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4008 CÓDIGOS DE CONDUTAS EMPRESARIAIS: UM ENSAIO DE QUALIFICAÇÃO JURÍDICA * CÓDIGOS DE CONDUCTAS EMPRESARIALES: UN INTENTO DE CUALIFICACIÓN JURÍDICA Lais Machado Lucas RESUMO O presente trabalho tem por objetivo analisar os Códigos de Condutas emanados por empresas privadas, como forma de autorregulação. Para isso, se estudará o contexto em que estes documentos surgiram no cenário empresarial, suas principais características e as vinculações destes documentos com o direito vigente. O estudo também intenta classificar estes códigos, fazendo uma separação quanto ao conteúdo, distinguindo aqueles Códigos de Boas Práticas de Governança Corporativa, daqueles de Responsabilidade Social Corporativa. Além disso, o trabalho preocupa-se em verificar a natureza jurídica destes códigos. Para melhor conectar o estudo com as práticas de mercado, toda a teoria desenvolvida no trabalho será cotejada com Códigos já existentes, das empresas Petrobras e Banco Itaú. PALAVRAS-CHAVES: AUTORREGULAÇÃO GOVERNANÇA RESPONSABILIDADE – CORPORATIVO RESUMEN Este trabajo tiene por objetivo analizar los Códigos de Conducta hechos por empresas privadas como medio de auto-regulación. Así, se hará un estudio del surgimiento de estos documentos, sus principales características y los enlaces de estos documentos con la legislación actual. El estudio también hace uma clasificación de estos códigos, con una separación cuanto el contenido, distinguiendo los Códigos de Prácticas del Buen Gobierno, de los de Responsabilidad Social Corporativa. Además, el trabajo se ocupa de verificar La naturaleza jurídica de estos códigos. Para conectar mejor el estudio con la práctica del mercado, toda la teoría desarrollada en la obra se comprobarán con los códigos vigentes, de las empresas Petrobras y Banco Itaú. PALAVRAS-CLAVE: AUTO-REGULACIÓN - GOBIERNO - RESPONSABILIDAD – CORPORATIVO Introdução. * Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.

CÓDIGOS DE CONDUTAS EMPRESARIAIS: UM ENSAIO DE ... · o que levou a uma difusão de textos relativos ao governo societário, nascendo o denominado "Corporate Governance Movement"

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CÓDIGOS DE CONDUTAS EMPRESARIAIS: UM ENSAIO DE QUALIFICAÇÃO JURÍDICA*

CÓDIGOS DE CONDUCTAS EMPRESARIALES: UN INTENTO DE CUALIFICACIÓN JURÍDICA

Lais Machado Lucas

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar os Códigos de Condutas emanados por empresas privadas, como forma de autorregulação. Para isso, se estudará o contexto em que estes documentos surgiram no cenário empresarial, suas principais características e as vinculações destes documentos com o direito vigente. O estudo também intenta classificar estes códigos, fazendo uma separação quanto ao conteúdo, distinguindo aqueles Códigos de Boas Práticas de Governança Corporativa, daqueles de Responsabilidade Social Corporativa. Além disso, o trabalho preocupa-se em verificar a natureza jurídica destes códigos. Para melhor conectar o estudo com as práticas de mercado, toda a teoria desenvolvida no trabalho será cotejada com Códigos já existentes, das empresas Petrobras e Banco Itaú.

PALAVRAS-CHAVES: AUTORREGULAÇÃO – GOVERNANÇA – RESPONSABILIDADE – CORPORATIVO

RESUMEN

Este trabajo tiene por objetivo analizar los Códigos de Conducta hechos por empresas privadas como medio de auto-regulación. Así, se hará un estudio del surgimiento de estos documentos, sus principales características y los enlaces de estos documentos con la legislación actual. El estudio también hace uma clasificación de estos códigos, con una separación cuanto el contenido, distinguiendo los Códigos de Prácticas del Buen Gobierno, de los de Responsabilidad Social Corporativa. Además, el trabajo se ocupa de verificar La naturaleza jurídica de estos códigos. Para conectar mejor el estudio con la práctica del mercado, toda la teoría desarrollada en la obra se comprobarán con los códigos vigentes, de las empresas Petrobras y Banco Itaú.

PALAVRAS-CLAVE: AUTO-REGULACIÓN - GOBIERNO - RESPONSABILIDAD – CORPORATIVO

Introdução.

* Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.

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O mercado tem uma lógica própria. Esta lógica faz com que seus instrumentos de funcionamento se modifiquem e aperfeiçoem de forma dinâmica, buscando nas mais variadas áreas do conhecimento os subsídios para o seu desenvolvimento.

O mercado atual exige rapidez, versatilidade e, sobretudo, credibilidade e segurança. Diante da sua lógica peculiar e das exigências prementes, o mercado, através das próprias empresas que o compõem, buscou no Direito Privado recursos para atender à essas "urgências", sem ter que enfrentar problemas tais como demora legislativa, falta de conhecimento técnico dos agentes, etc. A gênese da solução foi dada pela autonomia privada como fonte normativa, poder jurisgênico conformador das condutas dos sujeitos responsáveis: é na autonomia privada - isto é, o poder de se dar as próprias normas - que deve-se situar a gênese dos Códigos de Condutas Empresariais.

Os Códigos de Condutas Empresariais surgiram, de forma significativa, na década de 90, com o advento do movimento denominado Governança Corporativa. Tinham por finalidade tornar públicas as intenções, objetivos e metas das empresas, a fim de promover a transparência e confiança do mercado. Desde então, esses documentos não pararam de se difundir sendo, nos dias atuais, quase que uma "obrigação" das grandes empresas.

Apesar dos vários exemplares que hoje se tem registro, os Códigos de Condutas Empresariais não são objeto de estudo por parte da doutrina nacional, que insiste em classificá-los como simples "Códigos de Ética", não os analisando como fenômeno jurídico. Esta realidade é bem diferente na Europa e nos Estados Unidos, onde existe grande preocupação, por parte dos estudiosos do tema, em definir, classificar e atribuir validade e eficácia para estes Códigos[1].

Inspirado por doutrina, sobretudo européia, o presente trabalho tem por objetivo averiguar a natureza jurídica dos Códigos de Condutas Empresariais analisando-os do ponto de vista da distinção entre os planos do negócio jurídico, sistematizada por Pontes de Miranda. Será necessário mencionar as peculiaridades dos Códigos de Condutas, fazendo-se uma divisão levando em conta seus conteúdos e destinatários e traçar os pontos de contato entre os tipos encontrados.

Durante todo o estudo será feito um paralelo entre a doutrina pertinente à matéria em comento e dispositivos de Códigos de Condutas vigentes. Foram escolhidos para análise os Códigos de Condutas do Banco Itaú S/A e da Petrobrás.

1 Códigos de Conduta como Modelo Normativo

1.1 Espécies de Códigos de Condutas e seus Princípios.

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, de Celso Pedro Luft, a palavra código significa "compilação de leis dispostas sistemática e metodicamente", ou ainda, "conjunto de regras convencionais que permitem a comunicação". A palavra conduta, significa a "procedimento, comportamento".

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Por estas definições, conforme o vocabulário, concluímos que a expressão "código de conduta", significa "um conjunto de regras que emanam procedimentos e/ou comportamentos".

No entanto, a linguagem jurídica trouxe para o âmbito do direito empresarial esta expressão para designar aqueles documentos que contenham orientações de condutas para as empresas. Essas orientações podem ser sobre forma Código de "Governança Corporativa" ou sobre Código "Responsabilidade Social Corporativa",

Muitos documentos costumam misturar estes dois tipos de orientações, mas a doutrina especializada tem conceitos bem distintos para os "Códigos de Governança Corporativa[2]" e para os "Códigos de Responsabilidade Social Corporativa".

Luís Fernández de la Gándara, autor espanhol especialista no tema, diz, de forma geral, que os códigos de conduta são "reglas de comportamiento correcto dictadas por los propios intervinientes en eses sector de la actividad económica y financiera con la finalidad de conformar sus actividades profesionales y de prevenir la realización de prácticas jurídicas o moralmente sancionables."

Mais adiante, ainda no mesmo texto, completa que é "el conjunto de principios y reglas relativos al comportamiento de ciertos operadores económicos, incorporadas a un solo acto o instrumento formal, bajo fórmulas flexibles que implican un asentimiento mínimo a determinados principios y están dotadas en consecuencia de contenido y efectos jurídicos[3]."

Esse autor não separa em seu conceito os distintos tipos de códigos, limitando-se a falar em "regras de comportamento".

Aguilar, em "Códigos Éticos para el Mundo Empresarial", procura definir os Códigos de Responsabilidade Social Corporativa, expondo que os códigos emitidos por empresas ou por outras organizações são documentos que devem conter recomendações de conduta ética, principalmente para as empresas multinacionais. Defende que estes documentos devem ocupar-se de temas como corrupção e suborno, práticas trabalhistas, políticas de marketing, impacto no desenvolvimento ecológico e cultural, relação com o país onde a empresa vai se situar e com seu país de origem[4].

Maluquer de Motes, assim como Fernández de la Gándara, não expõe que tipo de princípios ou regras deve conter o código de conduta, ressaltando somente o principio da confiança. Diz que

"ciertamente los Códigos de Conducta son propuestas o principios que se llevan a cabo por la propia ley, por agrupaciones de empresas o por empresas de un sector, con la finalidad de establecer unos principios y unas reglas de garantía y de cumplimiento, para todas las empresas que operan en el sector o para las empresas que forman parte y se encuentran agrupadas o incorporadas a la asociación. (...) Realmente son principios apropiados para dar mayor seguridad y confianza a las relaciones entre las empresas y a las relaciones entre empresas y consumidores.[5]"

Quijano Gonzáles já se põe ao lado dos códigos que tratam de Governança Corporativa, inclusive lhes atribuindo outra nomenclatura:

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"Códigos de Buen Gobierno operan como requerimientos dirigidos a las sociedades, sobre todo a las cotizadas, y más específicamente a sus órganos de gestión con el fin de que, en uso de su capacidad de autorregulación, introduzcan determinados criterios de organización, funcionamiento, adopción de decisiones, control, etc., que garanticen más participación, más información y más supervisión[6]."

Com base nestes conceitos, tem-se forma bastante cristalina que além de possível, é necessária a divisão dos códigos de conduta empresariais em dois grandes grupos: os Códigos de Governança Corporativa e os Códigos de Responsabilidade Social Corporativa.

Um código de conduta pode ser considerado como de Governança Corporativa quando contém recomendações para a gestão administrativa e financeira da empresa e para todos seus órgãos com poderes diretivos. Os princípios básicos destas recomendações são: transparência (disclosure), senso de justiça (fairness), prestação responsável de contas (accountability) e cumprimento das normas legais do lugar onde se encontra (compliance).

Os códigos de conduta de Responsabilidade Social Corporativa serão aqueles com conteúdo ético de acordo com os credos corporativos da empresa, que expõem a relação da empresa com a sociedade em que está radicada.

Dessa distinção dos códigos quanto ao seu conteúdo derivam duas premissas básicas que sustentam a importância deste tema, porque o insere no ordenamento jurídico pátrio: os códigos de Governança Corporativa estão fundados nos princípios da lealdade, boa-fé e diligência e, os códigos de Responsabilidade Social Corporativa refletem o princípio da função social.

•1.2 Fundados na Diligência e na Boa-Fé

Os códigos de Governança Corporativa são códigos de conduta fundados na diligência e na boa-fé. Antes de melhor defini-los e apresentar suas principais características, cumpre fazer uma breve análise sobre a Governança Corporativa.

Costuma-se dizer que o movimento da Governança Corporativa teve seu início nos anos 80, com as exigências da globalização da economia, com a incidência de graves escândalos financeiros e crises empresariais, com a ascendência dos investidores institucionais e com a necessidade de se criar um sistema mais ágil de regulamentação que o processo legislativo estatal.

Ocorre que, existem relatos que as raízes da Governança Corporativa são mais antigas. Nos Estados Unidos, os problemas com os escândalos financeiros começaram no início dos anos 70 (1973), com o conhecido caso "Watergate". Guillermo Guerra Martín[7], em sua obra, explica que,

"se descubrió que algunas sociedades estadounidenses habían realizado durantes los años anteriores contribuciones ilegales a la financiación de la campaña electoral del Presidente Nixon, así como pagos de soborno a altas personalidades de gobierno

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extranjero. Ante estos hechos, la SEC (Securities and Exchange Comisión) anunció un período de amnistía durante el cual, aquellas sociedades que voluntariamente hicieran publica la comisión de actos ilegales no serian investigadas por este organismo. Muchas sociedades procedieron, entonces, a realizar una investigación interna sobre sus propias actividades e informaron públicamente, en lo que supuso una serie de revelaciones realmente impactantes para la opinión publica, sobre un numero elevado de casos de conducta ilegal o al menos cuestionable desde un punto de vista ético. Estas revelaciones crearon la conciencia generalizada de que las practicas de gobierno y dirección de las sociedades cotizadas y las medidas de control del management establecidas, tanto por los legisladores, organismos supervisores y mercados, como por las propias sociedades, eran inadecuadas e ineficaces y de que resultaba necesario proceder a su revisión, bien a través de reformas legislativas, bien a través de la regulación de la SEC."

Diante destes acontecimentos, o legislador federal americano promulgou em 1977 a "Foreign Corrupt Practices Act", que ditava novas regras sobre o sistema de contabilidade das empresas estadounidenses. Além desta lei, começaram muitos debates sobre o Direito de Sociedades e a forma de governo das empresas, que levaram o nome geral de "Corporate Governance".

Com isso, muitos grupos de estudos se formaram para discutir os novos caminhos do Direito de Sociedades, entre os quais se deve destacar o trabalho realizado pelo "American Law Institute" (ALI), que iniciou em 1978 e depois de 15 anos, publicou, em 1994, os "Principles of Corporate Governance: Análisis and Recommendations". O texto, ainda que controvertido, foi objeto de análise por grande parte da doutrina, uma vez que "adopta un formato mixto, combinando la formulación de principios para que puedan ser tenidos en cuenta por los tribunales y legisladores, con recomendaciones destinadas de forma más directa a la aplicación práctica por las sociedades."[8]

A partir das recomendações da ALI, muitas outras surgiram, emitidas por empresas, associações empresariais, fundos de pensões, associações de investidores institucionais, o que levou a uma difusão de textos relativos ao governo societário, nascendo o denominado "Corporate Governance Movement". Este movimento se mantém ate hoje, agora quase como uma obrigação para aquela empresa que negocia suas ações em Bolsas de Valores e que se compromete com o mercado.

O movimento da "Corporate Governance" não teve expressão somente nos Estados Unidos, mas também, foi amplamente desenvolvido na Europa Continental e Inglaterra. No Brasil, a Governança Corporativa foi introduzida na década de 90, acompanhando as mudanças econômicas e políticas que país passava. Os movimentos estratégicos que desencadearam esta nova tendência foram: a inserção global, a integração regional, a abertura econômica, as privatizações, novos marcos regulatórios (criação de agências nacionais, por exemplo) e a desmonopolização[9].

Em 1995 foi criado o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, que lançou em caráter oficial, o primeiro "Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa" como sugestão de documento a ser seguido pelas empresas. No entanto, a consagração da Governança Corporativa no Brasil se deu em 2001, pela criação dos "Níveis Diferenciados de Governança Corporativa" pela BOVESPA e pela promulgação da Lei 10.303, de 2001.

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A BOVESPA, seguindo a tendência das Bolsas mundiais, lançou em 2001 um seguimento de mercado destinado a empresas que observavam regras de Governança Corporativa em sua gestão. Este seguimento, dividido em Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado tem regras especiais de participação, impondo às empresas aderentes práticas de Governança, que, se descumpridas, podem levar a exclusão dos níveis diferenciados. A vantagem de participar destes seguimentos é a maior credibilidade que eles garantem, pela observância de condutas transparentes, dentro dos limites da legislação nacional, entre outras que baseiam o movimento da Governança.

A Lei 10.303 de 2001, que alterou dispositivos da Lei 6.404 de 1976, trouxe para dentro do ordenamento jurídico brasileiro princípios da Governança Corporativa. Destaca-se o artigo 15, § 2°[10], que preconiza que o número de ações preferenciais emitidas, sem direito a voto, não pode ultrapassar 50% (cinqüenta por cento) do total de ações e o artigo 254-A, que trata da aquisição do controle da companhia e da oferta pública de ações (OPA)[11].

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, esta pode ser definida como "o sistema pelo qual, as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade". Explica ainda que, "na teoria econômica tradicional, a governança corporativa surge para procurar superar o chamado "conflito de agência", presente a partir do fenômeno da separação entre a propriedade e a gestão empresarial. O "principal", titular da propriedade, delega ao "agente" o poder de decisão sobre essa propriedade. A partir daí surgem os chamados conflitos de agência, pois os interesses daquele que administra a propriedade nem sempre estão alinhados com os de seu titular. Sob a perspectiva da teoria da agência, a preocupação maior é criar mecanismos eficientes (sistemas de monitoramento e incentivos) para garantir que o comportamento dos executivos esteja alinhado com o interesse dos acionistas"[12].

Arnoldo Wald[13], sobre o conceito de Governança Corporativa coloca que,

"do ponto de vista técnico, podemos dizer que o conjunto de medidas que assegura o funcionamento eficiente, rentável e eqüitativo das empresas deve assegurar a prevalência do interesse social sobre os eventuais interesses particulares dos acionistas, sejam eles controladores, representantes da maioria ou da minoria. Trata-se, portanto, da criação do Estado de Direito dentro da sociedade anônima, em oposição ao regime anterior de onipotência e de poder absoluto e discricionário do controlador ou do grupo de controle".

Por estas definições, conclui-se que Governança Corporativa tem por escopo promover a harmonização de interesses entre os acionistas (proprietários) e os administradores da sociedade, fazendo com que estes últimos cumpram o seu papel em prol da coletividade da empresa e não com base em interesses pessoais, criando valor e promovendo o crescimento da empresa. Para atingir estes objetivos, o instrumento da Governança deve se basear em quatro pilares: fairness (senso de justiça), disclosure (transparência de informações), accountability (prestação responsável de contas) e compliance (conformidade no cumprimento de normas). Ademais disso, verifica-se que a

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Governança Corporativa tem destinatários específicos: os administradores e os acionistas.

O instrumento para o exercício da Governança são os chamados "Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa". Estes documentos encerram as regras a serem cumpridas pelos administradores e acionistas para que se mantenha o bom desempenho da empresa.

Assentados nos quatro pilares já referidos, esses documentos ainda trazem no seu espírito os deveres de diligência e boa-fé que todo o administrador deve ter no exercício de suas funções[14].

O dever de diligência, contemplado no Código Civil de 2002 e na Lei 6.404 de 1976[15], pode ter três conotações distintas: 1.sentido psicológico ( tensão da vontade para cumprimento do dever); 2. sentido normativo (grau de esforço exigível para determinar e executar a conduta que representa o cumprimento de um dever); e 3. sentido objetivo (grau de esforço necessário para atingir certo fim, independentemente de saber se este é ou não devido e sem referência a nenhuma pessoa concreta)[16].

Para o estudo do dever de diligência dos administradores, a acepção mais importante é a normativa "que significa o grau de esforço exigível de alguém para que cumpra determinada obrigação, evitando a lesão a direitos subjetivos alheios".

Segundo Amador Paes de Almeida[17], "os administradores assumem, para com a companhia e para com os acionistas desta, uma série de obrigações, consubstanciadas nos seguintes deveres: diligência, lealdade e informação". Prosseguindo, o autor define o dever de diligência como sendo "o emprego de meios adequados à administração da companhia". Coloca ainda que "o administrador diligente é zeloso, esforçado, utilizando-se sempre de métodos racionais e próprios à consecução dos fins desejados".

Sobre o dever de lealdade, o referido autor o concebe como o procedimento fiel, que se orienta pelas leis de dever e da honra. Já o dever de informar, peculiar das sociedades anônimas, seria a obrigação de pôr o acionista a par de atos e fatos relevantes nas atividades da sociedade[18].

Flávia Parente engloba todos esses deveres no dever de diligência, consistindo este, então, nos deveres de se qualificar para o exercício da função, de bem administrar, de se informar, de investigar, de vigiar, de atuar de acordo com as finalidades de suas atribuições, de ser leal, de evitar situações de conflito de interesses e de informar os acionistas[19].

Conjugando estes deveres dos administradores com os Códigos de Melhores Práticas, Olcese Santoja expõe que,

"(...) simplemente nos permitimos enfatizar la importância de "medir" la labor de los Consejos de Administración. Ésta es uma de las funciones más importantes que tienen los códigos y guias de buen gobierno corporativo. Estos códigos y documentos semejantes contribuyen a mejorar lo que el profesor Edgar Shein há denominado la "cultura empresarial", y que es reflejo al mismo tiempo del "estándar ético" de la

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sociedad y del grado de responsabilidad de sus integrantes, entre quienes se encuentran, obvio es decilo, los empresários. El grado de "cultura empresarial" no se pude medir solo con normas legales sino que se tornan necesarios otros instrumentos (como los códigos de autogobierno y su efectivo cumplimiento por las propias empresas). La responsabilidad no se agota en el cumplimiento de las leyes"[20].

Todos esses deveres estão expostos de forma bem clara nos Códigos sob análise neste trabalho. No "Código de Boas Práticas" da Petrobras, o artigo 1° já é taxativo: "Caberá ao Diretor de Relações com Investidores zelar para que as informações sobre ato ou fato relevante ocorrido ou relacionado aos negócios da Petrobras sejam divulgadas ao mercado na forma prevista na legislação e neste Código". Sobre os deveres dos administradores, estipula o artigo. 18 que, "Todos os administradores e funcionários integrantes da Administração Superior da Petrobras têm para com a mesma o dever de lealdade e devem, em conseqüência, conduzir-se de forma a evitar a ocorrência de quaisquer situações que possam, de alguma forma, caracterizar um conflito de interesses e afetar os seus negócios e operações". No mesmo sentido, o artigo 21: "Os administradores e funcionários integrantes da Administração Superior da Petrobras devem servir com lealdade as atribuições que a lei e estatuto lhe conferem para lograr os fins no interesse da Companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa".

Acerca da Política de Relacionamento com os Investidores, o artigo 30 preconiza: "A Petrobras, em princípio, adotará a política de não endossar recomendações de investimentos apresentadas por analistas, nem tampouco comentar suas conclusões ou previsões de resultados, que deve refletir opiniões independentes".

O Código do Banco Itaú, tratando da responsabilidade dos gestores expõe que "não se devem transmitir visões enganosas da situação da Empresa, nem exercer pressão sobre os auditores independentes, pois isso comprometeria a credibilidade pública do Itaú". Quanto ao relacionamento com os acionistas, o Código afirma a prática da Governança Corporativa, dando poderes fiscalizadores e de gestão ao Conselho de Administração, garantindo a segurança das informações e atendendo as exigências legais dos paises em que o Banco atua para os demonstrativos contábeis.

A diferença primordial entre os dois códigos decorre do fato do código do Banco Itaú ser "uno", isto é, reúne as recomendações de Governança Corporativa e de Responsabilidade Social Corporativa em um único documento, e a Petrobras ter adotado códigos separados para cada matéria, o que se entende ser mais oportuno.

O outro princípio norteador dos Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa é a boa-fé.

Reza o art. 113 do Código Civil que "os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração". A presença do princípio da boa-fé no ordenamento jurídico pátrio não é nova, já que o Código Comercial de 1850 determinava que a interpretação dos negócios comerciais deveria se dar de acordo com aquele. Aliás, atreve-se a dizer que a boa-fé está na gênese do direito.

Paula Forgioni[21], discorrendo sobre o princípio, conclui com exatidão:

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"A boa-fé no direito comercial não desempenha apenas uma função moral, desconectada da realidade dos negócios e fundada em valores outros que não a busca do melhor funcionamento do mercado. Ao contrário, reforça as possibilidades de confiança dos agentes econômicos no sistema, diminuindo o risco. A boa-fé - agora, em todo o direito privado - é um catalisador de fluência das relações no mercado".

No entanto, é conceituando a boa-fé que se terá a visão clara de como ela se insere nos Códigos de Melhores Práticas. Judith Martins-Costa separa a boa-fé em subjetiva e objetiva. A boa-fé, segundo a ilustre doutrinadora, "diz-se subjetiva justamente porque, para sua aplicação, deve o interprete considerar a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou íntima convicção. Antitética à boa-fé subjetiva está a má-fé, também vista subjetivamente como a intenção de lesar a outrem"[22].

Já por boa-fé objetiva tem-se o

"modelo de conduta social, arquétipo ou standard jurídico, segundo o qual 'cada pessoa deve ajustar a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria um homem reto: com honestidade, lealdade, probidade'. Por este modelo objetivo de conduta levam-se em consideração os fatores concretos do caso, tais como o status pessoal e cultural dos envolvidos, não se admitindo uma aplicação mecânica do standard, de tipo meramente subsuntivo"[23].

Os Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa atendem ao princípio da boa-fé objetiva, que conjuga-se ou, porque não dizer, abarca o deve de diligência. Neles estão expressos modelos de condutas, com os quais os administradores das empresas se comprometem para o bem desta e também para atingir os resultados almejados pelos seus acionistas e investidores.

•1.3 Fundados na Função Social

Para iniciar este ponto, relatam-se dois casos:

Caso I - Nike: Na década de 90, organizações civis de direitos humanos denunciaram que a empresa de artigos esportivos Nike, se utilizava de mão de obra "quase" escrava, nos países asiáticos, para a confecção de seus produtos. A procura por aqueles países se dava pela total falta de legislação protetiva aos trabalhadores e também pelo custo baixíssimo da mão de obra. Em decorrência da ausência de meios de trabalho dignos e excesso de carga horária, alguns operários faleceram enquanto trabalhavam.

A primeira reação da Nike diante das denúncias foi a negação, que não surtiu efeitos face as provas evidentes. Esta situação gerou para a Nike uma perda de 50% (cinqüenta por cento) no valor das suas ações.

A situação ficou ainda pior quando, em 1997, um relatório interno da empresa, que admitia o conhecimento de tais práticas exploratórias, chegou às mãos do público. Foram, inclusive, movidas ações judiciais contra a Nike.

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Para recuperar a sua credibilidade junto à sociedade, nos anos de 1999 e 2000, a Nike aumentou em 53% (cinqüenta e três por cento) a sua verba para campanhas publicitárias, que tinham como principal tema o combate à exploração do trabalho escravo. Além disso, a empresa renovou o seu "código de conduta" e iniciou uma estratégia de marketing para dissociar sua marca da imagem dos sweatshops ("oficinas de suor" - denominação utilizada para as empresas asiáticas que exploram a mão de obra) da Ásia.

Caso II - Shell: Desde 1956 a empresa Shell explora petróleo no continente africano, mais precisamente na região do Delta do Rio Níger. Na década de 70, a empresa já havia sido acusada de patrocinar a guerra civil que ocorria na região a fim de garantir a sua continuidade naquele país. Além disso, outras denúncias como degradação ambiental, exploração de trabalho humano e desinteresse no desenvolvimento social da região, também ecoavam contra a empresa.

Em 1992, o escritor Ken Saro-Wiwa publicou um livro denunciando todas as atrocidades cometidas pela Shell e Chevron ao povo "Ogoni", na Nigéria. Três anos depois, este escritor foi enforcado a mando do governo nigeriano, juntamente com mais oito pessoas, que lutavam contra a exploração nociva dos recursos naturais africanos.

A situação ficou bastante complicada para a Shell, porque poucos meses antes da execução dessas pessoas, o seu gerente geral para a Nigéria, Naemeka Achebe, explicou o apoio da empresa à ditadura no país, arguindo que é necessário um ambiente de estabilidade para as empresas que querem realizar investimentos e as ditaduras oferecem isto.

A Shell foi denunciada como participante/mandante dos enforcamentos.

Em 2005, a Shell lança seus "Princípios Gerais de Negócios da Shell", estabelecendo no "Princípio 4" que "A Companhia não realiza pagamentos a partidos ou organizações políticas ou a seus representantes, nem participa em partidos políticos". Nos "Princípios 5 e 6", expõe seu compromisso com a saúde, segurança e meio ambiente e com as comunidades locais onde atua.

Conforme referido anteriormente, os códigos emitidos pelas empresas, que contém essencialmente normas de caráter ético, que expressam seus valores sociais, são códigos de Responsabilidade Social Corporativa. Esta, "consiste na obrigação da empresa de maximizar seu impacto positivo sobre os stakeholders (clientes, proprietários, empregadores, comunidade, fornecedores e governo) e minimizar o negativo. Há quatro tipos de responsabilidade social: legal, ética, econômica e filantrópica".[24]

Levando em consideração os conceitos e teorias clássicas que tentam explicar o fenômeno da empresa, tem-se que esta nada mais é do que uma atividade economicamente organizada, com a finalidade de gerar lucros para os seus sócios e acionistas. O objetivo da empresa se traduz na maximização do valor de mercado da mesma. Esta maximização também serve para demonstrar a eficiência e capacidade dos órgãos diretivos da empresa, sendo o principal parâmetro da autuação destes.

Ocorre que, como mostram os dois casos relatados acima, não basta a empresa fazer uma administração voltada tão somente para os seus acionistas; o público externo detém

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cada vez mais poder para determinar o sucesso ou o insucesso de uma organização. Há, aqui, uma ponderação dos conceitos capitalistas: será que é só lucro que importa?

Segundo a consultoria McKinsey[25], a resposta ao questionamento feito é negativa. Em pesquisa realizada sobre a responsabilidade social corporativa, foram destacados pelos entrevistados quatro pontos que devem fazer parte das agendas das empresas, além dos lucros: (1) a exploração de novas tecnologias (como a biotecnologia e os tratamentos terapêuticos); (2) assunção de atividades e serviços, antes prestados pelos entes públicos (serviços de públicos ou atividades de interesse geral); (3) o comércio (exportação e importação) com países em vias de desenvolvimento; (4) a elaboração de produtos manufaturados em países em vias de desenvolvimento, utilizando seus recursos humanos (o chamado "dumping social").

Complementando este pensamento e estabelecendo a conexão entre Responsabilidade Social Corporativa e lucratividade, Olcese Santoja esclarece que "la necesidad de la 'responsabilidad social' de las empresas parece estar suficientemente asentada en la sociedad, por lo que los administradores deben considerar la visión que la sociedad tenga de la empresa como um activo intangible importante"[26].

Esteban Velasco, coloca que

"sobre la llamada responsabilidad social de las empresas, que plantea la cuestión de la hoy llamada actuación socialmente responsable de la empresa, reverdeciendo el viejo debate de la función social de la empresa (mas allá de la filantropia, como instituición socioeconômica, creadora de riqueza no solo para sus propietarios) y sobre el papel de la ética em la economia de mercado, cuando recientes y graves escândalos en el corazón del mundo capitalista cuestionan que pueda funcionar y sobrevivir la economia sin um sistema de valores morales compartidos, que corrija los excesos del autointerés lucrativo y aporte legitimción social al sistema de las empresas privadas"[27].

A responsabilidade social corporativa, no entanto, não é tão somente uma estratégia de "marketing" ou um ativo intangível. Quando praticada com os elementos e com os propósitos já expostos, ela reflete o princípio da função social da empresa.

No ordenamento jurídico brasileiro não há que se questionar sobre a existência ou não da "função social da empresa", já que esta encontra mais de um fundamento constitucional que a possa garantir. A primeira corrente doutrinária entende que a função social da empresa deriva da função social da propriedade, presente no art. 170[28], da Constituição Federal de 1988, seja porque o regime jurídico da empresa esteja diretamente vinculado ao regime jurídico da propriedade dos bens de produção[29], seja porque a sociedade empresária é a "proprietária das propriedades economicamente organizadas"[30]. Outra corrente aponta como fundamento o princípio da solidariedade, presente no artigo 03º da Constituição Federal, que visa garantir a todos a "igual dignidade social". Na lição de Maria Celina Bodin de Moraes, "o princípio constitucional da solidariedade identifica-se, assim, com o conjunto de instrumentos voltados para garantir uma existência digna, comum a todos, em uma sociedade que se desenvolva como livre e justa, sem excluídos ou marginalizados"[31]. Por ser princípio constitucional, que se irradia por todo o ordenamento infraconstitucional, a solidariedade deve estar presente também na atividade

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empresarial, na medida em que o empresário não deve se preocupar somente com os lucros, mas com a sociedade onde está inserido.

Muito antes da Constituição Federal, a Lei 6.404, de 1976, que dispõe sobre as Sociedades Anônimas, já trazia dispositivos que contemplavam o princípio da função social. O parágrafo único do art. 116 estabelece que "o acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender".

O caput do art. 154, tratando dos deveres e responsabilidades dos administradores, reafirma o princípio: "O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa".

O Código Civil de 2002 não trouxe no seu texto disposição expressa sobre a função social da empresa, reconhecendo, no entanto, em outros institutos este princípio.

Olcese Santoja expõe de forma mais clara e sob outra ótica a função social da empresa, que para ele vai além de maximizar impactos positivos para os stakeholders:

"Desde el punto de vista de la sociedad civil, la empresa es um importante bien social por cuatro razones: primero, porque crea trabajo; segundo, porque aporta bienes y servicios necesarios para la sociedad; tercero, porque a través de sus ganacias aumenta el bienestar de la sociedad, y cuatro, porque es un instrumento social privado, independiente del Estado, para el sostén moral y material de otras actividades de sociedad civil"[32].

Não há dúvida que mais importante que parecer socialmente responsável é agir de tal forma. Mas, como mostram os casos relatados inicialmente, a mudança de conduta não é suficiente para desfazer ou amenizar os equívocos cometidos: é preciso transformar a conduta socialmente responsável em normas rígidas para a própria empresa.

Neste contexto surgem os códigos de Responsabilidade Social Corporativa, que têm por objetivo primordial explicitar qual é função social daquela empresa que o emite.

A empresa Petrobras denomina o seu código de responsabilidade social corporativa de "Código de Ética do Sistema Petrobras". Nele, aborda oito pontos: cumprimento da Governança Corporativa; relação da Petrobras com os empregados; relação dos empregados com a Petrobras[33]; relações com fornecedores, prestadores de serviços e estagiários; relações com clientes e consumidores; relação com o meio ambiente; relação com a comunidade; e relações com a sociedade, Governo e Estado[34].

Na exposição de motivos do Código, dois pontos chamam a atenção: primeiro o compromisso público expresso da empresa em fazer valer os princípios do código; segundo, o benefício da empresa em ter o documento, já que este proporcionou a sua adesão ao Índice Mundial Dow Jones de Sustentabilidade, a partir de setembro de 2006.

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Nas disposições complementares, cabe ressaltar a expressa determinação de que o Código de Ética abrange os membros do Conselho de Administração, dos Conselhos Fiscais, das Diretorias Executivas, os ocupantes de funções gerenciais, os empregados, os estagiários e os prestadores de serviços.

Ademais, verifica-se que a empresa criou ouvidorias especiais para a denúncia de infrações contra o código, que poderão resultar na adoção de medidas disciplinares que compõem o Sistema Petrobras. Tem-se, assim, além de um sistema "autorregulador", um sistema "auto-sancionador".

O Banco Itaú, no seu Código de Ética Corporativo, abordou o relacionamento interno, os conflitos de interesse, a preservação das informações, os favores e os presentes[35], a segurança financeira pessoal[36], a responsabilidade dos gestores, as relações com os clientes, as relações com os acionistas, as relações com s fornecedores, as relações com o setor público, as relações com os concorrentes, as relações com a mídia e as relações com a comunidade.

Assim como a Petrobras, o Banco Itaú também criou um órgão especifico para monitorar o cumprimento e adequação do Código, chamado de Comissão Superior de Ética. No entanto, o mais interessante do documento do Itaú, é o reflexo da consciência empresarial que "o mero respeito às leis não dá conta da complexidade das repercussões que as ações empresariais podem provocar".

O que se constata com o conteúdo desses documentos é que existe um sentido "moral" que vem permeando as relações empresariais, fazendo com que os administradores utilizem ao máximo das suas habilidades para conjugar esta realidade com o intuito financeiro e econômico que caracteriza as relações negociais.

Mesmo havendo doutrina que suscite controvérsias quanto à Responsabilidade Social Corporativa[37], não se pode questionar o bem que esta proporciona tanto para quem a pratica, quanto para quem usufrui de seus resultados. Utilizando as palavras proferidas pelo Desembargador Sérgio Dulac Muller, em palestra realizada na Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul, em 2005, a Responsabilidade Social Corporativa, quando praticada com puro interesse econômico, nada mais é do que uma "hipocrisia saudável", que ademais de seus interesses produz resultados positivos.

2 Códigos de Conduta Empresarial como Negócio Jurídico Unilateral.

Tendo bem claras as definições e as características dos Códigos de Governança Corporativa e dos Códigos e Responsabilidade Social Corporativa, cumpre agora analisar a sua natureza, como fenômeno jurídico[38].

2.1 A Autonomia Privada.

A concepção de um código de conduta empresarial por uma empresa requer três pressupostos distintos, mesmo que nem sempre eles estejam expostos, durante o

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processo criativo, de forma metódica e cristalina e, devidamente individualizados pelos autores: sem vontade, liberdade e autonomia não se um faz código de conduta empresarial.

Ao analisar o fenômeno da autonomia privada, acentua Francisco dos Santos Amaral Neto, não se pode analisar a vontade - no sentido em que é relevante para o Direito - subsumindo-a no sentido psicológico, em que é "uma faculdade espiritual do homem que manifesta uma tendência, um impulso para algo, a realização de um valor intelectualmente conhecido[39]". A vontade se apresenta diferenciada conforme o campo de conhecimento, tal como a ética ("a vontade é uma atitude ou disposição moral para querer algo"), a filosofia ("a vontade é uma entidade a que se atribui absoluta subsistência e se converte, por isso, em substrato de todos os fenômenos") e, assim, também, no direito. Neste campo a vontade é elemento que "influi sobre a validade ou sobre a eficácia (do negócio jurídico); ela age sobre um negócio já existente, corrigindo-o, auxiliando o seu entendimento e preenchendo suas omissões"[40].

Quando o indivíduo atua de acordo com a sua vontade, diz-se que ele está usando da sua liberdade, não cabendo aqui esmiuçar todos os conceitos inerentes a ela. O que interessa é que a liberdade que o indivíduo possui no âmbito jurídico de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas, regular juridicamente tais relações, determinando-lhes conteúdo e eficácia, protegido pelo manto do direito, chama-se autonomia privada.

Nas palavras de Pontes de Miranda[41], a autonomia

"é o espaço deixado às vontades, sem se repelirem do jurídico tais vontades. Enquanto, a respeito de outras matérias, o espaço deixado à vontade fica por fora do direito, sem relevância para o direito; aqui, o espaço que se deixa à vontade é relevante para o direito. É interior, portanto, às linhas traçadas pelas regras jurídicas cogentes, como espaço em branco cercado pelas regras que o limitam".

Durante muito tempo estiveram confundidas as noções de "autonomia privada" e "autonomia da vontade". Segundo Judith Martins-Costa, não se deve confundir a autonomia privada - compreendida como o processo de ordenação que faculta a livre constituição e modelação das relações jurídicas pelos sujeitos que nela participam - nem com a autodeterminação ("que é noção da filosofia e "princípio constitutivo do político ") nem com a "autonomia da vontade". Essa expressão designa, segundo a autora, concomitantemente:

"a) uma construção ideológica, datada dos finais do século XIX por alguns juristas para opor-se aos excessos do liberalismo econômico, constituindo "um mito voluntariamente tecido pelos detratores do individualismo, para melhor criticar os seus excessos" ; b) uma explicação dada ao fenômeno contratual, visualizando-o exclusivamente pelo viés do acordo ou consenso mútuo; c)a tradução jurídica de uma forma econômica própria do capitalismo comercial oitocentista, ainda não dominado pela grande empresa e pela produção em massa, aceitando-se, então, a idéia de uma quase que "espontânea" composição dos interesses econômicos interprivados".[42]

Menezes Cordeiro, na obra "Direito das Obrigações[43]", distingue entre autonomia privada e a autonomia da vontade, explicando designar a expressão "autonomia da vontade" o fenômeno que guarda relação com a vontade humana. Nos termos do

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doutrinador português, autonomia da vontade "é a potencialidade jurígena do comportamento humano livre". Francisco dos Santos Amaral Neto[44], na mesma linha de raciocínio de Menezes Cordeiro, coloca a autonomia da vontade como manifestação da liberdade individual no campo do direito, não se discernindo, portanto, de uma conotação psicológica, ou subjetiva.

Já a autonomia privada, na visão de Menezes Cordeiro[45], é aquela que "parte da norma jurídica: é a permissão jurídico-privada de produção de efeitos jurídicos". É chamada de autonomia "privada", porque constitui poder conferido aos privados (e não ao Estado, jungido ao princípio da legalidade). Segundo, ainda, o mesmo doutrinador, "para os normativistas, a autonomia privada é o poder atribuído pelo direito aos particulares de criar novo direito, de criar normas jurídicas".

Francisco dos Santos Amaral Neto expõe que a autonomia privada é o "poder de criar, nos limites da lei, normas jurídicas; (...) é o poder de alguém de dar a si próprio um ordenamento jurídico e, objetivamente, o caráter próprio desse ordenamento, constituído pelo agente, em oposição ao caráter dos ordenamentos constituídos por outros".

Acrescenta, ainda, que

"a autonomia privada constitui-se, portanto, no âmbito do direito privado, em uma esfera de atuação jurídica do sujeito, mais propriamente um espaço de atuação que lhe é concedido pelo direito imperativo, o ordenamento estatal, que permite, assim, aos particulares, a auto-regulamentação de sua atividade jurídica. Os particulares tornam-se, desse modo e nessas condições, legisladores sobre sua matéria jurídica, criando normas jurídicas vinculadas, de eficácia reconhecida pelo Estado. Tratando-se de relações jurídicas de direito privado, os particulares são os que melhor conhecem seus interesses e valores e, por isso mesmo, seus melhores defensores[46]".

A autonomia privada contempla duas "liberdades" que podem ser exercidas de formas distintas: a liberdade de celebração e a liberdade de estipulação. Na liberdade de celebração, "a autonomia privada permite praticar ou não praticar o ato e, portanto, optar pela presença ou pela ausência de determinados efeitos de direito, a ele associados". Já na liberdade de estipulação, "a autonomia vai mais longe: ela permite optar pela prática do ato e, ainda, selecionar, para além da sua presença, o tipo de efeitos que se irão produzir"[47].

A doutrina esposada confirma o jargão jurídico de que a autonomia privada é o espaço concedido pelo próprio ordenamento jurídico para que os particulares se auto-regulem. Parafraseando Pontes de Miranda[48] autonomia privada, é "o que ficou às pessoas" quando o Estado passou a produzir o Direito.

Se a autonomia é o poder de dar-se normas, compreende-se que os códigos de condutas empresariais decorram da autonomia que é conferida às empresas pelo sistema jurídico.

Os códigos de condutas empresariais normalmente são compostos por premissas às quais são conotados deveres que não são impostos heteronomamente às empresas, mas que elas mesmas se impõem. Como exemplo, pode-se referir a política de "relações com os acionistas" do Banco Itaú, que consta do "Código de Ética Corporativa do Itaú"[49]: essa empresa adere à Governança Corporativa, que "implica prestar contas e

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relacionar-se de forma transparente com os acionistas, investidores, analistas de mercado, órgãos reguladores e entidades do mercado de capitais nacional e internacional". À premissa "transparência" é conectado o dever de "fornecer, no momento apropriado, informações claras, exatas, acessíveis, eqüitativas e completas".

Ao impor-se tal prática, e tornar isso público, o Banco Itaú extrapolou os limites da mera liberdade volitiva, com conotação subjetiva; obrigou-se, pelo menos perante aos seus acionistas, a ter determinada conduta, daí decorrendo eficácia jurídica. É nítida a vontade de produção de efeitos jurídicos por parte do Banco emissor do documento, sabendo-se que a "vontade de efeito" caracteriza o negócio jurídico. Nas palavras de Caio Mário[50],

"na causa há, pois, um fim econômico ou social reconhecido e garantido pelo direito, uma finalidade objetiva e determinante do negócio que o agente busca além de realização do ato em si mesmo. Como este fim se vincula ao elemento psíquico motivador da declaração de vontade, pode ser caracterizado, sob outro aspecto, como a intenção dirigida no sentido de realizar a conseqüência jurídica do negócio."

Para confirmar a assertiva acima, basta que se olhe o mesmo documento sob o prisma das liberdades de celebração e estipulação. O agente (Banco Itaú), além de optar pela prática do ato, ainda escolheu os efeitos que este produziria. Havendo liberdade de celebração e de estipulação, e podendo o emissor do ato determinar em larga medida a sua eficácia, caracteriza-se o negócio jurídico[51].

2.2 O Negócio Jurídico.

De posse da conclusão que os códigos de condutas empresariais são fruto da autonomia privada conferida às empresas que os emanam, cumpre analisá-los sob a perspectiva de sua qualificação como um verdadeiro negócio jurídico. Primeiro, para ter-se a certeza que realmente são negócios jurídicos e, segundo, para saber de que tipo.

Pelas conclusões acerca da autonomia privada temos que o negócio jurídico é formado pela declaração de vontade (autonomia privada), em que o agente persegue o efeito jurídico (liberdade de estipulação). Caio Mário[52] define que "o negócio jurídico é uma função da vontade e da lei, que procedem na sua criação, complementando-se reciprocamente".

Junqueira de Azevedo, em sua obra sobre o negócio jurídico, trabalha com as duas teorias que tentam defini-lo e classificá-lo: a teoria voluntarista e a teoria objetivista.

Pela teoria voluntarista, o negócio jurídico é "a manifestação de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos, ou em ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico, ou, ainda, em declaração de vontade[53]". Na concepção da teoria objetivista, o negócio jurídico é "antes um meio concedido pelo ordenamento jurídico para produção de efeitos jurídicos que propriamente um ato de vontade[54]".

Ao retirar de ambos os conceitos seus elementos nucleares, que não se repelem quando unidos, Junqueira de Azevedo concluiu que negócio jurídico "é todo fato jurídico

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consistente em declaração de vontade[55], que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide".

No tópico anterior, elucidou-se a questão dos códigos de condutas empresariais como frutos da autonomia privada. Inserindo-os no contexto do conceito de Junqueira de Azevedo, tem-se que os códigos de conduta são a "declaração de vontade". Basta saber, agora, se eles preenchem os requisitos de existência, validade e eficácia. Para tanto, adotar-se-á a classificação desenvolvida pelo autor mencionado[56].

•2.2.1 Plano da Existência.

Para que o negócio jurídico exista é necessário que ele possua determinados elementos. Junqueira de Azevedo classifica três categorias de elementos:

1. Elementos gerais: podem ser intrínsecos ou constitutivos (forma, objeto/conteúdo, circunstâncias negociais); ou extrínsecos ou pressupostos (manifestação de vontade destinada a produção de efeitos jurídicos, agente, lugar e tempo).

2. Elementos categoriais: são os que caracterizam a natureza jurídica de cada tipo de negócio, não resultando da vontade das partes, mas, sim, da ordem jurídica, isto é, da lei e do que em torno desta, a doutrina e a jurisprudência constroem.

3. Elementos particulares: são eles aqueles que, apostos pelas partes, existem em um negócio concreto, sem serem próprios de todos os negócios ou de certos tipos de negócio.

Como não há nenhuma previsão legal ou "paralegal" que institua regras para os códigos de condutas empresariais, temos que seus elementos são postos de forma bastante livre, atendendo aos desejos de seu emitente.

Tomando como amostra os códigos do Banco Itaú e da Petrobras, verifica-se que ambos adotam um formato de "clausulado", expondo de forma clara e simples o seu conteúdo. O fator de destaque, neste ponto, é o formato digital que adotam. As duas empresas disponibilizam em suas páginas de Internet os referidos documentos.

O objeto/conteúdo dos códigos de condutas analisados é bastante amplo. No entanto, pode-se resumi-lo em dois grandes blocos: disposições acerca de governança corporativa e disposições acerca de responsabilidade social corporativa, conforme a distinção feita na primeira etapa desta pesquisa. O Banco Itaú, no mesmo documento, trata sobre os dois assuntos. Já a Petrobrás optou por fazer documentos separados[57]: um para normas de governança corporativa e outro para normas de responsabilidade social corporativa.

Como já referido, as disposições referentes à governança corporativa[58] guardam relação com o tratamento dos acionistas, políticas de administração, composição dos altos cargos diretivos, etc. No que tange à responsabilidade social corporativa[59], tem-

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se declarações pertinentes ao meio ambiente, à política laboral, ao relacionamento com a sociedade em geral.

Os elementos extrínsecos são bastante evidentes na medida em que já se definiu que os códigos são declarações de vontade com intuito de produção de efeitos jurídicos; pela própria nomenclatura dos documentos percebe-se que seus agentes são pessoas jurídicas de direito público ou privado; face a total liberdade de sua estipulação, podem ser feitos a qualquer tempo e em qualquer lugar.

O elemento categorial dos códigos de condutas empresariais é a própria autonomia privada. Segundo a definição utilizada, elemento categorial é aquele atribuído pela ordem jurídica. Os códigos de condutas são documentos atípicos, não contemplados em nenhuma legislação ou objeto de construção doutrinária e jurisprudencial. No entanto, o ordenamento jurídico contempla a autonomia privada como fonte criadora de relações jurídicas[60], o que confere a tutela do direito sobre os documentos em comento.

Nos códigos analisados, não foram encontrados elementos particulares relevantes passíveis de análise.

Em uma conclusão prévia, pode-se afirmar que os códigos de condutas empresariais detêm os elementos necessários ao plano da existência, ou seja, eles existem no mundo jurídico.

•2.2.2 Plano da Validade.

Para que o negócio jurídico seja válido ele tem que deter os requisitos que a legislação impõe para tal.

O Código Civil de 2002 explicitou no seu art. 104[61] os requisitos essenciais para a validade dos negócios jurídicos, quais sejam, agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. Pode-se acrescer, ainda, a este caso concreto, a idoneidade da declaração de vontade, que deverá ocorrer sem vícios e má-fé.

Transpondo estes requisitos para a realidade dos códigos de condutas empresariais, pode-se deduzir de imediato que estes não possuem problemas quanto a sua validade.

A pessoa jurídica, enquanto agente, é dotada de plena capacidade para os atos da vida negocial. Através de seus representantes legais, pode ela agir e responsabilizar-se pelos seus atos. Quanto ao objeto, também não existem muitas considerações a serem feitas, eis que são totalmente condizentes com as exigências legais. A forma, não sendo prevista em lei, dar-se-á conforme a vontade da parte.

•2.2.3 Plano da Eficácia.

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No plano da eficácia, cumpre transcrever os fatores elencados por Junqueira de Azevedo, para uma melhor compreensão:

"Três nos parecem ser as espécies de fatores de eficácia: a) os fatores de atribuição da eficácia em geral, que são aqueles sem os quais o ato praticamente nenhum efeito produz; (...) b) os fatores de atribuição da eficácia diretamente visada, que são aqueles indispensáveis para que um negócio, que já é de algum modo eficaz entre as partes, venha a produzir exatamente os efeitos por ele visados; quer dizer, antes do advento do fator de atribuição da eficácia diretamente visada, o negócio produz efeitos, mas não os efeitos normais; os efeitos, até a ocorrência do fator eficácia, são antes efeitos substitutivos dos efeitos próprios do ato; (...) c) os fatores de atribuição de eficácia mais extensa, que são aqueles indispensáveis para que um negócio, já com plena eficácia, inclusive produzindo exatamente os efeitos visados, dilate seu campo de atuação, tornando-se oponível a terceiros ou, até mesmo, erga omnes; (...)".

Como referido anteriormente, as declarações contidas nos códigos de condutas são eivadas de conteúdo que denota dever jurídico. A empresa compromete-se a ter determinada conduta perante um grupo de destinatários específicos ou perante a coletividade. A eficácia desta "auto-imposição" está no cumprimento das declarações, pela empresa emitente.

Quando o Banco Itaú afirma que rechaça práticas, tais como, "pressionar subordinados para que prestem serviços de ordem pessoal; assediar sexualmente colaboradores; desqualificar publicamente, ofender e ameaçar explícita ou disfarçadamente os subordinados ou pares; apresentar trabalhos ou idéias de colegas sem conferir-lhes o respectivo crédito; desrespeitar as atribuições funcionais de outrem sem motivo justo", tem-se claro que está declarando a sua política quanto às relações de trabalho, obrigando-se para com os seus funcionários a ter uma conduta vigilante, que fiscalize e, se necessário, repreenda os praticantes de tais condutas. Verifica-se, então, uma eficácia restrita, que vai se operar perante os empregados do Banco Itaú.

Verifica-se, entretanto, uma eficácia para a coletividade, na política de "Relações com o meio ambiente", proposta pela Petrobras. Entre suas principais obrigações estão:

1 conduzir seus negócios e atividades com responsabilidade social e ambiental, contribuindo para o desenvolvimento sustentável;

2 manter padrões de excelência em meio ambiente, a fim de garantir produtos e serviços adequados às expectativas de seus clientes e à legislação ambiental, no Brasil e nos países onde atua;

3 contribuir para a preservação e a recuperação da biodiversidade, por meio da gestão dos impactos potenciais de suas atividades e projetos de proteção a áreas e a espécies ameaçadas;

4 definir de modo claro suas políticas e programas de patrocínio ambiental, com dotação orçamentária e com dispositivos de gestão que assegurem transparência e participação na sua execução;

5 desenvolver programas visando maximizar sua eficiência energética, e o uso de energias renováveis, compatibilizando os interesses do Sistema e o desenvolvimento sustentável dos países em que atua;

6 investir na sustentabilidade de seus projetos, produtos e serviços, maximizando seus benefícios, nas dimensões econômica, social, ambiental e

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minimizando seus impactos adversos e monitorar todo o ciclo de vida das suas instalações, operações e produtos;

7 promover o uso sustentável de água, petróleo, gás natural e energia; a redução do consumo; a reciclagem de materiais; a redução da geração de resíduos sólidos e da emissão de gases poluentes;

8 manter um sistema de gestão ambiental, para melhoria contínua dos seus processos, incluindo a cadeia produtiva e promover ações internas e externas de conscientização ambiental;

9 identificar, avaliar e administrar seus passivos ambientais atuando preventivamente e corretivamente na solução dos problemas que os causaram;

10 comunicar prontamente a seus consumidores, clientes, comunidade e sociedade acerca de eventuais danos ambientais, caso ocorram acidentes;

11 fornecer a seus consumidores, clientes, comunidade e sociedade informações sobre eventuais danos ambientais resultantes do mau uso e sobre a destinação final de seus produtos.

Neste caso da Petrobrás, a eficácia dilata seu campo de atuação, tornando-se "erga omnes", nas palavras de Junqueira de Azevedo, já que o meio ambiente diz respeito a toda coletividade.

•2.3 Os Códigos de Condutas como Negócios Jurídicos Unilaterais.

A doutrina internacional a muito se ocupa de tentar desvendar a natureza jurídica dos códigos de condutas empresariais. Na Espanha, mais precisamente, vários autores já se dedicaram a esta análise, sendo oportuno trazer algumas destas considerações ao presente trabalho.

Cabe, contudo, situar os códigos de condutas empresariais na Europa. No ano de 2000, a Diretiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, que dispõe sobre os aspectos jurídicos dos serviços da sociedade de informação (Internet), estabeleceu que os Estados membros deveriam fomentar a elaboração de códigos de condutas para as empresas que atuavam no comércio eletrônico. A finalidade era estabelecer princípios e regras de garantia e de cumprimento de obrigações para as empresas.

Todos os ordenamentos jurídicos que compõe a União Européia internalizaram tal Diretiva, a fim de incentivar suas empresas a elaborar os tais códigos.

A partir daí, iniciou-se a discussão sobre validade e eficácia desses documentos, tornando-se necessária a definição da sua natureza jurídica.

Maluquer de Motes[62] considera que os códigos de condutas são fontes do direito, atrelados aos costumes, porque "se trata de uma regla que establece um determinado comportamiento para ser realizado".

Alberto Alonso Ureba[63] e Luis Antonio Velasco San Pedro[64] são da opinião que a imposição legislativa de se fazer códigos de condutas é, na realidade, uma delegação estatal para que as empresas se auto-regulem, eximindo-se este (Estado), das implicações e responsabilidades por um processo legislativo lento e falho. Argúem os

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autores que, como o Estado não consegue acompanhar a velocidade das mudanças do mercado, passa para os próprios agentes deste a tarefa da normatização.

Obviamente que eles não consideram esta delegação totalmente maléfica, já que as empresas sabem melhor do que qualquer outra entidade aquilo que necessitam; no entanto, defendem a idéia da restrição de conteúdo, visto que existem matérias na seara empresarial que necessitam da proteção estatal.

Existem ainda aqueles que defendem que os códigos de condutas são meras recomendações éticas. No entanto, todos concordam que não existe natureza contratual nestes documentos.

A doutrina brasileira ainda não deu muita atenção para os códigos de condutas, talvez por estes se apresentarem, na maioria das vezes, como "Códigos de Ética", nomenclatura que não enseja muitas divagações e questionamentos sobre o tema.

Pelas análises até agora feitas, tem-se que os códigos de condutas são negócios jurídicos. Resta saber de que tipo.

Levando-se em conta a "declaração de vontade", definem-se os códigos de conduta como "negócios jurídicos unilaterais", tendo em vista a unicidade desta declaração. A empresa declara a sua vontade sozinha, não necessitando de manifestação em sentido contrário ou no mesmo sentido, para perfectibilizar o seu ato. Nesta seara, cabe transcrever a lição de Caio Mário: "É negócio jurídico unilateral o que se perfaz com uma só declaração de vontade (...). No negócio jurídico unilateral, uma parte como tal, e mediante a formulação de uma declaração de vontade, realiza o fato jurídico gerador de efeitos[65]."

Menezes Cordeiro coloca que

"os negócios unilaterais completam-se, por definição, com a declaração que os consubstancie; dispensa-se qualquer anuência de outros intervenientes. Com especificidades, a doutrina comum apresenta a sua sujeição a um princípio da tipicidade: com base no art. 457 (código civil português), entende-se que apenas seria possível celebrar os negócios unilaterais expressamente previstos na lei, não podendo, pois, compor-se tipos negociais novos, ao abrigo da autonomia privada. Um melhor estudo das fontes revela, no entanto, que a tipicidade é, tão-só, aparente: o legislador permitiu, através de vários esquemas que os interessados engendrem, negócios não tipificados em lei."

Esta questão da tipicidade também é aventada na doutrina brasileira, mas devem-se levar em consideração os ensinamentos de Menezes Cordeiro. Assim como no ordenamento jurídico português, o direito brasileiro permitiu de várias formas que os "atos unilaterais" não somente aqueles elencados nos arts. 854 a 886, do Código Civil. A autonomia privada tem papel fundamental na dilatação dos negócios jurídicos unilaterais.

Remetendo aos códigos de condutas, tem-se, então, que são negócios jurídicos unilaterais, porque há neles somente uma declaração de vontade, com conteúdo maciçamente obrigacional, na medida em que as empresas se "auto-impõem" um padrão

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de conduta, criando inclusive, órgãos internos para a fiscalização do cumprimento deste documento[66].

Somente para complementar o raciocínio, estas declarações permeadas de obrigações assumidas pela empresa, geram nos seus receptores, sejam eles determinados ou a própria coletividade a expectativa do cumprimento da conduta, que em termos jurídicos pode-se traduzir pelo "o princípio da confiança (que) denota, primariamente, o dever de atender às legitimas expectativas criadas pela própria conduta (...) pois integra a boa-fé, numa relação obrigacional, não fraudar as expectativas legitimas suscitadas pela própria conduta ou não suscitar, irresponsavelmente, tais expectativas".[67]

•2.4 Os Códigos de Conduta e seus Pontos de Contato.

Apesar de apresentarem conteúdos e destinatários distintos, se poderia apresentar inúmeras similitudes e pontos de contato entre os Códigos de Governança Corporativa e os Códigos de Responsabilidade Social. Para começar, se pode falar no caráter voluntário que os faz surgir, na forma clausulada, na preocupação com a transparência de informações, na busca por uma gestão mais efetiva, em fim, inúmeros itens que os aproximam, fazendo com que algumas empresas até os unam no mesmo documento (caso do Banco Itaú).

No entanto, parece mais pertinente avaliar neste ponto, não as suas similitude no tange as origens, conteúdos, destinatários, formas ou execuções, mas sim quanto aos efeitos que produzem quando ganham publicidade.

É certo que ambos os códigos revelam o puro exercício da autonomia privada, fazendo com que sejam classificados como declarações unilaterais de vontade. Estas declarações unilaterais, ao serem propagadas, instigam a confiança dos seus destinatários, de que o prometido será efetivamente cumprido, como já referido de forma bastante breve.

Assim, é na confiança gerada por estes documentos que residem seus maiores, e mais relevantes, pontos de contato.

Quando uma empresa emite qualquer um dos dois tipos de códigos estudados, seja para os seus acionistas, seja para a sociedade que está preocupada com o meio ambiente onde vive, comprometendo-se a adotar determinadas condutas e a abster-se de outras, gera nos destinatários uma expectativa de cumprimento de tais declarações. A proteção à estas expectativas liga-se ao princípio da confiança, que num plano eficacial "indica o limite ao exercício de direitos e poderes formativos (dimensão negativa) quando violadores de uma confiança legitimamente suscitada e/ou a fonte produtora de deveres jurídicos (dimensão positiva), tendo em vista a satisfação das legitimas expectativas criadas, no alter, pela própria conduta"[68].

O princípio da confiança está presente nos negócios jurídicos como fundamento, expresso pela vinculabilidade. Mais que isso, está presente nas relações jurídicas, de forma geral, para diminuir a insegurança que as permeiam. A manutenção das expectativas pode constituir um dever jurídico (dever de manter a confiança suscitada)

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e, a (..) frustração pode ocasionar responsabilidade por danos (responsabilidade pela confiança)[69].

Não se pretende aqui adentrar na questão da existência de ou não de responsabilidade pelo descumprimento de Códigos de Conduta Empresariais, até porque este assunto requer um estudo próprio, mas suscita-se a idéia "conduta comprometida", ou seja, agir dentro daquilo que efetivamente poderá ser cumprido e que, de fato, repercutem os ideais e objetivos da empresa.

Pior que não ter um Código de Conduta, seja ele de Governança Corporativa ou de Responsabilidade Social Corporativa, é não conseguir cumprir com normas de própria autoria.

Conclusão

É inquestionável que a tendência à "autorregulação" que influência, sobretudo, as empresas de grandes perdurará por muitos anos na prática mercantil. Faz-se esta afirmação com base nas vantagens que as empresas alcançam por pautar suas condutas por diretrizes éticas, transparentes e socialmente responsáveis. Essas vantagens, que passam por caminhos como melhoria da imagem, ambiente de trabalho favorável ao desenvolvimento de seus colaboradores, lisura nos demonstrativos financeiro-contábeis, entre outros, resultam por colaborar com a finalidade da empresa, qual seja, a majoração da lucratividade para seus sócios e/ou acionistas.

Mas, como aventado ao longo do trabalho, mesmo que forma bastante breve, pensar somente nas vantagens auferidas pela empresa não é suficiente para compreender a abrangência do movimento dos "Códigos de Condutas Empresarias": os destinatários destes documentos também lucram (e, por vezes, muito!), com uma escola construída em uma região carente, com uma política ambiental que deixará de contaminar um rio, com um plano de carreira e desenvolvimento funcional que valorize os empregados, com demonstrativos contábeis que revelem a realidade financeira da empresa com exatidão, enfim, com tantas outras condutas que as empresas se auto impõem para pautar suas condutas de acordo com os preceitos de Governança Corporativa e Responsabilidade Social Corporativa.

Com isso, parece desnecessário reforçar a idéia de que os Códigos de Condutas Empresariais precisam de muita investigação, para que as próprias empresas e também os destinatários destes documentos, possam tirar deles o melhor proveito possível.

Nesta pesquisa teve-se a intenção somente de definir a natureza jurídica dos referidos Códigos, chegando-se a uma primeira conclusão, de que se tratam de declarações unilaterais de vontade, pautadas na autonomia privada conferida pelo próprio legislador.

Também, em linhas superficiais, concluiu-se que o ponto de ligação entre as duas modalidades de Códigos (de Governança Corporativa e de Responsabilidade Social Corporativa), é a confiança legítima que elas geram aos seus destinatários quando levados à público.

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Existe, no entanto, a necessidade premente de investigar se há possibilidade de uma empresa ser considerada civilmente responsável pelo descumprimento de seu próprio Código de Conduta, o que daria outra tonalidade a esta discussão.

O presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto; muito pelo contrário, foi concebido com o intuito de lançar o tema para debate.

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[1] Rafael Illescas coloca que a "academia", em especial à que se dedica ao Direito Mercantil, observa a proliferação da autorregulação ou dos códigos de conduta há aproximadamente 10 anos. Nas palavras do próprio autor, "Esta evolución incluso acelerada de una parte de la autorregulación hacia la legislación pone al observador en la via apropiada para indagar acerca de elementos constitutivos elementales de la dicha autorregulación: sus orígenes, fundamentación y conceptuació principalmente". Estas reflexões podem ser encontradas em ILLESCAS, Rafael. La Autorregulación, entre la Quiebra de la Relatividad y la Obligatoriedad de la Declaración Unilateral de Voluntad. In: Revista de Derecho Privado y Constituición, Centro de Estúdios Políticos y Constitucionales, v. 17, Madrid, p. 294-295.

[2] Os Códigos de Governança Corporativa são comumente chamados de "Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa".

[3] FERNÁNDEZ DE LA GÁNDARA, Luis: "Códigos de Conducta y Administración de Sociedades" en "Responsabilidad de Consejeros y Altos Cargos de Sociedades de Capital", Madrid, 1996, p. 322 y ss.

[4] AGUILAR, José Felix Lozano: "Códigos Éticos para el Mundo Empresarial", Madrid, 2004, p. 131 y ss

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[5] MALUQUER DE MOTES BERNET, Carlos J.: "Los Códigos de Conducta como Fuente de Derecho" en Derecho Privado y Constitución, nº 17, ano 11, 2003, p. 362 y ss.

[6] QUIJANO GONZÁLEZ, Jesús: "Responsabilidad de los Consejeros" en VELASCO, Gaudencio Esteban: "El Gobierno de las Sociedades Cotizadas", Madrid, 1999, p. 538

[7] GUERRA MARTÍN, Guillermo: "El Gobierno de las Sociedades Cotizadas Estadounidenses", en Revista de Derecho de Sociedades, número 20, Navarra, 2003, p. 186.

[8] GUERRA MARTÍN, Guillermo. Op. Cit., p. 189.

[9] ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança Corporativa. Fundamentos, Desenvolvimento e Tendências. 02. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 399.

[10] Art. 15§02º: O número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrição no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% (cinqüenta por cento) do total das ações emitidas.

[11] Art. 254 - A: A alienação, direta ou indireta, do controle de companhia aberta somente poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o adquirente se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de propriedade dos demais acionistas da companhia, de modo a lhes assegurar o preço no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do valor pago por ação com direito a voto, integrante do bloco de controle.

[12] Disponível em www.ibgc.org.br.

[13] WALD, Arnoldo. O Governo das Empresas. In: Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, n. 15, p. 55.

[14] Art. 1.011, Código Civil: O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração se seus próprios negócios.

[15] Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios.

[16] PARENTE, Flávia. O Dever de Diligência de Administradores de Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 38, apud Fernando de Sandy Lopes Pessoa Jorge.

[17] PAES DE ALMEIDA, Amador. Manual das Sociedades Comerciais. Direito de Empresa. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 277.

[18] PAES DE ALMEIDA, Amador. Op. Cit., p. 277 e 278.

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[19] PARENTE, Flávia. Op. Cit., p. 102 e ss.

[20] OLCESE SANTOJA, Aldo. Teoría y Práctica del Buen Gobierno Corporativo. Marcial Pons: Madrid, 2005, p. 27, 28.

[21] FORGIONI, Paula A. A Interpretação dos Negócios Empresariais no Novo Código Civil Brasileiro. In: Revista de Direito Mercantil, n. 130, p. 27

[22] MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-fé no Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 411.

[23] MARTINS-COSTA, Judith., Idem, p. 411.

[24] FERREAL, O.C., FERREL, Linda, FRAEDRICH, John. Ética Empresarial. Tradução Cecília Arruda Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Ed., 2001, p.68.

[25] OLCESE SANTOJA, Aldo. Op. Cit., p. 29

[26] OLCESE SANTOJA, Aldo. Op. Cit., p. 29

[27] ESTEBAN VELASCO, Gaudencio, GONDRA, José Maria, MONEVA ABADÍA, José Mariano, RIVERO TORRE, Pedro. Responsabilidad Social Corporativa - Aspectos jurídicos-económicos. Castelló de la Plana: Publicacions de la Universidad Jaume I, 2004, p. 16.

[28] Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

III - função social da propriedade; (...)

[29] GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988 (Interpretação e Crítica). 02 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 125.

[30] BITELLI, Marcos Alberto Sant'Anna. Da Função Social para a Responsabilidade da Empresa. In: NERY, Rosa Maria de Andrade; VIANA, Rui Geraldo Camargo (coord.). Temas Atuais de Direito Civil na Constituiçao Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 252.

[31] BODIN DE MORAES, Maria Celina. O Princípio da Solidariedade. Disponível em http://www.idcivil.com.br/pdf/biblioteca9.pdf, consultado em 19 de novembro de 2008.

[32] OLCESE SANTOJA, Aldo. Op. Cit., p. 28

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[33] Exemplo: ponto 3.10: "Respeitar a propriedade intelectual e reconhecer os méritos relativos aos trabalhos desenvolvidos por colegas, independentemente de sua posição hierárquica".

[34] Exemplo: Ponto 8.10: "Recusar apoio e contribuições para partidos políticos ou campanhas políticas de candidatos a cargos eletivos".

[35] "Para preservar a isenção nos negócios da empresa, devemos: Não aceitar nem oferecer, direta ou indiretamente, favores, dinheiro ou presentes de caráter pessoal que resultem de relacionamento funcional e que possam afetar decisões, facilitar negócios ou beneficiar terceiros".

[36] "Em função dos reflexos prejudiciais que o desequilíbrio financeiro acarreta, é recomendado: Nos investimentos pessoais, assim como nos de nossos cônjuges ou de qualquer pessoa que seja nossa dependente, priorizar objetivos de longo prazo e não resultados de curto prazo".

[37] Olcese Santoja, na obra já citada, nas pp. 31 e 32 expõe que: "El concepto de "responsabilidad social" de las empresas se há vuelto como uma espécie de "bumerán" contra el sistema econômico del libre mercado y el sistema capitalista e su totalidad. No es infrecuente escuchar hablar de la "responsabilidad social de las empresas" como demostración del fracaso del sistema capitalista-liberal o de que este último carece de um 'conciencia social'.Expresiones como 'Corporate Killers' (empresas asesinas) también son sintomátcas del estado por el que atraviesan las empresas a partir de los escândalos finacieros acaecidos desde 'caso Enron' en los Estados Unidos, que parecen revivir los ataques de las viejas ideas socialistas contra el capitalismo. No obstante, aunque en la práctica este último haya salido vencedor, as ideas socialistas están lejos de desaparecer y, como el 'ave fenix' que resurge de sus cenizas, aparece ahora em escena bajo seudónimos como el médio ambiente, la antiglobalización y, el que más interesa a efectos de nuestro trabajo, el nuevo concepto de stakeholders". Desde já, salienta-se que a opinião deste autor não representa as idéias deste trabalho.

[38] Neste capítulo, sempre que se falar em "código de conduta" se estará fazendo referência à Código e Governança Corporativa e Código de Responsabilidade Social Corporativa.

[39] AMARAL NETO, Francisco dos Santos. A Autonomia Privada como Princípio Fundamental da Ordem Jurídica. In Revista Informação Legislativa, Brasília, a. 26, n. 102, abr/jun 1989, p. 211.

[40] JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Negócio Jurídico. Existência, Validade e Eficácia. São Paulo: Saraiva, 2002, p 85

[41] PONTES DE MIRANDA,. Tratado de Direito Privado. Tomo III.

[42] MARTINS-COSTA, Judith. Novas Reflexões sobre o Princípio da Função Social dos Contratos. . Estudos de Direito do Consumidor - Coimbra, v. 7, p. 49-109, 2005.

[43] MENEZES CORDEIRO, António. Direito das Obrigações. Volume I, Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa: Lisboa, 1980, p. 49 e ss.

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[44] AMARAL NETO, Francisco dos Santos. Op. Cit., p. 213.

[45] MENEZES CORDEIRO, António. Op. Cit., p. 57.

[46] AMARAL NETO, Francisco dos Santos. Op. Cit., p. 213.

[47] MENEZES CORDEIRO, António. Tratado de Direito Civil Português. Parte Geral, Tomo I, Almedina: Coimbra, 2005, 3 ed, p. 392.

[48] PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado. Tomo III.

[49] Disponível em www.itau.com.br.

[50] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. II, p. 505

[51] MENEZES CORDEIRO, António. Tratado de Direito Civil Português, p. 392

[52] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. Cit., p. 480.

[53] JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Op. Cit., p. 04

[54] JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Op. Cit., p. 10

[55] Embora não seja objeto do presente estudo as divergências entre as teorias que envolvem a "vontade", cumpre destacar os posicionamentos antagônicos existentes na doutrina internacional, referidos por Junqueira de Azevedo. A França adota o sistema entitulado de "teoria da vontade", que faz prevalecer, em todos os casos, a vontade verdadeira do declarante, de vez que é somente essa vontade que deve produzir os efeitos de direito que estão em causa, ou seja, a predominância da vontade como dogma absoluto. Contrário ao sistema francês encontra-se o sistema alemão, adepto da "teoria da declaração", que faz prevalecer a vontade, mesmo fictícia, que se infere da declaração, sobre a vontade verdadeira, seja porque o sentido normal da vontade somente existe, do ponto de vista do direito, por sua expressão externa e somente há lugar para se aplicarem, às disposições da vontade provada, as regras de interpretação admitidas para as normas legais e disposições de lei, seja porque quem emite uma declaração jurídica aceita se prender, em face de quem ele se dirige, pelo sentido normal das expressões que emprega; do contrário, não haveria mais nenhuma segurança nas relações privadas. Junqueira de Azevedo filia-se a teoria alemã, ao ponderar que a vontade não é elemento do negócio jurídico; o negócio é somente a declaração de vontade. Aduz, ainda, que o negócio jurídico nasce a partir da declaração de vontade, não fazendo o processo volitivo parte dele.

[56] JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Op. Cit., p. 32 e ss.

[57] Opção que consideramos mais acertada.

[58] Disposição do Código de Governança Corporativa da Petrobras, disponível em www.petrobras.com.br: "Alinhamento das Práticas de Governança com os exigidos pela BOVESPA: mandato de um ano para o conselho de administração".

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[59] Disposição do Código do Banco Itaú: "Na concessão de crédito às empresas, valorizamos critérios socioambientais para que os projetos que financiamos sejam desenvolvidos de maneira socialmente responsável e reflitam as melhores práticas de gestão ambiental".

[60] JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Op. Cit., p. 13.

[61] Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I. agente capaz; II. objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III. forma prescrita ou não defesa em lei.

[62] MALUQUER DE MOTES BERNET, Carlos J., Op. Cit., p. 372 e ss..

[63] ALONSO UREBA, Alberto. El Gobierno de Las Grandes Empresas (Reforma Legal versus Códigos de Conducta), In El Gobierno de las Sociedades Cotizadas, org. Gaudêncio Esteban Velasco, Madrid: Marcial Pons, 1999, p. 95-136.

[64] VELASCO SAN PEDRO, Luis Antonio. El Gobierno de Las Sociedades Cotizadas (Corporate Governance) en Espana: El Informe Olivencia. In: Derecho de Sociedades: Libro Homenaje al Profesor Fernando Sanches Calero. Madrid: McGraw-Hill Interamericana de Espana, 2002, p. 3003-3030.

[65] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. Cit., p. 496.

[66] O código de conduta do Banco Itaú refere como "A Gestão do Código de Ética Corporativa do Banco Itaú".

[67] MARTINS-COSTA, Judith. Principio da Confiança Legitima e Principio da Boa-Fé Objetiva. Termo de Compromisso de Cessação (TCC) ajustado com o CADE. Critérios da Interpretação Contratual: os "Sistemas de Referencia Extracontratuais" ("circunstancias do caso") e sua Função no quadro semântico da conduta devida. Principio da Unidade ou Coerência Hermenêutica e "Usos do Tráfego". Adimplemento Contratual. Revista dos Tribunais, ano 95, v. 852, outubro de 2006, p. 85 - 126.

[68] MARTINS-COSTA, Judith. Principio da Confiança Legitima e Principio da Boa-Fé Objetiva. p. 97.

[69] MARTINS-COSTA, Judith. Idem. p. 98.