidade. A aceleração e velocidade máximas são

obtidas por outro software do grupo Dark, que será discutido na seção 5, adiante.

Page 114: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

113

5. BALÍSTICA

Durante a fase de desenvolvimento de um foguete experimental é muito

importante que se possa simplificar e obter de forma rápida os dados do

desempenho de vôo. Altitude, velocidade e aceleração máximas bem como a

velocidade e altitude do fim da combustão são parâmetros chave de vôo. Alguns

deles em geral são requisitos da missão. Nakka, (2), criou uma metodologia simples

para simplificar o processo iterativo de projeto, ela parte dos cálculos nas condições

ideais, isto é, sem atrito aerodinâmico, e usa coeficientes de correção baseados em

uma seria de simulações feitas no Aerolab para diferentes configurações de

foguetes. As equações nas condições ideais, para foguetes com um estágio, são

obtidas pela aplicação das Leis de Newton considerando o empuxo constante e

desconsiderando o atrito, sendo listadas a seguir, Nakka (2) e Frank (32):

A altitude ideal no fim da combustão, :

Equação 112

A velocidade ideal no fim da combustão, , sendo também a velocidade

máxima, :

Equação 113

A altitude pico, ou apogeu, ideal, :

Equação 114

Tempo ideal para apogeu, :

Equação 115

Page 115: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

114

As equações ideais e seus fatores de correção paras as condições de

simulação foram arranjadas por Nakka, (2), em uma planilha do Excel, na forma de

um software chamado EzAlt, Figura 57. Neste software se insere as informações do

motor, força de empuxo média e impulso total, massa do propelente, massa do

foguete sem propelente, diâmetro máximo e coeficiente de atrito médio do foguete,

vistos em azul na Figura 57. O uso desta tabela facilita o processo inicial do projeto,

simplificado as iterações necessárias para se determinar o desempenho desejado

do motor para atender os requisitos da missão.

Figura 57 - Tela da planilha EzAlt de Richard Nakka, (2).

Para uma simulação mais precisa e completa pode-se usar o software Launch,

Figura 58, do grupo Dark, (12), que permite a simulação de condições diversas e

complexas de vento, múltiplos estágios, múltiplos estágios de recuperação e ângulo

de lançamento. Também permite a importação de dados de coeficiente de arrasto do

Aerolab além de curvas complexas de empuxo. É um software muito útil para uso

em campo, permitindo ajustar a direção e o ângulo da torre de lançamento com

Page 116: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

115

precisão para se compensar os efeitos do vento trazendo o foguete recuperado para

próximo da área de lançamento. O gráfico da Figura 51, por exemplo, foi obtido a

partir da exportação dos dados calculados pelo Launch para o Excel.

Figura 58 - Tela do software Launch, (11), de cálculo de trajetória e performance de vôo.

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116

6. SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO

A finalidade dos sistemas de recuperação é trazer de volta ao solo sem danos

ou riscos para pessoas e propriedades, os experimentos e o próprio foguete. Em

geral são formas de produzir arrasto aerodinâmico suficiente para se diminuir a

velocidade de queda. Existem muitas formas de se obter o efeito, as mais comuns

foram resumidas pelo site INFOcentral, (33), e estão listadas a seguir:

a) peso pena: o foguete é tão leve, em relação a sua área, que

sua queda livre não lhe causa danos, comum em modelos

muito pequenos;

b) seções presas por faixa: um passo acima em arrasto em

comparação com o método peso pena. Comum em

modelos de pequeno a médio porte;

c) recuperação por fita de arrasto: do inglês streamer, uma fita

larga, leve e longa, muito comum como primeiro estágio ou

piloto em sistemas de múltiplos estágios, Figura 59;

d) pára-quedas: a forma mais eficiente e comum, apresentada

na subseção 6.1;

e) auto-rotor: também conhecida como recuperação tipo

helicóptero, uma asa rotativa é responsável pelo arrasto,

complexo e ocupa um grande volume;

f) recuperação por planeio: O foguete possui superfícies

aerodinâmicas para sustentação e controle, complexo, caso

dos ônibus espaciais.

A Tabela 8 lista os principais problemas nos sistemas de recuperação, seus

efeitos e as medidas necessárias para se evitar-los.

Page 118: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

117

Figura 59 - Fita de arrasto ou streamer. (Foto de David Baird, International Rocket Week, 20/08/2006)

Tabela 8- Análise de segurança e falha em Sistemas de Recuperação

Risco Resultado Medida preventiva

Queima do pára-quedas. Pára-quedas girando, descida em maior velocidade

Uso correto das bolsas, proteção anti chama.

Condições de vento severas no campo de lançamento.

Foguete aterrissa fora do campo de lançamento.

Atrase a ejeção do pára-quedas principal e em condições críticas remarque a data de lançamento. Verifique a previsão do tempo.

Piloto ou primeiro estágio falha na abertura, mas separação ocorre.

Descida instável, o foguete pode não estar na posição apropriada para a ejeção do pára-quedas principal.

Dobre o pára-quedas cuidadosamente, teste procedimentos e de dobragem e instalação. Uso correto da bolsa.

Pára-quedas principal falha Danos no foguete e propriedades Dobre o pára-quedas cuidadosamente, teste procedimentos e de dobragem e instalação. Uso correto da bolsa.

Toda eletrônica de bordo falha.

Danos no foguete e propriedades Use sistemas redundantes 100% independentes. Evite expor os circuitos eletrônicos a riscos de cargas eletrostáticas

Cargas de ejeção super dimensionadas.

Queima do pára-quedas, quebra do foguete em vôo.

Projete e teste de forma correta as cargas de ejeção, use coeficientes de segurança maiores nos pontos frágeis que devem permanecer íntegros.

O foguete não é visível no apogeu ou o disparo das cargas não é ouvido.

Falta de informações sobre o estado atual da missão, riscos potenciais

Não voe em dias nublados ou com neblina. Verifique a previsão do tempo.

Fonte: SLI Vehicle and Payload Experiment Criteria, (5).

6.1. PÁRA-QUEDAS

Os pára-quedas são dispositivos feitos de tecidos leves e resistentes que

diminuem a velocidade de objetos em queda livre por meio do arrasto aerodinâmico.

Page 119: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

118

Estes ficam no interior do foguete até serem acionados pelos dispositivos de ejeção

no momento apropriado. Um pára-quedas pode ser tão simples quanto um disco de

tecido preso aos cordames até asas complexas como as usadas pelos pára-

quedistas modernos. Para a recuperação de foguetes apenas os comuns para

queda livre são de interesse. O formato geométrico do pára-quedas inflado influencia

no seu arrasto aerodinâmico e define seu peso e propriedades mecânicas. Os tipos

mais comuns que possuem uma boa relação entre peso e arrasto são os semi-

esféricos e semi-elipses. Em geral são construídos em nylon impermeável, unindo

de várias peças de forma geométrica definida que levam a forma final escolhida.

Entre os diversos tipos de formato de painel existe o usado pelo time de foguetes

experimentais Vatsaas, (34), que tem uma ótima relação peso/arrasto e possui um

número menor de costuras que o tradicional tipo “abobora”, Figura 62. Essa

geometria pode ser observada na Figura 60 e o formato de seus painéis e sua

montagem na Figura 61. O tamanho de cada painel é calculado por uma planilha do

próprio grupo, Figura 63, onde se entra com os dados de peso, altitude de ejeção,

velocidade desejada e coeficiente de arrasto estimado, sugerido na planilha. A

altitude é usada na planilha para se definir a densidade do ar, baseando-se no

modelo de atmosfera padrão da aviação.

Figura 60 - Pára-quedas do tipo usado pelo grupo Vatsaas, (34).

Page 120: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

119

A

A A

A

B B

B B

A

B

Figura 61 - Forma geométrica dos paineis e montagem do pára-quedas, (34).

Figura 62 - Pára-quedas elíptico de 12 painéis de Richard Nakka, (2).

Page 121: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

120

Figura 63 - Planilha do grupo Vatsaas para cálculo do tamanho dos painéis do paraquedas, (34).

A planilha também fornece o tamanho dos cordames necessários. O uso do

um coeficiente de arrasto recomendado pela planilha é uma aproximação, já que

este varia em função da velocidade, é interessante testar o pára-quedas para se

conhecer seu coeficiente de arrasto real. Um método simples para isso é soltar o

pára-quedas preso a uma massa conhecida. Registra-se o tempo da queda e por

meio da altura, conhecida, em que foi lançado se obtém a velocidade e se aplica a

Equação 116.

Equação 116

Sendo a massa do foguete, incluindo o próprio pára-quedas, a velocidade

calculada da queda e a área da projeção superior do pára-quedas. Esta equação

foi obtida isolando o coeficiente de arrasto na equação de equilíbrio entre a força de

arrasto, Equação 100, e a força peso. Esta análise pode ser aplicada a qualquer tipo

de pára-quedas e por meio do coeficiente de arrasto obtido pode-se conhecer a

velocidade de queda para determinada massa pela Equação 117.

Equação 117

Page 122: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

121

Durante o vôo, um foguete estável, mantém sua trajetória vertical mesmo sob

o efeito do vento, após estar em fase de recuperação o vento pode levar o foguete

para distâncias consideráveis. Os resultados de uma simulação de vôo no software

Launch para um foguete lançado na vertical, que atinge cerca de de altitude,

possuindo apenas um estágio de recuperação e sob ventos de podem ser

vistos no gráfico da Figura 64.

Figura 64 - Efeito do vento na recuperação do foguete com pára-quedas principal no apogeu.

Um vento de apenas leva o foguete a mais de de distancia do

local do lançamento, dificultando a sua recuperação final. A torre pode ser ajustada

para lançar o foguete com uma inclinação na direção contra o vento, mas por

segurança essa inclinação não deve ultrapassar 20º, como determinado na seção

2.2.4. A simulação da Figura 64 foi refeita para a inclinação de 10º e contra o vento.

A distância do foguete ao atingir o solo em relação à plataforma de lançamento caiu

para , o que ainda pode ser um problema dependendo das condições de

terreno e vegetação da área de lançamento. Para vôos em piores condições, como

vento mais forte ou maiores altitudes, apenas a inclinação e direção da torre de

lançamento pode não resolver o problema, além de influenciar diretamente da

altitude máxima. Nesse caso é indicado o uso de um sistema de recuperação de

múltiplos estágios. Em uma recuperação de múltiplos estágios um pequeno pára-

quedas é lançado no apogeu, fazendo o foguete descer estável a uma velocidade de

descida mais alta, diminuindo os efeitos da velocidade horizontal imposta pelo vento.

Quando próximo ao solo o computador do foguete dispara o pára-quedas principal

0250500750

1000125015001750200022502500

-100 100 300 500 700 900 1100 1300 1500 1700

Alt

itu

de

Distância horizontal [m]

Altitude [m]

Page 123: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

122

do segundo estágio, isso manterá uma velocidade de pouso segura, Figura 65. As

velocidades sugeridas na figura são valores comumente usados por modelistas em

seus foguetes experimentais. Com um sistema de recuperação de dois estágios a

simulação da Figura 64 poderia levar o foguete a poucos metros da torre de

lançamento com uma inclinação ainda menor.

Primeiro estágio de

recuperação

Segundo estágio de

recuperação

Apogeu

Solo

Lançamento

Fim da

combustão

Figura 65 - Sistema de recuperação de dois estágios.

Em muitos casos um pára-quedas piloto é necessário para se extrair o

principal de dentro do foguete ou bolsa, assim o sistema de ejeção pode ser menor,

precisa ser capaz de liberar apenas o pequeno e este é responsável por extrair o

principal e mais pesado. Nesses casos o piloto não é considerado um primeiro

estágio, pois não cumpre um papel completo, mas sim como uma fase da liberação

do pára-quedas principal daquele estágio. Um sistema de duplo estágio com piloto

para extração do pára-quedas principal do segundo estágio pode ser visto na Figura

66, onde os pára-quedas principais de cada estágio estão dentro de suas bolsas, a

função destas é comentada na subseção 6.2.

Page 124: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

123

Figura 66 - Sistema de pára-quedas de duplo estágio com piloto para principal do segundo estágio. INFOcentral, (33)

6.2. SISTEMAS DE EJEÇÃO

Os sistemas de ejeção são os responsáveis pela liberação dos pára-quedas

de forma que garanta a integridade e abertura completa dos mesmos. A ejeção

completa do pára-quedas pode se dividida em fases, NASA, (35):

a) exposição;

b) ejeção;

c) abertura do pára-quedas e desaceleração do foguete;

d) descida a velocidade constante.

A primeira fase da operação do sistema é a exposição do pára-quedas para o

ambiente. Existem duas técnicas mais comuns que são a separação do foguete em

seções, Figura 67, e a abertura de uma portinhola, Figura 68. A ejeção do pára-

quedas, a segunda fase em geral ocorre ao mesmo tempo em que é exposto.

Page 125: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

124

SEPARAÇÃO

EXPOSIÇÃO

Figura 67 - Exposição e ejeção do pára-quedas por separação de seções.

A técnica de separação das seções é a mais simples e eficaz. Para separar

as seções o volume interno da seção é pressurizado com algum tipo de gás e ao

atingir a pressão projetada rompe o lacre da junção. As seções se separam em

direções opostas e a energia cinética da separação faz a ejeção. Os dispositivos de

pressurização e lacres serão discutidos na subseção 6.3.

EXPOSIÇÃO

ABERTURA

Figura 68 - Exposição e ejeção do pára-quedas por portinhola.

Page 126: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

125

Na técnica da portinhola um dispositivo, subseção 6.3, executa a abertura

para expor e a ejeção é obtida por alavancas, em verde na Figura 68, molas ou

qualquer outra forma de expor o pára-quedas ao arrasto gerado pela velocidade do

ar, a responsável pelo fim da ejeção e posterior abertura. Uma diferença importante

entre estas duas técnicas é a velocidade do foguete no momento da ejeção. A de

separação funciona tanto no ponto estático do apogeu quanto a velocidades

maiores, usando a energia cinética da separação no apogeu ou o arrasto das aletas

mais a energia cinética em uma abertura de alta velocidade. Já o sistema de

portinhola precisa de um mínimo de velocidade para ejetar efetivamente o pára-

quedas. Bem projetados ambos são simples, robustos e confiáveis. A escolha

depende das necessidades específicas de cada projeto.

A terceira fase do sistema de ejeção, a abertura, é uma análise do

encordoamento, seu comprimento e as técnicas de proteção contra danos,

enroscamentos e laços. A Figura 69 é um exemplo da análise necessária para se

determinar os comprimentos necessários para a abertura completa.

A

Abertura PQ 1º

Estágio Separação

das seções

Extração

da bolsa

Abertura PQ 2º Estágio

AncoragemBolsa

A

Ancoragem

Pára-quedas

2º Estágio

Pára-quedas

1º Estágio

Figura 69 - Anállie do comprimento do encordoamento.

A Figura 69 é o segundo estágio de recuperação do foguete AKK, o seu

desenvolvimento está na seção 7. Na figura, a linha tracejada em vermelho é o

cordão umbilical, assim chamado por ser uma única corda unindo todos os

componentes. Em alguns casos pode-se ter mais de um cordão umbilical, como nas

técnicas de recuperação com seções separadas, cada qual com seu cordão e pára-

quedas, por exemplo. Na figura também são demonstradas algumas das principais

distâncias a serem consideradas. As distâncias de abertura dos pára-quedas é o seu

Page 127: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

126

comprimento, incluindo cordeletes, quando esticado e pronto para ser dobrado. Seu

comprimento inflado é menor, mas ao ser ejetado deve-se ter comprimento de corda

o suficiente para se permitir que se desdobre por completo e infle sem interferências.

No caso da Figura 69 o pára-quedas do segundo estágio possui uma bolsa de

soltura, o comprimento para abertura total do pára-quedas nesse caso deve

considerar a extração da bolsa.

A função das bolsas é de proteger o pára-quedas, garantir que os cordeletes

não se enrosquem e facilitar a ejeção do conjunto de dentro da estrutura do foguete.

A proteção é importante, pois os dispositivos de ejeção normalmente são

pirotécnicos e os o nylon dos pára-quedas é sensível ao calor. A organização da

liberação dos cordeletes é feita por uma série de elos elásticos na face externa da

bolsa, Figura 70, de forma que apenas quando todos os cordeletes estiverem

esticados o pára-quedas é extraído da bolsa, de desdobra e infla. A Figura 71 ilustra

a seqüência de extração de uma bolsa.

Figura 70 - Bolsa de soltura, os elásticos organizam os cordeletes, (36).

Page 128: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

127

Figura 71 - Sequência de liberação da bolsa, adaptado do site INFOcentral, (33).

As cordas e cordeletes devem ser de boa qualidade, de preferência do

mercado de montanhismo. Cordas de boa qualidade possuem dados sobre sua

resistência mecânica e elasticidade que são úteis no projeto dos sistemas de

recuperação, além de serem leves e flexíveis. Os principais nós usados nas mais

diversas configurações são os nós Lais de Guia duplo e Borboleta, Figura 72,

respectivamente usados nas ancoragens terminais (olhais nas seções do foguete) e

intermediárias (pára-quedas, bolsas, etc.).

Figura 72 - Nós mais usados no encordoamento do sistema de recuperação. Figura adaptada de fotos originais, do site Wikipedia, (37).

Estes nós estão entre os mais eficientes em termos de resistência mecânica,

o Lais de guia duplo tem entre 70% e 75% e o Borboleta 67%, segundo Ashley, (38),

que é a fração da resistência mecânica comparada a da corda sob tração sem os

nós.

Page 129: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

128

6.3. DISPOSITIVOS DE EJEÇÃO

Os dispositivos de ejeção são os mecanismos usados para efetivar o sistema

de recuperação. Para sistemas de portinhola os dispositivos podem ser mecânicos,

como o caso de molas para a abertura da portinhola ou ejeção dos pára-quedas, ou

eletromecânicos como servomotores de modelismo, Figura 73, usados tanto na

abertura da própria portinhola quanto na liberação de travas da mesma para

abertura por mola, entre outras aplicações.

Figura 73 - Servomotor usado em modelismo rádio controlado, Futaba Inc.

Já para sistemas de recuperação de separação de seções são necessários

dispositivos capazes de liberar gases que aumentem a pressão no interior da seção,

Figura 74, até o rompimento programado de lacres.

Page 130: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

129

Lacre

P

Lacre

Carga de

ejeção

P Lacre

Rompido

P

P

Aceleração

Aceleração

Lacre

Rompido

Velocidade

(energia

cinética)

Velocidade

(energia cinética)

Figura 74 - Separação de seções por carga de ejeção.

Esta técnica exige que as seções, no momento da separação, tenham energia

cinética suficiente para extrair os componentes daquele estágio da recuperação.

Para isso, o comprimento da aba de junção (região onde está o lacre na Figura 74)

deve ser projetado para permitir a aceleração relativa das seções até a velocidade

que contenha energia suficiente para garantir a completa extração. Pode-se

descobrir o valor dessa energia de forma empírica, aplicando conceitos simples de

física. Para isso, um lastro de massa conhecida é preso ao sistema de

recuperação e por ação da força da gravidade extrai os componentes até o

comprimento da corda, Figura 75.

Page 131: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

130

m

x

m

xi

mi

Figura 75 - Experimento para determinar a energia de extração do sistema de recuperação.

Pela lei da conservação de energia e desconsiderando os efeitos do atrito do

ar a energia potencial gravitacional de uma massa a uma determinada altura é igual

a sua energia cinética após ter percorrido em queda livre essa mesma altura, Figura

76.

Page 132: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

131

x

v

Ace

lera

çã

o

da

gra

vid

ad

e

m

m

Figura 76 – Conservação de energia.

A energia de extração pode ser obtida a partir do registro do tempo

necessário para se atingir o comprimento da corda, , obtendo-se a velocidade

média da extração, . A diferença entre a energia potencial gravitacional do lastro

em relação ao comprimento da corda, , e a energia cinética desenvolvida no

experimento, , é a energia necessária para a extração do sistema, . No cálculo

a corda é considerada insignificante, mas a energia potencial gravitacional dos

componentes extraídos, , em relação à distância inicial e final dos mesmos

(distância da Figura 75, por exemplo) deve ser levada em conta. Logo o balanço

final de energia é dado por:

Equação 118

A velocidade relativa que as seções devem atingir para garantir é, portanto:

Equação 119

Onde é a massa da seção que extrai os componentes. O comprimento da

aba da junção necessário para se atingir a velocidade de extração pode ser

Page 133: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

132

calculado de forma simplificada, desconsiderando o atrito entre a aba e a seção e

considerando a pressão interna constante. Usando o conjunto de equações que

regem o movimento linear sob aceleração constante em conjunto com a Segunda

Lei de Newton e a força resultante da pressão em função da área da junção se

obtém o comprimento de aba em função da massa, pressão e diâmetro internos da

seção e velocidade de extração, sendo:

Equação 120

A aba não deve ser grande demais, pois o seu atrito com a seção tubular

pode se tornar significante. Recomenda-se um comprimento máximo de aba igual ao

diâmetro da seção em questão, se o comprimento exceder esse limite deve-se

aumentar a carga de ejeção que conseqüentemente aumentado a pressão

resultante. O comprimento mínimo é o necessário para garantir a integridade

estrutural do foguete.

Os gases responsáveis pela pressão no interior da seção em geral são de

origem pirotécnica. Nos foguetes menores e de apenas um estágio é comum usar a

carga de ejeção acionada pelo fim da combustão no motor, precedida por um

retardo que faz o trabalho de temporizador. Os motores comerciais para hobby da

fabricante Estes dos Estados Unidos e o dispositivo Pyro-DED de Richard Nakka,

respectivamente Figura 77 e Figura 78, são exemplos dessa técnica.

Figura 77 - Motor comercial para hobby da Estes Rocketry, EUA. Figura adaptada do fabricante.

Page 134: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

133

Corda (protegida

contra chama)Carga de

retardo

Carga de

ejeção

Pyro-DED

Pyro-DED

Pistão

Ecordoamento

Pára-quedas

Motor

Figura 78 - Dispositivo de ejeção pirotécnico Pyro-DED de Richard Nakka, (2).

Para foguetes com eletrônica embarcada as cargas pirotécnicas podem ser

ativadas eletronicamente por meio de um ignitor, como o da Figura 79. A

determinação da massa da carga é pelo mesmo método da subseção 3.14, página

92.

Ignitor

Carga de ejeção

Figura 79 - Carga de ejeção pirotécnica ativada por ignitor elétrico.

Dois detalhes importantes podem ser observados na Figura 78, o sistema de

pistão e a proteção da corda exposta aos gases quentes da carga de ejeção. O

pistão permite uma carga pirotécnica menor pela redução do volume, além de

proteger o pára-quedas e a maior parte das cordas. Em todo sistema de ejeção que

envolva pirotécnicos os cuidados para a proteção dos demais componentes do

sistema de recuperação devem ser rigorosos. No sistema da Figura 78, Nakka

Page 135: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

134

utilizou silicone de vedação comum na seção da corda exposta, também existem

luvas de tecidos a prova de chama como o Nomex® da Du-pont. As bolsas, em

geral, são confeccionadas em tecidos a prova de fogo. As proteções contra chama

adicionam peso ao foguete, portanto sistemas que exijam um mínimo ou nenhuma

carga pirotécnica são mais indicados. Uma solução com estas características é

oferecida pela empresa Rouse-Tech dos EUA, chamada CD3. Seu funcionamento

pode ser compreendido pela Figura 80. Trata-se de um dispositivo piro pneumático,

onde um punção propelido por uma pequena carga pirotécnica perfura um cartucho

de , liberando em seguida o gás frio para a ejeção, sendo que os poucos

vestígios dos gases quentes da carga são contidos por uma luva de material anti-

chama.

ROUSE TECH CD3

IGNITORES

PUNÇÃO

CARTUCHO CO2

ESQUEMÁTICO

ESTADO

INICIALIGNIÇÃO

EXAUSTÃO

DO CO2

Figura 80 – Esquema de sistema de ejeção a frio por gás e versão comercial da Rouse Tech.

Outra opção que dispensa por completo os pirotécnicos é a combinação de

servomotores como o da Figura 73 a sistemas pneumáticos desenvolvidos para

trens de pouso de aeromodelos. Existem muitas soluções disponíveis no mercado

como válvulas em miniatura e atuadores de diversas configurações. O sistema pode

ser usado para atuar mecanicamente em travas, alavancas, portinholas, além de ser

capaz de pressurizar uma determinada seção usando o ar comprimido de seu

sistema. Um exemplo de um sistema da marca Robart, EUA, para dois atuadores bi-

Page 136: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

135

direcionais comandados simultaneamente por uma válvula 3V/2P com regulagem da

velocidade de atuação é visto na Figura 81.

Figura 81 - Sistema pneumático da Robart, (35).

A pressão a ser atingida dentro da seção para que aconteça a separação e

extração é definida pela resistência mecânica dos lacres usados na montagem. As

formas de lacres mais comuns são rebites plásticos, Figura 82, distribuídos

radialmente em torno do eixo longitudinal e fixando o tubo da seção na aba da

junção, ou fitas de alumínio auto-adesivas colocadas em torno da junção unindo as

seções.

Figura 82 - Rebites de nylon

Page 137: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

136

O número de rebites ou camadas de fita de alumínio é dimensionado de

forma que a determinada pressão interna da seção estes componentes se rompam,

permitindo a separação das seções. A pressão é determinada pela carga de ejeção,

seja ela pirotécnica ou contida em um cilindro, e deve ser limitada de forma a não

exigir uma carga muito grande ou comprometer a estrutura. Por outro lado deve ser

o suficiente para prover a velocidade e extração necessária. Nos projetos

experimentais amadores esse valor gira em torno de .

Uma das necessidades comuns de um sistema de recuperação é uma forma

desengate, para liberar a bolsa de um segundo estágio dentro do mesmo

compartimento ou separar as seções cada qual com seu pára-quedas, por exemplo.

Os servomotores e sistemas pneumáticos são excelentes opções, pois permitem a

ação linear de forma simples e direta, também existem dos dispositivos de

desengate pirotécnicos. A Figura 83 esquematiza o funcionamento destes

dispositivos e dois exemplos são apresentados na Figura 84 e Figura 85.

Lacre

Elo Trava

Carga

Corpo

A carga move a

trava, liberando

o elo.

Figura 83 - Esquema básico de funcionamento dos desegates ativados pirotécnicamente.

Page 138: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

137

Figura 84 - Dispositivo de desegate pirotécnico desenvolvido por Richard Nakka, (2).

Figura 85 - Dispositivo de desengate pirotécnico desenvolvido por José Luís Sánchez, (40).

6.4. ELETRÔNICA DE BORDO

Com exceção dos dispositivos puramente pirotécnicos como os da Figura 77

e Figura 78, todos os demais sistemas dependem de comandos elétricos para

atuarem. A eletrônica embarcada em um foguete deve ser capaz de detectar um ou

todos os principais eventos de um vôo e aplicar a resposta programada. Os

principais eventos e fases de vôo são identificados pela Figura 86, em paralelo com

um gráfico da aceleração, velocidade e altitude em função do tempo.

Page 139: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

138

Recuperação

Apogeu

Lançamento

Cruzeiro

Propulsão

Fim da

combustão

Fim d

a co

mbu

stão

Lanç

amen

to

Cru

zeiro

Apo

geu

Pro

pulsão

Figura 86 - Eventos de vôo de um foguete experimental.

Neste trabalho os sistemas de controle eletrônicos são divididos em dois

grupos, discretos e ativos. Em qualquer um dos sistemas é sempre importante que

exista, a exemplo da indústria aeroespacial, redundância nos comandos. Os

dispositivos são duplicados, no caso dos pirotécnicos, com o uso de dois ignitores

para o mesmo dispositivo. O fluxograma apresentado na Figura 87 é um exemplo de

uma configuração redundante no acionamento de dois dispositivos. Cada

temporizador é acionado por sua chave, de forma independente, no mesmo evento.

Cada um dos sistemas é responsável por um dos ignitores de cada dispositivo. Caso

qualquer um deles falhe, seja o temporizador, circuito de ignição e ignitor, existe seu

par redundante. Isso reduz drasticamente a possibilidade de falhas nos sistemas de

controle eletrônicos.

Page 140: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

139

Te

mp

oriza

do

r A

Ign

içã

o A

Bateria

Bateria

Ign

içã

o B

Te

mp

oriza

do

r B

Ign

içã

o A

Bateria

Ign

içã

o B

Dispositivo

1º Estágio

Ign

. A

Ign

. B

Dispositivo

2º Estágio

Bateria Bateria Bateria

Ign

. A

Ign

. B

Cha

ve

A Cha

ve

B

Figura 87 - Sistema redundante de controle.

6.4.1. Sistemas Discretos

Estes sistemas se baseiam em sensores discretos para detectar os principais

eventos. O sinal dos sensores pode ativar imediatamente um dispositivo de

recuperação ou após um tempo programado de acordo com simulações. A Figura 88

demonstra alguns tipos de sensores discretos e os eventos de vôo que são

detectam. Estes sistemas tem a grande vantagem de serem muito simples, sendo

sua eletrônica de fácil desenvolvimento e implementação, além de apresentarem um

baixo custo.

Page 141: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

140

A

massa

compri

me a

chave

Detecção do lançamento

Ace

lera

çã

o, la

nça

me

nto

Detecção do fim da combustão

Ace

lera

çã

o, fim

da

co

mb

ustã

o

O mercúrio sobe,

abrindo os

contatos.

Chave de

velocidade

do ar.

A B

C D Detecção do lançamento

Pino

Micro-chave

Detecção de fim de cruzeiro

Figura 88 - Alguns tipos de sensores discretos e os eventos relacionados. Fonte das figuras A, B e C: Nakka, (2).

6.4.2. Sistemas Ativos

Os sistemas ativos se baseiam em informações de tempo real das condições

de vôo para a determinação de qual fase ou evento de vôo se encontra. O grande

diferencial é que o sistema é mais preciso na determinação desses eventos por

conta de um grupo de sensores, tanto discretos quanto analógicos, e possui maior

capacidade de processamento de dados. Por suas capacidades é chamado de

Page 142: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

141

computador de vôo. Outra vantagem é a possibilidade de se registrar os dados do

vôo e a grande flexibilidade de programação. Os sistemas podem se basear em

sensores discretos, eventos e sinais dos sensores analógicos para disparar,

imediatamente ou após um tempo programado, quaisquer dispositivos. Nos sistemas

discretos qualquer perturbação ou falso sinal pode iniciar incorretamente a

seqüência programada. Por exemplo, uma falha no motor que leve ao fim da

combustão durante a fase de propulsão, em um sistema baseado na detecção do

fim da combustão, iniciaria a contagem para o disparo no apogeu, só que este

acontecerá muito antes e a ativação dos dispositivos pode ser tardia, em um sistema

ativo o apogeu seria detectado e a recuperação seria efetiva.

As principais grandezas medidas são a aceleração e a pressão ambiente,

Figura 89. O gráfico da Figura 86 tem os eventos de vôo e as fases identificadas por

linhas tracejadas e chaves, respectivamente. O computador determina o lançamento

pela repentina aceleração e o fim da combustão pela aceleração negativa e o

apogeu pela integração da aceleração, obtendo a velocidade que, quando for nula,

indica o apogeu. A altitude também pode ser calculada a partir dos dados do

acelerômetro, mas o sensor de pressão é mais preciso para essa tarefa. O sensor

de pressão é útil para determinar eventos após o apogeu, como um segundo estágio

de recuperação. Durante as fases de propulsão e cruzeiro seu tempo de resposta

lento e perturbações em nas velocidades transônicas não fazem dele uma fonte de

informação segura de referência.

Figura 89 - Aelerômetro MMA3202 e sensor de pressão MPX4115A fornecidos como amostra pela Freescale para este projeto. (Foto: Bruno Ferreira Porto)

O mercado dispõe de diversas opções, em destaque os computadores da G-

Wiz Flight Computers, (41). O modelo mais simples, o LCX da Figura 90, possui três

saídas capazes de acionar ignitores, acelerômetro, sensor de pressão para

determinação da altitude e alimentação independente do computador e das cargas

Page 143: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

142

de ignição. O modelo intermediário, MC2, é capaz de registrar os dados do vôo para

serem apresentados na forma de gráficos e projeções em mapas da trajetória. O

sistema mais avançado, o DCS da Figura 91, possui capacidade para cartões de

memória, GPS, telemetria e telecomando, registro dos dados de vôo, etc. Todos são

programados via computador. A interface do software de leitura e processamento

dos dados de vôo pode ser vista na Figura 92.

Figura 90 - Computador de vôo LCX da G-Wiz, (41).

Figura 91 - Computador de vôo DCS da G-Wiz, (41).

Page 144: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

143

Figura 92 - Software de visualização dos dados de vôo da G-Wiz, (41).

Os sensores de pressão e aceleração são baratos graças à indústria

automobilística, onde são usados em sistemas de estabilidade, air-bags e injeção

eletrônica. Os demais componentes eletrônicos para o desenvolvimento de

computadores de vôo são de fácil acesso, portanto o desenvolvimento de um

sistema próprio é comum. Para este projeto foram desenvolvidos módulos de ignição

para uso com sistemas discretos ou computadores de vôo a serem projetados. O

módulo desenvolvido possui todas as características de segurança necessárias,

como chave armado / seguro e teste de continuidade, alimentação independente da

carga de ignição, chaveamento por MOSFET de alta corrente e comando isolado por

opto acoplador. O circuito do sistema é apresentado na Figura 93. O integrado U6 é

o opto acoplador 4N25 que recebe um sinal de baixa corrente em nível TTL do

computador de vôo ou temporizador e chaveia o MOSFET, Q1. Este envia a

corrente da bateria e a energia armazenada no capacitor C6 para o ignitor. O

sistema possui uma chave para alternar entre o modo seguro e armado, SW3, que

ativa um LED, D3, para se testar a resposta do sistema. A chave SW3 possui um

barramento paralelo que ativa dois LED’s, ou um bicolor, para demonstrar o estado

do sistema, verde para seguro e vermelho para armado. A chave SW2 testa a

continuidade do ignitor, garantindo pelo resistor R14 que a corrente não será capaz

Page 145: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

144

de ativar o ignitor. A continuidade é confirmada pelo acendimento do LED D1. O

ignitor é ligado ao circuito por meio do conector J4.

Figura 93 - Circuito do sistema de ignição desenvolvido para o projeto.

O dispositivo serve tanto para equipamento de solo para ignição de motores

quanto para ativação das cargas de ejeção em vôo. A Figura 94 é a interface do

sistema, que neste caso é responsável pela ignição de motores em ensaios

estáticos.

LED Seguro /

Armado

Chave Seguro /

Armado

LED do Teste de

Continuidade

Chave do Teste de

Continuidade

Ignição

Liga / Desliga

Figura 94 - Detalhe do painel do SACE, sistema de aquisição para testes estátios em motores desenvolvido pelo autor e descrito na subseção 7.7.

Page 146: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

145

7. PROJETO DO FOGUETE AKK E MOTOR MJ559

É tradicional a escolha de nomes para foguetes dentro da engenharia

aeroespacial, este se chamará AKK, em referência aos foguetes descritos no livro

Rocket Boys de Homer H. Hickmam Jr, onde os nomes eram todos AUK, um tipo de

ave que não pode voar. O nome AKK também tem significado na língua guarani,

sendo usado como uma provocação a um medroso. O primeiro passo, para qualquer

o projeto, é a determinação das metas a serem atingidas. Para este trabalho a

missão do foguete AKK é testar os conceitos de projeto apresentados nas seções

anteriores. Para tal, limitações e objetivos são definidos com base nas matérias

primas e tecnologias disponíveis, sendo os objetivos:

a) atingir a faixa de altitude entre e , a fim de

testar soluções em sistemas de recuperação de duplo

estágio;

b) aferir a precisão na simulação do software Launch, em

especial a previsão do local da aterrissagem em condições

com vento;

c) aplicar os conceitos de projeto aerodinâmico e estrutural.

E as limitações:

a) o motor será construído em aço, sendo seu corpo um tubo

de aço de de diâmetro externo e parede que

atenda a coeficiente de segurança de 1,5;

b) pressão máxima de operação do motor deve ser ;

c) aaceleração máxima admitida é de ou ;

d) apenas sistemas de controle discretos estão disponíveis;

e) o foguete deverá ter entre e de comprimento e no

máximo de diâmetro.

Page 147: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

146

7.1. PROJETO PRELIMINAR

A partir dos requisitos básicos referentes a geometria do foguete foi projetado

um modelo simplificado do foguete, em CAD 3D, com os principais componentes e

estruturas, sem ainda uma definição de sua estabilidade. O modelo ajuda a definir a

massa estimada do foguete sem propelente para o projeto preliminar que também

combina dados de foguetes com objetivos de desempenho semelhantes, tendo

como principal referência a série de foguetes de Nakka, (2). A massa e o tamanho

do modelo que atendem o objetivo “a” e respeitam a limitação “c” do projeto são

aproximadamente e respectivamente. O propelente de base epóxi

apresenta inúmeras vantagens em relação ao açúcar, como discutido na subseção

3.2.2.2 e opera a temperaturas suportadas sem grandes problemas por aços

comuns. Informações sobre a resistência mecânica de metais sob temperatura

elevada podem ser obtidas no documento Metallic Materials and Elements for

Aerospace Vehicle Structures, (25). Será usada a formulação de propelente de base

epóxi desenvolvida por Richard Nakka, (2), identificada pela sigla RNX-57. A relação

da mistura dos componentes em porcentagem de massa é visto na Tabela 9.

Tabela 9 - Porcentagem de massa dos componentes do propelente RNX-47.

Fórmula RNX-73

Nitrato de Potássio 70% Epóxi 22% Óxido de ferro 8%

Fonte: Richard Nakka Rocketry Web Site, (2).

As propriedades do propelente de base epóxi podem ser obtidas pelo

software Cpropep, como descrito na subseção 3.3, página 36 e considerando a

pressão ambiente como uma atmosfera e a pressão da câmara em pela

limitação de projeto “b”. Os resultados do equilíbrio químico estão apresentados na

Tabela 10.

Page 148: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

147

Tabela 10 - Propriedades ideais do propelente RNX-57

Propriedades RNX-57

1840 1645,93

45,20

1,14

10,32

867,30

145,17

1,64

Os valores da tabela são ideais, mas suficientes para definir o projeto

preliminar do foguete. Os fatores de correção serão aplicados no projeto do motor,

adiante no processo de desenvolvimento. Pela segunda Lei de Newton se obtém o

empuxo máximo admitido, que é relacionado à aceleração máxima determinada

pelas limitações do projeto, portanto:

Equação 121

Os parâmetros básicos exigidos pelo software Launch para uma simulação de

lançamento vertical, sem vento são: massa do foguete sem propelente, diâmetro do

foguete, tempo de combustão, massa de propelente, impulso específico, área da

seção de saída da tubeira. A massa do foguete e seu diâmetro são conhecidos,

assim como o impulso específico. A área da seção de saída da tubeira pode ser

obtida a partir área da garganta, relacionada ao empuxo do motor em regime

permanente na Equação 48, logo:

Equação 122

A relação entre a área da garganta e a área da seção de saida é dada pela

taxa de expansão, logo:

Equação 123

A influência do tempo de combustão e conseqüentemente o empuxo na

altitude máxima atingida é desprezível. Esta é diretamente proporcional a

Page 149: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

148

quantidade de energia que o motor carrega: a massa de seu propelente. O tempo de

combustão é mantido unitário nesta fase da iteração, o objetivo é ajustar a massa do

propelente nas simulações em software até se atingir uma altitude de apogeu dentro

da faixa alvo. Definida a massa pode-se obter o impulso total e o tempo da

combustão pela Equação 51. O resultado das simulações apontou uma massa

para uma altitude de máxima de , portanto dentro da faixa. O

impulso total e o tempo de combustão podem então ser obtidos, sendo:

Equação 124

Equação 125

O valor do tempo de combustão é ajustado no software Launch e se faz uma

nova simulação, seus resultados são demonstrados na Figura 95. Com os dados

obtidos até este ponto do desenvolvimento e considerando que a taxa de combustão

do RNX-57, como obtida em ensaios por Nakka, (2), é expressa pela Lei de Vieille,

subseção 3.4, página 39, sendo o expoente e o coeficiente

leva a relação entre a pressão e a taxa de combustão a ser

expressa pela Equação 126:

Equação 126

Não existe a necessidade de um perfil específico da curva empuxo tempo, logo, a

geometria de área de combustão teoricamente constante barra e tubo será usada

para prover empuxo constante. As equações da teoria de motores a propelente

sólidos, seção 0, página 25, foram escritas no software Engineering Equation Solver,

da F-Chart Software, em conjunto com os dados do projeto preliminar para definir a

geometria preliminar do grão, considerando o diâmetro externo do grão tubo em 59

mm para permitir folga ao forro de isolamento térmico do grão. Não foi considerada

uma folga mínima entre o grão barra e tubo. Os resultados estão organizados na

Tabela 11 em conjunto com a Figura 95 formando o quadro final do projeto

preliminar.

Page 150: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

149

Tabela 11 - Resultados do Projeto Preliminar

Motor Foguete

510,12 1279,32 Massa 4,00

2,51 Classe J Comprimento 1500,00

Grão Tubeira Diâmetro 81,00

Tipo B&T 7,52 312,52

59,00 23,99 252,13

31,36 1,64 907,99

27,64 10,32 102,00

Folga 1,83 Queima erosiva 10,40

190,90 0,26 20,80

0,90 0,57 2215

Figura 95 - Resultados do Projeto Preliminar

O motor do projeto preliminar foi projetado e fabricado. Sabe-se que seu

desempenho será muito inferior, pois seus cálculos são idealistas. O seu propósito é

obter os coeficientes medindo a temperatura dos gases de escape da tubeira,

empuxo e pressão em um teste estático futuro. O projeto do motor, chamado de

MJ510, pode ser encontrado nos Apêndices e fotos na Figura 96, Figura 97 e Figura

98 a seguir.

102

252 2215

0

250

500

750

1000

1250

1500

1750

2000

2250

2500

-35

-10

15

40

65

90

115

140

165

190

215

240

265

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Alt

itu

de

Acele

raç

ão

e v

elo

cid

ad

e

Tempo [s]

Aceleração [m/s^2] Velocidade [m/s] Altitude [m]

Page 151: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

150

Figura 96 - Tubeira do motor MJ510.

Figura 97 - Cabeçote do motor MJ510

Page 152: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

151

Figura 98 - Motor MJ510.

O projeto preliminar é um estudo de viabilidade técnica, os resultados

demonstram que é possível desenvolver um foguete que atenda aos objetivos e

esteja dentro dos limites da missão, além de pode usar as soluções de propelente e

materiais de fabricação disponíveis.

7.2. PROJETO DA ESTRUTURA

O projeto preliminar fornece informações suficientes para a tomada de

decisões referentes à estrutura do foguete. O foguete será inteiramente fabricado

em materiais compostos, basicamente madeira balsa, compensados, fibra de vidro e

epóxi. A ogiva e seções tubulares terão estrutura tipo sanduíche, sendo que a balsa

faz o papel de núcleo possuindo as faces internas e externas laminadas com malha

de fibra de vidro, em matriz de epóxi, direcionada a º45 do eixo longitudinal da

seção, como discutido na subseção 4.2, página 104. A Figura 99 detalha a

configuração da estrutura composta dos tubos e ogiva.

Page 153: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

152

Epóxi + Fibra de Vidro

Balsa

Figura 99 - Vista em corte de uma seção tubular do foguete AKK, detalhe da estrutura tipo sanduíche.

Os compósitos são largamente usados na indústria aeroespacial, permitem a

criação de peças altamente complexas com insuperável relação peso e resistência

mecânica se comparadas a peças equivalentes em metal. Estruturas compósitas

tipo sanduíche são interessantes, pois em muitos casos a maior parte dos esforços

se concentra na região superficial da peça. A combinação de madeiras e plásticos

reforçados com fibra de vidro ou carbono é comum na aviação desportiva e em

aeromodelos radio controlados de alto desempenho. O material também é

prontamente encontrado no mercado e a manufatura é simples.

O foguete será composto de sua fuselagem tubular com seção uniforme ao

longo de seu comprimento. O perfil da ogiva foi selecionado a partir da velocidade

máxima obtida no projeto preliminar e com auxilio da Figura 50, página 105, sendo

que opção foi a ogiva com perfil . As aletas serão compostas de um

núcleo de compensado aeronáutico laminado com fibra e epóxi. O perfil das aletas

será do tipo plano com bordos chanfrados, pois possui excelentes características

aerodinâmicas e grande facilidade de produção. Serão produzidas com núcleo em

compensado e laminadas externamente com fibra de vidro e epóxi. Os pontos

de ancoragem e a parede de fogo serão discos de compensado , também

laminadas, possuindo uma aba na direção das junções em fibra e epóxi.

Page 154: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

153

O sistema de recuperação de duplo estágio será acomodado em uma única

seção e a técnica de separação de seções, discutida na seção 6, página 116. A

razão e por ser mais simples e não exigir maior complexidade estrutural. Os pára-

quedas, cordão umbilical e os dispositivos de ejeção ficarão acondicionados na

seção central do foguete. A eletrônica de bordo e suas baterias ficarão na seção

frontal e sua distribuição final vai definir o centro de gravidade. O foguete terá duas

junções, a primeira, junção A da Figura 100 une a seção frontal à central e será

fixada por parafusos as duas seções para permitir a instalação da eletrônica e a

preparação dos dispositivos de ejeção, que serão fixados nessa junção para

estarem próximos aos sistemas que os ativam. A junção B é a parede de fogo e o

ponto de separação das seções para a recuperação. Esta é parte integrante da

cauda e possui uma aba mais longa para impedir o escape dos gases de

pressurização, permitindo que as seções adquiram energia cinética durante a

separação, como discutido na subseção 6.3, página 128. O comprimento da aba,

, será estudado durante o projeto do sistema de recuperação. A aba não deve

ter seu comprimento mínimo nessa configuração, pois a região sofrerá esforços de

torção, pelo momento em relação à ogiva e aletas, portanto, o menor valor admitido

para a aba será de , sendo que seu máximo recomendado é de , de

acordo com a subseção 6.3, página 128. A ancoragem será em cada uma das

junções, como também pode ser visto na figura.

600300 250335

AB

xAba

Figura 100 - Configuração geral do foguete AKK, neste estágio de desenvolvimento. Medidas em mm.

O protótipo virtual 3D acima foi projetado na plataforma CAD SolidWorks. O

modelo contém todos os detalhes da estrutura, incluindo a configuração das

camadas de laminação, além de versões preliminares do motor, sistema de

recuperação e eletrônica de bordo (não mostrados na Figura 100, a Figura 44,

página 100, permite observar alguns destes componentes no interior do foguete,

Page 155: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

154

sem detalhes). Seu principal propósito nesta fase é prover dados referentes ao

centro de gravidade, de diferentes configurações geométricas do foguete, com e

sem propelente. A resistência mecânica será estudada em conjunto com a

estabilidade aerodinâmica e arrasto na subseção 7.3.2 adiante.

7.3. PROJETO DO SISTEMA DE RECUPERAÇÃO

Já existem alguns detalhes definidos no sistema, sendo este de dois estágios

contidos na mesma seção e ejeção por separação de seções. Os dois estágios

usarão pára-quedas como fonte de arrasto. O primeiro passo é a definição de seus

tamanhos, para tal será usada a tabela do grupo Vatsaas, discutida na subseção

6.1, página 117. O primeiro estágio descerá a de forma estável para diminuir

os efeitos do arrasto lateral. Para um foguete de e apogeu de em

relação ao nível do mar (considerando que o foguete será lançado em uma região a

aproximadamente de altitude) a planilha indica um pára-quedas de de

área, considerando o coeficiente de arrasto recomendado na planilha. Para o

segundo estágio o foguete deve descer a uma menor velocidade para evitar danos

na aterrissagem, portanto, a velocidade de aproximadamente foi estipulada e

uma altitude de (portanto, a acima do solo) o resultado foi um pára-

quedas de . Simulações do sistema no software Launch para este conjunto

de pára-quedas confirmaram que este conjunto é capaz de trazer o foguete ao solo

muito próximo a base de lançamento com ventos de até e ângulo de

lançamento inferir a 10º da vertical, confirmando o projeto dos pára-quedas.

Os dois foram construídos a partir de tecidos de nylon impermeável com

reforços de corda de nylon tubular e cordeletes de montanhismo. A Figura 101

resume o processo de fabricação do pára-quedas do primeiro estágio. A seqüência

está numerada na figura onde também se notam os detalhes construtivos do

sistema. A fabricação do pára-quedas principal segue a mesma linha, diferindo

apenas em sua dimensão, uma foto dos dois para uma comparação da escala pode

ser vista na Figura 102.

Page 156: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

155

1 2

3 4

5 6

7

Figura 101 - Fabricação do pára-quedas do primeiro estágio.

Figura 102 - Conjunto de pára-quedas do foguete AKK.

Como todo o sistema será acomodado em uma única seção pode-se ter um

único cordão umbilical conectando as duas seções e o conjunto de pára-quedas. O

segundo estágio será liberado por uma trava, presa a bolsa de soltura do pára-

quedas principal, sendo que o pára-quedas do primeiro estágio está preso a bolsa. A

Page 157: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

156

Figura 103 possui o esquema de recuperação em cada passo, além do estudo de

encordoamento. O cordão umbilical tem suas extremidades ancoradas em cada

seção nos pontos e da figura. O comprimento dos pára-quedas com seus

cordeletes são de para o primeiro estágio, a distância na figura, e

para o segundo, . A bolsa, distância , terá , assim como a distância .

O comprimento inclui a distância da ancoragem até a borda seção tubular

acrescido de para que o elo do pára-quedas principal não comprometa a

estrutura da borda do tubo.

2ºER

1ºER

CD DEEF

B’CBB’

A B C D E F

AB

B’

2ºER

CD DE EF

A B C D E FB’

1ºER

Apogeu, disparo do 1º ER

Altitude programada:

Disparo 2º ER

Figura 103 - Esquema de recuperação do AKK e estudo de encordoamento.

A seção central havia sido proposta em no projeto estrutural, porém,

após prontos os pára-quedas suas dimensões de empacotamento foram estudadas,

Page 158: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

157

Figura 104, e o comprimento da seção teve de ser aumentado. O conjunto ocupa

cerca de de comprimento, considerando uma pequena folga para os

dispositivos de ejeção, portanto, e o foguete possui uma nova

geometria geral. Na Figura 104 a bolsa não está presente e os pára-quedas não

foram dobrados de forma criteriosa, o propósito era apenas a medição do conjunto.

Figura 104 - Sistema de recuperação do AKK organizado da forma em que ficará no interior da seção.

O comprimento do cordão umbilical é a soma de todos os comprimentos do

estudo de encordoamento, considerando o efeito dos nós. No caso deste cordão,

serão: dois nós Laís de guia duplo, , com terminação em nó de frade, ,

para as ancoragens e três nós borboleta, , para os pára-quedas e bolsa. Uma

série de nós foi feita com suas cordas marcadas e depois desmontadas, tendo seus

comprimentos medidos. Sendo , e

Logo o comprimento total da corda, que compõe o cordão umbilical é de:

Equação 127

A Figura 105 apresenta o sistema de recuperação distribuído de forma a

deixar aparente seu cordão umbilical com os pára-quedas em suas devidas

posições. O ponto de ancoragem próximo ao pára-quedas do primeiro estágio estará

preso a junção B, na seção traseira do foguete, a outra extremidade do cordão ficará

presa a junção A entre a seção frontal e central.

Page 159: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

158

Figura 105 - Cordão umbilical do AKK, com suas ancoragens, pára-quedas e ponto de fixação da bolsa.

7.3.1. Dispositivos de ejeção

Existem algumas opções para os dispositivos de ejeção, comentados na

subseção 6.3, página 128. Para o primeiro estágio três estão sendo consideradas:

Carga pirotécnica, dispositivo acionado pirotecnicamente ou eletromecânico, para

liberar gás de um cartucho. Foi desenvolvido para este projeto um dispositivo

acionado por carga pirotécnica para liberação de chamado de SRX, Figura 106.

Seu funcionamento pode ser compreendido pela Figura 80, página 134 e seu projeto

nos Apêndices. Este dispositivo ainda não foi testado, logo as alternativas para o

primeiro estágio estarão em aberto. No caso de uma carga pirotécnica esta será

instalada entre um pistão e a junta F da Figura 103, página 156. O pistão irá reduzir

o tamanho da carga necessária e proteger o resto do sistema como discutido na

subseção 6.3, página 128. A terceira opção apresenta um custo muito alto para o

foguete.

Page 160: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

159

Cartucho CO2

Cabeçote CartuchoCorpo

Punção

Cabeçote Ignição

Figura 106 - Dispositivo de ejeção SRX.

A velocidade das seções após a ejeção pode, então, ser calculada pela

pressão da carga, admitida em por ser um valor tradicionalmente usado e

que não compromete a estrutura, o comprimento da aba, a massa da seção tratora,

aproximadamente pelo estudo do projeto estrutural, o comprimento do cordão

umbilical para o primeiro estágio, Figura 103, página 156. Aplicando a Equação 120

manipulada para isolar a velocidade e ejeção tem-se a velocidade de ejeção pela

Equação 128, sendo:

Equação 128

Com isso, tem-se disponível de acordo com a Equação 119, página 131, uma

energia de extração disponível de:

Page 161: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

160

Equação 129

O comprimento do cordão no primeiro estágio é a somatória das distâncias

, e da Figura 103, sendo:

Equação 130

Com isso pode-se definir uma massa de lastro para ensaio, se esta massa for

capaz de extrair todo o sistema sem grandes problemas, a ejeção é garantida com a

configuração mínima de aba. A massa pode ser obtida a partir da equação da

energia potencial gravitacional para a distância do cordão, sendo:

Equação 131

Este ensaio deve ser feito no foguete em sua configuração final, portanto, a

aba será construída em seu comprimento máximo, . Dependendo do

resultado do ensaio de extração o seu comprimento ou o tamanho da carga de

ejeção serão ajustados. Ensaios, nos moldes apresentados pela subseção 6.3,

página 128, devem ser executados para determinar se a massa da seção frontal e

central será suficiente para extrair todo o conjunto.

Para o segundo estágio duas opções de dispositivos serão consideradas para

o desprendimento da bolsa, servo motores de modelismo e um dispositivo de

desengate acionado pirotecnicamente. O dispositivo DDE, Figura 107, foi

desenvolvido para este projeto e ainda depende de testes para aferir o seu

funcionamento. O projeto do dispositivo pode ser encontrado nos Apêndices.

Page 162: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

161

Trava

Ignitores

Pistão / Trava

Corpo

Base

Figura 107 - DDP, Dispositivo de desengate acionado por carga Pirotécnica.

7.3.2. Eletrônica de bordo

O foguete AKK usará sistemas redundantes, nos moldes da Figura 87, página

139. Os temporizadores serão baseados em micro controladores da família PIC da

Microchip e serão disparados por chaves independentes no lançamento. As chaves

serão acionadas pela retirada de pinos, presos a base de lançamento por cabos. O

sistema ira utilizar duas baterias de comuns para os temporizadores e pilhas

especiais de fotografia, que fornecem alta corrente, organizadas na forma de

baterias de para os circuitos de ignição.

Page 163: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

162

7.4. PROJETO DE ESTABILIDADE AERODINÂMICA

A geometria do foguete e a velocidade máxima do projeto preliminar foram

usadas no software Aerolab, em conjunto com os dados do centro de gravidade para

operar o ciclo iterativo do desenvolvimento aerodinâmico. A Tabela 12 detalha as

variações na configuração em cada estudo. Neste se analisava a possibilidade do

uso de tubos de alumínio ao invés de aço no corpo do motor. A idéia foi abandonada

pela falta de tubos de alumínio em ligas de maior resistência mecânica. A geometria

das aletas mostrada na Figura 108 poderia ser simplesmente um retângulo, sua

forma é apenas por razões estéticas. Nesta fase ainda não havia sido mudado o

comprimento da seção central em relação ao projeto preliminar, pois os pára-quedas

ainda não haviam sido fabricados e medidos.

L

45,0°

L/3

Bord

o d

e a

taque

Bor

do d

e fu

ga

h

L/6

Figura 108 - Geometria básica das aletas do AKK.

Tabela 12 - Estudo de estabilidade

Descrição das configurações de cada estudo

Estudos Comprimento Aleta [L x h] Posição das baterias

EE1 Al 1450 300 x 100 Ogiva

EE1 Aço 1450 300 x 100 Ogiva

EE2 Al 1550 300 x 100 Ogiva

EE2 Aço 1550 300 x 100 Ogiva

EE3 Al 1450 300 x 100 Modulo de Comando

EE3 Aço 1450 300 x 100 Modulo de Comando

EE4 Al 1450 300 x 150 Modulo de Comando

Page 164: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

163

EE4 Aço 1450 300 x 150 Modulo de Comando

EE5 Al 1450 300 x 125 Modulo de Comando

EE5 Aço 1450 300 x 125 Modulo de Comando

EE6 Al 1450 300 x 150 Ogiva

EE6 Aço 1450 300 x 150 Ogiva

A Figura 109 agrupa todos os resultados dessa bateria de estudos. Os

gráficos A e C representam a variação do coeficiente de estabilidade em função da

velocidade Mach, agrupados por tipo de material do motor. O gráfico B demonstra a

média do coeficiente de estabilidade para todas as iterações e o D representa a

inclinação da curva CE versus velocidade. Como explicado na seção 4, página 97, o

coeficiente deve estar dentro de faixa para ser estável. O estudo buscava, dentro da

gama de variáveis, a influência na inclinação da curva. Como é possível observar na

figura, a inclinação da curva e a média do coeficiente de estabilidade são

diretamente relacionadas tendo suas curvas quase idênticas. Não sendo, portanto,

uma boa referência para escolha da melhor configuração. Dentre as configurações

testadas a EC3 Aço é a que apresentou os melhores resultados na estabilidade

durante esse estudo

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70Cali

bre

de E

sta

bil

idad

e

Mach

Estabilidade AKK com MK-Al

EE1 Al

EE2 Al

EE3 Al

EE4 Al

EE5 Al

EE6 Al

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

Al Aço

Méd

ia C

E

Média EE1

Média EE2

Média EE3

Média EE4

Média EE5

Média EE6

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70Cali

bre

de E

sta

bil

idad

e

Mach

Estabilidade AKK com MK-Aço

EE1 Aço

EE2 Aço

EE3 Aço

EE4 Aço

EE5 Aço

EE6 Aço

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

Al Aço

Incli

nação

da c

urv

a C

E EE1

EE2

EE3

EE4

EE5

EE6

A B

C D

Figura 109 - Resultados dos estudos preliminares de estabilidade do foguete AKK.

Page 165: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

164

Após a modificação do comprimento da seção central para durante o

desenvolvimento do sistema de recuperação novos ciclos de estudos foram

realizados, variando apenas as medidas das aletas, sua altura, comprimento e

posição. A variação do CG não foi significativa, facilitando o processo. A Tabela 13

contém as informações usadas para gerar as simulações no Aerolab e os gráficos

da Figura 110 à Figura 113 contêm todos os resultados divididos em grupos.

Tabela 13 - Dados de entrada do segundo estudo de estabilidade.

Estudo L [mm] h [mm] Posição

[mm]

EE1 200 100 1390

EE2 200 100 1380

EE3 200 100 1370

EE4 200 125 1390

EE5 200 125 1380

EE6 200 125 1370

EE7 200 150 1390

EE8 200 150 1380

EE9 200 150 1370

EE10 250 100 1340

EE11 250 100 1330

EE12 250 100 1320

EE13 250 125 1340

EE14 250 125 1330

EE15 250 125 1320

EE16 250 150 1340

EE17 250 150 1330

EE18 250 150 1320

EE19 300 100 1290

EE20 300 100 1280

EE21 300 100 1270

EE22 300 125 1290

EE23 300 125 1280

EE24 300 125 1270

EE25 300 150 1290

EE26 300 150 1280

EE27 300 150 1270

As simulações EE3, EE11, EE12, EE13, EE14 e EE15 apresentam valores

iniciais do coefeiciente de estabilidade inferiores a um, portanto são configurações

instáveis. Dentre as que não fazem parte deste grupo foi desenvolvido uma

metodologia que permite escolher a configuração apresenta as melhotres

características de estabilidade. A forma de se visualizar essa informação é obter a

porcentagem da faixa de veloidade em que é considerado estável e super estável,

esta análise é demonstrada na Figura 114.

Page 166: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

165

Figura 110 - Resultados das simulações 1 a 9.

Figura 111 - Resultados das simulações 10 a 18.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70

Co

efi

cie

nte

de E

sta

bilid

ad

e

Mach

EE1

EE2

EE3

EE4

EE5

EE6

EE7

EE8

EE9

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70

Co

efi

cie

nte

de E

sta

bilid

ad

e

Mach

EE10

EE11

EE12

EE13

EE14

EE15

EE16

EE17

EE18

Page 167: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

166

Figura 112 - Resultados das simulações 19 a 27.

Figura 113 - Média e inclinação da curva do coeficiente de estabilidade.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70

Co

efi

cie

nte

de E

sta

bilid

ad

e

Mach

EE19

EE20

EE21

EE22

EE23

EE24

EE25

EE26

EE27

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27

Estudo

Média CEMédia CE

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27

Estudo

Inclinação da curva CEaCE

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167

Figura 114 - Porcentagem da faixa de velocidade simulada de valores estáveis e super estáveis.

A Figura 114 deixa claro que dentre as configurações estudadas a EE24 é

que fornece estabilidade em uma faixa maior de valocidades. A sdfgasd apresenta o

projeto do foguete AKK com estas configurações nos resultados do software

Aerolab.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Estável Super Estável

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168

Figura 115 - Geometria final do projeto de estabilidade, apresentada pelo Aerolab.

O cálculo da resistência mecânica do foguete. Nos moldes da subseção 4.2,

página 104, irá considerar apenas seu núcleo de balsa, como sendo um material

uniforme, para simplificação do processo. Sabe-se que estruturas nesta

configuração de materiais configuração ultrapassam as necessidades de resistência

de um foguete simples como o AKK. O coeficiente de arrasto fornecido pelo Aerolab

em conjunto com a aceleração e velocidade máximas do software Launch, massa da

seção frontal obtida pelo protótipo virtual, área frontal da ogiva e densidade do ar, na

Tabela 14, e dados sobre a resistência mecânica da balsa na Tabela 15.

Page 170: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

169

Tabela 14 - Resultados de simulações para uso no cálculo de resistência.

0,35

91,17

242,42

1,18

1,2

0,005

Tabela 15 - Propriedades da Madeira Balsa

13,17

10,00

5295,17

Fonte: (42)

A partir das equações da subseção 4.2, página 104, para um tubo sob

compressão axial com de diâmetro externo e parede de , se obtém uma

força de compressão de , que resulta em uma tensão de compressão axial

de . Portanto, muito abaixo da resistência mecânica da balsa.

7.5. PROJETO DO MOTOR

O projeto preliminar do motor da subseção 7.1 já permite o projeto mecânico

básico do motor. Nesta fase se os fatores de correção, da subseção 3.12, página 84,

são aplicados para redefinir a geometrias. Novas simulações de vôo são feitas com

estes dados, em conjunto com as novas informações de peso, estabilidade e arrasto

do foguete. Os fatores de correção serão aplicados na condição pessimista e

posteriormente corrigidos se necessário por ensaios estáticos. Portanto, de acordo

com a subseção 3.12, página 84:

Correção da velocidade característica, Equação 72, página 85:

Equação 132

Page 171: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

170

Correção da temperatura do gás na câmara, Equação 73, página 85:

Equação 133

Correção da pressão na câmara, Equação 74, página 85:

Equação 134

Fator de correção por perdas na seção divergente da tubeira, tendo este um

meio ângulo na divergente de 12º, Equação 75, página 86:

Equação 135

O coeficiente de empuxo é ajustado pelo fator de descarga, Equação 77,

página 87:

Equação 136

Esses fatores levam a correção do impulso específico, Equação 78, página

88:

Equação 137

A densidade do propelente, Equação 8, página 59:

O protótipo virtual, resultado dos projetos de recuperação e aerodinâmica,

fornece a massa do foguete pelo auxilio do CAD, sendo sem propelente, e o

coeficiente de arrasto em função da velocidade Mach, dado que não foi considerado

no projeto preliminar, para simulações no Launch. O diâmetro da garganta foi fixado

em , por ser a medida mais próxima a obtida no projeto preliminar a possuir

uma broca padrão. A taxa de expansão da tubeira será de 11, como recomendado

na subseção 3.12, página 84, sendo maior que a ideal e resultando em uma área do

plano de passagem de . Novamente o tempo de combustão na simulação

Equação 138

Page 172: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

171

foi considerado unitário e a massa foi variada até o foguete atingir sua faixa de

altitude. A massa de propelente, para atingir de altitude foi de de

propelente ou o impulso total de .

Os dados corrigidos são alimentados no programa matemático escrito para o

Engineering Equation Solver, da F-Chart Software. No programa com os fatores de

correção é necessária uma iteração. Ele devolve dois valores do número de

Klemmung, , nas Equação 68 página 83, e Equação 69, página 83. O diâmetro da

garganta é então ajustado dentro de valores padronizados de brocas e o ajuste fino

é feito na pressão, até os dois valores de se ajustarem. O empuxo teve de ser

aumentado, pois há a limitação do diâmetro do tubo que faz o corpo do motor, o que

limita o tempo de combustão. A única forma de se aumentar a massa do propelente

é no comprimento do grão, o que acarreta no aumento da área de combustão e sem

o aumento devido da área da garganta a pressão aumenta além dos limites. O

aumento da área da garganta leva ao aumento da vazão que por conseqüência,

aumenta o empuxo. Portanto, a única forma de se manter o empuxo seria

aumentando o tempo de combustão que depende diretamente do diâmetro da

câmara. A Tabela 16 resume os resultados do projeto do motor. Seu empuxo levaria

a valores quase críticos de aceleração, porém, seu grão é maior e o protótipo virtual

deve ser atualizado. Sua massa deve aumentar pelo material extra do corpo do

motor. A estrutura do foguete será ligeiramente alterada, encurtando a seção frontal

o quanto for necessário para acomodar o aumento da seção do motor, mantendo o

comprimento geral do foguete para simplificar a análise de estabilidade.

Page 173: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

172

Tabela 16 - Resultados do projeto do motor corrigido pelos coeficientes.

Motor

558,50 1247

2,37 Classe J

844,80 6,60

Grão Tubeira

Tipo B/ T 8,50

59,00 28,19

25,50 1,49

33,50 11

Folga 4,00 Queima erosiva

258,60 0,15

1100,00 0,57

12,75 4,38

O valor do coeficiente de empuxo é coerente com os encontrados em

resultados de motores reais sob testes estáticos, como pode ser ratificado na Figura

116.

Figura 116 - Resultados do motor Epoch, de Richard Nakka, que possuí configuração semelhante a deste estudo.

A Figura 117 e Figura 118 possuem alguns detalhes da configuração final do motor,

denominado por suas características, MJ559. Seu projeto detalhado pode ser visto

nos Apêndices. O projeto detalhado do foguete foi atualizado e seus dados de centro

de gravidade utilizados na planilha do estudo de estabilidade. Os resultados,

resumidos pela Figura 119 confirmam que a EE24 configuração ainda é a

preferencial, não apresentando em nenhum momento o comportamento instável e

na maior do vôo permanece dentro da margem de estabilidade.

Page 174: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

173

Grão Tubo

Grão Barra

Inibidor Barra

Tubeira

Corpo

Base est./InibidorInibidor Tubo

Forro

Cabeçote

Figura 117 - Vista explodida do MJ559 com seus componentes identificados.

Figura 118 - Medidas básicas do MJ559.

Page 175: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

174

Figura 119 - Resultado do estudo de estabilidade com o MJ559.

No mercado são encontrados tubos de de diâmetro externo, sem

costura com parede de 0,9 mm em sua menor medida sendo produzidos em Aço

SAE1010 repuxados a frio. Os parafusos serão com cabeça tipo panela e

inicialmente com a medida M3. Parafusos deste tipo possuem grau de resistência

8.8. Do livro de Shigley, (43), são obtidos os dados de resistência mecânica destes

materiais, Tabela 17.

Tabela 17 - Dados de resistência dos materias do motor.

Aço do tubo (SAE1010 CD)

200100

414

496

0,33

Parafuso Grau SAE 8.8

600

Fonte: Shigley, (43).

De acordo com a subseção 3.13, página 88, os resultados obtidos para um

coeficiente de segurança de 1,5 são organizados na Tabela 18.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

EE1

EE2

EE3

EE4

EE5

EE6

EE7

EE8

EE9

EE1

0

EE1

1

EE1

2

EE1

3

EE1

4

EE1

5

EE1

6

EE1

7

EE1

8

EE1

9

EE2

0

EE2

1

EE2

2

EE2

3

EE2

4

EE2

5

EE2

6

EE2

7

Instável Estável Super Estável

Page 176: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

175

Tabela 18 - Resultados do estudo de resistência mecânica do tubo.

Resistência Mecânica do Tubo

7,83

15,64

2,00

1,50

0,07

0,23

A pressão de projeto do tubo, , ultrapassa a pressão da câmara, portanto

um tubo nessas configurações deve suportar sem problemas. Para os parafusos

deve-se calcular a força resultante da pressão no cabeçote e tubeira. Uma planilha

foi desenvolvida para facilitar o cálculo, os resultados apontam para dez parafusos

M3 grau 8.8 na tubeira, tendo um coeficiente de segurança acima do de rompimento,

e nove parafusos no cabeçote, estes possuem o coeficiente de segurança abaixo do

de rompimento do corpo do motor, para garantir que falhem antes, servindo como

dispositivo de segurança.

7.6. RESULTADOS DO PROJETO

A combinação dos projetos preliminar, sistema de recuperação, aerodinâmica

e estabilidade gerou a configuração final do foguete AKK com motor MJ559. O

foguete AKK foi desenvolvido para atingir de forma estável e segura de

altitude e possui um sistema de recuperação que pode trazê-lo de volta em

segurança e dentro do campo de lançamento. Atende aos requisitos de projeto

quanto a limites de aceleração, diâmetro, pressão máxima e materiais de fabricação

do motor. O foguete AKK carrega de propelente de base epóxi, possui 1,63 m

de comprimento total e quando pronto para lançamento possui de massa.

Atinge a velocidade máxima de . Ao fim da combustão, em , está a

de altitude, atingindo o apogeu aos . O primeiro estágio de recuperação

é ativado no apogeu e o segundo em após o lançamento, na altitude de

aproximadamente . A Figura 120 é uma vista explodida da seção traseira do

foguete, onde se encontram as aletas e o motor. O conjunto, seção tubular, aletas,

anel centralizador e junção B formam uma única peça composta, onde a parede de

fogo tem sua fixação reforçada por pinos de madeira entre a junção e a seção. As

Page 177: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

176

aletas são montadas ainda sem sua segunda camada de laminação sobre o núcleo

de balsa da seção tubular. Então as camadas externas de fibra de vidro e resina da

seção e aletas são aplicadas, formando uma peça única e rígida. O anel

centralizador e fixador é preso por parafusos e tem o propósito de prender o motor

na estrutura, além de centralizar. A Tabela 19 resume algumas das características

dos componentes da seção, bem como a sua massa, com motor e sem propelente.

Figura 120 - Vista explodida da seção trazeira.

Tabela 19 - Informações sobre a seção traseira do AKK.

Aletas Motor

Número 3 Empuxo [N] 559

Razão de aspecto 0,42 It [N.s] 1247

Área (cada) 0,025 Classe J

Massa da seção (sem propelente): 2 kg

A parte central do foguete é apenas uma seção de tubo composto, com as

furações para a fixação por parafusos na junção A e para os lacres do sistema de

recuperação na junção B. Em seu interior carrega todo o sistema de recuperação,

com exceção dos dispositivos de ejeção, que ficam presos a junção A da seção

frontal. A Tabela 20 resume as características do sistema de recuperação do AKK e

a massa da seção, com todo o sistema de recuperação que contém.

Page 178: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

177

Tabela 20 - Informações sobre a seção central do AKK.

Sistema de recuperação

Tipo Duplo estágio Área Dispositivos (na seção frontal) Vel. de Rec.

1º Estágio - Piloto Apogeu 0,35 Carga de CO2, acionado pirotecnicamente, red.

15 m/s

2º Estágio Principal 300 m 1,5 Desengate, acionamento pirotécnico redundante.

5 m/s

Massa da seção 1,10 kg

A seção frontal do foguete abriga em parte do seu volume toda a eletrônica de

bordo responsável pelo controle do sistema de recuperação, além de possuir volume

disponível na região da ogiva para outras cargas, como experimentos, câmeras de

vídeo, sensores de variáveis ambientais, etc. A carga máxima da ogiva é de ,

sem comprometer as características de estabilidade. A seção frontal possui a ogiva

e a seção tubular como uma peça única de material composto, chamada aqui de

fuselagem. A junção A é a principal peça do conjunto, sendo nela fixados todos os

componentes. A eletrônica de bordo e as baterias respectivas são suportadas por

uma estrutura de duas barras roscadas, fixadas entre a junção e um flange, que

também é a base de qualquer dispositivo a ser colocado na região da ogiva. A

fuselagem é fixada à junção por um conjunto de parafusos, em torno da baia de

carga e eletrônica de controle. Os dispositivos de ejeção também são presos a

junção, assim como o olhal de ancoragem. A Figura 121 possui uma vista explodia

dos componentes da seção central e a Tabela 21 fornece alguns detalhes dos

sistemas de controle e fontes de energia a bordo do foguete AKK e a massa da

seção, sem carga útil.

Figura 121 - Vista explodida da seção frontal do foguete AKK.

Page 179: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

178

Tabela 21 - Informações sobre os sistemas a bordo da seção frontal do foguete AKK.

Eletrônica de bordo Baterias

Dois temporizadores redundantes ativados por chave no lançamento Baterias 9 V (uma para cada)

Dois pares redundantes de sistemas de ignição com fonte própria de energia

Baterias 12 V 2 A (uma para cada)

Massa da seção: 1,28 kg

Os projetos detalhados de cada seção do foguete e seus componentes

podem ser encontrados nos Apêndices e as dimensões gerais e uma vista em corte

do foguete na Figura 123. As informações finais do projeto foram alimentadas no

software Launch, considerando todos os estágios de recuperação, vento de

com correção de trajetória no ângulo de lançamento pela torre, que será realizado

na altitude de em relação ao nível do mar. A altitude e velocidade do vento

foram definidas em função do local de lançamento, um clube de vôo livre chamado

Clube da Cordilheira a de Curitiba, Paraná na região de Rio Branco do Sul.

Uma foto de satélite do local obtida pelo software Google Earth está na Figura 122.

Este local atende a todos os requisitos de segurança exigidos pelas normas

descritas na seção 2, página 18.

Figura 122 - Clube de vôo Clube das Cordilheiras. Referência na própria imagem.

Page 180: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

179

Motor MJ559

DDP

(2º Est.)

SRX

(1º Est.)

Eletrônica de

bordo e baterias

Pára-quedas Piloto

1º Estágio

Pára-quedas Principal

2º Estágio

Junção B

Separação

p/ 1º Estágio

Baia de carga

Figura 123 - Dimensões do foguete AKK (em mm) e vista em corte.

Page 181: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

180

Para as condições encontradas no clube, o foguete AKK com motor MJ559,

deverá apresentar um comportamento muito próximo dos resultados da simulação. A

Figura 124 é o gráfico da aceleração, velocidade e altitude em função do tempo até

o apogeu onde os valores máximos estão em destaque. A altitude atingida não é a

alvo em função das condições de vento e o aumento do comprimento do grão pode

ser considerado, pois a pressão do motor ainda possui uma margem até a restrição

do projeto. A seqüência deste gráfico se dá na Figura 125 onde os estágios de

recuperação e seus efeitos na curva da altitude e velocidade podem ser observados.

A Figura 126 é a trajetória do foguete no plano paralelo a direção do vento, que foi

lançado a 9º de inclinação em relação à vertical na direção contrária a do vento, de

forma que a aterrissagem aconteça muito próxima a plataforma simplificando o

resgate.

Figura 124 - Aceleração, velocidade e altitude em função do tempo até o apogeu.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

-25

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Alt

itu

de

Ace

lera

ção

e v

elo

cid

ade

Tempo [s]

Aceleração [m/s^2] Velocidade [m/s] Altitude [m]

Page 182: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

181

Figura 125 - Aceleração, velocidade e altitude em função do tempo na fase de recuperação do AKK.

Figura 126 - Trajetória do foguete AKK em duas dimensões em um lançamento com vento.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

-25

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

20 40 60 80 100 120 140 160 180

Alt

itu

de

Ace

lera

ção

e v

elo

cid

ade

Tempo [s]

Aceleração [m/s^2] Velocidade [m/s] Altitude [m]

1879

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

0 100200300400500600700

Alt

itu

de [

m]

Distância horizontal [m]

Trajetória

Page 183: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

182

7.7. OUTROS PROJETOS DESENVOLVIDOS DURANTE ESTE TRABALHO

Durante o desenvolvimento deste trabalho dois equipamentos foram

desenvolvidos, seus projetos não são escopo por se tratarem de protótipos de

produtos, portanto serão apenas brevemente apresentados. Também foram

estudados diversos conceitos de plataforma de testes estáticos para motores. O

primeiro dos dois equipamentos foi a Unidade de Ensaios de Propelentes, UEP

representado pela foto da Figura 13, página 52 e detalhes de sua sonda na Figura

14, página 52 e uma visão do projeto com seu corpo em transparência na Figura

127. A UEP é uma ferramenta que será usada na caracterização de propelentes,

principalmente, suas curvas de taxa de combustão em função da pressão e

velocidades características reais.

Figura 127 - Vista em perspectiva da UEP com seu corpo transparente para a visualização da amostra de propelente na haste da sonda.

O seu desenvolvimento é necessário, já existe uma imprecisão relativa ao uso

de combustíveis de base epóxi dada à variedade de suas formulações no mercado,

alem de que, tendo dados precisos do comportamento de qualquer propelente leva a

Page 184: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

183

um resultado final de projeto mais próximo do real. Portanto a UEP será usada para

testar, por amostragem, cada lote de propelente produzido a fim de certificar dados

precisos nas simulações e buscar por formulações que se mantenham estáveis em

diferentes lotes. Também poderão ser desenvolvidos novos propelentes e

formulações de cargas pirotécnicas. A unidade funciona a partir de amostras de

propelente em forma de um cilindro inibido nas laterais e com queima “tipo cigarro”

que são presas a sonda junto com ignitores e sensores. A sonda é fixada no cilindro

do UEP e este é pressurizado até a pressão de ensaio por um gás neutro como o

nitrogênio. As formas de se registrar a velocidade de combustão e pressão para os

ensaios são discutidas na subseção 3.5, página 49.

Para a aquisição de dados dos ensaios do UEP e testes estáticos de motores

foi desenvolvido o Sistema de Aquisição e Controle de Ensaios, SACE. Que é um

equipamento de aquisição e registro de dados de sensores analógicos e discretos

com sistema de ignição próprio, telecomando e interface serial para comunicação e

transferência de dados com computador. A foto do protótipo está na Figura 128. Até

a finalização deste trabalho o equipamento ainda estava em fase de

desenvolvimento. Ele conta com quatro canais de aquisição onde o tratamento de

sinais é feito por módulos independentes, portanto, toda uma gama de sensores

pode ser usada.

Figura 128 - Protótipo do SACE quando em testes de interface.

O SACE utiliza um algoritmo de verificação de erros para os comandos via

rádio que garante sua operação segura impedindo quaisquer possibilidades falso

Page 185: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

184

comando de ignição. Com a criação de outros módulos será capaz de automatizar

até ensaios em motores híbridos.

Para os testes estáticos em motores foram estudadas diversas geometrias de

plataformas, em particular as configurações vertical com empuxo contra o solo e a

horizontal, apresentadas respectivamente na Figura 129 e Figura 130. A Unidade de

Ensaios de Motores, UEM, ainda está em fase de concepção e aponta para a

solução horizontal, por excluir o parâmetro massa da correção dos resultados e por

sua maior estabilidade dinâmica durante os ensaios.

Figura 129 – Conceito vertical de plataforma para testes estáticos.

Figura 130 - Plataforma de testes estáticos horizontal.

Page 186: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

185

8. CONCLUSÃO

O trabalho cobriu toda teoria básica necessária para o desenvolvimento de

um foguete experimental, desde a sua concepção ao detalhamento final de suas

características balísticas e de desempenho. Inicia-se com o importante assunto

segurança e cobre toda teoria básica de motores a propelentes sólidos, formulações

básicas de propelentes amadores e suas características além dos sistemas de

ignição. Segue sobre as bases da estabilidade aerodinâmica e cálculo estrutural

básico, apresentando as ferramentas de software disponíveis gratuitamente na

Internet e de grande precisão.

A compreensão e cálculo das características balísticas do foguete e softwares

de simulação de vôo são apresentados e seguidos pelo projeto de sistemas de

recuperação e uma discussão sobre as características e capacidades da eletrônica

de bordo. Por fim a teoria e metodologia apresentadas são aplicadas no

desenvolvimento do motor MJ559 e foguete AKK, demonstrando que este trabalho é

uma ferramenta útil para modelistas e estudantes de engenharia, levando-os um

passo a frente.

Revisões deste trabalho serão publicadas no site do projeto em conjunto com

os resultados práticos e um fórum de discussões aberto a todos os visitantes de

forma que este trabalho se conclui sem ainda ter demonstrado os efeitos de seus

reais objetivos, inspirar e prover fonte de informação básica a todos os entusiastas e

futuros engenheiros aeroespaciais brasileiros.

Page 187: Bruno Ferreira Porto-teoria Metodologia de Projeto e Desenvolvimento de Motores Foguete a Propelente Solido e Foguetes Experimentais

186

REFERÊNCIAS

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Melhoramentos Ltda., 2007.

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Nakka's Experimental Rocketry Web Site. [Online] 2007. www.nakka-rocketry.net.

3. Tripoli Rocketry Association Inc. Tripoli Rocketry Association. Tripoli Rocketry

Association. [Online] 09 de Maio de 2007. [Citado em: 09 de Maio de 2007.]

http://www.tripoli.org.

4. Nakka, Richard A. e outros. Sugar Shot to Space. Sugar Shot to Space. [Online]

2007. [Citado em: 29 de Maio de 2007.] http://sugarshot.org.

5. West Point - Beemer. Critical Design Review. West Point Public Schools. [Online]

2007. [Citado em: 05 de 07 de 2007.]

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6. Platzek, H. Preliminary Solid Rocket Motor Design Techiniques. China Lake, CA :

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7. U.S. Army Missile Command. Design of Aerodynamically Stabilized Free

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8. Sutton, George P. Rocket Propulsion Elements. Estados Unidos : John Wiley &

Sons, Inc., 1963.

9. NASA. Solid propellant grain design and internal ballistics. s.l. : NASA, 1972. SP-

8076.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – PROJETO DO MOTOR MJ510

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APÊNDICE B – PROJETO DO MOTOR MJ559

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APÊNDICE C – PROJETO DO FOGUETE AKK

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APÊNDICE D – PROJETO DOS DISPOSITIVOS DE EJEÇÃO SRX E DDP

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APÊNDICE E – PROJETO DA UNIDADE DE ENSAIOS DE PROPEPELNTES

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202

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203

APÊNDICE F – PROGRAMA PARA CÁLCULO DO MOTOR NO SOFTWARE EES

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207

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APÊNDICE G – FOTOS GERAIS DO PROJETO EM ORDEM CRONOLÓGICA,

SEM LEGENDAS

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