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Versão final www.tomaraeducacaoecultura.com.br 1 Cenpec e Fundação Itaú Social CAMINHOS PARA O ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO A experiência do Cenpec e da Fundação Itaú Social com o Programa de Educação Integral do município de Vitória/ES VERSÃO FINAL

CAMINHOS PARA O ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO A …m.vitoria.es.gov.br/.../diario/20170804_acompanhamento_pedagogico.pdf · Maria Amabile Mansutti Área responsável – Equipe de Educação

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Cenpec e Fundação Itaú Social

CAMINHOS PARA O ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO

A experiência do Cenpec e da Fundação Itaú Social com o Programa de

Educação Integral do município de Vitória/ES

VERSÃO FINAL

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São Paulo, 13 de março de 2017

Ao Cenpec e à Fundação Itaú Social

A/C Letícia Araújo e Paulo Corniani

Ref.: Sistematização sobre o acompanhamento pedagógico do Programa de

Educação Integral – Vitória ES.

Prezados,

Encaminhamos a versão final da sistematização sobre o acompanhamento

pedagógico do Programa de Educação Integral – Vitória/ES.

Atenciosamente,

Camila Iwasaki e Ana Luiza Mendes Borges

Tomara! Educação e Cultura

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EXPEDIENTE

Assessoria em Educação Integral

Iniciativa

Fundação Itaú Social

Vice-presidente

Fábio Barbosa

Superintendente

Angela Cristina Dannemann

Gerente

Patricia Mota Guedes

Equipe

Paulo Henrique Corniani

Coordenação técnica

Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação

Comunitária

Presidente do Conselho de Administração

Maria Alice Setubal

Superintendente

Anna Helena Altenfelder

Coordenadora técnica

Maria Amabile Mansutti

Área responsável – Equipe de Educação Integral

Alexandre Isaac

Letícia Araújo Moreira da Silva

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CAMINHOS PARA O ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO

A experiência do Cenpec e da Fundação Itaú Social com o Programa de

Educação Integral do município de Vitória/ES

Equipe Fundação Itaú Social

Patricia Mota Guedes

Paulo Henrique Corniani

Equipe Cenpec

Alexandre Isaac

Letícia Araújo Moreira da Silva

Pesquisa e Redação

Tomara! Educação e Cultura

Camila Iwasaki, Ana Luiza Mendes Borges, Clara Azevedo e Julia Young

Greta Martins de Souza e Luiz Henrique Gurgel

Sistematização desenvolvida entre setembro de 2016 e fevereiro de 2017.

Agradecemos a todos os interlocutores que ajudaram no processo de

levantamento de informações para compor esta publicação:

Cacilda Ferreira da Cunha

Débora de Almeida Torres de Brito

Elizabete Gomes de Souza

Fábio Mota

Fátima Rodrigues Burzlaff

Janine Mattar Pereira de Castro

Meyri Venci Chieffi

Myriam Fernandes Pestana Oliveira

Nadia Peres de O. Pereira

Raquel Reis Nurse

Viviane Rosa Gomes dos Santos

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SUMÁRIO Apresentação – p. 6

Introdução – p. 9

Capítulo 1 – Como tudo começou. O contexto da política de Educação Integral de

Vitória e um breve panorama da parceria entre Cenpec, FIS e SEME – p. 12

1.1 O contexto da política de Educação Integral de Vitória – p. 12

1.2 Um breve panorama histórico da parceria entre Cenpec, FIS e SEME – p. 15

1.3 Em 2015, abre-se nova frente de atuação: o acompanhamento pedagógico das

escolas participantes do Programa – p. 18

1.4 Em 2016, um novo desafio: o ganho de escala do acompanhamento pedagógico –

p. 23

1.5 Ações do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada nas escolas – p.

24

Capítulo 2 – Acompanhamento pedagógico. Premissas, fundamentos metodológicos

e operacionalização – p. 30

2.1 O que é o acompanhamento pedagógico e quais são os seus objetivos – p.30

2.2 Premissas que subsidiam o trabalho de acompanhamento pedagógico – p.33

2.3 Fundamentos metodológicos – p. 37

2.4 Ciclo operacional do acompanhamento pedagógico: escolhas, metodologia e

infraestrutura utilizada – p. 40

2.5 Passo a passo das reuniões e encontros – p. 44

2.6 Os efeitos do acompanhamento pedagógico nas escolas – p. 52

Capítulo 3 - Condicionalidades, potencialidades e desafios para o trabalho de

acompanhamento pedagógico – p. 54

3.1 Condicionalidades – p. 54

3.2 Potencialidades – p. 58

3.3 Desafios – p. 63

Capítulo 4 – Aprendizados, perspectivas e recomendações – p. 77

4.1 Aprendizados – p. 77

4.2 Perspectivas – p. 80

4.3 Algumas recomendações para o aprimoramento do acompanhamento pedagógico

em ações futuras – p. 82

4.4 Encerrando um ciclo de trabalho – p. 86

Referências – p. 87

Anexos – p. 89

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APRESENTAÇÃO

O desafio da qualidade da educação no Brasil ainda é um tema pertinente e

relevante mediante os diferentes problemas que impactam a garantia do

direito de aprendizagem de crianças e jovens. Frente a esse cenário, que

inclui, entre outros elementos, movimentos de revisão dos currículos,

reorganização dos níveis de ensino e discussões sobre os desafios das

condições físicas e financeiras dos sistemas educacionais, o conceito de

Educação Integral vem pautando um intenso debate no País, tendo em vista

seu importante papel para a promoção da equidade e da qualidade do

atendimento aos estudantes.

A fim de contribuir com esse esforço, o Centro de Estudos e Pesquisas em

Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e a Fundação Itaú Social

(FIS) vêm, há algum tempo, desenvolvendo parcerias com redes municipais

e estaduais de educação1, voltadas para o apoio, desenvolvimento e

fortalecimento de ações no campo da Educação Integral.

Cumprindo sua missão de desenvolver, disseminar e implementar tecnologias

sociais para a melhoria da educação pública brasileira, a Fundação Itaú Social

busca atuar em diferentes Estados brasileiros, em parceria com as três esferas

de governo, o setor privado e as organizações da sociedade civil. As

propostas desenvolvidas e apoiadas têm como foco a Educação Integral e a

gestão educacional e, para alcançar resultados transformadores, a Fundação

Itaú Social também valoriza e investe na mobilização social e na avaliação de

projetos sociais e políticas públicas.

Já o Cenpec tem como missão contribuir para políticas públicas de educação

que promovam a equidade e a redução de desigualdades sociais no Brasil.

Seu objetivo é desenvolver projetos, pesquisas e metodologias voltadas à

melhoria da qualidade da educação pública e sua atuação acontece em

parceria com a escola pública, espaços educativos de caráter público e

iniciativas destinadas ao enfrentamento das desigualdades. O Cenpec é

reconhecido como um indutor das políticas públicas de Educação Integral,

articulando atores, espaços e saberes em prol do desenvolvimento integral

da criança e do adolescente.

1 Hoje, a assessoria em Educação Integral acontece nos municípios de Vitória (ES), Petrópolis (RJ), Itabira (MG), Sobral (CE) e Porto Alegre (RS).

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Pautando-se nesses objetivos, desde 2014, a Fundação Itaú Social e o Cenpec

estabeleceram uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de

Vitória (SEME), no Espírito Santo, iniciando um amplo processo no município

em busca do aprimoramento de sua política de Educação Integral.

O trabalho desenvolvido em Vitória (ES), assim como em outros municípios,

tem a premissa de que, para educar integralmente, é necessário estabelecer

conexões, articulando os interesses dos estudantes com o conhecimento a

ser aprendido, mas também esse conhecimento com a esfera da vida, da

escola com a comunidade e da comunidade com o mundo. Nesse sentido, o

conceito de Educação Integral que orienta o trabalho do Cenpec e da FIS tem

como ponto de partida a concepção do ser humano visto e analisado em sua

integralidade, considerando o sujeito como elemento central das indagações

e preocupações acerca da educação.

Com a Educação Integral, nessa perspectiva, busca-se impactar a melhoria

das aprendizagens por meio (i) de novas experiências curriculares, (ii) da

integração entre os conhecimentos historicamente construídos e os

diferentes saberes locais e (iii) da promoção de uma educação que contribua

com a formação de uma sociedade de sujeitos conscientes, autônomos,

solidários, cooperativos e alertas sobre seus direitos e deveres.

Em suma, a Educação Integral não visa apenas à ampliação do tempo do

aluno na escola, mas busca reorganizar este tempo levando em consideração

as necessidades das crianças, adolescentes e jovens e, junto a isso, rever

questões relativas aos espaços e conteúdos presentes no cotidiano escolar.

Ou seja, somos convidados a repensar o planejamento das atividades

pedagógicas (desde o agrupamento dos estudantes, passando pela inclusão

de novas linguagens, como arte, esporte, etc., e de novas práticas de

avaliação da aprendizagem), alargando também a função da escola e do

currículo.

O acúmulo de conhecimento e a experiência das duas organizações revelam

o quão desafiador ainda é colocar tais conceitos em prática. Diante do desafio

de implementar projetos de Educação Integral em escolas públicas,

considera-se a assessoria desenvolvida pelo Cenpec e a FIS junto à SEME de

Vitória uma iniciativa bem-sucedida na busca por fortalecer a política de

Educação Integral por meio do acompanhamento pedagógico dos diferentes

atores envolvidos em sua consecução.

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Isso posto, organizou-se a presente sistematização, com o objetivo de

compartilhar essa experiência, suas estratégias e ações, para que gestores,

educadores e políticos interessados em melhorar a qualidade de nossas

escolas públicas possam se inspirar e adensar as iniciativas no campo da

Educação Integral.

Ao contar essa história, o Cenpec e a Fundação Itaú Social pretendem

também reconhecer os desafios, limites e especificidades envolvidos na

condução de iniciativas como essa, ao mesmo tempo que reiteram seu

compromisso de produção e disseminação do conhecimento. Dessa forma,

espera-se contribuir com reflexões que possam favorecer a garantia do

direito à educação de qualidade de todas as crianças e jovens brasileiros.

Boa leitura!

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

(Cenpec) e Fundação Itaú Social (FIS)

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INTRODUÇÃO

Esta sistematização é fruto do esforço em registrar e documentar o processo

de acompanhamento pedagógico realizado no âmbito da assessoria

oferecida pelo Cenpec e pela FIS ao Programa de Educação Integral com

Jornada Ampliada da Secretaria Municipal de Educação de Vitória (SEME),

no Espírito Santo.

Em 2014, uma parceria entre essas três organizações foi estabelecida com o

objetivo principal de fortalecer e aprimorar a política de Educação Integral

que estava em vigência no município. De lá para cá, um sólido caminho com

diversas atividades foi estruturado no âmbito da assessoria, contando com

contribuições para a formulação de Diretrizes da Educação Integral e para o

aprimoramento da gestão pedagógica e dos processos formativos dos

diferentes profissionais envolvidos na Educação Integral municipal. Mais

recentemente, as ações voltaram-se para a estruturação e o fortalecimento

do processo de acompanhamento pedagógico das escolas do Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada de Vitória.

Entende-se que, entre os diferentes suportes desenvolvidos pela assessoria

do Cenpec e da FIS à SEME, o acompanhamento pedagógico possui uma

importância fundamental não só porque envolve os diferentes profissionais

(equipes técnicas da Secretaria, diretores de escola, pedagogos,

coordenadores do Programa, integradores sociais e professores) na

consecução prática da política de Educação Integral, mas também porque

contribui para a consolidação das ações no interior das unidades escolares,

beneficiando os seus maiores interessados, os estudantes, por meio de um

trabalho focalizado na atuação dos coordenadores e integradores sociais do

Programa e gestores das escolas.

O acompanhamento pedagógico, portanto, é o foco central do presente

texto. A proposta aqui é compartilhar com profissionais da área, organizações

interessadas, educadores e sociedade em geral os conhecimentos

produzidos e sistematizados no âmbito dessa recente e intensa experiência.

Mais de 40 registros de reuniões e encontros, materiais e documentos

relacionados ao trabalho da assessoria do Cenpec e da FIS compõem um

banco de referências que passou por uma minuciosa análise, a fim de

organizar e reunir, de forma sintética, o conhecimento gerado, as experiências

e as estratégias do trabalho de acompanhamento pedagógico. Também

foram coletados depoimentos tanto de membros do Cenpec e da FIS como

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de representantes de diferentes instâncias da SEME de Vitória. Entre

setembro e dezembro de 2016, diferentes reuniões da assessoria em Vitória

e o trabalho de visitas técnicas às escolas foram acompanhados pela equipe

da Tomara! Educação e Cultura, ocasiões em que foram realizados registros

de campo, observações e conversas informais. Além disso, aconteceram

encontros entre a Tomara! e as equipes que coordenam a assessoria por parte

do Cenpec e da FIS, a fim de esclarecer dúvidas, discutir os caminhos

escolhidos e refinar o entendimento sobre o trabalho de acompanhamento

pedagógico. Dessa forma, a análise documental criteriosa, a checagem e

cruzamento das diferentes fontes de informações fizeram parte da estratégia

metodológica escolhida para realizar esta sistematização.

Assim, nas páginas seguintes, será apresentado o trajeto percorrido,

remontando, em linhas gerais, o contexto da política educacional local e o

histórico da parceria. Buscou-se também conceder um retrato sobre a forma

como o acompanhamento pedagógico está estruturado hoje, quais são seus

fundamentos metodológicos e operacionais, suas premissas e os métodos

utilizados, além dos resultados percebidos até o presente momento.

Ademais, esta sistematização contém uma análise reflexiva sobre as

condicionalidades do trabalho de acompanhamento pedagógico, no sentido

de problematizar as potencialidades e os desafios relacionados ao

desenvolvimento da iniciativa. Por fim, apresenta os aprendizados, discute as

perspectivas futuras, evidencia lacunas e aponta recomendações para as

equipes envolvidas.

Desse modo, o documento está organizado nas seguintes partes: o capítulo 1

apresenta um contexto da política de Educação Integral de Vitória e um breve

panorama histórico da parceria; o capítulo 2 destaca o componente principal

da assessoria, o acompanhamento pedagógico, evidenciando suas premissas,

fundamentos metodológicos e estratégias de operacionalização; o capítulo 3

apresenta uma análise reflexiva sobre as condicionalidades, potencialidades

e desafios do trabalho de acompanhamento pedagógico; e o capítulo 4 traz

aprendizados e algumas indicações para o futuro, com perspectivas e

recomendações; seguido, por fim, das referências e dos anexos.

Com esta sistematização, espera-se não só registrar e contribuir para a

produção de conhecimento sobre a iniciativa desenvolvida pela parceria

entre Cenpec, FIS e SEME de Vitória, mas também documentar um modo de

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conduzir o acompanhamento pedagógico no âmbito de programas e

políticas de Educação Integral, para, eventualmente, inspirar organizações e

profissionais preocupados com a melhoria da qualidade da educação pública

em prol da formação integral de crianças, adolescentes e jovens.

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CAPÍTULO 1 - COMO TUDO COMEÇOU

O contexto da política de Educação Integral de Vitória e um breve panorama

da parceria entre Cenpec, FIS E SEME

1.1 O contexto da política de Educação Integral de Vitória

Remontar o contexto da política de Educação Integral no município de

Vitória, antes mesmo da chegada da assessoria da Fundação Itaú Social e do

Cenpec, se faz necessário, tendo em vista que, nesse município, há uma

trajetória específica e importante no âmbito de iniciativas associadas aos

processos de Educação Integral.

As primeiras experiências de atendimento em tempo integral em Vitória

remontam ao início da década de 1980, com as chamadas “creches-casulo”,

que recebiam crianças de zero a seis anos. Esse serviço estava a cargo da

Secretaria de Saúde e objetivava garantir a segurança, a higienização, o

entretenimento e os cuidados com a saúde, sem maior ênfase aos aspectos

pedagógicos. Em 1983, ocorreu

uma mudança e as então 21

“creches-casulo” passaram a

fazer parte da Secretaria

Municipal de Educação,

vinculadas ao Departamento de

Pré-Escola. Ainda nesse

momento, não se estabeleceu

propriamente uma política de

ação educacional em tempo

integral e as famílias puderam

optar por manter os filhos em

jornada parcial ou integral. Esse

formato não sofreu grandes

alterações até 1995, quando o

atendimento se intensificou

prioritariamente para a jornada

parcial, por conta da crescente

demanda por vagas na

Educação Infantil.

Foi só em 2005 que teve início o

Programa Educação em Tempo

Enquanto isso, no cenário nacional... O debate em torno da Educação Integral no Brasil tem como ponto forte de referência

histórica os ideais de educação democrática propostos por Anísio Teixeira na primeira metade

do século XX. A partir dos anos 1990, o tema ganha outra dimensão e caráter, refletidos na LDB. (...) A lei que rege a educação brasileira

aponta como horizonte da política educacional o aumento progressivo da jornada escolar, a

valorização de ações educacionais para além do currículo escolar padronizado e a necessária

articulação entre escola e sociedade. A posição assumida pela LDB vigente em relação à oferta

de Educação Integral é fruto de todo um reordenamento institucional concomitante ao

processo de redemocratização do país, marcado pela Constituição Federal de 1988 que (...) estabelece uma ampla rede de proteção a crianças e adolescentes, regulamentada no

âmbito do ECA, na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e na própria LDB. (...) É nesse

sentido que, ao destacar a proteção integral para crianças e adolescentes, o ECA afirma em seu Art. 227 ser dever “... da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,

com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão.” (Trechos retirados de Tendências para a Educação Integral. São Paulo: Fundação Itaú Social –

Cenpec, 2011)

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Integral, criado pela Prefeitura e voltado, a princípio, para a Educação Infantil.

O Programa previa ações conjuntas e articuladas entre as Secretarias

Municipais de Educação, Saúde e de Assistência Social para crianças de seis

meses a seis anos nos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs). O

objetivo era oferecer atendimento em tempo integral para 15% das crianças

dessa faixa etária matriculadas na rede municipal, sendo que o principal

critério de inclusão no Programa era a situação de vulnerabilidade social.

Nos dois anos seguintes, a SEME manteve as mesmas metas, porém, de início,

estabeleceu como prioridade para atendimento integral nos CEMEIs crianças

entre seis meses e três anos, com a oferta de 400 vagas (número ampliado

posteriormente, em 2007, quando quase todas as unidades ofereciam vagas

em tempo integral para crianças com idade nesse intervalo). Nesse mesmo

ano, visando aumentar o atendimento às crianças de quatro a seis anos, foram

criados os Núcleos Brincartes2, resultado de parceria entre Secretaria de

Educação e organizações não governamentais de Vitória.

Ainda em 2007, outras iniciativas visavam incorporar ao Programa Educação

em Tempo Integral estudantes do Ensino Fundamental. A primeira foi criar

um projeto-piloto de tempo integral envolvendo 600 alunos de turmas de 9º

ano (antiga 8ª série) em quatro escolas localizadas em áreas de

vulnerabilidade social do município. Conhecido por “Pró-Médio”, e a exemplo

do que ocorria com a Educação Infantil, oferecia atividades complementares

no contraturno do período regular. Estendeu-se até o fim de 2009, sendo

que, em seus dois últimos anos, já chegava a todos os nonos anos da rede,

com a adesão de mais de mil alunos – incluindo de período noturno – com o

nome de “8ª Série Integral”.

Também em 2007, visando incluir alunos de 1ª à 7ª série do Ensino

Fundamental, tiveram início ações do Programa, com ampliação da jornada,

em quatro escolas da região do bairro de São Pedro, envolvendo 320 alunos.

Essa iniciativa articulava nove Secretarias Municipais: Educação, Assistência

Social, Saúde, Cidadania e Direitos Humanos, Esporte, Cultura, Transporte,

Meio Ambiente e Segurança Urbana, além da Companhia de

Desenvolvimento de Vitória, que formavam um comitê gestor do Programa.

No ano seguinte, em 2008, o município já tinha 35 escolas de Ensino

Fundamental com atividades do Programa Educação Integral com Jornada

Ampliada, além de outras duas que participavam do Programa Mais

2 Em 2009, já eram sete desses núcleos, ofertando 1900 vagas.

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Educação, do Governo Federal, ao qual Vitória acabava de aderir.

Paralelamente às ações nas escolas, a SEME buscou estruturar-se e, ainda no

final de 2007, realizou um concurso interno para selecionar coordenadores

do tempo integral em cada uma dessas unidades.

Com exceção dos alunos da Educação Infantil de alguns CEMEIs que já

funcionavam em tempo integral, os outros estudantes da Educação Infantil e

do Ensino Fundamental saíam de ônibus de suas escolas, no contraturno do

ensino regular, e se dirigiam a diferentes espaços conveniados ou públicos

para participar de atividades extras de formação. Os de Infantil seguiam para

os Núcleos Brincartes, com atividades pedagógicas específicas para cada

idade. Os do Fundamental ficavam dois dias na escola e dois dias

frequentavam diferentes espaços de socialização da cidade, como parques,

museus, teatros, clubes e escolas da ciência, ambientes com atividades

educativas extracurriculares como esporte, lazer, música, artes cênicas, dança

e conhecimentos gerais.

Visando articular as experiências e ações nos dois níveis – Educação Infantil

e Ensino Fundamental, as equipes internas da Secretaria Municipal de

Educação compuseram, em 2009, uma equipe única de Educação Integral

para fortalecer a aproximação e articulação das ações, estabelecendo

princípios que possibilitassem unidade, organicidade e sistematicidade da

concepção e implementação do Programa.

Para subsidiar o atendimento, foi elaborado o Documento Orientador do

Programa de Educação em Tempo Integral (2009/10), que apresentava

concepções baseadas em três pilares: a perspectiva da cidade como espaço

de aprendizagem; a importância das políticas públicas articuladas entre as

Secretarias; e o desenvolvimento de atividades que contribuíssem para a

formação integral por meio das diversas e múltiplas linguagens – escrita,

matemática, oral, plástica, corporal, musical e dos diversos conhecimentos

das ciências da natureza, humanas e sociais.

Outro marco nesse processo foi a criação do Programa Municipal Educação

Ampliada, de 2013, que pretendia aumentar as oportunidades de

aprendizagem numa interação com espaços não formais de educação, além

de qualificar as atividades curriculares das próprias escolas. Essa nova etapa

previa que crianças e adolescentes pudessem ter acesso às atividades de

educação em tempo integral por meio de três modalidades de atendimento:

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a) Educação Integral com Jornada Ampliada, b) Estudantes em Atividades

Intersetoriais (oferecidas em parcerias com outras Secretarias Municipais), c)

Escolas Municipais em Tempo Integral.

Na Educação Infantil, dentre as principais mudanças naquele período, está a

reorganização dos CEMEIs, que passaram a absorver, progressivamente, a

oferta da Educação Integral para estudantes da própria unidade de ensino, e

não mais nos Núcleos Brincarte. Isso resultou que, em 2014, permaneciam

funcionando apenas três desses Núcleos, sendo dois sob administração direta

da municipalidade. Dos 49 CEMEIs existentes em 2016, 40 realizaram o

atendimento em tempo integral, sendo que quatro dessas unidades fizeram

parte de um projeto-piloto para atendimento em tempo integral – da maior

parte de seus alunos – na própria unidade.

No Ensino Fundamental, a adesão de outras escolas ao Programa Educação

Integral com Jornada Ampliada foi aumentando e, em 2016, das 53 escolas

públicas de Ensino Fundamental da rede municipal de ensino, 46

desenvolvem atividades de Educação Integral, sendo 43 com a modalidade

Educação Integral com Jornada Ampliada e outras três como escolas

municipais de Ensino Fundamental em tempo integral. Estas últimas,

implantadas em 2015, darão subsídios no futuro, segundo a SEME, para uma

possível extensão, gradativa, do novo modelo para toda a rede.

Com a perspectiva de ofertar mais atividades em equipamentos públicos ou

de parcerias pela cidade, por meio da modalidade “Estudantes em Atividades

Intersetoriais”, são oferecidas atividades em uma plataforma, na internet, com

ações variadas, em diferentes Secretarias (cultura, esporte, ação social), onde

as famílias inscrevem os filhos, estudantes da rede, em atividades em que

tenham interesse: esporte, atividades culturais, dança, música, entre outras.

Essas aulas e atividades não estão diretamente vinculadas ao currículo

escolar; elas são complementares e fazem parte de outro tipo de ação que

não precisa estar, necessariamente, atrelada ao currículo da escola.

1.2 Um breve panorama histórico da parceria entre Cenpec, FIS e SEME

Com o panorama apresentado no item anterior, é possível compreender o

contexto da política de Educação Integral em Vitória, em 2014, com o qual se

deparam a Fundação Itaú Social e o Cenpec. Os trâmites para uma parceria

com a Secretaria Municipal de Educação se desenvolvem, a princípio, com o

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objetivo de colaborar para o aprimoramento dessa política pública que estava

implantada e que já possuía uma série de ações e experiências realizadas.

Dentre as posturas assumidas pela SEME, a partir de 2013, em relação à

política de Educação Integral, estava a de dar maior visibilidade, aprimorar e

de ampliar gradativamente essa forma de atendimento, acentuando seu

caráter de política pública, previsto no Plano Nacional de Educação e também

no Plano Municipal de Educação de Vitória. O primeiro objetivo da parceria,

portanto, seria estabelecer diretrizes, as bases conceituais e os princípios da

política de Educação Integral em um documento que fosse, até certo ponto,

independente das mudanças de governo.

Desse ponto de partida nasceu o primeiro fruto da parceria, o documento

Diretrizes da Educação Integral3, elaborado em conjunto, a partir de 2014, e

que trouxe os pressupostos dessa política para a rede de ensino. A

construção desse documento deu-se ao longo daquele ano e, no primeiro

semestre de 2015, por meio de encontros sistemáticos de discussão da equipe

do Cenpec e da Fundação Itaú Social com a Comissão de Educação Integral,

formada por profissionais das equipes técnicas das Gerências da Educação

Infantil, Ensino Fundamental, Gestão Democrática, Formação, Coordenações

da Educação Especial e Alimentação Escolar e Conselho Municipal de

Educação, e representantes das equipes das escolas (diretores, pedagogos e

coordenadores da Educação Integral). As discussões buscavam identificar e

fomentar o entendimento do grupo sobre temas estruturantes da política

educacional e pedagógica, reconhecendo as matrizes ou diretrizes basilares

para o trabalho de Educação Integral na rede.

Durante esses encontros, viu-se a necessidade de potencializar a formação

dos coordenadores das 43 escolas participantes do Programa de Educação

Integral. Assim, no segundo semestre de 2014, a assessoria também passou a

trabalhar junto com a SEME na construção das pautas e nos encontros de

formação desses profissionais, ampliando o escopo da parceria.

A SEME mantinha desde 2005 – primeiro, para a Educação Infantil e, depois,

a partir de 2007, também para o Ensino Fundamental – equipe específica para

acompanhar a Educação Integral e que também promovia formações na rede.

3 O documento das Diretrizes da Educação Integral de Vitória passou por uma nova revisão em 2016 e será publicado em breve.

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A formação de 2014 já havia sido planejada para começar em julho daquele

ano.

Desse modo, o Cenpec e a FIS partiram dessa proposta já preparada pela

SEME e passaram a contribuir com as pautas dos encontros, incluindo outras

ações não previstas no planejamento anterior, ajudando na realização das

atividades.

O objetivo final era

aprimorar as ações

pedagógicas

desenvolvidas pelos

coordenadores de

Educação Integral junto

às escolas participantes

do Programa. Dessa

forma, em 2014 e 2015, a

parceria se deu em duas

frentes: na elaboração

do Documento

Orientador da Política

Educacional e na formação de coordenadores do Programa.

Importante salientar que as ações da parceria foram sendo construídas num

processo dinâmico e participativo, em que, em vez de se estabelecer a priori

o “modelo” de tudo que seria feito, definia conjuntamente quais deveriam ser

os próximos passos do trabalho. Assim, respeitaram-se as necessidades do

município e o que já estava construído pela equipe local, aproveitando a

estrutura existente na rede municipal para dar suporte às propostas.

Na avaliação de diferentes atores da Secretaria, a parceria como a

formalizada com Fundação Itaú Social e Cenpec foi importante justamente

por ter a característica fundamental de não trazer propostas prontas, mas, ao

contrário, colaborar com o que já está sendo trabalhado e com as

experiências existentes.

Entendemos que uma assessoria externa faz sentido

na medida em que vem potencializar e atender às

demandas da rede municipal de ensino,

considerando seus percursos e trajetórias e

contribuindo para avançar na direção do

fortalecimento da política pública. Conhecemos

tanto a Fundação Itaú Social como o Cenpec e,

assim, acreditamos na possibilidade de colaborarem

tecnicamente com as iniciativas da rede municipal, a

partir das produções coletivas dos educadores de

Vitória registradas em documentos que objetivam

apontar caminhos estruturantes para a identidade de

uma rede que prioriza a efetividade de políticas

educacionais. (Janine Mattar Pereira de Castro, atual

subsecretária pedagógica da SEME)

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1.3 Em 2015, abre-se nova frente de atuação: o acompanhamento pedagógico

das escolas participantes do Programa

Nesse processo de assessoria, a etapa seguinte foi o acompanhamento

pedagógico direto junto às escolas

participantes do Programa de

Educação Integral com Jornada

Ampliada da rede municipal de

Vitória. Esta ação surgiu – e, ao

mesmo tempo, norteou-se – pelo

entendimento de que o

acompanhamento pedagógico

deveria tornar-se um processo

formativo, com potencial

transformador, em que todos os

envolvidos pudessem avaliar o

trabalho realizado, comemorando

os êxitos e redirecionando o que não estivesse adequado.

Como dito anteriormente, a SEME mantinha uma equipe que acompanhava

as ações do ensino regular relacionadas à Educação Infantil e ao Ensino

Fundamental. O acompanhamento pedagógico, nesse caso, era realizado in

loco por técnicos de referência da escola junto ao corpo técnico

administrativo de cada unidade (diretores, pedagogos e coordenadores de

turno). Cada visita tinha um propósito e instrumento para registro. Também

eram realizadas assessorias regionalizadas com as pedagogas para debater

sobre os dados das escolas (defasagem, rendimento, etc.). O trabalho era

sistematizado e contínuo e, a cada rodada de acompanhamento na escola, os

temas eram tratados de acordo com as necessidades de formação

observadas pela SEME.

No caso da Educação Integral, não havia um acompanhamento pedagógico

sistemático in loco, nem tão pouco sistematização do processo empreendido

pela Secretaria. A Coordenação de Educação Integral realizava apenas visitas

esporádicas e pontuais para atender a demandas mais imediatas das

unidades escolares.

A proposta, elaborada em 2015, utilizou como base a experiência da SEME do

ensino regular, mas foi pensada de modo que o acompanhamento

A equipe anterior realizava visitas

técnicas às escolas, de acordo com as

necessidades, para resolver questões de

conflitos entre a equipe da Educação

Integral e a equipe do regular, ou para

acompanhar o planejamento das ações

de Educação Integral, mas não havia um

registro sequencial, com objetivos a

serem alcançados durante o ano.

(Fátima Rodrigues Burzlaff, atual

coordenadora de Educação Integral na

SEME)

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pedagógico permitisse identificar e compreender os avanços e as

dificuldades do percurso, com o fim de subsidiar a tomada de decisão pelas

diversas instâncias do sistema de ensino (a SEME e a equipe escolar),

direcionando as ações subsequentes para garantir o direito de todos à

educação de qualidade.

Assim, o modelo de trabalho do acompanhamento pedagógico para o

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada foi construído em

parceria com a Secretaria Municipal de Educação, de maneira adequada às

necessidades do sistema, identificando as práticas já utilizadas como ponto

de partida. Além disso, considerou-se que o acompanhamento pedagógico

deveria ser exequível frente às condições técnicas, operacionais e estruturais

da Secretaria Municipal de Educação e ter um caráter formativo de seus

técnicos para poder se incorporar às rotinas institucionais. Ao fim de um

determinado período, faria parte do trabalho cotidiano, transformando-se

num pilar de sustentação da melhoria do sistema de ensino.

E para alcançar esses objetivos e construir uma proposta de

acompanhamento pedagógico para as escolas participantes do Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada, deu-se início a essa ação em três

unidades educacionais, que seriam as “escolas-piloto” para esse processo. Por

meio de um acompanhamento sistemático e in loco, esperava-se obter

subsídios técnicos e pedagógicos para a construção de uma proposta e de

um modelo de acompanhamento pedagógico que alcançasse as demais

escolas. Para isso, contou-se com a participação de diferentes profissionais e

instâncias da Secretaria Municipal de Educação, assim como das equipes das

escolas-piloto, cada qual com atribuições e responsabilidades inerentes ao

seu papel e função.

Ao Cenpec e à FIS, coube assessorar a equipe da Coordenadoria de Educação

Integral da SEME na formulação da proposta e na sua implementação para

apresentar e validar as concepções teóricas que embasaram a proposta, para

estruturar as pautas das reuniões e levantar aspectos significativos que

orientaram os encontros com a equipe da SEME e com as escolas-piloto, para

participar do acompanhamento pedagógico desenvolvido nas três escolas-

piloto e, por fim, para sistematizar as reuniões com a equipe técnica da SEME

e as reuniões de acompanhamento pedagógico realizadas.

Após a aprovação desse modelo de trabalho pela SEME, foi feito um convite

(ver carta utilizada no anexo 2) às 43 escolas do Programa de Educação

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20

Integral com Jornada Ampliada para se inscreverem para participar do

projeto-piloto de acompanhamento pedagógico. O convite explicava que

seriam escolhidas três, dentre as que estivessem interessadas, e que isso

exigia participação e comprometimento de profissionais da escola – diretores,

pedagogos, coordenadores e até professores e pais em alguns momentos –

nas discussões e também na elaboração da proposta. Quatro escolas, a

princípio, se interessaram em participar, mas apenas três – EMEF Eber

Louzada Zippinotti, EMEF Lenir Borlot e EMEF Mal. Mascarenhas de Moraes –

continuaram de fato.

A proposta previa a realização de reuniões mensais com cada uma dessas

escolas, reuniões estas precedidas de outras, de pauta e planejamento,

realizadas em conjunto com as equipes da SEME (Coordenadoria de

Educação Integral e assessores que compõem a Gerência de Ensino

Fundamental, além de representantes da Gerência de Ensino Infantil e da

Gerência de Gestão Democrática4). O objetivo era construir a metodologia

para o acompanhamento pedagógico de forma participativa e que fosse

também formativa, respeitando a particularidade de cada escola e, ao mesmo

tempo, possibilitando a construção de uma diretriz comum.

Uma vez por mês, de maio a dezembro de 2015, as equipes do Cenpec, da

FIS e da SEME realizavam os encontros. O caráter formativo e participativo,

principalmente em relação às unidades escolares, estava garantido pela

metodologia adotada. Desde o início, deixou-se claro que não se tratava de

uma ação fiscalizadora a ser realizada nas escolas-piloto.

Na prática, os encontros começavam com uma primeira abordagem

diagnóstica e sobre as potencialidades e fragilidades na implantação da

Educação Integral, propondo ações aos profissionais para superarem os

desafios encontrados. As questões e soluções apontadas eram rediscutidas

na reunião do mês seguinte, em que se faziam avaliações do que fora

realizado e seus resultados. A partir disso, novas ações eram propostas.

Após cada encontro, a equipe do Cenpec enviava a todos os participantes

uma devolutiva por email com os apontamentos, discussões e proposições

4 Essa gerência é responsável, segundo o regimento interno da Secretaria de Educação, por elaborar propostas de criação e/ou reformulação da legislação referente à gestão democrática; organizar e acompanhar as eleições de diretores, conselhos de escola e grêmios estudantis; assessorar os conselheiros de escola na elaboração, acompanhamento e avaliação do Projeto Político-Pedagógico das unidades de ensino, entre outras atividades.

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acordados nas reuniões. Dentro dessas discussões, cada uma das três escolas

acompanhadas escolheu, logo no início, um objetivo a ser buscado, algo que

se tornaria o ponto de partida para pautar as discussões dos encontros

subsequentes de acompanhamento pedagógico.

Os três objetivos foram:

• melhorar a integração curricular entre o Programa de Educação

Integral com Jornada Ampliada e o ensino regular (escolhido pela

EMEF Eber Louzada Zippinotti);

• aproximar o Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada

das famílias e melhorar a comunicação entre os profissionais do

Programa e os professores (EMEF Lenir Borlot);

• ressignificar os espaços educativos e integração curricular entre o

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada e o ensino

regular (EMEF Mal. Mascarenhas de Moraes).

A partir dos encontros das

equipes do Cenpec e da SEME

com a equipe de cada escola

ao longo de 2015, que, em

alguns momentos, incluíram a

participação das famílias e dos

próprios estudantes, foram

construídos objetivos e

indicadores de qualidade para

o Programa (entendidos aqui

como pontos a serem

observados no interior das

escolas).

No final de 2015, a experiência

com as três escolas-piloto foi

apresentada aos 43 coordenadores do Programa de Educação Integral com

Jornada Ampliada nas escolas, juntamente com os objetivos do Programa

que foram sistematizados até então. Nesse mesmo período, como parte do

acompanhamento pedagógico, as escolas-piloto também realizaram

encontros com pais, familiares e estudantes para falar do projeto e ouvir

Depois, sistematizamos essa escuta do que eles relatavam como pontos positivos e desafios ainda a serem superados com a

Educação Integral. E, quando começamos a sistematizar esses pontos positivos e desafios, foram surgindo os objetivos construídos coletivamente. Depois,

começamos a criar estratégias para efetivar o objetivo que eles elegeram como o maior desafio a ser superado na escola. Durante

as visitas, sempre levávamos um texto para refletir sobre o que eles apontavam como desafio e pactuavamos uma ação a ser

cumprida pela equipe da escola para atingir parte do objetivo. Na visita seguinte,

relatavam o que deu certo e o que não deu e já se planejava outra ação. (Fátima

Rodrigues Burzlaff, atual coordenadora de Educação Integral na SEME)

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sugestões, que foram discutidas e incorporadas aos objetivos e indicadores

do Programa.

Por fim, as duas últimas ações do ano foram: a avaliação geral do

acompanhamento pedagógico às escolas, seus êxitos, fragilidades e

indicações de mudanças para que pudesse ser ampliado a todas as escolas

da rede em 2016; e um seminário promovido pela SEME, Cenpec e FIS para

apresentar a experiência de 2015. Esses dez grandes objetivos (veja o

diagrama abaixo), construídos com a equipe da Secretaria de Educação e

com as três escolas-piloto, são entendidos por diferentes atores como um

importante produto elaborado nessa fase do Programa5.

Diagrama 1 - Objetivos do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada

5 Os objetivos estão passando por um processo de revisão, tendo em vista as necessidades de aprimoramento dos mesmos frente ao contexto do acompanhamento pedagógico em 2016.

ProgramadeEducação

IntegralcomJornadaAmpliada

Ampliarotempodiáriodosalunosnaescola.

Ampliarasoportunidadeseducativasdosalunosa

partirdaofertadeatividadesdiversificadas.

Ampliaroconhecimentodosespaçospúblicosdacidadeedoentornodaescolaeseupotencial

educativo.

Utilizaroucriarnovosespaçosetemposde

aprendizagemdentrodaescola.

Integraçãocurricular(articularotrabalhodaEducaçãoIntegralcomo

doregular).Promoveraçõesarticuladasentre

diferentessetoresdegestãodoPrograma.

Viabilizarasaçõesdafamílianosentidode

participar,acompanhareavaliarasaçõesdo

Programa.

Desenvolveroprotagonismoeautonomia

infanto-juvenil.

Favoreceracomunicaçãoentreosdiferentes

participantesdoPrograma.

Promoverasaúdedosalunos.

Construir objetivos junto com os coordenadores, diretores, pedagogos,

familiares e alunos que participaram desse projeto foi muito rico. Depois,

tivemos também a oportunidade de socializar com as demais escolas e com

os coordenadores. (Fátima Rodrigues Burzlaff, atual coordenadora de

Educação Integral na SEME)

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23

1.4 Em 2016, um novo desafio: o ganho de escala do acompanhamento

pedagógico

Com a continuidade da parceria em 2016, o Cenpec e a FIS auxiliariam a SEME

em um novo desafio: expandir o acompanhamento pedagógico para as 43

escolas participantes do Programa, envolvendo, preferencialmente, as

mesmas equipes que trabalharam com as escolas-piloto em 2015.

Logo de início, essa possibilidade esbarrava em um problema real: a SEME

teve um grande número de servidores se aposentando ou que precisaram se

afastar por questões pessoais e não foram abertos concursos públicos nesse

período, desfalcando várias equipes. Essa foi uma das principais razões que

impediram que se continuasse o trabalho conjunto com a participação das

outras áreas da Secretaria que estiveram no projeto-piloto de

acompanhamento em 2015: a Gerência de Gestão Democrática, a equipe de

Educação Especial e os assessores da Gerência de Ensino Fundamental.

Frente a esse cenário, o acompanhamento pedagógico das escolas contaria

apenas com a equipe da Coordenadoria de Educação Integral, composta

pelos seus três técnicos – incluindo a própria coordenadora – para realizar o

acompanhamento das 43 escolas. O desenho inicial previa um

acompanhamento individual a cada uma das escolas, mas, em razão do

quadro enxuto, pensou-se em outras combinações possíveis e arranjos

operacionais.

Nas discussões da equipe do Cenpec com a SEME para se chegar ao melhor

formato, surgiu a proposta de combinar o acompanhamento individual com

encontros regionalizados, como já era realizado por outras equipes da própria

Secretaria.

Evidentemente, nessa mudança de escala – de três para 43 escolas, nem

todas as sistemáticas desenvolvidas em 2015 com as escolas-piloto puderam

ser mantidas. Foi o caso das devolutivas mensais dadas às três escolas depois

de cada encontro, que ficaram comprometidas. O trabalho com apenas três

escolas-piloto já havia sido um desafio e tanto para a pequena equipe, que,

junto com colegas de outros setores e auxiliada por representantes do

Cenpec e da FIS, era a responsável por organizar e executar todas as

inúmeras tarefas decorrentes dos acompanhamentos. Agora, com 40 escolas

a mais e muitos colegas a menos, a situação ficara bem mais complicada.

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24

Ainda assim, com tantos percalços, o acompanhamento pedagógico foi

estruturado em 2016 para atender a todas as unidades escolares que

participam do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada. Dessa

forma, no próximo capítulo, serão apresentados em detalhes as premissas, os

fundamentos metodológicos e as escolhas operacionais do

acompanhamento pedagógico realizado com as 43 escolas que integram o

Programa.

1.5 Ações do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada nas

escolas

O Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada está estruturado

para atender as crianças e adolescentes regularmente matriculados na

Educação Infantil e Ensino Fundamental das unidades de ensino da rede

municipal de Vitória, como ação complementar à escolarização. O Decreto nº

16.637 e a Portaria SEME nº006/2016, de 14 de março de 2016, estabelecem

as orientações e os critérios para acesso e atendimento dos alunos. Em linhas

gerais, o Programa está estruturado no Ensino Fundamental da seguinte

maneira:

Organização interna da SEME de Vitória

A Secretaria Municipal de Educação de Vitória está sob a responsabilidade principal da secretária de Educação, que divide a gestão e coordenação com a subsecretária político-pedagógica e subsecretária de Gestão Escolar e de Gestão de Pessoas, organizadas da seguinte maneira: Subsecretária Político-Pedagógica possui sob sua responsabilidade:

Gerência de Educação Infantil, Gerência de Ensino Fundamental, Gerência de Formação e Desenvolvimento em Educação, Coordenação de Formação e Acompanhamento da Educação Especial.

Subsecretaria de Gestão Escolar possui sob sua responsabilidade:

Gerência de Recursos Humanos, Gerência Orçamentária e Financeira, Gerência Administrativa, Gerência de Gestão Democrática, Gerência de Acompanhamento e Manutenção das Obras da Educação.

A cada gerência educacional se atribui uma ou mais coordenações, a depender da especificidade e das demandas de cada setor. A Coordenação de Educação Integral, responsável pelo Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada, está subordinada à Gerência de Ensino Fundamental. Esta última também é responsável pela Coordenação de Educação de Jovens e Adultos e pela Coordenação de Formação e Acompanhamento do Ensino Fundamental.

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25

• Público atendido: o atendimento é facultativo a todos alunos do 1º ao

9º ano do Ensino Fundamental, com idades entre 6 e 14 anos,

priorizando os seguintes aspectos: social, de saúde, de exposição às

violências e situação escolar. O responsável ou representante legal

deve preencher, no início do ano letivo, uma ficha cadastral e

apresentar as documentações solicitadas, cabendo à equipe escolar e

ao conselho de escola da unidade de ensino proceder ao

cadastramento, análise e avaliação, com apoio da rede

socioassistencial. Em 2016, foram abertas 2.519 vagas entre as 43

escolas participantes do Programa. As escolas têm autonomia para

definir o número de vagas ofertadas (a escola com menor número de

vagas é 40 e com maior número de vaga é 100), com base em uma

análise da capacidade física de atendimento, infraestrutura disponível,

recursos humanos e parcerias com o entorno. Esse estudo e definição

são feitos em diálogo com o conselho escolar.

• Tempo: as atividades acontecem nos períodos da manhã e tarde, no

contraturno. Os alunos do regular do período da manhã frequentam o

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada no período da

tarde; e os alunos do regular do período da tarde frequentam o

Programa no período da manhã. O tempo de permanência desses

alunos na escola é de 7h30 a 10h por dia, de acordo com a organização

de cada escola – precisa haver, no mínimo, 15 horas semanais para ser

considerado atendimento em jornada ampliada (em consonância com

as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação). O transporte

e o deslocamento são de responsabilidade das famílias, que, em sua

maioria, vivem na mesma região e bairro em que está localizada a

escola.

• Atividades desenvolvidas pelas escolas: são ofertadas atividades

socioculturais, esportivas e científicas distribuídas nos seguintes eixos

temáticos: orientação aos estudos, diversidade no currículo, educação

socioambiental, comunicação e inclusão digital, linguagem artístico-

cultural e corpo e movimento.

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Diagrama 2 – Eixos temáticos do Programa de Educação Integral com

Jornada Ampliada

• Atividades realizadas em parceria: as escolas participantes do

Programa estabelecem parcerias com equipamentos socioculturais e

esportivos pertencentes à Secretaria de Assistência Social (Serviço de

Atendimento à Crianças e Adolescentes - Projeto Caminhando Juntos

- Cajun), Secretaria de Esporte e Lazer (Pólos Esportivos) e Secretaria

de Cultura, além de OSCs, para compor o quadro de oferta de

atividades às crianças e adolescentes.

• Saídas pedagógicas: cada escola participante do Programa possui uma

diária de ônibus quinzenal que pode ser usada para o deslocamento

dos estudantes aos equipamentos parceiros e/ou para realizarem as

saídas pedagógicas aos diferentes espaços educativos da cidade. As

saídas pedagógicas são atividades frequentes da Educação Integral,

com o objetivo de explorar os diversos espaços e equipamentos

públicos, a fim de desenvolver atividades pedagógicas e de estímulo à

aprendizagem. Locais como parques, praças, museus, centros culturais

e esportivos, cinemas, bibliotecas, praias, mercados/feiras, etc. são

visitados pelos estudantes. Em alguns casos, a depender do número

de alunos das turmas, duas escolas podem compartilhar o mesmo

ônibus e desenvolver em conjunto as atividades das saídas

pedagógicas, proporcionando, assim, saídas semanais aos alunos.

Além das saídas pedagógicas pela cidade, a Coordenação de

Educação Integral da SEME tem estimulado os coordenadores a

explorar espaços no próprio entorno, reconhecendo o território no

qual se insere a escola, sua história, suas características, sua

comunidade, seus movimentos e manifestações socioculturais.

• Ações complementares: em algumas escolas, existem professores com

uma carga horária específica para atender às atividades da Educação

Integral. Eles devem desenvolver atividades relacionadas aos eixos do

Programa e de maneira articulada com a Coordenação de Educação

Integral na escola, de modo a aproveitar outros espaços e experiências

proporcionados pela Educação Integral para criar diferentes

Orientaçãoaosestudos

Diversidadenocurrículo

Educaçãosocioambiental

Comunicaçãoeiinclusãodigital

Linguagemartístico-cultural

Corpoemovimento

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oportunidades de aprendizado aos alunos. E, nesse sentido, o

acompanhamento pedagógico orienta os coordenadores e pedagogos

a dialogarem e planejarem ações conjuntas. Em algumas escolas,

também há monitores do Programa Mais Educação. Eles desenvolvem

oficinas com os alunos participantes do Programa e do ensino regular,

em dias e horários específicos, complementando o

planejamento/agenda do Programa de Educação Integral, e sua carga

horária de trabalho é exclusiva para a realização das oficinas.

Em relação à equipe da escola responsável pela gestão do Programa, há em

cada escola os coordenadores de Educação Integral, profissionais da rede

(professores, coordenadores de turno e pedagogos) que são convidados

pelas próprias escolas para assumirem a função por um período

indeterminado. Para selecionar esses coordenadores, inicialmente, foi

realizado um processo seletivo interno na SEME, mas, depois, com o aumento

do número de vagas na Educação Integral, as escolas é que assumiram a

definição/indicação desses profissionais.

De acordo com as entrevistas realizadas, esses coordenadores atuam em

período integral nas escolas (40 horas) e têm a função de coordenar todas

as atividades da Educação Integral, respondendo e atendendo a

necessidades e questões pedagógicas, administrativas e operacionais para o

desenvolvimento do Programa.

Os coordenadores também são responsáveis pela interlocução direta com os

pedagogos e diretores da escola, propondo e estimulando agendas conjuntas

e planejamentos integrados, e por orientar os integradores sociais. Por sua

vez, esses últimos são profissionais contratados também via processo

seletivo da SEME por um período de um ano, renovável por mais um ano.

Atuam 30 horas semanais e têm a função de acompanhar e desenvolver

todas as ações da Educação Integral.

Para essas duas funções, coordenadores da Educação Integral e integradores

sociais, não há um documento ou dispositivo legal6 atualizado que indique

66O edital do processo seletivo interno da SEME realizado em 2007 é o único documento que estabelece as responsabilidades e atribuições dos coordenadores de Educação Integral. Já para os integradores sociais, as atribuições estão descritas no edital do processo seletivo ocorrido em 2014. Atualmente, a equipe da SEME vem

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quais são as suas responsabilidades frente ao Programa, bem como qual o

perfil que eles devem ter. Atualmente, a escolha dos que irão assumir essas

funções acaba, em última instância, sendo definida pelos diretores das

escolas.

Diretores, pedagogos, coordenadores de turno e professores das escolas são

convocados para os encontros individualizados de acompanhamento

pedagógico e, eventualmente, também participam das reuniões de

planejamento das atividades da Educação Integral com os coordenadores e

integradores sociais.

Para facilitar o entendimento das atribuições e responsabilidades dos

diferentes atores junto ao Programa, segue o diagrama abaixo. Importante

frisar que as atribuições listadas para diretor, coordenador de Educação

Integral, professores e integradores sociais foram consolidadas a partir,

principalmente, das entrevistas realizadas durante o processo de

sistematização, tendo em vista que não há documento legal ou diretriz que

estabeleça a responsabilidade desses atores frente ao Programa de Educação

em Tempo Integral com Jornada Ampliada. O regimento comum às unidades

de ensino da rede municipal de Vitória (sem data) cita, de modo geral, em

seu Art. 230: “a Educação em Tempo Integral, na Rede Pública de Vitória, é

garantida por meio de Projeto e ofertada em consonância com políticas

públicas articuladas, visando o acesso e a permanência de alunos, de acordo

com critérios específicos, regulamentados em Decreto Municipal”.

Para as funções de pedagogo e coordenador de turno, o regimento menciona

que, entre suas atribuições, esses profissionais devem “planejar ações e

acompanhar os alunos atendidos no horário integral”. Mesmo assim, percebe-

se que não há atribuição relacionada diretamente ao Programa de Educação

Integral com Jornada Ampliada.

procurando discutir as atribuições desses profissionais e estruturar um documento orientador, processo esse ainda em andamento..

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Diagrama 3 – Atribuições e responsabilidades dos atores escolares junto ao

Programa

Diretor: gestãoadministrativa,financeiraepedagógicadaescolacomoumtodo,incluindoaEducaçãoIntegral.

Pedagogos:planejaraçõeseacompanharosalunosatendidosnohoráriointegral.

Coordenadordeturno:planejaraçõeseacompanharaosalunosatendidosnohoráriointegral.

CoordenadordeEducaçãoIntegral:gestãodasatividadespedagógicas,administrativaseoperacionaisdaEducaçãoIntegral.

Professores: algunspossuemcargahoráriaespecíficaparaatenderàsaçõesdaEducaçãoIntegral.

Integradoressociais: acompanharedesenvolvertodasasaçõesdaEducaçãoIntegral.

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30

CAPÍTULO 2 - ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO

Premissas, fundamentos metodológicos e operacionalização

No capítulo anterior, foi possível conhecer um pouco sobre o contexto da

política de Educação Integral de Vitória e compreender as atividades

desenvolvidas no âmbito da parceria entre Cenpec, FIS e SEME. Ao longo

desse processo, as ações foram sendo aprimoradas, visando ao

fortalecimento e à qualificação da oferta de Educação Integral aos estudantes

do município.

Como dito anteriormente, o caminho traçado em 2015, com o

desenvolvimento de uma experiência-piloto de acompanhamento

pedagógico junto a três escolas municipais, solidificou as bases para a

ampliação da iniciativa: em 2016, 43 escolas participantes do Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada passaram a contar com o

acompanhamento pedagógico.

Com efeito, o presente capítulo tem como objetivo apresentar o que é o

acompanhamento pedagógico realizado em 2016 com essas 43 escolas, quais

premissas subsidiam o trabalho, quais escolhas foram feitas, os conceitos que

justificam essas escolhas e as metodologias utilizadas pelas equipes que

conduzem o processo. Também será apresentado como se dá o ciclo

operacional do acompanhamento pedagógico, partindo das ações da

assessoria do Cenpec e FIS junto à SEME e chegando às escolas participantes.

2.1 O que é o acompanhamento pedagógico e quais são os seus objetivos

O acompanhamento pedagógico é um conjunto de atividades de caráter

formativo, informativo, dialógico e participativo, voltado a oferecer suporte

aos profissionais da equipe diretiva da política de Educação Integral da

Secretaria Municipal de Educação de Vitória, suas instâncias regionais e

escolas, apoiando o desenvolvimento das atividades técnicas, pedagógicas e

administrativas relacionadas à implantação do Programa de Educação

Integral com Jornada Ampliada.

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31

O objetivo é desenvolver uma cadeia de ações junto às diferentes instâncias

e com os diferentes atores da Secretaria de Educação, de modo que as

escolas participantes recebam suporte técnico e pedagógico constante para

consolidar as atividades de

Educação Integral em seu

interior, a partir do

envolvimento de diversos

profissionais (diretores,

pedagogos, monitores,

professores, integradores

sociais e coordenadores do

Programa nas escolas).

A primeira dimensão desse processo se dá com a articulação permanente

entre a equipe da assessoria do Cenpec e FIS e a equipe da Secretaria, em

especial a Coordenadoria de Educação Integral. A ação contínua e articulada

entre essas duas equipes tem contribuído para a gestão do Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada, nos âmbitos do planejamento, da

definição do conteúdo e das estratégias que serão empreendidas, do

monitoramento e da avaliação das atividades, que concretizam o processo

de acompanhamento pedagógico junto às 43 escolas.

Esse trabalho conjunto permite efetivar o acompanhamento pedagógico por

parte da equipe da Secretaria junto às escolas em uma segunda dimensão

desse processo, que acontece nos encontros individualizados e

regionalizados, dos quais participam os técnicos da equipe de Coordenação

de Educação Integral e representantes das escolas participantes do

Programa.

Espera-se, com esse movimento, proporcionar às escolas momentos de

reflexão sobre suas práticas no desenvolvimento do Programa de Educação

Integral e oferecer suporte/orientações conceituais, metodológicas e

operacionais para que seus objetivos sejam alcançados, garantindo, assim, a

ampliação das oportunidades de aprendizado e o direito à educação de

qualidade a todos.

Eu penso que o objetivo do acompanhamento

pedagógico é dar ferramentas para a gente e

proporcionar a troca de experiências com

outros locais que também caminham nesse

sentido da Educação Integral. (Nádia Perez,

coordenadora do Programa de Educação

Integral na EMEF Éber Louzada)

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32

Também entende-se que os efeitos

do acompanhamento pedagógico

devem ser refletidos na execução

qualificada das ações do Programa

de Educação Integral com Jornada

Ampliada por parte das escolas junto

aos estudantes. Essa é a terceira

dimensão desse processo, em que

cada escola define quais são os

objetivos que deseja alcançar no

âmbito do Programa e busca

elaborar um planejamento para

desenvolver diferentes atividades

com os alunos participantes.

Nesse sentido, o processo do

acompanhamento pedagógico tem como intenção apoiar o desenvolvimento

de práticas efetivas de Educação Integral, a partir do repertório e da proposta

que a própria escola concebe e de maneira integrada às demais ações que

ela realiza. Assim, o acompanhamento pedagógico reforça a importância da

articulação e integração das

iniciativas desenvolvidas para os

estudantes.

O objetivo do trabalho é ampliar

o repertório das equipes das

unidades escolares e qualificar a

oferta das atividades inerentes

ao Programa, que são

fundamentais para a formação

integral dos alunos.

O acompanhamento pedagógico

tem dimensões claras: possibilitar

que a Secretaria se aproxime das

escolas para ver o Programa de

Educação Integral que está sendo

desenvolvido e compreender esse

processo como uma prática

formativa, que auxilia as escolas a

avançarem na questão dessa

política da Educação Integral e,

principalmente, na emancipação

dos alunos enquanto sujeitos.

(Débora de Almeida Torres de

Brito, consultora do Cenpec)

As ações incentivadas pelo acompanhamento pedagógico para serem desenvolvidas por parte

das escolas dialogam diretamente com os preceitos estabelecidos nas Diretrizes para a Política de Educação Integral do Município de Vitória: “Com a Educação Integral, busca-se impactar a melhoria das aprendizagens por meio de novas experiências curriculares, da

integração entre os conhecimentos historicamente construídos e os diferentes

saberes locais, da promoção de uma educação que contribui com a formação de uma

sociedade com sujeitos conscientes, autônomos, solidários, cooperativos e que cumpram com

seus deveres e lutem pelos seus direitos. Dessa forma, procura-se romper com o individualismo competitivo e a visão fragmentada de mundo

centrada na ciência e na técnica, buscando assim o desenvolvimento que contemple o ser

humano em seus aspectos integrais.”

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33

Diagrama 4 – Caminhos para o desenvolvimento do acompanhamento

pedagógico

O desenvolvimento do acompanhamento pedagógico proporciona, portanto,

uma aproximação da Secretaria de Educação junto às escolas e oferece pistas

sobre as demandas e necessidades de cada unidade, tornando possível o

desenvolvimento de uma política educacional mais contextualizada. Ele

permite, por meio da oferta de aporte técnico formativo e informativo,

conhecer a realidade da escola, sentar junto, provocar, fazer discussões,

formar grupos de trabalho e de estudo, com vistas à efetivação prática da

política de Educação Integral na unidade escolar. Trata-se, em suma, de um

processo que possibilita promover a emancipação dos atores escolares e

identificar e compreender os avanços e as dificuldades das escolas, a fim de

subsidiar a tomada de decisão por parte das diversas instâncias que

compõem o sistema de ensino.

Importante pontuar que o trabalho de acompanhamento pedagógico contou,

em 2016, com uma coordenadora e duas consultoras do Cenpec e um

representante da FIS, que realizavam a assessoria à SEME no âmbito das

atividades de acompanhamento pedagógico desempenhadas pelos

profissionais da secretaria junto às escolas.

Já na Secretaria, a Coordenação de Educação Integral, responsável pelo

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada, está subordinada à

Gerência de Ensino Fundamental e possui uma equipe de profissionais da

Educação Integral composta por três pessoas, uma coordenadora e dois

técnicos pedagógicos. São responsabilidades dessa Coordenação: realizar a

formação de toda a equipe de Educação Integral, fazer o acompanhamento

pedagógico das escolas, organizar um festival anual de práticas culturais e

esportivas que envolva todas as escolas do município.

APROXIMAÇÃOSECRETARIAESCOLA

COMPREENSÃODASDEMANDAS

ENECESSIDADES

APORTETÉCNICO

FORMATIVOEINFORMATIVO

EMANCIPAÇÃODOSATORESESCOLARES

APOIOÀTOMADADEDECISÃODASDIFERENTESINSTÂNCIAS

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34

Há também os assessores pedagógicos da SEME, responsáveis pelo apoio e

suporte pedagógico a todas as escolas de Ensino Fundamental. Essa equipe

de assessores participou ativa e diretamente do acompanhamento

pedagógico com as escolas da experiência-piloto, atuando em conjunto com

os técnicos da Coordenação de Educação Integral. Porém, em 2016, não

desenvolveram ações diretamente no acompanhamento pedagógico

específico da Educação Integral, mas dialogaram com a Coordenação de

Educação Integral em busca de uma assessoria à escola que promovesse a

integração de diferentes ações realizadas.

2.2 Premissas que subsidiam o trabalho de acompanhamento pedagógico

O desenvolvimento do acompanhamento pedagógico se estrutura em

algumas premissas que orientam todo o trabalho desenvolvido pela equipe

do Cenpec e FIS junto à Secretaria Municipal de Educação de Vitória,

conforme destacado a seguir.

Diagrama 5 – Premissas do acompanhamento pedagógico

Participação

Integração

EscutaeDiálogo

Exequibilidade

Formação

Sustentabilidade

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35

Participação: a proposta de acompanhamento pedagógico para as escolas

participantes do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada foi

concebida e desenvolvida em parceria com a equipe da Secretaria Municipal

de Educação de Vitória, em especial a Coordenação de Educação Integral, de

modo a garantir a sua adequação às necessidades do sistema público de

ensino da rede municipal.

Dessa maneira, a equipe da assessoria não queria partir de uma solução

“pronta”, mas sim estruturar um trabalho contando com as potencialidades

dos atores do território para melhor compreender as demandas e

necessidades da Educação Integral no município.

Também foram identificadas as práticas de acompanhamento já utilizadas

pela SEME que vinham se revelando adequadas e que contribuíram com

ideias para a estruturação do acompanhamento pedagógico. Nesse sentido,

o fato de a equipe do Cenpec e da FIS estar aberta a processos participativos

e de aprendizagem mútua, não só com a equipe central da SEME, mas

também com os atores das diferentes instâncias (regionais e escolas), foi

importante no momento da elaboração da proposta e continuou sendo

essencial para o acompanhamento pedagógico, tal como ele foi executado.

Integração: a demanda por integração era um desejo da própria SEME, que

sentia a necessidade de promover maior articulação entre áreas e programas,

tendo como mote a política de Educação Integral, integrando também as

ações do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada às

atividades desenvolvidas no âmbito do ensino regular.

Somado a isso, entende-se que a premissa da integração é fundamental, uma

vez que o acompanhamento pedagógico precisa envolver diversos sujeitos

para que representem a diversidade de olhares e perspectivas. Assim, além

da equipe de Coordenação de Educação Integral, diferentes gerências e

O acompanhamento foi firmado neste ano, em Vitória, dentro de um processo

participativo, em que o Cenpec, a FIS e a SEME desenharam um formato de

acompanhamento baseado no que eles disseram que conseguiriam realizar. Tudo

foi muito conversado dentro de objetivos que eles escolheram e que queriam

alcançar enquanto Secretaria. (Débora de Almeida Torres de Brito, consultora do

Cenpec)

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36

técnicos da SEME, das instâncias regionais e também representantes das

escolas estão envolvidos no processo do acompanhamento pedagógico.

Escuta e diálogo: tendo em vista as duas premissas anteriores, o processo de

trabalho não poderia deixar de garantir mecanismos de interlocução entre as

várias instâncias envolvidas. Nesse sentido, a escuta e o diálogo são

premissas permanentes e importantes, que subsidiam as ações desenvolvidas

no âmbito do acompanhamento pedagógico.

Por meio da escuta forte e atenta e de processos orgânicos de diálogo e

reflexão, busca-se ampliar as possibilidades de compreensão e os espaços de

troca e compartilhamento entre os sujeitos – proporcionando a valorização

dos diferentes saberes e trajetórias. Como consequência, espera-se abrir

diálogo com grupos que, muitas vezes, estão à margem dos processos

decisórios – como familiares e estudantes, por exemplo.

Exequibilidade: uma importante premissa para o acompanhamento é que

suas ações respeitem o contexto das equipes, com um planejamento realista

e exequível frente às condições técnicas, operacionais e estruturais da

Secretaria Municipal de Educação, das instâncias regionais e escolas. Nesse

sentido, as atividades são pensadas de modo a se adequar às rotinas

institucionais e ao trabalho cotidiano, solidificando-se como mais um pilar de

sustentação da melhoria do sistema de ensino.

O acompanhamento pedagógico busca atender a uma necessidade de

monitorar os dados e informações do Programa de Educação Integral

(quantidade de alunos, vagas, frequência, etc.) e acompanhar como o Programa

se articula com o ensino regular nas escolas. É importante que as pessoas

entendam que não existe um currículo da Educação Integral, e sim um currículo

da escola que pode ser enriquecido e ampliado na Educação Integral. (Fátima

Rodrigues Burzlaff, atual coordenadora de Educação Integral na SEME)

O acompanhamento pedagógico funciona como uma supervisão institucional, em

que você vai ajudando aquele sujeito e aquelas pessoas a lidarem com os seus

desafios. Não é para ser fiscalizador. Agora não adianta eu ir lá e dizer: “vocês

precisam trabalhar isso”. A ideia é que a escola perceba do que ela precisa”

(Letícia Araújo Moreira da Silva, coordenadora da assessoria do Cenpec ao

município de Vitória)

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37

Formação: o acompanhamento pedagógico tem como premissa se

caracterizar com uma das modalidades de formação em serviço que

proporcione a todos os envolvidos elementos para aprimorar suas

concepções e práticas. Assim, as ações desenvolvidas sempre buscam

fornecer subsídios conceituais, técnicos e pedagógicos, de maneira a

estabelecer a ponte entre teoria e prática e ampliar perspectivas e repertórios

dos diferentes atores.

Sustentabilidade: a premissa da sustentabilidade orienta as ações

desenvolvidas e as estratégias de acompanhamento pedagógico construídas

pela Coordenação de Educação Integral com assessoria do Cenpec e da FIS,

na perspectiva de buscar desenvolver práticas de trabalho que possam ser

incorporadas à rotina da equipe da SEME, de maneira autônoma e

permanente, mesmo após o encerramento dos trabalhos da assessoria.

2.3 Fundamentos metodológicos

O principal fundamento metodológico do acompanhamento pedagógico é o

processo de ação-reflexão-ação, que se desenvolve a partir de um

diagnóstico das possibilidades de ação de cada contexto/realidade de

trabalho, seguido de reflexões para a construção colaborativa das propostas

e ações. A referência utilizada é o método dialógico e os conceitos dos três

momentos pedagógicos, ambos de Paulo Freire, adaptados para o trabalho

aqui desenvolvido: estudos de realidade (problematização inicial),

organização e ampliação dos conhecimentos e aplicação dos conhecimentos.

O processo formativo tem que ser permanente, primeiro, porque a realidade

cotidiana está em constante mudança e é muito densa em termos de

complexidade e, segundo, porque a formação inicial de professores não dá

conta da realidade e, para isso, existe a formação continuada na escola, que

também é garantida pela Secretaria. (Janine Mattar Pereira de Castro, atual

subsecretária pedagógica da SEME)

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38

Esse método busca sempre

partir de uma leitura dos

acontecimentos, ou seja, de

um diagnóstico informado por

fatos, dados primários e

secundários, experiências

vividas e lições aprendidas,

tanto do ponto de vista do

trabalho com as escolas,

quanto da rede de ensino

como um todo. São

desenvolvidos com a SEME e

com as escolas, por exemplo, estudos de realidade (problematização inicial)

com o objetivo de se apreender de que forma os diferentes sujeitos percebem

os principais objetivos do Programa de Educação Integral com Jornada

Ampliada, suas potencialidades e seus principais desafios.

Nesse sentido, a análise do contexto é fundamental e, a partir dela, acionam-

se elementos teóricos e conceitos que possam ajudar a refletir sobre a prática.

Assim, torna-se possível realizar a organização e ampliação dos

conhecimentos dos envolvidos, com o objetivo de problematizá-los,

mobilizando todos em busca de mais informações e provocando reflexões

para que os conceitos e as práticas transformem-se na direção dos valores

que devem orientar a construção de uma escola de qualidade.

Entende-se que momentos de planejamento, registro e replanejamento são

fundamentais, pois permitem a análise crítica das ações realizadas e a

Notas sobre o método dialógico

Para Freire, a reflexão é o movimento realizado entre o fazer e o pensar, entre o

pensar e o fazer, ou seja, no “pensar para o fazer” e no “pensar sobre o fazer. [...] “O que

se precisa é possibilitar que, voltando-se sobre si mesma, através da reflexão sobre a prática, a curiosidade ingênua, percebendo-se como

tal, se vá tornando crítica. [...]A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético,

entre o fazer e o pensar sobre o fazer” (FREIRE, 2001). (Trechos da tese “Ação-

reflexão-ação: processo de formação continuada” de Ingrid Barbara Pereira, 1996)

Estou certo, porém, de que é preciso deixar claro, mais uma vez, que a nossa preocupação pela pergunta, em torno da pergunta, não pode ficar apenas a nível da pergunta pela pergunta. O importante, sobretudo, é ligar, sempre que possível, a pergunta e a resposta a ações que foram praticadas ou a ações que podem vir

a ser praticadas ou refeitas. Eu não sei se fica claro o que digo. Parece-me fundamental esclarecer que a tua defesa e a minha, do ato de perguntar, de

maneira nenhuma tornam a pergunta como um jogo intelectualista. Pelo contrário, o necessário é que o educando, ao perguntar sobre um fato, tenha na resposta uma explicação do fato e não a descrição pura das palavras ligadas ao fato. É preciso que o educando vá descobrindo a relação dinâmica, forte, viva,

entre palavra e ação, entre palavra-ação-reflexão. (...) Agir, falar, conhecer estariam juntos. (Trecho de Paulo Freire, extraído de Por uma pedagogia da

pergunta, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985)

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39

aplicação imediata de aprimoramentos que se façam necessários para a

obtenção de melhores resultados no desenvolvimento do acompanhamento

pedagógico.

Além disso, o desenvolvimento desse processo deve ser capaz de produzir

conhecimentos, com a retomada de todo o percurso de aprendizagens

realizado, o que permite organizar os principais aspectos trabalhados,

utilizando-se dos registros efetuados no processo, permitindo que todos os

sujeitos tenham uma visão geral do que foi feito, dos avanços e dificuldades

encontradas.

Dessa forma, torna-se possível a aplicação dos conhecimentos nas práticas

futuras envolvidas no processo de acompanhamento pedagógico. O

diagrama a seguir resume essa metodologia de trabalho.

Diagrama 6 – Ação-reflexão-ação

Esse processo orienta a estruturação das diferentes atividades

desempenhadas tanto por parte da assessoria do Cenpec e da FIS junto à

SEME, quanto na consecução do acompanhamento pedagógico junto às

escolas.

De maneira complementar, a transversalidade e transdisciplinaridade são

conceitos acionados para desenvolver os diferentes temas, conteúdos e

atividades da Educação Integral e também se configuram como fundamentos

metodológicos do acompanhamento pedagógico. Assim, o conjunto de

ações realizadas busca estimular e provocar os diferentes atores a pensar nas

abordagens e metodologias que melhor traduzem o sentido e significado

Produção de conhecimento

Prática

Teoria

Diagnóstico Estudos de realidade

Ação

Reflexão Reflexão

Ação

Registro Replanejamento

Aplicação dos conhecimentos

Tempo

Planejamento

Organização e ampliação de

conhecimentos

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40

pedagógico para as diferentes interações e intersecções entre os conteúdos

propostos.

2.4 Ciclo operacional do acompanhamento pedagógico: escolhas,

metodologia e infraestrutura utilizada

O acompanhamento pedagógico realizado pela equipe da Secretaria, antes

da assessoria do Cenpec e FIS e da experiência-piloto realizada em 2015 com

as escolas, era pontual e atendia apenas às demandas mais urgentes. Os

esforços da equipe da SEME estavam concentrados nas ações de formação

dos coordenadores e integradores sociais, não sendo possível realizar um

acompanhamento sistematizado das escolas.

Como apresentado no capítulo anterior, com o desenvolvimento da proposta

de acompanhamento pedagógico junto às escolas da experiência-piloto em

2015, a Coordenação de Educação Integral teve a oportunidade de observar,

refletir e analisar as potencialidades e resultados de um trabalho de

acompanhamento contínuo às escolas no desenvolvimento das ações de

Educação Integral. Ao reconhecer a importância desse trabalho, optou-se por

estender o acompanhamento pedagógico para todas as escolas participantes

do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada.

Entretanto, o desafio era adequar o modelo da experiência-piloto (cujo

acompanhamento era frequente e individualizado para cada uma das três

escolas) à realidade da SEME e à escala do Programa, principalmente em

relação à quantidade de escolas e técnicos disponíveis (três técnicos para

acompanhar 43 escolas). Assim, escolhas e ajustes tiveram que ser feitos e,

em um processo participativo entre a assessoria do Cenpec e FIS e a

Na Educação Integral eles têm feito um trabalho de visibilidade com as

temáticas da transversalidade. Nem sempre esse trabalho está relacionado a

disciplinas específicas e, ao mesmo tempo, pode enriquecer todas. Há também

as questões das temáticas étnico-raciais, que são muito trabalhadas, dando

essa possibilidade de aprofundamento em questões culturais, visitas a espaços

culturais, a construção de linguagens diferenciadas, seja do teatro, da música

ou de uma performance corporal em que eles traduzem conteúdos estudados

e trabalhados pela escola. (Janine Mattar Pereira de Castro, atual subsecretária

pedagógica da SEME)

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41

Coordenação de Educação Integral, mantendo as premissas estabelecidas, foi

possível desenhar uma nova estrutura de acompanhamento pedagógico, a

partir de um planejamento anual, que resultou no modelo a seguir:

• reuniões mensais de planejamento, preparação e avaliação do

acompanhamento pedagógico realizados entre a assessoria do

Cenpec e FIS junto à SEME, somando oito encontros no total;

• encontros regionalizados de acompanhamento pedagógico com as

escolas, por grupos/polos7, bimestrais, somando quatro encontros no

total;

• encontros individualizados de acompanhamento pedagógico com as

escolas, bimestrais, somando quatro encontros no total;

• Encerramento: reunião de avaliação junto aos participantes (SEME e

escolas).

Tais encontros acontecem de forma intercalada, sendo que, em um mês, as

escolas recebem a visita dos técnicos e, no mês seguinte, as escolas

encontram os técnicos e outras escolas da mesma região no encontro

regionalizado. No bojo da revisão do acompanhamento pedagógico, foram

definidas algumas condições de execução:

• cada escola estabeleceu o seu objetivo na realização do Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada, sendo este o foco para o

encontro individualizado de acompanhamento pedagógico;

• a Coordenação de Educação Integral estabeleceu, no início do ano, um

objetivo comum para ser trabalhado com todas as escolas nos

encontros regionalizados de acompanhamento pedagógico. Em 2016,

esse objetivo foi promover a interlocução das escolas com o território;

• cada técnico da equipe da SEME acompanhou individual e

regionalmente um grupo de escolas, mantendo, de preferência, o

mesmo técnico ao longo do ano para as mesmas escolas.

Essa configuração estabelecida para o acompanhamento pedagógico

permite colocar em prática os fundamentos metodológicos apresentados no

item anterior. A cada encontro, os aprendizados e as questões acionadas

7 A divisão/organização dos polos/regiões é específica da Coordenação de Educação Integral para o Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada, não é uma divisão oficial da SEME.

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pelos atores das escolas são registrados e sistematizados, informando o

planejamento e a preparação dos próximos, realizados por parte da equipe

do Cenpec e FIS e SEME. O diagrama abaixo resume o ciclo operacional do

acompanhamento pedagógico.

Diagrama 7 – Ciclo operacional do acompanhamento pedagógico

Legenda:

Além das dez reuniões previstas no esquema acima, podem ocorrer reuniões

extraordinárias, a depender da demanda da Secretaria e das necessidades

identificadas ao longo do acompanhamento pedagógico junto às escolas.

Para desenvolver esse conjunto de atividades, cabe pontuar a infraestrutura

necessária, resumida a seguir:

• Infraestrutura para reuniões entre a equipe Cenpec e FIS e SEME: as

reuniões são realizadas na própria SEME, nas salas da Gerência de

Ensino Fundamental. Algumas reuniões também acontecem no espaço

de trabalho da Coordenação de Educação Integral;

Planejamento anual

Encerramento

Participantes: Cenpec, FIS, SEME

Participantes: Cenpec, FIS, SEME e ESCOLAS

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• Infraestrutura para os encontros individualizados: os encontros de

acompanhamento pedagógico individualizado são realizados nas

escolas. Em geral, as escolas têm uma sala exclusiva da Educação

Integral, onde acontecem algumas atividades e são armazenados e

organizados diversos materiais pedagógicos. Os técnicos da SEME se

deslocam para as escolas com transporte da Secretaria, agendado

previamente com o setor responsável, e também via transporte público

(isso varia de acordo com a localização das escolas e com a

disponibilidade de carros);

• Infraestrutura para os encontros regionalizados: esses encontros são

realizados em uma das escolas do grupo/polo de escolas de cada

região – cada encontro é realizado em uma escola diferente. O

coordenador do Programa dessa escola é “anfitrião” do encontro,

responsável por organizar previamente um espaço adequado na escola

para receber todos os participantes. Em alguns encontros, são

utilizados recursos como data show para exibição/projeção de textos,

vídeos, imagens, etc. O anfitrião da escola também oferece aos

participantes uma mesa simples com café e biscoitos. O deslocamento

é de responsabilidade dos participantes.

Nesse sentido, a infraestrutura necessária não é muito grande e envolve: (i)

profissionais da equipe técnica da Secretaria, (ii) transporte para o

deslocamento às escolas e (iii) espaços para as reuniões de formação.

Considera-se que Vitória é uma capital pequena (com 359.555 habitantes e

uma área de 96,536 km² , segundo o IBGE 2016), o que acaba por facilitar o

deslocamento dos técnicos.

Além da infraestrutura para os encontros, cabe destacar que outros recursos

são acionados ao longo do processo. A equipe do Cenpec e FIS realiza um

acompanhamento junto à equipe da SEME a distância, por telefone, email e,

eventualmente, por Skype.

Já a comunicação da SEME com as escolas, por exemplo, acontece por meio

de CI – circular interna – para envio de documentos e informações oficiais e

também por email, telefone e WhatsApp (nesse último, grupos de

coordenadores e integradores sociais recebem comunicados e trocam

informações em geral sobre o Programa).

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2.5 Passo a passo das reuniões e encontros

A fim de detalhar o ciclo operacional do acompanhamento pedagógico, cabe

demonstrar o passo a passo de como as reuniões e encontros acontecem.

Reuniões entre a assessoria Cenpec, FIS e a SEME8

As reuniões desenvolvidas mensalmente entre a assessoria Cenpec e FIS e

SEME são voltadas ao planejamento, preparação e avaliação do

acompanhamento pedagógico e possuem o seguinte ritual:

1) Aquecimento: retomada das últimas reuniões e discussões para

aquecer a memória e também para informar a todos os

participantes sobre o andamento do trabalho (o que ficou dos

combinados e encaminhamentos da reunião anterior, o que foi

feito, o que está em aberto, etc.);

2) Discussão sobre a última rodada de acompanhamento realizado –

individualizado ou regionalizado: as equipes compartilham as

informações, dados e percepções e fazem as análises sobre os

pontos positivos, negativos e aprendizados. Também definem as

necessidades e pontos de atenção de cada escola ou do conjunto

de escolas;

3) Combinados e próximos passos: definição da pauta da próxima

rodada de acompanhamento pedagógico, com discussão sobre os

objetivos, informações e metodologias a serem utilizadas;

4) Avaliação conjunta da reunião: momento final em que os

participantes avaliam a reunião realizada de formas variadas, ora

em roda de conversa, ora registrando o que acham pertinente para

que seja compartilhado na reunião seguinte.

Normalmente, as informações referentes à rodada de acompanhamento

pedagógico anterior são sistematizadas pela equipe do Cenpec e FIS e

apresentadas na reunião seguinte, junto com equipe da SEME. Essas

informações são a base para o desenvolvimento das propostas de reflexão e

encaminhamentos que a equipe da assessoria prepara para ser tratada com

a equipe da Secretaria.

8Para detalhamento do histórico das reuniões que ocorreram entre Cenpec/FIS e SEME em 2016, vide Anexo 1, ao final do documento.

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45

Durante as reuniões, também são pensadas diferentes estratégias e

intervenções para consolidar ainda mais o trabalho da SEME junto às escolas,

fortalecendo a abertura/confiança e a escuta e diálogo entre ambas. Nesse

sentido, o estímulo à reflexão e à autoavaliação sobre a atuação de cada

sujeito envolvido acontece continuamente nesse processo, bem como a

análise dos desafios e das potencialidades de cada realidade e de cada escola.

A equipe do Cenpec e FIS atua no apoio, suporte, organização e estruturação

das propostas e pautas do acompanhamento pedagógico que a equipe da

Secretaria tratará com as escolas. E utiliza, sobretudo, uma abordagem

reflexiva e participativa, em busca de mais elementos, informações e

perspectivas, incentivando o grupo a desenhar as propostas de forma mais

estruturada e detalhada. Faz sugestões de aprofundamento e convida os

envolvidos a fazer as conexões pedagógicas e metodológicas com maior

intencionalidade. Há também sugestões de ferramentas, instrumentos e

recursos pedagógicos diversos, que podem ser acionados pela SEME na

orientação das escolas.

A cada encontro de assessoria da equipe do Cenpec e FIS com a SEME, é

construído um cartaz para registro, que contém as seguintes informações:

tema e número do encontro, participantes, pauta, desenvolvimento, tarefas e

avaliação. Ao final dos encontros, a equipe da Coordenação de Educação

Integral da SEME fica com o cartaz para posterior consulta e análise, e a

equipe do Cenpec e FIS faz um registro fotográfico para depois transcrever

e inserir as informações nas atas das reuniões – enviadas logo em seguida à

Secretaria.

Cabe pontuar que a equipe do Cenpec e FIS mantém uma rotina de trabalho

entre as reuniões, a fim de produzir as atas e relatórios, dar andamento aos

encaminhamentos combinados e realizar encontros internos de reflexão

sobre os pontos de atenção relacionados à condução do acompanhamento

pedagógico em Vitória. Há também trabalhos de pesquisa de materiais e de

referências conceituais e teóricas que possam vir a auxiliar o desenvolvimento

das ações, de acordo com as demandas identificadas, contribuindo para a

proposição de ações e intervenções mais adequadas.

Ao longo desse trabalho, vale destacar alguns aprendizados que essa

dinâmica de encontros proporcionou para a equipe da assessoria do Cenpec

e da FIS:

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• Garantia de abertura e flexibilidade em relação às bases inicialmente

planejadas: o trabalho exige, sobretudo, a capacidade de lidar com

diversas demandas, nem sempre esperadas, tanto advindas da

Secretaria de Educação quanto das equipes das escolas. Os caminhos

traçados para responder a essas demandas devem contar com

abertura e flexibilidade em relação ao planejado inicialmente, de modo

a respeitar os limites, as possibilidades e a disponibilidade da equipe

da SEME. Além disso, a equipe da assessoria tem que se aprimorar

constantemente para dialogar com aspectos não previstos e que vão

surgindo a partir do contato da Secretaria com as escolas;

• Absorção de funções e atribuições não previstas inicialmente: os

combinados iniciais de aporte por parte da assessoria muitas vezes

passaram por transformações a fim de garantir o bom andamento e

qualidade do trabalho. A assessoria teve que assumir, por exemplo, o

registro das reuniões ao perceber que a equipe da SEME não teria

condições de desenvolver essa atividade, por conta de sua intensa

rotina de trabalho;

• Escuta ativa e observação das relações: as complexidades inerentes às

relações cotidianas vivenciadas nas escolas pelos diversos atores e aos

conflitos entre os mesmos exigiram, por parte da assessoria, um

processo de escuta ativa e de observação das relações. A

compreensão de como as relações são estabelecidas e mantidas, o

olhar para o impacto de algumas ações na aprendizagem dos

estudantes e o entendimento de que era necessário preparar os

profissionais para trabalharem em prol da garantia de direitos das

crianças e adolescentes foram fundamentais e, muitas vezes,

extrapolaram os aspectos estritamente técnicos relacionados ao

acompanhamento pedagógico;

• Articulação das ações de formação e de acompanhamento

pedagógico: a equipe da assessoria identificou a necessidade de

pensar os dois processos de trabalho junto à Secretaria de forma

articulada, a fim de gerar uma ação efetiva dentro do Programa de

Educação Integral. Tal esforço foi desafiador à medida que exigiu uma

atuação multidimensional por parte da assessoria. O desenvolvimento

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47

das atividades das duas frentes revelou a importância de criar sinergia

entre os assuntos tratados no acompanhamento pedagógico e aqueles

abordados nas formações;

• Indicadores, monitoramento e avaliação do Programa: elaborados em

conjunto com a equipe da SEME, a equipe da assessoria percebeu a

necessidade de aprimoramento dos indicadores desenhados na fase

do piloto, no sentido de avançar para a consolidação de uma matriz de

monitoramento e avaliação das ações do Programa. Foi identificada a

importância desse instrumento, a fim de auxiliar a Secretaria nessa

construção, concedendo parâmetros para o acompanhamento das

atividades desenvolvidas nas escolas.

Encontros individualizados de acompanhamento pedagógico

Como dito anteriormente, esses encontros acontecem uma vez a cada dois

meses, totalizando quatro encontros por ano. Eles têm duração média de

duas horas, ocorrem nas próprias escolas, nas salas de aula e/ou salas

reservadas para atividades da Educação Integral.

São convidados para participar os coordenadores da Educação Integral, os

integradores sociais, pedagogos e diretores das escolas – em alguns casos,

os professores também (participam obrigatoriamente os coordenadores e

integradores sociais, sendo que, a depender do horário/período da reunião,

nem todos da equipe diretiva – diretores e pedagogos – podem participar).

Nas escolas que não têm coordenador, participam apenas os integradores

sociais.

Os técnicos da SEME agendam previamente os encontros com as escolas, de

acordo com a disponibilidade e agenda de ambos. Também enviam um

lembrete/mensagem alguns dias antes da reunião.

Os encontros individuais têm início com os informes gerais do Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada e também informes da SEME. Em

seguida, os demais participantes também compartilham informações gerais

sobre a escola e as últimas ações e atividades desenvolvidas.

Também são lembrados/reafirmados no início do encontro os objetivos

gerais do acompanhamento pedagógico e do trabalho/atuação da

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Coordenação de Educação Integral por parte da SEME (apoio e suporte às

escolas em todas as atividades da Educação Integral e o estímulo e incentivo

ao planejamento conjunto/integrado das ações com a escola, tendo em vista

a ampliação das oportunidades de aprendizado para os alunos).

Os técnicos da SEME possuem um instrumento chamado “Registro do

Acompanhamento Pedagógico Individualizado” (modelo consta no anexo 4),

utilizado durante o encontro e preenchido à mão, e conduzem a reunião a

partir das questões e pontos ali colocados: nome da escola, data da visita,

responsáveis presentes, planejamento semanal, objetivo escolhido pelas

escolas e outras perguntas relativas ao andamento das atividades.

Em relação ao planejamento das atividades, os técnicos buscam identificar

como a equipe da escola está desenvolvendo as atividades, em que

momentos se reúnem, quem participa, que escolhas são feitas, como

organizam os tempos e os espaços, como as atividades se articulam com o

ensino regular na escola, a participação e interesse dos alunos, e quais vêm

sendo os desafios, conquistas e aprendizados. Segue-se, então, o momento

em que os coordenadores, integradores sociais, pedagogos e/ou diretores

descrevem/compartilham essas informações.

A abordagem dos técnicos busca tanto problematizar e convidar os

participantes a refletirem /avaliarem em conjunto alternativas /caminhos

/possibilidades, quanto dar sugestões, orientações e direcionamentos para

aprimorar o trabalho e superar os desafios. Os participantes também

apresentam ao técnico as dúvidas mais diversas sobre o Programa, incluindo

questões operacionais e administrativas, além de pedidos e demandas

específicas de cada escola.

O objetivo do trabalho da Educação Integral é definido pela própria escola

no início do ano e também é tema de pauta do encontro individual de

acompanhamento pedagógico. Esse objetivo é estabelecido tendo em vista

as ações e resultados que ela pretende alcançar com as atividades da

Educação Integral ao longo do ano, de forma que atenda/compreenda a

realidade e características de cada escola, assim como a articulação com o

ensino regular, visando à integração cada vez maior entre eles.

Os técnicos propõem reflexões sobre a relação/alinhamento do objetivo com

as atividades e o trabalho que está sendo desenvolvido na escola, com o

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49

intuito de avaliar em que medida os objetivos estão sendo alcançados ou o

que é ainda necessário para alcançá-los.

O conhecimento e o contato que os técnicos têm com as escolas também

lhes possibilitam ter um panorama dos potenciais de cada uma, dos espaços

e infraestrutura disponíveis e das possíveis atividades, projetos e ações que

podem ser desenvolvidos. Existe, por parte deles, grande interesse e

disponibilidade em sugerir e ajudar a elaborar ações criativas e significativas,

que proporcionem experiências diferenciadas de aprendizagem, com o

intuito de promover dinâmicas complementares àquelas que os alunos já

vivem no ensino regular.

Há outros temas abordados nos encontros, que podem ser resumidos em:

verificação do número de alunos atendidos versus o número de vagas

disponíveis e como estão procedendo com listas de espera; levantamento

sobre número de alunos evadidos/desistentes e seus motivos; agendamentos

de saídas pedagógicas (transporte e locais visitados) e a relação dessas

saídas com o aprendizado dos alunos, no desenvolvimento do trabalho em

sala de aula e a importância de escutar também os alunos na definição e

escolha dos locais; consolidação de agendas conjuntas com os pedagogos e

diretores das escolas em busca de maior integração e articulação da

Educação Integral com a escola como todo.

Ao final dos encontros, são feitos os encaminhamentos e

combinados/compromissos finais entre os técnicos e a equipe da escola e,

em seguida, reserva-se um momento livre para dúvidas, sugestões, outros

informes, etc.

Encontros regionalizados de acompanhamento pedagógico

Como dito anteriormente, esses encontros acontecem uma vez a cada dois

meses, de forma intercalada com os encontros individuais, totalizando quatro

encontros por ano. Os encontros têm duração média de três horas e

acontecem em uma das escolas do grupo/polo regional de escolas, nas salas,

auditórios e/ou demais espaços reservados para atividades da Educação

Integral. São oito grupos/polos de escolas e cada um abrange seis escolas,

em média.

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São convidados para participar desses encontros os coordenadores da

Educação Integral, os integradores sociais, pedagogos e diretores das

escolas. Participam obrigatoriamente os coordenadores e integradores

sociais, sendo que, a depender do horário/período da reunião, nem todos

podem participar. E nas escolas que não têm coordenador, participam apenas

os integradores sociais.

Os técnicos da SEME também agendam previamente os encontros com as

escolas e enviam um lembrete/mensagem alguns dias antes da reunião.

Os encontros regionais9 têm início com as boas-vindas aos participantes e os

informes gerais do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada,

além de informes da SEME. Em seguida, os técnicos comunicam a pauta do

encontro e as atividades que serão realizadas. Pode haver alguma dinâmica

de grupo antes de iniciar o trabalho, com intuito de estimular, descontrair ou

despertar entusiasmo nos participantes.

Para o acompanhamento pedagógico regionalizado, a Coordenação de

Educação Integral da SEME estabeleceu, no início do ano, um objetivo para

guiar/nortear as ações a serem desenvolvidas ao longo do ano com os

grupos/polos de escolas. O objetivo escolhido foi “ampliar o conhecimento

dos espaços públicos da cidade e do entorno da escola e seu potencial

educativo”, uma vez que a equipe da SEME identificou a necessidade da rede

aprofundar o conhecimento sobre esse tema e compreender a possibilidade

de vivenciar e reconhecer o território da escola de outras formas.

Após a definição desse objetivo no início do ano, no primeiro encontro

regional, a Coordenação de Educação Integral da SEME identificou com as

escolas quais espaços no entorno são utilizados e quais são reconhecidos e

podem ser indicados como espaços a serem visitados. Nesse mesmo

encontro, os coordenadores, integradores e demais participantes receberam

uma “tarefa de casa”10, que foi uma pesquisa/investigação sobre os espaços

de interesse dos alunos, professores e famílias no entorno da escola.

Para o segundo encontro regional, os coordenadores foram convidados com

antecedência pela Coordenação de Educação Integral da SEME a

9 Acompanhamos apenas um encontro regional, conduzido pelo técnico Fábio, realizado em outubro/2016. 10 Esse é o nome que os técnicos dão às ações/atividades que são solicitadas às escolas para serem realizadas entre um encontro e outro.

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51

participarem do planejamento e da elaboração da pauta. O intuito era

aproximar e incluir esse sujeito de forma ativa e propositiva nas ações do

acompanhamento pedagógico.

O interesse e a disponibilidade deles nesse processo resultaram em maior

participação e dedicação ao desenvolvimento do Programa nas escolas, além

de enriquecer a pauta do encontro com as perspectivas do cotidiano de

trabalho dos coordenadores. Cada escola, portanto, realizou diversas

atividades com os alunos nesses espaços do entorno e os coordenadores

compartilharam suas experiências durante este segundo encontro regional.

No terceiro encontro regional, os próprios coordenadores e integradores

sociais também foram convidados para participar de uma vivência no

território da escola anfitriã do encontro. Os coordenadores das escolas que

receberam os demais colegas que compõem o grupo/polo de escola

planejaram e desenvolveram, com apoio da Coordenação de Educação

Integral da SEME, uma atividade exploratória em algum local da região. A

atividade pretendia evidenciar as diferentes possibilidades de trabalho,

abordagens, articulações de temas/conteúdos e atividades que podem ser

desenvolvidas com os alunos. E também a possibilidade de trabalhar

territórios comuns a duas ou mais escolas a partir da realização de

planejamentos conjuntos entre os coordenadores.

No quarto encontro regionalizado, foi realizada uma avaliação do

acompanhamento pedagógico da Educação Integral, tanto do

acompanhamento regionalizado quanto do individualizado, ao longo do ano

2016. Os participantes foram convidados a avaliar esse trabalho, assim como

suas experiências e percepções a partir de diferentes aspectos. Esse encontro

gerou informações importantes para a equipe de Coordenação de Educação

Integral sobre as dificuldades, desafios, desejos e demandas das escolas. Foi

também uma oportunidade de avaliar o acompanhamento pedagógico e o

desenvolvimento do Programa como um todo, com vistas ao aprimoramento

das ações para 2017.

Em linhas gerais, podemos resumir o fluxo geral do acompanhamento

pedagógico, considerando as diferentes atividades e os diferentes atores

desenvolvidos, de acordo com o diagrama a seguir.

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Diagrama 8 – Fluxo geral do acompanhamento pedagógico

2.6 Os efeitos do acompanhamento pedagógico nas escolas

Para a equipe da Secretaria, antes da implantação de acompanhamento

pedagógico, o registro das escolas em relação às ações do Programa não era

sistemático e não possuía um viés pedagógico ou curricular esperado pela

SEME. Tanto o planejamento quanto o

registro eram mais aleatórios e esporádicos.

O “Plano de Trabalho da Educação Integral”

(modelo consta no anexo 3) das escolas foi

apontado como um importante instrumento

de registro. A SEME orienta as escolas a

fazerem o plano de todo Programa, com o

detalhamento das atividades que serão

realizadas naquele ano.

A escola também faz um plano semanal de

atividades, que deve ser afixado não apenas

na sala/espaço da Educação Integral, mas

Buscou-se, então, inverter

essa lógica, ou seja, pensar

primeiro nos objetivos de

aprendizagem e no

conhecimento que se deseja

desenvolver para, então,

buscar lugares interessantes

que possam ampliar as

oportunidades de experiência

e aprendizados dos alunos.

(Janine Mattar Pereira de

Castro, atual subsecretária

pedagógica da SEME)

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53

também em outros espaços, para integrar ainda mais o Programa como parte

da escola.

No acompanhamento pedagógico, os técnicos orientam os coordenadores a

compartilharem esse planejamento com os pedagogos, professores, pais e

comunidade escolar em geral. É importante que todos tenham conhecimento

sobre o trabalho que está sendo desenvolvido e também possam envolver-

se e sentir-se parte das ações do Programa.

Além do planejamento semanal de atividades, relatórios de atividades,

projetos desenvolvidos e do plano de trabalho, as escolas têm o registro de

frequência dos estudantes nas diferentes atividades. O plano de trabalho tem

um formato específico orientado pela SEME e os demais registros ficam a

critério de cada escola, podendo ser registrados de diferentes formas.

As informações dos encontros individuais, registradas em papel pelos

técnicos, são levadas à SEME e compartilhadas com a equipe do Cenpec e

FIS, que passa esses dados para uma planilha em Excel, denominada “Planilha

do Acompanhamento Pedagógico” (modelo consta no anexo 5), que reúne

as informações dos encontros individuais realizados e dados das escolas

acompanhadas: número de vagas publicadas, número de crianças atendidas,

matrículas por gênero, faixa etária, estudantes com deficiência, estudantes

em defasagem idade/série, estudantes “evadidos”, lista de espera, tipo de

registro de frequência e objetivo do acompanhamento pedagógico.

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CAPÍTULO 3 - CONDICIONALIDADES, POTENCIALIDADES E DESAFIOS DO

TRABALHO DE ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO

Este capítulo apresenta uma análise reflexiva sobre as condicionalidades, as

potencialidades e desafios do trabalho de acompanhamento pedagógico,

observados a partir do processo de sistematização da experiência.

A análise do contexto e histórico da parceria entre Cenpec, FIS e SEME e o

registro e sistematização das premissas, dos fundamentos metodológicos e

da operação do acompanhamento pedagógico permitiram mapear algumas

condições locais que facilitam o desenvolvimento da iniciativa,

potencialidades que podem ser suscitadas com a experiência e desafios que

ainda precisam ser superados ao longo da continuidade do trabalho.

3.1 Condicionalidades

Entendendo condicionalidades como aspectos específicos e características

locais que influenciam os resultados do trabalho de acompanhamento

pedagógico realizado em Vitória, estão listados a seguir alguns pontos que

merecem destaque.

• Histórico do município de Vitória com Educação Integral

Como visto no capítulo 1, o histórico do município de Vitória com a Educação

Integral, com ações que vêm sendo aprimoradas desde a década de 1980, e

a busca pela consolidação das fundamentações teóricas e práticas da política

e do Programa de Educação Integral são características marcantes que

facilitaram o estabelecimento do processo de acompanhamento pedagógico.

A atenção dada às políticas de Educação Integral no município demonstra

uma preocupação com o tema por parte da Secretaria Municipal de Educação

e também um desejo institucional de desenvolver ações nesse campo,

essencial para a realização desse tipo de iniciativa. Entende-se também que

o Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada já é desenvolvido

no município há mais de dez anos, o que contribui com o acúmulo de

conhecimentos e experiências por parte da Secretaria de Educação,

indicando o compromisso com seu aperfeiçoamento e continuidade.

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55

Não é comum encontrar Secretarias que possuem a Educação Integral como

um foco e uma preocupação, como acontece em Vitória. Nesse caminho, têm

destaque o interesse por parte da SEME em consolidar um documento com

as diretrizes e orientações de uma política de Educação Integral para o

município e o convite feito ao Cenpec e à FIS para colaborar nesse processo

de qualificação.

Percebe-se, portanto, uma tendência por parte da SEME em assumir a

Educação Integral como uma política de Estado (e não de governo) e essa

vontade se traduziu, inclusive, no investimento financeiro e de recursos

humanos em aspectos específicos relacionados ao Programa, como: a

destinação de verbas por parte da Secretaria para as escolas, a fim de

viabilizar a contratação de ônibus para as saídas pedagógicas (deslocamento

de estudantes aos equipamentos parceiros e/ou para visita em diferentes

espaços educativos da cidade); a conformação de uma equipe específica na

SEME para coordenar o Programa de Educação Integral; e a existência de

coordenadores exclusivos – funcionários da SEME – alocados para garantir

que o Programa se desenvolva nas escolas, assim como a contratação de

integradores sociais, responsáveis pela execução das atividades junto aos

estudantes.

• Comprometimento e qualificação técnica da equipe da SEME

O comprometimento e qualificação da equipe responsável pela Coordenação

de Educação Integral da SEME também são condições que contribuem para

que o trabalho de acompanhamento pedagógico seja realizado. Os

envolvidos têm uma boa formação acadêmica/teórica e uma longa trajetória

na educação pública. Existe excelente abertura para o diálogo e a construção

Quando nós assumimos a Secretaria, uma das questões que nos chamou a

atenção era dar uma visibilidade maior a essa forma de atendimento que não é

um programa ou um projeto, mas que tem caráter de uma política pública, que

está prevista no Plano Nacional de Educação e também no nosso Plano

Municipal de Educação. É essa questão de ampliarmos gradativamente o

atendimento por meio da Educação Integral. Nós entendíamos a necessidade de

isso se constituir inclusive no organograma da nossa Secretaria. (Janine Mattar

Pereira de Castro, atual subsecretária pedagógica da SEME)

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56

coletiva, assim como há o interesse em fazer um trabalho articulado e

integrado aos outros setores e gerências da SEME.

Desde o princípio das ações do Cenpec e FIS em Vitória, foi sendo construído

um alinhamento conceitual e técnico entre a equipe da assessoria e a da

Coordenação da Educação Integral da Secretaria, que se mostrou engajada,

comprometida com o trabalho e disposta a discutir, de maneira crítica e

reflexiva, as possibilidades e limites de sua atuação junto às escolas.

Nesse sentido, entende-se que essa equipe da SEME investiu no “fazer com”

a equipe do Cenpec e da FIS como uma via para a cooperação, colaboração

e construção coletiva das ações relacionadas ao acompanhamento

pedagógico.

• Desenvolvimento de um projeto-piloto de acompanhamento

pedagógico

O desenvolvimento de um projeto-piloto de acompanhamento pedagógico

do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada, que foi realizado

ao longo de 2015 com três escolas da rede municipal, pode ser considerado

uma importante condicionalidade que contribuiu para a consolidação dessa

iniciativa.

Nesse caso, não só a equipe da Coordenação de Educação Integral participou

de forma ativa durante todo processo, assim como os assessores do ensino

regular e da educação especial se envolveram e trabalharam em conjunto

com a assessoria do Cenpec e FIS.

Foi um ganho o fato de o desenho do piloto considerar as experiências já

realizadas por essas equipes no desenvolvimento do acompanhamento

pedagógico, buscando transpor o acúmulo de conhecimento e de reflexão

para a ação concreta junto aos diferentes atores. Assim, foi possível aprender

com as lições do modelo de acompanhamento do ensino regular que já era

realizado e pensar em um formato que pudesse dar conta das necessidades

relacionadas à Educação Integral e à articulação das atividades do Programa

no interior das escolas.

Em meio ao desafio do atendimento em escala, nem sempre as Secretarias

de Educação estão dispostas a testar as iniciativas apenas com algumas

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escolas antes de sua extensão para toda a rede. Por isso, considera-se

louvável e corajoso o aceite da proposta feita pelo Cenpec e pela FIS e a

decisão institucional, por parte da SEME, em realizar primeiro um projeto-

piloto que ajudasse a solidificar algumas bases do trabalho antes da expansão

do acompanhamento pedagógico para as 43 escolas participantes do

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada, que aconteceu em

2016.

Como apresentado no primeiro capítulo, por mais que a escala tenha exigido

que fossem feitos ajustes e adaptações na proposta inicialmente

desenvolvida, considera-se que a experiência de 2015 agregou valor,

robustez e ampliou as chances do sucesso do trabalho de acompanhamento

pedagógico realizado a partir de 2016.

• Condições do território

Como apresentado no capítulo 2, considera-se que Vitória é uma capital

pequena (com 359.555 habitantes e uma área de 96,536 km², segundo o IBGE

2016), sendo que o número de escolas e a proximidade entre elas facilitam

muito os deslocamentos dos técnicos para as unidades escolares.

Possivelmente, se a extensão territorial fosse maior, ou mesmo se as

condições de acesso às escolas fossem mais difíceis, os encontros

individualizados não poderiam ser realizados com a frequência estabelecida

pelo modelo de acompanhamento pedagógico realizado em 2016.

Nesse sentido, as condições do próprio território parecem auxiliar o

desenvolvimento das ações, uma vez que, mesmo tendo uma equipe

reduzida, a SEME pode potencializar o acompanhamento das escolas com

visitas periódicas, in loco e individuais. Tal formato ajuda a estreitar a relação

Eu acho que a gente teve um movimento significativo, porque nós saímos de

uma discussão de diretrizes que, muitas vezes, corre o risco de ficar no papel ou

de ficar de forma muito teórica no discurso das pessoas e nós passamos a olhar

e ajudar a melhorar práticas concretas de técnicos de Secretarias de equipes

escolares. Isso passou por formação, por acompanhamento in loco e ganhou

uma robustez. Nesse sentido e ao meu ver, isso faz com que a sustentabilidade

também aumente. (Patricia Mota Guedes, gerente de Gestão do Conhecimento

da FIS)

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58

entre a Secretaria e as equipes escolares, pois intensifica o fluxo de

comunicação sobre o andamento do Programa, em uma via de mão dupla:

entende-se que há mais possibilidade de ação e intervenção da equipe de

SEME junto às escolas, assim como também o encaminhamento das

demandas por parte das escolas para a Secretaria fica mais ágil.

3.2 Potencialidades

Nesse tópico, serão apresentadas algumas das potencialidades identificadas

no processo de desenvolvimento do acompanhamento pedagógico do

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada em Vitória. Tais

potencialidades são consideradas lições aprendidas e podem servir como

inspiração para outras organizações públicas e privadas que queiram

desenvolver trabalhos semelhantes em seus locais de atuação.

• Articulação e mobilização de ações e atores no interior das escolas e

no sistema de ensino como um todo

A Educação Integral, no âmbito do processo de acompanhamento

pedagógico, é compreendida em sua dimensão pedagógica e formativa, que

não se limita a um tempo e espaço à parte do que acontece na escola, mas

sim deve ser entendida como um suporte transversal importante para o

desenvolvimento da formação integral dos estudantes. Nesse sentido,

entende-se que a presença de ações e programas de Educação Integral na

escola tem o grande potencial na integração de iniciativas, atores e ações no

interior das unidades escolares.

Por ser transversal, e não uma proposta à parte, há espaço para que exista,

no interior das escolas, maior articulação entre a Educação Integral e o ensino

regular e esse deve ser o foco de ações desenvolvidas quando tratamos desse

tipo de iniciativa.

Assim, experiências como o Programa de Educação Integral com Jornada

Ampliada de Vitória abrem diversas possibilidades de expansão das práticas

pedagógicas que ocorrem nas escolas e cabe ao acompanhamento

pedagógico incentivar que os atores escolares explorem essas possibilidades.

Mesmo ocorrendo no contraturno, atividades que estimulem aspectos

relacionados à formação integral dos indivíduos podem contribuir com a

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59

melhoria no rendimento e aprendizado dos alunos, assim como para o

desenvolvimento de habilidades e atitudes socioemocionais que incentivem

a presença e dedicação dos estudantes.

Dessa maneira, o conceito de Educação Integral, seus objetivos e propostas

de trabalho, se melhor compreendidos e incorporados pelas interlocutores

envolvidos, podem contribuir muito para a qualidade dos processos e a

aprendizagem junto aos alunos. Contudo, tais elementos devem estar

pactuados entre todas as instâncias do sistema de ensino e devem ser objeto

de discussão dos encontros de acompanhamento pedagógico, a fim de

incentivar o planejamento comum das ações, com base no diagnóstico e

necessidades de cada escola.

Com a sistematização desenvolvida, ficou claro que nas unidades escolares

em que há maior participação dos diretores e pedagogos nos encontros de

acompanhamento pedagógico, a compreensão da Educação Integral como

conceito educacional e não só como um programa específico da escola é

melhor difundida/assimilada e as ações são mais consistentes.

Além disso, no âmbito institucional da rede de ensino, o desenvolvimento de

iniciativas como essa realizada em Vitória pode suscitar o estreitamento de

relações mais frequentes e qualificadas entre os atores de diversas instâncias

da própria Secretaria de Educação.

Como dito anteriormente, ao mesmo tempo em que diferentes áreas da SEME

se envolveram para discutir e estruturar como seria o processo de

acompanhamento pedagógico junto às escolas, trocando conhecimento,

informações e lições aprendidas, o desenvolvimento do processo de

acompanhamento pedagógico permitiu que a própria equipe da Secretaria

estivesse mais próxima da escola; e a escola, por sua vez, pôde estabelecer

um canal para apresentar as suas próprias demandas e necessidades para a

SEME.

O acompanhamento pedagógico teria, nesse sentido, a dimensão de “ponte”

que possibilita a consolidação de ações mais sistêmicas por parte da SEME e

colabora com a ampliação da articulação e mobilização de diferentes atores

e iniciativas em prol do fortalecimento das unidades escolares.

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• Processos de trabalho que respeitam o fazer participativo

No processo de elaboração da proposta de acompanhamento pedagógico,

um elemento fundamental foi que o trabalho foi desenvolvido de maneira

participativa, levando em consideração as especificidades, os limites e as

demandas da equipe da SEME. Por ter uma equipe pequena, com restrições

de tempo e que atende a outras demandas e agendas relacionadas a outros

temas além da Educação Integral, a proposta desenvolvida foi pensada com

o cuidado para respeitar essa realidade e as características locais.

Entende-se que essa característica do fazer participativo e que leva em

consideração as condições reais de execução das propostas foi fundamental

para potencializar as ações do acompanhamento pedagógico e se configura

como uma importante lição aprendida durante o processo.

Além disso, partindo do fundamento metodológico da ação-reflexão-ação,

destaca-se que o trabalho foi estruturado de modo a ouvir os atores das

diferentes instâncias, não sendo uma política implantada “de cima para

baixo”. De maneira contrária, a configuração do acompanhamento

pedagógico, com encontros regionalizados e individualizados, permite uma

escuta ativa dos atores escolares, que se tornam uma voz relevante para o

aperfeiçoamento do trabalho e para a melhoria contínua dos processos

relacionados ao Programa.

O trabalho de acompanhamento pedagógico possibilita que as demandas das

escolas sejam acolhidas e respeitadas, a partir do diálogo e da valorização

das sugestões, ideias e reflexões dos diferentes atores envolvidos no

desenvolvimento das ações.

Há estratégias para serem identificadas e desenvolvidas pela escola e o

acompanhamento pedagógico pode identificar áreas de formação para as

equipes escolares que são necessárias para que elas possam alavancar. Às vezes,

elas querem fazer, mas não sabem como, e aí entra a formação. E, muitas vezes,

no acompanhamento pedagógico, o técnico também identifica questões mais

sistêmicas que têm a ver com demandas para a Secretaria. (Patricia Mota

Guedes, gerente de Gestão do Conhecimento da FIS)

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• Focalização do atendimento do Programa

O Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada tem como foco de

atendimento os estudantes em condição de vulnerabilidade social. Em meio

à escassez de recursos humanos e financeiros, que impedem a oferta do

Programa para todos alunos, entende-se que a focalização do público a ser

atendido é uma lição aprendida e também uma medida necessária e acertada.

Importante, porém, compreender que essa focalização do atendimento e que

a intersecção entre Educação Integral e a assistência social não podem ser

confundidas com assistencialismo. Infelizmente, ao longo do processo de

sistematização, foi possível perceber que, para alguns atores, existe uma

visão negativa sobre a focalização do público atendido e sobre a relação com

a política de assistência social, acarretando, principalmente, na

estigmatização dos alunos que participam do Programa de Educação Integral

com Jornada Ampliada, que são vistos como “coitados”, “necessitados”, entre

outras conotações pejorativas.

Possuir uma dimensão assistencial significa garantir proteção social aos

estudantes em situação de vulnerabilidade social e respeitar os direitos das

crianças atendidas. Entende-se que medidas relacionadas à área da

assistência social são extremamente necessárias para alguns estudantes que

estão submetidos a riscos e problemas reais no seu cotidiano. Nesse sentido,

o Programa de Educação Integral em Vitória sempre contou com uma

dimensão socioassistencial, sendo fundamental, para isso, o estabelecimento

de ações interssetoriais entre a Secretaria de Educação e as demais

Secretarias Municipais.

Os técnicos da SEME vêm à escola, em média, trimestralmente, perguntam o que

está acontecendo. Normalmente, têm uma ficha de acompanhamento. Nós

trabalhamos em conjunto para restabelecer uma linha de trabalho, um

planejamento ou uma estratégia. Às vezes, iniciamos de uma forma e

percebemos que tem que haver uma mudança para obtermos outro resultado.

Assim, avaliamos se foi satisfatório ou não e o que podemos melhorar. (Raquel

Reis Nurse, integradora social em uma escola da rede)

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Assim, a presença da equipe de Coordenação da Educação Integral nas

escolas, realizando o acompanhamento pedagógico, tem auxiliado a

identificar essas posturas e desconstruir essa imagem pejorativa dos alunos

atendidos. Dessa forma, como lição aprendida, entende-se que o

acompanhamento pedagógico tem um papel importante ao buscar desfazer,

para os diferentes envolvidos, as confusões entre o assistencialismo e a

assistência social.

• Equipes específicas nas escolas

No interior das escolas, existe grande interesse e dedicação por parte dos

coordenadores do Programa e dos integradores sociais. Eles são atores

essenciais no processo de desenvolvimento das ações: planejam e executam

as diferentes atividades, fazem a articulação dentro da escola e buscam

parcerias com organizações diversas, visando explorar o entorno e aproveitar

o potencial da comunidade.

O fato de existirem profissionais alocados especificamente para o

desenvolvimento das ações da Educação Integral pode ser considerado uma

potencialidade do Programa, uma vez que há exemplos do quanto a

proatividade, criatividade e envolvimento desses atores facilitam a execução

das ações e a articulação da Educação Integral com outros aspectos do

cotidiano escolar.

Entende-se que o acompanhamento pedagógico é um excelente canal para

mapear essas potências das escolas, não só relacionadas aos recursos

humanos, mas também a outros aspectos, como infraestrutura ou

participação da comunidade, que muitas vezes precisam de estímulo para

que sejam aprimorados e aproveitados ao máximo.

• Desconstrução do caráter fiscalizador da supervisão escolar

Infelizmente, não é incomum encontrar, em diferentes redes de ensino,

estratégias de supervisão escolar muito centradas nas questões

administrativas e burocráticas, com certo tom mais afeito à fiscalização,

inspeção e cobrança por resultados, e menos centradas no apoio à realização

dos processos internos das escolas, na qualidade de suas práticas

pedagógicas e na formação em serviço de seus atores.

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Nesse sentido, entende-se que o trabalho de acompanhamento pedagógico

desenvolvido em Vitória representa uma desconstrução dessa propostas de

supervisão escolar sedimentadas na chave da fiscalização. O processo de

sistematização revelou que a prática construída e desenvolvida pela SEME,

em conjunto com o Cenpec e a FIS, conseguiu instituir uma forma de

acompanhamento em que a aproximação da Secretaria com as escolas

permite identificar necessidades pedagógicas, conceder suporte formativo e

informativo, apoiar a emancipação dos atores escolares e reunir informações

para a tomada de decisão das diferentes instâncias do sistema.

3.3 Desafios

Neste tópico, serão apresentados os principais desafios do acompanhamento

pedagógico do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada no

município de Vitória, levantados a partir da análise das informações

consolidadas no processo de sistematização.

• Baixo engajamento das escolas no projeto-piloto

Um dos desafios observados foi o baixo engajamento das escolas quando

convidadas a se candidatarem para participar do projeto piloto de

acompanhamento pedagógico, ainda em 2015. O convite foi feito via Carta

Convite (ver anexo 2), enviada por email. Apesar de ter sido encaminhada

para todas as 43 escolas, apenas quatro sinalizaram o interesse em participar

do piloto.

Abaixo estão listadas algumas hipóteses para o baixo engajamento, que

poderiam ser avaliadas por parte da equipe do Cenpec e da FIS, a fim de

pensar em melhorias para os processos de contatação e adesão de escolas

Eu acho que a SEME precisa conhecer o trabalho dos coordenadores e o que

eles desenvolvem na escola. E aí nós acabamos nos sentindo valorizados pelo

que fazemos, então é muito bom que eles conheçam o que estamos fazendo.

(Cacilda Ferreira da Cunha, coordenadora do Programa de Educação Integral

em uma escola da rede)

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em atividades futuras, que venham a ser desenvolvidas nas redes públicas de

ensino.

• Estratégia de contato com as escolas: o convite foi feito por email e

existiram poucas estratégias complementares para divulgar a

proposta do projeto piloto e incentivar a participação das escolas. Esse

ponto, em iniciativas futuras, talvez possa ser foco de atenção, no

sentido de identificar outras estratégias que possam estimular o

interesse dos atores escolares.

• Teor da carta convite: o texto da carta enviada, entre outras

informações, dizia: “Esperamos que várias escolas se inscrevam! Mas,

caso haja mais dos que 3 inscrições, infelizmente, teremos que decidir

com quais trabalharemos esse ano e os critérios utilizados para a

escolha serão os tamanhos diferenciados das unidades escolares e a

localização, de forma a contemplar mais de uma realidade presente na

rede municipal”. Dessa forma, o convite, apesar de enviado para as 43

escolas, indicava que apenas três seriam selecionadas para participar

do piloto. Considera-se que o teor já anunciava que existiria um

processo seletivo (caso existisse o interesse de várias escolas), porém

sem especificar detalhamente os pré-requisitos exigidos para as que

seriam selecionadas. Talvez a restrição do número de participantes e a

falta de clareza sobre os critérios do processo seletivo tenham

desestimulado a inscrição de escolas.

• Condições para a participação no projeto piloto: a carta enviada

indicava que escolas deveriam se comprometer a envolver os

membros da equipe diretiva (diretor, pedagogo e coordenador de

turno) e do Programa de Educação Integral em Jornada Ampliada

(coordenador e integradores sociais) em reuniões mensais com a

equipe da SEME e do Cenpec e FIS. Frente a rotina intensa de trabalho

nas escolas, talvez a exigência de encontros mensais e a consequente

dedicação demandada pelo projeto podem ter sido elementos

restritivos do ponto de vista da adesão das escolas.

• Desconhecimento dos processos envolvidos: pelo teor da carta não

ficava claro o que seria o trabalho de acompanhamento pedagógico

desenvolvido. Sabemos, como dito anteriormente, que há muita

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65

resistência por parte dos atores escolares com estratégias de

supervisão escolar voltadas mais para uma certa “fiscalização” das

escolas e menos para o suporte e acompanhamento do

desenvolvimento de atividades pedagógicas. Nesse sentido, a falta de

informações pode ter gerado resistências por parte das escolas.

• Recursos humanos, materiais e financeiros

No cenário das escolas, foram observados alguns desafios relacionados à

questão dos recursos, que acabam por impactar negativamente a execução

do Programa nas escolas:

• ausência de coordenadores do Programa em algumas escolas, pois

não foram abertas novas vagas para a contratação desses

profissionais;

• diminuição de verbas/recursos, como, por exemplo, do transporte

para saídas pedagógicas – antes semanal, agora quinzenal;

• fim do programa Mais Educação, pois com a ele havia mais

profissionais à disposição, apoiando as ações da Educação Integral;

• alta rotatividade dos integradores sociais, contratados por até dois

anos, impacta no desenvolvimento do Programa nas escolas.

No âmbito da SEME, a questão dos recursos humanos também se mostrou

como um desafio para o desenvolvimento do processo de acompanhamento

pedagógico.

Como visto anteriormente, com uma equipe de três pessoas, existem críticas

em relação à falta de profissionais/técnicos para compor a equipe de

Coordenação de Educação Integral e, além disso, essa equipe atende a

diferentes agendas/demandas concomitantes da própria SEME.

Avalia-se que faltam técnicos para a realização de um trabalho mais estreito

com as escolas, tendo em vista que muitos profissionais se aposentaram ou

estão afastados e não houve concurso público recentemente. Esse é um

desafio apontado não só pela própria equipe da coordenação, mas também

pelas escolas, que sentem falta de um acompanhamento mais “de perto” e de

mais tempo para os encontros.

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66

Os membros da Coordenação de Educação Integral ficam sobrecarregados,

e a rotina intensa de atividades fragiliza os momentos de reflexão para que a

equipe possa analisar os dados e as informações das escolas, compartilhar os

desafios observados nos encontros de acompanhamento, e pensar em

estratégias e intervenções focalizadas e personalizadas.

Percebeu-se que os momentos de reflexão por parte da equipe da SEME

acontecem quase que exclusivamente nas reuniões de planejamento com

assessoria do Cenpec e da FIS. Contudo, como esses encontros ocorrem

apenas uma vez por mês, entende-se que os espaços para a reflexão não são

suficientes.

Outro desafio identificado é que entre a equipe da Coordenação da Educação

Integral as responsabilidades e divisão de tarefas não é muito clara: todos

fazem tudo e se dividem de acordo com as demandas e atividades pré-

estabelecidas e as que vão surgindo (entre elas, o acompanhamento

pedagógico).

Soma-se a isso o fato de que a comunicação interna da SEME, entre áreas e

gerências, também foi citada com um desafio por diferentes interlocutores

ao longo do processo de sistematização. Tanto em relação ao grande fluxo

de informações, quanto em relação às agendas paralelas e concomitantes que

impedem as pessoas de se encontrarem e dialogarem sobre projetos e ações

conjuntas, compartilharem informações sobre o andamento do trabalho, etc.,

o que impacta diretamente na organização da equipe da Educação Integral.

Se tivéssemos um tempo e uma constância maior, seria muito melhor. Nós

entendemos essa questão da demanda, mas, se tivéssemos a oportunidade de ter

um tempo e um planejamento maior, até mesmo uma espécie de congresso ou

seminário sobre isso, para trocarmos experiências a respeito de como foi o

acompanhamento em outras escolas, seria ótimo. (Raquel Reis Nurse, integradora

social em uma escola da rede)

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• Estigmatização do público-alvo do programa

Como dito anteriormente, parte da comunidade educacional envolvida no

Programa de Educação Integral em Vitória enxerga as ações apenas com o

rótulo do “assistencialismo”. Ainda está muito arraigado para diferentes

atores o pensamento de que as ações do Programa servem para “tomar

conta” das crianças no contraturno escolar, e que ali os alunos passam o

tempo livre e fazem passeios fora da escola.

Esse estigma minimiza as possibilidades práticas das atividades da Educação

Integral e o reconhecimento de sua dimensão pedagógica, articulada ao

currículo escolar, e com a função de atender o aluno na sua integralidade.

De certa forma, o próprio decreto e a portaria que estabelecem os critérios

para acesso de crianças e adolescentes ao atendimento da Educação Integral

reforça esse estigma, da maneira como apresentam as condições de

participação e o público beneficiário, “priorizando os seguintes aspectos:

social, de saúde, exposição às violências e situação escolar” (Art.3 da

portaria). Em relação aos critérios de escolha de crianças com problemas de

saúde, é possível ver a seguir um exemplo do que é descrito no decreto:

Saúde

Diagnóstico comprovado de desnutrição

Condições precárias de higiene (corporal e ou socioambiental)

Comprovação de três ou mais internações nos últimos 12 meses

Recorrência de doenças infecto contagiosas e respiratórias

Esses aspectos são exemplos do que consta detalhado na Ficha Cadastral

dos candidatos, mas, muitas vezes, da forma como são descritos, contribuem

para a estigmatiza ção do público selecionado para participar do Programa.

Nesse sentido, é preciso pensar em soluções para desfazer esse estigma, que

devem partir desde as orientações legais até os trâmites práticos que podem

ser desenvolvidos pelo processo de acompanhamento pedagógico para

minimizar esse problema.

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68

• Falta de registro e sistematização das ações, por parte da equipe da

SEME

Os registros das reuniões de planejamento entre a assessoria e a SEME, assim

como dos encaminhamentos, materiais e modelos de documentos, são feitos

pela equipe da assessoria do Cenpec e da FIS. Já nos encontros

regionalizados, em que existe uma lista de presença dos participantes e

também um relato dos técnicos que acompanham cada grupo de escolas, é

feito a mão no papel impresso.

Da mesma forma, o registro do acompanhamento pedagógico

individualizado é feito por meio do preenchimento à mão da ficha “Registro

do Acompanhamento Pedagógico”, que os técnicos levam para a escola.

Cabe a equipe da assessoria a sistematização e consolidação de informações

básicas sobre as escolas (relacionadas mais aos números de atendimento do

Programa e menos sobre sua execução no interior das unidades escolares e

seus resultados).

Nota-se, portanto, que nem tudo o que acontece no âmbito do

acompanhamento pesdagógico e da execução do Programa é registrado;

que os registros realizados não são comumente sistematizados ou passados

a limpo em suportes informatizados por parte da equipe da secretaria; e que

os únicos registros consolidades existentes são aqueles organizados pela

equipe do Cenpec e da FIS.

Assim, percebe-se que a equipe da SEME consegue coletar dados e

informações diversas no acompanhamento pedagógico, mas não consegue

se organizar para garantir o registro perene e acessível. Essa ausência de uma

sistemática de documentação dos assuntos tratados nos encontros revela

que o registro não é uma prioridade em meio a tantas demandas e urgências

e nem foi um processo apropriado por parte da equipe da secretaria.

Isso dificulta a produção de conhecimento sobre o desenvolvimento do

Programa nas escolas e também sobre o próprio processo de

acompanhamento pedagógico.

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69

• Em algumas escolas, o programa ainda não acontece como planejado

Apesar da falta de registro sobre a condução do Programa por parte das

escolas, ao longo da sistematização foram identificados relatos de diferentes

interlocutores sobre algumas fragilidades no processo de execução das

atividades de Educação Integral em algumas escolas, a saber:

• Falta de clareza sobre as responsabilidades com o Programa por parte

dos diferentes atores da escola, bem como sobre o perfil adequado à

função de coordenador de Educação Integral na escola: como foi

apresentado no capítulo 1 não há documentos oficiais atualizados que

descrevam quais são as responsabilidades dos diferentes atores

(diretor, pedagogo, coordenador de turno e professores) junto ao

Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada. Isso pode

prejudicar o envolvimento e engajamento dos atores na execução das

atividades de Educação Integral junto aos alunos. Além disso, não há

descrição de qual o perfil necessário para que um profissional assuma

a função de coordenador de Educação Integral na escola. Hoje, a

seleção desse profissional é feita por indicação do diretor e a ausência

de parâmetros pode afetar a alocação de profissionais qualificados

para a condução das atividades de Educação Integral nas unidades

escolares.

• Falta de integração na escola: em alguns casos, o Programa funcionaria

de forma desarticulada com o ensino regular e os profissionais da

Educação Integral estão apartados, não dialogam e nem fazem

trabalho conjunto com os demais atores. O planejamento da escola

como um todo nem sempre inclui demandas, propostas e atividades

da Educação Integral, e o contrário também acontece. Nem sempre os

horários e agendas das equipes do regular e do integral coincidem, o

que também dificulta o diálogo. Esse planejamento integrado é um

grande desafio para as escolas e, seu estímulo, um desafio para o

acompanhamento pedagógico. A integração e articulação com o

currículo do Ensino Fundamental também é “fraca”. Todavia, os

membros entrevistados da equipe da SEME afirmam que isso tem

mudado gradativamente, pois, no passado, as atividades eram bem

mais “soltas” do que são hoje.

• Os atores da escola não dominam ou conhecem os fundamentos e os

propósitos do Programa de Educação Integral com Jornada Ampliada:

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70

em alguns casos, há relatos sobre o desenvolvimento “da atividade

pela atividade”, sem conseguir estabelecer a ponte com a proposta de

formar os estudantes na sua integralidade. Alguns depoimentos de

atores envolvidos reforçam a impressão de que nem todas as

atividades são realizadas com a clareza e intencionalidade pedagógica

desejada; em algumas escolas, por exemplo, as saídas pedagógicas são

feitas mais como um passeio e sem propostas ou objetivos de

aprendizagem.

• Falta de participação de outros atores escolares nas ações da

Educação Integral: há relatos de diretores e pedagogos - e em alguns

casos professores – convidados para os encontros de

acompanhamento pedagógico individualizado, mas que não

participam dos mesmo. Esse distanciamento das equipes no

planejamento e no desenvolvimento das atividades pode ser reflexo

de múltiplos fatores. Abaixo, estão listadas algumas hipóteses que

poderiam ser exploradas para melhor compreensão dessa falta de

participação dos diferentes atores escolares nas ações da Educação

Integral:

o falta de compreensão dos gestores escolares sobre a

importância do desenvolvimento de ações sistêmicas e

articuladas no interior das escolas;

o falta de interesse das equipes de gestão em participar das

atividades relacionadas ao Programa;

o dificuldades de organização da equipe escolar, em meio

inúmeras demandas e à rotina, para dar conta de incluir e

integrar as atividades do Programa às demais atividades da

escola;

o falta de conhecimento, por parte dos atores escolares, de quais

são as suas responsabilidades no desenvolvimento do

Programa, reiterada pela ausência de documento legal que

oriente tais profissionais sobre as suas atribuições;

o falta de investimento, por parte da SEME, em ações de

engajamento e mobilização dos atores da equipe escolar, para

que esses profissionais participem mais ativamente do

planejamento e desenvolvimento das atividades da Educação

Integral.

• Restrição das atividades desenvolvidas pelas escolas: alguns

entrevistados disseram que as atividades da Educação Integral

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71

desenvolvidas pelas escolas nem sempre são atrativas para os alunos

mais velhos, das séries finais do Ensino Fundamental. Em sua maioria,

são direcionadas para os alunos mais novos, o que leva a um baixo

interesse e participação por parte dos mais velhos.

Em todo caso, também há relatos positivos em que os coordenadores da

Educação Integral têm contato e proximidade maior com a equipe da escola

como um todo, participam de reuniões gerais onde compartilham

informações da Educação Integral e também elaboram ações conjuntas.

Há a percepção de que existem coordenadores com perfil e atuação que

atendem/entendem melhor as propostas de trabalho e sugestões da

Coordenação de Educação Integral e, nessas escolas, há mais autonomia dos

coordenadores e confiança por parte da equipe de coordenação. Nesse

sentido, a equipe da assessoria identifica a necessidade de: (i) estabelecer

com clareza o perfil, os requisitos, as competências e habilidades que os

coordenadores de Educação Integral devem ter, a fim de auxiliar a indicação

de profissionais mais preparados para o cargo; (ii) estabelecer legalmente, e

por meio de diretrizes orientadoras, quais são as atribuições e

responsabilidades desses atores no desenvolvimento do Programa; e (ii)

investir em estratégias de profissionalização de todos os coordenadores do

Programa em relação à sua função social na garantia dos direitos à educação

de crianças e adolescentes.

De certa forma, entende-se que o próprio atendimento da SEME às escolas,

por meio de múltiplas coordenações (de ensino regular, de educação

especial, de acompanhamento pedagógico da Educação Integral), dificulta

uma integração entre os planejamentos internos das unidades escolares. A

escola recebe assessoria de diversos profissionais da Secretaria, o diálogo é

feito com um determinado grupo de profissionais da escola e nem sempre há

tempo disponível para a partilha e troca de informações entre as equipes.

Também, como já sinalizado, faltam registros organizados e sistematizados

das próprias escolas em relação ao desenvolvimento do Programa, das

atividades e dados e informações sobre os resultados junto aos alunos. O

único registro orientado pela Coordenação de Educação Integral para que a

própria escola realize é o Plano de Trabalho da Educação Integral, que deve

ser preenchido e enviado à SEME no início do ano.

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A Secretaria exige também que seja feito um registro de presença dos alunos,

mas o formato é livre e cada escola se organiza por conta própria em relação

a esse e outros registros, tais como planejamentos semanais, relatórios,

portfólios, registros de atividades, registros fotográficos, mensuração de

resultados, etc. Dessa forma, avalia-se a necessidade de instituir uma

sistemática padronizada sobre o que acontece no interior das escolas, a fim

de garantir a coleta de informações mais fidedigna das atividades de

Educação Integral realizadas, de sua pertinência pedagógica e dos efeitos

gerados por elas para os estudantes.

Nesse processo, a assessoria do Cenpec e da FIS também considera que ouvir

os estudantes, considerando as especificidades do Programa, e estimular a

participaçao dos mesmos é fundamental para dar voz aos mais interessados

no desenvolvimento da iniciativa.

Por fim, o Sistema de Gestão Escolar (SGE) da SEME é considerado uma

ferramenta de grande importância na rede, pois integra diversos dados e

informações da área administrativa, educacional e de gestão de todas escolas

do município de Vitória. Contudo, esse sistema não abrange a Educação

Integral de forma completa e inclui apenas os dados de matrícula dos alunos.

A equipe de Coordenação Integral já sinalizou à área responsável da

Secretaria a necessidade de inclusão de um espaço específico para inserir

dados de frequência e desempenho dos alunos, que pudesse estimular e

facilitar o registro por parte das escolas, mas até agora essa solicitação não

foi atendida.

• Objetivos, indicadores: o monitoramento e avaliação do Programa

Os objetivos e indicadores da Educação Integral são vistos de diferentes

formas pelo Cenpec e FIS, pela SEME e pelas escolas. Para a assessoria, eles

ainda são muito frágeis e precisariam ser melhorados e aprimorados para de

fato serem utilizados como instrumento de monitoramento e avaliação pela

SEME e pelas escolas. Para SEME, eles estão prontos e já vêm sendo utilizados

pelos atores. E, por fim, para as escolas, percebe-se que a aplicação no dia a

dia do Programa é reduzida, uma vez que os atores escolares escolhem um

dos objetivos para ser desenvolvido/trabalhado ao longo do ano, mas o

alcance desse objetivo não é, necessariamente, foco do monitoramento e

acompanhamento das ações desenvolvidas.

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Esses itens chamados de objetivos e indicadores foram criados durante o

acompanhamento pedagógico com as escolas-piloto, como um exercício

coletivo com todos os participantes do Programa (SEME, coordenadores,

integradores, diretores, pedagogos, professores, alunos e familiares), com a

proposta inicial de conhecer/entender o que seria uma Educação Integral de

qualidade e o que fazer para alcançá-la.

Os pontos e indicações foram então organizados e divididos por temas,

refletindo toda diversidade de olhares dos participantes sobre os objetivos e

finalidades do Programa e abrangendo, de certa forma, aspectos importantes

para o seu desenvolvimento. Vale ressaltar, porém, que esse exercício, para a

equipe da assessoria, não pretendia ser uma proposta intencional de

monitoramento ou avaliação das ações de acompanhamento pedagógico.

No redesenho da proposta de acompanhamento pedagógico para 2016 –

com todas as escolas participantes do Programa, houve a necessidade de se

definir alguns objetivos e seus desdobramentos por meio de indicadores, e

esse documento, então, após novas inclusões e alterações, passou a ser

utilizado como uma tabela de referência para a SEME e para as escolas.

Importante ressaltar, entretanto, que, pela natureza dos itens listados, os

indicadores não poderiam ser entendidos como indicadores de avaliação e

monitoramento, mas sim como pontos a serem observados nas escolas.

Nesse sentido, permanece como desafio a necessidade de estruturação de

uma sistemática de monitoramento e avaliação que consiga registrar, de

maneira objetiva, o que de fato vem acontecendo nas escolas, analisar a

pertinência pedagógica das atividades de Educação Integral e sua articulação

com as outras ações realizadas pela escola, bem como mensurar os

resultados obtidos pelo Programa junto aos estudantes.

• Sustentabilidade do acompanhamento pedagógico após a saída da

assessoria

As propostas de sustentabilidade e continuidade do acompanhamento

pedagógico começaram a ser desenvolvidas no final do período da parceria

entre a assessoria do Cenpec e da FIS e a SEME. Apesar de ser uma premissa

para o desenvolvimento do trabalho, não houve um plano/projeto de

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continuidade sistematizado/formatado que fosse pensado desde o início da

parceria. Entende-se que tal condição é um desafio e pode trazer certos

riscos para a continuidade do acompanhamento pedagógico, principalmente

quando ocorrem os ciclos eleitorais e de mudança governamental.

Alguns processos do acompanhamento, por exemplo, não foram totalmente

internalizados pela equipe da Secretaria, tais como o registro e a análise das

informações – que ocorrem, fundamentalmente, nas reuniões mensais de

planejamento com a assessoria. Com o cotidiano atribulado de trabalho, será

preciso muito foco e disciplina para que a equipe da SEME continue a

desenvolver algumas atividades como essas sem que elas se percam com o

fim da parceria com o Cenpec e a FIS.

Dessa forma, a proximidade e a integração entre a equipe do Cenpec e da FIS

e a equipe da SEME são muito importantes e positivas por um lado, mas, por

outro, podem ter gerado uma relação de dependência que interfere na

sustentabilidade e na consolidação das práticas de trabalho por parte da

SEME quando a assessoria for encerrada.

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CAPÍTULO 4 - APRENDIZADOS, PERSPECTIVAS E RECOMENDAÇÕES

Em toda assessoria realizada pelo Cenpec e pela FIS, como a que foi

desenvolvida nos últimos anos em Vitória, há sempre a preocupação, no

decorrer e, principalmente, ao final do projeto, de se realizar uma análise

sobre o quão acertadas foram as escolhas e quais foram os resultados obtidos

na percepção dos diferentes envolvidos. Algumas questões se colocam na

busca por melhor compreender efeitos e possibilidades geradas a partir da

iniciativa: foram construídos novos aprendizados? As reflexões e ações

conjuntas desenvolvidas foram incorporadas ou assimiladas por parte da

equipe da Secretaria? Há perspectivas para o futuro com a concretização de

ações previstas, possíveis alterações de rota e aprimoramento dos projetos?

Como foi possível perceber ao longo desta sistematização, a própria

metodologia de assessoria do Cenpec e FIS respeita e incorpora as

particularidades, as expertises e o conhecimento que cada rede de ensino

tem de si própria, de sua trajetória, história e de sua experiência. Por isso,

todo o trabalho de assessoria tem uma característica fundamental, que é a

construção conjunta, em que ambas as equipes – da assessoria e da

Secretaria de Educação – estão envolvidas, sendo atuantes e

corresponsáveis.

Outra característica desse processo foi a existência de uma aceitação mútua

para a realização desse tipo de trabalho. Como apresentado no primeiro

capítulo desta publicação, a assessoria teve início após uma solicitação da

Secretaria Municipal de Educação de Vitória, para tratar de questões

relacionadas a sua política de Educação Integral, tema ao qual FIS e Cenpec

têm se dedicado na última década, por meio de pesquisas, formação de

educadores, acompanhamentos e formulação de projetos em várias partes

do Brasil.

A partir daí, vários caminhos foram construídos no município de Vitória, em

parceria, nesses últimos três anos, passando pela estruturação de diretrizes,

pelo suporte ao desenvolvimento de ações formativas e pela organização,

fundamentação e fortalecimento do trabalho de acompanhamento

pedagógico no âmbito da Educação Integral municipal.

Em relação ao acompanhamento pedagógico, foi possível consolidar um

trabalho longitudinal, mais permanente e contextualizado, que se apoiou em

um processo dialógico e participativo, baseado na premissa metodológica da

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ação-reflexão-ação, conforme apresentado no capítulo 2. Além disso, do

ponto de vista operacional, foi estruturado um conjunto de encontros com a

participação de diferentes atores, com temas relacionados ao Programa de

Educação Integral com Jornada Ampliada e de periodicidade regular, que

possibilitou maior proximidade e mais intensidade no fluxo de comunicação

entre as instâncias da Secretaria de Educação, as regionais e as escolas.

Alguns desafios, como apresentado no capítulo 3, entretanto, permanecem

para serem enfrentados e superados. Todavia, o trabalho de

acompanhamento pedagógico realizado em Vitória pode ser entendido como

um referencial e tem potencialidade para servir como exemplo para outras

organizações ou profissionais com propostas de atuação similares. Por essa

razão, colocou-se em prática o presente trabalho de sistematizar e avaliar o

que foi realizado, ouvir e consultar os envolvidos, aproveitando o

conhecimento acumulado e os modelos desenvolvidos para subsidiar novas

experiências e projetos.

No entanto, tendo em vista a enorme diversidade regional, política,

econômica e cultural de um país como o Brasil, vale a ressalva de que os

caminhos trilhados em Vitória não são automaticamente reprodutíveis em

todos os lugares. Além disso, há características específicas relacionadas ao

cenário político e relacional da Secretaria Municipal de Educação de Vitória

que contribuíram diretamente para que a experiência fosse bem-sucedida.

Como demonstrado também no capítulo 3, são condicionalidades locais que

confluem para que a iniciativa seja considerada na sua essência e de acordo

com as especificidades do município – desencorajando tentativas de

replicação desse processo que não considerem a existência de desafios e

problemas específicos entre as mais de 5 mil redes municipais de educação

do País.

A título de encerramento, este capítulo aborda, a partir da visão dos

entrevistados, os aprendizados e as perspectivas para a continuidade do

acompanhamento pedagógico em Vitória. Ao final, são listadas algumas

recomendações que devem ser levadas em consideração na estruturação

futura de projetos similares, construídas com base nos desafios e lacunas

identificados ao longo do processo de sistematização.

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4.1 Aprendizados

Ao longo do trabalho de sistematização, foram realizadas algumas

entrevistas com aqueles que participaram do processo de acompanhamento

pedagógico, nas suas várias frentes, para colher impressões e saber a opinião

sobre o tipo de aprendizado adquirido com a assessoria realizada para a

Educação Integral da rede municipal.

Ainda no capítulo 2, foram evidenciados alguns aprendizados adquiridos com

o trabalho de acompanhamento pedagógico pela equipe da assessoria do

Cenpec e FIS, como: a percepção da necessidade de abertura e flexibilidade

em relação às bases inicialmente planejadas; a necessidade de absorção de

funções e atribuições não previstas inicialmente em prol do desenvolvimento

do trabalho; a demanda pela escuta ativa, a fim de compreender as

complexidades inerentes às relações cotidianas vivenciadas nas escolas e

pelos diversos atores das diferentes instâncias; a articulação das ações de

formação e de acompanhamento pedagógico, a fim de gerar uma ação

efetiva dentro do Programa de Educação Integral; a demanda pelo

aprimoramento dos indicadores e estratégias de monitoramento e avaliação

das ações do Programa. Esses são alguns dos elementos que contribuíram,

nesses últimos anos, para um processo de aprimoramento constante da

equipe do Cenpec e da FIS, visando ao melhor encaminhamento das

atividades relacionadas ao acompanhamento pedagógico.

De maneira complementar, vale aprofundar a análise sobre os aprendizados

que o processo gerou para os outros atores envolvidos, com os quais se teve

contato durante o processo de sistematização. Nas entrevistas realizadas, foi

unânime a opinião de que o trabalho trouxe aprendizados, alterou,

aperfeiçoou ou fez com que práticas, olhares e novas perspectivas fossem

incorporadas. Foi a isso que se referiu Nádia Perez, uma das coordenadoras

do Programa em uma das escolas da rede, ao declarar que aprendeu “a rever

as práticas, aquilo que você tem como certo, porque não existe uma verdade

absoluta”.

A ideia de que há autonomia para se trabalhar foi apontada como um

aprendizado durante o processo, de acordo com a técnica pedagógica

Myriam Pestana Oliveira, que também falou sobre a possibilidade de olhar

para o próprio trabalho e para a equipe:

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78

Para mim, o maior aprendizado é esse: quebrar um pouco essa

dicotomia, de que a Secretaria só tem que ir à escola para

ensinar ou que a escola tem que ficar esperando a Secretaria

mandar fazer. O maior aprendizado é justamente conseguir

olhar para a minha prática e ver o potencial que eu posso

desenvolver e ver que muita coisa a gente pode fazer, mesmo

sem estrutura.

Sensação semelhante foi experimentada por Viviane dos Santos, atualmente

diretora escolar, quando estava na coordenação:

Enquanto coordenadora, eu aprendi muito quando percebi

como o coordenador de tempo integral é fundamental para

organizar esse trabalho em equipe para que ele realmente dê

resultados positivos.

A valorização e a consciência de que é fundamental o trabalho em equipe são

algumas das questões mais mencionadas pelas educadoras. “Nós estamos

construindo juntos”, afirmou Elizabete Gomes de Souza, assessora

pedagógica; mesma conclusão de Fátima Rodrigues Burslaf, coordenadora

de Educação Integral: “A gente só consegue êxito numa ação quando faz uma

ação coletiva”. Mas foi a subsecretária pedagógica da SEME, Janine Pereira

de Castro, quem se declarou ainda mais enfática quando questionada sobre

os seus aprendizados: “Primeiro, nós não fazemos nada sozinhos; segundo,

nós não devemos fazer nada sozinhos”. E ela explica por que essa foi sua

“grande aprendizagem”:

O mais legal para mim e para a minha grande aprendizagem é

isso: somos um grupo, discutindo, dialogando, refletindo,

problematizando, vivendo, confrontando. Pois é no conflito que

construímos. Aquele conflito que é para colocar pontos de

vistas e não para determinar quem está certo ou errado.

Por se tratar de um trabalho coletivo, Fátima Burslaf ainda acentuou a

necessidade de organização e planejamento da equipe para que funcione e

alcance seus objetivos, em vez de ter de sempre correr para “apagar

incêndios”:

Essa ação coletiva precisa ter hora, ter sistematização, ter

planejamento. A gente precisa se organizar para acompanhar

as ações, não fazer ações esporádicas e achar que está feito.

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Então, você só consegue também atingir um objetivo se você

tem um processo planejado. Um processo que vai ter início,

meio e fim, onde você quer chegar, com que metas você quer

atingir, qual o foco vai dar. Acho que isso é um grande

aprendizado. A gente tem uma mania de querer apagar

incêndio o tempo todo, querendo fazer muitas coisas. Mas

quando a gente elabora um planejamento sistematizado,

sequenciado, que tem um objetivo claro de onde queremos

chegar, os resultados são melhores.

Também aparecem apontadas nas entrevistas uma melhor conceituação do

que seja Educação Integral e, consequentemente, uma maior clareza no que

se refere a ações relacionadas ao projeto desenvolvido em Vitória. Para a

coordenadora Fátima Burslaf, nos anos de assessoria houve a possibilidade

de se:

(...) ter com mais clareza o que a gente espera para Educação

Integral. Acho que essas discussões nesses últimos anos, desde

2014, em que o Cenpec vem acompanhando a gente na escrita

dos documentos, no acompanhamento, na formação e na

política, fizeram com que tivéssemos uma visão sobre o que se

entende por Educação Integral.

Essa ampliação do que significa desenvolver um trabalho de Educação

Integral também foi sentida pela diretora de escola, Viviane Rosa Gomes dos

Santos:

Escola não é só sala de aula, existem outros espaços, outros

tempos que a gente pode conhecer fora da nossa escola, desde

que haja planejamento. Aprendi muito. Aliás, eu aprendo muito

com a Educação Integral. É impressionante.

Para a gerente da área de Gestão do Conhecimento, da Fundação Itaú Social,

Patricia Mota Guedes, o avanço do trabalho em Vitória foi significativo, pois

saltou de uma proposta que, a princípio, iria discutir diretrizes da Educação

Integral, correndo o risco de gerar apenas mais um documento ou de

prevalecer o âmbito teórico, para uma ação mais direta e concreta que afetou

as práticas dos técnicos da Secretaria. E, para ela, existe a percepção de que

a equipe de Educação Integral passou a dialogar mais com as outras equipes

da Secretaria.

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Eu vi essa mudança na forma de se pensar o apoio pedagógico.

Eu acho que esse descolamento não é simples e aconteceu lá.

E eu vejo também uma equipe no órgão central que se

apropriou muito dos temas de Educação Integral, trazendo isso

para a definições das políticas e dos programas. Isso também

não é pequeno, não é trivial. Essa equipe realmente se

apropriou, ela já tinha um nível técnico muito bom quando a

gente chegou, mas se apropriou muito rapidamente da

proposta da assessoria. Eu acho que esse também é um ponto

muito positivo.

Percebe-se, nesse mosaico de visões, que os aprendizados dos envolvidos

foram ricos e variados. Há nos depoimentos, evidentemente, uma sensação

de que a assessoria proporcionou um processo de trabalho em equipe entre

envolvidos, trazendo maior clareza, consistência e segurança não só para a

prática de cada um, como também para a própria política de Educação

Integral em Vitória.

4.2 Perspectivas

Do ponto de vista institucional, o trabalho da assessoria da Fundação Itaú

Social e do Cenpec em Vitória teve em 2016 o seu último ano. A proposta,

entretanto, é que a equipe da SEME dê continuidade às atividades

desenvolvidas no campo da Educação Integral, principalmente no que diz

respeito ao trabalho de acompanhamento pedagógico.

Para isso, no final de 2016, a assessoria trabalhou, em conjunto com a equipe

da Secretaria, no desenvolvimento de um planejamento das ações para o ano

seguinte, mapeando as atividades, de acordo com as demandas da SEME,

que deverão ser desenvolvidas a fim de manter o trabalho de

acompanhamento pedagógico junto às escolas. São propostas desse plano:

• continuidade do acompanhamento pedagógico com as rodadas

individualizadas e as regionalizadas;

• foco no registro dos dados do Programa de Educação Integral no SGE;

• elaboração de uma nova versão da matriz de acompanhamento

(objetivos e indicadores);

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• manutenção do desenvolvimento de estratégias de acompanhamento

pedagógico numa perspectiva dialógica;

• garantia de uma equipe de assessoria comprometida com as questões

de direitos das crianças e adolescentes e com olhar sensível para as

questões de vulnerabilidade social.

Visando, ainda, conceder pistas sobre novos caminhos e possibilidades, as

entrevistas também abordaram as perspectivas de futuro para o

acompanhamento pedagógico e o Programa de Educação Integral de Vitória.

A primeira questão ressaltada nas entrevistas realizadas é o entusiasmo com

que os envolvidos passaram a projetar suas perspectivas, de modo a

imaginarem que essa modalidade e suas posturas deveriam se estender a

toda rede. Mas, antes, dentre as primeiras preocupações, é preciso consolidar

a Educação Integral como política pública, como colocado pela subsecretária

pedagógica Janine de Castro.

É importante ver essa política ir se consolidando; ver as pessoas

se apropriando; é ampliar a formação para os outros sujeitos da

escola, que não sejam só aqueles que trabalham diretamente

com a Educação Integral, ou seja, para que, de fato, esse

conceito possa começar a colar e fazer parte da postura de

todos os educadores da rede, em especial os gestores, aqueles

que estão na função de gestão, e da gestão pedagógica, que

são pedagogos e coordenadores.

Essa defesa ecoa na fala de outros educadores que propõem novas posturas

e ações a partir da SEME. Para Elizabete de Souza, assessora pedagógica, é

preciso “trabalhar de maneira mais articulada e integrada”. Já a coordenadora

Fátima pontuou que, em 2017, com a chegada de novos técnicos à Secretaria

que não vivenciaram todo esse processo com a FIS e o Cenpec, será preciso

que a SEME realize uma formação desses atores, a fim de nivelar o

entendimento e o aprendizado dos mesmos. Para ela, será necessário

empenho para garantir a continuidade e qualidade do trabalho.

A hora que não tiver mais a assessoria da FIS e do Cenpec a

gente precisará rever as práticas e vamos trabalhar para

conseguir fazer com que esse projeto continue. É o início de

uma proposta que é contínua e que é necessária, mas a gente

precisa focar no que é realmente o trabalho da equipe da

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Secretaria. Isso é um desafio grande para se ter mais foco nas

ações.

Percebe-se, com os diferentes depoimentos, que há a consciência, por parte

dos atores, em relação aos desafios colocados para a garantia de

continuidade do trabalho até então realizado. Por outro lado, entende-se que

existem disposição e entusiasmo para enfrentar tais desafios.

4.3 Algumas recomendações para o aprimoramento do acompanhamento

pedagógico em ações futuras

Com base nos conteúdos reunidos no processo de sistematizaçao e a partir

da análise dos caminhos percorridos, das lições aprendidas, das perspectivas

e dos desafios colocados, estão elencadas, a seguir, algumas recomendações

para o aprimoramento do acompanhamento pedagógico em ações futuras e

similares que venham a ser desenvolvidas pelo Cenpec e pela FIS.

• Investir nos processos de engajamento dos atores escolares

Visto que a adesão das escolas e o engajamento de seus profissionais em

programas e projetos da Secretaria são movimentos que guardam certa

fragilidade, vale ressaltar a importância de criar mecanismos para promover

a mobilização e maior participação dos atores escolares, assim como

estruturar processos de comunicação mais eficazes e estratégias alternativas

voltadas para a melhoria dos fluxos de informações entre Secretarias,

regionais e escolas.

Do ponto de vista do engajamento e da mobilização, entende-se a

importância de encontrar maneiras capazes de desenvolver a identificação

dos diferentes atores com a política ou iniciativa que se deseja implantar.

Encontrar canais de diálogo e estabelecer instâncias e espaços institucionais

para a escuta das demandas e necessidades dos envolvidos é fundamental.

Criar empatia e sentimento de pertencimento entre os participantes,

mobilizando agentes protagonistas e/ou lideranças que ajudem a elaborar

objetivos comuns, definir o rumo das ações a serem desencadeadas,

fortalecer a construção de uma coerência entre a iniciativa e a realidade dos

atores podem ser um caminho interessante para promover engajamento.

Entende-se também que a atenção à adequação dos procedimentos

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operacionais escolhidos à rotina dos envolvidos parece ser indispensável para

que a ação coletiva produza seus efeitos esperados.

Os processos de comunicação, compreendidos como essenciais para o

engajamento e a mobilização, merecem destaque especial. É interessante que

sejam estabelecidos procedimentos regulares para que essa comunicação

aconteça, que as estratégias de comunicação estejam a serviço do que se

quer comunicar e que as equipes das Secretarias de Educação sejam

envolvidas e conscientes da necessidade de consolidar práticas mais efetivas

para proporcionar o engajamento das escolas em diferentes ações,

programas e projetos.

Sobre esse ponto, parece ser válido o investimento, por parte da equipe da

assessoria, no desenvolvimento de pesquisas de opinião junto aos atores

escolares sobre o formato de materiais recebidos, as estratégias de

engajamento e de mobilização, ou mesmo sobre as formas pelas quais as

informações são recebidas nas escolas. Conhecer a opinião de diretores,

pedagogos, coordenadores e professores sobre os processos de

comunicação existentes e as práticas de engajamento desenvolvidas por

parte das redes de ensino pode ser fonte importante de conhecimento que

ajude a rever as estratégias até então adotadas.

De maneira complementar, a equipe do Cenpec e da FIS pode realizar, caso

tenha interesse, uma revisão de literatura sobre estratégias de

implementação de projetos, programas e políticas. A proposta aqui é

aprofundar o entendimento sobre como é possível garantir maior aderência

e engajamento dos educadores em estratégias que venham a ser implantadas

por iniciativa das Secretarias de Educação, voltadas para processos de

formação, melhoria de práticas pedagógicas e de condução de ações

gerenciais e pedagógicas no interior das escolas.

Há um conjunto de autores nacionais e internacionais11 dedicados aos estudos

sobre a eficácia de processos de implementação de políticas públicas no

interior de unidades escolares e esse pode ser um importante campo de

11 Sobre esse assunto, indicamos: BROOKE, Nigel (Org.). Marcos históricos na reforma da educação. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012, 520 p. (Coleção EDVCERE, 19); DYER, Caroline. Pesquisando a implementação das políticas educacionais: uma abordagem do mapeamento reverso, 1999; BALL, Stephen J. e MAINARDES, Jefferson. (Orgs.). Políticas Educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortez, 2011; ELMORE, R. F. 1979. Backward Mapping: Implementation research and policy decisions. Political Science Quaterly, New York, v. 94, n.4, p. 601- 616, Winter.

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aprofundamento e análise, a fim de aprimorar os preceitos e as práticas

estabelecidas no trabalho de acompanhamento pedagógico.

• Registro e documentação de todas as etapas

Tendo em vista que não foram encontrados registros detalhados e

sistematizados de todas as etapas percorridas pela assessoria no âmbito do

acompanhamento pedagógico junto à SEME de Vitória, recomenda-se que

esse seja um foco de aprimoramento no desenvolvimento de ações similares

futuras.

Considera-se que o registro de todas as etapas, decisões e lições aprendidas

é de extrema importância, uma vez que possibilita a compreensão da história,

dos caminhos e das escolhas realizadas ao longo do desenvolvimento do

trabalho e pode promover processos de tomada de decisão mais

consistentes.

A implantação de práticas mais sistemáticas nesse campo ajudará, inclusive,

a aprimorar e facilitar o processo de identificação das necessidades e

demandas das equipes das Secretarias e escolas, pois permite consolidar

bases mais objetivas, justas e relevantes para a melhoria da gestão e das

práticas futuras da assessoria, retroalimentando as decisões políticas e

programáticas, a escolha de prioridades a serem atendidas e de otimização e

alocação de recursos.

Além disso, entende-se que esse registro tem que ser objeto de atenção não

só por parte da equipe da assessoria do Cenpec e da FIS, mas também deve

ser colocado como parte inerente ao trabalho das Secretarias. Quando

envolvidas no processo, é fundamental que exista o comprometimento do

registro periódico e sistemático das ações realizadas e que isso seja

atribuição da equipe da Secretaria e das unidades escolares, a fim de

incentivar e demonstrar a importância da documentação adequada e da

preservação da memória das atividades realizadas.

• Monitoramento e avaliação do que acontece nas escolas

Ao longo do processo de sistematização, pouco material sobre o que

acontece de fato no interior das escolas foi coletado, tendo em vista a

escassez de registros organizados e sistematizados, por parte do

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acompanhamento pedagógico, no âmbito do monitoramento e avaliação das

atividades relacionadas ao Programa nas unidades escolares, bem como dos

resultados das ações junto aos estudantes.

Para criar uma sistemática de levantamento, monitoramento e análise e

avaliação das práticas e resultados das unidades escolares, relacionada às

ações da Educação Integral, considera-se fundamental que: (i) o

acompanhamento pedagógico estabeleça critérios e indicadores para

monitorar e avaliar o que acontece no interior das escolas; (ii) sejam

desenvolvidos os procedimentos e instrumentos necessários para a coleta de

informações; (iii) os diferentes atores envolvidos devem ser capacitados para

aplicar o processo de coleta, registro e consolidação dos dados; (iv) sejam

criados espaços ou momentos institucionais de reflexão para análise,

avaliação e replanejamento das ações com base nos dados coletados.

Sem a organização desses elementos, as avaliações correm o risco de se

concentrarem apenas nas percepções dos envolvidos e perde-se a

oportunidade de também coletar dados objetivos sobre quais são as

atividades desenvolvidas e quais resultados essas ações da Educação Integral

podem gerar para o público mais interessado – os alunos.

• Ações sustentáveis ao longo do projeto

Em relação às perspectivas de futuro, percebe-se que, para os entrevistados,

apesar dos desafios encontrados no percurso, as expectativas para a

continuidade do trabalho são bem positivas. Tendo em vista a trajetória que

já foi percorrida e a forte atuação da Coordenação de Educação Integral,

acredita-se que a equipe está empenhada em dar prosseguimento ao

acompanhamento pedagógico, mesmo após o fim da parceria.

Contudo, percebe-se que a perspectiva de sustentabilidade das ações por

parte da equipe da SEME após a saída da assessoria não está completamente

estruturada, apesar de ser uma premissa do acompanhamento pedagógico.

Não foi desenvolvido, por exemplo, um plano de transição específico e

detalhado, com as diferentes atividades que poderiam ocorrer ao longo de

2016, de modo a já preparar a equipe para tocar as ações em sua completude

sem o apoio do Cenpec e da FIS (apesar de esse assunto ter sido abordado

diversas vezes ao longo dos encontros da assessoria com a SEME e de terem

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sido feitas duas reuniões para a estruturação de um cronograma de ações

para 2017).

Para as próximas experiências da assessoria, em outros municípios,

recomenda-se que sejam estruturadas, desde o início, ações que garantam a

sustentabilidade do trabalho após a saída da assessoria e que as mesmas

sejam desenvolvidas ao longo da parceria, e não somente mediante o

encerramento dos trabalhos.

4.4 Encerrando um ciclo de trabalho

A sistematização realizada buscou remontar aspectos da história e do

contexto da política de Educação Integral em Vitória, assim como, no seu

primeiro capítulo, apresentou um breve relato da evolução da parceria entre

o Cenpec, a FIS e a SEME, destacando as principais atividades realizadas

desde sua origem até os dias atuais.

Este documento também abordou, em seu segundo capítulo, o que é o

acompanhamento pedagógico, quais as premissas, conceitos e fundamentos

metodológicos e as ações operacionais que estruturam esse trabalho.

Uma vez compreendidas as bases do acompanhamento pedagógico, buscou-

se, no terceiro capítulo, desenvolver uma análise reflexiva sobre as

condicionalidades, as potencialidades e desafios envolvidos na consecução

de uma iniciativa como essa.

Por fim, o presente e último capítulo abordou os aprendizados e as

perspectivas de futuro para o trabalho de acompanhamento pedagógico

desenvolvido no município para os diferentes atores envolvidos no processo.

Pontuou, ainda, frente às lacunas ou aos desafios encontrados, algumas

recomendações para apoiar a equipe do Cenpec e da FIS para trabalhos

futuros.

Fazendo votos para que as ações estruturadas entre 2014 e 2016 em Vitória

ganhem força e sustentabilidade em 2017, considera-se que a Fundação Itaú

Social e o Cenpec, com a viabilização desta sistematização, firmam mais um

degrau em sua trajetória que visa consolidar uma metodologia de trabalho

para acompanhamento pedagógico da Educação Integral nas redes públicas

do País.

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Referências

Publicações

Cenpec; ITAÚ SOCIAL; UNICEF. Percursos da Educação Integral: em busca da qualidade e da equidade. São Paulo: Cenpec, Itaú Social, Unicef, 2013.

Cenpec; ITAÚ SOCIAL; UNICEF. Tendências para Educação Integral. São Paulo: Cenpec, Itaú Social, Unicef, 2011.

FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

VITÓRIA. Programa Educação em Tempo Integral. Vitória: Secretaria Municipal de Educação, 2010.

Documentos

Cenpec; FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Acompanhamento pedagógico das escolas participantes do Programa Municipal de Educação Integral em Vitória (Relatório). São Paulo: Fundação Itaú Social, Cenpec, 2016.

Cenpec; FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Programa de Assessoria às Políticas de Educação Integral – Parceria entre a Secretaria de Educação de Vitória do Espírito Santo-Fundação Itaú Social – 2015 (Proposta técnica). São Paulo: Fundação Itaú Social, Cenpec, 2015.

Cenpec; FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Programa de Assessoria às Políticas de Educação Integral – Parceria entre a Secretaria Municipal de Educação de Vitória, Fundação Itaú Social e Cenpec (Proposta técnica). São Paulo: Fundação Itaú Social, Cenpec, 2016.

Cenpec; FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Pautas e atas de reuniões de planejamento e de acompanhamento pedagógico com Secretaria de Educação de Vitória (maio a dezembro de 2015). Vitória/São Paulo: Fundação Itaú Social, Cenpec, 2015.

Cenpec; FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Pautas e atas de reuniões de planejamento e de acompanhamento pedagógico com Secretaria de Educação de Vitória (março a agosto de 2016). Vitória/São Paulo: Fundação Itaú Social, Cenpec, 2016.

VITÓRIA-ES (Município). Plano de Trabalho da Educação Integral – Escola Municipal de Ensino Fundamental “Alvimar Silva”. Vitória: Secretaria Municipal de Educação, 2016.

VITÓRIA. Diretrizes para a política de Educação Integral. Vitória: Secretaria Municipal de Educação, 2016.

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Entrevistas:

BURZLOAFF, Fátima Rodrigues (Coordenadora de Educação Integral – Secretaria Municipal de Educação de Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [31 de outubro de 2016]. Vitória (ES).

CASTRO, Janine Mattar Pereira de (Subsecretária pedagógica – Secretaria Municipal de Educação de Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [14 de outubro de 2016]. Vitória (ES).

CUNHA, Cacilda Ferreira da (Coordenadora de Educação Integral da EMEF Castelo Branco – Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [31 de outubro de 2016]. Vitória (ES).

GUEDES, Patricia Mota (Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social). Entrevista concedida à Camila Iwasaki e Ana Luiza Mendes Borges [08 de dezembro de 2016]. São Paulo (SP).

NURSE, Raquel Reis (Integradora social da EMEF Lauro Braga – Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [31 de novembro de 2016]. Vitória (ES).

OLIVEIRA, Myriam Fernandes Pestana (Técnica pedagógica – Secretaria Municipal de Educação de Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [14 de outubro de 2016]. Vitória (ES).

PEREIRA, Nádia Peres de Oliveira (Coordenadora de Educação Integral da EMEF Éber Louzada – Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [31 de outubro de 2016]. Vitória (ES).

SANTOS, Viviane Rosa Gomes dos (Diretora da EMEF Lenir Borlot – Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [30 de novembro de 2016]. Vitória (ES).

SILVA, Letícia Araújo Moreira da e TORRES DE BRITO, Débora de Almeida (Equipe Cenpec). Entrevista concedida à Camila Iwasaki, Ana Luiza Mendes Borges e a Greta Martins de Souza [17 de outubro de 2016]. São Paulo (SP)

SOUZA, Elizabete Gomes de (Assessora pedagógica/Gerência de Ensino Fundamental/ Secretaria Municipal de Educação de Vitória). Entrevista concedida à Greta Martins de Souza [14 de outubro de 2016]. Vitória (ES).

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ANEXOS

Anexo 1 – Histórico das reuniões de planejamento entre Cenpec, FIS e SEME em 2016

Data Atividade Resumo Participantes

MARÇO 10/03/16

Reunião presencial

Apresentação e discussão de itens e temas relativos ao desenvolvimento da assessoria, tais como a proposta do desenho do trabalho a ser desenvolvido em 2016, o relatório produzido sobre o acompanhamento em 2015, assim como uma avaliação sobre a ação em 2015 por parte da SEME junto a seus profissionais, pontuando avanços e desafios ou necessidades de aprimoramento e suas indicações para o ano de 2016 (participação, aprimoramento da comunicação entre as equipes, articulação de acompanhamento e formação, compromisso com a garantia de direito à educação e à aprendizagem). Apresentação e discussão de itens relativos ao desenvolvimento da política pública, como indicações de acompanhamento pedagógico pela equipe da SEME.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam e Fábio. Cenpec: Meyri, Letícia e Débora. Gerência de Formação: Zuleica. Gerência de Educação Infantil: Larissa. Equipe de Assessores (Gerência de Ensino Fundamental): Beta.

ABRIL 07/04/16

Reunião presencial

Retomada de acordos da reunião realizada em março e identificação/avaliação das ações realizadas. Apresentação das informações sobre o contexto da SEME em 2016: mudanças nas equipes e nova Portaria de matrículas. Apontamentos e encaminhamentos sobre a construção de proposta de continuidade do acompanhamento pedagógico e das estratégias de registro, com maior aproximação da equipe do Cenpec e da Fundação para assessoria ao processo, bem como necessidade de aproximação do PEI em relação aos conselhos escolares.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam e Fábio. Cenpec: Meyri, Letícia, Débora e Iara. Gerência de Gestão Democrática: Rosângela. Gerência de Educação Infantil: Larissa. Equipe de assessores (Gerência de Ensino Fundamental): Beta e Luciana. Fundação Itaú Social: Paulo.

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MAIO 05/05/16

Reunião presencial

Socialização da primeira rodada de acompanhamento pedagógico realizado pela Coordenação de Educação Integral em 41 das 43 escolas participantes do PEI: realização pela dupla de técnicos, participação de diversos atores escolares, foco na implementação pelas escolas dos princípios da nova Portaria de matrícula (desafios); socialização do modelo de registro utilizado nas visitas; identificação das estratégias utilizadas para acompanhamento e respectivos indicadores analisados. Definição, junto à SEME, do objetivo geral do acompanhamento pedagógico, das potencialidades e dos desafios das escolas e seus territórios; apresentação, pelo Cenpec, de possibilidades de monitoramento do acompanhamento individualizado e regionalizado e discussão e encaminhamentos sobre os planos de trabalho de 2016 e objetivos e critérios de acompanhamento.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam, Fábio e Fátima. Cenpec: Meyri, Letícia e Débora. Equipe de assessores (Gerência de Ensino Fundamental): Beta e Sheyla. Fundação Itaú Social: Paulo.

JUNHO 02/06/16

Reunião presencial

Socialização do processo de acompanhamento pedagógico regionalizado realizado pela equipe da Coordenação de Educação Integral no mês anterior – no qual foram realizados dois encontros com participação de quatro escolas normalmente representadas pelos coordenadores do Programa e os integradores sociais. Relatos sobre os desafios em relação à participação e troca de experiências, bem como o reconhecimento de potenciais locais e articulação entre as escolas. Apresentação da nova reordenação do processo de acompanhamento individualizado por parte da SEME: participação de um técnico em vez de dois, pois o modo atual deixa os técnicos fora da Secretaria por muito tempo. Análise do relatório da 1ª rodada de acompanhamento pedagógico individual e apontamentos: necessidade de criar modelos específicos para adolescentes e de identificar experiências de algumas escolas com Projeto de Vida e outras iniciativas, bem como promover participação e autonomia.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam, Fábio e Fátima. Cenpec: Meyri, Letícia, Débora e Iara. Equipe de assessores (Gerência de Ensino Fundamental): Beta. CEFAI: Mildred.

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Retomada do documento que aponta objetivos, estratégias e indicadores para o acompanhamento pedagógico e planejamento das próximas ações de acompanhamento pedagógico.

JULHO 14/07/16

Reunião por Skype

Socialização do processo de acompanhamento pedagógico individualizado realizado em junho pela equipe da Coordenação de Educação Integral. Discussão sobre estabelecimento de metas para o acompanhamento pedagógico individualizado, regionalizado e para as ações de formação; análise da ação de acompanhamento regionalizado e definição da pauta norteadora da 2ª rodada de acompanhamento pedagógico regionalizado com indicações de conceitos, conteúdos e abordagens a serem trabalhados pela equipe da Coordenação de Educação Integral.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam, Fábio e Fátima. Cenpec: Débora.

AGOSTO 04/08/16

Reunião presencial

Apresentação da síntese das últimas reuniões de assessoria para o acompanhamento pedagógico e análise do registro da segunda ação de acompanhamento pedagógico regionalizado – retomada dos registros do acompanhamento e o do foco do trabalho em desenvolvimento. Socialização dos informes gerais sobre o Programa: a chegada dos novos coordenadores às escolas, a formação dos integradores sociais – com bom aproveitamento e participação nas atividades e jogos lúdicos e nas discussões das temáticas questões étnico-raciais. Continuação definição da pauta para a 3° ação de acompanhamento individualizada.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam, Fábio e Fátima. Cenpec: Letícia, Débora e Iara.

SETEMBRO 01/09/16

Reunião presencial

Análise do relatório da 2ª rodada de acompanhamento pedagógico individual com a sistematização e análise de dados feitos pelo Cenpec, incluindo a complementação de dados pela SEME. Reflexões e discussão sobre possíveis intervenções em situações

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam e Fábio e Fátima.

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em desacordo com a proposta do PEI, a partir de situações percebidas durante a formação ou acompanhamento e de um levantamento de alternativas sobre possíveis intervenções. Apresentação do calendário do acompanhamento até o final do ano e construção da pauta para a 3º rodada do acompanhamento regionalizado.

Cenpec: Meyri e Iara. Gerência de Formação: Zuleica Gerência de Gestão Democrática: Rosângela. Gerência de Educação Infantil: Alessandra. CEFAI: Mildred. Tomara!: Greta.

OUTUBRO 06/10/16

Reunião presencial

Análise da 3ª rodada do acompanhamento individualizado: pauta e discussões realizadas nas escolas, análise dos dados e gráficos da planilha de acompanhamento pedagógico. Coleta de novos dados e informações para identificar o que as escolas vêm fazendo para alcançar os seus objetivos. Reflexão sobre as ações realizadas na última rodada de acompanhamento individualizado: o que foi feito e pode ser repetido nas próximas e o que não deve ser repetido. Reflexão sobre o conceito de território e a metodologia de estudo do meio. Construção da pauta para a 4º rodada do acompanhamento individualizado, incluindo a socialização dos dados recolhidos pela SEME em 2016, organizados pelo Cenpec em gráficos e tabelas da planilha de acompanhamento; a devolutiva do plano de trabalho das escolas (objetivos do Programa e objetivos das aprendizagens); a avaliação do acompanhamento individualizado nas escolas e projeção/indicações para 2017.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Myriam, Fábio e Fátima. Cenpec: Meyri, Letícia, Débora e Iara. Tomara!: Greta.

NOVEMBRO 17/11/16

Reunião presencial

Apresentação pela equipe do Cenpec de uma proposta de sumário para o relatório final, no qual a equipe de Educação Integral na SEME pode contribuir com sugestões nos itens:

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino

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Retomada do projeto em 2015, Desenvolvimento do acompanhamento pedagógico em 2016, Resultados, Refletindo sobre nossa prática. Balanço do acompanhamento pedagógico e indicações para 2017: discussão e breve avaliação do acompanhamento pedagógico e algumas considerações sobre 2017. Análise da planilha dos dados do acompanhamento nas escolas: verificação dos dados e informações que não constam na planilha e indicação para serem recolhidos com as escolas no próximo encontro individualizado. Construção das pautas dos próximos encontros: acompanhamento regionalizado, individualizado e do fórum de Educação Integral.

Fundamental): Fábio e Fátima. Cenpec: Meyri, Letícia, Débora e Iara.

DEZEMBRO 08-09/12/16

Reunião presencial

Leitura do relatório com a equipe de Coordenação e a assessoria do Cenpec: análise coletiva e contribuições para o texto. Fechamento da planilha dos dados do acompanhamento nas escolas: levantamento dos itens em aberto e preenchimento da planilha. Detalhamento da pauta do acompanhamento regionalizado: discussão sobre a dinâmica de acolhimento, retomada da tarefa anterior e exercício de avaliação do acompanhamento pedagógico.

Detalhamento da pauta do fórum da Educação Integral: discussão sobre a metodologia de apresentação do fórum e sobre a proposta de trabalho. As escolas irão se dividir em diferentes grupos de acordo com os objetivos de trabalho da Educação Integral, compartilharão os avanços e desafios e depois farão apresentação criativa em plenária. Haverá também momento de confraternização dos participantes com café da manhã e almoço no dia do evento.

Coordenação de Educação Integral (Gerência de Ensino Fundamental): Fábio, Fátima e Myriam. Cenpec: Meyri, Letícia, Débora e Iara.

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Anexo 2 – Carta-convite às escolas para participar do projeto-piloto

(CARTA-CONVITE)

Car@s diretores(as) e coordenadores(as) do Programa de Educação em Tempo

Integral,

a Secretaria Municipal de Educação de Vitória (SEME), em parceria com o

Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e

a Fundação Itaú Social, tem o prazer de convidar sua escola a se inscrever para

participar do projeto de acompanhamento do Programa de Educação Integral, que

nos ajudará a elaborar as bases para o acompanhamento técnico e pedagógico das

escolas participantes do Programa.

Você deve estar se perguntando: como funcionará esse projeto? Iremos

escolher três escolas-piloto que tenham interesse de participar do acompanhamento

e que possam receber visitas mensais da assessoria do Cenpec e da SEME para

discutir as potencialidades e os desafios do Programa de Educação Integral dentro

da escola.

Parece interessante, não? Mas como funcionará esse acompanhamento?

Iremos realizar visitas mensais às escolas para conhecer os espaços físicos e discutir

aspectos relacionados ao Programa com a equipe gestora e demais componentes da

comunidade escolar.

Para que possamos realizar um trabalho participativo, decidimos enviar esse

convite. Nesse sentido, a adesão ao acompanhamento proposto é voluntária.

Esperamos que várias escolas se inscrevam! Mas, caso haja mais dos que três

inscrições, infelizmente, teremos que decidir com quais trabalharemos este ano e os

critérios utilizados para a escolha serão os tamanhos diferenciados das unidades

escolares e a localização, de forma a contemplar mais de uma realidade presente na

rede municipal.

A escola que tiver interesse em se inscrever deve enviar um email até o dia XX de

XXXXX para (colocar email da Secretaria) e responder duas perguntas simples sobre

o motivo por que gostaria de ser acompanhada:

• Fazer uma rápida descrição da adesão da escola (Quem participou da

decisão? O que motivou vocês a se inscreverem?);

• Descrever as características da escola: localização, número de alunos e

número de alunos participantes do Programa de Educação Integral

(Programa Municipal de Educação Integral e/ou Programa Mais Educação).

Para construirmos juntos o projeto, é importante que a escola que aderir às visitas

envolva, a princípio, o coordenador do Programa de Educação Integral e a equipe

diretiva da escola.

Esperamos que a troca de experiências fortaleça as práticas escolares e o debate

sobre a Educação Integral para as crianças e adolescentes.

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Anexo 3 - Plano de trabalho da Educação Integral

PLANO DE TRABALHO DA EDUCAÇÃO INTEGRAL

Secretaria Municipal de Educação de Vitória 1. IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA Nome

Bairro

Diretor(a)

Pedagogos Nome Turno Email

Coordenador do Programa Nome Email Telefone

Integradores Nome Email Telefone Turno Formação

Monitores do Mais Educação Nome Email Telefone Turno Formação Oficina

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Espaços da escola utilizados pela Educação Integral Identificar também se a escola disponibiliza uma sala para uso exclusivo da Educação Integral.

Espaços do entorno da escola utilizados pela Educação Integral Considerar: ONGs, CAJUN, praças públicas, parcerias, etc.

A escola tem um projeto institucional? ( ) Sim ( ) Não

Caso tenha, qual o tema desse projeto? Quais atividades da Educação Integral se relacionam com o projeto institucional?

Funcionamento da Educação Integral na escola Dia e horário de planejamento Dias de atividade com estudantes ( ) 5 dias ( ) 4 dias Horário de atividade com estudantes

Matutino Vespertino

2. DIAGNÓSTICO DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO INTEGRAL As informações para o diagnóstico deverão ser obtidas na ficha de matrícula no SGE

Renda familiar

Até R$

260

De R$ 261

a R$ 780

De R$ 781

a R$

1.300

De R$

1.301 a

R$ 1.820

De R$

1.821 a R$

2.600

De R$

2.601 a R$

3.900

De R$

3.901 a

R$ 5.200

De R$

5.201 a R$

6.500

De R$

6.501 a R$

7.800

Acima de R$ 7.800

Total

Número de famílias

PERCEN-TUAL

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Profissões dos pais e das mães Tabular as profissões dos pais e mães e preencher a tabela a seguir

Profissões Número de pais Profissões Número

de mães

Ajudante de obras ASG

ASG Atendente

Caminhoneiro Cabeleireira

Comerciante Diarista

Embalador Doméstica

Flanelinha Estampadora

Motoboy Manicura

Pedreiro Operadora de telemarketing

Pintor Promotora de vendas

Téc. de informática Téc. enfermagem

Vigilante Outra, qual? _____________

Outra, qual? _____________

Nível de escolaridade dos pais

Tabular o nível de escolaridade dos pais e preencher

Grau de escolaridade Quantidade de pais

Analfabeto

Ensino Fundamental incompleto

Ensino Fundamental completo

Ensino Médio incompleto

Ensino Médio completo

Ensino Superior incompleto

Ensino Superior completo

Pós-Graduação

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Estudantes com deficiências

( ) Sim ( ) Não

Quantos?

Quais tipos de deficiências?

Raça/ cor

Encontrar estes dados no Censo escolar

Raça/Cor Branco Pardo Preto Amarelo Indígena

Total

3. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA OBJETIVOS [O que esperamos alcançar em 2016 na Educação Integral na minha escola com base no diagnóstico feito (educacional e socioeconômico) e com base nas Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental?]

JUSTIFICATIVA (Explicar por que escolheram o objetivo acima)

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4. PLANEJAMENTO

Ativida-des

O que você espera alcançar com essa atividade?

Descrição do desenvol-vimento da atividade

Eixo

Carga horária semanal

Local Como vão?

Corpo e movimento Linguagem artístico-cultural Comunicação e inclusão digital Meio ambiente e sustentabilidade Diversidade no currículo Apoio à aprendizagem

(ex: Trabalho em parceria com a instituição, com textos ligados à saúde)

(Para atividades realizadas dentro da escola, especificar qual espaço é usado)

(Para atividades na escola, deixar em branco; para atividades fora, especificar se vão a pé ou de ônibus)

5. AVALIAÇÃO (Descrever como irão avaliar os seguintes pontos) Avaliação das atividades Fazer uma avaliação DAS ATIVIDADES PROPOSTAS neste plano de trabalho (uma avaliação processual que pode verificar se a atividade se relacionou com os objetivos, se houve aceitação por parte dos alunos, etc.)

Avaliação da aprendizagem Como a atividade contribuiu para o processo ensino/aprendizagem dos alunos?

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Anexo 4 - Registro acompanhamento pedagógico (individualizado)

REGISTRO DE ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO INDIVIDUAL

Secretaria Municipal de Educação de Vitória Nome da escola Data da visita Profissionais presentes

Objetivo da escola

Reflexão sobre a concepção que está atrelada ao objetivo escolhido

O que as escolas já realizam em relação a esse objetivo

Observações em relação à recepção dos materiais indicados

Planejamento das ações que serão desenvolvidas para concretizar o objetivo escolhido

Comentários gerais sobre a reunião

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Anexo 5 - Planilha do acompanhamento pedagógico