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Cartilha ILAESE Banimento do Amianto

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Seminário Internacional pelo banimento do Amianto, Petroleiros Sergipe/Alagoas, ABREA, Ban Asbestos

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Sumário

FAZENDO HISTÓRIA! .....................................................4

A CAMPANHA GLOBAL PELO BANIMENTO DO AMIANTO ..6

O papel dos grupos de vítimas do amianto..........................6

Cresce a influência da campanha ......................................7

A Conferência Asiática do Amianto de 2009 .....................8

Conclusões ..................................................................12

DECLARAÇÃO DE HONG KONG: RUMO AO BANIMENTOCOMPLETO DE TODAS AS FORMAS DE AMIANTO...........13

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FAZENDO HISTÓRIA!

Se tivesse sido planejado, não teria dado tão certo.Em 4 de junho de 2008, o Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF)

anulou uma decisão anterior que considerava inconstitucional o banimentodo amianto pelos estados dado que ele interferia com o comércio interes-tadual. Desta vez, os ministros colocaram a vida humana antes dos inte-resses comerciais e, invocando as garantias constitucionais de saúde e dig-nidade do trabalho, decidiram que a legislação estadual pode prevalecersobre uma lei federal menos rigorosa de proteção ao cidadão. A decisãopor maioria (7 a 3) manteve a Lei no. 12.684 de 2007 do Estado de SãoPaulo, que proibiu o uso do amianto. A decisão chocou os interessados dosetor, acostumados que estavam à priorização que os poderes Judiciário eLegislativo davam às suas necessidades. Após a decisão, o preço das açõesda Eternit, o maior grupo produtor de amianto do Brasil, caiu 30%. Noano anterior, a companhia era considerada como um bom investimento.

A decisão judicial representou uma grande vitória para a saúde pú-blica, para o meio ambiente e os para os direitos humanos no Brasil. Essavitória não teria sido possível sem o trabalho excepcional para banir oamianto organizado pela ABREA, grupo sob o qual se abrigam diversosindivíduos expostos ao amianto, que interveio nas audiências como “ami-cus curiae” (amigo da corte).

Assim, é perfeitamente compreensível o entusiasmo dos delegadosque se reuniram em São Paulo, de 8 a 11 de junho de 2008, na Conferên-cia Internacional sobre Mesotelioma. Não obstante a seriedade da natu-reza incurável do câncer provocado pelo amianto, que foi o foco do even-to, a compreensão de que o banimento do minério reduziria o número de

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pessoas afetadas encheu de otimismo as sessões da conferência. Os dele-gados, que se sentiam como testemunhas da construção da História, ex-pressaram a opinião de que o momento da realização da conferência, logoapós a decisão do STF, tornava-a muito especial. A participação de tantosgrupos e organizações representando os diversos estratos sociais e profis-sionais brasileiros marcou a maioridade do movimento nacional pelo ba-nimento do amianto. Em 2000, o movimento das vítimas do amianto res-tringia-se aos grupos radicais; em 2008, ganhava definitivamente o con-senso geral.

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A CAMPANHA GLOBAL

PELO BANIMENTO DO AMIANTO

A primeira década do século XXI tem sido um período de notáveltransição na percepção que o público tem do amianto, substância antesvista como “o minério mais maravilhoso do mundo” e hoje largamenteconsiderada como a pior toxina do ambiente de trabalho – “o pó da mor-te.” Essa mudança na percepção do público deve-se, em grande parte, aocompromisso e aos esforços das vítimas do amianto, dos defensores dasaúde pública e dos ativistas sociais que, de forma resoluta, trabalham paraexpor a silenciosa epidemia de enfermidades associadas ao minério quetem destruído tantas vidas.

O PAPEL DOS GRUPOS DE VÍTIMAS DO AMIANTOEmbora os grupos de vítimas tenham se concentrado em problemas

locais relacionados com o amianto desde a década de 80, os primeirospassos em direção a uma ação coordenada internacional só foram dadosnos meados da década de 90. Com a ampliação das comunicações, as opor-tunidades proporcionadas pela internet e a criação de um órgão – o Secre-tariado Internacional para o Banimento do Amianto (IBAS) – para mo-nitorar os acontecimentos, a rede virtual cidadã pelo banimento do ami-anto expandiu-se rapidamente após 1999. Um ano depois, o movimentoatingiu sua maioridade com a realização do primeiro evento global sobre oamianto – o Congresso Mundial do Amianto de 2000 - orientado para asvítimas da fibra mineral. O Congresso Mundial de 2000 foi uma demons-tração concreta do poder latente da rede, sempre crescente, de pessoas e

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grupos que defendem o banimento da fibra em todo o mundo e exigemjustiça para as pessoas contaminadas por ela. Pode-se dizer que o Con-gresso Mundial de 2000 foi a semente a partir da qual brotaram muitosdos avanços que vemos hoje.

É interessante notar que, dos 100 delegados estrangeiros que se reu-niram em Osasco, São Paulo, para o Congresso Mundial de 2000, quatroeram do Japão, um da Coréia e um da Índia.* Quatro anos depois, a mobi-lização pelo banimento do amianto expandiu-se rapidamente no conti-nente asiático e, como resultado desse crescimento, realizou-se em Tó-quio, em 2004, o 2º. Congresso Mundial do Amianto, que atraiu 800 de-legados de 40 países. Dois anos mais tarde, a primeira conferência sobre oamianto concentrada especificamente no continente asiático – a Confe-rência Asiática sobre o Amianto de 2006 – reuniu em Bangkok 300 dele-gados da Ásia, África, Europa, Austrália e América do Norte. Em abril de2009, impulsionados pelo sucesso dos eventos anteriores, quase 200 dele-gados de 24 países reuniram-se em Hong Kong para a Conferência Asiá-tica sobre o Amianto. O número de pessoas envolvidas e a diversidade dossetores e grupos representados na conferência indicam, com muita clare-za, que o movimento, antes considerado radical e restrito, ganhou, defini-tivamente, o consenso geral.

CRESCE A INFLUÊNCIA DA CAMPANHAHoje, os ativistas que lutam contra o uso do amianto são convidados

a participar de painéis nos parlamentos, prestam assessoria na criação deprotocolos de pesquisa e auxiliam o governo na tomada de decisões, aopasso que os antes todo-poderosos representantes da indústria do amian-to vêem-se abandonados por seus seguidores e beneficiários que não que-rem mais estar associados com uma tecnologia agora totalmente desacre-ditada. As pesquisas ultrapassadas e comprometidas nas quais se basea-vam os interessados na promoção do amianto revelaram-se parciais e im-precisas. Na verdade, o consenso existente entre todas as principais orga-nizações internacionais contradiz totalmente as afirmações, feitas aindapelos representantes do setor, de que o amianto pode ser usado com segu-

* Um total de 400 delegados participaram do evento de quatro dias em Osasco, que incluiu

um tributo musical às vítimas, sessões plenárias, seminários, mesas-redondas,

apresentações de cartazes, mostra de vídeos e exposição de fotografias.

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rança em “condições controladas.” A Organização Mundial de Saúde(OMS), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Agência In-ternacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o Collegium Ramazzini,as Nações Unidas (UN), a Comissão Internacional de Saúde Ocupacio-nal (ICOH), a Confederação Internacional de Sindicatos Livres (CIO-SL), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC)concordam que todos os tipos de amianto são perigosos, que não existequalquer “uso seguro” para ele e que a melhor forma de proteger a huma-nidade da exposição ao minério é seu completo banimento. Os pronunci-amentos do lobby do amianto são agora considerados tão dignos de crédi-to quanto aqueles da Sociedade Terra Plana, outro grupo que se posicionafanaticamente além das raias do ridículo, defendendo que a face habitadado planeta é plana e não esférica como a conhecemos.

A CONFERÊNCIA ASIÁTICA DO AMIANTO DE 2009Entre os especialistas internacionais que foram a Hong Kong, em

abril de 2009, para participar da Conferência Asiática do Amianto, estavaa engenheira brasileira Fernanda Giannasi, coordenadora da Rede VirtualCidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina e fundadora da

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ABREA, Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto. Na apresen-tação que fez sobre os Movimentos sociais na América do Sul: o papel dosmovimentos e ativistas sociais contra o lobby industrial do amianto, Fer-nanda situou a luta pelo banimento do amianto no contexto político etambém sociológico:

“A expansão da produção e uso do amianto na Américado Sul coincide com um período de governos não-demo-cráticos. Durante os 20 anos de ditadura militar no Brasil,Peru, Chile e Argentina, o uso do amianto floresceu. Arestauração do processo democrático foi um momentocrucial para o setor uma vez que o uso do amianto é in-compatível com os objetivos democráticos e os direitoshumanos.”

Em outubro de 2005, o senado francês emitiu um relatório oficialque denunciava o governo, as industrias do amianto e sindicatos por per-mitir a continuidade do uso do amianto, um reconhecido carcinogênicoreconhecido. O senado, que descreveu a epidemia de enfermidades relaci-onadas com o amianto na França como a pior catástrofe sanitária do sécu-lo 20, acusou o governo de ter sido anestesiado pelo lobby do setor. “Foi,”

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disse Fernanda Giannasi “um crime social perfeito, pois permitiu a maxi-mização do lucro das empresas e a socialização do desespero do câncer.”

Em anos recentes, conseguiu-se o banimento do amianto na Ar-gentina, Chile, Uruguai, quatro estados e diversos municípios no Brasil.Em muitos países sul-americanos, grupos de vítimas, como a AssociaçãoBrasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA), tiveram um papel proe-minente na formulação do debates nacionais sobre o uso do amianto,posicionando-se como contrapeso em relação ao poderio dos interessa-dos na exploração do minério.2 Desde sua fundação em 1995, a ABREAdivulga informações sobre os riscos do amianto, luta por legislação muni-cipal, estadual e federal visando o banimento da fibra, empenha-se emcapacitação, pressiona para obter proteção social, assistência médica e com-pensação para as vítimas, assim como a restauração das áreas danificadaspela extração do amianto. Além disso, a ABREA tem revelado e tornadopúblico os truques desleais da indústria do amianto, expondo a falsificaçãode dados e as mentiras usadas pelo setor para influenciar a opinião pública,e tem também denunciado a desobediência à legislação ambiental e infra-ções aos regulamentos de segurança e saúde no trabalho praticadas pelosetor.

Os desafios logísticos e financeiros contra os quais a ABREA fezfrente foram monumentais, diz Fernanda. Enfrentar um setor política eeconomicamente poderoso em um país das dimensões do Brasil exige umcompromisso absoluto e toda a energia da ABREA, bem como o apoio demilitantes que representam outros grupos de desfavorecidos como os sem-terra, os portadores de deficiências e os sem-teto. Embora o sucesso daRede Virtual Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latinapossa ser medido pelo número de vidas salvas, a ineficácia das instituiçõesinternacionais, a inatividade dos órgãos governamentais e a apatia de gran-des organizações não-governamentais são motivos de grande desaponta-mento.

Na conferência de Hong Kong, a engenheira Fernanda Giannasi con-tribuiu também trazendo informações, altamente pertinentes, sobre as ex-portações brasileiras de amianto aos países asiáticos. Em sua apresentaçãoExportações brasileiras de amianto para a Ásia, Fernanda incluiu dados quan-titativos sobre esse comércio tóxico. O Brasil é, confirmou ela, o quarto maiorprodutor mundial, importante exportador e grande consumidor de amianto.

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As empresas multinacionais que exploraram as atividades ligadas ao amian-to no Brasil por mais de 50 anos venderam seus negócios a empresáriosnacionais, os quais engajaram-se em uma campanha agressiva e violentapara silenciar seus opositores e proteger os mercados nacionais. Não obs-tante esses esforços, o consumo anual de amianto no Brasil reduziu-se. Paracompensar a perda de vendas no país, o lobby do amianto brasileiro trabalhaem estreito contato com agentes de outros setores econômicos, buscandoconquistar mercado em países em desenvolvimento. Seguindo o precedenteestabelecido pelo Canadá, o Brasil exporta quantidades cada vez maiores desua produção anual (em torno de 290.000 toneladas), sendo de 65-70% ven-didas a países da Ásia e América Latina, a maior parte deles com pouca, ounenhuma, legislação de segurança e saúde dos trabalhadores. Segundo da-dos oficiais, 74% da fibra bruta exportada tomou o caminho da Ásia. Asexportações para a Tailândia, o maior comprador estrangeiro do Brasil, res-pondem por 25% de todas as vendas. Outros importadores são a Índia (23%),Indonésia (17%), Irã (7%), Malásia e Sri Lanka. O fato de que os interessesligados à defesa do amianto terem conseguido anular a classificação da cri-sotila como substância perigosa, segundo a Convenção de Roterdã, signifi-ca que estas exportações estão sendo feitas sem qualquer notificação de con-sentimento prévio informado.

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CONCLUSÕESAs tradições iniciadas no Congresso Mundial do Amianto de 2000, em

Osasco, continuaram em Hong Kong. A primeira destas foi o foco na situa-ção das vítimas do amianto. Nas discussões sobre iniciativas acadêmicas, aatenção concentrou-se nas formas em que a pesquisa médica e científica podeoferecer soluções práticas às pessoas prejudicadas. Nas discussões em que fo-ram consideradas as técnicas de mitigação de riscos, o foco foi o uso dessastécnicas para minimizar a exposição ao amianto. Incentivou-se a participaçãode delegados com diversos níveis de experiência e conhecimentos para permi-tir que os iniciantes nas diversas questões pudessem exprimir sua opinião ecompartilhar sua experiência. Ao receber novas pessoas em nossa rede, forta-lecemos e ampliamos os recursos humanos disponíveis para essa difícil bata-lha. A ampla gama de assuntos que fizeram parte da agenda do congresso deHong Kong mostra a importância de enfrentarmos os multifacetados desafi-os postos pelo amianto. Muito do sucesso do evento de 2009 deve-se ao tra-balho de base feito nove anos antes em Osasco.

Apesar do avanço documentado pelos oradores em Hong Kong, oconsumo de amianto continua a pôr em perigo a vida de milhões de pes-soas na Ásia e outros continentes. Um grande número de delegados fezmenção ao baixo nível de conscientização nas áreas do trabalho, pública eprofissional, à marginalização das vítimas, à quase total ausência de capa-cidade para diagnosticar e oferecer assistência médica, ao controle dasagendas nacionais pelos interessados na exploração do amianto e à priori-zação do desenvolvimento econômico em detrimento da saúde e da segu-rança. Como ficou claramente ilustrado durante o painel das vítimas, amobilização dos prejudicados é fundamental para que se possa levar a efeitoqualquer mudança na política nacional relacionada com o amianto. O se-tor globalizado do amianto, responsável pela morte de diversas popula-ções, beneficia-se do isolamento de suas vítimas e da incapacidade de trans-formar a fúria local em ação. A criação de uma nova organização, a RedeAsiática pelo Banimento do Amianto, ao encerrar-se o evento, significaque as vítimas do amianto na Ásia não estarão mais sós. Como parte darede global, elas terão as informações e a massa crítica para expor os polui-dores, exigir o reconhecimento público dos danos provocados e forçar osgovernos a oferecer o apoio médico e financeiro de que precisam. O quecomeçou em Osasco continuou em Hong Kong! A luta continua!

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DECLARAÇÃO DE HONG KONG: RUMO AO

BANIMENTO COMPLETO DE TODAS AS FORMAS DE

AMIANTO

27 de abril de 2009O Congresso Asiático de Amianto de 2009 (AAC) foi organizado

em conjunto pelo Centro de Monitoramento de Recursos da Ásia(AMRC), Secretariado Internacional pelo Banimento do Amianto(IBAS), Confederação dos Sindicatos de Hong Kong (HKCTU) e aAssociação pelos Direitos das Vítimas de Acidentes Industriais (ARI-AV), com o apoio da Rede pelo Banimento do Amianto do Japão (BAN-JAN), Rede pelo Banimento do Amianto da Coréia (BANKO), Inter-nacional dos Trabalhadores em Construção e Madeira (BWI), Federa-ção Internacional dos Metalúrgicos (IMF) e da Rede Asiática pelosDireitos das Vítimas de Acidentes do Trabalho (ANROAV). Tambémparticiparam representantes da Organização Mundial do Trabalho, daOrganização Mundial da Saúde e da Comissão Internacional de Saúdeno Trabalho (ICOH). Ao todo, estiveram presentes mais de 200 partici-pantes de 24 países, representando a Ásia do Pacífico, Europa e Améri-cas do Norte e Sul.

Em toda a Ásia, há uma rápida e crescente conscientização da ne-cessidade de pôr fim ao uso de todas as formas de amianto e evitar doen-ças relacionadas com esse minério. As ações comunitárias para atingiresses objetivos e obter justa compensação para as vítimas e suas famíliasdisseminam-se mais e mais. Nos últimos anos, a mobilização levada acabo pelos grupos de vítimas tem tido grande sucesso no Japão e na

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Coréia, os dois únicos países da região que baniram o amianto. Traba-lhando com parceiros sociais, esses grupos apontam com clareza a exis-tência de uma epidemia nacional, promovem a conscientização públicaem relação aos problemas do amianto e pressionam os governos a resol-ver uma série de problemas sociais, políticos e científicos.

Apesar dos avanços, o amianto continua a ser usado em grandesquantidades na Ásia. Campanhas agressivas, promovidas pelos interes-sados no setor e lideradas pelo Canadá, Rússia e Brasil – países produto-res da fibra mineral – têm aumentado o lucro das empresas à custa daexposição dos trabalhadores e membros da comunidade aos perigos doamianto. Por ser o maior responsável pela crescente epidemia de câncernos ambientes de trabalho, o amianto é uma séria ameaça à saúde públi-ca. A maioria de suas vítimas não recebe qualquer tratamento médico oucompensação pelos danos que a fibra causa. Na verdade, quem paga,com a saúde, pelo lucro das empresas do setor são as vítimas. A indústriado amianto continua a veicular propaganda sem crédito, alegando quecertas formas de amianto podem ser usadas de forma segura em “condi-ções controladas”. A única “forma segura” de usar o amianto é não usá-lo. Existem alternativas ao amianto e elas devem ser usadas.

É necessário um esforço conjunto dos grupos de vítimas, sindica-tos, organizações patronais, pesquisadores, advogados, órgãos oficias com-petentes e grupos comunitários para pôr fim ao uso e à exportação dosriscos do amianto para países em desenvolvimento por parte de paísesindustrialmente desenvolvidos, como o Japão e a Coréia, de onde o ami-anto foi banido. É urgente que se divulguem, nas comunidades, infor-mações sobre os perigos do amianto, que se estabeleçam infraestruturasadequadas para o diagnóstico das enfermidades provocadas por ele e quese promova o uso de alternativas mais seguras em todas as regiões.

Reconhecendo a gravidade da situação e o nível da ameaça criadapelo uso contínuo do amianto na Ásia, os participantes do AAC instamos governos, a Organização Mundial de Saúde, a Organização Interna-cional do Trabalho, a Comissão Internacional de Saúde no Trabalho eoutras instituições internacionais a:

1) Banir imediata e completamente todas as formas de ami-anto e todos os processos que envolvem essa fibra, inclu-

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sive no setor de mineração, manufatura e qualquer outraatividade.

2) Priorizar outras alternativas mais seguras e implementaruma transição lógica para tecnologias mais seguras. Duranteo período de transição, os trabalhadores e a comunidade de-vem ser protegidos da exposição ao amianto.

3) Garantir o uso de técnicas apropriadas nos trabalhos deremoção do amianto e, nesse ínterim, implementar um pro-tocolo de rotulagem de todas as estruturas contaminadaspelo amianto com o objetivo de alertar os trabalhadores ea comunidade do perigo iminente que essa contaminaçãooferece.

4) Criar uma infraestrutura de diagnóstico para que as víti-mas possam ser corretamente diagnosticadas e receber, deforma oportuna, tratamento médico e de recuperação.

5) Envidar todos os esforços para obter “a cura” de enfermi-dades ligadas ao amianto, inclusive o mesotelioma.

6) Compensar financeiramente, de maneira justa, as vítimasde doenças ligadas ao amianto.

7) Responsabilizar criminalmente as empresas envolvidas natransferência do amianto e produtos correlatos a países re-cém-industrializados, tanto na jurisdição de origem quantode destino.

8) Ratificar a Convenção 162 da Organização Mundial doTrabalho e, de modo oportuno, envidar esforços para desen-volver programas nacionais de eliminação de doenças rela-cionadas com o amianto.

9) Auxiliar e apoiar o fortalecimento do trabalho essencialrealizado pelos grupos de vítimas com o objetivo de maximizarseus esforços para gerar conscientização relativamente à gra-vidade do problema provocado pelo amianto.

Os delegados do AAC sentem-se chocados com a conduta impró-

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pria do governo canadense, que continua a financiar o desacreditadoInstituto do Amianto, permitindo-lhe, assim, fazer propaganda imoral epromover a exportação de doenças decorrentes do amianto às pessoas depaíses em desenvolvimento.

Reconhecendo a urgente necessidade de uma ação coordenada naÁsia, um novo grupo foi criado no congresso: a Rede Asiática pelo Ba-nimento do Amianto (A-BAN). A criação da A-BAN é um marco nacampanha pela justiça para as vítimas do minério e na implementaçãode seu banimento do continente. Composta principalmente por organi-zações de vítimas, sindicatos e grupos de defesa ambiental de 16 paísesda região asiática do Pacífico, a A-BAN trabalhará para fortalecer osmovimentos de base pelo banimento do amianto na Ásia.