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TEMA: MACHISMO E RACISMO EM DIFERENTES PRÁTICAS COM GÊNEROS TEXTUAIS NA ESCOLA Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de Letras/Língua Portuguesa da UFJF

Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa · Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de Letras/Língua Portuguesa da

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TEMA: MACHISMO E RACISMO EM DIFERENTES

PRÁTICAS COM GÊNEROS TEXTUAIS NA ESCOLA

Cadernos Didáticos de Língua

Portuguesa

Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de

Letras/Língua Portuguesa da UFJF

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Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa

Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de

Letras/Língua Portuguesa da UFJF

Machismo e racismo em diferentes práticas com gêneros

textuais na escola

João Victor de Paula

Pedro Henrique Bernardes de Resende

Pietra Freitas Nadabe de Carvalho

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Apresentação do

Este caderno consiste na apresentação de algumas das atividades realizadas na Escola

Municipal Murilo Mendes, localizada em Juiz de Fora - MG, por meio do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) durante o ano letivo de 2019.

Entretanto, a participação dos estagiários iniciou-se no meio do ano letivo de 2018, havendo

majoritariamente observações; uma espécie de sondagem. Assim, os bolsistas puderam

perceber os interesses, as “bagagens” e as dificuldades dos alunos. A partir desse momento, as

atividades foram pensadas e elaboradas a fim de tentar sanar algumas dificuldades dos alunos,

apoiando-se em temáticas de seus interesses e em gêneros textuais previstos para os níveis de

escolaridade trabalhados. Tais atividades foram desenvolvidas com alunos de 8° e 9° ano.

Dessa maneira, temos como objetivo principal expor as atividades realizadas, seus

resultados e as dificuldades encontradas ao realizá-las. Para cumprir com nossa proposta,

utilizaremos como base materiais produzidos pelos alunos como, por exemplo, relatos por

escrito e experiências relatadas oralmente pelos mesmos, assim como resenhas (8º ano) e

artigos (9º ano) também produzidos por eles.

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U n i d a d e 1 : O r a l i d a d e e f u t e b o l - t r a b a l h a n d o c o m o d e b a t e n a t e m á t i c a f u t e b o l í s t i c a

O debate é um gênero textual oral no qual os participantes buscam persuadir aqueles

que se engajam, através de argumentos que justificam a posição assumida.

Sabe-se que o domínio da argumentação, assim como o de demais esferas acerca da

linguagem, desempenha forte influência no status e na ascensão social – afinal, “nossas

práticas discursivas envolvem escolhas que têm impactos diferenciados no mundo social e

nele interferem de formas variadas (FABRÍCIO, 2006, p. 49)”. Dessa forma, trabalhar a

prática do debate e da argumentação com os alunos é essencial para eles se familiarizarem

com interações em que é necessário mostrar argumentos para defender a opinião de forma

mais refinada e estratégica.

Entretanto, vale destacar que o trabalho com o gênero não ocorreu de forma tão

sistemática, com divisão em grupos “contra” e “a favor” de um posicionamento específico ou

afins. Porém, por mais que tenha ocorrido de forma mais descontraída, a atividade levou em

consideração os conhecimentos dos alunos, possibilitou uma troca de posicionamentos e

visões e incentivou alunos mais retraídos a participarem.

A seleção da temática futebolística surgiu a partir das observações no estágio inicial

do projeto, no qual notou-se um grande interesse dos alunos e, inclusive, das alunas, pelo

tema, que era muito recorrente na sala de aula. Assim, foram selecionados textos que tinham

como tema central o futebol, mas que também traziam a história do esporte e dialogavam com

temas transversais, como mulheres (feminismo) e racismo no futebol. Dividindo essa

sequência em três momentos principais, iniciamos com a história do esporte.

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Materiais: Texto e perguntas para discussão

A partir da reportagem “História do Futebol”, apresentamos e discutimos a origem do

esporte, a chegada no Brasil e os primeiros jogos realizados aqui. Foi interessante notar como

os alunos engajaram-se sobre a história do esporte que tanto praticavam e vivenciavam na

escola e fora dela. O texto levado encontra-se abaixo:

HISTÓRIA DO FUTEBOL

O brasileiro tem verdadeira paixão pelo futebol, quase toda a criança tem uma bola

de futebol no pé. Aposto que você e seus amigos adoram jogar bola, não é verdade?

A data exata do surgimento do futebol é algo que ninguém pode afirmar que

sabe. A brincadeira de chutar algum objeto sempre esteve presente na história da

humanidade, seja uma pedra, uma fruta ou até um crânio!

Jogos que utilizam os pés existem há milhares de anos - há registros que datam

de 4.500 anos antes de Cristo. Um exemplo é o kemari, criado no Japão, na época dos

imperadores Engi e Tenrei. Os nobres da corte imperial praticavam o esporte em volta

de uma cerejeira. O jogo consistia em tocar uma bola feita de fibra de bambu com os

pés e as mãos. Sem espírito competitivo, era executado com delicadeza e habilidade.

Lembrava mais uma dança, sem haver uma pontuação.

Outro parente próximo do futebol é o Tsu-chu, que foi criado na China, por

volta de 1.400 A.C. No Tsu-chu os praticantes tinham que passar uma bola por dentro

de duas estacas enfiadas no chão, que ficavam dez metros distante uma da outra. A

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bola, com capim em seu interior, podia ser conduzida tanto com os pés como pelas

mãos. No início, o objetivo principal desse esporte era o treinamento militar, mas logo

os nobres se interessaram pelo jogo e começaram a praticá-lo. Tornou-se uma

atividade de lazer da nobreza. Só no século II, na época da dinastia Han, o futebol

finalmente chegou ao povo.

Na Roma dos grandes Imperadores, praticavam um esporte chamado de

Harpastum. Júlio César gostava muito deste jogo, que era praticada pelas tropas do

Imperador, entre uma batalha e outra. O objetivo era entreter e manter a forma física

dos soldados, funcionando como treinamento para as tropas que dividiam-se em dois

grupos: defensores e atacantes.

Em Florença, na Idade Média, surgiu o Calccio Fiorentino, considerado o pai

do futebol moderno. O jogo era realizado na Praça Della Signoria de Florença, entre

duas equipes, que poderiam usar as mãos e os pés para movimentar a bola. O gol era

marcado quando a bola passava por cima de dois postes. Com o sucesso do esporte, ele

chegou a Roma e era jogado em uma praça ao redor do Vaticano, tendo como

praticantes os papas Clemente VII, Leão X, Urbano VIII e até Santo Agostinho (um

possível motivo dos padres agostinianos serem incentivadores do futebol em suas

escolas pelo mundo).

Na França, o Soule, semelhante ao Calccio Fiorentino, mas parente distante do

futebol, atravessou fronteiras e chegou à Grã-Bretanha, onde evoluiu e aprimorou-se,

chegando ao surgimento do rugby.

Já na metade do século XIX, este esporte evoluiu e começou a ser chamado de

rugby. Entre os muitos clubes praticantes, alguns preferiam jogar a bola com os pés,

chamando-o de football. Doze clubes, ou associações, adeptos ao jogo com os pés,

marcaram uma reunião para tomar uma decisão: queriam praticar um esporte e com

regras diferentes que as do rugby.

No encontro que ocorreu na cidade de Londres, em 26 de outubro de 1863, os

clubes criaram a Football Association e adotaram as regras que haviam sido criadas

pela Universidade de Cambridge. Ficou decidido que cada equipe teria no máximo

onze e no mínimo sete jogadores. No decorrer dos anos a demais regras foram

introduzidas e aprimoradas.

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Em 1904, foi fundada, em Paris, a Fifa. Com o imenso sucesso do futebol nos

jogos olímpicos, o então presidente da entidade, o francês Jules Rimet, animou-se em

organizar a primeira Copa do Mundo, realizada no Uruguai e que contou com a

presença de 16 seleções. Hoje é o evento mais assistido em todo o planeta.

O INÍCIO NO BRASIL

Apesar de haver registros de jogos improvisados no país desde cerca de 1870, foi a

partir do trabalho de Charles Miller que o esporte começou a ser de fato difundido. Pode-

se considerar que ele tenha sido “o pai” do futebol brasileiro. No ano de 1894, quando

retornava de seus estudos na Inglaterra, o paulista, descendente de ingleses e escoceses,

trouxe na bagagem a primeira bola de futebol do país.

Quando desembarcou de volta ao Brasil, Miller se surpreendeu ao saber que

ninguém praticava o futebol no país. Sorte que havia trazido duas bolas, uma agulha, uma

bomba de ar e dois uniformes. Começou então a catequizar seus companheiros de trabalho

e de críquete - altos funcionários da Companhia de Gás, do Banco de Londres e da

Ferrovia São Paulo Railway -, fundando o primeiro clube de futebol do Brasil, o São Paulo

Athletic, que congregava os britânicos residentes em São Paulo.

O novo esporte firmou-se e, no primeiro torneio disputado no Brasil (Paulista de

1902), Miller foi o artilheiro da competição, com 10 gols em nove jogos. Sua história no

clube seguiu até 1910. Depois teve algumas atuações como árbitro. Ele faleceu em 1953,

coberto de glórias por ter introduzido o futebol no país.

Fonte: https://www.smartkids.com.br/trabalho/futebol (adaptado)

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Para impulsionar a participação da turma, pensamos em perguntas norteadoras da

discussão. Levamos, assim, as seguintes questões:

A partir das perguntas de contextualização e sobre o texto em si, fomos discutindo

sobre as informações e as opiniões dos estudantes sobre a temática. Apesar de praticarem

intensamente, a maioria não sabia da origem do esporte, sendo assim uma novidade para eles.

Ao decorrer de nossa discussão, tentamos levantar as perguntas elencadas acima. Um

dos momentos mais interessantes foi quando levantou-se uma discussão acerca da última

pergunta. Quando perguntamos aos alunos se o futebol era acessível à população em geral,

alguns responderam prontamente a favor. Entretanto, outros estudantes foram além, dizendo

que o esporte às vezes é o único meio pelo qual milhares de crianças escapam da vida no

tráfico e no crime.

Diante dessa resposta, percebemos um amadurecimento muito grande para crianças

daquela faixa etária. Deixamos que eles falassem, sem muita interferência, defendendo seus

posicionamentos: eles afirmaram que, por mais que qualquer uma pessoa jogar futebol (sendo

assim acessível à população), para muitos é a única saída para uma vida digna e de melhores

condições.

Dessa forma, percebemos que tanto o objetivo geral – introduzir a temática em sala de

aula – quanto os específicos – trazer o conteúdo trabalhado para a realidade dos alunos,

inserindo-os nesta esfera social, e iniciar o trabalho com gênero debate – foram alcançados.

Tal afirmação se dá, pois, ao levar a turma a se engajar em uma discussão e a trabalhar

com a oralidade, todos interagiram, por mais que de forma mais informal, pelo gênero debate.

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Apesar de nem todos terem tido uma visão mais refinada da problemática, ficamos satisfeito

em ver como alguns alunos defenderam de forma sucinta, mas consistente, suas opiniões.

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Segundo momento: O Racismo no Futebol

Materiais: Computadores com acesso a internet da instituição, vídeo e perguntas para

discussão.

Em um momento posterior, continuamos a discussão sobre a temática do futebol, mas

fazendo um novo recorte relativo ao racismo nesse meio esportivo.

Usamos um vídeo: “Torcida do Fluminense joga pó de arroz na entrada do

Flamengo em campo”

Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=GHoF7sd6lX0

Após reproduzido o vídeo, discutimos a temática central, em que eles expuseram suas

opiniões, mostrando indignação em relação à postura dos jogadores do time. À medida em

que íamos discutindo, fizemos uso das seguintes perguntas para guiar a discussão:

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Ressaltamos o cuidado que tivemos de deixar os alunos falarem o máximo possível,

tentando criar um espaço confortável para isso, e sem interferir muito, a fim de dar voz às

opiniões deles.

Após ouvir todas as ideias e convicções dos alunos, tentamos chegar à conclusão,

juntamente com os alunos, de que se trata de um episódio de racismo; em seguida,

perguntamos:

“Quais os episódios de racismo que vocês já presenciaram ou vivenciaram? Conte -

nos como foi com suas palavras.”

Questionados sobre isso, os alunos não relataram experiências próprias. Com receio de

criar um ambiente desconfortável, não os forçamos a fazer isso e mudamos a pergunta,

questionando se eles já haviam presenciado ou sabiam de um episódio de racismo. Eles

relataram episódios com famosos e até mesmo amigos, mostrando desconforto e indignação

ao narrar o que havia acontecido.

Dessa forma, concluímos a discussão reafirmando como o racismo no futebol e nas

demais esferas e experiências sociais atrapalha o desenvolvimento da sociedade como um

todo e como é necessário exigir medidas do governo e mudanças individuais. Assim,

percebemos que atingimos os objetivos desta atividade, que eram discutir de forma produtiva

o racismo no futebol e levar os alunos a verbalizar suas experiências, exercendo assim suas

competências orais.

No final desse momento, ressaltamos a relevância de se debater esses assuntos pois

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A importância dada aos conteúdos revela um compromisso da instituição escolar em

garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem como

instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício da cidadania

democrática e a atuação no sentido de refutar ou reformular as deformações dos

conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores.

(BRASIL, p. 33, 1997)

Materiais: Computadores e internet da instituição

No terceiro e último momento da sequência, pensamos em continuar o trabalho com o

gênero debate seguindo na temática do futebol, porém, fazendo um novo recorte e discutindo

questões como futebol menino e feminismo. Para isso, partimos da leitura de uma reportagem

para instigar a problemática da diferença entre capacidades físicas masculinas e femininas no

esporte e ver como os alunos seriam capazes de se posicionar e defender os pontos de vista. O

texto encontra-se abaixo:

Mulheres podem jogar futebol tão bem quanto os homens, diz estudo.

Estudo feito na Espanha mostra que a principal diferença entre jogadores de futebol do

sexo masculino e feminino é física, e não técnica.

Por Bruna Salete

As mulheres podem jogar futebol tão bem quanto os homens, embora os dois

sexos tenham estilos diferentes de praticar o esporte. É o que mostra um estudo

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liderado por Julen Castellano, pesquisador da Faculdade de Atividade Física e Ciências

do Desporto da Universidade do País Basco, em colaboração com especialistas de

outras instituições europeias. O cientista comparou o desempenho físico e técnico de

atletas masculinos e femininos, concluindo que, apesar de o primeiro grupo apresentar

uma performance física melhor — como já era esperado —, as boleiras não devem

nada em relação à performance técnica. O trabalho foi divulgado recentemente na

revista científica 'Human Movement Science'.

Castellano e colegas coordenaram um longo e minucioso monitoramento de 113

jogadores profissionais (59 mulheres e 54 homens) durante a Champions League,

campeonato organizado pela União das Federações Europeias de Futebol (Uefa). A

técnica utilizada foi capaz de acompanhar os movimentos e o desempenho dos atletas

nos 90 minutos de partida.

Os resultados mostram que, de maneira geral, em todas as posições, os homens

percorrem uma distância muito maior durante as partidas. As mulheres, por sua vez,

parecem jogar com níveis de intensidade mais elevadas. Em razão disso, elas

apresentaram um cansaço maior no segundo tempo, tendo queda de rendimento.

Nenhuma diferença significativa, contudo, foi encontrada quando se analisou questões

técnicas, como número de passes, tempo de posse de bola e total de duelos ganhos.

O líder da pesquisa acredita que uma das aplicações práticas do estudo, a curto

prazo, pode ser a adaptação da preparação física e técnica para cada sexo, de acordo

com seu desempenho, com o objetivo de tornar a prática do esporte ainda mais

dinâmica. Ele considera que, quando valores absolutos são usados como critério de

referência para a comparação, “é possível cometer um erro ao subestimar o esforço

feito pelo sexo feminino”. O futebol feminino, diz, não deve ser apenas “um espelho do

alto desempenho do futebol masculino” e não deve tentar alcançar a velocidade, a

intensidade ou a distância percorrida pelos homens. “Se ambos os sexos estão jogando

o mesmo jogo, cada um deve fazer isso à sua maneira.”

Aprendizagem

Segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências do

Movimento Humano da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), Flávio

Antônio de Souza Castro, diferenças de força, potência, resistência e velocidade são

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esperadas, devido a peculiaridades antropométricas, principalmente maior percentual

de massa muscular e menor de gordura nos homens. “A técnica não depende,

exclusivamente, das características fisiológicas já apontadas, mas também dos

processos de aprendizagem motora”, explica Castro, também vice-diretor da Escola de

Educação Física da UFRGS.

Para ele, quando a técnica é desenvolvida desde cedo, com processos

adequados, é possível que, guardadas as diferenças de força, homens e mulheres

possam ter desempenhos técnicos similares. Até se tornarem maduros, há poucas

distinções fisiológicas entre meninos e meninas, que se acentuam a partir do

amadurecimento.

Castro considera surpreendente a escassez de estudos desse tipo, já que a

Europa e os Estados Unidos possuem muitos times e boa tradição no futebol feminino,

praticado desde a fase escolar pelas garotas. Ele acrescenta que, no Brasil,

características nacionais relativas ao preconceito de gênero contribuem para a menor

visibilidade da prática pelas mulheres. “Ainda há muito preconceito em relação ao

futebol feminino. Cabe aos educadores, aos órgãos de organização e de controle e à

mídia trabalhar para que esse preconceito acabe.”

Vídeo

Foi utilizada uma técnica de localização de vídeo que reconhece cada jogador e o

monitora a uma velocidade de 25 vezes por segundo. Dessa forma, os cientistas sabem

onde o atleta está a cada instante da partida e podem contabilizar uma série de dados,

como distâncias percorridas, velocidade alcançada e toques na bola. Esse método e

outros semelhantes são cada vez mais utilizados por equipes profissionais. Esse tipo de

estudo tem provocado mudanças no esporte, mostrando, por exemplo, que times que

correm distâncias menores (logo tocam mais a bola) costumam se sair melhor nas

competições.

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Evolução no jogo

“A melhor performance física dos homens já era esperada. Entretanto, eles não

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encontraram diferenças na técnica de jogo, o que confirma a grande evolução do

futebol feminino nas últimas décadas. Já sabemos que os homens possuem capacidade

aeróbica e anaeróbica superior à da mulher. Isso acontece por diferenças fisiológicas.

Não podemos ignorar a questão da habilidade. Se uma garota que é excelente jogadora

compete com garotos que não têm habilidade desenvolvida, esses casos ficam mais

evidentes. O estudo tentou equalizar essas diferenças ao observar jogos da liga

europeia. Não entendo ser necessário diferenciar as regras do futebol para homens e

mulheres, devido à evolução já alcançada pelo futebol feminino. Muitas pessoas

acabam preferindo ver partidas de futebol feminino. É um jogo mais cadenciado, em

que a habilidade, muitas vezes, é mais importante que a força física. Isso ficou

comprovado no estudo.”

Jomar Souza, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do

Esporte (SBMEE)

Fonte:https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2014/02/15/noticias-saude,192929/mulheres-podem-

jogar-futebol-tao-bem-quanto-os-homens-diz-estudo.shtml

Lida a reportagem, começamos a discutir com os alunos, perguntando a opinião deles

sobre o texto. Como grande parte das alunas das turmas gostam de futebol, assim como

praticam o esporte na escola, esperávamos que elas iniciassem a discussão defendendo a

atuação da mulher no meio esportivo e, até mesmo, que só elas se engajassem no debate.

Entretanto, para nossa positiva surpresa, os meninos também se colocaram a favor das

opiniões trazidas pelo texto e da participação feminina no esporte.

Dessa forma, com uma recepção positiva do tema e do debate, esse tornou-se muito

mais produtivo e positivo. A turma voltava-se ao texto para defender argumentos, a partir dos

estudos feitos, que comprovavam a igualdade em relação à performance de mulheres e de

homens no futebol. Os estudantes ainda trouxeram exemplos reais de jogadoras que tinham

desempenho bom, até melhor do que muitos jogadores consagrados no país. Após perguntar a

eles o porquê de essas jogadoras não receberem tanto destaque, a conversa já foi se

direcionando para questões sociais e de gênero – que era o que nós esperávamos.

Dessa forma, começamos a instigá-los com as seguintes perguntas, que já tínhamos

pensado anteriormente:

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Tentamos restringir nossa participação a meros mediadores do debate, fazendo as

perguntas em momentos propícios e deixando espaço para a turma posicionar-se livremente.

Assim, tivemos momentos em que as alunas relataram episódios de machismo de pessoas

próximas a elas e até mesmo ocorrido com elas próprias. Apontamos a seriedade desses

ocorridos e de não se calar jamais. Um fato muito marcante foi o apoio dos meninos, que se

mostraram muito maduros para falar sobre essa temática.

Dessa maneira, conseguimos levar os alunos ao conhecimento de problemáticas em

relação ao gênero no esporte e continuar desenvolvendo habilidades de oralidade voltadas

para o seminário – o que será detalhado na seguinte unidade.

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UNIDADE 2: Artigo

Ao final do ano letivo, como atividade final, iniciamos com os alunos do 9º ano um

trabalho de pesquisa, com intuito de criarem uma apresentação oral e um trabalho escrito que

se aproximasse do gênero “artigo científico”, com as seguintes temáticas:

- A importância do negro na sociedade brasileira: ciência e cultura

- As ações afirmativas raciais no Brasil

- Negros e negras com destaque no Brasil e no mundo

- O racismo na língua

A escolha dos temas justifica-se pelo fato de os alunos das turmas serem

majoritariamente negros e pela importância que tem a representatividade na escola. Sendo

assim, dividimos os alunos em grupos de 3 a 5 integrantes e designamos um tema para cada

grupo. Por meio dessa atividade, almejamos discutir temáticas necessárias e urgentes no

âmbito escolar, como também trabalhar com aspectos da oralidade para a apresentação formal

de um seminário e, ainda, aprimorar a habilidade de escrita dos alunos no gênero proposto.

Dessa forma, no primeiro momento, dedicamos algumas aulas para realizarmos

discussões com os estudantes sobre cada um dos temas; trazíamos a temática por meio de

textos de apoio e, após a realização da leitura, eram feitas algumas perguntas no intuito de

fomentar a discussão e o interesse dos alunos.

Além disso, foram realizadas rodas de conversa e discussões com alguns funcionários

negros e pessoas que pertenciam ao movimento negro para tirar dúvidas, discutir e expor

algumas questões, buscando quebrar paradigmas a respeito da luta e da dificuldade do povo

negro no Brasil.

Cada grupo de alunos recebeu um caderno para que pudessem realizar anotações que

seriam úteis futuramente na elaboração do artigo; com isso, levamos os estudantes a

perceberem como é necessária a organização das ideias para a elaboração do texto científico.

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Realizado esse primeiro momento, passamos a levar os estudantes à sala de

informática da escola, para que os grupos começassem a realizar pesquisas sobre o tema

recebido, aperfeiçoar as ideias que foram debatidas anteriormente em sala de aula e preencher

os cadernos com mais informações, como dados importantes e referências de especialistas.

Ressalta-se que durante todos os momentos os alunos foram acompanhados e orientados pelos

bolsistas sobre como realizar uma pesquisa eficaz e sempre verificar a veracidade dos dados.

Após efetuada a pesquisa dos temas, foi iniciada em sala de aula uma sistematização

do gênero artigo. Para isso, apresentamos alguns modelos prototípicos de artigos e debatemos

com os estudantes eventuais dúvidas. A seguir, os grupos iniciaram a escrita da introdução do

artigo e, aos poucos e com suporte dos bolsistas e da professora responsável, foram dando

forma ao texto e também ganhando maior independência para escrevê-lo. Abaixo segue dois

dos artigos escritos por alunos do 9 ano.

Negros e negras que se destacaram no Brasil e no mundo

Introdução

O presente texto tem a intenção de trazer exemplos de negros e negras que se

destacaram no Brasil e no mundo, com a finalidade de mostrar que se forem dadas as

oportunidades, negros também podem alcançar o destaque que, nessa sociedade racista,

só é conquistado por brancos. Assim, além de trazer exemplos, desejamos trazer

reflexões sobre o racismo e as dificuldades que os negros enfrentam. Por que os negros

ainda têm dificuldades em alcançar cargos de destaque? Desde a formação do Brasil, a

visão de inferioridade sobre o negro fez com que ele fosse, ao longo do tempo, mal visto

e associado à pobreza e à incapacidade por conta da cor da sua pele e de uma suposta

inferioridade intelectual. Fazendo uma retrospectiva histórica, a falta de medidas

eficazes de inclusão e acesso a direitos após a abolição da escravidão, que foi

intensificada por um posterior sistema econômico excludente, fez com que a situação do

negro piorasse cada vez mais.

Com o decorrer dos anos, essa postura por parte do(s) governo(s) foi mantida,

adiando as oportunidades para os negros destacarem-se.

Por que há mais negros na parte artística do que na econômica?

A falta de oportunidades e direitos mencionados anteriormente leva à taxa muito

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baixa de negros ocupando cargos altos na sociedade. Um exemplo disso é o fato de

apenas 18% dos médicos brasileiros serem negros. Um outro exemplo dessa realidade é

o caso do médico Fred William, do Rio de Janeiro, que postou, em sua conta do

Facebook, uma foto com uma paciente de 74 anos que se consultava

Com um médico negro pela primeira vez. Esse fato não foi reportado de forma

ampla pelos meios de comunicação, o que dificulta o reconhecimento dos médicos

negros na sociedade. Porém, por mais que existam muitos negros que se destacaram e se

destacam nas áreas de medicina, política, economia e demais áreas consideradas

“Nobres”, os negros que ganham visibilidade concentram-se na área artística.

A pesquisa mostrou como as pessoas não têm conhecimento de negros que não

estejam em uma posição de destaque que não seja no meio artístico, pois a maioria dos

que foram citados eram cantores(as) ou atores/ atrizes. Desejamos, no entanto, deixar

claro que não consideramos isso um problema, pois a arte tem um valor importantíssimo

na sociedade e deve ser incentivada, assim como deve ser incentivado que tanto brancos

quanto negros participem sempre dos diferentes movimentos artísticos.

Entretanto, o problema que é indicado no nosso texto é o fato de haver muito

mais possibilidades de o negro chegar no meio artístico do que no meio acadêmico ou

profissional das áreas mencionadas no anteriormente. Isso mostra que as medidas do

Governo não são eficazes e que acabam ficando por conta de ONGs e projetos que

impulsionam o engajamento nas artes.

Alguns nomes de destaque.

Mesmo com todos os problemas mencionados, vale destacar alguns nomes que

se destacaram em diferentes áreas no Brasil e no mundo.

Milton Santos: importante geógrafo negro brasileiro que conquistou o prêmio

Vautrin Lud, considerado o prêmio nobel da geografia.

Viola Davis: atriz negra americana da atualidade que conquistou o prêmio

Emmy e disse que “a única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra

pessoa é oportunidade”.

Nelson Mandela: Formado em Direito, foi o mais poderoso símbolo da luta

contra o Apartheid, regime segregacionista da África do Sul, e ganhador do Nobel da

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Paz em 1993 e é conhecido como o Pai da Pátria em seu país.

Maria Firmina dos Reis: é considerada a primeira romancista brasileira, seu

primeiro livro, Úrsula, quando Maria já tinha estabelecido-se como professora. Foi o

primeiro romance publicado por uma mulher no país, e também o primeiro

antiescravagista

Conclusão

Dessa forma, concluímos que o negro carrega na sua história a marca de

exclusão, inferioridade e preconceito. Tal situação pode ser uma causa da dificuldade de

se ver negros em posição de destaque. Portanto, as oportunidades devem ser igualadas

tanto para brancos quanto para negros. Por isso, o Governo, em parceria com as escolas,

deve criar projetos sobre a questão racial, destacando a igualdade de direitos entre as

raças. Esse projeto deve ser incluído na grade curricular e contar com a participação de

autoridades sobre o assunto. Assim, a sociedade teria maior consciência da importância

da igualdade de oportunidades desde o espaço escolar.

Segundo artigo:

As ações afirmativas

Introdução

Através deste texto, buscaremos expor alguns dados sobre o preconceito com os

negros, pardos e indígenas nas universidades públicas no Brasil e as dificuldades

enfrentada por eles, não apenas no ingresso, mas também na conclusão do curso. Não é

novidade que as universidades, principalmente no Brasil, foram idealizadas para a

população brancas e isso traz consequências até os dias de hoje. Porém, nos últimos

anos, a população negra vem conquistando seus espaços nas universidades, por meio de

lutas e a conquista do direito às cotas, que são um meio de garantir a entrada dessas

pessoas nas universidades.

Os negros representam 54% da população do país, ou seja, um pouco mais que

a metade. Porém, ainda são poucos representados no ensino superior. Segundo o

levantamento feito em 2011 de 8 milhões de matrículas realizadas apenas 11% eram

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negros, 2016 o número subiu para 30%. Buscando solucionar a ausência de pessoas

negras, pardas e indígenas nas universidades, foi criada a lei 12.711 de 2012, chamada

Lei das cotas define que as instituições de ensino superior vinculadas ao ministério da

educação e as instituições federais de ensino técnico de nível médio devem reservar

50% de suas vagas para as cotas. “Em 17 anos, quadruplicou o ingresso de negros nas

universidades, país nenhum no mundo fez isso com o povo negro”, afirma o diretor do

Educafro, David Santos.

Contudo, as cotas não solucionam todos os problemas que os negros enfrentam

na graduação. Apenas 2,2% de negros concluíram o curso em 2000, em 2017 subiu

para 9,3%, apesar do crescimento o índice ainda é baixo, visto que em 2000 o índice

para brancos era de 9,3% e no último levantamento feito em 2017 aponta 22% de

brancos graduados. Ou seja, o número de estudantes brancos que se formam ainda é

superior ao nível de estudantes negros. Isso porque os cotistas vão continuar

enfrentando preconceitos raciais ao decorrer de toda sua formação, preconceitos que

muitas vezes irá desmotivar e prejudicar a permanência deles na faculdade, justificando

assim o baixo nível de graduandos.

É necessário, portanto, criar ações afirmativas que ajude a manter os negros,

pardos e indígenas na universidade.

Tendo finalizado os artigos, iniciamos com os alunos a etapa da elaboração do

seminário a ser apresentado para a turma. Mantiveram-se os grupos, e os estudantes usaram

dos artigos produzidos para criar a apresentação em slides.

Novamente, os bolsistas ficaram encarregados de orientar e expor para os alunos como

deveria ser montado os slides e como deveria ser realizada a apresentação. Separamos

algumas aulas para discutir com eles como a apresentação do seminário era algo formal e,

portanto, eles deveriam utilizar da linguagem formal para expor as ideias que iriam apresentar

a turma.

Os seminários foram planejados para durar 10 minutos e foram apresentados para toda

a turma de 9º ano e para os alunos do 8º ano.

Cada bolsista era responsável por um grupo, assim como pela sistematização de como

deveria ser realizada a apresentação; os alunos praticaram em algumas aulas entre si e por fim

apresentaram para toda a sala.

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Os resultados obtidos com as discussões em sala de aula, com a escrita dos artigos e

com a apresentação do seminário foram satisfatórios. Apesar da dificuldade que tivemos no

início da atividade de engajamento dos alunos, a escolha da temática rapidamente os tornou

mais interessados e curiosos em descobrir mais sobre o assunto debatidos.

Durante a escrita dos trabalhos, pudemos observar possíveis dificuldades na escrita

formal e, com isso, reparar as dificuldades dos alunos. Da mesma forma ocorreu na

apresentação do seminário, no qual os alunos, que antes se recusaram em apresentar para a

toda a turma, foram ganhando confiança durante todo o processo realizado por nós para

trabalhar com a oralidade.

Desta forma, destaca-se a importância da valorização do trabalho com a oralidade nas

escolas, previsto pelos PCN, que afirma que:

Cabe, pois, à escola ensinar o aluno a utilizar a liguagem oral nas diversas situações

comunicativas, inclusive nas mais formais: planejamento e realização de entrevistas,

debates, seminários, diálogos com autoridades,dramatizações, etc. trata-se de propor

situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato, pois é descabido

"treinar" o uso mais formal da fala. A aprendizagem de procedimentos apropriados de fala

e escuta, em contextos mais formais, dificilmente ocorrerá se a escola não tomar para si a

tarefa de promovê-la. (p.11)

Portanto, o conjunto de atividades elaboradas buscou trabalhar com aspectos que os

alunos encontravam dificuldades e certa resistência (escrita e oralidade); por meio de uma

temática que os interessava, fomos capazes aprimorar as habilidades de escrita e de oralidade,

tendo assim os objetivos almejados alcançados.

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UNIDADE 3 - Trabalhando análise linguística através da ludicidade.

No início do projeto, durante as nossas observações no ano de 2018, identificamos

uma certa dificuldade dos alunos na classificação e conjugação de verbos. No período

seguinte, a aluna Pietra Nadabe estava cursando uma disciplina no curso de Letras que visava

entender como introduzir práticas lúdicas nas aulas de Língua Portuguesa, na qual, como

trabalho final, deveria ser criado um jogo que pudesse ser utilizado para o ensino da língua.

Com o intuito de trabalhar a análise linguística e ensinar verbos de uma forma lúdica,

a aluna criou o jogo “Que verbo sou eu?”, tendo como principal objetivo conjugar os verbos

de acordo com o tempo e pessoa do discurso, indicados pelas cartas disponibilizadas durante o

jogo. Visto que o desinteresse nas aulas de língua é bem crescente, usamos essa prática de

multiletramento, procurando ensinar esses alunos de uma forma mais diversificada e

divertida.

De acordo com Rojo (2012), em qualquer dos sentidos da palavra “multiletramentos”

– no sentido da diversidade cultural de produção ou circulação de textos ou no sentido da

diversidade de linguagens que os constituem -, os estudos são unânimes em apontar algumas

características importantes: eles são interativos; mais que isso, colaborativos.

Vale ressaltar que a ludicidade não está ligada somente a jogos para crianças, mas

também tem como função proporcionar uma experiência plena para qualquer indivíduo

independente da sua idade, na qual o foco de sua atenção está totalmente sobre a atividade que

realiza no momento presente. A prática recreativa vem como uma nova forma de

aprendizagem, buscando resgatar o interesse, participação ativa, e reflexão nas aulas de língua

portuguesa.

Luckesi (2005, p. 35) afirma que “Ludicidade, a meu ver, é um fenômeno interno do

sujeito, que possui manifestações no exterior”. Essa fala do autor representa muito a vivência

dos alunos em relação ao exercício proposto, de modo que os resultados obtidos nele ficaram

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claros no decorrer das aulas seguintes, alterando alguns dos comportamentos que os

estudantes vinham tendo antes de se envolverem com a atividade recreativa.

A atividade foi aplicada em turmas de 8º e 9º ano; os alunos foram divididos em três

grupos para poder jogar. No início, muitos se confundiram com as regras, pois eram muitos

comandos e eles nunca haviam aprendido uma matéria daquela maneira.

Alguns minutos depois de terem compreendido todas as ações do jogo, foram

adquirindo rapidamente estratégias próprias para vencer. Durante a prática, foram tirando suas

dúvidas, como por exemplo: “Qual a diferença entre pretérito perfeito e pretérito

imperfeito?”. Com o avançar do jogo, iam percebendo que aprender verbos não era tão difícil

quanto eles pensavam.

Para explicar melhor, vamos expor algumas das casas do tabuleiro para exemplificar

como eles estavam utilizando as estratégias não só para vencer, mas também para ajudar as

outras equipes:

Casas principais:

Hora de verbalizar: Ao chegar nessa casa, o jogador terá um verbo

no infinitivo ao pegar uma das cartas vermelhas. Feito isso, lançará a

moeda no tabuleiro tendo como duas faces o os números 1 e 2.

● Número 1: Escolha uma carta azul ou laranja /Número 2: Pegue uma carta

de cada (azul e laranja)

● Carta Laranja (3) – Contém as pessoas do discurso; Carta Azul (2) –

Contém tempos verbais. Caso você consiga conjugar o verbo como

solicitado em uma das cartas, você avançará 2 casas. Mas se você for

capaz de conjugar o verbo como solicitado nas duas cartas, como prêmio

você avançará 3 casas.

Nessa casa, os alunos estavam conjugando os verbos sozinhos e “soprando” a resposta

correta para a equipe rival, mesmo que ali estivessem competindo para ver quem chegaria ao

final do tabuleiro primeiro; ainda se mantinham companheiros uns dos outros, acabando por

ensinar uns aos outros. Nota-se que nessa casa pudemos ensinar além de verbos, noções

básicas de análise combinatória, na qual se tivessem duas cartas em mãos a opção de resposta

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era apenas uma; no entanto, se tivessem apenas uma carta em mãos, teriam mais de uma

possibilidade para a resposta.

Verdade ou mentira: Ao chegar nessa casa, um dos adversários fará a leitura

da carta para o jogador da vez, este acertando a questão da carta, avançará 2

casas. Mas cuidado! O seu adversário tem a opção de substituir a alternativa correta

pela falsa, caso você perceba e consiga transformar uma das alternativas falsas em

verdadeiras, você avançará 2 casas e o seu adversário será obrigado a recuar 2 casas.

Caso você erre, o seu adversário é quem anda 2 casas.

Ao chegarem nessa casa, os estudantes estavam aprendendo a testar os conhecimentos

dos próprios colegas, de modo que poderiam alterar a resposta certa na hora da leitura da carta

na vez de outro grupo. Essa carta nos possibilitou trabalhar com os alunos questões sociais,

como por exemplo a competitividade, e até mesmo se o outro estava mentindo ou dizendo a

verdade através de suas expressões faciais, dando a eles breve noção de linguagem corporal,

partindo do conhecimento afetivo que tinham uns dos outros.

Ao final da aplicação do exercício, percebemos que a proposta obteve todos os

resultados esperados, e para demonstrar como o desfecho dessa atividade foi produtivo, nada

melhor do que relatos dos próprios alunos sobre como foi essa experiência; é o que veremos

na próxima etapa deste caderno pedagógico.

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U N I D A D E 4 - O r e l a t o d e m e m ó r i a c o m o r e s u l t a d

Através do gênero textual “relato de memória”, buscamos não só ensinar os alunos a

redigir um relato de memória, demonstrando as partes que o compõem, mas também mostrar

o valor que as nossas lembranças e a do outro possuem.

Atividades:

1. Qual memória você vai fazer hoje?

2. Mas então, afinal, o que é memória?

De acordo com o dicionário, memória é “faculdade de conservar e lembrar estados de

consciência passados e tudo quanto se ache associado aos mesmos."uma m. boa ou má".

Visto que o relato já é uma espécie de memória, fizemos uma dinâmica com os alunos

para finalizar o trabalho com os relatos de forma descontraída, e para que você professor

possa fazer também essa atividade em sua sala, vamos explicar como fizemos passo a passo:

Objetivo:

● Mostrar aos alunos o quanto a comunicação é importante;

● Ensinar os alunos a lidar com suas próprias memórias e ter empatia pelas do

outro;

● “Reviver” momentos já esquecidos que talvez sirvam como motivação para os

alunos.

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Espaço:

● Peça aos alunos que formem um círculo com cadeiras;

Ações:

● Já tendo trabalhado uma atividade semelhante à da unidade 3 deste caderno, na

qual os alunos tenham que escrever suas lembranças, digite todas e as imprima

para que os alunos não reconheçam a letra de outros colegas.

● Feito isso, distribua uma memória para cada um; para contextualizar, explique o

conceito de memória e o porquê de elas serem tão importantes para nós.

● Oriente os alunos para que leiam a memória que receberam em voz alta - dessa

forma perderão a timidez diante da turma e desenvolverão habilidades de

protagonismo por ter a memória de outra pessoa em mãos. Lendo a memória do

colega, o aluno pode também se lembrar de coisas que não havia lembrado

anteriormente.

● Ao final, peça que os estudantes fechem seus olhos e se lembrem de momentos

que viveram na escola desde que chegaram lá, dos engraçados aos tristes, para

que percebam todo o caminho que já percorreram para chegar até ali,

incentivando-os a continuarem. Lembre-se de mencionar o quão importante é

respeitar a memória do outro.

Para expor os resultados obtidos na unidade 3, temos abaixo alguns dos principais

relatos redigidos pelos alunos, nos quais vemos os aprendizados que a atividade realizada os

proporcionou.

Relato 1

Nesse relato, o aluno nos mostra como a experiência foi boa para ele em questões

sociais, de modo a deixar sua timidez de lado e interagir mais com os colegas. Nos relatou

também sobre as equipes e, ao final, deixou o seu imenso carinho por nós, que foi muito

recíproco no tempo em que atuamos na escola.

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“Eu estou aqui para relatar uma certa semana onde os estagiários da escola onde estudo, trabalharam um jogo

chamado “Que verbo sou eu”, aonde quase a sala inteira jogou, até eu que não gosto de jogos de tabuleiro, foi

bem divertido, mas sempre qualquer jogo em sala de escola dá briga, ainda mais quando quem ganha é uma

pessoa que se acha, porém é entre amigos e nunca dá briga. Até eu me surpreendi pois sou uma pessoa tímida e

quieta, assim pude me soltar um pouco mais. Teve uma parte que uma equipe conseguiu voltar 3 vezes para o

começo do tabuleiro, e apesar disso ainda ficou em terceiro lugar, pois a outra equipe teve que voltar para o

começo pois caiu em uma casa. Mas o que eu mais gosto nas aulas é a simpatia dos estagiários Pedro, João e

da Pietra, por isso as aulas de terça-feira, mas não que as outras estagiárias sejam ruins.”

Aluno 8º ano

Relato 2

Já neste relato, um ponto a destacar é que a aluna fala que foi ensinado a ela “singular

e plural”, demonstrando que o aprendizado foi significativo. Ao final, ela conta sobre o jogo e

como o mesmo a ajudou desenvolver habilidades para trabalhar em grupo.

“As partes boas do projeto, foi quando a gente foi no Museu Murilo Mendes com a professora Carol e os

meninos, gostei também quando o Pedro e o João me ensinaram o que era plural e singular, gostei muito

também do dia que a Pietra trouxe o jogo, isso ajudou a gente trabalhar mais em grupo.” Aluna 8º ano

Relato 3

No último relato podemos perceber que o aluno alegou ter compreendido como são os

verbos no indicativo, subjuntivo e imperativo. e ao final de seu texto brinca dizendo que na

primeira vez a equipe dele tinha ganhado e na segunda, perdido, mas “que ele não queria” ter

ganho, utilizando assim uma figura de linguagem para mostrar o quanto queria ter vencido

para ganhar o bombom que estava em jogo.

“Pra mim um dos melhores dias, foi o dia que a Pietra estagiária trouxe um jogo que se chama “Que verbo sou

eu?”. No jogo tinha brincadeiras de verbo, tinha desafios e foi muito bom porque gerou uma rivalidade

saudável muito grande na sala e também nos ajudou a entender melhor os verbos: Indicativo, Subjuntivo,

Imperativo. Na primeira vez a minha equipe ganhou e nós ganhamos 3 pontos, mas na segunda rodada nós

perdemos e tava valendo um bombom mas eu não queria ganhar mesmo, kkk… foi isso um dos melhores dias.

Fim” Aluno 8º ano

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Referências:

FABRÍCIO, Branca Falabella. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem:

redescrições em curso. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo. Por uma linguística indisciplinar.

São Paulo: Parábola, p. 45-65,2006.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF,

1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf

ROJO, R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In:

ROJO, R; MOURA, E. (Org). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.

LUCKESI, C. Ludicidade e atividades lúdicas: uma abordagem a partir da experiência

interna. Disponível em:

<http://portal.unemat.br/media/files/ludicidade_e_atividades_ludicas.pdf>