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1.º ANO - I Semestre INTRODUÇÃO AO DIREITO I Unidade I A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL Instituto Superior Monitor Fevereiro 2010

Trab. Ordem juridica como fenomeno social

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1.º ANO - I Semestre

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Unidade I

A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

Instituto Superior Monitor Fevereiro 2010

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Copyright Este manual é propriedade do Instituto Superior Monitor (ISM), sendo que todos os direitos para o seu uso, por estudantes e docentes, lhe estão reservados. É proibido fazer cópias ou usar este material sem autorização prévia do ISM.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Índice

ACERCA DESTA UNIDADE I 3

ESTRUTURA DA UNIDADE I ....................................................................................... 3 RESULTADOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE I ............................................. 4

DURAÇÃO ....................................................................................................................... 5 TÉCNICAS DE ESTUDO ................................................................................................ 5 PRECISA DE AJUDA? .................................................................................................... 6 TRABALHOS .................................................................................................................. 6 AVALIAÇÕES ................................................................................................................. 6

UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL 8

CAPÍTULO I - A ORDEM SOCIAL ............................................................................... 8

OBJECTIVOS DO CAPITULO ............................................................................. 8

1. NATUREZA SOCIAL DO HOMEM. ORDEM SOCIAL VERSUS ORDEM NATURAL .............................................................................................................. 8 1.1 A PROBLEMÁTICA DA ORDEM SOCIAL .................................................. 9

1.2 A SOCIEDADE E OS INTERESSES ............................................................... 9

1.3 CONFLITOS DE INTERESSES .................................................................... 10

2. NECESSIDADE DAS REGRAS COMO SUB-SISTEMA ........................ 11 2.1 A SOLIDARIEDADE POR SEMELHANÇA ................................................ 12

2.2 A SOLIDARIEDADE ORGÂNICA ............................................................... 13

3. ORDENS NORMATIVAS DA SOCIEDADE ........................................... 13 4. CONCEITO DE DIREITO ............................................................................... 15

TRABALHO PRÁTICO ....................................................................................... 17

RESPOSTA AO TRABALHO PRÁTICO ........................................................... 18

SUGESTÕES PARA LEITURA........................................................................... 19

QUADRO SINÓPTICO ........................................................................................ 19

CAPÍTULO II - DIREITO POSITIVO, DIREITO VIGENTE E DIREITO NATURAL21

1. NOÇÃO E ESSÊNCIA DO DIREITO POSITIVO ..................................... 21 2. NOÇÃO E ESSÊNCIA DO DIREITO VIGENTE ...................................... 22 3. NOÇÃO E ESSÊNCIA DO DIREITO NATURAL .................................... 22 4. RELAÇÃO ENTRE O DIREITO POSITIVO, DIREITO VIGENTE E DIREITO NATURAL ........................................................................................... 22 5. NOÇÃO DE DIREITO ................................................................................ 24

TRABALHO PRÁTICO ....................................................................................... 24

RESPOSTA AO TRABALHO PRÁTICO ........................................................... 24

SUGESTÕES PARA LEITURA........................................................................... 25

CAPÍTULO III - DIREITO E REALIDADES AFINS .................................................. 25

OBJECTIVOS DO CAPÍTULO ........................................................................... 25

1. DIREITO E TÉCNICA ................................................................................ 26

2. DIREITO E JUSTIÇA ................................................................................. 27

3. DIREITO E ESTADO ................................................................................. 27

TRABALHO PRÁTICO ....................................................................................... 29

RESPOSTA AO TRABALHO PRÁTICO ........................................................... 29

QUADRO SINÓPTICO DO CAPÍTULO IV ....................................................... 30

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ii Índice

AVALIAÇÃO DE INTRODUÇÃO AO DIREITO ....................................................... 31

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

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ACERCA DESTA UNIDADE I

Bem-vindo (a) ao ISM e à disciplina de Introdução ao Direito I!

Esta unidade é uma introdução à disciplina, que faz parte de um conjunto de disciplinas do curso à distância no Instituto Superior Monitor (ISM).

O seu sucesso depende muito do modo como vai planificar e organizar as tarefas de estudo. À medida que vai experimentando esse sucesso, isso lhe trará satisfação, cada vez mais interesse, entre outros aspectos. Por isso, siga os conselhos que lhe são propostos para sair bem sucedido no curso!

ESTRUTURA DA UNIDADE I

As quatro (4) unidades curriculares de Introdução ao Direito l visam proporcionar uma formação em matérias básicas da Teoria do Direito, da Metodologia do Direito e da Filosofia do Direito. Na sua leccionação, teórica e prática, procura-se desenvolver e aperfeiçoar no estudante as faculdades de análise, de abstracção e de concretização que são próprias do raciocínio jurídico na resolução de casos com relevância jurídica.

O objectivo das unidades curriculares é prosseguido mediante o tratamento de temas que importam uma reflexão tanto sobre o ordenamento jurídico considerado na sua globalidade, como sobre as fontes das regras jurídicas e sobre os valores e a legitimação do direito.

Recomendamos que leia atentamente as generalidades desta unidade antes de iniciar os seus estudos.

GEBARALIDADE DO CURSO

Caro Estudante,

Para ter sucessos na disciplina de Introdução ao Direito I em geral, e nesta unidade, em particular, você precisa de estudar cuidadosamente o material apresentado, aproveitar os recursos auxiliares disponíveis e apresentar as suas dúvidas ao tutor.

RECURSOS Se você estiver interessado em aprender mais acerca desta matéria, nós providenciamos uma lista de recursos adicionais no fim desta

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unidade. Estes recursos incluem títulos bibliográficos e de artigos, websites da Internet e a biblioteca virtual do ISM.

SEUS COMENTÁRIOS Agradecíamos que após a conclusão desta unidade nos enviasse os seus comentários sobre os seguintes aspectos:

� Conteúdos e estrutura da unidade;

� Materiais de leitura e recursos da unidade;

� Trabalhos da unidade;

� Avaliações da unidade;

� Duração da unidade;

� Apoio ao estudante (tutores atribuídos, apoio técnico, etc.);

� Outros aspectos que achar pertinente.

Os seus comentários ajudar-nos-ão a melhorar e reforçar esta unidade.

RESULTADOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE I

Ao concluir esta unidade o Estudante será capaz de:

Resultados

� Aplicar o raciocínio lógico do direito e desenvolver a capacidade de observação de situações da vida real e tratá-los conforme a realidade moçambicana no contexto do direito actualmente em vigor.

� Utilizar uma perspectiva histórica, a génese e evolução da ciência jurídica.

� Demonstrar a compreensão do funcionamento dos institutos jurídicos.

� Explicar os conceitos fundamentais do direito.

� Analisar casos práticos que emergem das relações jurídicas.

� Argumentar questões ligadas ao direito de forma clara, lógica e precisa.

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DURAÇÃO

Duração da unidade:

28 Horas

Tempo para leitura da unidade: 10 horas

Tempo para trabalhos de pesquisa: 14 horas

Tempo para a realização de exercícios práticos: 2 horas

Tempo para a realização de avaliação: 2 horas

TÉCNICAS DE ESTUDO

Técnicas de Estudo

Por você ser um estudante universitário as suas técnicas de aprendizagem serão diferentes das que usava nos tempos da escola secundária e na presença de um professor.

Neste curso você terá uma grande autonomia, isto é, RESPONSABILIDADE. Acima de tudo, você fará uma gestão responsável do seu tempo.

Faça um programa de estudos realista e cumpra-o rigorosamente. Escolha horas e locais tranquilos para os seus estudos.

Faça uso dos demais recursos referenciados na unidade e mobilize a sua motivação profissional e/ou pessoal para adequar as suas actividades de estudo a outras responsabilidades profissionais, sociais e pessoais. Partilhe as suas aprendizagens com os outros.

Usufrua das várias formas de apoio disponíveis, mas fundamentalmente, você tomará controlo do seu ambiente de aprendizagem.

Recomendamos que consulte alguns sites da Internet, em inglês, com informações importantes sobre a melhor forma de estudar de maneira autónoma:

� http://www.how-to-study.com/

� http://www.ucc.vt.edu/stdysk/stdyhlp.html

� http://www.howtostudy.org/resources.php

Bons Estudos!

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PRECISA DE AJUDA?

Ajuda

Os materiais deste curso estão na página seguinte da Internet:

Www.monitor.co.mz

Você vai precisar de uma senha para poder ter acesso a estes materiais. No caso de ter problemas de acesso à página que tem materiais desta unidade, por favor contactar o Instituto Superior Monitor pelo e-mail [email protected].

No caso de dúvidas sobre o material desta unidade, por favor contactar o seu tutor através do e-mail [email protected]. Também poderá contactá-lo por telefone ou telemóvel cujos números são disponibilizados pelo Departamento de Apoio ao Estudante.

TRABALHOS

Trabalhos

Depois de estudar cada capítulo desta unidade o estudante deve resolver todos os exercícios de aplicação como forma de consolidação das matérias nela vertidas. Os exercícios de aplicação não seram submetidos ao Instituto Superior Monitor. O Instituto Superior Monitor fornece as soluções dos trabalhos de auto-avaliação para lhe ajudar nos estudos. Mas Atenção Caro Estudante, você deve resolver os exercícios de auto-avaliação antes de consultar as soluções fornecidas.

AVALIAÇÕES

Avaliações

Deve fazer uma avaliação nesta unidade. A avaliação encontra-se no final da unidade. A avaliação deve ser submetida ao Instituto Superior Monitor até ao 28 de Março de 2010.

Ppode submeter a avaliação por e-mail, fax, entregar directamente na instituição ou usando outros meios de comunicação.

O docente irá corrigir as avaliações e lhe atribuirá uma nota com base no seu desempenho. A média aritmética das avaliações de cada Unidade vai ditar a sua nota de frequência.

Depois, você terá que fazer um exame presencial para poder ter a avaliação final da disciplina. São admitidos ao exame presencial, os estudantes que tiverem uma nota de frequência igual ou superior a 10 valores.

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NÃO HÁ DISPENSAS. Para poder concluir a disciplina, os estudantes devem ter uma média final igual ou superior a 10 valores e com uma classificação igual ou superior a 10 valores no exame presencial.

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UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

CAPÍTULO I - A ORDEM SOCIAL

OBJECTIVOS DO CAPITULO

Finda esta unidade o aluno será capaz de:

1. Estabelecer a diferença entre a ordem social e a ordem natural;

2. Explicar a origem, formação e necessidade do Direito; 3. Elencar as ordens normativas da sociedade; 4. Definir o conceito de Direito; e

1. NATUREZA SOCIAL DO HOMEM. ORDEM SOCIAL VERSUS ORDEM NATURAL

Toda a sociedade humana pode ser encarada como um fenómeno inerente ao sentido gregário da espécie humana. Esta tendência estende-se para além da própria organização clássica de carácter estadual. O mundo tem conhecido desde a sua existência como tal, diversas formas de organização societária, tais como: a família, a tribo, a cidade, a nação, que, sem representar vontade específica dos indíviduos em sí, testemunham sempre alguma escolha como se esta fosse o desenrolar da "ordem natural das coisas". Nos dias de hoje, assiste-se, no caso moçambicano, à emergência das associações dos naturais de determinadas áreas, reforçando as que já existem, tais como: clubes, cooperativas, sindicatos, dentre outras.

Ora, cada ordem social particularmente examinada tem origem ou alicerces em factores que vão além da "ordem natural das coisas". A ordem social incorpora hábitos, regras, práticas, usos incluindo mesmo instituições nas quias se desenrola o agir determinístico que foge ao controlo dos indivíduos.

A ordem social é diversa da "ordem natural das coisas". A ordem social foge às leis da natureza, escapa ao plano determinístico, escapa à lõgica inexorãvel do mundo natural das coisas. A ordem social é condicionada pela racionalidade humana, pela liberdade dos indivíduos, é condicionada ou limitada pelo interesse da convivência. Quando um indivíduo pauta por uma conduta que

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foge ao padrão, esse indivíduo sofre o desprezo que a sociedade lhe reserva.

A "ordem natural das coisas" comportando-se de modo diverso segue as leis da natureza. As leis da natureza não dependem dos Homens, pois os fenómenos naturais ocorrem mesmo contra a vontade destes. Não depende de nenhum Homem em especial que o resultado da junção dos cromossomas masculino e femenino de XY ou XX resulte em homem ou mulher no novo ser a nascer da mesma forma como não depende da vontade de qualquer homem que a hipotenusa seja igual à soma dos quadrados dos catetos, sendo que nesta ordem imperam as leis da natureza.

Portanto, a ordem natural sendo dominada pela "arrumação natural das coisas", dominada pelas leis da natureza é diversa da ordem social que mesmo não dependendo da vontade particular de cada Homem, respeita a vivência social para uma sã harmonia por ser o homem, um ser social.

O carácter gregário do Homem impõe-o regramento, pois quem diz "sociedade humana" diz "vida de convivência". E quem diz "convivência" diz "regras", pois não podem as pessoas viver em comum sem que exista, ao menos, um elenco mínimo de princípios por que se pautem os seus recíprocos modos de agir. Na verdade, só a existência de regras de conduta social permite tornar previsíveis as condutas alheias e a elas adequar, portanto as condutas próprias. É esta previsibilidade que proporciona aos indivíduos a necessária segurança e faz possível, por via dela, a colaboração interindividual necessária ao conseguimento dos fins sociais.

1.1 A PROBLEMÁTICA DA ORDEM SOCIAL A sociedade humana é uma individualidade agrupada em comunidade e porque a mesma não pode subsistir sem princípios que disciplinem esse modus vivendi, surge o direito visto como um corpo de regras que visam disciplinar as relações que se estabelecem entre os homens no cômputo da vida em sociedade.

Como se sabe a vida em sociedade é feita de uma série de conflitos e sendo natureza do homem viver em grupos dai, que exista a necessidade de se criar um corpo de regras que disciplinem essa convivência.

1.2 A SOCIEDADE E OS INTERESSES A tendência natural do Homem para se associar ao seu semelhante decorre do facto deste ser corpo e alma, sendo, simultaneamente, matéria e espírito tendo, por consequência necessiadades materiais (físicas) e espirituais: o homem tem de alimentar-se, tem de vestir-

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se, tem de defender-se do próprio meio onde vive (necessidades físicas); e quer conhecer, cultivar-se, formar-se, aperfeiçoar-se, distrair-se, etc. (necessidades espirituais).

Desde sempre, porém o Homem se revelou incapaz de, por sí só, conseguir a realização integral do seu quadro de necessidades. Ora, se assim é, facilmente se vê como os interesses humanos acima elencados vêm a constituir o principal substrato de toda a vida social, e em particular de toda a vida jurídica.

A ideia de interesse assenta sobre duas noções muito elementares: a de necessidade e a de bem. A necessidade se traduz em uma situação de carência ou de desiquilíbrio, biológico ou psíquico. O Homem que a experimenta tende a agir de maneira que desapareça a carência ou se restabeleça oi equilíbrio perdido. Ora, os meios de que para este efeito se serve são os bens. Num sentido amplo poderemos definir o termo bem como todo e qualquer meio de satisfação de necessidades humanas. Ora, ao Direito somente importam os bens respeitantes a necessidades cuja satisfação origina relações socias reguladas pelo direito – os chamados bens jurídicos. Vale ressaltar que designamos por utilidade a aptidão que os bens têm para a satisfação das necessidades humanas.

Existem, portanto, dois pares de realidades contrapostas: por um lado temos o Homem com as suas necessidades e, por outro, os bens com a sua utilidade. O interesse é o elemento de sintese que interliga essas duas realidades e pode ser definido como sendo a relação existente entre alguém que experimenta uma necessidade – o sujeito do interesse – e um bem que é apto a satisfazê-la – objecto do interesse.

Atendendo à pluralidade bem como à forma de coexistência dos interesses teremos que estes podem gerar relações de interdependência e de incompatibilidade sendo, conforme os casos, ou solidários ou conflituantes. São tidos como interesses solidários aqueles que não podem ser realizados sem que o sejam também os outros, no mesmo momento ou em momento anterior. São interesses conflituantes os que em sua realização não são compaginável com a daquele outro que se lhe opõe.

Passemos de seguida a analisar as figuras de conflito e de solidadariedade de interesses.

1.3 CONFLITOS DE INTERESSES A interdependência dos homens e seus interesses é o pilar no qual se edifica a sociedade sendo a força que os mantêm coesos, mas não raras vezes os interesses desses mesmos homens tendem a conflituar e actuando assim como uma força centrífuga.

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São duas as causas destes conflitos, a primeira é de ordem quantitativa na medida em os bens são raros para a satisfação das inúmeras necessidades dos homens e sendo que a segunda antecede a primeira e é de ordem qualitativa que deriva do facto de não ser possível encontrar certos bens que satisfaçam as necessidades no sentido de qualidade.

2. NECESSIDADE DAS REGRAS COMO SUB-SISTEMA

Como anteriormente se referiu a convivência entre os homens nunca foi fácil e nunca será, prefraseando Hobbes “o ser humano é um ser egoísta por excelência e busca sempre atingir os seus objectivos nem que para isso tenha que passar umas por cima das outras pessoas”, dai orbita a necessidade de criação de mecanismos que sancionem certos comportamentos tidos como violadores dos mais elementares direitos dos cidadãos.

Os Valores Fundamentais do Direito visam regular relações da vida social, compondo interesses conflituantes.

Mas a ponderação desses interesses, têm o seu tratamento pelo direito, através de situações jurídicas obedecendo a certos valores que se compadecem com os fins do Estado e variando em função de opções essências da colectividade, sendo certo que estas sejam relativamente mais estáveis e encontrando-se dispostas na Constituição, dai resultam as seguintes tipologias de justiça, que abaixo se enunciam.

Justiça Distributiva

Nesta os bens económicos, sociais e naturais não pode ser distribuídos pelos cidadãos, classes e regiões de forma assimétrica pelo facto, de tal violentar a idêntica natureza do ser humano ou melhor dizendo a dignidade da pessoa humana ou dito de outro modo infringir princípios que se encontram constitucionalmente consagrados, tais como o princípio da universalidade e igualdade que se acha vertido no art. 35.º da CRM.

Justiça Comutativa

Implica que não hajam situações de dependência ou desigualdade inaceitáveis em relação as pessoas (é o exemplo da celebração de um contrato).1

1 Nos contratos de compra e venda que haja de ser celebrados as partes devem durante todo o contrato agir em condições de igualdade e proporcionalidade ou

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Justiça Geral ou Legal

Aquela que nos é imposta pelo Estado como efectivo garante da legalidade e visa alcançar os fins do direito tal como a justiça, certeza jurídica e a segurança do direito.

Certeza Jurídica

As normas de Direito Natural não podem ser aplicadas, pois nem todas elas têm dimensão global e indeterminada, e sendo por isso incertas, tal já não se verifica em relação as normas do Direito Positivo que são aplicadas em determinadas circunstâncias ou seja cada conduta em si consubstancia certa infracção e tem o seu tratamento em direito afastando-se assim situações que possam ser consideradas desiguais dando assim ao direito uma certa certeza jurídica.

Segurança do Direito

As revoluções maioritariamente invocam a primazia do Direito Positivo sobre o Direito Natural e é nessa esteira que o direito positivo é emanado de um órgão cuja competência é legislar e dai que este seja mais equitativamente justo e assente nos ideais de justiça e igualdade e por isso mais equitativa, justa e oferece grande segurança ao tráfico jurídico.

2.1 A SOLIDARIEDADE POR SEMELHANÇA Independentemente posição que se tenha com relação à natureza das sociedades, é um dado adquirido que todas elas carecem de uma organização capaz de assegurar a realização dos seus fins próprios posto que o que conduz ao agrupamento de indivíduos, desde a era primitiva até aos nossos tempos, é o intuito de ordenada e permanentemente realizar interesses da mesma espécie – os interesses colectivos, por exemplo: a necessidade de defesa, transportes, distribuição de água, etc.

seja em obediência ao princípio da pontualidade que se acha vertido no art. 406.º sob pena de incorrer na sanção postulada no art. 227.º do CC.

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2.2 A SOLIDARIEDADE ORGÂNICA A par dos interesses colectivos existem os interesses conexos que se encontram entre si vinculados numa relação de complementaridade. Há conexão de interesses quando estes embora respeitem a necessidades diferentes, se encontram de tal modo relacionados entre si que a realização de uns depende da realização dos outros.

A solidariedade por divisão do trabalho é a figura mais significativa quando falamos em solidariedade orgânica, pois ela traduz-se no plano dos indivíduos, singular ou colectivamente considerados, em uma conexão recíproca de interesses: cada pessoa ou grupo só pode receber dos outros os bens e serviços que precisa, se, por seu turno, lhes conceder as utilidades (de indole profissional, neste caso) que lhe corresponde prestar.

Tomemos como exemplo um contrato de empreitada. O proprietário da empresa de construção só verá satisfeito o seu interesse monetário caso os seus trabalhadores tenham, também satisfeitos os seus interesses à recepção do ordenado.

3. ORDENS NORMATIVAS DA SOCIEDADE É consequência da vida em sociedade urge a necessidade do aparecimento de regras que disciplinam as condutas humanas. Essas regras que delimitam a esfera de acção de cada um, atribuindo-lhe o lugar que há-de ocupar, em cada momento, relativamente aos mais membros do grupo, restringindo a liberdade individual em ordem a assegurar a liberdade de todos, são as normas de conduta social também denominadas ordens normativas das quais interessa-nos destacar:

� Ordem religiosa – a que abrange qualquer que seja a religião e é caracterizada pelas relações entre o Homem e a Divindade, relações e modo de vida que o Homem deve ter perante a Deus. Ex: é uma norma religiosa é aquela que estabelece para os católicos a obrigação de assistir à missa.

É considerado como algo que transcendente pelo facto de incidir sobre as relações que se estabelecem, com Deus, caracteriza-se por ser uma relação, intra-individual com uma zona vasta onde se ordenada pessoa a Deus.

Esta tem a função de regular as condutas humanas em relação a Deus.

Tem tendência social e destina-se a preparar ou a tornar possível a ordem definitiva que já não é deste mundo ou seja preparar o indivíduo para a vida após a morte.

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O não cumprimento das normas de ordem religiosa leva a punições extra-terrenas, tal é o caso de ir ao inferno ou não conhecer o paraíso.

� Ordem moral – a que abrange toda a conduta dirigida à realização e prossecução do bem, por via de um conjunto de imperativos impostos aos indivíduos pela sua própria consciência ética. Ex: é uma norma moral a que manda dar esmola aos pobres. Tem o seu espectro na questão de aperfeiçoamento da pessoa, conduzindo-a para o bem, sendo intra-individual não se dirigindo a uma organização social.

Esta incide sobre o indivíduo como um corpo de regras de condutas próprias para se viver em sociedade. Sendo por isso que as regras morais são impostas ao homem pela sua própria consciência, de tal modo que o seu incumprimento é sancionado pela reprovação emanada da sua consciência, e sucede sempre que nos arrependemos de algo.

As regras da moral diferenciam-se das regras do direito, pelo critério da coercibilidade, isto é, as primeiras nunca são susceptíveis de aplicação coerciva, enquanto as do Direito normalmente o são, a despeito de existirem normas morais que coincidem com as do direito tais como, “não matar ou não furtar.....”

� Ordem de trato social ou de cortesia – a que abarca situações de mera convivência entre os Homens. São igualmente chamadas normas de boas maneiras. Ex: as que aconselham os homens a serem especialmente diferentes com as senhoras. Visa educar a sociedade, em termos e regras de cortesia ou civilidade com o intuito de tornar a convivência em sociedade mais agradável e fluida, não sendo, de todo uma ordem necessária na medida em que não visa, a conservação da sociedade, tal que esta pode passar sem ela, não impondo a violação da mesma sanção judicial mas de carácter social.

Um exemplo deste tipo de conduta de são as regras de etiqueta, boas maneiras e as regras de cortesia

� Ordem jurídica – a que é centrada na organização das estruturas básicas da sociedade, prossegundo assim a segurança e a justiça na vida em sociedade. É a ordem jurídica a que chamamos de Direito. A ordem jurídica é

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constituída pelo conjunto de normas jurídicas que regulam a vida do homem em sociedade.

Sendo que esta normas resultam de uma autoridade com competência legislativa.

Esta ordena os aspectos mais importantes da convivência social, exprimindo-se por meio de regras jurídicas, valores estes cuja prossecução visa a segurança e justiça social.

4. CONCEITO DE DIREITO Todos nós temos uma vaga ideia do que seja o Direito. Normalmente ligamos o Direito à lei. Ligamos Direito à conduta correcta. Temos estado, por exemplo, a ouvir discursos que apontam para o Estado de Direito. Mas nenhum principiante do estudo do Direito tem a ideia certa do que seja com propriedade.

Quando ocorre um crime em que A mata B, em qualquer ponto do país, clama-se pela justiça. Quando dois vizinhos entram em conflito e partem às vias de facto, o caso é levado à esquadra da polícia, onde se fala de Direito. A, pede emprestado a quantia de MZN 10.000,00 a B para pagar no final do mês corrente. Se ao final do mês A não pagar a B, o Direito deve ser chamado a intervir. Se um Estado A, entrar em guerra com o Estado B, por causa de recursos de subsolo ou porque passaram vasos ou fragatas de guerra do Estado A, das águas territoriais do Estado B, fala-se também do Direito em causa.

O artigo 349 do Código Penal, proíbe o crime de homicídio, isto é, impõe o dever de abstenção ou de omissão de matar. Fá-lo por ser absolutamente necessário à coexistência pacífica da sociedade, para que haja ordem, segurança e tranquilidade entre os cidadãos. Supondo que a proibição não seja respeitada, intervirá a força pública, que lançará mão ao homicída para puní-lo. Entrarão em causa tanto a Polícia, a Procuradoria bem como os Tribunais, na busca da verdade material sendo, posteriormente, produzida a prova, culminando com a punição pela via da condenação do criminoso.

Pelo exposto podemos inferir que todos temos uma ideia do que seja, grosso modo, o Direito. Examinaremos, de seguida, definições de dois conceituados tratadistas da matéria.

O Professor CASTRO MENDES define o Direito como sendo um "sistema de consuta social, assistido de protecção coactiva". Da definição aqui apresentada há três elementos fundamentais a reter, designadamente:

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1. Sistema 2. Norma 3. Protecção coativa

Ao falarmos de sistema é fundamental entender as normas jurídicas como um conjunto complexo, harmónico, correlacionado, coerente e hierarquizado. A norma compreende o que chamamos de preceito. A protecção coactiva significa que o Direito pode ser imposto, com recurso à força pública, sempre que a exigência da situação concreta se imponha nesse sentido.

Como se pode ver, o Direito será constituido por regras de conduta social, por preceitos que ordenam e regulam a convivência dos Homens em sociedade, mediante a imposição de acções e omissões, com vista à prossecução da paz, da justiça e do bem comum.

A definição avançada pelo Professor Castro Mendes é, no entanto, criticavél pois pretende que o elemento protecção coactiva faça parte da noção do Direito quando, na verdade, tal recurso à coacção é virtual e não sempre presente.

Ensina o Professor GALVÃO TELLES que o Direito é um

"Conjunto de regras jurídicas de conduta social, estabelecidas em vista da paz, da justiça e do bem comum, quando necessária e possível".

É, assim, manifesta a evolução desta definição que é finalística, incorporando também três elementos a saber:

1. Conjunto; 2. Regras jurídicas 3. Possibilidade de coacção.

Já não temos aqui, neste conceito, uma construçáo que faça perceber o elemento coacção como sendo definidor do Direito.

Os estudantes podem optar por quaisquer definições dos diversos tratadistas da matéria, desde que saibam fundamentar as posições que tomam.

Há, sim, diferentes acepções, usos ou empregos do vocábulo "direito". O termo Direito é sobretudo usado num sentido objectivo

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e num sentido subjectivo, os quais são como o reverso e o anverso de uma mesma medalha.

Quando dizemos que "o Direito Civil moçambicano é actualmente inspirado no Direito Civil Português" referimo-nos ao conjunto de comandos, regras e normas, ao ordenamento jurídico-civil nacional no seu conjunto, comparando-o com o da República Portuguesa. Trata-se aqui de um sentido objectivo.

Quando, por outro lado, afirmamos que possuímos o direito de propriedade2 sobre a nossa casa (a qual comprámos regularmente e mantemos desonerada) aludimos a um poder sobre ela que nos é especialmente conferido, com exclusão dos demais pretendentes a tal bem, o qual contém várias "faculdades" e "poderes" – desde logo a posiibilidade de fruição, de alienação, e arrendamento a terceiros, bem como a oneração, por exemplo, por hipoteca. Este é, em, suma, um sentido subjectivo.

A tónica recai mais na possibilidade de acção de um sujeito, no poder ou na faculdade que ele tem, no caso do direito subjectivo (direito em sentido subjectivo); versa especialmente sobre a norma ou conjunto de normas quando se está perante o direito objectivo (direito em sentido objectivo). Esta distinção é patente no direito anglo-saxónico, correspondendo mesmo a uma diferenciação terminológica: right é o poder ou faculdade conferidos pelo Direito (My rights - "os meus direitos") e law é o próprio Direito, o sistema normativo (I study Law " – estudo Direito"; ou Criminal law – Direito Criminal; ou ainda that´s law! – É o Direito! ou: é a lei").

Os direitos subjectivos constituem-se, assim, como a aplicação aos casos concretos e às situações subjectivas dos preceitos normativos (que são direito objectivo). Assim (retomando o exemplo dado), é mercê de normas de Direito de propriedade (Direitos reais ou das coisas, como veremos), constantes sobretudo do Código Civil, que se põde constituir o meu direito subjectivo à propriedade de minha casa. Ora, essas disposições legais são, evidentemente, direito objecto

TRABALHO PRÁTICO Desenvolva o tema: "Origem, formação e necessidade do direito".

2 Estabelece o artigo 1305 do Código Civil: que "O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruicção e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites dalei e com observância das restrições por ela impostas".

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RESPOSTA AO TRABALHO PRÁTICO Está sobejamente afirmado que o Homem é um ser social: a História e a própria experiência que cada um tem na vida atestam-no eloquentemente.

Esta tendência para o Homem se associar ao seu semelhante na medida em que se trata de uma tendência natural, há-de explicar-se, em grande parte ao menos, através da própria natureza humana.

O homem é corpo e alma, é simultâneamente, matéria e espírito e, por isso mesmo, as suas necessidades são materiais (físicas) e espirituais: o homem tem de alimentar-se, tem de vestir-se, tem de defender-se do próprio meio onde vive (necessidades físicas); e quer conhecer, cultivar-se, formar-se, aperfeiçoar-se, distrair-se, etc. (necessidades espirituais).

Desde sempre, porém, o homem se revelou incapaz de, por si só, conseguir a realização integral do seu quadro de necessidades. É na associação com outro homens, através da chamada "vida social" que ele busca conseguir, e tem conseguido, a adequada satisfação das suas necessidades. A família, a tribo, a cidade, a nação, são outros tantos exemplos de sociedade.

E essa "vida social" estabelece entre os homens estreitos vínculos de solidariedade:

- Solidariedade por semelhança, quando os homens se unem e cooperam para a satisfação de necessidades comuns a todos eles;

- Solidariedade orgânica, quando em ordem a um melhor aproveitamento das aptidões individuais a divisão do trabalho coloca o homem em dependência mais estrita do seu semelhante.

No fundo, a vida do homem em sociedade é, também, em si mesma, uma necessidade, ainda quando seja apenas o único ou melhor instrumento de realizar outras necessidades. As múltiplas instituições criadas pelo homem para vencer os reptos que se lhe lançam e ultrapassar as suas limitações estritamente biológicas são um bom exemplo da sociabilidade e gregarismos humanos.

Não pode existir, e muito menos subsistir, uma sociedade (qualquer que ela seja) sem organização, sem regras que disciplinem a actividade dos seus membros. É que na vida social não há apenas relações de solidariedade, de comunhão de interesses, harmonia entre os homens. As necessidades humanas – que são em número ilimitado e crescente, pressupõe a existência de bens que as satisfaçam e estes, ao contrário daquelas, não existem ilimitadamente. Bastará, portanto, que dois homens, no caso de interesses individualmente considerados, ou dois grupos de homens, no caso de interesses colectivamente considerados, tenham interesse pelo mesmo bem para que entre eles surja um conflito de interesses individual ou colectivo, respectivamente.

Page 23: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

19

Pois bem, o Direito existe para solucionar esses conflitos, indicando o interesse que deve prevalecer e o modo de o tutelar, ou seja, definindo e impondo regras de conduta. O Direito (direito objectivo, conjunto ou sistema de regras em concreto encontradas para solucionar os conflitos efectivos de uma dada sociedade em especial) tem origem na preocupação humana em atribiur a cada um o que é seu.

SUGESTÕES PARA LEITURA:

Monografias de leitura obrigatória:

1. ASCENÇÃO, José de Oliveira (2005). O Direito / Introdução e Teoria Geral. Livraria Almedina. Coimbra.

2. MARQUES, José Dias Marques (1994). Introdução ao Estudo do Direito - 2ª Edição. Editora Danúbio, Lda. Lisboa.

Monografias de leitura complementar:

1. MACHADO, João Baptista (2002). Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. Livraria Almedina. Coimbra.

2. SOUSA, Marcelo Rebelo / GALVÃO, Sofia (2000). Introdução ao Estudo do Direito. Lex. Lisboa.

3. TELLES, Inocêncio Galvão (2001). Introdução ao Estudo do Direito I. Coimbra Editora. Coimbra.

QUADRO SINÓPTICO

A ORDEM SOCIAL

NATUREZA SOCIAL DO HOMEM ORDEM SOCIAL VERSUS

ORDEM NATURAL

ordem natural das coisas":

orientada pelas leis da

natureza;

Ordem social: é condicionada pela racionalidade humana, pela liberdade dos indivíduos, é condicionada ou limitada pelo interesse da convivência;

Page 24: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

20 UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

Toda a sociedade humana pode ser encarada como um fenómeno inerente ao sentido gregário da espécie humana

Os interesses humanos vêm a constituir o principal substrato de toda a vida social.

O interesse: a relação existente entre

alguém que experimenta uma necessidade

– o sujeito do interesse – e um bem que é

apto a satisfazê-la – objecto do interesse.

Solidariedade

Por semelhança: quando os homens se unem e cooperam para a satisfação de necessidades comuns a todos eles.

Orgânica: quando em ordem a um melhor aproveitamento das aptidões individuais a divisão do trabalho coloca o homem em dependência mais estrita do seu semelhante.

ORDENS NORMATIVAS

DA SOCIEDADE

Ordem religiosa – a que abrange qualquer que seja a religião e é caracterizada pelas relações entre o Homem e a Divindade, relações e modo de vida que o Homem deve ter perante a Deus. Ordem moral – a que abrange toda a conduta dirigida à realização e prossecução do bem, por via de um conjunto de imperativos impostos aos indivíduos pela sua própria consciência ética. Ordem de trato social ou de cortesia ou normas de boas maneiras – a que abarca situações de mera convivência entre os Homens.

Ordem jurídica – a que é centrada na organização das

estruturas básicas da sociedade, prosseguindo assim a

segurança e a justiça na vida em sociedade. É a ordem

jurídica a que chamamos de Direito.

CONCEITO DE

DIREITO

"Conjunto de regras jurídicas de conduta social, estabelecidas em vista da paz, da justiça e do bem comum, quando necessária e possível".

Page 25: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

21

CAPÍTULO II - DIREITO POSITIVO, DIREITO VIGENTE E DIREITO NATURAL

OBJECTIVOS DO CAPÍTULO:

No final deste capítulo o estudante será capaz de:

1. Definir e diferenciar o Direito Positivo do Direito Vigente e do Direito Natural;

2. Analisar qualquer lei que se lhe apresente do ponto de vista da validade, vigência e justiça; e

3. Diferenciar o juspositivismo do jusnaturalismo.

O Direito positivo, o Direito vigente e o Direito natural são aspectos do conceito de direito objectivo que particularmente o elucidam.

1. NOÇÃO E ESSÊNCIA DO DIREITO POSITIVO O Direito positivo é também conhecido por jus in civitate positum, sendo aquele que vigora ou alguma vez foi posto em vigor numa comunidade, pelos órgãos criadores do direito. Consiste, portanto, no conjunto de regras que foram postas em vigor numa determinada colectividade, compreendendo não só as que efectivamente vigoram num momento considerado, mas também todas aquelas que por ventura tenham já atingido o termo da sua vigência, que tem ou tinham em vista, respectivamente, a harmonia e convivência social, tendo a autoridade pública a prerrogativa de impô-lo à força se necessário.

Deste modo, o conjunto de normas jurídicas vigentes no nosso país, plasmadas nos Códigos Civil, Penal, Comercial, Código de Processo Civil, Código da Estrada, Código de Imposto sobre o

Direito objectivo – conjunto de normas

Direito subjectivo – possibilidade de acção de um

sujeito, poder ou faculdade.

Page 26: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

22 UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

Rendimento, dentre outros códigos, bem como toda a legislação avulsa vigente ou que alguma vez tenha vigorado em Moçambique, forma o direito positivo.

2. NOÇÃO E ESSÊNCIA DO DIREITO VIGENTE Por direito vigente entende-se o conjunto de regras ou princípios que regem uma colectividade em dado momento da sua vida. Como se pode verificar o direito vigente é o direito positivo, na medida em que foi posto a vigorar, mas tem uma dimensão mais restrita, visto compreender apenas o conjunto de regras que em momento determinado se encontram em vigor.

3. NOÇÃO E ESSÊNCIA DO DIREITO NATURAL O direito natural é o conjunto de princípios normativos universais e imutáveis que, dimanando da própria natureza do homem, regulam as suas condutas em ordem à realização da justiça. Dito de outro modo, são normas impostas pela natureza humana, independentemente da vontade dos órgãos criadores do direito positivo, ao qual se impõe, unas no espaço e no tempo, tal como é una no espaço e no tempo a natureza humana

4. RELAÇÃO ENTRE O DIREITO POSITIVO, DIREITO VIGENTE E DIREITO NATURAL

O direito natural é entendido como o direito que deveria vigorar e consiste no conjunto de normas que deviam valer como direito, quando analisado em sentido restrito. Porque se afigura como o núcleo em qualquer sociedade humana e tendo o seu âmago no respeito pela dignidade natural do homem ou seja, o seu cerne na necessidade dos homens viverem em harmonia entre eles.

Efectiva-se por meio de um corpo de regras que emergem de forma natural dessa convivência; estas estão despidas de pujança jurídica típica do direito positivo e que para que tal ocorra, devem ser eficazmente garantidas por órgão com competência para legislar. É neste aspecto que se distingue do direito positivo.

Entre estas duas ordens normativas, existe muitos pontos que as fazem convergir e não faltam pontos de afastamento ou diferença, que se traduzem relações de conflito.

O direito positivo e, por consequência, o direito vigente nascem da vontade humana, que de alguma forma procura criá-lo o mais perfeito possível, o que nem sempre é alcançado devido à fraqueza humana e à contingência das suas forças, fazendo com que o

Page 27: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

23

Homem acabe, sempre em obra imperfeita, senão precária. Vezes sem conta fica-se longe dos fins que se pretende tutelar, nomeadamente, os de justiça e paz ou harmonia social.

Contrariamente, o direito natural não é obra humana. As leis naturais são o reflexo imediato da justiça apesar de não constarem de qualquer código.

A problemática em torno destes três direitos pode, em termos gerais, equacionar-se do seguinte modo: para além do direito positivo, do direito vigente e das suas contingências, haverá um direito ideal, válido, independentemente do tempo e do espaço, um direito supra-positivo, justo para todos os povos e para todas as épocas, que ocupe uma posição de supremacia em relação aos vários direitos positivos?

Esse direito, cuja existência e origem têm sido largamente discutidas entre juristas desde as épocas mais recuadas, é o direito natural que é admitido por várias escolas, embora náo sempre em termos idênticos. O direito natural veio a ser globalmente rejeitado e negado pelo positivismo jurídico, escola que dominou o pensamento dos filósofos e juristas da segunda metade do século XIX. Com efeito, para os positivistas todo o direito provém da vontade humana.

Ulteriormente, passou a assistir-se a um ressurgimento do Dirito Natural, no plano teórico, muito embora a prática jurídica corrente seja sobretudo positivista.

O modo de encarar o Direito Natural tem evoluído tanto que hoje a distinção entre jusnaturalistas (defensores do Direito Natural) e juspositivistas (adeptos apenas do Direito Positivo) tende a tornar-se estéril. De facto, há jusnaturalistas que vêm o Direito natural como uma espécie de consciência jurídica geral, sociológica, a qual muda com o tempo e o lugar, e quando os juspositivistas admitem cláusulas gerais, conceitos indeterminados e o recurso à equidade ou a princípios gerais de Direito (como veremos) flexibilizam a lei, e nela permitem que entre um qualquer Direito ideal, isto é, um sentido regulador de Justiça.

O Direito Natural coloca-se, a cada passo, no caminho e à consideração do jurista e não obstante às críticas feitas às diversas escolas que do seu estudo se têm ocupado tem exercido considerável influência não só na ciência jurídica mas também sobre a legislação.

Pode acontecer que nos dias de hoje o Direito Natural entre em contradição com o Direito Positivo e o Direito Vigente. Nesses casos, o julgador ou o intérprete é chamado à racionalidade procurando a solução justa, conforme a paz social.

Page 28: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

24 UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

5. NOÇÃO DE DIREITO O direito é uma ordem normativa composta por normas jurídicas gerais e abstractas, obrigatórias assistidas de protecção coactiva, regulam a vida do homem nas suas relações sociais.

Castro Mendes o define como sendo um sistema de normas de conduta social, assistidas de protecção coactiva e visa regular a existência humana em sociedade e surge da necessidade de colmatar os conflitos de interesse que emergem das relações entre os homens.

Direito Objectivo

É o direito legalmente legislado, ou seja, o conjunto de normas jurídicas que regulam as condutas dos homens.

Direito Subjectivo

Consiste no poder ou faculdade conferidas pelo direito a uma pessoa de livremente exigir de outrem um comportamento positivo (facere), que se reporta a uma acção ou um comportamento negativo (non facere), consiste na omissão

Por exemplo:

O que se acha vertido no art.º 1305˚ CC, no que concerne ao direito de propriedade, postula o seguinte “ o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem...”

Tendo em atenção as definições supra concluiremos que a norma em análise constitui o direito objectivo, sendo que esta mesma norma tem ainda o condão de conceder ao proprietário de certo bem os direitos de uso, disposição e fruição das coisas que o pertencem, compondo-se assim os direitos subjectivos.

O direito subjectivo tem uma relação de dependência com o direito objectivo na medida em que só existirá se este o último o prever

TRABALHO PRÁTICO Analise a Lei que permitia a escravatura do ponto de vista do Direito Positivo, do Direito Vigente e do Direito Natural

RESPOSTA AO TRABALHO PRÁTICO Do ponto de vista de Direito Vigente vale ressalvar que essa norma já não se encontra em vigor posto que a escravatura já foi abolida. Do ponto de vista do Direito Positivo referir que essa era uma lei colocada em vigor por expressa vontade dos órgãos com

Page 29: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

25

competência legislativa pelo que enquanto vigorou essa lei era válida e eficaz. Ora, o problema maior coloca-se no campo do Direito Natural pois essa norma era claramente injusta pois representava uma agressão aos valores supremos pelos quais se devia pautar toda e qualquer sociedade, mormente o respeito pela pessoa do outro.

SUGESTÕES PARA LEITURA Monografias de leitura obrigatória:

1. ASCENÇÃO, José de Oliveira (2005). O Direito / Introdução e Teoria Geral. Livraria Almedina. Coimbra.

2. MARQUES, José Dias Marques (1994). Introdução ao Estudo do Direito - 2ª Edição. Editora Danúbio, Lda. Lisboa.

Monografias de leitura complementar:

1. MACHADO, João Baptista (2002). Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. Livraria Almedina. Coimbra.

2. SOUSA, Marcelo Rebelo / GALVÃO, Sofia (2000). Introdução ao Estudo do Direito. Lex. Lisboa.

3. TELLES, Inocêncio Galvão (2001). Introdução ao Estudo do Direito I. Coimbra Editora. Coimbra.

CAPÍTULO III - DIREITO E REALIDADES AFINS

OBJECTIVOS DO CAPÍTULO :

Findo este capítulo o estudante deverá ser capaz de:

1. Estabelecer a diferença entre o Direito e a Técnica; 2. Explicar quando é que questões técnicas levantam

problemas juridicos; 3. Explicar o porque de não se poder confundir o Direito e a

Justiça; e 4. Distrinçar o conceito de Direito do conceito de Estado.

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1. DIREITO E TÉCNICA Alguns autores tomam a ordem técnica como sendo elemento das ordens normativas da sociedade. Outros sustentam ser a ordem normativa no seu todo que tem como suporte as normas técnicas e normas éticas, sendo nesta última onde teriamos a ordem jurídica, ou seja, o Direito.

Seja como for, a existir uma alguma ordem técnica como parte das ordens normativas da sociedade, seria tal como a ordem jurídica, expressa por leis.

Através de um exemplo podemos clarificar as diferenças entre o Direito e à Técnica. É no domínio do conhecimento técnico em física, que a composição do hidrogénio e oxigénio resulta em água (H2O). No domínio das ciências matemáticas e exactas ensina-se que a raíz quadrada de quatro é igual a dois. Ou a soma dos quadrados dos catetos é igual a hipotenusa. Todas estas são regras técnicas que, por não serem imperativas não podem ser impostas com recurso à força pública, porque são regras de resultado, que interessam à técnica.

Ninguém pode ser sancionado com recurso aos poderes e força pública por não acertar a equação que resulte no ácido sulfúrico (H2SO4). O que pode acontecer é que esse indivíduo, no caso de errar, será tido por tecnicamente incompetente, salvo nos casos em que essa incompetência tenha sido relevante para a verificação do dano ou a lesão do bem jurídico.

Contrariamente, o Direito exprime-se por leis que não condicionam o resultado. A lei estabelece no artigo 393 do Código Penal que "quem estuprar mulher virgem, menor de 12 anos, contra sua vontade será condenado na pena de oito a doze anos de prisão maior".

O violador deste dispositivo legal, o estuprador, não será apenas censurado pela sociedade, nem considerado tecnicamente incompetente, será punido merecidamente, com a pena de prisão maior de doze a dezasseis anos.

Todos nós nos recordamos de um dos pensadores primários universais, Galileu Galilei, que teve de sucumbir à inquisição por se recusar a negar a sua própria descoberta de ser a terra que gira à volta do sol e não o contrário. No entanto, se se entendesse tecnicamente não ser a terra que gira à volta do sol (por erro), tal não daria lugar à sanção. Galileu não foi vítima de uma sanção pela lei técnica mas sim de uma lei humana, no caso concreto, uma lei religiosa que na altura se confundia com o Direito.

Podemos deste modo concluir que o Direito é dominado pela necessidade e pela imperatividade, enquanto a técnica tem na necessidade de um resultado em vista o seu suporte, podendo ser imposta com recurso à força pública, sempre que possível e

Page 31: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

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necessário mas, a ordem técnica em nenhum momento se pode impor com recurso aos meios coercitivos do Estado sendo, deste modo, dois conceitos distintos.

2. DIREITO E JUSTIÇA Desde logo referir que o Direito é distinto da justiça porque esta é uma das finalidadeS da ordem jurídica. O Direito prossegue determinados fins que interessam à convivência sã entre os cidadãos e esses fins são designadamente: o bem comum, a justiça, a segurança e a harmonia social. Por outras palavras, a justiça social é um dos produtos que o Direito tem em vista.

Não restam dúvidas que este fim do Direito muitas vezes se fica por alcançar neste mundo cada vez mais comercial em detrimento do elemento humano. Existem ainda Estados onde os indivíduos têm convivido com leis injustas degfraudando este sagrado fim do Direito, como é o caso flagrante do Zimbabué de Robert Mugabe.

Sendo a justiça um fim nobre que o Direito tem em vista alcançar podemos inferir ser o este diferente daquele.

3. DIREITO E ESTADO A distinção entre os conceitos de Direito e de Estado tem sido largamente discutida na matéria relativa às caracteristicas das normas jurídicas, que teremos oportunidade de aprofundar na Unidade II desta disciplina.

Por hora vale clarificar que são dois os aspectos discutidos:

- O sentido de que o Estado e o Direito são uma e a mesma realidade;

- O sentido de que o Direito, para o ser, há-de ter necessariamente origem estadual.

Como se verá a frente, este entendimento não é defensável. Desde logo, porque o Estado e o Direito na sua conceptualização têm sentidos diversos e porque o Estado não é detentor do monopólio de criação do Direito. As autarquias e as diversas organizações sociais produzem leis, regulamentos ou posturas. As comunidades socias produzem regras não contrárias à lei. As sociedades produzem o costume, fonte do Direito de que nao depende da boa vontade do Estado.

Para uma melhor compreensão passaremos ao detalhe começando pela noção de Estado.

A mais vulgar definição seria considerar o Estado como um povo politicamente organizado num dado território.

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28 UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

O Professor Castro Mendes ensina que "Estado é uma sociedade politicamente organizada, fixa em determinado território que lhe é privativo e tendo como características a soberania e a independência".

De qualquer das duas definições resultam três elementos fundamentais que caracterizam o Estado:

1. O elemento pessoal – povo, população; 2. O elemento político – organização do poder político; 3. O elemento territorial – o território.

Ora, estes três elementos não são conexos com a definição de Direito, a ponto de haver confusão entre a noção de Estado e de Direito considerando-os uma e mesma realidade. A tese da estadualidade do Direito no sentido de coincidencia das noções de Estado pretende que o Direito coincida com a organização do poder político na sociedade, isto é, aquilo que é o poder político do Estado seria o Direito.

Não pode, de forma alguma, ser defensável tal definição do Direito convergindo com a noção do Estado. Desde logo porque, modernamente, o estado está subordinado ao Direito ainda que por si criado. O Direito não se confunde com o Estado pois tem ainda o papel fundamental de limitar e legitimar o poder do Estado.

O Professor BAPTISTA MACHADO defende que "significa isto que há princípios de Direito que se impõem ao próprio Estado e este não pode constituir uma ordem jurídica sem se referir ao príncipio superior da justiça".

Igualmente a tese de que todo o Direito provém do Estado não pode ser defensável na medida em que não obstante o facto de se reconhecer que é de longe o Estado o mais importante criador do Direito, o mesmo não pode ser confundido com o monopólio ou exclusividade na produção do Direito muito embora Estado seja a mais importante forma de organização sociale e o Direito de origem estadual seja também a forma mais elevada do Direito.

As comunidades primitivas dotadas de uma organização rudimentar, desprovidadas de uam autoridade central e de um sistema organizado, detêm também a sua ordem jurídica, ainda que a diferenciação desta perante a ordem jurídica seja menos evidente que na sociedade estatal.

Page 33: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

29

Ao nível supra-estatal encontramos o Direito Internacional Público, o chamado Direito da Comunidade Internacional, constituido em parte por normas de natureza consuetudinária (costume internacional). O Direito Internacional Público é um Direito supra-estatal que se impõe a todos os Estados.

Ao nível extra-estadual, fora do Direito Interno e do Direito Internacional Público, pode ainda apontar-se o Direito que rege os comerciantes nas suas relações internacionais, a chamada lex mercatoria. Importa, igualmente, referir a existência de uma componente consuetudinária na generalidade das ordens jurídicas. Existem também, como já fizemos referência as normas jurídicas emanadas das entidades autónomas que não integram o Estado: as corporações e autarquias.

Concluindo e concatenando, o Estado tem certamente, uma função de eelemento aglutinador da normatividade jurídica nas sociedades modernas, que são cada vez mais legiferantes, mas o Direito não se confunde com ele nem o mesmo detém a exclusividade da criação da norma jurídicO

TRABALHO PRÁTICO Poderá ser responsabilizado o engenheiro responsável pela construção de uma ponte se esta por ventura ceder e acabar por perder a vida o servente que trabalhava na mesma, se ficar provado que tal deveu-se a um erro de cálculo do engenheiro?

RESPOSTA AO TRABALHO PRÁTICO

Muito embora a construção civil faça parte do dominío da técnica, o erro de cálculo na construção da ponte estravaza o campo técnico para o campo jurídico a partir do momento em que desse erro resultam danos, no caso em específico, um dano patrimonial e não patrimonial que urge ressarcir.

Serão assim chamados os meios coercitivos de que o Estado dispõe de forma a sancionar o agente responsãvel pela verificação do dano.

SUGESTÕES PARA LEITURA:

Monografias de leitura obrigatória:

1. ASCENÇÃO, José de Oliveira (2005). O Direito / Introdução e Teoria Geral. Livraria Almedina. Coimbra.

Page 34: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

30 UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

2. MARQUES, José Dias Marques (1994). Introdução ao Estudo do Direito - 2ª Edição. Editora Danúbio, Lda. Lisboa.

1. MACHADO, João Baptista (2002). Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. Livraria Almedina. Coimbra.

2. SOUSA, Marcelo Rebelo / GALVÃO, Sofia (2000). Introdução ao Estudo do Direito. Lex. Lisboa.

3. TELLES, Inocêncio Galvão (2001). Introdução ao Estudo do Direito I. Coimbra Editora. Coimbra.

QUADRO SINÓPTICO DO CAPÍTULO III

DIREITO E TÉCNICA

Ordem técnica não é imperativa, apenas visa atingir

resultados cientificos. Ordem Juridica pode ser imposta

com recurso à força pública.

DIREITO E JUSTIÇA

Justiça é uma das finalidades da ordem jurídica. O Direito

prossegue o bem comum, a justiça, a segurança e a

harmonia social.

DIREITO E ESTADO

O Estado tem a função de elemento aglutinador da

normatividade jurídica nas sociedades modernas.

O Direito tem o papel fundamental de limitar e legitimar

o poder do Estado.

Page 35: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

31

AVALIAÇÃO DE INTRODUÇÃO AO DIREITO

Avaliação

ATENÇÃO – TESTE DE AVALIAÇÃO

Teste da 1ª Unidade – Duração 2 horas

Leia atentamente as questões apresentadas neste teste. Resolva-o na folha de teste em anexo e envie ao ISM para correcção. A cotação para cada questão está entre parênteses.

I

1. “Todo o Direito Vigente é Direito Positivo mas, nem todo o

Direito Positivo é Direito Vigente”. Será esta asserção verdadeira?

Justifique. (Ponderada em 2 valores).

2. “O dado fundamental da vida social é, na verdade, que esta não

pode fazer-se sem uma disciplina”. Comente. (Ponderada em 3

valores).

3. Afirmar que o Direito é um conjunto de normas juridicas

complexas, harmonicas, correlacionadas, coerentes e hierarquizadas

equivale a afirmar que o Direito é uma ordem totalitária? (Ponderada

em 3 valores).

4. Fala-se em solidariedade orgânica quando os homens se unem e

NOME : ___________________________________________________________

Nº DE MATRÍCULA ________________ NOTA _________________

N.B: Envie-nos este teste já resolvido, para correcção.

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32 UNIDADE I – A ORDEM JURÍDICA COMO FENÓMENO SOCIAL

cooperam para a satisfação de necessidades comuns a todos eles.

Concorda? Porquê? (Ponderada em 2 valores).

ll

1. Rui Mendes, reputado engenheiro de construção, dedicado ao

ramo imobiliário, resolveu construir um condomínio de luxo no bairro

dos pescadores, em Maputo.

Entretanto, o único espaço em que tal poderia ser feito era composto em 50 % de vegetação de mangal que, no entanto, há muito que se encontrava seca. Ignorando todos os apelos que foram feitos pelas associações protectoras do ambiente, segundo o qual o local era impróprio para a construção, uma vez que a qualquer altura o mangal poderia voltar a estar coberto de água do mar, e sem ter, previamente, elaborado uma avaliação de impacto ambiental, Mendes seguiu com a sua obra.

Ao fim de um ano, o condomínio ficou pronto a habitar tendo sido bastante concorrido pois, oferecia uma vista para o mar como poucos em Maputo. Ora, seis meses mais tarde, a cidade foi fustigada por um violento temporal que elevou o mar a um nível nunca antes visto.

Durante dias tal facto foi motivo de destaque na imprensa nacional tendo, inclusive, sido realizados debates em torno desse assunto onde foram convidadas pessoas com mais de 80 anos que categoricamente afirmaram que nunca na vida testemunharam fenómeno parecido.

A zona do mangal, que outrora estava seca, ficou completamente alagada inundando o condomínio edificado por Rui Mendes e afectando, seriamente, a estrutura do mesmo. Os moradores, furiosos, após várias tentativas de contactar o empreeiteiro, acabaram por recorrer ao grupo dinamizador, local onde na óptica destes o conflito seria dirimido, isto porque Mendes se recusa a assumir qualquer responsabilidade, baseando-se no facto de que a chuva é um fenómeno natural impossível de prever e, de que, nunca antes a cidade tinha sido afectada por uma tempestade daquelas proporções.

Quid Juris? (ponderada em 5 valores).

Page 37: Trab. Ordem juridica como fenomeno social

INTRODUÇÃO AO DIREITO I

33

2. Roberto Rebenta, enfermeiro aposentado, perdeu toda a sua família

num fatídico acidente de automóvel. Este acontecimento o deixou

deveras traumatizado causando mudanças drásticas na sua pessoa,

tendo ele resolvido mudar de província com o intuíto de se isolar de

tudo e de todos.

Com efeito, nas raras vezes em que se fazia a rua, não respondia à saudação dos seus vizinhos, ignorando-os por completo.

Essa questão foi levantada pelo adjunto do secretário do bairro em uma reunião com os moradores do mesmo. Nesse encontro ficou unanimente assente que o comportamento do Sr. Rebenta quebrava toda a harmonia na comunidade para além de que constituia um mau exemplo para os petizes que nela habitavam. Decidiram, então, contactar o régulo da comunidade com o intuito de requerer que esta entidade expulsasse Roberto Rebenta do seio da mesma, uma vez que o seu comportamento tornava a sua integração e convivência na comunidade praticamente impossível.

Se fosse procurado para tecer a sua opinião jurídica, em torno deste caso, como decidiria?

(ponderada em 5 valores).

Bom Trabalho!