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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS ÁGUAS
INTERIORES. SITUAÇÃO ACTUAL♣
I. INTRODUÇÃO E ASPECTOS GERAIS
O presente Capítulo tem por principais objectivos proceder a uma definição e
caracterização dos contornos dos perfis: (i) sociológico dos pescadores profissionais nas
águas interiores; (ii) sócio-económico da mão-de-obra auxiliar; e (iii) técnico e
tecnológico; biológico e económico da actividade da pesca profissional nas águas
interiores.
As referidas definição e caracterização foram elaboradas com base na informação
empírica recolhida por inquérito por questionário, de acordo com o modelo que se
apresenta em Anexo a este trabalho (Anexo I). De esclarecer desde já que a informação
empírica que serviu de base a este Estudo reporta-se predominantemente ao ano civil de
2000 e foi recolhida em três Bacias hidrográficas, a saber: do Mondego, do Vouga e do
Tejo, durante o primeiro semestre do ano de 2001. O tratamento estatístico dos resultados
obtidos por inquérito por questionário, em cada uma das bacias hidrográficas enumeradas,
são apresentados nos Anexos II, III e IV. Crê-se que o número de inquéritos realizados
nestas três bacias já permite um esboço da situação da pesca profissional, a nível nacional.
A análise desenvolvida ao longo deste Capítulo está organizada em três partes. Na
primeira, após a revisão dos principais instrumentos legais que regem a gestão e o
exercício da actividade da pesca profissional nas águas interiores, são apresentados e
comentados aspectos de natureza metodológica que ajudam a esclarecer o conteúdo da
informação empírica recolhida. Seguidamente, na Parte II, caracteriza-se a actividade da
pesca profissional nas águas interiores. Esta caracterização é realizada para o conjunto das
três Bacias hidrográficas acima enumeradas, baseia-se na informação empírica recolhida
individualmente em cada uma delas, e desenvolve-se em torno dos seguintes eixos: (i)
perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos; (ii) pesqueiros, artes de pesca e
embarcações; (iii) caracterização sócio-económica da mão-de-obra auxiliar; (iv) principais
espécies piscícolas capturadas; (v) estimativa das receitas e dos encargos económicos com
a actividade da pesca no ano de 2000; (vi) opinião dos inquiridos sobre: (vi.a) alterações à
♣ Isabel Rodrigo, Cláudia Bandeiras & Ana Patrícia Ferreira, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
legislação e à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores; (vi.b) o futuro da
pesca profissional e a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais. Por
fim, na Parte III, procede-se a uma síntese dos aspectos mais relevantes que foram
anteriormente objecto de análise.
Nesta primeira parte começa-se por apresentar os quadros legislativos que regem
os principais aspectos da gestão e da prática da pesca profissional nas águas interiores,
tendo em conta os objectivos do Estudo, já especificados. De seguida, esclarecem-se
aspectos metodológicos relevantes para a compreensão do conteúdo da informação
empírica recolhida.
1 - Pesca profissional nas águas interiores. Quadro legal
Em Portugal a gestão dos recursos aquícolas e da pesca nas águas interiores é
assegurada pelo Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas,
através da Direcção-Geral das Florestas e das Direcções Regionais de Agricultura. Com
efeito, de acordo com o Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril, cabe à Direcção
Geral das Florestas definir as normas orientadoras do ordenamento e gestão dos recursos
aquícolas e apoiar a execução das suas acções, bem como coordenar e assegurar a
aplicação das disposições legais da pesca nas águas interiores. Também a nível regional o
sector agrário exerce competências de gestão piscícola, através das Direcções Regionais de
Agricultura, as quais têm como atributo promover a adopção das medidas mais adequadas
ao ordenamento, gestão e exploração dos recursos aquícolas.
Para além dos organismos referidos, existem outras instituições envolvidas ou que
interagem com a gestão dos recursos aquícolas, nomeadamente, o Instituto da Água e as
Direcções Regionais do Ambiente, o Instituto de Conservação da Natureza, a Direcção
Geral do Ambiente e a Direcção Geral de Veterinária. De notar ainda que nos locais de
interface com as águas sob jurisdição marítima é mantida uma estreita colaboração com a
Direcção Geral das Pescas e Aquicultura e com o Serviço de Autoridade Marítima.
A gestão da pesca nas águas interiores, entendida no seu sentido lato, em que se
inclui a gestão dos recursos aquícolas e da pesca propriamente dita, tem como principal
enquadramento jurídico a Lei nº 2097, de 6-6-1959, regulamentada pelo Decreto nº 44 623,
de 10-10-1962, este posteriormente actualizado pelo Decreto nº 312/70, de 6 de Julho.
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
De acordo como o referido Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962, que
regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas, quer as de água doce e as de
água salobra não submetidas à jurisdição marítima, quer um conjunto de águas públicas
definidas no respectivo Artigo 1º, "considera-se pesca não só a captura de peixes e outras
espécies aquícolas, mas também a prática de quaisquer actos conducentes ao mesmo fim,
quando realizados nas águas referidas [no Artigo 1º] ou nas margens delas" (Artigo 2º).
Ainda de acordo com o Decreto enumerado "a pesca é (…) profissional quando
praticada com fim lucrativo" (Artigo 3º).
No que respeita especificamente à pesca profissional, para além do quadro legal
acima enumerado, há ainda a referir o Decreto Regulamentar nº 18/86, de 20 de Maio, e a
Portaria nº 252/2000, de 11 de Maio, que mais adiante serão retomados.
Para além do exposto, é também de registar o Decreto nº 30/88, de 8 de Setembro,
que regulamenta o exercício da pesca profissional nos troços fluviais fronteiriços entre
Portugal e Espanha, à excepção do troço internacional do Rio Minho cuja pesca é
regulamentada pelo Decreto-Lei nº 316/81, de 26 de Novembro.
1.1 - Fomento piscícola
Tendo em vista garantir, nas águas interiores nacionais, as necessidades
ecológicas das espécies ictiológicas e dos seus habitats encontra-se regulamentado um
conjunto de procedimentos. Dados os objectivos deste Estudo, o texto que se segue
circunscreve-se à pesca profissional e centra-se nos procedimentos legais relativos: (i) à
classificação das águas interiores e definição de Zonas de Protecção; (ii) à definição do
calendário de pesca (épocas de defeso); (iii) à determinação das dimensões mínimas das
espécies piscícolas susceptíveis de pesca, com a obrigação dos pescadores devolverem à
água as que as não possuírem e, finalmente, (iv) à definição dos processos legais de pesca,
estes definidos em conformidade com a classificação das águas e a natureza da pesca.
1.1.1 - Classificação das águas interiores e Zonas de Protecção
Segundo o Decreto nº 44 623, de 10-10-1962, as águas do domínio público
classificam-se, para efeitos de pesca, em Águas Livres, Zonas de Pesca Reservada e
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Concessões de Pesca. Enquanto nas Águas Livres se podem praticar as duas modalidades
de pesca, desportiva e profissional, já nas duas restantes Zonas só é permitida a pesca
desportiva nos termos dos respectivos regulamentos (Artigo 4º, do referido Decreto).
Para além dos tipos de Zonas acima referidas, foram recentemente definidas, no
que respeita ao exercício da pesca profissional, sete Zonas de Pesca Profissional (ZPP).
Estas localizam-se na Bacia Hidrográfica do Mondego (três Zonas, a saber: ZPP do Médio
Mondego e da Albufeira da Raiva, regulamentadas pela Portaria nº 643/96, de 8 de
Novembro, e a ZPP do Baixo Mondego regulamentada pela Portaria nº 164/99, de 10 de
Março); na Bacia do Cávado (ZPP do Rio Cávado, regulamentada pela Portaria nº 159/99,
de 9 de Março); Bacia do Lima (ZPP do Rio Lima, regulamentada pela Portaria nº 929/99,
de 20 de Outubro); Bacia do Vouga (ZPP do Rio Vouga regulamentada pela Portaria nº
1080/99, de 16 de Dezembro); e Bacia do Rio Almonda (ZPP do Rio Almonda - Paul do
Boquilobo, regulamentada pela Portaria nº 1089/99, de 17 de Dezembro).
De esclarecer que se encontra em estudo a localização de duas outras Zonas de
Pesca Profissional; mais concretamente, uma a ser definida na Bacia hidrográfica do
Guadiana e a outra na do Tejo.
De referir também, no que refere à pesca profissional nas águas interiores, a
Portaria nº 252/2000, de 11 de Maio, que define, para os cursos de água nacionais, os
locais onde está autorizada a prática da pesca profissional nas águas interiores.
Para além das já referidas Zonas de Pesca Reservada, Concessões de Pesca
Desportiva, Zonas de Pesca Profissional e a definição dos locais onde é permitida a pesca
profissional nas águas do domínio público, existem ainda delimitadas as designadas por
Zonas de Abrigo e de Desova e as Zonas de Pesca Condicionada.
Tal como as anteriores, este tipo de zonas têm também por objectivo garantir as
necessidades ecológicas das espécies ictiológicas e dos seus habitats e, consequentemente,
o fomento piscícola.
De seguida apresenta-se, resumidamente, a classificação das águas interiores
segundo os principais tipos de Zonas de Protecção, a nível nacional, respeitantes à pesca
profissional nas águas interiores.
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Quadro 5.1. – Classificação das águas interiores segundo os principais tipos de Zonas de Protecção a nível nacional, respeitantes à pesca profissional, em 2000
Tipos de Zonas de Protecção Procedimentos legais Número
Zonas de Abrigo e de Desova
É proibido pescar tendo em vista a protecção das espécies aquícolas e a criação de condições favoráveis ao seu desenvolvimento.
36 Zonas (Abrigo) 12 Zonas (Desova)
Zonas de Pesca Condicionada Só é permitido pescar com linha de mão.
14 Zonas
Zonas de Pesca Profissional
Zonas sujeitas a regulamento próprio que estabelece regras de gestão e exploração adequada a cada pesqueiro e tem em conta as especificidades dos métodos de pesca tradicionais.
7 Zonas
Zonas das águas do domínio público onde está autorizado o exercício da pesca profissional
Definição dos limites a montante e a jusante dos cursos de água identificados na Portaria nº 252/2000, de 11 de Maio.
Fonte: Elaboração própria a partir de Marta, P.; Bochechas, J.; Collares-Pereira, M. J. (2000). A pesca profissional na bacia hidrográfica do Guadiana - Caracterização da situação actual. Relatório não publicado para a DGF, CBA - FCUL/DGF, 55 pp.+ anexos, e de informação fornecida pela Direcção Geral das Florestas.
1.1.2 - Calendário de pesca; Dimensões mínimas das espécies piscícolas susceptíveis de pesca. Definição dos processos legais de pesca
Para além da legislação relativa à classificação das águas interiores nacionais estão ainda
regulamentados outros procedimentos que têm também por objectivo salvaguardar as
necessidades ecológicas das espécies ictiológicas e dos seus habitats e, consequentemente,
o fomento piscícola. Entre estes procedimentos legais destacam-se aqui os relativos: à
definição das épocas de defeso e consequente calendário de pesca; às determinações das
dimensões mínimas para captura dos peixes e outras espécies aquícolas, e ainda, à
definição dos processos de pesca.
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Quadro 5.2 – Calendário de pesca e definição dos comprimentos mínimos legais para a pesca, comércio, transporte, retenção e consumo de espécies aquícolas
Período de Pesca
Espécies Ja
n.
Fev.
Mar
.
Abr
.
Mai
o
Jun.
Jul.
Ago
st.
Set.
Out
.
Nov
.
Dez
.
Compri-mento
mínimo (cm)
Salmão 1 31 55
Truta vulgar,
Truta arco-íris
1 31 19
Truta-marisca 1 31 30
Lampreia 16 14 35
Sável 1 14 35
Savelha ou Saboga
1 14 20
Carpa, Barbo,
Achigã
14 1 31 20
Boga 14 1 31 10
Tenca 14 1 31 15
Escalo, Pimpão
1 31 10
Enguia 1 31 20
Lagostim-vermelho
1 31 7
Lagostim-de-pés-brancos
1 31 9
Pardelha, Ruivaco, Verdemã, Esganata, Lúcio, Gambúzia, Taínha, Góbio, Chanchito, Perca-sol
1
31
Fonte: Direcção Geral das Florestas (1999), disponível on-line em http://www.dgf.min-agricultura.pt/pesca/pcalend.htm, última actualização em Abril de 2001.
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
1.1.2.1.Calendário de pesca e dimensões mínimas das espécies piscícolas susceptíveis de pesca
De acordo com o Artigo 29º do Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962, são
definidos, para um conjunto de espécies aquícolas, períodos em que a captura das mesmas
é expressamente proibída, isto é, período de defeso, independentemente dos processos de
pesca utilizados. Ainda no mesmo Decreto são definidas, no Artigo 30º, as dimensões
mínimas legais para a pesca, comércio, transporte, retenção e consumo de um conjunto de
peixes e outras espécies aquícolas.
No quadro que se segue, apresenta-se o calendário dos períodos de pesca para as
principais espécies, alvo da pesca profissional, e respectivos comprimentos mínimos legais
para a sua captura, comercialização, transporte, retenção e consumo. De notar que os
períodos temporais definidos no quadro são meramente informativos. Ou seja, dado que
existem alterações de carácter regional aos períodos temporais especificados no quadro, a
consulta do mesmo não dispensa o conhecimento e consulta da legislação em vigor.
1.1.2.2. Definição dos processos legais de pesca
Os processos de pesca legalmente permitidos são definidos em conformidade com
a classificação das águas e a natureza da pesca.
No que respeita à pesca profissional os processos de pesca são legalmente
definidos no Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962, nomeadamente, nos Artigos
34º a 40º, inclusivé. De acordo com o Artigo 34º, esclarece-se que "No exercício da pesca
profissional podem ser utilizadas redes, além da cana e linha de mão ou de quaisquer
outros meios que venham ser considerados legais, nas zonas demarcadas nos termos da
alínea d) do artigo 31º", referindo-se esta alínea às Zonas de Pesca Profissional.
No âmbito do articulado acima referido, retêm-se aqui alguns dos processos de
pesca legalmente interditos.
Embora o uso das redes seja permitido é de notar que a dimensão da malha está
sujeita a restrições que variam segundo as espécies piscícolas. Também o período de
permanência dentro de água das redes e aparelhos de pesca está legalmente definido
(Artigo 34º), bem como, por exemplo, as dimensões das redes e o intervalo entre as
mesmas (Artigo 36º).
É proibido o emprego de todas as redes de arrastar pelo fundo bem como o dos
grandes aparelhos de fundo, tais como os designados por botirões, armadilhas de tapa-
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
esteiros, nassas e outros congéneres, com excepção do que for regulamentado nas zonas
demarcadas para o exercício da pesca profissional, isto é, Zonas de Pesca Profissional
(Artigo 37º).
O exercício da pesca profissional é ainda proibido dentro de eclusas, aquedutos ou
passagens para peixes, e a menos de 200 metros de barragens e de 50 metros de açudes,
comportas, descarregadores ou quaisquer obras que alterem o regime normal de circulação
das águas (Artigo 43º). Na esteira da interdição referida em último lugar é de referir o
Artigo 46º, do mesmo Decreto, que proíbe a construção de pesqueiras fixas.
Finalmente, enumeram-se de seguida outros processos de pesca legalmente
interditos, a saber: a fisga, tridente ou arpão; as armas de fogo e explosivos; as substâncias
tóxicas susceptíveis de causar a morte ou o atordoamento dos peixes; os aparelhos
eléctricos; paus ou pedras; os processos considerados de pesca subaquática; a imersão de
cestos ou de outros recipientes; a percussão nas rochas de refúgio; ou quaisquer outros
processos em que o peixe não seja apanhado pela boca, ressalvando o uso das redes
permitidas (Artigo 44º).
1.2 - Licenciamento do exercício da pesca
O exercício da pesca nas águas interiores do país é permitido mediante licença
cuja duração e condições de acesso são regulamentadas pelo Decreto nº 44 623, de 10 de
Outubro de 1962.
De seguida, com base no quadro legal referido e tendo em conta os objectivos do
presente Estudo, enumeram-se os aspectos considerados mais relevantes sobre a matéria.
1.2.1 - Tipos de licença profissional de pesca
A licença profissional de pesca confere o direito a pescar em quaisquer águas
públicas, nas quais não esteja vedado o exercício da pesca profissional, na área de cada
uma das comissões regionais de pesca.
O montante da taxa anual cobrada pela passagem da licença profissional de pesca
individual é de 300$00, e de 600$00 no caso da licença colectiva. Nesta última há a
adicionar o montante de 60$00 por cada pescador ou auxiliar, além do arrais. Para a
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
concessão de licença profissional de pesca, individual ou colectiva, é exigido que os
requerentes da mesma estejam inscritos como pescadores profissionais no registo especial
que existe, para o efeito, nas circunscrições e administrações florestais (Artigo 54º do
Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962).
É ainda definido, no referido Decreto, que é recusada qualquer licença de pesca a
quem se prove ter infringido mais de quatro vezes as leis ou regulamentos da pesca nas
águas interiores do país, e que o prazo de validade da licença de pesca é o do ano civil a
que respeitar (Artigo 58º).
1.2.2 - Evolução do número de licenças de pesca
No quadro que se segue figura a informação disponível, a nível nacional e para as
águas continentais, relativamente ao número total de licenças de pesca, profissional e
desportiva, emitidas entre 1980 e 2000.
A informação apresentada sugere dois comentários. Em primeiro lugar, o
decréscimo acentuado e progressivo registado no número total de licenças de pesca
profissional emitidas nos últimos vinte anos. Em segundo lugar, esta tendência contrasta
com a registada no número de licenças de pesca desportiva. Em suma, a informação
quantitativa sugere que a prática da pesca profissional nas águas interiores está em nítida
regressão.
Embora a criação de Zonas de Pesca Profissional seja recente ⎯ a primeira,
recorde-se, data de 1996 e as restantes seis de 1999 ⎯ a adesão a estas Zonas demarcadas
parece ser relativamente reduzida. Esta constatação baseia-se no confronto entre o número
de licenças tendo em vista a pesca nestas zonas (licenças especiais) e o total de licenças
profissional de pesca (Quadro 4).
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Quadro 5.3 – Número total de licenças de pesca desportiva, de pesca profissional e número total de licenças de pesca, emitidas no período entre 1980 e 2000
Ano Número de licenças de
pesca desportiva Número de licenças de pesca
profissional Total
1980 71.934 2.391 74.325
1981 88.094 2.927 91.021
1982 88.056 2.940 90.996
1983 79.590 2.851 82.441
1984 78.323 2.802 81.125
1985 98.514 3.104 101.618
1986 101.885 3.143 105.028
1987 78.167 1.296 79.463
1988 133.129 1.922 135.051
1989 160.587 1.652 162.239
1990* 128.818 1.340 130.158
1991 182.963 1.709 184.672
1992 192.354 1.741 194.095
1993 199.602 Elementos não disponíveis 199.602
1994 205.493 Elementos não disponíveis 205.493
1995 231.643 1.974 233.617
1996 Elementos não disponíveis
1997 251.793 1.902 253.695
1998 272.073 1.590 273.663
1999 264.269 1.567 265.836
2000 235.198 1.210 236.408 * Elementos só até Outubro. Fonte: Direcção Geral das Florestas.
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Quadro 5.4 – Número de licenças especiais emitidas por Zona de Pesca Profissional. Número total de licenças profissional de pesca
Nº de licenças especiais no ano de: Zonas de Pesca Profissional:
Bacia Hidrográfica 2000 2000 (até Fev.)
Cávado 49 46
Mondego (Baixo Mondego) 75 56
Lima 97 95
Vouga 50 14
Tejo (Rio Almonda) - 5
Total 271 216 Nº total de licenças profissional de pesca 1210 (*)
(*) Informação não disponível no momento de realização do presente Relatório. Fonte: Elaboração própria a partir da informação fornecida pela Direcção Geral das
Florestas.
2 - Metodologia de investigação
Neste ponto referem-se aspectos metodológicos relevantes para a compreensão do
conteúdo da informação empírica recolhida que será objecto de análise na Parte II do
Capítulo.
Assim, começa-se por esclarecer a noção de pescador profissional em águas
interiores adoptada neste Estudo. Uma vez que tal noção orientou a recolha da informação
empírica, este esclarecimento é importante para a clarificação dos contornos do universo
social inquirido. De seguida, referem-se as técnicas de recolha de informação utilizadas.
Por fim, procede-se à identificação dos concelhos e freguesias onde os inquéritos foram
realizados, em cada uma das Bacias hidrográficas.
2.1 - A noção de "pescador profissional em águas interiores"
De recordar que do ponto de vista legal, segundo o Decreto nº 44 623, de 10 de
Outubro de 1962, a pesca nas águas interiores é identificada como profissional "quando
praticada com fim lucrativo"; e quando são utilizadas "redes, além da cana e linha de mão
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
ou (…) outros meios que venham a ser considerados legais, nas zonas demarcadas (…) [de
pesca profissional, individual ou colectiva]", respectivamente, Artigos 3º; 34º; 52º e 54º do
referido Decreto.
Embora conhecendo a definição legal de pesca (e de pescador) profissional nas
águas interiores optou-se por não restringir o universo social a inquirir às características
acima enumeradas. Concretamente, foram inquiridos indivíduos que: (i) possuindo, ou não,
licença profissional de pesca, individual ou colectiva, de águas interiores; (ii) se dedicavam
à actividade da pesca com objectivos económicos, isto é, de comercialização e/ou de
autoconsumo, mas também lúdicos ou de lazer, isto é, de passatempo; (iii) pescavam com
redes, cana ou linha de mão ou ainda com outros métodos de pesca como os que são
vulgarmente designados por armadilhas1, independentemente de estes serem, ou não,
legais; e (iv) se dedicavam ao exercício da pesca nas águas interiores a tempo inteiro;
periodicamente, isto é, pescavam somente em determinados períodos do ano, ou ainda
pontualmente, isto é, pescavam só esporadicamente.
A opção metodológica adoptada neste Estudo de não restringir o universo social a
inquirir aos indivíduos que preenchiam os requisitos legais fundamentou-se em duas
hipóteses que passamos a apresentar.
Em primeiro lugar, a componente do Projecto "Estudo estratégico para a gestão
das pescas continentais em Portugal" relativa aos pescadores profissionais tinha como
principais prioridades, recorde-se, traçar: (i) o perfil sociológico dos agentes sociais
envolvidos na captura dos recursos piscícolas, bem como (ii) os perfis técnico e
tecnológico, biológico e económico da actividade da pesca nas águas interiores. Estes
objectivos, conjugados com a exígua informação disponível para a realidade portuguesa
sobre as questões que nos propusemos estudar, sugeriam a importância de não restringir a
recolha da informação empírica ao universo social legalmente definido por pescador
profissional nas águas interiores. Com efeito, tal restrição poderia conduzir à exclusão de
situações que, embora não preenchendo os requisitos legais, seriam tanto ou mais
significativas para a caracterização, no momento presente, quer dos pescadores, quer do
1 Neste Estudo, as artes de pesca (ou aparelhos de pesca) artesanal profissional são classificadas segundo a seguinte tipologia: Redes (incluí as designadas por Redes passivas e por Redes activas); Armadilhas; Anzóis e Iscos. Esta classificação foi a adoptada por Ferreira, M.T. & Oliveira, J.M. (1996), Gestão de espécies diádromas no Rio Tejo entre Santarém e Belver (1996), Relatório realizado no âmbito do Protocolo de colaboração entre o Instituto Florestal e o Instituto Superior de Agronomia, Departamento de Engenharia Florestal.
172
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
exercício da pesca profissional nas águas interiores, nomeadamente, no que respeita: à
natureza legal e às características das artes de pesca que são utilizadas; ao esforço de
pesca; e aos tipos de espécies capturadas.
Em segundo lugar, a evolução do número de licenças profissional de pesca
concedidas nos últimos vinte anos, e já comentada no ponto anterior, levou igualmente a
questionar até que ponto ela traduziria o cenário real no que respeita à população que pesca
em Bacias hidrográficas. Ou seja, apesar da informação quantitativa disponível sugerir a
progressiva e acentuada regressão da prática da pesca profissional nas águas interiores tal
não significa que esta tendência possa ser meramente aparente e não real.
De esclarecer que as duas hipóteses enumeradas que fundamentaram a
delimitação do universo social inquirido neste Estudo foram, em parte, suscitadas pelo
conteúdo de um trabalho recentemente realizado na Bacia hidrográfica do Guadiana,
concretamente, Marta, P.; Bochechas, J. & Collares-Pereira, M. J. (2000). A pesca
profissional na bacia hidrográfica do Guadiana - Caracterização da situação actual.
Relatório não publicado para a DGF, CBA - FCUL/DGF, 55 pp. + anexos. De esclarecer
também que as referidas hipóteses foram confirmadas pela realidade inquirida, como será
evidenciado na segunda parte do presente Capítulo.
2.2 - Técnicas de recolha de informação
Tendo em conta os objectivos deste Estudo procedeu-se à recolha e análise de
informação secundária disponível. Com base nesta informação e em contactos
estabelecidos com técnicos detentores de conhecimentos e experiência sobre as questões a
estudar elaborou-se o modelo de inquérito por questionário, que foi posteriormente
aplicado e se apresenta no Anexo I deste Capítulo.
A recolha da informação empírica foi feita com base, essencialmente, na técnica
do inquérito por questionário e na da observação directa.
O inquérito por questionário foi aplicado na modalidade de administração directa,
por duas inquiridoras. Estas, antes de procederem ao início da recolha da informação
empírica, recorreram, em cada uma das Bacias hidrográficas onde decorreu o trabalho de
campo, aos conhecimentos e à experiência de técnicos e de informadores locais
privilegiados. Estes contactos foram realizados tendo em vista não só esclarecer aspectos
173
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
relativos ao funcionamento das comunidades de pescadores e das características
específicas, regionais e locais, da actividade da pesca, mas também facilitar os primeiros
contactos entre as inquiridoras e os indivíduos a inquirir.
De esclarecer ainda que a informação empírica que serviu de base a este Estudo se
reporta predominantemente ao ano civil de 2000, como será detalhado na segunda parte do
Capítulo, e que os inquéritos foram realizados durante o primeiro semestre do ano de 2001,
como se encontra especificado no quadro que se segue (Quadro 5).
2.3 - Localização geográfica da recolha do material empírico
No total foram realizados 116 inquéritos por questionário, distribuídos pelas
Bacias hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.
Os critérios de selecção destas Bacias hidrográficas basearam-se, por um lado, na
importância relativa do número de licenças de pesca profissional concedidas nos anos mais
recentes e, por outro, na existência de zonas demarcadas, isto é Zonas de Pesca
Profissional.
No quadro seguinte (Quadro 5.5) especifica-se, para cada uma das Bacias
hidrográficas acima enumeradas, os concelhos a as freguesias onde decorreu o trabalho de
campo, o número de inquéritos realizados e a data de realização dos mesmos. Agradecimentos
Foi possível realizar os trabalhos de investigação apresentados neste Estudo graças aos
conhecimentos dos elementos que integraram a equipa do Projecto e ainda aos conhecimentos e disponibilidade de um grupo de pessoas das quais em especial se refere, por ordem alfabética: Domingos Reis Assunção (Pescador); D. Elvira Rosa (Pescadora), Torre Fundeira, concelho do Gavião; Mestre João Carlos Botelho, Núcleo Sub-Regional do Corpo Nacional da Guarda Florestal da Sertã, Serviços Florestais de Proença-a-Nova; Engº José António Rodrigues Alves, Serviços Agrários de Braga, Direcção Regional de Agricultura do Entre Douro e Minho; Guarda Florestal Louro, Serviços Florestais de Castelo Branco, Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior; Drª Luísa Costa, Universidade de Évora; Engº Maia, Serviços Agrários de Vila do Conde, Direcção Regional de Agricultura do Entre Douro e Minho; Engª Maria Amélia Duarte, Divisão de Caça e Pesca das Águas Interiores do Baixo Vouga, Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior; Drª Mónica Sousa, Reserva Natural do Paul do Boquilobo; Drª Patrícia Marta, Direcção Geral das Florestas.
Agradece-se também a colaboração dos pescadores inquiridos, alguns dos quais se disponibilizaram para dar a conhecer às inquiridoras outros indivíduos que igualmente se dedicavam à pesca nas águas interiores.
174
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Quadro 5.5 – Localização geográfica da recolha do material empírico
Localização geográfica de realização dos inquéritos Bacia Hidrográfica
Concelho Freguesia Nº de inquéritos
realizados
Período de realização dos
inquéritos
Mondego
(Curso inferior do Rio Mondego)
Figueira da Foz
Maiorca
Lavos
Paião
Vale de Cardosos
Calvino
Vila Verde
Lares
Gala
3
2
2
1
1
1
1
8
Montemor-o-Velho
Meãs
Ereira
1
5
Total 25
Entre 18 Janeiro e 13 Fevereiro de 2001
Albergaria-a-Velha
São João de Loures
Frossos
Alquerubim
7
5
2
Aveiro Requeixo 2
Águeda Águeda
Óis da Ribeira
2
6
Vouga
Sever do Vouga Pessegueiro do Vouga 3
Total 27
Entre 20 Fevereiro e 14 Março de 2001
Mação Ortiga 14
Vila Nova da Barquinha Atalaia
Tancos
1
1
Entroncamento Entroncamento 4
Golegã Azinhaga 4
Chamusca Chamusca 1
Nisa Santana 10
Vila Velha de Ródão Vila Velha de Ródão 3
Castelo Branco Retaxo
Castelo Branco
1
1
Sertã Foz da Sertã
Cernache Bonjardim
1
2
Vila de Rei Vila de Rei
Fundada
1
1
Tejo
Proença-a-Nova
Proença-a-Nova
São Pedro do Esteval
Peral
4
11
4
Total 64
Entre 20 Março e 19 Abril de 2001
Total 116
175
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
II - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS ÁGUAS INTERIORES: CARACTERIZAÇÃO SOCIAL, TÉCNICA E TECNOLÓGICA, BIOLÓGICA E ECONÓMICA. SITUAÇÃO ACTUAL
Nesta segunda parte procede-se à apresentação, comentada, do conjunto da
informação empírica recolhida nos 116 inquéritos por questionário realizados, entre 18 de
Janeiro e 19 de Abril de 2001, nas Bacias hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.
A figura 5.1 ilustra o número de inquéritos realizados segundo a respectiva
localização geográfica: concelho e Bacia hidrográfica. De recordar que o tratamento
estatístico dos resultados obtidos por inquérito por questionário, em cada uma das Bacias
hidrográficas acima enumeradas, são apresentados nos Anexos II, III e IV do presente
trabalho.
19
6
14
2
8
3
14
2
4 4
1
10
32
32
19
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Figu
eira
da
Foz
Mon
tem
or-o
-V
elho
Alb
erga
ria-a
-V
elha Ave
iro
Águ
eda
Seve
r do
Vou
ga
Maç
ão
Vila
Nov
a da
Bar
quin
ha
Entro
ncam
ento
Gol
egã
Cha
mus
ca
Nis
a
Vila
Vel
ha d
eR
odão Cas
telo
Bra
nco
Sertã
Vila
de
Rei
Proe
nça-
a-N
ova
Bacia doMondego
Bacia do Vouga Bacia do Tejo
Concelhos e Bacias Hidrográficas
Nº I
nqui
rido
s
Fig. 5.1 – Número de inquéritos e locais de realização dos mesmos
A análise que se segue está organizada em seis pontos, cujo conteúdo passamos a
descrever.
Começa-se por traçar o perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos
(ponto 1). Os contornos deste perfil baseiam-se em informação que remete para o momento
temporal de realização do inquérito. Este abrangeu, recorde-se, o primeiro semestre do ano
de 20012.
2 Cfr. Quadro 5 da primeira parte deste Capítulo.
176
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
De seguida, a análise centra-se nos aspectos técnicos e nas tecnologias específicas
da actividade da pesca profissional praticada pelos inquiridos, concretamente: os locais de
pesca mais frequentados, as artes de pesca (sob esta designação incluímos redes e
armadilhas3) e as embarcações utilizadas pelos inquiridos (ponto 2). De imediato procede-
se à caracterização sócio-económica da mão-de-obra auxiliar (ponto 3).
Posteriormente, são objecto de análise a componente biológica da actividade da
pesca dos inquiridos, nomeadamente, as principais espécies capturadas (ponto 4), e a
vertente económica da mesma (ponto 5). A informação recolhida para a caracterização de
cada um dos aspectos enumerados reporta-se ao momento temporal que abrange o ano civil
de 2000.
Por fim (ponto 6), analisa-se a opinião dos inquiridos relativamente aos seguintes
aspectos: (i) o tipo e a natureza de alterações que deveriam ser contempladas na legislação
e na fiscalização da pesca profissional nas águas interiores; e (ii) o futuro da pesca
profissional nas águas interiores e a identificação de eventuais medidas que os inquiridos
gostariam que fossem tomadas tendo por finalidade melhorar as condições de trabalho dos
pescadores profissionais.
A análise dos quatro aspectos enumerados baseia-se na informação empírica
recolhida a qual remete para o momento temporal de realização do inquérito.
1 - Perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos
Após um breve comentário sobre o licenciamento para o exercício da pesca nas
águas interiores, procede-se à caracterização sociológica dos pescadores inquiridos. De
esclarecer que a informação que serve de base à análise dos referidos dois aspectos reporta-
se ao primeiro semestre do ano de 2001, período em que decorreu a recolha do material
empírico.
3 Crf. Nota pé de página nº 1 deste sub-Capítulo.
177
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
1.1.Licenciamento e tipo de licenças de pesca
Do total dos pescadores inquiridos (116) cerca de um quinto (22%) não dispunha
de licença de pesca (Fig. 5.2).
0
50
100
C/ lic. S/ lic.
Fig. 5.2 – Inquiridos com, e sem, licença de pesca profissional.
De esclarecer que foi sobretudo na Bacia do Baixo Mondego onde se verificou um
maior número de inquiridos na referida situação. Com efeito, 68% do total dos inquiridos
nestas Bacia não estava licenciado. Por outro lado, 77% destes indivíduos respondeu que
nunca possuíra licença de pesca profissional, apesar de exercer esta actividade desde há
mais de uma década.
Relativamente ao universo social inquirido que dispunha de licença de pesca
profissional o tipo de licença predominante era a colectiva (69%).
020406080
C/ lic. ind. C/ lic. col.
Fig. 5.3 – Inquiridos com licença de pesca profissional individual e colectiva.
Foi essencialmente na Bacia do Mondego e do Tejo onde a situação acima
referida mais se notou. Do total dos indivíduos inquiridos, 95% dispunha de licença
colectiva de pesca profissional. Na Bacia do Baixo Mondego a totalidade dos inquiridos
178
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
tinha este tipo de licença e na Bacia do Vouga unicamente 35% dos inquiridos com licença
de pesca possuía licença colectiva.
Quando confrontamos o universo social inquirido segundo o tipo de licença de
pesca, individual ou colectiva, profissional e a antiguidade da mesma constata-se que os
pescadores com licença colectiva praticam a actividade da pesca num horizonte temporal
mais amplo (Fig. 5.4 e Fig. 5.5).
>ou=20 anos45% >ou=5 a
<10 anos17%
>ou=10 a <20 anos
21%
>ou=2 a <5 anos14%
<2 anos3%
>ou=2 a <5 anos
<2 anos>ou=10 a <20 anos
>ou=5 a <10 anos
>ou=20 anos
Fig. 5.4 – Inquiridos segundo o número de anos
com licença de pesca individual.
Fig. 5.5 – Inquiridos segundo o número de anos
com licença de pesca colectiva.
Com efeito, enquanto 75% do total dos inquiridos com licença individual pratica há
menos de 5 anos a actividade da pesca nesta modalidade (Fig. 5.4), já 45% dos que
dispõem de licença colectiva praticam a actividade da pesca com a ajuda de auxiliar há
mais de 20 anos (Fig. 5.5).
1.2. Perfil socio-económico dos pescadores inquiridos
Cerca de um terço dos pescadores inquiridos (29%) tem idade inferior a 45 anos; e
metade possui idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos (Fig. 5.6).
Constata-se ainda que somente 12% dos inquiridos respondeu que não sabe ler
nem escrever e 12% que sabe ler e escrever. Os restantes pescadores inquiridos
frequentaram a escolaridade obrigatória. Só uma minoria (3%) tem habilitações escolares
para além deste nível de escolaridade (Fig. 5.7).
179
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
>ou=25 a <359%>ou=35 a
<4519%
>ou=45 a <5521%
>ou=55 a <6529%
>ou=65 a <7516%
<251%
>ou=755%
4ª c lasse50%
Não sabe le r e
escrever12%9º ano
13%
6ª c lasse10%
Sabe le r e e screver
12%
Curso Sup.1%
Curso Profiss.
1%
12º ano1%
Fig. 5.6 – Idade dos inquiridos. Fig. 5.7 – Escolaridade dos inquiridos.
Metade dos inquiridos pratica a actividade da pesca somente em determinados
períodos do ano. Mais concretamente, 56% respondeu que pesca nas águas interiores
periodicamente; 20% pontualmente; e só 24% é pescador a tempo completo (Fig. 5.8).
Foi sobretudo nas Bacias do Baixo Mondego e do Tejo onde foi inquirido um
maior número de pescadores que fazem da pesca a única ocupação do respectivo tempo de
actividade; a saber: 24% e 33% do total dos indivíduos inquiridos, respectivamente, em
cada uma daquelas duas Bacias.
Por seu lado, foi na Bacia do Vouga onde se inquiriu um maior número de
pescadores que concentram a actividade da pesca em determinados meses do ano, isto é,
pescam periodicamente (Fig. 5.9).
020406080
T. Int. Period. Pont.
Fig.5.8 – Percentagem de tempo dedicado à pesca (Tempo inteiro; Periodicamente; Pontualmente).
180
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
24%
4%
33%24%
60%
96%
38%
56%
16%
0%
30%20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Monde go
T e mpo In t e i r o
Vouga T e jo T ota l Monde go
P e r iodi c a me nte
Vouga T e jo T ota l Monde go
P ontua lme nte
Vouga T e jo T ota l
Modalidade de pesca
% In
quir
idos
Fig. 5.9 – Percentagem de inquiridos segundo as modalidades de pesca profissional praticada em 2000.
O facto de a maioria dos inquiridos, exercer outra actividade económica principal,
que não a da pesca nas águas interiores, explica que 80% identifique os rendimentos
económicos auferidos com a actividade da pesca como sendo um complemento ao total das
receitas individuais e familiares. Somente 15% dos pescadores avaliam aquelas
rendimentos como sendo a única fonte de receitas monetárias (Fig. 5.10).
0
20
40
60
80
100
Única Principal Compl.
Fig. 5.10 – Importância do rendimento da pesca, % (Única fonte; Principal fonte; Complemento de
rendimento).
São de natureza bem diversificada as actividades económicas exercidas, a título
principal, pelos pescadores inquiridos. A título ilustrativo referem-se aqui a de operários
fabril, predominante entre os inquiridos com actividade económica que pescam na Bacia
do Baixo Mondego; de chefe de exploração agrícola, predominante entre os que pescam na
Bacia do Vouga; e de empregado no sector terciário e de chefe de exploração agrícola,
actividades económicas predominantes entre os inquiridos que pescam na Bacia do Tejo.
181
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
De assinalar que, embora parte dos inquiridos que dedicam todo o tempo de
actividade à pesca nas águas interiores sejam reformados de outra actividade económica,
ainda existe um número significativo de indivíduos que exercendo a actividade da pesca a
título principal se auto identificam como pescador profissional.
Esta situação ocorre predominantemente na Bacia do Tejo, onde cerca de metade
(48%) do total dos inquiridos se identificam com aquela categoria sócio profissional. Esta
situação contrasta com a informação recolhida nas outras duas Bacias. Concretamente na
Bacia do Mondego só quatro do total dos inquiridos (16%) se identificam como pescador
profissional e na do Vouga unicamente foram inquiridos dois pescadores nesta situação.
A maioria dos inquiridos (64%) iniciou a aprendizagem da pesca com redes e/ou
armadilhas com idade inferior a 15 anos, sendo que metade destes (30%) aprenderam esta
actividade ainda durante a respectiva infância: idade inferior a 10 anos (Fig. 5.11).
A experiência foi a principal modalidade de aprendizagem, dos inquiridos, dos
saberes específicos à prática da actividade da pesca com redes e/ou armadilhas. Por seu
lado, a transmissão de tais saberes foi, na maioria dos casos inquiridos, da responsabilidade
de familiares.
Tendo em conta a acabado de referir não é de estranhar que cerca de metade dos
pescadores inquiridos (46%) tenha dado início ao exercício da pesca nas águas interiores
com recurso a redes e/ou armadilhas com idade inferior a 25 anos (Fig. 5.12).
<10 anos30%
>ou=10 a <15 anos
34%
>ou=15 a <20 anos
21%
>ou=20 a <25 anos
7%
>ou=25 anos8%
<25 anos46%
>ou=25 a <35 anos20%
>ou=35 a <45 anos17%
>ou=45 anos17%
Fig. 5.11 – Idade da aprendizagem da actividade
pesca.
Fig. 5.12 – Idade de início da actividade pesca
profissional.
182
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Porém, numa análise mais detalhada permite concluir que 11% dos inquiridos deu
início à actividade da pesca nas águas interiores com idade inferior a 15 anos e 28% com
idade inferior a 20 anos (Fig. 5.13).
30%
34%
21%
7% 7%
1% 0%1%
10%
17%19% 20%
17% 17%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
<10 anos >ou=10 a <15 anos >ou=15 a <20 anos >ou=20 a <25 anos >ou=25 a <35 anos >ou=35 a <45 anos >ou=45 anos
Escalões de idade
% In
quir
idos
Idade de aprendizagem Idade de início da actividade
Fig. 5.13 – Percentagem de inquiridos segundo a idade de aprendizagem e a idade de início de actividade
pesca profissional.
De entre as razões evocadas pelos inquiridos para terem dado início à actividade
da pesca figuram, por ordem decrescente do número de respostas obtidas: a necessidade de
ajudar o pai ou outro familiar no exercício daquela actividade e a dificuldade de, à época,
encontrarem fonte alternativa de rendimento (respectivamente, 26% e 24% de respostas).
Para além destas razões há ainda a assinalar os rendimentos compensadores que, à época
em que deram início à actividade, a pesca proporcionava (20%) e ainda o gosto pelo
exercício desta actividade (20%). Foram reduzidas as respostas baseadas no controle dos
saberes associados à pesca com redes e/ou armadilhas (10%) para justificar o início da
actividade da pesca nas águas interiores (Fig. 5.14)4.
Cerca de metade do total dos pescadores inquiridos (53%) deu início à actividade
da pesca nas águas interiores na qualidade de auxiliar; 26% na qualidade de chefe de
embarcação e 21% na qualidade de pescador individual (Fig. 5.15).
4 De assinalar que no inquérito por questionário esta questão era de construção semi aberta e de respostas múltiplas.
183
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
De notar que os inquiridos que iniciaram a actividade da pesca na qualidade de
auxiliar estavam relacionados por laços de parentesco com o respectivo arrais. Este é outro
aspecto que ajuda a delimitar as características dos saberes específicos ao exercício da
actividade da pesca com redes e/ou armadilhas. Mais concretamente, são saberes
aprendidos com base na experiência, exercitados no quotidiano e transmitidos no quadro
de relações sociais familiares.
0
10
20
30
40
50
60
70
Auxiliar Chefe emb. Indiv.0
5
10
15
20
25
30
35
40
Rend. Ajuda Gosto Saber Falta Empr.
Fig. 5.14 – Razões para iniciar a pesca profissional. Fig.5.15 – Modalidade de início da actividade pesca
profissional.
Porém, a informação empírica permite concluir que o cenário caracterizado
relativo à transmissão e aprendizagem dos saberes específicos ao exercício da pesca não
encontra circunstâncias favoráveis à sua reprodução. Com efeito, a quase totalidade dos
pescadores inquiridos respondeu que os respectivos filhos não dedicam tempo de
actividade à prática da pesca profissional, nem sequer ao exercício da pesca desportiva,
apesar de um número significativo de inquiridos lamentar tal situação e manifestar gosto
em ser pescador profissional.
2 – Pesqueiros, artes de pesca e embarcações
Em primeiro lugar importa esclarecer que a informação recolhida que serve de
suporte à análise desenvolvida neste ponto se reporta ao ano de 2000. Este esclarecimento
é válido para os pontos que se seguem, mais concretamente, até ao ponto 5 inclusivé.
184
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Pesqueiros
Mais de metade dos pescadores inquiridos (55%) pescou só em águas correntes.
As albufeiras foram o local de pesca mais frequentado por 30% de inquiridos. Finalmente,
só 15% dos inquiridos respondeu ter frequentado águas correntes e albufeiras (Fig. 5.16).
0
20
40
60
80
Só águas corr. Só albuf. Águas corr. ealbuf.
Águas corr. e mar
Fig. 5.16 – Locais de pesca mais frequentados.
De entre os locais mais preferidos pelos pescadores inquiridos destacam-se, na
Bacia do Mondego, os rios Mondego e Foja; na Bacia do Vouga, o rio Vouga e a Pateira de
Fermentelos; e na Bacia do Tejo, os rios Tejo e Ocreza, e as albufeiras de Fratel, Castelo
de Bode, Pracana, Caia e Cedillo5.
De entre as razões apontadas pelos inquiridos para justificarem tais preferências
figuram aspectos de conteúdo distinto. Entre os referidos destacamos os seguintes: a
proximidade do local de residência e a abundância de recursos piscícolas (Bacia do
Mondego); a proximidade do local de residência; a manutenção de uma rotina há muito
aprendida e praticada; a garantia de pescar em segurança dado o conhecimento, ou a não
existência de correntes; a boa qualidade (não poluição) das águas (Bacia do Vouga); a
proximidade do local de residência; a manutenção de uma tradição transmitida pela
geração anterior; a garantia de pescar em segurança e a facilidade de colocação das redes; a
boa qualidade das águas; a abundância de recursos piscícolas (Bacia do Tejo).
5 Cedillo é uma barragem espanhola localizada na fronteira onde termina o rio Tejo, juntando-se com a linha de água do rio Ponsul.
185
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Recordando que a maioria dos inquiridos (56%) pratica a actividade da pesca num
período restrito do ano, isto é, periodicamente, as figuras. 5.17 e 5.18 dão a conhecer as
temporalidades da prática da pesca dos pescadores inquiridos durante o ano de 2000.
Aquelas temporalidades concentram-se essencialmente em dois períodos de três
meses, a saber: Janeiro, Fevereiro e Março ⎯ sendo este o mês do ano que registou o
maior número de dias de pesca ⎯ e Junho, Julho e Agosto.
14181590
1837
1110993
1207 1154 1115946
824723 777
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
J an. Fev. Ma rço Abril Ma io J unho J ulho Agos. S e t . Out . Nov. De z .
Me s e s
Fig. 5.17 – Número total de dias de pesca por mês.
Fig. 5.18 – Numero médio e desvio-padrão do total de dias de pesca por mês.
Média+SDMédia-SDMédia+SEMédia-SEMédia
Meses
Nº d
ias
de p
esca
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Dado que, como já foi referido, a proximidade do local de residência é um aspecto
importante na opção dos inquiridos sobre o local onde pescam, não será de estranhar que
muitos dos pescadores não tenham por hábito pernoitar no local da pesca. Nunca ter
186
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
pernoitado no local da pesca durante o ano de 2000 foi a opção de 96% dos pescadores
inquiridos na Bacia do Baixo Mondego; de 59% dos inquiridos que pescam na Bacia do
Vouga e de 61% dos que pescam na Bacia do Tejo.
Relativamente aos inquiridos que pernoitam no local da pesca a larga maioria fá-
lo esporadicamente, mais concretamente “às vezes”. Enquanto o veículo é o local utilizado
para pernoitar no local da pesca pela maioria dos pescadores do Vouga, já os que pescam
na Bacia do Tejo utilizam o barco, para além do veículo.
Artes de pesca
Os pescadores inquiridos pescam maioritariamente só de barco (90%).
Unicamente 3% pesca só da margem e 7% pesca do barco e da margem (Fig. 5.19).
0
20
40
60
80
100
120
Só barco Barco e margem Só margem
Fig. 5.19 – Modalidades de pesca.
As artes de pesca variam, naturalmente, segundo a espécie piscícola a capturar e a
própria tradição regional e local. Nas figuras. 5.20.a; 5.20.b; e 5.20.c descrevem-se as artes
de pesca utilizadas no ano 2000 pelos pescadores inquiridos, bem como a respectiva
frequência de uso, respectivamente, nas Bacias do Mondego, do Vouga e do Tejo. De notar
que a designação das artes que consta das figuras é a atribuída pelos inquiridos.
A figura 5.20.d ilustra a síntese das artes de pesca e a respectiva frequência de
utilização, no conjunto das três Bacias hidrográficas.
187
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
4%
13%15%
30%
15%
6%4%
9%
4%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Sartela Nassa Branqueira Savara Estaca dalampreia
Cofre Tresmalho Lamprieira Peneira
Artes de pesca
% In
quir
idos
que
usa
m
Fig. 5.20a – Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 na
Bacia Hidrográfica do Mondego.
26%
20%
1%
7%
12%
6%7%
14%
4%
1%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Galricho C amboa Savara B etorão Tresmalho Sartela F isga R ede deemalhar ouM alheira
C ana Nassa
Artes de pesca
%In
quir
idos
que
usa
m
Fig. 5.20b - Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 na
Bacia Hidrográfica do Vouga.
188
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Como se pode concluir da informação recolhida, embora não seja frequente,
continuam a ser utilizadas artes que são legalmente interditas como, por exemplo, o botirão
e a fisga.
1%2%
27%
18%
27%
2%1%
6% 6%
2% 2%1%
2%1%
2%2%
1%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Rede dalampreia
Savara Rede simples Nassa Tresmalho Corda deanzóis
Nassinha Galricho Anzolada Varela Tarrafa Rede dearrasto
Sabugacho Botirão Nassaespanhola
Cana Gaiola
Artes de pesca
% In
quir
idos
que
usa
m
Fig. 5.20c - Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 na
Bacia Hidrográfica do Tejo.
10%
6%
8%
3%
18%
3% 2%
18%
3%
12%
3% 3%
1%2%
1% 1% 0%
3%
1% 1% 0% 1% 1% 0%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
Galrich
o
Cambo
aSav
ara
Botirão
Tresmalh
o
Sartela
Fisga
Rede d
e emalh
arCan
aNass
a
Branqu
eira
Estaca
da la
mpreia
Cofre
Lampri
eira
Peneir
a
Corda d
e anz
óis
Nassinh
a
Anzola
daVare
la
Tarrafa
Rede d
e arra
sto
Sabug
acho
Nassa e
spanh
olaGaio
la
Artes de pesca
% In
quir
idos
que
usa
m
Fig. 5.20d - Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 nas
Bacias Hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.
Para além do exposto, foi ainda recolhida informação junto dos pescadores sobre
a natureza multi-usos que conferem às diferentes artes de pesca que utilizam. Mais
189
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
concretamente, procurou-se identificar quais as diferentes espécies capturadas com recurso
a cada uma das artes de pesca recenseadas. As figuras 5.21.a; 5.21.b e 5.21.c ilustram a
função multi-usos de cada uma das artes de pesca utilizada com identificação das espécies
piscícolas capturadas, respectivamente, nas Bacias do Mondego; do Vouga e do Tejo.
Por seu lado, a figura 5.21.d sintetiza a informação recolhida no conjunto das três
Bacias hidrográficas acima enumeradas.
Cofre
Lagostim vermelho
Nassa Sartela
Enguia
Savara
Sável
Peneira
Meixão
Estaca da lampreia Lamprieira
Tresmalho
Pimpão Carpa Tainha Barbo
Branqueira
Lampreia
Fig.5.21a – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolas na Bacia
Hidrográfica do Mondego.
Savara Nassa
Sável
Fisga
Boga Bordalo
Tresmalho
Lampreia
Camboa
Barbo Tainha
Truta
Cana
Achigã
Malheira
Carpa Pimpão
Betorão Sartela
Ruivaco Lagostim vermelho
Galricho
Enguia
Fig.5. 21b – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolas na Bacia Hidrográfica do Vouga.
190
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Rede da lampreia Varela
Saboga Achigã
Tarrafa Botirão
Fataça ou mugeou tainha
Carpa
Rede simples
Galricho
Gaiola
Lagostim vermelho
Nassa ou covo Nassa espanhola Nassinha
Enguia
Corda de anzóis Anzolada
Barbo Boga
Savara
Sável
Tresmalho Sabugacho
Lampreia
Fig. 5.20c – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolas na Bacia Hidrográfica do Tejo.
Estaca da lampreia Camboa Rede da lampreiaou lamprieira
Varela
Rede de arrasto
Saboga Achigã
Tarrafa Botirão
Fataça ou mugeou tainha
Carpa
Cana
Branqueira Rede simplesou de emalhar
Peneira(Meixão)
Galricho
Gaiola Cofre
Lagostim vermelho
Nassa ou covo Nassa espanhola Nassinha Sartela
Enguia
Corda de anzóis Anzolada
Barbo Boga
Savara
Sável
Tresmalho Sabugacho Fisga
Lampreia
Fig. 5.20d – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolasnas Bacias Hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.
Embarcações
Tal como sucede com as artes de pesca também as embarcações utilizadas pelos
pescadores inquiridos reflectem especificidades regionais no que respeita quer às
respectivas características físicas, quer de designação.
Assim, na Bacia do Mondego o tipo de embarcação mais frequente é a designada
regionalmente por canoa, muitas das quais (59% do número total de canoas recenseadas)
foram construídas pelos próprios pescadores. A canoa é um barco de madeira, não
cabinado.
191
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Na Bacia do Vouga, a embarcação mais vulgar é a designada por bateira. Também
aqui se constata que 37% do número total de bateiras recenseadas entre os pescadores
inquiridos foram construídas pelos próprios. À semelhança da canoa, também a bateira é
um barco não cabinado, construído na maior parte dos casos em madeira e mais
excepcionalmente em ferro.
É na Bacia do Tejo onde se encontra uma maior diversidade de tipos de
embarcações concretamente, as designadas por bote; picareto; lancha; bateira e abrangel. A
maioria destas embarcações são não cabinadas (unicamente foram recenseadas uma lancha
e dois botes cabinados) e construídas em madeira.
A figura 22 sintetiza a importância relativa de cada um dos tipos de embarcações
identificadas no conjunto das três Bacias hidrográficas.
Fig. 5.22 – Embarcações segundo o tipo, no total de embarcações.
Bateira32%
Lancha6%
Canoa17%
Bote15%
Picareto19%
Barco3%
Catamaran2%
Barca1%
Abrangel1%
Chata1%
Caçadeira1%
Dore1%
Patacha1%
Um outro aspecto a salientar diz respeito ao número de pescadores inquiridos que
possui embarcação própria e o número de embarcações por pescador individual.
Na Bacia do Baixo Mondego unicamente quatro dos inquiridos (que representam
16% dos pescadores inquiridos) não possui barco próprio. Entre os pescadores com barco
próprio, à excepção de dois que possuem dois barcos, todos os restantes só possui um.
O cenário descrito é bastante semelhante quando, na Bacia do Vouga, se analisa o
número de pescadores que possui barco próprio mas contrasta quanto ao número de barcos
192
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
por pescador. Com efeito, só 15% (quatro pescadores) dos pescadores inquiridos não
possui barco próprio. Porém, quatro inquiridos possuem dois barcos; quatro possuem três e
dois possuem quatro embarcações.
Finalmente, na Bacia do Tejo todos os inquiridos possuem embarcação própria e
23% possui mais de uma embarcação. Em suma, 93% do total dos inquiridos nas três
Bacias hidrográficas possui um (ou mais do que um) barco próprio.
Grande número do total das embarcações recenseadas nas três Bacias
hidrográficas têm poucos anos. Com efeito, 50% tem menos de 5 anos (Fig. 5.23). A
informação apurada permite afirmar que, como já foi referido, algumas das embarcações
foram construídas pelos próprios pescadores e a maioria das restantes compradas em 1ª
mão. Estes dois aspectos explicam a opinião dos inquiridos sobre o estado de conservação
das embarcações próprias. Com efeito, 35% respondeu que aquele estado era muito bom e
34% avaliou-o como bom (Fig.5. 24).
0
10
20
30
40
50
60
70
<1 ano >ou=1 a <5 anos >ou=5 anos a <10anos
>ou=10 anos0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
M u ito b o m B o m R a z o á ve l M a u
Fig. 5.23 – Idade das embarcações. Fig. 5.24 – Estado de conservação das embarcações.
Segundo os pescadores inquiridos, as 140 embarcações recenseadas nas três
Bacias hidrográficas possuem um valor actual estimado em 10 216 contos. Este total
reparte-se do seguinte modo: 27% na Bacia do Mondego; 29% na Bacia do Vouga e os
restantes 43% na Bacia do Tejo.
Como a figura 5.25 deixa visualizar, treze (9%) do total das embarcações
recenseadas não possuem qualquer valor monetário. A idade e o estado de conservação são
os factores responsáveis pela referida situação. A figura 25 permite ainda concluir que a
maioria das embarcações recenseadas nas três Bacias hidrográficas (54%) foram avaliadas
pelos respectivos proprietários como possuindo um valor monetário actual estimado entre
os 50 e os 200 mil escudos; e 27% com um valor inferior a 50 mil escudos.
193
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
13
38 37 38
10
4
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 <50 >ou=50 a <100 >ou=100 a <200 >ou=200 a <500 >ou= 500
Valor actual embarcações (mil escudos)
Nº e
mba
rcaç
ões
Fig. 5.25 – Valor actual das embarcações (mil escudos).
3 – Caracterização socio-económica da mão-de-obra auxiliar
O facto de a larga maioria dos pescadores inquiridos (93%) nas três Bacias
hidrográficas possuir barco próprio explica o número total de auxiliares recenseados,
concretamente, 76 indivíduos nesta situação laboral.
Os 76 auxiliares repartem-se do seguinte modo: 10 na Bacia do Mondego; 16 na
do Vouga e 50 na do Tejo. Com excepção da Bacia do Tejo onde foram inquiridos
pescadores com mais de um auxiliar, nas duas outras Bacias todos os inquiridos com
auxiliar responderam ter tido, durante o ano de 2000, um único auxiliar. Com base no
exposto, concluiu-se da importância da actividade da pesca profissional nas águas
interiores não só para os indivíduos inquiridos e respectivas famílias mas igualmente para
os indivíduos que preenchem a função de auxiliar e respectivos agregados domésticos
(Fig. 5.26).
Uma vez que a maioria dos inquiridos (56%) concentra a sua actividade da pesca
em determinados meses do ano, a participação da mão-de-obra auxiliar segue,
naturalmente, idêntica tendência. Com efeito, 53% da mão-de-obra auxiliar recenseada nas
três Bacias hidrográficas está ocupada com a actividade da pesca pelo menos três meses no
ano, e 47% quatro ou mais meses (Fig. 5.27).
194
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
0
10
20
30
40
50
60
70
S/ aux. 1 aux. >1 aux.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 mês 2 meses 3 meses >ou=4 meses
Fig. 5.26 – Inquiridos que pescaram com barco
próprio e número de auxiliares.
Fig. 5.27 – Inquiridos segundo o número de meses
que foram acompanhados por auxiliares.
Tal como sucede com os pescadores inquiridos, também a mão-de-obra auxiliar faz
da pesca uma actividade económica secundária; tem, sensivelmente, idades idênticas (Fig.
5.28); e possui experiência de pesca.
A informação recolhida permite ainda afirmar que a mão-de-obra auxiliar está
ligada ao arrais por laços de parentesco (Fig. 5.29) e que a modalidade mais comum de
retribuição pelo trabalho executado pela mão-de-obra auxiliar é a sociedade: a meias na
Bacia do Mondego; a meias ou ao terço na Bacia do Vouga; e a meias; ao terço ou à
quarta na Bacia do Tejo (Fig. 5.30).
<2512%
>ou=25 a <3513%
>ou=35 a <4519%
>ou=45 a <559%
>ou=55 a <6528%
>ou=65 a <7516%
>ou=753% Assal.
1%
Não Assal.99%
Sociedade58%
Espécie24%
Dinheiro18%
Fig. 5.28 – Idade dos auxiliares. Fig. 5.29 – Auxiliares segundo o
tipo de relação de trabalho com o
inquirido.
Fig. 5.30 – Formas de remuneração
dos auxiliares.
195
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Convertida em dinheiro a remuneração em espécie atribuída à mão-de-obra auxiliar
e adicionada a esta a remuneração em dinheiro, foi estimado pelos inquiridos das três
Bacias hidrográficas que o valor monetário total dispendido com a remuneração da mão-
de-obra auxiliar, durante o ano de 2000, foi de 16 573 contos. Este montante total reparte-
se do seguinte modo: 2% na Bacia do Mondego; 52% na Bacia do Vouga; e 46% na Bacia
do Tejo. De notar que os montantes monetários referidos foram estimados pelos inquiridos
chefes de embarcação pelo que devem ser considerados meramente como um indicador
aproximado da realidade.
De referir ainda que alguns dos pescadores inquiridos também exercem funções
de auxiliar. No total dos 116 inquiridos foram recenseados 17 casos (15%), repartidos do
seguinte modo: 2 casos (1%) na Bacia do Mondego; 5 casos (19%) na do Vouga; e 10
casos (16%) na do Tejo.
4 – Principais espécies piscícolas capturadas
A figura 31 dá conta do número de inquiridos que afirmou não ter pescado em
cada um dos meses do ano de 2000. Em parte, a distribuição mensal do número de dias de
não pesca está relacionada com as espécies capturadas.
34
23 25
56
70
43 42
4953
5862
57
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
Nº I
nqui
rido
s que
não
pes
cara
m
Fig. 5.31 – Inquiridos que não pescaram, segundo o mês.
196
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Nas figuras 5.32.a; 5.32.b; e 5.32.c é possível confrontar a importância no que se
refere às espécies que os inquiridos afirmaram ter pescado durante o ano de 2000 e as que
mais gostam de pescar, respectivamente, na Bacia do Mondego, do Vouga e do Tejo. Por
seu lado, a Fig. 5.32.d sintetiza a informação recolhida no conjunto das três Bacias
hidrográficas enumeradas.
32%
28%
23%
9%6%
2%
44%
19%
6% 6%
16%
3%6%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Lampreia Sável E ngu ia M eixão Lagostimvermelho
Pimpão Tainha
Espécies
% In
quir
idos
E spécies que gostam mais de pescar E spécies que mais pescaram em 2000
Fig. 5.32a – Percentagem de inquiridos segundo as espécies na Bacia Hidrográfica do Mondego.
22%
6%
25%
15%
10%
5%2%
1%
7%
2% 2%1%
21%
7%
13%15%
12%
3%
13%
0%1%
9%
4%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Lam
prei
a
Sáve
l
Engu
ia
Bar
bo
Car
pa
Pim
pão
Tain
ha
Rui
vaco
Ach
igã
Bor
dalo
Trut
a
Lago
stim
verm
elho
Bog
a
E spécies
% In
quir
idos
E spécies que gostam m ais de pescar E spécies que m ais pescaram em 2000
Fig. 5.32b – Percentagem de inquiridos segundo as espécies na Bacia Hidrográfica do Vouga.
197
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
13%
8% 8%
20%
15%
1%
4%
2%
17%
2%0%
6%
4%3%
0%
3%
27%
16%
1%
10%
1%
10%
0%1%
14% 14%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Lampreia Sável Enguia Barbo Carpa Saboga ou Savelha Tainha ou Mugeou Fataça
Bordalo Achigã Lúcio Perca-sol Lagostimvermelho
Boga
Espécies
% In
quir
idos
Espécies que gostam mais de pescar Espécies que mais pescaram em 2000
Fig. 5.32c – Percentagem de inquiridos segundo as espécies na Bacia Hidrográfica do Tejo.
19%
11%
15% 16%
11%
1%3%
1%
12%
1% 0%
5%
2% 1% 0% 1% 1%
15%
5%7%
22%
14%
0%
12%
0%
7%
0% 1%
14%
1% 1% 1% 0% 0%0%
5%
10%
15%
20%
25%
Lam
prei
a
Sáve
l
Engu
ia
Bar
bo
Car
pa
Sabo
ga o
u Sa
velh
a
Tain
ha o
u M
uge
ou F
ataç
a
Bor
dalo
Ach
igã
Lúci
o
Perc
a-so
l
Lago
stim
ver
mel
ho
Bog
a
Pim
pão
Mei
xão
Rui
vaco
Bor
dalo
Trut
a
Espécies
% In
quir
idos
Espécies que gostam mais de pescar Espécies que mais pescaram em 2000
Fig. 5.32d – Percentagem de inquiridos segundo as espécies nas Bacias Hidrográficas do
Mondego, Vouga e Tejo.
A lampreia o sável foram as espécies mais procuradas pela maioria dos inquiridos
do Mondego, respectivamente, 44% e 19% do total dos inquiridos. Na bacia do Vouga
foram a lampreia e o barbo e na do Tejo o barbo e a carpa.
198
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Constata-se ainda a não correspondência entre as espécies mais pescadas e as que
os pescadores afirmam gostar mais de pescar. Foram diversas as razões apontadas pelos
inquiridos para justificarem o gosto pela pesca de determinadas espécies. Entre os aspectos
mais referidos, enumeram-se, a título ilustrativo, os relacionados com o prazer de utilizar
determinadas artes de pesca ⎯ por exemplo, o anzol (na captura do achigã); a sartela ⎯;
as potencialidades gastronómicas de algumas espécies mais orientadas para o auto
consumo, o qual, na maior parte das vezes, está associado a actividades lúdicas; a garantia
de comercialização associado à grande procura e, consequentemente, a elevados preços de
venda.
Ainda no que respeita às espécies piscícolas procurou-se conhecer e avaliar, duas
ordens de aspectos. Em primeiro lugar, quais as principais espécies capturadas pelos
inquiridos nos últimos três anos, em cada uma das Bacias hidrográficas, e a sua opinião
sobre se: (i) as quantidades daquelas espécies têm aumentado, mantido ou diminuído, e (ii)
as razões que ajudam a compreender tal realidade.
Em segundo lugar, procurou-se avaliar o montante global de biomassa capturada
no ano 2000. Cada um dos referido aspectos centrou-se nas seguintes espécies piscícolas:
achigã, barbo, boga, carpa, enguia, lagostim-vermelho, lampreia, lúcio, meixão, pei-rei,
robalo, saboga, salmão, sável, taínha e truta. Como se verá de seguida, nem todas as
espécies enumeradas foram objecto de captura, nos últimos três anos, pelos pescadores de
cada uma das Bacias hidrográficas.
Ainda relativamente à informação recolhida, ilustrada nas figuras que se seguem,
convém esclarecer dois aspectos: (i) o valor percentual registado relativamente aos
inquiridos que pescaram foi calculado com base no total dos inquiridos em cada uma das
Bacias hidrográficas, especificamente a do Mondego (Fig. 5.33 a); do Vouga (Fig. 5.33 b);
do Tejo (Fig. 5.33 c) e no conjunto das três Bacias (Fig. 5.33 d); (ii) os valores percentuais
nas referidas figuras relativamente à opinião dos inquiridos sobre se as quantidades das
espécies, nos últimos três anos, têm aumentado ou têm mantido ou diminuído foram
calculados com base no número total de inquiridos que responderam às três possibilidades
de evolução das quantidades das espécies especificadas no modelo do inquérito por
questionário.
A informação apurada na Bacia do Baixo Mondego (Fig. 5.33 a) permite concluir
que o sável (60%); a lampreia (56%); a enguia (48%); e o barbo (44%) foram as espécies
199
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
piscícolas que os inquiridos responderam ter mais pescado nos últimos três anos. Por seu
lado, entre as espécies menos pescadas encontra-se o achigã (4%); o meixão (20%) e o
robalo (24%). No que refere à avaliação dos pescadores sobre a evolução, nos últimos três
anos, das quantidades de biomassa disponível de cada espécie sobressaem os seguintes
aspectos.
Em primeiro lugar, são reduzidas as espécies cujos quantitativos foram avaliados
pelos inquiridos como tendo aumentado. Estas foram: a lampreia (100% dos inquiridos); a
taínha (100%); o meixão (60%) e o robalo (50%). As principais razões apontadas pelos
pescadores para explicarem este aumento foram os menores caudais, sobretudo no que
refere à lampreia.
Em segundo lugar, o consenso mais elevado no que respeita à manutenção ou
redução das quantidades das espécies disponíveis foi registado no achigã (100% dos
inquiridos); na carpa (100%); na enguia (92%); no lagostim vermelho (90%), na saboga
(63%); no sável (60%) e no barbo (55%). As principais razões apontadas para este tipo de
evolução foram: a poluição das águas (achigã, carpa, enguia; lagostim-vermelho; saboga e
sável); a sobre pesca (enguia) e os menores caudais (sável).
4%
44%
0%
36%
48%
56%
0%
20%
0%
24%
32%
0%
60%
52%
0%0% 0% 0%
8% 10%
100%
0%
60%
0%
38%
0%
40%
100%
0%
100%
55%
0%
100%
92% 90%
0% 0%
40%
0%
50%
63%
0%
60%
0% 0%
40%
50%45%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Ach
igã
Bar
bo
Bog
a
Car
pa
Engu
ia
Lago
stim
ver
mel
ho
Lam
prei
a
Lúci
o
Mei
xão
Peix
e-re
i
Rob
alo
Sabo
ga
Salm
ão
Sáve
l
Taín
ha
Trut
a
Espécies
% In
quir
idos
% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu
Fig. 5.33a – Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre a evolução da quantidade da espécie na Bacia Hidrográfica do Mondego.
Na Bacia do Vouga (Fig. 5.33.b), as espécies mais pescadas nos últimos três anos
foram a enguia (78% de respostas); a taínha (70%); a lampreia (67%); a carpa (63%) e o
200
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
lagostim-vermelho (56%). No que refere às espécies cujas quantidades aumentaram nos
últimos três anos ressaltam: a perca-sol (100% de respostas); a taínha (84%); o lagostim-
vermelho (81%) e o barbo (62%). Apesar do exposto conclui-se que a avaliação dos
inquiridos é pessimista no que refere à abundância dos recursos piscícolas da Bacia do
Vouga. Com efeito, de acordo com as respostas obtidas, são mais numerosas as espécies
cujas quantidades foram avaliadas como tendo vindo a diminuir ou a manter e existe um
largo consenso entre os inquiridos sobre esta realidade. Mais concretamente, o achigã
(100% de respostas); a boga (78%); a enguia (100%); a lampreia (83%); a saboga (100%);
o sável (100%); a truta (57%); o pimpão (100%); o ruivaco (100%) e o bordalo (50%)
foram as espécies que reuniram maior consenso quanto ao não aumento da evolução dos
quantitativos disponíveis para captura nos últimos três anos. As principais razões
apontadas para esta realidade foram a sobre pesca (achigã: enguia; sável; ruivaco); a
poluição das águas (boga; enguia; sável; pimpão; ruivaco); e dificuldades de acesso aos
pesqueiros frequentados pelos inquiridos devido à existência de açudes no caso específico
da lampreia (açude da Grela; e de Sernada do Vouga).
33%
74%
33%
63%
78%
56%
67%
0% 0% 0% 0%4%
0%
37%
70%
26%
37%
7%
15%
33%
0%
62%
22%
39%
0%
81%
17%
0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
84%
43%
0%
100%
50%
0%
100%
38%
78%
61%
100%
19%
83%
0% 0% 0% 0%
100%
0%
100%
16%
57%
100%
0%
50%
100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Barbo
Boga
Carpa
Enguia
Lagost
im ve
rmelh
o
Lampre
ia
Peixe-r
ei
Robalo
Sabog
aTrut
a
Perca-s
ol
Bordalo
Ruivaco
Espécies
% In
quir
idos
% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu
Fig. 33b - Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre a evolução
da quantidade da espécie na Bacia Hidrográfica do Vouga.
Na Bacia do Tejo, as espécies mais pescadas nos últimos três anos foram: o barbo
(94% de respostas); a carpa (83%); a boga (78%); e o achigã (75%).
201
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Entre as espécies cujas quantidades foram avaliadas como tendo vindo a
aumentar, nos últimos três anos, sobressai somente a perca-sol (86% de respostas) e, em
escala bem mais reduzida; o lagostim-vermelho (46%); o sável (35%) e o salmão (33%). É
na Bacia do Tejo onde o cenário relativo à regressão das quantidades e da diversidades das
espécies piscícolas de água doce parece ser mais acentuada. Para esta realidade
contribuem, significativamente, o achigã (90% de respostas); a enguia (100%); o lúcio
(100%); o borbalo (100%); o pimpão (100%); a saboga (85%); o peixe-rei (83%); a
lampreia (96%); a carpa (82%); a boga (75%); e o barbo (74%).Entre as razões mais
referidas para explicar a referida regressão contam-se: a sobre pesca (achigã; enguia;
lampreia; peixe-rei: saboga); os menores caudais (achigã, barbo; carpa); a poluição das
águas (barbo; boga; peixe-rei; saboga); o facto de o lagostim-vermelho destruir as ovas, no
caso específico da carpa; e a existência de mais barragens, no caso específico da enguia.
75%
94%
78%
83%
42%45%
36%
9%
0%
16%
0%
30%
5%
31% 31%
0%
34%
8%
2%
10%
26% 25%
18%
0%
46%
4%
0% 0%
17%
0%
15%
33%35%
57%
0%
86%
0% 0%
90%
74% 75%
82%
100%
54%
96%
100%
0%
83%
0%
85%
67%65%
43%
0%
14%
100% 100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Achigã Barbo Boga Carpa Enguia Lagostimvermelho
Lampreia Lúcio Meixão Peixe-rei Robalo Saboga Salmão Sável Taínha Truta Perca-sol Bordalo Pimpão
Espécies
% In
quir
idos
% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu
Fig. 5.33c - Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre
a evolução da quantidade da espécie na Bacia Hidrográfica do Tejo.
202
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
A figura 5.33.d sintetiza a informação acabada de comentar relativamente às
espécies mais pescadas e à situação da evolução das quantidades das espécies piscícolas
capturadas nos últimos três anos pelos pescadores inquiridos nas três Bacias hidrográficas.
50%
78%
51%
68%
52%47% 47%
5% 4%9% 5%
24%
3%
39%45%
6%
21%
8% 9% 8%8%
37%
25%21%
2%
49%
32%
0%
60%
17%
50%
21%
33%29%
77%
43%
88%
22%
0% 0%
92%
63%
75%79%
98%
51%
68%
100%
40%
83%
50%
79%
67%71%
23%
57%
13%
78%
100% 100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Ach
igã
Bar
bo
Bog
a
Car
pa
Engu
ia
Lago
stim
ver
mel
ho
Lam
prei
a
Lúci
o
Mei
xão
Peix
e-re
i
Rob
alo
Sabo
ga
Salm
ão
Sáve
l
Taín
ha
Trut
a
Perc
a-so
l
Bor
dalo
Pim
pão
Rui
vaco
Espécies
% In
quir
idos
% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu
Fig. 5.33d - Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre a evolução
da quantidade da espécie nas Bacias Hidrográficas do Mondego, Vouga e Tejo.
A informação apurada permite concluir que as espécies capturadas, nos últimos
três anos, no conjunto das três Bacias hidrográficas foram: o achigã (50% do total de
respostas); o barbo (76%); a boga (51%); a carpa (68%) e a enguia (52%).
Entre as espécies cujos quantitativos foram avaliados pelos inquiridos como tendo
vindo a diminuir ou a manter figuram: o achigã (92% de respostas); a boga (75%); a carpa
(79%); a enguia (98%); a lampreia (68%); o lúcio (100%); o peixe-rei (83%); o robalo
(50%); a saboga (79%); o salmão (67%); o sável (71%); a truta (57%); o bordalo (78%); o
pimpão (100%) e o ruivaco (100%).
Para além do exposto importa ainda referir que foi recolhida informação que
permite confrontar as respostas dos inquiridos relativamente às espécies que mais
pescaram no ano 2000 e as que mais capturaram nos últimos três anos. Esta informação
consta, respectivamente, das figuras 5.34 e 5.35.
203
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
46
82
44
65
44 46 49
3 4 63
18
2
30
45
5 74 3 3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Barbo
Boga
Carpa
Enguia
Lagost
im ve
rmelh
o
Lampre
ia
Peixe-r
ei
Robalo
Sabog
aTrut
a
Perca-s
ol
Bordalo
Ruivaco
Espécies
Nº I
nqui
rido
s que
pes
cou
em 2
000
Fig. 5.34 – Inquiridos segundo as espécies que capturaram.
58
91
59
79
6054 55
6 510 6
28
3
4552
7
24
9 11 9
0102030405060708090
100
Ach
igã
Bog
a
Engu
ia
Lam
prei
a
Mei
xão
Rob
alo
Salm
ão
Taín
ha
Perc
a-so
l
Pim
pão
Espécies
Nº I
nqui
rido
s que
nos
últi
mos
3 a
nos
pesc
ou
Fig. 5.35 – Inquiridos segundo as espécies capturadas nos últimos três anos.
O confronto da informação empírica recolhida permite concluir que existe uma
relativa constância do tipo das espécies usualmente capturadas pelos pescadores. Permite
ainda concluir que foi, sobretudo, o barbo que manteve o nível de procura por parte dos
pescadores. Finalmente é de assinalar uma regressão, ainda que não acentuada, entre o
número de pescadores que, pescou cada uma das espécies piscícolas que vimos
enumerando no ano de 2000 (Fig. 5.34) e nos últimos três anos (Fig. 5.35). Ou seja,
comparativamente aos últimos três anos, o ano de 2000 registou um menor número de
pescadores por espécie.
204
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
No que refere ao destino da biomassa capturada no ano de 2000 a informação recolhida
permite concluir que 77% do total dos 116 pescadores vendeu metade, ou mais, da referida
biomassa (Fig. 5.36). Ou seja, mais de três quartos dos pescadores comercializou a maioria
dos recursos naturais obtidos com a actividade da pesca nas águas interiores.
0
10
20
30
40
50
60
70
<10% >ou=10 a <20% >ou=20 a <30% >ou=30 a <40% <ou=40 a <50% >ou=50%
Fig. 5.36 – Inquiridos segundo a percentagem vendida dos recursos aquícolas capturados.
Foi ainda apurado que os principais locais de comercialização dos recursos
piscícolas capturados no ano 2000 (Fig. 5.37) foram: os intermediários (45% do total dos
pescadores); e os particulares (31%)6.
A venda directa, quer a restaurantes, quer em mercados ou feiras só reuniu,
respectivamente, 17% e 7% do total das respostas.
0
5
1 0
1 5
2 0
2 5
3 0
3 5
4 0
R e sta u ra n te P a r t ic u la re s In te rm e d iá r io s M e rc a d o s /F e ira s
Fig. 5.37 – Principais locais de venda dos recursos aquícolas capturados.
6 De referir que esta questão figurava no inquérito por questionário como uma questão fechada e com possibilidade de duas respostas, no máximo.
205
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
De seguida passamos a apresentar e a comentar, por espécie piscícola de águas
doces e por Bacia hidrográfica, o número de inquiridos que pescou a espécie no ano de
2000 bem como a totalidade de biomassa (em kg. ou unidades) capturada. De notar que
esta análise tem por base, exclusivamente a opinião dos inquiridos. Dada a não exitência de
elementos que nos permitam avaliar o grau de fiabilidade da informação recolhida, os
valores que constam das figuras 38 a 38.t, inclusivé, devem ser tomados como indicativos
de uma dada realidade. Sobre a importância da existência de Censos Piscatórios e das
dificuldades que a sua ausência colocam à gestão das populações piscícolas ver, por
exemplo, Ferreira, Teresa & Oliveira, João (1996), já citado anteriormente neste Capítulo.
1 9 360 29
1191
2130 120
0200400600800
100012001400
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38 – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Achigã, por Bacia Hidrográfica.
9 18 55255 315
13692
416 70
5000
10000
15000
M ondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38a - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Barbo, por Bacia Hidrográfica.
No que respeita ao achigã (Fig. 5.38) as maiores capturas verificaram-se na Bacia
do Tejo, facto que é explicado pela preferência dos pescadores desta Bacia pelas albufeiras
enquanto pesqueiros. No total foram capturados cerca de 1 400 kg de achigã. O barbo
206
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
(Fig. 5.38 a) foi pescado por 82 pescadores (o que corresponde a 71% do total dos
inquiridos), os quais capturaram cerca de 15 000 kg, sendo que 91% desta biomassa foi
capturada na Bacia do Tejo. A boga (Fig. 5.38 b) foi sobretudo pescada na Bacia do Tejo,
cerca de 5 000 kg. A carpa já foi capturada nas três Bacias, embora maioritariamente na do
Tejo. Aqui foram capturadas 94% do total da biomassa, cerca de 15 500 kg (Fig. 5.38 c).
5 3935
5159
20
100020003000
400050006000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38b - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Boga, por Bacia Hidrográfica
6 14 45120 625
14654
0 246 270
5000
10000
15000
20000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38c - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Carpa, por Bacia Hidrográfica.
10 18 16
325
502
780
30 50
200
400
600
800
1000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 38d - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Enguia, por Bacia Hidrográfica.
207
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
8 12 26375014840
88324
0
20000
40000
60000
80000
100000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38e - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Lagostim Vermelho, por Bacia
Hidrográfica.
A enguia é uma das espécies cuja procura se regista nas três Bacias hidrográficas
(Fig. 5.38 d). Embora na Bacia do Tejo, onde os pescadores possuem um perfil mais
profissional, exista um reduzido número de pescadores que se dedicam à captura da
referida espécie (só um quarto do total dos inquiridos) nota-se que foi precisamente aqui
onde se registou um maior esforço de pesca. Dos cerca de 1 600 kg. de enguia capturada
no ano de 2000, 49% foram pescados na Bacia do Tejo.
O lagostim-vermelho (Fig. 5.38 e) foi também procurado por pescadores das três
Bacias hidrográficas. No total foram capturados 106 914 kg desta espécie por 40% do total
dos pescadores.
14 17 18
3375
547 628
0
1000
2000
3000
4000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38f - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Lampreia, por Bacia Hidrográfica.
208
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
3
37
6
0
10
20
30
40
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hiodrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38g - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Lúcio, por Bacia Hidrográfica.
4
185
0
50
100
150
200
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38h - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Meixão, por Bacia Hidrográfica.
Foi essencialmente na Bacia do Baixo Mondego onde a captura da lampreia foi
mais intensa (Fig. 5.38 f). Esta captura correspondeu a 74% do total da biomassa ⎯ 4 550
unidades ⎯ capturada. De notar que a referida percentagem foi pescada por cerca de 50%
dos pescadores inquiridos. Ou seja, na Bacia do Mondego regista-se, comparativamente às
restantes Bacias, um esforço de pesca de lampreia muito acentuado, quer no que respeita
ao quantitativo capturado, quer no que respeita ao número de pescadores que procuram
esta espécie.
O lúcio (Fig. 5.38 g) foi capturado somente na Bacia do Tejo. Os três pescadores
capturaram cerca de 40 kg de biomassa. Tal como sucede com a lampreia, cuja captura se
faz predominantemente no Mondego, o meixão foi só capturado nesta Bacia hidrográfica
(Fig. 5.38 h). Os quatro pescadores que afirmaram ter pescado a referida espécie, no ano de
2000, avaliaram o respectivo esforço de pesca em 185 kg. Aqui convém fazer uma
ressalva. Dado a grande procura de meixão, sobretudo pelo mercado espanhol, e a
proibição da sua captura com redes é de aceitar a sub avaliação quer do número de
209
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
pescadores que declarou ter capturado no ano de 2000, quer a quantidade total capturada
pelos pescadores que afirmaram ter pescado meixão. Esta ressalva é válida para as duas
restantes Bacias hidrográficas.
O peixe-rei (Fig. 5.38 i) foi capturada só na Bacia do Tejo por um reduzido
número de pescadores. O total estimado de biomassa capturada foi de 175 kg. O robalo
(Fig. 5.38 j) foi capturado na Bacia do Mondego por um reduzido número de pescadores
que no total capturaram 160 000 kg.
6
175
0
50
100
150
200
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38i - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Peixe-rei, por Bacia Hidrográfica.
3
160000
0
50000
100000
150000
200000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig.5.38j - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Robalo, por Bacia Hidrográfica.
210
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
5 1 1260
1049
7 380
200
400
600
800
1000
1200
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos
Kg
Nº Unidades
Fig. 5.38l - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Saboga, por Bacia Hidrográfica.
A saboga ou savelha (Fig. 5.38 l) foi capturada nas três Bacias, com especial
destaque para a do Tejo. No total foram capturadas, em 2000, cerca de 1 100 kg de saboga.
O salmão é uma espécie da Bacia do Tejo (Fig. 5.38 m). Foram poucos os pescadores que
no ano de 2000 capturaram esta espécie (unicamente dois). O total de biomassa pescada foi
cerca de 20 kg.
A captura do sável concentrou-se essencialmente na Bacia do Mondego. Cerca de
metade dos pescadores inquiridos responderam ter capturado aquela espécie no ano de
2000. No conjunto das três Bacias foi estimada a pesca de cerca de 4 700 kg de sável
(Fig. 5.38 n).
2
20
3
0
5
10
15
20
25
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38m - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Salmão, por Bacia Hidrográfica.
211
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
14 7 9
4315
31527 620
1000
2000
3000
4000
5000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38n - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Sável, por Bacia Hidrográfica.
11 15 191085 717
16885
500
5000
10000
15000
20000
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 38o - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Taínha, por Bacia Hidrográfica.
A taínha (Fig. 5.38 o) foi capturada nas três Bacias hidrográficas, com especial
destaque para a do Tejo. Quando confrontamos o número de pescadores em cada uma das
Bacias e o total de biomassa que os inquiridos estimaram ter capturado sobressai o
quantitativo registado na Bacia do Tejo. Com efeito, nesta Bacia, foi pescado cerca de 90%
do total, este estimado em cerca de 18 700 kg.
A truta (Fig. 5.38 p) foi pescada sobretudo na Bacia do Vouga, embora a sua
expressão tenha sido reduzida, quer em número de pescadores, quer em total da biomasa
capturada. Este foi estimado em cerca de 8 kg.
A perca-sol (Fig. 5.38 q) segue de perto as características da truta acima
especificadas. No total foi estimada a captura de cerca de 30 kg da referida espécie nas três
Bacias hidrográficas, durante o ano de 2000.
O pimpão (Fig. 5.38 r) foi unicamente capturado no Vouga. De reduzida expressão,
o total de biomassa capturada foi estimado em 60 kg.
212
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
O bordalo (Fig. 5.38 s) e o ruivaco (Fig. 38 t) foram também só capturados na
Bacia do Vouga. À semelhança do pimpão, as referidas espécies apresentam reduzida
importância, quer no número de pescadores que se dedicaram, no ano de 2000, à sua
captura, quer no total de biomassa capturada. Este valor foi estimado em cerca 20 kg, quer
no caso do bordalo, quer no caso do ruivaco.
4
1
6.5
4
2
01234567
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig.5.38p - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Truta, por Bacia Hidrográfica.
2 5
22
40
0
10
20
30
40
50
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38q - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Perca-sol, por Bacia Hidrográfica.
3
60
010203040506070
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38r – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Pimpão, por Bacia Hidrográfica.
213
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
41.5
20
0
5
10
15
20
25
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38s – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Bordalo, por Bacia Hidrográfica.
3
20
6
0
5
10
15
20
25
Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)
Bacias Hidrográficas
Nº Inquiridos Kg Nº Unidades
Fig. 5.38t – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Ruivaco, por Bacia Hidrográfica.
5 – Estimativa das receitas e dos encargos económicos com a actividade da pesca
no ano de 2000
214
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Antes de procedermos à análise da informação recolhida convém, desde já, acautelar o
significado e o nível de fiabilidade dos valores quantitativos monetários estimados que
servem de base aos resultados que serão objecto de comentário neste ponto concreto.
Mais concretamente, quer no que respeita às receitas quer aos encargos
monetários, os valores aqui referidos foram obtidos com base em estimativas realizadas
pelos pescadores inquiridos. Deste modo, os referidos valores devem ser considerados
unicamente como indicadores aproximados da realidade. Com efeito, se o valor estimado
dos encargos monetários poderá estar sobre-avaliado, ou mais conforme o valor real, já o
valor estimado das receitas monetárias poderá ser esperado como estando sub-avaliado.
Esta sub-avaliação decorre, principalmente, de três factores.
Em primeiro lugar, das quantidades realmente capturadas por espécie piscícola,
pelos pescadores, as quais poderão estar superiores às que os inquiridos nos deram a
conhecer. Em segundo lugar, dos valores que os inquiridos nos disponibilizaram sobre o
valor monetário de venda, por espécie piscícola. Finalmente, das omissões por parte dos
pescadores sobre as espécies que realmente capturaram.
Se relativamente ao aspecto enumerado em primeiro lugar não dispomos de
qualquer tipo de informação que nos permita concluir sobre o nível de discrepância entre a
realidade e a informação recolhida, já no que respeita ao aspecto referido em segundo lugar
a informação contida nos Quadros 1.2; 2.2 e 3.2 ⎯ respectivamente, do Anexo II (Bacia
do Mondego); Anexo III (Bacia do Vouga); e Anexo IV (Bacia do Tejo) deste Capítulo ⎯
ajuda a balizar os limites entre a realidade e a informação que nos foi disponibilizada pelos
inquiridos. Como se pode ver nos referidos quadros existe, num número significativo de
espécies piscícolas, grande discrepância entre os valores unitários de venda, máximos e
mínimos, fornecidos pelos inquiridos. Aquela discrepância regista-se não só entre Bacias
hidrográficas, mas igualmente no âmbito da mesma Bacia.
Tendo em conta as limitações acima especificadas passamos de seguida a expor e
a comentar a informação empírica recolhida.
O valor total das receitas monetárias obtidas, pelos 116 pescadores, com a
actividade da pesca nas águas interiores foi por estes estimado em 253 mil contos. Este
montante reparte-se do seguinte modo: 81% na Bacia do Mondego; 3% na Bacia do
Vouga; e 16% na Bacia do Tejo.
215
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Em termos médios, estima-se que o montante das receitas por pescador, no ano de
2000, foi de 2 183 contos. De notar que este valor não é idêntico em cada uma das três
Bacias hidrográficas. Assim, na Bacia do Mondego aquele valor foi estimado em 824 mil
contos, na do Vouga em 232 mil contos e na do Tejo em 639 mil contos.
Quando questionados sobre a importância relativa da actividade da pesca no total
dos rendimentos do agregado familiar, cerca de um quarto dos inquiridos (24%) avaliou
aquela importância como sendo igual ou superior a 50% (Fig. 5.39).
01020304050
1- <10
%
2- >ou
=10% a <
25%
3- >ou
=25% a <
50%
4- >ou
=50% a <
75%
5- >ou
=75% a <
...6-
100%
Fig. 5.39 – Importância das receitas da pesca no total do rendimento familiar, segundo avaliação
dos inquiridos.
No que refere ao total dos encargos monetários com a actividade da pesca no ano
de 2000 é de esclarecer que este valor inclui os encargos estimados com: a aquisição de
artes de pesca (redes e/ou armadilhas); a conservação e/ou aquisição de embarcações; as
deslocações até aos pesqueiros e as deslocações para venda do peixe capturado; a aquisição
de combustível para os motores dos barcos; a aquisição de iscos; e despesas diversas (que
aqui designámos por outras despesas) ⎯ este conjunto de encargos foi também designado
por encargos com a actividade da pesca (Figs. 5.40 e 5.41). O total dos encargos
monetários inclui ainda o pagamento da mão-de-obra auxiliar ⎯ este encargo foi também
aqui designado por encargos com auxiliares (Fig. 5.41) ⎯ e, finalmente, os encargos
relacionados com a preparação dos materiais de pesca, os quais incluem, nomeadamente, a
preparação das redes; das armadilhas; das embarcações e/ou dos motores dos barcos. Estes
216
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
encargos foram também designados por encargos com a preparação do material de pesca
(Fig. 41). Ao conjunto dos encargos com a actividade da pesca; com auxiliares e com a
preparação do material da pesca designámos por encargos variáveis (Fig. 5.42).
O total dos encargos variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000,
estimado pelos 116 pescadores, foi de cerca de 33 mil contos. Ou seja, cerca de 285 contos
por pescador. Este valor não é idêntico entre as três Bacias hidrográficas. Com efeito,
enquanto que na Bacia do Mondego os referidos encargos foram estimados em cerca de 5
340 contos (cerca de 214 contos por pescador); na do Vouga o valor estimado foi de cerca
de 3 860 contos (cerca de 143 contos por pescador); e na do Tejo o valor estimado foi de
23 830 contos (cerca de 372 contos por pescador).
Em termos percentuais, a distribuição relativa do total dos encargos com a
actividade da pesca por Bacia hidrográfica foi de: 16% na Bacia do Mondego; 12% na do
Vouga e de 72% na do Tejo.
A análise da informação obtida sobre os encargos relativos à actividade da pesca
(Fig. 5.40) permite concluir a importância das artes de pesca, cujos encargos foram
estimados em 35% do valor dos referidos encargos totais, e as despesas com combustível
(41%), quer no que respeita ao abastecimento dos motores dos barcos (16%), quer no que
foi estimado como tendo sido consumido por deslocações aos pesqueiros e aos locais de
venda do peixe capturado (25%). Também aqui importa notar, que a importância relativa
dos vários tipos de encargos no total dos encargos que designámos por encargos relativos à
actividade da pesca varia, com algum significado, em cada uma das três Bacias
hidrográficas, como ilustram as figuras 1.24; 2.24 e 3.24, respectivamente, dos Anexos II;
III e IV deste Capítulo.
Porém, analisando o total dos encargos a que designámos por encargos variáveis
constatamos que são ainda os encargos com a actividade da pesca os que mais contribuem
para aquele valor total (Fig.5. 41).
De acordo com a figura 5.41, cerca de dois terços (62%) do total dos encargos
variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000 são da responsabilidade dos encargos
com a actividade da pesca. O restante terço (33%) é da responsabilidade da remuneração
da mão-de-obra auxiliar.
217
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
0 2000000 4000000 6000000 8000000 1E+07 1.2E+07 1.4E+07
Embarcações
Deslocações pesqueiros
Iscos
Outras
Fig. 5.40 – Encargos com a actividade pesca profissional.
0 5000000 10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
Encargos com activ.Pesca
Encargos comauxiliares
Encargos com prep.material pesca
Fig. 5.41 – Total de encargos com a actividade pesca.
A informação recolhida por Bacia hidrográfica permite concluir a não
homogeneidade da referida distribuição, como ilustram as figuras 1.25; 2.25 e 3.25 dos
Anexos II; III e IV. Na figura 5.42 podemos observar a importância relativa de inquiridos,
por Bacia hidrográfica e para o conjunto das três Bacias, segundo escalões de valor total
estimado dos encargos variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000.
218
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
0%
32%
12%
4%
16%
36%
11%
19%
22%
19%
22%
7%
0%
16%
11%
17%
31%
25%
3%
20%
14% 15%
26%23%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
0 <50 >ou=50 a <100 >ou=100 a <200 >ou=200 a <500 >ou=500
Encargos variáveis (mil escudos)
% In
quir
idos
Bacia Hidrográfica do Mondego Bacia Hidrográfica do Vouga Bacia Hidrográfica doTejo Conjunto das três Bacias
Fig. 5.42 – Percentagem de inquiridos segundo o montante total dos encargos variáveis com a actividade pesca em 2000.
De acordo com a informação recolhida, conclui-se que é na Bacia do Vouga onde
se regista o maior número de pescadores com encargos totais variáveis menos elevados.
Com efeito, 39% dos pescadores estimaram os respectivos encargos variáveis no montante
superior ou igual a 200 mil escudos, e só 17% destes estimaram aquele valor como tendo
sido superior ou igual a 500 mil escudos. Esta constatação está de acordo com o já referido
a propósito da figura 41, onde concluímos que são as despesas com a actividade da pesca
as que mais contribuem para o total dos encargos variáveis, e também com o comentado
em torno da importância relativa dos encargos com a actividade da pesca em cada uma das
Bacias hidrográficas e por pescador destas Bacias.
Se no Vouga se regista o maior número de pescadores com encargos totais
variáveis menos elevados já o mesmo não sucede nas Bacias do Mondego e do Tejo
(Fig. 5.42).
Com efeito, na Bacia do Mondego 52% dos pescadores estimaram os respectivos
encargos variáveis como tendo sido superiores ou iguais a 200 mil escudos. Por seu lado,
na Bacia do Tejo aquela percentagem ascendeu aos 56%. No que refere ao conjunto das
três Bacias, cerca de metade (49%) dos pescadores estimaram que o montante dos
219
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
respectivos encargos variáveis tinha sido superior ou igual a 200 mil escudos, e 23%
superior ou igual a 500 mil escudos.
Finalmente é de notar que unicamente 3% do total dos inquiridos não atribuíram
qualquer valor aos encargos variáveis. Estes pescadores são exclusivamente originários da
Bacia do Vouga. Contrariamente ao que sucedeu com os encargos, nota-se que uma parte
mais significativa de pescadores estimou em níveis monetários mais reduzidos as
respectivas receitas monetárias (Fig. 5.43).
Com efeito, foi também na Bacia do Vouga onde se registaram os montantes mais
reduzidos. Somente 29% dos inquiridos avaliaram as receitas monetárias com a actividade
da pesca, no ano de 2000, como tendo sido superiores ou iguais a 200 mil escudos. Porém
esta percentagem é mais significativa entre os pescadores das duas restantes Bacias
hidrográficas. Concretamente, na Bacia do Mondego 68% dos pescadores estimaram as
referidas receitas como tendo sido superior ou igual a 200 mil escudos e 64% como tendo
sido superior ou igual a 500 mil escudos. Para estas receitas contribuíram largamente os
quantitativos de lampreia capturados, como já foi objecto de análise no ponto 4 do presente
Capítulo (Parte II).
0%8% 12% 12%
4%
64%
26%
11% 15% 19%7%
20%27%
21%11%
17%30%
22%27%
13%6% 8%9% 11%
0%10%20%30%40%50%60%70%
0 >ou=50 >ou=50 a<100
>ou=100 a<200
>ou=200 a<500
>ou=500
Valor estimado das receitas (mil escudos)
% In
quir
idos
Bacia Hidrográfica do Mondego Bacia Hidrográfica do VougaBacia Hidrográfica doTejo Conjunto das três Bacias
Fig. 5.43 – Percentagem de inquiridos segundo o valor total estimado das receitas com os recursos
aquícolas capturados.
220
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Finalmente, importa comentar a estimativa dos valores do rendimento líquido
auferido pelos pescadores no ano de 2000 com a actividade da pesca nas águas interiores
(Fig. 5.44).
Antes porém importa esclarecer que o cálculo do rendimento líquido baseou-se na
diferença entre as receitas monetárias auferidas com as espécies piscícolas capturadas e o
total dos encargos variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000. De recordar que
estes encargos variáveis incluem a totalidade dos encargos, cujos elementos constituintes
foram já devidamente especificados.
44%
4% 4%0%
16%
32%
44%
33%
4%
11%
4% 4%
58%
8% 6% 5% 5%
19%
52%
13%
5% 5% 7%
18%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
<0 >ou=0 a <50 >ou=50 a <100 >ou=100 a <200 >ou=200 a <500 >ou=500Rendimento líquido (mil escudos)
% In
quir
idos
Bacia Hidrográfica do Mondego Bacia Hidrográfica do Vouga Bacia Hidrográfica doTejo Conjunto das três Bacias
Fig. 5.44 – Percentagem de inquiridos segundo o rendimento líquido estimado com origem na
actividade pesca em 2000.
Os vários aspectos, já comentados ao longo deste ponto 5, que sugerem que os
inquiridos terão sub-avaliado as receitas monetárias concretizadas com a actividade da
pesca explicam, em larga medida, a elevada percentagem de pescadores com rendimentos
monetários líquidos negativos. A nível das três Bacias hidrográficas aquela percentagem é
de 52% (Fig. 5.44).
Porém, e apesar da sub-avaliação referida, é de notar que cerca de um sexto (18%)
do total dos pescadores estimou o respectivo rendimento líquido com origem na pesca nas
águas interiores como tendo sido superior a 500 mil escudos. Entre estes, destacam-se os
pescadores da Bacia do Mondego, dos quais 32% estimou o respectivo rendimento líquido
superior ou igual àquele montante.
221
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
6 – Opinião dos inquiridos
Neste ponto é matéria de reflexão a opinião dos inquiridos sobre: (i) as alterações à
legislação e à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores; e (ii) o futuro da
pesca profissional e a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais.
Antes, porém, importa esclarecer dois aspectos. Em primeiro lugar, a informação que serve
de base a este ponto reporta-se ao momento temporal da realização dos inquéritos, primeiro
semestre do ano de 2001. Em segundo lugar, a avaliação das quatro questões acima
enumeradas é, sobretudo, feita com base em questões formuladas no questionário do
inquérito como questões abertas. Ou seja, a análise que se segue é essencialmente de
natureza qualitativa.
Alterações à legislação e à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores
No que respeita às opiniões recolhidas junto dos inquiridos sobre as alterações que
deveriam ser introduzidas à legislação é de salientar a diversidade de medidas sugeridas.
Como se pode observar nos Quadros 1.3; 2.3 e 3.3 dos Anexos II, III e IV deste Capítulo
os pescadores preocupam-se, em cada uma das Baixas hidrográficas, com aspectos
relacionados com a interdição legal de determinadas artes de pesca e das dimensões das
malhas da redes e ainda com o calendário de pesca legalmente estabelecido. Para além
destes aspectos, são igualmente comuns outro tipo de preocupações, nomeadamente, a
redução da poluição das águas.
A análise da informação qualitativa recolhida evidencia um conjunto de
reivindicações que podemos classificar de natureza sócio-profissional entre os pescadores
do Tejo, tais como, por exemplo, o aumento das reformas, e medidas directamente
relacionadas com a melhoria e garantia das condições de trabalho dos pescadores
profissionais.
Relativamente às opiniões dos inquiridos sobre as alterações que deveriam ser
introduzidas à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores (Quadro 1.4; 2.4 e
3.4 dos Anexos II, III e IV deste Capítulo) são de reter os seguintes aspectos: reforçar o
número de fiscais e, consequentemente, o rigor da fiscalização; aumentar a fiscalização
especificamente orientada para a redução da poluição das águas e melhorar o nível de
formação dos fiscais.
222
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
O futuro da pesca profissional e a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais
O cenário traçado pelos inquiridos quanto ao futuro da pesca profissional nas águas
interiores é claramente pessimista (Quadros 1.5; 2.5 e 3.5 dos Anexos II; III e IV deste
Capítulo). Com efeito, a quase totalidade das respostas aponta para o fim da referida
actividade. O pessimismo evidenciado nas respostas dos inquiridos não será certamente
alheio à redução dos recursos piscícolas devido à poluição das águas; construção de
barragens e/ou ao desvio do leito dos rios, ou ainda ao facto de, sobretudo, nos anos mais
recentes a legislação ter vindo a ser mais restrita quer no que respeita às artes de pesca
passíveis de utilização, quer aos locais permitidos à pesca, quer ainda ao calendário de
pesca. Porém, o referido pessimismo dos inquiridos também não será estranho ao facto de
os respectivos filhos não quererem reproduzir o seu modo de vida, como já foi comentado
no ponto 1 deste Capítulo (Parte II).
De entre as medidas sugeridas no inquérito por questionário tendo em vista a
melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais, as que recolheram menor
adesão foram as duas que remetem mais especificamente para o controle dos recursos
piscícolas capturados (Fig. 45). Referimo-nos, concretamente, à criação de cooperativas de
comercialização do peixe capturado (4% do total de respostas) e à criação de lotas de pesca
(4% do total de respostas).
De entre as medidas propostas que recolheram maior adesão por parte dos
inquiridos são de reter: a melhoria da qualidade das águas (18%); a melhoria na
fiscalização (17%); e a melhoria dos acessos aos pesqueiros (17%).
Embora tendo registado um menor número de respostas são, no entanto, de referir
duas outras medidas: a criação de Associações de Pescadores (13%) e a criação de Zonas
de Pesca Profissional (12%).
Quando se analisa cada uma das medidas propostas, no inquérito por questionário,
tendo em vista a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais constata-
se que algumas delas são claramente apoiadas pelos inquiridos (Fig. 46). Entre estas
medidas são de reter as seguintes: a melhoria da qualidade das águas (86% de respostas
positivas); melhor fiscalização (82% de respostas afirmativas); a melhoria dos acessos aos
pesqueiros (76%); e criação de Associações de Pescadores (76%).
223
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
0 20 40 60 80 100
Melhoria dos acessos aos pesqueiros
Const. Cais
Melhoria qual. Água
Lotas pesca
Criação ZPP
Assoc. Pescadores
Coop. Com. peixe
Melhor fiscaliz.
Fig. 5.45 – Medidas para melhorar as condições de trabalho.
7 6 %
6 9%
8 6 %
1 9 %
6 5 %
7 6 %
20 %
8 2%
2 4%
31 %
14 %
8 1 %
3 5%
2 4%
8 0 %
18 %
0 % 2 0% 4 0 % 6 0% 8 0% 10 0 % 1 2 0%
M e lh o ria d os a c e sso s a o s p e sq u e iro s
Con s t . Ca is
M e lh o ria q u a l. Á g u a
Lo ta s p e sc a
Cria ç ã o ZP P
A sso c . P e sc a d o re s
Co o p . Co m . p e ix e
M e lh o r fisc a liz.
SimN ã o
Fig. 5.46 – Medidas para melhorar as condições de trabalho.
224
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
III – SÍNTESE E CONCLUSÕES
Da análise da informação empírica ⎯ recolhida por inquérito por questionário,
junto de 116 pescadores, nas Bacias hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo,
durante o primeiro semestre do ano de 2001 ⎯ são de reter os seguintes aspectos:
Licenciamento e tipo de licenças de pesca
• a maioria dos inquiridos (78%) estava licenciado para o exercício da pesca profissional; o
número mais significado de casos que não preenchia este requisito pesca na Bacia do
Mondego;
• dos inquiridos licenciados, cerca de dois terços (69%) possuía licença colectiva;
• comparativamente, constata-se que os inquiridos que pescam com auxiliar praticam a
pesca profissional há mais anos do que os que dispõem de licença de pesca individual.
Perfil socio-económico dos pescadores inquiridos
• Metade dos pescadores possui idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos, e 29% tem
idade inferior a 45 anos. A maioria (73%) frequentou a escolaridade obrigatória;
• a pesca profissional nas águas interiores é uma actividade praticada, essencialmente, em
determinados períodos do ano. Com efeito, 56% dos pescadores exerce tal actividade
periodicamente; 26% pontualmente e só 24% pesca a tempo completo;
• em larga medida na sequência do referido anteriormente, só 15% dos inquiridos
considera a actividade da pesca como a única fonte de receitas monetárias; e 80% avalia
os referidos rendimentos como um complemento do total das receitas individuais e
familiares;
• as actividades económicas exercidas a título principal pelos pescadores são de natureza
diversificada. Embora tenham sido identificados vários ramos dos três sectores de
actividade socio-económica, existe uma relativa dominância de pescadores que são
chefes de exploração agrícola;
• embora parte dos pescadores que dedicam todo o tempo de actividades à pesca nas águas
interiores sejam reformados de outra actividade económica ainda existe um número
225
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
significativo de indivíduos que exercendo a actividade da pesca a título principal se
auto-identificam como pescador profissional;
• a maioria dos pescadores (64%) iniciou a aprendizagem dos saberes da pesca com redes
e/ou com armadilhas com idade inferior a 15 anos. Aquela aprendizagem baseou-se na
experiência, exercida no quotidiano, e a transmissão dos referidos saberes foi da
responsabilidade de familiares;
• cerca de metade dos pescadores (46%) iniciou o exercício da actividade da pesca com
idade inferior a 25 anos. As principais razões evocadas para o ingresso na actividade da
pesca foram: a necessidade de ajudar o pai, ou outro familiar, no exercício da pesca e a
dificuldade de, à época, encontrarem fonte alternativa de rendimento. Com base no
exposto surge claro que 53% dos pescadores tenha iniciado a actividade da pesca na
qualidade de auxiliar;
• o quadro social acima caracterizado relativo à transmissão e à aprendizagem dos saberes
específicos da actividade da pesca não encontra circunstâncias favoráveis à sua
reprodução. Neste âmbito é de notar que, embora a regressão da actividade sugerida
pela evolução do número de licenças profissional emitidas nos últimos 20 anos possa
não estar totalmente ajustada à realidade ⎯ dado que há pescadores que exercem a
actividade apesar de não licenciados ⎯ o facto de os filhos dos actuais pescadores não
quererem reproduzir o modo de vida dos respectivos progenitores é um indicador mais
fiável do não rejuvenescimento da força de trabalho que se dedica à pesca profissional
nas águas interiores.
Pesquisas, artes de pesca e embarcações
• Os pescadores preferem pescar em águas correntes (55%); só 30% manifestam
preferência por albufeiras;
• a proximidade do local de residência; a abundância de recursos piscícolas e a garantia de
pescar em segurança são os principais factores que intervêm na recolha dos pesqueiros;
• os períodos do ano onde se concentra a actividade da pesca são dois, a saber: o primeiro
trimestre do ano, e os meses de Junho, Julho e Agosto;
• a maioria dos pescadores não pernoita no local da pesca. Porém, quando tal sucede, o
veículo e o barco são os principais tipos de abrigo que utilizam para passar a noite;
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
• o quase totalidade dos pescadores (90%) pesca só de barco;
• são utilizadas artes de pesca legalmente interditas, tais como, o botirão e a fisga;
• existe, regionalmente, uma relativa diversidade de embarcações. Estas, na quase
totalidade, são de madeira e não cabinadas;
• grande número das embarcações recenseadas tem menos de 5 anos, foram construídas
pelos próprios pescadores ou adquiridas em 1ª mão, e encontram-se em bom estado de
conservação;
• a maioria dos pescadores dispõe de barco próprio;
• o valor actual das 140 embarcações recenseadas foi estimado, pelos respectivos
proprietários, em cerca de 10 mil contos.
Caracterização socio-económica da mão-de-obra auxiliar
• Foram recenseados 76 indivíduos que exerceram, no ano de 2000, a função de auxiliar
dos pescadores inquiridos. Dos referidos indivíduos, dois terços pescaram na Bacia do
Tejo;
• a pesca é exercida enquanto actividade económica secundária pela mão-de-obra auxiliar,
a qual está, na sua maioria, ligada por laços de parentesco ao respectivo arrais;
• o pagamento da mão-de-obra auxiliar faz-se, essencialmente, na modalidade de
sociedade;
• segundo a estimativa dos arrais inquiridos, a valor monetário total dispendido com a
remuneração da mão-de-obra auxiliar, durante o ano de 2000, foi de cerca de 16 mil
contos. Do exposto ressalta a importância da actividade da pesca também para as
famílias dos auxiliares.
Principais espécies capturadas
• A lampreia e a enguia foram as espécies mais procuradas por um maior número de
pescadores, nas três Bacias hidrográficas, durante o ano de 2000;
• a avaliação dos pescadores sobre a evolução, nos últimos três anos, da diversidade e da
quantidade dos recursos aquícolas disponíveis para captura varia entre as diferentes
espécies. Porém, o quadro geral traçado evidencia, para o conjunto das principais
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
espécies-alvo da pesca profissional, marcas de regressão. Entre os principais factores
identificados como responsáveis desta regressão sobressaem a sobre-pesca e a poluição
das águas;
• mais de três quartos (77%) dos pescadores comercializou, no ano de 2000, a maioria dos
recursos obtidos com a actividade da pesca;
• a comercialização dos recursos capturados foi feita, sobretudo, junto de intermediários e
de particulares, respectivamente, 45% e 31% do total dos inquiridos;
• a quantidade de biomassa capturada pelos pescadores no ano 2000 foi a seguinte7:
- achigã 1 400 kg - barbo 15 000 kg - boga 5 000 kg - carpa 15 500 kg - enguia 1 600 kg - lagostim-vermelho 106 914 kg - lampreia 4 550 unidades - lúcio 40 kg - meixão 185 kg - peixe-rei 175 kg - robalo 160 000 kg - saboga ou savelha 1 100 kg - salmão 20 kg - sável 4 700 kg - tainha 18 700 kg - truta 8 kg - perca-sol 30 kg - pimpão 60 kg - bordalo 20 kg - ruivaco 20 kg
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Estimativa das receitas e dos encargos económicos com a actividade da pesca mo ano de 2000
• O valor total das receitas monetárias obtidas com a actividade da pesca profissional foi
estimado em cerca de 253 mil contos;
• em termos médios, estima-se que o montante das receitas, por pescador, foi de 2 mil
contos;
• o valor total dos encargos monetários variáveis com a actividade da pesca profissional foi
estimado em cerca de 33 mil contos8;
• em termos médios, estima-se que o montante do total dos encargos monetários variáveis,
por pescador, foi cerca de 285 contos;
• em termos relativos, cerca de dois terços dos encargos totais variáveis correspondem a
encargos com a actividade da pesca e o restante terço com encargos relativos à
remuneração da mão-de-obra auxiliar.
Opinião dos inquiridos
• No que refere às alterações a introduzir na legislação em vigor, as preocupações dos
pescadores centram-se no levantamento da interdição legal: de determinadas artes de
pesca, em particular as que correspondem a uma forte tradição regional; das dimensões
das redes, concretamente no que refere a espécies piscícolas específicas; e com
alterações a introduzir no calendário de pesca vigente. Se estes aspectos sugerem uma
maior liberdade à actuação dos pescadores é, no entanto, de reter as preocupações que
manifestam sobre a necessidade de reduzir o nível de poluição das águas;
• relativamente às sugestões de alteração à fiscalização são de reter os seguintes aspectos:
reforçar o número de fiscais e, consequentemente, o rigor da fiscalização; aumentar a
fiscalização sobre os agentes poluidores das águas das Bacias hidrográficas e melhorar
o nível de formação dos fiscais;
• o futuro da pesca profissional é percepcionado pelos pescadores de forma negativa. A
redução dos recursos piscícolas ⎯ devido, entre outros aspectos, ao aumento do nível 7 Sobre a fiabilidade dos quantitativos de biomassa e dos valores monetários estimados pelos inquiridos ver comentários feitos ao longo da Parte II do Capítulo “Pescadores e pesca profissional nas águas interiores. Situação actual”.
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de poluição das águas; à construção de barragens e/ou ao desvio do leite dos rios e ainda
às recentes restrições que vêm sendo introduzidas na legislação ⎯ e a recusa das
gerações mais novas em querer reproduzir o modo de vida dos pescadores profissionais
são os dois principais aspectos que fundamentam o pessimismo manifestado quanto às
possibilidades de reprodução e, consequentemente, do futuro da pesca profissional nas
águas interiores;
• a melhoria da qualidade das águas; uma melhor fiscalização; a melhoria dos acessos aos
pesqueiros; a criação de Associações de Pescadores e a criação de mais Zonas de Pesca
Profissional são sugestões bem aceites pelos pescadores tendo em vista a melhoria das
respectivas condições de trabalho.
As conclusões do Estudo “Pescadores e pesca profissional nas águas interiores.
Situação actual” sugerem um conjunto de aspectos tendo em vista a melhoria da gestão das
pescas continentais em Portugal, a saber:
• definir acções de formação orientadas para o esclarecimento e a formação técnica dos
pescadores profissionais. Estas acções teriam como principais objectivos transmitir
conhecimentos, entre outros aspectos, sobre os fundamentos da legislação em vigor; as
características ecológicas das espécies piscícolas que são alvo da pesca profissional e
ainda sobre os prejuízos causados pelas artes de pesca legalmente interditas, e ainda
utilizadas, nos recursos naturais;
• intensificar as acções de formação junto dos fiscais, tendo em vista melhorar os
respectivos conhecimentos técnicos;
• reforçar o número de fiscais e melhorar os meios (infra-estruturas) destinados à
fiscalização da pesca profissional nas águas interiores;
• o reforço da fiscalização deveria ser feito tendo em vista dois objectivos, a saber:
♦ controlar a sobre-pesca de determinadas espécies e em determinados locais
geográficos. Uma vez que quer as espécies quer os locais geográficos que
deveriam ser objecto de controlo reforçado teriam de ser previamente
8 Sobre as diferentes componentes que integram os encargos totais variáveis ver o ponto 5 da Parte II do Capítulo “Pescadores e pesca profissional nas águas interiores. Situação actual”.
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
identificados, esta medida sugere a definição prévia de uma matriz que conjugue
os dois eixos acima especificados;
♦ identificar e monitorizar os agentes responsáveis pela poluição das águas
interiores, tendo como linha orientadora a legislação em vigor sobre a referida
matéria;
• incentivar a criação de Associações de Pescadores Profissionais. Para o efeito poderia ser
elaborado um questionário a ser preenchido, por administração directa, no momento da
requisição da licença de pesca. Tal questionário teria como principais prioridades
avaliar as características de funcionamento, as finalidades e as funções específicas que
os pescadores gostariam de ver asseguradas pelas referidas Associações;
• criar um maior número de Zonas de Pesca Profissional;
• definir e/ou promover instrumentos de política que integrem a actividade da pesca
profissional nas águas interiores nos planos de desenvolvimento rural e de
desenvolvimento regional, tendo em vista não só a melhoria das condições de trabalho
dos pescadores profissionais mas também a promoção social e turística desta actividade.
Com efeito, embora na maioria das situações concretas a actividade da pesca
profissional represente uma fonte de rendimento complementar, é, no entanto, de realçar
que esta ainda abrange um número significativo de famílias, quer de pescadores arrais
quer de pescadores que exercem a função de mão-de-obra auxiliar. Por outro lado, a
pesca artesanal profissional é também claramente uma actividade potenciadora dos
recursos turísticos, locais e regionais, na sua dupla vertente gastronómica e cultural. As
sugestões acabadas de identificar neste ponto concreto afiguram-se particularmente
pertinentes sobretudo se tivermos em consideração quer o cenário de regressão do
número de indivíduos que, nos últimos vinte anos, se vêm dedicando à pesca artesanal,
quer ainda as dificuldades evidentes do rejuvenescimento da população que actualmente
se dedica a esta prática.
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