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1 CATALOGAÇÃO DE OBJETOS DE MODA: A ROUPA COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA Aluna: Roberta Amaral Sertório Gravina, [email protected] Orientadora: Prof.ª Concília Teodósio, [email protected] RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem por finalidade demonstrar a possibilidade de empreendimento da representação descritiva a objetos de Moda, a partir da criação de quatro grupos de descritiva, contendo uma combinação entre modelos de catalogação e diferentes suportes de expressão artística que apresentam imagens de indumentária. A metodologia empregada pautou-se no agrupamento de tais modelos diante de suas especificações, separando normas, regras, formatos e metadados e aplicando-os, por sua vez, a roupas presentes em uma pintura, uma escultura, uma fotografia e um filme cinematográfico. Como resultado dessa pesquisa, obtivemos a demonstração de que a catalogação de objetos de Moda é possível de ser realizada, inclusive a partir das ferramentas já existentes no campo da Biblioteconomia. Concluímos, portanto, que o profissional de nossa área deve apenas desenvolver uma visão analítica e detalhada para desempenhar satisfatoriamente a representação descritiva de vestimenta e, desta forma, produzir acervos específicos da área de Moda com riqueza de detalhes e qualidade no tratamento de sua informação. Palavras-chave: Catalogação. Representação descritiva. Moda. Indumentária. Roupa. FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO III SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP 05 A 09 DE DEZEMBRO DE 2011

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CATALOGAÇÃO DE OBJETOS DE MODA: A ROUPA COMO INSTRUMENTO DE

PESQUISA

Aluna: Roberta Amaral Sertório Gravina, [email protected]

Orientadora: Prof.ª Concília Teodósio, [email protected]

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem por finalidade demonstrar a

possibilidade de empreendimento da representação descritiva a objetos de Moda, a

partir da criação de quatro grupos de descritiva, contendo uma combinação entre

modelos de catalogação e diferentes suportes de expressão artística que

apresentam imagens de indumentária. A metodologia empregada pautou-se no

agrupamento de tais modelos diante de suas especificações, separando normas,

regras, formatos e metadados e aplicando-os, por sua vez, a roupas presentes em

uma pintura, uma escultura, uma fotografia e um filme cinematográfico. Como

resultado dessa pesquisa, obtivemos a demonstração de que a catalogação de

objetos de Moda é possível de ser realizada, inclusive a partir das ferramentas já

existentes no campo da Biblioteconomia. Concluímos, portanto, que o profissional de

nossa área deve apenas desenvolver uma visão analítica e detalhada para

desempenhar satisfatoriamente a representação descritiva de vestimenta e, desta

forma, produzir acervos específicos da área de Moda com riqueza de detalhes e

qualidade no tratamento de sua informação.

Palavras-chave: Catalogação. Representação descritiva. Moda. Indumentária.

Roupa.

FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULOIII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP

05 A 09 DE DEZEMBRO DE 2011

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1 INTRODUÇÃO

O sociólogo, professor e escritor francês Gilles Lipovetsky, na apresentação

de sua obra, intitulada O império do efêmero, diz que a questão da moda não se

manifesta no universo da intelectualidade. Com tal afirmação o autor suscita o

dilema de que, apesar de a Moda estar presente em grande parte dos aspectos de

nossa vida social, ainda hoje ela é vista por grande parte dos indivíduos como algo

superficial e que, portanto, por esses não vem merecendo reflexão crítica.

Apesar de ter sido escrita há pouco mais de vinte anos, a obra de Lipovetsky

se mantém atual no que tange a importância agregada ao mundo da Moda e os

reflexos por ele ocasionados na sociedade em que vivemos.

Nos últimos anos presenciamos uma crescente na instituição de cursos

superiores relativos à área de Moda e com eles a formação de acervos criados

especificamente para o desenvolvimento de suas pesquisas. Viu-se formada a

necessidade de tratamento da informação direcionada aos pesquisadores da Moda,

não somente enquanto tendência de estilo, mas também na categoria de objeto de

arte e importante instrumento de reflexão social.

Ao iniciarmos uma pesquisa sobre o empreendimento prático de iniciativas

que atuam com acervos de indumentária, notamos a escassez de produção

acadêmica no sentido de relacionar o contingente informacional gerado pela área de

Moda e o seu devido tratamento. Foi então que surgiu nossa motivação em

desenvolver tal estudo, propondo a ideia de viabilidade da representação descritiva

de objetos de Moda utilizando-se os modelos de catalogação já existentes.

No decorrer deste trabalho, mostraremos que através de uma análise mais

detalhada dos modelos de catalogação, criados para a organização da informação, é

possível realizar uma descrição que possibilite a recuperação da informação e

apresente resultados específicos da representação descritiva, como também

referentes à contextualização dos objetos em um determinado meio. Estudantes,

professores e profissionais teriam, finalmente, a possibilidade de consultar os

catálogos online de instituições especializadas e, através de suas bases de dados,

teriam maior facilidade para o desenvolvimento de estudos que permeiam o campo

das Artes, bem como compor suas criações estilísticas.

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Neste Trabalho de Conclusão de Curso pretendemos mostrar aos

profissionais da informação que a área de Moda tem se apresentado como mais

uma oportunidade para o desenvolvimento de nossas práticas de organização, para

que tais objetos sejam passíveis à pesquisa, estando disponíveis em formato

tridimensional ou apresentados através de reproduções artísticas.

Temos à nossa frente uma área praticamente inexplorada, que deve ser

estudada, analisada e submetida às práticas de descrição documental para o

aprimoramento dos modelos de catalogação já existentes. Enfim, trata-se de um,

ainda inédito, campo de ação que nos convida a utilizar mecanismos de

representação descritiva para possibilitar o desenvolvimento e expansão da

pesquisa de objetos de Moda.

2 METODOLOGIA

Para a realização dos objetivos acima listados foi inicialmente desenvolvido

um levantamento bibliográfico acerca da catalogação e seus modelos, sejam esses

referentes à representação descritiva de objetos considerados tradicionais, como

livros, sejam os modelos especificamente desenvolvidos para o tratamento de

objetos tridimensionais, o propósito deste trabalho.

Também realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre a história da Moda

para melhor entendimento de sua posição enquanto área não apenas pertencente,

mas atuante, do universo das Artes, para então confrontarmos os dois campos e

atingirmos nosso objetivo principal, a saber: apresentar a indumentária como

instrumento de pesquisa.

Tais levantamentos foram desenvolvidos em Instituições de Ensino Superior

(IES) que possuem Graduação em Biblioteconomia e, portanto, apresentam grande

quantidade de material de cunho relevante, suficiente para o embasamento teórico

necessário à introdução de nosso tema.

Sendo assim, destacamos que para o levantamento bibliográfico da área

biblioteconômica, foram pesquisados os materiais existentes nas bibliotecas

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universitárias da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP)

e da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP).

Quanto às pesquisas de Moda, consultamos os materiais de algumas

bibliotecas universitárias escolhidas aleatoriamente, por intermédio de indicações de

pesquisadores, estudantes e professores que já usufruíram de seu conteúdo, sendo

elas: Faculdade Santa Marcelina (FASM), Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC), Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo e

Universidade Anhembi Morumbi.

Além das bibliotecas universitárias supracitadas, também consultamos o

acervo bibliográfico e iconográfico pertencente ao Museu de Arte de São Paulo

Assis Chateaubriand (MASP), que nos proporcionou um importante embasamento

teórico para a contextualização da Moda enquanto Arte.

Após o levantamento dos dados necessários para o entendimento e

contextualização dos temas escolhidos, analisamos alguns catálogos on-line de

instituições que detém acervos de Moda, para averiguarmos qual o nível de

detalhamento das informações inseridas em suas bases de dados.

Essa etapa nos forneceu material para a indicação do tipo de descrição que

deve ser realizada pelas instituições que catalogam ou desejam catalogar materiais

de Moda, atentando não somente ao pleno atendimento do usuário, como também

aos seus objetivos institucionais.

Tais indicações foram exemplificadas ao empreendermos a representação

descritiva de alguns objetos de Moda, utilizando diferentes modelos de catalogação

dispostos em quatro grupos. Cada grupo contém modelos classificados de acordo

com a equivalência de sua tipologia, distribuídos entre normas, regras, formatos e

metadados, escolhidos a partir de seu potencial de catalogação geral ou específico,

aplicados a objetos de Arte.

A composição dos modelos entre os grupos se deu da seguinte forma:

Grupo 1 (normas): NRB 6023;

Grupo 2 (regras): AACR2 e CCO;

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Grupo 3 (formatos): MARC21 e UNIMARC;

Grupo 4 (metadados): DC, CDWA Lite, MODS e VRA.

A partir da delimitação das combinações dos modelos de catalogação para a

formação dos grupos de análise, escolhemos as imagens que retrataram as peças

de roupa na etapa da representação descritiva. Para demonstrar a abrangência

possível desse tipo de catalogação, procuramos atender a diversas tipologias de

suporte de expressão artística, escolhendo como amostragem peças de roupa que

estivessem contidas em um filme cinematográfico, uma pintura, uma escultura e uma

fotografia, os quais:

Grupo 1: Filme cinematográfico intitulado Maria Antonieta, dirigido por Sofia

Coppola;

Grupo 2: Pintura intitulada As meninas de Cahen d’Anvers, pintada por Pierre-

Auguste Renoir;

Grupo 3: Fotografia sem título de Marilyn Monroe, capturada por Milton R.

Krasner;

Grupo 4: Escultura intitulada Bailarina de 14 anos, esculpida e adornada por

Edgar Hilaire Germain Degas.

Cada reprodução artística teve uma peça de roupa destacada para o

empreendimento da catalogação, realizada a partir da combinação dos grupos

listados. Por exemplo, o quadro As meninas de Cahen d’Anvers, pintado por Pierre-

Auguste Renoir, teve o vestido azul escolhido para a descritiva.

Neste exemplo, a peça selecionada foi explicada e contextualizada ao leitor,

para que o entendimento da catalogação seja satisfatório. Em alguns casos, foram

apresentadas imagens variadas do mesmo objeto, com a finalidade de proporcionar

um entendimento mais amplo.

Ao final desses processos, realizados com os quatro grupos, empreendemos

uma análise a partir do resultado da catalogação da indumentária apresentada,

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instruindo possíveis e adequadas utilizações dos modelos expostos, de acordo com

a tipologia das instituições, seus interesses e cunho de seus acervos.

3 CATALOGAÇÃO E SEUS MODELOS

Por se tratar de uma atividade técnica específica da área de representação

do conhecimento, a catalogação em seu processo histórico se confunde com a

própria história das bibliotecas.

Com o início das pesquisas acerca de seu desenvolvimento, percebemos

que para compreender o surgimento do que atualmente denominamos de

catalogação, devemos remontar às bibliotecas da Antiguidade, que já apresentavam

uma preocupação com a forma de disponibilizar a informação aos seus

frequentadores.

Nelas encontravam-se trabalhadores que assumiam a responsabilidade de

organizar os estudos ali reunidos, tarefa que já denotava alguns indícios das

atividades típicas de catalogação, empreendidas pelos bibliotecários

contemporâneos.

A catalogação, desde aquela época, além de informar que o documento

existia, ainda fornecia ao pesquisador, primordialmente, os dados necessários para

a identificação de seu conteúdo, por meio do título, autoria e assunto, e apresentava

a sua localização, para o acesso e posse, estabelecendo o esperado encontro entre

usuários e documentos.

Diante de tal perspectiva, pode-se dizer que as bibliotecas de períodos

remotos já possuíam um sistema lógico de organização, em que os princípios

básicos da catalogação eram empreendidos e seus resultados disponibilizados de

forma sistematizada ao seu público.

Tais processos de descrição e divisão temática levaram as bibliotecas da

Antiguidade à criação dos catálogos, consagrados na Idade Média. Listas de obras

de bibliotecas medievais, como, por exemplo, uma de que se tem notícia

desenvolvida na Europa durante o século VIII, caracteriza-se em um tipo de

inventário, mas que ainda não apresentava uma ordenação clara das informações,

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provavelmente no que diz respeito à ordenação das obras nas estantes (SANTOS,

2009, p. 7).

Com o advento do Renascimento, enaltecendo os valores e modelos da

Antiguidade greco-romana, os estudos científicos, junto das artes, letras e

organização econômico-política ganhando destaque, favoreceram a evolução

catalográfica de suas bibliotecas, beneficiadas desse movimento.

É amplamente sabido que, com a invenção da tipografia, acelerou-se o ritmo

de produção bibliográfica e, por consequência, impulsionou os métodos de

organização das bibliotecas. Serrai afirma que, nesse momento histórico, as

bibliotecas cresceram rapidamente, em uma proporção que os antigos “sistemas

medievais de conservação dos livros em armários, arcas, estantes de tampo

inclinado, não são mais compatíveis com o número de livros impressos” (1975, p.

148). É nesse momento histórico que os sistemas de prateleiras são adotados,

motivo pelo qual a ordenação física dos documentos começa a ser repensada.

Com a evolução das discussões sobre as formas de registro criadas por

meio da divulgação de inúmeros estudos, dentre os quais os acima citados, o século

XVIII iniciou com a fixação de algumas regras de catalogação. Sobre esse novo

panorama Ortega afirma:

No século XVIII, mudou o objetivo do catálogo: este passou a ser desenvolvido para servir como um instrumento de busca, de modo que muitas das práticas citadas se impuseram. O contexto é o do desenvolvimento da pesquisa científica e das atividades de estudo que levou ao crescimento de bibliotecas na Europa (2009, p. 92).

As mais significativas foram: a apresentação dos catálogos em ordem

alfabética ou de classificação e não mais por ordem de tamanho dos livros ou

ordenação dos mesmos nas estantes; a entrada das indicações de autoria pelo

sobrenome; a tomada da página de rosto como fonte principal de informação;

inclusão dos dados de publicação das obras nos registros; o uso frequente de

remissivas e entradas analíticas.

O século XIX ficou conhecido pela Biblioteconomia como o período da

consolidação dos códigos de classificação. Panizzi deixou seguidores e em 1850,

um deles, Charles C. Jewett criou um novo código de catalogação, com melhorias

nas questões dos cabeçalhos de responsabilidades e obras anônimas para o

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Smithsonian Institution, nos Estados Unidos, tornando-se o primeiro teórico da

catalogação.

Já no século XX, com o início do desenvolvimento acadêmico da

Biblioteconomia no Brasil, houve a criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e

Documentação (IBBD), em 1954, com grande auxílio de Lydia de Queiroz Sambaquy

e Janice Monte-Mór.

Em 1967 houve a publicação da primeira edição das Anglo American

Cataloging Rules (AACR), um código de catalogação realizado pela ALA em

conjunto com a Canadian Library Association do Canadá e Library Association da

Inglaterra.

Largamente utilizado no Brasil dos dias atuais, a AACR teve sua primeira

publicação em língua portuguesa apenas dois anos após seu lançamento

internacional, em 1969. Mesmo ano da realização da paradigmática Reunião

Internacional de Especialistas em Catalogação (RIEC), ocorrida em Copenhague.

A última década do século XX no Brasil marcou o início dos esforços para o

desenvolvimento da cooperação entre as bibliotecas. Em 1992 houve a criação do

Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), considerada um marco para a

catalogação cooperativa no Brasil. Em seguida testemunhamos a reformulação do

projeto CALCO, em 1994, que se transformou na Rede Bibliodata, deixando de

utilizar o formato criado por Barbosa e passando a utilizar o USMARC.

Sobre o encerramento desse produtivo período histórico para a

Biblioteconomia, as autoras Mey e Silveira afirmam:

O século XX termina com a publicação dos FRBR e com uma catalogação revigorada por estudos e descobertas que aproximam o usuário do registro bibliográfico. Para aqueles que pensavam estar falecida e enterrada a “velha senhora” catalogação, substituída pelos avanços tecnológicos, esta se desenvolve no século XXI, bem ao contrário, cada vez mais renovada e cheia de possibilidades (2009, p. 89).

É nesse momento histórico que está contextualizado o tema desta pesquisa.

O grande desafio imposto nesta geração é o desenvolvimento de nossa capacidade

na diferenciação das regras, formatos, metadados, analisar e divulgar sua

importância para o avanço e consolidação da Biblioteconomia enquanto área

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detentora dos meios teóricos e metodológicos de controlar a torrente de dados

gerados na, consensualmente reconhecida, Era da Informação.

Com o desenvolvimento da prática de catalogação, descrita brevemente

acima, os profissionais da área biblioteconômica começaram a formalizar as regras

passíveis de uso, sempre visando à universalização na entrada de dados. E os

catálogos foram um significativo instrumento para a criação desses modelos, pois

por eles pôde-se observar como as informações contidas em uma obra são

transmitidas aos seus usuários.

Rosetto afirma que “independentemente da forma de sua apresentação

física, o catálogo tem sido reconhecido como a coluna vertebral de uma unidade de

informação” (2002, p. 489) e nesse contexto o controle efetuado representa tarefas

de sistematização da informação que se refletem na geração de serviços aos

usuários.

Entretanto, tal sistematização só foi possível com a criação de modelos

descritivos que representem a fonte e permitam sua identificação, pelo emprego da

catalogação, na categoria de mediadora do conhecimento produzido.

Afirma-se, dessa maneira, a importância da adoção de padrões fixos para a

evolução da representação descritiva na Biblioteconomia que, com desenvolvimento

paralelo às novas tecnologias, apresentam-nos outros conceitos, denominados por

Rosetto como “modelos normativos para a automação da informação”.

Com o desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação mais sofisticadas, novas formas para estruturar e disponibilizar a informação eletrônica estão sendo possíveis para o acesso através da internet. A edição e transmissão da informação nesses novos suportes são elaboradas com a adoção de normas, incluindo a utilização das já existentes e atualizadas para esse fim, e que, ao mesmo tempo, geram registros bibliográficos para as bases de dados, como por exemplo, o MARC 21. Paralelamente, outros padrões de formatos estão sendo elaborados para possibilitar novas formas de estruturação e descrição de recursos de informação em suporte digital, nos mais variados aspectos. Esses formatos estão sendo designados como metadados, e já constituem um grande conjunto de normas aplicáveis à gestão da informação (ROSETTO, 2002, p. 489, grifo nosso).

Alguns termos começaram a surgir na base da representação descritiva, tais

como norma, regra, formato e metadado. As normas designam um padrão

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estabelecido de forma incisiva, um modelo que se instituiu seguir, exemplificado em

nosso trabalho por intermédio da Norma Brasileira 6023 (NBR 6023).

Já as regras, segundo descrição no Houaiss, constituem-se em uma

“fórmula que indica o modo apropriado”, algo que tenha sido determinado como um

critério a ser seguido (HOUAISS ELETRÔNICO, 2009). Difere-se da norma no

campo da Biblioteconomia, por apresentar um caráter facultativo em relação à

primeira, ou seja, a norma pode ou não ser seguida por possuir um caráter

facultativo, enquanto a regra uma vez que adotada deve ser estritamente seguida.

Com a consolidação de tais determinações combinadas aos avanços

tecnológicos, a Biblioteconomia partiu para discussões mais específicas,

condicionando a posição em que as informações deveriam ser apresentadas em um

catálogo. Criaram-se então, a partir das regras já formuladas, modelos

automatizados para a representação da informação em formato legível por

computador, ou seja, os formatos.

Nesse caminho, atingimos um grau de padronização suficiente para o

empreendimento da catalogação cooperativa de registros bibliográficos. No entanto,

a tecnologia não parou de evoluir e as informações em recursos web apresentam

atualmente um novo paradigma aos profissionais da informação.

O tratamento e recuperação de tais informações culminaram no

aprimoramento dos formatos de catalogação e possibilitaram a criação do que

denominamos de metadados. Estes obtiveram especial atenção com a

popularização do uso da internet e a descoberta da facilitação de suas ferramentas

no campo dos serviços, em especial para os profissionais da informação. Com o

aumento das publicações eletrônicas e a criação dos repositórios e bibliotecas

digitais, os metadados adquiriram grande importância, motivo pelo qual o número de

pesquisas sobre o tema não para de crescer.

Entendemos, portanto, que a diferença básica entre normas, regras,

formatos e metadados se constitui em sua própria evolução histórica e, por

consequência, conceitual. A padronização pensada no início da história da

catalogação foi consolidada através da criação e constituição das normas e regras,

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que se transformaram na base para a criação dos formatos e metadados

desenvolvidos posteriormente.

Os formatos, por sua vez, foram criados para atender a necessidades

específicas de automação e intercâmbio de informações, com o compartilhamento

de registros via computador, enquanto que os metadados são empregados para

atender as necessidades surgidas com a formação do ambiente digital.

No presente trabalho, optamos por denominar as normas, regras, formatos e

metadados utilizados para o empreendimento de nossas aplicações, como modelos

de catalogação. E os modelos escolhidos por nós para a aplicação no recurso foram:

NBR 6023, AACR2, CCO, MARC 21, UNIMARC, DCMI, CDWA Lite, MODS e VRA.

4 MODA E SEUS OBJETOS

Apesar de parte do senso-comum ainda considerar a Moda como uma

frivolidade, significativa parcela da comunidade acadêmica começa a compreendê-la

como um importante fator para o entendimento de nossas relações sociais.

Discussões significativas remontam o surgimento da Moda como

reconhecida característica de status ao século XIV, ocasião em que a sociedade

teria transposto a percepção da indumentária como mera necessidade de

encobrimento do corpo por pudor, atribuindo-lhe significados de expressão

econômica, representação institucional e social.

Pollini advoga essa ideia ao dizer que,

Embora tenham sido encontradas agulhas feitas de marfim, usadas para costurar pedaços de couro, que datam de cerca de 40.000 a.C., ou mesmo evidências de que o tear foi inventado há cerca de 9.000 a.C., só podemos pensar em moda em tempos muito mais recentes. Ela se desenvolve em decorrência de processos históricos que se instauram no final da Idade Média (século XIV) e continuam a se desenvolver até chegar ao século XIX. E é a partir do século XIX que podemos falar de moda como a conhecemos hoje (2007, p. 16).

A autora ainda sustenta a tese de que a moda está mais relacionada ao

conjunto de fatores que compõem o funcionamento de um sistema social, do que

com a roupa propriamente dita. Justifica seu ponto de vista a partir da análise da

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mudança de pensamento dos indivíduos, ocorrida entre o final da Idade Média e

início da Renascença (POLLINI, 2007).

Tais readequações no pensamento coletivo característico desse período

foram: o questionamento do homem sobre o domínio de Deus; o enfraquecimento da

divisão social entre clero, nobreza e plebe; a ideia de realização pessoal surgida

com o desenvolvimento tecnológico provocado pela burguesia; e o advento do

individualismo.

Esses fatores, principalmente o individualismo, ocasionaram orgulho nos

indivíduos em ostentar algo que representasse seu novo modo de pensar, refletido

diretamente por meio das roupas utilizadas. Assim, o que as pessoas consideradas

da alta sociedade vestissem, transformava-se automaticamente “Moda" entre todos

os demais que podiam segui-lo. Mecanismo de afirmação social que continuamos a

adotar nos dias atuais.

Séculos mais tarde, eclodiu outro evento histórico marcante para a Moda. A

Revolução Francesa acabou com a restrição de uso de determinadas roupas por

parte dos menos abastados financeiramente. Tal restrição sempre havia existido

como forma de delimitação de classes através da vestimenta.

Ao ser inserida no universo capitalista, a Moda passou a apresentar na

prática o que Pollini descreveu no parágrafo anterior, traduzindo nas tendências o

desejo individualista de seus primeiros consumidores, que arrastam multidões

ansiosas a fazer parte dessa estratificação social tida de maneira generalizada como

“melhor”.

Nessa inédita relação dos indivíduos com a produção de tais artigos, os

costureiros, figurinistas e depois os estilistas passaram a criar não só para o deleite

do consumo, mas também para a contemplação, confeccionando verdadeiros

acervos, alguns, inclusive, expostos em museus de nossa atualidade.

Chegamos a um ponto crucial para o entendimento do mundo da Moda

como atualmente o conhecemos, onde a figura do estilista é o ponto central na

exploração das tendências, produzindo roupas em grande escala para alimentar o

ímpeto consumista da civilização a qual somos conviventes.

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Entretanto, nem toda vestimenta produzida hoje está totalmente direcionada

única e exclusivamente ao consumo. Os estilistas apresentam suas coleções

através de desfiles cada vez mais performáticos, onde as roupas expostas não são

exatamente as que encontraremos nas vitrines das lojas, mas sim uma amostra de

suas criações personificadas em objetos-arte, ou como preferimos dizer, “obras

vestíveis”.

Diante da estruturação da área de Moda que se formou a partir do século

XIX, com a criação do estilista enquanto profissional e membro centralizador do

circuito fashion e sua consolidação no decorrer do século XX, vimos a Moda ser

reconhecida enquanto instrumento pertencente ao campo das Artes.

É importante destacar que entendemos por objeto de Moda a peça de roupa

em si, esteja ela representada fisicamente, pelos tecidos e outros materiais que a

compõe, ou pictoricamente simulada em um suporte iconográfico, como pinturas,

fotografias e esculturas.

Ainda que nossa pesquisa não compreenda a etapa de expressão artística

da Moda, sua compreensão é de fundamental importância para a construção do

significado da roupa enquanto objeto social, utilizado e recriado, além dos estilistas,

pelos demais profissionais do campo das Artes, tais como pintores, fotógrafos,

escultores, cineastas etc.

A profusão de tal profissão fez com que a Moda passasse a condição de

manifestação artística, incitando a criatividade além do âmbito da costura. Müller diz

que "segundo as épocas e seu intérprete – artista ou estilista –, será tanto a

expressão de uma ideologia quanto a crítica de uma sociedade ou o reflexo de uma

confusão de gêneros" (2000, p. 4).

Novamente vemos o artista da Moda como elemento crítico da sociedade,

refletindo o movimento social que percorremos e traduzindo momentos históricos

através das roupas que escolhemos utilizar. O autor ratifica tal ideia dizendo que "o

vestuário deve reposicionar o indivíduo no espaço urbano favorecendo a

comunicação entre os cidadãos" (MÜLLER, 2000, p. 6).

Criador da representação do que não é formalmente declarado, o estilista,

manifesta nosso entendimento tácito do movimento social quando o condensa em

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uma coleção de roupas que, por sua vez, retorna à sociedade como forma de

tradução da estética e desejos presentes em um determinado período de tempo.

5 APLICAÇÕES NO RECURSO

Para o empreendimento das aplicações dos modelos de catalogação nos

recursos escolhidos, ou seja, os objetos de Moda analisados e por nós entendidos

como significativos para o entendimento de nossa sociedade, apresentamos a seguir

como foi realizada a escolha dos modelos e das imagens.

Os modelos de descritiva foram escolhidos de acordo com sua relevância

para a história da Biblioteconomia, bem como sua importância para o tratamento de

tais objetos, optando-se por aqueles que foram criados especificamente para

acervos de Artes, além dos modelos tradicionais já consagrados.

Já para as peças de roupa, a escolha se deu pela singularidade ou

importância, tanto da vestimenta em si, quanto de sua representatividade no

contexto artístico e/ou social.

Agora que já apresentamos as duas áreas que compreendem nosso estudo,

a Biblioteconomia e a Moda, e também construímos um panorama dos modelos de

catalogação aplicáveis ao objeto escolhido, apresentaremos a aplicação do AACR2

presente no Grupo 2 como forma de exemplo de representação descritiva de

indumentária.

A aplicação dos demais modelos e grupos descritos no item Metodologia

poderá ser consultada na íntegra diretamente no Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC) de mesmo nome deste artigo, disponível no acervo da Biblioteca da

Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

O Grupo 2 apresenta o padrão AACR2, escolhido para a representação

descritiva do vestido azul, presente na pintura As meninas de Cahen d’Anvers, ou

como é mais conhecida, Rosa e Azul, de Pierre-Auguste Renoir.

Encomendado no ano de 1881, pelo banqueiro Louis Raphael Cahen

d'Anvers, pai das meninas Alice e Elisabeth Cahen d'Anvers, retratadas na pintura

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que se tornou um ícone da História da Arte, hoje o quadro nos servirá de base para

descrever os costumes de vestimenta da aristocracia francesa do final do século

XIX.

Conforme a reprodução aqui apresentada do quadro, podemos refletir sobre

o processo de discernimento do tipo de tecido utilizado para a construção do vestido.

Informações como a existência de camadas distintas de tecido para a composição

do volume da saia; o tipo de rendas e babados utilizados para adornar o busto; a

existência de forros nas mangas longas e se a fita que marca a cintura trata-se de

um adereço ou parte fixa do conjunto, são exemplos de dados importantes a serem

levantados na pintura, para a efetivação de uma catalogação satisfatória da

indumentária apresentada.

Iniciamos essa descritiva

com a aplicação das regras do

AACR2 ao vestido azul,

apresentado na imagem

apresentada. Largamente

difundido e caracterizado

enquanto um conjunto de regras

para a elaboração de registros, o

AACR2 se tornou o código de

catalogação de maior utilização

no Brasil, desde sua tradução,

ocorrida no início da década de

1980.

Considerando que suas

áreas já foram devidamente

identificadas no tópico 5.1.2 deste

trabalho, apresentaremos a seguir

um quadro com a aplicação de

suas regras ao vestido escolhido: Fonte: Museu de Arte de São Paulo.

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Conforme observamos no quadro acima, o AACR2 possibilita ao bibliotecário

o empreendimento da representação descritiva de objetos de Moda, nesse caso um

vestido, tanto quanto a um documento bibliográfico. A área de notas se apresenta

V655 [Vestido azul] [objeto] – Paris, 1881. 1 vestido : tecidos rendado, transparente e acetinado : branco e

azul ; tamanho médio infantil.

Analise de vestido infantil a partir da pintura de Pierre-Auguste Renoir. (Nota natureza e abrangência)

Título atribuído pelo catalogador. Pintura realizada por Pierre Auguste Renoir. (Nota de indicação de

responsabilidade)

O quadro "As meninas de Cahen d'Anvers", conhecido como "Rosa e azul", pintado por Renoir em 1881 foi encomendado pelo banqueiro Louis Raphael Cahen d'Anvers, pai das meninas Alice e Elisabeth Cahen d'Anvers, que aparecem no quadro. A família do banqueiro não havia gostado do resultado e o quadro o que provocou seu esquecimento e somente muitos anos depois sendo redescoberto. A obra pertence atualmente ao acervo permanente do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) desde que foi adquirida pelo próprio Chateaubriand. (Nota de edição e histórico)

Vestido confeccionado em tecido rendado azul com babados em tecido transparente branco sobreposto. No corpete predomina a renda azul com decote rente ao pescoço. As mangas compridas são confeccionadas em tecido transparente branco formando babados nos punhos. A cintura é marcada por uma faixa em tecido acetinado azul que vai até o quadril seguido de três camadas de babados em tecido transparente branco formando sobre saias e dando volume ao conjunto. A imagem é uma reprodução da pintura “As meninas de Cahen d’Anvers” de 1881, realizada com a técnica de óleo sobre tela e mede 119 x 74 cm. (Nota de descrição física)

Resumo: Indumentária extraída da pintura encomendada ao artista Pierre-Auguste Renoir no ano de 1881, que retrata a imagem em corpo inteiro de duas meninas em vestido de festa. Uma com o vestido na cor rosa e a outra em azul. A pintura possibilita observar a estrutura e a textura dos tecidos empregados na indumentária.

1. Indumentária feminina 2. Indumentária infantil 3. Vestido rendado 4. Vestimenta feminina - França - Século XIX 5. Renoir, Pierre-Auguste, 1841-1919

CDD - 391.2 CDU - 687.122

“O texto em sobrescrito corresponde ao enunciado da área 7 do Capítulo 10 do AACR2”

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como um importante elemento para tornar o registro mais completo o quanto for

possível, sem omitir a informação de origem da peça analisada.

Indicamos o uso do AACR2 para instituições que possuem acervos mistos,

ou seja, onde são encontrados objetos de Moda juntamente a documentos

bibliográficos, multimeios e demais tipologias que possam interessar.

A descrição minuciosa do AACR2 permite ao bibliotecário descrever de

maneira satisfatória tanto os livros, periódicos, CDs e DVDs de um acervo tido

atualmente como tradicional, assim como vestidos, calças, camisas e outras peças

de roupa encontradas em coleções especializadas.

Os elementos reproduzidos nas fichas catalográficas geradas pelo AACR2,

produzem informações padronizadas, passíveis de intercâmbio quando inseridas em

meio automatizado, podendo também gerar listas de termos que facilitem o ato da

pesquisa.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse ao tema dessa pesquisa surgiu diante da dificuldade encontrada

em pesquisar artigos de Moda, como itens de vestimenta, adornos e calçados, para

o desenvolvimento de um trabalho acadêmico para a disciplina de Tratamento e

Organização de Recursos Eletrônicos, durante o presente curso.

A partir de então, dado o incentivo recebido para efetivar um estudo sobre a

indumentária enquanto material passível de ser catalogado iniciou-se o esforço de

pesquisa nesse sentido. De natureza engajada, mas respeitando os preceitos

científicos de teste, averiguação e análise dos resultados, o que se tentou ao longo

das páginas desta monografia foi apresentar formas de tornar metadados existentes

elegíveis em instituições de ensino que ofereçam cursos na área de Moda. Com

amostragens diversas, distintas entre si e eventualmente inusitadas, esperamos ter

demonstrado as possibilidades de empreender a representação descritiva dos

mesmos materiais, utilizando as diversas técnicas bibliotecárias já empreendidas em

materiais tidos como tradicionais.

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Ao iniciarmos os estudos concernentes a este tema, especificamente

durante a construção do pré-projeto, percebemos também a necessidade de

introduzir a Moda enquanto área científica e de relevância social, no lugar de apenas

realizarmos o levantamento dos modelos de catalogação possíveis a aplicação em

indumentária, o que aumentou significativamente a responsabilidade da realização

desta pesquisa.

Dessa forma, com a consolidação deste trabalho, etapa inicial de uma

pesquisa que continuará, pretendemos ir além da mera contribuição empreendida

até então na literatura disponível sobre esse tema, incentivando os demais

profissionais de ambas as áreas, Biblioteconomia e Moda, a produzirem estudos

para, a partir desses, propor novas perspectivas e soluções a essa vertente que se

encontra em franco desenvolvimento, inclusive nos círculos acadêmicos.

A Moda, enquanto disciplina que adquire cada vez mais visibilidade nas

relações econômicas, encontra também maiores chances de expandir-se no

mercado educacional, com a profissionalização dos agentes que movimentam seus

negócios.

Mais que um território de mero comércio, no século XXI a Moda disputa

espaço para se consolidar enquanto área do Conhecimento. Sendo assim, não pode

ser renegada pelos profissionais da informação enquanto detentora de documentos

e artefatos tão valiosos e contributivos à pesquisa direcionada à reflexão de nosso

passado e desenvolvimento de nossa atualidade.

Ao final desta, e demais análises encontradas na íntegra do referido

trabalho, constata-se que os objetos de Moda são passíveis de catalogação em

qualquer modelo apresentado, seja ele uma norma, regra, formato ou metadado.

Enquanto profissionais da informação, temos a oportunidade de aplicar nossos

conhecimentos específicos e desenvolvidos há tanto tempo em acervos

bibliográficos, também às roupas e seus acessórios.

Sem a necessidade de criar novos modelos, o que por si já representa um

ganho inestimável de tempo, bastaria-nos somente à implantação da prática de

catalogação de indumentária para a detecção de possíveis ajustes na padronização

da descritiva.

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