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1 A abertura europeia ao mundo nos séculos XV e XVI Por Raul Silva Nos séculos XV e XVI, vive-se um dinamismo civilizacional notável numa Europa que se abre ao Mundo e ultrapassa as crises dos finais da Idade Média. É o tempo do Renascimento, movimento cultural iniciado em Itália, baseado na Antiguidade Clássica, faz do Homem o centro do conhecimento, da cultura e da beleza artística. No Ocidente da Europa, Lisboa e Sevilha são portas abertas para o Mundo, como ponto de partida e chegada das rotas transoceânicas que interligam para sempre a Europa, a África, a América e a Ásia. Desvendam novas terras, novos mares, novas gentes, novos astros; revelam floras e faunas desconhecidas; conduzem ao aperfeiçoamento das técnicas naúticas; repercutem-se numa nova representação cartográfica da terra. Fundados na observação e no contacto directo com as realidades, que descrevem rigorosa e pormenorizadamente, os novos conhecimentos da Natureza e do Mundo desacreditam as opiniões dos Antigos. A experiência eleva-se a autoridade e fonte de saber, conduzindo à revolução das concepções cosmológicas. O Renascimento conheceu a promoção do individualismo. Os humanistas, apaixonados pelos textos gregos e latinos, absorveram os seus valores antropocêntricos, fazendo da cultura antiga um instrumento formativo da personalidade humana. Preocupados com a construção de um mundo melhor, não deixaram de criticar as vilanias do presente, às quais contrapuseram as utopias. A paixão pelos clássicos perseguiu também os artistas, apostados na exaltação da figura humana, no equilíbrio das linhas arquitectónicas, na perfeição e na racionalidade das composições. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 4 26 de Novembro de 2012

Caderno Diário Renascimento

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Page 1: Caderno Diário Renascimento

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A abertura europeia ao mundo nos séculos XV e XVIPor Raul Silva

Nos séculos XV e XVI, vive-se um dinamismo civilizacional notável numa Europa que se abre ao Mundo e ultrapassa as crises dos finais da Idade Média.É o tempo do Renascimento, movimento cultural iniciado em Itália, baseado na Antiguidade Clássica, faz do Homem o centro do conhecimento, da cultura e da beleza artística.No Ocidente da Europa, Lisboa e Sevilha são portas abertas para o Mundo, como ponto de partida e chegada das rotas transoceânicas que interligam para sempre a Europa, a África, a América e a Ásia.Desvendam novas terras, novos mares, novas gentes, novos astros; revelam floras e faunas desconhecidas; conduzem ao aperfeiçoamento das técnicas naúticas; repercutem-se numa nova representação cartográfica da terra.Fundados na observação e no contacto directo com as realidades, que descrevem rigorosa e pormenorizadamente, os novos conhecimentos da Natureza e do Mundo desacreditam as opiniões dos Antigos. A experiência eleva-se a autoridade e fonte de saber, conduzindo à revolução das concepções cosmológicas.O Renascimento conheceu a promoção do individualismo. Os humanistas, apaixonados pelos textos gregos e latinos, absorveram os seus valores antropocêntricos, fazendo da cultura antiga um instrumento formativo da personalidade humana. Preocupados com a construção de um mundo melhor, não deixaram de criticar as vilanias do presente, às quais contrapuseram as utopias. A paixão pelos clássicos perseguiu também os artistas, apostados na exaltação da figura humana, no equilíbrio das linhas arquitectónicas, na perfeição e na racionalidade das composições.

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O Homem no centro do Mundo

“Disse Deus ao Homem: coloquei-te no centro do mundo, para que possas olhar à tua volta, e ver o que o mundo contém.Não te fiz celestial nem terreno, mortal nem imortal, poderás tu próprio escolher o teu caminho. Pela tua vontade poderás tornar-te um bruto irracional ou podes alcançar uma elevada perfeição, quase divina.”

Picco della Mirandola, A Dignidade do Homem, 1486

Qual é a figura mais importante do Mundo segundo Pico della Mirandola?

Caracteriza a visão do Homem e do Mundo defendida na fonte.

O Homem ideal

“Que o cortesão ideal seja, além de nobre, homem de bem, isto é, prudente, bom, corajoso, confiante; belo e elegante. Que a sua principal e autêntica profissão seja a das armas, que saiba todos os exercícios que convêm a um militar. Que o perfeito homem de corte seja alegre, saiba jogar e dançar, que se mostre homem de espírito e seja discreto.As letras de Deus revelou aos homens são úteis e necessárias à vida e à dignidade do Homem. Que o cortesão conheça não só o latim, mas também o grego. (…) Que ele saiba escrever em prosa, particularmente a nossa língua. Louvá-lo-ei também por saber várias línguas estrangeiras, principalmente o espanhol e francês (…). A sua cultura parecer-me-á insuficiente se não tiver conhecimentos de música (…). Há ainda um aspecto que julgo de grande importância; trata-se da arte do desenho e da pintura. (…) Que o nosso homem de corte seja um perfeito cavaleiro de toda a sela: nos torneios, nos duelos, nas corridas, no lançamento do dardo e da lança. (…) Convém também que saiba saltar e correr.”

B. Castiglione, O Cortesão

Como é que devia ser o "Homem ideal" renascentista?

O RenascimentoO Homem, medida de todas as coisas

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Criação de Adão, pormenor da pintura da abóbada da Capela Sistina no Vaticano, de Miguel Ângelo (Roma, 1508-1512)

Que significado atribuis à pintura?

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A educação humanista

“Aconselho-te, meu filho, a que aproveites a juventude para estudares e te tornares virtuoso. Estás em Paris, tens o teu preceptor (…) que por ensinamentos vivos e louváveis exemplos te pode educar. Quero que aprendas perfeitamente línguas (…).Quero que não haja história que não tenhas presente na memória para o conhecimento universal dos que a escreveram. Quando eras pequeno, tinhas cinco ou seis anos, fiz-te apreciar as artes liberais: a geometria e a música. Deves prosseguir. Deves aprender todos cânones da astronomia. Quero que saibas de cor todos os belos textos de direito civil e que os confiras com os de filosofia.Depois, cuidadosamente, volta a estudar os livros dos médicos gregos, árabes e latinos e, por frequentes operações de anatomia, quero que adquiras o perfeito conhecimento do outro mundo que é o Homem. Durante algumas horas do dia começa a trabalhar sobre as Sagradas Escrituras, primeiro em grego o Novo Testamento e a Cartas dos Apóstolos, depois em hebreu o Antigo Testamento.”

Rabelais, Carta de Gargântua a seu filho Pantagruel

Qual a importância da educação para o autor da fonte.

A experiência, madre das cousas

“Os mestres estão empoleirados na sua cátedra como galinhas e, com um notável ar de desprezo, dão informações sobre as coisas que jamais tocaram com as suas próprias mãos, mas que se lembram de ter lido nos livros dos outros (...). Por consequência, todo o ensino é falso: perde-se o tempo com questões absurdas e é tudo tão confuso que o aluno aprende ali menos do que se seguisse o curso de carniceiro (...).”

André Vesálio, Acerca da estrutura do corpo humano, 1543

Qual a crítica apontada aos mestres?

A crítica social em Erasmo

“Próximo da felicidade teólogos está a daqueles a que o vulgo chama religiosos e monges (…). Atribuem tanta importância às suas particulares cerimónias e às suas tradições humanas que lhes parece que o céu não é bastante prémio para tantos méritos. Esquecem todos que Cristo lhes perguntará somente se obedeceram à sua lei, a lei da caridade. (…)Já há algum tempo que desejava falar-vos dos reis e dos príncipes (…). Eles entregam aos deuses todos os negócios, levam uma vida de moleza e não querem ouvir senão os que lhes dizem coisas jucundas ou lhes afastam os cuidados. Julgam executar inteiramente as funções régias se vão assiduamente à caça, se tratam dos cavalos, se vendem comodamente prefeituras, se diariamente inventam novas maneiras de diminuir a riqueza dos cidadãos e de aumentar a da coroa com o fisco. (…)Que direi dos cortesãos? Nada há mais rasteiro, mais servil, do que esses homens que se querem considerar os primeiros entre todos. (…)Rivais dos príncipes, os sumos pontífices, os cardeais e os bispos quase os superam. (…) Os nossos pastores não fazem mais do que buscar pasto. (…)Se julgares o meu discurso demasiado petulante, pensai que falei em nome da loucura.”

Erasmo de Roterdão, Elogio da Loucura

A quem são dirigidas as críticas formuladas por Erasmo? Porquê?

O RenascimentoA produção cultural

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A reinvenção das formas artísticasA pintura, escultura, arquitectura

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Biblioteca de S. Marcos, em Veneza

Gioconda, Leonardo da Vinci

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Caracteriza a arquitectura renascentista a partir do documento.

Refere as características da pintura renascentista presentes no documento.

Explica por que razão o documento é uma escultura renascentista.

David, Miguel Ângelo