CANAVILHAS_O Novo Ecossistema Mediático

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  • 7/24/2019 CANAVILHAS_O Novo Ecossistema Meditico

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    O novo ecossistema meditico

    Joo CanavilhasUniversidade da Beira Interior

    ndice

    Introduo 11 Da ecologia ao ecossistema 12 O ecossistema meditico 23 O novo ecossistema 34 Funcionamento do novo ecossistema 7Bibliografia 8

    Introduo

    Originalmente usado para descrever as re-laes entre a blogosfera e a mediasfera,o conceito de ecossistema meditico temvindo a tornar-se mais abrangente. Indisc-utivelmente ligado ao aparecimento da In-ternet, com a emergncia dos chamadosself-media e das plataformas mveis que oconceito ganha novos significados passandoa designar todo o complexo sistema de re-laes entre os velhos e os novos meios.

    Partindo do conceito original de Ecolo-gia, neste trabalho procuramos identificarum conjunto de elementos que ajudem a cla-rificar o conceito de Ecossistema meditico,nomeadamente no que concerne aos vriosfactores que o influenciam. a partir destadefinio que se traa um esboo do novoecossistema meditico.

    1 Da ecologia ao ecossistema

    O conceito de ecologia foi introduzido pelonaturalista alemo Ernest Haeckel, em 1869,e resulta da juno das palavras gregasoikos (casa) e logos (estudo). Ecologiaseria "the study of the natural environmentincluding the relations of organisms to oneanother and to their surroundings"(Haeckelcitado em Odum & Barrett, 2005, 3), ouseja, o estudo dos ecossistemas. J este con-ceito de ecossistema, utilizado pela primeira

    vez por Arthur Tansley em 1935, definidocomo a combinao funcional dos orga-nismos com os factores ambientais, intro-duzindo assim dois tipos de componentesinteractivas no ecossistema: a componenteabitica (relacionada com os ambientes) ea componente bitica (relacionada com osseres vivos). neste mbito funcional e rela-cional que o conceito de ecossistema acabapor ser transportado para o campo dos me-

    dia.Na perspectiva mcluhaniana existe umarelao de continuidade entre os vriosmedia, uma espcie de evolucionismomeditico em que cada meio melhora o an-terior graas incorporao de novas valn-cias tecnolgicas. Assim, a viagem da cul-tura oral aldeia global tambm a aventurado ideograma que se fez palavra esculpida e

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    mais tarde escrita, da palavra escrita manual-mente que passou a ser impressa, da palavraouvida distncia que posteriormente foicomplementada com imagens e, por fim, domultimdia que misturado e remisturado nosmais variados formatos passou a ser dis-tribudo para todo o tipo de plataforma situa-da em qualquer parte do globo. nesta l-tima fase que a ideia de continuidade ganhaum novo significado: no se trata apenas deacrescentar algo ao que j existia, mas sim

    de utilizar tudo o que existe, mas de for-mas diferentes que variam em funo do am-biente. A partir deste momento passamosa falar de um sistema em que meios e am-bientes geram novas e variadas relaes re-sultantes da sua natureza instvel, mvel eglobal, gerando um constante estado de de-sequilbrio que rapidamente se reequilibrapara logo a seguir se desequilibrar nova-mente pela introduo de novos meios ou

    ambientes num ecossistema em permanentemudana.Esta nova realidade obriga-nos a intro-

    duzir aqui o conceito de sociedade lquida(Bauman, 2000): para o autor, a sociedadelquida caracteriza-se por uma mudana per-manente que impede o estabelecimento dehbitos e rotinas. A liquefaco materializa-se numa fragmentao social em que as in-stituies perdem peso face a uma individua-lizao crescente na produo e no consumode informao. Nesta situao verifica-seuma alterao nas duas componentes rela-cionadas com os meios e com ambientes que, para alm de se influenciarem mu-tuamente, facilitam ainda o surgimento denovos factores prprios de um ecossistema eque passam, tambm eles, a exercer influn-cia na distribuio de foras.

    2 O ecossistema meditico

    Num ecossistema existem duas ordens defactores. Os factores abiticos esto rela-cionados com a forma como o ambienteafecta a comunidade e, simultaneamente,como este afectado por ela. J nos fac-tores biticos inclui-se tudo o que diz res-peito s relaes entre populaes, ou seja, dependncia existente entre elementos deuma mesma populao, e entre esta e as ou-

    tras populaes.Tal como a Ecologia a cincia que es-tuda os ecossistemas, a Ecologia dos Me-dia a escola terica da comunicao quese dedica aos ecossistemas mediticos. Aoestudarem a forma como osmediaafectam apercepo, compreenso, sentimentos e va-lores humanos1, os investigadores da Ecolo-gia dos Media abordam os meios enquantoambientes, procurando estudar a sua estru-tura, contedo e impacto nas pessoas. Numaprimeira abordagem parece ficar de fora umavertente importante no estudo do ecossis-tema meditico: as circunstncias em que osambientes so, eles prprios, condicionadospelas pessoas.

    Na procura de uma terminologia que nospermita transpor os conceitos do ecossistematradicional para o ecossistema meditico,comeamos por analisar os factores biti-cos: o seu correspondente no campo do ecos-

    sistema meditico seria o estudo das carac-tersticas dos prprios meios, mas tambmdas relaes intermediticas. Ao escrevernew media do not make old media obso-lete; they assign them other places in the sys-tem, Fredrich Kittler (1996) procura salien-

    1 Media Ecology definida por Neil Post-man em www.media-ecology.org/media_ecology/

    www.bocc.ubi.pt

    http://www.media-ecology.org/media_ecology/http://www.media-ecology.org/media_ecology/http://www.media-ecology.org/media_ecology/http://www.media-ecology.org/media_ecology/
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    tar que, apesar das mudanas tecnolgicas,o ecossistema tende reequilibrar-se o quepressupe um conjunto de readaptaes dosmedia a uma nova situao. Assim, o es-tudo dos meios e suas relaes constituiriaaquilo a que poderamos chamar osfactoresmediticos, correspondentes aos factoresbiticos do ecossistema tradicional. Fen-menos como a remediao (Bolter & Grusin,1999) ou o prprio estudo dos meios comoextenses do Homem (McLuhan, 1969),

    enquadrar-se-iam no mbito destes factores.No campo dos factores abiticos, a trans-

    posio de conceitos mais complexaporque se trata de um vasto conjunto de ele-mentos ambientais como temperatura, luz,composio qumica dos ambientes e os ali-mento. A maior complexidade deve-se aofacto do conceito de ambiente poder ter duasinterpretaes quando falamos de um ecos-sistema meditico.

    Em primeiro lugar, e na linha da Teoriados Efeitos Limitados, o ambiente enquantocontexto social que influencia o processode descodificao da mensagem (Lazarsfeld,1940). Mas pode tambm ser interpretadano mbito da Teoria dos Sistemas, com a co-municao a ser vista como um processo se-lectivo que se desenvolve na produo, dis-tribuio e aceitao dos contedos mediti-cos (Luhmann, 1981), tendo a improbabili-dade da comunicao como pano fundo emconsequncia dos vrios condicionamentosda recepo. Este tipo de factores assumeparticular importncia num momento em queo consumo se torna cada vez mais indivi-dual e mvel (Bauman, 2000). Se a efic-cia das comunicaes de massa se estuda emrelao ao contexto de relaes sociais emque osmass mediaagem (Wolf, 1987, 52),o que acontece quando se verifica uma li-

    quefaco social? (Bauman, 2000). A esteconjunto de elementos, em que a mobilidadee a descentralizao surgem como elementoschave, chamaremosfactores contextuais.

    Em segundo lugar, o ambiente no ecos-sistema meditico deve ser igualmente vistodesde um ponto de vista mais instrumen-tal, debruando-se especialmente sobre asaplicaes e interfaces que nos permitemaceder mensagem. neste segundo pontoque se inscrevem os estudos relacionados

    com novas aplicaes/programas que al-teram a forma como nos relacionamos comos meios. Falamos dos blogues ou das redessociais, no caso da Internet, da interactivi-dade atravs do comando de televiso ou dosnovos suportes de leitura jornais, como os e-readers. Neste campo interessa fundamen-talmente estudar a forma como os consum-idores condicionam os prprios ambientes aponto de os alterarem. A questo da inter-

    actividade fulcral no estudo deste tipo deelementos a que chamaremos factores tec-noambientais.

    Assim, consideramos que num ecossis-tema meditico existem trs tipos de fac-tores: mediticos (estudo dos meios e dassuas relaes), contextuais (estudo do espaoe da forma como se processam os consumosmediticos) e tecnoambientais (estudo dosinterfaces e da aco dos consumidores noecossistema).

    3 O novo ecossistema

    Depois de cinco dcadas de relativo equi-lbrio, a emergncia da Internet veio alteraro ecossistema meditico e a forma comonos relacionamos com os meios. Estamospasando de los medios de masas a la masade medios. Pasamos del sistema media-

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    cntrico alyo-cntrico, donde el individuo setransforma en un microorganismo al tener elpoder de comunicarse, de intercambiar infor-macin, de redistribuir, de mezclar cosas, dehacer sus propios vdeos y colgarlos para quelos vean miles de personas.2 Antevendo-se que, em 2012, Internet ser a primeirafonte de informao3 e que, em 2020, osdispositivos mveis sero a principal formade acesso Internet4, espera-se que apsuma fase de alguma instabilidade nasa um

    novo ecossistema meditico resultante de al-teraes nos vrios factores antes menciona-dos e que passamos a analisar.

    3.1 Factores mediticosComo refere McLuhan, o contedo de qual-quer meio ou veculo sempre outro meio ouveculo (1969, 22) e a Internet o melhorexemplo desta realidade: mais do que o con-tedo de um meio anterior, a Internet umasimbiose dos contedos de todos os meiosanteriores. este factor que justifica o seuenorme sucesso pois se o cruzamento ou hi-bridao dos meios liberta grande fora ouenergia como por fuso (McLuhan, 1969,67), quanto maior for o nmero de meios quese funde, maior a energia libertada e, porisso, maior a atraco exercida sobre o serhumano.

    O crescimento do nmero de utilizadores

    da Internet passou de 16 milhes, emDezembro de 1995, para cerca de 1,97 mil

    2 Entrevista de Rosental Camon Alves ao El Paiswww.elpais.com/articulo/reportajes/

    medios/deben/aparcar/arrogancia/

    elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/

    Tes.3 Innovation in Newspapers 2007 World Report.4 The Future of Internet III.

    milhes, em Junho de 20105, com uma taxamdia de penetrao de 77,4% na Amricado Norte, 62,3% na Ocenia, 58,4% naEuropa e 28,7% em todo o mundo. Sonmeros impressionantes que transportarama sociedade para um novo modelo comunica-cional characterized by the fusion of inter-personal communication and mass commu-nication, connecting audiences, broadcas-ters, and publishers under a matrix networ-king media devices ranging from newspapers

    to videogames and giving newly mediatedroles to their users. (Cardoso, 2008, 619).Podemos dizer que a Internet ocupa um lu-gar semelhante ao que McLuhan atribua electricidade: Um dos aspectos principaisda era elctrica que ela estabelece umarede global que tem muito do carcter donosso sistema central. Nosso sistema ner-voso central no apenas uma rede elc-trica; constitui um campo nico e unificado

    da experincia. Como os bilogos apontam,o crebro o lugar de interaco, onde to-das as espcies de impresses e experinciasse intercambiam e se traduzem (1969, 390).Esse lugar de interaco transferiu-se para ociberespao, sobretudo com o aparecimentodos chamados media sociais como o Blog-ger (1999), o Facebook (2004), o Youtube(2005) e o Twitter(2006), ferramentas queabordaremos nos factores ambientais.

    Para alm de um novo modelo de so-ciedade em rede (Castells, 2002), a Internetinfluenciou igualmente os restantes media.Para Bolter & Grusin (1999), os novos mediarenovam os media anteriores e a este fen-meno atriburam-lhe a designao de reme-

    5 Dados Internet World Stats: www.internetworldstats.com/emarketing.

    htm.

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    http://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.internetworldstats.com/emarketing.htmhttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Teshttp://www.elpais.com/articulo/reportajes/medios/deben/aparcar/arrogancia/elpepusocdmg/20100905elpdmgrep_5/Tes
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    diation. Porm, o conceito pode tambmser aplicado aos velhos meios no sentido emque eles prprios se alteram quando surgeum novo meio, procurando adaptar-se novarealidade. Este , do nosso ponto de vista,o segundo grande efeito intermeditico daInternet no ecossistema. A migrao dosmeios tradicionais para a Web esbateu fron-teiras e iniciou um processo de convergn-cia que torna cada vez mais difcil distin-guir onde acaba um meio e comea outro:

    a imprensa ganhou distribuio global ime-diata, uma caracterstica da rdio e da tele-viso graas aos satlites; a rdio ganhouimagem, caracterstica tpica da televiso; ateleviso ganhou novos nveis de interacotpicos da Internet. A remediao tornou-senum fenmeno simtrico em que os novosmeios melhoram os meios anteriores, masestes passam igualmente por um processo detransformao que os aproxima dos modelos

    comunicacionais do novo meio.Mas a Internet no a nica novidade nonovo ecossistema meditico. A telefoniamvel que comeou por ser uma tecnologiaexclusiva de uma elite empresarial na dcadade 90, facultando a gestores uma comuni-cao constante e ubqua, tornou-se uma tec-nologia popular, mesmo nas camadas sociaisde baixo rendimento. (Fidalgo e Canavilhas,2010, 100). De acordo comTomi Ahonen Al-manac 2009, no final de 2009 existiam nomundo mais de 4 mil milhes de telemveisem utilizao, mais do dobro do nmero detelevises (1,5 mil milhes) e quatro vezesmais do que o nmero de computadores (milmilhes). Os dados indicam ainda que, ape-sar de crise, as vendas de telemveis con-tinuam a aumentar, sobretudo no grupo dossmartphones. Estes dispositivos juntam duasnovas funes ao seu objectivo inicial de co-

    municao interpessoal: uma funo maisligada ao entretenimento, com a possibili-dade de ver e gravar vdeos, jogar, e ou-vir msica, e uma outra no campo maismeditico graas possibilidade de se ligar Internet, a funo informao (Canavilhas,2009). Foram estas valncias que permiti-ram ao telemvel sair del mbito estrictode la tecnologa de voz para convertirla enuna tecnologa de acceso a datos, iniciandoas su proceso de mediatizacin (Aguado

    e Martnez, 2006, 322). De uma fase ini-cial em que servia apenas como plataformapara velhos contedos devido s suas limi-taes tcnicas, o telemvel evoluiu para ummeio de acesso a contedos de todos os ou-tros media, mas que tem tambm contedosprprios (como o SMS) que exploram o usopessoal e a mobilidade, uma caractersticaque faz parte dos factores contextuais.

    Assim, as duas grandes alterao inter-

    mediticas no ecossistema meditico so aintroduo de dois novos meios, duas esp-cies que alteraram a forma como nos rela-cionamos devido a um conjunto de carac-tersticas relacionadas com ambientes e con-textos de recepo.

    3.2 Factores contextuaisAs duas grandes alteraes ao nvel dos fac-tores contextuais resultam da entrada da In-

    ternet e dos telemveis no ecossistema, eso a individualizao do consumo e a mobi-lidade. Atravs de computadores pessoais,plataformas de jogos, PDAs ou telemveis,os consumidores alteraram os padres deconsumo meditico, que passaram de con-textos grupais para um consumo individual ede espaos previamente determinados a todoe qualquer lugar onde exista uma rede mvel.

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    El espacio y el tiempo son las dimensionesfundamentales, materiales de la existenciahumana. De ah que sean la expresin msdirecta de la estructura social y del cambioestructural. (Castells e outros, 2007, 267).O lugar onde ocorre a comunicao deixade ser o dos outros para ser o de cada um,situao que pode influenciar o interesse pordeterminado contedo devido localizaomomentnea do receptor. O momento emque se recebe informao deixa de estar pr-

    determinado para se transformar num ciclocontnuo e, muitas vezes, directo, o que per-mite aos emissores abrir novas hipteses derelacionamento com os consumidores. A ac-tividade de recepo deixa de ser nica parase acumular com outras funes, fazendocom que a recepo seja um processo tonatural como outras actividades do dia-a-dia.Por fim, mas no menos importante, a in-formao recebida passa a ser determinada

    pelo receptor e no pelo emissor, terminandoassim o fluxo centralizado de informao,com o controlo editorial do plo de emisso(Lemos, 2007, 127).

    A conjugao de uma variedade de inte-resses to vasta como uma audincia globaldispersa por diversos contextos resultante damobilidade prpria dos meios com ligaes3G criam um universo de situaes de re-cepo que alteram de forma radical o rela-cionamento entre emissores e receptores.

    3.3 Factores tecnoambientaisNeste tipo de factores inclumos as inter-faces Homem/meio. A miniaturizao dosreceptores de rdio e consequente aumentode portabilidade, a introduo dos coman-dos distncia nos receptores de televisoe, mais recentemente das boxes que per-

    mitem a gravao da programao, ou aindao sucesso dos e-readers e tablets so algunsexemplos da forma como as interfaces al-teram a maneira como nos relacionamos comos meios sem que esta mudana tenha nadaa ver com os contedos. Neste caso, os am-bientes no so os meios (campo da Ecolo-gia dos Media) nem o contexto em que amensagem recebida (campo dos Estudos deRecepo) pois os contedos no se alteramnem so condicionados pelos contextos. O

    que interessa no caso destes factores so osinstrumentos de hardware ou software -que nos permitem o contacto com os conte-dos e que, em muitas situaes, respondemaos desejos dos consumidores. Quando assetas do teclado deixaram de ser um bom in-terface inventou-se o rato, que por no seruma boa interface para jogos deu lugar aojoystick que foi ultrapassado pelo WII Plus,sendo agora superado pelo novo interface da

    Xbox que se chama Kinect e transforma oprprio corpo em comando.O estudo dos factores tecnoambientais

    passa pelo estudo das possibilidades de in-teractividade com o contedo, mas tambmcom os outros utilizadores. Como refereMacLuhan, os homens logo se fascinam porqualquer extenso deles prprios em qual-quer material que no seja deles prprios(1969, 59). O comando de televiso obrao elstico que permite trocar de canalsem sair do sof e o leitor de MP3 a mogigante que permite transportar milhares dediscos e CDs sem esforo. Os computadorescom ligao Internet so as pernas mgicasque permitem viajar por todo o mundo numabrir e fechar de olhos. Neste parafernliade dispositivos tecnolgicos, o mais recentefascnio humano so as tablets: a convergn-cia de vrias funes num pequeno disposi-

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    tivo porttil com ligao rede est a trans-formar a forma como nos relacionamos comos contedos, abrindo ainda novas oportu-nidades de negcio no campo das indstriasmediticas.

    No caso do software, o aparecimentodo sistema Mac e a mudana do sistemaMS DOS para o Windows so dois bonsexemplos de alteraes ambientais que con-triburam de forma decisiva para o sucessodos computadores. Neste caso falamos de

    usabilidade, um segundo conceito que, a parda interactividade, fundamental na anlisedas questes tecnoambientais no ecossis-tema meditico.

    Mas a grande alterao neste campo o aparecimento dos media sociais e a en-trada em cena de um novo protagonista:o pblico antes conhecido como audincia(Rosen, 2006) Do modelo centralizado deum para muito passmos para os descentra-

    lizado de muitos para muitos, muitos paraum e um para um. Em blogues ou re-des sociais, o pblico passa a ter um papelactivo na produo de informao, mas so-bretudo na seleco da informao que inte-ressa. Aos utilzadores que pretendem triara avalanche de informao recebida diaria-mente pela Web. O gatewatching (Bruns,2003), isto , a seleco de informao efec-tuada por amigos das redes sociais emtorno dos quais se constroem comunidadesvirtuais, ganha uma importncia renovadanum ecossistema em que se assiste a umaespcie de recuperao do modelo Two-stepflow(Lazarsfeld, Berelson & Gaudet, 1944).Sabemos que o caminho mais prximo en-tre dois pontos uma recta, o problema quando no se sabe exactamente ondeest o ponto de chegada. neste contextoque um ponto intermdio pode ser a forma

    mais eficaz de fazer chegar a mensagem aquem interessa. a situao que se veri-fica na distribuio de notcias atravs dasredes sociais, quer directamente para recep-tores que manifestam interesse em as rece-ber, quer enviando-a directamente paragate-watchers. Os nmeros apoiam a importnciadesta opo: 42% dos americanos comea odia a consultar as redes sociais (Facebook eTwitter), e 16% diz ser nestas aplicaes queprocura as notcias da manh6. Um outro es-

    tudo (PEW, 2010) refere que 51% dos uti-lizadores de redes sociais todos os dias lnotcias disponibilizadas pelos seus amigos e23% l igualmente notcias distribudas nes-tas redes pelosmediatradicionais.

    Os factores ambientais surgem assimcomo um dos grupos com maior peso nonovo ecossistema meditico. A sua influn-cia interfere directamente com os factoresmediticos, funcionando como elemento ful-

    cral na redistribuio de poder dentro de todoo ecossistema.

    4 Funcionamento do novoecossistema

    "As espcies que sobrevivem no so as es-pcies mais fortes nem as mais inteligentes,mas aquelas que se adaptam melhor s mu-danas". A frase, atribuda a Darwin7,ilus-

    tra bem a j longa histria dos media, comos velhos meios a efectuarem adaptaesque lhes permitam sobreviver chegada dosnovos. A rdio alterou os contedos e

    6 www.retrevo.com/content/blog/

    2010/03/social-media-new-addiction%

    3F.7 Est inscrita numa placa existente no trio da

    Academia de Cincias da Califrnia.

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    http://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3Fhttp://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3Fhttp://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3Fhttp://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3Fhttp://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3Fhttp://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3Fhttp://www.retrevo.com/content/blog/2010/03/social-media-new-addiction%3F
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    horrios nobre para resistir televiso e to-dos procuraram adaptar-se Internet, uti-lizando este meio como suporte.

    A conjugao dos factores mediticos,contextuais e tecnoambientais provocou al-gumas alteraes importantes no funciona-mento do ecossistema. Desde logo porqueos novos meios se colocaram imediatamenteno topo da cadeia: a Internet, com 2 mil mi-lhes de utilizadores8, e os telemveis, com4 mil milhes em 2009 (Ahonen, 2009), ul-

    trapassam largamente os 1,5 mil milhes deaparelhos de televiso ou os 480 milhes dejornais em circulao diria (Ahonen, 2009).O sucesso destes meios alterou o consumo denotcias, que passou a ser individual, mvel,ubquo e contnuo. A consequncia imediatafoi a mudana de um sistema pull, em que o consumidor a procurar as notcias, paraum sistemapush, em que as notcias vo aoencontro dos consumidores (Fidalgo e Cana-

    vilhas, 2009), tendo eles a opo de esco-lher como, quando e onde as recebem. Estaalterao encerra um importante potencialeconmico uma vez que o privilgio de re-ceber cria a predisposio para o pagamento.

    Em segundo lugar, este fluxo individual,contnuo e bidireccional de informao per-mite a participao do consumidor no pro-cesso noticioso, alterando o equilbrio dosistema: como se referiu antes, de um sis-tema media-cntrico passou-se para umeu-cntrico9, envolvendo mais os leitoresem todo o processo, sobretudo ao nvel daredistribuio de notcias via e-mail ou redessociais, uma situao que tende a criar comu-nidades virtuais. Tambm neste caso existeum grande potencial econmico, na medida

    8 Dados Internet World Stats em Junho de 2010.9 Entrevista de Rosental Camon Alves ao El Pais.

    em que a participao neste tipo de comu-nidades que discutem assuntos muito espec-ficos tende a ser valorizada e, por isso, a terum valor de participao.

    A nova sociedade em rede e a digita-lizao do sector da comunicao operaramtamanha mudana no ecossistema mediticoque los bits, unidades del lenguaje digi-tal, ya son tan importantes como los tomos,componentes biolgicos elementales de losobjetos tangibles (Nora, 1997, 21). Esta des-

    materializao acelera o processo evolutivonum ecossistema em permanente mutao.

    Bibliografia

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