106
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação etiológica de 29 pacientes brasileiros com Fenótipo Doença de Huntington-símile Ribeirão Preto 2009

Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

  • Upload
    vukhue

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES

Caracterização clínica e investigação etiológica de 29 pacientes brasileiros com

Fenótipo Doença de Huntington-símile

Ribeirão Preto

2009

Page 2: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES

Caracterização clínica e investigação etiológica de 29 pacientes brasileiros com Fenótipo

Doença de Huntington-símile

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Neurologia

Área de Concentração: Neurologia Orientador: Prof. Dr. Vitor Tumas

Ribeirão Preto

2009

Page 4: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

AUTORIZO A DIVULGAÇÃO E REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,

PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha Catalográfica

Rodrigues, Guilherme Gustavo Riccioppo Caracterização clínica e investigação etiológica de 29 pacientes

brasileiros com Fenótipo Doença de Huntington-símile. Ribeirão Preto, 2009 110 p.: il.; 30cm Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Área de concentração: Neurologia Orientador: Prof. Dr. Vitor Tumas

1. Doença de Huntington 2. Doença de Huntington-símile 2 3. Coreoacantocitose

Page 5: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

FOLHA DE APROVAÇÃO

Guilherme Gustavo Riccioppo Rodrigues Caracterização clínica e investigação etiológica de 29 pacientes brasileiros com Fenótipo Doença de Huntington-símile.

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Neurologia Área de Concentração: Neurologia Orientador: Prof. Dr. Vitor Tumas

Data da aprovação: __________

BANCA EXAMINADORA Prof. Dr.___________________________________________________________________

Instituição:_________________________________________________________________

Assinatura: ________________________________________________________________

Prof. Dr.___________________________________________________________________

Instituição:_________________________________________________________________

Assinatura: ________________________________________________________________

Prof. Dr.___________________________________________________________________

Instituição:_________________________________________________________________

Assinatura: ________________________________________________________________

Page 6: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Dedico este trabalho aos familiares e pacientes

com doença de Huntington e condições

semelhantes.

Page 7: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Agradecimentos especiais:

- Aos meus pais, por terem me dado condições de buscar meus sonhos,

- À minha esposa Daniela, pela companhia e suporte constantes,

- Ao Prof. Dr. Vitor Tumas, pelas orientações imprescindíveis à realização deste trabalho e à

minha formação como neurologista,

- À Profa. Dra. Ruth H. Walker, pela cordial atenção que sempre me dispensou,

- Aos Profs. Wilson Marques Junior e Regina Maria França Fernandes pelo apoio desde o

início deste trabalho,

- À Sandra Nemoto, pela ajuda indispensável em minhas atividades no laboratório,

- Aos amigos do trabalho, Carolina, Daniel, Carla, Fabiana, Juliana, Natalina, Ruth e Rejane,

por estarem sempre presentes,

- Aos colaboradores Profs. Adrian Danek, Alexis Brice, Cecile Cazeuneuve, Benedikt Bader

pela realização dos testes que não dispúnhamos no Brasil.

Page 8: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

“Tem a ciência médica, como ela existe nos dias

atuais, com todo o esplendor que a envolve, com toda

a perfeição da qual se gaba, satisfeito a sua

necessidade?” J. F. C. Hecker, 1846

Page 9: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

RESUMO

Rodrigues, GGR. Caracterização clínica e investigação etiológica de 29 pacientes brasileiros com Fenótipo Doença de Huntington-símile. 2009. 110 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Introdução: A DH (Doença de Huntington) é uma doença neurodegenerativa caracterizada por movimentos involuntários, principalmente coréicos, associados a alterações cognitivas e comportamentais, herdada de forma autossômica dominante. É causada por expansões patológicas na seqüência de tripletos (CAG)n do gene Htt. Pacientes com quadro clínico compatível com a DH porém sem a expansão CAG esperada são classificados como portadores de FDHS (Fenótipo Doença de Huntington-símile.). O objetivo deste trabalho é realizar uma avaliação clínica e genética em uma população de pacientes com FDHS atendida no Ambulatório de doenças extrapiramidais do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Metodologia: Todos os pacientes cujo DNA foi analisado para expansões no gene Htt, entre 1998 e 2006, tiveram seus prontuários revisados. Os pacientes foram então classificados em 3 grupos: 1) pacientes com DH; 2) pacientes com FDHS; 3) pacientes sem fenótipo sugestivo de DH. Os pacientes com FDHS foram reavaliados clínica e/ou laboratorialmente pesquisando-se mutações nos genes ATN1 (DRPLA), Htt (expansões muito longas), JPH3 (HDL2), TBP (SCA 17). Alguns pacientes também foram avaliados quando a presença de acantócitos no sangue periférico e níveis de ceruloplasmina. Os casos suspeitos para CAc (Coreoacantocitose) tiveram seus níveis de coreína dosados por Western-blotting. Resultados: Cento e oito pacientes foram submetidos ao teste de DNA no período de 1998 a 2006. Sete foram excluídos por dados insuficientes. Ao todo, 37 (36,6%) pacientes foram diagnosticados como DH e 29 (28,7%) como FDHS. Dos pacientes com FDHS, 3 (10,3%) apresentaram mutação no gene JPH3 e 3 (10,3%) foram diagnosticados como CAc através da detecção de ausência da coreína. Nenhum caso de DRPLA ou SCA 17 foi diagnosticado. Conclusão: Em relação a estudos em outras populações, encontrou-se uma alta proporção de pacientes brasileiros com FDHS. Dentre as etiologias implicadas, a HDL2 aparenta ser a principal causa deste fenótipo no Brasil, devendo ser suspeitada em todo paciente afrodescendente com FDHS. A CAc também foi uma causa importante de FDHS, devendo ser suspeitada no paciente com FDHS associada à presença de acantócitos, elevação dos níveis de CPK, epilepsia e/ou sinais de doença neuromuscular. Ao contrário do observado em estudos prévios, que consideram a SCA17 a principal causa de FDHS, esta condição não foi causa de FDHS nos pacientes estudados. Palavras-chave: Doença de Huntington, Doença de Huntington-símile 2, Coreoacantocitose

Page 10: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

ABSTRACT

Rodrigues, GGR. Clinical and etiological studies of 29 Brazilian patients with Huntington’s disease-like phenotype. 2009. 110 f. Dissertation (Master Degree) – School of Medicine of Ribeirao Preto, University of Sao Paulo. Introduction: Huntington’s disease (HD) is a neurodegenerative disorder characterized by involuntary movements, especially chorea, associated with cognitive or behavioral changes, and inherited in an autosomal dominant trait. It is caused by pathological expansions in the sequence of triplets (CAG)n in the Htt gene. Patients with clinical features consistent with HD but without the CAG expansion expected were diagnosed as a Huntington’s disease like phenotype (HDLP). The objective of this study is to evaluate clinical and genetically a population of patients with HDLP attended in the Movement Disorders Service of the School of Medicine of Ribeirao Preto. Methodology: All patients who had DNA analyzed for expansions in Htt gene had their charts reviewed. The patients were then classified into 3 groups: 1) patients with HD, 2) patients with HDLP, 3) patients without a phenotype suggestive of HD. The HDLP patients were reassessed researching for mutations in the genes ATN1 (DRPLA), Htt (long expansions), JPH3 (HDL2), TBP (SCA 17). Some patients had blood samples collected to evaluate the presence of acanthocytes and levels of ceruloplasmin. In the cases that ChAc (Chorea-acanthocytosis) was suspected, chorein levels were determined by Western-blotting. Results: One hundred and eight patients had DNA testing in the period from 1998 to 2006. Seven were excluded for insufficient data. Thirty seven (36.6%) patients were diagnosed as HD and 29 (28.7%) as HDLP. Of the patients with HDLP, 3 (10.3%) had a mutation in the JPH3 gene and 3 (10.3%) were diagnosed as ChAc, through the detection of absent levels of chorein. No cases of DRPLA or SCA 17 were diagnosed. Conclusion: Comparing with studies in other populations, there was a high proportion of Brazilian patients with HDLP. Among the causes enrolled, HDL2 appears to be the main cause of this phenotype in Brazil, and should be suspected in any HDLP patient with an African background. ChAc was also an important cause of HDLP, and should be suspected in patients with HDLP associated with the presence of acanthocytes, increased levels of CPK, epilepsy and / or signs of neuromuscular disease. Contrary to that observed in previous studies that consider SCA17 the main cause of HDL, this condition was not cause of HDL in the patients studied. Keywords: Huntington’s Disease, Huntington’s Disease like 2, Chorea-acanthocytosis

Page 11: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sumário dos estudos de screening diagnóstico em pacientes com FDHS................ 27

Tabela 2. Diagnósticos etiológicos encontrados nos pacientes com DNA negativo para

DH e que não foram caracterizados como portadores do fenótipo Huntington-símile ............ 38

Tabela 3. Comparativo entre os dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes com DH e

FDHS........................................................................................................................................ 39

Tabela 4. Características clínicas dos pacientes com FDHS.................................................... 41

Tabela 5. Investigação complementar dos pacientes com FDHS............................................. 42

Page 12: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Língua de paciente com CAc evidenciando mutilações ........................................... 44

Figura 2: Acantócitos em amostra de sangue periférico de paciente com CAc ....................... 44

Figura 3. Western-blotting demonstrando ausência da coreína................................................ 45

Figura 4. RM de encéfalo evidenciando hipersinal em putâmen e atrofia de caudado ............ 45

Figura 5. EEG evidenciando ondas agudas em região frontotemporal esquerda ..................... 47

Figura 6. RM de encéfalo, ponderada em T2, evidenciando atrofia e hipersinal em

putâmen e núcleo caudado........................................................................................................ 48

Figura 7. Heredograma da família dos casos clínicos 2 e 3 ..................................................... 49

Figura 8. RM de encéfalo, ponderada em T1, evidenciando atrofia cerebral leve,

predominando em núcleo caudado ........................................................................................... 51

Figura 9. CT de encéfalo evidenciando atrofia cerebral com predomínio em núcleo

caudado..................................................................................................................................... 52

Figura 10. RM de encéfalo, corte axial, demonstrando atrofia cerebral com predomínio

em núcleo caudado, com progressão acentuada no período de 5 anos..................................... 54

Figura 11. RM de encéfalo, corte coronal, demonstrando atrofia cerebral com predomínio

em núcleo caudado, com progressão acentuada no período de 5 anos..................................... 54

Page 13: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................................13 1.1 - Coréia ....................................................................................................................................... 13

1.2 - Doença de Huntington .............................................................................................................. 15

1.3 - HDL1........................................................................................................................................ 18

1.4 - HDL2........................................................................................................................................ 19

1.5 - HDL3........................................................................................................................................ 21

1.6 - Ataxias espinocerebelares......................................................................................................... 21

1.7 - DRPLA..................................................................................................................................... 24

1.8 - Neuroacantocitose .................................................................................................................... 24

1.9 - Doença de Wilson..................................................................................................................... 25

1.10 - Outras condições .................................................................................................................... 26

1.11 - Revisão dos estudos de investigação etiológica em pacientes com FDHS............................. 26

2 - JUSTIFICATIVA..............................................................................................................29

3 - OBJETIVOS......................................................................................................................31

4 - METODOLOGIA .............................................................................................................33 4.1 - Casuística.................................................................................................................................. 33

4.2 - Testes laboratoriais ................................................................................................................... 35

4.3 - Testes estatísticos ..................................................................................................................... 36

5 – RESULTADOS .................................................................................................................38 5.1 - População do estudo ................................................................................................................. 38

5.2 - Diferenças entre grupos de pacientes com DH e FDHS........................................................... 38

5.3 - Diagnósticos etiológicos nos pacientes com FDHS ................................................................. 40

5.4 - Descrição dos casos clínicos: ................................................................................................... 43

5.4.1 - Casos diagnosticados como CAc ...................................................................................... 43

5.4.3 - Casos diagnosticados como HDL2 ................................................................................... 50

6 - DISCUSSÃO......................................................................................................................56

7 - CONCLUSÕES .................................................................................................................66

8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................68

APÊNDICES ...........................................................................................................................82 Apêndice A - Termo de consentimento livre e esclarecido .............................................................. 82

Apêndice B - Protocolo de avaliação clínica dos pacientes com FDHS........................................... 84

Apêndice C - Detalhamento dos métodos laboratoriais.................................................................... 88

ANEXO - Artigos publicados

Page 14: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

12

INTRODUÇÃO

Page 15: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

13

1 - INTRODUÇÃO

1.1 - Coréia

Coréia, palavra de origem grega que significa dança, é um termo que tem sido utilizado em

várias épocas da história para descrever distúrbios orgânicos e psicogênicos do controle motor

(Goetz et al., 2001). Por definição, a coréia é uma síndrome caracterizada por movimentos

involuntários abruptos, causados por contrações musculares randômicas e contínuas (Cardoso et al.,

2006). O Lexicon Medicum (1696) apresenta uma das primeiras descrições da coréia, ao se referir a

“Mania da Dança”, quando grupos de pessoas se reuniam, em plena idade média, e persistiam por

dias dançando em grupos, numa mistura de delírio e autoflagelação. Coube a Paracelso o papel de

diferenciar a coréia de origem psicológica (chorea imaginativa) da coréia de origem orgânica

(chorea naturalis) (Hecker, 1846). O primeiro caso bem documentado de coréia de início no adulto

foi estudado por Coxe em 1805 (Okun, 2003). Tratava-se de um indivíduo com coréia e demência,

cuja macroscopia cerebral revelava dilatação ventricular. Em 1832, John Elliotison já afirmava que

a coréia de início no adulto era geralmente associada à paralisia ou idiotismo, e era provavelmente

incurável (Elliotison, 1832 apud Okun, 2003)1. Em 1841, o reverendo C. O. Waters descreve, em

documento não médico, pacientes adultos com alteração de comportamento e coréia (Dunglison,

1843 apud Okun, 2003)2. Nove anos depois, Sée descreve casos de adultos com quadro de coréia e

alterações mentais, sem fazer referência à hereditariedade. No século XIX, a expectativa de vida era

baixa e muitos doentes faleciam antes de manifestar os sintomas da doença, o que dificultava a

caracterização da hereditariedade nesta doença. Isso explica porque somente a partir de 1860 é que

são descritos casos familiares de pacientes com coréia e alterações cognitivas (Lund, 1860; Lion,

1863 apud Okun, 2003)3.

1 Elliotson J. St. Vitus’ dance. Lancet. 1832;1:162–164. 2 Dunglison R. Practice of Medicine, Vol. 2, 1st ed. Philadelphia: Lee and Blanchard; 1843:312. 3 Lund JC. Beretning om sundhedstilstanden og medicinal forholdene i norge. 1860;4(137).

Lyon IW. American medical times. 1863;7:289.

Page 16: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

14

Em 1872, George Huntington publica seu importante trabalho sobre coréia de início

no adulto e, de forma completa e concisa, demonstra o caráter familiar, sem pular gerações. A

comunidade científica internacional teve sua atenção voltada então para a coréia crônica

hereditária, porém sob um clima de controvérsia. Charcot, por exemplo, acreditava que a

Coréia de Huntington era apenas uma variação da Coréia de Sydenham (Charcot, 1887 apud

Goetz et al., 2001)4. Anos depois, William Osler (1894), baseado em sua extensiva

experiência na Filadélfia, acrescenta maiores evidências a favor da idéia de que a Coréia de

Huntington (CH) e a Coréia de Sydenham seriam condições distintas. Em 1896, Anton

encerra esta questão ao documentar os achados anatomopatológicos de atrofia de caudado nos

pacientes com a Coréia de Huntington (Anton, 1896 apud Goetz et al., 2001)5, dados

posteriormente confirmados por Marie e Lermitte (1914 apud Okun, 2003)6, demonstrando

que a Coréia de Huntington tem sua origem na degeneração de estruturas cerebrais. Com o

tempo, relatos de casos de Coréia de Huntington têm mostrado que nem sempre a coréia está

presente e que outras manifestações clínicas como demência, parkinsonismo e distonia podem

predominar; desta forma, o termo Coréia de Huntington tem sido substituído por Doença de

Huntington (DH) (Penney et al., 1998).

Atualmente, além da Coréia de Sydenham e da DH, muitas outras causas de coréia

foram descritas, como: alterações metabólicas, medicações, infecções do sistema nervoso

central, doenças autoimunes, lesões estruturais dos núcleos da base e doenças genéticas

(Cardoso et al., 2006). Apesar dessa extensa lista de possíveis etiologias distintas, a Coréia de

Sydenham e a DH continuam sendo as principais causas de coréia nas clínicas especializadas

que atendem pacientes com distúrbios do movimento (Mendes et al., 1996).

4 Charcot J-M. Leçons du mardi: policliniques: 1887–1888. Paris: Bureaux du Progrés Médical 1888. In English: Goetz CG. Charcot the clinician: the Tuesday lessons. New York: Raven Press; 1987. 6. 5 Anton G. Über die Beteiligung der grossen basalen Gehirnganglien bei Bewegungstörungen und insbesondere bei Chorea. Jahrbüncher Psychiatr Neurol 1896;14:141-181 6 Marie P, Lhermitte J. Les lesions de la choree chronique progreassive: La degeneration atrophique cortico-striee. Ann Med. 1914;1:18–48.

Page 17: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

15

1.2 - Doença de Huntington

A DH é uma desordem neurodegenerativa hereditária, caracterizada por distúrbios

motores, manifestações psiquiátricas e perda cognitiva progressiva (Martin et al., 1986).

A prevalência da DH é estimada em 5 a 7 casos por 100000 habitantes na Europa e

nos Estados Unidos (Walker, 2007). A DH é relativamente rara nos países asiáticos e entre

negros africanos (Biglan et al., 2002). As maiores prevalências do mundo foram encontradas

na Venezuela, com 52 casos por 100.000, e na Escócia, com 560 casos por 100.000 habitantes

(Harper, 1992), regiões que provavelmente tiveram seu caso índice há muito tempo e que

apresentam pouca atividade migratória.

A DH manifesta-se tipicamente entre os 35 e 50 anos de idade, porém a idade de início

pode variar desde a infância até após os 80 anos de idade. O curso é invariavelmente

progressivo com óbito após 15 a 20 anos de doença (Margolis et al., 2003). O distúrbio motor

mais encontrado neste pacientes é a coréia, atingindo cerca de 90% dos pacientes (Biglan et

al., 2002). Além da coréia, as manifestações mais comuns em ordem decrescente de

freqüência são: dificuldade para deambular, desequilíbrio, irritabilidade, depressão,

dificuldade para fala, perda de memória, perda de motivação, paranóia, declínio intelectual,

distúrbios do sono, alucinações e perda de peso (Foroud et al., 1999). Alterações da

motilidade ocular, principalmente do olhar sacádico, são manifestações clínicas comuns na

HD e que tendem a ocorrer precocemente e até mesmo em indivíduos pré-sintomáticos

(Golding et al., 2006). Outras manifestações menos comuns como ataxia, distonia,

mioclonias, parkinsonismo e epilepsia podem ocorrer principalmente nos casos de início

juvenil, levando a uma maior dificuldade diagnóstica nestes casos (Stevanin et al., 2003). O

grau de acometimento cognitivo na DH é variável entre os pacientes. Geralmente há prejuízo

da memória, função executiva, velocidade cognitiva, concentração e habilidades

visuoespaciais, com preservação inicial de funções corticais como linguagem e gnosia (Brandt

Page 18: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

16

et al., 1988). Concomitantemente, há um amplo espectro de alterações psiquiátricas na DH,

que incluem irritabilidade, agressividade, apatia, distúrbios do humor, obsessões, compulsões

e psicose (Caine et al., 1983). Ressalta-se ainda que nos casos de início juvenil, alterações

cognitivas ou comportamentais são as manifestações iniciais mais comuns (Ribai et al., 2007).

As alterações anatomopatológicas na DH são limitadas ao cérebro e consistem

principalmente em atrofia do caudado, putâmen e córtex cerebral. Microscopicamente,

observa-se uma vulnerabilidade neuronal seletiva, com perda inicial de neurônios

encefalinérgicos no estriado (Ferrante et al., 1985) e de grandes neurônios nas camadas III, V

e VI do córtex cerebral (Hedreen et al., 1991). A coréia se relaciona com a perda de neurônios

estriatais espinhosos de tamanho médio que projetam eferências para o globo pálido lateral,

enquanto as manifestações rígido-acinéticas se correlacionam com a perda de neurônios

estriatais que projetam eferências para a substância negra e globo pálido interno (Albin,

1995). São observadas também inclusões intraneuronais ricas em ubiquitina e huntingtina,

entre outras proteínas (DiFiglia et al., 1997). Estes agregados tendem a prejudicar o transporte

intra-axonal, o que pode ser uma possível causa para a morte neuronal na DH (Szebenyi et al.,

2003).

A atrofia do caudado é o achado classicamente associado à DH em exames de

neuroimagem. Estudos têm demonstrado que esse achado se correlaciona bem com o número

de repetições CAG (Rosas et al., 2001) e com o grau de comprometimento cognitivo

(Bamford et al., 1995). Nas formas acinético-rígidas, além da atrofia, pode ser encontrado

hipersinal no estriado em sequências de ressonância magnética (RM) T2 e FLAIR (Oliva et

al., 1993). Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) e Tomografia por Emissão de Fóton

Único (SPECT) demonstram hipometabolismo e hipoperfusão em gânglios da base nos

indivíduos com DH (Kuwert et al., 1990; Nagel et al. 1991). Vários estudos com RM, RM

funcional e Imagem por Tensor de Difusão têm sido realizados para avaliação da DH,

Page 19: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

17

inclusive em fases pré-sintomáticas. Possivelmente essas técnicas, quando usadas em

combinação, serão úteis para avaliação da progressão da doença ainda em fases pré-

sintomáticas e servirão de marcadores para potenciais terapias neuroprotetoras (Bohanna et

al., 2008).

Até 1983 o diagnóstico da DH era presumido pela somatória das características

clínicas conhecidas com um padrão autossômico dominante de herança familiar. Em 1983, ao

se estudar uma família venezuelana com mais de cem membros afetados, determinou-se que o

lócus 4p16.3 continha o gene responsável pela DH (Gusella et al., 1983). Nos 10 anos

seguintes, seria possível estabelecer o diagnóstico provável da DH através de complexos

estudos de ligação genética, utilizando-se de determinados marcadores de DNA. (Hayden et

al.,1988; Brandt et al.,1989). Em 1993 foi identificado o gene responsável pela DH, nomeado

IT15 (posteriormente conhecido como Htt). Este gene tem aproximadamente 210kb e codifica

uma proteína até então desconhecida, de aproximadamente 348-kDa, que foi denominada

Huntingtina. Este gene possui uma seqüência (CAG)n que se repetiria 11 a 35 vezes na

população em geral. Nos pacientes das 75 famílias com DH deste estudo, este tripleto se

repetia mais que 42 vezes. Quanto maior o número de repetições, mais precoce seria o início

das manifestações clínicas (The Huntington’s Disease Collaborative Research Group, 1993).

Atualmente se sabe que os indivíduos com 36 a 39 cópias apresentam penetrância variável

para DH. Acima de 39 repetições, a penetrância é completa (Margolis et al., 2003; Biglan et

al., 2002). Sabe-se também que, além do número de repetições CAG, outros fatores genéticos

e ambientais também são responsáveis pela idade em que as manifestações motoras da DH

terão seu início (Rosenblatt et al., 20 01). Ainda é desconhecido o mecanismo pelo qual a

Huntingtina mutada promove a morte celular (Zheng-hong et al., 2004).

Logo após a descoberta do gene responsável pela DH, grandes estudos multicêntricos

estabeleceram que a cerca de 3% dos indivíduos com fenótipo similar ao da Doença de

Page 20: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

18

Huntington não apresentam a mutação esperada para a doença, ou seja, são pacientes com

uma FDHS (Kremer et al., 1994, Andrew et al., 1994). Posteriormente, algumas séries de

casos confirmaram a ocorrência de casos de FDHS, com freqüências variando de 0,9 a 33%

de suas populações (Rosenblatt et al., 1998; Silva et al., 2000; Vuillaume et al., 2005; Ramos-

Arroyo et al., 2005). Atualmente, os principais diagnósticos etiológicos das FDHS são:

Doença de Huntington like (HDL) 1 e 2, as Ataxias Espino-Cerebelares (SCAs) , Atrofia

Dentatopalidoluysiana (DRPLA), a Neuroacantocitose e a doença de Wilson (Biglan et al.,

2002; Rosenblatt et al., 1998; Wild et al., 2008).

1.3 - HDL1

Em 1998, uma família oriunda da Suécia em que 7 membros apresentavam fenótipo

sugestivo de DH foi estudada. O quadro clínico era caracterizado por início dos sintomas

entre 23 e 41 anos, quadro progressivo com óbito em aproximadamente 15 anos, presença de

coréia, alteração cognitiva e epilepsia, porém sem a detecção da expansão CAG esperada. Por

estudo de ligação genética determinaram a existência de uma forte associação da doença com

uma região no cromossomo 20p (Xiang et al., 1998). Três anos depois, quatro membros desta

família foram avaliados e em todos os casos foi encontrada uma expansão de 192bp no gene

PRNP, lócus 20p12, responsável pela codificação da proteína priônica (PrP). Tal mutação

produz uma PrP com oito octapeptídeos extras que é a responsável pela manifestação da

doença nestes indivíduos (Moore et al., 2001). Outras mutações no gene PrP estão

relacionadas com doenças priônicas hereditárias: a substituição E200K é encontrada em cerca

de 70% dos pacientes com doença de Creutzfeldt-Jakob familiar (Lee et al., 1999); a

substituição P102L na doença de Gerstmann-Straussler-Scheinker (Young et al., 1995) e a

mutação D178N associada ao polimorfismo M129 encontrado na Insônia Familiar Fatal

(Petersen et al., 1996).

Page 21: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

19

1.4 - HDL2

Em 2001, uma família de americanos afrodescendentes com dez membros

diagnosticados como FDHS foram submetidos à pesquisa de mutações de outros possíveis

diagnósticos como: DRPLA, SCAs 1, 2, 3, 6, 7, 8, 12 e 17 . Também foi pesquisada a

presença de expansões do trinucleotídeo (CAG)n não patogênicas, ocasionalmente

encontradas nos genes MAB21L1, SEF2-1 e Dir1/ERDA1. Todos esses testes foram

negativos. Então, aplicou-se um método para detecção de expansões repetidas (RED) sem o

conhecimento prévio do lócus alvo. O resultado foi a identificação de uma seqüência

CAG/CTG com 50 a 60 repetições nos afetados da família, enquanto os indivíduos sãos

tinham todos menos de 40 repetições. Após um estudo de ligação genética, verificou-se que a

expansão localizava-se na região 16q23-24 (Margolis et al., 2001). A mutação responsável

pela doença foi então localizada no exon 2A do gene da Junctofilina-3 (JPH3), por técnica de

hibridização in situ com fluorescência (Holmes et al., 2001).

As Junctofilinas (JP) foram descritas e seus genes seqüenciados em 2000 (Takeshima

et al., 2000; Nishi et al.,2000). Elas são proteínas responsáveis pela ligação do retículo

endoplasmático/sarcoplasmático à membrana celular e podem estar envolvidas no controle do

influxo de Ca++ intracelular (Holmes et al., 2001). A Junctofilina-1 (JP1) é expressa no

músculo esquelético, a JP2 é expressa na musculatura esquelética, lisa e cardíaca e a JP3 é

expressa exclusivamente no cérebro. O rato mutante para JP1 morre no período pós-natal por

incapacidade de mamar. Os ratos com mutação na JP2 morrem intra-útero devido à

insuficiência cardíaca (Ito et al., 2001). Os ratos mutantes para JP3 apresentam incoordenação

motora leve (Nishi et al., 2002).

Clinicamente, a HDL2 é uma doença de herança autossômica dominante, com início

entre os 26 e 48 anos, caracterizada por disartria, rigidez, bradicinesia, hiperreflexia, coréia,

distonia, perda de peso, demência e sintomas psiquiátricos. Exames de neuroimagem

Page 22: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

20

demonstram atrofia cerebral de predomínio no estriado. O declínio funcional é progressivo

com óbito após 10 a 15 anos de doença. (Margolis et al., 2001; Walker et al., 2003a).

Aparentemente não há correlação entre o número de repetições CAG e a migração para o

fenótipo parkinsoniano ou coréico (Walker et al., 2003). Recentemente foram relatados os

casos de 3 pacientes com Neuroacantocitose autossômica dominante em que se encontrou a

mutação no gene da JP3 em todos os três (Walker et al., 2003b). Neste estudo, avaliou-se em

seguida 6 pacientes com esta mutação e encontrou-se acantocitose em 1 caso. Os autores

acreditam que, possivelmente, a acantocitose faça parte do espectro clínico da mutação da JP3

(Walker et al., 2003b). Em 2004, Margolis et al.. avaliaram a incidência de mutações no gene

JPH3 numa população de 538 pacientes americanos e 44 pacientes japoneses com fenótipo

similar ao da DH. Encontraram a expansão no gene JPH3 em 6 pacientes americanos (1,1%

do total de casos). Não foi encontrado nenhum caso nos pacientes japoneses. Observou-se que

quanto maior o número de repetições, mais cedo começava a doença nesses pacientes. Nesta

amostra, nenhum sujeito com menos de 35 repetições apresentou a doença. Entre 40 e 43

repetições ocorreu penetrância incompleta. Todos os casos com mais de 43 repetições

manifestaram a doença.

À necropsia, pacientes com HDL 2 apresentam atrofia cerebral difusa, predominante

no estriado (Rudnick et al., 2008 ). À microscopia, observam-se agregados protéicos

nucleares que se ligam a anticorpos 1C2 (anti-poliglutamina) e anti-ubiquitina e agrupamentos

de RNA intranucleares que não se co-localizam com os agrupamentos protéicos (Rudnick et

al., 2008). Os agregados protéicos nucleares não se ligam a anticorpos anti-huntingtina

(Rudnick et al., 2008). O mecanismo pelo qual a JP3 mutada leva a morte neuronal nos

pacientes acometidos ainda é desconhecido. Especula-se se pela formação de uma proteína

anormal com muitas repetições polialanina ou polileucina ou pela toxicidade direta da

repetição CUG expandida, a nível do RNA, como ocorre na distrofia miotônica (Jiang et al.,

Page 23: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

21

2004). Outra possibilidade é que a expansão altere a expressão da JP3, possivelmente

alterando o influxo de cálcio intracelular (Margolis et al., 2003).

1.5 - HDL3

Em 2000 foi estudada uma família com 12 indivíduos (pai e mãe eram primos de

primeiro grau e 10 filhos) em que 5 dos filhos apresentavam síndrome involutiva de início

após os 4 anos de idade, caracterizada por coreoatetose, ataxia, distonia, espasticidade, crises

epilépticas, mutismo e demência. O diagnóstico de DH foi excluído por análise genética.

Através de estudo por ligação genética encontrou-se o possível lócus no 4p15.3, com padrão

de herança autossômico recessivo (Kambouris et al., 2000). A metodologia empregada neste

estudo foi contestada por alguns autores (Lesperance et al., 2000).

Após consulta ao Comitê de Nomenclatura da Organização Genoma Humano

(Nomenclature Committee of Human Genome Organization), convencionou-se que a doença

descrita por Xiang seria denominada Doença de Huntington-símile 1 (HDL1), a descrita por

Margolis seria denominada HDL2 e a descrita por Kambouris seria denominada HDL3

(Margolis et al., 2001).

1.6 - Ataxias espinocerebelares

As SCAs são um grupo de doenças genéticas que causam um fenótipo clínico

heterogêneo, na maioria das vezes levando a um quadro de ataxia cerebelar com ou sem

outras manifestações neurológicas, como piramidalismo, alteração de motilidade ocular,

distonia, coréia, mioclonia, tremor, alterações cognitivas e psiquiátricas (Klockgether, 2007).

Até o momento, existem 28 tipos diferentes de SCAs descritas e, em 6 delas (SCA1, 2, 3, 6, 7

e 17), a mutação responsável é uma expansão CAG como encontrada na DH (Klockgether,

2007).

Page 24: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

22

Estudos realizados em pacientes brasileiros sugerem que, das SCAs conhecidas, a

SCA3 (também conhecida como doença de Machado Joseph) é a mais comum. Lopes-Cendes

e cols (1997) investigaram a ocorrência de SCA 1, 2 e 3 em 328 pacientes com sintomas

sugestivos . Diagnosticaram SCA 1 em 3% dos casos, SCA 2 em 6% dos casos e SCA 3 em

30% dos casos. Jardim e cols (2001) estudando 66 pacientes, sendo 52 deles com historia

familiar, diagnosticou SCA3 em 48 casos, SCA 7 em 1 caso e SCA 8 em 1 caso. Não

observaram nenhum caso de SCA2, SCA6 e DRPLA, também investigados. Silveira e cols

(2002) analisaram 202 pacientes com ataxia, sendo 57 brasileiros e 145 portugueses,

pesquisando as mutações responsáveis pelas SCA1, 2, 3, 6, 7, 8, 12, 17, DRPLA e Ataxia de

Friedreich(FRDA). Do total de pacientes, 114 apresentavam SCA3, 36 tinham FRDA, 8

foram diagnosticados como SCA8, 6 como SCA2, 5 como DRPLA, 3 como SCA 7, 1 como

SCA 6 e 1 como SCA17. Trott e cols (2006) estudaram 114 famílias brasileiras com ataxia e

encontraram 96 casos de SCA3, 5 casos de SCA2, 2 casos de SCA10, 1 caso de SCA1 e 1

caso de SCA7. Nenhum caso de SCA17 foi encontrado.

Diversos estudos tem associado a FDHS com o espectro de manifestações das SCAs.

Namekava e cols (2001) relatam um caso bem documentado de uma paciente de 51 anos, com

o diagnóstico de SCA1, que apresentava quadro de ataxia, movimentos coréicos de

extremidades e demência. Em um estudo com 47 famílias com histórico de ataxia

autossômico dominante (Geschwind et al.., 1997), o diagnóstico de SCA2 foi encontrado em

6. Destas, 3 continham membros cuja manifestação clínica incluía coréia, totalizando 38% dos

casos diagnosticados. Demência também foi uma manifestação notável, acometendo 37% dos

pacientes estudados. Cancel e cols (1995) estudaram 4 famílias francesas com SCA3 e

observaram que em 1 uma predominava o fenótipo atáxico-coréico. Estudo com 167 pacientes

chineses com ataxia (Tang et al.., 2000), diagnosticou SCA 2 em 12 e SCA 3 em 83 pacientes.

Coréia foi encontrada em 1 (8,3%) dos pacientes com SCA 2 e 3 (3,6%) dos pacientes com

Page 25: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

23

SCA3 e demência foi encontrada em 5 (41,6%) dos pacientes com SCA2 e 5 (6%) dos

pacientes com SCA3. Uma pesquisa do diagnóstico de SCA 8 (expansão CTA/CTG no

13q21) foi realizada em 137 pacientes com suspeita de HD, sendo encontrada em 2 casos

(Zeman et al., 2004). Uma avaliação de 10 pacientes com diagnóstico de SCA 12 (expansão

CAG no 5q31-33) evidenciou tremor de ação em todos os casos, bradicinesia em 9, transtorno

do humor em 4, alteração cognitiva em 2 e distonia em 2 pacientes (O´Hearn et al., 2001).

A SCA 17 é causada por uma expansão CAG no gene TBP, cromossomo 6q27

(Nakamura et al., 2001), indivíduos com mais de 43 repetições estão propensos a desenvolver

a doença, embora um caso tenha sido relatado com 41 repetições (Nanda et al., 2007).

Clinicamente, além da ataxia, observa-se nesses casos disfagia, disartria, tremor, epilepsia,

coréia, parkinsonismo, alterações psiquiátricas e demência (Rolfs et al., 2003), sobrepondo-se

portanto, com o fenótipo Huntington-símile. Vários estudos têm diagnosticado SCA 17 em

indivíduos com FDHS. Em seu artigo sobre o tema, Rolfs e cols (2003) realizaram a

caracterização clínica de uma família com 15 pacientes com o diagnóstico de SCA 17 e cinco

foram considerados portadores de uma FDHS. No ano seguinte, investigou-se o diagnóstico

de SCA17 em 1712 pacientes alemães em que o diagnóstico de DH foi cogitado, porém não

confirmado pela análise molecular. A expansão CAA/CAG foi encontrada em 9 pacientes,

sendo que 5 destes casos foram considerados FDHS (Bauer et al., 2004). No mesmo ano,

Toyoshima e cols (2004) descreveram um caso de SCA 17, homozigoto, cujo fenótipo se

caracterizava predominantemente por demência e coréia. Schneider e cols (2006) relataram

uma família em que os 5 membros acometidos apresentavam alterações cognitivas e coréia.

Em 2008, um estudo inglês (Wild et al., 2008) que pesquisou a ocorrência de SCAs 1, 2, 3 e

17 em 285 pacientes com FDHS encontrou 5 casos de SCA 17. Seus autores propuseram

então que, até o momento, o diagnóstico etiológico mais comum na FDHS é a SCA 17.

Page 26: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

24

1.7 - DRPLA

Descrita em 1982, a DRPLA classicamente tem sido associada com o fenótipo Huntington-

símile. A DRPLA é uma doença neurodegenerativa autossômica dominante caracterizada por

sintomas como ataxia, coréia, epilepsia, mioclonias e demência (Naito et al., 1982). Esta doença é

causada por uma expansão CAG no cromossomo 12, que causa uma mutação na proteína Atrofina-

1. Num indivíduo normal, o número de repetições varia entre 6 e 35. No paciente com DRPLA este

valor varia entre 48 e 88 repetições (Koide et al., 1994; Nagafuchi et al., 1994). Embora acometa

quase que exclusivamente orientais, alguns estudos têm demonstrado sua ocorrência em países

europeus como Portugal e Inglaterra (Martins et al., 2003; Wardle et al., 2008).

1.8 - Neuroacantocitose

Neuroacantocitose (NA) é o termo utilizado para designar o grupo de doenças que levam a

acometimento do sistema nervoso e que se associam a presença de hemácias morfologicamente

anormais. O termo acantócitos deriva do grego, em que acanta significa espinho, recebendo o nome

de acantócitos as hemácias com protuberâncias com formato de espinho em sua superfície (Danek

et al., 2005). As principais causas de NA são: CAc, Síndrome de Mcleod, Abetalipoproteinemia,

Neurodegeneração associada a Pantotenato Kinase e HDL2 (Walker et al., 2007).

A CAc é uma doença genética rara, progressiva, caracterizada pela presença de coréia,

epilepsia, tourettismo, parkinsonismo e neuropatia periférica. Aparentemente é mais comum

em orientais (Hirose et al., 2008). Associa-se a alterações nos níveis de creatina fosfoquinase

(CPK), lactato desidrogenase e transaminases hepáticas (Rampoldi et al., 2001). Exames de

neuroimagem revelam que a CAc acarreta atrofia cerebral, predominantemente em caudado

(Henkel et al., 2006). É causada por mutações no gene VPS13A, localizado no lócus 9q21

(Rampoldi et al. 2001; Ueno et al., 2001), relacionado à produção de uma proteína

ubiquitinamente expressa e de função desconhecida, denominada coreína (Dobson-Stone et

Page 27: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

25

al., 2004; Kurano et al., 2007). Como existem mais de 100 diferentes mutações já descritas

(Dobson-Stone et al., 2002) e o gene constitui-se de 73 éxons, o seqüenciamento do gene para

investigação diagnóstica nem sempre é factível. Para contornar este problema, Dobson-Stone

et al. (2004) desenvolveram um método para detectar os níveis de coreína na membrana de

hemácias através de Western-blot, o qual se tornou o procedimento de escolha para

confirmação diagnóstica na CAc. Embora classicamente a CAc seja considerada uma doença

de herança autossômica recessiva, casos com padrão autossômico dominante têm sido

relatados (Ishida et al., 2008), gerando controvérsia sobre o tema (Bader et al., 2008).

A Síndrome de Mcleod é uma forma de neuroacantocitose ligada ao X, causada por

mutação no gene XK. Além da presença de acantócitos, alterações psiquiátricas e coréia,

nestes pacientes observa-se ausência de expressão do antígeno Kell na superfície das

hemácias (Danek et al., 2001). Seu quadro clínico se assemelha ao da CAc, exceto pelo início

mais tardio e acometimento muscular mais acentuado (Hewer et al., 2007).

1.9 - Doença de Wilson

A Doença de Wilson (DW), também conhecida por degeneração hepatolenticular

progressiva, é um erro inato do metabolismo do cobre causado por mutação no gene ATP7B

(Bull et al. 1993). Herdado por herança autossômica recessiva, acarreta acúmulo progressivo

de cobre no fígado, cérebro, olhos, entre outros tecidos. Clinicamente se manifesta por sinais

de dano e insuficiência hepática e distúrbios do movimento, principalmente distonia e

parkinsonismo, de início na segunda década de vida (Das Ray, 2006). Ocasionalmente pode

manifestar-se com coréia (Kwamura et al., 2004). A RM de encéfalo revela hipersinal em

seqüências TR longo em núcleo caudado, putâmen, tálamo e tegmento mesencefálico (Page et

al., 2004). O diagnóstico da DW pode ser confirmado pela presença de baixos níveis de

ceruloplasmina sérica e aumento da excreção urinária de cobre.

Page 28: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

26

1.10 - Outras condições

Outras condições clínicas têm sido ocasionalmente associadas ao fenótipo Huntington-

símile. A Neuroferritinopatia, doença autossômica dominante causada por mutação no gene

da cadeia leve da ferritina (FTL), acarreta disfunção progressiva em gânglios da base,

associada com distúrbios do movimento tipo coréia, distonia, parkinsonismo e também

declínio cognitivo (Curtis et al., 2001). A ataxia de Friedreich (FRDA) é uma doença

autossômica recessiva que acarreta ataxia progressiva, arreflexia, anormalidades cardíacas

entre outras manifestações (Delatycki et al., 2000) e que raramente tem sido associada com

coréia (Hanna et al., 1998). A Síndrome de tremor e ataxia associada à Síndrome do X-frágil

(FXTAS) ocorre nos pacientes com premutação no gene FMR1, relacionado à síndrome do X

frágil. Normalmente inicia-se após os 50 anos com ataxia, tremor, parkinsonismo e declínio

cognitivo (Jacquemont et al., 2007). A Aceruloplasminemia (Logan et al., 1994) é uma

doença autossômica recessiva, causada por mutação no gene da ceruloplasmina, que acarreta

quadro de demência, ataxia, coréia, distonia, diabetes mellitus e degeneração retiniana, de

início predominantemente entre os 30 e 50 anos de idade. Em geral, esses pacientes

apresentam, além da deficiência de ceruloplasmina, baixos níveis de ferro sérico, altos níveis

de ferritina e sinais de deposição de ferro à RM de encéfalo (Takahashi et al., 1996).

1.11 - Revisão dos estudos de investigação etiológica em pacientes com FDHS

Vários estudos para investigação etiológica em pacientes com fenótipo Huntington-

símile têm sido conduzidos na última década (Rosenblatt et al., 1998; Vuillaume et al., 2000;

Holmes et al., 2001; Bauer et al., 2002; Stevanin et al., 2003; Bauer et al., 2004; Margolis et

al., 2004; Cellini et al., 2004; Keckarevi et al., 2005; Krause et al., 2005; Costa et al., 2006;

Rodriguez-Revenga et al., 2008; Wild et al., 2008; Sułek-Piatkowska et al., 2008). As

etiologias mais investigadas foram a HDL1 e 2, as SCAs, especialmente a SCA 17, e a

Page 29: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

27

DRPLA. A freqüência de diagnóstico de HDL2 variou entre 0,4 a 30%, sendo maior em

pacientes de origem africana. A SCA 17 foi diagnosticada com uma freqüência de 0,005 a

3,3%, sendo mais comum em pacientes caucasianos. Os principais achados destes estudos

estão sumarizados na tabela 1.

Tabela 1- Sumário dos estudos de screening diagnóstico em pacientes com FDHS.

Ano Autor N População Avaliação Resultados 1998 Rosenblatt A 15 Norte americanos

e Ingleses SCA 1, 2, 3, 6 e DRPLA

0

2000 Vuillaume I 32 Franceses SCA 1, 2, 3, 6, 7, DRPLA. Teste RED

1 paciente com expansão CAG desconhecida

2001 Holmes SE 330 Afrodescendentes americanos

HDL2 4 HDL2

2002 Bauer I 1600 Alemães e austríacos

HDL2 0

2003 Stevanin G 252 Franceses HDL 1, 2, SCA 17 e DRPLA

HDL2 = 2 (3,3% dos casos típicos); SCA 17= 2 (3,3% dos casos típicos)

2004 Bauer P 1712 Alemães e austríacos

SCA 17 9 (0,005%)

2004 Margolis RL 538 (EUA) e 44 (Japão)

Norte americanos, japoneses e mexicanos

HDL2 América do Norte 6/538 (1,1%); Japão 0/44

2004 Cellini E 98 Italianos SCA 17. HDL2 excluída previamente

1 caso possível (43 repetições)

2005 Keckarevi M 48 Iugoslavos HDL1, 2, SCA 1, 2, 3, 17, DRPLA, NFP

0

2005 Krause A 50 Sul-africanos HDL2 15 (30%) 2006 Costa MC 107 Portugueses HDL1, 2, SCA

17, DRPLA, NFP

0

2008 Rodriguez- Revenga L

95 Espanhóis FXTAS 1 (1,6%)

2008 Wild EJ 285 Ingleses HDL1, HDL2, SCA 1, 2, 3, 17, DRPLA, NFP, FRDA

SCA 17 = 5(1,8%); HDL1 = 1(0,4%); FRDA=1(0,4%); HDL2 = 1(0,4%)

2008 Sułek-Piatkowska A

224 Poloneses HDL2, SCA17, DRPLA

SCA 17= 1 (0,44%)

Page 30: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

28

JUSTIFICATIVA

Page 31: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

29

2 - JUSTIFICATIVA

Embora de ocorrência global, existem apenas 14 estudos de screening etiológico com

pacientes com FDHS publicados até o momento. Destes, 10 são com pacientes europeus

(Vuillaume et al., 2000; Bauer et al., 2002; Stevanin et al., 2003; Bauer et al., 2004; Cellini et

al., 2004; Keckarevi et al., 2005; Costa et al., 2006; Rodriguez-Revenga et al., 2008; Wild et

al., 2008; Sułek-Piatkowska et al., 2008), 1 com pacientes japoneses e norte-americanos

(Margolis et al., 2004), 1 com pacientes europeus e norte-americanos (Rosenblatt et al., 1998),

1 apenas com pacientes norte-americanos (Holmes et al., 2001) e 1 com pacientes sul-

africanos (Krause et al., 2005). Como não existem estudos com pacientes latino-americanos,

não sabemos a real freqüência da ocorrência do fenótipo Huntington-símile na nossa

população nem quais os principais diagnósticos etiológicos envolvidos. Uma conseqüência

prática de tal conhecimento pode ser vista na África do Sul, onde o DNA para HDL2 é

fornecido de rotina para todo paciente com suspeita de DH, visto sua alta incidência naquela

localidade (Krause et al., 2007).

Além de um perfil epidemiológico, uma análise das doenças responsáveis pelo FDHS

é importante visto serem, na maioria dos casos, doenças classicamente muito raras. O estudo

destas condições possivelmente gerará novos conhecimentos sobre o funcionamento dos

núcleos da base e sobre os mecanismos de morte neuronal relacionados às doenças

neurodegenerativas. Algumas delas, como a HDL2, com características clínicas e

anatomopatológicas muito semelhantes à DH (Rudnick et al., 2008), podem trazer mais dados

para elucidar processos fisiopatológicos envolvidos na DH.

Page 32: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

30

OBJETIVOS

Page 33: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

31

3 - OBJETIVOS

1. Realizar uma caracterização fenotípica dos pacientes com FDHS atendidos no

ambulatório de Doenças Extrapiramidais do Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.

2. Determinar a etiologia dos casos de FDHS através de:

a. Pesquisa da presença de grandes expansões do tripleto CAG no gene Htt, causa

conhecida de testes falso-positivos nos pacientes com DH (Warner et al., 2006)

b. Pesquisa da presença das mutações responsáveis pelas seguintes doenças:

DRPLA, SCA 17 e HDL2

c. Pesquisa da existência de anormalidades bioquímicas que indiquem o

diagnóstico de Doença de Wilson e CAc.

Page 34: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

32

METODOLOGIA

Page 35: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

33

4 - METODOLOGIA

4.1 - Casuística

O Setor de Distúrbios do Movimento do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto

(HCRP) é um centro terciário que atende casos de distúrbios do movimento do interior do

estado de São Paulo. Possui um ambulatório destinado ao atendimento de pacientes com DH e

oferece gratuitamente o teste genético aos indivíduos sintomáticos, desde 1998. Neste

ambulatório, todos os pacientes com DH ou FDHS são periodicamente avaliados por

especialistas em distúrbios do movimento através de entrevista não estruturada, exame clínico

e avaliação estruturada através de uma versão validada no Brasil da Unified Huntington

Disease Rating Scale - UHDRS (Tumas et al., 2004).

Para a realização deste estudo, após aceitação do protocolo de pesquisa e do termo de

consentimento livre e esclarecido (Apêndice A) pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCRP

(processo 6579/2006) , foi feito um levantamento de todos os exames de DNA para pesquisa

de DH realizados no período entre 1998 e 2006, ano da coleta dos dados. Todos os

prontuários foram revisados e os dados clínicos dos pacientes foram anotados de acordo com

protocolo em anexo (Apêndice B). Nesta etapa do trabalho, foram excluídos do estudo os

pacientes que não tinham prontuário médico no HCRP e que não retornaram para uma

segunda avaliação. Os pacientes restantes foram então divididos em dois grupos:

1- DNA positivo para DH (ou seja, mais que 35 repetições do tripleto CAG no gene

Htt);

2- DNA negativo para DH.

Os pacientes do grupo 2 foram novamente divididos em 2 grupos:

2.1 - Pacientes com fenótipo Huntington-símile (FDHS);

2.2 - Pacientes sem fenótipo Huntington-símile.

Page 36: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

34

A determinação do que seria um fenótipo típico de FDHS foi feito arbitrariamente,

visto não haver esta definição na literatura até o momento, de acordo com os critérios que se

seguem:

• Doença progressiva;

• Presença de distúrbio do movimento de origem inexplicada: coréia, distonia,

ataxia, tremor, mioclonia, parkinsonismo;

• Presença de alteração cognitiva ou psiquiátrica;

Todos os pacientes com FDHS e que diagnósticos alternativos não foram confirmados

por outros meios (exames bioquímicos, anatomopatológicos, etc) foram chamados para nova

avaliação clínica e laboratorial, que consistia de hemograma, TSH, FAN, TGO, TGP, Uréia,

Creatina, Glicemia, pesquisa de Acantócitos, Ceruloplasmina sérica e CPK. Não foi repetida a

coleta de DNA já que todos os pacientes já o tinham colhido previamente, durante o exame

diagnóstico para DH. Os pacientes que apresentavam clinicamente sinais de miopatia ou

neuropatia periférica, ou que laboratorialmente apresentavam presença de acantócitos ou

elevação de CPK, tiveram sangue coletado e enviado para pesquisa da presença de Coreína

através de Western-blot, na Ludwigs-Maximilians-Universitat, Munique, Alemanha. A

extração do DNA e os testes diagnósticos para DH e DRPLA foram realizados no Laboratório

de Neurologia Experimental e Aplicada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (LNEA-

FMRP). Alíquotas de DNA foram enviadas para o Laboratório de Genética do INSERM,

Paris, França, para realização da pesquisa de expansões amplas do tripleto CAG, e das

mutações responsáveis pela HDL2 e SCA17.

Como alguns testes que podem ser realizados com amostras de DNA estocado e outros

testes são dependentes de amostras de sangue fresco, e nem todos os pacientes deste estudo,

Page 37: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

35

por vários motivos, retornaram para uma nova avaliação clínica e coleta de exames, o braço

de diagnósticos etiológicos deste trabalho foi divido em dois grupos:

1) Pesquisa sistemática: testes foram realizados em todos os pacientes, como DNA

para HDL2, DRPLA, SCA 17 e expansões muito longas no gene Htt.

2) Pesquisa amostral: testes foram realizados apenas nos pacientes que já tinham

colido o exame previamente ou que retornaram para nova avaliação e coletaram-no nesta

ocasião, como dosagem ceruloplasmina, acantócitos e exame de imagem. A lista dos testes

realizados em cada paciente será apresentada nos resultados.

4.2 - Testes laboratoriais

A extração de DNA foi feita pelo método “Salting out” (Miller et al., 1988) após coleta de

amostra de sangue periférico. A amplificação do DNA foi realizada pela reação em cadeia de

polimerase (PCR), usando os primers [5´-ATGAAGGCCTTCGAGTCCCTCAAGTCCTTC -3´ e

5´-GGCGGTGGCGGCTGTTGCTGCTGCTGCTGC -3´] para o gene Htt (ACHG/ASHG,

1998), [5´- GGTTCCCTGCACAGAAACCATC -3´ e 5´- AGATGCCACCGCATTCGG -3´]

para o gene JPH3 (Holmes et al., 2001), [5´- CCTTATGGCACTGGACTGAC -3´ e 5´-

GTTCCCTGTGTTGCCTGCTG -3´ ] para o gene TBP (Nakamura et al., 2001) e [5´-

CACCAGTCTCAACACATCACCATC -3´ e 5´- GAGCATTTCCC CACCCACTGGAGG -3´]

para o gene ATN1 (Koide et al., 1994). Como o protocolo de PCR para HD não detecta alelos

com expansões CAG muito grandes, todos os pacientes que não heterozigotos ao lócus da DH

tiveram seu DNA testado para repetições muito grandes, pela técnica de PCR com primers por

tripletos repetidos (Warner et al., 1996). Os produtos foram separados por eletroforese em gel de

poliacrilamida e o número de repetições CAG foi determinado com ABI 377 e analisado usando o

software Genescan®.

Page 38: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

36

A detecção de coreína foi realizada através de Western-blotting, com proteínas

extraídas de hemácias (Dodge et al., 1963), conforme técnica descrita por Dobson-Stone e

cols (2004), usando o anticorpo policlonal Anti-chor1.

Detalhes da metodologia destes testes podem sem encontrados no Apêndice C.

4.3 - Testes estatísticos

A análise estatística foi feita em parte com o programa Minitab e em parte com o

programa SPSS versão 10.0. Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para se verificar a

normalidade das variáveis contínuas. Posteriormente, a comparação de médias foi realizada

com o teste “t” de Student. Para a análise de variáveis categóricas, utilizou-se o Teste χ2 ou o

Teste exato de Fisher, quando indicado.

Page 39: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

37

RESULTADOS

Page 40: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

38

5 - RESULTADOS

5.1 - População do estudo

No período entre 1998 e 2006, o LNEA-FMRP realizou 108 testes de DNA para o

diagnóstico de DH. Destes, sete casos foram excluídos deste trabalho por dados insuficientes

e impossibilidade de se realizar nova avaliação. Do total restante, 101 casos, 37 (36,6%)

foram classificados com portadores de DH, 29 (28,7%) como portadores de FDHS e 35

(34,7%) não apresentavam nem a mutação nem o fenótipo Huntington-símile. A lista de

diagnósticos etiológicos deste último grupo está na tabela 2.

Tabela 2. Diagnósticos etiológicos encontrados nos pacientes com DNA negativo para DH e que não foram caracterizados como portadores do fenótipo Huntington-símile.

Diagnóstico Número de pacientes Discinesia Tardia 15 (42,8%) Coréia de Sydenham 2 (5,7%) Paralisia Cerebral 1 (2,8%) Lupus Eritematoso Sistêmico 1 (2,8%) Neurossífilis 1 (2,8%) Discinesia Paroxística Cinesiogênica 1 (2,8%) Encefalite crônica (pós biópsia cerebral) 1 (2,8%) Degeneração corticobasal 1 (2,8%) Doença de Parkinson de início Juvenil 1 (2,8%) Distonia Idiopática 1 (2,8%) Doença de Charcot–Marie–Tooth 1 (2,8%) SCA 3 (sem acometimento neuropsiquiátrico) 1 (2,8%) Inconclusivo 8 (22,8%) Total 35 (100%)

5.2 - Diferenças entre grupos de pacientes com DH e FDHS

Nos pacientes com DH, a idade média de início dos sintomas foi de 35,1 ± 12,8 anos,

sendo 16 do sexo masculino e 21 do sexo feminino. Trinta e sete pacientes (100%)

apresentavam coréia, 17 (45,9%) apresentavam alterações psiquiátricas e 25 (65,7%)

apresentavam demência. História familiar autossômica dominante foi observada em 34 casos.

Page 41: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

39

Nos pacientes com FDHS, a idade média de início dos sintomas foi de 30,07 (± 17,8) anos,

sendo 14 do sexo masculino e 15 do sexo feminino. Vinte e dois pacientes (75,8%)

apresentavam coréia, 15 (51,7%) apresentavam distúrbios psiquiátricos e 20 (68,9%)

apresentavam demência. Epilepsia foi observada em 4 (13,7%) casos e ataxia em 16 (55,1%)

casos. Dezenove casos (65,5%) tinham história familiar conhecida, destes 13 (44,8%) com

padrão autossômico dominante, ou seja, acometimento de gerações consecutivas. O número

de tripletos CAG no gene Htt variou entre 15 e 27 repetições e em nenhum caso observou-se a

presença de expansões muito amplas neste gene. Os dados epidemiológicos e clínicos estão

sumarizados nas tabelas 3, 4 e 5. Ao compararmos a presença de história familiar

autossômica dominante nos indivíduos com DH e FDHS, observamos que a mesma apresenta

uma sensibilidade de 91%, especificidade de 51%, valor preditivo positivo de 70,8% e valor

preditivo negativo de 83,3% para o diagnóstico da DH na população deste estudo.

Tabela 3. Comparativo entre os dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes com DH e FDHS.

DH FDHS p Número de casos 37 29 Idade de início 35,1 ± 12,8 30,7 ± 17,6 0,25† Masculino: Feminino 16:21 14:15 0,68‡ Coréia 37 (100%) 22 (75%) 0,002# Ataxia 7 (18,9%) 8 (27,5%) 0,40‡ Mioclonia 0 2 (6,8%) 0,19# Distonia* 0 2 (6,8%) 0,19# Tremor 0 1 (3,4%) 0,43# Distúrbios psiquiátricos 17 (45,9%) 15 (51,7%) 0,64‡ Demência 25 (65,7%) 20 (68,9%) 0,90‡ Epilepsia 4 (10,8%) 4 (13,7%) 0,72# História Familiar 34 (91,8%)

AD:34 19 (65,5%) AD: 14 (48,2%) AR: 5 (17,2%)

0,007‡

Variação (CAG)n no gene Htt 37-87 15-27 - * Distonia como manifestação predominante †Teste t de Student ‡ Teste do χ2 # Teste exato de Fisher’s

Page 42: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

40

5.3 - Diagnósticos etiológicos nos pacientes com FDHS

Dos 29 pacientes estudados, foi possível diagnosticar a etiologia de 6 (20,6%) casos.

Em três casos (10,3%) foram observadas expansões patológicas no gene JPH3. Em outros 3

casos, devido à homozigose, pesquisou-se a presença de expansões muito amplas neste gene,

a qual foi ausente. Dos 26 pacientes restantes, em dois casos foram observados acantócitos no

sangue periférico e sinais de envolvimento do sistema nervoso periférico. Ambos tiveram

amostras de sangue enviadas para a dosagem de Coreína na Ludwigs-Maximilians-

Universitat, Munique, e ambos apresentaram níveis muito baixos ou ausentes da proteína,

confirmando o diagnóstico de CAc. Um dos casos de CAc era irmã de uma paciente que foi

seguida no ambulatório de Distúrbio do Movimento do HCRP, porém faleceu antes de se

concluir o diagnóstico. Apesar de não existir a confirmação laboratorial, a presença de quadro

clínico típico associado à presença de história familiar torna o diagnóstico de CAc o mais

provável, totalizando o terceiro caso desta casuística. Não se encontrou expansões patológicas

no gene TBP (SCA 17) na população estudada. A dosagem de ceruloplasmina foi possível de

ser realizada em 18 pacientes e em todos os casos foram observados níveis normais da

proteína.

Page 43: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

41

Tabela 4. Características clínicas dos pacientes com FDHS

N II DM PQ DC EP MOE IP PR HF 1 28 MC e AX N S N N S S S 2 47 COR N N N N N N S 3 28 COR N N N N N N S 4 28 COR S S N N S N N 5 48 COR N S N S N N N 6 68 COR N S N S S S S 7 19 MC S N N N N N S 8 18 COR N S N S S N S 9 42 COR N S S N S N N 10 34 COR S S N S S N S 11 3 COR e AX N N N S S N N 12 37 TMR S N N N N N S 13 39 COR N S N N N N N 14 60 COR S S N N S N N 15 33 COR S S N N S N S 16 23 COR e AX N S N S N N S 17 2 COR N N N S N N S 18 4 COR e AX N N N S S N S 19 45 COR S S N S S S N 20 30 COR S S S S S N S 21 30 COR S N S N N N N 22 47 COR S S N N N N S 23 22 COR S S N S S S S 24 2 COR e AX N N N S S N N 25 50 Dy e AX S S N S S S S 26 2 AX S S N S S N S 27 12 Dy S S N N S N N 28 45 AX e COR S S N S S S S 29 26 COR S S S S S N S

Legenda: N: número do caso; II: idade de início da doença; DM: Distúrbio do Movimento; COR: coréia; Dy: distonia; AX: ataxia; MC: mioclonia, TMR: tremor; PQU: distúrbios psiquiátricos; DC: demência; EPI: epilepsia; MOE: alteração de motilidade ocular extrínseca; IP: instabilidade postural; PR: piramidalismo; HF: história familiar; S: Sim; N: Não.

Page 44: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

42

Tabela 5. Investigação complementar dos pacientes com FDHS.

N CLP ACT Neuroimagem HD JPH3 SCA17 1 NL NR RM: ATF 18-19 14 / 14 37/38 2 NL AUS RM: ATF 15-21 14 / 16 30/38 3 NR NR NR 18-26 11 / 14 38/38 4 NR NR RM: ATF +FT 15-23 14 / 16 36/37 5 NL AUS RM: ATF 23-25 13 / 16 36/37 6 NR AUS RM: ATF +CRB 13-17 14 / 14 36/38 7 NR AUS RM: ATF 15-24 16 / 18 36/36 8 NL NR RM: ATF 17-30 14 / 17 37/38 9 NR AUS RM: ATF 15-17 14 / 15 36/38 10 NR NR RM: ATF + STD 17-20 13 / 47* 37/37 11 NL AUS RM: ATF 19-19 14 / 17 35/37 12 NL NR CT: NL 17-17 14 / 14 35/38 13 NL AUS RM: ATF 16-24 14 / 17 34/38 14 NR AUS RM: ATF +STD 18-18 16 / 46* 35/36 15 NL AUS RM: ATF 15-18 14 / 16 37/38 16 NL AUS RM: ATF 17-17 13 / 16 33/38 17 NR NR RM: NR 18-18 14 / 19 35/37 18 NR AUS RM: ATF 24-25 14 / 19 36/38 19 NL AUS RM: ATF 14-20 11 / 16 37/38 20 NL PRES RM: ATF + hipersinal STD 16-17 14 / 16 29/32 21 NL PRES RM: ATF + hipersinal STD 15-15 14 / 16 35/37 22 NR NR CT: ATF 20-21 12 / 14 38/39 23 NL AUS CT: ATF +STD 17-18 17 / 59* 36/39 24 NL AUS RM: ATF 15-27 14 / 17 36/38 25 NL AUS RM: ATF CRB 14-23 14 / 14 36/36 26 NL AUS RM: hipossinal palidal T2 17-18 14 / 16 35/38 27 NL AUS RM: NL 16-17 15 / 16 37/38 28 NL AUS RM: ATF + hipersinal tronco

cerebral T2 17-18 14 / 16 32/35

29 NR AUS NR 16-17 14 / 16 32/38 Legenda: N: número do caso; CLP: ceruloplasmina; NL: normal; NR: não realizado; ACT: acantócitos; AUS: ausentes; PRES: presente; RM: Ressonância Magnética; CT: Tomografia computadorizada; ATF: atrofia; + FTP: predomínio frontotemporal; +CRL: predomínio cerebelar; +STD: predomínio em estriado; *: pacientes com expansão patológica.

Page 45: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

43

5.4 - Descrição dos casos clínicos:

5.4.1 - Casos diagnosticados como CAc

Caso clínico 1

Paciente de 33 anos, sexo masculino, sapateiro, divorciado, sem antecedentes médicos

significantes, foi atendido com história de movimentos involuntários generalizados e

dificuldade para falar, com início por volta dos 30 anos e piora progressiva. Tais movimentos

acometiam principalmente a região orofacial, levando a mordeduras constantes em língua

(figura 1) e dificuldade acentuada para deglutir. Ao exame neurológico observavam-se

movimentos coréicos generalizados, acentuados, difusos e de predomínio axial, acarretando

dificuldades para a marcha. Exibia fraqueza proximal, com reflexos e tônus levemente

diminuídos. Negava alterações de sensibilidade. Motilidade ocular normal. Provas

cerebelares, prejudicadas pelos movimentos coréicos, aparentemente normais. Avaliação

cognitiva evidenciava escore de 26 no miniexame do estado mental (MEEM) (normal > 24)

(Brucki et al., 2003), Escore na bateria de testes frontais (FAB) de 15 (normal > 13)

(Rodrigues et al., 2009), escala de independência da UHDRS (UHDRSi) de 70%. Exames

laboratoriais revelaram leve acantocitose (figura 2), CPK de 1410 U/l (normal < 170U/L).

Fenotipagem para antígenos Kell evidenciou Kp(b) e Cellano presentes. Eletroneuromiografia

(ENMG) foi sugestiva de miopatia e biópsia muscular demonstrou alterações não específicas.

Coreína não foi detectada no sangue periférico (figura 3 – coluna 1). Paciente manteve

seguimento com medicações anticoréicas, apresentando a primeira crise epiléptica com a

idade de 36 anos, sendo iniciado carbamazepina com controle adequado. Três meses após a

primeira crise, paciente tentou suicídio ao ingerir veneno de rato e medicações, sendo

diagnosticado episódio depressivo maior e iniciado tratamento com inibidor seletivo da

Page 46: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

44

recaptação da serotonina. Sua última RM de encéfalo revelou discreta atrofia difusa,

predominando em caudado e putâmen, associado à hipersinal em T2 e FLAIR nestes locais

(figura 4).

Figura 1. Língua de paciente com CAc evidenciando mutilações.

Figura 2. Acantócitos (seta) em amostra de sangue periférico de paciente com CAc.

Page 47: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

45

Figura 3. Western-blotting demonstrando ausência da coreína (seta)

Figura 4. RM de encéfalo (FLAIR) evidenciando hipersinal em putâmen e atrofia de caudado.

Page 48: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

46

Caso clínico 2

Paciente de 60 anos, com antecedente de crises parciais complexas desde os 29 anos

de idade, para as quais recebeu inúmeras drogas antiepilépticas com controle parcial. Após os

40 anos de idade, apresentou vários episódios psicóticos, levando a repetidas internações em

hospital psiquiátrico. Aos 52 anos, a paciente começou a apresentar perdas cognitivas,

principalmente esquecimento e alentecimento cognitivo. A partir dos 56 anos, a paciente

iniciou movimentos involuntários e em um ano iniciou instabilidade de marcha e fraqueza

proximal. Com a idade de 59 anos ela era incapaz de andar sem auxílio. Seu exame

neurológico evidenciava coréia generalizada discreta, atrofia muscular proximal, fraqueza

proximal, hiporreflexia difusa, sinal de Babinski bilateral e fala disártrica. Apresentava escore

de 26 no MEEM e 11 no FAB. Seu nível de independência era de 50% (UHDRSi). Testes

laboratoriais revelavam acantocitose leve e dosagem de CPK de 617 U/L (normal <170 U/L).

Uma ENMG de quatro membros foi compatível com miopatia. Seu EEG demonstrava

descargas frontotemporais a esquerda (figura 5) e RM demonstrava atrofia global, de

predomínio em caudado e putâmen, com hipersinal nestas regiões em sequências ponderadas

em T2 (figura 6). Realizado dosagem da coreína, a qual foi indetectável (figura 3 – coluna 3).

Page 49: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

47

Figura 5. EEG evidenciando ondas agudas (setas) em região frontotemporal esquerda.

Page 50: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

48

Figura 6. RM de encéfalo, ponderada em T2, evidenciando atrofia e hipersinal em putâmen e núcleo caudado.

A história familiar desta paciente merece ser mencionada. A irmã mais nova será

descrita como caso clínico 3 (abaixo). Uma irmã mais velha (figura 7 – indivíduo II-1

heredograma) apresenta crises epilépticas desde a idade de 15 anos, adequadamente

controlada com drogas antiepilépticas. Sua última crise aconteceu há 9 anos e a paciente

mantém uso regular de carbamazepina para controle de crises. Até a idade de 63 anos seu

exame neurológico é normal. Seu EEG apresenta descargas frontotemporais, porém RM de

encéfalo e níveis de coreína são normais (figura 3, coluna 4). Um irmão da paciente (figura 7

– indivíduo II-2 heredograma) foi inicialmente avaliado com história de 6 meses de evolução

de fraqueza, atrofia muscular e fasciculações, que começaram no braço esquerdo, progredindo

para o braço direito e membros inferiores. Exame neurológico demonstrava fraqueza e

hiporreflexia global, sem alterações sensitivas. ENMG revelava desnervação global com

Page 51: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

49

velocidade de condução normais. Biópsia de nervo sural foi normal. Com 46 anos, o paciente

desenvolveu dispnéia ortostática e fraqueza de pescoço, falecendo alguns meses após por

insuficiência ventilatória. O diagnóstico clínico considerado foi Atrofia Muscular Progressiva,

porém autópsia não foi realizada.

Figura 7. Heredograma da família dos casos clínicos 2 e 3.

Caso clínico 3

Paciente 46 anos (figura 7 – indivíduo II-5 heredograma), branca, funcionária pública,

com antecedente de crises epilépticas e alteração do humor desde a idade de 26 anos. Com 43

anos ela começou a apresentar tics motores, parcialmente controlados com haloperidol. Em

um ano, ela começou a apresentar alucinações visuais, ideação suicida e compulsão alimentar,

a qual a fez engordar 52 Kg nesse período. Com 45 anos ela precisou ser hospitalizada 3

vezes devido a comportamento agressivo e transtorno obsessivo compulsivo. A paciente

Page 52: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

50

faleceu aos 46 anos por morte súbita, de causas indeterminada. Não foi submetida à necropsia.

Em seu último exame neurológico, aos 46 anos de idade, ela apresentava movimentos faciais

tipo careteamento, tics vocais, fraqueza proximal e hiporreflexia difusa. Avaliação cognitiva

evidenciava MEEM de 27 e FAB de 11. Escore de independência de 80% (UHDRSi). Nunca

foi observado acantócitos em seu sangue periférico. Seu último valor de CPK foi de 718 U/L.

Pelo óbito precoce, a dosagem de coreína não pode ser realizada.

5.4.3 - Casos diagnosticados como HDL2

Caso clínico 4

Paciente de 48 anos, sexo feminino, negra, foi vista pela primeira vez com 41 anos de

idade por uma história de movimentos involuntários generalizados iniciados por volta dos 34

anos. Tais movimentos apresentaram piora progressiva prejudicando sua marcha e atividades

diárias. Com 39 anos de idade, ela apresentou depressão e alentecimento progressivo. Nesta

época, exame neurológico evidenciava coréia generalizada e fala disártrica, sem outras

anormalidades ao exame neurológico, exceto desorientação temporal e perda de memória

leve. Foi prescrito haloperidol com melhora da coréia, a qual permaneceu estável por alguns

anos. Seu quadro cognitivo, entretanto, evoluiu progressivamente até demência grave. Não

havia história familiar de coréia, embora houvesse vários casos de distúrbio psiquiátrico tanto

na linhagem materna quanto paterna. Ressonância magnética de encéfalo demonstrou atrofia

cerebral, principalmente em núcleo caudado (figura 8). Teste genético para HDL2

demonstrou a presença de 47 repetições do tripleto CAG em um alelo do gene JPH3.

Page 53: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

51

Figura 8. RM de encéfalo, ponderada em T1, evidenciando atrofia cerebral leve, predominando em núcleo caudado.

Caso clínico 5

Um paciente 32 anos, negro, desenvolveu movimentos involuntários desde a idade de

22 anos. Estes movimentos eram inicialmente caracterizados por sua família como sendo tics,

afetando principalmente braços e face, e que progressivamente se tornaram contínuos e

generalizados. Ao mesmo tempo, foi notada perda de memória, comprometimento da

compreensão e comportamento agressivo. Sua família relatava história de movimentos

semelhantes em sua mãe e avô materno, com comprometimento progressivo levando a óbito.

Seu primeiro exame neurológico, realizado aos 28 anos, revelava comprometimento cognitivo

moderado, fala disártrica, coréia generalizada, marcha instável sem sinais nítidos de disfunção

cerebelar. Foi prescrito haloperidol com controle parcial da coréia, com piora gradual nos

anos seguintes. Em sua última avaliação, aos 32 anos, havia distonia em membros superiores,

Page 54: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

52

rigidez leve, bradicinesia, comprometimento cognitivo grave e fala ininteligível. Não foi

observada coréia. Tomografia de crânio evidenciava atrofia generalizada, de predomínio em

núcleo caudado (figura 9). Teste genético para HDL2 demonstrou a presença de 59 repetições

do tripleto CAG em um alelo do gene JPH3.

Figura 9. CT de encéfalo evidenciando atrofia cerebral com predomínio em núcleo caudado.

Caso clínico 6

Paciente de 70 anos, negro, foi atendido pela primeira vez aos 62 anos de idade devido

à dificuldade para deambular e desequilíbrio desde os 60 anos. Com 61 anos, sua família

observou movimentos involuntários e um ano após ele começou a apresentar alterações

cognitivas e agressividade. Sabia-se que seus pais eram primos de segundo grau, mas mais

detalhes de sua história familiar são desconhecidos, visto que ele não mantinha contato com

Page 55: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

53

sua família desde os 18 anos. O exame neurológico inicial revelava coréia generalizada e

comprometimento da marcha e equilíbrio. A primeira RM de encéfalo, realizada aos 63 anos,

mostrava atrofia generalizada, pior em núcleo caudado. Cinco anos após, nova RM

demonstrava atrofia cerebral grave, e quase desaparecimento do núcleo caudado (figura 10 e

11). A partir dos 65 anos se tornou restrito ao leito, anártrico e gravemente demenciado. Seu

último exame evidenciava demência profunda, incapacidade de colaboração com o

examinador, coréia discreta, espasticidade generalizada, hiperreflexia e sinal Babinski

presente bilateralmente. O teste genético para HDL2 demonstrou a presença de 46 repetições

do tripleto CAG em um alelo do gene JPH3.

Page 56: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

54

Figura 10. RM de encéfalo, corte axial, demonstrando atrofia cerebral com predomínio em núcleo caudado, com progressão acentuada num período de 5 anos.

Figura 11. RM de encéfalo, corte coronal, demonstrando atrofia cerebral com predomínio em núcleo caudado, com progressão acentuada num período de 5 anos.

Page 57: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

55

DISCUSSÃO

Page 58: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

56

6 - DISCUSSÃO

Nosso estudo demonstrou que quase de 30% dos pacientes com fenótipo similar ao da

DH, atendidos num centro terciário brasileiro, não apresentavam a mutação no gene Htt.

Dessa população de 29 pacientes, foi possível definir o diagnóstico em apenas 6 pacientes, o

que significa dizer que 80% dos casos permaneceram sem diagnóstico. Cerca de 10% dos

pacientes com FDHS receberam o diagnostico de HDL2 e 10% o diagnóstico de CAc. Todos

os casos de CAc e HDL2 apresentaram manifestações clínicas típicas destas doenças, sendo

observada em todos os casos a presença de coréia e alterações cognitivas ou comportamentais.

Neste estudo, por motivos de disponibilidade e economia, optou-se por realizar os

testes moleculares para diagnosticar as condições mais comumente associadas à FDHS.

Portanto, condições muito raras como HDL1 e FRDA com coréia, respectivamente presentes

em 0,24% e 0,35% da população de FDHS no maior estudo já realizado (Wild et al., 2008),

não foram analisadas. Neuroferritinopatia aparenta ser ainda mais rara nesta população, com

pequeno número de famílias relatadas, e nenhum caso encontrado em coortes de pacientes

com FDHS (Keckarevi et al., 2005; Costa et al., 2006; Wild et al., 2008). Ainda assim, este

diagnóstico poderia ser suspeitado com a presença de alterações típicas ao exame de

neuroimagem. Condições como Doença de Wilson e Aceruloplasminemia também puderam

ser investigadas nos pacientes que já tinham colhido ou que colheram a dosagem sérica de

ceruloplasmina. Embora a FXTAS tenha sido testada em um estudo (Rodriguez - Revenga et

al., 2008), até onde sabemos, não existe nenhum caso relatado de FXTAS associado com

coréia, não sendo incluída a pesquisa da pré-expansão do gene FMR1 neste estudo. A DRPLA

tem sido sistematicamente testada em estudos prévios (Rosenblatt et al., 1998; Stevanin et al.,

2003; Keckarevi et al., 2005; Costa et al., 2006; Wild et al., 2008; Sułek-Piatkowska et al.,

2008), porém não se encontrou nenhum caso nas populações estudadas. Classicamente

Page 59: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

57

associada ao fenótipo da DH, a DRPLA é de ocorrência predominantemente em países

orientais. Como o Brasil abriga a maior população japonesa fora do Japão (IBGE, 2000),

justificou-se adicionar a pesquisa por esta patologia ao painel de testes moleculares

realizados. Finalmente, a CAc é uma condição que se relaciona bem ao fenótipo da DH e que

pode ser facilmente suspeitada nos pacientes com FDHS e envolvimento do sistema nervoso

periférico, presença de acantócitos no sangue periférico ou elevação de CPK. Como a triagem

desta condição é facilmente exeqüível e o exame diagnóstico está disponível gratuitamente,

optou-se por realizar a dosagem da coreína nos casos em que houve evidencia clínica, pela

presença de neuropatia periférica ou miopatia, ou laboratorial, pela presença de acantócitos ou

aumento da CPK sérica.

Neste estudo observou-se que, dos 101 casos submetidos ao teste molecular para a

DH, 64 (63,4%) pacientes obtiveram resultado negativo. Este dado é discrepante com os

primeiros estudos realizados para se testar a sensibilidade e especificidade das repetições

CAG do gene Htt no diagnóstico da DH, em que a freqüência de indivíduos com resultado

negativo era aproximadamente de 1% (Kremer et al., 1994; Andrew et al., 1994). Na tentativa

de se entender esses dados, pode-se alegar que 35 (34,7%) indivíduos submetidos à análise do

DNA na realidade não tinham um fenótipo compatível com DH. Esta indicação equivocada

do teste molecular pode ser explicada por não existirem, no HCRP, critérios específicos que

recomendem a realização do teste, sendo a mesma baseada exclusivamente na suspeita clínica

do examinador. Some-se a isto o fato do Ambulatório de Doenças Extrapiramidais do HCRP

ser um centro terciário, que recebe muitos casos atípicos, inserido num ambiente acadêmico e

onde há facilidade para se solicitar o teste molecular. Ainda assim restam 29 (28,7%)

indivíduos com FDHS, uma freqüência quase 30 vezes maior que a encontrada nos estudos

referencia na área (Kremer et al., 1994; Andrew et al., 1994). Por outro lado, em estudos mais

recentes, proporções significativas de pacientes com FDHS também foram encontradas, como

Page 60: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

58

33% (Krause et al., 2005), 35,5% (Costa et al., 2006) e 36,3% (Keckarević et al., 2005). O

trabalho Krause e cols. (2005) esclarece em parte este problema. Dados obtidos pelos mesmos

pesquisadores e com a mesma metodologia demonstram que apenas 16% dos pacientes

brancos apresentam FDHS, em contraste com a taxa de 64% encontrada nos pacientes negros.

Desta forma, a etnia de cada população deve ser um dos fatores responsáveis pela variação de

freqüência de indivíduos com FDHS entre os estudos.

Na população não portadora de DH e FDHS, o diagnóstico mais comumente

observado foi discinesia tardia. Muitos dos pacientes com discinesia são portadores de

moléstias psiquiátricas de longa data e que, após o uso crônico de medicações neurolépticas,

desenvolvem movimentos involuntários, clinicamente similares aos da DH. Nestes casos a

descontinuação ou substituição do neuroléptico típico por um atípico tende a levar a melhora

dos sintomas a longo prazo, descaracterizando a suspeita de uma doença neurodegenerativa

em que a piora é progressiva. Outros diagnósticos apresentados não foram categorizados

como FDHS por não apresentarem piora progressiva (Coréia de Sydenham, Paralisia

Cerebral, Discinesia Paroxística Cinesiogênica), por não apresentarem acometimento

cognitivo ou psiquiátrico na época de inclusão no estudo (Parkinson juvenil, Distonia

Primária, SCA 3) ou porque diagnósticos alternativos já tinham sido estabelecidos (Lúpus

Eritematoso Sistêmico, Neurossífilis, Encefalite crônica, Degeneração ganglionar córtico-

basal, Doença de Charcot-Marie-Tooth). Nesta população, cerca de 8 (22%) pacientes

apresentavam diagnóstico inconclusivo até o final deste estudo.

Quando se comparou as populações de DH com FDHS, observou-se que não houve

diferença entre a predominância de gênero, a ocorrência de alteração psiquiátrica, de

demência e de outros distúrbios do movimento além da coréia. Nota-se que a presença de

coréia foi mais comum na população com DH do que com FDHS, devido à coréia ser uma

manifestação muito comum na DH e os critérios diagnósticos deste estudo permitirem a

Page 61: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

59

inclusão de pacientes com FDHS sem coréia. Em nossa população, a presença de história

familiar autossômica dominante foi mais comum nos pacientes com DH do que nos pacientes

com FDHS. Num paciente com fenótipo compatível com DH, a ausência de história familiar

autossômica dominante prediz uma chance de 83% de que esse paciente não apresente DH. A

ocorrência de epilepsia foi similar nos grupos com DH e FDHS. Entretanto ressalta-se que,

dos 4 pacientes com epilepsia no grupo com FDHS, 3 apresentaram o diagnóstico de CAc, ou

seja, 100% dos casos de CAc. Desta forma, na população deste estudo, a ocorrência de

epilepsia foi 10 vezes mais comum nos indivíduos com CAc do que nos indivíduos com DH.

Dos pacientes com FDHS, 3 casos foram diagnosticados como HDL2. Ao somarem-

se estes com os casos relatados por Teive e cols. (2007) e por Santos e cols. (2008) observa-se

que a HDL2 é, até o momento, a principal causa de FDHS no Brasil, quadro semelhante ao

que ocorre na África do Sul (Krause et al., 2005) e contrário ao observado nos estudos

Europeus, em que a SCA17 é a principal etiologia envolvida (Bauer et al., 2004; Wild et al.,

2008; Sułek-Piatkowska et al., 2008). Justifica-se essa diferença porque a HDL2 é mais

comum em negros e cerca de 44% da população brasileira é formada por afrodescendentes

(IBGE, 2000).

O paciente relatado no caso clínico 5 apresentou 59 expansões do tripleto CAG no gene

JPH3, valor idêntico à maior expansão identificada até o momento (Bardien et al., 2007), e sua

idade de início, 22 anos, está entre as menores já relatadas, confirmando a idéia que, assim como

ocorre na DH, quanto maior o número de expansões CAG, mais precoce é a instalação da doença

(Margolis et al., 2004). Apesar da idade precoce em que começaram os sintomas, a família

relatava um fenótipo clínico em que predominava movimentos hipercinéticos, confirmando a

idéia atual de que na HDL2, ao contrário do que ocorre na DH, aparentemente não há correlação

entre o fenótipo parkinsoniano ou coréico e a idade de início dos sintomas (Walker et al., 2003). A

idade de início dos sintomas no paciente do caso clínico 6, sessenta anos, é a maior encontrada até

Page 62: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

60

hoje em pacientes com HDL2. Seu número de expansões, 46, está no limite inferior do corte

patológico. Ao contrário do que era esperado, este paciente apresentou uma evolução da doença

muito rápida, ficando restrito ao leito apenas 5 anos após o início dos sintomas. Suas ressonâncias

magnéticas de encéfalo (figuras 10 e 11), ao demonstrarem uma perda volumétrica vigorosa com

um intervalo de 5 anos, refletem o avanço rápido da doença neste paciente. Todos os casos

relatados neste estudo corroboram que a HDL2 é muito parecida com a DH, sendo uma hipótese

muito importante a ser considerada no paciente afrodescendente com FDHS. Entretanto, mesmo

nos casos em que o paciente não seja negro, a possibilidade de se tratar de HDL2 deve ser

suspeitada (Santos et al., 2008), principalmente em países com grande proporção de

afrodescendentes, como o Brasil.

Além dos 3 casos de HDL2, este estudo identificou 3 casos de CAc. A CAc pode, ao

apresentar coréia com alterações cognitivas ou psiquiátricas, simular um quadro de DH.

Entretanto, vários aspectos da CAc, também presentes em nossos casos, podem ser notados

para auxiliar na diferenciação destas duas doenças.

Os casos de CAc apresentados não tinham padrão de herança autossômico dominante,

o que condiz com o diagnóstico proposto já que, classicamente e ao contrário da DH, a CAc é

uma doença autossômica recessiva. Alguns autores, entretanto, têm levantado anátema a esta

idéia, baseado na identificação de indivíduos heterozigotos para mutação no gene VPS13A e

que apresentam sintomas compatíveis com a CAc (Dobson-Stone et al., 2002) e em relatos

como o estudo anatomopatológico de uma família com possível CAc autossômica dominante

(Ishida et al., 2008). Por outro lado, como são muito raros os casos heterozigotos frente ao

número de homozigotos, acredita-se que muitos dos chamados heterozigotos são na realidade

erros de laboratório ou produto de uma avaliação molecular incompleta (Bader et al., 2008).

Existem raros relatos de DH com envolvimento do sistema nervoso periférico (SNP)

(Kanzato et al., 1998; Kanai et al. 2008). Quando um paciente com FDHS apresenta

Page 63: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

61

manifestações periféricas, o diagnóstico de CAc deve ser considerado (Walker et al., 2007).

Os casos identificados neste estudo apresentavam hiporreflexia, mas o sintoma neuromuscular

mais exuberante foi a fraqueza proximal com atrofia muscular proeminente. A suspeita clínica

se refletiu no aumento de CPK observado em todos os casos, e na EMG realizado em dois dos

casos, em ambos compatível com miopatia, o que caracteriza a topografia muscular como

sendo a mais envolvida nas manifestações periféricas da CAc neste estudo.

Embora o caso 1 tenha apresentado uma forma de CAc de evolução típica, as

pacientes 2 e 3 apresentaram um intervalo considerável (37 e 17 anos, respectivamente) entre

o início da epilepsia e dos distúrbios psiquiátricos e o desenvolvimento dos distúrbios do

movimento. De forma semelhante, Al-Asmi e cols. (2005) relataram duas famílias portadoras

de CAc com quadro de epilepsia e alterações psiquiátricas antecedendo entre 6 e 15 anos o

início dos distúrbios do movimento. Embora incomum, este intervalo de tempo pode gerar

confusão diagnóstica, devendo-se estar atento para a possibilidade de CAc em casos

familiares com epilepsia e distúrbios psiquiátricos, mesmo sem a presença de coréia. Nestes

casos um simples esfregaço de sangue periférico pode ser elucidativo.

O paciente descrito no caso clínico 1 apresentava acantócitos desde a primeira amostra

de sangue solicitada. Entretanto a paciente do caso 2, a despeito de várias tentativas de

determinação, somente apresentou acantócitos após 28 anos de doença. Sua irmã, caso clínico

3, nunca apresentou acantócitos. Possíveis explicações para estes resultados seriam o não uso

de um método de screening padronizado, com aumento da sensibilidade por adição do EDTA

(Feinberg et al., 1991; Storch et al., 2005), ou a ocorrência variável de acantócitos, que podem

aparecer apenas em fases tardias da doença (Sorrentino et al., 1999).

Embora a paciente descrita no caso clínico 3 não tenha realizado o teste da coreína,

pois foi a óbito antes da disponibilização do mesmo, e nem tenha apresentado acantócitos nas

amostras de sangue colhidas, seu quadro clínico caracterizado por epilepsia, alterações

Page 64: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

62

psiquiátricas e movimentos coréicos, associado à elevação nos níveis de CPK, é consistente

com o diagnóstico de CAc, principalmente depois de constatado a ocorrência de CAc em sua

irmã mais velha. O fato de a paciente não ter apresentado perda de peso, comum na CAc, e ao

contrário, ter apresentado ganho de 52 Kg em um ano, não é algo inédito na CAc, já tendo

sido previamente relatado (Ichiba et al., 2007).

Os pacientes com CAc demonstraram comprometimento cognitivo inferior ao

esperado nos pacientes com DH. Seus exames de imagem tendem a apresentar menos atrofia

cortical, a despeito de vários anos de doença, como no caso clínico 2. Esses dados sugerem

uma maior vulnerabilidade dos neurônios estriatais à mutação do gene VPS13A.

Os irmãos do caso 2 apresentaram manifestações interessantes embora sem significado

claro. A irmã mais velha desenvolveu crises parciais complexas a partir dos 15 anos de idade,

mantendo crises esporádicas por toda a vida. Seu EEG sugeria crises focais e sua RM de encéfalo

não tinha alterações. Em 2007 foi realizado o teste da coreína nesta paciente, o qual apresentou

níveis normais da proteína. A causa da epilepsia desta paciente não foi esclarecida, podendo não

ter relação com a CAc. Outras possíveis explicações seriam a possibilidade desta paciente ser

heterozigota para a mutação no gene VPS13A e este genótipo influenciar discretamente a

fisiologia cerebral, levando a crises ocasionais, sem afetar os níveis de coreína, ou, por outro lado,

é possível que esta paciente apresente uma mutação que co-segregue com o gene VPS13A e esta

seja a responsável pela epilepsia, como defendem alguns autores (Muller-Vahl et al., 2007; Al-

Asmi et al., 2005). A elucidação destas questões poderia ser alcançada com o seqüenciamento do

gene VPS13A, o que não foi disponível na época da realização do estudo. A paciente descrita no

caso 2 também apresentou um irmão que faleceu devido à insuficiência respiratória, causada por

Atrofia Muscular Progressiva (AMP). Infelizmente o paciente foi a óbito há mais de 15 anos e

exames complementares que pudessem auxiliar no diagnóstico diferencial com CAc não foram

realizados. Até o momento não existe nenhum relato de pacientes com CAc com doença do

Page 65: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

63

neurônio motor, portanto essa associação entre AMP e CAc é especulativa, embora exista um

relato de doença do neurônio motor associada à acantocitose (Spitz et al., 1985) e a mutação num

gene da família do VPS13A, conhecido como VPS54, causar doença do neurônio motor em ratos

(Schmitt-John et al., 2005).

A SCA 17 tem sido descrita como a principal causa de FDHS no mundo. Wild e cols

(2008) elaboraram um fluxograma de diagnóstico em que esta doença seria a primeira a ser

testada no caso de FDHS. Estudos europeus têm pesquisado pela mutação na TBP em suas

populações (Stevanin et al., 2003; Bauer et al., 2004; Cellini et al., 2004; Keckarevi et al.,

2005; Cosa et al., 2006; Wild et al., 2008; Sułek-Piatkowska et al., 2008) e até o momento 18

casos foram identificados. Embora este estudo tenha pesquisado sistematicamente a presença

de mutações na TBP em sua população de pacientes com FDHS, nenhum caso foi encontrado.

Sugere-se, portanto, que o fluxograma proposto por Wild e cols (2008) seja revisto ao se

abordar pacientes brasileiros, testando-se inicialmente o gene JPH3, principalmente nos casos

que afrodescendência for evidente ou suspeitada.

Embora feita por amostragem, mas digno de citação, a pesquisa de alterações que

sugerissem Doença de Wilson, Aceruloplasminemia e Neuroferritinopatia não encontrou

casos sugestivos, sugerindo que possivelmente tais diagnósticos não sejam causas importantes

de FDHS no Brasil, como acontece em outras partes do mundo (Keckarevi et al., 2005; Cosa

et al., 2006; Wild et al., 2008), embora há que se reconhecer que não foram estudados

sistematicamente todos os pacientes com FDHS nem se realizou todos os testes necessários

para confirmação do diagnóstico, como a dosagem do cobre urinário na Doença de Wilson e a

pesquisa de mutações nos genes CP da Aceruloplasminemia e FTL da Neuroferritinopatia.

Estudos internacionais têm alcançado taxas variáveis de diagnóstico. Schneider e cols

(2007) afirmam, em recente revisão sobre o tema, que a média de identificação da etiologia

em pacientes com FDHS é de 3% dos casos. Se computarmos os dados de todos os 14 estudos

Page 66: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

64

de screening realizados até hoje (tabela 1), excluindo-se o trabalho de Bauer e cols (2002)

porque sua casuística se repete em outro trabalho do mesmo grupo, 2 anos após (Bauer et al.,

2004), teremos um total de 3830 pacientes investigados. Nestes, o diagnóstico etiológico foi

alcançado em apenas 50 pacientes, ou seja, 1,3% da amostra. O presente estudo foi capaz de

diagnosticar 6 (20,6%) pacientes, tornando-se o segundo estudo em freqüência de

diagnósticos até o momento, atrás apenas da pesquisa realizada na África do Sul por Krause e

cols (2005), que atingiu 30% de diagnóstico. A taxa de diagnóstico deste trabalho, alta se

comparada com outros estudos, provavelmente se deve aos critérios mais restritos para se

definir o que seria um paciente com FDHS, já que alguns autores consideram que apenas a

indicação do exame diagnóstico para DH já torna o paciente portador do fenótipo Huntington-

símile (Holmes et al., 2001; Bauer et al., 2002; Bauer et al., 2004; Keckarevi et al., 2005;

Krause et al., 2005; Costa et al., 2006; Rodriguez-Revenga et al., 2008; Wild et al., 2008;

Sułek-Piatkowska et al., 2008). Além disso, a alta taxa de afrodescendência na população

brasileira contribuiu para o aumento do número de casos de HDL2, o que influi na freqüência

total de diagnósticos. Ainda assim, 79,4% da população de pacientes com FDHS deste estudo

permanecem sem diagnóstico, sugerindo que o painel de exames realizados foi insuficiente e

que a heterogeneidade genética na FDHS é ampla e em boa parte desconhecida.

Desta forma, mais estudos abordando o tema são necessários, ampliando o número de

pacientes com FDHS e o painel de exames a serem realizados. A identificação destes

diagnósticos poderá trazer contribuições para o entendimento da fisiopatogenia de doenças

neurodegenerativas, especialmente aquelas que têm predileção pelos núcleos da base. Além

disso, a despeito de sua raridade, essas doenças acometem famílias de seres humanos, que

merecem ter respondidas as suas angústias e interrogações em relação ao diagnóstico exato,

hereditariedade, prognóstico e possibilidades terapêuticas.

Page 67: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

65

CONCLUSÕES

Page 68: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

66

7 - CONCLUSÕES

Neste estudo encontrou-se uma alta proporção de pacientes com fenótipo compatível

com a DH, porém sem a expansão CAG no gene Htt esperada nestes casos. Clinicamente,

possíveis preditores do diagnóstico de FDHS seriam a ausência de história familiar

autossômica dominante e a ausência de coréia. A presença de epilepsia, associada com

alterações neuromusculares, elevação da CPK e presença de acantócitos sugere o diagnóstico

de CAc.

Na população estudada, grandes expansões do tripleto CAG não foram causa de falso

negativo para o diagnóstico de DH. Também não se observou casos de SCA 17 e DRPLA

entre os pacientes analisados, demonstrando que causas importantes de FDHS na Europa e na

Ásia não estão entre as principais causas deste diagnóstico no Brasil. Estudo por amostragem

também sugere que a Doença de Wilson, Aceruloplasminemia e Neuroferritinopatia não

parecem ser causas importantes de FDHS nesta população.

A CAc, doença mais comum em orientais, se revelou uma importante causa de FDHS

no Brasil. Infelizmente, os estudos internacionais já realizados em coortes de pacientes com

FDHS não estudaram sistematicamente a presença de coreína nestas populações, o que

impossibilita uma comparação com nossos dados. A mutação no gene JPH3, a qual tem sido

estudada com freqüência e sem resultados positivos em países caucasianos e asiáticos, foi

encontrada em cerca de 10% dos pacientes com fenótipo Huntington-símile deste estudo,

provavelmente devido aos 44% de afrodescendentes que constituem a população brasileira.

Possivelmente, a HDL2 é a principal causa de FDHS no Brasil, merecendo ser mais

frequentemente investigada nos pacientes suspeitos.

Page 69: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 70: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

68

8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Al-Asmi A, Jansen AC, Badhwar A, Dubeau F, Tampieri D, Shustik C, et al. Familial temporal lobe epilepsy as a presenting feature of choreoacanthocytosis. Epilepsia 2005; 46(8):1256-1263

2. Albin R. Selective neurodegeneration in Huntington’s disease. Ann neurol 1995;38:835-836

3. American College of Medical Genetics, American Society of Human Genetics (ACHG/ASHG), Genetic Testing Working Group. Laboratory guidelines for Huntington disease genetic testing. Am J Hum Genet 1998; 62: 1243-1247.

4. Andrew SE, Goldberg YP, Kremer B, Squitieri F, Theilmann J, Zeisler J, et al. Huntington disease without CAG expansion: phenocopies or errors in assignment? Am J Hum Genet 1994;54:852-863

5. Anton G. Über die Beteiligung der grossen basalen Gehirnganglien bei Bewegungstörungen und insbesondere bei Chorea. Jahrbüncher Psychiatr Neurol 1896;14:141-181 (apud Goetz et al., 2001)

6. Bader B, Velayos-Baeza A, Walker RH, Danek A. Dominant transmission of chorea-acanthocytosis with VPS13A mutations remains speculative. Acta Neuropathol 2009;117(1):95-6

7. Bamford KA, Caine ED, Kido DK, Cox C, Shoulson I. A prospective evaluation of cognitive decline in early Huntington’s disease. Neurology 1995;45:1867-1873

8. Bardien S, Abrahams F, Soodyall H, van der Merwe L, Greenberg J, Brink T, et al. A South African mixed ancestry family with Huntington disease-like 2: Clinical and genetic features. Mov Disord. 2007;22(14):2083-9.

9. Bauer I, Gencik M, Laccone F, Peters H, Weber BH, Feder EH, et al. Trinucleotide repeat expansions in the junctophilin-3 gene are not found in Caucasian patients with a Huntington's disease-like phenotype. Ann Neurol 2002;51(5):662.

10. Bauer P, Laccone F, Rolfs A, Wüllner U, Bösch S, Peters H, et al. Trinucleotide repeat expansion in SCA17/TBP in white patients with Huntington’s disease-like phenotype. J Med Genet 2004;41:230-232

Page 71: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

69

11. Biglan KM, Shoulson I. Huntington´s Disease. In: Parkinson´s Disease and Movement Disorders. Jankovid JJ, Tolosa E (eds). Lippincott Williams and Wilkins. Philadelphia, USA. 4th ed. 2002. Pgs:212-227

12. Blancardi S. Lexicon medicum. Groshii: Joh. Heinz; 1696. (apud Goetz et al., 2001)

13. Brandt J, Folstein SE, Folstein MF. Differential cognitive impairment in Alzheimer disease and Huntington’s disease. Ann Neurol 1988;23:555–61.

14. Brandt J, Quaid KA, Folstein SE, Garber P, Maestri NE, Abbott MH, et al. Presymptomatic diagnosis of delayed-onset disease with linked DNA markers: the experience in Huntington's disease. JAMA 1989;261:3108-14

15. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci PHF, Okamoto IH. Sugestões para o uso do mini-exame do estado mental no Brasil. Arq Neuropsiquiatr 2003;61(3-B):777-781

16. Bull PC, Thomas GR, Rommens JM, Forbes JR, Cox DW. The Wilson disease gene is a putative copper transporting P-type ATPase similar to the Menkes gene. Nature Genet 1993; 5: 327-337

17. Caine ED, Shoulson I. Psychiatric syndromes in Huntington´s disease. Am J Psychiatric 1983;140:728-733

18. Cancel G, Abbas N, Stevanin G, Dürr A, Chneiweiss H, Néri C, et al. Marked phenotypic heterogeneity associated with expansion of a CAG repeat sequence at the spinocerebellar ataxia 3/Machado-Joseph disease locus. Am J Hum Genet 1995;57(4):809-16.

19. Cardoso F, Seppi K, Mair KJ, Wenning GK, Poewe W. Seminar on choreas. Lancet Neurol 2006; 5: 589–602

20. Cellini E, Forleo P, Nacmias B, Tedde A, Bagnoli S, Piacentini S, et al. Spinocerebellar ataxia type 17 repeat in patients with Huntington's disease-like and ataxia. Ann Neurol. 2004;56(1):163

21. Costa M.C, Teixeira-Castro A, Constante M, Magalhães M, Magalhães P, Cerqueira J, et al. Exclusion of mutations in the PRNP, JPH3, TBP, ATN1, CREBBP, POU3F2 and FTL genes as a cause of disease in Portuguese patients with a Huntington-like phenotype. J Hum Genet. 2006;51(8):645-51

22. Coxe JR. Med Physical J. 1805;(13):401. (apud Okun, 2003)

Page 72: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

70

23. Curtis ARJ, Fey C, Morris CM, Bindoff LA, Ince PG, Chinnery PF, et al. Mutation in the gene encoding ferritin light polypeptide causes dominant adult-onset basal ganglia disease. Nature Genet 2001; 28: 350-354

24. Danek A, Jung HH, Melone MAB, Rampoldi L, Broccoli V, Walker RH. Neuroacanthocytosis: new developments in a neglected group of dementing disorders. J Neurol Sci 2005; 229:171– 186

25. Danek A, Rubio JP, Rampoldi L, Ho M, Dobson-Stone C, Tison F, et al. McLeod neuroacanthocytosis: genotype and phenotype. Ann Neurol 2001 50:755–764

26. Das SK, Ray K. Wilson’s disease: an update. Nat Clin Pract Neurol 2006;2(9): 482-493

27. Delatycki MB, Williamson R, Forrest SM. Friedreich ataxia: an overview. J Med Genet 2000; 37: 1-8

28. DiFiglia M, Sapp E, Chase KO, Davies SW, Bates GP, Vonsattel JP, et al. Aggregation of huntingtin in neuronal intranuclear inclusions and dystrophic neurites in brain. Science 1997;277:1990–3.

29. Dobson-Stone C, Danek A, Rampoldi L, Hardie RJ, Chalmers RM, Wood NW, et al. Mutational spectrum of the CHAC gene in patients with chorea-acanthocytosis. Eur J Hum Genet 2002;10(11):773-81.

30. Dobson-Stone C, Velayos-Baeza A, Filippone LA, Westbury S, Storch A, Erdmann T, et al. Chorein Detection for the Diagnosis of Chorea-Acanthocytosis. Ann Neurol 2004;56:299-302

31. Dodge JT, Mitchell C, Hanahan DJ. The preparation and chemical characteristics of hemoglobin-free ghosts of human erythrocytes. Arch Biochem Biophys 1963;100:119 –130.

32. Dunglison R. Practice of Medicine, Vol. 2, 1st ed. Philadelphia: Lee and Blanchard; 1843:312. (apud Okun, 2003)

33. Elliotson J. St. Vitus’ dance. Lancet. 1832;1:162–164. (apud Okun, 2003)

34. Feinberg TE, Cianci CD, Morrow JS, Pehta JC, Redman CM, Huima T, et al. Diagnostic tests for choreoacanthocytosis. Neurology 1991; 41(7):1000-6

Page 73: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

71

35. Ferrante RJ, Kowall NW, Beal MF, Richardson EP Jr, Bird ED, Martin JB. Selective sparing of a class of striatal neurons in Huntington’s disease. Science 1985;230:561–3.

36. Foroud T, Gray J, Ivashina J, Conneally PM. Differences in duration of Huntington’s disease based on age at onset. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1999;66:52-56

37. Geschwind DH, Perlman S, Figueroa CP, Treiman LJ, Pulst SM. The Prevalence and Wide Clinical Spectrum of the Spinocerebellar Ataxia Type 2 Trinucleotide Repeat in Patients with Autosomal Dominant Cerebellar Ataxia. Am J Hum Genet 1997;60:842-850

38. Goetz CG, Chmura TA, Lanska DJ. History of Chorea: Part 3 of the MDS-Sponsored History of Movement Disorders Exhibit, Barcelona, June 2000. Mov Disord 2001; 16 (2): 331–338.

39. Goetz CG. Charcot the clinician: the Tuesday lessons. New York: Raven Press; 1987. (apud Goetz et al., 2001)

40. Golding CV, Danchaivijitr C, Hodgson TL, Tabrizi SJ, Kennard C. Identification of an oculomotor biomarker of preclinical Huntington disease. Neurology 2006; 8:67(3):485-7.

41. Gusella JF, Wexler NS, Conneally PM, Naylor SL, Anderson MA, Tanzi RE, et al. A polymorfic DNA marker genetically linked to Huntington’s disease. Nature 1983;306:234-238

42. Hanna MG, Davis MB, Sweeney MG, Noursadeghi M, Ellis CJ, Elliot P, et al. Generalized chorea in two patients harboring the Friedreich's ataxia gene trinucleotide repeat expansion. Mov Disord. 1998;13(2):339-40

43. Harper SQ. The epidemiology of Huntington’s disease. Hum Genet 1992; 89: 365-376

44. Hayden MR, Robbins C, Allard D, Haines J, Fox S, Wasmuth J, et al. Improved predictive testing for Huntington disease by using three linked DNA markers. Am J Hum Genet 1988;43:689-94

45. Hecker JFC. The Dancing Mania. In: The Epidemics of the Middle Ages. (Transl. Babington BG). London, 1859, p.93

46. Hedreen JC, Peyser CE, Folstein SE, Ross CA. Neuronal loss in layers V and VI of cerebral cortex in Huntington’s disease. Neurosci Lett 1991;133:257–61.

Page 74: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

72

47. Henkel K, Danek A, Grafman J, Butman J, Kassubek J. Head of the caudate nucleus is most vulnerable in chorea–acanthocytosis: a voxelbased morphometry study. Mov Disord 2006;21:1728–1731.

48. Hewer E, Danek A, Schoser BG, Miranda M, Reichard R, Castiglioni C, et al. McLeod myopathy revisited: more neurogenic and less benign. Brain 2007; 130(12): 3285-96.

49. Hirose G. Neuroacanthocytosis in Japan – Review of the literature and cases. In: Walker RH, Saiki S, Danek A, editors. Neuro-acanthocytosis syndromes II. Berlin: Springer; 2008. p 75-86.

50. Holmes SE, O’Hearn E, Rosenblatt A, Callahan C, Hwang HS, Ingersoll-Ashworth RG, et al. A repeat expansion in the gene encoding junctophilin-3 is associated with Huntington disease-like 2. Nat Genet 2001; 29(4):377–378

51. Huntington G. On chorea. Med Surg Reporter 1872;26:320–321. (apud Goetz et al., 2001)

52. IBGE. Características gerais da população - Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro, Brasil. 2003: 37-48.

53. Ichiba M, Nakamura M, Kusumoto A, Mizuno E, Kurano Y, Matsuda M, et al. Clinical and molecular genetic assessment of a chorea-acanthocytosis pedigree. J Neurol Sci 2007; 263(1-2):124-132

54. Ishida C, Makifuchi T, Saiki S, Hirose G, Yamada M. A neuropathological study of autosomal-dominant chorea-acanthocytosis with a mutation of VPS13A. Acta Neuropathol. 2009;117(1):85-94

55. Ito K, Komazaki S, Sasamoto K, Yoshida M, Nishi M, Kitamura K, et al. Deficiency of triad junction and contraction in mutant skeletal muscle lacking junctophilin type 1. The Journal of Cell Biology 2001;154(5):1059–1067.

56. Jacquemont S, Hagerman RJ, Hagerman PJ, Leehey MA. Fragile-X syndrome and fragile X-associated tremor/ataxia syndrome: two faces of FMR1. Lancet Neurol. 2007;6(1):45-55

57. Jardim LB, Silveira I, Pereira ML, Ferro A, Alonso I, Moreira MC, et al. A survey of spinocerebellar ataxia in South Brazil – 66 new cases with Machado-Joseph disease, SCA7, SCA8, or unidentified disease–causing mutations. J Neurol 2001; 248 : 870–876

Page 75: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

73

58. Jiang H, Mankodi A, Swanson MS, Moxley RT, Thornton CA. Myotonic dystrophy type 1 is associated with nuclear foci of mutant RNA, sequestration of muscleblind proteins and deregulated alternative splicing in neurons. Hum Mol Genet. 2004;13(24):3079-88.

59. Kambouris M, Bohlega S, Al-Tahan A, Meyer BF. Localization of the Gene for a Novel Autosomal Recessive Neurodegenerative Huntington-símile Disorder to 4p15.3. Am J Hum Genet 2000;66:445–452

60. Kanai K, Kuwabara S, Sawai S, Nakata M, Misawa S, Isose S, et al. Genetically confirmed Huntington's disease masquerading as motor neuron disease. Mov Disord 2008;23(5):748-51.

61. Kanzato N, Saito M, Horikiri T, Komine Y, Nakagawa M, Matsuzaki T. Atypical rigid form of Huntington's disease: a case with peripheral amyotrophy and congenital defects of a lower limb. Intern Med 1998; 37(11):978-81

62. Keckarević M, Savić D, Svetel M, Kostić V, Vukosavić S, Romac S. Yugoslav HD phenocopies analyzed on the presence of mutations in PrP, ferritin, and Jp-3 genes. Int J Neurosci. 2005; 115(2): 299-301.

63. Klockgether T. Hereditary Ataxias. In Parkinson´s Disease and Movement Disorders. Joseph Jankovic and Eduardo Tolosa, eds. Lippincott Williams & Wilkins. Philadelphia, USA. 2007. 5th ed. Pgs 421 – 434

64. Koide R, Ikeuchi T, Onodera O, Tanaka H, Igarashi S, Endo K, et al. Unstable expansion of CAG repeat in hereditary dentatorubral-pallidoluysian atrophy (DRPLA). Nat Gen 1994;6:9-13

65. Krause A, Hetem C, Holmes SE, Margolis RL. HDL2 mutations are an important cause of Huntington’s disease in patients with African ancestry [abstract #A17]. J Neurol Neurosurg Psychiatr 2005; 76 (Suppl 4): S007

66. Kremer B, Goldberg P, Andrew SE, Theilmann J, Telenius H, Zeisler J, et al. A Worldwide Study of The Huntington's Disease Mutation: The Sensitivity and Specificity of Measuring CAG Repeats. N Engl J Med 1994;330(20):1401-6

67. Kurano Y, Nakamura M, Ichiba M, Matsuda M, Mizuno E, Kato M, et al. In vivo distribution and localization of chorein. Biochemical and Biophysical Research Communications 2007; 353: 431-435.

Page 76: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

74

68. Kuwert T, Lange HW, Langen KJ, Herzog H, Aulich A, Feinendegen LE. Cortical and subcortical glucose consumption measured by PET in patients with Huntington’s disease. Brain 1990; 113:1405-1423

69. Kawamura N, Ohyagi Y, Kawajiri M, Yoshiura T, Mihara F, Furuya H, et al. Serial diffusion weighted MRI in a case of Wilson’s disease with acute onset of hemichorea. J Neurol 2004; 251: 1413–1414

70. Lee HS, Sambuughin N, Cervenakova L, Chapman J, Pocchiari M, Litvak S, et al. Ancestral Origins and Worldwide Distribution of the PRNP 200K Mutation Causing Familial Creutzfeldt-Jakob Disease. Am J Hum Genet 1999;64:1063–1070

71. Lesperance MM, Burmeister M. Interpretation of Linkage Data for a Huntington-like Disorder Mapping to 4p15.3. Am J Hum Genet 2000;67:262–263

72. Logan J I, Harveyson KB, Wisdom GB, Hughes AE, Archbold GPR. Hereditary caeruloplasmin deficiency, dementia and diabetes mellitus. Quart J Med 1994; 87: 663-670, 1994

73. Lopes-Cendes I, Teive HG, Calcagnotto ME, Da Costa JC, Cardoso F, Viana E, et al. Frequency of the different mutations causing spinocerebellar ataxia (SCA1, SCA2, MJD/SCA3 and DRPLA) in a large group of Brazilian patients. Arq Neuropsiquiatr 1997;55(3B):519-29.

74. Lund JC. Beretning om sundhedstilstanden og medicinal forholdene i norge. 1860;4(137). (apud Okun, 2003)

75. Lyon IW. American medical times. 1863;7:289. (apud Okun, 2003)

76. Margolis RL, Holmes SE, Rosenblatt A, Gourley L, O’Hearn E, Ross CA, et al. Huntington’s Disease–like 2 (HDL2) in North America and Japan. Ann Neurol 2004;56:670–674

77. Margolis RL, Holmes SE. Huntington’s disease-like 2: a clinical, pathological and molecular comparison to Huntington’s disease. Clinical Neuroscience Research 2003;3: 187–196.

78. Margolis RL, O’Hearn E, Rosenblatt A, Willour V, Holmes SE, Franz ML, et al. A Disorder Similar to Huntington’s Disease is associated with a Novel CAG Repeat Expansion. Ann Neurol 2001;50:373–380

Page 77: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

75

79. Margolis RL, Ross CA. Diagnosis of Huntington Disease. Clinical Chemistry 2003;49(10):1726–1732

80. Marie P, Lhermitte J. Les lesions de la choree chronique progreassive: La degeneration atrophique cortico-striee. Ann Med. 1914;1:18–48. (apud Okun, 2003)

81. Martin JB, Gusella JF. Huntington disease: pathogenesis and management. N Engl J Med 1986;315:1267-1276

82. Martins S, Matamá T, Guimarães L, Vale J, Guimarães J, Ramos L, et al. Portuguese families with dentatorubropallidoluysian atrophy (DRPLA) share a common haplotype of Asian origin. Eur J Hum Genet. 2003(10):808-11

83. Mendes MF, de Andrade LA, Ferraz HB. Chorea: clinical analysis of 119 cases. Arq Neuropsiquiatr 1996;54(3):419-27

84. Miller SA, Dykes DD, Polesky HF. A simple salting out procedure for extracting DNA from human nucleated cells. Nucleic Acids Research 1988;16: 1215.

85. Moore RC, Xiang F, Monaghan J, Han D, Zhang Z, Edstrom L, et al. Huntington Disease Phenocopy Is a Familial Prion Disease. Am. J. Hum. Genet 2001;69:1385–1388

86. Müller-Vahl KR, Berding G, Emrich HM, Peschel T. Chorea-acanthocytosis in monozygotic twins: clinical findings and neuropathological changes as detected by diffusion tensor imaging, FDG-PET and (123)I-beta-CIT-SPECT. J Neurol 2007; 254(8):1081-8

87. Nagafuchi S, Yanagisawa H, Ohsaki E, Shirayama T, Tadokoro K, Inoue T, et al. Dentatorubral and pallidoluysian atrophy expansion of an unstable CAG trinucleotide on chromosome 12p. Nat Gen 1994;6:14-18

88. Nagel JS, Ichise M, Holman BL. The scintigraphic evaluation of Huntington’s disease and other movement disorders using single photon emission computed tomography perfusion brain scans. Sem Nucl Med 1991;21:11-23

89. Naito H, Oyanagi, S. Familiar myoclonus epilepsy and choreoathetosis: hereditary dentatorubral-pallidoluysian atrophy. Neurology 1982; 32: 798-807

90. Nakamura K, Jeong SY, Uchihara T, Anno M, Nagashima K, Nagashima T, et al. SCA17, a novel autosomal dominant cerebellar ataxia caused by an expanded polyglutamine in TATA-binding protein. Hum Molec Genet 2001;10:1441-1448

Page 78: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

76

91. Namekawa M, Takiyama Y, Ando Y, Sakoe K, Muramatsu SI, Fujimoto KI, et al. Choreiform movements in spinocerebellar ataxia type 1. J Neurol Sci 2001; 187(1-2):103-6.

92. Nanda A, Jackson SA, Schwankhaus JD, Metzer WS. Case of spinocerebellar ataxia type 17 (SCA17) associated with only 41 repeats of the TATA-binding protein (TBP) gene. Mov Disord 2007;22(3):436.

93. Nishi M, Hashimoto K, Kuriyama K, Komazaki S, Kano M, Shibata S, et al. Motor Discoordination in mutant mice lacking Junctophilin type 3. Biochem Biophys Res Commun 2002;292:318-324.

94. Nishi M, Mizushima A, Nakagawara K, Takeshima H. Characterization of human Junctophilin subtype genes. Biochem Biophys Res Commun 2000;273:920-927

95. O’Hearn E, Holmes SE, Calvert PC, Ross CA, Margolis RL. SCA-12: Tremor with cerebellar and cortical atrophy is associated with a CAG repeat expansion. Neurology 2001;56:299-303

96. Okun MS. Huntington’s Disease: What we learned from the original essay. The Neurologist 2003;9:175-179

97. Oliva D, Carella F, Savoiardo M, Strada L, Giovannini P, Testa D, et al. Clinical and magnetic resonance features of the classic and akinetic-rigid variants of Huntington’s disease. Arch Neurol 1993;50:17-19

98. Osler WA. On chorea and choreiform affectations Philadelphia: Blakiston;1894. (apud Goetz et al., 2001)

99. Page RA et al.Clinical correlation of brain MRI and MRS abnormalities in patients with Wilson disease. Neurology 2004; 63: 638–643.

100. Paraselsus A. (Von Honhenheim T). Von den krankheiten so die Vernunfftberauben. (apud Goetz et al., 2001)

101. Penney JB, Young AB. Huntington’s disease. In Jankovic J, Tolosa E (eds): Parkinson’s disease and Movement Disorders, 3rd ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1998, pp 341-356

102. Petersen RB, Parchi P, Richardson SL, Urig CB, Gambetti P. Effect of the D178N mutation and the codon 129 polymorphism on the metabolism of the prion protein.J Biol Chem 1996;271(21):12661-8

Page 79: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

77

103. Ramos-Arroyo MA, Moreno S, Valiente A. Incidence and mutation rates of Huntington’s disease in Spain: experience of 9 years of direct genetic testing. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2005;76:337–342.

104. Rampoldi L, Dobson-Stone C, Rubio JP, Danek A, Chalmers RM, Wood NW, et al. A conserved sorting-associated protein is mutant in chorea-acanthocytosis. Nat Genet 2001; 28: 119-120.

105. Ribai P, Nguyen K, Hahn-Barma V, Gourfinkel-An I, Vidailhet M, Legout A, et al. Psychiatric and cognitive difficulties as indicators of juvenile huntington disease onset in 29 patients. Arch Neurol 2007;64(6):813-9.

106. Rodrigues GR, Souza CP, Cetlin RS, de Oliveira DS, Pena-Pereira M, Ujikawa LT et al. Use of the frontal assessment battery in evaluating executive dysfunction in patients with Huntington's disease. J Neurol 2009;256(11):1809-15

107. Rodriguez-Revenga L, Santos MM, Sánchez A, Pujol M, Gómez-Anson B, Badenas C, et al. Screening for FXTAS in 95 Spanish patients negative for Huntington disease. Genet Test 2008;12(1):135-8.

108. Rolfs A, Koeppen AH, Bauer I, Bauer P, Buhlmann S, Topka H, et al. Clinical Features and Neuropathology of Autosomal Dominant Spinocerebellar Ataxia (SCA 17). Ann Neurol 2003;54:367-375

109. Rosas HD, Goodman J, Chen YI, Jenkins BG, Kennedy DN, Makris N, et al.. Striatal volume loss in HD as measured by MRI and the influence of CAG repeat. Neurology 2001;57:1025-1028

110. Rosenblatt A, Brinkman RR, Liang KY, Almqvist EW, Margolis RL, Huang CY, et al. Familial Influence on Age of Onset Among Siblings With Huntington Disease. American Journal of Medical Genetics (Neuropsychiatric Genetics) 2001;105:399–403

111. Rosenblatt A, Ranen NG, Rubinsztein DC, Stine OC, Margolis RL, Wagster MV, et al. Patients with features similar to Huntington's disease, without CAG expansion in huntingtin. Neurology 1998;51(1):215-220

112. Rudnicki DD, Pletnikova O, Vonsattel JG, Ross CA, Margolis RL. A Comparison of Huntington Disease and Huntington Disease-Like 2 Neuropathology. J Neuropathol Exp Neurol 2008; 67(4):366-374

113. Santos C, Wanderley H, Vedolin L, Pena SDJ, Jardim L, Sequeiros J. Huntington disease-like 2: the first patient with apparent European ancestry. Clin Genet 2008; 73: 480–485.

Page 80: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

78

114. Schmitt-John T, Drepper C, Mussmann A, Hahn P, Kuhlmann M, Thiel C, et al. Mutation of Vps54 causes motor neuron disease and defective spermiogenesis in the wobbler mouse. Nature genetics 2005: 37(11); 1213-1215

115. Schneider SA, van de Warrenburg BP, Hughes TD, Davis M, Sweeney M, Wood N, et al. Phenotypic homogeneity of the Huntington disease-like presentation in a SCA17 family. Neurology 2006;67(9):1701-3.

116. Schneider SA, Walker RH, Bhatia KP. The Huntington's disease-like syndromes: what to consider in patients with a negative Huntington's disease gene test. Nat Clin Pract Neurol 2007; 3(9):517-25

117. Se’e G. Memoires de l’Académie de Médecine de Paris. 1850;15:373. (apud Okun, 2003)

118. Silva TCL, Serra HG, Bertuzzo CS, Lopes-Cendes I. Molecular diagnosis of Huntington Disease in Brazilian patients. Arq Neuropsiquiatr 2000;58(1): 11-17

119. Silveira I, Miranda C, Guimarães L, Moreira MC, Alonso I, Mendonça P, et al. Trinucleotide repeats in 202 families with ataxia: a small expanded (CAG)n allele at the SCA17 locus. Arch Neurol 2002;59(4):623-9.

120. Sorrentino G, Renzo A, Miniello S, Nori O, Bonavita V. Late appearance of acanthocytes during the course of chorea-acanthocytosis. J Neurol Sci 1999; 163:175–178

121. Spitz MC, Jankovic J, Killian JM. Familial tic disorder, parkinsonism, motor neuron disease, and acanthocytosis: a new syndrome. Neurology 1985;35(3):366-70.

122. Stevanin G, Fujigasaki H, Lebre AS, Camuzat A, Jeannequin C, Dode C, et al. Huntington's disease-like phenotype due to trinucleotide repeat expansions in the TBP and JPH3 genes. Brain 2003;126( 7):1599-603.

123. Storch A, Kornhass M, Schwarz J. Testing for acanthocytosis – a prospective reader-blinded study in movement disorder patients. J Neurol 2005; 252:84-90

124. Sułek-Piatkowska A, Krysa W, Zdzienicka E, Szirkowiec W, Hoffman-Zacharska D, Rajkiewicz M, et al. Searching for mutation in the JPH3, ATN1 and TBP genes in Polish patients suspected of Huntington's disease and without mutation in the IT15 gene. Neurol Neurochir Pol. 2008;42(3):203-9.

125. Sydenham T. Schedula monitoria de novae febris ingressu. London: G. Kettilby; 1686. (apud Goetz et al., 2001)

Page 81: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

79

126. Szebenyi G, Morfini GA, Babcock A, Gould M, Selkoe K, Stenoien DL et al. Neurophatogenic forms of huntingtin and androgen receptor inhibit fast axonal transport. Neuron 2003;40:41-52

127. Takahashi Y, Miyajima H, Shirabe S, Nagataki S, Suenaga A, Gitlin JD. Characterization of a nonsense mutation in the ceruloplasmin gene resulting in diabetes and neurodegenerative disease. Hum Molec Genet 1996; 5: 81-84.

128. Takeshima H, Komazaki S, Nishi M, Iino M, Kangawa K. Junctophilins: A Novel Family of Junctional Membrane Complex Proteins. Molecular Cell 2000;6:11–22

129. Tang B, Liu C, Shen L, Dai H, Pan Q, Jing L, et al. Frequency of SCA1, SCA2, SCA3/MJD, SCA6, SCA7, and DRPLA CAG trinucleotide repeat expansion in patients with hereditary spinocerebellar ataxia from Chinese kindreds. Arch Neurol 2000;57(4):540-4.

130. The Huntington’s Disease Collaborative Research Group. A Novel gene containing a trinucleotide repeat that is expanded and unstable on Huntington’s Disease chromosomes. Cell 1993;72:971-983.

131. Toyoshima Y, Yamada M, Onodera O, Shimohata M, Inenaga C, Fujita N, et al. SCA17 homozygote showing Huntington's disease-like phenotype. Ann Neurol 2004;55(2):281-6.

132. Troiano AR, Trevisol-Bittencourt PC. Neuroacantocitose: relato de caso. Arq Neuropsiquiatr 1999;57(2-B): 489-494

133. Trott A, Jardim LB, Ludwig HT, Saute JA, Artigalás O, Kieling C, et al. Spinocerebellar ataxias in 114 Brazilian families: clinical and molecular findings. Clin Genet. 2006 Aug;70(2):173-6.

134. Tumas V, Camargos ST, Jalali PS, Galesso AP, Marques Jr W. Internal consistency of a Brazilian version of the Unified Huntington’s Disease Rating Scale. Arq Neuropsiquiatr 2004;62(4):977-982

135. Ueno S, Maruki Y, Nakamura M, Tomemori Y, Kamae K, Tanabe H, et al. The gene encoding a newly discovered protein, chorein, is mutated in chorea-acanthocytosis. Nat Genet 2001; 28: 121-122

136. Vuillaume I, Meynieu P, Schraen-Maschke S, Destée A, Sablonnière B. Absence of unidentified CAG repeat expansion in patients with Huntington's disease-like phenotype. J. Neurol. Neurosurg. Psychiatry 2000;68;672-675

Page 82: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

80

137. Walker FO. Huntington's disease. Lancet 2007; 369: 218-228

138. Walker RH, Jankovic J, O’Hearn E, Margolis RL. Phenotypic Features of Huntington’s Disease-Like 2. Mov Disord 2003; 18(12): 1527-1530.

139. Walker RH, Jung HH, Dobson-Stone C, Rampoldi L, Sano A, Tison F, et al. Neurologic phenotypes associated with acanthocytosis. Neurology 2007;68:92-98

140. Walker RH, Rasmussen A, Rudnicki D, Holmes SE, Alonso E, Matsura T, et al. Huntington’s disease–like 2 can present as chorea-acanthocytosis. Neurology 2003;61:1002–1004

141. Wardle M, Majounie E, Williams NM, Rosser AE, Morris HR, Robertson NP. Dentatorubral pallidoluysian atrophy in South Wales. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2008;79(7):804-7.

142. Warner JP, Barron LH, Goudie D, Kelly K, Dow D, Fitzpatrick DR, et al. A general method for the detection of large CAG repeat expansions by fluorescent PCR. J Med Genet 1996; 33: 1022-1026.

143. Wild EJ, Mudanohwo EE, Sweeney MG, Schneider SA, Beck J, Bhatia KP, et al. Huntington's disease phenocopies are clinically and genetically heterogeneous. Mov Disord 2008;23(5):716-20.

144. Xiang F, Almqvist EW, Huq M, Lundin A, Hayden MR, Edstrom L, et al. A Huntington Disease–Like Neurodegenerative Disorder Maps to Chromosome 20p. Am J Hum Genet 1998;63:1431–1438

145. Young K, Jones CK, Piccardo P, Lazzarini A, Golbe LI, Zimmerman TR Jr, et al. Gerstmann-Straussler-Scheinker disease with mutation at codon 102 and methionine at codon 129 of PRNP in previously unreported patients. Neurology. 1995;45(6):1127-34

146. Zeman A, Stone J, Porteous M, Burns E, Barron L, Warner J. Spinocerebellar ataxia type 8 in Scotland: genetic and clinical features in seven unrelated cases and a review of published reports. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2004;75:459-465

147. Zheng-hong QIN, Zhen-lun GU. Huntingtin processing in pathogenesis of Huntington disease. Acta Pharmacol Sin 2004 Oct; 25 (10): 1243-1249

Page 83: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

81

APÊNDICES

Page 84: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

82

APÊNDICES

Apêndice A - Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisa: “Estudo clínico e genético em pacientes com fenótipo similar ao da Doença de

Huntington que apresentam teste genético negativo para a Doença.”

A doença de Huntington é distúrbio cerebral progressivo, que causa movimentos

involuntários, alterações mentais (como problemas de memória, de raciocínio, de

compreensão, etc...) e alterações psiquiátricas (como irritação, alucinações, etc...). Na grande

maioria dos casos é transmitida de pais para filhos e é possível obter o diagnóstico preciso

através de um exame de sangue. Ainda não há nenhum tratamento eficaz para retardar ou

impedir a progressão da doença.

Nos últimos anos, a comunidade científica tem estudado pacientes que apresentam um quadro

clínico semelhante ao da doença de Huntington, porém sem a alteração esperada no exame de sangue.

Esses pacientes foram classificados como portadores de “doença de Huntington-símile”.

O estudo destes casos é importante porque permitirá conhecermos as causas que

provocam sintomas semelhantes aos da doença de Huntington nesses pacientes. No futuro,

isso poderá ajudar no desenvolvimento de formas eficientes de diagnóstico e tratamento.

A pesquisa que você irá participar tem dois objetivos: o primeiro é determinar quais

são as reais características clínicas destes pacientes com “doença de Huntington-símile”. O

segundo é procurar por algumas alterações no exame de sangue, ainda não analisadas no seu

caso, que possam determinar qual doença provoca esses sintomas em você.

Para a participação neste trabalho, você será examinado por um médico neurologista

(pesquisador) e seu sangue poderá ser coletado para a realização de exames. Se necessária, a

coleta será feita em um dos seus braços por punção venosa, realizada com material

descartável, por profissional treinado. Serão retirados cerca de 10 ml do seu sangue. Este

volume de sangue é cerca de 40 (quarenta) vezes menor do que o volume retirado quando um

indivíduo doa sangue para bancos de sangue.

Page 85: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

83

Durante todo o período do trabalho, você manterá o seguimento no ambulatório de

doenças extrapiramidais. Todas as suas dúvidas poderão ser esclarecidas em qualquer

momento, bastando para isso que você retorne ao ambulatório para consulta. Caso você deseje

parar de participar da pesquisa poderá fazê-lo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo

para o seu seguimento clínico no ambulatório de doenças extrapiramidais.

Não haverá qualquer tipo de despesa, nem a pesquisa lhe gerará qualquer dano físico ou

material. Você terá direito a assistência integral e a indenização proporcional caso a pesquisa lhe

acarrete algum prejuízo imprevisto. É garantido o sigilo absoluto dos resultados do estudo.

Eu, _____________________________________________________________, abaixo assinado, declaro que

fui devidamente informado em detalhes pelo pesquisador responsável no que diz respeito ao objetivo da

pesquisa, aos procedimentos que serei submetido, aos riscos e benefícios e aos meus direitos. Declaro que tenho

pleno conhecimento dos direitos e das condições que me foram asseguradas e acima relacionadas.

Declaro, ainda, que concordo inteiramente com as condições que me foram

apresentadas e que, livremente, manifesto a minha vontade de participar do referido projeto.

Ribeirão Preto, _______ de ______________ de ______.

_________________________________

Assinatura ou impressão datiloscópica

do(a) voluntário(a) ou responsável legal

_________________________________

Guilherme G. R. Rodrigues CRM 107200

Pesquisador Responsável – Tel: 3602 2616

Page 86: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

84

Apêndice B - Protocolo de avaliação clínica dos pacientes com FDHS.

AEXP – DOENÇA DE Huntington-símile

Nome: data de nascimento: Peso: Estatura: Sexo data do caso novo nível educacional: Ocupação prévia: ocupação atual: Parou de trabalhar por causa da doença H.M.A.: →idade de início dos sintomas: →duração da doença: →sintomas iniciais: →evolução dos sintomas: →sintomas motores: desequilíbrio , lentidão , dificuldades na marcha , quedas ,

incoordenação , movimentos involuntários :

→sintomas cognitivos Perda de memória , perda de concentração

→sintomas da linguagem: disartria , disprosódia (prosódia= pronúncia regular das palavras, com a devida acentuação) , palilalia(repetição de palavras) , disfagia , outro

→sintomas oculomotores: olhar paralisado , outro →outros sintomas: insônia , perda de peso , crises epilépticas , incontinência

urinária , incontinência fecal , atrofia muscular , perda de peso , outro

→sintomas psiquiátricos Idéias tentativas de suicídio, nervosismo , depressão , delírios , alucinações , compulsão , obsessão , agressividade

Page 87: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

85

ANTECEDENTES PESSOAIS: sofreu cirurgia com anestesia (____________) apresentou doença grave:

neonatal, tipo: (anóxia trauma infecção kernicterus outra __________________), na infância até 12 anos, tipo: (______________________________________________), na adolescência (13 a 17 anos), tipo: (________________________________________), adulto(≥18 anos), tipo: (___________________________________________________).

→ uso de fumo: fuma há ___anos, atualmente fuma___cigarros/dia, fumou por___anos, fumava muito /pouco , cessou há___anos → uso de álcool: bebe há ___anos, atualmente bebe muito /pouco (_______________) bebeu por___anos e bebia muito /pouco , cessou há___anos → uso de drogas: ainda usa tipo(________________), usa muito /pouco , já usou tipo(_______________), usava muito /pouco , → Intoxicação aguda por substâncias tóxicas tipo (_______________) ou agrotóxicos → exposição crônica a substâncias tóxicas tipo (_________________) ou agrotóxicos → usou neurolépticos (________________) pouco /muito , antes do início dos movimentos involuntários ou apenas após OUTROS PROBLEMAS: pulmonares cardiovasculares renais hepáticos gastrointestinais endócrinos oftalmológicos dermatológicos neurológicos urológicos ginecolócicos (_________________________________________________) HISTÓRIA OBSTÉTRICA: G P A

estéril, fértil, usando método contraceptivo do

tipo:

DROGAS EM USO NO MOMENTO DOSE/DIA

1. 2. 3. 4. 5. DROGAS USADAS PARA O TRATAMENTO DA DOENÇA DROGAS USADAS ATÉ 3 ANOS ANTES DO INÍCIO DOS SINTOMAS:

Page 88: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

86

ANTECEDENTES FAMILIARES: caso semelhantes ao paciente , parkinson , demência , doença psiquiátrica , depressão grave , suicídio epilepsia , ataxia , outros HEREDOGRAMA: (geração I, II, III.; =masculino, =feminino, ou = acometidos,

= portador da mutação, Ø= falecido, numerar em cada geração, anotar no rodapé: (i)idade de início dos sintomas, (m)idade da morte, principais sintomas, indicar se é paciente já examinado/acompanhado por nós

Page 89: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

87

EXAMES: anotar os exames realizados resultado normal (N) anormal (A) TOMOGRAFIA DE CRÂNIO N A VHS E OUTRAS PAI N A RESSONÂNCIA MAGNÉTICA N A FAN N A LÍQUOR N A ANTI HIV N A CONTAGEM ACANTÓCITOS N A WASSERMAN/VDRL N A CPK N A ECOCARDIOGRAMA N A FUNÇÃO TIREOIDEANA N A CERULOPLASMINA N A FUNÇÃO HEPÁTICA N A COBRE URINÁRIO N A FUNÇÃO RENAL N A ANEL KAYSER-FLEISCHER N A ULTRASSOM ABDOMINAL N A GLICEMIA N A ELETRÓLITOS N A HEMOGRAMA N A ASO N A outro: N A outro: N A ANÁLISE DA REPETIÇÃO CAG NO GENE IT15, realizada na data: número do DNA: número de repetições:

EXAME FÍSICO: peso: altura: PA: FC: estado geral (________), emagrecimento , sinais piramidais , atrofia muscular , alterações de sensibilidade , ataxia , tremores , mioclonias , tiques , nistagmo

Page 90: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

88

Apêndice C - Detalhamento dos métodos laboratoriais

Extração DNA- Método “Salting-out”:

1- Coletar 10ml de sangue anticoagulado com EDTA;

2- Transferir o sangue total para um tubo de 50ml e adicionar tampão de lise de glóbulos

vermelhos (0,3M sacarose, 10mM TRIS-HCL, 5mMMgCl e TRITON X100 a 1%);

3- Misturar e centrifugar por 5 minutos a 2400g a 4⁰C;

4- Desprezar o sobrenadante e ressuspender o precipitado em 5ml de tampão de lise de

glóbulos brancos (NaCl 0,075M, Na-EDTA 0,024M e SDS a 2,5%), agitando a

prepraração em vortex por 30 segundos;

5- Centrifugar a 2400g por 10 minutos a 4⁰C, recolhe-se o sobrenadante e adiciona-se

7mL de isopropanol absoluto, misturando cuidadosamente até precipitação do DNA;

6- Remover o DNA precipitado com uma pipeta Pasteur selada e retirar o excesso de

isopropanol;

7- Lavar o DNA 3 vezes em 3mL de etanol a 70% e redissolvê-lo em 100 a 300uL de TE

(10mM Tris-HL e 1mM Na-EDTA), incubando-se a 55⁰C por 10 a 20 minutos;

8- Quantificar o DNA em 260nm (UV), diluído 1/100. Se necessário ajustar a

concentração do DNA para 0,5 a 1,0 µg/ µL com TE.

Preparação do gel de Acrilamida:

1- Num Becker de 250ml, adicionar 72g de uréia;

2- Adicionar 21,2ml de Acrylamide 40%;

Page 91: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

89

3- Adicionar 70ml de H2O;

4- Deixar no agitador magnético por 30 minutos;

5- Adicionar 2g de resina (DOWEX-MR3);

6- Misturar por 5 minutos;

7- Filtração a vácuo com filtro de nitrato de celulose de 0,2µm;

8- Repousar por 10 minutos;

9- Adicionar 20ml de TBE;

10- Completar com H2O até 200ml;

11- Alicotar em 5 tubos cone de 40ml;

12- Guardar envolvido em papel alumínio por até 3 semanas.

Para a placa se utiliza 40ml de Acrilamida, 35 µl de tetrametiletilenediamina (TEMED) e

250 µl de Persulfato de amônia

Preparação do gel de Agarose:

1- Num Becker (peso zerado), adicionar 1,25mg de agarose;

2- Completar com 50ml de TBE 1X;

3- Levar ao microondas por 1 minuto;

4- Acrescentar 6 µl de Brometo de etídeo e homogeneizar;

5- Despejar sobre a cuba cuidadosamente, e após 20 minutos retirar os pentes e amparos;

6- Cobrir com TBE 1X.

Page 92: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

90

Reações em cadeia de Polimerase:

DNA para Doença de Huntonton (adaptado de ACHG/ASHG, 1998)

Primers: [5´-ATGAAGGCCTTCGAGTCCCTCAAGTCCTTC -3´ e

5´-GGCGGTGGCGGCTGTTGCTGCTGCTGCTGC -3´]

Metodologia: Preparar o mix com 19,1 µl de ddH2O; 5 µl de Solução Buffer 10x; 5 µl de

dNTP; 5 µl de DMSO; 1,5 µl de MgCl2; 1 µl de cada primer; 1,5 µl de DNA genômico; 0,4 µl

de Taq polimerase. Após, levar ao termociclador por 5 min a 94º, seguido de 40 ciclos na

seqüência 94 º por 30s, 63 º por 30s e 72 º por 30s. Após, realizar extensão final por 10

minutos a 72 º e manter a 4 º.

DNA HDL2 ( adaptado de Holmes et al., 2001)

Primers: L237-1 [5´- GGTTCCCTGCACAGAAACCATC -3´] e L237-2 [5´-

AGATGCCACCGCATTCGG -3´]

Metodologia: Adicionado 200ng de DNA genomico; 0,8 µmol/L dos primers L237-1 e L237-

2; 200 µmol /L de cada dNTP; 2,5U de Taq polimerase e solução buffer até o volume final de

25 µL. As amostras passaram por desnaturação a 96°C seguidas por 35 ciclos de desnaturação

a 95°C (1 min), anelamento a 59°C (1 min) e extenção a 72°C (1 min). O último período de

extensão foi prolongado por 10 minutos. Alíquotas dos produtos do PCR foram depositadas

Page 93: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

91

em gel de acrilamida para corrida no seqüenciador 3730 DNA Analyzer e o número de

repetições CAG foi determinado usando o software GeneMapper [AppliedBiosystems].

DNA SCA 17 (adaptado de Nakamura et al., 2001)

Primers: TATA-BF [5´- CCTTATGGCACTGGACTGAC -3´] e TATA-BR [5´-

GTTCCCTGTGTTGCCTGCTG -3´ ]

Metodologia: Adicionado 150ng de DNA genomico; 10pmol de cada primer; 200 µmol /L de

cada dNTP; 2,5 µL de solução buffer e Taq polimerase (5U). A configuração do

termociclador foi de desnaturação inicial a 95°C por 12 min, seguido por 40 ciclos de 20s a

95°C, 1 min a 60°C, 1 min a 72°C e extensão final por 10 min a 72°C. Alíquotas dos produtos

do PCR foram depositadas em gel de acrilamida para corrida no seqüenciador 3730 DNA

Analyzer e o número de repetições CAG foi determinado usando o software GeneMapper

[AppliedBiosystems].

DNA DRPLA (adaptado de Koide et al., 1994)

Primers: [5´- CACCAGTCTCAACACATCACCATC -3´] e [5´- GAGCATTTCCC

CACCCACTGGAGG -3´]

Metodologia: Preparar o mix com 30,1 µl de ddH2O; 5 µl de Solução Buffer 10x; 5 µl de

dNTP; 5 µl de DMSO; 1,5 µl de MgCl2; 1 µl de cada primer; 1 µl de DNA genômico; 0,4 µl

de Taq polimerase. Após, levar ao termociclador por 5 min a 94 º, seguido de 2 min a 80 º.

Page 94: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

92

Após, realizar 33 ciclos na seqüência 94 º por 30s, 63 º por 30s e 72 º por 30s. Submeter o mix

a extensão final por 10 minutos a 72 º e manter a 4 º.

Western Blot (Dobson-Stone et al., 2004)

1- Adicionar 2,5ml de sangue total a 10ml da solução de lise de hemácias (5mM

Na2HPO4, 0,9% NaCl, inibidor de protease 1 X) e centrifugar por 3400g a 4⁰C por 10

minutos;

2- Ressuspender o pellet em 2ml da solução de lise de hemácias, seguido por

centrifugação a 16000g por 5 minutos;

3- Repetir o processo acima inúmeras vezes, até que o sobrenadante fique incolor;

4- Adicionar o pellet na solução de lise: 50mM Tris-HCL pH 8,0, 150mM NaCl, 1%

Triton X-100 e inibidor de protease 1 X;

5- Após 20 minutos de incubação no gelo, centrifugar a 16000g por 20 minutos a 4⁰C;

6- Amostras com 20 µg são depositados em gel tris-acetado 3 a 8% e transferidos por

eletroforese para membranas de difluorido de polivinilideno (PDVF);

7- A imunodetecção é realizada pela adição do anticorpo anti-chor1 (1:5000) e

marcadores. As proteínas são visualizadas por um RX ou autofluorescência.

Page 95: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

93

ANEXO - Artigos publicados

Page 96: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Chorea-Acanthocytosis: Report ofTwo Brazilian Cases

Guilherme Riccioppo Rodrigues, MD,1

Ruth H. Walker, MB, ChB, PhD,2

Benedikt Bader, MD,3 Adrian Danek, MD,3

Wilson Marques Jr, MD, PhD,1 andVitor Tumas, MD, PhD1*

1Department of Neurology, Ribeirao Preto School ofMedicine, Ribeirao Preto, Brazil; 2Department of Neurology,James J. Peters Veterans Affairs Medical Center, Bronx,and Mount Sinai School of Medicine, New York. USA;

3Department of Neurology, Ludwig-Maximilians-Universitat,Munchen, Germany

Video

Abstract: Chorea-acanthocytosis (ChAc) is a neurodege-nerative disorder characterized by chorea, neuropsychiat-ric disturbances and acanthocytosis, caused by mutationsof VPS13A. This gene produces the protein chorein whichis absent in patients with ChAc on Western blot assay.We report the first two Brazilian patients with ChAc con-firmed by chorein detection. Patient 1 is a 36-year-oldman with chorea, epilepsy, myopathy, and suicidal idea-tion. Patient 2 is a 60-year-old woman with a 30 year his-tory of psychiatric disturbances, epilepsy, choreic move-ments, and myopathy. Both patients had acanthocytosis,elevated creatine kinase (CK), and absence of chorein onWestern blot analysis. The presence of chorea and neuro-psychiatric disturbances associated with elevated CK lev-els, epilepsy, hyporeflexia, and acanthocytosis suggests thediagnosis of ChAc. Chorein assay of peripheral blood con-firms the diagnosis. � 2008 Movement Disorder Society

Key words: Chorea-acanthocytosis

Chorea-acanthocytosis (ChAc) is a rare neurodege-

nerative disorder, characterized by chorea and neuro-

psychiatric disturbances in association with acantho-

cytes—erythrocytes with irregular protuberances. Addi-

tional features such as epilepsy, tourettism,

parkinsonism, and peripheral neuropathy are found fre-

quently.1 Typically, laboratory testing reveals elevation

of creatine kinase (CK), lactate dehydrogenase (LDH)

or liver transaminases (LTs).1 ChAc is inherited in an

autosomal recessive manner and caused by mutations

in the VPS13A gene,1–3 which interfere with produc-

tion of chorein, found in brain tissue and erythro-

cytes.4,5 Numerous disease-associated mutations have

been described in many of the 73 exons of the

VPS13A gene6 without a specific hot spot,1,3 thus it is

challenging to perform gene sequencing in each sus-

pected case. One useful alternative is to confirm the di-

agnosis of ChAc through absent or reduced levels of

chorein in erythrocytes as determined by Western

blot,4 using a polyclonal antiserum (Anti-chor1).

Herein, we report the first confirmed cases of ChAc in

Brazil.

CASE REPORTS

Case 1

A 33-year-old man with no significant family history

was seen for mild dysarthria and generalized choreic

movements since the age of 30. These involuntary

movements progressively worsened, and he developed

marked difficulty with swallowing. He reported tongue

injuries secondary to severe involuntary biting, which

improved with use of a teeth protector. At age 36, he

experienced a partial complex seizure with secondary

generalization for which he was given carbamazepine

with good control. Three months later, he was diag-

nosed with major depression after attempting suicide

using rat poison. Neurological examination (Video seg-

ment 1) revealed mild chorea, gait instability, proximal

weakness, hyporeflexia, generalized hypotonia, and

dysarthria. Cognitive assessment is summarized in

Table 1. There was mild acanthocytosis, and creatine

kinase (CK) was elevated to 1410 U/l (normal

<170 U/l). Electromyography (EMG) was suggestive

of myopathy, and muscle biopsy showed nonspecific

changes. Chorein was undetectable in erythrocytes by

Western blot (Fig.1A).

Case 2

This female patient (P2 in pedigree – Fig. 1B)

reported partial complex seizures starting at age 29 for

which she received a variety of antiepileptic drugs

with incomplete control. At the age of 40, she devel-

oped auditory and visual hallucinations and was diag-

Additional Supporting Information may be found in the onlineversion of this article.

*Correspondence to: Vitor Tumas, MD, Department of Neurology,Psychiatry and Medical Psychology, Ribeirao Preto School of Medi-cine, University of Sao Paulo, Campus Universitario, Bairro MonteAlegre, Ribeirao Preto, SP, Brazil–CEP: 14049-900.E-mail: [email protected]

Potential conflict of interest: Nothing to report.Received 7 January 2008; Revised 14 May 2008; Accepted 8 Au-

gust 2008Published online 10 September 2008 in Wiley InterScience

(www.interscience.wiley.com). DOI: 10.1002/mds.22305

2090 G.R. RODRIGUES ET AL.

Movement Disorders, Vol. 23, No. 14, 2008

Page 97: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

nosed with probable schizophrenia with many subse-

quent hospitalizations. At age 52, she developed mem-

ory impairment and bradyphrenia; and from age 56,

she manifested generalized chorea. Within a year she

developed gait instability and proximal weakness; and

at age 59, she was unable to walk without assistance

(Video segment 2). Neurological examination revealed

mild generalized chorea, proximal muscle atrophy,

weakness, diffuse hyporeflexia, bilateral Babinski

signs, and dysarthric speech. There was mild acantho-

cytosis and CK elevation (617 U/L; normal <170 U/L).

EEG showed left frontotemporal discharges, and MRI

revealed global atrophy, more marked in the caudate nu-

cleus and putamen (Fig. 1C and D). Chorein was absent

in erythrocytes (Fig. 1A).

TABLE 1. Main clinical and laboratorial featuresof patients 1 to 3

Case 1 Case 2 P3 Normal range

Age of onset (yr) 30 29 26 –Disease duration at

last examination (yr)6 30 20 –

MMSE 26 26 27 24–30VF–FAS 14 11 18 >28FAB 15 7 11 >14UHDRS–I (%) 70 50 80 –Acanthocytosis 1/31 1/31 Nd –CK 1,410 617 718 <170 U/LChorein level nd nd NP 1

*unable to writeMSE, mini mental state examination; VF-FAS, verbal fluency –

FAS; FAB, frontal assessment battery; UHDRS – I, unified hunting-ton’s disease rating independency scale; CK, creatine kinase; nd: notdetectable; NP: not performed.

FIG. 1. A. Chorein western blot analysis. Numbers on the left give molecular weight standards in kDa; 1 5 Case 1; 2 5 unaffected control; 3 5Case 2; 4 5 sister of Case 2; arrowhead on the right marks size of full length chorein band. B. Pedigree chart of Patient 2. C and D. T2-weightedbrain MRI of Case 2 displaying bilateral putaminal hyperintensity and caudate atrophy.

2091CHOREA-ACANTHOCYTOSIS

Movement Disorders, Vol. 23, No. 14, 2008

Page 98: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

One sister of Case 2 (P3 in pedigree) developed

seizures and mood disturbance at age 26. At age 43,

she developed motor tics partially controlled with halo-

peridol. She then developed visual hallucinations, sui-

cidal ideation, and compulsive eating. At age 45, she

was hospitalized three times because of severe aggres-

sive behavior and obsessive-compulsive disorder. She

gained 52 kg in 1 year from the feeding compulsion

and died of unclear cause at age of 46 years. When

last examined she exhibited facial grimacing and vocal

tics, mild proximal weakness on hip flexion and hypo-

reflexia. Acanthocytosis was never found in peripheral

blood smear. CK was 718 U/L (normal <170 U/L).

Chorein assay was not performed.

A brother (P4 in pedigree) was seen at age 42 with a 6

month history of weakness, muscle atrophy and fascicu-

lations starting in his left arm progressing to the right

arm and lower limbs. Neurological examination dis-

closed global hyporeflexia without sensory disturbance.

EMG revealed global denervation and normal conduc-

tion velocities. Sural nerve biopsy was normal. The clini-

cal diagnosis was considered to be progressive muscular

atrophy. At age 46, he developed orthostatic dyspnea and

neck weakness and he subsequently died of respiratory

insufficiency. Autopsy was not performed.

One sister (P5) experienced partial complex seizures

since age 15. At age 63, her neurological examination

was normal, and her seizures were well controlled on

carbamazepine. EEG revealed frontotemporal dis-

charges. Cranial MRI was unremarkable. Chorein level

was normal (Fig. 1A).

Informed consent had been obtained from the

patients and their relatives allowing the publication of

this report.

DISCUSSION

The symptoms of progressive chorea and neuro-

psychiatric disturbances in association with elevated

CK levels, epilepsy, hyporeflexia and acanthocytosis

and a non-autosomal dominant inheritance pattern in a

young adult suggest the diagnosis of ChAc as con-

firmed in two of the cases presented here.

Although chorein assay was not performed in P3

and acanthocytes were never detected, the very typical

clinical features as along with CK elevation make the

diagnosis of ChAc probable, particularly in view of

diagnostic confirmation of this autosomal-recessive

condition in her sister. Weight loss due to feeding dys-

tonia and dysphagia are typical features, yet excessive

weight gain due to compulsive overeating, as in Case

P3, has been noted previously in ChAc.7

Acanthocytes were found in Case 1’s first blood

sample, however, in Case 2 acanthocytosis was found

only after 28 years of disease. P3 never showed evi-

dence of acanthocytosis. Possible explanations for

these results are the use of a nonstandardized screening

method8,9 or a variable appearance of acanthocytes,10

thus the absence of acanthocytosis does not exclude

the diagnosis of ChAc.

The siblings of Case 2, P4, and P5, revealed neuro-

logical features of unclear significance. P5 developed

epilepsy in adolescence but never exhibited other

symptoms of ChAc. Chorein assay was normal. The

etiology of her epilepsy is unknown and possibly unre-

lated to ChAc. However, we may speculate that this

patient has a heterozygous mutation of VPS13A and

that this genotype influences brain function, leading to

seizures, but not affecting chorein levels. Asymptomatic

heterozygous mutation carriers have chorein levels simi-

lar to normals,4 but further studies are necessary to define

the effect of a single mutant copy of the gene. Hetero-

zygosity has been proposed by others to account for par-

tial ChAc phenotypes.7 The observation, in Case P4, of

isolated motor neuron disease raises the possibility that

this might also be a partial manifestation of ChAc.

Use of a standardized protocol to detect acantho-

cytes,9 and in their absence, detection of elevated CK

and liver enzymes should lead to consideration of the

diagnosis of ChAc in cases of chorea or atypical psy-

chiatric disturbance. If any of these tests are positive

and other possible causes excluded, chorein assay

should be performed.

LEGENDS TO THE VIDEO

Segment 1. Showing truncal and limb chorea with

shambling gait, bilateral foot drop.

Segment 2. Showing generalized chorea, severe

proximal weakness, bradykinesia for repetitive hand

movements, and occasional tongue protrusions. Facial

lacerations and contusions are due to frequent falls.

Acknowledgments: The Advocacy for Neuroacanthocyto-sis Patients www.naadvocacy.org supports the chorein assayservice (http://www.nefo.med.uni-muenchen.de/�adanek/).

REFERENCES

1. Rampoldi L, Dobson-Stone C, Rubio JP, et al. A conserved sort-ing-associated protein is mutant in chorea-acanthocytosis. NatGenet 2001;28:119–120.

2. Walker RH, Jung HH, Dobson-Stone C, et al. Neurologic pheno-types associated with acanthocytosis. Neurology 2007;68:92–98.

Movement Disorders, Vol. 23, No. 14, 2008

2092 G.R. RODRIGUES ET AL.

Page 99: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

3. Ueno S, Maruki Y, Nakamura M, et al. The gene encoding anewly discovered protein, chorein, is mutated in chorea-acantho-cytosis. Nat Genet 2001;28:121–122.

4. Dobson-Stone C, Velayos-Baeza A, Filippone LA, et al. Choreindetection for the diagnosis of chorea-acanthocytosis. Ann Neurol2004;56:299–302.

5. Kurano Y, Nakamura M, Ichiba M, et al. In vivo distribution andlocalization of chorein. Biochem Biophys Res Commun 2007;353:431–435.

6. Dobson-Stone C, Danek A, Rampoldi L, et al. Mutational spec-trum of the CHAC gene in patients with chorea-acanthocytosis.Eur J Hum Genet 2002;10:773–781.

7. Ichiba M, Nakamura M, Kusumoto A, et al. Clinical and mole-cular genetic assessment of a chorea-acanthocytosis pedigree.J Neurol Sci 2007;263:124–132.

8. Feinberg TE, Cianci CD, Morrow JS, et al. Diagnostictests for choreoacanthocytosis. Neurology 1991;41:1000–1006.

9. Storch A, Kornhass M, Schwarz J. Testing for acanthocytosis—aprospective reader-blinded study in movement disorder patients.J Neurol 2005;252:84–90.

10. Sorrentino G, Renzo A, Miniello S, Nori O, Bonavita V. Lateappearance of acanthocytes during the course of chorea-acantho-cytosis. J Neurol Sci 1999;163:175–178.

2093CHOREA-ACANTHOCYTOSIS

Movement Disorders, Vol. 23, No. 14, 2008

Page 100: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Brief Reports

Huntington’s Disease-Like 2 inBrazil—Report of 4 Patients

Guilherme G. Riccioppo Rodrigues, MD,1

Ruth H. Walker, MB, ChB, PhD,2,3 Alexis Brice, MD,4

Cecile Cazeneuve, PhD,4 Odile Russaouen, BSc,4

Helio A.G. Teive, MD, PhD,5 Renato Puppi Munhoz, MD,5

Nilson Becker, MD,5 Salmo Raskin, MD, PhD,5

Lineu Cesar Werneck, MD, PhD,5

Wilson Marques Junior, MD, PhD,1

and Vitor Tumas,1 MD, PhD*

1Department of Neurology, Ribeirao Preto School ofMedicine, Ribeirao Preto, SP Brazil; 2Department of Neurol-ogy, James J. Peters Veterans Affairs Medical Center, Bronx,New York; 3Department of Neurology, Mount Sinai School ofMedicine, New York, New York, USA; 4Department of Geneticsand Cytogenetics, Neurogenetics Unit, Hospital Pitie-Salpe-

triere, Assistance Publique-Hopitaux de Paris, France; 5Move-ment Disorders Unit, Neurology Service, Hospital de Clınicas,

Federal University of Parana, Curitiba, PR, Brazil

Video

Abstract: Huntington’s disease-like 2 (HDL2) is a neurode-generative disorder found in people of African ancestrywith clinical, radiological, and neuropathological manifes-tations similar to Huntington’s disease (HD). HDL2 iscaused by a pathological expansion of CAG/CTG tripletsin exon 2A of the JPH3 gene. We describe four cases ofHDL2 from four unrelated families, and discuss theirclinical findings. HDL2 should be considered in everypatient with an HD-like phenotype who tests negative forthe HD mutation, even if African ancestry is not immedi-ately apparent. � 2008 Movement Disorder Society

Key words: Huntington’s disease; junctophilin 3; Hun-tington’s disease like

Since the identification of the causative mutation for

Huntington’s disease (HD) and the availability of

genetic testing, a number of patients have been identi-

fied who presented with the core manifestations of HD,

but who did not have the expected mutation.1–3 These

patients are classified as having a Huntington disease-

like (HDL) disorder.

One of these phenotypically similar disorders,

HDL2, affects almost exclusively patients of African

ethnic background, and is caused by expansion of

CAG/CTG triplets in exon 2A of the junctophilin 3(JPH3) gene. Expansions greater than 40 repeats cause

the disease.4,5 The junctophilins (JPHs) are proteins

which are probably involved in regulation of the intra-

cellular influx of calcium.6 The mechanism involved in

neuronal death due to mutant JPH3 is unknown but

may be related to the generation of RNA inclusions,

rather than to the distinct polyglutamine-containing

inclusions.7,8

We report four HDL2 cases from different families

of probable African ancestry.

CASE REPORTS

Case 1

A 48-year-old Black woman developed involuntary

movements at age 34, which progressively worsened,

impairing her gait and daily activities. At the age of 39

she had developed depression and cognitive slowing.

At that time, she was noted to have generalized chorea

and dysarthric speech. There were no other abnormal-

ities on neurological examination. Cognitive assess-

ment at age 41 revealed temporal disorientation and

mild memory impairment. Haloperidol was prescribed

and led to an improvement in chorea which remained

stable in the following years, however, her cognitive

symptoms worsened gradually until she had severe de-

mentia. There was no family history of chorea,

although there were several cases of psychiatric dis-

turbance in both maternal and paternal ancestors. Brain

MRI disclosed brain atrophy, mainly affecting the cau-

date nuclei (Fig. 1A). Genetic testing for HD was neg-

ative. Trinucleotide repeat analysis of JPH3 found al-

leles of 13/47 (Table 1). No acanthocytosis was found

in this or the other cases using routine methodology.

Additional Supporting Information may be found in the onlineversion of this article.

*Correspondence to: Dr. Vitor Tumas, Department of Neurology,Psychiatry and Medical Psychology, Ribeirao Preto School of Medi-cine, University of Sao Paulo, Campus Universitario, Bairro MonteAlegre, Ribeirao Preto, SP, Brazil-CEP 14049-900.E-mail: [email protected]

Potential conflict of interest: None reported.Received 1 April 2008; Revised 12 May 2008; Accepted 17 June

2008Published online 24 September 2008 in Wiley InterScience (www.

interscience.wiley.com). DOI: 10.1002/mds.22223

2244

Movement DisordersVol. 23, No. 15, 2008, pp. 2244–2255� 2008 Movement Disorder Society

Page 101: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Case 2

A 32-year-old Black man developed involuntary

movements at the age of 22. These movements were

initially characterized by his family as occasional tics,

affecting mainly his arms and face, which progres-

sively became continuous and generalized. At the same

time, he was noted to have memory loss and impair-

ment of comprehension. Apart from aggressive behav-

TABLE 1. Summary of clinical features and CAG repeats of HDL2 patients

PatientAge ofonset

Africanancestry

Movementdisorder Dementia

Psychiatricdisturbance Familiar history Neuroimaging CAG repeats

1 34 Present Chorea Present Depression Psychiatricdisturbance

Caudate atrophy 13/47

2 22 Present Tics? Present Aggressivebehavior

Chorea anddementia

Caudate atrophy 17/59ChoreaDystoniaParkinsonism

3 60 Present Chorea Present Aggressivebehavior

Unknown Caudate atrophy 16/46

4 48 Probable Chorea Present Depression Chorea anddementia

Caudate atrophy 14/48Parkinsonism Hallucinations

FIG. 1. Neuroimage of HDL2 patients demonstrating brain atrophy particularly affecting the caudate nuclei (A, B, and D). (C) Progression ofatrophy over 5 years.

2245HUNTINGTON’S DISEASE-LIKE 2 IN BRAZIL

Movement Disorders, Vol. 23, No. 15, 2008

Page 102: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

ior, there were no other psychiatric or behavioral com-

plaints. His mother and maternal grandfather were

reported to have similar movements and dementia, ulti-

mately leading to their deaths, although further details

are not available. Neurological examination at age 28

revealed moderate cognitive impairment, dysarthric

speech, and generalized chorea. There was unstable

gait without signs of cerebellar dysfunction. He

received haloperidol with partial control of chorea, but

this gradually worsened in the following years. At his

most recent examination at age 32, there was no cho-

rea, but he had dystonic posturing of the upper limbs,

mild rigidity, bradykinesia, severe cognitive impair-

ment, and unintelligible speech. Brain computerized to-

mography showed generalized atrophy, more visible in

the caudate nuclei (Fig. 1B). Genetic testing for HD

was negative. Trinucleotide repeat analysis of JPH3found alleles of 17/59.

Case 3

A 70-year-old Black man was first seen at age 62

for progressive disturbance of gait and unsteadiness

since age 60. At the age of 61, his family noted invol-

untary movements and 1 year later he developed cog-

nitive complaints and aggressive behavior. His parents

were second degree cousins, but further details of fam-

ily history were not available as he was not in touch

with his family from the age of 18. Initial neurological

examination revealed generalized chorea and impair-

ment of gait and balance but was otherwise unremark-

able. His first brain MRI, at the age of 63, showed

moderate generalized atrophy, more pronounced in the

caudate nuclei. Five years later follow-up MRI dis-

closed severe generalized atrophy and almost complete

absence of the caudate nuclei (Fig. 1C). From the age

of 65 he was bedridden, anarthric, and severely

demented. On his last examination there was mild cho-

rea, generalized spasticity, hyperactive deep tendon

reflexes, and extensor plantar responses. Genetic test-

ing for HD was negative. Trinucleotide repeat analysis

of JPH3 revealed alleles of 16/46.

Case 4

A 66-year-old White woman developed orolingual

chorea at the age of 48, progressing to generalized

chorea predominantly affecting the axial musculature.

Family history was notable for a similar illness in her

father, paternal uncle, and paternal grandmother.

Although the family was of remote Spanish/Portuguese

origin, her affected paternal grandmother was

described as ‘‘dark-skinned,’’ suggesting possible Afri-

can ancestry. By the age of 60, she was wheelchair-

bound with less prominent chorea and more bradykine-

sia. Cognitive symptoms started about the same time

as her motor symptoms, characterized by short-term

memory deficits, and progressed to severe dementia af-

ter about 13 years. Psychiatric manifestations started 3

years after the onset of motor symptoms with depres-

sion, social withdrawal, and visual hallucinations. At

the last examination, eye movements were severely

limited in all directions with markedly slow saccades.

Speech was dysarthric and barely understandable with

involuntary protrusions of the tongue. She had moder-

ate generalized spasticity with hyperactive deep tendon

reflexes and extensor plantar responses. There was

severe bradykinesia of rapid alternating movements.

No cerebellar signs were noted. She was unable to

walk due to akinesia and spasticity. Brain CT demon-

strated brain atrophy particularly of the caudate nuclei

(Fig. 1D). Genetic testing for HD was negative.

Trinucleotide repeat analysis of JPH3 found alleles of

14/48.

DNA Analysis

JPH3 analysis was performed by sizing fluorescent

PCR products encompassing the CTG/CAG expansion

site. The PCR products were loaded on 3730 DNA An-

alyzer and analyzed using GeneMapper software

(Applied Biosystems). The number of repeats was cal-

culated by comparison to DNA samples with known

number of repeats.

DISCUSSION

These cases presented with a progressive HDL phe-

notype, and in 3 cases with a family history suggestive

of an autosomal dominant disorder (Cases 1, 2, and 4).

In the setting of a negative molecular test for HD and

probable African ancestry, the diagnosis of HDL2 was

considered and molecularly confirmed.4,9,10

When Case 4 was initially reported in abstract

form,11 African ancestry was not apparent, but on fur-

ther questioning her grandmother was reported to be

‘‘dark-skinned,’’ presumably indicating African ethnic

background. In a recent report, Santos et al.12

described a Brazilian HDL2 case with apparent Euro-

pean ancestry, but whose molecular analysis showed

that the haplotype containing the expanded allele has

been found only in Africans. These cases confirm that

HDL2 may be diagnosed in apparently Caucasian

patients, and emphasize the importance of taking a

detailed history of family ethnic origin. Of note, one

2246 G.G.R. RODRIGUES ET AL.

Movement Disorders, Vol. 23, No. 15, 2008

Page 103: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

case has been reported13 in a patient of ‘‘middle-east-

ern’’ background, but further details of ethnic back-

ground are not reported.

In HD the parkinsonian phenotype is related to longer

trinucleotide repeat expansions, however, this does not

appear to be the case with HDL2. Three cases have

been reported with the longest expansion found to

date—59 repeats. Our Case 2 initially presented with

chorea and progressed to a dystonic and bradykinetic/

rigid phenotype; another case14 also presented initially

with chorea, and was not reported to develop parkinson-

ism, although details of follow-up are not available; the

son of the Case 2 reported by Greenstein et al. (2007)

was parkinsonian from disease onset. Patients with 52

repeats8 or 57 repeats10 have been reported who pre-

sented with parkinsonism and never developed chorea

during their disease course. This suggests that the pres-

ence of the choreic or parkinsonian phenotype is inde-

pendent of the number of CAG/CTG repetitions.

The age of onset of symptoms (22 years) of Case 2 is

among the youngest reported to date. As with HD, the

age of onset is inversely related to the size of the trinu-

cleotide repeat expansion.15 Similarly, the age of onset

of Case 3 is the oldest reported to date, and he was

found to have a trinucleotide repeat expansion at the

lower end of the pathological range. However, his rate of

disease progression was remarkably rapid, as the disease

course usually lasts 10 to 15 years4 and it is unusual for

patients to be bedbound within 5 years of presentation.

The reason for this fast progression was not identified.

Cases 1 to 3 were diagnosed from a cohort of 29

HDL patients, defined as a phenotype of progressive

chorea, dystonia, myoclonus, or ataxia with cognitive

impairment, in whom HD was excluded. The propor-

tion of 10% of HDL cases being diagnosed with HDL2

is higher than in other reports, and is likely to be due

to the significant proportion (44.6%) of the Brazilian

population being of African descent.16 A higher per-

centage of 26% was seen only in black South Africans

with an HDL phenotype.17

The clinical and neuropathological8 similarities

between HDL2 and HD suggest that they may share

pathophysiological pathways. However, in HDL2, in

contrast to HD, the phenotypes of parkinsonism or

chorea do not correlate with the size of the CAG/CTG

repeat expansion, suggesting that another unknown fac-

tor may play a role in the clinical expression of dis-

ease. In addition to the importance of correct diagnosis

for clinical management and genetic counseling, identi-

fication of new HDL2 patients may provide insights

into the understanding of HD and other trinucleotide

repeat disorders.

LEGENDS TO THE VIDEO

Segment 1. Patient 3 presenting dystonic postures in

his right hand and face. Lying down, involuntary jerk-

ing movements in legs and right shoulder occur.

Segment 2. Patient 4 exhibits involuntary tongue

protrusions, excessive eye blinking, head bobbing,

hyperactive deep tendon reflexes, and gait apraxia.

REFERENCES

1. Kremer B, Goldberg P, Andrew SE, et al. A worldwide studyof the Huntington’s disease mutation: the sensitivity and specific-ity of measuring CAG repeats. N Engl J Med 1994;330:1401–1406.

2. Andrew SE, Goldberg YP, Kremer B, et al. Huntington diseasewithout CAG expansion: phenocopies or errors in assignment?Am J Hum Genet 1994;54:852–863.

3. Rosenblatt A, Ranen NG, Rubinsztein DC, et al. Patients withfeatures similar to Huntington’s disease, without CAG expansionin huntingtin. Neurology 1998;51:215–220.

4. Margolis RL, O’Hearn E, Rosenblatt A, et al. A disorder similarto Huntington’s disease is associated with a novel CAG repeatexpansion. Ann Neurol 2001;50:373–380.

5. Holmes SE, O’Hearn E, Rosenblatt A, et al. A repeat expansionin the gene encoding junctophilin-3 is associated with Huntingtondisease-like 2. Nat Genet 2001;29:377–378.

6. Takeshima H, Komazaki S, Nishi M, Iino M, Kangawa K. Junc-tophilins: a novel family of junctional membrane complex pro-teins. Mol Cell 2000;6:11–22.

7. Walker RH, Morgello S, Davidoff-Feldman B, et al. Autosomaldominant chorea-acanthocytosis with polyglutamine-containingneuronal inclusions. Neurology 2002;58:1031–1037.

8. Greenstein PE, Vonsattel JP, Margolis RL, Joseph JT. Hunting-ton’s disease like-2 neuropathology. Mov Disord 2007;22:1416–1423.

9. Margolis RL, Holmes SE. Huntington’s disease-like 2: a clinical,pathological, and molecular comparison to Huntington’s disease.Clin Neurosci Res 2003;3:187–196.

10. Walker RH, Jankovic J, O’Hearn E, Margolis RL. Phenotypicfeatures of Huntington’s disease-like 2. Mov Disord 2003;18:1527–1530.

11. Teive HAG, Becker N, Munhoz RP, et al. Huntington’s disease-like 2: the first case report in Latin America in a patientwithout African ethnic origin. Mov Disord 2007;22(Suppl 16):S27.

12. Santos C, Wanderley H, Vedolin L, Pena SDJ, Jardim L,Sequeiros J. Huntington disease-like 2: the first patient withapparent European ancestry. Clin Genet 2008;73:480–485.

13. Wild EJ, Mudanohwo EE, Sweeney MG, et al. Huntington’s dis-ease phenocopies are clinically and genetically heterogeneous.Mov Disord 2008;23:716–720.

14. Bardien S, Abrahams F, Soodyall H, et al. A South Africanmixed ancestry family with Huntington disease-like 2: clinicaland genetic features. Mov Disord 2007;22:2083–2089.

15. Margolis RL, Holmes SE, Rosenblatt A, et al. Huntington’s Dis-ease-like 2 (HDL2) in North America and Japan. Ann Neurol2004;56:670–674.

16. IBGE—The Brazilian Institute of Geography and Statistics.National Census, 2000. Available at: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/20122002censo.shtm.

17. Krause A, Temlett J, Van der Meyden K, Ross CA, Callahan C,Margolis RL. CAG/CTG repeat expansions at the HDL2 locusare a common cause of Huntington disease in Black South Afri-cans. Presented at the Annual Meeting of The American Societyof Human Genetics, 15 October 2002, Baltimore, Maryland.(Abstract program number: 2098)

2247HUNTINGTON’S DISEASE-LIKE 2 IN BRAZIL

Movement Disorders, Vol. 23, No. 15, 2008

Page 104: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Clin Genet 2009: 75: 207Printed in Singapore. All rights reserved

# 2008 The Authors

Journal compilation # 2008 Blackwell Munksgaard

CLINICAL GENETICS

doi: 10.1111/j.1399-0004.2008.01055.x

Letter to the Editor

Huntington’s disease-like 2 and apparentancestry

To the Editor:We readwith interest the paper of Santos et al. (1)

reporting the first Huntington’s disease-like 2(HDL2) patient from Brazil who appeared initiallytonot havedirectlyAfricanancestry.Wewould liketo draw attention to the fact that a Brazilian patientwith HDL2 was reported in abstract form (2). Thefamily of this patient initially alsodenied anAfricanancestry, nevertheless after thorough evaluation,a probable African ancestor was later found (3). Asa significant proportion (44.6%) of the Brazilianpopulation has African ancestry (4), it is probablethat the allele (CTG)47-(GACA) came from anunknown African ancestor. To try and clarify thisproblem, we wonder whether it would be useful toperform the insertion/deletion polymorphisms’method in the relatives of the patient’s father,verifying whether the polymorphisms found aremore suggestive of an African ancestry. Besidesthese two cases, three other Brazilian familieshave been identified to date (5), suggesting thatHDL2 may be the most important cause of theHDL phenotype in HD-negative patients inBrazil, similar to that reported in the Africanpopulation (6).This study reports a patient with confirmed

HDL2 and an intermediate CAG expansion onHtt gene. This illustrates that HDL2 may occurin patients with non-pathological expansions onHtt gene. Cases previously described as havingHD with intermediate expansions (7, 8) are likelyto have other illnesses caused by mutations inother genes.

GGR Rodriguesa

HAG Teiveb

V TumasaaDepartment of Neurology, School of Medicine

of Ribeirao Preto, University of Sao Paulo,Ribeirao Preto, SP, Brazil, and

bMovement Disorders Unit, Department ofNeurology, Hospital de Clınicas, Federal

University of Parana, Curitiba, PR, Brazil

References

1. Santos C, Wanderley H, Vedolin L, Pena SD, Jardim L,Sequeiros J. Huntington disease-like 2: the first patient withapparent European ancestry. Clin Genet 2008: 73: 480–485.

2. Teive HAG, Becker N, Munhoz RP et al. Huntington’sdisease-like 2: the first case report in Latin America ina patient without African ethnic origin. Mov Disord 2007:22 (Suppl. 16): S27.

3. Rodrigues GGR, Walker RH, Brice A et al. Huntington’sdisease-like 2 in Brazil – Report of 4 patients. Mov Disord2008: 23 (15): 2244–2247.

4. IBGE. Caracterısticas gerais da populacxao - Censo demo-grafico 2000. Rio de Janeiro, Brasil. 2003: 37–48.

5. Rodrigues GGR, Tumas V, Marques Junior W et al. Clinicaland molecular studies of patients screened for Huntington’sdisease in a movement disorders clinic from Brazil.Parkinsonism Relat Disord 2007: 13: S79.

6. Krause A, Temlett J, Van der Meyden K, Ross CA, CallahanC, Margolis RL. CAG/CTG repeat expansions at the HDL2locus are a common cause of Huntington disease in BlackSouth Africans. Presented at the annual meeting of TheAmerican Society of Human Genetics, 15 October 2002.Baltimore: MD. [Abstract program number: 2098].

7. Kenney C, Powell S, Jankovic J. Autopsy-proven Hunting-ton’s disease with 29 trinucleotide repeats. Mov Disord 2007:22 (1): 127–130.

8. Andrich J, Arning L, Wieczorek S, Kraus PH, Gold R, SaftC. Huntington’s disease as caused by 34 CAG repeats. MovDisord 2008: 23 (6): 879–881.

Correspondence:Vitor Tumas, MD, PhDDepartment of Neurology, Psychiatry and Medical PsychologyRibeirao Preto School of Medicine, University of Sao PauloCampus UniversitarioBairro Monte AlegreRibeirao PretoSP, BrazilCEP: 14049-900Tel.: 155 16 36022548Fax: 155 16 36022544e-mail: [email protected]

207

Page 105: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 106: Caracterização clínica e investigação etiológica de ...livros01.livrosgratis.com.br/cp112498.pdf · GUILHERME GUSTAVO RICCIOPPO RODRIGUES Caracterização clínica e investigação

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo