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Carta 33

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Carta 33

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Page 1: Carta 33

Posso encontrar-me com centenas de pessoas durante odia, e entre elas com uma apenas a quem amo; quando chega anoite e penso em todas as fisionomias que vi, só uma se apresentaem minha mente: a que talvez me olhou menos, porémque amo; as demais se terão desvanecido. Minha atração poraquela pessoa causou em minha mente uma impressão maisprofunda do que todas as outras. Fisiologicamente as impressõesforam todas iguais; cada uma das fisionomias que vi seretratou na retina e o cérebro se apoderou da imagem; no entanto,o efeito na mente não foi o mesmo. Muitas das pessoaseram talvez inteiramente novas para mim, porém aquela daqual tive um rápido vislumbre, encontrou associações internas.Talvez já a tivesse gravada em minha mente durante anos, tal33vez conhecesse muitíssima coisa sobre ela, e esta nova visãodespertou centenas de recordações adormecidas em minhamente; e talvez esta impressão já fora repetida um sem númerode vezes do que as outras fisionomias, e por isto produziu talefeito em minha mente.Por conseguinte, sabe �desligados�; deixai que as coisasatuem, porém que atuem nos centros cerebrais. Agi constantemente,porém não permitais que uma só onda domine vossamente. Trabalhai como se fosseis estrangeiros aqui na terra;trabalhai incessantemente, porém não vos ligueis à ação; ligarseé algo terrível.Este mundo não é nossa habitação; é somente um dosmuitos estados pelos quais estamos passando. Recordai aquelegrande ditado da filosofia sânkya: �A totalidade da natureza épara a alma, não é a alma para a natureza�. A natureza nãoexiste senão para a educação da alma; não tem outro significado;está aqui, porque a alma deve ter conhecimento e libertarsepelo conhecimento.Se tivéssemos sempre este pensamento, jamais nos ligaríamosà natureza; saberíamos que esta é um livro aberto quedevemos ler, e que já não terá valor algum para nós quando tivermosadquirido o conhecimento que ele encerra. No entanto,nos identificamos com a natureza; pensamos que a alma lhepertence, que o espirito é para a carne, e, como afirma o provérbio,pensamos que o homem �vive para comer� e não que�come para viver�. Consideramos a natureza como se fossemosnós mesmos e deste modo nos ligamos a ela. E quandonos ligamos a ela, em nossa alma se produz uma profunda impressão,que nos domina e nos leva a agir não como homenslivres mas como escravos.O ponto capital deste ensinamento é que devemos agircomo �senhores� e não como �escravos�. Não vedes como to34dos trabalham? Ninguém pode estar em absoluto repouso. Noventae nove por cento dos homens trabalham como escravos eo resultado é a miséria; todos trabalham egoistamente. Trabalhaipor liberdade. Trabalhai por amor. A palavra Amor é muitodifícil de ser compreendida. O amor não existe, enquantonão existir liberdade. Não há possibilidade do verdadeiro amorno escravo. Se conquistais um escravo e o fazeis trabalhar emvosso proveito, ele cumprirá seu ganha-pão, porém não haveráamor nele. Do mesmo modo, quando nós trabalhamos para ascoisas do mundo como escravos, não pode haver amor em nós,e o nosso trabalho não é verdadeiro trabalho.Isto é tão certo com referência ao trabalho que realizamospara os nossos parentes e amigos, como ao trabalho feitopara nós mesmos. Trabalho egoísta é trabalho de escravo, e eisaqui uma prova: Cada ato de amor acarreta felicidade; não há

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ato de amor que não traga paz e alegria. A existência, o conhecimentoe o amor estão intimamente relacionados; onde estáum também estão os outros dois. São os três aspectos do Umsem Segundo. Existência-Conhecimento-Felicidade.Quando esta existência se torna relativa, conhecemo-lacomo mundo; este conhecimento se modifica logo como conhecimentodas coisas do mundo, e esta felicidade constitui abase do amor que o coração do homem é capaz de sentir. Portanto,o verdadeiro amor nunca pode reagir de maneira a causardor ao ser amado. Suponde que um homem ame uma mulher.Ele a quer só para si e a zela constantemente; necessita têlaa seu lado; que coma e se mova a seu mandato. É escravodela e quer possuí-la como escrava. Isto não é amor, mas apenasuma espécie de afeto mórbido de escravo. Não pode seramor, porque provoca dor. O amor não produz reações dolorosas;o amor só produz felicidade. Quando tiverdes conseguidoamar vossa esposa, esposo e filhos, a todo o mundo, ao universo,de tal modo que não haja reação de dor ou de ciúmes, nem