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Doenças do sorgo Alexandre da Silva Ferreiro 11 Carlos Roberto Casela l] Fernando Tavares Fernandes 11 o sorgo (Sorghum bico!or (L) Moench], uma planta nativa da África, é um dos mais importantes cereais cultiva- dos no mundo e, pela ampla faixa de condições ambientais em que é cultiva- do, apresenta-se particularmente susce- t ivel a um grande número de doenças, cuja extensão e severidade variam 'de ano para ano e de uma localidade para outra em função do grau de compatibi- lidade entre o hospedeiro e o patogeno e 'da ação do ambiente sobre esta asso- ciação. .As doenças do sorgo, à semelhança de outras culturas, podem ser classifi- ias em infecciosas e não infecciosas. ".J primeiras são causadas por fatores bioticos que se multiplicam e podem ser transmitidas de uma planta infectada para uma sadia, como fungos, bactérias, virus e nematóides. As segundas são causadas por fatores abioticos como condições ambientais (luz, pH, tempera- . tura e umidade) e nutricionais desfavo- rdveis à planta. No Brasil, a antracnose /Colletotri- chum grarninicola (Ces) C. W. Wilson), a ferrugem /Puccinia purpurea Cooke) e o mtldio (Peronosclerospora sorghi (Weston&Uppal) CC. Shaw) são consi- deradas atualmente as doenças mais im- portantes do sorgo. A antracnose e a ferrugem são im- portantes pela severidade e por sua ocor- rência generalizada, podendo a primeira se constituir, às vezes, em fator limitan- te para a cultura do sorgo. O mildio é importante não pelos danos que cau- sa à cultura do sorgo mas tqmbé'[l pela sua importância para a cultura do milho. Resultados de pesquisas recente- mente conduzidos pelo Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo - CNPMSI EMBRAPA demonstram a ocorrência de raças dos patógenos C. graminicola e P. purpurea, fato que se constitui nu- ma dificuldade aos trabalhos de obten- ção de cultivares resistentes, uma vez que novas raças tornam suscetiveis cultivares anteriormente consideradas resistentes. Doenças como helmintosporiose [Exserohilum turcicum (Pass.) Leonard & Suggs [Sin. Helminthosporium turci- cum Pass.)], cercosporiose (Cercospora sorghi EU. & Ev.}, mancha zonada (Gloeocercospora sorghi D. Bain & Edg.) e a podridão do colmo ou "charcoal rot " causada por Macrophomina phaseo- Una (Tassi) C. Goid. têm a sua impor- tância e ocorrência variável com os anos e localidade. Esta última assume. par- ticular importância no nordeste brasi- leiro, onde as condições de alta tempe- ratura e baixa precipitação favorecem a sua ocorrência e disseminação. Com relação às sementes de sorgo, estas são altamente suscetiveis à infec- ção no campo por estarem agrupadas na panicula, criando condições favoráveis ao desenvolvimento de microorganis- mos, principalmente quando ocorre alta umidade relativa durante afase de matu- ração dos grãos. Dentre os vários fun- gos que podem causar infecção nas se- mentes estão Fusarium moniliforme, Fusarium 'semitectum, Phoma sorghina, Curvularia lunata e Colletotrichum gra- minicola. Várias são as medidas que podem ser utilizadas para o controle das doen- ças de sorgo, como a rotação de cultu- ras, uso de fungicidas no tratamento de sementes, época de plantio, utilização de sementes sadias e o plantio de culti- vares resistentes. A utilização de cultivares resisten- tes é, sem dúvida, a maneira mais efici- ente e econômica de controlar enfermi- dades de plantas cultivadas. No caso de patogenos que apresentam especializa- ção fisiológica, o desenvolvimento de cultivares resistentes é dificultado pela possibilidade de o patógeno adaptar-se aos genes de resistência incorporados. Nesta situação a resistência tem que ser do tipo horizontal, a qual reduz a taxa li EngÇ AgrÇ. M.Sc. - Pesq./CNPMS/EMBRAPA - Caixa Postal 151 -35.700 Sete Lagoas-MG. Inf, Agropec., Belo Horiwnte,!1 (144) dezembro de 1986 ·52 CAS, C.R. 1986 de desenvolvimento da doença urante o ciclo da cultura e atua uniformemen- te contra as raças de um patogeno. O programa de melhoramento de sorgo do CNPMSIEMBRAPA tem dado ênfase à resistência do tipo horizontal, principalmente aos patógenos C. grami- nicola e P. purpurea. A seguir são descritas 'as principais doenças do sorgo encontradas até o momento no Brasil. ANTRACNOSE É uma das mais importantes doen- ças fúngicas da cultura do sorgo, devido ã sua ocorrência generalizada e à sua capacidade de reduzir, sensivelmente, a produção e a qualidade dos grãos e da forragem. O patógeno apresenta especializa- ção fisiológica, podendo ocorrer nas culturas de milho, .sorgo e outras espé- cies de gramíneas. Sintomatologia O patógeno incide nas folhas, pe- dúnculo, colmo, panícula, grãos e raf- zes. Os sintomas aparecem, normal- mente, durante o florescimento. Nas folhas, as lesões são de circu- lares para ovais, pequenas 0,5 em), de coloração avermelhada ou amare- lada, dependendo da cultivar. O centro das lesões pode tornar-se de cor escura, onde são observadas frutificações do fungo (Fig. 1). Nas nervuras, as lesões são de forma elíptíca e de co~ marrom- avermelhacla (Fig. 2). No pedúnculo infectado, interna- mente, o tecido adquire coloração aver- melhada com pontuações brancas cor- respondentes aos pontos de penetração do fungo. Nestes pontos, externamente, em condições de alta umidade e tempe- ratura, há formação de uma massa de esporos de cor rosa. No colmo, os sintomas se asserna- lham aos do pedúnculo (Fig. 3). . Etiologia O patógeno causador da antracno- se é o fungo Colletotrichum graminico-

CAS, C.R. 1986 Doenças do sorgo - Embrapaainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/46349/1/Doencas-sorg… · No pedúnculo infectado, interna-mente, o tecido adquire coloração

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Doenças do sorgoAlexandre da Silva Ferreiro 11

Carlos Roberto Casela l]Fernando Tavares Fernandes 11

o sorgo (Sorghum bico!or (L)Moench], uma planta nativa da África, éum dos mais importantes cereais cultiva-dos no mundo e, pela ampla faixa decondições ambientais em que é cultiva-do, apresenta-se particularmente susce-t ivel a um grande número de doenças,cuja extensão e severidade variam 'deano para ano e de uma localidade paraoutra em função do grau de compatibi-lidade entre o hospedeiro e o patogenoe 'da ação do ambiente sobre esta asso-ciação.

. As doenças do sorgo, à semelhançade outras culturas, podem ser classifi-

ias em infecciosas e não infecciosas.".J primeiras são causadas por fatoresbioticos que se multiplicam e podem sertransmitidas de uma planta infectadapara uma sadia, como fungos, bactérias,virus e nematóides. As segundas sãocausadas por fatores abioticos comocondições ambientais (luz, pH, tempera- .tura e umidade) e nutricionais desfavo-rdveis à planta.

No Brasil, a antracnose /Colletotri-chum grarninicola (Ces) C. W. Wilson),a ferrugem /Puccinia purpurea Cooke) eo mtldio (Peronosclerospora sorghi(Weston&Uppal) CC. Shaw) são consi-deradas atualmente as doenças mais im-portantes do sorgo.

A antracnose e a ferrugem são im-portantes pela severidade e por sua ocor-rência generalizada, podendo a primeirase constituir, às vezes, em fator limitan-te para a cultura do sorgo. O mildio éimportante não só pelos danos que cau-sa à cultura do sorgo mas tqmbé'[l pelasua importância para a cultura do milho.

Resultados de pesquisas recente-mente conduzidos pelo Centro Nacionalde Pesquisa de Milho e Sorgo - CNPMSIEMBRAPA demonstram a ocorrênciade raças dos patógenos C. graminicolae P. purpurea, fato que se constitui nu-

ma dificuldade aos trabalhos de obten-ção de cultivares resistentes, uma vezque novas raças tornam suscetiveiscultivares anteriormente consideradasresistentes.

Doenças como helmintosporiose[Exserohilum turcicum (Pass.) Leonard& Suggs [Sin. Helminthosporium turci-cum Pass.)], cercosporiose (Cercosporasorghi EU. & Ev.}, mancha zonada(Gloeocercospora sorghi D. Bain & Edg.)e a podridão do colmo ou "charcoalrot " causada por Macrophomina phaseo-Una (Tassi) C. Goid. têm a sua impor-tância e ocorrência variável com os anose localidade. Esta última assume. par-ticular importância no nordeste brasi-leiro, onde as condições de alta tempe-ratura e baixa precipitação favorecem asua ocorrência e disseminação.

Com relação às sementes de sorgo,estas são altamente suscetiveis à infec-ção no campo por estarem agrupadas napanicula, criando condições favoráveisao desenvolvimento de microorganis-mos, principalmente quando ocorre altaumidade relativa durante afase de matu-ração dos grãos. Dentre os vários fun-gos que podem causar infecção nas se-mentes estão Fusarium moniliforme,Fusarium 'semitectum, Phoma sorghina,Curvularia lunata e Colletotrichum gra-minicola.

Várias são as medidas que podemser utilizadas para o controle das doen-ças de sorgo, como a rotação de cultu-ras, uso de fungicidas no tratamento desementes, época de plantio, utilizaçãode sementes sadias e o plantio de culti-vares resistentes.

A utilização de cultivares resisten-tes é, sem dúvida, a maneira mais efici-ente e econômica de controlar enfermi-dades de plantas cultivadas. No caso depatogenos que apresentam especializa-ção fisiológica, o desenvolvimento decultivares resistentes é dificultado pelapossibilidade de o patógeno adaptar-seaos genes de resistência incorporados.Nesta situação a resistência tem que serdo tipo horizontal, a qual reduz a taxa

li EngÇ AgrÇ. M.Sc. - Pesq./CNPMS/EMBRAPA - Caixa Postal 151 -35.700 Sete Lagoas-MG.

Inf, Agropec., Belo Horiwnte,!1 (144) dezembro de 1986·52

CAS, C.R.

1986

de desenvolvimento da doença uranteo ciclo da cultura e atua uniformemen-te contra as raças de um patogeno.

O programa de melhoramento desorgo do CNPMSIEMBRAPA tem dadoênfase à resistência do tipo horizontal,principalmente aos patógenos C. grami-nicola e P. purpurea.

A seguir são descritas 'as principaisdoenças do sorgo encontradas até omomento no Brasil.

ANTRACNOSE

É uma das mais importantes doen-ças fúngicas da cultura do sorgo, devidoã sua ocorrência generalizada e à suacapacidade de reduzir, sensivelmente, aprodução e a qualidade dos grãos e daforragem.

O patógeno apresenta especializa-ção fisiológica, podendo ocorrer nasculturas de milho, .sorgo e outras espé-cies de gramíneas.

SintomatologiaO patógeno incide nas folhas, pe-

dúnculo, colmo, panícula, grãos e raf-zes. Os sintomas aparecem, normal-mente, durante o florescimento.

Nas folhas, as lesões são de circu-lares para ovais, pequenas (± 0,5 em),de coloração avermelhada ou amare-lada, dependendo da cultivar. O centrodas lesões pode tornar-se de cor escura,onde são observadas frutificações dofungo (Fig. 1). Nas nervuras, as lesõessão de forma elíptíca e de co~ marrom-avermelhacla (Fig. 2).

No pedúnculo infectado, interna-mente, o tecido adquire coloração aver-melhada com pontuações brancas cor-respondentes aos pontos de penetraçãodo fungo. Nestes pontos, externamente,em condições de alta umidade e tempe-ratura, há formação de uma massa deesporos de cor rosa.

No colmo, os sintomas se asserna-lham aos do pedúnculo (Fig. 3). .

EtiologiaO patógeno causador da antracno-

se é o fungo Colletotrichum graminico-

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Sorgo

,.

Fig. 1 - Antracnose foliar.

Ia, (F. p. Glomerella graminicola].Os conídios, produzidos em acérvu-

los, agIutinam-se 'em uma massa gelati-nosa de cor rosa que se dissolve na pre-sença de umidade.

A sobrevivência do fungo, de umano para outro, se dá nos restos de cul-tura, espécies de sorgo selvagens e se-mentes. No solo, a sobrevivência é dras-ticamente reduzida na superfície.

A disseminação dos conídios pro-duzidos nas espécies selvagens ou emplantas remanescentes se dá através daágua de chuva e dos ventos e se consti-tui na fonte primária de in6culo.

As condições favoráveis para o apa-recimento da doença são de alta umida-de e temperatura em torno de 25 a30°C. Nestas condições a produção deesperes é elevada.

ControleA antracnose é efetivamente con-

trolada pelo uso de cultivares resis-tentes.

A rotação de cultura, a eliminaçãode gramíneas hospedeiras do patógeno eo enterrio de restos de cultura são, tam-bém, medidas de controle 'recomenda-das.

FERRUGEM

Ocorre em todas as regiões ondeesta gramínea é cultivada. Sua ocor-

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rência é mais severa em plantas proxi-mas da maturidade. Em cultivaressuscetíveis, contudo, pode ocorrer nosprimeiros estágios de desenvolvimentodas plantas, acarretando uma reduçãodrástica na produção. Afeta, sensivel-mente, a qualidade da forragem.

SintomatologiaOs sintomas aparecem, inicialmen-

te, nas folhas próximas ao solo, em for-ma de pequenas pústulas. No inícioda infecção, a pústula é coberta por pe-lícula que ao se romper libera uma mas-sa de esporos de cor avermelhada e deaparência ferruginosa (Fig. 4). O tama-nho e o número de pústulas dependemda suscetibilidade da cultivar atacada.

EtiologiaA ferrugem do sorgo é causada pe-

lo fungo Puccinia purpurea. Por serum parasita obrigatório, sua sobrevi-vência de uma estação para outra se dáem hospedeiros vivos como Sorghumverticilliflorum, Sorghum halepense, en-tre outros, e plantas remanescentes dacultura anterior.

O inóculo é constituído pelos ure- .dosporos que são transportados, a lon-gas distâncias, pelos ventos. Em con-tacto com o hospedeiro e em condiçõesambientais favoráveis, estes germinamem 1-2 horas e penetram no hospedeiroatravés dos estômatos.

Inf, Agropec., Belo Horizonte,.u (144) dezembro de 1986

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I',,I

Fig. 4 - Pústulas de ferrugem na folha.

ControleSomente o uso de cultivares resis-

tentes é recomendado para o controledesta doença.

HELMINTOSPORIOSEÉ, também, uma doença encontrada

em todas as regiões onde se cultiva osorgo. Em cultivares suscetíveis, a ocor-rência desta doença antes da formaçãoda panícula pode acarretar redução na

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Sorgo

produção acima de 50% e predispor asplantas às podridões do colmo causadaspor outros microorganismos.

SintomasOs sintomas aparecem nas folhas,

em forma de lesões elípticas, de 5 3

10 em de comprimento, com bordosbem definidos e de coloração palha,tornando-se de cor acínzentada quandoo fungo se frutifica.

Em cultivares suscetíveis, as lesõescoalescern, dando às folhas um aspectode queima (Fig. 5).

Fig. 5 - Lesões deHelminthosporium turcicum.

Etioloqia

Esta doença é causada pelo fungoExserohilim turcicum (Sin. Helminthos-porium turcicum ;Dreschslera turcica).

O fungo sobrevive de um ano para.utro nos restos de cultura e sementes

na forma de micelio , corndios ou clarni-dosporos.

A principal via de disseminação dosconídios são os ventos.

A helmintosporiose é favorecidapor temperaturas moderadas (18 a27°C) e alta umidade, principalmente naforma de orvalho.

O patógeno apresenta especificida-de para hospedeiro podendo ocorrer emsorgo, milho e outras gramíneas.

Dois tipos de resistência a esta do-ença .são conhecidos: poligênica (lesõespequenas e pouco numerosas) e mono-

54

gênica (reações de.hipersensíbilidade ou-ausência de lesões).

ControleA helmin tosporiose é controlada

pelo uso de cultivares resistentes. Arotação de cultura, enterrio dos restosde cultura e .elirninação das plantas desorgo remanescentes ajudam a reduziro nível de inóculo primário.

CERCOSPORIOSE

É encontrada geralmente em áreasonde predominam condições quentese úmidas, durante o ciclo da cultura.Esta doença pode causar, em cultiva-res suscet íveis, danos na área foliar,mas o seu impacto econômico é difícilde ser determinado porque as epidemiasocorrem normalmente próximas à ma-turação dos grãos.

SintomatologiaOs sintomas aparecem, principal-

mente, após o florcscimento.As lesões nas folhas são limitadas

pelas nervuras cuja cor varia de verme-lho-escuro a amarelado, dependendoda cultivar atacada.

O sintoma típico consiste no apa-recimento, no interior das lesões, depequenas áreas necrosadas circulares,dando-lhcs a aparência de um rosá-rio (Fig. 6).

Fig. 6 - Manchas deCercospora sorghi.

EtiologiaO patógeno desta doença é o fungo

Cercospora sorghi .Sua sobrevivência no solo se dá em

restos de cultura infectados, plantasremanescen tes da cultura anterior, es-pécies de sorgo selvagem e sementes.

Condições quentes e úmidas favo-recem o desenvolvimento e dissemina-ção do fungo. Os conídios constituemo inóculo inicial e secundário e são dis-seminados pelos- ventos e chuva. Os.corudios germinam e penetram nasfolhas no espaço de 12 horas.

Existem relatos da ocorrência deC. sorghi em milho, mas observaçõesde campo e experimentos com inocu-lações artificiais indicam a ocorrên-cia de especialização fisiológica.

ControleUtilização de cultivares resistcn-

teso

MrLDIO DO SORGO

É uma doença que ocorre apenasem algumas regiões onde o sorgo écultivado. No Brasil, esta doença jáfõi detectada nos estados do Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina, Paraná eSão Paulo. Plantas infectadas até aos40 dias de idade tornam-se completa-mente estéreis e a redução na produ-ção pode atingir níveis acima de 50%.

SintomasO fungo pode provocar duas for-

mas de infecção: a sístêrnica e a loca-lizada.

Na sistêmica, a forma primária deinóculo são os oosporos existentes nosolo. O primeiro sintoma é o apareci-mento, nas folhas, de faixas cloróticasou amareladas, paralelas às faixas ver-des (Fig. 7). Nas primeiras, em condi-ções de alta umidade, ocorre o apare-cimento, principalmente na face dorsalda folha, de uma camada esbranquiçadaformada, pelas frutificações do fungo(comdios). Mais tarde, com a forma-ção de oosporos nestas áreas c1oróticas,e sua disposição ao longo das nervuras,o tecido in ternerval torna-se necróticoe as folhas rasgam-se (Fig. 8). Plantasinfectadas até aos 40 dias de idade

Inf. Agropec., Belo Horizonte,!1 (144) dezembro de 1986

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Sorgo

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Fig. 8 - Sintoma final,da forma sistêmica, do míldio.

tornam-se enfezadas e estéreis (Fig. 8).A infecção localizada, causada por

conídios, caracteriza-se por áreas ne-eróticas nas folhas (Fig. 9). Esta formade infecção pode determinar, também,o aparecimento de sintomas ocasionadospela infecção sistêmica.

Etiologia

O mfldio do sorgo é causado pelofungo Peronosc/erospora sorghi (Sin.

. ,.Fig. 9 - Lesões necróticas,

da forma localizada, do míldio.

Sc/etospora sorghi).Este fungo sobrevive no solo, na

forma de oosporos que são liberadosquando as folhas se rasgam ou os res-tos de cultura são incorporados aosolo. Os oosporos se constituem na fon-te primária de inóculo. Pode sobreviver,também, na forma de conídios, em cul-turas perenes de Sorghum halepense ,entre outros.

A disseminação do patógeno se dápor sementes (oosporos, conídios), ven-tos (conídios) e implementos agrícolas(oosporos).

Temperatura mínima do solo de10°(: e baixa umidade são as condiçõesfavoráveis para infecção das plantaspelos oosporos. A produção e infec-ção por conídios são favoráveis poralta umidade e temperatura em tor-no de 18°C.

P. sorghi apresenta, como hospe-deiros, o milho. sorgo, e espécies dePanicum e Pennisetum . Não apresen-ta especialização fisiológica.

Nos Estados Unidos são conheci-das 3 raças fisiológicas de P. sorghi .No Brasil, já foram detectadas 2 raças.Para a raça 1, a cultivar Brandes apre-senta reações de resistência e para araça 2, reações de suscetibilidade.

Inf. Agropec., Belo Horizonte, !1(144) dezembro de 1986

ControlePara o controle do rmldio , reco-

menda-se a utilização de cultivaresresistentes, a rotação de cultura e otratamento de sementes com fungiciduà base de Metalaxil.

MANCHA ZONADA

Embora presente em muitas regiõesno Brasil, a mancha zonada é, ainda,considerada uma doença de pouca im-portância para a cultura do sorgo. Es-ta doença ataca, também, o milho, rni-lheto, cana-de-açúcar e outras granu-neas.

SintomatologiaOs sintomas são caracterizados pelo

aparecimen to, nas folhas, de grandeslesões circulares, onde áreas de tecidovermelho-escuro se alternam de ma-neira concêntrica com áreas de tecidonecróticas (Fig. 10) .

·1....

Fig. 10- Mancha zonada(Gloeocercospora sorghii,

EtiologiaA mancha zonada é causada pelo

fungo Gloeocercospora sorghi que' so-brevive no solo na forma de escleró-cios. Estes germinam esporogenica-mente formando conídios que irão in-

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Sargo

fectar a próxima cultura. Duranteperíodos de alta umidade, os conídiossão produzidos nas lesões formadas apartir da infecção primária. O patóge-no é transmitido pelo" vento e porsementes.

ControleRecomenda-se a rotação de cultura

e o enterrio dos restos de cultura.As cultivares de sorgo atualmente

recomendadas apresentam um bom ní-vel de resistência a esta doença.

"SOOTY STRIPE"

Esta doença foi relatada pela pri-meira vez nos Estados Unidos em1903 e desde então tem sido relatadaem diferentes partes do mundo. NoBrasil, sua ocorrência tem sido espo-rádica.

--...-,ntomatologiaOs sintomas característicos desta

.doença são lesões necróticas de formaelíptica, alongadas com vários centí-metros de comprimento por 1 a 2 emde largura e se assemalham àquelas cau-sados por Helminthosporium turcicum.A presença de numerosos pontos negros(esclerócios), na superfície das lesões,lhe dá um aspecto fuliginoso e diferen-cia a doença "Sooty stripe" da helrnin-tosporiose (Fig. 11).

Fig. 11 - Lesões necróticas causadaspor Ramulispora sorghi.

S6

EtiologiaA doença é causada pelo fungo

Ramulispora sorghi.O patógeno sobrevive no solo na

forma de .esclerócios. Em" condiçõesfavoráveis, estes germinam, produzindogrande quantidade de conídios os quaissão disseminados através" de chuvas eventos. A sua transmissão por sementesainda não está suficientemente compro-vada.

R. sorghi é capaz de infectar apenasespécies do gênero Sorghum.

ControleRecomenda-se a utilização de culti-

vares resistentes, rotação e o enterriodos restos de cultura.

VfRUS DOMOSAICO DA

CANA-DE-AÇÚCAR - VMCA"

O VMCA é uma importante doençado sorgo que causa, em cultivar suscep-tível, mosqueado ou necroses nas folhas,raquitismo e esterilidade parcial ou totalda planta, resultando redução na produ-ção de grãos.

SintomasO vírus provoca o aparecimento de

dois sintomas: o de mosaico típico e onecrótico. No primeiro, aparecem, nasfolhas, áreas verde-claras entremeadascom áreas verde-escurasf Fig. 12). Nor-malmente, o mosaico é mais evidenteem folhas mais novas, podendo desapa-recer com o envelhecimento da planta,o que indica a tolerância da planta aovírus. No necrótico , aparecem, nasfolhas, áreas necrosadas, de cor averrne-lhada ou amarelada, dependendo da cul-tivar atacada (Fig. 13). Estes tipos desintomas, na maioria das vezes, leva aplanta do sorgo à morte, principalmentequando a infecção ocorre precocemente.

EtiologiaA doença é causada pelo vírus do

mosaico da cana-de-açúcar. O vírus étransmitido de maneira estiletar nãopersistente, ou seja, os pulgões adqui-rem o vírus em poucos segundos no atode sugar as plantas doentes e perdem-no,tambéÍn, em poucos minutos após al-

Fig. 12 - Mosaico típico dovírus do mosaico da cana-de-açúcar.

Fig. i3 - Mosaico necrótico dovírus do mosaico da cana-de-açúcar.

gumas picadas em plantas sadias.O pulgão do milho (Rhapalosi-:

phum maidis) é o principal vétor dovírus e se multiplica, preferencialmente,no milho, sorgo e em algumas plantasdaninhas.

ControleA utilização de cultivares resistentes

ou tolerantes é a maneira mais eficientede controlar a doença.

Inf. Agropec., Belo Horizonte, g (144) dezembro de 1936

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Sorgo

POORIOAO .SECA DO COLMO

A podridão seca do colmo é impor-tante nas regiões mais quentes e secas daÁfrica, Ásia, Austrália e Américas. Opatógeno é capaz de infectar mais de400 espécies de plantas. O patógenocausador de podridão apresenta comohospedeiros a soja, girassol, tomate,batata, batata-doce, feijão, algodão,juta, fumo, milho, milheto e amendoim.

. A doença é particularmente destru-tiva em cultivares graníferas, nas si-tuaçÕes em que o período de enchi-mento de grãos coincide com condiçõesde baixa umidade e alta temperatura.

Alta densidade de plantas, a presen-ça de outras enfermidades, doses eleva-das de nitrogênio e danos causados porinsetos contribuem substancialmentepara aumentar a suscetibilidade dasplantas.

SintornatoloqiaEmbora a infecção nas plantas

possa ocorrer nos primeiros estádios deseu desenvolvimento, os sintomas sóaparecem em plantas adultas e em con-dições ambientais de alta temperatura ebaixa umidade. No interior do colmo otecido se desintegra,' permanecendosomente os vasos sobre os quais se podenotar a ocorrência de pequenos pontosnegros (esc!erócios), dando ao colmouma coloração acinzentado-escura.Pode ou não ocorrer o tombamento dasplantas (Fig. 14).

EtiologiaA podridão seca do colmo é causa-

da pelo fungo Macrophomina phaseoli-na.

Este patógeno sobrevive no solo naforma de esclerócios que podernperma-necer viáveis no solo por períodos dedois a três anos.

Baixa umidade do solo e alta tem-peratura do ar são os fatores que predis-põem as plantas à infecção por M. pha-seolina. Estas condições, logo após oflorescimento, favorecem o desenvolvi-mento da doença.

ControleA incidência da podridão seca pode

ser reduzida em cultivos irrigados de

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Fig. 14 - Podridão deMacrophomina phaseolina.

sorgo pela manutenção de um nível ade-quado de umidade no solo a partir doflorescimento.

A utilização de cultivares resistentesao acamamento, tolerantes à seca e nãosenescentes podem reduzir as perdascausadas pela doença; bem como a utili-zação de níveis adequados de N e K e arotação da cultura.

POORIOAOVERMELHA DO COLMO

É uma doença comum em regiõestropical e temperada. Pode ocorrer nocolmo, raizes e pedúnculo da planta,comprometendo a firmeza do tecido in-temer, podendo resultar no tombamentoda planta. Afeta a produção de grãos ea forragem.

SintomatologiaOs sintomas da doença tornam-se

evidentes, normalmente, após o floresci-mento da planta. Estas secam prematu-ramente, podendo ou não tombar.

Internamente os tecidos nas regiõesafetadas adquirem coloração avermelha-da uniforme (Fig. 15).

EtiologiaO agente causal, Fusarium monili-

forme Sheld, produz dois tipos de espo-

Inf, Agropec., Belo Horizonte, 12 {l44} dezembro de 1986

Fig. 15 -.Podridão vermelha do colmo.

ros assexuados. Os macroconídios pos-suem três a cinco septos, apresentandocurvaturas próximas das extremidades.Os micronídios são produzidos em ca-deias e possuem um septo. A forma per-feita, Giberella fujikuroi Saw, é caracteri-zada pela produção de ascosporos emperitécios.

Outro agente causal da podridãovermelha é o Fusarium graminearum

. Schwabe. Os macroconídios possuemforma falcata e o número de septos vari:de três a sete. -,.._

O patógeno sobrevive no solo emrestos de cultura.

A infecção das plantas ocorre prin-cipalmente nas raizes e base do colmo eé bastante favorecida por ferimentosprovocados por insetos e outros agentes,como danos mecânicos.

Os fungos podem causar, também,a podridão das sementes e a morte dasplântulas.

Medidas de ControleAs medidas de controle recornen-

dad~s são: utilização de cultivares resis-tentes, população de plantas adequada ea aplicação de adubações equilibradas.

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Sorgo

PODRIDÃO DEESCLEROCIO

É de pouca importância na culturado sorgo mas, sob condições arnbientaisfavoráveis, pode causar a morte de culti-vares suscetíveis.

SintomatologiaA infecção se mrcia pelas folhas

próximas ao solo, passando; posterior-mente, para as folhas superiores que se-cam. As bainhas das folhas infectadasadquirem coloração vermelho-intensa,onde pode ser observada a presença. deum micélio branco, não cotonoso, bemcomo a de numerosos esclerócios mar-rons (Fig. 16).

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Fig. 16 - Podridão deSclerotium rolfsii.

EtiologiaA doença é causada por Sclerotium

rolfsii, um parasita facultativo capaz dese desenvolver saprofiticamente nas ca-madas superficiais do solo. Ele sobrevi-ve no solo nas formas de esc1erócios oude micélio.

O patógeno é disseminado por prá-ticas culturais, ventos e água. A. in-fecção ocorre na parte basal das bainhasdas folhas inferiores em contacto com osolo, passando, em seguida, a colonizaras bainhas superiores. O parasitismopode iniciar-se diretamente a partir deesc1erócios.

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ControleUtilização de cultivares resistentes

é a principal medida recomendada.Enterrio de restos de cultura e eli-

minação de plantas invasoras hospedei-ras contribuem para reduzir o inóculono solo.

CARVÃODA PANI"CULA

É uma doença que ocorre na África,ÁSia, Austrália, Europa e América doNorte. No Brasil sua ocorrência foi ob-servada em 1975 em um campo isoladode sorgo, no CNPMS.

SintomatologiaOs sintomas tornam-se evidentes no

estádio .de emborrachamento da pan í-

cula. Ésta se altera, devido à formaçãode uma grande galha coberta por umamembrana esbranquiçada. O rompi-mento da 'membrana libera uma massade esporos escuros, deixando à mostranumerosos filamentos que são vasoslenhosos da panícula (Fig. 17). O car-vão da pan ícula se diferencia dos outrostipos de carvão por destruir parte outoda panicula infeccionada, enquantonos demais a infecção ocorre em flores'individuais.

Fig. 17 - Carvão da panícula.

EtioloqiaO carvão da panícula é causado

pelo fungo Sporisorium reilianum (Sin.Sphacelotheca reiliana.)

Os esporos no solo germinam epenetram na planta. O micélio cresce,ascendentemente, até próximo ao rneris-tema apical. Na emergência da paru-cula, o fungo volta a crescer vigorosa-mente infeccionando-a e produzindo es-poras (teliosporos) os quais são libera-dos da panícula, retomando ao solo,onde sobreviverão até o próximo plan-tio.

As condições ambientais favoráveisà infecção e à colonização dos hospedei-ros não são bem definidas. A taxa degerminação dos teliosporos no solo éinferior a 1%. Isto sugere que uma altaincidência de dormência dos esporos de-termina a sobrevivência do fungo porum longo período.

ControleA utilização de cultivares resisten-

tes é a medida de controle recomen-dada.

REFERÊNCIAS

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lnf. Agropec., Belo Horizonte, g (144) dezembro de 1986