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1 FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA CANAL DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA POR MEIO DOS SEGUROS CONTRATADOS PELO SETOR BANCÁRIO. DEBORA PEREIRA TAVARES ORIENTADOR: PROF. DR. OSMANI TEIXEIRA DE CARVALHO GUILLÉN Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012.

CANAL DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA …s3.amazonaws.com/public-cdn.ibmec.br/portalibmec-content/...13 1 INTRODUÇÃO Este trabalho analisa a influência da política monetária sobre

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA

CANAL DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA POR MEIO DOS SEGUROS

CONTRATADOS PELO SETOR BANCÁRIO.

DEBORA PEREIRA TAVARES

ORIENTADOR: PROF. DR. OSMANI TEIXEIRA DE CARVALHO GUILLÉN

Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012.

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CANAL DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA POR MEIO DOS

SEGUROS CONTRATADOS PELO SETOR BANCÁRIO.

DEBORA PEREIRA TAVARES

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado Profissionalizante em Economia

como requisito parcial para obtenção do

Grau de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Finanças

ORIENTADOR: OSMANI TEIXEIRA DE CARVALHO GUILLÉN

Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012.

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CANAL DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA POR MEIO DOS

SEGUROS CONTRATADOS PELO SETOR BANCÁRIO.

DEBORA PEREIRA TAVARES

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado Profissionalizante em

Administração como requisito parcial para

obtenção do Grau de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Finanças

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor OSMANI TEIXEIRA DE CARVALHO GUILLÉN (Orientador)

Instituição: IBMEC/RJ

_____________________________________________________

Professor FERNANDO NASCIMENTO DE OLIVEIRA

Instituição: IBMEC/RJ

_____________________________________________________

Professor GABRIEL CALDAS MONTES (Co-Orientador)

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012.

4

Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu marido que me apoiou muito

durante todo o processo e a Deus por ter permitido que

fosse concluído.

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu marido Jimmy, por ter me apoiado, aos meus pais por sempre terem me

incentivado e aos amigos Marcio Aurélio Rios, Carlos Américo e Carolina Lins, por todas as

dicas e ajuda em especial, gostaria de agradecer ao amigo Gabriel Montes por todas as horas

de estudo que tornaram possível a realização deste trabalho.

.

6

RESUMO

Alguns trabalhos já foram produzidos para analisar os diferentes canais de transmissão do

crédito, dentro do cenário de mecanismos de transmissão monetária, contudo, um distinto

canal de transmissão da política monetária por meio dos seguros contratados pelo setor

bancário ainda precisa ser estudado. Portanto, dentro deste contexto, este trabalho apresenta

evidências sobre os seguintes tópicos: 1) analisa a influência da política monetária sobre o

processo de contratação de seguro referente às perdas com operações de concessão de crédito

bancário a pessoas físicas, e; 2) investiga o impacto exercido pelos seguros contratados contra

perdas com operações de crédito a pessoas físicas sobre o spread de crédito, e, portanto, sobre

o risco assumido por bancos com essas operações.

Palavras Chave: seguro de crédito, mecanismos de transmissão, política monetária.

7

ABSTRACT

Some work has been produced to analyze the different transmission channels of credit, within

the scenario of monetary transmission mechanisms; however, a distinct channel of

transmission of monetary policy through the insurance taken out by the banking sector still

needs to be studied. Therefore, within this context, this work presents clairvoyance on the

following topics: 1) analyzes the influence of monetary policy on the hiring process regarding

insurance losses on bank lending to individuals, and 2) investigating the impact exerted by

insurance policies against losses on loans to individuals about the credit spread, and thus on

the risk assumed by banks with these operations.

Key words: credit insurance, risk-taking channel, monetary policy

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Canal do Crédito na Economia Brasileira................................................................ 25

Figura 2 – Canal do crédito através das provisões e seu impacto sobre o spread. ................... 26 Figura 3 - Esquema de Análise ................................................................................................. 26 Figura 4 – Gráfico comparativo das séries ............................................................................... 31

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estimativas OLS e GMM (variável dependente: PREM)....................................... 34

Tabela 2 – Estimativas OLS e GMM (variável dependente: SPREAD) .................................. 37 Tabela 3 – Sistema GMM (LPREM e SPREAD_AJ) .............................................................. 39 Tabela 4 – Teste KPSS ............................................................................................................. 45

10

LISTA DE ABREVIATURAS

SUSEP Superintendência de Seguros Privados

SES Sistema de Estatísticas da SUSEP

BACEN Banco Central do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SCPC Serviço Central de Proteção ao Crédito

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13

2 MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DE POLÍTICA MONETÁRIA ................... 15

2.1 CANAL DO CRÉDITO .................................................................................... 15

3 SEGURO DE CRÉDITO ..................................................................................... 20

3.1 CONCEITOS .................................................................................................. 20

3.2 SEGURADOS ................................................................................................ 21

3.3 CARACTERÍSTICAS ..................................................................................... 21

3.4 MODALIDADES ............................................................................................. 22

3.5 COBERTURAS: ............................................................................................. 22

3.6 CONSIDERAÇÕES GERAIS ......................................................................... 23

4 ANÁLISE EMPÍRICA ......................................................................................... 24

4.1 DESCRIÇÃO DA ANÁLISE E METODOLOGIA ............................................ 24

5 DADOS .............................................................................................................. 29

6 RESULTADOS .................................................................................................. 33

6.1 ESTIMATIVAS DA INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS E POLÍTICAS MONETÁRIAS SOBRE O PREMIO DE SEGURO DE CRÉDITO PARA PESSOA FÍSICA ....................................................................................................... 33

12

6.2 ESTIMATIVAS DA INFLUÊNCIA DE VARIÂVEIS MACROECONÔMICAS SOBRE O SPREAD DE CRÉDITO À PESSOA FÍSICA ........................................... 35

6.3 SISTEMA DE EQUAÇÕES PARA O PRÊMIO E O SPREAD ....................... 38

7 CONCLUSÃO .................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43

APÊNDICE A ............................................................................................................ 45

13

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho analisa a influência da política monetária sobre o processo de contratação de

seguro referente às perdas com operações de concessão de crédito bancário às pessoas físicas

(Seguro de Crédito – Pessoa Física) e investiga o impacto exercido pela contratação desta

modalidade de seguro sobre o spread de crédito, e, portanto, sobre o risco assumido por

bancos com essas operações.

Nos últimos anos, diversos estudos foram feitos de forma a se avaliar os diversos mecanismos

de transmissão das políticas monetárias, dentre eles, o canal do crédito. A bibliografia relativa

a este canal serviu de base para a realização do presente estudo, haja vista a dificuldade de se

encontrar fontes relativas, especificamente, ao seguro como um mecanismo de transmissão.

Nesse sentido, o presente trabalho contribui com a literatura sobre mecanismos de

transmissão monetária ao elaborar um estudo referente aos canais de transmissão do crédito

(credit channel) e de tomada de risco (risk-taking channel). Contudo, diferente dos trabalhos

existentes por destacar um distinto canal de transmissão da política monetária por meio dos

seguros contratados pelo setor bancário.

No capítulo 2, são apresentados alguns resultados de estudos anteriores referentes aos

mecanismos de transmissão de política monetária através do canal do crédito. O capítulo 3

14

mostra detalhes do seguro de crédito, entre definições, características, modalidades e formas

de contratação. No capítulo 4, é apresentada a análise empírica que será desenvolvida neste

trabalho. No capítulo 5, são descritos os dados que serão utilizados no trabalho. No capítulo 6,

são expostos os resultados obtidos e, no capítulo 7, é apresentada a conclusão.

15

2 MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DE POLÍTICA MONETÁRIA

Conforme definido na literatura, a política monetária representa a ação das autoridades

monetárias sobre a quantidade de moeda em circulação, de crédito e das taxas de juros, de

forma a controlar a liquidez do sistema econômico.

Seu principal objetivo é a estabilidade de preços e, considerando a neutralidade da moeda no

longo prazo, o BACEN tem como foco cinco mecanismos de transmissão da política

monetária, são eles: taxa de juros, câmbio, preço dos ativos, crédito e expectativas. Neste

trabalho as análises serão restritas ao mecanismo do crédito.

2.1 CANAL DO CRÉDITO

Nas últimas décadas, muito se discutiu a respeito dos mecanismos de transmissão de política

monetária. Gertler e Gilchrist (1993), por exemplo, fizeram um estudo que avalia se e como

as imperfeições do mercado de crédito podem desempenhar um papel na transmissão da

política monetária. Neste trabalho buscou-se identificar os efeitos das imperfeições do

mercado de crédito, analisando a resposta à escassez de dinheiro de diferentes formas de

crédito e de diferentes tipos de tomadores. Dentro deste contexto, foram verificadas

evidências consistentes com a visão de que as imperfeições do mercado de crédito ajudam a

propagar o impacto da política monetária.

16

Neste sentido, Mishkin (1995) consolidou este debate ao apresentar um estudo sobre os

mecanismos de transmissão monetários encontrados na literatura, através dos quais a política

monetária afeta a economia. Estes mecanismos de transmissão incluem efeitos de taxa de juro,

os efeitos cambiais, efeitos sobre os preços de ativos e outros do canal chamado crédito.

Ressaltou que, para serem bem sucedidas na condução da política monetária, as autoridades

monetárias devem ter uma avaliação precisa do tempo e efeito de suas políticas sobre a

economia, o que requer uma compreensão dos mecanismos através dos quais a política

monetária afeta a economia.

Bernanke & Gertler (1995) também mostraram que a teoria do canal de crédito revela que

fricções informacionais nos mercados de crédito se tornam piores durante períodos de

recessão e que o consequente aumento do prêmio de financiamento externo - a diferença de

custo entre os fundos internos e externos - aumenta os efeitos da política monetária sobre a

economia real.

Dando continuidade, em 2001, De Mendonça (2001) mostrou que o canal do crédito pode ser

compreendido por meio de outros dois canais de transmissão: o canal de empréstimos

bancários e o canal de balanços. Para o primeiro, assume-se que os bancos comerciais tem um

papel importante no sistema financeiro devido à capacidade de restringirem crédito para

alguns tomadores, especialmente para pequenas empresas onde os problemas de assimetria de

informação tendem a ser reduzidos. O mesmo não é válido para o caso das grandes empresas,

pois elas podem obter acesso direto ao mercado de crédito via mercados de ações e títulos

sem precisar recorrer aos bancos.

O outro canal de transmissão - o canal de balanços – é um canal através do qual um menor

lucro líquido significa que os emprestadores possuem menor colateral1 para seus empréstimos

17

e, portanto, as possíveis perdas oriundas de seleção adversa são elevadas. Logo, o volume de

1recursos à disposição de tomadores de empréstimos para o financiamento de novos

investimentos é reduzido.

Na sequência, Borio e Zhu (2008) apresentaram algumas reflexões gerais sobre as

características do mecanismo de transmissão com base na evolução do sistema financeiro,

ressaltando que os agentes econômicos não tem dado atenção suficiente para a ligação entre a

política monetária e a percepção e precificação de risco - o que poderia ser chamado de "canal

de tomada de risco" da política monetária. Nesse contexto, eles desenvolveram este conceito,

o compararam com as visões atuais do mecanismo de transmissão, exploraram a sua ligação

com a "liquidez" e analisaram a sua interação com funções de reação de política monetária.

Argumentaram, por fim, que as mudanças no sistema financeiro e a regulamentação

prudencial podem ter aumentado a importância do canal de tomada de risco e que paradigmas

macroeconômicos vigentes e modelos associados não são adequados para capturá-lo,

reduzindo assim a sua eficácia como guias para a política monetária.

Com base neste conceito de canal de tomada de risco, Altumbas, Gambacorta e Marqués-

Ibañez (2009) realizaram uma avaliação empírica, onde foram encontradas evidências de um

canal de empréstimos bancários para o funcionamento da área do euro através de risco

bancário. Eles mostraram que as condições bancárias de risco, como percebido pelos

investidores do mercado financeiro, precisam ser consideradas, em conjunto com outros

indicadores (isto é, tamanho, liquidez e capitalização), tradicionalmente utilizados na

literatura de canal do crédito bancário para avaliar a capacidade de um banco e vontade de

entregar novos empréstimos. Usando uma grande amostra de bancos europeus, eles

1 Garantia extra que se dá a um credor, além da que presumivelmente seria suficiente.

18

verificaram que os bancos caracterizados por menor freqüência esperada são capazes de

oferecer uma quantidade maior de crédito e melhor isolar a sua oferta de empréstimos a partir

de mudanças de política monetária.

Na sequência, Gambacorta (2009) investigou a relação entre as taxas de juros baixas e o nível

de tomada de risco pelos bancos. Neste sentido, ele mostrou que a política monetária pode

influenciar a percepção de risco dos bancos de pelo menos duas maneiras: (i) por meio de um

processo de busca de rendimento, em particular no caso de alvos de retorno nominal, e (ii) por

meio de um impacto de taxas de juros sobre as avaliações, rendas e fluxos de caixa, que por

sua vez podem modificar a forma dos bancos medirem o risco. Usando um conjunto de dados

abrangente de bancos listados, este artigo determinou que as taxas de juros baixas por um

longo período podem causar um aumento no nível de tomada de risco dos bancos.

Auel e de Mendonça (2011) apresentaram uma contribuição para a literatura empírica sobre

canais de crédito em economias emergentes. Com base em dados de 2002 a 2009, três

conjuntos de modelos GMM foram considerados neste artigo para analisar a relevância

macroeconômica dos canais de crédito no Brasil: (i) o primeiro conjunto analisou os efeitos

dos choques sobre as variáveis econômicas que são essenciais para a oferta de crédito, (ii) o

segundo conjunto considerou os efeitos das mesmas variáveis utilizadas no caso anterior

sobre o spread de crédito, e (iii) o terceiro conjunto levou em conta os efeitos das mudanças

nas condições do mercado de crédito sobre o produto. Os resultados indicaram que os efeitos

de choques econômicos na oferta de crédito e spread de crédito estão de acordo com a teoria

do canal de crédito. Em particular, observou-se que os choques sobre a taxa de juros não são

transmitidos diretamente para a economia, mas através dos canais de crédito.

19

Mais recentemente, Montes e Peixoto (2012), mostraram que, se por um lado a credibilidade é

importante para a condução da política monetária, por outro lado, uma maior credibilidade

pode, eventualmente, estimular a criação de bolhas no mercado de crédito e preços de ativos

através do canal de tomada de risco, e, como conseqüência, trazer para a realidade o

"paradoxo de credibilidade". O "paradoxo de credibilidade" foi definido como o novo dilema

colocado aos Bancos Centrais no esforço de conciliar a política monetária e regulação

bancária sob regimes de metas de inflação. Assim, o trabalho em referência tinha como

objetivos: (i) analisar o impacto das ações do banco central e do ambiente macroeconômico

sobre a percepção de risco dos bancos, e (ii) analisar a influência dessa percepção de risco dos

bancos sobre o spread de crédito, considerando tanto o canal do crédito e do canal de tomada

de risco. Com base em uma análise econométrica, o trabalho forneceu evidências sobre: (i) o

"paradoxo de credibilidade" e o canal de transmissão dos riscos, (ii) a influência da política

monetária sobre a percepção de risco dos bancos e, como consequência, sobre a spread de

crédito, (iii) a natureza pró-cíclica dos bancos em relação à atividade econômica, e (iv) a

aderência do indicador anticíclico (chamado gap de crédito) proposto em Basileia III para o

caso brasileiro.

Portanto, apesar de existirem muitos trabalhos na literatura internacional relacionados ao

canal de crédito no estudo dos mecanismos de transmissão da política monetária, no Brasil, o

estudo desse canal tem ficado em segundo plano. A justificativa para esse fato seria

consequência de três características básicas: elevado grau de incerteza, incidência de impostos

sobre a intermediação financeira, e elevadas alíquotas dos empréstimos compulsórios.

20

3 SEGURO DE CRÉDITO

De acordo com a SUSEP, órgão fiscalizador do mercado de seguros nacional, o seguro de

crédito pode ser definido como uma modalidade de seguro que tem por objetivo ressarcir o

segurado (credor), nas operações de crédito realizadas com clientes domiciliados no país, das

perdas líquidas definitivas causadas por devedor insolvente.

3.1 Conceitos

De forma a compreender melhor esta definição, cabe esclarecer alguns conceitos, quais sejam:

a. Operação de crédito - Todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou

ceder, temporariamente parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de

que esta parcela volte à sua posse integralmente, após decorrer o tempo estipulado;

b. Perda líquida definitiva - Corresponde ao total do crédito sinistrado acrescido das

despesas de sua recuperação e deduzido das quantias efetivamente recebidas, relativas

a esse crédito;

c. Insolvência: é caracterizada insolvência quando for declarada judicialmente a falência

do devedor, também denominado garantido; quando for deferido judicialmente o

processamento da concordata preventiva do garantido; ou quando for concluído um

acordo particular do garantido com a totalidade dos seus credores, com a

21

interveniência da seguradora, para pagamento de todas as dívidas com redução dos

débitos.

i. Na modalidade Quebra de Garantia, a insolvência também se caracteriza

quando, na cobrança judicial ou extrajudicial da dívida, os bens dados em

garantia ou os bens do garantido revelem-se insuficientes ou fique evidenciada

a impossibilidade de busca e apreensão, reintegração, arresto ou penhora

desses bens.

d. Sinistro: caracterizado quando ocorre a insolvência do devedor reconhecida através de

medidas judiciais ou extrajudiciais realizadas para o pagamento da dívida.

3.2 Segurados

Este seguro é geralmente contratado por empresas que realizam operações de crédito em suas

vendas, tanto para pessoa física como para pessoa jurídica, ou intermediários de operações de

crédito, financiamento e investimento; consórcios, empresas de factoring, etc. caracterizados

desta forma como segurados das operações de crédito. Os segurados também são os

responsáveis pelo pagamento do prêmio de seguro. Os contratantes da operação de crédito, ou

seja, os devedores são denominados garantidos, e é sobre eles que incide o risco de

inadimplência.

3.3 Características

As principais características do seguro de crédito são:

22

a) Participação obrigatória do segurado, que visa a manter o interesse deste na seleção

dos riscos, assim como no resultado das ações judiciais e extrajudiciais;

b) Globalidade das operações, que tem por objetivo evitar que a entidade de crédito

somente inclua na apólice os riscos de maior vulto e probabilidade; e

c) Limite de crédito, que é o estabelecimento de um limite máximo de crédito, evitando

assim as fraudes e o excesso de exposição do segurado.

3.4 Modalidades

Este tipo de seguro tem as seguintes modalidades:

a) Riscos Comerciais – é uma modalidade do Seguro de Crédito que tem por objetivo

cobrir as operações de crédito realizadas pelo segurado, somente com pessoas

jurídicas domiciliadas no país; e

b) Quebra de Garantia – esta modalidade do Seguro de Crédito tem por objetivo cobrir

as operações de crédito realizadas pelo segurado, especialmente aquelas relativas à

venda de bens de consumo, para pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas no país. A

principal característica desta modalidade é a existência de garantias reais, em que os

bens envolvidos na operação são utilizados como garantia ao segurado e à Seguradora.

3.5 Coberturas:

Suas principais coberturas são:

a) Cobertura de Operações de Consórcio - garante ao segurado (no caso, o grupo de

consórcio) as Perdas Líquidas Definitivas em conseqüência da insolvência do

23

garantido (cada um dos consorciados contemplados) depois que este tiver tomado

posse do bem consorciado, deixando de pagar as prestações mensais;

b) Cobertura de Operações de Empréstimo Hipotecário - tem por objetivo cobrir as

Perdas Líquidas Definitivas que o segurado venha a sofrer em conseqüência da

insolvência de seus devedores pessoas físicas, nos contratos de empréstimo com

garantia hipotecária, não abrangidos pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

Esta cobertura terá início no momento em que o devedor, satisfeitas todas as

exigências estabelecidas no Contrato de Empréstimo Hipotecário e na apólice,

inscreva a hipoteca no registro competente.; e

c) Cobertura de Operações de Arrendamento Mercantil ("Leasing") - nesta cobertura a

seguradora se obriga a indenizar o segurado pelas perdas líquidas definitivas que o

mesmo possa sofrer em conseqüência da incapacidade do arrendatário/garantido de

pagar as contraprestações estipuladas em contrato de arrendamento mercantil.

3.6 Considerações Gerais

É importante ressaltar que não existe vinculação entre o prazo de vigência da apólice e as

coberturas de crédito. Por exemplo, se foi feita a compra a prazo de um veículo em 48 meses

em 01/02/2008, supondo que a financeira tivesse uma apólice com vigência de um ano a partir

de 01/01/2008. Caso ocorresse a insolvência do comprador em 05/05/2010, a seguradora teria

a obrigação de indenizar o segurado se este pagou prêmio integral ou se a apólice fosse

renovada até a extinção das obrigações já assumidas.

Em caso de cancelamento da apólice, todos os contratos que já foram averbados permanecem

garantidos, sendo encerradas somente as coberturas para as novas contratações de crédito.

24

4 ANÁLISE EMPÍRICA

Com base nos argumentos de Montes e Peixoto (2012) sobre a influência da política

monetária sobre a percepção de risco dos bancos, esta seção fornece evidências empíricas

para a economia brasileira do impacto exercido pelos seguros contratados contra perdas com

operações de crédito às pessoas físicas sobre o spread de crédito. Além disso, o trabalho

destaca um distinto canal de transmissão da política monetária por meio dos seguros

contratados pelo setor bancário.

4.1 DESCRIÇÃO DA ANÁLISE E METODOLOGIA

O esquema apresentado na Figura 1 representa a análise de Auel e de Mendonça (2011) e

ilustra como choques nas variáveis macroeconômicas afetam o spread de crédito e,

consequentemente, a produção industrial, e esclarece o canal do crédito no Brasil.

25

Interest rates

Res. requirement

Country risk

Exchange rate

Bovespa

Spread Output

Credit

channels

Credit channels

Effect on credit

demand

Interest rate channel

Wealth effect, Tobin’s q

Fonte: Auel and de Mendonça (2011).

Figura 1 - Canal do Crédito na Economia Brasileira

Neste estudo, a análise de Auel e de Mendonça (2011) foi estendida, com base no trabalho de

Montes e Peixoto (2012), no qual foi avaliado o impacto das ações do banco central e do

ambiente macroeconômico sobre a percepção de risco dos bancos, e a influência dessa

percepção de risco dos bancos sobre o spread de crédito, considerando tanto o canal do

crédito e do canal de tomada de risco.

Para análise da percepção de risco dos bancos foi utilizado o montante provisionado pelos

bancos em relação às perdas esperadas nas operações de empréstimo. Este indicador também

foi utilizado por Tabak, Noronha e Cajueiro (2011) e é calculado fazendo a diferença entre as

séries de "Disposições de operações de crédito do sistema financeiro privado" e "Disposições

de operações de crédito do sistema financeiro privado (total H)" e dividindo pela série de

"Operações de crédito do sistema financeiro privado (total crédito ao sector privado)". A

Figura 2 ilustra esta análise.

26

Interest rate

Reserve requirement

Output gap

Default

Credit gap

Credibility

Crises (dummy)

Provisions

Interest rate

Reserve requirement

Default

Ibovespa

Credit gap

Credibility

Spread

Fonte: Montes e Peixoto (2012).

Figura 2 – Canal do crédito através das provisões e seu impacto sobre o spread.

Dentro deste contexto, o estudo atual utilizou o prêmio de seguro de crédito como variável

explicativa do spread de crédito. Em contrapartida, para explicar o valor do prêmio de seguro

de crédito foram utilizadas variáveis macroeconômicas e ações da autoridade monetária. A

Figura 3 ilustra esta análise e no capítulo 5 estas variáveis são descritas mais especificamente.

Figura 3 - Esquema de Análise

PRÊMIO DE

SEGUROS

TAXA DE JUROS

INADIMPLÊNCIA

DESEMPREGO

RESERVAS

COMPULSÓRIAS SPREAD

TAXA DE JUROS

RESERVAS

COMPULSÓRIAS

EMBI

27

Com base no exposto acima, as expectativas deste trabalho seriam as seguintes:

a. Que o prêmio de seguros de crédito a pessoas físicas captasse o canal da tomada de

risco;

b. Correlação positiva entre o Índice de Títulos da Dívida de Mercados Emergentes e o

spread de crédito;

c. Correlação positiva entre a taxa de juros e o prêmio de seguros e entre este e o spread

de crédito;

d. Com relação à taxa de inadimplência, há uma expectativa de que uma redução na taxa

de juros melhore as condições do mercado de crédito e, consequentemente, reduza o

risco de inadimplência e a necessidade de seguro; e

e. No que diz respeito às reservas compulsórias, é esperado que um aumento desta taxa

provocasse uma queda no volume de recursos disponíveis para os bancos para

aplicações e, consequentemente, os bancos demonstram maior aversão ao risco de

crédito, que acaba desencadeando um aumento na contratação deste tipo de seguro.

Tal fato leva a um acréscimo no volume de prêmios emitidos pelas seguradoras, a

exposição dos bancos é reduzida e as taxas de juros cobradas nas operações de crédito

crescem - aumento do spread.

A análise empírica considerou o método de mínimos quadrados ordinários (OLS) e o método

de momentos generalizado (GMM). De acordo com Hansen (1982), uma das razões para

utilizar o método GMM é que, enquanto o método OLS apresenta problemas ao estimar

autocorrelação serial, heterocedasticidade e não linearidade, fatores comuns em séries

temporais macroeconômicas, este método oferece estimadores consistentes para a regressão.

28

É importante notar que os coeficientes estimados por GMM são consistentes somente se as

variáveis instrumentais utilizadas na análise são exógenas. Portanto, a hipótese de

exogeneidade dos instrumentos requer que essas variáveis não afetem diretamente a variável

dependente. Neste sentido, um procedimento padrão que garante que tal hipótese baseia-se em

Johnston (1984), ou seja, os instrumentos escolhidos foram datados do período t-1 ou anterior.

Sobre a técnica GMM, Cragg (1983) apontou que a análise de sobre identificação tem um

papel importante na seleção de variáveis instrumentais para melhorar a eficiência dos

estimadores. Assim, realizou-se um J-teste padrão, com o objetivo de testar essa propriedade

para a validade das restrições sobre identificação (Hansen, 1982). As estimativas foram

realizadas utilizando o software E-Views 7.0.

29

5 DADOS

O período analisado vai de janeiro de 2005 a maio de 2012, tendo em vista que a partir de

2005 foi verificada uma maior estabilidade do programa de metas da inflação. As séries

mensais utilizadas neste trabalho são apresentadas abaixo:

Prêmio de Seguros (PREM) – Montante total pago pelas entidades financeiras, especialmente

bancos, para cobertura do risco de crédito doméstico junto às pessoas físicas, já descontados

os cancelamentos, restituições e descontos. Os dados utilizados foram extraídos do SES da

SUSEP e contemplam o grupo de Crédito Doméstico - Risco Pessoa Física (Fonte:

SES/SUSEP – Grupo_Ramo: 0870).

Spread (SPREAD) – Esta série representa o spread médio das operações de crédito com

recursos livres referenciais para taxa de juros (pré-fixado) - Total pessoa físicas - em pontos

percentuais. Refere-se ao diferencial entre as taxas de juros consolidadas das operações de

crédito, contempladas na Circular 2.957/1999, e os custos de captação. Excluem-se as

operações de crédito rural, de repasses do BNDES ou quaisquer outras lastreadas em recursos

compulsórios ou governamentais. O grupo pessoas físicas compreende cheque especial,

crédito pessoal, aquisição de bens-veículos e outros bens. (Fonte: série 3957/ BACEN –

Departamento Econômico).

30

Índice de Títulos da Dívida de Mercados Emergentes (EMBI) - O EMBI+ é um índice

baseado nos bônus (títulos de dívida) emitidos pelos países emergentes. Mostra os retornos

financeiros obtidos a cada dia por uma carteira selecionada de títulos desses países. A unidade

de medida é o ponto-base. Dez pontos-base equivalem a um décimo de 1%. Os pontos

mostram a diferença entre a taxa de retorno dos títulos de países emergentes e a oferecida por

títulos emitidos pelo Tesouro americano. Essa diferença é o spread, ou o spread soberano. O

EMBI+ foi criado para classificar somente países que apresentassem alto nível de risco

segundo as agências de rating e que tivessem emitido títulos de valor mínimo de US$ 500

milhões, com prazo de ao menos 2,5 anos. (Fonte: JP Morgan).

Taxa básica de juros - Selic (IR). No Brasil, a taxa de juros (Selic) é o principal instrumento

de política monetária no regime de metas de inflação. A série utilizada foi disponibilizada

pelo BACEN e está expressa em pontos percentuais. (Fonte: série 4189/ BACEN –

Departamento de Operações do Mercado Aberto).

Taxa de inadimplência (DEFAULT). Esta variável representa a taxa de inadimplência do

sistema financeiro privado nacional, ou seja, o nível de perda dos bancos em suas operações

de crédito em pontos percentuais. Refere-se ao saldo das operações de empréstimo,

financiamento, adiantamento e arrendamento mercantil, concedidas pelas instituições

integrantes do sistema financeiro privado nacional, nas quais pessoas físicas e jurídicas

residentes no país detém a maioria do capital votante. (Fonte: série 13673/ BACEN –

Departamento Econômico).

Taxa de desemprego (DESEMP) - Relação entre o número de pessoas desocupadas

(procurando trabalho) e o número de pessoas economicamente ativas num determinado

período de referência. Expressa em pontos percentuais. (série: 10777/Fonte: IBGE).

31

Taxa de reservas compulsórias (R_REQ). Esta série foi disponibilizada pelo BACEN, está

expressa em milhões de reais e representa um instrumento de política monetária que impacta

diretamente o volume de crédito e, consequentemente, na disposição do sistema financeiro à

tomada de risco. (Fonte: séries 1883, 1884, 1886 e 17633/ BACEN – Departamento

Econômico).

Adicionalmente, cabe esclarecer que, para todas as variáveis descritas anteriormente, foram

geradas variáveis “ajustadas”, definidas como o logaritmo neperiano das variáveis

apresentadas em valores monetários (“LPREM”, por exemplo) e como a variação do

logaritmo neperiano (log(1+variável/100)), para as variáveis apresentadas em níveis

percentuais (“DEFAULT_AJ”, por exemplo).

8

10

12

14

16

18

20

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

IR

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

DEFAULT

4

5

6

7

8

9

10

11

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

DESEMP

.16

.20

.24

.28

.32

.36

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

R_REQ

0

4,000,000

8,000,000

12,000,000

16,000,000

20,000,000

24,000,000

28,000,000

32,000,000

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

PREM

24

28

32

36

40

44

48

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

SPREAD

100

200

300

400

500

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

EMBI

Figura 4 – Gráfico comparativo das séries

32

Na Figura 4, são apresentados os gráficos das variáveis descritas acima, de forma a ilustrar

melhor o comportamento destas variáveis ao longo do período de referência.

Uma primeira condição para ser analisada antes de aplicar a análise econométrica é verificar

se as séries são estacionárias. Portanto, foi aplicado o teste KPSS (Kwiatkowski-Phillips-

Schmidt-Shin), para estacionariedade, (tabela 4 no apêndice). A vantagem deste teste resulta

do baixo poder de testes convencionais, que tendem a não rejeitar a hipótese nula demasiadas

vezes (Franses e Haldrup, 1994; CATI, Garcia e Perron, 1999). A Tabela 4 mostra que todas

as séries são I(0).

33

6 RESULTADOS

6.1 ESTIMATIVAS DA INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS E

POLÍTICAS MONETÁRIAS SOBRE O PREMIO DE SEGURO DE CRÉDITO

PARA PESSOA FÍSICA

De forma a buscar evidências da influência de variáveis econômicas e políticas

monetárias sobre o prêmio de seguro de crédito para pessoa física, foi estimada a

seguinte equação utilizando as variáveis em log, buscando avaliar as elasticidades

sensibilidades entre cada uma delas. Apresento, abaixo, as especificações desta

equação:

147312110 ___)1( ttttt AJDESEMPAJDEFAULTLPREMAJIRLPREM

ttAJREQR 55 __

Em que t representa termos de erro.

Cabe esclarecer que o modelo e a escolha dos lags foram determinados por meio da

metodologia "geral para o específico", utilizando os critérios de

informação tradicionalmente aplicados (Schwarz e Akaike), além do princípio da

parcimômia e com base na teoria econômica.

Sobre as estimativas OLS, a tabela 1 mostra que a estatística F de todas as equações

indica que as regressões são significativas. Além disso, os resultados do teste RESET de

34

Ramsey indicam que as estimativas não apresentam problemas de especificação do

modelo. Em termos de estimativas de GMM, os resultados do teste-J indicaram que

todos os modelos são corretamente especificados.

Tabela 1 – Estimativas OLS e GMM (variável dependente: PREM)

OLS GMM

Equação (1) Equação (1.a)

C 9,5801 *** 7,0912 ***

(1,4719) (0,7885)

[6,5085] [8,9932]

IR(-1) 4,5860 ** 4,4396 ***

(2,0000) (0,8104)

[2,2929] [5,4783]

PREM(-1) 0,2620 ** 0,4400 ***

(0,1043) (0,0595)

[2,5118] [7,3990]

DEFAULT(-7) 11,2647 * 11,4748 ***

(6,7475) (1,8854)

[1,6695] [6,0863]

DESEMP(-1) 18,7288 *** 11,9704 ***

(3,9845) (1,4874)

[4,7005] [8,0481]

R_REQ(-5) 54,5277 99,7252 ***

(87,2763) (2,9374)

[0,6248] [3,3950]

R² 0,7431 0,6900

R² ajustado 0,7262 0,6600

Jarque-Bera 786,4797

Prob(Jarque-Bera) 0,0000

Rank 30

Estatística F 43,9689

Prob(F) 0,0000

Estatística J 13,8300

Prob(Estatística J) 0,9500

Ramsey RESET (1) 0,6057

Prob(Ramsey RESET) 0,5466

Heterocedasticidade ARCH (1) 0,0054

Prob(Heterocedasticidade) 0,9400

Breusch-Godfrey Teste LM (1) 0,3264

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,5695

Breusch-Godfrey Teste LM (2) 2,0826

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,1319

Breusch-Godfrey Teste LM (3) 1,5836

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,2007

Breusch-Godfrey Teste LM (4) 1,2967

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,2795Níveis de significância marginal: *** representa 1%, ** representa 5% e

* 10%. Os desvios-padrão estão entre parênteses e as estatísticas t

entre colchetes.

35

Considerando os mecanismos de transmissão e, assim, a influência da política monetária

no prêmio de seguros de crédito, as estimativas confirmam as relações esperadas. A

relação positiva entre IR e PREM, por exemplo, decorre, primeiramente, da relação

positiva entre IR, DESEMP e DEFAULT.

Quando o banco central eleva a taxa de juros, há uma expectativa de aumento das taxas

de desemprego e, consequentemente, das taxas de inadimplência, tendo em vista que, de

acordo com pesquisa divulgada em 19.11.12 pela Boa Vista Serviços, administradora do

SCPC, o desemprego é o principal causador de inadimplência no país, respondendo por

um terço dos casos (33%) no mês de setembro de 2012. Portanto, dentro deste contexto,

haverá uma maior exposição dos bancos ao risco de crédito e, como contrapartida,

acredita-se que os bancos buscarão maior proteção através do seguro de crédito.

Sobre a influência da variável R_REQ, as estimativas mostram que limitando os

recursos disponíveis para empréstimos, ou seja, aumentando o nível das reservas

compulsórias, este instrumento de política monetária faz com que as operações de

crédito se tornem mais caras e aumentam, ao mesmo tempo, a aversão ao risco das

instituições financeiras, provocando um aumento na procura por seguros de crédito. No

entanto, somente foi verificada significância estatística por meio do método GMM.

6.2 ESTIMATIVAS DA INFLUÊNCIA DE VARIÂVEIS MACROECONÔMICAS

SOBRE O SPREAD DE CRÉDITO À PESSOA FÍSICA

De forma a buscar evidências da influência de variáveis econômicas, políticas

monetárias e do prêmio de seguro de crédito para pessoa física sobre o spread de

36

crédito, foi estimada a seguinte equação, utilizando as variáveis em log, de forma a

avaliar as elasticidades, a sensibilidade entre elas2:

844312110 ____)2( ttttt AJRREQLPREMAJIRAJSPREADAJSPREAD

tt DUMMYLEMBI *15

Em que t representa termos de erro.

Novamente, ressalto que o modelo e a escolha dos lags foram determinados por meio da

metodologia "geral para o específico", utilizando os critérios de

informação tradicionalmente aplicados (Schwarz e Akaike), além do princípio da

parcimômia e com base na teoria econômica.

Em termos de estimativas OLS, a tabela 2 mostra, por meio da estatística F, que as

regressões são válidas. Além disso, os resultados do teste Reset Ramsey indicam que as

estimativas não apresentam problema de especificação do modelo. Em termos de

estimativas GMM, os resultados do teste J indicaram que todos os modelos estão

corretamente especificados.

2 A fim de capturar os choques financeiros internacionais sobre a economia brasileira da crise das hipotecas

subprime, uma variável DUMMY foi incluída. DUMMY assume o valor 1 para o período de 2008.08 para

2008.12 e zero caso contrário. Esta data de início foi escolhida porque imediatamente após 2008.08, ocorreu a

quebra do banco Lehman Brothers. Espera-se que os coeficientes desta variável apresentem sinais positivos,

porque, em ambientes turbulentos, gerados por crises, criam incertezas que induzem os bancos a aumentar suas

disposições e, portanto, restringir o crédito, como, por exemplo, aumentando o spread de crédito.

37

Tabela 2 – Estimativas OLS e GMM (variável dependente: SPREAD)

OLS GMM

Equação (2) Equação (2.a)

C -0,0518 -0,0034

(0,0313) (0,0205)

[-1,6554] [-0,1659]

SPREAD(-1) 0,7434 *** 0,7645 ***

(0,0525) (0,0258)

[14,1683] [29,5948]

IR(-1) 0,2131 *** 0,2398 ***

(0,0513) (0,0335)

[4,1495] [7,1548]

PREM(-4) 0,0056 ** 0,0023 *

(0,0022) (0,0013)

[2,5318] [1,8563]

R_REQ(-8) 4,5959 * 3,1377 *

(2,5770) (1,5936)

[1,7834] [1,9690]

EMBI(-1)*DUMMY 0,0029 *** 0,0021 ***

(0,0007) (0,0006)

[4,3791] [3,5643]

R² 0,9551 0,9632

R² ajustado 0,9521 0,9607

Jarque-Bera 18,3343

Prob(Jarque-Bera) 0,0001

Rank 26

Estatística F 315,06

Prob(F) 0,0000

Estatística J 17,2581

Prob(Estatística J) 0,6400

Ramsey RESET (1) 0,1208

Prob(Ramsey RESET) 0,9042

Heterocedasticidade ARCH (1) 0,4221

Prob(Heterocedasticidade) 0,5179

Breusch-Godfrey Teste LM (1) 1,9099

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,1712

Breusch-Godfrey Teste LM (2) 0,6751

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,5123

Breusch-Godfrey Teste LM (3) 1,0600

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,3717

Breusch-Godfrey Teste LM (4) 1,2491

Prob(Breusch-Godfrey Teste LM) 0,2983 Níveis de significância marginal: *** representa 1%, ** representa 5% e * 10%. Os desvios-padrão estão entre parênteses e as estatísticas t entre colchetes.

38

Conforme verificado por Auel e De Mendonça (2011), nos estudos sobre a influência das

políticas monetárias sobre o spread de crédito, os coeficientes estimados para as variáveis IR e

R_REQ foram positivos e estatisticamente significativos. Tal evidência, conforme

apresentado por Montes e Peixoto (2012), indica que a variável SPREAD é um bom indicador

para a manifestação do canal de crédito no regime de metas de inflação no Brasil.

Conforme verificado também por Afanaisieff et al. (2002), o EMBI mostrou-se significativo

e positivamente relacionado com o SPREAD, em concordância com o sinal esperado entre o

aumento de risco de crédito e o aumento do prêmio de risco, elevando os spreads.

Sobre o prêmio de seguro, verificou-se também uma correlação positiva entre ele e o

SPREAD, conforme esperado. Os resultados sugerem que políticas monetárias e as demais

variáveis macroeconômicas, promovem mudanças no crédito através de um novo canal de

transmissão, que seria o seguro de crédito contratado pelos bancos.

6.3 SISTEMA DE EQUAÇÕES PARA O PRÊMIO E O SPREAD

A análise anterior indica que políticas monetárias, por meio de reservas compulsórias e da

taxa de juros, parecem afetar o volume de seguros contatados e aumentar o spread de crédito,

reforçando a ideia de que o canal de tomada de riscos e o canal de crédito estariam operando

no Brasil.

Uma maneira de dar robustez para as equações e os coeficientes anteriormente obtidos através

de OLS e GMM e observar o canal de transmissão é a estimativa por meio de sistema de

equações. Para o tratamento de possíveis problemas de endogeneidade, foi utilizado o modelo

39

GMM para a estimativa por meio de sistema de equações. Portanto, o seguinte sistema de

equações foi estimado (onde t e t são termos de erro aleatório).

Sistema:

ttttttt DUMMYLEMBIAJRREQLPREMAJIRAJSPREADAJSPREAD *____ 1118104918176

A tabela 3 mostra as estimativas do sistema. Todos os coeficientes têm sinais de acordo com a

visão teórica e com significância estatística. Vale ressaltar que os coeficientes obtidos pelo

sistema são mais precisos do que os estimados nas especificações individuais, como pode ser

visto que os erros padrão são menores.

Tabela 3 – Sistema GMM (LPREM e SPREAD_AJ)

SISTEMA GMM - LPREM E SPREAD

Variáveis Dependentes LPREM SPREAD

Variáveis Explicativas Variáveis Explicativas

C 8,4279 C -0,0101

(0,8390) (0,0175)

[10,0455] [-0,5746]

IR_AJ(-1) 4,1594 SPREAD(-1) 0,7798

(0,8760) (0,0274)

[4,7483] [28,4750]

LPREM(-1) 0,3348 IR_AJ(-1) 0,2397

(0,0672) (0,0460)

[4,9851] [5,2207]

DEF_AJ(-7) 12,5498 LPREM(-4) 0,0025

(2,0509) (0,0012)

[6,1192] [2,0792]

DES_AJ(-1) 17,5405 RREQ_AJ(-8) 3,0121

(2,4734) (1,1600)

[7,0916] [2,5969]

RREQ_AJ(-5) 71,4928 LEMBI(-1)*DUMMY 0,0025

(32,7664) (0,0004)

[2,1819] [6,3283]

R² 0,7352 0,9599

R² ajustado 0,7173 0,9570

Estatística J 19,39

Prob(Estatística J) 0,98

ttttttt AJREQRAJDESEMPAJDEFAULTLPREMAJIRLPREM 5111107918176 _____

40

É possível observar que reduções na taxa de juros, parecem provocar um aumento na

contratação de seguros de crédito, em virtude da melhora no mercado de crédito e,

consequente, redução nos níveis de inadimplência e desemprego.

Além disso, um acréscimo no nível de reservas compulsórias reduziria a disponibilidade de

recursos para aplicações, provocando assim, uma maior aversão ao risco, por parte dos

bancos, que procurariam se proteger deste risco de crédito através dos seguros.

Por fim, conforme esperado, uma redução na contratação de seguros de crédito aumentaria a

exposição dos bancos, que reduziriam as taxas de juros das operações de crédito.

Consequentemente, conforme comprovado por Manhiça e Jorge (2012), uma redução da taxa

básica de juros configura-se como uma condição para uma redução mais expressiva do spread

bancário e do custo do crédito no Brasil.

41

7 CONCLUSÃO

O presente estudo procurou evidências da influência dos seguros de créditos, como um canal

de transmissão da política monetária. Para tanto, o trabalho se baseou na literatura existente

sobre mecanismos de transmissão monetária, com destaque para o canal do crédito e o canal

de tomada de riscos.

As conclusões indicam que o canal de transmissão da política monetária através dos seguros

de crédito contratados estaria operando no Brasil e que os bancos reagiriam à política

monetária (ou quando o BACEN altera taxa básica de juros ou as reservas compulsórias),

alterando a quantidade de seguro contratado.

De acordo com os resultados apresentados na tabela 1, percebe-se, através de uma análise

ceteris paribus, que para situações de taxa de juros e de reservas compulsórias diminuindo,

bancos ficam mais expostos ao risco de crédito, reduzindo suas disposições e aumentando a

procura por este tipo de seguro.

Além disso, uma contribuição do estudo é a evidência encontrada de relação entre o spread de

crédito e os seguros de crédito, conforme apresentado na tabela 2. De acordo com os

42

resultados, o aumento da contratação dos seguros de crédito reduz a exposição dos bancos ao

risco de crédito e provoca um aumento das taxas cobradas pelos bancos (aumento do spread).

As situações descritas acima mostram a percepção dos bancos com relação à solvência dos

seus tomadores, mostrando sua reação ao grau de solvência deles.

Portanto, esse trabalho foi o primeiro a trazer este olhar do seguro como um canal de

transmissão da política monetária. Para o futuro, novos trabalhos podem ser produzidos

considerando a importância do seguro dentro da economia brasileira e sua evolução crescente

como mecanismo de proteção não só dos bancos e instituições financeiras, mas também de

pessoas físicas e jurídicas diversas.

Mais especificamente, o presente estudo poderá ser expandido, utilizando-se uma amostra

mais significativa deste mercado. Para tanto, poderia se utilizar a distribuição dos volumes de

prêmios por entidade seguradora, tendo em vista que muitas delas operam apenas em uma das

modalidades deste seguro.

43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Afanasieff, T. S.; Lhacer, P. M. V.; Nakane, M. I., 2002. The determinants of bank interest

spread in Brazil. Money Affairs. , v. 15, n. 2, p. 183-207.

Altunbas, Y., Gambacorta, L., Marqués-Ibáñez, D., 2009. An empirical assessment of the

risk-taking channel. Paper presented at the BIS/ECB conference on “Monetary policy and

financial stability”, September.

Auel, M. C., de Mendonça, H. F., 2011. Macroeconomic relevance of credit channels:

Evidence from an emerging economy under inflation targeting. Economic Modelling, 28:

965-979.

Bernanke, B. S., Gertler, M., 1995. “Inside the Black Box: The Credit Channel of Monetary

Policy Transmission”. Journal of Economic Perspectives, 9(4): 27-48

Boa Vista Serviços, 2012. Perfil do Inadimplente – 3º Trimestre 2012.

Borio, C., Zhu, H., 2008, “Capital Regulation, Risk-Taking and Monetary Policy: A Missing

Link in the Transmission Mechanism?”. Bank for International Settlements Working Paper,

No. 268.

Gambacorta, L., 2009. Monetary policy and the risk-taking channel. BIS Quarterly Review,

December.

44

Gertler, M., Gilchrist, S., 1993. The role of credit market imperfections in the monetary

transmission mechanism: arguments and evidence. Scandinavian Journal of Economics,

95(1): 43–64.

Manhiça A. F. e Jorge T. C., 2012. O nível da taxa básica de juros e o spread bancário no

Brasil: uma análise de dados em Painel.

Mendonça, H. F. de., 2001, Mecanismos de transmissão monetária e a determinação da taxa

de juros: uma aplicação da Regra de Taylor ao caso brasileiro. Economia e Sociedade,

Campinas, n. 16, junho.

Mishkin, F. S., 1995. Symposium on the Monetary Transmission Mechanism. Journal of

Economic Perspectives, 9(4): 3-10.

Montes e Peixoto, 2012. Risk-taking channel, bank lending channel and the “paradox of

credibility”., Evidence for Brazil .

45

APÊNDICE A

Tabela 4 – Teste KPSS

Bandwidth Estatística de Teste Valor Crítico a 1% Valor Crítico a 5% Valor Crítico a 10%

LPREM 4 0,132010 b 0,216000 0,146000 0,119000

IR_AJ 7 0,205316 b 0,216000 0,146000 0,119000

DEF_AJ 7 0,056228 b 0,216000 0,146000 0,119000

DES_AJ 5 0,082749 b 0,216000 0,146000 0,119000

RREQ_AJ 7 0,186297 b 0,216000 0,146000 0,119000

SPREAD_AJ 6 0,083924 b 0,216000 0,146000 0,119000

LEMBI 6 0,103223 b 0,216000 0,146000 0,119000

SériesKPSS

Nota: A escolha final do lag foi fei ta baseada no cri tério de Bartlett-Kernel . a denota coeficiente, b

denota intercepto e tendência .