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5/24/2018 CarlosEduardoJordoMachado-AsFormaseaVida-Lukcs-Resumo-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/carlos-eduardo-jordao-machado-as-formas-e-a-vida-lukacs-r As formas e a vida, estética e ética no jovem Lukács (1910-18)  Machado, Carlos Eduardo J.. Profesor de Historia de la Filosofia y del Arte en la UNESP -camus de  Assis- SP, !rasil. Autor de "e#ate So#re o e$ressionismo. %San Pa#lo, Ed. UNESP, &''() e *as Formas  y la +ida. %San Pa#lo, Ed. UNESP, ) Este trabalho é o resultado da Tese de Doutorado que defendi na Gesamthochschule-Universität Paderborn, na Alemanha Federal, em unho de !""#, sob a orienta$%o dos &rofessores Dr' Fran( )enseler *Paderborn+ e Dra' hrista )r.er *Fran(furt a/0+' 1eu obetivo é mostrar a si.nifica$%o do conceito de forma na conce&$%o ética do ovem 2u(3cs456' 7 ovem 2u(3cs &retendeu formular, &or meio do conceito de forma, uma ética além dos deveres' 2o.o me dei conta de que esta funda$%o ética do conceito de forma s8 &ode vir 9 lu: se estiver no &rimeiro &lano a inse&ar3vel cone;%o com a forma liter3ria < como a tra.édia e a novela na colet=nea de ensaios A alma e as formas *!"!!+ e com o romance na /eoria do romance *!"!>+' A cone;%o entre .?nero formal 4Gattun.sform6 e quest@es éticas, como o ovem 2u(3cs a entendeu, s8 &ode ser formulada como ensaio < &ois n%o se &ode falar de um sistema ético no ovem 2u(3cs' 7 ensaio como forma vale como .?nero re&resentativoB do ovem 2u(3cs *0ar(us, !"##C !+46' 7 modo &rovocativo de lidar com as contradi$@es é um elemento formal determinante do ensaioC o ensaio é um e;&erimento'  o &ref3cio de  A alma e as formas, 1obre ess?ncia e forma do ensaioC carta a 2eo Po&&erB *!"!+, 2u(3cs fala sobre o ensaio como estudos hist8rico-liter3riosB *2u(3cs, !"#!aC #+' omo tal ele é uma crHtica cientHfica que é caracteri:ada como .?nero artHsticoC o ensaio é uma forma de arte' A forma do ensaio n%o se contra&@e imediatamente aos fatos, mas se relaciona com eles sem&re através de media$@es 3 elaboradas, &or meio das formas' 7 obeto do ensaio 3 est3 dadoC as formas' omo di: 2u(3csC o ensaio fala sem&re de al.o 3 formado ou, no melhor dos casos, de al.o 3 e;istenteI é também da sua ess?ncia n%o e;trair coisas novas a &artir de um nada va:io, mas sim&lesmente daquelas que 3 foram vivas al.uma ve:, ordenando-as de novo' E

Carlos Eduardo Jordão Machado - As Formas e a Vida - Lukács - Resumo

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As formas e a vida, esttica e tica no jovem Lukcs (1910-18)Machado, Carlos Eduardo J.. Profesor de Historia de la Filosofia y del Arte en la UNESP -campus de Assis- SP, Brasil. Autor de Debate Sobre o expressionismo. (San Pablo, Ed. UNESP, 1998) e Las Formas y la vida. (San Pablo, Ed. UNESP, 2004)Este trabalho o resultado da Tese de Doutorado que defendi na Gesamthochschule-Universitt Paderborn, na Alemanha Federal, em junho de 1997, sob a orientao dos professores Dr. Frank Benseler (Paderborn) e Dra. Christa Brger (Frankfurt a/M). Seu objetivo mostrar a significao do conceito de forma na concepo tica do jovem Lukcs[3].

O jovem Lukcs pretendeu formular, por meio do conceito de forma, uma tica alm dos deveres. Logo me dei conta de que esta fundao tica do conceito de forma s pode vir luz se estiver no primeiro plano a inseparvel conexo com a forma literria como a tragdia e a novela na coletnea de ensaiosA alma e as formas(1911) e com o romance naTeoria do romance(1916). A conexo entre gnero formal [Gattungsform] e questes ticas, como o jovem Lukcs a entendeu, s pode ser formulada comoensaio pois no se pode falar de umsistematico no jovem Lukcs.O ensaio como formavale como gnero representativo do jovem Lukcs (Markus, 1977: 105)[4]. O modo provocativo de lidar com as contradies um elemento formal determinante do ensaio: o ensaio um experimento.

No prefcio deA alma e as formas, Sobre essncia e forma do ensaio: carta a Leo Popper (1910), Lukcs fala sobre o ensaio como estudos histrico-literrios (Lukcs, 1971a: 7). Como tal ele uma crtica cientfica que caracterizada como gnero artstico: o ensaio uma forma de arte.A forma do ensaio no se contrape imediatamente aos fatos, mas se relaciona com eles sempre atravs de mediaes j elaboradas, por meio das formas. O objeto do ensaio j est dado: as formas. Como diz Lukcs: o ensaio fala sempre de algo j formado ou, no melhor dos casos, de algo j existente; tambm da sua essncia no extrair coisas novas a partir de um nada vazio, mas simplesmente daquelas que j foram vivas alguma vez, ordenando-as de novo. E apenas porque as ordena de novo, estando tambm ligado a elas no forma algo de novo a partir do disforme, deve sempre expressar a verdade sobre elas (Ibid.: 20).

Outra caracterstica importante do ensaio para Lukcs aironia.A ironia um instrumento reflexivo com o qual o ensasta alcana uma realidade da alma [Seelenwirklichkeit] e se separa da vida cotidiana. Esta separao no entanto significa poder estabelecer a unidade daquilo que nesta vida est cindido: uma idia que vivida no instante [Augenblick]. [Poder-se-ia pensar aqui a idia de uma reconciliao momenta, instantnea ou instante de reconciliao]. A ironia est presente, sempre de formas diversas, em qualquer texto de um grande ensasta. A ironia expressa a falta de base [Bodenlosigkeit] de uma tentativa que no possui a fora de colocar a prpria vida em movimento, para torn-la mais viva e dotada de sentido, em vez de apenas elucidar livros e imagens. a exteriorizao da nostalgia[Sehnsucht] de unidade e equilbrio entre a vida tornada plena por meio da forma e a vida imediata. Mas a ironia apenas uma idia. A ironia diz Lukcs consiste em que o crtico est sempre falando sobre as questes ltimas da vida, mas sempre tambm em um tom, como se o discurso tratasse apenas de imagens e livros, de ornamentos da grande vida, belos e sem essncia; e que aqui no falasse tambm do mais profundo da interioridade, mas meramente de uma superfcie bela e intil (Ibid.: 18-19). A tentativa do ensasta enquanto tal uma ironia: assim como Saul, que saiu para procurar a mula de seu pai e encontrou um reino, o ensasta, que est sempre procura da verdade, encontra no fim de seu caminho uma meta no almejada, a vida(Ibid.: 22).

Na Europa Central e sobretudo na Alemanha a forma do ensaio expressa uma viso peculiar. Uma viso que une Georg Simmel e o jovem Lukcs, Karl Kraus e Robert Musil, Rudolf Kassner e Ernst Bloch, Siegfried Kracauer, Walter Benjamin e Theodor Adorno. Eles alcanaram, atravs desta forma de escrever, a especulao sobre objetos especficos e culturais j preformados: em Simmel como ateno para a coisificao [Sachlichkeit], para a sensibilidade nervosa da vida moderna nas metrpoles; em Kassner como crtica e platonismo; em Bloch como a configurao utpica da questo inconstruvel; e posteriormente em Benjamin como imagem (surrealista) e como palco da experincia intelectual em Adorno para no falar da crtica de Karl Kraus fraseologia da imprensa e ao modo como Musil mescla diferentes discursos. A forma do ensaio j era conhecida e valorizada pelos romnticos. Os dilogos de Plato e os escritos dos msticos, os ensaios de Montaigne e os dirios imaginrios e novelas de Kierkegaard so os exemplos tomados por Lukcs da forma do ensaio. A particularidade de Lukcs como ensasta reside no modo como tenta fundar uma tica atravs do conceito de forma ou, dizendo com outras palavras, o projeto de uma fundao tica da forma como filosofia da ao.O jovem Lukcs quis escrever, durante o perodo da Primeira Guerra Mundial, um livro sobre Dostoivski que ficou apenas na forma de anotaes e projetos. Nas Anotaes sobre Dostoivski, apenas publicadas em meados dos anos oitenta[5], h determinadas passagens, nas quais aparece uma sagrao do criminoso do terrorista-revolucionrio. A frase, no se deve matar, mas necessrio, representativa do que queremos demonstrar. Lukcs entremeia este tema com a forma literria, os exemplos so extrados das obras de Schiller, Hebbel e Dostoivski. Ao fazer isto, Lukcs deixa ver o tendo de Aquiles de sua concepo tica: trata-se de uma martiriologia da ao revolucionria e de uma concepo elitista e estetizante da tica. Com esta tica, como ele mesmo afirma, luciferina, pretende superar a tica kantiana do dever e formular uma tica alm da reificao, mas lhe falta para isto o instrumental terico adequado expresso, segundo Michael Lwy, do seu anti-capitalismo romntico[6]. O jovem Lukcs est mais sob a influncia da filosofia da existncia de Kierkegaard do que da dialtica histrica de Hegel. O conceito de segunda tica origina-se propriamente de Kierkegaard, como discutido no captulo final. Lukcs quer esboar nas Anotaes sobre Dostoivski uma metafsica do socialismo [Todos os homens].O leitor pode indagar, com razo: como se pode escrever sobre um livro que nunca foi concludo, que ficou apenas na forma de anotaes e projetos? Na verdade, eu tive que encontrar uma forma para tal, que muito simples: as Anotaes sobre Dostoivski no devem ser interpretadas separadamente nem dos conceitos daTeoria do romancenem tampouco da sua anlise formal dos romances de Dostoivski. Gnero formal e tica so simultneos do ponto de vista de uma filosofia da histria. Devem-se ouvir as vozes dos heris de Dostoivski para se compreender o esboo de interpretao de Lukcs, mas deve-se ler tambm Kierkegaard, pois o jovem Lukcs (e o maduro tambm!) faz de Dostoivski um leitor de Kierkegaard[7]. No belo ensaio de 1967, Elogio do sculo XIX, pode-se ler: O episdio do Grande Inquisidor mostra diretamente o abismo intransponvel entre a relao de Jesuscom a vida e a conduo [crists normais] normal da vida de hoje. Aqui Dostoivski est bem prximo de Kierkegaard. NaTeoria do romance, Lukcs desenvolve uma teoria do romance conclusiva que termina com uma formulao no ambgua e simples: no se trata mais de romances: Dostoivski no escreveu romance algum (Lukcs, 1994: 137). Tudo acabaem Dostoivski.

Se as Anotaes sobre Dostoivski so uma continuao daTeoria do romance, as suas categorias internas so uma intensificao e uma superao da forma do romance a hiptese funcionou para mim como um abre-te Ssamo e permitiu decifrar as passagens mais obscuras. Ferenc Fehr (1977: 241 a 327) tenta compreender a interpretao de Lukcs dos romances de Dostoivski como romance policial [Kriminalroman], Reiner Rochlitz (1983) como drama da graa [Gnadendrama]. Podem-se aferir ambas as possibilidades de interpretao nas Anotaes sobre Dostoivski. O jovem Lukcs pretende, no entanto, interpretar os romances de Dostoivski como um novo pos, apesar de deixar em aberto a questo da sua determinao como gnero formal. Pode-se dizer, alm disso, que as Anotaes sobre Dostoivski mostram as dificuldades de Lukcs em formular a sua hiptese (os romances de Dostoivski como uma nova forma de pos).

O segundo captulo deste trabalho comea com uma tipologia de ateus,isto , como Lukcs caracteriza os heris de Dostoivski. A seguir a ateno dirigida para as categorias desta nova forma de pos, compreendendo-as como intensificao e superao da forma do romance. O que importante o modo como Lukcs analisa a ao e o papel do dilogo como instaurao de uma realidade metafsica. Por meio da ao posta a segunda tica. Os heris de Dostoivski esto alm do mundo das convenes. Eles abandonaram o inferno da pecaminosidade completa [vollendete Sndhaftigkeit] como Lukcs denomina o presente naTeoria do romance.

O primeiro captulo introduz as questes ticas no jovem Lukcs, com as quais, atravs do conceito de forma, ele se ocupa at o fim: o ensaio sobre Kierkegaard, O chocar da forma com a vida: Sren Kierkegaard e Regine Olsen deA alma e as formas, o dilogo, Da pobreza de esprito (1912), so os escritos de Lukcs que esto em primeiro plano para compreender a sua fundao tica do conceito de forma. Resumindo, o jovem Lukcs se esfora por formular uma filosofia da ao coerente a qual deve estar em conexo com uma teoria da revoluo.BibliografaAdorno, Der Essay als Form. In:Noten zur Literatur I.Frankfurt aM: Suhrkamp, 1981, pp. 9-33-

Fehr, F., Am Scheideweg des romantischen Antikapitalismus. En: Heller, 1977: 241-327.

Goldmann, L., Georg Lukcs: Der Essayst. In: Matzner, J. (org),Lehrstck Lukcs.Frankfurt a/M, 1974, 44-58.

Heller, A. et al.,Die Seele und das Leben. Frankfurt aM: Suhrkamp, 1977.

Lwy, M.Pour une sociologie des intellectuels rvolutionnaires.Lvolution politique de Lukcs (1909-1929). Paris: PUF, 1976.

Lukcs, G.,Die Seele und die Formen. Neuwied: Luchterhand, 1971 [1971a].

Lukcs, G., Lob des neunzehnten Jahrhundert(1967). In:Essays ber Realismus. Neuwied u. Berlin: Luchterhand, 1971 [1971b] [O elogio do sculo XIX. InNovos rumosn8 e 9. So Paulo: Ed. Novos rumos,1988.Trad. C. E. J. Machado].

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,Theorie des Romans. Ein geschichtsphilosophischer Versuch ber die Formen der grossen Epik.Mnchen: DTV, 1994 (Ed. brasileira:Teoria do romance. Um ensaio histrico-filosfico sobre as formas da grande pica.Trad.: J. M. M. Macedo. So Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2000).

Mrkus, G., Die Seele und das Leben. Der junge Lukcs und das Problem der Kultur`. En: Heller, 1977: 99-130.

Rochlitz, R,Le jeune Lukcs. Thorie de la forme et philosophie de lhistoire. Paris:Gallimard, 1983.

Este texto serviu de base para minhaponenciano Coloquio InternacionalTeora Crtica y Marxismo Occidental: Bloch - Gramsci - Lukcs - Adorno. Universidad de Buenos Aires, 20-23/10/2003- agradeo o financiamento da FUNDUNESP.

[3]Deste trabalho foi publicado o segundo captulo, Die zweite Ethik als Gestaltungsapriori eines neuen Epos. Das Buch ber Dostojewski inBenseler, F. u. Jung, W. (org)Lukcs 1997. Jahrbuch der Internationalen Georg-Lukcs-Gesellschaft. Bern: Peter Lang, 1998, pp. 73-116. A tese na ntegra traduzida para o portugus ser publicada pela editora da UNESP- PROPP:As formas e a vida. tica e esttica no jovem Lukcs (1910-18). So Paulo: Ed. UNESP, 2003 (no prelo).

[4]Aps a Segunda Guerra Mundial a recepo ocidental do jovem Lukcs comea com os ensaios de Lucien Goldmann (1950) (in Matzner, 1974: 44-58) e Adorno (1958) (Adorno, 1981: 9-33).

[5]Lukcs, 1985.

[6]Refiro-me ao trabalho (Tese) pioneiro de Lwy, 1976.

[7]Lukcs, 1971b: 661 [1988: 11].