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Ano VIII – nº 09 – Novembro/11 ENTREVISTA Mariângela Momo Novas tecnologias e vida: conquista e desafio PATRIMÔNIO CULTURAL Militana, a Romanceira Íbero-Brasileira

Ceia Cultural #09

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Revista Ceia Cultural

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Page 1: Ceia Cultural #09

Ano VIII – nº 09 – Novembro/11

ENTREVISTAMariângela Momo

Novas tecnologias e vida: c o n q u i s t a e d e s a f i o

PATRIMÔNIO CULTURAL

Militana, a RomanceiraÍ b e r o - B r a s i l e i r a

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Revista Ceia CulturalISSN 1808-7302

DiretorasMaria Lúcia Andrade de AzevedoAna Flávia Andrade de A. Oliveira

Conselho EditorialProfª. Ana Cristina Dias

Profª. Celina BezerraRebecca Guimarães Queiroz

RedaçãoRebecca Guimarães Queiroz

DRT/RN 1.364Revisão

Ana Cristina DiasTiragem

2.000 exemplaresProjeto Gráfi coInfi nitaimagem

Fone: (84) 3231-3795 / 8805-1004infi nitaimagem@infi nitaimagem.com.br

EdiçãoVerbo Comunicação & Eventos

Telefax: (84) [email protected]

Jornalista ResponsávelSylvia Serejo – DRT/RN 916

InformaçõesCEI – Centro de Educação Integrada

Fone: (84) 4006-0550www.ceinet.com.br

[email protected]@ceinet.com.br

Os artigos assinados por colaboradores não necessariamente refl etem a opinião

do Conselho de Direção do CEI.

Capa: Ilustração vencedora do con-curso Capa Ceia Cultural, de autoria da aluna Maria Luiza Barbalho, do 8º Ano do Ensino Fundamental II/CEI.

EditorialSempre atento às problemáticas sociais e à sua missão de formador de cidadãos, o colégio CEI escolheu para este ano o tema integrador “Novas Tecnologias e Vida: conquista e desafi o” para nortear as propostas de trabalho desenvolvidas pelos alunos durante o ano letivo de 2011.

Assunto cada vez mais presente e discutido na sociedade, o tema integrador deste ano surge em vários textos desta edição da Ceia Cultural, os quais levarão você a refl etir sobre as conquistas e desafi os da sociedade contemporânea. É o caso da entrevista com a Doutora em educação, Mariângela Momo, que discorre sobre o perfi l das crianças da pós-modernidade e nos alerta sobre o papel dos pais e da escola diante dessa nova realidade. Os artigos “O avanço da tecnologia a favor do homem”, da aluna Aline Lemos Alves Sabino, e “Use com Moderação, da aluna Beatriz Cunha Freire, também trazem os prós e os contras do desen-freado avanço tecnológico.

Outros temas também estão presentes nos deliciosos textos desta edição da Ceia. Você irá deleitar-se com o Patrimônio Cultural, escrito pela professora de artes Rafaela Farias Nóbrega, que traz um pouco da história da romanceira Dona Militana e saborear as crônicas, contos, resenhas e poesias contempladas nesta nona edição.

Sirva-se à vontade desta ceia!

3 – LiteraturaJorge Fernandes e Zila Mamede: cheiro de terra e cheiro de mar no sertão potiguar

4 – Patrimônio CulturalMilitana, a romanceira Íbero-Brasileira

6 – MatériaBanda CEI

7 – ContoVoo 1975

8 – CrônicaRepousando todo o amor

9 – ResenhaO Judas em Sábado de Aleluia,de Martins Pena

10 – Carta AbertaCarta aberta sobre o bullying

11 – ContoSolidão para Viagem

12 – EntrevistaMariângela Momo

14 – ArtigoO Avanço da tecnologia a favor do homem / Use com Moderação

15 – CrônicaCorredor Cultural de Natal: uma viagem de descobertas

16 – Caderno de Poesias

18 – ArtigoA Poderosa Mídia

19 – Artigo de LiteraturaA dimensão dialógica do discurso

20 – ÉticaÉtica: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

22 – Palavra de PaisNovas Tecnologias e Vida: con-quistas e desafios

Índice

NESTA EDIÇÃO

Professoras de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II

Maria Suerbene &Micheline Medeiros

A TEIAJorge Fernandes

O tempo tece a teiafeito aranha invisívele, quando se vê presono seu próprio fi o,a si mesmo desfi anum gesto intraduzível.

O tempo é Penélope:à noite desfaz o que fez de dia.Sua espera é para sempree, enquanto espera, fi a.

O tempo atrapalhaSó depende de ajudaEle se entrelaçaMas depois sai correndoComo uma aranhaEspera a hora certaPara conquistar a presaNem sempre dá certo...

Ana Carla Jácome, Carolina Cunha, Breno

Jácome, Renan Ursulino, João Vitor Chrisóstomo,

Th eodoro FernandesAlunos do 9º Ano do Ensino Fundamental

Um rio há adormecido

em cada infância... Mas o

que conta em nós é mesmo

o rio correndo na memó-

ria com seu jeito de rio...Zila Mamede

MANHECENÇAJorge Fernandes

O dia nasce grunindo pelos bicosDos urumarais...Dos azulões... da asa branca...Mama o leite quente que chia nas cuias espumando...Os chocalhos repicam na alegria do chouto das vacas...As janelas das serras estão todas enfeitadasDe cipó fl orado...E o coên! coên! do dia novo —Vai subindo nas asas peneirantes dos caracarás...Correndo os campos no mugido do gado...No – mên – fanhoso dos bezerros...Nas carreiras das cutias... no zunzum de asas dos besouros,das abelhas... nos pinotes dos cabritos...Nos trotes fortes e luzidos dos poltros...E todo ensanguentado do vermelhão das barrasLeva o primeiro banho nos açudesE é embrulhado na toalha quente do solE vai mudando a primeira passada pelosCampos todo forrado de capim panasco1...

É a beleza de uma manhã especialQue apreciamos com emoçãoComo fruto de um presente sem igualÉ o sertão gravado na memória do coração

Fernanda Lira, Heloisa Nelson, Mariana Cabral, Pedro Diniz, Renata Tenório, Th iago Nóbrega

Alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental

1 [Bot.]- Panasco é o nome popular de uma planta , o mesmoque capim-mimoso.

J o r g e F e r n a n d e s e Z i l a M a m e d e : cheiro de terra e cheiro de mar no sertão potiguar

Representantes ímpares da literatura potiguar, Zila Mamede e Jorge Fernan-des “cantaram” como poucos as belezas de nossa terra: o mar, o sertão, o coti-diano, o amor, a refl exão.

Os alunos dos 8ºs e 9ºs anos, após o es-tudo da vida e obra dos poetas, respec-tivamente citados, apresentam por meio de mix-poéticos – exercício de saberes sobre a estrutura e formação de versos, que oferecem sugestão de continuidade aos poemas de Zila Mamede e de Jorge Fernandes –, um pouco o estilo de cada um dos poetas estudados e a apropria-

ção feita pelos educandos das imagens e ideias que permeiam os textos lidos.As fi guras do bonde, do mar, da teia, da manhã, da lagoa seca, da rede, do arado, do rio, de bois, das colinas, das cabras, entre outras, literariamente, são metáforas do recorte que os po-etas fazem da realidade, a qual, por meio da sensibilidade criativa, é re-feita e revisitada, tornando-se mais viva e palpável à nossa percepção. É um convite para passearmos sobre o mar sertanejo de Zila Mamede e de Jorge Fernandes!

LITERATURA

A REDEJorge Fernandes

Emboladora do sono...Balanço dos alpendres e dos ranchos...Vai e vem nas modinhas langorosas...Vai e vem de embalos e canções...Professora de violões...Tipoia dos amores clandestinos...Grande... larga e forte...  pra casais...Berço de grande raça.

S A U S S N P E

Guardadora de sonhosPra madorna ao meio-diaGrande... côncava...Lá no fundo dorme um bichinho...–Balança o punho da rede pro menino dormir.

Abriga jovens namorados...Testemunhando as juras dos corações...Grande... Bela e Aconchegante... Para famílias...Leito de muitas emoções.

Camila Bezerra, Cecília Galvão,Isabella Pellizzon, Júlia Lyra,

Vanessa Medeiros, Th iago BarretoAlunos do 9º Ano do Ensino Fundamental

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PATRIMÔNIO CULTURAL

Rafaela Farias NóbregaProfessora de Artes.

Militana, a Romanceira Íbero-BrasileiraEra uma vez, um lindo cas-telo com uma bela princesa e um prín-cipe corajoso.... É assim que grande parte dos contos infantis narram e ilustram a infância de cada geração de crianças em todo o mundo. São histó-rias repletas de aventuras, cavaleiros, dragões, príncipes, princesas e bruxas, batalhas travadas entre o bem e o mal, em que o amor e a bondade sempre ven-cem, com desfecho em um fi nal feliz.

Foi como toda criança que se utiliza de sua fértil imaginação que a menina Militana Salustino do Nascimento, por herança de seu pai, Atanásio Salustino, aprendeu a recitar os romances, em lon-gas jornadas de trabalho na pequena la-

voura de propriedade da família, locali-zada no Alto do Canaã, comunidade de São Gonçalo do Amarante – RN.

Não se sabe ao certo como os romances e causos com estética literária que re-montam à Europa medieval, mais pre-cisamente à cultura ibérica, chegaram a seu Atanásio. Só podemos agradecer--lhe pela repetição de histórias cujos enredos eram repletos de cenas trágicas sobre príncipes e plebeus – músicas que poderiam ser perdidas com o tempo e com elas um passado pré-colonial da cultura nordestina brasileira. De seu pai, Militana aprendeu não só os ro-mances e trovas herdadas do folclore ibérico, como também deu asas à sua

imaginação, criando novos romances dentro da estética medieval.

Através da tradição oral, assim como seu pai fi zera, Dona Militana ensi-nou suas músicas a seus fi lhos e netos, mesmo sem saber da importância lite-rária e cultural de seus cocos, toadas, romances, fandangos e demais estilos literários que fazem parte do universo do imaginário popular.

Somente na década de 90, em uma de suas pesquisas sobre o folclore regio-nal, o folclorista Deífi lo Gurgel conhe-ceu a então dona de casa e matriarca da família Salustino, Dona Militana. Na ocasião, Deífi lo fi cou intrigado ao

ouvi-la reproduzir Milagre do Trigo, cujas origens remontam à cultura espa-nhola. “O que me intriga é como isso veio parar na cabeça dela. Ela é uma pessoa fabulosa em matéria de cultura tradicional do romanceiro. A mulher é fora de série. Atualmente, ela é a maior romanceira do Brasil”, afi rmou o pes-quisador na época.

A partir de então, com os esforços de Deífi lo e a dilvugação dos romances, Militana foi convidada a participar do projeto “Nação Potiguar”, com o in-tuito de divulgar a cultura norte-rio-grandense. Através do CD “Cantares”, é reconhecida pela imprensa nacional pela importância de suas músicas que remontam a um passado pré-colonial já esquecido. Militana vira fi gura conhe-cida entre pesquisadores e intelectuais, que a reconheceram como representante viva dessa tradição, conforme afi rma o jornalista Mauro Dias, de o Estado de São Paulo: “Canta romances. Histórias centenárias sobre reis e princesas, du-ques e plebeias; histórias terríveis, ro-mances de amor e morte, de ciúmes e vinganças mantidas por algum motivo a ser descoberto, num formato muito próximo da origem, os cantadores me-dievais da península ibérica”.

Ouçam, meus senhores todos,Uma história de espantar!Lá vem a nau catarinetaQue tem muito o que contar.Há mais de um ano e um diaQue vagava pelo mar:Já não tinha o que comer,Já não tinha o que manjar,Deitam sortes à aventuraQuem se havia de matar:Logo foi cair a sorteNo capitão general....”(Fragmento do romance da Nau Catarineta–ro-mance tradicional do espetáculo Lunário Perpétuo.)

A importância de Militana se deu não apenas pelos romances aprendidos ou pela estética seguida de sua criação, mas também pela simplicidade da vida do homem do campo que narra em sua literatura. Assim como grandes escritores regionalistas e sertanistas, a romanceira retratou a cultura popular da qual pertencia, como observamos nos versos seguintes.

“Lá nos Barreiros onde eu nasci,Em São Gonçalo onde eu me criei,Eu vou voltar pra meu sítio Oiteiro.Adeus, Rio de Janeiro, Adeus.”(Versos cantados por Dona Militana numa apre-sentação no Teatro João Caetano - RJ, por oca-sião de uma participação especial no espetáculo

“Lunário Perpétuo”, ao lado do brincante per-nambucano Antônio Nóbrega.)

“Vim de uma cultura dos pés rachados do Sol. Eu tinha que pular sombras para aliviar a quentura do roçado. Hoje sou inventadeira das coisas. Pra mim, a vida é grande moinho, cheia de coisas novas.”(natalpresso.com, por Alexandre Gurgel)

Embora tenha tido o reconhecimento de sua obra, ao ponto de receber, no ano de 2005, a comenda máxima da cultura popular das mãos do então presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, Dona Militana não vivia dos louros de sua obra, e sim de uma pen-são vitalícia do município em que re-sidia, de doações, de ajuda de parentes e da agricultura de seu sítio Oiteiro, que herdou de seu pai, onde morava em uma casa simples de taipa. A ro-manceira nasceu de forma simples, no dia 19 de março de 1925, no mesmo sítio, e faleceu em sua simplicidade no dia 19 de junho de 2010, no auge de seus 85 anos. Mesmo em seus últimos dias, assim como nos lindos roman-ces que cantava e nas belas histórias infantis, teve dias de sonhos, magia, tragédias, mas encontrou na simpli-cidade de sua vida a felicidade digna dos grandes contos de fada.

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MATÉRIA

A lém da sala de aula

9º Ano do Ensino FundamentalGiulia Rosa & Juliana Borba

CONTO

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Voo 1975“Passageiros do voo 1975, embarque imediato pelo portão B”. Esta foi a chamada que ecoou no aeroporto em um dia comum, durante o meu turno da noite. Na hora em que acon-teceu, eu estava exercendo o meu simples trabalho na área do detector de metais, vigiando os passageiros, assegurando que nenhum tumulto acontecesse. Mas o tumulto aconteceu.

Um passageiro que não aparentava ser estranho fez o alarme apitar. Tirou o cinto da calça e passou novamente, e o apito se repetiu. Tirou as chaves do bolso, porém o barulho não cessou. Tirou a aliança do dedo e, mesmo assim, o alarme continuava. Então, como de costume, fui questioná-lo sobre o quê estaria causando o alarme estridente. Eis o diálogo que se seguiu:

– Não sei. Poderia ser minha obturação?

– Não, senhor. Tem algo de metal, além disso?

– Bem, estou sem relógio e já tirei até a aliança. Será que...

– Será o quê, senhor? O senhor poderia completar a frase?

– Bom, é que... Há alguns meses eu fi z um piercing. Sempre me esqueço.

– Por questões de segurança, temos que nos certifi car desta informação. Poderia nos mostrar o piercing?

– Ah, é que é num lugar tão vergonhoso.

– Como, senhor?

– É um lugar tão... Tão pequeno!

– Não estamos falando de tamanho senhor.

– Mas eu sou tão peludo... Talvez você nem consiga ver o piercing.

Pensei comigo mesmo “eu não queria ter que ver senhor”, mas ao invés disso respondi:

– Prefere ir ao banheiro? É por aqui, me acompanhe...

– Não, me sentiria mais desconfortável ainda.

– Bem, neste caso, sou obrigado a lhe pedir para retirar as calças.

– Vou retirar, seu guarda.

Para a minha surpresa, ali, ali mesmo, ele começou a tirar os sapatos. E logo após, abaixou-se como se fosse retirar as meias.

– Com todo o respeito, senhor, nunca vi alguém precisar tirar as meias para tirar as calças.

– O senhor quer ver o piercing ou não?

Engoli em seco. Sabia que estava prestes a ver algo que não queria.

E lá estava ele.

O piercing.

No dedinho mindinho do pé direito.

Dedinho pequeno, peludo...

No início do ano passado, o colégio CEI deu mais um passo para a ampliação de sua dimensão educativa aprovando e incentivando a formação de uma banda composta por alunos do colégio com interesse e talento para a música. O projeto para a criação da banda foi uma iniciativa do professor de música do colégio, Everson Ferreira, e, a partir dele, nasceu a Banda CEI. “A ideia principal da formação desta banda é incentivar a prática musical na escola e descobrir os inúmeros talentos que te-mos dentro dela”, diz o professor Ever-son Ferreira. Formada, inicialmente, por apenas três alunos (Bruno, Gabriel e Carol) e coordenada pelo professor Everson, a banda passou a se apresentar em eventos do colégio e chegou a realizar duas apresentações na UnP em 2010.

Este ano, com o objetivo de agregar no-vos componentes à banda, os então par-ticipantes resolveram espalhar cartazes pelo colégio, convidando os alunos com experiência instrumentista para

ingressarem ao time musical. “A ideia deu certo, novos alunos me procuraram para fazer parte da banda. Porém, vale lembrar que, para ingressar na banda CEI, o aluno já precisa tocar algum instrumento ou cantar, pois não damos aula de música, e, sim, juntos, aperfei-çoamos o que já sabemos em nossos en-saios semanais”, esclarece Everson.

Entre muitas passagens de alunos pela banda, hoje ela está com cinco compo-nentes e tendo como coordenadores os professores Everson e Liana Monteiro. A Banda CEI já contabiliza inúmeras apresentações e vem realizando outros projetos no colégio, como é o caso da Semana Musical. A Semana Musical acontece toda última semana do mês, quando, durante o intervalo, os alunos do Ensino Médio do colégio podem re-alizar apresentações musicais, mostrar o seu talento. “É ótimo emocionar e alegrar as pessoas com a música. E o re-conhecimento dos nossos colegas é bom demais!”, diz Bruno de Lira, guitarrista da Banda CEI.

Em relação aos planos futuros da banda, os componentes esperam fazer mais apresentações fora do CEI e gravar músicas próprias. “Já temos três músi-cas nossas selecionadas e esperamos poder apresentá-las em breve.”, revela Pedro Henrique, vocalista da Banda.

Os componentes da banda CEI são bem diferentes em diversos aspectos: na idade, na personalidade, nos sonhos e, até, no gosto musical. Porém a paixão pela música é o ponto em comum en-tre todos. “O mundo sem música seria preto e branco”, defi ne Débora Glenda, vocalista e mais nova integrante da Banda CEI ao responder sobre o mo-tivo que a levou a fazer parte da banda. É desse pensamento que todos os in-tegrantes da banda compartilham, por isso não pensam em largar a música de forma alguma. Muitos pretendem seguir outras carreiras profi ssionais, mas continuar com a carreira musical de forma paralela. “A música está em nossa alma”, fi nalizam.

Componentes da Banda CEI:Bruno de Lira, 15 anos – Guitarrista

Débora Glenda, 11 anos – Vocalista

Gabriel Brito, 12 anos – Baterista

Pedro Henrique, 16 anos – Vocalista

Vitória Coutinho, 15 anos – Vocalista

Everson Ferreira – Professor e Coordenador da banda

Liana Monteiro – Coordenadora da banda

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CRÔNICA RESENHA O Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena Mais do que uma apologia aos autos vicentinos, a obra de Martins Pena, “O Judas em Sábado de Aleluia”, transcede em seu conteúdo a suposta abordagem religiosa proposta em seu título. No entanto, é indispensável que o leitor reconheça nessa obra a sua inexorável e explícita herança dos autos portugueses mediante as críticas sobre os maus costu-mes da sociedade.

Apesar de ser uma obra destinada ao teatro, “O Judas em Sábado de Aleluia” desprende-se da “monotonia-previsível”, para consagrar-se em uma maravilhosa comédia de um único ato e doze cenas surpreendentes. Assim, o livro consegue prender a atenção do leitor de seu início até o seu final.

Para desenvolver seu enredo, Martins Pena escolhe o Rio de Janeiro de 1844 em Sábado de Aleluia. Por este motivo, o texto inicia-se com a “construção” do Judas e toma rumos interessantíssimos a medida que o autor sugere diversas denúncias sociais.

Sobretudo, é essencial enfatizar que este livro consegue gerar humor em todas as cenas que remetem aos namoros de Maricota e à hipocrisia de seus amantes, além da corrupção de membros da Guarda Nacional. Entretanto, deve-se à an-siedade das moças do século XIX, as irmãs Chiquinha e Maricota, em “ganhar na loteria dos casamentos” o desencadear do enredo humorístico dessa obra.

Filha de José Pimenta, Cabo da Guarda Nacional, a protagonista Maricota provoca a visita de um de seus namorados, o dis-simulado Faustino, em sua casa. A pedido da moça, Faustino esconde-se: fantasiando-se, então, do Judas presente em um dos cantos da sala. Dessa forma, a medida que outros personagens entram em cena e envolvem-se entre si, o personagem Faustino acaba descobrindo inúmeros segredos dessa cômica família e seus conhecidos, usando, depois, tais revelações em seu favor.

Em síntese, pode-se dizer que essa obra de Martins Pena vale a pena ser lida e relida não apenas pela sua importância cultural, mas pelo fato de suas críticas serem eternas e válidas no mundo contemporâneo.

Th izá Marry – Aluna do 1º Ano do Ensino Médio

Eu nunca havia me sentido tão livre do eu que prendia meu corpo de vez em sempre. Estar so-zinha nem me era mais tanto problema. Acabara de descobrir, como nunca, a beleza de estar e me sentir viva e, acima de tudo, pronta para me en-frentar, desafi ar, seduzir, me viver. Viver a mim mesma, porque eu era, assim, a minha própria heroína. A heroína do meu mundo e de todo meu interior que num instante estivera preso; longe de mim. Por duas vezes cinco minutos anteriores, encontrei-me numa longa procura de minha ex-pressão e me fi z presente num corpo que há muito não conhecia, e há muito precisava conhecer.

Então começaram. Braços e pernas e pés e pes-coços e olhares construíam meus movimentos, minha força de estar exatamente ali e o meu mo-mento de querer mais. Mais e mais de mim e dos meus braços e minhas pernas e meus pés e meus pescoços e meus olhares e mais ainda de todo esse mais. Me sentia provocada a me querer ver fa-zendo aquilo, executando o meu viver e sentindo cada um daqueles todos meus passos que me en-volviam toda num corpo só; num solo só; num eu plural. Inclinei corpo e coração por inteiro num autoagradecimento e me recobria do alívio de estar viva para sentir todo esse prazer imenso que me cabia quase como uma luva, numa eterna troca de sentimentos com o meu espaço e com o que me mantém sã. Eu d-a-n-ç-o. Com todos os braços e pernas e pés e pescoços e olhares. Por-que eu nunca, em outros lugares, em outros cor-pos, me sentiria assim. E porque eu fi nalmente nunca... Nunca havia me sentido tão livre do eu que prendia meu corpo de vez em sempre.

Daniela Fernandes1º Ano do Ensino Médio

Repousando todo o amor

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CONTOCARTA ABERTA

C a r t a a b e r t a s o b r e o B u l l y i n g

Prezados senhores,

Podemos dizer que já estamos acostu-mados a ver situações de discrimina-ção e preconceito em nossa escola. Tais ocorrências são motivadas pelos mais diversos aspectos, como cor de pele, etnia, algum tipo de defi ciência mental ou física, opção sexual, origem, religião, posição sócio-econômica ou alguma ca-racterística marcante, como, por exem-plo, excesso de peso. Apesar da aparente diferença, todas essas formas de discri-minação estão baseadas na intolerância perante as diferenças.

A intolerância que está presente nas escolas e causa atos de violência psico-lógica ou física, o bullying, é a mesma responsável pela existência de grupos extremistas ou terroristas, como a Ku Klux Klan e a Al Qaeda, organizações que desrespeitam os Direitos Huma-nos, torturando e matando pessoas em nome de uma causa, para elas, maior.

Tal causa ou ideal é fundamentada na não aceitação de uma maneira diferente de se pensar ou agir, ou seja, é baseada na intolerância. Até no Brasil, senho-res, um país tido como multicultural, existem grupos intolerantes e extremis-tas como os skin heads, que, pelo seu caráter neonazista, pregam o racismo e o extermínio de negros, nordestinos, homossexuais e defi cientes.

O bullying, uma das primeiras for-mas de discriminação praticadas pelo homem hoje, por ser praticado em es-colas, quando cometido por crianças muito jovens, pode ser confundido com uma brincadeira inocente. No entanto, desde cedo, o bullying causa um trauma a quem o sofre. A tendên-cia é que as agressões fi quem mais frequentes e intensas com o tempo, agravando o trauma da vítima e acar-retando complicações psicológicas em sua fase adulta. Tais complicações po-dem ter graves consequências no de-senvolvimento pessoal e profi ssional das vítimas de bullying.

Este ano, o Brasil se espantou com os assassinatos em série de crianças em

uma escola no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro. O autor do crime, que fi cou conhecido como o “massacre de Realengo”, foi um ex-estudante daquela escola, vítima de bullying. Em vídeos gravados pelo próprio assassino, ele de-lira e afi rma querer se vingar daqueles que “maltratam os fracos e indefesos”, isto é, ele acredita que se vingará de seus antigos agressores. Casos como esse, em que o bullying motiva pessoas a entrar em escolas buscando vingança, não são novidade nos Estados Unidos e demonstram a que ponto o trauma cau-sado pela discriminação pode chegar.

É, portanto, de fundamental impor-tância que os senhores refl itam sobre o exposto acima e, se necessário, re-pensem determinadas atitudes perante aqueles considerados diferentes. Lem-bremo-nos de que o respeito mútuo é imprescindível para uma convivência harmoniosa e saudável.

O movimento contra o bullying já foi adotado pelo CEI, mas, para que esse problema seja erradicado desta escola, o movimento precisa ser adotado por cada um de nós.

Solidão Para Viagem

Paredes descascadas, que um dia ha-viam sido algo próximo ao que hoje co-nhecemos como azul. Cadeiras de ma-deira mais velhas que certos carvalhos e uma lâmpada balançando de um lado para o outro, ponderando entre a vida e a morte de tal forma que chegava a ser quase poética. Quase.

Em suma, um lugar respeitável.

Cheirava a café e melancolia.

Sentou-se no canto, sozinha, defronte ao balcão onde uma garçonete desa-tenta lixava as unhas, desinteressada no mundo ao seu redor. Era um belo lugar para se perceber que sua vida não vale mais que a de uma ostra. Trans-correram-se alguns minutos até que a garçonete percebesse que havia uma nova cliente. Encarou a garota dos pés à cabeça e balançou a cabeça em repro-vação antes de ir perguntar-lhe o que queria. Pediu um café. Não, nada de açúcar, muito obrigada. Sem leite. Só café. Amargo como exigia a ocasião.

Ficou a encarar os outros clientes. Um casal fumava e conversava em um francês muito rápido, na mesa ao lado. Ou talvez fosse só impressão dela. Apesar disso, ela se sentia mais estrangeira ali do que qualquer um deles. Além do casal, apenas dois se-nhores, tão velhos quanto o próprio estabelecimento, cada um em sua mesa, em sua própria solidão.

Acabou optando por ficar a enca-rar a parede. Não se importava com suas deformidades. Tinha ela mesma

suas próprias falhas para se preocu-par. Chegou o café. Muito obrigada. Não, não desejava mais nada, apenas o café estava bom. Café rima com so-lidão. Bebeu.

Estranho se sentir daquela forma. Já tinha algum tempo que só vinha dese-jando isso – solidão. Sem guarnições, como deve ser. Seu desejo não fora atendido. Começara a gostar das pes-soas. Precisava da solidão para voltar ao normal. Queria de volta a indife-rença. Mais um café, por favor. Clichê seria dizer que estava perdida, pois não estava. Apenas detestava o lugar no qual se encontrava.

Era assim, oblíqua. Nem perpendicu-lar nem vertical. Vivera cem anos em dez e cinco em quinze. Traiçoeira essa história de idade. Olhou novamente para a luz, ainda balançando no teto. Balançava assim mesmo, natural-mente. Sem vento, sem brisa. Tinha vontade de apagá-la. Tinha vontade de apagar a si mesma.

Dizem que só começamos a entender a vida quando a morte se aproxima. Não aprendera nada. Vivera cinco anos em quinze e cem em dez. Permanecia uma recém-nascida. A bolsa escorregou, caindo no chão com um baque. O casal não virou, e os velhos sequer se mexe-ram. Inquietou-se.

Triste combater o que em sua vida nunca dera sinal de vida.

Garçonete, mais uma solidão, por favor.

Mariana Ceci1º Ano do Ensino Médio

Bruno Barreto M. Pacheco3º Ano do Ensino Médio

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ENTREVISTA

Mariângela Momo

Ceia: A infância é uma construção cultural, social e histórica. Em sua tese, no mundo contemporâneo, as crianças são produzidas, formatadas e fabricadas pela mídia e pelo consumo. Explique-nos melhor essa tese.

Mariângela: Quando falamos que a infância é uma construção cultural, so-cial e histórica queremos dizer que ela não foi sempre do modo como a conhe-cemos na contemporaneidade. A forma de se entender o período da vida cha-mado infância depende da época, do contexto e do lugar. Assim, por exem-plo, a sociedade de caça e coleta não via com bons olhos as crianças, pois, para essa sociedade, que dependia da mobilidade para sobreviver, as crianças eram um peso a mais para carregar. Já a sociedade agrícola concebia as crianças como seres desejáveis, como possibili-dade de mão-de-obra para a manuten-ção e a perpetuação de tal sociedade. O mundo contemporâneo, nomeado por muitos como a sociedade do con-sumo, valoriza seus membros por sua capacidade de consumo. As pessoas,

cada vez mais, valem pelo que elas têm, não pelo que elas são. É um mundo que oferece infi nitas possibilidades de consumo e que propaga, por meio de mídias – como televisão, internet, ce-lular, outdoors, revistas, jornais, entre outras – ensinamentos sobre o mundo e sobre a vida.

“Quando falamos que a infância é uma construção cultural, social e histórica

queremos dizer que ela não foi sempre do modo como a conhecemos na contemporaneidade.”

Ceia: Há então grandes mudanças na infância contemporânea?

Mariângela: Houve um tempo, du-rante o longo período histórico da Modernidade, que se aprendia sobre

o ser criança, sobre a infância, sobre o mundo e sobre a vida por meio de ins-tituições como igreja, família e escola. Essas instituições eram, em grande medida, convergentes nos ensinamen-tos e nos valores que propagavam. Já na contemporaneidade, a chamada so-ciedade da informação, as aprendiza-gens são efetuadas, também, por meio da mídia cujos ensinamentos e valores, muitas vezes, são dissonantes da escola ou da família na qual a criança está in-serida. A lógica da sociedade do con-sumo é fazer circular no mercado, com uma velocidade vertiginosa, o maior número de produtos e serviços que são constantemente substituídos por novi-dades. Impera a efemeridade, a provi-soriedade e a instabilidade na oferta de produtos e também nas relações hu-manas. Crianças que são educadas em uma sociedade da instantaneidade – como os alimentos fast food, a comu-nicação instantânea via celular ou in-ternet, e os cartões de crédito – tendem a ter difi culdade de esperar, seja o que for, pois se acostumam ao instantâneo.

Esses são apensas alguns dos exemplos de como o mundo de hoje, regido pela mídia e pelo consumo, produz os sujei-tos infantis. Certamente que as crian-ças não são todas atingidas da mesma forma, mas percebe-se que muitos dos efeitos da mídia e do consumo se fa-zem presentes na vida das crianças es-colares contemporâneas.

Ceia: Em sua tese fi ca evidente que as crianças buscam se inserir na cultura globalmente reconhecida, procurando fazer parte de comunidades de consu-midores, inclusive no ambiente esco-lar. Nos fale como ocorre esse processo e que comunidades são essas.

Mariângela: Ao adentrar os ambien-tes escolares, percebemos que as crian-ças se ligam as outras pelos artefatos que elas possuem. Por exemplo, se um determinado jogo de vídeo game está em voga, as crianças são capazes de unirem-se umas as outras em função do jogo. Se, em seguida, esse jogo deixa de estar em voga e surge um desenho animado como o Ben 10, então aque-las crianças que conviviam comparti-lhando assuntos e experiências relati-vas ao jogo deixam de conviver e pas-sam a conviver com outras, cujos inte-resses midiáticos são comuns naquele momento. Diferentemente do passado, quando as pessoas permaneciam mais ou menos nas mesmas comunidades, com os mesmos amigos, durante toda a vida, na contemporaneidade as comu-nidades também são efêmeras. Em um mundo em que poucas coisas são fi xas, em que quase tudo se desloca e muda, em que temos a ininterrupta sensação de insegurança, as crianças constante e incessantemente buscam por uma comunidade que, cada vez mais, é uma comunidade de consumidores. São co-munidades reguladas pelo princípio do prazer imediato, da descartabilidade e da volatilidade, assim sendo, o perten-cimento a esse tipo de comunidade é um pertencimento fugaz. Percebe-se que muitas crianças são isoladas do grupo quando não se inserem nessa cultura globalmente reconhecida e/ou quando não acompanham o ritmo de-senfreado da sociedade do consumo.

“Diferentemente do passado, quando as pessoas perma-neciam mais ou menos nas mesmas comunidades, com os mesmos amigos, durante toda a vida, na contempo-raneidade as comunidades

também são efêmeras.”

Ceia: Essas questões devem fazer parte do currículo escolar?

Mariângela: Certamente que abor-dar esse tema é tarefa da escola, assim como abordar outros temas que dizem respeito à diversidade do mundo e da vida. A escola tem a possibilidade, junto com as famílias, de trabalhar com essas questões de modo a propi-ciar que as crianças percebam de modo crítico o mundo do consumo no qual estão imersas. Cabe destacar, também, que essas comunidades têm ressonân-cia também no universo virtual. O ad-vento da internet e, mais recentemente, das mídias sociais vêm modifi cando as relações interpessoais. Relações pre-senciais de convívio, momentos com a família e amigos estão sendo prete-ridos, perdendo espaço e valor para sites de relacionamentos, chats, jogos online, enfi m, para o universo on-line.

Ceia: Diante deste contexto de um mundo regido pela mídia e pelo con-sumo, qual, enfi m, o papel da escola e da família na educação das crianças contemporâneas?

Mariângela: Se estamos nos tor-nando humanos de um outro jeito, se as crianças estão vivendo uma infân-cia pós-moderna, isso tem implicações para o campo da educação. O primeiro passo é considerar a parceria entre fa-mília e escola na educação das crian-ças. Mas cabe destacar que há distin-tas confi gurações familiares no mundo contemporâneo e que a escola deve lidar com a família possível de cada criança. Para discutir o papel da escola e da fa-mília trago, então, a ideia de educação pensada pela fi lósofa Hannah Arendt,

uma ideia tão simples que, ao dialogar com ela, tendemos a lê-la e abandoná--la por ser algo que praticamente todo mundo sabe. Segundo Arendt, a essên-cia da educação é a natalidade, o fato de que seres nascem para o mundo. Para a autora, as crianças nascem em um mundo que lhes é desconhecido e a tarefa da educação (primeiro por meio da família, depois da escola) é ajudá--las a conhecer o mundo preexistente ao seu nascimento, um mundo que elas herdarão e cuja herança não é só material, mas simbólica. As crianças devem compreender que o mundo, tal como se apresenta, compõe-se de uma longa história de sucessivas experiên-cias de gerações passadas. Portanto, precisamos dizer para as crianças o que queremos que elas preservem e perpe-tuem no mundo no qual estão ingres-sando (podemos citar como exemplos a cura de doenças, determinados avan-ços tecnológicos e valores humani-tários) e o que gostaríamos que elas modifi cassem nesse mundo (podemos citar problemas ambientais, violência e insegurança). Cabe, então, deixar res-soar infi nitamente as seguintes ques-tões: Em relação à sociedade da mídia e do consumo, o que gostaríamos de ensinar para as crianças? O que gosta-ríamos que fosse por elas preservado? O que gostaríamos que fosse por elas modifi cado? Que tipo de mundo e de sociedade queremos que elas produ-zam? Eis, aí, a grande tarefa da edu-cação: educar seres que são formados pelo mundo e ao mesmo tempo são capazes de produzi-lo.

“O mundo contemporâneo, nomeado por muitos como a sociedade do consumo,

valoriza seus membros por sua capacidade de consumo. As pessoas, cada vez mais,

valem pelo que elas têm, não pelo que elas são.”

A sociedade do mundo contemporâneo é marcada pelo consumo, pela fugacidade, pela inconstância e pela velocidade gerada pelo desenfreado avanço da tecnologia. É neste cenário que a geração Z, composta por jovens e crianças que já nasceram na era digital, se forma e se educa. Eles não são capazes de conceber o mundo sem computador, redes sociais, Iphones ou Ipods e crescem imersos no mundo virtual e bombardeados pela mídia. As empresas, juntamente com os profi ssionais de publicidade, propaganda e marketing, já perceberam a fonte inesgotável de meios de infl uenciar crianças e adolescentes que a mídia em geral e as redes sociais oferecem e vêm usando dessa fonte para aumentar o consumismo e volubilidade dessa geração.

Observadora desses fatos, Mariângela Momo, doutora em educação pela Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul, escreveu sua tese intitulada “Mídia e consumo na produção de uma infância pós-moderna que vai à escola” e discorre, nesta entre-vista, sobre o perfi l das crianças da pós-modernidade, o crescente consumismo dessa geração e o papel educacional dos pais e da escola diante desta conjuntura.

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CRÔNICA

Isabela Uchôa7º Ano do Ensino Fundamental

A era técnico-científi co-informacional trouxe consigo, desde os seus primór-dios, inúmeras inovações que, se com-paradas aos aspectos anteriores a essa revolução, fazem da tecnologia um agente facilitador da humanidade, em âmbito social, científi co e econômico.

As vantagens comparativas da tecnolo-gia na recente sociedade globalizada vão desde o simples uso de um telefone celu-lar até o uso de instrumentos de grande importância mundial, como os satélites artifi ciais. Esses últimos, porém, podem

ser vistos como um dos exemplos dos impactos causados por essas inovações, pois, apesar das vantagens, pode causar o fenômeno do “lixo espacial”, causado pelo uso excessivo de tais objetos.

Um bom exemplo de como a tecno-logia se encontra presente é a recente difusão das informações dos jovens do mundo árabe, que se utilizaram da In-ternet como instrumento facilitador da derrubada do ex-ditador egípcio Hosni Mubarak. A Internet, então, pode ser vista como um agente difusor de ideias e informações quase sempre precisas.

Apesar das inúmeras vantagens que a tecnologia traz, nos ramos da Medicina,

Aline Alves Lemos Sabino3º Ano do Ensino Médio

ARTIGO

O avanço da tecnologia a favor do homem

Use com moderaçãoBeatriz Cunha Freire

5º Ano do Ensino Fundamental

da Robótica, da Engenharia e das ciên-cias em geral, podemos notar que o seu excessivo uso pode trazer algumas des-vantagens, como o vício e a dependên-cia – principalmente em relação ao uso da Internet –, a perda ou falta de um melhor convívio social, além da já citada acumulação do “lixo eletrônico”, o que causa prejuízos à saúde e ao ambiente.

Se colocarmos em uma balança os prós e os contras do uso da tecnologia no mundo técnico-científi co-informacional, notaremos que existem muito mais van-tagens e, portanto, a tecnologia é indis-pensável. Afi nal, o que seria de nós sem o telefone celular, a televisão e a Internet?

O tema integrador deste ano nos faz refl e-tir sobre uma grande pergunta de hoje em dia: As novas tecnologias são conquistas ou desafi os? A maioria das crianças (e pou-cos adultos) que conheço diria: “São con-quistas, claro!” e o texto da nossa agenda tenta impedir essa resposta, pois, antes de falar sobre o assunto, temos que perceber que a tecnologia pode nos desacostumar de pensar e nos afastar da diversão.

Porém, como essa tal maioria é criança e os alunos do CEI podem não entender e até não ler este texto, gostaria de dar uma explicação mais fácil para o tema.

Imagine que uma menina adora assistir televisão, mas ela só faz isso. Essa me-nina nunca vai saber como é o prazer de ler um livro, o que daria a ela a capa-cidade de escrever um bom texto, além de não ter tantos amigos, pois não vai brincar muito com eles.

Se a televisão, já tão comum, preju-dica tanto, imagine esses aparelhos mais novos!

Também não quero dar a resposta da “grande pergunta”, pois não sei o que faríamos sem carros, geladeiras... Te-mos os celulares, que nos permitem fa-lar com pessoas que não estão perto...

A minha conclusão é que os aparelhos tecnológicos deveriam ter um aviso: use com moderação.

Corredor Cultural de Natalu m a v i a g e m d e d e s c o b e r t a s

No dia 06/05/11, participamos de uma aula de campo no Cor-

redor Cultural de Natal, momento em que pudemos enriquecer nossos conhecimentos sobre a infl uência da cultura de vários povos europeus e, consequentemente, de sua cultura e do Renascimento.

Aprendemos que tudo começou com as expedições dos portugueses vindas ao Brasil, mais especifi camente ao litoral de Natal. Eles colonizaram nossa ci-dade e a transformaram em uma capita-nia, que era um método para a coloni-zação e administração das suas terras. A nossa capitania era a Capitania do Rio Grande, visto que aqui tinha o Rio Po-tengi. Mas não foi fácil conquistar suas terras, pois os portugueses eram expul-sos e atacados por índios e franceses, as-sim abandonando a região. Na tentativa de reverter essa situação, Felipe II man-dou construir a Fortaleza dos Reis Ma-gos, que recebeu esse nome por ter sido fundada em 6 de janeiro de 1598, Dia dos Reis. Um ano após essa construção, a cidade de Natal foi fundada.

Visitamos a Igreja do Galo, também co-nhecida por Igreja do Santo Antônio, que teve sua construção terminada em 1766 e foi o terceiro templo e um presente do Capitão Mor, Caetano da Silva Sanchas, que era devoto deste santo. Percebemos que nela tem dois braços, um de Cristo e um de um franciscano, desta forma retratando a religiosidade da época.Essa igreja já funcionou como quartel policial da cidade, escola e convento.

Também fomos ao Memorial Câmara Cascudo, o qual foi criado para ser tesouraria de fazendas, mas já funcio-

nou como Quartel General e Delega-cia Fiscal. Atualmente, homenageia um grande referencial jornalista, his-toriador, escritor, folclorista e drama-turgo – Câmara Cascudo.

Visitamos, também, o Marco Zero da cidade, a Praça André de Albuquer-que, criada no dia 25 de dezembro de 1599. Era nela que aconteciam os feste-jos culturais e religiosos. Sua rua já foi conhecida por Rua da Cadeia, Rua da Cidade Nova e Rua da Igreja Matriz. E a praça também teve vários nomes, mas, em 1888, passou a ser chamada de Praça André de Albuquerque, homena-geando o revolucionário André de Al-buquerque, que, devido se revoltar, foi morto com uma espada na virilha nessa praça. Nessa praça, encontra-se a Co-luna dos Marcos, criada em 1917, para representar o marco zero.

Passamos também pelo Instituto Histó-rico e Geográfi co, o qual também é um prédio antigo, onde há pesquisas e divul-gação da Geografi a e História do nosso Estado. No seu pátio, encontra-se a Co-luna Capitolina, um presente de Roma, como agradecimento à boa acolhida aos aviadores italianos em Natal. Ela é uma típica coluna romana, de ordem coríntia, e foi levada para lá, pois, no seu antigo local, pessoas pegavam pedaços dela, já que acreditavam que era mágica.

Outro patrimônio visitado foi o Palácio dos Governos, construído em 1868, que servia como um centro administrativo e local para as reuniões sobre a tomada de decisões para o Estado. Atualmente, abriga a pinacoteca do Estado.

Fomos também à Praça 7 de Setembro, criada para embelezar e enriquecer a cidade e funcionar como mercado pú-blico. Nela, vimos uma estátua que re-trata a Independência do Brasil.

Outro órgão político que visitamos foi a Prefeitura Municipal, que comemora o centenário da Independência e home-nageia o índio Felipe Camarão, que se converteu para o Cristianismo, a reli-gião portuguesa.

Visitamos, ainda, a OAB, inaugurada em 1906, e já serviu como sede do Con-gresso Legislativo e Tribunal de Justiça, onde aconteciam elaborações e execu-ção de várias leis.

Fomos também à Capitania das Ar-tes, que foi construída no fi nal do sé-culo XIX e servia como Capitania dos Portos, já que abrigava as mercadorias que vinham do porto do Rio Potengi. Após sua reforma, no ano de 1972, foi desativada como Capitania dos Portos e passou a ser Capitania das Artes, já que abriga exposições de obras de arte, uma escola de balé e o Museu da Cultura Po-pular Djalma Maranhão.

Além de fundar e infl uenciar igrejas, pra-ças, órgãos políticos, a Fortaleza dos Reis Magos e outros, os europeus tinham ca-sas nessa região, mesmo que fosse apenas para vir quando não estavam nas suas fa-zendas dos interiores. Por isso, as casas an-tigas daqui têm essa infl uência, como nos estilos arquitetônicos, principalmente do Barroco, que representa a cultura portu-guesa, e o neoclássico, que é um exemplo do Renascimento. Vimos a casa do Capi-tão Mor e a casa de um coronel, as quais eram exemplos dessas construções.

Essas casas, igrejas, museus, memoriais, a Fortaleza dos Reis Magos, sítios arque-ológicos, enfi m os patrimônios são pre-servados e defendidos pelo IPHAN, ór-gão que cuida da preservação e enrique-cimento dos conhecimentos e cultura natalenses e dos nossos patrimônios.

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POESIAS

O início de tudoTudo começou com IIAAUma escola boa de estudarQue já ensinava a pensarE o futuro continuar.

As crianças já felizesE os pais a ajudarCriaram novas raízesPara a escola aumentar.

No ano de 1988, Maria Lúcia criouA escola CEIOnde sempre estudareiE “CEI” que aprenderei.

As professoras nos ajudam...Ajudam a imaginarPara um novo mundo CRIARE dizer que aqui nossosFilhos vão estudar!

Amanda Rosado, Anne D’Ávila, Beatriz Freire, Beatriz Costa, Débora dos Santos,

Karina Pinheiro e Letícia RodriguesAlunas do 5º Ano do Ensino Fundamental

Palavras são espelhosFrases prontas não são o meu forte. Nem o meu fraco. Prefi ro o original à cópia, mas não descarto a possibilidade de aproveitar algo que é bom.Penso que as frases prontas são para momen-tos que nos faltam algo. Alguém disse que as frases feitas são para quando nos faltam palavras… Não acredito assim. Para mim, as frases feitas são para quando nos falta SENTIMENTO. Nesse momento, pegamos o sentimento de uma pessoa que escreveu para outra e usamos como se fosse o nosso sentimento naquele momento.Acho que quando há o sentimento as pala-vras vêm atreladas a ele. Não acho que faltem palavras… Elas nascem da maneira mais bonita… Nascem do silêncio ou da garga-lhada… Nascem da dor ou da refl exão…A vida é um conjunto de momentos.O momento é um conjunto de sentimentos.E as palavras…As palavras são espelhos…

Débora PontesProfessora de Português do Ensino Médio

Poema VisualTempo Passa, Tempo acabaA ampulheta uma hora para

Hora vai, hora vemMenos tempo você

TEm

SegundosMinutos, Horas

Se atrasam e no fi nale acabam como a vida de alguém

Herbert Soares, Victor Melo, Juliana Leite, Ana Raquel e Samuel FidelisAlunos do 9º Ano do Ensino Fundamental

Palavras... Sentimentos11 de setembro de 2001,Amanhece...Normalidadena cidade que não dorme:No céu azulaparecem os primeiros raios de sol...Toca o despertador.Trabalho.Arranha-céu.Um estrondoatordoado,Tudo mexe,tudo cai,Desespero,agonia,medo,gritos,socorro,sangue,zumbidos,sofrimento,injustiça,TERROR,escuridão...

Victória RinconAluna do 8º Ano do Ensino Fundamental

Me chamam de herói por aquilo que façoMe chamam de herói por aquilo que souMas eu acho que herói é aquele que tentaÉ aquele que apanha e ainda assim aguentaÉ aquele que apanha e se levantaO herói é aquele que vive por siE não às margens da sociedadeÉ aquele que ajuda porque sente vontadeE não por uma falsa caridadeO herói é aquele que sente medoE ainda assim não relutaO herói é aquele que bate no peitoE diz com moral que não foge da lutaO herói é aquele que não julga pessoasE nem ousa em julgar motivosO herói pode ser eu, pode ser vocêO herói seja lá quem forÉ aquele que vive sem medo,Medo de viver um belo amor.

Pedro Messias Aluno do 1º Ano do Ensino Médio

VidaA vida é um caldeirãono qual o doce e o amargo,a tristeza e a felicidadeos momentos presentes e as lembranças do passadose misturam.A nostalgia se dissolvequando as pequenas delícias de viver são saboreadas com o coração.Algo inexplicável, que todos sabem como é,mas ninguém sabe explicar, acontece.

No jogo da vida,o hoje é uma ação...O amanhã será uma consequência...

É viver vários momentos,tanto de alegrias quanto de tristezas.É iluminar outras vidaspara o caminho da felicidade...É como um poema,que cada um interpreta de uma forma diferente...É como uma fl or,que vai desabrochando aos poucos...Por isso, sempre acredite no que há dentro de vocêe ame os outrosSem esperar ser amado...

Viver é mergulhar sem medono rio transparente das palavras...Deixar os outros mais sedentos e insaciáveis pela buscade se conhecer..De se saber...De ser...De viver...

Alunos dos 8ºs e 9ºs Anos do Ensino Fundamental sob a orientação da professora dos Estudos Literários

Turma Vespertino/2011

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ARTIGOARTIGO DE

LITERATURA

Eliane NóbregaProfessora de Língua Portuguesa

e Literatura

PoderosaM íd iaO índice de obesidade infantil cresce no Brasil de forma vertiginosa e pre-ocupante todos os anos, chegando a atingir aproximadamente 15 %, isto é, cerca de 5 milhões apenas de crian-ças. A Organização Mundial da Saúde confi rma que há 300 milhões de obe-sos adultos, um contingente concen-trado (um terço) nos países em desen-volvimento. A obesidade confi gura-se como uma das crescentes “doenças do nosso século”, uma enfermidade crônica acompanhada de múltiplas complicações, dentre elas, problemas cardiovasculares, diabetes e o aumento do nível de colesterol LDL na corrente sanguínea. Esse crescimento pode ser explicado claramente pela expansão da atuação da mídia e pela importância que ela concentra, detém e concretiza na vida da sociedade, em geral.

Somos conscientes de que à medida que as tecnologias, a mídia e a globalização ganham mais espaço na vida das pes-soas, um processo que vem ocorrendo desde a revolução industrial, as doenças das quais o homem torna-se o principal culpado, causador, também acompa-nham juntas esse desenvolvimento de maneira fi rme e integrada. Os indiví-duos priorizam cada vez mais alimen-tos considerados os que são gostosos e saborosos ao nosso paladar, entretanto desconsideram o prejuízo trazido e ma-nifestado em relação à saúde. O ham-búrguer e a batata frita formam uma dupla devorada com prazer e satisfa-ção por crianças e adultos ao redor do mundo inteiro, e os alimentos ricos em vitaminas, sais minerais e nutrientes, acrescidos das substâncias orgânicas essenciais para um bom desenvolvi-mento físico e mental, são esquecidos e

eliminados do cardápio de uma forma absurda. Esse fato nos alerta para con-sequências manifestadas, muitas vezes, ainda na juventude, e fazendo com que os pais apareçam como grandes culpa-dos, sendo eles os responsáveis pela ali-mentação ingerida pelos fi lhos.

A mídia atua como um catalisador desse modo de vida moderno, em que a praticidade e a rapidez dos alimen-tos menos saudáveis acabam prevale-cendo. Escutamos diariamente a pro-moção de lasanhas, pizzas e hambúr-gueres que serão entregues em nossas casas com o acompanhamento de um irresistível doce como cortesia; na te-levisão e nos outdoors, fi camos “plu-gados” com as novidades das redes de Fast Food, que tentam nos seduzir para uma verdadeira concentração de óleos e gorduras.

Uma grande parte da população deixa-se levar pela infl uência da mí-dia, de seus familiares e da própria praticidade, sem levar em considera-ção o empobrecimento da alimenta-ção, que deve estar balanceada, e o

grande risco de ocorrerem problemas mais sérios, caso exista uma periodi-cidade desse tipo de ingestão. Pode-ríamos até afi rmar que a obesidade como consequência de uma alimenta-ção não favorável tornou-se um pro-blema de saúde pública, um grande obstáculo do século XXI, que só po-derá ser superado com um trabalho de conscientização cuja dimensão deverá ser tão grande quanto o problema da gordura corporal excessiva. A mídia, principalmente os jornais, a internet e a televisão, deveria mostrar não ape-nas os alimentos saborosos, mas sim o outro lado, relacionado à saúde e ao bem estar, aspectos que esses ali-mentos contribuem para desestabili-zar de forma efetiva, materializando as consequências apenas com o passar dos anos. Não podemos nos deixar infl uenciar tanto pela mídia, devería-mos propor a nós mesmos uma reedu-cação alimentar, propor a nós mesmos uma vida mais longa e a possibilidade de viver mais experiências, da respon-sabilidade a favor de escolhas alimen-tares saudáveis.

O texto que o senhor escreve tem de me dar prova de que ele me deseja.

Essa prova existe: é a escritura.

(Roland Barthes – O prazer do texto)

Quando surgiu a ideia de escrevermos a respeito da Semana de Arte Literária, mais precisamente sobre as atividades realizadas com as turmas da 1ª e 2ª séries do Ensino Médio, pareceu-nos mais pertinente comentar sobre as nos-sas perspectivas diante dessa interação com o texto literário.

Sabemos que o lugar primordial para se trabalhar a literatura é o texto. To-davia, esse salto didático para a sala de aula requer um certo ‘cuidado’ para que não haja perdas quanto ao encanto da obra. Isso porque não tínhamos como pretexto o texto literário para trabalhar-mos algumas noções de gramática. Ao contrário, procuramos contextualizá--lo, tendo em vista noções intertex-tuais, interdisciplinares, transversais, nessa multiplicidade de signifi cados nas esferas ideológica, social, política, histó-rica. Mesmo porque, sem isso, o aluno não teria uma compreensão mais crítica

do fenômeno literário. Ele precisa se aproximar dos diversos sentidos que há na obra, das várias vozes presentes no texto, e mais: precisa ler para ter uma experiência sensível de leitura, e não apenas para interpretar o texto.

Dessa forma A Semana de Arte Literá-ria tornou-se de fato um grande exercí-cio com a linguagem: lemos, interpre-tamos, criamos e recriamos. Deixamos de ser meros espectadores e passamos a atuar nessas escrituras. Mesmo por-que há sempre um questionamento de como trabalhar a literatura em sala de aula sem que se torne cansativo, e pior, sem função ou apenas como um pretexto para explorar elementos gra-maticais. Não. Esse não é nosso foco. Compreendemos a leitura dos textos literárioscomo um instrumento de (re)construção de sentidos. O aluno per-cebe que o sentido está na interação com o texto. O nosso desafi o consiste em contribuir nessa interação aluno/texto. E, por isso, a Semana de Arte Literária se torna tão signifi cativa. Não só para nós, educadoras, mas principal-mente para eles, alunos.

Cabe-nos aqui colocar um outro fator relevante que se refere à escolha dos textos. Procuramos trabalhar dentro da temática da escola sem limitarmos a es-colha. Fugimos da ideia tradicional de

enxergarmos o texto literário de forma isolada, tentamos não supervalorizar o “cânon literário” por acreditarmos que, em algumas vezes, isso pode distanciar o aluno da literatura e principalmente porque a nossa ideia é a de contribuir para que, com esse universo de leitu-ras, o aluno possa construir seu pró-prio “cânon literário”, a partir das suas leituras. A escola não deve privilegiar apenas a leitura de obras já consagra-das. A literatura nos mostra muitos pla-nos de leitura, e participar desse “jogo” exige respeito às intenções do texto. Portanto, há um respeito à obra nessa liberdade de interpretação.

A literatura deve ser vista como uma prática social do sujeito. O letramento é contínuo e com isso buscamos ofe-recer a oportunidade de nos familia-rizarmos com as palavras, na constru-ção de um sujeito da linguagem, que busque sentidos essenciais ao domínio da linguagem e da escrita e que possa ter consciência da pluralidade do texto literário, já que toda leitura é um ato transdisciplinar, não fragmentado.

Talvez isso tenha nos dado a noção dessa integração entre o texto literário e a dimensão social e, a partir disso, bus-camos alternativas que sejam capazes de motivar a leitura por prazer.

Uliana Galvão & Lara Targino1º Ano do Ensino Médio

A dimensão dialógica do discurso

1918

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ÉTICA

Josemi Medeiros da CunhaProfessor de Sociologia e Filosofi a

É t i c a :“quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

Não faz muitos anos que o cantor Geraldo Vandré compôs a música “Para não dizer que não falei das fl ores”. A canção, até hoje tocada nas rádios, tem um trecho que nos faz refl etir sobre a importância do agir em nosso mundo, muito fragilizado por diferentes questões sociais.

A frase “quem sabe faz a hora, não es-pera acontecer”, se pensada no con-texto no qual a música fora escrita, período da Ditadura Militar, cuja participação social e a liberdade de ex-pressão foram contidas por um Estado autocrático e repressivo, pode dar-nos pistas de como a ação humana deve ser considerada um importante instru-mento de mudança social e um cami-nho de refl exão sobre o que seria ética.

No período da Ditadura, a necessi-dade do fazer acontecer não se limi-tava apenas às ações românticas da ju-ventude, mas a ações que mudassem a realidade, como as manifestadas no movimento Diretas Já no início da dé-cada de oitenta.

Mas o que teria a ver a canção de Ge-raldo Vandré com a nossa refl exão sobre ética?

Primeiramente, queremos explicar que, ao refl etir sobre as ações humanas, prin-cipalmente sob o ponto de vista histó-rico, as entendemos como sendo res-ponsáveis pela formação da sociedade que conhecemos.

A Revolução Francesa, a Insurreição Comunista, Canudos, a Abolição do regime de escravidão, a Semana de Artes Modernas... todos esses aconte-cimentos (ou mudanças sociais) foram manifestações da ação humana que nos revelam como os indivíduos, ao in-tervir no meio natural, criam e recriam o mundo social. Em outras palavras, poderíamos dizer que temos constru-ído a história da humanidade com as nossas próprias mãos.

Responsáveis por essas mudanças his-tóricas, como poderíamos interpretar diferentes acontecimentos/fatos obser-vados no Brasil de hoje? Seríamos os responsáveis pela sociedade que temos criticado quase todos os dias?

A frase “quem sabe faz a hora, não es-pera acontecer” faz-nos refl etir acerca do tempo que passamos – uma boa

parte de nossas vidas– aprendendo em casa, nas escolas, nas igrejas, no traba-lho e em outros espaços, a forma como devemos agir no mundo, ou fazer acontecer; como devemos respeitar o próximo, o meio ambiente e a nós mes-mos; como precisamos respeitar a sin-gularidade de cada individuo, romper com as ações preconceituosas e com o bulliyng nosso de cada dia.

Passamos muito tempo aprendendo quais seriam as melhores formas de agir no meio social, de exercer a cidadania ou a ética. E, se somos indagados sobre como devem agir as pessoas em deter-minadas situações, até demonstramos conhecimento teórico sobre qual se-ria a melhor conduta. No entanto, segundo o que revelam as realidades observadas em nosso cotidiano, temos parado por aí, fazendo muito pouco do que demonstramos saber.

Dizemos isso, pois, ao observar a socie-dade, verifi camos que os processos de exclusão e desigualdade sociais, homicí-dios, sequestros, corrupções, desvios de orçamento público, mais compromisso com o lucro do que com o ser humano, entre outras práticas, têm sido uma constante no mundo em que vivemos.

Diante dessas constatações, entende-mos que existe uma distância muito grande entre o que sabemos e dizemos e o que fazemos ou realizamos. Por isso, para discutir ética, pensamos que é ne-cessário refl etir sobre como temos atu-ado no meio social, não apenas se com-preendemos o conceito ou o signifi cado do termo ética.

Na verdade, estamos cansados dos conceitos, dos signifi cados e das fór-mulas prontas de como devemos ser ou de agir em determinados momen-tos ou situações da vida, por exemplo, nos corredores da escola, nas salas de aula, ou, até mesmo, quando estamos respondendo às questões das provas. Acreditamos que se faz necessário inaugurar um novo momento em que manifestemos mais as ações do que as ideias, ou que materializemos as ideias através das nossas ações.

Nesse cenário, onde estaria a ética? O que ela seria?

A refl exão que desejamos mediar não se limita à expressão conceitual da palavra “ética”. Não desejamos propor um mo-delo de como devemos agir em deter-minada situação, mas uma refl exão so-bre nossa prática, diante de tudo o que sabemos, temos e somos. Temos respei-tado, amado, vivido coletivamente?

Pensamos nisso, pois como Instituição Educadora, sabemos que o conheci-mento sobre o “agir” ou o “fazer” tem sido mediado nos espaços de aprendi-zagem, contudo as ações observadas no cotidiano faz-nos pensar como os sujeitos, portadores desses conheci-mentos, podem não estar agindo e fa-zendo acontecer.

Sabemos que precisamos proteger as fl orestas, os mananciais, os mangues, porém não temos feito. Declaramos que as crianças e os adolescentes de-vem ser considerados prioridade ab-soluta, mas, quando observamos os casos de violência ou negligência no cotidiano, constatamos que ainda falta muito para que eles tenham seus direi-tos garantidos efetivamente. Compre-endemos que os idosos possuem, em consequência das experiências vividas

e dos aprendizados adquiridos, conhe-cimentos que devem ser considerados e respeitados, no entanto não o fazemos.

A música, quando pensada a partir dos acontecimentos acima descritos, nos faz refl etir como não temos con-seguido fazer a hora, mas apenas espe-rado acontecer.

Talvez porque não tenhamos o senti-mento de que somos responsáveis por tudo o que está acontecendo à nossa volta. As coisas parecem estar aconte-cendo no mundo, mas não em nossa cúpula de vidro. Não somos nós os que devem agir corretamente, pois já faze-mos nossa parte.São os outros: os mar-ginais, os corruptos, os permissivos, os dependentes químicos, os trafi cantes.

Da mesma forma, nunca somos nós que provocamos o bulliyng contra o companheiro ou companheira na sala de aula; não somos nós os responsáveis pelas violências simbólicas das quais os outros são vítimas quando sem querer nos encontram nos corredores da vida.

Existe uma grande distância entre o que sabemos e o que fazemos. Talvez isso seja um dos fatores responsáveis pelo Brasil que temos hoje. Por isso é neces-sário pensar em uma ética aplicada e que não se limite às páginas dos cader-nos que no próximo ano será esquecido.

Paulo Freire, um dos educadores mais reconhecidos do nosso país, em certo momento de sua vida, propôs a seguinte refl exão: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado mo-mento a tua fala seja a tua prática.”

Esse é, sem dúvida, um dos maiores de-safi os para “fazer a hora e o acontecer”. Por mais difícil que seja aceitar essa ver-dade, é preciso enfrentar a nós mesmos. Compreender que não vivemos em uma ilha com nossas famílias e amigos. O mundo globalizado está conectado, por isso também estamos ligados, agimos coadunados, portanto precisamos en-tender a importância de respeitar o ou-tro e o meio em que vivemos.

Talvez seja necessário compreender a importância do outro em nossas vidas. Principalmente quando pensamos em um espaço como a escola. Entender que as salas de aula, sem a diversidade de todos, poderiam se tornar espaços vazios, não um lugar de troca e cons-trução de saberes, mas de reprodução de conhecimentos decorados. Com-preender que a escola, assim como a sociedade, é formada por todos nós: com nossas diferenças, crenças, sonhos e histórias. Por isso, quando pensamos em ética, devemos agir de maneira ética, materializando teorias em ações, transcendendo o limite do conceito e das discussões refl exivas.

Somente assim, conseguiríamos fazer acontecer e diminuiríamos a distância entre o que dizemos e o que fazemos, tornando nossa fala nossa prática.

“PASSA-MOS MUITO

TEMPO APRENDENDO QUAIS SERIAM AS MELHORES

FORMAS DE AGIR NO MEIO

SOCIAL, DE EXERCER A CI-DADANIA OU

A ÉTICA.”

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Trabalhando diariamente com as ditas “novas tecno-logias”, procuro sempre pensar no quanto o uso ou não de uma determinada tecnologia poderá trazer reais benefícios e a que custos. Como esse não é um exercício fácil, costumo balizar minhas avaliações em aspectos que normalmente extrapolam o simples olhar frio dos números e mesmo do modismo vigente.

Nesses momentos, frases como a posta acima, lapi-dada pelo grande Mahatma Gandhi, me dão o suporte necessário para ver além do óbvio e, se necessário, de-cidir além do que o mercado e a moda indicam.

Afi nal, tendo fi rme a visão de que não será apenas a escolha da correta tecnologia que defi nirá o sucesso de nossos projetos e vidas, mas sim a forma como nos utilizaremos dela, vejo o mundo com lentes repletas de otimismo e crença na permanente evolução da huma-nidade, no sentido de buscarmos estar cada vez mais conectados, nos relacionando mais intensamente e buscando o melhor para todos.

Entretanto, como o que é novo não necessariamente é melhor e poderá até representar um retrocesso, se não trouxer a real possibilidade de melhorar a vida das pes-soas, devemos procurar sempre refl etir acerca da real necessidade de aplicarmos imediatamente uma nova tecnologia, bem como de descartar uma “velha”.

Nunca é demais lembrar que tudo que hoje possa ser considerado “velho” já foi “novo” um dia.

Mas, é dessa forma que estamos educando nossos fi -lhos? É para saber usar a tecnologia em seu benefício,

aliado à visão do bem de todos, que os estamos ins-truindo? Ou será que estamos permitindo que eles se contagiem pelo “vírus” fácil da diversão individuali-zada, da aquisição imediata e impensada da novidade mais quente? Do consumo do “novo” pelo simples fato de ser “novo”?

Por ver, rotineiramente, até mesmo profi ssionais pre-parados se deixarem contagiar facilmente pelo apelo das “novas tecnologias” é que acredito ser esse o maior desafi o: utilizá-las na medida da necessidade, a um custo compatível e sempre em prol do homem.

Afi nal, como bem o disse Bill Gates, em seu “A estrada do futuro”, em 1995, “Grande parte do progresso hu-mano ocorreu porque alguém inventou uma ferramenta melhor e mais efi caz.” E é isso que devemos exigir das tecnologias, sejam elas velhas ou novas: que sejam efe-tivamente melhores, mais efi cazes e, principalmente, que tragam progresso humano.

E como progredir é ser mais e não apenas ter mais, é que nos cabe a todos, pais, mães e educadores, a mis-são de buscarmos conscientizar nossas crianças e ado-lescentes a ver além das propagandas e dos modismos, para que seja possível encontrar o uso mais adequado, tanto do que é dito “novo” quanto do que se consi-dera, por vezes apressadamente, “velho”. Em resumo: ensinar-lhes a pensar no todo, a enxergar além da vi-são midiática instantânea, para buscar, também nessa área, o que de fato é essencial, e aprender a usar a tec-nologia em benefício do homem.

Novas tecnologias e vida: conquistas e desaf ios

Eudes A. de AndradeEngenheiro, pai de Milton G. M. de Andrade,

aluno do 9º Ano do Ensino Fundamental

PALAVRA DE PAIS

“O futuro dependerá daquilo que fi zermos no presente.”

Apresentações teatrais realizadas pelos alunos do CEI durante

a Semana de Arte Literária 2011no mês de maio.

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2º Ano do Ensino Fundamental

2º Ano do Ensino Fundamental 2º Ano do Ensino Fundamental

2º Ano do Ensino FundamentalAmanda Evelyn Laura B. M. do Vale

Caroline Santos Pinto Cecília Câmara