Upload
wandersonmorais
View
6
Download
2
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Artigo apresentado como um relatório de atividades realizadas no ano de 2011 para o Nucleo de Educação de uma cidade do interior do estado de são paulo.
Citation preview
Introdução
O ambiente escolar, além de prover conceitos científicos e o crescimento
cognitivo, proporciona relações sociais e o desenvolvimento psicológico dos indivíduos,
sendo assim de fundamental importância a inserção dos jovens nas instituições de
ensino. Porém, existem fatores negativos que podem levar a defasagem de aprendizado,
sendo eles de ordem biológica (como disfunções cerebrais, TDAH – Transtorno do
déficit de atenção com hiperatividade, dentre outros) ou aqueles psicológicos (traumas,
depressão, etc).
Um conhecido desvio comportamental parece estar ligado á inúmeras tragédias
da atualidade, ocorrendo principalmente no âmbito acadêmico, com a morte de
estudantes e professores, como em Columbine (1999) e Virgínia Tech (2007) nos
Estados Unidos, e em Taiúva – São Paulo (2003) e Remanso – Bahia (2004), sendo
denominado Bullying. Parece haver um consenso entre os pesquisadores da área, de que
tal fenômeno propicia grandes malefícios ao processo de ensino, assim como ao
desenvolvimento dos envolvidos (DE MOURA et al. 2010; LISBOA et al. 2009;
LOPES NETO, 2005; MARTINS, 2005).
Termo de origem inglesa (to bully = intimidar) que se popularizou na década de
60 na Noruega e Suécia pelo Professor Dan Olweus, com trabalhos em escolas
primárias e secundárias sobre a violência infantil. Outros países adotaram suas próprias
denominações (ijime no Japão, mobbing na Dinamarca, violenza na Itália), porém, tais
vocábulos não conseguem expressar corretamente a dimensão da palavra inglesa, no
Brasil é conhecido a expressão “vitimização entre pares” (ANTUNES & ZUIN, 2008;
LISBOA et al.; MATOS, 2009).
O Bullying pode ser identificado como uma violência assimétrica de forças
contra um ou mais alvos, de caráter duradouro e com prejuízos para uma das partes
envolvidas, sem nenhum motivo aparente (BANDEIRA, 2012; SMITH et al. 2002). Tal
comportamento tem o objetivo de machucar, humilhar e subjugar as vítimas, e pode
ocorrer de forma direta física (chutes, socos, empurrões), de forma direta verbal
(xingamentos, apelidos, provocações) e de forma indireta (maledicência, exclusão,
marginalização, fofocas) (BULLOCK, 2002; MARTINS, 2005).
Na atualidade parece haver surgido uma nova prática entre os jovens,
denominada Cyberbullying, como identificado pelos pesquisadores, com o uso de
ferramentas tecnológicas e redes sociais para perseguir e humilhar os alvos (LOPES
NETO, 2005; COLOVINI, 2007; LISBOA et al. 2009; MALTA, 2010; DE MOURA,
2010).
Existem três papéis desempenhados pelos indivíduos no Bullying: os Agressores,
as Vítimas e as Testemunhas . Os agressores tendem a desenvolver condutas de risco
como o uso de tabaco, drogas e álcool em longo prazo, assim como dificuldades em
manter relações pessoais e posterior abandono acadêmico. As testemunhas apresentam
quadros de ansiedade e insegurança, prejudicando seu desempenho na escola, para as
vítimas torna-se comum a exclusão do ambiente escolar e o desinteresse, com o
surgimento de quadros depressivos e suicidas, vendo assim negligência intelectual dos
envolvidos impossibilitando o processo de ensino e aprendizagem (COLOVINI, 2007;
ISERNHAGEN & HARRIS, 2004; LIMA, 2009; LISBOA et al. 2009).
Torna-se importante, o uso de intervenções que busquem atenuar e/ou erradicar
o Bullying da escola, para assim garantir um ambiente eficiente para a educação (DE
MOURA et al. 2010).
Objetivos
O seguinte trabalho teve como objetivo principal verificar a ocorrência do
Bullying em uma instituição pública de ensino fundamental do interior do Estado de São
Paulo, e como objetivos secundários, obter melhor reconhecimento desse
comportamento e perfil de percepção dos próprios alunos e professores, acerca da
conduta discente.
Materiais e metodologias
A pesquisa foi realizada em duas partes: A primeira etapa foi referente ao
diagnóstico da escola em relação à presença do fenômeno Bullying; a segunda etapa diz
respeito a percepção dos próprios alunos e professores, sobre o comportamento que
possuem.
Primeira Etapa: O público alvo do trabalho foram alunos de 5ª Série (6º Ano) á
8ª Série (9ºAno) do Ensino fundamental, distribuídos na faixa etária que compreende os
10 aos 16 anos. Utilizou-se um questionário adaptado da ONG KIDSCAPE (anexo 1),
que realiza trabalhos voltados a violência juvenil. As adaptações foram exigências da
escola, que se baseiam em alterações de palavras por sinônimos.
A instituição de ensino em que o questionário foi aplicado é pública do
município de Ilha Solteira, a participação foi voluntária, contando apenas com
identificação de idade e série para fins de análise. Ambos os períodos letivos
participaram. O questionário é composto por 13 questões, sendo onze de múltipla
escolha e duas descritivas, para sistematização dos dados foi considerado apenas
aquelas de múltipla escolha e adotou-se uma análise quantitativa somatória. Algumas
questões poderiam ser respondidas mais de uma alternativa, sendo assim, todas aquelas
marcadas com asterisco e a sigla M.A (múltiplas alternativas) seguem o esquema.
Segunda Etapa: O público alvo é o mesmo da etapa anterior, assim como a
instituição de ensino, porém, nesta parte optou-se por incluir o corpo docente da escola,
para melhor visualização do comportamento dos alunos, visto que os professores
passam quantia razoável de tempo com eles.
Houve a elaboração de dois questionários de conduta: O questionário A (anexo
2) foi aplicado somente com os alunos, novamente, de todas as séries em ambos os
períodos letivos, contando com seis questões de múltipla escolha, com o objetivo de
melhor conhecer suas ações. O questionário B (anexo 3) foi aplicado somente com os
professores, possuindo igual número de perguntas e com o objetivo de conhecer a
percepção docente sobre os comportamentos de seus alunos.
Nenhuma questão era possível responder mais de uma alternativa. A
participação tanto de alunos quanto professores foi voluntária, e sem identificação de
nome, apenas idade e série para fins de análise. Para sistematização dos dados adotou-se
uma análise quantitativa somatória.
Resultados e Discussão
Primeira Etapa: Os resultados e comparação entre outros pesquisadores sobre a
pesquisa encontram-se relacionados abaixo, obteve-se um total de 511 participantes na
primeira parte.
A maioria dos alunos participantes são do gênero masculino, com um total de 283
indivíduos.
Tabela 1: Gênero dos alunos.
Resposta Porcentagem
Masculino 55,38%
Feminino 44,42%
Sem resposta 0,02%
Na tabela 2 é possível perceber que 162 alunos, ou seja, 31,70% do total
afirmam terem sofrido/sofrer algum tipo de agressão, o que corrobora com os dados
encontrados pelo pesquisador Boris (2011), que utilizou a mesma metodologia em outra
instituição, com um total de 39,04% vítimas em 438 participantes. A média de vítimas
em outras pesquisas também é similar, como a ABRAPIA (2003) com um total de
40,5% vítimas em cinco mil participantes, e Bandeira (2012) apresenta dados de 23,2%
para vítimas passivas e 43,6% para vítimas agressoras com 465 participantes.
Tabela 2: “Você já sofreu algum tipo de intimidação, agressão ou assédio?”.
Resposta Porcentagem
Sim 31,70%
Não 65,56%
Sem resposta 2,74%
Total 100%
A agressão mais presente foi a Verbal (19,96%), que é caracterizada por
apelidos, xingamentos e provocações. O percentual encontrado por Boris (2010) foi de
15,29% para a agressão Verbal, também, sendo a mais presente. Este tipo de agressão
também foi a mais presente na pesquisa de Bandeira (2012), na porcentagem de 61,1%
para insultos e deboches, e 25,7% para mentiras e fofoca.
Tabela 3: “Que tipo de intimidação, agressão ou assédio você sofreu?”
Resposta Porcentagem*
Física 12,13%
Emocional 9,78%
Racista 6,06%
Verbal 19,96%
Sexual 1,56%
Nunca sofreu 61,25%
A faixa etária mais alvo de agressões é a correspondente dos 11 aos 14 anos,
com um total de 20,15% dos indivíduos, o que corrobora com os dados encontrados por
outros pesquisadores: Boris (2010) encontrou um total de 19,86%, Bandeira aponta em
sua pesquisa um total de 89,7% e Lopes Neto (2005) afirma que o bullying é mais
prevalente nestas idades.
Tabela 4: “Que idade você tinha quando isso ocorreu?”
Resposta Porcentagem
Menos de 5 anos 0,97%
5 – 11 anos 16,82%
11 – 14 anos 20,15%
Mais de 14 anos 0,78%
Nunca sofreu 61,05%
Analisando a tabela 5 em categorias separadas, é possível observar que apenas
uma minoria afirma ter sofrido agressões recentemente (3,13%), porém, considerando o
período de um semestre, a porcentagem sobe para 20,14%, isto é, de 162 (31,7%) que
afirmam ter sofrido agressões, 33 deles sofreram recentemente.
Tabela 5: “Quando foi a última vez que você sofreu algum tipo de intimidação,
agressão ou assédio?”
Resposta Porcentagem
Hoje 3,13%
Últimos 30 dias 9,19%
Últimos 6 meses 7,82%
Há um ano ou mais 18%
Nunca sofreu 61,64%
Novamente, somando-se as categorias “Quase todo dia”, “Diversas vezes” e
“Várias vezes ao dia” é possível concluir que 22,88% do total de alunos que sofrem
agressões, relatam sofrer bullying, dada a freqüência dos atos violentos.
Tabela 6: “Quantas vezes você já sofreu intimidação, assédio ou agressão?”
Resposta Porcentagem
Uma vez 15,65%
Quase todo dia 7,04%
Diversas vezes 13,11%
Várias vezes ao dia 2,73%
Nunca sofri 60,66%
A maior incidência de agressões ocorreu em Sala de Aula (19,56%), local
também encontrado por outros pesquisadores: ABRAPIA (2003) 60,2%; e por Boris
(2010) 21,46%.
Tabela 7: “Onde isso aconteceu?”
Resposta Porcentagem* (M.A)
Indo e vindo da escola 6,06%
Bairro 6,06%
Pátio da escola 12,91%
Banheiro da escola 1,56%
Sala de aula 19,56%
Refeitório da escola 1,36%
Outros locais* 2,73%
Nunca sofri 60,86%
*Exemplos de respostas: “Na escola inteira”, “Em casa”, “Na rua”.
A maioria das vítimas diz sentir-se mal com as agressões (17,22%), e outras
mostram não se incomodarem (14,09%). Para Bandeira (2012), a categoria “Não se
incomodou” aparece em segundo lugar (31,8%) e para Boris (2010), “Não se
incomodou” aparece em primeiro lugar, com um percentual de 14,38%, seguido de
“Sentiu-se mal” 13,92%.
Tabela 8: “Como você se sentiu quando isso aconteceu?”
Resposta Porcentagem* (M.A)
Não se incomodou 14,09%
Sentiu-se assustado 2,54%
Sentiu-se amedrontado 3,13%
Sentiu-se mal 17,22%
Não quis mais ir á escola 4,5%
Nunca sofreu 60,66%
Um total de 23,28% das vítimas afirma que não houve consequência das
agressões, o que está em concordância com o encontrado por Boris (2010) 20,09%.
Tabela 9: “Quais foram as consequências da agressão, intimidação ou assédio sofrido
por você?”.
Resposta Porcentagem* (M.A)
Não teve consequências 23,28%
Algumas consequências ruins 10,17%
Consequências terríveis 1,95%
Fez mudar de escola 1,76%
Outros* 1,56%
Nunca sofreu 60,86%
*Exemplos de respostas: “Chorei”, “Passei mal”, “Fiquei com raiva/medo”, “Não queria
mais ir á escola”.
Em relação ao sentimento por quem pratica as agressões, 39,72% dos
participantes não gostam dos agressores, corroborando com o valor encontrado por
Boris (2010) de 43,83%. Uma fração dos alunos ainda dizem sentir medo dos mesmos
(9,98%), estando próximo do percentual encontrado por Bandeira (2012) de 10,18% e
novamente, por Boris (2010) de 14,15%.
Tabela 10: “O que você pensa sobre quem pratica agressão, intimidação ou assédio?”
Resposta Porcentagem* (M.A)
Não pensa nada 21,52%
Não gosta deles 39,72%
Tem pena deles 30,33%
Tem medo deles 9,98%
Gosta deles 0,97%
As agressões foram realizadas mais por indivíduos do gênero masculino
(32,57%), sendo 29,15% Meninos e 3,52% Homens adultos. O pesquisador Boris
(2010) aponta em sua pesquisa um total de 34,47%, sendo 29,68% das agressões
realizadas por Meninos e 4,79% por Homens. Para Lopes Neto (2005), há um
predomínio do sexo masculino nos agressores, o que está relacionado á natureza das
intimidações, corroborando com Bandeira (2012), os pesquisadores afirmam que
meninos preferem agressões físicas como forma de ganhar respeito ou realizar vontade,
ao passo que meninas utilizam formas mais sutis de intimidação como marginalização e
calúnia, assim, o gênero masculino é mais fácil de ser reconhecido.
Tabela 11: “Quem intimidou, agrediu ou assediou você é?”
Resposta Porcentagem* (M.A)
Menino 29,15%
Menina 11,35%
Homem (adulto) 3,52%
Mulher (adulta) 1,17%
Ninguém 60,07%
Somente 73 (14,28%) alunos afirmam praticar bullying, seja em resposta a
alguma agressão ou como agressores primários, o que torna o assunto ainda de difícil
reconhecimento de envolvidos.
Tabela 12: “Você já intimidou, assediou ou agrediu alguém?”
Resposta Porcentagem
Sim 14,28%
Não 84,54%
Sem resposta 1,17%
Total 100%
Segunda Etapa: Os resultados da pesquisa encontram-se relacionados abaixo, obteve-
se uma participação de 472 alunos com o questionário A (246 do gênero masculino e
224 do gênero feminino) e uma participação de 19 docentes com o questionário B.
Os questionários possuem cinco afirmações, das quais tanto os alunos quanto os
professores deveriam avaliar o quanto a situação apresentada está de acordo com a sua
realidade, em uma escala de “Nunca”, “Pouco”, “Bastante” e “Muito”. A sexta questão
é um quadro de situações, em que os participantes devem escolher entre “Concordo” e
“Discordo” para cada uma das alternativas apresentadas.
Questionário comportamental A – Para alunos.
Quase metade dos alunos parece não se importar com a bagunça dos outros
alunos quando o professor começa a explicação (45%), o que se torna ainda maior se
incluído aqueles que realmente não se incomodam, em um total de 54,4%.
Questão 1 – Quando alguns dos meus colegas começam a atrapalhar a explicação do
professor, eu me sinto incomodado com situação.
Nunca Pouco Bastante Muito Total
9,5% 44,9% 24,3% 20,3% 99%*
*Nulos = 1%
Novamente, uma grande maioria dos alunos não se envolva em brigas de colegas
e nem chamam adultos para separá-las (25,6%) e um percentual ainda maior intervém
raramente em brigas e/ou pede auxílio á maiores (30,5%).
Questão 2 – Ao ver um colega sendo agredido fisicamente eu tento separar a briga ou
chamo um adulto que termine a confusão:
Nunca Pouco Bastante Muito Total
25,6% 30,5% 19,9% 21,6% 97,6%*
*Nulos= 2,4%
Os alunos, em sua maioria, relatam não insultarem um colega que está sendo
alvo de gozações (52,5%) e apenas um pequeno percentual parece se envolver com
frequência neste tipo de agressão (12,8% - Bastante e Muito).
Questão 3 – Quando algum colega recebe apelidos ou gozações de outro, eu acho
engraçado e insulto o mesmo colega:
Nunca Pouco Bastante Muito Total
52,5% 33,8% 5,9% 6,9% 99,1%*
*Nulos= 0,9%
Pela análise dos questionários é possível extrair uma informação importante,
quanto á conduta de violência, a maioria dos alunos frequentemente revidam agressões
recebidas (30,5%) o que se torna ainda maior a ocorrência dos casos se a categoria
“Bastante” for incluída (47,4%). Isso quer dizer que 224 alunos respondem ás agressões
sofridas, este é um número considerável.
Questão 4 – Quando sofro algum tipo de agressão (física, verbal, emocional, racista ou
sexual), revido:
Nunca Pouco Bastante Muito Total
24,7% 26,9% 16,9% 30,5% 99%*
*Nulos= 1%
Mesmo que um grande percentual de alunos (58,1% - Bastante e Muito) ainda
tente prestar atenção nas aulas, ainda existe uma grande parcela (41,9%) de alunos que
não se esforçam ou muito raramente escutam o professor, em números, 198 alunos não
estão se dedicando aos estudos como deveriam, por ser um número tão alto, é um
cenário preocupante.
Para o pesquisador Willis (1988), certas formas de violência, bem como o
abandono escolar, e assim, uma grande resistência aos estudos, se mostram como um
sentimento de que os conhecimentos escolares e o próprio diploma são ainda
insuficientes para possibilitar uma ascensão social. Dubet (2003) também afirma que
tais condutas, são frutos de uma percepção de que é difícil atingir as exigências
educacionais disseminadas pela instituição.
Finalmente, Silva e Salles (2010) apontam que o acesso em massa á educação,
torna o valor material e simbólico do diploma, desvalorizado; os alunos ainda percebem
que o diploma não possui reconhecimento esperado e prometido no mercado de
trabalho, sendo apenas um benefício ilusório.
Questão 5 – Quando tenho aula de alguma disciplina que não gosto, eu tento me
esforçar e prestar atenção assim mesmo:
Nunca Pouco Bastante Muito Total
12,5% 29,4% 33,6% 24,5% 100%
A questão 6 tem o objetivo de reforçar as respostas dadas nos item anteriores, e
sua comparação com os demais resultados é interessante. As afirmações 1, 2 e 8 são
complementares, então é pressuposto que os resultados obtidos sejam similares, o que
pode ser observado na tabela abaixo.
Ainda, o percentual de alunos que não ficam em silêncio na explicação dos
professores (afirmação 3) corrobora com o encontrado nas demais questões (41,9%)
com uma diferença de apenas 11%. O fator que pode ter causado diferenças é o termo
“disciplina que eu não gosto” e que no caso da questão 6, afirmação 3, se refere somente
á “disciplina do professor” sem explicitar se é uma matéria que o aluno tenha
preferência ou não.
Analisando a afirmação 4, temos um cenário conflitante, pois 30,5% dos alunos,
ou seja, 144 indivíduos não obedecem as ordens da escola, o que pode atrapalhar o
rendimento escolar dos outros alunos. O pesquisador Martuccelli (2001) aponta que os
alunos reivindicam um tratamento de igualdade entre alunos e professores, ou seja, uma
relação não hierárquica, como se a relação com adultos devessem ser a mesma com o
colega de classe.
Na afirmação 5, temos um percentual de 23,5% dos alunos que acreditam que
gozações e insultos não fazem mal a ninguém, o que é similar ao dado da questão 3
(12,8%), temos uma diferença de 10,7%. Porém, não se deve esquecer que a
porcentagem de alunos que Pouco se envolvem neste tipo de agressão é 33,8%, ou seja,
por mais que não seja frequente, ainda há participação dos mesmos em grande número.
A afirmação 6, que diz respeito ao revide de agressões corrobora em seus
resultados com o valor encontrado na questão 4, com percentuais de 43,2% e 47,4%
respectivamente. E finalmente na afirmação 7, é possível perceber que a maioria dos
alunos acredita que a escola seria melhor se todos fossem respeitados (87,5%), mas isso
não será possível ainda com alunos que não se esforçam para respeitar os demais
(afirmação 1, com 25,2%).
Questão 6 - Assinalar a coluna que mais se identifica com sua forma de pensar:
Questionário comportamental B – Para professores.
Por meio da análise dos questionários, é possível observar que a maioria dos
alunos, na visão dos próprios professores, parecem se incomodar com a bagunça
realizada pelos outros alunos (48,8% - Bastante e Muito), o que está próximo ainda se
comparado à resposta dos próprios alunos (44,6% - Bastante e Muito), porém ainda há
um desencontro, é necessário pesquisar quais são os sinais interpretados pelos docentes,
que indicam o incômodo pela bagunça, se estão de fato corroborando para a resposta
dos educandos.
Questão 1 - Quando algum de seus alunos começa a atrapalhar a sua explicação, você
nota que os outros colegas se sentem incomodados?
Nunca Pouco Bastante Muito Total
17,60% 23,50% 29,40% 29,40% 99,9%
0,1%* Nulos
Em relação a interferência nas brigas, os professores afirmam que uma boa
parcela dos alunos não se envolvem (29,4%) que está de acordo com a resposta dos
mesmos, porém, se considerarmos a quantia daqueles que raramente se envolvem, o
percentual é muito maior do que aqueles que se envolvem que certa frequência: Pouco =
41,4% e Bastante = 29,4%. Logo, tornar-se visível a não participação e intervenção dos
alunos e número muito elevado (70,5% - Nunca e Pouco).
Questão 2 - Ao ver um estudante sendo agredido fisicamente, você percebe que os
outros alunos procuram algum adulto para terminar a briga?
Nunca Pouco Bastante Muito Total
29,40% 41,10% 29,40% 0% 99,9%
0,1%* Nulos
Na visão dos professores, metade dos alunos parecem se envolver nas
provocações contra outros colegas (50%), o que se torna muito maior se considerados
os casos mais frequentes (83,33% - Bastante e Muito) em relação aos que raramente se
envolvem (17,6%). Se comparados com o questionário dos alunos, os resultados são
bastante divergentes, o que realmente estaria ocorrendo no ambiente escolar?
Segundo Silva e Salles (2010), os professores têm notado e relatado a crescente
violência, não somente em termos de quantidade, mas também em qualidade, sendo a
agressão verbal a mais praticada, seja nas relações aluno-aluno como aluno-professor,
sendo o desrespeito, o constante nas situações; ainda aponta que tais atos encontram-se
tão banalizados, que tendem a tornar-se despercebidos, o que é muito preocupante.
Ainda no trabalho de Souza e Castro (2008), as pesquisadoras apontam que os
professores consideram como principal manifestação de violência, as agressões físicas e
verbais, sendo esta última a mais apontada na Primeira Etapa desta pesquisa, dessa
forma, a visão docente parece mais acurada.
Questão 3 - Quando algum aluno recebe apelidos ou gozações de outro, você percebe
que os outros colegas acham engraçado e começam a provoca-lo também?
Nunca Pouco Bastante Muito Total
0% 17,60% 50,0% 33,33% 99,9%
0,1%* Nulos
Na questão 4, ambas as respostas dos professores e discentes, corroboram o fato
de revide dos alunos á alguma agressão sofrida, que segundo os docentes, ocorre com
uma grande maioria dos indivíduos (78,7%).
Questão 4 - Quando algum aluno sofre um tipo de agressão (física, verbal, emocional,
racista ou sexual),você percebe que ele revida?
Nunca Pouco Bastante Muito Total
0% 23,50% 61,10% 17,60% 99,9%
0,1%* Nulos
Os professores também afirmam que há pouca dedicação dos alunos em suas
disciplinas (70,5%), o que é ainda mais se unido á aqueles que realmente não se
importam (76,2% - Nunca e Pouco). Comparando ambos os questionários, também
existe uma divergência, este caso, talvez haja o temor dos alunos em responderem
aquilo que realmente sentem ou praticam, pois nesta situação, 360 alunos parecem não
se esforçarem nas disciplinas.
O pesquisador Buratto (1998) afirma que o interesse e empenho pela disciplina
dependem do respeito pelo professor, e que os alunos tornam-se mais dedicados e
comprometidos com os deveres escolares quando percebem que o docente preocupa-se
com o bem estar deles, e permite que façam parte no processo de tomada de decisões,
assim como o respeito ás suas ideias.
Questão 5 – Você percebe dedicação dos alunos em relação a sua disciplina?
Nunca Pouco Bastante Muito Total
5,80% 70,50% 11,70% 11,70% 99,9%
0,1%* Nulos
Observando as afirmações 1 e 2, é possível perceber que os professores não
consideram que haja respeito mútuo entre os alunos (84,2% e 57,8% respectivamente
discordam das afirmações de respeito entre alunos), mesmo havendo diferença entre
eles, o que está em divergência do que foi respondido pelos próprios discentes.
Silva e Salles (2010) argumentam que o ambiente escolar é permeado pela
presença constante de desrespeito ao próximo, o que pode ser visto na resposta dos
alunos no questionário A, havendo a presença de 25% de alunos que discordam com o
respeito aos outros.
Os professores também discordam do fato dos alunos estarem em silêncio em
suas explicações (68,4%) como descrito na afirmação 3, o que corrobora com a questão
5 (76,2%) , porém novamente está em desacordo com o respondido pelos alunos.
Para o pesquisador Dubet (2003), os alunos possuem grande necessidade em
mostrar aos outros alunos, um descompromisso com os afazeres da escola e suas
obrigações acadêmicas, para serem reconhecidos como desafiadores da autoridade.
Felizmente, na afirmação 4, é possível observar que mais da metade dos
professores são respeitados pelos alunos (68,4%), porém ainda existe uma parcela dos
docentes (31,6%) que sofrem com o desrespeito e desobediência, o que está de acordo
com o respondido no questionário A, em um percentual de 30,5%.
O pesquisador Sposito (2001) afirma que as relações conflituosas entre aluno-
professor tem gerado medo nesta ultima parcela, fazendo que haja o uso de segurança
policial, afetando as interações educativas e o clima escolar.
E na afirmação 5, a maioria dos professores (57,8%) concordam que há um
revide dos alunos ás agressões, corroborando com tanto questionário A quanto a questão
4 do questionário B.
Questão 6 - Assinalar a coluna que mais se identifica com a forma de agir de seus
alunos.
Na pesquisa de Silva e Salles (2010) e Buratto (1998), os autores afirmam que a
diminuição da violência escolar está relacionada á uma postura firme e á um trabalho
didático de empenho pelos docentes, pelo compromisso dos mesmos com o seu
exercício e á um tratamento igualitário com todos os alunos, independente de seus
rendimentos. Os interesses dos alunos também têm um grande peso, pois será de suas
perspectivas acadêmicas em desenvolver-se, que as violências no âmbito escolar serão
atenuadas.
Souza e Castro (2008) ainda afirmam que o papel da direção e dos professores é
fundamental para que haja essa mudança de paradigma, uma vez que além de
educadores, muitas vezes realizam o papel de psicólogos.
Considerações Finais
Por meio das análises realizadas nessa pesquisa, pode-se concluir que a
instituição em estudo é afetada pelo fenômeno Bullying, sendo necessárias intervenções
mais drásticas para sua atenuação. As medidas devem ser enérgicas, pois é possível
observar por meio da aplicação dos outros questionários, que não há um respeito total
entre os alunos, mesmo em suas percepções e pelo relato dos docentes, são alunos que
não se dedicam aos estudos e tendem a revidar toda agressão sofrida em sua maioria.
Neste caso, aconselha-se o uso de estratégias que busquem melhorar a
autoestima dos mesmos e enfatizar valores, como o respeito e a dedicação. Portanto, os
objetivos do trabalho foram plenamente alcançados.
Referências Bibliográficas
ABRAPIA – Associação Brasileira de Multiprofissionais de Proteção à Criança e ao
Adolescente. Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Rio
de Janeiro, 2003.
Disponível em: <http://www.bullying.com.br/> Acesso em: 27 out. 2011.
ANTUNES, D. C.; ZUIN, A. Á. S. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie
á educação. Psicol. Soc. [online], vol. 20, n.1, PP. 33-41.ISSN 0102-7182, 2008.
BANDEIRA, C. M. ; Hutz, C. S. . Bullying: prevalência, implicações e diferenças entre
os gêneros. Psicologia Escolar e Educacional (Impresso), v. 16, p. 35-44, 2012.
BULLOCK, J. Bullying among children. Childhood Education, 78(3), 130-133, 2002.
BURATTO, Ana Luíza Oliva. A direção do olhar do adolescente: focalizando
a escola. Porto Alegre: Artes, 1998
COLOVINI, Cristian E.; COSTA, M. R. N. da. O Fenômeno Bullying na percepção dos
professores. In: SEMINÁRIO INTERMUNICIPAL DE PESQUISA, 10.; MOSTRA DE
ATIVIDADES EXTENSIONISTAS E PROJETOS SOCIAIS, 5.; SALÃO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TRABALHOS ACADÊMICOS, 8., Guaíba, Anais...
Guaíba: ULBRA Guaíba, 2007.
DE MOURA, D. R., CRUZ, A. C., QUEVEDO, L. A. Prevalence and characteristics of
school age bullying victims. J Pediatr (Rio J).2011; 87(1); 19-23, 2010.
DUBET, F. A escola e a exclusão. Cadernos de Pesquisa, n.119, p. 29-45, 2003.
ISERNHAGEN, J., HARRIS, S. A comparison of bullying in four rural middle and
highschools. The Rural Educator, 25(3), 5-13, 2004.
LIMA, C., T. Bullying e seus efeitos no ambiente escolar, 2009.
LISBOA, C.; BRAGA, L. L. B.; EBERT, G. O fenômeno bullying ou vitimização entre
pares na atualidade: definições, formas de manifestação e possibilidades de intervenção.
Contextos Clínicos, vol. 2, n. 1, janeiro-junho, 2009.
LOPES, A. A., Neto. Bullying: Comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de
Pediatria, 81(5), 164-172, 2005.
MALTA, D. C. et al. Bullying in Brazilian schools: results from the National School-
based Health Survey (PeNSE). Ciênc. saúde coletiva [online], vol.15, suppl.2, pp. 3065-
3076. ISSN 1413-8123, 2010.
MARTINS, M. J. D. O problema da violência escolar: Uma clarificação e diferenciação
de vários conceitos relacionados. Revista Portuguesa de Educação, 18(1), 93-105,
2005.
MATOS, M. G. de e GONCALVES, PEDROSO, S. M. Bullying nas
Escolas:Comportamentos e Percepções. Psic., Saúde & Doenças, no.1, vol.10, p.3-15.
ISSN 1645-0086, 2009.
MARTUCCELLI, D.; BARRERE, A. A escola entre a agonia moral e a renovação
ética. Educação e Sociedade, Campinas, v. 22, n. 76, p. 258-277, 2001.
SILVA, J. M. A. P; SALLES, L. M. F. A violência na escola: abordagens teóricas e
propostas de intervenção. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Editora UFPR, n.
especial 2, p. 217-232, 2010.
SMITH, P. K., COWIE, H., OLAFSSON, R. F., LIEFOOGHE, A. P. D. Definitions of
bullying: A comparison of terms used, and age and gender differences, in a fourteen-
country international comparison. Child Development, 73(4), 1119-1133, 2002.
SOUZA, M. A., CASTRO, R. E. F. Agressividade infantil no meio escolar: Concepções
e atitudes do professor. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 4, p. 837-845, out./dez.
2008.
SPOSITO, M. P. Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar no Brasil.
Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n.1, p. 87-103, jan./jun. 2001.
WILLIS, P. Aprendendo a ser trabalhador: escola, resistência e reprodução. Porto
Alegre: Artmed, 1988.
ANEXOS
1 – Anexo 1
Questionário adaptado da ONG KIDSCAPE.
2 – Anexo 2
Questionário comportamental para alunos.
3 – Anexo 3
Questionário comportamental para professores.