71
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS ÁGUAS INTERIORES. SITUAÇÃO ACTUAL I. INTRODUÇÃO E ASPECTOS GERAIS O presente Capítulo tem por principais objectivos proceder a uma definição e caracterização dos contornos dos perfis: (i) sociológico dos pescadores profissionais nas águas interiores; (ii) sócio-económico da mão-de-obra auxiliar; e (iii) técnico e tecnológico; biológico e económico da actividade da pesca profissional nas águas interiores. As referidas definição e caracterização foram elaboradas com base na informação empírica recolhida por inquérito por questionário, de acordo com o modelo que se apresenta em Anexo a este trabalho (Anexo I). De esclarecer desde já que a informação empírica que serviu de base a este Estudo reporta-se predominantemente ao ano civil de 2000 e foi recolhida em três Bacias hidrográficas, a saber: do Mondego, do Vouga e do Tejo, durante o primeiro semestre do ano de 2001. O tratamento estatístico dos resultados obtidos por inquérito por questionário, em cada uma das bacias hidrográficas enumeradas, são apresentados nos Anexos II, III e IV. Crê-se que o número de inquéritos realizados nestas três bacias já permite um esboço da situação da pesca profissional, a nível nacional. A análise desenvolvida ao longo deste Capítulo está organizada em três partes. Na primeira, após a revisão dos principais instrumentos legais que regem a gestão e o exercício da actividade da pesca profissional nas águas interiores, são apresentados e comentados aspectos de natureza metodológica que ajudam a esclarecer o conteúdo da informação empírica recolhida. Seguidamente, na Parte II, caracteriza-se a actividade da pesca profissional nas águas interiores. Esta caracterização é realizada para o conjunto das três Bacias hidrográficas acima enumeradas, baseia-se na informação empírica recolhida individualmente em cada uma delas, e desenvolve-se em torno dos seguintes eixos: (i) perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos; (ii) pesqueiros, artes de pesca e embarcações; (iii) caracterização sócio-económica da mão-de-obra auxiliar; (iv) principais espécies piscícolas capturadas; (v) estimativa das receitas e dos encargos económicos com a actividade da pesca no ano de 2000; (vi) opinião dos inquiridos sobre: (vi.a) alterações à Isabel Rodrigo, Cláudia Bandeiras & Ana Patrícia Ferreira, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural 161

CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

  • Upload
    lytruc

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS ÁGUAS

INTERIORES. SITUAÇÃO ACTUAL♣

I. INTRODUÇÃO E ASPECTOS GERAIS

O presente Capítulo tem por principais objectivos proceder a uma definição e

caracterização dos contornos dos perfis: (i) sociológico dos pescadores profissionais nas

águas interiores; (ii) sócio-económico da mão-de-obra auxiliar; e (iii) técnico e

tecnológico; biológico e económico da actividade da pesca profissional nas águas

interiores.

As referidas definição e caracterização foram elaboradas com base na informação

empírica recolhida por inquérito por questionário, de acordo com o modelo que se

apresenta em Anexo a este trabalho (Anexo I). De esclarecer desde já que a informação

empírica que serviu de base a este Estudo reporta-se predominantemente ao ano civil de

2000 e foi recolhida em três Bacias hidrográficas, a saber: do Mondego, do Vouga e do

Tejo, durante o primeiro semestre do ano de 2001. O tratamento estatístico dos resultados

obtidos por inquérito por questionário, em cada uma das bacias hidrográficas enumeradas,

são apresentados nos Anexos II, III e IV. Crê-se que o número de inquéritos realizados

nestas três bacias já permite um esboço da situação da pesca profissional, a nível nacional.

A análise desenvolvida ao longo deste Capítulo está organizada em três partes. Na

primeira, após a revisão dos principais instrumentos legais que regem a gestão e o

exercício da actividade da pesca profissional nas águas interiores, são apresentados e

comentados aspectos de natureza metodológica que ajudam a esclarecer o conteúdo da

informação empírica recolhida. Seguidamente, na Parte II, caracteriza-se a actividade da

pesca profissional nas águas interiores. Esta caracterização é realizada para o conjunto das

três Bacias hidrográficas acima enumeradas, baseia-se na informação empírica recolhida

individualmente em cada uma delas, e desenvolve-se em torno dos seguintes eixos: (i)

perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos; (ii) pesqueiros, artes de pesca e

embarcações; (iii) caracterização sócio-económica da mão-de-obra auxiliar; (iv) principais

espécies piscícolas capturadas; (v) estimativa das receitas e dos encargos económicos com

a actividade da pesca no ano de 2000; (vi) opinião dos inquiridos sobre: (vi.a) alterações à

♣ Isabel Rodrigo, Cláudia Bandeiras & Ana Patrícia Ferreira, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural

161

Page 2: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

legislação e à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores; (vi.b) o futuro da

pesca profissional e a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais. Por

fim, na Parte III, procede-se a uma síntese dos aspectos mais relevantes que foram

anteriormente objecto de análise.

Nesta primeira parte começa-se por apresentar os quadros legislativos que regem

os principais aspectos da gestão e da prática da pesca profissional nas águas interiores,

tendo em conta os objectivos do Estudo, já especificados. De seguida, esclarecem-se

aspectos metodológicos relevantes para a compreensão do conteúdo da informação

empírica recolhida.

1 - Pesca profissional nas águas interiores. Quadro legal

Em Portugal a gestão dos recursos aquícolas e da pesca nas águas interiores é

assegurada pelo Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas,

através da Direcção-Geral das Florestas e das Direcções Regionais de Agricultura. Com

efeito, de acordo com o Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril, cabe à Direcção

Geral das Florestas definir as normas orientadoras do ordenamento e gestão dos recursos

aquícolas e apoiar a execução das suas acções, bem como coordenar e assegurar a

aplicação das disposições legais da pesca nas águas interiores. Também a nível regional o

sector agrário exerce competências de gestão piscícola, através das Direcções Regionais de

Agricultura, as quais têm como atributo promover a adopção das medidas mais adequadas

ao ordenamento, gestão e exploração dos recursos aquícolas.

Para além dos organismos referidos, existem outras instituições envolvidas ou que

interagem com a gestão dos recursos aquícolas, nomeadamente, o Instituto da Água e as

Direcções Regionais do Ambiente, o Instituto de Conservação da Natureza, a Direcção

Geral do Ambiente e a Direcção Geral de Veterinária. De notar ainda que nos locais de

interface com as águas sob jurisdição marítima é mantida uma estreita colaboração com a

Direcção Geral das Pescas e Aquicultura e com o Serviço de Autoridade Marítima.

A gestão da pesca nas águas interiores, entendida no seu sentido lato, em que se

inclui a gestão dos recursos aquícolas e da pesca propriamente dita, tem como principal

enquadramento jurídico a Lei nº 2097, de 6-6-1959, regulamentada pelo Decreto nº 44 623,

de 10-10-1962, este posteriormente actualizado pelo Decreto nº 312/70, de 6 de Julho.

162

Page 3: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

De acordo como o referido Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962, que

regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas, quer as de água doce e as de

água salobra não submetidas à jurisdição marítima, quer um conjunto de águas públicas

definidas no respectivo Artigo 1º, "considera-se pesca não só a captura de peixes e outras

espécies aquícolas, mas também a prática de quaisquer actos conducentes ao mesmo fim,

quando realizados nas águas referidas [no Artigo 1º] ou nas margens delas" (Artigo 2º).

Ainda de acordo com o Decreto enumerado "a pesca é (…) profissional quando

praticada com fim lucrativo" (Artigo 3º).

No que respeita especificamente à pesca profissional, para além do quadro legal

acima enumerado, há ainda a referir o Decreto Regulamentar nº 18/86, de 20 de Maio, e a

Portaria nº 252/2000, de 11 de Maio, que mais adiante serão retomados.

Para além do exposto, é também de registar o Decreto nº 30/88, de 8 de Setembro,

que regulamenta o exercício da pesca profissional nos troços fluviais fronteiriços entre

Portugal e Espanha, à excepção do troço internacional do Rio Minho cuja pesca é

regulamentada pelo Decreto-Lei nº 316/81, de 26 de Novembro.

1.1 - Fomento piscícola

Tendo em vista garantir, nas águas interiores nacionais, as necessidades

ecológicas das espécies ictiológicas e dos seus habitats encontra-se regulamentado um

conjunto de procedimentos. Dados os objectivos deste Estudo, o texto que se segue

circunscreve-se à pesca profissional e centra-se nos procedimentos legais relativos: (i) à

classificação das águas interiores e definição de Zonas de Protecção; (ii) à definição do

calendário de pesca (épocas de defeso); (iii) à determinação das dimensões mínimas das

espécies piscícolas susceptíveis de pesca, com a obrigação dos pescadores devolverem à

água as que as não possuírem e, finalmente, (iv) à definição dos processos legais de pesca,

estes definidos em conformidade com a classificação das águas e a natureza da pesca.

1.1.1 - Classificação das águas interiores e Zonas de Protecção

Segundo o Decreto nº 44 623, de 10-10-1962, as águas do domínio público

classificam-se, para efeitos de pesca, em Águas Livres, Zonas de Pesca Reservada e

163

Page 4: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Concessões de Pesca. Enquanto nas Águas Livres se podem praticar as duas modalidades

de pesca, desportiva e profissional, já nas duas restantes Zonas só é permitida a pesca

desportiva nos termos dos respectivos regulamentos (Artigo 4º, do referido Decreto).

Para além dos tipos de Zonas acima referidas, foram recentemente definidas, no

que respeita ao exercício da pesca profissional, sete Zonas de Pesca Profissional (ZPP).

Estas localizam-se na Bacia Hidrográfica do Mondego (três Zonas, a saber: ZPP do Médio

Mondego e da Albufeira da Raiva, regulamentadas pela Portaria nº 643/96, de 8 de

Novembro, e a ZPP do Baixo Mondego regulamentada pela Portaria nº 164/99, de 10 de

Março); na Bacia do Cávado (ZPP do Rio Cávado, regulamentada pela Portaria nº 159/99,

de 9 de Março); Bacia do Lima (ZPP do Rio Lima, regulamentada pela Portaria nº 929/99,

de 20 de Outubro); Bacia do Vouga (ZPP do Rio Vouga regulamentada pela Portaria nº

1080/99, de 16 de Dezembro); e Bacia do Rio Almonda (ZPP do Rio Almonda - Paul do

Boquilobo, regulamentada pela Portaria nº 1089/99, de 17 de Dezembro).

De esclarecer que se encontra em estudo a localização de duas outras Zonas de

Pesca Profissional; mais concretamente, uma a ser definida na Bacia hidrográfica do

Guadiana e a outra na do Tejo.

De referir também, no que refere à pesca profissional nas águas interiores, a

Portaria nº 252/2000, de 11 de Maio, que define, para os cursos de água nacionais, os

locais onde está autorizada a prática da pesca profissional nas águas interiores.

Para além das já referidas Zonas de Pesca Reservada, Concessões de Pesca

Desportiva, Zonas de Pesca Profissional e a definição dos locais onde é permitida a pesca

profissional nas águas do domínio público, existem ainda delimitadas as designadas por

Zonas de Abrigo e de Desova e as Zonas de Pesca Condicionada.

Tal como as anteriores, este tipo de zonas têm também por objectivo garantir as

necessidades ecológicas das espécies ictiológicas e dos seus habitats e, consequentemente,

o fomento piscícola.

De seguida apresenta-se, resumidamente, a classificação das águas interiores

segundo os principais tipos de Zonas de Protecção, a nível nacional, respeitantes à pesca

profissional nas águas interiores.

164

Page 5: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Quadro 5.1. – Classificação das águas interiores segundo os principais tipos de Zonas de Protecção a nível nacional, respeitantes à pesca profissional, em 2000

Tipos de Zonas de Protecção Procedimentos legais Número

Zonas de Abrigo e de Desova

É proibido pescar tendo em vista a protecção das espécies aquícolas e a criação de condições favoráveis ao seu desenvolvimento.

36 Zonas (Abrigo) 12 Zonas (Desova)

Zonas de Pesca Condicionada Só é permitido pescar com linha de mão.

14 Zonas

Zonas de Pesca Profissional

Zonas sujeitas a regulamento próprio que estabelece regras de gestão e exploração adequada a cada pesqueiro e tem em conta as especificidades dos métodos de pesca tradicionais.

7 Zonas

Zonas das águas do domínio público onde está autorizado o exercício da pesca profissional

Definição dos limites a montante e a jusante dos cursos de água identificados na Portaria nº 252/2000, de 11 de Maio.

Fonte: Elaboração própria a partir de Marta, P.; Bochechas, J.; Collares-Pereira, M. J. (2000). A pesca profissional na bacia hidrográfica do Guadiana - Caracterização da situação actual. Relatório não publicado para a DGF, CBA - FCUL/DGF, 55 pp.+ anexos, e de informação fornecida pela Direcção Geral das Florestas.

1.1.2 - Calendário de pesca; Dimensões mínimas das espécies piscícolas susceptíveis de pesca. Definição dos processos legais de pesca

Para além da legislação relativa à classificação das águas interiores nacionais estão ainda

regulamentados outros procedimentos que têm também por objectivo salvaguardar as

necessidades ecológicas das espécies ictiológicas e dos seus habitats e, consequentemente,

o fomento piscícola. Entre estes procedimentos legais destacam-se aqui os relativos: à

definição das épocas de defeso e consequente calendário de pesca; às determinações das

dimensões mínimas para captura dos peixes e outras espécies aquícolas, e ainda, à

definição dos processos de pesca.

165

Page 6: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Quadro 5.2 – Calendário de pesca e definição dos comprimentos mínimos legais para a pesca, comércio, transporte, retenção e consumo de espécies aquícolas

Período de Pesca

Espécies Ja

n.

Fev.

Mar

.

Abr

.

Mai

o

Jun.

Jul.

Ago

st.

Set.

Out

.

Nov

.

Dez

.

Compri-mento

mínimo (cm)

Salmão 1 31 55

Truta vulgar,

Truta arco-íris

1 31 19

Truta-marisca 1 31 30

Lampreia 16 14 35

Sável 1 14 35

Savelha ou Saboga

1 14 20

Carpa, Barbo,

Achigã

14 1 31 20

Boga 14 1 31 10

Tenca 14 1 31 15

Escalo, Pimpão

1 31 10

Enguia 1 31 20

Lagostim-vermelho

1 31 7

Lagostim-de-pés-brancos

1 31 9

Pardelha, Ruivaco, Verdemã, Esganata, Lúcio, Gambúzia, Taínha, Góbio, Chanchito, Perca-sol

1

31

Fonte: Direcção Geral das Florestas (1999), disponível on-line em http://www.dgf.min-agricultura.pt/pesca/pcalend.htm, última actualização em Abril de 2001.

166

Page 7: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

1.1.2.1.Calendário de pesca e dimensões mínimas das espécies piscícolas susceptíveis de pesca

De acordo com o Artigo 29º do Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962, são

definidos, para um conjunto de espécies aquícolas, períodos em que a captura das mesmas

é expressamente proibída, isto é, período de defeso, independentemente dos processos de

pesca utilizados. Ainda no mesmo Decreto são definidas, no Artigo 30º, as dimensões

mínimas legais para a pesca, comércio, transporte, retenção e consumo de um conjunto de

peixes e outras espécies aquícolas.

No quadro que se segue, apresenta-se o calendário dos períodos de pesca para as

principais espécies, alvo da pesca profissional, e respectivos comprimentos mínimos legais

para a sua captura, comercialização, transporte, retenção e consumo. De notar que os

períodos temporais definidos no quadro são meramente informativos. Ou seja, dado que

existem alterações de carácter regional aos períodos temporais especificados no quadro, a

consulta do mesmo não dispensa o conhecimento e consulta da legislação em vigor.

1.1.2.2. Definição dos processos legais de pesca

Os processos de pesca legalmente permitidos são definidos em conformidade com

a classificação das águas e a natureza da pesca.

No que respeita à pesca profissional os processos de pesca são legalmente

definidos no Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962, nomeadamente, nos Artigos

34º a 40º, inclusivé. De acordo com o Artigo 34º, esclarece-se que "No exercício da pesca

profissional podem ser utilizadas redes, além da cana e linha de mão ou de quaisquer

outros meios que venham ser considerados legais, nas zonas demarcadas nos termos da

alínea d) do artigo 31º", referindo-se esta alínea às Zonas de Pesca Profissional.

No âmbito do articulado acima referido, retêm-se aqui alguns dos processos de

pesca legalmente interditos.

Embora o uso das redes seja permitido é de notar que a dimensão da malha está

sujeita a restrições que variam segundo as espécies piscícolas. Também o período de

permanência dentro de água das redes e aparelhos de pesca está legalmente definido

(Artigo 34º), bem como, por exemplo, as dimensões das redes e o intervalo entre as

mesmas (Artigo 36º).

É proibido o emprego de todas as redes de arrastar pelo fundo bem como o dos

grandes aparelhos de fundo, tais como os designados por botirões, armadilhas de tapa-

167

Page 8: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

esteiros, nassas e outros congéneres, com excepção do que for regulamentado nas zonas

demarcadas para o exercício da pesca profissional, isto é, Zonas de Pesca Profissional

(Artigo 37º).

O exercício da pesca profissional é ainda proibido dentro de eclusas, aquedutos ou

passagens para peixes, e a menos de 200 metros de barragens e de 50 metros de açudes,

comportas, descarregadores ou quaisquer obras que alterem o regime normal de circulação

das águas (Artigo 43º). Na esteira da interdição referida em último lugar é de referir o

Artigo 46º, do mesmo Decreto, que proíbe a construção de pesqueiras fixas.

Finalmente, enumeram-se de seguida outros processos de pesca legalmente

interditos, a saber: a fisga, tridente ou arpão; as armas de fogo e explosivos; as substâncias

tóxicas susceptíveis de causar a morte ou o atordoamento dos peixes; os aparelhos

eléctricos; paus ou pedras; os processos considerados de pesca subaquática; a imersão de

cestos ou de outros recipientes; a percussão nas rochas de refúgio; ou quaisquer outros

processos em que o peixe não seja apanhado pela boca, ressalvando o uso das redes

permitidas (Artigo 44º).

1.2 - Licenciamento do exercício da pesca

O exercício da pesca nas águas interiores do país é permitido mediante licença

cuja duração e condições de acesso são regulamentadas pelo Decreto nº 44 623, de 10 de

Outubro de 1962.

De seguida, com base no quadro legal referido e tendo em conta os objectivos do

presente Estudo, enumeram-se os aspectos considerados mais relevantes sobre a matéria.

1.2.1 - Tipos de licença profissional de pesca

A licença profissional de pesca confere o direito a pescar em quaisquer águas

públicas, nas quais não esteja vedado o exercício da pesca profissional, na área de cada

uma das comissões regionais de pesca.

O montante da taxa anual cobrada pela passagem da licença profissional de pesca

individual é de 300$00, e de 600$00 no caso da licença colectiva. Nesta última há a

adicionar o montante de 60$00 por cada pescador ou auxiliar, além do arrais. Para a

168

Page 9: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

concessão de licença profissional de pesca, individual ou colectiva, é exigido que os

requerentes da mesma estejam inscritos como pescadores profissionais no registo especial

que existe, para o efeito, nas circunscrições e administrações florestais (Artigo 54º do

Decreto nº 44 623, de 10 de Outubro de 1962).

É ainda definido, no referido Decreto, que é recusada qualquer licença de pesca a

quem se prove ter infringido mais de quatro vezes as leis ou regulamentos da pesca nas

águas interiores do país, e que o prazo de validade da licença de pesca é o do ano civil a

que respeitar (Artigo 58º).

1.2.2 - Evolução do número de licenças de pesca

No quadro que se segue figura a informação disponível, a nível nacional e para as

águas continentais, relativamente ao número total de licenças de pesca, profissional e

desportiva, emitidas entre 1980 e 2000.

A informação apresentada sugere dois comentários. Em primeiro lugar, o

decréscimo acentuado e progressivo registado no número total de licenças de pesca

profissional emitidas nos últimos vinte anos. Em segundo lugar, esta tendência contrasta

com a registada no número de licenças de pesca desportiva. Em suma, a informação

quantitativa sugere que a prática da pesca profissional nas águas interiores está em nítida

regressão.

Embora a criação de Zonas de Pesca Profissional seja recente ⎯ a primeira,

recorde-se, data de 1996 e as restantes seis de 1999 ⎯ a adesão a estas Zonas demarcadas

parece ser relativamente reduzida. Esta constatação baseia-se no confronto entre o número

de licenças tendo em vista a pesca nestas zonas (licenças especiais) e o total de licenças

profissional de pesca (Quadro 4).

169

Page 10: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Quadro 5.3 – Número total de licenças de pesca desportiva, de pesca profissional e número total de licenças de pesca, emitidas no período entre 1980 e 2000

Ano Número de licenças de

pesca desportiva Número de licenças de pesca

profissional Total

1980 71.934 2.391 74.325

1981 88.094 2.927 91.021

1982 88.056 2.940 90.996

1983 79.590 2.851 82.441

1984 78.323 2.802 81.125

1985 98.514 3.104 101.618

1986 101.885 3.143 105.028

1987 78.167 1.296 79.463

1988 133.129 1.922 135.051

1989 160.587 1.652 162.239

1990* 128.818 1.340 130.158

1991 182.963 1.709 184.672

1992 192.354 1.741 194.095

1993 199.602 Elementos não disponíveis 199.602

1994 205.493 Elementos não disponíveis 205.493

1995 231.643 1.974 233.617

1996 Elementos não disponíveis

1997 251.793 1.902 253.695

1998 272.073 1.590 273.663

1999 264.269 1.567 265.836

2000 235.198 1.210 236.408 * Elementos só até Outubro. Fonte: Direcção Geral das Florestas.

170

Page 11: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Quadro 5.4 – Número de licenças especiais emitidas por Zona de Pesca Profissional. Número total de licenças profissional de pesca

Nº de licenças especiais no ano de: Zonas de Pesca Profissional:

Bacia Hidrográfica 2000 2000 (até Fev.)

Cávado 49 46

Mondego (Baixo Mondego) 75 56

Lima 97 95

Vouga 50 14

Tejo (Rio Almonda) - 5

Total 271 216 Nº total de licenças profissional de pesca 1210 (*)

(*) Informação não disponível no momento de realização do presente Relatório. Fonte: Elaboração própria a partir da informação fornecida pela Direcção Geral das

Florestas.

2 - Metodologia de investigação

Neste ponto referem-se aspectos metodológicos relevantes para a compreensão do

conteúdo da informação empírica recolhida que será objecto de análise na Parte II do

Capítulo.

Assim, começa-se por esclarecer a noção de pescador profissional em águas

interiores adoptada neste Estudo. Uma vez que tal noção orientou a recolha da informação

empírica, este esclarecimento é importante para a clarificação dos contornos do universo

social inquirido. De seguida, referem-se as técnicas de recolha de informação utilizadas.

Por fim, procede-se à identificação dos concelhos e freguesias onde os inquéritos foram

realizados, em cada uma das Bacias hidrográficas.

2.1 - A noção de "pescador profissional em águas interiores"

De recordar que do ponto de vista legal, segundo o Decreto nº 44 623, de 10 de

Outubro de 1962, a pesca nas águas interiores é identificada como profissional "quando

praticada com fim lucrativo"; e quando são utilizadas "redes, além da cana e linha de mão

171

Page 12: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

ou (…) outros meios que venham a ser considerados legais, nas zonas demarcadas (…) [de

pesca profissional, individual ou colectiva]", respectivamente, Artigos 3º; 34º; 52º e 54º do

referido Decreto.

Embora conhecendo a definição legal de pesca (e de pescador) profissional nas

águas interiores optou-se por não restringir o universo social a inquirir às características

acima enumeradas. Concretamente, foram inquiridos indivíduos que: (i) possuindo, ou não,

licença profissional de pesca, individual ou colectiva, de águas interiores; (ii) se dedicavam

à actividade da pesca com objectivos económicos, isto é, de comercialização e/ou de

autoconsumo, mas também lúdicos ou de lazer, isto é, de passatempo; (iii) pescavam com

redes, cana ou linha de mão ou ainda com outros métodos de pesca como os que são

vulgarmente designados por armadilhas1, independentemente de estes serem, ou não,

legais; e (iv) se dedicavam ao exercício da pesca nas águas interiores a tempo inteiro;

periodicamente, isto é, pescavam somente em determinados períodos do ano, ou ainda

pontualmente, isto é, pescavam só esporadicamente.

A opção metodológica adoptada neste Estudo de não restringir o universo social a

inquirir aos indivíduos que preenchiam os requisitos legais fundamentou-se em duas

hipóteses que passamos a apresentar.

Em primeiro lugar, a componente do Projecto "Estudo estratégico para a gestão

das pescas continentais em Portugal" relativa aos pescadores profissionais tinha como

principais prioridades, recorde-se, traçar: (i) o perfil sociológico dos agentes sociais

envolvidos na captura dos recursos piscícolas, bem como (ii) os perfis técnico e

tecnológico, biológico e económico da actividade da pesca nas águas interiores. Estes

objectivos, conjugados com a exígua informação disponível para a realidade portuguesa

sobre as questões que nos propusemos estudar, sugeriam a importância de não restringir a

recolha da informação empírica ao universo social legalmente definido por pescador

profissional nas águas interiores. Com efeito, tal restrição poderia conduzir à exclusão de

situações que, embora não preenchendo os requisitos legais, seriam tanto ou mais

significativas para a caracterização, no momento presente, quer dos pescadores, quer do

1 Neste Estudo, as artes de pesca (ou aparelhos de pesca) artesanal profissional são classificadas segundo a seguinte tipologia: Redes (incluí as designadas por Redes passivas e por Redes activas); Armadilhas; Anzóis e Iscos. Esta classificação foi a adoptada por Ferreira, M.T. & Oliveira, J.M. (1996), Gestão de espécies diádromas no Rio Tejo entre Santarém e Belver (1996), Relatório realizado no âmbito do Protocolo de colaboração entre o Instituto Florestal e o Instituto Superior de Agronomia, Departamento de Engenharia Florestal.

172

Page 13: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

exercício da pesca profissional nas águas interiores, nomeadamente, no que respeita: à

natureza legal e às características das artes de pesca que são utilizadas; ao esforço de

pesca; e aos tipos de espécies capturadas.

Em segundo lugar, a evolução do número de licenças profissional de pesca

concedidas nos últimos vinte anos, e já comentada no ponto anterior, levou igualmente a

questionar até que ponto ela traduziria o cenário real no que respeita à população que pesca

em Bacias hidrográficas. Ou seja, apesar da informação quantitativa disponível sugerir a

progressiva e acentuada regressão da prática da pesca profissional nas águas interiores tal

não significa que esta tendência possa ser meramente aparente e não real.

De esclarecer que as duas hipóteses enumeradas que fundamentaram a

delimitação do universo social inquirido neste Estudo foram, em parte, suscitadas pelo

conteúdo de um trabalho recentemente realizado na Bacia hidrográfica do Guadiana,

concretamente, Marta, P.; Bochechas, J. & Collares-Pereira, M. J. (2000). A pesca

profissional na bacia hidrográfica do Guadiana - Caracterização da situação actual.

Relatório não publicado para a DGF, CBA - FCUL/DGF, 55 pp. + anexos. De esclarecer

também que as referidas hipóteses foram confirmadas pela realidade inquirida, como será

evidenciado na segunda parte do presente Capítulo.

2.2 - Técnicas de recolha de informação

Tendo em conta os objectivos deste Estudo procedeu-se à recolha e análise de

informação secundária disponível. Com base nesta informação e em contactos

estabelecidos com técnicos detentores de conhecimentos e experiência sobre as questões a

estudar elaborou-se o modelo de inquérito por questionário, que foi posteriormente

aplicado e se apresenta no Anexo I deste Capítulo.

A recolha da informação empírica foi feita com base, essencialmente, na técnica

do inquérito por questionário e na da observação directa.

O inquérito por questionário foi aplicado na modalidade de administração directa,

por duas inquiridoras. Estas, antes de procederem ao início da recolha da informação

empírica, recorreram, em cada uma das Bacias hidrográficas onde decorreu o trabalho de

campo, aos conhecimentos e à experiência de técnicos e de informadores locais

privilegiados. Estes contactos foram realizados tendo em vista não só esclarecer aspectos

173

Page 14: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

relativos ao funcionamento das comunidades de pescadores e das características

específicas, regionais e locais, da actividade da pesca, mas também facilitar os primeiros

contactos entre as inquiridoras e os indivíduos a inquirir.

De esclarecer ainda que a informação empírica que serviu de base a este Estudo se

reporta predominantemente ao ano civil de 2000, como será detalhado na segunda parte do

Capítulo, e que os inquéritos foram realizados durante o primeiro semestre do ano de 2001,

como se encontra especificado no quadro que se segue (Quadro 5).

2.3 - Localização geográfica da recolha do material empírico

No total foram realizados 116 inquéritos por questionário, distribuídos pelas

Bacias hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.

Os critérios de selecção destas Bacias hidrográficas basearam-se, por um lado, na

importância relativa do número de licenças de pesca profissional concedidas nos anos mais

recentes e, por outro, na existência de zonas demarcadas, isto é Zonas de Pesca

Profissional.

No quadro seguinte (Quadro 5.5) especifica-se, para cada uma das Bacias

hidrográficas acima enumeradas, os concelhos a as freguesias onde decorreu o trabalho de

campo, o número de inquéritos realizados e a data de realização dos mesmos. Agradecimentos

Foi possível realizar os trabalhos de investigação apresentados neste Estudo graças aos

conhecimentos dos elementos que integraram a equipa do Projecto e ainda aos conhecimentos e disponibilidade de um grupo de pessoas das quais em especial se refere, por ordem alfabética: Domingos Reis Assunção (Pescador); D. Elvira Rosa (Pescadora), Torre Fundeira, concelho do Gavião; Mestre João Carlos Botelho, Núcleo Sub-Regional do Corpo Nacional da Guarda Florestal da Sertã, Serviços Florestais de Proença-a-Nova; Engº José António Rodrigues Alves, Serviços Agrários de Braga, Direcção Regional de Agricultura do Entre Douro e Minho; Guarda Florestal Louro, Serviços Florestais de Castelo Branco, Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior; Drª Luísa Costa, Universidade de Évora; Engº Maia, Serviços Agrários de Vila do Conde, Direcção Regional de Agricultura do Entre Douro e Minho; Engª Maria Amélia Duarte, Divisão de Caça e Pesca das Águas Interiores do Baixo Vouga, Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior; Drª Mónica Sousa, Reserva Natural do Paul do Boquilobo; Drª Patrícia Marta, Direcção Geral das Florestas.

Agradece-se também a colaboração dos pescadores inquiridos, alguns dos quais se disponibilizaram para dar a conhecer às inquiridoras outros indivíduos que igualmente se dedicavam à pesca nas águas interiores.

174

Page 15: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Quadro 5.5 – Localização geográfica da recolha do material empírico

Localização geográfica de realização dos inquéritos Bacia Hidrográfica

Concelho Freguesia Nº de inquéritos

realizados

Período de realização dos

inquéritos

Mondego

(Curso inferior do Rio Mondego)

Figueira da Foz

Maiorca

Lavos

Paião

Vale de Cardosos

Calvino

Vila Verde

Lares

Gala

3

2

2

1

1

1

1

8

Montemor-o-Velho

Meãs

Ereira

1

5

Total 25

Entre 18 Janeiro e 13 Fevereiro de 2001

Albergaria-a-Velha

São João de Loures

Frossos

Alquerubim

7

5

2

Aveiro Requeixo 2

Águeda Águeda

Óis da Ribeira

2

6

Vouga

Sever do Vouga Pessegueiro do Vouga 3

Total 27

Entre 20 Fevereiro e 14 Março de 2001

Mação Ortiga 14

Vila Nova da Barquinha Atalaia

Tancos

1

1

Entroncamento Entroncamento 4

Golegã Azinhaga 4

Chamusca Chamusca 1

Nisa Santana 10

Vila Velha de Ródão Vila Velha de Ródão 3

Castelo Branco Retaxo

Castelo Branco

1

1

Sertã Foz da Sertã

Cernache Bonjardim

1

2

Vila de Rei Vila de Rei

Fundada

1

1

Tejo

Proença-a-Nova

Proença-a-Nova

São Pedro do Esteval

Peral

4

11

4

Total 64

Entre 20 Março e 19 Abril de 2001

Total 116

175

Page 16: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

II - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS ÁGUAS INTERIORES: CARACTERIZAÇÃO SOCIAL, TÉCNICA E TECNOLÓGICA, BIOLÓGICA E ECONÓMICA. SITUAÇÃO ACTUAL

Nesta segunda parte procede-se à apresentação, comentada, do conjunto da

informação empírica recolhida nos 116 inquéritos por questionário realizados, entre 18 de

Janeiro e 19 de Abril de 2001, nas Bacias hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.

A figura 5.1 ilustra o número de inquéritos realizados segundo a respectiva

localização geográfica: concelho e Bacia hidrográfica. De recordar que o tratamento

estatístico dos resultados obtidos por inquérito por questionário, em cada uma das Bacias

hidrográficas acima enumeradas, são apresentados nos Anexos II, III e IV do presente

trabalho.

19

6

14

2

8

3

14

2

4 4

1

10

32

32

19

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Figu

eira

da

Foz

Mon

tem

or-o

-V

elho

Alb

erga

ria-a

-V

elha Ave

iro

Águ

eda

Seve

r do

Vou

ga

Maç

ão

Vila

Nov

a da

Bar

quin

ha

Entro

ncam

ento

Gol

egã

Cha

mus

ca

Nis

a

Vila

Vel

ha d

eR

odão Cas

telo

Bra

nco

Sertã

Vila

de

Rei

Proe

nça-

a-N

ova

Bacia doMondego

Bacia do Vouga Bacia do Tejo

Concelhos e Bacias Hidrográficas

Nº I

nqui

rido

s

Fig. 5.1 – Número de inquéritos e locais de realização dos mesmos

A análise que se segue está organizada em seis pontos, cujo conteúdo passamos a

descrever.

Começa-se por traçar o perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos

(ponto 1). Os contornos deste perfil baseiam-se em informação que remete para o momento

temporal de realização do inquérito. Este abrangeu, recorde-se, o primeiro semestre do ano

de 20012.

2 Cfr. Quadro 5 da primeira parte deste Capítulo.

176

Page 17: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

De seguida, a análise centra-se nos aspectos técnicos e nas tecnologias específicas

da actividade da pesca profissional praticada pelos inquiridos, concretamente: os locais de

pesca mais frequentados, as artes de pesca (sob esta designação incluímos redes e

armadilhas3) e as embarcações utilizadas pelos inquiridos (ponto 2). De imediato procede-

se à caracterização sócio-económica da mão-de-obra auxiliar (ponto 3).

Posteriormente, são objecto de análise a componente biológica da actividade da

pesca dos inquiridos, nomeadamente, as principais espécies capturadas (ponto 4), e a

vertente económica da mesma (ponto 5). A informação recolhida para a caracterização de

cada um dos aspectos enumerados reporta-se ao momento temporal que abrange o ano civil

de 2000.

Por fim (ponto 6), analisa-se a opinião dos inquiridos relativamente aos seguintes

aspectos: (i) o tipo e a natureza de alterações que deveriam ser contempladas na legislação

e na fiscalização da pesca profissional nas águas interiores; e (ii) o futuro da pesca

profissional nas águas interiores e a identificação de eventuais medidas que os inquiridos

gostariam que fossem tomadas tendo por finalidade melhorar as condições de trabalho dos

pescadores profissionais.

A análise dos quatro aspectos enumerados baseia-se na informação empírica

recolhida a qual remete para o momento temporal de realização do inquérito.

1 - Perfil sócio-económico dos pescadores inquiridos

Após um breve comentário sobre o licenciamento para o exercício da pesca nas

águas interiores, procede-se à caracterização sociológica dos pescadores inquiridos. De

esclarecer que a informação que serve de base à análise dos referidos dois aspectos reporta-

se ao primeiro semestre do ano de 2001, período em que decorreu a recolha do material

empírico.

3 Crf. Nota pé de página nº 1 deste sub-Capítulo.

177

Page 18: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

1.1.Licenciamento e tipo de licenças de pesca

Do total dos pescadores inquiridos (116) cerca de um quinto (22%) não dispunha

de licença de pesca (Fig. 5.2).

0

50

100

C/ lic. S/ lic.

Fig. 5.2 – Inquiridos com, e sem, licença de pesca profissional.

De esclarecer que foi sobretudo na Bacia do Baixo Mondego onde se verificou um

maior número de inquiridos na referida situação. Com efeito, 68% do total dos inquiridos

nestas Bacia não estava licenciado. Por outro lado, 77% destes indivíduos respondeu que

nunca possuíra licença de pesca profissional, apesar de exercer esta actividade desde há

mais de uma década.

Relativamente ao universo social inquirido que dispunha de licença de pesca

profissional o tipo de licença predominante era a colectiva (69%).

020406080

C/ lic. ind. C/ lic. col.

Fig. 5.3 – Inquiridos com licença de pesca profissional individual e colectiva.

Foi essencialmente na Bacia do Mondego e do Tejo onde a situação acima

referida mais se notou. Do total dos indivíduos inquiridos, 95% dispunha de licença

colectiva de pesca profissional. Na Bacia do Baixo Mondego a totalidade dos inquiridos

178

Page 19: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

tinha este tipo de licença e na Bacia do Vouga unicamente 35% dos inquiridos com licença

de pesca possuía licença colectiva.

Quando confrontamos o universo social inquirido segundo o tipo de licença de

pesca, individual ou colectiva, profissional e a antiguidade da mesma constata-se que os

pescadores com licença colectiva praticam a actividade da pesca num horizonte temporal

mais amplo (Fig. 5.4 e Fig. 5.5).

>ou=20 anos45% >ou=5 a

<10 anos17%

>ou=10 a <20 anos

21%

>ou=2 a <5 anos14%

<2 anos3%

>ou=2 a <5 anos

<2 anos>ou=10 a <20 anos

>ou=5 a <10 anos

>ou=20 anos

Fig. 5.4 – Inquiridos segundo o número de anos

com licença de pesca individual.

Fig. 5.5 – Inquiridos segundo o número de anos

com licença de pesca colectiva.

Com efeito, enquanto 75% do total dos inquiridos com licença individual pratica há

menos de 5 anos a actividade da pesca nesta modalidade (Fig. 5.4), já 45% dos que

dispõem de licença colectiva praticam a actividade da pesca com a ajuda de auxiliar há

mais de 20 anos (Fig. 5.5).

1.2. Perfil socio-económico dos pescadores inquiridos

Cerca de um terço dos pescadores inquiridos (29%) tem idade inferior a 45 anos; e

metade possui idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos (Fig. 5.6).

Constata-se ainda que somente 12% dos inquiridos respondeu que não sabe ler

nem escrever e 12% que sabe ler e escrever. Os restantes pescadores inquiridos

frequentaram a escolaridade obrigatória. Só uma minoria (3%) tem habilitações escolares

para além deste nível de escolaridade (Fig. 5.7).

179

Page 20: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

>ou=25 a <359%>ou=35 a

<4519%

>ou=45 a <5521%

>ou=55 a <6529%

>ou=65 a <7516%

<251%

>ou=755%

4ª c lasse50%

Não sabe le r e

escrever12%9º ano

13%

6ª c lasse10%

Sabe le r e e screver

12%

Curso Sup.1%

Curso Profiss.

1%

12º ano1%

Fig. 5.6 – Idade dos inquiridos. Fig. 5.7 – Escolaridade dos inquiridos.

Metade dos inquiridos pratica a actividade da pesca somente em determinados

períodos do ano. Mais concretamente, 56% respondeu que pesca nas águas interiores

periodicamente; 20% pontualmente; e só 24% é pescador a tempo completo (Fig. 5.8).

Foi sobretudo nas Bacias do Baixo Mondego e do Tejo onde foi inquirido um

maior número de pescadores que fazem da pesca a única ocupação do respectivo tempo de

actividade; a saber: 24% e 33% do total dos indivíduos inquiridos, respectivamente, em

cada uma daquelas duas Bacias.

Por seu lado, foi na Bacia do Vouga onde se inquiriu um maior número de

pescadores que concentram a actividade da pesca em determinados meses do ano, isto é,

pescam periodicamente (Fig. 5.9).

020406080

T. Int. Period. Pont.

Fig.5.8 – Percentagem de tempo dedicado à pesca (Tempo inteiro; Periodicamente; Pontualmente).

180

Page 21: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

24%

4%

33%24%

60%

96%

38%

56%

16%

0%

30%20%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Monde go

T e mpo In t e i r o

Vouga T e jo T ota l Monde go

P e r iodi c a me nte

Vouga T e jo T ota l Monde go

P ontua lme nte

Vouga T e jo T ota l

Modalidade de pesca

% In

quir

idos

Fig. 5.9 – Percentagem de inquiridos segundo as modalidades de pesca profissional praticada em 2000.

O facto de a maioria dos inquiridos, exercer outra actividade económica principal,

que não a da pesca nas águas interiores, explica que 80% identifique os rendimentos

económicos auferidos com a actividade da pesca como sendo um complemento ao total das

receitas individuais e familiares. Somente 15% dos pescadores avaliam aquelas

rendimentos como sendo a única fonte de receitas monetárias (Fig. 5.10).

0

20

40

60

80

100

Única Principal Compl.

Fig. 5.10 – Importância do rendimento da pesca, % (Única fonte; Principal fonte; Complemento de

rendimento).

São de natureza bem diversificada as actividades económicas exercidas, a título

principal, pelos pescadores inquiridos. A título ilustrativo referem-se aqui a de operários

fabril, predominante entre os inquiridos com actividade económica que pescam na Bacia

do Baixo Mondego; de chefe de exploração agrícola, predominante entre os que pescam na

Bacia do Vouga; e de empregado no sector terciário e de chefe de exploração agrícola,

actividades económicas predominantes entre os inquiridos que pescam na Bacia do Tejo.

181

Page 22: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

De assinalar que, embora parte dos inquiridos que dedicam todo o tempo de

actividade à pesca nas águas interiores sejam reformados de outra actividade económica,

ainda existe um número significativo de indivíduos que exercendo a actividade da pesca a

título principal se auto identificam como pescador profissional.

Esta situação ocorre predominantemente na Bacia do Tejo, onde cerca de metade

(48%) do total dos inquiridos se identificam com aquela categoria sócio profissional. Esta

situação contrasta com a informação recolhida nas outras duas Bacias. Concretamente na

Bacia do Mondego só quatro do total dos inquiridos (16%) se identificam como pescador

profissional e na do Vouga unicamente foram inquiridos dois pescadores nesta situação.

A maioria dos inquiridos (64%) iniciou a aprendizagem da pesca com redes e/ou

armadilhas com idade inferior a 15 anos, sendo que metade destes (30%) aprenderam esta

actividade ainda durante a respectiva infância: idade inferior a 10 anos (Fig. 5.11).

A experiência foi a principal modalidade de aprendizagem, dos inquiridos, dos

saberes específicos à prática da actividade da pesca com redes e/ou armadilhas. Por seu

lado, a transmissão de tais saberes foi, na maioria dos casos inquiridos, da responsabilidade

de familiares.

Tendo em conta a acabado de referir não é de estranhar que cerca de metade dos

pescadores inquiridos (46%) tenha dado início ao exercício da pesca nas águas interiores

com recurso a redes e/ou armadilhas com idade inferior a 25 anos (Fig. 5.12).

<10 anos30%

>ou=10 a <15 anos

34%

>ou=15 a <20 anos

21%

>ou=20 a <25 anos

7%

>ou=25 anos8%

<25 anos46%

>ou=25 a <35 anos20%

>ou=35 a <45 anos17%

>ou=45 anos17%

Fig. 5.11 – Idade da aprendizagem da actividade

pesca.

Fig. 5.12 – Idade de início da actividade pesca

profissional.

182

Page 23: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Porém, numa análise mais detalhada permite concluir que 11% dos inquiridos deu

início à actividade da pesca nas águas interiores com idade inferior a 15 anos e 28% com

idade inferior a 20 anos (Fig. 5.13).

30%

34%

21%

7% 7%

1% 0%1%

10%

17%19% 20%

17% 17%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

<10 anos >ou=10 a <15 anos >ou=15 a <20 anos >ou=20 a <25 anos >ou=25 a <35 anos >ou=35 a <45 anos >ou=45 anos

Escalões de idade

% In

quir

idos

Idade de aprendizagem Idade de início da actividade

Fig. 5.13 – Percentagem de inquiridos segundo a idade de aprendizagem e a idade de início de actividade

pesca profissional.

De entre as razões evocadas pelos inquiridos para terem dado início à actividade

da pesca figuram, por ordem decrescente do número de respostas obtidas: a necessidade de

ajudar o pai ou outro familiar no exercício daquela actividade e a dificuldade de, à época,

encontrarem fonte alternativa de rendimento (respectivamente, 26% e 24% de respostas).

Para além destas razões há ainda a assinalar os rendimentos compensadores que, à época

em que deram início à actividade, a pesca proporcionava (20%) e ainda o gosto pelo

exercício desta actividade (20%). Foram reduzidas as respostas baseadas no controle dos

saberes associados à pesca com redes e/ou armadilhas (10%) para justificar o início da

actividade da pesca nas águas interiores (Fig. 5.14)4.

Cerca de metade do total dos pescadores inquiridos (53%) deu início à actividade

da pesca nas águas interiores na qualidade de auxiliar; 26% na qualidade de chefe de

embarcação e 21% na qualidade de pescador individual (Fig. 5.15).

4 De assinalar que no inquérito por questionário esta questão era de construção semi aberta e de respostas múltiplas.

183

Page 24: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

De notar que os inquiridos que iniciaram a actividade da pesca na qualidade de

auxiliar estavam relacionados por laços de parentesco com o respectivo arrais. Este é outro

aspecto que ajuda a delimitar as características dos saberes específicos ao exercício da

actividade da pesca com redes e/ou armadilhas. Mais concretamente, são saberes

aprendidos com base na experiência, exercitados no quotidiano e transmitidos no quadro

de relações sociais familiares.

0

10

20

30

40

50

60

70

Auxiliar Chefe emb. Indiv.0

5

10

15

20

25

30

35

40

Rend. Ajuda Gosto Saber Falta Empr.

Fig. 5.14 – Razões para iniciar a pesca profissional. Fig.5.15 – Modalidade de início da actividade pesca

profissional.

Porém, a informação empírica permite concluir que o cenário caracterizado

relativo à transmissão e aprendizagem dos saberes específicos ao exercício da pesca não

encontra circunstâncias favoráveis à sua reprodução. Com efeito, a quase totalidade dos

pescadores inquiridos respondeu que os respectivos filhos não dedicam tempo de

actividade à prática da pesca profissional, nem sequer ao exercício da pesca desportiva,

apesar de um número significativo de inquiridos lamentar tal situação e manifestar gosto

em ser pescador profissional.

2 – Pesqueiros, artes de pesca e embarcações

Em primeiro lugar importa esclarecer que a informação recolhida que serve de

suporte à análise desenvolvida neste ponto se reporta ao ano de 2000. Este esclarecimento

é válido para os pontos que se seguem, mais concretamente, até ao ponto 5 inclusivé.

184

Page 25: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Pesqueiros

Mais de metade dos pescadores inquiridos (55%) pescou só em águas correntes.

As albufeiras foram o local de pesca mais frequentado por 30% de inquiridos. Finalmente,

só 15% dos inquiridos respondeu ter frequentado águas correntes e albufeiras (Fig. 5.16).

0

20

40

60

80

Só águas corr. Só albuf. Águas corr. ealbuf.

Águas corr. e mar

Fig. 5.16 – Locais de pesca mais frequentados.

De entre os locais mais preferidos pelos pescadores inquiridos destacam-se, na

Bacia do Mondego, os rios Mondego e Foja; na Bacia do Vouga, o rio Vouga e a Pateira de

Fermentelos; e na Bacia do Tejo, os rios Tejo e Ocreza, e as albufeiras de Fratel, Castelo

de Bode, Pracana, Caia e Cedillo5.

De entre as razões apontadas pelos inquiridos para justificarem tais preferências

figuram aspectos de conteúdo distinto. Entre os referidos destacamos os seguintes: a

proximidade do local de residência e a abundância de recursos piscícolas (Bacia do

Mondego); a proximidade do local de residência; a manutenção de uma rotina há muito

aprendida e praticada; a garantia de pescar em segurança dado o conhecimento, ou a não

existência de correntes; a boa qualidade (não poluição) das águas (Bacia do Vouga); a

proximidade do local de residência; a manutenção de uma tradição transmitida pela

geração anterior; a garantia de pescar em segurança e a facilidade de colocação das redes; a

boa qualidade das águas; a abundância de recursos piscícolas (Bacia do Tejo).

5 Cedillo é uma barragem espanhola localizada na fronteira onde termina o rio Tejo, juntando-se com a linha de água do rio Ponsul.

185

Page 26: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Recordando que a maioria dos inquiridos (56%) pratica a actividade da pesca num

período restrito do ano, isto é, periodicamente, as figuras. 5.17 e 5.18 dão a conhecer as

temporalidades da prática da pesca dos pescadores inquiridos durante o ano de 2000.

Aquelas temporalidades concentram-se essencialmente em dois períodos de três

meses, a saber: Janeiro, Fevereiro e Março ⎯ sendo este o mês do ano que registou o

maior número de dias de pesca ⎯ e Junho, Julho e Agosto.

14181590

1837

1110993

1207 1154 1115946

824723 777

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

J an. Fev. Ma rço Abril Ma io J unho J ulho Agos. S e t . Out . Nov. De z .

Me s e s

Fig. 5.17 – Número total de dias de pesca por mês.

Fig. 5.18 – Numero médio e desvio-padrão do total de dias de pesca por mês.

Média+SDMédia-SDMédia+SEMédia-SEMédia

Meses

Nº d

ias

de p

esca

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Dado que, como já foi referido, a proximidade do local de residência é um aspecto

importante na opção dos inquiridos sobre o local onde pescam, não será de estranhar que

muitos dos pescadores não tenham por hábito pernoitar no local da pesca. Nunca ter

186

Page 27: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

pernoitado no local da pesca durante o ano de 2000 foi a opção de 96% dos pescadores

inquiridos na Bacia do Baixo Mondego; de 59% dos inquiridos que pescam na Bacia do

Vouga e de 61% dos que pescam na Bacia do Tejo.

Relativamente aos inquiridos que pernoitam no local da pesca a larga maioria fá-

lo esporadicamente, mais concretamente “às vezes”. Enquanto o veículo é o local utilizado

para pernoitar no local da pesca pela maioria dos pescadores do Vouga, já os que pescam

na Bacia do Tejo utilizam o barco, para além do veículo.

Artes de pesca

Os pescadores inquiridos pescam maioritariamente só de barco (90%).

Unicamente 3% pesca só da margem e 7% pesca do barco e da margem (Fig. 5.19).

0

20

40

60

80

100

120

Só barco Barco e margem Só margem

Fig. 5.19 – Modalidades de pesca.

As artes de pesca variam, naturalmente, segundo a espécie piscícola a capturar e a

própria tradição regional e local. Nas figuras. 5.20.a; 5.20.b; e 5.20.c descrevem-se as artes

de pesca utilizadas no ano 2000 pelos pescadores inquiridos, bem como a respectiva

frequência de uso, respectivamente, nas Bacias do Mondego, do Vouga e do Tejo. De notar

que a designação das artes que consta das figuras é a atribuída pelos inquiridos.

A figura 5.20.d ilustra a síntese das artes de pesca e a respectiva frequência de

utilização, no conjunto das três Bacias hidrográficas.

187

Page 28: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

4%

13%15%

30%

15%

6%4%

9%

4%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Sartela Nassa Branqueira Savara Estaca dalampreia

Cofre Tresmalho Lamprieira Peneira

Artes de pesca

% In

quir

idos

que

usa

m

Fig. 5.20a – Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 na

Bacia Hidrográfica do Mondego.

26%

20%

1%

7%

12%

6%7%

14%

4%

1%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Galricho C amboa Savara B etorão Tresmalho Sartela F isga R ede deemalhar ouM alheira

C ana Nassa

Artes de pesca

%In

quir

idos

que

usa

m

Fig. 5.20b - Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 na

Bacia Hidrográfica do Vouga.

188

Page 29: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Como se pode concluir da informação recolhida, embora não seja frequente,

continuam a ser utilizadas artes que são legalmente interditas como, por exemplo, o botirão

e a fisga.

1%2%

27%

18%

27%

2%1%

6% 6%

2% 2%1%

2%1%

2%2%

1%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Rede dalampreia

Savara Rede simples Nassa Tresmalho Corda deanzóis

Nassinha Galricho Anzolada Varela Tarrafa Rede dearrasto

Sabugacho Botirão Nassaespanhola

Cana Gaiola

Artes de pesca

% In

quir

idos

que

usa

m

Fig. 5.20c - Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 na

Bacia Hidrográfica do Tejo.

10%

6%

8%

3%

18%

3% 2%

18%

3%

12%

3% 3%

1%2%

1% 1% 0%

3%

1% 1% 0% 1% 1% 0%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

18%

20%

Galrich

o

Cambo

aSav

ara

Botirão

Tresmalh

o

Sartela

Fisga

Rede d

e emalh

arCan

aNass

a

Branqu

eira

Estaca

da la

mpreia

Cofre

Lampri

eira

Peneir

a

Corda d

e anz

óis

Nassinh

a

Anzola

daVare

la

Tarrafa

Rede d

e arra

sto

Sabug

acho

Nassa e

spanh

olaGaio

la

Artes de pesca

% In

quir

idos

que

usa

m

Fig. 5.20d - Percentagem de inquiridos segundo as artes de pesca mais utilizadas no ano 2000 nas

Bacias Hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.

Para além do exposto, foi ainda recolhida informação junto dos pescadores sobre

a natureza multi-usos que conferem às diferentes artes de pesca que utilizam. Mais

189

Page 30: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

concretamente, procurou-se identificar quais as diferentes espécies capturadas com recurso

a cada uma das artes de pesca recenseadas. As figuras 5.21.a; 5.21.b e 5.21.c ilustram a

função multi-usos de cada uma das artes de pesca utilizada com identificação das espécies

piscícolas capturadas, respectivamente, nas Bacias do Mondego; do Vouga e do Tejo.

Por seu lado, a figura 5.21.d sintetiza a informação recolhida no conjunto das três

Bacias hidrográficas acima enumeradas.

Cofre

Lagostim vermelho

Nassa Sartela

Enguia

Savara

Sável

Peneira

Meixão

Estaca da lampreia Lamprieira

Tresmalho

Pimpão Carpa Tainha Barbo

Branqueira

Lampreia

Fig.5.21a – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolas na Bacia

Hidrográfica do Mondego.

Savara Nassa

Sável

Fisga

Boga Bordalo

Tresmalho

Lampreia

Camboa

Barbo Tainha

Truta

Cana

Achigã

Malheira

Carpa Pimpão

Betorão Sartela

Ruivaco Lagostim vermelho

Galricho

Enguia

Fig.5. 21b – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolas na Bacia Hidrográfica do Vouga.

190

Page 31: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Rede da lampreia Varela

Saboga Achigã

Tarrafa Botirão

Fataça ou mugeou tainha

Carpa

Rede simples

Galricho

Gaiola

Lagostim vermelho

Nassa ou covo Nassa espanhola Nassinha

Enguia

Corda de anzóis Anzolada

Barbo Boga

Savara

Sável

Tresmalho Sabugacho

Lampreia

Fig. 5.20c – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolas na Bacia Hidrográfica do Tejo.

Estaca da lampreia Camboa Rede da lampreiaou lamprieira

Varela

Rede de arrasto

Saboga Achigã

Tarrafa Botirão

Fataça ou mugeou tainha

Carpa

Cana

Branqueira Rede simplesou de emalhar

Peneira(Meixão)

Galricho

Gaiola Cofre

Lagostim vermelho

Nassa ou covo Nassa espanhola Nassinha Sartela

Enguia

Corda de anzóis Anzolada

Barbo Boga

Savara

Sável

Tresmalho Sabugacho Fisga

Lampreia

Fig. 5.20d – Artes de pesca usadas em 2000 na captura das espécies aquícolasnas Bacias Hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo.

Embarcações

Tal como sucede com as artes de pesca também as embarcações utilizadas pelos

pescadores inquiridos reflectem especificidades regionais no que respeita quer às

respectivas características físicas, quer de designação.

Assim, na Bacia do Mondego o tipo de embarcação mais frequente é a designada

regionalmente por canoa, muitas das quais (59% do número total de canoas recenseadas)

foram construídas pelos próprios pescadores. A canoa é um barco de madeira, não

cabinado.

191

Page 32: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Na Bacia do Vouga, a embarcação mais vulgar é a designada por bateira. Também

aqui se constata que 37% do número total de bateiras recenseadas entre os pescadores

inquiridos foram construídas pelos próprios. À semelhança da canoa, também a bateira é

um barco não cabinado, construído na maior parte dos casos em madeira e mais

excepcionalmente em ferro.

É na Bacia do Tejo onde se encontra uma maior diversidade de tipos de

embarcações concretamente, as designadas por bote; picareto; lancha; bateira e abrangel. A

maioria destas embarcações são não cabinadas (unicamente foram recenseadas uma lancha

e dois botes cabinados) e construídas em madeira.

A figura 22 sintetiza a importância relativa de cada um dos tipos de embarcações

identificadas no conjunto das três Bacias hidrográficas.

Fig. 5.22 – Embarcações segundo o tipo, no total de embarcações.

Bateira32%

Lancha6%

Canoa17%

Bote15%

Picareto19%

Barco3%

Catamaran2%

Barca1%

Abrangel1%

Chata1%

Caçadeira1%

Dore1%

Patacha1%

Um outro aspecto a salientar diz respeito ao número de pescadores inquiridos que

possui embarcação própria e o número de embarcações por pescador individual.

Na Bacia do Baixo Mondego unicamente quatro dos inquiridos (que representam

16% dos pescadores inquiridos) não possui barco próprio. Entre os pescadores com barco

próprio, à excepção de dois que possuem dois barcos, todos os restantes só possui um.

O cenário descrito é bastante semelhante quando, na Bacia do Vouga, se analisa o

número de pescadores que possui barco próprio mas contrasta quanto ao número de barcos

192

Page 33: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

por pescador. Com efeito, só 15% (quatro pescadores) dos pescadores inquiridos não

possui barco próprio. Porém, quatro inquiridos possuem dois barcos; quatro possuem três e

dois possuem quatro embarcações.

Finalmente, na Bacia do Tejo todos os inquiridos possuem embarcação própria e

23% possui mais de uma embarcação. Em suma, 93% do total dos inquiridos nas três

Bacias hidrográficas possui um (ou mais do que um) barco próprio.

Grande número do total das embarcações recenseadas nas três Bacias

hidrográficas têm poucos anos. Com efeito, 50% tem menos de 5 anos (Fig. 5.23). A

informação apurada permite afirmar que, como já foi referido, algumas das embarcações

foram construídas pelos próprios pescadores e a maioria das restantes compradas em 1ª

mão. Estes dois aspectos explicam a opinião dos inquiridos sobre o estado de conservação

das embarcações próprias. Com efeito, 35% respondeu que aquele estado era muito bom e

34% avaliou-o como bom (Fig.5. 24).

0

10

20

30

40

50

60

70

<1 ano >ou=1 a <5 anos >ou=5 anos a <10anos

>ou=10 anos0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

M u ito b o m B o m R a z o á ve l M a u

Fig. 5.23 – Idade das embarcações. Fig. 5.24 – Estado de conservação das embarcações.

Segundo os pescadores inquiridos, as 140 embarcações recenseadas nas três

Bacias hidrográficas possuem um valor actual estimado em 10 216 contos. Este total

reparte-se do seguinte modo: 27% na Bacia do Mondego; 29% na Bacia do Vouga e os

restantes 43% na Bacia do Tejo.

Como a figura 5.25 deixa visualizar, treze (9%) do total das embarcações

recenseadas não possuem qualquer valor monetário. A idade e o estado de conservação são

os factores responsáveis pela referida situação. A figura 25 permite ainda concluir que a

maioria das embarcações recenseadas nas três Bacias hidrográficas (54%) foram avaliadas

pelos respectivos proprietários como possuindo um valor monetário actual estimado entre

os 50 e os 200 mil escudos; e 27% com um valor inferior a 50 mil escudos.

193

Page 34: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

13

38 37 38

10

4

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 <50 >ou=50 a <100 >ou=100 a <200 >ou=200 a <500 >ou= 500

Valor actual embarcações (mil escudos)

Nº e

mba

rcaç

ões

Fig. 5.25 – Valor actual das embarcações (mil escudos).

3 – Caracterização socio-económica da mão-de-obra auxiliar

O facto de a larga maioria dos pescadores inquiridos (93%) nas três Bacias

hidrográficas possuir barco próprio explica o número total de auxiliares recenseados,

concretamente, 76 indivíduos nesta situação laboral.

Os 76 auxiliares repartem-se do seguinte modo: 10 na Bacia do Mondego; 16 na

do Vouga e 50 na do Tejo. Com excepção da Bacia do Tejo onde foram inquiridos

pescadores com mais de um auxiliar, nas duas outras Bacias todos os inquiridos com

auxiliar responderam ter tido, durante o ano de 2000, um único auxiliar. Com base no

exposto, concluiu-se da importância da actividade da pesca profissional nas águas

interiores não só para os indivíduos inquiridos e respectivas famílias mas igualmente para

os indivíduos que preenchem a função de auxiliar e respectivos agregados domésticos

(Fig. 5.26).

Uma vez que a maioria dos inquiridos (56%) concentra a sua actividade da pesca

em determinados meses do ano, a participação da mão-de-obra auxiliar segue,

naturalmente, idêntica tendência. Com efeito, 53% da mão-de-obra auxiliar recenseada nas

três Bacias hidrográficas está ocupada com a actividade da pesca pelo menos três meses no

ano, e 47% quatro ou mais meses (Fig. 5.27).

194

Page 35: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

0

10

20

30

40

50

60

70

S/ aux. 1 aux. >1 aux.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 mês 2 meses 3 meses >ou=4 meses

Fig. 5.26 – Inquiridos que pescaram com barco

próprio e número de auxiliares.

Fig. 5.27 – Inquiridos segundo o número de meses

que foram acompanhados por auxiliares.

Tal como sucede com os pescadores inquiridos, também a mão-de-obra auxiliar faz

da pesca uma actividade económica secundária; tem, sensivelmente, idades idênticas (Fig.

5.28); e possui experiência de pesca.

A informação recolhida permite ainda afirmar que a mão-de-obra auxiliar está

ligada ao arrais por laços de parentesco (Fig. 5.29) e que a modalidade mais comum de

retribuição pelo trabalho executado pela mão-de-obra auxiliar é a sociedade: a meias na

Bacia do Mondego; a meias ou ao terço na Bacia do Vouga; e a meias; ao terço ou à

quarta na Bacia do Tejo (Fig. 5.30).

<2512%

>ou=25 a <3513%

>ou=35 a <4519%

>ou=45 a <559%

>ou=55 a <6528%

>ou=65 a <7516%

>ou=753% Assal.

1%

Não Assal.99%

Sociedade58%

Espécie24%

Dinheiro18%

Fig. 5.28 – Idade dos auxiliares. Fig. 5.29 – Auxiliares segundo o

tipo de relação de trabalho com o

inquirido.

Fig. 5.30 – Formas de remuneração

dos auxiliares.

195

Page 36: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Convertida em dinheiro a remuneração em espécie atribuída à mão-de-obra auxiliar

e adicionada a esta a remuneração em dinheiro, foi estimado pelos inquiridos das três

Bacias hidrográficas que o valor monetário total dispendido com a remuneração da mão-

de-obra auxiliar, durante o ano de 2000, foi de 16 573 contos. Este montante total reparte-

se do seguinte modo: 2% na Bacia do Mondego; 52% na Bacia do Vouga; e 46% na Bacia

do Tejo. De notar que os montantes monetários referidos foram estimados pelos inquiridos

chefes de embarcação pelo que devem ser considerados meramente como um indicador

aproximado da realidade.

De referir ainda que alguns dos pescadores inquiridos também exercem funções

de auxiliar. No total dos 116 inquiridos foram recenseados 17 casos (15%), repartidos do

seguinte modo: 2 casos (1%) na Bacia do Mondego; 5 casos (19%) na do Vouga; e 10

casos (16%) na do Tejo.

4 – Principais espécies piscícolas capturadas

A figura 31 dá conta do número de inquiridos que afirmou não ter pescado em

cada um dos meses do ano de 2000. Em parte, a distribuição mensal do número de dias de

não pesca está relacionada com as espécies capturadas.

34

23 25

56

70

43 42

4953

5862

57

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

Nº I

nqui

rido

s que

não

pes

cara

m

Fig. 5.31 – Inquiridos que não pescaram, segundo o mês.

196

Page 37: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Nas figuras 5.32.a; 5.32.b; e 5.32.c é possível confrontar a importância no que se

refere às espécies que os inquiridos afirmaram ter pescado durante o ano de 2000 e as que

mais gostam de pescar, respectivamente, na Bacia do Mondego, do Vouga e do Tejo. Por

seu lado, a Fig. 5.32.d sintetiza a informação recolhida no conjunto das três Bacias

hidrográficas enumeradas.

32%

28%

23%

9%6%

2%

44%

19%

6% 6%

16%

3%6%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Lampreia Sável E ngu ia M eixão Lagostimvermelho

Pimpão Tainha

Espécies

% In

quir

idos

E spécies que gostam mais de pescar E spécies que mais pescaram em 2000

Fig. 5.32a – Percentagem de inquiridos segundo as espécies na Bacia Hidrográfica do Mondego.

22%

6%

25%

15%

10%

5%2%

1%

7%

2% 2%1%

21%

7%

13%15%

12%

3%

13%

0%1%

9%

4%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Lam

prei

a

Sáve

l

Engu

ia

Bar

bo

Car

pa

Pim

pão

Tain

ha

Rui

vaco

Ach

igã

Bor

dalo

Trut

a

Lago

stim

verm

elho

Bog

a

E spécies

% In

quir

idos

E spécies que gostam m ais de pescar E spécies que m ais pescaram em 2000

Fig. 5.32b – Percentagem de inquiridos segundo as espécies na Bacia Hidrográfica do Vouga.

197

Page 38: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

13%

8% 8%

20%

15%

1%

4%

2%

17%

2%0%

6%

4%3%

0%

3%

27%

16%

1%

10%

1%

10%

0%1%

14% 14%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Lampreia Sável Enguia Barbo Carpa Saboga ou Savelha Tainha ou Mugeou Fataça

Bordalo Achigã Lúcio Perca-sol Lagostimvermelho

Boga

Espécies

% In

quir

idos

Espécies que gostam mais de pescar Espécies que mais pescaram em 2000

Fig. 5.32c – Percentagem de inquiridos segundo as espécies na Bacia Hidrográfica do Tejo.

19%

11%

15% 16%

11%

1%3%

1%

12%

1% 0%

5%

2% 1% 0% 1% 1%

15%

5%7%

22%

14%

0%

12%

0%

7%

0% 1%

14%

1% 1% 1% 0% 0%0%

5%

10%

15%

20%

25%

Lam

prei

a

Sáve

l

Engu

ia

Bar

bo

Car

pa

Sabo

ga o

u Sa

velh

a

Tain

ha o

u M

uge

ou F

ataç

a

Bor

dalo

Ach

igã

Lúci

o

Perc

a-so

l

Lago

stim

ver

mel

ho

Bog

a

Pim

pão

Mei

xão

Rui

vaco

Bor

dalo

Trut

a

Espécies

% In

quir

idos

Espécies que gostam mais de pescar Espécies que mais pescaram em 2000

Fig. 5.32d – Percentagem de inquiridos segundo as espécies nas Bacias Hidrográficas do

Mondego, Vouga e Tejo.

A lampreia o sável foram as espécies mais procuradas pela maioria dos inquiridos

do Mondego, respectivamente, 44% e 19% do total dos inquiridos. Na bacia do Vouga

foram a lampreia e o barbo e na do Tejo o barbo e a carpa.

198

Page 39: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Constata-se ainda a não correspondência entre as espécies mais pescadas e as que

os pescadores afirmam gostar mais de pescar. Foram diversas as razões apontadas pelos

inquiridos para justificarem o gosto pela pesca de determinadas espécies. Entre os aspectos

mais referidos, enumeram-se, a título ilustrativo, os relacionados com o prazer de utilizar

determinadas artes de pesca ⎯ por exemplo, o anzol (na captura do achigã); a sartela ⎯;

as potencialidades gastronómicas de algumas espécies mais orientadas para o auto

consumo, o qual, na maior parte das vezes, está associado a actividades lúdicas; a garantia

de comercialização associado à grande procura e, consequentemente, a elevados preços de

venda.

Ainda no que respeita às espécies piscícolas procurou-se conhecer e avaliar, duas

ordens de aspectos. Em primeiro lugar, quais as principais espécies capturadas pelos

inquiridos nos últimos três anos, em cada uma das Bacias hidrográficas, e a sua opinião

sobre se: (i) as quantidades daquelas espécies têm aumentado, mantido ou diminuído, e (ii)

as razões que ajudam a compreender tal realidade.

Em segundo lugar, procurou-se avaliar o montante global de biomassa capturada

no ano 2000. Cada um dos referido aspectos centrou-se nas seguintes espécies piscícolas:

achigã, barbo, boga, carpa, enguia, lagostim-vermelho, lampreia, lúcio, meixão, pei-rei,

robalo, saboga, salmão, sável, taínha e truta. Como se verá de seguida, nem todas as

espécies enumeradas foram objecto de captura, nos últimos três anos, pelos pescadores de

cada uma das Bacias hidrográficas.

Ainda relativamente à informação recolhida, ilustrada nas figuras que se seguem,

convém esclarecer dois aspectos: (i) o valor percentual registado relativamente aos

inquiridos que pescaram foi calculado com base no total dos inquiridos em cada uma das

Bacias hidrográficas, especificamente a do Mondego (Fig. 5.33 a); do Vouga (Fig. 5.33 b);

do Tejo (Fig. 5.33 c) e no conjunto das três Bacias (Fig. 5.33 d); (ii) os valores percentuais

nas referidas figuras relativamente à opinião dos inquiridos sobre se as quantidades das

espécies, nos últimos três anos, têm aumentado ou têm mantido ou diminuído foram

calculados com base no número total de inquiridos que responderam às três possibilidades

de evolução das quantidades das espécies especificadas no modelo do inquérito por

questionário.

A informação apurada na Bacia do Baixo Mondego (Fig. 5.33 a) permite concluir

que o sável (60%); a lampreia (56%); a enguia (48%); e o barbo (44%) foram as espécies

199

Page 40: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

piscícolas que os inquiridos responderam ter mais pescado nos últimos três anos. Por seu

lado, entre as espécies menos pescadas encontra-se o achigã (4%); o meixão (20%) e o

robalo (24%). No que refere à avaliação dos pescadores sobre a evolução, nos últimos três

anos, das quantidades de biomassa disponível de cada espécie sobressaem os seguintes

aspectos.

Em primeiro lugar, são reduzidas as espécies cujos quantitativos foram avaliados

pelos inquiridos como tendo aumentado. Estas foram: a lampreia (100% dos inquiridos); a

taínha (100%); o meixão (60%) e o robalo (50%). As principais razões apontadas pelos

pescadores para explicarem este aumento foram os menores caudais, sobretudo no que

refere à lampreia.

Em segundo lugar, o consenso mais elevado no que respeita à manutenção ou

redução das quantidades das espécies disponíveis foi registado no achigã (100% dos

inquiridos); na carpa (100%); na enguia (92%); no lagostim vermelho (90%), na saboga

(63%); no sável (60%) e no barbo (55%). As principais razões apontadas para este tipo de

evolução foram: a poluição das águas (achigã, carpa, enguia; lagostim-vermelho; saboga e

sável); a sobre pesca (enguia) e os menores caudais (sável).

4%

44%

0%

36%

48%

56%

0%

20%

0%

24%

32%

0%

60%

52%

0%0% 0% 0%

8% 10%

100%

0%

60%

0%

38%

0%

40%

100%

0%

100%

55%

0%

100%

92% 90%

0% 0%

40%

0%

50%

63%

0%

60%

0% 0%

40%

50%45%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Ach

igã

Bar

bo

Bog

a

Car

pa

Engu

ia

Lago

stim

ver

mel

ho

Lam

prei

a

Lúci

o

Mei

xão

Peix

e-re

i

Rob

alo

Sabo

ga

Salm

ão

Sáve

l

Taín

ha

Trut

a

Espécies

% In

quir

idos

% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu

Fig. 5.33a – Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre a evolução da quantidade da espécie na Bacia Hidrográfica do Mondego.

Na Bacia do Vouga (Fig. 5.33.b), as espécies mais pescadas nos últimos três anos

foram a enguia (78% de respostas); a taínha (70%); a lampreia (67%); a carpa (63%) e o

200

Page 41: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

lagostim-vermelho (56%). No que refere às espécies cujas quantidades aumentaram nos

últimos três anos ressaltam: a perca-sol (100% de respostas); a taínha (84%); o lagostim-

vermelho (81%) e o barbo (62%). Apesar do exposto conclui-se que a avaliação dos

inquiridos é pessimista no que refere à abundância dos recursos piscícolas da Bacia do

Vouga. Com efeito, de acordo com as respostas obtidas, são mais numerosas as espécies

cujas quantidades foram avaliadas como tendo vindo a diminuir ou a manter e existe um

largo consenso entre os inquiridos sobre esta realidade. Mais concretamente, o achigã

(100% de respostas); a boga (78%); a enguia (100%); a lampreia (83%); a saboga (100%);

o sável (100%); a truta (57%); o pimpão (100%); o ruivaco (100%) e o bordalo (50%)

foram as espécies que reuniram maior consenso quanto ao não aumento da evolução dos

quantitativos disponíveis para captura nos últimos três anos. As principais razões

apontadas para esta realidade foram a sobre pesca (achigã: enguia; sável; ruivaco); a

poluição das águas (boga; enguia; sável; pimpão; ruivaco); e dificuldades de acesso aos

pesqueiros frequentados pelos inquiridos devido à existência de açudes no caso específico

da lampreia (açude da Grela; e de Sernada do Vouga).

33%

74%

33%

63%

78%

56%

67%

0% 0% 0% 0%4%

0%

37%

70%

26%

37%

7%

15%

33%

0%

62%

22%

39%

0%

81%

17%

0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

84%

43%

0%

100%

50%

0%

100%

38%

78%

61%

100%

19%

83%

0% 0% 0% 0%

100%

0%

100%

16%

57%

100%

0%

50%

100%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Barbo

Boga

Carpa

Enguia

Lagost

im ve

rmelh

o

Lampre

ia

Peixe-r

ei

Robalo

Sabog

aTrut

a

Perca-s

ol

Bordalo

Ruivaco

Espécies

% In

quir

idos

% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu

Fig. 33b - Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre a evolução

da quantidade da espécie na Bacia Hidrográfica do Vouga.

Na Bacia do Tejo, as espécies mais pescadas nos últimos três anos foram: o barbo

(94% de respostas); a carpa (83%); a boga (78%); e o achigã (75%).

201

Page 42: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Entre as espécies cujas quantidades foram avaliadas como tendo vindo a

aumentar, nos últimos três anos, sobressai somente a perca-sol (86% de respostas) e, em

escala bem mais reduzida; o lagostim-vermelho (46%); o sável (35%) e o salmão (33%). É

na Bacia do Tejo onde o cenário relativo à regressão das quantidades e da diversidades das

espécies piscícolas de água doce parece ser mais acentuada. Para esta realidade

contribuem, significativamente, o achigã (90% de respostas); a enguia (100%); o lúcio

(100%); o borbalo (100%); o pimpão (100%); a saboga (85%); o peixe-rei (83%); a

lampreia (96%); a carpa (82%); a boga (75%); e o barbo (74%).Entre as razões mais

referidas para explicar a referida regressão contam-se: a sobre pesca (achigã; enguia;

lampreia; peixe-rei: saboga); os menores caudais (achigã, barbo; carpa); a poluição das

águas (barbo; boga; peixe-rei; saboga); o facto de o lagostim-vermelho destruir as ovas, no

caso específico da carpa; e a existência de mais barragens, no caso específico da enguia.

75%

94%

78%

83%

42%45%

36%

9%

0%

16%

0%

30%

5%

31% 31%

0%

34%

8%

2%

10%

26% 25%

18%

0%

46%

4%

0% 0%

17%

0%

15%

33%35%

57%

0%

86%

0% 0%

90%

74% 75%

82%

100%

54%

96%

100%

0%

83%

0%

85%

67%65%

43%

0%

14%

100% 100%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Achigã Barbo Boga Carpa Enguia Lagostimvermelho

Lampreia Lúcio Meixão Peixe-rei Robalo Saboga Salmão Sável Taínha Truta Perca-sol Bordalo Pimpão

Espécies

% In

quir

idos

% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu

Fig. 5.33c - Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre

a evolução da quantidade da espécie na Bacia Hidrográfica do Tejo.

202

Page 43: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

A figura 5.33.d sintetiza a informação acabada de comentar relativamente às

espécies mais pescadas e à situação da evolução das quantidades das espécies piscícolas

capturadas nos últimos três anos pelos pescadores inquiridos nas três Bacias hidrográficas.

50%

78%

51%

68%

52%47% 47%

5% 4%9% 5%

24%

3%

39%45%

6%

21%

8% 9% 8%8%

37%

25%21%

2%

49%

32%

0%

60%

17%

50%

21%

33%29%

77%

43%

88%

22%

0% 0%

92%

63%

75%79%

98%

51%

68%

100%

40%

83%

50%

79%

67%71%

23%

57%

13%

78%

100% 100%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Ach

igã

Bar

bo

Bog

a

Car

pa

Engu

ia

Lago

stim

ver

mel

ho

Lam

prei

a

Lúci

o

Mei

xão

Peix

e-re

i

Rob

alo

Sabo

ga

Salm

ão

Sáve

l

Taín

ha

Trut

a

Perc

a-so

l

Bor

dalo

Pim

pão

Rui

vaco

Espécies

% In

quir

idos

% Inquiridos que pescou, em relação ao total % Inquiridos que diz que a espécie aumentou % Inquiridos que diz que a espécie se manteve ou diminuiu

Fig. 5.33d - Percentagem de inquiridos que nos últimos três anos pescou a espécie e opinião sobre a evolução

da quantidade da espécie nas Bacias Hidrográficas do Mondego, Vouga e Tejo.

A informação apurada permite concluir que as espécies capturadas, nos últimos

três anos, no conjunto das três Bacias hidrográficas foram: o achigã (50% do total de

respostas); o barbo (76%); a boga (51%); a carpa (68%) e a enguia (52%).

Entre as espécies cujos quantitativos foram avaliados pelos inquiridos como tendo

vindo a diminuir ou a manter figuram: o achigã (92% de respostas); a boga (75%); a carpa

(79%); a enguia (98%); a lampreia (68%); o lúcio (100%); o peixe-rei (83%); o robalo

(50%); a saboga (79%); o salmão (67%); o sável (71%); a truta (57%); o bordalo (78%); o

pimpão (100%) e o ruivaco (100%).

Para além do exposto importa ainda referir que foi recolhida informação que

permite confrontar as respostas dos inquiridos relativamente às espécies que mais

pescaram no ano 2000 e as que mais capturaram nos últimos três anos. Esta informação

consta, respectivamente, das figuras 5.34 e 5.35.

203

Page 44: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

46

82

44

65

44 46 49

3 4 63

18

2

30

45

5 74 3 3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Barbo

Boga

Carpa

Enguia

Lagost

im ve

rmelh

o

Lampre

ia

Peixe-r

ei

Robalo

Sabog

aTrut

a

Perca-s

ol

Bordalo

Ruivaco

Espécies

Nº I

nqui

rido

s que

pes

cou

em 2

000

Fig. 5.34 – Inquiridos segundo as espécies que capturaram.

58

91

59

79

6054 55

6 510 6

28

3

4552

7

24

9 11 9

0102030405060708090

100

Ach

igã

Bog

a

Engu

ia

Lam

prei

a

Mei

xão

Rob

alo

Salm

ão

Taín

ha

Perc

a-so

l

Pim

pão

Espécies

Nº I

nqui

rido

s que

nos

últi

mos

3 a

nos

pesc

ou

Fig. 5.35 – Inquiridos segundo as espécies capturadas nos últimos três anos.

O confronto da informação empírica recolhida permite concluir que existe uma

relativa constância do tipo das espécies usualmente capturadas pelos pescadores. Permite

ainda concluir que foi, sobretudo, o barbo que manteve o nível de procura por parte dos

pescadores. Finalmente é de assinalar uma regressão, ainda que não acentuada, entre o

número de pescadores que, pescou cada uma das espécies piscícolas que vimos

enumerando no ano de 2000 (Fig. 5.34) e nos últimos três anos (Fig. 5.35). Ou seja,

comparativamente aos últimos três anos, o ano de 2000 registou um menor número de

pescadores por espécie.

204

Page 45: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

No que refere ao destino da biomassa capturada no ano de 2000 a informação recolhida

permite concluir que 77% do total dos 116 pescadores vendeu metade, ou mais, da referida

biomassa (Fig. 5.36). Ou seja, mais de três quartos dos pescadores comercializou a maioria

dos recursos naturais obtidos com a actividade da pesca nas águas interiores.

0

10

20

30

40

50

60

70

<10% >ou=10 a <20% >ou=20 a <30% >ou=30 a <40% <ou=40 a <50% >ou=50%

Fig. 5.36 – Inquiridos segundo a percentagem vendida dos recursos aquícolas capturados.

Foi ainda apurado que os principais locais de comercialização dos recursos

piscícolas capturados no ano 2000 (Fig. 5.37) foram: os intermediários (45% do total dos

pescadores); e os particulares (31%)6.

A venda directa, quer a restaurantes, quer em mercados ou feiras só reuniu,

respectivamente, 17% e 7% do total das respostas.

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

3 5

4 0

R e sta u ra n te P a r t ic u la re s In te rm e d iá r io s M e rc a d o s /F e ira s

Fig. 5.37 – Principais locais de venda dos recursos aquícolas capturados.

6 De referir que esta questão figurava no inquérito por questionário como uma questão fechada e com possibilidade de duas respostas, no máximo.

205

Page 46: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

De seguida passamos a apresentar e a comentar, por espécie piscícola de águas

doces e por Bacia hidrográfica, o número de inquiridos que pescou a espécie no ano de

2000 bem como a totalidade de biomassa (em kg. ou unidades) capturada. De notar que

esta análise tem por base, exclusivamente a opinião dos inquiridos. Dada a não exitência de

elementos que nos permitam avaliar o grau de fiabilidade da informação recolhida, os

valores que constam das figuras 38 a 38.t, inclusivé, devem ser tomados como indicativos

de uma dada realidade. Sobre a importância da existência de Censos Piscatórios e das

dificuldades que a sua ausência colocam à gestão das populações piscícolas ver, por

exemplo, Ferreira, Teresa & Oliveira, João (1996), já citado anteriormente neste Capítulo.

1 9 360 29

1191

2130 120

0200400600800

100012001400

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38 – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Achigã, por Bacia Hidrográfica.

9 18 55255 315

13692

416 70

5000

10000

15000

M ondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38a - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Barbo, por Bacia Hidrográfica.

No que respeita ao achigã (Fig. 5.38) as maiores capturas verificaram-se na Bacia

do Tejo, facto que é explicado pela preferência dos pescadores desta Bacia pelas albufeiras

enquanto pesqueiros. No total foram capturados cerca de 1 400 kg de achigã. O barbo

206

Page 47: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

(Fig. 5.38 a) foi pescado por 82 pescadores (o que corresponde a 71% do total dos

inquiridos), os quais capturaram cerca de 15 000 kg, sendo que 91% desta biomassa foi

capturada na Bacia do Tejo. A boga (Fig. 5.38 b) foi sobretudo pescada na Bacia do Tejo,

cerca de 5 000 kg. A carpa já foi capturada nas três Bacias, embora maioritariamente na do

Tejo. Aqui foram capturadas 94% do total da biomassa, cerca de 15 500 kg (Fig. 5.38 c).

5 3935

5159

20

100020003000

400050006000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38b - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Boga, por Bacia Hidrográfica

6 14 45120 625

14654

0 246 270

5000

10000

15000

20000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38c - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Carpa, por Bacia Hidrográfica.

10 18 16

325

502

780

30 50

200

400

600

800

1000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 38d - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Enguia, por Bacia Hidrográfica.

207

Page 48: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

8 12 26375014840

88324

0

20000

40000

60000

80000

100000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38e - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Lagostim Vermelho, por Bacia

Hidrográfica.

A enguia é uma das espécies cuja procura se regista nas três Bacias hidrográficas

(Fig. 5.38 d). Embora na Bacia do Tejo, onde os pescadores possuem um perfil mais

profissional, exista um reduzido número de pescadores que se dedicam à captura da

referida espécie (só um quarto do total dos inquiridos) nota-se que foi precisamente aqui

onde se registou um maior esforço de pesca. Dos cerca de 1 600 kg. de enguia capturada

no ano de 2000, 49% foram pescados na Bacia do Tejo.

O lagostim-vermelho (Fig. 5.38 e) foi também procurado por pescadores das três

Bacias hidrográficas. No total foram capturados 106 914 kg desta espécie por 40% do total

dos pescadores.

14 17 18

3375

547 628

0

1000

2000

3000

4000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38f - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Lampreia, por Bacia Hidrográfica.

208

Page 49: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

3

37

6

0

10

20

30

40

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hiodrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38g - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Lúcio, por Bacia Hidrográfica.

4

185

0

50

100

150

200

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38h - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Meixão, por Bacia Hidrográfica.

Foi essencialmente na Bacia do Baixo Mondego onde a captura da lampreia foi

mais intensa (Fig. 5.38 f). Esta captura correspondeu a 74% do total da biomassa ⎯ 4 550

unidades ⎯ capturada. De notar que a referida percentagem foi pescada por cerca de 50%

dos pescadores inquiridos. Ou seja, na Bacia do Mondego regista-se, comparativamente às

restantes Bacias, um esforço de pesca de lampreia muito acentuado, quer no que respeita

ao quantitativo capturado, quer no que respeita ao número de pescadores que procuram

esta espécie.

O lúcio (Fig. 5.38 g) foi capturado somente na Bacia do Tejo. Os três pescadores

capturaram cerca de 40 kg de biomassa. Tal como sucede com a lampreia, cuja captura se

faz predominantemente no Mondego, o meixão foi só capturado nesta Bacia hidrográfica

(Fig. 5.38 h). Os quatro pescadores que afirmaram ter pescado a referida espécie, no ano de

2000, avaliaram o respectivo esforço de pesca em 185 kg. Aqui convém fazer uma

ressalva. Dado a grande procura de meixão, sobretudo pelo mercado espanhol, e a

proibição da sua captura com redes é de aceitar a sub avaliação quer do número de

209

Page 50: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

pescadores que declarou ter capturado no ano de 2000, quer a quantidade total capturada

pelos pescadores que afirmaram ter pescado meixão. Esta ressalva é válida para as duas

restantes Bacias hidrográficas.

O peixe-rei (Fig. 5.38 i) foi capturada só na Bacia do Tejo por um reduzido

número de pescadores. O total estimado de biomassa capturada foi de 175 kg. O robalo

(Fig. 5.38 j) foi capturado na Bacia do Mondego por um reduzido número de pescadores

que no total capturaram 160 000 kg.

6

175

0

50

100

150

200

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38i - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Peixe-rei, por Bacia Hidrográfica.

3

160000

0

50000

100000

150000

200000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig.5.38j - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Robalo, por Bacia Hidrográfica.

210

Page 51: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

5 1 1260

1049

7 380

200

400

600

800

1000

1200

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos

Kg

Nº Unidades

Fig. 5.38l - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Saboga, por Bacia Hidrográfica.

A saboga ou savelha (Fig. 5.38 l) foi capturada nas três Bacias, com especial

destaque para a do Tejo. No total foram capturadas, em 2000, cerca de 1 100 kg de saboga.

O salmão é uma espécie da Bacia do Tejo (Fig. 5.38 m). Foram poucos os pescadores que

no ano de 2000 capturaram esta espécie (unicamente dois). O total de biomassa pescada foi

cerca de 20 kg.

A captura do sável concentrou-se essencialmente na Bacia do Mondego. Cerca de

metade dos pescadores inquiridos responderam ter capturado aquela espécie no ano de

2000. No conjunto das três Bacias foi estimada a pesca de cerca de 4 700 kg de sável

(Fig. 5.38 n).

2

20

3

0

5

10

15

20

25

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38m - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Salmão, por Bacia Hidrográfica.

211

Page 52: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

14 7 9

4315

31527 620

1000

2000

3000

4000

5000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38n - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Sável, por Bacia Hidrográfica.

11 15 191085 717

16885

500

5000

10000

15000

20000

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 38o - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Taínha, por Bacia Hidrográfica.

A taínha (Fig. 5.38 o) foi capturada nas três Bacias hidrográficas, com especial

destaque para a do Tejo. Quando confrontamos o número de pescadores em cada uma das

Bacias e o total de biomassa que os inquiridos estimaram ter capturado sobressai o

quantitativo registado na Bacia do Tejo. Com efeito, nesta Bacia, foi pescado cerca de 90%

do total, este estimado em cerca de 18 700 kg.

A truta (Fig. 5.38 p) foi pescada sobretudo na Bacia do Vouga, embora a sua

expressão tenha sido reduzida, quer em número de pescadores, quer em total da biomasa

capturada. Este foi estimado em cerca de 8 kg.

A perca-sol (Fig. 5.38 q) segue de perto as características da truta acima

especificadas. No total foi estimada a captura de cerca de 30 kg da referida espécie nas três

Bacias hidrográficas, durante o ano de 2000.

O pimpão (Fig. 5.38 r) foi unicamente capturado no Vouga. De reduzida expressão,

o total de biomassa capturada foi estimado em 60 kg.

212

Page 53: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

O bordalo (Fig. 5.38 s) e o ruivaco (Fig. 38 t) foram também só capturados na

Bacia do Vouga. À semelhança do pimpão, as referidas espécies apresentam reduzida

importância, quer no número de pescadores que se dedicaram, no ano de 2000, à sua

captura, quer no total de biomassa capturada. Este valor foi estimado em cerca 20 kg, quer

no caso do bordalo, quer no caso do ruivaco.

4

1

6.5

4

2

01234567

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig.5.38p - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Truta, por Bacia Hidrográfica.

2 5

22

40

0

10

20

30

40

50

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38q - Quantidades totais capturadas, em 2000, de Perca-sol, por Bacia Hidrográfica.

3

60

010203040506070

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38r – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Pimpão, por Bacia Hidrográfica.

213

Page 54: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

41.5

20

0

5

10

15

20

25

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38s – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Bordalo, por Bacia Hidrográfica.

3

20

6

0

5

10

15

20

25

Mondego (n=25) Vouga (n=27) Tejo (n=64)

Bacias Hidrográficas

Nº Inquiridos Kg Nº Unidades

Fig. 5.38t – Quantidades totais capturadas, em 2000, de Ruivaco, por Bacia Hidrográfica.

5 – Estimativa das receitas e dos encargos económicos com a actividade da pesca

no ano de 2000

214

Page 55: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Antes de procedermos à análise da informação recolhida convém, desde já, acautelar o

significado e o nível de fiabilidade dos valores quantitativos monetários estimados que

servem de base aos resultados que serão objecto de comentário neste ponto concreto.

Mais concretamente, quer no que respeita às receitas quer aos encargos

monetários, os valores aqui referidos foram obtidos com base em estimativas realizadas

pelos pescadores inquiridos. Deste modo, os referidos valores devem ser considerados

unicamente como indicadores aproximados da realidade. Com efeito, se o valor estimado

dos encargos monetários poderá estar sobre-avaliado, ou mais conforme o valor real, já o

valor estimado das receitas monetárias poderá ser esperado como estando sub-avaliado.

Esta sub-avaliação decorre, principalmente, de três factores.

Em primeiro lugar, das quantidades realmente capturadas por espécie piscícola,

pelos pescadores, as quais poderão estar superiores às que os inquiridos nos deram a

conhecer. Em segundo lugar, dos valores que os inquiridos nos disponibilizaram sobre o

valor monetário de venda, por espécie piscícola. Finalmente, das omissões por parte dos

pescadores sobre as espécies que realmente capturaram.

Se relativamente ao aspecto enumerado em primeiro lugar não dispomos de

qualquer tipo de informação que nos permita concluir sobre o nível de discrepância entre a

realidade e a informação recolhida, já no que respeita ao aspecto referido em segundo lugar

a informação contida nos Quadros 1.2; 2.2 e 3.2 ⎯ respectivamente, do Anexo II (Bacia

do Mondego); Anexo III (Bacia do Vouga); e Anexo IV (Bacia do Tejo) deste Capítulo ⎯

ajuda a balizar os limites entre a realidade e a informação que nos foi disponibilizada pelos

inquiridos. Como se pode ver nos referidos quadros existe, num número significativo de

espécies piscícolas, grande discrepância entre os valores unitários de venda, máximos e

mínimos, fornecidos pelos inquiridos. Aquela discrepância regista-se não só entre Bacias

hidrográficas, mas igualmente no âmbito da mesma Bacia.

Tendo em conta as limitações acima especificadas passamos de seguida a expor e

a comentar a informação empírica recolhida.

O valor total das receitas monetárias obtidas, pelos 116 pescadores, com a

actividade da pesca nas águas interiores foi por estes estimado em 253 mil contos. Este

montante reparte-se do seguinte modo: 81% na Bacia do Mondego; 3% na Bacia do

Vouga; e 16% na Bacia do Tejo.

215

Page 56: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Em termos médios, estima-se que o montante das receitas por pescador, no ano de

2000, foi de 2 183 contos. De notar que este valor não é idêntico em cada uma das três

Bacias hidrográficas. Assim, na Bacia do Mondego aquele valor foi estimado em 824 mil

contos, na do Vouga em 232 mil contos e na do Tejo em 639 mil contos.

Quando questionados sobre a importância relativa da actividade da pesca no total

dos rendimentos do agregado familiar, cerca de um quarto dos inquiridos (24%) avaliou

aquela importância como sendo igual ou superior a 50% (Fig. 5.39).

01020304050

1- <10

%

2- >ou

=10% a <

25%

3- >ou

=25% a <

50%

4- >ou

=50% a <

75%

5- >ou

=75% a <

...6-

100%

Fig. 5.39 – Importância das receitas da pesca no total do rendimento familiar, segundo avaliação

dos inquiridos.

No que refere ao total dos encargos monetários com a actividade da pesca no ano

de 2000 é de esclarecer que este valor inclui os encargos estimados com: a aquisição de

artes de pesca (redes e/ou armadilhas); a conservação e/ou aquisição de embarcações; as

deslocações até aos pesqueiros e as deslocações para venda do peixe capturado; a aquisição

de combustível para os motores dos barcos; a aquisição de iscos; e despesas diversas (que

aqui designámos por outras despesas) ⎯ este conjunto de encargos foi também designado

por encargos com a actividade da pesca (Figs. 5.40 e 5.41). O total dos encargos

monetários inclui ainda o pagamento da mão-de-obra auxiliar ⎯ este encargo foi também

aqui designado por encargos com auxiliares (Fig. 5.41) ⎯ e, finalmente, os encargos

relacionados com a preparação dos materiais de pesca, os quais incluem, nomeadamente, a

preparação das redes; das armadilhas; das embarcações e/ou dos motores dos barcos. Estes

216

Page 57: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

encargos foram também designados por encargos com a preparação do material de pesca

(Fig. 41). Ao conjunto dos encargos com a actividade da pesca; com auxiliares e com a

preparação do material da pesca designámos por encargos variáveis (Fig. 5.42).

O total dos encargos variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000,

estimado pelos 116 pescadores, foi de cerca de 33 mil contos. Ou seja, cerca de 285 contos

por pescador. Este valor não é idêntico entre as três Bacias hidrográficas. Com efeito,

enquanto que na Bacia do Mondego os referidos encargos foram estimados em cerca de 5

340 contos (cerca de 214 contos por pescador); na do Vouga o valor estimado foi de cerca

de 3 860 contos (cerca de 143 contos por pescador); e na do Tejo o valor estimado foi de

23 830 contos (cerca de 372 contos por pescador).

Em termos percentuais, a distribuição relativa do total dos encargos com a

actividade da pesca por Bacia hidrográfica foi de: 16% na Bacia do Mondego; 12% na do

Vouga e de 72% na do Tejo.

A análise da informação obtida sobre os encargos relativos à actividade da pesca

(Fig. 5.40) permite concluir a importância das artes de pesca, cujos encargos foram

estimados em 35% do valor dos referidos encargos totais, e as despesas com combustível

(41%), quer no que respeita ao abastecimento dos motores dos barcos (16%), quer no que

foi estimado como tendo sido consumido por deslocações aos pesqueiros e aos locais de

venda do peixe capturado (25%). Também aqui importa notar, que a importância relativa

dos vários tipos de encargos no total dos encargos que designámos por encargos relativos à

actividade da pesca varia, com algum significado, em cada uma das três Bacias

hidrográficas, como ilustram as figuras 1.24; 2.24 e 3.24, respectivamente, dos Anexos II;

III e IV deste Capítulo.

Porém, analisando o total dos encargos a que designámos por encargos variáveis

constatamos que são ainda os encargos com a actividade da pesca os que mais contribuem

para aquele valor total (Fig.5. 41).

De acordo com a figura 5.41, cerca de dois terços (62%) do total dos encargos

variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000 são da responsabilidade dos encargos

com a actividade da pesca. O restante terço (33%) é da responsabilidade da remuneração

da mão-de-obra auxiliar.

217

Page 58: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

0 2000000 4000000 6000000 8000000 1E+07 1.2E+07 1.4E+07

Embarcações

Deslocações pesqueiros

Iscos

Outras

Fig. 5.40 – Encargos com a actividade pesca profissional.

0 5000000 10000000

15000000

20000000

25000000

30000000

35000000

Encargos com activ.Pesca

Encargos comauxiliares

Encargos com prep.material pesca

Fig. 5.41 – Total de encargos com a actividade pesca.

A informação recolhida por Bacia hidrográfica permite concluir a não

homogeneidade da referida distribuição, como ilustram as figuras 1.25; 2.25 e 3.25 dos

Anexos II; III e IV. Na figura 5.42 podemos observar a importância relativa de inquiridos,

por Bacia hidrográfica e para o conjunto das três Bacias, segundo escalões de valor total

estimado dos encargos variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000.

218

Page 59: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

0%

32%

12%

4%

16%

36%

11%

19%

22%

19%

22%

7%

0%

16%

11%

17%

31%

25%

3%

20%

14% 15%

26%23%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0 <50 >ou=50 a <100 >ou=100 a <200 >ou=200 a <500 >ou=500

Encargos variáveis (mil escudos)

% In

quir

idos

Bacia Hidrográfica do Mondego Bacia Hidrográfica do Vouga Bacia Hidrográfica doTejo Conjunto das três Bacias

Fig. 5.42 – Percentagem de inquiridos segundo o montante total dos encargos variáveis com a actividade pesca em 2000.

De acordo com a informação recolhida, conclui-se que é na Bacia do Vouga onde

se regista o maior número de pescadores com encargos totais variáveis menos elevados.

Com efeito, 39% dos pescadores estimaram os respectivos encargos variáveis no montante

superior ou igual a 200 mil escudos, e só 17% destes estimaram aquele valor como tendo

sido superior ou igual a 500 mil escudos. Esta constatação está de acordo com o já referido

a propósito da figura 41, onde concluímos que são as despesas com a actividade da pesca

as que mais contribuem para o total dos encargos variáveis, e também com o comentado

em torno da importância relativa dos encargos com a actividade da pesca em cada uma das

Bacias hidrográficas e por pescador destas Bacias.

Se no Vouga se regista o maior número de pescadores com encargos totais

variáveis menos elevados já o mesmo não sucede nas Bacias do Mondego e do Tejo

(Fig. 5.42).

Com efeito, na Bacia do Mondego 52% dos pescadores estimaram os respectivos

encargos variáveis como tendo sido superiores ou iguais a 200 mil escudos. Por seu lado,

na Bacia do Tejo aquela percentagem ascendeu aos 56%. No que refere ao conjunto das

três Bacias, cerca de metade (49%) dos pescadores estimaram que o montante dos

219

Page 60: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

respectivos encargos variáveis tinha sido superior ou igual a 200 mil escudos, e 23%

superior ou igual a 500 mil escudos.

Finalmente é de notar que unicamente 3% do total dos inquiridos não atribuíram

qualquer valor aos encargos variáveis. Estes pescadores são exclusivamente originários da

Bacia do Vouga. Contrariamente ao que sucedeu com os encargos, nota-se que uma parte

mais significativa de pescadores estimou em níveis monetários mais reduzidos as

respectivas receitas monetárias (Fig. 5.43).

Com efeito, foi também na Bacia do Vouga onde se registaram os montantes mais

reduzidos. Somente 29% dos inquiridos avaliaram as receitas monetárias com a actividade

da pesca, no ano de 2000, como tendo sido superiores ou iguais a 200 mil escudos. Porém

esta percentagem é mais significativa entre os pescadores das duas restantes Bacias

hidrográficas. Concretamente, na Bacia do Mondego 68% dos pescadores estimaram as

referidas receitas como tendo sido superior ou igual a 200 mil escudos e 64% como tendo

sido superior ou igual a 500 mil escudos. Para estas receitas contribuíram largamente os

quantitativos de lampreia capturados, como já foi objecto de análise no ponto 4 do presente

Capítulo (Parte II).

0%8% 12% 12%

4%

64%

26%

11% 15% 19%7%

20%27%

21%11%

17%30%

22%27%

13%6% 8%9% 11%

0%10%20%30%40%50%60%70%

0 >ou=50 >ou=50 a<100

>ou=100 a<200

>ou=200 a<500

>ou=500

Valor estimado das receitas (mil escudos)

% In

quir

idos

Bacia Hidrográfica do Mondego Bacia Hidrográfica do VougaBacia Hidrográfica doTejo Conjunto das três Bacias

Fig. 5.43 – Percentagem de inquiridos segundo o valor total estimado das receitas com os recursos

aquícolas capturados.

220

Page 61: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Finalmente, importa comentar a estimativa dos valores do rendimento líquido

auferido pelos pescadores no ano de 2000 com a actividade da pesca nas águas interiores

(Fig. 5.44).

Antes porém importa esclarecer que o cálculo do rendimento líquido baseou-se na

diferença entre as receitas monetárias auferidas com as espécies piscícolas capturadas e o

total dos encargos variáveis com a actividade da pesca no ano de 2000. De recordar que

estes encargos variáveis incluem a totalidade dos encargos, cujos elementos constituintes

foram já devidamente especificados.

44%

4% 4%0%

16%

32%

44%

33%

4%

11%

4% 4%

58%

8% 6% 5% 5%

19%

52%

13%

5% 5% 7%

18%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

<0 >ou=0 a <50 >ou=50 a <100 >ou=100 a <200 >ou=200 a <500 >ou=500Rendimento líquido (mil escudos)

% In

quir

idos

Bacia Hidrográfica do Mondego Bacia Hidrográfica do Vouga Bacia Hidrográfica doTejo Conjunto das três Bacias

Fig. 5.44 – Percentagem de inquiridos segundo o rendimento líquido estimado com origem na

actividade pesca em 2000.

Os vários aspectos, já comentados ao longo deste ponto 5, que sugerem que os

inquiridos terão sub-avaliado as receitas monetárias concretizadas com a actividade da

pesca explicam, em larga medida, a elevada percentagem de pescadores com rendimentos

monetários líquidos negativos. A nível das três Bacias hidrográficas aquela percentagem é

de 52% (Fig. 5.44).

Porém, e apesar da sub-avaliação referida, é de notar que cerca de um sexto (18%)

do total dos pescadores estimou o respectivo rendimento líquido com origem na pesca nas

águas interiores como tendo sido superior a 500 mil escudos. Entre estes, destacam-se os

pescadores da Bacia do Mondego, dos quais 32% estimou o respectivo rendimento líquido

superior ou igual àquele montante.

221

Page 62: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

6 – Opinião dos inquiridos

Neste ponto é matéria de reflexão a opinião dos inquiridos sobre: (i) as alterações à

legislação e à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores; e (ii) o futuro da

pesca profissional e a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais.

Antes, porém, importa esclarecer dois aspectos. Em primeiro lugar, a informação que serve

de base a este ponto reporta-se ao momento temporal da realização dos inquéritos, primeiro

semestre do ano de 2001. Em segundo lugar, a avaliação das quatro questões acima

enumeradas é, sobretudo, feita com base em questões formuladas no questionário do

inquérito como questões abertas. Ou seja, a análise que se segue é essencialmente de

natureza qualitativa.

Alterações à legislação e à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores

No que respeita às opiniões recolhidas junto dos inquiridos sobre as alterações que

deveriam ser introduzidas à legislação é de salientar a diversidade de medidas sugeridas.

Como se pode observar nos Quadros 1.3; 2.3 e 3.3 dos Anexos II, III e IV deste Capítulo

os pescadores preocupam-se, em cada uma das Baixas hidrográficas, com aspectos

relacionados com a interdição legal de determinadas artes de pesca e das dimensões das

malhas da redes e ainda com o calendário de pesca legalmente estabelecido. Para além

destes aspectos, são igualmente comuns outro tipo de preocupações, nomeadamente, a

redução da poluição das águas.

A análise da informação qualitativa recolhida evidencia um conjunto de

reivindicações que podemos classificar de natureza sócio-profissional entre os pescadores

do Tejo, tais como, por exemplo, o aumento das reformas, e medidas directamente

relacionadas com a melhoria e garantia das condições de trabalho dos pescadores

profissionais.

Relativamente às opiniões dos inquiridos sobre as alterações que deveriam ser

introduzidas à fiscalização da actividade da pesca nas águas interiores (Quadro 1.4; 2.4 e

3.4 dos Anexos II, III e IV deste Capítulo) são de reter os seguintes aspectos: reforçar o

número de fiscais e, consequentemente, o rigor da fiscalização; aumentar a fiscalização

especificamente orientada para a redução da poluição das águas e melhorar o nível de

formação dos fiscais.

222

Page 63: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

O futuro da pesca profissional e a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais

O cenário traçado pelos inquiridos quanto ao futuro da pesca profissional nas águas

interiores é claramente pessimista (Quadros 1.5; 2.5 e 3.5 dos Anexos II; III e IV deste

Capítulo). Com efeito, a quase totalidade das respostas aponta para o fim da referida

actividade. O pessimismo evidenciado nas respostas dos inquiridos não será certamente

alheio à redução dos recursos piscícolas devido à poluição das águas; construção de

barragens e/ou ao desvio do leito dos rios, ou ainda ao facto de, sobretudo, nos anos mais

recentes a legislação ter vindo a ser mais restrita quer no que respeita às artes de pesca

passíveis de utilização, quer aos locais permitidos à pesca, quer ainda ao calendário de

pesca. Porém, o referido pessimismo dos inquiridos também não será estranho ao facto de

os respectivos filhos não quererem reproduzir o seu modo de vida, como já foi comentado

no ponto 1 deste Capítulo (Parte II).

De entre as medidas sugeridas no inquérito por questionário tendo em vista a

melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais, as que recolheram menor

adesão foram as duas que remetem mais especificamente para o controle dos recursos

piscícolas capturados (Fig. 45). Referimo-nos, concretamente, à criação de cooperativas de

comercialização do peixe capturado (4% do total de respostas) e à criação de lotas de pesca

(4% do total de respostas).

De entre as medidas propostas que recolheram maior adesão por parte dos

inquiridos são de reter: a melhoria da qualidade das águas (18%); a melhoria na

fiscalização (17%); e a melhoria dos acessos aos pesqueiros (17%).

Embora tendo registado um menor número de respostas são, no entanto, de referir

duas outras medidas: a criação de Associações de Pescadores (13%) e a criação de Zonas

de Pesca Profissional (12%).

Quando se analisa cada uma das medidas propostas, no inquérito por questionário,

tendo em vista a melhoria das condições de trabalho dos pescadores profissionais constata-

se que algumas delas são claramente apoiadas pelos inquiridos (Fig. 46). Entre estas

medidas são de reter as seguintes: a melhoria da qualidade das águas (86% de respostas

positivas); melhor fiscalização (82% de respostas afirmativas); a melhoria dos acessos aos

pesqueiros (76%); e criação de Associações de Pescadores (76%).

223

Page 64: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

0 20 40 60 80 100

Melhoria dos acessos aos pesqueiros

Const. Cais

Melhoria qual. Água

Lotas pesca

Criação ZPP

Assoc. Pescadores

Coop. Com. peixe

Melhor fiscaliz.

Fig. 5.45 – Medidas para melhorar as condições de trabalho.

7 6 %

6 9%

8 6 %

1 9 %

6 5 %

7 6 %

20 %

8 2%

2 4%

31 %

14 %

8 1 %

3 5%

2 4%

8 0 %

18 %

0 % 2 0% 4 0 % 6 0% 8 0% 10 0 % 1 2 0%

M e lh o ria d os a c e sso s a o s p e sq u e iro s

Con s t . Ca is

M e lh o ria q u a l. Á g u a

Lo ta s p e sc a

Cria ç ã o ZP P

A sso c . P e sc a d o re s

Co o p . Co m . p e ix e

M e lh o r fisc a liz.

SimN ã o

Fig. 5.46 – Medidas para melhorar as condições de trabalho.

224

Page 65: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

III – SÍNTESE E CONCLUSÕES

Da análise da informação empírica ⎯ recolhida por inquérito por questionário,

junto de 116 pescadores, nas Bacias hidrográficas do Mondego, do Vouga e do Tejo,

durante o primeiro semestre do ano de 2001 ⎯ são de reter os seguintes aspectos:

Licenciamento e tipo de licenças de pesca

• a maioria dos inquiridos (78%) estava licenciado para o exercício da pesca profissional; o

número mais significado de casos que não preenchia este requisito pesca na Bacia do

Mondego;

• dos inquiridos licenciados, cerca de dois terços (69%) possuía licença colectiva;

• comparativamente, constata-se que os inquiridos que pescam com auxiliar praticam a

pesca profissional há mais anos do que os que dispõem de licença de pesca individual.

Perfil socio-económico dos pescadores inquiridos

• Metade dos pescadores possui idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos, e 29% tem

idade inferior a 45 anos. A maioria (73%) frequentou a escolaridade obrigatória;

• a pesca profissional nas águas interiores é uma actividade praticada, essencialmente, em

determinados períodos do ano. Com efeito, 56% dos pescadores exerce tal actividade

periodicamente; 26% pontualmente e só 24% pesca a tempo completo;

• em larga medida na sequência do referido anteriormente, só 15% dos inquiridos

considera a actividade da pesca como a única fonte de receitas monetárias; e 80% avalia

os referidos rendimentos como um complemento do total das receitas individuais e

familiares;

• as actividades económicas exercidas a título principal pelos pescadores são de natureza

diversificada. Embora tenham sido identificados vários ramos dos três sectores de

actividade socio-económica, existe uma relativa dominância de pescadores que são

chefes de exploração agrícola;

• embora parte dos pescadores que dedicam todo o tempo de actividades à pesca nas águas

interiores sejam reformados de outra actividade económica ainda existe um número

225

Page 66: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

significativo de indivíduos que exercendo a actividade da pesca a título principal se

auto-identificam como pescador profissional;

• a maioria dos pescadores (64%) iniciou a aprendizagem dos saberes da pesca com redes

e/ou com armadilhas com idade inferior a 15 anos. Aquela aprendizagem baseou-se na

experiência, exercida no quotidiano, e a transmissão dos referidos saberes foi da

responsabilidade de familiares;

• cerca de metade dos pescadores (46%) iniciou o exercício da actividade da pesca com

idade inferior a 25 anos. As principais razões evocadas para o ingresso na actividade da

pesca foram: a necessidade de ajudar o pai, ou outro familiar, no exercício da pesca e a

dificuldade de, à época, encontrarem fonte alternativa de rendimento. Com base no

exposto surge claro que 53% dos pescadores tenha iniciado a actividade da pesca na

qualidade de auxiliar;

• o quadro social acima caracterizado relativo à transmissão e à aprendizagem dos saberes

específicos da actividade da pesca não encontra circunstâncias favoráveis à sua

reprodução. Neste âmbito é de notar que, embora a regressão da actividade sugerida

pela evolução do número de licenças profissional emitidas nos últimos 20 anos possa

não estar totalmente ajustada à realidade ⎯ dado que há pescadores que exercem a

actividade apesar de não licenciados ⎯ o facto de os filhos dos actuais pescadores não

quererem reproduzir o modo de vida dos respectivos progenitores é um indicador mais

fiável do não rejuvenescimento da força de trabalho que se dedica à pesca profissional

nas águas interiores.

Pesquisas, artes de pesca e embarcações

• Os pescadores preferem pescar em águas correntes (55%); só 30% manifestam

preferência por albufeiras;

• a proximidade do local de residência; a abundância de recursos piscícolas e a garantia de

pescar em segurança são os principais factores que intervêm na recolha dos pesqueiros;

• os períodos do ano onde se concentra a actividade da pesca são dois, a saber: o primeiro

trimestre do ano, e os meses de Junho, Julho e Agosto;

• a maioria dos pescadores não pernoita no local da pesca. Porém, quando tal sucede, o

veículo e o barco são os principais tipos de abrigo que utilizam para passar a noite;

226

Page 67: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

• o quase totalidade dos pescadores (90%) pesca só de barco;

• são utilizadas artes de pesca legalmente interditas, tais como, o botirão e a fisga;

• existe, regionalmente, uma relativa diversidade de embarcações. Estas, na quase

totalidade, são de madeira e não cabinadas;

• grande número das embarcações recenseadas tem menos de 5 anos, foram construídas

pelos próprios pescadores ou adquiridas em 1ª mão, e encontram-se em bom estado de

conservação;

• a maioria dos pescadores dispõe de barco próprio;

• o valor actual das 140 embarcações recenseadas foi estimado, pelos respectivos

proprietários, em cerca de 10 mil contos.

Caracterização socio-económica da mão-de-obra auxiliar

• Foram recenseados 76 indivíduos que exerceram, no ano de 2000, a função de auxiliar

dos pescadores inquiridos. Dos referidos indivíduos, dois terços pescaram na Bacia do

Tejo;

• a pesca é exercida enquanto actividade económica secundária pela mão-de-obra auxiliar,

a qual está, na sua maioria, ligada por laços de parentesco ao respectivo arrais;

• o pagamento da mão-de-obra auxiliar faz-se, essencialmente, na modalidade de

sociedade;

• segundo a estimativa dos arrais inquiridos, a valor monetário total dispendido com a

remuneração da mão-de-obra auxiliar, durante o ano de 2000, foi de cerca de 16 mil

contos. Do exposto ressalta a importância da actividade da pesca também para as

famílias dos auxiliares.

Principais espécies capturadas

• A lampreia e a enguia foram as espécies mais procuradas por um maior número de

pescadores, nas três Bacias hidrográficas, durante o ano de 2000;

• a avaliação dos pescadores sobre a evolução, nos últimos três anos, da diversidade e da

quantidade dos recursos aquícolas disponíveis para captura varia entre as diferentes

espécies. Porém, o quadro geral traçado evidencia, para o conjunto das principais

227

Page 68: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

espécies-alvo da pesca profissional, marcas de regressão. Entre os principais factores

identificados como responsáveis desta regressão sobressaem a sobre-pesca e a poluição

das águas;

• mais de três quartos (77%) dos pescadores comercializou, no ano de 2000, a maioria dos

recursos obtidos com a actividade da pesca;

• a comercialização dos recursos capturados foi feita, sobretudo, junto de intermediários e

de particulares, respectivamente, 45% e 31% do total dos inquiridos;

• a quantidade de biomassa capturada pelos pescadores no ano 2000 foi a seguinte7:

- achigã 1 400 kg - barbo 15 000 kg - boga 5 000 kg - carpa 15 500 kg - enguia 1 600 kg - lagostim-vermelho 106 914 kg - lampreia 4 550 unidades - lúcio 40 kg - meixão 185 kg - peixe-rei 175 kg - robalo 160 000 kg - saboga ou savelha 1 100 kg - salmão 20 kg - sável 4 700 kg - tainha 18 700 kg - truta 8 kg - perca-sol 30 kg - pimpão 60 kg - bordalo 20 kg - ruivaco 20 kg

228

Page 69: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Estimativa das receitas e dos encargos económicos com a actividade da pesca mo ano de 2000

• O valor total das receitas monetárias obtidas com a actividade da pesca profissional foi

estimado em cerca de 253 mil contos;

• em termos médios, estima-se que o montante das receitas, por pescador, foi de 2 mil

contos;

• o valor total dos encargos monetários variáveis com a actividade da pesca profissional foi

estimado em cerca de 33 mil contos8;

• em termos médios, estima-se que o montante do total dos encargos monetários variáveis,

por pescador, foi cerca de 285 contos;

• em termos relativos, cerca de dois terços dos encargos totais variáveis correspondem a

encargos com a actividade da pesca e o restante terço com encargos relativos à

remuneração da mão-de-obra auxiliar.

Opinião dos inquiridos

• No que refere às alterações a introduzir na legislação em vigor, as preocupações dos

pescadores centram-se no levantamento da interdição legal: de determinadas artes de

pesca, em particular as que correspondem a uma forte tradição regional; das dimensões

das redes, concretamente no que refere a espécies piscícolas específicas; e com

alterações a introduzir no calendário de pesca vigente. Se estes aspectos sugerem uma

maior liberdade à actuação dos pescadores é, no entanto, de reter as preocupações que

manifestam sobre a necessidade de reduzir o nível de poluição das águas;

• relativamente às sugestões de alteração à fiscalização são de reter os seguintes aspectos:

reforçar o número de fiscais e, consequentemente, o rigor da fiscalização; aumentar a

fiscalização sobre os agentes poluidores das águas das Bacias hidrográficas e melhorar

o nível de formação dos fiscais;

• o futuro da pesca profissional é percepcionado pelos pescadores de forma negativa. A

redução dos recursos piscícolas ⎯ devido, entre outros aspectos, ao aumento do nível 7 Sobre a fiabilidade dos quantitativos de biomassa e dos valores monetários estimados pelos inquiridos ver comentários feitos ao longo da Parte II do Capítulo “Pescadores e pesca profissional nas águas interiores. Situação actual”.

229

Page 70: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

de poluição das águas; à construção de barragens e/ou ao desvio do leite dos rios e ainda

às recentes restrições que vêm sendo introduzidas na legislação ⎯ e a recusa das

gerações mais novas em querer reproduzir o modo de vida dos pescadores profissionais

são os dois principais aspectos que fundamentam o pessimismo manifestado quanto às

possibilidades de reprodução e, consequentemente, do futuro da pesca profissional nas

águas interiores;

• a melhoria da qualidade das águas; uma melhor fiscalização; a melhoria dos acessos aos

pesqueiros; a criação de Associações de Pescadores e a criação de mais Zonas de Pesca

Profissional são sugestões bem aceites pelos pescadores tendo em vista a melhoria das

respectivas condições de trabalho.

As conclusões do Estudo “Pescadores e pesca profissional nas águas interiores.

Situação actual” sugerem um conjunto de aspectos tendo em vista a melhoria da gestão das

pescas continentais em Portugal, a saber:

• definir acções de formação orientadas para o esclarecimento e a formação técnica dos

pescadores profissionais. Estas acções teriam como principais objectivos transmitir

conhecimentos, entre outros aspectos, sobre os fundamentos da legislação em vigor; as

características ecológicas das espécies piscícolas que são alvo da pesca profissional e

ainda sobre os prejuízos causados pelas artes de pesca legalmente interditas, e ainda

utilizadas, nos recursos naturais;

• intensificar as acções de formação junto dos fiscais, tendo em vista melhorar os

respectivos conhecimentos técnicos;

• reforçar o número de fiscais e melhorar os meios (infra-estruturas) destinados à

fiscalização da pesca profissional nas águas interiores;

• o reforço da fiscalização deveria ser feito tendo em vista dois objectivos, a saber:

♦ controlar a sobre-pesca de determinadas espécies e em determinados locais

geográficos. Uma vez que quer as espécies quer os locais geográficos que

deveriam ser objecto de controlo reforçado teriam de ser previamente

8 Sobre as diferentes componentes que integram os encargos totais variáveis ver o ponto 5 da Parte II do Capítulo “Pescadores e pesca profissional nas águas interiores. Situação actual”.

230

Page 71: CAPÍTULO 5 - PESCADORES E PESCA PROFISSIONAL NAS … · PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS ... regulamenta o exercício da pesca nas formações aquáticas,

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

identificados, esta medida sugere a definição prévia de uma matriz que conjugue

os dois eixos acima especificados;

♦ identificar e monitorizar os agentes responsáveis pela poluição das águas

interiores, tendo como linha orientadora a legislação em vigor sobre a referida

matéria;

• incentivar a criação de Associações de Pescadores Profissionais. Para o efeito poderia ser

elaborado um questionário a ser preenchido, por administração directa, no momento da

requisição da licença de pesca. Tal questionário teria como principais prioridades

avaliar as características de funcionamento, as finalidades e as funções específicas que

os pescadores gostariam de ver asseguradas pelas referidas Associações;

• criar um maior número de Zonas de Pesca Profissional;

• definir e/ou promover instrumentos de política que integrem a actividade da pesca

profissional nas águas interiores nos planos de desenvolvimento rural e de

desenvolvimento regional, tendo em vista não só a melhoria das condições de trabalho

dos pescadores profissionais mas também a promoção social e turística desta actividade.

Com efeito, embora na maioria das situações concretas a actividade da pesca

profissional represente uma fonte de rendimento complementar, é, no entanto, de realçar

que esta ainda abrange um número significativo de famílias, quer de pescadores arrais

quer de pescadores que exercem a função de mão-de-obra auxiliar. Por outro lado, a

pesca artesanal profissional é também claramente uma actividade potenciadora dos

recursos turísticos, locais e regionais, na sua dupla vertente gastronómica e cultural. As

sugestões acabadas de identificar neste ponto concreto afiguram-se particularmente

pertinentes sobretudo se tivermos em consideração quer o cenário de regressão do

número de indivíduos que, nos últimos vinte anos, se vêm dedicando à pesca artesanal,

quer ainda as dificuldades evidentes do rejuvenescimento da população que actualmente

se dedica a esta prática.

231