33

Cantar de Galo, Autor Juan Toro

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Uma obra de Juan Toro.Leitura livre. Semeando livros.

Citation preview

Page 1: Cantar de Galo, Autor Juan Toro
Page 2: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

Cantar de Galo

Uma obra de:Juan Toro

São Carlos2015

Diagramação:Vagner Shirikawa

Fotografia Cantar de Galo:Manuel Andrade

Page 3: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

SumárioCantar de GaloContrabandoMelodiasManifestaçõesVentosSímbolosPólvoraDesprovidoSabedoriaAmanhecendoVamos brigar?HistóriasMetáforasMundo do gigante senhorPolítica de letrasLáAquiCorpoDia frioMundo costumaTrama-seSonsRodasIdade passaDiferenciarFiguraOriundoTempoFechadura

Page 4: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

4

Cantar de GaloJuan Toro

Cantar de Galo

O cantar dos bárbaros selvagens dos dias tênues estão sendo alterados pelos olhares das pessoas urbanas e cotidianas. Secretas inundações e pontes que-bradas ultrapassadas pela força da natureza que urge e insiste em falar mais alto, em declarar o fim de uma arquitetura falha ou seja negativa. Queda econômica, não importa. Com o que há dá e sobra, com ordem e vontade o homem voa para onde quiser, instaurando a razão desvelada e agora pronunciada. Poder ao presente, poder às mãos ativas e incansáveis das gerações que brotam.

Page 5: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

5

Cantar de GaloJuan Toro

Contrabando

Contrabando de peixes gordosfamintos de peixinhosde sardinhas apenascontrabando de corposenlatados com etiqueta do impérioregistrado pelo sorriso do bom negocioque deu certo

contrabando de pessoasde um lado a outrocontrabando e roubo da paisagemdo gado e das hortas.

Page 6: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

6

Cantar de GaloJuan Toro

Melodias

Melodias que expulsam as autoridadesMelodias vitoriosasMelodias popularesExpulsam autoridades

Sons de diversas marcaçõesVibração da forçaAtitudes populares

Guerra civil em pleno cenário Praças e casas governamentaisAtacadasPor quebra de contrato

Page 7: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

7

Cantar de GaloJuan Toro

Manifestações

Manifestação inconscienteDas palavras que se escrevemSem notar o tempoNem o desapego

Manifestação corrente que caminha sem destinoSem hora definidaNem da saída nem da volta

Manifestação em ruas e edifíciosTranscurso conhecido

Inconsciente até que não tantoCompartilha carinho e calor do mesmo asfaltoEstica as mãos ou faz comentário

Page 8: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

8

Cantar de GaloJuan Toro

Ventos

Ventos que mordem o sossego Corrompidos fios em estômago rígidoVentos que dissipam telhadosIncorretos augúrios do não planificado

Lerdos sintomas da fatiga em manteigaAmortecida pela luz que entra da janelaAberta

Cortinas fugitivas e erguidasDinâmica paranóia Contagiosa rima

Eloquência da pouca razãoFeito migalha de ontemFeito sobra de ontemFeito aproveitamento de ontemFeito de ontem e de ontem de ontem

Ventos fuzileiros da tarefa Aniquilada ficção do cego perpetuo Sem nexoAberto por inteiro Esfaqueado e abertoGarganta AtéUmbigo Aberto

Lerdos intestinos que morrem Hemorragia deste corpo abertoFatalidade em ventoForma de verso sem temperoÁgua sem oxigênio.

Page 9: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

9

Cantar de GaloJuan Toro

Símbolos

Símbolos são metáforasMetamorfoseada com o tempoCom a corrente que leva e transformaInvisível no arEternos signos sem prevalência universal

Dizeres e só comentaresIrados se tiverem sorteMornos caso sejam rasos

Murmúrios apenas

Letras esparramadasConvulsionadas no corpo do homemEspécie vaga e imprecisa

Devota por natureza ao entornoFormador e castradorDias de semanasHoras de relógiosMeses personificados em astrosDistantesNunca tocados

Page 10: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

10

Cantar de GaloJuan Toro

Pólvora

Pólvora em forma de grama verdeCrescendo solitária na terra desertaMistura de nada e todo no abandono

Infertilidade forçada pelo galope Marchas sangrentas com cheiro mutiladoCom pedaços de orelhas esparramadasEntre tanta extensão de terra e nadaDe deserto e todo despedaçado

Assassinos modernos sem presença nos ilustres dicionários Enciclopédias que omitemOu fazem parteDo todo e nada da grama solitária.

Page 11: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

11

Cantar de GaloJuan Toro

Desprovido

Desprovido dia quenteSem manteiga e sem pão velhoSem água e sem luzSem roupa limpaSem nenhuma necessidade sendo atendida

descuidado dia quentemodifica a geografia populações urbanas ignoradas e afastadas

Page 12: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

12

Cantar de GaloJuan Toro

Sabedoria

Algumas sabedorias se escondem em sombras de insetos minúsculosAlgumas informações transitam pelos viadutos Pelos corredores de má reputação onde a mulher ou homem de pouca sorte matam as horas

Golpes Manchetes de jornais especuladoresDifamadores e caricaturistas convictos

Algumas boas e inteligentes palavras estão escondidas em templos sem tetoInformações que voam sem destinos nem receptoresNada

Algumas boas redações que perdem-se na água infetada por químicosPor corrente elétrica

Fluída Extensa matéria

Inaudita e prosaica figuraIlesa e ofensiva molécula de massa pensante Transportadora de expressões em tom forteRetumbante sem sossegoAtento e medronhoPalavras de caráter universal sem roupagemNem etiquetas

Page 13: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

13

Cantar de GaloJuan Toro

Amanhecendo

Antes de amanhecer devo lembrar algumas palavras de educa-ção corrente, antes de sair de casa puxo toda informação perti-nente, desde o caminho a ser percorrido até a hora de voltar. An-tes de mais nada pretendo estar ajustado nas atividades que irão vir, sejam elas gratas ou ingratas. A linguagem cotidiana possui a sua mala que é esvaziada e preenchida todos os dias da semana, do mês, da década.

Page 14: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

14

Cantar de GaloJuan Toro

Vamos brigar?

Briguemos pela igualdade imediataDesde hojeBriguemos e compartilhemos tudo

As excentricidades úteis eAs casas luxuosas são dos órfãosDos idososDos doentes

Vilarejos para todos nós Quintal com arvores frutíferasBrincadeiras de criançasPlantio perto

Page 15: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

15

Cantar de GaloJuan Toro

Histórias

Histórias em guerras caóticasPessoas ilustres que sacrificam a gargantaPor uma bala que nada pesaQue não vale nada

Morto por mortoPor estorvo nos bolsos dos interesses dos bigodesDos modernos empresáriosCarismáticos e comprometidos com o ambiente sem eco

Morto por ser pedra entre os dedinhos dos pésPor ser aquele que pelas noites atormentaPor ser um vivo por morrer

Page 16: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

16

Cantar de GaloJuan Toro

Metáforas

Metáforas que mexem na cabeça do boiUma coisa colada na testaDa metade que se foi

Eternamente nasceNa face indecente da genteQue se dá na cidade

Abra sua caraPor trás do morto moçoSerpenteCabra Moço sem ossosNada vemos na verdadeMas ganhamos e abrigamos na cidade

Antigos dentes densosQue não misturam nem entendemA doença que não tem curaMas que de repente desafia o menino saudávelQue cresce sem mal nem febreAlma que se doa a simplicidade

Um ar coadoUm quadro que produz liraUma luz em paralelepípedoUm olhar lá em GréciaCristandade refrataria

Por ser cidadeUrbana sem dor

Page 17: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

17

Cantar de GaloJuan Toro

Mundo do gigante senhor

No mundo do gigante senhorHá uma princesa que está à vendaAcorrentada em pescoços de bois

Uma senhorinha que choraQue possui marcas de escravidão

No mundo gigante há um senhorQue vende crianças virtuosasEm canto ou dançaArtes de máxima articulação

No mundo do gigante senhorHá espaço para sofisticaçãoHá pessoas para grandes obrasEtcétera e tal

Page 18: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

18

Cantar de GaloJuan Toro

Política de letras

Ela espalhou o melhor que podiaPelas nossas máximas expressõesGrande e suave mentiraQue late e faz suor no contato que tomou formaFez natureza virgem ser constrangidaEm minutas não lidasGuardadas por alguns que povoam religiõesMitos submetidos aos encantamentos das feras em floresInfantis refletores de tristezasSem peso nem transcendênciaRomances Ficção em literaturaEm prateleira na livreiraDia seguinte morre sem suspiroPor ser indefinidaPolítica de letras

Page 19: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

19

Cantar de GaloJuan Toro

Do outro lado da nação observo corpos que entregam-se à dor e ao prazerEspalhando cáries entre os filhos que não possuem de chão nem sombraSomente silêncio e a reza que costuma insinuar a residênciaDo menino ou mamilo da criança assumida, adolescenteIndolente futuro de um cotidiano um pouco obscuroIntransigente para o singelo pulmãoQue somente ativa no respiroDiário espinho da vidaEstranha e familiarSem ponto final

Page 20: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

20

Cantar de GaloJuan Toro

Aqui

Um versoSe faz de letras fortesEm muros de batalhasPenetrantes nas fronteirasInteragindo com aliados distantesAcordando e estreitando laços consoantesEntre rimas e obstáculos distintivos e decorativosEspalhados pelos ventos, esparramando pelo ar vestígios em frasesMisturam toda sabedoria acumulada em um corpo queimado pelo solDiário e que asfixia as entranhas, costelas, garganta e estômago nas noites.

Page 21: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

21

Cantar de GaloJuan Toro

Corpo

Aventura pessoalDe mostrar que o corpo pode maisDo que aparentaO corpo é instrumento de lutaForça social em estrutura

Única verdade absolutaMaior ferramenta de luta!

Page 22: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

22

Cantar de GaloJuan Toro

Dia frio

Dia frio de sabor frescoSem cachorros na ruaO bairro esta em silêncioTodos fugiram da praga que está vindoDe algum local sem procedência ReconhecidaOlhadaImpossível fazer combateNestes dias onde o ar é o maior inimigoDo corpo humano deste bairroDesta vila despovoada

Dia frio e solitárioDia fresco com ar correndoVento que dizem infetadoTodos correm e euDou-me a chance de dormirEm cada noite num lugar diferenteNuma casa abandonada pelos medrosos que não ficamPor medo da morte que eu não tenho

Page 23: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

23

Cantar de GaloJuan Toro

Mundo costuma

O mundo costuma ser agradável Para com quem se arriscaUma ida sem voltaGloria ou enterroCidadão modernoOu atrasado na precariedade De pensar e atuar No tempoCorrido e até planejadoEstratégico dia mundanoEm cristal que quebraOu é adorado

Sorte para quem arriscaNão ser cozinhado

Page 24: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

24

Cantar de GaloJuan Toro

Trama-se

Enquanto trama-se alguma fábulaA primavera vá tecendo seus sentidosGrudando folhas com tintasEnquanto o sol corre, surge e someEnquanto a lua corre, surge e someHomem que correSurge e someEnquanto haja vontade cria-seMelhores histórias explicativasObjetivas em metáforas lembradasTransmitidas de orelha em orelha.

Page 25: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

25

Cantar de GaloJuan Toro

Sons

Sons que surgem por trás das sombrasDos tambores ou cordasSons que surgem e detonam Fossem bombas

Dentro do ouvido um ritmoMexendo os sentidosCutucando os batimentos cardíacosUm som que desprende invisível Sensações forçadasAtivas pelas notas pronunciadasEm cada som emitidoNos assobios e gritos prolongadosQue entram fazendo estrago

Sons que surgem caindo das nuvensOu brotando por terraTransportada por bicos emplumados Constantes

Page 26: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

26

Cantar de GaloJuan Toro

Rodas

Falar das rodas que giram com forçaAvançando e comendo corpos que cruzam Explodindo o crânioJoelhos sem nexo com as coxas

As rodas

Falar do pedaço de ferro elétricoDo carente de educação As rodas que correm com velocidade de fantasiaEstúpido movimento que não me dá tempo

Desviar nuncaPor que não existe essa remota chancePor que não dá tempoNão se anda a lugar nenhum de forma seguraAs rodas comandam a história das ruasSujas rodasViolentas estruturas

Page 27: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

27

Cantar de GaloJuan Toro

Idade passa

A idade passa sem ser notadamesmo que sendo rabiscadacomprometo esta históriaassim como as outrasnuma pura sanidadede um mundo que afronta compromissos dignos de serem lutadospor ser tão injusto

repúdio avaliadorespermissivos senhores que controlamo dizer ou calaro fazer ou esperar.

Page 28: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

28

Cantar de GaloJuan Toro

Diferenciar

Consigo distinguir o diferente do igualSaber discernir é fundamentalCaso contrarioQueda livre e sem almofadas esperandoCairá rápido como fruta podreSem descansoVirando alimento para mosquitosLarvas e passarinhos.

Page 29: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

29

Cantar de GaloJuan Toro

Figura

Uma pedra ouPedaço de papel ouIngrato fragmento de pele Carcomido na deformidadeDos dias ímpares e sem tonsDos braços curtos que não alcançam almofadasSonhos distantes feitos em tinta que não agarra

Água limpa como torrenteSujeira de cores que mentem sem descontentoOcultam e camuflamConsagração de aglomerados uniformesEm tonalidades identificáveisSombras com brilho autônomo

Corredor de luas internasConformando o pouco ouInsignificante troço de espuma ouÁgua em vaporAmostra da pele rasgadaTransformada em nuvemDensa figura

Page 30: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

30

Cantar de GaloJuan Toro

Oriundo

Alguém que sabeQue conheceE desfruta com seu saberOriundo de um lugar qualquerFeito vida em leituras e correria feita em dorDe mágoa da sociedade que castigaFalta da sorteIngrata vez da tômbola que gira e escolheLocal inseguro Para todosNascer

Page 31: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

31

Cantar de GaloJuan Toro

Tempo

O tempo não sabe de sossego o tempo nem quer sabero tempo é cegoe atletacorredor sem freio nem sede

O tempo não sabe de descansoo tempo nem quer sabero tempo é eternoonipresente.

Page 32: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

32

Cantar de GaloJuan Toro

Fechadura

Orifício desafiador da fechadurafecha dura, ingrata e sem graxa banhada de aço feito ferrugem corroída pela violência da chavecastiga a estrutura do sem oficioburaco inerte que sempre invertea situação fechada ou de saídasituação de entrada ou bem-vinda de uma porta sem nome nem honra aberta e fechada sem dor nem medidasem hora datada nem nenhum aviso

Page 33: Cantar de Galo, Autor Juan Toro

Juan Toro é um autor parte brasileiro, parte chileno que escreve no idioma de ambos os países, é graduado em Comunicação Social e mestrando em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos no Brasil (2014) . Foi diretor e roteirista do curta-metragem Silvano (2013), além de possuir diversas publicações em coletâneas e anto-logias poéticas tanto no Brasil quanto em outros países ao redor do globo, como Argentina, Espanha e Portugal. O autor também assina pelo pseudôn-imo de Juan Castelo D., pelo qual possui outras duas obras publicadas.

Obras do autor: Cantar de Galo (2015)

Nacadema (2015)Estado de Poesia e Prosa (2014)

Puxando a Rede (2014)