Cardiopatia e Odontologia

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    TRATAMENTO DE PACIENTES CARDIOPATAS NA CLNICAODONTOLGICA

    Maysa Nogueira Ferreira de Barros

    Discente do curso de Odontologia na UniversidadeFederal de Sergipe UFS. E-mail: [email protected]

    Cristiano Gaujac

    Doutorando em Implantes Dentrios no programade ps-graduao em odontologia da Universidade

    Estadual Paulista UNESP - Araatuba.

    Cleverson Trento

    Doutor em Estomatologia pela Universidade Esta-dual Paulista Jlio de Mesquita Filho UNESP;Docente Adjunto do curso de Odontologia da Uni-versidade Federal de Sergipe - UFS. E-mail: lucia-

    [email protected]

    Maria Carolina Viana de Andrade

    Discente do curso de Odontologia na Universida-de Federal de Sergipe UFS. E-mail: m_carol_10@

    hotmail.com

    RESUMO:As cardiopatias so uma das doenas mais frequentes no mundo.Por esse motivo, o cirurgio-dentista provavelmente receber vrios cardio-patas em seu consultrio e deve estar apto para atend-los. Dentre os vriostipos, a cardiopatia isqumica, as arritmias e endocardites bacterianas so asque apresentam maior grau de comprometimento cardiovascular. Este estudotem como objetivo mostrar a importncia do conhecimento prvio das princi-pais cardiopatias, suas caractersticas, escolha adequada dos anestsicos locais,entre outros fatores que preparam o cirurgio dentista para o atendimento

    seguro do paciente cardiopata.

    PALAVRAS-CHAVE:Anestsicos Locais; Cardiopatias; Odontologia; Car-diologia.

    PATIENTS WITH HEART DISEASES INDENTAL CLINIC

    ABSTRACT:Heart conditions are one of the most predominant diseasesworldwide. Since surgeon dentists are likely to attend these patients in their

    clinics, they should be able to cope with eventualities. Among the most de-leterious types, ischemic heart disease, arrhythmia and bacterial endocarditispresent the most harmful cardiovascular risks. Current research shows theimportance of previous knowledge on main heart diseases, their characteris-tics, the right choice in anesthetic and other factors that provide the dentistwith the required tools for the safe attendance of heart condition patients.

    KEYWORDS:Cardiology; Heart Diseases; Dentistry; Disease.

    INTRODUO

    Nos dias de hoje, aumentou consideravelmente o nmero de pessoas por-tadoras de doenas sistmicas que procuram tratamento odontolgico. No

    Brasil, na dcada de 90, a taxa de mortalidade de pacientes cardiopatas foide 30%, enquanto que atualmente este valor cresceu para 34% (EPSTEIN.;CHONG; LE, 2000).

    Esse quadro tem estimulado o cirurgio-dentista a buscar novos conhe-cimentos para que o atendimento destes pacientes seja feito com maior se-gurana.O paciente cardiopata deve passar por uma anlise criteriosa. Almdisso, deve haver uma interao entre mdico e cirurgio-dentista, para asse-gurar a sade do paciente e evitar interaes medicamentosas indesejveis(CONRADO et al., 2007).

    Em caso de situaes inadequadas, o cirurgio-dentista deve estar prepa-rado para procedimentos emergenciais, como a ressuscitao cardiopulmonare administrao de oxignio ao paciente (TEIXEIRA et. al., 2008). Dentre

    os vrios tipos de cardiopatia temos a angina pectoris, infarto do miocrdio,insuficincia cardaca congestiva, arritmias e endocardites bacterianas que soas que apresentam maior grau de comprometimento cardiovascular.

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    1.1 ANGINA PECTORIS

    A angina uma dor no peito resultante de uma reduoparcial e reversvel da demanda de oxignio no msculo car-

    daco, geralmente devido obstruo das artrias coronaria-nas (MUOZ et. al., 2008). Ocorre em 60% dos pacientescom estenose artica, e em metade desses casos, h associa-o com coronariopatia obstrutiva (CHAGAS; LAURINDO;PINTO, 2005).

    A angina muitas vezes desencadeada pelo estresse emo-cional ou pelo exerccio fsico, sendo aliviada pelo repouso. Ador geralmente no bem localizada, pode ocorrer no centrodo peito, costas, pescoo, queixo ou ombros. O paciente comangina aguda demonstra sinais de ansiedade e incapaz deindicar exatamente o local da dor, mas com frequncia fe-cha o punho sobre o esterno numa tentativa de descrev-la.

    Comumente descrita como uma sensao de peso sobre area pr-cordial, podendo irradiar-se para o ombro e o bra-o esquerdos, colo, mandbula ou lngua. A angina estvelcostuma ser de curta durao, menos do que 5 minutos, ealivia depois do fator desencadeante ser removido. Caso ador no alivie ou progrida, ou a angina acontea em situaode repouso, ser denominada angina instvel, que pode serprecursora do infarto (TEIXEIRA et. al.; 2008).

    1.2 INSUFICINCIA CARDACA CONGESTIVA

    O corao saudvel aquele que provm perfuso ade-quada para a manuteno das atividades vitais de um organis-mo (DECCACHE, 2000). A insuficincia cardaca congestiva o resultado da incapacidade do corao em fornecer umsuprimento adequado de oxignio para atender s demandasmetablicas do organismo e est associada a vrios fatores decomplicaes. Quanto mais fatores o paciente tiver, mais s-rio o comprometimento dele e maior o risco durante o trata-mento odontolgico. No geral, este tratamento deve ser con-duzido de forma a reduzir o estresse ao mnimo necessrio(consultas mais curtas, sedao complementar). Nos casos derisco elevado, os procedimentos devero ser efetuados comsedao e em ambiente hospitalar (TEIXEIRA et. al., 2008).

    1.3 ARRITMIAS

    Um distrbio do ritmo normal do corao denomina-do de arritmia, tendo origem nos trios (arritmia atrial) ounos ventrculos (arritmia ventricular). Com frequncia, asarritmias representam manifestaes de cardiopatia ateroscle-rtica subjacente. Quando significativas, aumentam o riscode angina, infarto do miocrdio, insuficincia cardaca con-gestiva, crises passageiras de isquemia e acidentes vascularescerebrais (TEIXEIRA et al., 2008).

    1.4 INFARTO DO MIOCRDIO

    O infarto do miocrdio consequncia de isquemia pro-longada no msculo cardaco (falta de aporte sanguneo queresulta em necrose). O paciente com crise de infarto costuma

    apresentar dor semelhante da angina do peito. Geralmentea dor do infarto est associada parte interna do peito, e opaciente pode apresentar nuseas e vmitos (MUOZ et al.,2008).

    comum a utilizao de morfina, e numa segunda instn-

    cia, de meperidina para a reverso do quadro de infarto agu-do do miocrdio (GOMES et al., 1996). Antes de qualquertratamento odontolgico, o paciente que sofreu um infartorecente deve ser cuidadosamente avaliado. Procedimentosodontolgicos devem ser adiados pelo menos por seis mesese, idealmente, por mais de um ano aps o infarto (TEIXEIRAet al., 2008).

    Pacientes que no tiveram complicaes ps-infarto nemfatores de risco adicionais podem ser tratados no consultrioodontolgico, desde que alguns cuidados sejam tomados. Ocontrole da ansiedade do paciente, consultas breves e a utili-zao controlada de anestsicos com vasoconstritores, muitas

    vezes associada ao uso de sedao complementar, diminuemos riscos de uma recidiva. Nos casos de infarto do miocrdiocom complicaes, ou com recuperao instvel, sugerem-secondutas mais cuidadosas, evitando-se procedimentos dent-rios cirrgicos nos primeiros seis meses depois da ocorrncia.As emergncias dentrias devem ser tratadas de forma conser-vadora ou monitoradas em ambiente hospitalar (TEIXEIRAet al., 2008).

    1.5 ENDOCARDITES BACTERIANAS

    Endocardite bacteriana um processo infeccioso da su-perfcie do endocrdio, envolvendo geralmente as valvas car-dacas. uma doena grave, que apresenta risco de vida, eseu desenvolvimento pode estar relacionado com bacteremiasdecorrentes de procedimentos odontolgicos (CABELL;ABRUTYN; KARCHMER, 2003).

    As intervenes odontolgicas constituem uma das cau-sas principais de bacteremia transitria. As bactrias presen-tes na circulao sangunea podem colonizar vlvulas dani-ficadas ou anormais, resultando em endocardite bacteriana.Os riscos de uma bacteremia de origem bucal parecem estarna dependncia de duas variveis importantes: a extenso dotraumatismo aos tecidos moles e o grau da doena inflamat-ria local preexistente (CABELL; ABRUTYN; KARCHMER,

    2003).Portanto, em qualquer procedimento odontolgico com

    risco em pacientes com comprometimento cardiovascular esangramento deve ser avaliada a necessidade de profilaxiacom antibiticos em pacientes suscetveisao desenvolvimen-to de endocardite bacteriana (TEIXEIRA et al., 2008).

    Logo, o cirurgio-dentista deve conhecer apatognese dadoena, ser capaz de identificar a populao de risco, instituiruma corretaprofilaxia antibitica e orientar seus pacientes nahigiene bucal, a fim de prevenir estadoena.

    1.6 PLANEJAMENTO DO TRATAMENTO ODONTOL-

    GICO EM PACIENTES CARDIOPATAS

    O atendimento de um indivduo portador de comprome-timentos cardiovasculares deve possuir um planejamento da

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    consulta, que quando realizado de forma correta, beneficia opaciente. Para isso, alguns mtodos so adotados, como ana-mnese, avaliao dos sinais vitais, sesses curtas e acompa-nhamento muldisciplinar.

    Um mtodo seguro e eficaz antes da execuo do trata-

    mento odontolgico em pacientes cardiopatas a anamnese.Os objetivos principais da anamnese so detectar problemas,avaliar o paciente quanto ao seu atual estado de sade gerale verificar quais fatores de risco associados ao comprometi-mento cardiovascular existente. Vida sedentria, obesidade,tenso psicossocial, histria familiar de infarto agudo de mio-crdio, fumo, hipertenso, diabetes e hiperlipidemia so con-siderados aspectos agravantes das coronariopatias (MUOZet al., 2008).

    Aps a deteco dos fatores de risco, o cirurgio-dentistadeve direcionar a avaliao no sentido de se obter informa-es sobre o grau de controle da doena. Alm disso, saber

    quando ocorreu a ltima consulta mdica e se foi feita algu-ma alterao recente na medicao (TEIXEIRA et al., 2008).Aps o exame subjetivo, o cirurgio-dentista deve avaliar

    os sinais vitais do paciente. O objetivo manter o controlevital do paciente, uma vez que qualquer anormalidade podedenunciar o agravamento da enfermidade ou corroborar otratamento que est sendo realizado atravs da medicaoprescrita (ANDRADE, 2003).

    Outro fator importante no tratamento odontolgico dospacientes cardiopatas a durao da consulta, que deve sercurta. Alm disso, a inclinao do encosto da cadeira deveser menor, resultando em maior conforto ao paciente, j queo mesmo pode apresentar dificuldade respiratria na posiosupina (TEIXEIRA et al., 2008).

    Por fim, necessrio que a forma de comunicao en-tre os cirurgies-dentistas e os mdicos seja modificada evalorizada, pois, deve haver uma interao entre mdico ecirurgio-dentista, para assegurar a sade do paciente e evitarinteraes medicamentosas indesejveis (CONRADO et al.,2007).

    1.7 USO DE ANESTSICOS LOCAIS EM PACIENTESCARDIOPATAS

    No plano de tratamento da maioria dos pacientes que

    requerem cuidados especiais, um assunto que ainda causamuita controvrsia diz respeito escolha da soluo anes-tsica local. Na maioria das vezes, o mdico comunica aocirurgio-dentista sobre a impossibilidade de uso de agentesvasoconstrictores. Isto acarreta certa indeciso ao profissionalde odontologia (ANDRADE, 2003).

    A adrenalina empregada na medicina usada paracomprometimento sistmico e por isso sua dose 0,5 a 1,0mg, enquanto que um tubete anestsico com adrenalina a1:100.000 contm apenas 0,018 mg, j que sua finalidade local (CONRADO et al., 2007).

    O uso de vasoconstritores nas solues anestsicas locais

    traz grandes vantagens para obteno de uma anestesia eficaz.Pela vasoconstrio local provocada, ocorre um retardamentoda absoro do anestsico local injetado, advindo s seguintesvantagens de sua utilizao: 1) Aumento da durao da anes-

    tesia; 2) Aumento da profundidade da anestesia; 3) Reduoda toxicidade do anestsico local; 4) Utilizao de menoresvolumes da soluo anestsica; 5) Diminuio do sangramen-to em procedimentos cirrgicos (GARCIA, 1987).

    Paralelamente, a grande maioria dos mdicos desconhece

    o fato de que muitas vezes os cirurgies-dentistas necessitamde uma anestesia pulpar de maior durao. Alm disso, quan-do se empregam solues anestsicas locais sem vasoconstri-tor a margem de segurana clnica diminuda, pois a dosemxima geralmente calculada em funo da quantidadedo sal anestsico e no do agente vasopressor (ANDRADE,2003). Portanto, a utilizao de vasoconstritores, deve ser ex-tremamente prudente com a anlise de caso a caso.

    A administrao dos anestsicos dever ser feita de formalenta e gradual, aps aspirao inicial, evitando-se injeesintravasculares. A lidocana prottipo de anestsico de du-rao intermediria, por isso sendo considerada como medi-

    camento de referncia com propriedades de valor teraputicoantiarrtmica, anticonvulsivante, antiinflamatria e antimi-crobiana (HAGHIGHAT; KAVIANI; PANAHI, 2006).

    A bupivacana indicada em procedimentos de maiordurao, porm, ela cardiotxica por possui atrao pelasfibras cardacas, sendo contra-indicada para pacientes cardio-patas. A prilocana medicamento de referncia para uso emodontologia, pois possui felipressina como vasoconstritor, oque no induz variaes na presso arterial. Porm, rapi-damente degradada pelas amidases hepticas (OLIVEIRA,2005; MALAMED, 2005)

    Quanto escolha da soluo anestsica local, deve-se le-var em considerao o risco das interaes medicamentosasindesejveis, j que os cardiopatas normalmente fazem usocontnuo de medicamentos. Uma dessas drogas so os beta-bloqueadores no seletivos, como o propanolol, este aps ainjeo intravascular rpida, pode interagir com o agente va-soconstritor noradrenalina e promover taquicardia e aumen-to brusco da presso arterial sangunea (ANDRADE, 2003).

    1.8 CONTROLE DA ANSIEDADE EM PACIENTES CAR-DIOPATAS

    O tratamento odontolgico geralmente induz um quadrode ansiedade e apreenso nos pacientes. Alguns so toma-

    dos de verdadeira fobia ou pnico, muitas vezes sem umacausa aparente, ao sentarem na cadeira do dentista; outrosso estimulados por fatores geradores de estresse no prprioambiente de atendimento odontolgico, como a viso de san-gue ou do instrumental, especialmente da seringa carpuleeagulhas; os movimentos bruscos ou rspidos do profissionale a sensao inesperada de dor, este sem dvida, o fator maisimportante(ANDRADE, 2003).

    A dor, ansiedade e medo sofridos levam a uma liberaode adrenalina endgena em quantidade maior do que a con-tida em um tubete anestsico (GARCIA, 1987). Os mtodosde controle da ansiedade podem ser farmacolgicos ou no

    farmacolgicos. Entre os no farmacolgicos, temos a verba-lizao (iatrosedao), s vezes associada s tcnicas de relaxa-mento muscular ou de condicionamento psicolgico. Quan-do estes mtodos no so suficientes o bastante para reduzir a

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    ansiedade e o medo, indica-se o uso de mtodos farmacolgi-cos como medida complementar(ANDRADE, 2003).

    1.9 SEDAO CONSCIENTE COM A MISTURA DEXIDO NITROSO E OXIGNIO

    H dcadas a sedao consciente via inalatria (N2O/O

    2)

    vem sendo muito usada em vrios pases, sem a ocorrnciade qualquer complicao grave para os pacientes. Suas prin-cipais vantagens em relao s outras tcnicas de sedao queusam outras vias de administrao so: 1) Tempos curtos parase atingir os nveis adequados de sedao e para a recupera-o do paciente; 2) Administrao constante de, no mnimo,30% de O

    2durante o atendimento, o que equivale cerca

    de uma vez e meia a quantidade de O2contido no ar atmos-

    frico; 3) A durao e a intensidade da sedao podem sercontroladas pelo profissional em qualquer momento do aten-

    dimento; 4) Os gases podem ser administrados pela tcnicaincremental, ou seja, pode-se individualizar a quantidade ea concentrao de N

    2O/ O

    2para cada paciente; 5) O xido

    nitroso no apresenta efeitos adversos sobre fgado, rins, pul-mes, sistema cardiovascular e respiratrio e 6) Alm de sedaro paciente, a tcnica promove analgesia relativa, diminuindoa resposta dolorosa na maioria dos procedimentos odontol-gicos, embora esta tcnica no dispense o uso simultneo daanestesia local (SCOTTISH DENTAL CLINICAL EFFECTI-VENESS PROGRAMME, 2006).

    Mesmo sendo uma tcnica segura, ela deve ser usada porprofissionais que j tenham tido treinamento no manejo doequipamento de dispensao dos gases, que habilita o cirur-gio-dentista a empreg-la e conseguir os resultados desejados(ANDRADE, 2003).

    1.10 SEDAO CONSCIENTE COM BENZODIAZEP-NICOS

    Desde sua introduo no mercado farmacutico, h maisde 40 anos, os benzodiazepnicos tm sido as drogas de pri-meira escolha para a sedao consciente, pela sua eficcia esegurana clnica. Deste grupo de drogas, pode-se destacar odiazepam, lorazepam e alprazolam que diferem entre si ape-nas com relao a algumas propriedades farmacocinticas. O

    diazepam e o alprazolam possuem um rpido incio de ao,ao contrrio do lorazepam. O diazepam apresenta duraomais prolongada, enquanto os demais so de ao interme-diria. O midazolam outro ansioltico deste grupo, de aomais curta, mas que tambm apresenta ao hipntica (indu-o do sono fisiolgico), sendo empregado na dose de 15 mg(ANDRADE, 2003).

    As doses recomendadas para uso por via oral, em adultos,so de 5 a 10 mg para o diazepam, 1 a 2 mg para o lorazepame 0,5 a 0,75 mg para o alprazolam (ANDRADE, 2003). Oprotocolo adotado pela rea de Farmacologia e Anestesio-logia recomenda uma dose nicado benzodiazepnico de es-

    colha, administrada 30 a 45 minutos antes do atendimento,com exceo do lorazepam, que deve ser tomado com 2 horasde antecedncia (ANDRADE, 2003).

    Em pacientes extremamente apreensivos e ansiosos, po-de-se receitar tambm uma dose para ser tomada na noiteanterior consulta, com o objetivo de proporcionar um sonomais tranquilo (SCOTTISH DENTAL CLINICAL EFFECTI-VENESS PROGRAMME,2006).

    1.11 SITUAES DE EMERGNCIA COM PACIENTESCARDIOPATAS

    Durante o atendimento odontolgico de um indivduocom comprometimento cardiovascular, o cirurgio-dentistanecessita monitorar as condies de pulso e presso do pa-ciente. Caso este sinta dor no peito, devem ser consideradasoutras causas possveis de dor. Quando ele tiver uma histriaregressa de angina estvel, existe uma maior possibilidade dea dor no peito ser um ataque de angina. Em caso dediag-nstico positivo para angina, o tratamentodentrio deve ser

    suspenso, e o paciente precisa serreclinado a 45 para que severifique a sua pressosangunea. Se observar que a pressosistlicaest menor do que 100, o paciente deve abaixar acabea (TEIXEIRA et al., 2008).

    Alm disso, deve-se tranquiliz-lo e administrarnitrogli-cerina via sublingual. A dor da angina deve aliviar em 3-5min. Esses procedimentos podem ser repetidos duas vezes,em intervalos de 5 min. Se o paciente reclamar de dor de ca-bea branda, isso sugere que foi administrada a dose terapu-tica. Caso a dor no peito no alivie, h evidncia de infartodo miocrdio ou de angina pr-infarto, e o paciente deve sertransportado imediatamente para o hospital (CAHALAN,2003).

    preciso verificar a presso sangunea a cada 5 minutosem pacientes inconscientes. O cirurgio-dentista deve estarpreparado para procedimentos de ressuscitao cardiopulmo-nar, quando no for mais detectada a pulsao do paciente(TEIXEIRA et al., 2008).

    1.12 DOENA PERIODONTAL COMO FATOR DE RIS-CO DAS DOENAS CARDIOVASCULARES

    A periodontite uma infeco multifatorial, causada porum grupo de bactrias gram-negativas presentes na superfciedos dentes e no biofilme da placa bacteriana (COSTA; SILVA

    JUNIOR; TEREZAN, 2005).Em vista da forte associao daplaca bacteriana com as infeces periodontais, da naturezacrnica dessas doenas e da resposta local e sistmica do hos-pedeiro ao ataque microbiano, razovel a hiptese de queessas infeces possam influenciar a sade geral e o curso dealgumas doenas sistmicas (ACCARINI; GODOY, 2006).

    Apesar disso, a doena periodontal ainda no pode serconsiderada um fator de risco para doenas cardiovasculares,porm h diversos fatores que contribuem para essa doenaser considerada um risco. A bacteriemia determinada peloacmulo excessivo de placa bacteriana poderia tambm pro-vocar um aumento na viscosidade sangunea e na agregao

    plaquetria, com consequente efeito trombognico. Media-dores inflamatrios e imunolgicos, em especial IL-6 e PCR,parecem ter seus nveis sorolgicos aumentados na presenade doena periodontal (COSTA; SILVA JUNIOR; TERE-

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    ZAN, 2005).Um desses mecanismos considera a possibilidade de que

    microrganismos da placa bacteriana participem na patogne-se da aterosclerose. Dessa forma, alguns estudos tm identifi-cado microrganismos como Bacterides forsytus, Actinobacillus

    actinomycetemcomitans, Porphyromonas gingivalis, Streptococussanguis e Prevotella intermedia nas placas ateromatosas (ACCA-ACCA-RINI; GODOY, 2006).

    A alta prevalncia de doenas cardiovasculares na popu-lao, particularmente de doenas cardacas isqumicas, de-monstra que o cirurgio-dentista atender cada vez mais essetipo de paciente. Portanto, o mesmo deve estar apto a receberesses pacientes com maior segurana, tendo maior controlesobre a administrao das solues anestsicas locais e medi-camentos de uso odontolgico, alm de outros cuidados deordem geral.

    Um fator incontestavelmente importante o controle da

    ansiedade em pacientes cardiopatas. O mesmo pode ser feitode dois tipos: farmacolgico e no farmacolgico. O mtodofarmacolgico mais utilizado consiste no uso de ansiolticosvia oral antes do procedimento odontolgico, sendo o Mida-zolam a droga mais segura (GAUJAC, 2006).

    Outro mtodo, que est ganhando destaque no Brasilnos ltimos anos, a sedao consciente com xido nitrosoe oxignio. um mtodo seguro e no existe ocorrncia dequalquer complicao grave para os pacientes (ANDRADE,2003; SCOTTISH DENTAL CLINICAL EFFECTIVENESSPROGRAMME, 2006).

    O conhecimento atualizado sobre atendimentos emer-genciais no consultrio odontolgico uma obrigao docirurgio-dentista. A possibilidade de ocorrncia de umacomplicao como, por exemplo, uma parada cardiorrespi-ratria eminente, apesar de rara. A aptido para realizar osprocedimentos de urgncia como a ressuscitao cardiopul-monar advm do conhecimento profundo e treinamento in-tenso (TEIXEIRA et al., 2008; CAHALAN, 2003).A grandemaioria dos cirurgies-dentistas hoje no Brasil no apresentatreinamento adequado para resolver problemas como esses,muito provavelmente devido a uma falha na formao aca-dmica da maioria das faculdades de odontologia que noapresenta uma disciplina especfica.

    Apesar dos resultados indicarem uma associao entre do-

    ena periodontal e cardiovascular, permanecem controvrsiasprincipalmente quanto ligao causal e mecanismos fisio-patolgicos que expliquem esta associao. Em vista da forteassociao da placa bacteriana com as infeces periodon-tais, da natureza crnica dessas doenas e da resposta locale sistmica do hospedeiro ao ataque microbiano, razovela hiptese de que essas infeces possam influenciar a sadegeral e o curso de algumas doenas sistmicas (ACCARINI;GODOY, 2006).

    Um dos problemas para se chegar a um consenso a faltade padronizao entre os critrios adotados para determina-o e avaliao de doena periodontal. Um efeito indireto

    da infeco periodontal que poderia explicar a associaoentre as doenas periodontal e cardaca diz respeito hiper-coagulabilidade sangunea. Sabe-se que a viscosidade sangu-nea aumentada pode promover doena cardaca isqumica

    importante e derrames, por aumentar o risco de formao detrombos (COSTA; SILVA JUNIOR; TEREZAN, 2005).

    O uso de anestsicos locais com vasoconstritores em co-ronarianos ainda muito controverso na literatura. SegundoConrado e colaboradores (2007) os vasoconstritores no so

    contra-indicados em portadores de cardiopatias, desde queseja adotada tcnica anestsica segura e com mnima quanti-dade de dose anestsica e aspirao prvia, embora para ele, ouso de vasopressores deva ser evitado em pacientes com doen-a cardiovascular de alto risco.Porm, Andrade (2003) acredi-ta que solues anestsicas com vasoconstritor s devam serempregadas em caso de o cirurgio-dentista necessitar de umaanestesia pulpar de maior durao. Sendo a Mepivacana 3%sem vasoconstritor o anestsico de primeira escolha para osdemais procedimentos.

    tambm de importncia enfatizar que a quantidade devasoconstrictor presente em um tubete anestsico muito pe-

    quena se comparada com as quantidades utilizadas em proce-dimentos mdicos. Pela falta desse conhecimento, os cardio-logistas tendem a contra-indicar o uso de vasoconstrictoresem tratamentos odontolgicos.

    O uso de anestsicos sem vasoconstrictor promove umaao muito curta, o que faz com que ocorram vrias infusese com que o paciente venha a sentir dor, o que provoca aproduo de uma quantidade de adrenalina muito maior quea concentrao dentro de um tubete. Diante desses fatos, prefervel que se utilize uma quantidade limitada de anestsi-cos com vasoconstrictor (dois tubetes), criando uma situaomais favorvel e tranquila para a realizao do procedimentopor um tempo mais prolongado, e evitando tambm uma in-toxicao do paciente por excesso de anestsico.

    2 CONSIDERAES FINAIS

    Devido ao nmero crescente de pessoas que sofrem decardiopatias, de fundamental importncia o conhecimen-to das doenas coronarianas por parte do cirurgio-dentistapara proporcionar um atendimento seguro a esses pacientes.O emprego rotineiro de anestsicos locais com vasoconstri-tores em consultrios odontolgicos requer cuidados e ava-liao por parte do cirurgio-dentista, sendo indicado paracardiopatas um mximo de dois tubetes de anestsico com

    vasoconstrictor. Dessa forma, sugere-se um contato entre ocirurgio-dentista e o cardiologista do paciente, para perfeitoconhecimento da cardiopatia e das medicaes habituais, eque se tenha certeza da compensao do paciente para a rea-lizao do tratamento odontolgico. A capacitao do cirur-gio-dentista algo imprescindvel para uma prtica segura,atravs da aferio dos sinais vitais de todos os pacientes eanestesia efetiva para suprimir a dor (e evitar tenses maioresem pacientes com disfuno cardiocirculatria), o que leva proteo do paciente e preservao do seu bem-estar.

    REFERNCIAS

    ACCARINI, R.; GODOY, M. F. de. Periodontal Disease asa Potential Risk Factor for Acute Coronary Syndromes.ArqBras Cardiol,n. 87, p. 539-543, 2006.

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    114 Tratamento de Pacientes Cardiopatas na Clnica Odontolgica

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    Recebido em: 23 Maio 2010

    Aceito em: 26 Agosto 2010