Cecilia Meireles: a educadora

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As concepções de educação na obra de Cecília Meireles

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  • Palcio Gustavo Capanema,antigo prdio do Ministrio da Educao e Sade,construdo no perodo de 1937 a 1945,depois Ministrio da Educao e Culturaat abril de 1960, quando a capitalfoi mudada para Braslia.

  • Ceclia Meireles:A educadora

    Arnaldo Nisk ier

    Resumo

    Apresentao das principais intervenes da poeta Ceclia Meire-les no momento educacional brasileiro de sua poca, ressaltando suaacalorada defesa da modernizao do sistema educacional, da intro-duo dos postulados da Educao Nova em nossas escolas, onde seinclua a laicizao da educao e a adoo de uma metodologia queatendesse o desenvolvimento integral dos estudantes.

    Suas crnicas apresentavam uma cida crtica da situao educa-cional do Estado Novo, com leis que muito prometiam, mas nadarealizavam.

    As posies assumidas por Ceclia lhe valeram alguns contratem-pos no reconhecimento pblico de suas atividades. O primeiro(1929), quando suas idias renovadoras foram preteridas no con-curso para a ctedra de Literatura da Escola Normal do Distrito Fe-deral e o segundo (1938), ao ser contemplada com o prmio da Aca-

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    Membro daAcademia Brasileirade Letras; Doutorem Educao pelaUniversidade doEstado do Rio deJaneiro; Licenciadoem Pedagogia e emMatemtica (UERJ);autor de vrios livrossobre Educao, comdestaque para:Filosofia da educao(Loyola, 2001),Educao 500 anos dehistria (Funarj,2001), A rvore daeducao (ABL, 2001)e Educao distncia A tecnologia da esperana(Loyola, 1999).

  • demia Brasileira de Letras, gerando uma grande polmica no mbitodessa Instituio, culminando com a desistncia de Ceclia Meirelesde proferir o discurso de agradecimento em nome dos agraciados detodas as categorias.

    Este trabalho busca destacar as idias e ideais da Ceclia Meireleseducadora, atuante, dinmica e contestadora, signatria do Manifestodos Pioneiros da Educao Nova (1932) ao lado de Ansio Teixeira, Lou-reno Filho e Fernando de Azevedo, dentre outros, e que, ao criar oCentro de Cultura Infantil (1934), colocou em prtica esses ideais,logo abafados pela interveno do Governo Getlio Vargas e seu la-mentvel Estado Novo.

    Introduo

    Casas brancas

    Nuvem branca

    Pombos brancos

    Jasmins.

    Tomo nas mos a primeira folha de papel

    Que se pode escrever de to claro?1

    Sempre que se abordam os grandes nomes femininos da poesiabrasileira, Ceclia Meireles ganha um lugar de destaque. No s pelaqualidade dos seus versos, mas pela sua atualidade, como poeta con-tempornea. Antes de tocar na sua poesia to pessoal e marcante,com obras reconhecidas pela Academia Brasileira de Letras, que lheconcedeu o Prmio de Poesia Olavo Bilac, em 1939 um galardoconcedido a poucos intelectuais brasileiros preciso lembrar queela foi professora e jornalista militante.

    Jovem ainda, estudando na Faculdade de Filosofia, Cincias e Le-tras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, costumava me

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    Arnaldo Nisk ier

    1 Meireles,Ceclia, 1988,p. 148.

  • deslumbrar com Ceclia Meireles que, antes de morrer, em 1964, de-dicou-se coluna Dirio Escolar, do jornal Dirio de Notcias, napoca uma referncia de jornalismo e competncia. Teve a colabora-o do seu grande admirador Carlos Lacerda, contando tambmcom a permanente ajuda do velho jornalista Campos Ribeiro, dequem, sinceramente, pela amizade que nos uniu, tenho verdadeirasaudade.

    Assim, a autora de Ou isso ou aquilo? tornou-se uma cronista daeducao, depois de ter se formado no Instituto de Educao do Riode Janeiro e l lecionado. Criou uma biblioteca infantil e assinou oManifesto dos Pioneiros da Educao Nova, em 1932, redigido pelo Aca-dmico Fernando de Azevedo, unindo-se a nomes como AnsioTeixeira e Loureno Filho. Todos queriam a democratizao do en-sino, com a valorizao do que fosse humanstico e popular. Emuma de suas crnicas da poca, Ceclia Meireles escreveu:

    Aprender sempre adquirir uma fora para outras vitrias, na sucesso

    interminvel da vida.

    Os adultos aconselham freqentemente s crianas a vantagem de

    aprender, vantagem que to pouco conhecem e que a si mesmos dificilmen-

    te seriam capazes de aconselhar.

    Pode ser que um dia cheguem a mudar muito, e dem conselhos a si

    mesmos.

    Da por diante, o mundo comear a ficar melhor.2

    A presena de Ceclia Meireles educadora no foi efmera ou ape-nas luminosa por alguns momentos. Ela amava o magistrio comoum dia nos confessou a filha, a atriz Maria Fernanda tanto que en-veredou pelos caminhos mais intrincados da pedagogia, como as re-formas do ensino e da ortografia, poltica e religio, escola normal(de saudosa memria), qualidade do professor, educao e literaturainfantil, civismo na formao das crianas, etc.

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    Cecl ia Meireles : A educadora

    2 Meireles,Ceclia, 2001,p. 64.

  • Mesmo com passagens pela dcada de 30, quando vivamos a EraVargas, depois transformada em ditadura, a poeta revelava muitas ebem slidas preocupaes com a remunerao do magistrio, o quemostra que esse flagelo vem de longe, embora haja piorado com otempo. E Ceclia, sem descurar da sua primorosa poesia, criticava ospoderosos a seu modo, sobretudo quando eles, talvez por ignornciaou modismo, adotavam modelos estrangeiros que nada tinham a vercom a realidade nacional. uma grande figura da nossa cultura, ho-menageada em 2001 na Academia Brasileira de Letras pelo seu cen-tenrio de nascimento.

    A vida

    E minha av cantava e cosia. Cantava

    canes de mar e de arvoredo, em lngua antiga.

    E eu sempre acreditei que havia msica em seus dedos

    e palavras de amor em minha roupa escritas.

    Minha vida comea num vergel colorido,

    por onde as noites eram s de luar e estrelas.

    Levai-me aonde quiserdes! aprendi com as primaveras

    a deixar-me cortar e voltar sempre inteira!3

    Professora, folclorista, poeta carioca, Ceclia Meireles nasceuno dia 7 de novembro de 1901. Seus pais foram Carlos Alberto deCarvalho Meirelles falecido trs meses antes do nascimento dafilha e Mathilde Benevides, descendente de famlia de origemaoriana (da Ilha dos Aores, na costa da frica, na poca colniaportuguesa) que faleceu quando Ceclia tinha apenas trs anos deidade, passando a ser criada pela av materna (D. Jacintha GarciaBenevides).

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    Arnaldo Nisk ier

    3 Meireles,Ceclia, 1988, p.154.

  • A vocao para o magistrio quem sabe herana da me professora

    levou Ceclia Meireles a fazer o curso da Escola Normal Estcio de S, di-

    plomando-se em 1917, vocao que se tornaria plural: cronista e contista,

    pintora, poeta, compositora, professora, pesquisadora, e que marcada por

    distino e louvor desde o curso primrio, o que lhe permitiu acumular capital

    cultural em forma de premiaes as mais significativas: medalha de ouro

    Olavo Bilac, na concluso do curso primrio.4

    Ceclia iniciou a carreira do magistrio e logo depois (1919) pu-blicou seu primeiro livro de poemas: Espectros, que havia escrito aos16 anos. Em 1923, casou-se com o artista plstico portugus Fer-nando Correia Dias, de quem teve trs filhas: Maria Elvira, MariaMatilde e Maria Fernanda. A educadora sobrepujou-se poeta de1925 a 1939, quando dedicou-se literatura infantil e publicou Cri-ana meu amor, adotado oficialmente nas escolas do Pas. Em 1929,concorreu ctedra de Literatura na Escola Normal do Distrito Fe-deral (entre os oito candidatos inscritos, Ceclia ficou em segundolugar). A ctedra foi vencida pelo professor Clvis do Rego Montei-ro, que defendeu uma concepo pedaggica clssico-erudita,5 aocontrrio de Ceclia, que orientou sua aula com um posicionamentopedaggico moderno, incluindo idias do movimento conhecidocomo Escola Nova.

    A partir de 1930, at 1933, redigiu, no jornal Dirio de Notcias,uma pgina diria dedicada renovao do ensino. Defendeu osprincpios da Escola Nova, sob influncia das idias da modernaeducao do socilogo americano John Dewey assinando, comoutros educadores, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, em 1932.Em 1934, fundou, junto com seu marido, o Centro de CulturaInfantil, a primeira biblioteca infantil especializada do Brasil, insta-lada na cidade do Rio de Janeiro, no pavilho do Mourisco, na praiade Botafogo.

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    Cecl ia Meireles : A educadora

    4 Lobo, YolandaLima, 1966,p. 527.

    5 Lobo, 1966,p. 532.

  • O Espao Mourisco uma das estaes do seu trajeto e foi inaugura-

    do em 1934, poca de Ansio Teixeira na direo do Departamento de

    Educao do Distrito Federal. Tratava-se de um centro de cultura infantil

    para onde as crianas se dirigiam aps os trabalhos escolares, e onde eram

    desenvolvidas atividades no somente de biblioteca, como tambm artsti-

    cas e musicais. Este centro de cultura despertou o entusiasmo das crianas e

    do pblico em geral e contava com a participao de intelectuais e artistas

    que atuavam como colaboradores especiais.6

    Em visita a Portugal, em 1935, a convite do Secretrio de Propa-ganda daquele pas, realizou palestras, difundindo a literatura brasi-leira. Nesse mesmo ano faleceu seu marido.

    Participou da recm-fundada Universidade do Distrito Federal,no Rio de Janeiro, lecionando as disciplinas Literatura Luso-Brasi-leira e Tcnica de Criao Literria, em 1936.

    A Academia Brasileira de Letras premiou, em 1938, o livro depoemas Viagem. E alguns constrangimentos fizeram com que a poetadesistisse de proferir o discurso de agradecimento em nome de to-dos os premiados alm da categoria poesia, havia outras comocontos e teatro apesar dos esforos do ento presidente. Conta Ce-clia: Depois o professor Austregsilo ainda tentou, gentilmente,conciliar as coisas. Mas era um pouco tarde e eu estava sem pacin-cia... Foi s.7

    No fecho da longa e exaustiva exposio, Cassiano (Ricardo) manteve a

    concluso de seu Parecer, com o apoio de Guilherme de Almeida e Joo

    Luso, para situar Ceclia Meireles, com Viagem, entre as figuras primaciais

    da poesia de lngua portuguesa, no plano da revoluo esttica que corres-

    pondia ao advento do Modernismo.8

    O conhecimento de vrias lnguas ajudou nas viagens que fez ao ex-terior, iniciadas em 1940: lecionou Literatura e Cultura Brasileira naUniversidade do Texas, nos Estados Unidos; proferiu um ciclo de

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    Arnaldo Nisk ier

    6 Lobo, 1966,p. 528.

    7 Meireles,Ceclia, Jornal doCommercio, 1939;in LOBO, 1966,p. 540.

    8 Montello,Josu, 1994,p. 250.

  • conferncias sobre literatura, folclore e educao na cidade do Mxi-co, seguindo-se, de 1944 a 1958, Uruguai, Argentina, Aores, PortoRico, ndia, Goa, Israel e vrias cidades da Europa. A ndia, que desdea adolescncia fascinava Ceclia, despertou na poeta um grande inte-resse. Para ela, a pobreza vivenciada pela populao indiana aproxima-va aquele povo da verdadeira santidade. Mas, apesar de ter viajadopelo mundo inteiro, sempre preferiu viver no Rio de Janeiro.

    Casou-se com Heitor Vinicius Silveira Grilo, em 1945. No pe-rodo entre 1946 e 1953, Ceclia Meireles recebeu uma srie dehonrarias, tanto no Brasil quanto em outros pases, entre as quais aOrdem do Mrito Chileno e o ttulo de Doutor Honoris causa da Uni-versidade de Nova Delhi.

    Como jornalista, foi responsvel pela seo Professores e Estu-dantes (1941-1943), no peridico A Manh. Ali publicou impor-tantes estudos sobre folclore infantil, tornando-se, em 1948, mem-bro do Conselho Nacional do Folclore. Em 1951, foi secretria do ICongresso Nacional do Folclore.

    Produziu vasta obra em prosa e em verso: Balada para el-Rei(1925), Viagem (1938), Vaga msica (1942), Mar absoluto e outros poemas(1945), Retrato natural (1949), Amor em Leonoreta (1951), O aeronauta(1952), Romanceiro da Inconfidncia (1953), Pequeno oratrio de Santa Cla-ra (1955), Canes (1956), A rosa (1957), Solombra (1963), Ou isso ouaquilo? (1964), Crnica trovada da Cidade do Rio de Janeiro, editado em1965. Alm das obras citadas destacam-se ainda: Doze noturnos da Ho-landa (1952), Pistia, cemitrio militar (1955), Metal rosicler (1960), Poe-mas escritos na ndia (1962). Traduziu autores como Ibsen, Rilke, Ta-gore, Virginia Woolf e Lorca, entre outros.

    Lygia Fagundes Telles, em conferncia proferida na AcademiaBrasileira de Letras durante as comemoraes do centenrio denascimento da poeta conta seu ltimo encontro com Ceclia, nohospital, ao visit-la, na companhia do poeta paulista Paulo Bonfim:

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    Cecl ia Meireles : A educadora

  • Entramos no quarto. Ceclia, linda, entre os travesseiros, sentada como uma

    rainha. [...] Havia pombos no terrao do apartamento l do hospital, e nesse

    instante ela disse: Toda manh, na hora do caf, jogo miolo de po para eles e

    eles conversam comigo A o poeta Paulo Bonfim perguntou: E o que que

    os pombos dizem, Ceclia? Ela respondeu: Ainda no sei, mas se eu ficar mais

    tempo aqui, vou descobrir. Foi esta a ltima viso de Ceclia.9

    No dia 9 de novembro de 1964, aps longo perodo de enfermi-dade, faleceu no Rio de Janeiro. Sobre ela escreveu Carlos Drum-mond de Andrade: A mulher extraordinria foi apenas uma oca-sio, um instrumento, afinadssimo, a revelar-nos a mais evanescentee precisa das msicas. E essa msica hoje no depende de executante.Circula no ar, para sempre.10

    A educadora

    J disse um poeta persa que, se no fosse o suspiro, a gente morreria su-

    focada...11

    Nos estudos sobre a obra potica de Ceclia Meireles, encontra-mos sempre referncias solido, aos seus encontros consigo mes-ma, o seu entorno de silncios e a observao minuciosa de pequenosdetalhes: gotas de orvalho e lgrimas, pssaros e borboletas, belas fo-lhas tocadas pelo vento, o barulho da chuva. A orfandade prematurapossibilitou menina um encontro particular e criativo, tirando dedentro de si mesma muito do amor escasso. A morte trgica do seuprimeiro marido contribuiu ainda mais para que a solido se trans-formasse na permanente referncia beleza que a cercava. Tudo issopode ser sentido em sua poesia:

    Meus dias foram aquelas roms brunidas

    repletas de cor e sumo e doura compacta.

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    Arnaldo Nisk ier

    9 Telles, LygiaFagundes, 2001.

    10 Andrade,Carlos Drum-mond de, inMeireles, 1988,p. 8.

    11 Meireles,Ceclia,Educao come pequeno...Dirio de Notcias,27 de maro de1931. Artigotranscrito inCrnicas deeducao, v. 1,pp. 19-21.

  • Foram aquelas dlias, redondas colmias

    cheias de abelhas, de vento e de horizontes.

    Meus dias foram aquelas negras razes

    escravas, caminhando por humildes subterrneos.

    Foram aquelas rosas duramente construdas

    e logo sopradas por lbios displicentes.

    Ah! meus dias foram aqueles sbrios cactos

    de rarssima flor encravada em coroas de espinhos.

    Meus dias foram estes altos muros robustos,

    este peso de enormes pedras, este cansado limite,

    onde pousavam solides, palavras, enganos

    com o brilho, a inconstncia desta incerta borboleta.

    De sua obra em prosa, destaca-se a Ceclia Meireles educadora, cr-tica entusiasmada da realidade educacional brasileira, que escrevia suasobservaes em pginas dirias de jornais. Sua produo jornalsticaabrangeu dois perodos de tempo: de 1930 a 1933, no Dirio de Notci-as; uma dcada depois, de 1941 a 1943, no jornal A Manh, quando lhefoi recomendado que no escrevesse nada sobre poltica em sua colunaProfessores e Estudantes. Seus artigos foram selecionados e organi-zados em livros. Suas Crnicas de educao foram reunidas em cinco volu-mes pela Editora Nova Fronteira, com apresentao do professor Le-odegrio A. de Azevedo Filho. Com base nessa obra, podemos traarum perfil mais fiel da Ceclia Meireles educadora.

    Selecionamos alguns exemplos dos textos de Ceclia, analisando aapresentao de suas idias, destacando os pontos principais e consi-derando-se o momento histrico.

    1. A educao e um mundo melhor:

    Os intransigentes so os refratrios evoluo. [...]

    Mas, se h um tipo absolutamente imprprio para lidar com a infncia e

    com a mocidade o do intransigente. [...]

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    Cecl ia Meireles : A educadora

  • O educador tem de ser um acordador de energia. O intransigente um

    portador de morte. [...]

    Para o intransigente, o mundo continua parado, sob a sua idia fixa.

    [...]12

    Na formao de um mundo melhor, os educadores entram com a

    fora da sua esperana, crendo que, na marcha das geraes, se ir ope-

    rando uma transformao lenta, mas segura de ideologia dos homens e

    dos povos, aproximando-se de uma condio mais perfeita, num mundo

    mais feliz.13

    Ceclia Meireles foi uma crtica veemente do governo de GetlioVargas, a quem denominava O Ditador. Seu Centro de CulturaInfantil foi fechado em 1937, sob a desculpa de que ali se desenvol-viam atividades contra o regime. O fundamento seria a existncia, nabiblioteca, de um livro inadequado para as crianas, por suas idiasde conotao comunista. Tratava-se do livro As aventuras de TomSawyer, de Mark Twain, escrito em 1876.

    A identificao da poeta com os ideais da Escola Nova estavafundamentada na laicizao da educao, na adoo de uma pedago-gia moderna que considerasse o desenvolvimento das crianas (j na-quela poca Ceclia difundia as idias do educador suo Jean Pia-get), na valorizao da liberdade, no prazer do trabalho realizadocom amor. Suas crnicas revelavam descontentamento com a polti-ca de ento e sua crena no importante papel da educao, com osprofessores atuando como verdadeiros agentes de mudana para ummundo melhor.

    2. O verdadeiro valor da educao

    A preocupao educacional no tomou ainda, no esprito demuita gente, a proporo que lhe deram, em todos os tempos, os es-

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    Arnaldo Nisk ier

    12Osintransigentes,Dirio de Notcias,27 de janeiro de1931. In:Meireles, 2001,v. 1, pp. 13-5.

    13Educao erevoluo,Dirio de Notcias,31 de outubrode 1930. In:Meireles, 2001,v. 2, pp. 119-20.

  • pritos excelentes, e a que lhe esto dando, neste momento, todos osrepresentantes mais elevados da intelectualidade terrena.14

    Tudo, em suma, sempre uma questo de educao.15

    E ento nos voltamos para a educao. Como um ltimo apelo. Para

    que o sonho no se perca, e se faa realidade sem deixar de ser sonho. E

    to belo que entristece. Porque o instante de beleza definitiva deixa sempre

    os olhos midos. A gente pensa: Se fracassa a beleza, que pode mais restar

    ao homem para seu sustento?16

    Ao participar de um encontro sobre Instruo, Ceclia Meirelesassombrou-se com a definio apresentada, por um dos diretorespresentes, para educao. Para ele, na sua terra a Educao estava mu-ito adiantada: as moas sabiam entrar numa sala, liam revistas, e co-nheciam as modas... Analisando a acalorada discusso que se se-guiu, Ceclia lembrou que, em nosso pas, nem sempre os dirigentespossuam uma noo correta do conceito de Educao e da sua am-plitude, resumindo-a a um simples verniz com frmulas de cortesia.Ao se insurgir contra as injustias e desigualdades, elevando a vozpara denunci-las, logo o indivduo seria considerado um sem-edu-cao, um malcriado. No entanto, afirmava Ceclia, esses so osverdadeiros educados.

    Para Ceclia Meireles, a educao no poderia ser criticada porconhecedores e especialistas que no possussem a formaoadequada para opinar e analisar, de forma abalizada, diferentesquestes pedaggicas. Em muitos de seus textos, a educadora re-fora a idia de que a formao dos professores passa por questesbsicas relacionadas filosofia e s expectativas profissionais decada um. Observando as normalistas em poca de concluso de cur-so, Ceclia questiona se realmente elas estariam preparadas para adura realidade das escolas pblicas, se saberiam as dificuldades queas aguardavam:

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    Cecl ia Meireles : A educadora

    14Educaocom epequeno...,Dirio de Notcias,27 de maro de1931. In:Meireles, 2001,v. 1, pp. 19-21.

    15Questo deeducao, Diriode Notcias, 5 defevereiro de1932. In:Meireles, 2001,v. 1, pp. 29-31.

    16 O destinodas esperanas,Dirio de Notcias,1 de maio de1932. In:Meireles, 2001,v. 4, p. V.

  • [...] essas jovens chegam formatura sem a viso do problema que as es-

    pera, sem compreenso, nem intuio, nem paixo pela psicologia infantil,

    para a qual, no entanto, tero de constantemente apelar.

    Falta de vocao? Falta de estmulo? Orientao defeituosa?

    No se sabe. Mas alguma coisa que interessa, e em que se deve

    pensar.17

    Os ideais do magistrio, principalmente para aquelas que lidari-am com crianas pequenas, precisavam estar bem definidos naalma dessas novas professoras, acendendo-lhes o nimo frente sdificuldades e alimentando-as com o sorriso e a esperana dos ros-tos infantis.

    3. Educao e liberdade

    Mais de uma vez temos dito preciso repeti-lo sempre que o princi-

    pal problema da educao moderna a liberdade humana, no seu mais

    grandioso sentido. [...] Num regime como o que desejamos, os homens ad-

    quirem sua liberdade por meio, justamente, da educao. preciso facili-

    tar-lhes a evoluo, o desenvolvimento, as capacidades. [...] espervamos

    uma reforma de finalidades, de ideologia, de democratizao mxima do

    ensino, de escola nica, todas essas coisas que a gente precisa conhecer e

    amar, antes de ser ministro da educao.18

    Na Revoluo de 1930, Francisco Lus da Silva Campos, naturalde Minas Gerais, foi convidado por Getlio Vargas para ocupar arecm-criada Pasta da Educao e Sade Pblica. Promoveu a refor-ma do ensino de abril de 1931. De 1935 a 1937 exerceu as funesde Secretrio da Educao do Distrito Federal. Com o golpe deEstado de 10 de novembro de 1937, assumiu o Ministrio da Justi-a e dos Negcios Interiores do Estado Novo de cuja Carta Cons-titucional foi o maior autor , ali permanecendo at 1943.19

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    Arnaldo Nisk ier

    17 O professormoderno e a suaformao, Diriode Notcias, 26 dejunho de 1930.In: Meireles,2001, v. 3,pp. 131-2.

    18Questes deliberdade, Diriode Notcias, 27 demaro de 1931.In: Meireles,2001, v. 1,pp. 23-4.

    19 A trajetria deFranciscoCampos e areformaeducacional porele propostaforam analisadasno livro de nossaautoria Educaobrasileira, 500 anosde histria. Rio deJaneiro:Consultor, 1996,p. 478.

  • Ceclia Meireles havia depositado muitas esperanas na reformaproposta por Francisco Campos, mas, infelizmente, ela no trouxeas inovaes esperadas, ao contrrio, nos coloca nas velhas situa-es de rotina, de cativeiro e de atraso que aos olhos atnitos domundo proclamaro, s por si, o formidvel fracasso da nossa malo-grada revoluo.

    4. Educao e paz

    O sonho de paz sobre a terra descansa nesse intuito comovedor de tor-

    nar iguais todos os homens a partir do instante neutro da infncia, dentro

    da neutralidade da escola.

    A escola tem de ser o lugar de reunio daqueles que se preparam para a

    arte difcil de viver. Seria lamentvel que, nesse convvio preliminar, se im-

    pusessem divergncias e desigualdades, favorecendo e desfavorecendo o

    princpio de um mundo que desejamos harmoniosamente formado, numa

    coerncia admirvel de todos os seus elementos.20

    Ao discorrer sobre a preocupao da poca com os movimentosde educao popular, Ceclia Meireles ressaltou a importncia daeducao para todos como forma de garantir melhores condies nabatalha pela vida das classes menos favorecidas. A escola ganhou, noponto de vista da educadora, papel de destaque. Seria ela a institui-o responsvel pelo oferecimento de oportunidades iguais, comopromotora de mudana social, local que oferea a todas as crianasiguais possibilidades de efetuar sua adaptao ao mundo sem tira-nias e sem humilhaes.

    Os movimentos populares pela educao de jovens e adultos, abriga por uma escola pblica de qualidade, a preocupao com oatendimento integral da criana, trazendo para a escola os maismodernos estudos cientficos voltados para o desenvolvimentoinfantil, faziam parte das preocupaes dos educadores que dese-

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    Cecl ia Meireles : A educadora

    20 Educao,Dirio de Notcias,6 de dezembrode 1931. In:Meireles, 2001,v. 1, pp. 27-8.

  • javam uma educao melhor e mais abrangente para a nossa ju-ventude e que acreditavam que a educao poderia ser um forteelemento de ascenso social. bom lembrar que, poca de Cec-lia, nossas escolas pblicas eram de grande qualidade e o ensinoparticular ainda engatinhava, atendendo somente queles queno conseguiam, por deficincias em sua formao, ingressar noensino pblico.

    O ufanismo pedaggico apresentou, durante muito tempo, a edu-cao como a ponte possvel, que forneceria aos menos favorecidosas condies e ferramentas, para que entrassem, em igualdade decondies, no competitivo mundo econmico.

    5. O lar e a escola

    [...] a criana dispe de dois meios que sobre ela atuam poderosamente:

    a escola e o lar. (Vamos admitir como lar a prpria vida social, e no so-

    mente o convvio da famlia.) [...] E pensvamos: se educamos a criana,

    contando apenas com a cooperao da escola, iremos atir-la a um mundo

    inadequado, imprprio para a sua vida.21

    A educao moderna, para ser uma realidade viva, depende do entendi-

    mento de professores e pais, de modo que a obra da escola e do lar se unifi-

    que numa comum inteno.22

    Encerrando o ano letivo [...], uma certeza levaram os professores, bem

    ntida, a respeito da moderna orientao educacional: a da necessidade de se

    aproximarem, cada vez mais, pais e professores, e de se dar uma diretriz

    harmnica ao ambiente infantil, no lar e na escola.23

    A escola moderna francamente aberta ao pblico. O seu maior desejo

    estabelecer o contato de pais e professores, para que ambos dem o me-

    lhor e mais bem orientado esforo ao servio da criana.24

    A importncia da relao lar/escola est registrada na Constitui-o Brasileira (1988):

    280

    Arnaldo Nisk ier

    21 Educao palavra imensa...Dirio de Notcias,7 de dezembrode 1930. In:Meireles, 2001,v. 1, pp. 65-7.

    22 Professores epais, Dirio deNotcias, 16 desetembro de1930. In:Meireles, 2001,v. 1, pp. 113-4.

    23 Relaoentre o lar e aescola, Dirio deNotcias, 7 dejaneiro de 1931.In: Meireles,2001, v. 1,pp. 115 7.

    24 Um portodos e todospor um, Diriode Notcias, 7 dejunho de 1932.In: Meireles,2001, v.1,pp. 247-8.

  • A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser pro-

    movida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno

    desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua

    qualificao para o trabalho.25

    Este texto substituiu a forma anterior, que estabelecia que a edu-cao direito de todos e dever do Estado, e ser dada no lar e naescola. A vida moderna, com a incluso cada vez maior da mulherno mercado de trabalho, tem obrigado a que a escola assuma algu-mas atribuies que sempre foram realizadas pela famlia. A consoli-dao de valores e princpios, as regras bsicas de convivncia e cida-dania, as questes relacionadas a parmetros morais, antes delegadasexclusivamente s famlias, passam agora a constituir-se temas dediscusso no mbito escolar. As expectativas das famlias na buscade melhores opes educacionais para seus filhos e na escolha de ins-tituies que apresentem embasamento filosfico compatvel comseus ideais e aspiraes tornam imprescindvel uma relao atuanteentre famlia/escola, at para a proposio de resolverem juntas pro-blemas comuns.

    Ceclia Meireles destacou em seus escritos que necessrio queescola e famlia trabalhem juntas em benefcio das crianas e jovens.O trabalho iniciado na escola deve ser acompanhado e desenvolvidotambm com o apoio dos pais. Ao lanar sobre a escola as dificulda-des de seus filhos, sem conhecer ou acompanhar como se desenvolvea sua vida escolar, os pais estaro conhecendo apenas uma parte doproblema. Ao mesmo tempo, remeter famlia a culpa do fracassoescolar de seus alunos, eximindo-se de qualquer responsabilidade,torna a escola menor, no assumindo o seu papel de educar de formaintegral, no contemplando, alm do aspecto cognitivo, o afetivo,um dos principais pontos de sucesso ou fracasso.

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    Cecl ia Meireles : A educadora

    25 Constituio:Repblica Federativado Brasil. 1988,pp. 137.

  • 6. O bom professor

    Ser professor como ser artista: no se faz; j se nasce...26

    E ter corao para se emocionar diante de cada temperamento.

    E ter imaginao para sugerir.

    E ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados.

    [...] Saber ser poeta para inspirar.27

    H uma quantidade infinita de coisas inteis para a vida: o professor

    deve t-las margem. Mas h uma poro de coisas essenciais para a forma-

    o humana: o professor deve conhec-las todas, pratic-las, integr-las, em

    si, viv-las!28

    A primeira coisa que empolga o aluno, quando posto em contato com o

    professor, o prestgio moral que deste irradia. Esse prestgio determina

    imediata e definitivamente a sua autoridade, isto , a sua possibilidade de

    conduzir com doura e entusiasmo as vidas que lhe so entregues.29

    O fim das escolas normais foi um baque na educao brasileira. Oprimeiro sintoma dessa tragdia pedaggica foi a transformao daseficientes Faculdades de Filosofia, Cincias e Letras em Faculdadesde Educao. Houve perda de qualidade. Depois, com a Lei no

    5.692/71, abriu-se caminho para a destruio das tradicionaisEscolas Normais, trocadas por nada mais expressivo. E nessa friaaparentemente transformadora, agora os Institutos de Educao ce-dem vez aos charmosos Institutos Superiores de Educao, produ-tos da Lei no 9.394/96, num lamentvel exerccio perifrico de tro-ca de nomes, sem que se alcance o mago da questo.

    Por que falta entusiasmo nos cursos de formao de professores?E por que eles so os ltimos onde ocorrem mudanas fundamen-tais? Onde est o magistrio como sacerdcio, to valorizado por

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    Arnaldo Nisk ier

    26 Professorasde amanh,Dirio de Notcias,8 de julho de1930. In:Meireles,2001, v. 3,pp. 133-5.

    27 Qualidadesdo professor[1]. Dirio deNotcias, 10 deagosto de 1930.In: Meireles,2001, v. 3,pp. 147-8.

    28 Qualidadesdo professor[2], Dirio deNotcias, 16 deagosto de 1930.In: Meireles,2001, v. 3,pp. 151-2.

    29 Formao doprofessor [1],Dirio de Notcias,24 de agostode 1930. In:Meireles, 2001,v. 3, pp. 163-4.

  • Ceclia Meireles? O estmulo mais importante das profisses seguenuma ntida tendncia decrescente, sem que se sinta das autoridadesoficiais qualquer esforo mais srio no sentido de estancar o proces-so e revert-lo rapidamente.

    Houve em cada mudana um currculo mais atraente? Os salriosforam dignificados de acordo com as habilitaes alcanadas?

    claro que se pode esperar melhores dias para a formao e oaperfeioamento do magistrio, com as conseqentes e naturais re-percusses em seus planos de carreira. Os salrios tero de ser digni-ficados, de todo jeito.

    Se o prprio sistema no apresenta uma proposta concreta e har-mnica a respeito do que se espera de um curso de magistrio, o queaguardar das autoridades enclausuradas em gabinetes refrigerados? Esem o menor conhecimento prtico do que se deveria ou poderia fa-zer numa sala de aula ou at mesmo fora dela, com o emprego hojepossvel de surpreendentes tecnologias educacionais.

    Ceclia Meireles, em sua poca, valorizava os professores dedi-cados e que colocavam como seu maior objetivo o atendimento aseus alunos. Hoje, o exerccio do magistrio considerado umaprofisso como outra qualquer e que precisa proporcionar a quema exerce as condies mnimas de qualidade de vida, onde se incluio sustento, a moradia e a possibilidade de realizao de cursos deatualizao e aperfeioamento. Esta ainda no a realidade da edu-cao brasileira.

    7. Novas tecnologias

    Um pas novo, mas de intensa capacidade evolutiva, como o Brasil, no

    pode deixar de se instruir com as experincias j verificadas em outros pon-

    tos da terra para aproveitar com os bons exemplos de umas, e acautelar-se

    dos desastres de outras.30

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    Cecl ia Meireles : A educadora

    30 Professorese estudantes,A Manh, 9 deagosto de 1941.In: Meireles,2001, v. 5, p. 2.

  • Ceclia Meireles, h sessenta anos, apresentava a importncia doconhecimento sobre as novas experincias educacionais que aconte-ciam em outros pases. Ressaltava, porm, a importncia fundamen-tal da avaliao para aproveitar os bons exemplos de umas, e acau-telar-se dos desastres de outras.

    A adoo pura e simples de teorias e tecnologias estrangeirasno garante o xito de novas experincias pedaggicas. preci-so que sejam levadas em considerao as caractersticas peculia-res de cada regio, os fundamentos filosficos e sociais de cadapovo, a diversidade e riquezas culturais. A prpria educao distncia no uma metodologia recente. Tem pelo menos 200anos, da no ser estranha realidade de um pas de cultura mi-lenar, como a China, que hoje treina 1,5 milho de trabalhado-res via satlite.

    O grande desafio brasileiro levar educao de qualidade atravsde 8,5 milhes de quilmetros quadrados, em que h regies zeradasem educao a zona rural uma tragdia em matria de educao.Como que no estamos utilizando os satlites para levar educaoa essa gente, alfabetizao mesmo? O grande obstculo a falta dementalidade, de vontade poltica. Ainda temos 18 milhes de anal-fabetos puros.

    Ceclia Meireles comenta, em uma de suas crnicas de viagem,que seria muito difcil a vida de um analfabeto nas cidades nor-te-americanas. Ali, as situaes esto sinalizadas com palavras: todosos avisos, alertas, placas, propagandas, usam a linguagem escrita.

    Quando pensamos no Brasil de amanh, permanente preocupa-o de Ceclia Meireles, temos que dar, ns todos, a contribuioindispensvel para que a nossa vida possa ser melhor e para que ascrianas que esto hoje nas escolas as crianas do novo sculo possam estar mais bem preparadas, e, dessa forma, ajudar o Pas acrescer.

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    Arnaldo Nisk ier

  • Concluses

    A obra em prosa de Ceclia Meireles, com destaque para as suasCrnicas de educao, nos proporciona a mesma emoo que sentimosao ler a sua obra potica. Defensora permanente dos ideais de umanova educao e pelos direitos das crianas e dos jovens a uma edu-cao de qualidade, Ceclia apresentava suas dvidas quanto ao futu-ro de nossos estudantes, criticando de forma contundente polticose especialistas, que se perdiam em leis e teorias, sem traarem, efeti-vamente, um Plano Nacional de Educao.

    Uma das maiores preocupaes da educadora, presente em inmerascrnicas, com a formao dos professores. Pensava ela que as profes-soras no saam das Escolas Normais efetivamente preparadas para oexerccio do magistrio. E que a vocao, os sonhos e os ideais eram co-locados de lado frente dura realidade que iriam enfrentar, sem umabase slida de conhecimentos e ainda praticando uma educao desvin-culada da realidade dos alunos e da sociedade como um todo.

    A colocao das crianas em destaque como centro de todo oprocesso educativo um outro ponto enfatizado; poeticamente, aeducadora afirmava na crnica A escola para as crianas, publica-da no Dirio de Notcias, em 23 de novembro de 1930: Escola no um edifcio, no um corpo docente. Escola um conjunto decrianas. Elas deveriam ser o foco das atenes, do estudo dos pro-fessores, que deveriam compreend-las integralmente, segundo ospostulados da Escola Nova.

    Ceclia Meireles discorreu sobre todos os temas educacionais:mtodos, especialistas, professores, livros, arte, leis, reformas, crian-as, adolescentes, poltica, liberdade, escola, literatura infantil, edu-cao comparada (como resultado de suas viagens pelo mundo), aimportncia da famlia, pois, como dizia: Tudo, em suma, sempreuma questo de educao.

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    Cecl ia Meireles : A educadora

  • J no mais desejo andanas;

    tenho meu campo sereno,

    com aquela felicidade

    que em toda parte buscava.

    O tempo fez-me paciente.

    A lua, triste mas doce.

    O mar, profunda, erma e brava.31

    Referncias bibliogrficas

    BRASIL. Constituio: Repblica Federativa do Brasil CaptuloIII Seo I Da Educao Art. 205. Braslia: Senado Federal,1988, p. 137.

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    LOBO, Yolanda Lima. Memria e educao: O esprito vitoriosode Ceclia Meireles. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos. InstitutoNacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Braslia, v. 77, n.187, set./dez., 1966, pp. 525-45.

    MEIRELES, Ceclia. Crnicas de educao. Volumes 1 a 5. Obra emProsa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundao Biblioteca Na-cional, 2001.

    ____. Poesia Completa. Volumes 1 e 2. Rio de Janeiro: Nova Fron-teira: 2001.

    ____. Verdes reinos encantados. Rio de Janeiro: Salamandra, 1988.

    MONTELLO, Josu. A ltima batalha do Modernismo. O Mo-dernismo na Academia Testemunhos e documentos. Coleo Afr-nio Peixoto. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1994.pp. 245-51.

    286

    Arnaldo Nisk ier

    31 Narrativa,Vaga msica, inPoesia Completa,v. 1, p. 433.

  • MORAES, Juneldo. Ceclia Meireles. A Unio (Joo Pessoa),Dois, nov./2001, p. 13.

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    Cecl ia Meireles : A educadora