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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO - Bernardo Lisboa Carvalho
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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO
REPORTAGEM 1
Redução de Danos representa mudança no tratamento do
usuário de drogas
Profissionais da área de saúde constatam que um grande número de
pessoas não obtém sucesso com a abstinência, e trabalham para diminuir
os riscos associados ao consumo de entorpecentes
Bernardo Lisboa Carvalho
Aldo Luis Farias foi autuado por porte de maconha em 2004, antes
de entrar em vigor, em 2006, a lei 11.343, a partir da qual o usuário não vai
mais para a prisão. Ao julgar o caso, o juiz substituiu o encarceramento por
um tratamento de um ano e meio no centro Eulâmpio Cordeiro. Depois de
receber alta, o antigo paciente retornou ao local, dessa vez como
profissional convidado, trabalhando com terapia musical com pessoas em
situação semelhante a que vivera. Nesse período, entrou em contato com a
redução de danos para o usuário, uma abordagem que busca diminuir os
riscos envolvidos no consumo de entorpecentes. Nos quatro anos seguintes,
Aldo Farias passou num concurso para trabalhar como agente redutor de
danos para a prefeitura da Cidade do Recife, e resolveu largar de vez todas
as drogas, inclusive o álcool.
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Aldo Farias é um exemplo dos benefícios da redução de danos para
o usuário. A abordagem se diferencia das formas tradicionais de tratamento
por não exigir que os consumidores de drogas abandonem as substâncias,
embora possa ser um caminho para que isso aconteça no futuro. �A idéia é
reduzir, com medidas de proteção, os riscos envolvidos no uso�, explica o
agente da prefeitura. Tais perigos podem ser sociais, como demissões no
trabalho, estigmas dentro da comunidade ou problemas com a Justiça.
Também podem ser de saúde, a partir dos efeitos nocivos causados por
cada substância no organismo, que podem ser reduzidos ou agravados pela
maneira com que são utilizadas.
Para os riscos sociais, as medidas de proteção incluem evitar o
consumo em lugares públicos e dicas de conduta no caso de abordagens
policiais, com o conhecimento da legislação pela qual o usuário não é mais
preso. �Em relação aos males à saúde, os cuidados incluem beber muita
água e estar bem alimentado na hora do consumo, não compartilhando
objetos utilizados na prática, como copos, cigarros, cachimbos ou
seringas�, afirma Aldo Farias, frisando a importância de evitar os abusos,
que aumentam as chances de danos mais graves.
Os profissionais de redução de danos compreendem bem o universo
dos usuários. Reconhecem que, em muitos casos, os consumidores de
drogas não querem, ou não conseguem, entrar em abstinência num
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determinado momento. Procuram desenvolver suas estratégias de atuação
em conjunto com seu público-alvo. �Nós entendemos que o problema não é
a droga em si, mas o vínculo que o sujeito vai desenvolver com ela�, afirma
Rossana Rameh, técnica de saúde mental e redução de danos da Secretaria
de Saúde da Prefeitura do Recife. �Nosso trabalho é identificar as
possibilidades de cada paciente para melhorar essa relação�, completa
Apenas 30 por cento dos pacientes permanecem nos tratamentos
pautados pela abstinência, de acordo com Flávio Campos, especialista em
álcool e outras drogas da Gerência de Atenção à Saúde Mental da
Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco. �Os outros 70 por cento
eram excluídos do sistema de saúde, o que contrariava seu princípio de
universalidade. Com a redução de danos, a gente consegue atingir esse
enorme contingente de pessoas que não obtém sucesso com as abordagens
tradicionais", afirma o especialista.
Faz parte do trabalho de redução de danos, que se tornou uma
política pública do Ministério da Saúde a partir de 2005, ir a locais onde há
uso de drogas, abordando as pessoas para conscientizá-las sobre as medidas
de proteção. Algumas ações envolvem distribuição de objetos utilizados no
consumo que reduzem riscos, como cachimbos de madeira para evitar que
usuários de crack consumam a droga na lata de alumínio, cujos vapores
podem levar à demência precoce.
4
Ao fazerem esse trabalho de campo, os redutores de danos
promovem a aproximação dos usuários com a rede pública de saúde. �O
maior benefício da nova abordagem é tornar acessíveis pessoas que não
eram alcançadas pelas técnicas anteriores, fazendo com que os cuidados
não fiquem limitados àqueles que procuram ajuda nos consultórios�, afirma
Evaldo Melo, presidente da Associação Brasileira Multidisciplinar de
Estudos sobre Drogas (Abramd).
CONTROVÉRSIAS Embora a redução de danos seja uma política
pública do Ministério da Saúde do Brasil e de diversos outros países,
algumas de suas práticas são questionadas por setores da Justiça e da área
de saúde, que as encaram como crime de incentivo ao uso de drogas.
Existem portarias que incentivam e legitimam a nova abordagem, mas não
deixam claro quais ações específicas se encaixam dentro dela e quais atos
configuram crime de apologia. �Na prática, a distinção entre o que é uma
atividade de redução de danos e o que é estímulo ao uso de drogas fica nas
mãos dos profissionais que aplicam a lei�, afirma Rossana Rameh.
Existem profissionais de redução de danos que enxergam a maconha
como uma ferramenta poderosa no tratamento de dependentes de crack. Na
ausência do entorpecente, eles experimentam muita angústia e nervosismo,
fenômeno conhecido como fissura, ou síndrome de abstinência. "A
cannabis atenua esse estado de ansiedade, no qual se encontram a maior
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parte dos usuários que cometem crimes", afirma Flávio Campos.
Esse tipo de terapia de substituição, onde se troca uma droga mais
nociva por outra de menor dano, é uma política extra-oficial, já que a
maconha é ilegal, e muito criticada por outros profissionais que trabalham
com dependência química. �Para mim, não existe programa de redução de
danos para o crack. Eu não gostaria que um filho meu fosse tratado para
deixar o crack usando cannabis�, afirma Irinea Catarino, chefe do
Departamento de Psicologia da Universidade Católica de Pernambuco e
conselheira da política estadual sobre drogas no estado.
Alguns profissionais da saúde acreditam que a redução de danos não
pode ser aplicada a todos os usuários. Para Enildes Melo, ex-diretora do
Centro de Prevenção e Tratamento e Reabilitação do Alcoolismo (Cptras,
antigamente vinculado ao Governo do Estado, agora pertencente à
Prefeitura do Recife) no caso de dependentes, mulheres grávidas e
adolescentes, é preciso trabalhar com um programa de tolerância zero,
fazendo com que eles entrem em abstinência.
O trabalho dos redutores de danos com menores é especialmente
polêmico. O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê como crime a
indução ou o estímulo de tais jovens para o uso de qualquer tipo de droga.
Flávio Campos recebeu um aviso do psicólogo do Ministério Público de
Pernambuco, Gilberto Lúcio: se os redutores de danos trabalhassem com
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essa parcela da população no estado, seriam processados. Procurado pela
reportagem, Gilberto Lúcio se recusou a dar entrevista.
Para Jandira Saraiva, antiga responsável pela parte de álcool e drogas
da Gerência de Atenção à Saude Mental (Gasam), não se pode estimular o
uso de drogas para a juventude, porque nessa fase o cérebro ainda não está
formado. "Esse tipo de ação está fora da lei. É um absurdo que se queira
dar uma droga em substituição a outra para quem ainda não atingiu a
maioridade, é preciso encontrar outros caminhos", afirma.
Já Evaldo Melo acredita que é preciso encarar uma realidade
concreta: os adolescentes estão usando drogas. "Ao atuar para diminuir os
riscos desse uso, os redutores de danos estão cuidando da saúde desses
jovens", afirma o presidente da Abramd.
Muitos profissionais da saúde tendem a encarar a nova abordagem
como uma estratégia para se chegar à abstinência. �Se redução de danos é
utilizada como o objetivo final, as possibilidades de recuperação ficam
limitadas. Não se pode reduzir as abordagens de tratamento a ela�, afirma
Magda Figueiroa, especialista em saúde mental pela Universidade Federal
de Pernambuco, que trabalha com dependência química há dezesseis anos.
Já os profissionais mais ligados a direitos humanos e movimentos
sociais enxergam o usuário como um sujeito com autonomia sobre seu
corpo, que pode exercer seu livre arbítrio para decidir sobre seu consumo, e
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que tem direito à ajuda, independentemente da sua escolha.
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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO
REPORTAGEM 2
Legalização da maconha divide especialistas
Embora a proibição da droga fortaleça a violência ligada ao tráfico,
sua liberação poderia multiplicar os problemas decorrentes de um
consumo abusivo
Bernardo Lisboa Carvalho
A maconha é a droga ilícita mais utilizada no mundo. No Brasil, são
cerca de oito milhões de usuários, de acordo com um estudo realizado em
2005 pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). A proibição da
substância obriga a maior parte dessas pessoas a dar dinheiro aos
criminosos que tomam conta desse mercado, responsáveis por grande parte
da violência urbana. Muitos esforços têm sido feitos no combate ao
entorpecente, sem conseguir uma diminuição do seu consumo.
Esse quadro tem levado a um questionamento do modelo repressivo
por parte de pessoas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o
prêmio Nobel de economia Milton Friedman, que era a favor da liberação
de todas as drogas. Profissionais que trabalham com dependência química,
no entanto, temem as conseqüências disso num país cheio de
vulnerabilidades como o Brasil. �O fácil acesso à substância é um fator de
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risco que contribui para o consumo, e isso traria mais danos justamente
para as pessoas com menos estrutura para lidar com isso�, afirma Irinéa
Catarino, chefe do Departamento de Psicologia da Unicap e conselheira da
política estadual sobre drogas em Pernambuco.
As substâncias ilegais, em tese, são proibidas por serem capazes de
causar sérios danos à saúde do indivíduo, alterando seu comportamento e
pondo em risco não apenas ele, mas também as pessoas ao redor. No caso
da maconha, há uma grande controvérsia em relação ao seu potencial
ofensivo, especialmente quando comparado ao álcool, uma droga lícita.
O vereador Luciano Siqueira, que também é médico, afirmou em
entrevista no seu gabinete: �Estudos comprovam que a ação da maconha
sobre o organismo humano é menos danosa do que a do álcool e do cigarro.
A simples proibição e o combate como se dá hoje são ineficazes e têm o
efeito paradoxal de aumentar o consumo, gerando uma reação de querer o
que é proibido, como aconteceu com o álcool durante a Lei Seca nos EUA.
Não vejo razão para se manter a política que está em vigor.�
Alguns estudiosos vêem na história da proibição da maconha uma
discriminação, por parte das culturas dominantes, em relação aos povos que
tradicionalmente faziam uso da substância. �É o que nós vamos observar
nas primeiras restrições à cannabis no século 19, associada a egípcios e
negros, proibida por Napoleão e pelo governo brasileiro no Rio de Janeiro�,
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afirmou, em entrevista pelo Skype, o historiador Henrique Carneiro, doutor
em História Social pela USP e pesquisador fundador do Núcleo de Estudos
Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip), entrevistado por Regina Casé
no programa �Pé de Quê?� sobre maconha, para o canal Futura.
Pesquisas recentes, no entanto, têm revelado os danos cerebrais que a
maconha pode causar. Além da perda da memória recente, a droga afeta as
áreas da função executiva do cérebro, responsável por tomada de decisões,
planejamentos de vida, busca de metas. �A maconha causa sérios prejuízos
cognitivos, deixa a pessoa com menos vontade e determinação, embora não
haja consenso em relação ao tempo de uso necessário para que esse dano
ocorra�, afirma Cláudia Pires, psiquiatra formada pela UPE, e mestranda
em neuropsiquiatria pela UFPE.
Em pessoas com pré-disposição genética a surtos psicóticos, a
maconha pode ter um efeito devastador, especialmente se usada durante a
adolescência. �A cannabis pode despertar a ação desse gene que estava
adormecido, desencadeando uma psicose para a vida toda, causando um
prejuízo enorme em uma população que poderia ficar mais tempo sem esse
surto�, afirma Cláudia Pires.
A maior parte das pessoas, cerca de 80 por cento, não vai apresentar
problemas com o uso de maconha, de acordo com Evaldo Melo, presidente
da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas
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(Abramd). O problema é que não há como prever se uma pessoa será uma
usuária funcional ou problemática. Existem alguns fatores de
vulnerabilidade, como problemas na família e baixa escolaridade, assim
como uma família organizada e uma estrutura educacional são fatores de
proteção. �Mas nada que garanta que uma pessoa vai usar de maneira
funcional. Em princípio, qualquer pessoa pode ter danos por uso de
drogas�, afirma o presidente da Abramd.
É nesse ponto que a legalização gera receios nas pessoas que
trabalham com dependentes. Em entrevista no Fórum Joana Bezerra, o Juíz
Evanildo Coelho, da Segunda Vara Criminal dos Feitos Relativos a
Entorpecentes do Recife, se colocou contra a liberação: �Me preocupo com
as crianças e os adolescentes, que ainda não têm maturidade para exercer
seu livre arbítrio�.
Uma legislação poderia ser criada para inibir esse consumo entre os
menores. Mas a experiência que existe com o álcool no Brasil revela a
dificuldade de se fazer cumprir esse tipo de regulamentação no país. �Se
não há um controle sobre o álcool, como eu posso imaginar que as
restrições à maconha seriam cumpridas, caso ela fosse legalizada?�,
questiona Enildes Melo, ex-diretora do Cptras.
De acordo com Enildes Melo, o álcool é a droga que mais provoca
atos violentos, ligado a violência doméstica, brigas, homicídios, acidentes
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de trânsito. �Se a maconha for legalizada, vai causar tantos problemas
quanto o álcool, porque hoje em dia as pessoas ainda têm uma certa
dificuldade em fazer um uso mais pesado de cannabis, pelo fato de ser uma
droga ilícita�, afirma.
Por outro lado, o combate às drogas também causa muitos danos à
sociedade. �É quase uma guerra convencional. Envolve exércitos, armas,
perda de vidas, invasões de países, quebras de soberania, um dinheiro
fantástico inclusive na repressão, e os resultados são muito pífios. A gente
sabe que as drogas sempre vão fazer parte da humanidade, é impossível
exterminá-las�, afirma o juíz Flávio Fontes, titular da Vara de Execução de
Penas Alternativas de Pernambuco, cuja tese de mestrado analisa a questão
da guerra às drogas.
Evaldo Melo sintetiza o dilema: �A legalização, ao facilitar o acesso
à droga, vai aumentar problemas decorrentes do uso, como ocorre com o
álcool. E a proibição aumenta problemas decorrentes do tráfico.� E não há
garantias de que a legalização resolverá a violência ligada ao mercado
ilegal de entorpecentes. �Se as pessoas estão buscando o tráfico de drogas
como alternativa de sobrevivência, não é liberando a droga que eu vou
oferecer uma política de emprego�, afirma Irinéa Catarino.
Por isso, para Magda Figueiroa, mais importante do que proibir ou
liberar a droga é oferecer a todos políticas públicas de qualidade. Com
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planejamentos de vida, projetos consistentes, escolas de qualidade,
atividades físicas e artísticas estimulantes. �Quando a gente preenche a
nossa vida com atividades prazerosas, produtivas e que fazem constituir
nossa vida para o futuro, a possibilidade de a gente precisar de uma
substância para viver uma realidade ou para fugir dela é bem menor.�
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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO
REPORTAGEM 3
Usuários tentam permanecer anônimos
Longe das páginas policiais, fumantes de cannabis levam uma vida
produtiva normal, ocultando seu consumo para driblar os estigmas
associados a ele
Bernardo Lisboa Carvalho
Quando se fala em usuário de drogas, grande parte das pessoas
coloca, na mesma categoria, consumidores de maconha, cocaína e crack,
substâncias ilícitas. �Drogado� é um adjetivo de conotações pejorativas,
associado a comportamentos violentos, banditismo, vício, incapacidade de
trabalhar. Existem, no entanto, muitos apreciadores de cannabis que não se
encaixam nesse estereótipo: trabalham, se relacionam bem com as pessoas
ao redor e respeitam as leis, exceto pelo fato de fumarem maconha. De
acordo com um estudo realizado em 2005 pela Secretaria Nacional
Antidrogas (Senad), existem cerca de oito milhões de usuários no Brasil. É
provável que você conheça algum deles, cujo hábito ninguém desconfia.
O médico Ronaldo (pseudônimo escolhido pela fonte por não querer
se assumir publicamente como usuário), 27 anos, é um desses usuários
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acima de qualquer suspeita. Seu trabalho exige que ele esteja sempre bem
apresentável, disposto a ouvir as pessoas falarem de seus problemas. Ao
chegar em casa, ainda precisa de concentração para estudar os casos dos
pacientes. �Isso faz com que eu esteja sempre monitorando o meu consumo
de maconha, para que não atrapalhe meu rendimento, minha atividade
intelectual e minha estabilidade emocional. Se fumo em excesso fico
irritadiço e sem pique para estudar. Procuro restringir a droga ao meu
tempo livre�
Ronaldo fumou maconha pela primeira vez com 16 anos, na época
do colégio. Nessa fase, usava a droga muito esporadicamente. Embora
nunca tenha tido reprovações ou notas baixas, acha que o consumo
interferiu um pouco no seu rendimento escolar. �Mas vários amigos meus
tiveram seus desempenhos de estudante bastante prejudicados por conta da
cannabis, alguns chegaram a abandonar a escola.�
Ronaldo acredita que, se por um lado existe uma visão
preconceituosa e apocalíptica sobre o consumo de maconha, o outro
extremo, de que é isento de problemas, é uma visão romântica. �A
incidência de várias doenças mentais é muito maior nas pessoas que
consomem maconha do que nas que não o fazem. Não se sabe qual é a
causalidade, se elas têm problemas e passam a consumir ou se passam a
consumir e ter problemas. Mas a gente sabe que há uma relação.�
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A maconha pode ser bastante problemática para o adolescente, que
ainda não tem maturidade para fazer um uso controlado. Essa é a razão pela
qual a artesã Dalva (pseudônimo usado pela fonte por não querer se
assumir publicamente como usuária), de 57 anos, que utiliza a droga desde
os 23, é contra sua legalização, pela possibilidade de um aumento no
consumo entre aqueles que não têm estrutura para isso. �Vários filhos de
amigas minhas perderam anos de escola por conta da cannabis. O jovem
tem algo para estudar e fuma um baseado, não vai ler nada, vai ficar no
delírio, na fantasia.�
Dalva, assim como Ronaldo, gosta de consumir a droga depois do
expediente, quando as metas do dia já foram alcançadas. �Se eu fumar
durante o dia eu não produzo, a maconha me ajuda muito a ter idéias, mas
dificulta executá-las�, afirma a artesã. Ronaldo procura restringir seu
consumo a uma ou duas vezes por semana, normalmente quando não
precisa trabalhar no dia seguinte. �Às vezes acontece de eu fumar durante a
semana, mas normalmente faço isso em casa, cedo da noite, não exagero no
consumo e durmo cedo, para ter uma boa noite de sono e estar bem
disposto para trabalhar no outro dia�.
Algumas pessoas, no entanto, se sentem bem para realizar certos
tipos de trabalho sob o efeito da maconha, especialmente aqueles que
envolvem criatividade. A assistente social Valentina (pseudônimo
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empregado pela fonte para evitar exposição), 27 anos, começou a fumar
maconha com 12, por achar que seus ídolos Caetano Veloso e Gilberto Gil
eram mais legais por terem feito uso da droga. �Eu tinha impulsos criativos
muito fortes, passava as tardes chapada, pintando, desenhando,
esculpindo�, afirma.
Embora não tenha sido uma boa aluna na época da escola, por achar
que todos aqueles conteúdos não lhe acrescentavam nada, Valentina foi
uma ótima aluna na faculdade, quando passou a estudar coisas que lhe
interessavam. �Fumar maconha me ajudava a estudar, eu interpretava os
conteúdos de uma maneira diferente, indo mais além, e percebia que essas
minhas idéias continuavam fazendo sentido depois de passado o efeito, o
que minhas ótimas notas na faculdade comprovaram. Escrevia melhor sob
o efeito também, as palavras fluíam com mais facilidade na hora de passar
pro papel.�, afirma.
O arquiteto Carlos (pseudônimo usado para não se assumir
publicamente), 35 anos, também se beneficia criativamente da maconha.
�Quando estou com muito trabalho, às vezes gosto de fumar para projetar,
ajuda a expandir o meu lado de artista�. Seu uso preferencial, no entanto, é
depois de terminado o dia de trabalho, para descansar a cabeça vendo um
filme. �A maconha tem um efeito relaxante. Eu sou muito inquieto, ela me
tira a ansiedade, acalma os pensamentos, me ajuda a manter uma conversa
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interna na mente onde eu consigo expandir as conexões entre diferentes
idéias.�
Para Ronaldo, além de diminuir as ansiedades, a maconha facilita
entrar num estado mais meditativo, de escutar a si próprio, ajuda a ouvir
mais e falar menos. �Isso acontece não somente sob o efeito, mas no meu
dia-a-dia. É algo muito pessoal, não dá para transpor isso para outras
pessoas, embora eu conheça outros médicos que utilizam a droga, e isso
não compromete o trabalho deles.�
HÁBITO OCULTO Todos os entrevistados, que utilizam maconha e
levam uma vida normal, sendo a erva a única substância ilícita que
consomem, procuram ocultar o seu hábito por conta do estigma social que
o acompanha. Consomem a droga em casa, somente na presença de pessoas
muito próximas. �Eu só me assumo como usuário de cannabis para os
amigos que também fumam�, afirma Carlos.
�A maioria das pessoas acredita que as drogas são a ruína da
sociedade, que os traficantes são os lobos maus, ou mesmo o próprio
usuário: hoje em dia existe essa lógica do fenômeno Tropa de Elite, de
enxergar o consumidor de drogas como o principal culpado dessa questão
do tráfico, como financiador da violência do país�, afirma o professor de
Filosofia Douglas (pseudônimo selecionado pela fonte para preservar sua
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identidade), 31 anos, que atua em escolas do Ensino Médio da rede pública
do estado de Pernambuco.
Essa recusa dos usuários de maconha respeitáveis em �sair do
armário� contribui para que o estereótipo negativo associado a esse
consumo se perpetue. Os casos de maior visibilidade de fumantes de
cannabis são aqueles que ganham as páginas policiais dos jornais por conta
do banditismo, em circunstâncias nas quais usuários, muitas vezes, também
utilizam outras drogas, como o crack. �A maioria das pessoas que convive
comigo não imagina que eu fumo, isso vai contra aquela imagem formada
que elas têm�, afirma Valentina.
Para Douglas, todas as drogas, inclusive o álcool, podem ter um
efeito devastador na vida das pessoas. �No caso da maconha, a gente não
sabe se o dano que ela causa se deve mais ao efeito dela em si ou ao
estigma social que a envolve. Existe uma opinião massificada que o usuário
ou é alguém doente ou alguém com um desvio de caráter, que não
contribuiria para a melhoria da sociedade, pelo contrário, seria responsável
por uma certa marginalidade.�
Ronaldo acredita que os casos trágicos envolvendo usuários de
maconha servem de alerta para o fato de que o consumo de drogas é uma
conduta que envolve riscos para saúde, seja física ou mental, e para as
relações sociais. �É algo que você tem que manter vigilância. A maior parte
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dos usuários não vai passar por problemas dessa natureza ao longo da vida,
mas quando isso acontece, os efeitos são destruidores, tende a arrastar toda
a família�.
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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO
REPORTAGEM 4
Marcha da maconha ainda provoca polêmica
Entre blogs, estigmas e acusações de apologia, os defensores da
droga organizam eventos que reúnem milhares de pessoas ao redor do
mundo
Bernardo Lisboa Carvalho
A Marcha da Maconha de 2010, realizada no Recife no dia 2 de
maio, reuniu no centro histórico cerca de duas mil pessoas, segundo os
responsáveis pelo evento. Contou com participações ilustres, como a
representante do Ministério da Cultura no Nordeste, Tarciana Portela,
defendendo a manifestação como um espaço da liberdade de expressão, e o
presidente da TV Pernambuco, Roger de Renoir, a favor da consolidação
do evento no calendário da cidade. Mensagens em cartazes e camisas dos
participantes deixavam claro seu desejo de poderem utilizar a erva sem
penalizações, e sem que isso signifique dar dinheiro a criminosos.
Os organizadores da Marcha da Maconha sabem que questões
ligadas à droga são vistas de forma negativa pela maior parte da sociedade.
�Uma pesquisa no Estadão mostrou que, em relação ao aborto, 51 por cento
das pessoas são contra. Para a legalização da cannabis, esse número sobe
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para 72%. Temos um longo caminho a percorrer�, afirma Gilberto Borges,
organizador do evento na capital pernambucana, formado em História pela
UFPE e gestor de políticas públicas de lazer da Prefeitura do Recife.
Ciente da necessidade de deixar claro para as pessoas a diferença
entre luta pela legalização e apologia ao uso, Gilberto Borges define a
posição da marcha: �Não incentivamos as pessoas a usarem maconha, e
sim uma mudança na lei para que aqueles que usam não sejam
considerados criminosos. A passeata é um instrumento para ampliar o
debate na sociedade.�
A legalidade da Marcha da Maconha é um assunto controverso.
Neste ano ela aconteceu no Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre, mas foi
impedida em São Paulo e Fortaleza por ações do Ministério Público. Em
São Paulo, mesmo proibida, chegou a reunir 400 pessoas, de acordo com o
antropólogo Sérgio Vidal, formado pela UFBA, membro do Coletivo
Marcha da Maconha, atualmente residindo na capital paulista. �Foi um
clima de muita tensão, os policiais recolheram cartazes, proibiram a gente
de pronunciar a palavra maconha, só autorizaram a gente a fazer uma
marcha pela liberdade de expressão�, afirmou, em entrevista por telefone.
Uma atmosfera bem diferente da que marcou o evento em Recife, onde os
participantes gritavam bordões como: �Ei, Polícia! Maconha é uma
delícia!�
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Em entrevista no seu gabinete no Fórum Joana Bezerra, o juiz
Evanildo Coelho, da Segunda Vara Criminal dos Feitos Relativos a
Entorpecentes do Recife, afirmou: �A manifestação divulga o consumo da
droga, que é ilegal, configurando, portanto, apologia ao crime.�
Já para o juiz aposentado Alípio Carvalho Filho, que negou um
pedido do Ministério Público para proibir o evento em Recife no ano
passado, a passeata é um exercício da liberdade de expressão. �Para
impedir a Marcha da Maconha também teríamos que banir passeatas que
lutam pela descriminalização do aborto. A apologia ao crime, a meu ver, só
se configura quando há uma situação concreta que promova a realização do
ato ilícito.�
A despeito da discussão jurídica, a Marcha da Maconha já acontece
em 314 cidades ao redor do mundo. No Recife o evento tem conseguido,
nos últimos três anos, levar mais de mil participantes para as ruas. �São
poucos os setores da sociedade que conseguem juntar essa quantidade de
gente sem uma certa estrutura, como ônibus para levar as pessoas aos
locais�, afirma Gilberto Borges, para quem essa mobilização indica a
existência de uma parcela significativa da população que quer uma
mudança na política sobre a droga.
As ações do Coletivo Marcha da Maconha são custeadas pelos seus
membros. Os atos incluem panfletagens e atividades como o CineMassa,
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onde são exibidos filmes seguidos de debates que abordam a proibição da
maconha de uma maneira crítica, revelando a perseguição a grupos étnicos
e interesses econômicos por trás da guerra à droga. Trata-se de uma
organização apartidária, embora participem dela militantes de partidos
políticos. �Procuramos dialogar com todas as tendências, na busca pela
ampliação do debate. É importante que os políticos participem�, afirma
Gilberto Borges.
O vereador Luciano Siqueira, do PCdoB, expôs sua posição a
respeito da marcha, em entrevista no seu gabinete na Av. Agamenon
Magalhães: �A proibição legal da manifestação, em nome da defesa da
família, da moralidade, é uma tremenda hipocrisia e uma atitude autoritária
e antidemocrática. É como se a sociedade, ao invés de discutir o tema,
procurasse escondê-lo. A maconha merece um debate sério, desarmado.�
Poucos dias antes de sua realização neste ano, a Marcha da Maconha
foi discutida numa audiência pública na Câmara dos Vereadores,
convocada por Osmar Ricardo, do PT. O vereador Luiz Eustáquio, também
do PT, se colocou contra a realização da manifestação: �Ela ajuda a mais
pessoas usarem a cannabis, que é uma grande porta de entrada para o crack.
A gente precisa trabalhar para deixar as pessoas livres da droga�, disse
durante a audiência pública.
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Já o médico Gilliate Coelho, do Programa Saúde da Família da
Prefeitura do Recife, afirmou na audiência que a maconha é uma aliada
poderosa para muitos dependentes de crack que tentam parar o consumo,
por ajudar a aliviar a angústia e ansiedade fortíssimas que eles sentem na
ausência do entorpecente.
A capacidade da maconha de causar dependência é muito inferior à
do crack, menor até mesmo que a do álcool. De acordo com Aldo Luis
Farias, agente de redução de danos da Prefeitura do Recife, de cada 100
pessoas que utilizam maconha, oito se tornam dependentes. �No caso do
álcool, esse número sobre para dez. Com o crack, 90 por cento dos usuários
se viciam�, afirma
Para Gilberto Borges, os maiores danos causados pela maconha são
conseqüências da proibição: �Existe um grande número de pessoas com
problemas com a Justiça, um forte estigma social contra o usuário, com
vários mitos criados ao redor disso. O Brasil tem cerca de oito milhões de
usuários de maconha, e muita gente pensa que eles são todos violentos,
perigosos, não produzem nada para o país�.
INTERNET Os consumidores da droga passaram a ter um grande
poder de mobilização com a popularização da internet. Blogs e fóruns
como o do Coletivo Marcha da Maconha, Growroom, Hempadão e Filipeta
da Massa tornaram possível a troca de informações entre usuários de forma
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anônima, driblando a repressão e o estigma em volta da planta. Os assuntos
vão desde técnicas de plantio caseiro para que não seja preciso comprar a
droga de traficantes, passando por uma contagem das pessoas mortas pelas
operações da guerra às drogas no Rio de Janeiro, até um concurso de beleza
feminina para eleger a Miss Marijuana 2010.
De acordo com Sérgio Vidal, especialista em questões ligadas à
cannabis, houve dois importantes momentos de luta antiproibicionista no
Brasil: os anos 70 e começo dos 80, e o período atual. �Nos anos 70, com
as pessoas unidas na luta contra a ditadura, a bandeira da legalização era
levantada por alguns indivíduos de esquerda, já estigmatizados por outras
razões. E hoje, com o boom da internet, vivemos outro período fértil de
esforços para superar a proibição�, afirma o antropólogo.
As informações sobre maconha disponíveis na internet, no entanto,
tendem a ser vistas somente por aqueles que já são simpáticos em relação à
droga. �É importante que mais produtos surjam para levar a discussão para
fora da bolha dos blogs e fóruns�, afirma Neco Tabosa, jornalista formado
pela Unicap, responsável pelo blog Filipeta da Massa. Ele organizou o livro
�O Fino da Massa�, para levar as informações sobre a cannabis a quem não
tem acesso a computador. Também produziu as camisas da série
Barralombra (uma alusão ao efeito sentido por quem consome a erva), com
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desenhos e mensagens relativas à droga, que ajudam os usuários a �saírem
do armário�.
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RELAÇÃO DAS FONTES PELA ORDEM EM QUE APARECEM NAS REPORTAGENS.
REPORTAGEM 1
- Aldo Luis Farias, agente de redução de danos da prefeitura da Cidade do
Recife, personagem beneficiado pela abordagem: 8151.8016.
- Rossana Rameh, técnica de saúde mental e redução de danos da Secretaria
de Saúde da Prefeitura do Recife: 9156.9145 ou 3032.3775.
- Flávio Campos, especialista em álcool e outras drogas da Gerência de
Atenção à Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco:
9247.3193.
- Evaldo Melo, presidente da Associação Brasileira Multidisciplinar de
Estudos sobre Drogas (Abramd): 9961.8800.
- Irinea Catarino, chefe do Departamento de Psicologia da Universidade
Católica de Pernambuco e conselheira da política estadual sobre drogas no
estado: 9978.5644.
- Enildes Melo, ex-diretora do Centro de Prevenção e Tratamento e
Reabilitação do Alcoolismo: 3241.3141 (clínica) ou 3427-0101(casa).
- Jandira Saraiva, antiga responsável pela parte de álcool e drogas da
Gerência de Atenção à Saude Mental: 9262.9977.
- Magda Figueiroa, especialista em saúde mental pela Universidade Federal
de Pernambuco, que trabalha com dependência química há dezesseis anos:
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3355.4252.
REPORTAGEM 2:
- Vereador e médico Luciano Siqueira, do PCdoB. Assessora Inamara:
9954.1051 ou 9433.2150.
- Historiador Henrique Carneiro, doutor em História Social pela USP e
pesquisador fundador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre
Psicoativos (Neip): ) (11) 3726.5927
- Cláudia Pires, psiquiatra formada pela UPE, e mestranda em
neuropsiquiatria pela UFPE: 3423.3855 ou 9469.4387.
- Juíz Evanildo Coelho, da Segunda Vara Criminal dos Feitos Relativos a
Entorpecentes do Recife: 3412.5967.
- Juíz Flávio Fontes, titular da Vara de Execução de Penas Alternativas de
Pernambuco: 3412.5175/5176 ou 9974.9984
REPORTAGEM 3:
- As fontes só aceitaram dar entrevista com a condição de terem suas
identidades preservadas.
REPORTAGEM: 4
- Gilberto Borges, organizador da marcha da maconha no Recife, formado
em História pela UFPE e gestor de políticas públicas de lazer da Prefeitura
do Recife: 3355.1220.
30
- Antropólogo Sérgio Vidal, formado pela UFBA, membro do Coletivo
Marcha da Maconha: (11) 2667.0420.
- Juiz aposentado Alípio Carvalho Filho: 9952.2804.
- Neco Tabosa, jornalista formado pela Unicap, responsável pelo blog
Filipeta da Massa, organizador do livro �O Fino da Massa� e produtor das
camisas Barralombra: 8737.6150.