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Departamento de Direito CAPACIDADE POSTULATÓRIA DO DEFENSOR PÚBLICO: UMA ANÁLISE DA ADI 4.636 Aluno: Ana Luisa Sénéchal de Goffredo Guerra Orientadores: Thiago Ragonha Varela e Carlos Plastino Esteban Introdução A importância deste tema nos despertou curiosidade por tocar em um assunto que é atualmente relevante e novo perante a comunidade jurídica. De maneira central, será analisada a discussão que chegou ao Supremo Tribunal Federal no ano de 2011 sobre a capacidade postulatória do defensor público (ADI 4.636). Antes de se analisar a fundo a questão suscitada na mencionada Ação Direta de Inconstitucionalidade, desbravaremos a figura do defensor público sobre diversas óticas, inclusive a sociológica, com o propósito de diferenciá-lo da figura do advogado privado e também do advogado público (procurador do Estado, do Distrito Federal, do Município e advogado da União). A partir disso, adentraremos no caso levado à apreciação do Supremo, em agosto de 2011, porém, antes, faremos uma breve elucidação processual sobre a questão da capacidade postulatória. Observar-se que, como a ADI 4.636 ainda não foi a julgamento pelo STF, o presente trabalho procurará divulgar os argumentos que estão em pauta, prós e contra, a respeito da capacidade postulatória do defensor público decorrer exclusivamente da nomeação e posse no concurso público e, por conseguinte, da necessidade (ou não) de sua inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Note-se que o requerente desta ADI é o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), que impugna a constitucionalidade do art. 4º, §6º da Lei Complementar 80/1994, pois acredita que tal dispositivo confronta com o art. 133 da Constituição da República. I A figura do defensor público e do advogado Numa visão estreita, o Defensor Público seria o profissional técnico apto a levar o cidadão necessitado ao Judiciário. Com a sua capacidade postulatória, o Defensor Público seria o advogado custeado pelo Estado, para que as pessoas necessitadas, nos termos da Lei nº 1.060/1950, possam demandar em juízo i . Trata-se da visão do Defensor Público a partir da ótica da primeira onda cappellettiana, traduzida simplesmente, ipsis litteris, no art. 134 da CRFB/88. Afinal, era esta a ideia propulsora quando da própria criação da instituição Defensoria Pública. Contudo, essa visão mostra-se extremamente reducionista e superficial para os dias atuais, especialmente se olharmos para a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Em âmbito institucional diz-se que Os Defensores Públicos são pessoas formadas em Direito e ingressam na Defensoria Pública com, no mínimo, dois anos de experiência, através de aprovação em um rigoroso concurso de provas e títulos. Na defesa dos interesses de seus assistidos, os Defensores Públicos têm atuação no primeiro e no segundo graus de jurisdição, com titularidade e atribuições específicas em razão da matéria a ser examinada ii . Complementando-se com a afirmação de que

CAPACIDADE POSTULATÓRIA DO DEFENSOR PÚBLICO: UMA … · 2012. 9. 5. · A argumentação dos adeptos desta distinção sustentam que os Defensores Públicos, agentes políticos

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    CAPACIDADE POSTULATÓRIA DO DEFENSOR PÚBLICO: UMA

    ANÁLISE DA ADI 4.636

    Aluno: Ana Luisa Sénéchal de Goffredo Guerra

    Orientadores: Thiago Ragonha Varela e Carlos Plastino Esteban

    Introdução

    A importância deste tema nos despertou curiosidade por tocar em um assunto que é

    atualmente relevante e novo perante a comunidade jurídica. De maneira central, será

    analisada a discussão que chegou ao Supremo Tribunal Federal no ano de 2011 sobre a

    capacidade postulatória do defensor público (ADI 4.636).

    Antes de se analisar a fundo a questão suscitada na mencionada Ação Direta de

    Inconstitucionalidade, desbravaremos a figura do defensor público sobre diversas óticas,

    inclusive a sociológica, com o propósito de diferenciá-lo da figura do advogado privado e

    também do advogado público (procurador do Estado, do Distrito Federal, do Município e

    advogado da União). A partir disso, adentraremos no caso levado à apreciação do Supremo,

    em agosto de 2011, porém, antes, faremos uma breve elucidação processual sobre a questão

    da capacidade postulatória.

    Observar-se que, como a ADI 4.636 ainda não foi a julgamento pelo STF, o

    presente trabalho procurará divulgar os argumentos que estão em pauta, prós e contra, a

    respeito da capacidade postulatória do defensor público decorrer exclusivamente da

    nomeação e posse no concurso público e, por conseguinte, da necessidade (ou não) de sua

    inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil.

    Note-se que o requerente desta ADI é o Conselho Federal da Ordem dos Advogados

    do Brasil (CFOAB), que impugna a constitucionalidade do art. 4º, §6º da Lei Complementar

    80/1994, pois acredita que tal dispositivo confronta com o art. 133 da Constituição da

    República.

    I – A figura do defensor público e do advogado

    Numa visão estreita, o Defensor Público seria o profissional técnico apto a levar o

    cidadão necessitado ao Judiciário. Com a sua capacidade postulatória, o Defensor Público

    seria o advogado custeado pelo Estado, para que as pessoas necessitadas, nos termos da Lei

    nº 1.060/1950, possam demandar em juízoi.

    Trata-se da visão do Defensor Público a partir da ótica da primeira onda

    cappellettiana, traduzida simplesmente, ipsis litteris, no art. 134 da CRFB/88. Afinal, era

    esta a ideia propulsora quando da própria criação da instituição Defensoria Pública.

    Contudo, essa visão mostra-se extremamente reducionista e superficial para os dias atuais,

    especialmente se olharmos para a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.

    Em âmbito institucional diz-se que

    Os Defensores Públicos são pessoas formadas em Direito e ingressam na Defensoria

    Pública com, no mínimo, dois anos de experiência, através de aprovação em um

    rigoroso concurso de provas e títulos. Na defesa dos interesses de seus assistidos, os

    Defensores Públicos têm atuação no primeiro e no segundo graus de jurisdição, com

    titularidade e atribuições específicas em razão da matéria a ser examinadaii.

    Complementando-se com a afirmação de que

  • “o Defensor Público é independente em seu mister, litigando em favor dos

    interesses de seus assistidos em todas as instâncias, independente de quem ocupe o

    pólo contrário da relação processual, seja pessoa física ou jurídica, a Administração

    Pública ou Administração Privada, em todos os seus segmentos”iii.

    Fora o fato de o defensor público ter um âmbito de atuação mais elástico, visto que

    sua atuação não só é individual, mas coletiva, além da sua função de promover os Direitos

    Humanos (art. 1º da LC 80/94iv). Enquanto a advocacia limita-se a obrigar, eticamente, o

    profissional a velar pelos direitos e interesses de seus constituintes (art. 2º, § 2º da Lei

    8.906/94).

    Todavia, diante de uma realidade em que, apesar de estar em vias de mudança, há

    uma grande massa que não só é desinformada a respeito de como efetivar seus direitos, mas

    se realmente é titular de certos direitos, sobressai a atuação do Defensor Público, num

    cunho de repercussão social inexoravelmente maior do que o exposto anteriormente. O

    defensor público deve ser entendido, na linguagem de Paulo Galliez, como um instrumento

    de transformação socialv.

    “A ênfase dada ao “instrumento de transformação social” deve-se ao fato de que

    esta é a participação mais significativa da Defensoria Pública, pela possibilidade de

    exercer a atividade de conscientização da classe social excluída, ao invés de ser

    apenas mero instrumento de acesso à Justiça em que o poder estatal, por intermédio

    dos juízes, exerce predominantemente controle das relações sociais”vi.

    Acredita-se, numa visão de “transmutação” do assistido em um sujeito de direito,

    que o defensor deve “olhar no olho, tratar o materialmente despido de proteção como

    cidadão, levantar a sua auto-estima, apresentar-lhe os direitos e a maneira de "tirá-los do

    papel", dando voz a quem historicamente não a tem” vii.

    O Prof. Emir Sader nesta temática vai além, expressando que o defensor público é o

    sujeito que deve estar imbuído de sentimentos morais de justiça, de indignação,

    solidariedade, e, sobretudo, de decisão política.viii

    Ao mesmo tempo, partindo para uma visão sociológica apresentada por Luiz

    Eduardo Pereira da Motta em seu artigo “O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo

    do Defensor Público do Rio de Janeiro”ix, o defensor público do Estado do Rio de Janeiro,

    especificamente, atua num mundo imaginário, distinto do mundo real.

    Isto porque,

    “embora os Defensores Públicos representem os setores populares, o representam

    juridicamente dentro dos preceitos formais do direito não havendo, necessariamente,

    uma adesão política e ideológica a esses segmentos. O Defensor se reconhece como

    um membro de uma corporação estatal que absorve as demandas populares,

    entendendo que o Estado tem de desempenhar esse papel, visto que os princípios

    constitucionais que o elaboram, incorpora nele esse papel de distribuidor de justiça

    visando, desse modo, a redução da desigualdade social para os diversos setores da

    sociedade.”x

    Ele também demonstra uma ambivalência na concepção do Estado apreciada pelos

    defensores públicos cariocas, que ora o veem como agente provedor de justiça,

    “desempenhando um papel positivo (criador de políticas públicas sociais, promotor do

    desenvolvimento econômico, espaço de acesso à Justiça)”xi, ora entendem que este mesmo

    ente impede a distribuição de justiça na medida em que “o próprio Estado não estaria

    estimulando o desenvolvimento institucional da Defensoria Pública (...) definido enquanto

    um aparato repressivo que exerce sua força sobre as camadas subalternas da sociedade”xii.

    Por último, como fator sociológico a se notar, Motta aduz que os defensores

    públicos tentam se diferenciar das demais representações funcionais. Negam qualquer

    concorrência, mas, sem dúvida, observa-se uma tensão entre eles e as demais carreiras

    jurídicas, como se dá no seguinte relato

  • “(...) o que existe é uma política estatal que acabou privilegiando alguns segmentos

    jurídicos como a magistratura e o Ministério Público porque, na verdade, a

    Defensoria Pública deveria ganhar mais que o MP, porque eu acho que o acesso ao

    judiciário é o principal: é a fiscalização do direito. A máquina funciona porque nós

    levamos o problema à máquina; a gente lida com as pessoas, a gente atende as

    pessoas, a gente peneira o problema e encaixa esse problema numa situação jurídica,

    num contexto político e social e leva esse problema para a sociedade, e leva esse

    problema para o judiciário e tenta resolver”xiii.

    Inclusive há esta obstinação pela distinção até com relação ao próprio advogado

    privado,

    “os Defensores tentam se diferenciar dessas outras carreiras jurídicas pelo fato de

    estas não tratarem diretamente com o público carente, como também da figura do

    advogado, que além de este não ter nenhum compromisso social, trabalharia para

    os clientes (e não cidadãos) que possam custear os seus serviços”xiv.

    Após essa crítica sociológica, é imperioso adentrar efetivamente no tortuoso campo de distinção, ou semelhança, entre advogados e defensores. Alguns chamam a identidade de

    carreiras como evidente equívocoxv, enquanto outros não têm dúvida que os defensores

    público são, substancialmente, advogados, podendo assim ser denominados.

    Os advogados possuem um Estatuto próprio (Lei 8.906/1994) que estabelece, em

    seus primeiros artigos, que o exercício da atividade de advocacia e a denominação de

    „advogado‟ são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Além

    disso, esta lei diz que exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei,

    além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Defensoria Pública e das

    Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, entre outrosxvi.

    Esta última afirmação, quanto à subordinação a mais de um regime, encontra-se

    prevista no art. 3º, §1º da Lei 8.906/1994. Trata-se de uma divergência que está em pauta

    atualmente, a qual se divulgará em linhas mais adiante.

    Por ora, vale observar que os que acolhem o entendimento de que os defensores

    públicos não são advogados, dizem que estes somente se assemelham aos primeiros no

    quesito referente à postulação de direito em juízo, chegando a afirmar que eles mantêm

    nítida diferença quanto ao desenvolvimento e a finalidade dos atos profissionaisxvii.

    Lembram que o ingresso na carreira de defensor público se dá mediante concurso

    público de provas e títulos. E, após a investidura no cargo, o defensor fica expressamente

    vedado de atuar como advogado, conforme sacramenta o art. 134, §1º, parte final, da

    CRFB/1988.

    A argumentação dos adeptos desta distinção sustentam que os Defensores Públicos,

    agentes políticos do Estadoxviii, distanciam-se dos advogados. Sendo assim, aqueles

    possuem o dever de defender o direito dos oprimidos, mediante mandato que decorre da

    própria Constituição. Em virtude disso, são consideradas autoridades que atuam com

    independência funcional no desempenho de suas atribuições governamentais. Nesta via, é

    descabido para um defensor público a distinção de clientela, tampouco demonstrar qualquer

    interesse econômico em todo o transcurso dos processos em que atuarxix.

    Em contradição a este atuar, o Advogado exercita sua atividade mediante a

    “outorga de mandato privado, conferido por clientes particulares previamente selecionados

    com pagamento de honorários (quase sempre ajustados por etapa processual), incluindo

    infraestrutura compatível com os serviços contratados”xx.

    Contudo, Rui Barbosa, ainda em 1911, citando um magistrado norte-americano, diz

    que

    “O advogado não é somente o mandatário da parte, senão também um funcionário

    do tribunal. À parte assiste o direito de ver a sua causa decidida segundo o direito e

    a prova, bem como de que ao espírito dos juízes se exponham todos os aspectos do

    assunto, capazes de atuar na questão. (...) Ao tribunal e ao júri incumbe pesar ambos

  • os lados da causa; ao advogado, auxiliar o júri e o tribunal, fazendo o que o seu

    cliente em pessoa não poderia, por míngua de saber, experiência ou aptidão. O

    advogado, pois, que recusa a assistência profissional, por considerar, no seu

    entendimento, a causa como injusta e indefensável, usurpa as funções, assim do juiz,

    como do júri”xxi.

    Numa visão mais sensível da figura do advogado, Carnelutti apresenta percepção

    interessante quando crê que o cliente, quando busca o advogado, coloca como expectativa

    dessa relação não somente seus serviços, sua ajuda, mas, até mesmo, a sua amizade,

    dizendo que

    “advogado é aquele ao qual se pede, em primeiro lugar, a forma essencial de ajuda,

    que é, prioritariamente, a amizade (...) O próprio nome do advogado soa como um

    grito de ajuda. Advocatus, vocatus ad, chamado a socorrer”xxii.

    Observa-se ainda que ao advogado foi atribuído, no art. 133 da CRFB/1988, a figura

    de ser indispensável à administração da justiça. De maneira mais ampla, a Defensoria foi

    considerada uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado (art. 134 da

    CRFB/1988). Portanto, a Constituição não nivelou ambas as atuações, apesar de estarem

    tratadas na mesma Seção, no entendimento do defensor públicoxxiii. Afinal, a atuação do

    último não se limita somente à administração da justiça, sendo maior, pois a completa e

    colabora.

    Outra diferenciação que é ordinária, porém bastante equivocada, é a de que a

    advogado privado é advogado dos ricos e defensor público é advogado dos pobres. Essa é

    uma visão preconceituosa e errônea, devendo ser desmistificada. Primeiro porque isto seria

    remeter o papel do defensor a de um mero postulador de causas, o que significa retirar todo

    o significado que a Constituição da República atribuiu à instituição Defensoria Pública,

    além do fato de que hoje a classe média ter tido necessidade de utilizar o serviço da

    Defensoria Pública, como se clarifica com depoimentos colhidos de defensores públicos:

    “A despeito da importância que já se infere do próprio texto constitucional [art. 5º,

    LXXIV], e com isenção de qualquer ufanismo que possa parecer transparecer, ouso

    ir mais adiante para afirmar que a Defensoria Pública representa, diante do quadro

    de miséria progressiva que decorre do fenômeno globalizante, a mais democrática

    das instituições. Justifico: o empobrecimento da população, e aí se inserem os

    habitantes do Estado do Rio de Janeiro, faz aumentar, ano a ano, o contingente de

    pessoas que buscam a assistência da Defensoria Pública” (José Ricardo Paes de

    Abreu, RDP, n.º 19, 2004:268)”xxiv.

    “Ressalta-se que o termo necessitados vem sofrendo mudanças com o passar do

    tempo e conforme o desenho das relações existentes na sociedade. Enquanto na fase

    inicial identificava-se com a situação de necessidade econômica (carência de

    recursos financeiros ou materiais), em fase posterior passou-se a sustentar a

    existência dos hipossuficientes jurídicos, com a extensão da garantia de assistência

    judiciária aos mesmos. Assim, tanto a carência financeira como a carência jurídica

    autorizam e exigem a prestação de assistência jurídica pelo Estado” (Fábio Costa

    Soares, 2002:p. 75)”xxv.

    “Só que você observa hoje uma família que ganhe um determinado valor, que tem 3

    filhos, que pague aluguel, financiamento imobiliário e, de repente, se vê defendendo

    de uma questão qualquer, os honorários acabam sendo inviabilizadores daquele

    cotidiano da família, vão causando endividamento, vai ter uma dificuldade e, por

    isso, acabam batendo nas portas da Defensoria pessoas que a gente considera como

    egressos da classe média e que, se a Defensoria Pública não as for atender, se elas

    não tiverem condições de ser atendidas, o Defensor faz uma triagem para isso; se

    não forem atendidas pelo Defensor Público elas acabam tendo o acesso à Justiça

    inviabilizado. [...] Se ele chega a esse ponto é porque ele precisa realmente, porque

  • senão ele não estaria ali, buscaria um parcelamento com um advogado”. (Rogerio

    Devisate, entrevista em 4/2/03)”xxvi.

    “Não é um critério objetivo falar „esse cidadão é hipossuficiente e aquele não‟. Eles

    podem até receber o mesmo salário, e um ser e o outro não ser, o parâmetro é

    completamente subjetivo. A gente analisa os gastos mensais que aquela pessoa tem

    e daí a gente deduz, a gente percebe se aquela pessoa tem direito, se tem condições

    financeiras de arcar com um processo e honorários advocatícios sem que se

    prejudique o sustento de sua família. Quais são as perguntas mais freqüentes? Tem

    filho na escola particular, paga plano de saúde? Enfim, as despesas básicas de um

    cidadão que são contadas para a gente analisar se ele pode ter ou não gratuidade de

    Justiça”. (Coordenadora do NUDECON, entrevista em 17/12/02)”xxvii.

    Neste sentido, é válido a afirmação de Galliez quando diz que

    “(...) definir a Defensoria Pública como „o maior escritório de advocacia‟ (como

    alguns se referem à instituição) significa reduzir sua dimensão e enfraquecer sua

    razão de ser como instituição independente. Trata-se, na verdade, de visão

    anacrônica e conservadora, quando os defensores públicos eram vistos como

    ‘advogados dos pobres’, a quem deviam praticar atos de caridade. Ao contrário, o

    acesso à Defensoria Pública é decorrente de garantia constitucional como segmento

    do exercício da cidadania. Não é a pobreza que assegura esse direito, e sim a

    cidadania, pois de outro modo estar-se-ia abrindo espaço para o preconceito”xxviii.

    O que a população deve ter ciência é de que a instituição Defensoria Pública e os

    defensores não estão ali para prestar um favor, ao contrário estão ali para fazer cumprir um

    direito daquele cidadão.

    Diante do exposto, apesar de conflituoso, não se pode negar que a Constituição

    separou, de certa forma, defensores públicos dos advogados privados. E o fez por algum

    motivo, qual seja, data venia, o de se manter na fluência da História brasileira, que possui

    uma desigualdade econômico-social naturalizada pelos olhos e bocas dos brasileiros.

    Para, portanto, desconstruir convicções naturalizadas, é imprescindível a figura do

    defensor público, que no sentido de ser instrumento de transformação socialxxix, promove

    conscientização do seu assistido, uma vez que tem o dever de ampará-lo moralmentexxx.

    Com isso, faz uma justiça mais coloridaxxxi, mais distributiva, mais igual, mais rica, não

    economicamente, mas de novas disputas e demandas de uma classe que, por ser oprimida,

    não conseguia sequer chegar ao Judiciário. Por conseguinte, se faz uma justiça mais justa.

    Esta é a utopia que faz seguir em frentexxxii.

    II – De onde decorre a capacidade postulatória?

    A partir desta distinção entre a figura do advogado e do defensor público, vale

    discutir a proveniência da capacidade postulatória de ambos para ingressar, em especial, no

    Judiciário.

    Partindo para a seara processual, o art. 267, IV do CPC expõe que o processo

    subordina-se a certos pressupostos para sua constituição e desenvolvimento válido e

    regular. Caso contrário, o processo é extinto sem resolução do mérito.

    De acordo com a classificação de Galeno Lacerdaxxxiii, os pressupostos processuais

    agrupam-se em subjetivos e objetivos. Os pressupostos subjetivos referem-se ao juiz, às

    partes e aos terceiros e, por ora, são os que têm relevância para o tema. Mais

    especificamente, o pressuposto relativo aos terceiros, que toca exatamente a capacidade

    postulatória, é o interessante para a matéria em questão.

    Sabe-se que capacidade postulatória é um pressuposto subjetivo de validade do

    processo. Segundo Cássio Scarpinella Bueno, esta capacidade deve ser entendida como a

    autorização legal para atuar em juízoxxxiv. Câmara e Didier simplesmente a expõem,

  • respectivamente, que dizendo que “pode ser definida como a aptidão para dirigir petições ao

    Estado-juiz” xxxv ou que abrange a capacidade de pedir e responderxxxvi. Porém, Didier

    salienta que ela somente é exigida para a prática de alguns atos processuais, os postulatórios

    (pelos quais se solicita do Estado-juiz alguma providência)xxxvii.

    Assim, Cássio Scarpinella Bueno entende que “detêm capacidade postulatória os

    advogados (públicos ou privados), os defensores públicos e os membros do Ministério

    Público” xxxviii. Portanto, ele diferencia explicitamente as figuras de advogado privado,

    público e ainda de defensor público, não integrando a figura deste último dentro da de

    advogado público, como alguns querem fazer. Já Câmara diz que esta aptidão é privativa de

    advogado, no entanto, também a possuem aqueles que exercem funções análogas à de

    advogado, mas apenas quando no exercício de tais funções, exemplificando a atuação do

    Ministério Público como partexxxix.

    É relevante observar que não se confunde capacidade postulatória com o “mandato”

    outorgado aos advogados quando a lei o exige. A primeira é inerente aos profissionais já

    citados (advogados públicos ou privados, defensores, membros do Ministério Públicoxl).

    Enquanto isso, em outra via, o mandato é o contrato pelo qual alguém autoriza que um

    advogado possa atuar profissionalmente, em nome da parte, em um específico caso,

    outorgando-lhes poderes mais ou menos amplos, consoante a diretriz ampla do art. 38,

    caput do CPCxli. Desta maneira, o advogado privado só pode exercer sua capacidade

    postulatória através do mandato judicial, valendo dizer que para postular o advogado

    privado deve fazer prova do mandatoxlii.

    É válido analisar, diante disso, que o advogado adquire capacidade postulatória após

    a inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Essa inscrição somente será

    possível após a comprovação dos requisitos especificados no art. 8º da Lei 8.906/1994,

    quais sejam: a capacidade civil; diplomação ou certidão de graduação em direito, obtido em

    instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada; título de eleitor e quitação do

    serviço militar, se brasileiro; aprovação em Exame de Ordem; não exercer atividade

    incompatível com a advocacia; idoneidade moral e prestar compromisso perante o

    Conselho.

    Contudo, não é dessa mesma constatação que a capacidade postulatória do defensor

    público emerge. Na verdade, a decorrência de sua capacidade postulatória atualmente

    encontra-se em âmbito de divergência. Pode-se dizer que esta disputa teve início a partir da

    vigência da Lei Complementar nº 132/09 que alterou substancialmente a Lei Complementar

    nº 80/94, também chamada de Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública.

    Dentre essas inovações, incrementou-se o §6º ao art. 4º da LC 80/94, que almejou

    “definir o momento em que se dá a capacidade postulatória do Defensor Público, fixando-a

    como decorrente de sua nomeação e posse no cargo público”xliii. Neste entendimento, o

    defensor público para atuar em Juízo ou fora dele, não necessita de instrumento de

    procuração, pois sua atuação decorre de múnus público.

    Não bastasse isso, a reforma da LC 80/94 ainda acrescentou que ele não terá mais a

    capacidade postulatória em decorrência de sua inscrição nos quadros da Ordem. Assim,

    para operar na defesa dos necessitados, tais poderes para postular (ius postulandi) serão

    advindos de sua nomeação e posse no cargo de defensor substitutoxliv.

    Esta é, para alguns, uma das diferenças, já explicitadas, entre defensor público e o

    advogado. Como se percebe, o defensor público tem participação como agente político do

    Estado, não atrelado a interesses particulares, como tem o Advogado no que diz respeito ao

    contrato de honorários dos Advogados. Nesta via, alguns sustentam que “a atuação do

    Defensor Público está tão identificada com a Instituição que se torna difícil distinguir a

    atuação profissional da atuação institucional”xlv.

    Outra novidade também trazida pela LC nº 132/09 para a respeito desta esta

    temática é a do §9º do art. 4º da LC nº 80/1994, que diz:

    Art. 4º. São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

  • (...)

    §9º O exercício do cargo de Defensor Público é comprovado mediante apresentação

    de carteira funcional expedida pela respectiva Defensoria Pública, conforme modelo

    previsto nesta Lei Complementar, a qual valerá como documento de identidade e

    terá fé pública em todo o território nacional.

    Esta norma para alguns doutrinadoresxlvi revoga o art. 26 e §2º da LC 80/1994. Esta

    norma estabelece que o candidato ao cargo de defensor público, no momento da inscrição

    no concurso, deve possuir registro na Ordem dos Advogados do Brasil. Essa exigência

    também vale para os que até então eram proibidos de ter registro na OAB. Sendo assim, o

    Defensor para exercer sua função deveria, antes da interpretação feita por alguns ao §9º do

    art. 4º da LC 80/1994, estar inscrito na OAB, de acordo com o previsto no art. 26, caput e

    §2º, que, até então, não se encontram revogados, discussão que se elucidará adiante.

    O posicionamento dos que afirmam a revogação do art. 26 e §2º pelo art. 4º, §9º da

    LC nº 80/94 é a inconstitucionalidade da imposição pelo Estatuto da Ordem da inscrição

    dos Defensores Públicos naquela entidade,

    “considerando que o dispositivo contido no artigo 134, §1º, da Carta Magna, veda o

    exercício da advocacia, não havendo que falar de exercício advocacia dentro de suas

    funções institucionais por tratar-se de contradictio in terminis”xlvii.

    Visto esses principais questionamentos que estão em pauta atualmente na órbita do

    Supremo Tribunal Federal, faz-se mister a imersão na ADI 4.636, que trouxe novas (ou

    velhas) “farpas” suscitadas entre a instituição e a entidade.

    III – ADI 4.636 e a capacidade postulatória

    Tendo em vista a diferenciação que alguns fazem da figura do defensor público e do

    advogado, desenrola-se, inerentemente a discussão a respeito das consequências da

    capacidade postulatória desses sujeitos decorrer de um ou outro diploma legal. Estas

    contendas criaram terreno sólido para as questões levantadas pela ação direta de

    inconstitucionalidade 4.636.

    A ADI 4.636 foi ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do

    Brasil para questionar a constitucionalidade do inciso V do art. 4º, especificamente do

    trecho „e jurídicas‟, e da íntegra do §6º, ambos do art. 4º da Lei Complementar 80/1994xlviii.

    Nesse sentido, vale narrar os referidos acréscimos:

    Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

    (...)

    V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e o

    contraditório em favor de pessoas naturais e jurídicas, em processos administrativos

    e judiciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias, ordinárias ou

    extraordinárias, utilizando todas as medidas capazes de propiciar a adequada e

    efetiva defesa de seus interesses; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de

    2009).

    (...)

    §6º A capacidade postulatória do Defensor Público decorre exclusivamentexlix de sua

    nomeação e posse no cargo público (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de

    2009).

    Contudo, em razão do necessário recorte metodológico, para não se avançar além do

    razoável, nos atentaremos aos debates com relação ao §6º do art. 4º da LC 80/1994.

    A título de orientação das próximas linhas, expusemos o arcabouço jurídico e

    normativo utilizado pelo Conselho Federal da OAB na ADI 4.636. Nesta via, deixa-se claro,

    desde já, que eles interpretam o disposto no §6º do art. 4º, não de maneira isolada e literal,

    mas a partir uma análise ampla e esmiuçada de todo o sistema constitucional,

  • infraconstitucional e principiológico que embasa a temática do exercício da advocacia

    (pública ou privada) no território nacional, para concluir pela inconstitucionalidade do

    dispositivo.

    Posta esta introdução, vale dizer que os que defendem a inconstitucionalidade do

    §6º do art. 4º, a sustentam considerando que há evidente afronta ao art. 133l da Carta Maior.

    Isto porque, conforme esclarece a inicial, os defensores públicos são, essencialmente,

    advogados, com necessária submissão ao Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994), que foi

    editado em cumprimento ao art. 5º, XIII da CRFB/1988.

    Nesta ótica, diz-se que a atividade exercida pelos defensores públicos são privativas

    de advocacia, quais sejam, peticionam, participam de audiências, sustentam oralmente,

    recorrem, com a exclusividade de as desempenharem em favor de uma camada necessitada

    da população.

    Não é porque os defensores públicos não se sujeitam ao regime de trabalho do

    Estatuto, ou porque são proibidos de advogar fora do exercício das funções, ou porque são

    obrigados a defender o interesse dos necessitados, que a natureza de suas atividades como

    advogado transmudamli. Desta feita, “a natureza das coisas aponta: são advogados” lii,

    conforme expressa Ophir Cavalcante.

    A OAB defende que, se o próprio art. 134 determina que a Defensoria Pública é um

    órgão essencial à função jurisdicional do Estado, o exercício pelos advogados/defensores

    deve ser autorizado pela inscrição nos quadros da OAB.

    Uma das razões disso é que eles entendem, de plano, que a Constituição não limitou

    o âmbito de atuação da OAB apenas aos advogados privados, interpretação que se extrai

    “da própria Lei Fundamental quando denomina a instituição de Ordem dos Advogados do

    Brasil que todos aqueles que exercem advocacia a integrem”liii.

    Outro motivo para tal inscrição baseia-se no fato de que a OAB exerce, sobre

    àqueles que se sujeitam à disciplina do Estatuto, poder de polícia, que é de natureza distinta

    do poder disciplinar exercido pelas repartições públicas sobre aqueles que estão a elas

    vinculados.

    Diz-se portanto que, no âmbito da Ordem, a fiscalização é ético-disciplinar,

    enquanto a fiscalização sobre os que detêm cargos na Defensoria é funcional. A primeira é

    feita a favor da sociedade, já a segunda é em benefício da pessoa jurídica. Por isso é

    “perfeitamente razoável a sujeição dos Defensores Públicos ao regime ético-disciplinar da

    OAB e ao regime disciplinar-funcional das Defensorias Públicas”liv.

    Agasalha-se também o argumento de que a Advocacia e a Defensoria Pública

    constituem funções essenciais à Justiça, conforme se observa no Capítulo IV, Seção III da

    CRFB/1988. Corrobora-se, a partir disso, que apesar da Constituição as tratar em paralelo, o

    exercício na segunda pressupõe sim a habilitação na primeira.

    “Ora, se fosse intenção do legislador constitucional tratar a Advocacia e a

    Defensoria Pública como institutos diversos, o faria, tratando-as separadamente e,

    não, como fez, agrupando-as na mesma seção, sob o mesmo título „Da Advocacia e

    da Defensoria Pública‟” lv.

    Deste modo, não se pode aplicar a intenção do legislador constituinte, como se

    idêntica fosse, quando desdobrou Ministério Público e Advocacia Pública, respectivamente,

    nas Seções I (Do Ministério Público – artigos 127 e seguintes) e na Seção II (Da Advocacia

    Pública – artigos 131 e seguintes) do mesmo Capítulo IV do Título IV, à intenção quando

    da Advocacia e à Defensoria Pública, que estão situadas na mesma Seção III do Capítulo IV

    do Título IV.

    A respeito do acréscimo do §6º feito pela LC 132/09 ao art. 4º da LC 80/1994, vale

    expor parecer de José Afonso da Silvalvi utilizado na inicial da requerente da ADI 4636:

    O dispositivo legal que confere o direito aos Defensores Públicos de postular em

    juízo, só com a simples nomeação para o cargo e sem inscrição na entidade da

    classe, é inconstitucional, porque ofende princípios universais do direito de postular

  • em juízo, princípio universal em dois sentidos: porque em todo o mundo é assim, e

    porque ninguém pode exercer uma profissão ainda impropriamente chamada liberal

    sem inscrição em sua entidade de classe. Mas é inconstitucional, porque só o

    advogado, ou seja, repita-se, só a pessoa inscrita na Ordem dos Advogados, pode

    postular em juízo nos termos do art. 133 da Constituição. Aqui não é uma mera

    interpretação conforme a Constituição que resolve a inconstitucionalidade, mas a

    sua expressa declaração com redução do texto.

    Deve-se entender o caso a partir da lógica utilizada para os demais profissionais

    liberais que passam a exercer cargo público (como médicos, engenheiros). Todos esses

    profissionais estão sujeitos ao regulamento próprio da profissão (CRM, CREA), e também

    ao regime dos servidores públicos com relação aos cargos que exercem. Conclui-se que a

    nomeação de bacharel em direito para o serviço público não o legitima a postular em

    juízolvii, pois quem detém o ius postulandi é o advogado regularmente inscrito na OAB.

    É capcioso observar, após uma leitura mais atenta e harmônica da LC 80/1994 que o

    próprio art. 26 da LC 80/94 prevê a inscrição na OAB. Todavia, não foi assim que

    pretendeu a LC 132/2009 de início. Ela almejava modificar a redação do caput, bem como

    revogar o §2º, ambos do art. 26. Contudo, o Presidente da República vetou a redação que se

    queria dar ao caput, e, além disso, não revogou o §2º. A redação que a LC 132/09 queria dar

    à LC 80/1994 assim dizia:

    Art. 26. O candidato, no momento da posse, deve comprovar ser bacharel em direito

    e ter no mínimo 2 (dois) anos de atividade jurídica, devendo indicar sua opção por

    uma das unidades da Defensoria Pública da União onde houver vaga.

    A fundamentação do veto foi baseada no interesse público, sendo suas razões

    claramente expostas pela Presidência da República no sentido de que:

    “O exercício da atividade da advocacia no território brasileiro é condicionado à

    inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil. Por sua vez, a atuação da Defensoria

    Pública, nos termos da Constituição, ocorre mediante o exercício da atividade de

    advocacia. Dessa forma, ao excluir a referida inscrição dos requisitos exigidos dos

    candidatos participantes no concurso de ingresso na Carreira da Defensoria

    Pública da União, o projeto afronta a sistemática vigente, abrindo a possibilidade

    para que bacharéis em direito exerçam a advocacia, independentemente de

    aprovação na Ordem dos Advogados do Brasil, daí a necessidade de veto à

    alteração proposta para a redação do art. 26 da Lei Complementar nº 80, de 1994 e

    do art. 16 do projeto de lei, cujo texto revoga o §2º do artigo mencionado. Impõe-se

    em conseqüência, o veto ao art. 16, a fim de se manter a vigência do §2º do art. 26,

    bem como o §2º do art. 71, em vista de sua conexão temática”lviii.

    Portanto, hoje o que vale é a redação do art. 26, caput, sem as modificações

    pretendidas pela LC 132, assim como o §2º continua vigente e aplicável. A única

    modificação da LC 132/09 neste dispositivo se refere ao §1º. Desta forma, assim está

    previsto:

    Art. 26. O candidato, no momento da inscrição, deve possuir registro na Ordem dos

    Advogados do Brasil, ressalvada a situação dos proibidos de obtê-la, e comprovar,

    no mínimo, dois anos de prática forense, devendo indicar sua opção por uma das

    unidades da federação onde houver vaga.

    § 1º Considera-se como atividade jurídica o exercício da advocacia, o cumprimento

    de estágio de Direito reconhecido por lei e o desempenho de cargo, emprego ou

    função, de nível superior, de atividades eminentemente jurídicas. (Redação dada

    pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

    § 2º Os candidatos proibidos de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil

    comprovarão o registro até a posse no cargo de Defensor Público.

    A partir do demonstrado, constata-se que já há uma posição do Executivo Federal

    sobre o assunto, além de haver uma contradição explícita entre as regras inseridas num

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp132.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp132.htm#art1

  • mesmo diploma legal, uma vez que o §6º do art. 4º claramente se choca com o art. 26, caput

    e §2º, ambos da LC 80/94.

    Para suprir o conflito ora exposto, alguns interpretam que é o art. 26 que continua

    com sua total aplicação e constitucionalidade, enquanto o art. 4º, §6º trata apenas de

    referendar que defensores públicos não precisam juntar procuração nos processos que

    atuem, bastando afirmar sua condição funcional, em sintonia com os arts. 89, XI, e 128, XI,

    da LC 80/94. Diferente é o entendimento de Galliez, exposto no item anterior lix.

    Esmiuçando o art. 133, o advogado é indispensável à administração da justiça,

    sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, com fim último de

    assegurar os preceitos constitucionais, especialmente, o dos direitos fundamentais. Sendo

    assim, jamais esse dispositivo deve ser interpretado de forma restritiva, pois, caso assim se

    desse, restaria uma norma de limitado alcance, que não cumpriria com a sintonia do texto

    constitucional. Portanto, diz-se que justiça nessa expressão é feita quando há

    indispensabilidade do advogado.

    No que toca a esta tônica temática, a interpretação dos direitos fundamentais deve-

    se nortear pelo princípio da máxima efetividadelx.

    Visto isso, a interpretação do §6º do art. 4º proposta por aqueles que defendem a

    inscrição do defensor nos quadros da OAB é de que este dispositivo não tem o intuito de

    chancelar ou mesmo desobrigar o cancelamento da inscrição na OAB, exatamente para se

    harmonizar com todo o sistema, em especial com a clareza do solar da necessidade da

    inscrição prevista no art. 26 da LC 80/1994.

    Nesta visão, somente imaginar a situação de ser obrigado a ter o número da OAB no

    momento da inscrição, mas, após a sua nomeação e posse no concurso, ter o direito de

    cancelá-la, seria absurdamente ilógico. Se o registro revela-se imprescindível no momento

    da inscrição, porque, quando da sua nomeação e efetivo exercício dos atos práticos da

    atividade de defensor público, como postular em juízo, atividade também do advogado,

    seria prescindível? Este é o entendimento que se extrairia se ambos os dispositivos (art. 4º,

    §6º e art. 26 da LC 80/94) forem interpretados na literalidade.

    É com esta sintonia que a CFOAB conclui que a origem da capacidade postulatória

    do defensor é proveniente de sua inscrição nos quadros da Ordem, sob pena de nulidade de

    seus atos, conforme informa o art. 4º da Lei nº 8.906/94.

    Além disso, com este posicionamento, é possível sustentar que o defensor público

    pode incorrer nas condutas ilegais tipificadas no regime disciplinar, estabelecidas no art. 34

    e seguintes da Lei 8.906/1994, que, ressalta-se, não foram reproduzidas em leis especiais.

    Por isso se faz necessária a aplicação do regime ético-disciplinar desta lei aos defensores.

    Caso assim não se desse, haveria um atentado à unidade de regulamentação que a

    Constituição pretendeu dar quanto à atividade de todos aqueles que comparecem em juízo

    representando os interesses de alguémlxi.

    Deve-se deflagrar ainda a suposta confusão entre órgão público e agente público. Os

    defensores públicos, assim como os médicos públicos, são agentes, o que não exclui o

    atendimento dos requisitos para essas figuras serem advogados e médicos. O agente não se

    confunde com o órgão ao qual está vinculado.

    “a vontade da pessoa jurídica deve ser atribuída aos órgãos que a compõem, sendo

    eles mesmos, os órgãos, compostos de agentes. (...) Pode-se conceituar o órgão

    público como o compartimento na estrutura estatal a que são cometidas funções

    determinadas, sendo integrado por agentes que, quando as executam, manifestam a

    própria vontade do Estado. (...) Agentes públicos são todos aqueles que, a qualquer

    título, executam uma função pública como prepostos do Estado. São integrantes dos

    órgãos públicos, cuja vontade é imputada à pessoa jurídica. Compõem, portanto, a

    trilogia fundamental que dá o perfil da Administração: órgãos, agentes e funções” lxii.

  • Outro ponto que aproxima a figura do defensor e do advogado privado é a

    parcialidade. O primeiro tem missão constitucional de defender os necessitados, enquanto o

    segundo defende seus clientes. Ambas as defesas são parciais.

    Conclui-se então que as funções essenciais à justiça são a Advocacia lato sensu

    (pública ou privada) e o Ministério Público. Diz-se Advocacia lato sensu, uma vez que a

    Constituição, repetidas vezes, corrobora esse entendimento de não diferenciação das

    advocacias. Vale demonstrar isso na análise dos seguintes dispositivos:

    Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos

    Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do

    Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório

    saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade

    profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das

    respectivas classes.

    Parágrafo único: Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-

    a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus

    integrantes para nomeação.

    Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de quinze membros com

    mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis anos de idade, com mandato de

    dois anos, admitida uma recondução, sendo:

    (...)

    XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados

    do Brasil;

    Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três

    ministros.

    Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo

    Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de

    sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de

    aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

    (...)

    II – um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público

    Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na

    forma do art. 94.

    Da leitura desses dispositivos compreende-se que a palavra advogado dentro da

    Constituição é expressa como gênero, não descendo o constituinte originário na

    especificação das subespécies de advogado público ou sequer referindo-se ao advogado

    privado como aquele que possui outra forma de atuar.

    É perceptível também o fato de que nenhum membro da Advocacia lato sensu

    poderia ocupar cargo de Desembargador ou Ministro através do “quinto constitucional” se

    não fosse inscrito, como advogado, na Ordem. Um exemplo é o desembargador Marco

    Aurélio Bezerra de Mello, ex-defensor público do Estado do Rio de Janeiro, que foi

    contemplado com o cargo de desembargador do TJ-RJ, em razão da indicação da OAB,

    tendo “entrado”, portanto, pelo “quinto”, o que se demonstra perfeitamente legítimo. Isto

    corrobora que,

    Frente à condição estabelecida pela própria Carta Magna para indicação dos nomes

    dos Advogados componentes das listas sêxtuplas, pelo órgão representante da classe, ou

    seja, pela OAB, sem qualquer distinção, conduz a constitucionalidade do §1º do art. 3º do

    EAOAB ao sujeitar às suas denominações o Defensor Público, concomitante ao regime

    próprio a que esteja submetidolxiii.

    Sendo certo, a partir disso, a decretação de inconstitucionalidade do §6º do art. 4º da

    Lei Complementar 80/1994, na visão do Conselho Federal da Ordem.

    Salienta-se também a constatação de que, na prática, há a participação de advogados

    públicos na OAB, tanto no Conselho Federal, quanto nas demais Seccionais Brasil afora,

  • sabendo-se ainda que cada uma delas possui uma Comissão do Advogado Público. Assim,

    “não há, pois, como desvincular qualquer Advogado da OAB, eis que esta promove não só

    a disciplina, como também representa e defende as prerrogativas do profissional”lxiv.

    Tomando emprestada a expressão de Machado de Assis, o Conselho enfatiza que os

    adjetivos passam e os substantivos ficam. Nesta via, deve-se entender portanto que o

    “advogado público, é, antes, advogado”lxv.

    A respeito de como se deu o procedimento desta ADI, informa-se, a título de

    orientação, que o Conselho pediu medida cautelarlxvi, para a suspensão da eficácia do §6º do

    art. 4º, uma vez que está ocorrendo uma enxurrada de demandas por partes dos defensores

    públicos com pedidos de cancelamentolxvii de suas inscrições na OAB. Isto está causando

    uma enorme instabilidade jurídica, vez que alguns juízes estão reconhecendo este pedido,

    enquanto outros estão negando-o, como se pode ver, a seguir:

    “Conforme recentemente noticiado pela imprensa, é fato que diversos Defensores

    Públicos do Estado de São Paulo solicitaram seu desligamento da Ordem dos

    Advogados do Brasil com fundamento na Lei Complementar nº 132/2009 (que

    alterou a Lei Complementar nº 80/1994).

    Sendo assim, a inscrição dos Defensores Públicos na Ordem dos Advogados do

    Brasil não é mais condição para a sua atuação em juízo, ficando superadas com isso

    as previsões dos arts. 3º, §1º, e 4º, caput, do EAOAB (Lei nº 8.906/94), o que aliás é

    perfeitamente compatível com a distinção entre as atividades e com as atribuições

    naturais do cargo de Defensor Público, cuja investidura pressupõe de resto a

    qualificação de bacharel em Direito e verificação da aptidão pessoal em concurso

    público específico.

    De se recordar, em adendo, que os arts. 133 e 134 da Constituição da República

    prevêem em paralelo a Advocacia e a Defensoria Pública como instituições

    essenciais à Justiça, não atrelando o exercício da segunda à habilitação para o

    exercício da primeira”lxviii.

    Outro é o entendimento do desembargador Jacob Valente, também do Tribunal

    paulista,

    “O presente agravo foi interposto pela 'Defensoria Pública do Estado de São Paulo',

    por intermédio do Defensor Público Bruno Ricardo Miragaia Souza e de sua

    estagiária, inconformados com negativa de prévia fixação de honorários relativos à

    sua nomeação como curador especial.

    Porém, segundo consta do ofício circular GP 732/11, recebido do presidente da

    Ordem dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo, Dr. Luiz Flávio Borges D'Urso,

    de 25 de abril de 2011, o subscritor da petição recursal, bel. Bruno Ricardo Miragaia

    Souza, não está regularmente inscrito naquela entidade de classe, sendo, portanto,

    impedido de praticar atos privativos de advogado, nos termos do artigo 3o, 'caput' e

    parágrafo primeiro, da Lei Federal n° 8.906 de 04 de julho de 1994, denominada de

    'estatuto da advocacia'.

    Assim, tendo em vista a previsão contida no artigo 4º da referida Lei Federal,

    segundo o qual "são nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa

    não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas", o

    recurso interposto é manifestamente inadmissível, eis que seu subscritor carpée eje

    capacidade postulatória.

    Por conseguinte, deverá, o mm. juiz da causa, providenciar a regularização da

    representação processual do requerido”lxix.

    Ambas as decisões foram do ano de 2011, e para o CFOAB isso tem gerado na

    prática

    “infortúnios de todas as ordens, tais como a decretação de nulidade dos atos

    praticados por alguns Defensores sem inscrição na OAB, como vem reconhecendo

  • alguns juízos e Tribunais (...), além de outros desdobramentos que, na prática, criam

    incidentes processuais desnecessários e alongam a tramitação dos feitos” lxx.

    Tendo em vista os argumentos fáticos e jurídicos expostos, é mister explicitar os

    contra-argumentos, defendidos especialmente pela Advocacia Geral da União, Advogado-

    Geral do Senado Federal, pela Procuradoria-Geral da República, entre outros, que

    pleitearam o caráter de amigo da corte para auxiliar na causa, como a ANADEP, ANADEF,

    Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e de São Paulo.

    Antes, um dado histórico trazido pelo defensor público Alessandro Izzo Coria

    chama a atenção. O EAOB de 1994 nasceu posteriormente à Constituição de 1988, e nesse

    interregno os defensores públicos postulavam em juízo sem a inscrição na OAB,

    corroborando o fato de que sua capacidade postulatória decorria da capacidade postulatória

    da instituição, conferida pela Constituiçãolxxi.

    A Advocacia-Geral da União, fazendo o seu papel no trâmite da ADI,

    primeiramente salienta que não há qualquer proibição feita pelo constituinte originário

    quanto à possibilidade do legislador ordinário deferir capacidade postulatória a quem não é

    inscrito nos quadros da OAB. Explicita que há autorização constitucional para que se dê

    capacidade postulatória a certos funcionários públicos independentemente de inscrição na

    Ordem dos Advogados do Brasil, além de admitir às partes que postulem em juízo sem o

    auxílio do profissional de direito.

    Outro argumento sustentado pelo AGU é de que este pedido da CFOAB de

    inconstitucionalidade do §6º do art. 4º é fundamento de legalidade e não de

    constitucionalidade. Por conseguinte, “é certo afirmar que a lei merece ser preservada da

    crítica de inconstitucionalidade, uma vez que a questão nos termos apresentados pelo Autor,

    tem índole legal sujeitando-se, por isso, à jurisdição ordinária”lxxii.

    Isto porque, já foi entendido pelo STFlxxiii que, quando o conflito se dá entre duas

    leis de caráter infraconstitucional, não se admite ação direta de inconstitucionalidade. Ou

    seja, a CFOAB pretendeu, nas palavras agora do Advogado-Geral do Senado Federal,

    constitucionalizar as normas do EAOAB (Lei 8.906/1994), invocando-as para servir de

    “paradigma para o controle de validade da Lei ora impugnada”lxxiv.

    Assim, é com convicção que o AGU estampa que o §6º do art. 4º da LC80/1994 não

    possui qualquer confronto com o art. 133 da CRFB/88, como quer tentar convencer o

    CFOAB, pois falta mérito da ação proposta.

    Além disso, o §6º do art. 4º da LC 80/1994 revogou tacitamente o art. 3º da Lei

    8.906/1994, excluindo a Defensoria Pública do âmbito de incidência desta Lei. “A situação,

    portanto, é de sucessão temporal entre atos normativos estatais de mesma hierarquia e não

    de inconstitucionalidade”lxxv.

    O posicionamento do Procurador-Geral da República acompanha também o

    entendimento pela improcedência da ADI, assinando Deborah Duprat, inclusive, que este

    assunto já foi esgotado no Supremo Tribunal Federal, quando relembrou acórdãos de 1989 e

    1995 da Corte, confirmando o que também se fortificou em 2003, na ADI 1.539:

    “Não é absoluta a assistência do profissional da advocacia em juízo, podendo a lei

    prever situações em que é prescindível a indicação de advogado, dados os princípios

    da oralidade e da informalidade adotados pela norma para tornar mais célere e

    menos oneroso o acesso à Justiça”lxxvi.

    Desta forma, em sua opinião, “não há, no artigo 133, monopólio do advogado

    inscrito na OAB para a postulação em juízo”lxxvii. Portanto, este dispositivo em nada infere

    que a capacidade postulatória do defensor daí decorre.

    Alega também que sequer

    “a colocação topográfica da Advocacia e da Defensoria Pública na mesma seção

    tampouco tem o condão de levar à consequência pretendida pelo requerente. Muito

    ao contrário, o que o art. 134 revela é o propósito de ter na Defensoria Pública

    instituição singular, independente e autônoma. Eis por que. (...) Sem a garantia

  • efetiva de acesso à Justiça, a proclamação de todos os demais direitos tornar-se-ia

    mera peça retórica, pois o cidadão não teria como protegê-los diante da sua

    violação, sobretudo quando esta fosse perpetrada pelo próprio Estado”lxxviii.

    Assim, caso os defensores públicos tivessem que se vincular ao poder disciplinar da

    OAB, perderiam uma certa “garantia da independência técnica”lxxix que é decorrência da

    estrutura em carreira, própria da instituição.

    Aliás, deve-se perceber que

    “nem o Ministério Público nem a Magistratura – para ficar nos dois atores mais

    relevantes, junto com a advocacia, na Administração da Justiça - estão sujeitos a

    controle ético-profissional por uma entidade de classe, mas tão-somente respondem

    à estrutura a que institucionalmente estão vinculados. A experiência jurídica, no

    entanto, não evidencia que tais categorias estejam mais sujeitas a qualquer tipo de

    violação ética”lxxx.

    Foi ainda de especial importância a PGR, para reforçar a autonomia funcional da

    Defensoria, mencionar os casos recentes que se deram nas ADIs 3.965/MG e 4.163/SP.

    Esta última deixou claro que a Defensoria, caso necessite, em caráter suplementar e

    provisório, firmar convênios para sua melhor atuação, estes não precisam ser

    exclusivamente com a OAB. Assim, inicialmente deve ficar a seu critério o próprio

    estabelecimento de convênios para a ampliação do atendimento jurídico gratuito,

    respeitando-se sua autonomia administrativa. Segundo, pode firmá-los com quem bem

    entender, já que é livre a definição dos seus eventuais parceiros e dos critérios

    administrativos-funcionais de atuaçãolxxxi.

    Enquanto isso, a ADI 3.965/MG concluiu por inconstitucional a lei que subordinava

    a Defensoria Pública ao Governador de Minas Gerais, integrando-a à Secretaria de Estado.

    Além disso, outro não foi o entendimento na ADI 3.569/PE que,

    “(...)a vinculação da Defensoria Pública a qualquer outra estrutura do estado se

    revela inconstitucional, na medida em que impede o pleno exercício de suas funções

    institucionais, dentre as quais se inclui a possibilidade de, com vistas a garantir os

    direitos dos cidadãos, agir com liberdade contra o próprio Poder Público”lxxxii.

    Ainda, o Ministério Público Federal entendeu que

    “não há disposição constitucional que autorize entendimento de que os Defensores

    Públicos devam estar inscritos na OAB para atuarem como tal. Muito pelo contrário,

    o tratamento dispensado a essa instituição livra-a de ingerências externas,

    especialmente no que diz respeito ao exercício das funções que lhe são típicas” lxxxiii.

    Curiosa é também a constatação do Advogado-Geral do Senado Federal quando

    rebate o argumento do CFOAB a respeito das atividades privativas de advocacia, já que este

    último, conclui que o defensor, se as exerce, deve estar inscrito na OAB, posição

    desmistifica pelo primeiro, que acentua que

    “o fato de a lei ordinária afirmar que tais ou quais atividades são privativas do

    advogado não torna essas atividades imutáveis e exclusivamente consagradas a esta

    categoria. Pelo contrário, a mesma forma normativa (lei) pode estabelecer exceções,

    deferindo capacidade postulatória a outros em situações determinadas”lxxxiv.

    A Defensoria Pública do Rio de Janeiro, pretendendo a qualidade de amicus curiae

    no caso, faz referência ao parecer que foi dado por Celso Antônio Bandeira de Mello a

    respeito da necessidade de permanência ou não do defensor nos quadros da Ordem, após

    passar no concurso da Defensoria. O administrativista foi taxativo pregando a

    desnecessidade, baseando-se nos fundamentos idênticos ao expresso pelo §6º do art. 4º da

    LC 80/1994, entre outras ponderações:

    “Não são raras no Direito as hipóteses em que é exigido um determinado requisito

    para a constituição de uma certa situação, mas não o é para a persistência dela.

    Assim, para que alguém ingresse em certos cargos públicos (como os de policial

    militar, por exemplo) exige-se uma determinada compleição corporal e uma certa

  • aptidão física, mas não é exigido que as mantenha ao longo do tempo. Para aceder à

    posição de professor titular, demandam-se provas de que possua uma aptidão

    didática em um certo nível, mas a perda deste nível ao longo do tempo não implica

    na destituição do cargo (...) Em suma: não há confundir a previsão de um requisito

    para a constituição de uma certa situação jurídica com a necessidade de sua

    persistência para que permaneça a situação em causa”lxxxv.

    Aliás, a inscrição do defensor na Ordem, sendo por ela fiscalizado afronta a

    autonomia administrativa e funcional da própria Defensoria Pública. Como afirma Izzo

    Coria, esta

    “autonomia funcional tem por objetivo permitir que a instituição seja livre para o

    exercício de suas funções sem sofrer influência ou pressão de qualquer Poder,

    instituição, ou órgão do Estado, (...) esta autonomia se comunica aos membros da

    instituição, visto que estes atuam em nome dela”lxxxvi.

    Já a autonomia administrativa garante à Defensoria, entre outras atribuições,

    fiscalizar a atividade de seus membros. Passar essa autonomia para a OAB é ferir o que lhe

    foi atribuído pela Carta Maior.

    Em suma,

    “as autonomias constitucionais da Defensoria Pública nem precisariam estar

    expressas na Constituição, pois são corolários lógicos das próprias disposições

    constitucionais na medida em que ao tratarem Das Funções Essenciais à Justiça no

    Capítulo IV do seu Título IV, não só deixam claro que a Defensoria Pública não é

    departamento ou setor de qualquer dos Poderes da República ou de órgãos

    autônomos, como também diferencia claramente Defensoria Pública de Advocacias

    particular e pública, não vinculando ou condicionando a atividade da Defensoria

    Pública, enquanto instituição essencial à Justiça, à autorização ou habilitação a ser

    concedida por qualquer deles. (...) Ora, um serviço público de assistência jurídica

    integral e gratuita independente, autônomo, livre de peias que o entrave, deve ser

    atribuído a órgão constitucionalmente autônomo e, por sua vez, deve ser exercido

    por profissionais que possuam independência para atuação. A fim de corroborar essa

    autonomia, veio à tona o novo parágrafo 6º do artigo 4º da LC 80/1994”lxxxvii.

    Interessante é o argumento levantado quando se coloca em xeque o art. 30 e o art.

    34, I, ambos da Lei 8.906/1994. O primeiro impede o exercício da advocacia pelos

    servidores contra a Fazenda Pública que lhes paga seus proventos. Nesta ótica, “sendo o

    defensor público um servidor da Administração, e, exercitante da advocacia, como quer o

    EAOB, está impedido de propor qualquer ação contra o Estado”lxxxviii. O que é permitido

    pelo art. 4º, §2º da LC 80/94, já que o defensor atuará inclusive contra as pessoas jurídicas

    de direito público.

    O segundo, art. 34, I do EAOAB, constitui infração disciplinar exercer a profissão,

    quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não

    inscritos, proibidos ou impedidos. A partir disso, conclui-se que o defensor público está

    incorrendo em uma infração administrativa a cada vez que propõe uma ação contra o

    Estado.

    Recorda-se ainda o fato de que o servidor público pode sofrer sanções penais, civis

    e administrativas pelos atos que pratica. Conforme entende Maria Sylvia Zanella Di Pietro

    “O servidor responde administrativamente pelos ilícitos administrativamente

    definidos na legislação estatutária e que apresentam os mesmos elementos básicos

    do ilícito civil: ação ou omissão contrária à lei, culpa ou dolo e dano. Nesse caso, a

    infração será apurada pela própria Administração Pública, que deverá instaurar

    procedimento adequado a esse fim, assegurado ao servidor o contraditório e a ampla

    defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, nos termos do art. 5º, LV, da

    Constituição”lxxxix.

  • Contudo, caso o defensor seja inscrito na OAB, está sujeito à jurisdição do Tribunal

    de Ética e Disciplina da mesma, caracterizando a punição, tanto pela Ordem quanto pela

    Corregedoria da Defensoria, bis in idem, já que o defensor poderá ser punido pelo mesmo

    fato duas vezes, na visão explicitada por Izzo Coria.

    Argumento forte, balanceando a lógica do sistema, enfim, é o que expõe que

    “Assim sendo, temos duas situações distintas, desiguais e se for admitida como

    válida a obrigação dos defensores públicos contribuírem obrigatoriamente com a

    OAB haverá desrespeito ao princípio da isonomia material, vez que uns podem

    advogar (os Procuradores) e outros são impedidos (Defensores e demais autoridades

    e servidores impedidos de advogar). Por este prisma, também entendo por

    inconstitucional o dispositivo que obriga a manutenção da inscrição dos Defensores

    nos quadros da OAB com a regular contribuição de anuidade nos termos do art.

    3º§1º da Lei nº 8.906/94. E mais: a exigência de inscrição na Ordem para a

    participação no concurso somente tem de ser vista sob o enfoque da capacidade

    técnica, já que os exames de ordem têm sido o divisor entre o bacharelado e o

    exercício da advocacia”xc.

    Finalmente, zelando pela lógica do sistema, foi bem avaliado pelo Senado que “as

    implicações práticas do dispositivo impugnado em nada prejudicam a qualidade ou a

    segurança dos serviços profissionais prestados pela Defensoria Pública”xci, ao contrário do

    que sustenta o Conselho Federal.

    Dessa forma, fica-se a espreita de uma solução pelo STF a respeito da questão, tão

    relevante para o mundo jurídico. Decidindo-se a favor da constitucionalidade do dispositivo

    impugnado, estar-se-á abrindo um caminho novo, diferenciando em mais um ponto os

    advogados dos defensores públicos e corroborando a independência funcional destesxcii.

    Caso o STF considere inconstitucional o §6º do art. 4º da LC 80/1994, aproximará ambas as

    figuras, impondo ao defensor público subordinação a mais de um diploma legal. Neste

    sentido, o STF deve ponderar a questão, lembrando, entretanto, que tudo o que é novo causa

    temor aos que não estão abertos ao novo.

    Conclusão

    Diante de todo o exposto, percebe-se que é extremo é o embate dos que prezam pela

    Ordem dos Advogados do Brasil deter, de certa forma, um “monopólio” para a concessão

    da capacidade para postular em juízo.

    Não nos furtamos à análise da capacidade postulatória do defensor público através

    da verificação legislativa, jurisprudencial e doutrinária a respeito dessa temática. Como se

    sabe, para ser defensor público é preciso mais do que simplesmente passar no concurso

    público, é necessário vocação. Isto porque para lidar com os assistidos é imprescindível não

    apenas conhecimento jurídico, mas entendê-los, e lutar junto deles.

    Dessa forma, o Conselho Federal da OAB, ao pretender atrelar a capacidade

    postulatória do defensor público à inscrição na OAB é levar ao Supremo Tribunal Federal

    uma discussão já infundada, pois em nada acrescenta na prática ele estar ou não vinculado à

    matrícula da ordem para atuar, isto em nada enobrece ou melhora a qualidade de sua

    atuação perante seus assistidos.

    Portanto, esta discussão deve ser enxergada pelo mundo jurídico como mais um

    obstáculo a ser enfrentado pela Defensoria Pública em sua atuação. Desta maneira, como o

    Supremo Tribunal Federal tem se norteado, cada vez mais, no sentido constitucional da

    efetividade, partindo da análise dos que se pronunciaram sobre o tema, parece haver uma

    convergência em se prezar pela autonomia funcional e administrativa do ente e de seus

    membros, sem qualquer vinculação deste gênero com a OAB, apesar das similitudes do

    exercício prestado pela figura do advogado e a do defensor público.

  • Sendo assim, cumpre prezar pela supremacia da Constituição, porém, sempre se

    enxergando os dois lados, ponderando-se, não especificamente uma solução, mas o porquê

    do questionamento, e se vale a pena prosseguir neste, enfim, se há um propósito real por

    trás daquela querela. Só assim estaremos alinhados ao propósito maior, que é a

    conscientização dos obstáculos que precisam ser transponíveis e dos que precisam ser

    pensados, sem nos desvirtuarmos do caminho da cidadania, para então, colhermos os frutos,

    estes traduzidos em uma instituição mais forte e comprometida com seus cidadãos.

    Bibliografia

    1- BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os

    conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 1ª edição, 4ª tiragem. São Paulo:

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    8- GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Os Princípios Institucionais da Defensoria Pública. 4ª

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    9- ROCHA, Amélia Soares da. Defensoria Pública e transformação social. Jus Navigandi,

    Teresina, ano 9, n. 400, 11 ago. 2004. Disponível em:

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    10- SADER, Emir. Estar com os de baixo. Disponível em

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    11- MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do

    Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em

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  • 12- BARBOSA, Rui. O dever do advogado. Carta a Evaristo de Moraes. 3ª ed. Rio de

    Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2002. p. 41-2. Vale salientar que o magistrado que inspirou

    Rui Barbosa foi o juiz Sharswood da Suprema Corte de Pensilvânia, à época.

    13- CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. São Paulo: Editora Pillares,

    2009. p. 32-3.

    14- LACERDA, Galeano. Despacho Saneador. Apud BERMUDES, Sérgio. Introdução ao

    processo civil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 115-116.

    15- BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria

    geral do direito processual civil. Vol. 1. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 419.

    16- CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 1. p. 226.

    17- DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. 1. 11ª ed. Salvador: Editora

    JusPodivm, 2009. p. 223.

    18- LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. p. 157.

    19- CARVALHO FILHO. José dos Santos. Manual de direito administrativo. 24ª ed. Rio

    de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 12, 14, 16 e 17.

    20- CORIA, Alessandro Izzo. Atos do defensor público independem da OAB. Disponível

    em < http://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-

    exame-oab>. Acesso em 07 mar. 2012.

    21- ZVEIBIL, Daniel Guimarães; VERNASCHI, Rafael Valle. Sinceridade

    constitucional: Defensoria não é disciplinada pelo Estatuto da OAB. Disponível em

    . Acesso em 14 mar. 2012.

    22- DI PIETRO. Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. Apud CORIA, Alessandro

    Izzo. Atos do defensor público independem da OAB. Disponível em <

    http://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-exame-

    oab>. Acesso em 07 mar. 2012.

    23- LA TORRE, Wagner Giron de. A capacidade postulatória dos Defensores Públicos.

    Disponível em < http://www.apadep.org.br/artigos/a-capacidade-postulatoria-dos-

    defensores-publicos>. Acesso em 14 mar. 2012.

    i

    MARTINS, Rubismark Saraiva. Defensores Públicos. Defensores do Povo. Disponível em . Acesso em 03 abr. 2012. ii DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO. O defensor público. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. iii DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO. O defensor público. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. iv “Art. 1º A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,

    incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a

    http://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-exame-oabhttp://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-exame-oabmailto:guimaraes_us%40yahoo.comhttp://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-exame-oabhttp://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-exame-oabhttp://www.apadep.org.br/artigos/a-capacidade-postulatoria-dos-defensores-publicoshttp://www.apadep.org.br/artigos/a-capacidade-postulatoria-dos-defensores-publicoshttp://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/13152/RUBISMARK_SARAIVA_MARTINS.pdfhttp://www.portaldpge.rj.gov.br/Portal/conteudo.php?id_conteudo=18http://www.portaldpge.rj.gov.br/Portal/conteudo.php?id_conteudo=18

  • orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal. (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009)”. v É desta forma que o autor exprime o papel do defensor em ambos os seus livros. GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 12; GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Os Princípios Institucionais da Defensoria Pública. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 95. vi GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. p. xv. vii

    ROCHA, Amélia Soares da. Defensoria Pública e transformação social. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 400, 11 ago. 2004. Disponível em: . Acesso em 15 abr. 2012. viii

    SADER, Emir. Estar com os de baixo. Disponível em . Acesso em 16 abr. 2012. ix MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público

    do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. x MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 79. xi MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 75. xii MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 72 e 75. xiii Segundo Motta, este relato é de um defensor público do Núcleo do “Sistema”, colhido em 20 dez. 2002. MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 87. xiv MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 85. xv GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 35. xvi Ver Lei 8.906/94, art. 3º, §1º. xvii GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 35. xviii O defensor público Paulo Galliez afirma este entendimento fundamentando sua posição na teoria do órgão, usando, especialmente, o critério da posição estatal, formulado por Hely Lopes Meirelles, que leva em conta a hierarquia entre os órgãos. Sendo assim, ele classifica a Defensoria Pública como um órgão independente, e, por conseguinte, afirma que seus agentes são políticos. É relevante deixar claro que essa posição não é pacífica, já que se argumenta que a Defensoria Pública é, na verdade, um órgão autônomo da estrutura do Poder Executivo, apesar da Constituição de 1988, no art. 134, §2º ter dado a ela iniciativa orçamentária, ela não preenche as características por completo de um órgão independente, por isso, ainda é divergente a opinião quanto aos seus membros serem agentes políticos de órgãos independentes, como sustentam os próprios defensores em geral. xix

    GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 35. xx

    GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 35. xxi

    BARBOSA, Rui. O dever do advogado. Carta a Evaristo de Moraes. 3ª ed. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2002. p. 41-2. Vale salientar que o magistrado que inspirou Rui Barbosa foi o juiz Sharswood da Suprema Corte de Pensilvânia, à época. xxii

    CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. São Paulo: Editora Pillares, 2009. p. 32-3. xxiii

    Esse é o entendimento, especialmente, de Paulo Galliez, quando ainda salienta que “o advogado é indispensável à administração da justiça, a Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado.” Os defensores públicos, portanto, estão a serviço deste último. GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 35-6.

    http://jus.com.br/revista/edicoes/2004http://jus.com.br/revista/edicoes/2004/8/11http://jus.com.br/revista/edicoes/2004/8/11http://jus.com.br/revista/edicoes/2004/8http://jus.com.br/revista/edicoes/2004http://jus.com.br/revista/texto/5572/defensoria-publica-e-transformacao-socialhttp://alainet.org/active/1307&lang=eshttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdf

  • xxiv

    MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 80. xxv MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 80. xxvi MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 83. xxvii

    MOTTA, Luiz Eduardo Pereira da. O Estado e a Sociedade na Concepção de Mundo do Defensor Público do Rio de Janeiro. Disponível em . Acesso em 15 abr. 2012. p. 83. xxviii

    GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. p. 260. xxix

    GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 12. xxx GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. A Defensoria Pública, o Estado e a Cidadania. p. 12. xxxi Visto que a camada pobre e miserável da população brasileira possui 80% de negros. (Informação trazida no julgamento da ADPF 186, Rel. Ministro Ricardo Lewandowsky, Brasília, em 26 abr. 2012). xxxii Assim aludiu, parafraseando Eduardo Galeano, Márcio Thomaz Bastos, representando a Associação Nacional dos Advogados Afrodescendentes (ANAAD), amicus curiae na ADPF 186. xxxiii LACERDA, Galeano. Despacho Saneador. Apud BERMUDES, Sérgio. Introdução ao processo civil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 115-116. xxxiv BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil. Vol. 1. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 419. xxxv CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 1. p. 226. xxxvi CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol 1. p. 226. xxxvii DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. 1. 11ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2009. p. 223. xxxviii BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil. Vol. 1. p. 419. xxxix CÃMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 1. p. 226-7. O exemplo de Câmara, no caso, foi de um promotor de justiça tendo capacidade postulatória quando do ajuizando perante o Estado-Juiz de uma petição de ação civil pública. xl Sendo que, para assim serem denominados, devem preencher diferentes requisitos, que serão vistos posteriormente. xli BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil. Vol. 1. p. 419. xlii Essa prescrição encontra-se no art. 5º da Lei 8.906/94, bem como no art. 36 c/c art. 37, ambos do CPC. xliii GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Princípios institucionais da Defensoria Pública. p. 74. xliv

    A carreira de defensor público é, via de regra, composta de três classes: defensor público substituto, defensor público (classe intermediária) e defensor classe especial. xlv GALLIEZ, Paulo Cesar Ribeiro. Princípios institucionais da Defensoria Pública. p. 75. xlvi Como, por exemplo, Paulo Galliez, ferrenho defensor da capacidade postulatória do defensor público decorrer da nomeação e posse no referido cargo. xlvii

    GALLIEZ, Paulo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. p. 75-6. xlviii

    Ambos os dispositivos mencionados tiveram redação dada pelo art. 1º da LC 132/2009, que como já exposto previamente, alterou de maneira consubstancial a LC 80/1994. xlix

    Para Izzo Coria, tal advérbio deixa claro o afastamento de qualquer outro requisito para o defensor postular em juízo que não seja a nomeação e posse no cargo. l “Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. li STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lii STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. liii STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. liv STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lv STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial.

    http://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdfhttp://www.achegas.net/numero/41/luiz_eduardo_41.pdf

  • lvi

    Parecer concedido para servir de base para o ajuizamento da ADI 4.636 pelo CFOAB. lvii STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lviii PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Mensagem nº 802, de 7 de outubro de 2009. Disponível em . Acesso em 14 mai. 2012. lixVer item 3.2 – De onde decorre a capacidade postulatória?. lx Conforme expõe Lenza, “Também chamado de princípio da eficiência ou da interpretação efetiva, o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais deve ser entendido no sentido de a norma constitucional ter a mais ampla efetividade social”. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. p. 157. lxi

    STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lxii

    CARVALHO FILHO. José dos Santos. Manual de direito administrativo. 24ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 12, 14, 16 e 17. lxiii

    STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lxiv STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lxv STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lxvi Neste ponto é importante verificar que o Rel. Min. Gilmar Mendes adotou o rito do art. 12 da Lei nº 9.868, considerando a relevância da matéria. lxvii

    O cancelamento da inscrição na OAB está regulamentado no art. 11 da Lei 8.906/1994. Especialmente, no caso do defensor público que a cancelou, este poderá, conforme o §2º do art. 11, fazer novo pedido de inscrição (sem, contudo, restaurar o número de inscrição anterior), devendo, entretanto, fazer prova da capacidade postulatória, do não exercício de atividade incompatível com a advocacia, de inidoneidade moral, além de ter de prestar compromisso perante o Conselho. lxviii “Ementa: Processual. Defensoria Pública. Capacidade postulatória. Defensor desligado da OAB/SP. Irrelevância. Lei Complementar n° 139/2009. Suficiência da nomeação e posse no cargo público correspondente. Preliminar dos apelados rejeitada. Apelação conhecida. Processual. Usucapião. Domicílio dos proprietários não informado pelos autores. Citação desde logo por edital. Nulidade. Ausência de quaisquer diligências na tentativa de localização desses réus. Inteligência dos arts. 231, I, e 232, II, do CPC. Garantias do contraditório e do devido processo legal. Aplicação do art. 515, § 4o, do CPC. Conversão do julgamento em diligência." (Acórdão do TJ-SP, Apelação n. 0016223-20.2009.8.26.0032, Comarca de Araçatuba, 2ª Câmara de Direito Privado, Rel. Fábio Tabosa, data de julgamento 03/05/2011). lxix “Ementa: Recurso Agravo regimental contra negativa de seguimento de agravo de instrumento por ausência de capacidade postulatória Subscritor que não se encontra inscrito nos quadros da OAB Filiação, contudo, que é obrigatória ao advogado - Condição necessária ao exercício da profissão, dentro da qual se insere a defensoria pública Inteligência dos artigos 1º e 3º, § 1º da Lei 8.906/94 e do art. 36/CPC Indeferimento liminar mantido - Agravo regimental desprovido.” (Acórdão do TJ-SP, Processo n. 0088611-46.2011.8.26.0000, 12ª Câmara de Direito Privado, Rel. Jacob Valente, data de julgamento 27/07/2011). lxx

    STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Petição inicial. lxxi

    CORIA, Alessandro Izzo. Atos do defensor público independem da OAB. Disponível em < http://www.conjur.com.br/2011-jul-06/exercicio-advocacia-nao-estar-vinculado-exame-oab>. Acesso em 07 mar. 2012. lxxii STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Parecer da Advocacia-Geral da União. lxxiii

    Um exemplo é a ADI 3.151/MT que dispõe que “Assim, por se constituir em confronto que só é direto no plano infraconstitucional mesmo, insuscetível se torna para autorizar o manejo de um tipo de ação de controle de constitucionalidade que não admite intercalação normativa entre o diploma impugnado e a Constituição da República.” (ADI 3.151/MT, Rel. Min. Carlos Britto, Julgamento: 08/06/2005). lxxiv

    STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Informações prestadas pelo Senado Federal. lxxv

    STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Parecer da Advocacia-Geral da União. lxxvi STF, ADI 1.539, Rel. Min., Maurício Corrêa, julg 24/04/2003, DJ, 05/12/2003, p. 17. Apud STF, ADI 4.636, Rel. Min. Gilmar Mendes, Brasília. Parecer da Procuradoria-Geral da República. lxxvii STF,