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CARACTERIZAÇÃO DE PERICULOSIDADE COM ANÁLISE DE RISCO Josevan Ursine Fudoli, Engenheiro de Segurança do Trabalho (*) 1. A questão da periculosidade Os agentes caracterizadores da periculosidade, para fins de percepção do respectivo adicional, são os explosivos, inflamáveis, radiações ionizantes e energia elétrica, com fundamento nas normas legais que definem as atividades perigosas e as áreas de risco ensejadoras de periculosidade. Dito desta forma, a questão da caracterização técnica seria muito fácil, pois bastaria ao Perito analisar as atividades do empregado, inspecionar seus locais de trabalho, comparar essas atividades/áreas com as constantes dos dispositivos legais e concluir pela periculosidade ou não. Entretanto, o enquadramento tem suas mazelas, devido à legislação ultrapassada (em alguns pontos) e dúbia em outros, o que permite três possíveis situações: a) enquadramento normal. b) enquadramento legal (mas irreal). c) enquadramento interpretativo (dependendo da criatividade). Exemplos:

Caracterização de Periculosidade Com Análise de Risco

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Caracterização de Periculosidade

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CARACTERIZAÇÃO DE PERICULOSIDADE COM ANÁLISE DE RISCO Josevan Ursine Fudoli, Engenheiro de Segurança do Trabalho (*)

 

1. A questão da periculosidade Os agentes caracterizadores da periculosidade, para fins de percepção do respectivo adicional, são os explosivos, inflamáveis, radiações ionizantes e energia elétrica, com fundamento nas normas legais que definem as atividades perigosas e as áreas de risco ensejadoras de periculosidade. Dito desta forma, a questão da caracterização técnica seria muito fácil, pois bastaria ao Perito analisar as atividades do empregado, inspecionar seus locais de trabalho, comparar essas atividades/áreas com as constantes dos dispositivos legais e concluir pela periculosidade ou não.  Entretanto, o enquadramento tem suas mazelas, devido à legislação ultrapassada (em alguns pontos) e dúbia em outros, o que permite três possíveis situações: a)     enquadramento normal.b)    enquadramento legal (mas irreal).c)     enquadramento interpretativo (dependendo da criatividade). Exemplos: Enquadramento normal: frentista que abastece veículos; empregado que transporta inflamáveis, em quantidade de 200 litros (desde que não embalado); Enquadramento legal (mas irreal): o que considera “toda a bacia de segurança de tanques de inflamáveis líquidos” como área de risco, sem levar em consideração o tipo e quantidade de produto armazenado no tanque; raio de 3 metros em torno do ponto de vazamento de esfera de GLP (incêndio ou explosão em tanques e esferas são classificados como acidentes catastróficos).Enquadramento interpretativo: motorista que aguarda o abastecimento no veículo; empregado que transita em área de risco, mas não executa atividade de risco; empregado que trabalha em “recinto fechado” (cada um define recinto fechado de seu jeito); empregado que trabalha em “área de risco” (sem estabelecer relação de quantidade de produto inflamável x tamanho do espaço); empregado que “abastece” motoserra (3 litros ao longo de jornada de 8 horas); empregado que trabalha em local com risco eliminado ou sob controle; balconista de casa de uísque que “armazena” garrafas, totalizando mais de 200 litros.

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 Em algumas situações, a norma beneficia ou prejudica o trabalhador. Em outras situações, as conclusões periciais e/ou sentenças judiciais variam, para a mesma questão fática  2. Uma abordagem de Análise de Riscos 

A “percepção de riscos” não é a mesma coisa que identificação ou reconhecimento de riscos. Trata-se da avaliação de risco feita por leigos (trabalhadores, gerentes, população em geral) baseada na interpretação e aceitação pessoal ou sócio-política de uma determinada situação de risco. Portanto, os resultados dessa avaliação tanto podem coincidir como se afastarem da avaliação realizada por técnicos (Gilmar Trivelato, Fundacentro-MG). A avaliação de periculosidade é qualitativa e, como tal, fica sujeita a chuvas e trovoadas, principalmente, quando figuram os polêmicos termos “eventual”, “intermitente”, “permanente”, “risco acentuado” e “contato permanente”. O chavão de que “o acidente não escolhe hora para acontecer”, não pode ser usado, isoladamente, para definir a periculosidade. Se assim o fosse, não precisaria de análise técnica, pois tudo na vida tem perigo e risco, em graus variados. É necessário buscar uma técnica de engenharia que nos ajude a avaliar os riscos. Neste particular, a BS 8800 (Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho) nos oferece uma sistemática para a análise de uma atividade: a)     identificar os perigos da atividade.b)    analisar os riscos.c)     estimar a possibilidade da ocorrência.d) estimar a gravidade, caso ocorra.  “A possibilidade de um efeito adverso somente existirá se alguém estiver exposto a um fator de risco, perigo ou uma situação risco - que tenha o potencial de causar tal efeito. As pesquisas científicas de caráter antropológico tem mostrado que a percepção de riscos é afetada pelas características dos agentes e fatores de risco, algumas vezes independentemente do contexto, podendo nessa avaliação subjetiva, o risco ser minimizado ou exagerado, se compararmos com o ponto de vista técnico”. (Gilmar Trivelato, Fundacentro-MG 

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Os dados retro-coletados podem compor um formulário, conforme abaixo: Atividade: Etapa Riscos Fatores de risco Poss. Ocorrência GravidadeNº Descrição Existe... Sim Não Baixa Média Alta Baixa Média Alta                                                                     

 Uma vez estimadas a possibilidade da ocorrência e a gravidade, o próximo passo é classificar os riscos quanto a estes dois enfoques, conforme matriz abaixo: Possibilidade de ocorrência Gravidade

Baixa Média AltaBaixa Risco trivial Risco tolerável Risco moderadoMédia Risco tolerável Risco moderado Risco substancialAlta Risco moderado Risco substancial Risco intolerável Os conceitos de risco trivial, tolerável, moderado, substancial e intolerável são:

 Trivial: Nenhuma ação corretiva é necessária quando o risco for classificado corno trivial. Tolerável: Não requer ação imediata, podendo aguardar momento oportuno. A melhoria necessária não deverá onerar significativamente o custo operacional do negócio. Moderado: Requer previsão para implantação da medida de controle que irá eliminar ou reduzir o risco a níveis toleráveis ou triviais, ou seja, deverá haver prazo determinado e responsabilidade definida para implantação. Substancial: Exige ação imediata. O trabalho que estiver em curso poderá prosseguir sob estreito monitoramento, desde que este possa efetivamente reduzir o risco até que medidas de controle sejam implantadas. A interrupção do trabalho pode ser necessária até que o risco tenha sido reduzido a níveis moderados, toleráveis ou triviais. Intolerável: O trabalho não poderá ser iniciado e, se estiver em curso, deverá ser interrompido, até que o risco seja reduzido a níveis moderado, toleráveis ou triviais.

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Outras técnicas podem ser usadas, tais como: Análise Preliminar de Riscos (APR), Incidente Crítico, Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE) e Análise de Árvores de Falhas (AAF), dependendo da complexidade do assunto. 3. CONCLUSÃO  A idéia de utilizar uma técnica de análise de risco objetiva diminuir a subjetividade da análise qualitativa da periculosidade, além de dar subsídios à empresa de como melhorar a segurança das atividades, com a adoção de medidas de controle, mudando, inclusive, os paradigmas de gestão em segurança e saúde no trabalho, conforme bem registrou o Prof. João Cândido de Oliveira (Fundacentro/MG, Ed.99), em sua obra “Avaliação e Gestão de Riscos no Trabalho”: 

ENFOQUE TRADICIONAL TENDÊNCIA ATUALAs ações de segurança e saúde são centradas na Lei e na figura do trabalhador;

As ações de segurança e saúde do trabalhador são centradas no negócio e tratadas como valor agregado ao mesmo;

SST é responsabilidade do SESMT e da CIPA;

A responsabilidades pelas ações de SST é do corpo gerencial.

As atividades de SST são estanques, secundárias e dissociadas das atividades do negócio:

As atividades de Segurança e Saúde são integradas aos processos produtivos e conduzidas por quem responde por eles;

As ações de SST são promovidas por especialistas;

As ações de SST são promovidas pelos gerentes, especialistas assessoram;

As ações de segurança e saúde baseiam-se no controle de riscos;

As ações de Segurança e Saúde baseiam-se na organização do trabalho e no controle de processos;

Não há controle das ações de SST, especialmente no tocante a custos;

Existe um controle rigoroso por meio de matrizes específicas de custos;

Não há avaliação formal de desempenho do setor de SST e nem de seus condutores.

São estabelecidos critérios rígidos para avaliação de desempenho da empresa em SST, feitos por áreas e gerências específicas.

 (*) Josevan Ursine Fudoli, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Perito judicial, Consultor de Empresas, co-autor do livro “ Manual Técnico do PPRA, Presidente da Associação Mineira de Engenharia de Segurança (AMES) e Engenheiro de Segurança do Trabalho da PETROBRÁS - 1983/94.