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Cancro da Próstata e Obesidade: Efeito da Leptina na Proliferação e Angiogénese do Cancro da Próstata Andreia Henriques Moutinho Ribeiro Dissertação de Mestrado em Oncologia 2009

Cancro da Próstata e Obesidade: Efeito da Leptina na ... · de leptina. Foram utilizados 4 grupos de ratinhos (n=6/grupo), C57BL6/J normoponderais (controlo), obesos com mutação

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Cancro da Próstata e Obesidade:

Efeito da Leptina na Proliferação e Angiogénese do

Cancro da Próstata

Andreia Henriques Moutinho Ribeiro

Dissertação de Mestrado em Oncologia

2009

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Andreia Henriques Moutinho Ribeiro

Cancro da Próstata e Obesidade: Efeito da Leptina na Proliferação e Angiogénese do Cancro da Próstata

Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em Oncologia submetida ao Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto.

Orientador – Professora Doutora Mariana Monteiro.

Categoria – Professora Auxiliar

Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

Co-orientador – Professor Doutor Rui Medeiros

Categoria – Professor Auxiliar com Agregação Convidado

Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e Instituto Português de Oncologia do Porto

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À minha avó.

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Resumo

A obesidade está associada ao aumento da incidência e agressividade de

algumas neoplasias, nomeadamente da próstata. Estudos recentes sugerem que

hormonas do tecido adiposo, nomeadamente a leptina, possam influenciar o

crescimento e proliferação dos tumores, embora alguns resultados sejam

controversos.

O objectivo deste trabalho foi avaliar o crescimento de células de

adenocarcinoma da próstata murinas em ratinhos obesos com diversos

ambientes hormonais endógenos quanto à sensibilidade e aos níveis plasmáticos

de leptina.

Foram utilizados 4 grupos de ratinhos (n=6/grupo), C57BL6/J normoponderais

(controlo), obesos com mutação inactivante do receptor da leptina OBR (db/db),

obesos com deficiência leptina knock-out OB (ob/ob) e obesos induzidos pela

dieta (DIO), inoculados na região subcutânea dorsal com 3,0x105 células RM1

(células androgénio-independentes). Os tumores foram avaliados 14 dias depois,

tendo sido realizado um estudo morfométrico do grau de angiogénese e

proliferação celular (imunocito-química para a caveolina e Ki-67,

respectivamente). Os níveis de leptina e insulina plasmáticas foram doseados por

ELISA.

Quando comparados com o grupo controle, verificou-se que os tumores

induzidos nos grupos ob/ob e DIO eram significativamente maiores (p<0.001),

enquanto os do grupo db/db eram significativamente menores (p=0.047). A

análise morfométrica revelou que o índice mitótico e a densidade de núcleos

marcados com Ki-67, marcadores de proliferação celular era significativamente

mais baixa nos tumores do grupo db/db (p<0.001). Observou-se ainda uma

correlação inversa entre níveis plasmáticos de leptina e o peso do tumor (r=-

0.642, p<0.01), índice mitótico (r=-0.646, p<0.01) e o grau de proliferação

tumoral (r=-0.795, p<0.001). Não foi observada nenhuma relação entre os níveis

de insulina e a dimensão ou características histológicas do tumor.

Estes resultados sugerem que concentrações elevadas de leptina não são

favoráveis ao crescimento de células de carcinoma da próstata androgénio-

independente. Pelo contrário, níveis elevados de leptina, estão associados a

menor proliferação celular e angiogénese in vivo.

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Abstract

Obesity has been associated with increased incidence and aggressiveness of

several cancers, such as prostate cancer. Several studies have suggested that

hormones from the adipose tissue, namely leptin, could influence tumoral growth

and proliferation, although there are some controversial data on this issue.

The main goal of this study was to access cellular growth and proliferation of

prostate adenocarcinoma cells in vivo, which was evaluated in obese mice with

different endogenous hormonal environments in what relates to leptin plasma

levels and sensitivity.

Four groups of mice (n=6/group) were used, namely obese mice with non-

functioning leptin receptor OBR due to a mutation that inactivates the db gene

(db/db), obese mice with leptin deficiency due to a mutation of the leptin gene ob

(ob/ob), DIO mice with diet induced and normoponderal C57BL6/J (control). All

groups of mice where injected subcutaneously at dorsal region with 3,0x105 RM1

cells (prostate carcinoma androgen independent cells). Tumour growth was

evaluated 14 days after inocculation, and immunocytochemical study was done to

evaluate the angiogenic and cellular proliferation index (using anti-caveolin and

Ki-67 immunestaining, respectively). Leptin and insulin plasma levels were also

evaluated by ELISA.

When compared with controls, the tumours induced in ob/ob and DIO mice

were significantly larger (p<0.001) while those induced in db/db mice were

significantly smaller (p=0,047). Morphometric analysis revealed that mitotic index

and Ki-67 positive nuclear density, both cell proliferation markers, were

statistically lower in db/db mice (p<0,001) when compared to controls. An inverse

correlation was observed between leptin plasma levels and tumour weight (r=-

0.642, p<0.001), mitotic index (r=-0.646, p<0.01) and Ki-67 positive nuclear

density (r=-0.795, p<0.001). No relationship was observed between the insulin

plasma levels and the tumour dimensions or histological parameters.

These results suggest that high leptin concentrations are not favourable to

RM1 androgen-independent prostate adenocarcinoma growth and proliferation.

On the contrary, high plasma leptin levels, were associated with less cellular

proliferation and angiogenesis in vivo.

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Resumé

L'obesité est associé al'augmentation de l'incidence et agressivité de quelques

neoplasies, nottament de la prostate.

Des études récentes suggèrent: Les hormones du tissu adipeux, nommément

la leptine peuvent influencer la croissance et devellopement des tumeurs, même

si quelques resultats sont controversés.

Evaluer la croissance de célulles de adénocarcinome de la prostate des souris

obèses en plusieurs milieux hormonaux endogènes, rapport à la sensibilité et aux

niveaux plasmatiques de leptine.

Ont été utilisés quatre groupes de souris (n=6/groupe), C57BL6/J

normopondéraux (contrôle), obèses avec mutattion inactivante du recepteur de la

leptine OBR (db/db), obèses avec deficit de leptine knock-out OB (ob/ob) et

obèses induits par le regime (DIO), innocullles dans la region sous-cutannée

dorsal avec 3,0x105 celules RM1 (celules androgeno-independentes. Les tumeurs

ont été évalues 14 jours apès, ayant été realisé une étude morphométrique du

degrée del'angiogenèse et proliferation celulaire (imuno-cito-chimique pour la

cavéoline et Ki-67, respectivement). Les niveaux de léptine et insuline

plasmatiques ont été dosés par ELISA.

Quand on comparés avec le groupe de contrôle, les tumeurs induites dans les

groupesob/ob et DIO etaient remarquablement plus gros (p<0.001), alors que

ceux du groupe db/db etaient remarquablement plus petits (p=0.047). L'analyse

morphomètrique a revelè que l'indice mitotique et la densité des noyaux

marqués avec Ki-67, marqueurs de prolifération célulaire est nottablement plus

inferieure dans les tumeurs du groupe db/db (p<0.001).

Il aété observée une correlation inversée entre les niveaux plasmatiques de

lleptine et le poids de la tumeur (r=-0.642, p<0.01). Indice mitotique (r=-

0.646,p<0.01) et le degrée de proliferation tumoral (r=-0.795, p<0.001) Il n'a pas

été observée aucune relation entre les niveux de insuline et la taille où les

caracteristiques histologiques de la tumeur.

Ces resultats suggèrent que les concentrations èlevèes de leptine ne sont pas

favorables à la croissance de celules de Carcinome de la prostate andregenio-

independente.

Bien au contraire, des niveaux élevés de leptine, sont associés à une moindre

proliferation celulaire et angiogenèse in vivo.

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Agradecimentos

Agradeço reconhecidamente ao Professor Carlos Lopes todo o apoio a nível de

histologia e por permitir o meu estágio no Serviço de Anatomia Patológica do

Hospital de Santo António. O conhecimento aí adquirido foi essencial para que

pudesse desenvolver o meu trabalho.

Ao Professor Sousa Pereira os meus agradecimentos por todo o apoio.

Ao Professor Artur Águas estou profundamente agradecida pela oportunidade

que me deu de estagiar no Departamento de Anatomia e de fazer parte da sua

equipa. Agradeço toda a receptividade e incentivo que foram imprescindíveis para

desenvolver e realizar o presente trabalho.

Obrigada especial ao Professor Rui Medeiros por ser meu co-orientador e pela

colaboração prestada ao desenvolvimento deste trabalho.

Estou profundamente agradecida à Professora Mariana Monteiro por todo o

apoio e disponibilidade concedidos desde o primeiro momento na minha

iniciação na área de investigação. Agradeço por ter aceite ser minha orientadora

como aluna de mestrado. Pela sua dedicação, pelo seu empenho, pela sua

paciência, pelo gosto que tem pela investigação o qual me conseguiu transmitir.

O meu muito, muito obrigada.

Obrigada especial ao Dr Ricardo Ribeiro pela disponibilidade e paciência

sempre demonstradas e pelo apoio na caracterização molecular da linha celular

que foi essencial para o desenvolvimento do meu trabalho.

Agradeço ao Professor Thimoty Thompson do MD Anderson Câncer Center,

Houston, Texas, USA, por gentilmente nos ter oferecido as células RM1 sem as

quais não seria possível concretizar o presente trabalho.

Agradeço à Dra Susana Carrilho, Dra Catarina Diogo do IBMC, à Dra Adelina

ICBAS e à Dra Carla Cerqueira pelo apoio prestado no desenvolvimento da técnica

de cultura celular da linha em estudo.

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Agradeço à Dra Raquel Marques do Departemento de Anatomia do ICBAS por

toda a disponibilidade e paciência demonstrados no desenvolvimento da técnica

de Western-blot.

Um especial agradecimento ao técnico Duarte Monteiro do Departamento de

Anatomia do ICBAS pela disponibilidade sempre demonstrada, pelo apoio no

estudo in vivo e pela ajuda preciosa na encadernação da presente tese.

Agradeço a toda a equipa do Departamento de Anatomia do ICBAS: Professora

Maria João, Professora Paula Proença, Professor Joaquim Reis, Professor Teixeira

Gomes, Dra Sara Andrade, Dra Filipa Pinho e Dra Mónica Cunha e aos técnicos: à

Dra Madalena Costa, Alexandrina Ribeiro pelo apoio na realização da

imunocitoquímica, Ana Pinto, Costa e Silva, Manuela Silva.

Agradeço a todo o Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Geral de Santo

António, à directora dos técnicos Sra. D. Adelaide Brito, à equipa dos técnicos de

histologia: Virgínia Alexandra, Alexandra Oliveira, Carlos Azevedo e Antonieta

Maia. Um especial agradecimento ao técnico Carlos Gouveia pelo apoio na

imunohistoquímica, muito importante para a realização dos estudos

morfométricos, à Sra. D. Amélia Almeida e à Sra. D. Carla Ambrósio.

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Índice de conteúdo

Resumo…………………………………………………………………………………………….4

Abstract……………………………………………………………………………………..........5

Resumé…………………………………………………………………………………………….6

Agradecimentos………………………………………………………………………………….7

Índice de conteúdo………………………………………………………………………………9

Índice de tabelas……………………………………………………………………………….12

Índice de Imagens……………………………………………………………………………..12

Abreviaturas…………………………………………………………………………………….14

Capítulo 1…………………………………………………………………………………….....16

Introdução……………………………………………………………………………………….17

1. Obesidade como factor de risco ………………………………………………...........17

2. Tecido adiposo………………………………………………………………………………18

2.1. Hormonas segregadas pelo adipócito……………………………………………..20

2.1.1. Leptina………………………………………………………………………………….20

2.1.2. Adiponectina…………………………………………………………………….……21

2.1.3. Resistina………………………………………………………………………….……21

2.1.4. Visfatina………………………………………………………………………………..22

2.1.5. Estrogénios……………………………………………………………………………23

2.2. Citoquinas e factores de crescimento produzidos pelo tecido

adiposo………………………………………………………………………………...24

2.2.1. TNF-α……………………………………………………………………………………24

2.2.2. VEGF…………………………………………………………………………………….24

2.2.3. IL-6………………………………………………………………………………………25

2.3.4. IGF-1…………………………………………………………………………………….26

3. Cancro e obesidade………………………………………………………………………..27

3.1. Resenha histórica………………………………….…………………………………...27

3.2. Actualidade………………………………………………………………………………27

3.3. Obesidade e cancro….………………………………………………………………...28

3.3.1. Factor do tecido adiposo…………………………………………………………..29

3.3.2. Leptina e carcinogénese……………………………………………………………29

3.3.2.1. Base molecular……………………………………………………………………..29

3.3.2.2. Leptina e desenvolvimento tumoral………………..…………………………30

3.3.3. Adiponectina e carcinogénese…………………………………….……….........31

3.3.3.1. Base molecular……………………………………………………………………..31

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3.3.3.2. Adiponectina e desenvolvimento tumoral…………………………………….32

3.4. Factor indirecto hiperinsulinismo associado à insulina-resistência

presente ma obesidade: papel trófico da insulina……………………………….33

4. Cancro da próstata…………………………………………………………………………34

4.1. Cancro da próstata e obesidade…………………………………………………….34

Capítulo 2………………………………………………………………………………………..36

Objectivo…………………………………………………………………………………………37

Capítulo 3………………………………………………………………………………………..38

Material e métodos…………………………………………………………………………….39

5. Cultura celular………………………………………………………………………………39

6. Caracterização da linha celular RM1……………………………………………………41

6.1. Imunocitoquímica para o receptor da leptina……………………………………41

6.2. Estudo histológico da próstata de ratinho saudável……………………….…..41

6.2.1. Processamento da próstata………………………………………………………..41

6.2.2. Imunohistoquímica para receptor da leptina………………………………….42

7. Expressão do receptor da leptina nas células por RT-PCR

(reverse transcriptase polymerase chain reaction)……...………………………43

7.1. Extracção de RNA das células em cultura…………………………………………43

7.2. Transcriptase reversa (síntese de DNA)………………………..………………….43

7.3. Polymerase chain reaction (PCR)………….…………………………………………44

7.4. Electroforese dos produtos PCR…...……………………………………………….45

8. Western-blot para receptor da leptina…………………………………………………46

8.1. Preparação das amostras……………………………………………………………..46

8.2. Doseamento das proteínas...……………………………………………………......46

8.3. Electroforese SDS-Page……….……………………………………………………….47

8.4. Coloração de prata……………………………………………………………………..47

8.5. Western-blot…..........................................................................................48

9. Estudos in vivo...............................................................................................49

9.1. Animais………………………………………………………………………………......49

9.2. Curva dose-resposta em ratinhos C57BL6/J normoponderais………………..50

9.3. Crescimento das células RM1 em ratinhos obesos……………………………..51

10. Análise hsitológica dos tumores………………………………………………………52

10.1. Processamento dos tecidos…………………………………………………………52

10.2. Imunohistoquímica para Ki-67…………………………………………………….52

10.3. Imunohistoquímica para caveolina……………………………………………….53

11. Morfometria………………………………………………………………………………..54

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12. Doseamentos hormonais………………………………………………………………..55

12.1. Doseamento da leptina………………………………………………...……………55

12..2. Doseamento da insulina……………………………………………………………56

13. Análise estatística dos resultados…………………………………………………….57

Capítulo 4……………………………………………………………………………………..…58

Resultados……………………………………………………………………………………….59

14. Caracterização da linha celular..………………………………………………………59

14.1. Imunocitoquímica para receptor da leptina..…………………………………..59

14..2. Imunohistoquímica da próstata de ratinho para receptor da lptina………60

14..3. Expressão do receptor de leptina nas células RM1 avaliado por RT-

PCR……………………………………………………………………………………..60

14.4. Western-blot para receptor da leptina…..……………………………………….62

15. Avaliação do crescimento das células tumorais RM1in vivo…………………….64

15.1. Curva dose-resposta em ratinhos C57BL6/J normoponderais………………64

15.2. Crescimento das células RM1 em ratinhos obesos……………………………65

16. Estudo morfométrico…………………………………………………………………….68

17. Doseamentos hormonais………………………………………………………………..73

18. Correlações…………………………………………………………………………………75

Capítulo 5………………………………………………………………………………………..77

Discussão geral e conclusão…………………………………………………………………78

Referências……………………………………………………………………….……………..90

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Representação dos primers e respectivas temperaturas de

anealing.……………………………………………………………………………43

Tabela 2. Descrição das estirpes utilizadas neste trabalho…………………………..49

Índice de Imagens

Figura 1. Imunocitoquímica obtida utilizando como anticorpo primário

anti-ObR……………………………………………………………………………..59

Figura 2. Cortes histológicos de próstata normal de ratinho

C57BL6/J marcados com anticorpo OBR 12A……………………………….60

Figura 3. Imagem da electroforese dos produtos de RT-PCR………………………...61

Figura 4. Resultados obtidos por electroforese e Western-blot para

receptor da leptina…………………………………..…………………………….63

Gráfico 1. Curva dose-resposta obtida por relação da inoculação de várias

doses de células tumorais………………………………………………………64

Gráfico 2. Peso dos ratinhos, nos diferentes grupos, no início do estudo………..65

Gráfico 3. Peso final dos ratinhos, 14º dia após inoculação, nos diferentes

grupos………………………………………………………………..…………....66

Gráfico 4. Comparação da percentagem de gordura epididimária entre os

diferentes grupos de ratinhos…………………………………………………67

Gráfico 5. Peso do tumor nos diferentes grupos de ratinhos………………………..67

Figura 5. Fotografias de imunohistoquímica realizada em cortes de tumor

para quantificação da proliferação celular utilizando como

marcador o Ki-67………………………………………………………………….68

Gráfico 6. Densidade nuclear determinada por observação de lâminas

marcadas com Ki-67……………………………………………………………..69

Figura 6. Fotografias de imunohistoquímica realizada em cortes de tumor

para determinação do índice mitótico utilizando como marcador

o Ki-67………………………………………………………………………………70

Gráfico 7. Densidade mitótica, nos diferentes grupos em estudo,

determinada por observação de lâminas marcadas com Ki-67…..…….71

Figura 7. Fotografias de imunohistoquímica realizada em cortes de tumor

para quantificação da angiogénese utilizando caveolina como

marcador do endotélio…………………………………………………………..72

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Gráfico 8. Resultados obtidos na determinação da angiogénese tumoral

através de contagem de vasos marcados por caveolina…………………72

Gráfico 9. Representação gráfica da concentração da Leptina plasmática,

determinados por ELISA, dos diferentes grupos em estudo…………….73

Gráfico 10. Valores dos níveis de insulina plasmática obtidos nos diferentes

grupos………………………………………………………………………………74

Gráfico 11. Representação gráfica da relação entre os níveis de leptina

plasmáticos e o peso do tumor tendo-se verificado uma

correlação negativa entre estes dois parâmetros…….…………………75

Gráfico 12. Representação gráfica da relação entre concentração de leptina

plasmática e a marcação nuclear por Ki-67. Níveis de letpina e

angiogénese apresentam correlação negativa……………………………76

Gráfico 13. Representação gráfica da correlação entre níveis plasmáticos de

leptina e o índice mitótico. Estes dois parâmetros

apresentam correlação negativa…………………………………………….76

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ABREVIATURAS

ADIPO-R1 Receptor 1 para adiponectina

ADIPO-R2 Receptor 2 para adiponectina

ANOVA Análise de Variância

DMEM Dulbecco’s Modified Eagles Medium

DMSO Dimethyl Sulfoxide

ELISA Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

ERK Extracellular Signal-regulated Kinases

FCS Soro Bovino Fetal

FGF Fibroblast Growth Factor

HBEGF Heparin-binding EGF-like growth protein

HE Coloração hematoxilina eosina

HUVECs Células endoteliais humanas do cordão umbilical

ICQ Imunocitoquímica

IGF-1 Factor de crescimento 1 semelhante à insulina

IGFBP1 Proteína de ligação 1 do factor de crescimento semelhante à insulina

IGFBP2 Proteína de ligação 2 do factor de crescimento semelhante à insulina

IHQ Imunohistoquímica

IL-1 Interleucina 1

IL-6 Interleucina 6

IL-8 Interleucina 8

IL-10 Interleucina 10

IL-12 Interleucina 12

IL-18 Interleucina 18

IMC Índice de massa corporal

JAK Janus Kinase

MAPK Mitogen-activated protein kinase

NSILA Nonsuppressible Insulin-like activity

PDGF-BB Patelet-derived growth factor BB

PI-3K Phosphoinositide 3-kinase

PCR Polymerase chain reaction

RT-PCR Reverse transcriptase – Polymerase chain reaction

TAB Tecido adiposo castanho

TNF-α Factor de necrose tumoral alfa

TNF-R1 Receptor 1 factor de necrose tumoral

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TNF-R2 Receptor 2 factor de necrose tumoral

VCAM Vascular Cell Adhesion Molecule

VEGF Factor de Crescimento Endotelial Vascular

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Capítulo 1

INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

1. OBESIDADE COMO FACTOR DE RISCO

No século passado, a obesidade tomou proporções epidémicas na maior parte

das populações ocidentais (Lehingue 1999; Hedley, Ogden et al. 2004; Ogden,

Carroll et al. 2006). O aumento da prevalência da obesidade e do excesso de

peso são atribuídos ao aumento do consumo de alimentos calóricos, em

particular dietas ricas em gordura, juntamente com o estilo de vida sedentário

(Crespo, Smit et al. 2001; Calle and Kaaks 2004; Stubbs and Lee 2004). A

obesidade é um importante problema de saúde pública uma vez que é

considerada um factor de risco para o desenvolvimento de várias comorbilidades

tais como hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos

de cancro como, cólon, mama, próstata entre outros (Calle and Kaaks 2004;

Mistry, Digby et al. 2007). Desde 1970 que os estudos epidemiológicos defendem

a possibilidade de associação entre aumento de adiposidade e aumento de

incidência de cancro do cólon (Schoen, Tangen et al. 1999; Calle and Kaaks 2004;

Pischon, Lahmann et al. 2006; Giovannucci and Michaud 2007), da mama (Calle

and Kaaks 2004; Majed, Moreau et al. 2007), do rim (Asal, Risser et al. 1988;

Calle and Kaaks 2004; Luo, Margolis et al. 2007), do esófago (Brown, Swanson et

al. 1995; Vaughan, Davis et al. 1995; Calle and Kaaks 2004; Veugelers, Porter et

al. 2006) e do endométrio (Calle and Kaaks 2004; Chia, Newcomb et al. 2007)

assim como um prognóstico desfavorável e um aumento da taxa de mortalidade

por cancro (Calle and Kaaks 2004).

Como tal, é reconhecidamente importante o estudo das alterações que

ocorrem ao nível do tecido adiposo permitindo-nos perceber qual a relação entre

obesidade e doenças associadas (Wajchenberg 2000; Calle and Kaaks 2004).

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2. TECIDO ADIPOSO

Na maioria dos mamíferos o tecido adiposo é classificado segundo

características histológicas e moleculares em tecido adiposo branco (TAB) e

tecido adiposo castanho (Garg 2006) sendo o primeiro mais abundante, e o

segundo, que desempenha um importante papel na termogénese, apenas

encontrado nos humanos durante a infância quando participa na manutenção do

calor corporal (Garg 2006; Tilg and Moschen 2006). O TAB funciona como

reservatório energético, que durante os estados de deprivação calórica pode ser

mobilizada libertando ácidos gordos livres que vão ser oxidados noutros tecido e

órgãos (Trayhurn and Beattie 2001; Garg 2006). Este tecido promove o

isolamento térmico e desempenha papel importante na regulação da homeostase

da glucose (Trayhurn and Beattie 2001).

O TAB está distribuído subcutaneamente formando tecido adiposo subcutâneo

e preenchendo cavidades como a abdominal e envolvendo os órgãos internos

formando o tecido adiposo visceral (Calle and Kaaks 2004). O tecido adiposo

intra abdominal é classificado como gordura omental e mesentérica e está

localizado perto das vísceras abdominais e no espaço retroperitoneal (Marin,

Andersson et al. 1992).

O tecido adiposo para além dos adipócitos, células mais abundantes, também

possui vários outros tipos de células tais como pré-adipócitos, células

estromáticas, fibroblastos, leucócitos e macrófagos (Trayhurn and Beattie 2001;

Frayn, Karpe et al. 2003; Kershaw and Flier 2004).

Os adipócitos possuem vesículas de gordura que ocupam mais de 90% do

volume total da célula e que para além de funcionarem como depósitos de

energia também mostram actividade lipolítica libertando quantidades elevadas de

ácidos gordos livres para o plasma consoante o necessário (Garg 2006; Ronti,

Lupattelli et al. 2006). Contrariamente ao que se pensou durante muitos anos, o

tecido adiposo não é apenas um depósito de triglicerídeos passivo mas também

um tecido metabolicamente muito activo apresentando funções biológicas e

endócrinas importantes, particularmente marcadas no tecido adiposo visceral

(Trayhurn and Beattie 2001; Kershaw and Flier 2004; Kelesidis, Kelesidis et al.

2006; Ronti, Lupattelli et al. 2006).

Em 1987, foram identificadas as primeiras vias endócrinas no adipócito com a

descoberta de várias enzimas que participam no metabolismo de hormonas

sexuais esteróides, tais como a aromatase, responsável pela conversão de

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androgénios (testosterona, androgénio 4-androstenediona) em estrogénios

(oestradiol, oestrone), e a 17-hidroxi-esteroide-desidrogenase (17-HSD),

responsável pela conversão da androstenediona em testosterona e de estrona em

estradiol (Trayhurn and Beattie 2001; Calle and Kaaks 2004; Kershaw and Flier

2004). A obesidade promove um aumento da síntese de testosterona e de

estradiol no adipócito, aumentando a sua disponibilidade (Calle and Kaaks 2004).

Contudo, foi apenas em 1994 com a descoberta da leptina, a primeira hormona

produzida pelo adipócito a ser identificada que levou à aceitação do tecido

adiposo como órgão endócrino (Zhang, Proenca et al. 1994). Após a descoberta

da leptina várias outras hormonas produzidas peo adipócito foram descobertas

tais como, a adiponectina (Haque and Garg 2004; Ronti, Lupattelli et al. 2006;

Tilg and Moschen 2006; Badman and Flier 2007), a angiotensina (Ronti, Lupattelli

et al. 2006; Badman and Flier 2007), a resistina (Haque and Garg 2004; Ronti,

Lupattelli et al. 2006; Tilg and Moschen 2006; Badman and Flier 2007) e a

visfatina (Fukuhara, Matsuda et al. 2005; Ronti, Lupattelli et al. 2006; Badman

and Flier 2007) e além de várias citocinas tais como TNF-α, IL-1, IL-6, IL-8, IL-10,

IL-18 e, factores de crescimento, como VEGF, VCAM, os quais participam em

processos inflamatórios (Wajchenberg 2000; Trayhurn and Beattie 2001; Kershaw

and Flier 2004).

Algumas destas hormonas e factores de crescimento segregados pelo

adipócito parecem estar associados com a carcinogénese (Hoda, Grimm et al.

2005; Baillargeon, Platz et al. 2006; Bub, Miyazaki et al. 2006; Garofalo and

Surmacz 2006; Horiguchi, Sumitomo et al. 2006; Kelesidis, Kelesidis et al. 2006;

Sharma, Saxena et al. 2006; Soliman, Wu et al. 2006; Takemura, Osuga et al.

2006; Hou, Xu et al. 2007; Kang, Yu et al. 2007; Mistry, Digby et al. 2007; Weiss,

Huang et al. 2007). Vários estudos apoiam a relação entre níveis de leptina, TNF-α

(Mistry, Digby et al. 2007), IL-6 (Mistry, Digby et al. 2007) e VEGF (Mistry, Digby et

al. 2007), cujas concentrações se encontram elevadas nos indivíduos obesos, e o

risco de desenvolver alguns tipos de carcinoma tais como o cancro da próstata

(Mistry, Digby et al. 2007). Enquanto que outros factores, tais como a

adiponectina, parecem exercer um efeito protector na carcinogénese (Goktas,

Yilmaz et al. 2005; Bub, Miyazaki et al. 2006; Mistry, Digby et al. 2007).

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2.1. Hormonas segregadas pelo adipócito

2.1.1. Leptina

A leptina é uma proteína composta por 167 aminoácidos com um peso

molecular de 16kDa, é segregada pelo adipócito, predominantemente pelo tecido

adiposo subcutâneo, e libertada para o plasma onde circula em níveis geralmente

proporcionais à quantidade de tecido adiposo assim como ao estado nutricional

do indivíduo (Frederich, Hamann et al. 1995; Boden, Chen et al. 1996; Haque and

Garg 2004), contudo a leptina também é segregada por outros tecidos e órgãos,

tais como células da mucosa gástrica (Bado, Levasseur et al. 1998), células

epiteliais mamárias (Smith-Kirwin, O'Connor et al. 1998), miócitos (Wang, Liu et

al. 1998) e placenta (Senaris, Garcia-Caballero et al. 1997). Os níveis plasmáticos

de leptina estão positivamente correlacionados com a massa gorda (Frederich,

Hamann et al. 1995; Boden, Chen et al. 1996; Thomas, Burguera et al. 2000),

assim indivíduos obesos têm níveis de leptina elevados, com rara excepção dos

pacientes com deficiência congénita de leptina (Farooqi, Matarese et al. 2002;

Bjorbaek and Kahn 2004; Farooqi, Bullmore et al. 2007).

A leptina é codificada pelo gene ob e actua ao nível do hipotálamo onde

regula o peso corporal e a homeostase energética, produzindo sinais de

saciedade (Zhang, Proenca et al. 1994; Farooqi, Bullmore et al. 2007). Nas formas

comuns de obesidade observa-se um aumento dos níveis de leptina associados a

resistência à leptina, nomeadamente aos efeitos anorexizantes centrais, por

razões ainda não clarificadas (Caro, Kolaczynski et al. 1996; Kolaczynski,

Ohannesian et al. 1996).

Esta hormona tem várias outras funções nomeadamente regulação

hematopoiética, angiogénica e também actua como mediador no sistema

imunológico e no processo inflamatório (Wajchenberg 2000; Trayhurn and Beattie

2001; Ambrosini, Nath et al. 2002). A leptina pertence à família das adipocinas

uma vez que a estrutura molecular é homóloga à da família das citocinas

(Fantuzzi and Faggioni 2000).

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2.1.2. Adiponectina

Adiponectina é uma hormona polipéptidica, com peso molecular 30kDa

constituída por 244 aminoácidos, contendo um grupo amina (N) na sequência

sinal terminal, um domínio variável, um domínio de colagénio e um domínio

carboxilo (C) terminal globular (Maeda, Okubo et al. 1996; Trayhurn and Beattie

2001). A adiponectina encontra-se no plasma sob duas formas, a forma longa (f-

adiponectina) e a forma curta ou fragmento globular (g-adiponectina) (Yamauchi,

Kamon et al. 2003; Kadowaki and Yamauchi 2005; Mistry, Digby et al. 2007). Os

receptores da adiponectina são proteínas membranares integrais e são

designados por AdipoR1 e AdipoR2 (Yamauchi, Kamon et al. 2003; Kershaw and

Flier 2004; Kadowaki and Yamauchi 2005; Mistry, Digby et al. 2007). O primeiro

tem afinidade elevada para a forma globular sendo mais abundante no músculo

esquelético e o segundo tem afinidade intermédia para ambas as formas da

hormona e é expresso predominantemente no fígado (Goldstein and Scalia 2004;

Kelesidis, Kelesidis et al. 2006). Esta hormona desempenha um papel importante

na regulação do equilíbrio energético e homeostase da glucose, funcionando

como factor anti-diabético, anti-inflamatório e anti-aterogénico pelo aumento da

sensibilidade à insulina (Hotta, Funahashi et al. 2001; Diez and Iglesias 2003;

Lihn, Pedersen et al. 2005; Ronti, Lupattelli et al. 2006).

Os níveis de adiponectina plasmática estão diminuídos em algumas condições

patológicas tais como, obesidade, lipodistrofia e resistência à insulina

(Wajchenberg 2000; Kershaw and Flier 2004; Lihn, Pedersen et al. 2005).

2.1.3. Resistina

Resistina é uma proteína constituída por 114 aminoácidos, apresentando

12kDa sendo codificada pelo gene Retn (Steppan, Bailey et al. 2001; Kershaw and

Flier 2004; Kusminski, McTernan et al. 2005).

Os níveis plasmáticos estão altamente correlacionados com a massa de tecido

adiposo. Vários estudos mostraram que os níveis de resistina se encontram

aumentados na obesidade, em humanos (McTernan, McTernan et al. 2002;

McTernan, McTernan et al. 2002; Azuma, Katsukawa et al. 2003) e em roedores

(Savage, Sewter et al. 2001; McTernan, McTernan et al. 2002; McTernan,

McTernan et al. 2002; Rajala, Qi et al. 2004; Lee, Bullen et al. 2005).

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A hormona é sintetizada pelo adipócito, no ratinho, e nos adipócitos,

miocitos, células pancreáticas e principalmente nas células mononucleares

(macrófagos) nos humanos (Savage, Sewter et al. 2001; Tilg and Moschen 2006).

Tal como outras adipocinas, a resistina, desempenha papel importante na

homeostase energética, pela termogénese (Qi, Nie et al. 2006) e na resistência à

insulina (Savage, Sewter et al. 2001; Janke, Engeli et al. 2002; Oliver, Ribot et al.

2006). Savage colocou a hipótese desta desta hormona poder estabelecer ligação

entre obesidade e resistência à insulina, ao constatar que a resistina contrariava a

acção da insulina in vivo e in vitro numa linha celular de adipócitos (Savage,

Sewter et al. 2001). Oliver et al verificou que os níveis de resistina são

determinados pelo estado nutricional, mais do que pela obesidade, a qual está

relacionada com alterações no conteúdo gástrico e nos níveis de insulina (Oliver,

Ribot et al. 2006).

Nos humanos existe alguma controvérsia quanto ao papel desempenhado

pela resistina. Alguns estudos detectaram aumento dos níveis de resistina na

obesidade (McTernan, McTernan et al. 2002; McTernan, McTernan et al. 2002;

Azuma, Katsukawa et al. 2003) enquanto outros autores não detectaram qualquer

associação (Nagaev and Smith 2001; Janke, Engeli et al. 2002).

Também contrariamente ao que foi observado nos roedores, nos humanos

não foi detectada qualquer associação entre níveis elevados de resistina e

resistência à insulina (Nagaev and Smith 2001; Savage, Sewter et al. 2001; Janke,

Engeli et al. 2002; Utzschneider, Carr et al. 2005). Nagaev não encontrou

qualquer diferença nos níveis de expressão da resistina, em adipocitos de

indivíduos com sensibilidade à insulina normal, resistência à insulina e diabetes

tipo 2 (Nagaev and Smith 2001). Por outro lado a resistina humana parece

desempenhar funções pró-inflamatórias uma vez que promove a síntese de

citocinas pró-inflamatórias tais como TNFα, IL-1, IL-6 e IL-12 (Silswal, Singh et al.

2005).

2.1.4. Visfatina

A visfatina é outra hormona que foi recentemente identificada, é uma proteína

com 52 kDa, segregada e libertada pelos adipócitos, principalmente pelos do

tecido adiposo visceral (Tilg and Moschen 2006) estando os seus níveis

plasmáticos aumentados na obesidade. Este factor parece estar relacionado com

a diminuição da resistência à insulina sendo capaz de se ligar aos receptores de

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insulina, sem competir com a insulina mas tendo os mesmos efeitos (Fukuhara,

Matsuda et al. 2005). Apresenta semelhanças estruturais com o factor pré-célula

B sendo atribuído a esta hormona comportamento imunológico em doenças

inflamatórias tais como lesões pulmonares agudas (Ye, Simon et al. 2005) e na

inibição da apoptose dos neutrófilos activos (Jia, Li et al. 2004). A visfatina actua

como um importante regulador imunológico com propriedades pró-inflamatórias

(Moschen, Kaser et al. 2007).

2.1.5. Estrogénios

Os estrogénios são as principais hormonas sexuais femininas ocorrendo

principalmente sobre a forma de estradiol, estriol e estrona, resultantes da

transformação enzimática de androgénios (aromatização). Os estrogénios

desempenham várias funções biológicas tanto nos homens como nas mulheres,

tendo neste último caso como papel principal, o desenvolvimento das

características sexuais secundárias e a regulação dos ciclos reprodutores. Nos

homens, os estrogénios também são importantes no sistema reprodutor

principalmente na maturação do esperma. Os estrogénios desempenham papel

importante no desenvolvimento do esqueleto, sendo responsável pelo

dimorfismo sexual do esqueleto (Turner, Riggs et al. 1994). Na mulher adulta,

funciona como protector ósseo (Turner, Riggs et al. 1994; Sunyer, Lewis et al.

1999). Na menopausa os níveis de estrogénios decaem levando a perda de massa

óssea o que leva a um aumento de risco de fractura. A hormona actua sobre os

osteoclastos melhorando a densidade óssea diminuindo ou inibindo a actividade

reabsortiva nas superfícies trabeculares do osso medular e das zonas

endocorticais do osso cortical (Turner, Riggs et al. 1994).

A aromatase é uma enzima expressa no tecido adiposo que desempenha

papel importante na síntese de estrogénios, sendo responsável pela conversão da

testosterona em estradiol e da androstenediona em estrona. A expressão da

aromatase e a taxa de conversão dos androgénios em estrogénios está

aumentada na obesidade (Wajchenberg 2000; Calle and Kaaks 2004).

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2.2. Citoquinas e factores de crescimento produzidos pelo tecido

adiposo

2.2.1. TNF-α

O factor de necrose tumoral alfa (TNF-α) é uma citoquina, pró-inflamatória,

que foi descrita inicialmente como sendo uma endotoxina, semelhante a

caquexina, com capacidade para promover a necrose tumoral (Ruan and Lodish

2003; Rose, Komninou et al. 2004). Este factor é produzido pelo tecido adiposo,

principalmente pelos macrófagos residentes (Rose, Komninou et al. 2004). O

TNF-α é uma proteína transmembranar com 26 kDa a qual é clivada numa

proteína mais pequena 17kDa, biologicamente activa actuando nos receptores

TNF-R1, expresso na maior parte dos tecidos incluindo o tecido adiposo, e TNF-

R2, encontrado nas células do sistema imunológico (Fain, Madan et al. 2004;

Ronti, Lupattelli et al. 2006). Este factor é segregado pelos monócitos e

macrofagos ligando-se aos receptores nos neutrófilos promovendo a resposta

quimiotática (La Cava and Matarese 2004).

TNF-α é também expresso nos adipócitos do tecido adiposo,

predominantemente no tecido adiposo subcutâneo (Wajchenberg 2000; Fain,

Madan et al. 2004; Kershaw and Flier 2004) e está relacionado com a massa

gorda total. Os níveis circulantes deste factor estão aumentados na obesidade e

diminuem significativamente após a perda de peso (Wajchenberg 2000; Fain,

Madan et al. 2004; Guerre-Millo 2004; Ronti, Lupattelli et al. 2006). Observa-se

uma correlação positiva entre expressão de TNF-α no tecido adiposo e o nível da

insulinemia e da resistência à insulina (Trayhurn and Beattie 2001; Ruan and

Lodish 2003; Ronti, Lupattelli et al. 2006).

2.2.2. VEGF

O factor de crescimento vascular endotelial (VEGF) é um mediador que

apresenta peso molecular igual a 46 kDa e cujas concentrações plasmáticas estão

correlacionadas positivamente com a quantidade de tecido adiposo visceral

(Baillargeon, Platz et al. 2006; Miyazaki, Bub et al. 2008). Desempenha funções

mitogénicas estimulando também a migração celular, angiogénese e

permeabilidade vascular (Claffey, Wilkison et al. 1992; Frankenberry, Somasundar

et al. 2004; Rose, Komninou et al. 2004). Foi demonstrado que VEGF tem papel

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importante na vascularização de tumores sólidos malignos facilitando a invasão

celular e a formação de metástases à distância (Mistry, Digby et al. 2007).

O tecido adiposo é o principal local de produção de Interleucina 6 (IL-6),

citoquina com peso molecular entre 21 e 28kDa, sendo a sua produção duas a

três vezes superior no tecido adiposo visceral do que no subcutâneo (Fried,

Bunkin et al. 1998; Fain, Madan et al. 2004). A concentração plasmática da IL-6

está correlacionada positivamente com a quantidade de tecido adiposo,

obesidade e resistência à insulina (Fain, Madan et al. 2004; Guerre-Millo 2004;

Kershaw and Flier 2004; Khaodhiar, Ling et al. 2004; Mistry, Digby et al. 2007),

enquanto que está inversamente relacionada com a sensibilidade à insulina

(Guerre-Millo 2004; Ronti, Lupattelli et al. 2006). Juntamente com a TNF-α, a IL-6

regula a expressão da lipoproteína lipase, enzima que desempenha um papel

importante na regulação da deposição de ácidos gordos no tecido adiposo (Fried,

Bunkin et al. 1998). Participa na regulação imunológica, na regulação das funções

celulares como proliferação, apoptose, angiogénese e diferenciação celular (Culig,

Steiner et al. 2005), actua como regulador metabólico de lípidos e proteínas no

tecido adiposo e modula o eixo hipotálamo-hipófise-supra renal (Wajchenberg

2000). No hipotálamo os efeitos da IL-6 são semelhantes aos da leptina,

promovendo a diminuição da ingestão alimentar e o aumento do gasto

energético, promovendo produção hepática de triglicerídeos sendo responsável

pela resistência à insulina e pela tolerância à glicose (Wajchenberg 2000).

2.2.3. IL-6

O tecido adiposo é o principal local de produção de Interleucina 6 (IL-6),

citoquina com peso molecular entre 21 e 28kDa, sendo a sua produção duas a

três vezes superior no tecido adiposo visceral do que no subcutâneo (Fried,

Bunkin et al. 1998; Fain, Madan et al. 2004). A concentração plasmática da IL-6

está correlacionada positivamente com a quantidade de tecido adiposo,

obesidade e resistência à insulina (Fain, Madan et al. 2004; Guerre-Millo 2004;

Kershaw and Flier 2004; Khaodhiar, Ling et al. 2004; Mistry, Digby et al. 2007),

enquanto que está inversamente relacionada com a sensibilidade à insulina

(Guerre-Millo 2004; Ronti, Lupattelli et al. 2006). Juntamente com a TNF-α, a IL-6

regula a expressão da lipoproteína lipase, enzima que desempenha um papel

importante na regulação da deposição de ácidos gordos no tecido adiposo (Fried,

Bunkin et al. 1998). Participa na regulação imunológica, na regulação das funções

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celulares como proliferação, apoptose, angiogénese e diferenciação celular (Culig,

Steiner et al. 2005), actua como regulador metabólico de lípidos e proteínas no

tecido adiposo e modula o eixo hipotálamo-hipófise-supra renal (Wajchenberg

2000). No hipotálamo os efeitos da IL-6 são semelhantes aos da leptina,

promovendo a diminuição da ingestão alimentar e o aumento do gasto

energético, promovendo produção hepática de triglicerídeos sendo responsável

pela resistência à insulina e pela tolerância à glicose (Wajchenberg 2000).

2.2.4. IGF-1

Inicialmente designado por NSILA (nonsupressible insuline-like and cell-growth

promoting activities), trata-se de um polipéptido encontrado no soro humano

com actividade semelhante à insulina mas não suprimido por anticorpos anti-

insulina (Froesch, Buergi et al. 1963). Rinderknecht e colegas após verificarem

que o NSILA actua como factor de crescimento na síntese de DNA, RNA, e

proteínas e na taxa de crescimento de fibroblastos propuseram uma nova

designação para esta molécula, insulin-like growth factor-1 (IGF-1) (Rinderknecht

and Humbel 1976). O factor de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) é uma

proteína constituída por 70 aminoácidos apresentando 7649 Da e que é

produzida redominantemente no fígado (Rinderknecht and Humbel 1978; Severi,

Morris et al. 2006; Sievers, Schneider et al. 2008) possuindo receptores em quase

todas as células do corpo humano, tais como os adipócitos.

O IGF-1 foi identificado como sendo um péptido com funções pleiotrópicas,

nomeadamente metabólicas, mitogénicas, anti-apoptóticas, promotor de síntese

proteica, neurogénico, glicogénico e neuroprotector, promotor de sinapses,

modulador da libertação de neurotransmissores, remodelação de vasos e

composição corporal (Firth and Baxter 2002; Sievers, Schneider et al. 2008).

Actua nos pré-adipócitos promovendo a proliferação celular e diferenciação

em adipócitos (Kamai, Mikawa et al. 1996; Wajchenberg 2000). Os níveis de IGF-1

foram relacionados com cancro, doenças cardiovasculares e metabólicas (Sievers,

Schneider et al. 2008).

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3. CANCRO E OBESIDADE

3.1. Resenha histórica

No início do século XX já se suspeitava da relação entre cancro e obesidade

tendo-se efectuado numerosos estudos nesta área recorrendo ao modelo animal,

procurando estabelecer a associação entre ingestão de dietas hipercalóricas,

obesidade e desenvolvimento tumoral. Em 1953, Waxler e colegas, recorreram ao

modelo animal C3H, o qual apresenta incidência elevada de tumores mamários

espontâneos, tendo induzido a obesidade em ratinhos do sexo feminino por

injecção intraperitoneal de tioglucose e verificado que nos ratinhos com

obesidade induzida o aparecimento dos tumores ocorria mais precocemente e em

maior número de casos do que nos ratinhos controlo (Waxler, Tabar et al. 1953).

Em 1966, também Waxler e colaboradores apresentaram um trabalho em que

procurava estudar a acção da obesidade no desenvolvimento tumoral em ratinhos

do sexo feminino castrados tendo para isso recorrido ao modelo C3H. As fêmeas,

aos três meses de idade, foram divididas em dois grupos sendo um dos grupos

sujeito a uma ooforectomia bilateral. Duas semanas após a cirurgia dividiu-se

cada um dos grupos anteriores em dois grupos formando-se quatro grupos:

ratinhos castrados obesos, ratinhos castrados não obesos, ratinhos não castrados

obesos e ratinhos normais. Verificou-se que os ratinhos obesos apresentavam

uma percentagem 45%,superior de desenvolvimento tumoral relativamente a

todos os grupos, apresentando o grupo de ratinhos obesos castrados a menor

percentagem (18%). Apoiando este estudo o efeito da obesidade no aumento da

incidência e aparecimento precoce de tumores mamários espontâneos (Waxler

and Leef 1966).

1.2.2. Actualidade

A relação entre cancro e obesidade parece existir e é apoiada por vários

autores (Calle, Rodriguez et al. 2003; Calle and Kaaks 2004; Rapp, Schroeder et

al. 2005). Calle et al (2003) efectuou estudo prospectivo seguindo uma cohort de

900 053 adultos, 404 576 homens e 495 477 mulheres, livres de cancro no início

do estudo, com idade média de 57 anos, e acompanhada durante 16 anos tendo

observado que indivíduos com índice de massa corporal de pelo menos 40, têm

taxas de mortalidade 52%, no caso dos homens, e 62%, para as mulheres, mais

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elevadas do que homens e mulheres apresentando peso normal. Concluindo

assim que existe relação entre excesso de peso e obesidade e todos os tipos de

cancro verificando-se um aumento da taxa de mortalidade com a obesidade

(Calle, Rodriguez et al. 2003). Rapp et al efectuou um estudo prospectivo numa

cohort 145 931 adultos, 78 484 mulheres e 67 447 homens, durante

aproximadamente 9,9 anos, sendo a idade média dos participantes 42 anos e o

valor mínimo de índice de massa corporal aceite 18,5 Kg/m-2 e o máximo 35

Kg/m-2, verificou, nos indivíduos do sexo masculino, que um aumento relativo do

peso corporal está associada ao aumento do cancro do cólon, do recto e do

pâncreas quando comparado com homens apresentando peso normal. Nos

indivíduos do sexo feminino, embora se observasse uma fraca associação

positiva entre o índice de massa corporal e o cancro em geral, verificou-se uma

forte associação da obesidade com o cancro do endométrio e o aumento da

incidência do linfoma non-Hodgkin, não se verificando associação entre

obesidade e cancro do cólon e do recto (Rapp, Schroeder et al. 2005). No entanto

alguns estudos apoiam o contrário, ou seja, a não relação entre obesidade e

cancro afirmando mesmo que o tecido adiposo possa funcionar como um

protector na carcinogenese. Nunez e colaboradores realizaram um estudo, não

epidemiológico, recorrendo ao modelo animal “Fatless mouse A-ZIP/F1” tendo

concluído que a promoção do desenvolvimento tumoral não está relacionado com

as adipocinas que se encontram aumentadas na obesidade. Os ratinhos A-ZIP/F1

são animais com pouco tecido adiposo branco produzindo quantidades

indetectáveis de adipocinas no entanto apresentam maior incidência tumoral do

que ratinhos controlo da estirpe selvagem. Estes estudos apoiam a relação entre

níveis elevados de factores de crescimento e citoquinas tais como insulina, IGF-1,

hormona de crescimento, factor de crescimento endotelial vascular e citoquinas

proinflamatórias como sendo os principais responsáveis pelo desenvolvimento

tumoral neste modelo animal (Nunez, Oh et al. 2006). Ablamunits e

colaboradores defendem a ideia de que o tecido adiposo actua como protector no

desenvolvimento tumoral uma vez que após indução de papilomas cutâneos em

ratinhos com lipodistrofia e ratinhos obesos ob/ob, ambos com níveis de leptina

muito baixos ou inexistente verificou que o crescimento tumoral era maior nos

ratinhos obesos (Ablamunits, Cohen et al. 2006).

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3.3. Obesidade e cancro

Existem várias hipóteses explicativas para a associação encontrada entre

obesidade e cancro, sendo uma das principais a presença de factores do tecido

adiposo alterados, nomeadamente a produção excessiva de mediadores pró-

carcinogénicos e/ou a diminuição da produção de mediadores anti-

carcinogénicos pelo tecido adiposo. Outra hipótese defendida por alguns autores

é a presença de resistencia a insulina, frequentemente associada a obesidade,

mas também presente noutros estados patológicos, tais como síndromes

lipodistróficos.

3.3.1. Factor do tecido adiposo

O tecido adiposo, como órgão endócrino, produz várias hormonas e factores

de crescimento, das quais a leptina e a adiponectina são dois exemplos que na

obesidade se encontram aumentadas e diminuídas, respectivamente, tendo

ambas sido implicadas como potenciais mediadores na carcinogénese.

3.3.2. Leptina e carcinogénese

3.3.2.1. Base molecular

A leptina tem sido apontada como factor de crescimento e desenvolvimento

tumoral e níveis elevados de leptina são considerados um factor de risco para o

cancro do colon, da mama e da próstata (Dieudonne, Machinal-Quelin et al. 2002;

Hu, Juneja et al. 2002; Laud, Gourdou et al. 2002; Stattin, Lukanova et al. 2004).

Em 1995 (Tartaglia, Dembski et al. 1995) e início de 1996 (Lee, Proenca et al.

1996) foram identificados os receptores transmembranares da leptina, os quais

são responsáveis pela actividade desta hormona. O OBRb é, das seis isoformas

existentes (OBRa-e), a principal sendo uma das responsáveis pela activação das

vias de sinalização intracelulares. As três vias principais são: a via JAK2/STAT3

(Janus Kinase 2/signal transducer and activator of transcription 3), a cascata de

sinalização Ras/ERK1/2 (Ras/extracellular signal-regulated kinases 1/2), e a via

de crescimento antiapoptótica PI-3K/Akt/GSK3 (phosphoinositide 3

kinase/protein kinase B/ glycogen synthesis kinase 3). A ligação de leptina ao

OBRb pode activar vários genes envolvidos na proliferação celular, incluindo c-fos,

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c-jun, junB, egr-1 e socs3 e na regulação da expressão de factores angiogénicos,

tais como VEGF (Murakami, Yamashita et al. 1997; Fruhbeck 2006).

3.3.2.2. Leptina e desenvolvimento tumoral

A leptina é considerada um mediador mitogénico, anti-apoptótico (Hoda and

Popken 2008), angiogénico e promotor do desenvolvimento tumoral, uma vez

que tumores com grandes massas celulares poderão entrar em hipoxia se não

ocorrer angiogénese (Ambrosini, Nath et al. 2002). Ambrosini et al observaram

que o gene da leptina está transcripcionalmente activo em resposta à hipoxia

fazendo com que os níveis de leptina aumentem nestas situações (Ambrosini,

Nath et al. 2002).

Vários ensaios foram realizados para estudar a influência da leptina no

desenvolvimento de vários carcinomas nomeadamente do cólon, renal,

endométrio, mama e próstata.

No cancro do cólon, Hoda et al concluiram que a leptina actua como factor

mitogénico e anti-apoptótico activando as vias de sinalização MAPK e PI3-K, vias

de transdução de sinal que desempenham um importante papel na proliferação

celular e progressão tumoral (Hoda, Grimm et al. 2005). Também os estudos de

Hardwick e colaboradores são a favor associação da obesidade e cancro do cólon,

os autores verificaram por RT-PCR a presença de receptores de leptina, isoformas

curta e longa, em linhas celulares de carcinoma do colon e por

imunohistoquímica em tecido humano de cancro de cólon e confirmaram a acção

da leptina como factor de crescimento celular ao realizarem estudos in vitro que

demonstraram que a leptina actua como factor pró-proliferativo celular ao activar

a via de sinalização MAPK e estudos in vivo que demonstraram o aumento da

proliferação celular verificada pela incorporação nuclear de bromodeoxiuridina

nas células de epitélio cólico normal em ratinhos com ambientes endógenos ricos

em leptina (ratinhos db/db) e em ratinhos C57BL6/J com hiperleptinémia exógena

após administração intraperitoneal de leptina recombinante (Hardwick, Van Den

Brink et al. 2001).

Relativamente ao carcinoma celular renal, Horiguchi et al documentaram que

níveis plasmáticos de leptina elevados e expressão elevada de OBR estão positiva

e significativamente relacionados com a presença de invasão venosa em doentes

com este tipo de carcinoma devendo estes factores desempenhar um papel na

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invasão das células renais podendo ser importantes indicadores da progressão do

carcinoma renal (Horiguchi, Sumitomo et al. 2006).

Sharma et al avaliaram o papel da leptina na proliferação celular, estudando

as vias de sinalização da leptina, nomeadamente a JAK/STAT e a ERK/AKT em

linhas celulares, Ishikawa e ECC1, de adenocarcinoma de endométrio humano,

tendo verificado que a hormona desempenhava um papel importante na activação

da STAT3, do ERK e AKT sendo estas vias essenciais para a proliferação célular

(Sharma, Saxena et al. 2006).

Os estudos de Hou et al apoiam a relação entre obesidade e cancro de mama,

ao terem verificado que níveis elevados de leptina associados a níveis baixos de

adiponectina cursam com o aumento de risco de desenvolver cancro da mama

(Hou, Xu et al. 2007).

No que diz respeito a cancro da próstata também há resultados que apoiam o

efeito positivo da leptina no desenvolvimento tumoral. Frankenberry e

colaboradores realizaram um estudo in vitro cultivando células tumorais

prostáticas androgénio independentes humanas, DU145 e PC-3, na presença de

leptina tendo verificado que este factor tinha um efeito mitogénico (Frankenberry,

Somasundar et al. 2004).

3.3.3. Adiponectina e carcinogénese

3.3.3.1. Base molecular

A adiponectina, para além de estar relacionada com o metabolismo lipídico e

da glucose, parece desempenhar um importante papel na prevenção de alguns

tipos de cancro. Dado que a obesidade cursa frequentemente com uma

diminuição dos níveis de adiponectina, este factor poderia facilitar a

carcinogénese e justificar a associação entre a obesidade e cancro (Kelesidis,

Kelesidis et al. 2006). Esta hormona actua como anti carcinogénico ligando-se a

vários factores de crescimento mitogénicos como platelet-derived growth factor

(PDGF-BB), fibroblast growth factor (FGF) básico e heparin-binding epidermal

growth factor (HBEGF), inibindo a mitogénese, apresentando efeito

antiproliferativo celular e inibindo o VEGF (Yokota, Oritani et al. 2000; Kelesidis,

Kelesidis et al. 2006) . Esta adipocina também desempenha um importante papel

na prevenção do cancro através do seu efeito anti-angiogénico (Ishikawa,

Kitayama et al. 2005; Takemura, Osuga et al. 2006; Hou, Xu et al. 2007) podendo

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ainda, actuar como factor protector através da sua função como regulador

negativo da hematopoiese e do sistema imunológico ao suprimir o crescimento

de linhas celulares mielomonociticas (Yokota, Oritani et al. 2000; Kelesidis,

Kelesidis et al. 2006)

Níveis baixos de adiponectina plasmática, observados na obesidade,

promovem indirectamente o desenvolvimento tumoral, ao agravarem a

resistência à insulina e causarem hiperinsulinémia compensatória (Diez and

Iglesias 2003; Calle and Kaaks 2004; Kershaw and Flier 2004; Lihn, Pedersen et

al. 2005). Níveis baixos de adiponectina plasmática têm um efeito negativo na

produção das proteínas de ligação do IGF-1 insulin growth factor binding protein

1 (IGFBP1) e 2 (IGFBP2) pelo fígado o que, por sua vez, leva a um aumento de

disponibilidade do factor de crescimento semelhante à insulina 1 (insulin-like

growth factor 1 (IGF1). Os níveis lelvados de insulina e IGF-1 ligam-se

respectivamente aos seus receptores promovendo a proliferação celular e a

inibição da apoptose em vários tipos de tecidos e regulando a secreção de vários

factores de crescimento endotelial vascular que contribuem para a carcinogénese

(Calle and Kaaks 2004).

3.3.3.2. Adiponectina e desenvolvimento tumoral

Alguns estudos sugerem que na obesidade, os níveis baixos de adiponectina,

podem favorecer indirectamente a promoção do desenvolvimento tumoral.

Cancros da mama, do endométrio, do colon, da próstata, estomago e leucemia

são alguns exemplos em que se verifica uma associação entre os níveis baixos de

adiponectina e o risco de neoplasia (Kelesidis, Kelesidis et al. 2006).

Por outro lado, a adiponectina, quando elevada, actua como factor protector

para o desenvolvimento de vários tipos de cancro, incluindo o cancro da próstata

(Mistry, Digby et al. 2007) enquanto que níveis baixos de adiponectina são

frequentes nos indivíduos com carcinoma da prostata (Goktas, Yilmaz et al. 2005;

Bub, Miyazaki et al. 2006; Kelesidis, Kelesidis et al. 2006; Mistry, Digby et al.

2006). Mistry e colaboradores demostraram que a f-adiponectina em

concentrações subfisiológicas inibe o crescimento celular no cancro da próstata

(Bub, Miyazaki et al. 2006; Mistry, Digby et al. 2007) e suprime a proliferação

estimulada pela leptina, IGF-1 e di-hidrotestosterona (Mistry, Digby et al. 2006).

Goktas e colaboradores verificaram que os níveis plasmáticos de adiponectina

são mais baixos em doentes com cancro da próstata e apresentam uma

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correlação negativa com o grau de desenvolvimento histológico e fase de

desenvolvimento (Goktas, Yilmaz et al. 2005).

3.4. Factor indirecto hiperinsulinismo associado à insulino-resistência

presente na obesidade: papel trófico da insulina

A insulina, descoberta em 1921, é uma hormona peptídica composta por

51aminoácidos, apresentando peso molecular de 5.8 kDa que é produzida pelas

células beta dos ilhéus de Langerhans do pâncreas. É responsável pela remoção

da glucose do sangue para o fígado e músculos onde vai ser armazenada sob a

forma de glicogénio, levando também à captação de lipidos por parte dos

adipócitos e posterior transformação em triglicerídeos. A resistência à insulina

resulta de vários factores como excesso de peso, obesidade, tipo de alimentação,

o sedentarismo e susceptibilidade genética (Calle and Kaaks 2004) verificando-se

que os níveis normais de insulina são inadequados para a produção de resposta

normal por parte da gordura, músculos e fígado. Esta síndrome leva a um

aumento da libertação de ácidos gordos livres pelos adipócitos para o sangue, à

redução do uptake da glucose pelos músculos e à diminuição do armazenamento

de glucose pelo fígado (Kahn and Flier 2000; Calle and Kaaks 2004).

Hiperinsulinémia resulta de um aumento da secreção pancreática de insulina para

prevenir um aumento excessivo da glucose sanguínea como resultado da

resistência à insulina (Kahn and Flier 2000; Calle and Kaaks 2004).

Há evidências que atribuem à insulina um papel como promotora da

carcinogénese, funcionando como agente mitogénico e inibidor da apoptose por

activação das vias RAS/RAF/MEK/ERK e Akt por fosforilação do PI-3,

respectivamente, após ligação ao receptor da insulina (IR) (Frasca, Pandini et al.

2008). O papel pró-carcinogénico da insulina é apoiado por vários estudos, tal

como o realizado por Nandi et al que inocularam ratinhos nude diabéticos com

células de tumor mamário MCF-7 tendo verificado que apenas os ratinhos

tratados com insulina desenvolviam tumores (Nandi, Guzman et al. 1995). A

confirmação da expressão de receptores de insulina em células de cancro da

tiróide (Frittitta, Sciacca et al. 1999) e de cancro da próstata (Cox, Gleave et al.

2009) sugerem que este factor possa contribuir para a promoção do cancro.

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4. CANCRO DA PRÓSTATA

O cancro da próstata é considerado o terceiro tipo de cancro mais comum

(Buschemeyer and Freedland 2007) e a segunda causa de morte no sexo

masculino nos países ocidentais (Jemal, Siegel et al. 2007). Apesar de se estar a

verificar um aumento da sua incidência, a mortalidade devido a carcinoma da

prostata tem diminuído graças a um diagnóstico mais precoce (Buschemeyer and

Freedland 2007).

4.1. Cancro da próstata e obesidade

A associação entre cancro da próstata e obesidade é um tema muito

controverso, uma vez que os resultados obtidos em vários estudos que

procuraram verificar a relação entre incidência de cancro da próstata e obesidade

foram muitas vezes contraditórios.

A obesidade parece estar por um lado associada ao aumento do risco de

desenvolver formas agressivas de carcinoma da próstata observando-se uma

relação positiva entre obesidade e agressividade e mortalidade por esta

neoplasia, e por outro lado está associada ao decréscimo no risco de desenvolver

tumores de baixo grau (Freedland, Giovannucci et al. 2006; Ribeiro, Lopes et al.

2006; Mistry, Digby et al. 2007). Gong et al verificaram que a obesidade está

relacionada com o aumento de risco mestastização e mortalidade por este tipo de

neoplasia sendo os efeitos mais acentuados em homens com carcinoma de

classificação de Gleason elevada (8-10) (Gong, Agalliu et al. 2007). O aumento

dos níveis de insulina, IGF-1 e leptina com a obesidade podem participar nos

mecanismos biológicos que promovem a progressão do cancro da próstata

latente para uma forma mais agressiva (Amling 2004; Ribeiro, Lopes et al. 2006;

Mistry, Digby et al. 2007).

Pelo contrário, outros estudos não conseguiram encontrar uma associação

entre a obesidade e o risco de desenvolver carcinoma da próstata. Giovannucci e

colegas efectuaram um estudo prospectivo para verificar qual a relação entre o

índice de massa corporal (IMC) e o risco de desenvolver cancro da próstata,

esporádico e hereditário, e concluíram que para indivíduos com idade inferior a

60 anos ou com história familiar de cancro de próstata, o IMC não contribuía para

o aumento de risco, enquanto nos indivíduos com idade superior a 60 anos se

observou o contrário, no entanto, a relação não é estatisticamente significativa.

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Segundo os autores, IMC elevados estão associados a níveis baixos de

testosterona o que não é favorável ao desenvolvimento deste carcinoma

(Giovannucci, Rimm et al. 2003).

Dada a controvérsia da associação entre obesidade e carcinoma da próstata e

leptina, cujos níveis plasmáticos se encontram aumentados na obesidade, do seu

papel na proliferação celular, angiogénese e no desenvolvimento tumoral,

resultante dos resultados obtidos em estudos epidemiológicos, clínicos e estudos

in vitro com linhas celulares, e visto não haver registo de estudos in vivo da acção

desta hormona no desenvolvimento do cancro da próstata, decidimos recorrer ao

modelo animal induzindo o carcinoma em ratinhos obesos ob/ob, com deficiência

em leptina, ratinhos db/db, com níveis elevados de leptina, e ratinhos DIO

(obesidade induzida pela dieta) com níveis aumentados de leptina, inoculados

com células tumorais de carcinoma da prostata murino RM1, na tentativa de

contribuir para elucidar um pouco melhor a acção desta hormona na

carcinogénese deste tipo de tumor.

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Capítulo 2

OBJECTIVO

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OBJECTIVO

Avaliar o papel da leptina na proliferação celular e angiogénese do carcinoma

da próstata inoculando células da linha celular RM1 em ratinhos apresentando

diferentes ambientes endógenos, nomeadamente, em ratinhos db/db que

apresentam excesso de leptina plasmática e resistência endogena à leptina por

mutação inactivante dos receptores da leptina, em ratinhos ob/ob com deficiência

congénita da leptina e em ratinhos ratinhos C57BL6/J com obesidade induzida

pela dieta DIO.

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Capítulo 3

MATERIAL E MÉTODOS

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MATERIAL E MÉTODOS

5. CULTURA CELULAR

As células de carcinoma da próstata androgénio independentes RM1, de

origem murina, foram obtidas a partir de tumores induzidos em ratinhos Zip

ras/myc-9 modelo MPR (cancro da próstata reconstituído em ratinho) produzidos

pela equipa do Prof T Thompson do MD Anderson Cancer Center, Houston,

Texas, USA, que gentilmente nos ofereceu uma amostra para realização do

presente estudo.

As células congeladas obtidas na passagem 7 (P7) foram cultivadas até à

passagem 8 (P8) para permitir a triagem e rastreio de contaminantes tendo sido

novamente congeladas em meio DMEM (Dulbecco’s Modified Essential Médium,

Invitrogen) contendo DMSO (Dimethyl Sulfoxide, Sigma) 10% e FCS (Fetal Calf

Serum, Invitrogen) 40%, em criotubos de 1,5mL contendo 1,5milhões de células,

formando duas séries, uma com e outra sem antibiótico (Penicilina –

Streptomicina 100 U/mL, Invitrogen). A amostra sem antibiótico foi utilizada para

rastreio de contaminantes biológicos, nomeadamente por micoplasma. Para

realizar este teste retirou-se meio de cultura (500µL) das células RM1, na fase de

crescimento confluente. Esta amostra foi centrifugada durante 1 minuto a 13 000

rpm, tendo sido transferido 150µL de sobrenadante para um novo tubo que foi

colocado num bloco de aquecimento a 95ºC durante 5 minutos, para lisar as

células remanescentes e os micoplasmas, após o que foi submetido a nova

centrifugação igual à anterior para transferir, 100µL de sobrenadante para um

novo tubo, utilizado para realizar um teste de PCR (Polymerase Chain Reaction)

utilizando como primers MGSO (5’ TGC ACC ATC TGT CAC TCT GTT AAC CTC 3’)

e GPO1 (5’ ACT CCT ACG GGA GGC AGC AGT A 3’) que permitem amplificar um

fragmento de 717 bp, correspondente a uma região comum de DNA de

micoplasma, e assim, a identificação da sua presença como contaminante na

cultura celular. A análise dos produtos de amplificação foi efectuada detectando a

presença ou ausência da banda de 717bp após separação por electroforese em

gel de 1% de agarose.

Todos os estudos in vitro e in vivo subsequentes foram realizados utilizando

as aliquotas contendo 1,5M de células P8 crio-preservadas em azoto líquido,

seguindo o mesmo procedimento de cultura. Todas as fases foram realizadas

numa câmara de cultura esterilizada (UV e álcool 70%), começando por

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descongelar a alíquota contendo 1,5 milhões de células na passagem 8 a 37ºC

em banho-maria até cerca de metade do conteúdo ficar derretido e transferindo

gota a gota, com o auxílio de uma pipeta Pasteur esterilizada, para um tubo de

12mL estéril contendo 5mL de meio DMEM completo (Invitrogen) e a mistura foi

de seguida centrifugada a 900rpm durante 3 minutos. O sobrenadante foi

descartado e o pellet, contendo as células, foi ressuspenso em 2,5mL de meio

completo e transferido para um frasco de cultura de 25cm2 contendo 2,5mL de

meio de cultura completo e colocado numa incubadora (Function Line - Heraeus

Instruments) com uma atmosfera a 5% CO2, a 37ºC e humidade constante, de

modo a promover o crescimento celular.

O meio completo DMEM foi preparado a partir de DMEM em pó com glucose

elevada (4500mg/L), dissolvendo 5,05g de DMEM em 250mL de água bidestilada

num goblé em agitação contínua em placa de agitação, tendo sido

posteriormente adicionados 1,85g de bicarbonato de sódio (Sigma) e água

bidestilada até perfazer 500mL. O pH foi ajustado com ácido clorídrico 1N para o

intervalo de 7,0-7,4, de modo a evitar a alcalinização do meio aquando da

libertação de CO2. A solução final foi filtrada em condições de assepsia utilizando

um filtro esterilizado 0,2µm de poro e 47mm de diâmetro (ME 24/21ST, Whatman

– Schleicher & Schuell) previamente autoclavado, ligado a uma bomba de vácuo. A

esta solução filtrada adicionou-se ainda 6,25mL de HEPES 1M (N-(2-

Hydroxyethyl)piperazine-N′-(2-ethanesulfonic acid, Invitrogen), 5mL de Penicilina –

Streptomicina 100 U/mL (Invitrogen), 5mL de Nistatina 100 U/mL (Sigma) e 58mL

de FBS (Invitrogen). A solução de meio de cultura celular foi conservada a 4ºC até

a sua utilização, por um período máximo de 48h.

O crescimento das células em cultura foi monitorizado e o meio de cultura

mudado regularmente, a 37ºC, para eliminar células mortas em suspensão e

renovar os nutrientes. Sempre que as células atingiram uma confluência de 80%

as células foram individualizadas adicionando 1mL de Tripsina 0,25% (Invitrogen)

à placa de cultura, e lavadas com 2,5mL de PBS (Phosphate Buffered Saline). As

células foram ressuspensas em 1mL de meio de cultura. Para avaliar a viabilidade

celular, foram adicionados 10µL de trypan blue (Sigma) a 10µL de suspensão

celular e a proporção de células coradas (não viáveis) vs não coradas foi contada

com auxilio de uma câmara de contagem Neubauer, tendo sido considerado um

resultado satisfatório sempre que se atingiu uma viabilidade superior a 90%.

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6. CARACTERIZAÇÃO DA LINHA CELULAR RM1

6.1. Imunocitoquímica para o receptor da leptina

Para verificar a presença da isoforma longa do receptor membranar da leptina

(OBRb) foi realizado um estudo imunocitoquímico (ICQ) das células RM1 obtidas

na 17ª passagem. Para tal 50µL de meio com células em suspensão foram

colocados na cito-centrifuga a 1200 rpm durante 5 minutos (Cytospin 3 -

Shandon) para transferir as células para lâminas tratadas com poli-lisina (Poly-L-

lisine, Sigma) e a preparação celular foi fixada por imersão das lâminas em

formol a 10% durante 10 minutos. A técnica de ICQ consistiu em mergulhar as

laminas numa solução contendo pepsina a 0,1% em HCl 0,01N pH 2,25 durante

10 minutos, de modo a expor o antigénio, seguida de uma incubação em

peróxido de hidrogénio 0,3% durante 5 minutos para bloquear a peroxidase

endógena, após o que se adicionou o anticorpo primário OBR 12-A coelho anti-

ratinho (Alpha Diagnostic International – San António, TX) 1:100 BSA 1%, solução

na qual as laminas foram mantidas durante a noite e a 4ºC até ao dia seguinte,

quando foram incubadas com o anticorpo secundário de porco anti-coelho

(DakoCytomation) 1:100 BSA 1% durante 1h. A reacção imunoquímica foi marcada

adicionando o complexo avidina-biotina (ABC, DakoCytomation) durante 30

minutos seguida de revelação com diaminobenzidina (DAB, DakoCytomation)

durante 7 minutos para obter a coloração castanha das células marcadas. O

controlo negativo interno foi obtido efectuando todo o procedimento descrito

acima apenas omitindo o anticorpo primário. Como controlo positivo e negativo

externo adicional foram utilizadas células de exsudado peritoneal de ratinho,

obtidas por injecção intraperitoneal de 1,5mL de caseína 10% em ratinho

C57BL6/J, incubação durante 5h e lavagem com 5mL de sacarose a 3%.

6.2. Estudo histológico da próstata de ratinho saudável

6.2.1. Processamento da próstata

A próstata de ratinho C57BL6/J normal foi recolhida e após ter sido fixada em

paraformaldeído e ácido pícrico 14%, foi processada e incluída em bloco de

parafina do qual foram efectuados cortes de 3µm seriados e em duplicado para

imuno-histoquímica (IHQ) com e sem contrastação nuclear.

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6.2.2. Imunohistoquímica para receptor da leptina

Após desparafinar e hidratar os cortes efectuou-se a recuperação antigénica

com solução de pepsina 0,1% em HCl 0,01N pH 2,25 durante 45 minutos a 37ºC.

a inibição da peróxidase endógena foi efectuada por incubação das lâminas em

peróxido de hidrogénio 0,3% durante 5 minutos. Findo este período efectuou-se

bloqueio proteico incubando durante 5 minutos com Protein Block (Novolink

Polymer Detection System) de modo a eliminar toda a inespecificidade da

marcação. Após lavagem com PBS durante 5 minutos as lâminas foram incubadas

durante a noite com anticorpo primário OBR 12-A coelho anti-ratinho (Alpha

Diagnostic International – San António, TX) 1:100 BSA 1% a 4ºC. Lavou-se

novamente com PBS, duas vezes durante 5 minutos, tendo de seguida incubado

as lâminas em Post Primary Block (Novolink Polymer Detection System) durante

30 minutos. As lâminas foram novamente lavadas em PBS e de seguida incubadas

em Polymer (Novolink Polymer Detection System) durante 30 minutos. Efectuou-

se nova lavagem em PBS tendo de seguida efectuado a revelação com DAB

durante 5 minutos. As lâminas foram lavadas em água corrente tendo-se de

seguida efectuado contrastação com hematoxilina, lavado, desidratado e

montado as lâminas. O controlo negativo interno foi obtido como descrito acima

omitindo apenas a incubação com o anticorpo primário.

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7. EXPRESSÃO DO RECEPTOR DA LEPTINA NAS CÉLULAS RM1

AVALIADO POR RT-PCR (REVERSE-TRANSCRIPTASE POLYMERASE

CHAIN REACTION)

7.1. Extracção de RNA das células em cultura

Células RM-1 em cultura na passagem 11 a 80% confluência, foram

individualizadas após tripsinização e precipitadas por centrifugação. Após

contagem do número de células em câmara Newbauer, foi adicionado ao pellet

1mL de TRIPURE (Roche Diagnostics) / 5x106 células seguido de homogeneização.

Após adição de clorofórmio (0.2 mL / mL TRIPURE) e incubação à temperatura

ambiente 10 minutos, a solução foi centrifugada a 11441 rpm durante 15

minutos, que permite separar a solução em 3 fases: sobrenadante contendo o

RNA, e intermédia contendo o DNA e restante com as proteínas. O sobrenadante

com o RNA foi retirado para um novo tubo ao qual foi adicionado isopropanol

(0.5 mL / mL TRIPURE), e incubado à temperatura ambiente durante 10 minutos

seguido de nova centrifugação a 11441 rpm durante 10 minutos. O sobrenadante

foi descartado e adicionou-se ao depósito etanol 75% (1 mL / mL TRIPURE),

seguido de nova centrifugação a 9045 rpm durante 5 minutos, o sobrenadante

foi removido e o depósito foi deixado secar ao ar antes de ter sido re-suspendido

em água sem RNases. Após extracção o RNA foi quantificado por fluorimetria

fluorímetro Qubit (Invitrogen) e lida a sua absorvância por espectrofotometria a

260 e 280nm, calculando-se a razão 260/280, para avaliar a qualidade do RNA.

Tendo sido considerado aceitável valores superiores a 1.8, atestando a qualidade

e pureza do RNA.

7.2. Transcriptase reversa (síntese de cDNA)

Para a síntese de cDNA a partir de RNA extraído das células RM-1, foi utilizado

o kit ThermoScript RT-PCR System (Invitrogen). Foi preparada uma mistura com

primers aleatórios (50 uM Oligo (dT)20, 50 ng/uL), RNA (2 ug), dNTPs (10 mM),

ajustando com água bi-destilada para completar um volume final de 12 uL. De

seguida foi realizada a desnaturação do RNA e dos primers, através da incubação

a 65ºC durante 5 minutos e colocação posterior em gelo.

A mistura matriz (master mix) foi preparada adicionando: solução tampão de

síntese de cDNA (5x), DTT (0.1 M), RNaseOUT (40 U/uL), água tratada com DEPC

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e transcriptase reversa (RT Thermoscript) (15 U/uL), para um volume final de 8 uL

e pipetada para o tubo refrigerado em gelo, antes de ser colocada no

termociclador, programado para submeter as amostras a uma temperatura de

síntese de cDNA de 50ºC durante 45 minutos e um passo final de 5 minutos a

85ºC. Uma vez terminada a reação foi imediatamente adicionado RNase H (1 µL) e

incubada a amostra a 37ºC durante 20 minutos. O cDNA sintetizado foi

armazenado a -20ºC para posterior utilização.

7.3. Polymerase chain reaction (PCR)

Para estudar a expressão dos genes OBR (isoformas b e a) nas células RM-1,

procedeu-se à realização da amplificação de transcritos a partir de cDNA. Incluiu-

se como gene house-keeper o ACTNB (beta-actina). Os primers e respectivas

temperaturas de annealing (Ta) para cada gene, assim como o peso molecular de

cada fragmento de amplificação esperado estão descritas na Tabela 1.

Gene Fragmento Primers Ta Referência

ObRa 290 bp F: 5’-ATCTGCCGGTGTGAGTTTTC-3’

R: 5’-CCAGTCTCTTGCTCCTCACC-3’

62ºC (Hegyi, Fulop

et al. 2004)

ObRb 375 bp F: 5’-

ATGAAGTGGCTTAGAATCCCTTCG-3’

R: 5’-ATATCACTGATTCTGCATCCTG-

3’

62ºC (Guilmeau,

Buyse et al.

2003)

ACTNB 606 bp F: 5’-

CGAGAAGATGACCCAGATCATG-3’

R: 5’-AGTGATCTCCTTCTGCATCCTG-

3’

62ºC (Guilmeau,

Buyse et al.

2003)

Tabela 1 – Representação dos primers e respectivas temperaturas de anealing.

Para todos os genes, foi usado o seguinte protocolo de preparação de master

mix: solução tampão de PCR 10x (1X), dNTPs 10 mM (0.2mM de cada), MgCl2 50

mM (1.5mM), Primers 10 uM (0.2 uM de cada), Platinum Taq DNA Polymerase

(1U), cDNA (~ 50-100 ng) e água bi-destilada até completar um volume final de

reacção de 50 uL.

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O protocolo PCR incluiu sempre um passo inicial de desnaturação a 94-95ºC

durante 2-3 minutos, seguido de 3 passos de desnaturação (94-95ºC, 1 minuto),

annealing (56-65ºC, 30 segundos-1 minuto) e extensão (72ºC, 1-2 minutos),

repetidos ao longo de 35-40 ciclos e um passo final de 10 minutos a 72ºC. Os

protocolos foram realizados em duplicado, em experiências independentes,

verificando-se repetibilidade absoluta da expressão de transcritos entre

experiências. Em todos os PCRs incluiu-se o gene house-keeper ACTN.

7.4. Electroforese dos produtos de PCR

Após PCR, cerca de 10 µL do produto foi submetido a electroforese em gel de

agarose a 2%, corado com brometo de etídeo.

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8. WESTERN-BLOT PARA RECEPTOR DA LEPTINA

8.1. Preparação das amostras

Próstatas obtidas de ratinhos C57BL/6 normais (n=6) removidas após

sacrifício dos mesmos por exposição a CO2 em concentração elevada foram

homogeneizadas no homogeneizador Potter-Elvehjem em PBS. A suspensão

celular assim obtida foi filtrada utilizando pipetas de vidro com gaze de nylon

para remover agregados celulares e vestígios de tecido não homogeneizado.

Células RM1 cultivadas e criopreservadas foram descongeladas à temperatura

ambiente. As suspensões celulares de ambas as amostras, próstata de ratinho e

cultura celular, foram incubadas em gelo durante 1h30minutos em 5mL de

solução de lise (NaCl, 2,68mM KCl, 10mM Na2HPO

4, 1,76mM KH

2PO

4, 1mM EDTA e

inibidor de proteases). A solução obtida após a lise celular foi centrifugada a

25300rpm durante 30minutos a 4ºC. O sobrenadante obtido foi recolhido

constituindo a fracção citosólica e o sedimento obtido foi ressuspenso em 1mL

de solução solubilizante (0,5% N-Dodecyl-N,N-dimethyl-3-ammonio-1-

propanesulfonate, 5mM EDTA e inibidores das proteases) e incubado durante

20minutos em gelo, de modo a solubilizar as proteínas de membrana. As

amostras foram centrifugadas a 400rpm durante 10min a 4ºC tendo os

sobrenadantes obtidos, correspondentes à fracção membranar, sido

armazenados a -80ºC para posterior análise.

8.2. Doseamento de proteínas

O doseamento proteico das amostras foi efectuado realizando o método de

Lowry (Lowry, Rosebrough et al. 1951). A curva padrão foi obtida através da

medição das absorvâncias de soluções padrão de concentração conhecida (Padrão

1: 225µL de H20 destilada, 25µL Albumina bovina 0,05%, 750µL de reagente

Cupro-Alcalino; Padrão 2: 200µL de H20 destilada, 50µL Albumina bovina 0,05%,

750µL de reagente Cupro-Alcalino; Padrão 3: 175µL de H20 destilada, 75µL

Albumina bovina 0,05%, 750µL de reagente Cupro-Alcalino; Branco: 250µL de

H20 e 750µL de reagente Cupro-Alcalino) o que permitiu determinar a

concentração proteica das quatro amostras (Amostra 1: 225µL de H20 destilada,

25µL de fracção citosólica de células RM1; Amostra 2: 225µL de H20 destilada,

25µL de fracção membranar de células RM1; Amostra 3: 225µL de H20 destilada,

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25µL de fracção citosólica de próstata de ratinho; Amostra 4: 225µL de H20

destilada, 25µL de fracção membranar de próstata de ratinho) por interpolação na

curva obtida. Todas as soluções obtidas, padrões, amostras e branco, foram

protegidas da luz, agitadas e depois mantidas em repouso, à temperatura

ambiente, durante 10 minutos. Decorrido este tempo adicionou-se a todos os

tubos 75 µL de reagente de Folin (diluição 1:2) agitou-se e deixou-se a incubar

durante 30 minutos nas mesmas condições. A absorvância foi lida no

espectofotómetro (CECIL 1000 Series) e as concentrações calculadas utilizando a

fórmula: Concentração de amostra = absorvância de amostra x f = mg/mL, sendo

f = (∑concentração dos padrões (0,3) /∑absorvâncias dos padrões) x factor de

diluição.

8.3. Electroforese SDS-PAGE

Para verificar o grau de pureza das amostras proteicas e efectuar o Westenblot

foi realizada, em duplicado, uma electroforese segundo a técnica de SDS-PAGE

(Sodium Dodecyl Sulfate Polyacrylamide Gel Electrophoresis), que permite separar

as proteínas constituintes das amostras de acordo com o seu peso molecular. As

amostras foram diluídas 1:4 em tampão de amostra para gel desnaturante (2,5mL

de solução Tris 0,5M, pH 6,8; 4,0mL de SDS 10%; 2,0mL de Glicerol; 0,2mL -

mercaptoetanol; 0,2mg Azul Bromofenol; dH2O até 10mL) e em seguida fervidas

durante 2min. Aplicaram-se as amostras e os padrões de peso molecular

(Rainbow- Amersham Biosciences) nos respectivos poços do gel de poliacrilamida

a 13%. O gel foi corrido a 20 mA utilizando uma fonte de alimentação (Amersham

pharmacia biotech). O término da corrida ocorreu quando o azul de bromofenol

do tampão de amostra se encontrava a cerca de 0,5cm do fim do gel.

8.4. Coloração de prata

A técnica de coloração com prata foi utilizada para visualizar as bandas

proteicas obtidas após a realização da electroforese. Para tal, o gel foi posto

numa solução descorante (etanol 25% e ácido acético 8%), durante 40 minutos.

Em seguida, foi lavado com água destilada, num período de 5 minutos. Depois,

fixou-se durante 30 minutos com glutaraldeido 10% (v/v). Tendo sido lavado

durante uma hora com água quente, substituindo a água de 10 em 10 minutos,

para remover os excessos de glutaraldeido. Colocou-se o gel numa solução de

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nitrato de prata (2,5mL de NH4OH concentrado, 0,375mL de NaOH 10M em 40mL

de H2O destilada à qual foi adicionada, gota a gota, 7,5mL de solução de AgNO

3

1,2M) durante 10 minutos. E, posteriormente, procedeu-se à sua lavagem 3 x 5

minutos com água destilada. Por fim, o gel foi submerso na solução de revelação

(0,05g de ácido cítrico; 500mL de formaldeído; dH2O até 500mL) até o

aparecimento das bandas. A reacção foi parada com ácido acético 5% e o gel

lavado com etanol 10%. Este foi guardado numa solução de 7% glicerol e 10% de

etanol (v/v).

8.5. Western-blot

As proteínas das amostras depois de separadas por eletroforese SDS-PAGE

foram transferidas para uma membrana de PVDF (Polyvinylidene Difluoride

membrane) durante 2h, a 150mA e a 80V, em tampão de blot (7,3g Tris; 33,8g

Glicina; 600mL metanol; dH2O até 3L). Posteriormente, procedeu-se ao bloqueio

da membrana com TBST (40mL de Tris 1M; 120mL de NaCl 5M; 2mL Tween 20;

dH2O até 4L pH 8) e BSA 1%, durante 1 hora à temperatura ambiente. Lavou-se

3x5min com TBST e BSA 0,1%. Deixou-se a incubar com o anticorpo primário OBR

12A (Alpha diagnostic) (1:1000) em TBST 0,1%BSA, durante 2 horas. Em seguida,

lavou-se com TBST e 0,1%BSA: 3x5min, 2x10min e procedeu-se à incubação com

o anticorpo secundário (1:20000) (AbDSerotec goat anti-rabbit IgG:HRP) em TSBT

0,1%BSA, durante 1 hora à temperatura ambiente. Voltou-se a lavar com TBST e

0,1%BSA: 4x5min, 2x10min. Após secagem da membrana em papel de filtro,

procedeu-se à reacção de detecção adicionando-se à membrana o substrato TMB

(3,3’,5,5’-Tetramethylbenzidine).

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9. ESTUDOS IN VIVO

Para avaliar o crescimento das células de cancro da próstata murino RM1 in

vivo estas foram inoculadas em diferentes estirpes de ratinhos normoponderais e

obesos.

9.1. Animais

Os animais utilizados neste estudo, nomeadamente ratinhos das estirpes

C57BL/6 normoponderais, DIO (diet induced obesity) C57BL6/J com obesidade

induzida pela dieta), db/db (BKS.Cg-m+/+ Leprdb/J) obesos e diabéticos por

mutação espontânea inactivante do gene do receptor da leptina e ob/ob (B6.V-

Lepob/J) obesos por mutação espontânea do gene da leptina, foram adquiridos de

um produtor comercial (Charles River, Barcelona) (Tabela 2).

Tabela 2: Descrição das estirpes utilizadas neste trabalho.

Ratinho Estirpe Descrição

C57BL/6J

Ratinhos da estirpe selvagem utilizados como controle.

DIO (Diet Induced Obesity) do background C57Bl/6J

Ratinhos da estirpe selvagem C57BL/6J submetidos a dieta hipercalórica ( 45% de lipidos) para induzir obesidade.

ob/ob: B6.V-Lepob/J db/db:BKS.Cg-m +/+ Lepdb/J

Ratinhos ob/ob – obesos, com mutação espontanea do gene que codifica a leptina: défice congénito de leptina. Ratinhos db/db – obesos, com mutação espontânea do gene do receptor da leptina – hiperleptinemicos e diabéticos.

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Os ratinhos foram mantidos no biotério do ICBAS em condições temperatura

(21+/-1ºC) e humidade constantes, com um fotoperíodo controlado de 12h (das 7

às 19h), tendo tido livre acesso a água e comida, a dieta foi semelhante para

todos os grupos, dieta completa normal (SAFE- Scientific Animal Food &

Engineering), com excepção da ratinhos DIO que mantiveram dieta hipercalórica e

hiperlipidica (dieta hipercalórica 45KJ % Gordura, Charles River) utilizada desde o

desmame.

9.2. Curva dose-resposta em ratinhos C57BL6/J normoponderais

Para avaliação do crescimento das células RM1 in vivo foram utilizados 42

ratinhos C57BL6/J normoponderais, machos adultos com 13 semanas e

distribuídos por 7 grupos (n=6 /grupo). Os animais de cada grupo foram

inoculados na região subcutânea dorsal com 500µL de células RM1 em suspensão

em PBS com concentrações crescentes, nomeadamente: 1,5x105, 3,0x105,

6,0x105, 7,5x105, 9,0x105, 1,2x106, 1,8x106. O crescimento das células e a

evolução tumoral foi monitorizada durante 14 dias após a inoculação, tendo sido

registado o peso corporal dos ratinhos três vezes por semana. Ao fim dos 14 dias

os ratinhos foram sacrificados por exposição uma atmosfera de CO2 (99%) em

câmara fechada, o sangue foi recolhido por punção cardíaca e os tumores

induzidos e a gordura epididimária foram recolhidos e pesados.

O sangue foi recolhido utilizando uma seringa pre-tratada com heparina

sódica 5000U.I./mL (Braun) e imediatamente transferido para microtubos 1,3mL

Lithium Heparin aos quais tinha sido previamente adicionado 20µL de aprotinina

(Trasylol, Bayer). Os tubos foram mantidos em gelo até serem centrifugadosa

3000rpm a 4ºC durante 8 minutos. O plasma foi recolhido e armazenado a -20ºC

para posterior doseamento hormonal.

Os tumores recolhidos foram preservados em paraformaldeído com ácido

pícrico a 14% para posterior processamento histológico.

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9.3. Crescimento das células RM1 em ratinhos obesos

Para avaliação do crescimento das células RM1 in vivo foram utilizados 24

ratinhos machos adultos do mesmo background genético dos C57BL6/J e

distribuídos por 4 grupos (n=6 /grupo), nomeadamente ratinhos obesos e

diabéticos db/db (n=6), ratinhos obesos ob/ob (n=6), ratinhos C57BL6/J com

obesidade induzida pela dieta (DIO) (n=6), e C57BL6/J normoponderais (n=6),

usados como grupo controle. Os animais de cada grupo foram inoculados ne

região subcutânea dorsal com 500µL de células RM1 em suspensão em PBS na

concentração de 3,0x105, escolhida como a dose ideal após análise da curva

dose-resposta, tendo todo o procedimento sido semelhante ao descrito na

experiência anterior.

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10. ANÁLISE HISTOLÓGICA DOS TUMORES

10.1. Processamento dos tecidos

Os tumores recolhidos após terem sido fixados em paraformaldeído e ácido

pícrico 14% foram processados e incluídos em blocos de parafina. De cada bloco

foram efectuados cortes de 3µm seriados e em duplicado para coloração com

hematoxilina-eosina (HE) ou imuno-histoquímica (IHQ).

10.2. Imunohistoquímica para Ki-67

Para avaliar o grau de proliferação celular tumoral foi realizado o estudo

imunohistoquímico para o antigénio nuclear Ki-67 que é expresso pelas células

em proliferação durante as fases G1, S, M e G2 do ciclo celular.

Para tal os cortes foram recolhidos em lâminas tratadas com poly-L-lisina,

desparafinados em xilol e re-hidratados utilizando álcoois de graduação

decrescente. Lavou-se com tampão PBS durante 5 minutos efectuando-se de

seguida a recuperação antigénica por microondas a 900W durante 20 minutos em

solução tampão citrato 0,01M (pH 6,0). A peroxidase endógena foi neutralizada

com peróxido de hidrogénio (Labvision) durante 10 minutos. Seguidamente, após

arrefecimento, os cortes foram lavados em PBS (pH 7,4) durante 5 minutos e

incubados com soro normal ultra block (Labvision) durante 5 minutos de modo a

bloquear marcação inespecífica, seguido do anticorpo primário Ki-67 humano

com reactividade cruzada para o ratinho (Novocastra, NCL-L-Ki67-MM1) na

diluição 1:30 a 25ºC durante 60 minutos,

Findo o tempo de incubação efectuou-se uma lavagem de 5 minutos em

tampão PBS. Incubou-se com o anticorpo secundário Biotinylated Goat Anti-

polyvalent (Labvision) durante 15 minutos à temperatura ambiente. Lavou-se

novamente com PBS durante 5 minutos. Incubação das lâminas com o complexo

enzimático Streptavidina HRP – polivalent (LabVision) durante 15 minutos seguido

de uma lavagem de 5 minutos em PBS. A revelação das lâminas foi efectuada

utilizando o substrato DAB (Diaminobenzidine tetrahydrochloride, Sigma) e

deixando actuar durante 10minutos. Enxaguaram-se as lâminas em água. A

contrastação nuclear foi realizada com hematoxilina Harris durante 1 minuto

tendo-se de seguida desidratado, e montado as lâminas.

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Controlo negativo interno utilizado para verificar a especificidade da marcação

foi realizado preparando lâminas de acordo com o descrito a cima omitindo

apenas a incubação com o anticorpo primário. O controlo positivo foi interno foi

obtido por observação de não marcação de células musculares nas mesmas

lâminas.

10.3. Imunohistoquímica para caveolina

Para avaliar o grau de proliferação vascular foi realizado o estudo

imunohistoquímico para o antigénio caveolina que é expresso pelas células

endoteliais.

O método utilizado foi semelhante ao descrito para o Ki-67 variando

unicamente o anticorpo primário, anticorpo da caveolina (BD Biosciences)

utilizado na diluição de 1:400.

O controlo negativo foi obtido do mesmo modo como descrito para o Ki-67.

O controlo positivo utilizado foi externo obtido através da obtenção de uma

amostra de pâncreas de ratinho e verificando a ausência de marcação nas células

glandulares.

Para cada anticorpo, as amostras foram processadas no mesmo dia e em

simultâneo para diminuir a variabilidade.

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11. MORFOMETRIA

A análise morfométrica foi realizada em fotografias digitais de 10 campos de

400x (10x ocular, 40x objectiva) por lâmina seleccionados por varrimento

periférico do tumor, evitando as áreas de necrose central. O cálculo da área e

contagem de estruturas marcadas em cada campo foi efectuada com auxílio do

software (Leica Qwin, Leica Microsystems) devidamente calibrado, do computador

acoplado à máquina.

Em cada campo foram efectuadas contagens de mitoses e núcleos marcados

com Ki67 ou vasos marcados com caveolina, foram contabilizados todas as

marcações que se encontravam totalmente dentro da área seleccionada

(45672,8µm2).

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12. DOSEAMENTOS HORMONAIS

Os doseamentos hormonais foram efectuados recorrendo a kits de ELISA de

insulina e de leptina (Linco research) que permitem avaliar a concentração destas

hormonas no plasma sanguíneo por reacção colorimétrica, actividade enzimática,

quantificada espectrofotométricamente, uma vez que o aumento da absorvância é

directamente proporcional tanto à quantidade de leptina como de insulina das

amostras é possível, por interpolação da curva padrão obtida com as soluções de

concentração conhecida (padrões), determinar a concentração das hormonas em

estudo.

As amostras de plasma obtidas aquando do sacrifício foram descongeladas à

temperatura ambiente, no decorrer dos preparativos para o início do estudo.

Todos os reagentes usados foram colocados à temperatura ambiente

imediatamente antes do início.

12.1. Doseamento da leptina

Os níveis plasmáticos de leptina foram doseados por ELISA recorrendo a um

kit comercial (EZML-82K, Linco Research), conhecido pela técnica de ELISA

“sandwich”, seguindo as instruções do produtor. Resumidamente a técnica

consiste em colocar 10µL de amostra a analisar em contacto com uma placa de

ELISA revestida com anticorpos mono-clonais anti-leptina de ratinho, de modo a

que as moléculas de leptina presentes na amostra se liguem a esses anticorpos

ficando retidas nos poços. Adicionou-se 50µL de antisoro de leptina de ratinho a

cada poço que se deixou incubar durante 2h, seguido de uma incubação com

100µL de anticorpo de detecção durante 1h, sempre à temperatura ambiente e

em agitação constante (450rpm) de modo a que se formasse o complexo

imunológico (leptina – anticorpo de detecção) que se pretende quantificar. Após

lavagem, eliminando-se tudo o que está livre, adicionou-se, a cada poço 100µL de

solução de enzima (Streptavidin-horseradish peroxidase conjugate) tendo-se

estabelecido ligação aos anticorpos de detecção ligados à leptina (anticorpos

biotininados) para, após adição do substrato (3,3’,5,5’-tetramethylbenzidine)

ocorrer reacção colorimétrica. A actividade emzimática foi determinada no

espectrofotometro de placas (Multiskan EX, Thermo) através da leitura das

absorvâncias a 450nm e a 570nm (factor de correcção) após adição da solução de

paragem (HCl 0,3M) por acidificação do meio e calculada a diferença entre os dois

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valores obtidos. As concentrações finais foram calculadas por extrapolação de

uma curva de concentrações conhecidas.

12.2. Doseamento da insulina

Os níveis plasmáticos de insulina foram doseados por ELISA recorrendo a um

kit comercial (EZMI-13K Linco Research) seguindo as instruções do produtor. O

método utilizado foi semelhante ao descrito para o doseamento da leptina

variando apenas no revestimento das placas ser com anticorpo monoclonal anti-

insulina e de se adicionar anticorpo de detecção de insulina de ratinho logo após

a adição das amostras e dos padrões ficando a incubar durante 2h de modo a

ocorrer a ligação à insulina existente nas paredes de cada poço. A actividade

enzimática foi determinada como descrito para a leptina.

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13. ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS

Para cada grupo foram calculadas as médias e o erro padrão da média (SEM) e

analisada a normalidade e homogeneidade das variâncias. A diferença entre as

médias foi avaliada pelos testes de ANOVA, seguido de correcção post-hoc de LSD

(least square difference) ou pelo teste de Kruskal-Wallis, e nos estudos de

correlação foram utilizados os testes de Pearson e Spearman, consoante aplicável

de acordo com a presença ou ausência de normalidade na distribuição das

amostras, respectivamente. Um valor de p<0.05 foi considerado estatisticamente

significativo. Todas as análises estatísticas foram realiadas com o auxílio do

software SPSS (versão 16) para o Windows.

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Capítulo 4

RESULTADOS

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RESULTADOS

14. CARACTERIZAÇÃO DA LINHA CELULAR – RM1

14.1. Imunocitoquímica para receptor de leptina

No estudo de imunocitoquímica utilizando o anticorpo primário Anti-OBR

específico para o receptor da leptina OBR (OBRb - isoforma longa) observou-se a

presença de marcação positiva, i.e., coloração castanha, à periferia das células

RM1 (Figura 1 A), correspondente à presença da isoforma longa do receptor da

leptina na membrana celular. Como controlos positivo e negativo para avaliar a

especificidade da reacção do anticorpo para o receptor da leptina, o mesmo

estudo imunocitoquímico foi realizado em células de exudado peritoneal de

ratinho C57BL6/J, tendo-se verificado marcação apenas dos macrófagos, que

como é sabido expressam a isoforma longa do receptor da leptina, ao contrário

dos neutrófilos, (O'Rourke, Yeaman et al. 2001) como se pode observar na figura

1B.

A

B

Figura 1 – Imunocitoquímica obtida utilizando como anticorpo primário anti-ObR. As

células RM1 (1A) apresentam uma coloração castanha à periferia correspondente à

localização membranar dos receptores de leptina. Na Figura 1B pode ser observada a

marcação dos macrofagos (com coloração castanha) e a ausência de marcação nos

neutrófilos (com coloração azul). (A) e (B) 100X.

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14.2. Imunohistoquímica da próstata de ratinho para receptor da

leptina

No estudo de imunocitoquímica efectuado para verificar a presença de

receptores de leptina na próstata de ratinho verificou-se marcação positiva para

OBR, receptor longo e receptor curto da leptina, no epitélio ganglionar (Figura 2).

14.3. Expressão do receptor de leptina nas células RM1 avaliado por

RT-PCR

Para confirmar o resultado obtido no estudo imunocitoquímico, foi realizado o

estudo molecular da expressão do receptor da leptina por RT-PCR

Da análise das bandas de electroforese dos produtos da PCR dos genes em

estudo, (Figura 3), verifica-se que as células RM1 expressam apenas a isoforma

curta do receptor da leptina, OBRa com 290 bp e não expressam a isoforma longa

do receptor (OBRb 375 bp).

A

B

Figura 2 - Cortes histológicos de próstata normal de ratinho C57BL6/J marcados com

anticorpo OBR 12-A. Na figura observa-se marcação positiva nas células epiteliais dos

lóbulos da próstata (A) e o respectivo controlo negativo (B).

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Figura 3 – Imagem da electroforese dos produtos de RT-PCR. Verifica-se que as células

RM1 expressam a isoforma curta do receptor da leptina OBRa (290 bp), mas não

expressam a isoforma longa, OBRb. Na imagem podem ainda observar-se as bandas

correspondentes à expressão da β-Actina (ACTNB 606 bp), gene housekeeper utilizado

como controlo interno e do marcador de 100 (M100), utilizado como escala de pares de

bases.

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14.4. Western-blot para receptor da leptina

Para confirmar a presença do receptor da leptina nas células RM1, foi

efectuado o estudo molecular por Western-blot da electroforese das proteínas das

fracções membranar e citolólica das células RM1, assim como de homogeneizado

de próstata de ratinho C57Bl6/J.

Na electroforese das proteínas coradas com solução de prata (Figura 4A) foi

possível observar para o homogeneizado celular (RM1), por comparação com o

padrão de pesos molecular (B1) uma banda mais acentuada tanto para a fracção

membranar como citossólica (B2 e B3) correspondente ao peso molecular 66 kDa.

O homogeneizado de prostata apresenta, tanto na fracção membranar (B4) como

na fracção citossólica, marcação mais acentuada nas bandas com pesos

moleculares 36 kDa, 66 kDa e 97 kDa. Sabendo que os valores dos pesos

moleculares da isorforma curta (OBRa) e da isoforma longa (OBRb) para receptor

da leptina são, respectivamente, 80 kDa e 130 kDa (Zeidan, Purdham et al. 2005)

efectuou-se o Western-blot para a presença da proteína do, receptor da leptina,

nas amostras de células RM1 e de homogeneizado de prostatas de C57BL6/J,

utilizando como anticorpo primário o anticorpo anti-ObR, sendo possível

observar, por comparação com o padrão de pesos molecular, a presença de três

bandas mais visíveis com pesos moleculares entre 31 e 38 kDa, entre 52 e 76

kDa e entre os 76 e os 102 kDa, tanto na fracção citossólica (D2) como

membranar (D3) do homogeneizado da próstata, e, uma banda mais acentuada,

tanto na fracção citossólica como membranar do homegeneizado das RM1,

correspondente a um peso molecular compreendido entre 52 e 76 kDa (Figura

4D) parecendo estar de acordo com as bandas obtidas por electroforese (Fig 4A).

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200 kDa - Myosin, porcine heart 116 kDa - β-Galactosidase, E. coli

97 kDa - Phosphorylase B, rabbit muscle

84 kDa - Fructose-6-phosphate Kinase

66 kDa - Albumin, bovine serum

55 kDa - Glutamic dehydrogenase, bovine liver

45 kDa - Ovalbumin, chicken egg

36 kDa - Glyceraldehyde-3-phosphate

dehydrogenase, rabbit muscle

29 kDa - Carbonic anhydrase, bovine

erythrocytes

24 kDa - Trypsinogen, bovine pancreas

20 kDa - Trypsin inhibitor, soybean

14,2 kDa - α-Lactalbumin, bovine milk

6,5 kDa - Aprotinin, bovine lung

A

B

B1 B2 B3 B4 B5

C

D

D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7

Figura 4 – Resultados obtidos por electroforese e Western-blot para receptor da

leptina. “Espectro” proteico de cada amostra, padrão de pesos moleculares (B1),

fracção membranar (B2) e citossólica (B3) do homogeneizado de células RM1 e de

próstata de ratinho (B4 – fracção membranar e B5 – fracção citossólica) na Figura 4B e

padrão dos pesos moleculares utilizado (Figura 4A). Padrão de pesos moleculares

multicolor (rainbow) (Figura 4C) usado para comparar os resultados obtidos por

Western-blot para o receptor da leptina OBRb (Figura 4D) para a fracção citossólica

(D2) e membranar (D3) do homogeneizado da próstata, da fracção citossólica (D4) e

membranar (D5) do homogeneizado das células RM1 e controlos negativos para a

fracção membranar do homogeneizado da próstata (D6) e das células RM1 (D7) não se

tendo observado marcação.

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15. AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DAS CÉLULAS TUMORAIS RM1 IN

VIVO

15.1. Curva dose-resposta em ratinhos C57BL6/J normoponderais

O crescimento dos tumores induzidos de células RM1 14 dias após a

inoculação na região subcutânea dorsal de células RM1 em concentrações

crescentes, nomeadamente: 1,5x105, 3,0x105, 6,0x105, 7,5x105, 9,0x105,

1,2x105, 1,8x105, em ratinhos C57BL6/J normoponderais (n=42 divididos em 7

grupos com n=6/grupo) foi proporcional à concentração do inoculo (Gráfico 1),

Verificou-se que a dose 3,0x105 células/500µL de PBS se associava a uma menor

variabilidade nas dimensões do tumor obtido (erro padrão da média), assim como

a análise histológica dos tumores em HE (Figura 3), nomeadamente a menor

extensão de necrose e uma densidade mitótica elevada, levou a que se optasse

por esta concentração de inoculo para realizar os estudos subsequentes.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

1,50E+05 3,00E+05 6,00E+05 7,50E+05 9,00E+05 1,20E+06 1,80E+06

concentração do inóculo

Méd

ia p

eso

do tu

mor

(g)

Gráfico 1 - Curva dose-resposta: crescimento tumoral (média do peso tumoral em g) em

função do tamanho do inoculo de células tumorais RM1.

À dose escolhida corresponde um menor erro padrão (SE=0,242), uma fase

mitótica mais acentuada e necrose praticamente inexistente, tudo factores

propícios à obtenção de tumores adequados ao estudo por serem menos freáveis

e estarem numa fase de crescimento favorável.

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15.2. Crescimento das células RM1 em ratinhos obesos

O estudo final foi realizado, inoculando a dose escolhida como sendo a ideal

da curva dose-resposta em ratinhos obesos com diferentes ambientes hormonais

endógenos, constituindo três grupos de estudo, os ratinhos ob/ob, os ratinhos

db/db e os ratinhos DIO. O grupo controle constituído por ratinhos C54BL/6J

normaponderais corresponde ao grupo inoculado com a dose ideal na primeira

parte do trabalho. O desenvolvimento tumoral foi acompanhado durante os 14

dias através do registo diário do peso corporal tendo-se verificado que no inicio

do estudo, os ratinhos obesos ob/ob e os ratinhos diabéticos db/db

apresentavam pesos semelhantes, cuja média era de 51,7g e 46,2g

respectivamente, sendo significativamente superiores (p<0,001 em ambos os

casos) ao dos ratinhos controle que, apresentam um peso médio igual a 27g e

próxima da dos DIO que apresentavam peso médio igual a 28,3g (gráfico 2).

Gráfico 2 – Peso dos ratinhos, nos diferentes grupos, no início do estudo. Verificaram-se

diferenças estatísticamente significativas nos grupos db/db e ob/ob relativamente ao

grupo controlo. (ANOVA ***P<0,001).

0

10

20

30

40

50

60

Controlo dbdb obob DIO

Grupo

Pes

o (g

) Controlo

dbdb

obob

DIO(n=6)

***

***

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66

No estudo terminal determinou-se o peso médio final dos diferentes grupos

em estudo verificando-se que o peso médio dos ratinhos ob/ob (57,5g) e db/db

(47g) é superior ao dos ratinhos controle (31,7g) sendo esta diferença

estatisticamente significativa com um valor de p<0,001 (gráfico 3). A diferença de

pesos entre os ratinhos DIO (30,2g) e os controle (31,7g) não apresentava

diferença significativa..

0

10

20

30

40

50

60

70

controlo db db ob ob DIO

Grupo

Pes

o (g

)

controlo

db db

ob ob

DIO

***

***

(n = 6)

Gráfico 3 – Peso final dos ratinhos, 14º dia após inoculação, nos diferentes grupos.

Verificaram-se diferenças estatísticamente significativas nos grupos db/db e ob/ob

relativamente ao grupo controlo. (ANOVA ***P<0,001).

A percentagem de gordura epididimária por peso corporal, utilizada como

marcador indirecto do conteúdo corporal em matéria gorda, foi

significativamente superior nos três grupos de ratinhos obesos, db/db, ob/ob e

DIO, relativamente ao grupo controle sendo o valor mais elevado nos db/db e

ob/ob (gráfico 4) apresentando, ambos, um p<0,01 e os DIO um p<0,001( Gráfico

4).

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67

0

1

2

3

4

5

6

controlo db db ob ob DIO

Grupos

Per

cent

agem

da

gord

ura

epid

idim

ária

(%)

controlo

db db

ob ob

DIO

***

****

(n=6)

Gráfico 4- Comparação da percentagem de gordura epididimária entre os diferentes

grupos de ratinhos. Verificou-se que todos os grupos de animais obesos apresentavam

uma percentagem de gordura epididimária significativamente superior quando

comparados com o grupo controle (ANOVA **P<0,01, ***P<0,001).

Relativamente ao peso dos tumores verificou-se que quando comparados com

o grupo controlo, os tumores do grupo ob/ob e DIO apresentavam maiores

dimensões (p<0,001 em ambos os casos), enquanto os do grupo db/db eram

significativamente menores (p<0,05) como se pode observar no gráfico 5.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

controlo db db ob ob DIO

Grupo

Pes

o do

tum

or (

g) controlo

db db

ob ob

DIO

***

*

***

(n = 6)

Gráfico 5 - Peso do tumor nos diferentes grupos de ratinhos. Os ratinhos ob/ob e DIO

apresentam tumores significativamente maiores enquato os ratinhos db/db apresentam

tumores significativamente menores quando comparados com o grupo controlo. (ANOVA

*P<0,05, ***P<0,001)

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16. ESTUDO MORFOMÉTRICO

O estudo morfométrico realizado nos cortes de tumores marcados por

imunocitoquímica utilizando como marcadores os anticorpos anti-Ki-67 para o

estudo da proliferação celular e anti-caveolina, para o estudo da angiogenese,

revelou relativamente à proliferação celular que o número de núcleos marcados

de castanho, o que indica que as células se encontram em proliferação foi maior

no grupo dos ratinhos ob/ob (figura 5C) e DIO (figura 5D) e menor no grupo

db/db quando comparados com o grupo controlo (figura 5B).

A

B

C

D

Figura 5 - Fotografias de imunohistoquímica realizada em cortes de tumor para

quantificação da proliferação celular utilizando como marcador o Ki-67. Verifica-se

uma menor marcação no grupo db/db (B) quando comparado com o grupo controle

(A). Os grupos ob/ob (C), DIO (D) apresentam valores muito próximos não sendo

estatisticamente diferentes do grupo controle. (400x)

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No entanto a diferença apenas foi estatisticamente significativa para o grupo

db/db, quando comparado com o grupo controle (p<0,001) (gráfico 6) .

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

controlo db db ob ob DIO

Grupo

Den

sida

de M

itótic

a

controlo

db db

ob ob

DIO

***

(n = 6)

Gráfico 6 - Densidade nuclear determinada por contagem de núcleos marcados com Ki-

67. Quando comparados os grupos db/db, ob/ob e DIO com o grupo controle verificou-se

que o grupo db/db apresentava um grau de proliferação celular significativamente menor

(ANOVA ***P<0,001).

O índice mitótico determinado por contagem do número de mitoses

observadas nas lâminas marcadas com anticorpo anti-Ki67 por permitir uma boa

visualização dos núcleos em mitose (figuras 6A-D), foi. Semelhante nos tumores

dos ratinhos ob/ob e DIO.

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70

A B

C

D

Figura 6 – Fotografias de IHQ realizada em cortes de tumor para determinação do

índice mitótico utilizando como marcador o Ki-67. O índice mitótico muito semelhante

entre os grupos ob/ob (C), DIO (D) e controle (A). O grupo db/db (B) apresenta índice

mitótico praticamente inexistente quando comparado com o controlo. (400x)

Enquanto que os tumores dos ratinhos db/db apresentavam um número

significativamente menor quando comparado com os do grupo controle(

p<0,001) (gráfico 7).

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71

0

20

40

60

80

100

120

controlo db db ob ob DIO

Grupo

Den

sida

de d

e nú

cleo

s m

arca

dos

com

Ki-6

7controlo

db db

ob ob

DIO

***

(n = 6)

Gráfico 7 - Densidade mitótica, nos diferentes grupos em estudo, determinada por

contagem do número de mitoses observadas nas lâminas marcadas com KI-67. Os

ratinhos db/db apresentam uma densidade mitotica significativamente menor quando

comparada com o grupo controle (ANOVA ***P<0,001).

Relativamente à densidade vascular verificou-se que esta foi significativamente

maior nos tumores dos ratinhos db/db (p<0,05), enquanto nos tumores dos

ratinhos ob/ob e DIO apesar de superior não foi significativamente diferente da

observada no grupo controle ,como se pode observar nas Figuras 7 A-D e no

Gráfico 8.

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72

A B

C

D

Figura 7 – Fotografias de imunohistoquímica realizada em cortes de tumor para

quantificação da angiogénese utilizando caveolina como marcador do endotélio.

Verifica-se uma maior marcação no grupo db/db (B) quando comparado com o grupo

controle (A). Os grupos ob/ob e DIO apresentam marcação semelhante. (400x)

0

2

4

6

8

10

12

14

controlo db db ob ob DIO

Grupo

Den

sida

de d

e va

sos

mar

cado

s po

r ca

veol

ina

controlo

db db

ob ob

DIO

*

(n = 6)

Gráfico 8 - Resultados obtidos na determinação da angiogénese tumoral através de

contagem de vasos marcados por caveolina. Observa-se diferença estatísticamente

significativa entre o grupo db/db e o grupo controle apresentando o primeiro maior

número de vasos marcados. (ANOVA *P<0,05)

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17. DOSEAMENTOS HORMONAIS

Os níveis plasmáticos de leptina dos ratinhos do grupo ob/ob foram

praticamente nulos, enquanto dos ratinhos do grupo db/db foram

significativamente mais elevados quando comparados com os do grupo controle

(p<0,001) (gráfico 9).

0

5

10

15

20

25

30

35

controlo db db ob ob DIO

Grupos

[Lep

tina]

(ng

/mL)

controlo

db db

ob ob

DIO

***

(n = 6)

Gráfico 9 - Representação gráfica da concentração da leptina plasmática determinada

por ELISA nos diferentes grupos em estudo. Verificou-se que os ratinhos db/db

apresentam níveis significatiamente mais elevados que os do grupo controlo. (ANOVA

***P<0,001).

Quanto aos níveis plasmáticos de insulina verificou-se que o grupo ob/ob

apresentava níveis plasmáticos significativamente mais elevados que o grupo

controle (p<0,01). Como se pode observar no Gráfico 10 verificou-se que os

níveis plasmáticos de insulina dos outros grupos, db/db e DIO, foram

semelhantes aos do grupo controle.

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0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

controlo db db ob ob DIO

Grupo

[Insu

lina]

(ng

/mL) controlo

db db

ob ob

DIO

**

(n = 6)

Gráfico 10 - Níveis de insulina plasmática dos diferentes grupos em estudo. Os

ratinhos do grupo ob/ob apresentaram uma concentração de insulina significativamente

mais elevada quando comparada com o grupo controlo. (ANOVA **P<0,01).

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18. CORRELAÇÕES

Após análise estatística dos resultados obtidos determinou-se a correlação

entre a leptina, o principal factor em estudo, e o peso do tumor e todos os

parâmetros morfométricos avaliados. Relativamente à relação entre leptina e peso

do tumor (gráfico 11), verificou-se existir uma correlação negativa

estatisticamente significativa (r=-0,642, p<0,001), ou seja, ratinhos com níveis

plasmáticos elevados de leptina desenvolveram tumores de menores dimensões.

Gráfico 11 - Representação gráfica da relação entre os níveis de leptina plasmáticos e o

peso do tumor tendo-se verificado uma correlação negativa entre estes dois parâmetros

(r=-0,642, p<0,01).

No que diz respeito à relação entre níveis plasmáticos de leptina e a

densidade de núcleos marcados por anticorpo anti-Ki67 também se verifica uma

correlação negativa estatisticamente significativa (r=-0,795, p<0,001), (gráfico

12), o que indica que níveis elevados de leptina se associação a um menor índice

de proliferação celular.

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Gráfico 12 – Representação gráfica da relação entre concentração de leptina plasmática e

a marcação nuclear por Ki-67, observando-se uma correlação negativa estatisticamente

significativa (r=-0,795, p<0,001).

Assim como também foi encontrada uma correlação negativa estatisticamente

significativa (r=-0,646, p<0,01), (gráfico 13) entre os níveis plasmáticos de leptina

e o número de mitoses.

Gráfico 13 - Representação gráfica da correlação negativa entre níveis plasmáticos de

leptina e o índice mitótico (r=-0,646, p<0,01).

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Capítulo 5

DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÃO

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DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÃO

A obesidade tem sido considerada, com alguma controvérsia, um factor de

risco para carcinoma da próstata (Giovannucci, Rimm et al. 2003; Baillargeon,

Platz et al. 2006). Uma das principais moléculas apontada como potencial

responsável por esta associação tem sido a leptina (Mistry, Digby et al. 2007),

uma hormona produzida principalmente pelo adipócito e cuja concentração

plasmática está aumentada na obesidade em proporção à massa gorda

(Frederich, Hamann et al. 1995; Maffei, Halaas et al. 1995). A leptina, após a sua

ligação ao receptor membranar OBR, activa diversas vias intracelulares, tais como

a JAK2/STAT3, MAPK/ERK, PI-3K/Akt (Baumann, Morella et al. 1996; Nakashima,

Narazaki et al. 1997) que promovem a anti-apoptose, a proliferação celular, a

mitognese e angiogenese estando, potencialmente envolvidas no

desenvolvimento e proliferação tumoral. Existem várias isoformas do receptor da

leptina, sendo a isoforma longa OBRb, localizada na membrana celular, a

principal responsável pela activação das vias acima referidas. Estudos in vitro em

que foram cultivadas linhas celulares humanas de cancro da próstata, androgénio

independentes, nomeadamente as DU 145 e PC-3 (Somasundar, Yu et al. 2003;

Deo, Rao et al. 2008; Hoda and Popken 2008) e de uma linha celular androgénio

dependente, a LNCaP, (Deo, Rao et al. 2008) na presença de leptina para avaliar o

crescimento celular e a activação das vias de sinalização intracelular,

demonstraram que a leptina induz um aumento da proliferação celular e

diminuição da apoptose nas linhas celulares androgénio independentes (DU 145 e

PC-3) por activação das vias PI3-K e MAPK (Somasundar, Frankenberry et al. 2004;

Hoda and Popken 2008). Deo e colegas verificaram a activação das vias de

sinalização STAT-3 e MAPK tanto nas linhas androgénio independentes como nas

células androgénio dependentes (LNCaP) embora mais lenta na última linha. No

entanto, quando cultivadas na presença de doses de concentração crescente de

leptina, as linhas celulares DU 145 e PC 43, não apresentam aumento do índice

proliferativo verificando-se o contrário na linha celular LNCaP (Deo, Rao et al.

2008). Estes resultados são controversos aos apresentados em 2003 por Onuma

e colegas, que demonstraram o aumento da proliferação celular das células

androgénio independentes mencionadas na presença de leptina, não verificando

qualquer alteração na proliferação das células LNCaP (Onuma, Bub et al. 2003).

O objectivo deste estudo foi avaliar o efeito da leptina no crescimento de

células de carcinoma da próstata in vivo. Para tal foi utilizada uma linha celular de

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carcinoma da próstata androgénio independente murina, RM1; foi escolhida uma

linha celular androgénio independente de modo a excluir os níveis de

androgénios das variáveis, uma vez que estes podem estar diminuídos na

obesidade proporcionalmente à massa gorda e poderiam constituir uma variável

de confundimento e murina para permitir a realização do estudo in vivo no

ratinho.

Uma vez que não havia referência ou publicações com informação sobre as

características das células RM1 quanto à presença de receptores para a leptina, a

primeira fase deste estudo consistiu na realização de um estudo imuno-cito-

químico (ICQ) e estudos moleculares para caracterizar a linha celular quanto à

presença do OBR. No estudo ICQ anti-OBR, utilizando um anticorpo anti-OBR,

específico para a isoforma longa do receptor da leptina (OBRb), as células RM1

revelaram a presença de uma marcação positiva para a isoforma longa do

receptor OBR (Malendowicz, Rucinski et al. 2006). Este resultado que foi

corroborado pelos resultados do estudo ICQ para o mesmo receptor realizado

com numa amostra de exsudado peritoneal de ratinho, em que se verificou, como

esperado, a presença de marcação positiva nos macrófagos, que expressam a

isoforma longa do receptor da leptina (O'Rourke, Yeaman et al. 2001), e negativa

nos neutrófilos, que apenas expressam a isoforma curta (Bruno, Conus et al.

2005), utilizados como controlos positivo e negativo, respectivamente. No estudo

de imuno-histoquímico para o OBRb realizado em cortes de próstata de ratinho

normal, as células do epitélio glandular também apresentaram uma marcação

positiva para o receptor da leptina, à semelhança dos resultados previamente

publicados por Malendowicz et al, que encontrou marcação positiva para a

isoforma longa do receptor de leptina no epitélio glandular da próstata nos

lóbulos dorsal, ventral e laterais da próstata (Malendowicz, Rucinski et al. 2006).

Apesar destes resultados serem positivos quanto à presença da isoforma

activa do receptor da leptina nesta linha celular e favoráveis à sua utilização nos

estudos in vivo que pretendíamos efectuar, decidimos confirmar os resultados

com a realização de estudos moleculares, nomeadamente detectando a presença

do receptor no homogeneizado celular por Western Blot e a expressão do gene

do receptor por RT-PCR.

Para detectar a presença do receptor da leptina por Western blot, foram

realizados homogeneizados celulares de células RM1 e de próstata de ratinho

normal, seguidos de separação das fracções membranar e citosólica, esta última

realizada para verificar a ocorrência de perdas membranares aquando da

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homogeneização celular e prostática, tendo sido detectada a presença de um

grande número de bandas no Western-blot à semelhança das obtidas na

electroforese do espectro proteico das amostras, mas nenhuma das bandas

correspondente ao peso molecular esperado para os receptores da leptina,

nomeadamente aos 80 kDa da isoforma curta do receptor OBRa e 120 kDa da

isoforma longa do receptor OBRb, resultados estes que não nos permitem

concluir quanto à presença de receptores OBR nas células RM1. Estes resultados

foram inesperados, uma vez que Zeidan et al, num estudo em que procuraram

avaliar o efeito trófico da leptina nas células do músculo liso vascular, tendo

utilizado o mesmo anticorpo obtiveram bandas de pesos moleculares

correspondentes às isoformas longa (120 kDa) e curta (80 kDa) do receptor da

leptina (Zeidan, Purdham et al. 2005). No entanto, também não é possível excluir

que algumas das bandas encontradas, nomeadamente na zona dos pesos

moleculares de 52 kDa – 76 kDa e 76 kDa – 102 kDa, que embora correspondam

a pesos moleculares mais baixos possam corresponder ao receptor OBRa e OBRb,

respectivamente, resultantes da possível clivagem proteolítica do antigénio

ocorrida no decorrer da preparação das amostras, amostra insuficiente, ou a

eventuais erros no decorrer do Western-blot tal como fraca especificidade, má

qualidade ou deterioração do anticorpo primário que passou a ligar-se

inespecificamente sendo responsável pelo aparecimento das múltiplas bandas, ou

mesmo devido ao o método colorimétrico usado para detecção da reacção

antigénio-anticorpo, por ser pouco sensível ao contrário de outros métodos de

detecção tais como a quimioluminescência e a quimiofluorescência, e pouco

adequado para detectar bandas contendo uma pequena quantidade de proteína.

No estudo de RT-PCR realizado para detectar a expressão do gene do receptor

da leptina nas células RM1, apenas foi detectada positividade para a expressão da

isoforma curta do receptor de leptina (OBRa) mas não da isoforma longa (OBRb).

Uma vez que a técnica de RT-PCR apresenta uma sensibilidade elevada,

permitindo estudar a expressão de genes em amostras muito pequenas, este

resultado em simultâneo com os resultados obtidos por Zeidan e tal nos estudos

de Western-blot, põem em causa a especificidade do anticorpo utilizado (OBR 12-

A, Alpha Diagnostics) para a isoforma longa do receptor.

Também não se pode excluir que a isoforma activa nas células da próstata de

ratinho seja a isoforma curta (OBRa) podendo ser responsável pela a activação de

vias de sinalização que promovam a proliferação celular e angiogénese.

Murakami em 1997 verificou que cultivando células CHO-OBR, expressando

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receptores OBRa e OBRb, em presença de leptina ambos os receptores eram

activados promovendo vias de sinalização ocorrendo expressão de genes c-fos, c-

jun e jun-B actuando no núcleo celular (Murakami, Yamashita et al. 1997).

Segundo a Fruhbeck a isoforma curta do receptor da leptina participa na

activação da via Ras/Raf/MAPK podendo levar à fosforilação do JAK2 associado à

activação do receptor podendo levar a uma expressão final de genes alvo como c-

fos e egr-1 que promovem a proliferação e diferenciação celular (Bjorbaek, Uotani

et al. 1997; Fruhbeck 2006). Assim sendo, foi decidido prosseguir com os

estudos in vivo.

Para avaliar o efeito da leptina no crescimento das células RM1 in vivo, estas

foram inoculadas em ratinhos obesos com diferentes ambientes hormonais

endógenos.

A primeira fase do estudo consistiu em determinar a dimensão ideal do

inóculo de células RM1 para induzir o desenvolvimento dos tumores, realizando

uma curva dose-resposta em ratinhos controle normoponderais. Para tal, o

crescimento dos tumores de células RM1 em ratinhos C57BL6/J foram

acompanhados durante 14 dias após a inoculação de 7 concentrações conhecidas

de células na região subcutânea do dorso (Voeks, Martiniello-Wilks et al. 2002),

seguida de uma avaliação histológica dos tumores obtidos, de modo a permitir a

escolha da dose ideal a utilizar nos estudos subsequentes tendo em consideração

a área de necrose, o índice mitótico e o menor coeficiente de variação intra-

grupo. Verificou-se, à semelhança dos resultados obtidos por Voeks, que as

células RM1 quando inoculadas subcutaneamente, têm um crescimento rápido

(Voeks, Martiniello-Wilks et al. 2002), conduzindo no nosso estudo ao

aparecimento de tumores de 5 + 5, 10, da classificação de Gleason, uma vez que

as células apresentam um grau de anormalidade elevada e são muito pouco

diferenciadas (McNeal and Gleason 1991). Após análise histológica dos tumores

induzidos nos diferentes grupos, foi seleccionada a dose de

3,0x105células/500µL de PBS, por corresponder à dose que produzia tumores

com um índice mitótico numa fase de aumento exponencial, com um grau de

necrose estava praticamente ausente e nos quais se observou um menor

coeficiente de variação intra-grupo (pequeno valor de erro padrão) permitindo

deste modo a obtenção de tumores com as condições ideais para a avaliação do

grau de proliferação e angiogénese, uma vez que inóculos menores produziam

tumores de dimensões reduzidas e inóculos maiores produziam tumores de

grandes dimensões, muito friáveis e com uma área de necrose extensa o que

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dificultaria a obtenção de uma área de tumor sólido suficiente para a realização

dos estudo morfométricos.

Para avaliar o crescimento das células RM1 em animais obesos com diferentes

ambientes endógenos quanto aos níveis e sensibilidade à leptina, estas foram

inoculadas em diferentes estirpes de ratinhos obesos, nomeadamente em

ratinhos com deficiência congénita de leptina por mutação inactivante do gene

ob, gene que codifica a leptina, os ratinhos ob/ob (Chua, Chung et al. 1996); em

ratinhos obesos e diabéticos, hiperleptinémicos por resistência congénita à

leptina devida a uma mutação espontânea do gene que codifica o receptor da

leptina, os ratinhos db/db (Zhang, Proenca et al. 1994; Chua, Chung et al. 1996)

e em ratinhos C57BL6/J com obesidade induzida pela dieta (DIO), alimentados

com uma dieta hipercalórica e hiperlipídica (45% gordura) iniciada logo após o

desmame com o objectivo de induzir obesidade e aumento dos níveis de leptina

em animais com receptores da leptina funcionais; ratinhos C57BL6/J

normoponderais foram utilizados como controle.

De acordo com o esperado, o peso corporal dos ratinhos db/db e ob/ob, com

obesidade de causa monogenética, era significativamente e superior quando

comparado com o dos ratinhos do grupo controle, enquanto que o peso dos

ratinhos submetidos a dieta hipercalórica não era apresentava uma diferença

estatisticamente significativa quando comparado com o do grupo controle,

possivelmente devido a período durante o qual foram submetidos a esta dieta (16

semanas) ter sido de curta duração e ao facto de a dieta também não ter sido

suficientemente hipercalórica para induzir um aumento ponderal significativo

num curto espaço de tempo, se tivesse sido utilizada uma dieta hipercalórica com

60% de gordura teria tido maior probabilidade de induzir obesidade mais

rapidamente. No entanto, quando avaliada a composição corporal relativa destes

animais, observou-se que a percentagem de gordura epididimária, um indicador

secundário do conteúdo corporal em massa gorda visceral (Monteiro, Monteiro et

al. 2006), verificou-se que esta era significativamente superior não só nos

ratinhos ob/ob, db/db, como esperado, mas também nos ratinhos DIO quando

comparados com o grupo controle, o que permite afirmar que na realidade os

ratinhos DIO, apesar de terem um peso corporal semelhante ao dos ratinhos

controle, têm uma percentagem superior de massa gorda e são mais obesos que

os ratinhos controle.

Quanto aos níveis plasmáticos de leptina dos ratinhos de cada grupo, como

esperado, verificou-se que os ratinhos do grupo ob/ob apresentavam níveis

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indoseáveis de leptina e que os ratinhos do grupo db/db apresentavam níveis

significativamente mais elevados do que os do grupo controle; enquanto que os

ratinhos do grupo DIO, embora apresentassem níveis de leptina plasmática mais

elevados do que os do grupo controle, estes não foram significativamente

superiores, possivelmente devido aos motivos que já foram mencionados acima

para o peso corporal.

No que diz respeito ao crescimento tumoral, os ratinhos com deficiência de

leptina (ob/ob) desenvolveram tumores de dimensões significativamente

superiores, enquanto que os ratinhos com níveis elevados de leptina (db/db)

desenvolveram tumores de dimensões significativamente menores do que os

observados nos ratinhos do grupo controle, ao contrário do que seria de esperar

se a leptina funcionasse como um estimulante do crescimento e desenvolvimento

tumoral como defendem alguns autores (Chang, Hursting et al. 2001;

Somasundar, Yu et al. 2003; Somasundar, Frankenberry et al. 2004; Mistry, Digby

et al. 2008). Chang e colegas procuraram, com este estudo, relacionar níveis

elevados de leptina plasmática com o volume tumoral em indivíduos submetidos

a prostectomia total e indivíduos apresentando tumores comparando volume

tumoral e verificando, após estratificação por idade, níveis de testosterona, peso

corporal e IMC, que indivíduos com níveis elevados de leptina apresentam risco

aumentado de desenvolver tumor de volume superior assim como homens

apresentando níveis elevados de leptina e testosterona (Chang, Hursting et al.

2001). Verificando assim que níveis elevados de leptina plasmática, em

indivíduos com cancro da próstata, se associam a risco aumentado de

desenvolver carcinoma mais volumoso (Chang, Hursting et al. 2001). Enquanto,

outros autores em estudos in vitro verificaram o aumento da proliferação celular

tanto de células PC3 (Somasundar, Yu et al. 2003; Somasundar, Frankenberry et

al. 2004; Hoda and Popken 2008; Mistry, Digby et al. 2008) como em células DU

145 (Somasundar, Yu et al. 2003; Somasundar, Frankenberry et al. 2004), ambas

linhas celulares de carcinoma da próstata humanas androgenio independentes,

quando cultivadas na presença de leptina. Pelo contrário, os resultados obtidos

no nosso trabalho estão de acordo com os resultados de outros autores,

nomeadamente Stattin et al, que num estudo epidemiológico não encontraram

qualquer relação significativa entre os níveis de leptina plasmática e risco de

desenvolver cancro da próstata e pelos resultados obtidos por Hsing et al em

estudos in vitro em que avaliaram o crescimento das linhas celulares PC3 e DU

145 (androgénio independentes) na presença de leptina não tendo encontrado

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qualquer relação estatisticamente significativa entre os níveis de leptina e a

proliferação celular (Hsing, Chua et al. 2001; Onuma, Bub et al. 2003; Stattin,

Kaaks et al. 2003; Deo, Rao et al. 2008). A dimensão dos tumores obtidos nos

ratinhos DIO, foi semelhante à obtida nos ratinhos ob/ob e significativamente

superior à dos ratinhos do grupo controle, apesar dos níveis plasmáticos de

leptina não serem significativamente mais elevados. Após avaliação do grau de

mitogenese e proliferação tumoral verificou-se que em ambientes endógenos

pobres em leptina, encontrados nos ratinhos ob/ob, a proliferação celular foi

elevada, pelo contrário, ambientes ricos em leptina, como os encontrados em

ratinhos db/db, estiveram associados a uma diminuição da proliferação celular

parecendo mesmo que este factor participa como repressor do desenvolvimento

tumoral observando-se uma correlação negativa e estatísticamente significativa

entre os níveis plasmáticos de leptina e o grau de proliferação celular e

mitogénese nos tumores induzidos. De igual modo, por análise dos nossos

resultados, não foi encontrada qualquer correlação entre os níveis de leptina e o

grau de angiogénese, contrariando os resultados obtidos por Sierra-Honigmann

et al que efectuaram estudos cultivando células endoteliais humanas da veia

umbilical (HUVECs) na presença de leptina, após terem verificado a expressão de

receptores OBRb por imuno-histoquímica e verificado que o receptor estava

funcional determinada pela ocorrência de fosforilação da tirosina do OBRb assim

como detectando o aumento do factor STAT3 por SDS-PAGE e Imuno-bloting, A

acção da leptina na angiogénese foi determinada in vitro, por avaliação da

migração celular através de uma membrana porosa em resposta à leptina, tendo

sido verificado que as células HUVECs formavam túbulos semelhantes a capilares

num gel tridimensional de colagénio na presença de leptina, e in vivo

implantando polímeros com leptina na córnea de ratos normais e com deficiência

em receptores de OBR (ratos fa/fa Zucker), após o que se verificou uma resposta

angiogénica vigorosa nos ratos normais e ausência de resposta ratos fa/fa

apoiando assim uma acção favorável da leptina na angiogénese (Sierra-

Honigmann, Nath et al. 1998). Bouloumie et al efectuaram estudos com esta

mesma linha celular, tendo verificado a expressão do receptor OBR por RT-PCR e

efectuado estudos in vitro e in vivo, após o que obtiveram resultados

semelhantes que apoiam a acção da leptina como factor pró-angiogénico

(Bouloumie, Drexler et al. 1998).

Admitindo a presença de receptores da leptina activos nas células RM1, pelos

resultados obtidos no nosso estudo, a leptina não parece ter qualquer acção

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promotora do desenvolvimento tumoral, podendo mesmo sugerir que a leptina

possa funcionar como inibidor da proliferação das células RM1. No entanto, não

podemos deixar de referir que houve uma discordância nos resultados obtidos na

imuno-citoquímica para o OBRb, cujo resultado foi positivo e na análise molecular

por RT-PCR na qual não foi possível detectar a presença da isoforma longa dos

receptores de leptina nas células RM1, pelo que sendo este um método mais

sensível, não se pode excluir a hipótese da leptina não ter apresentado um efeito

trófico nas células tumorais por estas células não expressarem a forma activa do

receptor. Em alternativa, também não pode ser excluída a possibilidade da leptina

activar ou inactivar vias de sinalização que estimulam a proliferação celular ao

actuar através da isoforma curta do receptor da leptina OBRa. No sentido de

esclarecer o papel dos receptores OBRa e OBRb na activação de vias de

sinalização de proliferação celular pela leptina nas células RM1, será pertinente a

realização de outras experiências futuras, nomeadamente cultivar as células RM1

na presença de leptina para verificar o comportamento celular in vitro e estudar a

activação das vias de sinalização intracelular nas células RM1 doseando os

mediadores intra-celulares destas cadeias de sinalização, tais como a via MAPK,

STAT3 e a via PI3-K à semelhança do que foi realizado para outras linhas celulares

(Deo, Rao et al. 2008; Hoda and Popken 2008).

Os resultados obtidos no nosso trabalho não apoiam a hipótese da leptina

promover a proliferação e angiogenese no tecido tumoral de células murinas de

carcinoma da próstata, à semelhança dos resultados encontrados por Hsing et al

e Stattin el al em estudos clínicos envolvendo doseamento plasmáticas em

amostras de sangue de indivíduos com cancro da próstata e indivíduos saudáveis

(controlo) não tendo encontrado relação estatisticamente significativa entre os

níveis de leptina e o risco de desenvolver cancro da próstata (Hsing, Chua et al.

2001; Stattin, Kaaks et al. 2003), que por sua vez atribuem o risco aumentado de

carcinoma da prostata na obesidade a outros factores circulantes que se

encontram frequentemente aumentados, nomeadamente a insulina e o IGF-1

(Hsing, Chua et al. 2001). Hoda et al em estudos realizados in vitro utilizando

duas linhas celulares humanas, de carcinoma da prostata androgénio

independentes, DU145 e PC-3, cultivadas na presença de leptina verificou um

aumento da proliferação celular e uma redução da apoptose (Hoda and Popken

2008), por outro lado Deo et al, que também cultivou as linhas celulares

androgénio independentes já mencionadas e de uma linha celular humana

androgénio dependente, LNCaP, na leptina apenas verificou que a leptina

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aumentou a proliferação das células androgénio dependentes (Deo, Rao et al.

2008).

Nunez et al com o objectivo de dissociar os efeitos da obesidade e hormonas

derivadas do tecido adiposo da carcinogénese realizaram um trabalho recorrendo

a ratinhos transgénicos lipodistróficos “Fatless A-ZIP/F-1”, com tecido adiposo

branco praticamente inexistente, níveis de leptina muito baixos e insulino-

resistência, tendo verificado que os ratinhos deste modelo desenvolveram mais

tumores mamários do que a estirpe selvagem sugerindo que o factor

determinante da associação entre a obesidade e o cancro, não são os níveis de

leptina nem a massa gorda, mas sim outros factores circulantes que estão

frequentemente alterados na obesidade e que são resultantes da resistência à

insulina ou do estado pró-inflamatório, tais como níveis elevados de insulina, IGF-

1 e IL-6 (Nunez, Oh et al. 2006). Ablamunits et al com o objectivo de estudar os

efeitos da leptina e do tecido adiposo no desenvolvimento tumoral recorreu a

ratinhos ob/ob e ratinhos A-ZIP/F-1 induziu nestes dois modelos papilomas

cutâneos tendo verificado que ratinhos com deficiência em leptina (ob/ob) não

apresentavam carcinogénese aumentada quando comparados com os controle

enquanto que os ratinhos com lipodistrofia e consequente deficiência em leptina

apresentavam carcinogénese aumentada o que os levou a sugerir que o tecido

adiposo possa funcionar como factor protector da carcinogénese (Ablamunits,

Cohen et al. 2006).

No nosso estudo e de acordo com o esperado, os níveis de insulina plasmática

dos ratinhos ob/ob, hiperfágicos, obesos e insulino-resistentes foram

significativamente mais elevados que os ratinhos do grupo controle, enquanto

que os níveis de insulina dos ratinhos db/db, também hiperfágicos, obesos e

insulino-resistentes, mas com falência relativa da célula beta pancreática e

diabéticos, não foram significativamente diferentes dos ratinhos controle.

Cox demonstrou a presença de receptores de insulina em tumores de

carcinoma da próstata primários humanos tendo sugerido que a hiperinsulinémia

associada à obesidade poderá ser um efeito adverso no desenvolvimento deste

carcinoma (Cox, Gleave et al. 2009). A insulina após ligação ao receptor da

insulina (IR) activa as vias RAS/RAF/MEK/ERK levando à estimulação da

mitogenese e a Akt por fosforilação do PI-3 inibindo a apoptose e promovendo a

carcinogenese (Frasca, Pandini et al. 2008). A insulina também actua ao nível do

sistema nervoso autónomo, pelo que em situações que cursam com

hiperinsulinemia observa-se um aumento da actividade do sistema nervoso

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simpático levando à estimulação da produção de catecolaminas que podem ter

um efeito trófico nas células tumorais e levar a uma diminuição do processo

apoptótico (Nandeesha 2008).

Leitzmann et al realizaram um estudo epidemiológico prospectivo seguindo

uma cohort de 33088 homens com idades compreendidas entre os 55 e 74 anos

durante 8,9 anos tendo verificado uma relação inversa entre diabetes e o risco

de desenvolver cancro da próstata, risco total (forma não agressiva e agressiva) e

risco de forma não agressiva, o que sugere que a diabetes possa actuar como

protector nos estados iniciais de cancro da próstata (Leitzmann, Ahn et al. 2008).

Uma vez que não está descrita a presença de receptores de insulina na linha

celular RM1 seria pertinente em experiências futuras explorar esta via de

sinalização, nomeadamente caracterizar a expressão dos receptores na linha

celular e avaliando o papel da insulina na proliferação celular in vitro e in vivo.

A obesidade é um estado patológico que cursa com alteração dos níveis de

diversos factores circulantes com potencial influência na proliferação celular e

dado os resultados obtidos neste trabalho de investigação, não podemos excluir

a hipótese de outros factores tais como a adiponectina, o IGF-1, a IL-6 e o TNF-α

cuja avaliação não fez parte do âmbito deste estudo, possam estar envolvidos na

tumorigenese, e como tal mereceriam ser investigados com maior detalhe em

estudos posteriores.

A adiponectina é uma adipocina produzida pelo adipócito que está

inversamente relacionada com a obesidade (Kershaw and Flier 2004) e com a

insulino-resistência (Kershaw and Flier 2004; Lihn, Pedersen et al. 2005), cujo

papel desempenhado na oncogenese da próstata ainda não é muito claro. Vários

autores encontraram uma associação entre a baixa concentração de adiponectina

plasmática e o cancro da próstata (Goktas, Yilmaz et al. 2005; Mistry, Digby et al.

2006; Michalakis, Williams et al. 2007). Goktas et al realizaram um estudo clínico

em que dosearam a adiponectina plasmática em indivíduos com cancro da

próstata maligno, hiperplasia benign,a e indivíduos saudáveis, tendo observando

que indivíduos com cancro da próstata apresentam os níveis de adiponectina

mais baixos (Goktas, Yilmaz et al. 2005). Michalakis et al também dosearam os

níveis de adiponectina em indivíduos com cancro da próstata maligno e

hiperplasia benigna tendo obtido resultados semelhantes ao estudo anterior

assim como avaliaram a expressão de receptores de adiponectina em amostras

de tecido normal, hiperplasia benigna e tecido tumoral maligno, tendo verificado

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menor expressão de receptores nos tecidos tumorais malignos (Michalakis,

Williams et al. 2007).

O factor de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), é um mediador

endócrino produzido no fígado que apresenta uma homologia de 50% com a

insulina (Khandwala, McCutcheon et al. 2000; Frasca, Pandini et al. 2008) e cujos

níveis se encontram frequentemente elevados na obesidade. Vários autores têm

estudado os seus efeitos como promotor do desenvolvimento do cancro

modulando a proliferação e diferenciação celular e apoptose (Onuma, Bub et al.

2003; Frasca, Pandini et al. 2008; Wigle, Turner et al. 2008).

A obesidade está associada a um estado inflamatório crónico de baixa

intensidade, que se caracteriza pelo aumento dos níveis circulantes de IL-6 (Fried,

Bunkin et al. 1998; Mistry, Digby et al. 2007; Stienstra, Duval et al. 2007),

citocina pro-inflamatória produzida pelos macrofagos residentes no tecido

adiposo. Níveis elevados de IL-6 parecem estar relacionados com cancro da

próstata promovendo a carcinogenese (Onuma, Bub et al. 2003; Mistry, Digby et

al. 2007).

Os resultados controversos obtidos neste trabalho podem, também, dever-se

ao facto de os modelos animais obesos escolhidos, divergirem não só no que diz

respeito aos níveis e sensibilidade à leptina, mas também de outros factores

circulantes com potencial para interferir no crescimento tumoral, tais como a

insulina. Em estudos futuros, seria pertinente a realização deste estudo utilizando

ratinhos normoponderais mas hiperleptinemicos, de modo a permitir avaliar a

acção da leptina na proliferação tumoral independentemente dos outros factores

que se encontram alterados na obesidade. Tal poderia ser realizado utilizando

ratinhos C57BL6/J com uma bomba infusora de leptina Alzet implantada na

cavidade peritoneal de modo a reproduzir os níveis de leptina observados nos

ratinhos db/db.

Em resumo, este trabalho realizado com o objectivo de avaliar a influência da

obesidade e da leptina no crescimento e angiogénese tumoral de células de

carcinoma da prostata, permitiu verificar que células RM1 de carcinoma da

próstata murinas androgeneo-independente quando injectadas em ratinhos

obesos e hiperleptinemicos, induziram o desenvolvimento de tumores de

menores dimensões e com um menor índice de proliferação celular e

angiogénese do que os observados nos ratinhos controle normoponderais,

enquanto que nos ratinhos obesos e com deficiência de leptina, desenvolveram

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tumores de maiores dimensões e com maior índice de proliferação celular,

sugerindo que concentrações elevadas de leptina não são favoráveis ao

crescimento desta linha celular de carcinoma da próstata androgéneo-

independente, podendo mesmo ter um papel supressor do crescimento celular.

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REFERÊNCIAS

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REFERÊNCIAS

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