Catálogo de culturas populares e identitárias da Bahia (2010)

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Governador do Estado da Bahia Jaques Wagner Secretrio de Cultura Mrcio Meirelles Diretoria Geral Rmulo Cravo Almeida Chefia de Gabinete Neuza Hafner Britto Superintendente de Cultura ngela Andrade Superintendente de Promoo Cultural Carlos Paiva Diretor do Instituto do Patrimnio Artstico e Cultural Frederico Mendona Diretor do Instituto de Radiodifuso Educativa da Bahia Pla Ribeiro Diretora da Fundao Cultural do Estado da Bahia Gisele Nussbaumer Diretor da Fundao Pedro Calmon Ubiratan Castro Direto do Ncleo de Culturas Populares e Identitrias Hirton Fernandes

Catlogo Culturas PoPulares & IdentItrIas da

Bahia 2010

Catlogo Culturas Poulares e Identitrias da BahiaPublicao editada pela Assessoria de Comunicao da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia

Ncleo de Culturas Populares e Identitrias Diretor Hirton Fernandes Coordenao Projeto Ir Ay, Educando pela Cultura Vanda Machado Coordenao tcnica Nildes Sena Analista Tcnico Rosaury Muniz Assistente Administrativo/Fundo de Cultura/Editais Adailza Assumpo Assistente Fundo de Cultura/Editais Luciene Diamantine Assistentes para assuntos de cultura popular Sueli Ribeiro Cristina S Margarida Gonzalez Simone Pinho Assistente para assuntos da Cultura Indgena Letcia Alcntara Estagirios Aline Fontes Taquari Patax

Rede de Assessores de Comunicao da SecultBA Assessor Chefe Marcelo de Tri Rede Ascom Ingrid Maria Machado (Gabinete) Geraldo Moniz (Ipac) Cludio Moreira (Irdeb) Paula Berbert (Funceb) Andr Santana (FPC) Assessor para contedos digitais Luciano Matos Secretaria Dalise Figueiredo Clipagem Ftima Caires Design grfico Taiane Oliveira Efren Ferreira Estagirios Mrcia do Amparo Jos Ricardo Oliveira

Catlogo Culturas Populares e Identitrias da Bahia 2010 Coordenao Hirton Fernandes Editor - chefe Marcelo de Tri Edio de contedo Lilian Caramel Projeto editorial Lilian Caramel Marcelo de Tri Assistente de redao Mariana Alcntara Simone Fickes Colaboradores Aline de Caldas Giselle Lucena Compilao de dados Aline Fontes Jos Ricardo Oliveira Mariza Barbosa Lago Programao visual Taiane Oliveira Reviso de textos Ana Lgia Leite e Aguiar Fotos Fotografia da capa Agncia Caixa de Fsforo

Maria Rita Machado dos Santos - Acervo Particular, Marisa Viana, Acervo Instituto Mau, Taiane Oliveira, Weimer Carvalho

AgradecimentosAmrico Crdula Assessoria Geral de Comunicao Social do Estado da Bahia - Edivalma Santana Bahiatursa Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular Conselho Estadual de Cultura da Bahia Isa Maria Silva Emilia Biancardi Forte Santo Antonio Alm do Carmo Carlos Ribas Fundao Cultural do Estado da Bahia Cristina S, Paula Berbert e Simone Pinho Fundao Pedro Calmon Maisa Menezes Geraldo Moniz Gisele Dupin Gisele Nussbaumer Giselle Lucena Gros de Luz e Gri Lillan Pacheco Grupo Queimada aa Palhinha Palmares, Simes Filho Instituto de Radiodifuso Educativa da Bahia Dinha Ferrero e Maria Rita Werneck Instituto de Artesanato Visconde de Mau Camila Diniz Jasmin Jonathas Arajo Jos Marcio Pinto de Moura Barros Lilian Caramel Marisa Vianna Neuza Britto Pola Ribeiro Projeto de Iniciao Musical (Pim) - Antnio Ferreira Rejane Pereira Rodrigues e As Quingomeiras Sahada Josephina Mendes Viva A Dana! Sirlene Barreto Wayra Silveira Agradecimento especial equipe do Ncleo de Culturas Populares e Identitrias da SecultBA Salvador, setembro de 2010

Fotos Gentilmente cedidas pelos acervos dos grupos de cultura popular, Agncia Caixa de Fsforo, Adenilson Nunes, Agnaldo Novais e Manu Dias - Acervo Agecom, Carlos Alcntara - Acervo Pelourinho Cultural, Daniele Canedo e Hirton Fernandes - Acervo SecultBA, Gina Leite - Acervo Coleo Emlia Biancardi, Joo Ramos e Jota Freitas - Acervo Bahiatursa, Maurcio Requio e Otto Terra Teixeira - Acervo Irdeb,

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DedicatriaEste catlogo foi produzido em agosto de 2010, ms do folclore, e dedicado a todos os grupos e mestres de Cultura Popular que mantm vivas as nossas tradies mais genunas

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Foto Daniele Canedo/ Acervo Secult

No possvel pensar o ser humano fora da cultura. Sua ausncia na vida e no cotidiano de cada individuo (...) coloca em risco, no apenas repertrios e formas de expresso artstica, mas a prpria condio humana Prof. Jos Mrcio Barros

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Toda Culturavalorizao da diversidade cultural, alm de levar em conta o que uma comunidade capaz de expressar simbolicamente, traduz-se pelo respeito sua histria, aos seus valores, s suas maneiras de agir e conviver com a natureza e com o outro. As convenes sobre o tema, especialmente a da UNESCO, consolidam a promoo de sua visibilidade como um dever dos Estados e tratam da necessidade de sua constante manuteno como matria de exerccio de paz entre os povos, como forma de incluso e desenvolvimento, e como outra medida de riqueza, capaz de instaurar uma prtica de no submisso, de autonomia e soberania. Ser assim se entendermos a cultura como um bem comum, como a possibilidade que todos tm de sonhar um mundo melhor, traduzir esse sonho em objeto ou rito e partilh-lo. Assim ser se, ao invs de criarmos a tradicional cumeeira e o entendimento da cultura apenas como a prtica de atividades artsticas de poucos para poucos, se ao invs de usarmos os (pr) conceitos, que separam a chamada alta cultura, inacessvel maioria, e a cultura dita popular, desvalorizada por muitos, tratarmos a cultura como um bem comum. Tendo sido criada tambm para transformar o princpio de respeito diversidade em poltica pblica, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, sem privilegiar esta ou aquela fonte, mapeia e instiga os criadores e mantenedores de determinada expresso cultural a buscar suas origens primeiras, sem esquecer que o percurso da Histria aprimora, transforma, enriquece, atualiza. Sem esquecer que o incio serve para construir o futuro. Este catlogo, entre os de outros setores da cultura, um instrumento estratgico das polticas pblicas. Fazendo eco s convenes citadas e s diretrizes das Conferncias Estaduais de Cultura, registra, em suas pginas, a memria de aes criadoras, assim como incorpora um breve detalhamento dessas aes, fazendo com que nossa expresso cultural seja visvel em sua pluralidade no s temtica e esttica, mas que possa ser, ainda, vislumbrada como eixo estratgico do desenvolvimento pleno do estado.

A

Mrcio Meirelles

Secretrio de Cultura do Estado da Bahia

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SumrioApreSentAo o dAS cUltUrAS ormAeS no trAt S recenteS trAnSf Um pAnorAmA dA exto brASileiro popUlAreS no cont Identitrias....15

as Populares e Ncleo de Cultur

nAl pUlAr, o trAdicio identitrio, o po ltUrAl, o A diverSidAde cU io Barros....27

Jos Mrc

cAtegoriAS

42 1.ArteSAnAto.... ...52 2.bAcAmArteiroS. S....54 3.bAndA de pfAno nhA....56 4.bArcA & bArqUi 58 pArto & rezA.... benzedUrA,cUrA, 5. & coStUrA....62 6.bordAdo, corte AiS 7.cAntoS cerimoni 68 & Penitente).... .70 endito, Ladainha (B Pila de Caf)... trAbAlho(Aboio & ...72 8.cAntoS de trA de berimbAUS. mAcUlel & orqUeS 9.cApoeirA, ...80 rujos & Mouros). .chegAnA (de Ma 10 ilombolAS....84 11.comUnidAdeS qU 12.congAdA....88 iA popUlAr....90 13.cordel & poeS94 14.cUlinriA.... Afro....100 15.dAnA & mSicA11

dA 16.dAnAS de ro .104 na de Fita)... da, Cantiga e Da (Ciran 8 nAS & tor....10 17.dAnAS indge AS....110 S & contemporne reSSeS cUltUrAi 18.exp 112 S religioSAS.... reSSeS cUltUrAi 19.exp .116 prito SAnto... tA do divino eS 20.feS boi....118 21.folgUedoS de oneiro...122 22.forr & SAnf .126 23.lindro Am... ...128 o 24.mAneiro pAU. s, Mandus, Os C mbachos, Careta 25.mAScArAdoS(Bo ...130 & Zambiapungas). ..134 26.nego fUgido.. 36 o dAS AlmAS....1 enitnciA e tern 27.p 138 28.qUAdrilhA.... lhinhA....142 ....144 29.qUeimA dA pA Reisado & Terno) Folia, Rancho, 30.reiS(Festa, 0 31.repente....15 gonAlo....152 32.rodA de So de Coco, Chula, Corrido, AmbA (Batuque, 33.S da)....156 66 de Lata & de Ro & mAmUlengo....1 necoS, boneceS 34.teAtro de bo ...168 teAtro popUlAr. eAtro de rUA & 35.t e griS....172 36.trAdio orAl verSoS....174 38.deStAqUe & di

Apndice12

ultas Sugesto de consnais Sites Institucio

& Diversos

ApresentAopublicao deste catlogo, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, por intermdio de seu Ncleo de Culturas Populares e Identitrias, resultado de um longo trabalho realizado em equipe. Sua redao teve incio com a compilao de dados coletados entre 700 formulrios que compem o Cadastramento de Grupos e Mestres das Expresses Culturais Populares e Identitrias da Bahia, realizado no primeiro semestre de 2010. Mestres e agentes de cultura, representantes de manifestaes, associaes culturais, brincantes, folcloristas, lderes comunitrios, trabalhadores comuns, artistas e pesquisadores da rea todos estes envolvidos, de alguma forma, com cultura popular preencheram, manual e eletronicamente, o formulrio, respondendo chamada pblica da Secretaria. Na anlise de todos os formulrios foram detectadas 37 manifestaes culturais*, que correspondem aos principais captulos desta obra. O catlogo apresenta um panorama da cultura popular em 24 dos 26 Territrios de Identidade (TIs) da Bahia, diviso territorial adotada pelo Governo do Estado em sintonia com a metodologia proposta pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, embasada no pensamento do gegrafo Milton Santos. Infelizmente, os grupos dos municpios pertencentes aos territrios da Bacia do Rio Corrente e Serto do So Francisco no responderam chamada pblica estadual e, por isso, este catlogo no traz informaes relativas aos mesmos. A Secretaria pretende, em edio posterior, sanar a deficincia e lembra a todos os grupos baianos a importncia de atentarem para iniciativas dessa natureza. S possvel promover um mapeamento completo das culturas populares no Estado, fortalecer a integrao poder pblico-agentes de cultura e, sobretudo, implementar polticas pblicas que possam promover o segmento com a participao efetiva da populao. Alm de trazer contatos como endereo, telefones e e-mail dos grupos cadastrados, o catlogo apresenta recursos para facilitar a leitura e informaes adicionais como o nmero de integrantes de cada grupo. A obra mostra, ainda, as principais manifestaes ou atividades culturais com as quais cada grupo est envolvido e d destaque aos Mestres de Cultura, ricas fontes de sabedoria popular, como uma maneira de homenage-los.

A

Nos captulos correspondentes s manifestaes, o leitor conhecer o perfil de cada uma delas sendo algumas raras , incluindo suas origens, especificidades, caractersticas principais, assim como os territrios em que existem na atualidade. O contedo jornalstico da obra foi redigido com base em fontes oficiais de informao, websites institucionais e bibliografia de autores reconhecidos. J as informaes relativas s manifestaes na Bahia, como data de surgimento, nome dos lderes, contatos, onde e quando elas podem ser vistas, baseiam-se, inteiramente, em dados fornecidos pela populao nos referidos formulrios. O catlogo conta com artigo assinado pelo Ncleo de Culturas Populares e Identitrias que trata das novas polticas para a rea. Como incentivo reflexo terica e aprofundamento do tema em questo, o leitor tem acesso, ainda, a um artigo indito de autoria de Jos Mrcio Barros, professor do Programa de Ps-graduao em Comunicao da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC Minas) e da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Jos Mrcio reconhecido no pas pela profundidade das pesquisas que realiza sobre identidade, poltica, diversidade e gesto cultural, alm do posicionamento firme em prol da preservao e promoo desse patrimnio. Ao final do catlogo, o Apndice 1 traz os grupos e indivduos do cadastramento estadual organizados por territrio e dispostos em ordem alfabtica, e o Apndice 2 lista websites de referncia como sugesto de consulta. Esperamos que esta obra possa ser til para pesquisadores e pessoas interessadas em saber mais sobre as culturas populares do nosso estado, tesouro de valor que no se pode precisar. Ser ainda melhor se ela circular por muitas mos, estantes, bibliotecas e instituies, instigando o envolvimento dos leitores com esse universo de extrema riqueza e beleza. Registramos, ainda, nossos sinceros agradecimentos s instituies do Governo do Estado da Bahia, servidores, estudiosos da cultura popular, organizaes no-governamentais, fornecedores e prestadores de servios que, de alguma maneira, contriburam para que o cadastramento se transformasse nesta obra.

A Edio* algumas Filarmnicas e Fanfarras se cadastraram, mas no sero registradas nesse catlogo j que tero publicaes especficas.

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Um Panorama das Recentes Transformaes no Trato das Culturas Populares no Contexto BrasileiroNcleo de Culturas Populares & Identitrias

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os ltimos cinco anos observamos uma expressiva ampliao e institucionalizao das aes pblicas voltadas s culturas populares no Brasil. Vrios documentos registram discusses e acordos firmados para o segmento, resultado de fruns e conferncias realizadas em mbito nacional, estadual e municipal, e que passaram a fundamentar programas e projetos, substituindo improvisos e excluses. A seguir, faremos um breve mapeamento de algumas iniciativas exemplares. Dois instrumentos internacionais ratificados pelo Brasil, a Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial, de 2003, e a Conveno para a Proteo e Promoo das Expresses da Diversidade Cultural, de 2005, ambas promulgadas pelos Estados membros da UNESCO, constituem referenciais bsicos de muitas das aes realizadas no Brasil. A criao de fundos pblicos de incentivo e apoio s culturas populares, a realizao de mapeamento, registro e documentao das manifestaes, bem como o estabelecimento de instncias de dilogo entre o Estado e sociedade civil para formulao e deliberao de polticas culturais esto registradas desde 2005, na Carta das Culturas Populares, assinada durante o Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para as Culturas Populares, realizado pelo Ministrio da Cultura (MinC), em fevereiro daquele ano. O documento prope tambm a criao de mecanismos que favoream a incluso das culturas populares nos processos educativos formais e informais e de marcos legais de proteo aos conhecimentos tradicionais e aos direitos coletivos. Povos indgenas, populaes quilombolas, ciganos, pomeranos, ribeirinhos, quebradeiras de coco babau, seringueiros, pescadores artesanais, caiaras, castanheiros, povos dos faxinais, geraisieros e dos fundos de pasto ocupam as 15 vagas para povos e comunidades tradicionais que compem a Comisso Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), instituda por decreto, em 2006, com o objetivo de implementar uma poltica nacional especialmente dirigida para tais comunidades. Participam da Comisso outros 15 representantes de rgos e entidades da administrao pblica federal.Foto Taiane Oliveira

N

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Nesse contexto, foi instituda, pelo Decreto n 6.040, de 07 de fevereiro de 2007, a Poltica Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentvel dos povos e comunidades tradicionais, com

nfase no reconhecimento e fortalecimento desses, buscando, ainda, garantir os seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econmicos e culturais, com respeito e valorizao sua identidade, suas formas de organizao e suas instituies. J o Programa de Promoo das Culturas Populares, cuja criao foi regulamentada pela Portaria n 048, de 02 de outubro de 2007, visa fortalecer, proteger e difundir a diversidade cultural das culturas populares do Brasil, apoiando projetos e iniciativas, por meio de editais, prmios, convnios, pesquisas, publicaes, filmes, programas de TV, rdio, internet, atividades de formao, de intercmbio, de circulao e encontros. Outro marco importante a Carta Sul-Americana das Culturas Populares, documento produzido e assinado durante o II Encontro Sul-Americano das Culturas, realizado em Caracas, em 2008, com delegaes da Argentina, Bolvia, Brasil, Equador, Paraguai, Venezuela e com a presena de Cuba como convidada. A carta registra a falta de recursos, a discriminao e a ausncia de mecanismos adequados de registro e proteo. Levanta a importncia de promover a integrao entre os povos, os mestres e os artistas populares, defendendo que essencial a atuao do Estado para promover e dar base para multiplicar a sabedoria popular dos mestres.1 A carta registra a importncia da unio entre a cultura e a educao e o conhecimento mtuo das expresses das culturas populares por meio de mapeamento regional, e levanta, ainda, a questo da biodiversidade, garantindo que nas comunidades em que as tradies esto vivas, o meio ambiente e a biodiversidade esto preservados. No relatrio da Pr-Conferncia Setorial de Culturas Populares, realizada em maro de 2010, em Braslia, so colocadas estratgias para polticas pblicas para esta rea nos cinco eixos definidos para a Conferncia Nacional de Cultura: Produo Simblica e Diversidade Cultural (inserir nos currculos da Educao Bsica e da Formao de Professores os saberes e as prticas das culturas populares); Cultura, Cidade e Cidadania (criar mecanismos de reconhecimentoDocumento disponvel em: http://culturadigital.br/setorialculturaspopulares/ files/2010/02/2008-Carta-Sul-Americana-das-Culturas-Populares-Caracas-2008-Portugues-BR.pdf1

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201019

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 2010

e regulamentao da profisso de mestre (a)); Cultura de Desenvolvimento Sustentvel (realizar mapeamento, registros e documentao das manifestaes e expresses das culturas tradicionais e populares e gerar documentos e dados); Cultura e Economia Criativa (fortalecer, nas trs esferas de governo, os mecanismos de financiamento pblico das culturas populares); Gesto e Institucionalidade da Cultura (priorizar a ocupao de uma vaga nos conselhos estaduais e municipais de cultura pelos protagonistas e fazedores das culturas populares e fortalecer a participao da sociedade civil no gerenciamento das polticas pblicas). Diante desse cenrio, grupos e movimentos da cultura popular tm se organizado e conquistado espao poltico para a rea. Existem hoje, em todos os mbitos do governo e da sociedade civil, aes organizadas que se dedicam promoo e proteo da cultura popular que j apontam para resultados expressivos. Um exemplo so os editais voltados s culturas populares, publicaes, prmios, programas e a promoo de outros encontros. Como desdobramento do I Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para as Culturas Populares, realizado em Braslia, em 2005, onde foram elaboradas diretrizes e aes prioritrias para o segmento, expostas na Carta das Culturas Populares, temse o Prmio Culturas Populares, que se destina a reconhecer e premiar Mestres e Grupos/Comunidades responsveis por iniciativas exemplares que envolvam as expresses das culturas populares brasileiras. Este prmio integra o Programa Identidade e Diversidade Cultural Brasil Plural, resultado das propostas identificadas nos Seminrios Nacionais de Polticas Pblicas para as Culturas Populares. De acordo com informaes disponibilizadas no site do MinC, na edio de 2009, o Prmio distribuiu cerca de R$ 2 milhes e contemplou 195 representantes das culturas populares brasileiras, entre mestres e representantes de grupos/comunidades formais e informais. Em 2009, a cultura popular registrou outra conquista: os Grupos de Trabalho para as Culturas Populares e Culturas Indgenas foram transformados em Colegiados Setoriais, conforme aprovao no Plenrio do Conselho Nacional de Poltica Cultural. Assim, os dois segmentos se encontram no mesmo nvel institucional e de representao poltica junto ao MinC como a Msica, Teatro, Dana, Livro e Leitura, e outros. Dessa forma, o governo federal reconhece que,

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devido sua imensa diversidade, as expresses culturais populares e indgenas demandam grande capacidade de articulao e requerem cuidados especiais tambm devido s dificuldades socioeconmicas enfrentadas por muitas comunidades tradicionais.2

A Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID) responsvel, no mbito do MinC, pelo Programa Identidade e Diversidade Cultural - Brasil Plural, cujo objetivo garantir a grupos e redes de agentes culturais responsveis pela diversidade das expresses culturais brasileiras o acesso aos recursos para o desenvolvimento de suas aes. Outra poltica no mbito federal que merece destaque o Programa Nacional de Cultura, Educao e Cidadania Cultura Viva, que visa estimular e fortalecer uma rede de criao e gesto cultural, tendo como base os Pontos de Cultura selecionados por meio de editais pblicos. Os Pontos de Cultura so iniciativas que envolvem comunidades em atividades de arte, cultura, educao, cidadania e economia solidria. De acordo com dados publicados pelo MinC, h quase quatro mil Pontos de Cultura em 1.122 municpios de todo o Brasil (dados de abril-2010). O pblico alvo do Programa inclui habitantes de regies e municpios

Ver em: http://www.cultura.gov.br/site/2009/09/08/colegiado-setorial-para-asculturas-populares-e-indigenas/2

Foto Agncia Caixa de Fsforo

As comunidades e manifestaes da cultura popular tambm tm sido contempladas com editais nacionais especficos. Entre 2005 e 2008, a Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministrio da Cultura SID/MinC lanou doze editais, sendo trs para as Culturas Populares; dois para as Culturas Indgenas; cinco para o segmento LGBT; um para as Culturas Ciganas e um para a incluso cultural da pessoa idosa. o que descreve um balano divulgado pelo SID/MinC, em 2009. Os Editais esto ligados ao Programa Identidade e Diversidade Cultural - Brasil Plural, criado em 2003, no Plano Plurianual do MinC. Os editais contemplaram cinco segmentos socioculturais: povos indgenas, culturas populares, ciganos, LGBT e idosos. Dessa forma, com a consolidao do Programa nos planos plurianuais, o MinC inclui segmentos scio-culturais (comunidades populares; grupos tnicos e comunidades tradicionais; etc.), movimentos (pessoas com deficincia fsica; LGBT; etc.), bem como reas transversais ao segmento cultural (cultura e sade; cultura e trabalho; etc.) que, antes, no estavam contemplados devidamente nas polticas pblicas.

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 2010

com grande relevncia para a preservao do patrimnio histrico, cultural e ambiental brasileiro, bem como comunidades indgenas, rurais e remanescentes de quilombos. Na Bahia, somam-se 218 Pontos de Cultura, localizados em todos os 26 territrios de identidade. Integrada aos Pontos de Cultura, a Ao Gri envolve escolas, universidades e comunidades atuantes com a vivncia, a criao e a sistematizao de prticas pedaggicas relacionadas aos saberes e fazeres da cultura oral.A Ao Gri valoriza a tradio da oralidade enquanto patrimnio imaterial e cultural a ser preservado. um desafio no mbito das polticas culturais devido a inexistncia de uma tradio na valorizao desta manifestao cultural. A transmisso oral permeia as mais diversas culturas e, independente da origem ou da etnia, muitos povos tm a oralidade como nica fonte da perpetuao de sua histria. O Gri um guardio da memria e da histria oral de um povo ou comunidade, so lideres que tm a misso ancestral de receber e transmitir os ensinamentos das e nas comunidades. 3

Foto Hirton Fernandes/ Acervo Secult

Com o objetivo de ser um espao permanente de reflexo, debate e proposio de polticas pblicas, a Rede de Culturas Populares um dos resultados do II Seminrio Nacional de Polticas Pblicas para as Culturas Populares, realizado em 2006. A rede visa intensificar a mobilizao, a comunicao e a troca de experincias entre os membros, bem como manter atualizada a agenda de eventos das mais diversas regies do pas e a circulao de produtos e servios gerados pelos artistas populares e demais trabalhadores do segmento. No mbito estadual, so registradas, na mesma intensidade que no mbito federal, aes de mapeamentos, promoo de festividades, alm de editais que visam premiar iniciativas voltadas s culturas populares. No Maranho, por exemplo, o Governo do Estado realiza o Projeto Maranho, onde Bumba-Meu-Boi, Quadrilha, Tambor de Crioula, Cacuri, Dana Portuguesa, Boiadeiro, Coco e outras danas populares, manifestaes tpicas que se apresentam em noites de festejos juninos durante o

3

Ver em: http://www.cultura.gov.br/culturaviva/category/cultura-ecidadania/acao-grio/

So Joo. O Estado realiza ainda a Semana de Cultura Popular, anualmente, atravs da Superintendncia de Cultura Popular-Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, com a proposta de destacar aspectos significativos da cultura popular maranhense, elegendo temas que so explorados com uma diversificada programao de atividades. No Cear, com a Lei dos Tesouros Vivos da Cultura, de n 13.842, de 2006, a Secretaria da Cultura do Estado identifica, atravs de edital, pessoas, grupos ou coletividades que mantm ativa as tradies da cultura cearense e oferece diplomao, registro e incentivos financeiros para manuteno das atividades culturais cuja produo, preservao e transmisso sejam consideradas representativas e referenciais da cultura do Estado. O Estado de Alagoas apresenta um programa de fomento, formao e difuso cultural que faz circular expresses da cultura popular e outras manifestaes artsticas. o Projeto Caravana Cultural, que, entre os objetivos, prev o mapeamento de bens, produtos e equipamentos culturais dos municpios; o incentivo criao de circuitos regionais de apresentaes culturais e a realizao de aes de capacitao. No Rio de Janeiro, o Edital de Culturas Populares tem o objetivo de apoiar iniciativas e atividades de mestres e grupos tradicionais do Estado. O Estado de Minas Gerais possui um Centro de Tradies Mineiras; o Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico (IEPHA) e um programa para o Patrimnio Imaterial. Em So Paulo, a Secretaria de Estado da Cultura disponibiliza o Edital ProAC, para projetos de promoo da continuidade das culturas tradicionais. Territrios baianos Um estudo preliminar feito pelo Governo da Bahia sobre a organizao das Culturas Populares, Indgenas e Afro-descendentes, registra que durante a II Conferncia Estadual de Cultura da Bahia, a cultura popular foi eleita, entre 73% das regies participantes, como segmento prioritrio para as aes da Secretaria de Cultura. Todos os municpios, alis, registraram propostas relacionadas cultura popular. No que diz respeito aos povos indgenas e a populao afro-descendente, o documento afirma que estes tambm j conquistaram visibilidade nas polticas pblicas.

Um estudo preliminar feito pelo Governo da Bahia sobre a organizao das Culturas Populares, Indgenas e Afrodescendentes, registra que durante a II Conferncia Estadual de Cultura da Bahia, a cultura popular foi eleita, entre 73% das regies participantes, como segmento prioritrio para as aes da Secretaria de Cultura.

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201023

A FUNAI impulsionou novas formas organizativas e de presso sobre o aparato estatal, de tal modo que se tem registrado a crescente implantao de novos rgos e aes governamentais, especialmente no mbito estadual. Os movimentos afro-brasileiros tambm atuando de forma dinmica em todas as esferas do governo e de formas de representaes polticas, j conquistaram instituies e programas pblicos. 4

De acordo com o estudo citado, a necessidade de uma sistemtica defesa dos direitos j conquistados o que h em comum nestes segmentos, e se reconhece que a poltica voltada a esses grupos sociais exige outra abordagem.Como reconhecimento e valorizao das culturas populares na Bahia, no sentido de construir polticas pblicas especficas e permanentes para o setor, o estado criou o Ncleo de Culturas Populares e Identitrias, integrado Secretaria de Cultura do Estado, que formula e executa a poltica de apoio e promoo em todo o estado, baseando-se em aes e projetos oramentrios prprios. A valorizao das culturas no apenas estratgica, mas central. constatvel que o conhecimento e a reaproximao das pessoas com seus vnculos histricos, associados interpretao do valor que isso representa, restaura a auto-estima e o orgulho, prov um novo sentimento de igualdade a partir das diferenas e, especialmente em reas no urbanas, resgata os saberes e modos de fazer mais tradicionais como elementos pedaggicos de alto potencial transformador. 5

Quanto s propostas registradas no documento final da II Conferncia Estadual de Cultura da Bahia, nota-se que as maiores preocupaes se referem celebrao (a consolidao de calendrios de eventos e promoo de festivais); informao (realizao de mapeamentos, cadastros, pesquisas, registros, inventrios e tombamentos); e formao (realizao de cursos de capacitao, oficinas, alm do incentivo aos conhecimentos e saberes populares, introduzindo-os no currculo escolar). Como reconhecimento e valorizao das culturas populares na Bahia, no sentido de construir polticas pblicas especficas e permanentes para o segmento, o Estado criou o Ncleo de Culturas Populares e Identitrias, integrado Secretaria de Cultura do Estado, que formula e executa a poltica estadual de apoio e promoo, baseando-se em aes e projetos oramentrios prprios. A construo dessa poltica estrutura-se a partir da realizao de encontros territoriais com grupos de cultura popular, comunidades indgenas e

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4,5

Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Organizao da rea Cultural e as Culturas Populares, Indgenas e Afro-descendentes - Estudo Preliminar, 2007.

remanescentes de quilombos, e se concretiza via aes diretas de promoo, bem como atravs de editais especiais de apoio s aes culturais voltadas para valorizao das expresses da cultura negra; para as manifestaes culturais populares e contemporneas e para valorizao do patrimnio. A secretaria conta, ainda, com um cadastramento de grupos e mestres das expresses culturais populares e identitrias, resultado de uma convocao pblica a grupos e mestres de todos os territrios de identidade da Bahia, cujo registro apresenta-se aqui na forma deste catlogo. O Estado assume que, valorizar a diversidade cultural significa valorizar a diferena, e conta com a multiplicidade de saberes, ideologias e prticas, de opes religiosas e sexuais, somadas s matrizes culturais e tnicas, levando em considerao manifestaes que vo da msica culinria, da religio ao artesanato.A cara da Bahia no pode ser apenas a cara do Recncavo. A cara da Bahia tem que ser a cara da Bahia inteira: do Recncavo, do Oeste, do So Francisco, do Serto, do Sul, da Chapada e de todas as outras regies do estado. Temos que assumir ao mesmo tempo agora toda diversidade baiana, as diferenas que, combinadas e recombinadas, misturadas, mestias, fazem do povo baiano o que ele . 6

Localizada em Salvador, a Fundao Gregrio de Mattos FGM realizou o projeto Mestres Populares da Cultura, que promoveu uma srie de eventos culturais com a proposta de ressaltar aspectos sociais e manifestaoes artsticas e religiosas que fomentam a identidade de cada bairro. A Fundao mapeou 78 mestres e, em 2006, lanou o 1 Concurso de Monografias, Fotografias e Documentrios (vdeos) - Prmios Mestres Populares da Cultura, para contribuir com os estudos e pesquisas a respeito dos Mestres. Como se pode perceber, nesta primeira dcada do sculo XXI, h um conjunto expressivo de aes, projetos e programas que apontam para um processo crescente de alargamento e institucionalizao de medidas de proteo e promoo das culturas populares. Tais avanos encontram no conjunto de projetos de leis e de emendas constitucionais em tramitao na esfera do executivo e do legislativo federal, importantes instrumentos de consolidao

As possibilidades so muitas, mas os desafios no podem ser minimizados. O que torna viva e operante as ferramentas de institucionalidade o processo poltico de participao e gesto democrtica.

6

Consultar em: http://www.cultura.ba.gov.br/linhasdeacao/diversidade

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de novos paradigmas e novas prticas de polticas pblicas. A criao de dois fundos especficos, o Fundo Setorial do Acesso e Diversidade e o Fundo Setorial do Patrimnio e Memria, a institucionalizao do Sistema Nacional de Cultura e do Plano Nacional de Cultura, constituem instrumentos essenciais para este processo que, para alm de reposicionamento discursivo, reflete as transformaes da sociedade brasileira na ltima dcada. No mbito do Estado da Bahia, a Lei Orgnica de Cultura representa outro importante e decisivo instrumento de institucionalidade. As possibilidades so muitas, mas os desafios no podem ser minimizados. O que torna viva e operante as ferramentas de institucionalidade o processo poltico de participao e gesto democrtica. Este, como ensina a histria, dinmico, comporta retrocessos e contradies, o que desafia a todos no compromisso de continuidade no alargamento e aprimoramento do processo de reafirmao da cultura em sua trplice dimenso: simblica, cidad e econmica. RefernciasBRASIL. Decreto n 6.040, 07 de fevereiro de 2007. Institui a Poltica Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). COMISSO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS (CNPCT). Disponvel em: . Acesso em: jul. 2010. FUNDAO Gregrio de Mattos. Mestres Populares da Cultura. Disponvel em: . Acesso em: jul. 2010. GOVERNO de Alagoas. Caravana Cultural. Disponvel em: . Acesso em: jul. 2010. GOVERNO do Estado de So Paulo. Secretaria de Cultura. Disponvel em: http:// www.cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem.555627669a24dd2547378d27ca 60c1a0/?vgnextoid=b787a2767b3ab110VgnVCM100000ac061c0aRCRD. Acesso em: jul. 2010. GOVERNO do Maranho. Cultura. Disponvel em: . Acesso em: jul. 2010.

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A Diversidade Cultural, O identitrio, O Popular e O TradicionalJos Mrcio Barros1

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1. Diversidade Cultural

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s definies de cultura so muitas. Alguns estudiosos chegaram a catalogar centenas de conceitos de cultura. Em todas elas, entretanto, encontramos sempre uma rica e intrigante relao entre valores e prticas, concepes e atitudes, realidades singulares e universais. Sem entrar no debate de tantos conceitos, podemos apontar a existncia de dois plos explicativos: um sentido antropolgico bastante amplo que se refere ao modo de vida total de um povo, de um grupo social e de um indivduo. A cultura, na perspectiva antropolgica, pensada como realidade universal e expresso da diversidade, inclusiva e no seletiva. Dessa concepo resulta o sentido lato da cultura, referindo-se a todos os aspectos relacionados a estilos particulares de vida. Outro sentido, de tradio humanista, define cultura como um conjunto de atividades especficas, especialmente as artsticas e os comportamentos ilustrados. Decorre daqui a viso estrita da cultura com uma nfase idealista, pois v a cultura como um processo e um estado de cultivo sob um prisma universalista. (WILLIANS, 1967 apud SANTAELLA, 2002, 34). Na perspectiva antropolgica, definir a cultura pens-la como tudo aquilo que socialmente apreendido e transmitido e que no se realiza apenas pela natureza das coisas do mundo e dos seres humanos. Por exemplo, se sentir fome o efeito de uma necessidade do corpo humano, e, portanto, faz parte da nossa natureza, a maneira como identificamos e respondemos a este sinal, pertence ao mundo da cultura. Ao fazer parte da cultura, o sentir fome, produzir alimentos e comer se transformam num universo de smbolos, de tcnicas, de produtos e de ritos que formam parte de nosso patrimnio cultural. Um arroz com feijo ou um acaraj, respondem no apenas s nossas necessidades biolgicas, mas prioritariamente s nossas necessidades de saber quem somos, e s nossas capacidades de viver juntos e de fazer histria. Este sentido amplo e inclusivo da cultura s se consolidou entre ns ao final do sculo XIX, quando as diferenas de costumes e modelos culturais, deixaram de ser explicados pela cincia como conseqncia de atrasos evolutivos e passaram a ser consideradas a expresso da mais rica capacidade humana: a de, a partir de uma unidade biolgica to forte, produzir tantas e to ricas diferenas culturais.

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Professor do Programa de Ps-graduao em Comunicao da PUC-MG e da Universidade do Estado de Minas Gerais. Este texto contou com a participao de Giselle Lucena, jornalista, integrante do Observatrio da Diversidade Cultural.

Temos aqui duas importantes conseqncias: a cultura se faz presente em todos os atos e gestos humanos fruto da aprendizagem em sociedade. Por outro lado, ao fornecer formas prticas e simblicas de conhecimento, reconhecimento e auto-conhecimento, a cultura nos permite construir identidades e memrias, mas tambm, nos desafia ao reconhecimento dos diferentes e seus patrimnios. No possvel pensar o ser humano fora da cultura. Sua ausncia na vida e no cotidiano de cada indivduo e dos grupos e sociedades onde se inserem e se relacionam, coloca em risco no apenas repertrios e formas de expresso artstica, mas a prpria condio humana. O que est em jogo quando pensamos em cultura a prpria condio humana e a maneira como expressa e se relaciona com as estruturas materiais e as bases territoriais onde a vida e a cultura, se do. Relacionar a cultura ao territrio significa no apenas reconhecer os vnculos e pertencimentos a determinados contextos espaciais e temporais, mas tambm os valores e prticas compartilhados e os fluxos de trocas e contatos que configuram fronteiras prprias. Por meio da cultura, desenvolvemos um conjunto de regras de criao e interpretao da realidade, que expressam tanto subjetividades quanto racionalidades prprias. Da a possibilidade de pensar a cultura como representao, classificao e comunicao de valores que organizam nossas aes e tornam a vida coletiva possvel na medida em que produz o compartilhamento de sentidos entre os iguais e traduo de significados entre os diferentes. Tais processos simblicos implicam certa materialidade, como nos ensina Canclini no existe produo de sentido que no esteja inserida em estruturas materiais (1983:29). Como conjunto de representaes do mundo, da vida e do prprio ser humano, as diferenas culturais representam a diversidade de prticas, percepes e concepes que formam diferentes formas de explicar as origens, asFoto Taiane Oliveira

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transformaes e os sentidos do universo e do ser humano. Assim, a cultura se transforma num processo permanente de organizao, interao e troca de representaes e prticas, no interior e entre sistemas culturais locais, regionais e mundiais que se interpenetram criando emaranhados simblicos. Entretanto, a atualidade resultou num mundo de complexidade e da diversificao dos sistemas simblicos e de representao, que convivem num processo contnuo de contaminao mtua de suas especificidades. Vivemos um grande desafio para compreender as tenses e as contradies entre realidades locais e realidades globais, entre as homogeneidades e as heterogeneidades. Os processos de construo de identidades individuais e coletivas e as relaes entre as tradies e as rupturas numa sociedade revelam os enfrentamentos e as tenses entre diferentes modelos culturais que co-existem.As diferenas no so apenas a expresso de particularidades que devem ser mantidas intactas, mas singularidades que dialogam e se misturam, ora para se manterem puras ora para se fundirem. O que faz com que as diferenas produzam diversidade? , justamente, a capacidade de inaugurar interaes com base no singular de cada grupo, sociedade e no universal da condio humana. Acreditar nisso significa ir alm do multiculturalismo o direito de ser diferente na direo do pluralismo, ou seja, a crena e o compromisso com um regime poltico que garanta s diferenas a interao, que transforme a diversidade em projeto poltico de equidade, cooperao e desenvolvimento humano.

Com essa perspectiva, reconhecemos a cultura como portadora de uma trplice e simultnea dimenso: simblica, cidad e econmica. A primeira nos remete aos modos de fazer, pensar e agir, portanto revela nossas identidades. A segunda se refere idia da cultura como direito e, portanto, campo para o exerccio da cidadania. Na dimenso econmica reconhecemos a cultura como geradora de riquezas e provedora de modelos de desenvolvimento. Decorre da articulao entre o identitrio, a cidadania e economia, a necessidade da existncia de polticas culturais capazes de assegurar sua efetiva participao no desenvolvimento humano. Sem polticas pblicas de cultura, o desfrute da cultura como direito e os prprios direitos culturais correm o risco de no passarem de idealidades e retricas. O desafio pensar como as diferenas podem deixar de ser tratadas como realidades que justificam e legitimam, desigualdades e dominaes, transformando-se no elemento central de nosso capital social.

Foto Taiane Oliveira

Este debate entre sociedade civil e Estado sobre a diversidade cultural existe h mais de cinqenta anos, e vem produzindo documentos e instrumentos polticos internacionais2 a fim de oferecer alternativas para a proteo e promoo do direito cultura e diversidade cultural. Tais documentos refletem as preocupaes com os processos tpicos do mundo contemporneo e seus reflexos no campo da cultura. Em 2001, a 31 reunio da Conferncia Geral da UNESCO aprovou a Declarao Universal sobre a Diversidade Cultural. Em 12 artigos e 20 recomendaes prticas , consolida dcadas de reflexes e enfrentamentos. Mas o documento foi considerado pela grande maioria dos Estados membros e por organizaes da sociedade civil, uma resposta insuficiente para as ameaas que a atualidade apresenta para a Diversidade Cultural. Com isso, foi instaurado um processo de aprofundamento que resultou na aprovao da Conveno para a Proteo e Promoo da Diversidade das Expresses Culturais, em 2005. O texto define objetivos como4 : criar condies para que todas as culturas floresam em igualdade de condies, e possam interagir de modo mutuamente estimulante; encorajar os dilogos entre as culturas de modo a estabelecer um equilbrio entre as trocas culturais, em favor de um respeito intercultural e da cultura da paz; reafirmar a ligao entre cultura e desenvolvimento, apoiando as aes neste sentido; A compreenso da diversidade cultural e sua relao com questes como as culturas populares, as identidades e tradies e o desenvolvimento, vm grande esforo reflexivo para fazer avanar as polticas pblicas de cultura. Este avano

O Acordo de Florena de 1950 e seu Protocolo de Nairobi de 1976, a Conveno Universal sobre Direitos de Autor, de 1952, a Declarao dos Princpios de Cooperao Cultural Internacional de 1966, a Conveno sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a Importao, a Exportao e a Transferncia de Propriedade Ilcita de Bens Culturais, de 1970, a Conveno para a Proteo do Patrimnio Mundial Cultural e Natural de 1972, a Declarao da UNESCO sobre a Raa e os Preconceitos Raciais, de 1978, a Recomendao relativa condio do Artista, de 1980, a Recomendao sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, de 1989, a Conferncia Mundial sobre as Polticas Culturais de 1982, a Comisso Mundial de Cultura e Desenvolvimento, Nossa Diversidade Criadora de 1995 e a Conferncia Intergovernamental sobre Polticas Culturais para o Desenvolvimento em 1998. Consultar o site www.observatoriodadiversidade.org.br . 3 Ver o documento em http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160m.pdf 4 O texto completo da Conveno pode ser consultado em http://portal.unesco.org/culture/es/ file_download.php/4e23e90123ccd047c3f757ea1cfbca40TEXTE+REVISE+-+Spa.pdf2

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depende da capacidade de superar posturas protecionistas conservadoras, que defendem regimes de exceo cultural. O mais efetivo, especialmente no que se refere s expresses populares e tradicionais, a capacidade de se conjugar os dois verbos: proteger e promover a diversidade cultural. Uma forma de realizar essa operao est ligada capacidade de se articular, de forma mais dinmica, a cultura, pensada em suas dimenses simblica, cidad e econmica com a questo das polticas pblicas e o desenvolvimento. Tratase de compreender que proteo sem promoo da diversidade cultural, acaba se transformando na adoo de medidas restritivas que condenam cada cultura a ela prpria. O desafio parece ser o de se implementar medidas polticas e econmicas que evitem a transformao das trocas culturais em processos de mo nica que reforam a concentrao cultural e submetem a cultura lgica exclusiva do mercado globalizado. Como ento pensar os adjetivos identitrio, popular e tradicional, colocados junto ao substantivo cultura, sob a tica da diversidade?

2. A Cultura PopularOs debates sobre a cultura popular no Brasil apontam para a necessidade de se ter clareza sobre o que definimos por meio deste conceito, de forma a evitar polarizaes que ora a pensam como folclore, ora a definem como resduo da cultura erudita e ora apontam como resistncia dominao. Na primeira perspectiva, a cultura popular traduzida exclusivamente como um conjunto de tradies coletivas e annimas permanentemente ligadas ao passado. Quando pensada em contraponto s manifestaes eruditas, sempre definida como ingnua, desprovida de saber e conhecimento. Quando associada idia de resistncia poltica, transforma-se em construo ideolgica que se utiliza do simblico popular. Em todas essas vises o grande problema, como revela Arantes Neto (1981), a manipulao poltica e populista que dela se faz, em funo de ser sempre objeto de uma traduo das elites da sociedade e no um modo prprio de afirmar-se.34

Marilena Chau agrupa as abordagens sobre a cultura popular em dois grandes plos. O primeiro expressa uma perspectiva romntica que traduz o popular

como puro e autntico, uma cultura sem contaminao e sem contato com a cultura oficial e suscetvel de ser resgatada por um Estado novo e por uma Nao nova. (CHAU,1989, p.23). O segundo plo, habitado pela abordagem ilustrada, v a cultura como resduo morto, como museu e arquivo, como o tradicional que ser desfeito pela modernidade, sem interferir no prprio processo de modernizao. (ibidem) Para a autora, tanto os Romnticos quanto os Ilustrados pecam por considerar a cultura popular como algo fechado sobre si prprio. Quando transformada em representao genuna da nao, a cultura popular adquire o sentido de uma totalidade orgnica, o que impede de se reconhecer e compreender suas dinmicas, contradies e transformaes. Quando expresso residual de outras culturas, a cultura popular reduzida a um repertrio de fragmentos na forma de eventos e produtos. Tanto numa quanto noutra, a cultura popular aprisionada ao passado, reduzida a uma lista de expresses, que s adquire valor se expresso da tradio. Alguns pesquisadores, como a antroploga Ruth Cardoso, apontam para os cuidados que precisamos ter quando transformamos a cultura popular em expresso da cultura e da identidade nacional. Em primeiro lugar, esta noo pode nos remeter idia de cultura popular como uma realidade protegida de influncias cosmopolitas e de trocas, alm de configur-la como expresso coincidente aos seus limites espaciais, uma espcie de cultura da comunidade. Outro desafio refere-se necessidade de entendermos o que mobiliza a importncia dada Cultura Popular como expresso de uma identidade mais genuna. Ainda usando das idias da antroploga Ruth Cardoso e agregando a elas as de Jsus Martin Barbero, um pensador nascido na Espanha, mas que se estabeleceu na Colmbia, muitas vezes a ateno dada cultura popular uma espcie de invocao que legitima o poder das elites e obscurece a realidade de excluso. H aqui uma sutil operao: ao afirmar a existncia da cultura popular, consolida uma espcie de negao. Mas a que se refere o termo cultura popular? Em vez de realidade autnoma ou como parte dependente de outros modelos culturais no interior de uma sociedade, a cultura popular pode serFoto Manu Dias/ Acervo AGECOM

Tradicional ou contempornea, massivamente compartilhada ou resultado de trocas restritas, consolidada em produtos e bens materiais ou expresso imaterial de subjetividades singulares, a cultura popular melhor compreendida quando referida ao seu plural, culturas populares, ou seja, a realidades marcadas pelas diferenas que, podem revelar modelos de continuidade, ruptura e atualizao do vivido transformado em referncias, memria e identidades.

pensada como uma das formas de representao e expresso simblica que se materializa em prticas religiosas, ldicas, artsticas e artesanais, que ora emergem de contextos e reas simblicas marcadas pela tradio ora expressam respostas a experincias de sentenciamento da histria subjugao, dominao, dispora, deslocamento (BAHBHA,1998), ora so o resultado de trocas mais dinmicas e atuais. H, portanto, uma necessidade de se compreender o que h de novo nesse convite atual centralidade e importncia da cultura popular, de forma a se compreender se estamos diante apenas de uma renovao do discurso tradicional sobre a nao, ou se esse processo expressa uma nova sociedade civil e por conseqncia um novo Estado. So claras as evidncias de que o Brasil se encontra num outro momento histrico onde a cultura assumiu uma dimenso importante no projeto poltico de desenvolvimento e de construo da cidadania. Isso trouxe ao centro das polticas pblicas, sujeitos, expresses e modelos culturais antes invisveis ou objeto apenas de manipulao ideolgica. Este novo lugar da cultura no projeto poltico da nao transcende os usos meramente retricos e ideolgicos da diversidade cultural, configurando-se conforme sugere RUBIN (2007) em sua anlise sobre a cultura no Governo Lula, como resultado: de um papel ativo assumido pelo Estado; de uma perspectiva abrangente no que se refere ao tratamento da cultura tomada num sentido antropolgico e abrangendo um amplo escopo para alm do erudito, que institui novas fronteiras e fluxos: populares; afro-brasileiras; indgenas; de gnero; de orientaes sexuais; das periferias; da mdia udiovisual; das redes informticas etc; do desafio de formular e implementar democraticamente as polticas culturais, o que significa uma centralidade na participao da sociedade civil; do aumento dos oramentos pblicos para a cultura; e da busca da institucionalidade das polticas culturais por meio do debate e criao de sistemas e planos de cultura. H tambm, algo de novo no que se refere ao campo especfico da cultura popular....est em curso na sociedade brasileira, um processo de fortalecimento de determinadas formas culturais e manifestaes populares que at um perodo recente de nossa histria praticamente agonizavam, correndo o risco do total desaparecimento. Tais expresses culturais experimentam hoje uma revitalizao, um reconhecimento e uma revalorizao notveis por parte

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de setores cada vez mais amplos da sociedade, incluindo a mdia deixando perplexos at mesmo aqueles incansveis defensores da preservao de nossas tradies populares, que talvez no fossem capazes de imaginar, nem os mais otimistas, que esse passado moribundo pudesse fazer-se vigorar com tanta fora no presente. (ABIB, 2007:2)

Essa renovada presena da cultura popular na esfera pblica joga por terra as previses pessimistas de um ocaso das tradies, processo que no se efetivou na passagem dos sculos XX para o XXI da forma como crticos e pesquisadores apontavam. Revela ainda que os chamados processos contemporneos de globalizao renovaram a importncia do local e, por extenso, do tradicional e do popular. Esta renovao alm de inaugurar um novo mercado de bens culturais que produz o homogneo e valoriza o singular e especfico, aponta para um novo processo poltico de enfrentamentos entre diferentes atores sociais e seus sistemas de representao. (MELO, 2006). Ainda segundo o professor ABIB (2007:3)Contraditoriamente ao processo de homogeneizao cultural levado cabo na sociedade globalizada, percebemos a revitalizao de uma gama de manifestaes tradicionais de nossa cultura, tais como a Capoeira, o Maracatu, os Reisados, as Marujadas e Cheganas, os Blocos Afro, o Bumba-meu-boi, a Congada e o Moambique, o Frevo e a Ciranda, a Quixabeira, o Samba de Viola e o Samba-Leno, a Catira, o Tambor de Crioula e o Tambor de Mina, a Dana do Lel, o Chorinho, o Cco e a Embolada, a Burrinha, o Cacuri, a Dana de So Gonalo, os Blocos de Marcha-Rancho, o Boi-de-Mamo, o Samba-Chula e o Jongo que so apenas alguns exemplos de uma grande quantidade de ritmos e manifestaes que tm, notadamente, ocupado espaos importantes no s nas festas tradicionais determinadas pelos calendrios de cada comunidade de onde sempre fizeram parte, mas sobretudo atravs das aparies em programas de televiso, apresentaes de cunho turstico, shows para grandes pblicos, vdeodocumentrios, gravaes em CD, reportagens em revistas e jornais, ou ainda como referncia para artistas plsticos, escritores, cineastas, grupos de teatro, dana ou de msica, responsveis por importantes e interessantes movimentos culturais (o movimento Mangue-Beat no Recife, ou o movimento Samba-Raiz no Rio e em S.Paulo, por exemplo) que tm buscado nas razes da nossa cultura, o substrato de sua arte, a partir de uma re-leitura atualizada de tais manifestaes e ritmos.

A perspectiva que aqui identificamos resulta de um novo desenho poltico e cultural da sociedade brasileira, onde a presena dos atores individuais e sociais

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das culturas populares como protagonistas e sujeitos polticos inauguram a superao das prticas conservadoras at ento dominantes. No se trata mais das maneiras como as elites se reportam e se apropriam do popular, mas das diversas maneiras como este popular se localiza simblica e politicamente. Compreender este novo lugar do popular demanda o reconhecimento do carter complexo da cultura popular, e as mediaes que ocorrem entre essa e o poder hegemnico: as oposies, acomodaes, negociaes e estratgias de resistncias colocadas em prtica, na elaborao e mesmo no processo de inveno dessas tradies populares.... (ABIB,2007,p.9) O conhecimento e anlise das culturas populares no mundo atual requer ir alm da idia de que pases em desenvolvimento, dependentes e que se industrializam e urbanizam de forma expressiva, vivem sob o poder absoluto das ideologias das classes dominantes e de uma indstria cultural homognea e hegemnica. preciso evitar posies simplificadoras que estabelecem como resultado da indstria cultural, a imposio indesejada do cosmopolitismo e o desaparecimento de formas culturais populares e tradicionais. Para alm da face coercitiva e homogeneizante do mercado cultural, a sociedade brasileira contempornea se mostra complexa, decorrncia dos vrios lugares simblicos e polticos a partir dos quais expressamos nossas singularidades e dialogamos sobre nossas diferenas. Resta pensar os termos identitrio e tradicional. Para as Cincias Sociais, e mais especificamente, para a Antropologia, a questo da identidade sempre esteve relacionada a trs questes especficas: a identidade tnica, a identidade nacional e a identidade de gnero, sendo que, especialmente no Brasil, a primeira foi a que mais se desenvolveu. (DUARTE,1986A:70). Durante muito tempo, as teorias sobre a identidade apresentavam-se como teorias da no-contradio, da no-diferena, ou seja, teorias da unidade. Contemporaneamente a questo da identidade social passou a ser discutida atravs de idias da multiplicidade, da diferena e do contraste. O conceito

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O texto completo da Conveno pode ser consultado em http://portal.unesco.org/culture/es/ file_download.php/4e23e90123ccd047c3f757ea1cfbca40TEXTE+REVISE+-+Spa.pdf4

3. O Identitrio & o Tradicionalde identidade social deixa de se constituir como uma espcie de categoria de unificao e se consolida como referente a uma realidade relacional e dinmica. Identidade passa a denominar processos de identificao. O que se chama de crise de identidade deve ser entendido como produto de um processo caracterstico da sociedade moderna, uma abundncia de comunicao gerando a necessidade de busca de diferenciao. H, portanto, necessidade de se ter uma ateno especial ao termo identitrio, para que no se constitua solo frtil para o etnocentrismo, o racismo, o classe centrismo e o Estado-centrismo. (BARBU,1980). Elemento fundamental na constituio e organizao da cultura, a identidade no pode ser com ela confundida, da mesma maneira que a diversidade cultural no pode ser traduzida como um mosaico de identidades. Para que o conceito mantenha sua operatividade, a identidade, seja ela tnica ou no, deve ser compreendida como algo mais dinmico, situacional, que revela a utilizao de elementos culturais por sujeitos singulares. Decorre da a perspectiva de compreend-la como processo contnuo de construo e seleo de traos e marcas, que definem o olhar com que cada sujeito, grupo ou sociedade concebe a si prprio e ao outro, mas tambm a maneira como idealiza ser concebido e compreendido; O que fundamental, na superao de uma perspectiva essencialista e esttica, a compreenso da identidade como expresso da organizao social de um grupo ou de uma sociedade, constituindo-se como um processo de representao coletiva, resultado do prprio reconhecimento social das diferenas. Como tal, se produz, enquanto algo dinmico e processual, nas interseces entre os indivduos e seus grupos e entre estes e outros grupos considerados diferentes. A identidade expressa, alm das formas de produo de bens e das formas de organizao da vida coletiva, concepes e idias fundamentais para a conduta dos sujeitos: a viso de mundo, o sentido da vida, os projetos, construdos a partir dos saberes, dos valores, das emoes que qualificam a tudo e a todos. Da a ntima relao entre a discusso das identidades culturais e os patrimnios imateriais. A construo de identidades expressa sempre contrastes fruto das situaes de contato que se do atravs de processos de interao e de comunicao.

Foto Taiane Oliveira

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Isso produz um quadro de rica complexidade entre os limites inclusivos, quando o grupo define para si prprio a pertinncia ao seu grupo e, limites exclusivos, originados na percepo do outro sobre si. Neste processo, tanto elementos positivos quanto elementos negativos, ou estereotipados, so utilizados como mecanismos de identificao. So limites e marcas que pretendem assinalar a dimenso construda pelos homens e escolhida como privilegiada para individualizar o grupo no concerto da diversidade social. (RUBEN,1986:88). Esta contrastividade comporta sempre um componente especular, resultado do processo de atribuio de significados que definem iguais e diferentes o que faz com que cada um seja, num certo sentido, uma reconstruo, positiva ou negativa do outro. Mesmo quando no decorrente ou inauguradora de conflitos, a contrastividade faz da identidade um processo continuo de negociao de sentidos. Como um repertrio articulado e dinmico de concepes, apesar de seu carter de anterioridade ao indivduo, a identidade s se reproduz enquanto fenmeno cultural, se objeto de participao subjetiva individual. Diferentes sujeitos, pertencentes a uma mesma etnia, ou a um mesmo grupo social, vivem de maneira tambm diferente o problema da identidade: recortam, reconstroem, reforam elementos diferentes destes repertrios. Introduz-se assim a questo da diversidade no interior de um mesmo grupo identitrio. Por fim, preciso lembrar que os referenciais de tempo e de espao so centrais na experincia identitria. Utilizados para a sua construo, sua diversidade e manipulao no interior do prprio grupo social e ao processo de comunicao que estabelece com o que lhe exterior, constitui-se como um dos grandes desafios na compreenso das identidades. Os referenciais do tempo revelam como a identidade constri uma espcie de continuidade temporal designando semelhanas, definindo tradies, identificando continuidades e rupturas, tomadas como fundamentais. Nesta dimenso, como mostram Cunha (1985) e Duarte (1986B), as tradies, o passado, so sempre objeto de uma reinveno operada pelas condies do presente: Mais do que podermos dizer que o presente reflexo ampliado do passado,deveramos poder perceber que este que se ilumina dos reflexos ativos do presente. (DUARTE:1987:38). O passado tomado como um ator ideolgico que problematizado

Foto Agnaldo Novais/ Acervo AGECOM

e legitimado na atualidade, tendo como referncia a conceituao e a experincia de organizao do tempo vivido no presente. A lembrana de um outro tempo no se constri em dissociao com a experincia do tempo vivido no presente. J a dimenso da territorialidade tambm tomada, juntamente com a questo temporal, como um dos elementos cruciais no engendramento da Identidade, em cujo cruzamento, a memria se exercita (SILVA,1984). O fato de se pertencer a um determinado espao geogrfico, histrico, econmico e afetivo constitui elemento importante na construo da identidade.

4. Para TerminarEnfim, como a compreenso da semelhana e pertencimento nos convida compreenso da troca e do dilogo inter e intra identitrio. H, sem dvida, um processo de revalorizao das culturas populares e locais. No sentido regional e mundial, este processo parece se configurar como um contraponto ao processo de mundializao, entretanto o processo de revitalizao dessas tradies, no se constitui, conforme Otvio Ianni (1992), apenas no reavivamento de tradies e configuraes pretritas, mas como ...uma revelao de um novo todo, no qual as formaes singulares adquirem outros significados (p.32). Com o declnio da sociedade nacional e a emergncia da sociedade global, modificam-se as articulaes e mediaes nas quais se inserem as partes e o todo, as singularidades, particularidades e universalidades. Segundo Ianni, a verdade que, a globalizao no jamais um processo histrico-social de homogeneizao, embora sempre estejam presentes foras empenhadas na busca de tal fim; ou que buscam equalizar interesses, acomodar alianas, criar e reforar estruturas de apropriao econmica e dominao poltica. (ABIB,2007,p.9 e 10) No contexto brasileiro, a revitalizao das atenes s culturas populares expresso de um conjunto de transformaes que redefinem lugares sociais e

Pensar a realidade das culturas populares, identitrias e tradicionais, demanda, portanto, o cuidadoso trabalho de mapeamento no apenas da diversidade de formas de agenciamento simblico e material no campo das atividades artsticas e artesanais, dos folguedos e demais atividades ldicas, das prticas religiosas, da gastronomia e da sade, mas, especialmente, a maneira como tais agenciamentos dialogam com o tempo e o espao, revelando anterioridade e atualidade, o local e o universal.

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sentidos polticos. Em especial, assistimos consolidao de polticas pblicas de cultura que buscam corrigir dcadas de atitudes elitistas e exclusivas, que mantinham ausentes e invisveis sujeitos e prticas culturais.

RefernciasARANTES NETO, Antonio Augusto, O que cultura Popular, Coeleo Primeiros Passos, SP, Brasiliense, 1981 BARROS, Jos Mrcio. O rodar do moinho: notas sobre a antropologia e o conceito de cultura. Cadernos de Cincias Sociais - PUC-MG. Belo Horizonte, v. 3, n. 3, p. 5-13, abr. 1993. BARROS (org), Jos Marcio, Diversidade Cultural da proteo promoo, BH, Autntica, 2008 BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998 BERNARD, Franois de, A Conveno sobre a diversidade cultural espera para ser colocada em prtica! 4 tarefas prioritrias para a sociedade civil, texto apresentado em Seminrio promovido pela DAC/PUC Minas, em maio de 2007 CARDOSO, Ruth, Cultura Brasileira : uma noo ambigua, mimeo, s/d CHAU, Marilena Conformismo e resistncia aspectos da cultura popular no Brasil, ....., ..... 1989 DURHAN, Eunice Ribeiro. A Dinmica Cultural da Sociedade Moderna. Ensaios de Opinio, Rio de Janeiro: Ed. Inbia Ltda, p. 33-35, 1977. FEATHERSTONE, Mike. Sociedade e estado. Rio de Janeiro, Relume-Dumar, 1996

42

LARAIA, Roque de Barros, Cultura um conceito antropolgico, Rio, Jorge Zahar, 2001 Melo, Ricardo Moreno de. Tambor de machadinha: devir e descontinuidade de uma tradio musical em Quissam, Dissertao (Mestrado em Msica) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Ps-Graduao em Msica, 2006. RIBEIRO, Gustavo Lins Bichos-de-obra - fragmentao e reconstruo de identidades no sistema mundial.Trabalho apresentado no XVI Encontro Anual da ANOPCS, Caxambu, 1990 RODRIGUES, Jos Carlos. Antropologia e Comunicao: Princpios Radicais. Rio de Janeiro: Espao e Tempo., 1989 RUBIM, Antonio Albino Canelas, Polticas Culturais no Brasil: trajetria e contemporaneidade, Trabalho apresentado no III ENECULT Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicao/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil. SOARES, Luiz Eduardo - Os impasses da teoria da cultura e a precariedade da ordem social. Cadernos IFCH-Unicamp, 1984 UNESCO, Conveno para a Proteo e a Promoo da Diversidade das Expresses Culturais adotada pela Conferncia Geral da UNESCO em sua 33 sesso, 2005. VELHO, Gilberto & VIVEIROS de CASTRO, Eduardo - O conceito de cultura e o estudo de sociedades complexas. 1977, in: Artefato, ano 1, n 1. WARNIER, Jean Pierre. A mundializao da cultura. Bauru: Edusc, 2000

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44Foto Marisa Viana/ Acervo Instituto Mau

1.Artesanato

E

xpresso de modos de vida, memrias e costumes, o artesanato traz em si as marcas da identidade. Ainda que seja, na prtica, uma atividade laboral exercida com finalidade financeira, o artesanato parte intrnseca do universo da cultura popular. Os artefatos artesanais, produzidos manualmente ou por tcnicas tradicionais, so ricos em referncias cultura de um povo, e so, ainda, frutos de saberes no-oficiais e fazeres marcados pela criatividade, talento e integrao comunitria. Na Bahia, a atividade desenvolvida, sem exceo, em todos os territrios de identidade e envolve um vasto elenco de tcnicas e matrias-primas. Algumas delas so: cermica (Maragogipinho, Barra, Lenis e Cachoeira); bordado (Rio de Contas); renda de bilro (Saubara); tranado de fibra de coqueiro, banana, junco e piaava (Diogo, Massarandupi, Curralinho e Vila do Saupe); tranado de fibra de licuri (Iau e Santa Brgida) e tranado de sisal (Valente). H, ainda, a produo de artesanato indgena em municpios do semi-rido, como Glria e Rodelas, entre outros. Na zona rural de Biritinga, a artes Geronisse Luciano dos Santos, representa a associao Tecendo Amanh, criada h quatro anos. O grupo de 15 mulheres produz chapus, bolsas, esteiras, carteiras e porta-objetos com a palha de ariri (palmeira rstica comum na Bahia) e incrementa-os com aviamentos, pinturas e colagens. A maioria dessas artess aprendeu o ofcio dentro da prpria famlia.

Territrios de Identidade- Agreste de Alagoinhas / Litoral Norte - Bacia do Paramirim - Baixo Sul - Chapada Diamantina - Itaparica (BA/PE) - Itapetinga - Litoral Sul - Portal do Serto - Recncavo - Serto Produtivo - Sisal - Velho Chico

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Artesanato

ContatosAdeilson Conceio de Jesus (artesanato)R. Eugenio Venceslau dos Santos, n 157, Colina Verde Presidente Tancredo Neves Tel.: (73) 8124-8470

Ana Lcia Silva de Sena (artesanato e croch)R. do Lamaro, s/n, Centro gua Fria Tel.: (75) 8115-7454 Bairro Poeiro, 201 gua Fria Tel.: (71) 8116-9763

Ana Maria dos Santos Lopes (artesanato e tranado)

Adelmira dos Santos Oliveira (artesanato)R. Boa Esperana, s/n So Francisco do Conde Tel.: (71) 3652-1148, (71) 8276- 2548 Brejo do Burgo, n199 Glria Tel.: (75) 3656-1022

Ana Rita de Oliveira (artesanato)

Praa dos Namorados, n283, Centro Ibipitanga Tel.: (77) 3674- 2403

Afonso Feitoza (artesanato com corda de cro)

Antnio Jos Stiro do Nascimento (artesanatoindgena)

Aldeia Xucuri-Kariri, Quixab Glria

Alfina Rosa de Souza (artesanato)

R. Primeiro de Maio, s/n Nova Cana Tel .: (73) 3207- 2164, (73) 9954-6520

Arte Nativa - Associao de Artesanato e Doceiras do BaixioPraa Evaldo dos Santos, Baixio Esplanada Tel.: (75) 3413-3063, (75) 9999-5911 36 integrantes R. Castelo Branco, s/n Nova Cana Tel.: (73) 3207- 2359 aarcan.associacao@ hotmail.com 80 integrantes

Ana Cludia Neves Cruz (artesanato)R. Agenor, n04, Centro Caturama Tel.: (77) 3650-1202, (77) 9959-6962 Rio Doce, s/n, Comandatuba Una Tel.: (73) 9961-9507, (73) 3236-1806 R. das Agulhas gua Fria Tel.: (75) 8119-7679

Associao Artesanal de Nova Cana - AARCAN

Analice Maciel Rodrigues (artesanato)

Ana Lcia de Jesus Gomes (croch)

Associao Comunitria de Artesanato e Arte Popular de IrarR. Coronel Elpdio Nogueira, Centro Irar Tel.: (75) 8186-2505 [email protected] 25 integrantes

46

Associao de Cermica Nossa Senhora de FtimaBarra Tel.: (74) 8807-7780

Cludia Manuela Silva Santos (artesanato)R. Bela Vista, s/n Urandi Tel.: (77) 3456-2758, (77) 9196-7882 [email protected] Tv. Santa Rita, n52, Centro So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651- 3706

Associao de Mulheres da Barra (artesanatoe filantropia)

Dailine Borges dos Santos (artesanato)

Barra Tel.: (74) 3662-2443 Nmero de integrantes no informado

Associao dos Artesos de Saubara Casa das Rendeiras (renda de bilro)R. Francino Borges dos Reis, Rocinha Saubara Tel.: (75) 3699- 2039, (75) 8155-2240 [email protected] 20 integrantes Fazenda Curral de Fora gua Fria Tel.: (75) 3293-1111 [email protected]

Dilza Lima da Silva (artesanato)

Av. Balbino Leo de Almeida, n 39 gua Fria Tel.: (75) 8114-6260

Edimary Jesus Santana (artesanato)R. Sergipe, n20, Nova So Francisco So Francisco do Conde Telefone no informado

Augusta Ferreira da Paixo (artesanato)

Edna Santos da Trindade (artesanato)1 Travessa do Coroado, n33, Coroado So Francisco do Conde Tel.: (71) 3652- 9091 Beco da Cisterna, 2 Travessa gua Fria Tel.: (75) 8116-7055

Auretina Rodrigues de Souza Lino(artesanato)

R. Alto do Bomfim, s/n, Centro Caturama Tel.: (77) 9977-0376

Eliana Pereira Digenes da Silva (artesanato)

Balbina Pereira dos Santos (artesanato e croch)Av. Antnio Srgio Carneiro, 2 Travessa, s/n, Barra gua Fria Tel.: (75) 8186-8550

Elizabete de Carvalho (artesanato)

R. Francina Teixeira Leo, s/n, Centro Botupor Tel.: (77) 3678- 2294culinria)

Cludia Flix dos Santos (artesanato)R. Duque de Caxias, s/n, Centro Presidente Tancredo Neves Tel.: (73) 8159-9772

Elizabeth do Socorro Azevedo (artesanato eR. da Igreja, n95, Monte Recncavo So Francisco do Conde Tel.: (71) 3652- 5085, (71) 8220-3397

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201047

Artesanato

rica Lima Cordeiro (artesanato e croch)R. do Cajueiro, s/n, Poero gua Fria Tel.: (75) 3294-2077, (75) 8125-6306 [email protected]

Francisco Santos de Jesus (artesanato)R. Manoel Reis, n695, Nova Esperana Presidente Tancredo Neves Telefone no informado R. Santa Rita, n114, Centro So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651- 2612

Georgina Gomes dos Anjos (artesanato)

Gilce Lima Ribeiro (croch e fuxico)Foto Marisa Viana/ Acervo Instituto Mau

R. Adoniran Assis da Silva, n61 gua Fria Tel.: (75) 8195-1082 Comunidade Brejo da Vara Barra Telefone no informado 11 integrantes

Grupo da Cesta (artesanato em palha)

Helena Ribeiro de Lima (croch e bordado)Av. Antnio Srgio Carneiro, s/n gua Fria Telefone no informado Fazenda Curral de Fora gua Fria Tel.: (75) 3293-1111 [email protected]

Idlia da Paixo Silva (artesanato)

Ingrid de Carvalho Pereira (artesanato)1 Travessa do Campo, n12, Socorro48

So Francisco do Conde Tel.: (71) 9167-3973

Jos Humberto Correia Santos (tranado)R. do Campo, n 27, Socorro So Francisco do Conde Tel.: (71) 9911- 9318

Iraci Soares da Silva (artesanato)R. Beira Mar, s/n, Cape de Baixo So Francisco do Conde Tel.: (71) 9144-9511, (71) 8622-2643

Josenice Ferreira de Arajo Pinto (artesanato,pintura e costura)

Ivete Magalhes Freire de Oliveira(artesanato)

Av. Antnio Srgio Carneiro, s/n, Barra gua Fria Tel.: (75) 8120-6801

Av. Laurinda Cardoso, s/n, Centro Caturama Tel.: (77) 9959-5731

Jos Rodrigues Neto (artesanato e selaria)Povoado Sansait, s/n Macurer Tel.: (75) 3284-7005

Izabel Lima de Carvalho do Nascimento(artesanato)

R. Direta da Mangueira, n 25, Campinas So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651-1532

Jos Souza Leo (artesanato de redes e tarrafas)R. Alto do Bonfim, s/n, Centro Caturama Tel.: (77) 3650-1122

Joana Ramos dos Santos (croch e tranado)R. Adoniran Assis da Silva, s/n gua Fria Tel.: (75) 8170-9148mosaico e papel mach)

Josina Souza Araujo Lima (artesanato)Av. Sete de Setembro, Centro Presidente Tancredo Neves Tel.: (73) 8164-1318

Joo de Deus Batista (cermica, tranado,R. da Braslia, n 04, Monte Recncavo So Francisco do Conde Tel: (71) 8286-4949, (71) 9167-7351

Jozinalva Pereira do Nascimento Lima(artesanato em palha, jornais e tecido)

R. da Entrada, s/n, Povoado Quixaba Glria Tel.: (75) 9166-3048

Jos Cardoso Nogueira (artesanato)Av. Elsio Santana, 119 Irar Tel.: (75) 3247-2716

Jlia Fonseca de Jesus (tranado e artesanatode palha)

Josedlia Souza (artesanato e costura)Tv. Miguel Fernandes, n 190, Centro Cacul Tel: (77) 8108-2683

Fazenda Baixa da Mina gua Fria Tel.: (75) 8126-1034

Juvenildes Meneses (artesanato)R. Beira Rio, 44, Centro49

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Artesanato

Mascote Tel.: (73) 3625-2116e culinria)

Andara Tel.: (75) 8125-1169 [email protected]

Karla de Alcntara Santana (artesanato, costuraR. da Ladeira, n 77, Socorro So Francisco do Conde Tel.: (71) 3652- 2048, (71) 9217- 2664

Maria da Conceio Purificao do Nascimento (artesanato e costura)

R. Monte Recncavo, n 33, Monte Recncavo So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651-5240e bordado ponto cruz)

Leandra Maria dos Santos Santana(artesanato)

Maria de Ftima Oliveira de Melo (artesanatoAgrovila Jusante, 06 Glria Tel.: (75) 9130- 4136

R. Drena I, n 48 C, So Bento So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651- 3058

Leda Maria da Cruz (artesanato em couro)

Al. Plnio Mariani Guerreiro, n 1510, Vermelho Barra Tel.: (74) 3662-2282, (74) 9994-1453

Maria do Carmo Conceio de Jesus(artesanato)

Lidiana Santana Cordeiro (artesanato)Centro So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651- 1634, (71) 8787- 1462 [email protected]

R. Manoel do Amaral, n 74, Centro So Francisco do Conde Tel.: (71) 8194-0095

Maria Lcia Arcanjo (artesanato e costura)

Lindinalva dos Santos (croch e pintura)

R. Juvenal Heugnio de Queiroz, n 127, Baixa Fria So Francisco do Conde Tel.: (71) 8144-0115

R. Antnio Santana Portugal, n 61, Nova So Francisco So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651-2134, (71) 8851-6173palha)

Maria Raimunda de Freitas Ramos(artesanato)

Lourdes Maria de Jesus (tranado, artesanato deFazenda Baixa da Mina gua Fria Tel.: (75) 8117-1271

Praa Dezenove de Julho, Centro Mascote Tel. : (73) 3625-2077, (73) 9135-2384 [email protected]

Maria Regina Maciel de Matos (artesanato)Fazenda Curral de Fora gua Fria Tel.: (75) 3293-1111 [email protected]

costura) 50

Lus Ronaldo Silva (cermica, marchetaria eR. Dr. Timteo Maciel, 22, Sossego

Maria Stiro do Nascimento (artesanato indgena)Aldeia Xucuri- Kariri, Quixab Glria Tel.: (75) 9111-8450 [email protected]

Marilcia Soares do Nascimento (artesanato)Av. Antnio Carlos Magalhes, s/n Itacar Tel .: (73) 9928-9907 Fazenda Baixa Da Mina gua Fria Tel.: (75) 8151-1440Foto cedida pelas Manifestaes Culturais de Cariranha

Marlene Vieira Freitas (tranado)

Miraci Alves dos Santos Teixeira (croch ebordado ponto cruz)

Av. Antnio Carneiro, s/n gua Fria Tel.: (75) 3294-2219

Natlia Jesus de Souza (artesanato)

R. do Asfalto, n 148 A, Cape de Baixo So Francisco do Conde Tel.: (71) 9969- 4079

Nelma Carneiro Arajo (artesanato)Praa Pedro Carvalho, s/n gua Fria Tel.: (75) 3293-116 [email protected]

Neuza Maria Neves Cardoso (artesanato)Praa da Matriz, s/n, Centro Caturama Tel.: (77) 3650-1139

Oficina Artesanal Mos de Fada (artesanato)Quadra 01, Lote 10, R. Dirceu Gomes Fonseca, Centro51

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Artesanato

Rodelas Tel.: (75) 3285- 2356, (75) 8805-3502 [email protected] 22 integrantes

Paulo Augusto Moscoso Vieira (artesanato)Praa da Bandeira, 35, Centro Andara Tel.: (75) 8176-4011, (75) 3339-2416

Pedrina Maria de Souza Silva (cermica)Povoado Riacho dos Caldeires, s/n Macurer Tel.: (75) 9801-7242

Rafael da Silva Gil (artesanato)R. Alto da Rodovirio, s/n Caturama Tel.: (77) 3650-1122

Ronaldo de Oliveira Machado (artesanato)R. Jovino Alves, n 44 Urandi Tel.: (77) 3456-2327, (77) 9115-4721 [email protected] Brejo do Burgo, s/n Glria Tel.: (75) 3686-1033piaava)Foto Taiane Oliveira

Ronival Aranjo Moreira (artesanato)

Roque Santiago da Silva (artesanato comR. Guedes Lima, s/n Urandi Tel.:(77) 9196-7882

Roseane de Oliveira Silva (artesanato)Av. Beira Mar, n 35, Cape de Baixo So Francisco do Conde

52

Tel.: (71) 3604- 7582, (71) 8202- 0973 [email protected]

Tomzia de Aquino dos Reis Santos(artesanato)

Salustiano Souza da Silva (artesanato)R. Timoto Maciel, s/n, Centro Andara Telefone no informado

Fazenda Curral de Fora gua Fria Tel.: (75) 3293-1111 [email protected]

Silvnia Santos da Cruz (artesanato)

Valdivino Francisco Pinto (artesanato em palha)Comunidade Brejo de Vara, s/n Barraem porcelana)

R. Luiz Viana Filho, n 29, Centro So Francisco do Conde Tel.: (71) 3651-3003, (71) 3651-1964, (71) 82083324

Veneide Santos Maerctsch (cermica e pinturaComunidade do Campo Seco Itacar Tel.: (73)9935-0144

Silvia Clotilde Lima Guimares (artesanato)Av. Paraguau, 51, Barricas Andara Tel.: (75) 8122- 3384 silvia. [email protected])

Vera Lcia Almeida Mendes dos Reis (croch)R. Jos Miranda dos Reis, s/n gua Fria Tel.: (75) 8135-4066

Simone Cardoso dos Santos (artesanato eTv. Moreira Rgo, 20 Irar Tel.: (75) 8142-7781

Vital Jesus dos Santos (artesanato)R. Tv. Maria Quitria, s/n, Japo Presidente Tancredo Neves Tel.: (73) 8159-9849

Solange Chaves Reis Sena (artesanato)R. Santos Dumond, 113 Nova Cana Tel.: (73) 8802-9601

Ygor de Jesus Oliveira (artesanato)R. Manoel Reis, s/n, Nova Esperana Presidente Tancredo Neves Telefone no informado

Tecendo Amanh (artesanato)Povoado de Vila Nova, s/n Biritinga Tel: (75) 9166-0867 [email protected] 15 integrantes

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201053

2.Bacamarteiros

54

Foto Acervo IRDEB

eza a lenda que os bacamarteiros tm a misso de acordar Santo Antonio, So Joo e So Pedro quando saem s ruas no incio de junho. O folguedo, tpico do agreste, recria o perodo final da Guerra do Paraguai (1864-1870), na qual lutaram soldados nordestinos e o Brasil saiu-se vencedor. Na tradio, o batalho ou a tropa disputa o tiro mais alto dado pelos bacamartes (armas de cano curto e largo com munio de plvora, tambm chamadas de granadeiras), em um ritual de muito barulho. O grupo subordinado a um sargento, e uma banda de pfanos ou um trio de forr se encarrega da msica. Os soldados vestem roupas azuis, chapus de couro, botas e cartucheiras em aluso ao Cangao. Na Bahia, o auto encenado na zona rural de Santa Brgida e os bacamartes guerreiam por fogueiras e pelas palmas de tiro mais impactante. O folguedo coordenado pelo Sr. Sebastio Pedro e se iniciou na dcada de 1950 em comemorao construo da Igreja de So Pedro, inaugurada pelo beato Pedro Batista, famoso lder espiritual que percorreu o Nordeste na poca.

R

Territrios de Identidade- Semi-rido Nordeste II

ContatoGrupo Bacamarteiros (bacamarte e bandade pfanos)

Km 42 Santa Brgida 28 integrantes Telefone no informado

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201055

56Foto cedida pelo Grupo Baqnda de Pfanos Pau-Ferro

3.Banda de Pfanos

A

banda de pfanos um conjunto instrumental caracterstico do Nordeste e conhecida, tambm, como carapeba, terno de pfanos, cabaal ou esquenta mui termos que variam conforme a regio ou estado. So representadas nas artes figurativas tpicas e nas xilogravuras dos cordis. Os pfanos, pfaros ou pifes brasileiros constituem uma adaptao nativa das flautas populares europeias e so feitos de bambu. Os integrantes de uma banda de pfano costumam animar bailes rurais, feiras, festas juninas, eventos religiosos e chegam a acompanhar enterros de crianas. Muitas vezes, deslocam-se a p em longas caminhadas para se apresentar em cidades vizinhas. A sonoridade nica da banda deve-se sua formao instrumental. A mais comum utiliza dois pfanos, zabumba, prato e caixa (caixa de guerra ou tarol). Nas bandas mais autnticas nenhum instrumento encarrega-se da harmonia, permanecendo apenas a melodia e o ritmo. Ocorre tambm a formao tpica do forr p-de-serra: pfano em substituio ao tringulo, sanfona e zabumba. Normalmente, os msicos passam a tradio dentro da prpria famlia. Na Bahia, os membros da Banda de Pfanos do Pau-Ferro, do povoado de mesmo nome, em Jacobina, compem, criam melodias, tocam, cantam e confeccionam, de forma artesanal, seus prprios instrumentos. A banda tem como mestre o Sr. Benedito Mangabeira da Silva, que aprendeu a tocar com o pai e incentiva as crianas a se envolverem com a tradio. Em Abar, a Banda de Pfano, liderado pelo Sr. Joo Francisco Barbalho, de 63 anos, se apresenta na trezena de Santo Antonio e na festa de Nossa Senhora do Perptuo Socorro, padroeira da fazenda onde reside. Trs dos seus quatro componentes so da mesma famlia.

Territrios de Identidade- Chapada Diamantina - Itaparica (BA/PE) - Piemonte da Diamantina

ContatosMestre Benedito Mangabeira da Silva Banda de Pfanos de Pau-FerroPau-Ferro, s/n Jacobina Tel.: (74) 9116- 3538 [email protected] 12 integrantes

Banda de Pfano

Fazenda Ic, s/n Abar Tel.: (87) 9102-5609 (recado) 04 integrantes

Banda de Pfano da Lagoa da Boa VistaR. Lagoa da Boa Vista, s/n Seabra Tel.: (75) 3362-9001, (75) 9929-6356 10 integrantes

Banda de Pfanos Grupo da UnioR. do Contorno, s/n, Contornolndia Serrolndia Telefone no informado 07 integrantes

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201057

58Foto Maria Rita Machado dos Santos/ Acervo Particular

4.Barca & Barquinha

A

Barquinha uma manifestao tpica da zona costeira da Bahia. Fundada em 1910, em Cairu, A Barca, do Mestre Benedito Palma Ch, consiste em uma embarcao instalada sobre rodas puxada por homens vestidos de marujos, que desfilam aps a Festa de reis dia 08 de janeiro. Ao som de msicas prprias, a tradio conduzida por um comandante com auxlio de oficiais e suboficiais. O agrupamento representa a Marinha de Portugal. H a participao de crianas que interpretam personagens bblicas femininas e cantam em pontos pr-determinados do trajeto. O cortejo, considerado uma variao da chegana, finalizado com pedidos aos moradores para que doem contribuies, alimentos e bebidas. Em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, a barquinha que leva o nome do local realizada por famlias de pescadores e marisqueiras. De origem incerta, a tradio, associada ao candombl, acontece com o intuito de agradecer ao orix Yemanj pelo bom ano que passou. As oferendas entidade so recolhidas na noite de 31 de dezembro e, nesta mesma ocasio, atiradas ao mar. A tradio foi resgatada pela Sra. Maria Rita Machado dos Santos, conhecida como Rita da Barquinha, h trinta anos. No cortejo, Maria Rita leva uma barca na cabea de aproximadamente sete quilos, usa roupas tpicas de baiana e executa uma coreografia que imita o movimento das mars. Ao seu lado, danam outras baianas da comunidade. Os gneros musicais tpicos da tradio so samba de roda, samba-chula e msica afro. Alm da ltima noite do ano, a Barquinha tambm faz a oferenda no dia 02 de fevereiro (Dia de Yemanj e Bom Jesus dos Pobres).

Territrios de Identidade- Baixo Sul - Recncavo

ContatosMestre Benedito Palma Che (barquinha)R. Benjamin Constant, s/n, Rua do Fogo Cairu Tel.: (75) 3653-2161 42 integrantes

Rita da Barquinha - Barquinha de Bom Jesus dos Pobres (barquinha e samba de roda)R. Duque de Caxias, s/n, Bom Jesus dos Pobres Saubara Tel.: (75) 3699-2039, (71) 9991-1201 20 integrantes

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201059

5.Benzedura, Cura Parto & Reza

60

Foto Acervo IRDEB

omuns no interior da Bahia, os saberes populares benzedura, cura, parto e reza so conhecimentos espontneos, normalmente transmitidos dentro de um ncleo familiar ou religioso, que fogem s prticas embasadas na cincia. Ainda na Bahia, so, muitas vezes, exercidas por mulheres adultas, pais e mes-de-santo ou adeptos do candombl e umbanda, geralmente, sem formao acadmica. De cunho mgico, a benzedura ou reza costuma envolver elementos como devoo, concentrao e orao dirigidas a um santo ou entidade a qual se suplica ajuda. So praticadas com o objetivo de afastar mauolhado, doenas ou sanar problemas de diferentes ordens. Alm de pessoas, objetos, casas, lavouras e animais tambm podem ser rezados, o que feito com ramos de folhas verdes, gestos e um rosrio este ltimo utilizado tambm pelas parteiras. A cura, historicamente ligada s atividades do sacerdcio, pode envolver a prescrio de receitas base de plantas medicinais (chs, garrafadas, cataplasmas e unguentos), simpatias, dietas especiais, terapias rsticas (vomitrios, sangrias e suadouros) e tratamentos caseiros base de produtos naturais (aplicao de barro, gua e fogo) ou, at mesmo, excrementos (urina, saliva e fezes). Nessas tradies, a aquisio de conhecimento se d por via oral e observao ou, ainda, sonhos e intuio. No trabalho das parteiras, podem estar envolvidos, da mesma forma, oraes, simpatias, cantos de conforto, fitoterapia e orientaes mdicas sobre cuidados com o beb. Em Feira de Santana, a benzedeira Maria Cerqueira de Jesus, de 68 anos, aprendeu o ofcio com o pai quando criana, e outros membros da famlia tambm benziam. Maria no cobra pela atividade e entre suas prticas esto rezar em local reservado e evitar a benzedura em determinados horrios. Em Macurur, na Aldeia da Jurema, a curandeira Alexandrina Maria dos Santos, de 54 anos, prescreve remdios caseiros, como xaropes de ervas e banhos de folha. Ela presta, durante o ano inteiro, atendimento espiritual no terreiro dedicado ao culto da entidade Jurema.

C

Territrios de Identidade- Bacia do Paramirim - Baixo Sul - Chapada Diamantina - Itaparica (BA/PE) - Litoral Sul - Oeste Baiano - Portal do Serto - Recncavo - Serto Produtivo - Vale do Jiquiri - Velho Chico

Catlogo Culturas Populares & Identitrias da Bahia 201061

Benzedura, Cura, Parto & Reza

ContatosAntnio Bezerra Lima (benzedura)Glria Tel.: (75) 9152-8389

Irene Rodrigues Guimares (parto e benzedura)Av. Adlia Ganem Souto, 447, Ibirapitanga Andara Telefone no informado

Isabel Soares Santos (benzedura)Fazenda Barra da Jurema, s/n Urandi Telefone no informado

urea Maria de Jesus (parto e benzedura)R. Dr. Luiz Gonzaga, Centro Andara Tel.: (75) 3335-5006 R. So Jos, s/n, Muribeca So Francisco do Conde Telefone no informado

Jerolinda Pereira dos Santos (parto e mestra gri)Comunidade Quilombola do Rio das Rs R. Doutor Dermeval Almeida, n 178, So Gotardo Bom Jesus da Lapa Tel.: (71) 8859-7890, (77) 8821-9003 [email protected]

Berenice M