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Cavaco Silva e as Eleições Legislativas de 1985: uma Introdução. Alexandre António da Costa Luís Universidade da Beira Interior Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra Resumo O artigo que se segue constitui, basicamente, uma introdução à história das eleições legislativas de 1985, as quais, do nosso ponto de vista, formam uma espécie de prefácio às de 1987 e integram a lista dos acontecimentos que contribuíram para o despertar de uma nova fase política em Portugal, largamente caracterizada pela estabilidade. Em termos gerais, é fornecida uma visão sintética do Governo de coligação conhecido por “Bloco Central”, do triunfo de Cavaco Silva no Congresso da Figueira da Foz e da vitória do PSD, particularmente do seu jovem líder, nas eleições antecipadas de outubro de 1985. Palavras-chave Eleições Legislativas; Cavaco Silva; PSD; PS; PRD. Abstract e following article is, basically, an introduction to the history of legislative elections of 1985, which, in our point of view, are a kind of a preface to the 1987 ones and integrate the list of events that contributed to the awakening of a new political phase in Portugal, largely characterized by stability. In general terms, it is provided a synthetic vision of the colligation government known as 141

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Cavaco Silva e as Eleições Legislativas de 1985: uma Introdução.Alexandre António da Costa LuísUniversidade da Beira InteriorCentro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra

Resumo

O artigo que se segue constitui, basicamente, uma introdução à história das eleições legislativas de 1985, as quais, do nosso ponto de vista, formam uma espécie de prefácio às de 1987 e integram a lista dos acontecimentos que contribuíram para o despertar de uma nova fase política em Portugal, largamente caracterizada pela estabilidade. Em termos gerais, é fornecida uma visão sintética do Governo de coligação conhecido por “Bloco Central”, do triunfo de Cavaco Silva no Congresso da Figueira da Foz e da vitória do PSD, particularmente do seu jovem líder, nas eleições antecipadas de outubro de 1985.

Palavras-chaveEleições Legislativas; Cavaco Silva; PSD; PS; PRD.

Abstract

The following article is, basically, an introduction to the history of legislative elections of 1985, which, in our point of view, are a kind of a preface to the 1987 ones and integrate the list of events that contributed to the awakening of a new political phase in Portugal, largely characterized by stability. In general terms, it is provided a synthetic vision of the colligation government known as

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the “Central Block”, of the Cavaco Silva’s triumph at the Congress of Figueira da Foz and PSD’s victory, particularly of its young leader, in the anticipated elections of October of 1985.

KeywordsLegislative Elections; Cavaco Silva; PSD; PS; PRD.

A Hora do Bloco Central

Após o inesperado falecimento de Francisco Sá Carneiro, uma das vítimas do acidente aéreo ocorrido na noite de 4 de dezembro de 1980, em Camarate, Francisco Pinto Balsemão tornou-se o novo primeiro-ministro de Portugal. Encabeçou os VII e VIII Governos Constitucionais, sem nunca usufruir de um clima de total tranquilidade. Com efeito, apesar de ter procurado fortalecer a sua autoridade no seio da AD, não conseguiu ultrapassar as divisões que fustigavam a coligação maioritária, agravadas pela falta de consenso em torno da profundidade da revisão constitucional e por uma série de dificuldades financeiras, económicas e sociais que, progressivamente, se abatiam sobre o País, causando a redução da base de apoio auferida pelos partidos no poder. Por isso mesmo, estes últimos, revelando-se cada vez mais preocupados com o seu próprio futuro, preferiam sacudir, para o lado, as responsabilidades que tinham pela realidade doméstica pouco animadora. Concretamente, o Governo via-se a braços com vários desequilíbrios macroeconómicos, tais como uma inflação elevada, uma dívida pública substancial e um défice externo volumoso. Deste modo, em clara queda de popularidade, a AD regista, sem surpresa, um recuo nas eleições autárquicas de dezembro de 1982, conquistando apenas 42,5% dos votos, ao passo que o PS sobe para 32% e a APU para 20% (Reis 1992: 74). Perante a degradação da situação, quer no interior da coligação quer no âmbito da vida quotidiana dos cidadãos, Balsemão resolve apresentar a sua demissão do cargo de primeiro-ministro. Falharia depois o propósito de se constituir um novo Governo, presidido por Vítor Crespo, que havia recentemente desempenhado funções de ministro da Educação. Em suma, o Governo da AD chegava ao seu fim.

Para encontrar uma nova maioria parlamentar, o presidente da República, general Ramalho Eanes, decidiu convocar eleições legislativas antecipadas para 25 de abril de 1983, conservando até lá o gabinete de Balsemão como governo de gestão. Os maiores partidos optam por ir a votos isolados. Escusado será dizer que, atendendo às duras circunstâncias que ditaram o término do Governo da AD, Carlos Mota Pinto, reputado jurista e académico que encabeçava os sociais-democratas no novo combate eleitoral, enfrentava, nitidamente, uma missão hercúlea. Não obstante as adversidades, a sua lúcida ação no terreno possibilitou que o PSD limitasse os efeitos do desgaste governativo, alcançando 27,24% (75 deputados), enquanto o PS obtinha o expressivo score de 36,11% (101 deputados), a APU 18,07% (44 deputados) e o CDS 12,56% (30 deputados). Paradoxalmente, os sociais-democratas arrecadaram uma votação superior àquela que tinham registado da última vez

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em que concorreram sozinhos, 24,35%, no ano de 1976 (Fonte: Comissão Nacional de Eleições). Já o CDS saiu indiscutivelmente penalizado, visto que perdeu percentagem. De facto, em 1976, tinha atingido a cifra de 15,98% (Fonte: Comissão Nacional de Eleições).

Em síntese, observa-se que o escrutínio de 1983 culminava no crescimento da esquerda e no emagrecimento eleitoral dos partidos da direita. Todavia, como adianta Mário Soares, «foi uma viragem pequena […], pois PSD e CDS em conjunto tinham ainda mais votos do que o PS» (Soares 2011: 335). Na realidade, dado o complicado cenário que caracterizava o País, tratava-se, para os socialistas, de uma espécie de presente envenenado. Conforme realça Mário Soares, «pelo meu lado, não tinha nenhum desejo de ser de novo nomeado primeiro-ministro. A não ser que fosse num Governo de coligação com o PSD, chamado do Bloco Central» (2011: 335).

Posto que a estabilidade política não deixava de ser encarada como uma condição essencial para que Portugal vencesse a preocupante crise em que estava mergulhado, ilustrada pela derrapagem dos vários índices económicos e financeiros, o indigitado primeiro-ministro e líder socialista, Mário Soares, recusando associar-se aos comunistas, pois muitos dirigentes continuavam presos ao velho ideário estalinista, ou a um CDS dominado por diretrizes cada vez mais liberais e, na verdade, de difícil aceitação por parte dos Portugueses, concedeu primazia a uma fórmula de coligação que não tinha sido ainda objeto de experimentação, envolvendo as duas maiores forças do sistema partidário nacional. Entre as diversas metas traçadas, tentava, evidentemente, fornecer uma extensa cobertura parlamentar a uma governação obrigada a lançar exigentes medidas de austeridade, assegurando, simultaneamente, a distribuição do respetivo desgaste político por outras forças que não exclusivamente o PS. Mário Soares não remava sozinho, uma vez que o próprio Mota Pinto «era partidário, há longa data», desta solução de Governo (Soares 2011: 335-336), a qual, na mente dos seus principais patrocinadores, permitiria ainda proteger o sistema, tal como existia, da «ameaça eanista que se desenhava no horizonte» (Telo 2007: 234), ou, se quisermos, da ideia, que será futuramente celebrizada pelo PRD, centrada no aumento dos poderes do presidente da República (Telo 2008: 28). Descortina-se que Soares, para além de ser adepto de uma dimensão civil da presidência, buscaria, no imediato, por meio do casamento PS/PSD, remeter Eanes a um papel pouco mais do que decorativo, intuito este que, vendo bem, não deixaria de contribuir para «um novo estilo de governação mais autoritário e clientelar» (Reis 1992: 75). Por outro lado, não é difícil perceber que, em termos mais pessoais, o histórico dirigente socialista procurava providenciar, com esta aliança, a criação de «condições para um vasto movimento de suporte à sua candidatura às presidenciais de 1986» (Reis 1992: 74).

Não sem resistências, o PS e o PSD chegaram a um entendimento para a formação de um novo Governo, o qual foi empossado no dia 9 de junho de 1983. Como Portugal tinha pela frente um leque de desafios bastante complexos e nucleares, alguns políticos acreditavam que a combinação

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de esforços ou competências destes dois partidos, com maior traquejo no exercício do poder e com maior volume de votação, permitiria, desde logo, tranquilizar a opinião pública nacional e, de modo especial, relevantes setores externos, onde o nosso País buscava, crescentemente, obter a ajuda necessária à sua modernização, passo decisivo para a conquista de um futuro risonho tantas vezes prometido pela classe política. Com efeito, a gradual deterioração da realidade financeira do País impunha o recurso a mais uma intervenção do Fundo Monetário Internacional. Nesse sentido, cuidava-se que Governo seria capaz de desenvolver não só um audacioso e imprescindível programa de reformas estruturais, mas também um exigente programa de austeridade com base no receituário que viesse a ser prescrito pelo FMI. Afinal, assente na mais expressiva maioria de sempre, julgava-se que o Executivo bicolor dispunha de um naipe de condições de estabilidade que mais nenhum tinha conseguido reunir até então, pelo que, vendo bem, muito dificilmente poderia ser perdoado em caso de não implantação das reformas de que o País carecia. Além disso, já estavam em curso as negociações destinadas a firmar a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, cuja data de adesão apontava para o dealbar de 1986. Como é óbvio, os dois processos só poderiam ser conduzidos com destacado êxito se no País vingasse um Executivo suficientemente coeso e forte para suportar os embates que eles causariam na vida socioeconómica lusíada. Claro que, para as direções dos partidos que compunham o Bloco Central, a CEE surgia como uma espécie de varinha mágica que ajudaria a colocar Portugal, definitivamente, no caminho do crescimento e da prosperidade duradoura. Até lá, tendo presente o necessário reequilíbrio das contas públicas, restava à Nação apertar o cinto, procurando o PS e o PSD sobreviver ao desgaste político que esta exigente via gerava.

As máquinas de propaganda dos partidos que apoiavam o Governo difundiam a ideia de que fora em nome do interesse nacional que PS e PSD resolveram levar a cabo a constituição de um bloco central. Tal como já foi frisado, Mário Soares intentou, desde o começo desta sui generis experiência, atar o PSD à responsabilidade das medidas impopulares de austeridade que a situação interna requeria, as quais implicavam o desenvolvimento de uma política monetária e orçamental restritiva, bem como a desvalorização do Escudo. Sem dúvida, no seio do Governo, a missão mais difícil ficava a cargo de Ernâni Lopes, um independente familiarizado com a CEE, possuidor de elevada competência técnica e de um carácter pouco flutuante, a quem fora entregue a pasta das Finanças e Plano.

Os sacrifícios pedidos e as medidas draconianas incrementadas contribuíram para que, em 1984 e inícios de 1985, a situação doméstica fosse nitidamente caracterizada por um ambiente de alarmante tensão social. Os cidadãos manifestavam-se dominados por fortes sentimentos de inquietação e de desilusão. Com efeito, em virtude do pessimismo reinante, percebe-se, de imediato, que tinham perdido a esperança num rápido regresso à normalidade. Por essa altura, apesar da tendência de melhoria das contas externas, o que ficava na retina dos Portugueses era um conjunto de realidades negativas, a saber: sucedia uma expressiva desaceleração do investimento, as remunerações,

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em termos reais, baixavam significativamente, o drama dos salários em atraso sofria um agravamento, os níveis elevados da inflação não davam tréguas e, fruto da assinalável vaga de falências, o pesadelo do desemprego aumentava a olhos vistos. Em suma, o poder de compra reduzia-se acentuadamente e multiplicavam-se as bolsas de pobreza.

Pelo exposto, mas também fruto das leituras diversificadas que circulavam em torno do grau de eficiência das medidas conjunturais então tomadas, acompanhadas, note-se, de uma reestruturação do setor público, a imagem do Executivo, liderado por Mário Soares, registava uma incontornável erosão e as críticas não paravam de se adensar. O próprio presidente da República aproveitava as oportunidades que apareciam para proferir um discurso composto por observações pouco meigas em relação ao desempenho do Governo (Soares 2011: 341 e 345). De igual modo, com o passar do tempo, tornava-se cada vez mais evidente o crescimento de um fosso entre os dois partidos da coligação. Por exemplo, somavam-se, no âmbito do PSD, as vozes daqueles que lamentavam a inércia do Governo, a sua carência de credibilidade, visto que continuava, invariavelmente, a adiar a realização de uma série de reformas estruturais na economia que faziam parte do seu programa. Num trabalho da autoria de José Manuel Fernandes, intitulado «Por que não funciona o Governo» e publicado no Expresso, em janeiro de 1985, referia-se justamente «que os dossiers iam e vinham do Conselho de Ministros sem que as decisões fossem tomadas», explica Fernando Lima (Lima 2004: 32). Desta forma, para muitos sociais-democratas, chegara o momento de procurar, com determinação, afastar o PSD de um Executivo em significativa quebra de popularidade, de mais a mais porque o horizonte começava a ser ensombrado pela aproximação de vários atos eleitorais. Como estavam naturalmente impedidos de afrontar o Governo pelo lado da austeridade que impunha, já que a mesma decorria igualmente da pesada herança deixada pela AD, os críticos sociais-democratas lançavam dúvidas sobre a competência dos ministros e alertavam para a ausência de um conjunto de reformas essenciais.

Mantendo-se atento aos recados provenientes de vários campos do PSD, pouco cómodos com o rumo seguido pelo Governo do Bloco Central, Mota Pinto, que ficara com os cargos de vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, deliberou, ele também, lançar pressão sobre o seu parceiro de coligação, estabelecendo um prazo para que fossem concretizadas reformas estruturais. No entanto, citando palavras de Fernando Lima, «os esforços de Mota Pinto não produziriam qualquer efeito, porque os socialistas já tinham no seu horizonte político a candidatura de Mário Soares e, assim sendo, era preciso protegê-la de novas conflituosidades com a sociedade» (2004: 33). Porém, em abono da verdade, outros fatores tendiam igualmente a obstaculizar as tentativas de transformação. Com efeito, num discurso feito no Conselho Nacional do PSD, a 3 de fevereiro de 1985, Mota Pinto afiançava que as mudanças estruturais chocavam não só «no imobilismo e no cálculo eleitoral» do PS, mas também no «imobilismo tecnocrático» e até, por vezes, «numa relutância presidencial» (Pinto 1986: 120-121). Seja como for, no seio de importantes setores do PSD, tendia a medrar o discurso de insatisfação com o

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constante adiamento das prometidas reformas estruturais, propiciando novas vagas de censuras.

Adiante-se que, durante a vigência do Bloco Central, o aparecimento de polémicas como a do aborto, em virtude dos socialistas terem decidido avançar com uma lei de despenalização para casos muito especiais, também não ajudava as chefias a salvar a aliança PS/PSD. Com efeito, dos quadrantes mais conservadores da política à Igreja, a reação contra a iniciativa socialista não primou pela suavidade (Soares 2011: 339; Telo 2007: 237).

Como se disse, as recriminações que se abatiam sobre a coligação não paravam de aumentar. Merece especial atenção a influência exercida em Lisboa por um grupo de críticos com a designação de «Nova Esperança», que comportava, entre outros rostos, Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes, José Miguel Júdice e José Manuel Durão Barroso. Basicamente, os dinamizadores desta corrente de contestação no PSD consideravam que o partido estava, perigosamente, a perder autonomia, vivendo subordinado aos ditames do PS. Como receavam que os socialistas acabassem por levar a cabo um processo de absorção do PSD, optavam por combater declaradamente o Bloco Central, defendendo, no fundo, a bipolarização partidária e, por consequência, que o partido se libertasse do seu estatuto de subalternidade e trilhasse, sem constrangimentos, o seu próprio caminho.

Para agravar ainda mais a solidez do Governo bicolor, a escolha presidencial converter-se-ia progressivamente noutra fonte de fricção. Afinal, escreve Fernando Lima, «dada a lógica do Bloco Central, Soares contava que o PSD lhe garantisse apoio na corrida para Belém. Todavia, não era líquido que tal pudesse vir a acontecer por parte dos sociais-democratas» (2004: 33). Por exemplo, sinal claro da forte oposição que muitos cultivavam nesta matéria, sobressaindo o grupo «Nova Esperança», da ânsia em verem o partido apartar-se da hegemonia socialista, foi aprovada, no Conselho Nacional de setembro de 1984, uma moção de José Miguel Júdice, a qual consistia na recusa em suportar Mário Soares na caminhada para a presidência da República (Manalvo 2001: 112). Quanto a Mota Pinto, continuava a desenvolver esforços no sentido de evitar que a questão presidencial envenenasse, irremediavelmente, o Governo PS/PSD, mas sem grandes resultados. Na verdade, acabaria por não aguentar a pressão gerada pelos seus companheiros de partido. Por isso, em Fevereiro de 1985, pediu a demissão dos cargos do Governo e de presidente do PSD. O testemunho de Mário Soares não deixa margem para dúvidas: «Foi um golpe terrível para o Governo» (2011: 341-342), uma baixa da qual não se saberia recuperar.

Durante esses anos recheados de dificuldades para o PSD, que se manifestava incapaz de ultrapassar o trauma do desaparecimento do carismático Sá Carneiro, o militante Aníbal Cavaco Silva pronuncia-se, mais do que uma vez, sobre o andamento da situação económica e financeira nacional. Considerado um dos homens de confiança do falecido líder dos sociais-democratas, é muito provável que florescesse já no seu espírito a ambição de impor outro rumo ao

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PSD a partir de uma eventual chegada à liderança, apesar do seu recorrente discurso de negação. A ser assim, uma vez que conhecia bem o estado do País e o efeito negativo que o programa de austeridade provocava na popularidade da coligação e dos seus rostos, Cavaco, pouco dado a precipitações, aguardava apenas pelo momento oportuno para avançar.

Como é óbvio, com a demissão de Mota Pinto, o PSD teve de tratar rapidamente do preenchimento dos lugares por ele abandonados. Destacou-se então a figura de Rui Machete, que no Executivo ocupava o cargo de ministro da Justiça. Viria não só a assumir interinamente a liderança do PSD como a exercer as funções de vice-primeiro-ministro e de ministro da Defesa. Reiteraria os compromissos do partido na coligação com os socialistas, sem, no entanto, conseguir furtar-se à questão presidencial, que, como dissemos, se vinha, indubitavelmente, transformando num dos temas mais sensíveis da vida quotidiana do Bloco Central. Aliás, tal como outros, Machete não deixaria de ouvir alguns notáveis a acusá-lo de apoiar Mário Soares na corrida a Belém (Figueiredo 2004: 160).

Sem o cimento da aliança corporizado por Mota Pinto, tornava-se, mais do que nunca, previsível que a hora da rutura entre as duas maiores forças partidárias portuguesas se aproximava a passos largos. De facto, o Governo perdia de dia para dia dinamismo, capacidade de renovação e eficiência na sua articulação. A única grande razão que ainda poderia fundamentar a sobrevivência do Executivo radicava nas negociações com Bruxelas acerca da adesão de Portugal à CEE, processo este que, à exceção da extrema-esquerda (Telo 2008: 20), era encarado internamente como o salto decisivo para a angariação das condições necessárias à nossa modernização, bem como ao aprofundamento do nosso regime democrático. Contudo, o tema da entrada no espaço comunitário não criava junto dos Portugueses a onda de entusiasmo que alguns políticos almejariam, suscitando mesmo «uma enorme desconfiança», lembra Labourdette, que se apoia nos resultados de uma sondagem datada das vésperas da adesão (Labourdette 2001: 608). O autor em apreço sublinha que se «tratava de uma ruptura com a tradição histórica portuguesa: voltado para o oceano, Portugal devia doravante unir o seu destino ao do continente cujos conflitos sempre se preocupara em evitar» (2001: 608).

No âmbito do PSD, é perfeitamente compreensível que se acreditasse que a melhor maneira de proteger a independência do partido seria proceder à escolha de um candidato próprio às eleições presidenciais. «Sedimentara-se a ideia de que Mário Soares hipotecara o Governo do Bloco Central à sua candidatura presidencial e, nesse contexto, o PSD sentia-se secundarizado. Soares nunca aceitara a hipótese de ser escolhido um candidato equidistante de ambos os partidos, como chegou a ser ponderado quando os dois partidos iniciaram negociações para um acordo de governo», anota Fernando Lima (2004: 34-35; Cruz d.l. 1998: 314).

A questão presidencial constituía uma matéria profundamente melindrosa para os sociais-democratas, mais ainda depois do general Firmino Miguel ter

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recusado o convite que lhe fora dirigido para entrar na disputa eleitoral, o que, em boa verdade, só demonstra que «o momento dos candidatos militares tinha passado. Era a hora dos civis» (Soares 2011: 356), ou, por outras palavras, da democracia civilista. Pelo menos até certo ponto, parece legítimo afirmar que a inaptidão revelada pelo PSD no tocante à abordagem da problemática presidencial abriu o caminho à candidatura de Diogo Freitas do Amaral, que tinha deixado o CDS. Com efeito, no quadro doméstico social-democrata, marcado por importantes divisões, incluindo aquela que derivava do facto das bases não se reverem na direção, era uma tarefa extremamente complicada achar um nome com condições para se impor por sua iniciativa. A este respeito, a situação era muito mais óbvia no PS, onde o cerrar fileiras em torno da personalidade incontornável de Mário Soares figurava como a opção número um para as presidenciais. No PSD, como se disse, grassava uma perigosa crise de liderança. Os sociais-democratas andavam, inequivocamente, à deriva, tornando-se, por conseguinte, imperioso descobrir, com a máxima urgência, alguém que, pelo seu perfil e currículo, fosse realmente capaz de revigorar e unir as forças do partido a partir do Congresso da Figueira da Foz, bem como estabelecer um rumo vencedor para os diversos escrutínios que surgiam já no horizonte. Nesse processo de escolher uma individualidade forte e determinada, a estratégia que os eventuais candidatos expusessem em matéria de presidenciais poderia, muito bem, servir de trampolim para a almejada vitória no seio do partido.

O palco da eleição de um «desmancha-prazeres»: o Congresso da Figueira da Foz

Quando os delegados se dirigiram para a Figueira da Foz, poucos imaginariam a avultada influência que os trabalhos deste Congresso teriam na evolução vindoura do PSD e, consequentemente, do País. Afinal, não muito antes, ainda se admitia o regresso de Mota Pinto à liderança (Figueiredo 2004: 159), circunstância que, vendo bem, só ajudava a comprovar a carência de figuras com suficiente força e carisma para agarrar o partido num período crucial da sua vida. Porém, no dia 7 de maio de 1985, regista-se o falecimento deste respeitável jurista e político, vítima de crise cardíaca (Telo 2007: 238). O seu precoce desaparecimento confundia ainda mais o jogo da seleção de um novo presidente para o PSD.

Nomes como Francisco Pinto Balsemão e Rui Machete ficariam, por diferentes motivos, fora da corrida, pelo que seria então João Salgueiro, vice-presidente da Comissão Política Nacional e antigo ministro de Estado, Finanças e Plano de um dos Governos de Balsemão, a avançar. Apesar de não beneficiar do apoio do grupo «Nova Esperança», prosperava a ideia de que dispunha pacificamente do número de aderentes indispensáveis à sua eleição para líder do partido.

Antes da realização do Congresso Nacional da Figueira da Foz, que buscava, portanto, um rosto e uma estratégia que possibilitassem a revitalização do

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PSD, florescia uma dúvida relacionada com a posição de Aníbal Cavaco Silva, ao que parece alvo de apelos de muitos militantes para que tomasse a decisão de se candidatar à presidência do partido (Silva 2002: 62-63). Segundo Fernando Lima, «olhando ao que se passara nos anos anteriores, era natural que o seu nome merecesse a permanente atenção de uma larga faixa de militantes e simpatizantes do PSD. Não só a sua acção como ministro das Finanças ficara como uma das imagens de marca do Governo de Sá Carneiro mas, também, ficara registada a forma como posteriormente foi pugnando para que Portugal pudesse sair da cepa torta. Tinha-se, por isso, Cavaco Silva como um homem que sabia o que queria para Portugal e, na consideração de muitos, era, pois, quem interessava guindar ao mais alto cargo do partido» (2004: 36-37).

Cavaco Silva tem insistido na tese, ou melhor na «lenda» (Telo 2007: 242), de que, naquela época, não possuía a intenção de disputar a liderança social-democrata, alegando, particularmente, que permanecia absorvido na sua vida profissional (Silva 2002: 63, 67 e 70). Todavia, cremos que os passos dados por Cavaco contrariam o desinteresse e a respetiva versão do acaso que enuncia ou deixa transparecer na sua Autobiografia Política (Cunha 2005: 230). Como muito bem assinala António Telo, «afirmava-se de longa data no seio do PSD como o continuador da orientação de Sá Carneiro e uma alternativa à liderança de Pinto Balsemão (logo desde 1981) e de Mota Pinto» e «tinha reunido à sua volta um conjunto de apoios de peso, onde se destacava Eurico de Melo ou a distrital de Braga, e que incluía muitos dos jovens dirigentes do partido» (2007: 242).

Concretizando um pouco mais, durante o período do Bloco Central, é notório que Cavaco procurou capitalizar a sua experiência de ex-ministro das Finanças de Sá Carneiro, manifestando os seus pontos de vista, sem dúvida pouco benevolentes para a coligação, contribuindo, claramente, para o desgaste desta fórmula. Sem provocar grande alarido, demonstrava que estava vivo para a política e que sustentava posições diferentes das do Governo. De forma inteligente, laborava para que, estrategicamente, emergisse no seio do seu partido como uma das personalidades que saberia desenhar e gerir rumos alternativos. E apesar do recorrente discurso que faz alusão às suas hesitações em marcar presença na Figueira da Foz, Cavaco Silva não deixou de viajar até ao Congresso Nacional, de modo a transmitir o seu ponto de vista. Realmente, o facto de ter resolvido integrar uma lista de delegados ao Congresso «demonstra que nunca esteve ausente da actividade política e partidária como sempre pretendeu fazer crer», sublinha Rui Figueiredo (2004: 159). Em matéria de justificação para a sua ida à Figueira da Foz, Cavaco Silva refere, na sua Autobiografia Política, que, por estar «convencido de que estava em causa a sobrevivência do PSD como grande partido nacional» (2002: 64), sentiu o dever de expressar aos congressistas o que pensava, ficando assim de «consciência mais tranquila» (2002: 64). No entanto, olhando para trás, não é difícil ajuizar que, através da sua participação, o antigo ministro de Sá Carneiro pretendia, acima de tudo, testar as suas reais hipóteses de vir a ser um sério candidato à chefia do PSD. Com efeito, o mais plausível é que Cavaco, sem o proclamar abertamente, procurava sondar as sensibilidades e

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reações que corriam no Congresso, com vista a verificar se, no terreno, seria possível lançar uma candidatura sua que dispusesse de condições efetivas para sair vencedora. Claro está que a sua simples presença constituía, de antemão, uma espécie de convite à entrada em ação de todos os que o queriam ver como líder, causando natural agitação nos trabalhos em curso.

Aqueles que consideravam que Cavaco Silva era a melhor aposta para reerguer o partido ficaram, evidentemente, bastante satisfeitos com o tom e o impacto do seu primeiro discurso, cujo conteúdo autonomizava, desde logo, os sociais-democratas dos socialistas na questão presidencial. Efetivamente, realizado numa sala «cheia» e onde reinava «uma expectativa de cortar à faca», apresentava como ponto fulcral «a defesa da negociação com Freitas do Amaral do apoio do PSD à sua candidatura à Presidência da República», porquanto as eleições presidenciais e as legislativas que viriam posteriormente (tratava-se da ordem dos atos eleitorais então estabelecida) eram encaradas pelo orador «como duas partes de uma mesma corrida» (Silva 2002: 64, 331-335; Figueiredo 2004: 160), pela sua óbvia interligação. Os aderentes a Cavaco decidiram, por conseguinte, potenciar os sinais de viragem, opinando que chegara o momento de tudo fazer para que fosse realmente candidato à presidência do partido e obtivesse a vitória. Com efeito, o vigor posto no citado discurso ajustava-se, na perfeição, ao exercício de demonstração de que, com ele, o PSD poderia voltar a usufruir de uma liderança forte, enérgica e independente, muito à imagem do saudoso e máxima referência do partido, Francisco Sá Carneiro, conquistando, sem dúvida, a forte adesão dos militantes de base. Quanto a João Salgueiro, embora contasse com o suporte da maioria dos «notáveis» do partido (Silva 2002: 67), para além de se julgar que «60 a 70% dos delegados estariam com ele» (Figueiredo 2004: 159), padecia de graves problemas, os quais fragilizavam, necessariamente, a sua posição. Por exemplo, «estava associado ao período de vigência de Francisco Pinto Balsemão, durante o qual o PSD dera de si uma péssima impressão», explica Fernando Lima (2004: 37).

De qualquer modo, a partir do momento em que Cavaco Silva entrou oficialmente na corrida à presidência do PSD, iniciou-se um combate político renhido, em que a incerteza do resultado pairou praticamente até ao término dos trabalhos. Como observa António Telo, «a grande oportunidade de Cavaco Silva na Figueira da Foz é que nenhum dos candidatos possíveis à liderança cortava de forma frontal simultaneamente com o Bloco Central e com o apoio a Mário Soares, o que lhe permitia surgir como a única alternativa de renovação efectiva e de corte com o passado, na tradição de Sá Carneiro» (2007: 242-243). Com influência no triunfo cavaquista, devemos ainda sublinhar o papel galvanizador exercido pelo grupo «Nova Esperança» e a conversão dos indecisos que provinha da obtenção do apoio de Fernando Nogueira (Cunha 2005: 288-290). E, assim, contra as previsões dominantes, Cavaco Silva deixou a Figueira da Foz empossado no cargo de presidente do PSD. O protagonista deste episódio escreve na sua Autobiografia Política: «Depois do almoço, sem que o discurso estivesse ainda terminado, chegou-me pelo telefone o resultado da contagem dos votos. Tinha obtido 52% e vencido

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João Salgueiro por uma diferença de 57 votos» (Silva 2002: 69). A vitória era, pois, tangencial, mas surpreendente.

A inesperada ascensão de Cavaco Silva à liderança dos sociais-democratas acabaria, incontornavelmente, por gerar abalos na ordem estabelecida. Realmente, depois de ter sido escolhido pelo PSD para líder, a 19 de maio, a vida política portuguesa passou a registar uma evolução que poucos poderiam prever. Logo à partida, as opiniões que Cavaco não se cansara de expor em torno dos problemas de operacionalidade e de credibilidade do Governo do Bloco Central causavam junto dos socialistas uma série de interrogações sobre as suas reais intenções. Além disso, Mário Soares, que tinha os olhos postos no cargo de presidente da República (Soares 2011: 352), só podia estar manifestamente desagradado com a estratégia autónoma do PSD, saída do Congresso da Figueira, voltada, como vimos, para o apoio à candidatura de Freitas do Amaral e que, no fundo, indicava a vontade de Cavaco Silva em comandar uma verdadeira alternativa ao Bloco Central. Soares caíra no erro de pensar que a vitória não fugiria a João Salgueiro, «adepto de uma estratégia de continuidade da coligação» (Reis 1992: 75). Pois bem, enganara-se redondamente no seu prognóstico. O triunfo de Cavaco vinha, efetivamente, prejudicar os seus planos ou esquemas, pelo que, frustrado com a situação, iniciou um processo de retaliação, rebaixando, designadamente, o percurso do homem que conquistara o PSD na Figueira da Foz, para mais uma personagem que, digamos assim, não integrava o rotineiro universo político da capital. Reportando-se a Cavaco, Fernando Lima descreve até que «a sua origem social fazia-o parecer uma figura marginal da classe política dominante, constituída essencialmente por nomes cujas famílias pertenciam a um certo mundo aristocrático ou social» (2004: 40). Note-se que o Semanário, consciente do que estava a acontecer, publicou um texto bastante sugestivo intitulado «Cavaco avariou “computador” de Mário Soares» (In Silva 2002: 75).

Cavaco Silva é taxativo na refutação da ideia proclamada por Mário Soares na obra Soares – Democracia, da consagrada jornalista Maria João Avillez (1996), de que a sua eleição para presidente dos sociais-democratas fora «fruto de uma “conspiração” ou “golpe” no interior do partido, de “uma manobra global de envergadura” e “de que houve negociações prévias com Eanes, Eurico de Melo” e eu próprio para ter “a garantia do Presidente [Eanes] de que, se houvesse uma crise e a coligação PS/PSD se rompesse, poderia contar com a dissolução do Parlamento”» (Silva 2002: 71). Na nossa ótica, parece-nos, de facto, que a tese de Mário Soares carece de fundamento, entre outras razões, porque Ramalho Eanes não estaria motivado em ver um PSD unido e regenerado que pudesse, para todos os efeitos, diminuir o ansiado impacto do emergente Partido Renovador Democrático (PRD). Pela lógica, o presidente da República estaria mais interessado em ganhar algum tempo para que o partido que apadrinhava conseguisse os níveis de organização indispensáveis à eficaz luta eleitoral. Enfim, trata-se de uma matéria polémica, embora Soares continue, no seu Ensaio Autobiográfico, a acalentar a ideia da «conspiração» (2011: 352).

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Compreensivelmente, Mário Soares não foi o único político de topo a ficar surpreendido com a chegada de Cavaco Silva à chefia dos sociais-democratas. Em relação a esta matéria, o próprio Cavaco deixa-nos algumas passagens onde descreve o seu ponto de vista pessoal: «Afinal a minha eleição para presidente do PSD não só tinha confundido o PS e Mário Soares, mas também tinha estragado os calendários do PRD e perturbado as tentações partidárias de Eanes para depois da sua saída do Palácio de Belém. E foi ainda fatal para a ambição de Francisco Lucas Pires de fazer crescer o CDS à custa do PSD. Só um mês e meio depois da minha eleição na Figueira da Foz percebi bem como eu era um desmancha-prazeres e um intruso indesejado na cena política convencional portuguesa» (2002: 85).

O Fim do Bloco Central

As apreciações que circulavam nos jornais sobre o novo líder social-democrata variavam bastante quanto ao seu teor. Do lado socialista, procurava-se fragilizar Cavaco Silva, a sua equipa e a ideia de um PSD renovado, acusando este partido de ter «virado à direita» (Silva 2002: 79). Também com o propósito de desvalorizar o trajeto do chefe do PSD, situando-o num lugar menor ou periférico da vida política portuguesa, o experiente Mário Soares, um dos atores decisivos no que diz respeito ao processo de implantação da democracia no País, mencionava, em especial junto da imprensa que lhe era mais próxima, que «só conhece Cavaco de nome» (In Lima 2004: 38). A ser assim, não admira que o referido parco conhecimento pessoal que existia entre Mário Soares e Cavaco Silva pudesse suscitar um agravamento das diferenças e das desconfianças que ensombravam as relações entre PS e PSD, minando ainda mais o funcionamento e a consistência do Governo do Bloco Central. Na verdade, para não serem novamente surpreendidos, os socialistas assumiam que queriam que o jovem líder social-democrata respondesse, sem margem para dúvidas, se acatava o acordo PS/PSD. Ora, na ótica de Cavaco Silva, «o acordo celebrado entre os dois partidos não estava a ser cumprido em pontos essenciais. O PS impedia a concretização de medidas nele previstas, dominava em seu proveito a comunicação social estatizada e ocupava os cargos públicos sem respeito pelo critério da competência» (2002: 74).

É, pois, evidente que se aproximava, a olhos vistos, o “dia D” para o Executivo chefiado por Mário Soares, dado que, sem fulgor e coesão, entrara numa espiral de descrédito. O PS optava por fazer tábua rasa dos reparos oriundos do seu parceiro e socorria-se, repetidamente, do acordo firmado com o PSD no tempo de Mota Pinto. Por sua vez, o recém-eleito líder social-democrata e a sua equipa procuravam fugir à erosão que causava, na popularidade do partido, a prática política do Bloco Central, alimentando a dinâmica de mudança iniciada pouco antes na Figueira da Foz. O próprio Cavaco admite que, concluído o Congresso, percebia que o cenário ideal para o PSD passava pela dissolução da Assembleia da República e pela marcação de eleições legislativas antecipadas, antes das presidenciais, «no caso de chegar ao fim a coligação com o PS» (2002: 83), que, na realidade, se sabia estar ferida de morte.

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Portanto, só à luz destes considerandos é possível entender, verdadeiramente, a gestão política social-democrata que se seguiu ao Congresso Nacional, não só apostada em libertar o partido de um Governo cada vez mais cadaveroso, mas também a preparar as hostes para um novo combate eleitoral. Com efeito, sem perder tempo com festejos, a nova direção do PSD decidiu elaborar um documento distribuído por nove pontos (Silva 2002: 76-78) e dirigido ao PS, relatando as condições ou exigências programáticas que deviam ser atendidas para que a coligação ganhasse outra atitude e revigorado fôlego. Não obstante, descortina-se facilmente que o procedimento servia, na prática, para esticar a corda da coligação, testando ao máximo os socialistas, pelo que, em rigor, se tratava de um estratagema para desfazer o Bloco Central, isto sem colocar a opinião pública irremediavelmente contra os sociais-democratas, dando mesmo uma imagem de parceiro dialogante, aplicado na procura de soluções, minorando, assim, eventuais custos políticos para o partido.

As principais esperanças do PS na sobrevivência da aliança com o PSD baseavam-se nas negociações em curso para a entrada de Portugal na CEE e nos melhores dias que a partir daqui haveriam de advir para o País e, consequentemente, para os partidos que suportavam o Governo. O processo negocial estava na reta final, com data já agendada para a cerimónia de assinatura do Tratado de Adesão. Porém, devemos acrescentar que Cavaco manifestava determinadas reticências em relação a alguns aspetos técnicos do dossiê agrícola. Procurando, por certo, elevar o seu protagonismo e marcar diferenças em relação ao PS, fomentando junto da opinião pública uma imagem de competência e de defesa intransigente dos interesses portugueses, exigiu que fossem levadas a cabo melhorias na área em questão. A resposta do PS foi bastante dura, carimbando a postura do recém-eleito líder social-democrata de irresponsável e antipatriótica, declarando até que poderia colocar em risco a formalização da adesão lusa à CEE (Silva 2002: 76). Ademais, os socialistas descreviam Cavaco como um cético face ao movimento da construção europeia. Seja como for, importa assinalar a deslocação a Bruxelas de uma delegação portuguesa que conseguiu ainda inserir as correções que, supostamente, acautelavam o interesse nacional.

Pois bem, perante a esterilidade de resultados provenientes das rondas de conversações entre os representantes dos dois partidos, os sociais-democratas, no dia 4 de junho, participam aos socialistas a rutura da aliança governamental. Em defesa desta sua radical decisão, sublinham «a recusa reiterada do PS em aceitar o conjunto de medidas propostas pelo PSD e contidas nos acordos celebrados entre os dois partidos, em ordem a garantir a eficácia e a relançar a confiança no Governo» (Texto aprovado na reunião de 03-06-1985, da Comissão Política Nacional do PSD, in Lima 2004: 40).

Conscientes dos riscos que corriam, os sociais-democratas operaram, rapidamente, no sentido de fundamentar junto da comunicação social a sua deliberação, precisando também que os ministros e secretários de Estado do seu partido abandonariam o Governo a 13 de junho, portanto no dia seguinte ao do ato de assinatura do Tratado de Adesão, consumando, desta forma,

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o divórcio entre as forças políticas que suportavam o Bloco Central. Nesse exercício de legitimação da posição do PSD, Cavaco Silva assumia uma atitude bastante crítica para com os socialistas, chegando mesmo a acusá-los de terem manuseado a sua posição no Governo em prol dos seus interesses eleitorais, remetendo, assim, para Mário Soares e respetiva candidatura ao lugar de presidente da República (Silva 2002: 82). Quanto ao PS, culpabilizava o PSD por mais esta grave crise política, declarando que não receava a realização de novas eleições legislativas.

No dia imediato ao de Portugal ter rubricado o Tratado de Adesão à Comunidade Europeia, os sociais-democratas requereram ao general-presidente que convocasse eleições antecipadas, alertando tratar-se da única solução verdadeiramente democrática para a crise. Como é percetível, Ramalho Eanes deparava-se com uma boa oportunidade para infligir uma pesada derrota ao PS e a Mário Soares, supondo, entre outros aspetos, que um mau resultado dos socialistas ajudaria a impossibilitar a chegada do seu grande rival à presidência da República. Nesse sentido, o PRD, em 1985, e Salgado Zenha, em 1986, constituiriam as armas prediletas do eanismo na luta contra o seu maior oponente. Reportando-se às legislativas de 1985, Maritheresa Frain adverte que «Eanes sabia que o PRD averbaria avanços significativos se influenciasse pela esquerda o eleitorado socialista descontente» (Frain 1996: 976). Uma vez que ainda se debatia com numerosas falhas na sua organização, a única dúvida residia em saber se o novo partido tiraria já o máximo proveito da situação de fragilidade em que o PS vivia. Enfim, o ato eleitoral, marcado para 6 de outubro, aclararia as coisas.

Como é óbvio, na sequência da dissolução da coligação, Cavaco Silva ficou totalmente impossibilitado de se apartar do combate político contra uma campanha negativa que visava claramente descredibilizá-lo junto dos Portugueses, movida estrategicamente pelo PS, com a conivência da comunicação social estatizada que este partido dominava. Cavaco era caracterizado pela informação ligada aos socialistas como uma personagem instável, nervosa e conservadora. Nessa fase, era notória a deliberada presença de Mário Soares nos telejornais, cultivando um discurso de vitimização e, consequentemente, responsabilizando o PSD e o seu jovem líder por Portugal ter mergulhado num contexto difícil. Porém, é perfeitamente legítimo considerar que Mário Soares, animal político por excelência, tentava também manejar a conjuntura de modo a consolidar a sua posição de candidato presidencial. Adotando uma atitude firme, Cavaco Silva retorquia, ao histórico dirigente socialista, que «o principal responsável pelo fracasso de um governo é o primeiro-ministro…» (In Lima 2004: 42). Dito isto, mais do que nunca, o PSD concentraria a sua mensagem política na ideia de mudança, que, do seu ponto de vista, exigia um novo estilo de governação.

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O Terramoto Eleitoral de 1985

No decurso do período eleitoral, tornou-se evidente que o PS estava profundamente debilitado pela imagem pouco positiva, acerca do seu desempenho no Governo do Bloco Central, que se vinha enraizando junto da opinião pública. Concomitantemente, a propaganda que o partido lançava contra Cavaco Silva revelava-se pouco eficiente, visto que o discurso do líder do PSD emergia como algo de refrescante num quadro pautado pelo pessimismo, inclusive pela resignação. Ciente da importância de criar esperança no seio da população, de salientar que o País não estava irremediavelmente perdido num beco sem saída, Cavaco lutava contra os sentimentos negativos que invadiam a sociedade, falando no advento de uma era diferente e solicitando aos Portugueses um voto de confiança, embora reconhecesse que sobravam motivos para que duvidassem dos políticos: «Portugal está a entrar numa nova fase. Não fiquem descrentes dos políticos, apesar de terem razão para isso» (Sampaio 19-09-1985).

Perante o receio de «que a recusa liminar de um entendimento com o CDS afastasse o eleitorado da direita do PSD» (Silva 2002: 86), foi elaborada uma proposta pública aos centristas. Não perderemos tempo com as peripécias do processo, apenas diremos que, por uma questão de coerência, logo também de credibilidade, Lucas Pires optou por rejeitar coligar-se com o PSD. De facto, entendia que não podia inverter o seu discurso dos dois últimos anos, de crítica aos sociais-democratas, mesmo sabendo que a sua expetativa de colocar o CDS no lugar cimeiro dos partidos da direita (Telo 2008: 9), naturalmente à custa do PSD, teria muito poucas probabilidades de se concretizar, após a entrada em cena de Cavaco Silva. Deste modo, o PSD avançou para as eleições legislativas com listas próprias, indicando, contudo, que os centristas constituíam o seu aliado preferencial para a formação do Governo, no caso de vitória no escrutínio com maioria relativa (Silva 2002: 87 e 88). Nesse sentido, ficou decidido levar a cabo uma campanha que não hostilizasse o CDS, mas também, sublinhe-se, o PRD, «com o qual o PSD poderia ter de se entender no futuro» (Silva 2002: 88).

Sem dúvida, para Cavaco Silva, o seu adversário era o PS (2002: 88), encabeçado então por Almeida Santos, já que Mário Soares se afastara das lides partidárias com o intuito de cuidar da sua preparação para as disputadas eleições presidenciais que se avizinhavam. Incompreensivelmente, Almeida Santos, que fora escolhido à pressa pelo seu partido, iniciou a campanha eleitoral a rogar aos Portugueses que lhe concedessem 43%, valor que assegurava a maioria absoluta. Talvez acreditasse que este desígnio ou artifício triunfalista ajudaria a firmar junto dos eleitores a convicção de que o PS era, tal como eles, uma vítima da irresponsabilidade social-democrata e, como tal, não deveria ser penalizado, mas, sim, reforçado na sua representatividade por ser a única formação partidária à altura das exigências do exercício governativo. Infelizmente para ele, ninguém acreditava que os socialistas pudessem obter esse score, tanto mais que o partido disputava as eleições antecipadas sem o seu líder tradicional. De igual modo, importa precisar que Almeida Santos

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assumia «a herança da continuidade», pelo que o PS se apresentava perante o eleitorado «como o grande herdeiro e responsável pela obra do Bloco Central», colocando-se, portanto, numa situação que só podia conduzir à sua penalização nas urnas (Telo 2007: 245). Além disso, Almeida Santos surgia aos olhos de muitos portugueses como um político esgotado, em virtude do seu envolvimento em numerosas experiências de Poder desde a Revolução de Abril de 1974 e que, à luz da evolução dos acontecimentos, não tinham evitado a crise que abalava drasticamente o País. A sua experiência não era, portanto, valorizada, transformando-se antes num handicap, posto que propiciava a colagem ao candidato socialista de uma imagem de político ultrapassado.

Naquela altura, Fernando Piteira Santos, que assinava no Diário de Lisboa a reputada coluna de análise intitulada «Política de A a Z», interroga-se justamente sobre a viabilidade da estratégia socialista, tendo em consideração os 36,1% atingidos pelo partido nas legislativas de 1983: «Na perspectiva do Partido Socialista afigura-se irrealista esperar do eleitorado a “maioria para governar”, aquela margem de crescimento das votações que se solicita: “apenas … mais 7 pontos”. Mas “7 pontos” são muitos milhares de portugueses. Perguntar-se-á – à custa de que sectores, de que partidos, de que camadas abstencionistas, pretende o Partido Socialista atingir a alta percentagem de 43 por cento?» (Santos 17-09-1985).

Para complicar ainda mais as contas, o universo político nacional deparava-se com o aparecimento de uma nova formação partidária que originava, desde logo, uma onda de imprevisibilidade: trata-se do PRD, que, como muito bem assinala Cavaco Silva, «foi para o PSD uma benesse preciosa, sem a qual dificilmente teria sido o primeiro partido na votação» das legislativas de 1985 (2002: 95). Os renovadores encaravam o presidente da República, Ramalho Eanes, então na reta final do seu segundo mandato, como a sua grande figura inspiradora. E, sem surpresa, a lista dos apoiantes do PRD contemplava muitos elementos que estavam profundamente desgostosos com a trajetória seguida pelo PS no Bloco Central. Restava saber até que ponto a performance eleitoral dos socialistas, ou de outras forças, seria molestada pela eclosão deste jovem partido, quando era cada vez mais visível que o País se preparava para entrar numa nova fase política, não só em virtude do rol de transformações que as eleições legislativas e as presidenciais poderiam originar, mas também das condições que resultariam da nossa integração na CEE.

Durante a campanha eleitoral, e apesar dos sociais-democratas se queixarem da escassez de meios, «que não têm comparação com os do PS», alerta Dias Loureiro (In Sampaio 17-09-1985), Cavaco Silva atuou, com determinação, no sentido de esclarecer que a nova liderança não possuía qualquer relação com as políticas do Governo do Bloco Central, classificadas de inoperantes, e que o PSD constituía a única verdadeira alternativa «ao conservadorismo socialista e ao liberalismo clássico» (Silva 2002: 92), alegando-se, também, o risco do PS poder, muito bem, aliar-se com o PCP. «Retomar a esperança», como já explicitámos, era o ponto central da mensagem de Cavaco, salientando-se, concomitantemente, que «o PSD sabe o caminho a seguir» (In Lima 2004:

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42). O corte com a prática anterior e a publicitação de um PSD rejuvenescido, unido, pragmático e pouco ideológico, com linhas de rumo e visão de futuro, favoreciam o objetivo de levar o eleitorado a culpabilizar os socialistas pelo seu infortúnio, enquanto Cavaco e o seu partido surgiam, pela sua suposta clarividência, como os salvadores do País e mesmo da democracia (Frain 1996: 978). Nesse sentido, investia-se, declaradamente, na valorização do percurso de vida de Cavaco Silva, aludindo que ele era alguém com quem o cidadão comum se podia identificar. Em termos gerais, enalteciam-se as suas origens humildes e algarvias, a sua distância em relação à velha aristocracia política lisboeta, a sua dimensão de chefe de família, os seus valores morais, como a honestidade e a coragem (recordando-se, neste último ponto, que ele era o homem que não tivera medo de romper com os socialistas), a sua progressão profissional assente no trabalho, bem como as suas competências técnicas e, consequentemente, a sua dimensão de reputado economista. Conforme refere ao Diário de Lisboa o diretor de campanha e secretário-geral do PSD, Manuel Dias Loureiro: «Não basta ter um bom programa. É também fundamental apresentar alguém com capacidade e credibilidade para o levar à prática» (In Sampaio 17-09-1985). Ou como afirmaria, pouco depois, Cavaco Silva: «a chave do Governo é o primeiro-ministro», tratando-se, sem dúvida, de um tema que lhe era muito caro (In Sampaio 19-09-1985).

Nesta caminhada eleitoral, Cavaco não deixava de potenciar o seu rosto de grande herdeiro de Sá Carneiro, recuperando, por exemplo, a conhecida estratégia da bipolarização do antigo líder social-democrata, naturalmente com vista a tornar o PSD o partido dominante do espetro político nacional. Conforme escreve Fernando Lima, «Cavaco Silva preconizava a existência de dois blocos de Poder, um baseado nos sociais-democratas e outro nos socialistas, que se alternariam no Governo» (2004: 43). Este projeto hegemónico ajuda, igualmente, a explicar a preferência cavaquista pela candidatura às presidenciais de Diogo Freitas do Amaral, com quem, diga-se, fruto de uma maior proximidade ideológica e, inclusive, da partilha de uma forte sensibilidade reformista, seria, hipoteticamente, muito mais fácil cooperar, mormente no âmbito da correção dos alegados excessos socialistas: «Chegou, pois, o momento de travar a degradação. Chegou a fase das grandes transformações regeneradoras. Chegou o tempo das reformas», lia-se, em 1985, na obra Uma Solução para Portugal (Amaral 1985: 24). É também evidente que a aposta em Freitas do Amaral funcionava como um ensaio protagonizado pelo PSD de penetração no corpo eleitoral conservador e, portanto, de neutralização do CDS como competidor político no Norte e no Interior do País (Frain 1996: 981), dificultando ainda mais a vida deste pequeno partido no tocante à demonstração das suas diferenças relativamente ao PSD, à inversão da tendência de indistinção que os anos de parceria na AD desencadearam (Magalhães 2005: 181) em claro benefício eletivo do partido maior. E, de facto, o futuro próximo será pouco risonho para o CDS, pois teremos um PSD a estender profundamente os seus tentáculos sobre a direita, com a obtenção de duas maiorias absolutas nas eleições legislativas de 1987 e de 1991.

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Mas a movimentação social-democrata em favor do antigo líder do CDS também decorria da circunstância de operar como um voto anti-Soares. Com efeito, é perfeitamente visível que, para Cavaco, escolher Mário Soares e, consequentemente, a lógica do bloco central seria o equivalente a traçar um caminho com efeitos diametralmente opostos aos que eram visados. Constituiria um passo que limitaria ainda mais a autonomia do partido e até seria possível que redundasse, num futuro relativamente próximo, na absorção de parte da base de apoio do PSD pelo PS, remetendo a formação partidária do falecido Sá Carneiro para um papel secundário na vida política nacional.

Com o País a afundar-se numa sensação geral de desmoralização e de descrença, Cavaco Silva, símbolo por excelência da propaganda social-democrata, investia no anúncio de uma nova maneira de fazer política, liberta, no seu entender, dos velhos vícios que prejudicavam os níveis de eficácia da governação. Assegurava ao eleitorado «mais acção e menos retórica; mais competência e cumprimento das promessas feitas; mais coerência e menos manobras de bastidores; mais isenção e menos compadrio; mais verdade e menos demagogia» (Silva 2002: 92). Invocava, igualmente, a sua participação no Governo de Sá Carneiro «para trazer à memória uma forma de estar no poder que, em geral, era admirada pelos Portugueses» (Silva 2002: 92). Percorrendo quase todos os concelhos do País, o que implicava um inusitado esforço físico, e remando contra o desânimo, Cavaco Silva trabalhava na elaboração de um discurso que sustentava que Portugal poderia dar a volta por cima e caminhar, definitivamente, em direção aos elevados patamares de progresso e bem-estar idealizados. O responsável maior pelo PSD procurava, assim, ilustrar o período que se vivia como o arranque decisivo de um novo ciclo, explicando que o fim do Bloco Central constituía não um revés intransponível, mas uma excelente ocasião para derrubar a onda de desencantamento e retificar a difícil situação nacional.

Por mérito próprio, demérito dos adversários e influência de outros fatores, no fim da disputa eleitoral, na noite de 6 de outubro, o PSD obtinha o seu melhor resultado desde a fundação do partido em 1974 (Frain 1996: 978-979). Na verdade, emergia mesmo como a única formação partidária que conseguira ampliar o seu número de eleitores relativamente a 1983. O PRD ficava no terceiro posto, com 17,92 % (45 mandatos), e os socialistas no segundo lugar, com 20,77% (57 mandatos), averbando uma queda de quase 16%. Quanto à APU (15,49%, 38 mandatos) e ao CDS (9,96%, 22 mandatos), não impediram a perda de cerca de 2,5% do seu eleitorado (Fontes: Comissão Nacional de Eleições; Diário da República), inserindo-se este resultado numa tendência que se traduzirá nos anos seguintes no notório emagrecimento dos partidos dos extremos, tanto da esquerda como da direita, e no crescimento dos partidos alinhados ao centro, a ponto de verem as suas hipóteses de conquista de maiorias absolutas francamente reforçadas e inclusive confirmadas. «O mais preocupante para o futuro da democracia portuguesa foi o aumento significativo da abstenção eleitoral, que chegou a quase 26% em 1985, quando em 1975 fora de apenas 8%», aponta Maritheresa Frain (1996: 979).

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Observador atento, Piteira Santos anota que «os resultados destas eleições legislativas antecipadas são significativos e são condicionantes. Não poderão ser ignorados pelo Presidente da República e pelos dirigentes partidários. Condicionam a solução governativa que importa encontrar e condicionam, também, não só as eleições autárquicas, como as eleições presidenciais. Não vamos afirmar que tudo mudou na política portuguesa, mas alguma coisa mudou» (Santos 07-10-1985).

O triunfo eleitoral obtido por Cavaco Silva, com a encorajadora cifra de 29,87% (88 mandatos), não lhe possibilitava, todavia, formar um Governo monopartidário de maioria absoluta. Olhava-se para o lado e percebia-se, de imediato, que nem mesmo com os votos do CDS, sem dúvida o aliado preferido e mais natural, o PSD reuniria a percentagem necessária à constituição de um Governo que não fosse minoritário. Por outro lado, para empregarmos uma linguagem recorrente nos manuais de Ciência Política (Proença 2010: 375), face ao fracasso da anterior fórmula de Governo, composta pelo PS e PSD, também não havia condições para a repetição do multipartidarismo perfeito sedimentado numa grande coligação central dos dois maiores partidos nacionais, embora, desta vez, sob a liderança social-democrata. Assim, depois de avaliar os prós e contras, o líder social-democrata decidiu-se, especificamente, por um Executivo de maioria relativa que fosse, no mínimo, bastante homogéneo. Isto equivale a dizer que a imposição deste Governo monocolor e minoritário dependia, logo à nascença, da vontade do presidente da República em aceitar essa decisão e, ainda, da atuação da terceira força política, os renovadores. Ora Ramalho Eanes respondeu afirmativamente a Cavaco, «coisa que não aconteceu antes, quando o PS, finda a coligação do Bloco Central, quis tentar constituir uma nova solução governativa», recorda, com algum azedume, Mário Soares (2011: 355). Por seu turno, ao comunicar que se absteria, o PRD demonstrou que estava disposto a deixar passar o novo Governo, até porque a jovem formação partidária necessitava de ganhar tempo e protagonismo, sobretudo de modo a cimentar o seu eleitorado. Compreensivelmente, devia evitar, logo no começo da sua ação parlamentar, vingar como uma força geradora de instabilidade, procurando antes confirmar a sua bandeira de partido por excelência da seriedade e da moralização política.

Constituído num período em que o País atravessava uma grave crise financeira, socioeconómica e político-partidária, neste último caso particularmente visível no domínio dos partidos fundadores do Bloco Central, o PRD tentou, nas eleições antecipadas de outubro de 1985, obter a adesão de muitos daqueles que se encontravam descontentes com o estado da política nacional, sobretudo em relação à esfera socialista. Os renovadores apresentaram-se como uma iniciativa de revigoramento do sistema partidário português, fomentando um discurso, em parte populista e demagógico, de ataque aos partidos tradicionais e à inaptidão de muitos políticos. Por via da sua implantação, pretendiam, igualmente, que Ramalho Eanes, logo que concluído o seu derradeiro mandato, pudesse continuar na vida política ativa e no desenvolvimento da sua genética ação arbitral, reunindo até condições favoráveis ao lançamento de um candidato seu à presidência. É sabido que os mais devotos apoiantes

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do general opinavam que o seu capital de experiência, aliado à avaliação de rigor e honestidade com que vinha cumprindo as suas funções de supremo magistrado da Nação, não podia, de maneira alguma, ser desperdiçado. Entendiam que fazia muito mais sentido preparar o terreno para que as capacidades de Ramalho Eanes continuassem a ser exploradas no futuro do que insistir, por exemplo, nos mesmos políticos responsáveis pelo Bloco Central, cujo desempenho governativo era merecedor das maiores críticas. Em boa verdade, ninguém poderá negar que o surgimento do PRD derivava, apreciavelmente, da crescente rivalidade entre Eanes e Soares.

Excedendo as melhores expetativas, o eleitorado concedeu aos renovadores um resultado volumoso nas legislativas de 1985. Conforme já indicámos, o PRD arrecadou 17,92 % dos votos, um pouco menos de 3% que o PS (20,77%, 57 mandatos). Sugestivamente, no seu dossiê «Especial Eleições», o Diário de Lisboa de 7 de outubro declarava em letras grossas: «PRD charneira com 45 deputados. Eanes é o grande vencedor». Para este notável score, devemos, precisamente, ter em conta as alusões feitas durante a campanha ao general Eanes. Afinal, o seu nome fora assiduamente invocado como vulto inspirador do partido, tirando-se, propositadamente, proveito do seu elevado prestígio e promovendo-se a noção da sua imprescindibilidade à política portuguesa. Paralelamente, o envolvimento da sua mulher, Manuela Eanes, na campanha eleitoral não deixara, como é óbvio, de representar um sinal claro de que o general-presidente patrocinava a nova formação partidária. Não obstante, a razão principal para esta percentagem decorre da inequívoca vontade de castigar os socialistas pela sua questionável prestação no Governo do Bloco Central, o que causou a avultada transferência de votos para os renovadores e o descalabro do PS. Claro está que, em relação ao futuro imediato, o facto de disputarem a liderança da esquerda tornaria extremamente problemático o entendimento político entre estas duas forças partidárias, já à partida bastante minado pelos conhecidos atritos entre Eanes e Soares. Só que, como lembra Mário Soares, «o PRD revelar-se-ia um autêntico bluff, de que Eanes acabou por ser o principal perdedor» (2011: 355; Avillez 1997: 29). Entre os muitos males de que padecia, faltava-lhe, sem dúvida, um corpo ideológico perfeitamente definido, bem como uma feição política que estivesse em total sintonia com os novos tempos. De facto, ao ser erigido em torno de uma alta figura militar, o PRD «sublimaba esa influencia militar en el sistema de partidos y en el político, prolongándola bajo vestimentas civiles», refere Manuel Braga da Cruz (d.l. 1998: 314). Porém, em 1985, era o PS que constituía o grande derrotado das legislativas, «pois não se dera conta do enorme desfasamento do País em relação aos seus dirigentes e à sua prática governativa», observa António Reis (1992: 76).

Quanto ao PSD, apesar de ter participado diretamente na anterior fórmula governamental, o triunfo de Cavaco Silva no Congresso da Figueira da Foz e a estratégia eleitoral de firme combate ao PS de Almeida Santos, combinada com um discurso político focalizado na ideia de mudança para melhor, não deixaram de aparecer como um corte frontal com esse passado recente. Ou seja, Cavaco, certamente convicto da viabilidade das suas propostas, mas

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também movimentando-se com alguma argúcia, consegue evitar que os sociais-democratas sejam punidos nas urnas. Impede, portanto, a ascensão de uma perigosa incursão do PRD pelo eleitorado do PSD, que, por sinal, até viu a sua percentagem crescer. «A sua vitória de 1985 rompeu com anos de “paz podre” do Bloco Central e permitiu uma acção política mais programática, livre da obrigação de consensos falsos e paralisadores», sustenta, orgulhosamente, Miguel Relvas (Juventude Social-Democrata 2010: 58).

Voltada a página das eleições, era notório que Portugal necessitava urgentemente de concretizar uma série de reformas indispensáveis à sua modernização e desenvolvimento; porém, restava saber se o novo Governo, para mais minoritário, estaria em condições e à altura das circunstâncias e dos desafios. Justamente, num artigo intitulado «A Oportunidade de Cavaco Silva», o economista Xavier Pintado alertava que o grande teste à sua política económica radicaria «na sua capacidade para iniciar um verdadeiro processo de crescimento sustentado da economia e da sua transformação estrutural» (In Lima 2004: 45).

Aparentemente, um primeiro passo havia sido dado com a aposta de Cavaco em várias caras novas para o sufrágio, seguindo posteriormente a mesma orientação em relação à composição da equipa governamental. Pretendia-se com isso conceder sangue novo à bancada laranja e ao Executivo, certamente na esperança de recolher elevados níveis de dinamismo e de eficiência, limitando-se, paralelamente, os pontos de contacto com a anterior e pouco apreciada experiência do Bloco Central. Este género de medida era do agrado de boa parte da opinião pública, visto que, por ocasião da campanha, muitos foram aqueles que questionaram Cavaco Silva sobre a sua idade e que clamaram por gente nova para governar, advertindo, sem subterfúgios, que «os velhos estão caducos» (In Lima 2004: 46). Assim, pouco mais de dez após a Revolução de Abril, e sob o próprio impulso da crise que afetava o País, observa-se, naquilo que podemos interpretar como mais um dos muitos sinais de que Portugal estava a transitar para uma nova fase política, o crescimento do desejo popular de mudança geracional, que o PSD de Cavaco, melhor do que outros, percebeu.

Enfim, sem prejuízo de outras valiosas características, é possível afirmar que, «entre 1976 e 1987, Portugal apresentou uma democracia mais próxima do “modelo consociativo” ou da “visão proporcional”, nomeadamente sempre com governos de coligação […] ou minoritários». Também é admissível dizer-se que a «eleição de 1985 terá sido crítica: marcou um ponto de viragem para o período posterior, de 1987 em diante […]. O aparecimento do PRD, e a fluidez do voto que desencadeou, terá permitido que, de 1987 em diante, se tenha verificado uma viragem no sentido da “democracia maioritária”», usando palavras de André Freire (Freire 2011: 67-68).

Vendo bem, as legislativas de 1985 formam uma espécie de prefácio ou de antecâmara ao escrutínio de 1987, à passagem ao sistema de partido dominante e a uma significativa estabilidade política, deixando para trás uma instabilidade

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governamental endémica. As primeiras eleições ganhas por Cavaco Silva integram uma série de acontecimentos que alimentaram o despertar de um novo ciclo político, o qual, no que concerne às lides partidárias, já não será protagonizado, embora por diferentes motivos, pelos líderes históricos dos três principais partidos democráticos que dominaram o Pós-25 de Abril: Francisco Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Mário Soares (Telo 2007: 238). Acrescente-se que, no quadro do célere reajustamento partidário em curso desde meados dos anos 80, assistiremos em 1987, 1991 e 1995 a «uma redução clara no número de partidos activos» (Figueiredo 2004: 114-115). Mas a noção em torno das legislativas de 1985 singrarem como uma espécie de prefácio às do ano de 1987 resulta também do facto do Governo minoritário, constituído na sequência da primeira data, ter anunciado ou esboçado certas reformas de vulto que só estarão em condições de ser levadas a cabo depois da segunda data, quando o País inaugura a sua experiência de maiorias absolutas de um só partido. Vale a pena ouvirmos Cavaco Silva a este respeito:

«O meu primeiro Governo, apesar da vontade política demonstrada, não tinha conseguido realizar grandes avanços em matéria de reformas estruturais, devido ao seu derrube ao fim de dezoito meses e à obstrução dos partidos da oposição na Assembleia da República.

Conquistada a maioria absoluta, eu considerava como um indeclinável dever patriótico promover a aprovação das leis que permitissem concretizar as grandes mudanças no Estado e na economia, e que tão necessárias eram para que Portugal pudesse enfrentar com sucesso os desafios da modernidade e do progresso, e conseguisse reduzir o fosso que o separava do nível médio de bem-estar da Comunidade Europeia. Este foi um objectivo que dominou muito o meu espírito ao longo da legislatura de 1987-1991. Eu achava que falharia como primeiro-ministro, se não concretizasse as reformas de que há tanto tempo se falava. A estabilidade política propiciada pela maioria absoluta não era um fim em si mesma, mas antes um instrumento adequado para promover o desenvolvimento económico e o progresso social» (Silva 2004: 39-40).

Em síntese, concluídas as etapas do PREC e da consolidação da democracia e fruto de condições excecionais, o partido vencedor das eleições de outubro de 1985, o PSD, poderia esperar tempos dourados e com isso um longo reinado (reafirmado em 1987 e 1991), visto que os maiores sacrifícios já haviam sido supostamente realizados e tornava-se doravante possível beneficiar dos resultados vantajosos dos reequilíbrios económico-financeiros em vias de serem alcançados, dos prometidos auxílios (afluxos financeiros) da CEE, da rivalidade que subsistia na área da oposição entre as duas principais forças, a socialista e a renovadora, e da crise que se vinha abatendo, a nível mundial, sobre os partidos comunistas. E, de facto, Portugal, para além de ver a consolidação do seu regime democrático inequivocamente reconhecida pelos seus parceiros europeus, isto por meio da nossa aceitação no seio da CEE, registaria, nos próximos anos, taxas de crescimento invulgares, inclusive acima da média comunitária, embora, à luz dos dados entretanto reunidos, se deva hoje qualificar esse período de prosperidade relativa e algo artificial, por ter sido fomentado à custa de défices excessivos e sem o nível de dinamização

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mais adequado do aparelho produtivo. Por outro lado, depois da eleição presidencial de 1986, sem dúvida uma das causas e um dos efeitos da abertura de uma nova fase política, o Governo social-democrata teve de conviver não já com um presidente militar, mas, sim, com um civil, sinal esclarecedor de que a normalização democrática se tinha instalado.

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