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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS LUIZ HENRIQUE MENEGHEL LINO CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE ORVALHO DA MISTURA METANO - ETANOL CURITIBA 2021

CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

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Page 1: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE

MATERIAIS

LUIZ HENRIQUE MENEGHEL LINO

CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE

ORVALHO DA MISTURA METANO - ETANOL

CURITIBA

2021

Page 2: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

4.0 Internacional

Esta licença permite download e compartilhamento do trabalho desde que sejam

atribuídos créditos ao(s) autor(es), sem a possibilidade de alterá-lo ou utilizá-lo

para fins comerciais. Conteúdos elaborados por terceiros, citados e referenciados

nesta obra não são cobertos pela licença.

LUIZ HENRIQUE MENEGHEL LINO

CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE

ORVALHO DA MISTURA METANO - ETANOL

EXPERIMENTAL AND THEORETICAL CHARACTERIZATION OF THE DEW POINT OF

THE SYSTEM METHANE – ETHANOL

Dissertação apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre em

Engenharia, do Programa de Pós-Graduação

em Engenharia Mecânica e de Materiais da

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

(UTFPR). Área de concentração: Engenharia

Térmica.

Orientador: Prof. Dr. Moisés Alves Marcelino

Neto

Co-orientador: Prof. Dr. Rigoberto Eleazar

Melgarejo Morales

CURITIBA

2021

Page 3: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

LUIZ HENRIQUE MENEGHEL LINO

CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE ORVALHO DA MISTURA METANO – ETANOL

Trabalho de pesquisa de mestrado apresentado como requisito para

obtenção do título de Mestre Em Engenharia da Universidade

Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Área de concentração:

Engenharia Térmica.

Data de aprovação: 08 de Outubro de 2021

Prof Moises Alves Marcelino Neto, Doutorado - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Prof Hosiberto Batista De Sant Ana, Doutorado - Universidade Federal do Ceará (Ufc)

Prof Paulo Henrique Dias Dos Santos, Doutorado - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Documento gerado pelo Sistema Acadêmico da UTFPR a partir dos dados da Ata de Defesa em 08/10/2021

Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Campus Curitiba

Page 4: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

AGRADECIMENTOS

À Petrobras pelo suporte financeiro. À UTFPR e ao NUEM, pela disponibilização da

infraestrutura necessária para a realização deste trabalho.

Aos meus colegas e colaboradores do NUEM, em especial ao Thales Sirino pelas

discussões e pelo apoio na elaboração da modelagem termodinâmica e à Celina Kakitani pela

enorme ajuda e companheirismo na execução dos experimentos. Ao César Ofuchi e André

Stakowian pelo suporte na realização das medidas ultrassônicas e no processamento de dados.

Ao Prof. Rigoberto Morales pelo suporte e incentivo durante o período de execução

deste trabalho, aconselhamentos e pelo incentivo em relação aos trabalhos futuros.

Ao Prof. Moisés Marcelino Neto pelo enorme suporte técnico, conselhos, apoio e

conhecimentos transmitidos durante a elaboração desta dissertação, pela paciência e

direcionamento deste trabalho e dos trabalhos futuros.

Aos meus amigos e familiares, pelo suporte emocional e por apoiar e incentivar minhas

escolhas.

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior) pelo suporte

financeiro de processo número 88882.421976/2019-01.

Page 5: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

“Caminhando no incerto e idolatrando a dúvida”.

Antônio Abujamra

Page 6: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

RESUMO

LINO, Luiz Henrique Meneghel. CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL DO PONTO

DE ORVALHO DO SISTEMA METANO – ETANOL. 99f. Dissertação (Mestrado em

Engenharia Mecânica e de Materiais) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba,

2021.

A utilização de linhas de gas-lift para injeção de inibidores termodinâmicos para prevenir a

formação de hidratos pode ser uma solução prática para poços que já estão em funcionamento

e possuem o sistema de elevação artificial de gas-lift. Entretanto, como essas linhas foram

projetadas para o escoamento de gás somente, a presença de frações de líquidos pode danificar

algumas válvulas. Dessa maneira, o ponto de orvalho da mistura de gás natural com o inibidor

termodinâmico deve ser conhecido para assegurar a operação dessas linhas na região

monofásica gasosa. O metano é o principal componente do gás natural e, o etanol está entre os

inibidores termodinâmicos de hidratos mais disponíveis no território brasileiro. Entretanto,

estudos sobre o ponto de orvalho dessa mistura são escassos na literatura. No presente trabalho,

as curvas dos pontos de orvalho para o sistema metano - etanol foram obtidas

experimentalmente em pressões de até 9 MPa e temperaturas entre 40֯C e 80֯C (313,15 K -

353,15 K), em composições globais acima de 93% metano. O método sintético isotérmico com

mudança de fases foi empregado, e o momento da formação da primeira gota foi detectado por

três técnicas diferentes: visual, acústica e gráfica. Os resultados experimentais foram modelados

termodinamicamente através da equação de estado Cubic-Plus-Association (CPA). Testou-se

os esquemas associativos 2B e 3B acoplados a CPA, bem como diferentes dependências da

temperatura dos parâmetros de interação binária, otimizados usando-se dados experimentais.

As técnicas experimentais ultrassônica e visual apresentaram bons resultados, concordantes

com os dados da literatura. Em relação à modelagem termodinâmica, o esquema 2B obteve

melhor desempenho e um parâmetro de interação binária independente da temperatura foi

selecionado.

Palavras-chave: metano - etanol, método sintético, ultrassom, ponto de orvalho, CPA.

Page 7: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

ABSTRACT

LINO, Luiz Henrique Meneghel. EXPERIMENTAL AND THEORETICAL

CHARACTERIZATION OF THE DEW POINT OF THE METHANE – ETHANOL

SYSTEM. 99 sheets. Dissertation (Master’s Degree in Mechanical and Materials Engineering)

– Federal Technological University of Paraná. Curitiba, 2021.

The use of gas-lift system for chemical injection is a smart solution in many cases where,

operating wells have the system already installed. However, the gas-lift lines were projected to

operate with single phase gaseous flow. Consequently, the presence of liquids inside the lines

may damage the valves, causing reliability issues to system. Therefore, the phase envelop of

the mixture natural gas – inhibitor must be known to ensure the operation at the gaseous phase

region of the diagram. Since methane is the main gas in the natural gas, and ethanol is one of

the most popular gas hydrates inhibitor, the goal of this work is to experimentally determinate

the dew point curve of the system methane – ethanol in pressures up to 9 MPa, temperatures

ranging from 313.15 K to 353.15 K in the hydrocarbon rich are of the diagram (molar fraction

of methane above 93%). For this purpose, the isothermal synthetic method is applied with phase

transition, which is detected with three techniques: visual, graphical and acoustic. The

experimental results were modeled with Cubic-Plus-Association (CPA) equation of state. The

2B and 3B association schemes coupled with the CPA and the best temperature dependency of

the binary interaction parameter (BIP) were tested. The ultrasonic technique and the visual

technique showed results in agreement with the results in the literature. For the thermodynamic

model, the 2B association scheme shower a batter predictive performance and the BIP used was

temperature independent.

Keywords: methane - ethanol, synthetic method, ultrasonic, dew point, CPA.

Page 8: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

LISTA DE SIGLAS

NUEM Núcleo de Escoamentos Multifásicos

ANP Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocumbustíveis

MEG Monoetilenoglicol

DEG Dietilenoglicol

TEG Trietilenoglicol

EdE Equação de estado

PR Peng-Robinson

MeOH Metanol

SRK Soave-Redlich-Kwong

CPA Cubic-Plus-Association

UNIQUAC Universal Quasichemical

SAFT Statistical Associating Fluid Theory

PC Perturbated Chain

CAD Computer Aided Design

NIST National Institute of Standards and Technology

Page 9: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

LISTA DE SÍMBOLOS

Letras Romanas

Descrição Unidade

P Pressão [Pa]

T Temperatura [K]

R Constante universal dos gases [J/mol K]

v Volume molar [m3/mol]

x Fração molar na fase líquida [-]

y Fração molar na fase vapor [-]

X Fração de sítios não associados [-]

a Parâmetro de energia [J]

b Parâmetro de co-volume [m3]

∆𝑉 Variação do volume [m3]

ki,j Parâmetro de interação binária [-]

g Função de distribuição radial [-]

m Parâmetro da SRK [-]

Z Impedância acústica [kg/m2s]

c Velocidade do som no meio [m/s]

Letras Gregas

ω Fator acêntrico [-]

ρ Densidade molar [kmol/m3]

Δ Força de associação [Pa m3/mol]

β Volume de associação [-]

ε Energia de associação [Pa m3/mol]

Subscritos e Sobrescritos

A Sítio associativo A

B Sítios associativo B

i,j Componente

c Ponto crítico

r Reduzida

rep Repulsiva

atr Atrativa

Formulas Químicas

CH4 Metano

CO2 Dióxido de Carbono

C2H4 Etileno

C2H6 Etano

C3H8 Propano

C2H6O Etanol

Page 10: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

C2H6O2 Etano-1,2-diol

O2 Oxigênio

N2 Nitrogênio

H2 Hidrogênio

N2O Óxido nitroso

SF6 Hexafluoreto de enxofre

Ar Argônio

He Hélio

Ne Neon

Kr Criptônio

Xe Xenônio

Page 11: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Representação esquemática do sistema de gas-lift................................................16

Figura 1.2 – Fotografia de um plug de hidrato..........................................................................17

Figura 1.3 – Representação esquemática do diagrama pressão x composição do sistema metano

– etanol na perspectiva do (a) equilíbrio de fases e da (b) aplicação nos sistemas de gas-lift.....19

Figura 2.1 – Exemplo do comportamento pressão–temperatura de uma substância pura.........21

Figura 2.2 – Diagrama Pxy genérico.........................................................................................22

Figura 2.3 – Diagrama Pxy da mistura acetona + clorofórmio a 323,15 K...............................23

Figura 2.4 – Ligação de hidrogênio entre uma molécula de acetona e clorofórmio..................24

Figura 2.5 – Diagrama P-x do sistema n-pentano - metanol a 422,6 K.....................................24

Figura 2.6 - Representação esquemática de equipamento utilizado no método analítico. (1)

Fluidos, (2) vaso de pressão, (3) aquecedor, (4) manômetro, (5) termômetro, (6) bombas de

recirculação e (7) válvulas........................................................................................................26

Figura 2.7 - Inspeção visual do equilíbrio líquido-vapor de SF6 puro. (a) Monofásico e (b)

equilíbrio líquido/vapor............................................................................................................28

Figura 2.8- Determinação do ponto de bolha pelo método gráfico...........................................29

Figura 2.9 - Procedimento experimental sintético-isotérmico sem transição de fase. (a) Aparato

experimental. (b) Variação da pressão ao longo do tempo. (c) Diagrama pressão-

composição...............................................................................................................................30

Figura 2.10 - CO2 + acetato de vinila: diagrama pressão-composição......................................31

Figura 2.11 – Método gráfico para determinar o ponto de orvalho...........................................32

Figura 2.12 – Diagrama esquemático do oscilador de cristal....................................................33

Figura 2.13 – Esquema da célula de equilíbrio com os sensores...............................................34

Figura 2.14 – Isotermas para a mistura CO2 + R134a. As flechas indicam os pontos de bolha,

orvalho e o ponto crítico da mistura..........................................................................................34

Figura 2.15 – Queda na energia acústica no momento da nucleação de uma bolha...................35

Figura 2.16 – Pontos de orvalho experimentais do sistema metano-etanol de Gupta et al.

(1973).......................................................................................................................................39

Figura 2.17 – Pontos de orvalho experimentais do sistema metano-etanol de Suzuki e Sue

(1990).......................................................................................................................................40

Figura 2.18 – Pontos de orvalho experimentais do sistema metano-etanol de Brunner e

Hultenschmidt (1990)...............................................................................................................41

Figura 3.1 – Esquema representativo do circuito experimental................................................44

Page 12: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

Figura 3.2 – Representação em CAD da célula de equilíbrio. (a) Vista isométrica: 1- Janela de

safira; 2 – Cavidades para circulação do fluido de controle térmico; 3 – Transdutores de

ultrassom acoplados nas cavidades laterais. (b) Vista em corte: 4 – Pistão...............................46

Figura 3.3 – Foto da bancada experimental com: 1 e 2 - bombas seringa; 3 - agitador magnético.

Detalhe A: 4 – Célula de equilíbrio; 5 – câmera.......................................................................46

Figura 3.4– Principio de obtenção do ponto de orvalho. (a) Diagrama de fases; (b)

comportamento da curva P-V ao ocorrer uma transição de fases; e (c) deslocamento do

pistão........................................................................................................................................47

Figura 3.5 – Representação esquemática da energia transmitida ao eletrodo receptor.............50

Figura 3.6 – Detecção visual da nucleação da fase líquida. Fluido: SF6 a 288,35 K................52

Figura 3.7 – Diagrama Pressão-Volume para SF6 a 288,15 K...................................................53

Figura 3.8 – Variação da energia da onda de ultrassom no momento da nucleação da fase

líquida. Fluido: SF6 a 288,35 K................................................................................................54

Figura 4.1- Representação gráfica do esquema de associação 2B.............................................60

Figura 4.2- Representação gráfica do esquema de associação 3B............................................60

Figura 4.3 – Algoritmo de cálculo.............................................................................................64

Figura 5.1 – Detecção visual do ponto de orvalho. (a) Antes do ponto de orvalho. (b) Detecção

visual do ponto de orvalho. (c) e (d) Após o ponto de orvalho. ...............................................68

Figura 5.2 – Fração da energia transmitida para o eletrodo receptor. .......................................69

Figura 5.3 – Energia do ultrassom experimental no momento do ponto de orvalho................70

Figura 5.4 – Diagrama pressão-composição com resultados experimentais de medidas

ultrassônicas e simulação do Multiflash...................................................................................72

Figura 5.5 – Diagrama pressão-composição com resultados experimentais de medidas

ultrassônicas e dados disponíveis na literatura..........................................................................73

Figura 5.6 – Pontos experimentais no diagrama Py em duas rodadas experimentais

diferentes..................................................................................................................................73

Figura 5.7 – Comportamento do parâmetro de interação binária para os dados do presente

estudo em relação à temperatura..............................................................................................74

Figura 5.8 – Diagramas Py com o pontos experimentais e curvas obtidas com cada kij

otimizado..................................................................................................................................74

Figura 5.9 – Diagrama Py comparando os pontos experimentais com a CPA acoplada ao

esquema 2B e 3B.......................................................................................................................77

Figura 5.10 – Diagrama Py com pontos experimentais de Brunner e Hultenschmidt (1990) e o

kij otimizado no presente estudo...............................................................................................78

Page 13: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

Figura 5.11 – Diagrama Py com dados experimentais e modelagem.......................................79

Figura 5.12 – Diagrama Px com modelo e pontos experimentais.............................................80

Figura 5.13 – Diagrama Px com dados experimentais e modelo otimizado para fase líquida e

fase gasosa................................................................................................................................81

Figura 5.14 – Diagrama Py com pontos experimentais e modelo otimizado para a fase líquida

e gasosa.....................................................................................................................................82

Figura 5.15 – Envelope de fases do sistema metano - etanol a 348,15 K.................................83

Figura 5.16 – Delimitação de operação segura no sistema de gas-lift no diagrama Py.............84

Page 14: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Principais estudos do sistema metano - etanol.......................................................41

Tabela 3.1– Propriedades físicas das substâncias utilizadas.....................................................43

Tabela 3.2 – Pressões de vapor para SF6 puro por diferentes técnicas.....................................54

Tabela 3.3 – Pressões de vapor para CO2 puro por diferentes técnicas.....................................55

Tabela 4.1– Propriedades de fluidos para a SRK.......................................................................58

Tabela 4.2– Parâmetros da CPA para componentes associativos.............................................61

Tabela 5.1– Resultados experimentais......................................................................................71

Tabela 5.2 – Erro absoluto médio para diferentes funções da temperatura para o kij e diferentes

esquemas associativos..............................................................................................................76

Tabela 5.3 – Correlações otimizadas no presente trabalho........................................................84

Tabela A.1 – Incertezas relacionadas à composição.................................................................94

Tabela A.2 – Incertezas na composição....................................................................................95

Tabela A.3 – Incertezas na temperatura....................................................................................96

Tabela A.4 – Incertezas na pressão...........................................................................................96

Page 15: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

Sumário

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 14

1.1 Objetivos ................................................................................................................... 17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 19

2.1 Fundamentos básicos do equilíbrio líquido-vapor .................................................... 19

2.2 Métodos experimentais ............................................................................................. 23

2.2.1 Métodos analíticos ............................................................................................. 23

2.2.2 Métodos sintéticos ............................................................................................. 25

2.3 Sensores e técnicas aplicadas à determinação do ponto de orvalho e/ou bolha ........ 29

2.4 Estudos de equilíbrio de fases de sistemas diversos ................................................. 34

2.4.1 Estudos do equilíbrio de fases de sistemas alcano - álcool ................................ 34

2.4.2 Estudos sobre o ponto de orvalho do sistema metano – etanol.......................... 36

2.4.3 Principais estudos............................................................................................... 39

2.5 Considerações finais .................................................................................................. 40

3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL ............................................................................ 41

3.1 Materiais .................................................................................................................... 41

3.2 Equipamentos ............................................................................................................ 41

3.3 Métodos ..................................................................................................................... 45

3.3.1 Técnica visual .................................................................................................... 46

3.3.2 Técnica gráfica ................................................................................................... 47

3.3.3 Técnica acústica ................................................................................................. 48

3.4 Procedimento experimental ....................................................................................... 50

3.5 Validação da metodologia ......................................................................................... 51

3.6 Soluções de estudo .................................................................................................... 54

4 MODELAGEM TERMODINÂMICA ............................................................................ 55

4.1 Equações de estado.................................................................................................... 55

4.2 Sistemas Associativos ............................................................................................... 57

4.2.1 Termo físico ....................................................................................................... 58

4.2.2 Termo associativo .............................................................................................. 59

4.3 Parâmetro de interação binária .................................................................................. 60

4.3.1 Otimização do parâmetro de interação binária .................................................. 61

4.3.2 Implementação numérica ................................................................................... 62

5 RESULTADOS................................................................................................................ 66

Page 16: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

5.1 Resultados experimentais .......................................................................................... 66

5.1.1 Técnica visual .................................................................................................... 66

5.1.2 Técnica gráfica ................................................................................................... 68

5.1.3 Técnica ultrassônica ........................................................................................... 68

5.1.4 Resultados .......................................................................................................... 69

5.2 Resultados da modelagem ......................................................................................... 73

5.2.1 Parâmetro de interação binária e esquemas de associação ................................ 73

5.2.2 Envelope de fase ................................................................................................ 77

5.2.3 Fechamento do capítulo ..................................................................................... 82

6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 84

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 86

APÊNDICE A – Análise de incerteza das medidas experimentais ......................................... 91

Page 17: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

14

1 INTRODUÇÃO

No contexto de produção de petróleo, os poços chamados surgentes são aqueles que

possuem pressão suficientemente elevada para que os fluidos nele contidos alcancem a

superfície livremente (Thomas et al., 2001). Nesse caso, diz-se que os fluidos são produzidos

por elevação natural. Entretanto, reservatórios onde a pressão não é suficientemente alta para

a elevação natural, ou poços que estão no final da vida produtiva por surgência, necessitam de

suplementação da energia através de meios de elevação artificial. Dentre os meios mais comuns

de elevação artificial, destaca-se o gas-lift (Bezerra et al., 2019).

A elevação artificial por gas-lift utiliza a energia contida em um gás comprimido para

elevar fluidos de produção até a plataforma. Conforme ilustrado na Figura 1.1, o gás

comprimido é injetado no espaço anular da coluna de produção auxiliando a elevação dos

fluidos produzidos.

Figura 1.1 – Representação esquemática do sistema de gas-lift.

Fonte: Adaptado de Thomas et al. (2001).

Esta técnica de elevação artificial pode ser aplicada no método contínuo ou no método

intermitente. O método contínuo baseia-se em gaseificar o fluido de produção desde o ponto

de injeção até a superfície, reduzindo o gradiente médio de pressão e, consequentemente,

reduzindo a pressão de fluxo no fundo da coluna de produção e aumentando a vazão. Para isso

Gás de injeção

Para o separador

Válvulas de gas-lift

Líquido da formação

Anular

Coluna de produção

Page 18: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

15

é necessária uma injeção contínua de gás na coluna de produção, com vazão proporcional à

produção do reservatório.

No método intermitente, gás a alta pressão é injetado periodicamente na base de uma

golfada de fluido de produção para imprimir grande velocidade ascendente na golfada. Para a

injeção intermitente, necessita-se de válvulas capazes de abertura rápida e com orifício maior

em relação às válvulas aplicadas no método contínuo.

Os equipamentos de gas-lift são úteis não somente para elevar a produtividade de poços

pela elevação artificial, mas também beneficiam a garantia de escoamento, que utiliza o gás

como meio de transporte para inserir aditivos químicos na coluna de produção, pratica

comumente adotada pela Petrobras (Daas et al., 2011).

Garantia de escoamento é a ciência que se ocupa em entender e encontrar soluções de

engenharia para problemas como formação de hidratos, precipitação de parafinas e asfaltenos,

presença de resinas, bem como incrustações inorgânicas e problemas de corrosão do sistema

de produção (Brown, 2002).

A garantia de escoamento faz-se relevante principalmente para as instalações marinhas,

onde muitas vezes a tubulação entre a cabeça do poço e a plataforma atinge quilômetros de

comprimento e está sujeita a diversas condições de temperatura e pressão ao longo do percurso.

Durante a produção do petróleo, o fluido de produção, tipicamente gás natural, óleo e água, sai

do reservatório a uma temperatura relativamente alta. A temperatura baixa do leito marinho e

o efeito Joule-Thompson causam uma queda na temperatura do fluido produzido (Sloan et al.,

2011). Essa queda de temperatura associada a as altas pressões encontradas nas linhas de

produção podem causar a formação de hidratos e deposição de parafinas e/ou asfaltenos,

restringindo o escoamento ou até mesmo bloqueando totalmente a tubulação, causando queda

na produção e prejuízos (Thant et al., 2011). A Figura 1.2 ilustra um plug de hidrato bloqueando

quase que totalmente a tubulação.

Page 19: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

16

Figura 1.2 – Fotografia de um plug de hidrato.

Fonte: TecPetro (2015).

Dentre as atribuições das equipes de garantia escoamento, está a inserção de aditivos

químicos e solventes na coluna de produção. Esses aditivos químicos têm os mais diferentes

propósitos, como inibidores de corrosão, inibidores de incrustações, sequestrantes de H2S,

inibidores de hidratos, etc. Como mencionado acima, uma possibilidade para injetar os aditivos

químicos na coluna de produção, é utilizar as linhas de gas-lift, misturando os inibidores nos

gases sendo injetados. A mistura de gás com os aditivos químicos escoa pelas linhas de gas-

lift e pelo anular e é injetada na coluna de produção pelas válvulas de gas-lift.

Entretanto, a mistura entre os aditivos (líquidos) e o gás geralmente resulta em um

escoamento multifásico no sistema de gas-lift. Como o sistema foi projetado para operar com

escoamento monofásico de gás, a presença de líquidos pode comprometer a confiabilidade do

sistema, como mostrado por Daas et al. (2011), Poggesi (2001) e Fleming (2003). Portanto, o

equilíbrio de fases da mistura de gases com os inibidores deve ser estudado para se avaliar a

aplicabilidade da injeção química via sistema de gas-lift sem comprometer a confiabilidade do

sistema.

A motivação do presente trabalho é a injeção de inibidores termodinâmicos de hidratos

via sistemas de gas-lift. Segundo Kapateh et al. (2016), os inibidores termodinâmicos de

hidratos mais comumente utilizados são o etilenoglicol (monoetilenoglicol ou simplesmente

MEG), o metanol e o etanol, com o etanol apresentando uma vantagem econômica em relação

aos outros inibidores para países sul-americanos.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o

metano é o principal componente do gás natural, podendo apresentar concentrações superiores

a 70%. Logo, a caracterização experimental da mistura metano-etanol é relevante para

aplicação de campo em plataformas da Petrobras que possuem o sistema de gas-lift.

Page 20: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

17

A caracterização experimental do ponto de orvalho, entretanto, fornece pontos

específicos, ou seja, a concentração máxima de inibidor para uma condição especifica de

pressão e temperatura na qual o sistema está em operação segura (escoamento monofásico de

gás). Para se obter toda a curva dos pontos de orvalho, é necessário aplicar um modelo

termodinâmico. Entretanto, modelos são baseados em hipóteses e, portanto, carregam

simplificações em seus cálculos. Portanto, a maneira de unir a confiabilidade de dados

experimentais com a praticidade e versatilidade de modelos é através de parâmetros que

permitam ajustar esses modelos aos dados experimentais. Dessa forma, tem-se modelos

confiáveis para as condições nas quais os dados experimentais foram obtidos.

A Figura 1.3 traz o diagrama pressão versus composição esquemático para ilustrar a

curva dos pontos de orvalho para uma temperatura específica. As curvas de ponto de orvalho

geradas através de modelos otimizados delimitam duas regiões: a região onde existe apenas

vapor e a região onde existem líquido e vapor em equilíbrio (Figura 1.3 – a). Do ponto de vista

da injeção de inibidores pelas linhas de gas-lift, essas curvas delimitam a região de operação

segura (apenas vapor) e a região onde existe o risco operacional de falhas nas válvulas (líquido

e vapor) (Figura 1.3 –b). Ou seja, o diagrama pressão versus composição fornece a quantidade

máxima de inibidor que pode ser empregada dada as condições operacionais (temperatura e

pressão) de cada poço. Como pode-se observar na Figura 1.3, para uma pressão específica P,

existe uma concentração (ou fração molar) mínima, y, de metano para que o estado

termodinâmico do sistema seja completamente vapor.

Figura 1.3 – Representação esquemática do diagrama pressão x composição do sistema metano –

etanol na perspectiva do (a) equilíbrio de fases e da (b) aplicação nos sistemas de gas-lift.

Fonte: Autoria própria.

1.1 Objetivos

Curva dos pontos

de orvalho

Fração molar de metano

Pre

ssã

o

Líquido +

vapor

Vapor

(a)(b)

P

y

Risco de falha

nas válvulasOperação segura

Fração molar de metano

Pre

ssã

o

Page 21: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

18

O presente trabalho tem o objetivo de estudar experimentalmente e teoricamente a

mistura metano - etanol para determinar o equilíbrio de fases presente em determinadas

condições de temperatura, pressão e concentração global do sistema e avaliar o ponto de

orvalho em sistemas ricos em metano (composições acima de 93% molar), em temperaturas

entre 313,15 K e 353,15 K e pressões até 9 MPa.

Para atingir o objetivo experimental, foi utilizado um aparato de equilíbrio de fases

existente nas instalações do Núcleo de Escoamento Multifásico (NUEM) na Universidade

Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Além disso, o sistema metano-etanol foi modelado

termodinamicamente através da equação de estado Cubic Plus Association (CPA). Foram

testados dois diferentes esquemas associativos para o componente etanol, na intenção de

melhor capturar as interações intermoleculares. Os pontos de orvalho experimentais foram

utilizados para otimizar os parâmetros de interação binária (kij) da CPA e diversas

dependências em relação à temperatura do parâmetro foram testadas.

Page 22: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O presente capítulo sintetiza alguns conceitos fundamentais de equilíbrio líquido-vapor

de substâncias puras e misturas para facilitar o entendimento das discussões posteriores. Após,

serão apresentados os principais métodos experimentais aplicados ao estudo do equilíbrio de

fases e algumas técnicas desenvolvidas especificamente para a determinação do ponto de

orvalho. Em seguida, serão exibidos os principais trabalhos relacionados ao equilíbrio de fases

de sistemas envolvendo alcanos com álcoois, focando na pesquisa em sistemas binários

envolvendo metano - etanol.

2.1 Fundamentos básicos do equilíbrio líquido-vapor

A Figura 2.1 apresenta um diagrama pressão versus temperatura (PT) para uma

substância pura.

Figura 2.1 – Exemplo do comportamento pressão–temperatura de uma substância pura.

Fonte: Autoria própria.

No diagrama PT da Figura 2.1, a linha entre o ponto triplo e o ponto crítico é a linha

que delimita a região de somente líquido com a região de somente vapor, portanto, os pontos

que estão sobre essa linha são os pontos de líquido saturado em equilíbrio com vapor saturado.

O valor de pressão, para um determinado valor de temperatura, no qual ocorre a transição de

líquido para vapor, ou de vapor para líquido, é chamado pressão de saturação ou pressão de

vapor.

Page 23: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

20

Os valores de pressão e temperatura nos quais as transições de fase ocorrem variam

significativamente entre as substâncias, devido à estrutura molecular (átomos constituintes,

geometria molecular, massa molecular) influenciar diretamente nas propriedades

macroscópicas medidas. Portanto, ao se misturar espécies químicas diferentes, espera-se que a

composição (denotado por “x” para o líquido e “y” para o gás, onde o índice no subscrito denota

a espécie química), além da temperatura e pressão, exerçam forte influência sobre o equilíbrio

de fases da mistura.

Para representar graficamente o equilíbrio líquido-vapor de misturas, normalmente

fixa-se a temperatura e plota-se o sistema em função da pressão e composição (diagrama Pxy),

como mostrado na Figura 2.2.

Figura 2.2 – Diagrama Pxy genérico.

Fonte: Autoria própria.

Na Figura 2.2, a região acima da linha azul é a região monofásica de líquido (ponto 5),

a região abaixo da linha verde é a região monofásica de vapor (ponto 1), e a região entre as

linhas é a região onde liquido e vapor coexistem em equilíbrio (ponto 3). Portanto, ao contrário

da transição de fases para substância pura, para mistura temos uma região onde liquido e vapor

coexistem, e a transição de fases ocorre de forma gradual ao longo dessa região, como

demonstrado pelos pontos 2, 3 e 4. Essa região é delimitada pela curva dos pontos de orvalho

1

2

3

4

5

Pre

ssão

x1,y1

Page 24: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

21

(linha verde; ponto 2), a curva que delimita a região monofásica de vapor, e a curva dos pontos

de bolha (linha azul; ponto 4), a curva que delimita a região monofásica de líquido.

Um modelo simples para o equilíbrio de líquido/vapor de misturas é a lei de Raoult. O

modelo considera a fase vapor como um gás ideal, e a fase líquida como uma solução ideal. A

expressão quantitativa para a lei de Raoult é:

sat

i i iy P x P (2.1)

onde P é a pressão e o sobrescrito sat significa saturação.

Segundo Smith, Van Ness e Abbott (2007), apesar deste modelo apresentar uma

descrição realística em casos bem específicos (pressões baixas e espécies quimicamente

similares), é útil como padrão de comparação para sistemas mais complexos, como

exemplificado na Figura 2.3, onde a lei de Raoult é representada pelas linhas tracejadas,

enquanto a curva obtida experimentalmente é apresentada nas linhas contínuas em azul.

Figura 2.3 – Diagrama Pxy da mistura acetona - clorofórmio à 323,15 K.

Fonte: Adaptado de Mueller e Kearns (1958).

Ao se analisar a Figura 2.3, nota-se que, para toda faixa de composição, os valores de

pressões (bolha e orvalho) são menores do que aqueles calculados pela lei de Raoult. Ou seja,

o sistema apresenta um desvio negativo em relação à lei de Raoult. Isso ocorre devido às forças

de atração entre as moléculas de acetona e as moléculas de clorofórmio serem mais fortes do

que as forças de acetona ou clorofórmio puros. Isto é, tanto a acetona quanto o clorofórmio não

0 1

Fração molar de acetona

Pre

ssão

[M

Pa]

0,5

69,99

53,33

86,66

Page 25: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

22

realizam autoassociação, mas realizam associação cruzada entre o átomo de hidrogênio no

clorofórmio e o átomo de oxigênio na acetona, como demonstrado na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Ligação de hidrogênio entre uma molécula de acetona e clorofórmio.

Fonte: Autoria própria.

A associação cruzada da Figura 2.4 é possível pois a eletronegatividade do átomo de

cloro é capaz de polarizar a molécula de clorofórmio, possibilitando ao átomo de hidrogênio

de associar-se com o átomo de oxigênio da molécula de acetona.

Por outro lado, o sistema n-pentano - metanol, representado na Figura 2.5, apresenta

um comportamento contrário em relação à Figura 2.3.

Figura 2.5 – Diagrama Px do sistema n-pentano - metanol a 422,6 K.

Fonte: Adaptado de Wilsak et al. (1987).

Nota-se que, diferentemente do sistema acetona - clorofórmio, o sistema n-pentano -

metanol apresenta um desvio positivo em relação à lei de Raoult, indicando que as forças de

atração entre as moléculas de n-pentano com metanol são mais fracas do que n-pentano ou

metanol puros.

0 1

Fração molar de n-pentano

0,5

Pre

ssão

[M

Pa]

1200

2600

1900

Page 26: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

23

2.2 Métodos experimentais

Diversos processos naturais e sistemas da indústria química, nuclear e petroquímica

frequentemente apresentam comportamento complexo devido às suas características não ideais

e das interações moleculares dos componentes, como mostrado na seção anterior. Portanto,

dados sobre o equilíbrio de fases são bastante valiosos para a compreensão desses sistemas e

para calibrar modelos termodinâmicos que permitem a previsão do comportamento destes

sistemas em outros cenários. Diversas técnicas experimentais estão disponíveis na literatura

para a obtenção destes dados. Os métodos existentes podem ser divididos em duas categorias

gerais: métodos analíticos e métodos sintéticos. Uma revisão, baseada nos artigos de Dorhn et

al. (2012), Deiters e Kraska (2012) e Peper et al. (2019), sobre estes métodos é apresentada

nesta seção.

Primeiramente, é comum aos métodos a utilização de uma célula de equilíbrio. A célula

de equilíbrio é um vaso de pressão onde se estuda o equilíbrio de fases de misturas. Para isso,

a célula permite controlar e monitorar a temperatura, pressão e o volume no seu interior. Em

geral, as células possuem algum método de agitação para acelerar a homogeneização da

mistura, seja por agitação magnética ou mecânica.

2.2.1 Métodos analíticos

Os métodos analíticos são aqueles que envolvem a determinação da composição das

fases existentes. Isso pode ser feito através da retirada de uma amostra da célula de equilíbrio

e posterior análise cromatográfica sob pressão ambiente (métodos analíticos com retirada de

amostra) ou através de uma análise físico-química do conteúdo no interior da célula de

equilíbrio (métodos analíticos sem retirada de amostra). Como resultado da análise, os métodos

analíticos fornecem a informação completa da linha de amarração, isto é, tem-se, na mesma

análise, a composição do ponto de bolha e do ponto de orvalho para a temperatura e pressão

analisadas.

As principais vantagens dos métodos analíticos são a possibilidade de serem usados

para sistemas multicomponentes e o fato de serem confiáveis onde os métodos sintéticos não

são muito adequados: em sistemas onde a transição de fases é fortemente dependente da

composição. A principal dificuldade é a análise correta da composição das fases e quando o

sistema apresenta fases com densidades similares (próximo ao ponto crítico).

Page 27: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

24

Os métodos analíticos com retirada de amostra podem ser divididos em três

subcategorias: isotérmico; isobárico; e, isobárico-isotérmico. No método isotérmico, o

equilíbrio é atingido em um processo à temperatura constante, enquanto outras propriedades

como pressão e composição das fases se ajustam de acordo com a temperatura, volume da

célula e composição global. Para o método analítico isobárico, o ponto de ebulição da mistura

é medido à pressão constante. Para esses métodos, o experimento consiste em três etapas:

preparação da mistura na composição global desejada; obtenção do equilíbrio; e retirada de

uma amostra para análise. A retirada de uma amostra, entretanto, causa uma redução na pressão

no interior da célula e alteração da composição global, consequentemente, um novo estado de

equilíbrio é atingido. Esse efeito deve ser contabilizado quando mais de uma amostra é retirada

da célula. No método isobárico-isotérmico existe uma ou mais correntes de recirculação de

fluido para uma célula de equilíbrio mantida a temperatura constante. A pressão é mantida

constante controlando uma das correntes de saída, geralmente a de vapor. A Figura 2.6

representa esquematicamente o aparato experimental para determinação do equilíbrio de fases

experimentalmente pelo método analítico isobárico-isotérmico.

Figura 2.6 - Representação esquemática de equipamento utilizado no método analítico. (1) Fluidos, (2)

vaso de pressão, (3) aquecedor, (4) manômetro, (5) termômetro, (6) bombas de recirculação e (7) válvulas.

Fonte: Deiters e Kraska (2012).

O aparato representado na Figura 2.6 é típico ao método analítico. Nota-se a presença

de líquido em equilíbrio com vapor (1) no interior da célula de equilíbrio (2), onde ambas as

Page 28: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

25

fases recirculam (6) uma através da outra, acelerando a obtenção do equilíbrio. O próprio

sistema de recirculação pode ser utilizado para a retirada de amostras (7). A retirada de

amostras para análise de composição altera o equilíbrio no interior da célula. Esse efeito é

minimizado, entretanto, quando os volumes das amostras retiradas são pequenos em

comparação ao volume total da célula de equilíbrio. Consequentemente, célula de equilíbrio

aplicadas ao método analítico geralmente apresentam volumes maiores em relação àquelas

aplicadas ao método sintético.

2.2.2 Métodos sintéticos

Para o método sintético, é necessário conhecer precisamente a composição global da

mistura a ser inserida na célula de equilíbrio. Deseja-se observar o comportamento das fases

na célula e medir algumas propriedades, como pressão e temperatura, no estado de equilíbrio.

Como não é necessário retirar amostras, o método sintético pode ser aplicado em situações

onde o método analítico falha, como quando as fases possuem densidades muito próximas

(próxima ao ponto crítico). Além disso, o equipamento necessário é mais simples e

financeiramente acessível, a célula de equilíbrio pode possuir dimensões menores e ser

projetada para situações extremas de temperatura e pressão.

Assim como no método analítico, o método sintético pode ser isobárico ou isotérmico.

Além disso, o método sintético pode ser aplicado com ou sem transição de fase. Quando se

aplica o método com transição de fase, as propriedades (pressão, temperatura ou composição)

são alteradas até o surgimento de uma nova fase ou o desaparecimento de uma fase existente.

No momento em que surge uma nova fase, assume-se que a composição da fase predominante

é igual à composição global. Essa hipótese baseia-se no fato que no momento em que uma nova

fase se forma (a primeira gota líquida em um meio gasoso ou a primeira bolha de gás em um

meio líquido) o número de moles da nova fase é consideravelmente menor que a quantidade

total de moles na célula que não altera significativamente a composição da fase predominante.

A composição da fase que está sendo nucleada ou desaparecendo não é conhecida. Portanto,

diferentemente do método analítico, cada ponto experimental resulta em apenas um ponto no

diagrama de fases. Dependendo de como a transição de fase é monitorada, o método é

classificado como sintético visual ou sintético não-visual.

2.2.2.1 Método Sintético Visual

Page 29: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

26

Neste método busca-se observar visualmente a nucleação ou o desaparecimento de uma

fase através de uma interface ou, no caso do ponto de orvalho, observa-se uma névoa no

momento de nucleação da primeira gota. Esta técnica pode falhar para sistemas onde as fases

possuem índice de refração próximos.

No método sintético isotérmico, aumenta-se a pressão mantendo-se a temperatura

constante até a nucleação de uma nova fase. A Figura 2.7 ilustra uma célula de equilíbrio com

janela de visualização antes e após a nucleação da fase líquida.

Figura 2.7 - Inspeção visual do equilíbrio líquido-vapor de SF6 puro. (a) Monofásico e (b) equilíbrio

líquido/vapor.

Fonte: Autoria própria.

2.2.2.2 Método Sintético Não-Visual

Uma alternativa à inspeção visual, é o monitoramento de propriedades físicas para

detectar a nucleação de uma nova fase ou desaparecimento de uma fase existente. Uma das

maneiras mais simples é monitorar a inclinação da curva pressão-volume (método gráfico).

Este método é bastante utilizado em meio porosos, como no estudo de formação e crescimento

de hidratos. A Figura 2.8 ilustra a determinação do ponto de bolha por este método. Ao se

passar da região monofásica (somente líquido) para a região bifásica do envelope de fases (à

temperatura e à composição global constantes), a inclinação da curva de pressão pelo volume

sofre uma variação considerável.

a) b)

Líquido

Page 30: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

27

Figura 2.8- Determinação do ponto de bolha pelo método gráfico.

Fonte: Adaptado de Dohrn (2012).

2.2.2.3 Método Sintético sem Transição de Fases

Quando não se busca monitorar a transição de fases, propriedades como pressão,

temperatura, volume e massa específica das fases são medidas no ponto de equilíbrio e a

composição das fases coexistindo em equilíbrio é calculada utilizando um balanço de massa.

Este método pode ser realizado experimentalmente sendo isotérmico, isobárico ou outro

método sintético. Um exemplo de experimento do método sintético isotérmico sem transição

de fase é exemplificado na Figura 2.9.

a) b)

Pre

ssão

(M

Pa)

Pre

ssão

Fração MolarVolume (cm³)

Page 31: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

28

Figura 2.9 - Procedimento experimental sintético-isotérmico sem transição de fase. (a) Aparato

experimental. (b) Variação da pressão ao longo do tempo. (c) Diagrama pressão-composição.

Fonte: Adaptado de Dohrn (2012).

O procedimento experimental seguindo-se esse método é descrito a seguir. Uma célula

de equilíbrio de volume constante é evacuada e uma quantidade precisamente conhecida do

primeiro componente (mais pesado) é inserida. A temperatura é mantida constante por

intermédio de um banho termostatizado. Uma quantidade do segundo componente (mais leve),

também precisamente conhecida, é inserida na célula, acarretando em uma elevação da pressão

no interior da célula. Conforme o segundo componente se dissolve no primeiro componente, a

pressão diminui até, eventualmente, se estabilizar quando o sistema entrar em equilíbrio. Por

esta razão, este método é conhecido como método do decaimento da pressão. É comum a

utilização de um agitador magnético para acelerar este processo. No ponto de equilíbrio, a

temperatura e pressão são registradas e as concentrações da fase vapor são calculadas através

de um modelo de equilíbrio de fases. A composição da fase líquida é calculada com um balanço

de massa com a composição global e utilizando a composição da fase vapor, a massa específica

e o volume das fases. Mais pontos experimentais são obtidos repetindo-se o procedimento após

cada incremento de massa do segundo componente.

a) b)

c)

Pre

ssão

Pre

ssão

Composição

Tempo

Page 32: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

29

2.1.3 Comparação entre métodos

Peper et al. (2010) construíram um aparato experimental para estudar o equilíbrio

líquido/vapor utilizando diferentes técnicas experimentais. O aparato permite a utilização de

métodos sintéticos e analíticos. Os autores estudaram o equilíbrio de fases de sistemas contendo

dióxido de carbono com estireno e dióxido de carbono com acetato de vinila utilizando o

método sintético isotérmico visual, sintético isotérmico não-visual (método gráfico) e analítico

isobárico-isotérmico. Os resultados foram comparados com dados da literatura e comparados

entre si. A Figura 2.10 abaixo mostra uma comparação entre os métodos para o sistema de

dióxido de carbono e acetato de vinila.

Figura 2.10 - CO2 + acetato de vinila: diagrama pressão-composição.

Fonte: Adaptado de Peper et al. (2010).

Pode-se observar uma boa concordância entre os diferentes métodos experimentais.

Além disso, os resultados tiveram boa concordância com resultados da literatura. Os autores

ressaltam a necessidade de conhecer a vantagem e desvantagem de cada método, bem como as

diferentes fontes de erro de cada procedimento para o correto tratamento dos dados.

2.3 Sensores e técnicas aplicadas à determinação do ponto de orvalho e/ou

bolha

O método gráfico pode não apresentar resultados muito claros para o ponto de orvalho

em alguns sistemas, isto é, a variação na inclinação da curva PV pode ser quase imperceptível.

Portanto, Hosein et al. (2014) desenvolveram um método para determinar graficamente a

Page 33: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

30

pressão do ponto de orvalho. O método consiste em plotar o logaritmo de uma função chamada

de função YRRR pela pressão. A função YRRR, escrita para uma compressão com massa

constante é mostrada abaixo, Eq. (2.1):

(2.1)

onde Pinicial é a pressão inicial, P é a pressão no ponto desejado, V é o volume correspondente

à pressão P e Vinicial é o volume na célula à pressão Pinicial.

Para cada incremento de pressão, os valores de YRRR são registrados. Quando o

logaritmo de YRRR é plotado em relação à pressão, observa-se duas linhas retas, uma para os

valores de pressão abaixo do ponto de orvalho e outra para os valores acima. Essas retas são

estendidas e o ponto de cruzamento é registrado como a pressão do ponto de orvalho. A Figura

2.11 demonstra a pressão do ponto de orvalho obtida por esta metodologia e pelo método visual

para uma amostra de gás (fração molar de componentes C7+ entre 4 e 12,5%).

Figura 2.11 – Método gráfico para determinar o ponto de orvalho.

Fonte: Adaptado de Hosein et al. (2014).

Joung e Kim (2006) propuseram um equipamento novo para medir ponto de orvalho. O

equipamento consiste em colocar um oscilador de cristal em uma das faces da célula e resfriar

o sensor com uma corrente de água, a uma temperatura abaixo da temperatura da célula, como

Ponto de orvalho

Visual

orvalho VisualPonto de orvalho

Gráfico

Log

10

YR

RR

Pressão [psi]

Page 34: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

31

ilustrado pela Figura 2.12. Sendo a face com o sensor a parte mais fria da célula, sabe-se que a

nucleação da primeira gota vai ocorrer justamente nessa face. Ao ocorrer a condensação de

uma gota na superfície do sensor, a frequência de ressonância diminui, e a temperatura do

sensor no instante é registrada como a temperatura de orvalho da mistura.

Figura 2.12 – Diagrama esquemático do oscilador de cristal.

Fonte: Adaptado de Joung e Kim (2006).

Os autores testaram o equipamento para o sistema acetona - metanol. Os resultados

foram comparados com dados da literatura e com uma previsão feita com a equação

UNIQUAC, e mostram que o equipamento é confiável.

Bao et al. (2015) propuseram a detecção do ponto de orvalho ou ponto de bolha pela

utilização de sensores de fibra ótica no topo e na base da célula de equilíbrio, como ilustrado

na Figura 2.13. A técnica baseia-se na nucleação da primeira gota ocorrerá na parte inferior da

célula de equilíbrio e que a nucleação da primeira bolha ocorrerá na parte superior da célula.

Dessa forma, a presença de uma fina camada de gás em um meio líquido, ou de uma fina

camada de líquido em um meio gasoso, na ponta do sensor superior e inferior respectivamente,

provoca a interferência do sinal, registrando o ponto de bolha ou de orvalho do sistema.

Sensor

Circulação de água

Page 35: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

32

Figura 2.13 – Esquema da célula de equilíbrio com os sensores.

Fonte: Adaptado de Bao et al. (2015).

O equipamento foi testado para substâncias puras e misturas e apresentou resultados

concordantes com os dados disponíveis na literatura.

Kordikowski et al. (1996) determinaram o ponto de orvalho e o ponto de bolha de

sistemas binários através de medidas acústicas. O tempo de trânsito de um pulso ultrassônico

foi medido entre dois sensores piezoelétricos em um meio fluido. Para temperaturas abaixo da

temperatura crítica da mistura, os autores notaram dois pontos de máximo no tempo de trânsito

do pulso (Figura 2.14): o da pressão menor é o ponto de orvalho e o da pressão maior é o ponto

de bolha.

Figura 2.14 – Isotermas para a mistura CO2 + R134a. As flechas indicam os pontos de bolha,

orvalho e o ponto crítico da mistura.

Fonte: Kordikowski et al. (1996).

Sensor superior

Sensor inferior

Page 36: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

33

Segundo os autores, a propriedade-chave em medidas acústicas é a compressibilidade

do meio, que atinge um valor máximo no momento da transição de fase. Como a

compressibilidade está diretamente relacionada com a velocidade do som no meio, ao se medir

o tempo de trânsito do pulso é possível determinar o envelope de fases da mistura.

Silva (2011) realizou medidas do ponto de bolha de sistemas contendo hidrocarbonetos,

água e CO2. Os métodos visual e acústico foram empregados simultaneamente. Para o método

acústico, foi monitorado a amplitude da onda de ultrassom, através da utilização de um

osciloscópio. A onda acústica tem amplitude máxima ao atravessar um meio todo na fase

líquida. Portanto, no surgimento da primeira bolha a amplitude da onde deve diminuir, e a

pressão é registrada como a pressão de ponto de bolha. Mehl (2009) utilizou o mesmo princípio

de atenuação da onda acústica e o método visual para determinar o ponto de bolha de sistemas

formados por hidrocarbonetos e CO2. Ambos os experimentos baseiam-se na variação da

impedância acústica do meio no momento da transição de fase para realizar as medidas

acústicas.

Miguel Jr (2020) também utilizou ondas de ultrassom para determinar

experimentalmente o ponto de bolha de misturas de SF6 e óleo mineral. Para tanto, a energia

do sinal foi monitorada ao longo do tempo e, no momento da nucleação de uma bolha, nota-se

uma queda abrupta no valor da energia, como mostrado na Figura 2.15, devida à atenuação e

absorção da onda acústica na fase gasosa.

Figura 2.15 – Queda na energia acústica no momento da nucleação de uma bolha.

Fonte: Miguel Jr (2020).

Page 37: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

34

2.4 Estudos de equilíbrio de fases de sistemas diversos

Nesta seção serão apresentados estudos experimentais de equilíbrio de fases e

solubilidade realizados com diversos alcanos, álcoois e glicóis. O intuito é compreender os

propriedades (estrutura molecular, temperatura e pressão) que influenciam na solubilidade

tanto de um gás em um líquido, quando de um líquido em um gás, para os componentes citados

acima.

2.4.1 Estudos do equilíbrio de fases de sistemas alcano - álcool

Lannung e Gjaldbaek (1960) investigaram experimentalmente a solubilidade do metano

em diversos solventes: n-hexano, ciclohexano, acetona, benzeno, etanol, metanol, ciclohexanol

e água, para temperaturas entre 291,15 K e 310,15 K. Comparando os solventes, nota-se que a

solubilidade do metano é maior nos hidrocarbonetos e menor nos álcoois, com a acetona

apresentando um valor intermediário. A solubilidade do metano em água foi o menor valor de

solubilidade medido pelos autores. Entre os hidrocarbonetos, a solubilidade maior foi em n-

hexano, o hidrocarboneto com menor massa especifica entre os estudados. Para os álcoois,

entretanto, a solubilidade é menor no metanol, porém apresenta valor muito similar em etanol

e ciclohexanol.

Já o estudo realizado por Bo e Battino (1993) apresenta uma tendência muito clara:

aumento da solubilidade dos gases com o aumento da cadeia carbônica do álcool. Os autores

mediram a solubilidade de diversos gases (He, Ne, Ar, Kr. Xe, N2, O2, CH4 e SF6) em diversos

1-alcanois (n-CiH2i+1OH, 1 ≤ i ≤ 11) à 298,15 K e pressão ambiente. Nota-se que, para todos

os gases estudados, quanto maior a cadeia carbônica do solvente, maior a solubilidade dos

gases.

Outro parâmetro influente na solubilidade é discutido por Boyer e Bircher (1960). Os

autores mediram a solubilidade de N2, Ar, CH4, C2H4 e C2H6 em uma série de álcoois primários,

de metanol até octanol a 298,15 K e 308,15 K a 1 atm. Os autores constataram que a

solubilidade de gases em álcoois aumenta conforme a pressão interna do solvente - derivada

da energia interna em relação ao volume à temperatura constante - diminui e conforme a cadeia

carbônica da molécula do álcool aumenta.

Como o metanol e o etanol estão entre os inibidores termodinâmicos de hidratos mais

utilizados pela indústria, diversos estudos determinaram o equilíbrio de fases de componentes

do gás natural com esses álcoois. Alguns dos principais estudos são apresentados abaixo.

Page 38: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

35

Ukai et al. (2002) estudaram experimentalmente a solubilidade do metano em metanol

e em etanol na temperatura de 280,15 K e com a pressão variando de 2 a 11 MPa. Foi utilizado

o método sintético isotérmico sem transição de fase. Os autores usaram o fato de que a pressão

de vapor do metanol e do etanol ser muito baixa na temperatura de trabalho em comparação

com as pressões analisadas para considerar a fase liquida como não volátil. Com essa hipótese,

a fração mássica de metano na fase liquida é calculada a partir de um balanço de massa, com

as densidades da fase liquida e gasosa, pressão e temperatura de equilíbrio e volume total da

célula medidos experimentalmente. Os dados foram correlacionados com uma equação de

estado pseudocúbica de três parâmetros.

Friend et al. (2005) estudaram a solubilidade do oxigênio, nitrogênio, dióxido de

carbono e metano em etanol, para temperaturas entre 323 e 373 K e pressões entre 2,320 e

2,658 MPa. O método analítico foi utilizado para o oxigênio e o nitrogênio, e para o metano e

dióxido de carbono, o método sintético.

Nourozieh et al. (2012) estudaram o equilíbrio de fases dos sistemas binários de metano

com álcoois (metanol, etanol, 1-propanol) em temperatura de 295 K e pressões entre 1 e 8 MPa.

O experimento foi realizado pelo método analítico e os dados experimentais foram

correlacionados com o as equações de estado Soave-Redlich-Kwong (SRK) e Peng-Robinson

(PR). Os autores analisaram a composição do líquido, mas não analisaram a composição do

gás, constatando que os valores de álcool no gás eram muito baixos para serem medidos. Os

autores observaram que ambas as equações de estado tiveram uma previsão satisfatória, mas a

SRK apresentou menores desvios em relação aos dados experimentais. Os autores também

observaram que a fração molar de metano na fase liquida aumentou conforme o peso do álcool

aumentou, enquanto a fração mássica de metano na fase líquida diminuiu.

Comparando os trabalhos supracitados, pode-se concluir que a solubilidade do metano

é maior em etanol do que metanol. Ao se comparar a solubilidade do metano em etanol com a

solubilidade do metano em 1-propanol (Nourozieh et al., 2012), nota-se que a solubilidade é

maior em 1-propanol. Conclui-se que quanto mais pesada a molécula do álcool, mais moléculas

de metano são capturadas, resultando em maior fração molar de metano na fase liquida

(Nourozieh et al., 2012).

Outro trabalho que mediu a solubilidade do metano em metanol e em etanol é o

realizado por Kapateh et al. (2015). Os dados experimentais, obtidos para temperaturas entre

238,15 K e 298,15 K em pressões entre 0,3 e 41,7 MPa foram utilizados para otimizar os

parâmetros de interação binária da CPA. Os autores observaram boa concordância entre os

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36

resultados da modelagem e os resultados experimentais e com dados disponíveis na literatura.

Nota-se também que a solubilidade do metano é maior em etanol do que em metanol.

Outro estudo que confirma essa tendência é o de Oliveira et al. (2015). Os autores

investigaram experimentalmente os sistemas metano-metanol e metano-etanol, utilizando o

método sintético isotérmico. Os autores utilizaram duas equações de estado para modelar o

sistema e comparar com os dados experimentais: Peng-Robinson (PR) e Perturbed-Chain

Statistical Associating Fluid Theory (PC-SAFT). Os autores relataram que a solubilidade do

metano é maior em etanol do que metanol, devido ao etanol ser menos polar do que metanol.

Além disso, a solubilidade do metano em metanol/etanol diminuiu com o aumento da

temperatura. Os autores constataram também que as equações de estado representam o sistema

com erros aceitáveis, sendo que a equação PR apresentou menor desvio percentual.

Para a formação de hidratos, entretanto, é preciso a presença de água. Portanto

Tokunaga et al. (1975) determinaram a solubilidade de metano em soluções aquosas de metanol

e etanol a 293,15 K e 1 atm. Os autores desenvolveram uma correlação, baseada em

quantidades em excesso, e obtiveram boa concordância com os resultados experimentais.

Ao se comparar os dados de Tokunaga et al. (1975) com os dados de solubilidade do

sistema binário de metano e metanol ou etanol, percebe-se que a presença de água no sistema

diminui a solubilidade do gás metano.

2.4.2 Estudos sobre o ponto de orvalho do sistema metano – etanol

Gupta et al. (1973) estudaram a solubilidade de etanol em gases comprimidos (He, H2,

Ar, CH4, C2H4, C2H6, CO2 e N2O) em pressões entre 1 e 6 MPa e temperaturas entre 298,15 K

e 348,15 K. Com esses dados, os autores calcularam o segundo coeficiente de virial (coeficiente

que mede o desvio em relação à idealidade) para cada um dos casos e compararam com o valor

desse coeficiente para cada gás, porém no caso do propano como soluto. Os autores notaram

que, exceto para o CO2, os coeficientes cruzados de virial, coeficientes relacionados à

magnitude das forças moleculares entre um par de moléculas de espécies químicas diferentes,

apresentaram valores muito próximos. Ou seja, em sistemas onde não ocorre ligação de

hidrogênio, etanol e propano possuem propriedades físicas próximas. Segundo os autores isso

é esperado já que as moléculas do etanol e do propano são isoeletrônicas, possuem estrutura

molecular similar e um valor de polarizabilidade próximo, porém não idêntico. Segundo os

autores, a concordância entre os coeficientes de virial entre os sistemas evidencia um provável

equilíbrio entre as forças de dispersão e as forças de indução, devido ao etanol ser menos

Page 40: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

37

polarizável que o propano. Os resultados obtidos pelos autores para o sistema metano - etanol

são mostrados na Figura 2.16.

Figura 2.16 – Pontos de orvalho experimentais do sistema metano-etanol de Gupta et al. (1973).

Fonte: Adaptado de Gupta et al. (1973).

Suzuki e Sue (1990) estudaram experimentalmente o equilíbrio líquido-vapor dos

sistemas binários dióxido de carbono-metanol, dióxido de carbono-etanol, dióxido de carbono-

1-propanol, metano-etanol, metano-1-propanol, etano-etanol e etano-1-propanol. O método

utilizado foi o analítico isotérmico, para as temperaturas de 313,4 K e 333,4 K. Como esperado,

devido às respectivas temperaturas críticas, os autores constataram que o etano e o dióxido de

carbono apresentaram uma maior solubilidade em álcoois do que o metano. Ademais, a

solubilidade do etanol é maior em etano e em dióxido de carbono do que em metano. Os

resultados para o sistema metano - etanol são mostrados na Figura 2.17.

0

1

2

3

4

5

6

0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

298,15 K

323,15 K

348,15 K

Page 41: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

38

Figura 2.17 – Pontos de orvalho experimentais do sistema metano-etanol de Suzuki e Sue (1990).

Fonte: Adaptado de Suzuki e Sue (1990).

Brunner e Hultenschmidt (1990) levantaram curvas dos pontos de bolha e dos pontos

de orvalho dos sistemas etanol com metano, com etano ou com hidrogênio, para temperaturas

de 298,15 K até 498,15 K. Para os casos onde a fração molar de etanol é moderada ou alta, o

método sintético visual foi utilizado, já para os casos com baixa fração molar de etanol, o

método analítico foi utilizado. Os autores verificaram boa concordância com dados disponíveis

na literatura. A Figura 2.18 mostra os pontos experimentais obtidos pelos autores para o sistema

metano - etanol, onde é possível notar o afastamento da curva de pontos de orvalho dos eixos

com o aumento da temperatura, e uma consequente redução na tendência do sistema em

permanecer no ELV. Ademais, nota-se também que a condensação retrógrada fica mais

pronunciada no sistema conforme se aumenta a temperatura.

0

2

4

6

8

10

12

0,975 0,98 0,985 0,99 0,995 1

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

313,4 K

333,4 K

Page 42: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

39

Figura 2.18 – Pontos de orvalho experimentais do sistema metano-etanol de Brunner e

Hultenschmidt (1990).

Fonte: Adaptado de Brunner e Hultenschmidt (1990).

2.4.3 Principais estudos

A Tabela 2.1 traz alguns dos principais estudos encontrados pelo autor envolvendo a

mistura binária metano e etanol e algumas informações aglutinadas, como o método

experimental, a modelagem termodinâmica utilizada, a faixa de temperatura e de pressão

trabalhada, bem como o tipo de dado obtido (ponto de bolha ou ponto de orvalho).

Tabela 2.1 - Principais estudos do sistema metano - etanol.

(continua)

Artigo Método Modelagem T(K) P(MPa) Dado

Gupta et al. (1973) Analítico Virial 298,15-

348,15

1,00-

6,00 Orvalho

Brunner e

Hultenschmidt

(1989)

Analítico/

Sintético -

298,15-

498,15

4,00-

30,00 Bolha/Orvalho

Suzuki e Sue

(1990) Analítico -

313,40-

333,40

1,00-

10,00 Bolha/Orvalho

Ukai et al. (2002) Sintético Pseudocúbica 280,15 1,00-

12,00 Bolha

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

298,15 K

348,15 K

398,15 K

448,15 K

498,15 K

Page 43: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

40

Tabela 2.1 - Principais estudos do sistema metano - etanol.

(conclusão)

Friend et al. (2005) Sintético - 323,00-

373,00

2,32-

2,66 Bolha

Nourozieh et al.

(2012) Analítico SRK e PR 295,00

1,00-

8,00 Bolha

Oliveira et al.

(2015) Sintético PR e SAFT

303,00-

323,00

7,75-

15,27 Bolha

Kapateh et al.

(2015) Analítico CPA

238,15-

298,15

0,30-

41,70 Bolha

Fonte: Autoria própria.

2.5 Considerações finais

O estudo termodinâmico do equilíbrio de fases de sistemas binários contendo um

componente polar e outro apolar é de interesse fundamental para a indústria de petróleo. Nesse

cenário, destacam-se os sistemas envolvendo alcanos com álcoois, que são corriqueiramente

encontrados em sistemas de hidratos inibidos.

A maioria dos estudos de termodinâmica de soluções é focado na solubilidade de gases

em soluções líquidas (ponto de bolha). Nota-se, pela revisão apresentada, que o comportamento

da solubilidade em relação à pressão é o mesmo em todos os trabalhos: a solubilidade aumenta

com o aumento da pressão. Já o comportamento da solubilidade em relação à temperatura pode

variar dependendo da natureza química dos componentes e da faixa de pressão e temperatura

analisada. Em relação à modelagem termodinâmica, verifica-se que a equação de estado CPA

é frequentemente utilizada e apresenta bons resultados.

Após a presente revisão bibliográfica, pode-se observar que os estudos de ponto de

orvalho do sistema metano – etanol são escassos na literatura, como demonstrado na Tabela

2.1. O presente trabalho pretende contribuir com dados experimentais, e obter parâmetros

otimizados para a equação de estado CPA.

Page 44: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

41

3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL

No presente capítulo são apresentados os materiais e equipamentos utilizados na

realização dos experimentos. Os métodos e técnicas experimentais aplicadas são

exemplificadas e a validação da metodologia com substância pura é apresentada.

3.1 Materiais

No presente trabalho os seguintes reagentes foram utilizados: metano, fornecido pela

White Martins (Gases Industriais) possuindo pureza de 99,995%, e o etanol, fornecido pela

Neon Comercial (Produtos Químicos) possuindo grau PA (99,9%) de pureza. A Tabela 3.1 traz

algumas propriedades físico-químicas dessas substâncias, baseado em Yaws (2015).

Tabela 3.1– Propriedades físicas das substâncias utilizadas.

Substância Metano Etanol

Fórmula CH4 C2H6O

Massa molar 16,0428 g/mol 46,0690 g/mol

Massa específica 422,8 kg/m3

(111,15 K)

787,0 kg/m3

(298,15 K)

Ponto de ebulição 111,67 K 351,50 K

Ponto de fusão 90,69 K 159,00 K

Fonte: Adaptado de Yaws (2015).

Por apresentarem grau de pureza aceitáveis para a análise, nenhum método posterior de

purificação ou degaseificação foi aplicado aos reagentes.

3.2 Equipamentos

Nesta seção são apresentados os equipamentos utilizados e suas respectivas funções no

experimento. A Figura 3.1 apresenta de forma esquemática o circuito experimental utilizado

no presente trabalho.

Page 45: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

42

Figura 3.1 – Esquema representativo do circuito experimental.

Fonte: Autoria própria.

Segue a descrição dos principais equipamentos utilizados no circuito experimental:

● Bomba seringa: modelo 260D Teledyne Isco com capacidade de

armazenamento de 266 mL e pressões máxima de trabalho de 517,24 bar. A

bomba seringa permite controlar a massa de reagente inserida na célula de

pressão bem como pressurizar o pistão da célula acarretando na mudança de

fase.

● Banho térmico: modelo Polyscience PP15R-40-A11B, com capacidade de

operar em uma faixa de temperatura de -40 até 200 ̊C e desempenho

programável. O banho termostático permite manter a temperatura na célula e na

bomba seringa constante, possibilitando a aplicação do método isotérmico.

Page 46: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

43

● Transdutor de pressão: modelo EJX610A-C da marca Yokogawa. Este

transdutor trabalha em uma faixa de pressões de 0 a 11 MPa com precisão de

0,04% e tempo de resposta de 90ms.

● Sonda PT100: modelo P-M-1/10-1/8-6-0-P-3 – RTD da marca Omega. Sensor

com faixa de temperatura de -100 até 400 ̊C, com exatidão de 1/10 DIN.

● Transdutores (emissor e receptor) de ultrassom: modelo A603S-RB da marca

Olympus com frequência de operação de 1MHz.

● Agitador magnético: modelo C-MAG HS 7 Package da marca IKA, trabalha

com velocidades entre 100 e 1500 rpm. O agitador promove a convecção na

mistura, possibilitando atingir o equilíbrio de maneira mais rápida.

● Câmera: Webcam BRIO da Logitech. Câmera com foco automático e

capacidade de filmar com resolução 4K.

● Célula de equilíbrio: célula de volume variável, através de um pistão móvel, e

com duas janelas de safira: para possibilitar filmagem e para iluminação.

Ademais, a célula possui cavidades ao redor que possibilitam circular o fluido

de refrigeração do banho termostático, e superfícies planas nas laterais para

acoplar os transdutores do ultrassom. A Figura 3.2 mostra um CAD da célula

com os recursos supracitados.

Page 47: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

44

Figura 3.2 – Representação em CAD da célula de equilíbrio. (a) Vista isométrica: 1- Janela de safira; 2 –

Cavidades para circulação do fluido de controle térmico; 3 – Transdutores de ultrassom acoplados nas

cavidades laterais. (b) Vista em corte: 4 – Pistão; 5 – câmara de pressurização; 6 – câmara de mistura.

Fonte: Autoria própria.

Na Figura 3.2 (b) é possível observar o mecanismo de pressurização da célula de

equilíbrio. O pistão (4) divide o interior da célula em duas câmaras: a câmara de pressurização

(5), hidraulicamente conectada à bomba seringa carregada com líquido, e a câmara de mistura

(6), onde o sistema de estudo (mistura) se encontra. Ao se aumentar a pressão na câmara de

pressurização, o pistão se move, diminuindo o volume, e consequentemente aumentando a

pressão, na câmara de mistura.

A vedação no pistão móvel – entre a câmara de pressurização e a câmara de mistura – é

realizada por um anel de vedação de Viton quando a célula é preenchida por CO2 e de borracha

nitrílica para os demais reagentes. Entretanto, é necessário evitar a formação de um gradiente

de pressão através do anel de vedação para que não ocorra vazamento de gás. Ou seja, é

necessário pressurizar as camâras simultaneamente.

É possível observar a célula de equilíbrio montada na estrutura e os equipamentos

supracitados na fotografia do aparato experimental exibida na Figura 3.3.

1

1

2

3 3 45 6

(a) (b)

Page 48: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

45

Figura 3.3 – Foto da bancada experimental com: 1 e 2 - bombas seringa; 3 - agitador magnético. Detalhe

A: 4 – Célula de equilíbrio; 5 – câmera.

Fonte: Autoria própria.

3.3 Métodos

O método sintético isotérmico é utilizado no presente trabalho. Para exemplificar a

aplicação deste método, a Figura 3.4 representa esquematicamente um envelope de fases, um

diagrama pressão-volume e o deslocamento de um pistão no interior da célula de equilíbrio.

Detalhe A

1 2

3

4

5

Page 49: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

46

Figura 3.4– Principio de obtenção do ponto de orvalho. (a) Diagrama de fases; (b) comportamento da

curva P-V ao ocorrer uma transição de fases; e, (c) deslocamento do pistão.

Fonte: Adaptado de Malanowski (1982).

Na Figura 3.4, o ponto A está em uma região do diagrama onde existe apenas vapor, o

ponto B é o ponto de orvalho do sistema e o ponto C está em uma região onde existe líquido e

vapor em equilíbrio.

No presente trabalho, o método sintético isotérmico é empregando buscando atingir a

mudança de fase. Para determinar o ponto de mudança de fase por este método, no caso do

ponto de orvalho, é necessário que a célula esteja inicialmente apenas com vapor (Ponto A).

Aumenta-se a pressão na célula, através do deslocamento do pistão no interior da célula, até a

nucleação da primeira gota (Ponto B). Para a detecção da nucleação do aparecimento de uma

nova fase, três técnicas serão utilizadas simultaneamente: visual, acústica e gráfica. A seguir,

essas três técnicas são detalhadas.

3.3.1 Técnica visual

Como mencionado na seção anterior, a célula possui duas janelas de safira: uma para a

visualização (câmera) e a outra para iluminação. Os dados da câmera são gravados no mesmo

computador que executa o programa em Labview, que registra a temperatura e a pressão da

célula e o volume da bomba. Dessa maneira, como os dados são registrados com base no

0 1

T = constante

P

V

C

B B

C

AA

VC VB VAx, y

PB

PC

PA

P (a) (b)

(c)

Page 50: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

47

horário do computador, é possível sincronizar os dados, para saber o valor de pressão no

interior da célula no momento em que se detecta visualmente a nucleação da fase liquida na

célula.

A técnica visual é utilizada desde os primeiros estudos de determinação do ponto de

bolha e de orvalho. Nesse método, as transições de fase são detectadas visualmente através do

aparecimento ou desaparecimento de uma interface ou neblina, no caso do ponto de orvalho.

Segundo Malanowski (1982), na pressão do ponto de orvalho, micro gotas de líquido saturado

se formarão e se tornarão visíveis na forma de opalescência ou neblina. Esse método,

entretanto, está limitado à habilidade do observador e ao fato de que as microgotas se tornam

visíveis apenas depois de certo volume.

3.3.2 Técnica gráfica

A célula de equilíbrio utilizada está dividida em duas câmaras por um pistão, permitindo

a variação do volume ocupado pela mistura em análise. O pistão é conectado por um fluido

(incompressível) com a bomba seringa. Dessa maneira, o aumento de pressão na bomba seringa

é comunicado à célula, comprimindo a câmara de mistura.

Ao se comprimir um gás à temperatura constante, o volume reduz-se de maneira linear

com o aumento da pressão. Entretanto, quando a fase líquida é nucleada, a redução no volume

tende a ser maior para um mesmo acréscimo de pressão, devido às moléculas que migram para

a fase líquida ocuparem um volume menor no interior da célula. Portanto, é possível notar uma

mudança de inclinação na curva P-V. Para isso é necessário utilizar uma bomba seringa, que

possibilita o monitoramento da pressão e do volume internos, e de um transdutor de pressão

para monitorar a pressão na mistura analisada. Dessa maneira, é possível monitorar a curva

pressão na célula versus volume na bomba e, quando a inclinação da curva mudar, sabe-se que

ocorreu uma mudança de fase.

A pressurização do sistema ocorre com pequenos incrementos de pressão, até que a

nucleação da primeira gota seja detectada, gerando vários pontos de pressão e volume entre o

ponto A e o ponto B, que através de uma regressão forma a reta AB. Se a pressurização

continuar até o ponto C, os pontos de pressão e volume do ponto B até o ponto C podem ser

regredidos em outra linha reta (BC) que cruza a reta AB. O ponto de cruzamento das duas retas

é o ponto de orvalho, como mostrado na Figura (3.4).

Page 51: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

48

O método utilizado para encontrar a intersecção das retas é o da matriz inversa. Seja

uma matriz de coeficientes das retas, matriz A, uma matriz de incógnitas, um vetor x, e um

vetor b, formando um sistema de equações da forma:

A x b (3.1)

Portanto, a inversa de A nos fornece:

1

x b A

(3.2)

Ou:

1

11 121

212 22

orva abP

a abV

(3.3)

Onde os valores de a11, a12, a21, a22, b1 e b2 são os coeficientes lineares gerados pelas

regressões das retas AB e BC.

3.3.3 Técnica acústica

Segundo Kordikowski et al. (1996), a propriedade mais importante em medidas

acústicas é a compressibilidade, a qual atinge um valor máximo no momento da transição de

fases. Como a compressibilidade está relacionada com a velocidade do som no meio, é possível

determinar o envelope de fases medindo a velocidade o som no fluido. Como discutido

anteriormente, os autores mostraram que a velocidade do som atinge um valor mínimo, tanto

no ponto de bolha quanto no ponto de orvalho.

A velocidade do som no meio está diretamente relacionada com a impedância acústica

do meio, expressa pela Eq. (3.4):

Z c (3.4)

onde Z é a impedância acústica, c é a velocidade e ρ é a densidade do meio.

Page 52: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

49

A impedância acústica é a propriedade que mede a resistência que o meio impõe à

passagem da onda sonora, e, em uma interface, é a propriedade que dita a proporção da onda

que será transmitida e refletida (Andreucci, 2014). As frações de energia refletida (R) e

transmitida (T) em uma interface são dadas pelas equações (3.5) e (3.6).

2

2 1

2

2 1

Z ZR

Z Z

(3.5)

1T R (3.6)

Onde Z1 e Z2 são as impedâncias dos meios que formam a interface. A

transmissão/reflexão na interface entre o meio 1 (gás no interior da célula de equilíbrio) e o

meio 2 (parede metálica da célula) é representada na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Representação esquemática da energia transmitida ao eletrodo receptor na célula de

equilíbrio.

Fonte: Autoria própria.

As variações na impedância do meio geradas pela nucleação de uma nova fase no

interior da célula, resultam em uma variação da energia recebida pelo eletrodo receptor, de

acordo com as equações (3.5) e (3.6). Consequentemente, é possível se detectar a nucleação de

uma nova fase no sistema pela variação da energia média do sinal recebido pelo eletrodo

receptor.

Page 53: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

50

3.4 Procedimento experimental

A primeira etapa do procedimento experimental consiste em realizar vácuo na célula de

equilíbrio e nas linhas do circuito experimental. Então insere-se na célula uma quantidade de

líquido precisamente conhecida através da bomba seringa de líquido. Aplica-se vácuo nas

linhas novamente para eliminar o etanol remanescente nas linhas. Na sequência é inserido uma

quantidade conhecida de gás metano na célula. Ao se manter a pressão e a temperatura na

bomba iguais no começo e no fim da inserção, é possível manter a massa especifica constante

e monitorar, através do volume, a quantidade de metano inserida na célula. A fração molar do

sistema é calculada utilizando os volumes medidos pela bomba e a massa específica obtida

pelo software REFPROP (Reference Fluid Thermodynamic and Transport Properties

Database - NIST). Pode-se ajustar o banho para a temperatura desejada e ligar a agitação

magnética. Aguarda-se 1 hora para garantir a estabilidade da temperatura, pressão e do

potencial químico, caracterizando o equilíbrio termodinâmico, é possível fazer um incremento

de pressão na bomba seringa, movimentando o pistão e comunicando o aumento de pressão à

célula de equilíbrio. Quando a pressão se estabilizar novamente, espera-se 2 minutos para dar

o próximo incremento de pressão. Os incrementos de pressão devem seguir até o momento que

a nucleação da fase líquida for observada. Após a determinação do ponto de orvalho, realiza-

se a despressurização do sistema, insere-se novamente uma quantidade conhecida de gás para

atingir a nova composição e o procedimento de pressurização se repete.

Os passos são descritos simplificadamente em forma de lista abaixo:

1. Realizar vácuo na célula de equilíbrio e nas linhas;

2. Inserir uma quantidade de líquido precisamente conhecida na célula de

equilíbrio;

3. Utilizar a bomba de vácuo para remover o etanol excedente nas linhas;

4. Através da bomba seringa, inserir uma quantidade precisamente conhecida de

gás metano na célula de equilíbrio;

5. Ligar a agitação magnética, ajustar a temperatura do banho e aguardar o sistema

entrar em equilíbrio;

6. Iniciar a pressurização da célula através da bomba seringa;

7. Aguardar o sistema atingir o equilíbrio;

8. Repetir passos 6 e 7 até o sistema atingir o ponto de orvalho;

9. Inserir mais gás no sistema e, quando o sistema atingir o equilíbrio, retornar ao

passo 6.

Page 54: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

51

A despressurização deve ser lenta, 1 bar por minuto, para se evitar danos ao anel de

vedação do pistão

3.5 Validação da metodologia

Para validar a metodologia experimental, bem como as técnicas utilizadas para a detecção

da nucleação de uma nova fase, a pressão de vapor de substancias puras foram obtidas pelo

aparato experimental e os valores comparados com os valores tabelados pelo software

comercial REFPROP.

Os experimentos foram conduzidos a partir da fase gasosa até o momento da nucleação

da primeira gota. Foi medido a pressão de saturação do dióxido de carbono (CO2) e do

hexafluoreto de enxofre (SF6). Foram utilizados dois fluidos diferentes pois o SF6 possui

pressões de saturação mais baixas que o CO2, permitindo validar a metodologia utilizada no

aparato experimental para uma faixa de pressões mais ampla. O fluido utilizado para comunicar

a pressão entre a bomba seringa e a célula de equilíbrio foi água.

A Figura 3.6 exibe imagens captadas pela câmera durante o experimento com

hexafluoreto de enxofre. A imagem (a) foi capturada antes do sistema atingir a pressão de

saturação, a imagem (b) registra o momento no qual se detecta o primeiro sinal de liquido na

célula (indicado pela seta vermelha) e, a imagem (c) é após o sistema atingir a pressão de

saturação.

Figura 3.6 – Detecção visual da nucleação da fase líquida. Fluido: SF6 a 288,35 K.

Fonte: Autoria própria.

A Figura 3.7 ilustra um gráfico pressão por volume registrados para um experimento

realizado com SF6. A pressurização inicia-se com o volume da bomba um pouco acima de

42 mL. Nota-se, inicialmente (pontos roxos), um comportamento aproximadamente linear da

pressão no interior da célula com o volume da bomba. Após certo ponto, os pontos continuam

(a) (b) (c)

Page 55: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

52

numa tendência aproximadamente retilínea, porem com outra inclinação (pontos verdes). Ao

se fazer uma regressão linear dos pontos roxos e verdes, é possível obter duas retas. O ponto

de cruzamento dessas retas, obtido pelo método da matriz inversa (equações 3.1 -3.3), é o ponto

onde ocorre a nucleação da fase líquida.

Figura 3.7 – Diagrama Pressão-Volume para SF6 à 288,15 K.

Fonte: Autoria própria.

Na Figura 3.8 é possível visualizar o comportamento da energia relativa da onda de

ultrassom em relação ao tempo. Nota-se que após certo momento ocorre um acréscimo da

energia do sinal. O instante no qual esse acréscimo ocorre é o instante no qual a fase liquida

foi nucleada.

Page 56: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

53

Figura 3.8 – Variação da energia da onda de ultrassom no momento da nucleação da fase líquida.

Fluido: SF6 à 288,35 K.

Fonte: Autoria própria.

A Tabela 3.2 traz os valores obtidos para os experimentos conduzidos com SF6 puro, nas

mesmas condições, porém em dias diferentes. É mostrado o valor de pressão na qual a

nucleação da fase líquida é detectada por cada uma das técnicas utilizadas. A coluna da direita

de cada técnica traz o desvio percentual em relação aos valores fornecidos pelo REFPROP

(NIST) e a última linha traz a média dos valores absolutos dos desvios.

Tabela 3.2 – Pressões de vapor para SF6 puro por diferentes técnicas.

Temperatura

[K]

Visual

[bar]

Desvio

%

PV

[bar]

Desvio

%

US

[bar]

Desvio

%

NIST

[bar]

288.35 18,980 1,7967 19,021 2,0166 18,950 1,6358 18,645

288.15 18,960 2,1992 18,887 1,8057 18,900 1,8758 18,552

Média 1,9979 1,9112 1,7558

Fonte: Autoria própria.

Nota-se que as técnicas exibiram uma precisão aceitável apresentando todas, em média,

desvios menores que 2%. Para validar a metodologia para pressões mais altas, foi utilizado o

CO2 puro. Os resultados dos experimentos são representados na Tabela 3.3.

En

erg

ia [

V2]

Tempo [HH:MM]

1,95

1,90

1,85

1,80

1,75

1,70

1,65

1,60

18:15 18:16 18:17 18:18 18:19 18:20 18:21

Page 57: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

54

Tabela 3.3 – Pressões de vapor para CO2 puro por diferentes técnicas.

Temperatura

[K]

Visual

[bar]

Desvio

%

PV

[bar]

Desvio

%

US

[bar]

Desvio

%

NIST

[bar]

283,15 45,214 0,4260 44,559 -1,0275 44,557 -1,0326 45,022

288,65 51,187 -0,5827 51,500 0,0252 51,785 0,5788 51,487

293,15 57,527 0,4119 57,504 0,3718 58,254 1,6809 57,291

299,65 66,940 0,518 66,600 0,0075 67,278 1,0255 66,595

303,05 72,491 0,7211 72,009 0,0514 71,961 -0,0153 71,972

Média 0,5320 0,2967 0,8666

Fonte: Autoria própria.

Para os testes com dióxido de carbono, envolvendo pressões mais altas, nota-se que os

desvios percentuais também apresentam valores mais baixos. Portanto, a bancada fornece

dados de pressão de saturação precisos nas validações com ambos os fluidos.

3.6 Soluções de estudo

O presente estudo foi conduzido de maneira para que as condições experimentais sejam

as mais próximas possíveis das condições operacionais encontradas nos sistemas de gas-lift.

Os experimentos foram realizados para a soluções binárias metano - etanol ricas em metano

(frações molares de metano maiores que 93%), com pressões de até 8,5 MPa. As temperaturas

avaliadas foram: 313,15 K, 323,15 K, 328,15 K, 333,15 K, 338,15 K, 343,15 K, 348,15 K e

353,15 K. A faixa de pressões e frações molares avaliadas durante os experimentos variaram

para cada isoterma, devido à natureza física do sistema e às limitações do aparato experimental.

As incertezas das medidas experimentais são tratadas no Apêndice A.

Page 58: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

55

4 MODELAGEM TERMODINÂMICA

Neste capítulo é apresentada a equação de estado a ser utilizada na modelagem dos

sistemas de estudo do presente trabalho, a Cubic Plus Association (CPA). Os termos da

equação e o método de otimização do parâmetro de interação binária com os dados

experimentais são explicados. A modelagem apresentada na seção seguinte é baseada nas

seguintes referências: Dahm (2015) e Kontogeorgis e Folas (2010).

4.1 Equações de estado

A equação de estado (EdE) é uma relação matemática entre pressão (P), temperatura

(T) e volume molar (v) de modo que, se duas dessas propriedades de estado são conhecidas, a

terceira pode ser calculada (Dahm, 2015). Dessa forma, a lei dos gases ideais, Eq. 4.1, é a mais

simples das equações de estado.

RTP

v (4.1)

onde R é a constante universal dos gases. Essa equação de estado, entretanto, possui utilidade

prática apenas para pressões baixas, onde o desvio em relação à idealidade é menos significante

principalmente devido ao fato das moléculas estarem mais distanciadas entre si em pressões

baixas, fazendo com que as forças intermoleculares se tornem mais negligenciáveis. Em

pressões elevadas as substâncias apresentam desvio significativo em relação à idealidade. Em

busca de mais versatilidade, várias outras equações de estados foram propostas. Dentre as mais

importantes, destaca-se a família das EdEs cúbicas no volume, que podem ser vistas como

variantes da equação de van der Waals Eq. (4.2),

2( )

RT aP

v b v

, (4.2)

onde a e b são constantes calculadas a partir das propriedades críticas de cada substância,

conforme Eqs. (4.3) e (4.4):

Page 59: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

56

2 2( )27

64

c

C

R Ta

P (4.3)

1

8

c

c

RTb

P

(4.4)

O termo a considera as forças de atração entre as moléculas e o termo b considera o

volume das moléculas. Dessa forma, a EdE de van der Waals pode ser dividida em dois termos:

termo repulsivo e termo atrativo, conforme descrito pela Eq. (4.5).

rep atrP P P (4.5)

Várias alterações foram propostas no termo atrativo, incluindo a dependência da

temperatura. Entre elas, destaca-se a EdE SRK (Soave-Redlich-Kwong), Eq. (4.6), a primeira

a incluir o fator acêntrico, parâmetro que considera o desvio do formato da molécula em relação

à uma molécula esfericamente simétrica, na modelagem do termo atrativo.

( )

( )

RT a TP

v b v v b

(4.6)

onde os termos a(T) e b são dados em função da temperatura crítica, Tc, pressão crítica. Pc, e

fator acêntrico, w, e são calculados pelas Eqs. (4.7-10).

2( ) [1 (1 )]c ra T a m T (4.7)

2 20,42748 cc

c

R Ta

P (4.8)

20,48 1,574 0,176m (4.9)

0,08664 c

c

RTb

P (4.10)

Page 60: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

57

Os valores de Tc, Pc e ω das substâncias utilizadas neste trabalho, fornecidos por Yaws

(1999) são apresentadas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1– Pressão e temperatura críticas e fator acêntrico para o metano e etanol.

Substância Tc [K] Pc [bar] ω

Metano 190,58 46,04 0,011

Etanol 516,25 63,84 0,637

Fonte: Adptado de Yaws (1999).

Segundo Kontogeorgis e Folas (2010), a SRK possui desempenho satisfatório na

representação do equilíbrio de fases de fluidos produzidos na exploração de petróleo (gases e

hidrocarbonetos). Entretanto, na indústria de óleo e gás, normalmente existem componentes

capazes de realizar ligações de hidrogênio (água, álcoois, glicóis, etc.) requerendo um modelo

teórico que seja capaz de descrever essas associações de maneira correta.

4.2 Sistemas Associativos

Sistemas associativos são aqueles que possuem componentes capazes de realizarem

ligações de hidrogênio, como água, álcoois, glicóis, etc. Em misturas, ligações de hidrogênio

podem ocorrer entre moléculas da mesma espécie (autoassociação) ou de espécies diferentes

(associação cruzada ou solvatação). Essas interações afetam significativamente as propriedades

macroscópicas dos fluidos. Portanto, um modelo termodinâmico, para ser confiável, deve levar

em conta essas associações entre as moléculas. Diversas equações de estado associativas foram

criadas, dentre ela destaca-se a Statistical Associating Fluid Theory (SAFT) (Chapman et al.,

1990), baseada na teoria da perturbação Wertheim (1984a. 1984b, 1986a, 1986b). Entretanto,

para componentes apolares, essa equação traz alto custo computacional e desempenho similar

à uma EdE cúbica simples.

Nesse contexto, Kontogeorgis et al. (1996) combinaram a simplicidade de uma equação

cubica, como a SRK (termo físico), com um termo associativo similar ao utilizado na equação

de estado SAFT, e propuseram a EdE Cubic Plus Association (CPA). Na ausência de

componentes associativos, esta retorna à SRK. A CPA explícita na pressão é apresentada

abaixo, Eq. (4.11):

Page 61: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

58

( ) 1 ln1 (1 )

( ) 2 i

i

i A

i A

RT a T RT gP x X

v b v v b v

(4.11)

onde ρ é a densidade molar, g é a função de distribuição radial, xi é a fração molar do

componente i e XAi representa a fração de sítios A na molécula i que não está associada com

outros sítios ativos, e está representado na Eq. (4.12),

1

1i i j

j

j

A A B

j B

j B

Xx X

(4.12)

onde jiBA

é a força de associação, e está relacionada com a energia de associação ( i jA B ) e o

volume de associação ( i jA B ), como mostra a Eq. (4.13).

( ) exp 1

A Bi j

A Bi ji jA B

ijg bRT

(4.13)

Onde a função de distribuição radial, g(ρ), é dada pela equação (4.14):

1( )

1,91

4

gb

(4.14)

4.2.1 Termo físico

Quando a EdE CPA é utilizada para misturas, é preciso adaptar os parâmetros de

substancia pura para a mistura, através de uma regra de mistura. A regra de mistura para o

termo físico é dada pelas Eqs. (4.15) e (4.16):

(1 )i j i j ij

i j

a x x a a k (4.15)

i i

i

b x b (4.16)

Page 62: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

59

onde o termo ki,j é o parâmetro de interação binária entre o componente i e j e é o único termo

binário ajustável da CPA (Kontogeorgis e Folas, 2010). Este parâmetro normalmente é

utilizado para otimizar a modelagem termodinâmica aos dados experimentais.

4.2.2 Termo associativo

O termo considerado fundamental em todas as teorias associativas é a fração de sítios

não ligados, XAi (Kontogeorgis e Folas, 2010). A determinação deste termo é fortemente

dependente do esquema de associação adotado para as moléculas associativas.

Tradicionalmente, o etanol (álcoois em geral) são modelados com o esquema 2B (Figura 4.1),

onde a hidroxila é dividida em dois sítios associativos: um sitio positivo e outro negativo.

Figura 4.1- Representação gráfica do esquema de associação 2B.

Fonte: Adaptado de Kruger et al., 2018.

Na Figura 4.1 o círculo vermelho representa um sítio negativo (receptor de elétrons)

enquanto o sítio demarcado pelo círculo preto representa o positivo (doador de elétrons).

Segundo Kruger et al. (2018), o número na nomenclatura representa o número de sítios

associativos considerados enquanto as letras são empregadas de forma menos consistente para

diferenciar os tipos de compostos (A para ácido, B para álcool e C para água ou glicol).

Existem outros esquemas possíveis para as moléculas de álcoois. Um exemplo é o

esquema 3B, representado na Figura 4.2. Nesse esquema, cada um dos pares de elétrons do

átomo de oxigênio é considerado como um sítio negativo, portanto, descrevendo mais

fielmente a molécula. Nesse trabalho, o etanol é modelado com ambos os esquemas 2B e 3B

para fins de comparação.

Figura 4.2- Representação gráfica do esquema de associação 3B.

Fonte: Adaptado de Kruger et al., 2018.

Page 63: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

60

O metano é considerado inerte sem a possibilidade de associação cruzada, portanto no

termo associativo são usadas apenas as propriedades de auto associação do etanol. Dessa

maneira, são necessárias três propriedades de substância pura para o metano (a, b e m), todas

dependentes das propriedades críticas e do fator acêntrico, e cinco propriedades de substancia

pura para o etanol (a, b, m, i jA B e i jA B

), todas dependentes do esquema de associação

utilizado. A Tabela 4.2 contempla as 5 constantes de substância pura para o etanol, com base

em De Villiers et al. (2011).

Tabela 4.2– Parâmetros da CPA para componentes associativos para os esquemas associaticos 2B e 3B.

Esquema

associativo

Parâmetro

a b m

2B 0,86716 0,0000491 0,7369 0,008 2532

3B 0,85754 0,00005 1,056 0,017 14.999,84

Fonte: Adaptado de De Villiers et al. (2011).

4.3 Parâmetro de interação binária

O parâmetro de interação binária, kij, que aparece na regra de mistura do termo físico na

modelagem do parâmetro de energia, a, Eq. (4.15)¸ é uma variável crucial na modelagem do

equilíbrio de fases de misturas através de EdEs, principalmente para sistemas que apresentam

desvios significativos da idealidade. Este parâmetro considera como as diferentes espécies

químicas interagem. Segundo Coutinho et al. (1994), aplica-se o kij para corrigir as hipóteses

simplificadoras das regras de mistura e deficiências das EdEs.

Por conseguinte, segundo Kontogeorgis e Folas (2010), misturas onde forças de dispersão

dominam podem ser modeladas com modelos puramente preditivos (kij=0) e obter boa

concordância com dados experimentais. Por outro lado, misturas contendo componentes

polares apresentam grandes desvios em relação à idealidade e, portanto, necessitam de um

kij ≠ 0. O kij pode apresentar valores positivos ou negativos. Matematicamente, um kij positivo

diminui o termo atrativo da CPA, enquanto que um valor negativo aumenta. Fisicamente isso

significa que a regra de mistura está superestimando as forças de atração (kij > 0) ou

subestimando (kij < 0).

Um exemplo de kij positivo são os sistemas água-hidrocarboneto. Resultantes da falta de

afinidade entre as diferentes espécies químicas, explicando a imiscibilidade entre água e

Page 64: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

61

hidrocarbonetos. Um exemplo de kij negativo é o sistema acetona-clorofórmio, apresentado no

Capítulo 2. Como discutido anteriormente, este sistema apresenta associações cruzadas, porém

não apresenta auto-associação. Como a existência dessas fortes forças atrativas não é

contemplada pelo modelo, um kij negativo é necessário.

Existem correlações propostas na literatura para o kij, normalmente desenvolvidas para

uma EdE específica e um sistema específico, que permitem estimar o kij a partir de outras

propriedades termodinâmicas, geralmente o fator acêntrico e a temperatura reduzida. Porém,

habitualmente é obtido a partir de dados experimentais de equilíbrio.

Atualmente, é aceito que o parâmetro de interação binária é dependente da temperatura

(Jaubert, 2004). No presente trabalho, algumas correlações entre o kij e a temperatura são

avaliadas e o critério de comparação é o desvio relativo, ou AARD (absolute average relative

deviation), calculado pela Eq. 4.17.

exp, ,

1 exp,

1100

ni calc i

i i

y yAARD ABS

n y

(4.17)

onde n é o número de pontos experimentais, i é o composto e y é a fração molar de etanol na

fase gasosa. O sobrescrito calc se refere à variável calculada através do modelo (CPA) e o

sobrescrito exp se refere à variável medida experimentalmente.

4.3.1 Otimização do parâmetro de interação binária

O presente trabalho utilizará a CPA para modelar os sistemas, e o parâmetro de interação

binária será otimizado para os dados experimentais obtidos. Para a otimização do parâmetro

será utilizado um código computacional em Python desenvolvido por Sirino (2017). O código

realiza a minimização da função objetivo, Eq. (4.18), para determinar os valores do parâmetro

de interação binária.

2exp

exp1

1calcn

i iOBJ

i i

Fn

(4.18)

onde 𝜓 é uma variável a ser comparada. Nas otimizações realizadas para o presente trabalho,

essa variável toma o valor da fração molar de etanol na fase gasosa, y.

Page 65: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

62

4.3.2 Implementação numérica

Como supracitado, o presente trabalho utiliza a implementação numérica da CPA

desenvolvida por Sirino (2017), em Python, com pequenas alterações. As alterações realizadas

na rotina numérica foram:

Mudança do critério de minimização da função objetivo para a fração de etanol na

fase gasosa;

Implementação de novas dependências da temperatura do parâmetro de interação

binária;

Implementação do esquema associativo 2B.

Primeiramente, os resultados experimentais (pressão, temperatura e fração molar) são

utilizados como dados de entrada na rotina numérica para otimizar os parâmetros de interação

binária. Após, com o parâmetro de interação binária devidamente otimizado, aplica-se a rotina

numérica, com pressão, temperatura e número de moles absoluto dos componentes como dados

de entrada, para calcular os pontos de orvalho. O algoritmo é representado esquematicamente

na Figura 4.3.

Page 66: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

63

Figura 4.3 – Algoritmo de cálculo das frações molares x e y utilizando a CPA.

Fonte: Adaptado de Sirino (2017).

Page 67: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

64

Como mostrado na Figura 4.3, quando já se tem os parâmetros de interação binária

otimizados, os dados de entrada são o número de moles absoluto de cada componente, o vetor

de temperaturas e de pressões. Então, primeiramente o programa estima um fator de partição,

o fator K, para cada espécie química presente. Este coeficiente descreve a razão da fração molar

de um componente em uma fase em relação à outra fase. Para o equilíbrio líquido-vapor, o

fator K é definido como:

i

i

i

yK

x (4.19)

Nesse caso, segundo Smith, Van Ness e Abbott (2007), o fator K significa uma medida de

“leveza” do componente i, ou seja, a tendência do componente em estar na fase vapor. Para a

primeira iteração, considera-se o comportamento ideal do sistema, determinando os fatores K

pela aplicação da lei de Raoult (Equação 2.1). Com estas constantes determinadas, utiliza-se a

equação de Rachford-Rice (Equação 4.20), proveniente de um balanço de massa, para calcular

analiticamente as frações molares de cada componente em cada fase presente no sistema.

( 1)

01 ( 1)

i i

i i

z K

K

(4.20)

Com as frações molares dos componentes em ambas as fases, calcula-se o volume molar

de cada fase utilizando a SRK (Equação 4.5), e com esse valor calcula-se a fração de

monômero, XAi (Equação 4.12), da CPA. Então, com a fração de monômero, calcula-se o

volume molar pela CPA e, com esse novo volume calcula-se uma nova fração de monômero,

e esse processo segue iterativamente até o volume da CPA convergir.

Para um sistema líquido-vapor em equilíbrio, cada uma das fases está na mesma

temperatura e pressão e cada espécie constituinte tem a mesma fugacidade em ambas as fases.

Este critério de equilíbrio é chamado de isofugacidades, e matematicamente, no caso específico

do equilíbrio líquido-vapor, é enunciado por:

v l

i if f (4.21)

Onde f é a fugacidade e os sobrescritos v e l denotam vapor e líquido, respectivamente.

Page 68: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

65

Por fim, as fugacidades são calculadas e o critério de isofugacidades pode ser testado. Se

o critério não for satisfeito, novos coeficientes de partição (Ki) são calculados a partir dos

coeficientes de fugacidade e o cálculo segue iterativamente até que o critério de convergência

das fugacidades seja satisfeito, para então o vetor de saída do programa seja os pontos de

orvalho.

Page 69: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

66

5 RESULTADOS

No presente capítulo são apresentados os resultados experimentais, em seguida os

resultados da modelagem termodinâmica e as discussões pertinentes acerca dos fenômenos

físicos.

5.1 Resultados experimentais

Primeiramente, a resposta de cada técnica experimental é discutida. Após, os resultados

são apresentados e discutidos.

5.1.1 Técnica visual

O comportamento visual da transição de fases observado para o sistema

metano - etanol, nas temperaturas avaliadas, foi o mesmo para todos os pontos. Diferentemente

dos testes com substância pura, onde era possível observar a formação da névoa e

posteriormente a nucleação da fase líquida, a primeira gota de líquido visualmente detectável

nucleou na janela frontal, sem que se fosse possível notar a formação da névoa. A Figura 5.1

ilustra a detecção visual da nucleação da fase líquida no interior da célula de equilíbrio.

Page 70: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

67

Figura 5.1 – Detecção visual do ponto de orvalho. (a) Antes do ponto de orvalho. (b) Detecção

visual do ponto de orvalho, com a primeira gota formada destacada pela seta vermelha. (c) Após o ponto

de orvalho, a seta vermelha destaca o crescimento da gota destacada na figura anterior e (d) Janela de

visualização coberta por condensação.

Fonte: Autoria própria.

A Figura 5.1-b mostra, com a seta vermelha, a primeira gota que se torna visível. Após

certo tempo, esta cresce e outras gotas nucleiam na janela (Figura 5.1- c, d). As pressões de

(a) (b)

(c) (d)

Page 71: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

68

ponto de orvalho obtidas pela técnica visual apresentaram boa concordância com dados

experimentais disponíveis na literatura, como é discutido nas próximas seções.

5.1.2 Técnica gráfica

Embora tenha boa performance para substâncias puras e para misturas quando se trata

do ponto de bolha, como demonstrado por Miguel Jr (2019), não foi possível detectar o ponto

de orvalho pela técnica gráfica. Acredita-se que isso é devido ao fato de, ao contrário do que

ocorre com substâncias puras, a nucleação da fase líquida é gradual ao longo do envelope de

fases, fazendo com que o volume de líquido formado no momento do ponto de orvalho não

seja o suficiente para alterar a inclinação do diagrama pressão-volume.

5.1.3 Técnica ultrassônica

A técnica acústica, como explicado anteriormente, consiste em analisar a energia do

sinal ao longo do tempo. Através de simulações realizadas no software Multiflash, utilizando

a CPA como modelo, para calcular a velocidade de som no gás e a massa específica no sistema

metano (0,98) – etanol (0,02) à 333,15 K, calculou-se a impedância acústica do gás e a fração

da energia transmitida, como mostra a Figura 5.2.

Figura 5.2 – Fração da energia transmitida para o eletrodo receptor.

Fonte: Autoria própria.

Ponto de

orvalho

0,068

0,070

0,072

0,074

0,076

0,078

0,080

0,082

2,8 2,9 3 3,1 3,2 3,3 3,4

T x

100

Pressão [MPa]

Page 72: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

69

Percebe-se, na Figura 5.2, uma descontinuidade na energia transmitida no momento do

ponto de orvalho. Experimentalmente essa tendência foi comprovada, como mostra a Figura

5.3.

Figura 5.3 – Energia do ultrassom experimental no momento do ponto de orvalho.

Fonte: Autoria própria.

Percebe-se que a energia, tanto na Figura 5.2 quanto na 5.3, apresenta uma tendência

de subida conforme a pressão aumenta, até o momento que permanece constante, identificando

o ponto de orvalho, e após volta a subir. Ao se comparar o horário em que esse mínimo ocorre

com as filmagens, nota-se que, de forma geral, esse mínimo na energia ocorre alguns instantes

antes que a formação de líquido no interior da célula de equilíbrio seja visualmente detectável.

Esta tendência foi observada em todos os casos estudados.

5.1.4 Resultados

Como mencionado anteriormente, os experimentos foram conduzidos de forma a obter

dados isotérmicos de pontos de orvalho. A tabela abaixo apresenta os dados experimentais

obtidos no presente trabalho, pelas técnicas visual e ultrassônica, para o sistema

metano - etanol.

Ponto de orvalho

Page 73: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

70

Tabela 5.1– Resultados experimentais do ponto de orvalho do sistema metano - etanol.

XCH4 Pressão [MPa] (P

V - PUS)

PUS⁄

Visual Ultrassom

313,15 K

0,9824 1,226 1,267 3,21%

0,9876 1,666 1,560 -6,82%

0,9898 1,986 2,062 3,66%

0,9925 2,998 3,095 -2,35%

0,9824 1,226 1,267 3,12%

323,15 K

0,9768 1,549 1,554 0,30%

0,9823 1,903 - -

0,9892 4,004 3,963 -1,03%

0,9897 4,175 4,168 -0,18%

0,9901 4,439 4,407 -0,73%

328,15 K

0,9883 5,327 5,337 0,18%

0,9896 7,477 6,169 -21,21%

333,15 K

0,9708 1,963 1,958 -0,26%

0,9765 2,442 2,377 -2,75%

0,9804 3,340 3,371 0,91%

0,9830 4,043 3,947 -2,44%

0,9857 5,611 4,865 -15,34%

338,15 K

0,9815 4,767 4,625 -3,06%

343,15 K

0,9579 2,378 2,245 -5,92%

0,9661 2,905 2,882 -0,80%

0,9728 3,497 3,445 -1,52%

0,9774 4,656 4,542 -2,51%

0,9828 8,569 8,546 -0,27%

348,15 K

0,9579 2,485 2,470 -0,61%

0,9603 2,708 2,658 -1,87%

353,15 K

0,9328 2,034 2,076 2,02%

0,9542 3,081 3,044 -1,20%

0,9629 4,197 3,933 -4,97%

0,9658 4,660 4,665 -6,72%

0,9708 6,219 6,239 0,10%

0,9736 7,336 7,342 0,33% Fonte: Autoria própria.

Page 74: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

71

Nota-se, pelos resultados exibidos na Tabela 5.1, que os valores obtidos por ambas as

técnicas apresentam, em geral, valores próximos. Analisando o desvio percentual em relação à

pressão obtida pela técnica ultrassônica, a maior parte dos pontos apresentam um desvio

negativo, indicando que o valor obtido pela técnica ultrassônica é menor. Isso ocorre pois a

medida ultrassônica é sensível às alterações de impedância acústica que ocorrem no meio no

momento da transição de fases, enquanto a técnica visual está limitada à visualização de uma

gota de líquido, que está atrelada à qualidade das imagens e à habilidade do observador. Além

disso, para que seja visível ao olho humano, é necessário que essa gota atinja certo diâmetro,

portanto, sendo detectável apenas alguns instantes após sua nucleação.

Portanto, por não estar atrelada à subjetividade do observador nem à qualidade das

imagens, a técnica ultrassônica é considerada mais confiável e será utilizada para as análises

posteriores do presente trabalho. Os dados da técnica ultrassônica podem ser comparados com

simulações realizadas pelo software comercial Multiflash, utilizando a CPA como modelo,

(Figura 5.4) e com resultados experimentais disponíveis na literatura (Figura 5.5).

Figura 5.4 – Diagrama pressão-composição com resultados experimentais de medidas ultrassônicas

e simulação do Multiflash.

Fonte: Autoria própria.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

0,92 0,94 0,96 0,98 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

313.15 K

323.15 K

333.15 K

343.15 K

353.15 K

Multiflash

Page 75: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

72

Figura 5.5 – Diagrama pressão-composição com resultados experimentais de medidas ultrassônicas

e dados disponíveis na literatura.

Fonte: Autoria própria.

É possível observar uma boa concordância entre os pontos experimentais do presente

trabalho com as simulações e com os dados experimentais disponíveis na literatura. Para avaliar

a repetibilidade da técnica experimental, pontos da isoterma de 353,15 K foram levantados em

duas rodadas experimentais diferentes e, como mostrado na Figura 5.6, seguem a mesma

tendência.

Figura 5.6 – Pontos experimentais no diagrama P-y em duas rodadas experimentais diferentes.

Fonte: Autoria própria.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

0,96 0,97 0,98 0,99 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

313.15 K

323.15 K

333.15 K

Suzuki and Sue (1990) - 313.15 K

Gupta et al. (1973) - 323.15 K

Suzuki and Sue (1990) - 333.15 K

0

2

4

6

8

10

0,92 0,94 0,96 0,98 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

353,15 K - 1

353,15 K - 2

Page 76: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

73

5.2 Resultados da modelagem

Os dados experimentais do sistema metano-etanol do presente trabalho e os disponíveis

na literatura são utilizados para avaliar a performance de predição da CPA acoplada com

diferentes esquemas de associação para o etanol e diferentes dependências da temperatura do

parâmetro de interação binária. Para a otimização dos kijs e para os cálculos flash da CPA

disponíveis no presente estudo, foi utilizado o código desenvolvido em Python por Sirino

(2017).

5.2.1 Parâmetro de interação binária e esquemas de associação

Para avaliar a dependência da temperatura do parâmetro de interação binária, foram

otimizados kijs constantes para cada temperatura, para os dados experimentais do presente

estudo. As otimizações desta seção são realizadas todas para a fração molar de etanol na fase

gasosa. A Figura 5.7 ilustra o comportamento do kij em relação à temperatura, utilizando o

esquema 2B.

Figura 5.7 – Comportamento do parâmetro de interação binária para os dados do presente estudo em

relação à temperatura.

Fonte: Autoria própria.

Nota-se, com exceção do ponto de 348,15 K, uma tendência de redução do kij com o

aumento da temperatura. Esse comportamento é esperado, pois, segundo Kontogeorgis e Folas

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

310 320 330 340 350 360

kij

Temperatura [K]

Page 77: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

74

(2010), as forças intermoleculares se tornam menos importantes com o aumento da

temperatura. Para verificar qual formato de equação representa mais adequadamente a

dependência da temperatura, alguns formatos foram otimizados (inclusive um valor constante)

utilizando o esquema 2B e são mostrados na Figura 5.8 em comparação aos pontos

experimentais do presente trabalho.

Figura 5.8 – Diagramas P-y com o pontos experimentais e curvas obtidas com cada kij otimizado.

Fonte: Autoria própria.

É possível observar que as correlações apresentam um resultado muito similar, de modo

que as curvas de ponto de orvalho ficam praticamente sobrepostas nos diagramas da Figura 5.8.

Este comportamento se deve ao fato de que, independentemente da correlação escolhida para

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

0,92 0,94 0,96 0,98 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 353,15 K

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 343,15 K

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

0,96 0,97 0,98 0,99 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T= 333,15 K

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

0,97 0,98 0,99 1,00P

ress

ão [

MP

a]

Fração molar de metano

T= 323,15 K

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

0,97 0,98 0,99 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 313,15 K

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

0,92 0,93 0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00

Títu

lo d

o E

ixo

Título do Eixo

T = 353,15 K

Constante

Quadrático inverso

Quadrático

Linear inverso

Linear

Experimental

Page 78: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

75

calcular o kij, os valores obtidos são muito próximos. Para uma análise qualitativa, os desvios

médios percentuais foram calculados para cada correlação, acopladas ao esquema 2B e 3B, e

são mostradas na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Erro absoluto médio para diferentes funções da temperatura para o kij e diferentes

esquemas associativos.

( )ijk T AARD

2B 3B

aT b 0,761096% 0,81228%

a bT 0,752737% 0,79414%

2aT bT c 0,765046% 0,82164%

2

a bc

T T 0,752739% 0,79414%

a 0,752742% 0,79415%

Fonte: Autoria própria.

Nota-se que os desvios das diferentes correlações são bastante próximos para o mesmo

esquema associativo, fato devido à faixa de temperaturas do presente estudo ser relativamente

estreita e, portanto, fácil de ser correlacionada por diferentes equações e até mesmo por um

parâmetro valor constante.

Ademais, os desvios mostram que, assim como constatado por Kontogeorgis et al. (2006)

para sistemas de álcoois-alcanos, ambos os esquemas apresentam performance de predição

similar, porém o 2B apresenta desvios menores em todos os casos testados em relação aos

dados experimentais. A Figura 5.9 traz um diagrama Py com pontos experimentais e as curvas

com o kij utilizando a correlação linear inversa otimizada para os diferentes esquemas

associativos.

Page 79: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

76

Figura 5.9 – Diagrama P-y comparando os pontos experimentais com a CPA acoplada ao esquema 2B

e 3B.

Fonte: Autoria própria.

Observa-se na Figura 5.9 um desempenho muito similar de ambos esquemas associativos,

com o 3B apresentando uma pequena tendência de subestimar as pressões de orvalho em

pressões acima de 6 MPa.

O esquema 3B é uma representação mais fiel à física da molécula de álcool, entretanto

simulações moleculares realizadas por Jorgensen (1986) mostram que, para etanol em espécie

pura a 298,15 K, 78,6% das moléculas realizam duas associações, enquanto apenas 4,4%

realizam três associações. Isso explica parcialmente a razão do melhor desempenho do

esquema 2B.

Outra explicação para melhor performance do esquema 2B no presente trabalho é associada

às baixas frações molares de etanol. Segundo Prausnitz et al. (1999), conforme o sistema se

aproxima da diluição infinita, a fração de monômero do soluto aproxima-se da unidade.

Consequentemente, as forças de associação são menos pronunciadas para as frações molares

de metano altas, fazendo com que a performance do modelo seja dominada pelo termo físico

(SRK) da CPA, que, como demonstrado por Kontogeorgis et al. (2006), tem contribuição mais

significativa quando acoplado ao esquema 2B.

Dessa maneira, o esquema 2B foi selecionado para representar todos os dados

experimentais do presente trabalho com o kij independente da temperatura apresentado na Eq.

5.1.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

0,90 0,92 0,94 0,96 0,98 1,00

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 353,15 K

2B

3B

Page 80: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

77

0,1219375ijk (5.1)

5.2.2 Envelope de fase

A Figura 5.10 traz a curva de orvalho com o kij otimizado selecionado na seção anterior,

para a temperatura de 348,15 K, para uma faixa de pressão mais abrangente e os pontos

experimentais da literatura para pressões mais altas.

Figura 5.10 – Diagrama P-y com pontos experimentais de Brunner e Hultenschmidt (1990) e o kij

otimizado no presente estudo.

Fonte: Autoria própria.

Observa-se um desvio considerável entre o modelo e os pontos experimentais para

pressões acima de 20 MPa, evidenciando que o modelo não é capaz de predizer o

comportamento do sistema para pressões elevadas em relação às pressões para as quais o

modelo foi calibrado. Isso se deve ao fato de, segundo Coutinho et al. (1994), o parâmetro de

interação binária ser sensível à faixa de temperatura, pressão, composição e à qualidade dos

dados experimentais utilizados na otimização. Portanto, o kij otimizado na seção anterior possui

boa performance de predição apenas para as condições para as quais está otimizado.

Dessa maneira, para gerar o envelope de fases completo, foi otimizado um novo kij com

os dados do presente estudo e os dados de Brunner e Hultenschmidt (1990) nas temperaturas

de 298,15 K, 348,15 K e 398,15 K que possui dados de equilíbrio para pressões de até 36 MPa.

Para contemplar a maior faixa de temperaturas, foi utilizado uma correlação linear inversa, pois

0

10

20

30

40

0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 348,15 K

kij=0,1219

Brunner e

Hultenschmidt (1990)

Page 81: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

78

esta foi a que apresentou os menores erros na seção anterior. A Eq. 5.2 traz a correlação para o

kij em função da temperatura otimizada.

,

109,6269( ) 0, 4027ij yk T

T (5.2)

A Figura 5.11 traz um diagrama Py comparando os dados experimentais de Brunner e

Hultenschmidt (1990) a 348,15 K e o modelo preditivo (kij=0) e com o kij da Eq. 5.1 e 5.2.

Figura 5.11 – Diagrama P-y com dados experimentais e modelagem.

Fonte: Autoria própria.

Nota-se que o kij da Eq. (5.2) possui boa concordância com os dados experimentais para

as pressões altas e baixas. É interessante observar que a nova correlação otimizada produz

valores negativos para o kij, enquanto os valores otimizados na seção anterior são positivos.

Como mencionado anteriormente, um kij positivo significa que a regra de mistura está

superestimando as forças de atração, enquanto que um kij negativo significa que a forças

atrativas estão sendo subestimadas. Como a regra de mistura empregada considera apenas

forças de dispersão, provavelmente essa diferença no sinal do kij se deve ao fato de outras forças

intermoleculares, além das de dispersão, se tornarem significativas para o equilíbrio de fases

apenas em pressões altas, onde as moléculas estão mais próximas.

Como discutido no capitulo de revisão bibliográfica, existem evidências da ocorrência

de forças de indução no sistema metano – etanol. Gupta et al. (1973) calcularam, a partir de

dados experimentais de ELV, o coeficiente de viral cruzado, coeficiente utilizado para avaliar

0

10

20

30

40

0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 348,15 K

kij=0,1219

kij=0

kij=-0,08768

Brunner e Hultenschmidt (1990)

Page 82: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

79

a magnitude das forças intermoleculares entre moléculas de espécies químicas diferentes

(Hudson e McCoubrey, 1959), para o sistema metano - etanol e compararam com o mesmo

coeficiente para o sistema metano - propano. Os autores notaram valores muito próximos para

os coeficientes e, considerando que o etanol é menos polarizável que o propano, levantaram a

hipótese dessa similaridade ser devido à existência de forças de indução que compensariam a

redução de forças de dispersão no sistema metano - etanol. Portanto, o kij negativo representa

melhor o sistema, significando que as forças de atração estão sendo subestimadas.

A Figura 5.12 traz a curva de ponto de bolha obtida com o modelo utilizando o kij da

Eq. (5.2) comparada com os pontos de bolha experimentais obtidos por Brunner e

Hultenschmidt (1990).

Figura 5.12 – Diagrama P-x com modelo e pontos experimentais.

Fonte: Autoria própria.

Verifica-se que o modelo acoplado ao kij otimizado para a fase gasosa não possui

performance satisfatória de predição para a fase líquida. Por este motivo, um kij foi otimizado

para o ponto de bolha, utilizando os dados experimentais de Brunner e Hultenschmidt (1990),

expresso pela Eq. (5.3).

,

2,4834( ) 0,0007ij xk T

T (5.3)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 348,15 K

kij-y

Brunner e Hultenschmidt (1990)

Page 83: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

80

É válido ressaltar que a correlação supracitada também produz parâmetros negativos.

A Figura 5.13 traz as curvas de ponto de bolha para o sistema na temperatura de 348,15 K com

os pontos experimentais de Brunner e Hultenschmidt (1990), e o modelo com o kij das equações

(5.2) e (5.3).

Figura 5.13 – Diagrama P-x com dados experimentais e modelo otimizado para fase líquida e fase

gasosa.

Fonte: Autoria própria (2021).

É possível constatar melhora significativa na performance de predição do ponto de bolha

quando a variável de otimização é a fração de metano na fase líquida, x1, ao invés de ser a

fração de etanol na fase gasosa, y2. É possível fazer a mesma comparação para a curva de ponto

de orvalho, como mostrado na Figura 5.14.

0

20

40

60

80

100

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 348,15 K

kij-x

kij-y

Brunner e Hultenschmidt (1990)

Page 84: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

81

Figura 5.14 – Diagrama P-y com pontos experimentais e modelo otimizado para a fase líquida e

gasosa.

Fonte: Autoria própria.

Percebe-se que a predição do ponto de orvalho também é prejudicada quando o kij é

otimizado para a fase líquida. Essa dependência de fase na performance do kij era esperada e já

é relatada por outros autores para sistemas diferentes (Kontogeorgis e Folas, 2010; Kruger et

al., 2018). Entretanto, enquanto o kij,x tende a superestimar a pressão de orvalho, o kij,y tende a

subestimar a pressão do ponto de bolha. Por fim, a Figura 5.15 traz o envelope de fases do

sistema metano - etanol na temperatura de 348,15 K, utilizando o kij,x para o ponto de bolha e

o kij,y para o ponto de orvalho.

0

10

20

30

40

50

60

0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 348,15 K

kij,y

kij,x

Brunner e Hultenschmidt (1990)

Page 85: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

82

Figura 5.15 – Envelope de fases do sistema metano - etanol a 348,15 K.

Fonte: Autoria própria.

5.2.3 Fechamento do capítulo

Foram obtidos dados experimentais por duas técnicas diferentes: acústica e visual. Ambas

as técnicas apresentam resultados que seguem a mesma tendência dos dados na literatura e

podem ser considerados, portanto, confiáveis.

Em relação à modelagem termodinâmica, constata-se, assim como demonstrado na

literatura, que a equação de estado CPA acoplada ao esquema associativo 2B possui boa

performance de predição para o sistema metano – etanol. Para os dados do presente trabalho,

verificou-se que um kij independente da temperatura foi capaz de descrever bem o ponto de

orvalho do sistema. Porém, para faixas maiores de pressão, ou para a curva do ponto de bolha,

algumas correlações para o kij do sistema binário metano-etanol foram otimizadas utilizando a

modelagem termodinâmica do presente capítulo. A Tabela 5.3 traz um resumo de cada

correlação e sua faixa de aplicabilidade.

0

10

20

30

40

50

60

70

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

Page 86: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

83

Tabela 5.3 – Correlações otimizadas no presente trabalho.

Correlação

Faixa de

temperatura

[K]

Faixa de

pressão

[MPa]

Faixa de

composição

(metano)

Curva

0,1219375ijk 313,15 –

353,15 1,2 – 8,5 0,93 - 0,993 Orvalho

,

2,4834( ) 0,0007ij xk T

T

298,15 –

398,15 3 - 32 0,03 – 0,38 Bolha

,

109,6269( ) 0, 4027ij yk T

T

298,15 –

398,15 0,5 - 37 0,7 – 0,998 Orvalho

Fonte: Autoria própria.

A Figura 5.16 exibe a curva dos pontos de orvalho para a temperatura de 348,15 K,

construída através da modelagem termodinâmica explicitada no presente trabalho, para

exemplificar a delimitação da zona de operação segura em função da pressão e fração molar de

etanol do sistema. Como discutido anteriormente, do ponto de vista industrial, a curva do ponto

de orvalho fornece a quantidade máxima de etanol que se pode solubilizar no gás metano para

uma condição especifica de temperatura e pressão. Dessa maneira, a curva limita a região do

diagrama Py de operação segura (região azul): operação com escoamento monofásico de gás,

reduzindo o risco de falhas nas válvulas de injeção do sistema de gas-lift.

Figura 5.16 – Delimitação de operação segura no sistema de gas-lift no diagrama Py.

Fonte: Autoria própria.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

Pre

ssão

[M

Pa]

Fração molar de metano

T = 348,15 K

Page 87: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

84

6 CONCLUSÕES

A utilização de linhas de gas-lift para injeção de inibidores termodinâmicos aparenta ser

uma solução prática e economicamente viável. Entretanto, existem certos riscos associados

com esta prática: o comprometimento da confiabilidade das válvulas de gas-lift. Como o

sistema foi projetado para operar com o escoamento monofásico de gás, a presença de líquidos

(inibidores) pode levar a falha de válvulas. Dessa maneira, é importante conhecer o

comportamento de fases da mistura de metano, o principal componente do gás natural, com

etanol, um inibidor termodinâmico de hidratos largamente utilizado na indústria petrolífera.

Pela revisão realizada, percebe-se que trabalhos sobre o ponto de orvalho são escassos na

literatura, principalmente os que aplicam o método sintético. Especificamente em relação ao

sistema metano-etanol, apenas três trabalhos experimentais foram encontrados. Nesse

contexto, o presente trabalho fornece à literatura dados escassos e mostra a viabilidade do

método sintético, mais barato e mais simples de operar do que o método analítico, para

obtenção de dados de equilíbrio.

Em relação aos resultados experimentais, a técnica gráfica (PV), embora tenha apresentado

bom desempenho com substância pura, não possui resolução suficiente para detectar o ponto

de orvalho do sistema metano-etanol, possivelmente explicada ao fato da transição de fases em

sistemas multicomponentes ocorrer de forma bastante gradual. Ambas as técnicas (visual e

acústica) apresentaram precisão de detecção satisfatória, com resultados que seguem a mesma

tendência de dados da literatura. Já em relação aos resultados da modelagem, nota-se que a

CPA acoplada ao esquema associativo 2B e utilizando um valor único de kij foi capaz de

descrever bem, com um desvio percentual médio abaixo de 1%, o ponto de orvalho do sistema

para as condições de temperatura e pressão aos quais foi calibrado.

No mais, nota-se que, apesar de o Multiflash, acoplado com a CPA, possuir boa

performance de predição do ponto de orvalho do sistema metano-etanol para as pressões e

temperaturas avaliadas no presente trabalho, apresentou um AARD consideravelmente (quatro

pontos percentuais) maior do que a modelagem proposta no presente trabalho. Entretanto, por

se tratar de um software comercial, não se tem acesso às informações como esquema de

associação nem parâmetros de interação binaria implementados no código fonte do software

para este sistema em particular.

A importância de dados de ponto de bolha e orvalho é evidenciada no capítulo anterior,

mostrando que modelos termodinâmicos, quando calibrados com dados da fase líquida perdem

precisão de predição da fase gasosa e vice-versa. Os dados experimentais apresentados no

Page 88: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

85

presente trabalho, além de aplicações industriais diretas, contribuem para o entendimento de

interações intermoleculares das espécies analisadas.

Do ponto de vista industrial, utilizar a solubilidade do etanol no metano como parâmetro

para a operação na região monofásica de gás no sistema de gas-lift é uma estimativa

conservadora e segura, já que nos poços em operação existem outros gases (etano, propano,

dióxido de carbono, entre outros) que são capazes de solubilizar uma quantidade maior de

etanol, como demonstrado por Suzuki e Sue (1990).

Para estudos futuros, sugere-se:

Utilizando o mesmo aparato e procedimento experimental, realizar experimentos

para determinar o ponto de orvalho do sistema metano-MEG e modelar o sistema

com a CPA;

Fazer testes de ponto de orvalho utilizando transdutores de ultrassom de

frequências menores (300 kHz) para avaliar se existe um ganho de precisão na

detecção;

Com um conhecimento sólido na técnica de ultrassom, substituir as janelas de

safira da célula por tampões metálicas para fazer experimentos de ELV utilizando

apenas a técnica acústica, porém à pressões elevadas;

Fazer uma análise quantitativa da contribuição da SRK e do termo associativo da

CPA para o sistema avaliado no presente trabalho.

Page 89: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

86

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Análise de incerteza das medidas experimentais

Page 95: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

92

A medição de uma grandeza física é sempre uma aproximação do valor real (VUOLO,

1996). A diferença entre o valor real e o valor medido é o erro de uma medição experimental.

Para a validade dos dados experimentais, é necessário conhecer quão diferente do valor real o

valor medido pode ser, ou seja, quantificar o erro. Neste contexto, os erros podem ser de dois

tipos: erro fixo (ou sistemático) e erro aleatório. O erro fixo está presente em todas as medições

e com o mesmo valor e pode ser, portanto, corrigido através de calibrações. O erro aleatório é

diferente em cada leitura, possui natureza incerta e, portanto, não pode ser eliminado.

De modo geral, os dois tipos de erro ocorrem simultaneamente em medições

experimentais. Contudo, ao se aumentar o número de medições, a média se aproxima do valor

definido como valor médio verdadeiro. A diferença entre o valor médio verdadeiro e o valor

verdadeiro é o erro sistemático.

Entretanto, exceto em casos excepcionais, o valor verdadeiro é desconhecido, tornando o

valor do erro também desconhecido. Desta forma, é necessário determinar o provável valor do

erro. Segundo Moffat (1988), o termo incerteza refere-se ao provável valor do erro. A incerteza

pode ser dividida em dois tipos: tipo A e tipo B.

As incertezas do tipo A é uma incerteza estatística quando se obtém inúmeras observações

(população de dados) independentes de um fenômeno. Já a incerteza do tipo B é uma

informação baseada na precisão de medição fornecida pelo fabricante ou por certificados de

calibração.

A metodologia exposta no presente documento objetiva-se a estimar o erro aleatório

provável, através de uma análise de incertezas do tipo B. Desta forma, uma variável 𝑥𝑖, e sua

incerteza 𝛿𝑥 pode ser representada por:

𝑥𝑖 = 𝑥𝑖 (𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜) ± 𝛿𝑥𝑖 (A.1)

Esta equação pode ser interpretada como:

● A melhor estimativa de 𝑥𝑖 é 𝑥𝑖 (𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜);

● Existe uma incerteza em 𝑥𝑖 que pode ser tão grande quanto ± 𝛿𝑥𝑖.

O valor 𝑥𝑖 (𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜) representa a leitura de uma medição ou a média de uma série de

medições. De modo geral, a variável de interesse, R, é obtida a partir de uma série de outras

variáveis medidas, representada por

𝑅 = 𝑅(𝑥1, 𝑥2, 𝑥3, … , 𝑥𝑛) (A.2)

Page 96: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

93

O efeito do erro na medição de um 𝑥𝑛 sobre 𝑅 pode ser estimado por analogia com a

derivada de uma função. Uma variação, 𝛿𝑥𝑖, em 𝑥𝑖, resultaria em uma variação 𝛿𝑅 , em 𝑅, dada

por:

𝛿𝑅𝑖 =

𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑖𝛿𝑥𝑖 (A.3)

Em muitos casos, é preferível obter a incerteza como uma fração do valor medido em

relação à um valor absoluto. Dessa forma, pode ser empregada a incerteza relativa, dada por:

𝛿𝑅𝑖

𝑅=

𝑥𝑖

𝑅

𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑖

𝛿𝑥𝑖

𝑥𝑖 (A.4)

A incerteza em 𝑅, causada pela combinação das incertezas em cada elemento 𝑥𝑖, pode

ser estimada pelo método RSS (root-sum-square), dada pela Eq. A.5:

𝛿𝑅𝑐 = {∑ (𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑖𝛿𝑥𝑖)

2𝑁

𝑖=1

}

12

(A.5)

Ou, em termos relativos:

𝛿𝑅

𝑅= {∑ (

𝑥𝑖

𝑅

𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑖

𝛿𝑥𝑖

𝑥𝑖)

2𝑁

𝑖=1

}

12

(A.6)

Cada termo do somatório da Eq. A.6 representa a contribuição feita pela incerteza de

cada termo 𝑥𝑖, 𝛿𝑥𝑖, para a incerteza geral no resultado 𝑅, 𝛿𝑅. Segundo Moffat (1988) a Eq. A.4

pode ser aplicada se as seguintes condições forem satisfeitas:

1. Cada medição é independente;

2. As medições produzem uma distribuição de frequência normal (gaussiana).

A.1 - Incertezas na composição

A fração molar de metano, ymet, no sistema é calculada pela seguinte equação.

Page 97: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

94

met met

metmet

met met et et

met et

VM

yV V

M M

(A.10)

onde V é o volume medido pela bomba seringa, M é a massa molar e ρ é a massa específica.

As duas últimas são obtidas do software REFPROP. O subscrito “met” significa metano e “et”

etanol.

Utilizando a Eq. A.10 na Eq. A.5 e os valores mostrados na tabela acima, calcula-se a

incerteza na composição para cada ponto. A incerteza combinada fica:

1/2

( ) ( ) ( ) ( ) ( )met met met metmet met et met et

met et met et

y y y yu y u V u V u u

V V

(A.11)

Para calcular as incertezas das variáveis de interesse, primeiramente é necessário definir

as incertezas dos instrumentos de medição utilizados e das variáveis de entrada. No presente

trabalho assume-se que a incerteza padrão é a incerteza do fabricante dividida por um divisor,

que para a incerteza do tipo B é √3. Para um intervalo de confiança de 95%, a incerteza

expandida é calculada pela Eq. A.12.

95% ( ) 1,96 cU T u (A.12)

As incertezas associadas à composição, da bomba seringa e as incertezas das massas

específicas são listadas na tabela abaixo.

Tabela A.1 – Incertezas relacionadas à composição.

Propriedade Incerteza

Bomba seringa (vazão) 0,5%

Bomba seringa (pressão) 0,5%

Massa específica – metano* 0,03%

Massa específica – etanol* 0,2%

* Incertezas fornecidas pelo software REFPROP

Fonte: Autoria própria.

Page 98: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

95

As incertezas das massas especificas dos componentes são desconsideradas na presente

análise por apresentarem valores baixos. Dessa maneira, a incerteza expandida absoluta mais

alta na composição (molar) foi de 0,0016, como mostrado na tabela abaixo.

Tabela A.2 – Incertezas na composição.

Incerteza padrão Incerteza combinada Incerteza expandida

0,2886 0,000817 0,0016

Fonte: Autoria própria.

A.2 - Incertezas na temperatura

A temperatura foi monitorada utilizando um sensor RTD PT-100, conectado à um

sistema de aquisição National Instruments, com incerteza de 0,15%. A calibração da sonda PT-

100 foi realizada com termômetro de referência certificado. A incerteza de calibração é

calculada utilizando o método dos mínimos quadrados, a incerteza da curva de calibração é

calculada pela Eq. (A.13), onde N é o número de pontos e C é o grau da curva. Com o resultado

da Eq. A.13, a incerteza combinada é calculada pela Eq. (A.14), e por fim, a incerteza

expandida, dada pela Eq. (A.12).

2

100

(1 )

ref PT

calc

T Tu

N C

(A.13)

2 2 2

c calc refu u u (A.14)

Conforme os resultados mostrados na Tabela A.3, a temperatura possui, para 95% de

confiança, incerteza de ± 0,686 K.

Tabela A.3 – Incertezas na temperatura.

Incerteza calculada Incerteza combinada Incerteza expandida

Page 99: CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL E TEÓRICA DO PONTO DE …

96

0,107 0,139 0,27

Fonte: Autoria própria.

A.3 - Incertezas na pressão

O transdutor possui faixa de medição de 0 a 70 MPa, com 0,04% de precisão e foi

calibrado para faixa de 0 - 11 MPa, com incerteza do sistema de aquisição de 0,15%. De forma

análoga aos cálculos da seção anterior, a Tabela A.4 mostra as incertezas calculadas.

Tabela A.4 – Incertezas na pressão.

Incerteza padrão Incerteza combinada Incerteza expandida

0,023 0,08962 0,17567

Fonte: Autoria própria.