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85 Capítulo 3 GEOMETRIA DE MASSAS 3.1 INTRODUÇÃO Neste capítulo será feito o estudo de várias propriedades e características geométrico-mecânicas de linhas, superfícies e volumes , as quais constituirão uma ferramenta para a caracterização da massa, peso, distribuição da massa, inércia, etc., de sistemas de partículas discretos ou contínuos, cujo movimento será estudado nos capítulos seguintes ligados à dinâmica. Para além das características geométricas naturais, como o comprimento, área e volume (e as suas características mecânicas de massas e pesos desses comprimentos, áreas e volumes) irá referir-se os conceitos de centro de massa , centro de gravidade, momento estático relativamente a um ponto, eixo ou plano, momento de inércia e produto de inércia também relativamente a um ponto, eixo ou plano. 3.2 CENTRO DE MASSA E CENTRO DE GRAVIDADE O centro de massa corresponde ao centróide de massas de um sistema de partículas. Se o sistema for discreto (constituído por partículas com coordenadas O A k e massas m k ), o centro de massa, G CM , localiza-se na posição determinada através da seguinte expressão: = = = = n k k n k k k CM m M O A m M O G 1 1 ; 1 (3.1) Se o sistema for contínuo , a localização do centro de massa é obtida por:

Capítulo 3 GEOMETRIA DE MASSAS 3.1 I NTRODUÇÃO · O teorema de Pappus-Gulding permite determinar centróides de linhas e superfícies planas e ainda as suas correspondentes linhas

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Capítulo 3

GEOMETRIA DE MASSAS

3.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo será feito o estudo de várias propriedades e características geométrico-mecânicas de linhas, superfícies e volumes, as quais constituirão uma ferramenta para a caracterização da massa, peso, distribuição da massa, inércia, etc., de sistemas de partículas discretos ou contínuos, cujo movimento será estudado nos capítulos seguintes ligados à dinâmica.

Para além das características geométricas naturais, como o comprimento, área e volume (e as suas características mecânicas de massas e pesos desses comprimentos, áreas e volumes) irá referir-se os conceitos de centro de massa, centro de gravidade, momento estático relativamente a um ponto, eixo ou plano, momento de inércia e produto de inércia também relativamente a um ponto, eixo ou plano.

3.2 CENTRO DE MASSA E CENTRO DE GRAVIDADE

O centro de massa corresponde ao centróide de massas de um sistema de partículas. Se o sistema for discreto (constituído por partículas com coordenadas

OAk − e massas mk), o centro de massa, GCM, localiza-se na posição determinada através da seguinte expressão:

∑∑==

=−⋅⋅=−n

kk

n

kkkCM mMOAm

MOG

11;1

(3.1)

Se o sistema for contínuo, a localização do centro de massa é obtida por:

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Geometria de massas

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∫∫ =⋅=−MM

CM dmMzyxdmzyxRM

OG ;),,(),,(1 r (3.2)

Note-se que o integral ∫M

dm será simples,

duplo ou triplo, consoante o sistema de partículas seja unidimensional (1D), bidimensional (2D) ou tridimensional (3D), respectivamente.

Figura 3.1 – Centro de massa.

Se o sistema de partículas estiver sujeito a um campo gravítico, terrestre ou não, ele estará sujeito a forças de atracção gravítica (ou pesos) pontualmente localizadas (sistema de partículas discreto) ou distribuídas (sistema de partículas contínuo). Designa-se centro de gravidade ou baricentro do sistema de partículas ao centróide da distribuição, discreta ou contínua, de pesos do sistemas de partículas.

Num sistema discreto, a localização do centro de gravidade, G, é dado por:

∑∑==

=−⋅⋅=−n

kk

n

kkk ppOAp

pOG

11;1 (3.3)

Figura 3.2 – Peso da partícula de massa mk.

Num sistema contínuo, a localização do centro de gravidade, G, é dado por:

;),,(),,(1

),,(),,(1

⋅=

=⋅=−

M

P

dmzyxgzyxRp

zyxdpzyxRp

OG

rr

r

com ∫∫ ==Mp

dmgdpp (3.4)

Figura 3.3 – Peso elementar associado a uma parcela infinitesimal de massa dm.

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Capítulo 3

87

NOTAS:

1. Se o sistema de partículas for homogéneo (isto é, de massa específica constante) e se o campo gravítico for uniforme (ou seja, a mesma aceleração gravítica para todos os pontos do sistema), então o centro de massa e o centro de gravidade localizam-se no mesmo ponto.

2. Se o sistema de partículas for homogéneo, então o centro de massa é coincidente com o centro geométrico. Se, além disso, o campo gravítico é uniforme, então o centro geométrico corresponde simultaneamente ao centro de massa e ao centro de gravidade.

Considerando o caso de um sistema de partículas contínuo, o centro geométrico, GCG, é dado por:

∫∫ =⋅=−VV

CG dVVdVRV

OG ;1 r (3.5)

Por sua vez, o centro de massa, GCM, é dado por:

∫∫∫∫ ==⋅⋅=⋅=−VMVM

CM dVdmMdVRM

dmRM

OG ρρ ;11 rr (3.6)

onde ρ representa a massa específica do sistema que pode ser constante ou variável no interior do seu volume. Se a massa específica for constante (ρ = constante) então o centro de massa pode ser também definido por:

OGdVRV

dVRdV

OG CGVV

V

CM −=⋅=⋅⋅=− ∫∫∫rr 11 ρ

ρ (3.7)

ou seja, quando ρ = constante o centro de massa coincide com o centro geométrico. Quanto ao centro de gravidade, G, ele é dado por:

∫∫∫∫ ==⋅⋅=⋅=−VPVP

dVdppdVRp

dpRp

OG γγ ;11 rr (3.8)

onde,

g⋅= ργ (3.9)

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Geometria de massas

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representa o peso específico do sistema que, também, pode ser constante ou variável no interior do sistema. Se o peso específico do sistema for constante (γ = ρ · g = constante) então o centro de gravidade pode ser também definido por:

OGdVRV

dVRdV

OG CGVV

V

−=⋅=⋅⋅=− ∫∫∫rr 11 γ

γ (3.10)

ou seja, quando γ = constante o centro de gravidade coincide com o centro geométrico.

3.3 MOMENTOS ESTÁTICOS OU DE 1ª ORDEM

Considere-se uma superfície plana homogénea num campo gravítico uniforme. Nestas condições, o centro geométrico da superfície coincide com o centro de massa e com o centro de gravidade e é dado por:

=

=

====−

∫∫

A

dayy

A

daxx

A

daryxrOG

SG

AG

AGGG

r

r ),( (3.11)

Designa-se momento estático, ou de 1ª ordem, Sy, da superfície A relativamente ao eixo OY a:

GA

y xAdaxS ⋅== ∫ (3.12)

Figura 3.4 – Momento estático em relação a OY.

Identicamente, o momento estático, ou de 1ª ordem, Sx, da superfície A relativamente ao eixo OX é:

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Capítulo 3

89

GA

x yAdayS ⋅== ∫ (3.13)

Figura 3.5 – Momento estático em relação a OX.

Por intermédio do conceito de momento estático é possível referir algumas características e propriedades de secções planas:

1ª) Se um dos eixos, OX ou OY, for baricentrico, isto é, se contiver o centro de gravidade, G, o respectivo momento estático relativamente a esse eixo é nulo.

Exemplo:

Se OY é baricentrico, então:

00 ==⇒=== ∫∫

Ay

yAG daxS

AS

A

daxx (3.14)

Figura 3.6 – Eixo OY baricentrico.

2ª) Qualquer eixo de simetria de uma secção plana é baricentrico:

( ) ( ) =+== ∫ direitaesquerda yyA

y SSdaxS

( ) =+=+= ∫∫∫ +−+−

AAA

daxxadxdax

00 == ∫A

da (3.15)

Figura 3.7 – Eixo de simetria.

3ª) Quando se decompõe uma superfície A em duas superfícies A1 e A2 de baricentros G1 e G2, o baricentro de A pertence à recta que passa por G1 e G2:

( ) ( )∆∆∆∆∆ +=+=

21

2121 GG

AA dAdASSS

como ( ) ( ) 021

==∆∆ GG dd

Figura 3.8 – Decomposição da superfície.

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Geometria de massas

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( ) ( ) 00 =⇒=⋅= ∆∆∆ GG ddAS (3.16)

4ª) Se uma superfície tiver duas linhas de simetria, o centro de gravidade está no ponto de intersecção dessas linhas:

Figura 3.9 – Superfície com duas linhas de simetria.

3.4 TEOREMA DE PAPPUS-GULDING

O teorema de Pappus-Gulding permite determinar centróides de linhas e superfícies planas e ainda as suas correspondentes linhas e superfícies massificadas e pesadas. Mas cada parcela a que este teorema se aplica terá que ser homogénea.

3.4.1 Teorema de Pappus-Gulding – versão superfícies

A área da superfície lateral gerada pela revolução de uma linha curva em torno de um eixo do seu plano, e que não a intersecta, é igual ao produto do comprimento da linha curva pelo perímetro percorrido pelo seu centro de gravidade G durante a revolução:

( )GAB dLA π2lateral sup. ⋅= (3.17)

Figura 3.10 – Determinação do centróide

de uma linha.

A versão superfícies massificadas ou pesadas (corolário do anterior) diz que a massa ou o peso da superfície lateral gerada pela revolução de uma linha plana em torno de um eixo do seu plano, que não a intersecte, é igual ao produto da massa ou do peso da linha plana pelo perímetro percorrido pelo seu centro G durante a revolução.

perímetro percorrido pelo centro de gravidade

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Capítulo 3

91

3.4.2 Teorema de Pappus-Gulding – versão volumes

O volume do sólido gerado pela revolução de uma secção plana em torno de um eixo do seu plano, e que não a intersecte, é dado pelo produto da área da superfície plana pelo perímetro percorrido pelo seu centro de gravidade G durante a sua revolução:

( ) AdV G ⋅= π2sólido (3.18)

Figura 3.11 – Determinação do centróide de uma superfície.

Também neste teorema se pode desenvolver um corolário para volumes massificados ou pesados.

Exercícios de aplicação

perímetro percorrido pelo centro de gravidade

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Geometria de massas

92

3.5 MOMENTOS DE 2ª ORDEM DE SECÇÕES PLANAS

3.5.1 Momentos de inércia de área e de massa

Considere-se uma secção plana e um eixo ∆, que tem área A e massa M.

Designa-se momento de inércia ou de 2ª ordem, da área A em relação ao eixo ∆, à quantidade:

( ) ∫=∆A

darI 2área (3.19)

Figura 3.12 – Momento de inércia em relação

a um eixo ∆ qualquer.

Designa-se momento de inércia, ou de 2ª ordem, da massa M (com superfície A) relativamente ao eixo ∆, à quantidade expressa por:

( ) ∫∫ ⋅==∆A

AM

dardmrI ρ22massa (3.20)

onde ρA é a massa específica superficial.

Se a secção for homogénea (isto é, ρA = constante), então:

( ) ( )área2

massa ∆∆ ⋅=⋅= ∫ IdarI AA

A ρρ (3.21)

Em relação a um referencial OXY tem-se:

Momento de inércia em relação ao eixo OX:

∫=A

x dayI 2 (3.22)

Momento de inércia em relação ao eixo OY:

∫=A

y daxI 2 (3.23)

Figura 3.13 – Momentos de inércia.

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Capítulo 3

93

As dimensões dos momentos de inércia de área e de massa são as seguintes:

( )[ ] 4área m=∆I

( )[ ] 2massa mkg ⋅=∆I (3.24)

Note-se que enquanto os momentos de 1ª ordem podem ser positivos, ou negativos, ou nulos, consoante o valor da distância do centro ao eixo ∆, os momentos de inércia são sempre positivos porque correspondem à soma (ou ao integral) de produtos de áreas por distâncias quadráticas.

Exercícios de aplicação

3.5.2 Teorema dos eixos paralelos – Teorema de Steiner

O teorema dos eixos paralelos para momentos de inércia relaciona os momentos de inércia relativos a dois quaisquer eixos paralelos:

'2' 2 GddAdAII ⋅⋅⋅+⋅+= ∆∆ (3.25)

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Geometria de massas

94

Considere-se uma superfície A e os eixos ∆ e ∆' paralelos. Os momentos de inércia da superfície A relativamente a esses eixos estão relacionados por:

∫=∆A

dalI 2 (3.26)

como l' = l + d, então:

⇒+= ∫∆A

dadlI 2)'( (3.27a)

Figura 3.14 – Teorema dos eixos paralelos.

∫∫∫ ⋅⋅++=∆AAA

dadldaddalI '2' 2 (3.27b)

sendo o momento estático dado por:

'' ' G

A

dAdalA ⋅== ∫∆ (3.28)

então a equação (3.25) é verificada, isto é: '2' 2 GddAdAII ⋅⋅⋅+⋅+= ∆∆ .

Quando o eixo ∆' é baricentrico, isto é, quando ∆' ≡ ∆G // ∆, o teorema dos eixos paralelos designa-se por teorema de Steiner, vindo expresso por:

(como ∆' ≡ ∆G ⇒ 0' =Gd ): 2dAIIG

⋅+= ∆∆ (3.29)

ou seja, o teorema de Steiner mostra que o momento de inércia da área de uma secção plana, relativamente a um eixo qualquer, é igual à soma do momento de inércia da área da mesma secção relativamente a um eixo baricêntrico paralelo ao dado, com o produto da área da superfície pelo quadrado da distância entre os dois referidos eixos.

I∆' d2·A '2'2 ∆=∫ Addald

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Capítulo 3

95

Exemplo:

3.5.3 Momento de inércia polar

Trata-se também de um momento de 2ª ordem relativamente a um eixo perpendicular ao plano da secção num ponto fixado, sendo definido por:

∫=A

O darI 2 (3.30)

como r2 = x2 + y2, então o momento de inércia polar pode ser obtido por:

Figura 3.15 – Momento de inércia polar.

xyAAA

O IIdaydaxdayxI +=+=+= ∫∫∫ 2222 )( (3.31)

ou seja, o momento de inércia polar é igual à soma dos momentos de inércia relativos a dois eixos do plano da secção perpendiculares entre si e centrados em O:

⇒+=+=+= 2222222 ""'' yxyxyxr

""'' yxyxyxO IIIIIII +=+=+= (3.32)

ou seja, o momento de inércia polar, IO, é invariante, isto é, não depende da escolha de qualquer par de eixos ortogonais centrados em O.

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Geometria de massas

96

Exemplo:

3.5.4 Raio de giração

O raio de giração refere-se à posição da superfície A onde se pode considerar que concentrando toda a superfície nesse ponto, pode-se obter o mesmo momento de inércia que essa superfície origina.

⇒=⋅= ∫∆∆A

dadrAI 22

⇒ AIr ∆

∆ = (3.33)

Figura 3.16 – Raio de giração.

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Capítulo 3

97

Num sistema de eixos OXY, os raios de giração são obtidos por:

AIr x

x = (3.34)

AI

r yy = (3.35)

3.5.5 Produto de inércia

O produto de inércia é um momento de 2ª ordem, correspondendo ao produto da área da secção S (ou da massa M) relativamente ao par de eixos ortogonais OX e OY e é dado por:

( ) ∫ ⋅=A

xy dayxIárea

(3.36)

( ) ∫∫ ⋅⋅=⋅=A

AM

xy dayxyxdmyxI ),(massa

ρ (3.37)

Figura 3.17 – Produto de inércia.

Se o corpo é homogéneo, então:

( ) ( )áreamassa xyAxy II ⋅= ρ (3.38)

Os valores dos momentos de inércia relativamente a um eixo qualquer são sempre positivos. O produto de inércia Ixy de qualquer secção plana poderá ser positivo, nulo ou negativo, consoante a localização dessa superfície relativamente ao sentido dos eixos coordenados.

Figura 3.18 – Sinais para o produto de inércia.

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Geometria de massas

98

Aplicação dos teoremas dos eixos paralelos e de Steiner para produtos de inércia

Conhecido o produto de inércia em relação a um sistema de eixos ortogonais OXY, é possível, pela aplicação do teorema dos eixos paralelos, obter o produto de inércia em relação a um sistema de eixos O'X'Y' paralelo ao anterior:

⇒+⋅+=

⋅=

A

Ayx

adaybx

adyxI

)()(

''''

∫∫

∫∫⋅+⋅=

+⋅+⋅=⇒

AA

AAyx

adxaadyb

adbaadyxI ''

(3.39)

Figura 3.19 – Aplicação do teorema dos eixos paralelos.

Considerando as seguintes igualdades:

∫ ⋅=A

xy adyxI (3.40a)

∫ ⋅=⋅⋅A

adbaAba (3.40b)

GxAA

yAbSbadybadyb ⋅⋅=⋅=⋅=⋅ ∫∫ (3.40c)

GyAA

xAbSaadxaadxa ⋅⋅=⋅=⋅=⋅ ∫∫ (3.40d)

Assim, o teorema dos eixos paralelos para produtos de inércia é expresso por:

GGxyyx yAbxAaAbaII ⋅⋅+⋅⋅+⋅⋅+='' (3.41)

Quando os eixos OX e OY são baricentricos, este teorema converte-se na versão do teorema de Steiner para produtos de inércia:

(se x≡xG e y≡yG ⇒ Sx=Sy=0): AbaIIGG yxyx ⋅⋅+='' (3.42)

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Capítulo 3

99

3.5.6 Variação dos momentos de 2ª ordem Ix, Iy e Ixy resultante da rotação dos eixos de referência

)sen,(cos1 αα=ir

(3.43)

)cos,sen(1 αα−=jr

(3.44)

αααα

sencos),()sen,(cos' 1

⋅+⋅==⋅=⋅=

yxyxOMix

r

(3.45)

αααα

cossen),()cos,sen(' 1

⋅+⋅−==⋅−=⋅=

yxyxOMjy

r

(3.46)

Figura 3.20 – Rotação dos eixos de referência.

O momento de inércia em relação ao eixo O'X' , Ix', pode ser obtido a partir do conhecimento dos momentos de 2ª ordem definidos no sistema de eixos ortogonal OXY (Ix, Iy e Ixy) pela seguinte relação:

⇒⋅⋅⋅⋅−⋅+⋅=

=⋅+⋅−==

∫∫∫

∫∫αααα

αα

cossen2cossen

)cossen('

2222

22'

AAA

AAx

dayxdayadx

dayxdayI (3.47a)

ααα 2sensencos 22' ⋅−⋅+⋅= xyyxx IIII (3.47b)

Identicamente, o momento de inércia em relação ao eixo O'Y' , Iy', pode ser obtido a partir do conhecimento dos momentos de 2ª ordem definidos no sistema de eixos ortogonal OXY (Ix, Iy e Ixy) pela seguinte relação:

⇒⋅⋅⋅⋅+⋅+⋅=

=⋅+⋅==

∫∫∫

∫∫αααα

αα

cossen2sencos

)sencos('

2222

22'

AAA

AAy

dayxdayadx

dayxdaxI (3.48a)

ααα 2sencossen 22' ⋅+⋅+⋅= xyyxy IIII (3.48b)

E ainda, de forma análoga, se obtém o produto de inércia em relação ao eixo O'Y' , Ix'y', a partir do conhecimento dos momentos de 2ª ordem definidos no sistema de eixos ortogonal OXY (Ix, Iy e Ixy) pela seguinte relação:

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Geometria de massas

100

⇒−⋅⋅+

+⋅⋅+⋅⋅−=

=⋅+⋅−⋅⋅+⋅=⋅=

∫∫

∫∫

)sen(cos

cossencossen

)cossen()sencos(''

22

22

''

αα

αααα

αααα

A

AA

AAyx

dayx

dayadx

dayxyxdayxI

(3.49a)

)sen(coscossen)( 22'' αααα −⋅+⋅⋅−= xyyxyx IIII (3.49b)

Atendendo às seguintes relações trigonométricas:

ααα 2cossencos 22 =− (3.50a)

2

2cos1cos2 αα += (3.50b)

2

2cos1sen2 αα −= (3.50c)

então as expressões (3.47) a (3.49) podem-se reescrever da seguinte forma:

αα 2sen2cos22' ⋅−⋅−

++

= xyyxyx

x IIIII

I (3.51)

αα 2sen2cos22' ⋅+⋅−

−+

= xyyxyx

y IIIII

I (3.52)

αα 2cos2sen2'' ⋅+⋅−

= xyyx

yx III

I (3.53)

Note-se que as expressões (3.51) e (3.52) verificam a seguinte condição: Ix' + Iy' = Ix + Iy (ver expressão 3.32).

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Capítulo 3

101

Exemplo:

3.5.7 Momentos principais de inércia – momentos de 2ª ordem máximo e mínimo. Eixos principais de inércia

O objectivo é determinar o valor do ângulo α para o qual os momentos de inércia são extremos, ou seja, a definição da direcção dos eixos principais; e, os momentos de inércia, máximo I1 e mínimo I2, que lhes estão associados.

Figura 3.21 – Eixos principais de inércia.

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Geometria de massas

102

Como Ix + Iy = Ix1 + Iy2, então se Ix1 é máximo então Iy1 é mínimo e vice-versa. Para determinar os extremos, determina-se o zero da derivada de Ix1 ou Iy1:

⇒=⋅⋅−⋅−⋅−

== 02cos2)2sen2(2

11 αααα xy

yxyx III

ddI

ddI

⇒ yx

xy

III−⋅

−=2

2tg α (3.54)

Como a função tangente é periódica, com período π, a expressão anterior resulta em dois valores distintos de α que anulam a derivada αddI x1

: um torna Ix1(α) máximo e outro Iy1(α+π/2) mínimo, ou vice-versa.

Conhecendo as seguintes relações trigonométricas:

α

αα2tg1

2tg2sen2+

±= (3.55)

α

α2tg1

12cos2+

±= (3.56)

pode-se obter os valores de sen2α e cos2α a partir da expressão (3.54). Substituindo nas expressões de Ix' e Iy', (3.51) e (3.52), obtém-se as seguintes expressões que permitem calcular os momentos principais de inércia:

221 4)(

21

2 xyyxyx III

III ⋅+−⋅+

+= (3.57)

222 4)(

21

2 xyyxyx III

III ⋅+−⋅−

+= (3.58)

onde I1 representa o momento principal de inércia máximo e I2 representa o momento principal de inércia mínimo.

Se os eixos principais de inércia, definidos pelo ângulo α definido pela expressão (3.54), contiverem o centro de gravidade, então estes designam-se por eixos principais centrais de inércia.

Note que: O produto de inércia, I12, associado aos eixos principais de inércia é nulo: I12 = 0.

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Capítulo 3

103

3.5.8 Determinação dos eixos principais de inércia por métodos gráficos

3.5.8.1 Círculo de inércia de Land

A partir do conhecimento dos momentos de 2ª ordem (Ix, Iy e Ixy) é possível construir o círculo de Land e definir os momentos de 2ª ordem em relação a outro qualquer sistema de eixos e, inclusive, determinar os eixos que conduzem aos momentos principais de inércia.

Figura 3.22 – Círculo de inércia de Land.

BEDECDBCIIIII

I xyyxyx

x =−+=⋅−⋅−

++

= αα 2sen2cos22' (3.59)

AEDECDACIIIII

I xyyxyx

y =+−=⋅+⋅−

−+

= αα 2sen2cos22' (3.60)

EIIGDGIII

I xyyx

yx =+=⋅+⋅−

= αα 2cos2sen2'' (3.61)

Sabendo que os eixos principais são orientados de forma a que o correspondente produto de inércia é nulo, então a definição das suas orientações no círculo de Land começa por ser feita iniciando com o traçado da linha, onde se mede os momentos de inércia (neste caso I1 e I2), que une o centro do círculo e o ponto principal I. Os eixos principais de inércia são então definidos unindo a origem do sistema de eixos com os pontos onde a linha referida intersecta com a circunferência (ver figura 3.23).

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Geometria de massas

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Figura 3.23 – Determinação dos eixos principais de inércia pelo círculo de Land.

3.5.8.2 Círculo de inércia de Mohr

O círculo de Mohr, vulgarmente utilizado para estudar estados planos de tensão (σx, σy, τxy), permite também obter os momentos de 2ª ordem em qualquer sistema de eixos ortogonais. A figura 3.24 ilustra como se constrói o círculo de Mohr e como se pode determinar os momentos de 2ª ordem noutro referencial ortogonal qualquer, conhecida a sua orientação, ou como se determina as direcções principais de inércia.

O traçado do círculo de Mohr é obtido, conhecido Ix, Iy e Ixy, percorrendo os seguintes passos:

1º) Traça-se um sistema de eixos ortogonal, em que na abcissa (com sentido positivo para a direita) se marca os valores dos momentos de inércia e nas ordenadas (com sentido positivo para baixo) se marca os valores dos produtos de inércia.

2º) Marca-se o ponto X, por onde passará o eixo OX, com as seguintes coordenadas: abcissa igual a Ix e ordenada –Ixy, ou seja, X(Ix, –Ixy).

3º) Marca-se o ponto I, por onde passará o eixo OY, com as seguintes coordenadas: abcissa igual a Iy e ordenada Ixy, ou seja, Y(Iy, Ixy).

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Capítulo 3

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4º) O segmento de recta que une os pontos X a Y corresponde ao diâmetro do círculo de Mohr, sendo o seu centro, C, definido pela intersecção do segmento XY com o eixo das abcissas.

5º) Depois de se efectuar o traçado da circunferência, define-se o pólo P (que está associado ao ponto que define a origem dos eixos de inércia representados no círculo de Mohr) fazendo o seguinte: traça-se uma linha paralela ao eixo OX (geralmente horizontal) que passe no ponto X, o pólo P encontra-se no outro ponto de intersecção com a circunferência; ou, em alternativa, traça-se uma linha paralela ao eixo OY (geralmente vertical) que passe no ponto Y, o pólo P encontra-se no outro ponto de intersecção com a circunferência.

Figura 3.24 – Círculo de Mohr.

Os valores dos momentos principais de inércia, I1 e I2, determinam-se medindo a abcissa dos pontos que se encontram na intersecção da circunferência com o eixo das abcissas. Os respectivos eixos principais de inércia são traçados ligando o pólo P com cada um desses pontos de intersecção.

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Geometria de massas

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3.6 CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DE ELEMENTOS DE

CONSTRUÇÃO METÁLICA

A determinação da resistência e da deformabilidade de elementos estruturais, vulgarmente utilizados na construção civil, exige o conhecimento das suas características mecânicas associadas à geometria de massas. Dado que as secções correntemente utilizadas em elementos estruturais de construção metálica não apresentam geometrias elementares, é vulgar a utilização de tabelas que indicam os valores associados às diferentes grandezas abordadas neste capítulo. Assim, nesta secção apresenta-se a nomenclatura e as convenções que são utilizadas nas tabelas correntes de perfis (secções) usados na construção metálica e a sua utilização de forma a extrair a informação necessária para as caracterizar mecanicamente.

Os elementos de construção metálica (figura 3.25) consistem em perfis em aço laminado a quente. Os perfis correntemente utilizadas têm a forma de I, L, U, T e Z, para secções abertas (figura 3.26); e, perfis tubulares de secção circular, quadrada ou rectangular (figura 3.27).

Figura 3.25 – Sistemas de eixos de referência segundo o EC3 e EC4.

a) Perfil I b) Perfil L c) Perfil U d) Perfil T e) Perfil Z

Figura 3.26 – Perfis de elementos metálicos de secção aberta.

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Capítulo 3

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a) Secção circular b) Secção quadrada c) Secção rectangular

Figura 3.27 – Perfis tubulares de elementos metálicos.

As características geométricas destes tipos de perfis encontram-se tabeladas (ver figura 3.28 e anexo 1). O sistema de eixos de referência utilizado nessas tabelas é definido de acordo com as normas europeias de projecto de estruturas, nomeadamente, o Eurocódigo 3 (Projecto de estruturas de aço) e o Eurocódigo 4 (Projecto de estruturas mistas aço-betão). Assim, o sistema de eixos de referência é definido de forma que (ver figura 3.25):

– a sua origem passa pelo centro de gravidade;

– o eixo OY (ou yy na nomenclatura da tabela) é o eixo de maior inércia;

– o eixo OZ (ou zz) é o eixo de menor inércia; e,

– o eixo OX (ou xx) é o eixo longitudinal da barra, perpendicular à secção.

Exemplo:

Determinar o momento de inércia do perfil IPE-140 relativamente ao eixo ∆ que passa pela fibra inferior da secção.

Da tabela que está na figura 3.28 tira-se que: Iy=541cm4, A=16.4cm2 e a distância entre os eixos yy e ∆∆ é

∆−yd =7cm. Então, aplicando o teorema de Steiner, expressão (3.29), calcula-se o momento de inércia I∆:

254

22

m1034.1cm6.1344

74.16541−

∆−∆

×==

=×+=⋅+= yy dAII

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Retirado de: Farinha, J.S.B. e Reis, A.C. (2000) “Tabelas Técnicas”, Edições Técnicas E.T.L., L.da.

Geom

etria de massas

Figura 3.28 – Características geométricas de perfis metálicos do tipo IPE (NP-2116 e DIN-1025).