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CAPÍTULO II
AMBIENTE FINANCEIRO BRASILEIRO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
1. Como ocorrem as intermediações financeiras e identificar os mais importantes
tipos de intermediários financeiros que atuam no mercado brasileiro.
2. Descrever o sistema financeiro nacional, seus agentes e suas funções.
3. Identificar a composição e as subdivisões do mercado financeiro.
4. Classificar os tipos de mercados e as operações desenvolvidas, quanto aos prazos,
no mercado financeiro.
1. INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA
As operações de intermediações financeiras no mercado ocorrem através de
participações de instituições financeiras. A instituição financeira coloca-se entre os agentes
econômicos (pessoas, empresas, governo, organizações etc.) que possuam disponibilidade de
caixa para aplicações (poupança) e aqueles que necessitam de crédito. A intermediação no
mercado financeiro visa conciliar os interesses dos agentes econômicos superavitários em
aplicar suas poupanças, e dos deficitários, em tomar recursos emprestados.
Uma instituição financeira pode atuar de forma direta, atuando por conta própria,
realizada geralmente por bancos comerciais; ou de forma auxiliar (indireta), quando age em
nome de terceiros. Na forma direta, a instituição capta recursos no mercado pagando uma
remuneração (juros) aos investidores. A diferença entre a taxa de juros cobrados dos
tomadores de crédito e a paga aos aplicadores é denominada de spread.
Na forma indireta, a instituição auxilia os tomadores e aplicadores na realização de
negócios, atuando como um fator auxiliar de aproximação entre as partes, em que para a
execução desses serviços é cobrada uma comissão. Essa forma de intermediação geralmente
ocorre em bolsas de valores, envolvendo operações de longo prazo, como emissão e
negociação de títulos de dívida (debêntures, por exemplo) e prazo indeterminado, como ações.
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Dentre os mais importantes tipos de intermediários financeiros que atuam no
mercado brasileiro:
• Bancos Comerciais/Múltiplos: intermediários financeiros que transferem recursos
dos agentes superavitários para os deficitários, mecanismo esse que acaba por criar
moeda através do efeito multiplicador. Os bancos comerciais podem descontar títulos,
realizar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente, realizar
operações especiais de crédito rural, de câmbio e comércio internacional, captar
depósitos à vista e a prazo fixo, obter recursos junto às instituições oficiais para
repasse aos clientes, dentre outras operações. Já os bancos múltiplos possuem pelo
menos duas das seguintes carteiras: comercial, de investimento, de crédito imobiliário,
de aceite, de desenvolvimento e de leasing. Atuam em crédito imobiliário, crédito
direto ao consumidor e certas operações de financiamento de longo prazo típicas dos
bancos de investimentos e operações de arrendamento mercantil.
• Bancos de Investimentos: captam recursos através de emissão de CDB e RDB, de
captação e repasse de recursos e de venda de cotas de fundos de investimentos. Esses
recursos são direcionados a empréstimos e financiamentos específicos à aquisição de
bens de capital pelas empresas ou subscrição de ações e debêntures. Estes bancos não
podem destinar recursos a empreendimentos mobiliários e têm limites para
investimentos no setor estatal.
• Sociedade de Arrendamento Mercantil: operam com operações de "leasing" que
tratam de locação de bens de forma que, no final do contrato, o locatário pode renovar
o contrato, adquirir o bem por um valor residual ou devolver o bem locado à
sociedade. Atualmente, tem sido comum operações de leasing em que o valor residual
é pago de forma diluída ao longo do período contratual ou de forma antecipada, no
início do período. Estas instituições lastreiam suas operações por meio de recursos
próprios, colocações de debêntures (obrigações de longo prazo) de emissão própria e
empréstimos levantados no país e no exterior.
• Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento: as "financeiras" captam
recursos através do aceite e colocação de letras de câmbio no mercado e sua função é
financiar bens de consumo duráveis aos consumidores finais (crediário). Tratando-se
de uma atividade de alto risco, seu passivo é limitado a 12 vezes seu capital mais
reservas.
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• Associações de Poupança e Empréstimo: são sociedades civis onde os associados
têm direito à participação nos resultados. A captação de recursos ocorre através de
caderneta de poupança e seu objetivo é principalmente financiamento imobiliário.
Essas associações juntamente com outras instituições voltadas à área habitacional
(sociedades de crédito imobiliário, bancos múltiplos, caixa econômica federal etc.)
fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
2. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é constituído por um conjunto de instituições
financeiras públicas e privadas que atuam através de diversos instrumentos financeiros, na
captação de recursos, distribuição e transferências de valores entre os agentes econômicos. O
Sistema Financeiro Nacional é dividido em dois subsistemas: normativo e intermediação.
O subsistema normativo tem como função editar normas que definam os parâmetros
para transferência de recursos dos poupadores aos tomadores de recursos e controlar o
funcionamento das instituições e entidades que efetuem atividades de intermediação
financeira.
O subsistema normativo é composto pelos seguintes órgãos:
• Conselho Monetário Nacional (CMN): Banco Central do Brasil (BACEN) e Comissão
de Valores Mobiliários (CVM);
• Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP): Superintendência de Seguros
Privados (Susep) e IRB – Brasil Resseguros;
• Conselho de Gestão e Previdência Complementar (CGPC): Secretaria de Previdência
Complementar.
O art. 2° da Lei n° 4.595/64 extinguiu o Conselho da Superintendência da Moeda e do
Crédito e criou o Conselho Monetário Nacional, com a finalidade de formular a política da
moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social do País.
O Conselho Monetário Nacional é o órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional,
com funções deliberativas, cujas normas são de observância obrigatória por todas as
instituições do sistema financeiro.
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A política do Conselho Monetário Nacional tem como objetivo:
• Adaptar o volume dos meios de pagamentos às reais necessidades da economia
nacional e seu processo de desenvolvimento;
• Regular o valor interno da moeda, por meio da prevenção e correção dos surtos
inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa, das depressões
econômicas e de outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais;
• Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamento do país,
tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira;
• Orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras, quer públicas, quer
privadas, tendo em vista propiciar, nas diferentes regiões do país, condições favoráveis
ao desenvolvimento harmônico da economia nacional;
• Propiciar o aperfeiçoamento das instituições financeiras e dos instrumentos
financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de mobilização
de recursos;
• Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;
• Coordenar as políticas monetárias e creditícias, orçamentárias, fiscais e da dívida
pública, interna e externa.
Entre outras, são funções privativas do Conselho Monetário Nacional:
• Autorizar a emissão de papel-moeda;
• Aprovar os orçamentos monetários, que são preparados pelo Banco Central e por meio
dos quais são estimadas as necessidades globais de moeda e crédito;
• Fixar diretrizes e normas da política cambial e, inclusive, compra e venda de ouro e
quaisquer operações em moeda estrangeira;
• Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas
as suas formas;
• Estabelecer normas relativas à fiscalização, constituição e funcionamento das
instituições financeiras;
• Estabelecer normas sobre as políticas de taxas de juros, descontos, comissões e
qualquer outra forma remuneração de operações ou serviços bancários;
• Disciplinar as operações de câmbio;
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• Deliberar sobre as estruturas técnica e administrativa do Banco Central;
• Determinar as características gerais das cédulas e das moedas;
• Determinar a percentagem máxima dos recursos que as instituições financeiras
poderão emprestar a um mesmo cliente ou grupo de empresas;
• Estipular índices e outras comissões técnicas sobre encaixes, imobilizações ou outras
relações patrimoniais, a serem observadas pelas instituições financeiras;
• Delimitar o capital mínimo das instituições financeiras;
• Expedir normas gerais de contabilidade e estatística a serem observadas pelas
instituições financeiras;
• Determinar recolhimento de até 100% dos depósitos à vista e de até 60% do total dos
demais depósitos e/ou títulos contábeis das instituições financeiras, seja na forma de
subscrição de letras ou obrigações do Tesouro Nacional ou compra de títulos da
Dívida Pública Federal, ou seja, por meio de recolhimento em espécie, em ambos os
casos entregues ao Banco Central;
• Determinar os encaixes obrigatórios;
• Regulamentar as operações de redesconto e de empréstimo, efetuadas com quaisquer
instituições financeiras públicas ou privadas de natureza bancária;
• Aprovar o regimento interno e as contas do Banco Central do Brasil, sem prejuízo da
competência do Tribunal de Contas da União;
• Aplicar aos bancos estrangeiros que funcionem no país as mesmas vedações ou
restrições equivalentes, que vigorem, nas praças de suas matrizes, em relação a bancos
brasileiros ali instalados ou que nela desejam estabelecer-se;
• Fixar a orientação geral a ser observada pela CMN no exercício de suas atribuições;
• Regular a utilização do crédito no mercado de valores mobiliários;
• Definir a política a ser observada na organização do mercado de valores mobiliários;
• Definir as atividades da CVM que devam ser exercidas de forma coordenada com o
Banco Central do Brasil;
• Definir os tipos de instituições financeiras que poderão exercer atividades no mercado
de valores mobiliários, bem como as espécies de operações que poderão realizar e de
serviços que poderão prestar nesse mercado;
• Fixar as diretrizes para aplicação das reservas técnicas das sociedades seguradoras,
entidades abertas e fechadas de previdência privada, podendo, no caso das últimas,
estabelecer diretrizes diferenciadas para uma determinada entidade, ou grupo de
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entidades, levando em conta a existência de condições peculiares relativamente a suas
patrocinadoras.
O Conselho Monetário Nacional tem a seguinte composição:
• Ministro de Estado da Fazenda, na qualidade de presidente;
• Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão;
• Presidente do Banco Central do Brasil.
O CMN delibera mediante resoluções, por maioria dos votos, cabendo ao seu
presidente a prerrogativa de deliberar, nos casos de urgência e relevante interesse, “ad
referendum” dos demais membros, devendo, nesse caso, submeter à decisão ao colegiado, na
primeira reunião posterior à prática do ato.
A Lei Nº 4595/64, em seu artigo 8º, transformou a Superintendência da Moeda e do
Crédito em autarquia federal, com sede e foro na capital da República, sob a denominação de
Banco Central da República do Brasil (atualmente, Banco Central do Brasil), com
personalidade jurídica e patrimônio próprio.
O Banco Central do Brasil, entidade autárquica vinculada ao Ministério da Fazenda,
funciona como “banco dos bancos”. Sediado em Brasília, o BACEN tem representações
regionais em Belém, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio
de Janeiro, São Paulo e Salvador.
Os resultados obtidos pelo Banco Central do Brasil são incorporados ao seu
patrimônio. Compete-lhe cumprir as funções que lhe são atribuídas pela legislação em vigor e
executar as normas expedidas pelo CMN.
Suas funções podem ser divididas como segue:
• Funções executivas: quando apenas implementa as resoluções do Conselho Monetário
Nacional;
• Funções de controle e fiscalização: quando direta ou indiretamente controla o
cumprimento dos dispositivos regulamentares;
• Funções próprias: quando exerce funções que lhe foram atribuídas pela lei.
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Compete privativamente ao Banco Central do Brasil:
• Emitir papel-moeda e moeda metálica, nas condições e limites autorizados pelo
Conselho Monetário Nacional;
• Executar os serviços do meio-circulante;
• Receber os recolhimentos compulsórios e também os depósitos voluntários das
instituições financeiras;
• Realizar operações de redescontos e empréstimos a instituições financeiras bancárias;
• Exercer o controle dos capitais estrangeiros nos termos da lei;
• Ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira;
• Exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penalidades previstas;
• Estabelecer condições para a posse e para o exercício de quaisquer cargos de
administração de instituições financeiras privadas, bem como para o exercício de
quaisquer funções em órgãos consultivos, fiscais e similares, segundo normas que
forem expedidas pelo CMN;
• Realizar, como instrumento de política monetária, operações de compra e venda de
títulos públicos federais;
• Conceder autorização às instituições financeiras, a fim de que possam:
a) Funcionar no país;
b) Instalar ou transferir suas sedes, ou dependências, inclusive no exterior;
c) Ser transformadas, fundidas, incorporadas ou encampadas;
d) Praticar operações de câmbio, crédito real e venda habitual de títulos da dívida pública
federal, estadual e municipal, ações, debêntures, letras hipotecárias e outros títulos de
crédito ou mobiliários;
e) Ter prorrogados os prazos concedidos para funcionamento;
f) Alterar seus estatutos.
• Efetuar, como instrumento de política monetária, operações de compra e venda de
títulos públicos federais;
• Estabelecer condições para a posse e para o exercício de quaisquer cargos de
administração de instituições financeiras privadas, assim como para o exercício de
quaisquer funções em órgãos consultivos, fiscais semelhantes, segundo normas que
forem expedidas pelo CMN;
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• Entender-se, em nome do governo brasileiro, com as instituições financeiras
estrangeiras;
• Promover, como agente do governo federal, a colocação de empréstimos internos e
externos, podendo, também, encarregar-se dos respectivos serviços;
• Atuar no sentido de funcionamento regular do mercado cambial, da estabilidade
relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos, podendo, para
esse fim, comprar e vender ouro e moeda estrangeira, bem como realizar operações de
crédito no exterior;
• Emitir títulos de responsabilidade própria, de acordo com as condições estabelecidas
pelo CMN;
• Regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros documentos;
• Prover, sob controle do CMN, os serviços de secretaria do CMN.
O BACEN pode ser considerado: 1. Banco dos Bancos:
a) Em função de receber os depósitos compulsórios e reservas voluntárias dos bancos;
b) Por garantir a liquidez do sistema bancário, por meio de operações de redesconto.
2. Gestor do Sistema Financeiro Nacional:
a) Ao elaborar normas, nos limites fixados pelo CMN, e permitir o funcionamento das
instituições;
b) Ao fiscalizar as instituições financeiras e decretar intervenção.
3. Executor da Política Monetária: pelo controle dos meios de pagamento.
4. Banco Emissor: quando emite moeda.
5. Banqueiro do Governo:
a) Pela administração da dívida pública interna e externa:
b) Por ser gestor e fiel depositário das reservas internacionais do país;
c) Como representante junto às instituições financeiras internacionais;
d) Como receptor de depósitos da União.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia federal, responsável
pela normatização e fiscalização do mercado de valores mobiliários emitidos por sociedades
anônimas que negociam seus títulos como o público.
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Os principais objetivos da CVM são:
• Fortalecer o mercado de títulos e valores mobiliários;
• Assegurar o funcionamento eficiente e regular das bolsas de valores, de mercadorias e
de futuros e de instituições auxiliares que operem nesses mercados.
As principais funções da CVM são:
1. Disciplinar e fiscalizar:
a) A emissão e distribuição de valores mobiliários no mercado;
b) A negociação e intermediação do mercado de valores mobiliários:
c) A organização, o funcionamento e as operações das bolsas de valores e das bolsas
de mercadorias e de futuros;
d) A administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários;
e) A Auditoria de companhias abertas;
f) Os serviços de consultor e analista de valores mobiliários.
2. Fixar limites máximos de preços e comissões cobradas pelos intermediários;
3. Fiscalizar companhias de capital aberto;
4. Suspender a negociação de valores mobiliários;
5. Decretar recesso das bolsas de valores;
6. Divulgar informações para orientar participantes do mercado;
7. Efetuar o registro para negociação em bolsa de valores e no mercado de balcão;
8. Expedir normas aplicáveis às companhias abertas.
Órgão máximo do Sistema Nacional de Seguros Privados, o Conselho Nacional de
Seguros Privados (CNSP), por intermédio de seu colegiado, é responsável pelo
estabelecimento de normas aplicáveis as atividades de seguros no Brasil.
Quando da sua criação, pelo Decreto-lei Nº 73, de 21 de novembro de 1966, a
principal atribuição do CNSP era fixar as diretrizes e normas da política governamental
relativa aos Seguros Privados e à Capitalização. Com a edição da Lei Nº 6435, de 15 de julho
de 1977, suas atribuições foram estendidas à Previdência Privada, no âmbito das entidades
abertas.
Compete à Superintendência de Seguros Privados (Susep) controlar e fiscalizar o
mercado de seguros, previdência aberta, capitalização e planos privados de assistência à
saúde. Criada pelo Decreto-lei Nº 9656/98, a SUSEP é uma autarquia federal vinculada ao
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Ministério da Fazenda e tem competência para fiscalizar a constituição, organização,
funcionamento e operação das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de
previdência privada aberta e operadoras de planos privados de assistência à saúde, na
qualidade de executora da política traçada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados.
Em 1939, foi constituída, na forma de sociedade de economia mista, o Instituto de
Resseguros do Brasil, com a função de regular as operações de resseguros, cosseguros e
retrocessão, além de promover o desenvolvimento das operações de seguro no país.
Sociedade de economia mista criada em 1997, o IRB – Brasil Resseguros surgiu da
transformação do Instituto de Resseguros do Brasil, após a quebra do monopólio da
exploração das atividades de seguro, que até então cabia a este. O resseguro é, em resumo, o
seguro do seguro. O resseguro é um tipo de pulverização em que o segurador transfere a
outrem, total ou parcialmente, o risco assumido. Quando uma companhia assume um contrato
de seguro superior à sua capacidade financeira, ela repassa esse risco, ou parte dele, a uma
resseguradora.
Integrante da estrutura do Ministério da previdência Social, o Conselho de Gestão e
Previdência Complementar (CGPC) é o órgão responsável pela regulação, normatização e
coordenação das atividades das entidades fechadas de previdência complementar (fundos de
pensão), funcionando ainda como órgão recursal, responsável pela apreciação de recursos
interpostos contra decisões da Secretaria de Previdência Complementar, versando sobre
penalidades administrativas. O CGPC é composto por Governo (Ministérios da Previdência,
Fazenda e Planejamento), pelos fundos de pensão, pelos participantes e assistidos e pelos
patrocinadores e instituidores de planos de previdência.
Fechando o subsistema normativo, a Secretaria de Previdência Complementar
representa o órgão executivo do Ministério da Previdência e Assistência Social, responsável
pelo controle e fiscalização dos planos e benefícios e das atividades das entidades de
previdência privada fechada (instituições restritas a certos grupos de trabalhadores, mantidas
por meio de contribuições periódicas de seus associados e da empresa mantenedora). As
entidades de previdência privada fechada não podem ter finalidade lucrativa e são entidades
complementares ao sistema oficial de previdência e assistência social.
O subsistema de intermediação tem como função operacionalizar a transferência de
recursos do poupador para o tomador, de acordo com as regras estabelecidas pelas entidades
integrantes do subsistema normativo.
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O subsistema de intermediação é composto pelas seguintes instituições:
• Instituições Financeiras Bancárias;
• Instituições Financeiras Não Bancárias;
• Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE);
• Instituições Auxiliares;
• Instituições Não Financeiras.
Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as
pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a
coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda
nacional ou estrangeira, e a custódia de valor propriedade de terceiros. Equiparam-se às
instituições financeiras as pessoas físicas que exerçam qualquer dessas atividades, de forma
permanente ou eventual.
As instituições financeiras somente podem funcionar no Brasil mediante prévia
autorização do Banco Central do Brasil ou, quando estrangeiras, por intermédio de decreto do
presidente da república. É ilegal o desempenho de atividades de coleta, intermediação ou
aplicação de recursos sem prévia autorização.
As Instituições Financeiras Bancárias são as instituições financeiras autorizadas a
captar recursos junto ao público sob a forma de depósitos à vista, podendo, por isso, criar
moeda estrutural. Como exemplo, pode-se citar os bancos comerciais, bancos econômicos,
cooperativas de Crédito, bancos cooperativos e bancos múltiplos com carteira comercial.
As Instituições Financeiras Não Bancárias são aquelas não autorizadas a captar
recursos sob a forma de depósitos à vista. Como exemplo, tem-se os bancos de investimento,
bancos estaduais de desenvolvimento, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de
crédito, financiamento e investimento, companhias hipotecárias e bancos múltiplos sem
carteira comercial.
As instituições do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo são aquelas
autorizadas a captar recursos sob a forma de depósitos em caderneta de poupança, cujos são
destinados principalmente ao financiamento habitacional. Dentre as instituições componentes
podem-se citar sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimo,
caixas econômicas (estaduais) e bancos múltiplos com carteira de crédito imobiliário.
As Instituições Auxiliares são aquelas que prestam serviços aos intermediários
financeiros, criando condições propícias de mercado para a emissão e circulação de títulos e
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valores mobiliários, sem, entretanto, efetuar operações de compra e venda, tais como a bolsa
de valores, as entidades de mercado de balcão organizado, as sociedades de compensação e
liquidação de operações, as bolsas de mercadorias e futuros, o sistema especial de liquidação
e custódia (SELIC) e a central de custódia e liquidação financeira de títulos.
As Instituições Não Financeiras desenvolvem atividades tipicamente financeiras,
estando representadas pelas sociedades administradoras de cartões de crédito e sociedades de
fomento mercantil.
3. MERCADO FINANCEIRO
O Sistema Financeiro pode ser entendido como o conjunto de instrumentos,
mecanismos e instituições que asseguram a canalização da poupança para o investimento, ou
seja, dos setores que possuem recursos financeiros superavitários para os que desejam ou
necessitam de recursos (deficitários).
No que diz respeito a suas finalidades e às instituições que as praticam, as operações
do mercado financeiro podem ser agrupadas em quatro grandes mercados: monetário, crédito,
de capitais e cambial.
• Mercado monetário: é o mercado onde se concentram as operações de curto e curtíssimo
prazo, que permitem o controle da liquidez monetária da economia (controle da oferta de
moeda e das taxas de juros). São negociados nesse mercado, principalmente, os papéis
emitidos pelo Tesouro Nacional e destinados à execução da política monetária do governo e
aqueles emitidos com o intuito de financiar as necessidades orçamentárias da União, além de
diversos títulos emitidos pelos Estados e Municípios.
• Mercado de crédito: atuam neste mercado basicamente os bancos comerciais e
múltiplos, objetivando suprir as necessidades de recursos de curto e médio prazo dos diversos
agentes econômicos, seja pela concessão de créditos às pessoas físicas, seja por modalidades
de empréstimos e financiamentos às empresas.
• Mercado de capitais: tem como objetivo canalizar recursos de médio e longo prazo para
agentes deficitários através das operações de compra e de venda de títulos e valores
mobiliários, que envolvem desde títulos de endividamento de curto prazo (commercial
papers) e de longo prazo (debêntures), passando por títulos representativos do capital das
empresas (ações) e até títulos relacionados a outros ativos ou valores (mercadorias, parcerias
em gado, por exemplo) transacionados entre empresas, investidores e intermediários. As
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negociações nesse mercado podem ocorrer tanto nas bolsas de valores, bolsas de mercadorias
e futuros, como fora delas, também chamadas de mercado de balcão. A Comissão de Valores
Mobiliários é o principal órgão responsável pelo controle e fiscalização das bolsas de valores
e da emissão de valores mobiliários negociados nessas instituições, principalmente ações e
debêntures.
• Mercado de câmbio: ocorrem as diversas operações de compra e venda de moedas
estrangeiras conversíveis. É neste mercado onde são negociadas as trocas de moedas
estrangeiras por reais (moeda brasileira), para atender a diversas finalidades, como a compra
de câmbio, para a importação; a venda, por parte dos exportadores; e a venda/compra, para
viagens e turismo. É nele que se determinam as taxas de câmbio (valor da moeda nacional em
relação a uma moeda estrangeira) que são influenciadas pela oferta e demanda de divisas
(moedas estrangeiras). A taxa cambial média praticada no mercado brasileiro é divulgada pelo
Banco Central, e denominada PTAX.
Pode-se ainda classificar as operações desenvolvidas no mercado financeiro como
operações de curto, médio e longo prazo.
o Curto Prazo: geralmente ocorrem no mercado monetário, onde são realizadas as
operações de curto e curtíssimo prazo a fim de que os agentes econômicos e os
próprios intermediários financeiros superem suas necessidades momentâneas de caixa.
A liquidez desse mercado é regulada por operações abertas, realizadas pelo Banco
Central, via colocação, recompra e resgate de títulos da dívida pública. Compõem o
conjunto de instrumentos utilizados na execução da política monetária, de crédito e de
câmbio.
o Médio e Longo Prazo: geralmente ocorrem no mercado de capitais, onde são
transacionados valores mobiliários, tais como ações, debêntures e quotas de fundos de
investimento, bônus de subscrição, cupons, direitos, recibos de subscrição e
certificados de desdobramentos relativos aos valores mobiliários, certificados de
depósito de valores mobiliários, contratos futuros, de opções e outros derivativos.
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As negociações dos títulos emitidos e transacionados no mercado financeiro podem
ocorrer em dois tipos de mercados, primário e secundário.
o Mercado primário : As empresas ou o governo emitem títulos e valores
mobiliários para captar novos recursos diretamente de investidores (compra e venda de
títulos novos no mercado).
o Mercado secundário: é composto por títulos e valores mobiliários previamente
adquiridos no mercado primário, ocorrendo apenas a troca de titularidade, isto é, a
compra e venda. Não envolve mais o emissor e nem a entrada de novos recursos de
capital para quem o emitiu. Seu objetivo é gerar negócios, isto é, dar liquidez aos
títulos.
As negociações desses títulos emitidos e transacionados no mercado financeiro
ocorrem no mercado das bolsas de valores e/ou no mercado de balcão.
o Mercado de bolsa: as negociações são abertas e realizadas por sistema de leilão, ou
seja, a venda acontece para quem oferece melhor lance. A arrematação e/ou a
negociação é feita por pregão na modalidade de leilão, em que se negociam,
verbalmente ou por meio eletrônico, preços e quantidades dos ativos.
o Mercado de balcão: a negociação ocorre diretamente entre a instituição financeira e
outra instituição financeira ou não financeiras. Os valores são negociados apenas entre
as partes envolvidas.
Quanto aos prazos, os títulos podem ser de prazo definido (fixo) ou indeterminado.
Os títulos de prazo definido podem ser de curto, médio e longo prazo. Os títulos de curto
prazo correspondem a papéis cujos vencimentos ocorrem em até seis meses; de médio prazo,
quando os vencimentos estendem-se de seis meses a dois anos; e de longo prazo para prazos
de resgate superiores a dois anos.
Um título de prazo indeterminado não possui data marcada para seu resgate
(vencimento), podendo ser convertido em dinheiro a qualquer momento desejado pelo seu
titular, de acordo com a liquidez do mercado.
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4. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1. Dentre as alternativas abaixo, é incorreto afirmar:
a) O Sistema Financeiro Nacional (SFN) tem importância social e econômica no processo de
intermediação e distribuição de recursos no mercado.
b) O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é composto por instituições públicas e privadas que
atuam nos diversos instrumentos financeiros.
c) O órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional (SFN) é o Conselho Monetário Nacional
(CMN), e sua função é normativa.
d) O Banco Central do Brasil, que atua como um organismo fiscalizador do mercado
financeiro é um dos órgãos da CVM.
2. O sistema de intermediação é composto por agentes capazes de gerar poupança para
investimentos e agentes carentes de capital. Estas transferências de recursos processam-se por
meio das instituições financeiras. Assim, com relação ao SFN, não é correto afirmar:
a) Uma característica do banco é a capacidade de interferir nos meios de pagamentos da
economia com a criação da moeda escritural. Devido a essa característica, todo recurso
depositado no banco pode ser devolvido ao mercado sob a forma de empréstimo.
b) Os bancos comercias e múltiplos são instituições financeiras que atendem à demanda por
crédito de tomadores de recursos, sendo que a atuação do banco múltiplo é mais abrangente
que a do banco comercial.
c) A sociedade de arrendamento mercantil e a sociedade de crédito, financiamento e
investimento, têm como principais fontes de recursos a colocação de debêntures de emissão
própria e a colocação de letras de câmbio no mercado, respectivamente.
d) O BNDES é um banco de investimento que atua em operação de repasses oficiais. Os
recursos são oferecidos para suprir a necessidade de capital de giro e capital fixo.
e) Associações de Poupança e Empréstimo são constituídas sob a forma de sociedades civis
sem fins lucrativos que atuam no financiamento imobiliário. As APEs fazem parte do
subsistema normativo do SFN.
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3. Os ativos financeiros negociados no mercado podem ser classificados com relação à renda,
prazo e emissão. Assim, não é correto afirmar que:
a) O ativo de renda fixa oferece ao seu titular rendimentos que são previamente conhecidos
parcial ou integralmente. Um título de renda fixa tem rendimento que pode ser prefixado ou
pós-fixado.
b) Os títulos pós-fixados são definidos quando uma parcela dos juros é fixa, e outra parte é
determinada com base em um indexador de preços contratado.
c) O rendimento de um título com base no desempenho apresentado pela instituição emitente
é conhecido como renda variável.
d) CDB, debêntures, caderneta de poupança são exemplos de renda variável.
e) Um título com prazo de vencimento indeterminado não possui data marcada para seu
resgate, mas o mesmo pode ser convertido em dinheiro a qualquer momento que seu titular
desejar.
4. As ações representam uma fração do capital social de uma sociedade. A ação é considerada
um título de renda variável, e seus rendimentos vinculam-se aos lucros auferidos pela empresa
emissora. Com relação ao mercado de ações, todas as alternativas abaixo são verdadeiras,
exceto:
a) No exercício social, parte dos resultados líquidos é distribuída sob a forma de dividendos,
ou seja, parte dos lucros é paga aos acionistas.
b) Uma maneira de remunerar os acionistas é através do pagamento de dividendos. Outra
forma de remuneração dos acionistas é o pagamento de juros calculados sobre o capital
próprio; no entanto, existem certas limitações e condições estabelecidas para essa forma de
distribuição de resultados previstas pela legislação. O pagamento de juros calculados sobre o
capital próprio não proporciona nenhuma vantagem fiscal à empresa.
c) Os subscritores de capital podem beneficiar-se das valorizações de suas ações no mercado,
sendo que este ganho dependerá da conjuntura do mercado e do desempenho econômico-
financeiro da empresa e da quantidade de ações.
d) O direito de subscrição permite a todo acionista subscrever, na proporção das ações
possuídas, todo o aumento de capital; no entanto, esse direito de subscrição pode ser
negociado no mercado pelo investidor quando o preço de mercado apresentar-se valorizado
em relação ao preço subscrito.
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e) Bonificação é a emissão e distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, quando uma
sociedade decide elevar seu capital social. Esta distribuição é feita em quantidade
proporcional à participação de capital. O capital social é elevado em função da incorporação
de reservas patrimoniais.
5. O juro é o valor pago pelo empréstimo de um capital. Um financiamento embute a taxa
livre de risco e o prêmio pelo risco. Assim, não se pode dizer que:
a) SELIC é um sistema especial de custódia e liquidação no qual são negociados os títulos
públicos no mercado monetário.
b) Devido à natureza dos títulos públicos, a taxa SELIC é aceita na economia brasileira como
a taxa livre de risco.
c) Prêmio de risco é a diferença entre uma taxa de juros com risco e outra livre de risco.
d) SELIC não opera com títulos emitidos pelo Banco Central e Tesouro Nacional.
e) O prêmio de risco revela quanto um investidor exige, acima de uma aplicação sem risco (ou
de risco mínimo), para manter sua poupança em determinado título com risco.
6. Complete a palavra cruzada:
Horizontal 1. Sigla do órgão responsável pela organização, funcionamento e fiscalização das Bolsas de Valores, sociedades corretoras e corretores. 2. Título de crédito emitido pelas Sociedades por Ações para captar recursos. 3. Sigla que representa a taxa cambial média praticada no mercado brasileiro divulgada pelo Banco Central. 4. Tributo cobrado na compra e na venda das ações que pertence a Bolsa de Valores. 5. Sigla das ações que conferem ao seu detentor o direito de voto. 6. Bancos cujas atividades caracterizam-se pela atuação mais abrangente em crédito imobiliário, operações de crédito direto ao consumidor e certas operações de financiamento de longo prazo típicas dos bancos de investimentos e operações de leasing. 7. Taxa básica de formação de juros da economia. 8. Nome da empresa com maior participação no índice da Bolsa de Valores de São Paulo atualmente. 9. Sigla do título emitido por instituições financeiras com objetivo de captar recursos de outras instituições financeiras; também conhecida como a taxa de juros que remunera esses depósitos. 10. Sigla do órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional.
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Vertical 1. Mercado onde são realizadas operações de curto e curtíssimo prazos, que permitem o controle da liquidez monetária da economia. 2. É o mais importante indicador do desempenho do mercado de ações brasileiro, pois retrata o comportamento das principais ações negociadas na BOVESPA. 3. Valor representativo de parte dos lucros da empresa, distribuído aos acionistas, em dinheiro, por ação possuída. Por lei, no mínimo 25% do lucro líquido do exercício devem ser distribuídos entre os acionistas. 4. É um aumento de capital deliberado por uma empresa, com o lançamento de novas ações, para obtenção de recursos. Os acionistas da empresa têm preferência na compra dessas novas ações emitidas pela companhia, na proporção que lhe couber, pelo preço e no prazo preestabelecidos pela empresa. 5. É a instituição que compra e vende ações para você. 6. Imposto que incide nos resgates feitos num período inferior a 30 dias. O percentual do imposto pode variar de 96% a 0%, dependendo do número de dias decorridos da aplicação, e incide sobre o rendimento do investimento. 7. Sigla do imposto incidente na maioria das aplicações brasileiras. 8. Indicador de geração de riqueza que mede quanto uma empresa lucra acima do mínimo exigido a vista em função do risco do negócio. Na prática, avalia se a empresa está destruindo ou aumentando o capital dos acionistas. 9. É a diferença entre a taxa de juros cobrada dos tomadores de crédito e a paga aos aplicadores. 10. É considerado o “combustível” do mercado de capitais.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas,
2009. 820p.
ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. São Paulo: Atlas, 2009. 318p.