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Paulo Victorino
CAPÍTULO SEIS
UM SOPRO DE DEMOCRACIA
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
Votada a Constituição, a Assembleia cuidou de eleger o presidente
da República. Foram 175 votos para Getúlio Vargas (chefe do
Governo Provisório), 59 para Borges de Medeiros, 4 para Góis
Monteiro, 2 para Protógenes Guimarães e 8 votos isolados,
provavelmente de candidatos que votaram neles mesmos. Três
dias depois, em 20 de julho de 1934, Getúlio Dorneles Vargas era
empossado presidente da República, para um mandato de quatro
anos. Mas ninguém, em sã consciência, apostaria um réis na
durabilidade da nova Constituição e, menos ainda, acreditaria que
Getúlio, findo o mandato, passaria a faixa presidencial ao seu
sucessor. Era esperar para ver.
Uma das explicações possíveis para a permanência de Getúlio Vargas no
governo, por tanto tempo, com um mínimo de desgaste e com uma aceitação
popular raramente encontrada na vida pública, pode estar situada no profundo
senso de realidade dessa velha raposa política.
Getúlio não era um idealista, disposto a reformar o mundo com o poder de
sua presença, ou com a determinação de seus atos. Conhecia as limitações à
sua volta e evitava o confronto além de suas forças, cedendo quando necessário,
e agindo com rigor implacável quando os ventos lhe eram favoráveis.
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Tinha uma forte intuição para identificar os componentes envolvidos em cada
acontecimento e aplicar o golpe certo no momento exato, como um malabarista
que vai dar seu salto mortal sobre a corda bamba, sabendo que qualquer erro
lhe pode ser fatal.
Ao meio de manobras e volteios, o chefe do Governo Provisório fazia de tudo
para que esse provisório durasse para sempre. O recuo, algumas vezes
necessário, não era mais que uma tática para contornar as dificuldades do
momento, permitindo um novo avanço, melhor estruturado.
Foi assim que, de um simples líder regional, em 1926, conseguiu destacar-se
no cenário político nacional, ocupando o proscênio por quase três décadas, até
que, por decisão própria, e de forma trágica, renunciou à própria vida, pondo fim
ao espetáculo do qual sempre foi o protagonista.
Parecia um ser robotizado, destituído de sentimentos. Com certeza os tinha,
mas suas mágoas e ansiedades, guardava-as para si, revelando apenas seu
lado racional e calculista.
No meio de tantos amigos e servidores, alguns não muito fiéis, era apenas
um solitário, incapaz de confiar a alguém o que lhe ia na alma. O certo é que,
durante todo o tempo em que se destacou na política, sua história se confunde
indelevelmente com a História do Brasil.
Querem Constituinte?
Toma Constituinte!
Assumindo o poder em 3 de novembro de 1930, exatamente um mês após o
início da Revolução, Getúlio criou uma estrutura permanente para seu Governo
Provisório.
Em 24 de fevereiro de 1932, objetivando pôr fim a uma série de
manifestações pró-constituinte, acedeu em editar um decreto, estabelecendo o
Código Eleitoral, bem avançado para a época, e criando uma Junta Eleitoral que
cuidaria dos procedimentos para uma eleição cuja data não fora determinada.
- 085 -
Osvaldo Aranha, visitando São Paulo, na tentativa de solucionar o difícil
problema da interventoria no Estado, mandou um curioso bilhete para Getúlio
Vargas: "Acautela-te, porque há mouros na costa!"
E continua, narrando-lhe o clima de tensão que se escondia por trás de uma
incômoda calmaria, como acontece nos momentos que antecedem ao estouro
de uma boiada, episódio tão bem narrado em Os Sertões de Euclides da Cunha.
Em seu bilhete, Osvaldo Aranha ressalta a significativa paralisação das
atividades econômicas, fazendo notar que o empresário é dotado de um sexto
sentido, Seu objetivo é o lucro e, sempre que se retrai, fugindo do mercado e
deixando de ganhar, é porque teme pelo pior.
Em 14 de maio de 1932, dentro desse ambiente conturbado, Getúlio decide
assinar mais um decreto, desta vez, marcando data definitiva para a eleição da
Assembleia Nacional Constituinte: 3 de maio de 1933.
Um pouco tardia, é verdade, essa medida não evitou a deflagração da
Revolução Constitucionalista, em 9 de julho de 1932, mas tirou-lhe o efeito,
rachando a Frente Única formada pelos governos de São Paulo, Minas Gerais e
Rio Grande do Sul.
Nestes dois últimos Estados, o governador Olegário Maciel e o interventor
Flores da Cunha, respectivamente, mudaram de posição, assumindo uma
atitude anti-revolucionária, que facilitou às forças legalistas o rápido domínio da
situação.
Os representantes classistas
O pleito foi realizado na data prevista, elegendo-se 203 deputados
constituintes, que representavam, proporcionalmente as populações dos vários
Estados brasileiros.
Não deixou o governo de tomar uma série de providências para garantir-lhe
a presença em plenário, evitando surpresas. Uma delas foi encaminhar um
anteprojeto de Constituição como base para as discussões, sobre o qual seriam
feitas as emendas julgadas necessárias.
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Foi instituída, também, uma representação classista, com 50 deputados,
eleitos pelos sindicatos ou associações profissionais, classificados em quatro
categorias: empregadores, empregados, profissionais liberais e funcionários
públicos. O sindicalismo, atrelado ao governo central, garantia uma segurança a
mais no controle dos parlamentares.
Ao todo, pois, eram 203 deputados constituintes, que tomaram posse no ato
de instalação da Assembleia, no Palácio Tiradentes, em 15 de novembro de
1933.
Pela primeira vez na História do Brasil, a mulher podia votar e ser votada e, entre
os Constituintes, elegeu-se Carlota Pereira de Queirós (São Paulo, 13 de fevereiro
de 1892 — São Paulo, 14 de abril de 1982) médica, escritora, pedagoga e política
brasileira. Ela participou dos trabalhos na Assembleia Nacional Constituinte,
entre 1934 e 1935
Outro detalhe curioso é que, dentro das normas estabelecidas, os ministros
do Governo Provisório também podiam comparecer à Assembleia Constituinte,
tomando parte das discussões, embora sem direito a voto. Um desses
frequentadores habituais era o ministro do Trabalho, Agamenon Magalhães.
Mas quem se destacou, mesmo, foi o ministro Osvaldo Aranha, que, embora
não sendo constituinte, tornou-se o líder da maioria, orientando a discussão e
votação das emendas, fato que originou fortes protestos da oposição. Como
lugar-tenente de Getúlio, Aranha era a presença ostensiva do executivo nos
trabalhos do legislativo, sem voto, mas com voz ativa e poder decisório através
da bancada que comandava.
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De volta ao passado
Todas as precauções não foram suficientes para evitar o revés. Ainda que
trazendo algumas inovações, a quantidade de emendas feitas ao documento
original era tão grande que acabou por adulterar sua forma e conteúdo, limitando,
e muito, a ação do executivo.
Uma das inovações foi a extinção do cargo de vice-presidente da República
que, no passado, tantos males trouxe à governabilidade. Na linha de sucessão
ficavam, pela ordem, os presidentes da Câmara Federal, do Senado e do
Supremo Tribunal Federal (Corte Suprema).
O Senado foi reduzido a dois representantes por Estado, não podendo
interferir na discussão e votação da lei orçamentária. O Supremo Tribunal
Federal teve seu corpo reduzido de 13 para 11 Ministros. Criou-se a Justiça do
Trabalho e a Justiça Eleitoral. O habeas-corpus ficou restrito à garantia da
pessoa e nada mais. Anteriormente usava-se esse instrumento para garantir
cargos, bens e tudo mais que dizia respeito ao cidadão. Para cobrir a lacuna,
instituiu-se agora o mandado de segurança, que até então inexistia nas leis
brasileiras.
Por fim, lamentavelmente, as disposições transitórias estabeleciam que a
redação da Carta Magna seria feita pelas regras ortográficas de 1891, que
voltaria a ser oficial, revogando-se o acordo ortográfico de 1931, de tão curta
duração.
O escritor Humberto de Campos, um dos imortais que assinaram o Acordo
Ortográfico de 1931, morreu logo em seguida à promulgação da nova Carta mas
deixou consignado que toda sua obra deveria continuar sendo publicada dentro
das regras ortográficas deste acordo.
Concluídos todos os trabalhos de redação, a nova Constituição foi votada em
30 de junho de 1934 e promulgada em 16 de julho. No dia seguinte, procedeu-
se à eleição do presidente da República, excepcionalmente, por via indireta, tal
como acontecera com a primeira eleição presidencial, em 1891, quando o
Congresso Constituinte elegera Deodoro e Floriano.
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A eleição do Presidente
Como se sabe, por acordo com a Junta Militar que assumiu o governo com a
deposição de Washington Luís, Getúlio Vargas só pôde tomar posse depois de
aceitar a condição que lhe foi imposta, de se tornar apenas o chefe do Governo
Provisório.
Agora, promulgada a Constituição, era necessário confirmá-lo como
presidente da República. Tratava-se, evidentemente de um jogo de cartas
marcadas, não havendo qualquer possibilidade de substituí-lo por outro nome,
sob o risco de surgir nova crise institucional com o inevitável golpe de estado.
Criou-se, entretanto, todo um clima formal para dar às eleições um caráter de
plena legalidade, abrindo-se inscrição para os postulantes à candidatura.
Surgiram vários nomes, destacando-se o do velho caudilho Borges de
Medeiros, do almirante Protógenes Guimarães, ministro da Marinha, e até do
ministro da Guerra, general Góis Monteiro.
Claro está que Protógenes e Góis somente eram candidatos por
consentimento, senão por determinação, de seu chefe supremo. Como os
demais, estavam lá para concorrer, não para ganhar.
Ao final da apuração, registraram-se 175 votos para Getúlio Vargas, 59 para
Borges de Medeiros, 4 para Góis Monteiro, 2 para Protógenes Guimarães e 8
votos isolados, provavelmente de candidatos que votaram neles mesmos.
Três dias depois, em 20 de julho de 1934, Getúlio Dorneles Vargas era
empossado presidente da República, para um mandato de quatro anos.
Ninguém, em sã consciência, apostaria um réis na durabilidade da nova
Constituição e, menos ainda, acreditaria que Getúlio, findo o mandato, passaria
a faixa presidencial ao seu sucessor. Era esperar para ver.
Dentro do calendário estabelecido, restava realizarem-se eleições para a
formação das assembleias constituintes estaduais, bem como para a nova
Câmara Federal e Senado. Os governadores de Estado seriam eleitos, em
tempo oportuno e por via indireta, pelas próprias Assembleias Legislativas.
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A sucessão ao governo
de Minas Gerais
Mais fácil é mudar as leis do que os costumes. Bem cedo se percebeu que o
simples processo constitucional para a eleição dos governadores não era
suficiente para conter as ambições e acabar com o velho hábito de considerar a
função pública, não como um bem comum a ser zelado, mas como um direito
pessoal adquirido.
Um exemplo do que estaria para acontecer foi o caso de Minas Gerais,
ocorrido quando os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte ainda
estavam em andamento.
Em agosto de 1933, morreu o presidente do Estado de Minas, Olegário Maciel
(o único que conservou o título de governador), abrindo-se as discussões para a
nomeação de um interventor. Vários nomes circulavam, com credenciais as mais
diversas mas, dentre eles, se destacavam dois jovens políticos, com bons
serviços prestados à revolução e ambos bem apadrinhados.
Um deles era Gustavo Capanema que, na qualidade de secretário do Interior,
assumiu o governo provisoriamente, alimentando fortes esperanças de ser
efetivado.
Já no início do Governo Provisório, em 1930, vamos encontrá-lo na
companhia de seu conterrâneo Francisco Campos, fundando a Legião Mineira,
uma associação paramilitar, dentre outras tantas que surgiram do Brasil daquela
época, para dar sustentação ao novo regime. Eram os camisas-cáqui a que nos
referimos em outro capítulo.
Agora, esperava que sua fidelidade ao governo revolucionário fosse
compensada com a eleição para governador e, para isso, contava com o apoio
do interventor gaúcho, Flores da Cunha.
É bom lembrar que, com a volta de um sistema amparado pela constituição,
deixariam de existir os interventores e os Estados voltariam a ser administrados
por governadores eleitos.
- 090 -
O outro nome cotado em Minas era o de Virgílio de Melo Franco, filho do
ministro das Relações Exteriores, Afrânio de Melo Franco.
Nos preparativos para a revolução, em 1930, Virgílio deslocou-se para o Rio
Grande do Sul, onde permaneceu em atividade até a eclosão do movimento,
quando se engajou às tropas que subiriam em direção a São Paulo e Rio de
Janeiro, para a deposição de Washington Luís.
Além do prestígio do pai, contava também com o apoio do ministro da
Fazenda, Osvaldo Aranha, homem forte do governo e, neste momento, em
velada oposição ao interventor gaúcho, Flores da Cunha, que apoiava a outra
candidatura Gustavo Capanema.
Solução à moda
da casa
Como se vê, tratava-se de um problema de difícil solução, a desafiar a
sagacidade do chefe do Governo. Getúlio nutria preferências pelo segundo
nome, pois além de seus patronos serem ministros de Estado, tinha uma
amizade pessoal muito forte tanto com a família Melo Franco como com a família
Aranha. Chegou até a comunicar-lhes sua tendência favorável à nomeação de
Virgílio, pedindo, entretanto, segredo, até que o nome fosse publicado no Diário
Oficial.
Mais fácil é guardar um tesouro do que guardar um segredo. Em um ou dois
dias, o nome escolhido já tinha sido divulgado, talvez na intenção de criar uma
situação irreversível que favorecesse o candidato.
O efeito foi oposto ao pretendido. Como secretário do governador falecido,
Capanema já vinha governando o Estado, interinamente, e não se conformou,
viajando para o Rio de Janeiro, onde veio a se encontrar com Flores da Cunha,
recém-chegado de Porto Alegre, ambos com a mesma finalidade de barrar a
nomeação de Virgílio.
- 091 -
As partes em conflito não contavam com o jogo duplo, tão comum na
estratégia de Getúlio e usado durante toda sua trajetória política. Negando que
a nomeação estivesse decidida, alegou Getúlio que aguardava uma lista múltipla
a ser entregue por Antônio Carlos, ex-governador mineiro e presidente da
Assembleia Nacional Constituinte ora em curso.
A esta altura, interessava a Getúlio muito mais nomear um político capaz,
mas desconhecido, o suficiente para que pudesse ser assimilado pelos dois
lados em litígio. De outro lado, precisava trazer garantias de fidelidade para não
prejudicar, com sua eventual independência, a interferência do poder federal
sobre o Estado.
A nomeação saiu, finalmente, publicada no Diário Oficial, e caiu como uma
bomba sobre a cabeça, tanto dos pretendentes e seus padrinhos, como da
comunidade política mineira.
O novo Interventor em Minas Gerais passava a ser o deputado Benedito
Valadares Ribeiro, um político de segunda linha dentro do Estado e quase que
completamente desconhecido no restante do país. No momento certo, já
promulgada a Constituição do Estado, Valadares se elege Governador e passa
a ser um valioso auxiliar do presidente da República.
Para Getúlio, a solução encontrada teve seus custos. Afrânio de Melo Franco,
pai de Virgílio, entregou o ministério de Relações Exteriores, afastando-se do
palácio e da vida pública.
Também Osvaldo Aranha demitiu-se do Ministério da Fazenda, deixando por
consequência, de articular os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte,
onde era o líder da maioria.
Gustavo Capanema conformou-se com a situação, mas seu padrinho, Flores
da Cunha, esperava uma oportunidade para a revanche, o que veio a acontecer
algum tempo depois, quando, nas eleições estaduais, surgiu o caso do Estado
do Rio de Janeiro.
- 092 -
Benedito Valadares, governador de Minas Gerais
O caso do Estado do
Rio de Janeiro
O Interventor em exercício no Estado do Rio era Ary Parreras, expoente do
tenentismo e de família bem situada no Rio de Janeiro. Fiel à revolução de 1930,
aceitara a Interventoria provisoriamente, mas, ao contrário dos demais
interventores, não tinha qualquer interesse em permanecer no cargo, após a
promulgação da Constituinte.
Sua ambição era retornar à bem-sucedida carreira na Marinha, tanto mais
que, durante a permanência no Governo, desiludiu-se quanto à possibilidade de
renovação dos costumes, objetivo principal da revolução. O caminho estava
aberto para duas correntes predominantes na política fluminense.
- 093 -
O ex-governador do Rio de Janeiro e ex-presidente da República, Nilo
Peçanha, falecera em 1924, mas deixara atrás de si uma poderosa força política,
conhecida como nilismo representada por nomes de peso, como Raul
Fernandes, relator da Constituinte e José Eduardo de Macedo Soares, diretor do
Diário Carioca. Este grupo, denominado de coligados, lançou a candidatura do
almirante Protógenes Pereira Guimarães, ministro da Marinha do governo
Vargas.
O outro ajuntamento, que lhe fazia oposição, era liderado pelo general
Cristóvão Barcelos, neste momento respondendo por uma posição de comando
em Minas Gerais.
Seguindo-lhe os passos, está a família Prado Kelly, e, dentro dela, o deputado
José Eduardo, que era o representante do movimento tenentista junto à
Assembleia Nacional Constituinte.
Esta corrente se autodenominava progressista. O candidato ao governo era
o próprio general, que passou a receber o apoio ostensivo do Interventor no Rio
Grande do Sul, Flores da Cunha.
Como se isso não bastasse, o equilíbrio de forças entre coligados e
progressistas era quase perfeito, havendo apenas um deputado a mais ao lado
dos coligados. Isso acirrou a pressão das armas, com grupos de jagunços se
confrontando nas ruas, resultando em tentativa frustrada de assassinato do
deputado Arnaldo Tavares (coligado).
Foi nesse ambiente conturbado que se iniciaram os trabalhos da Assembleia
fluminense que iria eleger o governador para o Estado do Rio.
A votação ainda nem havia se iniciado quando um deputado coligado foi
atingido por um tiro certeiro e conduzido ao Hospital. Com isso, os coligados
perderam sua vantagem de um voto em relação aos progressistas. Não obstante,
realizada a votação, venceu o almirante Protógenes (coligado), com certeza,
pela deserção de algum deputado progressista, que lhe emprestou,
afortunadamente, o voto vencedor.
- 094 -
A partir daí, nos dias que se seguiram, o Estado do Rio entra em total
anarquia. O interventor gaúcho manda um telegrama ao general Barcelos
(progressista), solidarizando-se com ele. O interventor mineiro, Benedito
Valadares faz uso de sua amizade com o general Barcelos tentando uma
conciliação que se afigurava impossível.
As notícias davam conta de que verdadeiros arsenais se achavam
espalhados por todo Estado do Rio, suficientes para a eclosão de uma guerra
civil. Falava-se em se realizar novo pleito com um nome de consenso, o do
deputado César Marcondes Tinoco.
Prevaleceu o bom senso. Os ânimos se acalmaram, tanto quanto possível e,
não sem ressentimentos, os progressistas acabaram por aceitar um acordo, com
o que foi possível a posse do governador eleito, Almirante Protógenes
Guimarães (coligado).
As eleições nos
demais Estados
A crítica situação política no Estado do Rio dá bem ideia das tensões havidas
no restante do país, onde os Interventores, quase todos tenentes, procuravam
se manter no poder, enquanto que as oligarquias, vindas da Primeira República,
tentavam reassumir o controle em seus Estados.
A situação só não foi pior porque, felizmente, havia consenso nos três
Estados mais importantes da Federação, onde os interventores foram eleitos
governadores, permanecendo no poder e garantindo a continuidade do governo.
Em São Paulo, foi confirmado o nome de Armando de Sales Oliveira, cuja
presença na Interventoria garantiu a pacificação do Estado, após a Revolução
Constitucionalista.
No Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, embora ensaiando rebeldia com
relação ao governo central, ainda era o elemento de ligação entre blancos e
colorados e, na falta de outro, constituía-se numa garantia de estabilidade.
- 095 -
Por fim, em Minas Gerais, permanecia o escolhido de Getúlio, Benedito
Valadares, que, a esta altura, já se firmara no conceito de todos pela sua
disposição e habilidade em favor da conciliação.
Depois do Rio de Janeiro, os Estados que deram mais trabalho foram Santa
Catarina, Espírito Santo, Ceará e Sergipe. Nada que não pudesse ser
controlado, com a intervenção eficaz do presidente da República.
Com a Constituição Federal e as Constituições Estaduais em plena vigência,
com o presidente da República e os governadores de Estado empossados,
parecia que tudo estava nos eixos e o país poderia buscar o caminho da
normalidade, conquistando sua maioridade política e seu lugar de respeito entre
as nações democráticas do mundo.
Tudo iria bem, muito bem, mesmo, não fosse aquela sinistra e fatídica
madrugada de 27 de novembro de 1935, que iria mudar os destinos da nação,
colocando sobre a cabeça de todos os brasileiros, a sombra ameaçadora do
comunismo, cujo episódio foi pretexto mais que suficiente para garantir a
presença do poder político-militar no Brasil por meio século.