15
C A R T A A B E R T A QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO MUNICIPAL Este documento é fruto de discussões virtuais realizadas por um grupo de diretores (as) e professores (as) da RME/BH e apresenta reflexões e proposições a serem encaminhadas à Câmara Municipal de Belo Horizonte, Secretaria Municipal de Educação (SMED) e Conselho Municipal de Educação (CME), neste contexto de pandemia, isolamento social e fechamento das escolas. As reflexões e proposições foram organizadas em quatro pilares: (I) autonomia das escolas (II) formação dos (as) trabalhadores (as) (III) atuação integrada SMED/Escolas/Comunidade, (IV) defesa do emprego.

CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

C A R T A A B E R T A QUATRO PILARES PARA A

EDUCAÇÃO MUNICIPAL

Este documento é fruto de discussões virtuais realizadas por um grupo de diretores (as) e professores (as) da RME/BH e apresenta reflexões e proposições a serem encaminhadas à Câmara Municipal de Belo Horizonte, Secretaria Municipal de Educação (SMED) e Conselho Municipal de Educação (CME), neste contexto de pandemia, isolamento social e fechamento das escolas. As reflexões e proposições foram organizadas em quatro pilares: (I) autonomia das escolas (II) formação dos (as) trabalhadores (as) (III) atuação integrada SMED/Escolas/Comunidade, (IV) defesa do emprego.

Page 2: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

AUTONOMIA DAS ESCOLASP I L A R I

A autonomia da escola foi um processo de conquista dos (as) trabalhadores (as) da educação e está contemplada em vários artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O artigo 3º que trata dos princípios do ensino brasileiro, em seu inciso III consagra autonomia escolar como a concretude e a existência do pluralismo de ideias e de diferentes concepções pedagógicas. Assim, o coletivo de trabalhadores (as) da escola, em parceria com a comunidade escolar, tem autonomia para defi nir sobre os processos didático-pedagógicos a serem construídos nas relações de ensino-aprendizagem, tendo em vista a realidade social e econômica vivenciada pelos seus estudantes e comunidade escolar.

No artigo 12, a LDB lista as atribuições das unidades de ensino e destaca nos seus incisos I e IV, a elaboração e execução da proposta pedagógica; e estabelece condições para que o plano de trabalho de cada docente seja cumprido. Assim, cada escola deve elaborar, coletivamente, o seu projeto político pedagógico e cada professor (a) tem o direito de elaborar o seu plano de trabalho.

Page 3: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

Importante que seja garantido também, nesse contexto, a gestão democrática no ensino público, conforme indica o artigo 14 da LDB, possibilitando a participação dos (as) profissionais da educação e da comunidade escolar no estabelecimento dos processos decisórios que ocorrem na escola e para a escola. E da mesma forma, observar a autonomia administrativa e da gestão financeira das escolas, conforme determina o artigo 15:

“Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.”

As autonomias administrativas e financeiras se fazem fundamental, uma vez que, garantem às instituições de ensino da Rede Municipal, condições materiais para que seus projetos sejam realizados.

É claro que não se trata de uma autonomia absoluta, pois as escolas devem respeitar as normas comuns do sistema de ensino ao qual pertencem. Os (as) professores (as), por sua vez, ao elaborarem os seus planos de trabalho devem respeitar as definições políticas e pedagógicas que constam no projeto da escola. Cabe, ainda, aos sistemas de ensino, orientar as escolas que estão sob sua gestão.

A Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte (RME/BH) tem construído, desde o final da década de 80, seus projetos político-pedagógicos, buscando o apoio financeiro, administrativo e pedagógico do poder público para aquisição de materiais didáticos para o processo de formação dos (as) docentes (as) com o objetivo de qualificar cada vez mais a prática pedagógica vivenciada em sala de aula.

Contudo, o estabelecimento da Lei não é o suficiente para a garantia de uma organização escolar e pedagógica efetivamente autônoma. Muitos são os elementos que possibilitam a construção da autonomia e esses elementos precisam ser garantidos para que as instituições possam de fato, efetivar seus projetos.

AUTONOMIA DAS ESCOLASP I L A R I

Page 4: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

Em Belo Horizonte, a secretária municipal de educação, professora ngela Dalben, tem feito uso constante do discurso da defesa da autonomia escolar. Entretanto, o que vem ocorrendo na relação entre SMED e as escolas não condiz com essa defesa, muito pelo contrário, a autonomia das escolas vem sofrendo retrocessos. Ressaltamos medidas adotadas por essa secretaria, que vão em sentido contrário daquilo que se espera por autonomia. Podemos citar, por exemplo, a finalização de projetos pedagógicos que eram significativos para as comunidades escolares e apresentavam resultados efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas que restringem as ações dos gestores escolares como a orientação de suspensão das matrículas da educação de jovens e adultos, ocorridas no ano de 2019.

Em nome da “autonomia”, as escolas vêm convivendo com ausência de orientações pedagógicas para a educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos. Ao mesmo tempo, sofrem com regras administrativas e financeiras excessivas, com cortes sistemáticos de recursos financeiros e humanos.

Para desenvolver projetos pedagógicos é necessário o aporte de recursos financeiros e administrativos para as escolas. Entretanto, os recursos que eram destinados diretamente ao Caixa Escolar, para serem investidos de acordo com projeto de cada unidade escolar, sofreram um contingenciamento, ocasionando, com isto, o enfraquecimento da autonomia escolar. Ademais, o número de trabalhadores (as) contratados (as) pelo Caixa Escolar sofreu uma redução drástica com a mudança para a empresa pública Minas Gerais Administração e Serviços S.A (MGS). Destaca-se, também, a política de centralização das compras e contratos por parte da SMED, como no caso da reprografia, bem como da compra de materiais pedagógicos e bens duráveis. Cabe reforçar que tais ações impedem o estabelecimento de práticas pedagógicas autônomas nas escolas da cidade.

Num primeiro momento, no contexto de pandemia, a SMED repassou para as instituições escolares a responsabilidade de executar ações de acolhimento afetivo e de apoio à vida de seus estudantes e familiares nas comunidades.

Acreditamos que essa é uma ação fundamental, a ser realizada pelas escolas. No entanto, discordamos que, em nome da “autonomia escolar”, a

AUTONOMIA DAS ESCOLASP I L A R I

Page 5: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

responsabilidade pela execução do trabalho seja colocada, exclusivamente, nos ombros das escolas. O protagonismo não pode ser apenas das escolas.

• Quais os canais de escuta dos (as) estudantes e de suas famílias foram disponibilizados pela SMED para os gestores (as) escolares e professores (as)?

• Que orientações sobre acolhimento emocional dos professores (as) a SMED repassou para os gestores escolares?

• Que escuta a Secretaria fez das angústias e inseguranças dos gestores (as) escolares? Que apoio financeiro e material foi fornecido às escolas?

Nada disso foi feito, a secretaria ficou inerte.

Em um segundo momento, por meio de uma live realizada no dia 10/06/20, a SMED convocou os professores (as) da educação infantil e do ensino fundamental para o teletrabalho e, mais uma vez, coloca para as escolas, em nome da autonomia escolar, a responsabilidade de criar e viabilizar projetos com a comunidade, retirando, mais uma vez, de sua alçada, a responsabilidade e protagonismo.

A SMED já poderia, há mais tempo, ter apresentado propostas concretas, respondendo às dúvidas dos (as) educadores (as):

• As escolas e creches conveniadas possuem capacidade financeira, administrativa e logística para realizar o diagnóstico da comunidade escolar, proposto pela SMED?

• Quais ferramentas tecnológicas serão utilizadas para que o mesmo possa ser realizado?

• Como chegar às famílias que não tem acesso à internet?

AUTONOMIA DAS ESCOLASP I L A R I

Page 6: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

• Realizado o diagnóstico, a SMED oferecerá às famílias e professores (as), as ferramentas tecnológicas que eles não possuem?

• Quem fará a avaliação da importância, ou não, do ensino remoto para a comunidade?

• Os (as) professores (as) e demais profissionais estão preparados para o ensino remoto?

• Para que o projeto com a temática da pandemia seja desenvolvido por todas as instituições escolares, e com todos os estudantes, o que deve ser planejado com aqueles que não têm acesso às tecnologias?

• Será entregue algum material impresso (apostilas, livro didático e/ou outros) com atividades a serem realizadas por esses estudantes? Quem vai elaborar, imprimir e distribuir?

• Como desenvolver esse trabalho com as crianças da educação infantil?

• Como desenvolver esse trabalho com os (as) educandos (as) da EJA, considerando as suas especificidades e as dificuldades que apresentam com as diferentes tecnologias?

• Como desenvolver esse trabalho com os (as) estudantes com deficiência, considerando a autonomia dos (as) mesmos (as) e a diversidade de deficiências que apresentam?

É urgente que a SMED reveja seu posicionamento, e garanta, de fato, condições para que a escola exerça sua autonomia. Para que isto aconteça, é necessário a existência de um quadro completo de professores (as), recursos financeiros suficientes, prestação adequada dos serviços de manutenção, mecanografia e vigilância.

AUTONOMIA DAS ESCOLASP I L A R I

Page 7: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

FORMAÇÃO DE GESTORESE DOCENTE

P I L A R I I

O primeiro caso do novo Coronavirus foi registrado no Brasil no dia 25 de fevereiro de 2020, no momento em que o vírus, detectado na China, em dezembro/2019, se espalhava pelo mundo, deixando mais de 80 mil infectados, em 43 países, e 2.600 mortos em 10 deles. Naquele momento, a Organização Mundial da Saúde passou a alertar para que o mundo se preparasse para uma possível pandemia. Em vários países, aulas e eventos públicos foram cancelados, mas, no Brasil, o Governo Federal limitou-se a comentar que a Covid 19 era uma “gripezinha” e, desde o início, sabotou o combate à pandemia.

Ao discutir sobre o impacto da Covid 19 na educação global, o site https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/cobertura-coronavirus-educacao/ apresentou números alarmantes para o dia 25/03/2020: 1.524.648.768

Page 8: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

estudantes afetados, o que equivale a 87,15% dos (as) alunos (as) matriculados.

Em diversos países, o fechamento das escolas não significou a paralisação das atividades, muitos fizeram a opção pelo ensino remoto. Na China, por exemplo, desde os primeiros casos do COVID-19, ocorreu uma verdadeira revolução na educação. Com milhares de escolas e universidades fechadas, ainda em janeiro os chineses adotaram um modelo de ensino à distância em larga escala, alcançando 240 milhões de crianças e jovens. Em fevereiro, o governo da China anunciou a criação de uma plataforma virtual de educação que oferece conteúdos, filmes e jogos, além de informação de como prevenir o contágio pelo Coronavirus.

No Brasil, a maioria das escolas públicas e privadas fecharam as portas a partir de meados de março, e isso fez com que gestores (as), educadores (as) e pais passassem a refletir sobre um novo modelo de educação em períodos de graves crises. A pandemia escancarou ainda mais a profunda desigualdade educacional que existe no país, fruto da desigualdade social, e colocou em evidência a seguinte questão: o sistema público de ensino está preparado para garantir educação de qualidade para todos, em tempos de crise como a que estamos vivenciando?

Somente no dia 1º de junho, o Ministério da Educação homologou as orientações e diretrizes para a reorganização do calendário escolar de 2020, definindo que o ano letivo pode ter menos de 200 dias letivos, desde que mantenha a obrigatoriedade de 800 horas-aula/ano para as escolas de todo o país, ainda que isso já fosse previsto pela LDB. A reorganização do calendário é de responsabilidade dos sistemas de ensino. Para repor a carga horária ao final do período de emergência, a diretriz indica a utilização de períodos não previstos, como os recessos escolares do meio do ano, sábados e a reprogramação de períodos de férias. Apresentou, ainda, como alternativa, a ampliação da jornada escolar diária por meio de acréscimos de horas em um turno ou a utilização do contra-turno para atividades escolares. A diretriz do MEC ainda autorizou os sistemas de ensino a computar atividades não presenciais, que podem ser oferecidas por meio virtual ou não.

Bem antes das diretrizes do MEC serem homologadas, quase todas as instituições privadas já tinham dado início às aulas, por meio de plataformas

FORMAÇÃO DE GESTORES E DOCENTEP I L A R I I

Page 9: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

de videoconferência e ambientes virtuais de aprendizagem.

Na rede pública, estados e municípios passaram a orientar, de forma precária, seus gestores (as) educacionais e professores (as), para atuarem em ações diversificadas de combate ao Coronavírus e na busca de alternativas pedagógicas para as escolas. No entanto, sabemos que o Brasil não está preparado para a implantação de um modelo de ensino virtual nas escolas públicas, e poucas escolas conseguiram aderir a essa modalidade de ensino e, as que fizeram, estão sofrendo duras críticas em função da exclusão digital dos (as) estudantes mais pobres e, consequentemente, pela ampliação da desigualdade educacional no país.

A Educação à distância, ou qualquer outro modelo de educação remota, envolve uma metodologia e planejamento específicos, diferentes das didáticas construídas no ambiente da escola presencial. Por essa característica, muitas escolas e profissionais da educação não estão preparados para desenvolverem de forma precipitada, e em tão pouco tempo, uma proposta pedagógica que atenda às necessidades dos (as) estudantes. Sendo, por isso, questionadas as validades das iniciativas, inclusive de escolas consideradas de alto padrão.

Nesse sentido, também podemos destacar a baixa qualidade de alguns materiais pedagógicos, contendo até mesmo erros educativos graves. Materiais pedagógicos que, em muitos casos, foram desenvolvidos por empresas e não por docentes.

Em Belo Horizonte, após o fechamento das escolas municipais e das creches conveniadas, gestores (as), professores (as) e demais trabalhadores (as) da educação relatavam suas angústias com a falta de orientações da Secretaria Municipal de Educação. Muitas dessas instituições, pelo compromisso que têm com as crianças e suas famílias, e em função do imobilismo da SMED, passaram a criar estratégias para mostrar à comunidade escolar que estavam solidárias com as famílias e os (as) estudantes nesse momento tão difícil. Acompanhando esse movimento, a SMED se manifestou para que as escolas promovessem ações no sentido do cuidado com a vida da comunidade, no entanto, não se pronunciou quanto a que tipo de apoio deveria ser ofertado às famílias.

FORMAÇÃO DE GESTORES E DOCENTEP I L A R I I

Page 10: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

Nesses quase três meses com as escolas fechadas, a SMED perdeu a oportunidade de organizar uma grande ação de formação para gestores (as) e educadores (as), tanto da rede própria quanto da rede conveniada. Essa formação deveria ter como foco o preparo para o trabalho com as necessidades sociais e psicológicas dos (das) estudantes e seus familiares, todos afetados pelo isolamento social provocado pela pandemia. Poderia ter apresentado também uma proposta de formação para que professores (as) e gestores (as) aprendessem a lidar com as novas tecnologias para um possível retorno de trabalho híbrido, envolvendo momentos presenciais, e à distância, após o fim do isolamento social, pois, com certeza, o retorno não será para todos(as) ao mesmo tempo.

Em live realizada no dia 10/06, a secretária municipal de educação, ngela Dalben, solicitou aos (ás) professores (as) que encaminhassem temáticas para que o Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (CAPE/SMED) estruture futuras ações de formação. Ora, com todo esse tempo transcorrido, a SMED já deveria ter apresentado essas ações de formação para o Sistema Municipal de Educação. Talvez ela tenha tido dificuldade em tomar essas decisões, pelo fato de ter esvaziado as equipes pedagógicas da SMED, inclusive as do próprio CAPE.

Faz-se urgente que a SMED elabore uma proposta de formação para todos os (as) profissionais da rede, tendo em vista que eles necessitam contar com mais suporte e treinamento no uso de ferramentas de aprendizado remoto. Essas ferramentas serão necessárias, não só agora, como também no momento do retorno das aulas presencias, vez que poderá ser adotado um modelo híbrido, com aulas presenciais e remotas ao mesmo tempo. Além disso, nada garante que não haverá necessidade de fecharmos as escolas novamente, em função da pandemia.

FORMAÇÃO DE GESTORES E DOCENTEP I L A R I I

Page 11: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

INTEGRAÇÃO SMED/ESCOLA E COMUNIDADE

P I L A R I I I

A parceria da escola com a comunidade escolar é essencial para a garantia da formação integral do (a) educando (a), e possibilita tanto uma melhoria do processo ensino-aprendizagem quanto à melhoria na relação entre os pais e a escola. A escola ocupa um lugar especial na vida das comunidades, pois, para além de ser um espaço de aprendizagens, ela é um espaço de socialização, de proteção e vivências culturais, não só dos (as) estudantes, mas de todos aqueles que estão à sua volta.

Page 12: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

Portanto, não é de se estranhar que o fechamento das escolas tenha acarretado uma série de efeitos negativos para a população, para além da interrupção do processo de ensino aprendizagem. Vamos citar três, que na nossa perspectiva, são mais relevantes:

• um dos efeitos mais negativos, principalmente para a população mais carente, diz respeito à ausência da merenda escolar, oferecida a todas as crianças e jovens, como um elemento importante para compor a alimentação do seu dia a dia. Nesse sentido, louvamos a iniciativa da PBH de ofertar cestas básicas para os familiares dos (as) alunos (as) matriculados na RME, bem como dos alimentos que estavam nas escolas para as comunidades.

• Outro aspecto negativo é a ausência da escola, nesse período de isolamento social, como espaço de cuidado e defesa das crianças e adolescentes, muitas delas expostas à violência doméstica e sexual.

• O terceiro diz respeito ao fato de que muitas famílias têm sido chamadas para acompanhar os (as) filhos(as) nas atividades escolares, em função do ensino remoto, sendo que a maioria não está preparada para assumir esta tarefa.

Se o fechamento das escolas tem causado perdas para toda a sociedade é preciso destacar que, nesse momento, são necessários cuidados especiais com a saúde mental dos (as) trabalhadores (as) da educação. Além da ansiedade, angústia e estresse gerados pela pandemia e pelo isolamento social a que todos foram submetidos, os (as) professores(as) estão sendo obrigados a adequar, da noite para o dia, suas práticas pedagógicas para o teletrabalho e para a ensino remoto, com o objetivo de manter os conteúdos disciplinares ou para trabalharem outras temáticas com os (as) estudantes e seus familiares.

Os (as) gestores (as) e professores (as) estão sendo convocados (as) a criarem uma nova didática, novas formas de comunicação com os pais, crianças e adolescentes. Contudo, se sentem abandonados, sem o apoio da SMED.

INTEGRAÇÃO SMED/ESCOLA E COMUNIDADEP I L A R I I I

Page 13: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

Cabe ressaltar também, que nesse momento, houve perda financeira para muitos (as) professores (as) que não estão recebendo o vale-refeição ou não conseguiram extensão de jornada, prática comum entre os docentes da RME. A perda financeira resulta em uma preocupação legítima da categoria e afeta emocionalmente a todos (as) docentes. Além disso, dificulta o acesso às tecnologias e ao uso da internet, já que é um serviço de alto custo no país.

Nesse contexto, a SMED deve desempenhar um papel importante no suporte emocional aos (às) professores (as), gestores (as) escolares e demais trabalhadores (as) das escolas, garantindo formação para que todos (as) se sintam aptos a trabalharem nesse novo contexto. É importante perguntarmos se a SMED compreende os desafios que os (as) profissionais da educação, os (as) alunos e seus familiares estão enfrentando.

• Quais estratégias serão adotadas junto às escolas para o enfrentamento desses problemas?

• A SMED tem estabelecido parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) para estabelecer diretrizes de recuperação psicológica em situações de estresse?

• Quais canais de diálogo, acolhimento, escuta ativa e troca de experiências estão sendo criados?

Nesse momento, é importante que a SMED apoie as escolas e as comunidades escolares, que busque incentivar a articulação das escolas com as instituições da assistência social, de saúde e demais atores locais, no sentido de assistir aos alunos (as), e empoderar as famílias. Também é importante o fortalecimento das instâncias democráticas da vida escolar - grêmios, colegiados e assembleias -, bem como a criação de condições para que tenham acesso às tecnologias para o cumprimento das suas funções.

INTEGRAÇÃO SMED/ESCOLA E COMUNIDADEP I L A R I I I

Page 14: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

GARANTIA DE EMPREGOP I L A R I V

Estudos dos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) indicam que a crise do Coronavirus deixará até 12,6 milhões de desempregados, e provocará contração recorde de quase 15% na renda dos (as) trabalhadores (as), caso o governo não amplie os instrumentos de transferência de renda à população e de suporte às empresas para que mantenham os empregos.

Não sabemos quando a crise da pandemia vai acabar, pois não sabemos quando será criada uma vacina contra o Covid 19. A travessia será longa para todos os segmentos da sociedade, em especial para os (as) trabalhadores (as) da educação, último segmento que retornará ao seu funcionamento integral. Por isso, a SMED deve apresentar uma proposta concreta para resguardar os empregos dos (as) trabalhadores (as) contratados (as) pela MGS e pelos Caixas Escolares.

Page 15: CAR TA ABER TA QUATRO PILARES PARA A EDUCAÇÃO … · efetivos, como o Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) e o Programa de Ação Pedagógica (PAP). Ou ainda, medidas administrativas

Os (as) oficineiros (as) do Programa Educação Integrada (PEI) vivem momentos de incertezas e angústias, pois sabemos que a SMED determinou o cancelamento de todos os contratos de locação de imóveis para atendimento aos estudantes matriculados no PEI.

O que a SMED está pensando? Em acabar com o PEI? Em demitir todos os oficineiros? Quais são os planos posteriores e como será a reativação do PEI?

Avaliamos ser importante buscar garantir o emprego dos (as) oficineiros (as), os quais podem colaborar com os (as) professores (as) na construção de inúmeras propostas pedagógicas importantes nesse momento, e garantir que, após essa pandemia, tenhamos novamente as atividades da Escola Integrada em todas as escolas. Dispensar a mão de obra dos (as) oficineiros (as) é colocar em risco a continuidade desse importante projeto educacional na cidade.

Neste momento de incerteza e reorganização escolar é preciso que a SMED sinalize para garantia dos empregos, pagamento da integralidade dos salários e restituição do vale alimentação dos (as) trabalhadores (as) terceirizados (as). Este último, representando parte significativa da renda do (a) trabalhador (a). Por fim, é imprescindível que a SMED abra um diálogo permanente com o Sindicato dos Trabalhadores (as) em Educação, o que não tem acontecido.

Coletivo de Diretores (as) e Professores (as) da RME/BH

Gilson Reis - Vereador de Belo Horizonte

GARANTIA DE EMPREGOP I L A R I V