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1 CANNABIS E SOCIEDADE: UM PER˝ODO DE TRANSI˙ˆO REPORTAGEM 1 Reduªo de Danos representa mudana no tratamento do usuÆrio de drogas Profissionais da Ærea de saœde constatam que um grande nœmero de pessoas nªo obtØm sucesso com a abstinŒncia, e trabalham para diminuir os riscos associados ao consumo de entorpecentes Bernardo Lisboa Carvalho Aldo Luis Farias foi autuado por porte de maconha em 2004, antes de entrar em vigor, em 2006, a lei 11.343, a partir da qual o usuÆrio nªo vai mais para a prisªo. Ao julgar o caso, o juiz substituiu o encarceramento por um tratamento de um ano e meio no centro Eulmpio Cordeiro. Depois de receber alta, o antigo paciente retornou ao local, dessa vez como profissional convidado, trabalhando com terapia musical com pessoas em situaªo semelhante a que vivera. Nesse perodo, entrou em contato com a reduªo de danos para o usuÆrio, uma abordagem que busca diminuir os riscos envolvidos no consumo de entorpecentes. Nos quatro anos seguintes, Aldo Farias passou num concurso para trabalhar como agente redutor de danos para a prefeitura da Cidade do Recife, e resolveu largar de vez todas as drogas, inclusive o Ælcool.

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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO

REPORTAGEM 1

Redução de Danos representa mudança no tratamento do

usuário de drogas

Profissionais da área de saúde constatam que um grande número de

pessoas não obtém sucesso com a abstinência, e trabalham para diminuir

os riscos associados ao consumo de entorpecentes

Bernardo Lisboa Carvalho

Aldo Luis Farias foi autuado por porte de maconha em 2004, antes

de entrar em vigor, em 2006, a lei 11.343, a partir da qual o usuário não vai

mais para a prisão. Ao julgar o caso, o juiz substituiu o encarceramento por

um tratamento de um ano e meio no centro Eulâmpio Cordeiro. Depois de

receber alta, o antigo paciente retornou ao local, dessa vez como

profissional convidado, trabalhando com terapia musical com pessoas em

situação semelhante a que vivera. Nesse período, entrou em contato com a

redução de danos para o usuário, uma abordagem que busca diminuir os

riscos envolvidos no consumo de entorpecentes. Nos quatro anos seguintes,

Aldo Farias passou num concurso para trabalhar como agente redutor de

danos para a prefeitura da Cidade do Recife, e resolveu largar de vez todas

as drogas, inclusive o álcool.

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Aldo Farias é um exemplo dos benefícios da redução de danos para

o usuário. A abordagem se diferencia das formas tradicionais de tratamento

por não exigir que os consumidores de drogas abandonem as substâncias,

embora possa ser um caminho para que isso aconteça no futuro. �A idéia é

reduzir, com medidas de proteção, os riscos envolvidos no uso�, explica o

agente da prefeitura. Tais perigos podem ser sociais, como demissões no

trabalho, estigmas dentro da comunidade ou problemas com a Justiça.

Também podem ser de saúde, a partir dos efeitos nocivos causados por

cada substância no organismo, que podem ser reduzidos ou agravados pela

maneira com que são utilizadas.

Para os riscos sociais, as medidas de proteção incluem evitar o

consumo em lugares públicos e dicas de conduta no caso de abordagens

policiais, com o conhecimento da legislação pela qual o usuário não é mais

preso. �Em relação aos males à saúde, os cuidados incluem beber muita

água e estar bem alimentado na hora do consumo, não compartilhando

objetos utilizados na prática, como copos, cigarros, cachimbos ou

seringas�, afirma Aldo Farias, frisando a importância de evitar os abusos,

que aumentam as chances de danos mais graves.

Os profissionais de redução de danos compreendem bem o universo

dos usuários. Reconhecem que, em muitos casos, os consumidores de

drogas não querem, ou não conseguem, entrar em abstinência num

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determinado momento. Procuram desenvolver suas estratégias de atuação

em conjunto com seu público-alvo. �Nós entendemos que o problema não é

a droga em si, mas o vínculo que o sujeito vai desenvolver com ela�, afirma

Rossana Rameh, técnica de saúde mental e redução de danos da Secretaria

de Saúde da Prefeitura do Recife. �Nosso trabalho é identificar as

possibilidades de cada paciente para melhorar essa relação�, completa

Apenas 30 por cento dos pacientes permanecem nos tratamentos

pautados pela abstinência, de acordo com Flávio Campos, especialista em

álcool e outras drogas da Gerência de Atenção à Saúde Mental da

Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco. �Os outros 70 por cento

eram excluídos do sistema de saúde, o que contrariava seu princípio de

universalidade. Com a redução de danos, a gente consegue atingir esse

enorme contingente de pessoas que não obtém sucesso com as abordagens

tradicionais", afirma o especialista.

Faz parte do trabalho de redução de danos, que se tornou uma

política pública do Ministério da Saúde a partir de 2005, ir a locais onde há

uso de drogas, abordando as pessoas para conscientizá-las sobre as medidas

de proteção. Algumas ações envolvem distribuição de objetos utilizados no

consumo que reduzem riscos, como cachimbos de madeira para evitar que

usuários de crack consumam a droga na lata de alumínio, cujos vapores

podem levar à demência precoce.

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Ao fazerem esse trabalho de campo, os redutores de danos

promovem a aproximação dos usuários com a rede pública de saúde. �O

maior benefício da nova abordagem é tornar acessíveis pessoas que não

eram alcançadas pelas técnicas anteriores, fazendo com que os cuidados

não fiquem limitados àqueles que procuram ajuda nos consultórios�, afirma

Evaldo Melo, presidente da Associação Brasileira Multidisciplinar de

Estudos sobre Drogas (Abramd).

CONTROVÉRSIAS Embora a redução de danos seja uma política

pública do Ministério da Saúde do Brasil e de diversos outros países,

algumas de suas práticas são questionadas por setores da Justiça e da área

de saúde, que as encaram como crime de incentivo ao uso de drogas.

Existem portarias que incentivam e legitimam a nova abordagem, mas não

deixam claro quais ações específicas se encaixam dentro dela e quais atos

configuram crime de apologia. �Na prática, a distinção entre o que é uma

atividade de redução de danos e o que é estímulo ao uso de drogas fica nas

mãos dos profissionais que aplicam a lei�, afirma Rossana Rameh.

Existem profissionais de redução de danos que enxergam a maconha

como uma ferramenta poderosa no tratamento de dependentes de crack. Na

ausência do entorpecente, eles experimentam muita angústia e nervosismo,

fenômeno conhecido como fissura, ou síndrome de abstinência. "A

cannabis atenua esse estado de ansiedade, no qual se encontram a maior

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parte dos usuários que cometem crimes", afirma Flávio Campos.

Esse tipo de terapia de substituição, onde se troca uma droga mais

nociva por outra de menor dano, é uma política extra-oficial, já que a

maconha é ilegal, e muito criticada por outros profissionais que trabalham

com dependência química. �Para mim, não existe programa de redução de

danos para o crack. Eu não gostaria que um filho meu fosse tratado para

deixar o crack usando cannabis�, afirma Irinea Catarino, chefe do

Departamento de Psicologia da Universidade Católica de Pernambuco e

conselheira da política estadual sobre drogas no estado.

Alguns profissionais da saúde acreditam que a redução de danos não

pode ser aplicada a todos os usuários. Para Enildes Melo, ex-diretora do

Centro de Prevenção e Tratamento e Reabilitação do Alcoolismo (Cptras,

antigamente vinculado ao Governo do Estado, agora pertencente à

Prefeitura do Recife) no caso de dependentes, mulheres grávidas e

adolescentes, é preciso trabalhar com um programa de tolerância zero,

fazendo com que eles entrem em abstinência.

O trabalho dos redutores de danos com menores é especialmente

polêmico. O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê como crime a

indução ou o estímulo de tais jovens para o uso de qualquer tipo de droga.

Flávio Campos recebeu um aviso do psicólogo do Ministério Público de

Pernambuco, Gilberto Lúcio: se os redutores de danos trabalhassem com

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essa parcela da população no estado, seriam processados. Procurado pela

reportagem, Gilberto Lúcio se recusou a dar entrevista.

Para Jandira Saraiva, antiga responsável pela parte de álcool e drogas

da Gerência de Atenção à Saude Mental (Gasam), não se pode estimular o

uso de drogas para a juventude, porque nessa fase o cérebro ainda não está

formado. "Esse tipo de ação está fora da lei. É um absurdo que se queira

dar uma droga em substituição a outra para quem ainda não atingiu a

maioridade, é preciso encontrar outros caminhos", afirma.

Já Evaldo Melo acredita que é preciso encarar uma realidade

concreta: os adolescentes estão usando drogas. "Ao atuar para diminuir os

riscos desse uso, os redutores de danos estão cuidando da saúde desses

jovens", afirma o presidente da Abramd.

Muitos profissionais da saúde tendem a encarar a nova abordagem

como uma estratégia para se chegar à abstinência. �Se redução de danos é

utilizada como o objetivo final, as possibilidades de recuperação ficam

limitadas. Não se pode reduzir as abordagens de tratamento a ela�, afirma

Magda Figueiroa, especialista em saúde mental pela Universidade Federal

de Pernambuco, que trabalha com dependência química há dezesseis anos.

Já os profissionais mais ligados a direitos humanos e movimentos

sociais enxergam o usuário como um sujeito com autonomia sobre seu

corpo, que pode exercer seu livre arbítrio para decidir sobre seu consumo, e

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que tem direito à ajuda, independentemente da sua escolha.

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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO

REPORTAGEM 2

Legalização da maconha divide especialistas

Embora a proibição da droga fortaleça a violência ligada ao tráfico,

sua liberação poderia multiplicar os problemas decorrentes de um

consumo abusivo

Bernardo Lisboa Carvalho

A maconha é a droga ilícita mais utilizada no mundo. No Brasil, são

cerca de oito milhões de usuários, de acordo com um estudo realizado em

2005 pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). A proibição da

substância obriga a maior parte dessas pessoas a dar dinheiro aos

criminosos que tomam conta desse mercado, responsáveis por grande parte

da violência urbana. Muitos esforços têm sido feitos no combate ao

entorpecente, sem conseguir uma diminuição do seu consumo.

Esse quadro tem levado a um questionamento do modelo repressivo

por parte de pessoas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o

prêmio Nobel de economia Milton Friedman, que era a favor da liberação

de todas as drogas. Profissionais que trabalham com dependência química,

no entanto, temem as conseqüências disso num país cheio de

vulnerabilidades como o Brasil. �O fácil acesso à substância é um fator de

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risco que contribui para o consumo, e isso traria mais danos justamente

para as pessoas com menos estrutura para lidar com isso�, afirma Irinéa

Catarino, chefe do Departamento de Psicologia da Unicap e conselheira da

política estadual sobre drogas em Pernambuco.

As substâncias ilegais, em tese, são proibidas por serem capazes de

causar sérios danos à saúde do indivíduo, alterando seu comportamento e

pondo em risco não apenas ele, mas também as pessoas ao redor. No caso

da maconha, há uma grande controvérsia em relação ao seu potencial

ofensivo, especialmente quando comparado ao álcool, uma droga lícita.

O vereador Luciano Siqueira, que também é médico, afirmou em

entrevista no seu gabinete: �Estudos comprovam que a ação da maconha

sobre o organismo humano é menos danosa do que a do álcool e do cigarro.

A simples proibição e o combate como se dá hoje são ineficazes e têm o

efeito paradoxal de aumentar o consumo, gerando uma reação de querer o

que é proibido, como aconteceu com o álcool durante a Lei Seca nos EUA.

Não vejo razão para se manter a política que está em vigor.�

Alguns estudiosos vêem na história da proibição da maconha uma

discriminação, por parte das culturas dominantes, em relação aos povos que

tradicionalmente faziam uso da substância. �É o que nós vamos observar

nas primeiras restrições à cannabis no século 19, associada a egípcios e

negros, proibida por Napoleão e pelo governo brasileiro no Rio de Janeiro�,

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afirmou, em entrevista pelo Skype, o historiador Henrique Carneiro, doutor

em História Social pela USP e pesquisador fundador do Núcleo de Estudos

Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip), entrevistado por Regina Casé

no programa �Pé de Quê?� sobre maconha, para o canal Futura.

Pesquisas recentes, no entanto, têm revelado os danos cerebrais que a

maconha pode causar. Além da perda da memória recente, a droga afeta as

áreas da função executiva do cérebro, responsável por tomada de decisões,

planejamentos de vida, busca de metas. �A maconha causa sérios prejuízos

cognitivos, deixa a pessoa com menos vontade e determinação, embora não

haja consenso em relação ao tempo de uso necessário para que esse dano

ocorra�, afirma Cláudia Pires, psiquiatra formada pela UPE, e mestranda

em neuropsiquiatria pela UFPE.

Em pessoas com pré-disposição genética a surtos psicóticos, a

maconha pode ter um efeito devastador, especialmente se usada durante a

adolescência. �A cannabis pode despertar a ação desse gene que estava

adormecido, desencadeando uma psicose para a vida toda, causando um

prejuízo enorme em uma população que poderia ficar mais tempo sem esse

surto�, afirma Cláudia Pires.

A maior parte das pessoas, cerca de 80 por cento, não vai apresentar

problemas com o uso de maconha, de acordo com Evaldo Melo, presidente

da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas

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(Abramd). O problema é que não há como prever se uma pessoa será uma

usuária funcional ou problemática. Existem alguns fatores de

vulnerabilidade, como problemas na família e baixa escolaridade, assim

como uma família organizada e uma estrutura educacional são fatores de

proteção. �Mas nada que garanta que uma pessoa vai usar de maneira

funcional. Em princípio, qualquer pessoa pode ter danos por uso de

drogas�, afirma o presidente da Abramd.

É nesse ponto que a legalização gera receios nas pessoas que

trabalham com dependentes. Em entrevista no Fórum Joana Bezerra, o Juíz

Evanildo Coelho, da Segunda Vara Criminal dos Feitos Relativos a

Entorpecentes do Recife, se colocou contra a liberação: �Me preocupo com

as crianças e os adolescentes, que ainda não têm maturidade para exercer

seu livre arbítrio�.

Uma legislação poderia ser criada para inibir esse consumo entre os

menores. Mas a experiência que existe com o álcool no Brasil revela a

dificuldade de se fazer cumprir esse tipo de regulamentação no país. �Se

não há um controle sobre o álcool, como eu posso imaginar que as

restrições à maconha seriam cumpridas, caso ela fosse legalizada?�,

questiona Enildes Melo, ex-diretora do Cptras.

De acordo com Enildes Melo, o álcool é a droga que mais provoca

atos violentos, ligado a violência doméstica, brigas, homicídios, acidentes

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de trânsito. �Se a maconha for legalizada, vai causar tantos problemas

quanto o álcool, porque hoje em dia as pessoas ainda têm uma certa

dificuldade em fazer um uso mais pesado de cannabis, pelo fato de ser uma

droga ilícita�, afirma.

Por outro lado, o combate às drogas também causa muitos danos à

sociedade. �É quase uma guerra convencional. Envolve exércitos, armas,

perda de vidas, invasões de países, quebras de soberania, um dinheiro

fantástico inclusive na repressão, e os resultados são muito pífios. A gente

sabe que as drogas sempre vão fazer parte da humanidade, é impossível

exterminá-las�, afirma o juíz Flávio Fontes, titular da Vara de Execução de

Penas Alternativas de Pernambuco, cuja tese de mestrado analisa a questão

da guerra às drogas.

Evaldo Melo sintetiza o dilema: �A legalização, ao facilitar o acesso

à droga, vai aumentar problemas decorrentes do uso, como ocorre com o

álcool. E a proibição aumenta problemas decorrentes do tráfico.� E não há

garantias de que a legalização resolverá a violência ligada ao mercado

ilegal de entorpecentes. �Se as pessoas estão buscando o tráfico de drogas

como alternativa de sobrevivência, não é liberando a droga que eu vou

oferecer uma política de emprego�, afirma Irinéa Catarino.

Por isso, para Magda Figueiroa, mais importante do que proibir ou

liberar a droga é oferecer a todos políticas públicas de qualidade. Com

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planejamentos de vida, projetos consistentes, escolas de qualidade,

atividades físicas e artísticas estimulantes. �Quando a gente preenche a

nossa vida com atividades prazerosas, produtivas e que fazem constituir

nossa vida para o futuro, a possibilidade de a gente precisar de uma

substância para viver uma realidade ou para fugir dela é bem menor.�

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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO

REPORTAGEM 3

Usuários tentam permanecer anônimos

Longe das páginas policiais, fumantes de cannabis levam uma vida

produtiva normal, ocultando seu consumo para driblar os estigmas

associados a ele

Bernardo Lisboa Carvalho

Quando se fala em usuário de drogas, grande parte das pessoas

coloca, na mesma categoria, consumidores de maconha, cocaína e crack,

substâncias ilícitas. �Drogado� é um adjetivo de conotações pejorativas,

associado a comportamentos violentos, banditismo, vício, incapacidade de

trabalhar. Existem, no entanto, muitos apreciadores de cannabis que não se

encaixam nesse estereótipo: trabalham, se relacionam bem com as pessoas

ao redor e respeitam as leis, exceto pelo fato de fumarem maconha. De

acordo com um estudo realizado em 2005 pela Secretaria Nacional

Antidrogas (Senad), existem cerca de oito milhões de usuários no Brasil. É

provável que você conheça algum deles, cujo hábito ninguém desconfia.

O médico Ronaldo (pseudônimo escolhido pela fonte por não querer

se assumir publicamente como usuário), 27 anos, é um desses usuários

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acima de qualquer suspeita. Seu trabalho exige que ele esteja sempre bem

apresentável, disposto a ouvir as pessoas falarem de seus problemas. Ao

chegar em casa, ainda precisa de concentração para estudar os casos dos

pacientes. �Isso faz com que eu esteja sempre monitorando o meu consumo

de maconha, para que não atrapalhe meu rendimento, minha atividade

intelectual e minha estabilidade emocional. Se fumo em excesso fico

irritadiço e sem pique para estudar. Procuro restringir a droga ao meu

tempo livre�

Ronaldo fumou maconha pela primeira vez com 16 anos, na época

do colégio. Nessa fase, usava a droga muito esporadicamente. Embora

nunca tenha tido reprovações ou notas baixas, acha que o consumo

interferiu um pouco no seu rendimento escolar. �Mas vários amigos meus

tiveram seus desempenhos de estudante bastante prejudicados por conta da

cannabis, alguns chegaram a abandonar a escola.�

Ronaldo acredita que, se por um lado existe uma visão

preconceituosa e apocalíptica sobre o consumo de maconha, o outro

extremo, de que é isento de problemas, é uma visão romântica. �A

incidência de várias doenças mentais é muito maior nas pessoas que

consomem maconha do que nas que não o fazem. Não se sabe qual é a

causalidade, se elas têm problemas e passam a consumir ou se passam a

consumir e ter problemas. Mas a gente sabe que há uma relação.�

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A maconha pode ser bastante problemática para o adolescente, que

ainda não tem maturidade para fazer um uso controlado. Essa é a razão pela

qual a artesã Dalva (pseudônimo usado pela fonte por não querer se

assumir publicamente como usuária), de 57 anos, que utiliza a droga desde

os 23, é contra sua legalização, pela possibilidade de um aumento no

consumo entre aqueles que não têm estrutura para isso. �Vários filhos de

amigas minhas perderam anos de escola por conta da cannabis. O jovem

tem algo para estudar e fuma um baseado, não vai ler nada, vai ficar no

delírio, na fantasia.�

Dalva, assim como Ronaldo, gosta de consumir a droga depois do

expediente, quando as metas do dia já foram alcançadas. �Se eu fumar

durante o dia eu não produzo, a maconha me ajuda muito a ter idéias, mas

dificulta executá-las�, afirma a artesã. Ronaldo procura restringir seu

consumo a uma ou duas vezes por semana, normalmente quando não

precisa trabalhar no dia seguinte. �Às vezes acontece de eu fumar durante a

semana, mas normalmente faço isso em casa, cedo da noite, não exagero no

consumo e durmo cedo, para ter uma boa noite de sono e estar bem

disposto para trabalhar no outro dia�.

Algumas pessoas, no entanto, se sentem bem para realizar certos

tipos de trabalho sob o efeito da maconha, especialmente aqueles que

envolvem criatividade. A assistente social Valentina (pseudônimo

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empregado pela fonte para evitar exposição), 27 anos, começou a fumar

maconha com 12, por achar que seus ídolos Caetano Veloso e Gilberto Gil

eram mais legais por terem feito uso da droga. �Eu tinha impulsos criativos

muito fortes, passava as tardes chapada, pintando, desenhando,

esculpindo�, afirma.

Embora não tenha sido uma boa aluna na época da escola, por achar

que todos aqueles conteúdos não lhe acrescentavam nada, Valentina foi

uma ótima aluna na faculdade, quando passou a estudar coisas que lhe

interessavam. �Fumar maconha me ajudava a estudar, eu interpretava os

conteúdos de uma maneira diferente, indo mais além, e percebia que essas

minhas idéias continuavam fazendo sentido depois de passado o efeito, o

que minhas ótimas notas na faculdade comprovaram. Escrevia melhor sob

o efeito também, as palavras fluíam com mais facilidade na hora de passar

pro papel.�, afirma.

O arquiteto Carlos (pseudônimo usado para não se assumir

publicamente), 35 anos, também se beneficia criativamente da maconha.

�Quando estou com muito trabalho, às vezes gosto de fumar para projetar,

ajuda a expandir o meu lado de artista�. Seu uso preferencial, no entanto, é

depois de terminado o dia de trabalho, para descansar a cabeça vendo um

filme. �A maconha tem um efeito relaxante. Eu sou muito inquieto, ela me

tira a ansiedade, acalma os pensamentos, me ajuda a manter uma conversa

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interna na mente onde eu consigo expandir as conexões entre diferentes

idéias.�

Para Ronaldo, além de diminuir as ansiedades, a maconha facilita

entrar num estado mais meditativo, de escutar a si próprio, ajuda a ouvir

mais e falar menos. �Isso acontece não somente sob o efeito, mas no meu

dia-a-dia. É algo muito pessoal, não dá para transpor isso para outras

pessoas, embora eu conheça outros médicos que utilizam a droga, e isso

não compromete o trabalho deles.�

HÁBITO OCULTO Todos os entrevistados, que utilizam maconha e

levam uma vida normal, sendo a erva a única substância ilícita que

consomem, procuram ocultar o seu hábito por conta do estigma social que

o acompanha. Consomem a droga em casa, somente na presença de pessoas

muito próximas. �Eu só me assumo como usuário de cannabis para os

amigos que também fumam�, afirma Carlos.

�A maioria das pessoas acredita que as drogas são a ruína da

sociedade, que os traficantes são os lobos maus, ou mesmo o próprio

usuário: hoje em dia existe essa lógica do fenômeno Tropa de Elite, de

enxergar o consumidor de drogas como o principal culpado dessa questão

do tráfico, como financiador da violência do país�, afirma o professor de

Filosofia Douglas (pseudônimo selecionado pela fonte para preservar sua

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identidade), 31 anos, que atua em escolas do Ensino Médio da rede pública

do estado de Pernambuco.

Essa recusa dos usuários de maconha respeitáveis em �sair do

armário� contribui para que o estereótipo negativo associado a esse

consumo se perpetue. Os casos de maior visibilidade de fumantes de

cannabis são aqueles que ganham as páginas policiais dos jornais por conta

do banditismo, em circunstâncias nas quais usuários, muitas vezes, também

utilizam outras drogas, como o crack. �A maioria das pessoas que convive

comigo não imagina que eu fumo, isso vai contra aquela imagem formada

que elas têm�, afirma Valentina.

Para Douglas, todas as drogas, inclusive o álcool, podem ter um

efeito devastador na vida das pessoas. �No caso da maconha, a gente não

sabe se o dano que ela causa se deve mais ao efeito dela em si ou ao

estigma social que a envolve. Existe uma opinião massificada que o usuário

ou é alguém doente ou alguém com um desvio de caráter, que não

contribuiria para a melhoria da sociedade, pelo contrário, seria responsável

por uma certa marginalidade.�

Ronaldo acredita que os casos trágicos envolvendo usuários de

maconha servem de alerta para o fato de que o consumo de drogas é uma

conduta que envolve riscos para saúde, seja física ou mental, e para as

relações sociais. �É algo que você tem que manter vigilância. A maior parte

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dos usuários não vai passar por problemas dessa natureza ao longo da vida,

mas quando isso acontece, os efeitos são destruidores, tende a arrastar toda

a família�.

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CANNABIS E SOCIEDADE: UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO

REPORTAGEM 4

Marcha da maconha ainda provoca polêmica

Entre blogs, estigmas e acusações de apologia, os defensores da

droga organizam eventos que reúnem milhares de pessoas ao redor do

mundo

Bernardo Lisboa Carvalho

A Marcha da Maconha de 2010, realizada no Recife no dia 2 de

maio, reuniu no centro histórico cerca de duas mil pessoas, segundo os

responsáveis pelo evento. Contou com participações ilustres, como a

representante do Ministério da Cultura no Nordeste, Tarciana Portela,

defendendo a manifestação como um espaço da liberdade de expressão, e o

presidente da TV Pernambuco, Roger de Renoir, a favor da consolidação

do evento no calendário da cidade. Mensagens em cartazes e camisas dos

participantes deixavam claro seu desejo de poderem utilizar a erva sem

penalizações, e sem que isso signifique dar dinheiro a criminosos.

Os organizadores da Marcha da Maconha sabem que questões

ligadas à droga são vistas de forma negativa pela maior parte da sociedade.

�Uma pesquisa no Estadão mostrou que, em relação ao aborto, 51 por cento

das pessoas são contra. Para a legalização da cannabis, esse número sobe

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para 72%. Temos um longo caminho a percorrer�, afirma Gilberto Borges,

organizador do evento na capital pernambucana, formado em História pela

UFPE e gestor de políticas públicas de lazer da Prefeitura do Recife.

Ciente da necessidade de deixar claro para as pessoas a diferença

entre luta pela legalização e apologia ao uso, Gilberto Borges define a

posição da marcha: �Não incentivamos as pessoas a usarem maconha, e

sim uma mudança na lei para que aqueles que usam não sejam

considerados criminosos. A passeata é um instrumento para ampliar o

debate na sociedade.�

A legalidade da Marcha da Maconha é um assunto controverso.

Neste ano ela aconteceu no Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre, mas foi

impedida em São Paulo e Fortaleza por ações do Ministério Público. Em

São Paulo, mesmo proibida, chegou a reunir 400 pessoas, de acordo com o

antropólogo Sérgio Vidal, formado pela UFBA, membro do Coletivo

Marcha da Maconha, atualmente residindo na capital paulista. �Foi um

clima de muita tensão, os policiais recolheram cartazes, proibiram a gente

de pronunciar a palavra maconha, só autorizaram a gente a fazer uma

marcha pela liberdade de expressão�, afirmou, em entrevista por telefone.

Uma atmosfera bem diferente da que marcou o evento em Recife, onde os

participantes gritavam bordões como: �Ei, Polícia! Maconha é uma

delícia!�

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Em entrevista no seu gabinete no Fórum Joana Bezerra, o juiz

Evanildo Coelho, da Segunda Vara Criminal dos Feitos Relativos a

Entorpecentes do Recife, afirmou: �A manifestação divulga o consumo da

droga, que é ilegal, configurando, portanto, apologia ao crime.�

Já para o juiz aposentado Alípio Carvalho Filho, que negou um

pedido do Ministério Público para proibir o evento em Recife no ano

passado, a passeata é um exercício da liberdade de expressão. �Para

impedir a Marcha da Maconha também teríamos que banir passeatas que

lutam pela descriminalização do aborto. A apologia ao crime, a meu ver, só

se configura quando há uma situação concreta que promova a realização do

ato ilícito.�

A despeito da discussão jurídica, a Marcha da Maconha já acontece

em 314 cidades ao redor do mundo. No Recife o evento tem conseguido,

nos últimos três anos, levar mais de mil participantes para as ruas. �São

poucos os setores da sociedade que conseguem juntar essa quantidade de

gente sem uma certa estrutura, como ônibus para levar as pessoas aos

locais�, afirma Gilberto Borges, para quem essa mobilização indica a

existência de uma parcela significativa da população que quer uma

mudança na política sobre a droga.

As ações do Coletivo Marcha da Maconha são custeadas pelos seus

membros. Os atos incluem panfletagens e atividades como o CineMassa,

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onde são exibidos filmes seguidos de debates que abordam a proibição da

maconha de uma maneira crítica, revelando a perseguição a grupos étnicos

e interesses econômicos por trás da guerra à droga. Trata-se de uma

organização apartidária, embora participem dela militantes de partidos

políticos. �Procuramos dialogar com todas as tendências, na busca pela

ampliação do debate. É importante que os políticos participem�, afirma

Gilberto Borges.

O vereador Luciano Siqueira, do PCdoB, expôs sua posição a

respeito da marcha, em entrevista no seu gabinete na Av. Agamenon

Magalhães: �A proibição legal da manifestação, em nome da defesa da

família, da moralidade, é uma tremenda hipocrisia e uma atitude autoritária

e antidemocrática. É como se a sociedade, ao invés de discutir o tema,

procurasse escondê-lo. A maconha merece um debate sério, desarmado.�

Poucos dias antes de sua realização neste ano, a Marcha da Maconha

foi discutida numa audiência pública na Câmara dos Vereadores,

convocada por Osmar Ricardo, do PT. O vereador Luiz Eustáquio, também

do PT, se colocou contra a realização da manifestação: �Ela ajuda a mais

pessoas usarem a cannabis, que é uma grande porta de entrada para o crack.

A gente precisa trabalhar para deixar as pessoas livres da droga�, disse

durante a audiência pública.

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Já o médico Gilliate Coelho, do Programa Saúde da Família da

Prefeitura do Recife, afirmou na audiência que a maconha é uma aliada

poderosa para muitos dependentes de crack que tentam parar o consumo,

por ajudar a aliviar a angústia e ansiedade fortíssimas que eles sentem na

ausência do entorpecente.

A capacidade da maconha de causar dependência é muito inferior à

do crack, menor até mesmo que a do álcool. De acordo com Aldo Luis

Farias, agente de redução de danos da Prefeitura do Recife, de cada 100

pessoas que utilizam maconha, oito se tornam dependentes. �No caso do

álcool, esse número sobre para dez. Com o crack, 90 por cento dos usuários

se viciam�, afirma

Para Gilberto Borges, os maiores danos causados pela maconha são

conseqüências da proibição: �Existe um grande número de pessoas com

problemas com a Justiça, um forte estigma social contra o usuário, com

vários mitos criados ao redor disso. O Brasil tem cerca de oito milhões de

usuários de maconha, e muita gente pensa que eles são todos violentos,

perigosos, não produzem nada para o país�.

INTERNET Os consumidores da droga passaram a ter um grande

poder de mobilização com a popularização da internet. Blogs e fóruns

como o do Coletivo Marcha da Maconha, Growroom, Hempadão e Filipeta

da Massa tornaram possível a troca de informações entre usuários de forma

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anônima, driblando a repressão e o estigma em volta da planta. Os assuntos

vão desde técnicas de plantio caseiro para que não seja preciso comprar a

droga de traficantes, passando por uma contagem das pessoas mortas pelas

operações da guerra às drogas no Rio de Janeiro, até um concurso de beleza

feminina para eleger a Miss Marijuana 2010.

De acordo com Sérgio Vidal, especialista em questões ligadas à

cannabis, houve dois importantes momentos de luta antiproibicionista no

Brasil: os anos 70 e começo dos 80, e o período atual. �Nos anos 70, com

as pessoas unidas na luta contra a ditadura, a bandeira da legalização era

levantada por alguns indivíduos de esquerda, já estigmatizados por outras

razões. E hoje, com o boom da internet, vivemos outro período fértil de

esforços para superar a proibição�, afirma o antropólogo.

As informações sobre maconha disponíveis na internet, no entanto,

tendem a ser vistas somente por aqueles que já são simpáticos em relação à

droga. �É importante que mais produtos surjam para levar a discussão para

fora da bolha dos blogs e fóruns�, afirma Neco Tabosa, jornalista formado

pela Unicap, responsável pelo blog Filipeta da Massa. Ele organizou o livro

�O Fino da Massa�, para levar as informações sobre a cannabis a quem não

tem acesso a computador. Também produziu as camisas da série

Barralombra (uma alusão ao efeito sentido por quem consome a erva), com

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desenhos e mensagens relativas à droga, que ajudam os usuários a �saírem

do armário�.

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RELAÇÃO DAS FONTES PELA ORDEM EM QUE APARECEM NAS REPORTAGENS.

REPORTAGEM 1

- Aldo Luis Farias, agente de redução de danos da prefeitura da Cidade do

Recife, personagem beneficiado pela abordagem: 8151.8016.

- Rossana Rameh, técnica de saúde mental e redução de danos da Secretaria

de Saúde da Prefeitura do Recife: 9156.9145 ou 3032.3775.

- Flávio Campos, especialista em álcool e outras drogas da Gerência de

Atenção à Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco:

9247.3193.

- Evaldo Melo, presidente da Associação Brasileira Multidisciplinar de

Estudos sobre Drogas (Abramd): 9961.8800.

- Irinea Catarino, chefe do Departamento de Psicologia da Universidade

Católica de Pernambuco e conselheira da política estadual sobre drogas no

estado: 9978.5644.

- Enildes Melo, ex-diretora do Centro de Prevenção e Tratamento e

Reabilitação do Alcoolismo: 3241.3141 (clínica) ou 3427-0101(casa).

- Jandira Saraiva, antiga responsável pela parte de álcool e drogas da

Gerência de Atenção à Saude Mental: 9262.9977.

- Magda Figueiroa, especialista em saúde mental pela Universidade Federal

de Pernambuco, que trabalha com dependência química há dezesseis anos:

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3355.4252.

REPORTAGEM 2:

- Vereador e médico Luciano Siqueira, do PCdoB. Assessora Inamara:

9954.1051 ou 9433.2150.

- Historiador Henrique Carneiro, doutor em História Social pela USP e

pesquisador fundador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre

Psicoativos (Neip): ) (11) 3726.5927

- Cláudia Pires, psiquiatra formada pela UPE, e mestranda em

neuropsiquiatria pela UFPE: 3423.3855 ou 9469.4387.

- Juíz Evanildo Coelho, da Segunda Vara Criminal dos Feitos Relativos a

Entorpecentes do Recife: 3412.5967.

- Juíz Flávio Fontes, titular da Vara de Execução de Penas Alternativas de

Pernambuco: 3412.5175/5176 ou 9974.9984

REPORTAGEM 3:

- As fontes só aceitaram dar entrevista com a condição de terem suas

identidades preservadas.

REPORTAGEM: 4

- Gilberto Borges, organizador da marcha da maconha no Recife, formado

em História pela UFPE e gestor de políticas públicas de lazer da Prefeitura

do Recife: 3355.1220.

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- Antropólogo Sérgio Vidal, formado pela UFBA, membro do Coletivo

Marcha da Maconha: (11) 2667.0420.

- Juiz aposentado Alípio Carvalho Filho: 9952.2804.

- Neco Tabosa, jornalista formado pela Unicap, responsável pelo blog

Filipeta da Massa, organizador do livro �O Fino da Massa� e produtor das

camisas Barralombra: 8737.6150.