8
 Capela de São Roque Atual Capela da Nossa Senhora das Febres Situada na freguesia da Vera-Cruz, no bairro piscatório da Beira-mar, na Rua de São Roque e próximo do canal com o mesmo nome, e do local onde se situavam os antigos lavadouros públicos, mandados erigir pelo Sr. Dr. Lourenço Peixinho, está implantada a Capela da Nossa Senhora das Febres, outrora evocativa de São Roque 1  e cuja a data de construção se desconhece. É uma construção em pedra e cal, com cobertura em telha, da fábrica Campos, pintada ao gosto popular, que do ponto de vista arquitetónico, nada tem de notável. Na fachada principal, à entrada do templo, dois contrafortes, um de cada lado da porta, servem de bancos. No interior do templo, ao fundo, encontra-se a capela-mor, com o altar principal, encimado por um retábulo de madeira, pintado de dourado, onde se inscreve a imagem da padroeira – Nossa Senhora das Febres. 1  Marques Gomes,  Memórias de Aveiro, Aveiro, 1875, pág. 144; O Districto de Aveiro, Coimbra, 1877, pág. 130;  Arquivo do Distrito de Aveiro / A Memória So bre Aveiro de Pinho Queimado, por Francisco Ferreira Neves, vol. III, 1937, pág. 95.

Capela de São Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido

Embed Size (px)

Citation preview

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

Capela de São Roque

Atual Capela da Nossa Senhora das Febres

Situada na freguesia da Vera-Cruz, no bairro piscatório da Beira-mar, na Rua deSão Roque e próximo do canal com o mesmo nome, e do local onde se situavam osantigos lavadouros públicos, mandados erigir pelo Sr. Dr. Lourenço Peixinho, estáimplantada a Capela da Nossa Senhora das Febres, outrora evocativa de SãoRoque1 e cuja a data de construção se desconhece. É uma construção em pedra e

cal, com cobertura em telha, da fábrica Campos, pintada ao gosto popular, que doponto de vista arquitetónico, nada tem de notável. Na fachada principal, à entradado templo, dois contrafortes, um de cada lado da porta, servem de bancos. Nointerior do templo, ao fundo, encontra-se a capela-mor, com o altar principal,encimado por um retábulo de madeira, pintado de dourado, onde se inscreve aimagem da padroeira – Nossa Senhora das Febres.

1 Marques Gomes, Memórias de Aveiro, Aveiro, 1875, pág. 144; O Districto de Aveiro, Coimbra, 1877,pág. 130;  Arquivo do Distrito de Aveiro / A Memória Sobre Aveiro de Pinho Queimado, por Francisco

Ferreira Neves, vol. III, 1937, pág. 95.

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

 

A imagem fora adquirida por subscrição pública e ali colocada, em substituição,da Virgem sentada e o Menino - escultura quatrocentista, em alabastro, de

Nottingham (Inglaterra), que terá transitado para a igreja paroquial da Vera-Cruz2, à cerca de 50 anos3. Do lado direito do altar-mor situa-se a sacristia; sobreesta, dispõe-se o campanário, já sem o pequeno sino e com uma singela armação deferro. No corpo da capela, junto ao transepto, constam dois altares, em madeirapintada, sobre os quais, aparecem duas imagens, executadas na antiga e afamadafábrica de louça, do Cojo4, de Pedro António Marques5, ou Pedro Serrano,autênticas relíquias, das olarias locais. A escultura do lado do Evangelho é alusiva

2  História de Aveiro-Sínteses e Perspetivas, ed. CMA, 2009, pág. 107.

3Testemunho recolhido a 2 de janeiro de 2012, junto do Sr. Pedro Naia Sardo, natural da Rua de São

Roque, com 88 anos de idade e atual zelador da capela.4 Rangel de Quadros, Aveiro – Apontamentos Históricos, VI, fls.40-41.5 Marques Gomes,  Monumentos – Retratos – Paysagens, col. 96; Rangel de Quadros,  Aveiro-

 Apontamentos Avulsos, Manuscrito, fls. 109-110.

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

a S. Tomé, a do lado da Epístola, a São Roque6. O teto do púlpito e o coroapresentam-se em madeira, tosca.

S. Tomé

São Roque

6 Christo, António, Capelas de Aveiro, pp. 86-87

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

 

Imagem de S. Roque e da Virgem Maria

No interior do templo constaram, em tempos remotos, as sepultadoras e as lápidesfunerárias, dos primeiros proprietários da capela. Uma informação paroquial de26 de maio de 1721, escrita por frei Manuel Coelho de Oliveira, afirma que nacapela de São Roque existia «huma Sepultura com hum Letereyro, q dis o Seg.te:Esta sepultura he de Roque Varella Durasso na Era de 1645». Por sua vez, ogenealogista Francisco de Moura Coutinho de Almeida Eça faz ainda alusão a uma

senhora, que falecera a 20 de agosto de 1591, de nome D. Custódia Varella, casadacom Afonso Gonçalves de Barros, irmão do Padre Gabriel Gonçalves, «instituidorde uma capela de missas da qual deixou por herdeiro, seu irmão Afonso», mãe deRoque Varella, afirmando que todos aqueles indivíduos moravam na Rua de S.Roque «e foram sepultados na dita capela»7.

7  Arquivo do Distrito de Aveiro / Pachecos e Cardosos da Região Aveirense, por Francisco MouraCoutinho de Eça, vol. X, 1944, p. 124; Arquivo cit. /  Informações Paroquiais, vol. II, 1936, pp. 152 e

154.

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

 

Rangel de Quadros, baseando-se também, na informação paroquial, do vigário jácitado, acrescenta que: «Mais outra Cappella intitulada com a invocação de SantRoque, foy instituída pello Padre Gabriel Gonçalves Varella; e de prezente headministrada pellos freguezes da mesma freguezia»8. Por sua vez, um testamento,datado de 15 de setembro de 1574, de João Jorge Rolão, atesta também, aexistência à data, da referida capela, quando este devoto afirma que doa «cento ecinquenta reis a São Roque».Assim sendo, deduz-se que a capela terá sido edificada em finais do século XVI.

8  Arquivo do Distrito de Aveiro / Informações Paroquiais, vol. II, 1936, pág. 152.

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

 

Na Beira-mar, São Roque, o protetor das pestes era o Santo padroeiro de mestresconstrutores de naus, carpinteiros, tanoeiros, calafates e atividades afins, porque oflagelo da pestilência atormentava Aveiro, desde a Era de Quatrocentos,dizimando por vezes, famílias inteiras9. O culto à Virgem também se fazia, emsimultâneo. Os aveirenses eram na sua generalidade grandes devotos da VirgemMaria.

Durante o século XVI e até à dominação filipina10, Aveiro era um dos principais

centros de construção naval. As referidas agremiações, que satisfizeram asnecessidades da Expansão Portuguesa, chegaram mesmo, a receber consideráveisprivilégios da governação régia, de D. Manuel I, D. João III e D. Sebastião 11. Haviaestaleiros navais, um pouco por todo o lado, ao longo dos canais da Fonte Nova,Canal Central, Botirões e São Roque.

O fecho da Barra, a estagnação das águas da laguna e a transformação da zona,em pântano epidémico, associado ao declínio das agremiações socioprofissionais,

9 Rangel de Quadros, Aveiro-Apontamentos Avulsos, Manuscrito, pp. 61-69; Gaspar, João Gonçalves,

 Aveiro na História, pp. 47-48.10  História de Aveiro-Sínteses e Perspetivas, ed. CMA, 2009, pp. 107 e 125.11 Christo, António, Capelas de Aveiro, pág. 85.

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

de solidariedade social, implantadas até então junto à ermida, fizeram com que apopulação mudasse a invocação, para Nossa Senhora das Febres12, sem no entanto,abandonarem de vez, o culto a São Roque, e de organizar festejos, em sua honra elouvor13.

No último quartel do século XIX e princípios do século XX, nos festejos da NossaSenhora das Febres, os despiques entre filarmónicas, as cantigas ao desafio e osentremezes14,  faziam parte do programa das festas15 e atraíam uma grandeassistência16. O Riso do Vouga, em setembro de 1915, informava: “Este ano, nacapela de São Roque, onde se festeja a Senhora das Febres, há rija festa, commúsicas, iluminações e entremez (...). É quase uma surpresa a apresentação dumgrupo dramático para a representação de uma revista de costumes locais episcatórios ”17.

Na semana anterior aos festejos, decorriam na capela, as missas, por alma dosfamiliares, já desaparecidos18, solicitadas por todos os interessados.

A capela durante os festejos apresentava-se toda ornamentada de flores. No largoda mesma havia arraial da parte da tarde e à noite tocava-se a despique a Música

Velha19 e a Música Nova

20.

O último dia da Festa da Nossa Senhora das Febres era marcado pelas cavalhadas 21, verdadeiras justas de destreza física, como a do mastro ensebado,encimado por um bacalhau, colocado no Largo da Nossa Senhora das Febres e por

 jogos tradicionais, que atraíam muita gente. Do programa das festas constavamsempre as tradicionais corridas de cantarinhas e do saco e, a partir de inícios doséculo XX, com o alargamento do canal de São Roque, das peculiares regatas debateiras e caçadeiras a remos ou a pás, da atividade salícola, com despique detripulações, agrupadas por mesteres (marnotos, salineiras, pescadores, calafates,carpinteiros, entre outros), ruas ou estado civil, apoiadas ao som de palmas dosespetadores e animadas e ornamentadas, com o estralejar de foguetes22.

12  História de Aveiro-Sínteses e Perspetivas, ed. CMA, 2009, pág. 125.

13Christo, António, Capelas de Aveiro, pág. 85, pp. 87-88.14

Sarabando, João, Cagaréus e Ceboleiros / Aveiro – Usos e Costumes, ed. Campo das Letras, 1996, pág.

91.15 Idem, pp. 91-92.16

Christo, António, Capelas de Aveiro, pág. 88.17 Sarabando, João, Cagaréus e Ceboleiros / Aveiro – Usos e Costumes, ed. Campo das Letras, 1996, pág.

91.18

Testemunho recolhido a 2 de janeiro de 2012, junto do Sr. Pedro Naia Sardo, natural da Rua de São

Roque, com 88 anos de idade e atual zelador da capela.19 Filarmónica de Aveiro, fundada em 1834, que em 1856, passou a designar-se por  Banda Amizade (Vd.

 Arquivo, VII, pp. 100-103).20 O mesmo que Filarmónica   Aveirense, fundada em 1856 (Vd. Rangel de Quadros,  Aveiro-

 Apontamentos Históricos, I, fl. 197; Arquivo, VII, pág. 102).21Sarabando, João, Cagaréus e Ceboleiros / Aveiro – Usos e Costumes, ed. Campo das Letras, 1996, pág.91.22 Idem, pág. 85.

5/12/2018 Capela de S o Roque ou da Nossa Senhora das Febres_convertido - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/capela-de-sao-roque-ou-da-nossa-senhora-das-febresconver

Em 1853, a capela de São Roque, em elevado estado de degradação, forarestaurada, por iniciativa de Francisco de Pinho Vinagre, pai do Padre Jorge dePinho Vinagre23.

Em 1936, a comissão da qual José da Naia Sardo era  juiz introduziu melhorias na

capela, ao mandar cimentá-la e soalhá-la, porque até aí, o chão era de junco24

, talcomo atesta, um painel de azulejos, colocado numa das paredes interiores25. Asparedes da capela, continuavam, no entanto, lisas, sem qualquer revestimentoazulejar. O pano azulejar da fábrica Aleluia seria colocado no ano de 1961, no seuinterior e na fachada exterior do templo, na segunda metade, do século XX26.

O dia da evocação da Nossa Senhora das Febres era o dia 8 de setembro. A festaera promovida, organizada e financiada pelos marnotos da Ria de Aveiro, quepara tal, aceitavam ser mordomos e andar em bateiras, de marinha em marinha, atirar a esmola do sal  (isto é, a pedir o contributo em sal, para patrocinar osfestejos).

Quando o dia 8 de setembro não coincidia com um domingo, os festejostransitavam, para esse dia da semana.

Presentemente, esta festa anual, que marcava o fim do trabalho salícola, já não seefetua na sua plenitude, resume-se por falta de verbas e de mordomos, à missaanual, por volta das 12h00 e à reza do terço, cerca das 15h00, na capela, no dia 8de setembro27.

23Aveirense que se evidenciou, como regente da Filarmónica Aveirense, ou Música Nova (Vd. Rangel de

Quadros, Aveirenses Notáveis, II, Manuscrito, fl. 171).24 Testemunho recolhido a 2 de janeiro de 2012, junto do Sr. Pedro Naia Sardo, natural da Rua de São

Roque, com 88 anos de idade e atual zelador da capela.25 Christo, António, Capelas de Aveiro, pág. 85.26 Testemunho recolhido a 2 de janeiro de 2012, junto do Sr. Pedro Naia Sardo, natural da Rua de São

Roque, com 88 anos de idade e atual zelador da capela.27 Testemunho recolhido a 28 de dezembro de 2011, junto da residente, D. Maria da Graça, com 76 anos

de idade, moradora à 59 anos, na freguesia da Vera-Cruz.