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FEMPERJ – DIREITO EMPRESARIAL PROFESSOR: JUAN LUIZ SOUZA VAZQUEZ MONITORA: NATALIA SARRO DE ALMEIDA MELO DIREITO EMPRESARIAL – AULA 01 – 26/02/2013 Fontes do Direito Empresarial: fontes primárias e secundárias. Fontes primárias: CRFB/1988, Código Civil/2002, Código Comercial/1850 (parte de direito marítimo), Lei de Falência, LUG, Lei de Cheque e demais leis de direito empresarial. Fontes secundárias: doutrina, jurisprudência, princípios gerais de direito, analogia e usos e costumes. É possível provar usos e costumes (ex.: cheque pós-datado) por certidão da Junta Comercial. Fases do Direito Empresarial: (no direito brasileiro somente houve a segunda e a terceira fase) 1) Fase das corporações de ofício: Ocorreu durante a Idade Média e era um sistema fechado e protetivo. Para ser considerado comerciante era necessário ter um registro (natureza constitutiva) nas corporações de ofício (entidades de classes). 2) Fase da teoria dos atos de comércio (sistema francês): É com a Revolução Francesa que haverá a mudança da fase das corporações de ofício para a da teoria dos atos de comércio. Era um sistema liberal, pois qualquer pessoa podia ser comerciante. O Código Napoleônico (1807), influenciado pela Revolução

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 01 – 26/02/2013

Fontes do Direito Empresarial: fontes primárias e secundárias.

Fontes primárias: CRFB/1988, Código Civil/2002, Código Comercial/1850

(parte de direito marítimo), Lei de Falência, LUG, Lei de Cheque e demais leis

de direito empresarial.

Fontes secundárias: doutrina, jurisprudência, princípios gerais de direito,

analogia e usos e costumes. É possível provar usos e costumes (ex.: cheque

pós-datado) por certidão da Junta Comercial.

Fases do Direito Empresarial:

(no direito brasileiro somente houve a segunda e a terceira fase)

1) Fase das corporações de ofício: Ocorreu durante a Idade Média e era

um sistema fechado e protetivo. Para ser considerado comerciante era

necessário ter um registro (natureza constitutiva) nas corporações de

ofício (entidades de classes).

2) Fase da teoria dos atos de comércio (sistema francês): É com a

Revolução Francesa que haverá a mudança da fase das corporações de

ofício para a da teoria dos atos de comércio. Era um sistema liberal, pois

qualquer pessoa podia ser comerciante. O Código Napoleônico (1807),

influenciado pela Revolução Francesa, afirma que qualquer pessoa

podia exercer atividade comercial, independentemente de estar filiado

ou não a entidade de classe e ter um registro.

Nunca houve uma definição jurídica exata para atos de comércio, nem

no direito brasileiro, nem no francês. Obs.: O art. 19 do Regulamento

737/1850 definia a competência dos Tribunais de Comércio (lista de

atividades próprias do comerciante). Já no direito francês, há uma lista

de atividades próprias do comerciante definidas nos arts. 632 e 633 do

Código Napoleônico.

3) Teoria da empresa (sistema italiano): Tem como sua fonte o Código Civil

Italiano de 1942. A teoria da empresa substituiu o sistema francês por

causa do advento da Revolução Industrial, quando o prestador de

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serviço passa a crescer como agente econômico e chega a responder

por quase 80% dos negócios realizados.

O nosso sistema jurídico hoje em vigor tem como base a teoria da

empresa, a partir do advento do Código Civil/2002. Ela ampliou o campo

de incidência do direito empresarial (eliminou a exigência da prática de

atos de intermediação para ser considerado comerciante).

Definição de empresário (art. 966/CC): considera-se empresário quem exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a

circulação de bens ou de serviços. Portanto, considera-se empresa uma

atividade economicamente organizada.

Espécies de empresários no direito brasileiro: 1) Empresário individual – não

existe a figura do sócio, mas sim uma pessoa natural que explora atividade

econômica. 2) EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) –

não existe a figura do sócio, pois o titular é o instituidor; há uma pessoa que é

titular de todo o capital social da EIRELI, que, por sua vez, é uma pessoa

jurídica. 3) Sociedade empresária – existe a figura do sócio, mas ele nunca

será considerado empresário; quem explora a atividade econômica é o

empresário, ou seja, a sociedade empresária.

Empresa ≠ Empresário ≠ Estabelecimento. O empresário organiza a empresa e

a explora através do estabelecimento empresarial.

Empresário é uma pessoa natural ou jurídica (sujeito de direitos) que explora a

empresa. Empresa é uma atividade economicamente organizada pela reunião

dos fatores de produção (exs. de fatores de produção: capital, trabalho,

tecnologia). Estabelecimento empresarial é um objeto de direitos (trespasse é o

nome dado ao contrato de alienação de estabelecimento empresarial); segundo

o art. 1142/CC, considera-se estabelecimento todo complexo de bens

organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade

empresária.

EMPRESÁRIO X COMERCIANTE

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EMPRESÁRIO COMERCIANTE

CAPACIDADE CAPACIDADE

PROFISSIONALISMO HABITUALIDADE

(interpretada como profissionalismo)

REGISTRO (?) REGISTRO (?)

X INTERMEDIAÇÃO

Pela teoria dos atos de comércio, não é necessário ter um registro para ser

considerado comerciante. Já o art. 967/CC exige o registro antes do início da

atividade empresarial; entretanto, se ele já começou a realizar a sua atividade

sem o registro, ele será considerado um empresário irregular. Portanto, em

regra, o registro tem natureza declaratória tanto na teoria dos atos de comércio,

quanto na teoria da empresa.

Obs.: Segundo o art. 971/CC, o empresário rural somente pode ser equiparado

ao empresário se ele tiver realizado o registro na Junta Comercial (Registro

Público de Empresas Mercantis). Enquanto ele não fizer essa opção, ele não é

considerado empresário.

Excluídos do Direito Empresarial: 1) Cooperativa – segundo o art. 982, §

único/CC, toda sociedade por ações é considerada sociedade empresária (seu

registro é feito na Junta Comercial, no Registro Público de Empresas

Mercantis), independentemente do objeto que ela explora; e toda cooperativa

sempre é sociedade simples, não explora empresa (entretanto, o seu registro

deve ser realizado na Junta Comercial). 2) Empresário rural – entretanto, ele

pode realizar o seu registro na Junta Comercial, passando então a ser

equiparado ao empresário (art. 971/CC). 3) Profissão intelectual – entretanto,

excepcionalmente, pode ser considerada atividade empresária, quando o

exercício da profissão for considerado elemento de empresa (art. 966, §

único/CC).

Segundo o § único do art. 966/CC, não se considera empresário quem exerce

profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o

concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão

constituir elemento de empresa.

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Portanto, em regra, quem exerce profissão intelectual (científica, literária ou

artística) não é considerado empresário. Mas, excepcionalmente, ele será

considerado empresário quando o exercício da profissão constituir elemento de

empresa – uma atividade intelectual será considerada elemento de empresa

quando essa atividade estiver absorvida pela organização dos fatores de

produção (ex.: Clínica Perinatal).

Enunciado 195 da III Jornada de Direito Civil do CJF: A expressão “elemento

de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a

égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou

artística, como um dos fatores da organização empresarial.

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL: sempre será pessoa natural, que explora

atividade econômica. Ele terá responsabilidade ilimitada, pois o art. 591/CPC

determina que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,

com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas

em lei. Ele deverá realizar registro na Junta Comercial, através de uma ficha de

declaração de empresário individual, denominada de Requerimento de

Empresário – Instrução Normativa 95/2003 do DNRC (Departamento Nacional

de Registro do Comércio) determina que deve indicar o objeto, sede, capital e

pode ter CNPJ. Obs.: O empresário individual pode ter CNPJ para fins

tributários, mas isso não faz com que ele se torne uma pessoa jurídica.

Não há qualquer exigência de idade mínima para ser sócio de uma sociedade.

Entretanto, no caso do empresário individual, será exigido a idade mínina de 16

anos para dar início a uma atividade empresarial nova (art. 5°, § único, V/CC);

já se for para dar continuidade a uma atividade empresarial, não existirá esse

requisito da idade mínima (art. 974/CC).

Art. 5° - A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a

pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único - Cessará, para os menores, a incapacidade:

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V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação

de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos

completos tenha economia própria.

Art. 974 - Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente

assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz,

por seus pais ou pelo autor de herança.

§ 1° - Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame

das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência

em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os

pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem

prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.

§ 2° - Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz

já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos

ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a

autorização.

§ 3° - O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas

Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de

sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma

conjunta, os seguintes pressupostos:

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente

incapaz deve ser representado por seus representantes legais.

O art. 974, caput, §§ 1° e 2° dizem respeito ao empresário individual. Já o § 3°

do referido artigo traz os requisitos para o incapaz ser sócio de uma sociedade:

não pode exercer a administração da sociedade; o capital social deve estar

totalmente integralizado; deve estar devidamente assistido ou representado.

No caso de uma sociedade, se o menor for emancipado e vier a se tornar

sócio, não será necessário observar nenhum dos requisitos enumerados no §

3° do art. 974/CC.

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O promotor de justiça pode ser sócio, desde que não exerça administração;

mas ele não pode ser empresário individual.

DIREITO EMPRESARIAL – AULA 02 – 01/03/2013

Além da Instrução Normativa 95/2003 do DNRC, o art. 968/CC também trata

sobre a inscrição do empresário individual na Junta Comercial.

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Enunciado 05 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: Quanto às obrigações

decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do

Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração

de sua atividade econômica, nos termos no art. 1024 do Código Civil.

Segundo o enunciado acima, o credor das obrigações que o devedor contraiu

na condição de empresário individual deverá buscar primeiro a penhora dos

bens que estão no estabelecimento empresarial, estabelecendo assim um tipo

de benefício de ordem. Esse enunciado acaba criando um patrimônio de

afetação para o empresário individual; entretanto, o professor critica isso por

não haver previsão legal para a criação de um patrimônio de afetação para o

empresário individual e acabar negando vigência ao art. 591/CPC.

Art. 978 - O empresário casado pode, sem necessidade de outorga

conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que

integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.

Art. 1.647 - Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges

pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

O art. 978/CC diz respeito ao empresário indiovidual. E no caso do art.

1647/CC, “separação absoluta” significa separação consensual, pois na

separação obrigatória ou legal, por força da Súmula 377 do STF, comunicam-

se os bens adquiridos na constância do casamento.

Como solucionar o conflito entre esses os arts. 978 e 1647, ambos do CC? A

solução encontrada pela doutrina (Alfredo de Assis Gonçalves Neto) foi que a

outorga conjugal tem que existir em algum momento, exceto no regime da

separação absoluta consensual. Assim ou o empresário, ao se registrar como

empresário individual, apresenta na Junta Comercial a outorga conjugal para

afetar um imóvel para o exercício da atividade empresarial (pode ser em um

momento posterior também), ou o empresário apresenta a outorga conjugal no

momento da alienação ou do gravame no Registro Geral de Imóveis (mas ele

pode apresentar uma certidão da Junta Comercial no RGI para comprovar que

já houve anteriormente a outorga conjugal).

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Nesse sentido, deve-se atentar para o Enunciado 06 da I Jornada de Direito

Comercial do CJF: O empresário individual regularmente inscrito é o

destinatário da norma do art. 978 do Código Civil, que permite alienar ou gravar

de ônus real o imóvel incorporado à empresa, desde que exista, se for o caso,

prévio registro de autorização conjugal no Cartório de Imóveis, devendo tais

requisitos constar do instrumento de alienação ou de instituição do ônus real,

com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no Registro

Público de Empresas Mercantis.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) Prova Magistratura Estadual MG/2012 – VUNESP. Questão 71

Com vigência do Novo Código Civil, à luz do artigo 966, é correto afirmar

que o Direito brasileiro concluiu a transição para a: b) “teoria da

empresa”, de matriz italiana.

2) Prova Magistratura Estadual MG/2012 – VUNESP. Questão 72

No que diz respeito ao empresário individual, assinale a alternativa

correta: a) não é pessoa jurídica e pode ingressar em juízo em nome

próprio.

3) Concurso Delegado Distrito Federal/2005. Questão 06

Com relação ao empresário e à sociedade empresária, é correto afirmar

que: e) as sociedades por ações devem obrigatoriamente ser registradas

no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.

Uma das alternativas desta questão afirma que o sócio-indústria, diante da

revogação da primeira parte do Código Comerical, é uma figura inexistente no

Direito Brasileiro. Essa alternativa está errada. Existia a figura do capital-

indústria no Código Comercial e esse modelo de sociedade não foi repetido

pelo CC/2002. O sócio-indústria pode remeter àquele modelo de sociedade;

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entretanto, sócio-indústria também é sinônimo de sócio que contribui para o

capital social com prestação de serviço e na sociedade simples, por força do

art. 1006/CC, o sócio pode contribuir com prestação de serviço.

O art. 977/CC trata sobre a sociedade entre cônjuges. Essa regra é aplicada

apenas a partir da entrada em vigência do CC/2002 (não retroage); as

sociedades já constituídas poderão prosseguir face ao ato jurídico perfeito. Os

cônjuges que são casados em qualquer outro regime de casamento (comunhão

parcial, por exemplo), salvo o da comunhão universal de bens ou o da

separação obrigatória, podem contratar sociedade entre si ou com terceiros; a

separação consensual não está incluída dentro dessa vedação do art. 977/CC.

Art. 977 - Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com

terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão

universal de bens, ou no da separação obrigatória.

A regra do art. 977/CC não é aplicável às sociedades anônimas, pois ela

alcança apenas as sociedades tratadas pelo Código Civil. Assim sendo, a regra

do art. 977/CC alcança todas as sociedades do Código Civil,

independentemente se esta sociedade é ou não empresarial.

Informativo 390/STJ

REGIME. COMUNHÃO UNIVERSAL. BENS. SOCIEDADE SIMPLES. ART.

977 DO CC/2002. Trata-se da possibilidade de um casal sob regime da

comunhão universal de bens registrar-se como sócios de uma sociedade

simples. O art. 977 do CC/2002 permite a constituição de sociedade entre

cônjuges, desde que não casados no regime da comunhão universal de bens

ou no da separação obrigatória. Isso visa evitar eventual burla ao regime de

bens do casamento. O fato de o art. 977 do CC/2002 encontrar-se no Capítulo

II (Capacidade) do Título I (Do empresário) do Livro II (Do direito da empresa)

do Código não conduz a sua aplicação apenas a sociedades empresariais. Não

existe peculiaridade alguma nas características conceituais da sociedade

simples e das empresariais que determine a aplicação do art. 977 do CC/2002

apenas às sociedades empresariais. O art. 982 do CC/2002 determina, como

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diferencial entre as duas sociedades, o fato de a empresarial ter por objeto o

exercício de atividade própria de empresário sujeita a registro. Ademais, quanto

a todos os artigos inseridos no mencionado Capítulo II, sempre que o legislador

referiu-se exclusivamente ao empresário ou à atividade da empresa, fê-lo de

forma expressa, apenas não fazendo menção a esta característica no já

referido art. 977 do CC/2002, no qual utilizou a expressão “sociedade” sem

estabelecer qualquer especificação, o que inviabiliza a tese de que essa

“sociedade” seria apenas empresária. Assim, a Turma, por maioria, negou

provimento ao recurso, pois entendeu que o art. 977 do CC/2002 aplica-se

tanto às sociedades empresariais quanto às simples. (REsp 1.058.165-RS, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/4/2009).

4) Concurso Auditor Receita Federal/2009. Questão 46

Sobre a constituição de sociedade empresária são corretas as

afirmações abaixo, exceto uma. Assinale a alternativa incorreta: b) é

defeso aos cônjuges contratar sociedade, entre si, independentemente

do regime de casamento. Pode o empresário casado, sem necessidade

de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os

imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus

real.

5) Concurso Auditor Receita Federal/2009 – ESAF

A respeito do empresário individual no âmbito do direito comercial,

marque a opção correta: b) da inscrição do empresário individual,

constam o objeto e a sede da empresa.

O nome empresarial tem duas espécies: firma ou denominação. Razão social é

sinônimo de firma. Mas a firma pode ser individual ou coletiva. A firma coletiva

é chamada também de razão social. A firma individual é usada pelo empresário

individual. Já a firma coletiva ou razão social é usada por sociedade, pessoa

jurídica. Sociedade anônima usa denominação e não firma.

6) Concurso Notário Acre/2006

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Considerando o destaque da empresa e do empresário no direito

comercial, julgue os itens subsequentes:

48) Uma obrigação do empresário, isto é, do profissional que exerce

atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de

bens ou serviços, é inscrever-se no registro de empresas antes de dar

início à exploração de seu negócio. CERTO (art. 967/CC)

7) Prova AGU/2010. Questão 142

Marcos exerce atividade rural como sua principal profissão. Nessa

situação, Marcos poderá requerer, observadas as formalidades legais,

sua inscrição perante o Registro Público de Empresas Mercantis da

respectiva sede, equiparando-se, após sua inscrição, ao empresário

sujeito a registro. CERTO (art. 971/CC)

8) Prova Defensoria ES/2012 – CESPE. Questão 23

O cosmopolitismo, uma das principais características do direito

empresarial, deu origem a usos e costumes comuns a todos os

comerciantes, independentemente de sua nacionalidade, a exemplo da

criação, pela Convenção de Genebra, de uma lei uniforme para a letra

de câmbio e a nota promissória. CERTO

9) Prova Defensoria ES/2012 – CESPE. Questão 24

Cabe à junta comercial, de ofício ou por provocação da sua procuradoria

ou de entidade de classe, reunir e assentar em livro próprio os usos e

práticas mercantis correntes em sua jurisdição. CERTO (art. 8° da Lei

8.934/94)

10)Prova Defensoria ES/2012 – CESPE. Questão 33

No Código Comercial do Império do Brasil, adotou-se, por influência dos

códigos francês, espanhol e português, a teoria dos atos de comércio,

no que se refere à sua abrangência e aplicação. ERRADO

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11)Prova Defensoria SE/2012 – CESPE. Questão 16 – Alternativa E

O ato de inscrição do empresário no registro público de empresas é

essencial para a caracterização do exercício profissional de atividade

econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou

serviços. ERRADO

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL: segundo o art. 1142/CC, considera-se

estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da

empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

Complexo de bens, que podem ser incorpóreos (marca, nome, ponto, outros

direitos de propriedade industrial) ou corpóreos (móveis, utensílios, veículos). O

titular do estabelecimento empresarial é o empresário (individual, EIRELI ou

sociedade empresária); é ele quem organiza o estabelecimento empresarial,

com a finalidade de explorar atividade empresarial (instrumento através do qual

o empresário exerce a empresa).

Existem quatro correntes que buscam definir a natureza jurídica do

estabelecimento empresarial:

1) Universalidade de direito – não há imposição legal para a reunião dos bens

que integram o estabelecimento. Na universalidade de direito, haverá diversos

bens singulares reunidos, por força de lei (ex.: espólio). Entretanto, o

estabelecimento empresarial é um conjunto de bens reunidos pela vontade do

empresário, não há uma imposição legal.

2) Pessoa jurídica por analogia – somente se fosse admitida expressamente

em nosso sistema. No art. 44/CC há uma listagem das pessoas jurídicas de

direito privado (sociedades, associações, fundações, partidos políticos,

entidades religiosas e EIRELI) e não existe previsão no sistema jurídico

brasileiro de pessoa jurídica por analogia. O empresário pode ser sujeito de

direitos, enquanto que o estabelecimento é considerado objeto de direitos.

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3) Patrimônio de afetação – somente se fosse admitida expressamente em

nosso sistema. Por essa teoria, o estabelecimento seria um patrimônio afetado

pelo empresário, que se distinguiria do seu patrimônio “civil”. Entretanto, não

existe patrimônio de afetação criado por lei para o empresário.

4) Universalidade de fato – é a teoria adotada em nosso sistema (art. 90/CC).

Art. 90 - Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares

que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.

Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser

objeto de relações jurídicas próprias.

DIREITO EMPRESARIAL – AULA 03 – 08/03/2013

CONTRATO DE TRESPASSE X CESSÃO DE COTAS. O contrato de

trespasse é o contrato de alienação do estabelecimento empresarial. O

pressuposto essencial para o trespasse é que haja alteração do titular do

estabelecimento empresarial. E quem é o titular do estabelecimento

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empresarial? O empresário. Na cessão de cotas não há alteração do titular do

estabelecimento empresarial.

EFEITOS DO CONTRATO DE TRESPASSE

- Em relação a terceiros: art. 1144/CC.

O contrato de trespasse somente terá efeitos em relação a terceiros quando for

averbado na Junta Comercial e publicado na imprensa oficial.

Art. 1.144 - O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou

arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros

depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da

sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de

publicado na imprensa oficial.

- Em relação a credores: art. 1145/CC; art. 94, III, alínea “c” e art. 129, VI,

ambos da Lei 11.101/2005.

Se houver interesse de alienação do estabelecimento empresarial, o alienante

deve obter o consentimento de seus credores. Portanto, o art. 1145/CC

estabelece que para o contrato de trespasse ser considerado eficaz é

necessária autorização dos credores anteriores. A autorização dos credores

será obtida por meio de notificação, que pode ser extrajudicial ou judicial e terá

o prazo mínimo de 30 dias. E esse consentimento dos credores pode ser

expresso ou tácito (credor permaneceu em silêncio pelo prazo de 30 dias).

Existem duas exceções à regra do art. 1145/CC, em que não será necessário

ter a autorização dos credores: 1) quando houver o pagamento de todos os

credores; 2) o alienante permanece com bens suficientes para pagar todos os

seus credores.

Art. 1.145 - Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o

seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do

pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo

expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.

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Para realizar o contrato de trespasse é necessário notificar todos os credores?

Não, notifica apenas os credores “negocias”, isto é, de obrigações comerciais e

civis. Não é necessário notificar os credores “sociais”, isto é, de obrigações

tributárias (Fazenda Pública) e trabalhistas (empregados).

Apenas passar o ponto, por exemplo, não é considerado contrato de trespasse,

não traz maiores consequências. As vendas isoladas de bens que compõem o

estabelecimento empresarial, em regra, não é considerado trespasse.

Excepcionalmente a venda isolada de um bem que compõe o estabelecimento

pode ser considerado trespasse: quando perceber que, no caso concreto,

houve o esvaziamento, desmantelamento do negócio do alienante. Nesse

sentido, há um precedente do STJ que considerou a venda de um ponto

empresarial para a exploração de um posto de combustível equivalente a um

trespasse.

O art. 94, III, alínea “c”da Lei 11.101/2005 estabelece uma causa de

decretação da falência: quando o devedor transfere estabelecimento a terceiro,

credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com

bens suficientes para solver seu passivo. É essencialmente a mesma regra

acima enunciada do art. 1145/CC.

Art. 94 - Será decretada a falência do devedor que:

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de

recuperação judicial:

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o

consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes

para solver seu passivo;

O art. 129, VI da Lei 11.101/2005 prevê uma hipótese de ação revocatória:

após a falência, pode ser declarada ineficaz, independentemente da prova de

fraude e de dano, a venda do estabelecimento empresarial sem autorização

dos credores, salvo no caso das exceções acima enuncidas.

Não importa a causa de pedir da falência (não precisa ser por causa do art. 94,

III, alínea “c” da Lei 11.101/2005); mas tem que haver uma sentença

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decretando a falência, pois o objetivo do art. 129 da Lei 11.101/2005 é o efeito

revocatório, ou seja, pegar aquele bem que foi vendido pelo falido antes da

“quebra” e trazer de volta para a massa falida, pois na falência arrecada-se os

bens do falido para pagar os seus credores.

Art. 129 - São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o

contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do

devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:

VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o

consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse

tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para

solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver

oposição dos credores, após serem devidamente notificados,

judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;

E não precisa necessariamente ingressar com uma ação revocatória, pois o §

único do art. 129 da Lei 11.101/2005 determina que a ineficácia poderá ser

declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação

própria ou incidentalmente no curso do processo.

- Sucessão das obrigações do alienante

- Obrigações civis e comerciais: art. 1146/CC.

O adquirente apenas responde pelas obrigações comerciais e civis anteriores

ao trespasse que estejam regularmente contabilizadas; e o que não está

contabilizado apenas pode ser cobrado do alienante. A solidariedade entre o

devedor primitivo (quem vede o estabelecimento) e o adquirente só alcança as

obrigações que estejam contabilizadas e dura pelo prazo de um ano. Após

esse prazo, o adquirente irá responder de maneira exclusiva por essas

obrigações.

E como se conta o prazo de um ano da solidariedade? Vamos imaginar, por

exemplo, um cenário em que a obrigação foi contraída em 20/01/2013 e a

publicação do trespasse ocorreu em 01/03/2013. É possível ocorrer dois casos

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distintos: i) se o vencimento da obrigação aconteceu em 20/02/2013 (ou seja,

antes da publicação do contrato de trespasse), a solidariedade vai ser contada

a partir da data da publicação do trespasse em 01/03/2013 e irá perdurar até

01/03/2014; ii) se o vencimento da obrigação ocorreu em 20/03/2013 (ou seja,

depois da publicação do contrato de trespasse), a solidariedade vai ser contada

a partir de 20/03/2013 (data do vencimento da obrigação) e vai perdurar até

20/03/2014.

Art. 1.146 - O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento

dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente

contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado

pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da

publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

- Obrigações tributárias: art. 133/CTN.

Não há dúvida que ocorrerá a sucessão tributária. A questão é como o

adquirente responde?

1) Subsidiariamente (com benefício de ordem), por força do art. 133, II/CTN,

quando o alienante continua explorando uma atividade empresária. Nesse

caso, não importa se é uma nova atividade ou não, se o alienante continuou no

mesmo ramo ou não.

Benefício de ordem significa o adquirente poder indicar bens do alienante para

serem conscritos antes de atingirem o seu patrimônio.

2) Subsidiariamente (com benefício de ordem), por força do art. 133, II/CTN,

quando o alienante retoma o exercício de atividade empresária em até seis

meses do trespasse. Nesse caso, o alienante tem que parar e voltar a exercer

atividade empresária (não importa qual é a atividade) dentro de seis meses do

trespasse.

3) Integralmente (solidariamente), por força do art. 133, I/CTN, quando o

alienante não exerce mais qualquer atividade empresária. Não há benefício de

ordem nesse caso. Mas o que exatamente seria “integralmente”? A corrente

majoritária (Ricardo Lobo Torres, STJ) entende que integralmente deve ser

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interpretado como solidariamente. Já a corrente minoritária (Luciano Amaro)

entende que jamais poderia ser interpretado como solidariamente, porque

solidariedade não se presume, decorre da lei ou do contrato; integralmente

significaria, na prática, que a responsabilidade seria exclusiva, integral do

adquirente (acaba afastando a responsabilidade do alienante).

Art. 133 - A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de

outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento

comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração,

sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,

responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido,

devidos até à data do ato:

I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio,

indústria ou atividade;

II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou

iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade

no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.

→ LER INFORMATIVOS 548/STF E 487/STJ

DIREITO EMPRESARIAL – AULA 04 – 15/03/2013

- Sucessão das obrigações do alienante (continuação)

- Obrigações trabalhistas: arts. 448 c/c 10 da CLT.

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Ocorrendo o trespasse, tanto o adquirente quanto o alienante responderão de

maneira solidária pelas obrigações trabalhistas. Entretanto, Marcelo Moura

entende que a CLT não traria tal tipo de responsabilidade solidária.

Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará

os direitos adquiridos por seus empregados.

Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa

não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.

Existem duas hipóteses excepcionais em que não haverá qualquer tipo de

sucessão no trespasse: 1) recuperação judicial (art. 60, § único da Lei

11.101/2005); e 2) processo falimentar (art. 141, II da Lei 11.101/2005).

O objetivo de não haver qualquer tipo de sucessão no caso de trespasse em

processo falimentar é conseguir a maximação dos ativos do falido (obter o

melhor preço possível na venda dos bens para acabar reduzindo o passivo),

pois esse é o princípio vetor do processo de falência, nos termos do art. 75 da

Lei 11.101/2005.

A razão de não haver sucessão no processo de recuperação judicial é

exatamente a preservação da empresa, pois, da mesma forma que acontece

na falência, será possível conseguir um preço melhor pela alienacão dos bens.

Art. 60 - Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação

judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz

ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.

Parágrafo único - O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e

não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor,

inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1° do art.

141 desta Lei.

Art. 75 - A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas

atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens,

ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa.

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Art. 141 - Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da

empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de

que trata este artigo:

II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá

sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de

natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as

decorrentes de acidentes de trabalho.

Já no caso da recuperação extrajudicial, vale a regra geral que estudamos de

que haverá sucessão no trespasse. Somente não haveria sucessão na

recuperação judicial se houvesse um dispositivo legal garantindo a ausência de

sucessão, como ocorreu nos casos de falência e de recuperação judicial.

Questões importantes sobre estabelecimento empresarial:

1) A clientela é um elemento integrante do estabelecimento empresarial?

A clientela pode ser considerada elemento integrante do estabelecimento, mas

a freguesia não. Quando se aliena o estabelecimento empresarial, leva-se em

conta a sua clientela para fixar o preço da venda.

De acordo com a doutrina, a clientela seria apenas e tão somente um conjunto

de pessoas que frequenta o estabelecimento empresarial. Ao discorrer sobre o

tema, Sérgio Campinho faz diferença entre clientela e freguesia: cliente é

aquele que frequenta o estabelecimento por causa de fatores subjetivos (ex.:

garçom chama o cliente pelo nome); ao passo que o freguês frequenta o

estabelecimento devido a fatores objetivos (ex.: freguês frequentou o

estabelecimento porque era o único existia que naquela área). Assim sendo,

segundo Campinho, a clientela seria elemento integrante do estabelecimento,

porém a freguesia não.

Fábio Ulhoa Coelho tem o mesmo entendimento que Campinho e, quando

aborda o tema em seu livro, realiza uma crítica aos autores que defendem que

a clientela nunca poderia ser elemento integrante do estabelecimento, sob o

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fundamento de que a clientela seria um conjunto de pessoas, o que não

poderia ser objeto de apropriação pelo empresário.

2) Aviamento é apenas e tão somente o potencial de lucratividade do

estabelecimento. Portanto, não é um elemento integrante do estabelecimento

empresarial, pois trata-se de um potencial e não de um bem que integra o

fundo empresarial.

Quanto melhor o estabelecimento for organizado, melhor será o aviamento, seu

potencial de lucratividade. Ex.: uma biblioteca é mais organizada do que a

outra, tem livros mais novos do que a outra, tem ar-condicionado e a outra não.

FUNDO EMPRESARIAL = ESTABELECIMENTO = HACIENDA = GOODWILL OF A TRADE

3) A cláusula de não concorrência (também chamada de cláusula de não

restabelecimento ou de quarentena) pode aparecer em vários tipos de relações

negociais. E também irá aparecer no contrato de trespasse. Segundo a regra

do art. 1147/CC, o alienante do estabelecimento empresarial não poderá fazer

concorrência ao adquirente do estabelecimento, salvo quando expressamente

autorizado pelo adquirente a se restabelecer. Portanto, podemos concluir que a

cláusula de não concorrência é considerada implícita no contrato de trespasse.

Art. 1.147 - Não havendo autorização expressa, o alienante do

estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco

anos subsequentes à transferência.

Parágrafo único - No caso de arrendamento ou usufruto do

estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o

prazo do contrato.

A cláusula de não concorrência não pode ser considerada absoluta, ela tem

limites. Tem que sempre levar em consideração que o objetivo desta clásula no

contrato de trespasse é justamente proteger a clientela, para que não haja

desvio de clientela. Por exemplo, pela cláusula de não concorrência, um

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empresário não pode vender sua padaria e no dia seguinte abrir uma outra

padaria na loja do lado, pois nesse caso haveria desvio de clientela.

Além disso, tem que trabalhar sempre com a razoabillidade. Por exemplo, um

empresário vende sua padaria em Copacabana e decide abrir uma outra

padaria em Niterói no dia seguinte. Nesse caso não haveria desvio de clientela.

Portanto, não seria razoável proibir que o empresário abra uma nova padaria

em Niterói.

Para saber se a cláusula de não concorrência vai incidir ou não no caso

concreto tem que verificar os limites quanto ao tempo ou prazo, quanto ao

ramo ou atividade e também quanto ao teritório ou local. O art. 1147/CC já

estabeleceu o limite temporal da cláusula de não concorrência: prazo de cinco

anos subsequentes ao trespasse. Para determinar os outros dois limites é

fundamental levar em consideração a razão de ser da cláusula de não

concorrência e a proporcionalidade/razoabilidade.

Caso da Cia. Juta (1913): ACÓRDÃO STF – ALIENAÇÃO DE

ESTABELECIMENTO COMERCIAL – Restabelecimento do alienante em

competição com o adquirente – Omissão do Contrato – Inexistência de

Presunção de Renúncia ao direito de exercer determinado ramo de comércio

ou indústria – Licitude do Restabelecimento – Ação de Indenização Julgada

Improcedente – Voto vencido. (STF – Supremo Tribunal Federal, Apelação Civil

n° 2.183, 12/08/1913)

Esse caso da Cia. Juta chegou ao STF através de um recurso feito por Rui

Barbosa, que alegou que a cláusula de não concorrência seria inconstitucional,

pois violaria a livre iniciativa, e que ela não poderia ser considerada implícita no

contrato de trespasse. O STF entendeu que não poderia afirmar,

genericamente, que a cláusula de não concorrência era inconstitucional, pois a

livre iniciativa também tem limites (na ordem econômica, não pode ter

concorrência desleal) e a aplicação razoável/proporcional desta cláusula não

violaria a Constituição Federal. Entretanto, nesse caso, o STF acabou

decidindo que a cláusula de não concorrência deveria ser expressa no contrato

de trespasse.

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Embora o STF tenha decidido dessa forma, os tribunais e a doutrina (liderada

principalmente por Oscar Barreto Filho) continuaram afirmando que a cláusula

de não concorrência estaria implícita no contrato de trespasse. E foi justamente

essa doutrina que foi adotada no Código Civil de 2002.

Quem compra o estabelecimento se sub-roga nos contratos que foram

celebrados para exploração do estabelecimento?

Art. 1.148 - Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-

rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do

estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros

rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da

transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a

responsabilidade do alienante.

Enunciado n° 8 aprovado na I Jornada de Direito Comercial do CJF: “A sub-

rogação do adquirente nos contratos de exploração atinentes ao

estabelecimento adquirido, desde que não possuam caráter pessoal, é a regra

geral, incluindo o contrato de locação”.

No art. 1148/CC há uma regra geral: haverá sub-rogação do adquirente nos

contratos estipulados para exploração do estabelecimento. Entretanto, há duas

hipóteses excepcionais em que não haverá sub-rogação do adquirente: i)

disposição expressa em contrário; e ii) contrato de exploração do

estabelecimento ter caráter pessoal. E segundo o Enunciado n° 8 da I Jornada

de Direito Comercial do CJF, o contrato de locação está incluído nessa regra

geral.

De acordo com o art. 1149/CC, havendo trespasse, teremos como

consequência a cessão dos créditos referentes ao estabelecimento em favor do

adquirente, sendo que os efeitos dessa cessão irão operar a partir do momento

da publicação da transferência.

Art. 1.149 - A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento

transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde

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o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará

exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.

Por fim, cabe registrar que, de acordo com o enunciado da Súmula 451/STJ, “é

legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial”.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) Prova AGU 2010 – CESPE

Após percuciente análise, Beta Ltda. adquiriu, em 10/12/2009, o

estabelecimento empresarial de Alfa Ltda., cujo contrato foi averbado à

margem da inscrição da sociedade empresária, no Registro Público de

Empresas Mercantis, e publicado na imprensa oficial em 15/1/2010. O

referido estabelecimento, quando de sua alienação, apresentava

inúmeros débitos regularmente contabilizados, todos com vencimento no

dia 2/1/2011. Nessa situação, Alfa Ltda. continuará solidariamente

obrigada ao pagamento dos aludidos débitos até 2/1/2012. CERTO

2) Questão (Notário Acre 2006)

Considerando o destaque da empresa e do empresário no direito

comercial, julgue os itens subsequentes: Estabelecimento empresarial é

o complexo de bens reunidos pelo empresário para o desenvolvimento

de sua atividade econômica. Influenciada pelo princípio da

informalidade, a alienação do estabelecimento empresarial não está

sujeita à observância de cautelas específicas, como, por exemplo, o

contrato ser arquivado na junta comercial. ERRADO

3) Prova VUNESP 2012 – Magistratura RJ

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Na transferência do estabelecimento empresarial, é correto afirmar que:

(A) desde que determinado no contrato, as partes poderão acordar que

a transferência não impostará a sub-rogação do adquirente nos

contratos estipulados para a exploração do estabelecimento.

NOME EMPRESARIAL: é um elemento integrante do estabelecimento

empresarial e identifica o empresário. Não se confunde com marca e título de

estabelecimento, pois a marca identifica um produto ou um serviço e o título de

estabelecimento (“letreiro”) identifica o ponto empresarial.

O nome empresarial deve ser registrado na Junta Comercial. A partir do

registro, haverá uma proteção ao uso exclusivo desse nome por seu titular. De

acordo com o art. 1166/CC, o âmbito de proteção do nome empresarial é

estadual. Assim sendo, se um empresário registrar um nome empresarial na

Junta Comercial do Rio de Janeiro, é possível que um outro empresário

registre o mesmo nome empresarial em São Paulo.

Art. 1.166 - A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das

pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio,

asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.

Parágrafo único - O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o

território nacional, se registrado na forma da lei especial.

Caso queira expandir a proteção do nome empresarial para o âmbito nacional,

será necessário averbar nas Juntas Comerciais de cada Estado e do Distrito

Federal. Obs.: A marca que for devidamente registrada tem proteção em

âmbito nacional.

De acordo com o art. 1164/CC, o nome empresarial não pode ser alienado.

Mas o § único do referido artigo estabelece uma exceção a essa regra: é

possível alienar o nome empresarial com o trespasse do estabelecimento. Não

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obstante a existência desse dispositivo, ainda existe controvérsia acerca dessa

questão.

Art. 1.164 - O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.

Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos,

pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do

seu próprio, com a qualificação de sucessor.

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 05 – 22/03/2013

O nome empresarial deve ser objeto de registro na Junta Comercial, sendo

que, de acordo com o art. 33 da Lei 8.934/94, “a proteção ao nome empresarial

decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firma

individual e de sociedades, ou de suas alterações”. E a proteção ao nome

empresarial se dá nos limites do território da Junta Comercial, ou seja, em

âmbito estadual, pois existe uma Junta Comercial em cada Estado e no Distrito

Federal (art. 1166/CC).

De acordo com o art. 1164/CC, o nome empresarial não pode ser alienado,

salvo no trespasse. Existe uma grande controvérsia acerca da

constitucionalidade desse dipositivo. Alfredo de Assis Gonçalves Neto entende

que o nome empresarial pode sim ser alienado: o caput do art. 1164/CC é

inconstitucional no tocante ao nome empresarial da espécie denominação, pois

a denominação tem natureza patrimonial e a norma infraconstitucional somente

pode limitar o direito fundamental à propriedade se houver razoabilidade, mas

Alfredo de Assis Gonçalves Neto não entende ser razoável limitar a alienação

do nome empresarial da espécie denominação; quanto ao nome empresarial

da espécie firma, que é construído a partir do nome civil dos sócios ou do

empresário individual, Alfredo de Assis Gonçalves Neto destaca a possibilidade

excepcional da sua alienação se for adquirido por uma outra pessoa que

ostente o mesmo nome civil referido na firma.

O nome empresarial deve ser arrecadado na falência? Em princípio não, pois a

ideia que prevalece é a do art. 1164/CC, que em regra o nome empresarial não

deve ser alienado. Entretanto, se essa pergunta for feita em uma prova

discursiva de concurso público, a posição de Alfredo de Assis Gonçalves Neto

também deve ser exposta.

O nome empresarial pode ser da espécie firma ou denominação. A Instrução

Normativa n° 116 do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC)

dispõe sobre a formação do nome empresarial, sua proteção e dá outras

providências.

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O nome empresarial da espécie firma é construído a partir do nome civil dos

sócios ou do empresário individual; haverá uma assinatura própria para

identificar a firma, que tem natureza jurídica de direito da personalidade. Já a

denominação é construída com base em um elemento fantasia e tem natureza

jurídica de direito patrimonial, sendo que, em regra, não aparece a identificação

do nome civil dos sócios (exemplo: Petróleo Brasileiro S.A.).

A firma pode ser classificada em individual ou coletiva e firma coletiva é

sinônimo de razão social. O empresário individual usa firma, sendo que

empresário individual + firma = firma individual. Uma pessoa jurídica também

pode usar firma, sendo que pessoa jurídica + firma = firma coletiva ou razão

social.

Sociedade em nome coletivo e sociedade em comandita simples usam apenas

firma (firma coletiva ou razão social). Sociedade anônima apenas pode usar

denominação. Sociedade limitada, sociedade em comandita por ações e

EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada) podem escolher entre

firma ou denominação. Já sociedade em conta de participação não tem nome

empresarial (art. 1162/CC), pois, na realidade, não se trata de uma sociedade,

mas sim de um contrato de participação.

O art. 1157/CC determina que “a sociedade em que houver sócios de

responsabilidade ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes

daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles

a expressão "e companhia" ou sua abreviatura”. Portanto, as sociedades em

que há sócio com responsabilidade ilimitada, como na sociedade em comandita

simples, por exemplo, usam apenas o nome empresarial do tipo firma, sendo

que somente o sócio comanditado pode emprestar o seu nome civil para

compor a firma coletiva ou razão social.

São três os princípios que regem o nome empresarial (art. 34 da Lei 8.934/94 e

art. 4° da Instrução Normativa n° 116/DNRC):

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1) VERACIDADE: o nome tem que ser verdadeiro. É necessário alterar o

nome empresarial do tipo firma quando um sócio morre ou sai da

sociedade, sob pena de violação ao princípio da veracidade.

2) MORALIDADE: o nome não pode ofender a moral e os bons constumes.

Nesse sentido, não é possível, por exemplo, registrar o nome

empresarial Comando Vermelho Artefatos Explosivos Ltda., por ofensa

ao princípio da moralidade.

3) NOVIDADE: não se admite um nome idêntico ou semelhante registrado

na mesma Junta Comercial. Esse princípio confere àquele que primeiro

registrou o nome empresarial na Junta Comercial o direito de usá-lo de

forma exclusiva. Mas o princípio da novidade não é absoluto, pois o

âmbito de proteção do nome empresarial não é nacional, mas sim

estadual.

O princípio da novidade é absoluto na própria Junta Comercial? Em

princípio, não poderia haver o registro posterior de nome idêntico ou

semelhante por causa do direito à exclusividade, mas a jurisprudência

do STJ entende que o princípio da novidade não é absoluto na própria

Junta, pois excepcionalmente pode-se admitir o registro de um outro

nome empresarial idêntico ou semelhante na mesma Junta Comercial,

desde que não haja a possibilidade de confusão entre os consumidores

e não atuem no mesmo ramo de atividade.

Informativo 426/STJ

NOME COMERCIAL. REGISTRO. CONFUSÃO. Trata-se de REsp em que se

pretende o reconhecimento do uso exclusivo do nome comercial e da marca

formada pelo vocábulo Fiorella, alegando-se, para tanto, que o termo foi

devidamente registrado, em momento anterior, como marca e parte do nome

empresarial da recorrente, circunstância suficiente para elidir seu uso pela

recorrida, tendo em vista o caráter absoluto da proteção conferida pelo registro.

A Turma entendeu que, no caso, conquanto haja um vocábulo idêntico na

formação dos dois nomes empresariais, não se verifica seu emprego indevido,

tendo em vista as premissas estabelecidas pelo tribunal de origem ao analisar

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colidências, tais como, ausência de possibilidade de confusão entre

consumidores e atuação empresarial em atividades diversas e inconfundíveis.

Desse modo, não obstante a existência de registro anterior da recorrente, esse

não tem a capacidade de elidir, de forma absoluta, o uso do referido vocábulo

pela recorrida, visto que, na hipótese, não se vislumbra infringência às

finalidades ensejadoras da proteção ao nome empresarial, porquanto as

atividades econômicas das empresas dão-se em campos distintos. Some-se a

isso a utilização da palavra “Têxteis” no nome da recorrente, circunstância que

manifesta distinção entre as espécies e obsta eventual confusão. Destarte, a

tutela do nome comercial deve ser entendida de modo relativo, pois o registro

mais antigo gera a proteção no ramo de atuação da empresa que o detém, mas

não impede a utilização do nome em segmento diverso, sobretudo quando não

se verifica qualquer confusão, prejuízo ou vantagem indevida em seu emprego.

Diante disso, negou-se provimento ao recurso. Precedente citado do STF: RE

115.820-RJ, DJ 19/2/1993. (REsp 262.643-SP, Rel. Min. Vasco Della Giustina

(Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em 9/3/2010).

Enunciado 01 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: Decisão judicial que

considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não implica a

anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,

preservado o direito de o empresário alterá-lo.

Enunciado 02 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: A vedação de registro

de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de

nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação

(art. 124, V da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em

consonância com o art. 1.166 do Código Civil.

Em princípio, o fato de ter um nome empresarial registrado não impede o

registro da marca. Entretanto, não poderá haver o registro da marca quando o

nome empresarial tiver proteção nacional (ou seja, ele for registrado em todas

as Juntas Comerciais do país) e atuarem no mesmo ramo de atividade. Se

estes dois requisitos não estiverem presentes, não haverá qualquer

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impedimento ao registro da marca que reproduza ou imite elemento

característico ou diferenciador de nome empresarial de terceiros.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) Questão 42 (PGE-PI-2008)

Como regulado pelo Código Civil, o nome empresarial: (E) formar-se-á

necessariamente sob denominação, se o quadro societário da sociedade

limitada a ser nomeada envolver apenas pessoas jurídicas.

2) DPGE – Ceará – 2007

Marcos Oliveira, Antônio Silva e Paulo Perez constituíram sociedade

designada Oliveria, Silva & Perez Serviços Gerais Ltda., para atuar no

ramo de prestação de serviços de limpeza e conservação a outras

pessoas jurídicas, sendo Paulo Perez o sócio majoritário. [...] Acerca da

situação hipotética acima e das nromas relativas às sociedades

limitadas, julge os itens que se seguem:

95) É lícita a utilização do nome Oliveria, Silva & Perez Serviços Gerias

Ltda., pois as sociedades limitadas podem utilizar tanto denominação

como razão social. CERTO

3) XXXIII Concurso do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

(1999) – 13ª questão – Direito Comercial – Valor: 5 pontos

Declarada a falência de uma sociedade por quotas de responsabilidade

limitada, promoveu o Síndico a arrecadação do nome da Falida e de sua

marca comercial. A Falida insurge-se contra o ato do Síndico, solicitando

ao juiz que exclua tais bens da falência. Os autos são remetidos ao

Ministério Público. Opine a respeito.

A marca é um direito de propriedade industrial e não há a menor

discussão que ela é arrecadada na falência para ser vendida e depois

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pagar os credores. A grande dúvida desta questão é se o nome

empresarial pode ou não ser arrecadado na falência.

Quando o concurso foi realizado, ainda não existia o Código Civil de

2002, então, o examinador queria que o candidato expusesse o

entendimento do Rubens Requião, que defende que o nome empresarial

da espécie firma tem natureza de direito da personalidade, portanto, é

inalienável; já o nome empresarial da espécie denominação tem

natureza patrimonial, portanto, pode ser arrecadado e vendido.

Se essa mesma questão caísse hoje em um concurso, o candidato

deveria expor o contexto do art. 1164 do CC/2002 e trazer o

posicionamento majoritário de que nenhum nome empresarial pode ser

alienado, então não poderia haver a sua arrecadação na falência. Além

disso, o candidato também deveria expor o entendimento de Alfredo de

Assis Gonçalves Neto.

TÍTULO DE ESTABELECIMENTO: é vulgarmente chamado de “letreiro” e tem

como finalidade a identificação do ponto empresarial. Normalmente o título de

estabelecimento reproduz a marca ou o nome empresarial, mas eles não se

confundem.

Para ter o licenciamento do “letreiro”, é necessário obter uma autorização da

Prefeitura. Não há um local específico para registrar o título de

estabelecimento; não obstante, o titular do “letreiro” tem proteção quanto ao

seu uso exclusivo. Nesse sentido, o art. 195, V da Lei 9.279/1996 estabelece

que comete crime de concorrência desleal quem usa, indevidamente, título de

estabelecimento alheio ou vende, expõe ou oferece à venda ou tem em

estoque produto com essa referência. Deve-se utilizar a boa-fé e o princípio da

anterioridade para resolver qualquer conflito atinente a título de

estabelecimento. Entretanto, cabe resslatar que haverá uma maior proteção do

“letreiro” quando ele reproduzir uma marca registrada, pois ele será atingido

indiretamente pela proteção dada à marca.

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A Lei 9.279/1996 trata de quatro bens de PROPRIEDADE INDUSTRIAL:

marca, desenho industrial, invenção e modelo de utilidade, sendo que os dois

primeiros são suscetíveis de registro e os outros dois são suscetíveis de

patente. O art. 5° da referida Lei determina que consideram-se bens móveis os

direitos de propriedade industrial. Além de proteger os bens de propriedade

industrial, a Lei 9.279/1996 também tem como objetivo reprimir a concorrência

desleal e as falsas indicações geográficas.

MARCA

É disiciplinada a partir do art. 122 da Lei 9.279/1996 e tem como objetivo

identificar produtos ou serviços. Somente irá registrar como marca aquilo que

configure um sinal distintivo visualmente perceptível. Assim sendo, não se

admite o registro como marca de sinal sonoro, gustativo ou olfativo. E o sinal

tem que ser distintivo justamente para distinguir um produto ou serviço dos

demais.

Além disso, para realizar o registro de uma marca não pode existir proibição

legal, na forma do art. 124 da Lei 9.279/1996. Portanto, em princípio, uma letra,

uma cor, um número isolodamente não podem ser registrados como marca,

salvo quando tiver um sinal distintitvo visualmente perceptível, como no caso

da letra i em formato de arroba do Banco Itaú.

Por exemplo, uma marca chamada “Preservativo São Jorge” não pode ter seu

registro deferido, por ofensa ao princípio da moralidade. Já a marca “Vela São

Jorge” pode ser registrada. Um outro exemplo de marca irregistrável é a

suástica, símbolo do movimento nazista.

De acordo com o art. 124, VI da Lei 9.279/1996, uma marca também não pode

se apropiar de uma expressão genérica que se refira ao produto ou serviço

prestado, pois poderia criar um monopólio indevido. Pos exemplo, Domino’s

Pizza e Mister Pizza são marcas registradas e possuem suficiente forma

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distintiva, mas não se pode outorgar a exclusividade da expressão genérica

pizza a nenhuma delas.

Informativo 477/STJ

INPI. LIMITAÇÃO. REGISTRO. MARCA INDUTRIAL MISTA. A recorrente

ajuizou, na origem, ação de anulação parcial do ato administrativo do Instituto

Nacional de Propriedade Industrial (INPI) que concedeu o registro de marca

industrial com a observação de que o concedia como marca mista sem

exclusividade de uso dos elementos nominativos isoladamente. Isso porque a

marca industrial, além do elemento figurativo, contém as palavras comuns,

corriqueiras e genéricas “porta””e “pronta”, sendo que a primeira palavra em

linha superior e a segunda palavra na segunda linha, iniciando-se da letra p”da

primeira palavra. As instâncias ordinárias julgaram improcedente o pedido e, no

REsp, a recorrente insiste na anulação parcial do registro concedido pelo

recorrido (INPI). Após a análise doutrinária da questão, no caso dos autos, o

Min. Relator esclarece que a recorrente pretende obter exclusividade sobre o

uso da marca de palavras comuns desprovido de origem que, isolada ou

conjuntamente, descreve o produto comercializado. Assim, o acolhimento de tal

pretensão acabaria por criar monopólio indevido, pois os concorrentes ficariam

impedidos de anunciar a comercialização de portas prontas, o que é vedado

pelo art. 124 da Lei n. 9.279/1996. Diante do exposto, a Turma negou

provimento ao recurso. Precedente citado: REsp 1.166.498-RJ, DJe 30/3/2011.

(REsp 1.039.011-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/6/2011).

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 06 – 05/04/2013

A marca pode ser classificada em: 1) marca nominativa e figurativa – registro

exclusivamente de um nome (exemplo: Gillette) ou de uma figura (exemplo:

Nike); 2) marca mista – registro de nome e figura (exemplo: Starbucks Coffee);

3) marca tridimensional – forma distintiva da embalagem que distingue o

produto (exemplo: Toblerone).

Existem três espécies de marca, de acordo com o art. 123, LPI: 1) marca de

produto ou serviço – distingue um produto ou serviço de outro similar (exemplo:

McDonald’s, Bradesco); 2) marca coletiva – distingue um produto ou um

serviço, indicando que provém de uma coletividade (ex.: Fundação ABRINQ,

Unimed); 3) marca de certificação – atesta qualidade, técnica, padrões,

normas, materiais, etc (exemplo: INMETRO, ISO).

São três os princípios que norteiam a marca:

1) princípio da novidade relativa – basta que seja novo e não ofenda marca de

terceiro. É possível a criação de uma marca com expressões comuns, como,

por exemplo, a marca “Casa&Vídeo”, desde que dê a ela um sinal perceptível e

distintivo (mas não terá direito ao uso exclusivo das expressões comuns da

marca). Não precisa ser uma novidade absoluta como ocorre na invenção e no

modelo de utilidade.

2) princípio da territorialidade – a proteção da marca ocorre apenas no país. A

marca devidamente registrada no INPI tem proteção no território brasileiro.

3) princípio da especialidade – vinculada à atividade do requerente. A proteção

ao uso exclusivo da marca se dá apenas na classe própria daquele produto.

Assim sendo, a marca “Veja”, por exemplo, pode ser um produto de limpeza

(classe n° 03) ou uma revista semanal (classe n° 11). Entretanto, cabe registrar

que houve decisão do STJ no sentido permitir o registro de duas marcas quase

idênticas na mesmo classe de produto, com base no argumento de que o

público alvo de cada uma delas é diferente.

Caso Hermes: Foi mantida decisão do TJ-RJ que permitiu à grife francesa

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Hermès conviver em harmonia no território nacional com a brasileira Hermes. O

STJ rejeitou a tentativa da empresa brasileira de impedir que a companhia

francesa explorasse os seus produtos no Brasil com a referida marca. Ambas

as empresas atuam no mesmo ramo de atividade; uma se destinando ao

mercado de luxo, outra à venda por catálogos. As marcas traduzem

expressões praticamente idênticas e a única diferença é o acento gráfico. A Lei

9.279/96 confere o direito de exclusividade do uso da marca registrada junto ao

INPI, mas a ação interposta pela empresa francesa foi julgada procedente com

o argumento de que o público alvo era distinto e os produtos não se

confundiam. “Um consumidor da grife Hermès jamais adquirirá um produto da

Hermes por engano, e vice-versa”, assinalou a decisão.

A marca de alto renome, como, por exemplo, McDonald’s, Coca-Cola, é uma

exceção ao princípio da especificidade, pois ela terá proteção em todas as

classes de produtos e serviços.

Informativo 484/STJ

USO. MARCA. RAMOS COMERCIAIS DISTINTOS. POSSIBILIDADE. Trata-

se, na origem, de ação indenizatória por perdas e danos objetivando, em

síntese, a abstenção de uso de marca comercial em razão da ocorrência de

prática de concorrência desleal. Nas instâncias ordinárias não houve

comprovação de que a marca detinha proteção especial por ser de alto

renome, uma vez inexistente manifestação do INPI nesse sentido. Assim,

qualquer conclusão que contrarie tal entendimento demandaria o reexame de

provas, o que é vedado pela Súm. n. 7 deste Superior Tribunal. No caso, a

marca foi registrada por sociedade empresária cujo objeto social é gestão de

planos de saúde e hospitais bem como por sociedade empresária para fazer

referência a produtos de higiene doméstica, tais como sabão em pó,

detergente, alvejante de roupa, dentre outros. Os ramos comerciais em que

atuam são, portanto, distintos. Logo, como a utilização da marca refere-se a

diferentes classes de produtos, a Turma entendeu que não há colidência de

marcas capaz de gerar dúvida no consumidor, motivo que leva a convivência

pacífica do uso da marca pelas duas sociedades empresárias. Precedente

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citado: REsp 550.092-SP, DJ 11/4/2005. (REsp 1.262.118-RJ, Rel. Min.

Massami Uyeda, julgado em 4/10/2011).

A marca de alto renome é regulada pelo art. 125 da Lei 9.279/1996 e pela

Resolução 121/2005 do INPI. A marca de alto renome registrada no Brasil terá

proteção em todos os ramos de atividade (exceção ao princípio da

especificidade). Ela tem que ser registrada no Brasil e será o INPI que

reconhecerá a marca como sendo de alto renome; não é porque uma marca é

muito conhecida que ela será de alto renome. A proteção da marca dura 10

anos, mas a proteção da marca de alto renome deve ser renovada a cada 5

anos (art. 10 da Resolução 121/2005 do INPI).

O art. 2° da Resolução 121/2005 do INPI determina que “considera-se de alto

renome a marca que goza de uma autoridade incontestável, de um

conhecimento e prestígio diferidos, resultantes da sua tradição e qualificação

no mercado e da qualidade e confiança que inspira, vinculadas,

essencialmente, à boa imagem dos produtos ou serviços a que se aplica,

exercendo um acentuado magnetismo, uma extraordinária força atrativa sobre

o público em geral, indistintamente, elevando-se sobre os diferentes mercados

e transcendendo a função a que se prestava primitivamente, projetando-se

apta a atrair clientela pela sua simples presença”. Exemplos de marca de alto

renome: Pirelli, Kibon, Natura, Tramontina, Moça, Havaianas.

O art. 3° da Resolução 121/2005 do INPI determina as formas possíveis para

obter essa proteção da marca de alto renome. Ela deverá ser requerida ao

INPI, pela via incidental, como matéria de defesa, quando: i) da oposição a

pedido de registro de marca de terceiro; ou ii) do processo administrativo de

nulidade de registro de marca de terceiro que apresente conflito com a marca

invocada de alto renome, no INPI. ***

Obs.: Marca notória é sinônimo de marca de alto renome. Tal nomenclatura era

utilizada na antiga lei de propriedade industrial como o que se conhece hoje por

marca de alto renome.

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*** ATUALIZAÇÃO: INFORMATIVO 517/STJ.

A marca de alto renome é uma exceção ao princípio da especificidade. O STJ

entendeu que a Resolução n. 121/2005 do INPI deve ser revista para permitir

que o titular da marca peça a declaração de alto renome ao INPI; enquanto o

INPI não decidir, o Judiciário não pode declarar a marca como sendo de alto

renome, pois trata-se de uma questão administrativa.

Informativo 517/STJ

DIREITO EMPRESARIAL. POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE UMA

DECLARAÇÃO GERAL E ABSTRATA DO INPI REFERENTE À

CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE ALTO RENOME.

É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via direta,

uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome. A

denominada “marca de alto renome”, prevista no art. 125 da Lei de Propriedade

Industrial, consiste em um temperamento do princípio da especialidade, pois

confere à marca proteção em todos os ramos de atividade. Tal artigo não

estabeleceu os requisitos necessários à caracterização do alto renome de uma

marca, de modo que a regulamentação do tema ficou a cargo do INPI.

Atualmente, a sistemática imposta pela aludida autarquia, por meio da

Resolução n. 121/2005, somente admite que o interessado obtenha o

reconhecimento do alto renome pela via incidental, a partir do momento em que

houver a prática, por terceiros, de atos potencialmente capazes de violar a

marca. Inexiste, portanto, um procedimento administrativo tendente à obtenção

de uma declaração direta e abstrata. Parte da doutrina entende que o alto

renome não dependeria de registro. Nessa concepção, a marca que possuísse

a condição de alto renome no plano fático seria absoluta, de sorte que

ninguém, em sã consciência, poderia desconhecê-la. Entretanto, ainda que

uma determinada marca seja de alto renome, até que haja uma declaração

oficial nesse sentido, essa condição será ostentada apenas em tese. Dessa

forma, mesmo que exista certo consenso de mercado acerca do alto renome,

esse atributo depende da confirmação daquele a quem foi conferido o poder de

disciplinar a propriedade industrial no Brasil, declaração que constitui um direito

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do titular, inerente ao direito constitucional de proteção integral da marca, não

apenas para que ele tenha a certeza de que sua marca de fato possui essa

peculiaridade, mas, sobretudo, porque ele pode — e deve — atuar

preventivamente no sentido de preservar e proteger o seu patrimônio

intangível, sendo despropositado pensar que o interesse de agir somente irá

surgir com a efetiva violação. Deve-se considerar, ainda, que o reconhecimento

do alto renome só pela via incidental imporia ao titular um ônus injustificado, de

constante acompanhamento dos pedidos de registro de marcas a fim de

identificar eventuais ofensas ao seu direito marcário. Ademais, não se pode

perder de vista que muitas vezes sequer ocorre a tentativa de depósito da

marca ilegal junto ao INPI, até porque, em geral, o terceiro sabe da

inviabilidade de registro, em especial quando a colidência se dá com marca de

alto renome. Nesses casos, a controvérsia não chega ao INPI, impedindo que o

titular da marca adote qualquer medida administrativa incidental visando à

declaração do alto renome. Acrescente-se, por oportuno, que, ao dispor que “a

proteção de marcas de alto renome não dependerá de registro na jurisdição em

que é reivindicada”, a Association Internationale pour la Protection de la

Propriété Industrielle (AIPPI) não isentou — ou pelo menos não impediu —

essas marcas de registro, tampouco afirmou que essa condição — de alto

renome — independeria de uma declaração oficial; apenas salientou que elas

estariam resguardadas mesmo sem prévio registro, ou seja, prevaleceriam

sobre marcas colidentes, ainda que estas fossem registradas

anteriormente. (REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

19/02/2013).

DIREITO EMPRESARIAL. IMPOSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO

RECONHECER, ANTES DA MANIFESTAÇÃO DO INPI, A

CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE ALTO RENOME.

Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da

caracterização, ou não, de uma marca como sendo de alto renome, não pode o

Poder Judiciário conferir, pela via judicial, a correspondente proteção

especial. A lacuna existente na Resolução n. 121/2005 — que prevê a

declaração do alto renome de uma marca apenas pela via incidental —

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configura omissão do INPI na regulamentação do art. 125 da LPI, situação que

justifica a intervenção do Poder Judiciário. Entretanto, até que haja a

manifestação do INPI pela via direta, a única ilegalidade praticada será a

inércia da Administração Pública. Assim, é incabível, ao menos nesse

momento, a ingerência do Poder Judiciário no mérito do ato omissivo,

competindo-lhe, caso provocado, a adoção de medidas tendentes a ocasionar

a manifestação do INPI. Desse modo, na ausência de uma declaração

administrativa da referida autarquia, a decisão judicial que reconhece o alto

renome de uma marca caracteriza usurpação de atividade que legalmente

compete àquele órgão, consistindo em violação da tripartição dos poderes do

Estado, assegurada pelo art. 2° da CF/1988. (REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2013).

Já a marca notoriamente conhecida é regulada pelo art. 126 da Lei 9.279/1996.

É a marca estrangeira que terá proteção independentemente de registro no

INPI. Essa proteção será limitada apenas à classe em que a marca

notoriamente conhecida atua. Portanto, a marca notoriamente conhecida não

se trata de uma exceção ao princípio da especificidade.

Art. 126 - A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos

termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção

da Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente

de estar previamente depositada ou registrada no Brasil.

De acordo com o art. 129 da Lei 9.279/1996, no Brasil prevalece o sistema

atributivo, pois a proteção da marca depende da concessão do registro pelo

INPI (não basta o depósito do pedido de registro da marca). Entretanto, haverá

um direito de precedência ao registro para a pessoa que, de boa-fé, na data do

depósito, usava no país, há pelo menos 6 meses, a marca para distinguir ou

certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim (art. 129, § 1° da art.

129 da Lei 9.279/1996).

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Art. 129 - A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente

expedido, conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular

seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às

marcas coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148.

§ 1° - Toda pessoa que, de boa fé, na data da prioridade ou depósito,

usava no País, há pelo menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou

semelhante, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico,

semelhante ou afim, terá direito de precedência ao registro.

§ 2° - O direito de precedência somente poderá ser cedido juntamente

com o negócio da empresa, ou parte deste, que tenha direta relação com

o uso da marca, por alienação ou arrendamento.

Não só o titular da marca, mas também o depositante tem direito de zelar pela

integridade e reputação da marca (art. 130 da Lei 9.279/1996). Assim sendo, o

depositante também terá legitimidade para propor ação cautelar para proteger

a marca.

Informativo 481/STJ

MARCA. DEPÓSITO. INPI. PENDÊNCIA. REGISTRO. Discute-se no REsp se

o depósito de marca junto ao INPI confere ao depositante o direito à sua

proteção independentemente do registro. Na espécie, a recorrente propôs

contra a recorrida ação de busca e apreensão de produtos com sua marca – na

qualidade de detentora de seu depósito, pendente de registro no INPI –,

aduzindo utilização indevida e desautorizada. O tribunal a quoextinguiu o

processo sem resolução do mérito, por ausência de interesse processual

decorrente da falta de registro da marca no INPI. A Turma entendeu que o

acórdão recorrido violou o art. 130, III, da Lei n. 9.279/1996, que é expresso em

conferir também ao depositante – e não apenas ao titular do registro da marca

– o direito de “zelar pela sua integridade material ou reputação”. E que, de fato,

o art. 129 da citada lei, invocado pelo acórdão recorrido, subordina o direito de

uso exclusivo da marca ao seu efetivo registro no INPI, que confere ao titular o

direito real de propriedade sobre ela. Mas a demora na outorga do registro não

pode andar a favor do contrafator. Assim, não apenas ao titular do registro,

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mas também ao depositante é assegurado o direito de zelar pela integridade

material ou reputação da marca, conforme o disposto no citado artigo,

configurando-se o interesse processual. (REsp 1.032.104-RS, Rel. Min. Nancy

Andrighi, julgado em 18/8/2011).

De acordo com o art. 133 da Lei 9.279/1996, a proteção da marca dura pelo

período de 10 anos, contados da concessão do registro.

Art. 133 - O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos,

contados da data da concessão do registro, prorrogável por períodos

iguais e sucessivos.

§ 1° - O pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o último ano

de vigência do registro, instruído com o comprovante do pagamento da

respectiva retribuição.

§ 2° - Se o pedido de prorrogação não tiver sido efetuado até o termo final

da vigência do registro, o titular poderá fazê-lo nos 6 (seis) meses

subseqüentes, mediante o pagamento de retribuição adicional.

§ 3° - A prorrogação não será concedida se não atendido o disposto no

art. 128.

A extinção do registro da marca pode se dar das seguintes maneiras (arts. 142

e 143 da Lei 9.279/1996): 1) expiração do prazo; 2) renúncia; e 3) caducidade.

Art. 142 - O registro da marca extingue-se:

I - pela expiração do prazo de vigência;

II - pela renúncia, que poderá ser total ou parcial em relação aos produtos

ou serviços assinalados pela marca;

III - pela caducidade; ou

IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

Art. 143 - Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com

legítimo interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na

data do requerimento:

I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou

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II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos

consecutivos, ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com

modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, tal

como constante do certificado de registro.

§ 1° - Não ocorrerá caducidade se o titular justificar o desuso da marca

por razões legítimas.

§ 2° - O titular será intimado para se manifestar no prazo de 60 (sessenta)

dias, cabendo-lhe o ônus de provar o uso da marca ou justificar seu

desuso por razões legítimas.

O Informativo 480/STJ trata sobre a caducidade da marca. A Segunda Seção

do STJ decidiu que a declaração da caducidade do registro de marca tem

efeitos prospectivos (ex nunc).

Informativo 480/STJ

MARCA. REGISTRO. CADUCIDADE. EFEITOS. Trata-se de embargos de

divergência em que a questão é definir quais os efeitos do cancelamento de

registro de marca industrial por ausência de uso (caducidade), nos termos do

art. 142, III, da Lei n. 9.279/1996. A Seção, ao prosseguir o julgamento, por

maioria, acolheu os embargos ao reconhecer os efeitos prospectivos (ex

nunc) da declaração de caducidade do registro da marca industrial. Entre

outros fundamentos, consignou-se que, se uma marca for cedida/licenciada a

diversas empresas em cadeia sucessória e a última cessionária/licenciada não

exercer qualquer dos poderes inerentes à propriedade da marca, tem-se uma

situação que põe termo à circulação de riquezas. Enquanto, se fossem os

efeitos da declaração de caducidade ex tunc, na hipótese de um terceiro

interessado apropriar-se daquela marca, esse estaria legitimado a pedir lucros

cessantes referentes a todos os antigos proprietários. Consectário disso seria o

início de uma reação em cadeia de ações de regresso até que o penúltimo

prejudicado pela inércia consiga cobrar do último o prejuízo decorrente da

abstenção de uso, gozo ou fruição do sinal industrial. Assim, o registro de

marcas e patentes, ao invés de oferecer segurança jurídica ao seu proprietário

e eventuais cessionários/licenciados, demonstraria um risco ad eternum para

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quem se aventurasse a adquirir direitos sobre a marca. Precedente citado do

STF: ADI 2.240-BA, DJ 3/8/2007; do STJ: REsp 330.175-PR, DJ

1º/4/2002. (EREsp 964.780-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgados em

10/8/2011).

O Informativo 505/STJ trata sobre a proteção da marca de alto renome. A

Terceira Turma do STJ decidiu que, a partir do momento que o INPI reconhece

uma marca como sendo de alto renome, a proteção de tal marca se dará com

efeitos prospectivos (ex nunc). Assim sendo, a marca igual ou parecida que já

estava registrada de boa-fé anteriormente não será atingida pelo registro da

marca de alto renome.

Informativo 505/STJ

DIREITO EMPRESARIAL. PROTEÇÃO DE MARCA NOTÓRIA. EFEITOS EX

NUNC. A proteção de marca notória registrada no INPI produz efeitos ex nunc,

não atingindo registros regularmente constituídos em data anterior. O direito de

exclusividade ao uso da marca em decorrência do registro no INPI, excetuadas

as hipóteses de marcas notórias, é limitado à classe para a qual foi deferido,

não abrangendo produtos não similares, enquadrados em outras classes. O

registro da marca como notória, ao afastar o princípio da especialidade, confere

ao seu titular proteção puramente defensiva e acautelatória, a fim de impedir

futuros registros ou uso por terceiros de outras marcas iguais ou parecidas, não

retroagindo para atingir registros anteriores. Precedente citado: REsp 246.652-

RJ, DJ 16/4/2007. (AgRg no REsp 1.163.909-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda,

julgado em 2/10/2012).

Informativo 466/STJ

NULIDADE. REGISTRO. MARCA. Trata-se de REsp em que se busca o

reconhecimento da validade do registro de determinada marca no Instituto

Nacional de Propriedade Industrial (INPI), alegando-se, para tanto, a

inexistência de similaridade ou confusão com outra marca de propriedade da

recorrida. A Turma negou provimento ao recurso por entender ser, na hipótese,

de clareza evidente a semelhança gráfica e fonética entre as marcas, motivo

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pelo qual não é admissível a coexistência de ambas no mesmo ramo de

atividade comercial, sob pena de gerar indesejável confusão mercadológica.

Outrossim, as instâncias ordinárias consignaram que os dois signos foram

registrados na mesma classe, ou seja, destinam-se a produtos idênticos,

semelhantes ou afins, razão por que a expressão mais moderna deve ter seu

registro invalidado em face da anterioridade do depósito da outra marca.

Precedentes citados: REsp 401.105-RJ, DJe 3/11/2009; REsp 995.112-RJ, DJe

28/9/2009, e REsp 949.514-RJ, DJ 22/10/2007. (REsp 1.235.494-RJ, Rel. Min.

Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em

15/3/2011).

Informativo 467/STJ

ABSTENÇÃO. USO. MARCA. A Turma entendeu que a expressão “Creme de

Rosas” para designar um desodorante pode ser compreendida como uma

variação do conhecido “Leite de Rosas”. Ponderou que “Leite de Rosas” e

“Creme de Rosas”, ambos apostos em embalagens de desodorante na mesma

cor rosa forte e com dizeres igualmente da mesma cor, parecem se referir a

variantes do mesmo produto. Entendeu, ainda, evidente a má-fé da recorrida,

pois ficou comprovado que fazia embalagens muito semelhantes às da

recorrente, o que, a toda evidência, visava iludir o consumidor ao usufruir do

respeito que já era inerente à marca dessa última. Assim, a Turma deu

provimento ao recurso e determinou à recorrida que se abstenha de utilizar a

marca “Creme de Rosas”. (REsp 929.604-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado

em 22/3/2011).

EXERCÍCIO SOBRE O TEMA DA AULA

1) Concurso Magistratura TJ-MT (2009) – VUNESP

A marca:

(A) identifica diretamente o empresário e a sociedade empresária;

(B) uma vez registrada, garante o uso exclusivo ao titular por 05 anos;

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(C) independe de registro para garantir o uso exclusivo ao seu criador;

(D) pode ser licenciada contratualmente, mas não cedida a terceiros;

(E) pode ser tridimensional. CERTO

INVENÇÃO, MODELO DE UTILIDADE, DESENHO INDUSTRIAL E

INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

A invenção e o modelo de utilidade são patenteávies e para o INPI conceder a

carta-patente é necessário que o titular apresente os seguintes requisitos:

novidade (absoluta), atividade inventiva e aplicação industrial. Além desses três

requisitos, o INPI deve observar se existe algum impedimento – por exemplo,

não pode conceder patente se for relativo a um direito autoral.

Art. 8° - É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade,

atividade inventiva e aplicação industrial.

Art. 9° - É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático,

ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova

forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria

funcional no seu uso ou em sua fabricação.

A invenção e o modelo de utilidade são frutos da criação do intelecto do ser

humano. Assim sendo, uma descoberta não poderá ser considerada invenção

nem modelo de utilidade (art. 10, I da Lei 9.279/1996), LPI), pois trata-se de

uma criação da natureza. O telefone é um exemplo de invenção (Alexander

Grahan Bell), sendo que o modelo de utilidade aperfeiçoa o objeto que foi

inventado, como, por exemplo, o Iphone.

São três os requisitos (cumulativos) de patentiabilidade: 1) novidade (art. 11,

LPI): o invento ou o modelo de utilidade não pode estar compreendido no

estado da técnica; assim sendo, tudo aquilo que não está compreendido no

estado da técnica, ou seja, não é acessível ao público antes da data de

depósito do pedido de patente, é considerado novo; 2) atividade inventiva (arts.

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13 e 14, LPI): a criação não decorre de maneira óbvia do estado da técnica; e

3) aplicação industrial (art. 15, LPI): pode ser industrializado.

Art. 11 - A invenção e o modelo de utilidade são considerados novos

quando não compreendidos no estado da técnica.

§ 1° - O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível

ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição

escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior,

ressalvado o disposto nos arts. 12, 16 e 17.

Art. 13 - A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um

técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado

da técnica.

Art. 14 - O modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que,

para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do

estado da técnica.

Art. 15 - A invenção e o modelo de utilidade são considerados suscetíveis

de aplicação industrial quando possam ser utilizados ou produzidos em

qualquer tipo de indústria.

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 07 – 12/04/2013

Além da novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, a doutrina também

indica os seguinte requisitos de patenteabilidade: não seja ofensivo à moral e

aos bons costumes e não seja proibida a sua patenteabilidade, como ocorre,

por exemplo, com o direito autoral.

O art. 10 da Lei 9.279/1996 determina o que não pode ser considerado

invenção nem modelo de utilidade: descobertas, teorias científicas e métodos

matemáticos; concepções puramente abstratas; as obras literárias,

arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; programas

de computador em si; regras de jogo; etc.

Para algo ser considerado uma invenção, tem que haver um ato criativo do ser

humano. Exatamente por isso, a descoberta de um novo metal na natureza, por

exemplo, não pode ser considerada uma invenção; entretanto, a criação de um

produto a partir desse novo metal pode ser considerada invenção.

O art. 40 da Lei 9.279/1996 determina o prazo de vigência da patente: a

patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 anos e a de modelo de utilidade

pelo prazo 15 anos contados da data de depósito. Além disso, o § único do

referido dispositivo prevê que o prazo de vigência não será inferior a 10 anos

para a patente de invenção e a 7 anos para a patente de modelo de utilidade, a

contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI estar impedido

de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada

ou por motivo de força maior.

Portanto, os prazos máximo e mínimo para vigência da patente de uma

invenção serão, respectivamente, de 20 anos e 10 anos; já no caso de um

modelo de utilidade, os prazos máximo e mínimo para vigência da patente

serão, respectivamente, de 15 anos e 7 anos. O prazo de vigência da patente

não é prorrogável, sendo que, após o término desse prazo, a invenção torna-se

domínio público. Por isso, muitas vezes, uma empresa prefere não realizar a

patente de uma invenção (exemplo: receita da Coca-Cola).

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Primeiro, deve ser feito o depósito do pedido de patente, que será analisado

pelo INPI; mas a efetiva proteção da invenção e do modelo de utilidade se dá

com a concessão do registro da patente. Entretanto, a partir do depósito já são

asseguradas algumas garantias, como impedir que outros façam depósito de

uma patente semelhante, entre outras.

Patente realizada pelo empregado (art. 88 e seguintes da Lei 9.279/1996):

- Em princípio, se o empregado foi contratado para essa finalidade (decorre do

contrato de trabalho) e o serviço foi executado no Brasil, a patente irá pertencer

exclusivamente ao empregador (caput do art. 88, LPI).

- Salvo expressa disposição contratual em contrário, a retribuição pelo trabalho

do empregado que foi contratado para essa finalidade limita-se ao salário

ajustado (art. 88, § 1°, LPI).

- Em regra, pertence ao empregador a patente realizada pelo empregado no

prazo de 1 ano após a extinção do contrato de trabalho (art. 88, § 2°, LPI).

Art. 88 - A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao

empregador quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução

ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade

inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais foi o

empregado contratado.

§ 1° - Salvo expressa disposição contratual em contrário, a retribuição

pelo trabalho a que se refere este artigo limita-se ao salário ajustado.

§ 2° - Salvo prova em contrário, consideram-se desenvolvidos na vigência

do contrato a invenção ou o modelo de utilidade, cuja patente seja

requerida pelo empregado até 1 (um) ano após a extinção do vínculo

empregatício.

- O empregador pode conceder ao empregado participação nos ganhos

econômicos resultantes da exploração da patente (art. 89, LPI); entretanto, tal

remuneração não se incorpora ao salário do empregado (art. 89, § único, LPI).

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Art. 89 - O empregador, titular da patente, poderá conceder ao

empregado, autor de invento ou aperfeiçoamento, participação nos

ganhos econômicos resultantes da exploração da patente, mediante

negociação com o interessado ou conforme disposto em norma da

empresa.

Parágrafo único - A participação referida neste artigo não se incorpora, a

qualquer título, ao salário do empregado.

- A patente pertence exclusivamente ao empregado se ele a tiver desenvolvido

desvinculado do contrato de trabalho e sem recursos, meios e equipamentos

do empregador (art. 90, LPI).

Art. 90 - Pertencerá exclusivamente ao empregado a invenção ou o

modelo de utilidade por ele desenvolvido, desde que desvinculado do

contrato de trabalho e não decorrente da utilização de recursos, meios,

dados, materiais, instalações ou equipamentos do empregador.

- A patente será propriedade comum quando resultar de contribuição do

empregado (que não foi contratado para essa finalidade) e de recursos, meios

e equipamentos do empregador, salvo disposição contratual em contrário (art.

91, LPI).

- A efetiva exploração da patente pelo empregador deve ser iniciada dentro de

1 ano da concessão, sob pena de passar para o empregado (art. 91, § 3°, LPI).

O entendimento majoritário é que essa regra se aplica apenas ao caso de

propriedade comum da patente, mas alguns doutrinadores entendem que

também se aplica ao caso de exclusividade do empregador.

Art. 91 - A propriedade de invenção ou de modelo de utilidade será

comum, em partes iguais, quando resultar da contribuição pessoal do

empregado e de recursos, dados, meios, materiais, instalações ou

equipamentos do empregador, ressalvada expressa disposição contratual

em contrário.

§ 1° - Sendo mais de um empregado, a parte que lhes couber será

dividida igualmente entre todos, salvo ajuste em contrário.

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§ 2° - É garantido ao empregador o direito exclusivo de licença de

exploração e assegurada ao empregado a justa remuneração.

§ 3° - A exploração do objeto da patente, na falta de acordo, deverá ser

iniciada pelo empregador dentro do prazo de 1 (um) ano, contado da data

de sua concessão, sob pena de passar à exclusiva propriedade do

empregado a titularidade da patente, ressalvadas as hipóteses de falta de

exploração por razões legítimas.

§ 4° - No caso de cessão, qualquer dos co-titulares, em igualdade de

condições, poderá exercer o direito de preferência.

- Estas regras também se aplicam ao estagiário, a trabalhador autônomo e

entre empresas contratante e contratada (art. 92, LPI).

Art. 92 - O disposto nos artigos anteriores aplica-se, no que couber, às

relações entre o trabalhador autônomo ou o estagiário e a empresa

contratante e entre empresas contratantes e contratadas.

- E estas regras também se estendem ao servidor da Administração Pública

direta, indireta e fundacional (art. 93, LPI).

Art. 93 - Aplica-se o disposto neste Capítulo, no que couber, às entidades

da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, federal, estadual

ou municipal.

Parágrafo único - Na hipótese do art. 88, será assegurada ao inventor, na

forma e condições previstas no estatuto ou regimento interno da entidade

a que se refere este artigo, premiação de parcela no valor das vantagens

auferidas com o pedido ou com a patente, a título de incentivo.

DESENHO INDUSTRIAL

O art. 95 da Lei 9.279/1996 define o que é desenho indutrial, que é passível de

registro: “considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um

objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um

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produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração

externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial”. Exemplo: modelos

de carros, como Gol, Palio, Celta, Fiesta.

O art. 98 da Lei 9.279/1996 determina que obra da caráter puramente artístico

não pode ser registrada como desenho industrial.

Art. 108 da Lei 9.279/1996 determina que o prazo de vigência dio registro é de

10 anos contados da data do depósito, podendo ser renovado por três períodos

sucessivos de 5 anos cada (25 anos no total).

INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

Não é bem de propriedade industrial. Um dos objetivos da Lei de Propriedade

Industrial é reprimir as falsas indicações geográficas, que se dividem em

indicação geográfica de procedência e indicação geográfica de denominação

de origem, nos termos do art. 176, LPI.

De acordo com o art. 177, LPI, considera-se indicação geográfica de

procedência “o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu

território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção

ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado

serviço”. Isso acaba agregando um valor maior aos produtos e serviços

produzidos e fornecidos naquela indicação geográfica. Exemplo: sapato de

Franca.

De acordo com o art. 178, LPI, considera-se indicação geográfica de

denominação de origem “o nome geográfico de país, cidade, região ou

localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou

características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico,

incluídos fatores naturais e humanos”. Exemplo: região de Champagne na

França.

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EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) Prova Magistratura – RJ – VUNESP 2012

Questão 61) A proteção jurídica do desenho industrial: (A) não poderá

ser garantida a qualquer obra de caráter puramente artístico.

2) Prova Magistratura – PA – CESPE 2011

Questão 75) A respeito da propriedade industrial e suas peculiaridades,

assinale a opção correta: (C) modelo de utilidade constitui espécie de

aperfeiçoamento da invenção, suscetível de aplicação industrial.

3) Prova Magistratura – CE – CESPE 2011

Questão 73) Com relação ao direito à propriedade industrial, assinale a

opção correta:

(A) O registro do desenho industrial e o pedido de patente somente

correrão em sigilo caso seja requerido pelo depositante, e somente

pelo prazo de cento e oitenta dias contados da data do depósito.

ERRADO (art. 96, § 3° e art. 30 da Lei 9.279/1996)

(B) É considerado nulo o registro concedido em desacordo com os

ditames da lei que regula os direitos e obrigações relativos à

propriedade industrial, produzindo a sua declaração, seja no âmbito

administrativo, seja no judicial, efeitos ex tunc, ou seja, a partir da

data do depósito.

CERTO (art. 167 da Lei 9.279/1996). Os arts. 173, 174 e 175 da Lei

9.279/1996 regulam a ação de nulidade do registro, que é de

competência da justiça federal. Entretanto, a ação de concorrência

desleal é de competência da justiça estadual.

(C)De acordo com a lei que regula os direitos e obrigações relativos à

propriedade industrial, somente a pessoa com legítimo interesse está

apta a propor ação judicial de nulidade do registro da marca perante

o foro da justiça federal, podendo, neste caso, ser determinada

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liminarmente a suspensão dos efeitos do registro e do uso da marca.

ERRADO (art. 173 da Lei 9.279/1996)

(D)Considera-se denominação de origem o nome geográfico de país,

cidade, região, ou localidade de seu território, que se tenha tornado

conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de

determinado produto ou de prestação de determinado serviço.

ERRADO (art. 177 da Lei 9.279/1996)

(E) O registro de marca tem duração de dez anos a partir da concessão,

sendo prorrogável, da mesma forma como ocorre com o prazo da

patente, por períodos iguais e sucessivos, devendo o interessado

pleitear a prorrogação sempre no último ano de vigência do registro.

ERRADO (art. 40 da Lei 9.279/1996)

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 08 – 19/04/2013

REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS (Lei 8.934/1994)

ESTRUTURA:

O Departamento Nacional do Registro do Comércio (DNRC) é uma autarquia

federal. As Juntas Comerciais dos Estados são subordinadas tecnicamente ao

DNRC e administrativamente aos Governos Estaduais. Já a Junta Comercial

do Distrito Federal tem dupla subordinação ao DNRC, tanto tecnicamente

quanto administrativamente.

Toda vez que estivermos diante de uma questão administrativa envolvendo

Junta Comercial de Estado, a competência será da Vara da Fazenda Pública.

Já se for um questão técnica envolvendo Junta Comercial do Estado, a

competência será da Vara Federal. Portanto, dependendo da natureza do ato

da Junta Comercial do Estado que será questionado, a ação será proposta

perante uma Vara da Fazenda Pública Estadual ou perante uma Vara Federal.

Art. 3° - Os serviços do Registro Público de Empresas Mercantis e

Atividades Afins serão exercidos, em todo o território nacional, de maneira

uniforme, harmônica e interdependente, pelo Sistema Nacional de

Registro de Empresas Mercantis (Sinrem), composto pelos seguintes

órgãos:

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I - o Departamento Nacional de Registro do Comércio, órgão central

Sinrem, com funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa,

no plano técnico; e supletiva, no plano administrativo;

II - as Juntas Comerciais, como órgãos locais, com funções executora e

administradora dos serviços de registro.

Art . 5° - Haverá uma junta comercial em cada unidade federativa, com

sede na capital e jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva.

Art. 6° - As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao

governo da unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao

DNRC, nos termos desta lei.

Parágrafo único - A Junta Comercial do Distrito Federal é subordinada

administrativa e tecnicamente ao DNRC.

De acordo com o art. 8°, I da Lei 8.934/1994, às Juntas Comerciais incumbe

executar os serviços previstos no art. 32 desta lei: I) matrícula; II)

arquivamento; e III) autenticação.

Certos profissionais, como o leiloeiro e o tradutor juramentado, dependem de

matrícula na Junta Comercial. Apenas são arquivados na Junta Comercial

contratos, estatutos e suas alterações dos empresários individuais e das

sociedas empresárias. E na Junta Comercial também é feita a autenticação da

escrituração e dos livros do empresário (o art. 178 da Lei 11.101/2005 prevê

que deixar de elaborar ou autenticar esses livros é um crime de menor

potencial ofensivo, que deve ser julgado no JECRIM).

Art. 32 - O registro compreende:

I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e

intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-

gerais;

II - o arquivamento:

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a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e

extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e

cooperativas;

b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei

nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;

c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas

a funcionar no Brasil;

d) das declarações de microempresa;

e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos

ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou

daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis;

III - a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas

mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de

lei própria.

De acordo com o art. 8°, VI da Lei 8.934/1994, outro ato que cabe à Junta

Comercial é o assentamento dos usos e práticas mercantis.

Se o contrato, estatuto ou distrato for arquivado na Junta Comercial dentro de

30 dias de sua assinatura, os efeitos do arquivamento retroagirão à data da

assinatura. Entretanto, se o contrato, estatuto ou distrato for arquivado fora

desse prazo, o arquivamento produzirá efeitos a partir do despacho que o

conceder.

Art. 36 - Os documentos referidos no inciso II do art. 32 deverão ser

apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias contados

de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento; fora

desse prazo, o arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o

conceder.

Os livros do empresário devem ser autenticados. A eficácia probatória dos

livros do empre-sário (arts. 378 a 382 do CPC) será a favor do empresário,

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desde que o litígio envolva apenas empresários e os livros estejam em situação

regular, ou seja, autenticados pela Junta Comercial. Entretanto, a eficácia

probatória dos livros do empresário será contra o empresário em duas

hipóteses: i) quando os livros não estiverem em situação regular; e ii) se o juiz

exigir a apresentação dos livros e eles não forem apresentados.

Art. 378 - Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lícito ao

comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em

direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.

Art. 379 - Os livros comerciais, que preencham os requisitos exigidos por

lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre comerciantes.

Art. 380 - A escrituração contábil é indivisível: se dos fatos que resultam

dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu autor e outros

Ihe são contrários, ambos serão considerados em conjunto como

unidade.

Art. 381 - O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral

dos livros comerciais e dos documentos do arquivo:

I - na liquidação de sociedade;

II - na sucessão por morte de sócio;

III - quando e como determinar a lei.

Art. 382 - O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos

livros e documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio,

bem como reproduções autenticadas.

A exibição dos livros do empresário pode ser judicial ou administrativa, sendo

que a regra é a exibição parcial. Nesse sentido, a Súmula 439/STF determina

que “estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros

comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação”.

Em regra, a exibição dos livros é parcial, extraindo-se deles a suma que

interessar ao litígio. Entretanto, no caso de falência, o empresário deve

apresentar todos os livros. Assim determina o art. 1191/CC que “o juiz só

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poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando

necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou

sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de

falência”.

Obrigatoriedade dos livros do empresário

O livro de registro de emissão de duplicatas (art. 19 da Lei 5.474/1968) é

obrigatório apenas para quem emite duplicata. O único livro obrigatório e

comum a todos os empresários é o livro diário; entretanto, por força do art.

1.179, § 2°/CC, tal livro não é obrigatório para o pequeno empresário.

De acordo com o art. 68 da LC 123/2006, considera-se pequeno empresário o

empresário individual, organizado sob a forma de microempresa, que tem

receita bruta anual (RBA) até 60 mil reais.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) É necessária escritura pública para integralização do capital social com

bens imóveis? E na hipótese de desincorporação?

Em regra geral, é necessária escritura pública para integralização do capital

social com bens imóveis (art. 35, VII da Lei 8.934/1994). Entretanto, a escritura

pública não será necessária quando houver descrição completa do imóvel no

contrato social e outorga conjugal.

Art. 35 - Não podem ser arquivados:

VII - os contratos sociais ou suas alterações em que haja incorporação de

imóveis à sociedade, por instrumento particular, quando do instrumento

não constar:

a) a descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua

titulação, bem como o número da matrícula no registro imobiliário;

b) a outorga uxória ou marital, quando necessária;

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Nesse caso, a Junta Comercial irá emitir uma certidão do contrato social, que

servirá de documento hábil para registrar no RGI a transferência dos bens

imóveis com que o subscritor tiver contribuído para a integralização do capital

social (art. 64 da Lei 8.934/1994).

Art. 64 - A certidão dos atos de constituição e de alteração de sociedades

mercantis, passada pelas juntas comerciais em que foram arquivados,

será o documento hábil para a transferência, por transcrição no registro

público competente, dos bens com que o subscritor tiver contribuído para

a formação ou aumento do capital social.

Já na desincorporação, ou seja, quando o imóvel da sociedade é alienado em

favor do sócio, sempre haverá necessidade de escritura pública. A regra da

escritura pública apenas será excepcionada quando houver incorporação de

bem imóvel para fins de integralização do capital social.

Enunciado 478 da V Jornada da CJF: “Art. 997, caput e inciso III. A

integralização do capital social em bens imóveis pode ser feita por instrumento

particular de contrato social ou de alteração contratual, ainda que se trate de

sociedade sujeita ao registro exclusivamente no registro civil de pessoas

jurídicas”.

2) Incidirá o ITBI na incorporação de imóveis pra fins de integralização do

capital social? E na hipótese de desincorporação?

Em regra, não incide ITBI na incorporação de imóveis para fins de

integralização do capital social (arts. 36 e 37 do CTN c/c art. 156, § 2°, I da

CRFB). Entretanto, haverá incidência do ITBI quando a sociedade realizar um

dos seguintes objetos sociais: compra e venda de imóveis, locação de imóveis

ou arrendamento mercantil.

E, em regra, também não incide ITBI na desincorporação. Entretanto, há uma

controvérsia entre a regra prevista no CTN e na CRFB. O art. 36, § único do

CTN determina que não haverá incidência do ITBI se a transmissão ocorrer

entre os mesmo alienantes, ou seja, se o bem imóvel voltar para o mesmo

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sócio que o tinha incorporado à sociedade empresária. Já a CRFB não fala que

transmissão do bem imóvel tem que ser entre os mesmo alienantes e por isso,

essa parte do CTN não teria sido recepcionado pela CRFB.

Art. 36 - Ressalvado o disposto no artigo seguinte, o imposto não incide

sobre a transmissão dos bens ou direitos referidos no artigo anterior:

I - quando efetuada para sua incorporação ao patrimônio de pessoa

jurídica em pagamento de capital nela subscrito;

II - quando decorrente da incorporação ou da fusão de uma pessoa

jurídica por outra ou com outra.

Parágrafo único - O imposto não incide sobre a transmissão aos mesmos

alienantes, dos bens e direitos adquiridos na forma do inciso I deste

artigo, em decorrência da sua desincorporação do patrimônio da pessoa

jurídica a que foram conferidos.

Art. 37 - O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa

jurídica adquirente tenha como atividade preponderante a venda ou

locação de propriedade imobiliária ou a cessão de direitos relativos à sua

aquisição.

§ 1° - Considera-se caracterizada a atividade preponderante referida

neste artigo quando mais de 50% (cinqüenta por cento) da receita

operacional da pessoa jurídica adquirente, nos 2 (dois) anos anteriores e

nos 2 (dois) anos subseqüentes à aquisição, decorrer de transações

mencionadas neste artigo.

§ 2° - Se a pessoa jurídica adquirente iniciar suas atividades após a

aquisição, ou menos de 2 (dois) anos antes dela, apurar-se-á a

preponderância referida no parágrafo anterior levando em conta os 3

(três) primeiros anos seguintes à data da aquisição.

§ 3° - Verificada a preponderância referida neste artigo, tornar-se-á devido

o imposto, nos termos da lei vigente à data da aquisição, sobre o valor do

bem ou direito nessa data.

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§ 4° - O disposto neste artigo não se aplica à transmissão de bens ou

direitos, quando realizada em conjunto com a da totalidade do patrimônio

da pessoa jurídica alienante.

Art. 156 - Compete aos Municípios instituir impostos sobre:

II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens

imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,

exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;

§ 2° - O imposto previsto no inciso II:

I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao

patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a

transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão

ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade

preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou

direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;

3) Prova AGU 2009

Questão 134) A lei determina que o arquivamento dos instrumentos de

escrituração das sociedades empresárias seja feito na junta comercial

competente. ERRADO

4) Prova AGU 2009

Questão 135) Considere que o instrumento de dissolução de certa

sociedade empresária tenha sido assinado no dia 19/12/2008 e

apresentado à junta comercial competente, para arquivamento, no dia

02/01/2009. Nesse caso, os efeitos do arquivamento retroagirão à data

da assinatura do instrumento. CERTO

5) Prova Magistratura – SP – 2004

Os efeitos do arquivamento de um contrato social ou sua alteração: (D)

retroagem ao momento da assinatura se apresentado à Junta Comercial

dentro de 30 dias, contados de sua assinatura.

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6) Prova Magistratura – Piauí – 2011 – CESPE

Questão 73) Assinale a opção correta no que se refere à lei que

disciplina o registro público de empresas mercantis e atividades afins:

(A) O registro compreende exclusivamente a matrícula (e a possibilidade

de seu cancelamento) dos instrumentos de escrituração das empresas

mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de

lei própria. ERRADO (art. 32 da Lei 8.934/1994)

(B) Os pedidos de arquivamento devem ser instruídos com cópia do

instrumento de constituição da sociedade empresária assinado pelos

sócios, bem como pela declaração do administrador de não estar

impedido de exercer atividade empresarial. ERRADO (art. 37, I da Lei

8.934/1994)

(C) Sujeita-se ao regime de decisão singular das juntas comerciais o

arquivamento dos atos referentes a transformação, incorporação, fusão

e cisão de sociedades empresárias, bem como das atas de assembleias

gerais das sociedades anônimas. ERRADO (art. 41, I, b da Lei

8.934/1994)

(D) Serão arquivados os documentos que desobedecerem às

prescrições legais ou regulamentares e os que colidirem com o

respectivo estatuto ou contrato não modificado anteriormente. ERRADO

(art. 35, I da Lei 8.934/1994)

(E) É vedado o arquivamento dos documentos de constituição ou

alteração de sociedades empresárias de qualquer espécie ou

modalidade em que figure como titular ou administrador pessoa

condenada por crime para o qual esteja prevista pena que vede o

acesso à atividade empresarial. CERTO (art. 37, II da Lei 8.934/1994)

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7) Prova Magistratura – CE – 2011 – CESPE

Questão 72) Considerando o sistema de registro público do empresário,

assinalide a opção correta à luz da legislação pertinente.

(A) Não incumbe às juntas comerciais expedir carteiras de exercício

profissional de pessoas legalmente inscritas no Registro Público de

Empresas Mercantis e Atividades Afins. ERRADO (art. 8°, V da Lei

8.934/1994)

(B) Os recursos de que trata a lei do Registro Público de Empresas

Mercantis e Atividades Afins têm efeito suspensivo, sendo indeferidos

liminarmente pelo presidente da junta os interpostos fora do prazo ou

antes da decisão definitiva, os quais devem ser, em qualquer caso,

anexados ao processo. ERRADO (art. 49 da Lei 8.934/1994)

(C) O Departamento Nacional de Registro do Comércio é um dos órgãos

do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis, com funções

executoras e administradoras no plano técnico, e supletiva, no plano

administrativo. ERRADO (art. 3°, I da Lei 8.934/1994)

(D) A junta comercial não está autorizada a dar andamento a qualquer

documento de alteração de firmas individuais ou sociedades sem que

dos respectivos requerimentos e instrumentos conste o número de

identificação de registro de empresas. CERTO (art. 35, § único da Lei

8.934/1994)

(E) O registro público do empresário compreende a matrícula (e

respectivo cancelamento) dos atos concernentes às empresas mercantis

estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil. ERRADO (art. 32, II, c da

Lei 8.934/1994)

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 09 – 26/04/2013

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Origem da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica

Direito Comparado:

- Bank of United States X Deveaux (EUA – 1809)

- Salomon X Salomon Co. (Inglaterra – 1897)

A maioria dos livros reputa a ocorrência do primeiro caso de aplicação da

desconsideração da pessoa jurídica ao caso Salomon X Salomon Co. em 1897,

na Inglaterra (na realidade, sequer houve a desconsideração da personalidade

jurídica). Entretanto, há noticia da existência de um primeiro caso em 1809 nos

Estados Unidos, Bank of United States X Deveaux.

Caso Bank of United States X Deveaux: A Suprema Corte conheceu do caso e

levantou o véu da pessoa jurídica ao considerar as características individuais

dos sócios, que sequer eram partes do processo. Assim sendo, a Suprema

Corte determinou que a ação era de competência da justiça federal, a qual só

abrangia controvérsias entre cidadãos de diferentes Estados. Se a Suprema

Corte tivesse levado em consideração o domicílio do Bank of United States, a

ação teria sido de competência da justiça estadual.

Caso Salomon X Salomon Co.: Aaron Salomon era um próspero comerciante

individual na área de calçados que, após mais de 30 anos, resolveu constituir

uma limited company (similar a uma sociedade anônima fechada brasileira),

transferindo seu fundo de comércio a tal sociedade. Em tal companhia,

Aaron Salomon tinha 20 mil ações, e outros seis sócios, membros de sua

família, apenas uma cada um. Além das ações, o mesmo recebeu várias

garantias, assumindo a condição de credor privilegiado da companhia.

Entretanto, a companhia mostrou-se inviável, entrando em liquidação, na qual

os credores quirografários restaram insatisfeitos. A fim de proteger os

interesses de tais credores, o liquidante pretendeu uma indenização pessoal de

Aaron Salomon, uma vez que a companhia era ainda a atividade pessoal do

mesmo, pois os demais sócios eram fictícios (a pessoa jurídica somente existia

para afastar a responsabilidade ilimitada de Salomon). O juízo de primeiro grau

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e a Corte de Apelação desconsideraram a personalidade jurídica da

companhia, impondo a Salomon a responsabilidade pelos débitos da

sociedade; entretanto, tal decisão foi reformada pela Casa dos Lordes, que

prestigiou a autonomia patrimonial da sociedade regularmente constituída.

Direito Brasileiro: - Rubens Requião (1969)

Rubens Requião foi o primeir a defender a aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica no Brasil, em conferência proferida

na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná em 1969. Nesta

oportunidade, Requião defendeu que a personalidade jurídica deveria ser vista

como relativa, e não como um efeito absoluto. Por isso, caso a pessoa jurídica

fosse utilizada com abuso de direito ou fraude, seria admissível des-considerar

a separação entre ela e seus sócios, independentemente de previsão legal,

pois o direito não se coaduna com a fraude. No dizer de Rubens Requião em

obra pioneira sobre o tema (Abuso de Direito e Fraude através das

Personalidade Jurídica – Revista dos Tribunais, 1969), a desconsideração não

constitui “a anu-lação da personalidade jurídica em toda a sua extensão, mas

apenas a declaração de sua inefi-cácia para determinado efeito concreto”.

Questão: É correto afirmar, doutrinariamente, que desconsideração e

despersonificação da pessoa jurídica têm o mesmo efeito legal?

Não, desconsideração não é sinônimo de despersonificação. A

desconsideração tem por objetivo superar o obstáculo, que é a personalidade

jurídica da sociedade, para alcançar a pessoa do sócio, mas ela não será

extinta. Na desconsideração, levanta-se o véu da pessoa jurídica de maneira

momentânea apenas para aquele caso concreto. Já a despersonificação é a

extinção da pessoa jurídica. A dissolução da sociedade é um procedimento,

sendo que até a fase da liquidação ainda existe personalidade jurídica, não

para exercer outros negócios jurídicos, mas sim para concluir os pendentes. Os

sócios declaram, em assembleia, que foi encerrada a liquidação e a respectiva

ata será averbada na Junta Comercial, quando, então, ocorrerá a

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despersonificação da sociedade, ou seja, será extinta a sua personalidade

jurídica (art. 51 c/c art. 1109 do Código Civil). Em seguida, procede-se à

partilha dos bens que sobraram entre os sócios, sendo que nesta fase já não

existe mais personalidade jurídica.

Classificação da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica (REsp

279.273-SP)

- Teoria Maior: para aplicar a desconsideração é necessária a prova da fraude,

do abuso da personalidade jurídica ou da confusão patrimonial (art. 50/CC).

STJ entende que o ordena-mento jurídico brasileiro adota tal teoria como regra.

Art. 50 - Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo

desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a

requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir

no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de

obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores

ou sócios da pessoa jurídica.

- Teoria Menor: não precisa provar fraude, abuso ou confusão patrimonial;

pode aplicar a desconsideração por causa de um simples inadimplemento

patrimonial, ou seja, pelo simples fato da pessoa jurídica não ter patrimônio

suficiente para arcar com uma obrigação. Tal teoria é aplicada

excepcionalmente no direito do consumidor, do trabalho e ambiental.

Questão: A desconsideração da personalidade jurídica poderá ser aplicada de

forma incidental, ou seja, sem necessidade da proprositura de ação autônoma?

Fabio Ulhoa Coelho defende a necessidade de uma ação autônoma para o

reconhecimento da desconsideração, principalmente para garantir o

contraditório e a ampla defesa (a exemplo do que ocorre com a fraude contra

credores, que precisa ser reconhecida por uma ação autônoma, conhecida

como ação pauliana). Entretanto, a jurisprudência do STJ é pacifica no sentido

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da desnecessidade de uma ação autônoma, sendo perfeitamente possivel a

aplicação incidental da desconsideração da personalidade jurídica. A

desconsideração pode ser reconhecida em qualquer fase do processo,

inclusive no cumprimento de sentença.

Para fins de aplicação da teoria da desconsideração, o STJ entende que basta

a intimação do sócio para que ele passe a compor o polo passivo da relação

processual, não sendo necessária a sua citação. Mas como o sócio irá se

defender se a desconsideração da personalidade jurídica for reconhecida na

fase de cumprimento de sentença? Há uma controvérsia se seria um caso de

impugnação ou de embargos de terceiro. A orientação do STJ é no sentido de

ser um caso de impugnação, pois o sócio passa a ser parte do processo, logo,

não pode opor embargos de terceiro.

Informativo 501/STJ

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INTIMAÇÃO DO

SÓCIO. A Turma, por maioria, entendeu pela desnecessidade da citação do

sócio para compor o polo passivo da relação processual, na qual o

autor/recorrido pediu a aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica da empresa, haja vista o uso abusivo da sua

personalidade e a ausência de bens para serem penhorados. In casu, o

recorrido entabulou contrato particular de compromisso de compra e venda de

imóvel com a construtora recorrente, porém, apesar de cumprir a sua parte no

contrato, não recebeu a contraprestação. No entendimento da douta maioria, é

suficiente a intimação do sócio da empresa, ocasião em que será oportunizada

a sua defesa, ainda mais quando o processo encontra-se na fase de

cumprimento de sentença, onde o recorrente fará jus à ampla defesa e ao

contraditório, pois, poderá impugnar o pedido ou oferecer exceção de pré-

executividade. (REsp 1.096.604-DF, Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em

2/8/2012).

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Questão: É possível a aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica para associações civis, fundações e cooperativas?

O art. 50/CC não se restringe às sociedades. Portanto, a teoria das

desconsideração da personalidade jurídica pode sim ser aplicada às

associações civis, fundações e cooperativas, pois a personalidade jurídica de

tais entidades é distinta dos seus membros. Mas cabe registrar que a

jurisprudência tem restringido a aplicação da desconsideração, no caso das

associações civis e fundações, para alcançar apenas o patrimônio dos seus

diretores que participaram de eventual abuso ou fraude.

Jurisprudência: CLASSE DO PROCESSO: 2009 00 2 003121-5 AGI - 0003121-

55.2009.807.0000 (RES. 65 - CNJ) DF [...] 1) - Sendo os administradores de

cooperativa habitacional necessariamente seus associados, como exigido pelo

artigo 47, lei 5.764/71, possível que se desconsidere a personalidade jurídica

da cooperativa, alcançando-se, assim, na execução, bens pessoais dos

diretores. [...] Data de Julgamento: 13/05/2009. Órgão Julgador: 5ª Turma

Cível. Relator: LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS. Disponibilização no

DJ-e: 21/05/2009

A aplicação da desconsideração da personalidade jurídica não está sujeita a

prazo, pois o prazo decadencial não foi fixado em lei. Se houvesse um prazo

para a aplicação da desconsideração, esse prazo seria um prazo decadencial,

pois trata-se de um direito potestativo.

Informativo 468/STJ

DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. PROCESSO

FALIMENTAR. Trata-se de REsp em que o recorrente, entre outras alegações,

pretende a declaração da decadência do direito de requerer a desconsideração

da personalidade jurídica da sociedade empresária falida, bem como da

necessidade de ação própria para a responsabilização dos seus ex-sócios. A

Turma conheceu parcialmente do recurso, mas lhe negou provimento,

consignando, entre outros fundamentos, que, no caso, a desconsideração da

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personalidade jurídica é apenas mais uma hipótese em que não há prazo –

decadencial, se existisse – para o exercício desse direito potestativo. À míngua

de previsão legal, o pedido de desconsideração da personalidade jurídica,

quando preenchidos os requisitos da medida, poderá ser realizado a qualquer

momento. Ressaltou-se que o próprio projeto do novo CPC, que, de forma

inédita, disciplina um incidente para a medida, parece ter mantido a mesma

lógica e não prevê prazo para o exercício do pedido. Ao contrário, enuncia que

a medida é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no

cumprimento de sentença e também na execução fundada em título executivo

extrajudicial (art. 77, parágrafo único, II, do PL n. 166/2010). Ademais, inexiste

a alegada exigência de ação própria para a desconsideração da personalidade

jurídica, visto que a superação da pessoa jurídica afirma-se como incidente

processual, e não como processo incidente, razão pela qual pode ser deferida

nos próprios autos da falência. Registrou-se ainda que, na espécie, a decisão

que desconsiderou a personalidade jurídica atinge os bens daqueles ex-sócios

indicados, não podendo, por óbvio, prejudicar terceiros de boa-fé. Precedentes

citados: REsp 881.330-SP, DJe 10/11/2008; REsp 418.385-SP, DJ 3/9/2007, e

REsp 1.036.398-RS, DJe 3/2/2009. (REsp 1.180.191-RJ, Rel. Min. Luis Felipe

Salomão, julgado em 5/4/2011).

Desconsideração Indireta da Personalidade Jurídica

+

O art. 265 da Lei 6.404/1976 prevê a figura do grupo societário, que é o

conjunto de várias pessoas jurídicas reunidas em torno de um objeto, que

estão sobre o controle comum de uma holding. Somente será considerado um

grupo econômino de direito se estiver registrado como tal na Junta Comercial;

SEPARAÇÃO SOCIETÁRIA DE ÍNDOLE APENAS

FORMAL

CONTROLE COMUM: MESMA UNIDADE

LABORAL, PATRIMONIAL E

GERENCIAL

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se não tiver registro, será considerado um grupo econômico de fato. Exemplos

de grupo econômico: Grupo Pão de Açúcar, Grupo CCR, Grupo Gol.

Alfredo Lamy Filho, um dos autores do Anteprojeto que deu origem à Lei das

Sociedades por Ações, previu que, no futuro, nós iríamos ter as chamadas

“constelações de sociedades”, admitindo já naquela época o instituto da

desconsideração indireta, que está ligado a grupos societários.

No entendimento do STJ, se a separação entre as sociedades for apenas de

índole formal, ou seja, se houver controle comum (mesma unidade laboral,

mesma unidade patrimonial e mesma unidade gerencial), a desconsideração

da personalidade jurídica poderá ser estendida às demais empresas do grupo.

Jurisprudência: Resp 767021/RJ e REsp 1259.018/SP.

Resp 767021/RJ (Caso Papatudo)

PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE,

CONTRADIÇÃO OU FALTA DE MOTIVAÇÃO NO ACÓRDÃO A QUO.

EXECUÇÃO FISCAL. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL. DESCONSIDERAÇÃO DA

PESSOA JURÍDICA. GRUPO DE SOCIEDADES COM ESTRUTURA

MERAMENTE FORMAL. PRECEDENTE. 1) Recurso especial contra acórdão

que manteve decisão que, desconsiderando a personalidade jurídica da

recorrente, deferiu o aresto do valor obtido com a alienação de imóvel. 2)

Argumentos da decisão a quo que são claros e nítidos, sem haver omissões,

obscuridades, contradições ou ausência de fundamentação. O não-acatamento

das teses contidas no recurso não implica cerceamento de defesa. Ao julgador

cabe apreciar a questão de acordo com o que entender atinente à lide. Não

está obrigado a julgar a questão conforme o pleiteado pelas partes, mas sim

com o seu livre convencimento (art. 131 do CPC), utilizando-se dos fatos,

provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que

entender aplicável ao caso. Não obstante a oposição de embargos

declaratórios, não são eles mero expediente para forçar o ingresso na instância

especial, se não há omissão a ser suprida. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC

quando a matéria enfocada é devidamente abordada no aresto a quo. 3) “A

desconsideração da pessoa jurídica, mesmo no caso de grupo econômicos,

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deve ser reconhecida em situações excepcionais, onde se visualiza a confusão

de patrimônio, fraudes, abuso de direito e má-fé com prejuízo a credores. No

caso sub judice, impedir a desconsideração da personalidade jurídica da

agravante implicaria em possível fraude aos credores. Separação societária, de

índole apenas formal, legitima a irradiação dos efeitos ao patrimônio da

agravante com vistas a garantir a execução fiscal da empresa que se encontra

sob o controle de mesmo grupo econômico” (Acórdão a quo). 4) “Pertencendo

a falida a grupo de sociedades sob o mesmo controle e com estrutura

meramente formal, o que ocorre quando diversas pessoas jurídicas do grupo

exercem suas atividades sob unidade gerencial, laboral e patrimonial, é

legítima a desconsideração da personalidade jurídica da falida para que os

efeitos do decreto falencial alcancem as demais sociedades do grupo. Impedir

a desconsideração da personalidade jurídica nesta hipótese implicaria

prestigiar a fraude à lei ou contra credores. A aplicação da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica dispensa a propositura de ação

autônoma para tal. Verificados os pressupostos de sua incidência, poderá o

Juiz, incidentemente no próprio processo de execução (singular ou coletiva),

levantar o véu da personalidade jurídica para que o ato de expropriação atinja

terceiros envolvidos, de forma a impedir a concretização de fraude à lei ou

contra terceiros” (RMS nº 12872/SP, Relª Minª Nancy Andrighi, 3ª Turma, DJ

de 16/12/2002). 5) Recurso não-provido. (REsp 767021/RJ, Rel. Ministro José

Delgado, Primeira Turma, julgado em 16/08/2005, DJ 12/09/2005, p. 258).

O STJ entende que é perfeitamente possível a aplicação da teoria da

desconsideração para alcançar pessoas que compõem o mesmo grupo

societário, como, por exemplo, no caso em que houve transferência do

patrimônio da pessoa jurídica em situação pré-falimentar para as demais

sociedades do grupo. Assim sendo, também é possível estender a falência

para as demais sociedades que compõem o mesmo grupo societário.

Cabe registrar que normalmente, no Brasil, os grupos societários são de fato;

portanto, para que haja a extensão dos efeitos da falência ou da aplicação da

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teoria da desconsideração às demais pessoas jurídicas do grupo societário, é

necessário demonstrar a existência do vínculo societário, que aquelas pessoas

jurídicas fazem parte do grupo.

Informativo 513/STJ

DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA. EXTENSÃO, NO ÂMBITO DE

PROCEDIMENTO INCIDENTAL, DOS EFEITOS DA FALÊNCIA À

SOCIEDADE DO MESMO GRUPO. É possível, no âmbito de procedimento

incidental, a extensão dos efeitos da falência às sociedades do mesmo grupo,

sempre que houver evidências de utilização da personalidade jurídica da falida

com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros, e desde que,

demonstrada a existência de vínculo societário no âmbito do grupo econômico,

seja oportunizado o contraditório à sociedade empresária a ser afetada. Nessa

hipótese, a extensão dos efeitos da falência às sociedades integrantes do

mesmo grupo da falida encontra respaldo na teoria da desconsideração da

personalidade jurídica, sendo admitida pela jurisprudência firmada no

STJ. (AgRg no REsp 1.229 .579-MG , Rel. Min. Raul Araújo, julgado em

18/12/2012).

O STJ entende que é possível estender a aplicação a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica inclusive para atingir pessoas

jurídicas que compõem grupos societários distintos, em razão da influência

societária (independentemente de participação no capital social).

Informativo 480/STJ

EXTENSÃO. EFEITO. FALÊNCIA. SOCIEDADE. A Turma entendeu ser

possível estender os efeitos da falência de uma empresa a outra, por decisão

incidentalmente proferida, sem a oitiva da interessada, na hipótese em que não

há vínculo societário direto entre as empresas, mas em que há suspeitas de

realização de operações societárias para desvio de patrimônio da falida nos

anos anteriores à quebra, inclusive com a constituição de sociedades

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empresárias conjuntas para esse fim. A análise da regularidade desse

procedimento não pode desprender-se das peculiaridades do caso. Assim, não

é possível, no processo civil moderno, apreciar uma causa baseando-se

exclusivamente nas regras processuais, sem considerar, em cada hipótese, as

suas especificidades e, muitas vezes, a evidência com que se descortina o

direito material por detrás do processo. Hoje, tanto na doutrina como na

jurisprudência, está claro que as regras processuais devem estar a serviço do

direito material, nunca o contrário. A cadeia societária descrita no caso

demonstra a existência de um   modus operandi   que evidencia a influência de

um grupo de sociedades sobre o outro, seja ele ou não integrante do mais

amplo. Logo, é possível coibir esse modo de atuação mediante o emprego da

técnica da desconsideração da personalidade jurídica, ainda que para isso lhe

deva dar nova roupagem. A jurisprudência tem que dar resposta a um anseio

social, encontrando novos mecanismos para a atuação do direito, tendo a

desconsideração da personalidade jurídica que se encontrar em constante

evolução para acompanhar todas as mudanças do tecido social e coibir, de

maneira eficaz, todas as novas formas de fraude mediante abuso da

personalidade jurídica. A Turma reafirmou ainda que se pode estender o efeito

do decreto de falência a sociedades coligadas do falido sem a necessidade de

ação autônoma. (REsp 1.259.020-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

9/8/2011).

Informativo 364/STJ

FALÊNCIA. DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. Na espécie,

a sentença decretou a falência de empresa, nomeando síndico, que requereu a

extensão dos efeitos da falência às demais empresas do grupo. O juízo, em

despacho, acolheu a desconstituição da personalidade jurídica de todas elas,

com vistas a alcançar também seus respectivos sócios e acionistas. O

Tribunal a quo apenas proveu o recurso para afastar a agravante com base no

art. 34 da Lei de Falência. Assim, a questão versa em determinar se foi legítima

a extensão dos efeitos da falência à recorrente e a uma das empresas do

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grupo. Isso posto, a Turma, prosseguindo na renovação do julgamento, por

maioria, deu provimento ao recurso para afastar a recorrente das

conseqüências da decisão extensiva dos efeitos da falência. A recorrente, que

detém cotas de participações das empresas, não poderia assumir dívidas de

sociedades em que não figurou como administradora, na ausência de ato

abusivo ou excesso de poder. Precedentes citados: REsp 211.619-SP, DJ

23/4/2001; REsp 170.034-SP, DJ 23/10/2000, e RMS 14.168-SP, DJ

5/8/2002. (REsp 786.345-SP, Rel. Min. originário Humberto Gomes de Barros,

Rel. para acórdão Min. Ari Pargendler, julgado em 21/8/2008).

Informativo 356/STJ

DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. PRESSUPOSTOS.

Houve a desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) da

empresa devedora, ao imputar ao grupo controlador a responsabilidade pela

dívida, sem sequer as instâncias ordinárias declinarem presentes os

pressupostos do art. 50 do CC/2002. Houve apenas menção ao fato de que a

cobrança é feita por um órgão público e que a empresa controlada seria

simples longa manus da controladora. Daí a violação do art. 131 do CPC, visto

que não há fundamentação nas decisões das instâncias ordinárias, o que leva

a afastar a extensão do arresto às recorrentes em razão da exclusão da

desconsideração da personalidade jurídica da devedora, ressalvado o direito

de a recorrida obter nova medida para a defesa de seu crédito acaso

comprovadas as condições previstas no retrocitado artigo. Anotou-se não se

cuidar da chamada teoria menor: desconsideração pela simples prova da

insolvência diante de tema referente ao Direito Ambiental (art. 4º da Lei n.

9.605/1998) ou do Consumidor (art. 28, § 5º, da Lei n. 8.078/1990), mas sim da

teoria maior que, em regra, exige a demonstração do desvio de finalidade da

pessoa jurídica ou a confusão patrimonial. Precedente citado: REsp 279.273-

SP, DJ 29/3/2004. (REsp 744.107-SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado

em 20/5/2008).

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Informativo 195/STJ

FALÊNCIA. DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. PEDIDO.

SÍNDICO. Respaldado na teoria da desconsideração da personalidade jurídica,

o síndico da massa falida pode pedir ao juiz a extensão dos efeitos da falência

às sociedades do mesmo grupo, isso se houver evidências de sua utilização

com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros (Lei n.

6.024/1974 e Lei de Falências). Essa providência prescinde de ação autônoma.

Precedentes citados: RMS 12.872-SP, DJ 16/12/2002; REsp 158.051-RJ, DJ

12/4/1999; REsp 211.619-SP, DJ 23/4/2001; REsp 252.759-SP, DJ 27/11/2000,

e REsp 332.763-SP, DJ 24/6/2002. (REsp 228.357-SP, Rel. Min. Castro Filho,

julgado em 9/12/2003).

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 10 – 03/05/2013

Desconsideração Inversa da Personalidade Jurídica

Também é chamada de desconsideração invertida da personalidade jurídica e

a orientação do STJ é no sentido de não haver nenhum óbice à aplicação da

desconsideração inversa por conta do art. 50/CC. Inverte-se a ordem natural da

desconsideração, ou seja, na desconsideração inversa, a pretensão é atingir o

patrimônio da sociedade por obrigações que de maneira originária foram

contratadas pelo sócio. Muitas vezes o sócio se vale do patrimônio da

sociedade para fins pessoais; por isso, a confusão patrimonial é uma das

hipóteses que autoriza a desconsideração inversa da personalidade jurídica.

A desconsideração inversa foi admitida expressamente no REsp 948.117/MS.

É muito comum haver desconsideração inversa no direito de família (ex.:

quando o Romário se separou da Mônica Santoro houve aplicação da

desconsideração inversa, pois o patrimônio do casal estava em nome de

pessoa jurídica), mas não é somente nesse caso que ocorre a

desconsideração inversa.

STJ: RESP 948.117/MS

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE

TÍTULO JUDICIAL. ART. 50 DO CC⁄02. DESCONSIDERAÇÃO

DA PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. POSSIBILIDADE. [...] III – A

desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se   pelo

afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para,   contrariamente do

que ocorre na desconsideração da personalidade   propriamente dita, atingir o

ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a   responsabilizar a pessoa

jurídica por obrigações do sócio controlador. IV – Considerando-se que a

finalidade da disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente

societário por seus sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o

sócio controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa

jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC⁄02, ser

possível a desconsideração inversa da   personalidade jurídica, de modo a

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atingir bens da sociedade em razão de   dívidas contraídas pelo sócio

controlador, conquanto preenchidos os requisitos previstos na norma. V – A

desconsideração da personalidade jurídica configura-se como

medida excepcional. Sua adoção somente é recomendada quando forem

atendidos os pressupostos específicos relacionados com a fraude ou abuso de

direito estabelecidos no art. 50 do CC⁄02. Somente se forem verificados

os requisitos de sua incidência, poderá o juiz, no próprio processo

de execução, “levantar o véu” da personalidade jurídica para que o ato

de expropriação atinja os bens da empresa. VI – À luz das provas produzidas,

a decisão proferida no primeiro grau de jurisdição, entendeu, mediante

minuciosa fundamentação, pela ocorrência de confusão patrimonial e abuso de

direito por parte do recorrente, ao se utilizar indevidamente de sua empresa

para adquirir bens de uso particular. [...] (REsp 948.117/MS, Rel. Min. Nancy

Andrighi, Terceira Turma, julgado em 22/06/2010, DJe 03/08/2010).

Questão: É juridicamente possível que, em procedimento licitatório, a

Administração Pública estenda os efeitos decorrentes de uma sanção de

idoneidade aplicada à sociedade ABC para inabilitar a sociedade XYZ, que tem

exatamente o mesmo objeto social, mesmos sócios e mesmo endereço

daquela sociedade declarada inidônea? Fundamente sua resposta.

Sim, pois quando uma pessoa jurídica é criada com o objetivo de cometer uma

fraude, pode ser aplicada a desconsideração da personalidade jurídica. E

segundo o entendimento do STJ (ROMS 15.166/BA), a Adminitração Pública

pode aplicar a teoria da desconsideração em uma situação como a narrada na

questão, independentemente de prévia manifestação judicial, por causa da

nítida fraude à Lei de Licitações e em razão do princípio da moralidade e

indisponibilidade do interesse público. Mas cabe registrar que, para a

Administração Pública aplicar a desconsideração da personalidade jurídica,

tem que haver um procedimento administrativo instaurado de maneira regular,

assegurando o contraditório e a ampla defesa àquela sociedade.

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STJ: ROMS 15.166/BA

[...] A constituição de nova sociedade, com o mesmo objeto social, com os

mesmos sócios e com o mesmo endereço, em substituição a outra declarada

inidônea para licitar   com a Administração Pública Estadual, com o objetivo de

burlar à aplicação da sanção   administrativa, constitui abuso de forma e fraude

à Lei de Licitações Lei nº 8.666⁄93, de   modo a possibilitar a aplicação da teoria

da desconsideração da personalidade jurídica   para estenderem-se os efeitos

da sanção administrativa à nova sociedade constituída. A Administração

Pública pode, em observância ao princípio da moralidade administrativa e da

indisponibilidade dos interesses públicos tutelados,   desconsiderar

a   personalidade jurídica de sociedade constituída com abuso de forma e fraude

à lei, desde   que facultado ao administrado o contraditório e a ampla defesa em

processo   administrativo regular . [...] (ROMS 15.166/BA, Rel. Min. Castro Meira,

Segunda Turma, julgado em 07/08/2003, DJ 08/09/2003).

Questão: A desconsideração poderá ser aplicada em benefício do sócio?

Atualmente, o STJ reconhece que a desconsideração da personalidade jurídica

pode ser aplicada em benefício do sócio. Entretanto, na primeira vez que essa

questão chegou ao Tribunal em 1994, o STJ entendeu que não a

desconsideração poderia ser aplicada em benefício do sócio, pois isso

desvirtuaria a essência do instituto da desconsideração da personalidade

jurídica, que foi criada para proteger os credores (REsp 35.281/MG).

STJ: RESP 35.281/MG

PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. LEI 8.009/90. SOCIEDADE COMERCIAL.

ENTIDADE FAMILIAR. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURÍDICA. I – O conceito de entidade familiar, no direito civil brasileiro,

corresponde ao disposto na constituição da republica (art. 226 e parágrafos),

não compreende a sociedade comercial, cujos sócios integram uma mesma

família. Trata-se ai de um empresa familiar, mas não da entidade familiar

referida no artigo 1° da lei 8.009/90. II – A desconsideração da personalidade

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jurídica, não para beneficiar os credores, mas para proteger os sócios, alem de

implicar alteração nos fundamentos do instituto, somente pode ser examinada

em recurso especial se atendidos os requisitos processuais específicos.

Recurso não conhecido. (REsp 35.281/MG, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,

Quarta Turma, julgado em 18/10/1994, DJ 28/11/1994).

Atualmente prevalece o entendimento materializado no REsp 1.024.394/RS. No

caso em que os sócios moram no imóvel que pertence à sociedade empresária

(limitada pequena em que os sócios são parentes), haveria uma verdadeira

entidade familiar. Se esse imóvel fosse levado a hasta pública, os sócios

ficariam sem moradia, o que viola a dignidade da pessoa humana e o estatuto

jurídico do patrimônio mínimo. Assim sendo, seria possível aplicar a

desconsideração da personalidade jurídica em benefício dos sócios para não

haver a penhora do imóvel da sociedade no qual residem.

STJ: RESP 1.024.394/RS

PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – PENHORA – BEM DE FAMÍLIA

– IMPENHORABILIDADE – IMÓVEL DE PROPRIEDADE DE SOCIEDADE

COMERCIAL RESIDÊNCIA DOS DOIS ÚNICOS SÓCIOS – EMPRESA

FAMILIAR – PRECEDENTES. I – A Lei n. 8.009⁄90 estabeleceu a impenhora-

bilidade do bem de família, incluindo na série o imóvel destinado à moradia do

casal ou da entidade familiar, a teor do disposto em seu art. 1°. II – Sendo a

finalidade da Lei n. 8.009⁄90 a proteção   da habitação familiar , na hipótese dos

autos, demonstra-se o acerto da decisão de primeiro grau, corroborada pela

Corte de origem, que reconheceu a impenhorabilidade do único imóvel onde

reside a   família do sócio, apesar de ser da propriedade da empresa executada,

tendo em vista que a empresa é eminentemente familiar. Recurso especial

improvido. (REsp 1.024.394/RS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma,

julgado em 04/03/2008, DJe 14/03/2009).

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A desconsideração da personalidade jurídica pode ser invocada pela própria

pessoa jurídica em seu favor?

O Enunciado 258 da IV Jornada de Direito Civil determina: “A teoria da

desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela

pessoa jurídica em seu favor”. Pode ser utilizada pela própria pessoa jurídica

inclusive para se defender de seus sócios.

A desconsideração da personalidade jurídica pode ser aplicada de ofício?

Em regra, a desconsideração da personalidade jurídica não pode ser aplicada

de ofício, pois a teoria maior (consagrada no art. 50/CC) depende de

requerimento da parte interessada ou do Ministério Público. Entretanto, no caso

da teoria menor, que é aplicada nas relações consumeristas, no direito

ambiental e na justiça do trabalho, a desconsideração da personalidade jurídica

pode ser aplicada de ofício pelo juiz.

TJ-SP: APELAÇÃO CÍVEL 551.954-4/1

Plano de saúde. Ilegitimidade passiva. Co-requerida que, embora seja pessoa

jurídica diversa da administradora do contrato de saúde do autor, pertence ao

mesmo grupo econômico e pode ser demandada em nome dela.

Desconsideração da personalidade jurídica que pode ser determinada de

ofício. Inexistência de julgamento extra petita. Interesse de agir presente. Farta

documentação que comprova a necessidade do autor do medicamento para

tratamento coberto pelo contrato no período em que a apelante era

responsável pelo reembolso. Obrigação bem reconhecida. Recurso improvido.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) Questão MP/RJ – XXXII Concurso – 2012

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica é aplicável ao

empresário individual?

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O empresário individual responde com todos os seus bens pelas obrigações

contraídas em razão do exercício da empresa (responsabilidade ilimitada),

portanto não há qualquer obstáculo a ser superado, não há patrimônio distinto,

não há pessoa jurídica. Portanto, não existe a possibilidade de utilizar a

desconsideração da personalidade jurídica no caso do empresário individual.

Jurisprudência: AgRg nos EDcl no REsp 1.280.217/SP; REsp 487.995/AP; TJ-

SE AgI 0592/2009.

Obs.: Na questão, o examinador queria que o candidato também falasse a

respeito da EIRELI, pois há um entendimento minoritário no sentido de que a

EIRELI é um empresário individual (mas, segundo o professor, não há dúvida

que a EIRELI é uma pessoa jurídica; existe apenas a controvérsia se ela é uma

sociedade unipessoal ou um novo ente jurídico personificado). No caso da

EIRELI, seria possível a aplicação da desconsideração da personalidade

jurídica, pois existe separação patrimonial.

STJ: AGRG nos EDCL no RESP 1.280.217/SP

PESSOA JURÍDICA. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. CONFUSÃO DE

PATRIMÔNIO E DE PERSONALIDADE JURÍDICA COM A PESSOA FÍSICA.

[...] I – As decisões de primeiro e de segundo graus assentaram que o ora

recorrente utilizava o nome de uma suposta empresa em suas atividades, além

do que não havia distinção de patrimônios,   tampouco diversidade de

personalidade jurídica entre eles, de   modo a se poder concluir que a demanda

foi proposta contra oempresário individual e que a citação na pessoa física

do   empresário foi válida, tendo ele plena ciência do feito . [...] (AgRg nos EDcl

no REsp 1.280.217/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em

13/13/2011, DJe 01/02/2012).

STJ: RESP 487.995/AP

[...] A jurisprudência do STJ já se posicionou no sentido de que a empresa

individual é mera ficção jurídica, criada para habilitar a pessoa natural a praticar

atos de comércio, com vantagens do ponto de vista fiscal. Assim, o patrimônio

de uma empresa individual se confunde com o de seu sócio, de   modo que não

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há ilegitimidade ativa na cobrança, pela pessoa física, de   dívida contraída por

terceiro perante a pessoa jurídica. [...] (REsp 487.995/AP, Rel. Min. Nancy

Andrighi, Terceira Turma, julgado em 20/04/2006, DJ 22/05/2006).

Obs.: A expressão “empresa” foi usada de maneira inadequada nesta ementa,

pois na época ainda não existia EIRELI, logo o certo seria “patrimônio do

empresário”. Além disso, não há que se falar em “sócio”, pois trata-se de

empresário individual.

TJ-SE: AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 0592/2009, 10ª VARA CÍVEL,

JULGADO EM 23/11/2009

[...] II - O registro do empresário individual não origina personalidade jurídica

diversa, i.e., não há de se falar em pessoa jurídica, mas apenas em pessoa

física. III - Revela-se inaplicável ao caso a regra da desconsideração da

personalidade jurídica, cujos requisitos encontram-se, insculpidos no art. 50 do

CC, haja vista que não há a necessidade da superação episódica da

personalidade jurídica da pessoa jurídica a fim de atingir o patrimônio de sócio,

porquanto não estamos diante de pessoa jurídica, tampouco de sócio. O que

se busca é a satisfação de dívida de pessoa física, empresário individual, que

desempenha atividades empresárias e que, em virtude disso, passou

apresentar-se, em suas práticas negociais, através de firma individual. [...]

2) Magistratura/RJ – XLIII Concurso – 2012

Questão 05) No curso de processo falimentar, exatamente no mês de

novembro de 2011, foi requerida pelo administrador, após a elaboração

de relatório, a desconsideração da personalidade jurídica da falida para

alcançar os bens de seus ex-acionistas, com a finalidade de satisfazer

os débitos então existentes. No relatório circunstanciado o administrador

demonstrou que entre maio de 2006 e março de 2007, portanto antes da

declaração da quebra - que se deu em 03 de setembro de 2008, com

termo legal fixado em 07 de janeiro do mesmo ano - os ex-acionistas

operaram nítido esvaziamento patrimonial da falida, decorrente de cisão

parcial; transferência de cotas sociais para outras empresas sem que

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houvesse contabilização de pagamento; confusão patrimonial entre os

bens da empresa e os de diversas pessoas de uma mesma família, além

de saques indevidos no patrimônio da falida. Diante deste requerimento

a defesa dos ex-sócios sustentou (i) que todos os atos praticados antes

do termo legal fixado gozam de presunção de legalidade; (ii) que o

pedido transborda os limites subjetivos da lide, pois ex-sócios não

podem ser parte em processo falimentar; (iii) que não há como analisar

o pedido senão em ação autônoma, com ampla produção de provas e

(iv) que a pretensão foi alcançada pela decadência, impossibilitando o

manejo tanto da ação revocatória quanto da pauliana. Enfrente o

requerimento do administrador e os argumentos da defesa, à luz não só

da jurisprudência, mas apontando eventuais dispositivos legais e

princípios jurídicos aplicáveis ao caso.

O STJ entende que a desconsideração da personalidade jurídica não está

sujeita a prazo, pois não foi fixado em lei (Informativo 468). Trata-se de um

direito potestativo, portanto, se existisse prazo, seria um prazo decadencial.

Obs.: O professor recomenda a leitura do voto do Ministro Luis Felipe Salomão

proferido no REsp 1.180.191/RJ, pois ele resume bem a diferença entre

prescrição e decadência.

Informativo 468/STJ

DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. PROCESSO

FALIMENTAR. Trata-se de REsp em que o recorrente, entre outras alegações,

pretende a declaração da decadência do direito de requerer a desconsideração

da personalidade jurídica da sociedade empresária falida, bem como da

necessidade de ação própria para a responsabilização dos seus ex-sócios. A

Turma conheceu parcialmente do recurso, mas lhe negou provimento,

consignando, entre outros fundamentos, que, no caso, a desconsideração da

personalidade jurídica é apenas mais uma hipótese em que não há prazo –

decadencial, se existisse – para o exercício desse direito potestativo. À míngua

de previsão legal, o pedido de desconsideração da personalidade jurídica,

quando preenchidos os requisitos da medida, poderá ser realizado a qualquer

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momento. Ressaltou-se que o próprio projeto do novo CPC, que, de forma

inédita, disciplina um incidente para a medida, parece ter mantido a mesma

lógica e não prevê prazo para o exercício do pedido. Ao contrário, enuncia que

a medida é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no

cumprimento de sentença e também na execução fundada em título executivo

extrajudicial (art. 77, parágrafo único, II, do PL n. 166/2010). Ademais, inexiste

a alegada exigência de ação própria para a desconsideração da personalidade

jurídica, visto que a superação da pessoa jurídica afirma-se como incidente

processual, e não como processo incidente, razão pela qual pode ser deferida

nos próprios autos da falência. Registrou-se ainda que, na espécie, a decisão

que desconsiderou a personalidade jurídica atinge os bens daqueles ex-sócios

indicados, não podendo, por óbvio, prejudicar terceiros de boa-fé. Precedentes

citados: REsp 881.330-SP, DJe 10/11/2008; REsp 418.385-SP, DJ 03/09/2007,

e REsp 1.036.398-RS, DJe 03/02/2009. (REsp 1.180.191-RJ, Rel. Min. Luis

Felipe Salomão, julgado em 05/04/2011).

3) Prova Defensor Ceará 2007

Questão 111) O Código de Defesa do Consumidor adota a teoria menor

da desconsideração da personalidade jurídica, bastando a

demonstração da insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de

suas obrigações, independentemente da existência de desvio de

finalidade ou de confusão patrimonial.

GABARITO: CERTO

4) Prova AGU 2009

Questão 140) A teoria da desconsideração da personalidade jurídica é

sempre aplicável aos casos em que os sócios ou administradores

extrapolam seus poderes, violando a lei ou o contrato social, e a norma

jurídica lhes impõe a responsabilidade por tais atos.

GABARITO: ERRADO (aplicação da teoria do ato ultra vires)

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*** ATUALIZAR O CADERNO: INFORMATIVO 517/STJ.

A marca de alto renome é uma exceção ao princípio da especificidade. O STJ

entendeu que a Resolução n. 121/2005 do INPI deve ser revista para permitir

que o titular da marca peça a declaração de alto renome ao INPI; enquanto o

INPI não decidir, o Judiciário não pode declarar a marca como sendo de alto

renome, pois trata-se de uma questão administrativa.

Informativo 517/STJ

DIREITO EMPRESARIAL. POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE UMA

DECLARAÇÃO GERAL E ABSTRATA DO INPI REFERENTE À

CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE ALTO RENOME.

É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via direta,

uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome. A

denominada “marca de alto renome”, prevista no art. 125 da Lei de Propriedade

Industrial, consiste em um temperamento do princípio da especialidade, pois

confere à marca proteção em todos os ramos de atividade. Tal artigo não

estabeleceu os requisitos necessários à caracterização do alto renome de uma

marca, de modo que a regulamentação do tema ficou a cargo do INPI.

Atualmente, a sistemática imposta pela aludida autarquia, por meio da

Resolução n. 121/2005, somente admite que o interessado obtenha o

reconhecimento do alto renome pela via incidental, a partir do momento em que

houver a prática, por terceiros, de atos potencialmente capazes de violar a

marca. Inexiste, portanto, um procedimento administrativo tendente à obtenção

de uma declaração direta e abstrata. Parte da doutrina entende que o alto

renome não dependeria de registro. Nessa concepção, a marca que possuísse

a condição de alto renome no plano fático seria absoluta, de sorte que

ninguém, em sã consciência, poderia desconhecê-la. Entretanto, ainda que

uma determinada marca seja de alto renome, até que haja uma declaração

oficial nesse sentido, essa condição será ostentada apenas em tese. Dessa

forma, mesmo que exista certo consenso de mercado acerca do alto renome,

esse atributo depende da confirmação daquele a quem foi conferido o poder de

disciplinar a propriedade industrial no Brasil, declaração que constitui um direito

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do titular, inerente ao direito constitucional de proteção integral da marca, não

apenas para que ele tenha a certeza de que sua marca de fato possui essa

peculiaridade, mas, sobretudo, porque ele pode — e deve — atuar

preventivamente no sentido de preservar e proteger o seu patrimônio

intangível, sendo despropositado pensar que o interesse de agir somente irá

surgir com a efetiva violação. Deve-se considerar, ainda, que o reconhecimento

do alto renome só pela via incidental imporia ao titular um ônus injustificado, de

constante acompanhamento dos pedidos de registro de marcas a fim de

identificar eventuais ofensas ao seu direito marcário. Ademais, não se pode

perder de vista que muitas vezes sequer ocorre a tentativa de depósito da

marca ilegal junto ao INPI, até porque, em geral, o terceiro sabe da

inviabilidade de registro, em especial quando a colidência se dá com marca de

alto renome. Nesses casos, a controvérsia não chega ao INPI, impedindo que o

titular da marca adote qualquer medida administrativa incidental visando à

declaração do alto renome. Acrescente-se, por oportuno, que, ao dispor que “a

proteção de marcas de alto renome não dependerá de registro na jurisdição em

que é reivindicada”, a Association Internationale pour la Protection de la

Propriété Industrielle (AIPPI) não isentou — ou pelo menos não impediu —

essas marcas de registro, tampouco afirmou que essa condição — de alto

renome — independeria de uma declaração oficial; apenas salientou que elas

estariam resguardadas mesmo sem prévio registro, ou seja, prevaleceriam

sobre marcas colidentes, ainda que estas fossem registradas

anteriormente. (REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

19/02/2013).

DIREITO EMPRESARIAL. IMPOSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO

RECONHECER, ANTES DA MANIFESTAÇÃO DO INPI, A

CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE ALTO RENOME.

Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da

caracterização, ou não, de uma marca como sendo de alto renome, não pode o

Poder Judiciário conferir, pela via judicial, a correspondente proteção

especial. A lacuna existente na Resolução n. 121/2005 — que prevê a

declaração do alto renome de uma marca apenas pela via incidental —

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configura omissão do INPI na regulamentação do art. 125 da LPI, situação que

justifica a intervenção do Poder Judiciário. Entretanto, até que haja a

manifestação do INPI pela via direta, a única ilegalidade praticada será a

inércia da Administração Pública. Assim, é incabível, ao menos nesse

momento, a ingerência do Poder Judiciário no mérito do ato omissivo,

competindo-lhe, caso provocado, a adoção de medidas tendentes a ocasionar

a manifestação do INPI. Desse modo, na ausência de uma declaração

administrativa da referida autarquia, a decisão judicial que reconhece o alto

renome de uma marca caracteriza usurpação de atividade que legalmente

compete àquele órgão, consistindo em violação da tripartição dos poderes do

Estado, assegurada pelo art. 2° da CF/1988. (REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2013).

SOCIEDADES DESPERSONIFICADAS

O CC/2002 disciplina duas sociedades despersonificadas: sociedade em

comum (arts. 986 a 990) e sociedade em conta de participação (arts. 991 a

996).

O conceito de sociedade está no art. 981/CC: “celebram contrato de sociedade

as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços,

para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”.

Os requisitos para existência de uma sociedade são: i) pluralidade de sócios; ii)

contribuição para o capital social; e iii) partilha dos resultados. É o registro que

confere personalidade jurídica à sociedade. Portanto, é possível existir uma

sociedade independente do registro (sociedade despersonificada).

A sociedade em comum é uma sociedade irregular? A sociedade comum não

tem registro. Entretanto, na opinão do professor, sociedade em comum não se

confunde com sociedade irregular e sociedade de fato.

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A sociedade de fato é uma sociedade despersonificada, na qual não há

contrato escrito (o controle é verbal) e a responsabilidade dos sócios é solidária

e ilimitada.

A sociedade em comum também é uma sociedade despersonificada, na qual

há um contrato escrito, mas sem registro (art. 986/CC). A responsabilidade dos

sócios da sociedade em comum, prevista no art. 990/CC, é diferente dos sócios

da sociedade de fato, pois apesar de também ser solidária e ilimitada, existe

benefício de ordem.

Já a sociedade irregular não é uma sociedade despersonificada, pois como ela

tem um contrato escrito registrado, adquiriu personalidade jurídica. Entretanto,

a sociedade é considerada irregular em função de uma irregularidade

superveninete (ex.: falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo

de 180 dias – art. 1033, IV/CC) ou no próprio momento da constituição (ex.:

erro no local de registro).

SOCIEDADE EM COMUM

- Art. 986/CC: a sociedade em comum não compreende a sociedade anônima

em organização. A sociedade anônima tem uma forma para ser constituída e,

enquanto ela estiver em organização, ela não terá personalidade jurídica, mas

não se confunde com sociedade em comum.

Art. 986 - Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a

sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste

Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem

compatíveis, as normas da sociedade simples.

- Art. 987/CC: é uma norma de natureza processual que trata sobre a prova de

existência de uma sociedade em comum. Se for um dos sócios pretendendo

provar a existência da socieda-de em comum, a prova só pode ser feita por

escrito. Nos outros casos, a existência da socieda-de em comum pode ser

provada por qualquer meio moralmente legítimo.

Page 90: caderno direito empresarial

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Art. 987 - Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por

escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem

prová-la de qualquer modo.

- Art. 988/CC: na sociedade em comum, os bens constituem um patrimônio

especial e a titularidade deste patrimônio será dos sócios. Quando os atos

constitutivos da sociedade são levados a registro, ela adquire personalidade

jurídica, sendo que um dos efeitos dessa aquisição é ter um patrimônio distinto

do patrimônio dos sócios. Assim sendo, como a sociedade em comum não tem

personalidade jurídica, ela não pode ser titular de um patrimônio; por isso, os

bens da sociedade em comum pertencem aos sócios.

Art. 988 - Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do

qual os sócios são titulares em comum.

- Art. 989/CC: trata sobre a administração da sociedade em comum. A

sociedade em comum irá celebrar negócios com terceiros através da pessoa

do seu administrador. No contrato social escrito, tem que constar quem pode

usar a firma, quem pode negociar em nome da sociedade em comum, quem

tem poder de administração. Se a sociedade em comum provar que o

administrador realizou um ato de gestão para o qual não tinha poderes e que

terceiro sabia ou devesse saber disso, o administrador responderá com seu

patrimônio.

Art. 989 - Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por

qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que

somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.

- Art. 990/CC: na sociedade em comum, todos os sócios respondem solidária e

ilimitadamente pelas obrigações sociais. Aquele sócio que não contrata pela

sociedade, ou seja, apenas é o capitalista, não está à frente do negócio, tem

direito ao benefício de ordem. Isto significa que os bens particulares do sócio

que não contrata pela sociedade apenas podem ser executados por dívidas da

sociedade em comum depois de executados os bens que constituem o patri-

Page 91: caderno direito empresarial

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mônio especial. Já o sócio que contrata pela sociedade não faz jus ao benefício

de ordem.

Art. 990 - Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas

obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024,

aquele que contratou pela sociedade.

A regra do sistema atributivo prevalece em relação à marca e ao nome

empresarial, ou seja, é necessário ter um registro para ser titular de um nome

empresarial (art. 33, Lei 8.934/1994) e de uma marca (art. 129, Lei

9.279/1996). A sociedade em comum até pode utilizar um nome empresarial ou

criar uma marca, mas ela não terá a proteção do direito ao uso exclusivo, pois

este depende do registro. Portanto, como a sociedade em comum não tem

personalidade jurídica, ela não pode ser titular nem de nome empresarial e

nem de marca.

A sociedade em comum não pode pedir a falência de outro empresário, pois o

§ 1° do art. 97 da Lei 11.101/2005 determina que o credor empresário, que

requerer de falência do devedor, tem que apresentar certidão do Registro

Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades. O ente

despersonificado tem capacidade processual, é representada ativa e

passivamente pelos seus sócios, mas não tem a possibilidade de requerer

falência por não ter a certidão que a Lei de Falência exige.

RESPONSABILIDADE DO SÓCIO NA SOCIEDADE EM COMUM

SÓCIO QUE CONTRATA SÓCIO QUE NÃO CONTRATA

SOLIDÁRIA, ILIMITADA E NÃO TEM BENEFÍCIO DE ORDEM

SOLIDÁRIA, ILIMITADA E TEM BENEFÍCIO DE ORDEM

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Nos termos do art. 81 da Lei 11.101/2005, se a sociedade em comum for

considerada empresarial, ela pode ter a sua falência decretada, pois não é

necessário ter o registro para ser empresário.

Art. 81 - A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios

ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que

ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à

sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar

contestação, se assim o desejarem.

Além disso, de acordo com o art. 105, IV da Lei 11.101/2005, podemos afirmar

que a sociedade em comum também pode confessar a sua própria falência.

Art. 105 - O devedor em crise econômico-financeira que julgue não

atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá

requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de

prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes

documentos:

IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em

vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços

e a relação de seus bens pessoais;

A sociedade em comum não pode requerer recuperação judicial ou

extrajudicial, pois um dos requisitos para requerer a recuperação judicial,

previsto no caput do art. 48 da Lei 11.101/2005, é exercer a empresa

regularmente há mais de dois anos. Além disso, o inciso V do art. 51 da Lei

11.101/2005 determina que a petição inicial da recuperação judicial deverá ser

instruída com certidão do Registro Público de Empresas que comprove a

regularidade de suas atividades.

Enunciado 58 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “Arts. 986 e seguintes: A

sociedade em comum compreende as figuras doutrinárias da sociedade de fato

e da irregular”.

Page 93: caderno direito empresarial

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Sob a ótica da aula de hoje, podemos afirmar que a sociedade em comum não

se confunde nem com a sociedade de fato nem com a irregular.

Enunciado 383 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 997: A falta de

registro do contrato social (irregularidade originária – art. 998) ou de alteração

contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade

superveniente – art. 999, parágrafo único) conduz à aplicação das regras da

sociedade em comum (art. 986)”.

A afirmação de que a falta do registro de contrato social conduz à aplicação

das regras da sociedade em comum é perfeita, pois presume-se que existe um

contrato escrito. Entretanto, não se deve aplicar as regras da sociedade em

comum quando houver uma irregularidade superveniente, pois, nesse caso, a

sociedade já possui registro, tem personalidade jurídica; o que ocorre é que a

alteração contratual, enquanto não for levada a registro, não produz efeitos em

relação a terceiros.

Enunciado 394 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 2.031: Ainda que

não promovida a adequação do contrato social no prazo previsto no art. 2.031

do Código Civil, as sociedades não perdem a personalidade jurídica adquirida

antes de seu advento”.

Quando houve a promulgação do Código Civil de 2002, a sociedade registrada

anteriormente teve que se adequar às regras do novo Código em um

determinado prazo, que foi prorrogado diversas vezes e terminou em

11/01/2007. Se a sociedade não se adequou às regras do CC/2002, ele não

perde a sua personalidade jurídica; o que ocorre é uma irregularidade super-

veniente, que pode dar ensejo à desconsideração.

Page 94: caderno direito empresarial

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DIREITO EMPRESARIAL – AULA 11 – 10/05/2013

SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Existe uma controvérsia sobre a natureza jurídica da sociedade em conta de

participação. No Código Civil, ela é tratada como uma sociedade

despersonificada. No entanto, a maioria da doutrina (Sérgio Campinho, Fábio

Ulhoa Coelho, Fábio Negrão) defende que ela não seria uma verdadeira

sociedade, mas sim uma espécie de contrato de participação. Para a maioria

da doutrina, a sociedade em conta de participação é um contrato e não uma

sociedade. O professor segue o entendimento que a sociedade em conta de

participação tem natureza jurídica de contrato.

A parte da doutrina que defende que a sociedade em conta de participação é

um contrato utiliza os seguintes argumentos:

i) forma de dissolução (art. 996/CC) – a sociedade em conta de participação se

dissolve através de uma ação de prestação de contas, que é disciplinada nos

arts. 914 a 919 do CPC. Na ação de prestação de contas, há duas sentenças:

na primeira sentença, o juiz determina se o réu tem ou não que apresentar as

contas e na segunda sentença, o juiz julga a prestação de contas.

Art. 996 - Aplica-se à sociedade em conta de participação,

subsidiariamente e no que com ela for compatível, o disposto para a

sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à

prestação de contas, na forma da lei processual.

Parágrafo único - Havendo mais de um sócio ostensivo, as respectivas

contas serão prestadas e julgadas no mesmo processo.

ii) efeitos da falência do sócio participante (art. 994, § 3°/CC) – se houver a

falência do sócio participante, aplica-se as regras pertinentes aos efeitos da

falência em relação aos contratos bilaterais do falido (art. 117 da Lei

11.101/2005).

Art. 994, § 3° - Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito

às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do

falido.

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Art. 117 - Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem

ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou

evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à

manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do

Comitê.

A parte minoritária da doutrina (Mauro Brandão Lopes, Arnaldo Rizzardo, José

Gabriel Assis de Almeida) que defende que a sociedade em conta de

participação é uma verdadeira sociedade despersonificada utiliza os seguintes

argumentos:

i) a sociedade em conta de participação é tratada como uma espécie de

sociedade despersonificada no Código Civil;

ii) o conceito de sociedade, previsto no art. 981/CC, se adequada perfeitamente

à sociedade em conta de participação, pois há pluralidade de sócios,

contribuição para um fundo social (capital social) e divisão de resultados.

Na sociedade em conta de participação, sempre existe duas categorias de

sócios: sócio ostensivo e sócio participante (pode existir pluralidade tanto de

sócio ostensivo quanto de participante).

De acordo com o art. 991/CC, o sócio ostensivo assume, em nome próprio, a

responsabilidade pelas obrigações celebradas com terceiros. O terceiro não

negocia com a sociedade em conta de participação, mas sim com o sócio

ostensivo. Portanto, podemos afirmar que a sociedade em conta de

participação não assume obrigações perante terceiros, mas sim o sócio

ostensivo.

O sócio participante apenas participa dos resultados, não tem obrigações

perante terceiros. Pode até existir um pacto interno entre o sócio ostensivo e o

participante quanto a divisão de responsabilidade, mas ele não terá efeitos em

relação a terceiros.

Art. 991 - Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva

do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu

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nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,

participando os demais dos resultados correspondentes.

Parágrafo único - Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio

ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos

termos do contrato social.

Nos termos do art. 992/CC, a prova da existência de uma sociedade em conta

de participação pode ser feita por qualquer meio. Essa situação é diferente da

vista na sociedade em comum, pois o art. 987/CC determina que o terceiro

pode fazer prova da existência da sociedade em comum por qualquer meio,

mas o sócio somente pode fazer prova por escrito.

Art. 992 - A constituição da sociedade em conta de participação

independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios

de direito.

A sociedade em conta de participação pode ter o seu contrato registrado na

Junta Comercial ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ). Entretanto,

segundo o art. 993/CC, não haverá a aquisição de personalidade jurídica com o

registro do contrato. A sociedade em conta de participação jamais terá

personalidade jurídica. Tal regra é uma exceção ao art. 985/CC, que determina

que a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro

próprio, dos seus atos constitutivos. 

Art. 993 - O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a

eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere

personalidade jurídica à sociedade.

Parágrafo único - Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos

negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações

do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente

com este pelas obrigações em que intervier.

O art. 995/CC trata da admissão de novos sócios pelo sócio ostensivo. Será

que sócio ostensivo pode admitir, de maneira livre, o ingresso de novos sócios

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na sociedade em conta de participação? Não, em regra geral, o sócio ostensivo

precisa da autorização dos demais sócios para admitir o ingresso de novos

sócios. Entretanto, pode haver uma cláusula em contrário no contrato da

sociedade em conta de participação possibilitando que o sócio ostensivo

admita novos sócios livremente.

Art. 995 - Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode

admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais.

A sociedade em conta de participação não se dissolve como as demais

sociedades, mas sim através de uma ação de prestação de contas, que é

disciplinada nos arts. 914 a 919 do CPC.

Será que a sociedade em conta de participação pode falir? Esta é uma questão

controvertida. Se entender que a sociedade em conta de participação é uma

sociedade, então, por coerência, tem que admitir a possibilidade dela falir. Já

se entender que a sociedade em conta de participação é um contrato, então,

por coerência, não pode admitir a sua falência. O professor entende que a

sociedade em conta de participação não pode falir, pois quem assume

obrigações perante terceiros é o sócio ostensivo e não a própria sociedade.

Os sócios ostensivo e participante podem ser pessoa jurídica ou pessoa

natural. E pode ocorrer a falência tanto do sócio ostensivo quanto do sócio

participante, sendo que haverá consequências distintas para cada situação de

acordo com os §§ 2° e 3° do art. 994 do Código Civil.

Se houver a falência do sócio ostensivo (art. 994, § 2°/CC), a sociedade em

conta de participação será automaticamente dissolvida e o sócio participante

terá que habilitar o seu crédito na falência do ostensivo (crédito de natureza

quirografária).

Art. 994, § 2° - A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da

sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá

crédito quirografário.

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Se houver a falência do sócio participante (art. 994, § 3°/CC), deve-se aplicar

as regras pertinentes ao efeitos da falência aos contratos bilaterais do falido

(art. 117 da Lei 11.101/ 2005). Portanto, no caso da falência do sócio

participante, não haverá a dissolução automática da sociedade em conta de

participação, mas apenas a substituição do falido pela massa falida,

representada pelo administrador judicial, que irá decidir se continuar na

sociedade em conta de participação é mais vantajoso para a manutenção e

preservação de seus ativos.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) PROVA MP/AMAZONAS 2007

Questão 57) A sociedade em conta de participação é uma sociedade

empresária personificada e de capital, constituída mediante contrato

social devidamente registrado. Nessas sociedades, vige o princípio da

livre participação societária, e a morte de um dos sócios não autoriza a

dissolução parcial, seja a pedido dos sobreviventes seja dos sucessores.

GABARITO: ERRADO

2) PROVA AGU 2007

Acerca das sociedade não-personificadas, julgue os itens subsequentes.

Questão 106) Tanto na sociedade em comum quanto na sociedade em

conta de participação, os sócios, nas relações entre eles mesmos ou

com terceiros, somente podem provar a existência da sociedade por

escrito. GABARITO: ERRADO

Questão 107) Na sociedade em conta de participação, salvo estipulação

em contrário, o sócio ostensivo pode admitir novo sócio,

independentemente do consentimento dos demais integrantes da

sociedade. GABARITO: ERRADO

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3) PROVA DPU 2007 – CESPE

Em cada um dos itens a seguir, é apresentada uma situação hipotética,

seguida de uma assertativa a ser julgada, acerca do direito societário

brasileiro.

Os sócios de certa sociedade em conta de participação lavraram o seu

ato constitutivo em janeiro de 2007, mas o referido instrumento foi

levado a registro apenas após cerca de seis meses. Nessa situação, a

sociedade somente passou a ter personalidade jurídica no momento da

inscrição de seu contrato social no registro público de empresas

mercantis. GABARITO: ERRADO

4) XXIX CONCURSO PARA PROMOTOR DE JUSTIÇA DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO

2ª Questão – Direito Empresarial) A sociedade X Ltda dedica-se ao

comércio de artigos desportivos. Aproveitando a realização dos Jogos

Pan-americanos na cidade do Rio de Janeiro, a sociedade X Ltda.

celebra um contrato de sociedade em conta de participação com a

sociedade Z Ltda. que explora uma rede de lojas na referida cidade. De

acordo com esse contrato, a sociedade X irá entregar à sociedade Z

uma determinada quantidade de material desportivo que será vendido

pela sociedade Z nas suas lojas. O resultado das vendas será repartido

da seguinte forma: 65% para a sociedade X e 35% para a sociedade Z.

Antes de terminadas as vendas, a sociedade Z tem a sua falência

decretada. Indique quais os efeitos da falência da sociedade Z sobre o

negócio celebrado. Pode a sociedade em conta de participação ter a sua

falência decretada?

Há duas correntes acerca da possibilidade da sociedade em conta de

participação falir. Quem entende que a sociedade em conta de participação é

uma sociedade, admite a possibilidade dela falir. Já quem entende que a

sociedade em conta de participação é um contrato, não admite a possibilidade

dela falir. Obs.: Um dos examinadores desta prova era José Gabriel Assis de

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Almeida, que entende que a sociedade em conta de participação é uma

sociedade.

No caso em questão, a sociedade Z é a socia ostensiva. Assim sendo, como a

sociedade Z teve a sua falência decretada, haverá a dissolução automática da

sociedade em conta de participação e a sociedade X deve se habilitar na

falência de Z como credora quirografária. Além disso, a sociedade X deve

formular um pedido de restituição (art. 85 da Lei 11.101/2005) para reaver o

material desportivo que lhe pertence, mas estava na posse da sociedade Z ao

tempo de sua falência.

EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI) – LEI

12.441/2011

A EIRELI foi introduzida pela Lei 12.441/2011 e está disciplinada no art. 980-A

do Código Civil. Este dispositivo tem seis parágrafos, sendo que o quarto foi

objeto de veto presidencial.

A EIRELI é uma nova forma de exploração da atividade empresarial. Portanto,

depois do advento da Lei 12.441/2011, existem três formas de exploração da

atividade empresarial: empresário individual (pessoa natural), sociedade

(pessoa jurídica) e EIRELI (pessoa jurídica).

Art. 980-A - A empresa individual de responsabilidade limitada será

constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,

devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o

maior salário-mínimo vigente no País.

§ 1° - O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da

expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa

individual de responsabilidade limitada.

§ 2° - A pessoa natural que constituir empresa individual de

responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa

dessa modalidade.

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§ 3° - A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá

resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num

único sócio, independentemente das razões que motivaram tal

concentração.

§ 4° - (VETADO).

§ 5° - Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade

limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a

remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou

de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa

jurídica, vinculados à atividade profissional.

§ 6° - Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no

que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas.

Questão: Qual é a diferença entre a EIRELI, o empresário individual e a

subsidiária integral?

O empresário individual é uma pessoa natural e tem responsabilidade ilimitada.

Já a EIRELI é uma pessoa jurídica (art. 44, VI do Código Civil) e tem

responsabilidade limitada. A subsidiária integral, por sua vez, é uma

companhia, ou seja, é uma sociedade anônima, e tem a característica peculiar

de possuir apenas um único acionista, que é uma pessoa jurídica nacional (art.

251 da Lei 6.404/1976). Podemos citar como exemplo de subsidiária integral a

Transpetro, cuja única acionista é a Petrobras. Em regra geral, uma sociedade

deve ter pluralidade de sócios. Portanto, a subsidiária integral é uma exceção a

essa regra, pois ela é uma sociedade unipessoal (unipessoalidade originária e

permanente).

Existe uma controvérsia quanto a natureza jurídica da EIRELI. O entendimento

predominante é que a EIRELI não seria uma sociedade unipessoal, mas sim

um novo ente jurídico personificado. O art. 44, VI do Código Civil, que prevê

que a empresa individual de responsabilidade limitada é pessoa jurídica de

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direito privado, é um inciso autônomo, ou seja, não pode confundir a EIRELI

com as pessoas jurídicas previstas nos demais incisos (EIRELI não se

confunde com sociedade, associação ou fundação).

Não há dúvida que a subsidiária integral é uma sociedade unipessoal, pois ela

possui apenas um acionista, que é uma pessoa jurídica nacional. Fábio Ulhoa

Coelho e Erasmo Valladão entendem que a EIRELI também é uma sociedade

unipessoal.

Obs.: Se entender que a EIRELI é um novo ente personificado, é incoerente

afirmar que ela tem um único sócio; tem que utilizar expressões que não

remetem a sociedade, como titular ou instituidor. Apenas pode afirmar que que

tem sócio quem afirma que a EIRELI é uma sociedade unipessoal.

Enunciado 469 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “A Empresa Individual de

Responsabilidade Limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico

personificado”.

Enunciado 03 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “A Empresa Individual

de Responsabilidade Limitada – EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um

novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária”.

Questão: Qual será o local de registro da EIRELI? RCPJ ou Junta Comercial?

O § 5° do art. 980-A do Código Civil prevê que a EIRELI pode ser criada para a

exploração de atividades de qualquer natureza. Então, se uma EIRELI for

criada para explorar atividade intelectual de natureza científica, sem elemento

de empresa, onde ela deve ser registrada?

V JORNADA DE DIREITO CIVIL DO CJF

REDAÇÃO REJEITADA: “As empresas individuais de responsabilidade limitada

(EIRELI) podem exercer atividades empresariais (art. 966, caput, do CC/2002)

ou exclusivamente intelectuais (art. 966, parágrafo único do CC/2002). No

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primeiro caso, são empresárias, registram-se perante a Junta Comercial e

sujeitam-se à falência”.

Como a redação do enunciado acima foi rejeitada, prevaleceu a ideia de que a

EIRELI sempre será de natureza empresarial e deverá ser registrada na Junta

Comercial. Entretanto, não há nenhum enunciado afirmando isso e o fato é que

o RCPJ tem várias EIRELIs registradas. Então, na prática, a EIRELI está sendo

registrada tanto na Junta Comercial, quanto no RCPJ, dependendo da natureza

do seu objeto social.

Questão: Uma pessoa jurídica poderá instituir uma EIRELI?

O caput do art. 980-A do Código Civil prevê que a EIREI será constituída “por

uma única pessoa titular da totalidade do capital social”. Portanto, o dispositivo

fala apenas em pessoa, não especifica se é pessoa natural ou jurídica. Não há

dúvida que pessoa natural pode instituir uma EIRELI, por causa do § 2° do art.

980-A/CC. Entretanto, a possibilidade de pessoa jurídica poder ou não instituir

uma EIRELI é uma questão controvertida.

ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO CIVIL

REDAÇÃO APROVADA: “A empresa individual de responsabilidade limitada

poderá ser constituída por pessoa jurídica, admitida a sua participação em mais

de uma empresa dessa modalidade”.

O professor concorda com este enunciado da Academia Brasileira de Direito

Civil, pois o caput do art. 980-A/CC apenas fala em pessoa, não restringe a

possibilidade de constituir uma EIRELI a pessoa natural ou a pessoa jurídica.

Enunciado 468 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “A empresa individual de

responsabilidade limitada só poderá ser constituída por pessoa natural”.

Page 104: caderno direito empresarial

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INSTRUÇÃO NORMATIVA 117 DO DNRC

1.2.11 – IMPEDIMENTO PARA SER TITULAR: “Não pode ser titular de EIRELI

a pessoa jurídica, bem assim a pessoa natural impedida por norma

constitucional ou por lei especial”.

A Instrução Normativa 117 do DNRC está em sintonia com o Enunciado 468 da

V Jornada de Direito Civil do CJF. Mas cabe registrar que esta instrução

normativa foi republicada depois da divulgação desses enunciados.

Inicialmente, a instrução normativa afirmava que tanto pessoa natural, quanto

pessoa jurídica, podia ser titular de EIRELI. Entretanto, após a publicação dos

enunciados, Gustavo Tavares Borba (Procurador do Estado que atua junto à

Junta Comercial do Rio de Janeiro) mandou uma mensagem ao Poder

Executivo Federal sugerindo que a instrução normativa fosse republicada para

restringir a possibilidade de ser titular de uma EIRELI apenas a pessoa natural

e assim o DNRC fez em 07 de dezembro de 2011.

No entendimento do professor, a Instrução Normativa 117 do DNRC viola o

princípio da legalidade (art. 5°, II/CRFB), pois uma instrução normativa,

comando normativo inferior a lei, não pode trazer uma restrição que não está

compreendida em lei. Portanto, na concepção do professor, tanto pessoa

jurídica quanto pessoa natural pode instituir uma EIRELI.

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AULA 12 – 17/05/2013

EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA – EIRELI

(cont.)

QUESTÃO: QUEM PODERÁ ADMINISTRAR UMA EIRELI?

Essa questão não tem resposta no art. 980-A do Código Civil. Quando há uma

omissão neste dispositivo, deve-se aplicar as regras da sociedade limitada à

EIRELI, por força do § 6° do art. 980-A/CC. Segundo o art. 1061/CC, na

sociedade limitada, o administrador não precisa ser sócio. Então, o

administrador da EIRELI não precisa ser o seu instituidor; este pode indicar

uma outra pessoa para administrar a EIRELI.

O art. 1060/CC prevê que a sociedade limitada pode ser administrada por uma

ou mais pessoas designadas no contrato social ou em instrumento separado.

Como este dispositivo não especifica se é pessoa natural ou jurídica, surge a

dúvida se a sociedade limitada pode ou não ser administrada por pessoa

jurídica.

Paulo Salles de Toledo sustenta que a sociedade limitada pode ser

administrada por pessoa jurídica, pois o art. 1060/CC fala apenas em pessoa

no seu gênero. Esta orientação não é a majoritária. (Texto de Paulo Salles de

Toledo: “As sociedade limitadas podem ter Conselho de Administração?”)

A orientação que predomina é a de Sérgio Campinho, que sustenta que

somente pessoa natural pode exercer a administração da sociedade limitada,

pois deve-se aplicar ao caso concreto, conjuntamente ao art. 1060, o art. 997,

VI do Código Civil, que determina que o contrato social deve indicar “as

pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e

atribuições”.

Além disso, a Instrução Normativa n° 98/2003 do DNRC (Manual de Atos de

Registro de Sociedade Limitada) indica que a administração da sociedade

limitada somente poderá ser exercida por pessoa natural.

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E o art. 1062, § 2° do Código Civil determina que, nos dez dias seguintes ao da

investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no

registro competente, mencionando, dentre outras informarções, o seu estado

civil (apenas pessoa natural tem estado civil). Assim sendo, foi aprovado o

Enunciado 66 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 1.062: a teor do § 2º do

art. 1.062 do Código Civil, o administrador só pode ser pessoa natural”.

Obs.: Em qualquer outra espécie de sociedade, não há qualquer dúvida que

apenas pessoa natural pode ser administradora. Há controvérsia apenas na

sociedade limitada, por causa do art. 1060/CC.

Portanto, toda essa divergência do administrador poder ser pessoa jurídica ou

não é aplicada à EIRELI. Trata-se de uma questão polêmica, mas prevalece a

ideia de que, na EIRELI, o administrador tem que ser pessoa natural.

CAPITAL SOCIAL DA EIRELI

O caput do art. 980-A/CC prevê que a EIRELI tem capital social, que deve estar

todo integralizado no momento de sua constituição e não pode ser inferior a

100 vezes o salário-mínimo vigente no país.

Mas será que a EIRELI tem capital social mesmo? Quem entende que a

EIRELI não é uma sociedade não pode falar que ela tem capital social, da

mesma forma que não pode falar que ela tem sócio. Já quem entende que a

EIRELI é uma sociedade unipessoal, por coerência, pode falar que ela tem

capital social.

O capital social é divido em cotas ou ações. Então, para quem entende que a

EIRELI é uma sociedade unipessoal, o seu capital social seria formado por

uma cota única. Já para quem entende que a EIRELI não é sociedade, o

capital social, na realidade, seria um investimento que o instituidor fez na

EIRELI.

O capital social da EIRELI não permite parcelamento, deve estar totalmente

integralizado no ato da sua constituição. Isso é o contrário do que ocorre com

as demais sociedades, nas quais é possível parcelar o capital social. Além

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disso, o caput do art. 980-A/CC fixou um capital social mínimo para a EIRELI

de 100 vezes o salário-mínimo vigente no país.

Não é regra no nosso ordenamento jurídico estabelecer um capital social

mínimo; a regra é a liberdade, são os sócios que dizem de quanto é o capital

social. A razão da lei exigir um capital social mínimo para a constituição da

EIRELI é para desistimular fraude nas relações trabalhistas.

A constitucionalidade do capital social mínimo da EIRELI (e sua vinculação ao

salário-mínimo) está sendo questionada na ADIn 4637, por violação ao art.

170/CRFB, que prevê o princípio da livre iniciativa. Não foi concedida liminar

nesta ADIn, então, até o momento, presume-se constitucional essa regra.

E como pode contribuir para a formação do capital social da EIRELI? O art.

980-A/CC é omisso a respeito desta questão, então, por força do § 6° do

referido dispositivo, deve-se aplicar as regras da sociedade limitada à EIRELI.

O art. 1055, § 2° do Código Civil estabelece que é vedada contribuição que

consiste em prestação de serviços para o capital social da sociedade limitada.

Então, também não pode contribuir para o capital social da EIRELI com

prestação de serviços. Além disso, não é possivel integralizar o capital social

com nome, voz e imagem. Portanto, apenas é possível contribuir para o capital

da EIRELI com dinheiro, crédito e bens (móveis, imóveis e intangíveis).

Enunciado 04 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “Uma vez subscrito e

efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de responsabilidade

limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações no

salário mínimo”.

Enunciado 473 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 980-A, § 5°: A

imagem, o nome ou a voz não podem ser utilizados para a integralização do

capital da EIRELI”.

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QUESTÃO: É POSSÍVEL APLICAR A TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO À

EIRELI?

Sim, é possível a aplicação de qualquer modalidade de desconsideração,

inclusive a inversa, pois o patrimônio da EIRELI é distinto do patrimônio de seu

instituidor. O § 4° do art. 980-A do Código Civil foi vetado, pois ele determinava

que o patrimônio da EIRELI seria o único responsável pelas obrigações por ela

contraídas e, se ele tivesse entrado em vigor, poderia inibir a aplicação da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

Enunciado 470 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 980-A: O patrimônio

da empresa individual de responsabilidade limitada responderá pelas dívidas

da pessoa jurídica, não se confundindo com o patrimônio da pessoa natural

que a constitui, sem prejuízo da aplicação do instituto da desconsideração da

personalidade jurídica”.

QUESTÃO: É POSSÍVEL TRANSFORMAR UMA SOCIEDADE EM EIRELI?

Se uma sociedade limitada possuia dois sócios e um deles saiu, ela somente

pode ficar unipessoal pelo prazo de 180 dias, sob pena de dissolução (art.

1033, IV/CC). Entretanto, o sócio remanescente pode se transformar em

empresário individual (§ único do art. 1033/CC) ou em uma EIRELI, desde que

o capital social mínimo seja respeitado (§ 3° do art. 980-A/CC). Entretanto,

haveria problema na transformação em uma EIRELI se esse sócio

remanescente da limitada fosse uma pessoa jurídica, por causa da controvérsia

sobre uma pessoa jurídica poder ou não ser instituidora de uma EIRELI.

Art. 1.033 - Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:

IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e

oitenta dias;

Parágrafo único - Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio

remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas

da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de

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Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para

empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade

limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115

deste Código.

E será que é possível transformar uma sociedade anônima em EIRELI? Na SA

o capital social é divido em ações e não em quotas. Apesar do § 3° do art. 980-

A/CC falar que “a empresa individual de responsabilidade limitada também

poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária

num único sócio”, na opinão do professor, uma EIRELI pode sim ser resultado

de uma sociedade anônima unipessoal (art. 206, I, alínea “d” da Lei

6.404/1976), pois não há razão de restingir apenas às sociedades cujo capital

social seja dividido em quotas.

Enunciado 483 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 1.033, parágrafo

único: Admite-se a transformação do registro da sociedade anônima, na

hipótese do art. 206, I, d, da Lei n. 6.404/1976, em empresário individual ou

empresa individual de responsabilidade limitada”.

QUESTÃO: EM CASO DE OMISSÃO DO ART. 980-A DO CÓDIGO CIVIL,

QUAL SERÁ A NORMA SUPLETIVA?

O § 6° do art. 980-A/CC determina que “aplicam-se à empresa individual de

responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as

sociedades limitadas”. Mas essa regência supletiva não é integral, pois nem

tudo que está na previsto para a sociedade limitada é compatível com a

EIRELI, como, por exemplo, as regras atinentes a reunião de sócios, quórum.

Wilges Bruscato sustentava que somente poderiam ser aplicadas à EIRELI as

regras da sociedade limitada atinentes a responsabilidade dos sócios e suas

exceções. Ela até propôs o seginte Enunciado que foi REJEITADO na V

Jornada de Direito Civil do CJF: “A aplicação subsidiária das regras da

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sociedade limitada à EIRELI deve se ater, exclusivamente, às regras da

limitação da responsabilidade e suas exceções”.

Quando o art. 980-A/CC for omisso e também não for possível aplicar as regras

previstas para as sociedades limitada, deve-se recorrer às fontes primárias

(Constituição Federal e Código Civil) e secundárias (doutrina, jurisprudência,

princípios gerais de direito e usos e costumes) do Direito Empresarial.

CAPITAL SOCIAL

Concurso MP-RJ 2011 – 12ª Questão: Direito Empresarial

Explique as diferenças entre estabelecimento empresarial, patrimônio social,

patrimônio líquido e capital social no Direito Societário.

O capital social é uma cifra contábil, resultante da contribuição que os sócios

fizeram para tomar parte na sociedade. A cota/ação é uma fração do capital

social, que pertence ao sócio de acordo com a sua contribuição para o capital

social. Essa contribuição feita pelos sócios com bens, dinheiros e créditos vai

para a pessoa jurídica da sociedade.

O balanço patrimonial é a demonstração que apresenta o ativo e o passivo da

sociedade: na coluna do ativo estão o dinheiro, os bens, os créditos e na

coluna do passivo, os empréstimos, as obrigações, as dívidas. O dinheiro com

o qual os sócios contribuiram para o capital social entra na coluna do ativo.

Mas é na coluna do passivo que há a citação do capital social em moeda

corrente nacional. Então é por isso que se afirma que o capital social é apenas

uma cifra contábil resultante da contribuição que os sócios fizeram para tomar

parte na sociedade.

O capital social não pode ser penhorado, pois ele é apenas uma cifra contábil.

O credor vai pedir a penhora do ativo do devedor (dinheiro, bens, créditos).

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Quando o sócio contribui para o capital social com dinheiro, bens ou créditos,

essa contribuição entra no ativo da sociedade e pode ser utilizada pelos sócios

para a realização do objeto social (e não para fins particulares). Então, o ativo e

o passivo de uma sociedade tendem a oscilar durante o exercício da atividade

empresária.

O capital social é fixo, pois trata-se de uma cifra contábil. Já o patrimônio

oscila, é volátil, pois ele é formado pelo ativo e passivo. O patrimônio líquido,

por sua vez, é obtido através da soma do ativo com o passivo, para a qual

podemos encontrar um resultado positivo ou negativo (lucro ou perdas).

O patrimônio é o conjunto do ativo e do passivo. Então, o patrimônio social

nada mais é do que o patrimônio da sociedade, que se distingue do patrimônio

dos sócios. Já o estabeleci-mento empresarial é o complexo de bens corpóreos

e incorpóreos organizados pelo empre-sário para o exercício da empresa.

O capital social é fixo, pois ele é a cifra contábil resultante da contribuição que

os sócios fizeram para participar da sociedade. Essa contribuição feita pelos

sócios entra no ativo da sociedade (dinheiro, créditos, bens) e pode ser

utilizada para concretizar o objeto social.

Em um cenário em que o capital social for maior que o ativo da sociedade, os

sócios estão impedidos de fazerem retiradas pessoais. De acordo com o art.

1059/CC, os sócios serão obrigados a devolver todas as quantias que tiverem

retirado da sociedade, ainda que autorizados pelo contrato (não importa o

nome dado a essas retiradas), quando essas retiradas tiverem sido feitas em

prejuízo do capital. O capital social é o mínimo de garantia oferecido aos

credores; então, se não tiver uma valor correpondente ao do capital social no

ativo, os credores estão desprotegidos.

Art. 1.059 - Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das

quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato,

quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.

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Portanto, o capital social é uma garantia mínima para os credores, pois eles

esperam que haja pelo menos o valor indicado no capital social no ativo da

sociedade. Quando o ativo for menor que o capital social, os sócios não podem

fazer retiradas, pois isso diminuiria ainda mais a garantia. Por isso, quando os

sócios fizerem retiradas e o ativo da sociedade for inferior ao capital social, eles

são obrigados a fazer reposição das quantias retiradas, porque a garantia dos

credores está no mínimo do capital social.

O capital social não pode ser penhorado, pois ele é apenas uma cifra contábil

(o capital social é chamado, inclusive, de passivo não exigível). O que interessa

para os credores é o ativo da sociedade. Assim sendo, se a sociedade estiver

funcionando com o ativo inferior ao capital social, como a garantia dos credores

está abalada, um juiz pode até mesmo acabar responsabilizando os sócios

pela diferença mediante a aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica.

A maioria da doutrina defende que, em tese, a única exceção à regra do art.

1059/CC, em que os sócios estariam autorizados a fazer retiradas, sem a

obrigação de fazer reposição, mesmo quando o ativo for inferior ao capital

social, seria o pro labore, que é a quantia paga ao sócio que trabalha na

sociedade, mas esta não é uma questão pacífica.

O art. 1055, § 1° do Código Civil é uma outra regra da sociedade limitada que

evidencia a função garantidora que o capital social tem para os credores. De

acordo com esse dispositivo, durante o prazo de 5 anos, todos os sócios, e não

apenas aquele que contribuiu com o bem imóvel, são solidariamente

responsáveis pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social.

Art. 1.055, § 1° - Pela exata estimação de bens conferidos ao capital

social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco

anos da data do registro da sociedade.

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Os seguintes princípios orientam o capital social:

- UNIDADE: existe apenas um único capital social. O capital social é único, não

importa quantas filias a sociedade tenha.

- RIGIDEZ: o capital social é fixo, com exceção da cooperativa. Na cooperativa,

o capital social pode ser variável ou até mesmo não existir (art. 1094, I do

Código Civil).

Art. 1.094 - São características da sociedade cooperativa:

I - variabilidade, ou dispensa do capital social;

- INTANGIBILIDADE: o capital social deve ser utilizado para realizar o objeto

social e não para fins particulares dos sócios.

- REALIDADE: o capital social tem que ser verdadeiro, sob pena de

responsabilidade civil e penal (art. 299 do Código Penal).

Falsidade ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele

devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa

da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação

ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público,

e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

A sociedade em nome coletivo é regulada pelos arts. 1039 a 1044 do Código

Civil. Ela não é muito utilizada na prática: na Junta Comercial do Rio de

Janeiro, existem apenas duas sociedades em nome coletivo registradas.

De acordo com o art. 1039/CC, pessoa jurídica não pode ser sócia de

sociedade em nome coletivo, mas apenas pessoa física. Os sócios respondem

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de maneira subsidiária pelas obrigações sociais, ou seja, se a pessoa jurídica

não tiver patrimônio para arcar com suas obrigações, o credor poderá, depois

de esgotado o patrimônio da sociedade, ingressar no patrimônio dos sócios.

Além disso, a responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada. Portanto,

podemos afirmar que a responsabilidade é subsidiária em relação à sociedade

e solidária e ilimitada entre os sócios.

Art. 1.039 - Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em

nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente,

pelas obrigações sociais.

Parágrafo único - Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros,

podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção

posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um.

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AULA 13 – 24/05/2013

SOCIEDADE EM NOME COLETIVO (cont.)

A responsabilidade dos sócios da sociedade em nome coletivo está prevista no

art. 1039/CC. Todos os sócios são pessoas naturais e possuem

responsabilidade solidária e ilimitada; mas tal responsabilidade é subsidiária

em relação à sociedade, pois o credor apenas pode cobrar dos sócios após

esgotado o patrimônio da sociedade.

De acordo com o 1042/CC, apenas os sócios podem exercer a administração

da sociedade em nome coletivo. Portanto, pessoa jurídica não pode administrar

a sociedade em nome coletivo, pois todos os administradores devem ser sócios

e os sócios da sociedade em nome coletivo são sempre pessoas naturais.

Art. 1.042 - A administração da sociedade compete exclusivamente a

sócios, sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que

tenham os necessários poderes.

Em princípio, o art. 1043/CC não permite o pedido de liquidação da cota do

sócio. Entretanto, há duas exceções previstas no § único do referido

dispositivo: i) quando houver prorrogação tácita da sociedade; e ii) quando

houver prorrogação expressa, mas com oposição judicial de um credor,

levantada no prazo de 90 dias.

Art. 1.043 - O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a

sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor.

Parágrafo único - Poderá fazê-lo quando:

I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;

II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente

oposição do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da

publicação do ato dilatório.

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Obs.: A liquidação da cota do sócio está prevista no § único do art. 1026 do

Código Civil. Por exemplo, se um dos sócios de uma sociedade simples faz

uma dívida particular no valor de 10 mil reais, mas ele não tem qualquer outro

bem sem ser as cotas dessa sociedade e acabou não honrando a sua dívida, o

credor pode pedir a liquidação da cota do sócio para pagar a dívida. O pedido

de liquidação da cota significa que o credor pode pedir a exclusão do sócio da

sociedade por uma dívida particular feita entre eles. Haverá necessidade,

então, de uma apuração de haveres e o valor da dívida deve ser entregue em

dinheiro, no prazo de 90 dias, no juízo da execução. Mesmo que o valor da

cota seja superior ao valor da dívida, o sócio será expulso da sociedade.

Art. 1.026, § único - Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor

requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma

do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até

noventa dias após aquela liquidação.

SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES

A sociedade em comandita simples está prevista nos arts. 1045 a 1051 do

Código Civil, mas esse tipo societário não existe na prática. O art. 1045/CC

estabelece a responsabilidade dos sócios comanditados e comanditários.

Art. 1.045 - Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de

duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária

e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados

somente pelo valor de sua quota.

Parágrafo único - O contrato deve discriminar os comanditados e os

comanditários.

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O sócio comanditado sempre é pessoa natural e sua responsabilidade é

ilimitada. Se houver mais de um sócio comanditado, a responsabilidade será

também solidária. Mas antes de mais nada, a responsabilidade dos sócios

comanditados será subsidiária em relação à sociedade. E o sócio comanditado

é o único que pode administrar a sociedade em comandita simples; portanto,

podemos afirmar que pessoa jurídica não pode ser administradora de

sociedade em comandita simples.

Art. 1.046 - Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da

sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis com as deste

Capítulo.

Parágrafo único - Aos comanditados cabem os mesmos direitos e

obrigações dos sócios da sociedade em nome coletivo.

O nome empresarial da sociedade em comandita simples é do tipo firma/razão

social (assim como é na sociedade em nome coletivo). Na sociedade em

comandita simples, sempre existirá as duas categorias de sócios: comanditado

e comanditário. Mas na composição do nome empresarial apenas pode usar o

nome dos sócios comanditados. Além disso, na sociedade em comandita

simples, é obrigatório constar a expressão “Cia” no nome empresarial, pois ela

designa a existência de sócios comanditários (Instrução Normativa 116 do

DNRC). Já na sociedade em nome coletivo, a expressão “Cia” não é

obrigatória, desde que os nomes de todos os sócios sejam utilizados no nome

empresarial.

O sócio comanditário pode ser pessoa natural ou pessoa jurídica e tem

responsabilidade limitada ao preço de sua cota. Ele não pode exercer a

administração da sociedade; pode, no máximo, receber uma procuração para

realizar um negócio específico. E o nome dele não pode ser utilizado para a

construção do nome empresarial. Se o sócio comanditário emprestrar o seu

nome civil para o nome empresarial ou exercer a administração da sociedade,

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ele passará a ter responsabilidade ilimitada, igual à responsabildiade do sócio

comanditado.

Art. 1.047 - Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da

sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário

praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena

de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado.

Parágrafo único - Pode o comanditário ser constituído procurador da

sociedade, para negócio determinado e com poderes especiais.

Se não existir mais a categoria de sócio comanditado na sociedade, o nome

empresarial deve ser alterado por causa do princípio da veracidade. Além

disso, de acodo com o art. 1051/CC, é necessário que essa categoria de sócio

seja reestabelecida no prazo de 180 dias, sob pena de da sociedade ser

dissolvida de pleno direito (durante esse tempo, deverá ser designado um

administrador provisório, que não terá a qualidade de sócio). Se a falta da

categoria de sócio comanditado não for sanada no referido prazo e a sociedade

continuar funcionando, ela se torna uma sociedade irregular.

Art. 1.051 - Dissolve-se de pleno direito a sociedade:

I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044;

II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das

categorias de sócio.

Parágrafo único - Na falta de sócio comanditado, os comanditários

nomearão administrador provisório para praticar, durante o período

referido no inciso II e sem assumir a condição de sócio, os atos de

administração.

Se não existir mais a categoria de sócio comanditário na sociedade, aplica-se

apenas a regra do art. 1051, II do Código Civil, ou seja, é necessário que essa

categoria de sócio seja reestabelecida no prazo de 180 dias, sob pena de da

sociedade ser dissolvida de pleno direito.

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SOCIEDADE SIMPLES

A denominação sociedade simples tem duas acepções: i) pode ser utilizada

para deginar o contrário de sociedade empresária; ii) mas também pode

designar um modelo de sociedade, que possui regras próprias e anteriormente

era chamada de sociedade civil.

Esse modelo societário somente pode ser utilizado quando a sociedade

pretende exercer atividade que não seja empresarial, como, por exemplo,

atividade intelectual sem elemento de empresa. Aquele que não vai explorar

empresa, tem a possibilidade de escolher o tipo societário de sociedade

simples ou de sociedade limitada. Se escolher o tipo limitada, essa sociedade

limitada será simples.

Normalmente, aquele que não vai explorar empresa escolhe o tipo societário

de sociedade limitada, pois existe uma grande controvérsia acerca da

responsabilidade dos sócios da sociedade simples. A orientação do Superior

Tribunal de Justiça é no sentido da responsa-bilidade dos sócios da sociedade

simples ser ilimitada e solidária.

Quando escolhe a sociedade simples para a exercer uma atividade simples, ou

seja, uma atividade que não é empresária, haverá uma sociedade simples

“pura” ou simples-simples. Já se escolher a sociedade limitada para explorar

uma atividade simples haverá uma sociedade limitada simples, que é uma

sociedade limitada que não explora empresa.

Quórum de alteração do contrato social

Na sociedade simples, o quórum necessário para alteração do contrato social

está previsto no art. 999 do Código Civil (não há assembléia ou reunião de

sócios na sociedade simples). Se a alteração tiver por objeto qualquer das

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matérias indicadas no art. 997/CC, como, por exemplo, o objeto social, a sede

da sociedade, o capital social, será necessário unanimidade. Se a alteração

tiver por objeto uma matéria que não esteja compreendida no art. 997, a regra

é o quórum de maioria absoluta, salvo se o contrato social não exigir

consentimento unânime para essa outra matéria.

Art. 999 - As modificações do contrato social, que tenham por objeto

matéria indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os

sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se

o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime.

Parágrafo único - Qualquer modificação do contrato social será averbada,

cumprindo-se as formalidades previstas no artigo antecedente.

Art. 997 - A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou

público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se

pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos

sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo

compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação

pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em

serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e

seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações

sociais.

Parágrafo único - É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto

separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

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Forma de contribuição para o capital social

É possível contribuir para o capital social de uma sociedade simples com

dinheiro, crédito, bens e serviços. O art. 1006/CC permite a figura do sócio-

indústria na sociedade simples. Quando o sócio contribui com prestação de

serviços, em regra, ele não pode se empregar em atividade concorrente, salvo

convenção em contrário.

Art. 1.006 - O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode,

salvo convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à

sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.

O art. 1005/CC regula a contribuição para o capital social feita com bens e

crédito. De acordo com esse dipositivo, o sócio que contribui com bens é

responsável pela evicção. O art. 296/CC estalece que, em regra, em uma

cessão de crédito, o cedente não responde pela solvência do devedor;

entretanto, o art. 1005/CC estabelece que se o sócio fizer uma cessão de

crédito para fins de integralização do capital social, ele irá responder

solidariamente pelo pagamento.

Art. 1.005 - O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse

ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que

transferir crédito.

Segundo o art. 1007/CC, em regra, o sócio participa dos lucros e das perdas na

proporção de suas respectivas cotas (por exemplo, se o sócio tem 30% do

capital social, ele participa em 30% dos lucros e das perdas), salvo convenção

em contrário. Já aquele sócio que contribui com prestação de serviços tem uma

participação diferente: somente participa dos lucros na proporção da média do

valor das respectivas cotas. Se o sócio que contribui com prestação de

serviços se empregar em atividade concorrente, ele poderá ser privado dos

lucros e até mesmo excluído da sociedade.

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Art. 1.007 - Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e

das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja

contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na

proporção da média do valor das quotas.

Poderes do administrador da sociedade simples

O administrador tem o poder geral de praticar atos regulares de gestão. Mas

esse poderes podem ser limitados pelo contrato social e até mesmo pela

própria lei.

O caput do art. 1015/CC impõe uma limitação legal aos poderes do

administrador: em regra, para o administrador vender ou dar em garantia real

bens imóveis é necessária a decisão da maioria dos sócios, o que corresponde

à maioria do capital social, nos termos do art. 1010/CC. Mas se a venda ou a

oneração de bens imóveis estiver relacionado com o objeto social da própria

sociedade, o administrador não precisa da autorização da maioria dos sócios,

pois esses atos são considerados atos regulares de gestão.

Art. 1.015 - No silêncio do contrato, os administradores podem praticar

todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto

social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria

dos sócios decidir.

Revogação dos poderes do administrador

O art. 1019/CC determina que o sócio administrador da sociedade simples

nomeado no próprio contrato social tem poderes irrevogáveis; apenas pode

haver a revogação dos poderes desse administrador em juízo, provada justa

causa. Mas são revogáveis, a qualquer tempo, os poderes de administrador

conferidos a sócio por ato separado ou a quem não seja sócio.

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Há quem defenda, com base no final do § único do art. 1019/CC, que o

administrador da sociedade simples não tem que ter qualidade de sócio. Mas a

maioria da doutrina entende que tem que ser sócio para administrar a

sociedade simples.

Art. 1.019 - São irrevogáveis os poderes do sócio investido na

administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa,

reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.

Parágrafo único - São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes

conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.

Excesso praticado pelo administrador

O administrador celebra vários negócios com terceiros em nome da sociedade.

Mas quando o administrador da sociedade simples celebra um negócio jurídico

com terceiro sem poderes para tanto ou excedendo seus poderes, quem vai

responder? Se a sociedade for demandada por esse credor, ela vai utilizar a

regra do § único do art. 1015/CC para tentar afastar a sua responsabilidade.

Mas cabe registrar que essas hipóteses de excesso praticado pelo adminis-

trador devem ser analisadas à luz do caso concreto.

Art. 1.015, § único - O excesso por parte dos administradores somente

pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes

hipóteses:

I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro

próprio da sociedade;

II - provando-se que era conhecida do terceiro;

III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da

sociedade.

De acordo com o § único do art. 1015/CC, o excesso praticado pelo

administrador pode ser oposto a terceiros pela sociedade para afastar a sua

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responsabilidade se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: I) a

limitação de poderes estava averbada no registro próprio (efeitos erga omnes);

II) a limitação de poderes era conhecida pelo credor (má-fé do credor); ou III)

ato evidentemente estranho aos negócios da sociedade (ato ultra vires).

Agora nós vamos estudar os possíveis argumentos em favor da sociedade

(utilizados com o objetivo de afastar a sua responsabilidade) e em favor do

credor (utilizados com o objetivo de fazer com que a sociedade responda) no

caso de excesso praticado por administrador:

ARGUMENTO EM FAVOR DA

SOCIEDADE

ARGUMENTO EM FAVOR DO

CREDOR

LIMITAÇÃO DE PODERES

INSCRITA OU AVERBADA EM

REGISTRO PRÓPRIO

DINÂMICA DAS RELAÇÕES

NEGOCIAIS E MATÉRIA “INTERNA

CORPORIS”

A sociedade pode alegar que a limitação de poderes do administrador estava

inscrita ou averbada em registro próprio. Mas o Direito Empresarial tem

características próprias que se distanciam daquela formalidade do Direito Civil:

uma das principais características é o dinamismo, as suas relações negociais

são dinâmicas. Então, o fornecedor não tem a obrigação de analisar os

contratos sociais de todas as sociedades com as quais negocia. Assim sendo,

ainda que a limitação dos poderes do administrador esteja inscrita em registro

próprio, existe uma dinâmica nas relações empresarias que deve ser

considerada. Além disso, ainda que haja essa limitação de poderes, o credor

pode alegar que isso é uma matéria “interna corporis”, uma cláusula que tem

eficácia apenas interna.

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ARGUMENTO EM FAVOR DA

SOCIEDADE

ARGUMENTO EM FAVOR DO

CREDOR

MÁ-FÉ DO CREDOR

BOA-FÉ OBJETIVA DO CREDOR

PRINCÍPIO DA ETICIDADE

E PROBIDADE

– MÁ-FÉ DO DEVEDOR

A sociedade pode alegar que houve ma-fé do credor, pois ele conhecia a

limitação dos poderes do administrador, mesmo ela não estando averbada.

Mas o fato do credor conhecer a limitação de poderes e realizar negócios

mesmo assim não acarreta a interpretação que ele estaria de má-fé, pois a má-

fé não se presume. O fato do credor conhecer a limitação de poderes não

significa, de maneira absoluta, que ele esteja de má-fé; na realidade, o que se

presume é a boa-fé daquele que negocia. Além disso, pode haver uma

aparência que o administrador, mesmo tendo poderes limitados, foi autorizado,

de alguma forma, a negociar em nome da sociedade.

ARGUMENTO EM FAVOR DA

SOCIEDADE

ARGUMENTO EM FAVOR DO

CREDOR

NEGLIGÊNCIA DO CREDOR EM

VERIFICAR OS PODERES DO

“ADMINISTRADOR”

CULPA “IN VIGILANDO E

ELIGENDO” DA SOCIEDADE E DOS

DEMAIS SÓCIOS

A sociedade pode alegar negligência do credor em verificar os poderes do

administrador. Como o credor negocia com uma pessoa sem saber se ela tem

poderes ou não para representar a sociedade? Já o credor, por sua vez, pode

alegar que a culpa não é dele, mas sim da própria sociedade: primeiro porque

não vigiou os atos do seu administrador e segundo porque elegeu uma pessoa

que não tem condições de exercer a função (culpa in vigilando e in elegendo da

sociedade e dos demais sócios).

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ARGUMENTO EM FAVOR DA

SOCIEDADE

ARGUMENTO EM FAVOR DO

CREDOR

ATO ULTRA VIRES TEORIA DA APARÊNCIA

Quando a sociedade alegar que se trata de um ato ultra vires, o credor tem a

possibilidade de suscitar a teoria da aparência.

A teoria do ato ultra vires está positivada no ordenamento jurídico brasileiro no

art. 1015, § único, III do Código Civil. Essa teoria interessa a sociedade, que a

alega para afastar a sua responsabilidade.

A teoria do ato ultra vires surgiu, em 1875, na Inglaterra. Uma companhia

inglesa venceu uma licitação para construir uma linha ferroviária na Bélgica,

mas essa licitação acabou sendo anulada, porque o contrato social dessa

companhia não trazia a construção de linha ferroviária como seu objeto social.

Houve o reconhecimento do ato ultra vires e a consequência foi a nulidade do

negócio jurídico. O problema é que, ao reconhecer a nulidade do negócio

jurídico, não pode sequer cobrar do próprio administrador e o credor fica no

prejuízo.

Mas houve uma evolução da teoria do ato ultra vires para de nulidade passar-

se a reconhecer a ineficácia do ato em relação à sociedade. Assim sendo, o

ato ultra vires é válido e o administrador irá responder por ele. E é exatamente

assim que ocorre no Brasil: considera-se o ato ultra vires ineficaz, a sociedade

não responde, mas o credor pode cobrar do administrador.

Obs.: Atualmente, a Europa abandonou a teoria do ato ultra vires, pois os

países da União Européia devem seguir diretivas, que os obrigam a afastar de

suas legislações internas a teoria do ato ultra vires, por exemplo.

Antes do advento do Código Civil de 2002, sempre prevaleceu a teoria da

aparência e da boa-fé objetiva: o credor tem que ser satisfeito quando ele está

de boa-fé e o administrador pratica um ato para o qual aparentemente está

autorizado pelos sócios. Com a previsão da teoria do ato ultra vires no Código

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Civil de 2002, a teoria da aprência perdeu um pouco a importância, mas ela

não foi eliminada do nosso sistema. Portanto, agora nós devemos aplicar a

teoria do ato ultra vires, prevista no art. 1015, § único, III do Código Civil.

Entretanto, cabe registar que o professor não concorda com a aplicação dessa

teoria, pois todos os países desenvolvidos asseguram o pagamento dos

credores, já que, caso contrário, eles preferem não investir.

Deve-se atentar para o fato da teoria do ato ultra vires estar prevista no

capítulo da sociedade simples. Assim sendo, uma sociedade limitada pode

alegar a teoria do ato ultra vires para afastar a sua responsabilidade? Depende,

pois quando há uma omissão no capítulo da limitada, em regra, nós recorremos

às regras da sociedade simples; entretanto, o contrato social da limitada pode

escolher a aplicação da Lei das Sociedades por Ações. Se o contrato social

escolher a Lei 6.404/1976 (sociedade limitada, regida supletivamente pela Lei

de SA), não haverá a aplicação da teoria do ato ultra vires, pois na Lei de SA a

regra é outra: a sociedade responde e depois tem ação regressiva contra o seu

administrador, mesmo que ele não tenha poderes para praticar o ato.

A teoria do ato ultra vires somente pode ser aplicada quando o ato for

evidentemente estranho aos negócios da sociedade. Se tiver alguma relação,

ainda que indireta com o objeto social, então a teoria do ato ultra vires será

afastada.

Por exemplo, quando o administrador de um restaurante compra dois

automóveis de luxo, em princípio, não há conexão de tal ato com o objeto

social. Mas se esses dois automóveis são utilizados para o transporte de

clientes, há uma conexão indireta com o objeto social, razão pela qual a teoria

do ato ultra vires não será aplicada.

A sociedade pode ratificar, até mesmo tacitamente, o ato ultra vires. Nesse

caso, a sociedade irá responder pelo ato, assumirá a responsabilidade pelo

pagamento.

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PROCESSO Nº: 0015044-98.2009.8.26.0566   – 14ª CÂMARA DE DIREITO

PRIVADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO -

DESEMBARGADOR: PEDRO ABLAS – DATA DO JULGAMENTO: 19/09/2012

[...] A sociedade limitada sacadora do título tem como objeto social o comércio

de combustíveis, enquanto que a beneficiada dedica-se à prestação

de serviços médicos e cirúrgicos - O próprio sócio emitente do título de crédito

confirma que o cheque foi utilizado para pagamento de cirurgia estética de sua

ex-esposa - Não havendo como conceber que o negócio jurídico contraído com

a clínica tenha sido em favor do posto de gasolina, é de rigor a aplicação da

teoria ultra vires societatis prevista no art. 1.015, § único, III do CC para afastar

a responsabilidade da apelante no pagamento do débito representado pelos

títulos, devendo a credora se voltar unicamente contra o sócio que as emitiu

em patente irregularidade, único responsável pelo pagamento [...]

APELAÇÃO Nº: 9154739-94.2008.8.26.0000 – 19ª CÂMARA DE DIREITO

PRIVADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO –

DESEMBARGADOR: RICARDO NEGRÃO

[...] FIANÇA — Pessoa jurídica — Exoneração - Garantia de obrigação

estranha ao objeto social da sociedade empresária - Prestação da garantia "de

favor” expressamente vedada pelo contrato social - Conhecimento da recorrida

acerca dessa cláusula — Má-fé da exequente — Assunção do risco do negócio

- Atos ultra vires societates verificados - Ausência de responsabilidade da

fiadora embargante — Responsabilidade dos sócios pela dívida afiançada

(arts. 1.105, parágrafo único, incisos I a III, e 1.016, do CC). Provimento ao

recurso. [...]

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É comum encontrar em livros, como o do Sérgio Campinho, a afirmação de que

banco não pode alegar a teoria da aparência, não pode alegar boa-fé; é natural

que o banco examine o contrato social para saber se o administrador tem ou

não poderes para praticar o ato. Mas não é esse o entendimento que prevalece

no STJ (vide julgado abaixo).

RESP 704.546/DF, REL. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA

TURMA, JULGADO EM 01/06/2010, DJE 08/06/2010

[...] 3. A partir do Código Civil de 2002, o direito brasileiro, no que concerne às

sociedades limitadas, por força dos arts. 1.015, § único e 1.053, adotou

expressamente a ultra vires doctrine. 4. Contudo, na vigência do antigo

Diploma (Decreto n. 3.708/19, art. 10), pelos atos ultra vires, ou seja, os

praticados para além das forças contratualmente conferidas ao sócio, ainda

que extravasassem o objeto social, deveria responder a sociedade. 4. No caso

em julgamento, o acórdão recorrido emprestou, corretamente, relevância à

boa-fé do banco credor, bem como à aparência de quem se apresentava como

sócio contratualmente habilitado à prática do negócio jurídico. 5. Não se pode

invocar a restrição do contrato social quando as garantias prestadas pelo sócio,

muito embora extravasando os limites de gestão previstos contratualmente,

retornaram, direta ou indiretamente, em proveito dos demais sócios da

sociedade fiadora, não podendo estes, em absoluta afronta à boa-fé, reivindicar

a ineficácia dos atos outrora praticados pelo gerente. 6. Recurso especial

improvido. (RESP 704.546/DF, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta

Turma, julgado em 01/06/2010, DJe 08/06/2010)

TJ-RJ – APELAÇÃO: 0004411-97.2004.8.19.0210 – DESEMBARGADOR:

ROBERTO DE ABREU E SILVA – JULGAMENTO: 24/05/2011 – NONA

CÂMARA CÍVEL

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[...] Conclui-se que é inverossímil a alegação autoral, baseando-se na regra de

experiência comum e nas regras ordinárias acerca da dinâmica das relações

comerciais, pois, primeiro, evidenciado que o emitente da nota promissória é

filho dos sócios da empresa autora, eventual sucessor da empresa. Segundo,

as relações empresariais são baseadas nos costumes, não sendo exigidas

maiores formalidades, autorização expressa ou poderes especiais para o

simples recebimento de mercadorias, notadamente, na hipótese de compra e

venda (relação originária firmada entre as partes). Terceiro, verossímil que o

emitente da nota promissória se apresenta como sócio ou administrador da

empresa, tanto é verdade que foi facilmente encontrado na sede da empresa e

local de entrega das mercadorias fornecidas pelo réu. Em que pese o contrato

não ter sido assinado pelos sócios, tal ato não desnatura a legitimidade do

pacto efetivado entre as partes, pois não se afigura pessoa estranha à

sociedade, repita-se, uma vez que se trata do filho da atual sócia e ex-sócio da

sociedade empresária situação em que se legitima o negócio jurídico,

acobertando-se o contratante, sob o manto da teoria de aparência, baseado no

princípio da confiança, não se afigurando hipótese de ato "ultra vires“ [...]

ARGUMENTO EM FAVOR DA

SOCIEDADE

ARGUMENTO EM FAVOR DO

CREDOR

O NEGÓCIO JURÍDICO NÃO

TROUXE QUALQUER BENEFÍCIO

AOS DEMAIS SÓCIOS E

À PRÓPRIA SOCIEDADE

BENEFÍCIO DOS DEMAIS SÓCIOS

OU PARA A SOCIEDADE

RATIFICAÇÃO DO ATO

PELA SOCIEDADE

Contra o argumento que o negócio jurídico não trouxe qualquer benefício para

a sociedade, o credor pode comprovar que o ato reverteu em favor da

sociedade, trouxe benefício em favor da sociedade ou dos sócios – exemplo.: o

administrador de uma padaria compra uma lancha e os sócios a utilizam para

angariar mais clientes para a sociedade.

AULA 14 – 28/05/2013

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SOCIEDADE SIMPLES (cont.)

Responsabilidade dos sócios

Não se sabe exatamente qual é a responsabilidade dos sócios da sociedade

simples. Por isso, quando uma pessoa resolve desenvolver uma atividade

intelectual, normalmente ela prefere escolher uma limitada simples.

O art. 997, VIII do Código Civil determina que, na elaboração do contrato

social, os sócios devem escolher se respondem ou não subsidiariamente pelas

obrigações sociais. Se existir subsidiariedade, haverá possibilidade dos sócios

virem a responder por obrigações da sociedade; se ela não existir, apenas a

sociedade responderá pelas obrigações sociais.

Art. 997 - A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou

público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

VIII - se os sócios respondem, ou não, SUBSIDIARIAMENTE, pelas

obrigações sociais.

Entretanto, o art. 1023/CC determina que a responsabilidade dos sócios é

subsidiária, podendo ser escolhida a solidariedade. Os arts. 997, VIII e 1023 do

Código Civil são incompatíveis, não há como harmonizar essas duas regras.

De acordo com o art. 1023/CC, em princípio, a responsabilidade é subsidiária e

de acordo com a participação de cada sócio nas perdas; mas,

excepcionalmente, ela é subsidiária com solidariedade (nesse caso, a dívida

pode ser cobrada integralmente de qualquer um dos sócios).

Art. 1.023 - Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas,

respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das

perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade SOLIDÁRIA.

Enunciado 61 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 1.023: o termo

“subsidiariamente” constante do inc. VIII do art. 997 do Código Civil deverá ser

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substituído por “solidariamente” a fim de compatibilizar esse dispositivo com o

art. 1.023 do mesmo Código”.

Enunciado 10 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “Na sociedade

simples, os sócios podem limitar sua responsabilidade entre si, à proporção de

sua participação no capital social, ressalvadas as disposições específicas”.

O STJ e alguns doutrinadores, como Alfredo de Assis Gonçalves Neto, afirmam

que a responsa-bilidade dos sócios da sociedade simples é subsidiária e

ilimitada. Entretanto, isso não está escrito na lei, o art. 1023/CC não diz que a

responsabilidade dos sócios é ilimitada. Assim sendo, houve a aprovação do

Enunciado 10 na I Jornada de Direito Comercial do CJF para tentar mudar esse

entendimento jurisprudencial e doutrinário.

Caso do Informativo 468/STJ: O Rio de Janeiro criou uma sociedade simples

para viabilizar sua candidatura aos Jogos Olímpicos de 2004. Essa sociedade

simples contratou uma pessoa jurídica para elaborar o marketing de texto;

entretanto, o Rio de Janeiro não foi eleito como sede dos Jogos Olímpicos de

2004 e a sociedade acabou não pagando pelo serviço contratado. Como a

sociedade simples foi dissolvida sem o pagamento do credor, a prestadora de

serviços pediu a desconsideração da personalidade jurídica para os sócios

responderem pelo pagamento da obrigação. Entretanto, o STJ entendeu que

não precisava haver a aplicação da teoria da desconsideração a este caso,

pois os sócios de uma sociedade simples têm responsa-bilidade ilimitada.

Informativo 468/STJ

RESPONSABILIDADE. SÓCIOS. SOCIEDADE SIMPLES. NEGÓCIO

JURÍDICO. PROVA TESTEMUNHAL. In casu, a sociedade empresária

recorrida ajuizou, na origem, ação de cobrança e ressarcimento em desfavor

das recorrentes sob a alegação de que o contrato de prestação de serviços

celebrado com a sociedade civil da qual elas eram sócias extinta pelo decurso

do prazo não foi cumprido. Esse contrato previa a elaboração pela recorrida do

marketing do texto que seria entregue ao comitê olímpico quando da

apresentação da candidatura de cidade brasileira para sediar os jogos

Page 134: caderno direito empresarial

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olímpicos de 2004. Nos recursos especiais, as sócias sustentaram, entre outras

questões, sua ilegitimidade passiva ad causam, a irregularidade da

desconsideração da personalidade jurídica e a impossibilidade de se

comprovar a prestação do serviço por prova exclusivamente testemunhal.

Nesse contexto, a Turma negou-lhes provimento por entender que, nas

sociedades cuja responsabilidade dos sócios é ilimitada como na hipótese, em

que se trata de sociedade simples , uma vez exaurido o patrimônio da pessoa

jurídica, não é necessário desconsiderar sua personalidade para que se

atinjam os bens dos sócios, conforme o art. 1.023 do CC/2002, o que evidencia

a legitimidade das recorrentes para figurar na demanda. Ressaltou-se ainda

que a vedação para utilizar prova exclusivamente testemunhal descrita nos

arts. 401 do CPC e 227 do CC/2002 restringe-se à demonstração da existência

do negócio jurídico em si, não alcançando a verificação dos fatos e

circunstâncias atinentes ao contrato. Precedente citado: EREsp 263.387-PE,

DJ 17/3/2003. (REsp 895.792-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,

julgado em 7/4/2011).

XL CONCURSO DA MAGISTRATURA TJRJ – 2ª QUESTÃO: Como

compatibilizar, na sociedade simples, as disposições dos artigos 997, VIII, e

1023, do Código Civil, relativamente à responsabilidade dos sócios?

Na opinião do professor, o melhor entendimento a respeito desta questão é o

do Tavares Borba. Ele parte da premissa que os arts. 997, VIII e 1023 do

Código Civil são contraditórios, não é possível harmoniza-los. Então, se os

sócios escolherem não ter subsidiariedade, afasta-se a aplicação do art.

1023/CC. O art. 1023 somente seria aplicado quando houvesse, no contrato

social, a previsão da responsabilidade subsidiária dos sócios. Como

provalvelmente os sócios vão escolher não ter responsabilidade subsidiária,

então a responsabilidade dos sócios ficaria limitada.

Liquidação da quota do sócio devedor (art. 1026/CC)

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Se o sócio de uma sociedade simples faz uma dívida particular, não tem

qualquer outro bem sem ser as cotas da sociedade e acaba não pagando a sua

dívida, de acordo com o caput do art. 1026/CC, o credor pode postular a

penhora das cotas.

Penhora de cotas não se confunde com a liquidação de cotas. A penhora de

cotas somente vai incidir sobre os fundos líquidos (parte patrimonial) que as

cotas representam. A cota representa para o sócio um direito pessoal, que se

identifica no direito de ser sócio, no voto, na fiscalização, e um direito

patrimonial, que se identifica nos lucros, na partilha. Assim sendo, quando se

fala em penhora de cotas, apenas a parte patrimonial da cota é atingida, o seu

titular não deixa de ser sócio.

Art. 1.026 - O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros

bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos

lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.

Parágrafo único - Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor

requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma

do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até

noventa dias após aquela liquidação.

Mas a penhora de cotas pode ser ineficaz, se não não houver fundos líquidos,

não tiver distribuição de lucros na sociedade. Nesse caso, o credor pode então

pedir o leilão das cotas. Se aparecer um terceiro interessado e fizer a

arrematação dessas cotas, o terceiro entrará na sociedade. O próprio credor

também pode adjudicar essas cotas. Entretanto, normalmente, o leilão de cotas

é frustado.

Nesse caso, o credor pode requerer a liquidação das cotas, ou seja, o credor

particular do sócio pode pedir a sua expulsão da sociedade. Quando o sócio é

expulso da sociedade, deve haver uma apuração de haveres para determinar

quanto vale a participação daquele sócio. Após a apuração desse valor, ele

deve ser entregue em dinheiro, no prazo de 90 dias, no juízo da execução para

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pagamento do credor. Portanto, agora houve um prejuízo para a própria

sociedade, pois é ela que vai pagar o valor apurado.

Enunciado 386 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “Na apuração dos

haveres do sócio, por conseqüência da liquidação de suas quotas na

sociedade para pagamento ao seu credor (art. 1.026, parágrafo único), não

devem ser consideradas eventuais disposições contratuais restritivas à

determinação de seu valor”.

Enunciado 387 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “A opção entre fazer a

execução recair sobre o que ao sócio couber no lucro da sociedade, ou na

parte que lhe tocar em dissolução, orienta-se pelos princípios da menor

onerosidade e da função social da empresa”.

De acordo com o art. 620/CPC, quando por vários meios o credor puder

promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso

para o devedor.

Enunciado 388 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “O disposto no art. 1.026

do Código Civil não exclui a possibilidade de o credor fazer recair a execução

sobre os direitos patrimoniais da quota de participação que o devedor possui

no capital da sociedade”.

Enunciado 389 da IV da Jornada de Direito Civil do CJF: “Quando se tratar de

sócio de serviço, não poderá haver penhora das verbas descritas no art. 1026,

se de caráter alimentar”.

Situação do cônjuge na separação (art. 1027/CC)

Se um sócio é casado em regime de comunhão total de bens, qual direito o

cônjuge do sócio possui no caso de separação? Ele não pode entrar na

sociedade e nem tem o direito de exigir metade do valor da cota do sócio

através de sua liquidação imediata. De acordo com o art. 1027/CC, o cônjuge

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que se separou do sócio tem direito de concorrer à divisão períodica dos

lucros, até que se liquide a sociedade simples. Portanto, ele irá ter participação

proporcional nos lucros até que a sociedade simples seja dissolvida.

Art. 1.027 - Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge do que se

separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes

couber na quota social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até

que se liquide a sociedade.

Morte do sócio (art. 1028/CC)

Em regra, no caso de morte do sócio, a sociedade simples continua e a cota do

sócio falecido é liquidada. Haverá, então, uma apuração de haveres para

identificar o valor dessa cota e esse valor será entregue ao juízo do inventário.

Portanto, em regra, os herdeiros do sócio falecido não entram na sociedade,

mas apenas recebem a parte patrimonial que a cota representa.

Art. 1.028 - No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:

I - se o contrato dispuser diferentemente;

II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;

III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio

falecido.

Entretanto, não irá acontecer a liquidação da cota, se o contrato social dispuser

diferentemente. Se o contrato prever que o herdeiro do falecido assumirá a

condição de sócio, não se aplica a regra do caput do art. 1028/CC. Haverá a

substituição imediata após a morte do sócio pelo seu herdeiro (princípio da

saisine); a sociedade sequer chega a ficar unipessoal. Pode haver condomínio

da cota entre os herdeiros, mas apenas um deles poderá ser sócio, será o

representante desse condomínio.

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Mas pode acontecer também dos sócios remanescentes optarem por dissolver

a sociedade. Nesse caso, o herdeiro do sócio falecido não entra na sociedade

e ocorre a dissolução da sociedade.

E pode acontecer também do contrato social nada falar a respeito do herdeiro

se tornar sócio. Em princípio, ele receberia apenas a parte patrimonial que a

cota representa. Entretanto, mesmo não havendo previsão no contrato, nada

impede a realização de um acordo entre os sócios e o herdeiro para regular a

substituição do sócio falecido.

EXERCÍCIOS SOBRE O TEMA DA AULA:

1) VUNESP – 2011 – TJ-SP – Juiz

Nas sociedades simples, é correto afirmar que:

A) todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações

sociais, excluído do benefício de ordem – referente à execução em primeiro

lugar dos bens sociais – aquele que contratou pela sociedade. (art. 990/CC)

B) o sócio sempre participa dos lucros e das perdas na proporção das

respectivas quotas. (art. 1007/CC)

C) os poderes do sócio investido na administração por cláusula do contrato

social podem ser revogados, a qualquer tempo, por meio de ato separado,

desde que subscrito pela maioria dos sócios. (art. 1019/CC)

D) a administração da sociedade, nada dispondo o contrato social, compete

separadamente a cada um dos sócios. (art. 1013/CC)

E) é anulável a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar

dos lucros e das perdas. (art. 1008/CC)

2) VUNESP – 2009 – TJ-SP – Juiz

Na sociedade simples:

A) as obrigações dos sócios terminam quando a sociedade tornar-se inativa.

(art. 1001/CC)

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B) as modificações do contrato social que tenham por objeto a denominação, o

objeto, a sede e o prazo da sociedade podem ser decididas por maioria

absoluta de votos. (art. 999/CC)

C) nos 60 (sessenta) dias subsequentes à sua constituição, a sociedade

deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas

Jurídicas do local de sua sede. (art. 998/CC)

D) a administração poderá ser exercida por pessoa nomeada por instrumento

em separado, averbado à margem da inscrição da sociedade.

3) Prova Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

Maria e João casam-se sob o regime de comunhão parcial em 2004. Em 2006,

Maria constitui uma sociedade empresária por cotas de responsabilidade

limitada com Carla para explorar um restaurante. Nesta sociedade, cada uma

das sócias é titular de cotas representativas de 50% do capital social. Em 2007,

Maria e João separam-se litigiosamente. Por ocasião da partilha dos bens,

João, com base no art. 1.660, inciso I, do Código Civil indica tais cotas como

passíveis de partilha, vindicando a metade das mesmas (25% do total do

capital social) e seu conseqüente ingresso na sociedade. Não há outros bens

do casal ou pessoais de cada um dos ex-cônjuges. É viável o pleito de João?

Qual a solução adequada para o caso?

A regra que deve ser aplicada ao caso em questão é o art. 1027/CC, que

determina que o cônjuge do que se separou judicialmente não pode exigir

desde logo a parte que lhe couber na quota social, mas concorrer à divisão

periódica dos lucros, até que se liquide a sociedade. Assim sendo, João não é

sócio, não pode pleitear o seu ingresso na sociedade e nem pedir a liquidação

das cotas.

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SOCIEDADE LIMITADA

A responsabilidade dos sócios na sociedade limitada está prevista no art.

1052/CC. De acordo com esse dispositivo, a responsabilidade dos sócios é

limitada ao que cada um contribuiu para a formação do capital social, ou seja,

ao valor de suas cotas, sendo que todos os sócios são solidários pela

integralização do capital social.

Art. 1.052 - Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é

restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente

pela integralização do capital social.

Por exemplo, se um dos sócios de uma limitada não integralizou o valor de

suas cotas, deixando o capital social aberto em 20%, será que o credor de uma

nota promissória emitida pela sociedade pode cobrá-la dos sócios? Não, pois

os sócios não são solidários com a sociedade pelo pagamento das obrigações

sociais. O credor não pode exigir a nota promissória dos sócios, mas sim a

integralização do capital social.

Quando um sócio subscreve cotas, ele se obriga a integralizá-las perante a

sociedade. Por isso, a sociedade limitada pode cobrar a integralização do

capital social do sócio remisso. Mas o credor da sociedade pode exigir a

integralização do capital social de qualquer um dos sócios. Quando o capital for

integralizado, vai entrar dinheiro no ativo da sociedade, que então poderá ser

penhorado pelo credor.