5
W. Júnior Alessandro Renê Souza do Espírito Santo* Cássia Monalisa dos Santos Silva* 1 – INTRODUÇÃO Atualmente, a sociedade vem apresentando cada vez mais interesse por questões ambientais e de como a preservação ou a alteração do meio ambiente pode influenciar em suas vidas. Por sua vez, assuntos ligados as questões climáticas vem ganhando também muita ênfase, principalmente por serem capazes de causar grandes prejuízos socioeconômicos. Podendo ser percebido em diferentes escalas espaciais que vão desde grande escala, a nível global, à escalas locais. Nesse contexto, essas questões se relacionam quando o clima de uma localidade pode sofrer alterações positivas ou negativas, de acordo com o tipo de atividade antrópica desenvolvida. Mudanças no clima de uma cidade, ocorrem principalmente devido aos processos de urbanização, que modificam o padrão médio do comportamento de algumas variáveis meteorológicas. Segundo Souza (2012), o crescimento da população urbana está diretamente relacionado com mudanças nos usos da terra e também com a emissão de gases do efeito estufa, fatores que apresentam influência direta na modificação do clima. O conhecimento sobre as características climáticas locais favorece a qualidade de vida da população garantindo aos diversos setores da sociedade informações que possibilitem melhores condições de bem-estar e produtividade. Uma vez que os problemas extremos relacionado as mudanças no clima, podem ser capazes de desestruturar todo um sistema organizacional sócio político. Então, adaptar-se ao clima é um desafio que cada um, assim como os tomadores de decisões políticas, devem estar aptos. * - Do Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal - RN. Email: [email protected] 23 Características Climáticas da Cidade de Natal V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

Características Climáticas da Cidade de Natalnatal.rn.gov.br/semurb/revistas/edicoes/artigos/novembro2016/6... · Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura

  • Upload
    trantu

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Características Climáticas da Cidade de Natalnatal.rn.gov.br/semurb/revistas/edicoes/artigos/novembro2016/6... · Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura

W. Júnior

Alessandro Renê Souza do Espírito Santo*

Cássia Monalisa dos Santos Silva*

1 – INTRODUÇÃO

Atualmente, a sociedade vem apresentando cada vez mais interesse por questões ambientais e de como a preservação ou a alteração do meio ambiente pode influenciar em suas vidas. Por sua vez, assuntos ligados as questões climáticas vem ganhando também muita ênfase, principalmente por serem capazes de causar grandes prejuízos socioeconômicos. Podendo ser percebido em diferentes escalas espaciais que vão desde grande escala, a nível global, à escalas locais. Nesse contexto, essas questões se relacionam quando o clima de uma localidade pode sofrer alterações positivas ou negativas, de acordo com o tipo de atividade antrópica desenvolvida.

Mudanças no clima de uma cidade, ocorrem principalmente devido aos processos de urbanização, que modificam o padrão médio do comportamento de algumas variáveis meteorológicas. Segundo Souza (2012), o crescimento da população urbana está diretamente relacionado com mudanças nos usos da terra e também com a emissão de gases do efeito estufa, fatores que apresentam influência direta na modificação do clima.

O conhecimento sobre as características climáticas locais favorece a qualidade de vida da população garantindo aos diversos setores da sociedade informações que possibilitem melhores condições de bem-estar e produtividade. Uma vez que os problemas extremos relacionado as mudanças no clima, podem ser capazes de desestruturar todo um sistema organizacional sócio político. Então, adaptar-se ao clima é um desafio que cada um, assim como os tomadores de decisões políticas, devem estar aptos.

* - Do Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal - RN.Email: [email protected]

23

Características Climáticas da Cidade de Natal

V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

Page 2: Características Climáticas da Cidade de Natalnatal.rn.gov.br/semurb/revistas/edicoes/artigos/novembro2016/6... · Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura

24

Dentro dessa abordagem, o artigo tem o intuito de apresentar algumas características climáticas da cidade de Natal-RN, propondo assim uma verificação da variabilidade temporal, ao longo dos 30 anos de dados observados de algumas variáveis como, temperatura do ar, precipitação acumulada, umidade relativa do ar e velocidade do vento. Observando, por sua vez, como o clima da cidade é moldado pelos diferentes fatores e fenômenos atmosféricos.

2 – METODOLOGIA

A cidade de Natal-RN apresenta uma área territorial de 167.264 km² e uma população de 869.954, indicando uma densidade demográfica 4.805,24 hab/km². Possui vestígios dos biomas de Caatinga e Mata Atlântica em sua vegetação (IBGE, 2015). Embora não seja uma cidade de alto potencial industrial, apresenta desenvolvimento nos serviços e comércio, e atualmente é rota de transporte para outras cidades do Nordeste, pois apresenta umas das principais rodovias federais que liga o Brasil de Norte a Sul (BR 101) (SILVA e ESPÍRITO SANTO, 2016).

Para a descrição climática da cidade de Natal foram usadas as séries de médias mensais provenientes do Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) do INMET (Tabela 1). As variáveis correspondentes a 31 anos apresentam 384 médias mensais e as de 30 anos possui 373 médias mensais. Os dados possuem boa representatividade para o clima da região. Para a realização da estatística descritiva do clima (médias, medianas, desvios padrões, mínimos, máximos e quartis) foi empregado o software Estatístico R., sendo gerados também gráficos Box-plot para visualizar as características climáticas mensais da cidade de Natal. Em um Box-plot é visualizado os valores mensais mínimos, 1º quartil, mediana, 3º quartil e valores máximos, assim como valores discrepantes (outliers – círculos nos gráficos).

Tabela 1 – Variáveis Climatológicas usadas para caracterizar o clima de Natal.

3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

A região metropolitana de Natal está inserida no Clima Tropical (As') do Nordeste Oriental com chuvas de inverno-outono, caracterizado por ser um clima megatérmico (altas temperaturas) com verão seco e temperatura média mensal acima de 18°C em todos os meses do ano (IBGE, 1997; VIANELLO e ALVES, 2004; SILVA et al., 2009).

Através de uma análise estatística descritiva dos dados climáticos da cidade de Natal (Tabela 2) e dos seus Box-plots mensais (Figura 1), podemos ter uma ideia numérica das normais climáticas da cidade de Natal e de seu clima tropical. A partir daí, verifica-se que a precipitação nos últimos 31 anos apresenta uma média de 144,1mm de chuva com desvio padrão de ±146,05mm (144,1±146,05mm). Os meses mais chuvosos correspondem aos meses entre março-julho (outono-inverno), onde há máximos de chuva que podem chegar a 791,8mm mensais.

Variáveis médias mensais Período da série mensal Sigla (Unidade)

Temperatura do ar janeiro/1984 a novembro/2015 (31 anos) Tar (ºC)

Precipitação acumulada janeiro/1984 a novembro/2015 (31 anos) PRP (mm) Umidade relativa do ar janeiro/1984 a novembro/2015 (31 anos) UR (%)

Velocidade do Vento janeiro/1984 a dezembro/2014 (30 anos) Vento (m/s)

V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

Page 3: Características Climáticas da Cidade de Natalnatal.rn.gov.br/semurb/revistas/edicoes/artigos/novembro2016/6... · Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura

25

Tabela 2 – Estatística descritiva das médias mensais das variáveis climáticas de Natal.

A umidade relativa do ar possui uma relação direta com o regime chuvoso, tendo um aumento justamente nos meses mais chuvosos. A variação média da umidade relativa é de 80,42±3,81%, sendo em junho o mês de maiores percentuais, assim como o da precipitação.

Para a velocidade do vento, observa-se uma variabilidade média de 4,28±0,67m/s, com velocidades máximas médias de 7,7±1,09m/s. Com médias máximas de 12,1m/s. Isso, segundo a Escala de Beaufort (MARINHA, 2016) que classifica a intensidade dos ventos, a cidade é ventilada por brisas moderadas (grau 4) e ventos frescos (grau 6), causando no mar, por exemplo, ondulações frequentes em torno de 1m (águas pouco agitadas) a ondas grandes de até 3,5m (águas muito agitadas).

A variabilidade da temperatura do ar mostra médias mensais de 26,4±1,05ºC, com mínimas médias de 23,03±1,76ºC e máximas médias de 29,68±0,9ºC. A Temperatura máxima mensal é de 32,54ºC, verificada no final do verão (meados de março). Esse padrão médio tem como um dos fatores os processos de urbanização e mudanças de uso do solo, fator que altera o balanço energético em superfície, decorrentes do uso de materiais industrializados para cobrir o solo, principalmente asfalto e concreto. Esses materiais provocam um aumento na liberação de radiação infravermelha que favorecem um maior aquecimento do ar, principalmente quando associado a poluição atmosférica de gases capazes de aumentar o efeito estufa local, como o Dióxido de Carbono (CO ) e o Metano (CH ). 2 4

Uma característica interessante sobre a imagem central, da Figura 1, é que as áreas em verde, segundo a SEMURB (2008), são definidas como Zonas de Proteção Ambiental, ou seja, zonas de atuação especial à preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental. São áreas nas quais as características do meio físico, restringem o uso e ocupação do solo urbano, visando a proteção, manutenção e recuperação dos aspectos paisagísticos, históricos, arqueológicos e científicos.

Essa proteção ambiental tende a favorecer que trocas energéticas entre o solo e a atmosfera possam ser amenizadas, podendo garantir, por exemplo, que a temperatura do ar seja menor nessas regiões de proteção, normalmente vegetadas, do que comparadas as áreas urbanizadas. Verificar o grau de diferença de temperatura entre as zonas de proteção e as áreas urbanas seria um estudo meteorológico bem interessante para ser feito na cidade de Natal.

As características climáticas apresentadas sobre Natal são modelados por diversos fatores climáticos (relevo, latitude, continentalidade, oceanos, gases atmosféricos, etc.) e até astronômicos (translação da terra ao redor do sol, inclinação do eixo da terra e principalmente da Radiação solar), assim como influenciada por diversos fenômenos atmosféricos (IBGE, 1997; VAREJÃO-SILVA, 2006; VIANELLO e ALVES, 2004;

Variável Mínimo 1º

Quartil Mediana Média 3º

Quartil Máximo Desvio Padrão

PRP 0,1 30,2 85,1 144,1 229,3 791,8 146,05

Tar 23,62 25,54 26,58 26,40 27,24 28,94 1,05 UR 70,61 77,78 80,31 80,42 82,96 93,21 3,81

Vento 2,08 3,84 4,31 4,28 4,72 6,02 0,67 Vento máx 5,0 6,8 7,5 7,7 8,3 12,1 1,09

V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

Page 4: Características Climáticas da Cidade de Natalnatal.rn.gov.br/semurb/revistas/edicoes/artigos/novembro2016/6... · Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura

26

CAVALCANTI et al., 2009). Sendo assim, por consequência de sua localização, os principais mecanismos e fenômenos atmosféricos moduladores do clima de Natal são: a circulação geral atmosférica em grande escala, Eventos El Niño-Oscilação Sul, Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Temperatura da Superfície do Mar (TSM), brisas marítimas e terrestres, Linhas de Instabilidade (LI), Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL). Estes fenômenos atmosféricos são explicados mais detalhadamente por Ramos et al. (1994) e Ferreira e Mello (2005).

Uma particularidade a todos esses fenômenos é que podem, por exemplo, a causar a intensificação ou diminuição da precipitação na cidade de Natal, e até a ocorrência de eventos extremos de chuva, como ocorrem com os DOLs.

4 – CONCLUSÕES

Este trabalho teve como finalidade apresentar as principais características do clima de Natal, assim como os principais sistemas atmosféricos que influenciam as condições de tempo meteorológico (estado atual e/ou momentâneo do comportamental da atmosfera) e estes, por sua vez, construtores a longo prazo (mínimo de 30 anos) do clima local da cidade de Natal-RN. Evidencia-se assim a importância de se monitorar o tempo e o clima, uma vez que são essenciais para a dinâmica da sociedade, principalmente a nível socioeconômico.

A dependência do homem ao clima se dá também pela ação de fenômenos anômalos, como secas severas, temperaturas extremas, inundações, ventanias destrutivas que agem

Figura 1: Variabilidade mensal (Box-plots) da precipitação acumulada (superior esquerda), temperatura do ar (superior direita), umidade relativa (inferior esquerda) e velocidade do vento (inferior direita) para a região da cidade de Natal-RN (imagem central). As setas azuis indicam a direção predominante do vento (alísios)

SEMURB (2008).Fonte da imagem:

V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

Page 5: Características Climáticas da Cidade de Natalnatal.rn.gov.br/semurb/revistas/edicoes/artigos/novembro2016/6... · Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura

27

gravemente nas zonas urbanas. Gerando grandes problemas a sociedade. Sendo assim, estudos meteorológicos e climáticos são indispensáveis e devem ser incentivados, principalmente para garantir um aumento da produção científica referentes a cidade de Natal, assim como estabelecer meios que possam fomentar programas sociais e acadêmicos de controle dos processos antropogênicos que causam mudanças na variabilidade climática local e global. Controle esse que inicialmente começa com a proteção do meio ambiente e de possíveis projetos de controle da poluição atmosférica (emissões geradas pela queima de derivados do petróleo e carvão normalmente ligados a indústria e automóveis).

5 - REFERÊNCIAS

AYOADE. J. O. Introdução a Climatologia para os Trópicos. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2006.

BARBOSA JR, R. A. Hidrologia Aplicada. Disponível em: www. Acesso: em 3 de janeiro de 2016.

CAVALCANTI, I. F. A. et al. Tempo e Clima. São Paulo: Editora Oficina de Texto, 2009.

FERREIRA, A. G.; MELLO, N. G. S. Principais sistemas atmosféricos atuantes sobre a região Nordeste do Brasil e a influência dos oceanos Pacífico e Atlântico no clima da região. Revista Brasileira de Climatologia, Vol. 1, nº 1, 2005.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Anuário Estatístico do Brasil. volume 57, 1997.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades 2015. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=240810>. Acesso: em 28 de dezembro de 2015.

MARINHA DO BRASIL. Escala Beaufort. Disponível em: mil. Acesso: 2 de janeiro de 2016.

NIMER, Edmond. Climatologia do Brasil. 20. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.

Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB. Natal Zoneamento Ambiental. Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, Prefeitura de Natal, 2008.

SILVA, F. M.; CHAVES, M. S.; LIMA, Z. M. C. Geografia Física II. Natal, RN: EDUFRN, 2009.

SILVA, C. M. S.; ESPÍRITO SANTO, A. R. S. Perspectivas da qualidade do ar na cidade de Natal-RN. Parque da Cidade em Revista, Volume 5, Número 5, Ano I, 2016.

SOUZA, D. O. Influência da ilha de calor urbana nas cidades de Manaus e Belém sobre o microclima local. Tese (Doutorado em Meteorologia), São José dos Campos: INPE, 2012.

VAREJÃO-SILVA, M.A. Meteorologia e Climatologia: versão digital. 2006.

VIANELLO, R. L.; ALVES, A. R. Meteorologia Básica e Aplicações. Editora UFV, 2004.

V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)