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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Carlos Renato Davila Lunkes ESTACAS DE COMPACTAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS. Santa Maria, RS, Brasil 2016

Carlos Renato Davila Lunkes - UFSMcoral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/1_2017/TCC_CARLOS RENATO DAVILA... · Aprovado em 12 de Dezembro de 2016: ... das usuais fundações profundas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Carlos Renato Davila Lunkes

ESTACAS DE COMPACTAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA

MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS.

Santa Maria, RS, Brasil

2016

Carlos Renato Davila Lunkes

ESTACAS DE COMPACTAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA MELHORAMENTO

DE SOLOS ARENOSOS.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. José Mario Doleys Soares

Santa Maria, RS, Brasil

2016

FICHA CATALOGRÁFICA

Lunkes,Carlos Renato Davila, 1985-

Estacas de compactação como alternativa para melhoramento de solos

arenosos– Santa Maria, RS: UFSM, 2016.

83p.: Il. – (Trabalho de Conclusão de Curso – Curso de Engenharia Civil,

Universidade Federal de Santa Maria).

Orientador: José Mario Doleys Soares.

1. Solos Arenosos.2. Fundações.3. Resistência do Solo . 4. Estacas de

Compactação.

© 2016 Todos os direitos autorais reservados a Carlos Renato Davila Lunkes. A reprodução de partes

ou do todo deste trabalho só poderá realizada com autorização por escrito do autor. Endereço: Av. Roraima/, n. 1000, Centro de Tecnologia, Bairro Camobi, Santa Maria, RS,

CEP97105-900 Fone (55) 9725 6519; E-mail: [email protected]

Carlos Renato Davila Lunkes

ESTACAS DE COMPACTAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Aprovado em 12 de Dezembro de 2016:

________________________________________________________ José Mario Doleys Soares (UFSM), DSc

(Presidente/Orientador)

_______________________________________________________

Talles Augusto Araújo (UFSM), MSc

________________________________________________________ Magnos Baroni (UFSM), DSc

Santa Maria, RS, Brasil

2016

Aos verdadeiros e amados tesouros de minha vida,

Minha mãe Susana, irmã Natalia e sobrinha Melissa.

AGRADECIMENTOS

- A Deus primeiramente, pois sem Ele nada sou.

- À minha família, que nunca desistiu de mim, principalmente nas pessoas da minha

amada mãe Susana Guedes, que merecerá por todo o sempre, agradecimentos

infinitos por tudo que me proporcionou; da minha melhor amiga e irmã Natalia Davila

Lunkes pelo apoio e exemplos que foi e que é; da minha sobrinha Melissa Gomes

que deu novo brilho à minha existência, de Alex Gomes por seu constante arrimo em

minha família e da minha querida avó, Ester da Costa, pela grande ajuda na minha

caminhada.

- Ao meu estimado professor e orientador, Dr. José Mario Doleys Soares, pela

paciência, boa vontade e dedicação a este trabalho e ao aprendizado que me

ofereceu nas áreas de fundações e concreto armado, além de sua valiosa amizade.

- Aos meus queridos amigos, principalmente à Mateus Tanski, por ser um verdadeiro

irmão.

-Agradeço à Universidade Federal de Santa Maria pelo acolhimento, pelas portas do

saber que me abriu e pelo zelo e carinho em transformar estudantes em

profissionais.

Enfim, a todos meus agradecimentos, respeito e amor.

“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.”

(Jean Cocteau)

RESUMO

ESTACAS DE COMPACTAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA O

MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS.

AUTOR: Carlos Renato Davila Lunkes

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Mario Doleys Soares

É bastante comum, no nordeste Brasileiro, o melhoramento de solos arenosos

através de estacas de compactação. O processo, que também é conhecido por

vibro-deslocamento, tem por objetivo aumentar a capacidade de suporte do solo,

através da reorganização estrutural do mesmo, possibilitando assim, a opção de se

substituir fundações profundas por sapatas, que são geralmente mais econômicas,

quanto à execução. Realizou-se revisão acerca da bibliografia existente, afim de

expandir o conhecimento da técnica e difundir sua utilização no meio acadêmico e

profissional. Foi elaborado um passo-a-passo técnico do método, abordando de

forma clara e objetiva cada item para o desenvolvimento do projeto de estacas de

compactação, desde a análise do terreno em questão, com o intuito de verificar sua

viabilidade, a também à realização de dimensionamento das sapatas, substitutas

das usuais fundações profundas em solos arenosos. O desenvolvimento de um

exemplo prático, demonstrou que é possível compactar significativamente um solo

arenoso com baixa capacidade de suporte, elevando seu a um valor

suficientemente satisfatório, para a execução de fundações mais econômicas, no

caso, as sapatas de fundação. Também foram verificados os recalques, que se

mostraram aceitáveis. Portanto, os resultados de tal revisão bibliográfica se

mostraram favoráveis à sua difusão e aplicabilidade e, sugerem mais estudos de

forma a comparar os reais valores de execução, entre fundações profundas e o

melhoramento de solos arenosos através de estacas de compactação.

Palavras-chaves: Estacas de compactação. Fundações. Solos Arenosos.

ABSTRACT

COMPACTION PILES AS AN ALTERNATIVE FOR IMPROVEMENT OF

SANDY SOILS.

AUTHOR: Carlos Renato Davila Lunkes

ADVISOR: Prof. Dr. José Mario Doleys Soares

It is quite common in northeastern Brazil, the improvement of sandy soils

through compaction piles. The process, which is also known as vibro-displacement,

aims to increase the soil bearing capacity through structural of the same

reorganization, thus enabling the option to replace deep foundations for shallow

foundations, or footings, which are generally more economical, as the execution. We

conducted review on the existing literature, in order to expand the knowledge of the

art and spread their use in academic and professional circles. It was prepared a step-

by-step technical method, addressing a clear and objective way each item for the

development of compaction piles project, from the analysis of the land in question, in

order to verify their availability, also the realization sizing of the shallow foundations,

substitute the usual deep foundations in sandy soils. The development of a practical

example demonstrated that it is possible to significantly compress a sandy soil with

low carrying capacity, increasing its NSPT a sufficiently satisfactory value for the

implementation of more economic foundations, in this case the foundation footing.

Repressions, who were acceptable were checked. Therefore, the results of this

literature review were in favor of its dissemination and applicability and suggest

further studies in order to compare the actual performance values of deep

foundations and the improvement of sandy soils through compaction piles.

Keywords: Compaction Piles. Foundations. Sandy Soils.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Curva granulométrica de uma areia bem graduada. ................................ 24

Figura 2 – Curva granulométrica de uma areia uniforme ou mal graduada. ............. 24

Figura 3 – Exemplos de formato de grãos de areia. .................................................. 26

Figura 4 – Gráfico de plasticidade de Casagrande. ................................................. 27

Figura 5 – Esquema para classificação do sistema unificado. .................................. 28

Figura 6 – Esquema para classificação pelo Sistema Rodoviário. ............................ 29

Figura 7 – Amostrador-padrão tipo Raymond-Therzaghi. ........................................ 32

Figura 8 – Esquema de perfuração por percussão e amostragem. ........................... 33

Figura 9 – Equipamento de sondagem, com SPT, montado. .................................... 33

Figura 10 – Exemplo de perfil típico de uma sondagem de simples

reconhecimento. ....................................................................................... 35

Figura 11– Variação de índice de vazios em compressão isotrópica de areia

do rio Sacramento. ............................................................................... 37

Figura 12 – Resultados típicos de ensaios de compressão triaxial em areias

fofas. ......................................................................................................... 38

Figura 13 – Posição relativa das partículas nas areias fofas e compactas. .............. 40

Figura 14 – Obtenção do índice de vazios crítico a partir de ensaios triaxiais. ......... 41

Figura 15 – Dimensões de uma sapata isolada. ....................................................... 46

Figura 16 – Solução com dois pilares associados a uma mesma sapata. ................ 47

Figura 17 – Tensão admissível em função de B e de Nspt – sapatas em

areias. ....................................................................................................... 51

Figura 18 – Valores de “Nq”, sugeridos por Vesic (1975), segundo diversos

autores. .................................................................................................... 54

Figura 19 – Coeficiente em função de D/B e do ângulo de atrito. ............................. 55

Figura 20 – Valores de Nq e Nγ, para estacas com ponta em areia. ........................ 55

Figura 21 – Coeficientes de K e α. ............................................................................ 57

Figura 22 - Valores de F1 e F2 .................................................................................. 58

Figura 23 – Valores de K em função do tipo de solo. ................................................ 59

Figura 24 – Malha de estacas para edificações com 12 < nº de pavimentos .......... 65

Figura 25 – Colocação do tubo de apiloamento ........................................................ 67

Figura 26 – Apiloamento da bucha. ........................................................................... 68

Figura 27 – Execução do fuste da estaca. ................................................................ 69

Figura 28 – Sondagem de simples reconhecimento em solo natural. ....................... 71

Figura 29 - Planta de Sapatas. .................................................................................. 74

Figura 30 - Distribuição das tensões. ........................................................................ 76

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Terminologia do Sistema Unificado. ....................................................... 22

Quadro 2 – Cargas nas fundações. ........................................................................... 72

Quadro 3 – Módulo de deformação. .......................................................................... 77

Quadro 4 – Coeficiente α. ......................................................................................... 77

Quadro 5 – Coeficiente K. ......................................................................................... 78

Quadro 6 – Recalques por camada. .......................................................................... 79

LISTA DE TABELAS

Tabela 1– Compacidade das areias, em função do SPT. ......................................... 34

Tabela 2 – Consistência das argilas, em função do SPT. ......................................... 34

Tabela 3 – Valores típicos de ângulo de atrito interno de areias. .............................. 43

Tabela 4 – Espaçamentos para estacas de compactação. ....................................... 63

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 15

1.1. OBJETIVOS ........................................................................................... 16

1.1.1.Objetivo Geral ...................................................................................... 16

1.1.2.Objetivos Especificos ......................................................................... 16

1.2. JUSTIFICATIVA .................................................................................... 16

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................. 17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................. 18

2.1. OS SOLOS .......................................................................................... 168

2.1.1.Índices físicos entre as fases do solo ............................................. 169

2.1.2.Identificação tátil-visual dos solos .................................................... 20

2.1.3.Classificação dos solos .................................................................... 216

2.1.4.Sistema de classificação unificada .................................................... 22

2.1.4.1.Solos Granulares ................................................................................ 23

2.1.4.1.Solos de granulação fina .................................................................... 26

2.1.5.Sistema Rodoviário de Classificação ................................................ 29

2.1.6.Classificação dos solos através de sua origem ............................... 30

2.2. SONDAGEM DE SIMPLES RECONHECIMENTO, COM SPT............ ....30

2.2.1. A perfuração ........................................................................................ 31

2.2.2. A amostragem ..................................................................................... 31

2.2.3.Resistência à penetração - SPT .......................................................... 34

2.3. AREIAS ................................................................................................. 36

2.3.1. O comportamento das areias ............................................................ 36

2.3.2. Areias fofas ......................................................................................... 37

2.3.3. Compactação in situ de areias fofas ................................................. 39

2.3.4. Areias compactas ............................................................................... 40

2.3.5. Índice de vazios críticos das areias .................................................. 41

2.3.6. Fatores que influem na resistência das areias ................................ 42

2.4. PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES ................................................. 43

2.4.1. Fundações superficiais, rasas ou diretas ........................................ 43

2.4.1.1.Dimensionamento de fundações diretas ............................................. 45

2.4.1.2.Sapatas isoladas ................................................................................ 45

2.4.1.3.Sapatas Associadas ........................................................................... 47

2.4.1.4.Sapatas sujeitas à carga vertical e momento ..................................... 48

2.4.2. Métodos para a estimativa de tensões admissíveis ........................ 49

2.4.2.1.Métodos Empíricos ............................................................................. 49

2.4.2.2.Métodos Semiempíricos ..................................................................... 49

2.4.2.2.1.Determinação da tensão admissível para sapatas por correlações . 50

2.4.2.3. Prova de carga sobre placa ............................................................... 51

2.4.3. Fundações profundas ........................................................................ 51

2.4.3.1. Capacidade de carga de estacas ...................................................... 52

2.4.3.2. Capacidade de carga de estacas – formulação teórica ..................... 53

2.4.3.3. Capacidade de ponta em areias ........................................................ 55

2.4.3.4. Capacidade por atrito lateral em areias ............................................. 56

2.4.3.5. Capacidade de carga de estacas – processos expeditos .................. 57

2.4.3.5.1.O método de Aoki-Velloso ............................................................... 57

2.4.3.5.2.O método de Décourt-Quaresma ..................................................... 58

2.5. ESTACAS DE COMPACTAÇÃO ........................................................... 59

2.5.1.Tipos de estacas de compactação ..................................................... 60

2.5.1.1.Estacas de brita e Areia ...................................................................... 60

2.5.1.2.Estacas de Cimento e Areia .............................................................. 60

2.5.1.3.Estacas de Cimento, Areia e Brita ...................................................... 61

3 PROJETO E EXECUÇÃO DE ESTACAS DE COMPACTAÇÃO .......... 62

3.1. CONDICIONANTES PARA ESTACAS DE COMPACTAÇÃO...... ........ 62

3.2. A ELABORAÇÃO DO PROJETO...... ................................................... 62

3.3. DISTRIBUIÇÃO DE ESTACAS DE COMPACTAÇÃO...... ..................... 64

3.4. ARRANJO DA DISTRIBUIÇÃO...... ....................................................... 64

3.5. ANÁLISE DE RECALQUES...... ............................................................. 65

3.6. EXECUÇÃO DE ESTACAS DE COMPACTAÇÃO...... .......................... 66

4 EXEMPLO DETALHADO...... ................................................................ 70

4.1. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE EXEMPLO...... ........................ 70

4.2. ELABORAÇÃO DO PROJETO...... ....................................................... 72

4.2.1. Dimensionamento de sapata à cargas permanentes ...................... 73

4.2.2. Dimensionamento de sapata à cargas perm. mais eventuais ........ 73

4.2.3. Distribuição das estacas .................................................................... 75

4.2.4. Análise de recalques .......................................................................... 75

5 CONCLUSÃO...... .................................................................................. 80

REFERÊNCIAS...... ........................................................................................ 81

15

1 INTRODUÇÃO

Terrenos com presença de solos arenosos, na construção civil, durante

muitos anos foram sinônimo do uso de fundações profundas. Estas traziam aos

responsáveis pela obra a segurança necessária, pois venciam as camadas de solos

menos resistentes, podendo ser assentes no chamado “impenetrável” dos ensaios

de sondagem. “Assim, o engenheiro responsável, poderia erguer sua obra com a

confiança de que não aconteceriam recalques diferenciais ”. (SOARES, 2003, p.11 ).

Sem dúvida, a utilização de fundações profundas, como a Hélice Contínua,

por exemplo, é uma alternativa altamente eficaz e largamente utilizada, quando o

solo encontrado é o arenoso. Porém, tais fundações demandam um considerável

custo, principalmente em edificações de maior porte. Os custos com serviços de

execução por empresas terceirizadas à obra, além do alto volume de concreto

utilizado tornam, muitas vezes, a fundação uma dispendiosa fase da obra.

Observou-se, no nordeste brasileiro, a utilização de uma técnica de

melhoramento de solos arenosos, bastante eficaz e capaz de aumentar

significativamente a resistência das primeiras camadas do solo em questão. Tal

aumento de resistência, possibilita a utilização de fundações diretas (sapatas), na

construção de prédios de até 30 (trinta) pavimentos. O processo de melhoramento

de solos se dá através da execução de pequenas estacas de compactação,

geralmente de areia e brita, que são executadas na maioria das vezes com um

equipamento de estacas Strauss .

Do sucesso obtido na utilização da técnica, surgiu o interesse de realizar um

estudo sobre a aplicabilidade do processo, afim de tornar mais claro o efeito

consequente do uso das estacas de compactação. Tal análise, é o tema deste

trabalho.

16

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Realizar revisão acerca da bibliografia existente, sobre estacas de

compactação, objetivando um melhor entendimento desse método de melhoramento

de solos arenosos, com foco em fundações.

1.1.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos que qualificam o objetivo geral do trabalho são: - Realizar revisão bibliográfica sobre fundações e solos, do ponto de vista da

Engenharia Civil, afim de introduzir o tema do trabalho;

- Realizar um detalhamento do processo de melhoramento de solos através

de estacas de compactação.

- Apresentar um projeto exemplo, com um terreno apto a receber o processo

de melhoramento de solo, através de estacas de compactação, afim de tornar o

estudo realizado, uma análise prática e objetiva;

- Concluir acerca da viabilidade técnico-econômica, da execução do processo.

1.2 JUSTIFICATIVA

Assim como a segurança e a eficácia, a economia é um dos princípios que

norteiam as obras de engenharia. Pensando neste aspecto, torna-se extremamente

interessante reduzir custos e tempo. O equilíbrio destes dois pontos citados, traz

benefícios não só ao usuário final, ao adquirir um imóvel por exemplo, mas também

ao executor, que por sua vez pode repassar ao preço da obra, a economia justa e

calculada, por ele feita. É bastante válido ressaltar também, que a economia de

materiais como o concreto, por exemplo, traz enormes benefícios também ao meio

ambiente. Em tempos de consciência ambiental, cada pequena parte realizada em

prol do planeta, torna-se aos poucos um grande feito. Com base neste raciocínio e,

pensando também na otimização dos cronogramas de obras de engenharia, torna-

se necessária a idealização de soluções criativas, para viabilizar técnica e

economicamente, cada vez mais as diversas fases de uma obra.

As estacas de compactação vêm contribuindo com sucesso neste âmbito, na

região Nordeste do Brasil. Ao melhorar a capacidade de suporte de um solo

17

arenoso, abre-se mais uma opção de fundação aos engenheiros responsáveis.

Tendo a possibilidade de executar fundações diretas, ao invés de somente

fundações profundas, o responsável tem como decidir, aliado ao orçamento

disponível, que tipo de fundação usar, reduzindo por vezes o custo e o tempo

desprendidos na execução da obra.

Do sucesso alcançado em outras regiões, surge o anseio de realizar estudos

sobre a técnica, a fim de tornar o método mais popular e difundir também no sul

brasileiro, impactando de forma positiva a engenharia de fundações no Rio Grande

do Sul.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho de conclusão de curso é dividido em cinco capítulos, seu

desenvolvimento se dá a partir do Capitulo 1, apresentando uma introdução ao tema

do trabalho, os objetivos e a justificativa. No Capítulo 2 é apresentada uma revisão

bibliográfica dos assuntos abordados. No Capítulo 3 é evidenciada a realização,

passo-a-passo, do projeto de melhoramento de solos, através do processo de vibro-

deslocamento .No Capítulo 4 é detalhadamente evidenciado o processo executivo

das estacas de compactação, através de exemplo prático. O Capítulo 5 compreende

as conclusões deste trabalho.

18

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 OS SOLOS

Os solos são materiais de constante estudo para os engenheiros civis, visto

que são neles que se dão as primeiras fases de execução de uma obra.

“Praticamente todas as obras de Engenharia Civil assentam-se sobre o terreno e

inevitavelmente requerem que o comportamento do solo seja devidamente

considerado” (PINTO, 2006, p.13). A importância é tamanha, que os solos, são alvos

de análise minuciosa através de ensaios e sondagens, dentro de qualquer tipo de

obra, da mais simples como uma pequena residência, até obras de imponência

como um grande viaduto, por exemplo.

A palavra solo, de origem latina “solum”, pode ser encontrada nos dicionários

de língua portuguesa, como uma porção da superfície terrestre, chão. Mas sua

definição pode ser a mais variada, dependendo do ponto de vista do profissional,

que com ele trabalha. Neste caso, uma definição bastante apropriada pode ser a

sugerida por Alonso (1993, p.56), que ressalta que “Os solos são um aglomerado de

partículas provenientes de decomposição da rocha, que podem ser escavados com

facilidade, sem o emprego de explosivos [...].” Justamente, no âmbito deste estudo,

interessa a característica capacidade de suporte que os mais variados tipos de solo

apresentam, tendo em vista que para cada obra de Engenharia Civil, existe uma

necessidade diferente, relacionada aos carregamentos exercidos nas fundações,

assentes no solo.

Segundo Badillo e Rodriguez (2005, p. 47), “Os solos constituem um conjunto

com organização definida e propriedades que variam vetorialmente, sendo que tais

propriedades, geralmente, mudam muito mais na direção vertical do que na

horizontal e, que sendo assim, os solos possuem um perfil [...].” O conhecimento de

tal perfil, é de extrema importância aos engenheiros, tanto ao projetista de

fundações, quanto ao executor da obra, pois estas características influenciam de

forma direta na escolha do tipo da fundação a ser utilizada e, também, na forma de

execução da fundação eleita.

“ Num solo, só parte do volume total é ocupado pelas partículas sólidas, que

se acomodam formando uma estrutura. O volume restante costuma ser chamado de

vazios, embora esteja ocupado por água ou ar.” (PINTO, 2000, p.17). É importante,

19

portanto, reconhecer que no solo podem ser distintas três fases: partículas sólidas,

água e ar.

2.1.1 Índices físicos entre as fases do solo

Para que seja possível trabalhar com solos em engenharia civil, é necessário

primeiramente, conhecer seus possíveis estados, sua mecânica e seus importantes

índices, para que possa ser possível haver entendimento de parâmetros como sua

resistência à compressão, por exemplo. Tais índices são fundamentais à

identificação do estado em que o solo encontra-se, pois correlacionam os pesos e os

volumes das três fases ( Ar, Líquidos e Sólidos).

Os índices físicos mais utilizados, segundo Pinto (2000, p.18), são os

relacionados abaixo:

Umidade – Relação entre o peso da água e o peso dos sólidos. É

expresso pela letra w ou h. Para sua determinação, pesa-se o solo no seu

estado natural, seca-se em estufa a 105ºC até constância de peso e pesa-

se novamente. Tendo-se o peso das duas fases, a umidade é calculada.

Índice de vazios – Relação entre o volume de vazios e o volume das

partículas sólidas. É expresso pela letra “e”. Não pode ser determinado

diretamente, mas é calculado a partir dos outros índices.

Porosidade – Relação entre o volume de vazios e o volume total. Indica a

mesma coisa que o índice de vazios. É expresso pela letra “n”.

Grau de saturação – Relação entre o volume de água e o volume de

vazios. Expresso pela letra “S”. Não é determinado diretamente, mas sim

calculado. Varia de zero (solos secos) a 100% (solos saturados).

Peso específico dos sólidos – É uma característica dos sólidos. Relação

entre o peso das partículas sólidas e seu volume. É expresso pelo símbolo

ϒs e é determinado em laboratório.

20

Peso específico da água – Embora varie um pouco com a temperatura,

adota-se sempre como igual a 10 kN/m³, a não ser em certos

procedimentos de laboratório. É expresso pelo símbolo ϒw.

Peso específico natural – Relação entre o peso total do solo e seu volume

total. É expresso pelo símbolo ϒn.

Peso específico aparente seco – Relação entre o peso dos sólidos e o

volume total. Corresponde ao peso específico que o solo teria se viesse a

ficar seco. Expresso pelo símbolo ϒd.

Peso específico aparente saturado – Peso específico do solo se viesse a

ficar saturado e se isto ocorresse sem variação de volume. Expresso pelo

símbolo ϒsat.

Peso específico submerso – É o peso específico do solo quando

submerso. Serve para o cálculo de tensões efetivas. É expresso pelo

símbolo ϒsub.

2.1.2 Identificação tátil-visual dos solos

Frequentemente, por razão de o projeto não justificar economicamente a

realização de ensaios em laboratório, é necessário descrever um solo sem dispor de

resultados laboratoriais. O tipo do solo, e também o seu estado acabam por ser

estimados. Tal estimativa é feita através de uma análise tátil-visual de uma amostra

do solo, que consiste em manuseá-la e sentir sua reação a tal. A experiência

profissional acaba por desenvolver tal habilidade, na identificação do material.

Tal qual nos sistemas de classificação, deve-se primeiramente considerar a

quantidade de materiais grossos como areia e pedregulho. Os grãos de pedregulho

são bem distintos, mas areias por mais que visíveis a olho nu, podem estar

encobertas por material fino. Para sentir nos dedos os grãos de areia, é necessário

umedecer o solo, para que os torrões de material fino se desmanchem.

Estando seca a amostra de solo, a proporção de finos e grossos pode ser

estimada esfregando-se uma pequena porção do solo sobre uma folha de papel. Ao

fazer isso, as partículas finas como siltes e argilas, ficam impregnadas no papel

21

isolando as partículas arenosas. Desta forma pode-se definir “in loco” se o solo é

uma areia ou um solo fino.

A NBR 7250 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,1982),

orienta a identificação e descrição de amostras obtidas em sondagens de simples

reconhecimento de solos. Para a fração grossa, pedregulhos e areias, informações

quanto à composição granulométrica, forma das partículas, existência ou não de

finos são sempre necessárias. Estas partículas são ásperas ao tato, visíveis ao olho

nu e se separam quando secas. Para os solos finos, siltes e argilas, são importantes

informações sobre plasticidade, resistência à compressão do solo quando seco,

comportamento do solo quando imerso em água e também sua cor.

2.1.3 Classificação dos solos

Pinto (2006, p.15), diz que “Os solos são constituídos de partículas com água

(ou outro liquido) e ar nos espaços intermediários, sendo que as partículas de

maneira geral, encontram-se livres para deslocar-se entre si”.

De acordo com Ortigão (2007, p.12):

“Os solos são provenientes da deterioração da rocha através de um

processo denominado intemperismo, ou seja, a ação do tempo. As várias

formas de intemperismo podem ser classificadas em dois grandes grupos:

intemperismo químico e intemperismo físico ou mecânico. O primeiro está

relacionado com os vários processos químicos que alteram, solubilizam e

depositam os minerais de rocha, transformando-a em solo. Esse tipo é mais

frequente nos climas quentes e úmidos e, portanto, muito comum no Brasil.

O segundo é proveniente da ação mecânica desagregadora de transporte

da água, do vento e da variação de temperatura. Muitas vezes ocorre a

ação conjunta de vários agentes do intemperismo.”

Porém, além das várias definições acerca de classificação dos solos,

encontradas nas mais diversas bibliografias, é importante salientar que a

classificação está diretamente ligada à necessidade profissional exercida. Existem

muitas formas de classificar os solos, como pela sua origem, pela sua evolução, pela

presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura e ainda pelo preenchimento de

vazios.

As diversas diferenças entre os solos e seus comportamentos, perante os

interesses da engenharia, levaram a que eles fosses agrupados em conjuntos ou

22

sistemas, onde é possível observar sua identificação através de características

próprias.

Segundo Pinto (2000, p.35), “O objetivo da classificação dos solos, sob o

ponto de vista da engenharia, é o de poder estimar o provável comportamento do

solo[...].” Ainda sob a luz da engenharia, existem sistemas baseados nas

características dos grãos que constituem os solos, definindo grupos que apresentam

comportamentos semelhantes. Estes são, provavelmente, os mais utilizados na

engenharia civil.

2.1.4 Sistema de Classificação Unificada

O sistema de Classificação Unificada foi elaborado, originalmente, para ser

utilizado em obras de aeroportos, porém teve seu emprego generalizado. Foi

proposto por Arthur Casagrande, na década de 40. Neste sistema todos os solos

são identificados pelo conjunto de duas letras, conforme quadro 1, a seguir:

Quadro 1 – Terminologia do Sistema Unificado.

G pedregulho

S areia

M silte

C argila

O solo orgânico

W bem graduado

P mal graduado

H alta compressibilidade

L baixa compressibilidade

Pt turfas

Fonte: (Pinto, “Curso Básico de Mecânica dos Solos”), 2000.

As cinco letras superiores indicam o tipo principal de solo e as quatro

seguintes, correspondem a dados complementares. Por exemplo, SW corresponde à

areia bem graduada e CH à argila de alta compressibilidade. O primeiro aspecto a

23

levar-se em conta neste sistema é a porcentagem de finos presente no solo, sendo

que são considerados finos os materiais passantes na peneira nº 200 (0,075mm).

Caso a porcentagem passante for inferior a 50, o solo será considerado de

granulação grosseira, G ou S. Se for superior a 50%, o solo será considerado de

granulação fina, M, C, ou O.

2.1.4.1 Solos Granulares

Se o solo for de granulação grosseira, este será classificado como um

pedregulho ou uma areia, dependendo de qual destas frações predominar.

Após a fase de identificação primária, é necessário conhecer sua

característica secundária. No caso de o material possuir menos de 5% de finos

passando na peneira de nº 200, deve-se verificar sua composição granulométrica.

De acordo com Pinto (2000, p. 37) “ Os solos granulares podem ser bem

graduados ou mal graduados”. Sendo mal graduados, é possível observar uma

predominância de partículas com um certo diâmetro, enquanto que nos bem

graduados existem grãos com uma faixa de diâmetros mais extensa. É possível

observar tal diferença na figuras 1 e 2.

Um exemplo válido e bastante usual, da utilização das expressões bem

graduado e mal graduado, se dá no meio rodoviário. O melhor material de subleito,

por exemplo, é um solo bem graduado constituído principalmente de pedregulho e

areia mas contendo pequena quantidade de finos para servir de liga. Solos mal

graduados, como areias finas, são difíceis de serem compactados para alcançar

altas densidades e são menos desejáveis para suportar pavimentos e, portanto,

menos utilizados.

24

Figura 1 – Curva granulométrica de uma areia bem graduada.

Fonte: (Almeida - “Caracterização física e classificação dos solos”), 2005.

Figura 2 – Curva granulométrica de uma areia uniforme ou mal graduada.

Fonte: (Almeida - “Caracterização física e classificação dos solos”), 2005.

Badillo e Rodriguez (2005, p. 101) destacam “[...] A forma das curvas dá uma

ideia imediata da distribuição granulométrica do solo, pois um solo constituído de

25

partículas de um mesmo tamanho, estará representado por uma linha quase

vertical”.

Ao ser usada a expressão “bem graduado”, tem-se o objetivo de expressar a

ideia da existência de grãos com vários diâmetros e, isto, confere ao solo, em geral,

melhor comportamento sob o ponto de vista da engenharia, pois as partículas

menores ocupam os vazios correspondentes às maiores, criando uma espécie de

entrosamento, conferindo menor compressibilidade e maior resistência, de uma

forma geral.

Pinto (2000, p. 38) ressalta a importância das caraterísticas dos solos

granulares, sugerindo o cálculo do “coeficiente de não uniformidade”, definido pela

relação:

(1)

Onde “D sessenta” é o diâmetro abaixo do qual se situam 60% em peso das

partículas e, analogamente, “D dez” é o diâmetro que, na curva granulométrica,

corresponde à porcentagem que passa igual à 10%.

Assim sendo, quanto maior for o coeficiente de não uniformidade, mais bem

graduada é a areia. Areias com CNU menores que 2, são chamadas de areias

uniformes.

Há também, um outro coeficiente utilizado, ainda que não tanto quanto o

CNU, chamado “coeficiente de curvatura”, definido por:

CC

(2)

O coeficiente de curvatura mostra melhor o formato da curva granulométrica e

permite a identificação de descontinuidades ou concentração de grãos mais grossos

no conjunto. Um coeficiente de curvatura entre 1 e 3 significa um material bem

graduado.

Em relação às areias é possível, distingui-las também através do formato de

seus grãos. Ainda que as dimensões dos grãos não sejam muito diferentes, a

rugosidade superficial muda bastante.

O formato dos grãos de areia tem extrema importância no comportamento

mecânico apresentado por elas, pois está diretamente ligado ao entrosamento e a

26

como as partículas deslizam entre si, quando solicitadas por forças externas. A

figura 3, abaixo, demonstra exemplos de formatos de areia.

Figura 3 – Exemplos de formato de grãos de areia.

Fonte: (Pinto, “Curso básico de mecânica dos solos”), 2000.

2.1.4.2 Solos de granulação fina

Caputo (1988, p. 184) destaca, “No sistema unificado, no grupo dos solos

finos, encontram-se os solos siltosos e argilosos, de baixa compressibilidade (

LL<50) ou de alta compressibilidade ( LL>50).”

Quando a fração fina do solo é predominante , ele então será classificado

como Silte (M), argila (C) ou solo orgânico (O).

Segundo Pinto (2000, p. 40), para a classificação destes solos, basta a

localização do ponto correspondente ao par de valores do Índice de Plasticidade (IP)

e Limite de Liquidez (LL), na carta de plasticidade, sugerida por Casagrande e, que

pode ser vista na figura 4 a seguir:

27

Figura 4 – Gráfico de plasticidade de Casagrande.

Fonte: (Almeida - “Caracterização física e classificação dos solos”), 2005.

Como característica complementar, é indicada a compressibilidade do solo

fino em estudo. O sistema considera ainda a classificação de turfa (Pt), que são os

solos muito orgânicos, onde é preponderante a presença de material vegetal em

decomposição parcial. A figura 5, apresenta o esquema para classificação do

sistema unificado.

28

Figura 5 – Esquema para classificação do sistema unificado.

Fonte: (Milton Vargas, “Introdução à mecânica dos solos”), 1977

29

2.1.5 Sistema Rodoviário de Classificação

Muito empregado em engenharia rodoviária, no mundo todo, o Sistema

Rodoviário de Classificação, teve origem nos Estados Unidos. Assim como no

sistema unificado, a classifica tem início através da constatação da porcentagem de

material passante na peneira nº 200. Porém, são classificados como solos de

granulação grosseira os que tem menos de 35% passando nesta peneira e não 50%

como no sistema visto no item anterior.

Pinto (2006, p. 41), destaca que os solos grossos pertencem aos grupos A-1,

A-2 e A-3. Já os solos com mais de 35% passando na peneira nº 200 formam os

grupos A-4, A-5, A-6 e A-7. A figura 6, apresenta o esquema de classificação.

Figura 6 – Esquema para classificação pelo Sistema Rodoviário.

Fonte: (Milton Vargas, “Introdução à mecânica dos solos”), 1977

30

2.1.6 Classificação dos solos através de sua origem

Os solos podem, também, ser classificados em dois grandes grupos, de

acordo com sua origem: solos residuais e solos transportados (sedimentares).

“ Solos residuais são aqueles de decomposição de rochas que se encontram

no próprio local em que se formaram.” (PINTO, 2006, p.44).

Os solos residuais podem ser identificados nas seguintes camadas, segundo

Vargas (1981):

Solo residual maduro: superficial a um horizonte poroso, e que perdeu

toda a estrutura original da rocha-mãe e tornou-se relativamente

homogêneo.

Solo saprolítico: solo que mantém a estrutura original da rocha-mater,

inclusive veios intrusivos, fissuras e xistosidades, mas perdeu a

consistência da rocha. É também chamado solo residual jovem.

Rocha alterada: horizonte no qual a alteração progrediu ao longo de

fraturas ou zonas de menor resistência, deixando intactos grandes blocos

da rocha original.

Já os solos transportados ou sedimentares, de acordo com Caputo (1988,

p.15) “São os que sofrem a ação de agentes transportadores, podendo ser

aluvionares (quando transportados pela água), eólicos (pelo vento), coluvionares

(pela gravidade) ou glaciais (pelas geleiras).”

2.2 SONDAGEM DE SIMPLES RECONHECIMENTO, (SPT).

A forma mais comum de reconhecimento do subsolo, é a sondagem de

simples reconhecimento, com SPT (Standard Penetration Test), regida pela Norma

Brasileira, NBR 6484:2001.

Segundo a NBR 6484 (2001, p.01), as finalidades das sondagens de simples

reconhecimento de solos, em Engenharia Civil são:

A determinação dos tipos de solo em suas respectivas profundidades de

ocorrência;

A posição do nível d’água; e

Os índices de resistência à penetração (N) a cada metro.

31

A sondagem consiste basicamente em duas operações: perfuração e

amostragem.

2.2.1 A perfuração

Com uma cavadeira de diâmetro igual a 10cm, inicia-se a perfuração. O furo

vai sendo aprofundado com a repetição desta operação e o material recolhido, deve

ser classificado quanto à sua composição. Atingida uma certa profundidade, é

introduzido um tubo de revestimento, com duas e meia polegadas de diâmetro, que

é cravado com o martelo, também utilizado na amostragem. Pelo interior do tubo, a

penetração progride com trado espiral.

Pinto (2006, p.27) sugere que a perfuração com trado seja mantida até ser

atingido o nível d’água. Quando isto ocorre, deve-se registrar a cota do nível d’água

e o procedimento pode prosseguir com a técnica de circulação de água, ou

“percussão e lavagem”. Uma bomba d’água motorizada injeta água na extremidade

inferior do furo, através de uma haste de menor diâmetro. A haste interna é

levantada e deixada cair várias vezes, a cerca de 30 cm. Juntamente com sua queda

é acompanhado um movimento de rotação manual, executado pelo operador, afim

de destorroar o solo no fundo da perfuração.

A cada metro, ou toda vez que se notar alteração do solo pelos detritos

carreados pela água de circulação, é retirada uma amostra. A perfuração por

lavagem só pode ser executada abaixo do nível d’água, caso contrário estaria

alterando a umidade do solo e por consequência, a amostra recolhida.

2.2.2 A amostragem

De acordo com a NBR 6484 (2001), a amostragem deve seguir os passos

relatados abaixo:

A cada metro de perfuração, a partir de 1 metro de profundidade, devem

ser colhidas amostras dos solos por meio do amostrador-padrão (figura 7),

com execução de SPT;

O amostrador-padrão, conectado à composição de cravação, deve descer

livremente no furo até ser apoiado suavemente no fundo;

Após o posicionamento do amostrador-padrão conectado à composição de

cravação, coloca-se a cabeça de bater e, utilizando o tubo de revestimento

32

como referência, marca-se na haste com giz, um segmento de 45 cm

divididos em três trechos iguais de 15 cm.

Logo após, o martelo deve ser apoiado sobre a cabeça de bater, anotando

caso haja penetração do amostrador no solo;

Não tendo ocorrido penetração igual ou maior a 45 cm, prossegue-se a

cravação até completar os 45 cm de penetração por meio de impactos

sucessivos do martelo padronizado, caindo livremente de uma altura de 75

cm, sendo anotado de forma separada, o número de golpes necessários à

cravação de cada segmento de 15 cm do amostrador-padrão.

Na prática, é registrado o número de golpes empregados para uma

penetração imediatamente superior a 15 cm, sendo feito o registro do comprimento

penetrado (Ex.: 3/17). A seguir, é contado o número de golpes adicionais para a

cravação atingir 45 cm, ou com o último golpe, ultrapassar este valor.

Figura 7 – Amostrador-padrão tipo Raymond-Therzaghi.

Fonte: (Pinto, “Curso básico de mecânica dos solos”), 2006.

O alteamento do martelo é feito manualmente ou por equipamento mecânico,

através de uma corda flexível ou cabo de aço, que passa por uma roldana existente

na parte superior de um tripé. Tais peças do equipamento podem ser observados a

seguir, nas figuras 8 e 9.

33

Figura 8 – Esquema de perfuração por percussão e amostragem.

Fonte: (Pinto, “Curso básico de mecânica dos solos”), 2006.

.

Fonte: (Arquivo próprio do autor).

Figura 9 – Equipamento de sondagem, com SPT, montado.

34

2.2.3 Resistência à penetração – SPT

Durante o processo de amostragem, é feita a anotação do número de golpes

do martelo, para a cravação de cada trecho de 15 cm do amostrador. Os dados dos

primeiros 15 cm são desprezados e define-se como resistência à penetração, o

número de golpes necessários para cravar os últimos 30 cm do amostrador.

“A resistência à penetração é também referida como o número N do SPT, ou

simplesmente, como SPT do solo[...]”. (PINTO, 2006, p.29)

Em função da resistência à penetração, o estado do solo é classificado pela

compacidade, quando areia ou silte arenoso, ou pela sua consistência, quando

argila ou silte argiloso. Tal classificação é fornecida pela Norma Brasileira NBR

7250, com proposta original de Karl Terzaghi, e são apresentadas nas tabelas 2 e 3

a seguir.

Tabela 1– Compacidade das areias, em função do SPT.

Fonte: (NBR 7250, 1982, p.3)

Tabela 2 – Consistência das argilas, em função do SPT.

Fonte: (NBR 7250, 1982, p.3)

35

Os resultados são apresentados em perfis do subsolo (figura 10), com as

descrições de cada camada, cotas correspondentes, posição do nível d’água, além

dos valores de resistência à penetração do amostrador.

Fonte: (Pinto, 2006, p.31)

Figura 10 – Exemplo de perfil típico de uma sondagem de simples reconhecimento.

36

2.3 AREIAS

2.3.1 O comportamento das areias

De acordo com Pinto (2006, p.181):

“Na engenharia geotécnica, principalmente de fundações, a expressão

areia, é empregada para designar solos em que a fração areia é superior a

50%. Mas areias com 20, 30 ou 40% de finos têm um comportamento muito

influenciado pela fração argila e o seu modelo de comportamento é mais

semelhante ao das argilas[...]”.

Tendo como característica principal a sua permeabilidade, nos carregamentos

a que as areias ficam submetidas em obras de engenharia, geralmente o tempo de

desenvolvimento da obra é suficiente para que as pressões neutras devidas ao

carregamento sejam dissipadas. Assim sendo, a resistência das areias é geralmente

definida em termos de tensões efetivas.

“ Outra característica marcante dos solos granulares é que a compacidade em

que eles se encontram na natureza é devida essencialmente ao processo de sua

formação.” (HACHICH, ET AL., 1996, p. 85). Os carregamentos causados pelo peso

das camadas sobrepostas, não provoca redução significante de volume, pois cargas

estáticas não vencem o atrito entre as partículas e por consequência, a redução de

vazios é irrisória.

Tal comportamento típico foi demonstrado por Lee e Seed (1967), através do

resultado de ensaio de compressão isotrópica de uma areia, com diferentes índices

de vazios iniciais (figura 11).

A resistência ao cisalhamento das areias pode, geralmente, ser determinada

tanto em ensaios de cisalhamento direto, como em ensaios de compressão triaxial.

Segundo Ortigão (2007, p. 233), pelo fato de as areias terem comportamento

com características de drenagem livre, utilizam-se ensaios drenados para

representar seu comportamento em laboratório, exceto no caso de carregamento

transientes ou cíclicos, como o de terremotos, onde pode haver acréscimo de

poropressão e liquefação de areias finas e fofas.

37

Fonte: (Hachich, 1996 apud Lee e Seed 1967, p.85)

2.3.2 Areias fofas

Em se tratando de areias fofas, quando realizado carregamento axial, o corpo

de prova apresenta tensão desviadora que cresce lentamente com a deformação,

atingindo um valor máximo só para deformações altas.

Pinto (2006, p. 182) afirma:

“Em ensaios de compressão triaxial em areias, ao se traçar os círculos de

Mohr correspondentes às máximas tensões desviatórias (que correspondem

à ruptura), obtém-se círculos cuja envoltória é uma reta passando pela

origem, pois as tensões de ruptura foram admitidas proporcionais às

tensões confinantes. A resistência da areia fica definida pelo ângulo de

atrito interno efetivo. A areia é, então definida como um material não

coesivo, como aliás constata-se pela impossibilidade de se moldar um corpo

de prova de areia seca ou saturada.”,

Figura 11– Variação de índice de vazios em compressão isotrópica de areia do rio

Sacramento.

38

Tal afirmação pode ser constatada, ao observar-se os ensaios apresentados

na figura 12, a seguir:

Fonte: (Pinto, 2006, p.182)

É correto afirmar, então, que a areia possui coesão aparente, pelo fato de se

estiver seca ou saturada, não suportar seu próprio peso e desmoronar. Para que

haja uma eventual moldagem de corpo de prova, ou por exemplo, seja

confeccionada uma escultura em areia, faz-se necessário que ela esteja úmida.

Figura 12 – Resultados típicos de ensaios de compressão triaxial em areias fofas.

39

2.3.3 Compactação in situ de areias fofas

A compactação de camadas profundas de solo natural, pode se feito

mediante processo de estacas de areia, desde que o solo seja formado por areia

caracterizada como fofa.

De acordo com Tschebotarioff (1978, p.156):

“Só podem ser compactados, desta maneira, os solos, nos quais se pode

executar, até a profundidade desejada, um furo circular, mediante o impacto

de uma peça de aço. Isto produz um efeito generalizado de compactação,

uma vez que grande parte do solo é deslocado lateralmente. O furo a seguir

é preenchido em camadas sob apiloamento contínuo.”

A compactação só afeta profundamente os solos sem coesão e para tal,

existem processos como o de vibroflotação de Steverman.

A vibroflotação de Steverman é um processo onde é empregado um

equipamento semelhante a um vibrador de concreto. Consiste de um cilindro, dentro

do qual um motor elétrico de 1800 rpm impulsiona um cilindro anterior menor,

montado ligeiramente excêntrico em relação ao primeio. Tal excentricidade produz

as vibrações. No cilindro externo há mangueiras que permitem a ação de jatos

d’água nas suas extremidades. O equipamento completo é baixado no terreno por

meio de um guindaste. A medida que o mesmo afunda no terreno, os jatos de água

afofam a areia em torno do cilindro e as vibrações fazem com que ele continue

penetrando. A compactação obtida por meio deste processo, é evidenciada pela

formação de uma depressão na superfície do terreno. Para encher essa depressão,

adiciona-se areia. O procedimento é repetido à medida que o vibroflotador é

removido para a superfície.

O processo de vibroflotação, é citado por Tschebotarioff (1978), como

bastante eficiente na compactação de camadas mais profundas de areias limpas e

que, no caso de areias argilosas o emprego do processo de compactação por

estacas de areia é o mais conveniente.

A técnica de estacas de areia (vibrodeslocamento) é tema do capítulo 3 deste

trabalho.

40

2.3.4 Areias compactas

No caso das areias compactas, a tensão desviadora cresce muito mais

rapidamente com as deformações, até atingir um valor máximo, sendo este valor

considerado como a resistência máxima ou resistência de pico.

A resistência de pico das areias é justificada pelo entrosamento das suas

partículas (figura 13).

Fonte: (Pinto, 2000, p.184)

Pinto (2000, p.184), salienta que nas areias fofas, o processo de cisalhamento

provoca uma reacomodação das partículas, que se dá com uma redução do volume.

Porém, nas areias compactas, as tensões de cisalhamento devem ser suficientes

para vencer os obstáculos representados pelos outros grãos na sua trajetória.

Vencido este obstáculo, que exige um aumento de volume, a resistência cai

ao valor da areia no estado fofo.

Figura 13 – Posição relativa das partículas nas areias fofas e compactas.

41

2.3.5 Índice de vazios crítico das areias

Sabe-se que uma areia diminui de volume ao ser carregada axialmente

quando se encontra em estado de fofa, porém se dilata quando se encontra no

estado compacto.

Hachich et al. (1996, p.87) sugere que as areias fofas apresentam significativa

redução de volume durante o carregamento axial, ficando, portanto, com um índice

de vazios na ruptura inferior ao inicial. Mas as areias compactas, após uma

diminuição inicial de volume, apresentam um aumento considerável, de forma a

romper com um índice de vazios superior ao inicial.

Porém, “[...]existe um índice de vazios no qual o corpo de prova não

apresenta nem diminuição e nem aumento de volume por ocasião da ruptura. Este

índice de vazios é definido como índice de vazios crítico da areia.” (PINTO, 2000,

p184).

Para Hachich et al. (1996, p84) o índice de vazios crítico, pode ser definido

como o índice correspondente à uma areia em seu estado crítico, ou seja, o estado

em que o cisalhamento ocorre sem alteração de volume.

A importância da definição do índice de vazios crítico, vem do fato de que o

comportamento das areias, se saturadas e eventualmente carregadas sem

possibilidade de drenagem, é extremamente diferente, conforme a areia esteja com

índice de vazios abaixo ou acima do índice de vazios crítico.

O índice de vazios crítico de uma areia, é obtido através da interpolação dos

resultados de ensaios de compressão triaxial (figura 14).

Fonte: (Pinto, 2000, p.184)

Figura 14 – Obtenção do índice de vazios crítico a partir de ensaios triaxiais.

42

2.3.6 Fatores que influem na resistência das areias

As características que diferenciam as areias, podem influenciar na sua

resistência ao cisalhamento.

Para Caputo (1988, p.165) a resistência ao cisalhamento de uma areia está

diretamente relacionada ao seu ângulo de atrito, destacando “Dentre os fatores que

influem no valor do ângulo de atrito, destacam-se a compacidade, a forma das

partículas e a granulometria.”

Hachich et al. (1996, p.87) é mais específico ao se referir à importância da

granulometria, na determinação da resistência ao cisalhamento de uma areia,

“Quanto mais bem graduada é uma areia, melhor o entrosamento entre as partículas

e consequentemente, maior o ângulo de atrito e a resistência ao cisalhamento.”

(Ibid., p.88) ainda sugere demais fatores importantes, que influem na

resistência das areias, como:

Formato dos grãos;

Tamanho dos grãos;

Resistencia dos grãos;

Composição mineralógica;

Presença de água;

Anisotropia de resistência.

“[...]Verifica-se que os fatores de maior influência na resistência cisalhamento

das areias, são a distribuição granulométrica, o formato dos grãos e a compacidade”.

(PINTO, 2000, p.191)

De porte de tais informações, faz-se interessante o conhecimento do valor

típico de alguns ângulos de atrito. Os valores apresentados na tabela 4, a seguir,

são para tensões de 100 a 200 kPA, que é a ordem de grandeza das tensões que

ocorrem em obras comuns de engenharia.

43

Fonte: (Pinto, 2000, p.191)

2.4 PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES

É possível dividir os diversos tipos de fundações para estruturas em dois

grandes grupos: fundações rasas ou diretas e fundações profundas.

As primeiras, basicamente, tem a característica de distribuir as cargas ao

terreno, através das tensões pela base de contato com o solo. Além disso, segundo

a NBR 6122 (2010), estas devem ter profundidade de embutimento no terreno,

inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação e não maior que 3 metros. .

Já as fundações consideradas profundas, transmitem a carga ao terreno

através de sua base (resistência de ponta), lateral (fuste) ou ainda havendo uma

combinação dos dois modos. Ainda também, segundo a norma regente, NBR 6122

(2010), para uma fundação ser considerada profunda, esta deve estar assente em

profundidade superior ao dobro de sua menor dimensão e no mínimo a 3 metros.

O tipo de fundação deve ser escolhido, a partir de dados recolhidos através

de ensaios de sondagem e dos carregamentos. Tais dados, como o perfil do solo em

questão e a estimativa de resistência, são imprescindíveis à elaboração de um bom

projeto de fundações.

Segundo Velloso (1998), os elementos necessários para o desenvolvimento

de um projeto de fundações são: a topografia da área, dados geológicos-

geotécnicos, dados da estrutura a construir e dados sobre construções vizinhas. Em

zonas urbanas, geralmente, os dados extraídos dos ensaios de sondagem, aliados

às condições das obras vizinhas, são os fatores decisivos na hora da escolha do tipo

de fundação a ser utilizada.

Tabela 3 – Valores típicos de ângulo de atrito interno de areias.

44

Algumas obras possuem características que acabam impondo um certo tipo

de fundação. É o caso, por exemplo, de obras cujos terrenos apresentam subsolos

constituídos de grandes camadas de areia fofa, pouco resistentes, que exigem,

geralmente, o uso de fundações profundas do tipo estaca. A estaca, nesse caso,

vence a camada pouco resistente, sendo assente em solo mais propício a receber a

sua carga de ponta. O uso de uma fundação direta, em solos deste tipo citado, pode

apresentar problemas posteriores, como um indesejado recalque diferencial.

Em outro caso, existem obras que permitem uma certa gama de soluções,

ficando a critério do projetista a escolha, que geralmente, acaba levando em conta

critérios importantes como o menor custo e o menor prazo de execução.

Há ainda a possibilidade da utilização, de mais um de um tipo de fundação

superficial, em diferentes níveis, assim como pode acontecer também, com as

fundações profundas. A utilização, conforme a necessidade, de uma fundação mista,

como um radier estaqueado, também é permitida pela norma vigente de projeto e

execução de fundações, a NBR 6122 (2010).

Segundo Velloso & Lopes (1998), as sapatas e os blocos são elementos de

fundação mais simples e, quando é possível sua adoção, os mais econômicos. Já as

fundações profundas, se mostram mais dispendiosas, no que diz respeito à sua

execução, pois geralmente são feitas por empresas especializadas, terceirizadas à

obra, além do que consomem um considerável quantitativo de concreto.

Portanto, a escolha do tipo de fundação a ser utilizada está diretamente

ligada, ao tipo de subsolo encontrado quando das sondagens geotécnicas e também

da questão custo de cada tipo, conforme a disponibilidade de orçamento de cada

obra.

2.4.1 Fundações superficiais, rasas ou diretas

Teixeira e Godoy (1998, p.227), destacam “As fundações rasas ou diretas são

assim denominadas por se apoiarem sobre o solo a uma pequena profundidade, em

relação ao solo circundante.” Levando em conta tal definição , uma fundação direta

para um prédio com dois subsolos será considerada rasa, mesmo estando a 7m

abaixo do nível da rua.

São vários os tipos de fundações diretas, utilizadas nas obras brasileiras.

Velloso (1998), cita como principais, as fundações a seguir:

45

Bloco – elemento de fundação de concreto simples, dimensionado de maneira

que as tensões de tração possam ser resistidas somente pelo próprio

concreto.

Sapata - elemento de fundação de concreto armado, de altura menor que o

bloco.

Viga de fundação – elemento de fundação que recebe pilares alinhados,

geralmente de concreto armado podendo ter seção transversal tipo bloco, ou

ainda tipo sapata.

Grelha – elemento de fundação constituído por um conjunto de vigas que se

cruzam nos pilares.

Radier – elemento de fundação que recebe todos os pilares e cargas da da

obra.

2.4.1.1 Dimensionamento de fundações diretas

O dimensionamento geométrico das fundações diretas e o seu

posicionamento em planta é a primeira etapa do projeto de fundações, a ser feito

para uma tensão admissível estimada. É de extrema importância que as proporções

da fundação leve a um dimensionamento estrutural econômico.

Na sequência, serão abordados os principais aspectos para o

dimensionamento de sapatas isoladas, sapatas associadas e sapatas sujeitas a

cargas verticais e momento.

2.4.1.2 Sapatas Isoladas

“É um elemento de fundação superficial, de concreto armado, dimensionado

de modo que as tensões de tração nele resultantes, sejam resistidas pelo emprego

de armadura especialmente disposta para esse fim.” (NBR 6122, 2010, p.02)

Para calcular uma sapata isolada, devemos levar em conta o seguinte:

(3)

Onde:

Nk: é a força normal nominal do pilar;

σ: é a tensão admissível do solo;

46

α: é um coeficiente que leva em conta o peso próprio da sapata. Pode-se

assumir 1,05 nas sapatas flexíveis e 1,10 nas sapatas rígidas.

Teixeira e Godoy (1998, p.228) ressaltam, “ O dimensionamento econômico

será aquele que conduz a momentos aproximadamente iguais nas duas abas, em

relação à mesa da sapata.” Para tanto, os balanços “x” deverão ser

aproximadamente iguais nas duas direções, ou seja:

(4)

Em suma, o cálculo se dá por:

(5)

A figura 15, a seguir, demonstra as dimensões supracitadas.

Fonte: (Alva, 2007, p.13)

Em se tratando de edifícios, a dimensão mínima é de 80 cm. Em sapatas

corridas, é adotado o mínimo de 60 cm de largura.

No caso de pilares em “L”, a sapata deve ser centrada no centro de gravidade

do pilar, sendo que os balanços iguais serão procurados em relação à mesa

retangular do topo da sapata.

Figura 15 – Dimensões de uma sapata isolada.

47

2.4.1.3 Sapatas Associadas

Sapata associada, nada mais é, do que segundo a NBR 6122 (2010) uma

“Sapata comum a mais de um pilar.”

Uma sapata associada deve ser evitada, sempre que for possível uma

solução com sapatas isoladas. “Via de regra, duas sapatas isoladas serão mais

econômicas e mais fáceis de executar do que uma sapata associada.” (TEIXEIRA E

GODOY, 1998, p.229)

Em uma obra, conforme a concentração de cargas aumenta, diminui a

liberdade de escolha do tipo e dimensões de uma sapata. Se faz necessário

encontrar sapatas que caibam dentro da área disponível no terreno e, por vezes,

associar dois ou mais pilares em uma mesma sapata é inevitável (figura 16).

Fator determinante para o bom projeto de uma sapata associada, é o de

respeitar-se a coincidência do centro de gravidade da sapata, com o centro de

cargas dos pilares envolvidos.

Fonte: (Alva, 2007, p.07)

Figura 16 – Solução com dois pilares associados a uma mesma sapata.

48

2.4.1.4 Sapatas sujeitas à carga vertical e momento

De acordo com Teixeira e Godoy (1998, p.230):

“Em muitos casos práticos, além da carga vertical, atua também um

momento na fundação. Esse momento pode ser causado por cargas

aplicadas excentricamente ao eixo da sapata, por efeito de pórtico em

estruturas hiperestáticas, por cargas horizontais aplicadas à estrutura

(empuxo de terra em muros de arrimo, vento, frenagem, etc.)”.

No caso de uma sapata carregada com uma carga “Q”, excentricamente, as

tensões aplicadas no solo não serão uniformes, variando ao longo da base da

sapata. Se a carga “Q” estiver no centro da base da sapata, as tensões serão

obtidas considerando a superposição dos efeitos de uma carga centrada mais um

momento. A tensão máxima deverá ser inferior à tensão admissível adotada para o

solo.

Há, também, casos em que se verifica uma dupla excentricidade, com carga

ainda no centro da base da sapata. Nesse caso o momento resultante deve ser

decomposto em relação aos dois eixos da sapata e, seus efeitos somados.

O dimensionamento das bases das sapatas é dado considerando a equação:

(6)

Levando em conta uma sapata de dimensões a x b, onde “a” é paralela ao

eixo y e “b” é paralela ao eixo x, temos que:

(7)

Onde:

N - resultante de cargas verticais.

a e b – dimensões da sapata.

49

My – momento em torno de y e paralelo a x.

Mx – momento em torno de x e paralelo a y.

σ – tensão máxima aplicada e que não deverá ser superior a do

solo.

2.4.2 Métodos para a estimativa de tensões admissíveis

Para que seja determinada a tensão admissível de um solo, em fundações

por sapatas, a NBR 6122 (2010), determina a utilização e interpretação de um ou

mais dos três procedimentos a seguir:

Prova de carga em placas;

Métodos teóricos e

Métodos semiempíricos.

2.4.2.1 Métodos empíricos

Segundo Teixeira e Godoy (1998, p.235), os métodos teóricos consistem na

aplicação de uma fórmula de capacidade de carga para estimativa da tensão de

ruptura do solo de apoio, à qual se aplicaria um coeficiente de segurança, para

obtenção da tensão admissível:

(8)

Cintra et al. (2011, p.111) destaca que “ Para o fator de segurança global, o

valor atribuído é 3,0, na ausência de prova de carga.”

Portanto, é calculado o valor médio da capacidade de carga, pela fórmula de

Terzaghi, por exemplo e aplicado o fator de segurança sugerido acima.

2.4.2.2 Métodos semiempíricos

Segundo a NBR 6122 (2010):

“São métodos que relacionam resultados de ensaios (tais como o SPT,

CPT, etc.) com tensões admissíveis. Devem ser observados os domínios de

50

validade de suas aplicações, bem como as dispersões dos dados e as

limitações regionais associadas a cada um dos métodos.”

Logo, os métodos semiempíricos, seriam aqueles em que as propriedades

dos solos seriam estimadas com base em correlações, para em seguida serem

aplicadas fórmulas teóricas.

Um exemplo seria a estimativa da resistência ou compressibilidade, com base

na resistência à penetração em sondagem, N (SPT) ou na resistência de ponta do

ensaio de penetração estática de cone.

2.4.2.2.1 Determinação da tensão admissível para sapatas por correlações

Cintra et al. (2011, p.112) sugere que no meio técnico brasileiro, é conhecida

a seguinte regra para a obtenção da tensão admissível em fundações diretas por

sapatas, em função do índice de resistência à penetração do SPT:

(Mpa) com 5≤ Nspt ≤ 20 (9)

Em que o NSPT é o valor médio no bulbo de tensões e a parcela q

(sobrecarga), pode ou não ser considerada.

Mello (1975) relata o uso, na prática profissional de outra correlação, descrita

abaixo:

(√ ) (Mpa) (10)

No caso de areias, Teixeira (1996), apresenta uma correlação a partir da

equação de capacidade de carga de Terzaghi. Considerando sapatas quadradas de

lado “B”, em areia com peso específico de 18 kN/m³ e ângulo de atrito dado por:

√ (11)

Utilizando-se do fator de segurança 3, o autor obtém a seguinte expressão,

para a obtenção da tensão admissível:

(12)

51

Vargas (1951), apresenta gráfico (figura 17) referindo-se a valores de

experiência prática na cidade de São Paulo, obtidos através da correlação

supracitada.

Fonte: (Teixeira, 1996 apud Vargas, 1951)

2.4.2.3 Prova de carga sobre placa

“ A prova de carga sobre placa se constitui, na realidade, em um ensaio em

modelo reduzido de uma sapata.” (HACHICH ET AL., 1998, p.235)

A prova de carga sobre placa é um ensaio regido pela NBR 6489 (1984),

onde uma placa de aço rígida de 80 cm de diâmetro é carregada em estágios, por

um macaco hidráulico reagindo contra uma cargueira. As cargas são aplicadas até a

ruptura do solo ou até que se atinja o dobro da tensão admissível presumida para o

solo, ou ainda um recalque julgado excessivo.

Os resultados são apresentados em forma de gráfico Tensão x Recalque,

juntamente com dados relativos à montagem da prova.

2.4.3 Fundações profundas

Segundo Velloso & Lopes (1998), as fundações profundas podem ser dividas

em três principais tipos, citados a seguir:

a) Estaca – elemento de fundação, executada com auxilio de ferramentas ou

equipamento. A execução deste tipo de fundação, pode ser por cravação à

Figura 17 – Tensão admissível em função de B e de Nspt – sapatas em areias.

52

percussão, prensagem, vibração, escavação ou ainda de forma mista,

envolvendo mais de um processo. Estão entre os tipos mais utilizados, as

estacas cravadas e as escavadas.

b) Tubulão - elemento de fundação profunda, de forma cilíndrica, em que pelo

menos em sua fase final, há a descida de um operário em seu interior. Esta

aliás, é uma característica que o diferencia das estacas.

c) Caixão – elemento de fundação profunda, de forma prismática, concretado na

superfície e instalado por escavação interna.

De acordo com Hachich et al. (1998, p.265), as estacas usuais podem ser

classificadas em estacas de deslocamento e estacas escavadas:

“Estacas de deslocamento são aquelas introduzidas no terreno através de

algum processo que não promova a retirada do solo. No Brasil o exemplo

mais característico desse tipo de estaca é o das pré-moldadas de concreto

armado[...]” “[...]Estacas escavadas são aquelas executadas in situ através

da perfuração do terreno por um processo qualquer, com remoção de

material, com ou sem revestimento, com ou sem a utilização de fluido

estabilizante. Nessa categoria encontram-se as estacas tipo broca, as tipo

Strauss, as barretes, os estacões, as hélices contínuas, as estacas injetas,

etc.”

2.4.3.1 Capacidade de carga de estacas

Basicamente, a capacidade de carga de uma estaca, estando esta isolada e

submetida a um carregamento vertical, irá resistir à essa solicitação parcialmente

pela resistência ao cisalhamento gerada ao longo do seu fuste e, parcialmente,

pelas tensões geradas na sua ponta. Portanto, em termos gerais, a capacidade de

carga “Q”, pode ser calculada pela soma das parcelas geradas pelas cargas máxima

de seu atrito lateral “Qs” e de sua ponta “Qp”, tal qual na expressão abaixo:

Q = Qs + Qp (13)

Tomando-se pelas tensões limites de cisalhamento, ao longo do fuste das

estaca “qs” e na sua ponta “qp” e tendo como área lateral da estaca “As” e área

transversal da ponta “Ap”, temos que a carga da estaca pode ser calculada através

de :

53

Q = Qs + Qp = qs.As + qp.Ap (14)

Segundo Hachich apud Décourt (1998, p.265), a capacidade de carga pode

ser avaliada por processos diretos e indiretos. Nos processos diretos, os valores de

“qs” e “qp”, podem ser obtidos através de correlações empíricas e/ou semiempíricas,

com algum tipo de ensaio “in situ”. Já nos processos indiretos, a resistência ao

cisalhamento e a rigidez de um solo, são obtidas através de ensaios “in situ” e/ou de

laboratório e, a capacidade de carga é determinada através de formulação teórica ou

experimental.

2.4.3.2 Capacidade de carga de estacas – Formulação teórica

Existem inúmeras teorias para a determinação da capacidade de carga de

estacas.

De acordo com Hachich et al. (1998, p.266), a maioria das das fórmulas se

constitui da extensão de trabalhos clássicos como os de Prandtl (1921), Reissner

(1924), Caquot (1934), Buisman (1935), Terzaghi (1943) e Meyerhof (1951). Há

ainda grande contribuição do engenheiro brasileiro Ricardo Salgado (1993).

Já para estacas não interessa a análise bidimensional, visto que estacas são

estruturas tridimensionais, geralmente de seção circular ou quadrada.

Sendo designadas por Sc, Sq e S , as correções para fundações profundas,

pode-se segundo, Hachich et al. (1998), chegar à seguinte expressão de cálculo:

⁄ (15)

Para a tensão de ruptura do solo, junto à ponta da estaca, Vesic (1975),

sugere a seguinte expressão:

(16)

Os valores de “Nc” e “Nq”, já trazem incorporados os fatores de correção para

seção circular. Vesic (1975), sugere também alguns valores de “Nq”, que segundo

ele é coeficiente mais importante para determinação da capacidade de carga, para o

caso de fundações profundas em areias. Tais valores podem ser observados na

figura 18, a seguir.

54

Fonte: (Vesic, 1975)

2.4.3.3 Capacidade de ponta em areias

De forma geral, a tensão de ruptura de ponta de uma estaca, assente em solo

arenoso, é dada por:

(17)

Berezantsev et al. (1961), apresentam um cálculo para cálculo da capacidade

de carga de ponta em areias. A expressão utilizada é a que segue:

Figura 18 – Valores de “Nq”, sugeridos por Vesic (1975), segundo diversos autores.

55

(18)

Onde α é um fator redutor da tensão vertical em função do embutimento relativo da

fundação D/B e do ângulo de atrito do solo (figura 19) ao longo do fuste da estaca.

Fonte: (Hachich et al., 1998 apud Berezantsev et al., 1961)

Os valores de Nq e são sugeridos também por Berezantsev (1961),

através de gráfico apresentado na figura 20.

Fonte: (Hachich et al., 1998 apud Berezantsev et al., 1961)

Figura 19 – Coeficiente em função de D/B e do ângulo de atrito.

Figura 20 – Valores de Nq e Nγ, para estacas com ponta em areia.

56

2.4.3.4 Capacidade por atrito lateral em areias

Hachich et al. Apud Décourt (1998) cita, como a expressão básica para a

estimativa do atrito lateral unitário básico em estacas, a que segue:

(19)

Onde:

: é a tensão normal efetiva ao longo do fuste da estaca;

: é o ângulo de atrito entre a estaca e o solo;

K: é a relação entre a tensão normal e a tensão vertical efetiva .

Segundo Flaming et al. (1992), o valor de K pode ser estimado através da

expressão:

(20)

2.4.3.5 Capacidade de carga de estacas – processos expeditos

De acordo com Hachich et al. (1998, p. 273):

“Os métodos teóricos e experimentais e os ensaios laboratoriais são

fundamentais para estabelecer a influência relativa de todos os parâmetros

envolvidos nos cálculos de capacidade de carga. Por outro lado correlações

correspondentes entre as tensões e estados limites de ruptura e dados de

resistências à penetrações de ensaios in situ, são simples de serem

estabelecidas.”

No Brasil, dois métodos são os mais utilizados para definir-se a capacidade

de carga de estacas. São os métodos de Aoki-Velloso (1975) e Décourt-Quaresma

(1978).

2.4.3.5.1 O Método de Aoki-Velloso

No método de Aoki e Velloso, apresentado em 1975, a tensão de ruptura de

ponta “ ” e a tensão de atrito lateral “ ”, são avaliadas em função da tensão de

57

ponta “ ” do ensaio de penetração CPT (Cone Penetration Test), podendo esta ser

correlacionada ao resultado do ensaio de SPT.

Desta forma, a tensão de ruptura de ponta e resistência de atrito lateral,

podem ser obtidas através de:

(21)

e

(22)

Os valores de K e são apresentados na figura 21.

Fonte: (Hachich et al., 1998, p.274)

O conhecimento dessas correlações permite a estimativa dos parâmetros

correspondentes para uma estaca, pelas expressões:

(23)

(24)

Figura 21 – Coeficientes de K e α.

58

Os coeficientes F1 e F2 levam em consideração a diferença de

comportamento entre a estaca (protótipo) e o cone (modelo). Seus valores foram

determinados com resultados por provas de carga. Os valores de F1 e F2 foram

incialmente avaliados para estacas Franki, metálica, pré-moldada de concreto e

depois escavada sem distinção do diâmetro. Posteriormente estes valores foram

reavaliados e sugeridos novos parâmetros para outras estacas (tabela 4).

Figura 22 - Valores de F1 e F2

Fonte: (Laprovitera, 1988)

A fórmula geral para o cálculo da capacidade de carga é:

(25)

Onde:

- Ap: área da ponta ou base da estaca;

- U: perímetro da seção transversal da estaca;

- Ca: cota de arrasamento;

- Cp: cota da ponta

2.4.3.5.2 O Método de Décourt-Quaresma

Em 1978, Décourt e Quaresma apresentaram um método, para avaliação da

capacidade de carga em estacas, baseado em resultados de ensaios SPT. Para a

estaca padrão (pré-moldada), o cálculo da capacidade de carga se dá por:

(26)

59

Onde:

- resistência de ponta

- resistência lateral

- área de ponta

- área lateral

A tensão de ruptura de ponta é dada pela equação 27 e o de atrito lateral

unitário é dado por 28 e 29:

(27)

kN/m² (28)

tf/m² (29)

Os valores de K, são sugeridos em função do tipo de solo e, podem ser

obtidos na figura 23.

Fonte: (Hachich et al., 1998, p.275)

2.5 ESTACAS DE COMPACTAÇÃO

A descoberta de solos arenosos, ao projetar-se as fundações de uma obra de

grande porte, como um grande edifício ou ainda, um imponente viaduto, geralmente

inviabiliza a utilização de fundações diretas (sapatas). Porém, já há algum tempo,

que engenheiros civis do nordeste do Brasil, têm aplicado com sucesso uma técnica

Figura 23 – Valores de K em função do tipo de solo.

60

de melhoramento de solos arenosos, que tem como principal resultado o aumento

significativo, da resistência à penetração, quando medida em ensaio com SPT do

solo em questão.

Soares (2003), diz, que esse processo conhecido nos meios científicos como

“vibro-deslocamento”, consegue através da cravação de estacas de compactação,

densificar as camadas de areia próximas a superfície, aumentando assim a

resistência à penteração das mesmas e, por consequência a sua resistência à

compressão e ao cisalhamento.

Tal técnica possibilita, então, na maioria das vezes, a utilização de sapatas

nas fundações, trazendo assim uma considerável economia à obra.

(Ibid, 2003), sugere um minucioso estudo de recalques, que deverá ser feito,

antes de a opção sapata de fundação ser aprovada.

A confecção das estacas de compactação, se dá através da utilização de um

equipamento tipo “Strauss”, ou ainda um bate-estacas do tipo torre, onde

primeiramente, é cravado no solo um tubo metálico onde serão colocados e socados

os materiais constituintes da estaca. O processo de “vibro-deslocamento” acontece

no apiloamento dos materiais no furo, já que as batidas do pilão provocam esforços

axiais e radiais, havendo assim, na superfície de contato entre os materiais e a

parede interna do tubo, a ocorrência de atritos elevadíssimos , os quais propiciam as

condições para o material inserido arrastar consigo o tubo. Este processo, acaba por

reorganizar a estrutura da camada de solo em questão, diminuindo o índice de

vazios e por consequência aumentando a resistência do solo.

2.5.1 Tipos de estacas de compactação

No momento, ainda é escassa a bibliografia a respeito de tal assunto. Porém

em 2003, os engenheiros Valdês Borges Soares e Vilson Cartaxo Soares, na

Paraíba, sob a luz da experiência de várias obras executadas com a técnica, lançam

um material relatando o sucesso do emprego do método. Segundo tal bibliografia,

Soares (2003) sugerem como três, os tipos mais comuns de Estacas de

Compactação, que diferem um do outro apenas quanto ao seu material constituinte

e sua distribuição na área a ser construída. São elas: as estacas de areia e brita; as

61

estacas de cimento e areia e as estacas de cimento, areia e brita. A seguir serão

apresentados detalhes sobre sua confecção, conforme sugerido por Soares (2003).

2.5.1.1 Estacas de brita e areia

Estacas de Compactação constituídas de brita e areia, são usadas quando se

deseja obter apenas a densificação do solo arenoso. Neste caso a estaca não

trabalhará como uma estaca convencional, recebendo cargas concentradas, mas

sim atuará somente com a função de compactar a camada de solo onde está

inserida.

O traço mais usual, é de quatro volumes de areia para um de brita, sendo que

a areia utilizada não deve ser fina, tendo granulometria preferencial semelhante a da

usada na confecção de concreto. Quanto à brita geralmente usa-se a número 38mm

ou ainda a número 50mm.

2.5.1.2 Estacas de cimento e areia

As estacas de cimento e areia podem ser utilizadas, quando o Engenheiro

deparar-se com as seguintes situações:

A camada de areia apresentar muitos finos.

Tratar-se de uma região desconhecida a ele.

Não existir um histórico de compactação na região.

A utilização de cimento nas estacas as deixará petrificadas, proporcionando

deste modo, um melhor estado de confinamento no solo melhorado. Os traços mais

usuais, de acordo com Soares (2003), são:

Um volume de cimento para quinze volumes de areia.

Um volume de cimento para vinte volumes de areia.

Um volume de cimento para vinte e cinco volumes de areia.

Esta mistura deverá ser feita em betoneira, formando uma farofa úmida, tendo

a areia utilizada apresentar umidade natural entre 3% e 4%.

62

2.5.1.3 Estacas de cimento, areia e brita

Este tipo de estaca são na realidade, estacas compostas por concreto magro,

sendo o traço ideal o, de um volume de cimento, oito volumes de areia e quatro

volumes de brita (1:8:4).

Sua consistência é a de um concreto seco, tipo farofa. As estacas de concreto

magro devem ser utilizadas nas seguintes situações, listadas abaixo:

O solo é uma mistura de areia com silte ou argila;

Percebe-se que o melhoramento apresentará bons resultados, porém

não o suficiente para viabilizar as dimensões das sapatas;

Quando as estacas, além de compactarem o solo, precisam atuar

também recebendo parte do esforço transmitido pela superestrutura,

sob a forma de carga concentrada.

O perfil geotécnico apresenta, na cota de assentamento da ponta das

estacas, boa resistência com um NSPT >20, pois a estaca trabalhará

apenas com carga de ponta, visto seu pequeno comprimento (3,50 ≤ H

≤5,00). São estas, estacas de baixa capacidade, de carga admissível

de no máximo 20tf.

3. PROJETO E EXECUÇÃO DAS ESTACAS DE COMPACTAÇÃO

3.1 CONDICIONANTES PARA ESTACAS DE COMPACTAÇÃO

Inicialmente são analisadas as sondagens SPT (Standard Penetration Test).

Pode ser considerada uma situação favorável ao melhoramento, quando o terreno é,

por exemplo, constituído por uma camada de areia na superfície com NSPT = 5 ou

ainda NSPT = 10 e, para pontos mais profundos a resistência do solo é crescente. Se

por acaso a camada de solo em questão apresentasse um NSPT = 20, não haveria

sentido em querer compactar, pois o solo já estaria razoavelmente compactado.

É preciso ficar atento à presença de solos compressíveis, como uma argila

mole, por exemplo. Neste caso deve-se, enfatizar dois aspectos:

Espessura da camada compressível.

63

Distância da base da sapata ao inicio desta camada.

A existência de camada compressível, não é fator determinante para que o

Engenheiro decida atravessar a camada em questão, com fundações profundas.

Soares (2003) sugere que, a palavra final será dada pelos resultados dos estudos

dos recalques. Quando a camada compressível tiver espessura bastante significativa

e estiver muito próxima a superfície, aí sim, muito provavelmente, a opção de

melhoramento do solo, por estacas de compactação, não será aprovada e será

necessária a utilização de fundações profundas.

3.2 A ELABORAÇÃO DO PROJETO

Sendo os NSPT favoráveis e, de posse da planta de cargas, inicia-se a

elaboração do projeto considerando todos os esforços dos respectivos pilares, como

cargas verticais, momentos, tanto permanentes como eventuais.

A arbitragem de uma tensão admissível ao solo depois de compactado, é

imprescindível, para viabilizar o projeto e escolher o diâmetro, profundidade,

espaçamento entre as estacas e material a ser utilizado nas estacas.

É necessário também, logo após o término do processo de melhoramento, a

realização de sondagens com medida do SPT, para verificar se foram obtidos os

resultados esperados. Somente após esta análise, será possível executar as

sapatas.

De acordo com Soares (2003, p. 47), o porte do prédio é fator determinante

para prever a tensão admissível necessária para viabilizar as sapatas. Sugere ainda

para a obtenção da tensão admissível requerida os valores constantes na tabela 4.

Tais valores podem ser obtidos também, através de métodos já apresentados no

capítulo 2.

Tabela 4 – Espaçamentos para estacas de compactação.

Ø (cm) e (cm) σad (kgf/cm²) σad (kPa)

30 100 4,0 400

30 90 5,0 500

30 80 6,0 600

Fonte: (Adaptação de Soares 2003).

64

De posse da tensão admissível necessária após a compactação, e de

características como o material a ser utilizado nas estacas, diâmetro, espaçamento

entre as estacas, determina-se o comprimento da estaca (H), através da sondagem

à percussão. Uma areia com um NSPT entre 15 e 20 é o ideal para o repouso da

ponta da estaca.

O comum é que o comprimento da estaca esteja entre 3,50 ≤ H ≤5,00, pois

para essas profundidades o melhoramento torna-se bastante vantajoso,

principalmente no aspecto de custos. Para profundidades maiores, 8,0 m a 10,0 m, a

mão-de-obra acaba por encarecer significativamente, sendo preferível optar por

fundações profundas.

O dimensionamento das bases das sapatas é dado considerando a equação:

(30)

Levando-se em conta uma sapata de dimensões a x b, onde a é paralela ao

eixo y e, b é paralela ao eixo x, temos:

(31)

Sendo:

N: resultante de cargas verticais.

a e b: dimensões da sapata.

My: momento em torno de y e paralelo a x.

Mx: momento em torno de x e paralelo a y.

σ: tensão máxima aplicada e que não deverá ser superior a do

solo após a compactação.

Soares (2003) destaca que, para esforços permanentes, deve-se considerar

como a própria do solo pós-compactação e, para esforços permanentes

mais esforços eventuais, deve-se considerar como o valor de 1,30. do solo

pós-compactação.

3.3 DISTRIBUIÇÃO DAS ESTACAS DE COMPACTAÇÃO

65

As estacas de compactação são distribuídas, levando-se em conta diversos

aspectos sugeridos por Soares (2003).

Conhecimento anterior sobre o grau de eficiência da compactação que

se obtém com o solo arenoso local;

Região de influência do bulbo de tensões;

O porte da edificação (nº de pavimentos);

Principalmente o nível de experiência do engenheiro geotécnico

projetista (maior ou menor confiabilidade).

3.4 ARRANJO DA DISTRIBUIÇÃO

O layout da distribuição se dá, conforme o número de pavimentos da

edificação em questão. Para edificações com até 12 pavimentos, a malha de estacas

restringe-se à área da sapata de fundação. Prédios com 12 < nº de pavimentos = 20,

requerem uma malha de estacas que exceda a área da sapata (figura 23), formando

no mínimo um anel de confinamento. Já edificações com nº de pavimentos > 20

exigem uma malha de estacas que exceda a área da sapata em no mínimo dois

anéis de confinamento. Neste caso é bem provável, que a malha de estacas,

abranja toda a lâmina do prédio (malha total).

Para estacas de cimento e areia ou ainda, estacas de cimento, areia e brita,

Soares (2003) sugere que a distribuição das estacas inicie de dentro para fora da

sapata, evitando assim que alguma estaca fique parcialmente dentro e fora da

sapata. Procura-se obter uma maior quantidade de estacas dentro da sapata e que

sejam simétricas.

Fonte: (Soares 2003, p. 20)

Figura 24 – Malha de estacas para edificações com 12 < nº de pavimentos = 20

66

3.5 ANÁLISE DE RECALQUES

O estudo de recalques previstos é um passo essencial na elaboração do

projeto de melhoramento de solos arenosos, através de estacas de compactação. A

rotina para tal procedimento, pode ser acompanhada a seguir:

Um estudo de propagação das tensões deve ser feito, utilizando-se

dos diversos métodos convencionais existentes. Faz-se necessário

conhecer os valores das tensões que chegam nas diversas

profundidades do subsolo, oriundos das tensões aplicadas pelas

sapatas, sobre o solo.

Elegem-se as diversas camadas, as quais sofrerão influência das

fundações diretas (sapatas).

Cada camada deverá ter o seu recalque previsto determinado,

considerando-se recalques imediatos nos solos arenosos e recalques

por adensamento nas argilas compressíveis.

O módulo de deformação (E’) pode ser obtido através de tabelas ou de

correlações existentes.

Os recalques dos primeiros 5 metros da camada de areia na qual as

sapatas estão assentes, são praticamente desprezíveis, visto que a

compactação eleva significativamente o valor do módulo de

deformação (E’) da areia compactada.

No recalque total de cada sapata, deve estar computado também o

recalque provocado pela influência das sapatas vizinhas.

Determinam-se os recalques diferenciais.

Determinam-se as distorções angulares. Os valores aceitos para as

distorções angulares, devem obedecer ao limite de Distorção Angular

= 1/300.

Somente após esta detalhada análise, poderão ser liberados os

serviços de execução de melhoramento e compactação e, na

sequência, a execução das sapatas.

Soares (2003),sugere que após o término dos serviços, sejam realizados no

mínimo dois furos de sondagem SPT, os quais deverão comprovar o real

melhoramento do solo e o sucesso da compactação.

67

3.6 EXECUÇÃO DE ESTACAS DE COMPACTAÇÃO

A execução das estacas de compactação, inicia com a locação das mesmas

no terreno. O bate-estacas a ser utilizado deve ser um do tipo Strauss ou ainda do

tipo Torre. Posiciona-se o bate-estacas e inicia-se a cravação do tubo de

revestimento. O tubo deverá ter diâmetro externo e interno de 30cm e 28cm,

respectivamente e sua cravação será análoga à de uma estaca tipo Franki. O

comprimento do tubo varia de 3,50m a 5,0m por motivos já explicados em itens

anteriores, devendo sua ponta ficar assente em uma areia com NSPT ≥ 15.

Posicionando o tubo de revestimento na vertical e sobre o eixo da estaca,

coloca-se no seu interior uma tampão (figura 25), funcionando como uma espécie de

bucha, que nada mais é do que uma mistura de areia e brita. Este tampão deverá

preencher uma coluna de aproximadamente 1,0m no interior do tubo cravado.

Fonte : (Soares 2003, p.24)

O pilão do sistema Strauss ou Torre (figura 26), pesando cerca de 1300kgf,

cai em queda livre de uma altura de 3,0m, apiloando o tampão várias vezes

consecutivas, fazendo a penetração do mesmo no subsolo. As batidas do pilão

provocam esforços axiais e radiais, havendo assim, na superfície de contato entre o

tampão e a parede interna do tubo, a ocorrência de atritos elevadíssimos, os quais

propiciam condições para o tampão arrastar consigo o tubo, existindo a cravação do

Figura 25 – Colocação do tubo de apiloamento

68

tubo no solo e estando a ponta do tubo sempre fechada pelo tampão (bucha). É

preciso ficar atento, para que o material do tampão seja sempre reposto, para que

em nenhum momento a ponta do tubo fique aberta, possibilitando a entrada d’água

no interior do tubo e não ocorrer o avanço do revestimento.

Figura 26 – Apiloamento da bucha.

Fonte : (Soares 2003, p.25)

Quando do final da cravação do tubo, prende-se o mesmo ao bate estacas

por meio de cabos de aço e apiloa-se o tampão, fazendo a sua expulsão parcial do

interior do tubo. Mais uma quantidade do material do tampão é colocada no interior

do tubo e o processo de expulsão é repetido até o operador observar que o solo na

ponta do tubo, já não absorve mais material. Deste modo, é dada por concluída a

execução da base da estaca.

A mistura de materiais constituintes, feita em betoneira, deve ser colocada no

interior do tubo e o pilão deverá apiloar suficientemente esta camada da mistura,

simultaneamente fazendo a extração do tubo. Tal processo deverá ser repetido por

no mínimo três vezes, isto é, a formação do fuste da estaca (figura 26) deverá

compreender pelo menos três camadas da mistura.

69

Ao final deste processo, estará concluída a estaca e por resultado será obtida

um grau de compacidade bem maior nas regiões circunvizinhas e sob a estaca. Tal

melhoramento, em termos de compactação se deve ao processo de deslocamento

do tubo (cravação) no interior do solo. O alargamento da base, o preenchimento da

mistura com batidas sucessivas (vibrações), produzem uma reorganização em solos

granulares, diminuindo o índice de vazios e por consequência reduzindo o índice de

vazios do solo e o aumento de sua compacidade. Por este motivo o processo é

conhecido por “vibro-deslocamento”.

Fonte : (Soares 2003, p.26)

.

Figura 27 – Execução do fuste da estaca.

70

4 EXEMPLO DETALHADO

4.1 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE EXEMPLO

Utilizou-se, como exemplo detalhado do método, o projeto de um prédio de 30

pavimentos, construído na cidade de João Pessoa, na Paraíba e presente no livro

Estacas de Compactação de Valdês Borges Soares e Wilson Cartaxo Soares

(Soares e Soares, 2003). As informações técnicas estão apresentadas abaixo e o

detalhamento do método, se dá na sequência.

Tensão admissível = 500KPa, prevista para dar condições de

realização de sapatas.

Diâmetro da estaca = 30cm, como usual na maioria dos equipamentos

Strauss.

Comprimento do tubo H = 3,5 nas estacas do anel de reforço e 5,0 m

nas estacas abaixo da lâmina de projeção das sapatas. Esta decisão é

tomada em função da sondagem SPT e tendo em vista também a

viabilidade econômica.

Espaçamento entre as estacas: e = 70 e 80 cm na lâmina das sapatas

e variável no anel de reforço. Tal espaçamento, pode variar de acordo

com a confiabilidade e experiência do engenheiro responsável em

relação ao terreno em questão. Porém nunca utiliza-se e >90cm.

Composição: cimento e areia na base das sapatas, areia e brita no

anel de reforço. A escolha do material justifica-se, pela intenção de

aumentar o confinamento do solo, na região da base das sapatas. O

cimento contribuirá muito para este fim. Na região dos anéis de

reforço, não há esta necessidade, podendo ser utilizado somente areia

e brita.

Traço em volume: 1:15 nas estacas de cimento e areia e 4:1 nas

estacas de areia e brita.

Quantidade de estacas: 609 de 5,0m e 244 de 3,5m. Quantidade

calculada em função da área a ser coberta pelas estacas.

71

Cimento: 548 sacos

Areia: 448 m³

Brita: 12 m³

Fonte : (Soares 2003, p.49)

.

Este é o clássico caso para a escolha de fundações profundas convencionais,

como as estacas Franki, estacas Metálicas e estacas do tipo Hélice Contínua. Trata-

Figura 28 – Sondagem de simples reconhecimento em solo natural.

72

se de um prédio de grande porte, com 30 pavimentos. Terreno com considerável

camada de solo arenoso com SPT de índices baixos para a execução de fundações

diretas e presença de lençol freático, o que impediria uma fundação do tipo estaca

escavada sem o uso de lama, por exemplo.

Com relações as cargas atuantes, verifica-se como pilar mais carregado o

P19 com 1568,8 tf de carga permanente, 98,5 tf de carga eventual devido ao vento e

momento de até 1126,7 tf.m, (quadro 2).

Quadro 2 – Cargas nas fundações.

Caso 1

Fz Fz Fy Mx Fz Mx My Fz Fx Fy Mx My Fz Fx Fy Mx My

P1 203,80 50,10 1,10 2,00 60,30 1,40 5,80 20,90 1,90 0,90 1,70 7,40 110,70 1,30 1,00 1,90 5,70

P2 409,80 54,50 4,70 16,30 22,40 0,60 1,20 72,30 9,70 4,20 14,20 1,40 23,50 0,60 4,40 15,30 1,20

P3 315,20 59,60 3,80 13,50 20,10 0,30 0,60 31,80 0,30 3,20 11,90 0,70 75,50 0,30 3,80 12,60 0,70

P4 361,70 79,80 4,20 15,10 56,20 0,10 0,70 133,80 0,20 4,20 14,30 0,90 10,80 0,00 3,50 13,30 0,60

P5 508,70 54,60 4,30 18,50 16,00 0,40 1,30 33,80 0,50 4,10 15,80 1,50 68,20 0,40 3,90 14,60 1,30

P6 215,10 61,00 3,50 12,40 36,80 0,40 0,80 97,00 9,50 3,40 12,20 1,00 16,20 0,30 3,20 10,80 0,70

P7 307,60 5,20 4,50 14,60 446,00 0,40 0,80 43,90 0,50 4,00 12,50 0,90 53,50 0,40 4,20 13,60 0,80

P8 746,80 19,80 9,20 34,90 32,30 0,70 2,40 17,40 9,90 8,10 30,20 2,70 53,00 0,80 8,60 32,70 2,50

P9 1045,80 169,70 19,10 26,10 27,20 52,30 772,80 124,50 71,10 9,10 23,60 886,60 183,00 42,50 9,20 23,70 800,50

P10 706,00 32,40 6,40 27,10 6,90 0,20 1,30 37,60 0,20 5,10 26,00 1,50 22,20 0,10 5,80 23,90 1,30

P11 346,70 13,00 3,90 12,70 13,30 0,30 0,70 2,20 0,30 3,90 12,00 0,80 26,00 0,20 3,30 14,00 0,00

P12 631,90 65,40 9,00 33,60 151,70 0,30 1,90 224,40 0,30 8,50 30,40 2,00 106,80 0,40 7,80 30,20 2,10

P13 803,20 59,00 9,50 36,00 108,90 0,70 2,80 72,80 0,60 8,10 32,70 3,00 164,70 0,90 9,10 32,90 3,20

P14 754,60 25,60 25,80 138,20 18,40 0,90 1,60 3,50 0,80 23,70 131,20 1,60 43,30 1,10 23,20 122,10 1,90

P15 261,20 29,40 1,20 1,90 28,00 1,80 6,40 3,00 1,90 1,20 2,00 7,00 57,90 1,80 1,00 1,60 6,90

P16 335,80 0,60 3,70 11,10 50,00 0,50 0,80 55,40 0,50 3,20 9,30 0,90 53,80 0,50 3,60 10,50 0,90

P17 685,90 0,60 2,00 4,56 41,30 2,30 13,20 44,80 2,60 1,70 3,90 14,70 45,10 2,50 1,90 4,20 14,40

P18 241,80 32,50 1,20 1,90 29,80 1,80 6,60 63,60 2,00 1,20 1,90 7,20 2,10 1,90 1,00 1,70 7,20

P19 1568,80 89,20 8,30 27,20 16,40 67,30 1004,30 98,50 58,90 7,40 24,70 1067,40 63,10 86,90 7,50 24,70 1126,70

P20 394,80 7,40 5,00 16,70 48,30 0,60 1,30 59,90 9,60 4,10 13,80 1,30 45,50 0,60 4,90 16,10 1,50

P21 745,30 21,20 9,00 34,60 35,40 0,80 2,60 58,20 0,90 7,80 29,60 2,80 19,30 1,00 8,40 32,50 3,00

P22 703,00 31,80 6,40 27,00 2,20 0,20 1,40 27,10 0,10 6,10 26,10 1,50 31,60 0,30 5,60 23,60 1,70

P23 343,70 13,90 3,80 12,60 16,40 0,30 0,70 31,20 0,30 3,80 12,60 0,70 1,80 0,40 3,30 10,90 0,90

P24 228,70 52,40 1,10 2,00 60,30 1,70 7,00 113,50 1,50 0,90 1,60 7,40 18,40 2,20 1,00 1,90 8,40

P25 426,40 52,30 4,70 16,30 35,10 0,70 1,40 7,20 0,70 4,00 13,80 1,40 84,00 0,80 4,40 15,40 1,70

P26 413,10 36,70 4,10 15,30 9,30 0,40 1,10 22,60 0,40 3,70 13,70 1,40 42,80 0,50 3,60 13,90 1,30

P27 430,80 44,60 3,80 14,70 19,50 0,10 0,80 19,30 9,00 3,30 13,40 0,80 61,60 0,20 3,60 13,30 1,00

P28 510,90 54,90 4,30 16,40 31,10 0,50 1,60 85,70 0,50 4,20 15,90 1,70 17,20 0,60 3,70 14,20 1,80

P29 217,40 69,10 3,56 12,30 25,60 0,50 27,70 0,40 3,50 12,50 0,90 83,10 0,60 2,90 10,40 10,40 1,10

Vento na face X Vento na face Y Vento Inclinado Vento Inclinado

Fonte: (Adaptação de Soares, 2003).

Analisando-se o perfil geotécnico do solo, obtido através do ensaio SPT, é

possível observar a presença de areias propícias ao melhoramento por estacas de

compactação, nas camadas mais superiores do terreno e por esse motivo o caso é

ideal ao melhoramento por estacas de compactação.

4.2 A ELABORAÇÃO DO PROJETO

O primeiro passo para a elaboração do projeto das estacas de compactação,

é o dimensionamento das sapatas. Para tanto, é necessário eleger uma tensão

admissível ( ), de acordo com o porte do prédio. Neste caso arbitrou-se, uma

73

= 5,0 kgf/cm² = 50 tf/m². Na íntegra são apresentados os dimensionamentos,

primeiramente para as cargas permanentes, em seguida para permanentes mais

cargas eventuais e, por último, as correções necessárias. Foi eleito, para fins de

cálculo, o pilar mais carregado da estrutura, P19, verificado no quadro de cargas já

apresentado anteriormente.

4.2.1 Dimensionamento de sapata à cargas permanentes

Com os dados obtidos no quadro 2, tem-se:

(32)

O que resulta em uma sapata de (4,0 x 8,0)m.

4.2.2 Dimensionamento de sapata à cargas permanentes mais cargas

eventuais

(33)

Neste caso observou-se a necessidade de correção, pois a sapata ficou

subdimensionada. Portanto, foi considerada uma sapata para o P19, com dimensões

(4,5 x 9,0)m.

74

Tem-se os cálculos apresentados abaixo:

(34)

Desta forma, as dimensões finais para a sapata do pilar 19, serão (4,5 x

9,0)m.

Analogamente, foram feitos os cálculos para dimensionar as sapatas dos

demais pilares da edificação (figura 28). Tais cálculos não serão apresentados.

Fonte: (Soares 2003, p.54)

Figura 29 - Planta de Sapatas.

75

4.2.3 Distribuição das estacas

Observou-se que devido ao fato da edificação, ser uma obra de grande porte

(30 pavimentos), com grandes cargas nas fundações, as sapatas ficaram muito

próximas umas das outras. Neste caso pode-se optar tanto pela execução de uma

malha geral de estacas no terreno, ou ainda, executar as estacas de compactação

somente na área interna das sapatas, lembrando sempre de executar pelo menos

um anel de confinamento sobre o perímetro da sapata, ou seja, um anel de estacas

que perfaça o perímetro da base da sapata. Este anel de confinamento, devido à

proximidade das sapatas, pode acabar tornando-se comum a uma e a outra, o que

pode ser considerado normal. O importante, neste caso, é que entre uma sapata e

outra, não sobrem espaços vazios, sem estacas, pois isto deixaria parte do terreno

que receberá as cargas, sem o melhoramento e, por consequência passível de

recalques diferenciais.

É importante também, observar o espaçamento entre uma estaca e outra.

Neste caso, sempre em função da magnitude do prédio, optou-se pelo espaçamento

mínimo entre as estacas. A distância recomendada é de 0,75m a 0,80m no máximo,

entre faces. Tal distância garante com segurança a ideal compacidade da areia que

ali se encontra.

O material ideal, utilizado neste caso, foi a mistura entre cimento e areia, num

traço de 1:15. Esta mistura cimentada, após sua cura, garante o confinamento do

solo e portanto, a melhoria de sua resistência.

4.2.4 Análise de recalques

É de extrema importância, levar em consideração o perfil geotécnico do terreno, destacado abaixo:

De 4,0m a 4,8m – areia fina pouco siltosa.

De 4,8m a 6,0m – areia média a grossa pouco siltosa com pedregulho.

De 6,0m a 8,6m – areia fina siltosa pouco argilosa.

De 8,6m a 11,0m – argila siltosa pouco arenosa muito rija.

De 11,0m a 19,8m – areia argilosa pouco siltosa;

76

A estaca possui fuste de 5,0m e sua base alargada. Considerando um corte

no terreno de 2,5m a partir do nível do meio fio, a cabeça da estaca ficará na cota -

2,5m, fazendo com que o melhoramento atinja as cotas -8,0m a -9,0m.

Analisando-se as características do solo no perfil geotécnico, é possível

concluir que a camada que poderá apresentar recalques mais significativos

encontra-se entre as cotas -6,5m e -8,5m (areia fina siltosa pouco argilosa, com SPT

8/30 e 4/30).

Percebe-se que com exceção da camada mencionada acima, todas as

demais apresentam bom estado de compacidade ou consistência, com elevados

módulos de deformação (E’), levando a recalques praticamente desprezíveis.

Portanto, a camada entre as cotas -6,5m e -8,5m terá seus recalques

estimados. Para a distribuição das tensões adotou-se o processo de espraiamento

de tensões (figura 29).

Fonte: ( Soares 2003, p.57)

Os cálculos são apresentados abaixo:

(35)

Figura 30 - Distribuição das tensões.

77

Em uma primeira aproximação, é possível observar que :

(36)

Sendo que E’, pode ser obtido a seguir (quadro 3).

Quadro 3 – Módulo de deformação.

Solo E’ (kgf/cm²)

Argila muito mole 3,5 – 28

Argila mole 17,5 – 42

Argila média 42 – 84

Argila dura 70 - 175

Argila arenosa 280 – 420

Areia siltosa 70 – 210

Areia fofa 105 – 245

Areia compacta 490 – 850

Areia compacta e pedregulho 980 – 1970

Fonte: (Adaptação Caputo, 1988)

Ou ainda, o módulo de deformação, pode ser obtido através da correlação:

(37)

Com o coeficiente α, presente abaixo (quadro 4).

Quadro 4 – Coeficiente α.

Solo α

Areia 3

Silte 5

Argila 7

Fonte: (Adaptação Teixeira e Godoy, 1996)

78

O valor de K pode ser obtido no quadro 5.

Quadro 5 – Coeficiente K.

Solo K (MPa)

Areia 1,00

Areia Siltosa 0,80

Areia silto-argilosa 0,70

Areia argilosa 0,60

Areia argilo-siltosa 0,50

Silte 0,40

Silte arenoso 0,55

Silte areno-argiloso 0,45

Silte argiloso 0,23

Silte argilo-arenoso 0,25

Argila 0,20

Argila arenosa 0,35

Argila areno-siltosa 0,30

Argila siltosa 0,22

Argila silto-arenosa 0,33

Fonte: (Adaptação Cintra e Aoki, 1999).

(38)

Levando em consideração que depois da compactação o SPT 4/30 aumentará para no mínimo 10/30, observou-se que:

(39)

Considerando-se que o efeito da superposição das demais sapatas, provoque

recalques da ordem de 100% do recalque isolado da própria sapata, têm-se:

79

(40)

Os demais recalques, por camada, calculados de forma análoga, são apresentados a seguir, no quadro 6.

Sapata: P19

Carga: 1568,60 tf

Dimensões: 9,0 m x 4,50 m

Quadro 6 – Recalques por camada.

Camada r (mm) r acumulado (mm)

1 a 2m 4,23 4,23

2 a 3m 2,18 6,42

3 a 4m 1,56 7,98

4 a 5m 1,92 9,90

6 a 7m 4,10 17,07

7 a 8m 1,74 18,82

8 a 9m 1,57 20,39

9 a 10m 1,92 22,30

10 a 11m 1,57 23,88

11 a 12m 2,17 26,04

12 a 13m 3,94 29,98

13 a 14m 2,89 32,87

14 a 15m 2,39 35,26

15 a 16m 2,37 37,63

16 a 17m 1,39 39,02

17 a 18m 7,23 46,25

Fonte: (Adaptação de Soares, 2003).

(41) De um modo geral, observou-se que o perfil geotécnico do local desta obra, é

considerado bom e os valores dos recalques totais, considerados aceitáveis.

80

5. CONCLUSÃO

A realização deste trabalho, a partir da revisão de bibliografia existente, pôde

evidenciar a real eficácia do método em questão, intitulado de Estacas de

Compactação.

A elaboração do projeto de estacas, iniciado com a análise de viabilidade de

execução no terreno, seguido do projeto propriamente dito, com dimensionamento

das fundações diretas, substitutas das largamente utilizadas fundações profundas,

além da análise dos recalques estimados para o pilar eleito, demonstraram que, de

fato, há um considerável melhoramento na diminuição do índice de vazios e

reorganização estrutural do solo, aumentando assim a sua capacidade de suporte e

distribuição das tensões, exercidas nas fundações.

Tal melhoramento, traz consigo, importante economia de materiais como

concreto armado e também de mão-de-obra especializada, caso fossem utilizadas

fundações como estacas do tipo hélice contínua (as mais utilizadas em casos de

terrenos de orla). A execução de sapatas, apesar de também consumir alta

quantidade de concreto armado, em função de suas grandes dimensões, é

certamente mais simples e econômica, tendo em vista que os próprios

colaboradores da obra, podem providenciá-la de inicio ao fim (montagem das

armaduras e concretagem in loco), sendo dispensada a contração de empresa de

perfuração, que além do projeto de estacas escavadas, cobra pela execução da

perfuração.

Sugere-se, para um próximo estudo, a realização de acompanhamento, caso

haja a divulgação e aceitação do método em nossa região, de forma a comparar

economicamente o método em questão e a utilização de fundações profundas. Para

tal, seria necessário que uma obra utilizasse tal método e houvesse forma, de cotar

nas empresas disponíveis na região, orçamento para execução de estacas

escavadas. Tal comparativo seria local e, apresentaria valores monetários reais e

interessantes de se ter conhecimento.

Portanto, em termos de conclusão, chega-se a afirmativa de que o método de

execução de estacas de compactação, para melhoramento de solos arenosos, é útil,

seguro e carece de mais destaque entre o meio acadêmico e profissional, na área

de engenharia civil, no Estado do Rio Grande do Sul.

81

REFERÊNCIAS

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