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 Método de Análise "Antonio Candido" Após uma leitura superficial do poema, alguns fatos devem ser esclarecidos: A) O contexto histórico do autor no ato da escrita; a norma vigente; a vertente literária vigente; a relação do autor com essa vertente literária e os trabalhos passados que têm relação estética com o objeto da análise. Após a análise dos fatos acima, para se chegar ao resultado sobre o signifcado final daquele poema, dois passos devem ser seguidos: Análise superficial da estrura: Ritmo, métrica, a relação fonética das silábas, o modo como elas discorrem e dão efeito ao poema ( A cavalgada Em Meu Sonho de Alvares de Azevedo ; O arrastar penoso em Fantástica de Alberto de Oliveira etc ), prestando atenção à relação das vogais ( como T, G e P etc ) e a familiaridade dos seus sons, que, nos mean dros, criam uma "rede sonora". A partir dessa análise atomizada da estrutura do poema, tenta se procurar a fórmula sobre a qual ele foi construído, e assim achar o seu significado. Análise profunda da estrutura: Aonde, baseando-se nos dados resgatados a  priori e na análise superficial, tentamos encontrar o real significado, prestando bastante atenção ao real significado do signo, e qual o posicionamento deste dentro daquele contexto, utilizando-se da lógica para chegar à uma resposta cabível. Para um maior embasamento, a análise profunda pode se apoiar em textos de outros autores, que complementem a ideia que você possui sobre "objetivo do objeto da análise". Todo e qualquer aspecto do objeto deve ser levado em consideração, como, por exemplo o "rio parado" no poema de Alberto de Oliveira, aonde Antonio Candido releva a natureza dos rios, que é correr, mas ao mesmo tempo, baseando-se no caráter mistico e mitologico da obra, liga o significado de rio parado ao rio Aqueronte, que serve como uma barreira entre o mundo dos vivos e dos mortos na mitologia grega, que se encaixa na descrição do poema sobre um ambiente escuro, e apenas releva mais ainda o caracter sombrio do objeto em questão. Outro aspecto a ser levado em consideração na hora da análise de uma obra é a lexicalidade e o real significado das palavras ali expostas, nunca esquecendo de que o que hoje possui um significado, à época em que foi escrito ou, caso você perceba que o autor queira faze r um resgate de seu significado em uma época anterior, não signifcavam a mesma coisa. Sempre atentar a questão da "alegoria", que pode transformar um agente simples num Eu lírico ext remamente complexo, como o personagem do "Poema tirado de uma notícia" do Bandeira ou o pastor da Lira 77 de Antonio Gonazaga.

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Método de Análise "Antonio Candido"

Após uma leitura superficial do poema, alguns fatos devem ser esclarecidos:

A) O contexto histórico do autor no ato da escrita; a norma vigente; a vertenteliterária vigente; a relação do autor com essa vertente literária e os trabalhos

passados que têm relação estética com o objeto da análise.

Após a análise dos fatos acima, para se chegar ao resultado sobre o signifcadofinal daquele poema, dois passos devem ser seguidos:

Análise superficial da estrura: Ritmo, métrica, a relação fonética das silábas, omodo como elas discorrem e dão efeito ao poema ( A cavalgada Em Meu

Sonho de Alvares de Azevedo; O arrastar penoso em Fantástica de Alberto deOliveira etc ), prestando atenção à relação das vogais ( como T, G e P etc ) e afamiliaridade dos seus sons, que, nos meandros, criam uma "rede sonora". Apartir dessa análise atomizada da estrutura do poema, tenta se procurar a

fórmula sobre a qual ele foi construído, e assim achar o seu significado.

Análise profunda da estrutura: Aonde, baseando-se nos dados resgatados a

 priori e na análise superficial, tentamos encontrar o real significado, prestandobastante atenção ao real significado do signo, e qual o posicionamento destedentro daquele contexto, utilizando-se da lógica para chegar à uma respostacabível. Para um maior embasamento, a análise profunda pode se apoiar emtextos de outros autores, que complementem a ideia que você possui sobre"objetivo do objeto da análise". Todo e qualquer aspecto do objeto deve serlevado em consideração, como, por exemplo o "rio parado" no poema de

Alberto de Oliveira, aonde Antonio Candido releva a natureza dos rios, que écorrer, mas ao mesmo tempo, baseando-se no caráter mistico e mitologico daobra, liga o significado de rio parado ao rio Aqueronte, que serve como umabarreira entre o mundo dos vivos e dos mortos na mitologia grega, que seencaixa na descrição do poema sobre um ambiente escuro, e apenas relevamais ainda o caracter sombrio do objeto em questão.

Outro aspecto a ser levado em consideração na hora da análise de uma obra éa lexicalidade e o real significado das palavras ali expostas, nunca esquecendode que o que hoje possui um significado, à época em que foi escrito ou, casovocê perceba que o autor queira fazer um resgate de seu significado em uma

época anterior, não signifcavam a mesma coisa.

Sempre atentar a questão da "alegoria", que pode transformar um agentesimples num Eu lírico extremamente complexo, como o personagem do"Poema tirado de uma notícia" do Bandeira ou o pastor da Lira 77 de AntonioGonazaga.

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Outro fator importante é a "rede sonora" muitas vezes tecidas pelas irmãslabias e velopalatais, como os T, G, T, P na cavalgada ambigua de Alvares deAzevedo, que criam a sensação de trote, como de um cavalo, na leitura.

Sempre quando, no âmbito da análise, nos depararmos com simbolismos,

como o Rio em Fantástica do Alberto de Oliveira, levar em consideração todosos seus aspectos, como nesse caso, aonde o rio, identificado como "parado",coisa que vai naturalmente contra a natureza dos rios, na verdade pode serligado ao Aqueronte da mitologia grega, como aponta Candido, que é um rioparado que existe entre o mundo dos vivos e dos mortos.

" Chegando à hipótese sobre o signifcado final (prepara não apenas pelaanálise da linguagem e da estrutura, mas pela comparação de textos ereferências históricas), a primeira pergunta que ocorre é se este poemasignifica alguma coisa além dos sentidos parciais, já vistos, porque como"objeto poético" ele seria apenas o que estes dizem, nada mais, ao contrário

dos textos analisados antes. " Candido, A. Na sala de Aula, pg 67

Para fazer uma leitura sonora, começamos pela exercício do ouvido, comoaponta candido, pg 73, aonde tentamos captar o rimo correto da leitura:"passamos à estrtura gramatical, para ver que o ritmo corresponde à mudançade função do substantivo, impondo uma pontuação obritória; chegamos aconcluir que o significado se manifesta como função dos elementos estruturais,desde que sejam percebidos numa perspectiva adequada", conclui, em relaçãoaos cavalinhos correndo e os cavalões comendo no Rondó de Manuel Bandeira,aonde correr e comer estão no mesmo nível, por serem ações que podem serexecutadas tanto por homens quanto por cavalos, mas que, o plana ritmico

revela que a ação de comer, quando atribuida ao homem, se "processa comogalope, e isso o reduz ao nível do cavalo"

Os cavalinhos vão correndo - direto, sem pausas, suave

E nós // cavalões // comendo - staccado, obrigando que a leitura seja pausadae "troteada".

O fato d eum estar em ritmo que devia condizer ao outro destaca a realidadeopositória do poema.

Ainda na contradição de termos, um dos fatores que mais eleva essa condiçãoé a ironia, geralmente retratada na poética por meio de reticências, como fazbandeira, no primeiro distico do seu Rondó.

" Na análise, que não pode se limitar às instituições, mas precisa suscitá-las ouconfirmmá-las, a estrutura tem precedência como elemento de compreensãoobjetiva. Pelo menos como etapa do método, o signficado pode serconsiderado como contido nela" Candido, Na sala de Aula, pg 77.

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É errado supor, como aponta Candido, de que, só porque um poema nãopossui métrica nem rima, se enquadrando num quadro não-convecional, ele étotalmente destituido de uma organização. Com poemas como esses, somosgeralmente jogados diretamente no nível do significado. " Na análise de umpoema 'livre', o objetivo inicial é a própria articulação poética".

Sempre relevar o aspecto "cena-ato" e "cena-agente", de Kenneth Burke.

O "efeito de adjacência", segundo Candido, é quando a contiguidade dostermos faz que um exerça influência sobre o sentido do outro, , de tal modoque que as alterações semânticas acabam consagradas pelo novorelacionamento deles.

Citando os pianos de O Pastor Pianista de Murilo Mendes, Candido diz queesses "transformam o atributo acessório em elemento essecial, que define anatureza do sujeito. Em prinípio, o que é atributio não pode ser essencial, mas

tais paradoxos são riquezas da linguagem poética. "Pastor" e "Pianista" nãoficam no mesmo plano de significação, mas o segundo acaba parecendo deforma adjetivada de um adjunto nominal - 'pastor de pianos'. "

Ainda no contexto do poema de Murilo Mendes, o desvendar do núcleoresponsável pela irradiação do elemento poético, que no caso contrasta comos elementos lógicos, seja porque diverge deles como nexo semântico, sejaporque os força a signficiar conforme o seu nexo próprio, esse sematerializando na natureza surrealista do poema.