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Publ. Mensal - nº 202 - Agosto de 2010 - Preço 0,25€ (IVA incl.) Contacto com os Pré Contacto com os Pré- seminaristas Dehonianos seminaristas Dehonianos Caro PRÉ-SEMINARISTA! Todo o mês de Julho foi de férias. Mesmo assim, tivemos a possi- bilidade de nos reunirmos no chamado “estágio de admissão”, logo no princípio do mês. Penso que ficou claramente esclarecido que também os que foram admitidos ao Colégio Missionário para o próximo ano lecti- vo continuam a ser pré-seminaristas até ao momento da entrada. Se há um tempo em que um pré-seminarista não deve mesmo esquecer a sua especial situação, é este em que está de férias. Es- tar de férias é um direito, mas é também uma responsabilidade . Como foi explicado no “encontro” de Junho e também no de Julho (e aqui se recorda novamente), as férias são um tempo especial que deve ser bem compreendido, para ser bem vivido. Não se pode, por exemplo, pensar que as férias são um tempo de “vadiagem”, sem obrigações e sem regras. A ideia de “férias” é outra bem diferente. E essa ideia toda a gente deveria tê-la, tam- bém pessoas adultas que às vezes, em férias, se portam muito mal e se desleixam de alguns deveres importantes. A ideia de “férias”, no fundo, deve ser esta: um tempo de descan- so e de lazer. Não, portanto, um tempo de preguiça. O primeiro aspecto das “férias” é a suspensão das actividades normais. Livre das suas actividades normais, a pessoa dispõe de mais tempo livre, é certo, mas não significa que vai ficar sem fazer nada. Vai descansar mais do que o habitual, sem esquecer que a simples mudança de actividade já é uma boa forma de descanso. Estando menos sujeita a horários exigentes e a tarefas cansativas e repetidas, a pessoa recupera as suas energias físicas e sobretudo psíquicas e fica mais descontraída. Deveria, por isso, ficar mais calma, mais compreensiva, mais disponível também para aju- dar. Além disso, a possibilidade de ter mais tempo livre, permite à pessoa fazer algumas coisas, para as quais nor- malmente não consegue encontrar tempo. Assim, no caso de um estudan- agosto

Caro PRÉ-SEMINARISTA! sto · 2010. 8. 1. · 2 Os motivos de gratidão e de esperança não devem prejudicar o verdadeiro amor devido ao Criador. Podemos amá-lO como nosso Pai,

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Page 1: Caro PRÉ-SEMINARISTA! sto · 2010. 8. 1. · 2 Os motivos de gratidão e de esperança não devem prejudicar o verdadeiro amor devido ao Criador. Podemos amá-lO como nosso Pai,

Publ. Mensal - nº 202 - Agosto de 2010 - Preço 0,25€ (IVA incl.)

C o n t a c t o c o m o s P r éC o n t a c t o c o m o s P r é -- s e m i n a r i s t a s D e h o n i a n o ss e m i n a r i s t a s D e h o n i a n o s

Caro PRÉ-SEMINARISTA! Todo o mês de Julho foi de férias. Mesmo assim, tivemos a possi-bilidade de nos reunirmos no chamado “estágio de admissão”, logo no princípio do mês. Penso que ficou claramente esclarecido que também os que foram admitidos ao Colégio Missionário para o próximo ano lecti-vo continuam a ser pré-seminaristas até ao momento da entrada. Se há um tempo em que um pré-seminarista não deve mesmo esquecer a sua especial situação, é este em que está de férias. Es-tar de férias é um direito, mas é também uma responsabilidade. Como foi explicado no “encontro” de Junho e também no de Julho (e aqui se recorda novamente), as férias são um tempo especial que deve ser bem compreendido, para ser bem vivido. Não se pode, por exemplo, pensar que as férias são um tempo de “vadiagem”, sem obrigações e sem regras. A ideia de “férias” é outra bem diferente. E essa ideia toda a gente deveria tê-la, tam-bém pessoas adultas que às vezes, em férias, se portam muito mal e se desleixam de alguns deveres importantes. A ideia de “férias”, no fundo, deve ser esta: um tempo de descan-so e de lazer. Não, portanto, um tempo de preguiça. O primeiro aspecto das “férias” é a suspensão das actividades normais. Livre das suas actividades normais, a pessoa dispõe de mais tempo livre, é certo, mas não significa que vai ficar sem fazer nada. Vai descansar mais do que o habitual, sem esquecer que a simples mudança de actividade já é uma boa forma de descanso. Estando menos sujeita a horários exigentes e a tarefas cansativas e repetidas, a pessoa recupera as suas energias físicas e sobretudo psíquicas e fica mais descontraída. Deveria, por isso, ficar mais calma, mais compreensiva, mais disponível também para aju-dar. Além disso, a possibilidade de ter mais tempo livre, permite à pessoa fazer algumas coisas, para as quais nor-malmente não consegue encontrar tempo. Assim, no caso de um estudan-

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Os motivos de gratidão e de esperança não devem prejudicar o verdadeiro amor devido ao Criador. Podemos amá-l’O como nosso Pai, nosso Deus e nos-so tudo; podemos amá-l’O pela recompensa que nos promete e que confiada-mente esperamos e, ao mesmo tempo, amá-l’O sobre todas as coisas por Si mesmo e pela sua infinita amabilidade. Este amor deve ser sempre a matriz e o rei dos nossos afectos.

te e pré-seminarista, deveria saber encontrar algum tempo para ajudar mais em casa, para fazer mais e melhor a sua leitura espiritual, para rezar um pouco mais, para ler com mais atenção e interesse o seu Em Frente, para fazer melhor o RRR. Também é importante que quem tem a profissão de estudante não ponha por com-pleto de parte os livros, durante tanto tempo. Não há aulas, não há trabalhos de casa marcados, mas cada um deve saber quais são os seus pontos fracos e aprovei-tar as férias para os remediar. Por exemplo, quem tem dificuldade na leitura, deve aproveitar exactamente para fazer exercício de leitura (possivelmente em voz alta); quem dá erros, deveria aproveitar para fazer algumas cópias e ditados; quem sabe que é mais fraco numa determinada disciplina, deve procurar alguma forma de a estudar inclusivamente com a ajuda de alguma pessoa capaz. Quem assim fizer, não estraga as suas férias e facilita muito o próximo ano lectivo, criando condições para um melhor rendimento escolar. Procura ter estas ideias em conta e, além disso, não esqueças que um pré- -seminarista em férias tem de ser sempre e em toda a parte um “rapaz diferente”, ou seja, um rapaz responsável, cumpridor e exemplar.

Pe. Fernando Ribeiro, SCJ

Para ti, A PALAVRA DO PADRE DEHON

AMOR DE

DEUS

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Deus não proíbe mas até quer que, em determinadas circunstâncias, seja o temor dos seus juízos a afastar-nos do mal e a confirmar-nos na prática do bem; que, noutros casos, seja a recordação dos benefícios divinos que nos penetre de gratidão e nos leve a retribuir, ou que seja a esperança da recom-pensa a animar-nos a ultrapassar as dificuldades da virtude, a inspirar-nos um generoso desprezo das coisas da terra e a sustentar-nos nos sofrimentos. Como não haveria Deus de querer ser amado por Si mesmo acima de todas as coisas? As próprias criaturas têm essa pretensão. Poderia um pai pretender ser amado por um filho só em vista da herança? E poderia um amigo querer ser amado só por causa dos seus benefícios? E o nosso Deus, o único que tem direito ao nosso amor e que é necessariamente cioso dos nossos corações, poderia ficar indiferente a que O amemos por Si mesmo ou por nós? Esta união com Deus pelo conhecimento e pelo amor é o nosso título de gló-ria. É a nossa felicidade. Será a nossa bem-aventurança eterna. Recusar ao nosso Deus o amor soberano que Lhe é devido é uma enorme desordem. Morrer sem esse amor é merecer a condenação eterna. Aquele que não ama o seu Deus torna-se objecto de horror para o mesmo Deus e para todas as criaturas amigas de Deus, do bem e da ordem.

COMENTÁRIO Muitos são os motivos que nos podem levar a “amar a Deus sobre todas as coisas”,

mas o motivo maior e o mais puro é “amá-l’O por Si mesmo”, por quem Ele é e porque é infinitamente amável (“inifinita amabilidade”). Este é o “nosso título de glória, a nossa felicidade; será a nossa bem-aventurança eterna”.

Depois deste breve comentário, lê mais atentamente o texto; procura compreendê- -lo melhor e deixar-te penetrar por esta maravilhosa doutrina capaz de fazer de ti, cada vez mais, um grande amigo de Deus.

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Riqueza da

A PALAVRA DO PAPA, para ti

O Evangelho assegura-nos que aquele jovem, que veio correndo ao encontro de Jesus, era muito rico. Entendemos esta riqueza não apenas no plano material. A própria juventude é uma riqueza singular. É preciso descobri-la e valorizá-la. Jesus deu-lhe tão grande valor que convidou esse jovem para participar da sua missão de salvação. Tinha todas as condições para uma grande realização e uma grande obra. Mas o Evangelho refere que esse jovem se entristeceu com o convite. Foi-se embo-ra abatido e triste. Este episódio faz-nos reflectir mais uma vez sobre a riqueza da juventude. Não se trata, em primeiro lugar, de bens materiais, mas da própria vida, com os valores inerentes à juventude. Provém de uma dupla herança: a vida, trans-mitida de geração em geração, em cuja origem primeira está Deus, cheio de sabe-doria e de amor; e a educação que nos insere na cultura, a tal ponto que, em certo sentido, podemos dizer que somos mais filhos da cultura e por isso da fé, do que da natureza. Da vida brota a liberdade que, sobretudo nesta fase se manifesta como responsabilidade. E o grande momento da decisão, numa dupla opção: uma quanto ao estado de vida e outra quanto à profissão. Responde à questão: que fazer com a vida?

Bento XVI

COMENTÁRIO O Papa tem-se referido em diversas circunstâncias ao episódio do jovem rico que se lê no Evangelho (Mt 19, 16-22). Aqui realça que essa riqueza não era só de bens materiais, mas de qualidades. “A vida…, em cuja origem primeira está Deus; e a educação… E recorda que “da vida brota a liberdade que, sobretudo nesta fase se manifesta como responsabilidade”.. Por isso convidou esse jovem, como continua a chamar mui-tos, “para participar da sua missão de salvação”. Mas qual foi a reacção? Que pena!

Juventude

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O pequeno Herman

UMA HISTÓRIA DE CADA VEZ

Herman Wijns nasceu em Merksen, na Bélgica, a 15 de Março de 1931, de pais remediados. Aos dois anos e meio começa a rezar todos os dias com o pai o terço que, aos nove anos, transformará no rosário com-pleto (três terços). Sabe de cor os 15 mis-térios e faz preceder cada uma das 15 Avé-Marias por uma reflexão tirada dos escritos de S. Luís Maria Grignion de Monfeort. A partir dos quatro anos vai todas as manhãs à Missa das seis e meia. A 4 de Julho de 1937, com seis anos de idade, faz a sua primeira Comunhão, não dei-xando, daí para diante, nenhum dia de se alimentar com este Sagrado Banquete. Aos 9 anos, a 6 de Abril de 1940, come-çou a ser acólito. Apesar do frio, da neve e dos perigos da guerra (a segunda mun-dial), cumpre as suas funções com fideli-dade heróica, todos os dias até à morte. Compreendendo a felicidade de estar junto do altar, exclama: “Quando quiser-des algum favor de Jesus, pedi-mo, por-que eu agora estou mais perto d’Ele”. Responde a quem estranha o seu proce-dimento: “Uma só Missa fervorosa basta para ir para o céu”.

Eis a sua grande aspiração: “Primeiro, serei ajudante da Missa; depois Padre; se não, absolutamente nada”. A 25 de Março de 1941, exactamente 99 dias antes de voar para o céu, viu, com grande alegria, satisfeito o seu desejo de ser Cruzado da Eucaristia. Alma de profunda vida interior, apesar da sua tenra idade, declara com toda a convicção: “O valor da oração está na constância; sem ela não tem sentido”. Aos 10 anos, passando por uma rua, vê dentro de um imundo caixote de lixo um crucifixo. Não se atrevendo a pegar nele, ouve estas palavras: - Então, Herman, como podes envergonhar-te de Mim? Toma o crucifixo e leva-o para casa. A 24 de Maio de 1941 uma queda rasga- -lhe uma veia da perna esquerda. Duran-te dois dias suportou atrozes sofrimen-tos, sem uma única queixa. Na agonia murmura: “Vi a doce Mãe, a Santíssima Virgem. É tão bela! Agora que a vi, já não posso ver mais ninguém”. A morte, no dia 26 de Maio, acompanhada de factos extraordinários, trouxe ao seu funeral uma multidão de pessoas.

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A vocação do profeta Jeremias encerra uma escolha, uma consagração, uma nomeação. A eleição (escolha) precede totalmente a existência, como se a fundamentas-se e justificasse: se Jeremias deve nascer, será para uma missão histórica par-ticular. “Antes de te formar no seio de tua mãe, Eu te conhecia; antes que viesses à luz, Eu Te tinha consagrado; fiz de ti profeta das nações”. Será consagrado sacerdote de Anatot, mas levará consigo uma consagração mais profunda: a missão profética de Jeremias é mais sagrada que a sua fun-ção sacerdotal. Por causa da primeira entrou na história e vive hoje entre nós. A nomeação tem uma dimensão universal. Ultrapassa os confins da terra; a sua voz deve atingir as nações pagãs de duas maneiras: primeiro, porque pro-nunciará oráculos destinados a povos diferentes do seu; segundo, porque a sua actividade se desenvolverá num tempo em que a história do seu povo se cruza com a de outros povos. O profeta sente-se incapaz. Concentra a sua objecção na palavra. Não sabe falar, isto é, não possui qualidades de estilo e de eloquência. «“Ai de mim, Senhor Javé, não sou um orador, porque sou ainda muito novo”. Mas o Senhor replicou: “Não digas: ‘sou ainda muito novo’, por-quanto irás aonde Eu te enviar, e dirás o que Eu te mandar. Não os temas, por-que Eu estarei contigo para te livrar – oráculo do Senhor». A resposta de Deus é um imperativo categórico e uma promessa: o profeta deve ir aonde o Senhor o enviar com a promessa: “Eu estou contigo!”. Não só a boca estará ao serviço do Senhor, mas também a vida toda, que será profe-cia. Jeremias é profeta nas palavras, que são palavras de Deus, e na vida modela-da pelas exigências de Deus. Assim se converte numa imagem antecipada de Jesus que não só pronunciará palavras de vida, mas que em toda a sua pessoa será Palavra de Vida.

PÁGINA VOCACIONAL

VOCAÇÃO DE JEREMIAS

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sabedoria

10 grãos de

1. Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde o seu sabor, para nada mais serve senão para se deitar fora e ser pisado pelos homens. (Jesus)

2.Senhor, Vós ajudais-nos a julgar acertadamente de tudo, e a louvar-Vos em tudo; sem Vós não pode haver felicidade verda-deira. (Imitação de Cristo)

3.Será muito difícil sermos santos? Não. Basta-nos servir a Deus com ardor, conforme a nossa vocação. (Pe. Dehon)

4.Caros jovens, se o Senhor vos chama a viver mais intimamen-te ao seu serviço, respondei com generosidade. Estai certos: a vida dedicada a Deus nunca foi gasta em vão. (Bento XVI)

5.O coração do homem é como a mó: deitem-lhe trigo, teremos farinha; deitem-lhe pedras, teremos areia. (Fulton Sheen)

6.Para quem ama nada é difícil. (S. Bernardo)

7.A alma que aprender a esquecer-se e a dar-se ao próximo é capaz depois de dar-se a Deus na fé e no amor. (D. Godofredo Bélorgey)

8.A maior felicidade da alma neste mundo é encontrar uma vez na vida um verdadeiro homem de Deus. (Joubert)

9.Dizeis: “Os tempos são maus”. - Vivei bem e mudareis os tem-pos, vivendo bem. (S. Agostinho)

10.Vós perguntais-me um meio para chegar à perfeição; só conheço um: o amor. (S. Teresa do Menino Jesus)

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Por que me fiz sacerdote? A resposta a esta pergunta, ao mesmo tempo simples e complexa só pode ser esta: por vocação. Desde logo, a respeito de vocação, poder-se-ia perguntar: esse movimento, esse ponto de partida vocacional desabrochou como uma semente, como uma graça de Deus, ou nasceu de influências externas? No meu caso concreto, posso dizer com humildade e convicção que, por misericór-dia de Deus, porque Deus assim quis; tenho a evidência cada dia mais reconhecida ao longo dos anos de que a minha vocação sacerdotal é simplesmente dom de Deus, que se manifestou em mim como um impulso continuado, como um desejo pessoa-líssimo, como um chamamento interior. Não obedeceu nem a pressões familiares nem a um ambiente favorável à ilusão vocacional. Na minha família não houve antecedentes sacerdotais imediatos, eu era o único filho rapaz e depositavam em mim esperanças de um bom casamento e de uma boa carreira civil. Mais: o espanto foi sem limites, entre parentes e amigos, quando manifestei o meu propósito firme de ir para um convento. Ninguém, em princípio, acreditou nos meus propósitos ou lhes deu qualquer impor-tância, depois do espanto inicial. Devo dizer que não me afectaram nem as facilida-des, nem a incredulidade, nem as reflexões sensatas com que se tentou se não dis-suadir-me abertamente, ao menos fazer-me vacilar ou brindar-me com um futuro bem mais brilhante e mais cheio de satisfações. Mas nada, nem pedidos, nem conse-lhos, nem lágrimas, conseguiu demover-me. Por outro lado, o ambiente exterior em que decorreu a minha infância, não foi, nem pouco mais ou menos, favorável ao desenvolvimento do ideal sacerdotal. Era, ao contrário, um ambiente hostil. Fiz-me, portanto sacerdote por impulso da graça. Assim o reconheço hoje e dou gra-ças ao Senhor. Todavia, como é óbvio, não se tratava de uma vocação abstracta, “inconcreta”, misticamente sentida como uma piedosa ilusão. Não. A vocação, de forma elementar mas clara, apontava para dois objectivos concretos: o estudo como forma de me habilitar para o exercício do sacerdócio, por um lado, e, por outro, e isto de uma maneira muito sentida, poder levar almas a Deus e convencer aqueles que O negavam ou esqueciam. Eu tinha sido testemunha, não raras vezes, de negações, de insolências e até de rebeldias precoces. E tinha imensa pena de não ser capaz de contradizer com argu-mentos. Não os tinha na altura, mas figurava-me que havia de vir a tê-los. A sensação

TESTEMUNHO Por impulso da Graça

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do abandono e da ignorância religiosa em que vegetavam muitas vidas, excitavam ainda mais em mim o desejo de fazer alguma coisa para Deus. O caminho para o con-seguir era fazer-me sacerdote e sacerdote religioso. Não sou capaz de dizer com exactidão por que motivo senti atracção pela vida religiosa. Mas o fundamental, entre a maré de sentimentos e imaginações infantis, foi a inclinação clara, o chama-mento evidente que eu sentia. Para mim era absolutamente certo que havia de ser sacerdote. Depois, metido nestes caminhos de Deus, é que tomei consciência do que era aquilo, é que se foi clarificando que aquilo era nem mais nem menos do que um dom de Deus, ao qual eu tinha de corresponder com a dedicação de toda a vida, não como quem faz um sacrifício – que é aquilo que muitas vezes se pensa, quando se corres-ponde à vocação sacerdotal ou religiosa – mas como quem encontra com alegria o seu caminho e compreende com gratidão, que uma pessoa transformada em instru-mento de Deus, por mais incapaz e imperfeita que seja, pode produzir algum fruto a benefício dos outros e para o seu próprio aperfeiçoamento.

Félix Garcia (Frade agostinho, doutor em Teologia, publicou mais de vinte livros e escreveu em diversos jornais. Director da revista “Fé e Cultura”) Agostinhos – Ordem de S. Agostinho ou Ordem Agostiniana. Têm uma só comunidade em Portugal.

E SE REZÁSSEMOS ASSIM?

Cristão – "Pai Nosso que estais nos céus..." Deus – Sim? Estou aqui! C – Estais aí? Mas eu não chamei por nin-guém. Só estou a rezar : "Pai Nosso que estais nos céus..." D – Viste? Chamaste outra vez por Mim! C – Quê? D - Disseste: "Pai-nosso que estais nos céus". Estou aqui! Em que te posso ajudar? C - Mas não era isso que eu queria dizer. É que estou a rezar! Rezo o "Pai Nosso" todos os dias. Sinto-me bem assim. É como se fosse uma obrigação... E não me sinto bem, enquanto não a cumprir... D – Mas como podes dizer "Pai Nosso", sem te lembrares que todos são teus irmãos; ou dizer "que estais nos céus", se não sabes

que o céu é a paz e o amor para todos? C – Pois. Realmente, ainda não tinha pen-sado nisso... D – Mas continua lá a tua oração. C – "Santificado seja o vosso nome..." D – Espera lá! O que é que queres dizer com isso? C – Quero dizer..., quer dizer..., sei lá! Como é que queres que eu saiba? Faz par-te da oração. Só isso! D – "Santificado" significa "Digno de respei-to" – "Santo" – "Sagrado". C – Ah! Já percebi. Mas nunca tinha pensa-do no significado da palavra "Santificado"... "Venha a nós o vosso rei-no, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu"...

PARA LER E MEDITAR

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D – Estás a falar a sério? C – Claro que estou. Porquê?!? D – E o que é que tu fazer para que isso C – O que faço? Nada! Faz parte da oração. Só isso... Além disso seria bom que Tu con-trolasses tudo o que acontece – no céu e na terra também! D – E achas que Eu te controlo? C – Bem... Eu frequento a Igreja! D – Mas só isso não é suficiente. Achas que controlo a maneira como gastas o dinheiro, o tempo que perdes a ver televisão, e o pou-co tempo que Me dedicas? C – Pára de criticar, por favor! D – Desculpa. Pensei que estava a pedir para que fosse feita a minha vontade!... Se assim fosse, devias aceitá-la com todas as suas consequências: o frio, o calor, a chuva, a natureza, a família..., Não? C – Lá isso é verdade, tens razão! Acho que nunca aceito a tua vontade. Reclamo por tudo e por nada: se está chuva, peço sol; se faz sol, reclamo do calor; se está frio, continuo a reclamar; se estou doente peço saúde e depois não cuido dela... D – Ainda bem que és capaz de reconhecer. Vamos trabalhar os dois juntos – Eu e tu. Mas previno-te já que vamos ter vitórias e derrotas... Mas estou a gostar da tua nova atitude. C – Olha, Senhor, tenho de terminar. Esta oração está a demorar muito mais do que é costume... Vou continuar: "O pão nosso de cada dia nos daí hoje"... D – Espera aí! Estás-me a pedir pão mate-rial? Não só de pão vive o homem, mas tam-bém da minha Palavra. Quando Me pedires pão, lembra-te daqueles que nem sabem o que é um pão. Podes até pedir-Me o que quiseres, desde que Me vejas Pai carinhoso! Estou interessado na próxima parte da tua oração. Continua! C – "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos q que nos tem ofen-dido..."

D – Mas... e aquela pessoa que tu despre-zas?!? C - Mas Tu viste, Senhor, o que ela me fez? Insultou-me várias vezes e eu perdoei-lhe... Agora chega! Já não consigo perdoar mais; quero vingança! D – E esta tua oração: não significa nada? Tu chamas-Me e Eu estou aqui – quero-te trans-formar. Gosto da tua honestidade. Mas não é bom carregar o peso de sentimentos como a raiva e a vingança dentro de ti... – sabias? C – Ainda acho que me vou sentir melhor depois de me vingar! D – Pensa no mal que vais causar e na triste-za que sentes agora... Eu posso mudar tudo, basta tu quereres. C – Podes? Como?!? D – Perdoa a essa pessoa, e Eu perdoo-te a ti. C – Mas, Senhor, eu não posso perdoar. Ela ainda ia abusar de mim! D – Então também não Me peças perdão a Mim!... C – Tensa razão outra vez. Mais importan-te do que me vingar é estar em paz conTi-go! Está bem! Eu perdoo a todos, mas mostra-me o caminho certo. D – Isso que estás a pedir é óptimo! Estou feliz por ti. Como é que te sentes? C – Bem! Muito bem mesmo! Para dizer a verdade, nunca me tinha sentido assim. É tão bom falar com Deus. D – Mas ainda não acabaste a oração. Conti-nua... C – "E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal." D – Muito bem! Vou fazer isso mesmo, mas não te ponhas em situações em que possas ser tentado. C – O que é que queres dizer com isso? D – Deixa de andar na companhia de pes-soas que te levem a praticar más acções – isso pode levar-te para o caminho errado. E não uses isso como saída de emergência!

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[eler] [eflectir] [esponder] 1.

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7. 8.

a) Qual é um dos objectivos do ‘Em Frente’? b) O que digo eu saber por experiência? c) Que espero eu vivamente? d) Que poderás recordar mais facilmente, lendo o ‘Em Frente’? e) Que te foi recomendado, a respeito das férias? f) Que cuidados deves ter nas férias?

a) A que compara o Pe. Dehon o amor do Coração de Jesus? b) Até que ponto nos amou o Coração de Jesus? c) Como sabemos que Jesus nos amou mais do que à própria vida?

a) Que resposta desejava o Papa ouvir da parte dos jovens? b) Qual é o verdadeiro e único caminho para a felicidade? c) De que depende muito o futuro dos jovens? d) Que conselho dá Bento XVI aos jovens?

a) Por que chamamos ‘Mestre’ a Jesus? b) Que veio Jesus fazer ao mundo? c) De que modo nos ensinou Jesus? d) Que costumavam fazer os santos?

a) Que deves fazer, se fores chamado? b) Que é a vocação? c) Que é que se percebe, tendo em conta os nossos limites naturais? d) Que é um grande conforto? e) Com que condições Alguém nos faz caminhar? f) Que numerosas situações se encontram na Sagrada Escritura? h) Que há na vida de todos? i) Por que, no momento da tentação, se deve esquecer e avançar?

a) Como venceu o Flávio as dificuldades que foi encontrando? b) Que diz o Flávio baseado na sua experiência? c) Que teve ele sempre presente na sua caminhada? d) Como define ele o ‘Seminário’?

a) Que é que pode tornar vã a oração, no dizer do Pe. Aníbal de Francia? b) Que significa triunfar na vida, no dizer dos Bispos Italianos?

a) De que não se deve ter medo? b) Por que não precisa Deus que falemos muito?

Perguntas sobre o “Directório” (página 41) a)Que podemos dizer, quando Deus quer de nós alguma c oisa? b)E que podemos dizer, quando Deus quer de nós alguma coisa com carácter definitivo? c) Até onde se pode restringir o sentido da palavra ‘vocação’? d) Que sentido tem cada uma das seguintes expressões: ‘vocação cristã’, ‘vocação missio-

nária’, ‘vocação eclesial’?

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Cá está a “CONVOCATÓRIA” para o “encontro formativo” de Verão. É um “encontro” que se destina, sobretudo, a cortar mais ou menos a meio as tuas férias, de modo a não ficares demasiado tempo sem este contacto. É claro que recebes todos os meses o “Em Frente”. Mas deves compreender que, além dessa forma de contacto, é diferente vir ao Colégio Missionário, passar cá uns dias com os outros pré-seminaristas e participar nas actividades que são próprias deste grupo de que fazes parte. Com efeito, todos os pré-seminaristas formam um grupo muito especial, um gru-po de pessoas ainda muito novas, mas, apesar disso, muito empenhadas em pre-parar nas melhores condições o seu futuro. O futuro prepara-se procurando cada um formar a sua personalidade: corrigindo defeitos e desenvolvendo qualidades. E também adquirindo competências de vária ordem. Mas não chega. É funda-mental que cada um tenha um rumo a seguir, rumo esse que só pode ser a von-tade de Deus. A esse rumo damos o nome de “vocação”. Como sabes, cada pessoa tem a sua. Se ainda é nova, precisa de a descobrir. E, para isso, precisa de condições favorá-veis. Mas também precisa de aprender a ser uma pessoa generosa e corajosa, a fim de ser capaz de aceitar a vontade de Deus para a sua vida, mesmo que essa vontade lhe pareça desconcertante e exigente, como quando se trata, por exem-plo, da vocação consagrada. Abaixo vai indicada a data. Ela não é exactamente a mesma que consta da ‘folha verde’ Já em Julho chamámos a atenção para esse facto. A alteração deveu-se, entre entras coisas, à oportunidade de passares cá um dia que para nós é importante e em que vão estar também os seminaristas. Trata-se do dia 12 que é o aniversário da morte do Pe. Dehon. CHEGADA: no dia 11 (quarta-feira) de Agosto, entre as 18.00 h. e as 21.30. (Só jan-ta cá quem avisar com tempo e chegar até às 19.30). REGRESSO A CASA: no sábado, dia 14, entre as 13,30 e as 14.00 horas. TRAZER: 1. As coisas do costume, com especial cuidado para não esquecer nada,

nem o cartão, nem a FF nem o RRR, nem a roupa necessária. 2. Quanto à roupa (principalmente interior), convém não esquecer que

estamos no Verão e que vais ficar cá mais tempo do que é habitual. 3. Quanto ao RRR, deves trazer as respostas às perguntas do ‘Em Fren-

te’ de Julho e também de Agosto. Mas quem ainda não mostrou as de Junho, tem de as trazer. Isto, naturalmente, vale para os pré-semi-naristas mais antigos e não para o que foram admitidos ultimamente.

4. Finalmente, é necessário trazer o fato de banho e, quem puder, 5 euros, para eventuais despesas.

Em Frente (Contacto com os Pré-seminaristas Dehonianos) Publicação Mensal - Ano IX - nº 202 - Agosto de 2010

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