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Movimento Democrático de Moçambique: uma nova força política na democracia moçambicana?

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  • Movimento Democrtico de Moambique: uma nova fora poltica na democracia moambicana?

  • Cadernos IESEEdio do Conselho Cientfico do IESE

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  • Movimento Democrtico de Moambique: uma nova fora poltica

    na democracia moambicana?

    Srgio Chichava

    Cadernos IESE n 02/2010

    Srgio Chichava Doutorado em Cincia Poltica pela Universidade de Bordeaux e Investigador Snior do IESE.

    [email protected]

    Agradecimentos: O autor agradece a Lus de Brito, Jonas Pohlman e Michel Cahen pelos comentrios e sugestes.

    Agosto de 2010

  • Ttulo: Movimento Democrtico de Moambique: uma nova fora poltica na democracia moambicana?

    Autor: Srgio Chichava

    Copyright IESE, 2010Instituto de Estudos Sociais e Econmicos (IESE)Av. Patrice Lumumba 178Maputo, MoambiqueTelefone: + 258 21 328894 | Fax: +258 21 328895Email: [email protected]

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    Execuo grfica: Zowona - Comunicao e EventosImpresso e Acabamentos: NorprintProduo Executiva: Marimbique - Contedos e Publicaes, Lda.

    Tiragem: 250 exemplares

    ISBN 978-989-96147-8-9

    Nmero de Registo: 6507/RLINLD/2010

    Palavras-chave: MDM, Daviz Simango, Renamo, Sofala, Moambique

  • 3Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    Sumrio

    Uma das maiores atraces durante as eleies gerais de 2009 foi a emergncia e a partici-pao de um novo partido poltico, o Movimento Democrtico de Moambique (MDM). O MDM, formado na Beira, capital de Sofala, na regio centro de Moambique, em Maro de 2009, resultou da expulso de Daviz Simango da Renamo pelo lder desta formao, Afon-so Dhlakama. Criticando a actuao dos actores polticos moambicanos, em particular a Renamo e a Frelimo, um dos objectivos do MDM era introduzir uma nova forma de ser e de estar na cena poltica moambicana. Retraando os factores que levaram ao surgimento do MDM, e olhando para os discursos e as prticas polticas deste partido, procura-se aqui veri-ficar se este partido conseguiu introduzir mudanas na dinmica poltica moambicana.

  • 4Caderno IESE 02|2010

  • 5Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    Introduo

    A vitria da Frelimo nas eleies de Outubro de 2009 confirmou duas situaes que j se an-teviam depois da sua vitria nas eleies gerais de 2004 e nas autrquicas de 2008: 1) a ultra-hegemonia da Frelimo, partido que dirige Moambique de forma ininterrupta desde a sua independncia em 1975, e 2) o declnio da Renamo, principal partido da oposio. Com efeito, se durante as primeiras eleies gerais e multipartidrias, em 1994 e 1999, a Renamo obteve bons resultados, chegando mesmo a estar bastante perto da vitria nas segundas, este parti-do no parou de apresentar ms performances eleitorais. Embora no seja o objectivo deste artigo discutir o partido Renamo, pode-se avanar que, de entre outros aspectos, os proble-mas eleitorais deste partido estejam relacionados com a maneira personalista e demasiado centralizadora atravs da qual o seu lder, Afonso Dhlakama, tem gerido o partido, e a atitude do seu maior opositor poltico, Armando Guebuza, eleito candidato da Frelimo s eleies de 2004 e 2009 em substituio de Joaquim Chissano, que imprimiu uma nova dinmica Frelimo, revitalizando as bases deste partido aps vrios anos de quase letargia poltica. Nes-te caso, tambm preciso sublinhar que, com a ascenso de Guebuza ao poder, a apologia aberta ultra-hegemonia, um objectivo sempre presente no seio da Frelimo mas que ficara adormecido por algum tempo, est de novo na ordem do dia: o objectivo eliminar toda a oposio poltica ou, conforme as palavras de Mariano Matsinhe, figura histrica da Frelimo e prxima de Armando Guebuza, reduzi-la a insignificncia (Filimone, 28 de Abril de 2007).

    Entretanto, esta dinmica poltica das relaes entre os dois principais partidos do pas no tem ocorrido sem tenses, conflitos, marginalizao e, s vezes, expulses. Na sequncia da expulso por parte da Renamo de um dos seus principais lderes, Daviz Simango, em Setembro de 2008, foi criado na Beira, capital de Sofala, em Maro 2009, um novo partido, o Movimento Democrtico de Moambique (MDM). O surgimento deste partido trouxe consigo inmeras expectativas aos moambicanos, tendo renovado em muitos eleitores desiludidos com a prestao dos partidos da oposio, em particular da Renamo, uma es-perana para se evitar o descalabro do multipartidarismo e o regresso em fora de uma dominao sem partilha da Frelimo. , pois, sobre o MDM que este texto se ir debruar.

    Ter conseguido o MDM trazer um debate, programa ou discurso poltico alternativo are-na pblica moambicana? Ou seja, ter conseguido trazer, ou, ao menos, iniciar uma nova forma de ser e de estar na poltica local, isto , o vislumbrar de uma nova cultura poltica?

    Baseando-se em entrevistas e numa perspectiva scio-histrica, pretende-se aqui retraar os contornos que ditaram o surgimento do MDM.

    Compreender o MDM implica, antes de mais nada, compreender politicamente a provncia de Sofala, uma regio que sempre teve relaes conturbadas com a Frelimo, quer seja duran-te a luta anti-colonial quer seja depois desta. Estudar Sofala pois uma porta de entrada para compreender no s o MDM mas tambm o difcil processo de construo da nao em Mo-ambique como tambm o peso do legado colonial na esfera poltico-econmica deste pas.

  • 6Caderno IESE 02|2010

    Para responder s questes acima, dividiu-se o texto em trs seces: a primeira procu-ra oferecer os elementos histricos e sociolgicos fundamentais para a compreenso das complexas relaes entre Sofala e a Frelimo, que nos ajudam a compreender o MDM. O processo que ditou o surgimento do MDM bem como um olhar sobre o seu funcionamento so abordados na segunda seco. A ltima seco analisa detalhadamente a participao do MDM nas eleies de 2009.

    Sofala, uma pedra no sapato da Frelimo

    Durante o perodo colonial, Sofala, no centro de Moambique, fazia parte do antigo distrito de Manica e Sofala. A capital de Sofala, Beira, e suas elites, so, semelhana das de Maputo (antiga Loureno Marques), no extremo sul, basicamente produtos do capitalismo colonial do final do sculo XIX, que se caracterizou, nas duas regies, pela implantao de uma eco-nomia de servios, ligando-as, atravs de portos e caminhos-de-ferro, aos pases vizinhos, nomeadamente, Zimbabwe e frica do Sul.

    Esta regio , historicamente e por razes que procuraremos esclarecer aqui, considerada como politicamente hostil Frelimo. Com efeito, durante a luta armada contra o colonia-lismo portugus, um dos principais e mais marcantes conflitos enfrentados pela Frelimo cuja principal elite dirigente era originria do sul de Moambique foi com as elites do antigo distrito de Manica e Sofala, tendo tido como ponto mximo em 1969 a expulso de Uria Simango, na altura vice-presidente da Frelimo, sob acusao de, para alm de ter participado no compl que acabou com a vida do ento presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, natural de Gaza, no sul de Moambique, a 3 de Fevereiro do mesmo ano, ser tribalista e regionalista (PIDE, 1969).

    Na verdade, Uria Simango que, aps morte de Mondlane, devia, seguindo a lgica hierr-quica, substitu-lo mas havia sido preterido a favor de um triunvirato que, para alm dele, in-clua Marcelino dos Santos e Samora Machel entre outras coisas, queixava-se de um atenta-do contra a sua vida, de excluso, de tribalismo e de assassinatos contra membros da Frelimo originrios do Norte do rio Save, praticados por Mondlane e outros lderes sulistas que tinham tomado conta da Frelimo em detrimento de grupos tnicos de outras regies de Moambi-que (PIDE, 1969). Segundo Simango, ele, assim como outros indivduos naturais de Sofala, designadamente Silvrio Nungo, Mariano Matsinhe e Samuel Dhlakama, eram considerados responsveis pela morte de Eduardo Mondlane, devendo, portanto, ser eliminados (Idem).

    De referir que, de entre os nomes citados por Uria Simango, Silvrio Nungo viria a encon-trar a morte em circunstncias estranhas ainda durante a luta anticolonial, acto atribudo por Uria Simango aos dirigentes sulistas da Frelimo. Samuel Dhlakama1 viria a desapare-

    1 Muito recentemente, Srgio Vieira veio carga, acusando Samuel Dhlakama de ter estado envolvido na morte do primeiro presidente da Frelimo. Sobre este assunto ver Escorpio (2009).

  • 7Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    cer depois da proclamao da independncia, restando apenas, deste grupo, Mariano Matsinhe.

    Cabe tambm mencionar que Uria Simango, um dos fundadores da Frelimo, era originrio de Machanga, sul de Sofala, regio que, durante o perodo colonial, se tinha notabilizado por contestar vigorosamente os abusos da administrao colonial. Com efeito, a manifes-tao popular de 1932 na cidade da Beira contra o aumento das alquotas do imposto in-dgena pela Companhia de Moambique,2 que pretendia, assim, fazer face aos efeitos da crise econmica de 1929, e que obrigou o exrcito portugus a intervir, tida como tendo sido liderada por indivduos oriundos de Machanga, coadjuvados por gente de Mambone,3 uma outra zona que tambm se destacou na resistncia explorao colonial. Na po-ca, havia muita gente de Machanga e de Mambone na cidade da Beira trabalhando como empregados ou cozinheiros em famlias europeias da cidade (Cahen, 1991). Entretanto, as manifestaes que ficaram clebres foram as de 1953 em Machanga e Mambone, as quais obrigaram as autoridades portuguesas (que as encaravam como um atentado sobera-nia nacional) a tomar medidas drsticas, nomeadamente o desterro de alguns indivduos considerados instigadores dos motins, entre eles, o pai de Uria Simango (Ferraz de Freitas, 1965; Cahen, 1991). Embora ignoradas pela historiografia oficial ps-colonial, estes motins so considerados por alguns estudiosos como uma das mais importantes formas de proto-nacionalismo em Moambique (Andrade, 1989; Cahen, 1991).

    De salientar que, aps a independncia, Uria Simango, juntamente com outros antigos dissidentes da Frelimo, viria a ser assassinado algures em Niassa. No h dvidas de que o assassinato de Uria Simango, emblemtica figura sofalense de resistncia ao colonialis-mo portugus, deixou grande ressentimento e revolta das populaes locais em relao Frelimo.

    Na sua passagem por Sofala em Junho de 1975, aquando da sua viagem triunfal,4 Samora Machel mostrava j uma certa desconfiana em relao a Sofala, considerando que, mais do que em qualquer outra regio do pas, havia sido a onde, aps a queda do regime de Marcelo Caetano a 25 de Abril de 1974, e com a ajuda do inimigo, tinham sido criados mui-tos partidos polticos hostis Frelimo (Darch & Hedges, 2007).

    Foi tambm na regio do antigo distrito de Manica e Sofala que nasceram os principais lderes da Resistncia Nacional Moambicana (Renamo), principal partido poltico de opo-sio que, de 1976 a 1992, foi o movimento armado que moveu uma guerra sem quartel contra o regime tribalista, sulista e comunista da Frelimo. Est-se a falar aqui do pri-meiro comandante militar deste movimento, Andr Matsangaia, natural de Manica, e de

    2 Na incapacidade de desenvolver ou ocupar efectivamente as suas colnias, Portugal havia, no final do sculo XIX, portanto depois da Conferncia de Berlim, cedido algumas regies de Moambique a algumas companhias coloniais. A regio de Sofala e Manica estava sob a responsabilidade da Companhia de Moambique, na poca, uma das compa-nhias mais poderosas de Moambique.

    3 Esta regio faz parte hoje da provncia de Inhambane.4 Viagem levada a cabo do Rovuma ao Maputo entre 24 de Maio e 25 de Junho de 1975 que simbolizava a derrocada do

    colonialismo portugus e a constituio de uma nova repblica.

  • 8Caderno IESE 02|2010

    Afonso Dhlakama, seu actual presidente, natural de Sofala. Ser, assim, fcil perceber este discurso de Samora Machel:

    No passado, o inimigo utilizava Sofala como base das suas manobras neocoloniais. Promoveu aqui muitos reaccionrios, muitos grupos fantoches. O inimigo consequente. Onde esto esses fantoches? Fugiram para a Rodsia. E hoje como o Zimbabwe est livre, os criminosos de Inhaminga [sede do distrito de Cheringoma, provncia de Sofala] voltaram (Machel, 1982:13).

    Em 1981, reconhecendo a fraca insero poltica e social da Frelimo nesta regio e o apoio das populaes locais Renamo, Samora Machel, primeiro presidente de Moambique in-dependente, indica Armando Guebuza, na altura Ministro do Interior e, em 1983, Marcelino dos Santos, uma das mais importantes figuras da Frelimo, na altura membro do Bureau poltico e secretrio do Comit Central da Frelimo, para dirigirem esta provncia. Segundo Machel, uma provncia to importante quanto Sofala, uma espcie de estmago do pas que havia sempre sido um terreno de confrontao aguda entre a Frelimo e o inimigo, uma terra de reaccionrios, tribalistas e regionalistas, precisava de ser governada pelos dirigen-tes mais capazes do partido (Machel, 1983). Isto acontecia numa altura em que a Renamo ocupava vastas regies do pas, de entre as quais Sofala.5 Para Machel, se Sofala tinha com-preendido quem era o inimigo durante a luta anticolonial e durante a luta contra Ian Smith, agora tinha dificuldades em ver na Renamo um inimigo:

    Sofala sofreu as aces e ataques do regime ilegal e minoritrio de Ian Smith. Sofala resistiu e venceu, porque compreendeu que o inimigo era Ian Smith. E compreendeu facilmente porque ele era estrangeiro. Mas em relao ao bandido armado, que nacional, que vosso primo, o vosso compadre, o vosso cunhado, o vosso filho, o vosso tio, o vosso padrinho, j tem dificuldade de compreender que inimigo. Pensam que ele amigo! (Machel, 1983:15).

    Com o advento da democracia e da consequente realizao de eleies (gerais e locais), Sofala passou a votar expressivamente a favor da oposio, mais concretamente da Rena-mo, fenmeno que se repetiu nas trs primeiras eleies democrticas (1994, 1999 e 2004) (grfico 1). At 2004, Sofala foi o crculo eleitoral onde a Renamo obteve sempre o seu me-lhor resultado ao nvel nacional: 76,8% em 1994; 71% em 1999 e 65% em 2004. Contudo, nas eleies de 2009, a Frelimo ganhou em todos os crculos eleitorais, incluindo Sofala. Entretanto, preciso salientar que, por razes que mais adiante explicaremos, a Renamo concorreu dividida nestas eleies em razo do surgimento do MDM, a seguir expulso de Daviz Simango, o que certamente explica, em parte, a sua fraca performance em Sofala. Com efeito, mesmo sem lograr vencer, pois a Frelimo obteve em Sofala 51%, a soma dos votos do MDM (23%) e os da Renamo (23%) em Sofala fez de Sofala o crculo eleitoral em que a Frelimo obteve a menor proporo de votos.

    5 A par de Sofala tambm foram nomeados membros de Bureau poltico para dirigirem outras duas provncias nomea-damente Cabo Delgado e Zambzia, consideradas cruciais para a estabilidade poltica e econmica do pas.

  • 9Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    Nas eleies autrquicas de 2003, as segundas de Moambique multipartidrio e as primei-ras com a participao dos partidos da oposio (A Renamo e a maior parte dos partidos da oposio no participaram nas eleies de 1998), o municpio da Beira, semelhana de outros quatro municpios, nomeadamente Nacala-Porto, Angoche, Ilha de Moambique, na provncia de Nampula, e Marromeu, em Sofala (embora neste ltimo, a Renamo tenha ganho apenas a presidncia), caiu nas mos da Renamo.

    Para o municpio da Beira, considerada a segunda capital de Moambique, sabendo da sim-patia que a famlia Simango goza nesta regio, no s por se ter destacado na resistncia ao colonialismo, mas tambm pelo facto de simbolizar o conflito com a elite tribalista da Frelimo, a Renamo, que j tinha um outro candidato, Fernando Carrelo, homem de neg-cios e sobrinho do influente rgulo Lus, desiste deste ltima hora e aposta em Daviz Si-mango, filho de Uria Simango, na altura membro do Partido de Conveno Nacional (PCN),6 partido que estava integrado na coligao Renamo-Unio Eleitoral (Renamo-UE).7 Como era de esperar, este ganhou facilmente as eleies, criando um grande desconforto nas hostes da Frelimo, que via neste uma espcie de retorno de Uria Simango cena poltica,

    6 Partido dirigido pelo irmo mais velho de Daviz, Lutero Simango, e que herdou o acrnimo do antigo e efmero Par-tido da Coligao Nacional (PCN), criado por Uria Simango aps a queda do regime de Marcelo Caetano em Portugal a 25 de Abril de 1974. Entretanto, insatisfeito, no s por ter sido preterido a favor do Daviz Simango, a quem no iria facilitar a vida na presidncia do municpio da Beira, como tambm com aquilo que considerava intromisso de intru-sos na Renamo, visto que Daviz Simango no era membro da Renamo, Fernando Carrelo viria, juntamente com outras personalidades influentes da Renamo, tais como Mrio Barbito, a afastar-se da vida poltica activa. Sobre este assunto, ver Timteo (2006).

    7 Para alm da Renamo, a coligao RUE, dissolvida em Julho de 2009, tinha sido criada em 1999 e era constituda pela Frente Democrtica Unida (UDF), Movimento Nacional de Moambique (MONAMO); Partido de Conveno Nacional (PCN); Frente de Aliana Patritica (FAP); Partido do Progresso do Povo de Moambique (PPM), Frente Unida de Mo-ambique (FUMO); Aliana Democrtica de Moambique (ALIMO), Partido de Renovao Democrtica de Moambi-que (PRD) e Unio Nacional de Moambique (UNAMO).

    Grfico 1: Resultados das Eleies Gerais em Sofala

    53,667 57,672 71,102

    164,100

    284,495

    208,984 180,327

    74,734 75,732

    -

    50,000

    100,000

    150,000

    200,000

    250,000

    300,000

    1994 1999 2004 2009

    Votos

    Anos

    FRELIMO RENAMO MDM

    Fonte: Lus de Brito, 1995; STAE, 2002 e 2006; Hanlon, 2009

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    Caderno IESE 02|2010

    fazendo tudo, mas sem grande sucesso, para dificultar a sua governao. Nestas eleies, em que a taxa de absteno rondou os 70%, Daviz Simango obteve 53,43% dos votos e o seu partido, 54,54%, tendo o seu mais directo adversrio, Djalma Loureno, da Frelimo, obtido 42,23%, e o partido Frelimo, 41,25%. Para alm destes concorrentes, havia tambm o Partido Independente de Moambique (PIMO) e o Instituto Para a Paz, Democracia e De-senvolvimento (IPADE), que tiveram entre 3% e 1% dos votos, o mesmo sucedendo com os seus candidatos (STAE, 2003).

    Foi tambm na Beira, naquilo que ficou conhecido como a Revoluo de 28 de Agosto, justamente por ser a data em que Daviz Simango foi preterido a favor de Manuel Pereira, que surgiu o MDM. Elucidativa esta afirmao do Daviz Simango, aquando do discurso do encerramento da Conferncia constitutiva do seu partido, segundo a qual o MDM surgia na Beira, uma cidade j habituada adversidade (Simango, 7 de Maro de 2009).

    De realar que a Beira foi o nico dos anteriores cinco municpios da Renamo que, nas eleies locais de 2008, permaneceu nas mos da oposio (de Daviz Simango), apesar de todo o esforo feito pela Frelimo para recuperar a considerada segunda capital do pas.8

    Como explicar, ento, a fraca insero da Frelimo nesta parcela do pas? Na verdade, So-fala apenas um dos smbolos de contestao das elites do Centro e Norte contra o que consideram discriminao por parte das elites do Sul, sentimento que teve como um dos pontos mais altos os conflitos surgidos no seio da Frelimo e que levaram no s expulso e desero de muitos dos seus militantes oriundos destas regies, mas tambm ao surgi-mento de movimentos regionalistas, reclamando apenas a independncia destas parcelas do pas, tudo isto durante a guerra colonial. Estes conflitos podem ser explicados, entre outros, pela diferena de trajectrias sociais, histricas e culturais entre as diferentes elites que compunham a Frelimo na altura e pela maneira como foi estruturada a economia de Moambique nos finais do sculo XIX, levando a hegemonia poltico-econmica do Sul em detrimento de outras regies do pas.9

    Daviz Simango: da Renamo-UE ao MDM

    Daviz Simango foi expulso da Renamo sob a alegao de ter violado os estatutos do par-tido, quando decidiu concorrer como independente nas eleies autrquicas de 2008, de-pois de, em circunstncias pouco claras e quando j tinha sido reconfirmado como candi-dato a estas, ter sido preterido pelo lder da Renamo a favor de Manuel Pereira, um membro histrico da Renamo que tinha muitas vezes entrado em coliso com Afonso Dhlakama. Com efeito, aps o dia 8 de Agosto de 2008, data em que Afonso Dhlakama reconfirmou

    8 Nas eleies locais de 2003, a Renamo tinha ganho em quatro municpios, designadamente, Nacala-Porto, Angoche, Ilha de Moambique (em Nampula) e Beira em Sofala. No municpio de Marromeu, tambm em Sofala, a Renamo tinha ganho apenas a presidncia, tendo a Frelimo obtido a maioria na Assembleia Municipal.

    9 Para mais detalhes, ver Chichava (2008a); Cahen (1994).

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    Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    Daviz Simango como candidato s eleies locais no municpio da Beira, Fernando Mbara-rano, delegado provincial deste partido em Sofala, sob instrues do lder da Renamo, apa-receu a dizer que, pelo facto de Simango no ser membro da Renamo, os membros deste partido ao nvel da cidade da Beira no o queriam como seu candidato a estas eleies.10 Contudo, embora alguns dirigentes da Renamo insistissem em dizer que Daviz Simango no era membro deste partido, mas sim do PCN, Simango (assim como os seus apoiantes) dizia ter sado, havia j algum tempo, daquele partido e que, no momento, era membro da Renamo.11

    Aps a excluso da sua candidatura, Daviz Simango decidiu avanar como candidato inde-pendente, com apoio de um grupo de cidados reunidos em torno do Grupo de Reflexo e Mudana (GRM), liderado por Francisco Masquil, um antigo membro da Frelimo. Este facto foi aproveitado por Afonso Dhlakama para expuls-lo da Renamo. Quer parecer que as re-ais motivaes da expulso de Daviz Simango sejam a existncia de persistentes rumores indicando que este tinha ambies de derrubar Afonso Dhlakama da presidncia da Rena-mo, facto que no ter certamente agradado ao lder deste partido. Este facto foi tambm confirmado pelo prprio Daviz Simango (Savana, 5 de Maio de 2009). Em certa medida, a expulso de Daviz Simango assemelha-se do antigo vice-presidente da Renamo, Raul Do-mingos, expulso em 2000 sob a alegao de ter trado o partido. Com efeito, este tambm era constantemente referenciado como o mais indicado para liderar a Renamo no lugar de Afonso Dhlakama.

    O facto de, por diversas vezes, Daviz Simango ter sido considerado interna e internacio-nalmente o melhor presidente municipal em Moambique, recebendo vrias distines (Canal de Moambique: 22 de Maio de 2007; Canal de Moambique: 1 de Junho de 2009), ofuscando a figura de Afonso Dhlakama, ter certamente contribudo para certos crculos desiludidos com a actuao do lder da Renamo verem em Daviz Simango a pessoa capaz de dar um rumo a este partido e evitar o seu declnio. Pode-se citar aqui tambm A Revista Mais, considerada prxima de Lutero Simango, que numa das suas edies considerava Daviz Simango como o sucessor ideal de Afonso Dhlakama (Cahen, 2009:64). preciso sa-lientar tambm que, apesar das vrias distines recebidas por Simango, o lder da Renamo nunca elogiou Daviz Simango, chegando mesmo a apelid-lo vrias vezes de mido e incapaz de substitu-lo da presidncia da Renamo. Dhlakama afirmava, igualmente, reco-nhecendo implicitamente a boa gesto municipal de Daviz Simango, que este no passava de um bom tcnico, sem contudo ser um poltico (Michel Cahen: 2009). Alis, Dhlakama afirmava que fora graas a ele, que o tinha designado candidato da Renamo na Beira s eleies locais de 2003, que Daviz Simango havia ganho notoriedade.

    10 Estranhamente, a expulso de Daviz Simango aconteceu alguns dias aps a no reeleio como candidato pela Fre-limo de um dos considerados melhores edis de Moambique, Eneias Comiche. Candidato sua prpria sucesso no municpio de Maputo, a excluso de Comiche gerou tambm bastante polmica. Ver Chichava (2008b).

    11 Difcil confirmar se Daviz Simango era de facto membro da Renamo ou no. Sobre a insistncia em Daviz Simango ser membro da Renamo pelos seus seguidores, ver, por exemplo, Canal de Moambique (5 de Setembro de 2008). Na sua pequena auto-biografia na rede social Facebook, Daviz Simango afirma, entre outras coisas, ter sido membro do PCN e da Renamo. Ver http://www.facebook.com/pages/Daviz-Mbepo-Simango/175696597517?v=info.

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    Caderno IESE 02|2010

    Contudo, e como avanado acima, j em 2003, vozes houve que no estavam de acordo com a indicao de Daviz Simango para candidato da Renamo-UE para o municpio da Beira, em especial Fernando Carrelo e Mrio Barbito. Em Abril de 2008, portanto, antes da deciso de Dhlakama de descartar a candidatura de Daviz Simango, Mrio Barbito apare-ceu a dizer que, caso o lder da Renamo insistisse em apostar novamente no edil da Beira, a quem, para alm de acusarem de nepotismo, acusavam tambm de estar a destruir a Renamo a favor do PCN, os militantes da Renamo na cidade da Beira avanariam com o seu prprio candidato (Chabane, 29 de Abril de 2008; Chabane, 30 de Abril de 2008). Pode-se dizer que Afonso Dhlakama aproveitou-se do descontentamento de alguns indivduos no seio do partido para se desenvencilhar de uma figura que j lhe fazia sombra.

    A Renamo ainda tentou impedir, com base na lei 7/97, de 31 de Maio, a candidatura de Daviz Simango s eleies municipais de 2008, alegando que, sendo ainda presidente do municpio, este no poderia apresentar-se para as eleies locais de 2008 em lista diferente da de 2003, ou seja, da Renamo-Unio Eleitoral,12 mas a queixa foi julgada sem fundamento pelo Ministrio da Administrao Estatal (MAE).

    Apesar de todas estas adversidades, isto , de ter de enfrentar simultaneamente a Renamo e a Frelimo, Daviz Simango voltaria a ganhar nas eleies locais de 2008, com mais votos do que em 2003, numa eleio tambm com maior taxa de participao (cerca de 56%). Com efeito, Daviz Simango obteve 61,6% dos votos, suplantando Loureno Bulha, com apenas 33,7% dos votos (Hanlon, 15 de Dezembro de 2008). Manuel Pereira, que tinha sido es-colhido pela Renamo em detrimento de Daviz Simango, quedou-se estrondosamente na terceira posio, com apenas 2,7% dos votos!

    Entretanto, a vitria expressiva de Daviz Simango precipitou a queda de Loureno Bulha, que na altura tambm desempenhava o cargo de secretrio provincial da Frelimo. Demitido este, Guebuza teve de mandar uma delegao de peso chefiada, entre outros, por Alberto Chipan-de, uma das figuras histricas deste partido, Jos Pacheco, ministro do Interior, e Edson Macu-cua, Secretrio para a Mobilizao e Propaganda, para interinamente dirigirem os destinos do partido nesta provncia, reestruturarem-no e prepararem-no para as eleies gerais de 2009.

    Contudo, a atitude da Renamo viria a sair-lhe cara pois, apesar de Daviz Simango ter ganho a presidncia, isto permitiu Frelimo, que obteve 19 mandatos, obter maioria relativa na As-sembleia Municipal. Numa das suas reaces vitria de Daviz Simango, Afonso Dhlakama, interrogado por jornalistas, tentou uma vez mais minimizar a fora e o carisma do primeiro:

    Todos sabem que, at hoje, apesar de [Daviz Simango] se ter candidatado como in-dependente, tudo quanto tem, toda a maquinaria, tudo o que apresentou, que Bulha [candidato da FRELIMO] no tinha, se deve Renamo (Agncia Lusa, 24 de Novembro de 2008).

    12 Com efeito, o artigo 10, alnea da lei 7/97, de 31 de Maio, refere que os titulares de cargos em rgos autrquicos po-dem perder mandato em caso de, aps as eleies, se inscreverem em partido poltico diverso ou aderirem a uma lista diferente daquela em que se apresentaram a sufrgio, mas este no era o caso de Simango.

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    Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    , pois, neste contexto que surge o MDM, criado logo aps as eleies locais de 2008. Afir-mando-se preocupado com o cenrio poltico moambicano, depois da consistente vitria da Frelimo nas eleies gerais de 2004 e nas eleies locais de 2008, o MDM afirmava como seu objectivo principal evitar que a Frelimo alcanasse maioria qualificada nas eleies de 2009, ou seja, 2/3 ou mais votos, o que lhe permitiria governar sem maiores limites sua actuao, podendo mesmo alterar a constituio:

    [] O perigo de que o regime monopartidrio retorne sob a capa de um sistema multi-partidrio um risco cada vez mais iminente e crescente. Nas trs ltimas eleies mul-tipartidrias, tanto ao nvel autrquico como a nvel nacional, as chances de alternn-cia do poder poltico e de governao diminuram progressivamente de eleio para eleio. A consequncia disto que o partido actualmente no poder em Moambique governa e reina sem ter que prestar contas sociedade moambicana, pois no existe uma oposio politicamente forte e capaz de exercer uma monitoria efectiva e respon-sabilizadora da governao (MDM, 7 de Maro de 2009).

    De acordo com o MDM, outro dos seus objectivos principais era o de romper com a bipola-rizao poltica que caracteriza (va) o cenrio poltico moambicano, dominado pela Freli-mo e pela Renamo desde as primeiras eleies democrticas de 1994, conforme as palavras do seu presidente, Daviz Simango:

    A criao do MDM visa proporcionar novas oportunidades de renovao da democra-cia multipartidria, pluralista em vez de bipartidria ou novamente mono partidarista. Responde necessidade de mudanas reais, efectivas e no fictcias. Representa que a afirmao da identidade moambicana plural est viva, atenta situao poltica perigosa em que nos encontramos. A criao do MDM no acontece para diversificar por diversificar. Acontece porque milhares de cidados precisam de realizar-se como cidados responsveis pela sua vida e sua sociedade (Simango, 7 de Maro de 2009).

    O MDM apresentava-se tambm como alternativa contra aquilo que considera de letargia dos partidos da oposio, vista mais como um resultado de falta de viso poltica do que da propalada falta de recursos financeiros e materiais, e afirmava trazer uma nova forma de ser e de estar na poltica em Moambique, ou seja, renovar o cenrio poltico moambicano:

    O MDM no surge para brincar aos partidos polticos, nem para ampliar a desagregao da j demasiado fragmentada oposio poltica moambicana. Sentimos a maior considera-o e apreo pelas iniciativas partidrias anteriores s nossas. Porm, se optamos por criar um partido novo porque a maturidade da conscincia poltica pluralista est hoje conven-cida [de] que a forma de fazer poltica precisa de renovao. Ser partido poltico pequeno no tem [de] significar irrelevncia poltica. A irrelevncia poltica deriva mais da falta de clareza sobre a razo de existir de um partido do que da posse de recursos materiais e finan-ceiros. Para o MDM, a poltica no ser um fim em si; muito menos dever servir de trampo-lim para tentar um golpe de sorte na vida. Viemos c de livre vontade, conscientes [de] que no possumos recursos financeiros e materiais (Daviz Simango, 7 de Maro de 2009).

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    Para alm dos elementos do PCN, a maior parte dos membros do MDM, pelo menos ao nvel da liderana, so indivduos que anteriormente faziam parte da Renamo, entrados em dissidncia, quer porque estavam em desacordo com a actuao de Afonso Dhlakama, quer porque se sentiam marginalizados por este e viam no MDM uma oportunidade para ocupar algum posto, quer como alternativa poltica Frelimo e Renamo. Pode-se igual-mente encontrar ainda no MDM elementos descontentes com a Frelimo, mas que no se identificam com a Renamo.

    Interessante tambm salientar o facto de Daviz Simango ser um indivduo com fortes ligaes a certas figuras da elite poltica e econmica portuguesa, algumas das quais nunca tiveram boas relaes com a Frelimo, facto que internamente visto com certa desconfian-a. Especificamente, pode-se mencionar, por exemplo, a famlia de Jorge Jardim,13 gran-de inimigo da Frelimo. Com efeito, Jorge Jardim, juntamente com a antiga polcia poltica portuguesa PIDE/DGS e com o antigo presidente do Malawi, Kamuzu Banda, era acusado de ter ajudado a criar a Unio Nacional para a Independncia da Rombzia (UNAR), um movimento que, considerando que a Frelimo era dominada por dirigentes do Sul e discri-minava os moambicanos do Norte e Centro, pretendia lutar pela independncia da regio compreendida entre os rios Rovuma e Zambeze (Cabo Delgado, Niassa, Tete, Zambzia, Niassa e Nampula). Jardim era tambm acusado de com Uria Simango, ter tentado sabotar a independncia de Moambique.

    Uria Simango foi, com Jorge Jardim, igualmente acusado de ser um dos apoiantes dos manifestantes que, descontentes com o acordo de Lusaka entre a Frelimo e o novo regi-me portugus, o qual reconheceu o direito independncia de Moambique e a Frelimo como nica e legtima representante dos moambicanos, enveredaram para destruies e ocuparam a antiga Rdio Clube de Loureno Marques durante cerca de trs dias (Dirio de Lisboa, 7 de Setembro de 1974). Uria Simango, em aliana com Jardim, foi tambm citado como estando a organizar uma vasta operao militar hostil independncia e Frelimo (Dirio de Lisboa, 10 de Agosto de 1974).14

    De realar que a primeira viagem de Daviz Simango ao estrangeiro, aps a formao do seu partido, foi precisamente para Portugal, facto usado pelos seus adversrios para vilipendiar o seu partido. O MDM citado como sendo um partido mais virado para o estrangeiro do que para Moambique:

    13 Este importante homem de negcios de origem portuguesa, que estava sediado na Beira durante o perodo colonial, embora sem boas relaes com Marcelo Caetano, era figura muito prxima do regime de Salazar. Grande amigo de Kamuzu Banda, Jorge Jardim havia sido nomeado Cnsul do Malawi na Beira no dia da independncia deste pas. Jorge Jardim caiu em desgraa com a queda do Estado Novo. Grande inimigo do comunismo, ele defendia, entre outras questes, uma independncia das colnias portuguesas, em particular de Moambique, que passava pela formao de uma comunidade luso-brasileira, onde Portugal jogaria um papel fundamental e o portugus seria a lngua oficial e onde os interesses portugueses seriam preservados e teriam um tratamento privilegiado. Estas ideias, segundo o prprio Jorge Jardim, tinham o apoio do antigo presidente zambiano Kenneth Kaunda e inscreviam-se no Programa de Lusaca mantido confidencial e assinado em 1973. A prpria Frelimo estava, ento, muito interessada na proposta (Jardim, 1976).

    14 Nada de substancial existe para confirmar estas informaes.

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    Logo aps a sua constituio, os seus lderes trataram de viajar para a Europa a fim de se apresentarem, ao invs de o fazerem internamente, ou seja, a fim de o fazerem nas pro-vncias, distritos e localidades. Este MDM est virado a desgnios externos, pelo que no constitui nenhuma ameaa poltica hegemonia poltica da Frelimo. Mal se constituram foram Europa apresentar-se junto dos seus aliados (Notcias, 17 de Maro de 2009).

    Para alm disto, Macucua procurava denegrir o MDM, considerando-o apenas um partido que, semelhana da Renamo, no era mais do que movido por dio e vingana (Idem).

    O surgimento do MDM incomodou bastante a Frelimo: o filho de Uria Simango era visto como ameaa, no s do ponto de vista de poder evitar que a Frelimo obtivesse a maioria qualificada tanto desejada por este partido, mas tambm por ser movido por um dio pro-fundo pelo facto de a Frelimo ter executado o seu pai.

    Apesar de Daviz Simango ter tentado acalmar os nimos, os receios da Frelimo no eram total-mente infundados. Desde a sua tomada de posse como presidente do municpio da Beira em 2003, Daviz Simango deu muitas dores de cabea a este partido. A primeira grande confron-tao entre os dois adversrios diz respeito tentativa de Daviz Simango em reaver as casas do Estado usurpadas pela Frelimo para fins partidrios, conflito este que chegou a provocar algu-mas escaramuas entre os membros da Frelimo e os partidrios de Daviz Simango, estando-se neste momento espera da deciso do recurso interposto, depois do processo movido pelo Conselho Municipal da Beira ter sido decidido em favor da Frelimo;15 a segunda diz respeito atribuio do nome do primeiro presidente da Renamo, Andr Mantsagassa, a uma praa da cidade da Beira, deciso vivamente contestada pela Frelimo, considerando-a um ultraje.16 Daviz Simango era pois um perigo que devia, a todo custo, ser eliminado ou reduzido insig-nificncia. No nos esqueamos da tentativa da Frelimo fazer uma redelimitao da cidade da Beira, deciso vista por Daviz Simango como visando apenas obter ganhos polticos.17

    Entretanto, a rivalidade no era apenas entre o MDM e a Frelimo, mas tambm entre o MDM e a Renamo. Alis, desde o princpio que a Renamo tambm se sentiu bastante inco-modada com o MDM, tendo-se rejubilado, por exemplo, com a excluso deste partido em alguns crculos eleitorais aquando das eleies de 2009. Simango apareceu vrias vezes a dizer-se perseguido pela Renamo, inclusivamente a acusar o partido de Afonso Dhlakama de tentativa de assassinato.

    semelhana da Frelimo acusada de ser um partido dominado por Changanes, grupo tnico da provncia de Gaza ou da Renamo acusada de ser dominada por Ndaus, um dos grupos tnicos da provncia de Sofala, alguns sectores da sociedade moambicana acusam igualmente o MDM de ser tambm um partido tribalista dominado por pessoas de Sofala, em particular dos Ndaus. O MDM ainda acusado de estar ao servio dos interesses da famlia Simango (Jossias, 6 de Janeiro de 2010; Oliveira, 18 de Maro de 2010; Amorim

    15 Para ter uma ideia dos contornos do conflito em torno das casas do Estado, ver Ndapona (2007).16 Sobre este ponto, ver Veloso (2008), Dana (2009).17 Sobre a questo da redelimitao da cidade da Beira, ver, por exemplo, Veloso (2006); Nhamtumbo (2006).

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    (2009).18 Com efeito, a proeminncia da famlia Simango na direco do MDM leva alguns, mesmo internamente, a afirmar que este partido tem dois presidentes: um em Maputo, outro na Beira, ou seja, Lutero Simango e Daviz Simango respectivamente.19

    MDM nas eleies de 2009: uma aventura falhada?

    De acordo com os seus militantes, movido pelos objectivos acima citados, ou seja, salvar o multipartidarismo, o MDM decidiu concorrer s eleies gerais de 2009 cerca de seis meses apenas aps a sua formao: certamente uma atitude corajosa, mas bastante arriscada para um partido acabado de formar, sem grande insero social e poltica e sem recursos materiais e financeiros capazes de p-lo a funcionar em situao semelhante Frelimo e Renamo.

    Durante a campanha eleitoral, para alm de criticar a governao da Frelimo, considerada como no inclusiva, prenhe de corrupo e incapaz de levar o pas ao desenvolvimento, o MDM afirmava que o seu programa de governao articulava-se essencialmente em quatro pontos: alargamento da participao dos cidados, sobretudo jovens e mulheres, na vida p-blica; responsabilizao dos eleitos; produo de riqueza e sua distribuio equitativa; e melhoria da qualidade dos servios pblicos do Estado (MDM, 2009a). Embora com uma linguagem mais ou menos diferente, esta mensagem no era diferente daquela tambm avanada pela Frelimo e pela Renamo, ou seja, pelos maiores adversrios do MDM. Quer em termos de discurso, quer em termos de programa ou de ideologia, no parecia haver basicamente dife-renas: no admira que, em Fevereiro de 2010, portanto, depois das eleies, o MDM tenha aparecido a afirmar que apoiaria a Frelimo (partido vencedor das eleies de 2009) se este ltimo partido cumprisse com o seu programa de governao e se adoptasse uma atitude inclusiva (O Pas, 8 de Fevereiro de 2010; O Pas, 10 de Fevereiro de 2010). Para o MDM, se uma poltica pblica do governo coincide com o que o MDM defende ou com o que consta no seu programa ou manifesto eleitoral, seria uma incoerncia no apoi-la simplesmente porque vem do governo, da Frelimo.20

    Uma das poucas diferenas do MDM com a Renamo e a Frelimo residia nas propostas do MDM em transformar o Conselho Constitucional em Tribunal Constitucional; na escolha dos presidentes dos tribunais Supremo, Administrativo e Constitucional e do procurador-geral da Repblica atravs de um concurso pblico dirigido pela Assembleia da Repblica. Referir que os titulares destes rgos muitas vezes acusados de parcialidade so no-meados pelo Presidente da Repblica. Havia tambm a questo dos reitores das universi-dades pblicas, que, segundo este partido, doravante deviam ser nomeados pela comu-nidade universitria e no mais pelo presidente da Repblica (MDM, 2009a). A definio da juventude como a grande prioridade do MDM (para alm de uma srie de benefcios

    18 Ver tambm Nuno Amorim (2009). 19 Entrevista com F.E., Maputo, 14 de Abril de 2010.20 Entrevista, C.J; Maputo, 20 de Maro de 2010; M.I, Maputo, 23 de Maro de 2010.

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    tais como a criao de um fundo de apoio ao associativismo juvenil, de pousadas, centros e telecentros juvenis, este partido prometia consagrar anualmente 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para financiar um Programa Nacional de Habitao para a Juventude) era tam-bm um dos pontos que distinguia o partido do Daviz Simango dos restantes partidos. Com efeito, enquanto para o MDM a juventude era a prioridade principal, o eixo inspirador e condutor da aco governativa do MDM (MDM, 2009a), nos outros partidos, ela era prio-ridade no meio de outras prioridades. Enfim, a instaurao daquilo que o MDM considera democracia directa, com o uso dos referendos e da chamada aco popular, constitua igualmente diferena de relevo com os outros dois partidos (Ibid.).

    Entretanto, o MDM viu-se excludo pela Comisso Nacional de Eleies (CNE) em sete dos onze crculos eleitorais, sob a alegao de que as suas candidaturas apresentavam inme-ras irregularidades, tendo apenas concorrido em Maputo-Cidade e Inhambane, ambos no sul do pas, Sofala no centro e Niassa no norte (O Pas, 8 de Setembro de 2009). Esta deciso da CNE provocou uma onda de contestao, no s no seio do MDM, mas tambm no de vrios sectores da sociedade, que viam-na como uma clara tentativa da Frelimo obstruir a participao deste partido nas eleies.

    Considerando injusta a deciso da CNE, deciso, entretanto, tambm confirmada pelo Conse-lho Constitucional (CC), o MDM decidiu avanar com uma queixa-crime contra os membros deste rgo eleitoral, alegando que, nos crculos em que fora excludo, eles tinham extraviado processos nas suas candidaturas, de modo a inviabilizar a sua participao nas eleies em be-nefcio da Frelimo (O Pas, 12 de Outubro de 2009). preciso sublinhar tambm que, para alm de ter contestado a sua excluso em alguns crculos eleitorais e recorrido ao CC, o MDM tam-bm contestou (fora do prazo) o sorteio que ditou o posicionamento dos partidos polticos concorrentes s eleies de 2009 nos boletins de voto, alegando que este apenas favorecia os partidos concorrentes em todos os crculos eleitorais, nomeadamente a Frelimo e a Renamo.

    Para alm da Frelimo, da Renamo e do MDM, participaram nestas eleies outros quinze partidos polticos.21 Nas presidenciais, havia apenas trs candidatos: Armando Guebuza da Frelimo, Afonso Dhlakama da Renamo e Daviz Simango do MDM. Num ambiente politi-camente hostil e completamente dominado pela Frelimo, que teve 74,7% dos votos e o seu candidato, 75,2%, o MDM e o seu candidato ainda conseguiram obter 3,9% e 8.6% dos votos respectivamente. Afonso Dhlakama, o grande derrotado destas eleies, obteve apenas 16,3%, e o seu partido, 17,7% (Hanlon, 19 de Novembro 2009). Em termos de man-datos, a Frelimo teve 191, a Renamo, 51 e o MDM, 8.22

    21 Trata-se do Movimento Popular Democrtico (MPD); Unio Eleitoral (UE); Partido da Liberdade e Desenvolvimento (PLD); Aliana Democrtica dos Antigos Combatentes para o Desenvolvimento (ADACD); Partido de Reconciliao Na-cional (PARENA); Aliana Independente de Moambique (ALIMO); Partido Ecologista (PEMO); Partido dos Verdes de Moambique (PVM); Partido Trabalhista (PT); Partido de Reconciliao Democrtica Social (PRDS); Partido Democrtico para a Paz e Desenvolvimento (PDD); Partido Nacional dos Operrios e dos Camponeses (PANAOC); Partido para a Liberdade e Solidariedade (PAZS); Unio para a Mudana (UM) e o Partido para o Progresso e Democracia (PPD).

    22 Em relao s eleies provinciais, a Frelimo, que concorria em todos os 141 crculos eleitorais, obteve 83,2% dos votos correspondentes a 704 mandatos; a Renamo, que concorria em 62 crculos eleitorais, 13%, equivalentes a 83 mandatos, e o MDM, concorrente em somente 19 crculos eleitorais, 3,4%, correspondentes a 24 mandatos (Conselho Constitucio-nal, 27 de Dezembro de 2009).

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    Uma primeira anlise dos resultados do MDM mostra a distncia entre os votos do partido e do candidato, com vantagem para Daviz Simango. Isto explica-se obviamente pelo facto de o MDM no ter concorrido em todos os crculos. Outro detalhe interessante: se j se sabia que o MDM iria obter mandatos na Beira, difcil era prever isso para a Cidade de Ma-puto, crculo dominado pela Frelimo e que representa uma espcie de barmetro poltico do pas. Neste crculo eleitoral, o MDM obteve trs mandatos, feito jamais realizado por um partido da oposio. Daqui pode-se inferir duas coisas: 1) que - pelo menos no que diz respeito s eleies de 2009, o MDM um partido essencialmente urbano; 2) que se trata de um eleitorado cansado da Frelimo, de um antigo eleitorado renamista desiludido com as prestaes da Renamo ou, ainda, de um eleitorado que jamais se identificou com uma Renamo incapaz de se afirmar em verdadeira alternativa poltica e que via no MDM uma oportunidade para se desenvencilhar destes dois partidos, independentemente de o parti-do de Daviz Simango ter ou no ter uma ideologia ou um programa poltico alternativo.

    Outro ponto a assinalar que o MDM o segundo partido, depois da coligao Unio Democrtica entretanto extinta em 1994, e excepo dos tradicionais inquilinos da Assembleia da Repblica, Frelimo e Renamo a obter representao parlamentar.

    Contudo, apesar de ter obtido oito mandatos, o MDM no podia, de acordo com o regi-mento da Assembleia da Repblica (AR), constituir bancada parlamentar. Com efeito, o n-mero 2 do artigo 39 do regimento parlamentar afirmava que s podia constituir bancada o partido ou coligao que tivesse, no mnimo, 11 mandatos. Finalmente, depois de tantas dificuldades, e no que em certos crculos foi visto como presso da Comunidade Interna-cional, em particular dos doadores conhecidos localmente por Grupo dos 19 (G-19), que financiam cerca de 50% do Oramento do Estado, a Frelimo, que detm a maioria qualifi-cada na AR e que sempre se opusera a que MDM constitusse bancada, aceitou a reviso do regimento (Raul Senda: 26 de Maro de 2010). Sem minimizar a questo da parcialidade dos rgos eleitorais, no se pode perder de vista que o facto de ser um partido acabado de formar e com poucos recursos financeiros e humanos pesou muito na derrota do MDM. Em certa medida, as irregularidades detectadas pelos rgos eleitorais e que ditaram a sua excluso em alguns crculos eleitorais encontram explicao nas razes acima citadas.

    Entretanto, sob pretexto de querer dar mais vitalidade ao partido em Fevereiro de 2010, Daviz Simango dissolveu a Comisso Poltica (CP) do MDM, uma deciso vista em alguns crculos como uma reedio das atitudes anti-democrticas que caracterizam Afonso Dhlakama na Renamo (Dana, 10 de Fevereiro de 2010). Se os estatutos do partido de entre as diferentes competncias do presidente no prevem que este dissolva a CP, indicando apenas que o presidente, no que CP diz respeito, prope ao Congresso a nomeao dos seus membros e preside s suas reunies (MDM 2009b),23 pode-se dizer que houve, juri-dicamente falando, abuso de poder da parte de Daviz Simango. Imprimir nova dinmica significava, na verdade, afastar certos elementos que j no traziam nenhuma mais-valia

    23 Artigo 27, alneas a) e e) dos estatutos do MDM.

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    ao partido, perseguindo agendas pessoais e trazendo conflitos no seio do MDM.24 Na verdade, as relaes entre as duas partes no eram boas, podendo ter contribudo para o azedar das relaes, de entre outros factores, o facto de alguns elementos que constituam a antiga CP no terem apoiado a pretenso do Daviz Simango em nomear Maria Moreno para o cargo de Secretrio-Geral do MDM, aquando do Conselho Nacional deste partido em Junho na cidade de Nampula. Mais concretamente, pode-se dizer que o objectivo era afastar Ivete Fernandes,25 o que pode ser comprovado pelo facto de ter sido a nica pes-soa, de entre os membros da antiga CP, a no ter sido indicada para uma outra funo no seio do Partido. Um olhar sobre algumas discusses entre os seguidores do MDM no site deste Partido, na altura da reunio do CN de Nampula, mostra que Ivete Fernandes era vista como um elemento perturbador no seio do MDM, um elemento que j tinha entrado em rota de coliso no s com o prprio Daviz Simango, mas tambm com o irmo deste, Lutero.26 O fosso entre as duas partes estava, portanto, aberto muito antes das eleies, mas, por se tratar de um ano eleitoral, a deciso de afastar Ivete Fernandes foi deixada para mais tarde.

    Mais do que uma diferena de feitios ou de carcter, pode-se dizer que havia concepes diferentes sobre o que devia ser o MDM, ou sobre como o partido devia ser dirigido. Ive-te Fernandes estava contra certas prticas que, aos olhos dela, eram inadmissveis para um partido que pretendia trazer uma nova maneira de ser na cena poltica moambicana, como, por exemplo, o facto de Daviz Simango ter viajado para a Europa na companhia de indivduos que, embora aspirantes a membros do MDM, ainda eram deputados da Rena-mo-UE. Para Ivete Fernandes, tambm era inadmissvel que um aspirante a membro do MDM, ainda deputado da Renamo-UE, empossasse a Liga da Juventude do MDM ou inau-gurasse a sua Sede, como foi o caso.27 Com efeito, o empossamento da Liga da Juventude do MDM (Maio 2009) e a inaugurao da sede deste partido (Julho 2009) foram feitos por Lutero Simango ainda enquanto deputado pela bancada da Renamo-UE.28 Isto pode ser explicado pelo facto de alguns elementos que constituem o ncleo fundador do MDM, na altura da formao deste movimento, serem ainda deputados pela Renamo-UE e, por uma questo de interesses materiais, no terem renunciado aos seus mandatos na AR. Apesar de oficialmente ainda no serem membros do MDM, porque deputados da Renamo-UE, e contornando os rgos do partido, era este grupo que, na verdade, mandava no seio do MDM. Os diferentes rgos, como a CP, por exemplo, s existiam no papel, o que gerou em alguns membros um certo desconforto.

    semelhana do que acontece na Frelimo, e com maior incidncia na Renamo, onde os processos de escolha dos candidatos a deputados ou s eleies locais so quase sempre caracterizados por crises, intrigas e interferncias constantes das lideranas dos partidos, o

    24 Entrevista, C. J; Maputo, 20 de Maro de 2010; M. I., Maputo, 23 de Maro de 2010.25 Viva de Evo Fernandes, antigo secretrio-geral da Renamo.26 Para ter uma ideia daquilo que foram as discusses em torno de Ivete Fernandes, ver, http:// mdmwiki.wetpaint.com/

    thread/3048484/dirigente+MDM. 27 Entrevista com F. E., Maputo, 14 de Abril de 2010. 28 Sobre a Liga da Juventude do MDM e a sede deste Partido, ver O Pas (17 de Maio de 2009) e O Pas (7 de Julho de

    2009).

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    MDM tambm conheceu momentos de tenso na altura da constituio das listas de can-didatos a deputados: todos queriam ser deputados, o que se explica num contexto em que, mais do que uma questo ideolgica e de convico, a poltica vista por muitos apenas como um dos meios mais seguros para a obteno de vantagens materiais e de prestgio social. Isto tambm foi um dos elementos da crise entre os elementos da cpula do MDM e Ivete Fernandes.29

    Portanto, pode-se concluir que Daviz Simango precisava de constituir uma nova CP, que lhe fosse mais dcil e mais obediente.

    Igualmente sob o pretexto de querer penetrar no meio rural da Zambzia e Nampula, cap-tando o eleitorado macua e muulmano destas duas regies por sinal das mais islami-zadas do pas , o MDM indicou para a nova CP criada em Maro de 2010 em Quelimane, dentre outros, o antigo deputado da Renamo, Lus Boavida, tido como pessoa influente no seio dos macuas e dos muulmanos destas regies.30 Se esta estratgia pode eventualmen-te galvanizar o dito segmento eleitoral, tambm pode ter efeitos perversos em certa franja do eleitorado urbano, pois Lus Boavida notabilizou-se negativamente na Assembleia da Repblica por ter protagonizado inmeros desacatos, manchando a imagem de uma Re-namo cuja propaganda da Frelimo sempre considerou belicista.31

    Concluso

    Apesar de ter denunciado a forma como decorreu o escrutnio de Outubro de 2009, o MDM tem adoptado uma postura poltica diferente relativamente Renamo: por exemplo, para alm de reconhecer Armando Guebuza como vencedor das ltimas eleies, participou na sua investidura como presidente da Repblica, assim como na investidura dos deputados da Assembleia da Repblica. Contudo, em termos de discurso, de programa poltico ou de prticas polticas, o MDM no mostrou ser alternativa, pois no distinto dos partidos pol-ticos existentes, sobretudo da Frelimo e da Renamo. Daviz Simango foi incapaz de formular um programa diferente dos outros, com propostas fortes que impusessem a politizao do debate no pas e no s a sua personificao. Ao menos em teoria, Daviz Simango foi incapaz de marcar a diferena. Isto no de estranhar num contexto em que, conforme Van de Walle (2003), uma das caractersticas principais da maioria dos partidos polticos que emergiram em frica com a chamada 3 vaga das democratizaes a homogeneidade programtica e a quase ausncia de contedo ideolgico.

    Na prtica, se, por um lado, no conseguiu evitar que a Frelimo alcanasse a maioria quali-ficada (ou seja, mais de 2/3 dos votos) sobretudo por causa da sua excluso em muitos

    29 Entrevista com F. E., Maputo, 14 de Abril.30 Entrevista M. I., 23 de Maro de 2010.31 Sobre Lus Boavida, ver Agncia de Informao de Moambique (AIM) (7 de Dezembro de 2000; 5 de Maro de 2001).

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    Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    crculos eleitorais e da sua fraca insero social e poltica , por outro, o MDM conseguiu morder um dos coraes polticos da Frelimo, Maputo, ao obter, neste crculo eleitoral, votos correspondentes a trs mandatos, feito jamais obtido por nenhum partido da opo-sio. A Renamo nunca tinha ido para alm de dois mandatos em Maputo. Se isto for bem capitalizado, o MDM pode colocar-se em Maputo como uma das formaes polticas a ter em conta nas eleies locais de 2013. E, ento, apresentar-se- ao MDM uma oportunidade de mostrar que, se no na teoria, diferente dos demais partidos na prtica poltica.

    Apesar de todos os constrangimentos, o MDM tem algumas condies para sobreviver e consolidar-se como partido, designadamente na presidncia do municpio da Beira e em alguns mandatos na Assembleia da Repblica, o que, para alm de alguns recursos finan-ceiros, lhe oferece tambm certa visibilidade. Mas tal depender, por um lado, da maneira como ir gerir o municpio e seus mandatos na Assembleia, e, por outro lado, depender tambm da maneira como ir gerir os seus quadros locais, que deveriam pelo menos ter tido acesso s assembleias provinciais, caso este partido no tivesse sido excludo. Resisti-ro estes ao aliciamento poltico da Frelimo? Resistiro estes aos sete milhes?32 Resisti-ro estes luta pelo poder?33 No se deve esquecer que estamos num contexto em que a poltica mais uma forma de se servir do que servir, ou seja, em que a poltica , para mui-tos, um instrumento para a obteno de benefcios materiais. O MDM no se desenvolver enquanto no conseguir agarrar a base social rural da Renamo: j ficou demonstrado que o MDM pode captar uma pequena parte do eleitorado frelimista (classes mdias e urba-nas), mas isto nunca ser suficiente. Para vencer a Frelimo, ou impor-se politicamente, ser preciso que o MDM se transforme numa mquina poltica bem organizada, estruturada e disciplinada e com militantes bem formados que, no podendo ser pagos, consigam ser dedicados e que sejam capazes de resistir aos sete milhes ou a outro tipo de benesses oferecidas por outros partidos.

    Referncias

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    Agncia de Informao de Moambique, 2001. Renamo obstructs parliament, Maputo, 5 de Maro.

    32 Aps a sua ascenso ao poder, Armando Guebuza, tendo designado o combate pobreza seu principal objectivo, elegeu o distrito como plo de desenvolvimento, passando a alocar a cada um dos distritos sete milhes de meticais a serem geridos localmente em projectos ligados a mitigao da pobreza. Envoltos em polmica, estes sete milhes so vistos por alguns no s como uma tentativa de redistribuir benefcios pelos membros da Frelimo ao nvel da periferia, mas tambm para aliciar militantes da oposio.

    33 Fala-se de lutas e intrigas no seio dos militantes do MDM em Quelimane, provncia da Zambzia, um dos importantes crculos eleitorais do pas. Esta crise do MDM em Quelimane estaria supostamente a ser fomentada por elementos infiltrados da Frelimo. Sobre esta situao, ver Marcos (2010).

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    O Pas, 2009. MDM chumba em nove crculos eleitorais, Maputo, 8 de Setembro, http://www.opais.co.mz/index.php?option=com_content&view=article&id=2607:mdm-chumba-em-nove-circulos-eleitorais&catid=63:politica&Itemid=273 (consultado a 17 de Maio de 2010).

    O Pas, 2009. MDM decide se apoia governao da Frelimo, Maputo, 10 de Fevereiro, http://www.opais.co.mz/index.php?view=article&catid=63%3Apolitica&id=4503%3Amdm-decide-se-apoia-governacao-da-frelimo&option=com_content&Itemid=273 (consultado a 17 de Maio de 2010).

    O Pas, 2009. MDM quer aberturas reais, Maputo, 8 de Fevereiro, http://www.opais.co.mz/index.php?option=com_content&view=article&id=4434:mdm-quer-aberturas-reais&catid=63:politica&Itemid=273 (consultado a 17 de Maio de 2010).

    Oliveira, A., 2010. semelhana de outros partidos polticos no armados. MDM tem per-nas curtas para andar, Zambeze, Maputo, 18 de Maro.

    Pide/Delegao de Moambique, Assunto: Uria Simango, Informao n 1299-CI (2), Lou-reno Marques, 30 de Dezembro de 1969, Arquivos Nacionais da Torre do Tombo/PIDE/DGS, Processo 2826/62, Frelimo, vol. 1.

    Renamo, 2009., Vota Renamo. Manifesto eleitoral, http://www.renamo.org.mz/ Documen-tos/ManifestoEleitoral2009.pdf (consultado a 15 de Maio 2010).

    Savana, 2009. Dhlakama est numa situao difcil, Maputo, 5 de Maio, http://www.sa-vana.co.mz/editorial/desporto/907-dhlakama-esta-numa-situacao-dificil?showall=1 (consultado a 17 de Maio de 2010).

    Secretariado Tcnico de Administrao Estatal (STAE)., 2002. Eleies legislativas e presiden-ciais 1999, Maputo, Pandora Box.

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    Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

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    Van de Walle, N., 2003. Presidentialism and clientelism in Africas emerging party systems, Journal of Modern African Studies, Vol. 41, No. 2, pp. 297 321.

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    Outras Publicaes do IESE

    Livros

    Economia extractiva e desafios de industrializao em Moambique comunicaes apresentadas na II Conferncia do Instituto de Estudos Sociais e Econmicos (2010)Lus de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Srgio Chichava e Antnio Francisco (organizadores)IESE: Maputo

    Proteco social: abordagens, desafios e experincias para Moambique comunica-es apresentadas na II Conferncia do Instituto de Estudos Sociais e Econmicos (2010)Lus de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Srgio Chichava e Antnio Francisco (organizadores)IESE: Maputo

    Pobreza, desigualdade e vulnerabilidade em Moambique comunicaes apresenta-das na II Conferncia do Instituto de Estudos Sociais e Econmicos (2010)Lus de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Srgio Chichava e Antnio Francisco (organizadores)IESE: Maputo.

    Desafios para Moambique 2010 (2009)Lus de Brito, Carlos Nuno Castel-Branco, Srgio Chichava e Antnio Francisco (organizadores)IESE: Maputo

    Cidadania e governao em Moambique comunicaes apresentadas na Conferncia Inaugural do Instituto de Estudos Sociais e Econmicos. (2009)Lus de Brito, Carlos Castel-Branco, Srgio Chichava e Antnio Francisco (organizadores)IESE: Maputo

    Reflecting on economic questions papers presented at the inaugural conference of the Institute for Social and Economic Studies. (2009)Lus de Brito, Carlos Castel-Branco, Srgio Chichava and Antnio Francisco (editors)IESE: Maputo

    Southern Africa and Challenges for Mozambique papers presented at the inaugural conference of the Institute for Social and Economic Studies. (2009)Lus de Brito, Carlos Castel-Branco, Srgio Chichava and Antnio Francisco (editors)IESE: Maputo

    Cadernos IESE(Artigos produzidos por investigadores permanentes e associados do IESE. Esta coleco substitui as sries Working Papers e Discussion Papers, que foram descontinuadas).

    N 1: Economia Extractiva e desafios de industrializao em Moambique (2010)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/cad_iese/CadernosIESE_01_CNCB.pdf

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    Working Papers(Artigos em processo de edio para publicao. Coleco descontinuada e substituda pela srie Cadernos IESE)

    WP n 1: Aid Dependency and Development: a Question of Ownership? A Critical View. (2008)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/AidDevelopmentOwnership.pdf

    Discussion Papers(Artigos em processo de desenvolvimento/debate. Coleco descontinuada e substituda pela srie Cadernos IESE)

    DP n 6: Recursos naturais, meio ambiente e crescimento econmico sustentvel em Mo-ambique. (2009)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/DP_2009/DP_06.pdf

    DP n 5: Mozambique and China: from politics to business. (2008)Srgio Incio Chichavahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_05_MozambiqueChinaDPaper.pdf

    DP n 4: Uma Nota Sobre Voto, Absteno e Fraude em Moambique (2008) Lus de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_04_Uma_Nota_Sobre_o_Voto_Abstencao_e_Fraude_em_Mocambique.pdf

    DP n 3: Desafios do Desenvolvimento Rural em Moambique. (2008)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_03_2008_Desafios_DesenvRural_Mocambique.pdf

    DP n 2: Notas de Reflexo Sobre a Revoluo Verde, contributo para um debate. (2008)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/Discussion_Paper2_Revolucao_Verde.pdf

    DP n 1: Por uma leitura scio-historica da etnicidade em Moambique (2008)Srgio Incio Chichavahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/dp_2008/DP_01_ArtigoEtnicidade.pdf

    IDeIAS(Boletim que divulga resumos e concluses de trabalhos de investigao)

    N 30: A dvida pblica interna imobiliria em Moambique: alternativa ao financiamento do dfice oramental? (2010)Fernanda Massarongohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_30.pdf

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    N 29: Reflexes sobre a relao entre infra-estruturas e desenvolvimento (2010)Carlos Uilson Muiangahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_29.pdf

    N 28: Crescimento demogrfico em Moambique: passado, presenteque futuro? (2010)Antnio Franciscohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/ideias_28.pdf

    N 27: Sociedade civil e monitoria do oramento pblico (2009)Paolo de Renziohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_27.pdf

    N26: A Relatividade da Pobreza Absoluta e Segurana Social em Moambique (2009)Antnio Franciscohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_26.pdf

    N 25: Quo Fivel a Anlise de Sustentabilidade da Dvida Externa de Moambique? Uma Anlise Crtica dos Indicadores de Sustentabilidade da Dvida Externa de Moambique (2009)Rogrio Ossemanehttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_25.pdf

    N 24: Sociedade Civil em Moambique e no Mundo (2009)Antnio Franciscohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_24.pdf

    N 23: Acumulao de Reservas Cambiais e Possveis Custos derivados - Cenrio em Mo-ambique (2009)Sofia Amarcyhttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_23.pdf

    N 22: Uma Anlise Preliminar das Eleies de 2009 (2009)Luis de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_22.pdf

    N 21: Pequenos Provedores de Servios e Remoo de Resduos Slidos em Maputo (2009)Jeremy Gresthttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_21.pdf

    N 20: Sobre a Transparncia Eleitoral (2009)Luis de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_20.pdf

    N 19: O inimigo o modelo! Breve leitura do discurso poltico da Renamo (2009)Srgio Chichavahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_19.pdf

    N 18: Reflexes sobre Parcerias Pblico-Privadas no Financiamento de Governos Locais (2009)Eduardo Jossias Nguenhahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_18.pdf

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    Caderno IESE 02|2010

    N 17: Estratgias individuais de sobrevivncia de mendigos na cidade de Maputo: Enge-nhosidade ou perpetuao da pobreza? (2009)Emlio Davahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_17.pdf

    N 16: A Primeira Reforma Fiscal Autrquica em Moambique (2009)Eduardo Jossias Nguenhahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_16.pdf

    N 15: Proteco Social no Contexto da Bazarconomia de Moambique (2009)Antnio Franciscohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_15.pdf

    N 14: A Terra, o Desenvolvimento Comunitrio e os Projectos de Explorao Mineira (2009) Virgilio Cambaza http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_14.pdf

    N 13: Moambique: de uma economia de servios a uma economia de renda (2009)Lus de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_13.pdf

    N 12: Armando Guebuza e a pobreza em Moambique (2009)Srgio Incio Chichavahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_12.pdf

    N 11: Recursos Naturais, Meio Ambiente e Crescimento Sustentvel (2009)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_11.pdf

    N 10: Indstrias de Recursos Naturais e Desenvolvimento: Alguns Comentrios (2009)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_10.pdf

    N 9: Informao Estatstica na Investigao: Contribuio da investigao e organizaes de investigao para a produo estatstica (2009)Rosimina Ali, Rogrio Ossemane e Nelsa Massinguehttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_9.pdf

    N 8: Sobre os Votos Nulos (2009)Lus de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_8.pdf

    N 7: Informao Estatstica na Investigao: Qualidade e Metodologia (2008)Nelsa Massingue, Rosimina Ali e Rogrio Ossemane http://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_7.pdf

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    Srgio Chichava | Movimento Democrtico de Moambique

    N 6: Sem Surpresas: Absteno Continua Maior Fora Poltica na Reserva em Moambique At Quando? (2008)Antnio Franciscohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_6.pdf

    N 5: Beira - O fim da Renamo? (2008)Lus de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_5.pdf

    N 4: Informao Estatstica Oficial em Moambique: O Acesso Informao, (2008)Rogrio Ossemane, Nelsa Massingue e Rosimina Alihttp://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/ideias/Ideias_4.pdf

    N 3: Oramento Participativo: um instrumento da democracia participativa (2008)Srgio Incio Chichavahttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_3.pdf

    N 2: Uma Nota Sobre o Recenseamento Eleitoral (2008)Lus de Britohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_2.pdf

    N 1: Conceptualizao e Mapeamento da Pobreza (2008)Antnio Francisco e Rosimina Alihttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_1.pdf

    Relatrios de Investigao

    Moambique: Avaliao independente do desempenho dos PAP em 2009 e tendncias de desempenho no perodo 2004-2009 (2010)Carlos Nuno Castel-Branco, Rogrio Ossemane e Sofia Amarcyhttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/2010/PAP_2009_v1.pdf

    Current situation of Mozambican private sector development programs and implications for Japans economic cooperation case study of Nampula province (2010)Carlos Nuno Castel-Branco, Nelsa Massingue and Rogrio Ossemane

    Mozambique Independent Review of PAFs Performance in 2008 and Trends in PAPs Perfor-mance over the Period 2004-2008. (2009)Carlos Nuno Castel-Branco, Rogrio Ossemane, Nelsa Massingue and Rosimina Ali.http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/PAPs_2008_eng.pdf(tambm disponvel em verso em lngua Portuguesa no link http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/PAPs_2008_port.pdf ).

    Mozambique Programme Aid Partners Performance Review 2007 (2008)Carlos Nuno Castel-Branco, Carlos Vicente and Nelsa Massinguehttp://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/PAPs_PAF_2007.pdf

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    Comunicaes, Apresentaes e Comentrios

    Comentrios ao relatrio Alguns desafios da indstria extractiva, de Thomas Selemane (2009)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ComentariosdeCastelBranco-RelCIP.pdf

    Algumas Consideraes Crticas sobre o Relatrio de Auto-avaliao de Moambique na rea da Democracia e Governao Poltica. (2008)Luis de Brito, Srgio Incio Chichava e Jonas Pohlmannhttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/MARP_rev_3.pdf

    Estado da Nao pontos que o Presidente da Repblica deveria abordar no seu discurso no Parlamento Moambicano. (2008)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/Pontos_para_a_entrevista_sobre_estado_da_nacao.pdf

    Os mega projectos em Moambique: que contributo para a economia nacional? (2008)Comunicao apresentada no Frum da Sociedade Civil sobre a Indstria Extractiva. Maputo.Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication//outras/Mega_Projectos_ForumITIE.pdf

    As consequncias directas das crises no panorama nacional Moambicano (2008) Comunicao apresentada na IV Conferncia Econmica do Millennium Bim Os efeitos das 3 crises - financeira, produtos alimentares e petrleo - sobre as economias de frica e de Moambique em particular. 4 de Dezembro. Maputo.Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/noticias/2009/Texto_BIM_2008.pdf

    Alternativas Africanas ao Desenvolvimento e ao impacto da Globalizao Notas Crticas Soltas (2007)Comunicao apresentada na mesa redonda Alternativas Africanas ao Desenvolvimento e ao Impacto da Globalizao, 1 Encontro Acadmico Espanha-Moambique Estudos Afri-canos: Perspectivas Actuais, 14-15 de Novembro de 2007, organizado pelo Centro de Estu-dos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Tambm publicada sob o ttulo Os interesses do Capital em frica na revista Sem Terra, n 49 (Maro/Abril de 2009), So Paulo.Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/Alternativas%20africanas_CEA_UEM.pdf

    Banco Mundial e a Agricultura, Uma discusso crtica do Relatrio do Desenvolvimento Mundial 2008 Comentrio crtico apresentado no lanamento do RDM 2008 em Moam-bique. (2007)Carlos Nuno Castel-Brancohttp://www.iese.ac.mz/lib/publication/Banco%20Mundial%20lanca%20relatorio%20sobre%20Agricultura.pdf