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A EDUCAÇÃO CARTOGRÁFICA NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE GEOGRAFIA: A SITUAÇÃO EM PERNAMBUCO Paulo Roberto F. de Abreu e Silva¹ Andrea Flávia Tenório Carneiro² Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Centro de Tecnologia e Geociências – Deptº de Engenharia Cartográfica Av.Acadêmico Hélio Ramos s/n, Cidade Universitária, Recife-PE - 50740-530 ¹ [email protected] ²[email protected] RESUMO A linguagem cartográfica, que representa a territorialidade dos diferentes fenômenos, constitui-se na razão de ser da ciência geográfica. O processo de educação cartográfica inicia-se com a suposição de que os mapas representam um modelo da realidade, portanto o modelo do sistema educacional baseia-se no estudo dos sinais gráficos e na análise de mapas, utilizados geralmente apenas como ilustração e localização de fenômenos. É preciso refletir o papel do documento cartográfico na construção do raciocínio espacial, e assim repensar o conteúdo das disciplinas de Cartografia nos cursos de formação de professores de Geografia. Este artigo apresenta um embasamento teórico voltado para a educação cartográfica e o conhecimento e habilidades necessárias ao professor de Geografia para a transmissão de conteúdos cartográficos para crianças. O estudo da abordagem da educação cartográfica em Pernambuco revela problemas graves, desde a formação deficiente do professor até a carência de recursos materiais, principalmente na rede pública de ensino.O trabalho propõe que o currículo mínimo dos cursos que formam professores de Geografia contemple disciplinas de Educação Cartográfica. Além disso, algumas recomendações são feitas, no sentido de incentivar a discussão das questões levantadas e buscar formas de se agir efetivamente em direção à solução do problema do chamado “analfabetismo cartográfico” no Brasil. Palavras chave: Educação Cartográfica, Cartografia Escolar, Ensino de Cartografia. ABSTRACT The cartographic language, that it represents the spatial distribution of the different phenomena, it is constituted in the reason of being of the geographical science. The process of cartographic education begins with the supposition that the maps represent a model of the reality, therefore the model of the educational system bases on the study of the graphic signs and in the analysis of maps, usually used just as illustration and location of phenomena. It is necessary to reflect the role of the cartographic document in the construction of the space reasoning, and to analyse the content of the disciplines of Cartography in the courses of teachers' of Geography formation. This article presents a theoretical study about the cartographic education and the knowledge and necessary abilities to the teacher of Geography for the transmission of cartographic contents for children. The study of the approach of the cartographic education in Pernambuco reveals serious problems, from the teacher's deficient formation to the lack of material resources, mainly in the public system of teaching. This paper proposes that the minimum curriculum of the courses that form teachers of Geography contemplate subjects of Cartographic Education. Besides, some recommendations are made, in the sense of to motivate the discussion of the lifted up subjects and to look for forms of acting indeed in direction to the solution of the problem of the call “cartographic illiteracy” in Brazil. Keywords: Cartographic Education, School Cartography, Cartography.

Cartografia Didatica

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Page 1: Cartografia Didatica

A EDUCAÇÃO CARTOGRÁFICA NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE GEOGRAFIA: A SITUAÇÃO EM PERNAMBUCO

Paulo Roberto F. de Abreu e Silva¹ Andrea Flávia Tenório Carneiro²

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Centro de Tecnologia e Geociências – Deptº de Engenharia Cartográfica Av.Acadêmico Hélio Ramos s/n, Cidade Universitária, Recife-PE - 50740-530

¹ [email protected] ²[email protected]

RESUMO

A linguagem cartográfica, que representa a territorialidade dos diferentes fenômenos, constitui-se na razão de ser da ciência geográfica. O processo de educação cartográfica inicia-se com a suposição de que os mapas representam um modelo da realidade, portanto o modelo do sistema educacional baseia-se no estudo dos sinais gráficos e na análise de mapas, utilizados geralmente apenas como ilustração e localização de fenômenos. É preciso refletir o papel do documento cartográfico na construção do raciocínio espacial, e assim repensar o conteúdo das disciplinas de Cartografia nos cursos de formação de professores de Geografia. Este artigo apresenta um embasamento teórico voltado para a educação cartográfica e o conhecimento e habilidades necessárias ao professor de Geografia para a transmissão de conteúdos cartográficos para crianças. O estudo da abordagem da educação cartográfica em Pernambuco revela problemas graves, desde a formação deficiente do professor até a carência de recursos materiais, principalmente na rede pública de ensino. O trabalho propõe que o currículo mínimo dos cursos que formam professores de Geografia contemple disciplinas de Educação Cartográfica. Além disso, algumas recomendações são feitas, no sentido de incentivar a discussão das questões levantadas e buscar formas de se agir efetivamente em direção à solução do problema do chamado “analfabetismo cartográfico” no Brasil. Palavras chave: Educação Cartográfica, Cartografia Escolar, Ensino de Cartografia.

ABSTRACT

The cartographic language, that it represents the spatial distribution of the different phenomena, it is constituted in the reason of being of the geographical science. The process of cartographic education begins with the supposition that the maps represent a model of the reality, therefore the model of the educational system bases on the study of the graphic signs and in the analysis of maps, usually used just as illustration and location of phenomena. It is necessary to reflect the role of the cartographic document in the construction of the space reasoning, and to analyse the content of the disciplines of Cartography in the courses of teachers' of Geography formation. This article presents a theoretical study about the cartographic education and the knowledge and necessary abilities to the teacher of Geography for the transmission of cartographic contents for children. The study of the approach of the cartographic education in Pernambuco reveals serious problems, from the teacher's deficient formation to the lack of material resources, mainly in the public system of teaching. This paper proposes that the minimum curriculum of the courses that form teachers of Geography contemplate subjects of Cartographic Education. Besides, some recommendations are made, in the sense of to motivate the discussion of the lifted up subjects and to look for forms of acting indeed in direction to the solution of the problem of the call “cartographic illiteracy” in Brazil. Keywords: Cartographic Education, School Cartography, Cartography.

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1 . INTRODUÇÃO

A Educação Cartográfica é um processo de construção de estruturas e conhecimentos favorecedores da leitura e interpretação de mapas. A construção e interpretação de mapas, por sua vez, são atividades de comunicação, e possuem textos com códigos próprios cujas mensagens devem ser lidas e interpretadas

A linguagem gráfica é um fator importante no ensino dos conteúdos cartográficos para crianças. O professor deve estar atento e ao mesmo tempo capacitado para trabalhar o processo de comunicação que irá resultar numa eficiente utilização do mapa em sala de aula. SOUZA et al (2000), afirma que “A linguagem cartográfica é, a nosso ver, uma das que indubitavelmente devem ser utilizadas no ensino, pois representa a territorialidade dos diferentes fenômenos, razão de ser da própria ciência geográfica”.

O despreparo dos professores de geografia para o ensino de cartografia é preocupante, uma vez que acarreta distorções no uso dos documentos cartográficos como meio de comunicação. A finalidade do mapa perde todo o seu atributo ora por não ser trabalhado, ora por ser manuseado sem o devido entendimento, perdendo assim o contexto da comunicação. Como pode um professor passar às crianças um conhecimento que não adquiriu?

No que concerne à Cartografia, observa-se a existência de linhas de pesquisa voltadas para teorias e práticas de Educação Cartográfica, como também técnicas de produção e uso de mapas. Os resultados destas pesquisas, no entanto, precisam ter resultados práticos e contribuir para alterar a realidade. Conforme pesquisa desenvolvida para a elaboração de uma dissertação de mestrado, identifica-se, como uma das principais causas do analfabetismo cartográfico no estado de Pernambuco, a deficiência nas grades curriculares que formam professores de Geografia, bem como problemas de capacitação dos professores que ensinam a disciplina de Cartografia nessas Faculdades. Como entender um curso que forma professores de Geografia, possuir quase 3000 horas e existirem no estado de Pernambuco faculdades e universidades que contemplam a matéria cartografia com apenas 60 ou 120 horas? Como resultado, professores de geografia são formados sem uma habilidade necessária para a transmissão dos conteúdos cartográficos, e irão aumentar o contingente de analfabetos cartográficos no ambiente escolar. É preciso refletir o papel do mapa na construção do raciocínio espacial e assim poder repensar o conteúdo de cartografia dos cursos de Geografia do estado, tendo por base a experiência de instituições de outras regiões, cujos conteúdos vão desde a Alfabetização Cartográfica às Geotecnologias. Faculdades, universidades, muitas escolas particulares e algumas escolas públicas possuem laboratório de informática. Esses laboratórios são sub-utilizados, pois o seu uso destina-se mais precisamente à pesquisa na Internet. Os professores de geografia, que não foram treinados em seus cursos com as novas tecnologias da informação, ou com o processo de Educação Cartográfica,

estarão sem condições de aproveitarem a estrutura computacional para oferecerem um aprendizado pertinente aos conteúdos cartográficos. Dentro deste contexto, este artigo tem como objetivo identificar as causas do analfabetismo Cartográfico no Brasil, mais especificamente em Pernambuco, bem como desenvolver uma cultura de cooperação entre os Departamentos de Geografia do nosso estado com o Departamento de Engenharia Cartográfica da UFPE, buscando habilitar alunos e professores nos ensinamentos dos conteúdos cartográficos.

2. DIRETRIZES CURRICULARES E PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - PCNs

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Alfabetização Cartográfica é fundamental para que os alunos possam continuar sua formação iniciada nas primeiras séries e, posteriormente, trabalhar com a representação gráfica. Portanto, o aluno precisa aprender os elementos básicos da representação gráfica/cartográfica para que possa efetivamente ler mapas. Como entender essa preocupação para o Ensino Fundamental, se nas faculdades que formam esses professores não oferecem uma habilitação para construir um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relacionados ao ensino da Educação Cartográfica? Numa análise prévia das grades curriculares de algumas faculdades e universidades que formam professores de Geografia em Pernambuco, constata-se a inexistência de conteúdos voltados para a educação cartográfica. A maioria das grades curriculares oferece Cartografia I e II, com uma carga horária insuficiente. O Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior, conforme a resolução CNE/CES 14, de 13 de Março de 2002, no qual estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de Geografia, aprovou as orientações referente a formulação do projeto pedagógico a ser oferecido pelo curso de Geografia. Nessa resolução, a educação cartográfica não é exigida como uma competência desejada nem como habilidade a ser adquirida pelo futuro professor. Com relação aos conteúdos cartográficos, apenas se faz menção como competência: “Elaborar mapas temáticos e outras representações gráficas, como também dominar os conteúdos básicos que são objeto de aprendizagem nos níveis fundamental e médio.” A Lei de Diretrizes e Bases da Educação é enfática quando dedica uma atenção especial a formação dos professores que irão trabalhar na educação básica .

Numa análise entre as Diretrizes Curriculares para os cursos de Geografia e os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) tanto do ensino fundamental I ( 1ª a 4ª série) e ensino fundamental II ( 5ª a 8ª série) da disciplina de geografia, constata-se que existe uma verdadeira inversão dos valores referente aos conteúdos cartográficos e ou educação cartográfica. Enquanto nas Diretrizes Curriculares dos cursos que formam professores de geografia no Estado

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não existe uma preocupação em habilitar seus alunos no processo de educação cartográfica; o PCN que regulamenta a disciplina de Geografia em todas as duas modalidades de ensino tem como um de seus objetivos gerais “ Utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações em linguagem cartográfica, observando a necessidade de indicações de direção, distância, orientação e proporção para garantir a legibilidade da informação”; e sugere eixos temáticos, (Eixo 4 – A Cartografia como instrumento na aproximação dos lugares e do mundo , dando ênfase a educação cartográfica). Como a grade curricular dos cursos de geografia não oferece disciplinas que habilitem o professor a trabalhar os conteúdos cartográficos, verificam-se enormes limitações do uso e inadequação da linguagem cartográfica no ensino da geografia. Já nos PCNs de Geografia, encontra-se seguinte colocação: “ O estudo da linguagem cartográfica, por sua vez, tem reafirmado sua importância, desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta básica da geografia, os mapas , como também para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço”. Observa-se, portanto, como um resultado inicial da pesquisa, que o processo que gera o analfabetismo cartográfico no nosso estado inicia-se na formação do professor. Ora, como podem os professores atenderem às recomendações das diretrizes nacionais se os cursos que formam esses professores não apresentam em sua grade curricular os conteúdos de Educação Cartográfica? Existe também um outro questionamento sobre essa temática. O Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno. Resolução CNE/CP1, de 18 de Fevereiro de 2002, institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores de Educação Básica, uma licenciatura de graduação plena. Os professores que ensinam no Fundamental I ( 1ª a 4ª série), terão um prazo de dois anos, a partir da publicação da Resolução, para fazerem esse curso para continuar a ensinar. Por conta dessa exigência, várias faculdades estão oferecendo esse curso. Com relação à grade curricular do curso de Educação Básica, na lei que trata da regulamentação, em seu Artigo 10 : “A seleção e o ordenamento dos conteúdos dos diferentes âmbitos de conhecimento que comporão a matriz curricular para a formação de professores de que trata esta resolução, serão de competência da instituição de ensino, sendo o seu planejamento o primeiro passo para a transposição didática , que visa a transformar os conteúdos selecionados em objeto de ensino dos futuros professores. Numa análise preliminar da grade curricular desse curso, verifica-se a ausência de conteúdos de educação cartográfica. Como conteúdo da Geografia, existe uma disciplina Metodologia de Ensino de Geografia.

3. A PROBLEMÁTICA NO ENSINO DA CARTOGRAFIA A questão do analfabetismo cartográfico tem sido ultimamente muito pesquisada. Grupos de todo o Brasil dedicam-se à educação cartográfica. Os trabalhos realizados junto à área de cartografia e ensino, vinculam-se basicamente a três grandes linhas: metodologias de ensino, teorias da aprendizagem e técnicas de comunicação cartográfica. É importante que os resultados das pesquisas tenham aplicação direta na melhoria do ensino, através de propostas de conteúdos para o currículo didático nas instituições que formam professores de Geografia, uma vez que os ensinamentos da educação cartográfica é de responsabilidade do professor de Geografia.

Se professores são formados para o ensino de crianças e adolescentes; e segundo BOARD, (1975) “Os trabalhadores em Geografia, no domínio dos conteúdos Cartográficos, devem ensinar para os estudantes quatro princípios básicos de Cartografia: direção, local, escalas e simbolismo”, porque não haver uma disciplina que desenvolva habilidades do professor de Geografia em trabalhar os conteúdos cartográficos para crianças? Na década de 70, a Profª Lívia de Oliveira já dava o seu alerta para esse problema e sugeria a criação dessa disciplina. Existe, portanto, uma distância entre a produção acadêmica e o Ensino Fundamental e Médio. Como também existe uma grande dificuldade na identidade do professor de Geografia, devido a grande defasagem que a escola se encontra diante do avanço técnico-científico.

Nas escolas públicas de Pernambuco pode-se enumerar as seguintes situações: a) Professores de geografia, formados em faculdades do

interior, que não possuem uma formação cartográfica adequada, por não terem sido habilitados para trabalhar a Educação Cartográfica.

b) Professores com outra formação e que ensinam geografia é uma prática constante. Professores de história são os mais são requisitados.

c) Estagiários e professores com contrato temporário, às vezes com outra habilitação, também ensinam geografia .

d) Os próprios professores licenciados em geografia não ensinam cartografia por se tratar de conteúdos de difícil compreensão por parte dos alunos.

e) Professores habilitados em ciências sociais, ensinam Geografia nas escolas (a grade curricular de alguns cursos contempla apenas 30 horas para a Cartografia Básica).

f) Os conteúdos ligados à Cartografia são vistos, na 5ª série do ensino fundamental II e n. 1º ano do ensino médio. Os livros didáticos acompanham esta tendência.

g) Nas provas de vestibular em nosso estado, as questões relacionadas com os conteúdos cartográficos são pouco explorados.

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Diante desta situação, verifica-se que práticas pedagógicas do ensino de Geografia estão ultrapassadas, daí o índice de analfabetos cartográficos ser muito grande em nosso estado, uma vez que a limitação do uso inadequado ou da não utilização da linguagem cartográfica é uma realidade em nossas escolas. Segundo ANDRÉ (1990) “... O que ocorre via de regra, é que o professor não está preparado para desempenhar esse papel na sala de aula, devido à formação deficitária que recebeu, que nem lhe propiciou o acesso aos conhecimentos necessários ao domínio do componente curricular que leciona, nem lhe deu oportunidade de desenvolver sua condição de sujeito produtor desses conhecimentos e responsável por seu avanço”. Fig. 1 - Ciclo do Analfabetismo Cartográfico

Os órgãos responsáveis pela Geografia e pela Cartografia no país devem tomar iniciativas de organizar, cobrar e fiscalizar o que está sendo realizado no contexto de ensino, tanto no nível escolar quanto no nível universitário. Os departamentos de Engenharia Cartográfica do país devem contribuir para o aperfeiçoamento dos professores que ensinam a disciplina de Cartografia nas Faculdades e ou Universidades que formam professores de Geografia. Pode-se sugerir , que as Universidades, a AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros) e as associações de Cartógrafos formem um grupo para avaliar e mensurar o problema em todas as regiões do Brasil, e tomar iniciativas que modifiquem esses quadro de analfabetos Cartográficos. O MEC deve agir através da sua função fiscalizadora, no sentido de coibir casos de professores responsáveis por disciplinas para as quais não são habilitados.

O Conselho Federal de Educação, 1981, trata da questão : “Ao lado destas matérias incluímos a Cartografia, por todos considerada como indispensável pois não se poderia compreender um professor de Geografia que não soubesse fazer um croquis, nem ler ou interpretar cartas e diagramas”.

4. CARTOGRAFIA ESCOLAR E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS A Geografia vem evoluindo, nas últimas décadas pela introdução e aprofundamento de metodologias e tecnologias de representação do espaço (geoprocessamento e sistemas de informação geográficas, cartografia automatizada e sensoriamento remoto).

Essas transformações no campo dos conhecimentos geográficos representam desafios para a formação não apenas do Bacharel em Geografia, como também no Licenciado.

Diante dessas colocações, questiona-se: porque esses profissionais de Geografia, principalmente em nosso estado, estão fora dessas transformações dos conhecimentos? Porque as faculdades não investem na introdução e habilitação dos professores nessa nova tecnologia da informação?

ALUNO DA ESCOLA

ALUNO DAFACULDADE

PROFESSOR DAESCOLA

CICLO DOANALFABETISMOCARTOGRÁFICO

PROFESSORDA

FACULDADE

Entre as habilidades e competências do professor de Geografia citadas nas Diretrizes curriculares para o curso de Geografia, pode-se destacar:

Ler , analisar e interpretar produtos de sensoriamento remoto e de sistemas de informação geográfica e outros documentos gráficos, matemático-estatísticos;

Tratar a Informação Geográfica, utilizando procedimentos gráficos, matemáticos e estatísticos;

Organizar o processo espacial, adequando-o ao processo de ensino- aprendizagem em Geografia.

Segundo PASSINI (1998), “ Os mapas geralmente

são utilizados apenas como forma de ilustração e localização de fenômenos”. Isso quando as escolas públicas possuem mapas.

Aprender a ler mapas requer um processo que abrange diversos fatores, sendo um dos principais a forma como o aluno será alfabetizado na leitura cartográfica. As recentes inovações tecnológicas atingem todos os aspectos da vida do homem, principalmente nesse processo da globalização.

A cartografia, por sua vez, tem sido alvo da disseminação dessas inovações tecnológicas e com isso tem mudado a sua concepção, principalmente na adoção de novas metodologias e técnicas. Assim, a utilização da informática, do sensoriamento remoto, das fotos aéreas, possibilitaram um produto cartográfico ou de visualização gráfica de qualidade que, no âmbito educacional, poderá alcançar objetivos variados nas diversas áreas do conhecimento.

Segundo MACAGNAM ( 2001), “ O desafio de hoje, no Brasil, é , de um lado, habilitar professores (principalmente os de Geografia) a introduzir no Ensino Fundamental os conceitos básicos utilizados em Geoprocessamento e, de outro, capacitar os estudantes dos diversos cursos universitários a utilizá-lo nas suas atividades de pesquisa e prática”.

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Nos Parâmetros curriculares Nacionais de 5ª a 8ª séries , um dos objetivos é saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos.

Nesses parâmetros, que vem desde a década de 90, não se verificou qualquer modificação nas escolas com relação a introdução dessas novas tecnologias. Principalmente nas escolas públicas, onde alguns computadores são para uso nas secretarias. Além disso, muitos professores não possuem computador em casa, o que provoca uma lacuna imensa no processo de interação professor x informática.

Numa análise feita pela Fundação Carlos Chagas, verificou-se que as propostas curriculares de geografia produzidas nas últimas décadas revelam indefinições e problemas na escolha de seus conteúdos. Muitos problemas foram citados, porém a Fundação não cita a deficiência na formação dos professores quanto aos conteúdos cartográficos. Não foi analisada a ausência, nas grades curriculares dos cursos que formam professores de Geografia, de conteúdos de Sistemas de Informação Geográficas, Educação Cartográfica ou Cartografia para Crianças, uma vez que essas habilidades e competências estão sugeridas nas Diretrizes Curriculares – pareceres nº CNE/CES 492/2001 e 1363/2001.

Já o PCN de Geografia para o 2º ciclo do ensino fundamental, traz como um dos objetivos, “reconhecer o papel das tecnologias da informação, da comunicação e dos transportes na configuração das paisagens urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade”.

A evolução tecnológica na cartografia tem sido muito rápida. A cada dia surgem novos produtos cartográficos, e essa rapidez amplia cada vez mais a distância entre a formação e atualização, daí a grande problemática enfrentada por nossos professores que tem como conseqüência a seguinte afirmação: O professor torna-se um mero observador e não participante no processo tecnológico de ensino.

Como em Pernambuco, os professores poderão usufruir dessa tecnologia? Como foi visto, a grade curricular das faculdades que formam professores de geografia não contempla o sensoriamento remoto, o SIG ou a fotogrametria. Na educação cartográfica, é um outro problema, uma vez que os professores são pouco habilitados para a transmissão dos conteúdos da cartografia básica. Como ensinar a crianças e adolescentes ? A educação cartográfica exige um preparo acurado por parte dos docentes, pois o processo de ensino-aprendizagem da linguagem cartográfica exige certos critérios e uma preocupação metodológica. O dilema da perpetuação do analfabetismo cartográfico em nosso estado continuará se os que fazem a geografia, não tomarem providências e acordarem para essa problemática.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi explanado, a cultura da educação

cartográfica em nosso Estado praticamente não existe.

Numa análise prévia, verifica-se que, no que concerne à formação cartográfica dos professores de geografia em nosso estado, a situação é grave e colabora para o elevado índice de analfabetos cartográficos. Abrindo outro leque, se formos analisar os conteúdos dos professores de magistério, que ensinam geografia no curso primário, aí as coisas se complicam. Como consequência, os alunos chegam ao ensino fundamental II com uma total falta de noção espacial.

Nas produções acadêmicas de artigos, defrontamos com uma variedade de temas ligados ao ensino de cartografia, tanto temas ligados à educação cartográfica, como temas abordando o ensino escolar incorporando novas tecnologias como o geoprocessamento, o sensoriamento remoto e a interpretação de fotos aéreas. É preciso que as secretarias de educação do estado e dos municípios tomem providências no sentido de atualizar os professores de geografia atuantes em sala de aula, tanto os de ensino fundamental como os de ensino médio.

Ao ler estes artigos, constata-se um verdadeiro isolamento dos conhecimentos científicos, os quais implicam no direcionamento para o ensino escolar, e nos faz ver o quanto estamos distantes do processo de ensino da educação cartográfica em nosso estado. É recomendável que os departamentos de geografia formem grupos de estudos, a fim de oferecerem uma formação cartográfica a seus professores e cursos de extensão a seus alunos, como também trabalhem associados ao Departamento de Engenharia Cartográfica buscando parcerias.

Segundo PEZZATO, (2001) “ A formação dada aos profissionais nos cursos de licenciatura tem sido um dos principais fatores que geram dificuldades de trabalho coletivo nas escolas”.

Diante do que está contido na nova LDB, nos PCNs de Geografia, tanto para o ensino Fundamental I quanto para o II, como também nas diretrizes curriculares para o ensino da Geografia, pareceres, CNE/CES-492/2001 e 1363/2001, verifica-se que na prática não é vivenciado tudo o que está escrito nesses documentos.

Nas Faculdades, a grade curricular não estabelece vínculos com o que os PCNs sugerem como prática aos professores de Geografia. Nas escolas, o professor deixa muitas vezes os conteúdos cartográficos de lado, ou por não ter sido habilitado para o ensino dos conteúdos cartográficos para os diversos níveis, ou por falta de recursos, inclusive até com falta de mapas.

Conforme foi demonstrado, a fragmentação dos conteúdos de geografia escolar é uma realidade em nosso estado. Em especial, é importante alertar para o problema relacionado à cartografia no ensino de geografia. Existe uma forte evidência de que os conteúdos cartográficos têm sido tratados como conteúdos específicos e isolados, numa total desarticulação dos conteúdos selecionados pela geografia ensinada nas escolas.

Não é justificável que a geografia, sendo uma ciência que se propõe a tratar da organização espacial de elementos naturais e humanos, negligencie a importância da cartografia para a representação, descrição e análise da distribuição dos fenômenos estudados.

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As colocações desenvolvidas neste artigo têm o propósito de promover um debate em torno da necessidade urgente de se tomar várias decisões à respeito do ensino da geografia escolar; entre elas a reestruturação da grade curricular das faculdades e universidades que formam professores de geografia e a habilitação de docentes das séries iniciais no tocante ao ensino da cartografia.

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SOUZA, José Gilberto de & KATUTA, Angela Massumi. Geografia e Conhecimentos Cartográficos: Editora Unesp, 2000.