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Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Ano VIII Nº24 Rio de Janeiro Novembro/2004 carta do editor Adalberto A. Goulart Apoio: Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda. Rua Mourato Coelho, 1059 — Vila Madalena — CEP 05417-011 — São Paulo/SP — Brasil — Fone: (11) 3034.3600 — Site: www.casadopsicologo.com.br Ainda ontem eu falava com Inês por telefone e ela me contava da sua imensa saudade de Robson… Quis compartilhar, quis contar também um pouquinho da minha saudade, da nossa viva saudade… Este está sendo um ano particularmente difícil para todos nós. Perdemos colegas, amigos extremamente pre- ciosos. Afetivamente preciosos. Profissionalmente preci- osos. Psicanaliticamente. Carlos Edson Duarte (SPRJ), George Lederman (SPR) e recentemente Robson Cabral de Mendonça (SPR/NPM). Seriedade, dignidade, delica- deza, sabedoria, foram muitos os ensinamentos que Robson deixou e que permanecem ainda mais vivos em cada um de nós que tivemos o privilégio de desfrutar da sua convivência. Crizales Rezende (SPR/NPM), com mui- ta propriedade, escreve a Homenagem nas páginas deste ABP NOTÍCIAS e assim, devagarinho como precisa ser, vamos desenvolvendo a “gestação” do nosso luto. Com a responsabilidade maior de praticarmos e difundirmos a psicanálise que Carlos, George e Robson tão bem soube- ram nos transmitir. Já nos preparamos para os dois grandes eventos que movimentarão o nosso universo psicanalítico em 2005. De 28 a 31 de julho, na cidade do Rio de Janeiro, o Brasil estará recebendo pela primeira vez o Congresso da Associação Psicanalítica Internacional. O 44 o . IPAC trará como tema o TRAUMA, com Novos Desenvolvimentos em Psicanálise e reunirá toda a comunidade psicanalítica in- ternacional, num grande encontro científico, aberto a to- dos os interessados, que está sendo preparado com em- penho e dedicação para que seja, nas palavras do Presi- dente atual, Daniel Widlöcher, “um Congresso notável – interativo, avançado, com múltiplos pontos de vista, asse- gurando um diálogo vivo entre os analistas das mais vari- adas tendências”. Importante lembrar que as inscrições realizadas até o dia 31 de dezembro terão taxa especial e poderão ser parceladas através de cartão de crédito. Já em novembro/2005, entre os dias 11 e 14, a ABP estará promovendo o XX Congresso Brasileiro de Psica- nálise, em Brasília-DF. O tema central, já definido, será PODER, SOFRIMENTO PSÍQUICO E CONTEMPO- RANEIDADE, dos mais importantes e atuais. Maior prêmio editorial brasileiro, a psicanálise con- quistou, pelas mãos de Maria Olympia França (SBPSP), o Prêmio Jabuti pelo livro “Freud: A Cultura Judaica e a Modernidade”. Parabéns a Maria Olympia (organizadora) e também a todos os autores convidados que compõem o livro editado pelo SENAC. O PERFIL desta edição, realizado pela Associação Psicanalítica Rio 3, traz como entrevistado o Dr. Waldemar Zusman. Um dos expoentes da psicanálise brasileira, foi por duas vezes vice-presidente da IPA para a América Latina, é Guest Member da Sociedade Britânica de Psica- nálise e um dos fundadores da Rio 3. “Maria Helena Junqueira (SBPRJ), numa entrevista bastante atual, nos fala sobre o medo e a violência que assolam os nossos dias”. Oswaldo José de Freitas Milward (SPRJ) nos oferece um belíssimo trabalho que toma como referência um con- to de Machado de Assis: “Sobre O Espelho” e associa- ções com um caso clínico. “Saber & Saber” é o título do texto de Célia Maria B. de Lima (Candidata da SBPSP), num vivo depoimento sobre o Encontro Internacional BION 2004, ocorrido em São Paulo em julho passado. “Herança de Dona Virgínia” quem escreve é Antonio de Morais Jardim (Candidato da SBPSP). Ele nos fala so- bre a influência de Virgínia Bicudo, via Brasília, no Núcleo de Psicanálise de Goiânia. Os Candidatos estão também presentes através de sua representante maior, Susana Muszkat (Candidata da SBPSP), Presidente Eleita da IPSO (International Psychoanalytical Studies Organization) no texto intitulado “A Representação-Força dos Candidatos”. Notícias e Programação das federadas e a Agenda Científica, com eventos nacionais e internacionais com- pletam a edição. Aproveitamos para parabenizar a nova Diretoria da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto e desejar-lhes muito sucesso ! Até breve e boa leitura ! Psicanálise recebe Prêmio Jabuti Pela primeira vez na história, um livro sobre Psicanálise levou o mais tradicional prêmio literário do país, o Jabuti. Com a premiação de Freud: a cultura judaica e a modernidade, a categoria “Educação e Psicologiafoi ampliada para Educação, Psicologia e PsicanáliseA organizadora do livro, Maria Olympia França, falou ao ABP Notícias sobre esta conquista inédita da Psicanálise. Ela destacou a importân- cia dos colaboradores Alberto Dines e Guillermo Bigliani e da equipe responsável pelo ciclo de conferências que aconteceu durante a ex- posição “Freud e Judaísmo” pelo sucesso da obra. (Pág. 16) O medo atravessa séculos O medo que atualmente toma conta da vida das pessoas é analisa- do pela psicanalista da SBPRJ e professora da Escola de Comunicação da UFRJ, Maria Helena Junqueira. Para ela a generalização da cultura do terror é um risco “pois o mundo está em crescente tensão”. (Pág. 5) A Psicanálise na literatura machadiana No artigo “O Espelho” e associações com um caso clínico”, o psi- canalista Oswaldo José de Freitas Milward discute a relação mãe- bebê e a formação do self presentes no famoso conto de Machado de Assis. Para Milward, o conto é “uma leitura essencial para todos os interessados em compreender a complexidade humana”. Ele afirma que “O Espelho” faz de Machado de Assis um precursor da Psicanáli- se e que, “sem ser pretensioso, poderia muito bem ter colocado como subtítulo “esboço da psicanálise”. Usando o conto como pano de fun- do, Milward também conta sua experiência com um paciente que, as- sim como o protagonista de “O Espelho”, precisava do olhar alheio para conseguir formar uma imagem de si próprio. (Pág. 14) Presidente eleita da IPSO avalia papel da entidade no meio psicanalítico A presidente eleita da IPSO (International Psychoanalytical Studies Organization), Susana Muszkat, destaca a importância da organiza- ção em seu artigo “IPSO – a representação-força dos candidatos”. A entidade é a correspondente da IPA (International Psychoanalytical Association) no nível dos candidatos, representando todos os analis- tas em formação no mundo. De acordo com Suzana, os candidatos que fazem parte da IPSO formam uma rede com outras culturas e outros Institutos de formação. “É muito interessante poder constatar as semelhanças entre nós e, mais ainda, verificar o quanto as dife- renças culturais estão presentes no nosso trabalho cotidiano”, afirma a presidente eleita. (Pág. 8) A contribuição de Zusman para o avanço da Psicanálise Fundador da Associação Psicanalítica Rio 3 e duas vezes vice- presidente da IPA , o psicanalista Waldemar Zusman é um exem- plo de determinação. Embora proveniente de uma família extre- mamente religiosa, ele não se conformou com a explicação teocêntrica do mundo que recebia em casa e buscou outras res- postas para as questões que o inquietavam. Em meio a esta bus- ca incansável, Zusman se apaixonou pela Psicanálise ainda na adolescência, numa época em que a ciência de Freud dava seus primeiros passos no país. De acordo com Zusman, foi a leitura de “Para compreender Freud”, de Gomez Nerea, que o fez optar pela carreira na psicanálise. “Surpreso e encantado com as idéi- as que ali estavam, e testando em mim mesmo a teoria da “Inter- pretação dos Sonhos”, decidi naquele instante que eu me tornaria um Psicanalista”, conta Zusman. (Pág. 3) Do 3º Congresso da IPA, realizado em Weimar, Alemanha, em 1911, à sua 44ª edição, no Rio de Janeiro, em 2005.

carta do editor - febrapsi.org · Ano VIII Nº24 Rio de Janeiro Novembro/2004 carta do editor ... subtítulo “esboço da psicanálise”. ... nasceu a proposta para o tema oficial

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Ó r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s e

Ano VIII Nº24 Rio de Janeiro Novembro/2004

carta do editorAdalberto A. Goulart

Apoio:

Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda.Rua Mourato Coelho, 1059 — Vila Madalena — CEP 05417-011 — São Paulo/SP — Brasil — Fone: (11) 3034.3600 — Site: www.casadopsicologo.com.br

Ainda ontem eu falava com Inês por telefone e elame contava da sua imensa saudade de Robson… Quiscompartilhar, quis contar também um pouquinho da minhasaudade, da nossa viva saudade…

Este está sendo um ano particularmente difícil paratodos nós. Perdemos colegas, amigos extremamente pre-ciosos. Afetivamente preciosos. Profissionalmente preci-osos. Psicanaliticamente. Carlos Edson Duarte (SPRJ),George Lederman (SPR) e recentemente Robson Cabralde Mendonça (SPR/NPM). Seriedade, dignidade, delica-deza, sabedoria, foram muitos os ensinamentos queRobson deixou e que permanecem ainda mais vivos emcada um de nós que tivemos o privilégio de desfrutar dasua convivência. Crizales Rezende (SPR/NPM), com mui-ta propriedade, escreve a Homenagem nas páginas desteABP NOTÍCIAS e assim, devagarinho como precisa ser,vamos desenvolvendo a “gestação” do nosso luto. Com aresponsabilidade maior de praticarmos e difundirmos apsicanálise que Carlos, George e Robson tão bem soube-ram nos transmitir.

Já nos preparamos para os dois grandes eventos quemovimentarão o nosso universo psicanalítico em 2005.

De 28 a 31 de julho, na cidade do Rio de Janeiro, oBrasil estará recebendo pela primeira vez o Congresso daAssociação Psicanalítica Internacional. O 44o. IPAC trarácomo tema o TRAUMA, com Novos Desenvolvimentos emPsicanálise e reunirá toda a comunidade psicanalítica in-ternacional, num grande encontro científico, aberto a to-dos os interessados, que está sendo preparado com em-penho e dedicação para que seja, nas palavras do Presi-dente atual, Daniel Widlöcher, “um Congresso notável –interativo, avançado, com múltiplos pontos de vista, asse-gurando um diálogo vivo entre os analistas das mais vari-adas tendências”. Importante lembrar que as inscriçõesrealizadas até o dia 31 de dezembro terão taxa especial epoderão ser parceladas através de cartão de crédito.

Já em novembro/2005, entre os dias 11 e 14, a ABPestará promovendo o XX Congresso Brasileiro de Psica-nálise, em Brasília-DF. O tema central, já definido, seráPODER, SOFRIMENTO PSÍQUICO E CONTEMPO-RANEIDADE, dos mais importantes e atuais.

Maior prêmio editorial brasileiro, a psicanálise con-quistou, pelas mãos de Maria Olympia França (SBPSP), oPrêmio Jabuti pelo livro “Freud: A Cultura Judaica e aModernidade”. Parabéns a Maria Olympia (organizadora)e também a todos os autores convidados que compõem olivro editado pelo SENAC.

O PERFIL desta edição, realizado pela AssociaçãoPsicanalítica Rio 3, traz como entrevistado o Dr. WaldemarZusman. Um dos expoentes da psicanálise brasileira, foipor duas vezes vice-presidente da IPA para a AméricaLatina, é Guest Member da Sociedade Britânica de Psica-nálise e um dos fundadores da Rio 3.

“Maria Helena Junqueira (SBPRJ), numa entrevistabastante atual, nos fala sobre o medo e a violência queassolam os nossos dias”.

Oswaldo José de Freitas Milward (SPRJ) nos ofereceum belíssimo trabalho que toma como referência um con-to de Machado de Assis: “Sobre O Espelho” e associa-ções com um caso clínico.

“Saber & Saber” é o título do texto de Célia Maria B.de Lima (Candidata da SBPSP), num vivo depoimentosobre o Encontro Internacional BION 2004, ocorrido emSão Paulo em julho passado.

“Herança de Dona Virgínia” quem escreve é Antoniode Morais Jardim (Candidato da SBPSP). Ele nos fala so-bre a influência de Virgínia Bicudo, via Brasília, no Núcleode Psicanálise de Goiânia.

Os Candidatos estão também presentes através desua representante maior, Susana Muszkat (Candidata daSBPSP), Presidente Eleita da IPSO (InternationalPsychoanalytical Studies Organization) no texto intitulado“A Representação-Força dos Candidatos”.

Notícias e Programação das federadas e a AgendaCientífica, com eventos nacionais e internacionais com-pletam a edição.

Aproveitamos para parabenizar a nova Diretoria daSociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto edesejar-lhes muito sucesso !

Até breve e boa leitura !

Psicanálise recebe Prêmio Jabuti

Pela primeira vez na história, um livro sobre Psicanálise levou omais tradicional prêmio literário do país, o Jabuti. Com a premiaçãode “Freud: a cultura judaica e a modernidade”, a categoria “Educaçãoe Psicologia” foi ampliada para “Educação, Psicologia e Psicanálise”A organizadora do livro, Maria Olympia França, falou ao ABP Notíciassobre esta conquista inédita da Psicanálise. Ela destacou a importân-cia dos colaboradores Alberto Dines e Guillermo Bigliani e da equiperesponsável pelo ciclo de conferências que aconteceu durante a ex-posição “Freud e Judaísmo” pelo sucesso da obra. (Pág. 16)

O medo atravessa séculos

O medo que atualmente toma conta da vida das pessoas é analisa-do pela psicanalista da SBPRJ e professora da Escola de Comunicaçãoda UFRJ, Maria Helena Junqueira. Para ela a generalização da culturado terror é um risco “pois o mundo está em crescente tensão”.(Pág. 5)

A Psicanálise na literatura machadiana

No artigo “O Espelho” e associações com um caso clínico”, o psi-canalista Oswaldo José de Freitas Milward discute a relação mãe-bebê e a formação do self presentes no famoso conto de Machado deAssis. Para Milward, o conto é “uma leitura essencial para todos osinteressados em compreender a complexidade humana”. Ele afirmaque “O Espelho” faz de Machado de Assis um precursor da Psicanáli-se e que, “sem ser pretensioso, poderia muito bem ter colocado comosubtítulo “esboço da psicanálise”. Usando o conto como pano de fun-do, Milward também conta sua experiência com um paciente que, as-sim como o protagonista de “O Espelho”, precisava do olhar alheiopara conseguir formar uma imagem de si próprio. (Pág. 14)

Presidente eleita da IPSO avalia papel daentidade no meio psicanalítico

A presidente eleita da IPSO (International Psychoanalytical StudiesOrganization), Susana Muszkat, destaca a importância da organiza-ção em seu artigo “IPSO – a representação-força dos candidatos”. Aentidade é a correspondente da IPA (International PsychoanalyticalAssociation) no nível dos candidatos, representando todos os analis-tas em formação no mundo. De acordo com Suzana, os candidatosque fazem parte da IPSO formam uma rede com outras culturas eoutros Institutos de formação. “É muito interessante poder constataras semelhanças entre nós e, mais ainda, verificar o quanto as dife-renças culturais estão presentes no nosso trabalho cotidiano”, afirmaa presidente eleita. (Pág. 8)

A contribuição de Zusman para oavanço da Psicanálise

Fundador da Associação Psicanalítica Rio 3 e duas vezes vice-presidente da IPA , o psicanalista Waldemar Zusman é um exem-plo de determinação. Embora proveniente de uma família extre-mamente religiosa, ele não se conformou com a explicaçãoteocêntrica do mundo que recebia em casa e buscou outras res-postas para as questões que o inquietavam. Em meio a esta bus-ca incansável, Zusman se apaixonou pela Psicanálise ainda naadolescência, numa época em que a ciência de Freud dava seusprimeiros passos no país. De acordo com Zusman, foi a leitura de“Para compreender Freud”, de Gomez Nerea, que o fez optarpela carreira na psicanálise. “Surpreso e encantado com as idéi-as que ali estavam, e testando em mim mesmo a teoria da “Inter-pretação dos Sonhos”, decidi naquele instante que eu me tornariaum Psicanalista”, conta Zusman. (Pág. 3)

Do 3º Congresso da IPA, realizado em Weimar, Alemanha, em 1911, à sua 44ª edição, no Rio de Janeiro, em 2005.

Carlos Gari Faria

Coluna do

presidenteConselho DiretorPresidente – Carlos Gari FariaSecretário – Pedro GomesTesoureiro – Regina Lúcia Braga MotaDiretor do Conselho Científico –Cláudio RossiDiretor do Conselho Profissional –Mário Lúcio Alves BaptistaDiretor do Deptº.de Publicações e Di-vulgação – Adalberto Antônio GoulartDiretor da Comissão de Relações Ex-teriores – Maria Eliana Mello HelsingerDiretor Superintendente – Maria de SanTiago Dantas QuentalSecretária Administrativa – LúciaLustosa Boggiss

Deptº. de Publicações e DivulgaçãoEditor da Revista Brasileira de PsicanáliseJoão Baptista FrançaEditora AssociadaSandra Maria Gonçalves

DelegadosMárcio de Freitas GiovannettiAna Maria Andrade de AzevedoVera Márcia RamosCarlos Roberto SabaWilson AmendoeiraAltamirando Matos de Andrade Jr.Raul HartkeJair Rodrigues EscobarTelma Gomes de Barros CavalcantiHumberto Vicente de AraújoBruno Salésio da Silva FranciscoJosé Francisco Rotta PereiraNewton M. AronisLeonardo A. FrancischelliJosé Cesário Francisco JúniorPedro Paulo de Azevedo OrtolanRegina Lúcia Braga MotaSylvain Nahum LevyLeila Tannous GuimarãesMiriam Cátia CodornizNeilton Dias da SilvaCláudio Tavares Cals de OliveiraSheiva Campos Nunes RochaSergio Antonio Cyrino da Costa

Conselho CientíficoAna Rita Nuti PontesÁurea Maria LowenkronFernando Linei KunzlerHemerson Ari MendesJosé Otávio FagundesMagda Sousa PassosMárcia CâmaraMaria Aparecida Duarte BarbosaMirian Elisabeth Bender Ritter de GregórioRuggero LevySérgio Cyrino da CostaWaldemar Zusman

Conselho ProfissionalAlfredo Menotti ColucciLetícia Tavares NevesJair Rodrigues Escobar

2Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise

Expediente

Eduardo Afonso JúniorJosé Luiz MeurerSylvain Nahum LevyJosé Alberto FlorenzanoJacques ZimmermannLeila Tannous GuimarãesVera Lúcia Costa de Paula Antunes

Comissão de Psicanálise e CulturaLeopold Nosek (Coordenador)

Comissão de Psicanálise da Criança edo AdolescenteRute Stein Maltz (Coordenadora)

Comissão de Psicanálise e PesquisaTheodor Lowenkron (Coordenador)

Comissão de Psicanálise e a UniversidadeSérgio de Freitas Cunha (Coordenador)

Comissão de Documentação, Comunica-ção e InternetRosa Maria Carvalho Reis (Coordenadora)

Comissão de Ligação com EntidadesMédicasJair Rodrigues Escobar (Coordenador)

Comissão de Ligação com a PsicologiaInúbia Duarte (Coordenadora)

Comissão de Difusão da PsicanáliseMaria Olympia França (Coordenadora)

Comissão de Estudos sobre FormaçãoPsicanalíticaSuad Haddad de Andrade (Coordenadora)

Comissão de Núcleos filiados à ABPRegiões: Norte, Nordeste e Sudeste até Riode JaneiroJosé Fernando de Santana Barros (Coor-denador)Regiões: Sudeste a partir de São Paulo, Sule Centro OesteRomualdo Romanowski (Coordenador)

EdiçãoJLS Comunicação & AssociadosEditores:José Luiz SombraPaula FioritoRepórteres:Cláudia MerquiorLetícia MottaRaphael ZarkoEditoração:Renata Vieira NunesFotolito e Impressão:Casa do Psicólogo (11) 3034 3600

Endereço: Av. N.Sª. de Copacabana, 540/704Cep: 22020-000 Rio de JaneiroTel/Fax: (21) 2235 5922e-mail: [email protected] page: www.abp.org.br

Estamos a um ano do nosso próximoCongresso Brasileiro, que acontecerá de 11a 14 de novembro de 2005. Este será o vi-gésimo e também o primeiro a se realizarem Brasília: nosso congresso brasileiro nacapital federal.

A reunião do Conselho Científico - co-ordenado pelo dr. Cláudio Rossi e com-posto pelos representantes científicos detodas as sociedades e do grupo de es-tudos, que juntos, compõem a ABP - re-alizou-se em Brasília dia 10 de julho.Desta reunião, com um nível rico em par-ticipação, dentro de um clima vivo e porextensão criativo, nasceu a propostapara o tema oficial do congresso: Poder,Sofrimento Psíquico e Contempo-raneidade.

Trata-se de uma abordagem com umaabrangência que permite transitar desde omais fundo no inconsciente, ou antes ain-da, em suas origens no somático, até o maisaparente na realidade exterior atual com acomplexidade de suas características, mui-tas vezes surpreendentes, provocando im-pactos, tanto num sentido positivo como emseu sentido oposto, o da destruição.

É um espaço que permite aprofundarsobre o atemporal dos fenômenos incons-cientes, nosso trabalho de todos os dias, ea partir daí, também estender um olhar so-bre o atual dos dias em que vivemos, con-duzindo através deles a psicanálise comoum recurso que está a serviço da vida.

Há então a abordar o poder de forçasinternas pelas quais a princípio “somos vi-vidos” e a partir delas, em condições míni-mas favoráveis, nos construímos como su-jeito psíquico investido de um sentimentode identidade própria.

Há, dentro disto também, o fracasso naconstrução do psiquismo - esta estruturamagnífica que vai se criando num espaçointerno intermediário entre o corpo bioló-gico e os objetos da realidade externa -quando ficam “vazios” ou “buracos” ondea força pulsional desenfreada, por falta derepresentações continentes, esvai-se devolta ao próprio corpo lesionando este; ouderrama-se para fora, tumultuando, desfi-

gurando ou pervertendo as relaçõesobjetais; o que se configura nas várias for-mas de patologias graves que encontra-mos na contemporaneidade.

Existe também o poder da repres-são, com suas defesas auxiliares, comoum recurso estruturante que reforça ointerno, facilita a discriminação entreself e objeto e não exclui a sublimação,este poder mais elevado que é proprie-dade do ser humano. A repressão en-tretanto, quando se impõe como umpoder excessivo, limita a percepção,restringe a capacidade de sentir, em-pobrecendo a qualidade das relaçõesobjetais aprisionadas em perturbaçõesde nível neurótico.

O sofrimento psíquico, em seus diferen-tes níveis de origem, serve em sua funçãoprincipal como um sinal de alerta para de-sencadear defesas ou buscar recursoterapêutico. Em outro extremo pode man-ter-se como tributo pago por um ego sub-metido a algum outro poder interno (do idou do superego). Este sofrimento pode sertambém, imposto ao sujeito a partir de ou-tra vertente, por poderes externos que otransformam em objeto de uma agressãoalheia e alienante.

O poder externo emerge também, emsuas diferentes qualidades e configura-ções, como um capítulo do tema do con-gresso. O poder como potência criativaque leva ao conhecimento, expande acultura, efetiva-se em ações que, pau-tadas pela ética, criam um clima de con-fiança o que reforça a auto estima. Eum outro tipo de “poder” que se restrin-ge como um fim em si mesmo, como ex-pressão de um narcisismo mais de mor-te do que de vida. Disfarça-se em meiasverdades, ancora-se em pseudo-criatividades e é mais voltado para pa-recer do que para ser.

São todos fenômenos que interessama psicanálise, são objeto de nosso estudoe trabalho e que como parte da realidade, ainterna e a externa, nos estimulam a estu-dar, discutir, compreender e sempre quepossível tratar.

3Perfil

Inquietação e determinação marcampresença de Zusman na psicanálise

esde muito cedo, o psi-canal is ta WaldemarZusman já mostrava a

inquietação e a determina-ção que o transformaram em um dosmais importantes contribuidores para oavanço do movimento psicanalítico noBrasil. Embora proveniente de uma fa-mília que encontrava na religião as ra-zões e explicações do mundo (os paisde Zusman eram judeus e haviam imi-grado de uma região da Palestina quehoje faz parte de Israel), ele buscou ou-tras respostas para as questões que oangustiavam. Foi em meio a esta buscaincansável que, ainda na adolescência,Zusman se apaixonou pela psicanálise.

1. Como surgiu o seuinteresse pela Psicanálise?

WZ - Tudo o que o meu pai queria eraque eu fosse religioso como ele, mas eutinha uma fome de conhecimento e de in-vestigação que não me deixava ficar con-tente com respostas do tipo : ‘é porqueDeus quer’. Além de não poder acreditar,eu sentia uma revolta pela imposição doque hoje sei ser uma ‘concepção de mun-do’, que eu não aceitava. Foi aí que,não tendo nenhum outro preceptor e que-rendo saber o que era esta vida que nostocava viver, resolvi procurar a respostanos livros. Como comecei a trabalhar mui-to cedo, com o dinheiro que ganhava per-

corria os ‘sebos’ (livrarias de livros usa-dos) e adquiria publicações escolhidaspelos títulos que mais me instigavam. Foiassim que, aos dezessete anos, moran-do no Rio de Janeiro, deparei-me com umexemplar do livro ‘Para compreenderFreud’, escri to por Gomez Nerea,divulgador da obra do criador da Psica-nálise. Surpreso e encantado com as idéi-as que ali estavam, e testando em mimmesmo a teoria da “Interpretação dos So-nhos”, decidi naquele instante que eu metornaria um Psicanalista.

2. Este projeto “dormiu nagaveta” por longo tempo,não foi?

WZ - Bem Longo. Meu pai estava en-velhecendo e a loja não ia muito bem.Eu achei, então, que teria de dar umjeito em minha vida. Pedi transferênciapara o período noturno no colégio ondeterminaria meu curso secundário e con-segui um emprego num escritório comer-cial. Depois fui operador de rádio-teleti-po no Ministério da Aeronáutica e, emseguida, revisor no Diário Trabalhista.Em seguida, comecei a trabalhar na pu-blicidade do jornal Última Hora, passan-do a fazer reportagens um pouco depois.Eu fiz tudo o que pude: morava perto daminha casa um senhor, amigo da famí-lia, que era dono da Hora Israelita, umprograma que ia ao ar aos domingos, emNiterói. Eu me candidatei e ganhei umlugar de locutor. Paralelamente, entreiem cursinho de preparação para o ves-tibular da Faculdade de Medicina, ondeeu esperava encontrar as bases parauma formação psicanalítica.

3. A psicanálise virou umdestino?

WZ - Acho que sim. Um destino ou umaobsessão, quem sabe?

Quando terminei o 1o ano da Faculda-de, meus pais viajaram de volta para Israel.Eles ficaram se sentido mal de me deixarsozinho no Rio. Insistiram para que eu fossepara a Bahia, porque lá morava um tio. Fui,

então, para Salvador e lá fiz o 2º ano demedicina.

Consegui um emprego de Locutor naRadio Excelsior, que ficava no caminhoentre minha casa e a Faculdade, e co-mecei também a vender livros de medi-cina no Diretório dos Estudantes a ser-viço da Editora Guanabara. Juntei di-nheiro e no fim do ano voltei para o Rio,onde consegui um emprego no SESI epostulei um lugar na Casa do Estudantede Medicina, que ficava atrás da Facul-dade. Lá, morei até o 4º ano do cursomédico, que era quando começava aCadeira de Psiquiatria, sediada no Insti-tuto de Psiquiatria da Universidade doBrasil (IPUB). Houve um concurso paraInternos do IPUB, no qual logo me ins-crevi. Passei e fui, em seguida, morarna residência do IPUB, onde viví por seteanos enquanto trabalhava como planto-nista do Hospital de Psiquiatria do Insti-tuto. Ao me formar, passei a Auxiliar deEnsino da Cadeira, e pouco depois metornei Perito Psiquiatra do Manicômio Ju-diciário Heitor Carrilho.

Por Indicação do Prof. Mauricio deMedeiros fui ainda, por alguns anos, exa-minador da Seleção Psicológica de candi-datos ao Instituto Rio Branco, no Itamaraty– órgão do Ministério do Exterior.

4. E a atividade privada?

WZ - Esta se iniciou pouco depois. Jun-to com os colegas Adolfo Hoirish, PortellaNunnes e Rawlinson Lemos, fundei umaclínica “open door” para tratamentos bio-lógicos. Servia para pacientes que preci-savam de ECT ou de Insulina etc, seminternação. Alugamos uma casa na RuaMarquês de Olinda e ali montamos a Clí-nica Marquês de Olinda. Éramos a únicainstituição que aceitava pacientes não in-ternados para tratamentos biológicos, queera o que sabíamos fazer. Eles iam paralá de manhã, onde tínhamos quartos comleitos e uma enfermagem, faziam os trata-mentos e depois iam para suas casas. Detarde, tínhamos lá nossos consultórios.

A inauguração foi um sucesso. O prof.Maurício de Medeiros, catedrático do Insti-tuto de Psiquiatria e Ministro da Saúde, foinos prestigiar. Fomos a primeira clínica“open door” a funcionar no Rio de Janeiro e

Waldemar Zusman e sua mulher Lina

D

4 Perfilcontinuação

por uns 4 anos funcionamos regularmentenaquele endereço.

5. E a psicanálise ficouesquecida ?

WZ - De forma alguma. Cada um tinhaseu analista. A atividade psiquiátrica era umtempo de espera. Nossos atendimentos psi-quiátricos foram gradualmente sendo subs-tituídos por psicoterapias. Estávamos nosadestrando, fazíamos formação psicanalí-tica particularmente.

Quando cheguei ao 4º ano da faculda-de, na Cadeira de Psiquiatria eu encontreitudo, menos psicanálise. Encontrei a psi-quiatria germânica, a psiquiatria feno-menológica: Kretshmer, Jaspers, Bleuler,Kurt Schneider, etc. Era tudo o que havianaquele tempo. Meu propósito era terminara Faculdade e ir para Israel, re-encontrarmeus pais e minha irmã Nomi, que haviaimigrado com eles e se casado. Nesse meiotempo, meu pai faleceu. Terminei a Facul-dade em 1953, aqui no Rio mesmo, e fuificando.

Em 1956, chegou de Londres o prof.Décio de Souza e fez uma conferência noServiço Nacional de Doenças Mentais, con-tando aspectos de sua formação analíticae exemplificando com situações clínicas omanejo de pacientes. A conferência foi umsucesso. Pouco tempo depois iniciei minhaformação analítica, que terminou em 1961.Vários outros colegas do IPUB, igualmenteávidos de informação e formação analítica,deram o mesmo passo. O Instituto de Psi-quiatria tornou-se um celeiro de candida-tos à psicanalista. Havia o Lourival FerreiraCoimbra, o Antonio Barata, a Mara Salvini,a Anna Eliza Mercadante e muitos outros.

6. A psicanálise, aqui noRio, começou aí?

WZ - Não, já existia. Naquele tempo, asfiguras exponenciais da psicanálise eram oKemper, o Dalheim, o Fabio Leite Lobo e aMaria Manhães. Eles fundaram a SPRJ (Rio1). Depois, chegaram de Londres algumaspessoas que passaram lá quatro, cinco ou seisanos se analisando. Foram o Décio de Sou-za, que foi meu analista, o Edgard de Almeida,o Henrique Mendes, que se analisou com EvaRosenfeld, e o Lira, que teve Paula Heimancomo analista. Estes colegas se juntaram aoutros que tinham feito análise em BuenosAires: Danilo Perestrello, Maria AlziraPerestrello, Walderedo Ismael de Oliveira eAlcyon Bahia e formaram a SBPRJ (Rio 2).

Eu e os colegas do IPUB, que estáva-mos com o Décio, o Lira e os outros, fomos

os alunos fundadores, a primeira turma decandidatos da Rio 2. Fazíamos análise aquie depois íamos fazer supervisão em SãoPaulo. Fiz supervisão com Dra. AdelaideKoch , Virginia Bicudo e Ligia Amaral.

Foi uma formação bastante sacrificada,de pioneiros mesmo, mas foi um tempobom, que deixou saudades.

Logo após a minha formatura, o Décio pas-sou por uma porção de transtornos e acabouincompatibilizado com muitos colegas. Algumtempo depois, morreu de câncer intestinal. Asituação me afetou bastante e eu comecei aacalentar a idéia de ir para Londres fazer umare-análise. Nesse meio tempo, conheci Lina,minha mulher, que é médica anestesista. Elaera de Recife e estava aqui no Rio fazendo

uma Residência no Hospital dos Servidoresdo Estado. Tivemos dois filhos e ambos se-guiram meus passos sem que eu os tivesseobrigado a nada. José Alberto, o mais velho,já é Analista Didata e Sergio, está terminandosua formação.

Finalmente, em 1975, iniciei minha re-análise com o dr. Hans Thorner, em Londres.Fui com toda a família e fiquei dois anos. Tor-nei-me Guest Member da Britânica, frequen-tei as reuniões científícas semanais e fiz se-minários teóricos e clínicos com o pessoaldo grupo kleiniano: H. Rosenfeld, BettyJoseph, Sidney Klein, Leslie Sohn, IsabelMenzies Lyth, Hana Segal e ElizabethSpillius. Também trabalhei no Departamen-to de Adolescentes da Tavistock Clinic, naMarital Unit, e fui Observador de Grupo. Vol-tando ao Brasil, reassumi a clínica e minhasfunções como didata.

De lá para cá escrevi para jornais locais( O Globo e Jornal do Brasil), bem como pararevistas científicas nacionais e estrangeiras.Criei os “Seminários Cine-Clínicos” que, maistarde, com a ajuda do Dr. Neilton Dias daSilva, se tornaram o Fórum de Psicanálise eCinema, que hoje é um braço da Rio 3.

Publiquei o livro “Os Filmes Que Eu ViCom Freud”, em 1994, e, no ano seguinte,participei da mesa que apresentou pela 1ªvez na IPA a interpretação psicanalítica defilmes, durante o 39º Congresso, em SãoFrancisco . O filme era “The Conversation”,de Francis Ford Coppola, e faziam parteda mesa o Prof. Emmanuel Berman, de Is-rael, e o Dr. Glen Gabbard, dos EE.UU. Ain-da na IPA, no Congresso Internacional de

Nice, em 2001,apresentei uma interpreta-ção psicanalítica do filme “Central do Bra-sil”, de Walter Salles.

7. Poderia nos falar umpouco sobre suaparticipação na IPA?

WZ - Participei muito do trabalho na IPA.Fui por duas vezes eleito Vice-Presidente daIPA para a América Latina. Fui também Se-cretário para a América Latina eorganizador da parte científica do Congres-so de Buenos Aires em 1991, onde pela pri-meira vez o Português foi aceito como lín-gua falada e traduzida. Para que isso se tor-nasse possível, contei com a ajuda da ABP,da FEPAL e da Sociedade Psicanalítica de

Lisboa, que financiaram os custos da tradu-ção simultânea. Presidi o SponsoringCommittee de Rosário.

Em Linden Hall (Grã-Bretanha), 1988, fuio psicanalista convidado para apresentar umPosition Paper na International Conference.A IPA faz um congresso de dois em doisanos, como é sabido, e no intervalo entreeles, faz a International Conference. Paraeste evento, são convidados 40 analistas domundo e um é escolhido para fazer o PositionPaper. O conceito de “Síndrome de Eitingon”procede deste meu paper, que se chamou“Our Science and Our Scientific Lives” e foipublicado na Revista de Psicoanalisis (APA)Tomo XLV, no. 6, 1988.

8. E como se deu afundação da Rio 3?

WZ - Um grupo de mais ou menos 20analistas se desentendeu com a direção daRio 2 em função de uma reforma de Esta-tutos. Como a situação não se resolvia, fuia Nova York falar com o Otto Kernberg, re-cém eleito presidente da IPA. Ele meu ou-viu e sugeriu apresentarmos o problemaem Barcelona, perante o Council, no Con-gresso que estava por vir. Foi o que fiz,autorizado pelo grupo. A IPA acolheu nos-sos pontos de vista e concordou em queformássemos uma nova sociedade, come-çando como Grupo de Estudos. Tornamo-nos o Grupo de Estudos Psicanalíticos Rio3 e, recentemente, no Congresso de NovaOrleans, passamos a Component(provisional) Society. Agora somos “A As-sociação Psicanalítica Rio 3”.

O Grupo Rio 3 começou se reunindo naminha casa semanalmente. Vivemos com en-tusiasmo esta nova condição, e foi a épocada elaboração dos nossos estatutos. Minhamulher, Lina, foi muitíssimo companheira aolongo de todo o episódio de nossa constitui-ção como grupo. Foi eficiente e discreta. Aju-dou a criar um clima de conforto e amizade. Ogrupo sempre se refere a ela com carinho.

9. Fale também de suaspoesias.

WZ - Algumas estão na minha homepage, que se chama Vértice Psicanalítico(www.wzusman.com). Uma delas, chama-da “Sem Memória e Sem Desejo”, ganhouo primeiro prêmio num concurso de poesi-as – premiação que comemorei em um jan-tar com toda a Rio 3. Dá para ver como apsicanálise ocupa inúmeros espaços daminha vida. Se algum dia publicar um livrode poesias ele vai se chamar: “Um Psica-nalista no Telhado”. É obvia a paródia.

“O Grupo Rio 3 começouse reunindo na minhacasa semanalmente.

Vivemos com entusiasmoesta nova condição, e foia época da elaboraçãodos nossos estatutos.”

5Entrevista

O medo atravessa séculos

Atualmente, o medo é a condição natural do ser humano. Ele avança pelo mundo,adentrando também pelo Brasil. O medo está associado à vida cotidiana dos homens, sejana política, na cultura, no trabalho, enfim, em todas as épocas e momentos da história da

humanidade. A difusão desse sentimento na sociedade é analisado pela professora daEscola de Comunicação da UFRJ e psicanalista da SBPRJ Maria Helena Junqueira, em

entrevista ao ABP Notícias. A psicanalista acredita ser um risco a generalização da culturado terror pois o mundo está em crescente tensão.

ABP Notícias - O sentimento domedo é algo que impõe limites?

Maria Helena - Esta relação é interes-sante porque, sim, o medo impõe limites.Mas, por outro lado, o limite também pro-voca medo, quando aponta para a finitude,a impotência.

ABP Notícias - Quando o medodeixa de ser um sentimentopositivo e passa a ser nocivo?

Maria Helena - A pergunta expressauma pressuposição acertada de que o medopode ser positivo. A questão então seriaquando o medo é positivo? Podemos pen-sar que é quando está a serviço da preser-vação da vida, das relações, das condições

de existência, quando o medo está ligadoao cuidado, evitando riscos de destruição.Mas o medo por vezes atrofia, paralisa, res-tringindo o desenvolvimento do ser huma-no, sua criatividade, sua liberdade.

ABP Notícias - Será queentramos em uma nova era domedo?

Maria Helena - Entramos em uma novafase do medo em 11 de setembro de 2001,quando se começou a fazer uso político domedo com finalidades específicas e de modoaberto. Historicamente o medo é gerenciadoe serve a propósitos específicos. Não hádúvida de que assim se fomenta, se cria uminimigo. Lutar contra um inimigo comum éum forte fator de coesão social. Neste esta-do de coisas cria-se uma atmosfera de guer-ra, declarada ou não, como se houvesse apriorização da luta contra o que se teme so-bre qualquer outro valor.

ABP Notícias - Qual a fronteiraentre o medo e o terror do serhumano?

Maria Helena - O medo conhece o queteme, de algum modo reconhece o que étemido. Já o terror expressa uma situa-ção mais ampla e devastadora que provo-ca um abalo profundo, uma insegurançainsuportável que deixa as pessoasdespreparadas para reagir ou se defender.De certo modo, o terror é experiência daordem de um excesso, de um transborda-mento que pode ser desorganizador.

ABP Notícias - Nos EUA, oterrorismo ganhou caráter de lutacontra um adversário. De queforma isso se reflete em nossasvidas? O terror está generalizado?

Maria Helena - Há determinados obje-tivos políticos que, para serem alcançados,necessitam da suspensão de juízo, de ade-são, o que por vezes se consegue com aguerra. A estratégia para combater o terro-rismo não se transforma em outro terroris-mo? Por ser muito amplo, este é um inimi-go vago. Qualquer diferença pode repre-sentar uma ameaça e é perigoso dizer“quem não está comigo está contra mim”.Estabelece-se uma situação de conversão,em que o padrão é um só. A diferença tor-na-se uma ameaça, uma inimiga.

Esta situação cria hoje para o mundo umatensão crescente, cujo desfecho é im-previsível. Isto transcende o resultado daseleições americanas, porque o problema estácriado e não encontrou solução até agora.Não sei se podemos dizer que o terror estágeneralizado, mas este é sem dúvida um ris-co. Houve há algum tempo uma reportagemno jornal que falava que os americanos es-tão com medo, estressados e adoecendo.Este é um reflexo penoso que atravessa suasvidas de modo definitivo.

ABP Notícias - Existemdiferentes tipos de perigo evários tipos de violência. Comoclassifica-los?

Maria Helena - Talvez possamos pensarque o que mais varia neste caso é a gradação,

a intensidade da violência. Alguém não ata-ca, não reage só quando se vê diante de umperigo. A banalidade da violência é por vezeso que horroriza. E o excesso de violênciapassa a ser um modo de mostrar poder, demanter os outros coagidos pelo medo. Hojeno Rio de Janeiro tornam-se cada dia maisfreqüentes as histórias horripilantes sobre oque pode acontecer a pessoas em poder dotráfico e os sacrifícios a que são submetidas.E não só à população das favelas; a cidadetambém fica refém deste poder do horror.Além disso, cabe pensar nos horrores a quepodem estar sujeitos os presos do sistemacarcerário, que podem ser torturados e mes-mo mortos sob a tutela do Estado.

ABP Notícias - Desde quando omedo passa a fazer prisioneiros?

Maria Helena - Acabamos de referir umasituação em que ficamos prisioneiros. O medotem algo real a que se pode temer. O horrorparece mobilizar nossos medos reais e ima-ginários, o que leva a que se possa ficar prisi-oneiro daquilo que se teme e também do pró-prio medo. Esta é uma situação de extremorisco, pois as pessoas podem se tornarsonambúlicas, conduzidas desde fora e nãopor seus próprios desejos e propósitos.

ABP Notícias -No entretenimento,o medo passou a ser fonte derenda, como no caso dos livrospoliciais e de terror. Como a sra.explica o fato de as pessoasgastarem dinheiro e tempo parasentir medo?

Maria Helena Junqueira da SBPRJ

6 Entrevista

Maria Helena - Talvez isto não seja umanovidade, ainda que hoje assuma matizesespeciais. Os contos de fada sempre apre-sentaram de modos diferenciados a malda-de. A dinâmica do bem e do mal está pre-sente na constituição dos contos de fada e,conseqüentemente, os primórdios de certospreceitos éticos. A tal ponto que muitas des-tas narrativas terminavam com “moral dahistória”, em uma tentativa de estabele-cer o certo e o errado a partir da condu-ta dos personagens. Muitos pais, aocontarem estas histórias a seus filhos,pulam certas partes da história, tentan-do poupá-los. Pierre Fédida, psicana-lista francês morto recentemente, adver-te que isto é um equívoco, pois estasnarrativas permitem às crianças elabo-rar sua própria maldade e seus medos.

Se as pessoas gastam dinheiro parasentir medo, talvez seja porque gastamdinheiro para tentar aprender a contro-lar o medo. O que deveríamos pensarmelhor é o que fomenta esta indústriada violência levada a cabo pelo entrete-nimento. A quem interessa a brutalizaçãoda sensibilidade e da delicadeza? De-vemos também pensar que às vezesmesmo um telejornal ou um jornal podeexercer este fascínio e horror que o es-petáculo da violência nos provoca. Oque provoca em nós esta força desme-dida e fora de limite? Este não será umjogo perverso?

ABP Notícias - No séc. XVII, ateoria de Hobbes via o medocomo um sentimento que obri-gava os homens a se unir. Nofundo, o medo empurrava aspessoas para a razão. Conside-ra que as coisas estejam diferen-tes? Como?

Maria Helena - De certo modo podemosdizer que a teoria proposta por Hobbes noséculo XVII continua valendo no século XXI,mas com outra configuração, dentro de ou-tra perspectiva política. O medo deixa o ho-mem vulnerável e, a partir daí, ele se alia aum semelhante contra aquele que o amea-ça. Mas é um fluxo paradoxal, uma cadeiasem fim. Para Hobbes o medo empurrariapara a razão. Para Freud, o desamparoempurra o homem para um déspota que oguie, e vemos tristemente que por vezes istose confirma. A teoria proposta por Freud em“Tótem e tabu’ nos coloca diante desta situ-ação paradoxal da morte do pai-tirano que,uma vez morto, recoloca a busca do tiranoque salve do desamparo. O humano impli-ca o lugar deste desamparo e desta tirania,

não pretendendo simplificar um tema abso-lutamente complexo.

Pensemos o homem hoje, ou melhor,pensemos o Brasil. Estamos vivendo umacrise da representação política, da delega-ção aos dirigentes. Já não se acredita queseremos representados ou defendidos poraqueles que elegemos. Ao mesmo tempo,

não é só de direitos que se constitui um ci-dadão. É também de deveres, que muitasvezes não são cumpridos. A noção de cida-dão vem sucumbindo à noção de consumi-dor. Hoje falamos em direitos do consumi-dor, Procon etc. E quem não é consumidornão é cidadão?

ABP Notícias - O medo é uminstrumento de tomada dedecisões?

Maria Helena - O medo pode impedirou forçar a tomada de decisões. Em cadasituação isto pode assumir feições singu-lares. A decisão de combater ou não otráfico de drogas hoje é extremamentecomplexa, necessitando longa análise, in-clusive no âmbito internacional. Há ummedo real em situações sabidamente de-licadas e perigosas, mas quando se ficadominado pelo medo, nada muda. No casoda Guerra do Iraque, alguma reação ame-ricana era prevista, mas a reação do Pre-sidente Bush vai além do revide. É o po-derio bélico americano se mostrando aomundo. A guerra calculada, com alvos es-pecíficos, mostrada ao vivo para o mundohorrorizado, nos moldes do que se vê em

um vídeo game. O medo pode então pres-sionar tomadas de posição, e é isso quecontinuamos assistindo.

O tratamento imposto aos prisioneirosiraquianos que chocou o mundo é a compro-vação desta lógica de imposição do medo, dahumilhação, da destituição da dignidade quecaracteriza qualquer situação de tortura.

ABP Notícias - Até onde o terrorgeneralizado é ferramenta nadisputa eleitoral nos EUA após11 de setembro?

Maria Helena - Há uma tentativa eleito-ral em marcha para tentar convencer o elei-torado americano de que o único candidatocapaz de conduzir a luta contra o terror éGeorge W. Bush. O povo americano estáassustado desde o ataque de 11 de setem-bro. Houve um ataque real evidente e umataque simbólico ao poderio americano.Além da espetacularização da violência,quando o mundo assistiu atônito a explo-são ao vivo da segunda torre, duvidandoque não fosse ficção. É sempre perigosa –e a história nos confirma isto – esta tentati-va de um líder de conduzir o povo como sefosse um salvador. Em um mundoglobalizado, o destino de um país podero-so pode implicar o destino do mundo, di-zendo respeito a todos nós.

ABP Notícias - No Brasil,destacam-se as formas dedesigualdade social e as

populações marginais. Acreditaque o exercício e o sentimentode terror são maiores emrelação a outros países?

Maria Helena - Sem dúvida a injusti-ça social no Brasil é aguda e crescente,aumentando a concentração de renda e

diminuindo a taxa de emprego. Osexcluídos não encontram caminhosreais de inclusão social. E isto nãose alcança através de programasassistenciais, que são necessáriosmas provisórios. É importante acapacitação profissional e a geraçãode novos empregos, cada vez maisescassos. Há trabalho, mas não háemprego. Aumenta o trabalho infor-mal, mas diminuem as chances deemprego com carteira assinada, fé-rias, estabilidade.

A miséria é uma das formas de ter-ror mais constrangedoras e freqüentes.Parece difícil imaginar que tantas pes-soas no mundo e no Brasil morrem defome enquanto há tanto desperdício,tanta corrupção, tanto desvio de recur-sos. Um prato de comida por dia podesalvar muitos seres humanos da mor-te. Estamos tentando lidar mais pro-fundamente com este problema e bus-cando a aliança dos países ricos nestaempreitada. O futuro é que dirá se estatentativa logrará êxito, o que seria fun-

damental para o mundo.

ABP Notícias - É possível afirmarque está surgindo uma espéciede cultura do terror?

Maria Helena - Sempre está surgin-do um novo modo cultural, pois o mun-do não pára de mudar e as expressõesdestas transformações se fazem sentirna cultura. Vivemos hoje em um mundoglobalizado e que tende a funcionar porblocos. Os interesses não dizem maisrespeito necessariamente às nações,mas a condições econômicas, de mer-cado, de manutenção da hegemonia depoderes oligárquicos. Por vezes, o ter-ror torna visíveis os horrores que sofre-mos e não vemos, que não entendemos.Isto não é necessariamente novo, masassume uma dimensão nova na socie-dade da informação, da internet e da co-municação instantânea.

O risco maior é que, diante dos horro-res, terrores, medos e pânicos que nos cer-cam, nos tornemos pessoas covardes, in-capazes de reagir, autômatos à disposiçãode quem nos queira dominar.

continuação

Atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001

7Artigo

SABER & SABERCelia Maria Blini de Lima*

Há algum tempo, preparei um trabalho,onde o tema era “Este lugar- o Espelho vivo daAlma”, cuja introdução referia-se a divagaçõessobre o saber, a sabedoria e o sensato. En-contrei em minhas pesquisas duas definiçõesdos conceitos e separei-as em dois grupos:

1. saber - ter conhecimento, informa-ção, certeza de prover, ser instruído em,ter erudição, sabedoria.2. saber - ter o sabor de, prudência,sensatez , discreção.A maioria das minhas experiências em

Seminários, Encontros e Congressos Naci-onais ou Internacionais apontava mais parao saber 1. A relação se dava de forma ver-tical entre conferencistas e participantes,uma relação assimétrica, hierárquica, umclima mais comparativo, competitivo, àsvezes até de ameaça.

No Seminário Internacional Bion 2004,pude experimentar o saber 2, viver a Psi-canálise sentindo o sabor da experiênciaque ia e vinha da inquietação à serenidade(utilizando uma expressão-síntese desseseminário).

As relações aconteceram no plano ho-rizontal entre conferencistas e participan-tes, respeitando a assimetria, numa dinâ-mica democrática e de respeito, num climavivo, amoroso, fértil.

Um encontro que se pareceu com avida. E como diz Bion: “se não se pare-ce com a vida, não é psicanálise”. Epara mim foi possível perceber a har-monia entre a teoria e a técnica, entreo conhecimento e a emoção, “aprendercom a experiência” e me aproximar deuma psicanálise humana. Realcei o queachei diferente e positivo, mas é claroque, depois da experiência, poderia ofe-recer contribuições, despretensiosa-mente, para aspectos que poderiam serdiscutidos.

Obrigada a todos que organizaram esteevento, de qualidade ímpar ao meu ver emtodos os aspectos – das ofertas de conhe-cimento e amor às experiências emocionais.

* Candidata da SBPSP

de, já que tenho grande admiração porpessoas que se comunicam com facili-dade e, por isso mesmo, tenho buscadocom tenacidade desenvolver em mimesta condição.

Fiquei matutando, procurando ampliaro entendimento das mudanças que tenhoobservado. Nesse estado, percebi comoultimamente a imagem da Dra. VirginiaBicudo convivia comigo através das lem-branças dos proveitosos momentos que ti-vemos em aulas, palestras e supervisõesem sua residência no Lago Sul. Recente-mente, a parede do meu consultório pas-sou a ostentar uma bela foto sua,legendada por um cartão que ela me en-viou redigido de próprio punho, e que guar-do como um amuleto. Assim pensando,

Herança de Dona VirgíniaAntônio de Morais Jardim*

emocionado, dei-me conta do legado degenerosidade, trabalho e conhecimentoque esta senhora derramou nas geraçõesque foram se sucedendo. De inicio,Ronaldo, Tito e Humberto; depois Carlos,Jansy, Regina e Kedhy; mais recentemen-te Thaísa, Marcio, Luciano, Silvayn, Neto,Márcia (tão querida!) e tantos outros já daminha turma de formação ou mais jovens.

E não é que a herança de Virginia estárespingando por aqui também! Nós, doNúcleo de Psicanálise de Goiânia, fomostambém contagiados, pois estamos em fran-ca efervescência, sob a segura e compe-tente condução de Zina Saad. Foram mui-tas as atividades desenvolvidas no semes-tre passado e tantas outras estão progra-madas para o próximo, com destaque para

Jornada que realizaremos em outubro.Vale reconhecer o vital apoio que ter-

mos recebido da atual Presidente da So-ciedade de Psicanálise de Brasília, Regi-na Mota, não só financeiro, mas atravésde visitas periódicas dos membros desig-nados por esta diretoria, Silvayn, Ijucéliae Nepoluceno - que com suas experiênci-as muito têm contribuído para o cresci-mento do nosso grupo.

É com o sentimento muito semelhan-te ao de um filho, que tem orgulho de suasorigens e deseja exibir aos pais suas pró-prias conquistas, que passo as boas no-vas do Núcleo de Psicanálise de Goiânia.

* Candidato da SBPSP

Sempre que pude, evitei o que estoufazendo agora: publicar, expor, expres-sar sentimentos etc. Creio que menospor temperamento do que por dificulda-

8 Artigo

E 2- pagar a anuidade de associado: U$15anuais para EUA e Europa Ocidental e U$10anuais para a América Latina, Europa Ori-ental e alguns países da Ásia (este últimovalor foi estabelecido após eleição realiza-da no último congresso e levou em conta asituação econômica destes países).

No Brasil, embora tenhamos inúmerasSociedades e alguns grupos de estudos járeconhecidos pela IPA, poucos somos osfiliados à IPSO.

Isso se deve a diversos motivos, e aquilisto alguns:

- Há desinformação sobre o quevem a ser esta organização e quais asvantagens de se associar a ela;- Por ser um país muito extenso, oBrasil não conta com representantes daIPSO em todos os seus institutos de for-mação para esclarecer as finalidades daorganização, bem como servir de ponteentre seus colegas e a organização;- Há no Brasil inúmeras associa-ções, tais como, a Associação dos Can-didatos (que é local), a Associação Bra-sileira dos Candidatos (ABC, que é na-cional) e a Organização dos Candida-tos da América Latina (OCAL) , todaselas de caráter e filiação optativos;- Cada uma destas organizaçõesexige do candidato o pagamento deuma pequena anuidade, o que faz como que ele relute em assumir mais umcompromisso financeiro.É interessante notar que, nos EUA e na

maioria dos países europeus, o candidatotem sua anuidade da IPSO paga por suasociedade, sendo esta deduzida da própriamensalidade. Isso faz com que, ao ser apro-vado para a formação, o candidato auto-maticamente passe a fazer parte da IPSO.Este é um ato que reconhece a necessida-de e o direito do analista em formação deorganizar-se enquanto categoria em nívelinternacional.

Outro dado interessante, é o fato de quetodos os membros da IPA estão inscritos

num roster, ou seja, pode-se ter acesso aonome, endereço, telefone e e-mail de qual-quer analista que seja membro de algumasociedade em qualquer lugar do mundo. Omesmo não acontece com os analistas emformação nos diferentes institutos: não te-mos como saber quem, quantos, nem deonde somos. Dependendo do tempo quelevamos em formação, podemos serinexistentes como analistas para a comuni-dade internacional por longos anos.

Quais as vantagens dafiliação?

Há diversos motivos que penso justifi-carem a filiação de todos os candidatos:

- Em primeiro lugar, acredito que to-dos nós, quando nos interessamos empertencer à uma sociedade filiada e re-conhecida pela IPA, além da receber for-mação, passamos a fazer parte de umaInstituição com vinculação internacional.Formamos uma espécie de rede comoutras culturas, outros Institutos de for-mação, o que nos dá uma dimensãomuito diferente da que temos quando tro-camos experiências apenas com colegasdo nosso próprio país. É muito interes-sante poder constatar as semelhançasentre nós e, mais ainda, verificar o quan-to as diferenças culturais estão presen-tes no nosso trabalho cotidiano;- A IPSO conta com um jornal, quepublica trabalhos de seus membros epode ser lido por todos os candidatosno mundo, o que também nos permiteuma troca muito rica de informações.Para manter um canal aberto a ques-tões de interesse da comunidade decandidatos das mais diversas partes domundo, a organização tem um website(www.ipso-candidates.org) e uma listade discussão. Para acessá-la bastacontatar Thomas Bartlett([email protected]), encarre-gado da organização da mesma;

- A IPSO mantém contato estreitocom a IPA, o que permite que nossosinteresses sejam representados e ouvi-dos pela cúpula internacional;- Há grupos de pesquisa sendo for-mados com o apoio financeiro da IPA/IPSO sobre temas de interesse para apsicanálise, uma vez que temos um re-presentante do comitê executivo daIPSO no comitê de pesquisa da IPA;- A IPSO organiza boa parte dos con-gressos internacionais, além de promo-ver os encontros entre os candidatos eas reuniões em que se dão apresenta-ções de trabalhos e as eleições. Duranteesses encontros, acontecem também umalmoço e uma festa de integração patro-cinado pela própria IPSO. Já há no Riode Janeiro um grupo encabeçado porGabi Pszczol, representante local daIPSO, trabalhando para que nosso en-contro e nossa festa sejam um sucesso;- Na condição de president-elect ebrasileira, ocupo a função de chair pelaIPSO junto à comissão organizadora docongresso (IPA), visando a garantir aintegração dos candidatos no congressointernacional. Já estamos trabalhando atodo vapor para garantir uma granderepresentatividade de apresentações decandidatos de todo o mundo. Para os in-teressados em enviar trabalhos ou casospara supervisão, o prazo de entrega dosmesmos é o dia 1º de novembro de 2004.Este ano, pela primeira vez o melhor tra-balho receberá o prêmio de 500 dólares.Listei aqui algumas das razões que me

levaram a participar deste comitê executivoe gostaria de contar com representantes daIPSO e grupos de estudo de todo o Brasilpara que nossa organização tenha cada vezmais representatividade junto à comunida-de internacional. Coloco-me à disposiçãopara qualquer esclarecimento e espero con-tar com o apoio e a adesão de todos.

*President-elect da IPSO, Instituto da SBPSP.

IPSO – a representação-força doscandidatos

* Susana Muszkat

Em março de 2003, realizou-se o 43ºCongresso Internacional de Psicanálise emNova Orleans, EUA, cujo tema foi “Workingon the Frontiers” (“Trabalhando nas Frontei-ras”). Os congressos internacionais realizam-se a cada dois anos e o próximo será em2005, no Rio de Janeiro (ótimo pra todos nós,que vamos poder comparecer em peso!).

É também por ocasião dos congressosinternacionais que acontecem as eleiçõespara as diretorias da IPA (InternationalPsychoanalytical Association) e da IPSO(International Psychoanalytical StudiesOrganization) - o correspondente da IPA nonível dos candidatos, que representa todosos analistas em formação no mundo

A Diretoria Executiva da IPSO segue osmesmos moldes daquela da IPA: há umpresident, um president-elect, quatro vice-presidents e quatro vice-presidents-elects. Háainda um tesoureiro e um editor encarregadodas publicações do IPSO Journal e do Website.

Nas últimas eleições, tive a honra de sereleita para president-elect, o que quer dizerque passo a fazer parte da diretoria executi-va da IPSO, trabalhando diretamente com oatual presidente, Bernard Keurleuber, da Ale-manha, até o congresso de 2005, quandoassumo o cargo integralmente até 2007.

O atual presidente da IPA é o francêsDaniel Widlocher, sendo que, coincidente-mente, o president-elect é também um bra-sileiro, Claudio Laks Eizirik, de Porto Ale-gre, que também assumirá integralmente nocongresso do Rio de Janeiro.

Controle de afiliados

Infelizmente, ao contrário do que acon-tece na IPA, a IPSO não tem a exata noçãode quantos são seus afiliados, já que não éuma organização de filiação obrigatória.

Atualmente, são duas as condições ne-cessárias para sermos membros da IPSO:1-ser candidato de um instituto de psicaná-lise cuja sociedade ou grupo de estudos sejafiliada à IPA;

9Homenagem

Robson Cabral de MendonçaAo Robson, com profunda gratidão.

Crisales Rezende*

A vida se inicia como o nascer do sol e suachegada é sempre cercada de muita alegria.Termina como o crepúsculo, o sol se pondo e asluzes indo embora. A morte, inexorável realida-de da vida, é um processo natural, mas a suaveio cedo demais, foi como se a noite chegasseno meio da tarde.

Contemplar seu rosto expressando tranqüi-lidade e paz, tentando nos comunicar que nãohavia mais sofrimento, trouxe para mim uma cer-ta calmaria, capacidade para pensar, lembrar eescrever. Aliás, brincar com as letras, formar pa-lavras e frases, construir um texto é o que con-sigo fazer para mitigar a falta e a saudade queestou sentindo.

Robson Cabral de Mendonça era médicopsiquiatra, professor da Universidade Federal deAlagoas e psicanalista titulado pela SBPSP. Fun-

dou o Núcleo Psicanalítico de Maceió e ministra-va seminários teóricos e clínicos no Núcleo Psi-canalítico de Maceió e na Sociedade Psicanalíti-ca do Recife, onde fiz minha formação analítica.

Quando ministrava seminários, deixava de ladoo professor e tornava-se um mestre. Faço esta dis-tinção porque professores existem em série.

Todo mundo pode ser professor. Ser professoré estar sempre ávido por conhecimentos, preocu-pado em acumular o saber. É ser objetivo, científi-co e naturalmente fragmentado. Procurar apenassolos férteis para semear. O mestre é diferente,mais raro. É procurar dignidade no que aprende eapreende. Selecionar o que é melhor para cadapessoa e não se distanciar do humano. É ser sábioe generoso. Crer, ter fé e semear conhecimentos,sonhos e esperança até em pedra bruta.

Para se tornar mestre é preciso ter sabedo-ria; e a sabedoria é a arte do discernimento. Só apossui quem se tornou uma pessoa simples -Robson era um homem simples.

Foi meu analista por longos anos. Voz man-sa e acolhedora. Passos cadenciados pela cal-

ma e tranqüilidade; dava-nos a impressão de quenada o abalava. Sua escuta era incomum, sem-pre afinadíssima, preciosa e rara era sua sensi-bilidade, facilitando a decifração das notassolfejadas carregadas de emoções. Grande ma-estro! Traduzia, com graça e beleza, as triste-zas dos bemóis e as alegrias dos sustenidos to-cados numa sessão de análise. Com ele, tive oprivilégio de construir a minha própria sinfonia.A sinfonia da vida.

Trago para partilhar com vocês, uma lembran-ça alentadora de um momento inicial de minhaanálise, uma lembrança que foi e será semprecomo uma lição de vida. Num tempo difícil, che-guei a sessão visivelmente abalada com fatos quehaviam me acontecido; Robson me escutou comtranqüilidade, silenciosamente. Quando me acal-mei, ele falou: “vou lhe contar uma história, pen-so que vem da sabedoria chinesa:

Um homem numa floresta escura, com muitomedo e terror corria porque ouviu o rugido de umleão. Não conseguindo enxergar por onde andava,caiu num precipício. No desespero da queda, con-

seguiu agarrar-se num galho. Ali, com o leão aci-ma e o abismo abaixo, ele ficou. Mais calmo,olhando a parede do precipício, viu ali um moran-go vermelho e maduro. Estendeu o braço, colheue comeu. O morango estava delicioso”.

Terminada a história ele me falou: “Crisales,o leão já é passado, já foi. O abismo é o futuro,não caindo não há como saber. Não perca osbons momentos que a vida lhe oferece. A vida éo presente. É a única coisa que temos no mo-mento”.

Robson era assim, como dizia o poeta in-glês Willian Blake: “uma pessoa que conseguever o mundo num grão de areia e o céu numaflor silvestre”.

Tudo o que nos ensinou com certeza sobre-viverá em nossas mentes sob a forma de lem-brança e de saudade. Levaremos na lembrançatudo o que de proveitoso vivenciamos, na certe-za de que foi bom e valeu a pena. Até um dia,talvez numa outra realidade.

*Membro Associado da SPR/NPM

O Homem Nu(Fernando Sabino)

Ao acor-dar, dissepara a mulher:

— Escu-ta, minha fi-lha: hoje é diade pagar a

prestação da televisão, vem aí o sujeito com aconta, na certa. Mas acontece que ontem eu nãotrouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou amulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vi-garice, gosto de cumprir rigorosamente as minhasobrigações. Escuta: quando ele vier a gente ficaquieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pen-sar que não tem ninguém. Deixa ele bater atécansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-seao banheiro para tomar um banho, mas a mulher jáse trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveufazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta deserviço para apanhar o pão. Como estivesse com-pletamente nu, olhou com cautela para um lado epara outro antes de arriscar-se a dar dois passos atéo embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármo-re do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderiaaparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavamo pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo,impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainhae, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando an-siosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da

água do chuveiro interromper-se de súbito, masninguém veio abrir. Na certa a mulher pensavaque já era o sujeito da televisão. Bateu com o nódos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou,em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do ele-

vador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente osandares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entreos andares, esperou que o elevador passasse, evoltou para a porta de seu apartamento, semprea segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu pas-

sos na escada, lentos, regulares, vindos lá de bai-xo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendouma pirueta, e assim despido, embrulho na mão,parecia executar um ballet grotesco e mal ensaia-do. Os passos na escada se aproximavam, e elesem onde se esconder. Correu para o elevador,apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta eentrar, e a empregada passava, vagarosa, ence-tando a subida de mais um lanço de escada. Elerespirou aliviado, enxugando o suor da testa com oembrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador sefecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu,sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a portado elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia

mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu,desorientado, que estava sendo levado cada vezpara mais longe de seu apartamento, começavaa viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instau-rava-se naquele momento o mais autêntico e des-vairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com

força entre os andares, obrigando-o a parar. Res-pirou fundo, fechando os olhos, para ter a momen-tânea ilusão de que sonhava. Depois experimen-tou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo con-tinuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada:“Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria su-bir ou descer? Com cautela desligou a parada deemergência, largou a porta, enquanto insistia emfazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vezesmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ou-viu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no ba-tente e tentando inutilmente cobrir-se com o em-brulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, con-fuso. — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços paracima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!E correu ao telefone para chamar a

radiopatrulha:— Tem um homem pelado aqui na porta!Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver

o que se passava:

— É um tarado!— Olha, que horror!— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a

porta para ver o que era. Ele entrou como um fogue-te e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lem-brar do banho. Poucos minutos depois, restabelecidaa calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofe-gante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.

(Esta é uma das crônicas mais famosas dogrande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraí-da do livro de mesmo nome, Editora do Autor -Rio de Janeiro, 1960, pág. 65.)

Em julho de 1999 recebeu da Academia Brasi-leira de Letras o maior prêmio literário do Brasil,“Machado de Assis”, pelo conjunto de sua obra.

O valor do prêmio, R$40.000,00, foi doadopelo autor a instituições destinadas a criançascarentes. O desembargador Alyrio Cavallieri, ex-juiz de menores, revelou que em 1992, todos osdireitos recebidos pelo autor do polêmico livro “Zé-lia, uma paixão” também foram distribuídos a cri-anças pobres.

O escritor mineiro Fernando Sabino, 80, mor-reu às 13h do dia 11 de outubro, em sua casa emIpanema (zona sul no Rio de Janeiro), vítima decâncer no fígado. Sabino completaria 81 anos nodia seguinte.

10 Notícias & Programação

XX CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE

veu um amplo programa de seminários clí-nicos e temáticos, e do dr. Mark Sohlms,que realizou conferências e seminários clí-nicos sobre psicanálise e neurociências.

No segundo semestre a programaçãoteve como estímulo à resolução da IPA, to-mada no último congresso, de permitir quecada sociedade decida o número de ses-sões nas análises didáticas. A programa-ção científica foi elaborada visando aoaprofundamento da discussão sobre a for-

O tema do XX Congresso Brasileirode Psicanálise, que acontecerá emBrasília-DF, de 11 a 14 de novembro de

2005 foi definido pelo Conselho Científi-co da ABP: “Poder, Sofrimento Psíquicoe Contemporaneidade”.

No dia 09 de novembro, a presidentedo Núcleo, Maria Inês Mendonça, expôso trabalho “Psicanálise dos Contos deFadas”. Rosinete Melo apresentou, nodia 5 de outubro, o trabalho “Amor ePsicose em Uma Mente Brilhante”.

No dia 27 de novembro, a psicana-lista Rosinete Maria de Mendonça co-

menta o filme “Melhor Impossível”. OCiclo de Debates Psicanálise e Cinemaexibiu, no dia 30 de outubro, o filme “OCaminho para Casa”, que foi comenta-do pelo psicanalista Eduardo Afonso Jr.Já no dia 25 de setembro, o filme “HarryPotter”, foi comentado pela psicólogaJerzuí Tomas.

NÚCLEO PSICANALÍTICO DE FORTALEZA

Durante os dias 7, 8 e 9 de outubroaconteceu a VI Jornada do Núcleo Psica-nalítico de Fortaleza e o IV Encontro dePsicanálise da Criança e do Adolescente,cujo tema foi “Psicossexualidade na Atuali-dade: Pulsão versus Objeto”. O evento, re-alizado no Golden Tulip Iate Plaza Hotel,teve a conferência de abertura “Toda novi-dade não passa de esquecimento” proferi-da por Paulo Cesar Sandler (SBPSP).

Outros temas debatidos foram “A his-tória da sexualidade”, por Sidcleiton

Jucá (NPF), “O que a sexualidade tem aver com psicanálise?”, por Luís CarlosMenezes e Paulo Cesar Sandler(SBPSP), “Frigidez e Relações Objetais”,por Sônia Lobo (NPF) e “Pensando so-bre Romeu e Julieta”, por Telma Barros(SPR).

Durante a Jornada também foi lançadoo livro: “Ana Bárbara: Caminhos de um des-tino – ficção mitológico-psicanalítica”, deValton Miranda Leitão, com apresentaçãode Mario Smulever (APA/SPR).

mação analítica, tendo em vista os fatoresque favorecem ou não a consistência do co-nhecimento psicanalítico e a eficácia danossa prática.

O tema geral, “Psicanálise-formaçãohoje: suas fraquezas, suas forças e suasbuscas”, foi discutido com base em artigosdos autores Garza-Guerrero, MichaelRustin, Ronald Britton e John Steiner, to-dos sobre questões inerentes ao grupo psi-canalítico e à prática clínica atual.

“Um estudo clínico do narcisismo fe-minino” foi o tema da palestra que o dr.Walter Santa Rosa proferiu após a exi-bição do filme “Madame Bovary”, comen-tado pela dra. Edna Vilete, no dia 17 desetembro. No dia 21 do mesmo mês, osdrs. Henrique Honigsztejn (membro efe-tivo e didata da SPRJ) e Auterives Maciel(Doutor em filosofia pela UFRJ e profes-sor da UFF) apresentaram a palestra “Acriação, a ética e a estética”. No dia 2de outubro, o dr. Marco Antonio BrantSaldanha (membro efetivo e didata daSPRJ) proferiu a palestra “O quarto es-curo – um estudo sobre a perversão”.

Já a VI Jornada Anual de Psicos-somática, que aconteceu dia 16 de ou-tubro, contou com quatro mesas redon-das. A primeira delas, “Alexitimia nocontexto da psicossomática”, teve comoapresentadores os drs. Nelson do Ro-sário Caldas e Eduardo Conte Póvoa,sob coordenação do dr. Walter SantaRosa. Em seguida, a dra. Rosa M. C.Reis coordenou mesa redonda “A es-

cola francesa de psicossomática e avisão psicossomática em Winnicott”,apresentada pelos drs. Admar Horn eTânia Leão Pedroso. Na terceira etapado evento, o dr. Adolpho Hoirich, sobcoordenação do dr. Walter Santa Rosadiscutiu o tema “Cronopsiquiatria e re-flexões sobre o tempo”. Para fechar ajornada, o dr. Gilberto Nascimento apre-sentou o trabalho “Visões do adoecerpsicossomático”, sob coordenação dadra. Eliana Atie.

No dia 6, às 9h, o dr. Paulo F.Bittencourt Soares (membro efetivo edidata da SPPA) proferiu a palestra“Pacientes borderl ines”, ao lado dadra. Aída Moraes Unguier (membroconvidado da SBPRJ). E, no dia 27, às9h, haverá o lançamento da RevistaPsicanalítica durante a jornada clíni-ca da entidade. O encerramento daprogramação da SPRJ para o ano de2004 fica por conta da Jornada do Ins-tituto de Ensino, marcada para às 9hdo dia 4 de dezembro.

No mês de julho, a SPR realizou oevento “Transplante e doação de órgãos– idéias que geram vidas”, idealizado peloanal ista didata da SPR GeorgeLederman, falecido em junho deste ano.Através da discussão dos aspectos mé-dicos, jurídicos, éticos, teológicos e psi-canalíticos da doação de órgãos, o even-to visou chamar a atenção para esta prá-

No primeiro semestre do ano, a progra-mação científica da SBPSP, girou em tornodo tema “Debatendo sobre a função doanalista”, abordado a partir de sessões clí-nicas de analistas da SBPSP, com a super-visão de analistas representativos de dife-rentes tendências teóricas da psicanálise.Realizadas por Betty Joseph, Bion eFlorence Guignard, as supervisões discuti-

ram as convergências e divergências evi-dentes nos comentários desses autores apartir do tema do ciclo de debates.

No decorrer do semestre, foram organi-zados encontros preparatórios para o “En-contro Internacional com o Pensamento deW.R.Bion”, acontecido em São Paulo, nomês de julho. A SBPSP também recebeu avisita da dra. Anne Alvares, que desenvol-

tica ainda pouco disseminada na nossasociedade e que pode salvar vidas.Lederman foi o idealizador de uma sériede ações em prol desta causa e contri-buiu para o aumento significativo do nú-mero de doações em Pernambuco.

De 12 a 14 de agosto, a SPR reali-zou no Mar Hotel a X Jornada de Psi-canálise e o VI Encontro de Psicanáli-

11Notícias & Programaçãose da Criança e do Adolescente, cujotema foi “ Psicossexualidade – A Cons-tituição do Sujeito Humano”. O eventoabordou a psicossexualidade na ques-tão da constituição do aparelho psíqui-co, do sujeito humano, do desenvolvi-mento infantil, das relações éticas, daeducação, da identidade de gênero, daperversão, da família, da prática analí-tica, entre outros.

Com problemas nos vôos que o impe-diram de chegar a tempo, o presidenteda ABP, dr. Carlos Gari Faria, não pôderealizar a Conferência de Abertura, e foisubstituído pelo dr. Alírio Dantas Jr. En-tre os convidados, também estavam Mô-nica Armesto (secretária geral da IPA,eleita), Cláudio Eizirik (presidente eleitoda IPA), Leopold Nosek (representanteregional da IPA) e Carlos Gari Faria (pre-sidente da ABP). De outras instituiçõesde Recife não filiadas à IPA, participaramIvan Corrêa, Lúcia Menezes, Maria deJesus Maçães, Martha da Mota Silveira,Meraldo Zisman, Paulo Medeiros eZeferino Rocha.

Além das mesas-redondas e confe-rências tratando sobre o tema central emseus vários aspectos, foram oferecidostrês cursos durante a Jornada: “Estados

Primitivos da Mente” e “O Infantil em Psi-canálise (ministrado por Alícia Lisondo,SBPSP). ”A Proposição analítica: técnicae experiência do analista” (apresentadopor Armando Ferrari – SBPSP/Socieda-de Psicanalítica Italiana, Paolo Bucci eFausta Romano – Centro de Formação ePesquisa Psicanalítica de Roma) e “OMétodo psicanalítico: uma visão da teo-ria dos campos” (ministrado por FernandoSantana, SPR).

Por ser um pólo difusor da psicaná-lise na região nordeste do Brasil, Reci-fe foi escolhido como um dos locaispara a realização do evento preparató-rio ao 44º Congresso Internacional dePsicanálise da IPA – Rio de Janeiro2005, que ocorrerá em abril do próxi-mo ano. O evento, que contará com aspresenças das dras. Betty Joseph, daInglaterra e Maria Teresa Lart igueBecerra, do México, será uma realiza-ção conjunta da SPR com os Núcleosde Aracaju, Fortaleza, Maceió e Natal,com o apoio da IPA, da FEPAL e da ABP.Paralelamente ao evento, acontece a as-sembléia de delegados da ABP, o quepossibilitará a presença de presidentesdelegados de todas as sociedades com-ponentes da ABP no evento.

O Núcleo de Psicanálise de Goiâniasentiu-se imensamente honrado ao re-ceber, para uma palestra, a psicana-lista Jansy Berndt de Souza Mello, nodia 26 de junho. A palestrante comen-tou o seminário de Lacan sobre a Car-ta Roubada (The Pur lo ined Let ter,1844) de Edgar Allan Poe e teve comoouvintes e debatedores uma platéiaampla e qualificada que a aplaudiu en-tusiasmada. À tarde, Jansy coordenouum seminário clínico para os membrosdo Núcleo.

No dia 3 de julho o NPG deu prosse-guimento ao seu programa “Psicanálisee Literatura”, debatendo a obra de HenrikIbsen, Casa de Bonecas. A platéia foiparticipativa, enriquecendo a contribui-ção da convidada especial profa. dra.Albertina Vicentini, da Universidade Fe-deral de Goiás e da Universidade Cató-lica de Goiás, que teceu comentários in-teressantes sobre o movimento literárioiniciado pelo autor, correlacionando-ocom outros autores contemporâneos.

Retomando as suas atividades nes-te segundo semestre, o NPG viveudois momentos muito signif icat ivospara os seus membros, com a presen-

ça de três psicanalistas de Brasília emGoiânia.

No dia 4 de setembro, o dr. Avelino F.Machado Neto, professor e analista didatada SPB, coordenou um seminário clínico,cujo material foi apresentado pela colegaDelza Maria da S. de Araújo. O evento pro-piciou uma discussão ampla e fértil.

No dia 11, os psicanal istas dra.Taíza de Andrade Calil Jabur e dr.Roberto Calil Jabur, membros associa-dos da SBPSP e da SPB, apresenta-ram, em primeira mão, um trabalho te-órico-clínico intitulado: “Queria que fôs-semos desmortais”. O casal ofereceu otrabalho aos membros do NPG e tam-bém a alguns psicólogos e terapeutasque pertenceram a um grupo de estu-dos dirigido pela Taíza há tempos atráscom um rico e instigante estudo.

A Jornada de Psicanálise do NPG,ocorrida nos dias 22 e 23 de outubro, tevecomo tema ‘Barbárie e identidade’ e con-tou com as presenças da sra. Regina Lú-cia Braga Mota (SPB), do dr. RooseveltCassorla (SBPSP), do dr. Roberto Kehdy(SBPSP), da sra. Suad Andrade (SBPRP)e da sra. Maria Cecí l ia Andreucci(SBPSP).

Em agosto, a SBPRJ recebeu a visita deSteven Knoblauch, que apresentou as pales-tras “Experiências virtuais de um tipo íntimo:desejo, realidade e reparação” e “Os ritmoscorporais e o inconscientes: em busca de umaexpansão da atenção clínica”. O evento foirealizado pela SBPRJ em parceria com a As-sociação Brasileira para o Estudo da Psicolo-gia Psicanalítica do Self - ABEPPS.

No mesmo mês, Gabriela Pszczol apre-sentou na SBPRJ a tese de mestrado “Nor-ma e Irene: considerações sobre bulimianervosa baseadas numa observação darelação mãe-bebê”, realizada e defendidana Tavistok Clinic, em Londres, no ano de2002. O trabalho foi comentado por GenyTalberg e coordenada por Jane Kezem.

No Ciclo de Debates Psicanálise e Ci-nema, ainda em agosto, houve a exibi-ção do filme “Clube da Luta”, com a pre-sença de Marci Doria Passos (SBPRJ) eRodrigo Fonseca (crítico de cinema doJornal do Brasil) como debatedores e acoordenação de Luis Fernando Gallego.Na seqüência foram apresentados os fil-mes “Glória feita de sangue” (24/09), “To-lerância Zero” (27/10).

O Conselho Científico da SBPRJ reali-zou em setembro o Simpósio psicanálise eneurociências hoje, no Fórum de Ciência eCultura da UFRJ. Os palestrantes foramYussaku Soussumi, Elie Cheniaux, ElianeVolchan e Giorgio Trotto, sob a coordena-ção de Altamirando Matos de Andrade Jr.Nos dias 26 e 27 de novembro realizou-se oSimpósio Anual da entidade, cujo tema foi“Novas subjetividades, novos sintomas, no-vas patologias”. O evento aconteceu na sededa SBPRJ, aberto ao público.

CursoO Centro de Estudos Psicanalíticos da

Clínica Social da SBPRJ realiza às terças-feiras, das 8 às 9:30h, o curso “Desenvolvi-mento emocional da criança – módulo 2(agosto a dezembro 2004), com o tema “Emdireção à autonomia”. Com Geny Talberg,Joaquim Couto Rosa e Sergio Eduardo Nickna coordenação, o curso será ministrado porAnna Lúcia Melgaço, Carlos Tamm, CelmyQuilelli Corrêa, Claudia Brandão, GenyTalberg, Helena Pereira, JaneteBandarovsky, Joaquim Couto Rosa, MariaConceição Davidovich, Maria Tereza Rocha,Paulo Bianchini e Sergio Nick.

NÚCLEO DE PSICANÁLISE DE GOIÂNIA

NÚCLEO PSICANALÍTICO DE CURITIBA

Com o tema “Confluências e contro-vérsias: uma ou várias psicanálises ?”, oVI Encontro Aberto de Psicanálise deCuritiba discutiu nos dias 1 e 2 de outu-bro os desdobramentos da psicanálise emseus mais de 100 anos de existência. Oencontro, que aconteceu na sede da As-sociação Médica do Paraná, teve abertu-ra realizada pelo dr. Edival Perrini, presi-dente do Núcleo Psicanalítico de Curitiba.

Em seguida o dr. Antonio Sapienza pro-feriu a conferência inaugural. O eventotambém teve a participação dos analis-tas didatas da SBPSP Elias Mallet daRocha Barros e Orestes Forlenza Neto.

No sábado, dia 02 e outubro, das 9 às10:30h, houve a mesa redonda “Aspectosconceituais significativos de Freud, Klein, Bione Winnicott”, com as participações dos trêsconvidados e a coordenação de Mauro Perei-

Dando continuidade ao curso de Espe-cialização em Psicoterapia Psicanalítica -uma parceria do Núcleo de Psicanálise deMarília e Região com a Fundação UNIVEM-, uma visita do dr. Alceu Roberto Cassebencerrou o semestre passado. O processode seleção para a formação de uma novaturma em 2005 já começou. As inscriçõespoderão ser feitas na secretaria do núcleopelo fone (14) 3413-3307.

Ao longo do segundo semestre do ano,a comissão científica do NPMR promoveu

encontros mensais com estudantes e profis-sionais de diversas áreas com interesse emtemas psicanalíticos. O objetivo foi desper-tar o interesse deste público para as contri-buições da psicanálise em suas áreas de atu-ação. No campo das atividades culturais, oNPMR dará prosseguimento ao projeto deexibição de filmes seguidos de debates. Oevento, que acontece no primeiro sábado decada mês, é sempre coordenado por um in-tegrante do núcleo e tem a participação deum convidado da comunidade.

NÚCLEO DE PSICANÁLISE DE MARÍLIA E REGIÃO

12 Notícias & Programação

SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE PELOTAS

ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA RIO 3

Stela Santana (SPR/NPA), Vera Barbosa (SPR/NPM), Fernando Santana (SPR/NPA), Adalberto Goulart(SPR/NPA), Carlos Gari Faria (SPPA), Carlos Vieira (SPB/NPA) e Sheila Bastos (NPA)

Armando Ferrari, Adalberto Goulart, Paolo Bucci e Fausta Romano

A APRio 3 foi informada que o artigo“Signo, Equação Simbólica e Símbolo”, docolega Waldemar Zusman, foi incluído comoum capítulo do livro “Psicosomática. Aportesteórico-clínicos en el siglo XXI”, uma ediçãoda Associação Psicosomática de BuenosAires. Os drs. Horácio Etchegoyen e Rodolfo

A SPPel promoveu de 12 a 14 de novembro, no HotelSheraton de Porto Alegre, o XII Encontro Latino-Ameri-cano sobre o Pensamento de D. W. Winnicott. Estes En-contros começaram com um número pequeno de partici-pantes, em Montevidéo, por iniciativa do dr. Prego Silva,da Asociación Psicoanalitica del Uruguay, recentementefalecido. Em 1994, quando ainda era um grupo de estu-dos, a SPPel coordenou pela primeira vez o evento, quefoi realizado na cidade de Gramado e teve mais de qua-trocentos inscritos.

Este ano, a SPPel foi escolhida para coordenar a décima terceira edição do evento,e convidou a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre e a Sociedade Brasileira de Psica-nálise de Porto Alegre para participarem da comissão organizadora.

O Núcleo Psicanalítico de Aracaju realizounos dias 16 e 17 de agosto, o II Encontro Ítalo-Brasileiro de Psicanálise em Aracaju, tendo comoconvidados o prof. Armando Bianco Ferrari(membro efetivo e didata da SBPSP, membroda Società Psicoanalitica Italiana), a dra. FaustaRomano (professora do Centro de Formação ePesquisa Psicanalítica de Roma e Professorada Universidade Pontifícia Salesiana de Roma)

e o dr. Paolo Bucci (prof. do Centro de Forma-ção e Pesquisa Psicanalítica de Roma e ex-dire-tor do Departamento de Saúde Mental de Roma).

A programação científica do II Encontro tevecomo tema “Desarmonia corpo-mente”, e foicomposto de uma tarde clínica, com a apre-sentação e discussão de dois materiais clíni-cos à luz das hipóteses do prof. Ferrari, e deuma tarde teórica, que abordou, entre outros,os conceitos de objeto originário concreto, cons-telação edípica e configuração egóica. O próxi-mo Encontro Ítalo-Brasileiro com o grupo deAracaju será realizado em Roma, no primeirosemestre de 2005.

Com o tema “Órfãos do futuro: o psiquismoe a cultura do vazio”, o NPA realizou, de 2 a 4

de setembro, a V Jornada de Psicanálise deAracaju e o IV Encontro de Psicanálise da Cri-ança e do Adolescente.

O evento, que contou com um público decerca de 200 pessoas, foi organizado em trêsconferências: Psicanálise na Atualidade (dr.Carlos Gari Faria, Presidente da ABP), A Cul-tura do Vazio I e II (Alicia Lisondo, SBPSP);quatro mesas redondas: A Estruturação do

Psiquismo Humano (Fernando Santana-SPR/NPA e Adalberto Goulart-SPR/NPA), Funçãomaterna/função paterna (Letícia Neves-SBPRJ,Carlos Vieira-SPB/NPA e Stela Santana-SPR/NPA), Novas exigências para o psicanalista(Regina Mota-SPB, Vera Barbosa-SPR/NPMe Telma Barros-SPR) e Novas patologias(Eliana Helsinger-SPRJ, Claudio Rossi-SBPSP,Pedro Gomes-SBPRJ); um curso de estudossobre o psiquismo pré e perinatal (JoannaWilheim-SBPSP) e duas salas de temas livres(Angélica Hermínia Serôa, Bráulio Costa Neto,Sheila Bastos, Márcia Barros, Eduardo Men-donça e Marisilda Nascimento – todos Candi-datos do NPA). A coordenação dos trabalhoscoube aos Candidatos Maria Lúcia Cavalcanti

ERRATA

ra dos Santos (membro associado da SBPSPe do NPC). A segunda mesa redonda do diafoi “Discussão de um mesmo caso clínico, pre-viamente selecionado, sob a luz das expan-sões teóricas de Freud a Klein, Winnicott e

Bion”, com a coordenação de Lia SuzanaPugsley Hintz (membro associado da SBPSPe do NPC).A grande plenária de encerramen-to ocorreu às 17:30h, com a participação dosconvidados e dos membros do NPC.

Na edição anterior do ABP NOTÍCIAS, naseção “Carta do Editor”, onde está novopresidente da ABP, considerar novo pre-

sidente da ABC.O dr. Victor Manoel Andrade é membro daSPRJ, e não da SBPRJ como foi noticiado.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DERIBEIRÃO PRETO

Temos a satisfação de comunicar a com-posição da nova diretoria da SBPRP (prov.),eleita para o biênio 2004/2006: presidente:José Cesário Francisco Júnior; secretário:Pedro Paulo A. Ortolan; tesoureiro: Silvana

Maria B. Vassimon de Figueiredo; diretorcientífico: Mércia Maranhão Fagundes; di-retor do Instituto: Martha Maria de MoraesRibeiro e secretário do Instituto: MiguelMarques

D’Alvia recomendam que o trabalho seja ins-crito no próximo congresso de psicanálise de2005, no Rio de Janeiro e sugerem que osdrs. André Green e Ricardo Bernardi sejamconvidados a discuti-lo numa mesa redonda. O livro está no prelo e deverá ser lançadoem março de 2005.

Filha, Tatiana Menezes, Vanda Pimenta, JoséLara, Marta Hagenbeck, Petruska Passos,Isabela Pena e Aldo Christiano.

Prosseguem as atividades do Curso de In-trodução ao Pensamento Psicanalítico, coor-denado por Vanda Pimenta (Candidata doNPA), oferecido a estudantes e profissionais denível superior, assim como as atividades do IICurso de Psicoterapia Psicanalítica (para mé-dicos e psicólogos). Em setembro, teve início ocurso Seminários Clínicos de Bion, coordena-do por Carlos Vieira (SBP/NPA), aberto a mé-dicos, psicólogos e psicanalistas.

Com o objetivo de levar a Psicanálise à

comunidade leiga, o projeto Psicanálise & Ci-nema, uma parceria do NPA com o EspaçoCultural Yázigi Internexus, exibiu em agosto ofilme “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho.Como debatedores estiveram presentes o pro-dutor cultural Marcelo Rangel e o psicanalistaAdalberto Goulart. Em setembro, foi a vez deMorangos Silvestres, de Ingmar Bergman, quecontou com as presenças de Bráulio Costa Neto(Candidato do NPA) e do psicanalista FernandoSantana (SPR/NPA).

Em abril de 2005 terão início os Seminári-os Teóricos da primeira turma de Formação Psi-canalítica do NPA, com 15 candidatos.

Diretoria, Conselhos & Comissões

Agenda Científica 2005

Pré-congresso tem chat preparatório

MARÇOConference of the European PsychoanalyticalFederation“Interpretation and Construction inPsychoanalysis”17-20 March – Villamoura, Algarve, [email protected]

COWAP2nd European Conference on Incest21-22 March – Lisbon, [email protected]

ABRILEvento Preparatório para o 44o. IPAC15 e 16 de abril – Recife – [email protected]

13

XXI Congreso Argentino de Psiquiatría21-24 AprilMar del [email protected]

MAIOThird International Symposium Psychoanalysisand Art“The Body Image in Psychoanalysis and Art”6-8 May – Florence – [email protected]

65ème Congrès des Psychanalystes deLangua Française5-8 MayParis – France

Os associados da ABP podem participar da discussão pre-paratória, através de chat, para o pré-congresso da IPA quese realizará em julho de 2005 no Rio de Janeiro. Para partici-par, basta se inscrever na página da ABP (www.abp.org.br) eaguardar por senha e o login.

Em reunião realizada no ultimo dia 6 de outubro, a Comis-são Internet da ABP decidiu reiterar um pedido feito em maioaos representantes locais: o de estimular a produção científi-ca. “A idéia é fazer com que cada representante desenvolvajunto aos membros de sua sociedade uma lista dos temas daprodução científica, bem como a autorização em disponibilizaros trabalhos produzidos no site da ABP. Deste modo, estare-mos dinamizando nosso site, divulgando nossos colegas e con-tribuindo para a difusão da Psicanálise”, afirma a coordenado-ra da Comissão de Documentação, Comunicação e Internet,Rosa Reis.

Rosa também aproveitou para parabenizar a Comissão de Estudos sobre Formação Psicanalítica pela criação de seis tex-tos para a discussão da formação no fórum do site.

Coordenador de pesquisa da ABP conquista livredocência na UNIRIO com tese em psicanálise

Theodor Lowenkron, coordenador daComissão de Pesquisa da ABP e membroefetivo da SBPRJ, conquistou o título de li-vre docente em psiquiatria na UNIRIO com

média final 9,3. É a primeira vez na históriada universidade que se conquista o título comtese em psicanálise. Das cinco teses apre-sentadas, quatro eram em psiquiatria bioló-

gica. O concurso foi constituído de cinco pro-vas. Para se inscrever era necessário comopré-requisito aos professores candidatos otítulo de Doutor na área de conhecimento. A

exemplo do que vem acontecendo nas uni-versidades públicas de São Paulo, a conquis-ta marcou a volta do concurso de provas paraeste título, após 25 anos.

JUNHOWilfred Bion Today10-12 June – London – Englandwww.psychol.ucl.ac.uk/psychoanalysis/bion.htm

JULHOIX Congreso Peruano de Psicoanálisis“Psicoanálisis: Proceso y Transformacion”15-17 Julio – Sociedad Peruana de Psicoaná[email protected]

18th IPSO Congress“Trauma: New Developments in Psychoanalysis”27-31 July – Rio de Janeiro – RJwww.ipso-candidates.org

44th IPA Congress

“Trauma: New Developments in Psychoanalysis”28-31 July – Rio de Janeiro – RJwww.ipa.org.uk

SETEMBROVI Jornada de Psicanálise de AracajuV Encontro de Psicanálise da Criança e do Ado-lescente22-24 de setembro – Aracaju – SENúcleo Psicanalítico de [email protected]

NOVEMBROXX Congresso Brasileiro de Psicanálise“Poder, Sofrimento Psíquico e Contempora-neidade”11-14 de novembro – Brasília – DFwww.abp.org.br

14 Cultura

“O Espelho” e associações com um caso clínico

Oswaldo José de Freitas Milward*

Doutor, o senhor é mau comigo.-Porque Carlos?

- O senhor não está olhando para mim.”(Breve diálogo de um paciente internado na Colônia Juliano Moreira)

“É na soma do seu olhar que eu vou me conhecer inteiro”Chico Buarque de Hollanda

O conto e considerações

“Esboço de uma nova teoria da almahumana” é o subtítulo de um extraordinárioconto de Machado de Assis cujo título é “OEspelho”. Ao lê-lo, cada linha me fascina-va e percebi de imediato que este nossoescritor foi um precursor da psicanálise. Emuma época em que não havia nem mesmoum esboço da psicanálise, um conto comoeste era criado.

Considero-o uma leitura essencial paratodos os interessados em compreender acomplexidade humana. Resumir este contoseria reduzir a beleza e a força de uma obrade arte. Por isso, ao recontar esta estória,tentarei comentá-la à luz da psicanálise.

Logo no início de “O Espelho”, onarrador e também protagonista Jacobinarefere que cada criatura humana traz duasalmas consigo: uma que olha de dentro parafora, outra que olha de fora para dentro. Aalma exterior, diz ele, pode ser um espíritofluido, um homem, muitos homens, um ob-jeto. Há casos, por exemplo, em que umsimples botão de camisa é a alma exteriorde uma pessoa. Está claro que o ofíciodessa segunda alma é transmitir a vidacomo a primeira; as duas completam o ho-mem que é, metafisicamente falando, umalaranja. Quem perde uma das metades per-de naturalmente metade da existência, ecasos há, não raros, em que a perda daalma externa implica a da alma interna.

Jacobina, ao tornar-se alferes da guar-da nacional, vai visitar uma de suas tias, D.Marcolina, que reside em um sítio “escuroe solitário”. Esta lhe trata “a pão de ló” epassa a chamá-lo de “senhor alferes”.Como ela, os escravos e o cunhado tam-bém passaram a assim chamá-lo. À mesa,ele era o primeiro a ser servido e ficava como melhor lugar. O entusiasmo da tia che-gou então ao ponto de mandar pôr em seuquarto um grande espelho: “obra rica e

magnífica, que destoava do resto da casa,cuja mobília era modesta e simples”, “es-pelho que lhe dera a madrinha, e que estaherdara da mãe”.

Ao fim de algumas semanas Jacobinapassou a se sentir “O alferes”. Um deter-minado dia, no entanto, tia Marcolina rece-beu uma notícia – uma de suas filhas, ca-sada com um lavrador, residente dali a cin-co léguas, estava doente. Como mãe ex-tremosa deu adeus ao sobrinho: “Adeus,sobrinho! Adeus, alferes!” Ela e o cunhadose ausentaram.

Opressão e dominação

Diz o narrador e protagonista Jacobina:“Confesso-lhes que desde logo senti gran-de opressão... Era a alma externa que sereduzia... O alferes continuava a dominarem mim, embora a vida fosse menos inten-sa, e a consciência mais débil”. Os escra-vos, embora tenham continuado a tratá-lo

como “Nhô Alferes”, aproveitaram a ausên-cia de Dona Marcolina e fugiram todos.

Jacobina se viu só – “Nenhum fôlego hu-mano, nenhum ente humano. Parece-lhes queisto era melhor do que ter morrido? Era pior”.Diz ele: “Minha solidão tomou proporçõesenormes. Nunca os dias foram tão compri-dos, nunca o sol abrasou a terra com umaobstinação mais cansativa. As horas batiamde século a século, no velho relógio da sala,cujo pêndulo, tic-tac, tic-tac, feria-me a almainterior. ...Quando, muitos anos depois, li umapoesia americana, creio que de Longfellow, etopei com este famoso estribilho: Never, forever! – For ever, never! confesso-lhes que tiveum calafrio: recordei-me daqueles dias me-donhos. Era justamente assim que fazia orelógio da tia Marcolina: Never, for ever! – Forever, never! Não eram golpes de pêndula,era um diálogo do abismo, um cochicho donada”. “Tinha uma sensação inexplicável”.

“O sono dava-me alívio, não pela razãocomum de ser irmão da morte, mas por ou-

tra. Acho que posso explicar assim estefenômeno: o sono, eliminando a necessi-dade de uma alma exterior, deixava atuar aalma interior... Nos sonhos fardava-me or-gulhosamente, no meio da família e dosamigos, que me elogiavam o garbo, que mechamavam alferes... tudo isso fazia-me vi-ver. Mas quando acordava, dia claro, es-vaía-se com o sono a consciência do meuser novo e único – porque a alma interiorperdia a ação exclusiva, e ficava dependen-te da outra, que teimava em não tornar...Não tornava. Eu saía fora, a um lado eoutro, a ver se descobria algum sinal deregresso... Nada, coisa nenhuma... Tudo si-lêncio, um silêncio vasto, enorme, infinito...Na verdade, era de enlouquecer”.

Conta ainda o narrador e protagonistaJacobina: “Vão ouvir coisa pior. Convém di-zer-lhes que, desde que ficara só, não olha-ra uma só vez para o espelho”. Ao fim deoito dias resolveu olhar para o espelho e re-lata: “O próprio vidro parecia conjurado com

15Culturao resto do universo, não me estampou a fi-gura nítida e inteira, mas vaga, esfumada,difusa, sombra de sombra... tive medo... re-ceei ficar mais tempo, e enlouquecer... le-vantei o braço com gesto de mau humor, eao mesmo tempo de decisão, olhando parao vidro; o gesto lá estava, mas disperso,esgaçado, mutilado... De quando em quan-do, olhava furtivamente para o espelho; aimagem era a mesma difusão de linhas, amesma decomposição de contornos... Esta-va a olhar para o vidro, com uma persistên-cia de desesperado, contemplando as pró-prias feições derramadas e inacabadas, umanuvem de linhas soltas, informes, quando tiveum pensamento”, diz Jacobina. Lembrou-se de vestir a farda de alferes.

Diz ele: “Vesti-a, aprontei-me de todo; e,como estava defronte do espelho, levanteios olhos, e... o vidro reproduziu então a figu-ra integral; nenhuma linha de menos, ne-nhum contorno disperso; era eu mesmo, oalferes, que achava enfim a alma exterior.Essa alma ausente com a dona do sítio, dis-persa e fugida com os escravos, ei-la reco-lhida no espelho. Imaginai um homem que,pouco a pouco, emerge de um letargo, abreos olhos sem ver, depois começa a ver, dis-tingue as pessoas dos objetos, mas não co-nhece individualmente uns nem outros; en-fim, sabe que este é Fulano, aquele é Sicra-no; aqui está, uma cadeira, ali um sofá....Olhava para o espelho, ia de um lado parao outro, recuava, gesticulava, sorria, e o vi-dro exprimia tudo. Não era mais um autô-mato, era um ente animado. Daí em diante,fui outro. Cada dia, a uma certa hora, ves-tia-me de alferes, e sentava-me diante doespelho, lendo, olhando, meditando; no fimde duas, três horas, despia-me outra vez.Com este regimen, pude atravessar mais seisdias de solidão, sem os sentir...”

Fragilidade e proteçãoPenso ser nítida a fragilidade do perso-

nagem Jacobina, que precisava de algoexterno que o mantivesse vivo – a farda, aidentidade de alferes. Como uma armadu-ra, uma segunda pele, a farda o protegia,protegia aquele vago conteúdo. A vida ain-da não lhe tinha dado seus verdadeiros con-tornos. Precisava, assim, de um falso con-torno (um falso self) para se manter vivo.Hegel nos diz que a consciência de si é emsi e para si quando e porque é em si e parasi para uma outra, quer dizer, só é comoalgo reconhecido. Jacobina precisava destereconhecimento para se reconhecer.

A mãe, representada pela tia de Jacobinanesta estória, tem uma função semelhante àdo psicanalista, que é a de ajudar o outro acriar os contornos verdadeiros de uma per-sonalidade. Como diz a música “Tanto amar”,de Chico Buarque: “É na soma do seu olharque eu vou me conhecer inteiro”. É com o

outro e através do outro que vamos nos co-nhecendo. É o verdadeiro encontro com ooutro que cria e estrutura um verdadeiro self.Freud “precisou” de Fliess, seu alter ego, parafazer sua análise pessoal. Jacobina precisa-va da mãe-tia como ego auxiliar na trajetóriado sentir-se vivo. Na ausência deste, a far-da foi o recurso, a salvação. A farda, a iden-tidade alferes tão valorizada por sua tia, foisua “salvação” nos dias de solidão.

CrescimentoQuando Jacobina refere que com o

regimen por ele criado de ficar algumas ho-ras por dia, fardado, diante do espelho, pôdeatravessar os dias de solidão sem os sentir,mostra o quanto precisava da tia, do cunha-do e dos escravos. Era a relação com elesque lhe conferia uma identidade, um esboçoque fosse, para se manter vivo e aos pou-cos, quem sabe, crescer. Crescer, num pro-cesso, no contato com pessoas que pudes-sem favorecer tal crescimento, valorizando-o, elevando sua auto-estima, servindo-lhe deespelho. Um espelho ele poderia aos pou-cos ver refletida a sua verdadeira imagem.

A alma externa a que Machado de As-sis se refere, dizendo que a perda destapode implicar a perda da alma inteira, éuma referência ao grande risco que o serhumano, frágil no início da vida e neces-sitado do outro, corre caso este outro nãocompreenda suas mínimas necessidades.Machado nos fala claramente sobre a au-sência: aquele que nunca mais vai voltar.Never, for ever! For ever, never! A mãecom sua ausência, o quanto é vivido como“o nunca mais”. O sono, quando vem, ésentido e vivido como aconchego, reali-zação do desejo, alucinação, alucinandoo tão desejado e o conforto resultante.Nos sonhos, Jacobina se reintegrava,com os amigos, com a família e consigomesmo. Com a persistência da ausênciada mãe-tia, não teve outro jeito, recorreuo personagem ao espelho, ao objetotransicional, substitutivo, representantedaquela relação que lhe conferia existên-cia, contornos, aconchego. O objeto-es-pelho mostrou-lhe contornos imprecisosdando-lhe angústia. Recorre então à far-da, esta lhe confere os contornos.

O encontro da almaO narrador, que é ao mesmo tempo o per-

sonagem protagonista da estória, é um per-sonagem algo arredio. Teria ele “resolvido”suas questões tão primitivas? Suas angús-tias tão primitivas? É provável que não. Aúltima frase do conto é: “Quando os outrosvoltaram a si (os que escutavam o relato), onarrador tinha descido as escadas”. Homemde difícil contato, penso eu. Jacobina, onarrador, não queria conversar, discutir, acha-

va “perigoso”, inócuo. Seria o medo de estarcom o outro, com o espelho, sem a farda?Medo de, ao contato com o outro, assimcomo no espelho, se sentir sem contornos?Daí, sai ..., desce a escada, se esquiva.

A ação, a narrativa de Jacobina, se pas-sa em Santa Tereza, na sala de uma casa, oque me remete a um setting analítico, emque pessoas se encontram para falar, anali-sar, contar, associar. A ação contada, quese passa num sítio “escuro e solitário”; meparece a “cena interna”, com suas angústi-as, seus temores, suas expressões muitasvezes inomináveis. É na solidão que vão seprocessar as descobertas do personagem.

O descobrimentoÉ difícil suportar o desconhecimento, o

escuro, o não saber, até que aquilo queestava fragmentado e disforme assumauma forma reconhecível. Daí a tendênciaà precipitação, ao uso da farda, à “falsa”interpretação, para dar logo uma forma aofragmentado. Por isso, a mentira muitasvezes se impõe. A verdade está em supor-tar as dificuldades para que então possasurgir a forma exata, a “alma interior” a quese refere Machado de Assis. A psicanálisetrava uma constante luta contra a mentira eo desconhecimento no analisando (e tam-bém no analista), devido às dificuldades desuportar a verdade a respeito de si e tam-bém do mundo externo.

Podemos pensar também nos intervalosentre as sessões, no período de férias do ana-lista. Que repercussões há em nossos paci-entes, como reagem, como lidam com as au-sências. Enfim, como viver a ausência quan-do ainda não se está minimamente integradoem si a função analista, a função mãe, a fun-ção do autocuidar-se, quando o outro ainda évivido como algo imprescindível?

Segundo Edna Vilete: “Ao se surpreen-der com cada gesto, trejeito ou expressãofacial do bebê, ela (a mãe) se oferece comoseu primeiro espelho, permitindo que ele sedescubra e se reconheça como um ser úni-co e singular. Os gestos espontâneos deum bebê e seu ingresso criativo no mundose realizam, portanto, na presença de umamãe, de um pai, de um ambiente que favo-reça o seu desabrochar”.

É o encontro da “alma” que olha de forapara dentro e da “alma” que olha de dentropara fora, o que facilita o crescimento. A mãeque olha o bebê, metaboliza suas vivênciase lhas devolve de forma que possa esteintegrá-las a si de forma menos ameaçado-ra. Há casos, como diz Machado de Assis,em que um simples botão de camisa é a almaexterior de uma pessoa. Um botão, aquelebotão que o bebê, por exemplo, mexe e re-mexe, como um bico de seio; aquela ponti-nha da fralda. Diz Machado claramente queo ofício desta “alma externa” é “transmitir a

vida como a primeira (“alma interna”); as duascompletam o homem”.

Para finalizar, Machado de Assis, em mi-nha opinião, na escolha do título e subtítulo deseu conto: “O Espelho – Esboço de uma novateoria da alma humana” não poderia ter sidomais feliz. Sem ser pretensioso, poderia muitobem ter colocado como subtítulo: “esboço dapsicanálise” (termo que, no entanto, ainda nãoexistia). Vasculhando os meandros do seu ser,Machado criou uma belíssima estória que re-flete, como um espelho, os aspectos mais pri-mitivos da “alma” humana: a relação mãe-bebê,a formação do self, suas vicissitudes e defe-sas. Obrigado Machado de Assis.

Citando Freud (1906-7, p.50): “Dizemque um autor deveria evitar qualquer con-tato com a psiquiatria e deixar aos médicosa descrição de estados mentais patológi-cos. A verdade, porém, é que o escritorverdadeiramente criativo jamais obedece aessa injunção. A descrição da mente hu-mana é, na realidade, seu campo mais le-gítimo; desde tempos imemoriais ele temsido um precursor da ciência e, portanto,também da psicologia científica”.

Um caso clínicoUm de meus pacientes ilustra muito bem o

conto “O Espelho”, de Machado de Assis. Elevive há décadas na Colônia Juliano Moreira,hoje Instituto Municipal de Assistência à SaúdeJuliano Moreira. Quando o conheci, e durantemuitos anos, Carlos (por motivos éticos, estouusando um nome fictício) apresentava pensa-mento dissociado e sua atitude para consigorefletia tal estado mental. Descalço, com rou-pas em desalinho, se expressa com palavrasou frases soltas, desconexas.

Após período de grande rejeição a mim,passou ele espontaneamente a se aproximar,ficando geralmente em pé ao meu lado, aolado da mesa em que costumo trabalhar.Certo dia, porém, ele passou a olhar o jornalque ficava sobre a minha mesa e começou acomentar as notícias. Notei que Carlos sabialer fluentemente. Suas aproximações pareci-am uma busca de tratamento pois, com pas-sar do tempo, começou a expressar sentimen-tos a seu respeito verbalizando literalmente:“estou louco, estou louco”. Exaltava-se cons-tantemente e pude presenciar episódios degrande agitação psicomotora durante os quaisdizia estar sendo “comido”, que estavam “ti-rando” seu “cérebro” e seus “intestinos”. Em-bora ele estivesse sendo medicado comneurolépticos, tínhamos a impressão de quea medicação pouco surtia efeito.

Suas atitudes para comigo, seus contatoscomigo, se baseavam no estar ao lado damesa, me olhando, ou fazendo observaçõessobre as notícias do jornal. Aos poucos, to-mando como recurso o jornal que parecia ser-vir de elo à nossa relação, passei a ler comele as notícias do dia. Carlos identificava

16 Culturaprojetivamente de forma maciça nas figurasdo jornal a sua pessoa e a de seus familiares.Fomos, então, tomando, também, contato comsua história de vida. Tentávamos integrar as-pectos de sua vida pessoal com o objetivo debuscar uma maior coesão em seu self tãoespraiado, fragmentado. A partir daí, Carlospassou a alternar períodos de agitação e pe-ríodos de mais tranqüilidade. A dissociaçãopersistia, no entanto menos intensa.

Sempre que entro de férias e mesmo noúltimo dia de minha semana de trabalho procu-ro dar-lhe um “até a volta”, até “tal” dia, mos-trando que um retorno ocorrerá. Soube atra-vés da enfermagem que Carlos, por vezes, nosfins de semana e nos períodos de férias, per-gunta por mim e é esclarecido sobre o motivoda minha ausência e o dia do meu retorno.

Até há poucas semanas, Carlos poucoparticipava do grupo terapêutico semanalcom os pacientes da “casa” onde reside. Naverdade, participava a sua maneira. Ficavade pé, às vezes andando para lá e para cá,por vezes gritava, se exaltava, ou tratava malos demais. Notei também, como ainda ocor-re, que Carlos pouco sai da casa onde mora,no interior do IMASJM. Vai à varanda, voltapara seu quarto, fica na sala. Parece en-contrar neste espaço físico os contornos, ocontinente que um dia lhe faltaram.

DelíriosCarlos era, e ainda é, uma figura sem con-

tornos precisos. Seu contato comigo visava acriar uma continuidade em seu self, continui-dade esta que, por vivências talvez muito pri-mitivas, não foi constituída. A descontinuidadepredominava e seu discurso evidenciava isto:suas vivências delirantes de um corpo despe-daçado, dilacerado, esgarçado, vulnerável,invadido, eram uma constante.

Não sei bem o que fazia em minha au-sência e na ausência da equipe que lhe re-conhecia como pessoa. Talvez o cigarro omantivesse “inteiro”, tapando uma falta, umburaco, como um seio alucinado que dáaconchego. Carlos fumava muito.

Nos últimos tempos, no entanto, pareceque algo começa a se esboçar. Carlos mecumprimenta ao me encontrar, estende porvezes a mão e me pergunta: “quais as novi-dades?”, referindo-se ao jornal, às notícias.Tem conseguido participar mais dos grupos eem um recente encontro disse: “estou nas-cendo”, dando um riso. Respondi que eleparecia querer dizer que realmente estava me-lhorando e mostrei o quão “diferente” estava– antes inquieto, sem conseguir se mantersentado, agora podendo sentar e esboçar idéi-as. No contato individual, Carlos também tem

conseguido permanecer sentado e tem fuma-do menos. Eventualmente, atende o telefoneda minha sala e responde, tentando escutar eentender o que lhe é dito do outro lado da li-nha. Noto também tal atitude para comigo,uma vez que ele tem procurado me escutar etem falado de forma mais coerente.

Foi justo recentemente que, ao não sesentir “olhado” por mim, fez o seguinte comen-tário: “Doutor, o senhor é mau comigo”, “Osenhor não está olhando para mim”. Apesarda atenção que lhe prestava, Carlos mostra-va o quanto precisava do “olhar” do outro parapoder se reconhecer como um ser vivo.

Acredito que pulsões de vida muito intensaso tenham mantido vivo durante todos estes anosem que está internado, uma vez que as condi-ções da Colônia Juliano Moreira até bem poucotempo não eram nada favoráveis (grande nú-mero de pacientes, poucos funcionários, precá-rias condições de higiene). Foi sua vontade dese tratar que o aproximou de mim.

ContinuidadeNascer para Carlos parece estar sendo o

sentimento de continuidade do self, algo que tal-vez só agora ele esteja começando a experimen-tar. Tal estado só está sendo possível, pensoeu, em função da continuidade do atendimento,

continuação

Livro sobre Freud e judaísmo leva Prêmio JabutiO tradicio-

nal PrêmioJabuti, ofere-cido aos me-lhores domercado edi-torial brasilei-ro, foi entre-gue a Maria

Olympia França(SBPSP), organizadora de “Freud: a cul-tura judaica e a modernidade”. O livrotambém teve o mérito de incluir a Psi-

canálise como categoria a ser premiadaanualmente. Antes apenas Educação ePsicologia, agora acrescido de Psicaná-lise.

Maria Olympia disse em entrevista aodiretor de Publicação e Divulgação da ABPdr. Adalberto Goulart “que o sucesso ésempre fruto de um trabalho em equipe”.A exposição “Freud e Judaísmo” realiza-da em São Paulo e Rio em 2000 e 2001gerou um ciclo de conferências comanda-dos por Olívio Tavares de Araújo (respon-sável pela curadoria geral) e Alberto Dines

(curadoria científica). A exposição foi or-ganizada por Leopold Nosek e MariaOlympia com a participação de ChulamitTerepins, Cristina Kurkdjian, EvaTeperman, Joana de Carvalho França, LéaBigliani, Maria Celina e Suely Gevertz.

Outras exposições, “Freud, conflito e cul-tura” e a Mostra “Freud e Judaísmo” tambémforam organizadas e idealizadas por LeopoldNosek. O convite para a participação de Ma-ria Olympia veio de Leopold, a quem ela atri-bui “uma luta e entusiasmo” para a realizaçãodo livro, além da “ajuda inestimável” dos

curadores científicos Alberto Dines eGuillermo Bigliani, grandes colaboradores daobra assinada pela Editora Senac.

Livro: “Freud: a cultura judaica e amodernidade”Editora: SenacOrganizadora: Maria Olympia A. F. FrançaAutores: Alberto Dines, Betty Bernardo Fuks,Celso Lafer, Francisco Moreno de Carvalho,Guillermo Bigliani, Jacó Guinsburg, LeopoldNosek, Marilena Chauí, Renato Mezan, San-tiago Kovadloff, Sergio Rouanet.

que foi “adaptado” ao seu quadro psíquico. Ointeresse mútuo em dar prosseguimento ao tra-tamento, a tolerância à frustração, o estar emuma situação terapêutica sem expectativa, ape-nas com a vontade de estar e prosseguir, pare-ce-me que tudo isso favoreceu e está favore-cendo a razoável evolução deste caso.

Ao ler “O Espelho”, conto de Machado deAssis, pensei muito em Carlos, assim como emvários outros pacientes que, de alguma forma,“se assemelham”. Pessoas com um selfesgarçado, em que vivências muito pertur-badoras passam a vigorar. É preciso tambémadministrar a angústia e ansiedade dos demaiscomponentes da equipe, que muitas vezesquerem ver a melhora rápida de casos em quese faz necessário um longo tempo de acompa-nhamento. Se esta tolerância ocorre, podemoscolher bons frutos; caso isto não ocorra, nãohá sequer amadurecimento e os frutos secam,caem mortos. Assim, todo cuidado é necessá-rio para que a existência de determinadas pes-soas possa vingar, aparecer. Nossa atitude,continente das angústias e vivências de nos-sos pacientes, e nossa conduta adequada cons-tituem este espelho que poderá favorecer oreflexo de uma real e verdadeira imagem.

* Membro Associado da Sociedade Psicanalítica doRio de Janeiro

Entidades do Brasil e do Uruguai promovem evento paradebater formação analítica

No último dia 15 de setembro de 2004,realizou-se a primeira atividade científi-ca dos ENCONTROS DE INSTITUTOSPARA DEBATE DA FORMAÇÃO ANALÍ-TICA, reunindo a Sociedade Brasileira dePsicanálise de São Paulo, a SociedadeBrasileira de Psicanálise de Porto Alegree a Asociación Psicoanalí t ica Del

Uruguay. Naquela data, uma mesa-redon-da em Porto Alegre, discutiu o trabalhoda Dra. Myrta Casas Perede, intitulado“Reflexões sobre a freqüência de sessõesna prática analítica”. Participaram damesa-redonda, que teve a coordenaçãodo Dr. Newton Aronis, os Drs. NildeFranch, Gley Costa e Clara Uriarte, dire-

tores dos inst i tutos da SBPSP, daSBPdePA e da APU, respectivamente.

Na seqüência, serão debatidos,entre ou-tros, os seguintes temas: seleção de candi-datos, supervisão e programa teórico deensino, encontrando-se previsto um encon-tro para discutir o trabalho do Prof. DavidA. Tuckett, entitulado “Qualquer coisa ser-

ve? Em busca de um quadro de referênciapara uma avaliação mais transparente decompetência psicanalítica”.

Através deste intercâmbio, as socieda-des participantes esperam aprimorar seusinstitutos e dar uma contribuição à questãobásica da clínica que é a transmissão dapsicanálise.