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879 Categoria Trabalho Acadêmico / Artigo Completo Eixo Temático Expansão e Produção Rural X Sustentabilidade ÉTICA, ALIMENTAÇÃO E MEIO AMBIENTE WESLEY FELIPE DE OLIVEIRA 1 RESUMO: Este artigo tem por objetivo trazer algumas reflexões éticas acerca dos impactos ambientais do hábito humano de explorar animais com o objetivo de usá-los na alimentação. Esta análise se condicionará através do princípio do utilitarismo consequencialista, segundo o qual, havendo alternativas de escolhas nas tomadas de decisões, o correto é optar por aquela que, dentro das informações de que dispomos, proporcionam melhores conseqüências. Assim, no que diz respeito à alimentação, que pode ser considerada uma das principais e mais necessárias atividades humanas e que possui inevitavelmente impactos ambientais, deve-se analisar, segundo este princípio, qual das práticas alimentares conduz a melhores conseqüências para o maior número de pessoas, animais e meio ambiente a vegetariana ou a “carnívora”. A partir destas reflexões se analisará o princípio da responsabilidade ética frente às decisões tomadas. Palavras-chave: ética, meio ambiente, fome. 1 Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Unioeste Campus de Toledo PR. Pós Graduando do Curso de Filosofia, Educação e Existência: a contribuição da Filosofia Clínica para a Educação, pelo ITECNE Cascavel PR. Professor de Filosofia pela Rede Estadual de Educação do Paraná e de Filosofia da Educação pela Uniguaçu/Faesi. E-mail: [email protected]

Categoria Trabalho Acadêmico / Artigo Completo · Os custos gerados pela criação de animais confinados de modo intensivo, principalmente suínos e aves, ou do modo pastoril, como

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Categoria

Trabalho Acadêmico / Artigo Completo

Eixo Temático – Expansão e Produção Rural X Sustentabilidade

ÉTICA, ALIMENTAÇÃO E MEIO AMBIENTE

WESLEY FELIPE DE OLIVEIRA1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo trazer algumas reflexões éticas acerca dos

impactos ambientais do hábito humano de explorar animais com o objetivo de usá-los na

alimentação. Esta análise se condicionará através do princípio do utilitarismo

consequencialista, segundo o qual, havendo alternativas de escolhas nas tomadas de

decisões, o correto é optar por aquela que, dentro das informações de que dispomos,

proporcionam melhores conseqüências. Assim, no que diz respeito à alimentação, que

pode ser considerada uma das principais e mais necessárias atividades humanas e que

possui inevitavelmente impactos ambientais, deve-se analisar, segundo este princípio,

qual das práticas alimentares conduz a melhores conseqüências para o maior número de

pessoas, animais e meio ambiente – a vegetariana ou a “carnívora”. A partir destas

reflexões se analisará o princípio da responsabilidade ética frente às decisões tomadas.

Palavras-chave: ética, meio ambiente, fome.

1 Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Unioeste – Campus de Toledo – PR. Pós Graduando do Curso de

Filosofia, Educação e Existência: a contribuição da Filosofia Clínica para a Educação, pelo ITECNE – Cascavel – PR. Professor de Filosofia pela Rede Estadual de Educação do Paraná e de Filosofia da Educação pela Uniguaçu/Faesi. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO:

Não se costuma pensar que os hábitos sejam uma questão ética e filosófica.

Geralmente, o assunto é tratado pela nutrição, biologia, ciências sociais, políticas e

econômicas. Tais ciências visam refletir sobre ações política imediatas para se resolver

problemas relacionados ao meio ambiente ou à fome. Mas, pensar a alimentação a partir

da perspectiva filosofia é pensá-la em vista dos princípios que fundamentam as tomadas

de decisões, o que encaminha as reflexões a partir de uma perspectiva sistêmica,

tratando então as inter-relações com as demais questões que estão intrinsecamente

envolvidas, como por exemplo, o meio ambiente e também os animais.

Este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexões éticas acerca da

alimentação. Aqui serão tratadas mais especificadamente as conseqüências sobre o meio

ambiente do hábito humano de se criar animais para o consumo. Para isto, será

primeiramente exposta a concepção ética do utilitarismo consequencialista, segundo o

qual, havendo alternativas de escolhas nas tomadas de decisões, correto é optar por

aquela que ocasiona melhores conseqüências. A partir da exposição desta linha filosófica

se buscará refletir os problemas concretos da alimentação sob a perspectiva do

utilitarismo, analisando então o hábito alimentar centrado em produtos de origem animal

em comparação com o hábito alimentar vegetariano, buscando expor qual destas duas

possibilidades de escolha geram melhores conseqüências para os vários aspectos que

envolvem a alimentação. Neste artigo trataremos, mais precisamente, do aspecto

ambiental e da fome mundial, não adentrando na discussão acerca da questão do

sofrimento causados nos animais não-humanos. Frente a estas questões analisaremos a

responsabilidade ética diante das decisões adotadas, uma vez que o enfoque deste artigo

são as escolhas pessoais de cada indivíduo e principalmente suas conseqüências sobre

os outros. Uma vez que nossas ações interferem na vida dos outros, elas devem ser

revistas do ponto de vista ético, e sendo a alimentação uma ação praticada amplamente,

em conjunto, suas conseqüências acabam por tomar perspectivas igualmente amplas.

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1 A ÉTICA UTILITARISTA

Antes de adentrarmos mais precisamente nas questões que serão refletidas neste

artigo, faz-se necessário, primeiramente, que tenhamos uma conceitualização do que vêm

a ser a ética e a moral, para assim compreendermos em que sentido as escolhas dos

hábitos alimentares devem ser considerados uma questão ética.

Embora atualmente estes dois conceitos sejam usados como sinônimos existem

algumas diferenças importantes que devem ser compreendidas. O termo moral, como

apresenta Darlei Dall´Agnol, em seu livro Bioética, pode ser compreendido como “o

conjunto de costumes, modos de ser, regras, etc., que efetivamente guiam o

comportamento humano em busca do bem” (DALL´AGNOL, 2004, p. 16). Já a ética pode

ser definida como uma “reflexão filosófica sobre a moralidade” e que busca apresentar

uma “justificação de nossas crenças morais” (DALL´AGNOL, 2004, p. 16). Isto significa

que a ética é uma atividade que visa refletir e apresentar justificativas para sustentar

determinadas práticas, costumes, tradições, modos de ser através dos quais as pessoas

orientam suas escolhas e ações na vida em sociedade, por meio de um método que se

configura mais precisamente pela interrogação crítica e no decurso da argumentação.

Assim, a ética se caracteriza através da seguinte pergunta: “como devo agir?”. Isto faz

com que tal atividade esteja sempre refletindo sobre determinadas ações tradicionalmente

praticadas e que com o tempo acabam por se apresentar como algo natural e inevitável.

Além disto, a ética propõe a introdução de novos princípios morais a fim de buscar e

justificar um melhor modo de agir e viver bem.

Nas últimas décadas se desenvolveu, principalmente, nos países de língua inglesa,

a Ética Prática, ou também conhecida como Ética Aplicada. Sua preocupação é,

basicamente, com a “conduta humana e suas conseqüências” (DALL´AGNOL, 2004, p.

22), envolvendo questões referentes à vida e à morte tanto de humanos quanto de não-

humanos, assim como questões ambientais. A noção de ética, como observa o filósofo

australiano Peter Singer, em seu livro Ética Prática, traz sempre consigo a noção de algo

maior, isto é, na defesa e justificação de determinada ação, o sujeito moral não deve visar

apenas o seu interesse, mas também os interesses de todos aqueles que serão afetados

direta ou indiretamente pelas conseqüências de determinada ação praticada. A ética é,

882

portanto, essa reflexão que visa guiar uma ação incluindo os outros e os levando em

consideração nas tomadas de decisões, não ignorando as conseqüências que podem vir

a sofrem com determinadas escolhas. Deste modo, a responsabilidade com as futuras

gerações se inclui nas discussões éticas em virtude das conseqüências que as futuras

gerações irão sofrer. Sendo o aspecto ambiental de fundamental importância para garantir

uma qualidade de vida, isto exige, portanto, escolhas e práticas de vida ecologicamente

sustentáveis pela sociedade presente a fim de garantir uma qualidade de vida no futuro.

Estas concepções trazidas atualmente pela Ética Prática possuem um significativo

fundamento a partir da corrente filosófica conhecida como Utilitarismo. O utilitarismo

clássico, desenvolvido pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham, define que as

questões morais devem ser analisadas pelas suas conseqüências. A melhor ação é

aquela que promete produzir melhores conseqüências. Deste modo, elas devem ser

comparadas entre si a fim de determinar que conduta possa ser mais adequadamente

adotada, levando-se em consideração a ação que produza o máximo de felicidade para o

maior número de pessoas, uma vez que a felicidade é o fim último que se visa atingir com

uma ação.

Este é o caráter interpessoal trazido pelo utilitarismo, ou seja, de extrapolação dos

próprios interesses do Agente Moral ao escolher uma ação, visando agir de modo que as

conseqüências da ação tragam mais benefícios não apenas para si, mas também para os

outros, o que faz do utilitarismo a corrente ética mais social, abrangente e inclusiva,

características fundamentais em uma ética ambiental.

As questões alimentares ganharam ênfase na filosofia moral, mais precisamente no

início da década de 70, quando se presenciou o advento da criação intensiva de animais

para o consumo, o que levou muitos filósofos, biólogos e ambientalistas, a questionarem

tanto o sofrimento infringido aos animais nas modernas indústrias da carne, como

também os grandiosos impactos ambientais advindos de tal prática, juntamente com o

desperdício de alimentos e a baixa quantidade de alimento de origem animal produzido se

comparado então com uma dieta vegetariana, cujas informações cada vez mais vêm

apontando para um impacto ambiental consideravelmente menor e com uma produção

maior de uma diversidade de alimentos. Frente a tudo isto, o filósofo americano John

Lawrence Hill observa em seu livro The Case of Vegetarianism: A Diet for Small Planet,

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“the lives of future generations also will be intimately affected by our present decisions

concerning our diet” (HILL, 1996, p 103). Assim, uma reflexão ética acerca dos costumes

alimentares se faz necessário tendo em vista uma análise acerca das conseqüências

destes hábitos sobre o meio ambiente, e também sobre a vida de outros seres humanos e

também dos animais.

Partindo, portanto, deste princípio utilitarista consequencialista, analisaremos então

as conseqüências ou implicações do tradicional hábito de criar e matar animais para usá-

los como alimentos, em comparação com as conseqüências da escolha de uma dieta

vegetariana.

2 A CARNE E SEUS EFEITOS COLATERAIS

Podemos considerar que um “efeito colateral” é uma conseqüência indesejável e

prejudicial que se deriva de uma ação. Muitas vezes o efeito colateral, por ruim e

indesejável que seja, pode ser suportável em vista dos benefícios que ainda assim ele

pode originar. Por outro lado, o efeito colateral de uma ação pode ser tão ruim, que a

ação que o motivou deve ser deixada de ser praticada, uma vez que não compensará

todas as conseqüências dos efeitos colaterais prejudiciais que se deriva.

No seu artigo Princípios Para Uma Justiça Global, a filósofa Sônia T. Felipe

designa como os “efeitos colaterais” da produção e consumo de carne, todos os custos

ambientais e sociais que em sua maioria são praticamente ignorados pelos consumidores

de produtos de origem animal. Tais efeitos podem ser resumidos como sendo os custos

com a ”água, alimento, medicamentos, salários, encargos sociais, devastação do ar e do

solo, das florestas, das águas de superfície e subterrâneas, de equipamentos, energia

elétrica, combustível para o transporte de todas as etapas de produção” (SÔNIA, 2003b,

p. 1). Os principais efeitos advindos dos processos de criação, engorda e abate de

animais para o consumo humano, por serem um “sub-produto indesejável” pelos

consumidores e que não podem ser aproveitados de um modo efetivo por serem de uma

natureza escatológica, em sua maioria tem como destino final o seu despejo na natureza,

no solo e nas águas, uma vez que ninguém quer assumir a responsabilidade acerca

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destes sub-produtos e levá-los para os jardim de suas casas ou tê-los próximos de si no

momento de suas refeições.

Os custos gerados pela criação de animais confinados de modo intensivo,

principalmente suínos e aves, ou do modo pastoril, como o gado no pasto, incluem

também, desde as toneladas de grãos como soja, milho e trigo destinados à sua

alimentação, assim como os custos de devastação ambiental provenientes dos despejos

no meio ambiente de medicamentos, bactericidas, vacinas, hormônios e outros fármacos

através das urinas e fezes que inevitavelmente atingem os lençóis freáticos contaminando

a água, e também a devastação das florestas e a perda da diversidade biológica,

destruição do solo e poluição do ar principalmente com o metano. Todos estes custos,

além de não estarem calculados no preço final pago pelos consumidores, preço este que

será pago pelas futuras gerações, poderiam ser em sua maioria evitados, ou senão,

largamente minimizados, caso a população fosse incentivada por políticas publicas

ambientais a adotar uma dieta vegetariana, que por sua vez não exige a realização de

grande parte destes aspectos da cadeia produtiva que envolvem a produção de carnes e

dos diversos produtos de origem animal.

Analisemos mas detalhadamente algumas destas conseqüências:

2.1 Água

A água é o recurso natural mais escasso. Ao ser retirada dos reservatórios em uma

quantidade maior do que a água reposta, esta não renovação se transforma em um sério

problema de escassez. A criação de diversas espécies de animais para o consumo

humano tem se apresentado como a principal atividade responsável por este uso

excessivo dos recursos hídricos. Entre a principal criação mais consumidora de água,

destaca-se a carcinicultura (criação de camarões em cativeiro) cuja demanda é de 50 a

60 mil litros de água por quilo produzido. Mas outras espécies de animais consumidas

diariamente também exercem grandes demandas de água. Segundo o Relatório da

Unesco para o Fórum Mundial da Água, realizado em 2004, levando em consideração

todo o ciclo de produção da carne, são necessários mais de 15 mil litros de água para

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produzir apenas um quilo de carne bovina. O consumo diário de um animal de grande

porte, como uma vaca leiteira é de 90 litros de água. O suíno, por sua vez, consome

aproximadamente 15 litros de água por dia. Isto tem feito com que no Brasil, a

agropecuária seja responsável por 69% da demanda de água (BRUGGER, 2007, p. 3),

isto porque, tal prática exige o uso constante deste recurso natural nas várias etapas do

seu ciclo de produção de carne, desde a engorda, a irrigação de grãos para a alimentação

de animais, seu consumo diário, e até mesmo o momento do abate.

Em contrapartida, a demanda de água exigida pela produção de um quilo de soja é

de pouco mais de 1000 litros. Para se produzir 1Kg de feijão, consome-se em média 195

litros de água. A quantidade de água utilizada na produção de 1kg de carne gasta 12

vezes mais água para produzir 1kg de pão, 64 vezes mais do que um 1kg de batata. Por

estes motivos, como bem observa Singer, “do ponto de vista da conservação, a carne

bovina não é uma boa opção”(SINGER, 2007, p. 257). Já a carne de frango por sua vez e

também abundantemente consumida, utiliza 20% mais de água por quilo de soja ou arroz

produzido (SINGER, 2007, p. 257).

Considerando estes dados referentes ao uso da água no processo de produção de

carnes, em comparação com o uso para a produção de grãos, devemos ainda levar em

conta o fato de que atualmente no mundo cerca de 1 bilhão de pessoas não tem acesso à

água potável. No Brasil, este número é de mais de 45 milhões de pessoas. Enquanto que

uma parte significativa da população mundial não tem acesso a este bem básico para a

sobrevivência e para uma sadia qualidade de vida, apenas no ano de 2003, a quantidade

de animais abatidos em todo o mundo foi superior a 50 bilhões. Isto significa que estes 50

bilhões de animais das mais diversas espécies (excluindo os peixes e crustáceos cuja

quantidade é praticamente incalculável) foram criados consumindo uma significativa

quantidade de água potável, excedendo o próprio consumo humano, além de terem sido

alimentados, nutridos e engordados por meio da ingestão de grãos de alto valor nutritivo,

ou no caso do gado, em pastagens abertas que exigem a derrubada de florestas,

destruindo o solo e minimizando toda a biodiversidade existente nestas áreas.

Conforme aponta o doutor em Gestão Ambiental da UNB, Demétrios Christófodis,

em seu artigo Água, Ética, Segurança Alimentar e Sustentabilidade Ambiental,

886

atualmente, a prioridade das nações em superar práticas insustentáveis é estar atuando

através de duas maneiras:

“[...] uma, produzindo mais alimentos, outra, introduzindo novos modelos alimentares, menos exigentes em água e, ao mesmo tempo (...) se considerem alimentos que reduzam os avanços sobre as bases de sustentabilidade da vida representada pelos ecossistemas” (CHRISTÓFODIS, 2003, p. 377).

Neste sentido, a dieta vegetariana corresponde com esta necessidade de se

produzir mais alimentos utilizando menos os recursos naturais, principalmente a água.

Além da grande quantidade de água utilizada na produção de carnes, não devemos nos

esquecer da poluição que a criação de animais faz com a água que não é diretamente

utilizada, como veremos mais adiante.

2.2 Alimentação Animal: Grãos e Pastagens

2.3

Para que animais sejam engordados é necessário naturalmente que sejam

alimentados. Mas, sobre como e com o que estes animais são alimentados muitas vezes

não é tão evidente. No que diz respeito a animais em confinamento, principalmente

suínos e aves, isto se dá principalmente através do uso de água e “rações” ou para

sermos mais específicos, sua engorda é feita com a utilização de alimentos de alto valor

nutritivo, como trigo, soja e milho basicamente. Em caso de animais criados de modo “in

natura”, ou seja, em pastagens, exige-se conseqüentemente a derrubada da floresta para

abrir espaço então para o capim.

O filósofo Peter Singer, em seu livro A Ética da Alimentação, observa que de modo

geral, as pessoas têm a noção de que “a produção industrial de animais em cativeiro é

necessária para alimentar a população crescente do planeta. A verdade, entretanto, é o

oposto” (SINGER, 2007, p. 251). As evidências para tal conclusão, já conhecida e

enunciada desde a metade da década de 70, se devem ao fato de que a criação de

animais à base de grãos é um dos maiores desperdícios de alimentos feito diariamente

pela humanidade. “Longe de aumentar a quantidade total de alimentos disponível para o

887

consumo humano, o alimento está de fato sendo reduzido” (SINGER, 2007, p. 251) em

função da produção de carne e outros produtos de origem animal. Como observou uma

das principais estudiosas da questão da fome mundial, e criadora do Food First Institute,

Frances Moore Lappé, o que mais motivou tal prática de engordar animais utilizando

grãos, foi o fato de o preço do custo da água sempre ter sido baixo, (LAPPÉ, 1985, p.

105), tendo, portanto, seu uso baseado no seu baixo preço e não na sua escassez,

incentivando assim a produção de grãos para alimentar animais.

Deste modo, com o constante crescimento da criação de animais para o consumo,

conseqüentemente se necessitou que enormes quantidades de grãos fossem destinados

para a alimentação animal. O que torna este método de criação ainda mais ineficiente é o

fato de que os animais, mesmo confinados, gastam uma significativa parte do valor

nutricional dos alimentos para desenvolver funções naturais como movimentar-se,

aquecer-se, desenvolver de sua estrutura óssea e outras partes não comestíveis de seu

corpo. Este processo, Lappé denominou de “fabrica de proteína invertida”, uma vez que

se gasta mais proteínas dos que se produz. A produção de 1kg de carne bovina exige o

uso de 13kg de grãos. Já a produção de 1kg de carne suína exige 6kg de grãos.

Lembrando que em cada um destes alimentos, exige-se muito mais água em 1kg de

carne do que em 1kg de grãos ou vegetais. O frango requer o uso de 2kg de grãos para

produzir 1kg de frango vivo, mas quando abatido e aproveitado apenas sua carne,

calcula-se o gasto de 2,5kg de grãos para a produção de 1,5kg de carne (SINGER, 2007,

p. 257). Neste processo de produção acaba-se gastando mais proteínas do que a

quantidade produzida.

Através deste modelo de “fábrica de proteína invertida”, gasta-se, por exemplo, na

criação de um bezerro, 19 Kg de proteínas em ração, para produzir menos de 1 kg de

proteína animal. Menos de 5% é recuperado do que foi gasto. Se utilizarmos 0,04 hectare

de terra para produzir alimentos como ervilhas ou feijão, obtém-se entre 136 e 227 kg de

proteínas. Esta mesma área utilizada para a produção de carne renderia apenas 18 a 20

kg de proteínas. As estimativas concluem que os produtos de origem vegetal rendem dez

a vinte vezes mais proteínas por hectare do que os produtos de origem animal. Levando-

se em consideração outros nutrientes, como o ferro, ainda assim a quantidade produzida

pelos vegetais é maior do que a da carne. Em um hectare de brócolis, se obtém vinte e

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quatro vezes mais ferro do que a quantidade produzida neste mesmo hectare com a

carne de gado (SINGER, 2004, p. 187-188).

Lappé calculou que somente no ano de 1979, 145 milhões de toneladas de grãos

eram utilizados para a alimentação bovina, suína e avícola, o que rendeu em forma de

carne apenas 21 toneladas. (LAPPÉ, 1985, p. 88). Isto expressa que apenas naquele ano,

124 toneladas de alimentos foram literalmente desperdiçados, ou seja, se tornaram

inacessíveis para o consumo humano em função de que tal quantidade de carne fosse

produzida. A diversidade de alimentos que estes grãos poderiam derivar supera em muito

a quantidade de carne produzida através de seu consumo.

A produção de carne cada vez mais tem exigido a necessidade de terras para

produzir colheitas de grãos e cereais cujo destino final é a alimentação animal, e deste

modo cada vez maiores áreas de florestas tem sido derrubadas. Toda essa demanda de

grãos para alimentar este animais, tem sido responsável pelo consumo de mais de 70 %

da produção mundial de alimentos apenas com fins de produção de carne. E cada vez

mais a produção de alimentos tem tomando uma dimensão monocultural a fim de produzir

alimentos destinados à nutrição animal. Neste fato destaca-se a produção de soja, que

tem 79% de sua produção mundial destinada para a alimentação de animais (SÔNIA,

2003b, p2). Assim, progressivamente se tem deixado de plantar uma grande variedade de

alimentos para se plantar soja – o que é mais lucrativo – a fim de alimentar animais em

confinamento.

Se a produção de carne à base de grãos se mostra absurda em virtude do

desperdício de alimentos que são destinados aos animais ao invés de serem consumidos

diretamente pelos seres humanos. A produção de carne em áreas de pastagens também

se mostra abusiva.

Esta prática, muito comum no Brasil, tem como principal conseqüência, como já

observamos, a constante derrubada de florestas. Segundo os dados do IMAZON,

baseados no IBGE de 2007, 77% das áreas desmatadas irregularmente da Amazônia

estão ocupadas por gado (MEIRELES, 2007, p 160). E sempre que uma área se torna

improdutiva, o pequeno, médio ou grande produtor opta por desmatar novas áreas de

floresta de sua propriedade, já que isto e mais barato de que a recuperação de suas

pastagens. Portanto, uma significativa parcela da devastação da Amazônia se dá em

889

virtude do consumo de carne. A taxa anual de desmatamento na Amazônia para a criação

de gado e plantio de soja é de 25.000km2, ou, 2,5 milhões de hectares (SINGER, 2007, p.

253). A relação entre o consumo de carne e o desmatamento da Amazônia, tanto devido

às áreas de pastagens, quanto da soja amazônica que tem 75% de sua quantidade

produzida destinada para alimentar animais, é um fator que indubitavelmente deve pesar

nas nossas decisões e escolhas dos hábitos alimentares, uma vez que “uma dieta

baseada em produtos derivados de animais contribuirá mias para a destruição das

florestas tropicais do que uma dieta baseada diretamente em grãos” (SINGER, p. 2007, p.

254).

Segundo Christófodis, 1/3 dos solos para a produção de alimentos vegetais são

consumidos diretamente por seres humanos. Os outros 2/3 dos solos cultiváveis tem

como objetivo resultar em alimentos destinados a produção de rações para os animais.

(CHISTÓFODIS, 2003, p. 376).

Outro fator a ser considerado refere-se à quantidade de alimento produzido nestas

terras destinadas para pastagens ao gado (não apenas na Amazônia, mas em qualquer

região). Atualmente o rebanho bovino no Brasil contabiliza 200 milhões de cabeças, ou

seja, no Brasil já há mais gado do que pessoas. Cada bovino necessita de um a quatro

hectares, ou seja, 10 mil m2, de pasto para engordar, o que faz então com que apenas

esta atividade já ocupe 250 milhões de hectares, o que significa praticamente mais de um

terço do território da União. Segundo o Instituto CEPA, um boi produz em média 210kg de

carne no período de quatro a cinco anos utilizando de um a quatro hectares. Esta mesma

área destinada a agricultura, é capaz de produzir em média em cada safra, 8 toneladas de

feijão, 23 toneladas de trigo, 35 toneladas de cenouras, 19 toneladas de arroz, 32

toneladas de soja, 44 toneladas de batata, 34 toneladas de milho. Levando em

consideração que muitas destas culturas podem ter varias colheitas no período de um

ano, tal produtividade conseqüentemente é ainda maior.

Analisados a partir do ponto de vista ético, estes fatos demonstram que nossas

escolhas alimentares são injustificáveis. Uma vez que, como conclui Lappé, nosso

sistema de produção de alimentos centrados no consumo de carnes “não apenas reduz a

abundância como realmente solapa os verdadeiros recursos sobre os quais repousa

nossa segurança alimentar futura” (LAPPÉ, 1985, p. 83) a alimentação deve então

890

urgentemente estar mais presente nas discussões éticas e ambientais, uma vez que

estamos degradando amplamente o meio ambiente e produzindo, em contrapartida, uma

quantidade limitada de alimentos e desperdiçando outra grande parte. Além do que, isto

tudo ainda constitui uma ameaça a segurança alimentar futura que depende de condições

ambientais favoráveis para a produção de alimentos.

Frente aos fatos de que a dieta vegetariana exige uma menor quantidade do uso

de água e de terras, e rendendo uma maior produção de alimentos, ela se torna uma

prática que vai ao encontro da necessidade de se produzir mais alimentos utilizando

menos os já esgotados recursos naturais. Como concluiu o economista Paul Roberts,

autor do livro The End of Food, a perspectiva é de que até o ano de 2050, a população

mundial se torne obrigada a adotar uma dieta vegetariana, uma vez que se estima que a

população mundial esteja em torno de 9 ou 10 bilhões de pessoas, o que exigirá então

uma quantidade maior de alimentos e água, o que não se tornará possível se

continuarmos com o atual padrão de “proteína invertida”, isto é, desperdiçando toneladas

de alimentos, terras e água para produzir uma pouca quantidade de carnes. (ROBERTS,

2008, p. 157).

2.4 Solo e Ar: Aquecimento Global

Segundo a Word Resources Institute, “o excesso da utilização de terra para o pasto

é a maior causa isolada para a degradação da terra, no mundo inteiro” (SINGER, 2007, p.

258) e como vimos, é também a maior causa de desperdício de terras cultiváveis, uma

vez que se esta área de pastagem fosse utilizada pela agricultura, seria capaz de produzir

uma maior diversidade e quantidade de alimentos, e enquanto que as populações

continuarem sendo incentivadas a consumirem carnes nos mesmos padrões dos países

desenvolvidos está demanda por aberturas de terras aumentará e assim necessitar-se-á

ainda 67% a mais de terras cultiváveis do que o planeta possui (SINGER, 2007, p. 253).

Consideração os resíduos derivados da produção agrícola, constata-se que eles

são muito mais aproveitáveis e menos poluentes do que aqueles advindos da produção

animal. Quando se planta milho ou soja, os resíduos deixados no solo são reaproveitados

891

como um composto para adubar o solo para as próximas plantações. Por outro lado, os

resíduos de origem animal, não possuem esta mesma utilidade. As causas desta extensa

degradação em virtude da criação de animais se devem, entre muitos fatores,

principalmente as grandes quantidades de esterco e urina que são gerados tanto da

produção intensiva de animais em confinamento, quanto dos criados em pastagens. A

maior quantidade destes resíduos acabam por serem despejados sem qualquer tipo

efetivo de tratamento no solo ou na água, e todo esse excesso de matéria orgânica que

chega aos rios tem causado a proliferação de algas e microorganismos que acabam por

competir com outros animais marinhos pelo oxigênio da água. Além disto, a contaminação

das águas com coliformes fecais e materiais tóxicos como hormônios e antibióticos tem

tomado proporções cada vez maiores, o que tem conseqüentemente comprometido a

qualidade das águas tornando-a imprópria para o consumo humano, e até mesmo para a

sobrevivência de animais marinhos.

Calcula-se que uma fazenda com um reganho de 5 mil bovinos, produz a

quantidade de excremento equivalente a uma população de 50 mil habitantes. O rebanho

suíno no Brasil no ano de 2006 foi de 35,2 milhões de animais2. Isso equivale a uma

população humana de aproximadamente 160 milhões. A quantidade de esterco produzido

diariamente por uma vaca chega a 40 kg. Assim, apenas no Brasil, a quantidade de

animais criados já excedeu a quantidade de cidadãos já faz muito tempo.

Todos estes fatores e conseqüências, além de muitos outros fatores envolvendo a

produção de carnes, tem sido um dos principais fatores da poluição do meio ambiente.

Como apontou o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas do

ano de 2008, a produção de carnes, envolvendo todas as suas etapas, como derrubada

de florestas para a abertura de pastos, uso de fertilizantes, transporte, queima de

combustíveis fosseis, poluição das águas, é responsável por 18% a 25% do total de

emissão dos gases causadores do efeito estufa. Entre os principais gases advindos desta

prática está o metano, que é o segundo maior poluente presente na destruição da

camada de ozônio, sendo o primeiro o CO2, mas o metano, por sua vez, tem um potencial

poluente 20 vezes maior. Já a amônia, um outro poluente causador do aquecimento

global advêm 64% da criação de animais.

2 Conferir em: http://www.zootecniabrasil.com.br/sistema/modules/news/article.php?storyid=1167).

892

Estes fatos têm colocado a produção de carnes e em geral os produtos de origem

animal como uma atividade cujos impactos ambientais já superam os causados pelos

meios de transportes, que correspondem a mais de 13% das emissões dos gases do

efeito estufa3.

Em contraposição a estes fatos, os procedimentos da produção de alimentos de

origem vegetal são mais econômicos do ponto de vista das suas conseqüências em

impactos ambientais, uma vez que a demanda sobre a água e terras cultiváveis é muito

menor do que a exigida para a produção de alimentos de origem animal, e tendo uma

quantidade de alimentos produzidos muito superior caso estas áreas fossem utilizadas

exclusivamente para pastagens.

Todas estas conseqüências derivadas do consumo de carnes, tem se mostrado

insustentável, o que então, se analisado do ponto de vista ético, “o mal causado é tal que

parece aniquilar qualquer benefício”(SÔNIA, 2003b, p. 3) e portanto, se mostra

injustificável preservar determinados hábitos a fim de satisfazer um interesse puramente

hedônico, cuja satisfação só se dá através do sofrimento dos animais, da poluição

ambiental e da negação de água e alimentos para uma grande parte da população

mundial, que a cada quilo de carne produzida tem sua segurança alimentar efetivamente

ameaçada em virtude das significativas quantidades de alimentos destinados à

alimentação animal.

3 SEGURANÇA ALIMENTAR E DIREITO À ALIMENTAÇÃO

A prática da alimentação é a atividade humana que mais produz efeitos colaterais

sobre o meio ambiente. Sua indústria adquiriu dimensões globais, e assim, as suas

conseqüências possuem as mesmas proporções, afetando em grande escala não apenas

o meio ambiente, mas também os indivíduos da geração presente e futura. A demanda de

recursos naturais, como água e solo para a produção de alimentos de origem animal,

supera em muito a demanda exigida para a produção de alimentos de origem vegetal. E

3 http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_299495.shtml

893

como visto anteriormente, o impacto desta produção para satisfazer o desejo por carne é

tão grande que já tem superado os impactos advindos de outras atividades humanas

como os meios de transporte.

Como observamos no decorrer deste artigo a produção dos alimentos de origem

animal faz um verdadeiro abuso dos limitados recursos naturais do planeta se comparado

com as conseqüências da produção de alimentos de origem vegetal. Além disto, a baixa

rentabilidade da produção de carne utiliza uma grande área de terra onde se poderia

produzir uma maior diversidade e quantidade de alimentos caso tal área fosse utilizada

para produção de alimentos vegetais ou se deixássemos de destinar alimentos como soja,

milho ou trigo para a criação de animais. Cada vez mais a indústria da carne tem

transformado grandes áreas cultiváveis em monoculturas para produção de alimentos

usados como rações. É neste sentido então, como observa Sônia Felipe, que o consumo

de carne tem feito os seres humanos passarem fome duas vezes:

“[...] primeiro quando lhes é subtraído o cereal para que animais possam ser alimentados nas fábricas de carne, e quando esses animais mortos e transformados em carne são vendidos. Os que nada têm para comer, comem, obviamente, carne nenhuma”(SÔNIA, 2003b, p. 3).

Isto é evidente quando observamos que aproximadamente 1 bilhão de seres

humanos não tem suas necessidades nutricionais diárias satisfeitas devido à falta de

alimentos, enquanto que mais de 50 bilhões de animais são diariamente alimentados com

quantidades enormes de uma variedade de grãos e cereais4, ou ocupam áreas de

pastagens que poderiam ser usadas para o plantio de uma variedade de alimentos e

tendo sua sede saciada com a água potável que a cada ano que passa está mais escassa

e limitada ao acesso humano.

Esta talvez seja a maior injustiça e irresponsabilidade que o ser humano vem

cometendo nas últimas décadas, violando o artigo XXV da aclamada Declaração

Universal Direitos Humanos, de 1945, que compreende que “Toda pessoa tem direito a

um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive

alimentação”, devendo ter assegurado o acesso a alimentação básica e de qualidade, a

4 Também é muito comum o uso de animais descartados pela indústria na composição de rações.

894

fim de garantir a segurança alimentar para todos, conforme apela a Declaração de Roma

Sobre a Segurança Alimentar Mundial, de 1996, elaborada a fim de assegurar que o

direito de todos os seres humanos a não sofrer a fome5. Mas isto tem sido claramente

violado pela utilização de mais de 70% da produção de grãos e cereais para a

alimentação animal a fim de produzir carne cujo acesso é possível a uma parte restrita da

sociedade que tem seu apetite por carne satisfeito à custa da negação direta de alimentos

para seres humanos.

De fato, caso estes alimentos desperdiçados fossem adequadamente distribuídos

entre as populações famintas, a quantidade seria suficiente para acabar com a fome e a

desnutrição. A noção de que o mundo não produz alimento suficiente para toda a

população se tornou um mito. Se a indústria é capaz de alimentar diariamente 50 bilhões

de animais com as colheitas, evidentemente que é possível alimentar os 6 bilhões de

seres humanos. Evidentemente que a questão da fome passa pelo fator de como o

alimento é distribuído, mas o fato de sua quantidade ser suficiente para alimentar o

mundo não deve ser ignorada. É a barreira da economia política que dificulta acabar com

o problema da fome. Nas palavras de Lappé e Collins: “abundance, not scarcity, best

describes the supply of food in the word today” (LAPPÉ e COLLINS, 1998, p. 8)

Assim, o hábito de se consumir carne não é apenas uma escolha individual, cujas

conseqüências se restringem somente para o individuo que a esta consumindo. Os

impactos que estas escolhas têm sobre os outros é o que está em discussão, e em

virtude disto a alimentação é uma questão ética que deve ser refletida de um modo crítico,

superando os métodos de discussões meramente descritivos e destituídos de qualquer

juízo de valor. E a ética não se restringe apenas em refletir sobre as práticas humanas na

sociedade, mas também em propor novos princípios e ações, visando reformar as

tradições e práticas que se mostram prejudiciais a fim alcançar com o resultado das ações

as melhores conseqüências possíveis, e o vegetarianismo ético, adotado em virtude de

ser um hábito alimentar cujos impactos sobre o meio ambiente e sobre os animais são

muito menores do que o predominante hábito carnívoro, além de se mostrar mais eficiente

na produção e distribuição de alimentos, se apresenta então como uma ação que deve

5 Conferir em: http://www.fao.org/docrep/003/w3613p/w3613p00.htm

895

ser adotada pelos agentes morais em virtude das melhores conseqüências que apresenta

ter quando se discute a ética na alimentação.

CONCLUSÃO:

Portanto, analisando a alimentação através da perspectiva da ética

consequencialista observamos o quanto nossas escolhas alimentares possuem reflexos

em diversos âmbitos, dentre os quais aqui analisados, destacamos as conseqüências da

produção de alimentos baseada em produtos de origem animal, principalmente a carne, e

a degradação ambiental e a fome advinda de tal prática. Nesta análise, observamos ainda

o quanto a prática alimentar vegetariana significa um menor uso dos recursos naturais,

indo ao encontro da necessidade de produzirmos alimentos com um menor impacto

ambiental. Frente a estas possibilidades de escolhas que acarretam conseqüências

melhores ou piores, fica evidente o caráter de responsabilidade ética que pesa sobre o

sujeito moral nas suas alternativas alimentares cotidianas. Conclui-se, portanto, que a

diminuição do consumo de carne poderia sugerir soluções para os problemas ambientais

e da fome aqui discutidos.

Podemos fazer escolhas melhores.

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